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2007
Resumo
Tema: habilidades pragmáticas em crianças. Objetivo: analisar o perfil das habilidades pragmáticas em
Artigo de Pesquisa
crianças pequenas, sem alterações de linguagem e verificar se há diferenças significantes nestas habilidades,
considerando o nível sócio-econômico destas crianças. Método: participaram do estudo 30 crianças,
Artigo Submetido a Avaliação por Pares entre 36 e 47 meses, pertencentes a escolas de educação infantil pública e privada, cuja população que
freqüenta é de nível sócio-econômico baixo e médio/alto, respectivamente. Foi registrado, em fita VHS,
Conflito de Interesse: não 30 minutos de conversação semi-estruturada entre a criança e o avaliador, sendo transcritos e analisados
20 minutos. Resultados: há maior ocorrência de turnos verbais em relação aos não verbais e ininteligíveis;
turnos simples em relação aos expansivos, coerentes em relação aos incoerentes. Houve baixa ocorrência
de turnos de iniciação de conversação. Na análise das funções comunicativas predominou a informativa,
muito embora todas as outras (instrumental, heurística, nomeação, narrativa, protesto, interativa) tenham
sido utilizadas por todas as crianças. Comparando-se o desempenho das crianças das instituições públicas
Recebido em 17.03.2006. e privadas, constataram-se diferenças estatisticamente significantes para a ocorrência dos turnos verbais,
Revisado em 18.05.2006; 14.09.2006; simples e expansivos, e uso da função narrativa, sendo que a maior ocorrência se deu nas amostras de
10.03.07. linguagem das crianças da instituição privada. Conclusão: a análise do perfil das habilidades conversacionais
Aceito para Publicação em 10.03.07. das crianças revelou que elas mais respondem/mantém do que iniciam a conversação, todavia, seus turnos
são verbais, em sua maioria, coerentes e simples. Quanto à funcionalidade, a função predominante é a
informativa. Aspectos sóciolingúisticos podem interferir nas habilidades pragmáticas de crianças de
diferentes níveis sócio-econômicos.
Palavras-Chave: Avaliação de Linguagem; Desenvolvimento da Linguagem; Pragmática; Habilidades
Conversacionais; Funções Comunicativas.
Introdução
50 Hage et al.
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aspectos, segundo Acosta et al. (2003): como a ausentes. Os turnos são inteligíveis e coerentes
criança aprende o papel de emissor e ouvinte, como com o turno anterior. Aos cinco e seis anos, os
desenvolve a capacidade para manter o tema da recursos lingüísticos para as diversas funções da
conversação e como se torna hábil para adaptar- linguagem vão se tornando mais sofisticados.
se ao contexto, ou seja, ao ouvinte e à situação Demonstram habilidades metalingüísticas. Iniciam,
comunicativa da qual está participando. mantém conversação por muitos turnos.
A partir do interesse sobre os aspectos Conversam com mais de um interlocutor ao mesmo
funcionais da linguagem, pesquisas vêm sendo tempo sobre referentes ausentes e abstratos. Vão
realizadas no sentido de fornecer parâmetros sobre se tornando capazes de se auto-corrigirem quando
o desenvolvimento das habilidades pragmáticas. percebem que não são compreendidas,
Klekan-Aker e Swank (1988) realizaram um reestruturando seus enunciados.
estudo do uso das funções de linguagem em 240 Cervone e Fernandes (2005) analisaram o perfil
crianças de duas a cinco anos, em situação comunicativo de crianças 40 normais de quatro e
estruturada. Os resultados mostraram que o uso cinco anos na interação com o adulto e verificaram
das funções de linguagem pelas crianças estudadas que as crianças dessa idade ocuparam maior parte
melhorou com o aumento da idade. No entanto, do espaço comunicativo, não se limitando a
observaram que algumas destas funções estão responder perguntas. O perfil revelou que o meio
concluídas antes de outras, e que todas estão de comunicação predominante foi o verbal, sendo
presentes antes dos três anos e meio. que as funções mais utilizadas foram as da
Wetherby e Rodriguez (1992) realizaram um categoria interativa (comentário e pedido de
estudo onde foram examinadas 15 crianças normais informação).
em diferentes fases do desenvolvimento lingüístico O interesse no estudo sobre o
(pré-lingüístico, aquisição de linguagem e estágio desenvolvimento das habilidades pragmáticas em
das multipalavras) em contexto estruturado e não crianças, em parte, se deve ao contexto clínico.
estruturado. Os resultados indicaram que um Diversos estudos têm sido feitos no sentido de
número significativo de perguntas e comentários investigar as habilidades pragmáticas em crianças
teve um aumento de grande importância do estágio deficientes auditivas, com distúrbios psiquiátricos
pré-lingüístico para o de multipalavras em ambos e com distúrbio específico de linguagem (Bosa,
os contextos. Significativamente mais perguntas 2002; Chiari et al., 2002; Fernandes et al, 2002;
foram usadas durante o contexto estruturado, mas Hage et al., 2002, 2006; Mecca et al., 2002; Alves et
não houve uma diferença significante entre o al., 2004; Befi-Lopes et al., 2004, 2005; Souza-Morato
número de comentários usados nos dois contextos. e Fernandes, 2006)
Rigolet (1998) afirmou que crianças de três anos Muitas crianças chegam para avaliação de
respondem mais do que perguntam, elas se mostram linguagem, cuja queixa de comunicação não se
mais hábeis em afirmar ou negar ao invés de refere à articulação, vocabulário ou morfossintaxe,
formular dúvidas. Neste sentido, ela propõe o mas à conversação. Seus pais afirmam que elas
encorajamento para a estimulação das crianças na falam, mas parecem não prestar atenção à fala do
necessidade de intervir, perguntando. A autora outro, pois, freqüentemente, emitem respostas ou
ainda ressaltou que, apesar de ainda aparecerem comentários incoerentes, ou ainda, parecem não
algumas dificuldades articulatórias nesta idade, as expressar claramente suas intenções
diferenças individuais tornam-se mais marcadas: comunicativas ou demonstram pouco interesse em
algumas crianças já são, sem dúvida, mais claras conversações. Assim, qual é o perfil das
que outras na sua expressão fonético/fonológica. habilidades pragmáticas de crianças pequenas?
Zorzi e Hage (2004) apresentaram em tabelas Quando as dificuldades no uso funcional da
um perfil de evolução do desenvolvimento linguagem e na conversação de uma criança pré-
pragmático. Aos dois anos as crianças usam da escolar podem ser consideradas indicativas de
linguagem para pedir, informar, perguntar, interagir. alteração na esfera da linguagem?
Do ponto de vista da conversação iniciam, mantém Aspectos sócio-culturais podem interferem
conversação, mas não por muitos turnos. nestas habilidades? Estudos sugerem que a cultura
Conversam com pessoas, em contextos influencia o refinado caminho do desenvolvimento
conhecidos, sobre temas concretos e referentes das habilidades conversacionais de crianças
presentes. Aos três e quatro anos aprimoram, (Aukrust, 2004; Villiers, 2004). Ramos et al. (2002)
intensificam o uso das funções descritas compararam o desenvolvimento do comportamento
anteriormente, fazendo perguntas sobre referentes de crianças de creches públicas e particulares no
segundo ano de vida e constaram que as crianças brinquedos (miniaturas de meios de transporte, de
da creche pública tiveram menor porcentagem de utensílios domésticos, de pessoas e crianças/
ocorrência de comportamentos na área de emissão bonecos), gravuras, papel e lápis de cor e livros
e recepção de linguagem. Padovani et al. (2004) infantis sobre uma mesa de educação infantil;
num estudo sobre a compreensão gramatical de filmadora Panassonic M - 9000 fixada em tripé
crianças de níveis sócio-culturais distintos Welbon BF-60, com microfone Dylan 201 VHF.
demonstraram que as crianças de baixa renda Foram registrados 30 minutos de conversação
provenientes de um bairro de classe baixa da cidade semi-estruturada entre a criança e o avaliador
de Salvador (BA) apresentaram nível de (pesquisador) em fita VHS. Os brinquedos e
compreensão gramatical inferior quando gravuras foram utilizados para estimular a
comparadas ao grupo de classe média alta. conversação. O avaliador formulou perguntas ou
Neste contexto, este estudo teve o objetivo de fez comentários sobre os materiais apresentados
analisar o perfil das habilidades pragmáticas de (por exemplo, o nome das figuras de animais e ações
crianças pequenas normais, e ainda, verificar se representadas nas ilustrações dos livros) e abriu
há diferenças significantes nestas habilidades, espaço para a expansão de assuntos em
considerando o nível sócio-econômico destas conversação livre.
crianças. Após a gravação, assistiu-se às fitas em
equipamento TV/vídeo, sendo transcritos os
Método últimos 20 minutos da gravação total de 30 minutos.
A partir da transcrição impressa da conversação,
Foram selecionadas 33 crianças entre 36 e 47 onde se registrou os turnos da criança e do
meses em escolas de educação infantil pública e interlocutor (pesquisador), foi aplicado Protocolo
privada, cuja população é de nível sócio- de Avaliação de Habilidades Pragmáticas
econômico baixo e médio/alto, respectivamente. (Apêndice). Os critérios do referido protocolo
Os responsáveis pelas crianças foram informados tiveram embasamento teórico nos autores Halliday
do estudo por meio de carta de informação. (1975); Bates et al. (1976), Prutting (1982), Mayor
Participaram da pesquisa aquelas crianças cujos (1991).
pais assinaram termo de consentimento pós- Foi registrado:
informado. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê
de Ética em Pesquisa da Instituição de origem 1. Total de turno verbal: turnos preenchidos por
(processo nº 29/2003). fala.
Das 33 crianças, três foram eliminadas da 2. Total de turno não verbal: turnos preenchidos
amostra por apresentarem histórico de atraso no por gestos, como sinal afirmativo ou negativo de
desenvolvimento da linguagem, ou ainda, alguma cabeça, gestos de apontar e gestos representativos.
dificuldade motora, de linguagem ou interação. A 3. Total de turno ininteligível: turnos em que não
exclusão das crianças da amostra ocorreu com base foi possível transcrever em função da
nas entrevistas sobre o desenvolvimento das ininteligibilidade de fala da criança.
crianças realizadas pelos pesquisadores com os 4. Total de turnos: somando-se os verbais, os não
cuidadores (pais, professores ou atendentes de verbais e ininteligíveis.
creche), e ainda, na observação das mesmas
durante a interação inicial com o avaliador. As No que se refere às habilidades
crianças eliminadas foram encaminhadas para a conversacionais, foi registrado:
clínica de diagnóstico fonoaudiológico da
instituição de origem desta pesquisa, recebendo 1. Número de ocorrências em que a criança iniciou
as condutas cabíveis. Dessa forma, 30 crianças turnos de conversação.
com desenvolvimento típico de linguagem fizeram 2. Número de ocorrências de turnos em que a criança
parte do estudo, sendo 15 de escola pública (9 respondeu e/ou manteve o tópico de conversação.
meninas e 6 meninos) e 15 de escola privada (7 3. Número de ocorrências de turnos em que a criança
meninas e 8 meninos). não respondeu ou manteve o tópico de
Antes da coleta individual da amostra de conversação.
linguagem de cada sujeito, os pesquisadores 4. Número de ocorrências em que a criança fez uso
tiveram contato com as crianças para que as de turnos simples: turnos de uma oração que
mesmas se familiarizassem com estes. Cada criança continham informação mínima necessária para não
selecionada foi levada para uma sala que continha interromper a conversação (“O que ela está
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TABELA 1. Mediana, semiamplitude interquartílica e valores mínimo e máximo da freqüência das habilidades conversacionais com
respectivo resultado do teste estatístico por instituição.
idade (meses) 40,0 ± 3,5* (36,0; 47,0) 41,0 ± 3,5* (36,0; 47,0) 0,75 (P > 0,05)
turnos verbais 95,0 ± 36,5* (27,0; 160,0) 142,0 ± 29,5* (70,0; 215,0) 2,34 (P < 0,05)
turnos não verbais 38,0 ± 31,5* (6,0; 164,0) 50,0 ± 20,5* (6,0; 75,0) 0,66 (P > 0,05)
turnos ininteligíveis 2,0 ± 1,0* (1,0; 6,0) 1,0 ± 1,5* (1,0; 6,0) 0,76 (P > 0,05)
total de turnos 168,0 ± 34,5* (106,0; 238,0) 184,0 ± 17,0* (147,0; 233,0) 1,56 (P > 0,05)
inicia turnos 18,0 ± 14,5* (1,0; 70,0) 22,0 ± 8,0* (3,0; 79,0) 0,87 (P > 0,05)
responde ou mantém turnos 142,0 ± 28,0* (69,0; 230,0) 153,0 ± 8,0* (137,0; 179,0) 1,68 (P > 0,05)
não responde/mantém 10,0 ± 18,5* (2,0; 56,0) 7,0 ± 7,5* (2,0; 23,0) 1,41 (P > 0,05)
turnos simples 89,0 ± 24,0* (27,0; 140,0) 119,0 ± 17,5* (66,0; 157,0) 2,26 (P < 0,05)
turnos expansivos 8,0 ± 5,0* (1,0; 41,0) 12,0 ± 10,0* (3,0; 83,0) 2,06 (P < 0,05)
turnos coerentes 166,0 ± 31,5* (99,0; 235,0) 180,0 ± 16,0* (145,0; 255,0) 1,70 (P > 0,05)
turnos incoerentes 4,0 ± 2,5* (1,0: 15,0) 1,0 ± 3,0* (1,0; 9,0) 0,91 (P > 0,05)
TABELA 2. Mediana, semiamplitude interquartílica e valores mínimo e máximo da freqüência das funções comunicativas com
respectivo resultado do teste estatístico por instituição.
Instituição
Variável Resultado do Teste Estatístico
Pública Privada
instrumental 1,0 ± 1,5* (1,0; 10,0) 3,0 ± 3,5* (1,0; 14,0) 1,42 (P > 0,05)
heurística (pergunta) 7,0 ± 6,5* (1,0; 30,0) 13,0 ± 6,0* (3,0; 30,0) 1,44 (P > 0,05)
nomeação 3,0 ± 2,5* (1,0; 26,0) 4,0 ± 1,5* (1,0; 23,0) 0,57 (P > 0,05)
informativa 135,0 ± 29,5* (82,0; 223,0) 146,0 ± 17,5* (128,0; 185,0) 1,25 (P > 0,05)
narrativa 1,0 ± 0,5* (1,0; 6,0) 2,0 ± 1,5* (1,0; 11,0) 1,96 (P < 0,05)
protesto 1,0 ± 0,0* (1,0; 3,0) 1,0 ± 1,0* (1,0; 7,0) 1,46 (P > 0,05)
interativa 1,0 ± 0,5* (1,0; 11,0) 1,0 ± 0,5* (1,0; 6,0) 0,21 (P > 0,05)
Discussão
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sendo seus valores 168 e 184, respectivamente, negar a formular dúvidas, ou seja, mais respondem
para as crianças das instituições públicas e do que iniciam a conversação.
privadas. No que tange à expansão dos turnos, as
Turnos ininteligíveis tiveram baixa ocorrência. crianças produziram mais turnos simples que
Tal achado está de acordo com o relato de Rigolet expansivos. Esta variável diferiu estatisticamente
(1998), que afirmou que apesar de ainda aparecerem entre as crianças de instituições públicas e
algumas dificuldades articulatórias nesta idade, as privadas. Também houve diferença
crianças já são mais claras na sua expressão estatisticamente significante na produção de
fonético/fonológica. As simplificações fonológicas turnos verbais, sejam eles simples ou expansivos.
que mais prejudicam a inteligibilidade de fala, como As crianças das escolas privadas produziram um
a reduplicação, a anteriorização de oclusivas e a número maior de turnos verbais, tanto simples como
oclusivação já desapareceram nesta idade expansivos.
(Wertzner, 2004). Pelo menos nesta amostra analisada, parece que
Em alguns momentos as crianças usaram meios há influência do meio social, especificamente o
não verbais de expressão ao assumirem seus escolar. Durante as visitas às escolas para
turnos, como movimentos com a cabeça para realização das filmagens, foram observadas
concordar ou negar, gestos como resposta a uma diferenças na forma de realização das atividades,
solicitação, pergunta ou comentário da avaliadora assim como nos aspectos físicos. Enquanto nas
ou, ainda, para chamar a atenção para algo presente públicas notou-se grande número de alunos por
na sala. Os valores máximo e mínimo de ocorrência sala e privação de recursos, como computadores e
em cada tipo de instituição e a mediana estão bibliotecas infantis, nas privadas, além de haver
representados na Tabela 1, sendo que não houve estes recursos, havia um número reduzido de
diferença estatística entre instituições públicas e alunos por sala, o que possibilitava maior
privadas. Meios não verbais foram utilizados com interatividade entre professore e crianças. Nas
freqüência pelas crianças deste estudo. Vale escolas privadas observou-se um incentivo à
ressaltar, que a comunicação não verbal não conversação. As crianças eram constantemente
desaparece nunca, sendo um meio freqüente de incentivadas a contar estórias, pequenos
expressão da linguagem do adulto, que tem todos acontecimentos, comentar ou explicar. Estas
os recursos lingüísticos para se comunicar estratégias promovem turnos com mais recurso
verbalmente. lingüísticos. O mesmo já não se observou nas
As crianças normais deste estudo apresentaram escolas públicas: as crianças permaneciam com
turnos coerentes na maior parte do tempo de brinquedos, sendo raramente requisitadas a contar,
interação. Houve troca do tema da conversação comentar, explicar.
pelas crianças em função do foco do seu interesse, Estudos sugerem que a cultura influencia o
mas pareceram ser substancialmente coerentes nas refinado caminho do desenvolvimento das
suas participações no diálogo. Parece-nos que este habilidades conversacionais de crianças (Aukrust,
é um achado que pode servir de parâmetro ao se 2004; Villiers, 2004). O desenvolvimento da
avaliar turnos de crianças com alterações de linguagem apresenta tanto aspectos universais,
linguagem. que podem ser identificados independentemente
Na Tabela 1 também podemos verificar baixa do meio sócio cultural, como individuais, que
mediana da variável “não resposta” e a não recebem influência da linguagem falada ao redor.
diferenciação estatística entre os tipos de Algumas características gerais são compartilhadas
instituição, muito embora o número máximo de não por todos os membros da espécie com relação à
resposta tenha sido relativamente alto frente ao evolução lingüística, todavia, algumas
número mínimo do total de turnos. características são dependentes do ambiente em
Foi observado também que durante a que vive o sujeito e as suas características
conversação, todas as crianças, independente da pessoais, sejam familiares, sócio-econômicas e
instituição, responderam ou mantiveram turnos educativas. Dessa forma, variáveis de natureza
muito mais do que iniciaram. Este dado pode ter sócio-cultural podem justificar alguns aspectos
sido influenciado pela interação semi-estruturada, conversacionais e funcionais da linguagem oral.
em que o avaliador formulava, constantemente, Na Tabela 2, referente às funções
perguntas sobre os brinquedos e figuras comunicativas, pode-se observar que a grande
apresentadas. Por outro lado, Rigolet (1998) afirmou maioria das produções das crianças foi do tipo
que as crianças de três anos preferem afirmar ou informativa. Os materiais utilizados para a interação
Conclusão
Com base nas amostra de linguagem das 30 critérios turnos verbais (sejam eles simples ou
crianças avaliadas foi possível concluir que ao expansivos) e função narrativa, sendo que a maior
dialogar com crianças de três anos, elas mais ocorrência dessas características se deu nos turnos
respondem do que iniciam a conversação e, das crianças das instituições privadas. Sob a luz
raramente deixam de responder ao interlocutor. Em dos estudos sociolingüísticos esses achados não
suas produções utilizam-se predominantemente de foram considerados uma defasagem da
turnos simples e coerentes. A conversação é comunicação das crianças de nível sócio-
mantida com turnos verbais e não verbais, sendo econômico baixo, mas uma variação de natureza
que prevalecem os verbais. A conversação não se sociocultural.
mostrou prejudicada por turnos ininteligíveis. Estudos sobre o perfil pragmático em grupos
Na análise da ocorrência das funções de crianças normais de diferentes níveis sócio-
comunicativas predominou a informativa, muito econômicos podem trazer importantes
embora todas as outras (instrumental, heurística, contribuições não só na obtenção de parâmetros
nomeação, narrativa, protesto, interativa) tenham gerais para a avaliação de crianças com alterações
sido manifestadas pelas crianças estudadas. de linguagem, mas também para a identificação de
Comparando-se o desempenho das crianças diferenças que não são desviantes, mas variações
das instituições públicas e privadas, foi constatado lingüísticas decorrentes das interações sociais.
diferenças estatisticamente significante para os
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Apêndice
Nome:
Data de Nascimento: Idade:
Escola / Escolaridade:
Data: Avaliador:
Critérios de análise
Observações do avaliador:
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