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Vitória russa na Ucrânia

Derrota da Wehrmacht em Kursk

Batalha de Kursk

No dia 17 de fevereiro de 1943, o General Heinz Guderian recebeu uma urgente chamada telefônica do
General Linnarz, ajudante do chefe de Divisão de Pessoal do Exército alemão. Guderian, que em dezembro
de 1941 fôra retirado do serviço ativo por ordem de Hitler, em virtude do fracasso da grande ofensiva sobre
Moscou, inteirou-se, surpreso, que o Fuhrer solicitava a sua presença imediata no QG, na Ucrânia.

No dia seguinte, 18 de fevereiro, Guderian empreendia a viagem por trem até a Prússia Oriental, de onde se
transportaria à Ucrânia por via aérea. No dia 20, o veterano chefe de blindados se apresentou ante o General
Schmundt, ajudante-pessoal de Hitler, este lhe comunicou a razão do chamado: as forças blindadas alemães
dizimadas pela catastrófica campanha de Stalingrado e do Cáucaso, estavam num estado de completa
desorganização. Da poderosa força que, em seu tempo, avançara irresistivelmente através da Europa,
somente restavam unidades malbaratadas. Milhares de tanques e veículos blindados foram perdidos nas
vastas planícies soviéticas; dezenas de colunas haviam desaparecido tragadas pela lama e pela neve; milhares
e milhares de homens haviam perecido nas mãos dos russos. Além disso, os planos de construção de novas
unidades blindadas, destinadas a enfrentar os tanques russos, que haviam demonstrado a sua superioridade
ante os alemães, encontravam-se atrasados por uma direção ineficiente. As tropas das divisões Panzer
haviam perdido, então, a confiança nos comandos. Urgentemente, e com firmeza, exigiam que se desse uma
enérgica e eficaz direção à arma blindada.

- Por isso - disse Schmundt a Guderian - o Fuhrer decidiu confiar-lhe a direção das forças Panzer. Guderian,
sem vacilar, respondeu: - Estou disposto a cumprir essa ordem, mas somente com uma condição: não quero
desgastar minhas forças em conflitos inúteis de competência. O tempo urge. Necessito do máximo de
autoridade para que minha missão alcance um resultado positivo. Solicito não ficar subordinado a nenhum
comando, salvo do Fuhrer. Sob minha orientação deve ficar o aperfeiçoamento e a fabricação dos novos
veículos encouraçados, assim como também a organização e a instrução de todas as unidades de tanques.

Depois de solicitar a Schmundt que transmitisse a sua posição ao Fuhrer, Guderian se retirou. Poucas horas
depois recebeu uma chamada direta do QG de Hitler, ordenando-lhe que se apresentasse a ele,
imediatamente.

Ao se encontrar a sós com o ditador, momentos depois, Guderian o saudou militarmente, e notou,
impressionado, a profunda mudança que o líder alemão havia sofrido desde a última vez me que ambos
estiveram frente a frente. Assim descreveu Guderian essa entrevista: “Não o havia visto desde o sombrio dia
20 de dezembro de 1941. Envelhecera muito nos 14 meses transcorridos. Seus passos não eram tão firmes
como antes. Sua dicção, vacilante. Sua mão esquerda tremia”. Hitler saudou Guderian cordialmente,
estendendo-lhe a destra, como querendo apagar, com esse aperto de mão, a injustiça que havia cometido
contra o homem que fora o mais destacado condutor da Wehrmacht, e lhe disse: “Nossos caminhos se
separaram desde 1941. Foi devido a uma série de equívocos que eu lamento sinceramente. Necessito do
senhor”.

Assim, no momento crítico em que as forças alemães se defrontavam com a possibilidade da derrota
definitiva, Hitler recorria ao homem que havia criado as Panzer, o instrumento que revolucionara a guerra e
assombrara o mundo. O Fuhrer confiava que o mestre da Blitzkrieg devolveria o ânimo às exauridas forças
blindadas, permitindo assim que se obtivessem novas vitórias, salvando a Alemanha da catástrofe. Sem
hesitar, o Fuhrer cedeu às exigências de Guderian, comunicando-lhe que lhe daria toda a autoridade
necessária, nomeando-o general-inspetor das forças blindadas. Hitler encerrou a entrevista dizendo: - Li
novamente os seus escritos de antes da guerra a respeito da aplicação das forças blindadas e compreendi que
o senhor, já naquele tempo havia previsto, acertadamente, o seu desenvolvimento. De agora em diante, o
senhor deve levar à prática, sem nenhuma limitação, o seu pensamento.
Guderian deu meia-volta e se afastou. A entrevista durara exatamente 45 minutos. As palavras do Fuhrer, que
representavam um tardio reconhecimento de seu vaticínio, não podiam apagar, contudo, a convicção de que a
missão que se lhe havia outorgado chegava muito tarde. Na verdade, a arma blindada alemã, apesar do seu
esforço, nunca voltaria a supremacia perdida.

Os novos Panzer

Quando Guderian assumiu a direção das forças blindadas alemães, estas já contavam com os primeiros
grupamentos integrados pelos grandes tanques de construção recente: o Tigre, carro blindado pesado, de 58
toneladas e espessa blindagem, armado com um canhão de 88 mm, e o Panther, veículo mais leve, de 45
toneladas, também fortemente blindado, provido de um canhão de 75 mm. Estes tanques constituíam a maior
esperança para dar uma reviravolta favorável às ações na Rússia. Sua construção se iniciara em janeiro de
1942, depois do fracasso da ofensiva sobre Moscou. Nessa campanha, os alemães defrontaram-se, pela
primeira vez, com um tanque que superava amplamente os seus veículos blindados: o T-34 russo, de 26
toneladas de peso, e armado com um canhão de 76 mm. Estes veículos de lagartas largas, motores Diesel
extraordinariamente potentes e seguros, e silhueta baixa, superavam, vantajosamente, os melhores blindados
alemães, os Panzer III e IV. Os técnicos e engenheiros que visitaram a frente e examinaram os T-34
capturados, compreenderam que era preciso projetar novos veículos para suplantar o blindado soviético. Não
se seguiu, na ocasião, a sugestão dos chefes das divisões Panzer que indicaram que a melhor solução seria
imitar diretamente as características do T-34. Com isso, efetivamente, se evitaria um longo período de
aperfeiçoamento e experiências que, inevitavelmente, exigiria a construção de um tanque com novo desenho.
Os fabricantes logo se entregaram à tarefa de construir as séries de Panther e Tigre, depois de receber de
Hitler a aprovação de seus projetos.

Logo se evidenciou o erro de tal critério. Em março de 1942, o Ministro de Armamentos, Speer, anunciou a
Hitler que, no melhor dos casos, e concentrando toda a capacidade de produção das fábricas alemães, os
primeiros 220 Tigres estariam em condições de entrar em ação apenas em março do ano seguinte. Os russos,
paralelamente, já em 1942, estavam em condições de fabricar uma média de 2.000 tanques T-34 mensais, nas
suas fábricas nos Urais, fora do alcance dos bombardeiros alemães. Apesar desta situação, Hitler confiava em
que os Tigre e os Panther, embora em número reduzido, estariam em condições de diminuir, em parte, a
superioridade que até aquele momento os russos detinham. O Fuhrer supervisionou pessoalmente,
demonstrando assim a importância que emprestava a esse projeto, os trabalhos de desenho e planejamento
prévios à construção. Assim, por sua ordem, introduziu-se nos veículos uma série de modificações que o
próprio Guderian, posteriormente, qualificaria como muito acertadas; entre elas, a de elevar o reduzido raio
de ação do Tigre de 50 km para 150, como também de dotar o blindado de um canhão de 88 mm e não de
peças de maior calibre, porém de menor poder de penetração. Por ordem do Fuhrer, também se determinou a
instalação nos Panzer IV de canhões de 75 mm, longos. Assim equipados estariam em condições de enfrentar
os T-34 com maiores possibilidades a seu favor.

No mês de abril de 1942, começaram a sair das linhas de montagem da Henschel e da Porsche as primeiras
unidades Tigre. Já nas experiências iniciais comprovou-se, como estava previsto, que os Tigre eram uma
arma formidável nos campos de batalhas, até o final da guerra. Somente um tanque aliado, o Stalin, russo,
pôde enfrenta-lo em igualdade de condições.

O êxito técnico obtido pelo Tigre levou Hitler a conceber a idéia de construir veículos blindados gigantescos.
Sob esse aspecto, os seus projetos pairavam na fantasia. A prova disso foi a ordem que emitiu aos
engenheiros Grote e Hackel, em junho de 1942, exigindo-lhes o projeto de um tanque de 1.000 toneladas!
Outro plano de características gigantescas teve a atenção de Hitler: o tanque Mauschen, desenhado pelo
engenheiro Porsche, que alcançaria um peso de 200 toneladas e levaria, como arma, um canhão de 150 mm.
Planejou-se construir os Mauschen, à razão de dez unidades mensais nas fábricas Krupp, mas a guerra
acabou sem que os planos de concretizassem.

Todos estes projetos, a que se somaram os dos novos canhões autopropulsados, como o Hornisse (canhão de
88 mm montado num chassi de tanque Panzer IV), o Ferdinand (canhão de 88 mm montado num chassi de
Tigre) e o enorme canhão Gustavo, de 800 mm, montado sobre um vagão ferroviário, conduziram a uma
dispersão total de esforços e materiais que redundou para a Alemanha na impossibilidade de incrementar a
produção do Panzer IV, única unidade que podia ser fabricada em série e em grandes quantidades. Somente
em outubro de 1942, conseguiu-se, pela primeira vez, alcançar um ritmo de construção de 100 Panzer IV
mensais. Esta cifra estava, muito abaixo das necessidades reais do Exército alemão.

Para culminar a situação caótica que reinava, as autoridade militares exigiram que se abandonasse a
construção de todos os tipos de tanques, menos o Tigre e o Panther, únicos veículos claramente superiores
aos dos russos. Um inconveniente, praticamente insuperável, se opunha à concretização dessa medida. Até
que se conseguisse adaptar as diversas linhas de montagem à construção maciça das novas unidades, a
produção mensal de carros blindados ficaria limitado a 25 tanques Tigre. Guderian sentiu claramente a
catástrofe que isso significaria: “A conseqüência seria a completa destruição do Exército alemão, a curto
prazo”. Por isso, ao assumir o comando das forças blindadas, Guderian determinou a concentração do
esforço na produção de tanques do modelo Panzer IV. Paralelamente, levou adiante, em escala limitada, a
produção dos Tigre e Panther. Desta forma, o chefe alemão esperava alcançar uma média de 2.000 tanques
mensais, cifra mínima para poder enfrentar a produção das potências aliadas.

Operação “Cidadela”

Enquanto essas medidas eram tomadas para reorganizar as forças Panzer, Hitler, paralelamente, planejava
realizar uma nova ofensiva contra os russos. A pausa imposta pelo “período da lama” na frente russa
permitira aos alemães reorganizar suas linhas e retirar para a retaguarda numerosas divisões, com o objetivo
de descansar as tropas. Nessa situação se encontrava a totalidade das divisões Panzer, que já contavam com
os primeiros esquadrões de tanques Tigre.

As tropas forma submetidas a um intenso programa de treinamento, a fim de familiarizar-se com o emprego
dos novos veículos e, também, baseados neles, desenvolver novas táticas de combate. As manobras se
efetuaram como se se tratasse de exercício em tempo de paz. Todas as experiências de luta foram estudadas
minuciosamente e suas lições aplicadas metodicamente. Procurou-se assim levar as forças blindadas aos eu
antigo nível de eficiência, prevendo o choque que se travaria com os russos na chegada do verão.

Já no mês de fevereiro de 1943, se haviam iniciado as discussões no Alto-Comando alemão acerca da


possibilidade de passar à ofensiva. O chefe do Grupo de Exércitos Sul, Marechal von Manstein, se mostrou
partidário de aguardar o ataque russo, para depois contragolpear pelos flancos. Seu plano consistia em
escapar à investida que, segundo se acreditava, os russos desencadeariam na região do rio Donetz,. As
unidades alemães, em retirada metódica, cederiam terreno ao inimigo até alcançar a linha do rio Dnieper,
obrigando assim as forças russas a alongar suas posições numa profunda cunha, sobre cujo flanco norte
cairiam inesperadamente as unidades alemães ali concentradas, cercando o inimigo contra a costa do mar de
Azov e aniquilando-o. O projeto, no entanto, foi rechaçado literalmente por Hitler, pois a sua realização
significaria entregar aos russos toda a região industrial do Donetz. Hitler expôs claramente a von Manstein a
importância que essa zona possuía: “É totalmente impossível deixar em mãos do inimigo, embora por poucos
dias, a bacia do Donetz. Se a perdermos, nunca mais reergueremos a nossa produção de guerra. Além disso, a
importância do manganês de Nikopol (centro mineiro do Dnieper) quase não se pode expressar com palavras
e sua perda será para nós a mesma coisa que ter perdido a guerra”.

Ficando afastada a proposta de von Manstein, passou para primeiro plano o projeto que se converteria na
Operação Cidadela. O promotor dessa ação foi o chefe do Estado-Maior do Exército, o General Zeitzler. O
objetivo era aniquilar a grande concentração de forças russas localizadas nas proximidades de Kursk. Esta
posição, que se introduzia como uma gigantesca cunha entre as linhas alemães, representava uma grave
ameaça, pois podia ser utilizada como trampolim pelos russos para iniciar a sua ofensiva de verão contra
ambos os grupos de exércitos alemães. Desta maneira, os alemães, lançando suas forças sobre os flancos da
posição, pelo norte e pelo sul, se adiantariam ao ataque soviético e, numa gigantesca manobra de pinças,
poderiam cercar e destruir todas as forças inimigas antes que estas tivessem encerrado a sua fase preparatória
para a campanha.

As possibilidades de êxito do plano Cidadela dependiam, principalmente, do fator tempo. Para ganhar a
vantagem decisiva de surpreender os russos antes que estes tivessem completado a sua preparação, era
necessário lançar-se ao ataque apenas terminado o “período da lama”. Calculava-se que essa fase finalizaria
nos primeiros dias do mês de maio. Baseados nessa data, os dois grupos de exército que interviriam na
operação, o Centro, comandado pelo Marechal von Kluge, e o Sul, sob as ordens de von Manstein, iniciaram
os seus preparativos.
Enquanto esses fatos ocorriam no campo alemão, o Alto-Comando soviético dedicava-se também ao estudo
das possibilidades ofensivas de suas forças no verão de 1943. No primeiro momento encarou-se o plano de
passar ao ataque imediatamente, apenas o estado do terreno permitisse o deslocamento das tropas.
Posteriormente, porém, em vista dos informes que denunciavam a crescente concentração alemã em torno de
Kursk, resolveu-se esperar o golpe alemão.

Com esse fim, iniciaram-se, a partir do mês de março de 1943, gigantescas obras de fortificação em torno de
Kursk. Construíram-se milhares de quilômetros de trincheiras e se colocaram milhares de peças de artilharia
e metralhadoras, numa cadeia de redutos escalonados em profundidade, ao longo de mais de 100 km.

Nos três meses que precederam a batalha, concentrou-se na posição de Kursk uma quantidade gigantesca de
homens e materiais. Basta saber o número de vagões empregados no transporte, para se ter uma idéia do
esforço realizado: mais ou menos 500.000 vagões.

O planalto de Kursk converteu-se assim num imenso campo fortificado, cheio de canhões e peças
antitanques, metralhadoras, e todos sos tipos de armas portáteis. Sucessivos campos minados circundavam a
região, alterando-se com centenas de quilômetros de fossos antitanques.

Hitler altera o plano

Os trabalhos defensivos empreendidos pelos soviéticos não passaram inadvertidos aos serviços de
inteligência alemão. Os aviões de exploração obtiveram fotografias aéreas que mostravam claramente a
enorme amplitude e poderio das fortificações que os russos estavam levantando.

O General Model, chefe do 9 o Exército, a cujo cargo ficaria o ataque sobre o flanco norte do planalto colocou
Hitler a par das inquietantes novidades. Não somente os russos haviam levantado poderosas fortificações na
região de Kursk, mas, também, haviam retirado das primeiras linhas as suas unidades blindadas. Assim, as
possibilidades de efetuar um rápido rompimento e cair de surpresa sobre as formações de tanques russos
ficavam praticamente anuladas.

O Fuhrer, ante tais fatos, decidiu convocar uma reunião dos principais chefes do Exército, para discutir a
nova situação. Essa conferência teve lugar em Munique no dia 4 de maio. Foi assistida por Hitler, pelo
General Zeitzler, chefe do Estado-Maior do Exército, pelo General Jeschonnek, chefe da aviação, e pelos
marechais von Kluge e von Manstein, chefes dos exércitos a que estariam afetadas as operações em Kursk.

Hitler abriu a discussão expondo as dificuldades que haviam surgido, de acordo com os informes do General
Model. Expôs em seguida a solução que, segundo ele, era a única possível. A ofensiva devia ser adiada, para
poder aumentar, ao máximo possível, o número de tanques e incorporar, ao mesmo tempo, fortes
contingentes dos novos blindados Tigre e Panther e os canhões de assalto Ferdinand. A superioridade técnica
desses veículos compensaria, de acordo com seu critério, o inevitável incremento que as forças russas
receberiam ante o adiamento do ataque. E ainda, os Panther e os Tigre, com suas grossas blindagens e seus
poderosos canhões, permitiriam obter o rápido rompimento que se havia planejado.

Tanto Zeitzler, como Kluge e Manstein, declararam-se em oposição ao adiamento da ofensiva, salientando
que a maior possibilidade de êxito residia não num aumento de número de tanques, mas no imediato início
da ofensiva. Para reforçar esse argumento, Manstein destacou também que a iminente derrota das forças
alemães na Tunísia criaria, a curto prazo, a possibilidade de um desembarque aliado no continente europeu, o
que colocaria a Alemanha ante a crítica alternativa de sustentar a luta em duas frentes. Assim, para adiantar-
se a essa ameaçadora perspectiva, era necessário golpear o quanto antes os russos em Kursk, e debilitar o seu
poderio. Só dessa maneira se conseguiria liberar forças suficientes para enfrentar um possível desembarque
aliado no ocidente.

Hitler, porém, não pareceu convencer-se com os argumentos de von Manstein e pediu a opinião de Guderian.
O chefe tanquista, com sua característica franqueza, iniciou a sua dissertação com uma frase terminante. “O
ataque carece de qualquer sentido”. Em meio ao silêncio que se produziu, Guderian passou a explicar os
fundamentos da sua afirmação: “Nossas forças estão, a custa de muito esforço, em vias de reorganização. Se
forem lançadas à luta, serão inevitavelmente derrotadas, com a conseqüente perda de grande quantidade de
tanques, que nos são vitalmente necessários para fazer frente ao desembarque que as potências ocidentais
planejam. Além disso, os tanques Panther, em cuja intervenção depositam tantas esperanças, padecem ainda
de muitos defeitos de fabricação e é muito improvável que estas falhas possam ser eliminadas antes do
ataque”. Essas declarações encerraram a reunião. E os líderes alemães, sem tomar nenhuma decisão
definitiva, deixaram o local.

A 10 de maio, Guderian foi chamado à Chancelaria, para informar acerca da fabricação dos Panther e dos
Tigre. O chefe alemão aproveitou novamente a oportunidade para pedir a Hitler, com insistência, que
renunciasse à ofensiva na frente russa. O Marechal Keitel interveio então, declarando que era preciso atacar a
todo custo. Guderian, porém, insistindo, pergunta a Hitler: “O senhor acredita que o homem médio saiba
onde fica Kursk? O mundo pouco se importa que tomemos Kursk ou não. Qual é a razão por que somos
obrigados a atacar este ano na frente oriental?”. Hitler, depois de permanecer uns minutos em silêncio,
manifestou, pela primeira vez, as dúvidas que alimentava a respeito da ofensiva; disse o Fuhrer,
textualmente: “Tem toda razão. Me vira o estomago cada vez que penso nesse ataque”. Guderian, alentado
pelas palavras de Hitler, respondeu: “Então quer dizer que tem uma opinião clara a respeito da situação.
Deixe de pensar nisso!...”

A vacilação de Hitler se concretizou no dia seguinte, mediante uma ordem que foi transmitida às forças que
se achavam prontas para o ataque. Por decisão do Fuhrer, a operação Cidadela ficava suspensa até meados do
mês de junho.

Às vésperas da ofensiva

No setor soviético, o grande embate era esperado com confiança. Apesar dos esforços realizados pelos
alemães para conservar o segredo, a gigantesca concentração de forças não passara despercebida para os
russos. Seus serviços de inteligência, auxiliados pelos guerrilheiros que atuavam na retaguarda alemã,
informaram com precisão a importância e a direção do iminente ataque alemão. A esses dados se somaram
outros, também enviados da Inglaterra, que ratificavam os informes já obtidos.

Baseados nessas informações seguras, Stalin e o Alto-Comando russo resolveram aguardar a investida e,
depois de rechaça-la, iniciar sem tardar uma nova e poderosa ofensiva, destinada a liberar a Ucrânia e os
territórios do oeste da Rússia.

Pela primeira vez, desde o começo da guerra, as forças russas passariam ao ataque em pleno verão. A defesa
do planalto de Kursk foi entregue aos exércitos comandados pelos generais Rokossovski e Vatutin. Um
terceiro exército, comandado pelo General Koniev, foi colocado na retaguarda, de reserva. Ao mesmo tempo,
as forças situadas no norte e no sul de Kursk receberam ordens de estar preparados para passar à ofensiva,
assim que o ataque alemão fosse repelido. A direção geral das operações foi confiada aos marechais Zhukov
e Vassillevski, como representantes diretos de Stalin no campo de batalha.

Os sucessivos adiamentos da ofensiva alemã permitiram aos russos terminar os preparativos de suas forças e
a construção de gigantescas fortificações. As defesas russas chegaram a um nível que superavam as de
Moscou e Stalingrado. Era enorme a densidade de minas, por quilômetro. Mais de 1.500 antitanques e 1.700
antipessoais contavam-se, por quilômetros, ao longo de toda a frente.

Os alemães, por sua vez, realizaram um esforço supremo para dar o máximo de poderio à ofensiva. A
quantidade de tanques e de canhões de assalto aumentou, graças ao adiamento do ataque, em cerca de 2.000
veículos. Duas frotas aéreas, a 4a e a 6a, foram designadas para operar na zona. Eram, ao todo, 1.800 aviões.

A Wehrmacht estava, pela primeira vez, depois da catástrofe de Stalingrado, em um nível combativo
extraordinário.

O ataque sobre Kursk seria efetuado, do norte, pelo 9 o Exército do General Model, considerado como um dos
mais enérgicos e audaciosos chefes alemães. Sob suas ordens atuariam seis divisões blindadas, duas de
Panzergrenadier (infantaria blindada) e sete de infantaria. Os tanques, agrupados em três corpos Panzer, teria
que romper a frente ao norte de Kursk, numa extensão de 50 km. A infantaria asseguraria pelos flancos o
avanço dos blindados, dilatando, ao mesmo tempo, a cunha de penetração. O 2 o Exército tomaria a seu cargo,
com suas nove divisões, a missão de atacar pela frente os russos, enquanto se desenvolvesse a operação de
cerco. O envolvimento seria completado pelo sul, pelo 4 o Exército Panzer, do General Hoth, e pela seção de
exército do General Kempf, com onze divisões blindadas, sete de infantaria e três brigadas de canhões de
assalto. Neste último grupo de exércitos pontificava o 2 o Corpo de Tanques SS, unidade de elite, integrada
por três divisões Panzer: a Leibstandarte, a Totenkopf e a Das Reich

Nas semanas prévias ao início da luta, as unidades de infantaria se instalaram em suas posições de assalto e
levaram a cabo um intenso trabalho de reconhecimento, mediante incursões e pequenos golpes, das defesas
russas e da confirmação do terreno. Os oficiais encarregados das unidades de assalto se mantiveram
permanentemente na primeira linha, para adquirir um completo conhecimento do terreno e das forças
inimigas. Entre eles estavam também os chefes das forças Panzer acantonadas na retaguarda. Para evitar que
fossem eles reconhecidos pelos russos, vestiam uniformes da infantaria e não seus clássicos uniformes
negros.

Foi determinado com matemática precisão o plano de fogo da artilharia, utilizando para este trabalho as
fotografias aéreas, tomadas pela Luftwaffe, que praticamente cobriam cada metro quadrado da região. Estas
fotos, porém, embora denunciando a localização e a conformação exterior das defesas russas, não revelavam
o seu verdadeiro poderio, pois todos os redutos russos havia sido objeto de uma minuciosa camuflagem.

Para completar os trabalhos de preparação, foram realizados planos bem detalhados para conseguir o
máximo entrosamento entre a força aérea alemã e as forças terrestres. Tal como assinalou um dos chefes
alemães que participou da batalha, “nenhum ataque foi melhor preparado em todo o curso da guerra”.
Homens, tanques, aviões e canhões estavam prontos para assegurar a vitória. Na batalha de Kursk, a
Wehrmacht jogava, praticamente, a sua última cartada.

Começa a batalha

A 1o de julho. Todos os comandantes que interviriam na operação Cidadela foram convocados ao QG do


Fuhrer, na Prússia Oriental. Hitler eliminara as suas últimas dúvidas e a operação estava definitivamente
resolvida. A derrota sofrida pelas forças do Eixo, em Tunis, a 13 de maio, que pusera fim à luta na África do
Norte, havia decidido Hitler a mostrar ao mundo, mais uma vez que a Alemanha não estava vencida. Jogar-
se-ia em Kursk a sorte do Exército alemão.

Em um de seus costumeiro monólogos, que se prolongou por longas horas, o Fuhrer assegurou aos seus
chefes que havia todas as condições para obter uma vitória decisiva. Assegurou que as forças, no tocante ao
número de homens, havia alcançado plenamente as exigências requeridas. Destacou também, que, no terreno
dos tanques, se contava, graças à incorporação dos Panther e dos Tiger, com ampla vantagem sobre os
russos. Por último assinalou que a Alemanha se encontrava no momento crucial de sua existência, porém,
assim como acontecera em outras etapas críticas, ele não tinha dúvidas de que ela sairia vitoriosa da
empreitada.

Hitler acreditava que a União Soviética havia perdido já de 12 a 14 milhões de homens aptos para a guerra e
que, portanto, as suas reservas humanas estavam praticamente esgotadas. Sua resistência, em conseqüência,
não poderia durar muito e o arrasador golpe que ele se propunha assestar-lhes, em Kursk, haveria de acelerar
a queda. Até que ponto estava o Fuhrer cego pelos seus próprios planos!...

Hitler concluiu a sua alocução dizendo: “Desta vez, ao contrário da Primeira Guerra Mundial, possuímos
uma meta. Nossos soldados sabem que na Rússia estão lutando para conquistar o espaço vital para seus
filhos e seus netos”.

Instantes depois, os chefes alemães abandonaram a reunião e partiram para os seus respectivos comandos. A
sorte estava lançada. Em Kursk se decidiria o destino da Wehrmacht.

No dia 4 de julho, véspera da ofensiva, o Fuhrer lançou uma última proclamação à tropas. Dizia: “A partir de
hoje, vocês participarão de importantes ações ofensivas, das quais é possível que dependa o destino da
guerra. Mais do que nenhuma outra, esta vitória persuadirá o mundo inteiro de que a resistência do Exército
alemão não foi, afinal de contas, em vão”.

Nesse preciso momento, no flanco sul, às 15 horas, a artilharia alemã, apoiada pelos aviões de bombardeio,
abria fogo contra as posições da vanguarda soviética. A infantaria, apoiada por canhões de assalto do 48 o
Corpo Panzer, se apoderou, ao cair da noite, da franja de terreno que serviria de trampolim para o avanço dos
tanques, na manhã seguinte. A batalha de Kursk começara. Ao se receber a notícia em Moscou, o diário
Estrela Vermelha publicou um editorial onde assinalava a importância decisiva desse choque. “Nossos pais e
antepassados - dizia - fizeram todo tipo de sacrifícios para preservar a Rússia, sua pátria. Nosso povo jamais
esquecerá Minin e Posarsky, Suvorov e Kutusov e os guerrilheiros russos de 1812. Sentimo-nos orgulhosos
de saber que o sangue dos nossos antepassados corre pelas nossas veias e que seremos dignos dele”.

Nesse clima de exaltado patriotismo, os russos enfrentaram a ofensiva alemã. Tinham absoluta confiança em
suas forças e esperavam cegamente conseguir a vitória.

O 9o Exército de Model, precedido por formações de Tigre, conseguiu nos primeiros dois dias de luta um
rompimento de 14 km de profundidade no sistema defensivo inimigo. No entanto, quando ia em meio a
segunda jornada, os alemães depararam com um violento contra-ataque dos russos, sobre os flancos e a
frente da cunha. Apesar das investidas soviéticas, a ponta-de-lança do 9 o Exército continuou lentamente o seu
avanço. A penetração, contudo, encontrou em resistência cada vez mais furiosa. Tal como Model havia
previsto, as posições defensivas russas apareciam numa escala interminável. Centenas e centenas de peças
antitanques varriam com seu fogo as formações de blindados alemães, provocando grandes perdas e abrindo
terríveis claros. Uma ou outra vez, as brigadas de tanques russas eram também lançadas contra os alemães,
fortalecendo a barreira de aço.

Entre 5 e 9 de julho, travaram-se combates de intensidade nunca vista. O 13 o Exército Vermelho, comandado
pelo General Pukhov, a cujo cargo estava afeta a defesa do setor norte, conseguiu finalmente quebrar a
ponta-de-lança alemã, quando esta havia alcançado uma profundidade de 18 km no dispositivo defensivo
soviético.

A 10 de julho, o General Model realizou um último esforço, empregando todos os elementos sob o seu
comando, com o objetivo de retomar a penetração. A resistência russa, no entanto, foi insuperável. Aferrados
às suas posições e redutos, os infantes e artilheiros soviéticos suportaram o dilúvio de fogo e as arremetidas
dos Panzer, sem ceder um só metro de terreno. O campo de batalha aparecia já coberto por uma imensa
nuvem de fumaça negra, produzida pelos incêndios de centenas de tanques destruídos. Os carros blindados
investiam furiosamente, disparando sem cessar. Nos céus, caças russos e alemães combatiam sem trégua,
metralhando-se sem pausa. A artilharia, entrementes, levantava barreiras de fogo numa intensidade jamais
vista. As forças de Model, comprimidas numa cunha de apenas 10 km de extensão, ficaram detidas diante do
seu principal objetivo, as colinas de Oltchowatka. Se conseguissem capturar essa posição, o caminho para
Kursk ficaria aberto.

A batalha adquiriu uma violência extraordinária. Cerca de 1.000 tanques de cada lado e centenas de peças de
artilharia autopropulsadas travaram um duelo de alcance inenarrável. Os Tigre, disparando os seus canhões
de 88 mm, destruíram numerosos tanques russos e suplantaram com suas estruturas as trincheiras russas. As
defesas, contudo, não cederam. Três ondas de ataques alemães se abateram contra esse muro impenetrável.
Model, abalado pela situação, compreendeu que o ataque fracassara.

Ao seu pôsto-de-comando chegaram informes que contribuíam ainda mais para aumentar o seu abatimento.
No norte, os russos haviam lançado um inesperado ataque contra o 2 o Exército Panzer, ameaçando envolver
pelo flanco toda a ala norte das forças alemães. Ante a emergência, o Marechal von Kluge ordenou a Model
suspender as ações contra Kursk e enviar aceleradamente parte de suas forças em auxílio do 2 o Panzer.

Ataque no sul

Na extremidade sul da frente, o 3 o Corpo de tanques alemães, comandado pelo General Breith, cruzou o rio
Donetz para cobrir o flanco sul do 4o Exército Panzer. Esta operação resultou sumamente difícil. Depois de
sofrer tremendas baixas, as exauridas forças alemães ficaram detidas a uns 20 km do outro lado do rio. Ali,
as tropas do 7o Exército soviético da Guarda, comandado pelo General Chumilov, oferecendo desesperada
resistência, detiveram o avanço dos alemães.

O 4o Panzer, com seus dois corpos principais de ataque, o 48 o e o 2o Panzer SS, após violentíssimos
combates, atravessou as primeiras linhas russas. Logo, no entanto, o avanço encontraria sérios obstáculos. O
terreno por onde se deslocavam as colunas estava coberto por um verdadeiro tapete de minas, que causavam
terríveis baixas aos atacantes. O 48 o Panzer conseguiu, no quarto dia de luta, 7 de julho, alguns êxitos
rompendo a terceira linha defensiva russa. A divisão Panzergrenadier Gross Deutchsland que contava no
começo da batalha com 180 tanques, dos quais 80 eram Panther, conseguiram romper o dispositivo russo.
Sua progressão, contudo, foi constantemente dificultada pelos furiosos contra-ataques russos.

Os russos ainda conseguiram impedir a penetração da 3 a Divisão Panzer que cobria o flanco ocidental da
Gross Deutchsland. Esta unidade teve então que girar para o oeste para secundar o avanço da 3 a Panzer.
Conseguiram, então, depois de ásperos combates, desalojar os russos que se interpunham no caminho de
ambas as divisões. Stukas, armados com canhões de 75 mm, em vôo rasante, destruíram centenas de tanques
russos T-34, contribuindo para facilitar a penetração alemã. A operação chegara assim ao seu momento
culminante. Sobre o flanco direito, o 2 o Corpo de tanques SS, comandado pelo General Hauser, conseguira
também nessa jornada, 11 de julho, penetrar profundamente no dispositivo soviético, mantendo furiosos
combates com o 6o Exército da Guarda e o 1o Blindado russo.

Os alemães conseguiram assim irromper numa profundidade de 25 km, dentro do labirinto de fortificações
que, pelo sul, protegia Kursk. Nessas circunstâncias, o General Vatutin resolveu lançar, de surpresa, um
violento contra-ataque sobre a cunha alemã, empregando o 5 o Exército blindado da Guarda, do General
Rotmistrov. Esta unidade, integrada por mais de 850 tanques e canhões autopropulsados, se juntaria
imediatamente às forças blindadas que enfrentavam o ataque das SS. O encontro decisivo ocorreu a 12 de
julho, a poucos quilômetros ao sul da localidade de Prokhorovka. Ali travou-se a batalha de tanques mais
gigantesca da Segunda Guerra Mundial. Outro choque similar não voltaria a ocorrer. Num reduzido espaço
de poucos quilômetros, cerca de 3.000 tanques e canhões autopropulsados se chocaram nu duelo infernal. O
céu ficou coberto por uma gigantesca nuvem de pó e fumaça, produzida pelo incêndio e pela movimentação
de centenas e centenas de veículos. Os blindados, defrontando-se inesperadamente, canhoneavam-se a
queima-roupa, saltando as pedaços. Os T-34, a toda velocidade, caíam sobre os Panther e os Tigres. Os
blindados russos, mais maleáveis, aproveitaram ao máximo essa vantagem, escapando às investidas dos
tanques alemães. Giravam rapidamente para voltar a cair sobre eles, pelos flancos. Um verdadeiro inferno de
fogo se havia desencadeado. A massa de tanques, rugindo, se precipitava ao combate, com seus canhões e
metralhadoras disparando sem cessar, em meio às explosões das granadas e os chiados das lagartas.

Concluída a jornada, ao chegar a noite, os russos permaneciam senhores do campo. O Marechal von
Manstein, chefe do Grupo de Exércitos Sul, recebeu uma ordem para apresentar-se imediatamente ao QG de
Hitler. Ali, no dia seguinte, 13 de julho, teve lugar uma decisiva conferência em que interveio também o
Marechal von Kluge, chefe do Grupo de Exércitos Centro.

Hitler começou dizendo que, em virtude do desembarque aliado na Sicília, se produzira uma grave situação.
A Itália já demonstrava intenções de abandonar a luta. Era necessário, portanto, enviar imediatamente forças
alemães com a missão de cobrir o território peninsular. A batalha de Kursk, portanto, teria que ter um fim.

O Marechal von Kluge, por sua vez, informou que o ataque de Model fracassara por completo, no norte. Von
Manstein, pelo contrário, declarou que no sul ainda existiam possibilidades de êxito, se lhe fosse permitido
retomar a ofensiva com o apoio do 24 o Corpo Blindado, que se mantinha de reserva. Hitler, no entanto,
rechaçou o pedido e acentuou categoricamente que a operação Cidadela devia se dar por encerrada. Assim se
concluiu a última grande ofensiva alemã da Segunda Guerra Mundial. As operações em torno de Kursk,
entretanto, ainda prosseguiram durante alguns dias, até que os russos desencadearam uma ofensiva em toda a
frente. Guderian assim resumiu as catastróficas conseqüências dessa batalha: “Com o fracasso da operação
Cidadela, sofremos uma derrota decisiva. Aquelas forças blindadas reconstruídas e reorganizadas à custa de
tanto trabalho, terminaram incapacitadas para atuar, em virtude das graves perdas em homens e materiais... A
frente oriental não nos deu descanso a partir de então... A iniciativa passara definitivamente para as mãos do
adversário”.

Anexo
“Ser duro com eles...”
A 22 de junho de 1941, as forças alemães iniciaram a invasão do território russo. Avançando a grande velocidade, as
unidades alemães conquistaram extensões imensas e isolaram milhares e milhares de soldados russos. Os russos,
contudo, se adaptaram facilmente às condições de luta e freqüentemente conseguiram escapar aos movimentos
envolventes executados pelos alemães. Naturalmente, os russos sofreram grandes perdas, porém uma grande parte de
sua indústria bélica foi transportada para os Urais, mantendo a produção em marcha.
Os alemães ganharam terreno continuadamente, porém nunca chegaram a aplicar nos russos um golpe devastador e
decisivo. Enquanto na Rússia as ações bélicas alcançavam um ritmo jamais visto, em outros campos de luta ignorava-se
os pormenores das campanhas. Os britânicos, mais uma vez, decidiram enviar missões, a fim de manter informado o
Alto-Comando inglês. O grupo de militares enviado, entretanto, tropeçava desde o primeiro instante co dificuldades
insolúveis. Os russos não estavam muito dispostos a ter com eles nenhuma classe de ligação e não evitavam que o
percebessem.
Foi assim que em março de 1943, quando os britânicos necessitavam conhecer imperiosamente a situação militar entre
russos e alemães, a informação que chegava ao Alto-Comando inglês era praticamente nula. Decidiu-se então, efetuar
uma mudança de técnica nos contatos. Era evidente que o chefe da missão a ser enviada teria que ser um profissional
experiente, com amplos conhecimentos da guerra blindada e perfeitamente informado a respeito do desenvolvimento da
guerra em todas as frentes. Teria que ser, também, um chefe de alta patente, e, na medida do possível, com contatos
anteriores com chefes russos. Após várias consultas, a escolha recaiu no Tenente-General Sir Giffard Le Martel, que
reunia as condições citadas. Martel havia estado na Rússia em 1936, presenciando as manobras de Minsk, e conhecera
grande número de oficiais russos.
A 4 de abril de 1943, a missão liderada por ele partiu de Londres, rumo a Moscou, por via aérea, em viagem direta.
Na capital moscovita, a missão foi alojada em um edifício amplo e cômodo, na parte oriental da cidade. Dividida em
três setores, a missão naval estava sob as ordens do Almirante Fisher; a terrestre, sob o comando do Coronel Exham, e a
aérea, do Capitão-de-Grupo Cheshire. Como chefe supremo operava o Tenente-General Martel. Após uma rápida
entrevista com Molotov e com Stalin, Martel se reuniu com o Marechal Vassilievski, a quem expôs a sai intenção de
visitar a frente, manter uma série de discussões a respeito da técnica da guerra e trocar idéias com os principais chefes
russos. Vassilievski prometeu a Martel toda assistência possível. O tenente-general britânico, no entanto, sabia que os
chefes de missões anteriores haviam recebido igual promessa, sem que os fatos se concretizassem. O próprio Martel
disse mais tarde: “... não tinha motivo algum para sentir-me indevidamente otimista”. Antes de partir para a Rússia,
Martel havia solicitado ao Ministro das Relações Exteriores instruções acerca da melhor maneira de estabelecer contato
com os russos. A resposta, entretanto, o desorientara. Devia “ser suave” com eles, de acordo com as instruções
recebidas. Porém que resultados obteria, se durante os dois anos anteriores tal política os conduzira ao fracasso? Martel,
com plena consciência do problema, aconselhou-se com membros do pessoal da embaixada. E eles lhe disseram que a
única maneira de tratar com os russos era sendo áspero; áspero desde o primeiro instante.
A visita de Martel à frente se produziu em maio de 1943. Dirigindo-se diretamente ao comando da frente sul-ocidental,
o chefe britânico e seus subordinados foram apresentados ao comandante, General Malinivski. Imediatamente a missão
se transladou ao comando do 1o Exército da Guarda. O comandante do mesmo recebeu Martel e após as apresentações
de praxe, lhe exibiu um grande mapa em que apareciam marcadas as posições e disposições do inimigo. A metade do
mapa correspondente às posições russas, estava coberta por uma grande folha de papel. Martel, após escutar
detidamente as explicações do chefe russo acerca do dispositivo alemão, solicitou ser informado com respeito às forças
russas e sua localização. O chefe russo se negou terminantemente, e respondeu a Martel que eles “nunca discutiam, em
nenhum sentido, suas próprias determinações e localizações”. O Tenente-General Martel, enfrentando o chefe russo,
declarou que não havia feito uma viagem como aquela “para escutar bobagens desse tipo...”. E estava enganado se
imaginava que um oficial de sua posição “ia suportar insultos dessa natureza...”. Após um momento de silêncio, durante
o qual o chefe russo observou Martel com expressão irada, “vermelho de raiva”, se dirigiu ao mapa e arrancou com um
gesto brusco a folha que o cobria. Em seguida disse: “Aí tem. Estas são as posições...”.
A “tática suave” havia fracassado antes. A “áspera” começava a surtir efeito. Martel disse posteriormente: “Embora eu,
exteriormente, apresentasse um aspecto desafiante, estava muito apreensivo com o resultado da minha atitude. O que
pensariam as autoridades do meu país se eu tivesse desafiado o primeiro comandante russo que conheci? Porém eu
baseara a minha atitude em conselhos acertados e o resultado fora satisfatório”.

Situação geral em princípios de 1943


No momento em que Hitler se dispunha a realizar a sua última grande ofensiva da guerra, lançando o grosso da
Wehrmacht contra os exércitos russos concentrados em torno de Kursk, as potências aliadas haviam tomado a iniciativa
em todas as frentes. O gigantesco poderio industrial dos EUA estava já integralmente devotado à produção de material
bélico, e milhares de aviões, tanques, canhões, embarcações e armas de todo o tipo saídos das fábricas americanas
afluíam, em incessante corrente, aos diversos países empenhados na luta contra o Eixo. O momento crítico do embate já
passara. As batalhas de Stalingrado, El Alamein e Midway haviam colocado um ponto final no avanço das forças da
Alemanha, Itália e Japão. Iniciava-se agora a etapa do contra-ataque aliado. A seguir, resumimos a situação existente
nas diversas frentes, ao iniciar-se o ano de 1943.
1 - Extremo Oriente
A situação nas frentes terrestres, Birmânia e China, se encontrava estacionária. As decisões adotadas por Roosevelt e
Churchill e pelos chefes militares anglo-americanos, nas conferências celebradas em Washington e Casablanca,
relegaram a um plano secundário as ações bélicas nesses setores. Intensificou-se, porém, o envio de suprimentos e
material de guerra para as forças de Chiang Kai-shek, através da ponte aérea lançada sobre as montanhas do Himalaia.
Simultaneamente, a partir de dezembro de 1942, iniciou-se a construção de um novo caminho para a China através das
selvas do norte da Birmânia, para substituir a antiga rota capturada pelos japoneses. Engenheiros americanos e milhares
de trabalhadores chineses e hindus empreenderam a gigantesca tarefa que, somente em janeiro de 1945, seria
completada. Forças especiais, adestradas para a luta na selva, se internaram nas linhas de retaguarda japonesas na
Birmânia, sob as ordens dos Generais Wingate, britânico, e Merrill, americano, e realizaram incessantes incursões
contra as posições inimigas, recebendo abastecimento pelo ar. Na zona do Pacífico, os americanos encerraram, em
fevereiro de 1943, a luta em Guadalcanal, derrotando os japoneses, e empreenderam, em seguida, a ofensiva nas
restantes ilhas do arquipélago das Salomão. Em Nova Guiné, tropas americanas e australianas contiveram o avanço
japonês e contra-atacaram, apoderando-se da estratégica base de Buna, na costa norte da ilha. Assim, o ano de 1943,
iniciou-se no Extremo-Oriente, com sucessivas vitórias aliadas.
2 - Mediterrâneo
Nesse setor tiveram lugar acontecimentos fundamentais. Derrotado Rommel em El Alamein, nos primeiros dias de
novembro de 1942, ficou definitivamente eliminada a ameaça sobre o Canal de Suez e os vitais centros petrolíferos do
Oriente Médio. O mar Mediterrâneo ficou sob o controle das forças aéreas e navais aliadas, fato que facilitou o
desembarque das tropas americanas e britânicas na Argélia e no Marrocos. A última fase da luta teve por palco a
Tunísia, onde Hitler se empenhou, contra toda lógica, em manter uma cabeça-de-ponte. A derrota das forças do Eixo em
território tunisino, conseguida em maio de 1943, abriu caminho para a posterior invasão da Sicília e da Península
Itálica. Ali os anglo-americanos abririam a primeira frente de luta no continente europeu, fato que obrigaria Hitler a
retirar importantes forças da Rússia para conter o avanço aliado. A vitória total alcançada pelos Aliados na região do
Mediterrâneo lhes permitiu iniciar a concentração do grosso dos seus exércitos na Inglaterra para concretizar,
posteriormente, o desembarque decisivo nas costas da Normandia.
3 - Rússia
Nesta frente teve lugar a verdadeira decisão da guerra. Contra os russos, Hitler desencadeou todo o peso do seu poderio
militar, num último intento de alcançar a vitória. A ofensiva sobre Stalingrado e o Cáucaso acarretou uma verdadeira
catástrofe para a Wehrmacht. As gigantescas perdas em homens e material sofridas pelos alemães nessa campanha já
não puderam ser cobertas. Realizando um esforço supremo, os alemães conseguiram restaurar suas linhas sobre as
margens do rio Donetz, contendo, a duras penas, a violenta investida do Exército Vermelho. Sobreveio então, em
princípios de 1943, uma pausa, provocada pelo “período da lama” da primavera russa. Hitler, sem se conformar com a
derrota, decidiu arriscar tudo numa derradeira e gigantesca batalha. Concentrando todos os efetivos disponíveis,
ordenou a seus exércitos lançarem-se ao ataque contra as forças russas sediadas em torno da cidade de Kursk. A
ofensiva, porém, redundou num fracasso absoluto. A partir desse momento já nada pôde deter o inexorável avanço
soviético rumo a Berlim.
4 - Luta no mar
Os grandes êxitos alcançados pelos submarinos alemães em 1940-1941 contra os comboios que abasteciam a Inglaterra
viram-se progressivamente anulados pelo fortalecimento das forças defensivas inglesas, e pela participação cada vez
mais ativa dos EUA na frente do Atlântico. Apesar do seu caráter de neutralidade, os americanos resolveram dar pleno
apoio aos ingleses, a fim de assegurar o envio através do oceano dos materiais e armamentos indispensáveis para a
sobrevivência da Inglaterra. Quando os Estados Unidos entraram na guerra, os submarinos alemães empreenderam uma
devastadora ofensiva nas suas costas e na região do mar do Caribe, afundando centenas de navios. Esta situação, porém,
foi finalmente dominada nos primeiros meses de 1943, com o acelerado crescimento das forças navais e aéreas aliadas e
a introdução de novas armas e métodos na luta contra os submarinos (radar, porta-aviões de escolta, etc.).
5 - Luta aérea
Os grandes bombardeios iniciados pelos britânicos em 1942 contra os principais centros urbanos e industriais da
Alemanha, atingiram proporções devastadoras no transcurso de 1943, em conseqüência da incorporação da aviação
americana à ofensiva aéreas. Os bombardeiros aliados, com base na Inglaterra, deram início a incessantes ataques, dia e
noite, ao território da Alemanha e dos países ocupados, destruindo todo tipo de alvos terrestres e causando
irrecuperáveis baixas nas esquadrilhas da Luftwaffe. Nos primeiros meses de 1943 os ataques se concentraram contra as
bases e os estaleiros de submarinos e prosseguiram depois com uma ofensiva em grande escala contra a região
industrial do Ruhr. Começou assim com terrível intensidade a batalha aérea sobre a Europa, que culminaria com a
vitória dos Aliados.

As forças blindadas russas


Os russos, sustentando um conceito que não lhes era particular. Admitiam que os exércitos constavam de dois tipos de
tropas: as de movimento lento, compostas principalmente por forças de infantaria, e as de movimento rápido, utilizadas
para as penetrações profundas ou envolvimentos. Os russos possuíam um tanque pesado, o KV, para a luta com a
infantaria, e o T-34 como tanque de cruzeiro para a missão móvel. Chamavam a primeira das ações “de rompimento” e
nela empregavam os KV. Os tanques mais pesados eram conservados para serem empregados contra as defesas mais
poderosas e, freqüentemente, utilizavam tanques leves sobre os flancos ou onde a resistência fosse mais fraca. Todas
essas unidades ou formações eram chamadas “de rompimento”.
A formação russa que equivalia a uma divisão blindada britânica se denominava Corpo Blindado. Consistia de três
brigadas blindadas, uma brigada motorizada, um batalhão de motociclistas e um de reconhecimento. Possuíam um total
de 180 tanques de cruzeiro. O corpo blindado russo, no entanto, tinha um número escasso de tropas e pouca artilharia.
Os russos compreenderam que os corpos blindados não seriam suficientes para os grandes movimentos envolventes ou
de pinças, e organizaram, portanto, os chamados corpos mecanizados. Um corpo mecanizado compreendia três brigadas
transportadas em caminhões (cada uma delas com um pequeno regimento de tanques), uma brigada de tanques, um
batalhão de motociclistas, um batalhão de reconhecimento, um batalhão de sapadores, um regimento antitanques, um
regimento antiaéreo e um batalhão de comunicações.
A organização era sumamente flexível e freqüentemente era agregado a um corpo blindado em número considerável de
tropas adicionais e até formações. Estes corpos estavam, às vezes, destinados a romper através de um sistema defensivo,
e para isso se agregavam a tropas adicionais.
“Por que não levaram mais homens?”
Parecer formulado pelo Tenente-General Giffard Le Martel acerca do poderio das forças armadas russas, às vésperas do
grande ataque alemão de julho de 1943:
“Antes de tudo, era evidente que o moral do Exército russo era muito elevado. Seus comandantes confiavam nisso. As
tropas estavam adequadamente equipadas para a guerra de trincheiras e seriam capazes de oferecer uma poderosa
resistência na guerra de posição. Temos a impressão de que lutariam até o final, mesmo sofrendo sérias dificuldades.
“O ponto seguinte se referia à impressão que nos causara a magnitude da campanha russa. O russo é soldado por
natureza e possui uma aptidão especial para a guerra terrestre. Foi notável a coragem com que enfrentou os planos da
ofensiva de inverno, quando a posição era ainda muito crítica em Stalingrado. Como por exemplo dessa coragem, devo
dizer que prepararam todos os seus planos para a ofensiva de inverno, com movimentos de envolvimento em grande
escala, a cada lado de Stalingrado, e para penetrar no território inimigo.
“Quando os detalhes da parte administrativa do plano estavam prontos, os russos perceberam que todo o seu transporte
disponível para as forças empenhadas nos embates principais somente podia carregar menos da metade da quantidade
mínima de combustível, víveres e munições requeridas para as operações. Então, deliberadamente, lançaram essas
grandes forças com a firme responsabilidade de completar a quantidade capturando ao inimigo esses artigos
imprescindíveis. Assim se fez, e as operações não foram obstaculizadas por falta de abastecimentos, embora os oficiais
administrativos de maior antiguidade devam ter passado momentos de ansiedade. Com respeito à sua técnica para a
guerra, estavam muito atrasados em relação a nós e à Alemanha. Isto se devia principalmente ao fato de que nunca
haviam lutado tão bem equipados, sobretudo em transporte. Sem um equipamento completo e moderno, o adestramento
não se pode efetuar de forma adequada e sem adestramento adequado é impossível estruturar e estudar a técnica que se
usará na guerra. Suas armas, principais, como canhões e tanques, eram razoavelmente boas, e em número suficiente,
porém tinham escassez de munições e de transportes de metralhadoras, transporte tático para as tropas, comunicações,
etc. - e isto constituía para eles uma grande desvantagem no desenvolvimento tático. Em conseqüência, muitas de suas
vitórias haviam sido alcançadas à custa de grandes baixas. É digno de menção o detalhe de que suas felizes batalhas
tenham sido levadas a cabo com uma superioridade sobre o inimigo de três ou quatro contra um, tanto em homens como
em canhões. Os russos reconheciam livremente esse fato e consideravam que só um mau comandante atacaria sem essa
vantagem. Surpreenderam-se que nós tivéssemos uma superioridade de apenas dois contra um, na batalha de El
Alamein, e fôssemos inferiores em forças em todas as batalhas anteriores do Oriente Médio.
“Foi difícil para eles compreender por que havíamos atacado com uma superioridade tão reduzida em número, e
comentaram: “Por que não levaram mais homens?”. Naturalmente, não existe na Rússia escassez de caudal humano,
não podiam compreender que lutássemos com um reduzido exército de menos de meia dúzia de divisões, e que não
pudéssemos reforça-lo, imediatamente. A dificuldade de obter água no deserto e, em conseqüência, o limite que se deve
impor ao tamanho da força operativa, eram problemas completamente novos para eles. Ao que parece, nunca estudaram
a guerra fora da Rússia”.

Novas táticas
Em princípios de 1943, os alemães haviam recorrido a novas táticas na luta de tanques, ante o gigantesco crescimento
das forças blindadas russas. As experiências das duras lutas mantidas no Cáucaso e Stalingrado demonstraram
claramente que os canhões antitanques, operado isoladamente ou em grupos reduzidos, eram facilmente superados pelas
ondas de tanques russos. Por esta razão se desenvolveu uma nova técnica do emprego desses canhões, denominada
Pakfront (frente antitanque) pelas tropas. Os canhões eram concentrados em grupos de até 10 peças, sob o comando de
um só oficial, a quem se dava a responsabilidade de dirigir e concentrar o fogo. Desta forma, mediante a descarga
simultânea de todas as peças, conseguia-se erguer verdadeiras arapucas de fogo antitanque. Os canhões, sujeitos ao
comando férreo do chefe da bateria, retinham disciplinadamente os seus disparos até que os blindados, encurtando a
distância, se colocassem numa posição mais vantajosa para serem destruídos. Os russos logo imitaram esse método
mortífero. No curso da batalha de Kursk, os tanques alemães se defrontaram com uma barreira de Pakfronts,
escalonados em profundidade, ao longo de várias dezenas de quilômetros. Os russos, além disso, havia introduzido
eficazes variantes no método. As posições ocupadas pelos canhões eram rodeados por largos campos de minas e
profundos fossos antitanque, e todo o conjunto era camuflado. Um oficial alemão que participou da batalha, assim
classificou essas disposições: “Nem os campos de minas, nem os Pakfronts podiam ser detectados até que o primeiro
dos nossos tanques voasse atingido por um disparo de canhão ou destruído por uma mina...”. Para contrabalançar essas
defesas, as forças blindadas alemães haviam elaborado uma tática especial denominada Panzerkeil (cunha de tanque).
Os blindados avançavam, distribuídos em formação de cunha, com tanques pesados Tigre agrupados na ponta.
Conseguia-se assim reduzir em parte os efeitos do fogo antitanque inimigo e concretizar o rompimento através de suas
posições. Outra tática destinada a esmagar a oposição das baterias antitanque, era dirigir sobre elas um fogo concêntrico
e extremamente preciso, numa frente ampla, com os canhões dos blindados atacantes. Era o método denominado
Panzerglocke (sino de tanques). Os blindados eram agrupados em forma de arco, colocando os pesados no centro e os
médios à esquerda e à direita. Os tanques leves se situavam também no centro, atrás dos pesados, prontos para
empreender a perseguição, uma vez alcançado o rompimento. Do seu tanque, provido de um transmissor sem fio, o
chefe da formação dirigia o seu “sino” e dos bombardeiros de mergulho, sobre os redutos inimigos. Observadores
adiantados da artilharia viajavam também com o “sino”, e orientavam certeiramente o fogo de apoio dos obuses
pesados. Ainda, imediatamente na retaguarda dos tanques, em veículos blindados semilagartas, viajavam as unidades de
sapadores, encarregadas de abrir caminho através dos campos minados para facilitar o avanço da infantaria.
Força de ataque
Unidades alemães que intervieram na batalha de Kursk:
Grupo de Exércitos Centro (von Kluge)
9o Exército (Model)
Corpos Panzer 41, 46 e 47 - Corpos de Infantaria 20 e 23
Efetivos: 6 divisões Panzer, 2 divisões Panzergrenadier, 7 divisões de infantaria
2o Exército
9 divisões de infantaria
Grupo de Exércitos Sul (von Manstein)
4o Exército Panzer (Hoth)
Corpo Panzer 48 - Corpo Panzer 2 SS - Corpo de Infantaria 52
Seção de Exército do General Kempf
Corpos Panzer 3 e 24 - Corpo de infantaria 11
Efetivos: 11 divisões Panzer, 7 divisões de infantaria

“Henschel” ao ataque
8 de julho de 1943. Há quatro dias os tanques e os soldados alemães lutam encarniçadamente sobre ambos os flancos do
planalto Kursk, num desesperado intento de cercar e aniquilar os exércitos russos ali entrincheirados. O Corpo Blindado
SS, comandado pelo General Hauser, consegue penetrar através da intrincada rede de redutos e campos minados, porém
suas extenuadas divisões deparam com uma mortal ameaça. Na sua retaguarda, praticamente desguarnecida, avança
velozmente uma brigada de tanques russos. O inesperado e surpreendente contra-golpe russo tem um objetivo claro e
definido: concretizar o cerco das tropas SS e isola-las do resto das forças alemães. Essa audaciosa manobra pode se
completar em questão de horas... Ante a crítica emergência, os comandos alemães recorrem a um último recurso: os
tanques russos terão que ser detidos pela Luftwaffe!...
Em um aeródromo de campanha, situado a poucos quilômetros ao sul da zona de luta, o comandante Bruno Meyer
recebe uma ordem terminante: deve lançar imediatamente ao ataque suas quatro esquadrilhas de bombardeiros
bimotores Henschel Hs-129 e paralisar o avanço dos blindados russos. Meyer determina rapidamente as diretivas aos
seus 64 pilotos.... a vida de milhares de soldados alemães depende agora do seu esforço. Em breve discussão os Panzer
Jager (caçadores de tanques) determinam o plano de ataque. As quatro esquadrilhas se alternarão sobre o alvo,
mantendo os blindados inimigos sob fogo contínuo. Minutos mais tarde decolam com um vibrante rugido os primeiros
16 Henschel. São aparelhos fortemente blindados, especialmente projetados para o ataque rasante às unidades
mecanizadas. No seu nariz levam, além de duas metralhadoras, dois canhões de 20 mm. Embaixo, montado na proa, vai
sua arma principal, um mortífero canhão de 30 mm. Esse conjunto de bocas de fogo, habilmente dirigidas contra as
partes mais débeis dos tanques russos (o motor, na parte posterior, e as rodas, sobre os flancos) produz um efeito
devastador. E isso é demonstrado pelos Henschel nessa jornada. Durante várias horas, as esquadrilhas voam em
ininterrupta cadeia do aeródromo ao objetivo, metralhando e canhoneando em vôo rasante os blindados inimigos.
Apenas alguns minutos são suficientes para que um grupo de aviões volte para encher seus tanques de combustível e
recarregar suas armas. Realizando um esforço supremo, as guarnições de terra cumprem com uma celeridade incrível
essa tarefa. Imediatamente, os aparelhos levantam vôo e retornam ao alvo, enquanto outro grupo volta a terra e um
terceiro se encontra já no ar, próximo da zona de luta, e o quarto mantém ali aceso o ataque contra os tanques russos.
Desta forma se consegue o que parecia impossível: os blindados detêm o avanço e, finalmente, batem em retirada.
Sobre o campo de batalha ficam dezenas de veículos destruídos e em chamas. A incrível missão fora cumprida: o 2 o
Corpo SS escapou à ameaça do cerco graças aos Henschel...

Heroísmo anônimo
Centenas e centenas de gigantes de aço esmagam a erva com o peso de suas estruturas. As lagartas chiam, aceleradas ao
máximo. As torres giram, numa e noutra direção. Dezenas e dezenas de bocas de fogo disparam ininterruptamente. Os
projéteis ricocheteiam contra os ângulos das blindagens e explodem 20, 30, 50 metros mais longe. Um pipocar
constante cobre o campo de batalha; são as metralhadoras de centenas de carros blindados, disparadas freneticamente
por alemães e russos.
A maior batalha de tanques da História começara.
Milhares de blindados se lançam ao combate, fazendo fogo e avançando. Dezenas de tanques ardem, atingidos pelos
projéteis perfurantes. Tanquistas russos e alemães, alguns feridos, outros moribundos, saltam das torres destruídas e
procuram escapar a tanto horror. Porém não há trégua, nem pausas na luta. E os homens caem, varados pelo fogo da
metralha, de cara para o céu, ou mergulhados num mar de lama.
O T-34 do capitão russo Skripkine, que avança á frente de um batalhão de tanques, acelera gradualmente a sua
velocidade e se lança contra uma formação de Tigres alemães. Ligando o seu rádio, ele ordena: “Adiante, sigam-me”.
Patinando sobre suas lagartas, freando ora uma, ora outra, o T-34 se esquiva dos obstáculos que se interpõem no seu
caminho, e investe diretamente contra um Tigre que avança em sentido contrário. O tanque alemão, com uma brusca
manobra, gira rapidamente e tenta afastar-se. Porém, o artilheiro russo é mais rápido e dispara o seu canhão
simultaneamente. O Tigre parece vacilar durante um interminável segundo e, depois, praticamente salta no ar, atingido
em cheio. Dois segundos depois, envolto em chamas, se converte numa gaiola mortal para os seus tripulantes que, em
vão, procuram sair do interior daquela armadilha.
O T-34, seguindo o seu caminho, manobra tratando de esquivar-se dos restos do tanque incendiado. Porém um disparo
inimigo certeiro, abre uma brecha num dos seus costados. O T-34, desgovernado, prossegue avançando alguns metros,
no meio da lama, ziguezaguando. Por fim se detém com um rangido de lagartas freadas bruscamente. Imediatamente, o
condutor e o operador de rádio tomam em seus braços o Capitão Skripkine, que está ferido e desmaiado, e o carregam
com dificuldade para fora do tanque. Enquanto isso, à volta deles a batalha continua intensamente.
Skripkine é arrastado pelos seus dois subordinados até a cratera aberta por uma granada. Os dois homens vão saltar para
o interior do buraco quando vêem, de súbito, que um Tigre investe diretamente para eles. Trinta metros apenas os
separam. O Tigre acelera ao máximo e se lança rumo à cratera. Os russos, diante da morte, não vacilam e imediatamente
buscam escapar.
O operador de rádio toma em seus braços o capitão e trata de arrasta-lo para fora da cratera na tentativa de escapar da
morte certa. O condutor, então, com admirável sangue-frio e heroísmo, salta da cratera e corre até o T-34. Põe em
marcha o motor e arranca, acelerando ao máximo. O Tigre já está a poucos passos, quando o tanque russo, dirigido pelo
condutor, o abalroa violentamente. Uma explosão e uma massa de fogo envolve os dois blindados que misturam suas
chapas retorcidas.
Instantes depois, do T-34 e do Tigre restam apenas destroços fumegantes. O Capitão Skripkine se salvou. Ao seu lado,
o operador vive ainda. Somente o condutor não está. Seu corpo, consumido pelas chamas, ficou dentro do T-34. Foi um
sacrifício anônimo de um combatente anônimo. Um episódio a mais, na longa lista de feitos heróicos, muitas vezes
ignorados.

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