Вы находитесь на странице: 1из 146

SOCIEDADE DE ADVOGADOS

Volume II
SERGIO FERRAZ
(Coordenador)

SOCIEDADE DE ADVOGADOS
Volume II

EDITORA
Roberto Antonio Busato
Presidente da OAB e Presidente Honorário da OAB EDITORA

Jeff«rson U is Kravchychyn
Presidente Executivo da OAB EDITORA

Francisco José Pereira


Editor

Rodrigo Pereira
Capa e Projeto Gráfico

Usina da imagem
Diagramação

D ado Luiz Osti


Revisão

Aiine Maciiado Costa Timm


Secretária Executiva

Conselho Editorial
Jefferson Luis Kravchychyn (Presidente)
Cesar Luiz PasoW
Hermann Assis Baeta
Pauio Bonavides
Raimundo César Brítto Aragão
Sergio Ferraz

F381s Ferraz, Sergio (coordenador)


Sociedade de Advogados - Volume 111 Sergio
Ferraz (coordenador). - Brasília; OAB Editora,
2004,
144 p.

1. Direito, l. Titulo

340

ISBN ■ 85-87260-58-8

EDITORA
SAS Quadra 05 • Lote 01 • Bloco M
Edifício Sede do Conselho Federal da OAB
Brasília, DF • CEP 70070-050
Te). (61)316-9600
www.oab.org.bf
e-maíl; oabeditora@oab.org.br
jefferson@kravchychyn.com.br
ÍNDICE

APRESENTAÇÃO_______________________________________________________

Roberto Antonio Busato.....................................................................7

CAP ÍTULO I

Antônio Corrêa Meyer e Mauro Bardawil Penteado


Notfls sobre sociedades de advogados: características, peculiaridades,
e a influência do novo Código Civil em seu regime jurídico ................ 9

C A P ÍT U L O II

Waldemar Soares de Lima Júnior


Registro das sociedades de advogados ..................................................27

C AP ÍTULO III

O swaldo Naves
Responsabilidade das sociedades de advogados ................................... 35

CAP ÍTULO IV

Manoel Antônio de Oliveira Franco, Ricardo Miner Navarro


e Gabriel Placha
Contratos de associação .........................................................................47

CAPÍTULO V

Clemencia Beatriz Wolthers


Sociedades de advogados: administração social .................................. 59
CAP ÍTULO VI

Sergio Ferraz e Antônio Corrêa Meyer


Sociedades de advogados: administração e atos.
0 novo Código C ivil ........................................................... .................69

CAP ÍTULO VII

Orlando D i Giacomo Filho


Os consultores estrangeiros .............................................. .................75

CAP ÍTULO VIII

Eduardo Grebler
A denominação das sociedades de advogados .................. .................89

CAPÍTULO IX

O sw aldo Naves
A s comissões de sociedades de advogados ........................ ...............103

C A P ÍT U L O X

Sérgio Ferraz
Ética profissional e sociedades de advo<^ados.................................. 107

CAP ÍTULO XI

Alfredo de A ssis Gonçalves Neto


Sociedade de profissionais liberais e sociedade de advogados 119
SOCIEDADE DE ADVOGADOS VoWme II 7

APRESENTAÇAO

Roberto A ntonio Busato


Presidente do Conselho Federal da O A B

a sta n te o p o rtu n a a p ub licação d este s e g u n d o v o lum e


d e "S o cied ad e d e A d v o g a d o s", o rg a n iz a d o p elo em i­
n e n te C o n selh eiro Sergio F erraz, q u e p re s id e a C o m is­
são d e S o cied ad es d e A d v o g a d o s d o C o nselh o F ed eral d a OAB.
N ã o só p o rq u e o tem a, em si, d e sp e rta g ra n d e interesse, m as
p rin c ip a lm e n te q u a n d o se está d ia n te d as so cied a d es p erso n ifi­
ca d as p elo n o v o C ó d ig o Civil.
C o m o u m tip o societário especial, as socied ad es d e a d v o g a ­
d o s d e v e m se re g e r p o r lei especial, q u al seja, o E statuto d a O r­
d e m , s e u R eg u lam en to G eral e P rovim entos. A esse respeito, o
C o n selh o F ederal d a OAB a p ro v o u , em o u tu b ro d e 2002, o P ro ­
v im e n to n “ 98 /2002, q u e in stitu i o C ad astro N a cio n al d a s Socie­
d a d e s d e A d v o g a d o s, e o P ro v im en to n° 9 9 /2002, q u e cria o C a ­
d a s tro N a cio n al d e C o n su lto res e d e S ociedade d e C o n su lto res
e m D ireito E strang eiro , m e d id a s q u e visam o controle e a fiscali­
za ção d esse s d o is seg m en to s d a advocacia.
O P ro v im e n to n" 98, c o m p le m e n ta r ao P ro v im e n to n" 95,
q u e i n s titu iu o C a d a s tro N a c io n a l d e A d v o g a d o s , exig e d as
s o c ie d a d e s d e a d v o g a d o s u m a sé rie d e d a d o s c a d a s tra is , a
s e re m p e r io d ic a m e n te a tu a liz a d o s . C o m e sse in s tru m e n ta l, a
O A B p a s s a r á a te r u m a v isã o to tal d a a d v o c a c ia b ra s ile ira .
8 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

seja e la d e s e m p e n h a d a e m caráter in d iv id u a l o u re a liz a d a em


m o ld e s associativos.
Já o P ro v im e n to n° 99/2002, q u e cria o C a d a stro N acio n al d e
C o n su lto re s e d e S ociedade d e C o n su ltores e m D ireito E stran ­
g eiro, é o in s tru m e n to q u e vai p erm itir a fiscalização d esse n o v o
s e g m e n to d a advocacia, p re v e n in d o ab u so s e d e f e n d e n d o a a d ­
vocacia brasileira. O P ro v im en to co m p lem e n ta o d e n° 91/2000,
q u e re g u lo u as con d içõ es d e exercício p ro fissio nal d o a d v o g a d o
e stra n g eiro n o Brasil.
C o m o se vê, esta é u m a m atéria em co n stan te ap e rfe iç o am en ­
to, m o tiv a d o p o r estu d o s e d eb ates, d e n tre os q u ais d estacaria
ta m b é m a v alio sa colaboração d o em in en te a d v o g a d o A lfredo
d e A ssis G o n çalv es N eto. E sp eram o s q u e o p re se n te trab alh o
seja a m p la m e n te d ifu n d id o p a ra esclarecim entos d a s d ú v id a s
q u e a in d a p o s s a m p a ira r sob re a ad m in istraç ão societária dos
ad v o g a d o s.
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 9

CAPÍTULO I

NOTAS SOBRE SOCIEDADES DE


ADVOGADOS: CARACTERÍSTICAS,
PECULIARIDADES, E A INFLUÊNCIA
DO NOVO CÓDIGO CIVIL EM SEU
REGIME JURÍDICO

A ntônio Corrêa M eyer


M auro Bardaw il Penteado

1. Introdução. 2. Peculiaridades das sociedades de advogados.


3. Filiação dogm ática do legislador do novo C ódigo Civil. 3.1. A
atividade da advocacia em oposição à atividade empresária. 3.2.
A sociedade de advogados com o tipo especial de sociedade.

1. introdução
É s e m p re m u ito p ra zero so an alisar e, tan to q u a n to for p ossí­
vel, s iste m atizar as p rin cip a is características d este p ec u lia r e fas­
c in a n te tip o societário q u e é a socied ad e d e a d v o g a d o s. Peculiar
p o rq u e n ã o existe, e m n e n h u m d o s tipos so cietários recon h eci­
d o s p e la lei b rasileira, so cied a d e q u e a ela se asse m e lh e em su as
características m ais m arcantes. F ascinante p o rq u e , d e v id o à es­
cassez d e lite ra tu ra ju ríd ica a resp eito d a s so cied ad es d e a d v o ­
g ad o s, a ca d a n o v a reflexão q u e nos p ro p o m o s a fazer, im p o r­
tan tes co n clusõ es são alcançadas. Som e-se a isso a recen te p u b li­
cação d a Lei 10.406, d e 10 d e janeiro d e 2002 ("n o v o C ó d ig o Ci­
10 SOCeOfcOE DE WVOGAOOS Volume»

vil")/ q u e a lte ro u sig nificativ am en te o reg im e ju ríd ico d a s socie­


d a d e s e m geral, e se n o ta rá a riq u ez a e a im p o rtân cia d o tem a
objeto d o p re s e n te trabalho.
N o en ta n to , d e v id o à lim itação n a tu ra l d o escopo d e ste tra ­
b alh o, n ã o será re alizad a u m a análise d e to d o s os asp ecto s rele­
v an te s en v o lv e n d o a m atéria. O objetivo d o p re se n te e s tu d o será,
n u m p rim e iro m o m en to , a p o n ta r e identificar as p rin cip a is ca­
racterísticas d a s sociedades d e adv o g ad o s, so b re tu d o aquelas que
fazem d ela u m tip o societário su i generis, p a ra u s a r a feliz ex­
p re s sã o d e H a d d o c k Lobo e C o sta N e tto ’ . D epois, serão a b o rd a ­
d o s, d e fo rm a sucinta, os im p acto s d o n o v o C ó d ig o Civil n a re­
g u la m e n ta ç ã o d a s socied ad es d e ad v o g a d o s, n o ta d a m e n te em
relação à a p lica b ilid a d e d a s n o rm as d as so cied ad es sim p les às
s o cied a d es d e adv o g ad o s.

2. Peculiaridades das sociedades de advogados


A so c ie d a d e d e a d v o g a d o s foi re g u la d a p e la p rim e ira v e z d e
fo rm a a b ra n g e n te e sistem ática pela Lei 4.215/1963, especifica­
m e n te em seu s artig o s 77 e segu in tes. Já n essa o p o rtu n id a d e
p o d ia -s e iden tificar q u e a disciplina a ela d a d a a re d u z ia a u m
tip o societário in te ira m e n te d istin to d e to d a s as d e m a is socied a­
d e s p re v is ta s n o d ire ito civil e n o d ireito com ercial.
O artig o 77 d o d ip lo m a d e 1963 d e te rm in a v a q u e "o s a d v o ­
g a d o s p o d e r ã o reu n ir-se, p a ra colaboração p ro fission al recíp ro ­
ca, e m s o cied a d e civil d e trab alho , d e s tin a d a à disciplina d o ex­
p e d ie n te e d o s re su lta d o s p atrim o n iais au ferid o s n a p restação
d e serviços d e ad vo cacia (art. 1.371 d o C ó d ig o Civil; arts. 1° e 44,
§ 2", d a Lei n° 154, d e 25 d e n o v em b ro d e 1947)". O p arág ra fo

' Eugênio R. Haddock Lobo e Francisco Costa Netto, in Comentários ao Estatuto da OAB e às
Pegras da Profissão do Advogado. Editora Rio, 1978, pág. 168.
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Voljtne II 1 1

p rim e iro d o m e sm o artigo 77 ad icio n av a q u e "as ativ id a d e s p ro ­


fissionais q u e re ú n e m os sócios em so cied a d e se exercem indivi­
dualm ente, q u a n d o se tra ta r d e atos p riv a tiv o s d e a d v o g a d o , ain ­
d a q u e re v e rta m ao p a trim ô n io social os h o n o rá rio s respectivos".
D a d escrição d esses d ispo sitiv o s, n o ta-se q u e as sociedad es
d e a d v o g a d o s m arc av a m -se p o r aspectos p ró p rio s, q u e só a elas
d iz ia m resp eito . A s p esso as q u e delas faziam p a rte se re strin g i­
a m a p e n a s e tão -so m en te aos profissionais d o direito, m em b ro s
d e u m a classe pro fissio nal específica. O objeto social d esse tipo
societário lim itav a-se à ad m in istraç ão d o e x p e d ien te e d o s re­
s u lta d o s p a trim o n ia is au ferid o s na p re sta ção d e serviços d e ad-
v o c a c ia ^
A ssim , se é correto afirm ar q u e as so cied ad es d e a d v o g a d o s
se a sse m e lh a m às so cied ad es d e p essoas, m u ito em ra zão das
su as características in tu itu s personae, n ão é m en o s exata a p a r a ­
d o x al co n firm ação d e q u e as sociedades d e a d v o g a d o s tam b ém
g u a r d a m im p o rta n te s d istin çõ es em relação às s o cied a d es d e
p esso as, p o rq u e , ao co n trário destas, aq u elas n ã o são co n stitu í­
d a s co m o fim p re c íp u o d e pre sta ção d e serviços a terceiros. Ao
co n trário , o p rin cip a l m otiv o q u e leva à constituição d a s socie­
d a d e s d e a d v o g a d o s é a p o ssib ilid ad e d e seu s sócios re g u la rem
re c ip ro c a m e n te su as relaçõ es p ro fissio n ais co m o a d v o g a d o s ,
n o ta d a m e n te a v id a a d m in istra tiv a e financeira d a sociedade^.
É m ais u m a so cied a d e v o ltad a p a ra os p ró p rio s sócios, se rv in ­
d o -lh e s com o g esto ra d o ex p ed ien te e d o s recurso s financeiros
a u fe rid o s n a advocacia.

^ Nesse sentido, cf. Ruy Azevedo Sodré, in S ocie d a d e de A dv o g a d o s . Revista dos Tribunais,
São Paulo, 1975.
^Ct. Haddock Lobo e Costa Netto, C om entários.-., pág. 169.
í2 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

A esse resp eito , é s e m p re im p o rta n te re le m b ra r a escorreita


lição d e O rla n d o G o m es ^ , o qu al, a n a lisa n d o as socied ad es d e
a d v o g a d o s , pre le cio n a q u e " n ão é a p esso a juríd ica q u e exerce a
a tiv id a d e p ro fissio n al m a s as p esso a s físicas q u e a in teg ra m , ca­
b e n d o a estas a p rá tic a d o s atos p riv a tiv o s d e a d v o g a d o s ". E
m ais à fren te conclui q u e "os efeitos p ro p ria m e n te societários
d o e n te cria d o p elo con trato social restring em -se, lim itam -se, cir­
cu n sc rev e m -se à d istrib u iç ão d o s re su lta d o s ob tid o s com a re­
m u n e ra ç ã o d o trab a lh o dos a d v o g a d o s e à d iscip lin a d o ex p e d i­
en te d o escritório".
Do q u e se d eflu i q u e as so cied ad es d e a d v o g a d o s são antes
u m in s tru m e n to p a r a d iscip lin a d a s relações internas e n tre os
sócios, q u e u m a clássica socied ad e d e p essoas em q u e o serviço
e a a tiv id a d e são p re sta d o s a terceiros em n o m e d a sociedade.
N a v e rd a d e , em u m a socied ad e d e a d v o g a d o s, os sócios exer­
cem ind ividualm ente su as a tiv id ad e s, u m a v ez q u e estas são ati­
v id a d e s p riv a tiv a s d e a d v o g a d o s. D aí o m o tiv o d a afirm ação de
O rla n d o G o m e s ^ p a ra o qu al "a socied ad e pro fission al d o s a d ­
v o g a d o s re p re s e n ta características d a 'In n o n lsc h aft' d o direito
ale m ã o , a c h a m a d a so ciedad e in tern a em tra d u ç ã o literal. N ã o o
é, s e g u ra m e n te , m as tem traços d e sem elh an ça p o rq u e so cied a­
d e p ro p ria m e n te d ita só se m an ifesta n a relação d o s sócios en tre
si, in d o p a r a u m a co nta c o m u m o re su lta d o d o s negócios, reali­
z a d o s p elo s sócios na su a in d iv id u a lid a d e " ,
Esses e ra m os traços m ais m arc an tes q u e a legislação d e 1963
c o n feriu ao in s titu to d a s so ciedad es d e ad v o g a d o s. Em 1994 foi
p u b lic a d o o n o v o E s ta tu to d a O rd e m d o s A d v o g a d o s , a Lei

* Orlando Gomes, Parecer, in Sociedade de Advogado, publicado por Pinheiro Neto e Cia. -
Advogados, São Paulo, 1975, pág. 117.
^Orlando Gomes, Parecer..,, pág. 117.
SOaEQADE DE WVQGADOS Volume » 13

8.906/1994, a qual, p o r m eio d e seu s artig o s 15 a 17, 21 e 34, II,


d iscip lin o u as so cied ad es d e ad vo g ad o s. S ua d isciplin a tam b ém
e n c o n tra g u a r id a n o s artigos 37 a 43 d o R eg u lam en to G eral e em
d iv e rso s P ro v im en to s d o C onselho Federal.
N ã o o b sta n te a e n tra d a em vigor d essa n o v a reg u lação , Sér­
gio F erraz in form a q u e as p rin cip ais características e p ec u lia ri­
d a d e s a p o n ta d a s acim a n ã o foram d e sfig u ra d a s^ . A o contrário,
os p o n to s q u e le v a ra m as so cied ades d e a d v o g a d o s a serem con­
sid e ra d a s u m tipo especial d e so ciedad e p e rm a n e c e m subjacen­
tes, m e s m o co m a n o v a re g u la m en taç ão d a d a à m atéria.
M u ito e m b o ra a legislação atu a l n ã o te n h a c o n c eitu ad o as
s o cied a d es d e a d v o g a d o s com a m esm a precisão técnica d o Es­
t a tu to d e 1963^, o conceito d e so cied a d e d e a d v o g a d o s - e as
c o n s e q ü e n te s p e c u lia rid a d e s cria d a s p elo E s ta tu to d e 1963 -
rem an escem . V eio en tã o o artigo 15 d o E statu to v ig en te d e te r­
m in a r q u e os a d v o g a d o s p o d e m reu nir-se em s o cied a d e civil de
p re sta ção d e serviço d e advocacia, n a form a d is c ip lin ad a nesta
Lei e n o R e g u lam en to G eral. O artig o 34, II, d o m e s m o E statu to
estab elece q u e co n stitu i infração d iscip lin ar m a n te r sociedade
p ro fissio n al fora d a s n o rm a s e preceitos estabelecid o s n o Esta­
tu to d a OAB.

®Sergio Ferraz, in Sociedade de Advogados: conceito, natureza jurídica, in Sociedade de Advo­


gados, pág. 18, Malheiros Editores, São Paulo, 2002.

' Sobre a falta de técnica do legislador do atual Estatuto, veja-se o comentário de Alfredo d
Assis Gonçalves Neto, in Sociedade de Advogados, Juarez de Oliveira, 2. ed., 2002, pág. tO: “C
artigo 15 do atual Estatuto, ao dispor que “os advogados podem reunir-se em sociedade civil de
prestação de serviço de advocacia", deixa de declarar, como ocorria no regime anterior, a fun­
ção a ser por ela preenchida. Pode parecer, à primeira vista, que a sociedade de advogados é
constituída para exe rcer a advocacia - o que não é verdade, pois, sendo a atividade de advo­
cacia privativa de advogado, certamente essa sociedade não tem por fim exercê-la, mas, permi­
tir ou facilitar a “colaboração recíproca” entre si dos sócios-advogados e demais advogados a
ela vinculados, “para a disciplina do expediente e dos resultados patrimoniais auferidos na pres­
tação dos serviços’ por eles individualmente realizados para os clientes, como enunciava o art,
77, caput, da Lei 4.215, de 1963" (grifos no original).
24 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

É p reciso, n esse p asso , seg u in d o a a g u d a o bserv ação d e Ser­


gio Ferraz^, esclarecer q u e as so ciedades d e a d v o g a d o s p o d em ,
a te o r d o caput d o art. 4" d o P ro v im en to 92/2000, p ra tic ar, em
n o m e p ró p rio , os ato s n o rm ais d e sua ad m in istração , inclu ind o
a celeb ração d e " c o n trato s em geral p a r a re p rese n ta ção , c o n su l­
toria, assesso ria e defesa d e clientes p o r in term éd io d e a d v o g a ­
d o s d e seu s q u a d ro s ".
N o en ta n to , m a n te n d o a o rien tação d o E statu to d e 1963, a
a tu a l legislação d a s so cied ad es d e ad v o g a d o s refo rço u a noção
d e q u e os ato s p riv a tiv o s da advocacia seria m in d iv id u a is, exer­
cidos p e lo s sócios o u p o r a d v o g a d o s v in cu lad o s à sociedad e,
com o asso ciad o o u com o e m p re g a d o , m esm o q u e os re su lta d o s
re v e rta m p a ra o p atrim ô n io social, sen d o a in d a d e te rm in a d o que
as p ro c u raç õ es serão o u to rg a d a s in d iv id u a lm e n te aos a d v o g a ­
d o s, co m a in d icação d a so cied ad e d e q u e façam parte. Essa é a
re d açã o d o p a rá g ra fo único d o art. 4° d o P ro v im en to 92/2000,
e m estre ita co n so nân cia com o p arág ra fo p rim eiro d o art. 77 do
E statu to an terio r.
A esta a ltu ra p arece claro q u e as socied ad es d e a d v o g a d o s
c o n s titu e m u m tip o societário especial; su a discip lin a, p o rtan to ,
d istan cia-se d o s o u tro s tipos societários p re v isto s n o n o v o C ó d i­
g o Civil. C o m efeito, d iferen tem en te d a s so cied a d es p erso n ifi­
ca d as d o n o v o C ó d ig o Civil, a socied ad e d e a d v o g a d o s som ente
a d q u ire p e rs o n a lid a d e jurídica co m o re g istro a p r o v a d o d o s seus
ato s c o n stitu tiv o s n o C onselho Seccional d a OAB em cuja base
territorial tiv er sede.
A g u isa d e conclusão, é v alido o esforço n o sen tid o d e siste­
m a tiz a r, n a esteira d o q u e até aq u i foi d ito e co m base n a s lições
d e A lfred o d e A ssis G onçalves N eto, as p rin cip a is característi-

®Sergio Ferraz, Sociedade..., pág. 18.


SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 15

cas d a s s o cied a d es de a d v o g a d o s. A p rim e ira característica é a


d e q ue, ao co n trá rio d as d em a is so cied ad es p re s ta d o ra s d e ser­
viços, a s o cied a d e d e a d v o g a d o s n ã o tem a função p re c íp u a d e
p re s ta r serviços em n o m e p ró p rio ; na v e rd a d e su a p rin cip a l fu n ­
ção é serv ir co m o u m in s tru m e n to d e o rg an ização a d m in is tra ti­
va e fin an ceira d a s relações in ternas en tre os sócios q u e a co m ­
põem . A s e g u n d a característica resid e n a exigência d e q u e to­
d o s seu s sócios estejam leg alm en te h ab ilita d o s p a r a exercer a
p ro fissã o d e ad v o g a d o . A terceira característica está n o fato de
q u e o ú n ico objeto social possível p ara u m a so cied a d e d e a d v o ­
g a d o s é o b v i a m e n t e a d i s c i p l i n a d o e x p e d i e n t e e g e s tã o
p a trim o n ia l atin en tes, exclusivam ente, à p re sta ção d e serviços
d e adv o cacia, v e d a d a s q u aisq u er o u tra s a tiv id a d e s o u serviços
co n co m itantes. A o co n trário d o q u e ocorre em o u tro s países, a
s o cied a d e m u ltid iscip lin ar n ão é p e rm itid a n o Brasil. A q u a rta
característica d esse especial tipo societário está n o fato d e que
elas a p e n a s a d q u ire m p e rso n a lid a d e juríd ica com o reg istro fei­
to ju n to ao C o n selh o Seccional d a OAB. P o r fim, a q u in ta e u m a
d a s p rin c ip a is características d as so ciedad es d e a d v o g a d o s resi­
d e n o fato d e q u e elas, em n e n h u m a h ip ótese, p o d e m a p resen tar
fo rm a o u características m ercan tis - hoje d ita s e m p re sa ria is - , à
lu z d o artig o 16 d o E statu to vigente.
C o m b a se n esse p a n o ra m a legislativo - o q u a l foi traç ad o com
o especial objetivo d e identificar o q u e to rn a as so cied ad es de
a d v o g a d o s u m tip o societário tão especial trata rem o s, a se­
g uir, d e a p o n ta r as p rin cip a is alterações o co rrid as n o bojo das
so cied a d es d e a d v o g a d o s em decorrência d a p u b licação d o novo
C ó d ig o Civil, em especial as inovações a d v in d a s d a s n o rm a s re­
lativ as às so cied a d es sim ples, e m o p o sição à an tig a sociedade
civil d o C ó d ig o Civil d e 1916.
16 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume It

C u m p re -n o s, en tre tan to , an tes d a análise específica d o s im ­


p ac to s q u e as re g ra s sobre as so cied ad es sim p les terã o n as soci­
edades de advogados traçar, p o r m ais b rev e q u e seja, u m h is­
tórico d o s a n te c e d e n te s legislativos q u e le v a ra m o leg islad o r
p á trio a a d o ta r a so cied a d e sim p les com o n o v o tip o societário,
c o m p a ra n d o -a , a g ro sso m o d o , à an tig a so ciedad e civil.

3. Filiação dogmática do iegislador do novo


Código Civil
O s tra b a lh o s leg islativo s te n d e n te s a re fo rm u la r o C ó d ig o
C ivil b ra sile iro alicerçaram -se, sem p re , n a p re m issa d e q u e a
unificação d o d ire ito p riv a d o , so b re tu d o n a p a rte tocan te ao d i­
re ito d a s obrigações, parecia ser a m e d id a m ais a p ro p ria d a , u m a
v e z q u e a m o d e rn a d o u trin a civil co n sid erava o d ireito obrigaci-
on al u m siste m a u n o , q u e tran sc en d ia a condição profissio n al
d o s ag e n te s q u e c o m p u n h a m a relação^. E m o u tra s p ala v ras, à
época d a elab o ração d o n o v o C ó d ig o Civil, a te n d ê n c ia d a d o u ­
trina, e p rin c ip a lm e n te d o d ireito c o m p a rad o , era n o sen tid o de
fazer cessar a d ico to m ia form al existente entre d ireito com ercial
e d ire ito civil, a in d a qu e fossem p re se rv a d o s seu s p rin cíp io s in ­
fo rm a d o res.
A ssim , tra n s p la n ta n d o a id éia d a unificação d o d ireito obri-
gacional p a ra o ca m p o d a s sociedad es em geral, o p ro b le m a qu e
se p u n h a , n e s s e p a sso , foi a g u d a m e n te d e te c ta d o p o r Sylvio
M arco n d es. C o m efeito, afirm a o g ra n d e m estre e a u to r d o Livro

®Sobre a celeuma a respeito da unificação do direito privado no Brasil e no direito comparado,


vide, Oscar Barreto Filho, in Teoria do Estabelecimento Comercial, 1969, Max Limonad, São
Paulo, pp. 9 e segs.; Sylvio Marcondes, In Problemas de Direito Mercantil, 1970, Max Limonad,
São Paulo, pp. 130 e segs.; Tuilio Ascarelli, In 0 Desenvolvimento Histórico do Direito Comercial
e 0 significado da Unificação do Direito Privado, in Revista de Direito Mercantil n® 114, Malheiros,
São Paulo, pp. 237 e segs.; Nelson Abrão, in Sociedade Simples; novo tipo societário, Livraria e
Editora Universitária de Direito, 1975, São Paulo, pp. 9 e segs.
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 17

II d a P arte Especial - D ireito d e E m p re sa - d o n o v o C ó d ig o Civil


q u e, n o c a m p o d a s sociedades, o q u e se v is lu m b ra v a antes da
unificação era, na seara d o d ireito com ercial, u m a re g u la m e n ta ­
ção p a u ta d a , p rim eiro , em preceitos gerais ap licáv eis a to d o g ru ­
p o d e so cied a d es e, d ep ois, em preceitos específicos necessários
à re g u la m e n ta ç ã o d e cad a u m d o s tipos societários re g u la d o s
p e lo C ó d ig o C o m e rc ia l d e 1850. E sse s is te m a , n o e n ta n to ,
p re le cio n a a in d a Sylvio M arcondes, n ã o foi e n e m p o d e ria ter
sid o a d o ta d o p elo C ó d ig o C ivil d e 1916, u m a v e z q u e so m en te a
so c ie d a d e civil foi re g u la d a p o r aq u ele d iplo m a. A ssim , c u id a n ­
d o a p e n a s d e u m tip o d e sociedade, o C ó d ig o Civil d e 1916 n ão
p o d ia d is tin g u ir a aplicação d e n o rm a s gerais e específicas, ain­
d a m ais se fosse c o n sid erad a a a m p litu d e d e su as n o rm a s, que
a b ra n g ia m n ã o só as sociedades, m as tam b é m as asso ciaçõ es'".
"E m co n seq ü ên cia", afirm a Sylvio M arco n d es” , "valen do -se
d a s su g e stõ e s d o código d e obrigações suíço e d o código civil
italiano'^ - e é sintom ático que, a respeito, este se ten h a u tiliza­
d o d a q u e le - o antep ro jeto c o o rd en a os preceitos gerais d a s soci­
e d a d e s , d o código com ercial, com as re g ras d o có d igo civil, e
e s tru tu ra a sociedade simples, com o u m co m p a rtim e n to co m u m ,
d e p o rta s ab e rtas p a ra receber e d a r solução às a p o n ta d a s q u es­
tõ es" (itálico n o original).
Som e-se a isso tu d o a su p eraçã o d o u ltra p a s sa d o conceito d e
ato d o com ércio, q u e trazia consigo a artificial e q u estion ável

Sylvio Marcondes, Problemas... cit., p. 147.


" Sylvio Marcondes, Problemas... c it„ p. 147.

Rubens Requiâo, in Projeto de Código C ivil-apreciação critica sobre o Livro II (Da atividade
negociai), artigo publicado na RT 478, pp. 15; e Nelson Abrão, Soc/edacfe... cit., pp. 12esegs.,
apontam que não obstante o legislador pátrio ter expressamente indicado os códigos suíço e
italiano como fonte de inspiração para criação da sociedade simples, esta, como inserida no
direito brasileiro, foi destinada a desempenhar função diversa daquela que lhe foi atribuída nos
ordenamentos suíço e italiano.
18 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

d istin ç ão e n tre ativ id a d e s m ercan tis de u m lad o , e civis d e o u ­


tro, co n sa g ra n d o -se a m o d e rn a d o u trin a focada n a em p re sa e no
em p re sário .
D aí conclui-se que, com a unificação obrigacional d o direito
p riv ad o , p a s s a a n ã o m ais existir a tradicional diferenciação entre
socied ad es civis e comerciais. C o m a unificação, esses dois tipos
d e socied ad es se u n e m com o sociedades em presárias, d e p e n d e n ­
tes d a p rática d a ativ id ad e econômica. É exatam ente nesse po n to
q u e se insere a sociedade sim ples que, p o r n ão d e p e n d e r da p rá ti­
ca d o s atos d e em p resa, ad q u ire posição d e sociedade especial.
Assim , na sistemática ado tad a pelo novo C ódigo Civil, a socie­
d a d e sim ples presta-se justam ente a sup rir o espaço deixado pelas
sociedades em presárias, além d e servir-lhes d e substrato no s p o n ­
tos em q u e suas disposições necessitem de regras d e caráter geral.
N e ss e se n tid o , a so cied a d e sim p les parece te r sido concebida
c o m fu n ç ã o dupla. A prim eira, serv ir de fonte s u p letiv a às socie­
d a d e s em p re sária s. Exem plo d isso é o artigo 1.053 d o n o v o C ó­
d ig o C ivil ao estabelecer q u e "a so cied ad e lim itad a rege-se, nas
o m issõ es d e s te C ap ítu lo , p elas n o rm a s d a so cied a d e sim ples"^^.
A s e g u n d a fun ção d a so cied ad e sim ples seria alb e rg ar as socie­
d a d e s cujo objeto n ã o consista n o exercício d e a tiv id a d e p ró p ria
d e e m p re s á rio sujeita a re g istro (art. 982 d o n o v o C ó d ig o Civil).
D essa fo rm a, a so cied a d e sim ples foi criad a com o objetivo
d e re g u la r e o rg a n iz a r as relações em so cied a d e d a s p esso a s q u e
n ã o são c o n s id e ra d a s em p re sária s p elo no v o C ó d ig o Civil^^. Daí

Rubens Requião, P r o je to ...ó l, p, 14, critica severamente a função da sociedade simples


como substrato às sociedades empresárias. Segundo o mestre, “pelo sistema adotado, a todo
instante a doutrina e a jurisprudência seriam chamadas a opinar e decidir sobre quais os princí­
pios das sociedades simples que lhe são específicos e quais os gerais, para serem aplicados a
outros tipos de sociedade".
'* A respeito da conceituação da figura do empresário no novo Código Civil, vide item 3.2. infra.
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 19

a im p o rtâ n c ia d a socied ade sim ples n a e s tru tu ra a d o ta d a pelo


n o v o C ó d ig o Civil. Pois so m en te a so cied a d e sim ples é ca p az de
tra z e r os benefícios d a organ ização societária às p esso as não co n ­
s id e ra d a s em p re sária s. A s v a n ta g en s d e se o rg a n iz a r u m a ativi­
d a d e n ã o e m p re sá ria d e form a sim ilar às socied ad es e m p re sá ri­
as são in ú m e ra s '^ . P o d e m essas v a n ta g en s re su lta r d a econom ia
fiscal*^ q u e a fo rm a so cietária p ro p icia e, a in d a , d a sep a raç ão
p a trim o n ia l e n tre a sociedad e e os sócios e su a co n se q ü en te li­
m ita çã o d e resp o n sab ilid ad e.

3.1. A atividade da advocacia em oposição à atividade


empresária
O n o v o C ó d ig o C ivil d iscip lin o u a e m p re s a em seu perfil
su b jetiv o ’^ e s t a b e l e c e n d o qu e "considera-se em p re sário q u em
exerce p ro fissio n alm en te ativ id ad e econôm ica o rg a n iz a d a p ara
a p ro d u ç ã o o u a circulação d e b en s o u d e serviços". Três, p o r­
tan to , são as con d içõ es q u e caracterizam o e m p re s á rio ’*^, a sa-

Luiz Antonio Soares Henlz, in Direito de Empresa no Código Civil de 2002, Juarez de Oliveira,
2002, São Paulo. pp. 163-164,

Nesse ponto é interessante notar que a aparição das sociedades de advogados no direito
brasileiro foi motivada inicialmente para produzir economias fiscais ao advogados, Antes da
entrada em vigor do Estatuto de 1963, grande números de advogados viam-se compelidos a se
agruparem em sociedades civis, reguladas pelos artigos 1.371 e seguintes do Código Civil de
1916. Somente num segundo momento as sociedades de advogados foram utilizadas como
verdadeiro instrumento de obtenção de escala e eficiência no desempenho da profissão.

Sobre os diversos perfis que a empresa apresenta, veja-se o clássico estudo de Alberto
Asquini, Profili dell'impresa, in Revista Dei Diritto Commerciale, 1943, v. 4 1 ,1.
Note que não obstante o legislador do novo Código Civil ter definido a empresa por meio de
seu perfil subjetivo, é sintomático que hoje a doutrina mais abalizada tem encontrado na empre­
sa, em seu perfil funcional, comparando-a com a atividade, a forma mais correta de sua concei-
tuação- Cf., entre outros, Waldiorio Bulgarelti, in Teoria Jurídica da Empresa, pág. M 3, Revista
dos Tribunais, 1985, São Paulo,

Sobre o conceito de empresário, vide: Sylvto Marcondes, in Exposição de Motivos Comple­


mentar, 1973, pág. 123 e, ainda, Tullio Ascarelli, in 0 Empresário, traduzido por Fábio Konder
Comparato, publicado na Revista de Direito Mercantil n® 109, pp. 183-189.
2 0 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

ber: (I) o exercício d e a tiv id a d e econôm ica, d e s tin a d a à criação


d e riq u ez a, p o r m eio d a p ro d u ç ã o d e b en s e d e serviços p a r a a
circulação; (II) a ativ id a d e o rg a n iz ad a , pela co o rd en ação d o s fa­
to res d e p ro d u ç ã o - trabalh o, n a tu re z a e capital - em m e d id a e
p ro p o rç õ e s div ersas; e (III) a h ab itu a lid a d e , o q u e significa d izer
p ro fissio n alm en te , o exercício d a ativ id a d e econôm ica em n o m e
p ró p rio e com ân im o d e lucro.
T o m a n d o isso em consideração, p ercebe-se q u e as socied a­
d e s e m p re s á ria s serão aq u e la s fo rm a d a s p elo s e m p re s á rio s -
assim d efin id o s n a fo rm a d o artigo 966 d o n o v o C ó d ig o Civil -
em op o sição às so cied ad es sim ples qu e, com o tipo especial, d e s ­
tin am -se às ativ id a d e s ex ecu tad as p o r pesso as não e n q u a d ra d a s
n a co n ceitu ação d e em presário .
N e sse p asso , o n o v o C ó d ig o Civil d e te rm in o u ex p re ssa m e n ­
te q u e " n ão se co n sid era em p re sário q u e m exerce p ro fissão in te­
lectual, d e n a tu re z a científica, literária o u artística, a in d a com o
co n c u rso d e au xiliares o u colab orad o res, salvo se o exercício da
p ro fissã o c o n stitu ir ele m e n to da em presa".
E m su a expo sição d e m otivos, Sylvio M arco n d es a firm o u qu e
a "co n ceitu ação (de em presário ) exclui, e n tre tan to , q u e m exerce
p ro fissã o intelectu al, m esm o co m o co n curso d e auxiliares ou
co la b o rad o re s, p o r e n te n d e r que, n ã o o b stan te p r o d u z ir serv i­
ços, co m o o fazem os c h a m ad o s profissionais liberais, o u bens,
com o o fa z e m os artistas, o esforço criador se implanta na própria
m ente do autor, de onde resultam, exclusiva e diretamente, o bem ou o
serviço, sem interferência exterior de fatores de produção, cuja e v e n tu ­
al ocorrência é, dada a natureza do objeto alcançado, m eramente aci­
dental" (grifam os).
A esse resp eito , A scarelli é perfeito ao a te n ta r q u e as p ro fis­
sões in telec tu a is (d e n tre as q u a is se inclui a d o a d v o g a d o ) d e ­
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 2 1

v e m ser re g id a s p o r n o rm a s especiais, u m a v e z q u e se relacio­


n a m ao exercício d e ativ id ad e s q ue, p o r n atu re za , p o s s u e m um a
d iv e rs a v aio ração social e qu e, p o r isso, d e m a n d a m princípios
ju ríd ico s diferen tes d aq u e les gerais aplicáveis às ativ id a d e s re­
g u la d a s p e lo C ó d ig o Civil^", A ssim , em ra z ã o d e s s a d iv ersa
v aio ração social, certos tipos especiais d e so cied a d es sujeitam -
se a n o rm a s q u e lev am em consideração, p o r ex em plo , o decoro
e o ríg id o acesso à profissão, o q ue, p o r si só, im p e d e m a aplica­
ção d ire ta e irre strita d a s n o rm a s gerais estabelecidas n o n ovo
C ó d ig o Civil.
P ara se te r u m a idéia d e com o essa especial v aio ração social
se reflete n a legislação específica d as socied ad es d e a d v o g a d o s,
b a s ta m e n c io n a r q u e essas sociedad es não p o d e m p ra tic ar o u ­
tra s a tiv id a d e s sen ão aq u elas lig ad as ao exercício p rofissional
d a advocacia. M ais q u e isso, o cnput d o art. 16 d o E statu to esta ­
belece ex p re ssa m e n te q u e n ão serão a d m itid a s a registro, nem
p o d e rã o fu n cio n ar, as so ciedades de a d v o g a d o s q u e realizarem
a tiv id a d e s e s tra n h a s à advocacia. P o r esse m otivo , com o já foi
d ito n e ste trab alh o , as ch a m a d a s so cied ades m u ltid iscip lin are s
(aq u elas q u e co n ju g a m em seu objeto, além d a p re sta ção d e ser­
viços jurídicos, o u tra s ativ id a d e s com o co n tab ilid ad e, e n g e n h a ­
ria, etc.) n ã o p o d e m fu n c io n a r n o Brasil.
A in d a em relação às especificidades d as so cied a d es d e a d v o ­
g ad o s, q u e stã o b a s ta n te in teressante d iz respeito à possibilida-
“ Tuilio Ascarelli, in Corso di Diritto Commerciale, 3. ed, Giuffrè, Milão, 1962, p, 179, Note-se
que as considerações de Ascarelli em nenhuma hipótese devem ser consideradas despiciendas,
eis que o Código Civil italiano serviu de base para a elaboração do nosso novo Código Civil,
notadamente na parte do Direito de Empresa. Por exemplo, o citado parágrafo único do art. 966
do novo Código Civil deriva, indubitavelmente, do art. 2.238 do Código Civil italiano, in verbis-.
“ Se 1'esercizio delia prolessione constituisce elemento di um'attivita organizzata in forma
d'impresa, si appiicano anche le disposizioni dei titolo I I [2.082 ss.].
In ogni caso, se 1’esercente una prolessione intellecttuale impiega sostituti o ausiiiari, si appiicano
le disposizioni delle sezioni II, 111 e IV dei capo I dei titolo II [2.094 ss.).
2 2 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

d e d e associação en tre so cied ad es d e a d v o g a d o s. O P ro v im en to


n" 92 /2000, em seu art. 6° letra d ,e % 3°, ex p ressam en te , au to riza
"os ajustes d e associação o u d e colaboração com o u tra s so cied a­
d es d e a d v o g a d o s " , d e s d e q u e av e rb a d o s à m a rg e m d o registro
d a so cied ad e. Esclareça-se q u e a associação é a d m itid a en tre so ­
cie d ad es d e a d v o g a d o s ap en as, se n d o im p o ssív el a associação
en tre u m a so cied a d e d e ad v o g a d o s e so cied ade com o u tro obje­
to (p o r ex em p lo , au d ito ria). Essa v ed ação é deco rrên cia n atu ra l
d a re g ra d o caput d o art. 16, acim a citado, estabelecen d o q u e a
so cied a d e d e a d v o g a d o s não p o d e pra tic ar ativ id a d e s estran h as
à advocacia.
N o rm a lm e n te a associação en tre escritórios d e advocacia ocor­
re em ra z ã o d a facilidade e conveniência de dois escritórios se
u n ire m p a ra p re s ta r u m d e te rm in a d o serviço p ara u m cliente
específico (n u m a licitação, p o r exem plo), o u, co m o tam b é m com
freq ü ên c ia v e m o co rren d o , em razão d a s facilidades q u e a asso ­
ciação p o d e lhes traz er no d ese n v o lv im en to d e to d a s as áreas d e
a tu a ção d o escritório. N o te q ue, nesse últim o caso, é im p o rta n te
q u e as s o cied a d es d efin a m com precisão com o se d a rá a atuação
d o s a d v o g a d o s n o ate n d im e n to d o s d iv erso s clientes d a s socie­
d a d e s ; isso p a r a q u e n ã o se co nfig u re o conflito d e interesses,
p re v isto n o § 6" d o art. 15 d o E statuto q u e d e te rm in a q u e os só ­
cios d e u m a m e sm a socied ade n ão p o d e m re p re s e n ta r em juízo
clientes d e interesses o p o sto s^ '.
Q u e stã o tam b é m m u ito in teressan te e q u e tam b é m se insere
n o bojo d e s s a d iscu ssão diz respeito à p o ssib ilid ad e d e u m a so­
c ie d ad e d e a d v o g a d o s p artic ip a r n o capital social d e o utra. A
p a r d o s p ro b le m a s d e conflito d e interesses - em n ossa opinião,
u m d o s p rin c ip a is p ro b lem a s d esse ex p ed ien te a p articip ação

Cf. Alfredo de Assis Gonçalves Neto, in S ociedãde... c it„ pp. 68,


SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 23

d e u m a sociedade d e ad v og ado s no capital d e o u tra não é possível,


e m prim eiro lugar, p o rq u e apenas advogados, pessoas naturais,
p o d e m reim ir-se em sociedade d e ad vogados (caput, art. 15 d o Es­
tatuto). Em seg u n d o lugar, po rq ue a participação d e u m a socieda­
d e n o capital de outra poderia ser considerada u m ato com carac­
terísticas m ercantis, o que, com o já se deixou claro, n ã o é a d m iti­
d o n a s s o c ie d a d e s d e a d v o g a d o s {caput, art. 16 d o E statuto).
P o r essas e o u tra s razõ es os a d v o g a d o s, m e sm o se n d o p ro fis­
sio n ais liberais, d e v e m co nstitu ir so cied a d e d e aco rd o co m o d is­
p o sto n o E statu to d e 1994, e n ão co n so an te as re g ras d a s socie­
d a d e s sim p les, tip o societário escolhido p elo leg islad o r d o nov o
C ó d ig o C ivil p a ra a atu ação d o s d e m a is pro fissio n ais liberais.
Isso p o rq u e , co n fo rm e re sto u a m p la m e n te d e m o n s tra d o , a soci­
e d a d e d e a d v o g a d o s é co n sid erad a u m tip o societário especial
e, co m o tal, d e v e ser regid a p o r u m a série d e n o rm as q u e so m en ­
te a ela se aplicam . É o q u e se d em o n stra rá n o p ró x im o tópico.

3.2. A sociedade de advogados como tipo especial de


sociedade
R e to m a n d o p a rte d o qu e até aq u i foi exposto, o b serva-se que,
p ela sistem ática d o n o v o C ód ig o Civil, existem , de u m lado, re­
g ra s específicas p a ra as so cied ad es em p re sária s, e n te n d id a s em
seu p erfil subjetivo co m o aq u e las q u e têm n o e m p re sá rio a p e s ­
soa q u e o rg a n iz a em to rn o de si to d os os ele m e n to s d a em p resa
e, d e ou tro , as reg ras d as so cied ades sim ples d estin a d a s, em p ri­
m eiro lu g ar, p a ra a discip lin a d a s so cied a d es em q u e o titular
n ã o seja o e m p re s á rio (com o os p rofissionais liberais, p o r ex e m ­
plo) e, em s e g u n d o lu g ar, com o fonte d e re g ras g erais su scetí­
v eis d e aplicação s u p letiv a às socied ad es e m p re sá ria s (confor­
m e p re v is to n o artig o 1.053 d o novo C ó d ig o Civil).
24 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

A so cied a d e d e ad v o g a d o s, p o rtan to , p o r expressa d e te rm i­


n a ç ã o d o n o v o C ó d ig o Civil, n ão se sujeita às n o rm a s d a s socie­
d a d e s em p re sá ria s, situ ação q u e, em tese, a levaria a sujeitar-se
às re g ra s d a s so cied ad es sim ples.
O co rre, e n tre tan to , q u e as so cied ades de a d v o g a d o s são co n ­
s id e ra d a s u m tip o societário especial, sujeitas a re g ra s especiais,
q u e so m e n te a elas se aplicam . Interessan te d e sta c a r q u e o legis­
la d o r d o n o v o C ó d ig o Civil, ate n to à esp ecificid ad e d e certas
so cied a d es, d e te rm in o u , p o r m eio d o p a rá g ra fo ú n ico d o art.
9 8 3 ^ , q u e as s o cied a d es q u e p o r su a s características especiais
d e m a n d a re m a constituição de u m n o v o tip o societário n ã o d e ­
v e rã o reger-se, e m ab so luto , pelas re g ras d o n o v o C ó d ig o Civil,
o q u e significa dizer, n o caso d as so cied ad es de ad v o g a d o s, qu e
as d isp o s iç õ e s esp e ciais a elas ap licáv eis d e v e rã o p re v a le c e r
q u a n d o em co n fro n to com as re g ras d a so cied a d e sim ples.
A ssim , a so cied a d e d e a d v o g a d o s se e n q u a d ra p erfeitam en te
n a h ip ó te s e p re v ista p elo p arág ra fo único d o artigo 983, u m a
v e z q u e , p o r ser re g u la d a p o r lei especial, d ev e ser co n stitu íd a
s e g u n d o tip o societário específico. E com o tip o especial d e soci­
e d a d e d e v e rá reger-se, p rim eiro , p elas reg ras d e caráter especial
q u e co m p õ e m su a disciplina, i.é. E statuto d a O rd e m , R eg u la­
m e n to G eral e P rovim ento. C aso as d isposições co nstan tes d e s ­
sas leis especiais sejam om issas so b re d e te rm in a d a m atéria, e n ­
tão aplicar-se-ão, ap e n as su b sid iariam en te, as disp o siçõ es q u e
re g u la m as socied ad es sim ples n o n o v o C ó d ig o Civil.

“ Artigo 983, A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos
arts. 1.039 a 1,092; a sociedade simples pode constituir-se de conlormidade com um desses
tipos, e, não o fazendo subordina-se às normas que lhe são próprias.

Parágralo único. Ressalvam-se as disposições concernentes à sociedade em conta de partici­


pação e á cooperativa, bem c om o as c on stante s de le is e speciais que, para o e xe rcício de
c e rta s a tivida des, im ponham a co n stitu iç ã o da sociedade s eg undo de term in ado tipo.
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 25

Saliente-se q u e o re g im e a d o ta d o pelo n o v o C ó d ig o Civil, em


se tra ta n d o d e socied ad es con stantes d e leis especiais, é o m ais
acon selh ável. Isso p o rq u e n ão há com o se p re te n d e r disciplinar
u m a s o cied a d e especialíssim a - com o é o caso d a s socied ad es de
a d v o g a d o s - utilizan d o -se ap e n as d a s n o rm a s d e ca ráte r geral
d o n o v o C ó d ig o Civil. A q u i já foi m en c io n a d o q u e a sociedade
d e a d v o g a d o s n ão só p o d e, com o d ev e ser re g id a p o r n o rm as
especiais q u e im p o n h a m u m reg im e d iferen ciado , pois as ativi­
d a d e s p o r ela p ra tic a d a s p o ssu em u m a valoração social diversa
d a q u e la s a tiv id a d e s p ra tic ad as p elas so cied ad es re g u la d a s p e ­
los tip o s g erais d o n o v o C ódig o Civil.
N o en ta n to , essa esp ecialid ad e n ão im p e d e a su b m issã o das
so cied a d es d e a d v o g a d o s a certas reg ras e p rin cíp io s d a s socie­
d a d e s sim p les, se m p re q u e as disposições especiais fo rem o m is­
sas. Em v e rd a d e , com o tip o especial d e so ciedad e, a sociedade
d e a d v o g a d o s d ev e , prim eiro , seg u ir as reg ras específicas que
n o rte ia m su a d iscip lina e, p o sterio rm en te, o bserv ar, n o q u e co u ­
b er, as re g ras g erais aplicáveis às so cied ad es s i m p le s ^ . A p enas
p a r a citar u m caso n o qu al as reg ras d as so cied ad es sim ples d e ­
v erão ser ap lica d as, p o r falta de disciplina específica, d iz resp ei­
to à d isso lu ção d a s sociedades. C om efeito, co m o a legislação
especial n ã o reg ula a d issolu ção d a s so cied ad es de a d v o g a d o s,
p ela lógica até aqu i exposta, d ev e rão ser ap licad as as n o rm as
sob re d isso lu ç ão co n stan tes d o n o v o C ó d ig o Civil.
À g u isa d e conclusão, p o rtan to , verifica-se, com o reg ra geral,
q u e as so cied a d es d e a d v o g a d o s são re g id a s pela legislação es­
pecial q u e lhe d á g u arid a . A p e n as em casos excepcionais, cuja
m a té ria n ã o foi trata d a pela legislação especial, d e v e rã o se ap li­
car as re g ra s d a s so ciedades sim ples.

Orlando Gomes, P are cer..., pág. 117.


SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 27

CAPÍTULO II

REGISTRO DA SOCIEDADE
DE ADVOGADOS
C om entários aos artigos 16 do Estatuto
e 38 a 43 do Regulam ento Geral,
b em como ao Provim ento n ° 92/2000

W aldemar Soares de Lima Júnior

Siii generis. C o m o já h av ía m o s nos m a n ife sta d o em d a ta an te­


rior, a s o cied a d e d e a d v o g a d o s tem com o p rin cip a l característi­
ca o fato d e so m e n te p o d e r ser in teg ra d a p o r a d v o g a d o s e p a ra o
exercício d a a tiv id a d e d a advocacia. A ssim , n ã o p o d e r á dela
p a r t i c i p a r p e s s o a n ã o r e g u l a r m e n t e in s c r i t a e m u m a d a s
Seccionais d a O rd e m d o s A d v o g a d o s d o Brasil - OAB o u fazer
p a rte d e so cied a d e cujos fins sejam distin to s d a advocacia. O b ­
se rv a m o s q u e o E statu to d a A dvocacia e da OAB, Lei n" 8.906/
94, art. 16 e p arág ra fo s, p ro c u ro u , re g u la m e n ta d o pelo descrito
n o R eg u la m e n to G eral d o EAOAB, v er arts. 37 a 43, e P ro v im e n ­
to n “ 92 d o C o n selh o Federal d a OAB, d e lim ita r o alcance d esta
característica d a s so cied ad es d e a d v o g a d o s. C abe, n este ponto,
d e sc re v e r o c o n tid o n o art. 16 d o Estatuto, visto q u e o contido
n o R eg u lam en to G eral d a OAB e o inteiro teo r d o P ro v im en to n"
9 2 /2 0 0 0 c o n sta m ao final d e nossa explanação;

"Lei u" 8.906/94 (ESTATUTO DA ADVOCACIA E DA


OAB)
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

Art. 16. N ão são adm itidas a registro, n em p o d e m funci­


onar, as sociedades d e advogados qu e apresentem forma
ou características mercantis, q u e ad o tem denom inação
d e fantasia, q u e realizem atividades estranhas à advoca­
cia, qu e incluam sócio não inscrito como ad v o g ad o ou
totalm ente proibido d e advogar.
§ 1" A razão social deve ter, obrigatoriam ente, o nome
de, pelo menos, u m advogado responsável pela socieda­
de, p o d en d o perm anecer o d e sócio falecido, desde que
prevista tal possibilidade n o ato constitutivo.
§ 2" O licenciamento do sócio p ara exercer atividade in­
com patível com a advocacia em caráter tem porário deve
ser averbado no registro da sociedade, não alterando sua
constituição.
§ 3" É proibido o registro, nos cartórios d e registro civil
de pessoas jurídicas e nas juntas comerciais, de socieda­
d e q ue inclua, entre o u tras finalidades, a atividade de
advocacia."

N ã o o b s ta n te a a p a re n te clareza n a d e lim ita çã o d o p o n to ,


p o d e m o s concluir, an a lisa n d o vários p ro n u n c ia m e n to s acerca do
a s s u n to , n o â m b ito d o C o nselh o Federal d a OAB, q u e até hoje
p a ira m d ú v id a s sob re o alcance d o s d isp o sitiv o s enfocados. P ro ­
c u ra re m o s, em u m p rim eiro m om ento , n esse b re v e co m en tário ,
afastá-las.
T e n d o em v ista o objetivo d e sistem atizar o o rd e n a m e n to ju ­
rídico, cabe en fatizar q u e o atu al C ó d ig o Civil, Lei n° 10.406, d e
10 d e jan e iro d e 2002, n os a p resen to u u m a re a lid a d e com o co n ­
d ã o d e p e rm itir u m a co m p re en são m ais larg a so b re o alcance
d as so c ie d a d e s d e a d v o g a d o s. A p a r d o s div erso s tipos d e soci­
e d a d e s q u e estabelece, ta n to d e ín do le civil com o com ercial, o b ­
se rv o u o leg islado r, n o Livro II, Título II, C a p ítu lo Ú nico, arts.
982 e 983, p a rtic u la rm e n te n o p a rá g ra fo ú n ico d este, a situação
d a q u e la s so cied a d es reg id as p o r u m a legislação especial, com o
é o caso d a s so cied a d es d e adv o gad o s:
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 29

"Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se em ­


presária a sociedade que tem p or objeto o exercício de
atividade própria d e em presário sujeito a registro (art.
967); e, simples, as demais.
Parágrafo ú nico............................
"Art. 983. A sociedade em presária deve constituir-se se­
g u n d o u m dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092; a
sociedade sim ples po d e constituir-se d e conform idade
com u m desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às
n o rm as q ue são próprias.
Parágrafo único. Ressalvam-se as disposições concernen­
tes à sociedade em conta de participação e à cooperativa,
bem como as constantes d e leis especiais que, para o exer­
cício d e certas atividades, im p o n ham a constituição d a '
sociedade segundo determ inado tipo."

D esta fo rm a , p o d e m o s v islu m b ra r q u e as so cied ad es d e a d ­


v o g a d o s são re g id a s p o r lei especial, Lei 8.906/94, e, p o rta n ­
to, u n ic a m e n te a ela estão sujeitas, m o tiv o p elo qu al, p o r n ão se
c o n fu n d ire m co m n e n h u m a o u tra e n e m e s ta re m re g u la d a s p o r
n e n h u m d isp o sitiv o legal alheio ao seu co n te ú d o , com o antes
esclarecid o (so m en te p o d e m ser co n stitu íd as p o r a d v o g a d o s e
p a r a o exercício d a advocacia), é qu e os seus ato s n ã o estão sujei­
tos a re g is tro p o r n e n h u m o u tro ó rg ão q u e n ã o a q u e le as quais
estão v in cu lad as: a OAB, visto q u e n ã o são so cied a d es com erci­
ais o u civis típicas, cujas re g ras estão estab elecid as n a lei civil.
Hoje, co m m a io r clareza, p o d e re m o s afirm ar q u e as so cied a­
d es d e a d v o g a d o s n ã o p o d e m a p re s e n ta r form a o u característi­
cas m e rc a n tis o u a d o ta r d en o m in aç ão d e fantasia ou realizar a ti­
v id a d e s alh eias à advocacia, ra zão pela q u a l n ã o p o d e m ad m itir
em se u s q u a d r o s sócios n ã o inscritos n a OAB o u to talm en te im ­
p e d id o s d e a d v o g a r, tal o c o m a n d o e x su rg id o d o art. 16, caput,
d o E statu to d a A dvocacia e d a OAB. P o rtan to , p re s e n te à legis­
3 0 SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u r n e ||

lação d e regência especial d essas so ciedades é q u e o re g istro de


q u a lq u e r ato relacio n ad o à su a constituição e desen v o lv im en to ,
até final dissolu ção, d ev e ser feito p e ra n te o Ó rg ã o d o C onselho
Seccional, b a se territorial cujos sócios tiv erem os seu s registros
p rofissio n ais, e n ão , com o já p e n s a ra m alg u n s, no s cartó rio s d o
re g istro civil o u n as ju n tas com erciais.
V isa n d o o rie n ta r o a d v o g a d o sob re os re q u isito s m ín im o s
in d is p e n s á v e is à constituição d e u m a so ciedad e d e a d v o g a d o s é
n ó s a p re s e n ta m o s n o livro SOCIEDADE DE A D V O G A D O S, sob
a c o o rd en aç ão d o C o n selh eiro SERGIO FERRAZ, em cap ítu lo
específico, ao qu al re m e tem o s o leitor, u m a orien tação nesse sen ­
tido, p o is com a elaboração d e seus atos co n stitu tiv o s e o co m ­
p e te n te re g istro n o ó rg ã o específico d a OAB é q u e a so ciedad e
p a s s a rá a te r p e rs o n a lid a d e ju ríd ica e p o d e rá efetiv am ente de-
sen vo lv er-se, n o s term os da lei.
S u rg e d essa nec essid ad e d e reg istro d o s atos co n stitu tiv o s e,
a p a r tir daí, d e q u a lq u e r o u tra m odificação o u alteração o co rri­
d a na s o cied a d e d e a d v o g a d o s, a n ec essid ad e d e q ue, em cada
u m a d essa s bases territoriais. C onselhos Seccionais, exista u m
ó rg ã o p ró p rio p a ra o recebim ento, p ro cessam en to e a rq u iv a m e n ­
to d esse s atos, p o d e n d o p re s ta r o asse sso ram en to n ecessário à
p re s e rv a ç ã o d e direitos. Esse ó rg ão, com o o corre e m to d o s os
seto re s d a v id a com ercial e civil, n ã o p o d e ser c o n fu n d id o o u ter
atrib u içõ es d istin ta s d as d e reg istro d a s socied ad es d e a d v o g a ­
d o s, te n d o em vista a im p o rtân cia desses ato s d e re g istro em
relação à verificação ao s ato s p o r elas p ra tic ad o s, seja em re la­
ção às s u a s fin a lid a d e s o u aos interesses d e terceiros.
A p o ssib ilid a d e d a constituição d e u m Ó rg ã o d e R egistro, em
ca d a C o n selh o Seccional, d eco rre d a in terp retaçã o d a d a ao ex­
p re s sa m e n te p re v isto n o art. 43 d o R eg u lam en to G erai d o E sta­
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 31

tu to d a A dvocacia e d a OAB, c / c o d isp o sto n o art. 5'' d o P ro v i­


m e n to n" 92 /2 0 0 0 d o C o n selh o Federal:

"R egulam ento Geral da OAB


Art. 43, O registro da sociedade de advogados observa
os requisitos e procedimentos previstos em Provimen­
to do Conselho Federal.

Provim ento n" 92/2000


Art. 5". O registro de constituição das sociedades d e ad ­
v ogados e o arquivam ento de suas alterações contratuais
devem ser feitos perante o Consellio Seccional da OAB
em qu e forem inscritos seus mem bros, m ediante prévia
deliberação do próprio Conselho ou de órgão a que de­
legar tais atribuições, na forma do respectivo Regimen­
to Interno/'

P o rtan to , p o d e r á hav er, com co m p etência exclusiva d e le g a ­


d a, u m ó rg ã o d e d elib eração so bre os atos d e re g istro e altera­
ções c o n tra tu a is em cada C onselho Seccional, ao q u al caberia,
n o exercício d a fu n ção d ele g ad a, o a rq u iv a m e n to d o s registros
d eferid o s, n o q u e respeita à constituição, b e m com o as altera­
ções e av erbações d o s atos ocorridos d u ra n te a su a existência,
tais com o, d e n tre o u tro s q u e forem ju lg ad o s co n v en ien tes em
relação à so cied a d e e aos seus sócios o u q u e p o s s a m envolver
d ireito s d e terceiros:

a) a co m u n icação d o falecim ento d e sócio c o m p o n e n te d a


so cied ad e, co m a respectiva d em o n stração ;
b) a saíd a d e sócio d a sociedade;
c) os in s tru m e n to s d e associação d a so cied a d e com o u ­
tro s p ro fissio n ais d a advocacia o u so cied ad es d e a d v o ­
gados;
3 2 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

d) os re q u e rim e n to s d e registro e autenticação d e livros e


d o c u m e n to s n ecessários ao d ese n v o lv im en to d a s soci­
e d a d es;
e) a co m u n icação d e a b e rtu ra d e filial d a s o cied a d e em
o u tra U n id a d e d a Federação.

R esto u re a firm a d o n o P ro v im en to n° 92/2000, em seu art. 8°


e § 2®, a im p o rtân cia d a constituição de u m órg ão , em ca d a C o n ­
selho Seccional, re sp o n sá v el pelos atos d e registro, ao estab ele­
cer que:

"P rovim ento n° 92/2000


Art. 8°. O S etor d e Registro das S ociedades d e A d v og a­
d o s d e cada C o nselh o Seccional d a OAB deve m anter
u m sistem a d e anotação d e todos os atos relativos às so­
ciedades d e ad v o g ado s q u e lhe incum ba registrar, arq ui­
var ou averbar, controlado p or meio d e livros ou fichas
q ue lhe perm itam assegurar a veracidade dos lançam en­
tos q ue efetuar, bem como a eficiência na prestação de
inform ações e sua publicidade.

§ 2°. O Conselho Seccional é obrigado a fornecer, a q u al­


q uer pessoa, com presteza e ind ependentem ente d e d es­
pacho o u autorização, certidões contendo as informações
q ue lhe forem solicitadas, com a indicação dos nom es de
a d v o g a d o s q u e figurarem , p o r q u alq u er m odo, nesses
livros o u fichas d e registro."

C abe inform ar, a p a r d a necessid ad e q u e se p ro c u ro u d e m o n s­


tra r d e u m ó rg ã o co m atribuições específicas d e re g istro s do s
ato s d e co n stitu ição alteração e av erbação d a so cied a d e d e a d ­
v o g a d o s, q u e essa tarefa te n d e a p o ssibilitar u m a fiscalização
so b re m a n e ira eficiente so b re as so cied ad es co n stitu íd as, e v ita n ­
d o a n ã o ob serv ân cia d a s n o rm as q u e re g em a espécie, p o is este
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 33

serv irá, inclusive, d e referência à co m p re en são d a n a tu re z a jurí­


dica d a s so c ie d a d e s sob re as q u ais exerce as s u a s ativ id a d e s de
re g istro e ao a te n d im e n to ao d isp o sto n o P ro v im en to n° 95/2002
d o C o n selh o F ederal, q u e estabelece o necessário p a ra o ca d as­
tro d a s s o cied a d es d e ad vo g ad os.
T e n d o em vista as n o rm a s d e regência, com o an tes salien ta­
d o em s u a s lin h as gerais, o estabelecido n o E statuto d a A d v o c a­
cia e d a OAB, em seu R eg ulam en to G eral e n o P ro v im en to do
C o n se lh o F ed erai, ficam as so cied ad es d e a d v o g a d o s, so cied a­
d es especiais, esco rreitam en te re s g u a rd a d a s em term o s d e re­
g istro d e constituição, d ese n v o lv im en to e térm in o d e su a exis­
tência, e v ita n d o q u e as fa cu ld ad e s p riv a tiv a s d o s a d v o g a d o s
sejam d ele s su b tra íd a s em d e trim e n to d e u m a n o rm aliza çã o ci­
vil e com ercial.
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 3 5

CAPÍTULO III

RESPONSABILIDADE DAS
SOCIEDADES DE ADVOGADOS

O sw a ld o N a ves

1. introdução. 2. Da responsabilidade civil do advogado. 3. Da


responsabilidade da sociedade, pessoal dos sócios, associa­
dos e em pregados. 4. Da responsabilidade adm inistrativa e
é lic o-d iscip lin ar da sociedade. 5, Do seguro de responsabili­
dade civil para a sociedade de advogados e sua abrangência.

1. Introdução
O a s s u n to so cied a d es d e ad v o g a d o s e a re sp o n sa b ilid a d e p o r
seu s ato s e om issõ es é assu n to d o s m ais interessantes. Sua an áli­
se p a rte d o E statu to d a A dvocacia, p a s s a p elo R eg u la m e n to G e­
ral, P ro v im e n to n “ 92, C ódigo Civil, d e P rocesso Civil, C ód ig o
d e D efesa d o C o n s u m id o r e até m esm o pela C o n so lid ação d as
Leis d o T rab alh o.
A an á lise feita n e ste cap ítu lo será b re v e e objetiva, com enfo­
q u e p rá tic o e sem p re te n sõ es d e inovar, a p e n a s re u n in d o o e n ­
te n d im e n to m ais ab a liz ad o ex istente so b re a m atéria.
O e n te n d im e n to m ais ac u ra d o d a re s p o n sa b ilid a d e d e a d v o ­
g a d o s é alg o d e ex trem a valia p a ra os o p e ra d o re s d o direito, em
esp ecial d o s a d v o g a d o s q u e p re te n d e m se a g r u p a r em socieda­
36 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

d e s d e a d v o g a d o s, m a s tam b ém p a ra os clientes, p o d e r judiciá­


rio o u com issões d e a rb itrag em q u e v e n h a m a an a lisa r a im p ró ­
p ria p re sta ç ã o d o serviço d e advocacia.
P a rtin d o d o e s tu d o d a re sp o n sa b ilid a d e civil d o ad v o g a d o ,
a n a lisa re m o s m ais d e ta lh a d a m e n te a re sp o n sa b ilid a d e civil das
so cied a d es d e a d v o g a d o s, seu d iscip lin am en to , d istin ç ão en tre
os d iv e rso s c o m p o n e n te s da so ciedad e e espécies d e ato s p ra ti­
cad os, re s p o n sa b ilid a d e ético-disciplinar d a so cied ade e seg u ro
d e re s p o n sa b ilid a d e civil.

2. Da responsabilidade civil do advogado


O rig in a d a n o d ireito ro m a n o e co n tid a n a s O rd e n a ç õ e s do
R e in o , a r e s p o n s a b i li d a d e civ il d o a d v o g a d o é s u b je tiv a e
co n tratu al p e ra n te seu s clientes. Existe, tam bém , a não-contratual,
d e c o rre n te d a infringência d a reg ra geral d e n ã o ca u sar d a n o a
n in g u é m , se m falar n a p e n a l e ad m in istra tiv a p elo s d a n o s q u e
ca u sar ao s seu s clientes o u n ão, seja p o r dolo, culp a, ação ou
o m issão. A p re v isã o está co n tid a n o s arts. 17 e 32 d o E statu to d a
A d vo cacia e d a OAB (Lei 8.906/94), n o art. 40 d o R eg u lam en to
G eral d o E statu to d a A dvocacia e d a OAB, P ro v im en to n° 92,
n o s arts. 186, 389,927 a 954 d o C ód igo C ivil d e 2002 e n o art. 14,
§ 4° c / c arts. 2° e 3° d o C ó d ig o d e D efesa d o C o n s u m id o r e m e s­
m o n o art. 462 d a C o n so lid ação d a s Leis d o Trabalho.
P a ra b e m in iciarm os a análise d a re sp o n sa b ilid a d e d o a d v o ­
g a d o é p reciso n o ta r q u e a teoria a d o ta d a p a ra os profissionais
liberais é a d a re sp o n sa b ilid a d e subjetiva, q u e d e p e n d e d e cu lp a
o u d olo , d ife re n te m e n te d o s d e m a is p re s ta d o re s d e serviço, co n ­
fo rm e e s ta tu íd o n o CDC, ao q u al os a d v o g a d o s se su b m e te m
n este p artic u la r.
N a área contenciosa, d e v e m os a d v o g a d o s u tilizarem -se d e
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Vokme I I

to d o s OS m eio s e re c u rso s q u e e n te n d e r cabíveis e necessário s n a


d efesa d o d ire ito d o s e u cliente. N ã o se o b rig am , p o ré m , pelo
re s u lta d o , v ez q u e n ã o " d e c id e m " a causa.
Existem , p o ré m , áreas d e atu ação d a ad vo cacia q u e, em p rin ­
cípio, são ca rac teriza d as com o obrigações d e re su lta d o , co m o na
ela b o raç ão d e u m co n tra to ou d e u m a escritura, n o q u a l o a d v o ­
g a d o co m p ro m e te -se, em tese, a u ltim a r o r e s u lt a d o '.
Esta m atéria, p o ré m , n ã o é pacífica, e a o b rig ação d e in d e n i­
z a r d e v e ser an a lisa d a sob o p rism a d a nec essid ad e d e ag ir com
perícia e diligência, esco lh en d o o m elh o r re m é d io p ro cessu al e
in te rp re ta ç ã o legal, d e fo rm a q u e n ã o sejam a b s u rd a m e n te co n ­
trárias à lei.
A lém d a re sp o n sa b ilid a d e co n tratual, p o d e re s p o n d e r o a d ­
v o g a d o p o r v io lar o d e v e r d e n ã o cau sar d a n o a alg u ém , com o
b e m le m b ra S érgio N ovais^, a q u e m re m e tem o s o leito r q u e d e ­
seje u m a a c u ra d a análise d o tem a.
O m e stre Sílvio V enosa d iz q u e "É fora d e d ú v id a , p o ré m ,
q u e a in a b ilid a d e pro fission al ev id en te e p a te n te q u e ocasiona
p re ju íz o s ao cliente gera d ev e r d e in d en izar. O e rro d o a d v o g a ­
d o q u e d á m a rg e m à in d en ização é aqu ele injustificável, ele m e n ­
ta r p a r a o a d v o g a d o m édio,..
A d istin ç ão o brigação d e fins e d e m eios gera d iferen tes efei­
tos q u a n to à re sp o n sa b ilid a d e. A p rim eira gera o d e v e r d e in d e­
n iz a r p o r erro s grosseiro s na elaboração d e p areceres, existindo
n o caso a c u lp a m o d a lid a d e s im perícia, im p ru d ê n c ia o u negli­
gência. N a s e g u n d a hipótese, o ad v o g a d o dev erá re sp o n d e r q u a n ­
d o , p o r e x e m p lo , p e r d e r u m p ra z o e com isto im p e d ir o cliente

' Sílvio de Sálvio Venosa, “ Responsabilidade Civil” , em D ire ito Civil. Atlas, 2003, p. 175.

^Sérgio Novais Dias, R e s p o n s a b ilid a d e C iv il d o A d v o g a d o na P erd a de um a C hance. LTr, 1999,


^S ilv io d e S à lv io Venosa. ob. cit.. p, 176.
Ò8 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

d e ter seu p e d id o reap reciad o, o q u e a d o u trin a e ju risp ru d ên c ia


v ê m c h a m a n d o d e p e rd a d a chance, tend o Sérgio Novais'* d esta­
cad o a nec essid ad e d e utilizar-se o ad v o g a d o de a rg u m e n to s ju rí­
dicos q u e v e n h a m ao encontro d o qu e deseja seu cliente, ain d a
q u e, p essoalm en te, com o jurista, filie-se a en te n d im e n to distinto.
N ã o se p o d e o lv id ar, a in d a , a n ecessidad e d e g u a r d a r seg re­
d o d o s fatos q u e to m ar ciência em ra zão d a profissão®, o b rig a­
ção esta c o m u m em o u tro s ram os. D e sc u m p rid o o d e v e r d o sigi­
lo e a d v in d o d a n o ao cliente, aparece a obrigação d e re s p o n d e r
civilm ente.
A specto rele v an te p ara a m atéria d a re sp o n sa b ilid a d e civil
d o a d v o g a d o está c o n tid o no art. 14, § 4" d o CDC, q u e p re v ê a
a p u ra ç ã o d a cu lp a p ara se resp o n sab ilizar o pro fission al liberal,
re g ra esta q u e se aplica à so cied ade d e a d v o g a d o s p ela n a tu re z a
específica d a p esso a jurídica.
N o c a m p o d a s m e d id a s ad m in istrativ as, p re v ista s n o CDC
n o s arts. 18 a 28, as m esm as n ã o se ap licam aos a d v o g a d o s, d i­
a n te d a co m p etên cia da OAB, p re v ista s n o art. 44 d o EOAB, II,
p a ra " p ro m o v e r, com exclusividade, a rep resen tação , a defesa, a
seleção e a d isciplin a dos a d v o g a d o s em to d a a R epública F ede­
ra tiv a d o Brasil", lei p o sterio r e especial.

3. Da responsabilidade da sociedade, pessoal


dos sócios, associados e empregados
O EOAB p re v ê, em seus arts. 15 a 17, a p o ssib ilid ad e d e os

'S é rg io Novais Dias, ob. cit.


®É 0 seguinte o teor do art. 7-. XIX, do EOAB:
São direitos do advogado:

XIX - recusar-se a depor como testemunha em processo no qual funcionou ou deva funcionar,
ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou foi advogado, mesmo quando autoriza­
do ou solicitado pelo constituinte, bem como sobre fato que constitua sigilo profissional;”
SOCIEDADE OE ADVOGADOS Volume II 39

a d v o g a d o s se re u n ire m em so cied ad es d e ad v o g a d o s. De acor­


d o co m o C ó d ig o C ivil d e 2002, arts. 966, p ar. ún. e 982^, as soci­
e d a d e s fo rm a d a s p o r a d v o g a d o s são s o c ie d a d e s sim p le s, em
co n tra p o sição às em p re sária s, e a in d a s e g u n d o o C C , art. 983,
p ar. ú n / , as so cied ad es sim ples p o d e m to m a r os tip o s aos quais
d e v e su b m e te r-se a em p re sá ria o u o co n stan te em lei especial,
com o é o b rig a to ria m e n te o caso d a s so cied a d es d e ad vo g ad o s.
A lei esp ecial p a ra o caso é o EOAB, e o tipo so cied a d e d e a d v o ­
g a d o s v e m d e fin id o em se u s artigos 15 a 17, n o R eg u lam en to
G eral, art. 40, e n o P ro v im en to n" 92 d o C on selho F ederal, órgão
m á x im o d a ad vo cacia nacional.
C om o sociedade d e pessoas e d e finalidades profissionais, com
c a ráte r especial, a so cied a d e d e a d v o g a d o s n ão se c o n fu n d in d o
com as d e m a is so cied ad es civis. N a visão d o m estre Paulo Lôbo®,
a p o ia d o n o u tro s d o u trin a d o re s d e escol, a so cied a d e " d esen v o l­
v e ativ id a d e s-m e io e n ã o ativ id ad es-fim d a advocacia. É e n tid a ­
d e coletiva o rg a n iz ad a , m eio e racionalização, p a r a p e rm itir a

®É 0 seguinte o teor do art. 966 e 982 do CC:

“Art. 966, Considera-se empresário quem exerce protissionalmente atividade econômica orga­
nizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.

Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza
cientifica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o
exercício da profissão constituir elemento de empresa.”
“Arf. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por
objeto 0 exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e simples, as
demais....”

' Art. 983. A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts.
1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e,
não 0 tazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias.

Parágrafo único. Ressalvam-se as disposições concernentes á sociedade em conta de partici­


pação e á cooperativa, bem como as constantes de leis especiais que, para o exercido de
certas atividades, imponfiam a constituição da sociedade segundo determinado tipo,"

*Paulo Luiz Netto LÔbo, C o m e n tá rio s a o N o vo E sta tu to d a A d v o c a c ia e da O A B . Brasília Jurídi­


ca. p. 76.
40 SOCIEDADE DEM3V0GAD0S Volume II

a tiv id a d e associativa d e profissionais, q u e d istrib u e m e c o m p a r­


tilh a m tarefas, receitas e d espesas, q u a n d o atin g em u m nív el d e
co m p lex id a d e q u e u ltrap a ssa a atuação in d iv id u al, m e sm o q u a n ­
d o ag reg ad a .
D ife ren tem e n te d a s d e m a is so ciedades de serviços, a finali­
d a d e d a s s o cied a d es d e a d v o g a d o s, com o le m b ra m H a d d o c k
Lobo e C o sta N e to , é d e reg u la r e d isciplin ar relações recíprocas
en tre a d v o g a d o s , n o q u e p ertin e fu n d a m e n ta lm e n te a v id a a d ­
m in istra tiv a e financeira d o g ru p o , ou, com o disse O rla n d o G o­
m es p o r eles citado, "a re m u n e raç ão d o s re su lta d o s ob tid o s com
a re m u n e ra ç ã o d o trab a lh o d o s ad v o g a d o s e d iscip lina d o e x p e­
d ie n te d o escritó rio ” .
F irm a d o o co n tra to d e pre sta ção d e serviço en tre o a d v o g a d o
e cliente, n a h ip ó tese d e d a n o o a d v o g a d o re s p o n d e co m base
n o s arts. 186, 389 e seg uintes d o CC, além d a re sp o n sa b ilid a d e
so lid ária d a so cied a d e q u e in teg ra na q u a lid a d e d e sócio, e m ­
p r e g a d o o u associado. N a h ip ó tese d o co n tra to de p re sta ção de
serviço ser firm a d o en tre so cied ad e d e ad v o g a d o s, A lfred o G o n ­
çalves p relecio na: "se o cliente celebrou co n trato d e prestação
d e serv iços co m so cied a d e de a d v o g a d o s, p ela q u al ela assu m iu
a o b rig aç ão d e prestá-lo s p o r m eio d o s a d v o g a d o s d e seu q u a ­
d ro , re s p o n d e ela, d ireta m e n te, p o r d e s c u m p rim e n to d essa p ro ­
m essa d e fa to d e terceiro (art. 929 d o C ó d ig o Civil d e 1916; arts.
439 e 440 d o n o v o Código)"*^.
O art. 15, § 3° d o EOAB"^ estabelece q u e ao se co n tra tar a d v o ­
g a d o s sócios, asso ciad os o u e m p re g a d o s d e u m a sociedade, d ev e

®Alfredo de Assis Gonçalves Neto, Sociedades c/e A d v o g a d o s . 2. ed. Juarez de Oliveira, p. 44,

Dicção do art. 15, § 3 - do EOAB;

“As procurações devem ser outorgadas individualmente aos advogados e indicar a sociedade
de que façam parte” .
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 42

co n star n a p ro c u ra ç ã o o n o m e d a so cied a d e q u e in teg ram .


Im p o rta d e sta c a r as d u a s o rd e n s d e re sp o n sa b ilid a d e civil às
q u a is a so cied a d e d e a d v o g a d o s está su b m etid a: a p rim eira d e ­
c o rre n te d e ato s e om issões n o exercício d a p ro fissão p elo s a d ­
v o g a d o s q u e a in teg ram ; a s e g u n d a em ra zão d o s seu s ato s com o
p esso a jurídica, e nesta re sp o n d e m su b sid iária e ilim itad a m e n te
os sócios, v ez q u e ao caso se aplicam as re g ras c o m u n s às socie­
d a d e s, p re v ista s n o s arts. 1.023 e seg u in tes d o CC e 748 d o CPC.
T e m a co m a lg u m a controvérsia, o art. 17 d o EOAB p re v ê que,
" A lé m d a so cied ad e, o sócio re s p o n d e su b sid iá ria e ilim itad a­
m e n te p elo s d a n o s c a u sa d o s aos clientes p o r ação o u om issão n o
exercício da advocacia, sem prejuízo d a re sp o n sa b ilid a d e disci­
p lin a r em q u e p o ssa incorrer"'. À in terp retaçã o d e q u e a p e n a s o
sócio c a u s a d o r d o d a n o re sp o n d e estão filiados Sérgio N o v ais e
A ssis G onçalves, co m a m p a ro no s arts. 265” , q u e em conjunto
com os arts. 990, 1.039,1.045, tod o s d o CC, explicitam q u e d ev e
ser ex p ressa a so lid aried ad e. Este d e s ta q u e é im p o rta n te d ev ido
à in te rp re ta ç ã o e x isten te’^, com b a se n o P ro v im e n to n'’ 92, d a
re s p o n sa b ilid a d e n ã o se ate r ao sócio ca u sad o r, m a s a to d o s os
sócios, e n te n d im e n to d e P a u lo Lôbo. A in su b sistên cia d este e n ­
te n d im e n to , d a ta vênia, aflora p o r s u a co n tra p o sição ao texto
legal q u e v isa re g u la r, pois u ltrap a ssa a co m p etên cia colocada
n o art. 54, V e XVIII d o EOAB, q u a n d o a m p lia p re v isã o d e res­
p o n s a b ilid a d e civil n ã o existente n a lei re g u la d a , p a d e c e n d o de
vício m aterial, d ia n te d a n ecessid ad e d e p re v isã o d a so lid arie­
d a d e n o s term o s q u e d isp õ e atra v és d e lei federal.
" 0 que diz o art. 265 do CC:
“ A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes” .

0 ilustríssimo Paulo Lôbo entende ser solidária e ilimitada a responsabilidade de todos os


sócios, ob. cit.

Aliredo de Assis Gonçalves Neto, ob. cit.


4 2 SOCIEDADE OE ADVOGADOS Volume II

A lfred o d e A ssis’-* lem b ra q u e n o co n trato social p o d e rã o os


sócios p re v e r a re sp o n sa b ilid a d e solidária, o u m esm o a lim ita­
ção até certo v a lo r p a ra alg u m sócio. A s e g u n d a h ip ó tese não
terá eficácia em relação a terceiros.
P o rém , q u a n d o a so cied ade re sp o n d e p o r atos o u om issões
c u lp o sas o u d o lo sas em d e trim en to d o s clientes, to d o s os sócios,
p r o p o r c io n a lm e n te a s u a p artic ip a çã o societária, ac a b a m p o r
a rcar co m a re p ara ção d o d an o . Sem em b arg o , p o d e rã o se res­
sarcir ju n to ao sócio, associado o u a d v o g a d o e m p re g a d o ca u sa­
d o r v ia ação regressiva, v ez q u e n ão p a rtic ip a ra m d o a t o / o m i s ­
são d a n o s o /c u lp o s o .
N a h ip ó te se in d icad a n o art. 990 d o CC, so cied a d e d e fato, se
estab elece a re sp o n sa b ilid a d e ilim itad a e so lidária d e to d o s os
sócios, asso c ia d o s e a d v o g a d o s em p re g a d o s p elo s d a n o s ca u sa­
d o s ao s clientes, in cid in d o a reg ra geral p a ra so cied ad es q u e não
estão fo rm a lm e n te constituídas.
N a lin ha d e e n te n d im e n to d a s o lid aried a d e ex p ressa em lei
o u co n tra to , co n tid a n o art. 265 d o CC, p o d e rá ser p a c tu a d o no
co n tra to d e p re sta ção d e serviço q u e to d os os sócios são s o lid a­
ria m e n te resp o n sáv eis, p revalecend o , n o caso d e existir ap e n as
in s tru m e n to d e p ro cu ração , sem co n trato escrito, a resp o n sab ili­
d a d e a p e n a s d a so cied a d e e d o sócio c a u sa d o r d o d ano .
N ã o se d ev e , en tre tan to , o lv id ar a n ecessária p ro teç ão ao cli­
ente, d e re sto b ase d a confiança em to d a a classe d o s ad vo g ad o s.
N o s caso s e m q u e n ã o seja possível identificar o respo n sáv el,
com o b e m lem b ra Sérgio N o vais, o cliente terá a o p ção d e acio­
n a r to d o s q u e co n stem n a publicação o u p ro cu ração , o u alg u n s
d eles, m a n tid a a p o ssib ilid ad e d e ação reg ressiv a, co m o exposto
acim a, com b a se n a divisão in tern a d o serviço.
A p a re n te an tin o m ia su rg e en tre as n o rm a s c o n tid as n o art.
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 43

14, § 4° d o C D C e a existência d e p e rs o n a lid a d e jurídica, que


faria a s o cied a d e d e a d v o g a d o s se su b m eter, p a ra verificação d a
re s p o n sa b ilid a d e civil, à teoria d a re sp o n sa b ilid a d e objetiva. A
an á lise u m p o u c o m ais d etid a faz s u p e ra r a a p a re n te c o n tra d i­
ção pela co n statação d e q u e a p esso a lid a d e in trín seca ao trab a­
lho d o a d v o g a d o , m e sm o in teg ra n te d e e s tru tu ra p re se n te em
g ra n d e s ban cas, em re g ra com g ra n d e n ú m e ro d e sócios, associ­
a d o s e e m p re g a d o s ad v o g a d o s, n ã o se co n fig u ra e m elem ento
d e e m p re sa , n ã o fa zen d o sentido , n u m a so cied a d e d e pesso as e
d e fin alid ad e s p ro fissio nais a aplicação d e reg ra d istin ta d a q u e
re g u la se u s in teg ran tes, m esm o n a q u a lid a d e d e em p re g ad o s,
n a h ip ó te s e d e d a n o s a clientes, sen d o se m p re subjetiva. Desta
m a n e i r a e n t e n d e m o p r o f e s s o r S é rg io N o v a is '^ e A n tô n io
L in d b e r g h C. M o n te n e g ro ’^ p re v e n d o este ú ltim o u m a única
p o s s ib ilid a d e p a ra a re sp o n sa b ilid a d e objetiva, a d e falta não
im p u ta d a p e sso a lm e n te ao profissional liberal.
N o q u e d iz respeito à re sp o n sa b ilid a d e civil p o r ato s não p ri­
v ativ o s d a advocacia, o art. 1.023 e seg u in tes d o CC, em co n ju n­
to c o m o art. 748 d o C PC , d iscip lin am a m atéria, s e n d o re s p o n ­
sáveis su b sid iá ria e ilim itad a m e n te os sócios n a p ro p o rç ã o d a
p artic ip a çã o n o capital social ou, d is p o n d o o con trato , subsidia-
ria m e n te à so cied a d e e solidária en tre os sócios.

4. Da responsabilidade administrativa e ético-discipiinar


da sociedade
N este cap ítu lo já m en cio n am o s a n ão -su b m issâo d o s a d v o ­
g a d o s o u d a s socied ad es d e ad v o g a d o s às sançõ es ad m in istra ti­
v as d o CDC, p o is a OAB trata d a m atéria com ex clu siv id ad e nos

"S e rg io Ferraz, ob. cit.


Aritônio Lindbergh C. Monlenegro, Ressarcimento de D anos. Lumen Juris, 5. ed,. 1998.
44 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

arts. 34 a 44 d o seu Estatuto. P o r estas re g ras d o EOAB, q u a n d o


a s o cied a d e co m ete infração, a su a p u n iç ã o se d á v ia sócio-ge-
re n te q u e p ra tic o u o ato ag in do pela sociedade, sem p re d este ou
d e to d o s os sócios q u e p articip arem d o ato infrator, p o r entender-
se q u e a so cied a d e n ã o p o d e p ra tic ar infração ético-disciplinar.

5. Do seguro de responsabilidade civil das sociedades


de advogado e sua abrangência
O se g u ro d e re sp o n sa b ilid a d e civil pro fissio n al d e so cieda­
d e s d e a d v o g a d o s foi criad o n o Brasil em 1994, d ese n v o lv id o e
exclu siv o p a r a os associados d o C en tro d e E stu d o s d a s Socieda­
d es d e A d v o g a d o s (CESA) até o an o de 2001, se n d o m e n to re s os
Drs. L u iz R oberto N o v a es e o co rreto r F e rn a n d o C oelho, sob a
lid era n ça d o Dr. O rla n d o G iácom o, p re sid e n te d o CESA. Inicial­
m e n te co m três b an cas con tratantes, hoje m ais d e o iten ta escri­
tório s c o n ta m com o seg u ro , em con stan te evolução.
O objetivo d o se g u ro d e resp o n sa b ilid a d e civil é g a ra n tir a
p ro teç ão d o cliente e d a so cied ade d e ad v o g a d o s, se n d o o b rig a­
tó ria su a co n tra taçã o em p aíses com o a In g laterra, A lem an h a e
Á u stria. N a E sp a n h a ocorre a con tratação d e c o b e rtu ra p elo C o ­
légio d e A d v o g a d o s, q u e oferece u m seg u ro a to d o s os seus as­
so ciad o s p esso as físicas, sem elhan te ao m o d elo p ro p o s to ao C o n ­
selho F ederal d a OAB, n o q u al tram ita processo sobre o assunto.
N o s E stad o s U n id o s, e m b o ra n ã o o b rig ató ria, n a m aio ria dos
e sta d o s existe a obrigação d o s ad v o g a d o s d iv u lg a re m a seu s cli­
en tes se p o s s u e m o u não a apólice.
A firm a o Dr. F e rn a n d o C oelho, fo rm u la d o r d a apó lice ju n ta ­
m e n te co m o CESA, q u e na Inglaterra a so cied a d e d e a d v o g a d o s
d e v e c o n tra ta r n o m erc ad o ab erto e, caso n ã o consiga, d e v e re ­
co rrer a u m pool d e se g u ra d o ra s p o r u m p e río d o m áx im o d e dois
SOOeOADE DE AAVOGA.DOSVolume 45

a n o s a té ser aceito n o v a m e n te n as co rreto ras h a b ilita d a s pelo


T h e L a w S o c iety. U ltr a p a s s a d o esse p r a z o s e m a c e ita ç ã o d e
co n tra ta ç ã o n o m e rc a d o aberto, d á ensejo à liq u id a çã o c o m p u l­
sória d a s o cied a d e d e a d v o g a d o s.
P o r certo o n ú m e ro d e ações contra a d v o g a d o s o u so cied ades
d e a d v o g a d o s n ã o é ain d a expressivo, m as a ap ó lice d e re s p o n ­
sa b ilid a d e civil já serv iu d e ap oio a escritórios q u e se v ira m na
situação d e re s p o n d e r pela im p ró p ria p restação d o serviço com o,
p o r ex em p lo , n o caso d a n ão -assin atu ra d e re c u rso p a ra T rib u ­
n a l S u p erio r, m a s p o d e ria ser tam b é m a p e r d a d e u m p ra z o , a tu ­
ação com d esc o n h ecim en to d e texto legal v ig en te e o u tra s s itu a­
ções d e c u lp a c o n fig u rad a pelo n ão -c u m p rim e n to d a obrigação
d e m eios, co m o visto acima.
A ap ó lice d o CESA ab ra n g e a d v o g a d o s sócios, associados,
a d v o g a d o s e m p re g a d o s, estag iário s e d e m a is fu n cio n ários e n ­
q u a n to a g in d o e m s u a s resp ectivas funções e co m p etências, co­
b rin d o tam b é m in den izações p o r d a n o m o ral, p o r p e rd a , extra­
vio, ro u b o o u fu rto d e d o cu m e n to s d e clientes em p o sse d o se­
g u ra d o p a ra trabalhos. D en tre os riscos exclu ído s p o d e m o s citar
os ato s d olo so s e q u eb ra d o sigilo p ro fissio n al e a p e rd a , ex tra­
vio, ro u b o o u fu rto d e d in h eiro e / o u d o c u m e n to s d e crédito.
D e n tre as in o v açõ es recentes d a apólice d e se g u ro d o CESA
está u m a clá u su la q u e cobra a in d en ização d o d a n o p u n itiv o ou
ex em p lar, algo existente em países com o os E stad os U n id os, d e n ­
tre o u tro s, m a s q u e ate n d e à n ecessidad e d e u m a apólice global.
É objetivo d o seg u ro d e re sp o n sa b ilid a d e civil, e n tre outros,
e v ita r ações jud iciais en tre clientes d e so cied ad es d e a d v o g a d o s,
algo q u e teria im plicações n ã o só éticas, m a s v iria ao encontro
m e sm o a u m a rá p id a re p aração ao cliente d o escritório, d a í p o r­
q u e já co n sta d a apólice de seg u ro a p o ssib ilid ad e d e reco rrer à
4 6 SOCIEDADE OE ADVOGADOS Volume II

m e d iaç ão e à a rb itrag em p a ra solução d o s casos em erg en tes, re­


co rren d o -se às C â m a ra s ligadas ao C onselho d a s Instituições d e
M e d ia ç ã o e A rb itra g e m m ais a C â m a ra d a F u n d a ç ã o G etúlio
V arg as d e SP (CONIM A).
M erece aten ção a correta utilização d o seg u ro existente, ev i­
ta n d o a utilização p o r clientes d e m á-fé te n ta n d o enco b rir erros
se u s a tra v é s d o p ro fissio n al d a advocacia, c a u s a n d o d a n o s p o r
vezes irrev ersív eis p a ra a re p u ta çã o d o ad v o g a d o .
SOOEOAOE DE ADVOGADOS V o l u m e il 47

CAPÍTULO IV

CONTRATOS DE ASSOCIAÇÃO
C om entários ao artigo 39 do R egulam ento
G eral do E statuto da Advocacia e da OAB

M anoel A ntonio de Oliveira Yranco


Kicarào M iner Navarro
Gabriel Placha

1. Introdução
N e ste s te m p o s em q u e a advocacia exercida in d iv id u a lm e n te
d eix a d e ser a re g ra p a r a to rn ar-se a exceção, d a n d o lu g a r às
g ra n d e s b a n c a s d e advocacia co m p o stas d e d e z e n a s o u até cen­
te n a s d e a d v o g a d o s , com filiais p o r to d o o p aís, o in stitu to d a
associação e n tre so cied ad es o u en tre estas e a d v o g a d o s a u tô n o ­
m o s é c a d a v ez m ais com um .
A ad v ocacia m o d e rn a exige d o pro fission al alto g ra u d e es­
p ec ializaç ão , to rn a n d o p ra tic a m e n te im p o ssív e l ao a d v o g a d o
a te n d e r, in d iv id u a lm e n te , a to d o s os interesses d e seu s clientes,
em to d a s as áreas d o direito , com q u a lid a d e e com petência.
O u tro o b stácu lo en fre n ta d o pelo s a d v o g a d o s a tu a lm e n te é
q u e, com o a c ú m u lo d e au d iên cias, p ra zo s, reun iõ es, estu d o s e
p esq u isas, to d a s as h o ra s d o dia são insuficientes p a r a o esg o ta­
m e n to d a ag en d a.
A lém disso, os altos cu stos d e instalação e m a n u te n ç ã o de
u m escritório com e m p re g a d o s com p eten tes, m o d e rn o s e q u ip a ­
48 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

m e n to s d e telefonia e inform ática, biblioteca a tu a liz a d a e ou tro s,


to rn a a ad v o cacia " a rtesa n al" p ra tic am en te inviável.
A co labo ração recíproca en tre profissionais e sociedades, em
q u e se p a rtilh a m re sp o n sa b ilid a d es e resu ltad o s, tem sido a so­
lu çã o e n c o n tra d a p a ra a m e lh o r o rg a n iz aç ão d a a tiv id a d e da
advocacia.

2. Associação e sociedade - diferenças


im p o rta n te , d e s d e já, a p o n ta r as p rin cip a is d iferenças en tre
associação e s o c ie d a d e ’ .
A s o cied a d e é u m a e n tid a d e com plexa, com p e rso n a lid a d e
ju ríd ica d istin ta d e seu s m em b ro s, p atrim ô n io p ró p rio e razão
social, o q u e lhe p e rm ite p ra tic ar atos d e ad m in istraç ão em seu
p ró p rio n o m e ^ . Essencial a p resença d a affectio societatis, v o n ta ­
d e d e s u b m eter-se ao regim e societário. A v o n ta d e social d eve
prev alecer.

’ Para Paulo Luiz Netto Lóbo “0 regulamento geral introduziu a disciplina de um tipo intermedi­
ário entre o sócio da sociedade e o advogado empregado. É o advogado associado, muito co­
mum nos costumes dos escritórios de advocacia brasileiros” (LÔBO, Paulo Luiz Netto, C o m e n ­
tá rio s a o E sta tu to da A d v o c a c ia e da O AB. 3. ed. São Paulo; Saraiva, 2002. p. 114),
2 A sociedade de advogados somente pratica atos de administração. A advocacia, por imposi­
ção legal, somente pode ser exercida por pessoas naturais. Assis Gonçalves esclarece que
“Pode parecer, à primeira vista que a sociedade de advogados é constituída para exercer a
ad vocacia - o que não é verdade, pois, sendo a atividade de advocacia privativa de advogado,
certamente essa sociedade não tem por fim exercê-la, mas, permitir ou facilitar a 'colaboração
reciproca’ entre si dos sócíos-advogados e dos demais advogados a ela vinculados, ‘para a
disciplina do expediente e dos resultados patrimoniais auferidos na prestação dos serviços’ por
eles individualmente realizados para os clientes, como enunciava o art. 77, cap ut, da Lei n®
4.215, de 1963" (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. S o c ie d a d e d e A dv o g a d o s. 2. ed. São
Paulo: Juarez de Oliveira, 2002. p. 10/11). 0 tema é bem definido no art. 4- do Provimento n- 92/
2000 do Conselho Federal da OAB: A ri. 4 ^ - A s so c ie d a d e s d e a d vogad os, n o e x e rc íc io d e su a s
a tiv id a d e s , s o rrie n te p o d e m p ra tic a r os a to s in d isp e n s á v e is às s u a s fin a lid ades, a s s im c o m p re ­
en d id o s, d e n tre o u iro s . o s d e su a a d m in is tra ç ã o regular, a ce le b ra ç ã o d e c o n tra to s e m g e ra l
p a ra re p re s e n ta ç ã o , c o n s u lto ria , a s s e s s o ria e de fe sa de c lie n te s p o r in te rm é d io d e a d vo g a d o s
d e s e u s q u adro s. P a rá g ra fo único. O s a to s p riv a tiv o s de a d v o g a d o d e v e m s e r e x e rc id o s p e lo s
s ó c io s o u p o r a d v o g a d o s vincula dos à sociedade, co m o asso cia dos ou c o m o em pregados, m e sm o
q u e o s re s u lta d o s re v e rta m p a ra o p a trim ô n io social.
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 49

}á a associação é a p e n a s a ap ro x im ação d e in teresses com uns.


N ã o existe p e rs o n a lid a d e jurídica d istin ta d e seu s m em b ro s. A
in d e p e n d ê n c ia é a su a m aio r característica^. É u m co n tra to civil,
re g id o , p o rta n to , p elo C ó d ig o Civil e pelas n o rm a s especiais que
lh e são aplicáveis'’ .

3. Previsão legal
O c o n tra to d e associação p o d e ser firm a d o en tre ad v o g a d o s
a u tô n o m o s , e n tre so cied ades d e a d v o g a d o s ou, ain d a, en tre so­
c ie d ad es e ad v o g a d o s. O co n trato d e associação firm a d o entre
a d v o g a d o s a u tô n o m o s é m ais ra ro e n ã o cau sa m a io r polêm ica.
O co n trato d e associação en tre sociedades será ab o rd a d o adiante.
Já o c o n tra to d e associação en tre a d v o g a d o a u tô n o m o e soci­
e d a d e d e a d v o g a d o s m erece m elh o r atenção. C o m a p ro lifera­
ção d a s so cied a d es d e ad v o g a d o s a p a rtir d a s d é c a d a s de 80 e
90, este tip o d e co n trato to rn o u -se corriqueiro, ca u san d o , p ara
alg u n s, a falsa im p ressão d e q u e se tratav a d e u m a b u rla ao c o n ­
tra to d e trabalho.
V isa n d o d e m o n s tra r a leg alidad e d o in stitu to , esta m o d ali­
d a d e d e c o n tra to d e associação foi n o rm a tiz a d a pelo R eg u lam en ­
to G eral d a A dvocacia e d a OAB q ue, em seu artig o 39, dispõe:

"Art. 39 - A sociedade de ad vo gados p o d e associar-se


com advogados, sem vínculo d e em prego, para partici­
pação nos resultados.

^Segundo Gisela Gondin Ramos, "A finalidade é de ordem prática. Por este meio, permite-se
que a sociedade estabeleça uma relação profissional com advogados nas várias especialidades
da atividade da advocacia, sem que haja necessidade de incluí-los como sócios. (RAMOS,
Gisela Gondin. E s ta tu to da A d v o c a c ia - C o m e n tá rio s e Ju ris p ru d ê n c ia S e le c io n a d a . Florianó­
polis: OAB/SC, Editora, 2® ed „ 1999, p. 225.)

‘ Destaca-se que o contrato de associação deverá obedecer aos princípios da t)oa-fé objetiva e
da lunção social do contrato (artigos 421 e 422 do Código Civil Brasileiro).
5 0 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

Parágrafo único. Os contratos referidos neste artigo são


av erbados no registro da sociedade de ad v o g ad o s"’ .

A n o rm a tiz a ç ã o n ã o criou o in stitu to, ap e n as p re v iu a p o ssi­


b ilid a d e d e su a utilização. O E statuto da A dvocacia e da OAB
(Lei 8.906, d e 4 d e ju lh o d e 1994) é e x tre m am en te ríg ido , p ro i­
b in d o , ex p ressam en te , a "m ercan tilizaçâo " d a advocacia. A so­
c ie d a d e d e a d v o g a d o s , com o vim os, é a d m itid a a p e n a s com o
in s tru m e n to d e facilitação d o exercício d a ad vo cacia p elo s seus
c o m p o n e n te s o u a d v o g a d o s v inculad os. A ssim , se em alg u m
m o m e n to , talv ez ten h a su rg id o d ú v id a q u a n to à leg a lid a d e d e s ­
te tip o d e associação, o R eg ulam en to G eral acabou co m q u al­
q u e r d ú v id a ^ .

4. Forma e conteúdo
A n o rm a d o artigo 39 d o R eg u lam ento G eral a p e n a s estabe­
lece q u e o c o n tra to d ev e ser a v e rb a d o no reg istro d a sociedade,
e a d o § T , d o artig o 6" d o P ro v im en to n® 92/2 00 0 , q u e os co n tra­
tos d e associação d e v e rã o ser a p re se n ta d o s p a ra av erb ação em
três vias.
Logo, os c o n tra to s d e associação en tre so cied a d e d e a d v o g a ­
d o s e a d v o g a d o s a u tô n o m o s d e v e m ser o b rig ato ria m en te escri­
to s e la v ra d o s , ao m en o s, em três vias. N o m ais, a fo rm a é livre.
P o d e ser p o r esc ritu ra p úb lica o u p o r in s tru m e n to p artic u la r, e
s e u c o n te ú d o é liv rem en te p a c tu a d o en tre as parte s, d e acordo

^ 0 Provimento n- 92/2000 do Conselho Federal trata brevemente no parágrafo segundo do seu


artigo 6- sobre a averbação do contrato de associação.

®Assis Gonçalves explica que “ Não padece a regra regulamentar de qualquer vicio de ilegalida­
de, porque não está a criar nova figura jurídica, mas simplesmente a contemplar uma possibili­
dade concreta, dentre as várias possiveis, de contratação de serviços de advocacia pela socie­
dade. Ou seja, com ou sem a norma regulamentar, nada impediria que a sociedade de advoga­
dos celebrasse contratos de associação com advogados autônomos” (GONÇALVES NETO,
Alfredo de Assis. Ob. c it„ p. 59).
SOCIEDADE DE ADVOGAMS V o l u m e II 51

co m os seu s interesses, re co m en d a n d o -se, en tre ta n to , q u e nele


sejam d is p o s ta s to d as as condições d o pacto^.
C ab e re ssa lta r q u e cada C onselho Seccional p o d e rá , através
d o órg ão re sp o n sá v el p ela averbação, re g u la m e n ta r m in im a m e n ­
te a fo rm a e o c o n te ú d o d o s co ntrato s d e associação a p re se n ta ­
d o s, v is a n d o estabelecer u m p a d rã o m ín im o q u e a te n d a às ne­
c e ssid a d es o rg an izacio n ais d o p ró p rio órgão, co m o m icrofilm a-
g e m / d i g i ta l iz a ç ã o , e n c a d e rn a ç ã o , a r m a z e n a m e n to , co n tro le,
d e n tre o u tro s ^ . A lém disso, p a r a ca d a a d v o g a d o associad o , d e ­
v erá ser a p re s e n ta d o u m con trato em s ep a rad o , se n d o v e d a d a a
a p re se n ta ç ã o d e co n tratação coletiva.

5. Averbação
A averbação d o contrato d e associação é feita jun to ao registro
d a so cied ad e d e ad v og ado s, m ed ian te req u erim en to dirigido ao
P resid en te d o C onselho Seccional. O contrato d ev e rá ser ap resen ­
tad o em três vias, send o q u e u m a ficará a rq u iv a d a n o C onselho
Seccional e as o u tras d u a s serão d ev o lvid as p a ra as partes.
Im p o rta n te re ssa lta r q u e o a d v o g a d o asso ciad o d ev e rá ter,
o brig ato riam en te, inscrição n o C onselho Seccional o n d e será feito
0 registro.
D ev erão ser ob serv ad as, ain d a, as n o rm a s im p o sta s pelo C o n ­
selho Seccional e p a g o s os p reços devidos.

■ Para Assis Gonçalves “esse contrato deve ser detalhado na determinação, não só (i) dos
vincules dele decorrentes, como (ii) das atividades contratadas, (iii) das responsabilidades as­
sumidas, tanto pelo advogado associado como pela sociedade, (iv) a forma, cálculo ou critério
de remuneração, (v) da oportunidade de pagamento etc. Enfim, devem ser estabelecidas 'todas
as cláusulas que irão reger as relações e condições da associação estabelecida pelas partes’"
(GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Ob. cit., p. 61).

®É 0 caso, por exemplo, do Conselho Seccional do Paraná, que, através de sua Comissão de
Sociedade de Advogados, editou a Instrução Normativa n® 01/2002, que trata, entre outros as­
suntos, da forma e do conteúdo mínimo dos contratos de associação.
52 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

P a ra A ssis G onçalves, o n ão -c u m p rim e n to d a fo rm a lid a d e da


av erb ação n ã o in v alid a o ato, m as ocasiona infração disciplinar'^.
É im p o rta n te a av erbação do s pacto s d e associação n o C o n se­
lh o Seccional p a ra q u e este ten h a o controle d a s relações en tre
p ro fissio n ais e so cied ad es, n ã o p e rm itin d o q u e u m a d v o g a d o
associe-se a m ais d e u m a so cied ad e ou, se n d o sócio de u m a soci­
e d a d e , associe-se a o u tra " '.

6. Responsabilidade do advogado associado


O te m a d a re sp o n sa b ilid a d e é assu n to d o C a p ítu lo III d esta
obra. N o en ta n to , cabe a q u i fazer a lg u m a s considerações.
O a rtig o 40 d o R eg u lam en to G eral estabelece que:

"Art. 40 - Os advogados sócios e os associados resp on ­


d em subsidiária e ilim itadam ente pelos dano s causados
d iretam ente ao cliente, nas hipóteses d e dolo o u culpa e
p or ação o u omissão, n o exercício dos atos privativos da
advocacia, sem prejuízo d a responsabilidade disciplinar
em que possam incorrer."

* “A ausência deste último pressuposto, no entanto, não prejudica a conclusão antes exposta,
pois a função da averbação é a de dar publicidade ao pacto (para que a clientela possa conhe­
cer a extensão dos vínculos da associação e suas implicações relativamente aos seus interes­
ses e para controle da OAB), não sendo possiveS atribuir-lhe natureza constitutiva. Em outras
palavras, o descumprimento dessa exigência não invalida o ajuste, podendo a omissão ocasio­
nar, porém, infração disciplinar, passível de advertência ou censura” (GONÇALVES NETO, Alfredo
de Assis. Ob. c it.,p . 61),
Assis Gonçalves ensina que “por interpretação extensiva do art, 15, § 4- do Estatuto, o advo­
gado não se pode associar a mais de uma sociedade de advogados nem ser sócio de uma e se
associar a outra dentre as registradas no mesmo Conselho Seccional" (GONÇALVES NETO,
Alfredo de Assis. Ob. cit,, p. 62). No mesmo sentido, Gisela Gondin Ramos afirma que “0 cerne
do problema, aqui, está em definir se o advogado associado integra ou não a sociedade à qual
se associa, frente à restrição consignada no parágrafo quarto do art, 15 do Estatuto. Após aná­
lise da questão, concluímos, d a ta venia, que o contrato de associação, efetivamente, tem o
condão de tornar o advogado associado elemento Integrante da sociedade, o que se evidencia
pela redação do art. 40 do Regulamento Geral, que ao mesmo faz referência expressa. Desta
tonna entendemos que a associação, nestes termos, não è possível” {RAMOS, Gisela Gondin,
Ob. cit., p. 225).
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 53

O artig o trata a p e n a s d a re sp o n sa b ilid a d e p e lo s d anos cau­


sad os diretam ente ao cliente, n ão a b ra n g e n d o a resp o n sab ili­
d a d e social, o u seja, n ão re s p o n d e o a d v o g a d o asso ciad o pelas
o brig açõ es a s s u m id a s p ela so cied ad e" .
A re s p o n sa b ilid a d e civil p o r d a n o s ca u sad o s ao cliente, é, de
ac o rd o co m o artig o citado, subsidiária. N o en ta n to , A lfred o de
A ssis G o nçalv es N e to d isco rd a d a p o ssib ilid ad e d a caracteriza­
ção d e resp o n sab ilid ad e subsidiária d o a d v o g a d o associado por
atos p o r si praticad o s, enten d en d o , n este caso, ser a responsabili­
d a d e solidária'^, posição q u e encontra os m elhores argum entos.
A re s p o n sa b ilid a d e disciplinar, p o r óbvio, so m en te p o d e ser
a trib u íd a ao a d v o g a d o o u a d v o g a d o s q u e c o m e te ra m a in fra­
ção, seja p o r ação o u om issão. N o caso concreto, d e v e rá ser a p u ­
ra d a a e x te n sã o d o env o lv im en to d e cada a d v o g a d o '^ .

" Para Paulo Luiz Netto Lôbo “( 0 associado) Pode utilizar as instalações da sociedade, mas
não assume qualquer responsabilidade social" (LÔBO, Paulo Luiz Netto, Ob, cit,, p. 114). Neste
sentido, Assis Gonçalves: “0 advogado associado, não sendo sócio, não responde pelas obri­
gações assumidas pela sociedade, nem mesmo em caráter subsidiário" (GONÇALVES NETO,
Alfredo de Assis. Ob. cit., p. 62).
“Reafirmo essas conclusões apesar de o art. 40 do Regulamento Geral falar em responsabi­
lidade subsidiária do advogado associado, pois não vejo como caracterizá-la. É que, (i) ou bem
0 advogado associado agiu ou deixou de agir causando o dano, por culpa ou dolo a si imputá-
veis e sua responsabilidade é pessoal e direta (art. 32 do EAOAB), (ii) ou bem nada fez e quem
agiu ou deixou de agir foi outro advogado, integrante da sociedade. Nessa última hipótese, não
fiá norma legal que atribua qualquer responsabilidade ao advogado associado - rectius, ao
advogado não sócio - por conta de atos de outro advogado que atuou pela sociedade associa­
da. Já na primeira hipótese, não pode o pacto associativo ser empecilho para que o cliente aja
diretamente contra o advogado que o prejudicou; a seu turno, a sociedade, em razão do contrato
de associação 'para participação nos resultados’, vincula-se ao cliente em caráter solidário, por
força dessa convenção que atribui a ambos o proveito patrimonial da atuação associada” (GON­
ÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Ob. cit., p. 62).

Para Assis Gonçalves, “A responsabilidade por infrações ético-disciplinares é dos advogados


que as tenham cometido, ainda que atuem sob o manto de uma sociedade de advogados. Em
outras palavras, se um advogado vinculado à sociedade por laços societários, trabalhistas ou
associativos, comete alguma infração disciplinar no exercido da advocacia, é ele quem deve
responder ao processo disciplinar; não o é a sociedade nem os demais advogados integrantes
do seu quadro, A falta cometida por um não contamina o conjunto nem os indivíduos desse
conjunto, singularmente considerados" (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Ob, cit., p. 51).
54 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

7. Aspectos tributários
A d v o g a d o associado é a d v o g a d o au tô n o m o , p o r isso, d ev e
c u m p rir co m as obrigações trib u tárias incidentes so b re su a ati­
v id ad e .
O c o n tra to d e associação d e v e d isp o r so b re a fo rm a d e re m u ­
n eração . Se o a d v o g a d o associado receber seus h o n o rá rio s d ire ­
tam e n te d o cliente, a sociedade n a d a tem a fazer em relação à q u e­
le m o n ta n te receb ido pelo ad v o g a d o . Por o u tro lado, se os h o n o ­
rário s forem p a g o s pelo cliente à sociedade, p a ra so m en te d e ­
p o is ser re p a s s a d a a p a rte q u e couber ao a d v o g a d o associado,
d ev e rá, a so cied ad e, o b serv ar todas as im plicações trib u tária s
d e c o rre n te s d e s ta o p e r a ç ã o " .
O a d v o g a d o associado, a seu tu rn o , n ão terá n e n h u m a res­
p o n s a b ilid a d e p elo s trib utos d e v id o s pela sociedade, d a m esm a
fo rm a co m o n ã o tem p o r n e n h u m a o u tra obrigação social, com o
visto acim a.

8. Aspectos trabalhistas
Já m en c io n a m o s q u e o co n trato d e associação e n tre socied a­
d e d e a d v o g a d o s e a d v o g a d o s a u tô n o m o s n ã o é u m a fo rm a
d is farçad a d e c o n tra to d e trabalho.
P a ra q u e seja ca rac teriza d a a relação d e e m p re g o é preciso
q u e estejam p re sen tes to d o s os req u isito s d o art. 3°, d a C o n so li­
d a ç ã o d a s Leis d o Trabalho: (I) o n ero sidad e; (II) não-ev entu ali-
d a d e ; (III) p esso a lid a d e; e (IV) su bo rd inação .
A s u b o rd in a ç ã o é o elem ento ch av e d a relação a q u i estu d a-

" Assis Gonçalves lembra que “Muitas sociedades de advogados lém preferido que o advogado
a elas associado constitua outra sociedade de advogados a fim de que os pagamentos a ele
efetuados não sejam onerados com tributação mais gravosa (percentual bem mais elevado de
retenção de imposto de renda na ionle e contribuição previdenciària incidente sobre o valor
pago ao autônomo)" (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis, Ob. cit., p. 68).
SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o lu m e II 55

d a. Pois n ã o h á s u b o rd in aç ão entre o a d v o g a d o associado e a


s o cied a d e d e ad v o g a d o s, logo n ã o há relação d e e m p re g o '^ , m as
tão -so m e n te u m a relação d e trabalho.
O p ró p r io artig o 40 d o R eg u lam en to G eral n ã o d eix a d ú v id a
ao defin ir q u e "A sociedade de advogados pode nssociar-sc com advo­
gados, s e m v í n c u l o d e em p reg o , para participação nos resultados".
O R egu lam en to Geral, saliente-se, não confronta com a legisla­
ção trabalhista, pois se trata d e u m a form a d e prestação d e servi­
ços d o a d v o g a d o associado para com a sociedade d e advogados,
n a qu al p erm a n ec em garan tid os os direitos fundam entais.
O q u e caracteriza a relação en tre a so cied ade d e a d v o g a d o s e
o a d v o g a d o asso ciad o é a conveniência. N e m o a d v o g a d o a u tô ­
n o m o , n e m a so cied a d e d e a d v o g a d o s firm arão u m p ac to cujos
term o s n ã o lhes sejam convenientes'^.

9. Sociedades associadas
A associação en tre sociedades d e ad v o g a d o s foi ex p ressam en ­
te a d m itid a p e lo P ro v im en to n" 92/2000 d o C o n selh o Federal*^.

Paulo Luiz Netto Lõbo afirma que “0 advogado associado não estabelece qualquer vínculo de
subordinação ou de relação de emprego com a sociedade ou com os sócios dela" (LÕBO, Paulo
Luiz Netto. Ob. cit., p. 114). No mesmo sentido, Assis Gonçalves esclarece que “ Mesmo traba­
lhando sob 0 mesmo teto e usufruindo a estrutura organizacional da sociedade de advogados, o
advogado associado mantém sua independência. Não se subordina às ordens e determinações
dos administradores da sociedade, não recebe salário e seu vinculo é relativo aos casos ou
trabalhos que são confiados à sua execução (pareceres, elaboração de peças processuais,
atendimento a determinado cliente, fornecimento de consultas etc). A sociedade não interfere
minimamente em sua atuação, trabalhando ele segundo seu modo de agir e sua convicção".
(GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Ob. Cit., p, 60).

Gisela Gondin Ramos ensina que “0 objetivo da norma, esclareça-se, não é permitir a
contratação de advogados, isentando a sociedade do vínculo empregatício dai conseqüente . 0
caso em tela é distinto. Trata, exclusivamente, daquelas situações em que interessa, tanto à
sociedade, quanto ao advogado, unirem-se para a prestação de determinados serviços profissi­
onais, em geral, mas não necessariamente, limitados pela especialização técnica do associado”
(RAMOS, Gisela Gondin. Ob. cit., p. 225).

A letra “d" do artigo 6- do Provimento n- 92/2000 do Conselho Federal dispõe que serão
averbados à margem do registro da sociedade "os a ju s te s de a s s o c ia ç ã o o u d e c o la b o ra ç ã o
5 6 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

O b serv e q u e so m e n te é p ossível a associação en tre socieda­


d es d e a d v o g a d o s, n ão se a d m itin d o a associação d e u m a socie­
d a d e d e a d v o g a d o s e u m a socied ad e d e objeto diverso'®.
O u tro aspecto in tere ssa n te é q u e a associação n ã o p o d e ser
c o n d u z id a d e form a q u e u m a sociedade p asse a ser sócia d a o u ­
tra, p o is, vale lem b rar, so m en te p essoas n a tu ra is p o d e m consti­
tu ir so cied a d es d e a d v o g a d o s ’^.
Q u a n to à fo rm a, c o n te ú d o e registro, os c o n tra to s d e associa­
ção e n tre so cied a d es d e ad v o g a d o s o b ed ecem às m e sm a s n o r­
m a s im p o sta s às associações en tre socied ad e d e a d v o g a d o e a d ­
v o g a d o au tô n o m o .
A lfred o d e A ssis G onçalves N eto d iv id e as associações entre
so cied a d es d e a d v o g a d o s em d u a s categorias: "(I) am p la , env o l­
v e n d o to d a s as ativ id a d e s d ese n v o lv id a s pelas so cied ad es asso ­
ciad as, o u (II) restrita, q u a n d o celebrada p a ra u m a área d e te r­
m in a d a o u ra m o d o direito, para o a te n d im e n to d e certo cliente,
p ara a p artic ip a çã o em licitações relativas à p re sta ção d e servi­
ços d e advocacia etc."^".

c o m o u tra s s o c ie d a d e s d e a d v o g a d o s ” e o § 3- do mesmo artigo que “A s a s s o c ia ç õ e s en tre


s o c ie d a d e s d e a d v o g a d o s n ã o p o d e m c o n d u z ir a q u e m a p a s s e a s e r só cia d a ou tra, c u m p rin ­
d o -lh e s re s p e ita ra re g ra d e q u e s o m e n ie a d vogad os, p e s s o a s na tura is, p o d e m c o n s titu ir s o c ie ­
d a d e d e a d v o g a d o s .'.
Assis Gonçalves lembra que “É preciso esclarecer que essa faculdade de associação só tem
lugar entre sociedades de advogados. Se se admitisse a associação entre uma sociedade de
advogados e uma outra, dedicada a atividade estranha à advocacia, estaria sendo desrespeita­
da, por via oblíqua - ou melhor dizendo, burlada - , a proibição contida no art. 16, cap ut, do
EAOAB" (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Ob. c it„ p, 68).

'8 Na lição de Assis Gonçalves: “também não é possível, a teor do que estatui o art, 6-, § 3®, do
Provimento n- 92, que dessa associação resulte a participação de uma das sociedades no capi­
tal da outra, dada a e x ig ê m a de que somente advogados pessoas naturais irrscritas na OAB,
podem fazer parte do quadro social de uma sociedade de advogados. As figuras de sociedades
controladas ou coligadas são incompatíveis com as sociedades de advogados" (GONÇALVES
NETO, Alfredo de Assis. Ob. c it„ p, 68),
GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis, Ob. cit,, p, 69,
SOCIEDADE DE ADVOQADOS Volume II 5 7

N a s relações d e associação en tre so cied ad es d e a d v o g a d o s a


q u e stã o d a re sp o n sa b ilid a d e é m u ito p ró x im a d o q u e ocorre na
associação en tre so cied ad e d e a d v o g a d o e a d v o g a d o au tô n o m o .
N a s o b rig açõ es sociais, ca d a so cied ade re s p o n d e p ela s ob rig a­
ções p o r si assu m id as. A re sp o n sa b ilid a d e d iscip lin ar será atri­
b u íd a ao efetivo in fra to r (advogado). Já a re sp o n sa b ilid a d e civil
p o r d a n o s c a u sa d o s ao cliente p o ssu i u m a d isciplina m ais co m ­
plexa. O a d v o g a d o c a u sa d o r d o d a n o re sp o n d e so lid ariam e n te
c o m a s o cied a d e a q u e está d ire ta m e n te v in cu lad o , e n q u a n to a
so cied a d e asso ciad a p o ssu i resp o n sa b ilid a d e su b s id iá ria ^ '.
C o n s id e ra n d o q u e a associação de socied ad es n ã o cria u m a
n o v a p esso a jurídica, ca d a sociedade d ev e rá recoliier seu s trib u ­
tos in d iv id u a lm e n te.
H á, a in d a , os p acto s d e colaboração, p re v isto s n o P ro v im e n ­
to n" 9 2 /2 0 0 0 d o C on selho Federal (artigo 6”, letra d)^^. Trata-se
d e u m a form a d e ap ro x im ação de sociedades d e a d v o g a d o s m ais
sutil. N a s p a la v ra s d e Assis G onçalves, " N ã o v isam à atuação
co n ju n ta, à in teg ração d e ativ id ad es, m as, sim p le sm e n te, o esta­
b elecim en to d e u m a form a d e cooperação e n tre d u a s o u m ais
d essa s s o c ie d a d e s " ^ . N ã o existe vínculo d e re sp o n sa b ilid a d e de
n e n h u m a espécie. A s fo rm alid ad es p ara reg istro d e v e m ser ob­
se rv a d a s, com as d e v id a s adaptações.

10. Considerações finais


O s p acto s d e associação en tre so cied ad es d e a d v o g a d o s e en-
Assis Gonçalves ressalva que "É evidente que, se a associação celebrada é restrita e não
engloba o ramo de advocacia de que decorreu o fato danoso, não há responsabilidade alguma
da sociedade associada. Sua responsabilidade circunscreve-se às atividades de advocacia com­
preendidas no ajuste dessa associação (restrita)” (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Ob.
cit-, p.70).

d) os a ju s te s d e a s s o c ia ç ã o o u d e c o la b o ra çã o co m o u tra s s o c ie d a d e s de a d vogad os.


(GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Ob. d l . p. 70/71],
58 SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e II

tre s o c ie d a d e d e a d v o g a d o s e a d v o g a d o a u tô n o m o , p o r su a
p ra tic id a d e e conveniência, são utilizad o s com freqüência e, p o r
isso, m e re c e ra m re g u la m en taç ão p o r p a rte d a OAB.
E m b o ra os p acto s n ã o d eix em d e ter v a lid a d e p o r falta d e
re g istro , in c o rre m os p a c tu a n te s e m infração d isc ip lin a r p ela
om issão. A d e m a is, d ia n te d a s rep ercussõ es tribu tárias, trab alh is­
tas, d e re s p o n sa b ilid a d e civil, en tre o u tras, im p o rta n te o regis­
tro d o d o c u m e n to p a ra g a ra n tir a h a rm o n ia d a relação e pu b lici­
d a d e d o ato.
O b s e rv a d a s as n o rm as q u e in cid em sobre o instituto , e sen d o
ele b em u tiliz ad o , o con trato d e associação é in s tru m e n to a ser­
viço d o s a d v o g a d o s e su as sociedades, co n trib u in d o p a ra o ex er­
cício co nju n to d a ad v ocacia d e form a o rg a n iz a d a e racional.
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume H 59

CAPÍTULO V

SOCIEDADES DE ADVOGADOS
- ADMINISTRAÇÃO SOCIAL

Clemencia Beatriz W olthers

Art. 41 do RGEAOAB: "As so ciedades d e a d v o g a d o s


p o d e m ad o tar qualquer forma de adm inistração social,
p erm itida a existência d e sócios-gerentes, com indicação
dos poderes atribuídos."

Art. 3" do Provim ento n” 92/2000: "A adm inistração so­


cial po d e adotar qualquer forma e, se convier aos sócios,
ser orientada ou fiscalizada por órgão colegiado, integra­
do po r u m certo núm ero deles."

C o m estes d o is sim p les dispo sitiv os, a legislação aplicável às


s o cied a d es d e a d v o g a d o s estabelece a fo rm a d e ad m in istraç ão
d essa s so cied a d es, p e rm itin d o q u e elas p o s s a m a d o ta r q u a lq u e r
tip o d e ad m in istraç ão , m a s exigindo qu e a m e sm a seja exercida
p o r u m o u m ais sócios. Logo, p o r a d v o g a d o , o u m e lh o r, p o r
a d v o g a d o s sócios. Essa reg ra já estav a explícita n o P ro v im en to
an te rio r, n'^ 2 3 /6 5 , o q ual estabelecia q u e " so m e n te os sócios
p o d e r ã o exercer as funções d e d ireto ria e g erên cia d a sociedade
d e ad v o g a d o s".
N o siste m a d o n o v o C ódigo Civil, a ad m in istra ç ã o d as socie­
d a d e s sim p les, p o d e ser conferida a n ão sócio, p o ré m essa regra
n ã o se ap lica às S ocied ad es d e A d v o g ado s. Logo, cabe exclusi-
60 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume li

v ã m e n te ao sócio, o u sócios d a s o cied a d e d e a d v o g a d o s seu


g eren ciam en to . Isso n ã o significa q u e n ão p o ssa o sócio a d m i­
n is tra d o r d e le g a r p o d e re s a terceiro p a ra q u e exerça a a d m in is ­
tração co m o seu m an d a tá rio . Trata-se, nesse caso, d a g estão p o r
p ro c u raç ão , ficando o m a n d a n te re sp o n sá v el pelos ato s d o seu
m a n d a tá rio e te n d o q u e a v e rb a r n a OAB esse in s tru m e n to , à
m a rg e m d o co n tra to social.
N a d a im p e d e q u e a ad m in istraç ão seja m ais sofisticada, com
a criação d e ó rg ã o s colegiados, p a ra as deliberações m ais im p o r­
tan tes, n ã o só d a s co n ta s e d o s a ssu n to s fin an ceiro s, m a s ta m ­
b é m d a q u a lid a d e d o s serviços p re s ta d o s . Seria u m a espécie
d e im ita ção d a e s tr u tu r a a d m in is tra tiv a d a s s o c ie d a d e s c o m e r­
ciais, q u e n ã o e n c o n tra q u a lq u e r o b stá c u lo n a n o rm a q u e n ào
p e rm ite a a d o ç ã o d e ca racterísticas m ercan tis. Essa e s tru tu ra
p o d e ser a té nec essária p ara as so cied a d es de g ra n d e p o rte , com
n ú m e r o sig n ificativ o d e a d v o g a d o s sócios, asso c ia d o s e e m p re ­
g a d o s , cuja e s tru tu ra o rg anizacio n al exige u m a ad m in istraç ão
m ais com plexa.
A s o cied a d e d e ad v o g a d o s tem , efetiv am ente, características
m u ito especiais, co m requisitos legais específicos, q u e estão tra ­
ta d o s n o s artig o s 15 a 17 d o EAOAB e n o s artig o s 37 a 43 do
RGEAOA B, além d o d isp o sto em vário s P ro v im en to s d o C o n se­
lho F ed eral d a OAB. E u m a sociedade sim ples, d e aco rd o com o
n o v o C ó d ig o Civil, p o ré m reg ida p o r lei especial, ap licand o -se o
C ó d ig o C ivil su b sid ia riam en te , n o q u e couber, m a n te n d o in te­
g ra lm e n te as n o rm a s d o EAOAB.
A lém d essa s características legais especiais, q u e são b em d i­
feren tes d a s d e o u tra s so cied ad es d e pre sta ção d e serviços p ro ­
fissionais, as so cied a d es d e ad v o g a d o s a in d a têm o u tra s carac­
terísticas essenciais e d e caráter m ais filosófico e cu ltu ral, q u e
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 61

d e te rm in a m u m a ate n ção to d a esp ecial e m su a e s tru tu ra ç ã o e


e m s u a a d m in is tra ç ã o e n a s d ire triz e s o p eracio n a is. A c o n v i­
v ên c ia d e v á rio s p ro fissio n ais, s o m a n d o c o n h e cim en to s, ta le n ­
tos, e x p e riê n c ia s e e s p e c ia lid a d e s d iv e rsa s, e n riq u e c e e a p r i­
m o ra c o n s ta n te m e n te os a d v o g a d o s q u e d e la p a rtic ip a m e, p o r
c o n s e q ü ê n c ia , q u a lific a m a p r ó p r ia p r e s ta ç ã o d o s s e rv iç o s
a d v o c atício s, em benefício d o s clientes e n a p ro c u ra c o n stan te
d a s u a satisfação.
T o da essa co m p lex id ade no exercício d a advocacia especializa­
d a e p ro je ta d a em d im en sõ es em presariais, exige u m a e stru tu ra
in te rn a ig u a lm e n te com plexa, q u e p o d e cheg ar a sofisticações
m aiores o u m en o re s, d e acordo com o ta m a n h o d a sociedade,
d o s seus ra m o s d e especialização, d o s seus clientes e d o s casos
em q u e p re te n d a atu ar. N essa d im en são , p o d e m o s co n sid erar
trê s tip o s, o u três n ív eis de ad m in istração , o u g estão a d m in is ­
trativ a, n as so cied a d es d e advogados:

• ad m in istra ç ã o funcional o u estru tu ral;


• a d m in is tra ç ã o profissional; e
• ad m in istra ç ã o estratégica.

V a m o s te n ta r d istin g u ir os conceitos, as atrib u içõ es e co m p e ­


tências d e ca d a u m a delas.

ADMINISTRAÇÃO FUNCIONAL - ESTRUTURAL


É a m ais fácil d e identificar, p o rq u e ela n ã o difere d a e s tru tu ­
ra d e a p o io e s u p o rte q u e q u a lq u e r o u tra so cied a d e d e p re s ta ­
ção d e serviços p recisa m a n te r p a ra atin g ir seu s objetivos e co n ­
se g u ir a te n d e r à clientela q u e a p ro c u ra e co n trata seus serviços.
E stão n essa classificação to d o s os serviços d e c a rá te r interno.
62 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

a d m in is tra tiv o s e financeiros, exigidos p ela p ró p ria o rg a n iz a ­


ção d a s o cied a d e e pela legislação aplicável, em especial a fiscal,
trab alh ista e p re v id e n ciária , tais como:

C o n tro lad o ria: con tab ilidade, tesouraria;


F atu ram e n to : lançam en tos, faturas, cobranças;
R e c u rs o s h u m a n o s : folha d e salários, en c arg o s, benefício s
sociais, p rev id ê n cia p ú blica o u p riv ad a ;
C om un icações: telefonia, fax, recepção, po stag em ;
S u p rim e n to d e m ateriais: co m pras, estoques;
P ro ce ssa m en to d e d a d o s e textos;
S ecretariad o e ate n d im e n to em geral.

N ã o h á n ec essid ad e d e e n tra r em d eta lh e s a re sp eito desses


serviços p p . d ito s, p o is n ão são exclusivos n e m específicos de
u m a s o c ie d a d e d e a d v o g a d o s. M as, vale d estac ar a im p o rtân cia
q u e tem a co rreta ad m in istraç ão e o co ntrole d esse s serviços,
p o rq u e p o d e m ser o g ra n d e diferencial n o g ra u d e eficiência e
d e eficácia n a execução d a ativid ad e-fim d essa sociedade, o u seja,
o serviço ju ríd ico p re s ta d o e a s e m p re p ro c u ra d a satisfação dos
clientes.
A in d a d e n tro d a ad m in istraç ão funcional, dois im p o rta n te s
d e p a rta m e n to s e / o u serviços, q u e já têm características b e m es­
p eciais e p ró p ria s n as so cied ad es d e ad v o g a d o s, q u e são:

• O A R Q U IV O e A BIBLIOTECA. T ra tan d o -se d e u m a p ro ­


fissão e m in e n te m e n te form al e intelectual, essas d u a s funções
p ra tic a m e n te se in co rp o ram n a ativ id ad e-fim d o ad v o g a d o , exi­
g in d o recurso s, m é to d o s e sistem as d e busca, p esq u isa e co n tro ­
les q u e os to rn a m significativam ente especiais e im p o rta n te s na
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume I I 63

e s tru tu ra o rg a n iz ac io n a l d e u m a sociedad e d e a d v o g a d o s. Es­


sas d u a s fu n çõ es o u serviços esp ecializad o s e co m p lem en tares
c o s tu m a m ser iden tificad as com o G ER EN C IA M EN TO DE D O ­
C U M EN TO S. A m b as u tilizam a m esm a b ase, o d o cu m e n to , de
q u a lq u e r tip o e espécie e tra ta m dele sob en fo q u es to talm ente
d istintos:
• N O A R Q U IV O , o d o c u m e n to é p a rte d e u m caso, d e u m
p ro cesso , d e u m cliente. Tem n o m e, d ata, fo rm a, n ú m e ro , p a r­
tes, a u to r etc. e é tra ta d o e classificado sob essas características.
• N A BIBLIOTECA, esse m esm o d o c u m e n to tem co n teúd o ,
tem assu n to , tem referências, e é tra ta d o e classificado sob esses
aspectos.

P ara am b o s d e p a rta m e n to s o desafio é o m esm o , o u seja, q u e


o d o c u m e n to in te g re u m todo, seja u m a p a s ta d e u m caso ou
p ro cesso , seja u m a p a sta d e u m assu nto , e p o ssa ser im e d iata­
m e n te lo calizad o e u tilizad o p a ra o fim ao q u al o profissional
a d v o g a d o se p ro p õ e , n aq u e le exato m o m en to . T rata-se, em li­
n h a s gerais, d a c h a m a d a a tiv id a d e -m e io .

ADMINISTRAÇÃO PROFISSIONAL
A b ra n g e to d a a e s tru tu ra profissional, o u seja, a e s tru tu ra ju ­
rídica, ú nica re sp o n sá v el p elo ate n d im e n to ao cliente n as q u e s ­
tões ju ríd icas p a ra q u e foi co n tratad o . Essa sim é a a tiv id a d e -
fim , a q u e justifica a p ró p ria existência e a p e rm a n ê n c ia d a soci­
e d a d e d e a d v o g a d o s n o ca m p o d e trab alh o . Essa e s tru tu ra ju rí­
d ica p o d e ser d e p o rte p eq u e n o , m éd io o u g ra n d e , n ã o im po rta,
m a s s e m p re c o n ta rá com u m a e q u ip e co m p o sta d e ad v o g a d o s
sócios, a d v o g a d o s associados, o u co n tra tad o s, co n su lto res, esta­
giários d e direito, p araleg a ls e assistentes jurídicos. A e stru tu ra
6 4 SOCreOADE DE ADVOGADOS Vctame 11

p ro fission al, co m níveis d e co nh ecim ento e d e experiência, re u ­


n in d o os a d v o g a d o s e g ru p o s, q u e a tu a m em d e te rm in a d a área
o u esp e cialid ad e , sob a re sp o n sa b ilid a d e e o rientação d o sócio.
N essa e q u ip e , o trab a lh o ju ríd ico se d istin g u e d e aco rd o com a
c o m p le x id a d e d o assu n to e a fase d o caso o u processo. O tra b a ­
lho em e q u ip e é u m a d a s características d a so cied a d e d e a d v o ­
g ados. É a m o la p ro p u ls o ra d o seu crescim ento e d a co n so lid a­
ção e fo rtalecim ento n o m ercado.
N u m tra b a lh o em eq u ip e, os a d v o g a d o s se su b stitu e m , so­
m a m seu s co n h ecim ento s, a te n d e m às cau sas e clientes d e for­
m a in teg ral, c o n stan te e in in te rru p ta . C a d a m e m b ro d a e q u ip e
executa p a rte d o trab alh o , m aio r o u m en o r, sim p les o u c o m p le­
xa, fo rm a n d o u m to d o d e m aio r q u a lid a d e e eficiência. A eq u ip e
p e rm ite e in cen tiv a o ap rim o ra m e n to d o s m ais jovens, p ela co n ­
v iv ên cia e p a rtic ip a ç ã o n o s casos e q u estõ es ate n d id a s. D esse
a p rim o ra m e n to s u rg e m o crescim ento, as o p o rtu n id a d e s , a for­
m ação d e n o v a s eq u ip e s, a su b d iv isã o d e áreas d e esp ecializa­
ção e, p o r co n seq ü ên cia, o crescim ento e a consolidação d a p ró ­
p ria sociedade.
A fo rm ação, con tratação e m an u ten ç ão d essa e q u ip e , a d iv i­
são d o trab a lh o , o controle, o cu m p rim e n to d e p ra z o s, o tre in a ­
m en to , o a p ro v e ita m e n to d e con h ecim en to s e talentos, o p lan o
d e carreira, a m o tiv ação d o s profissionais, o a p rim o ra m e n to em
n o v a s áre a s d e especialização, a discu ssão d e tem as e a em issão
d e o p in iõ e s legais, a ap resen taç ão d o s trab a lh o s e, p rin c ip a lm e n ­
te, A Q U A L ID A D E d o serviço p re sta d o e o d ec o rre n te C O N ­
T R O L E D E Q U A L ID A D E são atribuições d a ch a m a d a a d m i­
n istraç ão profissional, n o rm a lm e n te exercida pelo s sócios p r in ­
cipais d a s o cied a d e d e ad v o g a d o s, re sp on sáv eis p elo p restíg io e
p ela re p u ta ç ã o alcançada, fru to d e m u ito s a n o s d e trab alh o , d e ­
SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e II 65

d icação e recoiih ecim en to p elo s clientes. Este é o b e m m aio r de


u m a s o cied a d e d e a d v o g a d o s e p o r isso d ev e ser m u ito b em cu i­
d a d o e co n sta n te m e n te ze lad o pelos seus re sp o n sá v eis m aiores.

ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA
C h e g a m o s ao n ível m ais alto d a a d m in is tra ç ã o d e u m a soci­
e d a d e d e a d v o g a d o s . Esta é a fu n ção p rin c ip a l d o a d v o g a d o -
só c io -e m p re e n d e d o r, q u e te n h a co m o o b jetiv o d e s e n v o lv e r e
d irig ir u m a s o c ie d a d e d e serviços ju ríd ico s, com c a rac terísti­
cas e m p re sá ria s, m a s sem p e r d e r as ca racterísticas p erso n alista s
ex ig id a s p e la p ró p r ia p ro fissão . Q u e saiba e n c o n tra r o p o n to
d e eq u ilíb rio e n tre o ex ig ido p elo c a m p o d e tra b a lh o e o p e r m i­
tid o , re s p e ita n d o as re striç õ es legais e os p rin c íp io s éticos vi­
g en te s.
E n a a d m in is tra ç ã o estratégica q u e os sócios re sp o n sá v e is
id en tificam e d e se n v o lv e m n o v as áreas d e especialização, qu e
im p la n ta m n o v o s m é to d o s d e trab alh o , q u e in o v a m n a form a de
a te n d e r o cliente e d e d e fe n d e r seus in teresses legítim os, q u e
lu ta m p ela m a n u te n ç ã o de opin iõ es jurídicas fu n d a m e n ta d a s e
q u e u s a m to d a a força d o seu co n hecim en to ju ríd ico p a r a fazer
p re v alec er s u a s teses in o v ad o ra s, to rn a n d o -o s especiais e dife­
re n ciad o s. A so cied a d e d e a d v o g a d o s sem u m a ad m in istraç ão
estratég ica d efin id a, certam en te, n ã o vai so b re v iv e r m u ito te m ­
p o n u m m u n d o g lo b alizad o e co m p etitiv o com o o q u e estam o s
v iv e n d o n o m o m e n to atual.
É n a ad m in istra ç ã o estratégica q u e o sócio, o u o coleg iado de
sócios, d e c id e s u a s d iretriz es d e contratações, d e a b e rtu ra d e fi­
liais, d e n ego ciação d e parcerias e associações com o u tra s socie­
d a d e s d e ad v o g a d o s.
A s a tiv id a d e s institu cio nais e d e caráter social d ese n v o lv id a s
66 SOCIEDADEDE ADVOGADOS Vohme II

p ela s so cied a d es d e ad v o g a d o s, tam b ém fazem p a r te d a a d m i­


n istraç ão estratégica, q u e define as diretriz es a serem s e g u id as e
c u m p rid a s p elo s sócios.
O estab elecim en to d a política d e d iv u lg açã o d a s ativ id ad e s
pela s o cied a d e d e a d v o g a d o s é u m d o s p o n to s m ais sensíveis d a
a d m in is tra ç ã o estratégica, p rin cip a lm e n te no s d ias d e hoje, nos
q u a is a p u b lic id a d e precisa ser m a n tid a d e n tro d o s lim ites esta­
b ele cid o s p elo C ó d ig o d e Ética e D isciplina d a OAB.
S o m e n te o a d v o g a d o sócio, seja sócio-gerente, seja colegiado
d e sócios, in c u m b id o s d a direção e ad m in istraç ão d a sociedade
d e a d v o g a d o s é ca p az d e in te rp re ta r e conciliar as n o rm a s a p a ­
re n te m e n te ríg id as d o C ó d ig o d e Ética co m a ten d ê n cia e a im ­
p o rtâ n c ia ca d a v ez m a io r q u e a sociedad e d á à " p ro p a g a n d a "
o u ao c h a m a d o " m a rk e tin g ju rídico". S o m ente u m a d v o g a d o
sócio co n se g u e p erceb e r q u e a m aio r div u lg açã o q u e p o d e esp e ­
ra r e alm ejar, é o reco n hecim en to d a su a c a p acid a d e pro fissio­
nal, d a s u a q u a lid a d e n o serviço p re sta d o , d a su a co n d u ta , d a
s e rie d a d e e p ro fissio n alism o n o ate n d im e n to d a s q u estõ es soli­
citad a s p e lo s clientes.
C ab e a o s sócios d irig en tes solidificar esses conceitos e fixar
esses p rin c íp io s d e c o n d u ta com o sen d o u m a d a s p rin cip a is ca­
racterísticas d a so cied ade d e a d v o g a d o s q u e dirige. É esse d ife­
ren cial q u e a to rn a especial e sub stitu i q u a lq u e r tip o d e " p ro p a ­
g a n d a ".
O § 2“ d o artigo 15 d o EAOAB determ in a: "A plica-se à Socie­
d a d e d e A d v o g a d o s o C ó d ig o d e Ética e D isciplina, n o q u e co u ­
b er". O c u m p rim e n to d esse d isp o sitiv o é d a in teira re sp o n sa b i­
lid a d e d o s sócios e, p o rta n to , p a rte in teg ra n te d a ad m in istraç ão
p ro fissio n al e estratégica d a sociedade.
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 67

CONCLUSÃO
D efinid os os três n íveis d e ad m in istração , p o d e m o s re to rn ar
a o s d is p o s itiv o s legais m en c io n a d o s n o início d e ste artig o e con­
cluir q u e a p e n a s a ad m in istraç ão funcional o u e s tru tu ra l é que
p o d e ria ser d e le g ad a, p o r p ro c u raç ão a u m p ro fissio n al n ã o só­
cio e, p o rta n to , n ão a d v o g a d o . C ertam en te, a u m a d m in is tra d o r
d e em p re s a s que, co m seu s conh ecim en to s d irig id o s p a ra as á re ­
as a d m in is tra tiv a s , sab erá, até m elh o r q u e u m ad v o g a d o , dirigir
e c o o rd e n a r essas funções, te n d o sob su a re sp o n sa b ilid a d e to­
d o s os em p reg ad o s-fu n cio n ário s, n ão ad v o g a d o s, q u e execu tam
as fu n çõ es n ã o jurídicas, já m encionadas.
O m e sm o n ã o ocorre com a ad m in istraç ão p rofissional e com
a a d m in is tra ç ã o estratégica, q u e d ev e rão ficar s e m p re n as m ãos
d o s sócios p rin cip a is d a s so cied ad es d e a d v o g a d o s, p o is são es­
tas fu n ç õ es q u e d e fin e m a id e n tid a d e e a c o n d u ta p rofissional
d o s m e m b ro s in te g ra n te s d a p ró p ria sociedade. É u m a função
in d eleg áv el, p o r p rin cíp io e p o r preceito legal.
T o d o s estes conceitos e níveis d e co m petência a ss u m e m u m a
im p o rtâ n c ia significativa, n a m e d id a em q u e a so cied a d e d e a d ­
v o g a d o s q u e a tu a em q u estões e m p re saria is acaba s e n d o ob ri­
g a d a e ex ig id a a co m p o rta r-se e e stru tu ra r-se ta m b é m d e form a
e m p re sa ria l, p a r a co n seg u ir co m p etir e colocar-se em ig u ald ad e
d e co n d içõ es técnicas e ju ríd icas com os con correntes, sejam n a ­
cionais o u estrangeiros.
N u m m e rc a d o d e trab a lh o co m p e titiv o e g lo balizad o , com
n egociações nacionais e in ternacionais acontecendo e d e m a n d a n ­
d o o rien tação ju rídica d as p arte s co n tratan tes, m u ita s v ezes de
p a ís e s d is tin to s , os a d v o g a d o s e as s o cied a d es d e a d v o g a d o s
en fre n ta m c o n stan te m e n te essa concorrência d e p ro fissio n ais de
o u tra s áre a s e n ac io n alid ad es, q u e u ltra p a ssa m os lim ites e a v a n ­
68 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

ç a m n a s a tiv id a d e s p riv ativ as d o s a d v o g a d o s, claram en te defi­


n id a s n o artig o 1” d o E statu to d a A dvocacia, re la cio n an d o quais
são os ato s p riv a tiv o s q u e ap e n as os a d v o g a d o s leg alm en te ins­
critos n a OAB p o d e m praticar, sob p e n a d e exercício ilegal d a
p rofissão. N e m s e m p re o cliente percebe essa in v asão d o cam po
p ro fissio n al e n e m tem con h ecim en to qu e, d e aco rd o com o a rti­
g o 4° d o E s tatu to d a A dvocacia, são n u lo s os atos p riv a tiv o s d e
a d v o g a d o p ra tic a d o s p o r p esso a n ã o inscrita n a OAB.
M as, n ã o b asta q u e o a d v o g a d o e a so ciedad e d e a d v o g a d o s
se s in ta m p ro te g id o s p o r esses disp ositivo s legais e n ão se p re ­
p a re m p ro fissio n al e e s tru tu ra lm e n te p a ra co m p e tir e vencer
essa conco rrên cia p elo m érito , p ela q u a lid a d e d o serviço, pelo
c o n h e c im e n to ju ríd ico e, ta m b é m , pela e s tru tu ra ad m in istrativ a
e fu n c io n a l q u e p e rm ita colocar to d o esse esforço e ca p acid a d e a
serv iço d o cliente e d a cau sa q u e esta sob s u a in teira re s p o n sa ­
b ilid a d e , h o n ra n d o o artig o 133 d a C o n stitu ição Federal^que diz:
" O a d v o g a d o é in d isp en sáv e l à ad m in istraç ão d a justiça, sen d o
in v io láv el p o r seu s atos e m anifestações n o exercício d a profis­
são, n o s lim ites d a lei” . D ispositivo esse re ite rad o e co n sa g rad o
n o C ó d ig o d e Ética e D isciplina d a OAB (artigo 2") " O a d v o g a ­
do , in d is p e n s á v e l n a ad m in istraç ão d a justiça, é d efen so r d o es­
ta d o d em o c rático d e direito, d a cid a d an ia, d a m o ra lid a d e p ú b li­
ca, d a justiça e d a p a z social, s u b o rd in a n d o a a tiv id a d e d o seu
M in istério P riv ad o à elev ad a função p ú blica q u e exerce".
SOCIEDADE OE ADVOGADOS Volume II 69

CAPÍTULO VI

SOCIEDADES DE ADVOGADOS:
ADMINISTRAÇÃO E ATOS.
O NOVO CÓDIGO CIVIL

Sergío Ferraz
A n tô n io Corrêa M eyer

A n o rm a tiv id a d e legal, re g u la m e n ta r e p ro v im e n ta l d o s te­


m a s v e rs a d o s n e ste C ap ítu lo , é ex tre m am en te rarefeita. N e m p o r
isso p o d e a m até ria restar in tocada, n u m trab a lh o q u e se p ro p o ­
n h a a u m ex am e m u ltiface ta d o d a s so cied ad es d e a d v o g a d o s.
É s a b id o q u e o n o v o C ó d ig o Civil a lte ro u sign ificativam ente
a legislação atin e n te às socied ad es em geral, cria n d o inclusive
c a p ítu lo p ró p rio p a ra a disciplina d o c h a m a d o " d ireito d e em ­
p re sa ". R e su m id a m e n te , observa-se, pela sistem ática d o n ovo
C ó d ig o Civil, observa-se, existem , d e u m lad o , re g ra s específi­
cas p a r a as s o c ie d a d e s em p re sá ria s, e n te n d id a s e m s e u perfil
subjetiv o co m o aq u e las q u e tê m no e m p re s á rio a p esso a q u e o r­
g a n iz a e m to rn o d e si to d o s os elem en tos d a em p re sa; e, d e o u ­
tro , as so cied a d es sim ples, d estin ad a s, em p rim e iro lu gar, à d is­
cip lin a d a s so cied a d es n as quais o titu lar n ã o seja o em p re sário
(com o é o caso d o s p rofissio n ais liberais, p o r ex em p lo) e, em
s e g u n d o lu g a r, com o fonte d e re g ras g erais suscetíveis d e ap li­
cação ta m b é m às so cied ad es em p re sária s {conform e p re v isto no
a rtig o 1.053 d o n o v o C ó d ig o Civil).
70 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

O a d v o g a d o , p o r e x p ressa d e te rm in a ç ã o d o p a rá g ra fo ú n i­
co d o art. 966 d o n o v o C ó d ig o Civil, n ã o se su jeita às n o rm a s
d a s s o c ie d a d e s e m p re s á ria s, m as, sim , às re g ra s d a s so cied a­
d e s sim p les.
O corre, en tre ta n to , q u e as so cied ades d e a d v o g a d o s são d is ­
cip lin a d a s p o r u m a série d e n o rm ativ as d e caráter especial, e
so m e n te a elas se aplica. A ssim , as so ciedades d e a d v o g a d o s são
d is c ip lin a d a s pelos artig o s 15 a 17, 21 e 34, II, d o E statuto da
O rd e m d o s A d v o g a d o s d o Brasil (Lei n° 8.906, d e 04.07.1994),
p e lo s a rtig o s 37 a 43 d o R eg u lam en to G eral, e p o r v ário s P ro v i­
m en to s, esp e cialm en te o d e n ° 92/2000.
N e s s e s e n tid o , im p o rta n te d e s ta c a r q u e a e s p e c ia lid a d e le­
g is la tiv a d e ce rto s tip o s d e a tiv id a d e s - co m o as d o s a d v o g a ­
d o s - é e x p r e s s a m e n te re c o n h e c id a p e lo n o v o C ó d ig o Civil.
C o m efeito , d e a c o rd o co m o p a r á g ra fo ú n ic o d o art. 983 d o
n o v o C ó d ig o C iv il, ficam re s s a lv a d a s d e s u a s d isp o s iç õ e s as
s o c ie d a d e s c o n s ta n te s d e lei e sp e cial q u e , p a r a o ex ercício d e
c e rta s a tiv id a d e s , i m p o n h a m a c o n stitu iç ã o d e s o c ie d a d e s se­
g u n d o u m t ip o s o c ie tá rio e s p e c ia l (caso d a s s o c ie d a d e s d e
a d v o g a d o s ). E m o u tra s p a la v ra s , q u a n d o se está d ia n te d e u m
d e t e r m in a d o tip o d e a tiv id a d e q u e, p o r e x p re s s a d is p o s iç ã o
leg a l, s u je ita -s e a n o rm a s esp eciais, a a p lica ção d o n o v o C ó d i­
g o C iv il s e rá a p e n a s su b s id iá ria . E m ú ltim a in s tâ n c ia , isso sig ­
n ifica d iz e r q u e as n o rm a s q u e r e g u la m as d ita s s o c ie d a d e s
e s p e c ia is d e v e r ã o p re v a le c e r q u a n d o e m c o n fro n to co m as
re g ra s d a s o c ie d a d e sim p les.
P o r essa razão , a so ciedad e d e ad v o g a d o s é tida com o socie­
d a d e pro fissio n al d e caráter au tô n o m o e especial. Essas so cied a­
d es, é fato n o tório, têm b ase p esso al e, n as su as relações in ter­
n a s , é c a r a c te r ís tic o o " i n t u i t u s p ersonae". A e s s e re s p e ito .
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

A scarelli’ já a p o n ta v a q u e as profissões intelectu ais (d e n tre as


q u a is se inclui a d o ad v o g a d o ) d e v e m ser re g id a s p o r n o rm as
especiais, p o rq u e se relacio n am ao exercício d e ativ id a d e s que,
p o r n a tu re z a , p o s s u e m u m a div ersa valoração social e, p o r isso,
d e m a n d a m p rin c íp io s ju ríd ico s d iferen tes d a q u e le s gerais ap li­
cáveis às ativ id a d e s re g u la d a s p elo C ó d ig o Civil. A ssim , em ra­
zã o d essa d iv e rs a valo ração social, certos tip o s especiais d e soci­
e d a d e s sujeitam -se a n o rm as q u e lev am em co nsid eração, p o r
exem p lo , o d ec o ro e o rígido acesso à profissão, o q u e, p o r si só,
im p e d e a aplicação d ireta e irrestrita d a s n o rm a s gerais estabe­
lecidas n o n o v o C ó d ig o Civil.
N o en ta n to , saliente-se, essa esp ecialid ad e n ã o im p e d e a s u b ­
m issã o d a s s o cied a d es d e a d v o g a d o s às re g ra s e p rin cíp io s d as
so cied a d es sim p les, s e m p re q u e as disp o siçõ es especiais forem
o m is sa s . Em v e rd a d e , com o tipo a u tô n o m o d e so cied ad e, a soci­
e d a d e d e a d v o g a d o s deve, p rim eiro , seg u ir as re g ra s específicas
q u e n o rte ia m s u a discip lin a e, p o sterio rm e n te , o b serv ar, n o q u e
cou b er, as re g ra s gerais aplicáveis às socied ad es sim ples.
A a m p la m a rg e m d e lib e rd a d e co n ferid a ju rid ic a m e n te às
so cied a d es d e a d v o g a d o s, na form a d a s considerações p ro c e d e n ­
tes, atra í u m p a p e l fu n d a m e n ta l p a ra o c o n tra to social e p a r a os
P ro v im en to s d o C on selho Federal, n a co n fo rm ação d e seu m o ­
d elo a d m in istrativ o . A reg ra é, pois, já d a lib e rd a d e co n ferid a à
so cied ad e, q u e ate n ta rá u n ica m e n te a su as con v eniências e pre-

' Tuilio Ascarellí. i n “ C o r s o d iD ir ítto C o m m e rc ia l^ , 3. ed, Giuffrè, Milão, 1962, p. 179. Note-se
que as considerações de Ascarellí em nenhuma hipótese devem ser consideradas despiciendas,
eis que o Código Civil italiano serviu de base para a elaboração do nosso novo Código Civil,
notadamente na parte do Direito de Empresa. Por exemplo, o citado parágrafo único do art. 966
do novo Código Civil deriva, indubitavelmente, do ari. 2,238 do Código Civil italiano, in v e itis :
“S e 1'esercizio d e lia pro fe s sio n e constituisce elem ento d i un'attività o rganizza ta in fo m ia d ’im presa.
s i a p p io c a n o a n c h e ie d is p o s iz io n i d e i tito b It í20S2ss.J. In ogni caso, se /'esecente di una
p ro fe s s io n e in te lle c ttu a le im p ie g a s o s tu tu ti o au siliari. s i a p p iic a n o le d is p o s iz io n i d e lie s e z io n i II,
III e IV d e i c a p o tito lo II [2 .0 9 4 ss.j.
72 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

ferências, te n d o co m o lim ite único a não -in frin gência à lei (e ao


o rd e n a m e n to jurídico em geral). A ssim , ta n to p o d e ser ela a d ­
m in is tra d a sin g u la r com o co leg iad am en te (m as s e m p re p o r ad-
v og ado ), com o u sem su p erp o siç ão de ó rg ã o s coletivos d e ori­
en ta ção e / o u fiscalização (sem p re in teg ra d o s a p e n a s p o r a d v o ­
gados). N ã o se p o d e d is p e n s a r q u e a indicação d o sócio o u sóci­
os- g e re n te s conste d o co n tra to social, com a identificação do s
re sp ectiv o s p o d e re s e atribuições. S em p re se ten h a em m en te
q u e co n stitu i in fração d iscip lin ar p ro v o c a d a s a so cied a d e fora
d a s n o rm a s e preceitos aplicáveis (EOAB, art. 34, II).
V árias o u tra s m anifestações concretas d a ad m in istraç ão d a
s o cied a d e ficam ta m b é m su b m etid as, n o q u e diz re sp eito a sua
efetivação, à descrição d o s sócios, m an ifestad a s o b re tu d o (m as
n ã o só) n o c o n tra to social, m ere ce n d o d estaq u e, n o particular:
— fixação d o s critérios d e d istrib u ição d o s re su lta d o s e p re ­
ju ízo s d o exercício;
— cálculo e fo rm a d e p a g a m e n to d o s h av e res e d e even tu ais
h o n o rá rio s p e n d e n te s , d o sócio falecido, d o q u e se re tirar d a so­
c ie d ad e o u d o q u e d ela for excluído;
— alteraçã o d o co n tra to social (que p o d e m ser d e c id id a s p o r
m aio ria sim p le s (salvo se o contrário estip u la r o contrato), a p u ­
r a d a d e a c o rd o com o valo r d as q u o ta s de ca d a sócio (ressalvad a
d isp o siç ão em con trário , d o co n tra to social);
— to m a d a d e deliberações em geral (por m aioria sim ples, sal­
v o o u tra o p eração , d o co n tra to social);
— s u b stitu içã o d o s sócios-gerentes, o u redefinição d a s a tri­
bu içõ es e p o d e re s deles;
— cessão d e quotas;
— exclusão d e sócios, d elib erad a p ela m aio ria d estes (salvo
d isp o siç ão d iv ersa, d o co n tra to social).
SOCIEDADE DE ADVOGADOS VoJurr» II 73

C o n s titu e m ato s d e ad m in istraç ão re g u la r d a sociedad e a q u e ­


les n ecessário s à m an u te n ç ã o de sua existência re g u la r e ao c u m ­
p rim e n to d a s fin alid ad es d a sociedade (desd e q u e n ã o se trata
d e ato p riv ativ o d e ad v og ado ), d e n tre eles c o m p re en d id o s, exem-
p lificativam en te:
— celeb ração d e co n trato s em geral, in clu in d o locações, a d ­
m issã o d e p essoal etc.
— celebração d e c o n tra to s p a ra rep resen tação , consultoria,
assesso ria e defesa d e clientes, ativ id ad es essas a serem exercidas
p e s s o a lm e n te p o r a d v o g a d o s d e seu s q u ad ro s;
— re g istro e averbação d o s atos societários ju n to à OAB, q u a n ­
d o e n a fo rm a p o r este exigida.
De n o ta r q u e, em to d o s os atos celeb rado s p ela sociedade,
d e v e rá c o n star o n ú m e ro d e seu registro.
H á u m fluxo co n sid eráv el d e atos leg alm en te v e d a d o s às so ­
c ie d ad es.
N ã o p o d e m c o n tra tar a re p resen tação d e clientes co m in te­
resses o p o sto s. T am p o u c o se a d m ite q u e a d o te m d e n o m in aç ão
d e fan tasia, q u e re alizem ativ id a d e s e stra n h a r à ad v o cacia (so­
b re tu d o as d e c u n h o tip icam ente m ercantil), q u e in clu am sócio
n ã o in scrito co m o a d v o g a d o ou to talm en te p ro ib id o d e a d v o ­
gar. Em co n tra p a rtid a , várias o u tra s gam as d e atos, tip icam en te
societários, lhes são ensejados. D esta cad a m en te a elab oração de
c o n tra to s d e associação com ad v o g a d o s (sem v ín cu lo em p reg a-
tício co m a c o n tra tan te) o u m esm o com o u tra s so cied a d es de
a d v o g a d o s (sem tran sferên cia d as re sp o n sa b ilid a d e s da co n tra­
tante, p e ra n te o cliente).
A q u i tam b ém , enfim , com o em tu d o q u e d iz respeito às soci­
e d a d e s d e a d v o g a d o s , p re s id e a regra d o q u e tu d o , n ã o sen d o
e x p re s s a m e n te v e d a d o , p ela lei (é dizer, o E statu to , seu Regula-
74 SOaEDADE DE ADVOGADOS Volume II

m e n to G eral, o C ó d ig o d e Ética e D isciplina e os P ro v im en to s do


C o n selh o F ederal) o u p elo co n tra to social, é facu ltad o às socie­
d a d e s d e a d v o g a d o s.
SOCIEDADE DE M3VOGA.OOS Volume II 75

CAPÍTULO VII

OS CONSULTORES ESTRANGEIROS
C om entários ao Provim ento n" 91/2000
do Conselho Federal da OAB

Orlando Di Giacomo Filho

HISTÓRICO
O s a d v o g a d o s m ilitan te s n ão m u ito jovens, q u e é o caso d o
s u b scrito r d e s te artig o p resen ciaram , d u ra n te su a atuação , as­
s istin d o a clientes m ultinacionais, a p resen ça, a distân cia, dos
a d v o g a d o s " d a m atriz", assim ch a m ad o s n a época.
Em esc ritó rio s e s o c ie d a d e s d e a d v o g a d o s e s s e n cialm en te
n a c i o n a i s , p o r o c a s iã o d e o p e r a ç õ e s d e s e u c l i e n t e a q u i
d o m ic ilia d o , n ã o só em alteraçõ es d e c o n tra to s sociais, asso cia­
ções, lic e n c ia m e n to s, m as ta m b é m em caso s d e a q u isiçõ e s im o ­
b iliá rias, n a m ais d a s v ezes, as m in u ta s e r a m e n d e re ç a d a s à
m a triz , n o ex terio r, p a ra o " re fe re n d u m " o u o " d e a c o rd o " , seja
d o seu ju ríd ic o " in te rn o " o u d o s seu s assesso res, ju ríd ic o s ex­
te rn o s , estes, escritó rio s de advocacia, d e g ra n d e p o rte , lá esta ­
belecidos.
C o m isso, n ó s já estáv am o s, p o r assim dizer, "fam iliarizad os"
com os colegas d o exterior, C o n tu d o , eles LÁ e nós A Q U I, sem
q u a is q u e r in vasõ es d e p rá tic a s jurídicas.
O co rre q u e o m u n d o m u d o u e o n osso B R A SIL tam b ém e
p a ra m e lh o r ao q u e se tem.
7 6 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

A ec o n o m ia b rasileira, p o r v olta d e 1990, co m eço u a m o s tra r


u m a c eleram en to n o cen ário m u n d ia l, co m d a d o s p o sitiv o s, tais
com o: inflação so b con tro le, g o v e rn o co m c re d ib ilid a d e ju n to aos
in v e s tid o re s estra n g eiro s. S urgiam , p o u co a p o u c o , as p riv a tiz a ­
ções e, c o n s e q ü e n te m e n te , o fluxo ra z o a v e lm e n te g ra n d e d e in ­
v estim e n to s direto s. Facilitou-se o acesso a c ré d ito n o m e rc a d o
d e capitais.
Se tu d o isso ocorria n o territó rio nacio nal, n o e x te rio r já se
p ro n u n c ia v a u m p rin cíp io d e crise, q u e logo d e p o is se ap resso u ,
c h e g a n d o a u m " q u a s e " clím ax em 1999.
O q u e fazer?
N ã o h a v ia d ú v id a . O s n o sso s colegas d o ex terior, lo calizad o s
n o h em isfé rio N o rte , já re ferid o s - d o s " g ra n d e s e sc ritó rio s" -,
q u e co no sco co n v iv iam re fe re n d a n d o n o ssa s o p eraçõ e s legais,
p a s s a ra m a v e r o Brasil co m o u tro s o lhos, isto é, o lh o s g ra n d e s
em cim a d e u m b o m m e rc a d o , d ife re n te d o d ele s q u e, co m o v is­
to, en fraq uecia.
A rr u m a ra m as m alas e v ie ra m p a r a cá.
P o d ia m ?
Eis a q u estão .

DA PRÁTICA JURÍDICA NO BRASIL


C o m a ch e g a d a , então , d o s colegas d o ex terio r e, p o r assim
d iz e r, a in v a s ã o d o n osso c a m p o d e atu a ção , n o s s o ó rg ã o m aio r,
a O R D E M D O S A D V O G A D O S D O B R A SIL , c o m e ç o u a se
p re o c u p a r co m o assun to .
P o r quê?
P o rq u e , e v id e n te m e n te , so m e n te p o d e m " a d v o g a r " , n o Bra­
sil:
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 77

I) OS a d v o g a d o s q u e se b a c h a re la ra m e m c u rs o s re g u la re s p o r
fa c u ld a d e s brasileiras; e
II) estran g eiro s d ip lo m a d o s n o exterior, q u e re v alid assem seus
d ip lo m a s, a p ó s cu rso s d e a d a p ta ç ã o , em fa c u ld a d e s brasileiras.
E m a m b o s os casos, d e s d e q u e a p r o v a d o s n o E x am e d e O r ­
d e m e p o r ta d o r e s d a re s p e c tiv a c a rteira d e h a b ilita ç ã o p ro fis ­
sional.
É re g ra m á x im a d o n osso E S T A T U T O D A A D V O C A C IA
(Lei n “ 8.906, d e 4 d e ju l h o d e 1994)

"A rt 3'*. O exercício da ativ id ade de advocacia no


território nacional e a denom inação de advogado são
privativos dos inscritos na O rd em do s A dvogados
d o Brasil - OAB.

Art. 4" São nulos os atos privativos d e adv o gad o p ra­


ticados p o r pessoa não inscrita na OAB, sem prejuí­
zo das sanções civis, penais e adm inistrativas

O n d e ficav am os estran g eiro s?


Foi en tã o , n a p ro fíc u a gestão d o D r. R E G IN A L D O O S C A R
D E C A S T R O , na P resid ên cia d o C o n s e lh o F e d e ra l d a O rd e m
d o s A d v o g a d o s d o B rasil, q u e, p o r m eio d a co m issão d a s socie­
d a d e s d e a d v o g a d o s , p o r ele in stalad a, foi e la b o ra d o o p rim e iro
esboço d e u m P ro v im e n to , p a ra alcan çar tais h ip ó te s e s , o u seja,
d o e stra n g e iro a tu a n d o n o Brasil.
A p ó s m u ita e ac a lo ra d a d iscu ssão d o s c o m p o n e n te s d a refe­
rid a com issão, foi a p ro v a d o p elo D r. R E G IN A L D O O S C A R D E
C A S T R O o tex to d efin itiv o , n o an o d e 2000, te n d o co m o R elator
o C o n se lh e iro F ed eral D r. S E R G IO FER R A Z , c o n fo rm e seg u e
abaixo, p o r com pleto:
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

"PROVIMENTO N° 91, DE 13 DE MARÇO DE 2000

Dispõe sobre o exercício da atividade d e consultores e socie­


d ad es de consultores em direito estrangeiro no Brasil.

0 CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS


DO BRASIL, no uso das atribuições que lhe são conferidas
pelo art. 54, V, da Lei n" 8.906/94, e tendo em vista o constan­
te do Processo 4467/1999/C O P,

RESOLVE:
Art. 1“. O estrangeiro profissional em direito, regularm ente
adm itid o em seu país a exercer a advocacia, som ente poderá
p restar tais serviços no Brasil depois d e au to rizad o pela O r­
dem dos A d v o gado s do Brasil, na form a d este Provim ento.
§ 1°. A autorização da O rdem dos A dvogados do Brasil, sem ­
p re concedida a título precário, ensejará exclusivam ente a
prática d e consultoria no direito estrangeiro correspondente
ao país ou estado de origem do profissional interessado, ve­
d ad o s expressam ente, m esm o com o concurso d e ad vo g ado s
ou sociedades d e ad vogados nacionais, reg ularm ente inscri­
tos ou registrados na OAB:
1 — o exercício do procuratório judicial;
II — a consultoria ou assessoria em direito brasileiro.
§2°. As sociedades d e consultores e os consultores em direi­
to estrangeiro não p oderão aceitar procuração, ainda q u an d o
restrita ao p o d er de substabelecer a outro advogado.

Art. 2 ° . A autorização para o desem penho da ativid ad e de


consultor em direito estrangeiro será requerida ao C onselho
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 79

Seccional da OAB do local onde for exercer sua ativ id ad e p ro ­


fissional, observado no que couber o disposto nos arts. 8",
incisos í, V, VI e VII e 10, da Lei n" 8.906, d e 1994, exigindo-se
d o requerente:
I — p ro v a d e ser p o rtad o r d e visto de residência no Brasil;
II — p rova d e estar habilitado a exercer a advocacia e / o u de
estar inscrito nos q u adro s d a O rd em dos A dv o gado s ou ór­
gão equivalente do país ou estado d e origem ; a p erd a, a qual­
q u er tem po, desses requisitos im portará na cassação da au to ­
rização de que cuida este artigo;
III — prova d e boas conduta e reputação, atestadas em docu­
m ento firm ado pela instituição de origem e p o r 3 (três) a d v o ­
gados brasileiros regularm ente inscritos nos q u ad ro s d o Con­
selho Seccional d a OAB em que p re te n d er atuar;
IV — pro v a de não ter sofrido punição disciplinar, m ediante
certidão negativa d e infrações disciplinares em itida pela O r­
dem dos A dvogados ou órgão equivalente d o país o u estado
em q u e estiver adm itido a exercer a advocacia ou, na sua fal­
ta, m ediante declaração d e q u e jam ais foi p u n id o p o r infra­
ção disciplinar; a superveniência com provada d e punição dis­
ciplinar, n o país o u estado d e origem , em q ualq uer o u tro país,
o u no Brasil, im portará na cassação da autorização d e que
cuida este artigo;
V — p rova de qu e não foi condenado p o r sentença transitada
em julgado em processo criminal, no local de origem do exte­
rior e na cidade o n d e preten d e prestar consultoria em direito
estrangeiro n o Brasil; a superveniência com p ro vad a d e con­
d enação crim inal, transitada em julgado, no país ou estado
d e origem , em qualquer outro país, o u no Brasil, im portará
n a cassação d a autorização de que cuida este artigo;
SOCtEDADE DE ADVOGADOS Volume »

VI — prova d e reciprocidade no tratam ento dos advogados


brasileiros no país o u estado de origem do candidato.
§ 1”. A O rd em dos A dvogados d o Brasil poderá solicitar o u ­
tros docum entos que en tend er necessários, d e v e n d o os d o cu ­
m entos em língua estrangeira ser trad u z id o s para o v ern ácu ­
lo p o r tra d u to r público juram entado.
§ 2°. A O rdem dos A dvogados do Brasil deverá m an ter co la­
boração estreita com os órgãos e au toridad es com petentes,
d o país ou estado de origem d o requerente, a fim d e e sta r
perm anentem ente inform ada quanto aos requisitos dos incisos
IV, V e VI deste artigo.
§ 3°. Deferida a autorização, o consultor estrangeiro pre sta rá
o seguinte com prom isso, peran te o C onselho Seccional:
"Prom eto exercer exclusivam ente a consultoria em direito do
p aís on d e estou originariam ente habilitado a praticar a ad v o ­
cacia, a tu a n d o com d ig nid ad e e independência, observando
a ética, os deveres e prerrogativas profissionais, e respeitan­
do a Constituição Federal, a ordem jurídica d o Estado D em o­
crático Brasileiro e os Direitos H um anos."

Art. 3®. Os consultores em direito estrangeiro, regularm ente


autorizados, poderão reunir-se em sociedade de trabalho, com
0 fim único e exclusivo d e p restar consultoria em direito es­
trangeiro, observando-se para tanto o seguinte:
1 — a sociedade deverá ser constituída e o rganizada d e acor­
d o com as leis brasileiras, com sede no Brasil e objeto social
exclusivo de prestação d e serviços d e consultoria em direito
estrangeiro;
II — os seus atos constitutivos e alterações posteriores serão
aprov ado s e arquivados, sem pre a título precário, n a Seccio­
SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e II 81

nal d a OAB de sua sede social e, se for o caso, n a d e suas


filiais, não tendo eficácia qualquer o u tro registro ev en tu al­
m ente obtido pela interessada;
III — a sociedade deverá ser integrada exclusivam ente por
consultores em direito estrangeiro, os quais d ev erão estar
d evid am en te autorizados pela Seccional d a OAB com peten­
te, na form a deste Provimento.

Art. 4°. A sociedade po d erá u sar o n o m e que internacional­


m ente adote, desd e que co m provadam ente au to rizada pela
sociedade do país o u estado de origem.
Parágrafo único. Ao nom e da sociedade se acrescentará obriga­
toriam ente a expressão "Consultores em Direito Estrangeiro".

Art. 5°. A sociedade com unicará à Seccional com petente da


OAB o nom e e a identificação com pleta d e seus consultores
estrangeiros, b em com o q ualquer alteração nesse quadro.

Art. 6°. O consultor em direito estrangeiro au torizad o e a so­


ciedade de consultores em direito estrangeiro cujos atos cons­
titutivos hajam sido arquivados na O rd e m dos A dvogados
do Brasil devem , respectivam ente, observar e respeitar as re­
gras de conduta e os preceitos éticos aplicáveis aos ad v o g a­
dos e às sociedades d e ad vogados no Brasil e estão sujeitos à
periódica renovação de sua autorização o u arquivam ento pela
OAB.

Art. 7®. A autorização concedida a consultor em direito es­


trangeiro e o arquivam ento dos atos constitutivos d a socieda­
d e d e consultores em direito estrangeiro, con cedid o s pela
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

OAB, deverão ser renovados a cada três anos, com a atualiza­


ção da docum entação pertinente.
§ 1®. As Seccionais m anterão q u ad ro s específicos e sep arad o s
p ara anotação d a autorização e d o arq u iv am en to dos atos
constitutivos, originário e suplem entar, do s consultores e so­
ciedades a que se refere este artigo.
§ 2°. A cada consultor ou sociedade d e consultores será atri­
b u íd o u m n ú m e ro im utável, a q u e se acrescentará a letra S,
q u a n d o se tratar de autorização o u arq u iv am en to su p lem en ­
tar.
§ 3®. H averá, em cada Seccional, u m a com issão d e sociedades
d e adv o gad o s à qual caberá, n a form a do q u e d isp u ser seu
ato d e criação e o Regim ento Interno da Seccional, exercer a
totalidade ou algum as das com petências previstas neste Pro ­
vim ento. N as Seccionais em que inexista tal com issão, deverá
ser ela criada e instalada no prazo d e 30 (trinta) dias, conta­
dos d a publicação deste Provim ento.

Art. 8°. Aplicam-se às sociedades d e consultoria em direito


estrangeiro e aos consultores em direito estrangeiro as d isp o ­
sições da Lei Federal n" 8.906, de 4 d e julho d e 1994, o R egula­
m en to Geral do Estatuto d a Advocacia e da OAB, o C ódigo
d e Ética e Disciplina d a OAB, os R egim entos Internos das
Seccionais, as Resoluções e os Provim entos d a OAB, em espe­
cial este Provim ento, p o d en d o a autorização e o arq u iv a m en ­
to ser suspensos ou cancelados em caso d e inobservância, res­
p eitad o o devido processo legal.

Art. 9°. A O rdem dos A dvogados do Brasil adotará, de ofício


o u m ediante representação, as m edidas legais cabíveis, adm i-
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume

nistrativas e / o u judiciais, sem pre que tenha ciência d e con­


d u tas infringentes às regras deste Provim ento.

A li. 10. Os consultores e as sociedades constituídas na forma


do presente P rovim ento estão sujeitos às m esm as an u id ades
e taxas aplicáveis aos nacionais.

Art. 11. Deferida a autorização ao consultor em direito estran­


geiro, o u arquivados os atos constitutivos d a sociedade de
consultores em direito estrangeiro, deverá a Seccional da OAB,
em 30 (trinta) dias, com unicar tais atos ao C onselho Federal,
que m anterá um cadastro nacional desses consultores e socie­
d ad es de consultores.

Art. 12. O presente P rovim ento entra em vigor n a data d e sua


publicação, revogando-se as disposições em contrário.

Brasília, 13 d e m arço d e 2000

R eg in ald o O scar d e C astro


Presidente

Sergio Ferraz
Relator"

M ister se faz co n sig n a r q u e a O R D E M D O S A D V O G A D O S


D O B R A SIL n ã o p re te n d e u , ao e d ita r o texto legal s u p ra , q u a l­
q u e r re serv a d e m ercad o . A idéia o u in ten ção n ã o foi P R O IB IR
a a tiv id a d e d o s a d v o g a d o s estra n g eiro s n o Brasil, m a s sim d a r
84 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

T R A N S P A R Ê N C IA a essas a tiv id a d e s, o u seja, p o s s ib ilita r o


re g istro d e sse s a d v o g a d o s e a fiscalização d a s s u a s ativ id a d e s.
O P R O V IM E N T O crio u a fig u ra n ã o só d o C O N S U L T O R
e m d ire ito e stra n g e iro , n o caso d e p esso a física, m a s ta m b é m d a
S O C IE D A D E D E C O N S U L T O R E S em d ire ito e stra n g e iro , no
caso d e p e sso a jurídica.
E m re su m o : v e n h a m , c o n tu d o , v e n h a m L E G A L IZ A D O S .
P assam o s, co m o d e te rm in a o títu lo d e ste tra b a lh o , a tecer a l­
g u m a s co n sid eraçõ e s so b re o re ferid o texto legal.
I) c o n fo rm e se in fere d o art. 2°, a a u to riz a ç ã o se re s u m e tão-
s o m e n te em p ro v a s d o c u m e n ta is, o u seja, p ro v a s , v in d a s d o lo ­
cal o n d e o p re te n d e n te se bach arelo u , d e m o n s tra n d o c o n c lu sã o
d o cu rso , b o a c o n d u ta e re p u ta çã o , n ã o ter so frid o p u n iç ã o d is ­
c ip lin ar n e m c o n d e n açã o em p ro c esso crim inal, b e m co m o p ro ­
v a d e " re c ip ro c id a d e " , isto é, q u e o s e u p a ís d e o rig em , recebe,
n a s m e s m a s condições, o a d v o g a d o brasileiro.
II) a s o c ie d a d e d e co n su lto re s em d ire ito e stra n g e iro , n o seu
objeto social d e v e rá fazer c o n star q u e p re s ta rá serv iço s so m e n te
em d ire ito e stra n g e iro , d o p a ís o n d e seu s in te g ra n te s fo ra m h a ­
b ilitad o s.
III) u m g ra n d e p e rm is s iv o legal foi d a d o à e n tid a d e /s o c ie ­
d a d e d e co n su lto re s em d ire ito estra n g eiro , a saber:

"p od erá u sar o nom e que internacionalm ente a d o ­


te, d esd e qu e co m p ro vad am ente au to riz ad a pela
sociedade d o país de origem "

Esse p e rm is s iv o é d e g ra n d e alcance, p o rq u a n to a " m a rc a " ,


p o r a ssim d iz e r, c o n s tru íd a n o d e c o rre r d o s a n o s e in te rn a c io ­
n a lm e n te co n h e cid a, p o d e r á s e r tr a z id a p a r a o Brasil.
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 85

IV ) a a u to riz a ç ã o co n c ed id a, com o re za o art. T , d e v e rá ser


r e n o v a d a a ca d a 3 (três) anos. Este m e c a n ism o p o ssib ilitará à
O rd e m d o s A d v o g a d o s d o Brasil verificar a c o n d u ta d o re q u e ­
re n te n o s 3 (três) ú ltim o s anos.
V) ao c o n s u lto r em d ire ito e stra n g eiro e à s o c ie d a d e d e c o n ­
su lto re s e m d ire ito e stra n g e iro são ap licáv eis n ã o só o ESTATU­
TO DA A D V O C A C IA , m a s ta m b é m o R E G U L A M E N T O GERAL
D O ESTATUTO D A A D V O C A C IA e, o m ais im p o rta n te , o C Ó ­
D IG O DE ÉTICA E D ISCIPLINA DA O R D E M D O S A D V O G A ­
D O S D O BRASIL.
* * *

0 PROVIMENTO E SUA EFETIVAÇÃO


DO PONTO DE VISTA PRÁTICO
E m ra z ã o d e n o s s a s fu n ç õ es ju n to à O R D E M D O S A D V O ­
G A D O S D O B R A SIL , n ã o só n o C o n s e lh o d a O A B /S Ã O P A U ­
LO, m a s ta m b é m c o m o P re s id e n te d a C o m is s ã o d a s S o c ie d a ­
d e s d e A d v o g a d o s d a re fe rid a Seccional, tiv e m o s a o p o r t u n i ­
d a d e d e te s te m u n h a r o a n d a m e n to d o a s s u n to d o p o n to d e v is­
ta p rá tic o
A ssim q u e e d ita d o o P ro v im e n to , os p rim e iro s c o n su lto re s,
p e sso a s físicas, co m e ç a ra m a p ro to c o la r se u s p e d id o s , d e v id a ­
m e n te d o c u m e n ta d o s , ju n to a n ossa Seccional d e São Paulo.
Em se g u id a , e m m e n o r n ú m e ro , a lg u m a s s o c ie d a d e s d e co n ­
s u lto re s e m d ire ito e stra n g e iro ta m b é m a s s im p ro c e d e ra m .
P o r quê?
E v id e n te m e n te , os escritó rio s e s tra n g e iro s , n o início d e s te
artig o referid o s, e m su a m aio ria com filiais e m v á ria s p a rte s d o
m u n d o , g o z a m d e re p u ta ç ã o ilib ad a e, e v id e n te m e n te , q u e re m
se e n q u a d r a r d e n tro d o s lim ites d a Lei N acional.
86 SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o lu m e II

E m co n se q ü ên cia , n ã o p re te n d e m a tu a r ILEG A LM EN TE no
Brasil, o q u e r e d u n d a ria em g ra n d e p re ju íz o p a r a a su a im a g e m
ín tern acion aL
A ssim , a lg u m a s d ela s a p re s e n ta ra m seu s p e d id o s .
A lg u n s já d eferid o s. O u tro s sob análise.
E os q u e n ã o se a d a p ta ra m ao P ro v im e n to ?
F o ram p o u co s, m a s d e g ra n d e e n v e rg a d u ra .
O q u e v e m s e n d o feito pela O A B ?
N a Seccional d e São P aulo, o DD. P resid en te, a tra v é s d a sua
C o m is s ã o d e S o c ie d a d e s d e A d v o g a d o s, p o r "ca rta -c o n v ite " ,
v em p e d in d o esclarecim en to s às re ferid a s s o c ie d a d e s e s tra n g e i­
ras, n u m total d e 13 (treze).
A m a io ria d ela s o u, q u a se to d as, p o r assim d iz e r, ate n d e u .
O s p ro c esso s en c o n tram -se , hoje, com os re la to res d e s ig n a ­
d o s p e lo P re s id e n te d a referid a co m issão p a ra ap recia ção e p e ­
d id o s d e m ais d o c u m e n to s , em a lg u n s casos.

CONSIDERAÇÕES SOBRE OS COLEGAS


ESTRANGEIROS E CONCLUSÃO
A p a r tir d o a n o 2000 a m íd ia co m eço u a v eic u la r v asta m a té ­
ria so b re a " c h e g a d a d o s estra n g eiro s n o B rasil” . A lg u m a s c o n ­
s id e ra n d o esta c h e g ad a com o u m a in v asão total n a ad v o cacia
n acion al e, o u tra s , p o n tific a n d o q u e esta " c h e g a d a " tã o -s o m e n ­
te tra ria u m a m e lh o ra p a ra a ad vo cacia b rasileira, p o r q u e estari-
a m tra z e n d o u m a b a g a g e m en o rm e d e co n h e c im e n to s d o p o n to
d e v ista p rá tic o n o q u e d iz re sp eito à in form ática, e m g eral, e,
ta m b é m , q u a n to à a d m in is tra ç ã o d o s escritório s e d a s so cied a­
d e s d e a d v o g a d o s.
P o d e m o s afirm ar: n e m tan to o céu e n e m ta n to a terra.
A v in d a d o s escritórios d o exterior, e v id e n te m e n te , p o d e r á
SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e II 87

traz er, co m o s e m p re ocorre, u m so m ató rio d e co n h ecim en to s e


u m a b o a troca d e inform ações. C o n tu d o , n ã o p o d e m o s d ize r q u e
n ã o tem os, hoje, esse tip o d e experiência.
T em o s sim , e n ã o pouca.
D e sd e m u ito , c o n ta m o s com so cied ades d e a d v o g a d o s, com
existência d e m ais d e 60 anos, q ue, em su as instalações, p o s s u ­
em e q u ip a m e n to s co m p a ráv e is a q u a lq u e r o rg an ização d o cha­
m a d o p rim e iro m u n d o , m as a troca d e in form ações e ex p e riên ­
cias so m e n te acresce e m elh o ra os níveis de d ese n v o lv im en to
p ro fissio nal, em q u a lq u e r lu g ar d o m u n d o .
Isso te m o co rrid o e s e m p re ocorrerá, n ã o só n esse segm ento,
m a s e m q u a is q u e r outros.
O u tro p o n to q u e a m íd ia tem p o r v ezes feito a lg u m a co n fu ­
são é c o n s id e ra r q u e e n tid a d e s in te rn a c io n a is q u e ag lom eram
v ário s escritórios de advocacia, no m u n d o tod o , seria m parcei­
ra s o u asso ciad as d e e n tid a d e s /e s c ritó rio s nacionais.
N ã o é v e rd a d e . N ão co rresp o n d e à realidad e.
N esses casos, n ão se trata de "associações d e escritórios", com o
e m v á ria s o p o r tu n id a d e s tem o s n o s m an ife sta d o , m a s sim. de
e n tid a d e s in te rn a c io n a is , às q u ais os escritórios se filiam não só
com a fin alid ad e d e trocarem inform ações ju ríd icas e técnicas,
m a s ta m b é m e, p rin cip a lm e n te , con v iverem , q u a n d o d a realiza­
ção d e re u n iõ e s e in d icar clientes nos resp ectiv o s países. N o dia-
a-dia são c h a m a d a s d e "clubes".
A s re u n iõ e s são p ro m o v id a s, n o rm a lm e n te , a ca d a a n o ou
sem e stra lm e n te , em diferentes países, com p a le stra s e eventos
sociais.
N o Brasil, m u ita s d as no ssas so cied ad es d e a d v o g a d o s são
filiadas a essas en tidades.
P o r ex em p lo , p o d e m o s citar; Lex M u n d i, Interlex, C lu b e d e
88 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

A b o g a d o s, W o rld L aw G ro u p , Terralex etc.


O im p o rta n te , co m o o bserv am os, é n ã o co n fu n d ir essas en ti­
d a d e s (internacionais) com a d v o g a d o s estran g eiro s, a tu a n d o no
Brasil, p o n to o ra tra ta d o n este artigo.
P o r d e rra d e iro , go staríam o s d e frisar q u e tu d o isso se d e v e a
tão d e c a n ta d a GLOBALIZAÇÃO, q u e alcançou tod o s os segm en­
tos d o m u n d o m o d e rn o e o to rn o u p eq u eno .
Existe e ex istirá lu g a r p a ra T O D O S , d e s d e q u e so b a d isc i­
p lin a d a Lei.
SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e II 89

CAPÍTULO VIII

A DENOMINAÇÃO DAS SOCIEDADES


DE ADVOGADOS

Eduardo Grebler

Denominação das sociedades no novo Código Civil


A s o cied a d e d e ad v o g a d o s é conhecida p o r u m n o m e d istin ­
tivo q u e a d iferencia d as d em a is p esso as ju ríd icas e q u e dev e
a c o m p a n h á -la d e s d e o nascim ento. Tal con d ição é exigida pelo
n o v o C ó d ig o Civil à g en e ra lid a d e d a s p esso as ju ríd icas, p o r oca­
sião d o respectiv o reg istro n o órgão c o m p e te n te '.
O n o m e d a so cied a d e d e ad v o g a d o s é u m d ireito d a p e rs o n a ­
lidade^ , p ro te g id o p elo n o v o d ip lo m a civil co n tra o u so in d ev id o
p o r p a rte d e terceiros. S end o a so cied a d e d e a d v o g a d o s u m a
so cied a d e sim p le s - e m b o ra su i generis - p a ra os efeitos d a p ro ­
teção ao n o m e , aplicam -se-lhe tam b ém as n o rm a s d o n o v o C ó­
d ig o C ivil co n c ern e n tes ao n o m e em p resarial, n o rm a s estas que
alcançam in d istin ta m e n te as so cied ades em p re sária s, as sim ples,
as associações e as f u n d a ç õ e s \

' “Art. 4 6 .0 registro declarará:

I - a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando houver;’ (CCiv),

^ “Art, 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome’
(CCiv).

' “Art. 1.155...............

Parágrafo Único. Equipara-se ao nome empresarial, para os efeitos da proteção da lei, a deno­
minação das sociedades simples, associações e fundações" (CCiv).
90 SOCIEDADE DE ADVOGADOS VoUme II

Da p ro teç ão ao n o m e d a p esso a - inclusive a jurídica'* - d e ­


co rre q u e o m e sm o n ã o p o d e ser e m p re g a d o em p ublicações ou
rep resen taçõ es q u e a ex p o n h a m ao d esp rezo público, ain d a q u a n ­
d o n ã o haja in ten ção difam atória^, e q u e, sem au torização , não
p o d e ser u s a d o em p ro p a g a n d a c o m e r c i a i .

Denominação das sociedades de advogados


na lei e nos regulamentos especiais
O re g ra m e n to específico d a so cied ad e d e a d v o g a d o s a d v é m
d o E statu to d a A dvocacia e da OAB (EAOAB)% lei especial que,
n o caso d e so cied a d es q u e en v o lv a m o exercício de certas ativi­
d a d e s , o n o v o C ó d ig o Civil co n sa g ro u com o fon te legislativa
p rim ária ".
A d e n o m in a ç ã o d a socied ade d e a d v o g a d o s tem m erecido
a té ag o ra escassa norm atização. P ouco d iz o E statu to d a A d v o ­
cacia e d a OAB a re sp eito d este aspecto da v id a d a so cied a d e de
a d v o g a d o s , lim itan d o -se a exigir q u e a ra zão social contenha,
o b rig ato ria m en te, o n o m e d e pelo m en o s u m a d v o g a d o re s p o n ­
sáv el p ela so cied ad e, p o d e n d o p e rm a n e c e r o d e sócio falecido,

* “Art. 52, Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalida­
de" (CCiv).
^ “A rt-1 7 .0 nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou represen­
tações que a exponham ao desprezo pút>lico, ainda quando não haja intenção ditamatória."

^ “Art. 18, Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial” (CCiv).
' "Art. 15. Os advogados podem reunir-se em sociedade civil de prestação de serviço de advo­
cacia, na forma disciplinada nesta Lei e no Regulamento Geral.

§ r , A sociedade de advogados adquire personalidade juridica com o registro de seus atos


constitutivos no Conselho Seccional da OAB em cuja base territorial tiver sede” (Lei n® 8.906, de
4/7/94).

8 "Art. 983.................

Parágralo Único, flessalvam -se as disposições concernentes à sociedade em conta de partici­


pação e à cooperativa, bem como as constantes de leis especiais que, para o exercício de
certas atividades, imponham a constituição da sociedade segundo um determinado tipo" (CCiv).
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume It 91

d e s d e q u e p re v ista tal p o ssib ilid ad e no ato constitutivo*^. O Re­


g u la m e n to G eral d a A dvocacia, ig u alm en te, d e d ic o u a este tem a
a p e n a s u m a b re v e referência, lim itando-se a re p ro d u z ir a n o r­
m a já e n c o n tra d a n o EAOAB"'.
A lg u m re g ra m e n to adicional foi p ro p o rc io n a d o p elo ato do
C o n selh o Federal q u e disp õ e sobre o reg istro e atos correlatos
d a s so cied a d es d e ad v o g a d o s, p o r m eio do P ro v im en to n® 92, de
1 0 /4 /2 0 0 0 . N esse in stru m en to , acha-se tam b é m re p ro d u z id a a
exigência d e q u e o con trato d a sociedade d e a d v o g a d o s co n te­
n h a a ra zão social, d e s ig n a d a pelo n o m e com p leto o u ab rev iad o
d o s sócios o u, pelo m eno s, de u m deles, re sp o n sá v el p ela a d m i­
n istração , a ssim com o a p re v isã o d e su a alteração, o u m a n u te n ­
ção, p o r falecim ento d e sócio q u e lhe ten h a d a d o o n o m e ” . Indo
u m p o u c o além , estabeleceu-se tam b é m q ue, n a com posição da
ra z ã o social, n ã o p o d e m ser a d o ta d a s siglas o u exp ressõ es de
fan tasia o u d e características m ercantis'^.

' “Ari. 16.................

§ r . A razão social deve ter, obrigatoriamente, o nome de, pelo menos, um advogado responsá­
vel pela sociedade, podendo permanecer o de sócio falecido, desde que prevista tal possibilida­
de no ato constitutivo" (EAOAB).

“Art. 3 8 .0 nome completo ou abreviado de, no mínimo, um advogado responsável pela soci­
edade consta (sic) obrigatofiamente da razão social, podendo permanecer o nome de sócio
falecido se, no ato constitutivo ou na alteração contratual em vigor, essa possibilidade tiver sido
prevista" (RGA).
" “Art. 2°. Vedada a adoção de qualquer das espécies de sociedade mercantil, o contrato social,
celebrado por instrumento público ou particular, deve conter:

VI - a razão social designada pelo nome completo ou abreviado dos sócios ou. pelo menos, de
um deles, responsável pela administração, assim como a previsão de sua alteração, ou manu­
tenção, por falecimento de sócio que lhe tenfia dado o nome’ (Provimento n* 92/2000}.
“Art. 2“ ................

§ r . Na composição da razão social, não podem ser adotadas siglas ou expressões de fantasia
ou de características mercantis” (Provimento n° 92/2000}.
9 2 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Voijme II

Homonímía entre sociedades de advogados


O n o tá v e l crescim en to d o n ú m e ro d e so cied a d es d e a d v o g a ­
d o s em to d o o p a ís su scito u p re o cu p aç õ es com relação à h o m o -
n ím ia e n t r e s o c i e d a d e s in s c r ita s em d if e r e n t e s C o n s e lh o s
Seccionais. N o s d ia s atuais, a re p u ta çã o d a s so cied ad es d e a d v o ­
g a d o s tra n s p õ e os lim ites territoriais d o s E stados d a F ederação
em q u e estão sed iad a s, to rn an d o -se co n h ecid as em to d o o terri­
tório nacional, p o r efeito d a com petência e experiência d e seus
p ro fissio n ais. N e ssa s circunstâncias, to rna-se m ais freq ü en te a
coin cid ência en tre n o m es d e so ciedad es inscritas e m diferentes
C o n selh o s Seccionais, p o d e n d o d a r o rig em à co n fu são en tre as
m esm as.
Esta q u e stã o a d q u iriu m a io r relevância ta m b é m pelo fato de
q u e so cied a d es d e a d v o g a d o s re g istra d as o rig in alm en te em u m
d o s C o n selho s Seccionais e stad u a is p assa ram a estabelecer-se em
o u tro s E stad os d a F ederação, em cujos C o n selh os Seccionais es­
tão ta m b é m o b rig a d a s a se inscrever. C o n q u a n to o re g istro d e
so cied a d es d e a d v o g a d o s seja d e com petência d o C on selho Sec­
cional d a re sp ectiv a sed e '^ , n ão se p o d eria conceber q u e socie­
d a d e re g is tra d a em u m d o s E stados d a F ederação fosse im p e d i­
d a d e se re g istra r p e ra n te o u tro C onselho Seccional, seja na for­
m a d e filial, seja com o n o v a sociedade fo rm ad a, n o to d o o u em
p arte , p elo s m esm o s sócios. Tal discrim inação, se ocorresse, v io ­
laria n o rm a s e prin cíp io s constitucionais q u e a s s e g u ra m a to d o s
os brasileiro s e aos estran g eiro s resid en tes no País - p esso a s n a ­
tu ra is e ju ríd icas - a lib erd a d e d e tra b a lh a r e d e se associar em
to d o o te rritó rio nacionaP ^.
Ao se s u b m e te r a registro, u m a so ciedad e d e a d v o g a d o s p o d e

Ari. 15,§r,EA0AB.
" Constituição Federal, art. 5°, incisos XIII e XVII.
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume It 93

e n c o n tra r s o cied a d e d e a d v o g a d o s h o m ô n im a p re v ia m e n te re ­
g istra d a n o C o n selh o Seccional, caso em q u e a coincidência de
n o m e s p o d e o casion ar p ro b lem a s d iverso s, seja en tre as p ró p ri­
as so cied a d es, seja em relação a seu s respectiv os clientes.
C o m vistas a reso lv er as situações já existentes, b e m com o a
p re v e n ir o s u rg im e n to d e o u tras, o C o n selh o F ederal d a OAB
ed ito u o P ro v im e n to n° 98, d e 1 5 /1 0 /2 0 0 2 , cria n d o o C ad astro
N a cio n al d e S o cied ad es d e A d v o g a d o s, a ser p o r ele m an tid o ,
c o n te n d o to d o s os d a d o s d a s so cied ad es d e a d v o g a d o s existen­
tes n o País.
P o r ocasião d o re sp ectiv o p e d id o d e reg istro d e n o v a socie­
d a d e d e a d v o g a d o s, o C o nselh o Seccional e n v o lv id o fica o b ri­
g a d o a re alizar co n su lta form al ao C o nselh o Federal q u a n to à
ra z ã o social p re te n d id a , ca b en d o a este re s p o n d e r à co n su lta em
d e z dias. D etectad a a existência d e so cied a d e d e a d v o g a d o s re­
g is tra d a p re c e d e n te m e n te com a m esm a ra zão social p re te n d i­
d a o u c o m ra z ã o sem elh a n te , o C o nselh o F ed eral re s p o n d e rá
n e g a tiv a m e n te à p o ssib ilid ad e d e registro, a p o n ta n d o a id e n ti­
d a d e o u a sem elh a n ça, caso cujo resp ectivo C o n selh o Seccional
d e v e rá d e te rm in a r aos re q u ere n te s p a ra p ro v id e n c ia re m o u tra
ra z ã o social, q u e será su b m etid a à no v a consulta.
E m relação às so cied ad es já existentes, d isp õ e o n o rm ativ o
q u e, se for d e te c ta d a a existência de id e n tid a d e o u sem elhança
e n tre as ra z õ e s so ciais d a s s o c ie d a d e s cujos re g is tro s fo rem
efe tu a d o s a n te rio rm e n te à im p le m en taç ão d o C a d a s tro N acio­
nal, o C o n selh o Federal dev erá, p o r in term éd io d o C o n selh o Sec­
cional d e te n to r d o re g istro p o sterio r, d e te rm in a r à so cied a d e
re sp ectiv a qu e, n o p ra z o d e 60 (sessenta) dias, p ro m o v a a co m ­
p e te n te alteração co n tra tu al, seja a p re s e n ta n d o n o v a razão, seja
ac re sc e n ta n d o o u ex clu in d o d a d o s d e m an e ira a fazer a d istin ­
9 4 SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e II

ção e n tre ela e a o u tra re g istra d a p reced en tem en te. N essa h ip ó ­


tese, o C o n selh o Seccional efetu ará consulta form al ao C onselho
F ederal, e v itan d o -se a ocorrência d e no v a id e n tid a d e o u sem e-
l h a n ç a '\

Outros princípios aplicáveis à denominação


das sociedades de advogados
D o p o n to d e vista d a regra positiva, pois, impÕe-se ap en as
q u e, p o r ocasião d o reg istro d a sociedade d e a d v o g a d o s n a Sec­
cional d a OAB, o resp ectivo co ntrato social co n te n h a disp o siti­
v o sobre: a) a ra z à o social, co n sta n d o o n o m e d e p elo m e n o s u m
d o s sócios re sp o n sá v eis p o r ela; b) se os c o n tra ta n te s assim d e ­
sejarem , a a u to riz açã o p a r a q u e o n o m e d o sócio q u e vier a fale­
cer p e rm a n e ç a n a ra z ã o social. A lém disso, a ra zão social não
p o d e r á co nter siglas o u expressões d e fan tasia o u d e caracterís­
ticas m ercan tis, n e m p o d e rá ser idêntica o u sem elh a n te à razão
“Art. 4°. Os Conselhos Seccionais ficam obrigados a repassar ao Conselho Federal, no prazo
de 60 (sessenta) dias a contar da publicação deste Provimento, todos os dados necessários à
implementação do Cadastro Nacional.

§ 1 Implementado o Cadastro Nacional com a consumação do repasse desses dados, durante


a tramitação dos novos pedidos de registro de sociedades, os Conselhos Seccionais ficam obri­
gados a realizar consulta formal ao Conselho Federal, quanto à razão sociai preterydida.
§ 2°. 0 Conseitto Federal responderá à consulta em 10 (dez) dias. sendo que, detectada a
existência de sociedade de advogados registrada precedentemente com a mesma razão social
pretendida ou com razão social semelhante, apontando a identidade ou a semelhança, respon­
derá negativamente à possibilidade de registro, devendo o Conselho Seccional consulenfe de­
terminar aos requerentes que providenciem outra razão social, que será submetida a nova con­
sulta.”

§ 3°. Se, do confronto das razões sociais das sociedades cujos registros foram efetuados ante­
riormente à implementação do Cadastro Nacional, o Conselho Federal detectar a existência de
identidade ou semelhança, deverá, por intermédio do Conselho Seccional detentor do registro
posterior, determinar à sociedade respectiva que, no prazo de 60 (sessenta) dias, promova a
competente alteração contratual, seja apresentando nova razão, seja acrescentando ou excluin­
do dados que a distingam da sociedade registrada precedentemente.

§ 4°. Na hipótese do parágrafo anterior, o Conselho Seccional efetuará consulta formal ao Con­
selho Federal, evitando-se a ocorrência de nova identidade ou semelhança” (Provimento n“ 98/
2002 ).
SOCIEDADE DE ADVOGADOS VcXuine II 95

social d e o u tra s o c ie d a d e já existente, m e s m o q u e re g istra d a


p e ra n te o u tro C o n selh o Seccional.
E m b o ra as disp osiçõ es d a lei e de seu s re g u la m e n to s sejam
re la tiv a m e n te lacônicas, certos p rin c íp io s d e s e n v o lv id o s pela
d o u trin a s o b re o n o m e d a s so cied a d es em g eral são tam b é m
aplicáv eis à ra zão social d a so cied ade d e ad v o g a d o s. ALFREDO
DE ASSIS G O N Ç A L V ES N E T O assinala q u e v ig e m n a so cied a­
d e d e a d v o g a d o s os p rin cíp io s d a veracidade, d a originalidade e
d a unicidade, significando, resp ectivam en te, q u e o n o m e social
d e v e refletir a v e rd a d e ira com posição societária, ser d istin to d e
o u tro s já ex istentes e ser ú nico p a ra cada so cie d a d e '^ .
N e sse sen tid o , e m b o ra os d isp o sitiv o s acim a m en c io n a d o s
n a d a d ig a m so bre o u tro s vocábulos o u expressões, n a razão so­
cial, além d o n o m e d e p elo m en o s u m d o s sócios resp on sáveis,
tem -se e n te n d id o q u e a d en o m in aç ão d a so cied a d e d e a d v o g a ­
d o s n ã o p o d e referir-se a ativ id ad e s q u e n ão sejam d ire ta m e n te
conexas ao exercício d a advocacia. C o m efeito, so m e n te será ve-
raz o n o m e social q u e re v elar o objeto d a so ciedad e, p a ra o q u e é
m iste r q u e dele conste, p o r exem plo, exp ressão com o "a d v o c a ­
cia", " a d v o g a d o s " , "co nsulto res legais", "co n su lto res jurídicos",
" escritó rio d e ad vo cacia", "sociedade d e a d v o g a d o s " o u asse­
m e lh a d a , d e m o d o q u e o p ú b lico saiba trata r-se d e sociedade
d isc ip lin a d a pelo E s tatu to d a A dvocacia e d a O A B '’ .
P ara co n fo rm ar-se a esse m esm o p rin cíp io d a v eracid a d e, a
ra z ã o social n ã o d e v e co n ter o u tro s v o cábu lo s q u e in d u z a m à
c o n fu são o u à concom itância com o u tra s a tiv id a d e s pro fissio ­
nais. T e n d o e m con ta q u e à sociedad e d e a d v o g a d o s é v e d a d o
GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Sociedade de Advogados. 2. ed. São Paulo: Juarez de
Oliveira, 2002. p, 32.

SODRÉ, Ruy de Azevedo. Sociedade de Advogados. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1975.
p. 16.
96 SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o h j m e II

exercer q u a lq u e r o u tra a tiv id a d e p ro fissio n al alé m d a a d v o c a-


cia^®, m e n c io n a r n a ra z ã o social ex pressões q u e d e n o te m o u tra s
esp ecialid ad es, ain d a q u e a sociedade d e a d v o g a d o s n ã o as exerça
d e fato, feriria a c o rresp o n d ê n cia ex ig id a e n tre o n o m e e objeto
social.
O m e s m o se p o d e d ize r q u a n to ao u so d e n o m e s d e p esso a s
q u e n ã o sejam p artíc ip e s d a so cied ade. C o n q u a n to as d is p o s i­
ções re g u la m e n ta re s estabeleçam a p e n a s q u e a ra z ã o social d ev e
c o n te r o n o m e d e p elo m en o s u m a d v o g a d o re s p o n sá v e l p ela
so cied a d e - n a d a a n o ta n d o so b re n o m e s d e o u tra s p e sso a s além
d e s te - , a b o a exegese d essa n o rm a , sob a é g id e d o p rin c íp io d a
v era c id a d e , leva à conclusão d e q u e som ente p o d e m c o n star d a
ra zão social os n o m es d o s ad v o g a d o s q u e d ela façam p a r te n a
q u a lid a d e d e sócios. C o nspícu a exceção a esta reg ra, ex p ressa­
m en te c o n te m p la d a n o E statuto d a A dvocacia e d a OAB, au to riza
q u e p erm a n eç a na razão social o n o m e d e a d v o g a d o q u e ten ha
falecido na condição d e sócio da sociedade, d e s d e q u e tal possibi­
lid ad e ten h a sid o prev ista n o ato co nstitutivo - o u , n a tu ra lm e n te,
em alterações co n tratu ais an teced entes ao falecim ento''^.

Prenome, sobrenome e alcunha


A lg u m a c o n tro v é rsia já se a p re s e n to u so b re a in te rp re ta ç ã o e
alcance d a s n o rm a s em relação ao n o m e d a s s o cied a d es d e a d ­
v o g ad o s. A casuística co n h ecid a re g istra d ú v id a s s u rg id a s p o r
o casião d o re g is tro d e c o n tra to s d e so c ie d a d e s d e a d v o g a d o s ,
s o b re se seria n ec essário m e n c io n a r os n o m e s c o m p le to s d o s

“Art. 16. Não são admitidas a registro, nem podem funcionar, as sociedades de advogados
que apresentem forma ou características mercantis, que adotem denominação de fantasia, que
realizem atividades estranhas à advocacia, que incluam sócio não inscrito como advogado ou
totalmente proibido de advogar" (EAOAB),
'®Ver Nota n° 9 supra.
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 97

a d v o g a d o s q u e in te g ra m a so cied a d e (p ren o m e e s o b re n o m e ju n ­
tos) o u se, a o co n trário , ad m itir-se-iam os n o m e s o u so b re n o m e s
iso la d a m e n te .
É certo q u e o n o v o C ó d ig o Civil refere-se a nom e co m o co m ­
p r e e n d e n d o o prenom e e o sobrenome^'^; p o r seu tu rn o , foi flexível
a in te rp re ta ç ã o d o art. 16, § 1° d o EAOAB, d a d a p e lo R eg u la­
m e n to G e raP ' e p elo P ro v im en to n° 92/2000^^, a d m itin d o q u e a
ra z ã o social c o n te n h a o nome completo ou abreviado, d a í concluir-
se ser p o ssív el m e n c io n a r a p e n a s u m a p a rte d o n o m e d o a d v o ­
g a d o in te g ra n te d a sociedade.
M as q u e p a rte d o n o m e d e v e c o n star d a ra z ã o social: o p re ­
n o m e o u o s o b re n o m e ? O d ireito brasileiro, s e g u in d o a siste m á ­
tica d o s d ire ito s e u ro p e u s , priv ileg ia o p a tro n ím ic o , o u n o m e de
fam ília, co m o a p a rte p rin cip a l d o n o m e, q u e co n fere à pessoa
n a tu ra l su a in d iv id u a liz a ç â o em relação às d e m a is p esso as. Por
isto, tem -se e n te n d id o q u e, p a ra c o m p o r a ra z ã o social d a socie­
d a d e d e a d v o g a d o s , ad m ite-se o u so a p e n a s d o s o b re n o m e d o
a d v o g a d o sócio-’ .
P A U L O LUIZ N ETT O LÔBO lem b ra q u e o Conselho Federal
da O A B , antes do novo Estatuto, jâ decidira que a sociedade de advoga­
dos podia ser identificada ou pelo nome completo de u m de seus advo­
gados ou pelo sobrenome, pelo menos, de qualquer u m deles^^ . H á ex ­
ceções, c o n tu d o , u m a d a s q u a is n o tic ia d a p o r A L F R E D O DE
ASSIS G O N Ç A L V ES N ET O , q u a n d o o p re n o m e seja p a rtic u la r­
m e n te d is tin tiv o d e m o d o a b e m id en tifica r o a d v o g a d o inte-

® Ver Nota n° 2 supra.


Ver Nota n° 10 supra.
“ Ver Nota n° 11 supra.

" GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Obra citada, p. 35.

LÔBO, Paulo Luiz Netto. Comentários ao Novo Estatuto da Advocacia e da OAB. Brasília:
Brasília Jurídica, 1994, p. 79.
98 SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e II

g ra n te d a so cied ad e. O b serv a G LA D ST O N M A M E D E , e n tre ta n ­


to, re striç ão à u tiliz açã o d e a lc u n h a o u p s e u d ô n im o n a ra z ã o
social, salv o se in c o rp o ra d a ao n o m e d o a d v o g a d o e m d e c o rrê n ­
cia d e retificação d e seu re g istro civiP^.

Denominação de fantasia ou de características


mercantis
C o m certa freq ü ên c ia tem -se colocado a q u e s tã o d o q u e se
d ev a e n te n d e r p o r denominação de fantasia, p a r a os fins d o art. 16
d o E statu to d a A dv o cacia e d a OAB, o u siglas ou expressões de
fan tasia ou de características mercantis, p a r a os efeitos d o art. 2°, §
1° d o P ro v im e n to n° 9 2 /2 0 00 . A cim a já se c o m e n to u s o b re a
n e c e s s id a d e d e q u e a ra zão social tra d u z a a v e rd a d e ira c o m p o ­
sição e objeto d a so cied ad e, com o fo rm a d e d a r ao p ú b lic o a co r­
re ta in fo rm a ç ã o a re sp eito d a s p esso as q u e a in te g ra m e d a s a ti­
v id a d e s q u e d e s e m p e n h a . E p o r força d esse m e s m o p rin cíp io
q u e n ã o se p e rm ite à so cied a d e d e a d v o g a d o s a d o ta r q u a lq u e r
d e n o m in a ç ã o q u e vá além d e su a ra z ã o social, p o is fazê-lo im ­
p licaria a p a rta r-s e d a estrita c o rre s p o n d ê n c ia q u e d e v e h a v e r
e n tre os e le m e n to s fáticos e a n oção le v a d a a o c o n h e c im e n to
p ú b lic o p o r in te rm é d io d o n o m e social.
Q u a n to às expressões de características m ercantis, p a re c e te r h a ­
v id o certa re d u n d â n c ia n a n o rm a q u e a im p e d e (art. 2°, § 1®,
P ro v im e n to n ° 92/2000)'^. N a re alid ad e, v ed a -se à s o cied a d e d e
a d v o g a d o s co n te r em seu n o m e quaiscjuer expressões q u e n ã o co r­
r e s p o n d a m à s u a v e rd a d e ira n a tu re z a , c o m p o s iç ã o o u objeto
social - n ã o a p e n a s as q u e te n h a m características m erc an tis. As-

^^MAMEDE, Gladston. A Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil. Porto Alegre: Síntese,
1999. p. 129.
“ Ver Nota n" 12 supra.
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 99

sim , s e n d o a s o c ie d a d e d e a d v o g a d o s im p e d id a d e re v e stir a
fo rm a o u características m erc an tis (art. 16, EAOAB) - n a te rm i­
n o lo g ia d o n o v o C ó d ig o C iv ú , form a ou características empresárias
n ã o lhe seria lícito u tilizar, em s u a ra z ã o social, v o c á b u lo s o u
a b r e v ia tu ra s p ró p r ia s d a s so c ie d a d e s m e rc a n tis - a tu a lm e n te
sociedades empresárias - , tais com o limitada, com panhia, sociedade
anônim a o u s u a s re sp ectiv as abreviações.
C u rio sa q u e stã o , d iv e rs a s v ezes su sc ita d a em d ife re n te s C o n ­
selh o s Seccionais d a OAB, d iz re sp eito ao u so d o sinal com o
co n ectiv o d o s n o m e s q u e in te g ra m a ra z ã o social, tid o p o r al­
g u n s co m o e x p ressão d e características m erc an tis. C o n q u a n to
haja, d e fato, trad ic io n a l u so d esse sinal e m c o n ju n to co m o v o ­
cá b u lo companhia, a d e s ig n a r as so cied a d es m e rc a n tis - hoje e m ­
p re s á ria s - em q u e haja sócios d e re s p o n sa b ilid a d e ilim itad a , o
sinal & n a d a m a is é d o q u e a estilização d o co n ectivo latin o “et",
in c a p a z , p o r si só, d e conferir características m e rc a n tis - o u em ­
p re s á ria s - à s o cied a d e em cuja ra z ã o social fig u rar. N ã o h á, pois,
m o tiv o ju sto p a r a q u e se v e d e a utilização d esse sin al co m o in te­
g ra n te d a ra z ã o social d a s so cied ad es d e a d v o g a d o s .
E m b o ra n ã o se in clu a p ro p ria m e n te na q u e stã o d o n o m e da
so c ie d a d e d e a d v o g a d o s , tem certa relação co m ela a p rá tic a -
hoje co rre n te - d e estilização gráfica d o n o m e d a s o c ie d a d e p ara
fo rm a r u m a lo g o m arc a, ora ag re g a n d o -se ao n o m e certo s ele­
m e n to s gráficos - sím bolos, acrô n im o s, lin h as, cores etc. - , ora
d o ta n d o -o d e características d is tin tiv as p ró p ria s , ca p aze s d e lhe
co n ferir o rig in a lid a d e visual.
N ã o se e n c o n tra v ed a ção ex pressa a esse re s p e ito n a s n o rm a s
re g u la m e n ta re s d a p rofissão , q u e r n o to ca n te ao a d v o g a d o in d i­
v id u a lm e n te c o n sid e ra d o , q u e r n o to ca n te às s o c ie d a d e s d e a d ­
v o g ad o s. H á , c o n tu d o , n o C ó d ig o d e Ética e D isciplina d a OAB,
100 SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e II

re c o m e n d a ç ã o n o s e n tid o d e q u e a p u b lic id a d e d o a d v o g a d o
d e v a ser feita co m discrição e m o d e ra ç ã o , e q u e o a n ú n c io n ão
d e v a c o n te r fo to g ra fias, ilu straçõ e s, co res, fig u ra s , d e s e n h o s ,
lo g o tip o s, m a rc a s o u sím b olo s in co m p atív eis com a s o b rie d a d e
d a advocacia^^.
In te g ra n d o -s e a la c u n a n o rm a tiv a co m re c u rs o à an a lo g ia , é
ra z o á v e l co n c lu ir q u e a utilização d e efeitos v isu a is asso c ia d o s
ao n o m e d a s o c ie d a d e d e a d v o g a d o s d ev a , ig u a lm e n te , p a u ta r-
se p e la d iscrição e co m p a tib ilid a d e co m a s o b rie d a d e d a a d v o ­
cacia. O g ra n d e elastério d e ste s conceitos p e rm ite q u e as socie­
d a d e s d e a d v o g a d o s façam u so d o s re cu rso s d a m o d e r n a c o m u ­
nicação, o b serv an d o -se, n o en ta n to , q u e a a tiv id a d e ad v o c atícia
n ã o é co m p a tív e l co m excessivos im p acto s v isu ais, n e m co m a
ex p lo ra çã o co m ercial d e m arcas.

Conclusão
O tra ta m e n to legal e re g u la m e n ta r d a d e n o m in a ç ã o social d a
s o c ie d a d e d e a d v o g a d o s o b ed ece a re g ra s e p rin c íp io s a p lic á ­
v eis à g e n e ra lid a d e d a s so cied ades, n a ó p tica d o C ó d ig o Civil.
P a u ta -s e ta m b é m , n o en ta n to , p o r certos d is p o s itiv o s legais e
re g u la m e n ta re s q u e, em b o ra p o u co s, es tab e lece ram a d iscip lin a
específica d a d e n o m in a ç ã o d e s te tipo p a r tic u la r d e s o c ie d a d e
sim ples.
Busca-se, co m os lim ites im p o sto s à d e n o m in a ç ã o d a s socie­
d a d e s d e a d v o g a d o s , q u e estas n ã o p erc a m , p e r a n te o pú b lico ,

^ "Art, 2 8 .0 advogado pode anunciar os seus serviços profissionais, individual ou coletivamen­


te, com discrição e moderação, para finalidade exclusivamente informativa, vedada a divulga­
ção em conjunto com outra atividade."
“Art. 3 1 .0 anúncio não deve conter fotografias, ilustrações, cores, figuras, desenhos, logotipos,
marcas ou símbolos incompatíveis com a sobriedade da advocacia, sendo proibido o uso dos
símbolos oficiais e dos que sejam utilizados pela Ordem dos Advogados do Brasil" (Código de
Ética e Disciplina da OAB).
SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e II 101

s u a s características essenciais, q u e as fa z e m d is tin g u ir-s e d o gê­


n e r o p a r a c o n s t i t u í r e m e s p é c ie s u i g e n e r is , c o m tr a ç o s q u e
O R L A N D O G O M ES id en tifico u co m o d e u m a sociedade interna ^ .
E m d eco rrê n cia d essa s lim itações, a s o c ie d a d e d e a d v o g a d o s
só p o d e te r com o d e n o m in a ç ã o os n o m e s co m p le to s o u os so­
b re n o m e s d e u m o u m ais d e seu s sócios atu a is (excepcionalm ente
ta m b é m d e sócio falecido, se assim h o u v e r c o n s ta d o d o c o n tra to
social). A o n o m e o u ao s n o m e s d e seu s sócios d e v e rá e s ta r a p o s ­
ta a e x p re ssã o in d icativ a d e trata r-se d e u m a re u n iã o d e p ro fis ­
sio n ais d a ad v o c acia , em a lg u m a d a s v a ria n te s q u e in c lu e m as
d e sig n a ç õ e s escritório de advocacia, advogados, advocacia, consulto­
res jurídicos etc.
A d m ite-se o u s o m o d e ra d o d e ele m e n to s gráfico s distin tiv o s,
q u e, to d a v ia , n ã o são p assív eis d e re g istro n o C o n s e lh o Seccio­
n al d a O A B , n e m ta m p o u c o d e p ro teç ão m a rc a ria , p o r ca rac teri­
z a r tal re g is tro a ex p lo ra çã o d e m arca d e in d ú s tria e com ércio.

* *

“ GOMES, 0 liando. Parecer, in Sociedade de Advogados. São Paulo: Pinheiro Neto Advoga­
dos, 1975. p. 117 e 118, apt/d FERRAZ, Sergio e l al, Sociedades de Advogados. São Paulo;
M alheiros Editores, 2002, p, 17.
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 203

CAPÍTULO IX

AS COMISSÕES DE
SOCIEDADES DE ADVOGADOS

O sw a ld o N aves

N o E s ta tu to d a O rd e m d o s A d v o g a d o s d o Brasil, art.64, está


a b a se e o f u n d a m e n to d a criação d a s com issõ es tem ática s p ara
au x iliar o C o n selh o F ederal a d e s e m p e n h a r s u a s a tiv id a d e s e la­
b o ra n d o p arece res, p ro m o v e n d o p esq u isas, sem in ário s, ac o m ­
p a n h a n d o a tra m ita ç ã o d e pro jeto s d e lei e p r o p o n d o m u d a n ç a s
legislativas. A s so cied a d es d e a d v o g a d o s tê m n e c e s s id a d e s es­
pecíficas, d iferen tes d a s e n fre n ta d a s p elo s a d v o g a d o s q u e a tu ­
a m is o la d a m e n te o u d o s in teg ra n te s d a ad v o c acia pú b lica, ac en ­
tu a d a s p elo crescim en to d o n ú m e ro d e escritó rio s e d o s re s u lta ­
d o s d a g lo b alização n a p re sta ção d o s serviços jurídicos. O C o n ­
selh o F ed eral, e n te n d e n d o a n e c e ssid a d e d e m e lh o r d e s e m p e ­
n h a r su a s a tiv id a d e s re feren tes ao tem a, a p r e s e n ta n d o e s tu d o s e
p ro p o s ta s co m a fin a lid a d e d e m e lh o ra r o r e s u lta d o a u fe rid o
p e lo s escritó rios d e ad v ocacia, in v asão d o c a m p o p ro fissio n al e
o u tro s te m a s afetos, crio u, em 18 d e ag o sto d e 1997, a C o m issão
d e S o cied a d es d e A d v o g a d o s (CSAD).
A C SA D , co m issão p e rm a n e n te e com re g im e n to c o m u m às
d e m a is co m issõ es d o C o n selh o F ederal, tem p o r objeto " p ro p o r
a ad o ç ã o d e m e d id a s n ecessárias ao a p r im o r a m e n to d a s socie­
d a d e s d e a d v o g a d o s e à m elh o ria d o s re s u lta d o s p e la s m e sm a s
104 SOOEDAOE DE ADVOGADOS Volume II

a u ferid o s, id en tific a n d o in v asõ es d o c a m p o p ro fissio n al d a s re ­


fe rid as so c ie d a d e s p o r categorias o u p rofissio n ais n ã o h ab ilita­
d o s". O C o n selh eiro F ed eral p e lo A cre, Dr. S érgio F erraz, é o
a tu a l p r e s id e n t e d a c o m issã o , q u e c o n ta c o m m e m b ro s só cio s
d e e s c ritó rio s co m re p re s e n ta ç ã o , d e n t r e o u tr a s , e m c id a d e s
c o m o R io d e J a n e iro , São P au lo , B rasília, Recife, S a lv a d o r e
F o rta le z a .
A s Seccionais d a O rd e m d o s A d v o g a d o s d o Brasil, a ex e m ­
p lo d e São P a u lo e P ern a m b u c o , cria ram su as co m issõ es d e soci­
e d a d e s d e a d v o g a d o s , p o ssib ilitan d o q u e a aprecia ção d e tem as
com o o re g is tro d e so cied a d es se p ro c e sse m co m a an á lise p ré ­
v ia d e co m issão esp ecializad a, d e a lg u m a fo rm a e m p re s ta n d o
c e le rid a d e ao trab alh o , e an a lisa n d o tem as d e in teresse localiza­
d o d a Seccional.
A co m issão d e so cied ad es, d e n tre as v ária s a tiv id a d e s d e s d e
a s u a criação, a tu o u n a reg u lação d a a tu a ç ã o d o c o n s u lto r em
d ire ito e stra n g e iro , te m a d o P ro v im e n to n'' 9 1 /20 0 0, m a té ria d e
d e s ta c a d a co m p lex id a d e, já q u e in tera g e co m re g ra s hoje e m d is ­
c u ssã o n a O rg a n iz a ç ã o M u n d ia l d o C om ércio (OM C), n a fo rm u ­
lação d o c o n tra to d e associação e n tre s o cied a d es d e a d v o g a d o s
e d e s ta s co m a d v o g a d o s , P ro v im en to 9 2 /2 00 0 , e p a rtic ip o u
d e a u d iê n c ia p ú b lic a n a C âm ara d o s D e p u ta d o s so b re a trib u ta ­
ção d e s o cied a d es p re s ta d o ra s d e serv iço e a p o io u s e m in ário s
c o m o o q u e d is c u tiu a m u ltid is c ip lin a rie d a d e , g lo b a liz a ç ã o e
liberalização d a p ro fissão ju rídica n o â m b ito d a O M C , CATS,
A LC A , M ercosul e U n iã o E uropéia.
C o m o a d v e n to d e n o v a s leis e m e s m o n a d isc u ssã o delas,
a p o ia d a p e la a sse sso ria p a r la m e n ta r d a O rd e m e a tra v é s d o s
m e m b ro s d a com issão, a C SA D se d ed ic a a te m a s co m o o c u id a ­
d o s o tra b a lh o d e a tu a liz a r o P ro v im e n to q u e tra ta d a s so c ie d a ­
SOCIEDADE OE ADVOGADOS V o lu m e II 105

d e s d e a d v o g a d o s p a r a h a rm o n iz á -lo às re g ra s d o n o v o C ó d ig o
C iv il. M a is re c e n te m e n te , t e n d o p o r r e la t o r o D r. O r l a n d o
G iaco m o , e n c a m in h o u à Escola S u p erio r d a A d v o c acia o p ro ­
g ra m a d o C u r s o so b re a A d m in istra ç ã o d e E scritó rio s d e A d v o ­
c a c ia /S o c ie d a d e s d e A d v o g a d o s e D e p a rta m e n to s Jurídicos.
E m ra z ã o d a esp e c ia lid a d e d o objeto d a C SA D , n o s ú ltim o s
m e se s ela v e m se in stitu c io n a liz an d o co m o in te rlo c u to ra ju n to
ao M in isté rio d e Relações E xteriores p a ra a s s u n to s re la c io n a d o s
ao co m ércio d e serviços, te n d o s o m a d o esforços co m o u tra s in s­
titu iç õ e s p a r a o d e s e n v o lv im e n to d e e s tu d o s e re la tó rio s n as
neg ociaçõ es n o tab u leiro in ternacional.
Im p o rta n te p o r s u a p e rm a n e n te a tu a ç ã o e m fa v o r d o s escri­
tório s d e ad v ocacia, a com issão está d is p o n ív e l p a r a co n su lta s e
su g e stõ e s a tra v é s d o correio eletrô nico d o C o n se lh o F ed eral, car­
ta, fax o u ofício, a n a lis a n d o m atéria s d e â m b ito n ac io n al d e co m ­
p etê n cia d a OAB.
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 107

CAPÍTULO X

ÉTICA PROFISSIONAL E
SOCIEDADE DE ADVOGADOS

Sergio Ferraz

1. A infração ético-disciplinar e os novos desafios. 2. A dissem i­


nação das sociedades de advogados e seus efeitos. Um a pri­
m eira etapa histórica. 3. O Estatuto de 1963 (Lei n- 4.215). 4. O
Estatuto de 1994 e sua preocupação com a responsabilidade
disciplinar das sociedades de advogados: 4 . 1 . 0 tratam ento do
tem a, antes de 1994; 4.2. O Estatuto de 1994; 4.2.1. Seu artigo
15; 4.2.2, Seu artigo 17, 5. Os pressupostos da responsabiliza­
ção disciplinar das sociedades de advogados. 6. Conclusões.

1. A infração ético-díscíplínar e os novos desafios

A s s e m elh a n ças d e n a tu re z a , en tre as in fraçõ es d iscip lin are s


e as p e n a is, são m u ita s e têm sido, ao lo n g o d o te m p o , m ais e
m ais e n fa tiz a d a s n a legislação e n a d o u trin a . E ssa a p ro x im a ção
etiológica tem feito com q u e ig u a lm e n te se a p ro x im e m , dia-a-
d ia, os re sp ectiv o s re g im e s jurídicos re p ressiv o s.
A so rte d e co nsid erações, acim a p e rfu n c to ria m e n te {até p o r ­
q u e ax io m áticas) e n u n c ia d a s, p ro p õ e , co n c re ta m e n te , ao an a lis­
ta d o te m a a ser a q u i v e rsa d o , u m a in d a g a ç ã o q u e, a d e m a is de
ser retórica, já ca rre g a em si u m in s tru m e n ta l m eto d o ló g ico : se a
108 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

lei p e n a l — d e re g ra a m ais sev era d a s reações sociais ao s co m ­


p o rta m e n to s d e s v ia d o s — já ad m ite, co m te n d ê n c ia in clu siv e ao
a la rg a m e n to d e su as fron teiras d e incidência, a re sp o n sa b iliz a ­
ção crim in al d a p esso a ju ríd ica, p o r q u e a n o rm a tiv id a d e ético-
d is c ip lin a r fug iria d e s s a q u estão ? A re s p o sta só p o d e ser um a:
tal e sc a p ism o n ã o te m ra zão d e ser, q u e r n o p la n o d a c a u s a lid a ­
d e, q u e r n o d a co n ven iência, q u er, enfim , n o d a ra zo ab ilid ad e .
P o r isso, a n te s d e o rig in ar estra n h eza , a p la u so s m ere ce o o rd e ­
n a m e n to ju ríd ic o d a ad vo cacia b rasileira, ao d e te rm in a r a a p li­
cação d e s u a m a lh a ético -d isciplin ar às s o cied a d es d e a d v o g a ­
dos. A liás, a d issem in açã o d essa m o d a lid a d e d e exercício ad v o -
catício p o d e ria a té e n g e n d ra r g ra v e s d e fo rm a ç õ e s n a p ra g m á ti­
ca d a p ro fissã o , d o p o n to d e vista ético, n ã o tiv esse n o sso legis­
la d o r p r u d e n te m e n te c u id a d o d a m atéria.

2. A disseminação das sociedades de advogados e seus


efeitos. Uma primeira etapa histórica
B om é q u e fiq u e g izad o: o tem a em d e b a te n ã o é u m a n o v id a ­
d e d a Lei 8.906/94. M as ta m p o u c o s u a c o n sid e ra ç ã o é a s s u n to
v e tu sto . E m v e rd a d e , d e so cied a d es d e a d v o g a d o s co g ito u , se­
q u e r d e longe, o a n tig o R eg u lam en to d a O A B (seja n a v ersão
o rig in al. D ecreto n" 20.784, d e 14.12.31, seja n a v e rsã o "co nsoli­
d a d a " , v e ic u la d a n o D ecreto 22.478, d e 20.02.33). M as inexiste
ra z ã o p a r a estra n h eza s: n a d é c a d a d e 30, d o século p a s s a d o , a
v isão d a ad v o cacia e ra ex c lu siv a m e n te a d o exercício in d iv id u ­
al, solitário, a rte sa n a l até.
C o u b e à Lei 4.215, d e 27.04.63, a p rim a z ia n a d iscip lin a d o
a s s u n to . C o lh e -se com fa c ilid a d e , n ã o só d o s tra b a lh o s
legislativos q u e an te c e d e ra m a ed ição d o E statu to , m a s a in d a d a
p o n d e ra ç ã o d o u trin á ria q u e seq ü e n cio u su a p ro m u lg a ç ã o , a ins-
SOCIEDADE OE ADVOGADOS Volume II 209

■L
p iraç ão q u e c o n d u z iu à inovação. £ aí n o s d e p a ra m o s co m a co m ­
p le x id a d e crescen te d o o rd e n a m e n to ju ríd ico , a e x p a n s ã o d o s
c a m p o s m a te ria is d a ciência jurídica, a p ro life raç ão leg islativa
in co n tro láv el, o d in a m is m o s e m p re e s e m p re m a is v ertig in o so
d a s relações sociais, a glob alização d a ec o n o m ia etc. D e fato, hoje
é p ra tic a m e n te im p o ssív el d e te n h a o a d v o g a d o co n h e cim en to
en c iclo p éd ico d o d ireito , até m e sm o d o d ire ito d o seu país. O
tra b a lh o d e e q u ip e , q u a lq u e r q u e seja o fig u rin o a d o ta d o , é q u a ­
se in ev itáv e l n o p re s e n te (e n o fu tu ro , p o r certo), d a advocacia.
D aí o s u rg im e n to d a s so cied ad es d e a d v o g a d o s. S o cied a d e d e
n o v o s co n to rn o s, p o r certo, a té p o rq u e n ã o v o lta d a s p re c ip u a -
m e n te à e s tru tu ra ç ã o d a s p restaçõ es d e serviços a terceiro s, m as
sim à d iscip lin a d a s relações recíprocas en tre os a d v o g a d o s sóci­
os, q u a n to a se u s liam es a d m in is tra tiv o s e a re g u la ç ã o d a s a p r o ­
p ria ç õ e s d o s re s u lta d o s p a trim o n ia is a u fe rid o s . N o e n ta n to ,
e m b o ra n o v as, so cied a d es ex c lu siv a m e n te d e a d v o g a d o s , n eces­
s a ria m e n te in fo rm a d a s, pois, d e to d a s as p e c u lia rid a d e s e n o ­
b re z a s a d s trita s ao d e s e m p e n h o d a advocacia. E é essa circu n s­
tância n o d a l q u e vai e sta r a e m b a sa r o n ú cle o d e s te trab alh o ,
c o n so a n te m ais a d ia n te se explicitará.
M as n ã o se co n stró i u m arcab o u ç o cu ltu ra l, fe c h a n d o os olhos
ao p a ssa d o . A ssim , co m o p rim e iro p asso , im p e n d e c o n s id e ra r
co m o o le g islad o r d e 1963, d ire ta m e n te in flu en c ia d o p elo s tra ­
b a lh o s d o C o n se lh o F ederal d a OAB, v o lto u s e u s o lh o s a esse
c a m p o a té e n tã o v irg e m e n tre nós. E co m o ch e g o u à d iscip lin a
d o a s s u n to alv o d e s te trabalho.

3. O Estatuto de 1963 (Lei 4.215)


E m 1956, o C o n selh o F ederal d a O rd e m d o s A d v o g a d o s d o
Brasil re m e te u , ao C o n g resso N acio n al, o A n te p ro je to q u e viria.
110 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume «

p o r fim, em 27 d e abril d e 1963, a ser o E s tatu to legal (em senso


estrito) d a p ro fissã o advocatícia: a Lei 4.215. A o fazê-lo, a OAB
inseria, d e n tre as g ra n d e s n o v id a d e s da iniciativa, a so cied a d e
d e a d v o g a d o s . E dizia-se a tan to in s p ira d o n ã o só e m m a triz e s
n o rm a tiv a s q u e n esse sen tid o a p o n ta v a m (v.g., artig o 1.371 d o
e n tã o v ig e n te C ó d ig o Civil, artig o s 1° e 4° d a Lei d e Im p o sto d e
R en d a d a ép o c a — Lei n “ 154, d e 25.11.47), co m o a in d a n a cres­
ce n te d ifu s ã o d o m o d elo , na E u ro p a (p a rticu larm e n te . F rança e
In g late rra ) e n o s E stad o s U nidos. M as n ã o fa lta ra m v o zes d iv e r­
g en tes, as q u a is e n fatizav a m , co m o fulcro d a s objeções, a r g u ­
m e n to s q u e iam d o risco d a m ercan tilização d a p ro fissão , a té o
in evitáv el esg a rç a m e n to d o sigilo e d a confiança p esso a l, m a tri­
ciais na relação ad v og ado -clien te. C o n q u a n to a resistên cia v ies­
se a ser afinal ven cid a, n o curso d o tem p o , v e r d a d e é qu e, m e s­
m o na Lei 4.215, m e sm o ap ó s o início d e sua vigência, a so cied a­
d e d e a d v o g a d o s p e rm a n e c e u sen d o , d u ra n te m u ito te m p o , fon­
te d e e s tra n h e z a e, a té m e sm o p a r a alg u n s, d e d esco n forto .
N o â n g u lo d o re la cio n am e n to en tre o n o v o m o d e lo d e a tu a ­
ção e os im p e ra tiv o s éticos d a p ro fissão, a e s tra n h e z a e o d e s ­
co n fo rto m e n c io n a d o s a p a rec em co m nitidez: efetiv am en te, co n ­
q u a n to s e m p re se tiv esse p o r pacífico q u e os " m e m b ro s d a soci­
e d a d e e stão sujeitos a to d a s as re g ras éticas, e p o r elas re s p o n ­
d e m e m caso s d e tran sg ressão , in d iv id u a lm e n te " ("Ética P rofis­
sio nal e E statu to d o A d v o g a d o ", R uy S odré, LTr, p ág . 479), a
sujeição ética d a s o cied a d e m esm a só foi tim id a m e n te tang en ci-
ad a q u a n d o , n o p a rá g ra fo 5" d o artigo 77, se a s s e n to u q u e

“Aplicam-sc à sociedade de advogados as regras da ética


profissional que disciplinam a propaganda e publicidade".
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 111

E tão-só! M as, m e sm o n essa a p e rta d a sujeição, a p e rp le x id a ­


d e g ra sso u . D e m o n stra -o so bejam en te o silêncio, s o b re a in teli­
gência q u e o p re ceito d e v e ria m erecer, d o s m ais a u to riz a d o s co­
m e n ta d o re s d o E statu to , s e rv in d o aqu i d e e x e m p lo s e m b le m á ti­
cos os n o m e s d e R u y d e A z ev ed o S o d ré (na o b ra clássica, m ais
acim a, citada) e d a d u p la H a d d o c k L o b o /F ra n c is c o C osta N eto
(" C o m e n tá rio s ao E statu to d a OAB", Rio, 1978).

4. O Estatuto de 1994 e sua preocupação com


a responsabilidade disciplinar das sociedades
de advogados
Já b e m d iv e rs a era a viv ên cia d a ad v o c acia em so cied a d e,
q u a n d o d a elab o ração da Lei 8.906. P re se n te m e n te a ad v o cacia
d e g ra n d e e m é d io p o rte (seja n o q u e d iz re sp e ito aos valores
eco n ôm icos d o s in teresses p a tro c in ad o s, seja n o â n g u lo d o n ú ­
m e ro d e clientes q u e c o m p õ e m a carteira d o escritório) é p r e d o ­
m in a n te m e n te a tu a d a p o r so cied ad es d e ad v o g a d o s . E, p o r isso,
a s u b m issã o d a s o cied a d e ao C ó d ig o d e Ética e D isciplina é in te ­
g r a l ( a r t i g o 15, § 2", d a L ei 8 .9 0 6 /9 4 ) , a e la s e i m p o n d o ,
c o rre s p o n d e n te m e n te , re s p o n sa b ilid a d e d isc ip lin a r (Lei 8.906/
94, a rtig o 17), in d e p e n d e n te m e n te d a d o sócio.
C laro está q u e os p receito s legais, ag o ra tra z id o s à colação,
n ã o são d e sim p le s e au to m á tic a intelecção. N e m p o r isso é d a d o
ao in térp rete, o u ao ap licad o r, d esistir d a la b u ta exegética.

4.1. O tratamento do tema, antes de 1994


N a d im en são m ais restrita — n o p o n to d e q u e e stam o s a trata r
ap en as — d a Lei 4.215, ap esar m esm o d os p re ssu p o sto s conceituais
m a is c o n tid o s e n tã o v ig e n te s, p a r a a re s p o n s a b iliz a ç ã o n ão -
p a trim o n ial d a s sociedades, n ã o h o u v e escapism o científico.
222 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II

C o n fro n ta d o co m as d ificu ld ad e s d o p a rá g ra fo 5°, a rtig o 77,


do E statu to d e 1963, R uy S o d ré (op. cit., p ág s. 47 9 /48 0 ) p o sto u -
se co m o corajoso h e rm e n e u ta q u e era. E p ro p ô s:

a) os m e m b ro s d a s o cied a d e estão sujeitos a to d a s as r e ­


g ra s éticas, e p o r elas re s p o n d e m e m caso d e tra n s g re s ­
são, in d iv id u a lm e n te ;
b) n a ocorrência d e infração ética, d e p a rte d a so cied ad e,
em ato p o r ela p ra tic a d o com o u so d a d e n o m in a ç ã o
social — o q u e ocorreria, co m o se viu , n o s caso s d e ex­
cesso o u im p ro p rie d a d e na p ro p a g a n d a e / o u n a p u b li­
c id a d e — , re s p o n d e ria o re sp o n sá v e l p ela so cied ad e,
"co m o se fosse ele, in d iv id u a lm e n te , o a u to r d a tra n s ­
g ressão , caso este n ã o seja a p o n ta d o " . E m b o ra n ã o v is­
lu m b re m o s a ra zão d a s u b sid ia rie d a d e , ab ra ç a d a n o co­
m e n tá r io d e R uy S o d ré, rev ela-se, d e s u a p a r te , u m
d e d ic a d o esfo rço n o e n f re n ta m e n to d a in o v a ç ã o d a
n o r m a tiv id a d e , co m as d ific u ld a d e s a ela in e re n te s.
N o ssa rejeição à s u b s id ia rie d a d e em q u e s tã o assen ta-
se e m n o s s a p e rc e p ç ã o d e q u e a re s p o n s a b iliz a ç ã o ,
e s ta tu íd a n o disp o sitiv o legal em referência, tin h a com o
a lv o p re c íp u o a s o cied a d e (ou, q u a n d o m en o s, a q u e le
q u e p o r ela responsável), se n d o en tã o s ec u n d ária a id e n ­
tificação d o a u to r d a tran sg ressão (a n ã o ser q u e fosse
ele tam b é m o re sp o n sá v e l p e la sociedade).

4.2. 0 Estatuto de 1994


D o leitor d a Lei 8.906 n ã o se p o d e e s p e ra r a te n ção e d e d ic a ­
ção inferiores.
Já ag o ra, d o is são os m a n d a m e n to s n o rm a tiv o s d e sujeição
d as so cied ad es d e ad v o g a d o s aos im p erativ os ético-disciplinares.
SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o lu m e II 113

4.2.1. Seu artigo 15


O p rim e iro deles é lo calizad o n o p a rá g ra fo T , d o artig o 15.
N e ssa p a ssa g e m , o leg islad or, re to rn a n d o à te m ática d o p a r á ­
grafo 5° d o artig o 77, d a Lei 4.215, a m p lio u , e n tre ta n to , n o ta v e l­
m e n te o â m b ito d a ap lica b ilid a d e d o C ó d ig o d e Ética e D iscipli­
na: ag o ra , n ã o só às so cied ad es se co m p e le a o b serv ân cia d as
re g ra s d eo n to ló g ica s alu siv as à p u b lic id a d e e à p r o p a g a n d a —
a tu a lm e n te , é to d o o C ó d ig o d e Ética e D isciplina q u e h á d e ser
p o r elas fielm en te o b serv ad o . A clá u su la ''n o q u e c o u b e r", com
q u e a r re m a ta d o o p a rá g ra fo 2" d o artig o 15 d o E statu to , só p o d e
ser e n te n d id a d e u m a form a: a p e n a s n ã o se a p lic a m as re g ras
ético -d iscip linares às sociedades, q u a n d o te n h a m a q u e la s com o
ú n ica s d e stin a tá ria s p o ssív eis o a d v o g a d o , in d iv id u a lm e n te co n ­
s id era d o . É o q u e se dá, p o r exem plo, q u a n d o o C ó d ig o d e Ética
e D iscip lin a d ita ao a d v o g a d o q u e vele “p o r s u a re p u ta ç ã o p e s ­
soal" (art. T , p a rá g ra fo único, III), o u q u a n d o lhe co m in a o d e ­
v e r d o e s tu d o e d o a p rim o ra m e n to (artigo 2", p a rá g ra fo único,
inciso IV); o u q u a n d o o a d v o g a d o in co rre na falta d iscip lin ar
co n sisten te n a inépcia p ro fissio nal (E statuto, artig o 34, XXIV).

4.2.2. Seu artigo 17


M as a lé m d o artig o 15 esta tu tá rio ta m b é m cabe en fatizar, em
n o ssa lei b ásica d a advocacia, seu artig o 17, a ssim redig ido :

"Além da sociedade, o sócio resp o nd e subsidiária e


ilim itadam ente pelos danos causados aos clientes
por ação o u om issão no exercício da advocacia, sem
prejuízo d a resp o n sab ilid ad e d iscip lin ar em que
possa incorrer".
114 SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e II

D a co njug ação d o tran scrito preceito, co m o q u e v eic u la d o


n o artig o 15, p a rá g ra fo 2‘\ d e ix a n d o ag ora d e la d o a fig u ra d o
sócio in d iv id u a lm e n te c o n s id e ra d o , d e c a n ta -se d a n o r m a em
an á lise q u e as s o cied a d es d e a d v o g a d o s , além d e re s p o n d e re m
p a trim o n ia lm e n te p elo s d a n o s q u e c a u s e m aos clientes, p o r es­
ses fatos d a n o s o s re s p o n d e m a in d a d iscip lin arm en te . M as com o
se co n fig u ra u m a resp o n sab ilização societária, e, ad e m a is , com o
fu n c io n a e n tã o o m ec an ism o san cio nató rio?

5. Os pressupostos da responsabilização disciplinar


das sociedades de advogados
A p e d ra -d e -to q u e , co n d u c e n te à re sp o sta a essas in d ag açõ es,
re p o u s a , n o rm a tiv a m e n te . no s artig o s 15 e 17 e sta tu tá rio s, aci­
m a referid o s. E, factu alm ente, n a p rática d e atos d a s so cied a d es
d e a d v o g a d o s , in frin g e n te s ao o rd e n a m e n to jurídico.
O R e g u la m e n to G eral d o E statu to d a A dv o cacia e d a OAB
faculta, n o artig o 42, às sociedades d e ad v o g a d o s a p rática d e atos
p ró p rio s, co m o tais d e v e n d o ser e n te n d id o s aqueles d e s e m p e n h a ­
d o s co m o u s o d a ra z ã o social, in d is p e n s á v e is às fin a lid a d e s
societárias e q u e n ã o sejam legalm ente re serv a d o s co m exclusivi­
d a d e aos a d v o g a d o s in d iv id u a lm e n te to m ad o s em consideração.
Tais ato s N Ã O se lim itam a prá tic as d e c u n h o u n ic a m e n te
a d m in is tra tiv o , "co m o a con tratação d e e m p re g a d o s , a locação
d e im ó v eis , a aq u isição d e b en s e utensílios, a m a n u te n ç ã o de
serv iço s d e in fo rm ática, d e e q u ip a m e n to s d e ar-co n d ic io n a d o
e tc ." (S e rg io N o v a is D ias, in " S o c ie d a d e d e A d v o g a d o s " ,
M alh eiro s Ed., 2002, p ág . 96). A lém d esses c o m e tim en to s, q u e
n ã o são, aliás, exclusivos d a s so cied ad es d e a d v o g a d o s , m u ito s
o u tro s há, co n c ern e n tes a essas so ciedad es, q u e n ã o se en c a rta m
n a s a tiv id a d e s p riv a tiv a s d o a d v o g a d o — in d iv íd u o , m a s são
SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 235

alvo d e n o sso E statuto e d ize m re sp eito ao exercício d a a d v o c a ­


cia. É o q u e se d á, p o r exem plo, co m a p u b lic id a d e im o d e ra d a
o u en g a n o sa d a so cied ad e, a cap tação d e clientela m e d ia n te d is ­
trib u ição d e "folders” e utilização d e "m a la s d ire ta s " e co rres­
p o n d ê n c ia s eletrônicas, o seu p atro c ín io d e e m p re e n d im e n to d e
c u n h o d u v id o s o o u a te n ta tó rio aos p rin c íp io s d o a rtig o 2" d o
C ó d ig o d e Ética e D isciplina {v.g., a p o ia r a s o c ie d a d e u m sem i­
n á rio ju ríd ico q u e se p ro p o n h a à s u sten taç ão d e alte rn a tiv a s q u e
im p o rte m em re d u ç ã o ou exclusão d a im p e ra tiv id a d e d o p a tr o ­
cínio ad vo catício ), a violação coletiva (i.é, co m o u s o d a razão
social) ao sigilo p ro fissio nal etc.
Em to d a s as situações, a q u i a v e n ta d a s , o q u e se te m é a p rá ti­
ca, pela s o cied a d e d e a d v o g a d o s, com a u tilização d e seu n o m e,
d e ato s o fe n siv os ao p a d r ã o ético-d isciplin ar d a adv o cacia. N ã o
é possív el, d e sta rte , afastar ap rio ristica m en te a p o ssib ilid ad e , em
tese, d e as s o cied a d es d e a d v o g a d o s c o m e te re m ilícitos ético-
d iscip lin ares. E é b o m q u e assim se e n te n d a , so b p e n a de, cedo
o u ta rd e , a tra irm o s p a r a o c a m p o d a advocacia, p e lo s e v e n tu ais
lesad o s, a aplicação d o C ó d ig o d e Defesa d o C o n s u m id o r e d a
a tu a ç ã o d o s P R O C O N s e C O D E C O N s, o q u e, d efin itiv a m e n te , o
artig o 44 d o E statu to alm ejou im po ssibilitar. Im p o rta reg istrar,
p o r le a ld a d e, q u e n o ssa posição conflita co m a d e a lg u n s e m i­
n e n te s h e rm e n e u ta s , q u e s u s te n ta m a in v ia b ilid a d e ju ríd ica de
re sp o n sa b iliz a ç ã o d iscip lin ar d a s so cied a d es d e a d v o g a d o s (por
ex em p lo : A lfred o d e A ssis G o nçalv es N eto , "S o c ie d ad e d e A d ­
v o g a d o s" , 2. ed. Ju arez de O liveira, págs. 5 0 /55 ; P au lo L uiz N etto
Lôbo, " C o m e n tá rio s ao E statu to d a A d v o c acia", 2. ed. Brasília
Ju ríd ica, pág. 96; G isela G o n d in R am os, " E s ta tu to d a A d v o c a ­
cia", O A B /S C Ed., pág. 224). Posição q u e rejeitam o s, p e lo s fu n ­
d a m e n to s a n te s esp o sad o s.
116 S O C I E D A D E O E A D V O G A D O S V o l u m e II

6. Conclusões
Enfim , d a n o s s a leitu ra d o artig o 17 esta tu tá rio , e x tra ím o s o
corolário d e q u e, p elo s ato s típicos d a so cied a d e, com o u s o d e
s u a ra z ã o , c o n trá rio s às re g ra s ético -d iscip linares, re s p o n d e a
so cied a d e m e s m a (p o r con seq ü ên cia, as re s p o n sa b ilid a d e s s u b ­
sid iária / so lid ária d o s sócios, p re v ista s n o artig o 17 d o E statu to
e 2 ^ inciso X, d o P ro v im e n to n° 92/20 0 0, são p a trim o n ia is , civis
exclu siv am ente).
D o u tra p a rte , co m o sujeitas q u e estão as so cied a d es, p o r ex­
p re s sa d isp o siç ão legal já referida, aos p re ceito s ético-discipli-
n a re s d a ad vo cacia, tem -se q ue, co m o c o n tra p a rtid a , a lc an ça d as
p e lo s p e rtin e n te s c o m a n d o s san cio n ató rio s d o s a rtig o s 34 e se­
g u in te s d o E statu to , e v id e n te m e n te n o q u e c o m p a tív e l co m a
n a tu re z a d e en te ideal. N e sse ân g u lo , facilm en te se p o d e d e te c ­
tar, n o s a rtic u la d o s 34 e su b seq ü e n te s, v ário s q u e ca b em n a s a ti­
v id a d e s d a p e sso a ju rídica; sirv am d e ex em p lo os incisos IV, VII,
XIII, XVI, XXI e XXIII, d o artig o 34 estatu tário . E, p o r c o n s e g u in ­
te, ex p õ e m -se elas às fa cu ld ad e s d e c e n su ra , s u s p e n s ã o d a s ati­
v id a d e s, cassação d e reg istro (no caso d e ser p u n id a , p o r três
v ezes, co m s u s p e n s ã o — art. 3 8 , 1) e m u lta.
O esforço m aio r, d e s te ensaio, radica-se p o is n a su ste n ta ç ã o
d e q u e o v elh o , m a s inafastável, b ro c a rd o se g u n d o o q u a l n ã o h á
crim es o u p e n a , se m lei q u e p re v ia m e n te o estabeleça, em n a d a
se co n flita co m a tese, a q u i e s p o s a d a , d e re s p o n sa b iliz a ç ã o e
ap e n açã o discip lin are s d a s so cied ad es d e a d v o g a d o s. T an to m ais
co n v e n ie n te a n ó s se afig u ra o e m p e n h o d o u trin á rio o ra in te n ta ­
d o, q u a n d o se tem e m v ista o cen ário p ato ló g ico c a d a v e z m ais
d ifu n d id o e n tre nós: escritórios alien ígenas su fo c a n d o a a d v o ­
cacia b rasileira, sem a te n ção às n o rm a s q u e d isc ip lin a m s u a p re ­
sen ça n o p aís; g ra n d e s escritórios, inclusive b rasileiro s, ian ç an -
S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e (I 117

d o -se à co m p e tiç ão p re d a tó ria e à c o n q u ista ag ressiv a d a clien­


tela, m e d ia n te o fe rec im e n to d e serviços em a tro p e lo a p r o c e d e n ­
tes relações p ro fissio n ais estab elecid as (m u ita s v ezes, p ro p o n d o
h o n o rá rio s irrisó rio s — até m e sm o ze ro — p o r a lg u n s m eses,
p a r a a tra ir o in teressad o ); a exp lo ração e x tre m a d o jo v em a d v o ­
g a d o e d o estag iário , sem p a g a c o n d ig n a e sem lim ites d e jo rn a ­
d a s ; a s u b m is s ã o d o s in te re s s e s n a c io n a is a o s d a s g r a n d e s
c o rp o raç õ es in tern acio n ais, inclusive com a p rá tic a d e s a b rid a d e
lobby. E n fim , to d a u m a m a c ro -d e lin q ü ê n c ia étic o -d isc ip lin a r,
tipificad a m u ito m ais n a a tu a ção d a s so c ie d a d e s ad v ocatícias,
q u e n a d o s a d v o g a d o s com o in d iv íd u o s.
S ab em o s d o d esafio conceituai e d o in c ô m o d o d a n o v id a d e
q u e este tra b a lh o p o d e v ir a suscitar. M as a d v o g a r, cria r e s u s ­
te n ta r conceitos jam ais fo ram op çõ es co m od istas.
S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e II 119

CAPÍTULO X

SOCIEDADE DE PROFISSIONAIS
LIBERAIS E SOCIEDADE DE ADVOGADOS

Alfredo de A ssis G onçalves N eto

1. Introdução
U m a q u e s tã o in tere ssa n te, q u e tem p re o c u p a d o os p a íse s in ­
teg ra n tes d a U n ião E u ro péia, d iz resp eito às p ro fis s õ e s in te le c tu ­
a is p ro te g id a s (aqui c o n h e cid as co m o re g u la m e n ta d a s ), isto é,
à q u e la s cujo exercício é su b o rd in a d o à a p ro v a ç ã o e m u m ex am e
d e h ab ilitação , co m o b rig a to rie d a d e d e re g istro p o s te rio r n o re s­
p ec tiv o ó rg ã o d e classe, re g u la m e n ta d o r d a ativ id a d e . D iscute-
se a re sp e ito d e u m a flexibilidade m a io r n o q u e to ca ao seu ex er­
cício sob fo rm a societária e so b re o seu fu tu ro n u m a d im e n s ã o
tran sn a cio n al. O a s s u n to p a s s o u a a s s u m ir m a io r re le v o com o
fe n ô m e n o d a globalização, qu e a c en tu o u a ten dên cia, ao q u e tu d o
in d ica irrev ersív el, d a n ec essid ad e, c a d a v e z m ais fre q ü e n te , do
exercício, n ã o só e m colaboração, m a s e m c o m u m o u e m co-par-
ticip ação d e p e sso a s n o d e se n v o lv im e n to d essa esp écie d e ativ i­
d a d e profissio n al.
P ara ap im e n tá -lo , re la tiv a m e n te a u m a d e s s a s p ro fissõ e s, o
P a rla m e n to E u ro p e u e o C o n selh o d a U n iã o E u ro p é ia a p r o v a ­
ra m , e m 16 d e fev ereiro d e 1998, a D iretiv a 9 8 / 5 / C E , " te n d e n te
a facilitar o exercício p e rm a n e n te d a p ro fissã o d e a d v o g a d o n u m
E s ta d o -m e m b ro d ife re n te d a q u e le e m q u e foi a d q u ir id a a q u a li­
120 S O C IE D A D E D E A D V O G A D O S volume II

ficação p ro fissio n al". E ssa D ire tiv a q u e b ra u m a série d e e n tra ­


v es e p re co n ce ito s ex isten tes n as d iv ersa s legislações d o s Esta-
d o s -m e m b ro s e finaliza sa n c io n a n d o a fa c u ld a d e d e exercício
em c o m u m , in clu sive sob form a associativa, d a p ro fissã o d e a d ­
v o g a d o , p o r se te r to rn a d o u m a re alid ad e, e a lib e rd a d e d e e s ta ­
b elecim en to d o s a d v o g a d o s cid a d ã o s d e seu s E sta d o s-m e m b ro s
p a ra , co m as c o n d ic io n a n tes q u e estabelece, p e rm itir-lh e s a tu a r
p ro fissio n a lm e n te em q u a lq u e r deles. Exceção feita à In g la te rra
e d e m a is p aíses se g u id o re s d o sistem a d a com m on law, h o u v e , aí,
u m a g u in a d a s u rp re e n d e n te em relação à leg islação d a m aio ria
d o s E sta d o s-m e m b ro s in teg ra n te s d e s s a c o m u n id a d e , o n d e a in ­
d a g ra ssa m u ita polêm ica a respeito (I) da licitude d o exercício d as
profissões intelectuais reg u lam en tad as sob form a d e associação ou
d e so cied ade e (11) d a p o ssib ilid ad e d e conferir ao s a d v o g a d o s
p erm issão p ara u m a atuação transnacional, a p a ren te m e n te incom ­
p atív el com a d iv e rsid a d e d e seu s o rd e n a m e n to s jurídicos.
Esses p aíses, n u m a v isão geral, s e m p re b u s c a ra m tra ta r de
m o d o d iferen cia l o exercício e m c o m u m d a s p ro fissõ e s in telec­
tu a is re g u la m e n ta d a s , cria n d o u m a série d e re striç õ es ao seu
exercício sob fo rm a societária e, n o q u e toca ao exercício d a a d ­
vocacia, p ra tic a m e n te to d o s lim ita n d o -a às fro n te ira s d e seu s
re sp ectiv o s territórios.
Sem p re te n d e r ser exaustivo, acho in te re ssa n te p e r c o rre r ra ­
p id a m e n te a lg u m a s legislações d o sistem a eu ro p e u -c o n tin e n ta l,
q u e fo rm a m a b a s e d o n o sso siste m a ju ríd ico , co m o in tu ito d e
p ro v o c a r o d e b a te d o a s s u n to n o Brasil, p rin c ip a lm e n te em v ir­
t u d e d a s n o rm a s q u e a q u i v iera m a ser re c e n te m e n te in tro d u z i­
d a s p e lo C ó d ig o C ivil d e 2002, d a s d iscu ssõ es q u e têm a flo ra d o
q u a n to ao exercício d essa s p rofissões e m fo rm a so cietária e, n o ­
m e a d a m e n te , d a ad v o cacia n o â m b ito d o M ercosul.
S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e II 121

2. As sociedades de profissões protegidas


no ordenamento francês
N a F rança, as p esso a s q u e ex ercem p ro fissã o liberal p o d e m
c o n s titu ir s o c ie d a d e s civis p ro f is s io n a is (sociétés civiles professi-
onnelles), d is c ip lin a d a s p ela Lei n. 66-879, d e 29 d e n o v e m b ro d e
1966, q u e estab elece os critérios e as co n d içõ es g erais em q u e são
a d m itid a s . S e g u n d o essa lei, tais so cied a d es d e v e m ser co n stitu ­
íd as, ex c lu siv a m e n te, p o r pesso as físicas q u e ex e rça m a m e sm a
p ro fissã o liberal, su b m e tid a a u m e s ta tu to o u re g u la m e n to o u
cujo títu lo seja p ro teg id o . É v e d a d a a p a rtic ip a ç ã o d e p esso as
ju ríd icas e d e q u a lq u e r o u tra qu e n ã o p o ssu a a habilitação exigida
p a r a a te n d im e n to d o objeto social. D o m e sm o m o d o , é preciso
q u e 05 sócios d a so cied a d e civil p ro fissio n al ex e rça m efetiva e
re g u la rm e n te a p ro fissão, d e ac o rd o com as leis e re g u la m e n to s
q u e a d i s c i p l i n a m '.
Inicialm ente, só p o d ia m ser co n stitu íd as s o c ie d a d e s civis para
o exercício d a s pro fissões liberais, ta m b é m c h a m a d a s pro fissõ es
in telec tu a is p ro te g id a s. A g ra n d e n o v id a d e s u rg iu co m a Lei n"
90-L258, d e 31 d e d e z e m b ro d e 1990, q u e p o s s ib ilito u o d e s e n ­
v o lv im e n to d e s s a s a tiv id a d e s, tam b ém , a tra v é s d e so cied a d es
tra d ic io n a lm e n te com erciais ou , m ais p re cisam en te, d a s so ciété s
p r o fe s s io n n e lle s c o m m e r c ia le s o u s o c ié té s d 'e x e r c is e lih e ra P -
p a s s a n d o a ser p e rm itid a , então, a co n stitu ição , p a r a tal fim , " d e
s o c ie d a d e s d e re s p o n sa b ilid a d e lim itad a , d e s o c ie d a d e s anôni-

' A aplicação dessa lei a cada profissão é detalhada por decretos do C o n s e il d ’E tait. Especifica­
mente no que respeita à advocacia, as condições para seu exercício em sociedade foram fixa­
das pelo Decreto n- 92-680, de 20 de julho de 1992, complementado, posteriormente, pelo De­
creto n® 93.492, de 25 de março de 1993.

^As condições de aplicação das disposições referentes às ditas sociedades profissionais co­
merciais a cada profissão também dependem de decreto específico do Conselho de Estado.
Sua aplicação à profissão de advogado foi regulada, posteriormente, pelo Decreto n- 93-492, de
25 de março de 1993.
122 S O C I E D A D E O E A D V O G A D O S V o l u m e II

m a s o u , m esm o , d e so cied a d es em c o m a n d ita p o r ações, re g id a s


p ela Lei d e 24 d e ju lh o d e 1996, so bre so c ie d a d e s com erciais, sob
as re serv a s q u e a m e sm a lei estabeleceu"^. O fato s u rp re e n d e u a
d o u trin a p ela a p a re n te q u e b ra d o sistem a, em v irtu d e d e re g ra s
h íb rid a s q u e a p ro x im a m essas socied ad es d a s s o cied a d es c o m e r­
ciais e, ao m e s m o tem p o , p re se rv a m -lh e s o re g im e civil, n o ta d a -
m e n te n o to ca n te à jurisdição. O b te m p e ra , p o r isso, o re sp e ita d o
PA U L DIDIER, P ro fesso r d a U n iv e rs id a d e d e P aris II, q u e, e m ­
b o ra se te n h a h esitação em a d m itir u m a n a tu re z a m e rc an til p a ra
essas so cied a d es, p a re c e co rreto co n sid erá-las co m o u m a v a ria ­
ção d a e m p re s a m erc an til e n ã o co m o u m a e n tid a d e específica^.
A p a r tir d essa lei, sem p re ju íz o d a p o s s ib ilid a d e d e o p çã o
p ela co n stitu ição d e so cied a d es civis p ro fissio nais, p re v is ta s n a
lei d e 1966, as n o v a s espécies p o d e m ser cria d as sob as d e n o m i­
n açõ es d e "so c ie d a d e s d e exercício liberal d e re s p o n sa b ilid a d e
lim ita d a (S.E.L.A.R.L.), so cied a d e d e exercício liberal em form a
a n ô n i m a (S.E .L.A .F.A .) e s o c ie d a d e d e e x e rc íc io lib e ra l em
c o m a n d ita p o r ações (S.E.L.C. A .) " ^ com estas p rin c ip a is p a r ti­
c u la rid a d e s:

a. a s o c ie d a d e n ã o p o d e exercer a o u as p ro fissõ es q u e c o n s titu ­


am seu objeto social sen ão a p ó s a licença d a a u to r id a d e o u
d a s a u to rid a d e s co m p e te n tes o u a inscrição n a lista o u listas
d o c a d a s tro d a s resp ectiv as o rd e n s profissionais;
b. q u a n d o se tra ta r d e s o cied a d e a n ô n im a d e v e h a v e r, u m n ú ­
m ero m ín im o d e três associados, não sen d o p erm itid o o voto

^JAUFFRET, Alfred. D roit com m ercial. 21, e d „ atualizada por Jacques MESTRE. Paris: Libraire
Générale de Droil et de Jurisprudence, 1993, n- 506, p. 329.
'D ID IER, Paul. D ro it com m ercial - {'e n te rp ris e em société. 2. ed. Paris: Presses Universitaires
de France, 1997, p. 40.
^JAUFFRET, Alfred, op. loc. cit.
S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e II 123

p lural p ara q u e m n ã o seja profissio n al em exercício n a socie­


d a d e e, s e n d o c ria d a s ações p referenciais sem d ire ito d e voto,
elas n ã o d e v e rã o p e rte n c e r aos p ro fissio n ais q u e a tu a m na
so cied ad e;
c. m ais d a m e ta d e d o capital social e d o s d ire ito s d e v o to d e v e
ser d e tid o , d ireta m e n te, ou p o r in te rm é d io d e s o cied a d e c o n s­
titu íd a p e lo s assa la riad o s p rofissio n ais em exercício n a socie­
dade;
d. ca d a asso c ia d o re s p o n d e co m a to ta lid a d e d e s e u p a trim ô n io
p e lo s ato s p ro fissio n ais q u e pra tic ar, s e n d o a s o c ie d a d e com
ele so lid a ria m e n te respo n sáv el;
e. n a so c ie d a d e d e exercício liberal em c o m a n d ita p o r ações os
sócios c o m a n d ita d o s (a d m in istrad o res) n ã o p o d e m p o s s u ir a
q u a lid a d e d e com ercian tes, re s p o n d e n d o , p o ré m , ilim ita d a e
so lid a ria m e n te p ela s d ív id a s sociais;
f. os g eren tes, a d m in is tra d o re s em geral, p re s id e n te s d e ó rg ã o s
d e a d m in is tra ç ã o e, p elo m en o s, d o is terços d o s m e m b ro s d e
co n selh o d e a d m in is tra ç ã o o u d o co n selh o fiscal d e v e m ser
sócios e x e rce n d o s u a p ro fissão n a so cied ade;
g. a ju risd ição p a r a q u estõ es em q u e u m a d a s p a r te s seja u m a
d e s s a s so cied a d es é civil e n ão com ercial, p o d e n d o os sócios,
m e d ia n te co n venção , s u b m e te r su as d iv e rg ê n c ia s a árb itro s
p o r eles escolhidos.

Sem as v estes d e u m a s o cied a d e p ro p r ia m e n te d ita o u - n a


lin g u a g e m d o C ó d ig o Civil brasileiro - co m o s o c ie d a d e n ã o p e r­
sonificada^, o art. 22 d a m e sm a Lei n" 90-1.258 p re v ê a p o ssib ili­
d a d e d e ser ig u a lm e n te aju stad a , e n tre p e sso a s físicas q u e exer-

®Sobre o assunto, ver minhas Liçõ e s de D ireito S ocietário, 2. ed. São Paulo: Juarez de Olivei­
ra. 2004, n®71,pp, 177-184.
124 S O C IE D A D E D E A D V O G A D O S Volume II

ça m p ro fissã o liberal s u b m e tid a a u m e s ta tu to leg islativo o u re­


g u la m e n ta r e m q u e o títu lo seja p ro te g id o , u m a so cied a d e em
conta de participação, d e s p ro v id a d e p e rs o n a lid a d e ju ríd ica, n a
q u a l os sócios são c o n sid e ra d o s so lid ária e ilim ita d a m e n te re s­
p o n sáv e is p e ra n te terceiros p elas obrigações a s s u m id a s p o r q u a l­
q u e r d ele s n a q u a lid a d e d e sócios.
N o q u e se relacio n a com a atuação de a d v og ad o s em grupo
h a v ia p re v is ã o exp ressa n a resp ectiva lei d e reg ên cia (art. 8° da
Lei r f 71-1.130, d e 31 d e d e z e m b ro d e 1971)^, a d m itin d o o exer­
cício d a ad v o c acia em co nju n to s e g u n d o estas v aria n tes: em e s ­
critório com um , a tra v é s d e u m a associação o u d e u m a so cied a ­
d e civil p rofissio na l, o u, a in d a , p o r contratos de participação
e n tre a d v o g a d o s o u g ru p o d e a d v o g a d o s. S e g u n d o o re g im e ju ­
ríd ico p re v is to n essa lei, m e sm o sem associar-se, os a d v o g a d o s
p o d e m ter s u a s salas d e trab a lh o e m u m m e s m o escritório. Tal
s itu açã o é re g u la m e n ta d a , d e so rte q u e esse escritório coletivo
te m d e o b te r au to riz a ç ã o p a ra fu n c io n a r ju n to ao C o n selh o d a
O rd e m d o s A d v o g a d o s, sem q u e o c o m p a rtilh a m e n to d e e s p a ­
ços ca rac terize u m v e rd a d e iro exercício d a p ro fissã o em g ru p o ,
p o r p e rm a n e c e r in d iv id u a l.
P o r o u tro lad o , e ra e c o n tin u a s e n d o p e r m itid o ao s a d v o g a ­
d o s q u e se u tiliz e m d a socied ad e d e m e io s p a r a o exercício de
s u a p ro fissã o (art. 36 d a Lei n" 879, d e 29 d e n o v e m b ro d e 1966),
o u seja, q u e celeb rem u m co n tra to societário p a r a te r se u s escri­
tório s a g r u p a d o s co m o fim d e utilização, em co m u m , d o s ele­
m e n to s e e s tru tu ra s ú te is o u n ecessárias ao exercício d a a d v o c a ­
cia, se m q u e a so cied a d e p o r eles assim c o n s titu íd a p o ssa , ela
m e sm a , exercê-la. E, p o r n ã o exercer u m a d e te rm in a d a p ro fis ­
são, a s o c ie d a d e d e m eio s p o d e , p erfeitam en te , ser in te g ra d a p o r

' Regulamentada pelo Decreto n- 72-486, de 9 de junho de 1972.


S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e II 125

sócios d e p ro fissõ es diferentes, já q u e ca d a q u a l ag e iso lad am en te


n o ate n d im e n to d e su a p ró p ria e p articu lar clientela, n ão lhes sen­
d o v ed a d o , n em m esm o, p ossu ir clientes com interesses opostos.
A m a té ria relativ a à so cied a d e d e a d v o g a d o s veio re g u la d a ,
p o s te rio rm e n te , p e lo s D ecreto s n “ 92-680, d e 20 d e ju lh o d e 1992,
e n^’ 93-492, d e 25 d e m arç o d e 1993, estab e lece n d o -se n este a
p o s s ib ilid a d e d e s u a co n stitu ição sob fo rm a d e s o c ie d a d e d e re s ­
p o n s a b i l i d a d e lim ita d a , a n ô n im a o u c o m a n d ita p o r açõ es, com
as p a rtic u la rid a d e s acim a in d icad a s e sob as re s e rv a s c o n tid as
n este ú ltim o Decreto. Essa s o cied a d e p o d e ser c o n s titu íd a en tre
a d v o g a d o s in scrito s o u estag iários, p e rte n c e n te s à circu n scrição
d a m e s m a C o rte d e A p elação n a q u al tiv er s u a s e d e e n a q u e la s
em q u e for in scrito u m o u m ais d o s sócios q u e ex e rce rem a p r o ­
fissão n o seio d a so cied ad e, c a b e n d o ao C o n selh o d a O rd e m d o s
A d v o g a d o s a p r o v a r o ato d e su a criação e arq u iv á -lo (recebê-lo
e m d ep ó sito ). A tran sferê n cia d e q u o ta s, ações o u p a r te s sociais
é p e r m itid a co m a c o n d iç ão s u s p e n s iv a d a a p ro v a ç ã o d e s u a ins­
crição; as n o rm a s relativ as ao exercício p ro fissio n a l são ap licá­
v eis à so cied a d e, aos sócios e e v e n tu a is asso c ia d o s etc. D e to d o
m o d o , a s o c ie d a d e só a d q u ire p e rs o n a lid a d e ju ríd ic a co m sua
m a tríc u la n o R eg istro d o C om ércio e d e S ociedades.
A ssim , os a d v o g a d o s franceses hoje ta n to p o d e m o p ta r p elo
m o d e lo d a s s o cied a d es d e m eios, com o, ig u a lm e n te , la n ç a r m ão
d a s s o c ie d a d e s civ is p ro f is s io n a is (in clu siv e n a s m o d a lid a d e s
lim ita d a , a n ô n im a o u em c o m a n d ita p o r ações, acim a referid as),
v is a n d o à p re s ta ç ã o d e serviços coletivos, n isso p e rm itin d o -s e
u m aju ste q u e se afasta d a a tiv id a d e p ro fissio n al clássica. N essa
ú ltim a espécie d e so ciedad e, com o d ize m H A M E L IN e DA M IEN,
o cliente n ã o p o s s u i v ín cu lo co m u m a d v o g a d o , com a tu a ção
in d iv id u a l o u e m c o n ju n to co m u m o u m ais colegas, eis q u e co n ­
3 26 S O C t E D A O E D E A D V O G A D O S V o l u m e 11

tra ta com a so cied ad e, ten d o -a n a q u a lid a d e d e s e u ad v o g a d o .


O s a d v o g a d o s in te g ra n te s d essa so cied a d e ficam em s e g u n d o
p la n o , co m s u a in d iv id u a lid a d e s u p e r a d a pela d a so cied ad e. O
objeto d e tal s o cied a d e é o exercício em c o m u m d a adv o cacia,
co n sistin d o seu negócio em prop iciar o trab a lh o coletivo, em troca
d o p esso a l, e d iv id ir os re s u lta d o s d esse tra b a lh o e n tre os p ro ­
fissionais p o r ela re u n id o s* .
N o q u e se refere à m atéria relativa à a tu a ç ã o d e a d v o g a d o s
estra n g e iro s, d ip lo m a d o s e inscritos em o u tro s E stad o s-m e m -
b ro s d a U n iã o E u ro p éia, as n o rm a s d a D iretiva n"" 9 8 / 5 / C E es­
tão g en e ric a m e n te c o n te m p la d a s n o s artig o s 200 a 204 d o D e cre­
to 191-1.197, d e 27 d e n o v e m b ro d e 1991, e p o s te rio re s a lte ra ­
ções, se n d o -lh e s p e r m itid o exercer liv re m e n te a p ro fis s ã o em
te rritó rio francês, s e g u n d o as c o n d ic io n a n tes ali p re v ista s. H á a
id en tificação d a titu lação q u e ca d a q u a l d e v e p o s s u ir em seu s
p a ís e s d e o rig em , exigência d e inscrição, su b m iss ã o às n o rm a s a
q u e estã o su jeito s os a d v o g a d o s franceses etc.

3, A legislação alemã
A a tiv id a d e so b form a d e so cied a d e d e p ro fissio n ais liberais
é d is c ip lin a d a , n a A lem a n h a, p ela Lei d e S o cied a d es d e 1"^ de
ju lh o d e 1995, q u e, p ara tan to , cria u m a n o v a fo rm a d e so c ie d a ­
d e (u m a esp écie d e so cied a d e sim ples), alte rn a tiv a à q u e la s tra ­
d icio nais, a P a r tn e r s c h a ft ou, n o vern ácu lo , a S o cied a d e d e P a r­
ceria (u m a s o cied a d e d e p esso as, à sem elh a n ça d a parhiership d o
d ire ito inglês).
N e sse tip o societário, ta m b é m só p o d e m se asso ciar p e sso a s
físicas q u e ex erçam p ro fissão liberal, v e d a d a a p a rtic ip a ç ã o d e

^Sobre o assunto, MAMELIN, Jacques, e DAMIEN. André. Les regies de Ia no uvelle profession
d ’advocat. 4. ed. Paris: Daloz, 1981, pp. 46-66.
S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o W m e II 127

p esso a s ju rídicas, m e sm o co ng ên eres, e d e q u e m m a is n ã o tiver


a n ec essária habilitação.
O exercício d a a tiv id a d e p rofissio n al está c o n d ic io n a d o aos
re g u la m e n to s específicos d e cada p rofissão. A re s p o n sa b ilid a d e
d o s sócios p ela s d ív id a s sociais é ilim itad a , o q u e a caracteriza
com o s o c ie d a d e d e p esso as, d e s p id a d e p e r s o n a lid a d e jurídica.
É p ossív el, p o ré m , lim itar-se a re s p o n s a b ilid a d e d o sócio p o r
d a n o s d e c o rre n te s d e e rro profissional.
E m re la çã o à s o c ie d a d e d e a d v o g a d o s , e s p e cifica m e n te, já
in s p ira d a na D ire tiv a d o P a rla m e n to E u ro p e u n"" 9 8 / 5 / C E , foi
e d ita d a , e m 31 d e a g o sto d e 1998, lei q u e altera as n o rm a s refe­
re n te s à p ro fissã o d e ad v o g a d o , cria n d o a p o s s ib ilid a d e d o ex er­
cício d a ad v o cacia n a fo rm a d e u m a socied a d e de resp o n sa b ili­
dade lim itada. T rata-se d a p rim e ira s o cied a d e d e ca p ita l reco ­
n h e c id a na A le m a n h a p a ra o exercício d e p ro fissã o liberal.
N o e n ta n to , em co n sid eração às esp ecificid ad es d a p ro fissão
d e a d v o g a d o , referid a lei b u sco u a te n u a r os efeitos da so cied a­
d e d e capital. S e g u n d o su as disposições, a m a io ria d a s q u o ta s
sociais e, c o n s e q ü e n te m e n te , d o s vo to s d e v e m p e rte n c e r a a d v o ­
g ad o s, aos q u a is tam b é m in cu m b e a a d m in is tra ç ã o d a so cied a­
de. A os sócios, p o ré m , n ã o é p e rm itid a a p a rtic ip a ç ã o e m o u tra
so c ie d a d e d e profissionais. In te g ra d a p o r a d v o g a d o s q u e efeti­
v a m e n te estejam a u to riz a d o s ao exercício d a p ro fissão , a socie­
d a d e n ã o p o d e ter p o r sócios p esso as ex c lu siv a m e n te p re s ta d o ra s
d e cap ital, a in d a q u e h ab ilita d a s p a ra a ad v o c acia , e v ita n d o , com
isso, a ex p lo ra çã o d o exercício d a p ro fissão, q u e d e v e p e r m a n e ­
cer, m e s m o em so cied a d e, com o c u n h o d e p re s ta ç ã o in d iv id u a l
e v in cu lativ a d a s p esso a s d o s a d v o g a d o s sócios o u d o s a d v o g a ­
d o s p a r a ta n to co n tratad o s.
128 S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e II

4. 0 sistema italiano
P ara b e m e n te n d e r com o a m atéria re la tiv a às so c ie d a d e s d e
"p ro fissõ es p ro te g id a s " é hoje tra ta d a n o d ire ito italiano , c o n ­
v é m re tro c e d e r ao p e río d o d e ed ição d o C ó d ig o C ivil d e 1942.
C o m o se sab e, esse d ip lo m a foi e d ita d o p o r p a rte s, a p a r tir d e
1938. A n te s d a p u b licaç ão d o Livro Del Lavoro (q u e tra ta ria d o
tra b a lh o a u tô n o m o , n o q u al foi in serid a a a tiv id a d e in telectu al,
a p a rta d a d a no ção d e em p re sa), m a s já d u r a n te os tra b a lh o s d e
su a elab oração, foi p ro m u lg a d a a Lei n® 1.815, d e n o v e m b ro d e
1939, q u e v e ta v a o exercício d a s p ro fissõ es in telec tu a is em for­
m a so cietária. Ela p e rm itia , p o ré m , a asso ciação p ro fissio n al,
id en tifica d a p o r d e n o m in a ç ã o com a d icção "escritó rio técnico,
legal, com ercial, contábil, a d m in is tra tiv o o u trib u tá rio " , s e g u i­
d o d o n o m e e so b re n o m e , b em com o d o s títu lo s p ro fissio n ais
d o s asso c ia d o s in d iv id u ais.
A d o u t r i n a e a ju r is p r u d ê n c ia ita lia n a s , p o s te r io r m e n te , i n ­
t r o d u z i r a m a d is tin ç ã o e n tr e s o c ie d a d e s d e p r o f is s io n a is e
s o c ie d a d e s d e m e io s , e e n tre p r o fis s õ e s p r o te g id a s e p r o fis ­
s õ e s n ã o p ro tegid as. "E m p a r tic u la r, a C o rte d ^ C a s s a ç ã o t i ­
n h a e x p r e s s a m e n te in d ic a d o q u e a m e s m a r a z ã o q u e p r e s c r e ­
v e u m a m o d a l i d a d e p a r tic u la r p a r a as a s s o c ia ç õ e s d e p r o f is ­
sio n a is, v e ta q u e u m a e m p re s a c o m e rc ia l p o s s a d e s e n v o lv e r
u m a a t i v i d a d e p ro f is s io n a l p ro te g id a d e b a ix o d e u m a firm a
in d i v id u a l e cu jo titu la r n ã o se id e n tifiq u e c o m o u m p r o f is s i­
o n a l h a b ilita d o (sen t. n. 3 4 4 1 /9 3 ). N ã o e ra e x c lu íd a , p o r é m ,
s e g u n d o a S u p r e m a C o rte , a c o n s titu iç ã o d e s o c ie d a d e , n o c ir­
c u n s c rito â m b ito d a a t i v i d a d e re la tiv a à s a ú d e , p o r q u e s u a
c o n s titu iç ã o p o d e r ia te r p o r fim a o fe rta d e u m p r o d u t o o u
s e rv iç o d iv e r s o e m a is c o m p le x o r e la tiv a m e n te a o tra b a lh o
d o p ro f is s io n a l i n d iv id u a lm e n te c o n s id e r a d o , o u a g e s tã o d o s
S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e II 129

m e io s in s t r u m e n t a i s p a r a o ex ercício d e u m a a t i v i d a d e p ro te -

A ssim , u m a so cied a d e en tre p esso as d e p ro fissõ es re g u la m e n ­


ta d a s era p e rm itid a so m e n te q u a n d o
a) o objeto social p re v isse u m p r o d u to o u u m serviço d i ­
v erso , e ce rta m e n te m ais co m p lex o , e m re la çã o ao t r a ­
b a lh o p re s ta d o p ela p e sso a n a tu r a l h a b ilita d a , co m o
seria o caso d e u m a s o cied a d e d e e n g e n h a ria re la tiv a ­
m e n te à p re s ta ç ã o d e u m e n g e n h e iro , o u a in d a o da
a tiv id a d e d e u m h o sp ital em relação à p re s ta ç ã o d e u m
m éd ico ; e
b) n o caso d e a s o cied a d e ter p o r objeto a re alizaç ão d a
g estão d o s m eio s in s tru m e n ta is p a r a o exercício d e u m a
a tiv id a d e p ro fissio n al p ro te g id a , q u e fosse, n o en ta n to ,
d is tin ta d a o rg a n iz aç ão d o s b en s d e q u e se utilizasse.

De to d o m o d o , a referida Lei n^* 1.815 n ã o excluiu a p o ssibili­


d a d e d e exercício em form a associativa (não societária), q u a n d o
tal associação fosse co nstitu ída en tre pesso as hab ilitad as o u a u to ­
riza d as ao exercício d e u m a m e sm a e ú n ica ativ id a d e intelectual.
Era fre q ü e n te , na Itália, a e stip u laçã o d e c o n tra to s p e lo s qu ais
u m a d e te rm in a d a s o cied a d e d e m eios e serv iço s o b rig a v a -s e a
fo rnecer ao p ro fissio n al to d o s os b e n s in s tru m e n ta is e serv iço s
d o s q u a is ele n ec essitav a e este, d e su a v ez, a c o n trib u ir com
a lg u m re c u rs o em d in h e iro o u em b e n s in natiira p a r a a so cied a­
de: d e s s e m o d o n ã o ficava c o m p ro m e tid o o c a rá te r fid uciário
típico d a p re s ta ç ã o d o pro fissio n al, q u e p e rm a n e c ia o ú n ic o s u ­
jeito a m a n te r relação com su a p ró p r ia clientela.

^DISEGNI, Giuíio. S ocifità tra p ro fe ssio n istí: q u a le fu tu ro ? ConsígIíoNazionale dei Ragíonierí


Commercialisti - Summa 183, /2002/novembre/p. 46-50.
130 S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e II

T ratav a-se, co m o in d icad o , d e s o cied a d e d e m eio s o u serv i­


ços, c a rac teriza d a pela au sência d e u m a a tiv id a d e p ro fissio n al
c o n ju n ta o u c o m u m p e ra n te a clientela, se m q u e se fizesse p re ­
sente, aí, o p re s s u p o s to d a colab o ração e n tre os sócios n o d e s e n ­
v o lv im e n to d a a tiv id a d e social. O ca ráte r p esso a l d a p re sta ção
in telec tu a l a c e n tu a v a a n a tu re z a in tu itu personae d a s o c ie d a d e -
o su ficie n te n e g a r a a d m is s ib ilid a d e d e s o c ie d a d e s d e cap ital
e n tre q u a n to s q u e exercessem pro fissõ es in telec tu a is p ro te g id a s ,
p o is é s a b id o q u e a d iscip lin a d a s so cied a d es d e ca p ita l c o n tra s ­
ta a b e rta m e n te com o p rin cíp io in s p ira d o r d a Lei n" 1.815, d e
1939, p ela n ecessária q ualificação p ro fissio n al d o s sócios e p elo
p rin c íp io d a tran sp a rên c ia.
Essa p ro ib içã o v ig eu até a Lei B ersani (n" 266, d e 7 d e ag o sto
d e 1977), q u e re v o g o u o art. 2° d a até e n tã o v ig e n te Lei n® 1.815,
d e 1939. M as o p ro b le m a d a s s o c ie d a d e s d e p ro fis s io n a is lib e­
ra is n ã o ficou re s o lv id o p le n a m e n te , p o r q u e o re g u la m e n to , ao
q u a l a lei se r e p o r to u p a r a re g u lá -la s, n u n c a foi e d ita d o . P o ­
ré m , e ssa Lei, n a o p in iã o d e DISEG N I, " te v e o c o n d ã o d e e lim i­
n a r u m vício d e in c o n s titu c io n a lid a d e ín sito n a Lei d e 1939,
q u a n d o m e n o s so b o asp e c to d a d is p a r id a d e d e tra ta m e n to , re ­
la tiv a m e n te às fig u ra s p ro fissio n a is d is tin ta s (b asta p e n s a r no
caso d a s o c ie d a d e d e e n g e n h a ria , c o n se n tid a p e la Lei M erloni,
ter. n. 1 0 9 /9 4 )" " ’.
A Lei B ersani, c o n tu d o , p o s s ib ilito u s u s te n ta r-s e q u e u m a
s o c ie d a d e e n tre p ro fissio n ais intelectuais seria u m a espécie d e
so cied a d e d e p re sta ção d e serviços, co m c a p a c id a d e d e exercer
em n o m e p ró p r io a p rofissão. A p e sa r disso, n a p rá tic a, os re s­
pectiv o s c o n tra to s sociais m a n tiv e ra m co m o n o rm a a pesso ali-
d a d e n a execução d a p re sta ção p ro fissio n al p ela p e sso a n a tu ra l

'«DISEGNI, Giuiio, cit.. p. 47.


S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e li 131

le g a lm e n te h ab ilita d a , s u a in d e p e n d ê n c ia e s u a re s p o n sa b ilid a ­
d e in d iv id u a l p e lo q u e fizesse" .
C o m o a d v e n to d a D iretiva 9 8 / 5 / C E , a Itália in c u m b iu -s e d e
se a d e q u a r às s u a s n o rm a s, re cep c io n ad as p elo D ecreto Legisla­
tiv o n*' 96, d e 2 d e fev ereiro d e 2001, v is a n d o , essen cialm en te,
facilitar o exercício d a ad v o cacia em u m E s ta d o -m e m b ro d is tin ­
to d a q u e le n o q u a l o a d v o g a d o a d q u iriu s u a h ab ilitaçã o p ro fis ­
sional. O in te re s sa n te é q u e, e m b o ra lim ita d o a re g u la r a p ro fis­
são d o s a d v o g a d o s , foi n essa o p o rtu n id a d e q u e o le g is la d o r in­
tro d u z iu n o o rd e n a m e n to ju ríd ico italian o a fig u ra d a so cied a d e
d e a d v o g a d o s , fa z e n d o cair, assim , as lim itaçõ es ao exercício em
fo rm a societária, d a s p ro fissõ es in telectuais p ro te g id a s o u re g u ­
la m e n ta d a s .
S e g u n d o a p re v isã o co n tid a n o artig o 16 d o D e cre to L egisla­
tiv o n° 96 d e 2001, a a tiv id a d e p ro fissio n al d e re p re s e n ta ç ã o , as­
sistência e d efesa em ju ízo p o d e ser ex ercid a e m fo rm a c o m u m
" s e g u n d o o tip o d a s o cied a d e e n tre p ro fissio n ais, d e n o m in a d a
d e s o c ie d a d e d e a d v o g a d o s ".
A s o c ie d a d e d e v e inscrev er-se n a Seção d a O rd e m d o s A d v o ­
g a d o s d e s u a sed e, a ela ap lica n d o -se n a tu ra lm e n te as n o rm a s
legislativ as, p ro fissio n ais e d eo n to ló g ica s q u e d is c ip lin a m a p ro ­
fissão forense. A con stitu ição d a s o cied a d e d e a d v o g a d o s d e v e
ser re a liz a d a p o r esc ritu ra p ú b lica o u p riv a d a a u te n tic a d a e tem
p o r objeto ex c lu siv o "o exercício c o m u m d a p ro fissã o d o s p ró ­
p rio s sócios". O ato co n stitu tiv o d a s o c ie d a d e d e v e in d ic a r os
sócios, a s e d e e o objeto social; se n ã o fo rem in d ic a d o s os sócios
q u e tê m a a d m in is tra ç ã o d a so ciedad e, esta p e rte n c e a q u a lq u e r
d ele s d isju n tiv a m e n te , e n ã o p o d e ser c o n fia d a a terceiro s, com
" Cf. recomendação do Conselho Nacional dos Notários a seus membros na elaboração dos
instrumentos de constituição das sociedades de profissões regulamentadas (DISEGNI, Giulio,
c it,p . 48).
132 S O C I E D A D E O E A D V O G A D O S V o l u m e II

isso ex c lu in d o -se a p artic ip a çã o social d e p e s s o a s e s tra n h a s à


profissão. Só p o d e m ser sócios os p o rtad o res d o título d e ad v o g a­
do, seja d o direito italiano, seja d o direito estrangeiro estabelecido
n a Itália - o q u e significa q u e n ão são adm itid as sociedades inter-
disciplinares ou cujos integrantes pertençam a o u tras profissões.
Q u a n to à ra z ã o social, a lei d e 2001 a d a p ta à s o c ie d a d e de
a d v o g a d o s a p re v isã o v ig en te e m m a té ria d e s o c ie d a d e e m n o m e
coletivo, co m e x p ressa exigência d e q u e te n h a u m a ra z ã o social
c o n s titu íd a p e lo n o m e e p elo títu lo pro fissio n al d e to d o s os sóci­
os o u d e u m o u m ais sócios, s e g u id o s d a locução " e o u tro s " (ed
altri) e d a in d icaç ão d e se tra ta r d e s o cied a d e d e p ro fissio n ais,
e m fo rm a a b re v ia d a "s.t.p ." (sodetà tra profissionisti).
T a m b é m h á n o rm a especial d is p o n d o q u e as q u o ta s d e p a r ti­
cip ação p o d e m ser objeto d e tra n sm issã o p o r ato e n tre v iv o s com
o c o n s e n tim e n to d e to d o s os sócios; e m caso d e m o rte a q u o ta
d o sócio falecido d e v e ser liq u id a d a p a r a seu s h e rd e iro s , se es­
tes, p re e n c h e n d o os re q u isito s d e sócio, n ã o p r e te n d a m p ro s s e ­
g u ir n a relação societária. N ã o h á o u tra s p re v isõ e s especiais, re ­
p o rta n d o -s e a lei, q u a n to ao m ais, às d isp o siç õ es re la tiv a s à soci­
e d a d e e m n o m e coletivo p a r a aplicação su b sid iá ria - o q u e traz
à to n a a q u e s tã o d e sa b e r se u m a s o cied a d e d e a d v o g a d o s p o d e
ser c o n s id e ra d a e m p re s á ria o u se fica m a n tid a d is ta n te d essa
qualificação. S u as p artic u la rid a d e s, c o n tu d o , e n fa tiz a n d o "a p es-
s o a lid a d e d a p re sta ção , a su b je tiv id a d e p e rs o n a liz a d a q u e ca­
ra c te riz a o d e s e n v o lv im e n to e a função d o p ro fissio n al, n o caso
específico d o a d v o g a d o , n ã o lib era d o d a g a ra n tia d e in d e p e n ­
d ên cia, faz p e n s a r q u e n ã o é a o b jetiv id ad e d a e m p re sa , societária
o u asso c ia d a q u e seja, a se erig ir no fu tu ro o leit m o tiv d o m in a n te
d a a tiv id a d e e d a figura d o profissional"^^.

'^DISEGNI.GiuIiO, c it.,p . 49,


S O C f f i O A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e II 133

A lém disso , re fe rid o D ecreto L egislativo in tr o d u z iu n o o rd e ­


n a m e n to italian o a p o s s ib ilid a d e d e exercício p e r m a n e n te , no
te rritó rio d a Itália, d a p ro fissã o d e a d v o g a d o p o r p a r te d e cid a­
d ã o s d e u m E sta d o -m e m b ro d a U n ião E u ro p é ia , d e p o s s e d o
seu re sp ectiv o título, ta n to em c a ráte r in d iv id u a l co m o e m for­
m a a sso c ia d a o u societária.

5. Em Portugal
E m P o rtu g a l n ã o h á lei q u e discip lin e as s o c ie d a d e s d e p ro ­
fissionais liberais, m a s sim ato s n o rm a tiv o s específicos p a r a cad a
profissão .
P a ra os a d v o g a d o s h á a s o cied a d e civil d e a d v o g a d o s , cujo
re g im e ju ríd ic o é fixado p e lo D ecreto-Lei n° 5 1 3 -Q /7 9 , d e 26 d e
d e z e m b ro d e 1979 {alterado p elo D ecreto-L ei n*^ 237, d e 30 d e
a g o sto d e 2001) q u e, e m 28 artigos, c o n té m re g ra s b a s ta n te d e ta ­
lh a d a s d is p o n d o so b re su a constituição, e s tru tu ra , fu n c io n a m e n ­
to, a d m in is tra ç ã o , re la cio n am e n to e n tre os sócios, atrib u içõ es,
tra n s m is s ã o d e p articip açõ es, n a tu re z a d a s co ntrib u içõ es, d e li­
b eraçõ es, d isso lu ç ã o etc.
N e sse tip o societário, só h á aquisição d e p e rs o n a lid a d e jurídi­
ca com seu registro na O rd e m d o s A d v o g a d o s d e P o rtu g al, ten d o
p o r esco po exclusivo o exercício em c o m u m d a p ro fissão d e a d ­
v o g a d o p o r seus sócios. A pesar d o c u n h o especial d e q u e se re­
v este, n o ta d a m e n te d a p e s s o a lid a d e d o exercício d a a tiv id a d e
profissional, há discussões acerca da n atu re za em p resarial, o u não,
d a so cied a d e d e a d v o g a d o s ou, pelo m enos, d a s g ra n d e s socieda­
d e s d e a d v o g a d o s q u e lá d ese n v o lv e m su as a tiv id a d e s ’^
N o to ca n te à a tu a ç ã o d e a d v o g a d o s e s tra n g e iro s e m seu ter-

A respeito do tema; ABREU, Jorge Manuel Coutinho de. Da em p re s a ria lid a d e - as em pre­
sas d o d ire ito . Coleção Teses. Coimbra: Almedina, 1999. p. 100 e seg.
1 34 S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e II

ritó rio, o C o n selh o G eral d a O rd e m d o s A d v o g a d o s d e P o rtu g al


b aix o u, em 7 d e m a io d e 2002, o " R e g u la m e n to d e R egistro e
In scrição d o s A d v o g a d o s P ro v en ien te s d e O u tro s E stad os-M em -
b ro s d a U n iã o E u ro p é ia", qu e, in c o rp o ra n d o as d isp o siç õ es le­
g ais v ig en tes, d is p ô s so b re a liberalização e as c o n d ic io n a n tes
p a r a o exercício d e s u a ad v o cacia n a q u e le p aís, em co n so n â n cia
co m a re ferid a D iretiva b aix a d a p elo P a rla m e n to E u ro p e u .

6. Tratamento no Brasil
O o rd e n a m e n to jurídico nacional não fazia q u a lq u e r distinção
en tre socied ad es d e p restação d e serviços em geral e so cied ad es
co n stitu íd as p a ra o exercício d e ativ id ad es intelectuais, d e n tre es­
sas as d e profissões re g u la m e n ta d a s'^ . T o d as p o s s u ía m u m único
re g im e jurídico, q u e era o estabelecido p elo C ó d ig o C ivil d e 1916,
s e g u n d o as p re v isõ e s genéricas d e seu s artigos 1.379,1.381 e 1.409,
aplicáveis às socied ad es civis em geral, g ênero n o q u al se re p u ta ­
v am e n q u a d ra d a s as sociedades d e p restação d e serviço.
A p e sa r disso , n ã o só o ex em p lo d a s legislações estra n g eira s,
m a s u m e n fo q u e p rá tic o ap o n ta d iferen ça s q u e re c o m e n d a m a
existência d e u m tra ta m e n to p ecu liar, p o rq u e , e n q u a n to a lg u ­
m a s s o c ie d a d e s d e p re sta ção d e serviços p re s c in d e m d e m ão-
d e-o b ra q u alifica d a, o u tra s têm com o p re s s u p o s to a a tu a ç ã o de
p e sso a s co m ta len to p ró p r io o u com co n h e cim en to s técnicos es­
pecíficos, o b tid o s em cu rso s q u e fo rn ecem títu lo s d e h abilitação
pro fissio n al.

' ‘ Hà tratamento diferenciado no campo do Direito Tributário, não permitindo nossa legislação,
por exemplo, que as sociedades de profissões regulamentadas adotem o sistema de tributação
conhecido como SIMPLES, mas, em contrapartida, assegurando-lhes regime especial no to­
cante ao COFINS (hoje a questão da revogação do benefício instituído pela Lei Complementar
n. 70 pende de definição pelo Supremo Tribunal Federal) e ao Imposto sobre Serviços, que tem
tomado como base de cálculo para sua incidência, normalmente, não o volum e do faturamento
da sociedade, mas o número de profissionais que através dela exercem sua atividade.
S O C I E D A D E DE ADVOGADOS VohjmeII 135

U m a s o cied a d e co n stitu íd a p a ra p re s ta r serv iços d e lim p eza,


p o r e x e m p lo , p o d e d e se n v o lv e r su a a tiv id a d e se m n e c e ssid a d e
d e id e n tific a r c a d a q u a l d a q u e le s q u e re c ru ta p a r a exercê-la,
p o d e n d o su b stitu í-lo s n as fu n ções sem q u e isso afete o m o d o d e
p re s ta r o serviço o u q u e o fato seja re le v a n te p a r a o d e s tin a tá rio
d e s u a a tiv id a d e , isto é, p a ra q u e m c o n tra ía os serviços. P ara
este, o q u e im p o rta é a q u alid ad e d o serviço q u e a sociedade lhe
oferece, sendo-lhe irrelevante verificar q u em é a p esso a q u e o pres­
ta efetivam ente. O contrato é com a sociedade, sen d o indiferente a
identificação d a pessoa p o r ela re cru tad a p ara cum pri-lo. N esse
exem plo, sobressai a em presa, ficando o executor efetivo d a presta­
ção co ntratad a em p lan o secundário ou, até m esm o , ignorado.
Já a p r o d u ç ã o in telectu al é, p o r n a tu re z a , p esso al. N in g u é m
p ro c u ra u m a so cied ade d e artistas p ara co m p ra r-lh e u m q u ad ro ,
p o rq u e aí o q u e im p o rta é o sócio-pintor o u o em p re g a d o -p in to r
(por su a inspiração e pelo trab alho q u e ele p ró p rio p ro d u z ).
É o q u e se d á, tam b ém , c o m a m a io ria d a s c h a m a d a s p ro fis ­
sões re g u la m e n ta d a s , objeto d e sta s considerações: u m a so cied a­
d e q u e re ú n e a d v o g a d o s n ã o exerce a ad vo cacia, n e m a d e m é d i­
cos a m ed icin a. O q u e h á é o exercício in d iv id u a l d a p ro fissão
p ela s p esso a s d e te n to ra s d a c o r re s p o n d e n te h ab ilitação , se rv in ­
d o a s o c ie d a d e d e a p o io p a ra q u e elas a exerçam . A ssim co m o o
d o m d o artista q u e recebe a e n c o m e n d a d e u m q u a d r o , tam b é m
o títu lo d e h ab ilitaçã o p rofissio n al é in d is p e n s á v e l p a r a o exercí­
cio d e ssa s d ita s p ro fissõ es liberais, n ã o se n d o p o ssív el n e m p e r ­
m itid o q u e a elas se d e d iq u e m p esso a s q u e n ã o p o s s u a m a n e ­
cessária qualificação. A m e sm a p a rtic u la rid a d e - d e ser n ec essá­
ria a a s su n ç ã o d o serviço p ela p essoa n a tu ra l e n ã o p ela p esso a
ju ríd ica d a s o c ie d a d e - (e já aq u i p elo c o n h e c im e n to técnico s u ­
p o sto e n ã o p ela q u a lid a d e d o re s u lta d o d a o b ra ) re c o m e n d a
136 S O C IE D A D E D E A D V O G A D O S Volume II

u m re g im e p e c u lia r p a ra q u e n ã o se a b ra a p o s s ib ilid a d e d e o
exercício d a p ro fissã o esco nd er, so b o m a n to d e u m a s o cied a d e
c o n stitu íd a, a tu a ç ã o d e terceiros e rm o s d a h ab ilitação específica
q u e c o n stitu a seu escopo social.
N o c a m p o d a ad v o cacia esse p ro b le m a aflo ro u , m ais a g u d a ­
m e n te n a prá tic a, com a a b e rtu ra d e s o cied a d es civis d e a d v o g a ­
d o s q u e, n u m p rim e iro m o m en to , p a recia m ser in co m p atív eis
c o m os p o s tu la d o s d a p rofissão, n o ta d a m e n te os re la tiv o s à pes-
s o a lid a d e d a a tu a ç ã o p ro fis s io n a l, o s ig ilo e a p ro ib iç ã o d e
a g e n c ia m e n to d e causas, m e d ia n te a p a rtic ip a ç ã o n o s re s u lta ­
d o s se m co lab o ração n a execução d o s serviços. C o n tu d o , tra ta ­
v a-se d e u m a re a lid a d e q u e n ã o p o d ia ser d e s p r e z a d a '^ .
Foi p o r isso q u e o a n te rio r E statu to d a O rd e m d o s A d v o g a ­
d o s d o Brasil, co n tid o na Lei n® 4.215, d e 1963, a d m itiu , p e la p ri­
m e ira v ez , u m a s o c ie d a d e d e p ro fissio n ais liberais co m c o n to r­
n o s d iv e rs o s d a q u e le s gen éricos estab elecid o s p elo C ó d ig o C i­
vil d e 1916, ap licáveis às so cied ad es civis d e p re s ta ç ã o d e serv i­
ços. N a re fe rid a Lei ficou estab elecid o, p a r a o q u e a esta e x p o si­
ção in tere ssa , q u e “os advogados podem reunir-se, para colaboração
profissional recíproca, em sociedade civil de trabalho, destinado à disci­
plina do expediente e dos resultados patrimoniais auferidos na presta­
ção de serviços de advocacia” (art. 77), d e v e n d o ser p re s ta d a s in d i­
v id u a lm e n te , p o ré m , as ativ id a d e s p ro fissio n ais "quando se tra­
tar de atos privativos de advogado, ainda que revertam ao patrim ônio
'^Sobre a origem das sociedades de advogados no Brasil, reporlo-me ao meu livro Sociedade
de A dvogados. {2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, n - 1, pp. 7-8). Com todo acerto, obtempera
Daniela V. L. de MELO BORGES que, nesse tipo societário, “muito mais importante do que o
imóvel em que se localiza a sociedade e demais bens corpóreos lá presentes, o verdadeiro
elemento valorativo da sociedade é a própria atividade intelectual exercida por seus sócios,
associados ou empregados, ou seja, o bem incorpóreo trazido pelo profissional através de seu
intelecto que, juntamente com os outros bens maiores da sociedade, os clientes, possam resul­
tar num perfeito equilíbrio, através do qual poderá ser atendida a função social da advocacia e
da sociedade de advogados" (Em presa de tra b a lh o in te le c tu a l - a a tiv id a d e inte le ctual
exe rcid a p e lo advogado. Revista do Advogado, Ed. AASP, n- 74, p. 31).
S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e II 137

social OS honorários respectivos" (§ 1”), s e n d o as p ro c u ra ç õ e s " o u ­


torgadas ind ividualm ente aos advogados", co m in d ic a ç ã o "da socie­
dade de que façam parte" (§ 3").
O v ig e n te E statu to d a A dvocacia, em b o ra sem d efini-la, m a n ­
te v e as lin h a s m e s tra s d a so c ie d a d e d e a d v o g a d o s , tal co m o
e m o ld u ra d a p ela n o rm a an terio r, to rn a n d o -a m a is ríg id a ao ex ­
clu ir a p o s s ib ilid a d e d e p artic ip a çã o d e e stag iá rio s d o s cu rsos
ju ríd ico s, d e m o d o q u e só a d v o g a d o s d ela p o d e m fa zer p a rte
(arts. 15 a 17 d a Lei n" 8.906, d e 1994).
C o m o se o b serv a, p erm itiu -se a co n stitu ição d e u m a so cied a ­
d e d e m e io s - u m a s o cied a d e d e ap o io p a ra o exercício d a a d v o ­
cacia p e lo s sócios e d e m a is a d v o g a d o s a ela v in c u la d o s - , ao
m e s m o te m p o em q u e se faculto u , n ã o só o ra te io d a s d e s p e s a s
( d a s c h a m a d a s p e r d a s ) , m a s ta m b é m d a s re c e ita s (lu c ro s )
a u fe rid a s p ela a tu a ç ã o in d iv id u a l d e ca d a q u a l d e seu s m e m ­
b ros. Isso n ã o é n a d a p a re c id o co m as so c ie d a d e s p re s ta d o ra s d e
serv iços g erais e já d ev ia te r serv id o d e e x e m p lo p a r a aplicação
a o u tra s s o c ie d a d e s d e p ro fissão in telectu al re g u la m e n ta d a .
C o m o a d v e n to d o C ó d ig o Civil d e 2002, o le g islad o r p ro c u ­
ro u d is tin g u ir as so cied a d es d e p ro fissã o in telec tu a l d a s d e m a is
so cied a d es, a o estab elecer q u e estas ficam s u b o rd in a d a s a o re g i­
m e ju ríd ic o d a s so cied a d es sim p les (art. 982, s e g u n d a p a rte , co m ­
b in a d o co m s e u art. 966, par. ú n i c o ) . Ao fazê-lo, p o ré m , n ã o se
p re o c u p o u com os d e ta lh e s a q u i d esta c a d o s. D e fato , e m b o ra
te n h a e n g lo b a d o o tra ta m e n to d a s a tiv id a d e s d e p re s ta ç ã o d e
serv iço n o g ê n e ro d a s ativ id a d e s eco n ôm icas su jeitas ao d ireito
'® 0 professor Sylvio MARCONDES, a quem coube a feitura do Livro II da Parte Especial do
Anteprojeto do Código Civil, assim justificava a exclusão da profissão intelectual do conceito de
empresário: "Há, porém, pessoas que exercem profissionalmente uma atividade criadora de
bens ou de serviços, mas não devem e não podem ser consideradas empresários - referimo-
nos às pessoas que exercem profissão intelectual - pela simples razão de que o profissional
intelectual pode produzir bens, como o fazem os artistas; podem produzir serviços, com o o
238 S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e II

d e e m p re s a e d e k s s e p a ra d o , p a r a re g ra m e n to d iferen cia d o , a
p ro fissã o in telectual, d e n a tu re z a científica, literária o u artística,
n ã o c u id o u d e estab elecer n e n h u m a re g ra q u e leve em c o n sid e ­
ra ção as p a rtic u la rid a d e s d e seu exercício.
P e n h o r d o q u e acab o d e afirm ar está n a p o s s ib ilid a d e d e a
so cied a d e sim p le s con stitu ir-se s e g u n d o u m d o s tip o s d e socie­
d a d e em p re s á ria , s u b o rd in a n d o -se , assim , ao re g im e ju ríd ic o d o
tip o esc o lh id o (art. 983), salvo n o to can te ao reg istro , q u e n ão
m ig ra p a r a as Ju n ta s C om erciais, p e rm a n e c e n d o n o O fício d e
R eg istro d e P essoas Ju ríd icas {art. 1.150). T o d av ia , o local d e re ­
g istro n a d a significa n e m d iz re sp eito às d istin çõ es q u e recla­
m a m tra ta m e n to especial. Da m e sm a fo rm a, n ã o se d e v e o lv id a r
q u e a s o c ie d a d e sim ples, em b o ra espécie, é, acim a d e tu d o , a
s o cied a d e-b a se o u so cied ad e-tro n co , cujas n o rm a s são s u p le ti­
v as d a s d isp o siç õ es estab elecid as p a ra as d e m a is s o cied a d es - o
q u e a desloca p a r a o centro d o sistem a, com o a socied a d e geral,
s e m p a r tic u la rid a d e s p ró p ria s , d e so rte a p ro p ic ia r a aplicação
d e s u a s n o rm a s a q u a lq u e r o u tro tip o so cietário q u e n ã o co n te­
n h a (este sim ) p re v isã o d e tra ta m e n to especial'^.

fazem os chamados profissionais liberais: mas nessa atividade profissional, exercida por essas
pessoas, falta aquele elemento de organização dos fatores da produção; porque na prestação
desse serviço ou na criação desse bem, os fatores de produção, ou a coordenação de fatores, é
meramente acidental: o esforço criador se implanta na própria mente do autor, que cria o bem ou
0 serviço. Portanto, não podem - embora sejam profissionais e produzam bens ou serviços -
ser considerados empresários. A não ser que, organizando-se em empresa, assumam a veste
de empresários. Parece um exemplo bem claro a posição do médico, o qual, quando opera, ou
f a i diagnóstico, ou dá a terapèuiica, es\á prestando um serviço resultante da sua alivitiade
intelectual, e por isso não é empresário. Entretanto, se ele organiza fatores de produção, isto é,
une capita!, trabalf^o de outros médicos, enfermeiros, ajudantes etc., e se utiliza de imóvel e
equipamentos para a instalação de um hospital, então o hospital é empresa e o dono ou titular
desse hospital, seja pessoa física, seja pessoa jurídica, será considerado empresário, porque
está, realmente, organizando os fatores da produção, para produzir serviços" (Q uestões de
D ire ito M ercantil. Direito Mercantil e Atividade Negociai no Projeto do Código Civil. São Paulo:
Saraiva, 1977, p. 11).

Uma crítica mais ampla ao regime jurídico da sociedade simples pode ser encontrada nas
S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e II 339

D e q u a lq u e r fo rm a , as n o rm a s d a s s o c ie d a d e s sim p le s n ão
a te n d e m às exigências d a re a lid a d e nacional. P elo co n trá rio , sua
rig id e z en g e ssa - se p e rm itid a a e x p ressão - a n e c essária flexibi­
lid a d e d e q u e d e v e m d is p o r esses tip o s societários, n o ta d a m e n -
te n o q u e d iz re sp eito ao in g resso e à saíd a d e sócios, ao s q u ó ru n s
d e d elib eração , à e s tru tu ra d e fu n c io n a m e n to etc. O s a d v o g a ­
do s, ta lv e z p o r o a s s u n to esta r lig ad o ao exercício d e s u a p ro fis ­
são, já p e rc e b e ra m as d ific u ld a d e s q u e irão e n fre n ta r n a atu a ção
e m g ru p o , so b fo rm a societária e, p o r m eio d e iniciativ as ju n to
ao C o n s e lh o F ederal, e stão p ro c u ra n d o , a tra v é s d a e d iç ã o d e
p ro v im e n to , s u a v iz a r as in co n g ru ê n cias q u e os a p a n h a ra m com
a e n tra d a e m v ig o r d a s n o rm a s codificadas. M as, n ã o é o b a s ta n ­
te. É p re ciso q u e haja u m a co nscientização d o n o s s o leg islad o r
p a r a q u e, u rg e n te m e n te , b u s q u e a lte ra r a leg islação relativ a à
so c ie d a d e sim p le s, seja a d e q u a n d o su as n o rm a s às p a rtic u la re s
exigências d esse s tipos societários, seja cria n d o u m tra ta m e n to
p ró p r io q u e as re g u le a d e q u a d a e eficazm ente.
P o r ú ltim o , n o q u e re sp eita à liberação d o s serv iços jurídicos,
p a re c e ce rta a p o sição d a OAB n o s e n tid o d e evitá-la, d a d a s as
p a rtic u la re s exigências de co n h e cim en to q u e e n v o lv e m seu ex er­
cício e m c a d a país. N o en ta n to , é ta m b é m n ec essário q u e sejam
le v a d a s e m co n sid eraçã o situações especiais, co m o a q u e ocorre
e n tre os p a íse s d a U n ião E u ro p éia, e q u e ju stificam u m regra-
m e n to lib era liz an te p a ra p e rm itir a a tu a ç ã o d o a d v o g a d o , q u e
o b té m s e u c re d e n c ia m e n to em u m d e seu s E sta d o s-m e m b ro s,
ju n to ao s d em ais. E a q u i tem o s o e x e m p lo d o M ercosu l, o n d e,
a p e s a r d e já e s ta re m em fase a d ia n ta d a as d isc u ssõ e s so b re a
liberalização d o s serviços, m u ito há a fazer n o q u e d iz re sp eito à

minhas L iç õ e s de D ire ito S ocietá rio (2. ed, São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004, nos 46-48,
pp. 109-126).
140 S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e II

a d v o c a c ia . Q u e s tõ e s c o m o a p o m p o s a t r a m ita ç ã o d e c a rta s
ro g a tó ria s p a r a diligências q ue, d e te rm in a d a s p o r u m E stado-
m e m b ro , d e v a m ser c u m p rid a s em o u tro (ap esar d e, às vezes,
h a v e r a necessid ad e, apen as, d e atrav essar u m a ru a o u a p o n te d e
u m rio) c h a m a m a atenção tanto q u a n to a ausência d e cred en cia­
m e n to p a ra a atu ação d e ad v o g a d o s d a região e n v o lv id a p o r esse
tra ta d o e m cortes su p ranacion ais, com o o T rib u nal Arbitrai.
O s m o d e lo s e u r o p e u s p o d e m a ju d a r n a d is c u s s ã o d e s s e s te ­
m as, s e n d o d ig n a d e re g istro a iniciativa to m a d a p elo C o n selh o
d o s C olég ios e O rd e n s d o s A d v o g a d o s d o M erco su l - C O A D E M ,
q u e, so b a P resid ên c ia d o C o n selh eiro F ed eral S ergio F erraz, em
re u n iã o re a liz a d a e m M o n tev id éu , d ia 24 d e m a io d e 2004, a p r o ­
v o u o tex to d e u m p ro jeto q u e re g u la m e n ta a a tu a ç ã o d o s a d v o ­
g a d o s n o s E stad o s-m e m b ro s d o M ercosul (a c h a m a d a a tu a ção
tran sfro n teira), p e rm itin d o q u e, a te n d id a s certas co nd icion antes,
u m p ro fissio n a l d o d ire ito d e q u a lq u e r d ele s p re s te co n su lto ria
e a s s is tê n c ia ju r íd ic a n o s o u tro s , s e m a o b r i g a t o r ie d a d e d e
re v a lid a ç ã o d o d ip lo m a . A p ro p o s ta é no s e n tid o d e exigir, p a ra
tan to , p r o v a d e inscrição d o a d v o g a d o n o ó rg ã o d e classe d o seu
p a ís d e o rig em , su b m e te r-se às re g ra s d o C ó d ig o d e Ética d o
p a ís o n d e p r e te n d e a tu a r e se a p re s e n ta r a o C olégio o u O rd e m
d o s A d v o g a d o s d esse últim o p o r indicação d e u m a d v o g a d o local
o u q u e ali já esteja a tu a n d o , v e d a d o s , p o ré m o p a tro c ín io e a
re p re s e n ta ç ã o judicial'®.

A única facilidade aceita pelo Brasil até agora nessa matéria é a do advogado português, que
goza de tratamento especial devido ao Provimento n- 37, de 22 de julho de 1969, segundo o
qual pode inscrever-se no Brasil sem revalidação do diploma, observados os requisitos comuns
de inscrição das legislações brasileira e portuguesa quanto aos seus nacionais. Não se trata de
permitir que o advogado português atue no Brasil com sua inscrição portuguesa, mas de lhe
proporcionar a obtenção da inscrição brasileira com a apresentação de prova de inscrição na
Ordem dos Advogados de Portugal e submissão, como qualquer brasileiro, às demais exigênci­
as de inscrição, inclusive exame de ordem.
Execução Gráfica:

Editora d e Livros iuíb


TeleFaxpii3391 0 6 4 4 lilhera@lithera.com.br
ÉÉ Esperam os que o presente
trabalho seja am plam ente
difundido para esclarecimentos
das dúvidas que ainda possam
pairar sobre a administração
societária dos advogados. J J

Roberto Antonio Busato


Presidente do Conselho Federal da OAB

ISBN 85-87260-58-8

9"788587"260581

Вам также может понравиться