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História Mundial

Concurso de Admissão à Carreira de Diplomacia


Prof. Diogo D’Angelo e Prof. Pedro Soares

AULA – O Entre Guerras

Sumário

Apresentação ........................................................................................................... 2
1. Introdução....................................................................................................... 3
2. A queda do liberalismo e o espírito autoritário .............................................. 4

2.1. O advento do totalitarismo ...................................................................... 4


2.2. Abordagem teórico-metodológica do totalitarismo ................................ 5
2.3. O comunismo .......................................................................................... 7
2.4. O nazismo ............................................................................................... 8
2.5. O fascismo .............................................................................................. 9
2.6. O autoritarismo reacionário .................................................................. 11

3. O espectro da revolução sobre a Europa ...................................................... 13

3.1. A Revolução Russa (1917-1923) .......................................................... 13


3.2. A Revolução Alemã (1918-1919) e a República de Weimar ............... 14
3.3. O Biennio Rosso (1919-1920) e a reação anti-socialista ...................... 16
3.4. A Guerra Civil Espanhola (1936-1939) ................................................ 19

4. Uma nova estrela no céu: a ascensão dos Estados Unidos ........................... 21

4.1. Isolacionismo diplomático .................................................................... 21


4.2. Os Roaring Twenties e o Crash de 1929 ............................................... 22
4.3. A Grande Depressão e o New Deal....................................................... 24
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Apresentação

Olá caro aluno!

Neste PDF analisaremos o desenvolvimento da política externa norte-americana em


relação à América Latina desde a criação da Doutrina Monroe em 1823 até o fim do
Corolário Roosevelt e o surgimento da OEA e do Tratado de Interamericano de
Assistência Recíproca em 1947. Por meio deste estudo, esperamos que você, futuro ou
futura diplomata, consiga reconhecer a historicidade do pensamento diplomático dos
Estados Unidos da América, principalmente no que tange suas relações com os
“vizinhos do Sul”.
Portanto, foco nos estudos e “America for the Americans”!
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1. Introdução

A Primeira Guerra Mundial foi um marco sem precedentes na história humana.


Resultado de frágeis equilíbrios, ações desastrosas dentro do continente europeu e
políticas coloniais agressivas na África e na Ásia, o conflito inaugurou a era moderna
dos massacres indiscriminados, sepultando definitivamente a ética bélica que havia se
desenvolvido desde fins da Idade Média. O elevado nível de mortandade de soldados e
civis, o emprego de novas tecnologias ainda em desenvolvimento – como aviões,
dirigíveis, metralhadoras, tanques e submarinos – e o recurso a métodos extravagantes
no campo de batalha, notadamente as armas químicas, marcaram de modo indelével as
nações partícipes. O grau de pioneirismo do conflito também impôs sua marca sobre o
imaginário moral e político do Ocidente, e não seria exagero afirmar que, ainda hoje,
sentimos seus efeitos. Não à toa, a Primeira Guerra Mundial é também chamada de a
Grande Guerra.
Vencedores e vencidos sofreram transformações e foram feridos de maneira
particularmente profunda durante e depois da guerra. França e Reino Unido perderam
mais da metade de seus efetivos militares, entre mortos e inválidos, nos quatro anos do
conflito, e o impacto psicológico dos horrores presenciados na Frente Ocidental –
destacam-se as batalhas de Verdun e Somme – foi tamanho que, em boa parte, pode
explicar a postura de acomodação (e busca pela paz a qualquer custo) que britânicos e
franceses adotaram perante a Alemanha nazista. Os Estados Unidos emergiram
definitivamente como uma grande potência, e sua doutrina política, que defendia uma
espécie de regime democrático tipo exportação, feriu de morte o antigo equilíbrio de
poder exercido no Velho Mundo desde as Guerras Napoleônicas. Os impérios Austro-
Húngaro e Otomano foram pulverizados, e as possessões turcas no Oriente Médio,
divididas entre os vencedores na forma de mandatos internacionais sob supervisão da
Liga das Nações. O Império Russo, cuja decadência se prenunciara na derrota na Guerra
Russo-Japonesa e nas convulsões sociais de 1905, foi transformado desde dentro pela
Revolução Bolchevique de 1917 e teve boa parte de seu território anexado à Alemanha
através do Tratado de Brest-Litovski.
Entretanto, graças ao Tratado de Versalhes, nenhuma nação sofreu maior derrota
nem maior humilhação do que a Alemanha. De acordo com o tratado, quase 15% do
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território alemão anterior à guerra foi distribuído entre Polônia (Alta Silésia), Bélgica
(Eupen-et-Malmédy) e França (Alsácia-Lorena), e todas as suas colônias integraram o
mandato internacional da Liga das Nações. Um plano de desarmamento foi imposto,
com a restrição de tamanho do exército alemão (100 mil homens) e de seus
equipamentos bélicos, além da dissolução de seu estado-maior. A Alemanha também foi
obrigada a pagar pensões às famílias de soldados mortos durante o conflito, bem como
uma multa de US$ 5 bilhões; além disso, recursos da monta de US$ 7 bilhões foram
confiscados, incluindo diversas patentes científicas alemãs. Ao fim e ao cabo, “o tratado
de Versalhes condenou as democracias exauridas à vigilância constante e à necessidade
de uma atenção permanente contra uma Alemanha revisionista e irreconciliável”
(KISSINGER, 1999).
Ao ganho de poder político por parte dos setores sociais mais populares
chamamos de “política de massas”, segundo conceituação tradicional do campo. É à
ascensão da política de massas e às drásticas mudanças ocorridas no pós-Grande Guerra
que Eric Hobsbawm evoca o fim de facto do século XIX e o início do “breve século
XX”, conforme defendeu em vida.

2. A queda do liberalismo e o espírito autoritário

2.1. O advento do totalitarismo

Se a Grande Guerra, no dizer de Henry Kissinger, “começou como uma típica


guerra de gabinetes, com notas sendo repassadas de embaixada em embaixada, e
telegramas distribuídos entre monarcas soberanos”, ela logo se tornou uma luta de
massas. O grau de envolvimento dos povos beligerantes alcançou tal patamar que não
demorou a se converter em um capital político que transformaria o século XX de modo
decisivo.
A formação dessa consciência de massas veio a coincidir com o declínio das
instituições liberais na Europa. O morticínio gerado pela Primeira Guerra, e seus
impactos no seio das nações em conflito, deixou expostas o que seriam as fraquezas da
democracia liberal: sufrágio popular, representação parlamentar e instituições
orquestradas em um governo constitucional não constituíam per se condições
suficientes para garantir paz e prosperidade.
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A combinação desses dois fatores, e o concurso das calamitosas circunstâncias em


que se encontravam as nações mais enfraquecidas pelo conflito – Alemanha, Itália e
Rússia –, geraram, mais do que um sentimento profundo de revolta, a gênese de um
autêntico ódio político. Esse ódio latente – em que se mesclavam o ressentimento pelas
elites, o desencanto com as promessas do liberalismo e a aversão a lideranças políticas
tidas por fracas e covardes –, alimentado pela inépcia dos governantes e pelo sofrimento
a reboque da guerra, foi galvanizado por movimentos de massa que ensejaram o
surgimento de uma novidade política: o totalitarismo.

2.2. Abordagem teórico-metodológica do totalitarismo

Governos autocráticos ou de matiz autoritário nunca foram novidade na história


política do homem. São muitos os exemplos de regimes e governantes opressivos que
abusaram de sua autoridade e submeteram diversos povos a pesados jugos. Para impor-
se, o autocrata ou a oligarquia governante recorria ao uso das armas para sufocar
dissensões e manter o controle. Entretanto, o exercício arbitrário do poder político, por
mais cruel que fosse, limitava-se mais ou menos, a depender do caso, às funções da
atividade de governo.
Alexis de Tocqueville, em sua análise sobre a comunidade política que encontrou
nos Estados Unidos, anteviu o surgimento de uma nova forma de poder autoritário,
baseada na sociedade de massas, que seria algo inteiramente novo:

Creio pois que a espécie de opressão com que os povos democráticos são
ameaçados não se parecerá em nada com a que a precedeu no mundo; nossos
contemporâneos não poderiam encontrar uma imagem dela em suas
lembranças. Procuro em vão em mim mesmo uma expressão que reproduza
exatamente a idéia que formo dela e a encerra; as velhas palavras –
despotismo e tirania – não convêm. A coisa é nova, é preciso pois procurar
defini-la, já que não posso nomeá-la. (TOCQUEVILLE, 2004, p. 389)

O totalitarismo, essa novidade antecipada por Tocqueville, caracteriza-se pela


pretensão de controlar e determinar todas as áreas da vida humana – política, social,
econômica, religiosa e psicológica. O Estado totalitário ergue-se, portanto, como
parâmetro ordenador das consciências, quase como uma divindade imanente que se faz
onisciente, onipresente e onipotente. Para cumprir esses anseios, o Estado totalitário se
vale de todos os recursos que a técnica moderna pode dispor para monitoramento,
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controle e repressão de qualquer ato, público ou privado, que possa representar uma
tentativa, ainda que débil, de contestação e divergência.
Os três principais exemplos de ideologias totalitárias que se transformaram em
regimes políticos concretos – o comunismo, o fascismo e o nazismo – apresentam
algumas características que, a rigor, são fundamentais para se caracterizar um tipo de
governo ou de ideário político como totalitário:

 Posicionamento negativo: não parte inicialmente de premissas positivas, em


termos do que quer fazer ou implementar, mas define-se inicialmente por
aquilo que rejeita; assim, pode-se dizer que é antiliberal, antidemocrático, anti-
conservador, e anti-burguês;
 Apoio das massas: busca abarcar os sentimentos de descontentamento das
massas e, uma vez que consiga galvanizá-los, explorar essa poderosa força
política para firmar sua sustentação;
 Ódio político: transforma determinadas categorias de pessoas – separadas por
critérios de nacionalidade, raça ou classe – em inimigos naturais do projeto
revolucionário, adversários que se deve perseguir e exterminar de maneira
implacável;
 Mística imanente: emula o discurso religioso cristão, que busca substituir (ou
eliminar), e adapta elementos de fé ao credo ideológico – o líder carismático
faz as vezes de messias que lidera o povo escolhido em meio a um mundo de
trevas rumo à consumação de seu destino glorioso;
 Estado total: cria sofisticadas estruturas estatais de planificação e controle
que são colocadas a serviço do domínio de todos os aspectos da vida política,
social, econômica, intelectual e espiritual da nação – o que inclui sistemas
implacáveis de vigilância, como polícias secretas, e eliminação de ameaças;
 Controle íntimo: institui o monopólio estatal da cultura, do ensino, e dos
meios de comunicação de massa, e desenvolvem uma poderosa máquina de
propaganda oficial que tem por objetivo garantir o assentimento cego das
gerações presentes e a doutrinação das gerações futuras.

Apesar de a classificação clássica elencar comunismo, fascismo e nazismo no rol


de ideologias políticas totalitárias, é objeto de controvérsia a aplicação do rótulo de
totalitário ao Estado fascista italiano. Isso será melhor explorado a seguir.
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2.3. O comunismo

Antes de explorarmos o tema, importa estabelecer a diferença entre o comunismo


teórico e o comunismo real. Na doutrina de Marx, o comunismo é a última etapa na
evolução da sociedade socialista. Com a instauração de uma ditadura do proletariado
(fase socialista), o Estado trabalha para a supressão da propriedade privada dos meios de
produção e eliminação das diferenças entre as classes, redundando na abolição destas.
Como, de acordo com Marx, o Estado é um instrumento de dominação de uma classe
sobre outra, a própria eliminação de classes gera a extinção do Estado. É a esse estágio
final que Marx chamou comunismo.
O comunismo real, todavia, é aquele que se verificou na concretude da história do
homem a partir da Revolução Russa. Através da leitura de Marx feita por Vladimir
Lênin, foram feitas adequações dos postulados marxistas à realidade russa. Essa
modificação – e, em diversos aspectos, radicalização – do ideário marxista é o que se
chama bolchevismo, ou, mais propriamente, marxismo-leninismo.
Marx defendeu que uma revolução socialista só era possível em países que
tivessem atingido um estágio de capitalismo avançado. De acordo com o filósofo
prussiano, somente em tais sociedades se encontravam todas as condições necessárias à
tomada do poder pelos proletários e a implantação de sua ditadura. Influenciado pelo
pensamento marxista de maneira profunda, Lênin ousou discordar do mestre com
relação às condições para a implantação de um Estado socialista. Para ele, a Rússia,
ainda que fosse uma sociedade semi-feudal fundamentalmente agrária, reunia na prática
as condições necessárias para agitar as massas, derrubar o antigo regime e instaurar a
ditadura do proletariado.
Um dos principais alicerces da teoria e da práxis bolcheviques foi a aliança da
cidade com o campo. Em virtude da imensa quantidade de camponeses, o papel da
massa rural era primordial para o sucesso da revolução. Junto a camponeses e
proletários, os membros de hierarquia inferior das forças armadas, especialmente praças
(soldados, cabos e sargentos), também eram elencados como forças revolucionárias que
precisavam de formação e engajamento. Como fator mobilizador, tiveram papel crucial
as universidades, que se converteram, já no final do século XIX, em centros de
irradiação do socialismo na Rússia. Nesse sentido, os intelectuais tinham papel central
na formação de quadros revolucionários e na organização de ações de agitação e
propaganda.
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As principais características do Estado comunista, tal qual foi observado na


Rússia soviética, são: propriedade estatal dos meios de produção; sistema econômico
planificado, sendo o Estado o agente real de ação econômica; instituição de um regime
de partido único; implantação do ateísmo de Estado, em que toda forma de
religiosidade, considerada elemento contra-revolucionário, era perseguida e reprimida;
extermínio sistemático de membros das “classes contra-revolucionárias”: kulaks
(fazendeiros que empregavam mão-de-obra assalariada em suas terras), aristocratas,
burgueses, dentre outros; organização política das massas através de sovietes, comitês
de representação de classe encarregados da gestão sócio-econômica de cidades e
unidades produtivas, fossem rurais ou urbanas.

2.4. O nazismo

A literatura sobre Hitler e nacional-socialismo (ou nazismo) é imensa, mas


continua a crescer rapidamente. De todos os movimentos nacionalistas autoritários na
Europa durante o período de entreguerras, apenas o nazismo de Hitler alcançou grande
poder e dinamismo para se tornar, por si só, uma força potencialmente histórica do
mundo.
O nazismo originalmente pugnava um coletivismo parcial ou um socialismo
estatal limitado que sustentaria uma economia mista, parcialmente estatal ou coletiva,
mas principalmente sob propriedade privada. O Partido Nacional-Socialista dos
Trabalhadores Alemães (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei, NSDAP)
começou como um novo movimento na Alemanha após 1919, apesar do seu precursor
ideológico, e foi conduzido em sua maior parte por indivíduos sem uma forte identidade
política anterior. Não envolveu uma espécie de “heresia marxista” ou nacionalização de
setores da esquerda revolucionária, a exemplo do que aconteceu com o fascismo
italiano.
Em alguns aspectos, tanto o nazismo quanto o fascismo logo adquiriram um estilo
semelhante, desenvolvendo processos litúrgicos bastante elaborados semelhantes a
muitos movimentos revolucionários e, de uma maneira geral, participaram da revolta
contra o racionalismo, o positivismo, o liberalismo, o antigo conservadorismo, o
marxismo e o internacionalismo. Como quase todos os movimentos revolucionários,
puseram ênfase positiva no uso da violência, e ambos contaram sobejamente com
veteranos da Grande Guerra nas primeiras fases do recrutamento. Os nazistas
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provavelmente nunca conseguiram uma ideologia totalmente arredondada e


desenvolvida, mas, em meados da década de 1920, antes do crescimento do nazismo
como movimento de massa, Hitler havia desenvolvido uma firme visão de mundo cujas
implicações gerais influenciaram tenazmente política e governo até o fim. Inspirado nas
noções românticas do nacionalismo Völkisch (racial-ambiental), misturado com o
darwinismo social pseudocientífico, rejeitou totalmente certos aspectos da cultura
moderna (embora dependesse fortemente de outras características-chave da
modernidade).
Um dos aspectos mais patentes do nazismo foi o anti-semitismo. Mesmo antes de
Adolf Hitler ingressar no movimento nazista, a doutrina do nacional-socialismo era
marcadamente anti-judaica. Os judeus eram vistos e tidos por criaturas subumanas, de
caráter conspiratório e maquinador, que estavam por trás das enormes humilhações
padecidas pela Alemanha após a Primeira Guerra. Além disso, a “ameaça judaica” era a
principal ameaça que punha em risco o legado étnico-racial do povo ariano. Através do
empobrecimento da raça e do controle que exerciam sobre as finanças e a cultura,
diziam os nazistas, o povo judeu apequenava a Alemanha e poderia chegar a destruir
completamente a nação germânica.
Apesar de certa corrente historiográfica classificar o nazismo como uma ideologia
política de extrema-direita, o nacional-socialismo era profundamente marcado por um
caráter anti-burguês, anti-conservador e anti-religioso. As reais tradições alemãs eram
atacadas em nome das verdadeiras tradições germânicas, que eram encontradas em uma
mistura de nacionalismo, imperialismo e paganismo.

2.5. O fascismo

De todos os termos políticos contemporâneos, “fascismo” é provavelmente o mais


vago. Isso acontece porque a própria palavra não possui referência política implícita,
por mais vaga que seja, ao contrário de liberalismo, socialismo e comunismo. Algumas
das definições informais mais comuns do termo parecem ser “violento”, “brutal” e
“ditatorial”, mas se esses fossem os principais pontos de referência, os regimes
comunistas provavelmente teriam que ser categorizados como os mais fascistas.
Definição era algo do que os fascistas italianos originais fugiam uma vez que
desenvolveram um conjunto codificado de doutrinas apenas ex post facto, alguns anos
depois de Mussolini ter chegado ao poder, e só de modo parcial.
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O fascismo foi criado pela nacionalização de certos setores da esquerda


revolucionária, e o papel central em sua orientação conceitual foi desempenhado por
sindicalistas revolucionários que abraçaram o nacionalismo extremo. Os sindicalistas
revolucionários, especialmente na Itália, eram freqüentemente intelectuais ou teóricos
que saíam da matriz marxista e do partido socialista, mas tinham lutado para transcender
as limitações ou os erros que achavam ter encontrado no marxismo ortodoxo. Adotavam
a ação direta e uma doutrina qualificada da violência, mas tentaram ultrapassar os
limites do proletariado urbano para mobilizar mais amplamente os camponeses e outros
setores de pequenos produtores.
Muito embora seja correto dizer que o próprio Mussolini não possuía uma
ideologia política totalmente desenvolvida e sistemática no período entre seu abandono
do marxismo e a codificação formal da doutrina fascista (final da década de 1920), ele
operou durante a parte principal de sua carreira com base em certas idéias formadas
durante a década de 1905-15. Essas idéias tinham a ver com o conceito de liderança
exercida necessariamente por uma elite, a substituição da influência de idéias, emoções,
e do subconsciente por um materialismo mecanicista ou racionalismo puro, além da
importância em mobilizar contingentes mais amplos (abordadas ao menos em parte pela
psicologia das massas), em vez de adotar uma orientação estritamente classista.
Os futuristas, liderados por Filippo Tommaso Marinetti, foram a terceira
influência ideológica na fundação do fascismo. Eles foram tão “à esquerda” quanto os
sindicalistas ou Mussolini em sua rejeição de velhas normas e instituições existentes, e
os ultrapassou em sua exaltação praticamente niilista da violência (“guerra a única
higiene das nações”, etc.) Os futuristas eram fascinados por velocidade, potência,
motores, máquinas e todas as possibilidades da tecnologia moderna, como indicam
muitas de suas pinturas. Além das invocações freqüentemente juvenis da destruição de
tudo o que era antigo e da apoteose de tudo o que era novo, os futuristas também
afirmavam defender processos amplos de transformação social que trariam libertação
democrática e emancipação para todas as classes mais baixas.
O Estado fascista italiano, uma vez instalado após a Marcha sobre Roma, não
pode ser tomado como um contínuo coeso, mas em um período dividido em fases bem
distintas entre si. Durante a primeira fase, desde a tomada do poder até o início de 1925,
o regime era uma continuação substancialmente constitucional de um governo de
coalizão. A segunda fase foi a construção da ditadura, que ocorreu entre 1925 e 1929.
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Seguiram-se três anos de relativo não-ativismo e consenso, de 1929 a 1932. Depois,


adveio um período de política externa ativa e consenso contínuo em casa (1933-36),
sucedido pelos anos de autarquia e semi-nazificação (1936-40) que desembocaram na
Segunda Guerra (1940-43) e, finalmente, no regime fantoche da Salò (1943-45).
Apesar de suas pretensões totalitárias, o regime fascista não ultrapassou o nível de
uma ditadura unipartidária. A esse respeito, opina Arendt:

Uma prova da natureza não totalitária da ditadura fascista é o número


surpreendentemente pequeno de criminosos políticos, e as sentenças
relativamente suaves que lhes eram aplicadas. Durante os anos de 1926 a
1932, em que foram particularmente ativos, os tribunais especiais para
julgamento dos criminosos políticos pronunciaram sete sentenças de morte,
257 sentenças de dez ou mais anos de prisão, 1.360 de menos de dez anos, e
muitos outros mais foram exilados; 12 mil pessoas foram presas e julgadas
inocentes, o que seria inconcebível nas condições do terror nazista ou
bolchevista. (ARENDT, 2012, p. 615)

2.6. O autoritarismo reacionário

A progressiva popularização do termo “fascista” para se designar qualquer regime


ou indivíduo que apresente características autoritárias – e que hoje, a bem da verdade,
serve apenas para designar qualquer pessoa ou regime de que não se goste – acabou por
cristalizar, em certa produção historiográfica, o rótulo de fascismo sobre os mais
diversos regimes autoritários que a Europa viu surgir a partir dos anos 1920. Essa
classificação, entretanto, está equivocada em diversos sentidos, e merece aqui um
desmentido.
A queda do liberalismo por todo o continente europeu deu lugar ao surgimento
das ideologias políticas totalitárias, que, como dissemos, buscavam a aglutinação do
complexo humano em uma massa amorfa e desindividualizada sob total controle do
Estado. Entretanto, outras ideologias e movimentos políticos de caráter autoritário, e
que foram equivocadamente classificados como totalitários (ou fascistas, em concreto),
surgiram no mesmo período em diversas nações do Velho Mundo. Esses movimentos
eram caracterizados por sua postura antiliberal, antidemocrática, anticomunista e
reacionária, buscando a retomada, em maior ou menor grau, das glórias de um passado
idílico e romantizado.
Muitos desses movimentos adotaram a estética política típica do fascismo e, em
alguns casos, chegaram a se aliar circunstancialmente à Itália fascista e à Alemanha
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nazista. Entretanto, é preciso esclarecer duas coisas: primeiro, que as alianças formadas
objetivavam o enfrentamento de um inimigo comum, a União Soviética e seu
comunismo revolucionário; segundo, seus valores basilares diferiam muito daqueles que
animavam o nazismo e o fascismo, o que impede que sejam objetivamente classificados
como tais. Podemos citar dois casos como exemplo.
Em Portugal, o Estado Novo português – inaugurado a partir da Constituição de
1933 e comandado pelo Presidente do Conselho de Ministros, Dr. António de Oliveira
Salazar – foi um regime político em que se mesclavam corporativismo, doutrina social
da Igreja, Integralismo Lusitano (ideologia que advogava o retorno ao regime
monárquico orgânico experimentado nos primeiros séculos da história portuguesa) e as
idéias do pensador francês Charles Maurras, fundador da Action Française. O
salazarismo combateu tanto o liberalismo quanto o comunismo, apoiou oficialmente a
Igreja Católica, facilitou o trânsito de refugiados judeus para outras nações e se manteve
neutro durante a Segunda Guerra Mundial, apesar da grande pressão exercida tanto por
Aliados quanto pelo Eixo. Um aspecto fundamental da ideologia salazarista foi seu
profundo nacionalismo: Portugal possuía uma missão civilizadora única que se
manifestara em diversos momentos de sua história e que definia, em última instância, a
razão de ser do povo português.
Por sua vez, a Espanha, sacudida por diversos golpes militares e por uma guerra
civil que é considerada por muitos como o balão de ensaio da Segunda Guerra, viu a
formação de uma ideologia que buscou ser uma síntese entre o nacional-sindicalismo,
de caráter corporativista, e o carlismo, profundamente monárquico. O franquismo – o
nome se deve ao general Francisco Franco, que governou a Espanha de 1939 a 1975 –
buscava um resgate da glória imperial espanhola, perdida desde a invasão das tropas
napoleônicas, e lutava por expurgar todas as influências que pudessem macular a
restauração do que se via como verdadeiro espírito hispânico. Apesar de Franco ter
recebido apoio de Itália e Alemanha durante a guerra civil – e de, nos anos 1940, ter se
formado a Divisão Azul, uma larga divisão militar de voluntários que lutou ao lado da
Alemanha nazista no front russo –, a Espanha, assim como sua contraparte ibérica,
conseguiu se manter neutra durante a Segunda Guerra.
Outros fenômenos semelhantes, de menor escala ou menos longevos, puderam ser
observados em diversos países da Europa: na Romênia, a Guarda de Ferro (nome vulgar
da Legião de São Miguel), fundada nos anos 1930 por Corneliu Zelea Codreanu; na
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Áustria, a ditadura nacionalista de Engelbert Dollfuss, que foi assassinado por agentes
do governo nazista alemão em 1934; na Bélgia, o proto-fascismo do Partido Rexista,
fundado pelo jornalista católico Léon Degrelle.

3. O espectro da revolução sobre a Europa

3.1. A Revolução Russa (1917-1923)

O ano de 1917 foi marcado pelo avanço do primeiro grande evento revolucionário
de um século que seria marcado pelo despontar de inúmeros movimentos
revolucionários, globais ou localizados, à esquerda e à direita. De certo modo, pode-se
compreendê-lo como um paradigma do ímpeto revolucionário do século XX. Entre
fevereiro e novembro daquele ano, no distante e isolado Império Russo, múltiplos
grupos sociais e políticos, reunidos em uma consoante composição contrária ao status
quo czarista, protagonizariam a Revolução russa. No entanto, para compreender o
fenômeno, é necessário retomar o prelúdio da débâcle do czarismo russo: a Revolução
de 1905.
No final do século XIX e início do século XX, a Rússia enfrentava uma situação
interna bastante conturbada. Grupos políticos contrários ao regime, moderados e
radicais, organizavam as massas em sindicatos, assembléias e movimentos na cidade e
no campo com o fito de transformar o regime vigente – fosse pela via reformista, fosse
pela via revolucionária. A Coroa mantinha a ordem de maneira precária e
freqüentemente recorria a dura repressão policial na tentativa de sufocar os movimentos.
Em 1904, controvérsias entre os impérios russo e japonês sobre a região da
Manchúria explodiram na chamada Guerra Russo-Japonesa. O clima interno na Rússia
era de acirramento político e intensa repressão, cujo ápice foi o massacre do Domingo
Sangrento, a 9 de janeiro de 1905, em São Petersburgo. A derrota para o Japão, que
levou o Império Russo a assinar a Paz de Portsmouth, expôs ainda mais a frágil situação
da Coroa. O czar fez concessões aos opositores políticos na tentativa de apaziguar os
ânimos políticos e, apesar das promessas de maior participação política à população
feitas no Manifesto de Outubro, a situação não melhorou. Em dezembro, o Soviete dos
Delegados dos Trabalhadores de São Petersburgo, liderado então por Parvus e Leon
Trotsky, tenta tomar o poder em uma ação revolucionária, mas fracassa.
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O ingresso da Rússia na Primeira Guerra termina por ser o fator final de erosão da
autoridade do regime. Acumulando derrotas frente à Alemanha e tendo suas principais
rotas de abastecimento interrompidas pelos otomanos, a situação econômica e social do
povo russo piora em ritmo acelerado. Em fevereiro de 1917, após o morticínio de
trabalhadores famintos em greve, os grupos de oposição passam a contar com a adesão
da soldadesca russa. Em março, Nicolau II abdica, marcando o fim do regime
monárquico.
Os governos provisórios que se sucederam em 1917 – primeiro liberais, depois
socialistas moderados – não conseguem responder aos anseios da população, que se
voltam para os socialistas radicais conhecidos por bolcheviques. As Teses de Abril, de
Lênin, passaram a compor o núcleo ideológico dos revolucionários: todo o poder aos
sovietes, nacionalização da terra, controle operário da indústria, fim imediato da guerra
(que denunciavam como imperialista). O slogan bolchevique “Pão, Paz e Terra” se
tornou o mote da massa radicalizada que começava a se erguer contra o próprio governo
interino. Após as falhas da administração de Aleksandr Kerenski, a situação chega a um
patamar insustentável. No final de outubro de 1917, forças revolucionárias tomam o
Palácio de Inverno e postos estratégicos em São Petersburgo, dando início ao regime
marxista-leninista que dominará a Rússia e boa parte dos países do Cáucaso e da Europa
oriental por mais de 70 anos.

3.2. A Revolução Alemã (1918-1919) e a República de Weimar

Em outubro de 1918, com a Alemanha às portas da derrota, um novo governo


civil foi formado sob a chancelaria do Príncipe Max von Baden. Enfrentando grande
agitação interna, esse governo introduziu certas reformas que, apesar de como são
descritas, não foram simplesmente uma “última revolução de cima”, uma tentativa
desesperada de salvar alguma credibilidade para o sistema imperial. Tais reformas
também resultaram de pressões muito fortes no parlamento, particularmente por parte
dos social-democratas moderados. As mais notáveis foram a introdução da
responsabilidade ministerial ao parlamento, o controle das forças armadas pelo governo
civil e a abolição do sistema de votação prussiano de três classes. Apesar dos esforços
para persuadir o imperador Guilherme II a abdicar em favor de um de seus filhos, o
monarca recusou-se a assumir a responsabilidade exclusiva pelos males da Alemanha.
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Todos os cautelosos movimentos para a reforma de cima foram varridos por uma
maré revolucionária nas ruas que, no início de novembro, o governo de Max von Baden
já não conseguia controlar. Os levantes em toda a Alemanha foram provocados por um
motim de marinheiros em Wilhelmshaven e Kiel no final de outubro. Ordenados por
uma última missão suicida contra a frota britânica, os marinheiros decidiram que
preferiam salvar suas próprias peles a tentar salvar a “honra alemã”. A notícia do motim
levou à formação de inúmeros conselhos de trabalhadores, marinheiros e soldados, o
que arruinou as administrações locais. Em 8 de novembro, uma República foi
proclamada no “Estado Livre” da Baviera, sob um conselho de trabalhadores, soldados
e camponeses liderado por Kurt Eisner. O esforço de guerra alemão desmoronou, a
autoridade do regime estava rapidamente se desfigurando, e a ameaça de greves e guerra
civil nas ruas era cada dia mais visível.
No dia 9 de novembro, Max von Baden fez um último esforço para salvar o que
podia da situação. Realizaram-se rápidas negociações entre os social-democratas
moderados e os líderes do Partido Social-Democrata Independente da Alemanha
(Unabhängige Sozialdemokratische Partei Deutschlands, USPD), e um acordo de
compromisso do governo foi acordado: a constituição de um conselho de governo com
três membros de cada partido. O novo governo estava empenhado em organizar eleições
para uma assembléia constituinte nacional, que seria eleita por todos os homens e
mulheres com mais de vinte anos de idade. Até que este órgão eleito pudesse assumir o
poder, o governo temporário concordaria com um armistício, lideraria negociações de
paz, procuraria garantir um abastecimento adequado de alimentos para a população, e
supervisionaria a desmobilização ordenada das tropas e o retorno de ex-soldados para a
vida e o trabalho civis. Enquanto isso, a lei e a ordem deveriam ser mantidas, as pessoas
deveriam desistir do saque e da violência e ajudar a construir um futuro melhor.
No contexto de greves e manifestações generalizadas, os obstáculos a uma
transição pacífica para uma nova ordem eram formidáveis. A USPD concordou em
cooperar com o Partido Social-Democrata Alemão (Sozialdemokratische Partei
Deutschlands, SPD), apesar de seus objetivos gerais serem bastante diferentes, e o novo
governo – que duraria apenas algumas semanas – recebeu a devida legitimidade
popular: primeiro por um encontro de delegados do conselho em Berlim, em novembro;
em dezembro, por um grupo mais amplo de delegados dos conselhos de trabalhadores e
soldados de toda a Alemanha.
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Em dezembro de 1918, o USPD abandonara a via cautelosa. Os socialistas


radicais queriam aproveitar a oportunidade para uma profunda reforma do exército e
para a socialização dos meios de produção; em suma, eles queriam efetuar uma
revolução genuína, não apenas administrar assuntos de forma temporária, pendentes de
eleições nacionais. A USPD deixou o governo; no final de dezembro, a extrema-
esquerda formou o Partido Comunista Alemão (KPD). Em janeiro de 1919, a divisão
entre social-democratas moderados, por um lado, e socialistas e comunistas radicais, por
outro, tornou-se um abismo infranqueável. Um levante (em grande parte espontâneo)
em Berlim, ocasionado pela demissão do chefe de polícia, estourou sob controle dos
líderes da Liga Espartaquista, um movimento marxista revolucionário fundado em 1914
por Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo. O SPD reagiu exageradamente às
manifestações, solicitando o apoio das unidades do Exército e do Freikorps (grupos
paramilitares privados de soldados desmobilizados) para suprimir a revolta pela força.
Durante a operação de captura e prisão, os líderes espartaquistas assassinados. Os
radicais nunca perdoaram os social-democratas moderados por seu uso da força – algo
que deveria se repetir em toda a Alemanha, muitas vezes, em resposta aos distúrbios nos
meses e anos seguintes –, e a hostilidade despertada nessa data determinou que os
comunistas, influenciados por Moscou, vissem os social-democratas como “social-
fascistas”, o que os transformava em um inimigo ainda pior do que os nazistas.
As lutas de rua, as greves, as manifestações e as barricadas constituíram o pano de
fundo de uma campanha nacional para as eleições de 19 de janeiro de 1919. O SPD, que
havia contado com isso para a formação de uma sólida maioria que confirmasse seu
mandato para governar a nova República, ficou desapontado: o partido ganhou apenas
38% dos votos – o que, no âmbito do sistema de representação proporcional, implicou
formar um governo de coalizão em conjunto com o Partido do Centro Católico
(Zentrum) e o Partido Democrático Alemão liberal (DDP). Em 6 de fevereiro de 1919, a
Assembléia Nacional Constituinte se reuniu na cidade de Weimar e, em uma semana, o
líder do SPD, Friedrich Ebert, foi eleito presidente da república, tendo Philipp
Scheidemann por chanceler. Estava fundada a República de Weimar.

3.3. O Biennio Rosso (1919-1920) e a reação anti-socialista


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O chamado Biennio Rosso (“Biênio Vermelho”, em português) foi um período de


intensa agitação política e social, marcado por levantes armados, que desembocou na
ascensão do fascismo e na Marcha sobre Roma, que levou Benito Mussolini ao poder.
A Grande Guerra deixou a situação econômica e social da Itália em um estado de
inaudita degradação, o que acirrou as divisões políticas. Os trabalhadores industriais
aderiram ao Partido Socialista, cuja filiação passou de 50.000 em 1914 para
aproximadamente 200.000 em 1919. O partido havia abandonado há muito o
compromisso de reforma gradual que o primeiro-ministro Giovanni Giolitti, da União
Liberal, tentou incentivar durante os anos anteriores à guerra, e defendia
desabridamente a via revolucionária. Inspirados pela Revolução Russa de 1917, os
socialistas pediram a derrubada do Estado liberal. O objetivo, de acordo com o partido,
era a ditadura do proletariado, onde as empresas privadas e os latifúndios seriam
confiscados, e a riqueza, compartilhada. O congresso socialista de 1919 revelou que,
para conseguir isso, o proletariado deve recorrer ao uso da violência para o conquista de
poder sobre a burguesia.
Essa retórica extremista não causou nenhum efeito adverso nos votantes da
eleição de novembro de 1919. Pelo contrário: os socialistas varreram as cidades do norte
italiano, obtendo 32,4% do voto nacional e ganhando 156 assentos no parlamento,
formando o maior bloco partidário. Esse sucesso socialista aterrorizou, entretanto, a
classe média italiana. Seus medos pareciam confirmados quando os novos deputados
socialistas interromperam o discurso do rei no parlamento, gritando “viva a república
socialista”. Essa postura fez com que muitos temessem a iminência de um levante
bolchevique, sobretudo em face de um governo que assumia posturas aparentemente
apáticas diante da ameaça vermelha.
Em setembro de 1919, o intelectual nacionalista Gabriele D'Annunzio levou 2000
homens armados para a cidade de Fiume e ocupou-o desafiando o governo italiano. Os
nacionalistas e muitos ex-soldados o saudaram como encarnação da Itália que eles
queriam criar. D'Annunzio mostrou que a maneira de obter resultados não era dedicar
meses de conversas e negociações, mas sim agir de forma decisiva e não ter medo de
usar a força. Os críticos do regime liberal observaram com satisfação que o governo não
tinha a vontade e a coragem de usar tropas para acabar com a ocupação. Durante mais
de um ano, D'Annunzio governou Fiume, criando constituições fantásticas para a
cidade, enquanto seus partidários armados se pavoneavam pelas ruas. Ele se tornou um
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herói público em toda a Itália. Seu estilo dramático, seus olhos para publicidade e sua
denúncia de alto volume do governo também o tornaram um modelo para outro inimigo
do liberalismo: Benito Mussolini.
O episódio desacreditou o governo de Nitti aos olhos de grande parte do público,
que, por sua falta de vontade de conceder grandes reformas ou de protestos, não
encontrava nenhuma aliança política adequada. A frágil maioria de Nitti se tornou
insustentável, o que provocou sua renúncia e substituição pelo veterano Giolitti. Mais
uma vez, Giolitti tentou apelar tanto para a esquerda quanto para a direita: por um lado,
traçou planos de incorporar a classe trabalhadora ao governo e, por outro, planejou
reduzir os subsídios alimentares que desagradavam a burguesia. Liberais, democratas
cristãos (apesar do notório anti-clericalismo do primeiro-ministro) e até mesmo um
punhado de socialistas moderados juntaram-se à nova coalizão. A maioria dos
socialistas, entretanto, era implacavelmente hostil ao governo.
Em setembro de 1920, os operários, que lideravam uma grande campanha salarial
no norte do país, ocuparam as fábricas em que trabalhavam. Dentro de dias, 400 mil
trabalhadores ocupavam fábricas em diversas cidades da região. Os empregadores
exigiram que o governo interviesse para esmagar a ocupação. No entanto, Giolitti
seguiu a política de neutralidade que adotou em disputas industriais anteriores à guerra,
convencido de que o uso da força levaria a um banho de sangue. Esta política enfureceu
os industriais: mais uma vez, em seus olhos, o governo estava falhando em cumprir seu
dever. Embora a ocupação tenha colapsado em um mês, como Giolitti havia previsto,
essa demonstração de complacência não foi perdoada. No campo, assim como nas
cidades, a situação não era diferente, e o crescimento socialista não demorou a aparecer
nas eleições locais, realizadas no final de 1920: 26 das 69 províncias do país,
principalmente aquelas localizadas no norte e centro da Itália, passaram a ser
governadas pelo partido.
O crescimento do poder socialista, tanto institucional quanto prático, e a inação do
governo liberal para conter a crescente ameaça vermelha levaram ao início de revoltas
anti-socialistas. Proprietários de terras e pessoas de classe média começaram a recorrer
a grupos fascistas locais, percebidos como os únicos que se punham entre os socialistas
e o controle político total. Em novembro de 1920, a inauguração do novo conselho
socialista em Bolonha se transformou em uma revolta promovida por esquadrões
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fascistas. Esses esquadrões eram muitas vezes pequenos e carentes de qualquer


ideologia coerente, mas eram bastante raivosos em suas ações contra socialistas.
A violência continuou durante o inverno e a primavera de 1921, destruindo mais
de 80 sindicatos e deixando 200 mortos, além de 800 feridos. Na primavera, Emilia e
Toscana tornaram-se fortalezas dos esquadrões fascistas. No final de 1921, o fascismo
provavelmente tinha um pouco mais de 200 mil membros ativos – proprietários de
terras, comerciantes, professores e operários –, e cerca de 50% eram ex-militares.

3.4. A Guerra Civil Espanhola (1936-1939)

A Espanha passava por imensas e constantes tribulações desde a alvorada do


século XX. Após o duro golpe sofrido com o fim da Guerra Hispano-Americana, não só
a idéia de império espanhol passou a ser duramente contestada, como a própria
monarquia entrou em cheque. Nas duas primeiras décadas, enquanto a Coroa espanhola
e setores mais conservadores da arena política sofriam com a perda de prestígio, o
republicanismo se fortaleceu visivelmente e o socialismo passou a ser considerado uma
opção política real. Apesar dos sucessos econômicos da década de 1910 e da
neutralidade da Espanha durante a Grande Guerra, o clima social e político era
conturbado e tenso.
Nos anos 1920, dois fatores de desestabilização foram cruciais para o
agravamento das sucessivas crises institucionais: a aparentemente sintomática corrupção
que então grassava na política oficial e os conflitos coloniais entre Espanha, França e os
berberes no controle do Marrocos. Em 1923, o general Miguel Primo de Rivera, não
sem apoio do rei Alfonso XIII, orquestra e conduz um golpe de estado contra os ditos
“políticos profissionais” de modo a “abrir um breve parêntese na vida constitucional da
Espanha e, então, restabelecê-la assim que o país puder oferecer homens que foram
contaminados pelos vícios da organização política”. Ao contrário do que supunha, seu
governo não se viu livre de desgastes que erodiram ainda mais as instituições
espanholas e, após cerca de sete anos, não apenas caiu a ditadura de Primo de Rivera,
mas a própria monarquia.
A Segunda República ensejou a organização das tendências políticas de direita e
esquerda, aprofundando o abismo entre os grupos. De um lado, formou-se uma coalizão
de tendências tradicionais – democratas cristãos, carlistas (monarquistas que remetiam
às guerras originadas na crise de sucessão do rei Fernando VII) e conservadores –,
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consubstanciada na Confederação Espanhola de Direitas Autônomas (CEDA), que


buscava oferecer uma alternativa de direita ao governo republicano. Do outro,
republicanos e socialistas disputavam os corações e as mentes do povo, recorrendo,
juntamente com grupos sindicalistas de caráter anarquista, à ação direta. Um terceiro
elemento foi introduzido pela Falange Espanhola das JONS (Juntas Ofensivas Nacional-
Sindicalistas), movimento de caráter corporativista e reacionário fundado por José
Antonio Primo de Rivera, filho do ditador Primo de Rivera.
Com o triunfo da direita nas eleições de 1933, a esquerda socialista, expulsa do
governo, abandonou oficialmente a via democrática e partiu para a ação revolucionária.
Determinada a derrubar o governo liderado pela CEDA, socialistas e anarquistas se
empenharam ao longo do ano seguinte em ações de desestabilização, agitação e
propaganda que culminaram na Revolução de Outubro de 1934. As ações do governo
provocaram, por um lado, o racha da direita, que viu boa parte de seus quadros
migrarem para as fileiras da Falange, e, por outro, a intensificação das ações violentas
de socialistas, republicanos e anarquistas. A situação escalou de maneira insustentável
até meados de 1936, estourando, a 18 de julho, no Alzamiento Nacional – uma tentativa
de golpe liderada pelo general Francisco Franco e cujo fracasso parcial conduziu a uma
guerra civil na Espanha.
Apesar de ter ocorrido em um país que se manteve neutro na Primeira Guerra e
que, na arena internacional, não exercia um papel de muito relevo, grande número de
historiadores considera que a Guerra Civil da Espanha foi o grande ensaio da Segunda
Guerra Mundial. Em virtude de sua posição estratégica no continente europeu – além de
entrada do Mediterrâneo, a Espanha poderia tanto servir como posto avançado para o
domínio do Atlântico Norte quanto do continente africano –, o conflito espanhol atraiu
o concurso tanto das democracias liberais do Ocidente quanto dos regimes totalitários
euro-asiáticos.
O regime soviético influenciava ativamente as ações dos grupos socialistas
revolucionários espanhóis, estabelecendo diretrizes estratégicas e orientado a
coordenação de ações que pusessem os socialistas em vantagem durante o conflito,
numa aliança circunstancial com os grupos anarquistas atuantes na Espanha. Por sua
vez, Itália e Alemanha se dispuseram a apoiar material e militarmente os esforços de
guerra do bando sublevado, buscando, por sua vez, estabelecer a sua própria área de
influência – o que coadunava com os planos expansionistas de Hitler. As potências
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ocidentais, apesar do desagrado que tinham com relação a Franco e seu movimento
golpista, apoiavam o bando sublevado menos por acreditar em suas pretensões e mais
por desejar afastar qualquer possibilidade de ver a Espanha transformada em um posto
avançado da Rússia soviética.

4. Uma nova estrela no céu: a ascensão dos Estados Unidos

4.1. Isolacionismo diplomático

A participação dos Estados Unidos na Grande Guerra foi decisiva para a


transformação do mundo no século XX. A assistência americana foi imprescindível para
uma virada sem precedentes no conflito que garantiu a vitória dos países aliados em
1918, um feito que granjeou a simpatia e a gratidão do Velho Mundo. No entanto, a
ascensão mundial dos Estados Unidos foi marcada por controvérsias, e a maior parte
delas se deu nos campos diplomático e econômico.
Desde as agressões cometidas pelo Império Napoleônico, a realpolitik européia,
norteada pelos princípios fundamentais do Congresso de Viena, era calcada no conceito
de equilíbrio de poder. Na visão das potências européias, o que possibilitou a ascensão
de um fenômeno como Napoleão foi uma soma exorbitante de recursos materiais e
humanos concentrados sob uma mesma liderança. Para que uma circunstância
semelhante não se repetisse no futuro, era imprescindível que as nações européias
estabelecessem uma espécie de mútua vigilância que impedisse o soerguimento de uma
nação acima das demais. Ao fim da Primeira Guerra, entretanto, a situação da Europa
sulcada pelas feridas de uma guerra total impedia que os vencedores aplicassem esse
princípio, ao passo que os vencidos, notadamente a Alemanha, não se submeteriam a
esse tipo de conformação.
Se a disposição fundamental dos Estados europeus no campo da política externa
era pautada por uma perpétua e saudável desconfiança, o espírito americano estava
embriagado consigo mesmo. Partindo de uma premissa quase rousseauniana, os Estados
Unidos tinham como fundamento de sua política exterior a idéia de que os povos eram
naturalmente bons, e que, uma vez garantido um tripé político fundamental –
democracia, autodeterminação e segurança coletiva –, a harmonia mundial poderia ser
alcançada de modo natural. Dessa forma, os princípios que orientavam a política
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européia até então não só eram estranhos aos americanos, como chegavam às raias da
imoralidade.
Além disso, os Estados Unidos eram animados por uma convicção inabalável: que
sua singularidade no panteão das nações, além de absoluta, encerrava um conjunto de
características que poderiam ser aplicadas universalmente. Assim, na visão americana,
os Estados Unidos eram o paradigma de um mundo novo que estava nascendo. Foi essa
convicção que animou o presidente Woodrow Wilson a formular, ao longo das
conversações que resultaram no Tratado de Versalhes, a proposta de paz conhecida
como Catorze Pontos.

4.2. Os Roaring Twenties e o Crash de 1929

Enquanto as nações européias, ainda devastadas pela guerra, lutavam contra


violentas disputas políticas internas e severa crise econômica no esforço de se
reconstruírem, os Estados Unidos gozavam de uma situação política tranqüila e um
cenário econômico estável e próspero:

A produção e o emprego eram elevados e em ascensão. Os salários não


subiam muito, mas os preços eram estáveis. Embora um grande número de
pessoas ainda fosse muito pobre, mais pessoas eram prósperas, abastadas ou
ricas do que antes. Finalmente, o capitalismo americano encontrava-se, sem
dúvida, numa fase ativa. Entre 1925 e 1929, o número de estabelecimentos
industriais aumentara de 183.900 para 206.700; o valor da produção
industrial aumentara de 60,8 bilhões para 68 bilhões de dólares. O índice da
produção industrial do Federal Reserve (Banco Central americano), cuja
média fora apenas 67 em 1921 (1923-25 = 100), aumentara para 110 em
julho de 1928 e chegara a 126 em junho de 1929. Em 1926, 4,301 milhões de
automóveis foram produzidos. Três anos depois, em 1929, a produção
aumentara em mais de 1 milhão, para 5,358 milhões, cifra que se compara
muito apropriadamente aos 5,7 milhões de licenciamentos de carros novos no
opulento ano de 1953. Os ganhos empresariais elevavam-se rapidamente, e
era uma época favorável para os negócios. (GALBRAITH, 2010, p. 22)

A década de 1920 apresentou um grande êxodo rural nos Estados Unidos.


Enquanto o setor agrícola sofria com a crise provocada pela superprodução, o parque
industrial americano experimentava um crescimento inaudito. Grandes contingentes da
população rural americana abandonaram o campo e se mudaram para as cidades. Anos
depois, a crise rural que impulsionara o êxodo seria apontada como um dos fatores para
a crise de 1929.
A atmosfera econômica favorável atraiu novos investidores, tanto americanos
quanto estrangeiros, para o mercado financeiro. O ano de 1924 marca o início da
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trajetória ascendente dos índices de Wall Street, interrompida pontualmente por


pequenas quedas eventuais. Em 1925, com a sobrevalorização da libra esterlina em
comparação com o dólar – fruto da adoção do padrão-ouro nos critérios pré-Grande
Guerra –, presenciou-se uma fuga de capitais para os Estados Unidos. Essa injeção de
recursos veio acompanhada, em 1927, da adoção de uma política monetária mais branda
por parte do Federal Reserve, gerando um aumento substancial da oferta de crédito por
parte das instituições financeiras que estimulou, em grande medida, a tomada de
empréstimos para aplicação na bolsa. A onda especulativa cresceu de maneira
substancial naquele ano.
O ano de 1928 foi marcado por saltos extraordinários nas cotações da bolsa de
Nova York. As altas consistentes e o aumento expressivo do volume de ações
negociadas fizeram o Fed alertar para o risco do crescimento da especulação. No
começo de 1929, a situação econômica dos Estados Unidos já havia perdido as
condições tão favoráveis do início da década. A produção industrial, que havia
aumentado exponencialmente diante da perspectiva (que, finalmente, mostrava-se
ilusória) de aumento de demanda, entrara em crise: a produção de aço havia reduzido
drasticamente, a construção civil estava estagnada e a venda de automóveis despencou.
A facilidade de obtenção de crédito levara ao aumento expressivo e contínuo do
endividamento familiar, o que comprometia as finanças da população no geral. A bolha
financeira criada ao longo da década de 1920 estava prestes a explodir.
Em 20 de setembro de 1929, a Bolsa de Valores de Londres quebrou em
decorrência da prisão de grandes investidores. O abalo foi sentido do outro lado do
Atlântico, onde as ações da Bolsa de Nova York começaram a ser vendidas. As quedas
contínuas no preço das ações contribuíram para criar um sentimento generalizado de
pânico que foi escalando ao longo do mês de outubro. No dia 24, conhecido como
Quinta-Feira Negra, a bolsa sofreu uma queda de 11%. Banqueiros agiram no mercado
para interromper a trajetória de queda, mas a solução durou poucos dias. Na semana
seguinte, a Bolsa de Valores de Nova York não resistiu: em 29 de outubro, a Terça-
Feira Negra, 16 milhões de ações foram transacionadas e, em conjunto com o dia
anterior, US$ 30 bilhões (aproximadamente US$ 475 bilhões em valores correntes)
foram pulverizados.
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4.3. A Grande Depressão e o New Deal

Quando Herbert Hoover assumiu a presidência, em março de 1929, o mecanismo


da crise de Wall Street já estava ativado, e única coisa que poderia ter sido feita era
permitir que as taxas de juros artificialmente baixas subissem ao seu nível natural. Mas
Hoover não o fez: o crédito barato induzido pelo governo era o fundamento de sua
política. Quando a magnitude da crise se tornou aparente, no final do ano, Andrew
Mellon, o secretário do Tesouro, recomendou a cessação da política intervencionista de
Hoover e o retorno ao laissez-faire. Ao permitir que a depressão tomasse seu curso, as
empresas incapazes teriam falido e as sólidas, sobrevivido.
Desde o início, por isso, Hoover concordou em assumir o ciclo econômico e
marcá-lo com todos os recursos do governo. Mantendo a inflação de crédito, o Federal
Reserve injetou mais recursos na economia. Em novembro, Hoover realizou uma série
de conferências com líderes industriais em que ele exigiu a não redução de salários, uma
promessa mantida até 1932. O economista John Maynard Keynes elogiou os
movimentos de Hoover na manutenção de salários elevados e considerou a expansão de
crédito federal uma medida satisfatória para reverter os danos da crise da bolsa de
valores. O governo conduziu uma grande redução de impostos, aumentou seus gastos e,
deliberadamente, gerou um enorme déficit público – um montante de US$ 2,2 bilhões
em 1931. Mais grandes obras públicas foram iniciadas nos quatro anos de Hoover do
que nos trinta anos anteriores. A essência do New Deal estava agora em vigor.
A crise final veio com o colapso das exportações americanas. A tarifa punitiva de
Smoot-Hawley de 1930, que aumentou acentuadamente os direitos de importação,
ajudou a espalhar a Depressão para a Europa. Em 11 de maio de 1931, o colapso do
principal banco da Áustria, o Credit Anstalt, provocou um efeito dominó no continente.
Todos os bancos alemães fecharam em 13 de julho. O governo trabalhista britânico
entrou em colapso em 2 de agosto e, em 21 de setembro, a Grã-Bretanha abandonou o
padrão-ouro. Os estrangeiros perderam confiança no dólar e, uma vez que a América
ainda estava no padrão-ouro, iniciou-se um processo de evasão de divisas que
influenciou investidores americanos. Até 1932, mais de 5 mil bancos, com depósitos
acima de US$ 3 bilhões, fecharam. No início de 1933, o sistema bancário dos Estados
Unidos chegou a uma paralisação virtual nas últimas semanas da presidência de Hoover.
O intervencionismo de Hoover havia prolongado a Depressão em seu quarto ano.
O dano era enorme, embora fosse irregular e muitas vezes contraditório. A produção
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industrial, que havia sido de 114 em agosto de 1929, era de 54 em março de 1933. A
construção de negócios, que totalizava US$ 8,7 bilhões em 1929, caiu para US$ 1,4
bilhão em 1933. Houve um declínio de 77% na produção de manufaturas duráveis
durante esse período. Graças às políticas trabalhistas da Hoover, os salários reais de fato
aumentaram. Os perdedores, é claro, eram aqueles que não tinham nenhum salário. O
desemprego, que havia sido de apenas 3,2% em 1929, subiu para 24,9% em 1933 e
26,7% em 1934. Estimava-se que cerca de 34 milhões de homens, mulheres e crianças
não tinham renda alguma, o que correspondia a 28% da população americana.
Os proprietários não podiam cobrar aluguéis e, portanto, não podiam pagar
impostos. As receitas da cidade entraram em colapso, reduzindo o sistema de alívio,
como era, e os serviços da cidade. Chicago devia seus professores $ 20 milhões. Em
algumas áreas, as escolas fecharam a maior parte do tempo. Em Nova York, em 1932,
mais de 300 mil crianças não puderam estudar porque não havia fundos. Dentre os que
ainda freqüentavam o sistema de ensino, aproximadamente 20% sofriam de desnutrição.
Em 1933, 1.500 faculdades haviam quebrado ou fechado.
Nas eleições de 1932, Franklin Delano Roosevelt, do Partido Democrata, foi
eleito o 32º presidente dos Estados Unidos. Grande parte da legislação do New Deal foi
promulgada nos primeiros três meses da presidência de Roosevelt, que ficou conhecida
como os Cem Dias. O primeiro objetivo da nova administração foi aliviar o sofrimento
da grande quantidade de trabalhadores desempregados no país. Agências como a Works
Progress Administration (WPA) e o Civilian Conservation Corps (CCC) foram
estabelecidas para dispensar ajuda governamental de emergência e de curto prazo, e
para fornecer empregos temporários, especialmente em projetos de construção e
trabalho juvenil nas florestas nacionais. Antes de 1935, o New Deal tinha por foco
revitalizar as empresas agrícolas do país. Para reanimar a atividade industrial, a
National Recovery Administration (NRA) recebeu autoridade para ajudar a moldar os
códigos industriais que regem práticas comerciais, salários, horas, trabalho infantil e
negociação coletiva. O New Deal também tentou regular a hierarquia financeira do país,
a fim de evitar a repetição do crash da bolsa de valores de 1929 e as enormes falências
bancárias que se seguiram. A Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) concedeu
o seguro do governo para depósitos bancários em bancos membros do Sistema da
Reserva Federal e a Securities and Exchange Commission (SEC) foi formada para
proteger o público investidor de práticas fraudulentas de mercado de ações. O programa
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agrícola foi centrado na Agricultural Adjustment Administration (AAA), que tentou


aumentar os preços, controlando a produção de culturas básicas através de subsídios em
dinheiro aos agricultores. Além disso, o braço do governo federal alcançou a área de
energia elétrica, estabelecendo em 1933 a Tennessee Valley Authority (TVA), que
abrangeria uma área de sete estados e forneceria eletricidade barata, evitaria inundações,
melhoraria a navegação e produziria nitratos.
Em 1935, a ênfase do New Deal mudou para as medidas destinadas a ajudar os
grupos trabalhistas e outros grupos urbanos. O Wagner Act de 1935 aumentou
consideravelmente a autoridade do governo federal nas relações industriais e fortaleceu
o poder organizador dos sindicatos, estabelecendo o Conselho Nacional de Relações
Laborais (National Labor Relations Board, NLRB) para executar este programa. Para
ajudar o proprietário "esquecido", a legislação foi aprovada para refinanciar hipotecas
instáveis e garantir empréstimos bancários para modernização e pagamentos de
hipotecas. Talvez os programas de maior alcance de todo o New Deal fossem as
medidas de segurança social promulgadas em 1935 e 1939, que ofereciam benefícios de
velhice e viuvez, compensação por desemprego e seguro de invalidez. O horário de
trabalho máximo e os salários mínimos também foram estabelecidos em certas
indústrias em 1938.
Certas leis do New Deal foram declaradas inconstitucionais pelo Tribunal
Supremo dos Estados Unidos, alegando que nem o comércio nem as disposições
tributárias da Constituição concediam a autoridade do governo federal para
regulamentar a indústria ou realizar reformas sociais e econômicas. Roosevelt, confiante
da legalidade de todas as medidas, propôs no início de 1937 uma reorganização do
tribunal. Esta proposta encontrou uma oposição veemente, mas o tribunal, entretanto,
decidiu em favor da restante legislação contestada. Apesar da resistência dos negócios e
de outros segmentos da comunidade às tendências "socialistas" do New Deal, muitas
das suas reformas alcançaram progressivamente a aceitação nacional.

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