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02/08/2017 Com que idade nos tornamos velhos?

– Le Monde Diplomatique

DOSSIÊ ENVELHECIMENTO

COM QUE IDADE NOS


TORNAMOS VELHOS?
Enquanto o governo de François Hollande se prepara
para endurecer ainda mais o regime de aposentadorias,
os comentaristas colocam em cena mais uma vez a
guerra de idades: os velhos viveriam tranquilamente à
custa dos jovens. Esse clichê não é o único quando se
fala daqueles com mais de 60 anos…
3 de junho de 2013 Por: Jérôme Pellissier

Não é coincidência que os três discursos dominantes sobre os


idosos sejam de ordem demográfica, médica e econômica: em
vez de pensar a velhice, nos concentramos no número, nos
corpos e no custo. A própria dificuldade de nomear essas
pessoas reflete o mal-estar: o termo “velho”, por oposição a
“jovem”, sendo quase um insulto, tornou-se tabu. Seguindo as
modas, falamos, portanto, em “pessoas de idade”, “seniores” ou
“idosos”.

O medo do envelhecimento e a obsessão economista levam a


distorcer a realidade: aumentamos sempre o número daqueles
que odiamos. Assim, ignorando dados, Valérie Pécresse, então
ministra do Ensino Superior da França, destacava o “flagelo do
envelhecimento” (“Ripostes” [Respostas], France 5, 24 abr.
2008). E a atual vice-ministra para os Idosos e a Autonomia,
Michèle Delaunay, entoa: a França tem “muito mais idosos do
que menores de idade”,1 diz, enquanto o Le Mondeassegura:
“Os velhos estão se tornando maioria” (21 fev. 2013). Alguns
anos atrás, o demógrafo Jacques Dupâquier declarava: “Em

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2050, [a França] parecerá muito mais um asilo que um clube


de ginástica” (discurso na Académie des Sciences Morales et
Politiques, 8 jan. 2007). Pressupondo que apenas os jovens
pratiquem esportes…

No entanto, atualmente, a França tem mais menores de idade


(cerca de 14 milhões) do que aqueles com mais de 65 anos
(cerca de 11 milhões). E há três vezes mais jovens (30% da
população têm menos de 25 anos) que velhos (9% têm mais de
75 anos).2 Num futuro previsível, aqueles com mais de 60 ou 65
anos nunca serão maioria! Em 2060, isto é, quando, como
resultado do baby boom, eles forem temporariamente mais
numerosos, a população se dividirá globalmente em três terços,
com a mesma proporção: aqueles com menos de 30 anos,
aqueles com 30-60 anos e aqueles com mais de 60
anos.3Portanto, não é com um asilo nem com uma creche que a
França de amanhã se parecerá, mas com um país no qual todas
as idades estarão igualmente representadas.

De fato, permanece enraizada nas mentalidades uma visão falsa


e idealizada de um país jovem: a França do século XX, marcada
por um contexto geopolítico muito particular, quando os jovens
franceses, vistos principalmente como trabalhadores e
soldados, deviam a todo custo superar em número os jovens
alemães. “O terrível fracasso de 1940, bem mais moral que
material, deve ser relacionado em parte a essa temida esclerose
[uma população que envelhece]”, escreveram Alfred Sauvy e
Robert Debré.4

Não se pode esquecer também que um país (a França de então,


assim como algumas nações africanas contemporâneas) é
jovem quando muitas crianças morrem antes de se tornar
adultas e quando os adultos morrem cedo, a maior parte antes
de chegar à velhice. Hoje, vivemos em geral com mais saúde e
por mais tempo. Consequência: a idade da velhice chega mais
tarde. Durante vários séculos, a faixa de 60-65 anos era
considerada uma espécie de “idade de entrada na
velhice”.5Agora, como demonstraram em especial os trabalhos
de Patrice Bourdelais, é preciso chegar a 75-80 anos6 para se

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parecer, em termos de saúde, de expectativa de vida, de


atividades etc., com os sexagenários dos anos 1950.

Além disso, existem variações significativas entre os indivíduos:


as pessoas não se tornam de repente velhas com a mesma
idade, assim como não se tornam adultas. A velhice também
varia segundo categorias socioprofissionais: se a expectativa de
vida ao nascer é a mesma para todos, aos 35 anos, ela é de mais
41 anos para um trabalhador braçal contra mais 47 anos para
um funcionário de escritório.7 Se, em geral, não somos mais
como aqueles velhos cantados por Jacques Brel, “estragados
aos 15 anos”, alguns continuam a sofrer envelhecimento
precoce; quase 30% dos homens morrem antes dos 65 anos. O
trabalho conserva… aqueles que ele não matou.

A questão da velhice não passa de uma ideia fixa de demógrafos


e gerontólogos. Ela muda o olhar de cada um e do conjunto da
sociedade. No século XVI, Montaigne evocava a velhice aos 30
anos de idade; no século XVII, falava-se em 40 anos; em 1950,
em mais de 60 anos (o que representava 16% da população);
em 2000, em mais de 65 anos (16%) e, em 2060, em mais de 75
anos (16%). Vemos que o envelhecimento demográfico, isto é, a
proporção de pessoas idosas na população, não se parece em
nada com um tsunami! O que confirma a evolução da idade
mediana,8 que passaria de 40 anos atualmente para 45 em
2060.

É uma revolução demográfica: a do forte aumento no número de pessoas com mais de 60 anos.

Mas isso não significa que a quantidade de velhos aumenta consideravelmente ou que a velhice

.dura mais tempo que outrora

Até o século XIX, não só a maioria das pessoas morria jovem,


mas também morria rapidamente: havia muito poucas doenças
crônicas, incapacitantes. Agora, elas são muitas: câncer,
diabetes, doenças neurológicas – incluindo o mal de Alzheimer.
Muitas vezes, pode-se viver muito tempo com uma delas. Além
disso, algumas, relacionadas ao meio ambiente, às condições de
trabalho e aos estilos de vida, aparecem tardiamente e só se
manifestam após várias décadas.

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O número de pessoas de todas as idades que vivem com


doenças crônicas e incapacitantes, em situação de invalidez e
em perda de autonomia aumentou e vai continuar a crescer nas
próximas décadas. De 65 milhões de pessoas na França, cerca
de 7 milhões sofrem de uma afecção de longa duração (ALD);
ão1,3 milhão estenfrentando perda de autonomia e recebem
benefícios (2,4 milhões previstos em 2060). Portanto, é
essencial refletir sobre a maneira como a sociedade deve cuidar
deles e acompanhá-los, independentemente da idade. Porque,
ao contrário da crença popular, essas situações não preocupam
apenas os velhos, e nem todos os velhos são “dependentes”.

E nem todos os velhos estão doentes, mas, como as pessoas


ficam doentes cada vez mais tarde, é comum associar velhice
com doença. Na França do século XVIII, por exemplo, quando
as crianças morriam mais que aqueles de outras faixas etárias
(uma em cada duas morria antes de 5 anos) e onde havia muito
poucos “velhos”, estes últimos eram considerados, portanto,
excepcionais: haviam sobrevivido às doenças, escapado da
morte. Agora, a maioria dos falecimentos acontece em idades
mais avançadas, o que agrava a confusão entre velhice e morte.

Outro fenômeno causado pelo aumento da expectativa de vida


livre de incapacidade: o intervalo entre o fim da atividade
profissional e o início da velhice está se ampliando. A perda de
autonomia geralmente só surge, quando ocorre, no final da
vida. As pessoas que morrem com 85 ou 90 anos não vivem “na
velhice” desde os 60 anos; pelo menos, não na velhice biológica.
Mas e a velhice social? Para Michèle Delaunay, não há
nenhuma dúvida: “É tempo para minha geração avaliar que a
velhice vai durar 30 anos ou mais” (entrevista ao Le Monde).
Essa confusão seria mantida para justificar certas políticas?

Como diz Pierre Bourdieu, a idade é um “fato biológico


socialmente manipulado e manipulável”.9 Isso é flagrante para
o limite de 60 anos. Quando se trata de convencer de que é
preciso protelar a idade da aposentadoria, esquecemos os
trabalhos duros e insistimos no fato de que a pessoa “ainda é
jovem” nessa idade. Quando, em contrapartida, buscamos

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excluir de determinados dispositivos de auxílio as pessoas em


situação de deficiência e perda de autonomia, estas se tornam
“idosas” aos 60 anos, e sua deficiência é oficialmente
transformada em “dependência”. Os sexagenários serão,
portanto, jovens ou velhos, dependendo do que queiramos
fazer: ativos rentáveis ou deficientes menos onerosos.

Para Bourdieu, “o fato de falar dos jovens como uma unidade


social, um grupo constituído, dotado de interesses comuns, e
relacionar esses interesses a uma idade definida biologicamente
constitui uma manipulação evidente”. A manipulação se aplica
também a esses milhões de pessoas colocadas na categoria
difusa de “idosos”. Estamos falando de pessoas com mais de 60
anos? Mais de 80 anos? Ativos, aposentados? De crianças de 70
anos ou de seus pais de 95? Na vida real, há mais pontos em
comum entre dois advogados parisienses de 25 e 70 anos que
entre um advogado parisiense e um agricultor da mesma idade.

As pesquisas também não mais acrescentam. Por um lado, em


alguns temas, os “mais de” simplesmente não são levados em
conta: esse é o caso em vários estudos importantes realizados
nos últimos tempos. Apenas os adultos com menos de 60 anos
são entrevistados em uma parte da pesquisa “Qualidade de vida
e segurança” do Institut National de la Statistique et des Études
Économiques (Insee, 2006-2007); de menos de 70 anos no
estudo “Contexto da sexualidade na França”, realizado pelo
Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale e pelo
Institut National des Études Démographiques (Inserm e Ined,
2007).

Por outro lado, as faixas etárias se ampliam à medida que a


idade aumenta. Assim, os “mais de…” são agrupados em uma
categoria tão ampla que perde todo o significado. Muitas vezes
se passa dos 18-24 anos (seis anos de diferença) e dos 40-49
anos (nove anos)… aos “mais de 60 ou 65 anos”, que podem ter
mais de trinta anos de diferença e pertencer a diversas
gerações. Uma vez alcançada essa falsa unidade, pode-se
facilmente generalizar o conjunto de todas essas pessoas em
termos de características, estilo de vida etc., próprios apenas de

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algumas delas. Essa forma de preconceito de idade usa um


processo que se encontra também no racismo ou no sexismo:
“os estrangeiros”, “as mulheres”, “as pessoas idosas”…
Categorizações que veiculam ideias preconcebidas.

Na política, a ladainha é bem conhecida: os velhos são


imobilistas, reacionários. Os comentaristas recorreram a esse
efeito de unidade na eleição presidencial francesa de 2012. Eles
enfatizaram os 41% de pessoas com mais de 65 anos que
haviam votado em Nicolas Sarkozy (União por um Movimento
Popular, UMP) para minorar os 30% deles que haviam
escolhido François Hollande (Partido Socialista); e mais ainda
o fato de que essa “faixa etária” é aquela que menos votou na
extrema direita.

Dá-se uma confusão entre o efeito de idade, que seria ligado a


determinada característica – os velhos votam na direita porque
são velhos – e o efeito de geração: os eleitores que votaram
normalmente na direita continuam a votar na direita ao
envelhecer, e os eleitores de esquerda continuam a votar na
esquerda. Assim, aqueles que têm cerca de 60 anos e, portanto,
tinham 20 anos na década de 1970 votaram mais para Hollande
ou para Jean-Luc Mélenchon (Frente de Esquerda) no primeiro
turno que os eleitores com idade entre 25-34 anos ou aqueles
com idade entre 35-49 anos. Os trabalhos sérios tendem a
mostrar que os efeitos de geração e os aspectos
socioeconômicos desempenham um papel importante, ao passo
que os efeitos da idade são fantasiados.10

Isso não impede alguns ensaístas de alimentar esses


estereótipos e tirar conclusões deles. Assim, Yves Michaud,
diretor da Université de Tous les Savoirs [Universidade de
Todos os Saberes], considera que é necessário “colocar a
questão de um fim da vida cidadã. Acho que mais cedo ou mais
átarde será preciso imaginar que huma idade de aposentadoria
do cidadão. Eu poderia ver as pessoas votando, por exemplo,
entre 16 e 80 anos. E então, aos 80 anos, seria hora de
parar”.11Esse fantasma de dissolução da democracia se expressa
de maneira ainda mais radical em Martin Hirsch: “É preciso

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refazer o sufrágio censitário e dar duas vozes aos jovens quando


os velhos só têm uma. É preciso dar tantos votos quanto os
anos de expectativa de vida que se tem. […] Alguém que tem
quarenta anos diante de si deveria ter quarenta votos, enquanto
quem não tem mais que cinco anos pela frente não deveria ter
mais que cinco votos”.12

Encontramos essa falsa unidade dos idosos no campo dos


recursos e dos estilos de vida. Em geral retratados como ricos e
privilegiados, os aposentados se veem acusados pela pobreza
dos jovens. Todos são associados aos mais ricos e urbanos entre
eles: os dos comerciais de carros e relógios de luxo. Ora, a
média dos aposentados ganha em torno de 1.200 euros por
mês, e as mulheres, menos de 900 euros.

É verdade que a pobreza vem diminuindo de forma constante desde os anos 1960. Em 1970, a

taxa de pobreza dos que têm mais de 65 anos era de 35% (17% para o conjunto da população),

ao mesmo tempo que se situa atualmente em torno de 10% (14% para o conjunto da

população). Os que têm mais de 60 anos são menos afetados que aqueles com menos de 30

anos de idade. Mas, novamente, cuidado: os que têm mais de 75 anos são mais afetados pela

.pobreza que todas as faixas etárias entre 30 e 65 anos

13
O discurso sobre os “aposentados abastados” constrói uma
espécie de tela destinada a descrever as divisões sociais em
termos de um simples conflito entre velhos (ricos) e jovens
(pobres).

No entanto, com frequência, jovens e velhos juntos são as


primeiras vítimas dos mesmos fenômenos. No campo do
emprego, por exemplo: sob o pretexto da inexperiência dos
mais jovens e da obsolescência dos mais velhos, podamos os
dois lados de uma “idade de empregabilidade ideal”, que é
reduzida para 25-45 anos. A duração média de inscrição nas
listas de espera por um emprego dobra na faixa de mais de 50
anos em comparação com outros candidatos.14

Isso também é verdade em termos de precariedade. Ainda que


os jovens sejam afetados, as situações de fragilidade ligadas à
velhice retomaram sua curva ascendente após as sucessivas

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reformas previdenciárias. Entre as dificuldades vividas nas


últimas duas décadas pelos que têm mais de 50 anos, o
isolamento, a pobreza e a deficiência acumulam seus efeitos.
Tudo indica que os velhos pobres dos anos 1970 vão ressurgir
na França dos anos 2030-2040.15

Enquanto os poderosos não se preocupam com a idade, outros


concentram a atenção sobre as gerações, a ponto de
negligenciar as questões de poder e de classes sociais. Só
haveria então uma juventude a reclamar e uma velhice a impor
um fardo?

Quando a imagem de Épinal do idoso abastado, boa-vida e


egoísta, responsável pelos males da juventude, mostra-se
decididamente ultrapassada, surge a da “pessoa idosa
dependente”, com seu cortejo de problemas (lentidão, falta de
é tachadaaudácia, inadequação…), que , por sua vez, de ser cara.
Conforme anunciado no primeiro relatório oficial sobre o
assunto na década de 1960, os velhos vão “onerar as condições
de existência da população francesa”.16 Sem abordar as
verdadeiras causas do fracasso de nosso sistema econômico,
alguns designam novos culpados: os inativos (aposentados ou
doentes) que vivem por mais tempo. E todos aqueles que,
passados pela régua das normas contábeis a curto prazo,
custam mais do que aquilo com que contribuem: aposentados,
desempregados, profissionais do cuidado, da cultura, da
educação…

Em termos econômicos, o “problema” foi colocado e as soluções


foram propostas há bastante tempo, como evidenciado por esta
fórmula do ministro das Finanças japonês, em janeiro deste
ano: “O problema [do financiamento da Previdência Social] não
será resolvido enquanto ‘não deixarmos os [velhos doentes]
morrerem mais rápido’”.17 É verdade que, na França, “não
deixam os velhos morrerem”, mas a falta de recursos leva ao
abandono de muitas pessoas bastante idosas, que poderiam ser
tratadas em certos serviços de emergência se alguém tivesse
tomado conta delas a tempo, por exemplo. Ou corretamente,
à falta de ajuda para que vivamcomo em algumas casas de repouso.

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Se os velhos pobres são especialmente


acusados de pesar, os velhos ricos são agora objeto de múltiplas
atenções por parte dos defensores da silver economy[economia
prateada], que sonham com consumidores idosos móveis,
esportistas, adeptos da tecnologia e amantes de “casas
inteligentes”. Surgem então os dispositivos destinados a manter
seu capital-saúde e seu capital intelectual, a “entupi-los” com
seguros-dependência que, quando eles estiverem doentes e/ou
incapazes, permitirão criar postos de trabalho que não podem
ser transferidos para outros países. Empregos muitas vezes
penosos, com salários baixos e uma grave falta de formação,
com frequência ocupados por trabalhadoras de outros países.

Enquanto isso, para os que têm 60 ou 70 anos, para os quais se


afirma, como diz Michèle Delaunay, que a velhice apenas
começou, um problema surge desde agora: a sociedade os
convida para um “envelhecer bom” social e culturalmente
vazio,18 e só imagina para eles uma série de atividades tão
emocionantes quanto a estimulação cognitiva sobre o console
do jogo para prevenir o mal de Alzheimer, o tai chi para evitar
quedas ou a tecnologização das casas para “retardar a
dependência”. Sem esquecer – porque não seria adequado que
eles se mostrassem como “velhos egoístas” – inúmeras missões:
cuidar dos netos, ajudar financeiramente filhos e filhas, cuidar
dos pais idosos, participar das associações locais… Uma grande
parte dos aposentados tem essas atividades de solidariedade,
tanto intrafamiliares como associativas. Mas o perigo é
transformar essas escolhas em obrigações, até mesmo em
condição para que sejam socialmente ajudados ou
considerados.

O princípio da solidariedade nacional não se aplicaria a


cidadãos com mais de 60 anos e, mais particularmente, às
cidadãs? As mulheres idosas são as principais vítimas desse
dispositivo “dependência”. Como na época em que Simone de
Beauvoir condenava a forma como a sociedade as tratava, elas
estão submetidas a um sistema que, combinando sexismo,
preconceito de idade e utilitarismo, considera que há vidas
menos preciosas do que outras. E realiza assim a previsão de
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Hannah Arendt: “Se persistirmos em conceber nosso mundo


em termos utilitários, massas de pessoas serão constantemente
reduzidas a se tornar supérfluas”.19

Box:Matem todos

“Se fôssemos extremamente cínicos, diríamos que chega um


momento em que, do ponto de vista da despesa pública, seria
melhor que morressem aquelas pessoas que querem ficar
ociosas”.

Richard Liscia (editorialista), Le Quotidien du Médécin,Paris,


30 mar. 2005.

“Há um excesso previsível de pessoas idosas em relação à


capacidade de financiamento dos sistemas de proteção social”.

Relatório anual 1987-1988 do Institut Français des Relations


Internationales (Ifri), Paris, 1988.

“Ao constatar que 70% das despesas de saúde ocorrem nos


últimos seis meses de vida, o economista Alain Cotta propõe
“uma espécie de autorregulação organizada pela sociedade [que
criaria] uma função social: a de matar”.

Le Journal du Dimanche, Paris, 7 set. 2003.

“Há um problema do qual nunca se fala: é o efeito do


envelhecimento sobre o aumento nos custos de seguro-saúde e
a forma como ele será financiado. […] Meu pai tem 102 anos.
Foi hospitalizado por quinze dias em serviço de ponta. Saiu. A
coletividade francesa gastou 100 mil euros [Minc
posteriormente dividiu esse número por dez] para curar um
homem de 102 anos. É um grande luxo, extraordinário. Para
proporcionar-lhe alguns meses ou, espero, alguns anos de
vida.”

Alain Minc, France Info, 7 maio 2010.

“Política e psicologicamente, o envelhecimento se traduz no


conservadorismo, no apego aos hábitos, na falta de mobilidade
e na incapacidade de adaptação à evolução do mundo atual.”
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Alfred Sauvy, prefácio. In: Pierre Laroque, Politique de la


vieillesse [Política do envelhecimento] (Relatório da Comissão
de Estudos dos Problemas da Velhice), La Documentation
Française, Paris, 1962.

“Vemos assim emergir um fenômeno que não havia sido


antecipado na evolução e que teria sido preciso evitar a todo
custo: a maioria da sociedade é composta de um grupo que
ultrapassou a idade de reprodução, que preencheu há muito
tempo seu objetivo biológico, cujas falhas não são mais
reparadas e cuja natureza anuncia a partida.”

Frank Schirrmacher, ensaísta alemão, no best-sellerLe r[O


éveil de Mathusalemdespertar de Matusalém], Robert Laffont, Paris,
2006.

Jérôme Pellissier é escritor e doutor em psicogerontologia,


autor, entre outros livros, de Le temps ne fait rien à l’affaire[O
tempo não negocia nada], Éditions de l’Aube, La Tour d’Aigues,
2012, e La guerre des âges [A guerra das idades], Armand
Colin, Paris, 2007.

1 “Les aides publiques seront davantage orientées vers ceux qui


en ont le plus besoin” [As ajudas públicas serão orientadas para
aqueles que mais precisam], Le Monde, 25 fev. 2013.
2 Dados de 2010 do Institut National de la Statistique et des
Études Économiques (Insee); os dados de 2011 e 2012 ainda
são provisórios.
3 Projeções populacionais para o ano de 2060, Insee Première,
n.1320, Paris, out. 2010.
4 Alfred Sauvy e Robert Debré, Des Français pour la France. Le
problème de la population [Franceses para a França. O
problema da população], Gallimard, Paris, 1946.
5 Ver Patrice Bourdelais, L’âge de la vieillesse [A idade da
velhice], Odile Jacob, Paris, 1993.
6 Esses números são estabelecidos com base em vários critérios
(expectativa de vida, saúde…).
7 Insee Première, n.1372, out. 2011.

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8 A idade mediana é a que divide a população em dois grupos


iguais.
9 Pierre Bourdieu, “La ‘jeunesse’ n’est qu’un mot” [A
“juventude” é apenas uma palavra], Questions de sociologie
[Questões de sociologia], Minuit, Paris, 1980.
10 Ler Annick Percheron e René Rémond (orgs.), Âge et
politique [Idade e política], Economica, Paris, 1991.
11 Yves Michaud, “L’esprit public” [O espírito público], France
Culture, 4 jun. 2006.
12 “La jeunesse, tu l’aimes ou tu la quittes” [Juventude, ame-a
ou deixe-a], France Inter, 27 jul. 2010. Cf. “Martin Hirsch, vote
censitaire et espérance de vie” [Martin Hirsch, voto censitário e
expectativa de vida], Observatoire de l’Âgisme, ago. 2010.
Disponível em: .
13 Cf. “Evolution de la pauvreté des personnes âgées et du
minimum vieillesse” [Evolução da pobreza das pessoas idosas e
da idade mínima para a velhice], Retraite et Société, n.56,
Paris, jan. 2009.
14 “Demandeurs d’emploi inscrits et offres collectées par Pôle
emploi en janvier 2013” [Candidatos cadastrados de emprego e
anúncios de emprego recolhidos pelo Pôle emploi em janeiro de
2013], DARES Indicateurs, n.25, Paris, fev. 2013.
15 Cf. “Vieillir dans la pauvreté” [Envelhecer na pobreza],
Problèmes Politiques et Sociaux, n.977, out. 2010.
16 Pierre Laroque, “Rapport de la Commission d’Étude des
Problèmes de la Vieillesse” [Relatório
da Comissão de Estudo dos Problemas da Velhice], 1962.
17 “Let elderly people ‘hurry up and die’, says Japanese
minister” [Deixe as pessoas idosas “se apressar e morrer”, diz
ministro japonês], The Guardian, Londres, 22 jan. 2013.
18 Ler Lucien Sève, “Reconsidérer le ‘bien vieillir’” [Repensar o
“envelhecer bem”], Le Monde Diplomatique, jan. 2010.
19 Hannah Arendt, Le système totalitaire. Les origines du
totalitarisme [O sistema totalitário. Origens do totalitarismo],
v.III, Seuil, Paris, 2005 (1. ed., 1972).

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