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Resumo
Introdução
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sobre os processos de produção de políticas. Considerando as idéias como um sistema de
crenças que refletem diferentes visões de mundo, as abordagens desenvolvidas por estes
pesquisadores consideram que as idéias produzem a realidade e que a disputa sobre as idéias
está no centro do processo de produção de políticas.
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Kingdon (2003), a mudança da agenda é o resultado da convergência entre três fluxos:
problemas (problems); soluções ou alternativas (policies); e política (politics).
No primeiro fluxo – problemas - o modelo busca explicar por que alguns problemas
concentram a atenção dos formuladores de políticas. Dado o grande volume de questões e a
incapacidade de lidar com todas ao mesmo tempo, a atenção dos formuladores de políticas
depende da forma como estes percebem e interpretam essas questões e, mais importante, da
forma como essas questões são definidas como problemas. Para entender o processo de
seleção de problemas, Kingdon estabelece uma importante diferenciação entre problemas e
questões (conditions). Uma questão (condition), para o autor, é uma situação social percebida,
mas que não desperta necessariamente uma ação em contrapartida. Estas questões se
configuram como problemas apenas quando os formuladores de políticas acreditam que
devem fazer algo a respeito.
As questões (conditions) transformam-se em problemas, capturando a atenção dos
participantes de um processo decisório e despertando nestes a necessidade de ação, por meio
de três mecanismos básicos: indicadores; eventos, crises e símbolos; e feedback das ações
governamentais. Quando indicadores – custos de um programa, taxas de mortalidade infantil,
variações na folha de pagamento de servidores, evolução do déficit público, por exemplo –
são reunidos e apontam para a existência de uma questão, esta pode ser percebida como
problemática pelos formuladores de políticas. Indicadores, no entanto, não determinam per si
a existência concreta de um problema, antes são interpretações que auxiliam a demonstrar a
existência de uma questão. Assim, contribuem para a transformação de questões em
problemas, principalmente quando revelam dados quantitativos, capazes de demonstrar a
existência de uma situação que precisa de atenção. O segundo grupo de mecanismos
compreende eventos (focusing events), crises e símbolos. Muitas vezes, um problema não
captura a atenção apenas por meio de indicadores, mas por intermédio de eventos de grande
magnitude, como crises, desastres ou símbolos que concentram a atenção num determinado
assunto. Estes eventos, no entanto, raramente são capazes de elevar um assunto à agenda, e
geralmente atuam no sentido de reforçar a percepção pré-existente de um problema.
Finalmente, o terceiro grupo de mecanismos consiste no feedback sobre programas em
desenvolvimento pelo governo. O monitoramento dos gastos, o acompanhamento das
atividades de implementação, o cumprimento (ou não) de metas, possíveis reclamações de
servidores ou dos cidadãos, e o surgimento de conseqüências não-antecipadas, são
mecanismos que podem trazer os problemas para o centro das atenções dos formuladores de
políticas.
Mesmo que indicadores, eventos, símbolos ou feedbacks sinalizem questões
específicas, estes elementos não transformam estas questões automaticamente em problemas.
Essencial para o entendimento do modelo é compreender que problemas são construções
sociais, envolvendo interpretação. Do ponto de vista da estratégia política, a definição do
problema é fundamental. A forma como um problema é definido, articulado, concentrando a
atenção dos formuladores de política pode determinar o sucesso de uma questão no processo
altamente competitivo de agenda-setting, no qual diversas outras questões estão colocadas,
aguardando a atenção destes formuladores.
O segundo fluxo – soluções ou alternativas – apresenta um conjunto de idéias (policy
alternatives) disponíveis para os problemas. Kingdon (2003) considera que as idéias geradas
neste fluxo não estão necessariamente relacionadas à percepção de problemas específicos, o
que significa que as questões presentes na agenda governamental (que reúne a atenção das
pessoas dentro e fora do governo) não são geradas aos pares, com problemas e soluções.
As idéias a respeito de soluções ou alternativas são geradas em comunidades (policy
communities), compostas por especialistas - pesquisadores, assessores parlamentares,
acadêmicos, funcionários públicos, analistas pertencentes a grupos de interesses, entre outros
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- que compartilham uma preocupação em relação a uma área (policy area). Essas idéias são
testadas nessas comunidades: algumas idéias sobrevivem intactas, outras se confrontam e se
combinam em novas propostas; outras ainda são descartadas. Neste processo competitivo de
seleção, as idéias que se mostram viáveis do ponto de vista técnico e as que têm custos
toleráveis geralmente sobrevivem, assim como aquelas que representam valores
compartilhados, contam com a aceitação do público em geral e com a receptividade dos
formuladores de políticas. Como resultado final, partindo de um grande número de idéias
possíveis, um pequeno conjunto de alternativas emerge para a efetiva consideração dos
participantes do processo decisório. Quando uma proposta é percebida como viável, esta é
rapidamente difundida, ampliando a consciência dos atores sobre uma determinada idéia. Isso
não significa que todos os especialistas de uma comunidade compartilhem das mesmas
crenças: algumas comunidades são extremamente fragmentadas, abrigando pontos de vista
bastante diversificados. A difusão das idéias tão pouco se dá de forma automática, uma vez
que comunidades bem estruturadas apresentam tendência a resistirem às novas idéias. A
difusão é descrita pelo autor como um processo no qual indivíduos que defendem uma idéia
procuram levá-la a diferentes fóruns, na tentativa de sensibilizar não apenas as comunidades
de políticas (policy communities), mas também o público em geral, habituando a audiência às
propostas e construindo progressivamente sua aceitação. Desta forma, as idéias são
difundidas, basicamente, por meio da persuasão. A importância desse processo de difusão –
chamada de soften up pelo autor – vem da constatação de que, sem essa sensibilização, as
propostas não serão seriamente consideradas quando apresentadas.
Com o processo de difusão, ocorre uma espécie de efeito multiplicador (bandwagon),
em que as idéias se espalham e ganham cada vez mais adeptos. Desta forma, o fluxo de
soluções (policy stream) produz uma lista restrita de propostas, reunindo algumas idéias que
sobreviveram ao processo de seleção. Estas idéias não representam, necessariamente, uma
visão consensual de uma comunidade política a respeito de uma proposta, mas sim o
reconhecimento, pela comunidade, de que algumas propostas são relevantes, dentro do
enorme conjunto de propostas potencialmente possíveis. Desta forma, Kingdon (2003, 125)
assegura às idéias um papel importante em seu modelo, argumentando que estas são
freqüentemente mais importantes na escolha de uma alternativa do que a influência de fatores
mais comumente analisados como, por exemplo, a atuação dos grupos de pressão.
Finalmente, o terceiro fluxo – política - é composto pela dimensão da política
“propriamente dita”. Independente do reconhecimento de um problema ou das alternativas
disponíveis, o fluxo político segue sua própria dinâmica e regras. Diferentemente do fluxo de
alternativas (policy stream), em que o consenso é construído com base na persuasão e difusão
das idéias, no fluxo político (politics stream) as coalizões são construídas a partir de um
processo de barganha e negociação política.
Neste fluxo, três elementos exercem influência sobre a agenda governamental. O
primeiro elemento é chamado por Kingdon de “clima” ou “humor” nacional (national mood)
e é caracterizado por uma situação na qual diversas pessoas compartilham das mesmas
questões, durante um determinado período de tempo. O humor nacional possibilita algo
semelhante a um “solo fértil” para algumas idéias “germinarem”, ajudando a explicar por que
algumas questões chegam à agenda enquanto outras são descartadas. O segundo elemento do
fluxo político é composto pelas forças políticas organizadas, exercidas, principalmente, pelos
grupos de pressão. O apoio ou oposição dessas forças a uma determinada questão sinaliza o
consenso ou conflito numa arena política, permitindo aos formuladores de políticas avaliarem
se o ambiente é propício ou não a uma proposta. O terceiro fator a afetar a agenda, no fluxo
político, são as mudanças dentro do próprio governo: mudança de pessoas em posições
estratégicas dentro da estrutura governamental (turnover); mudanças de gestão; mudanças na
composição do Congresso; mudanças na chefia de órgãos e de empresas públicas. Estes
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eventos podem exercer grande influência sobre a agenda governamental ao desencadearem
mudanças que potencializam a introdução de novos itens na agenda, ao mesmo tempo em que
podem também bloquear a entrada ou restringir a permanência de outras questões. O início de
um novo governo é, segundo Kingdon, o momento mais propício para mudanças na agenda.
Assim, grupos de pressão, a opinião pública, as pressões do legislativo e das agências
administrativas, os movimentos sociais, o processo eleitoral, entre outros fatores, determinam
o clima político para a mudança da agenda governamental, podendo tanto favorecer uma
mudança, quanto restringi-la. Entre os elementos considerados no fluxo político, Kingdon
destaca as mudanças no clima nacional (national mood) e as mudanças dentro do governo
(turnover) como os maiores propulsores de mudanças na agenda governamental.
Em determinadas circunstâncias, estes três fluxos – problemas, soluções e dinâmica
política - são reunidos, gerando uma oportunidade de mudança na agenda. Neste momento,
um problema é reconhecido pelos formuladores de política; uma solução está disponível nas
comunidades de especialistas; e as condições políticas tornam o momento propício para a
mudança, permitindo a convergência entre os três fluxos e possibilitando que questões
ascendam à agenda. Para este processo de junção dos fluxos, denominado pelo autor como
coupling, é fundamental atuação dos policy entrepreneurs. Kingdon (2003, 179) destaca a
importância de indivíduos que, tal como empreendedores de negócios, estão dispostos a
investir numa idéia. O empreendedor é o indivíduo especialista em uma determinada questão,
geralmente com habilidade em representar idéias de outros indivíduos e grupos; ou ainda que
desfruta de uma posição de autoridade dentro do processo decisório, característica que faz
com que o processo de formulação de políticas seja receptivo a suas idéias. Os entrepreneurs
são hábeis negociadores e mantém conexões políticas; são persistentes na defesa de suas
idéias, levando suas concepções de problemas e propostas a diferentes fóruns. Desta forma, os
policy entrepreneurs desempenham um papel fundamental, unindo soluções a problemas;
propostas a momentos políticos; eventos políticos a problemas. Sem um empreendedor, esta
ligação entre os fluxos (coupling) pode não acontecer: idéias que não são defendidas;
problemas que não encontram soluções; momentos políticos favoráveis à mudança que são
perdidos por falta de propostas.
Fundamental ao modelo de Kingdon, portanto, é o papel exercido pelas idéias no
processo político, seja na definição dos problemas, na produção de alternativas ou na
dinâmica política propriamente dita. O debate sobre as idéias e o processo de argumentação
são centrais ao modelo não apenas no desenvolvimento interno de cada um destes fluxos, mas
também na mudança da agenda, a partir da atuação dos empreendedores.
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algumas idéias se tornam populares e se disseminam, tomando o lugar antes ocupado por
antigas idéias, abrindo espaço para novos movimentos políticos.
Considerando que os indivíduos operam com racionalidade limitada (bounded
rationality), para lidar com a multiplicidade de questões políticas, os governos delegam
autoridade para agentes governamentais, em subsistemas políticos. Estes subsistemas
processam as questões de forma paralela, enquanto os líderes governamentais (macro-sistema)
ocupam-se de poucas questões proeminentes de forma serial. Assim, de acordo com o modelo
de Baumgartner e Jones (1993), muitas questões recebem atenção nos subsistemas, formados
por comunidades de especialistas (à semelhança das policy communities de Kingdon), e lá
permanecem; outras acabam por integrar o macro-sistema, promovendo mudanças na agenda.
Quando um subsistema é dominado por um único interesse, os autores o caracterizam como
um monopólio de políticas (policy monopoly), nos quais os indivíduos participantes do
processo decisório compartilham um entendimento sobre uma questão. Duas características
fundamentais definem e constituem os monopólios: uma estrutura institucional definida, pela
qual o acesso ao processo decisório é permitido (ou restringido); e uma idéia fortemente
associada com a instituição, relacionada com os valores políticos daquela comunidade. Assim,
a chave para a compreensão dos períodos de estabilidade e mudança, segundo Baumgartner e
Jones, reside na forma como uma questão é definida, considerando que esta definição se
desenvolve dentro de um contexto institucional que pode favorecer determinadas visões
políticas em detrimento de outras.
Para instrumentalizar a análise, os autores elaboram o conceito de policy image, que
corresponde à forma como uma política é compreendida e discutida (Baumgartner e Jones,
1993, 25). As policy images são as idéias que sustentam os arranjos institucionais, permitindo
o que o entendimento acerca da política (policy) seja comunicado de forma simples e direta
entre os membros de uma comunidade, contribuindo para a disseminação das questões,
processo fundamental para a mudança rápida e o acesso de uma questão ao macro-sistema. A
criação e a própria manutenção de um monopólio de políticas depende de uma policy image
que lhe dê sustentação. Quando, por exemplo, uma imagem é largamente aceita, um
monopólio se mantém. Por outro lado, quando há divergências com relação ao entendimento
de uma política, defensores de uma idéia focalizam determinadas imagens enquanto seus
oponentes podem se concentrar num conjunto diferente de imagens, o que pode levar ao
colapso do monopólio.
As policy images são desenvolvidas com base em dois componentes: informações
empíricas e apelos emotivos (tone). O tone é considerado pelos autores como fator crítico no
desenvolvimento das questões, uma vez que mudanças rápidas nesses “apelos emotivos” da
imagem podem influenciar a mobilização em torno de uma idéia. Os autores exemplificam
este tipo de situação na questão nuclear norte-americana: enquanto a imagem predominante
estava associada ao progresso econômico e científico, um policy monopoly existia em torno
desta questão. No entanto, a partir do momento em que a imagem muda, focalizando as
ameaças de segurança e degradação ambiental, o monopólio em torno desta questão se
esgotou. Novas imagens podem atrair novos participantes (ou afastá-los), bem como criar
oportunidades para promover questões (ou desencorajar outras).
Da mesma forma que Kingdon (2003), os autores entendem que questões (conditions)
políticas e sociais não se transformam, necessária e automaticamente, em problemas. Para que
um problema capture a atenção do governo, é preciso que uma imagem, ou um entendimento
sobre uma política efetue a ligação entre o problema e uma possível solução (Baumgartner e
Jones, 1993, 27). A criação de uma imagem é considerada um componente estratégico na
mobilização da atenção do macro-sistema em torno de uma questão. Quando há um
entendimento de que questões indesejadas são causadas por elementos como catástrofes
naturais, por exemplo, não se espera a atuação governamental; no entanto se as mesmas
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questões são atribuídas à negligência governamental, cria-se uma demanda pela intervenção
estatal e a questão tem grandes possibilidades de emergir na agenda. Assim, a imagem de uma
política intervém fortemente na transformação de questões em problemas.
A disputa em torno do entendimento de uma política – ou da policy image – é
considerada pelos autores como sendo elemento crucial na luta política. Os formuladores de
políticas empenham-se na construção de imagens calculando os ganhos advindos da
consolidação de um dado entendimento. No entanto, eles não têm controle sobre os impactos
dessas imagens no sistema político. Também não exercem controle sobre as possíveis
soluções que podem ser apresentadas para os problemas.
Os diversos estudos de caso desenvolvidos por Baumgartner e Jones (1993, 150-171)
corroboram a idéia de Kingdon (2003) de que soluções e problemas percorrem caminhos
diferentes. Os autores mostram também que a focalização de um problema não garante que
uma solução específica seja selecionada: a conexão entre soluções e problemas precisa ser
assegurada por um policy entrepreneur para que, desta forma, mudanças sejam produzidas na
agenda. Neste processo, os autores chamam a atenção para a importância da argumentação e
da criação de um novo entendimento sobre uma questão, já que, para eles, o processo de
formulação de políticas é influenciado não apenas pela mudança na percepção de que
determinados problemas devem ser tratados pelo governo, mas também pela mudança na
percepção de qual seria a solução mais adequada para lidar com esse problema.
A policy image é, portanto, central tanto para a definição de problemas quanto para a
seleção de soluções no modelo proposto pelos autores, devendo ser considerada no contexto
institucional em que é desenvolvida, uma vez que a autoridade para decidir sobre as questões
pertence às instituições (policy venue). Algumas questões estão associadas à competência de
uma única instituição, enquanto outras podem estar submetidas a várias competências ao
mesmo tempo. Além disso, os autores mostram que no sistema de governo norte-americano,
as mudanças na definição das competências para lidar com uma questão são bastante
freqüentes e envolvem também os níveis federativos. Dadas estas características, ao mesmo
tempo em que os formuladores de políticas procuram assegurar um entendimento comum
sobre as questões com as quais estão lidando, procuram também influenciar as instituições
que têm autoridade sobre essas questões. Uma instituição pode ser refratária aos argumentos
desenvolvidos para dar suporte a uma política, enquanto outra instituição pode aceitar a
imagem. A busca de arenas favoráveis para a difusão de problemas e soluções (venue
shopping) e a criação de policy images estão, portanto, fortemente vinculadas.
Assim, nos subsistemas, prevalecem mudanças lentas, graduais e incrementais,
configurando uma situação de equilíbrio, reforçada pela constituição de um monopólio de
políticas, uma imagem compartilhada e feedback negativo (questões que não se difundem para
além dos limites deste subsistema). As decisões, em muitos subsistemas, são dominadas por
um número pequeno de participantes que compartilham um entendimento comum (policy
image) sobre uma questão e criam monopólios (policy monopolies), limitando o acesso de
novos atores e restringindo o surgimento de novas idéias. Subsistemas são caracterizados pela
estabilidade, propostas de mudanças são desencorajadas pelo feedback negativo - pouco
ganho dos atores políticos com relação aos investimentos - resultando em equilíbrio e
mudança incremental.
Em alguns “momentos críticos”, o equilíbrio pode ser pontuado por períodos de rápida
mudança. Esses momentos têm início quando a atenção a uma questão rompe os limites do
subsistema e chega ao macro-sistema político (ou à agenda governamental, no modelo de
Kingdon). Mudanças na percepção das questões (transformando-as em problemas), em
eventos que focalizem atenção (focusing events), ou na opinião pública, por exemplo, podem
levar uma questão de um subsistema para o macro-sistema. Ao contrário dos subsistemas, os
macro-sistemas políticos caracterizam-se por intensas e rápidas mudanças, diversos
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entendimentos sobre uma mesma política (diferentes policy images) e feedback positivo.
Quando uma questão ascende ao macro-sistema, o subsistema, por sua vez, torna-se propenso
à mudança, já que a atenção dos líderes governamentais e do público a uma questão pode
levar à introdução de novas idéias e novos atores naquele subsistema. Além disso, os
“momentos críticos” podem estabelecer novas policy images e reorganizações institucionais
(novas policy venues) que reestruturam o subsistema. Essas novas idéias e instituições tendem
a permanecer no tempo (policy legacy), criando um novo estado de equilíbrio no subsistema
que, após algum tempo, tende a voltar à estabilidade.
Assim, o modelo de Baumgartner e Jones (1993) apresenta grandes similaridades com
o modelo de Kingdon (2003), analisando a produção de políticas a partir da ênfase nas idéias
que movem soluções e problemas. No entanto, cabe ressaltar que ao destacar a importância da
dimensão institucional, relacionando idéias e instituições como questão chave para a
compreensão dos períodos de estabilidade e mudança, o modelo de Baumgartner e Jones
supre uma lacuna presente no trabalho de Kingdon (que não destaca a questão institucional),
permitindo ampliar o entendimento sobre o processo de formulação de políticas.
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algum grau de institucionalização no interior da estrutura estatal. Frequentemente este tipo de
subsistema também apresenta subgrupos especializados num determinado aspecto da questão
mais geral que mantém o grupo unido.
Finalmente, a quarta premissa assumida pelo modelo consiste no entendimento das
políticas públicas como um sistema de crenças. Segundo os autores, políticas e programas de
governo incorporam teorias implícitas sobre como atingir seus objetivos, envolvendo,
portanto, valores, percepções sobre causas e efeitos, percepção sobre a eficácia dos
instrumentos políticos, entre outras.
Partindo dessas premissas, o advocacy coalition framework apresenta dois
agrupamentos de variáveis, um deles mais estável e outro mais dinâmico. As variáveis
estáveis – mais difíceis de serem mudadas - incluem regras institucionais, estrutura social e
valores socioculturais fundamentais e recursos do sistema político. As variáveis dinâmicas –
mais facilmente alteradas – são compostas por grandes mudanças socioeconômicas, mudanças
no sistema de coalizão governamental, bem como as decisões e impactos de outros
subsistemas. Estes dois conjuntos de variáveis, externas aos subsistemas, atuam tanto como
restrições como incentivos para os atores em seus subsistemas. Dentro desses subsistemas, os
atores podem formar coalizões compostas por indivíduos oriundos tanto do interior da
estrutura governamental quanto do setor privado.
O elemento que mantém esses atores unidos nos subsistemas é um conjunto de crenças
em comum, além de seu empenho em ações coordenadas em prol de uma política. O conjunto
de crenças dessas coalizões apresenta três componentes básicos. Num plano mais geral e
abstrato, estão as deep core beliefs, que incluem valores ontológicos e normativos, sendo este
tipo de crença altamente resistente à mudança. Abaixo destas estão as policy core beliefs, um
pouco menos rígidas que as primeiras, e que representam as percepções comuns sobre o
subsistema e os valores compartilhados sobre a política de interesse. Mudanças nas policy
core beliefs representam as maiores mudanças (major policy change) numa política.
Finalmente, um terceiro componente são crenças mais específicas, relacionadas à visão do
problema e à importância dos fatores causais desses problemas, bem como o desenho das
instituições, avaliação do desempenho dos atores e alocações orçamentárias. Alterações neste
grupo de crenças secundárias representam mudanças menores (minor policy change). As
coalizões, desta forma, se mantêm unidas em torno de crenças; crenças que orientam sua ação
na formulação de políticas.
De acordo com o modelo, dentro de cada subsistema podemos encontrar advocacy
coalitions (geralmente entre duas e quatro coalizões) que compartilham crenças mas que, em
determinados momentos, adotam estratégias diferentes para realizar seus objetivos de
mudança. Esta competição entre as coalizões gera conflitos - mediados por um policy broker -
cuja função principal consiste no desenvolvimento de compromissos entre as coalizões em
disputa. Como resultado dessa dinâmica, os subsistemas produzem políticas governamentais,
gerando mudanças nas condições externas e alterando as expectativas e crenças sobre as
conseqüências daquelas políticas. Este processo altera também a própria ação das coalizões,
num processo que, por meio da percepção de adequação das decisões governamentais, dos
impactos produzidos, e de novas informações, gera um aprendizado constante (policy-
oriented learning) (Sabatier e Jenkins-Smith, 1999, 123).
Assim, o advocacy coalition framework focaliza a interação das coalizões, formadas
por atores de diversas instituições que compartilham um conjunto de idéias (policy beliefs)
num subsistema. A mudança nas políticas se processa por meio da interação de coalizões em
competição dentro de um subsistema, e também por meio de eventos externos ao subsistema
de coalizões. Aplicada em diversos estudos sobre política ambiental, educação, defesa,
energia, regulação de telecomunicações, infra-estrutura, entre outras políticas, o modelo
fornece recursos metodológicos para mapear os sistemas de crenças das coalizões.
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Considerações finais
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Referências Bibliográficas
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Notas
i
Estas perspectivas derivam fundamentalmente dos trabalhos de Lasswel (LASSWELL, Harold. “The Policy
Orientation”. In Lerner, D. e Lasswell, H (eds.). The Policy Sciences. Stanford, Stanford University Press, 1951);
Easton (EASTON, David. A System Analysis of Political Life. New York, John Wiley, 1965) e outros.
ii
Tradução nossa.
iii
Apesar de o modelo de Kingdon focalizar inicialmente apenas os estágios pré-decisórios da formulação de
políticas públicas, uma importante alteração foi introduzida por Zahariadis (1995). Este autor ampliou o alcance
do modelo de Kingdon até a fase de implementação para investigar o processo de privatização na Inglaterra e
França.
iv
O processo de agenda-setting de Kingdon tem suas raízes no “modelo da lata do lixo” (garbage can model).
Este modelo foi desenvolvido para a análise de organizações que se configuram como “anarquias organizadas”,
operando em condições de grande incerteza e ambigüidade (como universidades e governos nacionais), nas quais
estão presentes três características principais: participação fluída, preferências problemáticas e tecnologia pouco
clara. Sobre o modelo de garbage can e a idéia de “anarquias organizadas”, ver March, James; Olsen Johan P. e
Cohen, M.D. (1972) “A Garbage Can Model of Organizational Choice”. Administrative Science Quartely, 17,
(pp. 1-25).
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