Вы находитесь на странице: 1из 24

44

- Pesquisa

Ecos do Modernismo:
o Clube da Madrugada e as artes visuais

Ecos del Modernismo:


el Clube da Madrugada y las artes visuales

Echoes of Modernism:
the Clube da Madrugada and the visual arts

Luciane Viana Barros Páscoa


Doutorado em História Cultural pela Universidade do Porto (2006), professora do Programa de Pós-
graduação em Letras e Artes da Universidade do Estado do Amazonas, UEA.
E-mail: luciane.pascoa@gmail.com orcid.org/0000-0001-7751-0189

ISSN

n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
Pesquisa 45

RESUMO

Este artigo aborda o movimento artístico do Clube da Madrugada de Manaus em suas ativi-
dades vanguardistas, sua interlocução com o ensino das artes, assim como algumas obras re-
presentativas dos artistas integrantes. A intervenção na imprensa através de publicação em
periódicos, a criação de uma revista literária, a amplitude e a diversidade de interesses culturais
além do acentuado caráter libertário, são algumas características que fizeram do Clube da
Madrugada um movimento artístico e literário típico do século XX. No cariz ideológico, o
Clube da Madrugada aproximou-se do comunismo anarquista, também conhecido como co-
munismo libertário, buscando uma aproximação maior entre arte e público. Dentre as ações
para as artes visuais, o Clube da Madrugada realizou diversas exposições, feiras de arte, festi-
vais de cultura e festival de cinema. O Clube da Madrugada procurou estabelecer um diálogo
com outras instituições, tais como a Pinacoteca do Estado do Amazonas. Percebe-se que uma
concepção moderna de arte manifestou-se em Manaus após a criação do Clube da Madruga-
da e passou a ser difundida com a Pinacoteca do Estado do Amazonas. Foram selecionados
os artistas que comprovadamente integraram o movimento no período de 1954 a 1972 e com
poéticas particulares formaram um valoroso quadro das artes visuais no Amazonas.

Palavras-chave: Manaus – artes visuais; Clube da Madrugada; Modernismo – Amazonas; Mo-


vimento artístico; Brasil – Arte – século XX.

ISSN

n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
46 - Investigación / Research

RESUMEN ABSTRACT

Este artículo aborda el movimiento artístico del This paper deals with the artistic avant garde action
Clube da Madrugada de Manaos en sus actividades called Clube da Madrugada, its educative purposes
vanguardistas, su interlocución con la enseñanza de and some representative art works by the leading
las artes, así como algunas obras representativas de members. Some other features here includes the
los artistas integrantes. La intervención en la prensa group and relationship with periodic newspapers,
a través de publicación en periódicos, la creación de an original literary magazine, as the large scope of
una revista literaria, la amplitud y la diversidad de cultural interests with some progressive political
intereses culturales además del acentuado carácter thoughts, all of this consisting in a very typical art
libertario, son algunas características que hicieron action in the mid 20th century. Ideologically, Clube
del Clube da Madrugada un movimiento artístico y li- da Madrugada was near of anarchist and communist
terario típico del siglo XX. En el cariz ideológico, el ideal, once they are ever searching for approaching
Clube da Madrugada se acercó al comunismo anar- between public and art work. In the visual arts do-
quista, también conocido como comunismo liberta- mains Clube da Madrugada supported many displays,
rio, buscando una aproximación mayor entre arte y exhibitions, festivals (including those for movies
público. Entre las acciones para las artes visuales, el and general culture themes). The club also keeps
Clube da Madrugada realizó diversas exposiciones, fe- constant dialog with many public and private insti-
rias de arte, festivales de cultura y festival de cine. El tutions, as State of Amazonas Pinakotheke. All
Clube da Madrugada procuró establecer un diálogo these events transformed the art scene at Manaus,
con otras instituciones, tales como la Pinacoteca del towards a contemporary way to nowadays. This pa-
Estado de Amazonas. Se percibe que una concep- per selected some artists from 1954-1972 period.
ción moderna de arte se manifestó en Manaos tras Their peculiar poetics allows to see a bigger picture
la creación del Clube da Madrugada y pasó a ser difun- of Visual Arts at Amazonas.
dida con la Pinacoteca del Estado de Amazonas. Se
seleccionaron los artistas que comprobadamente
integraron el movimiento en el período de 1954 a
1972 y con poéticas particulares formaron un vale-
roso cuadro de las artes visuales en el Amazonas.

Palabras clave: Manaus – artes visuales; Clube da Keywords: Manaus - visual arts; Clube da Madrugada;
Madrugada; Modernismo – Amazonas; Movimiento Modernism - Amazonas; Artistic movement; Brazil
artístico. Brasil – Arte – siglo XX. - Art - 20th century.


ISSN n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
Pesquisa 47

Contexto e caracterização do consensualmente atribuída ao poeta


Clube da Madrugada Luiz Bacellar, pois queria-se expressar
a ideia de uma associação informal de
O surgimento do Clube da Madrugada homens de letras.
em Manaus coincidiu com o desejo de
renovação estética vivida por um grupo A intervenção na imprensa através de
de poetas, escritores, intelectuais e artis- publicação em periódicos, a criação de
tas plásticos que estavam cansados do uma revista literária, a amplitude e a
isolamento cultural proporcionado por diversidade de interesses culturais que
dificuldades econômicas e geográficas. envolviam exposições de artes plásticas,
Segundo um de seus fundadores, o poe- concertos, recitais de poesia, debates e
ta Jorge Tufic, os antecedentes históricos conferências, além do acentuado cará-
do Clube estão nos primeiros encontros ter libertário, são algumas características
literários que aconteceram em 1949, na que fizeram do Clube da Madrugada um
residência do poeta e pintor Anísio Mel- movimento artístico e literário típico do
lo. (TUFIC, 1965) século XX. (PÁSCOA, 2011, p.88)

Este grupo editou um pequeno jornal Neste período, a evolução aparente-


chamado O Eco e ainda nesse período mente regular e tranquila no terreno das
foi publicada uma revista por Anísio artes pareceu subitamente interrompi-
Mello, intitulada Amazonas Ilustrado, da, refletindo uma mudança análoga
com três edições. Destas frequentes reu- da visão que o homem tinha do mun-
niões literárias e da vontade de moder- do. Transformações sociais, políticas e
nização artística, o nascimento oficial econômicas ocorriam paralelamente ao
do Clube da Madrugada deu-se em 22 desenvolvimento filosófico e científico,
de novembro de 1954. Dentre os inte- bem como ao concomitante colapso de
grantes, estavam Saul Benchimol, Fran- sistemas e valores autoritários tradicio-
cisco Ferreira Batista, Carlos Farias de nais.
Carvalho, José Pereira Trindade, Hum-
berto Paiva, Teodoro Botinelly, Luiz O Clube da Madrugada teve seu ma-
Bacelar, Celso Melo, Fernando Colliyer nifesto publicado na primeira e única
e João Bosco de Araújo. (TUFIC, 1984, edição da Revista Madrugada I, em no-
p.21) A autoria do nome do grupo é vembro de 1955 como comemoração


ISSN n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
48 - Pesquisa

de um ano de formação do Clube. As Clube ganhou novos membros: os ar-


primeiras propostas do Clube da Ma- tistas plásticos Álvaro Páscoa, Getúlio
drugada mostravam um programa de Alho, José Coelho Maciel, Hahnemann
luta e buscavam romper com uma certa Bacelar, os escritores Ernesto Pinho
mistificação do homem da região, pois Filho, João Bosco Evangelista, Edison
o conteúdo deste manifesto tinha um e Elson Farias, Márcio Souza, Alcides
caráter contestador. Werk, Carlos Gomes, Ernesto Penafort,
além dos estudiosos de cinema Cosme
O Clube da Madrugada foi influenciado Alves Neto, Ivens Lima e José Gaspar.
na literatura pela Geração de 45 e im- A atuação do Clube na imprensa perió-
buído de todas as aspirações políticas dica aconteceu através da página suple-
do pós-guerra, desempenhou um papel mentar dominical Caderno Madrugada
importante na promoção das artes plás- em O Jornal, entre 1961 e 1972, na qual
ticas. A boemia foi uma característica foram reunidas e divulgadas grande
importante do Clube e marcou sua rela- parte da produção literária e artística
ção tanto com a política revolucionária do grupo. Em 1961 foram publicados
quanto com a arte de vanguarda. O ter- os Estatutos do Clube da Madrugada,
mo “boemia”, que originalmente se re- mostrando a necessidade de transfor-
feria à ociosidade ou à vida errante dos mação e organização interna do grupo,
ciganos, foi adotado no século XIX por que mesmo assim não perdeu seu cará-
muitos artistas e intelectuais que meta- ter libertário. (PÁSCOA, 2011, p.101)
foricamente se viam como “sem-teto”
na cultura da sociedade capitalista. Neste Tal configuração era notada através da
sentido, a boemia indicava protesto, in- atuação coletiva, com propostas edu-
clinação à vanguarda, independência cativas e ações culturais iniciadas em
ou indiferença às convenções sociais. pequenos núcleos, mas que depois en-
(BLAKE, FRASCINA, 1998, p.50) volviam toda a comunidade. No per-
fil ideológico, o Clube da Madrugada
A partir dos anos 60, começou uma aproximou-se do comunismo anarquis-
nova fase no Clube da Madrugada, sob a ta, também conhecido como comunis-
presidência do jornalista e escritor Aluí- mo libertário. Nesta junção de sistemas,
sio Sampaio, que diversificou as frentes observa-se a negação do autoritarismo
de atuação do grupo. Neste momento o e a busca de uma estrutura social que


ISSN n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
Pesquisa 49

não viesse a exercer qualquer forma de vam ainda por ser exploradas em outras
coação sobre o indivíduo, somando-se capitais, como foi o caso dos eventos ao
à uma proposta social, política e econô- ar livre e manifestações de Arte-na-rua,
mica que favorecesse alguma forma de onde se buscava uma interação e parti-
propriedade coletiva dos meios de pro- cipação maior do público (CLAUSEN,
dução. (BURGUIÈRE, 1993, p.169) No 2016). Aconteceram eventos desta natu-
âmbito cultural, pensava-se que a arte reza no aterro da Glória no Rio de Janei-
e a educação deveriam estar ao alcance ro em 1967 com os parangolés de Hélio
de todas as pessoas. Existia claramente Oiticica, na I Feira de Arte organizada
uma preocupação social e coletiva, que pela Associação de Artistas Plásticos do
transparecia nas atitudes tomadas pelo Rio de Janeiro e uma significativa pro-
Clube da Madrugada, ainda que alguns moção deste gênero foi o Um Mês de
dos integrantes não compartilhassem da Arte Pública coordenado pelo crítico
ideologia anarco-comunista predomi- de arte Frederico Morais e promovida
nante. pelo Diário de Notícias no Parque do
Flamengo, no Rio de Janeiro em 1968.
As ações de vanguarda (MORAIS, 1975, p.54)

O Clube da Madrugada buscou for- Em Manaus, a I Feira de Artes Plásticas


mas alternativas de promoção artísti- foi organizada em 1963 (portanto antes
ca e cultural, que não dependessem de dos outros exemplos nacionais citados
imposições institucionais. Desse modo, acima), na Praça da Matriz e a III Feira
muitos eventos foram realizados ao ar de Artes Plásticas, também conhecida
livre, tais como os lançamentos de li- como o Grande Festival de Artes Plásti-
vros nas manhãs de sábado na praça cas ocorreu em 1966, na praia da Ponta
da Polícia, ou mesmo as exposições de Negra. As primeiras manifestações da
artes plásticas nas praças e até na praia, poesia de muro promovidas pelo Clube
além dos festivais e das feiras de cultu- da Madrugada datam de 1965-1966 e as
ra. (AGUIAR, 2002, p.63) Estes proje- exposições do grupo Poema-Processo
tos envolveram um grande número de aconteceram a partir de 1968 no Rio de
participantes e consequentemente cau- Janeiro.
saram um impacto enorme na cidade.
Foram propostas incomuns que esta-


ISSN n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
50 - Pesquisa

Entretanto as origens do movimento suplemento artístico e literário Caderno


Arte-na-rua são bem mais antigas. Este Madrugada de O Jornal em 1966:
termo (Art à la Rue) foi usado primeira- Diante do êxito que assinalou a III
Feira de Artes Plásticas do Ama-
mente para referir-se a um movimento
zonas, é pensamento da direção do
formado por um pequeno grupo de ar- Clube da Madrugada dar maior ên-
quitetos e artistas ligados ao movimen- fase à política de ARTE NA RUA,
to Art Nouveau no período entre 1890 caracterizada pelo empenho de levar
a arte ao povo, eliminando, tanto
e 1900 em Bruxelas e Paris. O objetivo
quanto possível, as fronteiras entre a
específico deste movimento era levar a obra de arte e o grande público .(Ca-
arte para as classes trabalhadoras, além derno Madrugada, 1966)
de estabelecer ações de reforma social,
cujas raízes eram oriundas do socialis- Pode-se afirmar certamente que houve
mo francês, das teorias políticas do prín- em Manaus uma ação vanguardista,
cipe anarquista russo Piotr Kropotkine e cujo impacto cultural que não era visto
dos ensaios tardios do pintor e crítico de desde o término do Ciclo da Borracha.
arte inglês William Morris. O principal O Clube da Madrugada realizou expo-
local para esta arte era a rua, logradouros sições de vários tipos: individuais de
e endereços públicos, onde as pessoas membros do Clube, exposições coleti-
comuns passavam a maior parte de seu vas e as exposições individuais de artis-
tempo de lazer (CLAUSEN, 2016). É tas não-residentes convidados. Em 1º de
justamente aqui que o movimento fran- julho de 1962 foi inaugurado o I Salão
cês parece encontrar-se com o Clube Madrugada no SESC-SENAC, expondo
da Madrugada, pois os membros deste nele três artistas do Clube: Afrânio de
último se disseram inicialmente influen- Castro (desenho), Álvaro Páscoa (es-
ciados pelos modernistas da Semana de cultura) e Moacir Andrade (pintura).
22, que tinham seus olhos voltados para
as vanguardas europeias. Nos anos em que foi presidente do
Clube da Madrugada, Aluísio Sampaio
O termo Arte-na-rua foi empregado ofereceu um grande apoio às artes vi-
pelo Clube da Madrugada no Brasil suais. Por intermédio deste jornalista e
muito antes do movimento tropicalista ativista cultural, o clube transformou o
e da Nova Objetividade, como é pos- hall do edifício onde funcionava o Jor-
sível observar numa nota publicada no nal do Comércio, numa galeria de arte,


ISSN n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
Pesquisa 51

onde foram realizadas muitas exposi- e Gualter Batista recebeu uma menção
ções. Cabe aqui destacar a presença do honrosa. (CLUBE DA MADRUGA-
arquiteto e artista plástico argentino Ho- DA, 1965)
racio Elena, que expôs na Galeria Jornal
do Comércio em julho de 1964, no ano A III Feira de Artes Plásticas aconte-
em que o Clube comemorava o seu 10º ceu em 21 de agosto de 1966, na praia
aniversário. (PÁSCOA, 2011, p.125) da Ponta Negra. Em pleno verão ama-
zonense, a III Feira expôs cerca de
Os pontos considerados culminantes no cem trabalhos de artistas locais, entre
âmbito das artes plásticas foram as Fei- gravuras, pinturas, desenhos e escultu-
ras de Artes Plásticas. A I Feira de Artes ras. Como já tinha sucedido na I Feira
Plásticas ocorreu em 24 de dezembro de a III Feira foi documentada com uma
1963, na Praça da Matriz (ou da Cate- filmagem em cores por uma equipe de
dral). Além dos artistas que já faziam jovens cineastas amazonenses: Felipe
parte do Clube, foram revelados os jo- Lindoso, Raimundo Feitosa e Rober-
vens Gualter Batista, Simão Assayag, to Kahané. Este documentário ganhou
Jair Jacqmont, Paulo D’Astuto e Getúlio posteriormente o título de Plástica e
Alho. Este evento foi documentado com Movimento, contando com a produção
uma filmagem feita por Ivens Lima. A II entusiasta de Aluísio Sampaio, que tin-
Feira de Artes Plásticas ocorreu em 26 ha em seus planos a exibição do docu-
de dezembro de 1964, sob a gestão de mentário nos cinemas da cidade. (NO-
Francisco Vasconcelos, que havia toma- TAS, 1966)
do posse no mês anterior.
Outros eventos inovadores promovidos
A II Feira foi montada no térreo do Palá- pelo Clube da Madrugada foram a Fei-
cio da Cultura e os trabalhos se esten- ra de Cultura e os Festivais da Cultura.
deram pela Praça da Saudade. O grande A Feira de Cultura foi realizada com o
êxito foi a revelação de novos artistas apoio do Departamento de Cultura da
e a afirmação de artistas que já haviam Secretaria da Educação, da União Bra-
participado da I Feira. Hahnemann Ba- sileira de Escritores e do Grupo de Es-
celar, José Maciel, Carlos Fonseca, fo- tudos Cinematográficos. Realizou-se
ram premiados na modalidade pintura, e entre os dias 19 de novembro a 6 de
no desenho foi premiado Jair Jacqmont dezembro de 1968 na Praça da Polícia,


ISSN n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
52 - Pesquisa

com um programa variado, com expo- apoiou diversas atividades culturais em


sição e lançamento de livros, exposição intercâmbio com outros grupos inde-
coletiva de artes plásticas, poesia de pendentes (GEC – Grupo de Estudos
muro (com poemas-processo), festa do Cinematográficos) e institucionais (Fun-
violão, exibição de filmes, com o lança- dação Cultural do Amazonas, Pinacoteca
mento de Brasil em Tempo de Cinema, do Estado do Amazonas, UBE - União
de Jean-Claude Bernardet, Vidas Secas Brasileira de Escritores). Dentre estas
de Nelson Pereira dos Santos, recitais atividades, merece destaque o I Festival
de poesia, apresentação de grupos musi- de Cinema Amador do Amazonas, que
cais populares e peça teatral apresentada aconteceu em 1966, no mesmo ano do I
pelo Grupo de Teatro Universitário. Festival Internacional de Filmes de Cur-
ta-metragem (promovido pelo GEC –
Os Festivais da Cultura foram promo- Grupo de Estudos Cinematográficos e
ções realizadas anualmente pela Fun- Cinemateca do Museu de Arte Moderna
dação Cultural do Amazonas e Clube do Rio de Janeiro).
da Madrugada, onde eram atribuídos
nas áreas de literatura, cinema, artes O I Festival de Cinema Amador do
plásticas, música popular e teatro, os Amazonas, que contou com a chance-
Prêmios Estado do Amazonas. Ha- la do Clube da Madrugada e com o pa-
via uma comissão julgadora composta trocínio da empresa cinematográfica J.
por membros do Conselho Estadual Borges e do programa Cinemascope no
de Cultura. No II Festival da Cultura Ar (dirigido por Ivens Lima) da Rádio
(1968), ganhou o prêmio na área das Rio Mar, foi a primeira oportunidade
artes plásticas o artista Hahnemann Ba- para os cineastas locais mostrarem seus
celar, ficando Afrânio de Castro e Moa- trabalhos. Dentre os filmes que concor-
cir Andrade com menções honrosas. No reram neste festival, o 1º Lugar foi atri-
IV Festival da Cultura (1970), concorre- buído à obra Carniça, de Normandy
ram ao prêmio na área de artes plásticas Litaiff e Aluísio Sampaio. Era um filme
Carlos Ferreira de Lima, José Maciel, curta-metragem em preto e branco, com
Manuel Borges, Regina Farias, Moacir influência neorrealista. Em 2º Lugar es-
Andrade e Afrânio de Castro, dividindo tava Um Pintor Amazonense, realizado
o 1º Lugar os artistas Moacir Andrade por Felipe Lindoso, Roberto Kahané e
e José Maciel. O Clube da Madrugada Raimundo Feitosa, sobre o cotidiano e


ISSN n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
Pesquisa 53

a obra de Hahnemann Bacelar e rodado a arte até o povo, e neste caso, a poesia
em Super 8; em 3º Lugar, o Harmonia até o povo. O processo experimental da
dos Contrastes, em 16 mm, de Ivens poesia de muro envolvia um trabalho de
Lima, Cezídio Barbosa e Luiz Saraiva. equipe, onde participavam os poetas e
(PÁSCOA, 2011, p.140) os artistas plásticos. (TUFIC, 1971)

Foi desenvolvido um programa ra- Próxima da poesia concreta, onde o


diofônico do Clube da Madrugada, cha- poeta é um configurador de mensagens
mado Dimensões, na Rádio Rio Mar, preocupado com o desenvolvimento
entre 1964/65. Era dirigido por uma formal dinâmico dos signos, a poesia de
equipe composta por Ivens Lima, Jorge muro teve uma relação mais estreita com
Tufic, Elson Farias, Alencar e Silva, Pa- o Poema/Processo, movimento idea-
dre Ruas, Francisco Vasconcelos, Aluí- lizado pelo poeta Wladimir Dias Pino,
sio Sampaio, Carlos Gomes, além da que já havia participado das experiências
participação de Neide Gondim. O pro- concretistas na revista Noigrandes. O
grama tinha um slogan que sintetizava poema/processo procurava sair do có-
a preocupação central do Clube da Ma- digo linguístico para enfatizar o código
drugada, que era a difusão da arte e da visual. (TUFIC, 2002, p.109)
cultura para o povo: “a arte só é grande
e autêntica quando assume expressão Diálogos com a Pinacoteca do
social” (VASCONCELOS, 1965, p.5). Estado do Amazonas
Outra ação de vanguarda proporcionada
pelo Clube da Madrugada foi a propos- É necessário mencionar os diálogos
ta da Poesia de Muro. Marcando uma culturais estabelecidos entre o Clube da
fase experimental entre alguns poetas, a Madrugada e outras instituições, des-
Poesia de Muro foi lançada pela página tacando-se a relação com a Pinacoteca
artística Caderno Madrugada em O Jor- do Estado do Amazonas. Fundada em
nal, entre 1965/66. Os ensaios teóricos 1965 pelo governador Arthur Reis com
sobre este movimento foram da autoria o objetivo de abrigar o acervo museoló-
de Jorge Tufic, que chegou mesmo a gico do Estado e de propagar o ensino
elaborar um manifesto intitulado Muri- das artes plásticas, a Pinacoteca funcio-
festo. O objetivo era o mesmo das expo- nava na ala norte do segundo pavimento
sições de artes plásticas ao ar livre: levar do prédio da Biblioteca Pública. Nesse


ISSN n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
54 - Pesquisa

espaço foram ministrados cursos de de- eram ministradas as aulas de história da


senho por Manoel Borges, xilogravura e arte. (PÁSCOA, 2011, p.154)
história da arte por Álvaro Páscoa e pin-
tura por Moacir Andrade, formando-se As atividades da Pinacoteca não se res-
uma geração de artistas plásticos ama- tringiam apenas ao prédio da Biblioteca
zonenses a partir de então. Percebe-se Pública, pois aconteciam também ao ar
que uma concepção “moderna” de arte livre, com aulas de desenho e pintura.
manifestou-se em Manaus após a cria- Havia uma grande movimentação de
ção do Clube da Madrugada e passou a alunos e visitantes na Pinacoteca, como
ser difundida com a Pinacoteca do Esta- é possível observar no registro de fre-
do do Amazonas. É possível estabelecer quência durante o ano de 1970, que re-
uma estreita relação entre o Clube e a vela o fluxo de 2.070 pessoas. (FARIAS,
Pinacoteca, pois Moacir Andrade e Ál- 1970, p.3). Além das aulas regulares
varo Páscoa, professores da instituição, e exposições a Pinacoteca promovia
eram membros do Clube. conferências sobre temas artísticos di-
versos.
O pintor Moacir Andrade foi o dire-
tor-fundador da Pinacoteca e permane- O intercâmbio cultural entre a Pinaco-
ceu durante quatro anos. Após deixar teca e o Clube da Madrugada aconteceu
esta direção para assumir o cargo de de várias maneiras: através das exposi-
assistente comercial na Fundação Cultu- ções no Salão da Pinacoteca, ou pelo
ral do Amazonas, foi incumbido dessa apoio mútuo oferecido durante a rea-
tarefa o escultor Álvaro Páscoa. Poste- lização das Feiras de Artes Plásticas. A
riormente Afrânio de Castro também Pinacoteca adquiria obras de artistas
ocupou este cargo. Museu e escola divi- expositores, recebia doações e desse
diam o mesmo espaço, interagindo. Os modo, o acervo foi se tornando mais
alunos tinham desse modo, um contato rico e abrangente.
direto com o acervo de arte plásticas do
Estado, como parte deste aprendizado Na época de sua fundação, já possuía
visual. No intervalo dos stands com as obras de artistas acadêmicos de re-
obras, ficavam as mesas e os cavaletes, nome nacional, tais como Aurélio de Fi-
havia também um quadro negro onde gueiredo, Antônio Parreiras, Fernandes
Machado e Eliseu Visconti. Figuraram


ISSN n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
Pesquisa 55

neste acervo obras de Manoel Santiago da Pinacoteca Pública do Estado do


e de sua esposa Haydéa Santiago, além Amazonas. Realizou diversas exposi-
de quase todos os representantes artís- ções individuais e participou de várias
ticos do Amazonas. A pintura brasileira mostras coletivas, dentre as quais vale
está representada neste acervo, através destacar a 1.ª Bienal Nacional de Artes
de Marianne Overbeck, Dakir Parreiras, Plásticas, Salvador (1966); Arte/Brasil/
João José Rescala, Antônio Dias, Sólon Hoje-50 Anos Depois, na Galeria Col-
Botelho e Roberto Burle Marx. Repre- lectio, São Paulo (1972); Salão Aberto de
sentantes nacionais da xilogravura são Artes Plásticas da Fundação Cultural do
Emanuel Araújo, Rossini Perez, Rober- Amazonas, em Manaus (1976). Moacir
to Delamônica e Dora Basílio. Uma das Andrade transitou entre o figurativismo
mais preciosas aquisições foi uma cerâ- expressionista, a abstração lírica, o rea-
mica de Pablo Picasso, da Série da Paz lismo fantástico e o paisagismo natura-
(1954). (PÁSCOA, 2011, p.167) lista.

Os artistas e sua produção No início dos anos 1950, Moacir An-


drade tomou contato com algumas
Dentre os artistas selecionados durante obras de Pablo Picasso, e experimentou
esta pesquisa, sobressaíram os que com- algumas composições com influências
provadamente integraram o Clube da da Escola de Paris. Nos anos 1960 o ar-
Madrugada no período de 1954 a 1972, tista fez uma breve incursão pelo abs-
a fase mais produtiva e efervescente do tracionismo lírico na obra Abstração nº
movimento. 1, (1962) (Figura 1), onde experimentou
livremente as cores e as texturas, pos-
A partir de 1945 desponta Moacir An- sibilidades pictóricas que serão poste-
drade (Manaus, 1927-2016). Pintor, de- riormente incorporadas em algumas
senhista e professor, estudou Museolo- obras paisagísticas.
gia no Museu Histórico Nacional. Em
1954 participou do círculo intelectual Com participação no Clube da Madru-
fundador do Clube da Madrugada. Foi gada ainda nos anos 1950, evidencia-se
responsável pela organização do Museu Óscar Ramos (Itacoatiara, 1938), desen-
de Arte Folclórica e Popular do Ama- hista, pintor e diretor de arte. Mudou-se
zonas e em 1965 foi o diretor-fundador para o Rio de Janeiro na década de 1960,


ISSN n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
56 - Pesquisa

Figura 1 - Moacir Andrade,


Abstração no 1. Acrílica sobre
tela, 1962.
Fonte: Coleção particular.

onde estudou pintura com Ivan Serpa e comerciais. Atualmente atua como cu-
no Museu de Arte Moderna. Mais tarde, rador de exposições no Amazonas.
passou dois anos na Espanha, onde foi
aluno de Manolo Mompó, ocasião em Nas obras elaboradas para ilustração,
que tomou contato com o movimen- observa-se movimento e uma pro-
to construtivista através dos teóricos pensão para a organização geométrica
Ángel Crespo e Pilar Gómez-Bedate. construtivista. Na pintura Sem Título
Aproximou-se do movimento Nova Fi- (s.d.) (Figura 2), pertencente ao acervo
guração através do Grupo Crônica de da Pinacoteca do Amazonas, o artista
Valença e da Nueva Figuracion Argenti- mostra sua tendência construtivista, uti-
na. Dentre outras premiações, em 1965, lizando formas retangulares vermelhas,
foi o primeiro colocado no concurso do dispostas em diagonal, sobre um fundo
Prêmio Homenagem a Dante, da Picco- marfim, proporcionando um efeito de
la Galeria (Rio de Janeiro), recebendo equilíbrio e continuidade.
viagem à Itália. Dedicou-se também ao
cinema e à publicidade, executando a ati- Nos anos 1950, sobressai Anísio Mello
vidade de diretor de arte de vários filmes (1927-2010). Pintor, poeta, escritor, es-
cultor e professor. Iniciou seus estudos


ISSN n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
Pesquisa 57

de desenho e pintura com sua mãe, a ar- co e na sequência inserindo experimen-


tista plástica Esther Mello. Graduou-se tos de colagem de objetos às pinturas
em Filosofia e Línguas Neolatinas em em óleo, utilizando técnica semelhante
São Paulo. Fundou e dirigiu jornais e à pintura combinada (combine painting)
revistas, dentre eles o jornal O Eco e da pop art norte-americana. Dentre suas
a revista Amazonas Ilustrado. Publicou exposições coletivas, destacam-se: Salão
vários livros, incluindo poesia, folclore da França Livre em Paris, a convite da
amazônico, crítica literária, contos e en- Embaixada Francesa no Brasil, premia-
saios. A partir de 1985 assumiu a direção do com medalha de ouro (1948); I Salão
do Liceu de Artes do Amazonas Esther dos Artistas de São Paulo na Galeria Ca-
Mello. Após o contato com o Clube da lifórnia, São Paulo (1958); II e III Salão
Madrugada, sua pintura sofreu modifi- Curupira de Artes Plásticas, Manaus
cações aderindo ao abstracionismo líri- (1981 e 1988); Panorama da Atual Arte

Figura 2 - Óscar Ramos, Sem


título. Aglomerado sobre
madeira, s.d., 49 x 36cm.
Fonte: Coleção Pinacoteca do
Estado do Amazonas.


ISSN n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
58 - Pesquisa

Amazonense na Galeria de Artes Hah- Cabe destacar o talento retratístico de


nemann Bacelar, Universidade Federal Manoel Borges (1944-1987), cujo es-
do Amazonas (1992). tilo realista e naturalista aproxima-se
mais do gênero acadêmico. Desenhista,
Procurando expressar esta necessidade pintor e fotógrafo, produziu intensa-
interior, as cores e as formas sublimi- mente nos anos 1960 e 1970. Trabal-
nares ganham movimento na pintura hou inicialmente na Foto Nascimento,
Mensageiro do Apocalipse (Figura 3), com retoque e colorido de fotografias.
pertencente ao acervo da Pinacoteca do Depois atuou como guia de museus e
Amazonas. Utilizando pinceladas ágeis, também foi professor no curso de de-
Figura 3 - Anísio Melo, o artista sugere a forma do cavaleiro e senho e pintura da Pinacoteca do Esta-
Mensageiro do Apocalipse.
enfatiza a ideia de movimento através da do do Amazonas. Participou de diversas
Óleo sobre fibra, c.1985, 50
x 61cm. tonalidade lilás, azul e magenta. exposições locais, na Biblioteca Pública
Fonte: Coleção Pinacoteca
do Estado do Amazonas. em Manaus (1979), no Teatro da Paz
em Belém (1982), em mostras coletivas
como a exposição Arte Contemporânea
Amazonense no Museu de Artes de São
Paulo (1967) e no Rio Sheraton Hotel,
Rio de Janeiro (1983).

A vertente expressionista e neorrealista


fez-se presente nas obras do escultor,
entalhador, gravurista e professor Álva-
ro Reis Páscoa (1920-1997), artista por-
tuguês naturalizado brasileiro, radicado
em Manaus desde 1958. Iniciou sua for-
mação artística no Porto, onde tomou
contato com movimento neorrealista,
que marcou a terceira fase do moder-
nismo português, e participou das ati-
vidades vanguardistas do Teatro Expe-
rimental do Porto. Além de atuar no
Clube da Madrugada e contribuir para


ISSN n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
Pesquisa 59

o suplemento literário Caderno Madru- evocando o erotismo e a languidez


gada com xilogravuras e outras ilustra- inocente.
ções, exerceu durante sua trajetória um
importante papel na política cultural do Existem dois planos nesta obra marcada
Estado do Amazonas nos anos 1970. por figuras e fundo, em que os perso-
Da sua atividade artística, pode-se dizer nagens escondem seus rostos e sua iden-
que participou de várias exposições pro- tidade em seus corpos. O primitivismo
movidas em Manaus pelo Clube da Ma- é abordado em seu aspecto psicológico
drugada, tais como o I Salão de Artes e formal. Nesta obra, as pessoas são o
Plásticas do Clube da Madrugada e a I reflexo de sua carga erótica e precisam
e III Feira de Artes Plásticas, com es- deste elemento para sobreviver à bru-
culturas, gravuras, entalhes e desenhos. talidade da vida. Durante sua trajetória
Suas obras figuram em museus e enti- exerceu vários cargos públicos e contri-
dades públicas do Brasil e no exterior. buiu decisivamente na formação de
(PÁSCOA, 2012, p.156) vários artistas, dentre eles Hahnemann
Bacelar, Enéas Valle, Zeca Nazaré, Van
Como exemplo de obra gráfica, merece Pereira, Thyrso Muñoz, Jair Jacqmont,
atenção a xilogravura Os Recém- dentre outros que continuam ativos
Casados (1965) (Figura 4). A xilogravura atualmente.
enfatiza o banho dos recém-casados,

Figura 4 - Álvaro Páscoa, Os


recém-casados. Xilogravura,
1965.
Fonte: Coleção particular.


ISSN n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
60 - Pesquisa

Participou, dentre outras, das seguintes


exposições: I Feira de Artes Plásticas,
Manaus (1963), II Feira de Artes Plás-
ticas, Manaus (1964); III Salão Nacio-
nal de Arte Universitária, de Belo Ho-
rizonte (1970), I Salão de Artes Visuais
de São Carlos (1980). Publicou vários
contos e ilustrações na página artística
Caderno Madrugada em O Jornal, de
1961 a 1965; e vários livros. Seus trabal-
hos iniciais foram influenciados pelas
xilogravuras de Oswaldo Goeldi, pelos
desenhos de Percy Lau, Poty, Caribé e
Darel Valença. Na pintura, seguiu um
traço expressionista e informal, cores
equilibradas e formas sugeridas, como é
possível observar na capa de Chavascal
(Figura 5). Nos desenhos, a linearidade
mostra o apuro técnico e a firmeza do
traçado, além da consciência espacial.

Em 1963, Gualter Batista (1945-1993)


expôs pela primeira vez suas telas na I
Dentre os artistas que despontaram Feira de Artes Plásticas, promovida pelo
Figura 5 - Getúlio Alho,
capa de Chavascal, de nos anos 1960, destaca-se Getúlio Alho Clube da Madrugada. Gualter Batista
Anthistenes Pinto, 1965.
(Manaus, 1942), arquiteto, desenhista, atuou como pintor, fotógrafo, diretor de
artista gráfico, gravador e escritor. For- fotografia de cinema, roteirista de cine-
mou-se em arquitetura na Universidade ma, programador visual e arquiteto. Em
de Brasília (1967-1972), onde frequen- 1964 também figurou na segunda edição
tou um curso de pintura com Rubem da Feira de Artes Plásticas, recebendo
Valentim. Nesta época, trabalhou com uma menção honrosa pelo conjunto da
desenho publicitário e artes gráficas obra. Em 1965, mudou-se para Brasília,
no jornal Correio Braziliense (Brasília). onde frequentou por um ano o curso de


ISSN n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
Pesquisa 61

pintura no ateliê de Glênio Bianchetti. contribuir com a arquitetura, a fotogra-


Transferiu-se para São Paulo em 1966 e fia e o cinema.
começou a atuar como fotógrafo pro-
fissional. Formou-se em arquitetura em
1974, trabalhando nesta área em segui-
da. Sua atuação no cinema teve início
em 1961, ainda em Manaus, quando
realizou a fotografia e o argumento do
filme As Letras, em 8mm, com o irmão
Djalma Limongi Batista.

Durante esta fase, o artista começou a


interessar-se profissionalmente pela fo-
tografia de cinema. Das obras cinema-
Figura 6 - Gualter Batista,
tográficas em parceria com seu irmão, Paisagem ao por-do-sol.
pode-se destacar Um Clássico Dois em Óleo sobre tela, 1964, 59
x 42cm.
Casa Nenhum Jogo Fora, e Mito da Fonte: Acervo da Família
Limongi Batista.
Competição do Sul, Porta do Céu, entre
outros. Durante toda a década de 1980 Com um comportamento rebelde e in-
teve uma intensa produção fotográfica tempestivo, Afrânio de Castro (1932-
profissional para editoria, moda, arqui- 1981) participou do Clube da Madruga-
tetura e teatro. Sua obra pictórica da da a partir dos anos 60. Sua produção
fase inicial, no momento em que expôs transitou entre a figuração naïf ingênua
através do Clube da Madrugada, mos- e o abstracionismo lírico orgânico. Pin-
tra que o artista possuía grande sensi- tor, escultor e ilustrador, filho do lite-
bilidade estética, composição bem ela- rato Antônio Mavignier de Castro foi,
borada, desenho detalhado e vigoroso autodidata, um dos diretores da Pina-
colorismo. Seu óleo sobre tela Paisagem coteca do Estado do Amazonas (1971-
ao pôr-do-sol, de1964 (Figura 6), mescla 1975), membro do Instituto Geográfi-
a figuração e as pinceladas expressio- co e Histórico do Amazonas (IGHA),
nistas e vibrantes. O que se verifica é a membro do Clube da Madrugada e di-
excelente concepção espacial do artista, retor da Galeria de Arte da Fundação
que depois utilizaria este predicado para Cultural do Amazonas. Participou da


ISSN n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
62 - Pesquisa

IX Bienal de São Paulo (1964); recebeu No âmbito da fotografia e do cinema


Menção Honrosa, Prêmio Estado do nos anos 1960, destaca-se Normandy
Amazonas por ocasião do II Festival da Litaiff (Coari, AM, 1939). Iniciou seus
Cultura, Manaus (1968); figurou na ex- estudos de fotografia em preto e branco
posição coletiva Arte Contemporânea com Silvino Santos e os estudos de foto-
Amazonense, no Museu de Arte de São jornalismo com Óscar Ramos (pai). No
Paulo (1967), e sua última realização foi Clube da Madrugada colaborou através
no II Salão Curupira de Artes Plásti- das exposições de fotografias e também
cas, promovido pela Associação Ama- com ilustrações de livros para vários
zonense de Artistas Plásticos (Manaus, autores. Foi o vencedor do 1º Festival
1981). de Cinema Amador do Amazonas, com
o filme de curta-metragem em preto
Em 1963, o poeta e pintor José Coel- e branco Carniça, em 1967, de caráter
ho Maciel (n. 1945), de Coari, AM, neorrealista. Com a exposição Ama-
mudou-se para Manaus e algum tempo zônia Erótica percorreu vários espaços
depois entrou para o Clube da Madru- culturais de Manaus, Brasília, São Paulo,
gada. Autodidata, frequentou a Pinaco- Rio de Janeiro, Pernambuco e Fortaleza.
teca do Estado do Amazonas, o Grupo Sua obra possui um carácter de denún-
de Estudos Cinematográficos e as ex- cia social e também uma preocupação
posições sob os auspícios do Clube da ecológica, características que fizeram
Madrugada. Participou da II e III Feira com que várias de suas obras tivessem
de Artes Plásticas do Amazonas, onde uma recepção polêmica. Na série Ama-
obteve o segundo lugar em pintura na zônia Erótica (Figura 7), Litaiff reflete
segunda edição. O artista visual e arqui- sobre a natureza, que protesta e expres-
teto argentino Horacio Elena esteve sa silenciosamente através de suas for-
em Manaus por vários meses em 1964, mas e póetica, as agressões que sofre do
ocasião em que participou intensamente homem.
do Clube da Madrugada, expondo na
Galeria Jornal do Comércio como parte Outro artista ativo em Manaus desde
dos eventos comemorativos do décimo os anos 1960 é Jair Jacqmont (Manaus,
aniversário do Clube. 1947). Iniciou seus estudos no Curso de
Desenho e Pintura na Pinacoteca do Es-
tado do Amazonas (c.1967) e depois por


ISSN n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
Pesquisa 63

um período no Museu de Arte Moderna


do Rio de Janeiro. Participou da mostra
Como Vai Você, Geração 80? (BR 80:
Pintura Brasil década 80), ao lado de
Beatriz Milhazes, Daniel Senise, Ricardo
Basbaum, dentre outros. Jair Jacqmont
foi influenciado pela tendência neo-ex-
pressionista dos anos 1980 e compôs
suas obras seguindo também a nova
figuração sintética e a abstração lírica.
Dentre as exposições individuais, mere-
ce destaque a realizada na Galeria Rodri- guiu-se na pintura pela primeira vez na Figura 7 - Normandy Litaiff,
série Amazônia Erótica IV.
go Mello Franco de Andrade em 1983, II Feira de Artes Plásticas, montada na
Fotografia, sépia, 9 x 13cm,
no Rio de Janeiro. Participou de várias Praça da Saudade. Foi nessa ocasião que c.1970-80
Fonte: Coleção do artista.
exposições coletivas, dentre elas devem o artista ganhou o primeiro lugar do
ser evidenciadas as seguintes: II Feira de prêmio em pintura e foi eleito sócio do
Artes Plásticas realizada pelo Clube da Clube da Madrugada, como reconheci-
Madrugada em Manaus (1964), onde re- mento de seu valor artístico. (SOUZA,
cebeu o prêmio de desenho; 7º Salão de 1981, p.5) Durante a década de 60, suas
Verão, no MAM/RJ (1975); Rio de Ja- obras estão impregnadas de elementos
neiro; 4º, 5º e 6º Salão Nacional de Artes expressionistas de caráter social e neor-
Plásticas,  Rio de Janeiro (1981, 1982 e realistas. Influenciado pelos princípios
1983); 14º e 15º Panorama de Arte Atual do movimento da contracultura, Bacelar
Brasileira no MAM/SP, (1983 e 1984); envolveu-se com drogas e suicidou-se
Bienal de Valparaíso, Chile (1983). Em em fevereiro de 1971, aos 23 anos. Seus
suas pinturas abstratas predominam o interesses não eram restritos apenas à
colorismo intenso e a pincelada rápida, pintura, mas também se estendiam à es-
mostrando uma visão particular da pai- cultura, à xilogravura e ao desenho. Sua
sagem natural, da representação da ve- obra está dispersa em coleções particu-
getação amazônica. lares, mas àquelas pertencentes ao acer-
vo da Pinacoteca do Estado do Amazo-
Jovem talento premiado em 1966, Hah- nas mostram sua marca expressionista.
nemann Bacelar (1947-1971) distin- Hahnemann Bacelar procurou retratar a


ISSN n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
64 - Pesquisa

Amazônia através de seus personagens, século XX. Existe uma sobreposição de


de um modo mais realista. Observan- corpos em várias posições. Inicialmente
do a obra intitulada Miséria (Figura 8), observamos a preocupação social do
um óleo de 1968, percebe-se muitas artista com a condição da mulher, pois
semelhanças formais e temáticas da estas são mais recorrentes em sua obra.
iconografia expressionista do início do As fortes pinceladas e o uso de cores

Figura 8 - Hahnemann
Bacelar, Miséria. Óleo sobre
tela, 1968. 98 x 77cm.
Fonte: Coleção Pinacoteca
do Estado do Amazonas.


ISSN n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
Pesquisa 65

Figura 9 - Van Pereira,


Paisagem. Nanquim sobre
papel, 1985.
Fonte: Coleção Pinacoteca
do Estado do Amazonas.

contrastantes mostram a sua originali- íntegro conjunto de ilustrações para Fil-


dade técnica e a despreocupação com o hos da várzea, de Aníbal Beça; em 1991,
acabamento e com a harmonia clássica realizou uma série de ilustrações para
de composição. um livro da escritora japonesa Suma Jin-
nai, a convite da Editora Fukuinkan de
Um artista que se destaca pela intensa Tóquio, Japão.
colaboração na ilustração no Clube da
Madrugada nos anos 1970-1980 é Van Van Pereira possui um excelente
Pereira (Nhamundá, AM, 1952). De- domínio técnico do desenho e sua obra
senhista, escultor, pintor e ilustrador, reflete uma configuração naturalista e
estudou na Pinacoteca do Estado do fantástica da Amazônia. A junção entre
Amazonas, onde, em 1971, recebeu o a técnica e o sentido espiritual foi um
1º Prêmio entre os alunos. Em 1973, dos fatores responsáveis pela receptivi-
ganhou o 1º Prêmio Estado do Amazo- dade de sua obra no Japão. Durante a
nas na categoria pintura, e em 1974, foi década de 1970 sua obra gráfica recebeu
contemplado com o Prêmio Pré-Bienal influências estéticas da pop art, mas de-
de São Paulo. Em 1984, produziu um pois encontrou um caminho particular,


ISSN n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
66 - Pesquisa

que reunia experiências figurativas com econômicas, tensão política e repressão


organização geométrica, traços sim- ditatorial, mas tudo isso não impediu
bolistas e surrealistas, pois nesta fase o sua iniciativa. O espírito de novidade e
artista passou a elaborar muitas de suas abertura artística contagiou todo o am-
obras a partir de seus sonhos. biente intelectual com a chama de mo-
dernidade, proporcionando uma reno-
O sol geometrizado, o trançado vívido e vação cultural dinâmica que procurava
outros elementos de seu repertório pa- uma articulação que suplantava o espaço
recem ser traduções líricas de suas lem- regional. Assim, os membros do Clube,
branças de convívio com antepassados para além das obras literárias e visuais,
místicos da região do Baixo Amazonas. deixaram uma contribuição efetiva: a in-
tervenção social e intelectual na cidade.
Conclui-se que o Clube da Madrugada
floresceu num momento de dificuldades

ISSN

n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017
Pesquisa 67

Referências CLUBE da Madrugada. Festa do ______. Quando e como surgiu o Clube


Violão. Regulamento. Manaus, 10 de da Madrugada. O Jornal, Manaus,
agosto de 1965. 25 abr. 1965, ano V, nº I, Caderno
AGUIAR, José Vicente S. Manaus: Madrugada.
praça, café, colégio e cinema nos anos 50 e FARIAS, Elson. Relatório das
60. Manaus: Editora Valer; Governo Atividades da Fundação Cultural TUFIC, Jorge, et al. O Clube da
do Estado do Amazonas, 2002. do Amazonas - referente ao exercício Madrugada e a Poesia de Muro. O
de 1970 - Apresentado ao Conselho Jornal, Manaus, 4 jul. 1971.
BLAKE, Nigel, FRASCINA, Estadual de Cultura. Manaus, 1970.
Francis. Modernidade e Modernismo: Documento datilografado. VASCONCELOS, Francisco.
a pintura francesa no século XIX. São Relatório que faz o clubista Francisco
Paulo: Cosac Naify, 1998. MORAIS, Frederico. Artes plásticas Vasconcelos, presidente do Clube
e a crise da hora atual. Rio de Janeiro: da Madrugada, sobre o período
BR 80: Pintura Brasil década 80. Paz e Terra, 1975. administrativo de 22 de novembro de
Apresentação de Ernest Robert de 1964 a 22 de novembro de 1965.
Carvalho Mange. Organizado pelo NOTAS. O Jornal. Manaus, 28 ago. Manaus, 22 de novembro de 1965,
Instituto Cultural Itaú. Textos 1966, ano VI, n. 25. p. 3.Texto datilografado.
de Frederico Morais e Aline
Figueiredo. Campo Grande: PÁSCOA, Luciane. Álvaro Páscoa: o
Itaugaleria, 1991. golpe fundo. Manaus: EDUA, 2012.
Coleção Oficina das Artes.
BURGUIÈRE, Alain. (Org.)
Dicionário de Ciências Históricas. Rio PÁSCOA, Luciane. Artes Plásticas
de Janeiro: Imago, 1993. no Amazonas: o Clube da Madrugada.
Manaus: Valer, 2011.
CADERNO Madrugada, O Jornal,
Manaus, 28 ago. 1966, ano VI, n. 25. SOUZA, Márcio; PÁSCOA, Álvaro
(Org). Hahnemann Bacelar. Manaus:
CADERNO Madrugada. O Jornal, Edições Governo do Estado; Fundação
Manaus, 3 jan. 1965, ano VI, n. 25. Cultural do Amazonas, 1981.

CLAUSEN, M.L. Art à La Rue. TUFIC, Jorge. Clube da Madrugada:


Disponível em: http://www. 30 anos. Manaus: Imprensa Oficial,
groveart.com. Acesso em 18 de 1984.
novembro de 2016.
______. Curso de Arte Poética.
Fortaleza: Ed. Livro Técnico, 2002.

ISSN

n°0000-0000 Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.1, p.44-67, abr.-set. 2017

Вам также может понравиться