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As pessoas acabam escrevendo cada coisa...

Sabe-se que a primeira competência avaliada na redação do Enem é


bastante ampla: o domínio da norma culta da língua portuguesa. Espera-se
do candidato o pleno manejo do idioma, o conhecimento de suas
características fundamentais e, no mínimo, a compreensão de um
enunciado considerado correto na sua língua mãe. A avaliação, no entanto,
não se limita à ortografia ou à concordância verbal ou nominal; dominar o
padrão culto também significa apresentar um vocabulário adequado e uma
relação lógico-discursiva a textos de natureza argumentativa e analítica.
Não escapam ao examinador atento desvios que não aparecem, à
primeira vista, na superfície do texto. Está-se referindo aqui à influência da
oralidade na escrita, ou seja, ao uso de expressões típicas da fala e
desgastadas pelo uso cotidiano. Na composição do título, foram usadas três
expressões próprias do universo da linguagem falada que por vezes
contaminam a escrita.
A fala diferencia-se da escrita em múltiplos aspectos, mas o que mais
nos interessa é o fato de que a primeira é caracterizada por ser espontânea,
não pensada, pouco coesa, repleta de repetições de palavras, expressões e
lacunas, enquanto a segunda geralmente é marcada por sentenças bem
estruturadas e sistematizadas por um nexo sintático-semântico. Quando se
propõe ao estudante dominar a norma culta ou padrão, espera-se dele, na
verdade, o pleno domínio do padrão escrito, ou seja, que ele seja capaz de
redigir se abstendo da dimensão oral, pensando e repensando no que tem
a dizer.
A primeira contaminação da oralidade, muito presente na redação dos
alunos, é o uso abusivo do termo “pessoas”, geralmente empregado para
generalizar atitudes e posturas da sociedade. Comparemos os dois trechos
a seguir:

As pessoas muitas vezes não têm consciência da importância da reciclagem


para a preservação do meio ambiente.

A importância da reciclagem para a preservação do meio ambiente ainda


se mostra ausente na consciência coletiva.

A sociedade não é um agregado de “pessoas”. Por isso, o uso dessa


expressão com a intenção de indicar práticas sociais coletivas é indevido e
simplório, provocando uma coloquialidade inadequada a um texto que
propõe ser culto.
Do mesmo modo, o abuso da forma verbal “acaba(m) + verbo no
gerúndio” é inadequado às características de um texto argumentativo no
padrão escrito. Trata-se de um vício de linguagem muito comum nas
redações. Vejamos:

As crianças acabam assistindo à televisão o dia inteiro e acabam sendo


expostas a um impulso consumista pelos comerciais.

Crianças expostas diariamente à televisão são alvo da publicidade,


geradora de grande impulso consumista.

Em que pese a repetição, o uso da locução verbal “acabar + gerúndio”


não é bem-vindo por si só. Vale lembrar que sempre há formas bem mais
apropriadas e coesas de se expressar o mesmo conteúdo. Sempre se pode,
portanto, melhorar nossas frases.

Outra inconformidade nas redações é o emprego de palavras genéricas,


como “coisa”. Os corretores já sabem: esse é sempre um indício
significativo de que o redator apresenta um vocabulário um tanto
empobrecido, de que ele não sabe preencher seus textos com palavras ou
expressões significativas, desconhece palavras hiperônimas e hipônimas,
em suma, o campo semântico dos vocábulos que quer usar.

São muitas as coisas que os pais deixam de fazer para orientar os filhos em
nossa sociedade consumista.

São muitas as atitudes que os pais deixam de tomar para orientar os filhos
em nossa sociedade consumista.

Não há dúvida sobre o ganho de sentido e, portanto, de qualidade na


segunda sentença em relação à primeira. Não se trata de defender um
vocabulário “bonito”, mas, sim, de sempre adicionar significado e uma
melhor expressão ao que escrevemos.

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