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A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães: Algumas considerações

“[…] o coração é livre; ninguém pode escravizá-lo, nem o próprio dono.”

O escritor Bernardo Guimarães se destaca na literatura nacional por uma


extensa e variada produção escrita, composta de romances, contos, peças de
teatro e poesias. A escrava Isaura, de 1875, é talvez o mais famoso título
publicado pelo mineiro. O momento histórico em que a obra emergiu - a segunda
metade do século XIX - ainda era influenciada pelos ideais românticos, seguindo
o progresso e as contradições de um país que conquistara sua independência
política.
A época representada culturalmente pelo Romantismo tem sua origem
diretamente relacionada às profundas transformações que vinham ocorrendo
desde o século XVIII. No plano econômico, a Europa vivia a euforia da Revolução
Industrial na Inglaterra, com novos inventos, formação de centros fabris e
urbanos, além do nascimento de patrões e operários, de sindicatos e
associações de trabalhadores, com organização de revoltas sociais. No plano
sócio-político, tendo a burguesia alcançado o poder na França, com a Revolução
Francesa (1789), iniciava-se, nesse país, o combate ao movimento conservador
conduzido pelas principais monarquias europeias. No plano ideológico, o
Iluminismo imbuia o povo com propostas de democracia, de igualdade e justiça
social, de liberdade e direitos humanos.
O movimento romântico manifesta-se com maior evidência nas primeiras
décadas do século XIX, primeiro na Alemanha e na Inglaterra, depois na França,
expressando um período histórico ainda não equilibrado e uniforme, sendo
marcado, de um lado, por tendências que envolviam o otimismo e a reforma
social, e, de outro, por linhas que abrangiam o pessimismo e a decepção, o
saudosismo e a contrarrevolução.
O sistema econômico, essencialmente competitivo e individualista,
inspirou a valorização do “eu” em detrimento do “outro” na arte romântica, com
o interesse próprio se sobrepondo ao coletivo, ao mesmo tempo em que trazia a
sensação de alienação, da perda da dimensão total, com o sujeito sentindo-se
fragmentado ante a complexidade do mundo, a qual deseja integrar-se. Através
da contemplação, o homem percebia o quanto era pequeno diante da grandeza
que o cercava, tornando-se menos racional e mais emotivo, intuitivo, psicológico.
A figura de Deus, então, passou a ser procurada como resposta e refúgio de paz.
A tríade liberdade-igualdade-fraternidade, lema de ativistas em prol da
democracia liberal e da derrubada de governos opressores à sua realização,
para muitos, não havia se concretizado, gerando uma onda de descrédito ante
as lutas sociais. Com isso, despontou, nos românticos, uma postura de fuga da
realidade, manifestada pela forte ligação com a natureza e o passado
(geralmente compreendendo a infância do artista ou o período da Idade Média),
a inclinação para a boemia, para sonho e a loucura, para o futuro e a morte. Por
outro lado, também surgiu uma corrente de engajamento social e político, que
objetivava a defesa de ideias igualitárias, com estilo grandeloquente.
Dentro da mesma instância, conviviam a tendência universalizante e a
tendência egocêntrica, bem como o apreço pela imaginação e o apego à
realidade sócio-política. Nesse sentido, o movimento intelectual, no
Romantismo, expressava os anseios, dúvidas e inquietações dos artistas,
deixando transparecer tanto suas grandezas quanto suas fraquezas, garantindo
uma maior liberdade formal (anticonvencionalismo), a reflexão acerca do
passado e o engajamento com aquela contemporaneidade.
A independência do Brasil, em 1822, em separação à Coroa portuguesa,
ocasionou uma maior dinamização da vida cultural no país, despertando a
consciência para a necessidade de se criar uma cultura nacional identificada com
suas próprias raízes históricas, linguísticas e artísticas. O novo Estado ansiava
inserir-se no modelo moderno das grandes nações independentes do Ocidente,
firmando-se como Pátria. Todavia, o nosso contexto econômico ainda mantinha
as bases agrárias, apoiadas no latifúndio, no escravismo, na exportação,
diferente das grandes nações industrializadas. Nossa formação social ainda era
marcada pelo composto rural aristocracia-escravatura, ainda que o binômio
urbano burguesia-proletariado estivesse em ascensão. Nesse sentido, por aqui,
o movimento tomou contornos diferenciados.
A abertura dos portos e a institucionalização do ensino, além da criação
de tipografias em solo brasileiro, foram elementos que impulsionaram o
florescimento de uma literatura nacional baseada na publicação impressa
(jornais e livros) e na consolidação de um público leitor burguês - ainda que
restrito. O Romantismo, além de caracterizar uma reação à tradição clássica,
assumiu em nossas letras o sentido de movimento anticolonialista e antilusitano,
isto é, de rejeição à produção cultural da época colonial, em virtude do apego
desta aos modelos portugueses. O nacionalismo, traço essencial de nossos
autores românticos, gerou diversas possibilidades de exploração e construção
de uma identidade própria para a arte brasileira: o indianismo, o regionalismo, a
crítica aos problemas nacionais, a pesquisa linguística, histórica e folclórica. A
arte, aqui, ao romper a relação direta com a Corte e ganhar as ruas, liberta-se
das exigências dos nobres que a financiavam, abandonando o caráter prático e
impessoal, tornando-se mais subjetiva.
A publicação da obra Suspiros poéticos e saudades, em 1836, pelo poeta
e ensaísta carioca Gonçalves de Magalhães (1811-1882), e a fundação da
Nitheroy, revista brasiliense, periódico dedicado às "ciências, letras e artes" (com
apenas dois números lançados), no mesmo ano, por diversos estudantes
brasileiros residentes em Paris, na França, têm sido considerados os marcos
iniciais do movimento romântico na literatura brasileira. Todavia, é interessante
destacar que não podemos limitar o início de um movimento que já havia sendo
anunciado em nosso país há tanto tempo a apenas dois registros impressos,
tendo em vista a possível existência de outras manifestações que não foram
dadas a nota pela historiografia oficial.
Tradicionalmente, são apontadas três gerações de escritores românticos
brasileiros, mas tal divisão, talvez um pouco equivocada, engloba principalmente
os poetas. Os prosadores e dramaturgos não se enquadram muito bem nesse
esquema, já que muitos apresentavam traços característicos de mais de uma
geração. A primeira geração foi caracterizada pelo nacionalismo, o indianismo e
a religiosidade. A segunda, conhecida como “ultrarromântica”, foi marcada pelo
egocentrismo, pela crise de crenças e valores, pelo satanismo e pela atração à
morte. Já a terceira geração, conhecida como “condoreira” (termo advindo do
condor, ave que voa a grandes alturas, transmitindo o valor da liberdade),
voltava-se ao cunho político e social. Não obstante, fica evidente que tal
segmentação não pode ser tida como regra, já que a arte segue tendências, mas
não se limita a fórmulas, com os artistas podendo modificar e ir além dos
aspectos mencionados a cada geração.
A prosa romântica no Brasil é marcada pelo surgimento do gênero
romance, um novo formato que popularizou e consolidou a leitura no país. Esse
novo suporte da literatura nasceu no folhetim, espaço dedicado a variedades e
entretenimento em jornais e periódicos. Publicados em fatias, os romances,
caracterizados como obras de ficção em prosa de grande extensão, inicialmente
traduzidos da produção estrangeira, tiveram sua estrutura apropriada pelos
autores brasileiros, que lhes ofereceram aspectos próprios, atraindo um público
formado principalmente por mulheres, mas que também abrangia estudantes,
comerciantes, militares e funcionários públicos.
Nessa perspectiva, o relevante romance nacional esteve primeiramente
ligado à identificação e reconhecimento dos espaços brasileiros (a selva, o
campo, a cidade), também apresentando características como o
sentimentalismo, a idealização do herói e da mulher, a peripécia (reviravolta ou
acontecimento inesperado, imprevisto), a analepse narrativa (interrupção de
uma sequência cronológica para apresentação de eventos ocorridos
anteriormente), a oposição aos valores sociais, o impasse amoroso e o amor
como redenção.
O romance de cunho regionalista, aquele voltado ao espaço do campo,
mais que os de cunho histórico, indianista e urbano, buscou compreender e
valorizar as diferenças étnicas, linguísticas, sociais e culturais que marcavam as
regiões brasileiras, indo além dos cenários das capitais e incorporando a missão
nacionalista de proporcionar ao país a visão de si mesmo. Esse tipo não seguia
qualquer modelo europeu, constituindo uma experiência estética própria dos
autores tupiniquins.
Bernardo Guimarães seguiu tal vertente, observando a vida sertaneja,
com seus tipos humanos marcados por condições sociais distintas. Ele mistura
elementos das narrativas orais com doses consideráveis de idealização. Seu
estilo é marcado pelo excesso de adjetivação e tom convencional na maioria dos
retratos agrestes, expondo a dificuldade do escritor culto em fugir ao apuro
verbal, não conseguindo se adequar ao tom natural e espontâneo de uma
variedade linguística regional. A escrava Isaura (1875), romance aparentemente
lançado diretamente em livro (não existem indícios de que tenha tido alguma
versão publicada em totalidade no formato de folhetim) pela livraria e editora
Garnier, uma das maiores do Rio de Janeiro, obteve grande êxito comercial,
permitindo com que o autor se tornasse um dos mais vendidos de sua época,
quase se igualando em popularidade a José de Alencar (1829-1877).
O enredo apresenta o drama de Isaura, moça de pele alva fruto da relação
entre a negra escravizada Juliana e o branco feitor português Miguel. A jovem
tornou-se protegida da matriarca da família que a possuía, sendo criada e
educada como uma verdadeira dama, mesmo herdando da mãe (falecida
quando ela era ainda muito pequena) a condição de prisioneira. A vida da
personagem central sofre uma terrível reviravolta quando seus antigos senhores
morrem e ela se torna propriedade do filho do casal. Sua ilustre beleza encanta
o inescrupuloso Leôncio que, mesmo casado com a nobre Malvina, passa a
persegui-la com violentos galanteios.
Miguel, não conseguindo comprar a alforria da filha, foge com ela para o
nordeste do Brasil. Os dois se instalam em Recife, onde adotam novos nomes.
É lá que Isaura conhece o jovem abolicionista Álvaro e os dois se apaixonam
intensamente. Este amor se mostra como a única chave para a libertação da
protagonista.
A obra tem como base a trio comum às narrativas populares românticas:
mocinha, vilão e herói. A construção destes personagens principais, assim como
a das figuras secundárias, dá-se sem muita profundidade, beirando o
maniqueísmo (explicar o que é maniqueiísmo). Suas descrições físicas são
repetitivas e mecânicas, combinando com as personalidades planas e estáticas.
Isaura, a protagonista, é extremamente idealizada: bela, bondosa, virginal,
honrada e educada. Álvaro, seu par, também tem boa aparência, é íntegro,
justiceiro e corajoso. Já Leôncio tem aspecto rude, é leviano, devasso, cruel e
inescrupuloso. Desprovido de qualquer gesto benevolente, ele transfere suas
frustrações para o maltrato físico e psicológico.
O narrador de terceira pessoa localiza os acontecimentos em meados do
século XIX, durante os primeiros anos do reinado de D. Pedro II (1825-1891),
em uma fazenda do antigo município de Campos de Goitacazes, no interior do
Rio de Janeiro, um dos principais pontos da economia escravagista na região
sudeste do país. O local é apresentado em toda a sua exuberância natural e
organização arquitetônica relacionada ao poder oligárquico, com as senzalas ao
redor da casa-grande. A linguagem empregada não é tão rebuscada, apesar de
a narrativa ser atravessada por inspiradas descrições.
Ademais, é relevante destacar que o livro surgiu no período de
efervescência das campanhas abolicionistas no país, com os discursos em favor
da liberdade alcançando enorme popularidade. A popularidade do romance é
justamente apontada por muitos como derivada da abordagem de tal problema
social. Entretanto, vemos o autor tratar do tema da escravidão de uma forma
possível a uma época até então marcada pelo conservadorismo social. É
preciso, pois, compreender e encarar como importante o contexto histórico de
produção e circulação da obra, não dando vasão a anacronismos.
Bernardo Guimarães explora de modo sentimental o problema da
escravidão, atingindo principalmente o público feminino que, como já
mencionado, era o maior consumidor da prosa de ficção no país. Ele demonstra
se ocupar mais das perseguições do vilão à bela Isaura que em reconstruir as
mazelas e agruras do regime servil, ressaltando exaustivamente a beleza
“branca” e “pura” da protagonista, sem nenhum traço de descendência africana
que denunciasse a sua condição de escravizada, ainda no capítulo I:

A tez é como o marfim do teclado, alva que não deslumbra,


embaçada por uma nuança delicada, que não sabereis dizer se
é leve palidez ou cor-de-rosa desmaiada. O colo donoso e do
mais puro lavor sustenta com graça inefável o busto
maravilhoso. Os cabelos soltos e fortemente ondulados se
despenham caracolando pelos ombros em espessos e luzidios
rolos, e como franjas negras escondiam quase completamente
o dorso da cadeira, a que se achava recostada. Na fronte calma
e lisa como mármore polido, a luz do ocaso esbatia um róseo e
suave reflexo; di-la-íeis misteriosa lâmpada de alabastro
guardando no seio diáfano o fogo celeste da inspiração.

A descrição indica a permanência de padrões estéticos de inspiração


europeia, seguindo o modelo de beleza feminino de então. Também não pode
tratar-se de uma escolha “preconceituosa” caso atente-se ao plausível objetivo
de conquistar a solidariedade dos leitores pela personagem escravizada,
mostrando a falência moral da cultura escravocrata. Assim, pode-se inferir que
a aparência alva e os bons modos de Isaura aparentemente serviram para
facilitar a piedade pela condição do povo escravizado. Através das desventuras
de Isaura, o autor possivelmente tentou mostrar o vazio da distinção advinda da
proveniência familiar, da condição financeira ou do status social. Com a história
de amor e superação da figura de uma escravizada branca e virtuosa, escolha
aparentemente contraditória, o escritor conseguiu ressaltar, de certa forma, a
discussão em torno das questões libertárias no século XIX.
Através da educação à moda europeia da protagonista, Guimarães
também registra que os escravizados de tez mais clara eram os escolhidos por
seus senhores a adentrarem os espaços privados da casa grande, sofrendo um
apagamento gradual de suas origens raciais em um gesto de “bondade”
daqueles que detinham direito sobre os seus corpos.
Dependente de uma ainda pequena massa letrada, Bernardo Guimarães
parece ter tomado cuidado em não provocar os leitores mais tradicionalistas,
pincelando discretamente suas pretensões e ideias antiescravistas através das
falas de alguns personagens, como o do herói Álvaro, no capítulo XV:

[...] É já um escárnio dar-se o nome de direito a uma instituição


bárbara, contra a qual protestam altamente a civilização, a moral
e a religião. Porém, tolerar a sociedade que um senhor tirano e
brutal, levado por motivos infames e vergonhosos, tenha o direito
de torturar uma frágil e inocente criatura, só porque teve a
desdita de nascer escrava, é o requinte da celeradez e da
abominação.

A indignação do personagem ante o abandono da sociedade às vítimas


dos escravocratas adianta o furor em prol da extinção do regime servil, a ser
concretizado alguns anos depois com a Lei Imperial n.º 3.353, conhecida como
Lei Áurea, sancionada em 13 de maio de 1888. Na época da publicação do
romance, o processo de abolição da escravidão no Brasil já havia dado alguns
paços, começando com a Lei Eusébio de Queirós, de 1850, que proibiu a entrada
de africanos escravizados no país, e tendo fortalecimento com a Lei do Ventre
Livre, de 1871, que concedia a alforria às crianças nascidas de mulheres
escravizadas. Bernardo Guimarães era formado na Faculdade de Direito de São
Paulo, tendo inclusive já atuado como juiz em Goiás, sendo possível acreditar
que ele estava inteirado da evolução legislativa acerca da causa e também das
lacunas que a Justiça ainda teria de preencher, como ressaltado na passagem
proferida pelo personagem Geraldo, amigo de Álvaro: “Uma instituição má
produz uma infinidade de abusos, que só poderão ser extintos cortando-se o mal
pela raiz”.
No entanto, a pintura que o autor realiza do povo negro ainda beira a
caracterização animalesca, com traços grotescos e violentos, quando não
apenas sexuais. Os escravizados da senzala têm seus traços étnicos descritos
em tom pejorativo a fim de ressaltar os atributos físicos da protagonista branca,
como nas palavras do pajem André, no capítulo VII:

- Não, não, Isaura; Deus me livre de te ofender; pelo contrário,


dói-me deveras dentro do coração ver aqui misturada com esta
corja de negras beiçudas e catinguentas uma rapariga como tu,
que só merece pisar em tapetes e deitar em colchões de
damasco. Esse senhor Leôncio tem mesmo um coração de fera.
Por outro lado, Rosa, talvez a personagem secundária de maior destaque
na trama, tem ressaltada a sua sensualidade e a personalidade desregrada,
ligando a cor da pele da mulher negra ao fetiche sexual:

Entre estas últimas distinguia-se uma rapariguinha, a mais


faceira e gentil que se pode imaginar nesse gênero. Esbelta e
flexível de corpo, tinha o rostinho mimoso, lábios um tanto
grossos, mas bem modelados, voluptuosos, úmidos, e
vermelhos como boninas que acabam de desabrochar em
manhã de abril. Os olhos negros não eram muito grandes, mas
tinham uma viveza e travessura encantadoras. Os cabelos
negros e anelados podiam estar bem na cabeça da mais branca
fidalga de além-mar. Ela porém os trazia curtos e mui bem
frisados à maneira dos homens. Isto longe de tirar-lhe a graça,
dava à sua fisionomia zombeteira e espevitada um chispe
original e encantador. Se não fossem os brinquinhos de ouro,
que lhe tremiam nas pequenas e bem molduradas orelhas, e os
túrgidos e ofegantes seios que como dois trêfegos cabritinhos
lhe pulavam por baixo de transparente camisa, tomá-la-íeis por
um rapazote maroto e petulante.

Mesmo possuindo a mesma descendência africana que a personagem


principal, essa figura secundária refletia na aparência altamente sexualizada e
fora dos padrões o que seriam suas falhas de caráter, visto que era invejosa e
malvada, diferente da virtuosa e casta Isaura. Trata-se também de um retrato
estereotipado que ressaltava o que era esperado do feminino na sociedade de
então: o recato, o pudor, a moral religiosa, o bom desempenho no casamento e
nas atividades do lar. A própria liberdade da protagonista, ao final do romance,
acaba sendo cerceada ou tutorada pela imagem de um marido.
Para além das problematizações, o impacto cultural do livro ocasionou
diversas adaptações da história de Isaura para o meio audiovisual. As tentativas
iniciais de transposição são datadas ainda do cinema mudo: a primeira em 1917
e a segunda em 1922. A terceira versão fílmica, datada de 1929, foi dirigida por
Antonio Marques Costa Filho. Maior êxito, porém, teve a versão cinematográfica
já sonorizada de 1949, dirigida por Eurides Ramos (1906-1986), que também
assinava suas produções como Eurípedes Ramos, um dos mais promissores
realizadores da nascente indústria do cinema nacional. O filme contou com a
estrela em ascensão Fada Santoro no papel da protagonista.
Na televisão, a obra de Bernardo Guimarães teve a primeira adaptação
em 1965, na TV Paraná, emissora local da capital Curitiba. Escrita por Paulo de
Avelar e dirigida por Roberto Menghini, tinha no elenco os atores Maria
Aparecida (Isaura), Alceu Honório (Leôncio), Airton Mullher (Álvaro). Todavia, foi
em 1976, com a produção da Rede Globo, que a narrativa se tornou um
fenômeno. Com texto assinado por Gilberto Braga, com direção geral de Herval
Rossano, a novela teve interpretações inesquecíveis de Lucélia Santos, Rubens
de Falco e Edwin Luisi nos papeis principais, sendo reprisada inúmeras vezes
pela emissora e lançada em DVD, constituindo também uma das telenovelas
brasileiras mais exibidas no mundo (alcançando quase oitenta países). A trilha
sonora também se destacava, com canções baseadas na história e nos
personagens em gravações exclusivas de artistas como Dorival Caymmi, Francis
Hime e Elizeth Cardoso.
Outra adaptação de enorme sucesso para a TV foi a realizada em 2004,
pela Rede Record, com texto de Tiago Santiago e Anamaria Nunes. Também
dirigida por Herval Rossano e colaboradores, a nova novela se propôs,
incialmente, a ser mais fiel ao romance-base, afastando-se da versão que a
precedeu. Com Bianca Rinaldi, Leopoldo Pacheco e Théo Becker nos papeis
principais, a produção foi marcada por um retrato mais realista da escravidão,
mas acabou por se afastar, na fase final da trama, do enredo criado por
Guimarães, mas também garantiu diversas reprises e repercussão internacional.
Mais recentemente, em 2016, a mesma emissora exibiu a novela Escrava Mãe,
um prelúdio que reimaginou a história de Juliana, mãe da personagem Isaura.
Dirigida por Ivan Zettel, com texto de Gustavo Reiz, a produção contou com
Gabriela Moreyra e Pedro Carvalho como protagonistas, recebendo boa
recepção da crítica principalmente pelo primor técnico e pela qualidade de
reconstituição histórica.
Todas as adaptações audiovisuais ajudaram a alavancar a popularidade
do livro décadas após o seu lançamento, consolidando-o como um dos mais
representativos do romantismo brasileiro. O romance ainda originou diversas
releituras e paródias, sendo transposto para literatura de cordel, quadrinhos e
montagens para o teatro, além de continuar sendo material de estudo em
pesquisas acadêmicas e obra essencial no ensino de literatura em instituições
de ensino de todo o país.

Curiosidade
Isaura na China
Nenhuma novela até agora obteve tanta audiência quanto A Escrava Isaura, adaptada de livro
de Bernardo Guimarães e uma das primeiras que a Rede Globo de Televisão exportou a vários
países.

No início dos anos 90, numa adaptação de Gilberto Braga, a novela Escrava Isaura foi assistida
na China por aproximadamente 870 milhões de pessoas.

O jornalista Gonçalo Júnior, da Gazeta Mercantil, chegou a esse número multiplicando 290
milhões de residências chinesas com TV por três pessoas de cada família que na época
assistiam o canal estatal.

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