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Categoria: Bibliologia
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Editora Vida
índice
Prefácio ............................................................................................. 5
4. A Bíblia e as h eresias............................................................ 63
Que é a Bíblia?
Pelo fato de conter as origens da criação, as alianças de Deus
com os homens, a história de Israel e da Igreja apostólica, as
profecias reveladoras do futuro, bem como por revelar o
insondável amor de Deus na pessoa de Jesus Cristo como o
Salvador do mundo, a Bíblia Sagrada poderià ser definida com
uma só frase: Ela é a Palavra de Deus. Contudo, vale a pena
ouvir o que dela falaram algumas pessoas célebres, como
líderes religiosos, teólogos, pregadores, escritores, poetas,
músicos, políticos, cientistas, e até mesmo ateus.
"Q ue regra mais pura e santa, que caminho mais seguro para
o homem público, para o político, do que a verdade vinda do
céu, pregada e ensinada pela boca de um Deus e registrada no
livro do Evangelho? Leia-se, pois, medite-se o livro santo do
Evangelho!" (Cardeal Arcoverde).
"Suprima-se a Bíblia e logo ficará suprimida a sonora, a
elegante, a preciosa literatura portuguesa, ou despojada, pelo
menos, dos seus mais esplêndidos esmaltes e das suas maiores
e mais pomposas magnificêndas. . . Livro incomparável este,
que há trinta e três séculos o gênero humano começou a ler, e
lendo-o todos os dias e noites e horas, não tem podido ainda
conduir a sua leitura" (Padre Alves Mendes, de Portugal).
"Impressiona-nos, na contemplação do mundo atual, a
exatidão das Sagradas Escrituras. Nestes nossos tempos, com
predsão admirável, cumprem-se previsões do velho e bendito
livro. Páginas proféticas assumem o sabor de crônicas contem-
8 História, Milagres e Profecias da Bíblia
porâneas, em que fatos e feitos, na história e através dos
homens, proclamam a veracidade da eterna palavra, que não
falhou nem falhará. Por isso é tempo de voltar à Palavra de
Deus. E é isso que a humanidade está fazendo, depois de
tantas fugas. Depois de procurar tantos caminhos, onde a
frustração lhes foi fatal, os homens retomam ao caminho, ao
único e verdadeiro caminho. E, nesse caminho, em sentido de
libertação e esperança, brilha a palavra, que é luz e lâmpada de
Deus" (Ivan E. Ávila, da Academia Evangélica de Letras do
Brasil).
"Depois de ter pregado o Evangelho por quarenta anos, e ter
impresso os sermões que preguei semanalmente durante trinta
e seis anos, tendo estes alcançado o número de 22 mil, creio
que devo ter direito a dizer algo sobre a riqueza e a plenitude da
Bíblia como o livro do pregador. Irmãos, ela é inesgotável. Não
haverá perigo de ficarmos secos se nos apegarmos ao texto
deste volume sagrado. Não haverá dificuldade em arranjar
assuntos totalmente distintos dos já usados; a variedade é tão
infinita como a sua plenitude. Uma longa vida mal dá para
ladear as margens deste continente de luz. Nos quarenta anos
do meu ministério tenho podido apenas tocar a orla das vestes
da verdade divina; mas que virtude já fluiu dela! A Palavra é
como o seu Autor — infinita, imensurável, eterna. Se fosses
ordenado ao ministério por toda a eternidade, terias na mão
tema suficiente para as exigências eternas" (Charles Spurgeon).
"Apegai-vos solidariamente à Bíblia, como a âncora das
vossas liberdades; gravai os seus preceitos nos vossos corações
e ponde-os em prática nas vossas vidas. A esse livro devemos
os progressos que temos feito em nossa civilização, e para ele
devemos olhar como o guia da nossa vida futura" (General
Ulysses Grant, presidente dos Estados Unidos).
Outro presidente dessa nação, Theodoro Roosevelt, expediu
da Casa Branca a seguinte mensagem durante a Segunda
Guerra Mundial: "Como comandante-chefe, tenho o prazer de
recomendar a leitura da Bíblia a todos os que servem nas forças
armadas dos Estados Unidos. Através dos séculos, homens de
muitos credos e de origens diversas têm encontrado no Livro
Sagrado palavras de sabedoria, conselho e inspiração. É uma
fonte de fortaleza, e agora como sempre, um auxílio poderoso
na conquista das mais altas aspirações da alma humana".
A Bíblia e Sua História 9
Tobias Barreto, pensador e escritor brasileiro, escreveu: "A
Bíblia é um modelo de tudo quanto é belo e bom e, se outras
razões não determinassem a sua leitura, bastaria o gosto, o
simples instinto literário, para levar-nos a folhear suas páginas
eternas".
"Não compreendo que se tenham posto milhares de obstácu
los à propagação da Bíblia, pois ela é a revelação mais pura que
de Deus existe na sociedade, na natureza, na história" (Emílio
Castelar, escritor espanhol).
"Progrida quanto quiser, desenvolvam-se ao máximo os
ramos da pesquisa. Nada tomará o lugar da Bíblia" (Johann
Von Goethe).
"Espero e confio em que os meus súditos nunca deixarão de
cultivar a sua nobre herança na Bíblia inglesa, a qual, num
aspecto secular, é o primeiro dos tesouros, enquanto que na
sua significação espiritual é o objeto mais valioso que o mundo
nos outorga" (Jorge V, rei da Inglaterra).
O escritor ateu, H. L. Mencken assim se exprime sobre o
valor real da Bíblia: "É a Bíblia, inquestionavelmente, o mais
lindo livro do mundo. Não há literatura, quer antiga quer
moderna, que se lhe compare".
Concluo esta série de testemunhos citando Thomas Henry
Huxley, famoso cientista inglês: "A Bíblia tem sido a Carta
Magna dos pobres e dos oprimidos: até aos tempos modernos
nenhum país tem tido uma constituição em que os interesses
dos povos sejam tão largamente considerados".
A Bíblia fala por si mesma
Em toda a Bíblia afirma-se duas mil e oito vezes que Deus é
seu Autor. No Novo Testamento, essa autoria divina é reclama
da 225 vezes, cerca de 50 vezes pelo próprio Senhor Jesus.
Como Palavra de Deus, a Bíblia exerce poderosa e benéfica
influência onde quer que é difundida. "Porque a palavra de
Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de
dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito,
juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e
propósitos do coração. E não há criatura que não seja manifesta
na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descober
tas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar
contas" (Hebreus 4:12-13).
10 História, Milagres e Profecias da Bíblia
Deus mesmo afirma: "Assim será a palavra que sair da minha
boca; não voltará para mim vazia" (Isaías 55:11), e o apóstolo
Paulo fala do evangelho como o "poder -de Deus" e da
transformação gerada por este mesmo evangelho na vida do
que o aceita: "E nova criatura: as coisas antigas já passaram; eis
que se fizeram novas" (2 Coríntios 5:17).
A Bíblia apresenta-se a si mesma como alimento (Amós 8:11),
como fogo (Jeremias 23:29), como luz (Salmo 119:105), como
leite (1 Pedro 2:2), como mel (Salmo 19:10), como ouro (Salmo
19:10), como espelho (Tiago 1:23-25), como martelo que esmiú-
ça a penha (Jeremias 23:29), como espada (Efésios 6:17) e como
semente (1 Pedro 1:23).
Como nos veio a Bíblia?
A palavra "bíblia", como plural de "biblion", que no grego
significa "livro", sugere a idéia de livros, ou biblioteca. São
Jerônimo usou a apropriada expressão "biblioteca divina" para
as Sagradas Escrituras. A Bíblia, em realidade, compõe-se de
uma coleção de 66 livros, sendo 39 no Antigo e 27 no Novo
Testamento.
Para redigir a sua Palavra, Deus inspirou mais de 40 autores,
dentre eles os estadistas José e Daniel, o legislador Moisés, o
poeta Davi, o sábio Salomão, os profetas Isaías e Jeremias, o
médico Lucas, o filósofo Paulo, o cobrador de impostos Mateus
e os pescadores Pedro, Tiago e João. Estes e muitos outros
gastaram dezesseis séculos na redação da Bíblia, começando
por volta de 1500 antes de Cristo e terminando no final do
primeiro século da nossa era. Mas, apesar das épocas, lugares e
estilos diferentes em que os livros da Bíblia foram escritos,
nenhum deles foge ao vínculo que a todos unifica: a pessoa do
Messias, o Salvador do mundo.
A Bíblia divide-se em duas grandes partes: Antigo e Novo
Testamento. O primeiro foi escrito originalmente na língua
hebraica, com as seguintes passagens em aramaico: Daniel 2:4;
7:28; Esdras 4:8-16, 18; 7:12-26, e se completou cerca de 434
antes de Cristo. O Novo Testamento foi escrito no grego
popular, o koinê, contendo também algumas frases em aramai
co. Teve o seu surgimento entre os anos 53 e 96 d. C. Portanto,
entre o último livro do Antigo Testamento e o primeiro do
Novo há um lastro de quase quinhentos anos, no qual se insere
A Bíblia e Sua História 11
o período interbíblico, em que se escreveram os principais
livros apócrifos, ou seja, não inspirados por Deus.
Segundo alguns eruditos, foram os escribas Esdras e Nee-
mias que agruparam os livros do Antigo Testamento, por volta
de 480 a.C., na grande reforma religiosa daquela época, pois
até então os livros sagrados dos judeus permaneciam separa
dos uns dos outros. É importante salientar que esses livros
agrupados receberam o nome de Texto Massorético (a Massora —
corpo de tradições), o único reconhecido pelos judeus como
verdadeiro e digno de toda confiança. Nesse texto, ou nas
cópias dele, baseiam-se as bíblias modernas, principalmente as
editadas pelas sociedades bíblicas evangélicas.
Não havendo imprensa de qualquer espécie no período de
sua escritura, todos os livros bíblicos foram redigidos à mão e
divulgados por meio de cópias manuais. Os copiadores,
chamados escribas, copistas ou massoretas, tinham tal respeito
pelo texto sagrado e tão grande cuidado em não alterá-lo que,
antes de iniciarem a copiação de qualquer parte da Bíblia,
contavam o número de palavras e letras nela contidas. Dessa
forma, esses homens sabiam o número exato das palavras e
letras de cada um dos trinta e nove livros do Antigo Testamen
to. Sabiam também quantas vezes ocorria cada letra. Os
copistas não admitiam rasuras de espécie alguma. Se, depois
de pronta uma cópia, fosse constatada nela algum erro, mesmo
o mais simples, tal cópia era totalmente destruída.
Apesar das épocas remotas em que foram copiados os livros
bíblicos, a arte da escrita já havia alcançado significativo
progresso, principalmente quanto à qualidade da tinta: uma
mistura de carvão com um líquido desconhecido, capaz de as
conservar maravilhosamente durante muitos séculos.
O tipo de caneta usado pelos escribas dependia do material
em que deveriam escrever. Se esse material era o pergaminho,
usavam então uma cana cortada ou uma pena de ave. No caso
de se escrever em cera, utilizavam um estilete metálico.
Antes da imprensa, o preço de um manuscrito da Bíblia era
enorme, levando-se em conta o penoso trabalho dos copistas, o
longo tempo gasto nessas escrituras e o elevado custo do
material necessário: cerca de duzentos couros de cordeiros.
Usavam-se também, secundariamente, outros tipos de "pa
pel": o papiro, derivado de uma planta do mesmo nome, e o
12 História, Milagres e Profecias da Bíblia
ostrakon, pedaços de vasilhas de barro e tabuinhas enceradas,
além de vários outros materiais.
As primeiras traduções
Como conseqüência dos setenta anos de cativeiro na Babilô
nia e em virtude da forte influência do aramaico, a língua
hebraica se enfraqueceu. Todavia, fiéis à tradição de preservar
os oráculos em sua própria língua, os judeus não permitiam
ainda fossem esses livros sagrados vertidos para outro idioma.
Alguns séculos mais tarde, porém, essa atitude exclusivista e
ortodoxa teria de dar lugar a um senso mais prático e liberal.
Com o estabelecimento do império de Alexandre o Grande, a
partir de 331 a.C ., o grego popularizou-se ao ponto de se tomar
imprescindível uma tradução da Sagrada Escritura para essa
língua.
Segundo o escritor Aresteas, a tradução grega foi feita por
setenta e dois sábios judeus (daí o seu nome "Septuaginta"), na
cidade de Alexandria, a partir de 285 a.C., a pedido de
Demétrio Falario, bibliotecário do rei Ptolomeu Filadelfo. Ter
minada trinta e nove anos mais tarde, essa versão assinalou o
começo de uma grande obra que, além de preparar o mundo
para o advento de Cristo, deveria tomar conhecida de todos os
povos a Palavra de Deus. Na igreja primitiva, era essa versão
conhecida de todos os crentes.
Nem todos os livros do Antigo Testamento, infelizmente,
foram bem traduzidos na "Septuaginta", razão pela qual
Orígenes, por volta de 228 d .C ., compôs a Hexapla, ou versão
de seis colunas, contendo a versão grega dos LXX e as três»
traduções gregas do Antigo Testamento efetuadas por Áquila
do Ponto, Teodoro de Éfeso e Símaco de Samaria, traduções
estas realizadas, respectivamente, em 130, 160 e 218 d.C. Além
destas, constavam nas duas últimas colunas o texto hebraico e
o mesmo texto em grego. Esta grandiosa obra, constituída de
cinqüenta volumes, perdeu-se provavelmente quando os sarra-
cenos saquearam Cesaréia em 653 d.C.
Em 382 d .C ., o bispo Dâmaso encarregou São Jerônimo de
traduzir da Septuaginta para o latim o livro dos Salmos e o
Novo Testamento, o que ele fez em três anos e meio. Mais
tarde, um novo bispo assumia a direção da Igreja em Roma e
percebia, com inveja, a grande cultura e a influência de
A Bíblia e Sua História 13
Jerônimo. Este, perseguido e humilhado, se dirige a Belém, na
Terra Santa, e ali estuda e trabalha durante trinta e quatro anos
na tradução de toda a Bíblia para a língua jatina. Jerônimo
escreveu ainda vinte e quatro livros de comentários bíblicos,
um conjunto de biografias de eremitas, duas histórias da igreja
primitiva e diversos tratados. Mais tarde, a Bíblia de Jerônimo
ficou conhecida por "Vulgata" (vulgar), sendo hoje usada pela
Igreja Católica Romana como a autêntica versão das Escrituras
em latim, apesar de muitos eruditos a acharem pobre e até
conter falhas graves.
Códices e manuscritos bíblicos
A partir do quarto século depois de Cristo, os livros cristãos
passaram a ser escritos em codex, palavra derivada de caudex,
que era uma tabuinha coberta de cera na qual se escrevia com
um estilete metálico (stylus). Reunidos por um cordão que
passava por orifícios feitos no alto dos exemplares, à esquerda,
os códices ficavam em forma de livro, portanto bem mais
práticos de serem manuseados que os antigos rolos. Os mais
importantes códices bíblicos são:
Sinaiticus, produzido cerca de 325 d.C ., contém todo o
Antigo Testamento grego, além das epístolas de Bamabé e
parte do Pastor de Hermas. Foi encontrado pelo sábio alemão
Constantino Tischendorf, em 1844, no mosteiro de Santa
Catarina, situado na encosta do Sinai. Tischendorf viu 129
páginas do manuscrito numa cesta de papel, para serem
lançadas ao fogo. Percebendo o seu enorme valor, levou-as
para a Europa. Em 1859 voltou ao mosteiro e encontrou as
páginas restantes. Doada pelo seu descobridor a Alexandre II,
da Rússia, essa preciosidade foi posteriormente comprada pela
Inglaterra pela vultosa quantia de cem mil libras esterlinas. Está
no Museu Britânico desde 1933.
Alexandrino, de meados do quarto século d.C ., contém o
Antigo Testamento grego e quase todo o Novo, com omissões
de 24 capítulos de Mateus, cerca de quatro de João e oito da
Segunda Carta aos Coríntios. Contém ainda a Primeira Epístola
de Clemente de Roma e parte da Segunda. Está no Museu
Britânico.
Outros famosos códices bíblicos são: o Vaticano, do quarto
século d .C ., contém o Antigo e o Novo Testamento com
14 História, Milagres e Profecias da Bíblia
omissões. Está na Biblioteca do Vaticano. O Efraemi, produzido
por volta de 450 d .C ., acha-se na Biblioteca Nacional de Paris.
O Baza, encontrado por Teodoro Baza no mpsteiro de Santo
Irineu, na França, em 1581, está vinculado ao quinto século
d.C. e encontra-se atualmente na Biblioteca de Cambridge,
Inglaterra. O códice Washington, produzido nos séculos quarto
e quinto d .C ., acha-se no museu Freer, na capital dos Estados
Unidos.
Há, ainda, vários outros códices de menor importância,
expostos em museus e bibliotecas de várias partes do mundo.
Somente de livros do Novo Testamento, completos ou em
fragmentos, conhecem-se hoje 156.
Em se tratando de manuscritos em rolos, o mais antigo e o
mais importante de todos foi encontrado casualmente em 1947
por um beduíno, numa bem dissimulada gruta nas proximida
des de Jericó, junto ao mar Morto. Examinado pelo professor
Sukenik, da Universidade Hebraica de Jerusalém, revelou-se
pertencer ao terceiro século antes de Cristo. Contém o livro
completo de Isaías e comentários de Habacuque, além de
outras importantes informações sobre a época em que foi
escondido. E mais conhecido como Rolo do Mar Morto.
Traduções renascentistas
Na segunda metade do século XIV, o valoroso inglês John
Wicliffe reúne as palavras-chave dos duzentos dialetos falados
em sua pátria e faz deles uma língua, para a qual traduz quase
todas as Escrituras Sagradas, partindo-se da Vulgata Latina. Ao
morrer, em 1384, sua grande obra foi continuada por John
Purvey e concluída em 1388. As cópias dessa Bíblia foram
objeto de grandes queimas públicas nos anos de 1410 e 1413,
mas, pelo menos 170 delas ainda existem hoje.
Na Alemanha, entre os anos 1521 e 1522, o reformador
Martinho Lutero traduz o Novo Testamento do grego para o
alemão popular, iniciando em seguida a tradução de todo o
Antigo Testamento diretamente do hebraico, terminando-o
onze anos mais tarde, em 1534. Essa Bíblia de Lutero teve uma
aceitação impressionante, pois apesar de ser inicialmente
vendida a trezentos dólares o exemplar, os editores se apressa
ram a publicar novas edições. Aos poucos foi o seu preço se
reduzindo até que as pessoas mais pobres pudessem adquiri-la.
A Bíblia e S m História 15
O inglês William Tyndale, contemporâneo de Lutero, em
preendeu a grande tarefa de colocar a Bíblia na mão de seu
povo. Para tanto, deixa a Inglaterra em 1524 e vai à Alemanha,
uma vez que em sua pátria essa empreitada seria impossível.
Ao cabo de um exaustivo ano de trabalho, Tyndale publica o
Novo Testamento inglês, baseado nos dialetos que Wicliffe
reunira. Em 1526, cerca de seis mil cópias da poderosa Palavra
de Deus foram distribuídas secretamente em toda a Inglaterra.
Os inimigos da Bíblia, ao tomarem conhecimento dos fatos,
moveram contra ela intensa perseguição, culminando com um
grande espetáculo público no lugar denominado Cruz de
Paulo, onde empilharam cento e cinqüenta cestos de Novos
Testamentos e obrigaram os crentes a atearem o fogo. Foi uma
queima tão grande que o povo, curioso, estava agora disposto a
pagar qualquer preço pelo livro proibido. Assim, as impresso
ras alemãs tiraram novas edições, que entraram na Inglaterra
enriquecendo gananciosos comerciantes e espalhando a luz do
evangelho nos redutos da tenebrosa idolatria.
Todavia, novos sofrimentos aguardavam ainda o povo de
Deus. O bispo Tunstall e o cardeal Wolsey, líderes da oposição
à Bíblia, "prenderam dezenas de pessoas, queimaram vivos
todos os condenados à morte e enviaram agentes à Alemanha
para prenderem Tyndale e o levarem vivo à Inglaterra. Este,
percebendo o perigo que corria, refugiou-se em casa de Filipe,
o Magnânimo, amigo da Reforma, e ali começou a estudar o
hebraico e a traduzir o Antigo Testamento para o inglês.
Infelizmente, só conseguiu traduzir até Crônicas, pois uma
terrível perseguição aos protestantes varria a Europa naquela
época. Tyndale foi preso e, quatorze meses mais tarde, no dia 6
de outubro de 1536, estrangulado publicamente'. Em seguida
queimaram o seu corpo" (Almeida, A ., A Reforma Protestante,
CPAD, Rio, 1983, p. 110).
Entretanto, durante o tempo em que esse valoroso homem
de Deus esteve preso, o reino inglês passou por profundas
transformações religiosas. Tunstall foi executado na Torre de
Londres como traidor, e uma nova versão inglesa da Bíblia,
feita por Miles Coverdale, foi distribuída gratuitamente ao
povo. A Bíblia vencia, enfim, mais uma batalha.
Henrique III, ao abolir a autoridade papal, acabou promo
vendo uma reforma religiosa em seu país. Porém, tal reforma
16 História, Milagres e Profecias da Bíblia
não agradou a todos, mesmo porque a nova religião ainda
continuava com muitas práticas romanistas. Os que se confor
maram com a situação religiosa vieram a se chamar anglicanos;
os que queriam uma reforma mais profunda1, nos moldes da
luterana, foram chamados de puritanos. Em 1603, o rei Tiago I,
tão logo subiu ao trono inglês, convocou alguns dos mais
eminentes anglicanos e puritanos para discutirem coisas erra
das dentro da igreja. Havia muita contenda entre os dois lados,
pois enquanto um usava a Bíblia do Bispo, o outro usava a de
Genebra, ou calvinista. Cada partido religioso procurava de
predar a Bíblia do outro. O rei Tiago indicou então uma
comissão de cinqüenta e quatro eruditos dentre os dois grupos
religiosos, a fim de preparar uma revisão perfeita e completa da
Bíblia, que seria ofidal da Igreja da Inglaterra. A comissão, que
mais tarde se reduziu a quarenta e sete sábios, em vez de
revisar, preparou uma tradução direta das Escrituras Hebraicas
e Gregas, trazendo à luz a famosa versão hoje conhecida por
Versão do Rei Tiago, publicada em 1611. É ela um monumento
de beleza literária que tem influendado profundamente todos
os povos de língua inglesa.
Traduções modernas e contemporâneas
Desde o inído do século XVI — graças à Renascença, à
invenção da imprensa em 1439 por Johann Gutenberg e
prindpalmente ao movimento reformista chamado protestan
te — a Bíblia tem falado cada vez em maior número de países,
em virtude do inestimável trabalho dos missionários-tradu-
tores. Vejamos alguns desses casos:
John Eliot, após vinte e sete anos de exaustivo trabalho,
publicava, em 1661, o Novo Testamento na língua dos índios
massachusetts, tribo dos Estados Unidos, hoje extinta.
Por volta de 1810, os missionários William Carey, William
Ward e Josué Marshman já haviam traduzido a Bíblia toda para
o bengali e o Novo Testamento para o sânscrito, o criiá, o
marata, o hindustani, o guzerate, o lalmiga e o canarês.
Em 1815, a Sociedade Bíblica Russa, de São Petersburgo,
publicava o Novo Testamento em persa, e no ano seguinte a
Sodedade Bíblica Britânica e Estrangeira publicava o mesmo
livro em árabe, frutos do trabalho do denodado missionário
Henry Martyn.
A Bíblia e S m História 17
O missionário Robert Morrison, em 1819, publicava a Bíblia
completa em wenli puro, língua literária da China antiga.
Nessa monumental obra Morrison foi ajudado pelo missionário
William Milne, que traduziu dez livros do Antigo Testamento.
Por volta de 1830, Karl Friedrich Gutzlaff já havia traduzido
os livros de Gênesis e Mateus para o japonês e o Novo
Testamento completo para o siamês.
Samuel Isaac Joseph Schereschewxky, em 1873, terminava a
tradução da Bíblia completa para o mandarim, língua falada na
China. Na tradução do Novo Testamento, Schereschewxky
contou com a ajuda de sete missionários. Mais tarde, já
paralítico, o irmão Scherry (como lhe chamavam), revisou sua
Bíblia em mandarim e ainda conseguiu traduzir toda a Palavra
de Deus para o wenli popular, língua falada por um quarto dos
habitantes da terra naquela época.
No ano de 1839, após 9 anos de intenso trabalho e estudo, os
missionários Hiram Bingham e Thurstom publicavam a Bíblia
completa na língua havaiana. Cerca de cinqüenta anos mais
tarde, o filho de Hiram Bingham, do mesmo nome, traduziu
para a língua gilbertence o Evangelho de Mateus. Foram
necessários quarenta anos de sofrimento sem conta e estudos
constantes para que essa tradução se tomasse realidade. Com
seus pais e Thurstom, Bingham compilou as palavras, criou o
alfabeto, preparou um dicionário e uma gramática para uma
língua não escrita.
Adoniram Judson, missionário norte-americano à Birmânia,
após 22 anos de trabalho sob constante perseguição, publicou
sua Bíblia birmaniana em 1835.
Os missionários Thomas S. Williamson, Gideon H. Pond e
Stephen R. Riggs trabalharam durante quarenta anos na
tradução da Bíblia para a língua dos índios Dakota, tribo norte*
-americana, hoje extinta. Publicaram-na em 1880.
Em língua portuguesa temos a tradução de João Ferreira de
Almeida, ministro protestante da Igreja Reformada Holandesa,
traduzida diretamente dos originais hebraicos e gregos. Almei
da teria feito sua tradução em Java, Oceania, em fins do século
XVn. Essa Bíblia foi revisada e publicada em 1819. Outras
versões em português: a do padre Antônio Pereira de Figueire
do, publicada em 1821, a do padre Mattos Soares e a Tradução
Brasileira, publicadas no início deste século.
18 História, Milagres e Profecias da Bíblia
Em inglês podemos citar, além da célebre Versão do Rei
Tiago, a "American Standard Version" e a "Revised Standard
Version", editadas respectivamente em 190^ e 1952.
Uma obra de grande valor literário, que merece ser aqui
citada, é a Bíblia em esperanto, tradução da Sociedade Bíblica
Britânica e Estrangeira. Por ser o esperanto uma língua
internacional, moderna, precisa e flexível, a Palavra de Deus
nessa língua tem sido lida por milhares de pessoas, com muito
proveito para a causa do evangelho.
Sociedades bíblicas
Em se tratando do importante papel que as sociedades
bíblicas vêm desempenhando na evangelização dos povos,
seriamos injustos com nossos leitores se nos esquecêssemos de
alguém que muito contribuiu para a formação dessas abençoa
das sociedades: a menina Mary Jones.
Filha de modestos operários, Mary teve como berço natal a
aldeia de Bala, País de Gales, Inglaterra, pacato vilarejo que
nem escolas possuía. Sem esperança de poder um dia ler a
Palavra de Deus por falta de instrução, Mary foi surpreendida
por uma iniciativa do governo, que resolveu criar uma escola
naquela localidade. Com muita alegria ela se matriculou e
aprendeu a ler rapidamente.
— Se eu tivesse um exemplar da Palavra de Deus poderia lê-
-lo diariamente e instruir-me — disse Mary muitas vezes. Mas
as Bíblias, naquele tempo, além de raras eram caríssimas.
Todavia, Deus está sempre pronto a atender àqueles que
amam a sua Palavra. Uma senhora ouviu falar da menina que
tanto desejava ler a Bíblia, e como possuísse uma, colocou-a à
disposição de Mary. Esta, cheia de contentamento, ia todos os
dias, após a escola, à casa da bondosa senhora a fim de ler o
Santo Livro. A leitura impressionou-a de tal forma que julgava
não poder mais passar sem a Palavra de Deus.
— Se eu tivesse uma Bíblia que fosse só minha, como a
estimaria! — dizia ela consigo mesma.
Depois de muito pensar, Mary resolveu economizar tudo o
que ganhava para comprar uma Bíblia. Ao fim de seis longos
anos, abriu o cofre e viu que já possuía dinheiro suficiente
para adquirir uma. O bteve permissão e se dirigiu à cidade,
distante vinte e cinco quilômetros, mas quando chegou à
A Bíblia e Sua História 19
única casa que as vendia, ouviu a triste notícia:
— As duas únicas que tenho já estão vendidas; não as posso
ceder.
Um soluço ressoou pela sala. Mary Jones chorava sentida-
mente. Economizara durante seis anos, privando-se de brin
quedos que outras crianças usavam, e, após tão longa caminha
da, não conseguira o que tanto desejava!
O comerciante, entretanto, ficou de tal maneira comovido
que resolveu vender uma Bíblia à menina, embora deixasse de
atender a outro cliente.
Mary enxugou as lágrimas, entregou as moedas e recebeu o
Livro que tanto amava, abraçando-o fortemente e sorrindo de
alegria.
O poder de vontade da pequena Mary e seu profundo amor à
Palavra de Deus foi uma bênção para todos os crentes.
Sensibilizados, alguns líderes evangélicos resolveram organizar
uma sociedade que se dedicasse à edição e distribuição da
Sagrada Escritura em todo o mundo, nascendo assim, em 1804,
a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira. Através de suas
milhares de agências e instituições afiliadas, essa célebre
entidade distribuiu, desde a sua fundação até 1984, perto de
um bilhão de exemplares da Palavra de Deus, em quase mil
línguas.
Imitando a feliz iniciativa dos pioneiros ingleses, evangélicos
da América do Norte fundaram em 1816 a sua Sociedade Bíblica
Americana, organização que vem ocupando os primeiros
lugares na circulação da Palavra de Deus, tendo já distribuído
mais de um bilhão de exemplares da Bíblia em mais de 1.100
línguas e dialetos.
Além destas, duas centenas de entidades similares estão
empenhadas na grande obra de semear a Palavra de Deus em
toda a terra, e essa gloriosa semeadura está assumindo em nossos
dias proporções gigantescas: centenas de milhões de Escrituras
completas ou em parte estão sendo distribuídas anualmente,
especialmente nos países islâmicos e comunistas, entre estes
últimos o Vietnã e a China. Desse grande esforço, que objetiva
colocar a Palavra de Deus em todos os lares do mundo, participa
ativamente a Sociedade Bíblica do Brasil, fundada em 1948, que
distribui, no Brasil e em outros países de língua portuguesa,
dezenas de milhões de Escrituras, no todo ou em parte.
20 História, Milagres e Profecias da Bíblia
A Bíblia emparedada
Há mais de um século, quando ainda não existia o túnel de
São Gotardo, os que se dirigiam à Suíça procedentes da Itália,
ou vice-versa, tinham de transpor o desfiladeiro do mesmo
nome a pé, o que exigia muito tempo. Como era comum
naquele tempo viajar-se em grupos, alguns pedreiros de
Lugano se dirigiam à Suíça em busca de melhores salários.
Entre estes estava Antônio, um jovem que depois de evangeli-
zado por uma senhora, ganhara desta uma Bíblia de luxo,
encadernada a couro. Embora a recebesse, não se interessou
em lê-la, pois não queria saber nada do Cristianismo.
Já em seu posto de trabalho em Glarus, Antônio, enquanto
ajudava na construção de um edifício, zombava e praguejava
com os colegas de tudo que fosse sagrado. De repente, ao
rebocar uma parede, deparou com um vão que devia ser
preenchido com um tijolo. Subitamente lembrou-se da Bíblia
em sua bagagem e disse aos colegas:
— Camaradas, ocorre-me uma boa brincadeira. Vou colocar
esta Bíblia neste vão.
Em virtude do tamanho, a Bíblia foi espremida, danificando a
encadernação.
— Vejam, — disse Antônio — agora reboco à frente e quero
ver se o diabo consegue tirá-la daqui!
Semanas mais tarde ele voltou à sua pátria.
No dia 10 de maio de 1851, irrompeu em Glarus um grande
incêndio que destruiu 490 edifícios. Embora a cidade toda
28 História, Milagres e Profecias da Bíblia
estivesse em ruínas, decidiu-se reconstruí-la.
Um pedreiro perito do norte da Itália, de nome João, foi
incumbido de examinar uma residência ainda nova, porém
parcialmente destruída. Batendo com seu martelo em diversos
pontos de uma parede intacta, a certa altura deslocou-se uma
parte do reboco e surgiu um livro embutido na parede.
Bastante admirado ele o puxou. Era uma Bíblia. . . Como teria
ido parar ali? Era-lhe inexplicável, especialmente porque já
possuíra uma, mas tinham-na tomado. "Esta eles não me
tomarão", cogitou.
João tomou-se um leitor da Bíblia em toda as suas horas
livres. Embora entendesse apenas algumas partes dos Evange
lhos e dos Salmos,'aprendeu e compreendeu que era um
pecador. Descobriu também que Deus o amava e que poderia
obter o perdão dos seus pecados pela fé no Senhor Jesus.
Quando, no outono, regressou à sua pátria e à sua família,
anunciou por toda a parte a sua salvação em Cristo.
Munido de uma mala de bíblias, João aproveitava suas horas
livres para divulgar o evangelho. Assim, chegou ele à região
onde residia Antônio e armou sua estante de bíblias numa
feira. Quando Antônio, perambulando pela feira, parou diante
da estante de João, disse:
— Ora, bíblias! Disso não preciso. Basta-me ir a Glarus, pois
lá tenho uma bem escondida na parede. Gostaria de saber se o
diabo consegue tirá-la dali.
João fitou o homem seriamente e disse:
— Tome cuidado, jovem! Zombar é fácil. O que você diria se
eu lhe mostrasse a tal Bíblia?
— Você não me enganaria — replicou Antônio. — Reconhe
cê-la-ia imediatamente, pois ela está marcada. — E asseverou:
— Nem o diabo consegue tirá-la da parede!
João buscou a Bíblia e perguntou:
— Amigo, reconhece esta marca?
Ao ver a Bíblia danificada, Antônio calou-se, perplexo.
— Você está vendo? No entanto não foi o diabo quem a
retirou da parede, mas Deus, para que você pudesse reconhe
cer que ele vive. Ele quer salvá-lo também.
Nesse instante, embora com sua consciência o acusando,
Antônio extravasou todo o ódio acumulado contra Deus.
Chamou os amigos:
A Bíblia e Seu Poder 29
_• Ei, colegas! O que este sujeito, com sua estante religiosa,
procura aqui?
Em poucos segundos a estante de João estava arrasada e ele
mesmo violentamente agredido. Os agressores rapidamente
desapareceram entre o povo.
Desde então Antônio revoltava-se cada vez mais contra
Deus. Certo dia, depois de beber em demasia, caiu do andaime
a dezessete metros de altura e foi hospitalizado em estado
grave. João, ao saber do addente, foi visitá-lo no hospital.
Embora impressionado com a atitude de João, o coração de
Antônio continuava empedernido. João o visitou cada semana.
Decorrido algum tempo, o addentado começou a ler a Bíblia,
inicialmente como passatempo, e mais tarde com interesse.
Certa ocasião leu em Hebreus 12:5: "Filho meu, não menospre
zes a correção que vem do Senhor".
Ora, isso se ajustava bem a seu caso. Antônio prosseguiu a
leitura, e a Palavra de Deus, capaz de esmiuçar a penha, passou
a operar em sua vida. Reconheceu sua culpa e confessou-a a
Deus. Creu verdadeiramente na obra de Cristo consumada na
craz. Sua alma convalescera, porém seu quadril, paralisado, o
incapadtava para a sua antiga profissão. Encontrou um serviço
condizente com suas aptidões, e, mais tarde, casou-se com a
filha de João, agora seu sogro, amigo e pai na fé.
Antônio já está, há muito, na pátria celestial, mas a Bíblia por
ele emparedada permanece como uma valiosa herança de seus
descendentes.
* * *
O livro empenhado
Aos dezessete anos, W. P. Mackay deixou seu humilde lar na
Escócia para estudar medicina numa Universidade. Como
recordação, sua mãe deu-lhe uma Bíblia com uma dedicatória e
um texto bíblico.
O jovem conhecia a história da redenção e não podia se
esquecer do ensino que havia recebido na sua meninice.
Durante algum tempo, a recordação da fé radiante de sua
querida mãe imunizou-o contra as tentações da vida universitá
ria, mas, como nunca se tinha realmente convertido e consagra
do sua vida a Deus, suas convicções enfraqueceram e ele
começou a mergulhar-se no pecado.
Depois de formado, buscou a companhia de ateus, bêbados e
depravados, e acabou sendo eleito presidente de um clube de
ateus, cujos membros viviam dissolutamente, sem quaisquer
restrições morais. A vida de pecado de Mackay quebrantou o
coração da mãe, que continuou a orar pela salvação do filho até
passar para o Senhor.
Mackay, entretanto, por ser inteligente, passou a fazer parte
da equipe médica de um hospital. Ganhava muito dinheiro,
mas esbanjava com bebidas e outros vícios. Certa ocasião, sob o
efeito do áicool, empenhou por um copo de bebida a Bíblia que
sua mãe lhe dera.
Tempos depois, Mackay estava de plantão no hospital
quando lhe trouxeram um pedreiro, vítima de uma grave
quebra do andaime. O doutor, ao tratar do ferido, ficou muito
impressionado pela tranqüilidade deste e sua radiante alegria.
Não pôde impedir que a recordação de sua mãe cruzasse,
fugaz, a sua memória. O ferido, embora sofrendo muito,
esboçou um sorriso e perguntou:
— Que me diz, doutor?
*
A autoridade da Bíblia
É sobre aâ verdades bíblicas fundamentais que os cristãos
fiéis apóiam a sua fé e esperança. É também através destes
princípios que se conhecem os verdadeiros crentes, unidos
segundo as palavras de Jesus: "A fim de que todos sejam um"
(João 17:21).
Nada, em toda a Bíblia, é mais evidente do que a sua própria
autoridade em matéria de ensino e doutrina. Nem o Senhor
Jesus nem os escritores do Novo Testamento jamais se puseram
a sofismar se o livro de Jeremias, por exemplo, foi escrito
unicamente pelo profeta ou também por outros Jeremias, ou se
o livro de Jó tem ou não Moisés como seu autor. Eles foram
unânimes em aceitar como Palavra de Deus todo o Antigo
Testamento, e o Senhor Jesus baseou muitos dos seus ensinos
no que escreveram Davi, Isaías, Daniel etc. Encontram-se, no
Novo Testamento, cerca de 350 referências ao Antigo, todas
confirmando a infalibilidade dessa parte das Escrituras Sagra
das.
Jesus Cristo veio à terra em cumprimento de centenas de
vaticínios, e estabeleceu o Novo Concerto entre Deus e os
homens conforme já havia sido determinado pelo Pai e
registrado pelos profetas. E quando Jesus deu início ao seu
ministério terreno, seus apóstolos puderam registrar muito do
que ele ensinou e fez, encontrando, quase para cada incidente
da vida do Mestre, uma profecia correspondente nas antigas
Escrituras. Por isso, Jesus podia dizer que tudo acerca dele se
A Bíblia e Suas Doutrinas 51
achava nas Escrituras (Lucas 24:27).
Os livros do Novo Testamento revelam a mais perfeita
obediência aos preceitos de Cristo por parte dos seus escritores.
O apóstolo Paulo de tal maneira subordinou seus ensinos à
autoridade das Escrituras que pôde dizer: "Antes de tudo vos
entreguei o que também recebi; que Cristo morreu pelos nossos
pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e ressusci
tou ao terceiro dia, segundo as Escrituras" (1 Conntios 15:3-4).
Em outra carta, diz o mesmo apóstolo: "Outra razão ainda
temos nós para incessantemente dar graças a Deus: é que,
tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de
Deus, acoíhestes não como palavra de homens, e, sim, como,
em verdade é, a palavra de Deus" (1 Tessalonicenses 2:13).
Vemos, por estas palavras, a suficiência das Escrituras em
matéria de ensino. Jesus jamais deu aos discípulos poderes
legislativos sobre a Igreja. Esses discípulos se limitaram a
transmitir, verbalmente e por escrito, o que receberam de
Cristo, ou seja, "todo o desígnio de Deus" (1 Coríntios 11:23;
15:3; Gálatas 1:11-12; Atos 20:27), que constitui o evangelho. A
própria Bíblia afirma que qualquer evangelho que apresente
inovações ou omissões estranhas ao ensino apostólico é outro
evangelho, e não deve ser aceito pelos cristãos nem mesmo se
anunciado por um anjo vindo do céu (Gaiatas 1:8).
À queda do homem
De maneira geral, os cristãos primitivos criam (e os de hoje
ainda crêem) que a Terra descrita em Gênesis 1:1 ("No
princípio criou Deus os céus e a terra") era perfeita e habitada
por seres angelicais, tendo como príncipe a Lúcifer, o Anjo de
Luz. Este, todavia, se rebelou contra o Criador, sendo então
destronado. Por causa dessa rebelião, a Terra foi duramente
castigada, chegando ao estado caótico e vazio descrito em
Gênesis 1:2: "A terra, porém, era sem forma e vazia; havia
trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por
sobre as águas". No versículo seguinte, narra a Bíblia o início
da restauração da Terra e a criação dos seres viventes, tendo o
homem como coroação de tudo, formado do pó da terra e
revestido da imagem e semelhança divinas.
Nos capítulos 2 e 3 do Gênesis afirma-se que o Senhor Deus
colocou o homem no Jardim do Éden e deu-lhe permissão para
52 História, Milagres e Profecias da Bíblia
comer do fruto de todas as árvores, com exceção do fruto da
árvore do conhecimento do bem e do mal. E o homem recebeu
de Deus os motivos e as condições necessárias para prestar-lhe
plena obediência e manter-se assim em comunhão com ele.
Através da obediência voluntária por parte do homem, Deus
poderia deleitar-se em todas as suas obras,
No entanto, o homem preferiu desobedecer. Através da
serpente, Satanás persuadiu Eva a comer do fruto proibido e
esta, depois de dar-lhe ouvidos, deu-o também a seu marido.
Os trágicos resultados dessa desobediência fizeram do mundo
um vale de lágrimas, cheio de desespero, angústia e sofrimen
to. Miseravelmente escravizada por Satanás e seus demônios, a
raça humana tem sofrido as tristes conseqüências do pecado,
pois este a mantém espiritualmente morta, ou seja, separada de
Deus (Isaías 59:2; Romanos 6:23).
A missão de Jesus
Como uma transcrição grega do hebraico Jehoshua, o nome
"Jesus" foi o de muitos judeus contemporâneos de Cristo,
derivando-se de seu radical os nomes Josué e Jesua. Assim, o
Filho de Deus recebeu de José, mediante divina revelação, um
nome familiar ao povo israelita, pois do ano 35 a 63 d.C. nada
menos que quatro sumos sacerdotes chamados Jesus pontifica
ram em Jerusalém, e o historiador Flávio Josefo, focalizando
acontecimentos daquela mesma época, menciona vinte perso
nagens com esse mesmo nome.
O sentido do vocábulo — ajudar, salvar — foi reforçado e
ampliado no anúncio angelical: "Porque ele salvará o seu povo
dos pecados deles" (Mateus 1:21). Como uma criança judia
entre outras crianças judias, Jesus nada tinha de incomum exn
relação aos seus semelhantes, exceto que crescia "em sabedo
ria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens" (Lucas
2:52), com vistas ã sua divina missão de "buscar e salvar o
perdido" (Lucas 19:10),
A salvação trazida e consumada por Jesus é definitivamente
pessoal e histórica, daí a sua distinção das "salvações" m ito ló
g ic a s e cosmológicas concebidas pela filosofia g re c o -ro m a n a ,
bem como da "salvação nacional" tão ardentemente aspirada
por Israel enquanto sob o jugo imperial romano. De fato>
nessas circunstâncias, a palavra salvadora da cruz soava com^
A Bíblia e Suas Doutrinas 53
estonteante loucura aos ouvidos helênicos, ao mesmo tempo
que escandalizava e enfurecia o judaísmo ortodoxo, enclausu
rado num messianismo distorcido da palavra profética.
Os "salvadores" ou os "deuses salvadores" existiam em
grande número e em diversos lugares no antigo paganismo. A
cada tipo de perigo correspondia um "salvador" especialista:
pagom, dos filisteus, presidia à vida dos peixes; Ceres, deusa
romana (a Demeter dos gregos), "salvava" a agricultura e as
boas colheitas; Atena ou Palas, dos gregos (Minerva para os
lotnanos), protegia as artes e a ciência; Bubona, dos egípcios,
era a salvadora ou conservadora dos bois; Esculápio, dos
gregos e romanos, salvava os doentes e ressuscitava os mortos;
Fauno, dos latinos, salvava os rebanhos contra os lobos.
A lista seria extensa se apenas mencionássemos os principais
"salvadores" em evidência no passado e ainda hoje invocados
em muitas partes do mundo. Até mesmo certas religiões pagãs
e idólatras, rotuladas de cristãs, conservam e veneram "salva
dores", "padroeiros" e "milagreiros" para finalidades as mais
diversas: são casamenteiros, protetores de cegos, guardadores
de ddades etc., ignorando ou menosprezando Aquele a quem
somente pertence o meigo e soberano título de Salvador.
A Bíblia destaca a pessoa de Cristo e o caráter singular de sua
salvação, incomparavelmente superior a todas as atividades
salvadoras de todos os "deuses" da mitologia e da própria
religião mosaica: "Por isso também pode salvar totalmente os
que por ele se chegam a Deus" (Hebreus 7:25).
A fim de nos salvar, Jesus tomou o nosso pecado sobre si
mesmo, levou-o ao Calvário e ali o cravou na cruz. "Ele foi
frespassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas
tt^qüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e
Pelas suas pisaduras fomos sarados" (Isaías 53:5). Jesus Cristo,
0 Salvador por excelênda, "o Cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo" (João 1:29), pode e quer salvar totalmente,
^âo apenas de vidos, doenças e outras adversidades, pois a
Ovação de Cristo é total, envolve a plenitude do ser huma*
tto — espírito, alma e corpo — e transcende as fronteiras da
*^da terrena, avançando por toda a eternidade. O crente é
r r o , portanto, não apenas de alguma coisa, mas para alguma
0tsa, como herdeiro das bem-aventuranças etemas conquista-
98 por Jesus em sua morte substitutiva.
54 História, Milagres e Profecias da Bíblia
Jesus: Deus e homem
A principal fonte de informação a respeito de Jesus são as
Sagradas Escrituras, em cujo Antigo Testamento estava
Cristo prometido. Vejamos o caráter de algumas dessas
profecias: "Portanto o mesmo Senhor vos dará sinal: Eis que
a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e lhe chamará
Emanuel" (Isaías 7:14). Emanuel quer dizer "Deus conosco",
O mesmo profeta, referindo-se ao Messias, escreveu: "Por
que um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo
está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso,
Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz"
(Isaías 9:6).
Por estas passagens o Messias não poderia ser apenas
homem, nem apenas um grande profeta, porque os predicados
de Pai da Eternidade, Maravilhoso, Deus Forte, Príncipe da Paz
só se aplicam a Deus.
Quando nossos primeiros pais pecaram, Deus prometeu
enviar a "semente da mulher", o Messias, e desde então,
através dos séculos, repetiu essa consoladora promessa, sem
pre juntando-lhe mais e mais informações acerca do caráter e
da missão do Messias. E quando se aproximava a época em que
a "semente da mulher" deveria se manifestar para esmagar a
cabeça da serpente (Satanás), Deus cumpriu inúmeras outras
profecias, operando grandes mudanças na vida social, política
e cultural do mundo. Nessa época excepcional, chamada nas
Escrituras de "a plenitude do tempo", veio o Senhor Jesus
(Gálatas 4:4).
Quanto à encarnação do verbo, a própria Escritura chamai
de grande mistério (1 Timóteo 3:16), que só pode ser aceito pelí
fé e segundo a graça de Deus. O apóstolo Paulo fala de Cristc
como possuidor de duas naturezas, quando diz: "Com respeite
a seu Filho (Jesus), o qual, segundo a carne, veio da descendên
cia de Davi, e foi designado Filho de Deus com poder
(Romanos 1:3, 4).
No capítulo primeiro do Evangelho segundo São Mateu?
que trata da genealogia de Cristo, a palavra "gerou" é re p e tid
trinta e nove vezes, mas é omitida no versículo 16, onde lemof
"E Jacó gerou a José, marido de Maria, da qual nasceu Jesuí
que se chama o Cristo". Aqui, como em toda a Bíblia, ná'
lemos que Jesus foi gerado pela vontade do homem. 1
A Bíblia e Suas Doutrinas 55
evangelista Lucas esclarece-nos este mistério quando registra
as palavras do anjo Gabriel a Maria: "Descerá sobre ti o Espírito
Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra;
por isso também o ente santo que há de nascer, será chamado
Filho de Deus" (Lucas 1:35). Voltando ao Evangelho segundo
São Mateus, encontramos: "José, filho de Davi, não temas
receber Maria, tua mulher, porque o que nela foi gerado é do
Espírito Santo" (Mateus 1:20).
Deus e homem numa só pessoa, Jesus Cristo é a figura mais
importante da história da humanidade. Há quase dois mil anos
ele tem sido mais do que vencedor. São de Lutero estas
palavras; "Fora de Cristo desconheço salvação ou consolo,
caminho ou apoio, conselho ou vereda. Nessa verdade perma
neço e mediante ela avanço, porquanto este é o verdadeiro
caminho e ponte, mais firme e mais certo do que qualquer
edifício de pedra ou de ferro. Seria mais fácil desfazerem-se céu
e terra do que ele falhar ou enganar!"
Por outro lado, o Novo Testamento apresenta Jesus, não
apenas como uma verdadeira vida humana, mas, como a vida
humana verdadeira. Teve mãe humana, cresceu e desenvol-
veu-se normalmente, como menino, pela adolescência e matu
ridade. Teve a experiência das emoções e dos sentimentos
comuns a todos os homens: amor, tristeza, indignação, com
paixão. Foi "tentado em todas as coisas, à nossa semelhança,
mas sem pecado". Não só comeu e bebeu, mas conheceu a
fome, a sede e o cansaço. Sua humanidade foi a mais elevada e
a mais santa que este mundo jamais viu.
E quanto à sua divindade? A Bíblia diz: "No princípio era o
Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" (João
1:1). Jesus coloca sua própria autoridade em paralelo com a
autoridade de Deus Pai, fala com a autoridade do Pai e chega
mesmo a dizer: "Quem me vê a mim, vê o Pai" (João 14:9).
Jesus, o Filho de Deus, foi feito Mediador do Novo Concerto
Pelo derramamento do seu predoso sangue na cruz, resgatan
do assim, da maldição eterna, todos os que nele confiam. Por
isso, "quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se
Mantém rebelde contra o Filho, não verá a vida, mas sobre ele
permanece a ira de Deus" (João 3:36). Os que se insurgem
contra a divindade de Jesus Cristo assemelham-se a Himeneu e
Pileto, acerca dos quais o apóstolo Paulo advertiu Timóteo: "a
56 História, Milagres e Profecias âa Bíblia
linguagem deles corrói como câncer''.
Jesus, o bendito Salvador, se despiu da sua glória celeste, e
vestiu-se igual a um camponês. Por amor de nós tomou-se
pobre. Dormiu na manjedoura de outrem, viajou em bote
emprestado, cavalgou no jumento alheio e foi sepultado no
túmulo de José de Arimatéia, tal a sua pobreza. Entretanto,
todos falharam, mas ele, nunca! Ele é o perfeito Salvador, o
amoroso Senhor, o poderoso Cristo!
O valor da justiça de Cristo
A Bíblia, como a perfeita revelação da vontade de Deus, diz
acerca dos homens: "Não há um justo, nem um sequer; todos
estão debaixo do pecado. . . todos pecaram. . . e o salário do
pecado é a morte" (Salmo 14:1-3; Romanos 3:9; 4:12; 6:23).
Dessa lei divina nenhum ser humano se exclui. Todos pecaram
e por isso todos precisam ser libertos do pecado. Nisto consiste
a justificação: livramento da culpa. Tomados injustos pelo
pecado, os homens precisam revestir-se de justiça.
Quando Adão e Eva pecaram, coseram para si ramos de
figueira, fazendo aventais para se cobrirem. Deus, porém,
substituiu essas inadequadas vestes por outras melhores, ou
seja, peles de ovelhas. Folhas de figueira não resistem ao
calor do sol e facilmente se ressecam e partem. Peles de
animais, obtidas mediante o derramamento de sangue ino
cente, podem resistir ao mais forte calor do sol. As primeiras
indicam a inadequada e impotente justiça humana, enquanto
as segundas falam da perfeita e satisfatória justiça de Cristo.
Ao afirmar que somente Deus quer e pode justificar o
homem, a Bíblia revela a condição imposta aos que desejam
apropriar-se da justificação. Diz o apóstolo São Paulo: "Con
cluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independen
temente das obras da lei" (Romanos 3:28). "Pela graça sois
salvos mediante a fé; e isto não v e m de vós, é dom de Deus;
não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura
dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de
antemão preparou para que andássemos nelas" (Efésios 2:8'
10).
Biblicamente, a fé salvadora não consiste na aceitação e
observância de uns tantos dogmas, ritos, cerimônias e m a n d a '
mentos, mas na aceitação de Cristo como Salvador p essoal/
A Bíblia e Suas Doutrinas 57
mediante a sua obra redentora na cruz do Calvário. Cristo, diz
a Bíblia, ressurgiu para nossa justificação. Toda a justiça de
peus foi satisfeita nele, que se fez maldição e pecado por nós.
A ressurreição de Cristo
Todos os ensinos bíblicos que constituem a base do Cristia
nismo estão estreitamente ligados entre si, de sorte que é
impossível negar um deles sem negar os demais. Nessa cadeia
doutrinária destaca-se a doutrina da ressurreição de Cristo. São
os seguintes os motivos por que essa doutrina se impõe a todo
verdadeiro cristão:
Os profetas afirmaram que o Messias nasceria de uma
mulher, que ele seria Deus, que ele morreria e que ele
ressuscitaria. O Senhor Jesus afirmou que era ele o Messias,
que era Deus, que morreria e ressuscitaria ao terceiro dia
(Mateus 16:21; Lucas 9:22; Marcos 8:31). Os discípulos de Cristo
afirmaram que ele era o Messias, que ele possuía duas
naturezas, humana e divina, que ele era Deus, que ele havia
sido morto e que havia ressurgido ao terceiro dia. Afirmam
ainda que ele, após a ressurreição, esteve com seus discípulos
durante quarenta dias, e que foi visto em certa ocasião por cerca
de quinhentas pessoas, muitas das quais ainda viviam ao
tempo em que o apóstolo São Paulo escrevia sua carta aos
Gálatas (1 Coríntios 15:5-7; Lucas 24:34; Mateus 28:17; Marcos
16:14).
Para a Igreja cristã, a ressurreição de Cristo se impõe como
'«na verdade fundamentalmente bíblica e inquestionavelmente
necessária. Os que a negam, negam um elo indispensável na
corrente doutrinária que constitui o plano de Deus para a
salvação; negam a divindade de Cristo, a sua segunda vinda, a
razao de ser da própria Igreja e. enfim, negam a própria
autoridade da Bíblia.
O apóstolo Paulo acentua a importância da ressurreição de
5 st0 nas seguintes palavras: "E, se Cristo não ressuscitou, é
®a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E ainda
aiS: os que dormiram em Cristo, pereceram. Se a nossa
i j ^ n ç a em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais
de es todos os homens. Mas de fato Cristo ressuscitou
U C - ° S mortos' sendo ele as primícias dos que dormem"
°ríntios 15:17-20). Mais tarde, escrevendo aos romanos, o
58 História, Milagres e Profecias áa Bíblia
mesmo apóstolo coloca a morte expiatória de Cristo em pé de
igualdade com sua ressurreição, ao afirmar que ele "foi
entregue por causa das nossas transgressões, e ressuscitou por
causa da nossa justificação" (Romanos 4:25).
Destas e de inúmeras outras passagens bíblicas depreende-se
que a ressurreição do Senhor Jesus é um fato histórico e bíblico.
E doutrina basilar da fé cristã.
A santificação
Na igreja cristã, a santificação é doutrina' das mais importan
tes. Os apóstolos ensinaram que a salvação implica tanto a ação
divina como a humana. Quando o crente, com um coração
submisso, deposita sua confiança no precioso sangue de Jesus e
tudo faz para renunciar à impiedade e às concupiscências
mundanas, ele é santificado por Deus. Este apelo à santificação
aparece com ênfase no Novo Testamento: "Rogo-vos, pois,
irmãos, pelas misericórdias de Deus que apresenteis os vossos
corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o
vosso culto racional. E não vos conformeis com este século,
mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que
experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de
Deus" (Romanos 12:1-2). "Segui a paz com todos, e a santifica
ção, sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hebreus 12:14).
Aos cristãos de Corinto escreveu o apóstolo: "Tendo, pois, ó
amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza,
tanto da carne, como do espírito, aperfeiçoando a nossa
santidade no temor de Deus" (2 Coríntios 7:1). Nesta passagem
Deus está exigindo santidade tanto do coração como do corpo.
Pelo fato de a natureza humana ser universalmente corrupta, a
purificação tem de ser radical e universal. Por isso a Bíblia
centraliza no coração toda a personalidade humana e diz: "E
não estabeleceu distinção alguma entre nós e eles, purificando-
-lhes pela fé os corações" (Atos 15:9). Alguém disse que "a
santidade evangélica é positiva e real, não é simbólica; é
pessoal e moral, não meramente relativa e cerimonial. B
operada pelo Espírito Santo; é interna, radical, difusa e
constitui o fundamento de toda a santidade exterior da vida e
da conduta".
A Bíblia diz, ainda: "Se, porém, andarmos na luz, como ele
está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e 0
A Bíblia e Suas Doutrinas 59
sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado"
(1 João 1:7). Ao seguir a luz, o cristão será sempre conduzido ao
sangue purificador. A santidade que há em Deus produz no
coração do crente um profundo anseio por mais perfeição. Sua
meta é cumprir o mandamento divino, que diz: "Sede santos,
porque eu sou santo" (1 Pedro 1:16).
A vida futura
Por que crianças alegres e sorridentes são soterradas por
avalanches ou vitimadas por guerras injustas e estúpidas, que
não provocaram? Por que o patriarca Abraão morreu em ditosa
velhice, enquanto milhares de outros, apenas no desabrochar
da vida, são implacavelmente ceifados pela morte? Na Bíblia e
na História temos exemplos vários de homens e mulheres
corajosos que saudaram com alegria a sua hora final, mas
temos, também, inúmeros relatos em que pessoas não menos
corajosas viram na sua partida desta vida uma catástrofe
apavorante. Vejamos estes casos;
"Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito, pois tu me
redimiste, Deus da verdade", dizia Martinho Lutero, pouco
antes de morrer. O Dr. Jones disse-lhe ao ouvido: "Reverendo
pai, desejas manter-te firme ao lado de Cristo e das doutrinas
que tens pregado? Resistem elas às agonias da morte?" "Sim,
sim! Mil vezes sim!", exclamou Lutero. E voltando-se para um
lado, dormiu no Senhor.
Por outro lado, o pensador Voltaire, em sua desesperadora
luta contra a morte, chegou mesmo a mandar chamar um
padre, desejoso de renunciar à incredulidade e obter o perdão
de seus pecados; porém, seus admiradores e companheiros de
impiedade ordenaram que todas as portas da casa se mantives
sem fechadas ao sacerdote, impedindo assim que seu líder
consumasse sua retratação. Preso da angústia e do pavor, o
famoso filósofo, ora implorando misericórdia, ora blasfemando
contra Deus, faleceu. Algumas de suas últimas palavras foram:
Irei para o inferno". Foi uma morte terrível!
Sim eão, depois de ver Jesus no templo, louvou a Deus,
dizendo: "Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo,
Segundo a tua palavra; p o rq u e os m e u s olhos já viram a tua
salvação" (Lucas 2:28). Judas Iscariotes, movido por profundo
rçmorso, atirou para dentro do templo as trinta moedas de
60 História, Milagres e Profecias da Bíblia
prata pelas quais havia traído o Filho de Deus, e "retirou-se e
foi enforcar-se" (Mateus 27:5).
Em toda a Escritura a morte nos é sempre apresentada como
inimiga. "O último inimigo a ser destruído é a morte"
(1 Coríntios 15:26). Jesus Cristo, afirma o mesmo apóstolo
Paulo, "destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a
imortalidade, mediante o evangelho" (2 Timóteo 1:10). No
Novo Testamento, a morte e a ressurreição de Cristo são
apresentadas como prova de que a morte foi derrotada:
"Tragada foi a morte pela vitória" (1 Coríntios 15:54). Agora, à
luz da vitória obtida por Cristo no Calvário, esta morte
niveladora, igualitária e objeto de pânico dos pagãos, não mais
é temida pelos crentes. Para estes, a morte não é mais
soberana, mas apenas vencida e desqualificada. Por esta razão
os apóstolos e os crentes do primeiro século não especulavam
sobre a doutrina da ressurreição de Jesus e dos mortos, pois
esta era considerada essencial à fé cristã. Assim como Cristo
venceu a morte e possui "as chaves da morte e do inferno"
(Apocalipse 1:18), assim também o cristão, confiando no seu
Salvador, pode dizer como Paulo: "Mas de ambos os lados
estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo,
porque isto é ainda muito melhor" (Filipenses 1:23).
De fato, a ressurreição de Cristo como "as primícias dos que
dormem" garante a ressurreição final e definitiva de todos os
crentes. "Os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois
nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamen
te com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares,
e assim estaremos para sempre com o Senhor. Consolai-vos,
pois, uns aos outros com estas palavras" (1 Tessalonicenses
4:16-18).
A Bíblia ensina ainda que a salvação deve ser buscada
enquanto aqui vivemos, pois quaisquer "recursos" posteriores,
tais como missas, rezas, velas, promessas, de nada valerão.
"Aos homens está ordenado morrerem uma vez vindo depois
disso o juízo" (Hebreus 9:27), Para os que vivem a nova vida
em Cristo Jesus, a morte já perdeu todo o seu pavor. Tendo
Cristo entronizado no coração, o crente finda aqui os seus dias
aguardando o soar da última trombeta, quando então receberá,
na primeira ressurreição, um corpo incorruptível, semelhante
ao do seu Salvador.
A Bíblia e Suas Doutrinas 61
^ volta de Cristo
Há, efft toda a Bíblia, mais de 1,800 referências ao retomo de
C risto, e no Novo Testamento esse glorioso assunto chega a ser
0 terna central de vários capítulos e até de livros inteiros.
A Escritura Sagrada revela que o retomo de Cristo ocorrerá
em duas fases distintas: Primeira, o Arrebatamento, tanto dos
crentes vivos, que serão transformados num abrir e fechar de
olhos, como dos que morreram em Cristo, os quais serão
ressuscitados ao soar da trombeta de Deus. Segunda, o
aparecimento em glória, com sua Igreja.
O intervalo entre a vinda de Cristo para os santos e a vinda de
Cristo com os santos, corresponde à 70? semana profética de
Daniel, que contém diversos eventos, como a manifestação e o
governo do Anticristo, a Grande Tribulação, a batalha do
Armagedom, a conversão final dos judeus. Esse mesmo
período é tambérn denominado na Bíblia de "dia da vingança
do nosso Deus", em contraposição ao “ano aceitável do
Senhor", ou seja, a presente dispensação da graça (Isaías 61:1,
2 ).
Acerca do Arrebatamento, são muitas as referências bíblicas,
das quais destacamos estas: "Na casa de meu Pai há muitas
moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou
preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar,
voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que onde eu
estou estejais vós também" (João 14:2, 3). "Maridos, amai
vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si
mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a
purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a
apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga,
nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito" (Efésios
5:25-27). Outras passagens: 1 Coríntios 15:51-56; 1 Tessaloni-
censes 4:13-18; 2 Tessalonicenses 2:1, 7, 8; Colossenses 3:4;
1 Pedro 5:4; Tiago 5:7, 8.
Acerca da vinda de Jesus com os santos, lemos: "Logo em
seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não
dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os
poderes dos céus serão abalados. Então aparecerá no céu o
Slnal do Filho do homem; todos os povos da terra se lamenta
rão, e verão o Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu
com poder e muita glória" (Mateus 24:29, 30). O apóstolo São
62 História, Milagres e Profecias da Bíblia
Paulo declara que a vinda do Senhor sobre as nuvens do céu ser£
"com todos os seus santos" (1 Tessalorúcenses 3:13). Finalmen
te, quando Jesus era elevado aos céus, dois varões vestidos
branco apareceram e disseram aos discípulos: "Varões galileus,
por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre
vós foi assunto ao céu, assim virá do modo como o vistes subir"
(Atos 1:11). Outras passagens acerca da vinda de Jesus com os
santos: Daniel 2:44, 45; Zacarias 14:1-5, 9, 16-21; Mateus 25:31-
46; 2 Tessalorúcenses 1:7-10; 2:8; Judas 14, 15; Apocalipse 1:7
19:11-21; 20:1-3.
4
A Bíblia e
as heresias
Os judaizantes
As heresias datam das origens do Cristianismo, sendo uma
das primeiras delas a dos judaizantes. Estes se opunham à
expansão do evangelho e, quando não podiam detê-lo, procu
ravam impor aos cristãos a guarda de preceitos mosaicos.
A esse movimento espúrio o apóstolo São Paulo se opôs com
veemência. Sua carta aos Gãlatas é um testemunho triste de
como os judaizantes conseguiram afastar alguns novos crentes
do evangelho da graça para um legalismo morto, denominado
por Paulo de "outro evangelho": "Admira-me que estejais
passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de
Cristo, para outro evangelho". E acrescenta: "Ainda que nós,
ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá
além do que vos temos pregado, seja anátema" (Gálatas 1:6, 8).
Os judeus, acostumados a um formalismo já tradicional
havia séculos, ao se converterem, tiveram algumas dificuldades
em admitir a doutrina bíblica da justificação mediante a fé,
conforme explicada principalmente pelo apóstolo aos gentios:
Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é
j.0m de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie"
(«festos 2:8, 9).
^ Perniciosa tentativa de unir a lei e a graça resultou em
Práticas antibíblicas mais tarde absorvidas por algumas igrejas
C£ü s , posteriormente chamadas de "igrejas irregulares", as
Muais contribuíram para a formação do catolicismo romano.
0rrt o alastramento do Cristianismo por todas as partes,
64 História, Milagres e Profecias da Bíblia
prindpalmente após as duas grandes derrotas dos judeus em
70 e 135 d.C., perderam os judaizantes grande parte da sua
iníluênda. Organizaram-se, mais tarde, em pequenas seitas,
sendo a priridpal delas a dos ébiomitas, ou igreja dos pobres,
que teria subsistido até o século quinto.
Modernamente, os sabatistas, surgidos em meados do século
passado nos Estados Unidos, são, em certo sentido, os conti-
nuadores dos antigos judaizantes pela tentativa que fazem de
assodar preceitos judaicos, como o da guarda do sábado, à fé
cristã.
0 gnosticismo
O apóstolo Paulo preocupou-se com a presença de gnósticos
na igreja de Colossos (Colossenses 1:9-23), e o apóstolo João
referiu-se a eles em sua Primeira Carta: "E todo espírito que
não confessa a Jesus não procede de Deus; este é o espírito do
anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem, e
presentemente já está no mundo'' (1 João 4:3). Dizendo-se
possuidores de um profundo conhedmento espiritual, os
gnósticos reduziram o Cristianismo a um sistema filosófico ao
basearem suas pretensões numa interpretação perversa de
1 Coríntios 2:6-8: "Entretanto, expomos sabedoria entre os
experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, nem a
dos poderosos desta época, que se reduzem a nada; mas
falamos a sabedoria de Deus, em mistério, outrora oculta, a
qual Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória;
sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conhe
ceu; porque, se a tivessem conheddo, jamais teriam crucificado
o Senhor da glória."
"Gnosticismo" vem da palavra grega "gnose", que significa
conhecimento, dênda. Os gnósticos opunham-se à simplidda-
de da fé cristã. Consideravam-se pensadores profundos e
tentavam explicar, mediante as suas filosofias, os mistérios da
criação e o problema do mal. Para eles havia três tipos dê
pessoas: os instruídos, ou espirituais, que eram eles mesmo8'
os cristãos comuns, em quem se equilibram matéria e espírito/
e, finalmente, os pagãos, ou materiais, nos quais o espírito ^
subjugado pela matéria. Aplicada ao Cristianismo, a h ereslâ
gnóstica ensinava que Jesus, ao ser batizado no Jordão, receb i
um eon, ou seja, uma entidade superior, que fez dele ^
A Bíblia e as Heresias 65
nviado de Deus, capaz de levar os homens à verdadeira
"enose", o evangelho da redenção. Segundo eles, o mundo foi
Jíado pelo último "eon", ou demônio que arrebatou uma
centelha da plenitude divina, com a qual deu vida à matéria.
q $ principais gnósticos foram: Valentim, egípcio, pregou em
Roma entre os anos 135 e 160. Retirou-se para Chipre, onde
fundou uma seita. Carpócrates, contemporâneo de Valentim,
ordenou que seu filho Epifânio, que faleceu ainda moço e cheio
<je vícios, fosse honrado como um deus dentro da sua seita. Era
indiferente às desordens sensuais. Márcio, também contempo
râneo de Valentim, chegou a Roma procedente do Ponto, por
volta de 135. Rompeu com a igreja cristã e fundou uma seita,
^firma-se que ele opunha o Antigo Testamento ao Novo,
chamando aquele de "obra do Deus justo", e ao Novo de "obra
do Deus bom".
Os gnósticos, na verdade, nunca deixaram de existir. Eles
estão presentes, hoje, em diversas sociedades secretas, em
muitas partes do mundo, inclusive no Brasil, onde realizam
sessões e fazem divulgação das suas doutrinas através da
imprensa. Uma página de autoria do "Venerável Mestre de
Mistérios Maiores", Gancha Cuichini, afirma: "Aprendemos a
cumprir a vontade do Pai, tanto no céu como na terra. Para
isso, a procriação em nós verifica-se por obra e graça do Espírito
Santo, ou seja, de Nosso Senhor Jeová, o qual nos dirige e
numa de nossas uniões de magia sexual, permite a fecundação
de nossa esposa ou sacerdotisa por obra e graça do Espírito
Santo, através da ação de um só gene. Desta forma, o parto será
sem dor e esse filho da luz será um novo bem-aventurado para
a glória do Pai".
® Antitrinitarianismo
Os apologistas do século segundo fizeram sabiamente a
*esa de uma das principais doutrinas cristãs: a da Trindade,
pU seja, um só Deus em três pessoas — o Pai, o Filho e o
spírito Santo. Eles mantiveram os dois termos da doutrina:
^ d a d e de essência e trindade das pessoas divinas.
^odo o esforço apologista não evitou, porém, que surgissem
tü'tas especulações e, conseqüentemente, muitos erros. Um
ftcjSses erros foi o antitrinitarianismo, também conhecido por
0clQrüsmo. Esta heresia negava as doutrinas da Trindade, da
66 História, Milagres e Profecias da Bíblia
Divindade de Cristo e da encarnação do Verbo, e tinha como
fundador Teódoto, rico curtidor bizantino. Outros nomes
ligados à defesa e propagação do adocionismo são um banquei
ro chamado Teódoto, e um certo Artémon. Afirma-se que 0
bispo de Roma, Vitor I, por volta do ano 190, teria condenado
tanto a seita como os seus fundadores.
Por volta de 210, Sabélio começou a ensinar a unidade de
pessoas, ou a unidade de naturezas em Deus. Assim, o Pai, 0
Filho e o Espírito Santo seriam apenas três aspectos ou modos
de um mesmo Deus, o Pai. Também o mesmo Pai teria
encarnado, nascido em Belém, pregado o evangelho, ido à cruz
e ressurgido. Daí a razão dos outros nomes dados à seita, como
monarquismo, patri-passiens e modalistas. No primeiro caso,
por somente admitirem a monarquia, ou seja, a unidade da
pessoa; no segundo caso por acreditarem que o Pai sofreu na
cruz, e, por último, por reduzirem as três Pessoas da Trindade
a simples modos.
Estas doutrinas, lamentavelmente, não morreram. So
brevivem hoje parcialmente nas "Testemunhas de Jeová" (que
negam divindade a Jesus e ao Espírito Santo) e nos unitarianos,
que batizam somente em nome de Jesus e atribuem a uma só
Pessoa, o Pai, as manifestações como Filho e como Espírito
Santo.
A Bíblia ensina que as três Pessoas da Trindade, apesar de
unidas, executam funções distintas: na criação, o Pai planejou,
o Filho executou e o Espírito Santo vivificou (Efésios 3.9;
Colossenses 1:16; Jó 33:4); na redenção, o Pai planejou, o Fílhc
consumou e o Espírito Santo aplicou a salvação (João 3:16; 16#
11; 19:30); na Igreja, o Pai "opera tudo em todos", o Fil^
distribui os ministérios e o Espírito Santo reparte os dotf
espirituais (1 Coríntios 12:4-6).
O Novo Testamento revela ainda as manifestações das
Pessoas por ocasião do batismo de Jesus (Mateus 3:16, 17), [
por ocasião do martírio de Estêvão: "Mas Estêvão, cheio ^
Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de D eu^
Jesus, que estava à sua [de Deus] direita" (Atos 7:55)' \
mesmas três Pessoas aparecem distintas na bênção a p o s t ó l ^ ,
"A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e ,
comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós" (2 C o r i f 1**
13:13).
A Bíblia e as Heresias 67
patismo infantil
pepois que o batismo passou a ser considerado como uma
a g ê n c ia de salvação, mediante a herética doutrina da regenera
d o batismal, surgiram outras práticas antibíblicas. Raciocina
vam que' se 0 batismo realmente lavava os pecados, deveria ser
administrado o mais cedo possível. Daí a origem do batismo
infantil. Este, todavia, só foi plenamente aceito depois do final
do século quarto.
As doutrinas da regeneração batismal e do batismo infantil
provocaram, segundo J. M. Carrol, a primeira grande cisão do
Cristianismo, em 251, quando as igrejas fiéis manifestaram-se
contrárias às igrejas que praticavam tais erros. Convém ressal
tar que o Cristianismo oficializado em Roma ao tempo de
Constantino, não foi o que permaneceu fiel às doutrinas
apostólicas, mas o constituído pelas igrejas irregulares. Os
verdadeiros cristãos, desde essa época, passaram a ser dupla
mente perseguidos, tanto pelo Império como pelos falsos
cristãos, ou cristãos nominais, não regenerados.
Apesar de constantemente ameaçada pelos erros doutriná
rios, a Igreja cresceu sobremaneira nos primeiros três séculos,
chegando mesmo a preocupar os líderes pagãos do Império
Romano. E mesmo depois de Constantino continuou vitoriosa
através dos séculos obscuros da Idade Média, perseguida
ferozmente pelos falsos cristãos centralizados nas duas capitais
do Império: Roma e Constantinopla.
O arianismo
Surgido em meados do terceiro século, ensinava o arianismo
<iue Cristo era um simples filho de Deus por adoção, criado do
n*da, portanto inferior a Deus. Mas também dizia que ele não
simples homem. Ocupava uma posição intermediária entre
ueus e o homem, menor que Aquele e maior que este.
o fundador dessa nova doutrina, nasceu no Egito por
^oíta de 256. Era presbítero de uma importante igreja em
sxandria. Suas idéias espalharam-se por todo o Oriente,
ç ^ Concilio de Nicéia, convocado a pedido do imperador
nstantino, rejeitou a doutrina ariana. Destacou-se nesse
srí Ve' Atanásio, enfatizando que Cristo era da mesma
“SfMtacia do Pai.
^ decorrência das controvérsias eristológicas dessa época,
68 História, Milagres e Profecias da Bíblia
surgiram outras idéias antibíblicas, como o focionismo. O bispo
Marcelo de Ancira, ao pretender refutar, em livro, o ariarásmo,
acabou caindo no erro de Sabélio. Soube-se mais tarde que
Marcelo baseara-se nos escritos do bispo Fório, daí o nome da
heresia.
Os arianos, por sua vez, criaram muitas fórmulas para sua
definição de Cristo, caindo numa verdadeira incoerência. Um
bom número delas foi, mais tarde, chamado de semi>
arianismo.
Deuses, semideuses e santos
A principal distinção entre o Cristianismo e o paganismo está
em que neste os mediadores são muitos, enquanto que naquele
há "um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus
homem" (1 Timóteo 2:5). A mitologia greeo-romana ensinava a
existência de deuses maiores ou superiores, e deuses menores
ou inferiores. Acreditava-se que os superiores possuíam todo o
poder, e os inferiores, poderes limitados, servindo de mediado
res entre aqueles e os homens. A característica principal, então,
do paganismo, era uma enorme quantidade de divindades e
um verdadeiro exército de mediadores.
Lamentavelmente, Roma papal entrou pelo mesmo caminho
do paganismo e perdeu sua distinção cristã, ao canonizar urna
longa lista de santos e os constituir mediadores e advogados
entre Deus e os homens. Embora os católicos romanos não
dêem aos seus supostos santos o nome de deuses ou semideu
ses, como a mitologia greco-romana o fazia, é inegável o fato de
muitos homens e mulheres mortos, cujas almas segundo se crê
estão no céu, receberem verdadeiro culto religioso semelhante
em muitos aspectos ao da mitologia clássica, por sua vez
herdada do paganismo babilônico. Numa evidente apostasia, o
romanismo atribui a seus santos os mesmos poderes de
mediação que o paganismo conferia aos seus semideuses.
Entre os pagãos, acreditava-se na possibilidade de uma
pessoa ser canonizada se se fizesse notável por seus feitos, tais
como invenções, conquistas ou qualquer outra grande realiza'
Ção benefidadora do gênero humano, podendo então servi*
como intermediárias em favor deste junto às d iv in d a d e 5
superiores. Todos os filósofos pagãos falam neste s e n tid 0'
como registrou o escritor M. H. Seymour em sua c o n h e d d 3
A Bíblia e as Heresias 69
0bra Noites com os Romanistas:
"O filósofo Apuleo disse: 'Os semideuses são inteligências
Intermediárias, por meio das quais nossas orações e necessida
des chegam ao conhecimento dos deuses. São mediadores
entre os habitantes da terra e os habitantes do céu, e levam para
^ as nossas orações e trazem para a terra os favores implora
dos; vão e voltam como portadores das súplicas dos homens, e
d0s auxílios da parte dos deuses', etc. Era este o credo do
paganismo, e em nada, a não ser no nome, difere do credo do
romanismo, no que diz respeito à intercessão dos santos.
Quando a igreja romana acha entre os membros de sua
comunhão indivíduos tidos por piedosos ou ilustres, em razão
de certos poderes milagrosos, sustenta que podem ser canoni
zados e contados entre os seus santos, como mediadores entre
Deus e os homens. Ela acredita que eles possuem influência
suficiente com Deus, para obter dele os favores solicitados, e
que, portanto, são competentes ou idôneos para acolher as
nossas orações e súplicas, segundo declarou o Concilio de
Trento nestas palavras: 'Os santos que reinam juntamente com
Cristo rogam a Deus pelos homens; e é bom e útil invocá-los
humildemente e recorrer a suas orações, intercessões e auxí
lios'. O princípio do romanismo pagão e o princípio do
romanismo papal são uma e a mesma coisa, não havendo
diferença senão nos nomes dos objetos de invocação. . .
"Quando se descobriu, depois do estabelecimento do Cristia
nismo, nos tempos de Constantino (quando o grande fim
P e ja d o pela corte era estabelecer a uniformidade da religião),
muitos pagãos se conformariam exteriormente com o
Cristianismo se lhes fosse permitido conservar em particular o
^ t o de suas divindades tutelares, concedeu-se-lhes permissão
P^a isso, mudando tão-somente os nomes de Júpiter em
edro, e o de Juno em Maria; e assim aconteceu que continua-
rajri a adorar suas antigas imagens, depois que estas mesmas
^ agens foram batizadas sob nomes cristãos. Os escritos
aqueles tempos tomam evidente o seguinte: acreditou-se que
ssa foi uma medida muito sábia e um golpe de hábil política, e
j tendia a produzir a uniformidade religiosa entre as massas
^Snorantes. A invocação de Juno se transformou na de Maria,
°rações dirigidas a Mercúrio foram então dirigidas a Paulo,
■Não podemos compreender como a simples substituição
70 História, Milagres e Profecias da Bíblia
dos nomes de Mercúrio ou Apoio, pelos de Damião ou
Cosme, ou a dos nomes de Minerva ou Diana, pelos de Lúç^
ou de Cecília, possa mudar o caráter essencialmente idólatra da
prática.
"Uma passagem da Enciclopédia de Fosbroke", continua
Seymour, "informa-nos do mesmo fato com maiores detalhes:
'Os gentios deleitavam-se nas festas dos seus deuses e não
queriam renunciar a elas. Por isso Gregório (Taumaturgo), que
faleceu no ano de 265, e que era bispo de Neocesaréia, instituiu
festas anuais para facilitar a sua conversão. Foi assim que as
festividades cristãs substituíram as bacanais e as satumais; os
jogos de maio substituíram as florais (jogos em honra de Flora)
e as festas da Virgem Maria, de São João Batista e de diversos
apóstolos tomaram o lugar das solenidades que celebravam a
entrada do Sol nos signos do Zodíaco, de acordo com o antigo
calendário Juliana'. Sobre a verdade destas asserções não pode
haver a menor dúvida, pois ainda hoje é evidente a coincidên
cia de algumas festas cristãs com as do paganismo."
A Bíblia afirma que somente Jesus Cristo, como o único
Mediador entre Deus e os homens é que pode perdoar pecados
e conduzir o homem ao seu Criador. Ele disse: "Eu sou o
caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por
mim" (João 14:6). Em Atos 4:12 está escrito: "E não há salvação
em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum
outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que
sejamos salvos".
Sucessão apostólica
Poucos textos bíblicos têm gerado mais controvérsias através
dos séculos do que este: "Respondendo Simão Pedro, disse: Tu
és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Então Jesus lhe afirmou: Bem-
-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e s a n g u e
quem to revelou, mas meu Pai que está nos céus. Também eu te
digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a m in h a
igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Daí'
-te-ei as chaves do reino dos céus: o que ligares na terra, terá
sido ligado nos céus; e o que desligares na terra, terá sido
desligado nos céus" (Mateus 16:16-19).
Eis aí a passagem basilar da sucessão apostólica, segundo a qual
Simão Barjonas foi o primeiro papa a governar a Igreja, de 33 a
A Bíblia e as Heresias 71
a , d.C-, como possuidor de autoridade suprema sobre todos os
géis* Tal ensino, incrivelmente ousado quando posto à luz da
^gtória e da Bíblia, ainda hoje é sustentado por alguns. Contra
todas as evidências históricas e escriturísticas, admite-se a
^jstoriddade e a canonicidade do ministério papal daquele
apóstolo, em decorrência do qual proveio o dogma que confere
aos chefes visíveis da Igreja Romana a plenitude do poder
espWtual legado por Cristo.
São Pedro, de acordo com o catolicismo romano, nasceu em
Betsaída e expirou em Roma em 29 de junho de 66. Esteve em
Antioquia, onde fixou sua sede pontificai, viajando depois pela
G alícia, Capadócia, Ásia e Bitínia. No segundo remado de
Cláudio, transferiu-se para Roma, onde foi preso. Indultado,
voltou a Jerusalém, onde presidiu ao primeiro concilio da
Igreja. Pelo ano de 65, voltou a Roma juntamente com São
Paulo. Poucos meses depois foi preso e crucificado, sob o
governo de Nero. A Igreja Romana ensina ainda que Pedro foi
o príncipe dos apóstolos, que a Igreja foi fundada sobre Pedro,
que o papa é o sucessor de Pedro e o vigário de Jesus Cristo, e
infalível quando fala com autoridade no que concerne à fé ou à
moral.
O texto de Mateus 16:16-19, citado pela Igreja Romana em
apoio de sua doutrina da supremacia papal, não é tão difícil de
ser compreendido. Jesus pergunta aos discípulos: Quem dizem
os homens ser o filho do homem? Ao que Pedro responde: "Tu
és o Cristo, o filho do Deus vivo". Então Jesus declara Pedro
um bem-aventurado, como todo crente, e lhe diz: 'Tu és Pedro, e
sobre esta pedra (não sobre ti) edificarei a minha igreja, e as
Portas do inferno não prevalecerão contra ela". Pedro confessa a
Cristo e este, então, declara: "Sobre esta pedra (Cristo) edificarei a
nünha igreja". Cristo é a pedra, ou fundamento sobre o qual a
%reja está edificada. A mudança do "te" no versículo 18 para
esta pedra" no mesmo versículo é notável, especialmente pelo
feto de o Salvador voltar a usar o "te" no verso 19, Se a Igreja
^vesse de ser edificada sobre Pedro, Cristo teria dito: sobre ti
edificarei a minha igreja. Entretanto, ele disse: "Sobre esta pedra
edificarei a minha igreja. . . E eu te (a ti, Pedro) darei as chaves do
reirio dos céus".
Que Jesus Cristo mesmo é a Pedra, e não Pedro, não há a
^enor dúvida na Palavra de Deus. Além das passagens de
72 História, Milagres e Profecias da Bíblia
Gênesis 49:24, Sâlnto 118:22 e Isaías 28:16, temos no Novq
Testamento as próprias palavras de Pedro, portanto de vaIor
incomparavelmente superior a todas as falácias não fundamen
tadas na Bíblia. Diz o apóstolo: "Chegando-vos para ele (Jesus),
a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para con\
Deus eleita e preciosa" (1 Pedro 2:4; veja também os versículos
5 a 8).
}á na sua confissão anterior, registrada por Mateus, Pedro
reconhece a divindade de Cristo, e este, por sua vez, apresenta
sua opinião acerca do apóstolo. É afirmação clara das Escritu
ras, conforme explica o professor de grego do Instituto Bíblico
Moody, R. S. Wuest: "O nome original de Pedro era Simão.
Nosso Senhor lhe adicionou o apelido Cefas, que no aramaico
significa ‘uma pedra' (João 1:42), como descrição do caráter de
Simão quando o Espírito Santo viesse ocupá-lo totalmente. . .
Mateus, entretanto, escrevendo em grego, usou um termo que
significa pedrinha e é desse vocábulo que obtivemos a palavra
Pedro" (Jóias do Novo Testamento Grego, Imprensa Batista
Regular, São Paulo, 1966, pp. 51 e 52).
Mas, mesmo conferindo às palavras de Jesus sentido que elas
não possuem — como muitos não temem em fazê-lo — ainda
assim a doutrina da sucessão apostólica continuaria estranha ao
espírito do Novo Testamento, onde se pode comparar as
atividades dos apóstolos Paulo e João em relação às de Pedro, e
demonstrar merecerem aqueles dois a mesma honraria a este
atribuída. Jesus veio especialmente do céu para converter a
Paulo e investi-lo no apostolado; foi Paulo quem levou o
evangelho a todas as nações; quem fundou o que poderíamos
chamar de "Teologia Sistemática" e "Teologia Apologética",
segundo afirmam renomados estudiosos da Bíblia; quem codifi
cou a moral derivada da justificação peia fé sem as obras; quem
recebeu revelações de Deus tão extraordinárias que a palavra
humana é incapaz de descrevê-las; quem recebeu a missão/
diretamente de Cristo, de pregar em Roma. Foi Paulo constituí'
do apóstolo de todos os homens, e por isso ele se abrasava pelo
cuidado de todas as igrejas. Foi ele quem repreendeu na cara e
em público a Pedro, quando este caía em falta.
E que dizer de João? Foi chamado por Jesus de "Filho do
Trovão"; era o discípulo a quem Jesus amava; João reclinava a
cabeça no seio do Mestre; foi ele quem acompanhou de peri0
A Bíblia e as Heresias 73
j0 o drama do Calvário; quem escreveu o mais extraordinário
dos Evangelhos; quem recebeu a revelação do futuro glorioso
da e vinda do Anticristo. Foi a João que Jesus confiou
0 cuidado de sua mãe.
Argumentar que Pedro foi o principal dos apóstolos e que
deixou sucessores como papas da Igreja, é ir de encontro a todo
0 contexto bíblico. O teólogo J. J. Von AHmen salienta com
razão que "São Pedro não pode ter sucessores: ele, como os
demais apóstolos, exerceu um ministério tão único como o
próprio ministério terrestre de Jesus. Os apóstolos formam
parte da obra de salvação cumprida uma vez por todas:
pretender multiplicá-los no tempo, arrisca negar concomitante-
mente a uniddade da revelação e da redenção trazidas por
Jesus Cristo" (Vocabulário Bíblico, ASTE, São Paulo).
Em defesa do seu indefensável ponto de vista, os teólogos
romanistas apelam para o testemunho de alguns "pais" da
Igreja, destacando a opinião de Santo Agostinho, autor de
numerosos volumes de comentários bíblicos, em alguns dos
quais se manifestara a favor de uma interpretação superficial do
texto de Mateus. Todavia, numa de suas últimas obras,
preparada especialmente para corrigir os próprios erros espar
sos nos seus muitos escritos, Agostinho retrata-se corajosa
mente das opiniões que emitira sobre o aludido trecho. Aqui
estão suas próprias palavras:
"Em certo passo, disse eu do apóstolo São Pedro, que a igreja
fora fundada sobre ele, como sobre a pedra. . . Mas lembro-me
de que, depois, e por muitas vezes, tenho explicado esta
sentença do Salvador: 'Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei
a minha igreja', neste sentido: que a pedra é Aquele que Pedro
fotfia confessado quando disse: 'Tu és o Cristo, o Filho do Deus
vivente'. Assim foi que Pedro, derivando o seu nome desta
PEDRA, figurava a pessoa da Igreja que sobre ela foi edificada e
que recebeu as chaves do reino dos céus. Com efeito: Não diz
Tu és a pedra (petra), mas, tu és Pedro (Petrus); porque a
Pedra era Cristo, e Simão, tendo-o confessado, como toda a
j§*eja o confessa, foi por isso chamado Pedro. Que escolha o
leitor, destas duas interpretações, a que lhe parecer mais
Provável" (Retratação de Santo Agostinho, obra citada em
a Igreja e o Anticristo, E. Luiz D'Oliveira, Empresa Editora
brasileira, São Paulo, 1930).
74 História, Milagres e Profecias da Bíblia
A tradição romana
De acordo com a doutrina católico-romana, tradição é a
palavra de Deus não escrita na Bíblia, mas transmitida oralmen
te de boca em boca, através dos séculos, e ainda registrada e
interpretada na vastíssima e indeterminada obra dos escritores
eclesiásticos, como Agostinho, Tertuliano, Cipriano, Ambró-
sio, Jerônimo, João Magno, Tomás de Aquino e em todos os
decretos de concüios e pastorais de papas.
Um criterioso exame da tradição revela a fragilidade da sua
base, pois a "palavra de Deus fora da Bíblia", como é chamada,
não passa de divergentes opiniões e idéias de homens acerca de
assuntos morais, religiosos e bíblicos, uma vez que é impossí
vel Deus contradizer-se na sua Palavra. "O supremo Juiz, pelo
qual todas as controvérsias de religião são determinadas e
todos os decretos de concílios, opiniões de escritores antigos,
doutrinas de homens e espíritos privados serão examinados e
cujas sentenças devemos acatar, não pode ser outro senão o
Espírito Santo, falando através das Escrituras", afirma a Confis
são de Westminster.
Até à Renascença, a Igreja Romana não havia tomado uma
atitude definida com respeito à tradição, em virtude do pouco
conhecimento da Bíblia e da conseqüente fraca oposição aos
dogmas católicos. Mas, com o advento da Reforma Protestante
no século XVI e a abundante distribuição da Palavra de Deus
por toda a Europa, o catolicismo foi desafiado a sustentar seus
dogmas à luz refulgente da Bíblia. Como, logicamente, a
maioria desses dogmas estivesse divorciada da verdade, era
forçoso encontrar outra autoridade que os apoiasse, a menos
que fossem negados e renunciados.
O romanismo, porém, já se havia distanciado demais dos
ensinos bíblicos para voltar a harmonizar-se com eles, £
preferiu então confirmar todas as suas doutrinas e apoiá-las em
outra base. E assim, no Concilio de Trento, realizado logo
depois da arrancada triunfante da Reforma, estabeleceu-se o
dogma segundo o qual a autoridade da tradição é absolutamente
igual à das Sagradas Escrituras. Esse mesmo concilio junto#
ainda ao cânon sagrado alguns livros apócrifos, ou seja, não
inspirados por Deus, os quais preceituam alguns erros eclesiáS'
ticos.
Desde a época em que as muitas inovações anticristãs
A Bíblia e as Heresias 75
começaram a ser aceitas pela Igreja Romana, esta começou a
encontrar dificuldades em justificá-las biblicamente. Tais difi-
^jldades levaram o Concilio de Toulosa, em 1229, a uma
jnedida extrema: proibir o uso da Bíblia a todos os leigos. A
partir dessa data, o clero romano tudo fez para impedir a
propagação da Palavra de Deus, não conseguindo, todavia, o
5eu intento.
Entretanto, depois dos grandes trabalhos de tradução e
íüvulgação das Sagradas Escrituras, realizados por Wicliffe,
Tyndale e Lutero, a Igreja Romana foi obrigada a reconsiderar,
em parte, seu decreto de 1229, permitindo aos fiéis ler a Bíblia
em edição por ela aprovada e desde que não formassem um
juízo próprio de seus ensinos, mas aceitassem a interpretação
tradicional da Igreja, a única certa e infalível. Destarte, os
dogmas fundamentados na tradição estariam resguardados e a
Bíblia reduzida, assim, a um livro ininteligível e destituído da
sua principal característica: a autoridade.
"A questão da autoridade na Igreja de Roma sempre foi uma
dolorosa questão; mas, a história revela que a sua tendência
sempre foi a de flutuar de um para outro ponto, com propensão
para fixar-se no papado. Essa foi a evolução da autoridade: das
Escrituras para a tradição, desta para a Igreja, da Igreja para o
clero e deste para o papa, que em 1870 diria: La tradizzione son
io” (Revista Fé e Vida, São Paulo, maio de 1943).
Não há negar, a tradição teve o seu lugar na Igreja quando foi
preciso responder às diversas heresias que argumentavam com
textos bíblicos mal interpretados. Aqui temos o uso legítimo e
útil de uma tradição: corroborar, confirmar e dar testemunho
das Escrituras Sagradas. E jamais os chamados "pais da igreja"
deram à tradição autoridade igual ou superior à da Bíblia.
Na igreja primitiva não havia duas autoridades doutrinárias.
Isso percebemos facilmente pela leitura do Novo Testamento,
bem como pelo testemunho dos cristãos dos primeiros séculos.
Cipriano, no século III, escrevendo ao bispo Estêvão, disse: "a
^adição sem a verdade é o erro envelhecido". Tertuliano
afirmou: "Cristo se cognominou a Verdade, mas não a tradi-
Ção", e acrescentou: "Os hereges vencem-se com a Verdade e
^ão com a novidade". Vicentio, ano 450: "Inovações são coisas
hereges e não de crentes ortodoxos". São Jerônimo, autor da
kadução da Bíblia considerada oficial pela Igreja Romana — a
76 História, Milagres e Profecias da Bíblia
Vulgata Latina — escreveu: "As coisas que se inventam e se
apresentam como tradições apostólicas, sem autoridade e
testemunho das Escrituras, serão atingidas pela espada de
Deus",
A Igreja de Roma invoca a autoridade de Irineu, que citava ç
apelava para a tradição. Contudo, a tradição de Irineu era
apostólica, pois fora discípulo de Policarpo e este de João. Além
disso, Irineu jamais concedeu à tradição autoridade igual à da
Bíblia.
Para os que defendem a tradição como verdadeira, necessária
e como um complemento às Sagradas Escrituras, os ensinos de
Cristo e de seus apóstolos ou estão incompletos ou são
insuficientes para a salvação, Isso vai de encontro às seguintes
passagens bíblicas: "E que desde a infância sabes as sagradas
letras que podem tomar-te sábio para a salvação pela fé em
Cristo Jesus. Toda Escritura é divinamente inspirada por Deus
e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a
educação na justiça” (2 Timóteo 3:15, 16). "Examinais as
Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas
mesmas que testificam de mim" (João 5:39).
Além dessas e de muitas outras passagens, temos as palavras
do Senhor Jesus: "Eu, a todo aquele que ouve as palavras da
profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer
acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste
livro; e se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro
desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da
cidade santa, e das que estão escritas neste livro" (Apocalipse
22:18, 19). Este texto é, a um tempo, garantia e advertência.
Garantia de ser a Bíblia a infalível e completa Palavra de Deus,
reveladora de toda a vontade divina a nosso respeito; advertên'
da, pois Deus não tolerará quaisquer acréscimos ou omissões
em sua Palavra.
O espiritismo
O espiritismo, tal como o conhecemos hoje, é c u m p r im e n to
da Palavra de Deus, que afirma: "Ora, o Espírito afirm3
expressamente que nos últimos tempos alguns apostatarão da
fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos
demônios" (1 Timóteo 4:1).
O principal codificador do espiritismo moderno foi HippolV'
A Bíblia e as Heresias 77
jg Léon Denizard Rivail, nasddo em Lion, na França/ em 1804.
médico, bacharel em dências e letras, professor e dentista,
^gse no dia 30 de abril de 1856 que havia recebido a missão de
Pregar uma nova religião. Esse sábio francês, que adotou o
ftO®e de Allan Kardec, escreveu inúmeras obras, entre elas O
livro dos Espíritos, O livro dos Médiuns, O Céu e o Inferno e O
£ví*ngdho Segundo o Espiritismo.
Vejamos algumas das prindpais doutrinas espíritas, compa
rando-as com os ensinamentos claros da Bíblia Sagrada:
A doutrina espírita afirma que Deus existe, porém não de
form a pessoal, mas longínquo, que "se perde na distânda
imensurável de um ponto espiritual que mal podemos vislum
brar" (dt. por T. G. Leite Filho, em Evangelismo: Missão de Todos
Nós, CPAD, Rio de Janeiro, 1982). Esse Deus é uma espéde de
inteligênda cósmica responsável tanto pela criação como pela
manutenção de todo o Universo.
Na Bíblia, entretanto, descobrimos um Deus vivo, real,
pessoal, existente por si mesmo, que se manifesta nas obras de
suas mãos, na história da raça humana e especialmente de
Israel, seu povo escolhido. Nas páginas das Escrituras Sagradas
vemos Deus se revelando a patriarcas, sacerdotes, profetas,
apóstolos e crentes em geral, inclusive por meio de aparições e
do testemunho do Espírito Santo.
Podemos descobrir a personalidade de Deus através dos
títulos que ele usou no Antigo Testamento, como: Eu Sou
(Êxodo 3:14); Javé*Jiré, o Senhor proverá (Gênesis 22:13, 14);
Javé-Nissi, o Senhor é a nossa bandeira (Êxodo 17:15); Javé-
Rofeca, o Senhor que é minha saúde (Exodo 15:26); Javé-
Shalom, o Senhor é nossa paz (Juizes 6:24); Javé-Rafá, o Senhor
é o meu pastor (Salmo 23:1); Javé-Tisidkenu, o Senhor é a nossa
justiça (Jeremias 23:6); Javé-Samá, o Senhor está presente
(Ezequiel 48:35); Javé-Eliom, o Senhor Altíssimo (Salmo 97:9);
tavé-Sabaote, o Senhor dos Exércitos (1 Samuel 1:3); )avé~
^ikidaskim, o Senhor que santifica (Êxodo 31:13), e El Shaddai,
Todo-poderoso (Gênesis 17:1) etc. Por tais atributos ele é
^ vo, eterno, imutável, onisdente, onipotente, justo, reto e fiel.
O homem, segundo o espiritismo, compõe-se de três ele-
j^entos essenciais: corpo, espírito e perispírito, sendo este
^ o , além de indestrutível e eterno como o espírito, a parte
une o corpo e o espírito como um laço, e consiste numa
78 História, Milagres e Profecias da Bíblia
envoltura semimaterial, invisível, mas que às vezes pode
tomar-se tangível nas sessões espíritas.
A Bíblia, entretanto, ensina que o homem foi criado por Deus
a partir de coisas já existentes, ou seja, do pó da terra. Para isso
o Gênesis emprega a palavra "asah". Quando, porém, a
referência é ao espírito e à alma do homem, usa-se "bara", que
significa criar do nada (Gênesis 1:27; 2:7). Estas duas palavras
aparecem em Isaías 43:7: "A todos os que são chamados pelo
meu nome, e os que criei (bara) para a minha glória; eu os
formei, sim, eu os fíz (asah)". O homem foi criado perfeito, por
um Deus perfeito. A Bíblia chama ao corpo "homem exterior" e
ao espírito e à alma "homem interior" (2 Coríntios 4:16; Efésios
3:16). Todavia, o homem possui Mvre-arbítrio, mediante o qual
pode escolher amar a Deus ou desprezá-lo. E o homem preferiu
desobedecer a Deus, embora, se quisesse, poderia ter permane
cido obediente. Com a entrada do pecado no mundo, o homem
perdeu a comunhão com Deus e a própria natureza ficou
sujeita à vaidade.
Para os espíritas, os espíritos não provêm de uma criação
especial, e chegaram a essa condição mediante uma evolução
multimilenar. Eram simples e ignorantes a princípio, mas,
dando curso ao seu iivre-arbítrio, progrediram, uns mais outros
menos, tanto em inteligência como em moralidade. São almas,
ou espíritos, dos que viveram na terra ou em outros mundos
habitados, e que deixaram o invólucro corporal. AHan Kardec
os classifica em três grupos principais: espíritos puros, espíritos
bons e espíritos imperfeitos.
A Bíblia, ao afirmar que "aos homens está ordenado morre'
rem uma só vez e, depois disto, o juízo" (Hebreus 9:27), nega
terminantemente que os espíritos dos mortos possam retomar
a este mundo, e muito menos reencamar-se. Os supostos
espíritos que se comunicam com os vivos através da mediuní-
dade não passam, portanto, de demônios, que são seres
puramente espirituais e inteligentes. A Bíblia está cheia de
exemplos da capacidade que os demônios, ou maus espíritos/
têm de enganar as pessoas.
Comandados por Satanás, que é capaz de transformar-se efí*
"anjo de luz" para enganar as pessoas e alcançar seus sórdidos
objetivos, os espíritos maus são os que realmente se manifes'
tam nas sessões espíritas, em meio a pessoas que negam toda5
A Bíblia e as Heresias 79
as verdades fundamentais da Palavra de Deus. Se o mundo jaz
no maligno, se Satanás é o príncipe deste mundo e se
percebemos a sua ação nefasta sobre a humanidade não
regenerada, quanto mais não se manifestarão os agentes do
inferno em toda a sua astúcia e ostentação de poderes até
mesmo miraculosos!
A reencarnação, conforme o espiritismo ensina, é uma lei
segundo a qual a alma, ou espírito, volta à vida corporal, mas
em outro corpo que nada tem de comum com o antigo. A
reencarnação é o meio pelo qual todas as criaturas se envolvem
nos planos intelectual e moral, à medida que expiam os erros
cometidos nas encarnações passadas. Como fenômeno próprio
do espírito humano, este tem de nascer, morrer, renascer e
progredir sem cessar. No seu comentário do evangelho, Kardec
diz que a reencarnação fazia parte dos dogmas judaicos sob o
nome de ressurreição.
Começando pelo diálogo com Nicodemos, querem os espíri
tas que as palavras de Jesus: "E necessário nascer de novo" se
refiram à reencarnação. Note-se, porém, que ali mesmo Jesus
explica que estava falando do nascimento espiritual, e não do
carnal. Não é voltar ao ventre materno e reencamar-se, mas,
sim, nascer de novo pela semente incorruptível da Palavra de
Deus, conforme explica o apóstolo Pedro em sua Primeira
Carta, capítulo um, versículo 23.
Nas próprias supostas reencamações de Rivail percebemos a
grande incoerência do espiritismo. Rivail afirma que numa de
suas encarnações havia sido um sacerdote católico-romano nas
Gálias antigas, chamado Allan Kardec, razão pela qual assinou
suas obras com esse nome. Afirma também que os espíritos lhe
revelaram que, numa encarnação posterior à de Kardec, foi ele
o mesmo João Huss, o famoso pregador e reformador tcheco,
rnartirizado em 6 de fevereiro de 1415. Comparando a fé
religiosa desses três, percebemos que, enquanto Rivail não
acredita na Bíblia, nem no inferno, nem no céu, nem na Igreja,
fiem na ressurreição, Huss acredita em todas estas coisas, e o
suposto Kardec, na condição de sacerdote católico-romano,
certamente cria no purgatório e negava a reencarnação e todas
outras crenças espíritas. São profundas as diferenças doutri
nárias entre esses três, como representantes de três distintas
religiões. Rivail diz que fora da caridade não há salvação;
,
80 História Milagres e Profecias da Bíblia
Kardec, como padre católico-romano, ensina que fora da Igreja
não há salvação, e Huss enfatiza que fora de Cristo não há
salvação.
Jesus não deixa a menor dúvida sobre a falsidade da
reencarnação e sobre a veracidade da ressurreição, quando diz;
"Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento; mas
os que são havidos por dignos de alcançar a era vindoura e a
ressurreição dentre os mortos, não casam nem se dão em
casamento [logo, ressurreição não pode ser reencarnação). Pois
não podem mais morrer [o que não acontece na pretendida
reencarnação], porque são iguais aos anjos, e são filhos de
Deus, sendo filhos da ressurreição" (Lucas 20:34-36).
Com relação à Bíblia, usam os espíritas de dois pesos e duas
medidas. Quando querem que suas conjeturas sejam confirma
das pela Bíblia, citam algum versículo isolado e dizem: "está
escrito". Quando tomam alguma posição certos de que não
podem basear-se na Bíblia, desprezam-na totalmente e apóiam-
-se na opinião do espírito de um suposto ilustre falecido. Umas
das passagens mais conhecidas e citadas, e também mais
torcidas pelos espíritas, é o diálogo entre Nicodemos e Cristo.
O espírita Carlos Imbassahy definiu bem a posição do
espiritismo em relação à Bíblia: "Gostamos pouco de discutir
baseados na Bíblia, por que além de a conhecermos mal,
encontramos nela, misturados com os mais santos e sábios
ensinamentos, os mais descabidos e inaceitáveis absurdos" (O
Espiritismo Analisado, citado em Heresiologia, EETAD, Campi
nas, São Paulo).
Kardec diz que Jesus "veio completar as profecias que lhe
anunciavam a vinda. A autoridade provinha-lhe da natureza
excepcionai do seu espírito e da sua divina missão; veio ensinar
aos homens que a verdadeira vida não existe na terra, mas no
reino dos céus: veio mostrar-lhes o caminho que a eles conduz
os meios de se reconciliarem com Deus e fazê-los pressentir a
marcha das coisas futuras para cumprimento dos destinos
humanos" (O Evangelho Segundo o Espiritismo).
Analisemos as palavras de Kardec. O espírito de Cristo é de
uma "natureza excepcional". E por que não natureza divina? A
autoridade provinha-lhe. . . da sua "divina missão". A divina
missão de Jesus foi salvar os pecadores e morrer por eles. Veio
ensinar aos homens que "a verdadeira vida não existe na terra
A Bíblia e as Heresias 81
no reino dos céus". Por que, então, os espíritas não crêem
n o s céus, esse reino fe liz e glorioso onde todos os salvos vivem
a verdadeira vida? Veio "mostrar-lhes o caminho que a eles
c o n d u z " . Por que, então, o espiritismo não aceita esse caminho
q tie é, sem dúvida, o caminho que conduz ao céu, ao reino dos
céus?
A Bíblia diz que Jesus é o Salvador, o médico divino, que veio
buscar e salvar o perdido, O espiritismo esforça-se por ignorar
completamente a obra redentora de Cristo, apresentando-o ao
mundo como um grande filósofo, um grande sábio, um grande
mártir. Nunca o chama de Senhor, mas sempre de Mestre.
Esquece-se, entretanto, que com esse cruel procedimento
arranca, de todas as missões de Jesus, a maior delas, a mais
elevada, a principal, que é o evangelho que ele próprio mandou
pregar, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna.
De fato, quando Kardec procura descrever a missão de Jesus,
nada fala da missão de Cristo dé salvar a humanidade pelo seu
sangue, e não menciona o nome principal de Jesus, que é
"Salvador". Não diz que ele veio para ser levantado na cruz
como a maior de todas as esperanças do cristão. E podemos
dizer, mesmo, ser o sangue de Jesus a única tábua de salvação
que nos resta aqui. Satanás, procurando ocultar-se no espiritis
mo, investe violentamente contra o Salvador Jesus, desvirtuan
do o poder infinito do seu precioso sangue que nos purifica de
todo o pecado.
5
A Bíblia e
sua mensagem
Ameaça nuclear
Em 1954, o filósofo inglês Bertrand Russell denunciou a
terrificante ameaça de um conflito nuclear em um manifesto
que concluía assim; "Dirigimo-nos a vós, como seres humanos
a outros seres humanos. Lembrai-vos de nossa humanidade e
esquecei o resto. Se puderdes fazê-lo, o caminho de um novo
paraíso está aberto. Se não, é a morte universal." Einstein, dois
dias antes de morrer, firmou esse documento.
O manifesto foi ainda assinado por outros cientistas, quase
todos ganhadores do prêmio Nobel. Estes, em número de 22,
se reuniram pela primeira vez em julho de 1957, na Ilha
Pugwash, cedida aos defensores da paz pelo milionário cana
dense Cyrus Eaton. Na ocasião, os cientistas declararam: "É
necessário suprimir a guerra ou preparar-se para a catástrofe.
As experiências atômicas já provocam mutações, causam cân
cer e leucemia. O progresso científico e técnico é irreversível. A
humanidade agora só pode unir-se. .
Do antigo documento de Russell originou-se o "Movimento
Pugwash", que tem reunido pacifistas de várias partes do
mundo. Numa conferência em 1966, o ganhador do prêmio
Nobel da paz, Philip Noel-Baker, descreveu os resultados de
uma única bomba de dez megatons, caso fosse lançada sobre
Londres: "A explosão a dois quilômetros acima de Trafalgar
Square aniquilaria Londres. O centro da cidade ficaria reduzido
a pó. Por baixo, subiria um pilar de fogo com dois quilômetros
de altura e quarenta de largura. Em redor, roncaria um furacão.
Os reservatórios e os encanamentos de gás, juntamente com os
postos de gasolina, explodiriam. O ar dos abrigos subterrâneos
seria aspirado e substituído pelo óxido de carbono, mortalmen
te tóxico. Num raio de oitenta quilômetros, toda a população
ficaria cega."
Se o mundo acordou sobressaltado no dia 6 de agosto de
1945, com o aniquilamento repentino de Hiroshima e com a
consciência terrível de que o homem finalmente descobrira o
maior segredo da natureza — a impressionante energia contida
no minúsculo átomo — a situação hoje é muitas vezes pior. Da
bomba atômica ("A") os Estados Unidos chegaram à de
hidrogênio ("H") em 1952. A União Soviética explodiu sua
bomba "A" em 1949 e a "H" em 1957. A França lançou a "A"
A Bíblia e Sua Mensagem 101
em 1960. A China detonou a "A" em 1964 e a "H" em 1967. Em
resumo, de 1945 a 1985 cerca de mil e quinhentas explosões
nucleares foram registradas nos mais diversos testes em vários
pontos do Globo.
O profeta Daniel fala de “tempo de angustia, qual nunca
houve, desde que houve nação", e Jesus afirma: “Não tivessem
aqueles dias sido abreviados, e ninguém seria salvo" (Daniel
12:1; Mateus 24:22). Por mais pavorosas que tenham sido as
guerras da história, nenhuma logrou sequer ameaçar de
extermínio a população da terra. Nem mesmo os dois grandes
conflitos mundiais do século vinte. Por isso muitos escarneciam
das citadas palavras bíblicas, considerando-as uma prova da
impossibilidade da inspiração da Escritura Sagrada. Mas a
ciência da guerra desenvolveu-se a tal ponto que hoje poucos
duvidam de que possa ocorrer um suicídio mundial.
O poderio atual das duas superpotências é assombroso. Ao
simples apertar de um botão, podem partir como raios mísseis
intercontinentais com cargas destrutivas equivalentes a um
milhão e trezentas mil bombas do tipo da que arrasou Hiroshi-
ma. Também são fabricadas armas "inteligentes", que são
atraídas pelo alvo. Minas que "dormem" no fundo do mar e
"despertam" com a passagem de um submarino inimigo.
Bombas voadoras teleguiadas e obuses enriquecidos com
urânio. Aviões lentos como o A-10, verdadeiro canhão voador,
ou rápidos como o F-15, capaz de fazer seus 2.500 quilômetros
horários sem perder as características de manejo. E que falar da
bomba de nêutrons, que mata as pessoas e preserva as presas
da guerra? dos satélites equipados com armas atômicas? do raio
(LASER) da morte? da guerra química? da guerra radiológica,
que mata por dispersão de materiais radioativos, sem explosão?
da arma biológica, que causa cem vezes mais estragos do que a
nuclear e custa muito pouco?
Que tais armas serão usadas num novo embate mundial é
fora de dúvida para quem estuda a Palavra de Deus. O apóstolo
Pedro refere-se claramente a uma conflagração nuclear de
enormes proporções quando afirma que “os céus que agora
existem, e a terra, pela mesma palavra têm sido entesourados
para fogo, estando reservados para o dia do juízo e da
destruição dos homens ímpios. . . no qual os céus passarão
cOm estrepitoso estrondo e os elementos se desfarão abrasados;
,
102 História Milagres e Profecias da Bíblia
também a terra e as obras que nela existem serão atingidas"
(2 Pedro 3:7, 10).
Enquanto aumentam as desilusões com os efêmeros e
desacreditados tratados de paz e de limitação de armas, vão as
nações acelerando o cumprimento das profecias bíblicas ao
prepararem as condições necessárias aos juízos apocalípticos
que ainda hão de sobrevir à Terra. E como não justificar o
medo, e a insegurança hoje reinantes no mundo, quando parte
desse vasto poderio pode cair em mãos de governos ditatoriais,
belicosos e ateus, com pouca ou nenhuma consideração pela
vida humana, como infelizmente a história já o tem tantas
vezes demonstrado?
Nestes últimos dias da conturbada história humana, Cristo
continua sendo a única esperança. Nele há refúgio, há certeza,
há segurança, "ainda que a terra se transtorne, e os montes se
abalem no seio dos mares" (Salmo 46:2). Somente os que nele
se refugiam podem dizer com o apóstolo Pedro: "Nós, porém,
segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra,
nos quais habita a justiça" (2 Pedro 3:13). A bendita promessa
de Jesus, prestes a cumprir-se, refere-se ao rapto da sua Igreja e
ao estabelecimento do seu reino de verdadeira paz aqui na
Terra. Ao mencionar os sinais dos tempos, disse ele: "Ora, ao
começarem estas coisas a suceder, exultai e erguei as vossas
cabeças; porque a vossa redenção se aproxima" (Lucas 21:28).
Somente Cristo, por sua triunfante intervenção nos destinos do
mundo, vai impedir a total autodestruição da raça humana.
6
A Bíblia e
suas profecias
Assíria e Nínive
Mostrando ao mundo a universalidade do seu amor, Deus
enviou Jonas à grande cidade de Nínive, tão vasta que, para
atravessá-la a pé, necessitava-se de três dias. Isto ocorreu por
volta do ano 800 a.C. Todavia, menos de um século depois, em
745 a.C., tiranos implacáveis começaram a fazer da Assíria a
mais sanguinária potência do antigo Oriente. Crimes os mais
bárbaros e suplícios de requinte insuperáveis eram usados
rotineiramente por esse povo que só pensava em dominar,
escravizar e exterminar, E foi em decorrência dessa desenfrea
da e arrogante febre de conquistas e opressões que Naum,
cerca de 630 a.C., durante o reinado de Josias, vaticinou contra
a capital assíria:
"Ai da cidade sanguinária, toda cheia de mentiras e de
roubo, e que não solta a sua presa. . . Os cavaleiros que
esporeiam, a espada flamejante, o relampejar da lança, a
multidão de trespassados, massa de cadáveres, mortos sem
fim; tropeça gente sobre os mortos. . . Também tu, Nínive,
serás embriagada, e te esconderás; também procurarás refúgio
contra o inimigo. . . Os teus pastores dormem, ó rei da Assíria;
os teus nobres dormitam; o teu povo se derrama pelos montes,
e não há quem o ajunte. Não há remédio para a tua ferida; a tua
chaga é incurável; todos os que ouvirem a tua fama baterão
palmas sobre ti; porque, sobre quem não passou continuamen
te a tua maldade?" (Naum 3:1, 3, 11, 18, 19). Tais profecias
referem-se mais precisamente à capital dos assírios, mas Isaías,
104 História, Milagres e Profecias da Bíblia
em vários capítulos de seu livro, fala de toda a nação: "Ai da
Assíria, cetro da minha irai A vara em sua mão é o instrumento
do meu furor. . . Porque daqui a bem pouco se cumprirá a minha
indignação, e a minha ira, para a consumir'' (Isaías 10:5, 25).
É interessante observar que estas predições datam de uma
época em que o reino assírio estava no auge do seu poder, sob a
administração do invencível Assurbanipal, que começou a
reinar em 668 a.C. Bisneto do experiente guerreiro Sargão, neto
do poderoso Senaqueribe e filho do famoso Asaradon, Assur-
banipal conseguiu ampliar ainda mais o seu já vastíssimo
império, principalmente após a conquista da riquíssima cidade
egípcia de Tebas (Nô-Amom, conforme Naum 3:8), em 663 a.C.
Porém, com a morte de Assurbanipal em 626 a.C , o império
começou a se enfraquecer rapidamente, enquanto surgia um
novo poder constituído de neobabilônios e medos, os quais
conseguiram tomar a poderosa Assur em 614. Dois anos mais
tarde, depois de uma grande batalha, a cidade de Nínive foi
tomada, destruída e queimada, cumprindo-se também, rigoro
samente, as palavras de Sofonias, proferidas uns vinte anos
antes: "E destruirá a Assíria; e fará de Nínive uma desolação, e
terra seca como o deserto" (Sofonias 2:13).
"Nínive, que durante séculos, com expedições de conquista e
ocupação, com torturas, terror e deportações em massa, só
causara sangue e lágrimas através do mundo antigo, Nínive
estava destruída e queimada. O Fértil Crescente respirou alivia
do. Os povos torturados encheram-se de júbilo. . . e renasceu a
esperança", afirma Wemer Keller em sua conhecida obra £ a
Bíblia Tinha Razão.
Apenas dois séculos mais tarde, em 401 a.C., quando Xenofon-
te passou com os seus milhares sobre as ruínas da capital assíria,
havia desaparecido até mesmo a memória e o nome de Nínive. A
palavra dos profetas foi cabalmente cumprida.
O Egito
Antigo berço de uma das mais notáveis civilizações do
passado, cuja história remonta a vários milênios antes de
Cristo, o Egito é objeto de candentes vatioínios bíblicos que
chegam mesmo a impressionar pela clareza meridiana de sua
linguagem, sobejamente enriquecida de detalhes hoje postos à
prova pelos historiadores.
A Bíblia e Suas Profecias 105
''Restaurarei a sorte dos egípcios, e os farei voltar à terra de
patros, à terra de sua origem; e serão ali um reino humilde.
Tomar-se-á o mais humilde dos reinos, e nunca mais se
exaltará sobre as nações" (Ezequiel 29:14, 15). "Assim diz o
Senhor: Também cairão os que sustêm o Egito, e será humilha
do o orgulho do seu poder; desde Migdol até Sevene, cairão à
espada, diz o Senhor Deus. Serão desolados no meio das terras
desertas; e as suas cidades estarão no meio das cidades
devastadas. . . Secarei os rios, e venderei a terra, entregando-a
na mão dos maus; por meio de estrangeiros farei desolada a
terra e tudo o que nela houver; eu o Senhor é que falei. Assim
diz o Senhor Deus: Também destruirei os ídolos, e darei cabo
das imagens em Mênfis; já não haverá príncipe na terra do
Egito, onde implantarei o terror" (Ezequiel 30:6, 7, 12, 13).
"Naquele dia os egípcios serão como mulheres; tremerão e
temerão ao levantar-se da mão do Senhor dos Exércitos, que ele
agitará contra eles. . . Naquele dia o Senhor terá um altar no
meio da terra do Egito, e uma coluna se erigirá ao Senhor na
sua fronteira" (Isaías 19:16, 19).
Estas são algumas das muitas profecias acerca do Egito,
enunciadas entre 750 e 590 a.C., exatamente numa época áurea
desse país, quando o progresso se fazia presente em todas as
atividades da vida nacional. A famosa dinastia de Psamético,
iniciada em 663 a.C., manteve animadas relações comerciais e
culturais com os países da Ásia e, especialmente, com a Grécia,
para onde o Egito exportava o seu trigo. A indústria desenvol-
veu-se de modo especial na preparação de metais, pedras
preciosas gravadas, louças, vidros, mosaicos e linho. Grandes
projetos de irrigação agrícola foram executados, com a constru
ção de enormes reservatórios e a abertura de um canal ligando
o Nilo ao mar Vermelho. Afirma-se que o sábio grego Pitágoras
tenha aprendido geometria com os sacerdotes de Isis, pois no
Egito esse ramo da Matemática servia de fundamento à
agrimensura, tão necessária em virtude das cheias periódicas.
Entretanto, passou-se a fase notável e o Egito começou a ser
dilacerado por lutas intestinas, até que foi invadido pelos
Persas e derrotado em Pelusa. Oliveira Lima descreve assim
esse declínio: "No ano 525 a.C. dava-se o massacre de Mênfis
Pelas forças de Cambises e ficava o Egito reduzido por dois
óculos a satrapia persa. Desta sujeição, agitada por violentas
106 História, Milagres e Profecias da Bíblia
insurreições, se libertaria ao esfacelar-se o império de Alexan
dre que lhe valeu a fundação de Alexandria (330 a.C.)/ foco
brilhantíssimo de cultura cosmopolita. Sede então de uma nova
monarquia, a dos Ptoiomeus, cuja dinastia findou com Cleópa-
tra, passou à província romana sob Augusto, pertencendo
durante quatro séculos ao Império do Ocidente e em seguida,
durante quase três, ao Império do Oriente. No século VII da era
cristã foi que começou para o Egito o período muçulmano.
Invadido pelos árabes, que fundaram a cidade do Cairo, passou
em 1571 para o poder dos turcos, de cuja soberania transitou
para o protetorado britânico" (Oliveira Lima, História da
Civilização, 1919, Cia. Editora Nacional, São Paulo).
As profecias referentes ao Egito vêm sendo cumpridas já há
2.500 anos, e ainda avançam para o futuro. Persas, macedô-
nios, romanos, gregos, árabes, turcos-otomanos, franceses,
ingleses, todos tiveram o seu papel no cumprimento da
Escritura. "Não haverá mais no Egito um soberano que seja
natural do país, como efetivamente aconteceu desde a conquis
ta persa (525 a.C.) até nossos dias" (Notas à Bíblia Sagrada,
Pontifício Instituto Bíblico de Roma, vol. II, comentando
Ezequiel 30:13).
Os versículos 8, 14, 15, 16 e 17 do capítulo 30 de Ezequiel
(Versão Clássica de Figueiredo), são claros quanto aos propósi
tos divinos: "E eles saberão que eu sou o Senhor: Quando eu
tiver posto fogo ao Egito, e forem desfeitos todos os que lhe
davam auxílio. E arruinarei o país de Fatures, e meterei fogo em
Tafnis, e exercitarei os meus juízos em Alexandria. E derrama
rei a minha indignação sobre Pelúsio, que é a força do Egito, e
farei morrer essa multidão de Alexandria. E meterei fogo no
Egito: Pelúsio sentirá dores como a mulher que está para parir,
e Alexandria será destruída, e em Mênfis haverá cotidianos
apertos. Os mancebos de Heliópole e de Bubasto cairão mortos
ao fio da espada, e as mulheres serão levadas cativas."
Fatures é Patros, capital original dos faraós do Egito. Tafnis
(Talhes ou Zoã), a dássica Daphanae, é hoje Tell Defenneh, uma
ddade importante no limite oriental do Baixo Egito (Jeremias
2:16). Nessa ddade Jeremias profetizou a conquista do Egito por
Nabucodonosor (Jeremias 46:25), também conhedda por Tebas, a
capital do Alto Egito. Pelúsio é a mesma Sim, uma fortaleza do
Delta, sobre cujas ruínas está hoje a ddade de Daniala. Mênfis é
A Bíblia e Suas Profecias 107
Nof/ no Baixo Egito. Heliópolis (também conhecida por Aven,
On), é a capital do Baixo Egito, onde erguia-se, imponente, um
templo do deus Sol. Bubasto é Pi-Besete, cidade da deusa Bast,
onde havia múmias de gatos sagrados.
Acerca de Tebas, a capital do Alto Egito Qeremias 46:25),
vejamos ainda o testemunho de um renomado estudioso das
profecias bíblicas: "A grandeza dessa antiga cidade egípcia é
difícil de descrever. O templo de Luxor, de relance, apresenta
ao turista um dos mais esplêndidos agrupamentos arquitetôni
cos egípcios. O extenso propylon, com dois obeliscos e estátuas
colossais em frente; os maciços grupos de colunas enormes; a
variedade de apartamentos e o santuário que contêm; os belos
ornamentos que adornam as paredes e colunas, descritos por
Sir Hamilton, fazem o turista esquecer-se de tudo quanto já
viu. Se a nossa atenção for levada para o lado setentrional de
Tebas, junto às ruínas elevadíssimas que se projetam acima das
palmeiras, gradualmente entrará naquele grande agrupamento
de ruínas e templos, colunas, obeliscos, esfinge, portais e um
sem-número de outros objetos assombrosos que é impossível
descrever. É absolutamente impossível imaginar a cena sem
primeiramente vê-la. As idéias mais sublimes que se formam
das espécies mais belas da nossa arquitetura atual, ainda assim
dariam uma impressão pouco exata dessas ruínas; tal é a
diferença, não somente em magnitude, como também em
foima, proporção e construção, que o próprio lápis só pode dar
uma vaga idéia do que é. Parecia-me uma cidade de gigantes,
que depois de um longo conflito, foram todos destruídos,
deixando as ruínas dos seus vários templos como prova única
da sua existência" (Belzoni, citado em Luz Bíblica Sobre as
Profecias, Frank M. Boyd, CPAD, 1980).
Para que o leitor tenha uma idéia de como as predições
bíblicas acerca do Egito são abundantes e fiéis, basta dizer que
somente nos capítulos 29 e 30 de Ezequiel, que totalizam 47
versículos, há mais de 80 predições, da quais cerca de 70 já
estão cumpridas.
Além de tratar do declínio do Egito e da dominação estran
geira sobre ele, as profecias falam também da invencibilidade
dos judeus pelas tropas egípcias. Este é um acontecimento
realmente atual. Com a criação do Estado de Israel em 14 de
iriaio de 1948, o Egito iniciou neste mesmo dia sua primeira
,
108 História Milagres e Profecias da Bíblia
guerra moderna contra os judeus e sofreu pesadíssimas baixas.
Em 1956, outra investida egípcia e outra humilhante derrota.
Onze anos mais tarde, em 1967, numa campanha de seis dias,
os israelenses destroçaram inteiramente as forças inimigas,
lideradas pelo Egito de Nasser. Em outubro de 1973, novo
ataque a Israel, desta vez de surpresa, e novamente a antiga
"potênria,' africana é vergonhosamente batida, juntamente
com mais 13 nações árabes. E isto apesar de poderosamente
equipadas com modernas armas soviéticas. Na singela termino
logia profética, os egípcios foram "como mulheres" diante de
Judá, que, por sua vez, tomara-se, para eles, "um espanto".
Como decorrência lógica de 30 anos de guerras e custosos
orçamentos militares, o governo egípcio sentiu agigantar»se em
todo o país o fantasma da miséria e deu um passo histórico em
busca da paz, indo a Jerusalém e discursando no Knesset, o
Parlamento. O mundo livre, para quem o Oriente Médio
sempre foi um "barril de pólvora", aplaudiu a coragem e os
propósitos de Sadat, que pagaria com a própria vida seu ato
heróico. Alguns jornais chegaram a interpretar o encontro sob
o ponto de vista bíblico, antevendo mesmo o tempo em que a
descendência de Abraão — judeus e árabes — haveria de ir-
manar-se numa paz permanente.
Qual a reação de Israel? Ao tomar conhecimento das boas
intenções de Sadat, o Primeiro Ministro Menahem Begin enviou
uma otimista mensagem ao povo egípdo, na qual afirma: "Nós,
israelenses, estendemo-vos a mão. Como sabeis, não é uma mão
fraca. . . Mas não queremos embates convosco. Digamos um ao
outro, e que seja um voto silendoso de ambos os povos, do Egito
e de Israel: não mais guerras, não mais derramamento de sangue,
não mais ameaças. Façamos apenas a paz."
Sadat e Begin apertaram as mãos em Jerusalém, saudando-se
mutuamente "shalom" e "sulh" (palavras que significam
"paz" respectivamente em hebraico e árabe), apesar de alguns
países, incluindo-se a União Soviética, continuarem clamando
por uma solução do problema palestino através do ódio, que
até hoje nada construiu. Entretanto, cumpre-se a Palavra de
Deus nos filhos de Abraão Isaque (judeus) e Ismael (árabes). E
o Egito, dono de uma história traçada nas páginas proféticas da
Bíblia, tem muito a ver com os últimos acontedmentos na Terra
Santa.
A Bíblia e Suas Profecias 109
Como resultado do clima de boa vontade entre egípcios e
israelenses nasceu, entre os dois países, o Tratado de Camp
pavid. Embora frágil, esse importante documento pode ser o
começo de uma permanente paz no convulsivo Oriente Médio.
X luz da Bíblia, o Egito será enumerado e abençoado juntamen
te com Israel. ''Porque o Senhor dos Exércitos os abençoará,
dizendo: Bendito seja o Egito, meu povo. . . e Israel, minha
herança" (Isaías 19:25). O descontentamento soviético e o clima
de desespero e desilusão em alguns países árabes são com
preensíveis do ponto de vista do anti-semitismo e do egoísmo
interesseiro. Egito e Israel, entretanto, adaptam-se às previsões
bíblicas.
Babilônia
Pelas dezenas de vezes que a Babilônia é mencionada na
Bíblia pode-se fazer uma idéia da importância dessa famosa
cidade em tempos passados. "Babilônia, a jóia dos reinos,
glória e orgulho dos caldeus, será como Sodoma e Gomorra,
quando Deus as transtornou. Nunca jamais será habitada e
ninguém morará nela de geração a geração; o arábico não
armará ali a sua tenda, nem tampouco os pastores farão ali
deitar os seus rebanhos. . . As hienas uivarão nos seus
castelos, os chacais nos seus palácios de prazer, está prestes a
chegar o seu tempo, e os seus dias não se prolongarão. . .
Porque te tomarás em desolação perpétua. . . Babilônia se
tomará em montões de ruínas, morada de chacais, objeto de
espanto e assobio, e não haverá quem nela habite. . . Os largos
muros de Babilônia totalmente serão derribados. . ." (Isaías
13:19-22; Jeremias 51:26, 37, 58).
A excepcional grandeza da Babilônia, tão fartamente descrita
pelos historiadores antigos e modernos, está hoje plenamente
confirmada pelas escavações arqueológicas. Banhada pelos rios
Tigre e Eufrates, atingiu sua maior glória no governo do
poderoso Nabucodonosor, monarca que empregou fabulosas
riquezas no embelezamento da cidade. O historiador Oliveira
Lima assim fala dessa célebre metrópole do passado: "As
construções babilônicas, que presentemente são meros mon
tões de ruínas, eram levantadas sobre consideráveis aterros
exigidos pela natureza do solo encharcado e que ao mesmo
tempo asseguravam melhor defesa e emprestavam maior
110 História, Milagres e Profecias da Bíblia
imponência àqueles templos e palácios, que assim se erguiam
treze metros ou mais acima do nível da planície, por entre
aglomerações de casas de taipa, numa extensão tão grande que
Babilônia cobria cinco vezes a superfície de Londres. . . com
suas altas muralhas tão largas que sobre elas podiam passar de
frente dois carros de guerras; com suas cem portas de bronze,
como Tebas; com seus jardins suspensos, que deviam prova
velmente ser os terraços arborizados e floridos dos zigurates;
com suas torres de tijolos esmaltados em cores vivas, reverbe-
rando um sol que as nuvens mui raramente coam e que assim
resplandeciam como centro de culto sideral de que eram os
magos serventuários" (Oliveira Lima, História da Civilização,
1919, Melhoramentos, São Paulo).
Eis aí um pálido retrato da ddade que foi a soberba dos
caldeus, e que pareda destinada a uma existênda etema por
sua própria grandiosidade e estratégica posição geográfica,
pela grande fertilidade de seu solo e pela glória de haver-se
iniciado em quase todos os ramos da dênda, de quem foram
aprendizes e continuadores os gregos.
Entretanto, a ddade dourada caiu. O rei da Pérsia, em 539
a.C., lançando mão de sua efidente engenharia, desviou o
curso do Eufrates, que passava sob os magníficos muros, e,
servindo-se do leito desse rio, entrou na ddade enquanto esta
se achava entregue à orgíaca festa de Sesac, a deusa do amor e
da alegria (ver Jeremias 25:26; 51:41, A Bíblia de Jerusalém), na
mesma noite em que o profeta Daniel decifrou a mensagem do
juízo divino contra o monarca zombador e seu vasto império,
escrita pelo dedo de Deus na caiadura do paládo.
Em todas as profedas acerca de Babilônia há mais de uma
centena de particularidades. Apenas no texto citado nos
deparamos com alguns importantes detalhes: Não seria mais
habitada, nem edificada, nem o árabe armaria ali a sua tenda
nem os pastores para ali levariam os seus rebanhos. Nela ouvir-
-se-iam os gritos das feras, seus paládos se tomariam uma
assolação e seus muros seriam totalmente derribados. Todos
esses pormenores, rigorosamente cumpridos, atestam de ma
neira indiscutível a origem divina das profedas bíblicas. Doutra
forma, como poderia Isaías prever que a Babilônia nunca mais
seria habitada, quando, mesmo após a destruição de uma
ddade, sempre fica um resto de população? Como poderia ele
A Bíblia e Suas Profecias 111
saber que o árabe continuaria existindo até nossos dias e
habitando em tendas? Como poderia Jeremias prever que os
largos muros de Babilônia seriam totalmente derribados, quan
do, em tantos outros casos, muros muitas vezes menos fortes
continuam em pé mesmo após a aniquilação de uma cidade?
Ainda mais: "A Caldéia servirá de presa; todos os que a
saquearem se fartarão. . . abri os seus celeiros. . . rica de
tesouros. . (Jeremias 50:10, 26; 51:13). Nenhuma cidade foi
tantas vezes saqueada como a Babilônia, juntamente com
outras regiões da Caldéia. Xerxes, Alexandre, partos e roma
nos, num período que abrange quase uma dezena de séculos,
levaram dela riquezas fabulosas, além mesmo de suas expecta
tivas, e até hoje essas ruínas guardam ainda enormes tesouros!
Tiro, Sidom e Ascalom
"Assim diz o Senhor Deus: Eis que eu estou contra ti, 6 Tiro,
e farei subir contra ti. muitas nações, como faz o mar as suas
ondas. Elas destruirão os muros de Tiro e deitarão abaixo as
suas torres; e eu varrerei o seu pó, e farei dela penha
descalvada. No meio do mar virá a ser um enxugadouro de
redes; porque eu o anunciei, diz o Senhor Deus; e ela servirá de
despojo para as nações. . . Derribarão os teus muros e arrasa
rão as tuas casas preciosas; as tuas pedras, as tuas madeiras e o
teu pó lançarão no meio das águas. . . Farei de ti uma penha
descalvada; virás a ser um enxugadouro de redes, jamais serás
edificada; porque eu, o Senhor, o falei, diz o Senhor Deus"
(Ezequiel 26:3-5, 12, 14).
Esta mensagem profética, dada aproximadamente 590 anos
antes de Cristo, por sua clareza, eloqüência e fiel cumprimento
tem-se constituído num veemente desafio a todos os céticos
durante mais de 23 séculos. Tiro, a senhora dos mares, a rica, a
bela, a culta, para onde afluía as riquezas de todo o mundo
antigo, estava condenada ao completo desaparecimento.
A primeira parte da profecia começou a cumprir-se logo
depois de Ezequiel a haver registrado. Nabucodonosor, o
poderoso monarca de Babilônia, sitiou a cidade durante 13
anos, e, com grande esforço, tomou-a e destruiu-a completa
mente, vingando-se com dureza dos seus habitantes e dos
próprios edifícios. Contudo, além das ruínas permanecerem
nos locais das suas respectivas edificações, uma nova cidade,
112 História, Milagres e Profecias áa Bíblia
com o mesmo nome, começou a nascer a meio quilômetro da
praia, numa ilha.
Dois séculos e meio mais tarde, a fama de Alexandre
espalhava-se por todo o Oriente, estremecendo a todos de
terror. O conquistador macedônio caminhou veloz para a nova
Tiro em 332, e seu plano de ataque foi elaborado cuidadosa
mente e executado com todo o vigor. Tomou todas as ruínas da
antiga Tiro (muros, madeiras, pedras, torres) e com elas
construiu um sólido dique para a nova Tiro, que foi arrasada.
Até o próprio pó da antiga cidade foi raspado e lançado ao mar,
tão grande era a necessidade de materiais. Tiro ainda so
breviveu como uma importante cidade até 1291 d.C., quando
foi definitivamente destruída pelos maometanos comandados
pelo Sultão do Egito. Nas suas proximidades está hoje Es-Sur,
uma pobre povoação. A antiga e poderosa Tiro nunca mais foi
reconstruída, apesar de sua privilegiada localização junto a
campos férteis e a milhões de litros de água potável que jorram
de suas muitas fontes.
Hoje, ao visitarem o local onde outrora erguera-se imponente
a poderosa Tiro, os viajantes não vêem lá uma só casa, mas
apenas os pescadores enxugando nas praias suas redes, exata
mente como anunciou o profeta!
O mesmo Ezequiel, depois de prever o trágico destino de
Tiro, volta-se para Sidom e diz: "Assim diz o Senhor Deus: Eis-
-me contra ti, ó Sidom, e serei glorificado no meio de ti. . .
porque enviarei contra ela a peste, e o sangue nas suas ruas, e
os trespassados cairão no meio dela, pela espada contra ela por
todos os lados. . ." (Ezequiel 28:22, 23).
Era Sidom a mais antiga das cidades fenícias, razão pela qual
os fenírios são conhecidos na Bíblia por sidônios. Ela estava em
decadência na ocasião da profecia, ao passo que sua poderosa
rival Tiro, distante apenas 48 quilômetros, encontrava-se no
apogeu de seu poderio. Todavia, apesar de suas fragilidades,
Sidom continua existindo até o presente, tendo hoje cerca de
dez mil habitantes. Foi tomada e destruída por Artaxerxes
Ochus, rei da Pérsia, em 351 a.C., e desde então tem sido
muitas vezes destruída e reedificada. Talvez nenhuma outra
cidade, nem mesmo Jerusalém, tenha tido tantos e tão grandes
sofrimentos.
Se Ezequiel simplesmente procurasse adivinhar o fim dessas
A Bíblia e Suas Profecias 113
duas cidades, seguindo a lógica humana adotada pelos "profe
tas" modernos, ele poderia ter previsto a completa extinção de
Sidom, mas nunca a de Tiro.
Volvamos agora nossas atenções para mais uma antiga
cidade, cujo fim atesta a infalibilidade da profecia bíblica:
"Ascalom ficará deserta. . . e não será habitada" (Sofonias 2:4;
Zacarias 9:5).
Esta ddade, fundada 1800 anos antes de Cristo, gozava de
grande prestígio nos dias apostólicos. Como berço natal de
Herodes o Grande, foi por este adornada com belos edifídos e
tornou-se, durante o império romano, um notável centro de
cultura helênica.
Em 636 d.C. foi tomada pelos árabes e durante as cruzadas
era lugar estratégico para quem se dirigia ao sudoeste da
Palestina. Balduíno III, em 1153, apoderou-se dela depois de
seis meses de cerco e de sangrentas batalhas. Joseph-François
Michaud, em sua História das Cruzadas (Editora das Américas,
São Paulo), trata pormenorizadamente dessa conquista. Eis
alguns detalhes:
"A ddade de Ascalom erguia-se em círculo à beira-mar e tinha
do lado da terra muralhas e torres inexpugnáveis; todos os
habitantes estavam exerdtados na arte da guerra, e o Egito, que
tinha grande interesse na conservação daquela praça, para lá
mandava, quatro vezes por ano, víveres, armas e soldados. . ."
No final do cerco, os sitiados, vendo as muralhas caídas e
sem esperanças de socorro, começaram a gritar: "Homens de
Ascalom. . . voltemos ao Egito e deixemos aos inimigos uma
ddade que Deus feriu com sua maldição."
Ascalom ainda foi ocupada e reparada pelos franceses, mas
em 1270 o sultão Bibars destruiu-lhe as fortificações e obstruiu-
“Ihe o porto com pedras. Desde então, por mais de setecentos
anos, ela tem estado em completa ruína, sem um só habitante,
atestando a infalibilidade da Palavra de Deus.
A vinda e o ministério de Jesus
Acerca da vinda de Jesus, de seu ministério, morte e
^ssurreiçáo, pode-se dizer que quase tudo já estava registrado
centenas de anos antes de seu nasdmento em Belém de Judá.
®ão muitas as profecias a esse respeito, sendo estas algumas
^elas:
Moisés registrou que Jesus deveria nascer de mulher e que,
114 História, Milagres e Profecias da Bíblia
como um grande profeta, seria levantado em Israeí (Gênesis
3:15; 49:10; Deuteronômio 18:18, 19; Lucas 7:16). Isaías disse
que Jesus viria como menino, nascido de uma virgem (Isaías
7:14; 9:6; Mateus 1:21-23). Oséias disse que ele seria levado ao
Egito (Oséias 11:1; Mateus 2:15). Isaías, Jeremias e Zacarias
profetizaram que ele viria como renovo de Davi, isto é, de sua
descendência, e este último profeta registrou que o Messias
seria recebido em Jerusalém como rei, porém montado em um
jumentinho (Isaías 4:2; 9:7; 11:10; 53:2; Jeremias 23:5; 33:15;
Zacarias 6:12; 9:9; Mateus 1:1; 21:1-11; Lucas 1:27; Atos 2:30).
Daniel, numa das mais belas profecias do Antigo Testamento,
indicou a época da morte do Messias (Daniel 9:24-26).
Davi predisse as últimas palavras de Jesus na cruz (Salmo
22:1; Mateus 27:46; Marcos 15:34); profetizou que ele seria
trespassado nas mãos e nos pés (Salmo 22:16; Lucas 24:39; João
20:25-27), que os soldados romanos lançariam sortes sobre a
túnica de Cristo e repartiriam entre si as vestes dele (Salmo
22:18; Mateus 27:35), e que ele seria a Pedra rejeitada pelos
edificadores (Salmo 118:22; Mateus 21:42).
Davi profetizou ainda que Jesus seria traído por um daqueles
que comiam da própria mesa do Mestre (Salmo 41:9; Mateus
26:14), e Zacarias anteviu o traidor recebendo, pelo seu ato
infame, o salário de trinta moedas de prata (Zacarias 11:12;
Mateus 26:15; Marcos 14:10, 11). Este mesmo profeta escreveu
que o Messias seria ferido nas mãos, e que os discípulos dele se
dispersariam quando ele fosse feito prisioneiro (Zacarias 13:6,
7; Lamentações 4:20; Mateus 26:56).
A Palavra de Deus contém, ainda, muitas outras profecias
acerca de Jesus. Todas tiveram seu cumprimento exato, como
se pode verificar da leitura do Novo Testamento, particular
mente do Evangelho de Mateus. Algumas dessas profecias são
tão claras que muitos se recusam a aceitá-las como tais. Urn
bom exemplo está em Isaías. Numa escola pública de Nova
York havia um bom número de estudantes judaicos que
desejavam livrar-se das incômodas aulas de estudos bíblicos. E
por fim conseguiram um acordo: tomariam parte nos estudos
sob a condição de que só estudassem o Antigo Testamento-
Mas um dia, numa aula, um cristão leu muito seriamente o
capítulo 53 de Isaías, provocando quase um tumulto entre os
estudantes judaicos. Os pais destes, depois da aula, foram ter
A Bíblia e Suas Profecias 115
com o reitor da escola, dizendo que os cristãos tinham violado o
compromisso, pois haviam lido o Novo Testamento. Para
surpresa deles, o reitor disse-lhes que estavam enganados.
— Mas eíes leram acerca do seu Jesus e da sua morte na
cruz ~~ insistiu um estudante.
O reitor abriu então o livro do profeta Isaías e mostrou-lhes o
que fora lido. Houve um grande silêncio. De fato tinham
ouvido acerca do Cordeiro de Deus, algo que fora escrito uns
setecentos anos antes da sua vinda ao mundo!
Esse incidente mostra o quanto as profecias bíblicas referen
tes a Cristo são claras e inconfundíveis. Por isso o apóstolo
Paulo podia escrever aos crentes em Corinto: "Antes de tudo
vos entreguei o que também recebi; que Cristo morreu pelos
nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e
ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras" (1 Coríntios
15:3, 4).
Israel, cabeça e não cauda
Já em 1962 afirmava um semanário inglês que o Estado de
Israel emergia como o maior fator individual na empresa de
desenvolver o Oriente Médio e todo o continente africano,
acrescentando que o surpreendente progresso obtido pelos
judeus num dos rincões mais inóspitos da Terra, e tendo ainda
de lutar heroicamente para conservar esse território, fizeram de
Israel uma força, não somente na África, mas também no
mundo inteiro.
De fato, Israel tem confirmado sua posição de liderança e
mantido seu extraordinário ritmo de desenvolvimento, apesar
da oposição dos árabes e de algumas potências. De Norte a Sul
e de Leste a Oeste, o povo se entrega a um profícuo trabalho,
consciente da necessidade de fortalecer ao máximo o seu país.
Assim, desertos de areia e pedra foram transformados em
lavoura e jardim, e cidades em ruínas foram restauradas, como
Berseba, sentinela e capital do Neguev, com seu Hotel Desert
Inn, maravilhosamente decorado e onde se confundem arte
moderna e antiga, e Cesaréia, de quatro mil anos, tantas vezes
destruída, surge dos montões de pedras e areia como um
modelo urbanístico.
Há, em Israel, uma febre de trabalho. Ninguém descansa.
Todos produzem, fazendo ressurgir das cinzas o velho mundo
116 História, Milagres e Profecias âa Bíblia
hebraico com suas cidades bíblicas, suas tradições, sua língua,
mas também com sua invejável riqueza, como a do mar Morto e
a da extração de diamantes,
Não há dúvida alguma de que Israel, por seu incessante
trabalho, se colocou à frente, não somente das demais nações
do Oriente Médio, mas também da África e, em alguns
aspectos, da Ásia. No setor militar sabe-se que Israel já possui a
bomba atômica, de sua própria fabricação, e que ele está
desenvolvendo a fabricação de armas super-modernas, inclusi
ve caças à jato e blindados, tomando-se, dessa forma, cada vez
mais poderoso e independente das grandes potências. Tam
bém quanto à educação e à pesquisa, os israelitas estão à
dianteira. Por tradição, são eles dedicados às investigações
científicas mais do que outros povos, e por isso cerca de três
dezenas de judeus já foram laureados com o prêmio Nobel.
Apesar das humilhações por que tem passado através dos
séculos, a descendência de Abraão prova que continua sendo
cabeça e não cauda, conforme afirma a Palavra de Deus há 35
séculos (Deuteronômio 28:13).
Guerras, pestes e fomes
Em resposta à pergunta de seus discípulos: "Que sinal
haverá da tua vinda e do fim do mundo?", disse o nosso
Senhor Jesus Cristo: "Virão muitos em meu nome, dizendo: Eu
sou o Cristo, e enganarão a muitos. E certamente ouvireis falar
de guerras e rumores de guerras. . , porquanto se levantará
nação contra nação,, reino contra reino, e haverá fomes e
terremotos em vários lugares" (Mateus 24:5-7). Estas palavras
estão encontrando o seu cumprimento nos dias atuais.
Em todo o tempo da sua peregrinação, nunca a humanida
de viveu dias tão agitados como estes últimos. Do século
passado podemos dizer que foi o das conquistas, das mudan
ças ideológicas, dos conflitos e das revoltas. E o que dizer do
presente século "das luzes"?
Somente os grandes conflitos de 1914-1918 e 1939-1945
sobrepujaram em prejuízos para a raça humana a todas as
guerras dos dezenove séculos anteriores. A Segunda Guerra
Mundial deixou um saldo de 80 milhões de mortos nos campos
de batalha, nos campos de concentração ou como vítimas dos
bombardeios; 29 milhões e meio ficaram inutilizados para o
A Bíblia e Suas Profecias 117
trabalho e 45 milhões foram deportados, evacuados e interna
dos; 50 milhões foram deslocados, sem família; 30 milhões de
casas foram destruídas. Um milhão de crianças menores
perderam seus pais e um milhão de pais perderam seus filhos
menores.
Mas a Segunda Guerra Mundial não pôs fim às guerras, que
continuaram ceifando vidas em todos os continentes. Em 1984
havia 45 nações em guerra e quatro milhões de soldados nos
campos de batalha. E desde então essa crise internacional se
tem agravado mais e mais. As despesas anuais com armas hã
muito -ultrapassaram já a casa do meio trilhão de dólares!
No rasto das guerras, ou mesmo em tempos de paz, fomes e
pestes têm assolado diversas partes do mundo. Como conse
qüência direta do conflito mundial de 1914, 35 milhões perece
ram de fome e peste. Somente na índia, o número das vítimas
da "influenza" foi de 12 milhões, enquanto no restante do
mundo a mesma gripe levou à sepultura outros 20 milhões.
Após a Segunda Guerra Mundial, o saldo foi ainda mais
estarrecedor. Apesar de os governos reagirem energicamente
contra os fantasmas da fome e da peste, ainda muitos milhões
pereceram em conseqüência desses flagelos que varreram
muitos países.
Em se tratando especificamente da fome, dos 1 milhão e 400
mil jovens brasileiros que se apresentaram ao alistamento
militar em 1982, quase a metade teve de ser dispensada por
insuficiência física, o que eqüivale a dizer: foram vítimas da
subnutrição. A notícia, divulgada pelo jornal "O Globo", do
Rio de Janeiro, revela a gravidade de um problema que tem
afligido muitas nações nestes últimos tempos: o da fome e da
subnutrição.
Quando, há dois séculos, Thomas Robert Malthus alertou
que o aumento da população do mundo ocorre em proporção
geométrica (2,4,8,16, etc.), enquanto a produção de alimentos
avança apenas numa progressão aritmética (2, 4, 6, 8, etc.), ele
não foi levado muito a sério. Hoje, porém, aquela teoria está-se
revelando correta em vários aspectos, porque o rápido cresci
mento demográfico já está diminuindo a produção média anual
de alimento por habitante, apesar de todos os sucessos da
pesca, da lavoura e da pecuária, A produção mundial de cereais
básicos, como trigo, arroz e milho, que era de 238 quilos por
118 História, Milagres e Profecias da Bíblia
pessoa em 1962, baixou para 229 em 1972. Ocorreu, assim, uma
diminuição de quase cinco por cento na quantidade de cereais
em relação ao crescimento populacional num período de dez
anos. Entre os anos de 1975 e 1976, nos 24 países mais pobres
da África, o índice de produção agrícola ficou 3,3% abaixo da
taxa de crescimento demográfico.
O problema da fome parcial ou total agrava-se dia a dia em
todo o mundo, cumprindo as palavras de Jesus: "Haverá fomes
em vários lugares". Apesar das grandes conquistas científicas
deste século, obtidas em diversas áreas do conhecimento
humano, dezenas de milhões de pessoas pereceram de fome
em conseqüência das duas grandes guerras, e outros milhões
estão sofrendo do mesmo mal, inclusive o Brasil. Do meu livro
Então Virá o Fim, há muito esgotado, cito os seguintes parágra
fos, por considerã-los oportunos: "René Dumont, eminente
agrônomo francês, escreveu que o espectro da fome está
rondando o mundo. Afirma que se não forem tomadas, com
urgência, enérgicas providências, a humanidade enfrentará,
antes do fim do século, a maior fome de todos os tempos (Visão,
23 de julho de 1973).
"Dizem os especialistas em alimentação que mais de dois
bilhões e seiscentos milhões de habitantes do mundo estão hoje
ingerindo calorias insuficientes. Das 2.800 necessárias diaria
mente a uma pessoa média, setenta e cinco por cento da
população mundial mal consegue 2.250, e os povos da Ásia mal
alcançam as 1.700! E que falar da fome total?
"Nos primeiros meses de 1973, seis milhões de africanos do
Chade, da Nigéria, do Alto Volta, da Mali, da Mauritânia e do
Senegal não morreram de inanição porque os Estados Unidos, o
Canadá, a Alemanha Ocidental e outros países os socorreram em
tempo com centenas de milhares de toneladas de alimentos/'
Em 1984 e 1985 o mundo ficou assustado com imagens da
Etiópia, mostradas pela televisão, nas quais se viam homens,
mulheres e crianças esqueléticos, vítimas de uma terrível fome
que assolou aquele país. A catástrofe só não foi maior graças à
ajuda de muitos países. Todavia, o que acontecerá quando as
nações ricas, por motivos econômicos ou políticos, não mais
puderem socorrer os povos famintos? Hoje, com toda a a j u d a
que ainda existe, metade da população do mundo vai dormir
com a barriga vazia!
A Bíblia e Suas Profecias 119
A trágica derrota dos mais eficientes recursos técnico-
-dentíficos, políticos e religiosos ante o fantasma da fome, cuja
indesejável presença entre os povos se toma cada vez mais
consolidada, não nos dá alternativa senão reconhecer a proxi
midade da volta de Cristo e a infalibilidade de suas palavras:
"Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não
passarão" (Mateus 24:35).
Terremotos
Em seu sermão profético, no texto já dtado (Mateus 24:5-7),
Jesus deu como indicação da proximidade de sua segunda
vinda, além de vários outros sinais, a ocorrência de terremotos
em diversos lugares.
De todos os fenômenos físicos já sofridos pelo nosso planeta,
talvez nenhum outro tenha vitimado tantas vidas e causado
maiores estragos que os tremores de terra. Não há dados
estatísticos exatos sobre os prejuízos materiais que os terremo
tos vêm causando em todo o mundo, mas se imaginarmos a
ruína total de grandes cidades, com seus imponentes edifícios
residendais, comerdais e fabris, teremos uma idéia das enor
mes perdas, pois em muitos casos a própria topografia dessas
áreas atingidas fica profundamente alterada, com os rios
percorrendo novos caminhos e o mar apoderando-se de vários
quilômetros de terras outrora densamente povoadas.
E os efeitos psicológicos? Quem não se sente profundamente
inseguro e dependente do auxílio do Alto, ao contemplar as
ruínas de belas ddades destruídas em frações de minuto? Até
mesmo ditadores tiranos e filósofos ateus têm-se deixado
quedar pensativos diante de tais catástrofes, forçados a reco
nhecer a vaidade de todos os seus orgulhosos empreendimen
tos ante a extrema insegurança da vida presente.
Esses pensamentos ocuparam minha mente quando visitei
Lisboa e contemplei, das proximidades do Castelo de São
Jorge, toda a vasta área atingida pelo pavoroso terremoto de
1755, área essa facilmente identificável pelo novo estilo arquite
tônico. Lembrei-me das palavras de Rui Barbosa, proferidas
por ocasião das comemorações, no Rio de Janeiro, do Centená
rio do Marquês de Pombal:
"A cabeça da grande Lusitânia vadia, como se a embriaguez
do misticismo devoto a sacudisse no delírio de uma visão de
120 História, Milagres e Profecias da Bíblia
Apocalipse. As abóbadas dos templos confundem sob as
mesmas ruínas as imagens e os crentes, a hóstia e os levitas, o
sangue dos fiéis e o da vítima incruenta; as ruas sulcam-se em
abismos; os palácios desabam, trovejando; a casaria, esboroan-
do-se numa sucessão infinita de fragores indizíveis, desaparece
na voragem, na confusão e no incêndio, que açoita com as asas
rutilantes as trevas desse círculo dantesco.
"De um lado, as chamas parecem destinadas a fundir a
antiga capital do Ocidente, como o fogo macedônico amalga-
mara outrora num metal único o ouro, a prata e o bronze das
estátuas de Corinto; do outro, quinze metros acima das mais
altas marés a enchente, instantânea, minaz, caótica, infernal,
abisma navios em repentinos sorvedouros, engole em cada
assalto milhares de homens.
"Quatro vezes a alucinada vaga humana desaparece entre a
vaga marinha e a vaga terrestre, que nalguns minutos devoram
doze mil almas, enquanto a viuvez, a orfandade, a miséria e o
crime se levantam por entre os esqueletos hirtos das casas
aluídas. . . No meio desse conflito gigantesco de todos os
elementos e de todos os terrores; entre essa luta de todas as
tempestades da Natureza com todas as desgraças do destino
humano; sob um céu que a tormenta forrou do chumbo da suas
nuvens contra as lágrimas da terra; quando o dia foge, e o chão
falta debaixo dos pés; quando a opulência desaparece, esmigalha-
da, enlameada, caldnada, pelas fendas do solo; quando a razão se
apaga em todos os espíritos; quando a loucura do medo enche o
vazio deixado pela inteligência ausente — de sobre essa imensa
superfície devastada uma individualidade se levanta, exprimindo
a luz, a calma, a força, a soberania da consdênda do homem,
ereta, augusta, salvadora. Tal imperturbavelmente imóvel, atra
vés da noite, sobre a cratera acesa do Hecla solitário, quanto a
lava entornada queima de redor os campos, e destrói ao longe os
últimos vestígios da vida, a incomensurável coluna de fogo que se
alonga para os céus, indiferente aos mais ríspidos ventos,
enquanto o bramido formidável do fenômeno subterrâneo parece
ameaçar a subversão do mundo."
Desse vivido discurso de Rui, que data de 8 de maio de 1882 e
consta da Coletânea Literária organizada por seu genro Batista
Pereira, pode-se ter uma idéia, embora pálida, das misérias que
acompanham os abalos sísmicos.
A Bíblia e Suas Profecias 121
Os especialistas em sismologia estão preocupados com o
acentuado aumento de tremores de terra em todo o mundo.
Dos 6.300 abalos sísmicos percebidos pelo homem anualmente
em todo o Globo, um número cada vez maior está provocando
destruições e vítimas fatais entre a população. Desde o início da
era cristã até o século quinze, houve uma média de 53
terremotos destruidores por século. A partir do século dezes
seis, esse número vem aumentando de forma assustadora: 253
(século XVI), 378 (século XVII), 640 (século XVIII), 2.139 no
século passado e uma trágica previsão de 5.750 no presente
século vinte. De 1900 a 1970 já haviam ocorrido mais tremores
sísmicos que em todos os 1800 anos anteriores!
Exemplificando o que revelam as estatísticas, eis alguns dos
mais destrutivos tremores de terra ocorridos no século vinte:
1908, Messina, Itália, 83 mil mortos; 1915, Avezzano, Itália, 30
mil mortos; 1920, Kansul, China, 180 mil mortos; 1923, Tóquio,
Japão, 143 mil mortos; no mesmo ano em Kansul, China, 60 mil
mortos; 1935, Quotta, índia, 60 mil mortos; 1939, Chillan,
Chile, 30 mil mortos; no mesmo ano, na Turquia, 23 mil
mortos; 1960, no Marrocos, no Chile e no Irã, mais de 30 mil
mortos; 1970, Peru, 60 mil mortos; 1972, Manágua, Nicarágua,
10 mil mortos; 1974, sudoeste da China, 20 mil mortos; no
mesmo ano, no noroeste do Paquistão, cinco mil mortos; 1976,
Guatemala, mais de 22 mil mortos, e no mesmo ano, na China,
talvez o maior terremoto do século, com um número de vítimas
fatais calculado entre 100 mil e um milhão; 1985, Cidade do
México, México, 20 mil mortos e 100 mil desabrigados.
Os terremotos, como também outras desgraças que têm
sobrevindo à humanidade, além de sinais dos tempos podem
ser, também, manifestações do juízo divino, precedendo o
tempo em que pragas ainda maiores ocorrerão. Nesse sentido,
há um fato que merece ser aqui destacado: O jornal "Telefone",
de Messina, Itália, na sua edição do Natal de 1908, publicou um
artigo blasfemo referente ao nascimento de Jesus, que zombava
dos crentes e concluía assim: "Pobre menino Jesus, que não te
contentas em ser homem, mas queres também ser Deus!
Mostra-te, se ainda és vivo! Manda-nos um pequeno terremo
to!" No dia 28 de dezembro do mesmo ano ocorreu o terremoto
que destruiu a ddade e ceifou 83 mil pessoas, entre elas o
redator do citado artigo e toda a sua família!
122 História, Milagres e Profecias da Bíblia
Ao prever a multiplicação dos terremotos nestes últimos
dias, escreveu Isaías: "Tremem os fundamentos da terra. A
terra está de todo quebrantada, ela totalmente se rompe, a terra
violentamente se move. A terra cambaleia como um bêba
do. . ." (Isaías 24:18-20). Que o profeta fazia referência aos dias
imediatamente precedentes ao retomo de Cristo, o versículo 23
não deixa dúvida: "A lua se envergonhará, e o sol se confundi
rá quando o Senhor dos Exércitos reinar no monte Sião e em
Jerusalém; perante os seus anciãos haverá glória".
O automóvel
Teria a Bíblia algo a dizer acerca da proliferação dos veículos
automotores? Ao anunciar a destruição de Nínive, ocorrida de
fato no ano 612 a.C., o profeta Naum registrou: "Os carros
passam furiosamente pelas mas, e se cruzam velozes pelas
praças, parecem tochas, correm como relâmpago" (Naum 2:4).
É esta uma das mais notáveis profecias da Sagrada Escritura,
tão minuciosa que dificilmente deixaria de ser compreendida
como sendo uma antevisão do automóvel. Os estranhos
veículos vistos pelo profeta como tochas ardentes correspon
dem ao intenso tráfico noturno de nossas rodovias e avenidas
movimentadas, quando fortes faróis iluminam como relâmpa
go e se cruzam em alta velocidade. A multiplicação dos carros
automotores tomou-se, não apenas uma ameaça à vida, mas
um problema que tem desafiado governos e exigido deles a
construção de gigantescas estradas, pontes e vias elevadas.
A expressão: "parecem tochas, correm como relâmpago"
descreve de maneira viva o que se passa principalmente nas
estradas de rodagem. Muitos dos automóveis de hoje têm sua
força motriz de tal maneira aumentada que podem percorrer
mais de 150 quilômetros por hora. Para quem estava acostuma
do ao lento tráfego de camelos, como o escritor sagrado, a visão
notuma de uma autopista moderna só poderia sugerir a idéia
de tochas acesas passando furiosamente, como relâmpago.
Convém salientar ainda que a visão de Naum tem como
ponto de partida a queda da grande cidade de Nínive, com
milhares de pessoas mortas às mãos dos furiosos e valentes
soldados de Nabucodonosor. Da mesma forma sobe a milhares
por ano o número de pessoas que perdem a vida ou ficam
feridas ou inválidas em conseqüência dos rotineiros e incontá-
A Bíblia e Suas Profecias 123
veis acidentes automobilísticos. Às margens de muitas rodovias
já se constroem hospitais destinados ao socorro das vítimas do
automóvel. Nas estradas brasileiras e nas principais vias
públicas de metrópoles como Rio e São Paulo, o índice de
mortalidade é um dos mais elevados do mundo. Por isso, a fim
de reduzir o número de acidentes, os responsáveis pela
segurança dos que viajam promovem intensas campanhas de
conscientização dos perigos do trânsito, como esta: "Não faça
de seu carro uma arma. A vítima pode ser você". Em muitos
países, o trânsito tem causado mais vítimas do que as mais
perigosas enfermidades.
A linguagem bíblica sugere também que tal cumprimento
profético se daria no tempo "do seu aparelhamento" (Naum
2:3). Aparelhamento de quê? ou de quem? Sugerem alguns
estudiosos da Palavra de Deus que se trata aqui do tempo em
que o Senhor estivesse preparando o seu regresso à Terra.
Desta forma, o aperfeiçoamento do automóvel, ta] como o
vemos hoje, é cumprimento perfeito e insofismável da visão do
profeta Naum, e sinal seguro do breve retomo do Senhor Jesus
para buscar a sua Igreja. Que o Senhor, ao regressar, nos
encontre firmes e orando esta última oração da Bíblia: "Ora
vem, Senhor Jesus" (Apocalipse 22:20).
O saianismo
Um dos mais terríveis sinais dos últimos tempos é o
movimento que ganha cada vez mais terreno e que se chama:
"Os adoradores de Satanás". Há muitos anos que se lia acerca
deste movimento e da sua origem, porém, recentemente foram
descobertas duas igrejas em Paris onde Satanás é adorado e a
missa negra celebrada. Estas igrejas foram fechadas, mas o
movimento continua num café transformado em igreja pelos
seus membros. Os adoradores do diabo reúnem-se cada noite
no café e depois retiram-se para o andar superior de uma casa,
fechada com fortes portas e ferrolhos. Homens e mulheres da
alta dasse tomam parte nos cultos, e os atos de adoração
consistem espedalmente em cometerem pecados iguais aos de
Sodoma e Gomorra.
Em Nova York, Satanás é adorado também por pessoas da
alta sodedade, com a participação de muitos estudantes. Num
destes lugares onde especialmente os jovens se reúnem —uma
124 História, Milagres e Profecias da Bíblia
dama é a dirigente. Diante de um altar ela dirige ao diabo a
seguinte oração: "Satanás, és o nosso mestre e nós os teus
discípulos. Satanás, és o nosso Senhor e nós, os teus servos, te
adoramos. Prometemos cumprir todo o maí que inventares;
prometemos não fazer nada que seja bom, e prometemos
seguir fielmente os teus treze mandamentos. Prometemos fazer
tudo o que nos mandares e cometer pecados mortais. Isto te
prometemos, Satanás, nosso Senhor". Também imitam a Ceia
do Senhor, mas de uma maneira tão horrível que nem pode ser
publicada na imprensa.
Estas duas notas, extraídas de um periódico português
editado em 1948, dão uma idéia da força do movimento
satânico já naquela época, quando as autoridades, pressiona
das pelas lideranças religiosas, impunham ainda alguma restri
ção a tais celebrações. Hoje, abusando da liberdade de religião
reconhecida nos países livres, o satanismo alcança progressos
bem maiores. Centenas de milhares, conscientemente, cultuam
Satanás em todo o mundo.
No Brasil, o astrólogo Luiz Howarth tomou-se notícia desde
que se denominou "redentor de Satanás e irmão de Deus". Ele
tem afirmado que "o mal que existe no mundo não pode ser
atribuído ao diabo, mas sim aos desníveis sociais, à usura e ao
egoísmo do homem. O mal não é o diabo, nem o bem é Deus.
Os dois são irmãos, que representam duas forças, e da sintonia
entre essas duas forças é que resulta o equilíbrio do homem". O
templo do diabo, que Howarth construiu em Aracaju, tem o
formato de um caixão de defunto. O astrólogo disse ainda que
implantar uma igreja do diabo em cada capital do país não é sua
única tarefa: ele anunciou a distribuição de milhares de
exemplares da "bíblia do diabo", que será também traduzida
para o inglês e o espanhol.
Vale a pena recordar as palavras de Jesus em João 8:44 e
10:10: "Vós sois do diabo, que é o vosso pai, e quereis
satisfazer-lhe aos desejos. Ele foi homicida desde o princípio e
jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade.
Quando ele profere a mentira, fala do que lhe é próprio, porque
é mentiroso e pai da mentira". "O ladrão vem somente para
roubar, matar, e destruir; eu vim para que tenham vida e a
tenham em abundância."
A adoração consciente de Satanás constitui um sinal de que o
A Bíblia e Suas Profecias 125
mundo se prepara rapidamente para o advento do anticristo. E
como este, segundo a Bíblia, só se manifestará após o arrebata
mento da Igreja, os acontecimentos finais se aproximam com
tremenda rapidez. É tempo de fidelidade, trabalho e vigilância!
Falsos profetas
No sexto século antes de Cristo, quando o poderoso e
riquíssimo Creso, rei da Lídia, consultou o oráculo de Delfos
sobre se deveria ou não lutar contra Ciro, da Pérsia, foi-lhe dito:
''Quando o rei Creso atravessar o rio Halis destruirá um
poderoso exército". Creso, supondo que a profecia lhe era
favorável, lançou-se contra Ciro e destruiu, de fato, um
poderoso exército — o seu próprio!
Mil anos mais tarde, nas proximidades de Roma, dois
pretendentes ao trono imperial estão prestes a defrontar-se no
campo de batalha. Um deles, Maxêncio, consulta uma profetisa
do oráculo de Cumes, e esta lhe diz: "Nesse dia (da batalha) o
inimigo de Roma será derrotado". Sentindo-se confiante na
vitória, Maxêncio lança seu exército contra o de Constantino,
mas sofre fragorosa derrota e perde a vida,
Como o leitor percebeu, tanto num como noutro caso a
profecia teria forçosamente de cumprir-se, qualquer que fosse o
resultado. Assim eram, e ainda são, as profecias humanas:
sempre obscuras ou de sentido dúbio. Por isso são objeto de
tantas especulações e interpretações, como as de São Malaquias
(não o Malaquias da Bíblia), e Nostradamus.
Acerca deste último, Nostradamus, vale a penas examinar
suas predições e perceber quão obscuras elas são. De todas as
suas profecias, não há consenso em nenhuma só por parte dos
que as estudaram e estudam. Vejamos, como exemplo, a
quadra III, Centúria 97:
"Nova lei prevalecerá na nova terra
Para a Síria, Judéia e Palestina
O grande império bárbaro declina
Antes que a Lua complete o seu ciclo".
Wolner vê os anos 2080 e 2332 d.C.; Leoni vê 1917 a 1920;
Roberts vê a queda da Confederação Árabe.
Mas, até mesmo quando são claras, as predições humanas
não merecem confiança. Em 1918, finda a Primeira Guerra
Mundial, representantes de 62 nações se reuniram na capital
126 História, Milagres e Profecias da Bíblia
francesa para assinarem o "Pacto de Paris". Entre as muitas
expressões eufóricas que lá se ouviram, podemos destacar
estas: "Hoje foi a guerra internacional banida da civilização".
"Pela primeira vez na história do mundo vai-se ter paz eterna e
mundial". O Presidente dos Estados Unidos, Herbert Hoover,
exclamou com otimismo: "Estamos no inído de uma idade
áurea". Cumpriram-se aquelas predições? Evidentemente que
não.
Os homens também disseram que a Segunda Guerra Mun
dial livraria a terra da regênda ditatorial, que as Nações Unidas
unificariam todos os povos numa cooperação patífica. En
tretanto, nada disso se cumpriu, porque aos homens é impossí
vel antever o futuro. Unicamente o Deus onisdente, em sua
Palavra, tem desvendado os acontecimentos futuros, muitos
dos quais ainda estão por vir, e dado infalíveis provas de que
eles terão seu exato cumprimento, porque ele "não é homem
para que minta" (Números 23:19).
Nota
Como o leitor certamente deve ter observado, deixei de me
referir, neste capítulo, a diversas outras profedas bíblicas já
cumpridas ou em cumprimento. Assim o fiz propositadamen
te, uma vez que muitas delas estão já comentadas nos meus
livros Desafios da Nossa Época, Israel de Herodes a Dayan, Deus
Revela o Futuro, Assim Vive Israel, Israel Gogue e o Anticristo, As
Visões Proféticas de Daniel. Estes dois últimos também editados
em espanhol pela Editora Vida.
RELATOS DE TESTMUNHAS
OCULARES DE SINAIS E
PRODÍGIOS NO MUNDO DE
HOJE
Os milagres acontecem ainda hoje? Deus ainda cura os enfer
mos? É bíblico esperar milagres? Este livro, baseado em exrensa
pesquisa, trata desta e de muitas outras questões.
Este livro apresenta milagres que demonstram o potencial que
têm sinais e prodígios para o crescimento da igreja.
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História, Milagres e Profecias da Bíblia, destina-se tanto aos
interessados em aprofundar seus conhecimentos da bendita
Palavra de Deus, como à evangelização. Produzido ao longo de
mais de duas décadas de pesquisas, este livro apresenta de
maneira simples o plano divino para redimir a humanidade caída.
Neste trabalho o leitor encontrará os pontos mais salientes da
inspiradora história da Bíblia, desde os primeiros manuscritos em
argila, papiro ou peles de animais, até às incríveis tiragens de
milhões de exemplares em nossos dias.
História, Milagres e Profecias da Bíblia é, também, uma boa
introdução ao estudo da escatologia bíblica — o apaixonante
tema de alguns dos livros de Abraão de Almeida. É com grande
prazer que a Editora Vida coloca nas mãos dos estudiosos do
Livro dos livros mais esta excelente obra em português de tão
conceituado Autor.
ISBN 0-8297-1702-1