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FISIOTERAPIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE:

INVESTIGANDO UM SERVIÇO AMBULATORIAL DO SUS


PHYSIOTHERAPY AND EDUCATION IN HEALTH:
INVESTIGATING A SUS CLINIC
Marla Finkler Neuwald
Fisioterapeuta graduada pelo Instituto Porto Alegre da Igreja Metodista.
E-mail: marlafisio@bol.com.br
Luiz Fernando Alvarenga
Fisioterapeuta graduado pela UFSM, Professor no Instituto Porto Alegre da Igreja Metodista e
Mestrando em Educação pela UFRGS
E-mail: lfalvarenga@terra.com.br

RESUMO ABSTRACT
Este artigo busca relatar o resultado de uma pesquisa This article aims to present the result of a research per-
realizada com vinte indivíduos que ingressaram no Servi- formed with twenty people that entered into to Physio-
ço de Fisioterapia do Centro de Saúde da Vila dos Comer- therapy service of the Centro de Saúde da Vila dos Co-
ciários (CSVC) na cidade de Porto Alegre e que concluí- merciários - CSVC, in Porto Alegre, and that completed
ram, no mínimo, vinte atendimentos fisioterapêuticos. O at least twenty physiotherapeutic sessions. The aim of
objetivo do estudo foi analisar a atuação de um serviço de the study was to analyze the clinical physiotherapy action
fisioterapia ambulatorial da rede pública como um agente as an education agent in health, i. e., to check if professio-
de educação em saúde, ou seja, verificar se os profissio- nals and/or students of physiotherapy promote any know-
nais e/ou estudantes de fisioterapia promovem algum co- ledge by means of education and communication in health
nhecimento, por meio da educação e comunicação em for those users regarding mechanisms of prevention, ins-
saúde, para estes usuários em relação aos mecanismos tallation, action and physiotherapeutic treatment of their
de prevenção, instalação, atuação e tratamento fisiotera- diseases. The collection of data was carried out with an
pêutico das patologias apresentadas. A coleta de dados foi initial instrument consisting of an anamnese, and a first
realizada através de um instrumento inicial constituído interview with questions was applied on the same day of
de uma anamnese, bem como uma primeira entrevista, the physiotherapy evaluation; and through a final instru-
com perguntas semi-estruturadas, aplicadas no dia da ava- ment with a second interview, similar to the first one,
liação fisioterapêutica, e por um instrumento final com applied after the person completed twenty physiothera-
uma segunda entrevista, semelhante à primeira, aplicada peutic sessions. Through this study, it was observed that
após o participante concluir os vinte atendimentos de physiotherapy, during the sessions, had little presence in
fisioterapia. Observou-se com o estudo que a fisiotera- the practices of educational work in health, thus demons-
pia, durante seus atendimentos, teve uma presença inex- trating the need of educational institutions to form pro-
pressiva nas práticas de trabalhos educativos em saúde, fessionals that are conscious of the importance of infor-
ressaltando, assim, a necessidade das instituições de en- mation, education and communication in the construction
sino de formarem profissionais sensibilizados com a im- of citizenship and behaviors that promote the health of
portância da informação, comunicação e educação na cons- people.
trução da cidadania e de comportamentos que promovam
a saúde dos indivíduos.

PALAVRAS-CHAVE KEY WORDS


Promoção da saúde. Educação em saúde. Fisioterapia. Health promotion. Health education. Physiotherapy.
74 | Marla Finkler Neuwald, Luiz Fernando Alvarenga

INTRODUÇÃO

PROMOÇÃO E EDUCAÇÃO EM práticas autoritárias e impositivas, horizontali-


SAÚDE zando e humanizando as relações de assistência à
saúde: da promoção à reabilitação (CANDEIAS,
Com o avanço das organizações de servi- 1997; SHAEDLER; ALMEIDA, 2001).
ço de saúde no âmbito da construção do Sis- A educação em saúde pode ser entendida
tema Único de Saúde (SUS), instituído pela como qualquer atividade relacionada com a
Constituição Federal de 1988 sob o lema “Saú- aprendizagem, desenhada para alcançar saúde.
de é direito do cidadão e dever do Estado”, Ela é, geralmente, desenvolvida através do
surge um novo desafio para a capacitação de aconselhamento interpessoal, em locais como
todos os profissionais que atuam nos serviços consultórios, escolas, entre outros, assim
de saúde pública e privada: a capacidade de como através da comunicação de massa
atuar em programas de promoção da saúde, o (BUSS, 1999; BUSS et al. 1998).
que inclui informação, educação e comunica- A educação em saúde (não confundir com
ção de qualidade (BOSI, 1994; CANDEIAS, informação em saúde) visa desencadear mudan-
1997; L’ABBATE,1997, 1999). ças de comportamento individual, enquanto que
A educação em saúde é um processo di- a promoção em saúde (que inclui sempre edu-
nâmico, no qual se pretende que as pessoas cação em saúde) tem a finalidade de promover
considerem a saúde como um valor, incenti- mudanças de comportamento organizacional,
vando a utilização de serviços de saúde, bem capazes de beneficiar a saúde das camadas mais
como estimulando as pessoas a conseguirem amplas da população (CANDEIAS, 1997).
saúde através de seus próprios esforços e O modelo predominante de educação em
ações. A prática do trabalho educativo ocorre saúde conta com pouco questionamento da
através de modelos didático-pedagógicos sa- população, em parte devido à baixa escolarida-
nitários, apresentando três modalidades de de e também à aplicação de um modelo pater-
aplicação: trabalho individual, trabalho de gru- nalista, que adota um processo de comunicação
pos específicos e trabalho com a comunidade unidirecional no lugar de um bidirecional (BIZZO,
(DILLY; JESUS, 1995; SILVA, 1994). 2002; CAPRARA; FRANCO, 1999).
A educação em saúde corresponde a uma
fração das atividades técnicas direcionadas a
promover saúde. A partir dela, espera-se a gran-
de responsabilidade e capacidade de reverter

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DIFUSÃO CIENTÍFICA: EDUCAÇÃO E zação dos estudantes e futuros profissionais


COMUNICAÇÃO EM SAÚDE para o papel da informação, educação e comu-
nicação na construção da cidadania e dos com-
O conhecimento científico pode ser for- portamentos favoráveis à saúde, o que parte
malizado e objetivado para a comunicação, uma de um elaborado processo de construção do
forma de difusão científica que pode ser abor- compromisso social dos profissionais de saú-
dada na educação em saúde e desenvolvida em de com a população (BUSS et al., 1998).
quatro diferentes ambientes: a escola, o local Educar para saúde é formar melhores pro-
de trabalho, o ambiente clínico, em seus dife- fissionais nesta área, ensinando valores éticos, o
rentes níveis de atuação, e a comunidade (BI- respeito aos direitos do paciente, situando-os no
ZZO, 2002; CANDEIAS, 1997). grande contexto da saúde, que é necessariamen-
A difusão científica vem sendo apontada te social, econômico e político (LOBO, 1995).
como ferramenta e mesmo como um movi-
mento social capaz de desencadear o fortale-
cimento da cidadania e a melhoria da saúde das FISIOTERAPIA NA ATENÇÃO PRIMÁ-
populações. Surge, então, a necessidade de RIA À SAÚDE
ensinar os mecanismos de prevenção, instala-
ção, atuação e tratamento das doenças, ou seja, O fisioterapeuta, como os demais profis-
a necessidade de se desvendarem, na educa- sionais de saúde, tem sólida formação acadê-
ção e comunicação científicas, os mecanismos mica, para atuar no desenvolvimento de pro-
pelos quais os eventos da saúde e da doença gramas de promoção de saúde. Porém, fre-
ocorrem. A linguagem não precisa ser uma qüentemente, tem suas atividades profissionais
barreira à divulgação das idéias, pode ser uma reconhecidas na reabilitação e na recuperação
ponte, pois o que interessa ao público leigo de pessoas fisicamente lesadas com atuação,
não são os textos científicos, mas as idéias que portanto, em níveis de atenção secundária e
eles contêm (BIZZO, 2002). terciária à saúde (DELIBERATO, 2002; RIBEI-
Educar para saúde exige informação e for- RO, 2002).
mação ampla e não restrita para garantir ao A inserção da fisioterapia na rede pública
paciente que ele será visto e respeitado como de saúde vem sofrendo a influência do seu sur-
uma pessoa integral, física, mental e afetivamen- gimento, pois apresenta sua origem e evolu-
te (LOBO, 1995). ção marcadas pela reabilitação. A própria ori-
A educação em saúde tem muito a contri- gem da fisioterapia enfatizou e dirigiu as defini-
buir, desde que se parta da consideração de que ções do campo profissional para atividades
Educação em Saúde é uma prática social con- recuperativas, reabilitadoras e atenuadoras de
creta, que se estabelece em determinados su- um organismo que se encontra em más condi-
jeitos (profissionais e usuários) que atuam no ções de saúde (RIBEIRO, 2002; REBELATTO;
interior de determinadas instituições de saúde. BOTOMÉ, 1987).
Trata-se de um processo recíproco, ou seja, que No entanto, a formação universitária,
gera efeitos positivos, tanto para o usuário como como especificado pelo Ministério da Educa-
também para o profissional. Deste processo se ção (MEC), destaca o fisioterapeuta como um
aprende que as pessoas necessitam umas das profissional generalista, sendo capaz, portan-
outras (L’ABBATE, 1997; VALLA, 1999). to, de atuar em todos os níveis de atenção à
É de fundamental importância a sensibili- saúde, não devendo ficar restrito às ações cura-

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tivas e reabilitadoras (DELIBERATO, 2002). ram no Serviço de Fisioterapia do CSVS e que


As propostas de atuação da fisioterapia, completaram o estudo, ou seja, concluíram,
na atenção primária, apresentam-se com os ob- no mínimo, vinte atendimentos fisioterapêuti-
jetivos de desenvolver ações voltadas à manu- cos.
tenção da saúde ou, então, em última instância,
à prevenção de seqüelas e não apenas à reabi-
PROCEDIMENTOS PROPOSTOS
litação (RIBEIRO, 2002).
É dentro desta nova perspectiva de atua-
Para o desenvolvimento deste trabalho, foi
ção profissional que se insere o fisioterapeuta
utilizado, como instrumento inicial, uma anam-
preventivo, agindo em programas de promo-
nese, bem como uma primeira entrevista apli-
ção de saúde e proteção específica (DELIBE-
cada no dia da avaliação fisioterapêutica. Após
RATO, 2002).
o participante completar vinte atendimentos
fisioterapêuticos, aplicou-se a segunda entre-
MATERIAIS E MÉTODOS vista. Os depoimentos de ambas as avaliações
e a anamnese foram coletados através de um
A presente pesquisa foi de caráter descri- minigravador.
tivo, do tipo levantamento de campo. Foi rea- Realizou-se uma anamnese juntamente com
lizada no Serviço de Fisioterapia do Centro de a entrevista inicial, no dia da avaliação fisiotera-
Saúde da Vila dos Comerciários (CSVC), na ci- pêutica. Os dados anamnésicos objetivaram
dade de Porto Alegre, no período de maio a identificar e caracterizar o indivíduo quanto ao
setembro de 2003. sexo, idade, ocupação, escolaridade, proce-
dência, naturalidade e diagnóstico clínico. Quan-
to à história clínica, o objetivo foi conhecer a
O LOCAL forma com que o paciente expressa e informa
sua queixa principal, a história da doença atual,
O Serviço de Fisioterapia do CSVC é assim como a história de suas patologias pre-
constituído, no turno da tarde (período que a gressas, familiar e familial.
coleta de dados foi realizada), por 03 fisiote- Durante a primeira entrevista, procurou-
rapeutas, sendo que duas delas prestam aten- se verificar o conhecimento apresentado pe-
dimentos de fisioterapia ortopédica, trauma- los participantes da pesquisa em relação à pa-
tológica, reumatológica e neurológica à po- tologia registrada na guia de solicitação de fisi-
pulação. Cada uma das fisioterapeutas é res- oterapia. O objetivo era conhecer a informa-
ponsável técnica por 03 estudantes de fisio- ção que os usuários desse serviço tinham a
terapia do 6º ao 10º semestres. respeito do diagnóstico clínico que os acom-
panhava, bem como o conhecimento sobre: o
trauma, lesão ou patologia apresentados, bem
A AMOSTRA como sobre as formas de instalação, preven-
ção e tratamento. Após completar vinte ses-
A amostra constou de 20 indivíduos, com sões de fisioterapia, os voluntários eram nova-
idade superior a 15 anos, com patologias or- mente entrevistados com um instrumento se-
topédicas, traumatológicas e/ou reumatológi- melhante ao primeiro.
cas clinicamente diagnosticadas, que ingressa- Durante os vinte atendimentos fisiote-

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rapêuticos, os participantes não receberam PERFIL DA AMOSTRA ESTUDADA


qualquer tipo de intervenção ou informação
educativa por parte da autora. Os atendimen- Dos 20 pacientes estudados, o sexo pre-
tos ocorreram naturalmente, sem diferenciar dominante foi o feminino, 14 participantes, sen-
o grupo pesquisado dos demais pacientes em do 6 participantes do sexo masculino. As ida-
tratamento. des dos participantes variaram de 19 anos a 73
Analisar, novamente, o conhecimento dos anos. Quanto ao grau de escolaridade, o mais
indivíduos em relação ao seu trauma, lesão ou freqüente foi o ensino fundamental, completo
patologia teve como finalidade verificar a atua- ou incompleto, com 12 voluntários, seguido de
ção da Fisioterapia como um agente de saúde ensino médio e ensino superior com, respecti-
capaz de proporcionar à população conheci- vamente, 5 e 3 voluntários em cada grupo.
mentos sobre os mecanismos de prevenção, Quanto á ocupação, esta se mostrou bem
instalação e tratamento das doenças. variada. As ocupações encontradas foram: apo-
O indivíduo devia relatar o que aprendeu sentadoria, comerciante, do lar, psicóloga, es-
sobre a sua patologia, formas de instalação e pre- tudante de enfermagem, publicitário, domés-
venção, assim como sobre o tratamento fisiote- tica, garçom, servente geral, motorista, con-
rapêutico durante esses vinte atendimentos. tador, costureira e pedreiro.
Quanto ao diagnóstico clínico que apre-
sentavam na guia de solicitação da fisioterapia,
ANÁLISE DOS RESULTADOS este variou muito. Os diagnósticos clínicos mais
freqüentes foram lombalgia, bursite e síndro-
A análise dos resultados foi qualitativa e me do impacto. Outros diagnósticos clínicos
realizou-se apenas com os pacientes que com- encontrados: tendinite no manguito rotador,
pletaram o estudo, ou seja, aqueles que reali- epicondilite, distensão muscular, condromalá-
zaram vinte sessões de fisioterapia no mínimo cia, seqüela de fratura na tíbia, no quinto dedo
e que responderam, portanto, a segunda en- e em T12, pós-operatório de artroplastia to-
trevista. tal de joelho e de torcicolo congênito, artro-
se, fibromialgia e espondilólise.
DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS
RESULTADOS
ANÁLISE DO CONHECIMENTO AD-
Durante a fase inicial do estudo, ou seja, QUIRIDO EM VINTE ATENDIMEN-
na aplicação da primeira entrevista, realizada TOS FISIOTERAPÊUTICOS
no dia do ingresso do paciente no serviço de
fisioterapia, a amostra contou com 30 volun- Neste estudo, procurou-se analisar se os
tários que assinaram o Termo de Consentimen- profissionais e/ou estudantes de fisioterapia,
to Livre e Esclarecido. Do total de voluntári- durante seus atendimentos, promovem, ver-
os, 10 não concluíram a fase final do estudo, balmente, algum conhecimento relacionado aos
abandonando o tratamento fisioterapêutico mecanismos de prevenção, instalação, atuação
antes de completar vinte sessões. e tratamento das patologias, lesões ou trau-
mas apresentados pelos participantes.
Na fase inicial do estudo, os voluntários
relataram as informações que tinham a respei-

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to da patologia que os acompanhava (formas bém não sei como se evita e também não sei o
de instalação, prevenção e tratamento). Lem- tipo de tratamento que se dá.
bramos que foi considerado, no estudo, ape-
A partir de uma análise inicial dos 20 de-
nas o diagnóstico clínico descrito no laudo de
poimentos coletados, percebeu-se que os
solicitação de fisioterapia.
mesmos vêm à fisioterapia com um mínimo
Abaixo, alguns depoimentos coletados
de conhecimento do diagnóstico clínico que
durante o estudo:
apresentam. Além disso, verificou-se que a
Participante 02 (Diagnóstico Clínico: Bur- maioria tem um saber limitado a respeito dos
site no Ombro Direito): mecanismos de atuação, prevenção e tratamen-
to de suas patologias, lesões ou traumas. Quan-
Tendinite, o médico disse que era tendinite crô- to à forma de instalação, a maioria associou a
nica, né. Que eu saiba, é uma infecção no meio algum fato ocorrido no passado, sem saber
da junta, né. Não sei como surge. A princípio, referir outras possíveis causas.
quando se tem tendinite, o tratamento é com
Também é possível observar que há de-
antiinflamatório. Pra prevenir e como aconte-
ce, eu não sei. poimentos que parecem vir ao encontro da
observação feita por Bizzo (2002), na qual
Participante 24 (Diagnóstico Clínico: Fibro- evidenciou, no contexto da saúde, o paciente
mialgia): reproduzindo o discurso médico, sem por
vezes compreender o seu significado.
Eu não sei certo, parece que é na coluna. Eu tenho Passados os 20 atendimentos fisioterapêu-
dor na coluna, não posso me mexer, me lateja. Eu ticos, os participantes, novamente, informaram
não sei como surge e não sei o que é. Também não à autora da pesquisa os conhecimentos que
sei como se evita e nem tratamento pra isso.
apresentavam sobre as formas de atuação, ins-
talação e prevenção da sua patologia, associa-
Participante 25 (Diagnóstico Clínico: Lom-
dos à sua opinião em relação ao tratamento
balgia e Artrose na Coluna):
fisioterapêutico.
Eu tenho dor na coluna com uma queimação Para fins didáticos e melhor compreensão
na perna. Não sei te dizer como surge. É uma do conhecimento adquirido pelos participan-
dor que aparece por certo tempo, passa um tes, serão descritos os depoimentos dos mes-
tempo, volta com mais força, sabe... Eu acho mos participantes analisados anteriormente,
que é devido ao tipo de serviço em que a gente porém, agora, após 20 sessões de fisioterapia.
trabalha, sei lá. Só pode ser isso ou hereditá-
rio. Meu pai também já sofria muito de dor na
coluna, alguma coisa assim parecida... O modo Participante 02 (Diagnóstico Clínico: Bur-
de eu pegar as coisas, o jeito de eu sentar, o site no Ombro Direito):
jeito de eu deitar, tudo isso ajuda a evitar. Tra-
tamento, por enquanto nada, só a fisioterapia Eu achava que a bursite era o nome dado à
mesmo que o médico me indicou, né, agora. inflamação. Eu achava que era uma infecção
naquela região ali dos músculos. Eu aprendi
Participante 29 (Diagnóstico Clínico: Es- que a bursite não é uma inflamação, é borsa.
Borsa que serve como um amortecedor. Ela
pondilólise L5S1):
fica entre os tendões e ela amortece ali o im-
pacto entre o osso da clavícula e o ombro, né.
Pelo menos o médico disse que é uma inflama-
A inflamação surge em roda, é isso que eu
ção na coluna, ali né. Não sei como surge, tam-

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aprendi. A diferença da borsa e da infecção e minhado, outros dias volta a doer de novo. Pode-
da inflamação. A infecção é através de vírus, ria acrescentar talvez mais alguma coisa, mas daí
né. Vírus que penetra na região e dá infecção. eu não conheço direito. Mas se tem mais alguma
A inflamação não. A inflamação não precisa de coisa pra me ajudar, melhor.
vírus, ela inflama. Pode surgir por um excesso
de força, né, um impacto violento, uma batida Participante 29 (Diagnóstico Clínico: Es-
sobre a região. Esse problema de articulação
pondilólise L5S1):
depende muito, também, da alimentação, al-
guma coisa falta no organismo e provoca essa
Não sei o que é, nem como surge. Não sei
inflamação da articulação.
(prevenção). Não (tratamento). Fisioterapia
Sobre como se evita, nada me disseram. Mas
pra mim tá bom assim. Tá me ajudando.
eu acho que se previne essas doenças de arti-
culação é através de algum medicamento, a
própria alimentação com mais cálcio. Basica- Através de uma comparação dos depoi-
mente, a prevenção é através da alimentação, mentos antes e após 20 atendimentos fisiote-
com orientação alimentar. Tratamento só o an- rapêuticos, verificou-se que a fisioterapia pra-
tiinflamatório. Pra bursite, basicamente o que tica muito pouco de educação em saúde, em
ocorreu comigo: infra-vermelho, ultra-som, trabalhos educativos individuais.
exercícios apropriados, antiinflamatório, gelo.
Para a minoria que relatou ter adquirido
Eu tou melhorando, já tou com mais movimen-
to no braço. Tou gostando. algum conhecimento durante os atendimentos
de fisioterapia, este parece não ter ficado cla-
Participante 24 (Diagnóstico Clínico: Fibro- ro para os pacientes na leitura e análise de seus
mialgia) depoimentos. Quanto à opinião sobre o trata-
mento fisioterapêutico abordado, muitos rela-
Não sei, por enquanto eu não sei. Eu tou em taram que estavam gostando; porém, parece
tratamento. Não sei. Como surge eu não sei que nenhum deles criticou o procedimento
nada. Também não (prevenção), e tratamento adotado em seu tratamento, talvez por falta
também não. A fisioterapia tá me ajudando, eu
de conhecimento e fundamentações para ar-
tenho tido melhoras, eu já tou bem melhor, só
a esquerda que me dói. O joelho ainda me dói. gumentar sobre as técnicas.
Os braços tão bem melhor. Transmitir conhecimentos sobre as con-
dições de saúde a um indivíduo, além de ser
uma atitude promovedora de saúde, permite
Participante 25 (Diagnóstico Clínico: Lom- maior envolvimento do paciente no tratamen-
balgia e Artrose na Coluna): to, uma vez que a aprendizagem é de funda-
mental importância na motivação de um indiví-
É dor lombar. Eu conheço como dor lombar. Eu
aprendi, pelo que me explicaram pelo raio X, que duo no seu tratamento. Desta forma, é neces-
é dor entre as vértebras, é a falta de cartilagem, é sário esclarecer ao máximo o paciente sobre
bico de papagaio. Não sei te dizer como ela apa- seus problemas de saúde, exames e procedi-
rece. Pra impedir, não agarrar peso de mau jeito, mentos, interrogando-o sobre o que sabe e
pegar conforme o jeito certo de cada coisa. Não, sobre o que mais deseja saber de sua saúde
aqui eu não aprendi. Eu aprendi já, mas na parte
(DILLY; JESUS, 1995).
onde eu trabalho, que tudo que a gente vai fazer
tem que ter um posicionamento certo. Cuidar pra Segundo Bizzo (2002), à medida que o in-
não esfriar a coluna. De tratamento, eu acho que a divíduo conhece melhor suas condições de
fisioterapia é um bom caminho. Eu tou me sentin- saúde (causas e efeitos), passa a atuar como
do melhor. Têm dias que parece que tá bem enca-

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agente do próprio desenvolvimento, abando- ca e que aprofundem sobre a importância das


nando a postura de um receptor passivo de ações de promoção e prevenção da saúde.
ajuda, de um indivíduo dependente e, por ve-
zes, com perda da autonomia.
Ao longo deste estudo, percebeu-se um CONCLUSÃO
despreparo, tanto de profissionais como de
estudantes de fisioterapia, durante a transmis- O fisioterapeuta, na saúde pública, tem
são dos conhecimentos analisados para seus participação e ação no planejamento de todos
pacientes, bem como a ausência de uma pos- os níveis de atenção à saúde, participando,
tura educadora e planejadora, que age forman- portanto, na saúde básica (promoção e educa-
do e transformando idéias e ações. ção); em serviços ambulatoriais e hospitalares
Para Briceño (1996), a educação é uma e em serviços de referência em reabilitação.
maneira como os conhecimentos derivados da Porém, tem-se observado uma baixa partici-
investigação científica são utilizados e postos pação da fisioterapia em programas de pro-
em funcionamento para que o ser humano atue moção e educação voltados à saúde.
ou deixe de atuar, decida e participe de modo Observou-se, nos estudantes e nos pro-
que contribua no controle das enfermidades. fissionais de fisioterapia, muitas vezes, uma fal-
De acordo com Medeiros (2003), a for- ta de iniciativa ou de interesse na aplicação de
mação acadêmica dos profissionais correspon- práticas educadoras, mas principalmente uma
de ao maior problema enfrentado na atuação ausência de didática, ao transmitir conhecimen-
da fisioterapia na rede pública de saúde. Se- tos que agem formando e transformando idéi-
gundo ela, a disciplina de saúde pública, embo- as em ações conducentes à saúde.
ra obrigatória, não tem representado a corre- A linguagem parece ter representado a prin-
ta informação e formação profissional na ex- cipal barreira na compreensão das informações
tensão necessária, e tem reproduzido precon- transmitidas por ambos os sujeitos (prestador
ceitos vinculados a uma visão puramente tec- e usuário do serviço), prejudicando, portanto,
nicista, pelas instituições de ensino. a comunicação e o desenvolvimento do traba-
Deliberato (2002) define o fisioterapeuta lho educativo entre os mesmos.
como um membro da área da saúde com sóli- O SUS representa, atualmente, o maior
da formação científica e com atuação no de- empregador de trabalhadores em saúde; po-
senvolvimento de ações de prevenção, avalia- rém, observa-se que a fisioterapia tem explo-
ção, tratamento e reabilitação, através de pro- rado pouco este mercado de trabalho em re-
gramas de orientação e promoção da saúde, lação aos demais integrantes da equipe de saú-
assim como agentes físicos como o movimen- de. A fisioterapia precisa modificar aquela vi-
to, a água, o calor, o frio e a eletricidade. são, exclusivamente vinculada à reabilitação e à
O fisioterapeuta tem ação direta sobre o recuperação dos indivíduos, e se expandir, con-
princípio doutrinário do SUS, que é a Integra- cretamente, em atividades voltadas à atenção
lidade, devendo promover um atendimento Primária à Saúde. Os fisioterapeutas devem
voltado à promoção, prevenção e recupera- conquistar seu espaço na saúde pública, pro-
ção da saúde. movendo atenção específica na sua área, mas
Medeiros (2003) coloca a importância das também agindo como educador e promove-
instituições de ensino formarem profissionais dor de idéias e ações que contribuam para o
generalistas, capazes de vincular teoria e práti- controle das enfermidades.
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Desta forma, para todos os profissionais e em: 24 fev. 2003.


estudantes que desejarem exercer a prática so- CAPRARA, A.; FRANCO, A. L. S. A relação
cial concreta, que representa a Educação em paciente-médico: para uma humanização na
Saúde, além da sensibilização sobre a importân- prática médica. Cadernos de Saúde Públi-
cia da informação, educação e comunicação na ca, Rio de Janeiro, v. 15, n. 3, jul./set. 1999.
construção da cidadania e dos comportamen- Disponível em: <http://www.scielo.br>. Aces-
tos conducentes à saúde, é condição fundamen- so em: 24 fev. 2003.
tal, que estejam comprometidos com um tra- DELIBERATO, P. C. P. Fisioterapia preventi-
balho pedagógico que valorize a intercomuni- va: fundamentos e aplicações. São Paulo: Ma-
cação entre o saber popular e o científico. nole, 2002.
DILLY, C. M.; JESUS, M. C. Processo educa-
tivo em enfermagem. São Paulo: Probel Edi-
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