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DESENVOLVIMENTO DA
DOUTRINA DA TRINDADE
2011
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA iii
1. INTRODUÇÃO 07
2. PRÉ-HISTÓRIA DO DOGMA TRINITÁRIO NA IGREJA
ANTIGA 13
2.1 O Conceito dos Pais Apostólicos 13
2.2 Os apologistas do Oriente 17
2.3 Os apologistas do Ocidente 23
2.4 Um vocábulo Novo 28
3. A OPOSIÇÃO ANTITRINITÁRIA E A FORMAÇÃO DO
CONCÍLIO DE NICÉIA 35
3.1 A posição do Imperador Constantino 36
Inácio († 105 d.C.), que foi o segundo sucessor de Pedro como pastor em
Antioquia, também ensinava a doutrina da Trindade. Mártir durante o reinado
de Trajano, ele escreveu uma epístola aos cristãos da Trália, dizendo-lhes
que, a despeito do sofrimento, continuassem “em íntima união com Jesus
Cristo, o nosso Deus”.[24]
Interessante que Inácio vem acentuar a divindade de Cristo, mesmo crendo
no único Deus, não oscila em afirmar que Cristo é verdadeiro Deus. No
entanto devemos entender que ainda não existe uma defesa clara da Trindade
no II século da Igreja.
Em outro momento Inácio novamente mostra vestígio de uma perspectiva
trinitária funcional quando diz:
Nesta citação que Inácio coloca cada pessoa em harmonia com a outra, cada
uma exercendo o seu papel de forma funcional no plano da salvação, sem
diminuir e nem exaltar nenhuma em detrimento da outra, antes revelando que
sem elas não é possível concluir o projeto divino da salvação para os homens.
Conforme concorda Luis Ladaria, “As três “pessoas” intervêm, portanto, na
edificação da Igreja e na salvação dos fiéis”.[26]
2.2.1 JUSTINO
Essa última passagem faz uma proposta totalmente nova: isto é, do número
em Deus. Deus é vários? Certamente que a expressão utilizada pelo mestre
latino é incapaz de explicar a existência de uma pluralidade em Deus, mas já
é vestígio de uma visão que Deus não está sozinho. Todavia, devido a essa
fraqueza em sua própria redação, Justino se apressa em dizer: “Deus é um
pelo pensamento”.
Nesse raciocínio Justino ainda vai esclarecer esse “outro Deus” usando uma
analogia para revelar que na verdade existe uma geração na divindade:
2.2.2 ATENÁGORAS
Atenágoras, “filósofo cristão de Atenas” (metade do século II), supera Justino
em linguagem, estilo e ritmo, e possui maior clareza na disposição dos
assuntos. Adota uma atitude mais tolerante para com a filosofia e cultura
grega.[41]
Novamente encontramos fórmulas trinitárias que têm um teor de clareza e
riqueza tremendo, que merecem que sejam citadas neste trabalho. Vejamos:
Teófilo (morto por volta de 186) foi o primeiro líder oriental a empregar o
termo triás (“Trinitas”), a respeito da divindade. Em geral, designa as
Pessoas divinas pelos nomes: Deus, Logos e Sabedoria.[45]
O Pai da Igreja também faz uso de analogias para explicar a Trindade. Ele
diz: “Os três dias que procedem à criação dos luminares são símbolos da
Trindade, de Deus, de seu Verbo e de sua Sabedoria”
Ladaria diz que Teófilo faz uma suposta confusão entre as Pessoas, dizendo
que a Sabedoria apresentada pelo mestre da Igreja, não era o Filho, mas ao
Espírito Santo, ele vai dizer que isso também acontece com Irineu de Lião.
Entretanto para Ladaria o alicerce principal de Teófilo seria a doutrina dos
dois estados do Verbo, o Logos imanente, no seio do Pai, antes da geração
propriamente dita, e o Logos proferido, isto é quando Deus o gera para criar o
mundo por seu meio. Vejamos a citação capital do mestre oriental:
2.2.4 ORÍGENES
Penso que o Espírito Santo oferece, por assim dizer, a matéria dos
dons da graça concedidos por Deus àqueles que por Ele e por sua
participação nele são chamados santos. Essa matéria dos carismas,
de que falamos, proviria da atividade de Deus Pai, seria ministrada
por Cristo e teria sua própria consistência no Espírito Santo (In Joh.
II 10,77).[51]
Nessa frase ele faz alusão à atuação do Espírito na economia da Trindade que
levará o homem ao estado de perfeição, modelando o homem à imagem de
Deus; com isso menciona a obra perfeita que Deus tinha criado e deixado no
jardim, Adão e Eva, mostrando que, no mínimo, refletiremos a criação
original.
Além dessas apologias contra os gnósticos e falsos mestres, por volta do ano
177 d.C Irineu faz uma apologia que vai resumir de forma esplendorosa a
atuação da Trindade na salvação dos homens, e mostra com total clareza qual
era a fé defendida pelos apóstolos, diante das ameaças que a Igreja estava
sofrendo em todo o mundo:
2.3.2 TERTULIANO
O tronco não está dividido da raiz, nem o rio da fonte, nem o raio do
sol, nem tampouco a Palavra está separada de Deus. Portanto,
segundo a imagem que esses exemplos proporcionam, confesso que
falo de dois: Deus e sua palavra, o Pai e seu Filho, porque a raiz e o
tronco são duas coisas, mas unidas: e a fonte e o rio são duas
manifestações (species), mas indivisas; e o sol e o raio são duas
formas, mas enlaçadas (cohaerentes). Tudo o que procede de alguma
coisa deve ser algo distinto daquilo de que procede, mas não
separado. Porém, onde há um segundo há duas coisas, e onde há um
terceiro, três. O terceiro é o Espírito a respeito do Pai e do Filho,
como o terceiro a respeito da raiz é o fruto que vem do tronco, e o
terceiro em relação à fonte é o arroio do rio, e o terceiro do sol é a
chispa do raio. De todas as maneiras, nada se aparta da origem do
que tem suas propriedades. Assim a Trindade, derivada do Pai é
através dos graus enlaçados e coesos, não é obstáculo à monarquia e
protege o status da economia.[62]
Hipólito nasceu antes de 170 (talvez no Oriente grego); segundo Fócio, foi
discípulo de Ireneu, foi presbítero romano no pontificado de Vítor (cerca de
189-98). Violento adversário dos modalistas (Noeto, Cleômenas, Sabélio).
[63] Em 212, Orígenes escutou uma homilia de Hipólito.
Para esse mestre da Igreja o Logos divino não compromete a unicidade
divina, como pensava Noeto (de tendências patripassianas). Para Hipólito a
geração do Filho em nada compromete a unicidade em Deus, antes o Logos
vive no coração do Pai. Há uma unicidade de Deus e em Deus, uma distinção
inseparável do Pai e do Filho. Deus sendo só, era múltiplo, pois não lhe
faltavam nem Logos, nem sabedoria, nem força, nem vontade: tudo estava
2.4.1 TRINDADE
2.4.2 HIPÓSTASES
3. A OPOSIÇÃO ANTITRINITÁRIA E A
FORMAÇÃO DO CONCÍLIO DE NICÉIA
Deus incriado fez o Filho princípio das coisas criadas, e pela adoção
Deus fez o Filho numa projeção de si mesmo. Todavia, a substância
do Pai: O Filho não é igual ao Pai, Nem partilha da mesma
substância, Deus é o Pai de todas a sabedoria, O Filho é o mestre de
seus mistérios. Os membros da Trindade Santa partilham de glórias
desiguais.[115]
Assim fica demonstrada em sua carta contra o arianismo uma defesa clara da
consubstancialidade do Espírito com igualdade com a Pessoa do Pai e do
Filho, e novamente é percebida uma comunhão das Pessoas Divinas em tudo
o que operam, mesmo que o Concílio de Nicéia não trate com tanto afinco a
natureza do Espírito.
Atanásio consagra muito tempo à luta teológica (e política) contra os arianos:
dentre certo número de obras polêmicas, as mais importantes são os três
discursos contra os arianos (hoje questiona-se a autenticidade do terceiro).
Um dos primeiros que escrevem sobre o Espírito Santo: Cartas a Serapião.
[121]
É bom salientar que mesmo Atanásio sendo o principal expoente da defesa
trinitária no Sínodo que ocorre em Nicéia, sua preocupação não estava focado
no monoteísmo trinitário, onde explica que os três são um só Deus, mas na
divindade do Filho e sua plena encarnação. Em uma de suas citações ele
mostra que o Logos de Deus encarnou e limitou-se, mostrando assim que
Atanásio conseguiu compreender a verdadeira humanidade do Logos divino.
Vejamos:
O que – ou antes Quem – era necessário para tal graça e tal chamado
de que necessitávamos? Quem, exceto o próprio Verbo de Deus, que
também no princípio havia feito todas as coisas a partir do nada?...
Pois ele somente, sendo o Verbo do Pai e estando acima de todos,
era em conseqüência disso capaz de restaurar a todos, e digno de
sofrer em favor de todos e de ser um embaixador de todos juntos ao
Pai.
Para esse propósito, pois, o Verbo de Deus incorpóreo, incorruptível
e imaterial entrou em nosso mundo. Na verdade, num certo sentido
ele nunca estivera longe do mesmo, pois nenhuma parte da criação
jamais havia estado sem Aquele que, enquanto permanece sempre
em união com o Pai, todavia enchetodas as coisas que existem. Mas
agora Ele entrou no mundo de um novo modo, descendo ao nosso
nível em seu amor e auto-revelando-se a nós... [ Apiedando-se ] de
nossa raça, move-se de compaixão por nossas limitações, sendo
incapaz de suportar que a morte tivesse o domínio... Ele tomou para
si mesmo um corpo, um corpo humano semelhante ao nosso. Ele
não quis simplesmente materializar-se ou meramente aparecer.
Tivesse sido assim, Ele poderia ter revelado a sua divina majestade
de algum modo melhor. Não, Ele assumiu o nosso corpo... Ele, o
Poderoso, o Artífice [ Criador ] de tudo, ele mesmo preparou esse
corpo na virgem como um templo para Si mesmo e tomou para Si
próprio, como o instrumento através do qual foi conhecido e no qual
habitou. Assim, tomando um corpo como o nosso, porque todos os
nossos corpos estavam sujeitos à corrupção da morte, Ele entregou o
seu corpo à morte em lugar de todos e o ofereceu ao Pai. Isso Ele fez
por puro amor a nós. [122]
Todavia, mesmo que seu foco seja outro, a perspectiva da Trindade não
estava completamente fora de seus planos, pois quando ele faz menção da
divindade do Filho junto ao Pai ou a consubstancialidade (homooúsios) do
Pai igual ao Filho, diretamente fala de mais de uma pessoa na vida divina e
assim passa a uma expectativa que caminha para a pluralidade no Deus único.
Foram esses os argumentos e citações que Atanásio fez uso para destronar
seu opositor Ário que dizia que Cristo era apenas uma criatura. Em
consonância com a rejeição ariana, Atanásio se apoiou, também, em
experiências concretas. O arianismo estava em oposição às práticas comuns
das multidões de cristãos, como as orações da Igreja que sempre tinham sido
feitas a Deus em nome de Cristo, sendo assim separar o Filho do Pai parecia
cortar a possibilidade de que os seres humanos se comunicassem com divino.
Também no batismo nas Igrejas que usava-se a fórmula trinitária “em nome
do Pai, e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28.19); e os hinos da Igreja que
regularmente louvavam a Jesus como Salvador, o qual, vindo da parte de
Deus, restaurou a humanidade caída para Deus. [123]
Sendo assim, temos uma das mais belas defesas da fé trinitária, apresentada
diante daqueles que governavam a Igreja de Deus no IV século, e parece que
mesmo não tendo aceitação plena, as alusões de Atanásio certamente
contribuíram para o Concílio definir qual posição deve tomar para a
formulação de como Deus deveria ser entendido pela Igreja. Porém, nessa
guerra que seria crucial para a Igreja, Atanásio não estava sozinho, ele podia
contar com Hilário, que também vai contribuir para a possível decisão final
do Concílio em Nicéia.
Segundo as leis da natureza, não pode ser tudo aquilo que é só uma
porção. O que procede do perfeito é perfeito, porque o que tem tudo
lhe deu tudo. Não se deve pensar que não deu porque ainda tem,
nem também que não tenha porque deu (Trin. II 8).[125]
Não devemos interpretar que haja algum tipo de divisão na natureza divina
ou ruptura ou diminuição da substância do Pai. Essa proposta elimina
qualquer vestígio de subordinacionismo nas relações pessoais entre a Pessoa
do Pai e a do Filho. Além dessa citação, existe uma que é considerada por
Sinivaldo “uma das mais preciosas” contribuições à doutrina cristã de Deus.
Deus em todo momento sabe ser somente amor, somente Pai. O que
ama não tem inveja e o que é Pai é Pai por completo... O Pai é Pai
em tudo quanto nele existe, possui-se inteiramente naquele para o
qual não é Pai somente em parte. De maneira incompreensível,
inenarrável, antes de todo tempo e toda idade, procriou o Unigênito
da substância que nele há, e deu a esse Filho nascido dele, por meio
de seu amor e de sua potência, tudo o que Deus é (Trin. IX 61 e III
3).[126]
E a quantos dizem: “Ele era quando não era” e “Antes de nascer, Ele
não era” ou que “Foi feito do não existente” bem como a quantos
alegam ser o Filho de Deus “de outra substancia ou essência” ou
“feito” ou “mutável” ou “alterável”
A todos estes a Igreja Católica e Apostólica Anatemiza.[131]
Assim, a sentença foi emitida pelo Concílio a todos aqueles que professam
uma fé diferente da exposta publicamente em Nicéia. Certamente aquele ano
marcou para sempre a vida da Igreja pois, até hoje, é motivo de estudos,
críticas, curiosidades, desconfianças etc., visto que foi realizado durante o
império de Constantino. Entretanto, como temos estudado, o grande defensor
da fé aceita em Nicéia foi Atanásio, e a vitória foi da Igreja, sendo aceita até
hoje como a fundamentação para o teísmo cristão em todo o mundo.
Porém, a teologia ariana não foi totalmente vencida. Depois desses embates
surgiram os Concílio I e II, agora os de Constantinopla, do qual vão participar
uns 150 bispos com bem menos projeção do que o de Nicéia, porém vão
tratar de questões que abarcam a unicidade de Deus, a Pessoa do Espírito
Santo e, conseqüentemente, vão refletir na Pessoa de Cristo. Contudo não
iremos tratar nesse trabalho desses novos desdobramentos dos concílios na
Igreja, sugerimos que o leitor consulte a bibliografia que, certamente, aponta
obras que abrangem a continuidade dos concílios, promovendo o
enriquecimento da investigação sobre essa parte fascinante da história da
Igreja que são os Dogmas e Concílios.
Seria impossível para o homem viver fora dum sistema comunitário, pois
assim como seu Criador em sua natureza é comunidade, também a vida
daqueles que foram criados à sua imagem e semelhança (imago Dei) têm por
inerência uma vida em sociedade. Pois mesmo caído, o homem não perdeu o
reflexo do Deus Trino, porém, para refleti-lo perfeitamente, é preciso voltar-
se ao Deus único para que possa compreender que ele foi criado para viver
essa comunhão através de Cristo Jesus.
Deve-se observar também que na comunhão divina existe uma diversidade
que se chama na teologia de “Trindade Econômica”, isto é, uma Trindade
como se vê revelada na obra de redenção e na experiência humana[137]. É
também quando as pessoas da Trindade assumem suas atuações funcionais,
sem com isso aumentar ou diminuir nenhuma delas. Assim deve ser o desafio
para a vida da Igreja; ninguém é maior ou menor dentro do reino de Deus,
antes possuem funcionalidades diferentes. Onde o Pai envia o Filho, e o Pai e
o Filho enviam o Espírito Santo. (Jo 14.26).
Paulo deixa isso bem claro em sua carta de 1ª Coríntios 12 quando ele faz
alusão à unidade e diversidade do corpo de Cristo, onde todos os membros
mesmo sendo distintos são igualmente relevantes para o crescimento de todo
o corpo.
Todavia, temos em Jesus o exemplo máximo de ordem funcional, sem com
isso perder sua igualdade ontológica junto aos demais membros da Trindade,
antes veio ao mundo com o propósito de cumprir os desígnios do Pai, sendo
servo. Gene Wilker afirma que a principal lição que aprendeu foi que “Jesus
ensinou e personificou a liderança como serviço” [138]
Na missão trinitária, Jesus foi o único membro divino encarregado de
encarnar-se e assumir para sempre a natureza humana, e isto é algo tremendo!
O Deus infinito tornou-se humano. Temos uma pista de o que isso representa
na carta de Paulo aos Filipenses, no capítulo 2, que revela o caráter do reino
de Deus, um reino onde a diversidade e unidade em nada comprometem o
status das pessoas na Trindade; um reino de serviço, onde cada um tem sua
atuação na vida humana, assim deve ser a leitura de todos que pastoreiam o
povo de Deus.
Mas, infelizmente, hoje em dia muitos líderes não repensam sua postura à luz
da Trindade, a qual possui ricas aplicações para vida cristã, antes preferem
caminhar num ministério solitário, sem comunhão com outras pessoas,
pastores ou crentes outros ainda se colocam no pináculo de exaltação como
se fossem dono da Igreja, quando na verdade vão contra a proposta de
humilhação de Cristo, “que embora sendo Deus, não considerou que o ser
igual a Deus, era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo,
vindo a ser servo” (Fp 2.6). Cristo não queria assumir uma falsa encarnação,
como foi sugerido no VI século da Igreja por Nestório de Constantinopla,
antes Ele estava interessado em assumir o compromisso de resgatar o homem
perdido, e para tanto foi necessário tornar-se como um de nós. Como diz o
escritor Myer Pearlman “O Filho de Deus se fez filho do homem para tornar
os filhos dos homens filhos de Deus”. [139]
O interesse de Cristo era a glória do Pai (v.11)., Ele não exercia sua função
em conflito com a comunidade, antes veio cumprir sua missão para que a
Trindade tivesse a glória devida. Wilker corrobora dizendo:
Conforme Boff é possível vivenciar essa realidade divina nos lares como
maridos, esposas e filhos[144]. Muitas vezes, porém, quando se fala de Deus,
ou de sua eternidade, como sendo tão distante dos crentes, como bem observa
Ed René: “Ai meu Deus!”, “Deus te acompanhe”, “Deus te abençoe”, “Deus
te ajude”, “Deus lhe pague”, “Deus te guie”, “Vai com Deus”, “Meu Deus do
céu”. “Deus para lá”, “Deus pra cá”. Na verdade, Deus é muito falado e
pouco experimentando. [145]
Mas, diante desse quadro, o desafio é criar pontes para tornar praticável essa
verdade eterna. Então se percebe que viver uma vida que reflita a comunhão e
o caráter de Deus, não é algo longínquo, antes está perto de todos os cristãos,
dentro de cada regenerado é somente praticar o que dantes foi revelado nas
Escrituras.
Infelizmente muitos perdem de aprender e alegrar-se na presença de Deus,
simplesmente por acharem impossível viver tal realidade trinitária, ou
acontece, até mesmo, de praticarem, mas não conseguem vislumbrar que
certas atitudes são o retrato vívido da comunhão das pessoas divinas.
Sendo assim, qualquer cristão que deseja ter sucesso na vida, precisa
considerar relevante a busca da reafirmação da doutrina da Trindade, não
somente em aspecto apologético ou histórico, mas também em aspecto
pessoal, familiar, social etc. É preciso resgatar nos púlpitos das igrejas a
necessidade de estudar essa Doutrina em campos mais íntimos de nossa vida.
Só a partir do momento que o cristão consegue superar as barreiras que o
impede de viver uma vida que refletia o Deus Triúno, será possível ter
comunhão na Igreja local, será possível viver uma dimensão de diversidade
dentro da comunidade de fé na qual ele está inserido.
Diante dessa viagem na história da Igreja, foi possível, através dos muitos
escritos, autores e documentos da Igreja, descobrir que ao longo dos séculos a
Igreja de Cristo tem enfrentado muitos inimigos. Graças ao Deus Trino, ela
tem sido vitoriosa e tem conseguido fundamentar os pilares cristãos de forma
firme e louvável diante dos dilemas, seja teológico, seja perseguição imperial
etc. Cumprindo a palavra dita por Jesus: “edificarei a minha igreja, e as
portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18), e assim tem sido.
Também aprende-se que após a ascensão de Cristo e a morte dos apóstolos a
Igreja tem se mantido firme nos principais pontos doutrinários, em especial
na Doutrina da Santíssima Trindade, que é na verdade o núcleo da fé cristã,
como vai dizer Bernard Meunier: “é a partir do conceito que se tem de Deus
que se vai nortear a vida da Igreja”, pois aquilo que se crê será aquilo que
influenciará toda a nossa vida prática.
Entretanto deve-se questionar, diante de quase um século de controvérsia,
uma reunião como essa, sendo organizada pelo governo, tendo os principais
expoentes do pensamento cristão do IV século (tanto do Oriente como
Ocidente), participando de forma fervorosa, buscando respostas que fossem
convincentes e pudessem ser aceitas pelo Cristianismo da época, pergunto:
será que resolveu definitivamente a questão doutrina acerca de Deus? Será
que realmente foi necessário gerar uma ferida interna dessa magnitude,
quando na verdade a Igreja tinha acabado de sair de uma perseguição imposta
por Diocleciano? Conclui-se que sim!
Era necessário, então, determinar se a Doutrina da Trindade era o fundamento
para o teísmo cristão decidir em qual Deus o Cristianismo acreditava. Seria
ele impessoal? Seria uno solitário? Seria trino? Enfim, qual era o Deus que
deveria ser louvado nas igrejas, cantado nos hinos? A quem eram dirigidas as
orações no mais profundo sigilo do nosso coração? Ora, se viéssemos a crer
no Deus que fosse diferente daquele revelado nas Santas Escrituras, então
teríamos um Deus solitário, como poderia ele ter comunhão com os homens?
Então buscando ao longo da rica história da Igreja, os fundamentos que foram
determinantes à construção da Doutrina da Trindade, considera-se que eles
foram: A posição dos Pais Apostólicos, que são aqueles mestres que
sucederam imediatamente os discípulos de Cristo depois de suas mortes, foi
crucial, pois muitos deles foram discípulos aos pés de João, de Pedro etc.,
então são fontes humanas fiéis e acima de quaisquer suspeitas. Os Pais dos
primeiros séculos já possuíam uma formulação trina do Deus cristão, mesmo
sendo tímida, mas já entendiam que na Divindade exista Pai, Filho e Espírito
Santo; sendo assim, essas testemunhas foram determinantes para que a
Doutrina da Trindade tenha se tornado um dos principais fundamentos da fé
Cristã.
Outra fundamentação digna de nota foram os vocábulos e termos que foram
criados já no século II para compreender melhor a intimidade que existe no
Deus único, como a expressão “Trindade”, “Hipóstase” etc., que, mesmo não
sendo bíblicas, foram extremamente úteis para fazer compreensível a
proposta de homens como Tertuliano e Orígenes, que, sem medo de enfrentar
seus opositores no terreno dos conceitos, não recuaram diante das palavras de
caráter filosófico, colocando-as a serviço da fé; vale salientar que tais termos
antecedem os famosos concílios ecumênicos, uma vez que muitos ainda
entendem que a Doutrina da Trindade não faz parte dos primórdios da fé
cristã, sendo assim tais expressões estão livres dessa falsa acusação.
E não menos importante a posição de Constantino no desenvolvimento do
Concílio de Nicéia, pois foi possível desmistificar esse conceito de que a
formulação do pensamento trinitário se deu a partir de propostas e
posicionamento do próprio imperador. Mas como vimos, ele apenas deu o
suporte logístico que o sínodo carecia para que fosse possível reunir os
líderes nessa reunião global, sendo assim é pertinente esclarecer essa questão,
pois mostrará que a Doutrina da Trindade não foi formulada por cismas do
governo, se mantendo como fundamento da fé.
Tem-se ainda a contribuição dos mestres Atanásio e Hilário, que foram os
personagens mais ilustres nessa questão que inquietava o coração do
Cristianismo no IV século. Eles sim, foram responsáveis por convencer o
Concílio de que a Doutrina da Santa Trindade é bíblica e que seria impossível
haver salvação e paz se o Redentor também não detivesse plena divindade
juntamente com o Pai. Sendo assim, eles foram vitoriosos nesse que foi o
primeiro e o maior concílio ecumênico do Cristianismo do IV século.
A batalha teológica, que durou quase um século, tem mostrado que Deus tem
se auto-revelado aos homens para que eles saibam que o Deus do
Cristianismo, é o Deus Verdadeiro que deve ser aceito e defendido a partir de
um Deus que é comunhão, que tem em sua natureza o Pai, o Filho e o
Espírito Santo, e que ele sendo assim pode manter um relacionamento íntimo
com os seres finitos, os homens, o que evidencia que, desde toda a
eternidade, Deus nunca esteve sozinho.
Mesmo diante desse simples e básico trabalho, onde foram estudados e
pesquisados provas documentais, testemunhos, compêndios etc., nunca será
possível esquadrinhar a natureza desse Deus tremendo, antes é um eterno
mistério de profundidade abissal, que nos leva a contentar-nos humildemente
em aceitar o que as Escrituras revelaram para a edificação e, assim, silenciar,
lembrando da advertência de Calvino:
Por fim, diante da problemática que foi lançada por esse trabalho, considera-
se que a história da Igreja tem confirmado que a Doutrina da Trindade é parte
fundamental do teísmo cristão tanto de antes, como de hoje e para sempre; e
não somente isso, mas todos os cristãos são convidados hoje, agora, a viver
essa doutrina, seja na comunhão e diversidade da liderança na Igreja, seja na
família ou ainda nas investidas que se propõe a fazer para expandir o reino de
Deus (missão), como disse Leonardo Boff: “... Por causa da Santíssima
Trindade, somos convidados a manter relações de comunhão com todos,
dando e recebendo e juntos construindo uma convivência rica, aberta,
respeitosa das diferenças e benéfica para todos.”[156]
BIBLIOGRAFIA
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[4] CLEMENTE ROMA. Cartas aos Coríntios. Disponível em:
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[5] ORÍGENES. Comentário sobre o evangelho de João 2. Disponível em:
<http://origen-commentary-on-john-2.blogspot.com/>. Acesso em: 23 de fev. de 2011
[6] PASTOR DE HERMAS. Disponível em: <
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Carvalho Luz, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana , S/C, 1985.
[14] BOWMAN, Robert M. Jr. Por que devo crer na Trindade. 2ª ed. São Paulo:
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[15] SILVA, Esequias Soares da. Como responder às Testemunhas de Jeová. Vol. 1. 3ª
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[16] KEELEY, Robin, org. Fundamentos da Teologia Cristã. São Paulo: Vida, 2000.
[17] MEUNIER, BERNARD. O Nascimento dos dogmas cristãos. São Paulo: Loyola,
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[18] GRUDEM, Wayne A. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.
[19] HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001.
[20] STRONG, Augustus H. Teologia Sistemática. Vol. 1. São Paulo: Teológica, 2002.
[21] O nome “pais apostólicos” tem sua origem na Igreja do Ocidente do século II. São
chamados assim, os homens que tiveram contato direto com os apóstolos ou, então, foram
citados por alguns deles. Instituto Cristão de Pesquisa. Ver: Pais Apostólicos. Disponível
em: <http://www.icp.com.br/51materia2.asp>. Acesso em: 25 de fev. de 2011.
[22] CLEMENTE ROMA. Cartas aos Coríntios. Disponível em:
<http://sumateologica.files.wordpress.com
/2010/02/clemente_romano_cartas_aos_corintios.pdf >. Acesso em: 23 de fev. de 2011.
[23] Ibid., p. 58.2.
[24] SILVA, Rodrigo P. Um Dogma de Constantino? Disponível em: <
http:/www.centrowhite.org.br/antigo/
textos.pdf/03/parousia_iii.pdf. p 7>. Acesso em: mai de 2010.
[25] INÁCIO ANTIOQUIA. Carta aos Efésios. Disponível em:
<http://www.tradicaocatolica.com.br/pais-da-igreja/tratados/25-carta-aos-efesios>. Acesso
em: 23 de fev. de 2011.
[26] LADARIA, f. Luis. O Deus vivo e Verdadeiro. São Paulo: Loyola, 2005, p. 137.
[27] ALTANER, Berthold – STUIBER Alfed. Patrologia: Vida, obras dos Padres da
Igreja 2ª Ed. São Paulo: Paulinas, 1988, p. 63.
[28] LADARIA, Luis F. O Deus vivo e Verdadeiro. São Paulo: Loyola, 2005. p 138
[29] EPÍSTOLA DE BARNABÉ. Disponível em:
<http://www.autoresespiritasclassicos.com /Evangelhos
%20Apocrifos/Apocrifos/1/28%20-%20Ep%C3%ADstola%20de%20barbabe.pdf >.
Acesso em: 23 de fev. de 2011.