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FRUTOS ESTRANHOS Sobre 4 inespecificidade na estética contemporanea Florencia Garramutio PORSLA E ESCOLIAS AFETIVAS Edigio ¢ cserita na poesia contemporinea Laiciana di Leone UMA LITERATURA FORA DE SI Natalia Brizuela LITERATURA E ETICA Da forma para a forga Diana Klinger Florencia Garramuno rutos estranhos: sobrea inespecificidade na estética comtemsporinea ia {4 algunas décadas, Rosalind Krauss propés a idela da escullure num “expanded fickl” para situar a aparecimen- to-de um navo tipo de obras artisticas que s6 padiam con- tinuar a ser consideradas como esculturas se a propria categoria se expandisse até se tornar wma categoria infint- tamente maleavel (1979}” Ainda que Krauss tenha linprimt- do.ao ensaio uma forte marca estruturalista com a qual eu nio gostaria de me asvaciar, creio, toslavia, que sua postu- lagdo é inspiradora para pensar uma literatura contempo- rinea que enfatiza o Lansbordamento de alguns dos limites mais conspicuos que haviam define o Literario com rela. tiva comadidade, pelo menos até 0s anos 1966. Sein que esses pardmetros temporais ¥isem a construir uma perlodizagio, o fata é que a ideiade um eampoexpan- sivo — com suas conotagdes de implasoes internas ede cons- tante reformulagao e ampliagae ~ talvez seja mals apropriada A litertcuca fora de ai 33 para refletir sobre uma mutagio daquita que define o Lite- astabilida. rérlo na literatura contemparinea, que em su dle © ebuligaa atenta até contra @ proprla nacido de campo coma espaca estitiea ¢ fechade. Seria interessante fazer uma genealogia da literatura num campo expansive, bem como estender conexdes pos- sivels a outras formas em que a literatura Lento sair de sTIERAT- Me 110 antes ainda dos anas 1960, Interessa-me aqui transbonlamento sistemitica clesses limites naqueles que consklero alguns dos textos mals Interessantes da litera- tura contempordnes, ¢ analisar come esse deshordamento tem como consequéncia um por em xeque algumas detini- g6es muite formalistas do literdirio ¢ da estética, You falar em principio sé muito superficialmente de alguns desses textas, mas gostaria que esta aniilise no fosse pensada coma leitura destes poucos textas em particular, mas que Joxse lida em resson{inela com varias outros textos brasilel- ros eargentinos, come os tiltimes romances de Jodo Gilber- to Noll, pelo menos cesce Revkeley ev Hethigio, © varios “livros de poesia®, para chamé-los de algum modo, sobre- Wudo o tiltime livia de Marcos Siscar, O rawbo do siidscio, ou Purnctran, de Martin Gambaratta.*! Davros astmannas “Literature in the expanded field” & também o titilo de um vitulento artigo de inte edo escrito por Marjorie Perloff como resposta ao Rernheimer Report solire a lilera- {ea Comparada, de 1993, e 4s repercussoes que ele produdiu ‘entio, Nesse artigo, Perloff atacava sarcasticamente as fore mulagoes de alguns participantes dessa conteréncia par exe Pandirem os limites da Wleratura comparada para estudar Os Kextos literdrios “as one discursive practice among others" [como uma pritica discursiva entre outras} e pro- punha, em contrapartida, come reagda diante dessa Propos- face literatura num campo expandisio, altar 4 “iseiplina Para estudar o literdérie mesmo dos textos (1998, p, 185), Come se descreveria esse retorno ao “literério mesmo", © “literirio enquanto tal", para uma literatura que parece haver incorporadg em sua Hinguagem ¢ em suas funcées uma relagaa com outros discursos em que “a literdria” mes- mo nao é algo deda ou construido, mas antes desconstrui do ou pela menos posto em questo? A articulago dos textos com e-mails, blogs, fotografias, discursos antropol6- gicos, entie muitas outras ¥: riantes; au, no caso cla poesia, 4 colocagao em tense do limite do verso, que pode Incot- porar amidde todas essa5 outras variantes referidas, cilra A liveratuca fora de si a5 Me essa heterogeneidadé wma vontade de inibricar as prdtleas litendclas na convivéncia com a experiencia contempora- inea, Para essa literatura, wma leitura estritamente "discipli- on disciplinar pouco parece pacer captar Nesse acl campo expansive também esta a idleia de uma fiteratura Hiscuids nele, e nado que se figura como parte do mundo como esfera independiente © autémoma, f sobretucle esta conceitualizar, a sinal mais evi- quesizia, embora clificil de dente de um campo expansive, porque demonstra uma literatura que parece propor para si fungGes extrinseeas ao proprio campo disciplinar. Um dos remances, Lalvez néo dos mais melieais, que permitem explorar esta ideia do campo expansive ¢ New noites: roniatice (assim reza o tituls), de Rernardo Carvalho, Proventente da jornalismo, autor de uma profusa producio decrdnicas ao momento de publicar seu primeino romance, Carvalho exercitava neste texto uma eserita plural que combinava a escrita jornalistica, a indefinig&o autoblogra- fica, 0 didrio pessoal ¢ o Informe antrapotogico, ¢ que além disso se situava, tanto pelo préprio espago em que se pas- a narracdo cama pelos problemas que apresentava, sa numa espécie de espago transnacional em que distintos. PRUTOS psTRANCOS meios académicos=a Columbia University, a Universidade cle Sao Paulo, @ Lévi-Strauss estruturalista ~ @ as politicas internacionais e nacionals ~ 0 Estado Novo © a "good heighborhood policy" — se mesclavam com a etnologia clas indlios krahos da Amazonia brasileira na construcao de um enredo complex que destruia também as klenvidades esto narradar do. certas tanto de personagens como «er romance, O texto desfaeia avsim a distingdio entre literatu- ra € realidad nao $6 no sentide em que ficeionalizava um fate efetivamente acontecide = o suicidia de Buell Quain, antropdlogo norte-americano discipulo de Ruth Benbablb = nas sobretuclo porque tornava indistinguiveis 6 real € @ ficticio, desautorizanda — ao susperuder formas «le identifi- cagio de uma e de outra ordem —a possibilidade de tal disting’o, © livro incluiu uma série de fotografias que tes temunhiam o5 fotos reals em que s¢ baseia © romance, mas nenhuma das fotos se situa comocdamente numa intengdo documental. A inclistio das fotografas rechaga de modo contundente o uso de legendas para esclacecer a que se refere cada foto, € esto localizadas, além disso, en lugares do texto que nda informam sobre elas mesmas, razdo pot que acabam complicando a distingao entre ficgao e docu: Aliterstura fora de si mento ne romance, A iinica foto sobre a qual, sim, se in forma, lecalizada na oretha elo Livre, € uma foto do “autor qu 4 que s¢ refere no interior do Livro e que se articula como inde mening entre os indies krahds", uma das historias uso, em alguns fragmentos do texto, de um narrador em primeira pessoa que € diffcil diferenciar do proprio Carva- tho, Deste modo, o deshordamento de limites & levade ao extrem do limite préprio do liven ~a orelha, Outra estraté- gia com que a ficgaa, em seu Limite externo, se confunde com a realidacle ¢ a complica.!? Mas talvex © «ue mais chame 4 atencao no texto nao seja tanta a diversidade de formas discursivas, mas 0 mado como gragas a essa diversidade encontram lugar no texto preocupagbes © problemas provenientes clos mais diversos “campos” ¢ disciplinas: a antropologia, a politica, a Titera- tura, mas também a fotografia, oque faz do somance muito mais que um espago de preocupagies Literarias, hecionals ou de comstrugo artistica, A Insisténcia no titulo do romans ce (Nove site: dojs-pontes, romance) aponta, talvez, para uum gesto de apropriagie, para uma redefinigdo contingente do literirio, de todas estas possibilidades, : preciso ressallar que nio hé nada no romance que lembee a colagem: © made come a compilagéia de fragmen- PRUTOS FSTRANHOS tos de discursos diferentes val crlando descontinuidades ‘constarites que nda ve reduzem a um gesin sigaificative, nem, sequer no Gnal de romance, faz com que jf nBo se possa pensar nesses fragmentos como centelhas de wm sentido perclide que seguiria, ainda, faiscanda nessas chispas. 4 ex: pansividade do campa deveria ser pensada entao como resultado de uma “lractalidade* da obra para usar o con ceito cle Jean-Luc Nancy = que anuncia o acesso aberto a uma presenga, Em um ensaio sobreo modo de pensara arte contempocinea, Naney diferenciou a fractalidade do frag- mento romantico, assinalanda: Outra secla a *tr dovavant Mals qu albert ctalidade” com que devemes nos ve = ¢ que a fragmentagie também anunclave, clo fim ambiguo do fragments, trate-se de sua na apresentagia, ‘india; dai que -se do acesso aberto a rata uma vind em presenga —e através slesta 0 que esta em jogo [A nia se deixe meedlir ou destneclit por uma cosmolagia, nem por uma teogonia, nem por uma antiopogon iclo" jd no se delxa designar numa presenga quer dizer, que aguile que constitu "nmun- dae dada, consumed € “finita’, sende que se confunde com a vinda, com o ln-finito de wna vinda em presenga, ou de um ein, 2003, p, 1849" ca fara de si 40 Um notivel parma de Carlito Azeveda, *Margens", per mite explorar as con equéncias desse campo expansive paraa poesia, O poema ¢ camposto par 12 esteofes bastante heteropeneas ene si. Nas primeiras trés estrofes, 0 "cachecol florkdo" da poeta argentina Anci Nachén instala um per curso de perdas e auséneias espectrais que se replicaria nas oulras estrofes em referénclas 40 Memorial do Holocausto da Jucenplatz de Viena realizado pela artista britanica Rae chel Whiteread ~ incorporanclo na textualidade da poema fragmentos de uma entrevista com @ artista, bem como trechos da polémica que a instalacdo do memorial ccaslo- nou na palaera de algur s wizinhos da Judenplatz - © des- ctigdes de cenas clo filme Shock, de Claude Lanzmann, e até. um fragmento em prosa em espanol, que diz 0 seguinte: ton frecuenc Jos mismes intereambios de n articulos publicados en ta prensa ae: calle, los vieneses cuestio- aban tanta ‘ki opertunidad’ camo la misma ‘necesidad! de recordar | Holocaust. Teas el estuclio de Jos dlistintos proyectos, el jurado selecciond Ia prapuesta de Ja joven escultor britinica Rachel Whiteread, En el camino queda. ban attlliples obsticutos: descle Ja insistente oposicida de Ja ultmslerecta (ahora sumada a la coaliclén gobernante), PROTOS STRANDS hasta las mismas organizaclones de sobrevivientes (insatis- fechos con el disena de Whiteread por su contenido excesivamente ‘abstracto'), Elles argumentaban que las wie- timas del exterminie ‘no murieron en abstracto’ Nesta dispasi¢ao, o fragmento em espanhol atravessa @ pagina caberta de verses incorporande 4 mesma textua- lidade do poema nao s6 em termes discursives, mas tam- 1 (nundacdo ou desbordamente das bém espacials, cer nnargens clo poerna ~ a partir do corte clo verso ~ que agora contrar Li se estende de margem a muargem edeixa dese mitado ¢ contida pelo corte da verse, E, ainda que visual- mente o fragmenta chame a atengito por sua diferenga com, Tespelto fis utras estrofes ~ se é que ainda cabe men- ciond-las —, a fala que. habita nao parece, em sua hretero- geneidade, muito distinta das falas que habitam as outras estrofes ou versos, eles também heterogencas ¢ iter entre si. Invatlido por falas recortadas nao se sabe muito bem de onde, também nos “versos" cle poema irrompem conyersis, textos e vozes andnimas marcadas pela Impes- soalidadle que aparecem como fragmentos de historias que iio chegam a completar-se e que interrompem uma pulsdo lirica ¢ narrativa (as duas entrelasadas, por ora, de modo: ura fara de si dl a indlistinguivel) muito evidente com constantes desvios ¢ flu- tuagdes inconclusas Nao € casual que a artista a que se refere o poema seja precisamente Rachel Whiteread: seu Labalho com moldes diretamente teitos sobre a super icie ainda presente de obje- tos catkllanos precedidas por uma historia faz cam que suas obras tornem visivel o interior desses objets, convertensdo a obra mesma no fimite exterior do abjeto que cleve desapa- recer para que ela exista, mas cuja auséneia se torna visivel ~ palpsivel—em si mesma. No caso do Memorial da Holacausto, obta a que se refere 6 poema ce Carlito, trata-se, precisamente, de uma biblioteca sem nome cujas portas mio podem ser transpastas, Suas paredes exteriores sao construidas com -estantes de livros que exibem ao espectador s6 0 canto ilegi- vel de suas paginas fechadas, v ndoa lombecda para ointe- rior da biblioteca e torruinla tinpos ‘vel, portanto, identificar de que livros se trata, que histérias contémn em suas paginas sem nome e silenciacas €, no entartio, presentes com a con- tundéncia = literal da concreto com que se constidia obra." Flora Siissekind, numa andlise minus josa do poema de Carlito, falou de uma “aspiragéo do exterioe” através da fi guracho do poema como trajetéria urbana, ¢ assinalou: rawros configura ¢ desiaz fem meta a esse castro wibano qu clita travas que, se no neces: PercUTSHS ¢ puisagens ee e cle crdem dramatic, muma especie de sa su dispute no Interiordo poema entre exigéneia da forma e um metélico cetieismo artesanal que exercita mados cli verso de testi-la ¢ levéela a algum ponte de ruptura, (2008, p. 6) Creio que essa Lensiio ¢ essa instabilicace so consequén- cia fundamental dessa literatura fora de si, O titulo bilingue do poema, bem como-o da revista bilingue para a qual for escrito, ¢ o fragmento de prosa ineluide em castelhano en- contram no ‘cachecal florida’ da poeta argentina que futua ese perde ne comer e que di prigem ao poema toda ea suas outras ceferénclas 4 auséncia ou a presenga em auséncia que lie claramente o monumento de Rachel Whiteread, sua obra em geral, manifesta ~ uma imagem mais que significativa para pensar as comunidades que esses textos e movimentos constroem, Em Carlito, essas comunidades = como em virios outros poemas de Marilia Gareja on de Cristian De Napoli, de Ricarde Domeneck ou Cristhin Alia a ~ nfo se referem a tradigdes nacionais, nem a espacos A literatura foun de a3 fisos ¢ fechados, nem ainda a trajetérias sécio-histéricas semelhantes, mas a fuxos contingentes de amizades, leitu- fas © mituas inspiragBes ransnaclanais. © gue fara com caso se tratasse de estuckos ce au mparados, para aprisionar essas Literatures nium campo expansivo em suas maltiplas canexbes, no se devesse “comparar” duas entidacles dife- rentes em suas semelhangas ou diferencas, mas tansitar Scus Muxos, percorrer seus contatas ¢, sobretudo, propor conexdies canceituals entre elas ‘Talvez ndo seja necessdrio reter a categoria de campo ar a Tit para pen atura contemporinea fora de si, atraves: sata por fargas que a cescentram e também a perfuram, sendo elas essenciais para uma definigéo dessa literatura que nao pale nunca ser estatica nem sustentarse em espe- cificidade alguna, Camo a Amazénia de Nov noites, ou ocachecol de Andi Nachén atravessinde a naite, essa ideia de zonas imaginadas © vittuais pode abrigar um resto de ampaio para imaginar coletividaces ou comunidades que sio anteriores ¢ se contrapdem Js autorizadas pelo necia- nalismo ow pelo capitalisino, ¢ que podem encontrar nos estudos comparadas © espago procutivo do qual emergin, alesmontansla a restrita continuidlade da tradigao nacional PRatTOS ESTRANTOS. erritério, Talvez pose 2 opressiva relagao entre literatura & samos nos inspirar nesse novo cendria latina-americana fora de si para renovar as forgas de uma disciplina e de um tudos como a literatura latine-americana, que campo de deveria, ela mesma, iniciar alguma espécie de expansdo para evitar seu congelamento em figuras de pasado ir além das conexdes flolégicas, ou de trajetérias séclo-historicas sue postamente comuns que, fi ne pasado, apresentaram tame hem no s6 fortes divergeneias, mas até vloléncias (atinas, Kennet Reinhard propos que se entendesse a literatura comparada ‘De uma manelra diferente a da camparayae... um mode militude, ageupa- jeliniclas por semelhanga e dife de ler kagicamente e eticamente anterior asi tan tung [eilura na qual os textos mae se) los enn "farnilia coma em vizinbangas determinadas por con acidental, isolamento genealdgicn, ¢ enicontra erica. (1993, p. 785)!" AA literatura lating-americona contemporinea seria assim essa “vizinihanga” de que fala Reinhard: uma caletividack: virtual que nos libere dos "grounds for comparison” [eam A literarura fora de si 45 46 pos de comparigito] para pensarmos ~ © imaginarmos ~ uma América Latina para o século XX1. ‘Coma no poema de Ricarde Domeneck abalxo}, Liata-se de comunidacles construidas nas fronteiras e limites — ma ginirios ¢ reais de tradig6es e de espagos, Sem descanhecer ‘essas from terial mesmo por elaborar e discuttr: Texto em que o pocta medita sabre algumas escollias estéticas na companbis de Angélica Freitis em Buenos Alves 4 Cristie De Nigpats hilstacioa-comparecer Abhwvia escolha y eleccian entre ofel eiinon 6 thénot nao qquis adular ta aduana a conwencer a fronteira a pizarnikar aleminskaria & perlonghei LPOS ESTRANTOS esta literatura faz clelas © problema eo ma- pasos, glrance por calles muy concretas lay, bacacay!) pois nao logrel medror idjcante el receltudrio magica que en el barro cometen as metamorfoses le aos de Iynce, patas de Jabdn digo ramon cligo deagén eu tigronas de gude (oh? arugas de la ext} cl que me tele- trans. ports sem eras o praises lmagindeins & quedel me ali mesmo na res ose agar no eillice a provat Alitesamra farade si 4? 48 de que existo} sonhane com a minha desova completa Entre poetas de um € de outro pais que sc entremesclam nos verses convertidas em palayras, como se deles viesse a lingua com que escrever poesia (Hilst, Thenon, Per- voz, Jongher, Leminski, Pizarniki, essa literatura fota de sl supée, om grande parte da literatura contemporinea, a imagina. ao de novas comunidades, reUT@s esTMARNOS 3. O passo de prosa na poesia contemporanea

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