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CENTRO PAULA SOUZA

ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL CEPAM

TÉCNICO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

BRUNO RIBEIRO SILVA

JULIANA SANTANA

WALLIN LIRA DE ALBUQUERQUE

Parecer Técnico do Programa TRANSCIDADANIA destinado a promover


direitos humanos e a cidadania oferecendo condições e trajetórias de
recuperação de oportunidades de vida para travestis e transexuais em
situação de vulnerabilidade social.

São Paulo

Dezembro de 2016
2

CENTRO PAULA SOUZA

ETEC CEPAM

TÉCNICO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

BRUNO RIBEIRO SILVA

JULIANA SANTANA

WALLIN LIRA DE ALBUQUERQUE

Parecer Técnico do Programa TRANSCIDADANIA destinado a promover os


direitos humanos e a cidadania e oferecer condições e trajetórias de
recuperação de oportunidades de vida para travestis e transexuais em
situação de vulnerabilidade social

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso Técnico em Políticas
Públicas da Etec CEPAM, orientado pelo
Professor Johnny William Cruz Borges,
como requisito parcial para obtenção do
título de Técnico em Políticas Públicas.

São Paulo

Dezembro de 2016
3

Dedicamos este trabalho a Symmy Larrat,


pela sua história de luta contra a transfobia
e por uma sociedade mais justa em nosso
país. E, também, a cada travesti e transexual
morta pela discriminação, a estas que são
símbolos do enfretamento a qualquer tipo
de preconceito.
4

AGRADECIMENTOS

Agradecemos:

À professora Raissa Fontelas R. Gambi que nos brindou com seu


conhecimento e, na medida do possível, nos ensinou analisar e respeitar opiniões
diferentes das nossas.
Ao professor Leonardo Spicacci que provou que todo tempo é tempo para
estudar Políticas Públicas, agradecemos todos e-mails enviados de madrugada e as
suas maravilhosas avaliações de final de semestre.
À querida professora Joyce Rodrigues sempre exigente, e também sempre
disposta a mostrar alternativas para resolução de conflitos. Suas aulas são fonte de
inspiração e empoderamento. Prometemos seguir nossa caminhada estudando o
Território e seus desdobramentos.
À professora Allynne Andrade, cujas aulas de Gênero e Raça, ecoarão em
nossa consciência sempre. Obrigado por apresentar uma visão mais humana e
socialmente responsável do Direito.
Ao professor Danilo Fuster por sua irreverência e habilidade sem igual para
tratar dos mais variados temas durante o decorrer do curso.
Ao professor Renato Brizzi, por sua tranquilidade e paciência, sua humildade
e dedicação servem de exemplo para todos nós.
À professora Erika Ribeiro, sua atenção a ETEC Cepam nos torna
entusiastas de estudar políticas públicas, seu exemplo de engajamento mostra que
sempre podemos realizar um pouco mais.
Ao professor Johnny Borges que nos permitiu realizar este trabalho de
conclusão de curso de maneira livre, pouco tradicional, e sempre acreditando em
nosso potencial.
Obrigado. Seremos eternamente gratos.
5

“Sou Travesti com toda carga negativa que


a transfobia e hipocrisia impõem a esta
palavra, mas com toda alegria, orgulho e
força de ser esta metamorfose ambulante.”

Symmy Larrat
6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7

OBETIVOS DA INTERVENÇÃO E AVALIAÇÃO DO PROGRAMA ............................. 8

JUSTIFICATIVAS DE POLÍTICA PÚBLICA VOLTADA ÀS PESSOAS TRANS ........... 9

PROGRAMA TRANSCIDADANIA E PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ..................... 13

ANÁLISE TÉCNICA DO PROGRAM TRANSCIDADANIA E .................................... 18

CONCLUSÃO............................................................................................................ 27

BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 29
7

INTRODUÇÃO

Políticas Públicas são ações governamentais que visam intervir na


sociedade, buscando alcançar resultados positivos junto a determinados atores
dentro de algum cenário específico. Essa interferência tem como objetivo atender
demandas da coletividade e solucionar problemas sociais.

Dentro das Políticas Públicas, devemos dar destaque às políticas


afirmativas, as quais de maneira focalizada buscam alocar recursos em benefício de
pessoas pertencentes a grupos discriminados e vitimados pela exclusão social ou
social-econômica no passado ou no presente.

Estas medidas têm como objetivo combater discriminações étnicas,


raciais, religiosas ou de gênero, aumentando a participação de minorias no processo
político, no acesso à educação, saúde, emprego, bens materiais, redes de proteção
social e/ou no reconhecimento cultural.

Dentro deste contexto, o Programa Transcidadania desenvolvido pela


Prefeitura de São Paulo, que busca promover a cidadania de travestis e transexuais
pode ser entendido como uma Política Pública afirmativa que tem se mostrado
inovadora, uma vez que é pioneira no quesito transversalidade, pois engloba vários
eixos, unindo educação, capacitação profissional, inserção no mercado de trabalho e
formação cidadã.

Desta forma, o presente estudo irá analisar o Programa Transcidadania,


buscando inicialmente entender todas as ações desenvolvidas no Programa,
elencando pontos positivos e/ou negativos.
8

OBJETIVOS DA INTERVENÇÃO E AVALIAÇÃO DO PROGRAMA

Avaliar o Programa Transcidadania com relação à promoção dos direitos


humanos e à cidadania de Travestis e Transexuais em situação de vulnerabilidade
social na cidade de São Paulo.

Se propondo a realizar uma pesquisa de percepção dos beneficiários do


Programa Transcidadania; analisar junto às beneficiários do Programa a
transformação ocorrida no tocante à conclusão da escolaridade, bem como a
preparação para o mundo do trabalho por meio da formação profissional e formação
cidadã; avaliar o aperfeiçoamento institucional no tocante ao atendimento qualificado
e humanizado no que tange à preparação de serviços e equipamentos públicos e
identificar eventuais falhas na implementação do programa, buscando apontar
possíveis correções no enfretamento das questões apresentadas.
9

JUSTIFICATIVAS DA POLÍTICA PÚBLICA VOLTADA ÀS PESSOAS TRANS

A situação social das “Pessoas Trans” no Brasil é no mínimo, muito


alarmante. Temos assistido a uma série de negações e violações de direitos
humanos como o acesso à educação, saúde, moradia, emprego e renda, entre
outros. Soma-se a esses problemas, a elevada taxa de assassinato contra essa
população.

Segundo uma pesquisa divulgada pela ONG internacional Transgender


Europe, o Brasil é o país onde mais ocorrem assassinatos de travestis e transexuais
em todo o mundo. Entre janeiro de 2008 e abril de 2013, foram 486 mortes, quatro
vezes a mais que no México, segundo país com mais casos registrados. O relatório
é baseado no número de casos reportados, o que indica que ele pode ser ainda
maior. Travestis e transexuais ainda seguem na luta pela inserção no mercado de
trabalho. Por causa da identidade de gênero, a maioria das empresas seguem
distantes da inclusão. Dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais
(ANTRA) mostram que a situação é preocupante: 90% estão se prostituindo no
Brasil.

De acordo com o banco de dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), que é


atualizado diariamente pelo site QUEM A HOMOTRANSFOBIA MATOU HOJE, 318
(trezentos e dezoito) pessoas LGBTs foram assassinados no Brasil em 2015: um
crime de ódio a cada 27 horas: 52% gays, 37% travestis, 16% lésbicas, 10%
bissexuais. A homofobia mata inclusive pessoas não LGBT: 7% de heterossexuais
confundidos com gays e 1% de amantes de travestis.

A condição da população Transgênero no Brasil merece atenção especial.


Diante dessa realidade social das “Pessoas Trans” e da atuação política dos
movimentos LGBT e de Direitos Humanos, algumas iniciativas governamentais vêm
surgindo no Brasil com vistas a tentar enfrentar esse problema e garantir o acesso
das “Pessoas Trans” aos serviços públicos e à condição de dignidade humana,
prevista em inúmeros pactos e convenções internacionais.
10

Políticas públicas que ofereçam tratamento de saúde, moradia, formação


básica, profissional e social são imprescindíveis e vitais para proporcionar cidadania
para este grupo. Seguindo estes parâmetros a meta 61 do Plano de Metas da
Cidade de São Paulo tenta dar assistência para pessoas LGBTs, e dentro das
medidas colocadas nesta meta, está o Programa Transcidadania.

O Programa Transcidadania busca promover os direitos humanos e a


cidadania, oferecendo condições e trajetórias de recuperação de oportunidades de
vida para travestis e transexuais em situação de vulnerabilidade social. O programa
possui como dimensão estruturante a oferta de condições de autonomia financeira,
por meio da transferência de renda condicionada à execução de atividades
relacionadas à conclusão da escolaridade básica, preparação para o mundo do
trabalho com formação profissional e formação cidadã. A essas ações soma-se um
exercício de aperfeiçoamento institucional, no que tange à preparação de serviços e
equipamentos públicos para atendimento qualificado e humanizado.1

Este trabalho tem por objetivo analisar o Programa Transcidadania da


Prefeitura de São Paulo, descrevendo suas ações e formas de atuação para o
enfrentamento da Transfobia2 e promoção da cidadania de travestis e transexuais
neste município. Esta análise está ancorada na motivação da importância de
compreender iniciativas governamentais que visem garantir a dignidade da pessoa
humana de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. Desta forma,
analisaremos esta política pública através do seu decreto de criação, o Decreto nº
55.874/2015, que demonstra detalhes, seja da concepção adotada pelo atual
governo do município de São Paulo, seja do desenvolvimento e execução desta
política junto à população trans paulistana.

1
Fonte – Prefeitura de São Paulo – Portal do Programa Transcidadania
2
A transfobia é uma série de atitudes ou sentimentos negativos em relação às pessoas travestis,
transexuais e transgêneros. Seja intencional ou não, a transfobia pode causar severas consequências para
quem por ela é assim discriminado. As pessoas trans também podem ser alvo da homofobia, tal como
homossexuais podem ser alvo de transfobia, por parte de pessoas que incorretamente não distinguem
identidade de gênero de orientação sexual.
11

Esta análise terá como foco, mostrar como se deu o Programa


Transcidadania no Município de São Paulo com relação a inclusão e promoção
educacional e profissional do público atendido, ainda traremos dados e pesquisas
para amparo do trabalho de modo evidenciar a percepção do grupo trans acolhido
pela política pública em questão, trazendo assim, sugestões e eventuais correções.

Antes de iniciar a avaliação do Programa devemos trabalhar o


entendimento de alguns conceitos, os quais são fundamentais para contextualizar as
pessoas trans na sociedade atual. A sexualidade humana é parâmetro de suma
relevância na definição da individualidade de cada pessoa, sendo parte integrante
dos seus direitos da personalidade, e, como tal, merecedora de toda a proteção.

Em 1968, Robert Stoller define a diferença conceitual entre sexo e gênero:


sexo refere-se aos aspectos anatômicos, morfológicos e fisiológicos (genitália,
cromossomos sexuais, hormônios) da espécie humana. Ou seja, a categoria sexo é
definida por aspectos biológicos: quando falamos em sexo, estamos nos referindo a
sexo feminino e sexo masculino, ou a fêmeas e machos. Já o conceito de gênero
remete aos significados sociais, culturais e históricos associados aos sexos.3

No contexto da sexualidade residem questões como o sexo/gênero


(homem/masculino e mulher/feminino), a orientação sexual (heterossexual,
homossexual, bissexual ou assexual) e a identidade de gênero (cisgênero ou
transgênero) que fazem parte dos elementos de identificação da pessoa natural.4

Cada pessoa transexual age de acordo com o que reconhece como


próprio de seu gênero: mulheres transexuais adotam nome, aparência e
comportamentos femininos, querem e precisam ser tratadas como quaisquer outras
mulheres. Homens transexuais adotam nome, aparência e comportamentos
masculinos, querem e precisam ser tratados como quaisquer outros homens.

Desta forma, temos a seguinte definição:

3
GROSSI, Miriam Pillar. Identidade de gênero e sexualidade
4
LIMA, Rita de Lourdes (2012). Diversidade, identidade de gênero e religião: algumas reflexões
12

Mulher transexual é toda pessoa que reivindica o reconhecimento social e legal


como mulher.

Homem transexual é toda pessoa que reivindica o reconhecimento social e legal


como homem.

Pessoas transexuais geralmente podem sentir que seu corpo não está
adequado à forma como pensam e se sentem, e podem querer “corrigir” isso
adequando seu corpo à imagem de gênero que têm de si. Isso pode se dar de várias
formas, desde uso de roupas, passando por tratamentos hormonais e até
procedimentos cirúrgicos. Necessário destacar que isso não é uma regra rígida e
determinante na vida das “pessoas trans”.

Em contrapartida são travestis as pessoas que vivenciam papéis de


gênero feminino, mas não se reconhecem como homens ou como mulheres, mas
como membros de um terceiro gênero ou de um não-gênero. Vale destacar que,
sempre devemos nos referir a elas sempre no feminino, o artigo “a” é a forma
respeitosa de tratamento.

Tendo em vista a situação de iminente vulnerabilidade social de travestis e


transexuais, a Prefeitura da cidade de São Paulo resolveu elaborar uma política
pública voltada para essa população.

Portanto, políticas afirmativas de gênero, diversidade sexual, raça, entre


outras, são elaboradas com o escopo de solucionar problemas sociais. Por isso é
tão importante a pressão exercida pelos movimentos sociais haja visto que suas
estratégias de denúncia social poderão originar políticas públicas.
13

PROGRAMA TRANSCIDADANIA E PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Após a realização de pesquisas bibliográficas sobre temas afetos aos


objetivos gerais e específicos deste trabalho, quais sejam: transexualidade,
travestismo; políticas públicas afirmativas; pessoas em situação de rua e pessoas
em vulnerabilidade social. Buscamos diretamente no Sítio da Prefeitura de São
Paulo as definições e propostas do Programa Transcidadania, as quais
reproduzimos a seguir:

OBJETIVO: Este projeto tem como proposta fortalecer as atividades de


colocação profissional, reintegração social e resgate da cidadania para a
população LGBTT em situação de vulnerabilidade, atendidas pela
Coordenadoria da Diversidade Sexual (CADS).

Definição: Programa da Prefeitura de São Paulo destinado a promover os


direitos humanos e a cidadania e oferecer condições e trajetórias de
recuperação de oportunidades de vida para travestis e transexuais em
situação de vulnerabilidade social. O programa possui como dimensão
estruturante a oferta de condições de autonomia financeira, por meio da
transferência de renda condicionada à execução de atividades
relacionadas à conclusão da escolaridade básica, preparação para o
mundo do trabalho e formação profissional, formação cidadã. A essas
ações soma-se um exercício de aperfeiçoamento institucional, no que
tange à preparação de serviços e equipamentos públicos para
atendimento qualificado e humanizado. 5

Parceria: Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania


(SMDHC) e Secretaria Municipal do Desenvolvimento, Trabalho e
Empreendedorismo (SDTE).

5
ttp://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/trabalho/cursos/operacao_trabalho/index.php?p=170430
14

– Valor do auxílio mensal: R$ 924,00 (Novecentos e vinte e quatro


reais).

– Carga horária diária: 6 (seis) horas.

Em seguida, buscamos ter contato direto com os idealizadores do


Programa, e realizamos diversas visitas técnicas ao Centro de Referência LGBT, da
Prefeitura da Cidade de São Paulo, a fim de conhecer de perto os técnicos que
estão diretamente ligados na implementação desta Política Pública. Tivemos a
oportunidade de entrevistar a Gestora Pública Symmy Larrat, Ativista Política, Mulher
Trans, que em parceria com outros Gestores da Prefeitura de São Paulo criaram e
deram início ao Programa.

Ato contínuo, fizemos contato com burocratas de nível de rua que


estavam diretamente envolvidos com o Programa, conversamos com Pedagogos,
Psicólogos e Assistentes Sociais sobre como são desenvolvidas as atividades
realizadas no Programa. Descobrimos que os beneficiários do Programa, são
orientados e encaminhados a retornar aos estudos, o que na maioria das vezes
ocorre pela realização de matrículas em cursos de ensino na modalidade Educação
para Jovens e Adultos (EJA).

Neste momento, é imperioso destacar a importância de promover a


conclusão da escolaridade básica das “Pessoas Trans”, pois grande parte desta
população tem seu direito de acesso à Educação, negado pela sociedade, que
segrega Travestis e Transexuais, ceifando prematuramente suas possibilidades e
expectativas com relação ao sistema educacional.

Oportuno destacar a importância do Programa que, além de incentivar a


recolocação dos beneficiários no sistema educacional tradicional, preza de maneira
assertiva na Educação focada em Direitos Humanos, seja pela realização de
Palestras ou mesmo cursos diretamente relacionados aos Direitos e Deveres Civis,
Noções de Cidadania e História do Movimento LGBT.
15

Posteriormente buscamos entrar em contato direto com os beneficiários


do Programa, todavia, este contato foi inicialmente negado, pois há uma
preocupação, fundamentada, do corpo Psicopedagógico do Programa em evitar que
os beneficiários sejam colocados em situações vexatórias, desconfortáveis ou
mesmo que eles virem objeto de pesquisa de estudantes ou outros profissionais da
área da Educação ou de Políticas Públicas. Desta forma, nossa ideia inicial de
aplicar pesquisas de satisfação junto aos beneficiários, se viu sumariamente
frustrada. Inicialmente, deveríamos nos contentar apenas em ter acesso a Balanço
Total do Programa Transcidadania, com as características sociodemográficas dos
beneficiários do Programa.6

Diante deste obstáculo, e aproveitando a oportunidade de analisar os


dados levantados pelos próprios aplicadores do Programa em questão, dedicaremos
um Capítulo inteiro para análise dos dados relativos ao Perfil dos Beneficiários do
Programa.

Todavia, antes de analisar os referidos dados cumpre destacar um


momento deste trabalho de conclusão de curso. Como dito anteriormente, em
diversos momentos tivemos contato direto com os gestores ligados ao Programa, e
em uma destas reuniões, conversando com a Equipe multidisciplinar que determina
as atividades pedagógicas do Programa e identificamos um ponto chave na
reinserção das beneficiárias do Programa junto a Sociedade, que seria a colocação
das pessoas trans no Mercado de Trabalho. Neste dado momento nós Alunos da
Etec Cepam, aceitamos o convite do Programa Transcidadania e demos início a uma
parceria, cujo ponto alto seria a realização de uma Oficina de Estudos direcionada
ao Mercado de Trabalho.

Em que pese nossas limitações profissionais e mesmo em nossa


formação, buscamos ajuda de diversos professores com o intuito de realizar uma
aula para as beneficiárias do Programa, e de alguma forma ter contato com elas e
alcançar na medida do possível suas reais impressões sobre a eficácia e eficiência
do Programa.

6
Anexo I
16

A fim de dar atendimento aquilo que nos foi solicitado buscamos parceria
com outros profissionais da Educação, sensíveis ao tema de políticas públicas
afirmativas, e conseguimos estruturar uma Oficina Design Thinking com foco em
Mercado de Trabalho.7 Após muitas tratativas burocráticas, foram determinadas as
datas que Oficina seria realizada.

É imperioso destacar que essas tratativas se deram durante o período


eleitoral nas disputas pela Prefeitura de São Paulo, e superado este período
eleitoral, com a vitória ainda em primeiro turno de outro candidato a prefeitura.
Acabamos por identificar a grande preocupação por parte de todos os Atores
envolvidos com o Programa Transcidadania, tanto das beneficiárias quantos dos
funcionários públicos e gestores envolvidos com o Programa. Estes passaram a
temer sua descontinuidade. Em que pese a manutenção e ampliação do Programa
estar prevista dentro do plano de governo do candidato eleito, muito se discute na
forma que o Programa teria a partir da próxima gestão e mesmo qual seria o seu real
alcance dentro de uma realidade cada vez mais conservadora que parece avançar
dentro da política nacional no País.

Ocorre ainda que diante do avanço do calendário escolar, tanto das


beneficiárias do Programa, quanto o nosso junto a ETEC – Cepam. Acabamos por
formalizar as datas para realização da Oficina nos dias 07 e 11 de novembro, a
oficina seria aplicada às beneficiárias que fazem parte do programa desde 2015, e já
estão caminhando para o término do período estipulado pela Prefeitura. Todavia,
para nossa surpresa e total frustração, no dia e horário estipulados comparecemos
no Centro de Cidadania LGBT onde a oficina seria aplicada, e após realizar todos
preparativos para realização da Oficina, constatamos que nenhuma das beneficiárias
compareceu para participar do evento.

Deixando de lado a insatisfação de ver boa parte de nosso trabalho ser


prejudicada, buscamos entender esta situação com um ponto que deve ser revisto
dentro do Programa. Em diversos momentos que tivemos contato com os
profissionais envolvidos com o Programa, percebemos que eles sempre pontuaram

7
Anexo II
17

que as beneficiárias realizavam atividades pedagógicas esporádicas, até por se


tratar de uma das condicionantes para o recebimento da Bolsa Auxílio oferecida pelo
Programa. Todavia, já havíamos notado que além de procurar sanar o déficit dos
anos de estudos perdidos, muitas beneficiárias, não se sentiam suficientemente
motivadas a participar de “aulas extras” que são ofertadas durante sua participação
no programa.

Considerando o momento que vivemos, onde muito se discute a reforma


do ensino no Brasil, e quais seriam as diretrizes que vão definir este processo de
transformação, podemos imaginar que muito deve ser reformulado e pensado sobre
a relação aluno e professor, além das inteligências que buscamos desenvolver nas
pessoas que estão na posição de aluno. Queremos Alunas e Alunos prontos para
obedecer? Ou dispostos a questionar? A posição passiva de apenas “receber” o
conhecimento ofertado por professores parece não ser mais o suficiente para
garantir que as alunas e alunos protagonizem a posição que lhe é devida no sistema
educacional.

Neste mesmo contexto surge a questão: as pessoas trans estão


devidamente inseridas num cenário atual da Educação no Brasil? Para nós, no
momento, a resposta deste questionamento não possui uma resposta positiva. Esta
evidente que o as instituições de ensino tradicional não estão minimamente
preparados para receber as pessoas trans de forma digna e acolhedora, algo que
deveria ocorrer com qualquer pessoa, independentemente de etnia, raça, orientação
sexual, condição financeira, identidade de gênero. Esta situação se evidencia pois,
mesmo a equipe multiprofissional existente dentro do Programa Transcidadania não
conseguiu prototipar ou mesmo experimentar um método ou mesmo uma forma de
aplicar esse formato de aula que atraia a atenção e o real interesse das beneficiárias
do Programa.
18

ANÁLISE TÉCNICA DO PROGRAMA TRANSCIDADANIA

A análise sociodemográfica realizada pelos Gestores do Programa


Transcidadania versa sobre diversas características das beneficiárias do Programa,
tivemos acesso a dados relativos a Idade, Etnia, Local de Origem, Situação de
Moradia, Saúde (Hormonioterapia), Escolaridade (motivos de evasão escolar e
evolução escolar durante a participação no Programa), Retificação de Nome Civil e
Motivos de Desligamento do Programa.

Com relação à idade das beneficiárias, verificamos que cerca de 61%


delas tem de 30 a 49 anos de idade, o que evidencia que, apesar de já terem
atingido à vida adulta, ainda não conseguiram uma colocação profissional e desta
forma recorrem a um Programa Assistencial com complementação de renda.
Observamos ainda que 31% das integrantes do Programa possuem entre 18 e 29
anos, ou seja, início da vida adulta onde a maior parte das oportunidades de
colocação profissional surge, seja por meio de estágios ou empregos, entretanto, as
beneficiárias do Programa encontram-se na sua maioria em situação de
vulnerabilidade social.

No tocante a região de nascimento é importante destacar a presença de


beneficiárias de todas as regiões do país, com uma predominância de 43% da região
Sudeste, seguida de 42% da Região Nordeste. Para buscar entender estes dois
polos de concentração, temos diversos fatores para analisar: a Região Sudeste
concentra uma grande porcentagem, porém se olharmos mais a fundo outro dado
nos mostra que 84% das atendidas pelo programa nasceram no estado de São
Paulo, sobrando 11,3% para o estado do Rio de Janeiro e 4,1% para o estado de
Minas Gerais, sabendo que nos últimos anos a região sudeste tem sido palco de
grandes discussões no país, vemos que o tema LGBT é muito pautado pelas
militâncias desta região, muitos debates, encontros, como o “Encontro Anual de
Travestis e Transexuais da Região Sudeste”, e até eventos como a “Parada do
Orgulho Gay”, colocam em evidência as questões de gênero e sexualidade, dando
19

mais acesso ao conhecimento sobre estes assuntos e permitindo que mais pessoas
possam assumir sua identidade de gênero para assim se enxergarem felizes como
se reconhecem e não como a sociedade pretende.

Por outro lado, se atentando mais ao alto número de beneficiárias


nascidas na Região Nordeste, devemos considerar um panorama relativamente
inverso ao da região Sudeste no que se refere a discutir a sigla LGBT e seus
assuntos pertinentes, que dirá pautar eventos ou debates sobre identidade de
gênero transexualidade, travestilidade e afins.

O nordeste é uma região em desenvolvimento territorial, econômico e


social, mas que apresenta ainda uma sociedade mais conservadora, mais ligada aos
valores considerados morais de uma “família tradicional”, e muito resistente às
questões de reconhecimento de gênero e sexualidade, provas destas afirmações é
de que segundo o Relatório Anual de Assassinatos LGBTs do Brasil do Grupo Gay
da Bahia (GGB) de 2013-2014, a região nordestina se confirma como a área mais
homofóbica do Brasil, pois, abrigando 28% da população brasileira, concentra 43%
das mortes por homofobia. Atrelado aos últimos dados expostos é possível citar que
pela falta de oportunidades de trabalho e de acesso a serviços públicos básicos no
nordeste, boa parte dos transexuais e travestis optam por migrar para região
sudeste, mais especificamente para o estado de São Paulo, onde o mercado de
trabalho oferece mais viabilidades, além de ter o mercado da prostituição de
transexuais e travestis mais consolidado em algumas áreas, não tendo estes que
competir com o firme comércio de prostituição de menores do nordeste.

O grande número de favorecidas pelo Programa Transcidadania serem


nascidas no nordeste é um reflexo da realidades das migrações de travestis e
transexuais da região nordestina para o sudeste do país, um outro fato que explica
essa mudança de regiões é a oportunidade de acesso ao serviços públicos,
principalmente a tentativa de conseguir a hormonioterapia, e caso não obtenham
sucesso no sistema público de saúde sabem das facilidades oferecidas pelo
mercado clandestino para conseguir os hormônios, próteses e demais
procedimentos necessários a modificação do corpo.
20

Sobre a etnia, verifica-se que das atendidas pelo Programa


Transcidadania 35,3% declaram-se brancas e 64,7% declaram-se pretas e pardas.
Dentro de um número de 221 pessoas, 143 se identificam como pretas ou pardas,
esse dado já nos elucida que a procura por um Programa Assistencial com
complementação de renda é maior entre travestis e transexuais pretos ou pardos, é
possível dizer aqui que num país onde o racismo é uma questão estrutural da
sociedade, mesmo num grupo já tão vulnerável, brancos conseguem um melhor
destaque, é o que afirma uma pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco-
UFPE realizada pela doutoranda em sociologia Allyne Nunes, o estudo que indica
que mesmo no mundo da prostituição mulheres brancas conseguem cobrar mais e
ter mais clientes que mulheres negras, e ainda cita que mulheres negras sofrem
mais agressões que mulheres brancas, trazendo este recorte para realidade de
transexuais e travestis (segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais-
ANTRA 90% dos Trans estão na prostituição) é plausível afirmar que ocorre situação
semelhante.

O racismo sendo um dos principais alicerces da desigualdade na nossa


sociedade ainda constitui-se como um motivo para validar outras formas de
preconceito, seja de classe social, gênero, religiosidade ou outras formas de
discriminação. Chama a atenção para que em governos que pretendem pautar
ações e políticas voltadas à atenção de travestis e transexuais, como, por exemplo,
o Programa Transcidadania, considere com a sua devida importância os recortes
raciais.

No que concerne ao campo da escolaridade, é perceptível que um dos


primeiros locais onde o transexual ou travesti sofre com o preconceito fora do âmbito
familiar, é no desenvolvimento escolar. Desta forma, verificamos que 64% dos
beneficiários do programa deixaram de estudar quando estão cursando entre a 5ª e
a 8ª série do Ensino Fundamental. Outro dado aterrador é que 18% deixaram de
estudar nos primeiros anos do ensino fundamental, e parte desta população nunca
sequer chegou a estudar.
21

Cabe ressaltar que apenas 15% das entrevistadas chegaram cursar o


Ensino Médio, todavia, também pararam de estudar. Considerando os dados de
Evasão escolar, ou mesmo os motivos que fazem as “pessoas Trans” abandonarem
os estudos, fica claro que mais de 40% das beneficiárias do Programa deixam de
estudar antes do início e durante a adolescência. Este mesmo percentual se repete
dos 16 aos 21 anos o que acaba evidenciando um número elevado de evasão
escolar.

Considerando os apontamentos anteriores fica perceptível a


rejeição/negação das pessoas trans dentro do ambiente escolar, o que contribui para
o elevado índice de evasão. A discriminação e violência transfóbica na escola não é
exercida somente por alunos, mas também abarca professores e outros profissionais
de aprendizagem, é o que afirma o Ministério da Educação por meio do Relatório do
Projeto de Estudos sobre Ações Discriminatórias no Âmbito Escolar, realizado pela
FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) – 20098. A pesquisa revela que
87% da comunidade escolar tem preconceito contra LGBTs, esse preconceito que
garante a discriminação e até mesmo a violência no ambiente escolar, também se
reflete no planejamento pedagógico.

Indo de encontro àquilo que abordamos anteriormente, verificamos que


quando a pessoa trans inicia seu processo de descoberta seja para si mesma ou
para família, ocorre, na maioria das vezes, um processo de rejeição ou negação de
sua identidade. Em grande parte dos casos a rejeição extrapola os limites da
entidade familiar e alcança as instituições de Ensino. E assim todas estas questões
que acarretam num abandono compulsório dos estudos, que mais se parece com
uma expulsão da vida escolar, garantem ao transexual ou travesti a não qualificação
para colocação no mercado profissional, bem como assevera para a situação de
vulnerabilidade social e econômica.

8
MEC – INEP – Projeto de Estudo sobre Ações Discriminatórias no âmbito escolar, organizadas de acordo com
áreas temáticas, a saber, étnico-racial, gênero, geracional, territorial, necessidades especiais, socioeconômica e
orientação sexual http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/relatoriofinal.pdf
22

Ainda sobre a escolaridade temos adiante os dados de evolução escolar


das beneficiárias, estes nos esclarecem sobre um progresso nítido e que só faz
comprovar o êxito do programa no quesito educação, além de comunicar da
importância de afirmar as “pessoas trans” o acesso à educação básica. Vemos que
em 2015, 73 beneficiárias (os) que representam 87,95%, cursavam Ensino
Fundamental. Destas (es), 25 beneficiárias (os) que representam 30,12% concluíram
em Dezembro de 2015 o Ensino Fundamental e entraram no Ensino Médio. Das 9
beneficiárias (os), correspondendo a 10,84% que cursavam o Ensino Médio, 2
beneficiárias (os), que representam 2,4% concluíram o Ensino Médio em Dezembro
de 2015.

Acrescente-se ainda que em Janeiro de 2016, 29 beneficiárias (os), que


representam 27% cursavam Ensino Médio. Destas (es), 6 beneficiárias (os), que
representam 5%, em Junho de 2016 concluíram o Ensino Médio. 87% das
beneficiárias cursavam o Ensino Fundamental e 13% cursavam o Ensino Médio até
dezembro de 2015; e 30% das beneficiárias concluíram o Ensino Fundamental e
ingressaram no Ensino Médio em 2016.

Acerca do tema moradia das beneficiárias do Programa Transcidadania,


podemos começar observando a pesquisa que mostra a situação inicial de moradia
das atendidas, onde 60,2% delas residiam em domicílios de aluguel, 11,3% residiam
em domicílios próprios, 9,5% residiam em locais cedidos, 3,6% residiam em
ocupações e 15,4% se encontravam em situação rua.

Das que se encontravam em situação de rua 79,41% se estavam


albergadas e 25,93% desabrigadas. É importante perceber que a rejeição,
condenação e desrespeito aos transexuais e travestis, que começa na infância,
promove o abandono familiar, o abandono escolar e a exclusão do mercado de
trabalho, faz com que o destino de muitas seja as ruas.

É evidente, que a condição de rua contribui para que aquelas que já


recorrem à prostituição para se manter, se prostituam ainda mais, não respeitando
os limites do corpo, correndo o risco de contrair doenças e iniciando no consumo de
drogas, ou aumentando a quantidade que já consumia para conseguir suportar os
23

abusos a que se expõe. Desse modo, é perceptível que os problemas envolvendo as


pessoas trans só se multiplicam, e quando se olha para o quadro de negligência que
essa população sofre, entende-se que estes estão sujeitos a uma enorme gama de
riscos que sociedade oferece, não experimentados por grande parte daqueles que
não se encaixam no contexto de “trans”.

Os dados colocados como a situação atual das beneficiárias do


programa, aumenta para 64,3% o números de pessoas que moram em residências
alugadas, mantêm em 9,5% as que se encontram em moradias cedidas, aumenta
para 5,4% o números de atendidas residindo em ocupações, e diminui para 11,3% a
quantidade em situação de rua. Podemos observar uma tímida evolução nas
condições e situações de moradia. Nesse tocante é importante destacar que,
durante as visitas técnicas que realizamos, em diversas ocasiões ouvimos
depoimentos de beneficiárias que em companhia de outras beneficiárias se juntaram
para alugar imóveis, ou mesmo deixaram de viver em albergues passando viver em
conjunto.

Porém, do porcentual que ainda se encontra em situação de rua, 100%


estão albergadas, evidenciando que a proposta do programa assistencial
Transcidadania teve sucesso significativo em encaminhar essas beneficiárias para
albergues e garantindo a elas mais segurança e dignidade no que concerne a
moradia.

Do relacionado aos dados sobre a hormonioterapia das beneficiárias do


Programa Transcidadania, o objetivo de oferecer o serviço tem sucesso encontrado
nos 60,6% das atendidas integrantes do processo. No Brasil, o Ministério da Saúde
através das Portarias 457/2008 e 2.803/2013, estabelece diretrizes, redefine e
amplia o procedimento transexualizador através do Sistema Único de Saúde. A
hormonioterapia faz parte destes procedimentos, e portanto está assegurada nestas
legislações, porém, bem sabemos que na prática existem as dificuldades de
implantação das políticas, e esta sofre com os contratempos do governo em
conseguir implementar as ações necessárias em Hospitais e Unidade Básicas de
24

Saúde, como, por exemplo, a preparação das equipes de funcionários para tratar
dos pacientes.

Enquanto o Ministério da Saúde tenta resolver questões como essa, os


travestis e transexuais que não conseguem o auxílio necessário para começar a
transexualização, se veem numa situação onde a única solução é recorrer ao
mercado clandestino de hormônios, o que muitos fazem, colocando assim suas
vidas em risco. Portanto, concluímos que a grande porcentagem de integrantes do
Transcidadania sendo assistidas pelo processo de hormonioterapia, obtém êxito em
levar este apoio e propiciar para beneficiárias a satisfação com o próprio corpo que
travestis e transexuais buscam, desse modo retirando mais pessoas da margem do
mercado clandestino de hormonização.

Relativo aos dados de retificação do nome civil, o Programa


Transcidadania tem 54,3% das pessoas atendidas em processo de retificação,
sendo que 4,5% já possuem o nome retificado e os outros 41,2% não tem interesse
por diversas motivações pessoais. A retificação traz para o travesti ou transexual o
reconhecimento de poder ser chamado pelo nome adequado ao que este entende
como sua identidade de gênero, isso o empodera para mais participação social, por
exemplo, facilitando o acesso a diversos equipamentos públicos, e ainda educando a
pessoa trans na luta pela reivindicação de seus direitos.

Tratando-se do assunto evasão dentro do Programa Transcidadania, do


total de 221 beneficiárias, 27 foram desligadas, sendo 17 desligamento na turma de
2015 e 10 desligamentos na turma de 2016. Da soma dos dois números anteriores,
16 abandonaram ou desistiram, 9 foram desligadas por incompatibilidade com os
termos da política pública em questão, e 2 não permaneceram no programa por
outros motivos.

No tocante ao tema prostituição, os dados expostos mostram que 35%


das beneficiárias assumiram no primeiro atendimento exercer a atividade de
prostituição, em acompanhamentos individuais e rodas de conversas posteriores o
número sobe para 80% das atendidas afirmando terem feito prostituição antes de
entrar no programa e tendo esta prática como única fonte de renda. A prostituição é
25

um assunto delicado, pois ela é o reflexo de todas as negligências sofridas pelas


“pessoas trans”, visto que, num cenário onde houve o rompimento dos laços
familiares, a evasão escolar, a discriminação no mercado de trabalho, as
dificuldades legais e como consequência a perda dos direitos mais básicos para
sobreviver, uma das únicas alternativas é a prostituição, os dados da Associação
Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) dizem que 90% das trans estão no
mercado da prostituição, é também neste mercado que as condições para as
violências se multiplicam junto com o risco de contrair doenças e de se iniciar no
mundo das drogas para que assim consigam suportar a rotina extenuante. Portanto,
travestis e transexuais vivem em nosso país no mais baixo nível de vulnerabilidade
social.

Em números mais atuais do programa, 20% das favorecidas (os) dizem


não exercer mais esta atividade, já os 60% restante afirma continuar se valendo da
prostituição para complementar sua renda, porém, 100% das integrantes do
Transcidadania declaram não adotar esta ocupação como sua principal fonte de
renda. Tivemos a oportunidade de participar de uma roda de conversas, onde
diversas beneficiárias contaram sobre suas experiências com a prostituição. É de
suma importância salientar, que o Programa Transcidadania não condena a prática
de prostituição, e nem tem como objetivo fazer com que os favorecidos pela política
abandonem esse exercício, mas entende que sendo a prostituição mais um dos
meios ou o principal meio para que travestis e transexuais sejam abusados e
violentados, ter outros formas para conseguir renda é o objetivo primordial.

Por fim, outra informação importante evidenciada nos dados colhidos pelo
Programa é que 72,2% das beneficiárias já estão cadastradas no CAD Único9,
sendo que os outros 27,8% estão em processo de cadastramento. Essa visibilidade

9
O Cad Único é um instrumento de pesquisa social que visa coletar os dados e informações com o
objetivo de encontrar e identificar as famílias de baixa renda que existem em todo o país. Essas
famílias, através do Cad Único poderão se inscrever nos programas do Governo Federal como: Bolsa
Família, Projovem Adolescente/Agente Jovem, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti),
Tarifa Social de Energia Elétrica, entre outros.
26

é muito importante para as pessoas trans, se fazer presente no instrumento de


pesquisa social que norteia a criação, execução e desenvolvimento de diversas
políticas públicas é de suma importâncias evitar o apagamento que insiste em levar
as pessoas trans para clandestinidade e vulnerabilidade social.

Além disso, o CadÚnico também pode ser utilizado para isentar essas
famílias de pagamentos das taxas em concursos públicos que são realizados no
âmbito do poder Executivo Federal. As informações que são coletadas pelo
CadÚnico poderão ser usadas pelos governos, municipais, estaduais e federais.
27

CONCLUSÃO

Durante a realização do Trabalho de Conclusão de Curso, assumimos o


desafio de realizar a pesquisa de percepção dos beneficiários do Programa
Transcidadania, somado a isso deveríamos identificar os pontos positivos desta
política afirmativa e detectar eventuais falhas na implementação do programa,
buscando apontar possíveis correções no enfrentamento das questões
apresentadas.

Consideramos sem dúvida que o grande "facilitador" durante todo o


transcurso do trabalho foram as visitas técnicas realizadas ao Centro de Cidadania
LGBT, pois lá tivemos contato com diversas beneficiárias do Programa, esse contato
foi relevante, pois com a não possibilidade de se aplicar a pesquisa intencionada,
unimos aos dados sociodemográficos a nós oferecidos para apreciação também o
que presenciamos, a fim entender o funcionamento do Transcidadania e da relação
das atendidas com a ação desenvolvida pela política.

Sendo assim, concluímos que ficou evidente no decorrer das diversas


fases do trabalho que os resultados alcançados pelo Programa Transcidadania são
muito significativos, a começar pela adesão das beneficiárias passando pelos dados
de Situação de Moradia, Saúde (Hormonioterapia), Escolaridade (evasão escolar e a
evolução escolar durante a participação no Programa), Retificação de Nome Civil e
Motivos de Desligamento do Programa. São visíveis os progressos obtidos, os
dados expõem o êxito da política em promover condições para recuperação de
oportunidades de vida para travestis e transexuais em situação de vulnerabilidade
social.

Outro ponto observado durante os momentos em que tivemos contato


direto com as integrantes do Programa Transcidadania, foi que a formação cidadã
oferecida pelo programa trouxe às atendidas dimensões importantes de
reconhecimento social, com o entendimento de seus deveres e direitos como
cidadãs, facilitando a estas reivindicar seus espaços na sociedade.
28

Como falha do programa colocamos aqui um ponto relatado pelos


funcionários da política, estes dizem que o programa não visa garantir a inserção
das transexuais e travestis no mercado de trabalho, porém nós interpretamos que
sendo um dos pilares do programa a oferta de formação profissional a inclusão das
beneficiárias no mercado traria mais sucesso ao objetivo proposto, por isso
pensamos que ações de parcerias e incentivos ajudariam a promover a vida
profissional das atendidas pela política e ainda geraria um efeito que poderia se
estender as “pessoas trans” fora do âmbito do Transcidadania, contribuindo para o
combate a discriminação sofrida por este público no mercado de trabalho.

Todas estas considerações servem para avaliar o Programa de forma


positiva e torcer que o mesmo não seja descontinuado, mas sim ampliado, pois, não
há dúvidas sobre a necessidade de se atender a um número maior de pessoas, e
também da reprodução desta política pública em um país que comete um número
recorde de assassinatos contra a população trans.

São inegáveis as transformações ocorridas na vida das beneficiárias


desta política, assim como podemos identificar que os próprios envolvidos em
oferecer as ações aqui apresentadas aprendem diariamente com o trabalho que
realizam e também se transformam e crescem na tentativa de somar a luta por uma
sociedade menos excludente e discriminatória.

O desenvolvimento do tema nos permitiu enquanto alunos, articular


muitos dos conhecimentos adquiridos ao longo do curso com a prática no ambiente
de políticas públicas, em busca dos objetivos do fazer acontecer.

Esperamos ter contribuído com este trabalho para dar visibilidade ao


combate das discriminações sofridas por travestis e transexuais no Brasil.
Acreditamos que quanto mais pautarmos a transfobia com responsabilidade e
expondo o combate a esta prática, mais aceitação alcançaremos na sociedade, em
direção a garantia dos direitos igualitários a todos de forma a conquistarmos um país
mais justo.
29

BIBLIOGRAFIA

Associação Nacional de Travestis e Transexuais – ANTRA.

BENTO, Berenice. Nome social para pessoas trans: cidadania precária e


gambiarra legal. Contemporânea – Revista de Sociologia da UFSCar, São Carlos,
v. 4, n. 1, jan.-jun. 2014.

Decreto Municipal nº 55.874 de 29 de janeiro de 2015, instituído pelo Prefeito


Fernando Haddad.

FRANCO, Maria Amélia Santoro; PIMENTA, S. G. (Org.). Pesquisa em Educação-


Possibilidades investigativas/formativas da pesquisa-ação II. 1. ed. São Paulo:
Editora Loyola, 2008. v. 02. 152 p.

GROSSI, Miriam Pillar. Identidade de gênero e sexualidade. (disponível em:


http://miriamgrossi.paginas.ufsc.br/livros-artigos-e-publicacoes/artigos/).

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através do banco de Dados do Grupo Gay Bahia. (disponível em:
https://homofobiamata.wordpress.com/estatisticas/relatorios/2015-2/).

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Pessoas Trans, 2008/2009. (disponível em espanhol: http://tgeu.org/t-dor-2009-
espa%c3%b1ol/)
30

LIMA, Rita de Lourdes. Diversidade, identidade de gênero e religião: algumas


reflexões, 2012.

Ministério da Educação, Instituto Nacional de Pesquisas, Fundação Instituto de


Pesquisas Econômicas; Projeto de estudo sobre ações discriminatórias no
âmbito escolar, organizadas de acordo com áreas temáticas, a saber, étnico-
racial, gênero, geracional, territorial, necessidades especiais, socioeconômica
e orientação sexual, 2009

Portaria n° 457 de 19 de Agosto de 2008, instituída pelo Ministério da Saúde.

Portaria n° 2.803 de 19 de Novembro de 2013, instit uída pelo Ministério da Saúde.

Programa de Metas da Cidade de São Paulo, Versão Final Participativa, 2013-2016.

TEXTO-BASE DA 3ª CONFERÊNCIA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE


DIREITOS HUMANOS DE LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS E
TRANSEXUAIS
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ANEXO I
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ANEXO II
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