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Handbook of Theories of Social Psychology

Volume Two

Paul  A  M  Van  Lange VU  University  Amsterdam,  Netherlands


Arie  W  Kruglanski University  of  Maryland-­‐College  Park,  USA
E  Tory  Higgins Columbia  University

2012 568  pages     SAGE  Publications  Ltd    

Teoria  das  Representações  Sociais


Patrick  Rateau,  Pascal  Moliner,  Christian  Guimelli  e  Jean-­‐Claude  Abric1

RESUMO INTRODUÇÃO
Como  herança  de  uma  forte  tradição  sociológica  
francesa,  a  teoria  das  representações  sociais,   Uma  teoria  do  senso  comum
elaborada  por  Serge  Moscovici,  no  início  dos   De  muitos   modos,   a  psicologia   social   é   o  
anos  60,  tornou-­‐se  uma  das  principais  teorias  da  
estudo   da   realidade   social.   Isto   quer   dizer  
psicologia  social.  Essencialmente  europeia  no  
princípio,  rapidamente  reuniu  um  grande   que   lida   com   explicações   para   as   quais  
número  de  pesquisadores  e  praticantes  em  todo   recorremos,   automaticamente,   a   ;im   de  
o  mundo,  sobretudo  na  área  de  psicologia  social,   explicar  e  entender  o  mundo   ao  nosso  redor.  
mas  também  em  todas  as  outras  ciências  sociais.   De   fato,   cada   um   de  nós   deseja   dar  sentido  
Estes  pesquisadores  viram  esta  teoria  como  uma   aos   eventos,   comportamentos,   ideias   e  
estrutura  conceitual  Nlexível  que  nos  possibilita  
trocar   com   outros,   e   busca   encontrar   ao  
entender  e  explicar  a  maneira  que  indivíduos  e  
grupos  elaboram,  transformam  e  comunicam   redor   certa   coerência   e   estabilidade.   Cada  
suas  realidades  sociais.  Eles  também   um   de   nós   busca   explicar   e   entender   o  
encontraram  nos  diferentes  desenvolvimentos   entorno  a  ;im  de  torná-­‐lo  previsível2   e  mais  
desta  teoria  um  vasto  aparato  de  métodos  e   controlável.   Ainda   assim,   este   ambiente   é  
ferramentas,  diretamente  aplicáveis  à  análise  de   composto   de   inúmeras   situações   e   eventos,  
uma  extensão  ampla  de  questões  sociais.  
e   uma   multiplicidade   de   indivíduos   e  
Prestando-­‐se  tanto  a  abordagens  qualitativas  
como  a  aplicações  experimentais,  os  estudos  se   g r u p o s .   A o   m e s m o   t e m p o ,   s o m o s  
multiplicaram  por  diferentes  linhas.  Aqueles  que   constantemente  exigidos,  ao  longo   de  nossas  
têm  por  objetivo  fazer  conexões  entre  processos   interações   cotidianas,   a   tomar   decisões,   dar  
de  representações  sociais  e  outros  processos   opiniões   neste   ou   naquele   assunto   ou  
classicamente  estudados  no  campo  da  cognição   explicar  este   ou  aquele  comportamento.   Em  
social  parecem  ser  os  mais  promissores  em  
suma,   somos   constantemente   mergulhados  
termos  do  desenvolvimento  futuro  da  teoria.  
Este  capítulo  se  direciona  a  uma  tradição  antiga   e m   u m   a m b i e n t e   o n d e   s o m o s  
de  pesquisa,  cobrindo  um  período  de,   bombardeados   com   informações   e   exigidos  
aproximadamente,  100  anos  de  pesquisa,  desde   a  lidar  com   isto.  Para  entender,   apreender  e  
1893  até  2010. signi;icar   este   ambiente,   temos   que  
simpli;icá-­‐lo   para  torná-­‐lo   mais   previsível   e  

1  RATEAU,  Patrick,  et  al.  Teoria  da  Representação  Social.  Tradução:  Claudia  Helena  Alvarenga.  In:  Van  Lange,  P.  A.  

M.;  Kroglanski,  A.  W.;  Higgins,  E.  T.  (Org.).  Handbook  of  theories  of  social  psychology,  v.  2.  London:  SAGE,  
2012.  p.  477-­‐497.  Título  original:  Social  Representation  Theory.  Tradução  não  publicada.
2  Predictable  pode  ser  traduzido  como  pré  dizível  ou  previsível.
2

familiar.   Em   outras   palavras,   temos   que   opiniões,   conhecimentos   e   crenças"  


reconstrui-­‐lo  à  nossa  própria  maneira. particulares  a  uma   cultura,   a   uma   categoria  
Mas   não   podemos   deixar   de   observar   social   ou   a   um   grupo   com   relação   aos  
que   este   processo   de   reconstrução   é   um   objetos   no   ambiente   social.   Neste   estágio  
processo   constantemente  repetido.   Desde   a   introdutório,   parece   desnecessário   ir   além.  
nossa   mais   tenra  idade,  a  escola,  a  família,  as   Neste   ponto,   simplesmente   observaremos  
instituições   e   a   mídia   instilam   em   nós   que   com  relação  às  representações  sociais,   a  
determinada   maneira   de   ver   o   mundo   e   distinção   entre   as   noções   de   "opiniões",  
oferece-­‐nos   uma  visão   particular   das   coisas   " c o n h e c i m e n t o s "   e   " c r e n ç a s "   é  
que   nos   circundam,   apresentando-­‐se   para   desnecessária.   Evidentemente   as   opiniões  
nós   principalmente   com  uma  construção  do   estão   mais   relacionadas   com   o   campo   de  
mundo   já   pronta   no   qual   crescemos,   os   tomada   de   posição,   o   conhecimento   com   o  
valores   dos   quais   estão   investidos,   as   campo   da   aprendizagem,   e   a   experiência   e  
categorias   que   o   governam   e   os   princípios   as   crenças   com   o   da   convicção.   Mas   nossa  
em   si   pelos  quais   o   compreendemos.   Nossa   experiência   cotidiana   mostra   que   para   os  
p e r c e p ç ã o   d o   e n t o r n o   é   m o d e l a d a   indivíduos,   há,   frequentemente,   uma  
p r o x i m a m e n t e   p e l o s   g r u p o s ,   p e l a s   c o n f u s ã o   e n t r e   e s t a s   t r ê s   á r e a s ,  
associações   e   pelos   clubes   dos   quais   especialmente,   quando  se  fala   a   respeito   de  
fazemos   parte.   É,   em   larga   medida,   em   um   objeto   de   cunho   social.   Neste   efeito,  
nossas   trocas   e   nossas   comunicações   com   observamos   crenças   que   têm   o   status   de  
outros   que   nossa   realidade   do   mundo   em   verdades   estabilizadas   ou   opiniões   que,  
volta  se   forma.   No  curso  dos  nossos  contatos   peculiarmente,   assemelham-­‐se   a   crenças,  
e   de   nossos   múltiplos   envolvimentos   com   com  o   resultado   de  que  as   linhas   divisórias  
diferentes   grupos   sociais,   adquirimos   e   entre   "eu   penso",   "eu   sei"   e   "eu   acredito",  
transmitimos   conhecimentos,   crenças   e   frequentemente,   tornam-­‐se   confusas.   Como  
valores  que  nos  permitem  compartilhar  uma   consequência,   os   conteúdos   de   uma  
concepção   comum   das   coisas   e   dos   outros.   representação   podem   ser   categorizados  
Neste   sentido,   esta   reconstrução   da   i n d i f e r e n t e m e n t e   c o m o   o p i n i õ e s ,  
realidade,  esta  representação  da  realidade  é,   informações  ou  crenças,  e  podemos  escolher  
sobretudo,   social;   isto   é,   elaborada   de   que   uma   representação   social   se   encontre  
acordo   com   as   características   sociais   do   concretamente   como   um   conjunto   de  
indivíduo   e   compartilhada   pelo   grupo   de   "elementos  cognitivos"  relativos  a  um  objeto  
outros   indivíduos   que   tenham   as   mesmas   social.
características. A   primeira   característica   deste   conjunto  
O  último  ponto  é   importante.   Nem  todos   é   o   da   organização.   Este   é,   bem   e  
os   grupos   sociais   compartilham   os   mesmos   verdadeiramente,   uma  estrutura,  e  não   uma  
valores,   os   mesmos   padrões,   as   mesmas   coleção   de   elementos   cognitivos.   Isto  
ideologias   ou   as   mesmas   experiências   signi;ica   que   os   elementos   que   constituem  
concretas.   No   entanto,   todos   constroem   uma   representação   social   interagem   com  os  
representações   que   são   proximamente   outros.   Mais   exatamente,   isto   signi;ica   que  
baseadas   nisto.   O   que   sucede   é   que   as   as  pessoas   cooperam  no   estabelecimento  de  
representações   sociais   in;luenciam,   por   um   relações   entre   estes   diversos   elementos.  
lado,   a   marca   das   pertenças   sociais   dos   Opiniões   particulares   são   consideradas  
indivíduos   que   aderem   a   estas   e   que   dão   equivalentes   a   outras,   crenças   particulares  
suas   identidades   e,   por   outro,   permitem   são  julgadas  incompatíveis  com  informações  
estes   mesmos   indivíduos   distinguirem   particulares,  e  assim  por  diante.
"outros",   aqueles   que   não   compartilham   as   A   segunda   especi;icidade   de   uma  
mesmas   representações   e   que   aparecem   representação   é   a   de   ser   partilhada   pelos  
para   eles,   no   melhor   das   hipóteses,   como   membros   de   um   grupo   social   especí;ico.  
diferentes  e,  no  pior,  como  inimigos. Entretanto,   os   consensos   observados   nos  
Para   resumir,   as   representações   sociais   elementos   de   uma   dada   representação  
podem   ser   de;inidas   como   "sistemas   de   d e p e n d e m ,   a o   m e s m o   t e m p o ,   d a  
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homogeneidade   do   grupo   e   da   posição   de   (1961)  de;ine  a   noção   de  representação   em  


seus   membros   para   com   o   objeto,   de   modo   seu  primeiro  trabalho  dirigido  à  imagem  e  à  
que   a   natureza   consensual   de   uma   disseminação   da   teoria   psicoanalítica   na  
representação   é,   geralmente,   parcial   e   França   em   meados  do   século   XX.   Durante  o  
localizada   para   certos   elementos   deste   estudo   da   maneira   pela   qual   uma   teoria  
último. cientí;ica  é  transformada  em  teoria  do  senso  
A   terceira   característica   deste   conjunto   comum,   Moscovici   traçou   os   primeiros  
reside   no   seu   método   de   construção   -­‐   é   esboços   do   que   seria   chamada,   a   partir   de  
coletivamente   produzido   por   meio   de   um   então,   a   teoria   das   representações   sociais  
processo   mais   global   de   comunicação.   As   (TRS)  cujo  sucesso  não  vacilou  desde  então.
trocas   entre   indivíduos   e   a   exposição   à  
comunicação   de   massa   permitem   os   A  vitalidade  das  TRS
membros   de   um   grupo   partilhar   os   Depois   de   uns   50   anos   após   sua  
elementos   que   irão   constituir   uma   introdução   no   campo   da  psicologia   social,   a  
representação   social.   Esse   processo   de   importância   da   TRS   é   reconhecida;   sem  
partilha   favorece   o   aparecimento   de   um   dúvida,   é   um   movimento   teórico   e   empírico  
consenso,   ao   mesmo   tempo   que   confere   capital.   As   razões   para   este   sucesso   são  
validação   social   sobre  as   diversas   opiniões,   diversas.
informações  e  crenças. Vamos   começar   com   sua   natureza  
Finalmente,    o  quarto  papel  especí;ico  de   interdisciplinar.   Localizada   na   interface  
uma  representação  social  se  relaciona  a  seus   social   e   psicológica,   o   conceito   das  
p r o p ó s i t o s   -­‐   é   ú t i l   s o c i a l m e n t e .   representações   sociais   é   de   interesse   de  
Primeiramente,   claro,   com   o   objetivo   de   todas   as   ciências   sociais.   Inscreveu-­‐se   no  
entender   o   objeto   a   que   se   refere   a   campo   da   sociologia,   antropologia,   história,  
representação   social.   Representações   são,   geogra;ia   e   economia,   e   estudos   são  
acima   de   tudo,   sistemas   que   permitem   o   realizados  em   suas  conexões  com  ideologias,  
entendimento  e  a  interpretação  do  ambiente   sistemas  simbólicos   e   atitudes.  Mas  também  
social.   Mas,   também   interferem   nas   podem   ser   encontrados   nos   campos   da  
interações   entre   grupos,   particularmente,   cognição   e   da   linguística.   A   multiplicidade  
quando   essas   interações   são   travadas   em   de   relações   com   outras   disciplinas   confere  
torno   de   um   objeto   social.   Cada   sociedade,   um  status   transversal   à   TRS  que  mobiliza   e  
como   mostrou   Adam   Smith   (1776)   e   Emile   conecta   áreas   diferentes   de   pesquisa.   Esta  
Durkheim   (1893),   orbita   em   torno   da   natureza   interdisciplinar   contitui,   sem  
divisão   de   trabalho.   Esta   divisão   não   é   dúvida,  uma   das  contribuições  mais   férteis  e  
apenas   uma  condição   de   coesão   social,   mas   dinâmicas  feitas  por  este  campo  de  estudo.
também   uma  fonte   permanente  de   relações   A   segunda   razão   é  a  ;lexibilidade   de  sua  
de   dependência   e   poder   dentro   da   estrutura   conceitual,   o   que   possibilita   esta  
c o m u n i d a d e .   D e   f a t o ,   i s t o   l e v a   à   teoria  se  adaptar   a  várias  áreas  de  pesquisa  
diferenciação   de   grupos,   papéis,   status,   (comunicação,   prática   social,   relações  
pro;issões,   castas,  e  assim  por  diante.  Assim,   i n t e r g r u p a i s   e t c . )   e   i n i c i a r   v á r i o s  
cada   um   é   interdependente   enquanto   tiver   desenvolvimentos   teóricos   e  metodológicos.  
clareza   a   respeito   de   sua   identidade   Mas  a  estas  razões  podem  ser  acrescentadas  
s e p a r a d a .   C o m p l e m e n t a r i d a d e   e   outras,   um   ponto   mais   fundamental   de  
d i f e r e n c i a ç ã o   s ã o   d u a s   o p e r a ç õ e s   acordo   com   nossa   perspectiva.   Como   uma  
interdependentes   que   são   plenamente   “teoria   socialmente   construída   e   de  
ativas   nas   representações.   Além   disso,   conhecimento   partilhado”  (JODELET,   1989),  
representações   sociais   fornecem   critérios   a   TRS   é   uma   teoria   de  vinculação   [ligação/
para   avaliar   o   ambiente   social   que   coesão]   social.   Dá   uma   ideia   a   respeito   do  
possibilitam   determinação,   justi;icação,   ou   que,   permanentemente,   conecta-­‐nos   ao  
legitimização   de   certos   comportamentos.   mundo  e   aos   outros.   Ensina,   para  nós,  como  
Todos   esses   aspectos   considerados   em   esta   ligação   é   construída.   Neste   sentido,  
conjunto,   é   assim   que   Serge   Moscovici  
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pode-­‐se   ver   aqui   uma   teoria   global   do   No   entanto,   nem   sempre   foi   assim.   Ao  
indivíduo   social   e  uma   maneira   possível   de   examinarmos   o   desenvolvimento   histórico  
integrar   os   diversos   paradigmas   e   campos   da   TRS,   tentaremos   mostrar   como   esta  
da  psicologia  social. encontrou   progressivamente   seu   lugar   no  
O   sucesso   da   TRS   pode   ser   mensurado   campo   da   psicologia   social,   as   diferentes  
em   termos   de   sua   vitalidade   cientí;ica.   De   orientações   que   a   perpassam   atualmente,  
fato,   desde   o   trabalho   fundador   de   Serge   quais  conexões  tem  com   outros  importantes  
M o s c o v i c i ,   i n ú m e r o s   t r a b a l h o s   paradigmas   psicossociais   e,   por   ;im,   de  que  
r e g u l a r m e n t e   a p r e s e n t a r a m   n o v o s   maneira   constitui-­‐se   hoje   uma   teoria  
desenvolvimentos   de   pesquisa   no   campo   essencial   para   analisar   e   entender  
das   representações   sociais.   Na   França   este   problemas  sociais.
fenômeno   foi   marcado,   especialmente,   a  
partir   dos   anos   80,   quando   publicações   UMA  BREVE  HISTÓRIA  DA  TEORIA  
dedicadas   a   este   tema   apareceram  
aproximadamente   a   cada   três   anos.   Foi   E  SEU  DESENVOLVIMENTO
também   nos   anos   80   que   a   teoria   começou   Depois   de   ter   sido   o   fenômeno   mais  
sua   rápida   expansão   para   o   exterior   com   a   conhecido   nas  ciências   sociais  na  França  no  
publicação   e   tradução   de   muitos   livros   i n í c i o   d o   s é c u l o   X X ,   a   n o ç ã o   d e  
acerca   do   tema   para   o   inglês   (Breakwell   e   representações   coletivas,   introduzida   pelo  
Canter,   1979;   Deaux   e   Philogène,   2001a,   sociologista   francês   Emile   Durkheim   em  
2001b;   Duveen,   2001;   Farr   e   Moscovici,   1898,   caiu  em   desuso   por   mais   de   50  anos.  
1984;   Moscovici,   1981,   1982,   1984,   1988,   Foi   perto   do   início   dos   anos   60   que  
2001a,  2001b;  Mugny  e  Carugati,  1989). Moscovici  renovou   os   estudos  do   conceito   e  
De   acordo   com   o   censo   dirigido   por   despertou  o   interesse  de  um  pequeno  grupo  
Vergès   (1996),   a   TRS,   com   mais   de   2.000   de   psicólogos   sociais,   dando   vida,   assim,   à  
artigos,   faz   jus   ao   apelo   de   ser   uma   das   teoria.   Eles   viram   na   teoria   a   possibilidade  
teorias   psicossociais   mais   famosas,   no   de   abordar   as   questões   de   suas   disciplinas  
mesmo   nível   da   dissonância   cognitiva,   que,   de  um  ângulo   novo  e  original.   (Abric,   1976;  
em  seus   27  anos  de   existência,   obteve  mais   Codol,   1970;   Flament,   1971).   O   estudo   da  
de   1.000   referências   (Cooper   e   Croyle,   disseminação   do   conhecimento,   da   relação  
1984).   Além  disso,   simpósios  internacionais   entre   pensamento   e   comunicação,   e   da  
regulares   são   dedicados   a   ela   (Ravello,   gênese   do   senso   comum   constitui   os  
1992;   Rio   de   Janeiro,   1994;   Aix-­‐en-­‐ elementos   de   um   novo   programa   que  
Provence,   1996;   Mexico,   1998;   Montréal,   tornou-­‐se  familiar  desde  então.   Mas,  entre  o  
2000;   Stirling,   2002;   Guadalajara   2004;   conceito   de   representações   coletivas   e   as  
Roma,  2006;  Bali;  2008;  Tunis,  2010),  assim   p e s q u i s a s   c o n t e m p o r â n e a s   e m  
como   muitos   periódicos  e  edições   especiais   representações   sociais,   o   conceito   sofreu  
de   periódicos.   Finalmente,   devemos   uma   metamorfose   grande,   conferindo-­‐lhe  
mencionar   a   criação   de   uma   rede   na   formas   e   cores   diferentes.   É   esta   história  
Internet   (Social   Representations   and   que  tentaremos  remontar  aqui.
C o m m u n i c a t i o n   T h e m a t i c   N e t w o r k )  
reunindo   pesquisadores   de   todo   o   mundo   Das  representações  coletivas  às  
(América   do   Sul,   Estados   Unidos,   Japão,   representações  sociais
Índia,   Rússia  etc.)  e   de   um  PhD  europeu  em   Todas   as   tentativas   de   reconstituir   o  
Comunicação   e   Representações   Sociais   em   passado   do   conceito   necessariamente  
1993.   Se  pode-­‐se  dizer  que   uma  boa  teoria  é   começam   na   sociologia.   Simmel   (1908)   foi,  
aquela   da   qual   “é   falada”,   então,   a   sem   dúvida,   o   primeiro   a   reconhecer   a  
quantidade   total   de   comunicação   acerca   da   conexão  entre  a  separação   do  indivíduo  que  
teoria   das   representações   sociais   confere   a   distancia   ele   mesmo   dos   outros   e   a  
esta  um  status  de  uma  teoria  capital.   necessidade  de   simbolizar   estes   outros.   Ele  
Finalmente,   a  avaliação   cientí;ica  da  TRS   argumentou   que   a   maneira   pela   qual  
pode  aparecer  como   algo  um  tanto   elogiosa.  
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simbolizamos   os   outros   modela   uma   ação   diferentes   representações   coletivas   em  


recíproca   e   os   círculos   sociais,   que   se   comunidades   culturais   ou   étnicas.   Não   foi  
formam   juntos.   De   um   ponto   de   vista   antes   dos   anos   60   que,   seguindo   os   passos  
diferente,   Weber   (1921)  viu   representações   de   Durkheim,   e   baseado   na   psicologia  
como   uma   estrutura   de   referência   e   um   infantil  (Piaget,  1932)  e  clínica  (Freud,  1908,  
canal   de   ação   para   o   indivíduo.   Ele   tentou   1922),   Serge   Moscovici   (1961)   tentou  
descrever   um   conhecimento   comum   capaz   elaborar   uma   psicologia   social   das  
de  antecipar   e  prescrever  o   comportamento   representações.   Considerando   que   as  
dos  indivíduos. concepções   de   Durkheim   deixaram   pouco  
Mas  o  verdadeiro  inventor  deste   conceito   espaço   para   a   questão   das   interações   entre  
é   Durkheim  (1893,   1895,   1898),   na  medida   indivíduos  e   coletivo,  ele  propôs  substituir  o  
em   que   ele   de;ine   seus   contornos   e   termo  “representação  coletiva”  por  um  mais  
reconhece   a   habilidade   de   explicar   vários   restrito   “representação  social”.  Nas   palavras  
fenômenos   sociais.   Ele   o   de;ine   com   uma   do  autor,  era  para  
d u p l a   s e p a r a ç ã o .   P r i m e i r a ,   a s   transferir  para  a   sociedade   moderna  uma  
representações   coletivas   devem   ser   noção   que   parecia   estar   reservada   a  
distinguidas  das  representações  individuais.   sociedades   mais   tradicionais   [em  
As   últimas,   únicas   para   cada   indivíduo,   são   resposta   à]  necessidade  de  transformar  as  
extremamente   variáveis,   ligeiras,   de   vida   representações   em   uma   ponte   entre  
curta   e   constituem   um   ;luxo   permanente,   indivíduos  e   as  esferas   sociais,  ao  associá-­‐
las   com   a   perspectiva   de   uma   sociedade  
em   que   as   representações   coletivas   são   em  mudança  (Moscovici,  1989,  p.  82).
impessoais   e   intocáveis   pelo   tempo.  
Segunda,   as   representações   individuais   são   Esta   evolução   é   marcada   por   duas  
enraizadas   na   consciência   do   indivíduo,   ao   mudanças   fundamentais   com   relação   às  
passo   que     as   representações   coletivas   são   concepções  durkheimianas.
sustentadas   mutuamente   por   toda   a   Primeiro,   Moscovici   considera   que   as  
sociedade.   Tais   representações   são,   assim,   representações   não   são   produto   da  
homogêneas   e   partilhadas   por   todos   os   sociedade   como   um   todo,   mas   os   produtos  
membros   da   sociedade.   Sua   função   é   dos   grupos   sociais   que   constroem   esta  
preservar   aquilo   que   as   enlaça,   para   sociedade.   Segundo,   ele   enfoca   nos  
preparar   e   agir   de   uma   maneira   uniforme.   processos   de   comunicação,   considerados  
Este  é  o  porquê  de  serem   coletivas,  o  porquê   como   explicativos   do   surgimento   e  
de  serem   transmitidas  ao   longo   dos  anos  de   transmissão   das   representações   sociais.   O  
geração   em   geração   e   o   porquê   de   agirem   primeiro  ponto  permite  a   concepção  de  uma  
para   os  indivíduos  como   fortes   constritores   mentalidade   social   que   é   sobredeterminada  
cognitivos.   Para   Durkheim,   o   objetivo   é   por   estruturas   societais   e   também   pela  
claro:   o   pensamento   coletivo   tem   que   ser   inserção   dos   indivíduos   nestas   estruturas,  
estudado  em  si  próprio  e  para  si   próprio.   As   d e   t a l   m a n e i r a   q u e   d i f e r e n t e s  
formas  e  o  conteúdo   das  representações  têm   representações  sociais  do  mesmo   objeto  são  
que   se   tornar   um   domínio   separado   com   o   vistos   como   existentes   dentro   de   uma  dada  
objetivo   de   ser   capaz   de  a;irmar   e   provar   a   sociedade.  A   segunda  mudança  para  a  teoria  
autonomia  social.  Para  ele,  esta  é  a  tarefa  da   d a   r e p r e s e n t a ç ã o ,   i n t r o d u z i d a   p o r  
psicologia   social,   apesar   de   ainda   estar   em   Moscovici,   permite  a  concepção   de  que,   por  
seus   estágios   formativos   e   seu   propósito   meio   da   comunicação   -­‐   e   os   processos   de  
ainda  parecer  inde;inido. in;luência,   normalização   e   conformidade  
Entretanto,   durante   os   anos   iniciais   do   que   a   acompanham-­‐,   as   crenças   individuais  
século   XX,   foi   principalmente  a  sociologia,   a   podem  ser  o   objeto   de   consenso   ao   mesmo  
antropologia   e   a   etnologia   (Lévi-­‐Strauss,   tempo   que   as   crenças   coletivas   podem   se  
1962;   Lévy-­‐Bruhl,   1922;   Linton,   1945;   impor  sobre  o  indivíduo.
Mauss,   1903)   que   usariam   a   noção   de   Entretanto,   o   conceito   de   representação  
r e p r e s e n t a ç õ e s   d e   u m a   m a n e i r a   social   suportou   outro   período   de   latência  
perfeitamente   descritiva   para   estudar   antes   de   mobilizar   o   grande   ;luxo   de  
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pesquisa   mencionado   anteriormente   neste   Estas   são   as   razões   múltiplas   para   esta  
capítulo.   A   verdadeira  organização  da  teoria   ;lexibilidade.  Antes  de  tudo,  a  pesquisa  não  é  
não   poderia   acontecer   antes   que   muitos   limitada   por   ser   acercada   dentro   de   uma  
o b s t á c u l o s   e p i s t e m o l ó g i c o s   f o s s e m   estrutura   teórica   rígida   e   estreita.   Segundo,  
removidos,   sendo   o   modelo   behaviorista   o   permite   que   o   estudo   das   representações  
mais   amplo   deles,   que   negou   qualquer   sociais   se   situe   dentro   da   estrutura   de   um  
validade   à   consideração   dos   processos   paradigma,  uma  linha  de  pensamento  e  uma  
mentais   e   sua   especi;icidade.   O   declínio   do   ferramenta   estruturante   do   conhecimento,  
behaviorismo   e   o   aparecimento   de   "novos   em   vez   de   dentro   de   uma  estrutura   teórica  
o l h a r e s "   n o s   a n o s   7 0 ,   s e g u i d o   d o   estabelecida   e   intolerante.   Finalmente,   a  
cognitivismo   nos   anos   80,   conduziu   à   realidade   das   representações   sociais   é   tal  
expansão   progressiva   do   paradigma   que  suas  de;inições   podem  variar  de  acordo  
" e s t í m u l o -­‐ r e s p o s t a "   ( S -­‐ R ) .   E s t e   com   a   perspectiva   do   pesquisador.  
desenvolvimento   signi;icou   que   estados   Podemos,   então,   estudá-­‐las   em   seu  
psicológicos  internos,  concebidos   como  uma   surgimento  e  no   seu  papel   como  reguladora  
construção   cognitiva   ativa   do   ambiente   e   da   interação   social   e   das   comunicações,   do  
dependente  de   fatores   individuais   e  sociais,   ângulo   de   sua   estrutura   interna   ou   mesmo  
foram   reconhecidos   como   tendo   um   papel   de   suas   conexões   com   as   relações   sociais.  
criativo   no   processo   de   elaboração   do   Vamos,   agora,   apresentar   brevemente  essas  
comportamento.   Isto   é   perfeitamente   três  perspectivas.
expressado   por   Moscovici,   quando   ele   diz  
que   as   representações   determinam   ao   Orientações  da  TRS
mesmo   tempo   estímulos   e   respostas,   em  
O  modelo  sociogenético
outras   palavras   "que   não   existe   linha  
Quando   modelou   esta   teoria,   Moscovici  
divisória   entre   os   universos   internos   e  
(1961)   queria   principalmente   propor   uma  
e x t e r n o s   d o s   i n d i v í d u o s   o u   u m  
descrição   da   gênese   e   do   desenvolvimento  
grupo"  (1969,  p.  9).
das   representações   sociais.   Segundo   ele,   o  
Essa   virada   de   perspectivas   marcou,  
surgimento   de   uma   representação   social  
desde   os   anos   80,   o   desenvolvimento   e  
sempre   coincide   com   o   aparecimento   de  
a p r i m o r a m e n t o   d o   t r a b a l h o   e m  
uma   situação   sem   precedentes,   um  
representações   sociais.   Em   um   senso  
fenômeno   desconhecido   ou   um   evento  
diagramático,   também   é   considerado   que  
incomum.   Esta   nova   natureza   do   objeto  
estes  trabalhos  foram  desenvolvidos   em  três  
sugere   que   a   informação   a   respeito   deste  
grandes   linhas,   cada   uma   tentando  
seja   limitada,   incompleta   ou   espalhada  
desenvolver   facetas   diferentes   do   conceito.  
amplamente  por  todos   os   diferentes   grupos  
Uma   que   examina   o   papel   regulatório   das  
sociais   envolvidos   com   o   surgimento   deste  
representações   sociais   nas   interações  
objeto   (o  que   Moscovici  chama   de  dispersão  
sociais  reais,  outra  que  estuda  o  impacto   das  
da   informação).   Este   novo   objeto   desperta  
relações   sociais   na   elaboração   das  
preocupação   e   vigilância   ou   perturba   o  
representações   sociais   e   uma   terceira,   que  
curso  normal  das  coisas.   Assim,   motiva  uma  
analisa   dinâmicas   representacionais   e   suas  
i n t e n s a   a t i v i d a d e   c o g n i t i v a   p a r a  
c a r a c t e r í s t i c a s   e s t r u t u r a i s ,   m a i s  
compreendê-­‐lo,   controlá-­‐lo   ou   mesmo  
especi;icamente   ligadas   a   condutas   sociais.  
defender-­‐se   dele   (fenômeno   da   pressão   à  
Estas   três   linhas   de   desenvolvimento  
inferência),   e   causa   uma   multiplicidade   de  
orbitam   em   torno   de   pontos   de   vista   não  
debates   e   de   comunicação   interpessoal   de  
muito   diferentes,   como   maneiras  diferentes  
massa.   Como   resultado,   informações,  
de   abordar   as   representações   sociais.   Esta  
crenças,   hipóteses   ou   especulações   são  
diversidade   de   orientação   provém,   mais  
partilhadas,   gerando   o   aparecimento   de  
provavelmente,  do  fato  de  que  Moscovici,  ele  
posições   majoritárias   em   grupos   sociais  
próprio,   propôs   de;inições   diversas   das  
diferentes.   Este  surgimento   é  facilitado  pelo  
representações   sociais,   todas   elas   sendo  
fato   de   que   os   indivíduos   lidam   com  
complementares.
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informações  acerca  do   objeto  ou  da  situação   os   indivíduos   não   os   consideram   como  
seletivamente,   enfocando   em   aspectos   noções   abstratas,   mas   como   concretas   e  
particulares  conforme  suas  expectativas   e  as   elementos   observáveis   do   aparato   psíquico.  
orientações   do   grupo   (fenômeno   da   Daí,   advém   a   possibilidade   de   comunicar   a  
focalização). respeito   da   psicanálise   além   de   sua  
O   s u r g i m e n t o   g r a d u a l   d e   u m a   estrutura   conceitual,   de   reconhecer  
representação   ocorre   espontaneamente   e   categorias   de   desordens   e   sintomas   (o  
fundamenta-­‐se  em   três  tipos   de  fenômenos:   complexo   de   superioridade,   modéstia,   o  
a   dispersão   da   informação,   enfoque   e   lapso,   repressão   inconsciente,   atos  
pressão   para   fazer   inferências.   Mas   esses   subconscientes   etc.)   e   categorias   diferentes  
fenômenos   em  si  são   desenvolvidos  na  base   de   pessoas   (o   complicado,   o   reprimido,   o  
de   dois   processos   principais,   de;inidos   por   neurótico  etc.).
Moscovici:  objetivação  e  ancoragem. A   ancoragem   completa   o   processo   de  
A   objetivação   se   refere   à   maneira   pela   objetivação.  Corresponde  à  maneira  que   um  
qual   um   novo   objeto,   por   meio   da   objeto   encontra   seu   lugar   num   sistema   de  
comunicação   acerca   dele,   será   rapidamente   p e n s a m e n t o   i n d i v i d u a l   o u   g r u p a l  
simpli;icado,   imaginado   e   diagramado.   Por   preexistente.   Dependendo   de   um   modo  
meio   do   fenômeno   da   construção   seletiva,   elementar   de   produção   de   conhecimento  
características   diferentes   do   objeto   são   baseado   em   um   princípio   de   analogia,   o  
retiradas   do   contexto   e   ordenadas   segundo   novo   objeto   é  assimilado   em   formas   que  já  
critérios  culturais  (todos  os  grupos  não   têm   são  conhecidas  e  em  categorias  familiares,   e  
o   mesmo   acesso   à   informação   relativa   ao   assim   por   diante.   Ao   mesmo   tempo,   irá  
objeto),   critérios   normativos   (somente   o   tornar-­‐se   identi;icado   com   uma   rede   de  
que  está  de  acordo  com  o  sistema  de  valores   signi;icados   já   presentes.   A   hierarquia   de  
do  grupo  é  retido).  Os  diferentes  aspectos  do   valores   pertencentes   a   diferentes   grupos  
objeto   são,   assim,   separados   do   campo   a   constitui  uma  rede  de  signi;icados  no  qual  o  
qual   pertencem   para   serem   apropriados   objeto   será   localizado   e   avaliado.   O   objeto  
pelos   grupos   que,   ao   projetá-­‐los   dentro   de   será,   assim,   interpretado   de   diferentes  
suas   próprias   realidades,   podem   controlá-­‐ maneiras   dependendo   dos   grupos   sociais.  
los   mais   facilmente.   Estes   elementos   Além  do  mais,  esta  interpretação   se  estende  
selecionados  formam   juntos  o   que  Moscovici   a   qualquer   coisa   que,   remotamente,   refere-­‐
chama  de  um  núcleo  Figurativo,   ou  seja,  uma   se   a   este   objeto.   Assim,   todos   os   grupos  
visualização  coerente  que   reproduz  o  objeto   sociais   anexam   o   objeto   a   suas   próprias  
de   uma   maneira   seletiva   e   concreta.   Ao   redes  de  signi;icados,   responsáveis  por  suas  
penetrar   o   corpo   social   por   meio   da   identidades.  Sendo  assim,   um  conjunto  vasto  
comunicação,   pela   generalização   coletiva,   de   signi;icados   coletivos   é   criado   em   torno  
esta   simpli;icação   do   objeto   substitui   a   do   objeto.   Nessa   concepção,   também,   o  
realidade   dos   objetos   e   é   “naturalizado”.   objeto   se   torna   um   intermediário   e   um  
Uma   representação   é,   assim,   criada   e   critério   para  relacionamentos   entre  grupos.  
adquire  um   status   “óbvio”.   Como   tal,   é   uma   Entretanto,   e   este   é  um  ponto   essencial  para  
“teoria  independente”  do   objeto   que  servirá   a  ancoragem,  a  integração  do  novo  objeto  ao  
c o m o   b a s e   p a r a   o s   j u l g a m e n t o s   e   sistema   de   normas   e   valores   preexistentes  
comportamentos  orientados  na  direção  dele. não  pode  ocorrer  suavemente.  Uma  mistura  
Neste   sentido,   Moscovici,   enquanto   inovadora   resulta   deste   contato   do   novo   e  
estudava   o   aparecimento   da   representação   do   velho,   devido,   tanto   a   integração   do  
da   psicanálise   na   sociedade   francesa,   objeto   até   agora   desconhecido,   como   a  
observou  a  aparição  de   um  núcleo  ;igurativo   persistência   do   velho,   o   objeto   novo  
composto   de   quatro   partes:   o   consciente,   o   reativando   estruturas   habituais   do  
inconsciente,   repressão   e   complexos.   Estes   pensamento  com  o  objetivo  de   incorporá-­‐lo.  
elementos   são   completamente   extraídos   de   Daí,   segue   que   uma   representação   social  
seus   contextos   teóricos   originais.   Eles   s e m p r e   a p a r e c e   c o m o   i n o v a d o r a   e  
também   são   naturalizados  no  sentido  de  que   permanente,  inconstante  e  estável.
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Sobre  esta  base  teórica  geral  do  processo   deles  (quente/frio)  desempenhou   um  papel  
de   produção   de   representações   sociais,   central   e   principal   no   processo   estudado,  
desenvolveu-­‐se   um   campo   de   pesquisa   visto  que  desempenhou  um  papel  bem  mais  
amplo,   iniciado,   principalmente,   pelo   determinante  na  percepção   da  outra  pessoa  
trabalho   de   Denise   Jodelet   (1989).   Esta   que  os  outros  traços  propostos.
corrente   de   pesquisa   enfoca   o   estudo   Inspirado   por   esses   resultados,   Abric  
descritivo   das   representações   sociais   como   propôs   transcender   a   estrutura   puramente  
sistemas   de   signi;icados   que   expressam   as   genética   da   ideia   de   núcleo   ;igurativo   ao  
relações   que  os  indivíduos  e  grupo   têm   com   reconhecer   seu   papel   primordial   em   todas  
seus   ambientes.   Considerando   que   as   as   representações   estabelecidas.   A   base   da  
representações   nascem  essencialmente   pela   teoria   do   núcleo   central   considera   que,   na  
interação   e   contato   com   discursos   públicos,   imagem   completa  dos   elementos   cognitivos  
esta   linha   de   pesquisa   se   concentra,   q u e   c o m p õ e m   u m a   r e p r e s e n t a ç ã o ,  
primeiramente,   na   linguagem   e   na   fala   de   determinados   elementos  desempenham   um  
dois   pontos   de   vistas   complementares.   papel   diferente   de   outros.   Estes   elementos,  
Representações  sociais  são  abordadas  como   chamados   de   elementos   centrais,   formam  
sendo   diretamente   determinadas   na   uma   estrutura   nomeada   por   Abric   de  
linguagem   e   como   funcionando   elas   “núcleo   central”.   Esta   estrutura   interna   das  
próprias   como   linguagem   por   seu   valor   representações   fornece   duas   funções  
simbólico   e   pela   estrutura   que   fornecem   essenciais:   (a)   uma   função   geradora   de  
para   codi;icação   e   categorização   dos   signi;icado  -­‐  é  pelo   núcleo  central  que  outros  
ambientes  dos  indivíduos. elementos   no   campo   representacional  
As   abordagens   do   discurso   e   coleção   de   adquirem  signi;icado   e  valor  especí;ico  para  
dados  comportamentais,  e  análise  chamadas   o s   i n d i v í d u o s ;   e   ( b ) u m a   f u n ç ã o  
monográ;icas   e   qualitativas   (técnicas   organizacional   -­‐   é   em   torno   do   núcleo  
etnográ;icas,   investigações   sociológicas,   c e n t r a l   q u e   o u t r o s   e l e m e n t o s   d a  
a n á l i s e   h i s t ó r i c a ,   e n t r e v i s t a   e m   representação   se  organizam.  E  é  este  mesmo  
profundidade,   grupos   focais,   análise   do   núcleo   que   determina   as   relações  que  estes  
discurso,   técnicas   de  associação   verbal   etc.)   elementos  mantêm  entre  si.
constituem   a   estrutura   metodológica   Assim,   como   uma   estrutura   cognitiva  
essencial   para   trabalhos   desempenhados   provedora   da   criação   de   signi;icados   e   de  
nesta  área   (ver,   por  exemplo,   Kronberger   e   funções   organizacionais,   o   núcleo   estrutura,  
Wagner,   2000;   Markova,   1997,   2003;   por   sua   vez,   elementos   que   se   referem   ao  
Wagner,  1994;  Wagner  et  al.,  1999). objeto   da   representação.   Estes   elementos,  
dependentes   do   núcleo,   são   chamados  
O  modelo  estrutural “elementos  periféricos”.
Baseado,   ao   mesmo   tempo,   no   processo   Como   proposto   por   Flament   (1989),   em  
de  objetivação  de  Moscovici  e  no  trabalho  de   referência   à   teoria   dos   scripts   (Schank   e  
Asch  a   respeito   de  percepção   social   (1946),   Abelson,   1977),   estes   elementos   periféricos  
Jean-­‐Claude   Abric   e   Claude   Flament   permitem   que   as   representações   operem  
propuseram   uma   abordagem   conhecida   como  uma   grade   de   descrição  das   situações  
como   “teoria   do   núcleo   central”  (ver   Abric,   experimentadas   pelos   indivíduos.   Se   o  
1993,   2001).   Esta   abordagem   contribuiu   núcleo   central   pode   ser   entendido   como   a  
massivamente   para   esclarecer   as   lógicas   parte   abstrata   da   representação,   o   sistema  
sociocognitivas   implícitas   nas   organizações   periférico   deve   ser   entendido   como   sua  
gerais  das  representações  sociais. parte  concreta  e  operacional.  
Recordemos   que,   à   época   de   suas   A;inal,   de   acordo   com   Abric,   as  
famosas   observações,   Asch   mostrou   que   representações   sociais   atuam   como  
entre   os   sete   traços   de   personalidade   entidades,   mas   com   dois   componentes  
sugeridos   para   os   sujeitos   como   critério   diferentes  e  complementares:
para   avaliar   a   imagem   de   um   parceiro,   um  
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1   O   sistema   central   estrutura   os   sociais.   Por   um   lado,   porque   sustenta   os  


elementos   cognitivos   relativos   a   um   p e s q u i s a d o r e s   c o m   u m a   e s t r u t u r a  
objeto   e   é   o   fruto   de   determinismos   conceitual  para   o  estudo  das   representações  
s o c i a i s ,   s i m b ó l i c o s   e   h i s t ó r i c o s  
particulares   aos   quais   diferentes   grupos   estabilizadas   em   vez   de   representações   em  
sociais  estão   expostos.   Caracteriza-­‐se   por   e s t á g i o   d e   f o r m a ç ã o .   V i s t a s   d e s t a  
d u a s   p r o p r i e d a d e s   f u n d a m e n t a i s .   perspectiva,   as   representações   sociais   não  
Primeiro,   por   uma   grande   estabilidade,   são   mais   simples   "esferas   de   opiniões",  mas  
assegurando,   assim,   a   permanência   e   tornam-­‐se   esferas   estruturadas.   Neste  
durabilidade  da  representação.  Em   outras   sentido,   o   estudo   de   suas   estruturas  
palavras,   o   sistema   central   resiste   a  
qualquer   exame   detalhado,   de   um   modo   suplanta   o   do  seu   conteúdo.   Por   outro   lado,  
o u   d e   o u t r o ,   d a   b a s e   g e r a l   d a   a   abordagem   estrutural   oferece   uma  
representação.   Além   disso,   é   onde   o   estrutura   para   análise   que   nos   permite  
consenso   da   representação   é   encontrado   i d e n t i ; i c a r   a   i n t e r a ç ã o   e n t r e   o  
e,   assim,   constitui   sua   base   comum   funcionamento   do   indivíduo   e   os   contextos  
partilhada   coletivamente.   Capacita   cada   nos   quais   o  indivíduo   se  desenvolve.   En;im,  
membro   do   grupo   a   "ver   coisas",  
aproximadamente,   da   mesma   maneira   e   uma  vez  que  a  abordagem  estrutural  oferece  
por   meio   desta,   a   homogeneidade   do   conceitos   formalizados,   esta   possibilita   a  
g r u p o   c o n c e r n e n t e   a o   o b j e t o   d a   formulação   de   hipóteses   acerca   da  
representação   é   de;inida.   Graças   ao   adaptação   sociocognitiva   dos   atores   sociais  
sistema   central,   os   membros   do   grupo   confrontados   com   as   evoluções   de   seus  
podem   reconhecer   um   ao   outro,   mas   ambientes.   E   estas   hipóteses   estão   na  
também  diferenciar-­‐se  de  grupos  vizinhos  
e,   assim,   em   grande   parte,   isto   contribui   origem   do   método   experimental   do   estudo  
para  a  identidade  social. das  representações  sociais.
2   O   sistema   periférico,   em   consonância  
com  as  contigências  cotidianas,  possibilita   O  modelo  sociodinâmico
que   uma   representação   seja   adaptada   a   Baseado   no   processo   de   ancoragem  
vários   contextos  sociais.  Flament  atribui  a   de;inido   por   Moscovici,   Willem   Doise   (ver  
este  três  funções  essenciais: Clémence,   2001,   para   uma   visão   geral)  
(a)   prescreve   comportamento   e   tomada   propôs   um   modelo   teórico   que   objetivava  
de   posição,   permitindo   aos   indivíduos   reconciliar   a   complexidade   estrutural   das  
saberem   o   que   é   normal   ou  não  dizer  ou   representações   sociais   e   suas   inserções   nos  
fazer   em   uma   situação   dada,   em   face   de   contextos  ideológicos  e  sociais  plurais.
seus  propósitos.
De   acordo   com   Doise,   as   representações  
( b )   p e r m i t e   a   p e r s o n a l i z a ç ã o   d a   só   podem   ser   contempladas   na   dinâmica  
representação  e  dos  comportamentos  que   social  que,  por  meio  da  comunicação,  coloca  
estão   ligados   a   este.   Dependendo   do  
contexto,   a   mesma   representação   pode   os   atores   sociais   em   situações   interativas.  
levar   a   opiniões   interpessoais   diferentes   Esta   dinâmica   social,   quando   elaborada   em  
dentro   de   um   grupo.   Estas   diferenças   torno   de   questões   importantes,   suscita  
permanecem   compatíveis   com   o   sistema   tomadas  de  posição  especí;icas,  com  relação  
central,   mas   correspondem   a   uma   à   integração   social   dos   indivíduos.   Isto  
v a r i a b i l i d a d e   i n t e r n a   d o   s i s t e m a   signi;ica   que   as   posições   expressas   a  
periférico.
respeito   de   uma   dada   questão   dependem  
(c)   protege   o   núcleo   central   quando   fundamentalmente  das  pertenças  sociais   das  
n e c e s s á r i o   e   a t u a   c o m o   u m   pessoas,   o  que  volta  novamente  ao   processo  
"amortecedor"   da   representação.   Neste  
s e n t i d o ,   a   t r a n s f o r m a ç ã o   d a   de   ancoragem   de   Moscovici.   Mas   Doise  
representação   social   ocorre,   na   maioria   acrescenta   que   estas   posições   dependem  
dos  casos,  por  meio  da  modi;icação  prévia   também   das   situações   nas   quais   são  
dos  elementos  periféricos. produzidas.   Esta   dupla   origem   da   variação  
Do   ponto   de   vista   epistemológico,   a   pode  gerar   uma   multiplicidade   aparente   de  
abordagem   estrutural   marca   a   principal   tomada   de   posição   apesar   de   surgirem   de  
virada   para   a   teoria   das   representações   princípios   organizacionais   comuns.   De   fato,  
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para   Doise,   todas   as   interações   sociais   têm   considerava   os  consensos  mais  como  pontos  
características   simbólicas.   Estas   capacitam   de   ancoragem   para   uma   representação  
pessoas   e  grupos   a  se  de;inirem  em  relação   social.   E   as   convergências   e   divergências  
a   outras.   Portanto,   contribuem   na  de;inição   entre  estes  pontos  de  ancoragem  encontram  
da  identidade  de  todos.  Este  é  o  motivo  pelo   sua   origem   na   estruturação   das   relações  
qual   estas   têm   que   ser   organizadas   de   sociais   existentes   entre   grupos.   Visto   desta  
acordo   com   regras   comuns   entre   membros   perspectiva,   o   estudo   das   representações  
de   um   grupo   especí;ico.   Ao   suprir   “pontos   sociais   necessita   fazer   uso   de   abordagens  
de  referência”  partilhados  que  servem  como   múltiplas   que   irão   iluminar   as   conexões  
uma   base   para   a   tomada   de   posição   de   entre  elementos   cognitivos   e   também   entre  
indivíduo   e   grupos,   as   representações   indivíduos   ou   grupo   e   elementos   cognitivos  
c o n s t i t u e m   r e g r a s   c o m u n s .   A s s i m ,   (ver   Doise   et   al.,   1992).   Então,   é   uma  
organizam   os   processos   simbólicos   que   questão   de   princípios   estabelecidos   da  
sustentam  a  interação  social. homologia   entre   as   posições   sociais   dos  
Em  outras   palavras,  este  modelo  designa   indivíduos  e  suas  tomadas  de  posição  com  o  
um   duplo   papel   para   representações.   Estas   o b j e t i v o   d e   r e v e l a r   o s   p r i n c í p i o s  
são   de;inidas,   primeiramente,   como   organizacionais   das   representações  
princípios   que   geram   tomada   de   posição.   estudadas   (ver   Clémence,   2001;   Lorenzi-­‐
Mas,   também   são   princípios   para   organizar   Cioldi  e  Clémence,  2001;  2010;  Spini,  2002).
diferenças   individuais.   Por   um   lado,  
proveem  os   indivíduos   com   pontos   comuns   A  expansão  da  teoria
de   referência.   Por   outro   lado,   estes   pontos   E s t a s   t r ê s   o r i e n t a ç õ e s   t e ó r i c a s  
de  referência   tornam-­‐se   questões   em   torno   desenvolvidas   por   pesquisadores   franceses  
das   quais   as   diferenças   individuais   se   e  suiços  constituíram,  e  ainda  constituem,  as  
concentram.  Se  as   representações   permitem   bases   sobre   as   quais   se   desenvolveriam,  
que   o   objeto   de   debate   seja   de;inido,   estas   notavelmente,   a   partir   dos   anos   80,   um  
também   organizam   este   debate,   indicando   monte  de   estudos,  primeiro,   fora   da  Europa,  
as  perguntas  a  serem  feitas. sobretudo  na  América  Latina.
N e s t a   c o n c e p ç ã o ,   n ã o   h á ,   Muito   em   breve   e,   principalmente,   sob  a  
necessariamente,   um  consenso   com   relação   in;luência   de   Robert  Farr  e  Miles  Hewstone,  
às   opiniões   expressas  pelos   indivíduos.   Não   a  TRS  esteve   em  marcha  no   Reino  Unido   de  
são   os   pontos   de   vista   os   quais   são   onde   apareceu,   por   exemplo,   o   trabalho   de  
partilhados,   em   vez   disso   são   as   questões   Gerard  Duveen,  centrado  na  conexão   entre  o  
que   atraem   pontos   de   vista   con;litantes.   indivíduo  e  o  grupo  dentro   da   estrutura  dos  
Resumindo,   a   tomada   de   posição   pode   processos   de   socialização   microgenética;   o  
divergir   mesmo   quando   refere-­‐se   a   de  Sandra   Jovchelovitch  que  propõe  a   visão  
princípios   comuns.   Salientamos,   en;im,   que   das  representações  sociais  como   um  espaço  
a   teoria   dos   princípios   organizacionais   dá   entre   o   indivíduo   e   os   objetos   ligados   à  
grande   importância  a   relações   intergrupais,   sociedade,   o   sujeito   e   as   atividades;   o   de  
ao   tentar   mostrar   como   diferentes   Caroline   Howarth,   centrado   nas   ligações  
pertenças   sociais   podem   determinar   a   entre   TRS   e   identidade   social;   ou   ainda,  
importância   dada   a   princípios   diferentes.   novamente,   o   de   Ivana   Markova   que   está  
Desta   perspectiva,   faz-­‐se   estudando   a   desenvolvendo   ligações   entre   dialogicidade  
a n c o r a g e m   d a s   r e p r e s e n t a ç õ e s   e m   e   representações   sociais.   Na   Áustria,   o  
realidades  coletivas. t r a b a l h o   d e   W o l f g a n g   W a g n e r ,   e m  
A   abordagem   sociodinâmica   introduz   particular,   demonstrou   o   papel   entre   as  
uma   nova   maneira   de   pensar   a   questão   do   interações   sociais  e   as  trocas  discursivas  nos  
consenso   na   TRS.   Para   Moscovici,   este   processos   de  construção  das   representações  
consenso   resulta   da   partilha   de   certas   sociais.   Na   Itália,   sob   o   impulso   de  Augusto  
crenças   com   um   grupo   dado.   E   este   Palmonari,   e   depois   de   Felice   Carrugati,   o  
compartilhamento   foi,   em   si,   resultado   do   trabalho   de   Anna   Maria   de   Rosa   levou   ao  
p r o c e s s o   d e   c o m u n i c a ç ã o .   D o i s e  
11

estabelecimento  e  disseminação   da  TRS  por   i n t r a i n d i v i d u a i s   q u e   s u s t e n t a m   a s  


toda  Europa.   Do   outro   lado   do   Atlântico,   foi   interações   sociais,   ao   passo   que   TRS   está,  
sobretudo   nos   países   da   América   Latina   e   historicamente,   interessada   nos   fenômenos  
América   do   Sul   (particularmente,   México,   interindividuais   (Kruglanski,   2001),   que  
Brasil,   Argentina   e   Venezuela)   que   a   TRS   afetam  a   consciência  do  indivíduo.   Construir  
encontrou,   a   partir   dos   anos   90,   uma   base   pontes   entre   esses   fossos,   entre   estes   dois  
fértil   para   expansão.   O   impacto   dos   campos   de   estudo,   sem   dúvida,   constitui  
contextos   sociais,   históricos   e   culturais   na   u m a   d a s   q u e s t õ e s   c i e n t í ; i c a s   m a i s  
formulação   das   questões   cientí;icas   da   fascinantes   para   os   próximos   anos   na   área  
América   Latina   teve   muito   a   ver   com   este   da  psicologia   social.  É  também  nesta  direção  
sucesso.   Pesquisadores   em   psicologia  social   que  uma  parte  de  nossos  próprios   trabalhos  
encontraram   nela   uma   maneira   criativa,   repousa.
re;lexiva  e   crítica   de  pensar,   adequada  para  
lidar   com   mudança   e   crises   políticas,   NARRATIVA  PESSOAL  DO  
econômicas   e   sociais.   Eles   participam  
ativamente   hoje   nos   desenvolvimentos   DESENVOLVIMENTO  DA  TEORIA
teóricos   da   TRS   ao   ligá-­‐la,   particularmente,   Nosso   envolvimento   pessoal   com  
com   outras   questões   psicossociais   tais   pesquisa   em   representação   social   data   de  
como,   por   exemplo,   memória   social   ou   os   meados   da   década  de   80.   Naquela   altura,   a  
processos   de   mudança   social.   Também   teoria   estava   começando   a   se   expandir  
devemos   mencionar   os   estudos   realizados   rapidamente   na   França   e   na   Europa,   mas  
em   Portugal,   Espanha   e   Romênia,   e,   mais   ainda  era  alvo  de  muitas  críticas.  A   teoria  foi  
recentemente,   na   Austrália,   Ásia   e   África,   censurada,  sobretudo,   por  ser  muito  ;lexível  
mas   um   capítulo   não   nos   dá   espaço   em  termos  de  conceitos  e  carente  em  termos  
adequado  para  abordá-­‐los. de   metodologia.   Basicamente,   quais   novos  
Vamos   assinalar,   por   outro   lado,   que   aspectos   que   as   representações   sociais  
neste   quadro   internacional,   os   Estados   trouxeram   para   as   noções   de   opinião   e  
Unidos   são   um   dos   mais   notáveis   ausentes.   atitude,   já   ancoradas   solidamente   na  
Apesar   do   trabalho   extraordinário   de   Gina   psicologia   social?   Para   responder   a   esta  
Philogene  e  Serge   Moscovici  na  tentativa  de   crítica,   um   time   de   pesquisadores   da  
integrar   a   TRS   aos   estudos   de   psicologia   Universidade   de   Aix   en   Provence   propôs  
social   norte-­‐americana,   não   se   pode   deixar   dois   argumentos.   Para   Jean   Claude   Abric   e  
de   notar   que   a   teoria   não   encontrou   o   Claude  Flament,  que  lideravam  este  time,  as  
verdadeiro   chão   para   se   desenvolver.   As   representações   tiveram   que   ser   concebidas  
razões   são   muitas   para   isto,   uma   vez   mais,   como   estruturas   cognitivas.   Não   eram  
novamente,   não   há   espaço   su;iciente   aqui   a p e n a s   e s f e r a s   d e   o p i n i õ e s ,   c o m o  
para  compor  uma  lista  coerente  e  detalhada.   antecipado   por   Moscovici,   mas   grupos   bem  
A   relativa   negligência   dos   argumentos   e  verdadeiramente   estruturados   dentro   dos  
teóricos   iniciais   e   a   publicação   quase   quais   alguns   elementos   tinham   um   papel  
exclusivamente   em   francês   dos   primeiros   especí;ico   a   desempenhar.   Além   do   mais,  
desenvolvimentos   na   TRS,   estão,   sem   mesmo   que   essa   ideia   não   estivesse  
dúvida,   entre   as   razões   principais.   Mas,   há   claramente   formada   ainda,   Abric   e  Flament  
t a m b é m   r a z õ e s   m a i s   p r o f u n d a s   e   pensavam   que,   contrário   às   atitudes,  
metateóricas   as   quais,   por   demasiado,   essencialmente   ligadas   à   avaliação   dos  
tornaram   a   TRS   e   a   cognição   social   objetos   sociais,   as   representações   se  
estranhas  uma  à  outra. interessavam,  antes  de  tudo,  pelo  signiFicado  
Entre  estas   razões,   que  nos   parece  ser   a   daqueles   mesmos   objetos.   Basicamente,   a  
que   tem   mais   peso,   relaciona-­‐se   com   a   ideia  era   que  a  representação   é  que  de;ine  o  
diferença   nos   tipos   de   análise   atribuídos   à   objeto  da  atitude.
pesquisa   realizada   nos   dois   campos.   B a s e a d o   n e s s e s   a r g u m e n t o s ,   f o i  
Tradicionalmente,   a   cognição   social   está   n e c e s s á r i o   p r o p o r   u m a   t e o r i a   q u e  
interessada,   sobretudo,   nos   processos   contabilizaria   para   ambas,   a   estrutura   e   a  
12

dinâmica   da   representação   social.   Esta   sociocognitivos.   Tudo   começou   com   a  


teoria   já   existia   e   foi   proposta   por   Jean-­‐ pesquisa   a   respeito   de   atitudes   (Moliner   e  
Claude   Abric   em   1976.   Ainda  tinha   que  ser   Tafani,   1997),   seguida   da   categorização  
con;irmada   e   demonstrada   que   permitia   social,   processos   de   atribuição   e   processos  
uma   descrição   melhor   da   estabilidade   e   da   de   comparação   social   (Rateau   e   Moliner,  
dinâmica   das   representações.   Foi   neste   2 0 0 9 ) .   E s t e   t r a b a l h o ,   n a   m a i o r i a  
contexto   que   dois   de   nós   se   juntaram   ao   experimental,   mostra,   hoje,   que   a   barreira  
time   de  Aix  en  Provence  como  estudantes  de   que   algumas  pessoas  viam  entre  o   campo  da  
doutorado.   Em   1988,   duas   teses   eram   representação   social   e   outras   áreas   da  
defendidas.   A   primeira  mostrou   que   dentro   psicologia  social  era,  provavelmente,  apenas  
das   representações   sociais   certas   crenças   uma   ilusão   que   o   tempo   está   começando   a  
efetivamente   desempenham   um   papel   apagar.   Este   é,   de   qualquer   modo,   nosso  
especí;ico  (Moliner,  1988).  Estas  crenças  são   desejo   mais   caro   pois   só   a   construção   de  
"não   negociáveis",   são   associadas   a   um   pontes   entre   esses   fossos   vai,   ao   ;inal,  
objeto   pelos   indivíduos   e   são   consideradas   permitir-­‐nos   entender   completamente   e  
por   eles   como   suas   de;inições.   A   segunda   explicar  os  problemas  sociais  para  os  quais  a  
tese   mostrou   que   estas   crenças   também   psicologia  social  tem  a  tarefa  de   responder.  
desempenham   um   papel   na   dinâmica   das   É  também,   em  parte,   neste  papel  que  a  TRS  
representações   sociais,   particularmente,   foi   bem   sucedida,   como   iremos,   agora,   fazer  
quando   os   indivíduos   adotam   um   novo   um  ensaio  e  demonstrar.
comportamento   que  os   contradiga   ou  torne  
comportamentos   anteriores   obsoletos   A  APLICABILIDADE  DA  TRS  A  
(Guimelli,   1988).   Poucos   anos   depois,   uma  
terceira   tese   foi   defendida,   dessa   vez   na   QUESTÕES  SOCIAIS
Universidade   de  Montpellier  (Rateau,   1995).   Para  convencer  alguém  da  aplicabilidade  
N e s t e   t r a b a l h o ,   m o s t r o u -­‐ s e ,   da   TRS,   pode-­‐se   experimentar   listar   toda   a  
experimentalmente,   que   as   crenças   não   pesquisa   que  a  adotou.   Neste   caso,   veria-­‐se  
n e g o c i á v e i s   q u e   e s t r u t u r a m   a s   que   inúmeras   questões   societais   foram  
r e p r e s e n t a ç õ e s   s ã o ,   e l a s   p r ó p r i a s ,   abordadas   deste   ângulo,   e   em   campos   tão  
hierárquicas.   Estes   trabalhos   foram   nossas   variados   como   saúde  (por  exemplo,   Washer  
primeiras   contribuições   à   pesquisa   em   e   Joffe,   2006),   economia   (por   exemplo,  
representação   social   e,   independentemente   Kirchler   et   al.,   2003),   marketing   (por  
de  suas   implicações   teóricas,   estes   também   exemplo,   Tafani   et   al.,   2007),   psicologia  
conduziram   à   ;inalização   de   métodos   ambiental   (por   exemplo,   Leone   e   Lesales,  
especí;icos   dedicados   ao   estudo   das   2009)  ou  relações  com  tecnologia  nova   (por  
r e p r e s e n t a ç õ e s   s o c i a i s   ( G u i m e l l i   e   exemplo,   Gal   e   Berente,   2008).   Entretanto,  
Rouquette,   1992;   Moliner,   1994;   Rouquette   independentemente   do   fato   de  que  nós   não  
e  Rateau,  1998).  Assim,  todos  estes  serviram   somos   capazes   de   fazer  uma   lista   exaustiva  
para   responder   à   crítica   dos   primeiros   de  todos  estes  trabalhos  neste   capítulo,  não  
detratores  da  TRS. é   certo   que   tal   lista   permita   ao   leitor  
Mas,   perto   do   ;inal   dos   anos   90,   novas   compreender  o  motivo   da  TRS  ser  usada  em  
críticas   apareceram.   Neste   momento,     um   conjunto   de   perguntas   tão   diverso.   Do  
pareceu   como   que   se   a   pesquisa   em   nosso   ponto   de   vista,   a   resposta   para   esta  
representação   social   estava   se   fechando   em   pergunta   depende   de   três   pontos.   A   TRS   é  
si   mesma,   em   total   desconsideração   a   suas   uma  teoria   versátil   e   adaptável,   uma   teoria  
ligações   óbvias   com   outra   tendência   em   psicossocial   do   senso   comum   e,   ;inalmente,  
ascensão   -­‐   a   da   cognição   social.   Para   nós,   uma   teoria   que   suscitou   a   elaboração   de  
esta   crítica   teve   que   ser   levada   em   metodologias  diversas.
consideração,   a   qual   é   o   motivo   de  
voltarmos   nossa   pesquisa   na   direção   da   Uma  teoria  adaptável  e  <lexível
exploração   sistemática   das   ligações   entre  
representações   sociais   e   certos   processos  
13

Como   dissemos   anteriormente,   uma   das   O   segundo   exemplo   que   gostaríamos   de  


críticas  mais  frequentes  à  TRS  se  relaciona  à   m e n c i o n a r   b r e v e m e n t e   r e f e r e -­‐ s e   à  
imprecisão   demasiadamente  grande  de  seus   geogra;ia.  A  partir  da  introdução   à  noção  de  
conceitos  (McKinlay  e  Potter,  1987;  Potter  e   mapa  mental   (Downs  and  Stea,   1977;  Gould  
Litton,   1985).   E  é  verdade   que  ao  ler   o  livro   and   White,   1974)   e,   então,   à   ideia   de   uma  
original   de   Moscovici,   a   frouxidão   aparente   certa   subjetividade   em   relação   ao   espaço  
com  a  qual   o   autor   apresenta   os   elementos   (Tuan,   1975)   e,   en;im,   à   premissa   que  
de   sua   teoria   pode   ser   surpreendente,   recomenda   interessar-­‐se   pelos   processos  
começando   com  a  própria   de;inição   que  ele   mentais   que   contribuem   para   a   percepção  
dá   para   a   noção   de   representações   sociais.   do   espaço,   mas   que   irão   conduzir,  
Mas,   paradoxalmente,   é   esta   própria   especialmente,   ao   espaço   dotado   de  
;lexibilidade   que   atribui   a   ela   seu   âmbito   signi;icados   e   valores.   Disto   emerge   uma  
geral.   É   importante   lembrar   aqui   que,   "geogra;ia   das   representações",   que  
olhando   a   teoria   mais   a   fundo,   há   um   considera   as   representações   como   os  
fenômeno   proteico   a   respeito   do   qual   determinantes   ;inais   da   prática   espacial  
Durkheim   teve   uma   intuição,   e   que   (Lussaut,  2007).
Moscovici   (2001a:4)   resumiu   com   as   E n ; i m ,   m e n c i o n a m o s   o   t r a b a l h o  
palavras:   "[A]   ideia   de   representações   r e a l i z a d o   e m   l i n g u í s t i c a   e ,   m a i s  
sociais  ou  coletivas  está  gravada  numa   visão   precisamente,   em   didática   da   linguagem  
societal   na   qual   coerência   e   prática   são   onde   a   necessidade   de   compreender   os  
dirigidas   por   crenças,   conhecimentos,   signi;icados  associados   com  a  aprendizagem  
normas   e   linguagens   que   esta   produz..."   e   a   fala   de   uma   dada   linguagem   foram  
Como   tal,   é   um   fenômeno   que   se   refere   às   observados.   Esta   preocupação   se   tornou  
lógicas   tanto   das   relações   sociais   como   central   em   situações   de   muitas   línguas   por  
àquelas   da   ação.   E   aqueles   nos   quais   as   causa   dos   problemas   de   identidade   que  
regulações   podem   operar   em   níveis   podem   causar.   A   noção   de   "representação  
cognitivos   diferentes,   incluindo   o   da   linguística"  apareceu  (Dagenais  and  Jacquet,  
linguagem.   Assim,   entende-­‐se   o   perigo   de   2008),   inspirada   diretamente   pela   TRS   e  
tentar  estudar   este   tipo   de   fenômenos   com   designando   crenças   relativas   às   línguas,  
base   em   conceitos   que   sejam   muito   seus  usos  e  os  grupos  que  a  utilizam.
e s t r e i t o s .   N e s t a s   c o n d i ç õ e s ,   é   Estes   exemplos   sugerem   que   fora   do  
provavelmente   por   causa   dos   conceitos   campo   da  psicologia,   quando   pesquisadores  
iniciais   da  TRS  serem   relativamente  amplos   perguntam   a   si   próprios   acerca   dos  
que   outras   disciplinas,   relativamente   não   d e t e r m i n a n t e s   c o g n i t i v o s   d o  
relacionadas   à   psicologia,   foram   capazes   de   comportamento,   eles   encontram   na   TRS  
usá-­‐los.  Vamos  considerar  três  exemplos. uma   estrutura   conceitual   que   pode   ser  
O   primeiro   é   fornecido   pelo   trabalho   de   adaptada  para  lidar   com  suas  questões.   Mas  
historiadores   que,   querendo   transcender   isso   só   é   possível,   graças   ao   fato   de   que   a  
u m a   h i s t o r i o g r a ; i a   d e   e v e n t o s   e   teoria   oferece  uma   grande  latitude,   o  que  é,  
simplesmente   factual,   começaram   a   se   do  nosso   ponto   de  vista,   uma   das  razões  do  
interessar   por   formas   de   pensamento   e   sucesso   de   sua   aplicação   nas   ciências  
crenças   características   de   eras   passadas.   sociais.
A s s i m ,   e l e s   c o l o c a r a m   a   n o ç ã o   d e  
" m e n t a l i d a d e "   n o   c e n t r o   d e   s u a s   Uma  teoria  do  conhecimento  cotidiano
preocupações.   Pegando   emprestado   de   Antes   de   ser   uma   teoria   da  crença   ou  da  
Lévy-­‐Bruhl   (1922),   esta   noção   aludia   opinião,   a   TRS   é,   antes   de   tudo,   uma   teoria  
diretamente   àquela   de   representações   do  "senso   comum",   uma   vez   que  contabiliza  
mentais,   em   relação   a   interações   na   esfera   a   maneira   pela   qual   o   senso   comum   é  
social.   Mas   é   claro,   hoje   em   dia,   que   o   formado,  como   é  estruturado   e  como   se  liga  
projeto   de   uma  "história   das  mentalidades"   às   preocupações   e   à   inserção   social   das  
se   reduz   a  uma  história  das   representações   pessoas   que  o  utilizam.   Desta   perspectiva,   a  
sociais.
14

aplicação   mais   óbvia   da   TRS   concerne   à   torno  da   noção  exclusiva  de  "prazer".  Assim,  
comunicação.   De   fato,   muitos   estudos   supunha-­‐se   que   estas   duas   representações  
mostram   que   diferentes   grupos   podem   ter   determinavam   diferentes   práticas   de  
diferentes  representações   do  mesmo   objeto.   direção   ao   volante.   Para   aqueles   que  
Realmente,   quando   estes   grupos  interagem,   pertenciam  à  primeira  representação,  dirigir  
seja   por   razões  comerciais   (um  fornecedor  e   era   visto   como   "cauteloso",   enquanto   os  
seus   clientes),   razões   educacionais   outros   viam   como   "hedonístico".   Esta  
(professores   versus   alunos)   ou   razões   hipótese   ganha   um   primeiro   elemento   de  
técnicas   (times   de   trabalho),   pode   se   ter   a   validação   quando   se   examina   a   ligação  
e x p e c t a t i v a   d e   q u e   d i f e r e n t e s   causal   que   os   indivíduos   fazem   entre  
representações   serão   uma   fonte   potencial   velocidade   e   a   ocorrência   de   acidentes   nas  
d e   c o n f u s ã o   e n t r e   g r u p o s .   vias.   Sessenta   e   quatro   por   cento   dos  
Consequentemente,   o   estudo   das   diferentes   motoristas   "prudentes"   pensavam   que  
representações   existentes   pode   nos   velocidade   era   a   causa   principal   dos  
possibilitar   tomar   medidas   adequadas   na   a c i d e n t e s ,   c o n t r a   a p e n a s   2 4 %   d o s  
área   da   comunicação.   Por   exemplo,   no   "hedonistas".   Além   disso,   este   estudo  
estudo   acerca   da   representação   do   sistema   mostrou   que   havia   menos   membros   do  
de  segurança  de  computação  de  um  hospital.   primeiro   subgrupo   que   admitiram   ter  
Vaast   (2007)   observou   diferenças   entre   ultrapassado   o   limite   de   velocidade   que   os  
médicos   e   enfermeiros.   Para   os   médicos,   o   do   segundo   subgrupo   (52   versus   76%   nas  
s i s t e m a   d e   s e g u r a n ç a   s i g n i ; i c a v a   vias   e   47   versus   78%   nas   autoestradas).  
principalmente   acesso   aos   dados,   enquanto   Havia   também   menos   pessoas   no   primeiro  
para   os   enfermeiros   signi;icava   a   proteção   subgrupo   que   foram   multadas   pela   polícia  
do  sigilo  do   paciente.   Ele  concluiu  insistindo   por   velocidade   (9   versus   19%).   Como   em  
no  fato  de  que   as  pessoas   responsáveis  pelo   muitos   outros   estudos,   a   relação   entre  
sistema   têm   que   levar   em   conta   estas   representações   e   comportamento   foi  
diferenças  em  seu  treinamento  de  pessoal. claramente   estabelecida.   Esta   relação   nos  
Outra   aplicação   da   TRS   está   inspirada   conduz  a  ter  a  expectativa  de  que  uma  ação  
pelas   relações   entre   representações   e   sobre   a   primeira   terá   um   impacto   sobre   a  
comportamento.   Na   realidade,   falando   de   segunda.   Assim,   um   terceiro   tipo   de  
modo   generalizado,   o   senso   comum   é  o  que   aplicação   apareceu   no   horizonte,   tentando  
guia   a   maioria   de   nosso   comportamento   e   modi;icar  o  comportamento   das   pessoas.   De  
interações   cotidianos.   "Nosso   senso   comum   fato,   muitos   estudos   (Mugny   et   al.,   2000)  
inclui   muito   know-­‐how,   maneiras   pelas   mostram   que   procedimentos   de   in;luência  
quais   fazer   amigos,   ter   sucesso   na   vida   e   podem   provocar   mudanças   profundas  
evitar   crises,   comer   bem   etc.   ...   É   com   base   dentro   das   representações   sociais.   Mas   os  
neste  conhecimento  que  as  pessoas  estão,  na   poucos   estudos   que   examinaram   a  
maioria,   conscientes   de   sua   situação   ou   durabilidade   destas   mudanças   levaram   a  
tomam   decisões   importantes..."   Moscovici,   resultados  decepcionantes.
2001b:   11).   Desta  perspectiva,   o  estudo   das   Entretanto,   recentemente,   ao   trabalhar  
r e p r e s e n t a ç õ e s   s o c i a i s   o f e r e c e -­‐ n o s   sobre   estes   problemas,   pesquisadores  
elementos   para   o   entendimento   das   razões   exploraram   uma   novo   caminho.   Já   não   é  
por   trás   das   decisões   e   do   comportamento.   mais   a   questão   de   modi;icar   os   conteúdos  
Por   exemplo,   em   um   estudo   realizado   com   das   representações   sociais,   mas   de   usar  
1 0 0 5   m o t o r i s t a s   f r a n c e s e s ,   a s   estes   conteúdos   para   trazer   os  indivíduos   a  
representações   de   velocidade   foram   uma   tomada   de   decisão.   Por   exemplo,  
estudadas   (Pianelli  et  al.,   2007).  Este   estudo   Eyssartier  et  al.   (2007)  ;izeram  a  si  próprios  
mostrou   que   diferentes   representações   a   seguinte   pergunta:   como   o   estudo   das  
coexistem.   A   primeira,   a   maior   (44%   da   representações   acerca   da  doação   de   órgãos  
população),   estava   organizada   em   torno   da   pode   ser   útil   para   convencer   as   pessoass   a  
noção   única   de   "perigo".   Outra,   a   menor   serem   doadoras?   Disto,   eles   identi;icaram  
(12%   da   população),   estava   organizada   em   quatro   elementos   centrais   e   quatro  
15

elementos   periféricos   desta   representação.   Uma  excelente  diversidade  


Então,  eles   elaboraram  uma  técnica  “foot-­‐in-­‐ metodológica
the   door”   (?pé-­‐na-­‐porta?)   (Freedman   e  
Sem   dúvida,   a   TRS   provocou   um  
Fraser,   1966),   projetada   para   convencer   as  
diversidade  notável  de  metodologias  porque  
pessoas   a   assinar   um   cartão   de   doador   de  
pode   ser   aplicada   a   muitos   problemas   em  
órgãos.   Deve-­‐se   recordar   que   o   princípio  
vários   contextos.   Esta   preocupação  
foot-­‐in-­‐the-­‐door   consiste   em   perguntar  
metodológica   se   torna  palpável   no   ;inal  dos  
pouco  (ato  preparatório)  antes  de   perguntar  
anos   80,   quando   capítulos   dedicados   a  
muito  (requisição   ;inal).   Porém,   sabe-­‐se  que  
questões   metodológicas   foram   publicados  
a   importância   que  os   indivíduos   dão   ao   ato  
em  livros  coletivos  acerca  de  representações  
p r e p a r a t ó r i o   é   u m   f a t o r   d e  
sociais.   Mais   tarde,   desde   o   início   dos   anos  
comprometimento   crescente  (Kiesler,   1971,  
90,   livros   inteiros   foram   dedicados   a  
veja   também   Burger,   1999).   Portanto,   os  
métodos   de   estudo   das   representações  
a u t o r e s   c o n s i d e r a v a m   q u e   u m   a t o  
sociais.
preparatório,   referente   a   um   elemento  
E s t e s   a v a n ç o s   m e t o d o l ó g i c o s  
central   da   representação,   era   mais  
apresentados   nestes   livros   se   interessam,  
importante   que   um   ato   preparatório  
antes   de   tudo,   por   técnicas   de   coleta   de  
referente   a   um   elemento   periférico.   Assim,  
conteúdo  da   representação   social.   Baseados  
eles  elaboraram  a  hipótese   de  que  os  efeitos  
em   métodos   psicossociais   tradicionais  
de   comprometimento   do   comportamento  
(entrevista,   grupos   focais,   investigações  
serão  mais   efetivos  no   primeiro  caso  do  que  
etc.),   técnicas   de   associação   verbal  
no   segundo.   Para   testar   esta   hipótese,   um  
apareceram   com   o   objetivo   de   minimizar   a  
investigador   se   apresentou   como   um  
quantidade  de   interpretação   a  ser  feita  pelo  
v o l u n t á r i o   p a r a   a   “ I n s t i t u i ç ã o   d e  
pesquisador.   Para   fazer   isto,   estes   métodos  
Transplante  Francesa”.   Ele  apenas   se  dirigia  
i n t r o d u z i r a m   l i m i t e s   n o   p r o c e s s o  
à s   p e s s o a s   q u e   e s t a v a m   s o z i n h a s ,  
associativo   ao   convidar   os   sujeitos   a  
c a m i n h a n d o   n o   e n t o r n o   d o   h a l l  
produzir  somente  um  certo  tipo   de  resposta  
universitário,   e   pedia   a   elas   para   assinar  
(somente   verbos,   adjetivos   ou   de;inições).  
uma  petição   (ato   preparatório).  Esta  petição  
Além   disso,   eles   convidaram   as   pessoas  
seria   supostamente   enviada   ao   Ministro   da  
arguidas   para   avaliarem   suas   próprias  
Saúde   para   ganhar   ajuda   ;inanceira   para  
contribuições.   Por   exemplo,   usando   a  
uma   campanha   de   comunicação   a   respeito  
t é c n i c a   d o   “ E s q u e m a   C o g n i t i v o  
de   doação   de   órgãos.   O   título   da   petição  
Básico”   (Guimelli,   1993,   1998),   os  
continha   tanto   um   slogan   usando   um  
participantes   foram   solicitados   a   dizer  
elemento   central   da   representação   (por  
porque   eles   davam  respostas   particulares   e  
exemplo,   “a   doação   de   órgãos   ajuda   os  
quais   indutores   utilizavam   para  tal.   Usando  
outros”)   como   um   elemento   periférico   da  
o   Método   de   Rede   Associativa   (De   Rosa   e  
representação   (por   exemplo,   “a   doação   de  
Kirchler,   2001),   os   participantes   avaliaram  
órgãos   é   um   ato   cívico”).   Se   o   ato  
sua   produção   associativa   com   ajuda   de  
p r e p a r a t ó r i o   e r a   a c e i t o   o u   n ã o ,   o  
critérios   diferentes   fornecidos   pelos  
investigador  pedia  à  pessoa  para   assinar   um  
entrevistadores   (conotações   positivas   ou  
cartão   de   doador   de   órgãos   (requisição  
negativas,  importância  etc.).
;inal).   Oito   condições   experimentais   foram  
Avanços   metodológicos   também   podem  
estudadas   (quatro   “slogans   centrais”   e  
s e r   e n c o n t r a d o s   e m   t é c n i c a s   d e  
quatro   “slogans   periféricos”).   Os   resultados  
questionário.   Em   contraste,   mais   uma   vez,  
mostraram   que   quando   o   ato   preparatório  
à s   a b o r d a g e n s   m a i s   t r a d i c i o n a i s  
se   referia   a   um   elemento   central   da  
(questionários  de  opinião  e  atitude),  autores  
representação   de   doação   de   órgãos,   havia  
criaram   questionários   que   pediam   às  
signi;icativamente   mais   participantes   que  
pessoas   para   descrever   os   objetos  
assinavam   um   cartão   de   doador   de   órgãos  
estudados   de   uma   maneira   padronizada.   Já  
(51%)  do   que   quando   um   ato   preparatório  
não   se   trata   de   medir   as   opiniões   dos  
se  referia  a  elementos  periféricos  (34%).
16

participantes   em   relação   a   um   objeto   de   informações   acerca   deste   objeto.   Esta   ideia  


representação,   mas   sim   destacar   a   maneira   generalizada   foi   proposta   também   por  
pela   qual   este   objeto   é   descrito   (ver,   por   Fishbein   e   Ajzen   (1975),   e  Zanna   e  Rempel  
exemplo,   Moliner,   2002),   e   identi;icar   os   (1988),   para   quem   as   atitudes   são   o  
elementos  estruturantes  destas  descrições. resultado   dos   atributos   que   as   pessoas  
Finalmente,   o   desenvolvimento   de   associam   a   um   objeto.   Em   outras   palavras  
técnicas   multivariadas,  sua  informatização   e   mais  diretas:   para  expressar  uma  atitude  na  
crescimento   em   acessibilidade   dirigiu   os   direção  de  um  objeto,   as  pessoas  têm  que  ter  
p e s q u i s a d o r e s   p a r a   d e t a l h a r   a s   uma  representação  deste.
especi;icidades  de   cada  método,  comparado   Esta   posição   também   é   defendida   por  
com  os   postulados   da   TRS  (ver   Doise  et  al.,   Doise   (1989),   para   quem   as   atitudes  
1992). encontram   sua   origem   num   conhecimento  
Geralmente,   os   pesquisadores,   agora,   mais   geral   do   ambiente   social   que   os  
têm   uma   ampla   diversidade   de   métodos   à   indivíduos   partilham.   Ao   estudar   esta  
sua   disposição,   o   que   os   ajuda   a   enfrentar   questão   experimentalmente,   Moliner   e  
uma   grande   extensão   de   questões   em   um   Tafani   (1997)   chegaram   à   conclusão  que  as  
amplo  conjunto  de  contextos. atitudes   se   referem,   acima   de   tudo,   à  
avaliação,   enquanto   as   representações  
referem-­‐se,   acima   de   tudo,   a   signi;icados.  
CONCLUSÃO
Mas  para  ser   capaz  de  avaliar  um  objeto,   os  
Como   conclusão   e   introdução,   nós   indivíduos   têm,   necessariamente,   de  ter   um  
gostaríamos   de   aprofundar   pontos   que   já   signi;icado   para   ele.   Em   outras   palavras,   as  
mencionamos   de   modo  mais  alusivo  porque   atitudes   são   uma   expressão   avaliativa   de  
pensamos  que   eles  constituem  a  base  de   um   uma   representação   compartilhada   de   um  
desenvolvimento  importante  na  TRS,   e  mais   objeto.
generalizadamente,   de   nosso   conhecimento   Rouquette   (1996,   2010)   também  
do  funcionamento   psicossocial   do  indivíduo   defende   esta   ideia   e,   recentemente,   propôs  
e  do  grupo. integrar   os   conceitos   de   opinião,   atitude,  
O   primeiro   ponto   refere-­‐se   a   pontes   representação   social   e   ideologia   em   uma  
teóricas  que   parece  ser  possível   estabelecer   estrutura   teórica   global   baseada   em   dois  
entre   os   conceitos   de   atitudes   e   as   princípios   gerais:   a   estabilidade   aplicativa  
representações   sociais.   Esta  questão   parece   crescente   e   a   generalidade   de   cada   uma  
crucial   e   já   foi   objeto   de   discussão   teórica   destas   noções.   Deste   ponto   de   vista   dual,  
prolongada   (Billig,   1993;   Farr,   1994;   Rouquette   observa,   por   um   lado,   que   as  
Howarth,   2006;   Jaspar   and   Fraser,   1984;   opiniões   são   mais   voláteis   que   as   atitudes  
Scarbrough,   1990)   na  tentativa   de   entender   (donde,  por  exemplo,   a  necessidade  de   fazer  
e   explicar   as   razões   por   trás   da   ignorância   investigações   repetidas   de   opinião   para  
mútua   que   estes   dois   conceitos   têm   um   do   medir   razoavelmente   ;lutuações   rápidas).  
outro.   O  inventário   dessas   razões,  que  seria   Por   outro   lado,   ele   observa   que   as   opiniões  
tão   interessante,   demoraria   muito   para   ser   se   referem   a  objetos   particulares,   grupo   ou  
listado  aqui.  Preferimos  enfocar   nas  ligações   indivíduos,   em   circustâncias   que   também  
h i p o t é t i c a s   q u e   a l g u n s   a u t o r e s   são   particulares,   enquanto   as   atitudes,   que  
desenvolveram. são   mais   gerais,   referem-­‐se   a   categorias  
Isto   é   particularmente   verdade   para   temáticas,   envolvendo   mais   de   um   objeto.  
Moliner   e   Tafani   (1997)   que   consideravam   Por   exemplo,   uma   opinião   em   um   dado  
que   qualquer   que   seja   a  de;inição   teórica   a   momento   acerca   de   um   político   particular  
que   se   refere,   a   parte   observável   das   deriva   da   atitude   em   relação   aos   políticos  
atitudes   sempre   reside   nas   respostas   em   geral.   Em   outras  palavras,   as  atitudes  de  
afetivas,   comportamentais   e   cognitivas   que   um   grupo   em   relação   a   um   dado   objeto  
os   indivíduos   expressam   acerca   de   um   constam   como   fonte   de;initiva   de   opiniões  
objeto.   Contudo,   para   produzir   esta   sustentadas  a  respeito  deste  objeto.
resposta,   os   indivíduos   precisam   de  
17

O  mesmo   raciocínio   se  aplica  para  o  duo   individual,   embora   partilhado.   Já   para   os  


atitude/representação   social.   Afora   a   determinismos   “sociais”,   são   mais   que  
variabilidade  maior   da  primeira  em   relação   frequentemente   limitado   pelos   “outros”,  
à  segunda,  parece   que   são  as   representações   assim,   negligenciando   totalmente   leis,  
sociais   que   proporcionam   a   base   para   uma   estruturas   organizacionais,   relações   sociais  
atitude.   Echebarria   Echabe   e   Gonzalez   ou   a   história   do   grupo.   Com   relação   aos  
Castro  (1993)  mostraram,  por   exemplo,  que   defensores   da  representação   social,   por   um  
as   atitudes   expressadas   por   indivíduos   em   longo   período,   considerou-­‐se   que   os  
relação   a   eleições   estão   intimamente   processos   descritos   pela   cognição   social  
entrelaçadas   com   suas   representações   de   eram   altamente   reducionistas,   estudados  
democracia  em  geral. com   a   ajuda   de   métodos   que   também  
M a i s   a d i a n t e ,   R o u q u e t t e   p r o p õ e   pareciam   ser   simplistas   e,   por   ;im,  
c o n s i d e r a r   a   i d e o l o g i a   c o m o   totalmente   incapazes   de  contabilizar  para   a  
proporcionadora,   por   sua  vez,   da   base  para   h i s t o r i c i d a d e   e   o   i m p a c t o   d a s  
uma  representação  social  ou  um  conjunto  de   representações  na  vida  das  sociedades   e   nas  
representações   sociais.   Certamente,   a   atitudes.   Mas  por  querer  muito   contabilizar  
ideologia  precisa  ser  especi;icada   por   causa   para   este  impacto,   os   estudos   devotados   às  
de   seus   múltiplos   signi;icados,   seu   escopo   representações   sociais   frequentemente  
a b r a n g e n t e   e   s u a   f r a g i l i d a d e   d e   c o n d u z i r a m   a   u m a   c o m p i l a ç ã o   d e  
operacionalização.   Mas   a   ideologia  pode  ser   abordagens   qualitativas,   com   contornos  
concebida,   não   como   um   conjunto   de   metodológicos  embaçados,  não  permitindo  a  
conteúdos   mais   ou   menos   organizado   que   restituição   ou   a   de;inição   dos   processos  
pode  variar  de  uma   sociedade  para  outra  ou   c o g n i t i v o s   a p l i c a d o s   e m   s e u s  
de   um   grupo   para   o   seu   adversário,   mas   funcionamentos.
como   um   repertório   de   processos   gerais   Entretanto,   pensamos   que   é   óbvio  
com  qualidades   fundamentais  formalizáveis   considerar   que   uma   ligação   entre   cognição  
e   categorias   genéricas   que   se   abrem   à   social  e  representações   sociais  seja   de  dupla  
descrição   diversi;icada.   Essencialmente,   vertente.   Por   um  lado,   consideramos  que  os  
considera-­‐se   que   é   feita   de  valores,   normas   processos   de   cognição   social   intervêm  
crenças   e   themata   (Moscovici   e   Vignaux,   m a s s i v a m e n t e   n a   e l a b o r a ç ã o   d a s  
2000).  Esta  estrutura,  obviamente,  necessita   representações   sociais.   Pode-­‐se   ter   a  
de   mais   desenvolvimento   e   formalização,   expectativa  de  que   o   fruto   desses  processos  
mas,   sem   dúvida,   é   uma   base   promissora   (categorias,   estereótipos,   atribuições  
para   pesquisa   com   o   objetivo   de   promover   causais)   sejam  encontrados  nos  conteúdos  e  
um   modelo   de   conexão   entre   convenções   na   estrutura   das   representações  sociais.   Em  
diferentes   de   expressão   do   funcionamento   o u t r a s   p a l a v r a s ,   m e s m o   q u e   a s  
psicossocial. representações   sejam  construções   coletivas,  
O   segundo   ponto   se   refere   às   ligações   estas   são   ainda   parcialmente   construídas  
que   podem   ser   feitas   entre   a   TRS   e   os   pelos  indivíduos.
processos   tradicionalmente   estudados   no   Ao   mesmo   tempo,   alguém   pode   supor  
campo   da   cognição   social,   que   são   os   que   os   processos   estudados   no   campo   da  
estereótipos,   a   atribuição   causal   ou   a   cognição  social  são  produzidos  com  base  nas  
comparação   social.   Novamente,   estas   duas   representações.   Assim,   pode-­‐se   ter   a  
abordagens   permaneceram   estranhas   por   expectativa  de   observar   modulações   desses  
um  longo   período.   A   questão   principal,   sem   processos,   dependendo   das   representações  
dúvida,  nesta  ignorância  mútua,  relaciona-­‐se   subjacentes.   Para   categorizar,   julgar   ou  
a   percepções   diferentes   do   “social”.   Os   explicar   algum   ambiente   imediato,   os  
defensores   da   cognição   social   veem   o   indivíduos  pensam  com   o   que  podem   contar,  
conhecimento  social  usado  pelos   indivíduos,   entre   outras   coisas,   crenças   coletivas.   Esta  
como   sendo   resultado   de   uma   acumulação   ligação   re;lexiva   é   o   que   uni;ica   as  
dos   processos   cognitivos   do   indivíduo.   O   representações   sociais   e   os   processos  
conhecimento   é,   portanto,   sobretudo,   emocionais,   identitários,   de   atribuição,   de  
18

in;luência   social   ou   comparação   social:   as   por  explanações  disposicionais,   em  favor  do  


representações   sociais   explicam   estes   surgimento   de   um   preconceito   interesseiro  
processos,  bem  como  participam   ativamente   (Zuckerman,   1979)   ou   um   preconceito   da  
de   seus   modos   próprios   de   operação.   Esta   imagem  positiva  da  pessoa  (Sears,  1983).  Ao  
ideia  pode  ser  ilustrada  por  três  exemplos. contrário,   a   preferência   sistemática   por  
P r i m e i r o ,   n a   p e s q u i s a   c l á s s i c a ,   fatores   disposicionais   é   mais   marcada  
julgamentos   intergrupos   e   percepções   são   quando   os   sujeitos   fazem   atribuições   em  
estudados   por   meio   dos   processos   de   situações   competitivas   com   um   propósito  
categorização   social   e   estereotipia.   Mas,   do   prático.   Assim,   a   maneira   pela   qual   os  
ponto   de   vista   da   TRS,   as   representações   sujeitos   interpretam   a   situação   em   que   se  
i n t e r g r u p o s   s ã o   d e ; i n i d a s   c o m o   encontram,   no   momento   quando   estão  
representações   sociais   que   giram   em   torno   fazendo   as   atribuições,   determina   a  
de   grupos   de   pessoas   (Lorenzi-­‐Cioldi   e   orientação  do  processo.
Clémence,   2001).   Entretanto,   uma   série   de   Terceiro  e  ;inalmente,   no  vasto  campo  da  
pesquisadores   mostra   que   os   elementos   comparação   social,   vários   trabalhos  
centrais   de   uma   representação   intergrupo   atestaram   a   existência   de   um   fenômeno   de  
s ã o   o s   m e s m o s   q u e   o s   e l e m e n t o s   assimetria  na  comparação  do  si  mesmo   com  
estereotípicos   da   categoria   de   pessoas   com   outros   (ver   Holyoak   and   Gordon,   1983;  
os   quais   se   relacionam   (Moliner   e   Vidal,   Mussweiller,  2001;  Srull  and  Gaellick,   1983).  
2003);   que   alguns   entre   estes   elementos   O  si   mesmo   e   o   outro   são   vistos  como   mais  
c e n t r a i s   d e s e m p e n h a m   u m   p a p e l   similares   quando   o   outro   é   tomado   como  
explanatório   nos   comportamentos   dos   ponto   de   partida  (efeito  de   assimilação)  e  o  
membros   do   grupo   em   questão   (Moliner   e   reverso,  quando  o  si-­‐mesmo  é  tomado  como  
Gutermann,  2004);   e   que  eles  intervêm  para   ponto   de   referência   (efeito   de   contraste).  
j u s t i ; i c a r   o u   r a c i o n a l i z a r   r e l a ç õ e s   Em  uma   série   de  estudos   recentes   (Chokier  
intergrupos   assimétricas   (Moliner   et   al.,   and   Rateau,   2009;   Rateau,   enviado   para  
2009). a p r e s e n t a ç ã o ) ,   f o m o s   c a p a z e s   d e  
Segundo,  no   campo  da  pesquisa  efetuado   demonstrar  que  este  processo  geral   poderia  
a   respeito   do   processo   de   atribuição   ser   alterado   pelo   tipo   de   opinião   sobre   a  
(Heider,   1958),   o   trabalho   de   Ross   (1977)   questão   na   comparação   e,   notavelmente,  
destacou   a   tendência   dos   indivíduos   de   pela  natureza  central   ou  periférica  do   último  
preferirem   fatores   disposicionais   (traços,   na   estrutura   da   representação   do   objeto  
aptidões,   motivação   etc.)   para   explicar   o   envolvido   (neste   caso,   a   representação  
comportamento   de  um  ator.   Por   outro   lado,   social   dos   estudos   partilhados   por  
s a b e m o s   q u e   e m   s i t u a ç õ e s   d e   estudantes  de  psicologia).
autoapresentação,   os   indivíduos   preferem   Os   participantes   são   solicitados   a  
este  tipo  de  explicação  a  ;im  de  dar  uma  boa   comparar-­‐se   com   um   par   (tanto   na   ordem  
imagem   de  si   mesmo,   da   mesma   forma  que   si-­‐outro   ou   outro-­‐si)   que,   dependendo   do  
julgam  mais  favoravelmente   as  pessoas  que   caso,   é   apresentado   como   defendendo   uma  
preferem   este   tipo   de  explicação   (Jellison   e   o p i n i ã o   p r o p e r i f é r i c a ,   o p i n i ã o  
Green,   1981).   Entretanto,   em   uma   série   de   c o n t r a p e r i f é r i c a ,   p r o c e n t r a l   o u  
experimentos   (Moliner,   2000),   demonstrou-­‐ contracentral   em   relação   aos   estudos.   Com  
se   que   a   expressão   dessa   preferência   r e l a ç ã o   a   u m a   o p i n i ã o   p e r i f é r i c a ,  
permanece   dependente   das   representações   caracterizada   por   uma   heterogeneidade  
que   os   indivíduos   ativam   em   relação   às   intragrupo   signi;icante,   o   aparecimento   do  
situações   sociais   nas   quais   eles   se   p ro c e sso   “ c l á ssi c o ”   de   c o m p a ra ç ã o  
expressam   a   si   mesmo.   Portanto,   quando   interindividual   de   si   mesmo  com  o  outro  foi  
alguém   sugere   aos   participantes   que   o   registrado;   ou   seja,   um   efeito   de   contraste  
processo   de   atribuição   para   o   qual   irão   se   no  caso   da  comparação  de  ordem  si  mesmo-­‐
submeter   ocorre   em   uma   situação   social   outro   e   um   efeito   de   assimilação   na   ordem  
orientada   afetivamente,   observa-­‐se   o   outro-­‐si   mesmo,   apesar   da   valência   da  
desaparecimento   da  preferência  sistemática   opinião   defendida  pela  fonte.  Este  resultado  
19

ilustra   perfeitamente   a   ;lexibilidade   e   as   contradiga   ou   não   a   opinião   central   e  


p o s s i b i l i d a d e s   p a r a   a   m o d u l a ç ã o   assegure   a   homogeneidade   e   identidade  
interindividual   que,   tradicionalmente,   social  do  grupo.
caracteriza   os   elementos   periféricos   das   Este   estudo   sistemático   da  ligação   entre  
representações  sociais. representações   sociais   e   processos  
Com   relação   a   uma   opinião   central,   os   sociocognitivos   representa   um   desejo   de  
processos  em  jogo   são  muito  diferentes.  Seja   unir   e   enriquecer   mutuamente   ambos   os  
qual  for  a  ordem  da  comparação,   observa-­‐se   campos   destas   pesquisas.   Novas   hipóteses  
q u e   o s   i n d i v í d u o s   s e   d i f e r e n c i a m   interessadas   no   funcionamento   e   funções  
sistematicamente  de  um   membro  do   grupo,   das   representações   sociais,   assim   como   os  
que   se   desvia  da   opinião   central   e   que  eles   p r o c e s s o s   s o c i o c o g n i t i v o s ,   q u a n d o  
identi;icam   com  um  membro  que  se  amolda.   integrados  aos  processos   representacionais,  
Em   outras   palavras,   o   indivíduo   busca   aqui   estão  começando   a   aparecer.   Vamos  apostar  
manter   a   coesão   da   representação   a   que   elas   venham   proporcionar   a   base   para  
q u a l q u e r   c u s t o ,   a o   e s t a b e l e c e r   muitos  estudos  e   que  seu  âmbito  empírico   e  
sistematicamente   a   opinião   “certa”   em   teórico   sejam   cruciais   no   desenvolvimento  
relação   à  representação  partilhada  do  objeto   de   nosso   conhecimento   a   respeito   do  
pelo   seu   grupo.   O   processo   de   contraste/ funcionamento   psicossocial   de   indivíduos   e  
assimilação  não  depende  aqui   do   signi;icado   grupos.
da   comparação,   mas   apenas   da   posição  
tomada,   exposta   pela   fonte,   conforme   esta  

RECONHECIMENTOS
Os  autores  gostariam  de  agradecer  sinceramente  a  Adam  Chesterman  e  Anne  Greaves  pela  
tradução  deste  capítulo  [para  o  inglês].

REFERÊNCIAS
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