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EM VIGAS DESLOCÁVEIS
Doutores em Engenharia Civil, Professores Adjuntos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
A determinação dos esforços e deslocamentos de um pavimento de edifício é feita,
classicamente, através da análise individual de cada um de seus elementos componentes. Em um
sistema composto de lajes e vigas, analisam-se isoladamente as lajes, considerando-as como placas
de pequena espessura, apoiadas no contorno em vigas que são admitidas como indeslocáveis na
direção vertical, devido ao fato de terem rigidez bem superior às das lajes. Supõe-se ainda que as
vigas estão apoiadas em pilares indeformáveis na direção vertical. A partir dessas simplificações, as
principais hipóteses que são usualmente empregadas neste procedimento são:
a) as placas são constituídas de material elástico, isótropo, linear e têm pequenos deslocamentos;
b) a rotação dos contornos da placa ou é livre (apoio simples) ou totalmente impedida (engaste);
c) a ação da placa nas vigas de contorno se faz somente através de forças verticais, não havendo
transmissão de momentos de torção para as vigas;
d) admite-se que as ações da placa nas vigas são uniformemente distribuídas e determinadas a partir
da área de influência de cada uma e do tipo de ligação entre placa e viga;
e) no cálculo das placas consideram-se as vigas, no seu contorno, indeslocáveis na direção vertical;
A partir destas considerações é possível subdividir o pavimento em elementos constituintes
mais simples, como placas isoladas, vigas e pilares e assim, calcular cada componente. Entretanto, o
projeto executado dessa maneira deve apresentar resultados distantes daqueles que se obteria com
um cálculo mais próximo do real.
A literatura corrente, como pode ser visto em TIMOSHENKO (1959) e BARES (1972),
traz a solução de um grande número de placas retangulares com diversos tipos de carregamento e
situações de contorno, apresentando, ainda, tabelas com coeficientes que permitem calcular os
momentos os fletores máximos (positivos e negativos) e deslocamentos para várias relações entre as
dimensões dos lados da placa. Praticamente para todos estes casos são admitidas as hipóteses
simplificadoras descritas anteriormente.
2. OBJETIVOS
O objetivo é estudar os momentos fletores em lajes de pavimentos de edifícios, com as lajes
e vigas trabalhando de forma integrada. Elas serão analisadas através do processo de analogia de
grelhas (o pavimento é substituído por uma grelha equivalente), e com o método dos elementos
finitos, comparando os resultados, sempre que possível, com o cálculo clássico.
Com esse objetivo serão calculadas placas considerando apoio indeslocável e, também,
apoiadas, no seu contorno, em vigas deformáveis, com variação, para uma mesma placa, da inércia
das vigas, com alturas desde valores que representem situações próximas de apoio indeslocável
verticalmente, até valores próximos ao da espessura da placa (situação que no limite representaria
laje sem vigas).
Este trabalho é complementação de um anterior de autoria do autor [FIGUEIREDO
FILHO, J. R. & FERNANDES, D. L. (1997)], com a colaboração de dois outros professores, com
a análise de um número maior de situações e cálculo dos esforços também pelo método dos
elementos finitos.
3. MÉTODOS DE CÁLCULO
A seguir apresentam-se resumidamente os métodos de cálculo que serão utilizados no
desenvolvimento do trabalho: clássico, analogia de grelhas e elementos finitos.
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5.4. Resultados
A seguir estão apresentados, em tabelas e gráficos para facilitar a interpretação, os
resultados dos momentos fletores máximos nas lajes para todos os casos, nas direções x e y, tanto os
positivos quanto os negativos, quando for o caso. O método dos elementos finitos será empregado
apenas para os casos de pavimentos isolados.
Uma outra observação importante é que nas tabelas e gráficos, no cálculo clássico (Bares)
não foram colocados resultados para os casos de lajes sem vigas, pois o método não se aplica a
situações de apoio deslocável, característica intriseca desse sistema estrutural.
5.4.1. Resultados dos momentos máximos positivos para os pavimentos com lajes isoladas
Os momentos máximos positivos no centro das placas isoladas, nas direções x e y,
calculados através dos três métodos e para as diversas situações de dimensões e apoios, estão
relacionados na tabela 1. Os resultados podem ser organizados também em gráficos, o que facilita a
visualização e comparação entre eles. Entretanto, serão mostrados apenas como exemplos, gráficos
com momentos no centro dos painéis dos pavimentos isolados PQ (gráfico 1) e PR1 (gráficos 2 e 3)
para as diversas alturas das vigas do contorno, comparando os três métodos de cálculo, e gráfico 4,
com momentos My no centro do painel do pavimento isolado PR2, para os três métodos de cálculo,
comparando as diversas alturas de vigas.
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M 14
Analogia Grelhas
12
Elementos Finitos
10
Tabelas Bares
8
0
SV V35 V70 V200 Cont.
10
0
SV V35 V70 V200 Cont.
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My 35
SV
30
V35
25
V70
20 V200
15 Contorno
10
0
Analogia Grelhas Elementos Finitos Tabelas Bares
5.4.2. Momentos nas lajes dos pavimentos compostos (quatro e seis pilares)
Nos pavimentos compostos de duas lajes e apoiados em pilares nos quatro cantos, não foi
efetuado o cálculo de pavimentos sem vigas, pois seriam, na verdade, pavimentos comportando-se
como isolados, com dimensão igual ao total das duas lajes que os compõem. Nos pavimentos
apoiados em seis pilares o cálculo foi feito para todas as situações. Nestes casos não foram
efetuados cálculos com o método dos elementos finitos.Os valores estão nas tabelas 2 e 3 e, como
exemplo:
• nos gráficos 5 e 6 (momentos máximos positivos MX no pavimento P2Q composto, apoiado em
quatro e em seis pilares para as diversas alturas das vigas, comparando os dois métodos);
• nos gráficos 7 e 8 (momentos máximos positivos MY no pavimento P2Q composto, apoiado em
quatro e em seis pilares para as diversas alturas das vigas, comparando os dois métodos);
• nos gráficos 9 e 10 (momentos negativos XX no pavimento P2Q composto, apoiado em quatro e
em seis pilares para as diversas alturas das vigas, comparando os dois métodos);
• nos gráficos 11, 12 e 13 (momentos (MX, MY, XX) no pavimento P2Q composto para as
diversas alturas das vigas, comparando as situações com quatro e seis pilares).
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TABELA 3. Pavimentos apoiados em seis pilares (encontros vigas), compostos de duas lajes:
momentos máximos positivos (MX, MY) e negativo (XX)
CONDIÇÕES ALTURA momentos positivos e negativos (junto à viga interna) - kNm/m
PAVIMENTO DE DAS analogia de grelhas tabelas de Bares
APOIO VIGAS MX MY XX MX MY XX
6 pilares sem 9,470 12,934 -30,668 ---- ---- ----
P2Q 6 pilares 35 cm 3,088 3,528 -5,716 3,152 2,328 -6,816
quadrado 6 pilares 70 cm 3,245 2,412 -6,942 3,152 2,328 -6,816
(4m×4m) 6 pilares 200 cm 3,276 2,282 -7,168 3,152 2,328 -6,816
contorno sem 3,095 2,206 -6,950 3,152 2,328 -6,816
P2Ra 6 pilares sem 13,780 24,198 -45,308 ---- ---- ----
retangular 6 pilares 35 cm 4,655 4,664 -5,712 4,616 1,696 -9,016
2 (4m×6m) 6 pilares 70 cm 4,908 1,974 -8,618 4,616 1,696 -9,016
a=4m 6 pilares 200 cm 4,942 1,719 -9,246 4,616 1,696 -9,016
b=6m contorno sem 4,800 1,578 -9,118 4,616 1,696 -9,016
P2Rb 6 pilares sem 15,690 17,542 -55,084 ---- ---- ----
retangular 6 pilares 35 cm 3,556 5,748 -8,542 3,344 5,280 -8,984
2 (6m×4m) 6 pilares 70 cm 3,063 5,632 -9,246 3,344 5,280 -8,984
a=6m 6 pilares 200 cm 2,987 5,510 -9,370 3,344 5,280 -8,984
b=4m contorno sem 2,809 5,504 -9,178 3,344 5,280 -8,984
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Gráfico 5. Momentos Mx para P2Q (4pilares) Gráfico 6. Momentos Mx para P2Q (6pilares)
Gráfico 7. Momentos My para P2Q (4pilares) Gráfico 8. momentos My para P2Q (6pilares)
Gráfico 9. Momentos Xx para P2Q (4pilares) Gráfico 10. Momentos Xx para P2Q (6 pilares)
2 1,5
1
1 0,5
0 0
V35 V70 V200 Cont. V35 V70 V200 Cont.
• elementos finitos: Apenas um dos valores é maior que o método clássico (22,2% em MX em
PR2 com viga de 35 cm); todos os demais são menores, variando de 40,8% em MX e MY para
PQ com vigas de 35 cm até 303,2% em PR2 com vigas de 200 cm de altura.
TABELA 4. Lajes isoladas: valores dos momentos positivos em relação às tabelas de Bares
CONDIÇÕES ALTURA MOMENTOS POSITIVOS
PAVIMENTO DE DAS analogia de grelhas elementos finitos tabelas de Bares
APOIO VIGAS MX MY MX MY MX MY
PQ 4 pilares 35 cm 1,098 1,098 0,710 0,710 1,000 1,000
quadrado 4 pilares 70cm 1,034 1,034 0,423 0,423 1,000 1,000
(4m×4m) 4 pilares 200 cm 1,023 1,023 0,416 0,416 1,000 1,000
contorno sem 0,954 0,954 0,416 0,416 1,000 1,000
PR1 4 pilares 35 cm 1,325 1,017 0,701 0,406 1,000 1,000
retangular 4 pilares 70 cm 0,869 1,073 0,380 0,434 1,000 1,000
(6m×4m) 4 pilares 200 cm 0,811 1,083 0,325 0,440 1,000 1,000
contorno sem 0,754 1,029 0,328 0,439 1,000 1,000
PR2 4 pilares 35 cm 2,019 1,073 1,222 0,375 1,000 1,000
retangular 4 pilares 70 cm 1,054 1,189 0,391 0,429 1,000 1,000
(8m×4m) 4 pilares 200 cm 0,934 1,211 0,248 0,438 1,000 1,000
contorno sem 0,842 1,160 0,258 0,438 1,000 1,000
TABELA 6. Relação entre os momentos nas lajes para as várias alturas de vigas e os
momentos naquelas com apoios indeslocáveis - pavimentos isolados
CONDIÇÕES ALTURA Mviga/Mindesl.
PAVIMENTO DE DAS analogia de grelhas
APOIO VIGAS MX MY
4 pilares sem 4,067 4,067
PQ 4 pilares 35 cm 1,152 1,152
quadrado 4 pilares 70cm 1,084 1,084
(4m×4m) 4 pilares 200 cm 1,073 1,073
contorno sem 1,000 1,000
4 pilares sem 9,888 2,759
PR1 4 pilares 35 cm 1,758 0,989
retangular 4 pilares 70 cm 1,153 1,043
(6m×4m) 4 pilares 200 cm 1,076 1,053
contorno sem 1,000 1,000
4 pilares sem 17,141 3,084
PR2 4 pilares 35 cm 2,397 0,925
retangular 4 pilares 70 cm 1,251 1,025
(8m×4m) 4 pilares 200 cm 1,109 1,044
contorno sem 1,000 1,000
TABELA 7. Relação entre os momentos nas lajes para as várias alturas de vigas e os
momentos naquelas com apoios indeslocáveis - pavimentos compostos (4 pilares)
CONDIÇÕES ALTURA Mviga/Mindesl.
PAVIMENTO DE DAS analogia de grelhas
APOIO VIGAS MX MY XX
P2Q 4 pilares 35 cm 1,867 1,438 ----
quadrado 4 pilares 70cm 1,166 1,093 0,860
2 (4m×4m) 4 pilares 200 cm 1,064 1,034 1,025
contorno sem 1,000 1,000 1,000
P2Ra 4 pilares 35 cm 1,753 6,836 ----
retangular 4 pilares 70 cm 1,195 1,514 0,611
2 (4m×6m) 4 pilares 200 cm 1,022 1,143 0,978
x=4m, y=6m contorno sem 1,000 1,000 1,000
P2Rb 4 pilares 35 cm 3,885 1,036 ----
retangular 4 pilares 70 cm 1,391 1,023 0,770
2 (6m×4m) 4 pilares 200 cm 1,072 1,020 1,010
a=6m, y=4m contorno sem 1,000 1,000 1,000
TABELA 8. Relação entre os momentos nas lajes para as várias alturas de vigas e os
momentos naquelas com apoios indeslocáveis - pavimentos compostos (6 pilares)
CONDIÇÕES ALTURA Mviga /Mindesl.
PAVIMENTO DE DAS analogia de grelhas
APOIO VIGAS MX MY XX
6 pilares sem 3,060 5,863 4,413
P2Q 6 pilares 35 cm 0,998 1,599 0,822
quadrado 6 pilares 70 cm 1,048 1,093 0,999
(4m×4m) 6 pilares 200 cm 1,058 1,034 1,031
contorno sem 1,000 1,000 1,000
P2Ra 6 pilares sem 2,871 15,335 4,969
retangular 6 pilares 35 cm 0,970 2,956 0,626
2 (4m×6m) 6 pilares 70 cm 1,023 1,251 0,945
a=4m 6 pilares 200 cm 1,030 1,089 1,014
b=6m contorno sem 1,000 1,000 1,000
P2Rb 6 pilares sem 5,586 3,187 6,002
retangular 6 pilares 35 cm 1,266 1,044 0,931
2 (6m×4m) 6 pilares 70 cm 1,090 1,023 1,007
a=6m 6 pilares 200 cm 1,063 1,001 1,021
b=4m contorno sem 1,000 1,000 1,000
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6.4. Conclusões
A partir das observações efetuadas nos itens anteriores, é possível alinhavar diversas
conclusões:
a) O método clássico apresenta, na maioria das situações, resultados para momentos nas lajes
inferiores que os dados pela analogia de grelhas e elementos finitos; entre estes dois últimos, o
dos elementos finitos apresenta valores menores. Estes fatos permitem concluir que para esse
tipo de sistema estrutural (pavimentos retangulares) o método da analogia de grelhas é mais
adequado.
b) Os momentos nas lajes em todos os pavimentos (isolados e compostos com quatro e seis pilares),
em maior ou em menor medida, diminuem com o aumento da rigidez das vigas, sendo que nos
casos de contorno indeslocáveis o cálculo clássico apresenta valores bastante próximos dos da
analogia de grelhas, e para situações onde de fato o apoio não sofre deslocamentos (lajes
apoiadas em paredes estruturais, alvenaria armada, etc.) o cálculo clássico por meio de tabelas
pode ser utilizado; em outras situações poderá ser contra a segurança.
c) A relação entre os momentos nas duas direções das lajes mostra que, com exceção das sem
vigas, o momento na menor direção (MY) é maior que MX , mas mesmo quando o vão maior da
laje é o dobro do menor (PR2), existem os dois, não caracterizando laje armada apenas em uma
direção, como é usual considerar nestes casos.
d) Nas lajes sem vigas os momentos centrais são sempre bem maiores que nas situações com vigas,
mesmo que sejam de pequena rigidez. O cálculo e projeto de lajes sem vigas (lajes-cogumelo)
requerem cuidados e atenção especiais, pois muitos outros fatores estão envolvidos, tais como
punção, rigidez às ações laterais e deslocamentos transversais.
e) Nos pavimentos com quatro pilares e vigas de pequena rigidez (35 cm de altura), as vigas
internas (V04) que se apoiam nas V01 e V02, comportam-se praticamente como um
engrossamento da laje, e isso não é levado em conta no cálculo clássico. Essa situação deve ser
evitada, principalmente se não se dispuser de processos de cálculo mais sofisticados.
Este trabalho contou com apoio financeiro da FAPESP, com bolas de iniciação científica e auxílio.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARES, R. (1972). Tablas para el calculo de placas y vigas parede. Editorial Gustavo Gilli
S/A. Barcelona.
CARVALHO, R. C. (1994). Análise não linear de pavimentos de edifícios de concreto através
da analogia de grelha. Tese de doutorado. EESC-USP. São Carlos, 1994.
FIGUEIREDO FILHO, J. R; FERNANDES, D. L. (1997). Placas delgadas apoiadas no contorno
em vigas deformáveis. In: Anais das XXVIII Jornadas Sul-Americanas de Engenharia
Estrutural. São Carlos, SP, 1997. Vol. 4, pp. 1457-1465.
FIGUEIREDO FILHO, J. R.(1989). Sistemas estruturais de lajes sem vigas: subsídios para o
projeto e execução. Tese de doutorado. EESC-USP. São Carlos, 1989.
HAMBLY, E. C.(1976). Bridge deck behaviour. Chapman and Hall. London. 272p.
NBR 6118/80 (1980). Projeto e execução de obras de Concreto Armado. Associação Brasileira
de Normas Técnicas. Rio de Janeiro. 1980. 76p.
TIMOSHENKO, S.; WOINOWSKY - KRIEGER, S. (1959). Theory of plates and shells. 2. ed.
MacGraw -Hill, New York. 1959.