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PUC-SP
DOUTORADO EM FONOAUDIOLOGIA
São Paulo
2013
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
São Paulo
2013
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
i
DEDICO
ii
AGRADECIMENTO ESPECIAL
iii
AGRADEÇO
À Deus, por Seu infinito amor, por iluminar meus passos e me proteger de todo
À Profª Drª Leslie Piccolotto Ferreira, por me permitir, mais uma vez,
depositado no estudo.
À Profª Drª Sandra Maria Pela, por estar mais uma vez presente na apreciação
iv
À Profª Drª Zuleica Camargo, por me abrir as portas para o aprendizado da
À Profª Drª Susana P. P. Giannini, por prontamente aceitar fazer parte de minha
banca.
Ao pianista Flávio D’Ávila, amigo mais que especial, por seu auxílio na
prestada.
À Stela Verzinhasse Peres, por seu olhar atento e por todo o empenho na
Ao querido amigo e parceiro Dr. Ênio Lopes Mello, pelo incentivo constante, por
suas palavras acolhedoras, por sua confiança e por sempre ofertar sem jamais
v
Aos meus alunos, pacientes e parceiros, por entenderem as minhas ausências
vi
RESUMO
Loiola CM. Canto popular e erudito: características vocais, ajustes do trato
vocal e desempenho profissional [tese]. São Paulo: Pontifícia Universidade
católica de São Paulo, 2013.
vii
ABSTRACT
The different genres of the singing voice present vocal features, specific
requirements and demands that must be seen. Objectives: To analyse the
vocal chacacteristics and vocal tract configuration of popular and erudite
professionakl singers, and to compare their voice handicap index by the
protocols Modern Voice Handicap Index (MVHI) and Classical Voice Handicap
Index (CVHI) with demographics characteristics and the presence or absence of
self-reported vocal complaints. Method: this thesis consists of two separated
studies. The first one is about an evaluation of acoustic data and glottic and
supraglottic vocal tract adjustments of 20 professional male singers, 10 popular
and 10 erudite tenors, during sustained vowel [e] in habitual speech, vowel [e]
from passage of two different songs for each genre, and semidirected speech.
The second study consisted of a MVHI and CVHI comparison with 132
professional singers, 74 of them were popular and 58, erudite, comparing with
sex, age, time of professional experience in singing ant the presence ou
absence of self-reported complaints. Results: In study 1, popular singers had
lower fundamental frequency (f0) and formant F1 than the erudite singers; F2
was higher among popular singers, which indicated a lower incidence of
pharyngeal constriction. In erudite singers, was detected a F2 decrease
because of a posterior displacement of the tongue base; F3 was higher among
erudite singers, indicative of brightness and the presence of singer's formant;
only among erudite singers were detect F3 and F4 peaks on the long term
average strectrum. Regarding the spectral curve decline, both groups showed
greater decline in the singing compared to speech, suggestive that the singing
emission had less tension, with curves flatter us erudite. About the vocal tract
configuration, vocal folds were better visualized in popular singers, due to the
absence of supraglottic constriction. Most of them had stretched vocal folds and
the glottal closure was complete. In erudite singers ther was a higher incidence
of supraglottic and pharyngeal constrictions. In study 2, there were no
correlation scores of MVHI and CVHI with sex and age from both groups; the
professional experience was related to total scores and the MVHI subscales;
the subscales disability, disadvantage and defect presented relationship each
other in MVHI and CVHI. Conclusions: popular and erudite singers behave
differently in many respects, and it was verified in both acoustics and the vocal
tract adjustments. Furthermore, regarding their job performance, the impact of a
vocal problem or difficulty interferes differently between the two genders and all
these aspects depend on the professional demand, the singer’s experience, the
finesse required for every musical genre and also by how each individual deals
with their vocals issues.
viii
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA ............................................................................................................................................. II
AGRADECIMENTO ESPECIAL ................................................................................................................... III
AGRADECIMENTOS ................................................................................................................................... IV
RESUMO ...................................................................................................................................................... VII
ABSTRACT .................................................................................................................................................. VIII
SUMÁRIO ..................................................................................................................................................... IX
LISTA DE TABELAS................................................................................................................................... X
LISTA DE QUADROS .................................................................................................................................. XI
INTRODUÇÃO GERAL ................................................................................................................................ 1
Objetivo geral.......................................................................................................................... 4
ESTUDO 1: Características da voz cantada e ajustes do trato vocal glótico e supraglótico em
cantores populares e eruditos............................................................................................ 5
Introdução............................................................................................................................... 5
Objetivo .................................................................................................................................. 9
Método ................................................................................................................................... 10
Resultados ............................................................................................................................. 17
Discussão............................................................................................................................... 26
Conclusão............................................................................................................................... 42
ESTUDO 2 Índice de desvantagem vocal em cantores populares e eruditos profissionais 44
Introdução............................................................................................................................... 44
Objetivo................................................................................................................................... 51
Método ................................................................................................................................... 51
Resultados ............................................................................................................................. 53
Discussão............................................................................................................................... 61
Conclusão............................................................................................................................... 77
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................................................... 78
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS............................................................................................................. 80
ANEXOS....................................................................................................................................................... 88
ix
LISTA DE TABELAS
ESTUDO 1
Tabela 4 - Frequência dos ajustes de trato vocal durante a emissão da vogal [e]
em tom habitual falado (calibração) e a vogal [e] extraída dos trechos
25
de canto, nos cantores populares e eruditos.
ESTUDO 2
Número (N) e percentual (%) de cantores do gênero popular e erudito 55
Tabela 1 - quanto ao sexo e a presença ou ausência de queixa autorreferida.
x
LISTA DE QUADROS
xi
Introdução geral
casos nos quais as vozes encontram-se alteradas. O cantor pode contar com a
loco; atua sobre as questões de saúde vocal, isso tudo de forma clinico-
1
cantor pode aprimorar sua voz e produzi-la com o máximo de eficiência e o
mínimo de esforço.
Nesse sentido, observa-se que o cantor que não faz uso adequado do
seu aparato vocal, muitas vezes por não conhecer todas as possibilidades de
2
modalidade musical. Isso sem deixar de considerar as soluções para as
apresentam especificidades.
vocal, o que requer ajustes mais refinados e mais distantes da voz falada
country, experimental, folk, gospel, jazz, rock, blues e também o canto belting
(Lo Vetri, Weekly, 2003; Weekly, LoVetri, 2008). Apesar de fazerem parte de um
mesmo grupo e todos serem considerados não eruditos, são gêneros que
separadamente.
1
Nessa pesquisa, foi adotada a nomenclatura popular e erudito para diferenciar esses dois grandes
gêneros musicais de canto. Tal atribuição se deu por se tratar de uma nomenclatura mais adequada e
usualmente utilizada na área de canto no Brasil, além de evitar equívocos que possam se referir a
períodos históricos.
3
Na perspectiva da complexidade dos gêneros, é necessária uma
características vocais, por meio da acústica, e dos ajustes do trato vocal. Além
musicais por meio dos protocolos Índice de Desvantagem Vocal para o Canto
4
ESTUDO 1
Introdução
Andrada e Silva, 1998; Sundberg, 1998; Dietrich et al, 2008; Pereira, 2008;
al, 2009).
necessário que o profissional conheça sua própria voz, tenha intimidade com o
5
respiração adequadas ao gênero musical executado e que conheça o seu
exige-se uma voz limpa, clara, com brilho, volume e projeção (Muniz et al,
2010). Pode-se exemplificar esse fato com o estudo de Sousa et al (2010), que
ataque vocal suave, sem projeção, com registro de peito, tessitura restrita, sem
6
(Andrada e Silva, 2005; Andrada e Silva et al, 2008; Muniz et al, 2010). Outros
sobre quais são as suas correlações diretas, uma vez que alguns autores
(Vieira, 2004; Gusmão et al, 2010) afirmam que não existe um único
voz sobre uma orquestra é adquirida pela junção de formantes que irão
projeção (Sundberg, 1974; Cordeiro et al, 2007). Esse fenômeno acontece nos
formantes superiores (F3, F4, e F5), que geram um pico espectral intenso em
torno de 3kHz (Alku et al, 1998). No canto popular, por sua vez, esse fenômeno
7
não ocorre. Mesmo em cantores populares que imitam o canto erudito, o
Camargo et al., 2004; Pinczower, Oates, 2005; Soyama et al., 2005, Master et
tipo Broadway ou belting (Stone et al, 2003). Nesse sentido, considera-se que
tal parâmetro também pode trazer dados comparativos a respeito dos gêneros
8
emissão falada e cantada, em uma avaliação conjunta de fonoaudiólogo e
Sabe-se que tais ajustes devam ocorrer de maneiras distintas, uma vez
ocorrem esses ajustes em dois tipos tão distintos de emissão, e a sua relação
gênero musical.
9
Método
O projeto da tese, que possui dois estudos, foi aprovado pelo Comitê de
Seleção da amostra
tal;
momento da gravação;
10
Especificamente no caso dos cantores eruditos, possuir a classificação
selecionada.
gravações.
popular foi excluído por apresentar alteração vocal e foi encaminhado para
Procedimentos
11
Donna è Mobile, ária da ópera Rigoletto, de Giuseppe Verdi (1851) para os
que foram lançadas até os dias atuais. A preferência também se deu pela
prolongada [e] foi trocada de posição com outra, cuja melodia é a mesma, para
dos dados).
12
acima. A gravação de Aquarela do Brasil enviada aos cantores populares foi a
versão de Tim Maia, gravada em 1995 e aos eruditos a versão escolhida para
possibilitar o treino.
computador Pentium Dual Core E2140, placa mãe Asus, 1GB de memória
74.
13
no momento da gravação e o microfone em pedestal posicionado a 5 cm do
cantor popular e 10 cm (no mínimo) do cantor erudito. Vale ressaltar que nos
casos dos eruditos, a distância do microfone à boca foi ajustada de acordo com
anualmente 240 pacientes, com ou sem queixa vocal, com exames médicos,
14
otorrinolaringologista colaborador, com o acompanhamento da orientadora e da
pesquisadora.
posicionado logo após o palato mole para que fosse possível visualizar a
491213.
[e] extraído do trecho de canto. Para os cantores líricos, também foi verificada
15
foi:
A vogal [e] utilizada para análise acústica foi a primeira da palavra “sede”,
em Si, por se tratar de uma vogal emitida com prolongamento e por ser um
mesma razão pela qual foi escolhida a vogal da música popular. Também foi
segundos de amostra).
16
A analise da configuração do trato vocal foi realizada em consenso por
Resultados
de 9,5 anos). Quanto aos cantores eruditos, a idade foi de 23 a 36 anos (média
8,6 anos).
17
Tabela 1 - Valores de frequência fundamental (f0) e formantes (F1 a F4), em Hertz, durante a
calibração em vogal [e] no tom habitual de fala e na vogal [e] extraída dos trechos de canto,
nos cantores populares (P1 a P10) e eruditos (E1 a E10).
Quadro 1 - Gráficos do espectro médio de longo termo (ELT) e da curva de declínio espectral
dos cantores populares (P1 a P10) e eruditos (E1 a E10).
Gráfico ELT Curva de declínio spectral
P1
18
P2
P3
P4
P5
P6
19
P7
P8
P9
P10
E1
20
E2
E3
E4
E5
E6
21
E7
E8
E9
E10
22
Tabela 2 - Medida do declínio espectral na fala e no canto (dB), nos cantores populares (P1 a
P10) e eruditos (E1 a E10).
calibração realizada por meio da vogal habitual e na vogal cantada nos trechos
para os eruditos.
23
Tabela 3 – Achados dos ajustes glóticos e supraglóticos durante a vogal [e] em tom habitual (calibração) e durante o trecho de canto nos cantores populares
(P1 aP10) e nos eruditos (E1 a E10).
DESLOCAMENTO
PREGAS VOCAIS COAPTAÇÃO GLÓTICA SUPRAGLOTE FARINGE
VERTICAL
Calibração Canto Calibração Canto Calibração Canto Calibração Canto Calibração Canto
P1 Estirada Neutra Completa Completa Neutra CM leve Neutra CM leve Ausente Ausente
P2 Estirada NV Completa NV Neutra NV Ampla NV Caudal NV
P3 Estirada Estirada Completa Completa Neutra Neutra Ampla Ampla Caudal Caudal
P4 Estirada Neutra F. triangular Completa CM leve Neutra CM leve CM leve Caudal Caudal
F. fusiforme ou F. fusiforme ou
P5 Encurtada Estirada Neutra Neutra Neutra Ampla Cranial Cranial
paralela paralela
P6 Estirada Estirada F. triangular F. triangular Neutra Neutra Neutra CM leve Ausente Ausente
P7 Neutra Estirada Completa Completa Neutra CM leve Neutra CM leve Ausente Cranial
P8 Neutra Estirada Completa F. triangular CAP leve Neutra Neutra CM leve Ausente Cranial
P9 Estirada Estirada Completa Completa Neutra Neutra Neutra CM leve Ausente Ausente
P10 Neutra Neutra Completa Completa CAP intensa Neutra Neutra CM leve Ausente Cranial
F. fusiforme ou CM leve
E1 Neutra NV NV Neutra CAP intensa CAP intensa Caudal Ausente
paralela CA intensa
F. fusiforme ou
E2 Estirada NV NV Neutra Neutra Neutra CA intensa Ausente Caudal
paralela
E3 Neutra NV Completa NV Neutra CAP intensa Neutra CA intensa Ausente Ausente
E4 NV Neutra NV Completa CAP intensa CAP intensa CM intensa CM moderada Ausente Caudal
CM leve
E5 Neutra Neutra Completa Completa Neutra CM leve Neutra Ausente Cranial
CA leve
E6 Encurtada NV F. triangular NV Neutra CAP intensa Neutra CA intensa Ausente Cranial
E7 Estirada NV Completa NV Neutra CAP intensa Neutra CA intensa Ausente Ausente
E8 Estirada NV Completa NV Neutra CM intensa Neutra CM leve Cranial Cranial
F. fusiforme ou F. fusiforme ou
E9 Estirada Estirada Neutra CM leve Neutra CM leve Cranial Ausente
paralela paralela
CM leve
CM leve CM leve CM leve
E10 Encurtada Encurtada Completa NV CA leve Cranial Caudal
CAP leve CAP intensa CA leve
CP leve
NV = não visualizado; F = fenda; CA = constrição anterior; CM = constrição medial; CP = constrição posterior; CAP = constrição anteroposterior.
24
As frequências de ocorrência dos ajustes de trato vocal observados nos
tabela 4.
Tabela 4 - Frequência dos ajustes de trato vocal durante a emissão da vogal [e] em tom habitual falado
(calibração) e a vogal [e] extraída dos trechos de canto, nos cantores populares e eruditos.
Popular Erudito
[e] falado [e] cantado [e] falado [e] cantado
n % n % n % N %
Pregas Vocais
Neutra 3 30 3 30 3 30 2 20
Encurtada 1 10 0 0 2 20 1 10
Estirada 6 60 6 60 4 40 1 10
Não visualizada 0 0 1 10 1 10 6 60
Coaptação
glótica Completa 7 70 6 60 5 50 2 20
Fenda triangular 2 20 2 20 1 10 0 0
Fenda fusiforme ou paralela 1 10 1 10 3 30 1 10
Não visualizada 0 0 1 10 1 10 7 70
Supraglote
Neutra 7 70 7 70 8 72,7 1 9,1
Constrição medial leve 1 10 2 20 1 9,1 3 27,2
Constrição medial intensa 0 0 0 0 0 0 1 9,1
Constrição anteroposterior leve 1 10 0 0 1 9,1 0 0
Constrição anteroposterior intensa 1 10 0 0 1 9,1 6 54,5
Não visualizada 0 0 1 10 0 0 0 0
Faringe
Neutra 7 70 0 0 7 63,6 1 7,9
Ampla 2 20 2 20 0 0 0 0
Constrição anterior leve 0 0 0 0 1 9,1 2 15,3
Constrição anterior intensa 0 0 0 0 0 0 5 38,4
Constrição medial leve 1 10 7 70 1 9,1 5 38,4
Constrição medial intensa 0 0 0 0 1 9,1 0 0
Constrição anteroposterior intensa 0 0 0 0 1 9,1 0 0
Não visualizada 0 0 1 10 0 0 0 0
Deslocamento Ausente 6 60 3 30 6 60 2 20
vertical de Cranial 1 10 4 40 3 30 3 30
laringe Caudal 3 30 2 20 1 10 5 50
Não visualizada 0 0 1 10 0 0 0 0
25
Discussão
pelo cantor devem ser compreendidas por cada interprete e por quem os
Brasil.
2006; Salomão, Sundberg, 2009; Borch, Sundberg, 2010; Sundberg et al, 2011;
a saber rock, pop, soul e dance band sueco e para isso apenas um cantor (que
26
também foi o autor da pesquisa) executou as músicas dos diferentes gêneros.
Nesse caso, o problema não reside no fato de ser apenas um cantor, mas
tempo ser autor da pesquisa. Sabe-se, e isso ficou bem evidente durante a
coleta dos dados da presente pesquisa, que cantores que estudam e atuam em
um único gênero musical apresentam uma relação mais próxima com esse, à
a serem feitas: as pesquisas em geral não deixam claro como foram emitidas
segundo ponto é que uma vogal cantada produzida de forma isolada não
27
representativa do gênero musical popular e erudito ao escolher um trecho
escolher a mesma vogal [e] para os dois gêneros para que fosse possível
os grupos.
Trato Vocal durante o Canto (Andrada e Silva e Duprat, 2010) utilizado nesse
28
deve sofrer alterações até que se chegue a um modelo único para a aplicação
dos ajustes no trato vocal durante o canto é pioneira e tem passado por ajustes
acústica, em alguns cantores esse período foi curto, no máximo três segundos.
Por essa razão, para ser possível analisar todos os ajustes, os juízes
otorrinolaringologistas tiveram que repetir várias vezes a imagem uma vez que
importante ressaltar que nesse caso não podemos solicitar a canção inteira ou
29
Essas reflexões a cerca do método utilizado para examinar cantores, nos
avaliação visual das estruturas de trato vocal verificamos que esse pequeno
de formas distintas.
trato vocal, sem necessariamente concluir que tais fatores apresentam relação
30
aprofundamento da área da voz e suas relações com o canto nos diferentes
gêneros.
nota em agudização da vogal [e] de “sede” ficou em torno de 245 Hz, que
indivíduos. Isso era esperado uma vez que as vogais cantadas apresentaram
praticamente dobrou em relação ao f0. Esse achado também não foi surpresa,
31
Segundo Vieira (2004), uma situação em que pode ocorrer mudança na
repertórios. Com isso o F1 diminui e entra em sintonia com f0, que em geral
está mais aguda. O resultado é uma voz mais audível, porém pode-se perder a
erudito escolhida escolhida nessa pesquisa foi emitida em um Fa#3 (350 Hz)
durante o canto da vogal [e]. Nesse sentido, no caso dos cantores eruditos,
de sua categoria, com um valor mais baixo (661 Hz). Auditivamente, observou-
cantada do [e] uma distorção gerando semelhanças com uma vogal [i]. Por
primeiro formante é mais agudo quanto maior for a abertura de boca e o grau
32
caudal, como se pode observar na tabela de ajustes do trato vocal (tabela 3),
para se obter um aumento na audibilidade da voz, sem que haja maior gasto de
estiveram próximos de f0 tanto nos eruditos como nos populares. Talvez por se
de maior projeção (uma vez que não há um público a ser atingido), não tenha
amplos de mandíbula.
anteroposterior (Camargo, 1999; Vieira, 2004; Gusmão et al, 2010). Sobre isso,
33
da ressonância é um dado que pode auxiliar na compreensão da dinâmica
vocal do cantor.
faringe está livre ou não. Quanto mais anteriorizada a língua, mais ampla a
populares. Nesse estudo, isso pode ser observado tanto em relação à vogal de
foi o mais baixo (1161 Hz). Em contrapartida, o cantor erudito que apresentou
maior valor de F2 (1538 Hz) foi o único que apresentou faringe neutra durante
que ambos juntamente com o F5, são responsáveis pelo formante do cantor.
34
Pode-se dizer que suas correspondências perceptivo auditivas são às noções
de brilho e de voz cheia. Para Ekholm et al (1998), a voz brilhante parece estar
forte pico espectral de F3, F4 e F5, e nem por isso não podem apresentar
vozes com brilho. Nesse sentido, é preciso que mais estudos possam
pode estar relacionado com a busca dos cantores eruditos pelo formante do
ser influenciada também por ajuste de lábios e mandíbula, sendo que há uma
esses dois formantes se mostraram mais distantes que nos cantores eruditos
(tabela 1). Tal fato pode ser exemplificado pelos cantores P2, P6, P7, P8, P9 e
E8, E9, E10. O cantor E6, por exemplo, foi quem apresentou maior
formante do cantor grupo esteve presente, o que não apareceu no grupo dos
35
populares. No grupo dos eruditos foi percebido auditivamente um loudness
longitudinal, foi utilizado espectro de longo termo - ELT (quadros 1 e 2). Para
semidirigida. Autores (Camargo, 2002; Master et al, 2006) afirmaram que fica
mais claro determinar traços mais estáveis de uma emissão (como a qualidade
autores (Kitzing, 1986; Löfqvist, 1986, Master et al, 2006), ao se obter o ELT de
maior relação com a definição das vogais, passam a ser representados por
relação à fala dos sujeitos. Nos cantores eruditos, esse aumento foi ainda mais
evidente, achado esperado uma vez que esses cantores costumam trabalhar
com loudness elevado uma vez que não utilizam microfone e precisam cantar
vozes, para isso costumam aumentar a pressão subglótica, abrir mais a boca e
Na análise de longo termo (quadro 1), pode-se inferir, também, que houve
36
formante do cantor. Por exemplo, E6 apresentou o menor distanciamento entre
também apresentaram picos espectrais, como E2, E3, E4, E9. Ao observamos
curvas menos evidentes, com a ausência de picos, exemplos P2, P3, P5, P6,
P7.
declínio espectral (quadro 1). De acordo com Sundberg (2012) esse declínio
autor afirma que o declínio é mais acentuado na voz mais suave do que na
mais forte. A razão para isso é que o fluxo de ar transglótico é menos abrupto
indicar uma maior fase de fechamento no ciclo glótico, o que pode gerar
tensão. Scherer (2005) sugere que o aumento dessa tensão glótica aumenta a
Foi observado na amostra dessa pesquisa (tabela 2), que a maioria dos
ocidental e relacionou com a fala desses cantores, esse dado também ocorreu.
37
própria fala. De acordo com Andrada e Silva et al (2011), mesmo em uma
ocorre na fala e por essa razão pode trazer sobrecarga para o aparelho
fonador. Por esse motivo, quando estamos com um cantor disfônico, nem
declínio. De acordo com Sundberg, 2012, esse dado pode indicar maior força
uma forma tão diversificada que poderia minimizar os efeitos dessa força dita
atribuída nas pregas vocais. Além disso, é esperado que cantores eruditos
necessitem de maior volume e força uma vez que o próprio gênero exige
38
supraglótica durante o canto. No grupo dos populares (tabela 4) 60% dos
canto. Trinta por cento desse grupo apresentou fenda glótica, o que pode estar
E3, E4, E6, E7, E10. De forma geral, houve 90% de ocorrência de constrições,
e essas foram leves (tabela 3). A maior parte dos cantores desse grupo (70%)
grupo dos eruditos (tabela 4). Entre os populares, a ocorrência maior foi de
constrição medial leve (70%), observada nos cantores P1, P4, P7, P8, P9 e
P10 e 20% de faringe ampla, apenas com P3. Nos eruditos, por outro lado
39
do efeito combinado de laringe baixa e faringe ampla em região de frequência
alta. Nos resultados desse estudo, quatro cantores eruditos não mexeram a
literatura (Sundberg, 1974; Zampieri et al, 2002; Muniz et al, 2010), não foi
E10. Isso nos faz refletir sobre como foram realizadas essas pesquisas que
40
vocal, de maneira geral foi verificada uma menor ocorrência de constrições de
supraglote e faringe nesse grupo. Quanto aos cantores eruditos, os dados mais
supraglóticas e faríngeas.
ser correlacionados de forma direta com o que foi visto no trato vocal. Mesmo
Provavelmente por essa razão, também, que muitos trabalhos têm um número
bem reduzido de sujeitos ou a opção por apenas uma forma de analise, que
ser bem testada, só assim será possível o rigor durante a realização do estudo.
41
Por exemplo, no exame de nasofibrolaringoscopia é fundamental o
Conclusão
concluir:
42
F2 se deu especialmente pelo deslocamento posterior de base de
língua.
formante do cantor;
Isso foi indicativo que a emissão cantada apresentou menos tensão que
43
ESTUDO 2
profissionais.
Introdução
em canto, além dos gêneros musicais executados por esses indivíduos podem
Gasparini, Behlau, 2009; Ávila et al, 2010; Niebudek-Bogusz et al, 2010; Pires
et al, 2011; Moreti et al, 2011; Halawa et al, 2011; Niebudek-Bogusz et al, 2011;
próprio sujeito sobre suas questões vocais no trabalho. Além disso, para alguns
indivíduos.
44
Dentre os protocolos relacionados à voz, validados para o Português
problema de voz nas atividades diárias, porém possui apenas uma questão
relacionada ao trabalho.
PPAV (Behlau et al, 2009), versão traduzida do protocolo Voice Activity and
original em inglês Voice Handicap (Jacobson et al, 1997) para diversas línguas
Datta et al, 2011; Behlau et al, 2011; Karlsen et al, 2012; Taguchi et al, 2012),
tal protocolo não privilegia, porém, uma população específica, podendo ou não
nenhum grupo.
o foniatra italiano Franco Fussi (Fussi, Fuschini, 2008), após uma análise de
45
canto, as quais o autor denominou: moderno (Modern Singer Handicap Index,
porém com adaptações para cada gênero musical. Cada um é composto por
protocolo tem escore máximo de 120 pontos. Quanto maior a pontuação, maior
voz cantada na atividade profissional (Ávila et al, 2010; Moreti et al, 2011;
universo.
46
Vale ressaltar que, apesar da tradução para o português ter mantido os
uma linguagem particular como guia para a apreciação crítica de toda a música
do período.
IDCM, que é o canto popular. Esse refere-se a toda modalidade de canto não
contemporânea (LoVetri JL, Weekly EM , 2003; Weekly EM, LoVetri JL, 2009;
canto como jazz, blues, música popular brasileira (MPB), sertanejo, rock entre
outros. Porém, tanto o termo moderno, como pontuado acima, assim como a
confronto com outras músicas, por meio de seu uso por sujeitos concretos, por
sua vez mediados por categorias históricas, sociais e culturais [...] Como todos
47
Da mesma forma, o termo “clássico” pode restringir, por exemplo, ao
canto clássico, lírico e erudito são utilizados como sinônimos, contudo trata-se
2004, p. 146).
período histórico da arte (estilo barroco, estilo clássico etc), e também significa
com cantores com diferentes estilos, que lhe são próprios e únicos, mesmo que
cantada.
48
Em relação à literatura que utilizou os protocolos, foi desenvolvida uma
populares de coral amador, com e sem queixa vocal, com indivíduos não
relação àqueles que relataram não ter problemas vocais e aos não cantores.
demográficos, uma pergunta em que o cantor deveria atribuir uma nota para a
sua voz e dados sobre suas práticas do canto. Foi também realizada uma
sem alteração. Além disso, aqueles que referiram realizar aulas de canto
coros investigou-se a relação dos escores obtidos com dados como sexo,
(Ávila et al, 2010). Os sujeitos foram separados em dois grupos, com e sem
49
queixa vocal. O escore total do IDCC foi maior no grupo que referiu queixa e
pouco tem sido abordado, apesar de estar claro que existem características
50
seja pelo excesso de demanda (Andrada e Silva et al, 2011) ou por qualquer
outro aspecto que possa influenciar o impacto, tais protocolos podem apontar
Método
51
tanto, os protocolos foram elaborados na íntegra por meio do aplicativo Google
cantores eruditos, cada um deles com três telas. A primeira tela constou da
Esclarecido (anexo 5). Essa tela foi elaborada de forma que as subsequentes
constou do protocolo IDCM, para canto popular (anexo 7), e o IDCC, para o
Análise Estatística
planilha Excel e analisados pelo programa SPSS versão 17.0 para Windows.
52
Foi realizada a análise descritiva por meio de frequências absolutas e relativas,
mínimo e máximo).
confusão.
primeira análise estatística, uma nova análise foi realizada com a estratificação
Resultados
53
Dentre os cantores populares, a maioria (63,5%) dos profissionais referiu
54
Tabela 1 – Número (N) e percentual (%) de cantores do gênero popular e erudito quanto ao sexo e a
presença ou ausência de queixa autorreferida.
Variável Categoria Grupo p*
Popular Erudito
N (%) N (%)
Tabela 2 – Análise descritiva das variáveis idade e tempo de experiência profissional no canto popular e
erudito.
Variável Popular Erudito
Min – Min –
N (dp) mediana N (dp) Mediana p*
Max Max
* Mann-Whitney
tanto nos cantores populares quanto nos eruditos, que não houve diferença
55
Tabela 3 – Análise descritiva dos escores total e das subescalas incapacidade, desvantagem e defeito, do IDCM e IDCC, segundo o sexo, nos cantores populares e eruditos.
IDCM IDCC
Masculino Feminino p* Masculino Feminino p*
Min – Min – Min – Min –
N (dp) mediana N (dp) mediana N (dp) mediana N (dp) mediana
Max Max Max Max
Escore total (%) 24 28,1 20,4 0,8 – 50 17,7 13,3 0,0 – 0,260 30 20,3 15 0,0 – 19,9 17,7 0,0 – 0,988
(26,0) 79,2 (14,5) 50,8 (21,7) 80,0 (22,5) 80,0
Escore 24 9,0 5,8 0,0 – 50 5,4 4,2 0,0 – 0,148 30 7,1 3,3 0,0 – 28 7,0 3,3 0,0 – 0,876
Incapacidade (%) (8,6) 26,7 (4,9) 20,0 (7,8) 29,2 (7,2) 25,8
Escore 24 7,8 4,6 0,0 – 50 4,2 2,9 0,0 – 0,350 30 5,2 2,9 0,0 – 28 5,7 2,9 0,0 – 0,838
Desvantagem (%) (8,3) 25,8 (4,3) 16,7 (6,0) 20,8 (7,1) 26,7
Escore 24 11,4 9,2 0,0 – 50 8,1 7,5 0,0 – 0,282 30 7,9 6,3 0,0 – 28 7,3 3,8 0,0 – 0,656
(10,0) 29,2 (6,6) 23,3 (8,5) 31,7 (8,6) 27,5
Defeito (%)
*Mann-Whitney
A tabela 4 apresenta a correlação entre os escores de IDCM e IDCC e a idade dos participantes. Entre os cantores
populares houve correlação negativa estatisticamente significativa para os escores do protocolo IDCM (exceto desvantagem) e a
idade dos sujeitos. Contudo, esta correlação mostrou-se fraca. Quanto aos cantores eruditos, não houve correlação
56
Tabela 4 – Correlação entre os escores total e das subescalas incapacidade, desvantagem e defeito, de
IDCM e IDCC e a idade dos cantores populares e eruditos em anos.
IDCM IDCC
p* p*
n r n r
* teste de Spearman
porém fraca. Nos cantores eruditos, por sua vez, não houve correlação
5).
Tabela 5 – Correlação entre os escores total e das subescalas incapacidade, desvantagem e defeito, de
IDCM e IDCC, e o tempo de experiência profissional no canto, em anos, dos cantores populares e
eruditos.
IDCM IDCC
p* p*
n r n R
* teste de Spearman
57
Em relação à comparação entre a presença ou ausência de queixa autorreferida, observa-se que todos os escores
apresentaram diferença estatisticamente significativa, tanto entre os cantores populares quanto entre os eruditos (tabela 6).
Tabela 6 – Análise descritiva dos escores total e das subescalas incapacidade, desvantagem e defeito, de IDCM e IDCC, segundo queixa autorreferida pelos cantores
populares e eruditos.
IDCM IDCC
Sem queixa Com queixa p* Sem queixa Com queixa p*
Min – Min – Min – Min –
N (dp) Mediana N (dp) mediana N (dp) mediana N (dp) mediana
Max Max Max Max
Escore total (%) 40 10,6 5,8 0,0 – 34 33,4 33,3 7,5 – <0,001 44 12,7 7,5 0,0 – 14 43,5 42,1 12,5 – < 0,001
(13,0) 60,8 (18,8) 79,2 (14,5) 78,3 (25,0) 80,8
Escore 40 3,2 2,5 0,0 – 34 10,5 8,8 1,7 – <0,001 44 4,5 3,3 0,0 – 14 14,9 12,5 5,0 – < 0,001
Incapacidade (%) (3,7) 18,3 (6,9) 26,7 (5,2) 25,8 (8,1) 29,2
Escore 40 2,5 0,8 0,0 – 34 8,8 7,5 0,0 – <0,001 44 3,3 2,1 0,0 – 14 12,2 12,1 2,5 – < 0,001
Desvantagem (%) (4,2) 18,3 (6,3) 25,8 (4,1) 20,8 (8,1) 26,7
Escore 40 5,0 2,1 0,0 – 34 14,1 13,8 3,3 – <0,001 44 4,9 2,9 0,0 – 14 16,4 17,1 2,5 – < 0,001
Defeito (%) (6,1) 24,2 (7,0) 29,2 (6,0) 31,7 (9,3) 30,8
*Mann-Whitney
58
Entre os cantores populares, as variáveis idade, tempo de canto e
populares que relataram queixa. No entanto, esta correlação não foi verificada
no escore desvantagem.
Tabela 7 – Análise de regressão múltipla para os escores de IDCM com as variáveis idade e tempo de
experiência no canto, segundo a presença ou ausência de queixa autorreferida pelos cantores populares.
IDCM
Sem queixa Com queixa
p p
Variável N β IC95% N β IC95%
Escore Total (%) Idade -0,1 -058 ; 0,38 0,671 0,42 -0,13 ; 1,83 0,087
40 34
Tempo de Canto -0,01 -0,55 ; 0,54 0,979 -0,53 -2,28 ; -0,10 0,033
Escore Idade -0,09 -0,16 ; 0,11 0,695 0,40 -0,06 ; 0,67 0,101
40 34
Incapacidade (%) Tempo de Canto 0,01 -0,16 ; 0,16 0,991 -0,5 -0,82 ; -0,01 0,043
Escore Idade -0,13 -0,20 ; 0,11 0,556 0,40 -0,06 ; 0,60 0,110
40 34
Desvantagem (%) Tempo de Canto 0,05 -0,16 ; 0,19 0,831 -0,45 -0,71 ; 0,03 0,068
Escore Idade -0,06 -0,25 ; 0,19 0,791 0,37 -0,09 ; 0,65 0,131
40 34
Defeito (%) Tempo de Canto -0,05 -0,28 ; 0,23 0,834 -0,51 -0,84 ; -0,02 0,040
59
Na análise dos cantores eruditos, somente a variável queixa mostrou
realizou a análise desses escores estratificados pela variável queixa (tabela 8).
Tabela 8 – Análise de regressão linear univariada para os escores total e incapacidade de IDCC com a
variável tempo de experiência no canto, segundo a presença ou ausência de queixa autorreferida pelos
cantores eruditos.
IDCC
Sem queixa Com queixa
p p
Variável N β IC 95% N β IC95%
Escore
Tempo de
44 -0,21 -0,67 ; 0,25 0,357 14 0,09 -1,36 ; 1,53 0,989
Total (%) Canto
Escore
Tempo de
44 -0,11 -0,28 ; 0,05 0,182 14 -0,02 -0,49 ; 0,45 0,932
Incapacidade (%) Canto
*teste de Spearman
60
Discussão
indivíduos que não tenham nenhuma relação com o canto, uma vez que as
sujeitos, que não os cantores. Isso, por sua vez, interfere na validade e
61
A aplicação desses protocolos em cantores de corais amadores é outro
aspecto a ser discutido. É alto o índice de pesquisas com essa população, uma
vez que a maioria dos coros formados por instituições, faculdades, escolas,
que o cantor profissional, cuja voz é determinante para o seu sustento, tem
Moreti et al, 2011; Prestes et al, 2012) foi a descrição da amostra, com falta de
62
Ressalta-se ainda que apenas identificar o problema de voz ou a
junto a esses indivíduos. O que foi observado nas pesquisas com o IDCM e
levantamento de perfil.
63
categorias diferentes aos da presente pesquisa. Portanto, é importante atentar
literatura disponível.
idade, que variou entre 32,5 anos (populares) e 31,8 (eruditos), mostra que os
queixa vocal. Esse dado evidencia que, mesmo que ocorram alterações
et al, 2006).
que faz a literatura a respeito do período de melhor eficiência vocal pode não
musical mais executado foi musica popular brasileira (MPB), seguido do rock, o
64
canto gospel e o sertanejo. Em geral, a maior parte dos profissionais que
como Aline Barros, premiada em 2012 com o Grammy Latino pela quinta vez e
campo científico, muito tem se estudado sobre essa forma de canto como se
dos estudos acima aborda uma população geralmente composta por cantores
65
e atitudes com relação à voz, à saúde e suas relações com o contexto
profissional.
cada vez maior de novos cantores que se destacam nessa categoria musical.
2005 a 2007 (Barbosa, Andrada e Silva, 2008), dentre 27 estudos sobre canto
trabalho.
importante observar que, para essa população, novos estudos como o de Mello
66
questões corporais, sobre conceitos e estratégias utilizadas no canto, entre
outras abordagens.
(Andrada e Silva, Duprat, 2010; Andrada e Silva et al, 2011) quanto na vivência
suas carreiras cedo e por isso são mais suscetíveis a desenvolver sintomas de
disfonia. Porém, o que se observa com frequência são cantores eruditos que,
por terem maior contato com técnicas e maior dedicação no estudo do canto. O
que pode ocorrer, nesse caso, é que a própria categoria musical, devido ao seu
vocal, e com isso um mínimo de alteração pode trazer um grande impacto para
esses sujeitos (Andrada e Silva, 2005; Andrada e Silva, Duprat, 2010; Andrada
67
Vale destacar também que cantores populares com frequência não se
MPB, pop music, rock entre outros, alguns deles que requerem diferentes
(Nunes et al, 2010, Muniz et al, 2010). Por outro lado, a MPB é um exemplo de
canto sertanejo, por sua vez, é caracterizado pela forte intensidade vocal, uso
permeiam os dois gêneros que são peculiares e bastante distintas entre si. O
68
canto, desconhece o seu aparato vocal, portanto lida com as adversidades em
69
saúde ou do momento em que se encontra esse sujeito. E isso, no caso dos
cantores cuja queixa aparenta ser maior do que a alteração vocal observada
suas relações da voz com o trabalho (Andrada e Silva, 2005). Dessa forma,
seus subescores de IDCM e IDCC. Por essa razão, não foi necessário realizar
queixa possam ser díspares, porém quando se trata de uma mesma profissão,
70
a análise estatística mostrou que essa correlação foi fraca e os resultados
linear, tabela 7), que separou os cantores populares de acordo com a presença
ficou evidente que a variável queixa foi um fator de confusão que mascarou os
presente estudo, a idade não foi preponderante nos escores de IDCM e IDCC.
Esse resultado difere do estudo de Ávila et al (2010) que identificou que quanto
71
negativa com os escores de IDCM. Ou seja, quanto menor a experiência mais
alto foi o índice, tanto para o escore total quanto para as subescalas
queixa, ajustada pela idade (tabela 7). Os resultados mostraram que cantores
ter maior tempo de experiência mostrou ser um fator que auxilia esse
profissional. Tal dado foi demonstrado pela relação do tempo de canto com o
população. A partir desse dado, interpreta-se que o cantor popular, quando está
com uma queixa com relação à sua voz, consegue lidar melhor com suas
72
orgânico desse cantor, suas questões emocionais não são afetadas por essas
dificuldades.
Nos cantores eruditos esse dado não teve relação com os escores de
IDCC. Isso equivale a dizer que, nesse gênero musical, o desempenho vocal
nos níveis funcional, emocional e orgânico não foi afetado pela experiência no
entre esse aspecto e os escores de IDCC pode se justificar pela bagagem que
cantor erudito inicia a sua vida profissional, com certeza já passou por vários
demanda tal investimento, dado o requinte exigido pelo seu uso de voz, a
O canto popular, por sua vez, carrega características que permitem uma
diferença entre os gêneros. Uma delas se refere ao fato do canto popular ter
um tipo de produção vocal que tende a se aproximar da fala, o que pode fazer
musical e, com isso, iniciam a vida profissional tendo como base seu
73
conhecimento empírico e a confiança em seu talento “nato” para o canto
(Andrada e Silva, 2005). Além disso, no gênero popular não há maneira certa
cantor responde a uma subescala com escore alto, as outras duas também
IDCC (Ávila et al, 2011, Moreti et al, 2011, Prestes et al, 2012). Espera-se,
menor grau, nos domínios emocional e orgânico, seja ele um cantor popular ou
erudito.
74
do psiquismo e do estado emocional de cada cantor, além da formação e
entre esses aspectos é o que desperta o que chamamos de cantar “com alma”,
Silva, 2005). O canto pode ser treinado, imitado, aprendido, mas há algo que
transmitida pela voz (Andrada e Silva et al, 2011). Isso talvez explique o
sucesso de alguns intérpretes, que muitas vezes não é medido por uma
vem sendo desmistificada, pois está clara a importância de uma boa formação
do cantor não está restrita à laringe, pois toda a condição de saúde do sujeito
75
aspectos estritamente vocais do cantor, mas sim as condições gerais de saúde,
al, 2011). Dessa forma, reafirma-se a necessidade de cada vez mais cantores,
A partir dos resultados dessa pesquisa, foi possível verificar que o IDCM
esse ponto vai ao encontro de outros estudos (Ávila et al 2010; Moreti et al,
2011; Prestes et al, 2012; Moreti et al, 2012). Por outro lado, não parece
adequado concluir, por esse viés, que tais protocolos auxiliam no mapeamento
forma como essa questão é abordada com o cantor. Nesse estudo, a presença
da queixa foi relatada pelo próprio cantor, que muitas vezes não tem claro o
como uma gripe, uma alergia, ou afecções de outras naturezas, assim como
76
À vista disso, sugere-se, para estudos futuros, que os cantores possam
Conclusão
77
Considerações Finais
vertical não foi unânime nessa amostra, o que indica que nem sempre a
que o cantor erudito faz uso de mais estruturas para chegar ao resultado
sonoro desejado e necessário para essa modalidade musical, que exige mais
ou ausência de queixa, além da forma como cada indivíduo lida com o seu
vocal, o que não ocorreu nos cantores eruditos. Além disso, os protocolos
78
IDCM e IDCC apresentam relações entre si no que se refere às subescalas
junto a essa população utilizem esses instrumentos não apenas como forma de
indivíduo.
79
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87
Anexo 1
___________________________
Assinatura do sujeito
___________________________
Assinatura do pesquisador
_____________
Data
88
Anexo 2
Aquarela Do Brasil
Composição: Ary Barroso
Brasil!
Meu Brasil Brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
O Brasil, samba que dá
Bamboleio, que faz gingar
O Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor...
Brasil pra mim, pra mim, pra mim...
La Donna è Mobile
Composição: Giuseppe Verdi (da ópera Rigoletto)
La donna è mobile
qual piuma al vento
muta d'accento
e di pensiero
Sempre un'amabile
leggiadro viso
in pianto e in riso
è menzognero
La donna è mobil
qual piuma al vento
muta d'accento
e di pensier
e di pensier
e di pensier
89
Anexo 3
Protocolo de avaliação dos ajustes do trato vocal durante o canto (original de Andrada e Silva e Duprat, 2010)
90
Anexo 4
Protocolo de avaliação dos ajustes do trato vocal durante o canto (versão adaptada de Andrada e Silva e Duprat, 2010)
91
Anexo 5
92
Anexo 6
Modelo de Questionário de Caracterização do Cantor
Identificação
*preenchimento obrigatório
Iniciais do nome *
Sexo *
Feminino
Masculino
Data de nascimento *
93
Anexo 7
Nota: para o cálculo dos escores parciais ou total, deve-se realizar a somatória simples nos domínios ou de todo o protocolo.
Para passar para base 100, dividir o escore total ou parcial do domínio por 120 (que é o escore máximo deste protocolo).
Original Fussi, Fuschini 2008. Em português: Moreti F, Rocha C, Borrego MC, Behlau M. Desvantagem vocal no
canto: análise do protocolo Índice de Desvantagem para o Canto Moderno - IDCM. Rev Soc Bras Fonoaudiol.
2011;16(2):146-151.
94
Anexo 8
Nota: para o cálculo dos escores parciais ou total, deve-se realizar a somatória simples nos domínios ou de todo o protocolo.
Para passar para base 100, dividir o escore total ou parcial do domínio por 120 (que é o escore máximo deste protocolo).
Original Fussi, Fuschini 2008. Em português: Ávila MEB, Oliveira G, Behlau M. Índice de Desvantagem Vocal no
Canto Clássico (IDCC) em cantores eruditos. Pró-Fono. 2010;22(3):221-6.
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