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Supremo Tribunal Federal

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 686.245 DISTRITO FEDERAL

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


RECTE.(S) : ELIFAS LEVI LISBOA
ADV.(A/S) : JOSÉ EYMARD LOGUERCIO E OUTRO(A/S)
RECDO.(A/S) : CONSELHO FEDERAL DE ECONOMIA
ADV.(A/S) : MARCUS VILMON T DOS SANTOS E OUTRO(A/S)

DECISÃO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
TRABALHISTA. CONSELHO DE
FISCALIZAÇÃO PROFISSIONAL:
AUTARQUIA FEDERAL. ACÓRDÃO
RECORRIDO DIVERGENTE DA
JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. RECURSO
PROVIDO.

Relatório

1. Recurso extraordinário interposto com base na alínea a do inc. III


do art. 102 da Constituição da República contra julgado do Tribunal
Superior do Trabalho, que decidiu:

“CONSELHO FEDERAL DE ECONOMIA. NATUREZA


JURÍDICA. ESTABILIDADE. Os conselhos federais e regionais de
fiscalização profissional não são autarquias em sentido estrito, e os
seus servidores, mesmo admitidos por concurso público, não gozam da
estabilidade própria dos servidores públicos, prevista nos arts. 19 do
ADCT e 41 da Constituição Federal, sendo possível, portanto, a
dispensa sem justa causa. Recurso de revista conhecido e provido” (fl.
294).

Os embargos declaratórios opostos foram assim julgados:

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 4182746.
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RE 686245 / DF

“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DESPROVIDOS. A


pretensão do embargante, na verdade, não é sanar omissão, mas, tão
somente, rediscutir os fundamentos levados a cabo pela Turma para
conhecer do recurso de revista do reclamado e dar-lhe provimento.
Portanto, se a prestação jurisdicional proposta não satisfaz à parte,
incumbe a esta buscar essa satisfação pela via recursal cabível, que não
estes embargos, uma vez que não se prestam ao reexame de fatos e de
provas. Embargos de declaração desprovidos” (fl. 311).

2. O Recorrente alega que o Tribunal a quo teria contrariado os arts.


5º, inc. XIII, 21, inc. XXIV, 22, inc. XVI, 37, caput e inc. II, e 41 da
Constituição da República.

Argumenta que:

“Discute-se a natureza jurídica de conselho federal de


fiscalização profissional e a consequente nulidade da dispensa
imotivada de seus empregados, especialmente os admitidos via
concurso público.

O E. Tribunal Regional, soberano na apreciação da prova,


concluiu pela nulidade da dispensa do reclamante, ao reconhecer a
natureza de autarquia do conselho, devendo se sujeitar aos princípios
que regem os atos administrativos. Fixou, ao ratificar a nulidade da
dispensa, que o reclamante fora admitido via concurso público, que a
reclamada tinha suas atividades fiscalizadas pelo TCU e que a
dispensa não foi objeto das necessárias submissão e publicidade de
Seção Plenária da Cofecon [Conselho Federal de Economia].

(...)

A E. Segunda Turma do TST, em arrepio das premissas fáticas


do v. acórdão regional, deu provimento ao recurso de revista do
Conselho Federal de Economia, julgando improcedentes os pedidos da
inicial (restabelecimento da r. sentença).

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RE 686245 / DF

Aplicando o iterativo entendimento do TST, a E. Segunda


Turma consignou que os conselhos federais e regionais de fiscalização
profissional não seriam autarquias em sentido estrito, o que afastaria a
estabilidade própria dos servidores públicos, ainda que admitidos por
concurso público: (...).

(...)

Primeiro, a conclusão apresentada pelo C. TST, no que tange à


natureza jurídica do conselho reclamado deve ser reformada.

O Conselho Federal de Economia é entidade que realiza


atividades tipicamente públicas, vez que fiscaliza o exercício
profissional com apoio nos artigos constitucionais 5º, XIII, 21, XXIV,
e 22, XVI.

Nos termos dos artigos 21, XXIV, e 22, XVI, da Carta Magna,
compete à União organizar, manter e executar a inspeção do trabalho,
atribuições que foram delegadas aos conselhos. Ou seja, a atividade
típica do Estado foi objeto de descentralização administrativa, sendo
executada por autarquias, pessoas jurídicas de direito público criadas
com essa finalidade.

Trata-se, portanto, de verdadeira autarquia, ligada à


administração pública, possuindo os seus privilégios e direitos, como
autonomia administrativa e financeira.

Entretanto, diante de sua natureza jurídica de autarquia, deve


se portar como tal também para fins de obrigações e deveres,
respeitando os princípios que regem a Administração Pública,
notadamente os inscritos no artigo 37 da Carta Magna.

No mais, o fato de serem consideradas, ao contrário do


entendimento consagrado pela E. Turma do TST, um tipo especial de
autarquia (‘sui generis’), não pode desnaturar o seu caráter de pessoa
jurídica do direito público, devendo, repita-se, observar os inúmeros

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RE 686245 / DF

princípios e regras que regem o Estado.

(...)

Ou seja, não restariam dúvidas de que as suas atividades são


típicas da Administração Pública, sendo órgãos delegados do Estado
para o exercício da regulamentação e fiscalização das categorias
profissionais, no caso concreto, dos economistas.

A natureza autárquica dos conselhos é evidente, tendo estes


entes os mesmos privilégios da administração pública, mas, também, e
mais importante, os seus ônus e deveres.

Segundo, e por consequência, devem ser analisadas as


possibilidades de dispensa dos servidores admitidos pelos conselhos,
diante das regras dos artigos 41 e 37, ‘caput’ e II, da Carta Magna.

(...)

A possibilidade de dispensa dos servidores contratados pelos


conselhos há de observar as restrições impostas na Carta Magna,
considerados dois enfoques distintos.

Um, já que a eles se aplicariam as regras do regime jurídico


inscrito na Lei n. 8.112/1990. O artigo 41 da Carta Magna protege os
servidores da dispensa, assegurando-lhes estabilidade no emprego.

O artigo 58, § 3º, da Lei n. 9.649/1998, não pode afastar a


incidência das regras previstas na Lei n. 8.112/1990, ao recorrente. A
indicada lei, que instituiu o regime jurídico estatutário, não faz
quaisquer restrições quanto aos servidores da União, das fundações
públicas federais, bem como das autarquias, ainda que, as em regime
especial.

Assim sendo, contratado pela realização de concurso público,


diante da natureza jurídica da reclamada e considerando as restrições

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RE 686245 / DF

do artigo 41 da CR/88 e da própria Lei n. 8.112/1990, deve ser


reconhecida a nulidade da dispensa, vez que o reclamante é detentor de
estabilidade.

Dois, ainda que superada a aplicação do regime jurídico especial,


as restrições impostas à reclamada, diante de sua natureza autárquica,
implicam na observância das regras previstas no artigo 37, ‘caput’ e
II, da CR/88.

O entendimento adotado pelo C. TST viola, diretamente, o art.


37, ‘caput’ e inc. II, da Constituição Federal, vez que é necessária a
devida motivação para se dispensar seus servidores, contratados por
concurso público.

Se a admissão pelo Conselho é restrita à realização de concurso


público, ou seja, a autarquia tem seu poder de admissão mitigado, isto
também deve ser aplicado no caso de demissão (inclusive, o art. 37 da
CF/88 exige a motivação do ato administrativo).

Se não pode haver contratação sem concurso, não pode haver


dispensa sem motivação, mesmo que seus empregados não gozem de
estabilidade (caso superado o primeiro fundamento). Ademais, a
Constituição Federal não admite dispensa arbitrária, protegendo o
recorrente pela redação do artigo 7º, I, da CF/88.

O artigo 37 da Constituição, em seu ‘caput’, esclarece,


expressamente, a necessidade de observância dos princípios da
legalidade e da publicidade. No caso concreto, todavia, estes princípios
basilares da Administração pública não foram cumpridos.

Nota-se que o E. Tribunal Regional, soberano na apreciação da


prova, à fl. 178, ainda que tratando de eventual nulidade da r.
sentença originária, reconheceu a necessidade, segundo ‘norma
instituída pelo próprio conselho’, [da] submissão da dispensa ao
Plenário do Conselho, com a devida publicidade.

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RE 686245 / DF

Em seguida, à fl. 186, fazendo menção à manifestação do


‘parquet’, consignou que a dispensa fora tratada de forma sigilosa,
tanto que não constou na ata da Seção Plenária realizada.

Ou seja, o Conselho Federal de Economia deixou de observar os


princípios inscritos no artigo 37, ‘caput’, da CR/88 (legalidade e
publicidade), bem como as regras de seus próprios regulamentos, que
criara um requisito prévio para possibilidade da dispensa” (fls. 319-
326).

Apreciada a matéria trazida na espécie, DECIDO.

3. Razão jurídica assiste ao Recorrente.

O Ministro Relator do caso no Tribunal Superior do Trabalho


afirmou:

“O Regional declarou a ilegalidade do ato de dispensa do


reclamante, em razão do entendimento de que o Conselho Federal de
Economia, quanto à sua natureza jurídica, equipara-se às autarquias,
estando jungido aos princípios constitucionais que regem os entes
públicos tanto na contratação, por meio de concurso público, quanto
na dispensa, e, conquanto a autarquia tenha realizado concurso
público para o preenchimento de seu quadro funcional, deixou de
observar o constante no ‘caput’ do artigo 37 da Constituição Federal
na dispensa do autor.
Cinge-se, pois, a controvérsia sobre a aplicabilidade da
estabilidade própria dos servidores públicos, prevista nos artigos 41 da
Constituição Federal e 19 do ADCT, aos empregados de conselho
federal de fiscalização de profissão liberal.
O disposto no artigo 58, § 3º, da Lei n. 9.649/98, não declarado
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal por ocasião do
julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 1.717-DF,
estabelece que:
‘Os empregados dos conselhos de fiscalização de profissões
regulamentadas são regidos pela legislação trabalhista, sendo

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RE 686245 / DF

vedada qualquer forma de transposição, transferência ou


deslocamento para o quadro da Administração Pública direta ou
indireta’.
Com base no dispositivo legal transcrito, a jurisprudência desta
Corte firmou o entendimento de que os conselhos federais e regionais
de fiscalização profissional não são autarquias em sentido estrito, e os
seus servidores, mesmo admitidos por concurso público, não gozam da
estabilidade própria dos servidores públicos, prevista nos arts. 19 do
ADCT e 41 da Constituição Federal, sendo possível, portanto, a
dispensa sem justa causa” (fls. 296 v.-299 v. – grifos nossos).

O acórdão recorrido destoa da jurisprudência do Supremo Tribunal


Federal, que reconheceu como autarquias federais as entidades
fiscalizadoras de profissões:

“ADMINISTRATIVO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


CONSELHO DE FISCALIZAÇÃO PROFISSIONAL. EXIGÊNCIA
DE CONCURSO PÚBLICO. ART. 37, INC. II, DA CF.
NATUREZA JURÍDICA. AUTARQUIA. FISCALIZAÇÃO.
ATIVIDADE TÍPICA DE ESTADO. 1. Os conselhos de fiscalização
profissional, posto autarquias criadas por lei e ostentando
personalidade jurídica de direito público, exercendo atividade
tipicamente pública, qual seja, a fiscalização do exercício profissional,
submetem-se às regras encartadas no artigo 37, inciso II, da CB/88,
quando da contratação de servidores. 2. Os conselhos de fiscalização
profissional têm natureza jurídica de autarquias, consoante decidido
no MS n. 22.643, ocasião na qual restou consignado que: (i) estas
entidades são criadas por lei, tendo personalidade jurídica de direito
público com autonomia administrativa e financeira; (ii) exercem a
atividade de fiscalização de exercício profissional que, como decorre do
disposto nos artigos 5º, XIII, 21, XXIV, é atividade tipicamente
pública; (iii) têm o dever de prestar contas ao Tribunal de Contas da
União. 3. A fiscalização das profissões, por se tratar de uma atividade
típica de Estado, que abrange o poder de polícia, de tributar e de punir,
não pode ser delegada (ADI 1.717), excetuando-se a Ordem dos
Advogados do Brasil (ADI 3.026). (...)” (RE 539.224, Rel. Min. Luiz

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RE 686245 / DF

Fux, Primeira Turma, DJe 18.6.2012 – grifos nossos).

4. Ademais, este Supremo Tribunal também assentou que, em razão


da natureza de autarquia federal, os órgãos de fiscalização profissional
não podem demitir seus empregados públicos concursados, estáveis ou
não, sem a prévia instauração de processo administrativo:

“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. CONVERSÃO EM AGRAVO
REGIMENTAL. CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. 1)
ÓRGÃOS DE FISCALIZAÇÃO PROFISSIONAL: NATUREZA
JURÍDICA DE AUTARQUIA. 2) SERVIDOR NÃO ABRANGIDO
PELA ESTABILIDADE DO ART. 19 DO ATO DAS
DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS.
DEMISSÃO SEM INSTAURAÇÃO PRÉVIA DE PROCESSO
ADMINISTRATIVO: NULIDADE. AGRAVO REGIMENTAL AO
QUAL SE NEGA PROVIMENTO” (RE 696.936-ED, de minha
relatoria, Segunda Turma, DJe 31.5.2013 – grifos nossos).

5. Pelo exposto, dou provimento a este recurso extraordinário (art.


557, § 1º-A, do Código de Processo Civil e art. 21, § 2º, do Regimento
Interno do Supremo Tribunal Federal) para cassar o acórdão recorrido.
Ficam invertidos os ônus da sucumbência.

Publique-se.

Brasília, 1º de agosto de 2013.

Ministra CÁRMEN LÚCIA


Relatora

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