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Material de Apoio – Leitura Necessária e Obrigatória

História da Umbanda – EAD – Curso Virtual


Ministrado por Alexandre Cumino

Texto 2.03

Origem Mítica
Ao surgir o primeiro homem no cenário da vida, já com ele vinha a necessidade de se crer em alguma
coisa a fim de justificar a sua própria existência dentro do cenário da Natureza. Assim nasceu a religião
Natural, hoje designada como Umbanda. Formada por uma série de anseios e aspirações que revelavam a sede
do saber da criatura em face do incognoscível, a Umbanda foi se aprimorando com o próprio evoluir das
civilizações, chegando até nós como um conjunto filosófico e científico em forma de religião.
Para Átila Nunes Filho, a origem mítica é a busca por um mito fundante, original ou, se preferir, uma
raiz mítica para a Umbanda.
Antes de entrar no assunto propriamente dito, vejamos o que se pode entender por mito, na palavra de
José Severino Croatto: “O mito é o relato de um acontecimento originário, no qual os deuses agem e cuja
finalidade é dar sentido a uma realidade significativa”.
Joseph Campbell, o maior mitólogo de todos os tempos, no livro Tu és isso, define Mito como uma
metáfora. Usa como exemplo a frase “John corre como um veado”, em que a metáfora está em dizer que
“John é um veado” e faz a seguinte reflexão:

Metade da população mundial acha que as metáforas de suas tradições religiosas, por exemplo, são
fatos. E a outra metade afirma que não são fatos de forma alguma. O resultado é que temos indivíduos
que se consideram fiéis porque aceitam as metáforas como fatos, e outros que se julgam ateus porque
acham que as metáforas religiosas são mentiras.

Continuando com Campbell, na obra Mitos de luz vamos encontrar mais uma reflexão importante sobre
mito, para o entendimento do “Mito na Umbanda”:

Mitos não pertencem, propriamente, à mente racional. Em vez disso, borbulham das profundezas
do poço daquilo que Carl Jung chamava inconsciente coletivo.
Na minha opinião, o que ocorre com a nossa mitologia aqui no Ocidente é que os símbolos
arquetípicos mitológicos vieram a ser interpretados como fatos. Jesus nasceu de uma virgem. Jesus
ressuscitou dos mortos. Jesus subiu ao Céu. Infelizmente, em nossa era de ceticismo científico, sabemos
que, na verdade, tais fatos não aconteceram e, por essa razão, formas míticas são consideradas
mentiras. O termo mito significa atualmente mentira e, assim sendo, acabamos perdendo os símbolos e o
mundo misterioso de que falam [...].
A mitologia é composta pelos poetas a partir de seus insights e percepções. Mitologias não são
inventadas, são descobertas. É mais fácil prever que sonho se vai ter hoje à noite do que inventar um
mito. Os mitos provêm da região mística da experiência essencial [...].

Vamos encontrar nas religiões e ordens místico-filosóficas os mais variados tipos de “mitos fundantes”,
como: o mito de Adão e Eva, para as três grandes religiões monoteístas, ocidentais (Judaísmo, Cristianismo e
Islamismo); o mito de Olorum e Oxalá na cultura Yorubá; o mito de Urano, Cronos e Zeus na cultura grega; o
mito de Aton, Ptah e Amon na cultura egípcia, e outros mais. Cada religião possui seus mitos para lhe dar
sentido.
Também encontramos mitos fundantes modernos, como o do Templo de Salomão, para a Ordem
Maçônica, e de Akenaton, para a Ordem Rosa-Cruz, mas nenhum dos modernos se compara ao que vou chamar
de “mito fundante teosófico”, fundamentado por Helena Blavatsky, no século XIX, ao definir “Teosofia” em
seu Glossário Teosófico:
Teosofia (do grego, Theosophia) – Religião da sabedoria ou “sabedoria Divina”. O substrato e base
de todas as religiões e filosofias do mundo, ensinada e praticada por uns poucos eleitos, desde que o
homem se converteu em ser pensador. Considerada do ponto de vista prático, a Teosofia é puramente
ética divina [...].
A grande ideia, que serve de base para a Teosofia, é a Fraternidade universal, e esta se encontra
fundamentada na unidade espiritual do homem. A Teosofia é de uma só vez ciência, filosofia e religião, e
sua expressão externa é a Sociedade Teosófica (Pequeno Glossário de Termos Teosóficos, de A. Besant e
H. Burrows). Opostamente ao que muitos acreditam, a Teosofia não é uma nova religião; é, por assim
dizer, a síntese de todas as religiões, o corpo de verdades que constitui a base de todas elas. A Teosofia,
em sua modalidade atual, surgiu no mundo no ano de 1875, porém é em si mesma tão antiga quanto a
humanidade civilizada e pensadora. Foi conhecida por diversos nomes, que têm o mesmo significado, tais
como Brahma-vidyâ (Sabedoria Divina), Para-vidyâ (Sabedoria Suprema), etc. [...].

Essa é uma ideia inspirada no Hinduísmo, que se declara como “religião eterna”, não sendo também uma
ideia isolada, já que católicos se declararam como a “religião primordial”, em que o monoteísmo seria a
primeira e verdadeira forma de culto e religião. Segundo Hans Kung, essa foi uma ideia defendida por Wilhelm
Schmidt (1862-1954), fundador da Escola Histórico-Cultural de Viena. Era uma forma de andar na contramão da
teoria darwiniana de evolução, colocando a Bíblia no centro de suas convicções e se apoiando nela para
desenvolvimento de teorias. Assim, acreditava-se que as demais religiões e cultos naturais ou politeístas
seriam degenerações da “Religião Primordial”, representada pelo Catolicismo como a única “Religião
Verdadeira”.
Intelectuais umbandistas criaram um “mito fundante” moderno, emoldurado em discurso
pseudocientífico, justificado por uma pretensa erudição e cultura forjadas.
Na busca pelo Eterno, as religiões acabam idealizando a Religião Eterna e Perfeita, o que de certa forma
é natural. A religião vem como negação deste mundo imperfeito, material e transitório, em busca de um
mundo ideal, eterno e imutável. Afinal, este mundo de sofrimentos não pode ser o mundo real, criado por
Deus, que é perfeito. Tudo o que está aqui é apenas uma cópia imperfeita do mundo real, onde habita o
Altíssimo. Da mesma forma, a religião ideal está no mundo ideal e vem de lá para cá, e todos nós queremos
acreditar que a “nossa religião” é a ideal. Como as religiões são diferentes, e só pode haver uma única religião
ideal, as outras não são religiões verdadeiras, mas criações deste mundo imperfeito, passatempos feitos para
distrair. Toda essa filosofia sobre um mundo ideal encontra base na filosofia de Platão (séc. IV a.C.), que foi
ponto de partida para a construção da Teologia Agostiniana (de Santo Agostinho).
Todas essas teorias refletem uma necessidade de fazer valer, de validar sua própria religião, e na
Umbanda não seria diferente. Intelectuais umbandistas viriam a construir um “mito fundante” moderno, com
linguagem cientificista, para defender a ideia de que a Umbanda é a verdadeira religião primordial, surgida em
uma era perdida, na civilização de Atlântida e da Lemúria.
Em Atlântida, um continente mítico, em uma época mítica, teria surgido o AUMBANDÃ, religião pura que
migrou para a Índia e para a África, onde se degenerou, podendo se encontrar ainda fragmentos de sua origem
nas culturas desses dois povos. A palavra AUMBANDÃ, de origem que se perde nos tempos, teria traduções
possíveis em línguas e culturas antigas, como o “Conjunto das Leis Divinas”.
Essa teoria encontrou na Teosofia o melhor exemplo para importar uma autoridade religiosa e para
declarar a Umbanda como “A religião verdadeira”, crendo ser superior às demais.
Podemos definir essas formas de explicar religião como apologéticas, em que todo um discurso era criado
com o único objetivo de fazer apologia a si mesmo, tratando os demais de forma reduzida. Tal teoria implicou
em arrogância teológica e postura de soberba, inclusive com relação aos demais umbandistas que não
comungavam dos mesmos valores. Seriam os novos eleitos da Umbanda aqueles que resgatariam o Mito
Aumbandam. A base para essa teoria foi lançada no Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda
(1941), sendo contada e recontada, copiada e adaptada na literatura posterior, conclamando instaurar o
Aumbandã perdido na Lemúria, Atlântida ou Índia.

Texto do livro História da Umbanda, Editora Madras, Alexandre Cumino. Direito autoral resguardado por
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