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A inteligência
Autora
aula
02
Governo Federal Revisoras de Língua Portuguesa
Presidente da República Janaina Tomaz Capistrano
Luiz Inácio Lula da Silva Sandra Cristinne Xavier da Câmara
Ministro da Educação
Fernando Haddad Revisora Tipográfica
Secretário de Educação a Distância – SEED Nouraide Queiroz
Carlos Eduardo Bielschowsky
Ilustradora
Carolina Costa
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Editoração de Imagens
Reitor
José Ivonildo do Rêgo Adauto Harley
Carolina Costa
Vice-Reitora
Ângela Maria Paiva Cruz Diagramadores
Secretária de Educação a Distância Bruno de Souza Melo
Vera Lúcia do Amaral Dimetrius de Carvalho Ferreira
Secretaria de Educação a Distância- SEDIS Ivana Lima
Johann Jean Evangelista de Melo
Coordenadora da Produção dos Materiais
Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco Adaptação para Módulo Matemático
André Quintiliano Bezerra da Silva
Coordenador de Edição Kalinne Rayana Cavalcanti Pereira
Ary Sergio Braga Olinisky Thaísa Maria Simplício Lemos
Projeto Gráfico Imagens Utilizadas
Ivana Lima Banco de Imagens Sedis
Revisores de Estrutura e Linguagem (Secretaria de Educação a Distância) - UFRN
Eugenio Tavares Borges Fotografias - Adauto Harley
Jânio Gustavo Barbosa Stock.XCHG - www.sxc.hu
Thalyta Mabel Nobre Barbosa
Conteúdo: A psicologia e sua importância para a educação – A inteligência – A vida afetiva: emoções e
sentimentos – Crescimento e desenvolvimento – A psicologia da adolescência – A formação da identidade:
alteridade e estigma – Como se aprende: o papel do cérebro – Como se aprende: a visão dos teóricos da
educação – Estratégias e estilos de aprendizagem: a aprendizagem no adulto – A dinâmica dos grupos e o processo
grupal – A família – A escola como espaço de socialização – Sexualidade – A questão das drogas – Os meios
de comunicação de massa.
ISBN: 978-85-7273-370-0
CDU 159.9
RN/UF/BCZM 2007/49 CDD 150
Copyright © 2007 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da
UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Apresentação
N
esta aula, vamos discutir um assunto que muitas vezes interfere na maneira como
valorizamos nossos alunos: a inteligência. Como surge a inteligência? Por que alguns
são mais inteligentes do que outros? Inteligência é o mesmo que esperteza? São
algumas das interrogações que vamos abordar ao longo da aula.
Objetivos
Conhecer os conceitos de inteligência, observando sua
1 importância para o professor.
D
efinir inteligência nunca foi uma tarefa fácil, apesar de intuitivamente podermos
identificar comportamentos isolados ou mesmo classificar uma pessoa como muito
ou pouco inteligente. Seguramente, você já ouviu alguém dizer que o seu cachorro é
muito inteligente, ou que fulano é muito inteligente porque tira notas boas nas provas. Então,
o que será mesmo inteligência? É dessa questão que vamos tratar a partir de agora.
Atividade 1
1.
sua resposta
2.
Quociente de inteligência
No início do século XX, dois psicólogos e pedagogos, Binet e Simon, receberam a solicitação (abreviado para QI, de
do governo francês de elaborarem um método capaz de identificar as crianças com deficiência uso geral) é um termo
proposto por William
intelectual, ou seja, que tinham dificuldade para aprender e apresentavam baixo rendimento
Stern que significa o
escolar. Eles estruturaram uma escala métrica para a inteligência. Partiam da concepção de resultado da divisão da
que seria possível prever o desempenho escolar de uma criança, independentemente de sua idade mental pela idade
cronológica multiplicado
condição social ou econômica e, com isso, criaram o primeiro teste de QI, conceituando
por 100. A idade mental é
inteligência como um conjunto de processos de pensamento que constituem a adaptação obtida por meio de testes
mental, isto é, os processos cognitivos racionais como promotores da adaptação. desenvolvidos para avaliar
as capacidades cognitivas
de um sujeito, em
comparação ao seu grupo
etário. Assim, uma criança
com idade cronológica de
10 anos e nível mental de
8 anos teria QI 80, porque
(8/10) x 100 = 80.
Coluna A Coluna B
N
os últimos 50 anos, o termo inteligência vem assumindo concepções distintas e
variadas. Ao lado de termos como “testes de inteligência”, “inteligência brilhante”,
“pouco inteligente”, temos ouvido e visto aparecer “inteligência artificial”, “sistemas
inteligentes”, “inteligência emocional”. Na verdade, mesmo os psicólogos estão cada vez mais
reticentes quanto à possibilidade de mensuração da inteligência, questionando os famosos
testes de QI. A própria concepção de inteligência como uma competência individual, como a
capacidade de raciocinar, de compreender, desprezando-se aspectos outros da subjetividade
dos indivíduos, parece hoje questionável. Cada vez mais ganha força uma concepção de que
a inteligência tem aspectos múltiplos e variados na sua avaliação, e, sobretudo, questiona-se
a relação entre inteligência e bom desempenho escolar.
São mais do que conhecidos os sofríveis resultados obtidos na escola por algumas
pessoas que vieram a se revelar verdadeiros gênios da Ciência. O exemplo mais divulgado é
o de Einstein, que assim se referia ao seu processo de aprendizagem:
As palavras ou a língua, escrita ou falada, não creio que desempenhem nenhum papel
no mecanismo de meu pensamento. Os entes físicos que parecem servir de elementos
ao pensamento são certos signos e certas imagens mais ou menos claras que podem
ser ‘voluntariamente’ reproduzidas e combinadas. (HADAMARD, 1945, p. 131).
Veja as palavras de outro gênio, este da Psicologia, Carl Jung, sobre sua
experiência na escola:
O colégio me aborrecia. Tomava muito tempo que eu teria preferido consagrar aos
desenhos de batalhas ou a brincar com fogo. O ensino religioso era terrivelmente
enfadonho e as aulas de matemática me angustiavam. A álgebra parecia tão óbvia
para o professor, enquanto que para mim os próprios números nada significavam:
não eram flores, nem animais, nem fósseis, nada que se pudesse representar, mas
apenas quantidades que se produziam contando... Para minha surpresa, os outros
alunos compreendiam tudo isso com facilidade. Ninguém podia me dizer o que
os números significavam e eu mesmo não era capaz de formular a pergunta. Com
grande espanto descobri que ninguém entendia a minha dificuldade... O fato de nunca
ter conseguido encontrar um ponto de contato com as matemáticas (embora não
duvidasse que era possível calcular validamente) permaneceu um enigma por toda a
minha vida. O mais incompreensível era a minha dívida moral quanto à matemática...
As aulas de matemática tornaram se o meu horror e o meu tormento. mas como
tinha facilidade nas outras matérias, que me pareciam fáceis, e graças a uma boa
memória visual, conseguia desembaraçar-me também no tocante à matemática: meu
boletim geralmente era bom, mas a angústia de poder fracassar e a insignificância
da minha existência diante da grandeza do mundo provocavam em mim não apenas
mal-estar, mas também uma espécie de desalento mudo que acabou por me indispor
profundamente com a escola. (PORTAL..., [200-?])
As inteligências múltiplas
N
os anos 80, surge o primeiro trabalho de Howard Gardner propondo uma teoria de
inteligências múltiplas. Gardner discorda que a inteligência possa existir como uma
capacidade inata, geral e única, capaz de permitir ao sujeito uma performance maior
ou menor em qualquer área de atuação. Ao definir inteligência como a habilidade para resolver
problemas ou criar produtos que sejam significativos em um ou mais ambientes culturais,
ele defende que o indivíduo vai desenvolver determinadas habilidades mais que outras, em
função das necessidades de resolver problemas próprios da cultura em que vive. Sugere,
ainda, que alguns talentos somente são desenvolvidos porque são valorizados culturalmente.
Gardner identificou sete tipos de inteligências: lingüística, lógico-matemática, espacial,
corporal-cinética, musical, interpessoal e intrapessoal, das quais trataremos a seguir.
Autista
7. A dimensão intrapessoal – Consiste basicamente em estar bem consigo mesmo,
O termo autista provém de
administrando os próprios humores, sentimentos, emoções, projetos. A criança autista
autismo, que designa um
é um exemplo prototípico de um indivíduo com a inteligência intrapessoal prejudicada, tipo de psicose infantil, no
uma vez que ela não consegue, muitas vezes, sequer referir-se a si mesma, muito embora qual a criança apresenta,
entre outros sintomas,
seja capaz de exibir habilidades em outras áreas, como a musical ou a espacial. Alguns
extrema dificuldade de
pensadores, por exemplo Ortega y Gasset (filósofo espanhol que viveu entre 1883 e comunicação afetiva,
1955), consideram absolutamente fundamental a capacidade de estar bem consigo fazendo com que ela viva
em seu mundo interior, em
mesmo, de apresentar um desenvolvimento, físico e emocional, equilibrado, com as
situação de isolamento com
glândulas secretando os humores fundamentais de modo harmonioso. relação ao ambiente social.
Figura 3
Atividade 3
Voltemos àquelas situações/comportamentos que foram listadas na atividade
2 e que não foi possível enquadrar nas concepções clássicas. Seria possível
identificá-las, agora, dentro das dimensões propostas por Gardner? Faça a
relação entre elas e as dimensões descritas anteriormente.
Assim, os indivíduos tidos como normais possuem os estágios mais básicos de todas as
inteligências, em um processo de desenvolvimento que se iniciaria ao nascer e se completaria
no início da idade adulta. A partir daí, eles teriam adquirido os estágios mais sofisticados.
n espacial: “Como eu utilizo ajuda visual, cor, arte, metáforas ou organizadores visuais?”
n musical: “Como eu posso usar música e sons ambientais, ou destacar pontos chaves
em forma de ritmo ou melodia?”
Atividade 4
Imagine que você tenha que elaborar uma aula para uma turma de Ensino
Médio, de uma disciplina a sua escolha. Dentro dessa disciplina, escolha o tema
da aula e, em seguida, tente descrever como você ministraria essa aula levando
sua resposta
inteligência emocional caracteriza a maneira como as pessoas lidam com suas emoções e
com as das pessoas ao seu redor. Isso implica autoconsciência, motivação, persistência,
empatia, entendimento e características sociais como persuasão, cooperação, negociações
e liderança. Essa é uma maneira alternativa de ser esperto, não em termos de QI, mas em
termos de qualidades humanas do coração. (ABRAE, <http://www.abrae.com.br/>).
A idéia básica na proposição de Goleman é que não seria possível pensar a inteligência
somente por meio de seu componente racional, mas que seria de fundamental importância
considerar também as questões emocionais envolvidas na tomada de decisões. Assim, nas
decisões, seria importante não somente “ser racional”, mas também “pensar com o coração”
e levar em conta aspectos da intuição.
Alcançar esse tipo de inteligência exigiria treinamento, persistência e esforço, uma vez
que ela não é herdada, não é genética. Tal treinamento envolveria cinco habilidades:
4. empatia: ter consciência dos sentimentos, necessidades e preocupações dos outros;
Inteligência ou criatividade?
Q
uando elaboramos uma avaliação para os nossos alunos, geralmente temos em mente
uma chave de respostas, com respostas esperadas e/ou desejadas. Com isso, muitas
vezes, nos surpreendemos com respostas que estão longe do previsto e que, no
entanto, estão corretas. São alunos mais inteligentes ou são alunos criativos? Ou ambos?
A Internet está cheia de historinhas que podemos usar para entender o que é o
pensamento criativo. Vamos ver algumas delas.
Certo dia, quando voltava do trabalho depois de um dia daqueles, notei que havia
pessoas assaltando minha casa. Imediatamente liguei para a polícia e me disseram que não
havia nenhuma viatura por perto para ajudar naquele momento, e que iriam enviar assim que
fosse possível. Desliguei o celular e um minuto depois liguei de novo: Olá, disse, eu liguei
há pouco porque havia pessoas roubando minha casa. Não é preciso chegar tão depressa,
porque eu matei todos eles. Em alguns minutos, chegavam à minha porta meia dúzia de
carros da polícia, helicóptero e uma ambulância. Eles pegaram os ladrões em flagrante.
Um dos policiais disse: — Pensei que tivesse dito que tinha matado todos.
Eu respondi: — Pensei que tivessem dito que não havia ninguém disponível.
O fazendeiro responde: — Eu não vim aqui para espiar vocês, eu só vim alimentar
os jacarés!
Tanto o mercador quanto a filha ficaram horrorizados com essa proposta. Então, o
esperto agiota propôs que deixassem a sorte decidir a questão. Disse-lhes que colocaria duas
pedrinhas, uma preta e outra branca, em uma bolsa vazia, e a jovem teria de pegar uma das
pedrinhas. Se pegasse a preta, tornar-se-ia sua esposa e a dívida do pai seria cancelada; se
pegasse a branca, permaneceria com o pai e a dívida também seria cancelada. Mas se a jovem
se recusasse a tirar uma das pedrinhas, o pai seria posto na cadeia e ela morreria de fome.
A moça enfiou a mão na bolsa, retirou uma pedra e, sem mostrar a pedra a ninguém,
fingiu uma tonteira e deixou a pedrinha cair na rua, em meio de todas as outras. “Oh, como
sou desastrada!”, disse, então. “Mas não tem importância. Se o senhor olhar na bolsa,
poderá saber qual foi a pedrinha que peguei, pela cor da que ficou aí. Certo?”
Como você vê, cada uma das soluções propostas foi fruto de um tipo de pensamento
que passou ao largo do pensamento lógico convencional. Os autores costumam chamar a
esse tipo de pensamento de “pensamento lateral” ou “pensamento divergente”.
Resumo
Nesta aula, discutimos a evolução do conceito de inteligência, dos clássicos aos
mais atuais. Vimos o que significa QI e quais as críticas a esse conceito. Discutimos
as inteligências múltiplas de Gardner e a inteligência emocional de Goleman.
Vimos, por fim, a importância desses conceitos mais amplos e da criatividade.
Auto-avaliação
Faça uma síntese das inteligências múltiplas, relacionando-as com o conceito de
1 criatividade, dentro da proposição de pensamento divergente.
Referências
ARMSTRONG, T. Multiple intelligences: seven ways to approach curriculum. Educational
Leadship, v. 52, n. 3, nov., 1994.
HADAMARD, Jacques. Psychology of invention in the mathematical fiel. New York: Dover
publications, 1945.
JUNG, Carl Gustav. Memórias, sonhos e reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.