1 - Objetivo do artigo: análise comparativa das teorias de classe: da teoria de
classe em Marx, nos marxistas economicistas e em Weber e weberianos; porém
sem se deter muito aqui. 2 - Qual teoria de classes o autor escolhe: ele reabilita a teoria marxista. Em seguida descrevi como a teoria de classes ficou para o Ferraz. 2.1 - os níveis em que essa teoria de classes deve ser operado, que são três: no nível do modo de produção; no nível das formações sociais; no nível do modo de vida. Em seu artigo, Ferraz faz uma discussão sobre as teorias de classe, passando por Marx e Engels e marxistas, por Marx Weber e weberianos. Em sua conclusão, o autor opta por reabilitar a teoria de classe como é formulada, em partes incipientemente, pelos fundadores do materialismo histórico com os acréscimos de autores marxistas posteriores. Os motivos para essa reabilitação da teoria de classes são: o economicismo que essa teoria assume tanto em alguns marxistas como em Weber e weberianos; assim sendo, para os primeiros a classe seria mero reflexo da localização dos indivíduos na organização social da produção, e para os segundos seria o reflexo da situação de mercado, então a esfera da produção, circulação e consumo seria por si capaz de determinar uma classe. Segundo Ferraz, essa simplificação não existe em Marx e Engels. Se num primeiro momento, o lugar na organização social da produção estabelece um primeiro lastro que ancora todo um conjunto de sujeitos em mesma condição, no caso poderiam ser proletário e burgueses ou possuidores e despossuídos – tal primeiro momento não suficiente para formar a classe, não num sentido forte, daí uma primeira dicotomização no conceito de classe; para Ferraz “Classe em Potencial” e “Classe Constituída”, para Karl Marx “Classe-em- si” e “Classe-para-si”. Por um apontamento meramente econômico, só poder-se- ia identificar a classe em potencial. Destarte, Ferraz decide considerar, além da dimensão econômica (infraestrutural), as dimensões ideológica, política e cultural (superestruturais); algo que o própria Marx já ressaltava. Ferraz chama, no processo de constituição das classes, as forças advindas da infraestrutura como “determinações”, e às advindas da superestrutura de “sobrederterminações”. Tais forças reagem umas sobre as outras de maneira complexa, não se reduzindo a um confronto binário, mas múltiplo e com implicações decisivas na forma que as historicamente as classes tomam. Entretanto, o autor destaca que “em última instância” forças a sobressaírem-se são as infraestruturais, visto que em nível que diz respeito à manutenção da própria existência; aqui, a produção da vida material se torna o condicionante irrefutavelmente mais importante, porque qualquer tentativa de negar o “reino das necessidades” pode acabar na própria aniquilação dos indivíduos. Ferraz é contundente neste ponto, pois para ele muitos autores marxistas subestimaram as determinações da dimensão econômica da existência humana, relegando às sobredeterminações da superestrutura uma força que elas na realidade não possuem; estas são importantes, mas há situações onde a produção material da vida real delineia a vida social violentamente. Depois de assim delinear os limites do conceito de classe, Ferraz aponta três níveis onde ele deve ser operado: no nível do “modo de produção”, que seria mais abstrata e onde a teoria poderia funcionar mais soltamente em relação á realidade histórica; no nível da “formação social”, que corresponde à realidade histórico propriamente dita, onde o ideal “modo de produção” assume formas particulares, podendo existir vários modos de produção ao mesmo tempo e com suas variadas relações de trabalho, ainda que um deles sempre seja dominante; e por fim, no nível do “modo de vida”, que corresponde à realidade histórica e as peculiaridades dos indivíduos nas experienciação do seu lugar na organização social da produção. Aqui a experiência, as táticas e estratégias, as particularidades sociais e históricas da localidade em que habitam os indivíduos dão as tonalidades que singularizam a realidade e os próprios indivíduos. São esses elementos que definem as possibilidades de ser desses indivíduos, da classe e da transformação da realidade social. Na parte final de seu artigo, o autor apresenta a análise de uma realidade social, seu objeto de estudo são os operários da indústria automobilística e calçadista; o seu objetivo é saber se esses operários formam uma classe. Os resultados de sua pesquisa e análise revelam que não – eles formam apenas uma “classe em potencial”. Vamos aos por quês: entre as sobredeterminações superestruturais - cultura, ideologia, política -, nestes dois últimos há uma defasagem. Apesar de existir um sindicato, parece haver uma falha em medidas que poderiam ressaltar sentimentos de coletividade e solidariedade de forma ampla. Também são determinantes dessa situação a atual ideologia que reina no mercado de trabalho e cujo Estado tem sido complacente: o neoliberalismo. Esta ideologia tem golpeada direitos trabalhistas que foram conquistados na era fordista, colocando esse novo proletariado em maus lençóis, uma vez que a queda do respaldo jurídico aumenta as dificuldades das ações dos trabalhadores. Ainda mais, o sindicato tem assumido uma nova postura, onde investidas diretas são evitadas, preferindo-se reconciliações através de negociações que deixam a desejar. Por outro lado, vê-se que a classe patronal tem obtido sucesso em suas investidas, sendo um dos elementos desse sucesso o uso de formas de violência. Por fim, as condições sócio-históricas onde se instalaram as fabricas onde esses operários trabalham contribuem para que haja uma subserviência maior dos mesmos. Uma vez que o risco de desemprego é sempre iminente, onde a pobreza assola tempestivamente as suas vidas, muitos deles preferem se submeter a condições de trabalho que no mínimo são desdenhosas. Apesar de tudo isso, Ferraz pôde notar embriões da classe em potencial, fulgores que apontam a possibilidade do vir-a-ser desta classe em uma classe constituída, uma classe-para-si. Isso pode ser observado nas conversas entre os trabalhadores, que se mostram insatisfeitos com suas condições, nos discursos de alguns sindicalistas, na afetividade e valores que alguns trabalhadores cultivam entre si. Ainda que a violência patronal atinge cotidianamente esses operários, ainda que haja vacilações do sindicato, ainda que o Estado seja conivente ímpetos draconianos da ideologia de mercado, Ferraz acredita ser possível o desenvolvente dessa classe operaria que está em forma de crisálida.