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A RAZ~O INSTRUMENTAL NA ORGANIZAÇ~O DO TRABALHO E


NAS TEORIAS ORGANIZACIONAIS:
um estudo crítico

Banca examinadora

Profa. Dra. Yolanda F. Baleio (orientadora)


Prefa. Dra. Liliana R. P. Segnini
Prof. Dr. Ruben C. Keinert


FUNDAC~O GET0LIO VARGAS
ESCOLA DE ADMINISTRAC~O DE EMPRESAS DE S~O PAULO

CARLOS ROBERTO FERRARI

A RAZ~O INSTRUMENTAL NA ORGANIZAC~O DO TRABALHO E


NAS TEORIAS ORGANIZACIONAIS:
um estudo critico

Disserta,~o apresentada ao
curso de Pds Graduaçio da
FGV/EAESP, ~rea de Concen-
traçio: Organizaç5es, Re-
~ ~undação Getulio Vargas .': ...•
.;,'".,D'",.•••
'iGV d:CO&deAdminislrawo
Empresas de 5.10 Paulo
';..... . \.
,? ." cursos Humanos e Planeja-
mento Estratégico, como
requisito para a obten,~o
~ 1lllIIIlllililiillllllllf'
1199000859
de titulo
Adm ín í
de
s t r ac ão ,
mestre em

Orientadora: Profa. Dra.


Yolanda Ferreira Baleio.
SUI-iÁI;: IO

II'-lTF!ODLJÇí~O 1

1. PRESSUPOSTOS TEdRICOS _ "..j.

1.1. Os paradigmas sociológicos de Burrell e


Morsan 6

1.2. Breve histórico da Escola de Frankfurt 10

1.2.1. A dialética da razio iluminista e a critica


da ciência 16

1.2.2. A Escola de Frankfurt e a racionalidade tec-


nológica____________________________________ 25

1.3. Aspectos metodológicos ~_________________ 30

2. A RACIONALIDADE DA ORGANIZAC~O DO TRABALHO SOB


O REGIME CAPITALISTA _

2.i. Características gerais da racionalidade capita-


lista no processo produtivo 33

2 " '")
r_ • A Organi2a~io do trabalho nos primórdios do ca-
p i t <3.1 i smo:: do P I.J. t ti ns '-out '-!;:,~j5 t ern" ao
11 ap <3:'- ec i'-
mento do sistema fabril 40
2.3. A organizaçio científica do trabalho 50

2.4. A organizaçio do trabalho na moderna sociedade


industrial~ a automaçio 60

3. TEORIAS ORGANIZACIONAIS E LEGITIMAC~O 75

3.1. ViS()E'Ssociais de mundo e a "id(:;-ologi<l


adm n s+ í í

t r <."\ t i 'Ia" ._._.


__._._._.
__. ._.__._._._. .. ... 76

3.2. A abordagem ideológica na literatura sobre


teorias organizacionais 89

3.3. Teorias organizacionais: sua contaminação pe-


la "ideologia administrativa" e a sua crescen-:
te importincia 101

4. CONCLUS~O 108

5. REFERiNCIA BIBLIOGR~FICA 115

6. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 125


Agradecimentos

Yolanda Ferreira Baleio, pela orientaçio e dedica-


çio inestimáveis

Aos

Amigos da Unimep e Unesp pelo incentivo


I ''''TI:;:O))Uç;í~O
i

INTRODUC~O

A evolu~âo das condiç5es de trabalho e da orga-


nizaçio do trabalho em companhias ind~striais e outras or-
ganizações modernas, constitui atualmente um importante cam-
po de pesquisa. Existem, basicamente, duas grandes orienta-
ç6es nas pesquisas feitas sobre estes aspectos: uma voltada
para a organizaçao do trabalho e outros elementos constitu-
tivos da estrutura das organiza~5es, que leva em conta os
objetivos dominantes das organizações (eficiência econ8mica,
principalmente). Este tipo de orientaçio gera o que poderia
ser cham~do de teoria organizacional gerencial. A outra
orientaçâo investiga prioritariamente a situaçio individual
(com algumas inferências para o aspecto coletivo) da situa-
çâo de trabalho, considerando principalmente o conte~do da
tarefa. Enquanto que a primeira orientaçio lida em sua maior
parte com administraçio de negócios, a outra enfoca as con-
diç5es de trabalho do ponto de vista do operário.

-
Embora ambas trabalhem com o mesmo tipo de ques-
~
(oes - o indivíduo~ o trabalho, a organizaçio - as conclu-
s5es a que ambas chegam sio muitas vezes, contraditórias.
Podemos verificar isto quarldo analisamos um importante pres-
suposto em várias áreas da teoria da organizações: o ideal
de eficiência num sentido amplo, aspirado por todas as or-
ganizaç5es, supõe que as pessoas tenham condições de traba-
lho satisfatórias e motivantes que, por sua vez, estimula-
riam boas performances e desenvolvimento pessoal. A partir
daí espera-se que as condições de trabalho mudem ao 10n90 do
tempo no sentido de tornarem-se cada vez mais satisfatórias
e motivantes. Uma importante pesquisa sobre condiç5es de
~\
t:

(Brav~rman~ 1974) revela que, para grandes grupos


de trabalhadores e operários de baixos salários~ o trabalho
tem sido desqualificado ~ ~mpobr~cido como resultado do in-
cremento da divisio do trabalho. Se esses resultados estio
e é bem provável que sim, podemos concluir que a
(':'Fic:Lência
n ão d eman da n e c e s sa r Lameu t e qUE~ a s pe~;soas t enh am

condiç6es de trabalho satisfatórias e motivantesu

A falta de confronto e integraçio de conhecimentos


neste campo seria um aspecto importante na explicaçio dessas
c on t r ad :i.•:;: ÕE:S; • Outro estaria ligado ~ aus~ncia de uma re-
flexio crítica em amplas áreas da teoria das organizacôes;
existe uma lacuna no estudo dos problemas ligados com racio-
nalidade e ideologia, principalmente nas pesquisas orienta-
das de maneira gerencial.

Parece ser clara a existência de duas formas típi-


cas de análise associadas a estas orientaçôes de qu i ..
p (~.~:; "

trabalhadores em termos econBmicos; aqui produtividade e


eficiência sio aspectos centrais. A outra objetiva conseguir
o máximo bem-estar dentro do trabalho em termos d~ auto-rea-
lizaçio, sa~de mental, etc; aqui aspectos econ6micos s50 ig-
norados e os valores humanísticos são relevados.

diferentes análises ocorrem devido ao


aspecto ideológico ai envolvido. Ao se estudar a organiza-
çio do trabalho e as condições de trabalho,
pecto técnico ligado de uma forma íntima a variáv~is indivi-
duais como motivaçio, satisfaçio, etc, e de SEUS reflexos a
um nível macro-social. Na medida em que aspectos sociais s~o
en vol ....•
Ld o s , o problema da objetividade e o do ponto de vis-
ta d e c '1 <:\ s ';:;fE: va í p er m(~;::l.·í d (·2' +or 1iI<\I. in d e '1 é'v'(~''1 S e u -;:.r esu '1 t :i~.:".

dos, análises e inferências.


Um primeiro passo para a superaç~o deste problema
é admitir sua exist&ncia, ou seja, há uma relaçio entre vi-
sSes sociais de mundo - ideo16gicas ou ut6picas (para usar
uma expressio de Mannheim) - e conhecimento, sempre que es-
te se liga a aspectos sociais.

Para M. Lbw~ (1987), as pessoas que estudam a rea-


lidade social, podem ser comparadas ao pintor de uma paisa-
o que elas vio pintar depende do que elas podem ver,
lsto é, do seu observat6rio. Segundo ele, esta metáfora to-
pol6gica encontra-se em Rosa de Luxemburgo e Mannheim, e e
boa o suficiente para explicar o significado de visSes so-
ciais de mundo e de suas limita,ões. Quanto mais elevado o
mirante onde se encontra o pintor, maior o seu horizonte e
maior a sua percep,io da totalidade da paisagem.
mals baixos permitiriam a visão de partes menores desta to-

A questio que se coloca a partir dai é saber qual


seria o mirante, o ponto de vista de classe e a de
mundo epistemologicamente privilegiados, isto é, re la t va-:
í

mente mais propicios ao conhecimento cientifico da realidade


social. Lbw~ (1987), a partir de sugestões de Luk á c '::;,
Lucien Goldmann e Ernst Bloch, admite a seguinte
o proletariado como classe universal tem seus in-
teresses coincidentes com os da maioria da humanidade; por-
tanto, ele nio é obrigado a esconder o conte~do histórico de
sua luta pela abolição de toda dominação de classe. Ele é,
por conseqUencia: '

pr i ITI(~ i r <:l classe tevolucionária cuja visão


de mundo (ut6pica) tem a possibilidade objetiva de
4

A organizaç~o do trabalho na moderna sociedade ca-


pitalista e feita~ obviamente~ a partir de uma determinada
visio social de mundo que é a dos gestores e/ou proprietá-
rios do capital. A partir daí, acreditamos que exista uma
racionalidade no processo de organizaç~o do trabalho que re-
flita os interesses das elites dirigentes. Como esta racio-
nalidade nio leva em conta os interesses globais da socieda-
de, ela certamente gera condiç5es de trabalho, no mínimo,
tensas.

o estudo desta racionalidade na organizaçio do


trabalho e consequentes condiçôes de trabalho, e das formas
encontradas pelas elites dirigentes de legitimaçâo dela
através das teorias sobre organizaç5es, sio os aspectos cen-
trais deste trabalho. Pretendemos através do estudo das no-
vas tendincias da organizaçio do trabalho e das teorias or-
ganizacionais modernas, explicitar o seu aspecto ideológico
e as tens5es resultantes.

Acreditamos que este exame crítico deva ser feito


a partir do paradigma humanista-radical de Burrell p Morgan,
que nos permitirá criar um observatório da realidade social,
que terá como n~cleo a lscola de Frankfurt e autores que se
encaixam no mesmo paradigma.

Para isso, colocaremos rapidamente os paradigmas


sociológicos de Burrell e Morgan e em seguida faremos um pe-
queno histórico da Escola de Frankfurt, abordando aspectos
da sua criaçio e a posiçio assumida por ela sobre estes te-
mas. A partir dai teremos colocado um arcabou~o teórico que
esperamos suficiente para contemplar as propostas deste tra-
balho.
5

1. PRESSUPOSTOS TEdRICOS
6

:1. 11 :t u Os paradigmas socioI6gicos de BurreIl e Morgan

Estes autores classificam Sociologia em termos de


du as d:i.m,~;·n-::)51:-::·S: e <:lo d men s ão
,1 d men s ão "subj(:~·tiva·-·objetiv;:;l."
í í

'" r (~9 u "1 a ç: ã o ._.mu d <:"\ n ç: a r ad ica l " • A primeira está ligada com o
ponto de vista da filosofia da ci&ncia e o outro com uma vi-
são ampla da sociedade <teórico-social). (BurreI1 e Morgan,
l. 97'i, p ••i::!·--4)

Na dimensão da filosofia da ciência, os autores


distinguem um elemento subjetivo e um objetivo. Ci&ncias so-
CIaIS baseadas na orientação subjetiva sio anti-positivis-
tas, isto é, consideram o mundo social como sendo construido
de individuos e que só pode ser entendido com base numa po-
sição onde os individuos participam e sio envolvidos nas
atividades que estio sendo estudadas. De acordo com esta vi-
sio conhecimento neutro e objetivo nio é possivel. O enfoque
subjetivo também enfatiza a característica espontânea da na-
tureza humana e prefere métodos de pesquisa que permitam a
análise de idéias subjetivas e experiências em conexão com
fenBmenos sociais e mentais.

D e l0~!TIe n t o o b j e t i vo , por· o LI t r o 1 a do, é pos i t i v i s t a


no sentido de que é baseado numa epistemologia que pretende
t--::XP '1 an ar e predizer eventos e fenBmenos sociais através da
procura de modelos regulares e relações causais entre d~fe-
rentes componentes. Representantes deste ponto de vista as-
sumem que a expansio do conhecimento acontece acumulativa-
mente, isto é, o conhecimento novo obtido pela apIica,io de
métodos científicos, ~ somado ao conhecimento existente.
A
I-I

visio objetiva assume que o comportamento de indivíduo é am-


'7

pIamente determinado por fatores situacionais e ambientais.

A dimensio teórico-social ~ caracterizada por duas


vis5es básicas da sociedade. Uma delas é chamada de sociolo-
gia da regulaçio e distingue-se, entre outras coisas, por'

considerar a sociedade como sendo estável~ uma estrutura so-


eial integrada e suportada por elementos e funçôes que aju-
dam a manter a sociedade unida e a evitar conflitos. Assume-
se que há um consenso básico com relaçâo aos valores domi-

. ,.~
Bu r r el I Morgan (1979) chamam a outra VJ.Se\O de
sociologia da mudança radical. Esta é caracterizada pela &n-
fase no processo e aspectos de mudança, mais que na estabi-
I o ad e ,
í A sociedade é considerada como sendo afetada por
oposi,ôes e conflitos de interesses entre grupos sociais e
classes, pela dominaçio dos diferentes grupos ou classes so-
bre os outros~ que sendo diferentes, possuem valores dife-
Os autores comparam as duas vis5es através do se-
e
fiJuint qu a dr o (p. j. 8):

Sociologia da regulaçio Sociologia da mudança radical


Foco: Foco:

mu d an c a r a d íc a l
0'( d em soe i ::11 conflito estrutural
c:on ~:;en jl,D modos de dominaçio
integraçâo socia"! e ajuste contradiçâo e conflito
s o l .i d a r íe d ad e e man c i p ac ~~o
satisfaçâo de necessidades
realidade (a que existe) potencialidade (aquilo que f

pode ser conseguido)


8

Alguns conceitos utilizados pelos autores precisam


de explicaç6es. Por consenso eles entendem concordância vo-
luntária e espontânea sobre valores. Solidariedade passa pe-
la visio de que a amizade entre individuos e grupos é pri-
enquanto que a emancipaçio ressalta o interesse de
certos grupos na sua liberaçio das condiç6es sociais exis-
tentes e das condiç6es hierárquicas de dominaçâo. A satisfa-
çio de necessidades significa, para a visio de regulaçâo,
que diferentes tipos de arranjos sociais e fen8menos podem
ser explicados com base nas necessidades dos individuos ou
do sistema, isto é, que a sociedade é primordialmente estru-
turada como reflexo de tais interesses. No ponto de vista
da mudança radical o sistema social existente impede a sa-
tisfaçio das necessidades humanas.

Os paradigmas da ci&ncia social para Burrell e


(i979)!. podem ser sumarizados da seguinte forma

1- Paradigma funcionalista: é caracterizado por uma


teoria científica objetiva, incluindo, entre outras coisas,
uma epistemologia positivista e uma visio determinística da
natureza humana e eventos sociais, assim como um enfoque
t e r ic o no c on s en s o , int(~gr·(;lç~\O
ó s cc í a l (~ "j;;tatu~>quo". Auto···

res relacionados: Comte, Durkheim, Parsons, etc.

2- Paradigma fenomenológico: a teoria social é a mes-


ma do funcionalismo; entretanto, o ponto de vista da filoso-
fia da ciência é diferente. Há uma visio subjetiva, an t i·-

positivista sobre o conhecimento e releva o escopo da açio


"1 i Vi"" (;.:• Autores relacionados: Schutz, Cicourel, Garfinkel
Nesta orientaçio, normalmente sâo enfocadas situa-
ç5es micro-sociológicas.

3- Paradigma estruturalista radical: como no caso do


funcionalismo, a filosofia da ciência é objetiva, enquanto
qUE a infase da tEoria social é no conflito, condi~5es de
domina~io e a possibilidade de superaçio do sistema social
existente. A maioria dos pensadores marxistas pertence a es-
ta c orr en t e ,

4- Paradigma humanista radical: a visio científica


p :::\'( :::\, I:':" ~:; te paradigma ~ subjetiva, enquanto que a visio so-
assim como a do estruturalismo radical, enfoca o con-
flito, condi~5es de dominaçio e mudança radical. O paradigma
humanista radical é o oposto do funcionalista. A este para-
digma pertencem autores como Marcuse, Habermas,
IIIich, Lukács e Gramsci.

Embora a tentativa de BurreI1 e Morsan de cons-


truir uma tipologia possa ser criticada como sendo esquemá-
tica ou simplificada, acreditamos que o seu uso com o propó-
~;:i.to de d.;,z'fini'.-
um "n o r t e " tf2'Ó'.-icop,':1xa o es t ud o a qu,e nos
propomos é bastante consistente. A reflexio crítica sobre a
racionalidade da organizaçio do trabalho e das teorias orga-
nizacionais que legitimam tal organiza~io, torna-se, a pal- ,-

tir do estabelecimento deste referencial, mais esclarecedora


na medida em que há o reconhecimento tácito de que observa-
dor e objeto estio numa relaçio dial~tica e que o conflito
nio pode ser negado dentro do contexto estudado, por exem-
plo.
1.0

:i. (2
11 11
Breve hist6rico da Escola de Frankfurt

Por Escola de Frankfurt entendemos nio uma enti-


dade física ou geográfica~ mas sim uma teoria social e um
grupo de intelectuais a ela associados. Procura-se, segundo

,"
designar através deste termo a instituciona-
dos trabalhos de um grupo de intelectuais marxistas~
nio ortQdoxos~ que na década de 20 permaneceram à margem de

c: 0'- :i, d e o 1 Ó9 i c a , ~;;e j a E: m ~;;u a '1 i n h a m i '1 i t a n t (~e p a 1" I: i d á, I" i ali.
(p ••l0)

o embriio da Escola de Frankfurt su r s e por vo 1t a


de 1922 quando~ na Turingia, estudiosos resolvem criar um
grupo de trabalho com a finalidade de documentar e teorizar
os movimentos operáriOS europeus. Este grupo de estudiosos
marxistas composto de nomes como o de Felix Wei'1 (seu idea-
1 i z a d Col- ) , Georg Lukács, Friederich Pollock, I{a'!" 1

AU9ust Wittfosel e outros, escolheu a Universidade de


Frank Pur t como sede para o instituto que estava nascendo e
que passaria a chamar-se Instituto de Pesquisa Social, ofi-
cialmente criado em 3 de fevereiro de 1923.

o Instituto, apesar de vinculado à Universidade de


Frankfurt, preservou sua autonomia, segundo Freitas (1986),
9 r';:H;: as· <''1. o f in", n c :i, a !TIe n t o s en E: 1- o s o d E: F e 1 x We i 1,
í f un d <'i. do 1- d o
Instituto e filho de um rico produtor de trigo alemio emi-
grado para a Argentina. Esta situaçio, no mínimo curiosa,
permite aos intelectuais do Instituto uma independincia e
uma liberdade de pensamento difíceis de serem encontradas
numa época tâo turbulenta quanto aquela.

o seu primeiro diretor, Carl Gruenberg,


aos estudos do Instituto uma orientaçâo nitidamente documen-
tária, comprovada através da criaçio de uma revista que pro-
cura simplesmente descrever as mudanças estruturais na orga-
nizaçâo do sistema capitalista~ na relaçio capital-trabalho
e nas lutas e movimentos operários.

Com a sua sUbstituiçio em 1930 por Max Horkeimer,


intelectual marxista, professor da Univesidade de Frankfurt,
o Instituto assume uma preocupaçio com a análise crítica dos
problemas do capitalismo moderno, privilegiando claramente
a superestrutura, e acaba atraindo para o seu imbito inte-
lectuais como Pollock, Wittfogel, Fromm, Gumperz, (.)(.1 o r n o,
Marcuse, e outros que passaram a contribuir regularmente pa-
ra as publicaç5es do Instituto.

Um dos trabalhos mais significativos desta fase &


"E,:::,'\: ud os sob r e Auto·•..
id:::dh::·
!fi: F<llT1íli".""!.
um est u d o ('!'mpí'(ico
realizado em 1936, sob a coordenaçâo de Horkeimer e Fromm,
que procura obter informações sobre a estrutura de persona-
lidade da classe operária européia que, segundo os pesquisa-
dores, teria perdido a consci€ncia de sua missâo histórica,
submetendo-se a formas de dominaçâo e exploraçâo totalmente
contrárias ao seu interesse emancipatório.

Esta fase inicial do Instituto foi fortemente in-


fluenciada pelas convicç5es políticas e rreocupaç5es teóri-
c c\ ~; d (7~ H C) 1- k e :i. !TI(7: r' q u ~~ P'( e t: (:~ri d i a i:' 1 a b o r a 1- :
j~r

"o esboço de uma teoria materialista, social-psi-


cológica dos processos hist6ricos societários".<Schmidt,1980
p.72)

Este esboço permitiria a compreensio do porqui da


classe operária n~o ter assumido o seu papel de classe revo-
lucionária, através da análise do contexto macroestrutural
do capitalismo p suas relações com a microestrutura da famí-
lia burguesa e proletária. Revela-se nesta fase inicial,
portanto, a influ0ncia de Reich e Fromm (freudo-marxistas) e
da teoria social de Horkeimer.

Com o fechamento do Instituto em 1933 pelo governo


nazista (já previsto por Horkeimer, que havia criado filiais
do Instituto em Genebra, Londres e ~arls), suas atividades
s~o transferidas para Genebra, passando a ter como princi-
pais colaboradores neste período~ Pollock, Tillich, Beard,
F. de Saussure, Fromm, Neumann e outros. Ainda em
i934~ Horkeimer negocia a transferincia do Instituto para
Nova York, com o apoio de Nikolas Murra~, diretor da Univer-
sidade de Col~mbia, dando inicio ao período de emigra~io do
Instituto para os Estados Unidos onde o mesmo permanece até
1950.

Durante este período a produçio do Instituto e


A
de f81ego na área sociológica como
,I,

marcada por pesquisas H

Personalidade Autoritária <1950,'J obra coletiva de cientis-


tas americanos e alemâes como Frenkel, Brunswik, Levinson,
Sanford, Morrow e Adorno, onde é feita uma reflexio origi-
nal e profunda sobre as condiç5es sociais e políticas da so-
CIedade e sua interaçio com a dinâmica psíquica do indiví-
duo; a coletânea de ensaios escritos por Horkeimer e Adorno
-A Dialética do Esclarecimento (1947)- nos quais 05 autores
t3

,';\I:iO'," d "i,1TI a evi: 1.uc :io d "I, .•• C u 1 tu',"


<:1,'" n <~,~:; mod (:~"(n a s s oc i 0:d ,1d 0:~:" d e
massa~ onde se configura uma ruptura desses autores com o s•.>

trabalhos anteriores e uma radicalizaçâo teórica que poste-


riormente levariam Adorno à sua concepçio da dial&tica nega-
t i './:::1.11

Este trabalho marca, segundo Freitas (1986)~ o


abandono por parte de Horkeimer e Adorno da promessa de
emancipaçio cio homem contida na concepçio kantiana da razio
libertadora e dos paradigmas do materialismo histórico.
Afastando-se igualmente dos paradigmas do positivismo e neo-
positivismo em voga em sua época, os autores acabam assumin-
do uma postura pessimista e refugiando-se~ Horkeimer, no fim
da vida , na teologia~ e Adorno, na dialética negativa e na

Entre os anos de 1950 e 1970 o Instituto vive uma


nova fase de sua existincia com a sua volta para Frankfurt,
onde foi calorosamente recebido. Horkeimer continua como seu
d i 'I" t." t O'," até 1967, quando o cargo passa a ser exercido por
Adorno. O grupo de intelectuais que participavam do Institu-
uma re(uçao j'~ ,
slgnlTlca'lva
'I' ' ~'
nesta fase: Marcuse fica
u
nos Estados Unidos, Loewenthal torna-se diretor da Voz das
Wittfogel e Neumann aceitam c~tedras em Washing-
ton e Nova York; Fromm incompatibilizou-se com o grupo ain-
da nos primeiros anos do período de emigraçio~ Benjamim sui-
ciciou-se na fronteira espanhola em 1943 e Bloch aceita uma
c~tedra em Tuebingen, na Alemanha Oriental, onde permanece

Uma nova geraçio de intelectuais vai ocupar os lu-


gares vagos, onde se destaca Habermas que, com o auxílio de
r

FI" iedebur'g!1 Oelher e Weltz, realizam um estudo entre os es-


tudantes unlvesitários de Frankfut e Berlim - Estudantes e
14

Política (1961) - d~ntro da linha d~ trabalhos ant~riores


c o mo ....F'(~r' s; c>n a 1 i d ,,\d (:':' r-lu t o r' i i: á I' i a".
(.:, F'e s q 1..1. i s a .- s (;~ n e s t ("~t r a b a'"
lho o pot~ncial autoritário e/ou democrático da geraç~o es-
tudantil do p6s-guerra.

o potencial autoritário detectado pelo estudo na


nova g~raç~o é colocado em cheque com a sJbita eclosio do
movimento estudantil no início da década de 60, revelando um
potencial político nio conformista na nova geraç~o. A lide-
ran~a do movimento estudantil nos anos 66-67 (Rudi Dutschke
principalmente)~ desapontada com o autoritarismo do partido
comunista (SED - SOZIALISTISCHE EINHEITSPARTEI DEUTSCHLANDS)
da RDA~ respaldava a sua crítica e seus protestos nas refle-
xôes criticas de Marcuse, Adorno ~ Horkeimer. A radicalidade
assumida pelo movim~nto estudantil assustou os frankfurti-
nianos que procuraram combater esses asp~ctos do movimento.
(Haber ma s u,:::·a
a €·>q:JY·(-::·'::;'·::;~~o
"f;.:\,::;.ci~~.ITI()
de' es qu er da' paY':,l
r o t u-

lar o movimeni:o).

A incapacidade de ambas as partes de superar suas


divergências leva ao fracasso a t~ntativa de transpor a t~o-
ria critica em prática revolucionária: Habermas retira-se
para Starnb~r9, Marcuse e Fri~d~burg, apesar de partidários
de transforma~ôes radicais no sistema universitário, reJei-
tavam as propostas de grupos como Baader-Meinhoff e da Ro-
te Armée Fraktion, favoráveis à luta armada. Adorno tem uma
morte prematura, Horkeimer retira-se para a Suiça e Marcuse
+' a z c r' :a I ca s a p o ':;;:i. <;:(5 (7~S e ~:;i !TIP 1 i f :i c a i;Õ es d a "1~(~w L e f t". F' o r
outro lado os líder~s estudantis desapontados com seus ído-
los, optam, alguns, pela carreira universitária, outros se
filiam a partidos políticos e uma minoria parte para a luta
:::\ IH m ::Õ\ d ,7\ •
A l~
.I. ~,

Passado esse período turbulento, tem início uma


quarta fase de trabalho marcada por duas correntes dentro da
Escola da Frankfurt: uma que pretende organi2ar e preservar
o pensamento de Benjamin, Horkeimer, Adorno e parte do de
Marcuse, representada por nomes como o de Tiedemann e A.
Schmidt, e outra que pretende superar os paradigmas propos-
tos por seus mestres~ representada por Habermas, Wellmer,
Buerger e outros.

Pode-se dizer, segundo Freitag (1986), que a teo-


ria crítica atravessou tr&s períodos até agora: um primeiro
marcado pela influência de Horkeimer que durou até a volta
do Instituto para Frankfurt em 1950; um segundo quando Ador-
no assume a direçio de Instituto~ introduz o tema da cultu-
ra e desenvolve a sua teoria estética; e finalmente um
terceiro - a partir de 1970 - quando Habermas assume sua li-
derança e prop6e a teoria da açio comunicativa, como alter-
nativa para o impasse criado por Adorno e Horkeimer.

Vamos nos ater agora às contribuiç5es da Escola de


Frankfurt em dois temas de especial interesse para o nosso
trabalho: a dialética da raz~o iluminista e a crítica da
c í ên c í a •
1.6

A dialética da razio iluminista e a critica da

Um dos aspectos mais relevantes da Escola de


F·•.ank +ur t é a sua contribuiçio ímpar para a discussio da
dialética da razio iluminista e a critica da ciência. Ao
longo de sua existência, seus representantes se posicionaram
de forma contundente sobre v'rias vers5es de ciência, cujo
substrato comum seria a razio instrumental. A crítica reali-
zada por eles sobre o desenvolvimento da técnica e ciência
abre horizontes para o entendimento, entre outras
coisas, das diferentes racionalidades que permeiam a pesqui-
sa sobre teoria das organizaç5es e condiç5es de trabalho,
além dos aspectos ideológicos inerentes a estas racionalida-
d es... Os pioneiros na discussio da dialética da razio ilumi-
nista e a crítica da ciência, que segundo Freitag (1986) se
desenvolveu em três grandes momentos, foram Horkeimer e
I~lclor·no
.

Para Horkeimer e Adorno (1947), o saber produzido


pelo Iluminismo nio conduzia à emancipaçio e sim à técnica e
à ciência moderna, que mantém com seu objeto uma relaçio di-
t o:•. i aI::
t :::\

J··))E-~sde
l;;(~ITIP\·(;~ o Ll umí n smo , n o s en t do d e um pen···
í í

sar que faz progressos, perseguiu o objetivo de livrar os


homens do medo e de fazer deles senhores. Mas, completamente
:L1 umí n ad :::\ ~I a terra resplandece sob o signo do infort~nio
t r i un f <:\ 1". ( p • 1~~j) •
Horkeimer denuncia o caráter alienado da ci&ncia e
técnicas positivistas, cujo substrato comum é a razio in f;; o_o
trumental. A ess&ncia da Dialética do Esclarecimento consis-
te em mostrar como a razio abrangente e humanística, posta a
serviço da liberdade e emancipaçio do homem, se atrofiou,
resultando na razio instrumental.

JI Hoj (""o , a regressio das massas consiste na incapa-


cidade de ouvir o que nunca foi ouvido, de paI par com as
pr6rrias mios o que nunca foi tocado, uma nova forma de
ofuscamento que supera qualquer ofuscamento mítico vencido.
Através da mediaçio da sociedade total, que amarra todas as
relações e impulsos, os homens sio convertidos de novo jus-
tamente naquilo contra o que se voltara a lei do desenvolvi-
mento da sociedade, o princípio do si-mesmo; em simples
exemplares da espécie humana, semelhantes uns aos outros, em
virtude do isolamento na coletividade dirigida pela coaçio.
Os remadores que nio podem falar entre si sio atrelados, to-
dos eles, ao mesmo ritmo~ tal como o trabalhador moderno, na
no cinema e na sua comunidade de trabalho. Sio as
condições concretas de trabalho na sociedade que imp5em o
conformismo, e nia aquelas influ&ncias conscientes, as quais
fizeram com que, por cima disso, os homens oprimidos se em-
brutecessem e se distanciassem da verdade. A impot&ncia dos
lrabalhadores nio é apenas uma finta dos dominantes, mas a
consequ&ncia 16gica da sociedade industrial, na qual final-
mente se transformou o fado da antiguidade~ no esforço de
e o,::.C :;:1.1=' ::'1001" 00_1 hE: •. 0'/ (Hork Eo i 1TI.:;.°ro <;,0 Ad OO( n C) ~I 194-?, p •.53 )

Ho r k e i me r inicia a discussio deste tema, quando


r.:'osc OI" eve "Te orLa cr at Ica fi: t('!.°clor:i.~.;o tr ad c ona l" em 1937,
í í on d e
ele aborda o conflito entre o positivismo e a dialética
:1.8

(Descartes x Marx), denunciando o caráter sist&mico e con-


servador do primeiro e a dimensio humanística e emancipató-
ria da segunda. Para ele a teoria tradicional caracteriza-se
por apoiar-se em conceitos universais (captados indutiva-
mente ou dedutivamente), onde as manifestaç6es empíricas en-
1, ...
caixam-se no sistema teórico montado ~~ p r Io r i" ou "a postE"-
riori", estabelecendo-se uma relaçio de subordinaçio e inte-
graçio entre as sentenças gerais e os fatos empíricos. Para
(1937a), na teoria tradicional nio há diferenças
temporais no sistema e a contradi~io é condenada defendendo-
se o princípio da identidade:

dades do sistema. A eletricidade nio existe antes do campo


elétrico nem o campo elétrico existe antes da eletricidade,
tanto quanto o leio como tal nio preexiste nem surge depois
dos le6es particulares.( ..• ). Alteraç5es no sistema, seja a
introduçio de novos g&neros, seja outra qualquer,
concebidas costumeiramente no sentido de que as d e t e r mí.n a-:
ç6es sio necessariamente rígidas e por isso inadequadas. Nem
tampouco as alteraç6es do sistema sio concebidas como resul-
tado da alteraçio da relaçio com o objeto ou mesmo dentro do
próprio objeto, sem que este perca a sua identidade.( .•• ).
Esta lógica nio está em condiç5es de compreender que o ho-
mem se transforma e apesar disso permanece idêntico a si
f(t(:,"::;ITID ." (FI •• i !50 )

Já a teoria crítica nio se esgota no relacionamen-


to da realidade aos conceitos, ela orienta-se pelo futuro,
procurando integrar um dado novo no corpo teórico já elabo-
rado, relacionando-o com o conhecimento que já se tem do ho-
mem e da natureza naquele instante. Para a teoria crítica há
~
.1
{",
·Y

uma rela~io orgânica entre o sujeito e o objeto: o sujeito é


um sujeito histórico que se encontra inserido num contexto
igualmente hist6rico que o condiciona e molda~ ele assume a
condiçio de analista procurando colaborar no redirecionamen-
to do processo histórico para a criação de uma ordem social
justa 8 igualitária:

"O juízo ·;;;ol:>r·e


a n e ce s s íd ad e d a história p'!l.ssadaE~
presente implica a luta para a transformaçio da necessidade
cega em uma necessidade que tenha sentido. O fato de se
aceitar um objeto separado da teoria significa falsificar a
imagem, e conduz ao quietismo e ao conformismo." (Horkeimer,

Para Horkeimer (1937b), praticar teoria e filoso-


fia é algo inseparável da idéia de nortear a reflexio com
base em juizos existenciais comprometidos com a liberdade e
a autonomia do homem:

se o pensamento especializado, man t en d o+ s e

num conformismo continuo, rejeita todo tipo de ligaçâo in-


terna com os pretensos juízos de valor, e se empreende com
extremo rigor a separação entre pensamento e decisio práti-
sua vez a falta de llusoes
• ·1 ,., "··1
t01 eva d a
~ltimas consequências pelo niilismo dos donos do poder. Se-
gundo este pensamento, o juizo de valor pertence à lírica
nacional ou serve para ser proclamado diante do tribunal po-
pular, mas nunca diante da instância do pensamento. A teoria
critica que visa à felicidade de todos 05 individuos, ao
contrário do servidores dos Estados autoritários, nio aceita
;:~.c on t :i. n 1..1.<:1.(;: ~~:o d (:\ !TI :i. ~c>ér·:i. <:l••• n (FI. i 66 )
Em 1961, o tema novamente vai ser abordado através
de um debate entre Popper e Adorno, que incluir~ os +un d a-:
mentos epistemo16gicos do positivismo e da dialética.

Popper defende um positivismo sofisticado, a dm i-:


tindo uma diferença entre o objeto das ci&ncias sociais e o
das naturais. Para ele a cientificidade e a objetividade do
pensamento te6rico estão asseguradas quando respeitados os
princípios básicos da l6gica formal cartesiana: o procedi-
mento indutivo ou dedutivo, o princípio da identidade, a in-
tersubjetividade e a coerência interna da teoria, etc. O su-
jeito não se envolve com o objeto, garantindo a neutralidade
da cii~ncia; constatando "o que é" e s lenc í í ando , en qu,:\n
to
cientista, face ao que poderia ser ou deveria ser.

P ;.:\
ra a5 c: iê n c iasso c i a i ~5 t 01" n a 1-._.S e'-:i. a n e c E~s s ,,1 1- i o
um mét:o d o <·~.d:1.c::L on <:1.1 <:1.0 :i. c a
d ,':\ '1 ó:::J fo'(ITICl.l, <=11..1.0.' se c h am:::\
" 1ô~.J:i .-
c a ~!;ituac:ional"), também cb i e tí vo , p r e t eu d en do "a c omp r e en s âo
o!:J;ji:.:·tiv,·:\JI ,1 açf:(o foi ob J et va e ;:~.P·(Op·(i:i:l.d::;.
d o s f·,·:I.to~:;:: à ~".i·-· í

A situação é analisada até que os elementos que pa-


recem inicialmente ser psicológicos (desejos, motivos, lem-
sejam transformados em elementos da situação (re-
construç5es racionais e teóricas).

Para Adorno, Popper é positivista pelo mero fato


de atribuir ao método (regras da l6gica formal e situacio-
na 1) o papel predominante no processo de conhecimento. Para
ele a preocupação fundamental da dialética e da teoria crí-
tica nio é meramente formal, mas sim material e existencial.

A Sociologia concebida como dialética e critica


não pode deixar de guiar-SE pela perspectiva do todo, ainda
quando estuda um objeto particular, vendo este todo nia como
o sistema estabelecido, mas como o produto histórico do pas-
21

sado e como aspiraçio de realizaçio do futuro.

"A totalidade do social nio possui vida autônoma


acima dos elementos que a compSe e daqueles que, na realida-
de, sio constitutivos. Ela é produzida e reproduzida pela
determinaçio de seus movimentos específicos ••• Essa totalida-
de da existência nio deve ser isolada da cooperaçio e do an-
tagonismo de seus elementos, como também nenhum elemento po-
de ser entendido até mesmo no seu funcionamento sem conside-
reçio da totalidade, que tem sua essência própria no movi-
mento do específico. Sistema e especificidade se dia reci-
procamente e somente desta forma sio passíveis de conheci-
u
mento. (Adorno, 1961, p.127)

A crítica passa a ser o elemento que permeia todo


o processo de conhecimento, vem a ser o elemento constituin-
te do método e da teoria critica que se fundem com o objeti-
vo político e social a ser alcançado. Este tema vai ser
aprofundado na Dialética Negativa (1970), que consistiria no
esforço permanente de evitar falsas sínteses, propostas de-
finitivas, visSes sistêmicas totalizantes da sociedade. Pro-
cura salvar aquilo que nio obedece à totalidade, ao sistimi-
co, aos fatos verificados.

Segundo Freitag (1986), Adorno identifica a razio


instrumental com o positivismo de Popper através de virios
aspectos, por exemplo: na medida em que usa a razio instru-
mental, gera sua contestaçio, já que o positivismo nio se
permite questionar as bases nas quais se assenta sua lógi-
ca. Deixando de refletir sobre a origem histórica de seu
pensamento e aceitando, implicitamente, a divisio do traba-
lho imposta pelas relaç5es de produçio C' pitalista, alegando
uma falsa neutralidade e objetividade~ proibe-se de refletir
sobre os pressupostos de sua ciência, ignorando assim as re-
laç5es de troca e os interesse de lucro e dominaçio que con-
dicionam sua própria irea de saber. Assim a ciência positi-

" •.• naturaliza os processos sociais~ atribuindo à


din&mica histórica um funcionamento sist&mico, regido por
I ei s ab s o lu t a s E' í mut áve í s ;" (F'r e i t a q , l.98é, p.~:j(õ)

Para Adorno (1961):

"'i~ di Pe r en c a en t re <\, p e r-c


ep c ão dialética (:O~ a p o s i»

tivista da totalidade se radica no fato de que o conceito


d i al t i c o d e t o t al Ld ad e
é p roc u ra se r "obj(~tivo" no sentido de
intencionar a compreensio de cada fenBmeno social singular,
enquanto que as teorias sist&micas positivistas procuram me-
ramente sintetizar de forma nio contraditória suas afirma-
~oes sobre o real, situando-as em um contínuo lógico, sem
reconhecer os conceitos estruturais mais elevados como con-
di c õe s dos fatos a eles ligados. Enquanto o positivismo
critica esse conceito de totalidade como retrocesso mitoló-
9:i.co, p r' é .-c: :í. e n t :f f :í. c o , ele próprio mitologiza a ciência em
sua luta contra o mito." (p.21)

Na dialética adorniana~ o conceito de teoria, ao


remeter a um futuro melhor, remete automaticamente à dimen-
sio da prática; esta no entanto, é totalmente excluída do

raciocínio positivista que '.1& a prática do cientista limita-


da à sua área de especializa,io. O mesmo vale para o concei-
""rO,
.:: ... ::1

to d e ·"cr:(tica.'l
.. En quan t o <:;·~;t::':1.
~:;i:::Jn:i.t'ic<3.
pal",1.F'oppe'( a t"l.l·"·
sificaç~() de uma hipótese dada, através de dados empíricos
que demonstram o contrário ou devido à descoberta de erros
I ó~.:J :i. c o s no p 1" o c: (:O~ j!; ~:; o d e d u t :i. vo , })c r :I: I: ic <..•. 11 sí 9 n i t'i C a P a r :::l f!) dor'...
no e os teóricos da Escola de Frankfurt a aceitaçio da con-
tradiç50 p o trabalho permanente da negatividade, presente
em qualquer processo de conhecimento ..

o tema volta à berlinda em 1972, desta vez envol-


vendo Habermas e Luhmann, onde Habermas~ ao defender
teoria da sociedade, revela uma afinidade eletiva com a teo-
ria crítica, enquanto Luhmann, ao defender uma versio sofis-
ticada da teoria sist&mica, se aproxima do moderno pensamen-

Luhmann procura aplicar os conceitos cibernéticos


ao estudo da sociedade, recorrendo para isso a modelos bio-
1. elEI :i. c o s " Ciente das divergências entre um sistema biológico
(fech<.i.do) e um sistema sócio-cultural (aberto), defende a
tese de que à medida que abandonamos a dimensio biológica e
avançamos em direçio a sistemas sócio- culturais, as alter-
nativas de comportamento do sistema aumentam, impondo-lhe a
necessidade de opç5es. Uma das funç5es centrais do sistema
c on s is t e n a "v e du c ão da comple:-<id<:'\de".Ou an do se í n s t i t ucí o>
naliza um novo tipo de comportamento sob a forma especifica
de papéis sociais, outros papéis socialmente concebíveis e
possíveis estio sendo excluídos. O sistema oferece orienta-
ç6es comportamentais que facilitam a reduçio da complexida-
dep exonerando o ator da obrigaçio de fazer uma escolha ..

por Luhmann, ele, segundo Habermas, se perde em contradi-


ç6es que bloqueiam sua teorizaçio: a indistinçio entre re-
presentaçio e rea'lidade, a substituiçio do conceito de in-
i.~4

formaçio pelo de significado~ a distinçio entre sociedade e


sistema social e a definiçio priorit~ria da funçio sistêmica
COITIO n"cri:"du,;;\(o
d e comp Lex i d ad e" c on s t t uem o s t ema s vu l n er
í á-:

veis da teorizaç~o de Luhmann. Apesar de representarelTl um


esforço louvável, ele nio consegue supera.r os pontos de es-
trangulamento da teoria sistêmica: o seu conservadorismo im-
plícito e a dificuldade de conceptualizar os processos his-
tóricos; seu conformismo explicito, ao postular~ como com-
portalTlento social lTIaisadequado, aquele institucionalizado
seu positivismo disfarçado, ao atribuir, ao
qu.e é~ valor su.perior ao que deixou de ser e poderia vir a
"~~er.'"(F"r"<-:dt,:\g, i9B6, p.58)

~s três vers5es da ciência apresentadas ( t e or i a


tradicional, o positivislTlo popperiano e a teoria s í ~;têm ie a
de Luhmann), é comum a concepçio instrumental da
natu.ralizaçio dos fen8menos sociais, a expulsio do conflito
e da contradiçio do modelo teórico~ o que equivale a negar a
su.a exist&ncia na realidade.

Acreditamos que, durante o estudo da racionalida-


de que perlTleia a organizaçâo do trabalho e das suas formas
de legitimaçio, explicitaremos a existência desta mesma
concepçio instrumental da razio.
25

1.2.2. A Escola de Frankfurt e a racionalidade tecnológi-


ca

A abordagem da Escola de Frankfurt sobre os aspec-


tos da racionalidade~ dentro da moderna sociedade indus-
trial, de particular interesse para este trabalho, vai ser
explicitada em textos de Habermas e Marcuse, principalmente.

Para H. Marcuse, racionalidade tecnológica e domi-


naçio tecnológica sâo conceitos fundamentais para qualquer
um que deseje entender o capitalismo moderno e a sociedade
altamente industrializada.

o conceito de racionalidade tecnológica estabelece


uma atitude com relaçio à vida social e à natureza, na qual
o controle instrumental, amparado pelo conhecimento tecnoló-
gico e cientifico~ é um componente fundamental. Dentro deste
espírito, a maximizaçio de recursos, a minimizaçio da escas-
sez econ8mica e outros problemas concernentes ao relaciona-
mento homem-natureza, assim como o relacionamento entre pes-
soas, só podem ser tratados com sucesso, a partir desta
abordagem científica e tecnológica.

Assim sendo, a racionalidade tecnológica ou, pa-


ra aplicar um conceito similar, a racionalidade instrumen-
tal, constitui um modelo de prática social onde os problemas
sio definidos em termos técnicos e assume-se que podem ser
resolvidos com ajuda do conhecimento científico e tecnológi-
co avançados.
26

Em várias publicaç5es, Marcuse ataca essa influ&n-


da racionalidade instrumental na moderna
sociedade industrial. Marcuse (1964), escreve que:

II ••• 0 esforço para a exploraçio do homem e da na-


tureza, torna-se cada vez mais cientifico e racional. A ad-
ministraçio científica e a divisio do trabalho aumentaram
enormemente a produtividade, com um aumento dos padr5es de
vida de parte da populaçio. Ao mesmo tempo, essa racionali-
dade produz um modelo de pensamento e comportamento que
justifica e absolve sempre todos os aspectos destrutivos e
opressivos dela. Racionalidade técnica e cientifica sio so-
l id r :í. a ~:;<;1, no V
á ::T\S 't o]"mas de c on t ro 1e s;, oc :i. ,,. 1•,'I ( p •1.4 6 )

Ele afirma ainda que a racionalidade tecnológica


tende a tornar-se totalitária. Tende a criar um pensamento
unidimensional, uma sociedade unidimensional e um ser humano
unidimensional, isto &, um tipo de pensamento (homem, socie-
dade) sem negaç6es e sem dialética. A ideologia da raciona-
lidade tecnoldgica penetra a mente das pessoas, exercendo
uma influ&ncia crescente sobre elas.

Durante o período do capitalismo liberal, a socie-


dade organizada e as instituiç5es guardaram uma certa dis-
tância da esfera privada e da vida particular das pessoas. A
rroduçio e distribuição em massa da moderna sociedade indus-
trial, auxiliada e apoiada pela psicologia industrial, tec-
nologia de comunicação e psicologia de vendas provocam um
tipo de controle social que incorpora toda a pessoa, in-
cluindo a sua estrutura mental.
27

o capitalismo avançado tem criado uma segunda na-


tureza humana, na qual o homem é moldado como um produto, de
maneira agressiva e até libidinosa. Esta segunda natureza
serve de base n~o somente para a ideologia da tecnologia,
mas para a legitimaçio dela em si. A importincia disso para
a preservaçio da ordem social existente e para bloquear a
negaçâo, dificilmente pode ser superestimada.

Como se pode ver, Marcuse nio discute a racionali-


dade tecnológica simplesmente em termos de sua influ&ncia na
esfera de produçâo. A questâo nio é apenas produçâo e traba-
lho; a vida social e privada sio afetadas, em distintos ni-
veis, pela racionalidade tecnológica e pelo aparato metodo-
lógico-cientifico nos quais a racionalidade é transformada.

Habermas (1971) trata a mesma questâo a partir de


um outro insulo. Ele faz uma distinçâo fundamental entre
sistemas de açio racional (instrumental) e sistemas de inte-
raçio simbólica.

o mundo instrumental é caracterizado pela ativida-


de humana governada por regras técnicas baseadas em conheci-
mentos empíricos. O mundo da interaçio simb6lica refere-se a
aç5es e condiç5es envolvendo normas e estruturas de refer&n-
eia para atividades humanas, isto é, para o mundo da vida
sócio-cultural. Aç5es instrumentais sâo dirigidas pelo dese-
Jo de satisfazer as necessidades materiais do homem, ao pas-
so que o mundo da interaçio simbólica cria estruturas ins-
titucionais para questBes políticas, sociais e culturais.

De acordo com Habermas, os indivíduos sob a socie-


dade capitalista moderna, caracterizada pela alta tecnolo-
gia, estio perdendo a sua percepçio da diferenciaçâo entre
os sistemas de a~io instrumental e os de açio interativa.
Com a institucionalizaç~o do progresso técnico e científico,
o potencial das forças produtivas tem assumido uma forma em
virtude da qual os homens perdem a consciência do dualismo
do trabalho e da interaçio. Ele indica uma linha de desen-
volvimento em curso na qual a estrutura institucional de
referência da socledade tende a ser absorvida pelos sub-sis-
temas de aç~o instrumental.

A dominância desses sub-sistemas atua como uma


ideologia legitimadora de novas políticas, as quais sio
tratadas como problemas técnicos, bloqueando assim quest5es
associadas com raz6es práticas. Para Habermas (1968),

"Acompanhamos o processo da uracionalizaçio de ci-


ma para baixo" até o ponto em que a própria técnica e a pró-
pria ciência começam a assumir, na forma de uma consciência
comum positivista - articulada como consciência tecnocráti-
ca -, o valor histórico de uma ideologia-sucedâneo das ideo-
logias burguesas desmontadas." (p.328)

Dentro deste prisma, soluç6es técnico-científicas


para problemas da sociedade suplantam discuss6es políticas e
legitimam a si próprias como a mais alta forma de racionali-
dade. Como resultado desse desenvolvimento, a lógica instru-
mental torna-se um modelo para a interaçio simbólica, redu-
zindo o escopo desta esfera no processo. Questôes práticas,
ou guest5es sobre as metas da sociedade, sâo reduzidas nas
discussôes p~blicas, a questôes técnicas: problemas que só
podem ser resolvidos de acordo com padr5es objetivos da
ciência e tecnologia.
29

Dentro da organizaçâo do trabalho e da maioria das


teorias organizacionais modernas~ o discurso científico de
base positivista e a racionalidade instrumental, sio aspec-
tos que~ dentro da abordagem crítica proposta pelos autores
da Escola de Frankfurt, iremos enfatizar.
30

Asp~ctos metodológicos

trabalho encara, como j~ foi dito, a teoria


I,~ r 'J
1\: r' c ::':1. num ~;:"t:;'ntido
<3,mplo!1no qual ,'1. Escol;,l F 'C' an 1< fu'ct
constitui uma estrutura teórica importante, à qual sio in-
t 'I" od U:ff. í dos , quando necess~rios~ aspectos de autores que po-
dem ser considerados como pertencentes ao mesmo paradigma da
Escola de Frankfurt - humanista radical. Neste sentido ele
usa esta visio ampla para criticar, essencialmente, a ra-
cionalidad~ inerente ao modo de produçio capitalista Conde a
racionalidade dos meios técnicos e a racionalidade da domi-
naçio se confundem) e as suas conseqUencias para o homem,
assim como procura clarear os fundamentos ideológicos das
t (:;:O'f' i a,:; O)" ::J ,3.1'1 i :;r,ac :i, on ,:1, i '':;que 1 (:;'::J i t: i mam fE:~; t: a )"ac i on ,11 i d a d fê: ••

Esperamos que confrontando os resultados de várias


P(~'squi~::,as
, consigamos esclarecer como a racionalidade t:ec-
n o l s íc a vai P,H',:\
ó o "ch~\o da fábrica" e c r a novas
í (:OllCl:i,(;:ÕE:S

de trabalho. Do estudo das modernas teorias organizacionais,


esperamos explicitar os seus aspectos ideológicos e tornar
claro como elas legitimam procedimentos e funções. Para as
propostas deste trabalho, estas questões e esclarecimentos
sio de uma importincia fundamental ..

Numa tentativa de organizar um método de interpre-


taçio e anilise que consiga satisfazer os objetivos propos-
tos por este trabalho, resolvemos adaptar a sugestio feita
por Mats Alvesson (1987) e usar, numa perspectiva menos am-
biciosa, dois níveis de interpretaçio. Esses níveis consti-
tuir-s~-io num importante aspecto da nossa metodologia ..
31

Num p}- :iom(;~i r o, d (d: f.:-:°r


+n o s +emo s ri <1 "}_ ,::;0 ao "1i d ::3. d r.'!o i:.'mp:í 0-

r ca"í ou na pesqui~;<:\ d e sc r t iva d e la , í I~ r e al d ad eí ab o r d ad a


entio, o desenvolvimento da organizaçio do trabalho
dos primórdios do sistema capitalista até os nossos dias e
das condições de trabalho resultantes, principalmente com
respeito a aspectos de qualifica~io e controle. A ~nfase se-
rá dada nas condiç5es de trabalho das amplas categorias de
trabalhadores assalariados.

o segundo nível de interpretaçio é teórico.


relacionaremos as teorias do tipo explanatórias/normativas
com a realidade empírica tratada no primeiro nível. As teo-
rias deste tipo tendem a estabelecer condiç5es,
de controle das organizaç6es e das condições de trabalho, de
maneira a atingir objetivos como efici~ncia~ por exemplo. A
no segundo nível, será baseada no primeiro e
't :1<:a°.-,
C°.-1 o
entre outras coisas, as idéias que pretendem
f u n c i C)n a r c li mo U!TI ~Jl.oda, U!TI ma n ua 1 " p ar a a p 1 i c a c Õ E~S P r t i c s á <.".\

e ob.í et va s"
í n os p robl ernas r e lac on ad o s com
í i=o~::o~:;<3. 0.-e:':I01id,3.°0-
de . En foc:a r emo s as inc:ongruências e os conflitos entre a
realidade empírica e certas teorias sobre ela. t~I'::o :ion c on 00-
gruências e conflitos seria interpretados a partir de um
ponto de vista ideológico. Pretendemos uma validaçio para a
tese central de que parte significativa da teoria das orga-
nizações cumpre funções ideológicas e pode ser considera-
da como uma expressio da racionalidade atual e da necessi-
dade dos interesses dominantes em legitimar-se.
32

2. A RACIONALIDADE DA ORGANIZAÇ~O DO TRABALHO SOB O


REGIME CAPITALISTA
33

Características gerais da racionalidade capitalis-


ta no processo produtivo.

No processo de produçio capitalista - desde o seu


desenvolvimento a partir do Uputting-out s~stem}}, até a for-
ma mais recente da divisio pormenorizada do trabalho e a sua
automaçâo percebe-se sempre a utili2a~~o racional de re-
cursos~ quer pelo seu emprego econ8mico (com o mínimo dis-
pêndio de tempo e de recursos para a consecuçâo do fim visa-
do), quer pela adequaçâo desses recursos aos fins estabele-
cidos.

uma observaçio mais cUldadosa mostra


que a racionalidade deste processo está orientada pela natu-
reza dos objetivos a serem atingidos. Como a produçio capi-
talista tem como fim ~ltimo a expansio do capital, através
da produ~âo e apropriaçâo da mais-valia, a sua racionalidade
concorre para atender aos interesses dos detentores dos
meios de produçâo. Os interesses do homem pensado em sentido
gentrico e universal, ficam preteridos com relaçio aos de
alguns homens historicamente determinados, pertencentes a
classe dos que têm o privilégio de possuir em suas mios o
poder econ6mico.

o preC1SO, portanto, estar atento ao sentido da


racionalidade inerente ao sistema capitalista, tanto na uti-
lizaçio de recursos como na coordenaçio dos esforços cole-
tivos dos homens. 0 a racionalidade instrumental, apoiada
numa ciência e técnicas positivistas, que estario presentes.
o a mesma racionalidade detectada por Mannheim em Weber - a
racionalidade funcional - onde:
34

"Uma Organi2açáo é racional se os meios mais efi-


cientes s~o escolhidos para a implementaçio das metas. No
entanto, sáo as metas coletivas da organi2açáo (leia-se: do
capital) e nio as dos seus membros individuais que sio leva-
das em consideraçio. Deste modo, o fato de uma organi2açio
ser racional nio implica necessariamente que seus membros
ajam racionalmente no que concerne às suas próprias metas e
aspiraç5es. Muito ao contrário, quanto mais racional e buro-
crática se torna uma organi2açio, tanto mais 05 membros in-
dividuais se tornam simples engrenagens de um máquina, igno-
rando o propósito e o significado de seu comportamento."
(Chiavenato~ 1979, p.21, v.2)

A organizaçio e adequaçio dos meios para tal e a


escolha entre alternativas que melhor se encaixem neste pro-
cesso, levam a uma crescente racionalizaçio do mundo, basea-
da em critérios técnicos e científicos. Racionali2açio da
sociedade seria um processo onde cada vez mais setores dela
seriam submetidos a esta lógica.

Estas ligaç5es do conceito de racionalidade ins-


trumental, característico do sistema capitalista, a crité-
rios técnicos e científicos, vio ser criticadas por Marcuse,
que acredita existir por trás desta lógica uma aus&ncia de-
liberada de reflexio quanto aos interesses globais da socie-
dade.

"Talvez o prdprio conceito de razio técnica seja


uma ideologia. Nio apenas a sua aplicaçio, mas a própria
técnica é dominaçio (sobre a natureza e sobre o homem), do-
minaçáo metódica, científica, calculada e calculadora. Nio é
apenas de maneira acessória, a partir do exterior, que s~o
impostos a técnica fins e interesses determinados
intervim na própria construção do aparato técnico; a técnica
é sempre um projeto histórico-social; nela é projetado aqui-
lo que a sociedade e os interesses que a dominam tencionam
fazer com o homem e as coisas. Tal objetivo da dominaçio é
"m::,:\ t .:õ:·r:i. a l' n i!.:"~::'~:;"'. tnt.:;·d :i. d
.,"., '·:l., Pe r t en c (~. ,3. p.1" ÓP r i '.:lo +'o·c
ma da. 1- a ._.

z ão téc:n:i.c<;1.".
(I"iar·cuse,J96!.5)

Desta man e ír a , a técnica e a ciincias modernas,


para Marcuse (1964), vão respaldar a dominaç~o do homem pelo
homem, dando legitimidade a este processo através da amplia-
ção das comodidades da vida e produtividade do trabalho:

"O ~:; p r in c :I: p :i. os d a c:iin c i ,!\ mo d E~1- n a f o 1- ,!\ m E~~:;t li. cIa dos
."'":lo p·l":i.o·I":i.·"
d e modo a pc.d(~··I-(::"·11I s e rv ír de i n s tr ument o s c on c eí+
tuais para um universo de controle produtivo que se perfaz
o operaclonalismo técnico passou a corres-
ponder ao operacionalismo prático. O método cientifico que
levou à dominaçâo cada vez mais eficaz da natureza passou a
nec er
1~(Jr· tanto conceitos puros, como os instrumentos para a
dominação cada vez mais eficaz do homem pelo homem através
da dominação da natureza •.. Hoje a dominação se perpetua e
se estende nio apenas através da tecnologia, mas enquanto
tecnologia, e esta garante a formidável legitimaçio do poder
politico em expans~o que absorve todas as esferas da cultu-
ra. Nesse universo a tecnologia provi também a formidável
racionalizaçâo da nio-liberdade do homem e demonstra a im-
p o ~:>s :i. b :i. I i d a d €-~ }.' t éc n i c a n d E~ S er e 1e a u t.: i3 ri o mo E~ d (:-~ d E~I: E~r mi n a r

a pr6pria vida. Isso porque essa nio-liberdade aparece~ n~o


como irracional ou política, mas antes como uma submissio ao
aparato técnico que amplia as comodidades da vida e aumenta
36

a produtividade do trabalho. Assim a racionalidade tecnoló-


gica protege, em vez de suprimir, a legitimidade da domina-
çâo e o horizonte instrumentalista da razio se abre sobre

Neste sentido, também coloca Covre (1985), que a


técnica é um pilar fundamental sobre o qual se assenta o
processo de acumulaçio capitalista contemporâneo, tanto no
ambito da produçâo (maquinaria), quanto no da organizaçâo.
Ambas as técnicas ( maquinaria e organizatória), tim suas
origens em momentos históricamente determinados do desenvol-
vimento do capitalismo.

segundo Covre (1985), - a técnica ma-


guinaria - acha-se vinculada ao próprio surgimento da ci&n-
cia no contexto do capitalismo no século XVII
viés de transfiguraçio do conhecimento da natureza em técni-
ca, procura prover a necessidade do capital quanto à con-
traçio do tempo de trabalho (e, portanto, com maior possi-
bilidade de arropriaçâo do sobre-trabalho). Para isso esta-
belecerá um processo em que a economia do tempo de trabalho
nio será algo que favoreça o trabalhador, mas ao contrário,
t or n ar ·····::,e·-,i um i n s t r umen t o c ad ,1 ve:i!: m::~.:i. ~::. s o f :i.~:;t :i. c <:\d
o d e e>('-'
ploraçâo do trabalhador.

).Oli:e~::.ulta
da:í.qUE-~<1 c on c ep c ão de P\-odutivid<HIE~ Sl?~'-

Ja diferente para o trabalhador e para o capitalista. En-


quanto que para () primeiro produtividade significa produzir
mai s !I sem tanto dispindio de energia (e, portanto, com me-
lhores condiç6es de trabalho, de salário e de consumo), para
o capitalista a mesma palavra diz respeito a condiç6es de
produzir a maior quantidade possível de mercadorias com a
máxima produtividade física e com o mínimo salário." (Covre,

A segunda - a técnica organizatória ac l+a+s e

vin c u 1 ::;l.da ao desenvolvimento ,1 p art Lr

de uma perspectiva epistemológica específica, o positivismo,


que em fins do século XIX~ vai projetar essas ci&ncias
como técnicas sociais. Ela torna-se imprescindível par"a
que o processo se desenvolva como um todo.
ela é o instrumental das burocracias/tecnocracias
p~blicas e privadas (os técnicos e administradores já preco-
nizados no passado), no desempenho de suas funç5es nas em-
presas e no Estado, norteadas pela racionalidade formal
(oriunda da razio isenta):

" .•• este processo reveste-se do saber pretensamen-


te n eu t r o , tecnologizado, da tecnocracia, seja p~blica ou
que~ em nome da eficácia, autoriza-lhe posiç5es de

Na racionalizaçâo do trabalho, do ponto de vista


do capitalista, está claro que a perspectiva dominante é a
de que, sempre que os recursos materiais e conceptuais sejam
utilizados de forma econ8mica na consecuçio da máxima expan-
s50 do capital, eles estario sendo usados de maneira racio-
nal, ou seja, é a racionalidade instrumental que se apresen-
ta; segundo Parro (1988):

"A obtençâo de preços mais competitivos e o aumen-


to da escala de produçâo sio resultados da elevaçio na pro-
dutividade do trabalho, advinda do aproveitamento máximo da
ma t é r 1. a····
P r i m ,,,-, da reduç50 no desgaste dos instrumentos de
produçâo e do emprego da ci&ncia e tecnologia na invençâo e
aperfeiçoamento de máquinas e ferramentas, bem como na divi-
s10 do trabalho orientada para a produtividade máxima. Da
a coordenaçio do esforço humano colet1.vo, do
modo como é realizada no processo de produç1o capitalista,
com a divisio pormenor1.zada do trabalho e a imputaçio de
atividades parceladas aos trabalhadores que atuam sob o co-
mando do capital, tem como resultado o aproveitamento máximo
da força de trabalho paga pelo proprietário dos meios de
produção e a elevaç50 da produtiv1.dade necessária à expansio
c 01'\ s t ,11'1 t r::: d o C ,IP i t :;~.1
u .'1 ( P • !.:5!5 )

lógica, a racionalidade é indicada


simplesmente pelo fato de se analisarem os meios e adequá-
los da melhor forma possível à consecuçio do fim visado. O
, no mínimo, tautológico. Na medIda em que
questiona a validade dos fins a serem atingidos, es t a r a·-
cionalidade cai por terra, ela mostra-se insuficiente para
aos interesses da humanidade como um todo. Baran e
Sweez~ (1966), ilustram este fato:

"'A (~~mp\"esa gi~~c'\nter e t i r a da e s Fe ra do me r c ad o

grandes parcelas da atividade econBmica, sujeitando-as à ad-


ministraçio ci<::ntificam<::nteplanejada. Essa modificaçio rp-
presenta um aumento continuo na racionalidade das partes do
sistema, mas nio é acompanhada de qualquer racionalizaçio do
todo" Pelo contrário, tendo as mercadorias os seus preços
fixados nio segundo os custos de produção, mas de modo a
p rop or c i on ar o mAximo lucro po~;;.~;:ivE·I,
o pr Ln c Ic Lo do "qu:id
P\"(j qUO'" (toma liq dá cá) s e t ran s Po r ma no op o s t o d e um 81e'-
mento promotor da organiza~io econ6mica racional, tornando-
se, ao invés disso, um fórmula para manter a escassez em
mei o d a ab un d ânc a í p ot cn c a l •..•
í (p.334)

Também Braverman (1974), concorda com este aspec-


to:

"Os mais avan cado s mé t od os da cí ên c i a 12 do cálculo


nas mios de um sistema social que é anta.g8nico
necessidades humanas nada mais produz que irracional idade;
quanto mais racionais os cálculos, mais veloz e calamitosa.-

ValTlos verificar, a partir desta ótica, como se dá


o desenvolvilTlento da organizaçio do trabalho dentro do sis-
tema capitalista, dos seus primórdios até os nossos tempos.
Ressaltaremos que o uso da técnica, seja ela na produçio ou
na organizaçio dos esforços coletivos no trabalho, obedece a.
uma racionalidade instrumental, que só considera COITIOváli-
dos os interesses dos detentores dos meios de produçio. Pro-
curaremos, tambélTl, mostrar que a institucionalizaçio do pro-
gresso técnico e cientifico tem assumido um aspecto profun-
damente ideológico, legitimando a ordelTlsocial através, COITIO
coloca Marcuse, da unidimensionalizaçio do homem e da socie-
dad e ,
':J ....,
i.. o •• C. li A organizaçio do trabalho nos primórdios do ca-
p ital i~:;mo: do I.' FI ut t i li 9 .- o u t .-~:;
~s t ~:mil ao <:"l p a 1- (~:c i.-

mento do sistema fabril.

Já nos primórdios do capitalismo, torna-se claro


que a ci~ncia como valor libertador do homem e que poderia
propiciar uma vida melhor para todas as classes sociais vai,
na realidade, transformar-se em instrumento de exploraçio de
uma classe sobre a outra.

I~ c í ênc í a, que f8ra a pedra angular do processo


libertador do homem dos valores medievais, da sua luta con-
tra o poder da Igreja, contra os valores calcados na tradi-
çâo, esta ci~ncia libertadora sobre a qual se apoiou a bur-
guesia revolucionária, se desvirtua. A burguesia, que traz
no seu bojo, a vocaçio dominante, se apropria desse conheci-
mento de caráter universal e vai usá-lo como instrumento pa-
ra manter e legitimar a sua dominaçâo sobre as demais clas-

Com a expansâo dos mercados, a partir do século


teremos uma mudança estrutural na manufatura
va 1 q ti e d a l"<:\
~I
o r i 9 (~ITI a o s ~ s t e mil. O I" 9 a n i 2: a d o :::\
p u t t i n 9 .- o u t ._. IJ

partir da exist~ncia de um intermedi~rio que distribui a ma-


téria-prima aos artesios e compra o produto acabado, ele vai
apresentar como caracteristica tendencial a divisio do tra-
bal ho , Esta profunda alteraçio na organizaçio do processo
produtivo vai encontrar sua legit:i.maçio na pretensa rac:i.ona-
l:i.dade científica do método.
41.

SJo crit&rios técnicos e cientificas que v~o ser


usados já por Adam Smith (1776), para justificar a divisio
do trabalho. Segundo ele, é a superioridade tecnoldgica da
divisio do trabalho que explica a sua utiliza~io:

"Est e SJ'cande aumen t o d a qU::'~.nt::i.da(h!·


d e t r ab a lho
em consequencia da divisio do trabalho, o mesmo n~mero
de é·
Pf:Z·~:;~::.O::'~.~:; C<~.P::~.:i!: do::;: (::':>{(~'cut
'lr, devr:::·-~::.E'
a. t )..
;;:~:; c un st ân ..·
c :i.·
•..
eias: primeira, ao aumento de destreza em cada operário; se-
gunda, à economia de tempo que é comumente perdido ao passar
de uma atividade para outra; finalmente à invençio de grande
n~mero de máquinas, que facilitam E' abreviam o trabalho e
p 8l"1T1 it em a um h o !TI(:0-: m fazer o t i..ab a lh o de IIH.\ i t o s/", (p. 4 )

Se analisarmos os argumentos apresentados com mais


cuidado podemos verificar algumas incoerências: primeiro - o
ganho de tempo ocorre desde que separemos as tarefas e as
executemos de maneira contínua, nio necessariamente como ele
que especializemos o operário. Segundo
surpreendente que a propensio à invençio ocorresse em fun~io
da extrema especializa~~o que caracteriza esse tipo de divi-
sa0 do trabalho. A repe'ciçio de um n~mero mínimo de opera-
ç5es extremamente simples nio pode ser considerada o melhor
estimulo à inventividade humana. E, finalmente, o aumento
da habilidade individual do trabalhador, poderia ser admiti-
do se estivéssemos falando de cirurgiôes, m~sicos, etc, nio
de pessoas que realizam atividades industriais banais em di-
ferentes especialidades.

Devemos notar ainda que o que está sendo coloca-


dD, nio é a divisio dD trabalho na sociedade em geral,
sim, a sua divisio dentro do modo capitalista em particular.
,
Assim, como bem coloca Braverman (1974), n ão I:;'· o

ramente técnico que está sendo colocado, mas sim o consórcio


da técnica com as necessidades particulares do capital. A
/·1

separação do trabalho em seus elementos constituintes~ é ca-


racterística de todo processo de trabalho organizado. Sempre
que um processo de fabricação vai se repetir muit~s vezes, o
trabalhador cria gabaritos, procedimentos padronizados,
e t C!I que lhe permita produzir mais e com maior economia de

No exemplo da fabricação de alfinetes, abaixo des-


crIto, Smith (1776) torna clara a criação do trabalho parce-
lado e nio a simples divisão do trabalho:

11 Um h o me m es t i c:,·:1. o ~-':l.: r :::\mE·, ou t r o o en d :i. r e i ta !I um


terceiro corta-o, um quarto o aponta, um quinto esmerilha o
topa para receber a cabeça; fazer a cabeça exige duas Ol).

três operaç5es distintas, colocá-la é uma tarefa à parte;


branquear os alfinetes, é outra; ~ mesmo outra, o colocá-
los no papel, e o importante negócio de fazer um alfinete é
dividido em cerca de dezoito operações distintas, que em a1-
9UlTlas manuf::Üur·as s ão t od a s e xe c u t ad as por m~'\osd ís t n t a s í c "

(p .•2)

Como se pode observar, nâo sio as operaç5es que


estão sendo simplesmente separadas; elas estão sendo atri-
buídas a diferentes trabalhadores. O trabalhador pode parce-
lar o processo, mas & o capitalista que vai parcelar o pro-
.cesso entre os trabalhadores.

Desta maneira, além de se beneficiar do aumento da


produtividade proporcionada pela divisão do trabalho, ele
aumenta o controle sobre o processo na medida em que priva
os trabalhadores do seu ofício, enquanto um todo de conheci-
men t O~;..

l"IanJ 1 in (1971), a divis50 do trabalho no


J/ p ut ti n ~.~
·_·ou t: ';3 t em"
~;~:I .... b "I. s ea d o n ;.1 di s t 1" :i. b u i Ç. lio da m<3. t é'( i ,1. ._.
prima aos artes50s de quem se compra o produto acabado - le-
vou à especializaçâo e à separaçio de tarefas porque:

tornar o seu papel indispensável. Se o próprio produtor ti-


vesse podido harmonizar as diferentes tarefas componentes da
fabricaçio de alfinetes, 1090 teria descoberto que poderia
colocar-se no mercado sem a mediaç50 do patr50 e embolsar,
ele mesmo, o lucro .. Só pela separaçio em tarefas especiali-
zadas destinadas a cada operário, é que o capitalista podia
certificar-se do controle da produçâo, antes da introduçJo
de máquinas de alto preço. A especializa~io dos produtores
de sub p 1" odu t O~~ foi, igualmente, a marca característica do
'" p u t t :i. n 9 ....o u t .-j;; ~ ~:)t ~:ITI
"'. (p • 48 )

BraverlTlan (1974), aponta ainda um outro aspecto da


i v i.sa""
( J. í
o do trabalho que, segundo ele, passou
mas que seria talvez, a razio lTIaisforte da popularidade de-
1,1. .. Este aspecto foi claramente enunciado por Babage,
" Sob i" (7: a (.~'
c:o n o ITI:i. ,;\ d e ma q u :i. n á r i a e ITIa nu fat LI '" as JJ (l. 832) , da

" () 1" a, c:o n q LI a n to t o das e i;, s a s se .j aITIc a LI s a -:;)


i ITI
P o I" t a n .-

tes <sobre as causas da divisio do trabalho apontadas por A.


~3IT1ith)!, e cada ulTlatenha influincia no resultado, contudo,
44

parece-me que qualquer explicaçio do baixo custo dos artigos


manufaturados como consequência da divisio do trabalho seria
incompleta se o seguinte princípio fosse omitido: que o mes-
tre manufatureiro, ao dividir o trabalho a ser executado em
diferentes processos, cada qual exigindo diferentes graus de
períCia ou força, pod~ comprar precisamente aquela exata
quantidade de ambas que for necess~ria para cada processo;
ao passo que, se todo trabalho fosse executado por um operá-
rio, aquela pessoa deve possuir suficiente perícia para exe-
cutar o mais difícil, e força suficiente para executar o
1'/1:::1.i~:;1ab Oi" õ~~,~:,
i o so das op er ::":\,;;:
nas qlJ,<:1. i~:.o Co f':t: c :i, o é d :i, v i di d o' "
(p.??)

Ou seja, numa sociedade baseada na compra e venda


de força de trabalho, a divisio do trabalho permite comprar
para cada parte do trabalho, a for,a de trabalho mais bara-
ta. Este principio torna-se fundamental para a evoluçio da
divisio do trabalho na sociedade capitalista. Segundo Bra-
ver man (:1. '-174-) ::

" i'-la !TI:i. t: o 1 o 9 i a d o c ,:\1=> :i, tal i S!TI o, o P I" i n c: :l p i o d G~ B a b a ,-


!:':j(~ F' ,lI=! t :::-\d o
r' e~::,(:::-n c orno um I;:'S, for' ç o r ::3."1"'
a }/ p r e~:;eY' V,:U" P (:!"I" :l c :i, a,S
(~~,ca~:;.sas'"
ao ,ÜI" í b u ir a t r ab a lh a d o r e s qualificados t a r e+a s
podem I:;: n ão d('!'SPE'Y'd I c ar "r ec ur s o s
dl,"'~:;'::':'ITII:)(~'nh:::\l""',
c omo
::,:\pr('i:sG:ntado uma 1"0~,:\ç:io
~\ '"'c<:"ll
..
t}nci,:\" de

trabalhadores qualificados ou pessoas tecnicamente instruí-


das, cujo tempo pode ser melhor utilizado e em benefício
d (~' "t od :,:t ,1 soe :Í,(",d,lei e'"; ( p ..
7'-:" )

Explicita-se aí a racionalidade instrumental, a


racionalidade com relaçio aos meios, onde o fim é dado rosto
45

e indiscutível; e o uso econ8mico de recursos é claramente


com a explora~io máxima do trabalhador e os
interesses do capital com os da sociedade.

~ com o surgimento do sistema fabril que estas ca-


racterísticas da organizaçio do trabalho se cristalizam. Se-
gundo Marglin (1971):

característica do
" pu t t i n ~.l·-·OUt .... t E-~m'" ,
~:;::J~:; fez desaparecer só um dos dois aspec-
tos do controle operário da produçio: o controle do produto.
O controle operário do processo de trabalho ainda continuava
t ot a 1 : o trabalhador era livre para escolher as horas e a
intensidade do seu trabalho e era proprietário dos seus ins-
trumentos se trabalho. Essa condiçio só lhe foi tirada pela

aparecimento do sistema fabril também ~ justificado~ P or

vários estudiosos~ através da sua superioridade tecnológi-


ca. Para eles, D sistema fabril será uma consequência natu-
ral da evoluçio da ciência e técnica aplicadas ao processo
pr o d u t Ivo .. As máquinas resultantes do avanço tecnológico da
época, necessitariam de espaços e energia de que a casa do
artesio nio dispunha. Portanto, nada mais lógico que concen-
trar os artesios em locais onde espaço e energia fossem ade-
quados.. Sio raz5es técnicas, portanto, que vio justificar o
agrupamento de trabalhadores num local específico.

o raciocínio que orienta estes estudiosos é sim-


se a fábrica tornou-se uma realidade, ela deve apre-
sentar vantagens; numa economia de mercado concorrencial,
46

estas vantagens estaria ligadas à possibilidade de redu~io


de custos na produção, ou seja, a f~brica seria uma solução
tecnologicamente superior às demais. Portanto~ nada mais na-
tural que entender a hegemonia da fábrica através da sua
superioridade tecnoldgica. Para Landes (1969):

J'(.) r e vol uc ão Ln du s t r a l e x s a má qu n a s que


í í í í n:tto
~::.()mentesuh s t t u am o t r ab a lh o man ual , ma s a n d a impunh:::un'.;l.
í í í

concentração da produ~io em fábricas - em outros termos, má-


quinas cujas necessidades energéticas eram grandes demais
para as fontes domésticas e cuja superioridade mecânica per-
mitia romper a resistência das formas tradicionais de produ-
\;:50 manu a l c " (p.!:H)

Embora de maneira secund~ria, estes autores reco-


nhecem outras vantagens no sistema fabril, como disciplina e
c on t 'C o "1
(~, que n o .'J P utt in 9 - o u t ~:;
~s tem n '21" amim p o s s 1: v e is . F'<!I ra
o mesmo Landes (1969):

nA essência da fábrica está na disciplina e nas


possibilidades de direçio e coordenação do trabalho que ofe-
rE·C(7~ .: " ( p , ~j7)

Seguindo a linha de raciocínio de Marglin (1971),


estas vantagens secundárias tornam-se, imediatamente, deter~
minantes no desenvolvimento do sistema fabril. Para ele, o
sucesso do sistema fabril está ligado ao fato de que:
4'.,.
/

·"..".. pe'f"miti<l ao cap t a Lis t a o


f::~:;tr::: í con tro le do
processo de produção, e que, ao opor operários vigiados e
disciplinados a oper~rios domiciliares~ ele p6de reduzir
seus custos~ sem por isso adotar uma tecnologia necessaria-

o argumento da superioridade tecnológica, portan-


to, nir é necessário nem suficiente para explicar o impulso
e o sucesso da fábrica. Em suma, o que nos parece claro, é
que a pretensa objetividade científica dos argumentos em fa-
vor da superioridade tecnológica da divisão parcelada do
trabalho ou do sistema fabril, se analisada por um outro as-
pecto, que incorpora o questionamento com relação aos fins a
serem atingidos, torna-se, no mínimo, muito frágil ..

Quando verificamos os resultados dessa superiori-


dade tecnológica, característica do sistema capitalista, ao
nível das condições de trabalho e de vida dos operários, os
resultados tornam-se, inexplicavelmente, insatisfatórios ..
i~P(~~;,H' de t od o o .'I(~SfOl-ÇC>'·' c en t
í í +í c o e racional do c apít a+
lista no sentido de aumentar o bem-estar geral da sociedade,
gerando empregos, produzindo mercadorias melhores, mais ba-

Várias pesquisas, c i t a da s p 01" (1980),


ilustram este fato. Segundo ele, algumas condiçôes de vida
do trabalhador em meados do século XIX,

a duração do trabalho, que atinge corrente-


,I)

mente 12~ 14 ou mesmo 16 horas por dia~ o emprego de crian-


.. ::.
na produção industrial, algumas vezes a partir ....'
4B

e, mais frequentemente a partir dos 7 anos. Os salá-


rios sâo muito baixos e, com frequência, insuficientes para
assegurar o estritamente necessário. Os períodos de desem-
prego p5em imediatamente em perigo a sobrevivência da famí-
'1 i ~:1.•• A moradia se reduz, frequentemente, a um pardieiro.
Falta de higiene, promiscuidade, esgotamento físico, aciden-
tes de trabalho, subalimentaçio~ potencializam seus respec-
tivos efeitos e criam condiç5es para uma alta morbidade, de
uma natalidade e uma longevidade formidavelmente reduzida •••
A intensidade das exigências de trabalho e de vida ameaça a
própria mâo-de-obra que, pauperizando-se, acusa riscos de
s or rí men t o específico, descrito na literatura da época sob
o nome de MIS~RIA OPER~RIA ..Concebida como flagelo, ela e,
no espírito dos notáveis, comparável a uma doença contagio-
~2.:::). .:" (p .. :1.4)

Quando a miséria operária atinge estes níveis, nio


sendo mais possível ignorá-la, o procedimento do capitalis-
ta se repete: a partir de um diagnóstico nio sujeito a dis-
cussoes - a miséria operária é uma doença - tomam-se as me-
pa r a c on t ê+ la a partir de propostas de
especialistas pretensamente objetivos e neutros. A mesma ra-
cionalidade instrumental, que gerou as condiç5es miseráveis
de trabalho e vida do operariado, vai ser usada para a sua
ana '1 lse
. r
e so 1 uçao.
'"'

~ neste sentido que afirma Dejours (1980) ter sur-


gido o movimento higienista no séc. XIX. Para ele, a miséria
assimilada a uma doença (contagiosa), permite a I n t r odu c ão
da linguagem do isolamento, da erradicaçâo, d <":1. dr en <3.9 E:ITI

~tc, enfim, de ulTlacerta eficácia. Obviamente, a higiene de-


signa os meios a serem postos em prática para preservar a
sallde das classes privilegiadas e nio a da classe operária.
As preocupações do movimento higienista n~o se restringem a
sa~de apenas, é preciso restaurar também a ordem moral e a
ordem social nas aglomeraçôes operárias. A miséria, promis-
cuidade e a fome associam-se para criar condições favor~veis
ao desenvolvimento da delinquincia~ do banditismo, da vio-
lência e da prostituiçio, fatores que, indubitavelmente, co-
locam em risco a ordem estabelecida e ameaçam a desigualdade
sobre a qual se assenta a sociedade. Para tentar conter o
crescimento destas tensôes, a fórmula da racionalidade cien-
tífica, o discurso técnico, etc., novamente vio ser utili-
z ad o s "

Para Marcuse (1964), a idéia de se questionar os


efeitos das relações de produç~o <tais como 05 citados aci-
ma), a partir do potencial das forças produtivas é descarta-
da na medida em que as relações de produção existentes se
apresentam como a forma de organizaçio tecnicamente necessá-
ria de uma sociedade racionaliz.ada. Vamos verificar como es-
tas tend&ncias, verificadas nos primódios do capitalismo,
evolu.I:'.:·m c en t f f c a d o tr·:::\l:lalho""
na c h amad a Jlo·(g:::\n:i.:.c~<lç:~io í í
'--'
,',,\
c. u :>: "
•• A Organi2aç5o científica do trabalho

A chamada organizaç~o científica do trabalho ca-


racteri2a um movimento do capital no sentido de, em funçio
de novos determinantes econ8micos e SOCIaIS, racionalizar o
processo produtivo dentro de uma base dita cientificaM As
I: 0: n d {~
n c :i. a !:i d 0: t 0: c t a d ,:..
!;; no" P u t t in !J .- o u t '.'!;;:-:J S tem" (:0-: n o 'S; p I" imó r.-
dios do sistema fabril de divisio do trabalho, aumento do
controle~ etc, sâo realizadas pela OCT. O discurso que esta-
va presente de forma latente nas etapas anteriores da orga-
nizaçâo do trabalho, agora assume a sua plenitude: organiza-

O conhecimento científico, de car~ter universal,


será instrumentali2ado pela OCT a partir de uma ótica niti-
damente positivista, deixando, como consequincia, de consi-
derar a sua origem histórica e aceitando como natural a di-
visâo do trabalho imposta pelas relaç6es de produçâo capita-
A partir dai, assumirá uma postura de falsa neutra-
lidade e objetividade, nâo questionando seus pressupostos e
ignor3ndo as relaç5es de troca e os interesses de exploraçâo
e controle que geraram o seu desenvolvimento. Vejamos o con-
texto dentro do qual isto ocorre.

Em fins do século XIX temos o advento da segunda


Revoluçio Industrial, car~cteri2ado, entre outras coisas,
pela substituiçâo do capitalismo liberal pelos monopólios e
o aumento das dimens5es das empresas. Como consequ&ncia des-
sa nova realidade econ6mica, torna-se possível o planejamen-
to a longo prazo, já que a grande empresa por suas dimens5es
e influência monopolística praticamente elimina a concorrên-
51

ela, reduzindo com isso a instabilidade. Outro fato not~vel,


decorrente dessa nova situaçio, é a cristalizaçio do proces-
so de seraraçâo entre funç5es de direçâo e execuçâo. Com a
produçâo em massa e o enorme crescimento do nJmero de operá-
rios, evitar o desperdício e economizar a mio-de-obra torna-
se vital; com isso aqueles que estabelecem o processo de
produçáo, descrevem cargos e estudam m~todos de administra-
çio e normas de trabalho entram emevid&ncia. ~ esta nova
situaçio econ6mica que permite o aparecimento do ta~lorls-
mo. Segundo Tragtenberg (1974), o ta~lorismo é:

oriundo da aplicaçio de um esquema empírico


como método onde o conhecimento surge da evidência sensível
e nio da abstraçio. O objeto do conhecimento é concreto. O
método baseia-se em dados singulares observáveis, isso limi-
tando a possibilidade de generalizaçio. Na essência, presi-
dindo tudo, esta uma atitude descritiva onde o importante é
o como e nio o porqu& da açio." (p.72)

Torna-se claro nesta pequena citaçio que o autor


capta com muita clareza o sentido da racionalidade instru-
mental que orien~a o ta~lorismo, onde a preocupaçio é, sim-
plesmente, o uso racional dos meios, e que esta racionali-
..,
I I nao considera
cace os interesses do homem pensado de maneira
genérica p universal. Essa racionalidade instrumental vai
para o interior do processo produtivo criando condiç5es de
trabalho extremamente tensas.

Para o mesmo autor, o ta~lorismo só se torna pos-


sivel a partir da exist&ncia de empresas com grande poder
econ8mico p político, a partir da debilidade sindical dos
operirios e da ausência de legislaçio social e do predomínio
1::· ...
--.o t:
·1

da oferta sobre a procura no mercado de m~o-de-obra; nós


a c r e s c e n ta r í amo s a estes fatores~ o fato de que esse novo
método está respaldado em toda uma mitologia relativa ao
procedimento científico.

Na medida em que se estabelece que todo conheci-


ment o cí entí Fí c o é isento de jU:lZO~:;d e val or , qUi:" ~:;'E;' "n a tu-:
portanto, o procedimento baseado nesse argumento,
tudo o que for feito dentro desses parimetros torna-se nat:u-
ral, logo, inquestionável. Torna-se impensável que um proce-
dimento cientifico, racional, esteja gerando um quadro de
e miséria e que propósitos polítiCOS ou econBmicos
escusos estejam sendo privilegiados.

Partindo do princípio de que Ta~lor se propunha a


transformar o conhecimento e a prática empírica do trabalho
em um conhecimento científico e uma prática racional, ele
elabora um método de análise do trabalho baseado no estudo
dos elementos constituintes de cada tarefa e, a partir daí,
estabelece tempos elementares para cada uma baseado numa mé-
dia de cronometragens.

Agregando tempos elementares a tempos mortos ele


estabelece o tempo total do trabalho. Comparando diversas
maneiras de realizar a mesma operaçio, pode-se chegar a uma
melhor soluç~o tecnlca. Para Ta~lor~ só existia uma maneira
correta de se realizar uma tarefa. Com isso, ele consegue
evitar o desperdício de tempo e, ao mesmo tempo~ desenvolver
uma prática de seleçao e treinamento dos trabalhadores, com
a finalidade de ter, para cada tarefa, a pessoa correta. Com
isso o trabalho será executado da maneira mais rápida e com
a máxima eficiência.
53

De uma maneira sintética, podemos colocar seus


princípios da seguinte forma:

1. padroniza~âo da produ,âo~ através da determina-


,ia do tempo dtimo para a realizaçio da tarefa e da retirada
do processo de trabalho dos gestos e aç5es tradicionalmente
realizados pelo trabalhador e que nio contribuam para a pro-
duçâo;
2. separaçâo entre a concep,âo e execu,âo, trans-
ferindo para a gerência a tarefa de concepçio;
3. parcelamento do trabalho de tal forma que cada
tarefa calha a um trabalhador, sempre que possível.

Os resultados da aplicaçâo desses princípios~ além


da diminuiçio dos custos unitários da mercadoria, serio o
aumento significativo da intensidade do trabalho e a utili-
zaçio produtiva de parcela da jornada de trabalho. O aumento
da intensidade do trabalho é conseguido com a transferência
para a gerência da tarefa de concepçio, eliminando-se este
tempo na realiza,âo da tarefa. A maximizaçio da produtivida-
de da jornada de trabalho é obtida através da eliminaçio de
gestos e aç5es desnecessários ~ realizaçâo das tarefas.

Para isso o conhecimento prévio do trabalho, até


entio monopólio do trabalhador, passa a ser partilhado pelo
capital, que, com a sucessio dos trabalhadores na fábrica,
acaba por monopolizá-lo. No mesmo sentido, o parcelamento do
trabalho rebaixa as necessidades de qualificaçio para a exe-
cuçâo das tarefas, permitindo a utilizaçâo de trabalhadores
com salários mais baixos.
54

Em suma, o resultado final do método proposto


por Ta~lor, será o controle maior sobre o conjunto dos tra-
balhadores, de maneira a organizar o trabalho dentro dos
critérios de racionalidade do capital.

Estes critérios objetivos de rapidez, eficiência,


economia de tempo~ etc., associados à racionalidade ins-
trumental, típica do capitalismo, vio gerar uma situa~io de
trabalho e vantagens econ8micas que, como já apontamos ante-
riormente, sio bastante discutíveis.

Segundo Faria (1985) os resultados econ8micos ci-


tados por Ta~lor para exemplificar o uso deste novo método,
deixam claro que ele permite a redu~io do n~mero de traba-
lhadores para a realiza~io da mesma tarefa; um aumento, em
de 63% da remuneraçio dos trabalhadores; uma reduçio
do custo médio de 54% e um aumento na produçio de 269%.

o autor afirma que o custo para a empresa (no

exemplo usado por Ta~lor), decresce nio só devido ao uso de


um n~mero menor de trabalhadores, mas principalmente devido
ao aumento do trabalho nio pago: a empresa que pagava um sa-
lário total de $690 pelo antigo sistema, passou a pagar
$263,2 no novo. No exemplo citado, 460 trabalhadores deixa-
ram de trabalhar e o incremento relativo da produçio é de
4,27 vezes maior que o relativo à remuneraçio. A empresa
conseguiu reduzir suas despesas em 62%.

A mitologia ta~lorista de que o incremento da pro-


duçio p da produtividade levaria ao bem-estar dos homens,
cai por terra rapidamente; o novo método só interessa a um
pequeno grupo de homens: os detentores dos meios de produ-
,ao.
Um passo significativo dentro da organizaçio Clen-
tifica do trabalho vai ser dado por Ford. Ele estabelece
principias dentro da organização do trabalho, que represen-
tam um avanço neste processo. Seus princípios, concretiza-
dos na linha de montagem, resumem-se a que o trabalhador não
se desloque para se abastecer de pe,as e materiais e que o
ritmo do trabalho seja imposto por mecanismos externos ao
trabalhador. Os resultados conseguidos por Ford se refletem
na reduçio do tempo de produção através da especialização do
oper~rio e da diminuiçio do tempo dedicado à movimentaçio de
peças e materiais; redução do custo de fabricação e aumento
de produtividade.

A racionalidade que orientou o procedimento de


Ta~lor e a mesma que orienta Ford; a diferença está no apa-
rato técnico e científico de que cada um disp5e. Como Ford
tem a sua disposição uma tecnologia mais sofisticada, suas
propostas têm uma capacidade maior de atingir os objetivos
do capital.

Braverman (1974), coloca o significado desta evo-


luçio na organização científica do trabalho de uma maneira
muito clara:

"A gerência científica significa um empenho no


sentido de aplicar os métodos da ciência aos problemas com-
plexos e crescentes do controle do trabalho nas empresas ca-
pitalistas em rápida expansão. Faltam-lhe as caracteristicas
de uma verdadeira ciência porque suas pressuposiç5es refle-
tem nada mais que a perspectiva do capitalismo com respeito
às condiç5es da produçio. Ela parte nio do ponto de vista
humano, mas do ponto de vista do capitalista~ do ponto de
vista da gerência de uma força de trabalho refrat~ria no
quadro das relaç6es sociais antag8nicas. Nio procura desco-
b r :i, r e confrontar a causa dessa condiçio, mas a aceita como
um dado inexorável~ uma condiçio natural. Investiga nio o
trabalho em geral, mas a adaptaçio do trabalho às necessida-
des do capital. Entra na oficina nio como representante da
. .... .
ClenC:l.a, mas como representante de uma caricatura de gerin-
c ia nas ar mad í.Lh a s da c ên ci a ,
í JI (p.B2"-3)

A racionalidade, no sentido weberiano, deixa de


ser um referencial para a análise critica do desenvolvimento
das forças produtivas, através do qual a exploraçio e re-
pressio objetivamente supérfluas das relaç6es de produçâo
historicamente ultrapassadas podem ser explicitadas; segundo
Marcuse (1965), ela é ao mesmo tempo:

" .•• um padrio apologético pelo qual essas mesmas


relaç5es de produçio podem ser ainda justificadas como um
quadro ín s t ít uc Lon a I +un c íon a lmen t e adequado." (Pn3v)~j)

Se analisarmos a implementaçio dos métodos cienti-


ficos de Ta~lor e Ford, encontramos, como era de se esperar,
,~,1::.:J un s a ~;p e ct o s crue ~~U.f)e r em qU(::" o seu u ~;;o 01:> (~,'dec: (fi' a mo t i vo~::'
que nio sio puramente técnicos, neutros, e sim ligados às
necessidades de controle e legitimaçio da organizaçio do
trabalho capitalista frente aos interesses operários.

A cronometragem~ um dos meios científicos e obje-


tivos de se estudar o trabalho, segundo Ta~lor, qu an cIo c 0'-
locado em prática, torna-se extremamente subjetivo. Os pró-
prios agentes técnicos, responsáveis pela cronometragem, re-
c onh e c ern que existem fatores que contaminam o processo: ele
não considera a variabilidade da habilidade da mio-de-obra,
a reaçio da mio-dE-obra ao fato de estar sendo cronometrada,
incidentes, etc. Torna-se extremamente delicad~ estabelecer,
a partir dos tempos cronometrados, aquele que seria o tempo
de execuçio de um operário fictício, que sempre se repeti-
Isto acaba se refletindo na falta de homogeneidade dos
tempos resultantes e na necessidade de se fazer ajustes e
acordos entre os v~rios setores da fibrica. Muitos chefes de
fabricaçio admitem alterar os tempos-padrôes dentro de limi-
tes que nio cheguem a afetar os preços de venda. Isto é fei-
to a partir da sensibilidade dele. Critério que pode ser
considerado muito pouco científico e objetivo. Qual o motivo
entio~ da insistência na sua utilizaçio?

A resposta pode estar na possibilidade, esta sim


efetiva, de se estabelecer tempos-padrio para as tarefas, de
acordo com os interesses do capital, usando para tal um dis-
curso legitimador de base cientifica. Com isso a técnica
passa a ter um conte~do que e ideologicamente mais importan-
te que os resultados práticos obtidos a partir dela.

A especializaçio, outro aspecto importante no me-


todo proposto por Ta~lor (1911), permitiria a reduçio de
tarefas com demasiadas operaçôes, que necessitam de um longo
tempo de aprendizagem e acabam tendo uma baixa produtividade
na sua execuçio. A lógica desta argumentaçio, já usada por
A. Smith, cai por terra quando, ao longo do tempo, consta-
ta-se que a especializa~io, quando levada ~ monotonia, reduz
a produtividade e que o operária tem uma r2açio negativa ao
esvasiamento do conte~do da tarefa.

A desqualificaç~o do operár'io, a repetitividade, a


especializaçâo~ ~
SBO aspec t os favor~veis ~ lógica da reduçio
dos custos do trabalho. Pelo menos a curto prazo. Ao longo
dos anos, problemas como defeitos na fabricaçio, sabotagens,
acid e n t e s , taxas de ausincia elevadas, rotatividade do pes-
indolincia, hostilidade difusa, etc, tornam-se críti-
Estes resultados do processo de intensificaçio do tra-
1:l::).lhoque demonstram, no mínimo, uma reaçio difusa a este
tipo de racionalidade dentro do processo produtivo, na medi-
da em que resultam em quedas de produtividade e lucrativida-
de, levam a um repensar de tais quest5es. Para Gorz (1973):

feito tudo para negar aos operários


possibilidade de iniciativa e de controle de suas
o patronato percebe, através das falhas das máqui-
aquilo que os operários souberam desde sempre: se eles
pararem de empenhar-se, se eles se restringirem rigorosamen-
te ao que lhes é prescrito, a fábrica pára. A predetermina-
ção rigorosa das tarefas volta-se contra 05 seus autores. A
"1 on se

.
Qu\:\ndo ana 1 lsamos a evo I uçao'J
dos p r Ln cí pa is E:'nfo-
ques adotados com relaçio à organizaçio do trabalho ao 10ngo
do tempo, verificamos que estas propostas vio se alterando
de acordo com as modifica~5es do contexto econ8mico e polí-
t íc o , A cada tentativa do capital de controle e aumento da
corresponde um determinado contexto e um movi-
mento operário de reaçio. A busca de produtividade e reduçio
de custos de mio-de-obra, típicos do período de reconstruçio
da economia no pós-guerra, que desembocam na cronometragem,
no sal~rio por produçio, nos primios de rendimento e produ-
tividade, sio exarcebados nos anos cinquenta~ ainda marcados
pela busca dos tempos mortos, na simplificaçio do trabalho,
et c . Nos anos sessenta. a gestio entra na ordem do dia. O'"..,
59

problemas contibeis e financeiros~ o marketing~ o desenvol-


vimento da informática estio no centro da problemática das
empresas. A gestio de estoques e o desenvolvimento das ven-
das sio enfatizados.

Atualmente, a questio que parece tornar-se prepon-


derante dentro do quadro da organiza,io do trabalho, ~ a da
automa,io com base microeletr8nica. As possibilidades ine-
rentes a esta nova tecnologia~ de aumento da produtividade e
de libera,io do homem do trabalho para o lazer, ou por outro
lado, de absoluto controle e dominaçio dele, colocam em evi-
dência a discussio sobre a fusio peculiar da técnica e da
dominaçio, da racionalidade e da opressio, já colocada por
Marcuse.
60

2.4. A organizaçio do trabalho na moderna sociedade in-


dustrial: a autcmaçic

o aparecimento da automaçio de base microeletr6ni-


ca é, na maioria das vezes, justificado como uma conseqU&n-
eia natural do avanço científico e das necessidades de altos
níveis de produtividade e qualidade~ sem os quais a sobrevi-
vência das empresas frente ~ concorrência e ~s exigências
cada vez maiores dos consumidor~s seria impossível. A partir
daí~ a autcmaçio de base micrceletrônica despontaria como
uma tend&ncia inexorivel na organizaçáo do trabalho na atua-
lIdade.

Este tipo de cclocaçio tem como característica o


fato de que esta nova tecnologia estaria sendo usada pelos
empresários, simplesmente para enfrentar uma nova situaçio
de mercados mais competitivos e consumidores mais exigentes.
Cumpre-se notar que. no capitalismo moderno oligopolizado ~,
no mínimo, estranho falar-se em concorr&ncia e consumidores
eom poderes para impor ~s empresas dificuldades ou desejos.

Um ponto de vista diferente pode ser encontrado na


análise de Joio Bernardo (1984); para ele, o problema da
produtividade deve ser abordado a partir das lutas operá-
rias. Para ele sempre que há o enfrentamento da classe ope-
rária com o capital, a disciplina da fibrica é rompida e
novos sistemas de relaç5es, decorrentes do caráter igualitá-
rio e coletivista assumidos na luta, devem surgir. A res-
posta econômica do capitalismo ao aspecto reivindicativo
dessas lutas, desencadeia o estabelecimento de um novo ciclo
de mais-valia relativa, mediante o aumento da produtividade
e da intensificaçâo do trabalho. As reivindicações operárias
no plano coletivo e mesmo a indisciplina individual, tem co-
mo resultado a reduçio do tempo de trabalho que a força de
trabalho é capaz de incorporar no produto (reduçâo da jorna-
da de trabalho, por exemplo); por outro lado, o capital atua
no sentido de reduzir o tempo de trabalho incorporado na
for~a de trabalho, aumentando a produtividade e intensifi-
cando o trabalho com que sio feitos os bens de consumo con-
sumidos pela classe operária.

~ste desenvolvimento da produtividade, resultante


das press5es reivindicativas dos operários é, segundo Joâo
B E.' I" n a I" d o ( j, 9f.l4 ) s

ma.i ~:;.'-
'v' a 1. :i. <:t I" e "1 ;::1. t :i. v a" ::

I.' C o m (:-~·f e i to, a mais-valia relativa obedece a um


desenvolvimento cíclico. Cada ciclo encerra-se quando as
inovaç5es introduzidas nos processos produtivos se convertem
n "I. n ar m,:t !:;) 1="'«3.1 E' ,1 1 i ,1
ma :i. ~;'-va I" e 1 ';l. t :i. va ab so lu.t i z a ·-~:;i;':· en Hio ~
tornando-se necessário inaugurar um novo ciclo. E assim su-
cessivamente. Estes ciclos pontuam a din~mica do capitalismo
(~~:;;i\o d e t e r m n ad os í p e la s l u t as s oc ía í s ;" (p.87)

No entanto, segundo a visio dos empresários, esta


tecnologia deverá ser incorporada à linha de montagem por
permitir um aumento na efici&ncia, na organizaçio e no co-
mando da fábrica. Ela permite aos empresários um controle
muito maior da fábrica, criando com isso condi~5es para uma
melhor consecu~âo dos seus propósitos (do capital). Falabel-
la (1988), ilustra o significado da revoluçio microeletr8ni-
ca para o capital, citando o gerente-geraI da 01ivetti~
Franco de Benedetti, que diz o segu.inte:
)I (~ t ::l~:J10';"" L!:z:\<i: ~io d <1.~", p.,.. i m(,,· i r ,:\~; f,H)j- :i. c ;3.!::' ( •••• ) p f:~i"'-

mitiu O controle da for~a de trabalho e foi o pri-requisito


necessário para a mecanizaçâo e automaçâo do processo produ-
tivo. Desta forma, as ind~strias ta~lorizadas puderam ganhar
a concorr&ncia com as empresas que usavam o antigo sistema
( ••• ) A tecnologia da informática i basicamente uma tecnolo-
gia de coordenaçâo e controle da força de trabalho (e) dos
trabalhadores de escritórios, os quais a organizaçio ta~lo-
rista de trabalho nio consegue abranger ( ••• ). O PED - Pro-
cessamento Eletr5nico de Dados (••• ) é de fato uma tecnolo-
gia organizacional e, como a organizaçio do trabalho, t f!!.·1TI

uma dupla funçio: como


for~a produtiva e como instrumento de
,
c ont r ol e do c<:l.pita.l
..
·· (p ..
c:4)

levantados pelos empresários para jus-


tificar o uso desta nova tecnologia estio amparados semprE
em argumentos que, apesar da roupagem nova, ainda sio inspi-
rados na razio instrumental que acompanha o sistema capita-
lista desde os seus primórdios. Na discussâo em torno do ca-
ráter puramente técnico ou politico da introduçio da nova
tecnologia é, como sempre, esquecido o fato de que é o capi-
tal qUE introduz a mudança e nio os trabalhadores e, segundo
Falabella (1988),

" .•• a decisio nio pode ser técnica mas interessada


em termos econômicos e politicos (aumento da margem de mano-
b ra do c;::!\p:i.I:<.:t1 no me r c a d o e no Pl-OCC~,":;SO pr·odutivo).··' (p.14)

o uso da nova tecnologia de maneira a aumentar o


controle técnico sobre o conte~do e o ritmo de trabalho,
tem um sentido político além do econômico. ~ certo que o no-
vo sistema produtivo proporciona economias atrav~s da subs-
tituiçio direta de mia-de-obra, do melhor aproveitamento do
tempo de trabalho, de um melhor tempo de re-trabalho,
mas num país onde o custo de mio-de-obra é baixo, isto 56
aconteceria se outros beneficios estivessem presentes. Se-
gundo a análise de Peliano (1987):

." "." a ampliaç~o do controle <técnico) tamb~m tem


um sentido político. Ela pode estar sendo vista pelas gerên-
cias como um passo no sentido de reconquistar a parcela de
poder perdida para os operários metal~r9icos da n düs t 1- ia
í

automobilística a partir da instalaçio e da atuaçâo de orga-


nismos de natureza sindical - as comiss5es de fábrica - den-
tro das empresas, organismos que contam com grande respaldo
(;: P I" (~5 t :I:9 i o j u n t o a o s o P (~'1"~\r i C)~:;." ( p u r..~9 )

Para Motta (1986), esta questio também parece bas-


tante clara. O autor afirma que:

"'(.:1 que~:;tho c en t ral d a au t omac ão 4:: em lar~Ja med da í

de natureza política. Evidentemente, nio se trata de des-


truir computadores, nem as empresas que 05 produzem ou os
centros de pesquisa que desenvolvem a nova tecnologia. O
problema central está em evitar a tendência que a tecnologia
apresenta de criar o seu pr6prio ambiente e suas pr6prias
d et er 1'11 i n .,:\Ç i:;('.:'~::., aos quais a sociedade fica sujeita. Dito de
ou t r ,,!\ for ITla, embora cria~io humana, a tecnologia tende,
serviço do poder, a escapar ao ambiente e às determinaç5es
da candiçio humana e a submetê-la. Entretanto, a reversio
dessa tendência nâa cabe àquela parte da sociedade que, re-
lativamente pequena, a ela se sobrep5e e se beneficia da
64

falta de controle da tecnologia por parte da maioria. A ta-


refa de colocar a tecnologia a servi,o do homem, o que equi-
vale dizer a serviço da sociedade, é tarefa da proprla so-
ciedade e da força dos movimentos que se desenvolvem em seu
interior e n~o das classes e grupos sociais dominantes."
(p.107)

Apesar de os estudos sobre as necessidades e as


consequ&ncias sociais da automaç~o ainda serem bastante es-
cassos~ principalmente em países como o nosso, podemos com-
provar, com alguns cuidados, que a l"acionalidade que orienta
este processo~ ainda é a mesma racionalidade instrumental
característica dos prim6rdios do capitalismo.

Estudos feitos em duas montadoras de automóveis


brasileiras (vanguarda do processo de automaçio, um dos
maiores empregadores do país e com uma força de trabalho al-
tamente mobilizada e organizada)~ apontam como fatores es-
senciais na implantação desta nova tecnologia, segundo os

empresários~ a melhoria da qualidade, a flexibilidade do


sistema produtivo, o controle da produ,io, a economia de ma-
teriais e tempo, a redução de estoques, a reduçâo de inves-
timentos em capital fixo e possibilidade de humaniza~io do
trabalho.

Segundo o relato de Peliano (1987), a automaçio ~


capaz dp propiciar níveis de qualidade até entio inimaginá-
veis; com as operaç6es controladas por equipamentos microe-
letrBnicos é possível impor-se um ritmo contínuo ao sistema
de máquinas~ sempre com as mesmas características de tempo,
espaço e movimento. A nova base técnica de produção traz
precisio e uniformidade operaç6es permitindo a homogenei-
dade do produto final. A padronizaçio técnica da produçâo
65

atinge níveis Jamais sonhados por Ta~lor.

o aspecto da flexibilidade, ou seja, a capacidade


operacional de executar operaç6es industriais simples, va-
riadas e sequenciais, se realiza plenamente através da auto-
maçáo de base microelelr8nica (AME), q\le possibilita a recu-
peraçio dos princípios básicos do comando, controle e movi-
mentos humanos por meio de programas, equipamentos e manipu-
ladores mecânicos. Rob8s, programados para executar várias
opera~6es, colocados em um determinado posto de trabalho,
aumentam consideravelmente a flexibilidade do posto e da
própria linha de montagem.

As oreraç6es que anteriormente eram executadas


aty'avés de uma série de atividades distribuídas em várias
operaç5es separadas pelas funç5es específicas dos postos de
trabalho, sio agora, realizadas de uma só vez em um conjunto
de atividades combinadas e organizadas em um ~nico posto de
trabalho.

Teremos com isso uma reduçio dos custos de rrodu-


çio p um aumento de produtividade. Economizaremos espaço,
tempo de produçio, mio-de-obra é materiais, além do que, as
possibilidades de erros durante a execuçio das operaç6es
tornam-se praticamente nulas, os tempos de retrabalho dimi-
nuem, as margens de folga necessárias para garantir a exe-
cuçio da tarefa manualmente tornam-se dispensáveis, etc.

Quanto ao aspecto de controle da produçio, a AME


permite o acompanhamento, comando e controle da produçio em
tempo real, facilitando o cumprimento dos critérios pré-es-
tabelecidos de qualidade, economia e produtividade. Ela per-
mite o desenvolvimento de um sistema centralizado de infor-
capaz de acompanhar os passos da produçio se,io por
seçâo, setor por setor, e assim por diante. Com isso, existe
a possibilidade de retirarmos o comando e controle da produ-
çâo das fábricas e o colocarmos nas mios da ger&ncia; a fá-
brica executa e os escritórios da administraçio planejam e
c on t Y' o 1am ..

Com a operaçio de sistemas flexíveis e a integra-


çio dos fornecedores através de contratos especiais, é pos-
s í ve 1 ,':l U t :i. "1 íz a li: i~o da p 1- o d u c ~~o "j U ,!:" t .-:i. n .- t i. mE~" onde o vo 1 u mC:-~

de estoques de insumos e de produtos é praticamente nulo ..

A reduçio dos investimentos fixos torna-se possí-


vel na medida em que a fabricaçio diversificada de produtos,
permite o aumento da escala de produçio por lotes, com a
vantagem de se obter cada lote imediatamente, sem perder
tempo com etapas de planejamento e organi2açio da produçio e
investimentos complementares.

Quanto a humani2açio do trabalho, os principais


efeitos notados com a introduçio da nova tecnologia, se re-
fletem em um espaço de trabalho mais limpo e organi2ado~ com
vias de acesso às máquinas, de locomoçio e transporte de ma-
teriais mais fluidas e descongestionadas. As condiç5es de
segurança também melhoram, na medida em que tarefas mais
perigosas podem ser realizadas por máquinas automatizadas. O
resultado geral é um trabalho fisicamente menos estafante e
P(~~\" :i,goso.

PO!" outro l ad o , atividades perigosas, fisicamente


estafantes, etc., exigem operários especialmente habilita-
dos, que ganham mais, sio mais difíceis de substituir e cu-
jas faltas por motivos de sa~de ou por reivindicaç5es causam
problemas especialmente difíceis de serem resolvidos. A au-
tomaçio destes postos de trabalho atende, portanto, a uma
67

necessl id ale
j I'
(amJem
4 ec on ôm i c <:i. ••

SUII1'!ll" r z ando ~ quanto às ra25es apontadas pelos em-


presários para a utilizaçio da nova tecnologia, nio encon-
tramos nenhuma surpresa: o discurso continua extremamente
r ",i,C i 01'1 <:1, 1 (no sentido de otimizaçio do uso de re-
sejam eles materiais ou humanos) e com as
no aspecto ideológico. Nâo há neste discurso, em
hipótese alguma, uma abertura para uma discussio política
com a sociedade sobre o uso desta nova tecnologia. O que p

ama0
J)
anv r s i.-:
I~ • • I

bom para o empresário ~ bom para a sociedade:


V 12:1 li i t h P a r (~'Ce c 01'1t ínuar
de ,;d ,':\1'11~3m pr es en tE' ••

os resultados colhidos nesta pesquisa


sobre o outro lado da moeda, ou seja, o que significa para o
trabalhador esta nova situaçio, revelam que esta nova situa-
çio tem aspectos já conhecidos de quem estuda condiç5es
de trabalho no sistema capitalista.

S(:~'9undoP(;:'l:i.::~,no
(i9B7), o fi1to qUi::: 1'II<3,:j,~:;va í ch arnar
a sua atençio ~ que a introduçâo da AME em alguns postos de
trabalho da fábrica, ao invés de superar a orsanizaçio do
trabalho do tipo fordista está, pelo contrário, reforçando-

c a r ac t e r í~;tI c a
J.I A
I-I

substituiçio do trabalho manual el'll


certas operaç5es estraté-
gicas e a integraçio da maioria dos postos de trabalho rema-
nescentes ao sistema de circulaçio mecanizado. O resultado
nio ~ a superaçâo do fordismo, mas a sua extensâo a segmen-
tos do processo produtivo onde, na base técnica eletromecâ-
n ic a , predominava o trabalho aut8nomo com relaçio à linha
'';l,I_ltOIYl::~,ti:ir.<:~d<l E: à c ar c ul a c ão 1'tI':\l"1l.1.<':I.l d e P(:::Ç.::'~,~:;uJ' (p •.i:,~8)
68

As suas outras constataç5es também nio sio surpre-


a maior parte dos trabalhos estio subordinados à
cad&ncia da linha automatizada; p or t ,H1 t: o,
balho é determinado pelos novos equipamentos. Como decor-
r&ncia das mudanças anteriores, há uma intensificaçio do
trabalho, seja porque o esforço físico necessário para a sua
realizaçio diminui permitindo a adoçâo de tempos menores de
produçio, seja porque a porosidade da jornada de trabalho é
reduzida substancialmente.

o ritmo progressivo de incorporaçio de novos avan-


ços tecnol6gicos no setor automobilístico, como Controlado-
res Lineares Programáveis, Máquinas Ferramentas de Comando
Projeto Assistido por Computador (CAD) ~::.iE·'···

9undo a mesma pesquisa, proporcionado uma menor absorçio de


m;'~o""d
e+ob r <1 em ~set0'( (;;":::, c CrI'IIO fu,n:i, 1a r ia, p :i, n t: u ,-,1, ii::~;t <3.mp
<1.1- i ::1. 1.::"

soldagem, que eram tradicionalmente, absorvedores de mio-de-


ob r a ..

Mesmo setores como a manutençio e administraçio


tiveram seu nível de empregos reduzidos~ devido à informati-
zaçio de seu sistema operacional. Na área de administraçio
de materiais~ o uso de sistemas CAD permitiu uma reduçâo
drástica de empregados neste setor da ind~stria.

Argumenta-se que o setor automobilístico e metal-


mecânico têm aumentado o n~mero de empregos até agora e que
o processo de automaçio nio provoca, no geral, uma reduçio
n a mi o ,-,d e ,- o b 1" a •

A falácia do argumento, está no fato de que está


havendo um aumento na produçio sem que haja um aumento pro-
porcional no n~mero de operários. A criaçio de uma nova li-
nha de produçâo, sem d~vida, gera novos empregos, mas se for
automatizada esse n~mero será menor.

"Neste sentido, a perspectiva de perda de emprego


coloca-se de certo modo como um pesadelo para os trabalhado-
res, a medida que reconhecem o progresso tecnológico como
uma tendência a ser intensificada no futuro."(Souza, 1988,
p.98)

No caso dos sindicatos americanos, como coloca


Motta (1986), citando Gu~ Caire e B. Coriat, depois de a1-
gumas pesquisas, ficou clara a diminuiçio de empregos devido
ao impacto da automaçio, fato que também se comprova no caso
japonês, onde a reduçio de empregos em 106 casos de automa-
varia de 40~ a 70% • Na França, Gri-Bretanha, Alemanha
Ocidental e Itália também se observa uma diminuiçio de em-
pregos em vários setores industriais.

Outras formas, indiretas, de desemprego provocado


pela automaçâo, estio ligadas ao fato de que este processo,
exclusivo das grandes empresas, pode levar outros setores
aInda nio automatizados ao desaparecimento, agravando o de-
semprego. A utilizaçio intensiva da automaçio nos países de-
senvolvidos, pode levar as multinacionais a retirar do ter-
ceiro mundo setores da produçio que utilizam a sua mio-de-
obra, até entio, maIS barata. Também aí teríamos um agrava-
menta do nível de desemprego.

Outra conclusio interessante de Peliano (1987), é


a de que, embora esteja acontecendo uma ampliaçâo do contro-
le sobre o trabalho produtivo direto, a AME tem aumentado
bastante a dependência da produçio ao trabalho voltado para
os CUIdados com o funcionamento ininterrupto das máquinas. A
'70

fragilidade dos equipamentos, sua integraçio e o alto custo


do'" d o w -- t im E:)} aum <i-: n t a m a i m p o r-t â n c L!\ dos t 1- a b a 1h a d 0\- ':: s I i9 a --
dos a manutençio e~ mesmo um operário da produçio pode pro-
vocar prejuízos consideráveis na imagem da empresa por sim-
ples omissio da comunicaçio de um peça defeituosa, ou por
qu(::'br-arum máquina caríssima por simples negligência.
ele a nova tecnologia coloca em cena uma qualidade fundamen-
tal, que ~ a confian~a! Como entregar um equipamento de al-
tissimo valor a alguém que pode estar se sentindo um escravo
na linha de montagem? Como conquistar a confi~n~a e coope-
raçio do trabalhador?

A estrat~gia que parece estar se desenvolvendo é o


aumento dos requisitos de escolaridade formal dos trabalha-
d ore s • Na nova linha de produçio, ponteadores e soldadores
(1\:::- v (,,-m , prefi:_~r(,,-nc:i_<:I_IITlE-nte, ao ín vés
t er o cur s o ~~J:i_nas:i_;-3_1 do
primário exigido anteriormente; operários de manutençio o
curso colegial ao invés do primeiro grau completo; supervi-
sores de manutençio devem pe10 menos estar cursando engenha-
r :;_.1 ..

A exrlicaçio para isto ~ que as tarefas agora


exercidas pelos operários exigem uma visio mais sistimica,
associada ao maior conhecimento de tarefas diversificadas,
um aumento da capacidade de abstraçio e resoluçio de proble-
mas. A tendência, portanto, para Peliano (1987) ~ a de que:

....•
a produçio de automóveis irá demandar
para frente uma mio-de-obra, no conjunto, mais qualificada,
em comparaçio com a situaçio que prevalecia na fase da tec-
nologia c on ve nc íon al v " (p.31)
Se entendermos qualificaçio como um conjunto de
habilidades adquiridas na prática e através da experiência~
ou adquiridas nas escolas e universidades ou em cargos ou
funç5es socialmente reconhecidos, parece-nos estranho afir-
mar que a qualificaçio da mio-de-obra do setor automobilís-
tico estará aumentando. Nio há o desenvolvimento de habili-
d a d (,,'s p ,,1, 'I" a, <1 p 'I" od l..I.ç: ~;(od e :::1.U. t omóv e i'::;'!'
m,·:\~·
sim d <':I. h ab i '1:i. d ad 0:
(? ) de vigiar um determinado conjunto de máquinas que, de·-
pendendo de sua programaçio, poderá produzir equipamentos
que o operário nem conseguirá identificar. O operário de
execuçio e manutençio transforma-se no operário de controle
que, no mínimo, está muito mais fragilizado frente ao capi-
tal, na medida em que n~o domina mais o saber necessário pa-
ra a produçio daquele bem específico.

é que uma vlsao maIS


• 4'~ •

Também difícil acreditar


sistêmica, maior capacidade de abstraçio e resoluçio de pro-
blemas levem o operário a uma maior cooperaçio e confiabili-
as vantagens para o empresário do sistema
formal de escolarizaçio residem~ nio na sua possibilidade de
desenvolver capacidades de resoluçio de problemas,
,:::.:1: Cu !I mas sim na sua vocaçio eminentemente con-
servadora e reprodutora da ordem institucional vigente.

assimilaçio do discurso gerencial de cooperaçio, c on +ían c a


md.t ua !' participaçio, aceitaçio e negociaçio do conflito,
(de. Ela permite o estabelecimento de um conjunto de valo-
res comuns à gerência e aos operários, a padronizaçio de al-
guns referenciais mínimos de comportamEnto~ o uso dE uma
lingu.agem comum, necessária para o processo de negoeiaç~o e
de administraçâo do conflito ou para a ideologizaçâo do
72

Outro fato que reforça o aspecto aCIma, e a preo-


cupaçio das empresas em treinar o seu próprio pessoal e de-
senvolver estratégias administrativas baseadas na particira-
A política de recursos humanos tem se preocupado em
criar programas explicitamente voltados para o envolvimento
de seus funcionários.

Para Motta (1986)~ o desenvolvimento de formas


participativas é um processo inerente à automaçio das orga-
nizações pelas seguintes razões:

"A primeira razio para isto é que a produçio ba-


seada em sistemas integrados exige alto nível de consenso e
é mais fácil obter tal COllsenso em um processo participativo
do que em um processo do tipo tradicional. A segunda razio
diz respeito ao fato de que as estruturas organizacionais
alongadas produzidas pela automaçio distanciaram enormemente
a c~pula da base e a part:Lcipaçio serve como forma de encur-
tamento desta distância. A terceira razio refere-se ao fato
de que se trabalha em equipe em praticamente todos os níveis
da organizaçio automatizada e as comissões servem como meca-
nismos eficientes de soluçio de problemas. A quarta razio
refere-se ao fato de que as bases procuram formas de contro-
le da autoridade excessivamente concentrada na c~pula da or-
ganizaçio, e os sistemas de participaçio podem constituir-se
numa dessas formas. Uma quinta razio é a de que a participa-
çio humaniza os mecanismos altamentes impessoais que carac-
terizam as relações de controle na empresa automatizada. A
sexta razio, relacionada com a anterior, refere-se ao fato
de que é de se esperar que indivíduos consultados e utili-
zados em seus conhecimentos para o processo decisório global
tendam a trabalhar com maior entusiamo e efici&ncia. Nesse
aspecto~ em particular, a participaçio pode traduzir-se fa-
cilmente em cooptaçJo. Uma sétima razio diz respeito ao fato
de que a participaçio permite tirar o máximo proveito das
diferenças individuais em termos de necessidades de poder,
afiliaçio e realizaçio. Também aqui a cooptaçio torna-se um
d nd o ev id en tE' ... '1 (P •• i:t ~::;
....,(:,)

Iíe s t e mod o , o aut or coloca ':IlH~, emb o r a a "democra ....


'::1,','. andust rí al .., po~.~;;.:i.b:i.l:i.te
al~3um<3.Líb er dad e pa·•..
a o t :•..
::':l.l:ia·-
lhador no interior da organizaçio, ela ao mesmo tempo favo-
rece a cooptaçio das bases pela c~pula e a formaçJo de um
falso consenso em torno dos valores vigentes na organizaçio,
do qual dependem os sistemas de produçio integrados.

De qualquer lTIaneira, há um panorama quase enfado-

c ap :i. t ,!,\ 1 ao responder às crises através de transformaç5es


tecnoldgicas e organizacionais ..

Estas transformaç5es nio conseguem mascarar o em-


pobrecimento do conte~do do trabalho e o processo de desqua-
lif:i.caç50 associado à evoluçio do capitalismo na medida em
que~ ainda tim como paradigma a razao instrumental - crista-
lizada no ta~lorismo - e, 1'150fazem outra coisa a nio ser
aperfeiçoar sua propostas fundamentais. Uma grande parte da
teoria sobre organizaç5es vai ter um papel ideológico fun-
d '':l.n
do !I sempre que possível, legitimidade a este

A grande popularidade de conceitos como lTIotivaçio,


auto-real:i.zaçio, participaçio, liderança democrática~ satis-
façio das necessidades, etc, em cOlTlbinaçio com a sua pouca
:i.lTlp
o'r t ân c :i. <:1. n <1 pr á t i c a., :i. n d i c :::1. qUI!:: ex i s t ou t r D~:.
('i,'1TI mo t :i. vos

por trás deste fenômeno. RealmEnte, a maior parte das chama-


74

das técnicas modernas de relaç6es humanas, sio aplicadas aos


altos esca16es das empresas ou a um n~mero restrito de pes-
soal com baixa qualificaçio e os seus resultados pr'ticos
têm uma importância limitada. Esta aparente contradiçio en-
tre a popularidade dessas técnicas e sua pouca importincia
na prática, s6 pode ser entendida através do aspecto ideol6-
gico.

No pr6ximo capítulo, estudaremos o conceito de


ideologia num nível mais geral, para depois enfocarmos
ideologias que legitimam as práticas administrativas, assim
como a racionalidade que permeia o processo. Tentaremos en-
fatizar a importância da teoria organizacional neste contex-
to e mostrar como a ideologia assume uma forma concreta na
literatura sobre organiza~5es.
75

3. TEORIAS ORGANIZACIONAIS E LEGITIMAÇ~O


76

~3 :t "
li soc :i. <1 i s d e mundo 0:::' a. 11 i d (;:'0 1 og i a ad m i n i ~;:.'-'

Para analisar as teorias organizacionais a partir


de seu conte~do ideológico tocamos~ ainda que este nio seja
o objeto de nosso estudo~ em quest5es típicas do debate en-
tre ci&ncia e ideologia. Parece existir alguma concordância
entre os estudiosos deste assunto quanto ao fato de que to-
das as pesquisas e teorias (sociais e cientificas),
aspectos ideol6gicos na medida em que elas possuem sistemas
exlicativos com implicaç5es Pol1tlcas, as quais formam a ba-
se para adotar uma atitude a favor ou contra a ordem social
e~;,·t ab e 1 (;:'1.: i d a •

lJ.!TIa an a' 1.1~:;(~


. das teorias organizacionais baseada na
crítica da ideologia, a partir desta visio geral e indiscri-
minada seria de pouco valor. Todavia, acreditamos poder
identificar elementos ideológicos dentro das teorias organi-
z ac ion a s , í na medida em que a maioria delas revela uma
mesma postura parcial e acrítica na abordagem do objeto de
na formulaçâo de problemas, nas descriç6es e inter-
pretaç5es dos fatos. Levando estes aspectos em consideraçâo
e a partir de uma definiçâo cuidadosa de ideologia, tentare-
mos comprovar a hipótese de que as teorias organizacionais
contim elementos inegavelmente ideol6gicos.

o termo ideologia parece estar originalmente as-


sociado a Destutt de Trac~ (1801), fundador de um grupo fi-
losófico na ~rança, que rejeitava a metafisica e buscava
basear as ci&ncias culturais em fundamentos antropológicos e
77

," f~1 C :i. én c i a p od (::,


s er c h <'~,ITlacla i d E'O '1 O~J i <1~ c <,j. ~:;O c on s i ,-,
dere apenas seu objeto; gramática geral, caso se considerem
apenas seus métodos; e lógica, caso se considere apenas seu
Qualquer que seja o nome, contém necessariamente
trés subdivis5es, já que nio se pode tratar adequadamente de
uma sem tratar igualmente das duas outras. Ideologia me pa-
rece ser o termo genérico porque a ciência das idéias com-
p 1" een cI G~ t an to a d e sua ,?:-<p I" e s s ão qu an to a d e sua d e r ivac ~'\o"
.
(p ,.4;'

A concepç:ão de ideologia como conhecemos hoje vai


quando Napoleão, em discussão com este grupo de fi-
lósofos e alguns neo-enciclopedistas que se opunham às suas
ambiç5es imperialistas, irá rotulá-los pejorativamente de
"':i.dE~ólo::;'lo'.:;"J,
pessoas "for'a da j-'2alidade"'.

Durante a primeira metade do século XIX, este pa-


rece ser o significado corrente do termo ideologia. Quem vai
chamar as atenç5es sobre o termo novamente será Marx, quando
val defini-lo como uma forma de falsa consciincia, c o I" 1" (~~.:.:;,-
pondendo aos interesses de classe. No "Prefácio à Contribui-
c;:ão r:\ Cr I t Lc a da Ec on ôm a Po l f t Lc a "
í Mar'x (i8~59), c ol o c a
ideologia de uma forma ampla:

formas jurídicas, políticas,


artísticas ou filosóficas, numa palavra, as formas ideológi-
cas sob as quais os homens tomam consci~ncia desse conflito

Para ele, as idéias nebulosas e ilusórias que


homens formam sobre a realidade, através da moral, da reli-
78

gi~o, da metafisica, dos sistemas filosóficos, das doutrinas


políticas e econBmicas, etc.~ sâo exemplos de uma falsa
consci&ncia, socialmente determinada:

ç5es aparecem invertidos como numa cimara escura, tal fen8-


meno decorre de seu processo histdrico de vida, do mesmo mo-
do por que a inversffo dos objetos na retina decorre de seu
processo de vida diretamente fisico".(Marx & Engels, 1.846,
p ••~3'l·)

No inicio deste século, uma corrente do marxismo~


o leninismo, passa a usar o termo para designar o conjunto
das concepç6es de mundo ligadas às classes sociais, incluin-
do o próprio marxismo. Esta colocaçffo mais ampla e portanto
menos precisa vai ser redefinida através da obra de Karl
1"iannhE:-:lITI
.. Para Mannheim (1929), o conceito assim definido
s ería aquj.l0 qu(o:~
0~1.(~~ ch ama r i a de "ideolc)gia total", qu e r eu do
colocar com isto que esta concepçâo total referir-se-ia:

••... à ideologia de uma época ou de um grupo histó-


rico-social concreto, por exemplo, à de uma classe, ocasiâo
em que nos deparamos com as características e a composiçâo
~..:J)-I_lpO.• "

(p.82)

Ainda nesta obra (Ideologia e Utopia), l'lannheim


trabalha com dois conceitos interessantes: o de ideologia
num sentido mais restrito e o de utopia. Para ele, ideologia
neste sentido seria conceituada como descriç5es sistem~-
79

explicaç5es e teorias sobre a realidade social


quais contribuem para reproduzir, legitimar e reforçar a or-
dem social vigente. Em oposiçio a esta conceituaçio~ utopia
estaria ligada às representaç5es, aspiraç5es~ que se orien-
tam na direçâo da ruptura da ordem estabelecida e que, por-
tanto, exercem uma funçio subversiva.

Para M. Lbw~ (1987), ainda que Mannheim acabe reu-


nindo r e st r ít o e utopia
Ld e ol os i a no ';;;(7.'nt:i.do sob a c a t e s o r a í

comum de Por mas da "f'(11!:,a.


con~::.ci&nc:ia", I s t o f!:.':1 de r ep r e s en-:
taç5es que transcendem a realidade, em oposiçio às represen-
taç5es adequa.das e compatíveis com o real, sua contribuiçio
é uma das mais notáveis neste cam~o.

Dentro da tentativa de análise das teorias or9an1-


zacionais com base na crítica da ideologia, as sugest5es de
Lbw~ (1987) nos parecem bastante adequadas no sentido de:

considerar o conceito de ideologia (em oposi-


~âo à utopia) como uma forma de pensamento orientada para a
reproduçio da ordem vigente, como o mais adequado por guar-
dar o sentido que tinha na origem com Marx. ( ••• ) e o con-
ceito de utópico ao pensamento que aspira a um estado nio-
existente das relaç5es sociais, o que lhe dá, ao menos po-
um caráter crítico, subversivo, ou mesmo '::'V'-
lO •• , ••

FI '1 o~:,:i.vo ." (P.:1. r.~)

Qu,;,nto :.-\0 t er mo '·'idE.'ologiatotal" de 1"i<':\nnhE.'im,


1....::)IAI~:J ~:;f..I,9E')" i;:: ,;, ~::,U,<l t :i, t ui c :~:o p o'c
~::,ub~;, JI V i ~:;~;{osoc i :,11 de mun d o" ~J

por considerá-lo o instrumento conceitual mais apto para dar


conta da riqueza e amplitude do fenômeno sócio-cultural em
já que nio cont~m nenhuma implicaç:io pejorativa e
nenhuma ambigUidade conceitual. Para o autor, o conceito:

" ... clrcunscreve um conjunto orgânico, articulado


e estruturado de valores, rerresentaç5es, idéias e orienta-
,6es cognitivas, internamente unificado por uma perspectiva
determinada, por um certo ponto de vista socialmente condi-
cionado. Acrescentando o termo social - visio social de mun-
do -, queremos insistir em dois aspectos: a) trata-se da vi-
sio de mundo social, isto é, de um conjunto relativamente
coerente de idéias sobre o homem, a sociedade, a história, e
sua relaçio com a natureza (~ nio sobre o cosmos ou a natu-
reza enquanto tais); b) esta visio de mundo está ligada a
certas posi,Ses sociais Standortgebundenheit ) - o termo é
de Mannheim - , isto é, aos interesses e à situaçio de cer-
tos 9'f'UPOj:;
e classes scc a e ;" (p.j,3)
í í

Ainda segundo Lbw~, as vis5es sociais de mundo po-


dem ser ideoló9icas ou utópicas, combinar aspectos ideoló-
gicos e utópicos, ou uma mesma visio social de mundo pode
ter um caráter utópico num determinado momento histórico e
tornar-se uma ideologia num etapa ulterior (o liberalismo
burguês no século XVIII e XIX, por exemplo).

Vamos verificar agora que, para o segmento das


elites dominantes ligado de uma maneira ampla à administra-
çio de negócios, através da administraçio efetiva, consulto-
ria, produçio teórica ou simplesmente através do estudo de
administraçio, existe uma visio social de mundo com aspectos
nitidamente ideológicos.

Esta "ideologia administrativa", obviamente, rela-


ciona-se ao quadro mais geral de problemas da sociedade~ on-
81

de legitimar e preservar a ordem vigente e uma questio cen-


tral para as pessoas ou grupos que lucram com isso. Na medi-
da em que, na sociedade moderna, a violência e outros tipos
de repress~o s6 s~o utilizados em casos excepcionais para

para a manutençio da ordem social. Ela legitima o po-


der e os privilégios, assim como os princípios gerais da or-
ganizaçio econ8mica da sociedade, além de, no sentido es-
exercer uma funçio de suporte para as pessoas que se
identificam com ela, facilitando a socializaçio e a qualifi-
caçio de certas posiç5es.

Os elementos centrais para a caracterizaçio daqui-


"10 qUE·!, de ,1<: o r d o C OITlI~ 1 ves son (:t 987), c h amamo s d E: "i d eo I 0·-

possuem uma forte relaçio interna e


::1 r ,·,1. r t :i.)" d e \,,01 ic i t ::1;;;: 5('i:~:; d o con t !;!·)<:t o ma i~:;::J er al , vá····
+or 1TI:':l.m,
rias configuraç5es. Segundo o autor, estes elementos podem
ser divididos elTltrês tiros básicos relacionados:

" •.• primeiro - aos fundamentos ou ~ ordem racional


nas quais as atividades administrativas e de negócios
estio baseadas; segundo - ao poder organizacional ou à ''''\ ...<::." ._.

trutura hierárquica na qua"1 as funç5es de adlTlinistra;;;:io


e as
lideranças de neg6cios como classe se apoiam e terceiro -
a integraçio social dos vários interesses e forlTlas de satis-
façio de necessidades nas quais a ordem está baseada e per-
m i t (':.
...
", (P.:1. !5f3 )

O arcabouço sobre o qual se assenta o prilTleiro


elemento - a racionalidade básica que caracteriza a ordem
(~con "
omr. c ;.;\ ... é criado pela interaçie> entre a racionalidade
tecnol6gica e os pressupostos econ81T1icos do capitalismo, in-
I~·l
oc

teraçâo esta que permite a gey·açâo de conceitos e valores


que legitimam a ordem econômica vigente.

A defesa dos pressupostos econômicos do capitalis-


mo fica clara nas políticas econômicas defendidas por
teóricos ao longo do tempo. A cada novo contexto, uma nova
articulação de argumentos torna-se evidente. Do Estado libe-

isto é bastante claro. Quando hoje, o Estado foi


obrigado a institucionalizar as press6es das classes traba-
lhadoras criando leis que imp6em deveres sociais às empresas
(pelo meno s em al s un s p::'4.:l-:::.(,,·~:. ma s de~:;E·nvoh.dd()s), 0-:; "n eo l i·_·
í

berais" vão colocar estas conquistas da classe trabalhadora


como resultado da interfer&ncia abusiva do Estado na econo-
mia e preconizam:

·'.•• as virtudes do mercado livre e da concorr&ncia


ilimitada; a ponto de afiançar que o mercado livre constitui
a ~nica esperança dos deserdados da sorte que pretendam me-
1 h 0·( á ·_·1 ::,1. !I contrariamente ao sistema intervencionista atual
que funciona em benefício ~nico e exclusivo dos autodeclara-
do s "n (,,·0 1 i b e..r a í ,::."01•• O p r· ob 1("-·In'!!. C en t·r <3.1 n ão rÉ: amp I i {~.·I- ,!!. á·n.:·,":i.

competitiva da economia, mas libertar as empresas de suas


obrigaç6es e func5es sociais ..Em outras palavras,
l rvre " E· o c e r mo Lib e ra li smo dissimulam a o+en si va gen~:\-ali·-
zada do capital contra as conquistas sociais das classes
t ·1- :::\.1:1 a Ih ad 0·'- ;.:l.~~ 1"\o s Ü 1 t :i. mo s ,·,l.1"\os ..
" (Tr' ;-3.::,1 t en b er 9, 1.986 )

Como o autor claramente detecta~ trata-se de mais


um d:i.s.c:u·(f:;O,
d e 1..l11l;.1nova 'õl.·(tiCll.l'":l.ç~;(o.df2
<1·r 9l.llnento~:> (ant:i.::;Jo!:>
Lncl u s í ve ) , para legitimar ati·tudes e aç6es no sentido de
recuperar espaços que o capital perdeu ao 10n90 das lutas
operárias"

Quanto aos objetivos da racionalidade tecnológica,


eles
,~
escao como já colocamos, à máxima exploração
da natureza que, com a ajuda das mais avançadas e produtivas
tecnologias gera um fluxo crescente de benefícios econ8mi-
coso A partir dai, a tecnologia avançada é vista como uma
coisa boa em si e as questões políticas são definidas como
problemas científicos e tecnológicos.

A racionalidade tecnológica e os pressupostos


econ8micos capitalistas, interagindo em harmonia, criam um
discurso coerente e convincente sobre alguns valores como
crescimento econSmico, a alocaçio prioritária de recursos
para o desenvolvimento de tecnologias avançadas, a produção
e o consumo em massa como soluçio de problemas sociais,
etc., tornando-os dominantes e raramente abertos para dis-
~
cussao. -)
ls indivíduos na sociedade tendem a aceitar e obede-
cer estes valores, como ac~itariam e obedeceriam às leis da
natureza. A naturalizaçâo destes valores sociais, impedindo
com isso a sua discussão e crítica, tem um caráter obviamen-
te ideológico.

Para o segundo elemento - a legitimidade da hie-


rarquia e da estrutura de poder existentes nas organiza-
os fundamentos que via interagir e possibilitar o
aparecimento de valores e conceitos que apoiem este aspecto
da dominaçio seriam tecnocráticos, administrativos e elitis-
tas.

Os fundamentos tecnocráticos estariam ligados a


visão de que o desenvolvimento e o crescimento das organi-
zaçôes teriam um caráter puramente técnico, neutro e seriam
o resultado de imperativos gerados pela base científica e
tecnoldgica sobre a qual estas organizaç5es se assentam e de
imperativos externos ligados ao meio onde elas se í n s e r em ,

As aç6es empresariais seriam determinadas, p or t an t o ,


circunstincias externas e restriç5es~ e os administradores
i mp 1 i:';·S
~:. 11 ("':><p I:';: r t ~:.
1i t é«: n :i. c o s qU.e t er i am ~ n ,1 med i d a em qU.E·Y'(~'a._.
gem às demandas, limitada influência e responsabilidade.

Os fundamentos administrativas enfatizariam a fun-


ç~o administrativa, que seria vista como claramente diferen-
c í <:1. c! :::1. E' i ~:J ual men t e i mp o r t an t ('!' 01..1. mai s :i.mp o r t :;:\11t I;:: qUI::: <;I. 0'( 9 ,:t ._.
nizaçio como um todo. Dentro desta visio, a admin:istraçio
seria uma dificil arte e o escopo de açio do administrador
muito grande, na medida em que deveria atender e superar as
demandas, tanto a nivel interno quanto externo, da organiza-
çio. Apesar de a administraçio enquanto funçio separada ter
s id o p",·opos.ta.,jáno t:a:-:Jl()ri~;lTIo,
,3. '3.dmini~.:.t·('3.ç:~.;(O
de ~.:JY·:;~.nde~;;
companhias como uma funç~o especial de grande importincia é
um fenômeno recente. Isto parece ligar-se à tendência bas-
t an t \~ ',,;(:-:n ':;; í ve l de crescimento da tecnoburocracia no mundo
mod er n o , que de alguma maneira precisaria le9itimar-se en-
quanto cl a s s e ,

Quanto aos fundamentos elitistas~ ap r e s en t a d os


sempre em intima relaçio com os administrativos, a @nfase
seria dada às qualidades raras e às qualificaç5es especiais
qu.e di s t :i. ns uem de

Seria a competência ~nica dos líderes das corpora-


Ç. o E' j:. qU.i:.~"1 (~'~Ji t i m:::I
..•.
· :Lam S,l.I.et ~::. P o s i Ç. 5e '::;
, P od (.;:r·, I/~:; t <1.tu. ,;:." i:: P r :i.: _.

Vilégios. Os parimetros usados para avaliar estas qualidades


variam com o passar do tempo, com os diferentes estados dos
mercados e também com 05 diferentes ramos e formas de orga-
Apesar disso, a edu.caçio em institutos internacio-
nais de administraçio~ a experiência e treinamento em altos
postos no exterior, seriam sempre fatores que distinguiriam
a elite administrativa do restante.

Outro tipo de qualificaçio estaria ligada a carac-


terísticas psicológicas: esta elite teria qualidades espe-
ciais que permitiriam um pensamento mais holístico, s e r i am

mais carismáticos e conseguiriam o melhor de seus subordina-

Para o terceiro elemento - relacionado COITIa inte-


graçio social dos vários interesses e as formas de satisfa-
çio de necessidades -, os aspectos que via ser enfatizados
no sentido de estabilizar e reproduzir a ordem vigente sio:
a harmonia entre os objetivos da liderança da organizaçio e
os objetivos dos empregados, o conflito harmonioso, o oti-
mismo com relaçio ao futuro e a organizaçio COITIOelemento de
satisfaçio das necessidades do indivíduo.

A harmonia entre os objetivos da liderança da or-


ganizaçio e os objetivos dos empregados e um aspecto que
raramente está aberto à discussio; dentro da visio social de
mundo dos empresários este fato t um dado posto, indiscutí-
vel. Isto se verifica desde o ta~lorismo, que simplesmente
nio reconhecia a exist&ncia do conflito, até os dias de ho-
Je quando, nas modernas teorias organizacionais, o máximo
que se admite t a exist&ncia de um conflito harmonioso, onde
as controvérsias e conflitos sio de caráter restrito e podelTl
tornar-se frequentemente construtivos.

Esta visio moderna do conflito harmonioso assume


que conflitos adequadamente administrados sio potencialmen-
te construtivos, estimulantes, facilitam a auto-crítica e
proporcionam inovaç5es. Os conceitos-chave ligados a esta
perspectiva sio bastante difundidos: liderança democrática,
('j "'-(: "-~F' ()l ..tp ··.. !I mo t :i. ·v·;':I.ç:~{o :i. n t: r :I: n ~::·i.,,·c:a., en vol v :i. men to, d es cn v o 1 V:L .•.
86

menta pessoal~ auto-realizaç~o~ etc. Para os seus seguido-


todas as formas de alienaçio em atividades controladas
por administradores modernos tendem a desaparecer. Excesso
ou insuficiência de conflitos para esta visio ~ resultado de
uma administraçâo ineficiente.

o otimismo com relaçio ao futuro est' ligado a


consideraçôes nas quais desenvolvimento e mudança estio in-
timamente associados a melhorias. Os principios modernos de
administraçio sâo sempre melhores, mais avançados~ mais ra-
cicn a is , enfim, superiores aos anteriores. Associado a is-
to, as novas tecnologias também contribuiriam para gerar um
ambiente de trabalho melhor, na medida em que
trabalhadores dos tarefas rotineiras, oferecendo novas, mais
excitantes e criativas. Novas formas de administraçio des-
cen tr a Li z ad a s I:;" flE")(:J:v(::.·:t~::.
sur s ern em +unc ão d<:\~::. mud anc a s do
mundo moderno e os problemas ou condiçôes possivelmente pro-
blemáticas sio vistos como temporários ou hist6ricos e no
futuro seria plenamente superados.

Quanto a considerar a orsanizaç:io como elemento de


satisfaçâo do individuo, isso se justificaria a partir do
fato de que a organizaçâo e estruturada a partir de princi-
pios baseados na mais pura racionalidade; as necessidades
d a-s c OIJlU.rl:i. d :i~.de'":. I.,·: d O~"· :i. n d :i. v:í. d uo s es i:: ::":1. r' ~io i ITI,
'";1.~;~:' )1 t i C ,3....
au t OIYI:;~.

mente" satisfeitas quando os objetivos das organizaç5es fo-


rem alcançados. As atitudes e medidas adotadas pelos admi-
nistradores sio vistas como instrumentos racionais, e por-
t; '":l.1"1 t o I e9 :1: t :lmo s !I de consecuçio dos objetivos de um determi-
nado ~Jr·upo.

Este aspecto ideológico assume proporç5es interes-


s an t e s no mun d o mod er no qu.a.ndo s·(a.ndf:::s
corp()r·?,ç:õ0:~;
t ent am ,

através das mais variadas técnicas, legitimar a sua aç:io


dentro da sociedade e conseguir que seus empregados se sin-
tam plenamente realizados ao trabalhar para a consecuçio dos
objetivos da organizaçâo. Há um firme propósito de identifi-
car a organiza~âo como a 0nica forma possível de realizaçâo
afirma que nas grandes corporaç5es
modernas este processo assume um aspecto marcante atrav~s
daquilo que ele chama de deificaçâo da organizaçâo.

'·'B(~~ ,,\ TI...TX +o s s e apenas uma (~~mpr·E·~,a


qUE~ vem g(~r·en·-·
c :i.ar racionalmente as contradiç5es inerentes ao desenvolvi-
mento do modo de produçio capitalista, ela nio suscitaria a
ad 111:i. \- aç:;ií.o E" ~';l. ad E·~sf.'(O mac ic <1. da 111::3.:i. or p ,·:1. r t e de S;f2lJS emp·.-
E,·9 d .: _.

dos e nio poderia submeti-los tio profundamente. ~ pelo fato


de oferecer-lhes, a IélTI d ,1~:; ~:;at i ~:;
faç:6(:::~:; P"I"· op y. i amen t í::" ma t ('t._.
r :t. a i s , satisfaç5es de ordem ideológica e mesmo espirituais,
que estes SE" reconhecem nela, a ponto de se identificarem
com a sua própria força. Estas satisfa~5es sio inerentes ao
sistema de valores e crenças que a empresa prop5e,
este que constitui ao mesmo tempo um quadro de referincia
coerente e ambicioso, uma concepçâo de mundo e uma moral de
{;'i,:ão,,'"' (p.7é)

Na medida em que este tipo de integração do indi-


, I
V 1 C lJ.O a' organizaç:âo acontece, abre-se a possibilidade dE" no-
vas formas de controle sobre ele, que ultrapassam a simples
coaçâo econ8mica e moral e permitem uma interferincia so-
bre a sua estrutura psicológica:

inconsciente de seus impulsos e de


seus sistemas de defesa é ao mesmo tempo modelada pela orga-
88

ni2açJo e se enxerta nela~ de tal forma que o indivíduo re-


produz a organizaçio, nio apenas por motivos racionais, mas
por razGes mais profundas, que eSCapalTI a sua consci&ncia. A
organizaçio torna-se fonte de sua ang0stia e de seu prazer.
Este e um dos aspectos mais importantes do seu poder." (Pa-
9&S, 1987, p.144)

Os diferentes elementos ideológicos caracteriza-


dos acima comp5em a visio social de mundo das elites liga-
das, como já colocamos, de uma forma ampla à administraçâo
de neg6cios. Estes elementos ideo16gicos vio assumir um as-
pecto concreto, como veremos no pr6ximo item~ na literatura
mais relevante sobre teorias organizacionais.
A abordagem ideológica na literatura sobre teo-
rias organizacionais.

A grande mudança qualitativa no estudo das organi-


zaç6es que comp6em a sociedade e as rela~5es de trabalho
que as caracterizam, vai se dar com a chamada Administraçio
Llen'(:L f' 1C;::I"
.." I'
de Ta~lor e Fa~ol. Estes autores dio inicio a
uma nova vertente de estudos que se revelou bastante ade-
quada, para os propósitos do capitalismo, dos conflitos ine-
rentes ao sistema.

Segundo Tragtenberg (1980)~em substituiçio as


teorias sociais de car~ter totalizador e global de Saint-
Simon!1 Fourier e Marx (teorias macroindustriais), que tra-
ziam dentro de si uma visio de transformaçio da sociedade
como ponto de partida para uma nova relaç~o entre os homens
e o trabalho, surgem, no início deste s~culo, as teorias mi-
croindustriais de alcance m~dio que desviam o foco das dis-
cuss5es sobre a transformaçio da sociedade, para um aspecto
muito menos crítico e potencialmente subversivo, que seria a
análise das organizações e do trabalho como objeto isolado
do contexto soc1a1; ao se levar em consideraç~o a sua in-
ser c ão na soc:i,o:::'d:;3.de,
t emo s uma anàl:i,~:,I::"
f'eit'1,d(~' uma man e i'!"
"1,
eminentemente funcionalista. A partir daí, a compreens~o da
dinâmica das organizaç5es e o estudo da organizaçio do tra-
balho!, tornam-se um fim em si mesmo p nio um instrumento de
critica e transformaçâo da sociedade.

~ relativamente f~cil constatar na literatura so-


b i" e t eo r :i. a s Oi" 9 an i z ac i on a i ~::'
::!l, P i" {:::~:;(:;:n c <3. C on s t an t: e d CI~::, a,sp iE:C ,-
tos ideológicos colocados no item anterior. Basta, para is-
so, analisar algumas contribuiç5es de autores que se des-
'I:: a c a ram , ao longo do tempo, no estudo de organizaç5es.

Como já frisamos, os elementos que caracterizam a


)Jü1(~~cjloElia
adm i.n í s t r at í v a" possuem uma +ort e r e l ac ão r n t e r n a

e enfatizam, dependendo do contexto mais geral da sociedade,


determinados aspectos em detrimento de outros. O grau de rp-
finamento e sofisticaçio dos argumentos utilizados vai fi-
cando cada vez maior na medida em que se instrumentalizam
novos campos do conhecimento científico e as reaç5es ope-
rárias tornam-se mais fortes.

Se analisarmos os principais autores do chamado


enfoque clássico (Ta~lor e Fa~ol), verificamos que os ele-
..(1 (~~O·1'CH:}].. C o e
:I. que o comp5em aparecem sem nenhum p ol i···
mento, num (:::~::.t<:\do b rut o , CI c on t e x t o do I ní ci o do ~.>é:culo,
marcado pela abundância de mio-de-obra nos Estados Unidos~ o
apar~cimento de empresas automobilísticas, com grande poder
econômico e político, a debilidade sindical dos operarIaS, a
aus0ncia de uma legislaçio social e o mito já popularizado
d ,:\ c H~~
nc ia e d <i\ t é c n i c a c o ITI
o f a t o 1· E: S li n E: u t ro S li d E: d e s e n vo 1 .-

vimento e progresso geral, propiciam a estes autores um cli-


ma extremante favorável para a elaboraçio de ulTlateoria ad-
mí n ís t r at vaí ITII..dto
"fr;';l.nc,!l.··}
na dE·f€·s::":\ d o s :i.ntE·r·(~·ss'i:::·~:;
do c a···
pit a L,

~ com a menor sem-cerimônia que Ta~lor exp5e seus


princípios administrativos, caracterizados por defender a
ordem econ6mica, procurando, através de procedimentos ra-
cionais e científicos, reforçar a divisio do trabalho de ma-
neira a aumentar o controle sobre o trabalho e consequente-
mente a taxa de mais-valia. A racionalidade de seu prop6si-
to nio considera, na medida em que e instrumental, a possi-
bilidade da discussio política sobre a utilizaçio ou nio de
01
1 •.

seus métodos e sobre a apropriaçio dos eventuais benefi-


cios econBmicos gerados por ele.

A legitimidade da hierarquia e das estruturas de


poder é dada através de fundamentos nitidamente elitistas,
explicitas em colocações de Ta~lor (1911), como a de que:

.'1. u .c,:\be à ger~ncia a funç~o de reunir todos o'"-,


conhecimentos tradicionais que no passado possuíram os tra-
balhadores e entio classificá-los, tabulá-los, reduzi-los a
n o: r m,l~:., 1 E' i.::.
ou. fÓ""mu1::!1. ~::. u (p 49).. ( ....• ) ,1 c:i ên c :i. ,1 <-1 1..1. e E'S t ud <:1.
a aç~o dos trabalhadores é t~o vasta e complicada, qUf-t o

operário,ainda que mais competente, é incapaz de compreender


esta ciência~ sem a orientaçio e auxílio de colaboradores e
quer por falta de instruçio~ quer por capacidade
ment a l an su+ící en t e ;" (p •.i~6)

Quanto à integraç~o social dos vários interesses e


às formas de satisfaçio de necessidades, Ta~lor (1911) tam-

a administraçio científica tem~ por seus fun-


d am (7: 11 t o s !I a certeza de que os verdadeiros interesses de am-
bos sio um, ~nic:o e o mesmo: de qui a prosperidade do empre-
gador n~o pode existir, por muitos anos, se nia for acompa-
nhada da prosperidade do empregado e vice-versa, e de que é
preciso dar ao trabalhador o que ele mais deseja - altos sa-
lários - e ao empregador também o que ele realmente almeja -
baixo c:u s t o d e P 1- o d ti c ~~\
o• 11 ( p •.1.4 )
92

o pressuposto de que a satisfaçio das necessida-


des do homem está intrinsecamente ligada ao consumo em
,
massa de mercadorias e indiscutível; Ta~lor (1911), assim
como seus sucessores, assume que valores como o aumento de
P r o d 1..1. t :i. v i d .3. d (;,.!I a produçâo em massa o consumo em massa sâo
naturais e perfeitamente sintonizados com os interesses da
humanidade como um todo:

.-, ••• c; máximo de prosperidade somente pode existir


como resultado do máximo de produçio. (••• ) o barateamento
de artigos de uso comum quase imediatamente ~ seguido de sua
m,;\:l o r P .( o c ti. r :OI•• ( ••• ) quase todos os homens e mulheres das
classes operárias compram um ou dois pares de sapatos por
ano e andam sempre calçados, enquanto antigamente o operário
adquiria, talvez, um par de sapatos cada cinco anos e perma-
necia a maior parte do tempo descalço ( ••• ). (p.19)

Andar sempre calçado parece ser, para Ta~lor, algo


muito prdxirno do ideal de felicidade a que todos nds almeja-
o preço a ser pago pelo operariado, sujeito a uma si-
tuaçâo de trabalho cada vez mais alienante e degradante, e a
acumulaçio de capital decorrente deste processo, parecem nio
ser percebidos por ele.

A visio de Ta~lor sobre a administraçio, base:••.


da
na separaçio entre concepçio e execuçio, na autoridade mono-
crática e na identidade de interesses~ ~ complementada por
Fa~ol, que se preocupa com a direçio da empresa, estudando-
a atrav~s das sua funç5es e operaç5es essenciais (t~cnicas,
financeiras, de segurança, contábeis e adminis-
Para Tragtenberg (1974), o enfoque clássico repre-
sentado por Ta~lor e Fa~ol, fundamenta-se:

".".na justaposiçio e articulaçio de determinismos


lineares. baseados numa lógica axiomática que cria um siste-
ma de obrigaçio devido à lógica interna. Dai, opera uma ra-
cionalidade em nível de modelo, onde as operações de decom-
posiçâo e análise, fundadas em aspectos microecon8micos,
criam um sistema de coordenaçio de funções, onde emerge uma
estrutura altamente formal. Seu comando é centralizado,fun-
dado numa racionalidade burocrática, baseada na racionaliza-
çio das tarefas, sua simplificaçio e intensificaçio do tra-
b a l h o ••.. (p.7l;"···B0)

Estas características, que o enfoque clássico ain-


da nio tem sofisticaçio ou necessidade de mascarar completa-
mente, já que o contexto, como colocamos, era bastante favo-
ao capital, a partir de mudanças no contexto sócio-
econômico precisam ser Justificadas através de um discurso
muito mais elaborado. Isto vai ocorrer quando, após a Pri-
meira Guerra Mundial, tivemos o desenvolvimento das grandes

as sociedades por ações e a sociedade americana entrou numa


fase de abundincia e alta produtividade. As tecnologias mais
avançadas passaram a exigir um novo modelo administrativo
que desse conta das necessidades de cooperaçio e comunicaçio
surgidas na fábrica automatizada, em funçio da tendência de
I st ].( U:I. ç: ao do operário de execuç:io pelo de controle.
A' ~ • u
~:;'I..I.:1

Além destas mudanças de ordem econ8mica e tecnoló-


9 :i.C'l!1 tivemos também o aparecimento do sindicalismo verti-
C ::;\ J. s organizado por ind~strias e nio por oficios, que gerou
uma situaçio política onde havia maior mobilizaçâo dos ope-
rários nas fábricas e situaç6es de pressio muito mais efeti-
vas sobre os empresários. Segundo Kornauser (1969),

de 1927 a 1952, houve nos EUA 75 000 greves


})

que imobilizaram 40 000 000 de pessoas com perda de


1.)(;';0 1900 ~)0ef d e día s+ b omem de tr ab a l h o ;" (p.20)

Para contrapor-se a esta nova situaçio teremos uma


rearticulaçio do discurso administrativo, ab an d onan d c a
··'f·r"\nqU('.;·:ir.{1··' d;'l 1:.sc01<':1. e ad o t an do um novo
CIA~::.sic:::1. d i sc u:r~:;.o,
mais elaborado e que permitisse a superaçio dos problemas
gerados pelo novo contexto. Isto vai se dar com a Escola de
Relaç6es Humanas, cujo pioneiro foi Elton Ma~o.

Nio se questiona, em toda a obra de Ma~o, a racio-


nalidade instrumental e os princípios econ6micos que orien-
tam a manutençâo e o desenvolvimento do sistema capitalis-
ta. A exploraçio máxima da natureza e do homem com o uso de
tecnologias cada vez mais sofisticadas, propiciando um fluxo
máximo de produçio de bens de consumo parece ser o destino
indiscutível da humanidade.

Os conf1itos inerentes a este processo vio ser


tratados por Ma~o como uma doença social, que deve ser con-
venientemente tratada por especialistas bem preparados, uma
elite de administradores que leve a massa de operários a ter
uma atitude cooperativa e racional. A "ideologia administra-
t i V ,':1."" assume aqui os aspectos nitidamente elitistas e ad-
ministrativos já colocados anteriormente.
q':'
, ~J

Ma~o parece concordar com Durkeim quando este co-


loca que a sociedade industrial suprimiu as formas mecânicas
de solidariedade baseada em valores comuns a todos, típicas
nas sociedades primitivas, por formas orgânicas de coopera-
ç~o, baseadas na interrelaçio de funç5es que caracterizam as
organizaçôes modernas. A artificialidade e fraqueza deste
tipo de solidariedade estariam na raiz dos conflitos típicos
das organizaç5es modernas. Daí, para Ma~o, a necessidade de
o administrador trabalhar no sentido de valorizar grupos de
refer&ncia no interior da fábrica, os grupos informais •

.'I1~ lógica eficiência da racionalidade ta~lol-ista é-


redefinida pelo império da coopera,io, sistemas de conselhos
e promoçio da integraçio, pela convers~o em racional dos
comportamentos irracionais ou ilógicos de indivíduos, pos-
pelo reforço dos grupos primários na
tenberg, 1974, p.84)

Assim como Ta~lor~ Ma~o acredita na identidade de


interesses entre os operários e os capitalistas, daí quali-
ficar como irracionais ou ilógicos os comportamentos carac-
terizados pela nio aceitaçio dos valores e normas da organi-
zaçâo. Ao encarar os conflitos como problemas de ajustamento
do individuo à organizaçio, Ma~o implicitamente nio reconhe-
ce a existência deles e coloca nas mios da elite administra-
tiva a responsabilidade de ajustar os indivíduos dentro das
Para isso ele vai lançar mio de técnicas mais
'1" E' f :i. n a.d ,':~
~:,!' emprestadas da Psicologia e da Sociologia, no
controle e adequaçâo do homem ao trabalho.

Es ta ··'p~:;:i.colD:,;j:i.Z<3.ç:~;'o··' d'!l.~:; ·re:::1,·"'.;(5(;·:·s


de t •..
::~.!:J:;:l.lh('j e o
deslocamento das atenç5es da ()rgani2aç:~0 formal para a in-
1,
f'or' m::~, v~o caracterizar esta forma de manipulaç~o do tra-
b al h a d o r , chamada de Escola de Relaç5es Humanas, que assume
novas vers5es atualmente como alguns estudos demonstram cla-
ramente - vide Pag~s, por exemplo. Ali ficam expostos de ma-
neira clara instrumentos de controle e manipulaçâo, psicoló-
gicos e ideológicos que, sem dJvida, tiveram como ances-
trais aqueles surgeridos por Ma~o.

Modernamente, quando a sociedade passa por trans-


formaç6es aceleradas ao nível político, com o fortalecimen-
to de partidos e grupos de pressio de vários tipos (ambien-
talistas, por exemplo), ao nível tecnológico, com a automa-
çao de vários setores da indJstria e as suas consequentes
transformaç5es da vida de trabalho, e ao nível econ8mico com
a internacionalizaçio da economia, atrav~s das grandes em-
p r e~:;:::\~:' mul t i n :;~,ci 01'1 ;3, i ~:;
~I n o va s t (;:-01" i a,:; or s an i Z::1C i on :::1. (::.'S
i ~,;, fo'(,-
çam-se na busca de modelos e enfoques que diem conta desta
nova realidade. Do behaviorismo ao estruturalismo e ~ teo-
ria dos slstemas, ocorrem mudanças acentuadas ao nível da
análise organizacional.

Estudos das organizaç5es centrados no poder e no


conflito ganham corpo~ a eles incorporam-se as contribui-
ç5es de Weber, ainda que de uma 6tica funcionalista, as con-
tribuiç6es das ci&ncias comportamentais, da cibernética,
etc. No entanto pouca coisa se altera; para Motta (i986b),
e~;,t: <':I,~; mud an c a ':::, ::,~,o 1'1:1>./(:.:,1 d <1 an á '1 i '::;,(;:'
0'( ~F:1.ni z ac i on a l e~.>cond(;:-ITI
mais o que nio mudou:

,')i~S'::; i ITI,s e é ver d ad E: qu(;~ o C ::,:\P ita 1 iSITIO':;;0: b ti 'I" De i" a ,-


tizou, nâo é menos verdade que continuou capitalismo. O mun-
do da mercadoria e a 16gica do dinheiro que o caracterizam
sao, na verdade, cada ve2 mais fortes. O sistema capitalista
97

modifica-se através de sua reproduçio ampliada. Em n í vel

:i. d e o I Ó9 í c:o ~ as duas coisas sio ocultadas, isto é, oculta-se


a manutenç50 de um mesmo sistema valorizando-se a mudança e
oculta-se sua reproduç5o ampliada valorizando-se a estabili-
dade. A operaçio lógica, que preside esta falsificaçio, está
presente, mais clara que nunca na noçio de homeostase ou
I:',' qu i '1:I: h r i o di n âm i c o d e s en "lO 1v i do po s t (S"I i O'C men t (S' p e '1a, ab o r d :::t'-'
gem sistêmica das organizaç5es, segundo a qual os sistemas
abertos como as organizaç5es mant&m seu caráter básico, isto
é, sua estabilidade, via expansio~ o que implica em níveis
diferentes de equilíbrio, ou em mudar para de fato nio mu-
dar i " (p.84'-8~:j)

embora tenhamos novos enfoques e mode-


l os pa,'(<;t o e';:;.tudo das ol-9{:\ni;C!:::3.ç:ê)e~:"!1
Lnc o r p orand o novos cam-

pos da ciência inclusive, os aspectos ideológicos continuam


c 1 :;~,'1- O~;.. O~; Fun d ,':\m(;:'n
t O~::' da"':i. d EC) 109 :i. (,\ ::'~.dmi n i s t )"a t i va' ~:;iof a,""
cilmente detectáveis nos autores mais representativos destes
enfoques modernos. Os elementos elitistas e administrativos
ideologia tornam-se quase apologéticos nas colocações
de Drucker (1977), quando ele afirma que:

"Co 1 i:~ti vamen t E': ~ os administradores dessas organi-


zaç5es contituem o ór9io que cuida do desempenho E da eficá-
cia da sociedade moderna. De seu desempenho depende, em
grande parte, a sociedade, em ser capaz ou nio de cumprir
suas promessas, em oferecer às pessoas oportunidades de car-
reira e realizaçio~ bem como alcançar um bom desempenho 910-
b a 1 .}} (XXPi)

Ou~ quando ele afirma:


98

}'Conservar aut8noma a administraçâo e uma necessi-


dade fundamental da sociedade. ~ fundamental para a socieda-
de manter-se livre. ~ fundamental para a sociedade continuar
a produzir bom desempenho. Na verdade~ a administraçio aut8-
noma e capaz de produzir bom desempenho constitui a ~nica
verdadeira alternativa à tirania."(XXV)

Percebe-se uma &nfase bastante clara~ por parte de


Drucker e de vários autores importantes de teorias organiza-
cionais, no aspecto profissional, neutro e extremamente im-
portante da administraçio moderna, para a consecuçio dos ob-
jetivos maiores da sociedade. Esta valorizaçâo excessiva e
sem nenhuma base real~ cumpre um papel eminentemente ideo16-
91co, legitimando o papel da tecnoburocracia, classe cuja
expansio e poder, no mundo moderno, sio inegáveis.

Outro autor que adota uma postura neste sentido


acrítico e ideo16gico, é Simon (1965)~ quando vai tratar das
conseqU&ncias do processo de rotinizaçio das tarefas, fato
cada vez mais sentido na organizaçio do trabalho, p cujos
resultados para a vida do trabalhador s10 bastante critica-
dos devido aos problemas de insatisfaçio, alienaçâo e outros
problemas psico16gicos, de maneira oposta:

"Implícito em virtualmente todas as discussões so-


bre a rotina está o fato de que a rotinizaçâo do trabalho
diminui a satisfaçio no trabalho e impede o crescimento e a
auto-realizaçio do trabalhador. Nio apenas esta afirmaçio
carece de evidências empíricas, mas a observaçao casual do
mundo à nossa volta surgere que isto é falso ( ••• ). Uma 5i-
99

tuaçio completamente desestruturada é, se prolongada, dolo-


rosa para muitas pessoas. A rotinizaç~o das tarefas é um re-
f~gio bem vindo para a floresta de problemas estranhos."
(p.97)

A colocaç~o de Simon parece ter o claro propósito


de desviar a atençio do fato que realmente ocorre, que é a
rotinizaçio das tarefas de forma ampla para vários setores
do trabalho, e isto é um problema para muitos trabalhadores.

As conseqUências negativas disto nio podem ser ex-


plicadas através da colocaçio de que a ausência de rotina
também é um problema. Ele, desta forma, tenta esvasiar as
criticas que realmente poderiam contribuir para resolver os
problemas efetivos de muitos trabalhadores sujeitos a esta
situação.

Poderíamos arrolar muitos outros exemplos deste


tipo, encontrados em revistas especializadas e livros sobre
teorias organizacionais, mas o essencial é ressaltar a au-
s&ncia constante, met6dica, de uma visão crítica dos pres-
supostos e valores associados à análise de organizaç6es e
das suas condiç5es de trabalho.

Este tipo de distorçio sistemática encontrada na


maioria da literatura sobre organiiaç6es, cumpre o seu papel
ideológico na medida em que estes artigos e livros sio es-
critos por autores de grande penetraçio nos círculos admi-
nistrativos e, portanto, lidos por um grande n~mero de pes-
soas, que a partir dai tranquilizam-se ou sentem-se confor-
tadas nas suas convicções sobre a ordem social. Quanto maior
o impacto destas ideologias no debate p~blico e nas decisões
poiticas e governamentais, melhor para as elites interessa-
..
,"':.\,:: ....
'''1',:1 manu t enc ão da ord em '1
~:;OC1"~. E Econ8mica vigEnte.

BIBllOJECA f{àRl ,,10 UOEDE(KER


101.

Teorias organizacionais: sua contaminaçâo pela


t d eo los a adm ín ís t r a t
.... í í va" (~~;;uac r e s c en t e im'-
F> 0'( t ân c i,':\. "

Uma das maneiras de se entender porque as t e o-:

do grau de Cin)depend&ncia dos pesquisadores com relaçâo


as elites administrativas.

Após uma rápida análise, o fato que imediatamente


nos chama a atençâo é o de que ambos os grupos, pesquisado-
res e administradores, t&m frequentemente algum aspecto co-
ITHJ.m!1 seja na sua formaçio acad&mica básica, seja na depen-
d&ncia m~tua na forma de treinamento gerencial e comiss5es
ou ainda na manipulaçio de uma literatura
técnica comum. Desta forma, pesquisadores e administradores
frequentemente partilham de interesses e valores comuns. Ad-
ministradores sio consumidores potenciais da produçio dos

Outra forte influ&ncia sobre o grau de autonomia


das pesquisas, sio as fontes de recursos que as possibili-
tam. Estes suportes derivam principalmente de grandes corpo-
·(,,\çt:5<:.:·~> ou c apí t al a s t a s Ln d ív íd ua is que ·"do<~.m"r ec u.rs o s p'l·ca.
a construçio de fundos de pesquisa, consultorias, programas
de educaçio de executivos, etc. Obviamente, o interesse des-
tas pessoas na pesquisa e literatura nio é de ordem apenas
t éc ri :i. c <,I. :: interesses ideológicos também estio presentes
neste contexto. As idéias centrais em várias correntes da
ci&ncia administrativa t&m muito pouco retorno num sentido
estritamente técnico; no entanto~ estas idéias exercem uma
in+'luÉ~nc::i.,:\ :i.negAvel no s en t ido de "far.:::i.l
idE·:olót=.l:í.c,":\ t ar " í a

o sucesso dos pesquisadores junto às lideran,as de ne-


em parte, determinado pelo grau de c on c or d ân c i::l

deles com os interesses ideológicos das lideranças.

papel eminentemente ideológico das teorias


organizacionais~ segundo Matt Alvesson (1987)~ tem-se torns-
do cada vez mais importante devido a modificaç5es de ordem
tecnológica~ política e social que têm caracterizado a evo-
luç~o da sociedade e das organizaç5es.

De fato, com o uso de tecnologias mais sofistica-


as estruturas hierárquicas tornam-se mais complexas,
possibilitando com isso a existência de pessoas com diferen-
tes tipos de conhecimentos num mesmo nível hierárquico; isto
torna o processo de controle dos subordinados extremamente
para as chefias que, nio conseguindo dominar todo o
conhecimento necessário para a execuçio das tarefas, têm di-
ficuldades de identificar os responsáveis por falhas durante
o processo. As possibilidades de sançoes, a partir daí, tor-
nam-se mais remotas.

Outra conseqUência do uso de tecnologias cada vez


mais sofisticadas é que, em p·(DC(:::S'ç.;o~:, de p rod uc ào do t; ipo
capital-intensivo, altamente integrados, os operários têm a
possibilidade de causar sérios prejuizos econ8micos,
com uma supervisio estreita. Segundo Offe (1970):

car os regulamentos do seu trabalho, ele pode a qualquer


tempo omitir ou recusar-se a preencher uma ou todas as nor-
:1.03

0- ~ 'o,
1:01'1 ( ao !I mesmo com a modelagem dos procedimentos de tra-
balho e das relaç5es de cooperaçio através da tecnologia, o
trabalhador sempre tem a oportunidade de cometer enganos,
o I dtO
produzir refugos, t r ab a 1 h a r aeSCUlca
o,
amen °e, crlar conflitos
disfuncionais na estrutura de cooperaçio e falhar de todas
::':\S mi;lo n (~? :io 1- ;':\S pos s 1. ve :i. s • /J ( p • 36 )

Os baixos níveis motivacionais associados ao de-


senvolvimento dessas novas tecnologias de produçio, provo-
cados pelo trabalho altamente fragmentado, monótono ou sim-
plesmente de observaçâo, tim piorado ainda mais com as exi-
gincias das empresas de níveis mais altos de escolarizaçio
fo ('ITI,11
o
dos operários, o que aumenta as suas expectativas
com relaçio ao trabalho.

As transformaç6es políticas ligadas ao crescimento


da força dos sindicatos associadas ao aparecimento de uma
0J
oe91~:, 1.a c ao
o '" trabalhista mais permissiva (segundo
na Europa, a influincia dos sindicatos associados a governos
sociais democráticos, tem causados sérios transtornos ao co-
mércio e a ind~stria), restringem as possibilidades de san-
~6es mais duras aos operários, dificultando com isso a manu-
tençâo das estruturas formais de autoridade.

O crescimento da importincia de valores ligados à


preservaçâo do ambiente, controle da poluiçâo, etc, contra-
pondo-se aos valores tradicionais de crescimento econômico e
racionalidade tecnológica, sugere uma necessidade de refor-
mulaçio dos discursos até entio usados para justificar as
práticas usuais. A centraliza~âo de poder típica das grandes
corporaç5es modernas e do estado é outro aspecto que refor-
ça a necessidade cada vez maior de legitimidade, ~:;oe~3un d o

Sennett (:l.97(t)~
:1.(:)4

poraç5es e no governo, mas a lealdade e disciplina que este


poder pode controlar & incerta. Desde que o poder e mais
centralizado, & mais difícil para os líderes tornar seu con-
trole legitimo. Este problema aparece mais especialmente nos
Trabalhadores agora mostram seu descontentamento
para com as instituiç5es nas quais eles trabalham de maneira
<:l <:d',;~~t ::":\1"' a sua p 1"o d u t iv i d a cf E.', d is c ip 1 i li ;.;x e p la n e.i a m C:~n to. "
( p " 4(.~)

Na medida em que os instrumentos formais de con-


trole e disciplina, em funçio dessas transformaç5es~ começam
a tornar-se ineficientes, as necessidades de ideologias que
legitimem a estrutura de poder vigente tornam-se indiscuti-
ve l men t e ma i o r t?:~S!1 e as teorias organizacionais cada
vez mais solicitadas neste sentido.

Isto é feito de maneira sistematizada pela teoria


O'(!J an :1. ;;!.::lC :i. on a 1 id.;?:olo9:i.cam(:!:ntf:::
"Jc,,~r"((~'g::~,d<:l,JJ
(aQuif.:,la
que no
seu discurso tedrico faz sugest5es gerais, adota perspecti-
vas e maneiras de definir a realidade de forma a eliminar o
pensamento disruptivo ou oposicional), ao considerar uma
~rlica forma de racionalidade organizacional, a saber, a tec-
noldgica e instrumental.

Para Ze~-Ferrel (1982), esta racionalidade é con-


siderada válida e sem críticas para o total da organizaçâo;
ta man e i 1" a
d (:-~~:; D ),' ';;; t ,,'l tu s qUO" n ~{o É.' ques ti on a d o ~ n e m <:\ 0~S t 'I" u-:
tura de poder ou a distribuiçio de recompensas dentro da or-
::.:J ::11"1 :í, z ac ão . A organiza~ão é vista como racional, adaptativa,
composta por sistemas voluntários que objetivam atingir me-
tas racionais e onde os trabalhadores são bem tratados por
administradores responsáveis. Dominaçio, força, manipulaçio
e opressio de grupos e individuas raramente sio analisados.

As perspectivas e conceitos básicos na pesquisa


dominante em organiza~6es parecem ser caracterizados pelos
seguintes pressupostos, segundo Ze~-Ferrel (1982):

II Há uma concordância de metas entre 05 membros da


organizaçâo, os quais se apresentam unidos num sistema inte-
~';ll-ado
;
a organizaçio pode ser entendida como o resultado
da sua busca de metas e preenchimento de necessidades;

as quest6es pesquisadas estio ligadas a como a or-


9 ,':\n iz <l o a t: :i n ~.l:i. 'C :,i
ç ;:~: ~:;U. d.~:' me t ;:;\
~:> (~. f (~t: iva e fi:: fi c ie n tem G: n t f",' ;:

05 pesquisadores analisam quest6es e problemas re-


lacionados aos administradores e às elites dominantes, de
maneira a capacitá-los a realizar seus objetivos e perpetuar
o seu controle e dominaçio. A origem das relaç5es de poder
raramente está entre estas quest6es;

assume-se que os interesses dos administradores e


dos trabalhadores sio 05 mesmos, eles nio sio contraditdrios
nem antag8nicos, portanto nio estâo em conflito~

devido a este consenso, os dados reunidos pelos


administradores podem ser generalizados para a organizaçâo
como um todo." (p.167)

A coloca,âo, por grande parte da teoria organiza-


c :i. on '·;l.1 , da realidade nas organizaç6es a partir desta pers-
106

pectiva gerencial, relevando certas condiç5es e valores em


detrimento de outros, também é crItIcada por Braverman

Os problemas mencionados sio problemas de admi-


t .•..
n i ~:; (;l. ç f:{ o ~ i n ~;:.
a t :i.~:;f :::1. ç ;10 f:;:)( p r E' S,~:; ,':1. E' m aIt ;':1. S t ax ~3.~:.' d e JJ t u 'C.n 0'-

ver'.... <7\li s ~~n l:: e :I: 'sm O!I r E'~'; i ~t i~n c i a a o t: r a b a 1 h o


•. P r E'~; C r i t O!I i n d i .-
ferença, neglig&ncia e hostilida.de à administra.çio. Isto f
enfocado por muitos psicólogos e sociólogos ligados aos es-
tudo do trabalho e dos tra.balhadores~ de forma a considerar
como problema, nio a degradaçio do homem e da mulher, mas
as dificuldades geradas pelas reaç5es, conscientes ou n10 da
d fi: 9 r a d ,:\ç: ~~o • '.' (P •• j, 4:1. )

Como se ve, as teorias organizacionais de uma ma-


n eir a !Je\"a.l~:d'~o"c on t am n adas" í PIE·l,':\. ··'ideolo9:i.<1
adm í n s t r at t'-
í

V,!\"} d e vi do à s l:i.gaçõ~~s(;:r e lac óe s de dependência mútuas en-:


tre pesquisadores e administra.dores, o que se reflete, a.
princípio, quando os pesquisa.dores iniciam suas análises a
partir de pressupostos determinados pela perspectiva domi-
n a n t (~ (~, E: !TI s e9u í da, qu an d o v ~~o )}n a t u r ,!\ 1 i z a r' }} Pr á t i c a.s e
atitudes que estaria.m de a.cordo com va.lores socialmente de-
terminados e ligados aos interesses de manutençio e reprodu-
çâo da ordem vigente.

A crescente importância desta influência ideológi-


c ::,:1. r (".~:>:i. d (". no f::l to d (". qu.(~·
(::.·1a. 1 e~:Ji t :i. ma. :::1. p e r ~:;pE'C t :i. '.1::3. 9 e ....
I':;:n'-

cia1 e os valores a ela ligados, contribuindo com isso para


a socializaç~o dos administrador~s e outros membros dos a1-
t os "sta.f.fs.'l (~~ numa c e r ta e xt en s ão , ou t r o s ti"abalhador'e~,;
que entram em contato com o pensamento econ8mico dominante
nos ne96cios ("colarinhos brancos", líd~res sindicais, estu-
dantes de administraçâo~ etc). Outro aspecto importante des-
ta influência se liga à sua instrumentalizaçâo na vida de
trabalho e na sociedade~ criando idéias de como as organiza-
ç6es funcionam e podem funcionar~ desviando a crItIca das
condiçGes políticas e econômicas vigentes.

" I~\ Teor I a da Adm n s t r ac ão , até


í í hoje, rep r oduz as
condições de opressão do homem pelo homem; seu discurso muda
em função das determinações sociais. Apresenta seus enuncia-
dos parciais (restritos a um momento dado do processo capi-
talista de produçâo) tornando absolutas as formas hierarqui-
cas de burocracia ... trabalho complemento do capital, a maxi-
mização do lucro objetivo da empresa, burocracia hierárqui-
ca, expressâo natural da divisão do trabalho. A Teoria Geral
da Administração dissimula a historicidade de suas catego-
que são inteligíveis num modo de produção historica-
mente delimitado, são como a expressão abstrata de relaç5es
sociais concretas, fundadas na apropriação privada dos meios
de p\-odu,ão (. •• ).", (Tragtt~'nberg~ 1.9?4~ p.21,6)

I' 'Io a , assim


uuvi como a organização do t i" <:i b a 1h o

tem obedecido, desde os prim6rdios do capitalismo até hoje,


a uma racionalidade instrumental que evolui no sentido de se
:::\p I" OP 'f' :i, ::~ r do controle do trabalho (ou recuperar o controle
perdido nos avanços dos movimentos operários) e aumentar a
taxa de mais-valia, os conte~dos ideo16gicos das teorias or-
ganizacionais se alteram, dentro da mesma racionalidade, de
acordo com as modificaçôes do contexto econômico-social,
fornecendo novos argumentos para o discurso empresarial 1e-
gitimar a sua condiçâo de poder e mando. Com isso, CUITIP'ce

um papel de intermediaçâo, através do administrador,


a sociedade em geral e o ambiente real de trabalho.
1.0::3

o ponto de ligaçio entre a organização do trabalho


e as teorias organizacionais, está na racionalidade instru-
mental que caracteriza as formas do agir e pensar das elites
d OITl :i. n an t e~::·!1 E·Sp ec: :i. <":\.1men t e a qUE· I as 1 :i. ~;Jad a ~T:. ~:\. a d m i n i s t r- ::1':'~;10 d e

negócios num sentido amplo.

Esta racionalidade, no que diz respeito à organi-


zação do trabalho, está pr-esente desde os primórdios do ca-
pitalismo até hoje e está intimamente associada ao desen-
volvimento tecnológico que caracteriza este período, no·r:-
teando-o. Graças a isto, os benefícios decorrentes do aumen-
to de produtividade. das novas técnicas, a melhoria de qua-
l i d ad e , a redução do esforço físico necessário à produçio,
etc., ao invés de proporcionarem ao homem uma qualidade de
vida no trabalho e fora dele mais digna e de melhor qualida-
de, redundam em condiç5es de vida no trabalho marcadas pela
monotonia, aliena~io e desqualificaçio, e fora dele o consu-
mo p el o c on s umo ,

Nio poderia ser diferente; esta racionalidade está

serem atingidos, e estes objetivos numa sociedade capitalis-


ta estão ligados à expansão do capital através da produção
p apropriaçio da mais-valia. A racionalização das partes
atendendo aos interesses de um grupo particular- de homens,
os detentores dos meios de produção, leva a um todo irracio-
nal marcado pela opul&ncia deste pequeno gr-upo e pela misé-
ria e fome da maior parte da humanidade. Desta maneira, os
avanços da ci&ncia e da tecnologia, herança de toda a huma-
t09

nidade na busca da sobreviv&ncia através do entendimento e


cooperaç~o com a natureza, passam a ser instrumentos de con-
t r o '1E' (~ dom i n ":\Ç. ~~,() d o h ornem e da na t U'I" e:i~;':1,p el o p r' óp)"i o h OI'(I(;:'m ..

Isto se verifica nas formas mais primitivas de


dt vi são do tr ab al h o , u.~::.ad::3.s
no "'putt :i,n~J""ou,t""~:;:-:J~:;.tE'm'·',
:i:\ti~' :,:1.':::,

modernas técnicas informatizadas de controle da produç:~o e


do trabalho; o traço que permanece comum é a vontade do ca-
pital de impor ao trabalho condiç:6es que permitam a sua to-
e controle através de um aparato tecnológico
que se torna cada vez mais sofisticado, na medida em que as
reaç:5es operárias a este processo tornam-se mais organizadas

Aos modernos processos de automaçio do trabalho,


podem ser feitas criticas que, guardadas as proporç:ôes, sio
as mesmas que foram feitas aos criadores da organizaç:âo
cientifica do trabalho, no inicio deste século. A tend&ncia
à desqualificaçio e degradaç:~o do trabalho, que caracteriza-
'nHII o t<':l.~,(J.oi":i.~:;mo~
não iE'~:;t<f"~:;I
..tPen:\d::",
n'1,Sfonll:,:x~:;
mais mo d er n as
de organizaç:~o do trabalho. O que assistimos é um velho fil-
me com novos cenários e cores, mas cujos atores repetem, in-
cansavelmente, o mesmo enredo.

As contradiç:6es e criticas geradas pelo choque


desta racionalidade instrumental e a su.a negação (razão prá-
tica), exigem que as elites usem um enorme aparato ideológi-
co, com o propósito de impedir a emerg&ncia dessas contradi-
ç6es e críticas. E aqui, o que vamos encontrar como caracte-
rística marcante & um discurso que procura legitimar e re-
produzir as condiç:6es de poder e mando das elites, a partir
de uma argumentaçio que tem como aspecto central a defesa de
uma atitude com relação à vida social e à natureza, funda'-
mentada em conhecimentos puramente cientificos e técnicos.
i ie

Em outras palavras, a racionalidade que orientou a organiza-


çio do trabalho passa agora a assumir um papel ideológico,
fornecendo argumentos para justificar a ordem social vigen-
t ~~.

A racionalidade instrumental ou tecnológica, para


usar um termo similar, acaba por criar um modelo de prjtica
social onde as quest5es prjticas sobre as metas da socieda-
de, como um todo, sâo tratadas como problemas de ordem pura-
mente técnica. impedindo com isso a discussio política com
toda a sociedade sobre a validade das metas. Segundo Marcuse
(1964), o impedimento ocorre porque este tipo de racionali-
dade tende a tornar-se totalitjrio~ criando um pensamento
un í d ímen s i on a l , isto é, um pensamento sem negaç5es e sem
d :i..:I. I ét: i c ::,~
..

Para Habermas (1971), este tipo de pensamento cria


a ideologia da racionalidade tecnológica porque, .;~·)(t)" ::3.p
o'·'

Lan d o a quiLo que eI e c h ama d e "mundo de aç:io inst'(umental'"


(onde as aç5es sâo dirigidas para a satisfaçio das necessi-
dades materiais do homem), ela atinge o "mundo da interaçio
~:;:i.mb .:::,1 :i. c a" :' tornando a lógica instrumental um modelo também
para as quest6es políticas, sociais e culturais.

E neste contexto que as teorias organizacionais


e nc on t ra m "ra
·':J.ua í s on d'&"l:l"E.'''. 1::1::3.s
CUmPl"E.'mo ~:;o:~u
p:,;\pi::~l
ideológico ao considerar como ~nica forma possível de racio-
nalidade (organizacional) a tecnológica ou instrumental. A
partir dai elas assumem pressupostos~ nio abertos a dis-
c u s s ão , COlHO:

tecnologias cada vez mais avançadas e produtivas, gera um


lU.

fluxo crescente de beneficios (nio se discute para quem, ob-


'·1 i amen te) ;

* a produçio e consumo em massa sio soluç5es pa-


ra os problemas SOCIaIS (independente das condiç5es de vida
no trabalho e do tipo de lazer que isso propicia);

* a alocaçio prioritária de recursos para o de-


senvolvimento de tecnologias avançadas é indispensável para
o progresso <de quem?);

o crescimento econômico é algo bom em si (não


se considera o preço pago pela natureza e pela maioria dos
homens para que ele ocorra), além de outros.

As teorias organizacionais assumem, ao nível in-


terno de funcionamento das organizaç5es, o pressuposto de
que na medida em que elas se organizam dentro da mais
alta forma de racionalidade (tecnológica) -, o consenso nos

das organizaç5es, Isto é, a harmonia entre os objetivos da


organizaçio e dos trabalhadores e um otimismo inabalável no
+u t u ro , sio as ~nicas formas racionais de comportamento nas

Dentro desse quadro elas procuram legitimar a hie-


rarquia e as estruturas de poder existentes nas organiza-
'"' e ~;;
(;:o , a partir de argumentos baseados numa pretensa compe-
t&ncia técnica das elites dirigentes e na sua importância
para sociedade, na medida em que desempenham (de maneira al-
truista e racional), a difícil e indispensável tarefa de ad-
min i s t rar as vár ia s o rs an í.z ac óe s (~~ITI ·"benE.'·fíc:i.o
da s oc a e d a-:
dE···} n
1.1.2

as teorias organizacionais defendem os interesses


das elites dominantes dentro de um quadro geral da sociedade
conservador p ideológico. Seus estudos teóricos enfocam o
objeto de estudo exclusivamente do ponto de vista adminis-
t 'r ,";\l: i vo ~ de maneira parcial e com o objetivo explícito de
<1 eT:!.Clencla
J" ." •
das organiza~5es na consecuçio das me-
t :::\
'::;
d o c ap :i. tal.

Acreditamos que os estudos de organizaç5es e das


condiç5es de trabalho na sociedade moderna devam, antes de
mais nada, ter um compromisso com os interesses da maioria
com o homem enquanto ser humano genérico e
un :i. ver s a I e nio enquanto parte de um grupo minoritário p
privilegiado, o dos detentores dos meios de produçio.

vilegiado onde se dá o embate entre capital e trabalho, onde


se encontram as contradiç5es mais profundas, o foco para es-
tes estudos, para esta nova teoria organizacional, deve ser
a sociedade capitalisl:a como uma totalidade. O estudo das
organizaç5es e das condiç5es de trabalho nio pode descolar-
se do contexto político, econSmico e social tornando-se algo
sem provocar com isso profundos desvios em suas
análise e conclus5es.

Devemos ter claro que uma determinada forma orga-


n i :ir.,~.C:i. on al é sempre parte da realidade social e está em
constante interaçio com esta realidade. Seus aspectos cen-
trai s , c omo ob.i etí vos , c ond c õe s e s t r u t ur a i s , t ec no Ion a
í í e
relacionamentos informais, sio o resultado desta interaçio.
Por trás de formas especificas de organização, estio os es-
forços de reproduçio, manutençio e transformaçio dos vários
atores sociais. A compreensão das concepç5es~ aç5es~ inte-
1.1.3

resses e condiç5es de poder fa:<r.


parte da tentativa de enten-
dimento destas formas organizacionais.

Para a construçio de uma teoria organi:<r.acional que


de alguma forma contribua para uma compreensâo real das or-
gani:<r.aç5es, é indispensável a crítica da racionalidade ins-
trulIlent,:\l como forllla predominante de agir e pensar no con-
texto organi:<r.acional. Na medida em que a racionalidade tec-
nológica nâo foi prescrita por uma lei natural, e sim ori-
ginária de fatores sociais, ela é passível de superaçâo. Ao
criticar a racionalidade instrumental, a teoria organizacio-
nal deve objetivar nio apenas uma transformaçâo técnica do
mas também a auto-transformaçâo consciente dos
atores coletivos, incluindo, como quer Habermas, um aumento
d i al o s i c a" d a o r s an z ac ão e c on s e crue n t eme n t e
da 'Jc:oITIPE~tênc::La í

d ,':I, soc i ed ad (:Y: "

f~'1 p,:\r'tir'
do aument o d a ....
coIl1P(~têncj.a d al ón íc a" dos í

HI';:-1lI1:J
'c os d ,:I. or ~:.:J an :i. z ac \Ko, O~::· p)- (;.:'~;~;up :,:un o d e'-'
o st o~;; qu. !:' or i en t ,:\'(
I

senvolvimento das organ:Lzaç6es e da sociedade até aqui, de-


verio ser discutidos e alterados no sentido de atender aos
interesses da maioria das pessoas. Critérios como maximiza-
çio da eficiência, produtividade, crescimento econ8mico, lu-
c: 1" o!' e t c: .. , n a o P o d (~I- iK C) '::; ~~ I" t C) ma dos C CHT\ o ....
n a t U Y' a is " 0~ deV E' rã o
(;:'~",
t ::~,
'C ~::,uje :i, t O~, <1 um c 'I" :i. vt» p o 1 :{t i c o i::: s ocí ::~.
1!1 ql.l(~' d (:::t I'E;T m i n ::~,'I" á
os parâmetros a que estes critérios deverâo limitar-se.

Sem d~vida, existem grandes dificuldades inerentes


a esta tarefa. Além da oposiçâo sistemática dos grupos domi-
nantes, nâo acreditamos que exista um modelo pronto dE orga-
n :i. :2: ,:u;: â o , baseado nUlTla outra racionalidade e que, pelo SEU
valor intrínseco~ lEvasse as pessoas a adotá-lo. Acreditamos
na possibilidade de encontrar mecanislTlos adequados a
cada situaç50 paTa negar a prática dominante e a inst:i.tu.-
11.4

cionalizaçio da racionalidade que permeia o processo~


do que isso, acreditamos numa teoria organizacional que de-
vera ter como ponto focal o encorajamento para a busca de

caminhos que permitam isso.

Uma teoria organizacional critica~


desmistificaçio dos pressupostos, dos valores, das práticas
"'consa9radas pelo tf.~mpo!l,e t c ,, e o r ome men t o com as e s t r u+
í

turas organizacionais repressivas, contribuirá para o au-


men t o d a IIcolTlpetência dí.al s c a" e o d e s envol v men t o de uma
ó í í

linha de pensamento que seria um primeiro grande passo no


sentido de superar a ordem social dominante, além de recupe-
rar valores há muito perdidos para o trabalho como signifi-
satisfatio, aprendizado, desenvolvimento, qualifica-
1:1.5

5. REFERiNCIA BIBLIOGR~FICA

ADOI:;:NO, T. W. ZJ.U:_...Lo..9_iJL.d~.L_..s_oz.ij;1..1..w.i.s~Jl.$J;;.boa1..tJ~·Jl ..••.


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