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Karl Marx - O Capital 1 / 46

Edição Online 1a Edição 2010, 1a Versão

KARL MARX

O CAPITAL
Crítica da Economia Política

LIVRO I
O processo de produção capitalista

SEÇÃO I
Mercadoria e Dinheiro

CAPÍTULO I
A Mercadoria

Edição Livre Online

por Jason T. Borba

PUCSP 2010

GECOPOL - Grupo de Pesquisa em Economia Política Marxista


Linha de Pesquisa Cenários Geoeconômicos
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1. Livro Primeiro
2. O PROCESSO DE PRODUÇÃO DO CAPITAL

3. Primeira seção
4. MERCADORIA E DINHEIRO

5. Capítulo I
6. A MERCADORIA

7. 1. Os dois fatores da mercadoria: valor de uso e valor (substância e magnitude do


valor)

8. A riqueza das sociedades em que impera o regime capitalista de produção nos aparece
como um "imenso arsenal de mercadorias"1 e a mercadoria como sua forma elementar. Por
isso, nossa investigação arranca da análise da mercadoria.
9. A mercadoria é, em primeiro lugar, um objeto externo, uma coisa apta para satisfazer
necessidades humanas, de qualquer classe que elas sejam. O caráter destas necessidades,
que brotem por exemplo do estômago ou da fantasia, não interessa minimamente para estes
efeitos.2 Nem interessa tampouco, deste ponto de vista, como esse objeto satisfaz as
necessidades humanas, se diretamente, como meio de vida, quer dizer como objeto de
desfrute, ou indiretamente, como meio de produção.
10. Todo objeto útil, o ferro, o papel, etc., pode considerar-se a partir de dois pontos de
vista: com relação a sua qualidade ou a sua quantidade. Cada objeto destes representa um
conjunto das mais diversas propriedades e pode empregar-se, portanto, nos mais diversos
aspectos. A descoberta destes diversos aspectos e, portanto, das diferentes modalidades de
uso das coisas, constitui um fato histórico.3 O mesmo acontece com a invenção das
medidas sociais para expressar a quantidade dos objetos úteis. Às vezes, a diversidade que
se anuncia nas medidas das mercadorias responde à diversa natureza dos objetos que se
trata de medir; outras vezes é fruto da convenção.
11. A utilidade de um objeto o converte em valor de uso.4 Mas esta utilidade dos objetos
não paira no ar. É algo que está condicionado pelas qualidades materiais da mercadoria e
que não pode existir sem elas. O que constitui um valor de uso ou um bem é, portanto, a
materialidade da mercadoria mesma, o ferro, o trigo, o diamante, etc. E este caráter da
mercadoria não depende de que a apropriação de suas qualidades úteis custe ao homem
muito ou pouco trabalho. Apreciar um valor de uso, supõe-no sempre concretizado em uma

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quantidade, V. gr. uma dúzia de relógios, uma vara de tecido, uma tonelada de ferro, etc.
Os valores de uso fornecem os materiais para uma disciplina especial: a do conhecimento
pericial das mercadorias.5 O valor de uso só toma corpo no uso ou consumo dos objetos.
Os valores de uso formam o conteúdo material da riqueza, qualquer que seja a forma
social desta. No tipo de sociedade que nos propomos estudar, os valores de uso são, além
disso, o suporte material do valor de troca.
12. À primeira vista, o valor de troca aparece como a relação quantitativa, a proporção em
que se trocam valores de uso de uma classe por valores de uso de outra, 6 relação que varia
constantemente com os lugares e os tempos. Parece, pois, como se o valor de troca fosse
algo puramente casual e relativo, e assim, portanto, constituísse uma contradictio in
adjecto(5) a existência de um valor de troca interno, imanente à mercadoria (valeur
intrinseque).7 Mas, observemos a coisa mais de perto.
13. Uma determinada mercadoria, um quarter de trigo por exemplo, troca-se nas mais
diversas proporções por outras mercadorias V. gr.: por x betume, por e seda, por z ouro,
etc. Mas, como x betume, e seda, z ouro, etc. representam o valor de troca de um quarter de
trigo, x betume, e seda, z ouro, etc. têm que ser necessariamente valores de mudança
permutáveis os uns pelos outros ou iguais entre si. Donde se segue: primeiro, que os
diversos valores de troca da mesma mercadoria expressam todos eles algo igual; segundo,
que o valor de troca não é nem pode ser mais que a expresi6n de um conteúdo diferenciável
dele, sua “forma de manifestar-se”.
14. Tomemos agora duas mercadorias, por exemplo trigo e ferro. Qualquer que seja a
proporção em que se troquem, caberá sempre representá-la por uma igualdade em que uma
determinada quantidade de trigo equivalha a uma quantidade qualquer de ferro, V. gr.: 1
quarter de trigo = x quintais de ferro. O que nos diz esta igualdade? Que nos dois objetos
distintos, ou seja, em 1 quarter (7) de trigo e em x quintais de ferro, está contida alguma
coisa comum de magnitude igual. Ambas as coisas são, portanto, iguais a uma terceira, que
não é nem uma nem a outra. Cada uma delas deve, por conseguinte, enquanto valor de
troca, poder reduzir-se a este terceiro termo.
15. Um simples exemplo geométrico nos esclarecerá isto. Para determinar e comparar as
áreas de dois polígonos ter-se-á que convertê-las previamente em triângulos. Logo, os
triângulos se reduzem, por sua vez, a uma expressão completamente diferente de sua figura
visível: a metade do produto de sua base por sua altura. Exatamente o mesmo ocorre com
os valores de troca das mercadorias: ter-se-á que reduzi-los necessariamente a alguma coisa
comum com respeito ao qual representem um mais ou um menos.
16. Este algo comum não pode se consistir a partir de uma propriedade geométrica, física ou
química, nem em nenhuma outra propriedade natural das mercadorias. As propriedades
materiais das coisas só interessam quando as considerarmos como objetos úteis, quer dizer,
como valores de uso. Além disso, o que caracteriza visivelmente a relação de troca das
mercadorias é precisamente o fato de fazer abstração de seus valores de uso respectivos.
Dentro dela, um valor de uso, sempre e quando que se apresente na proporção adequada,
vale exatamente o mesmo que outro qualquer. Já o disse o velho Barbon: "Uma classe de

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mercadorias vale tanto como outra, sempre que seu valor de troca seja igual. Entre objetos
cujo valor de troca é idêntico, não existe disparidade nem possibilidade de distinguir."8
Como valores de uso, as mercadorias representam, acima de tudo, qualidades diferentes;
como valores de troca, só se distinguem pela quantidade: não encerram, portanto, nem um
átomo de valor de uso.
17. Agora, se prescindirmos do valor de uso das mercadorias estas só conservam uma
qualidade: a de ser produtos do trabalho.
18. Mas não produtos de um trabalho real e concreto. Ao prescindir de seu valor de uso,
prescindimos também dos elementos materiais e das formas que os convertem em tal valor
de uso. Deixarão de ser uma mesa, uma casa, uma novelo de linho ou um objeto útil
qualquer. Todas suas propriedades materiais se evaporaram. Deixarão de ser também
produtos do trabalho do marceneiro, do carpinteiro, do tecelão ou de outro trabalho
produtivo concreto qualquer. Com o caráter útil dos produtos do trabalho, desaparecerá o
caráter útil dos trabalhos que representam e desaparecerão também, portanto, as diversas
formas concretas destes trabalhos, que deixarão de distinguir uns de outros para reduzir-se
todos eles ao mesmo trabalho humano, ao trabalho humano abstrato.
19. Qual é o resíduo dos produtos assim considerados? É a mesma materialidade
espectral, um simples coágulo de trabalho humano indistinto, quer dizer, de emprego de
força humana de trabalho, sem remeter em nada à forma em que esta força se empregue.
Estes objetos só nos dizem que em sua produção se investiu força humana de trabalho,
acumulou-se trabalho humano. Pois bem, considerados como cristalização desta substância
social comum a todos eles, estes objetos são valores, valores–mercadorias.
20. Vamos nos reter agora na relação de troca das mercadorias. Parece como se o valor
de troca em si fosse algo totalmente independente de seus valores de uso. E com efeito,
prescindindo real e verdadeiramente do valor de uso dos produtos do trabalho, obteremos o
valor tal como acabamos de definir. Aquele algo comum que toma corpo na relação de
troca ou valor de troca da mercadoria é, portanto, seu valor. No curso de nossa investigação
retornaremos novamente ao valor de troca, como expressão necessária ou forma obrigatória
de manifestação do valor, que por ora estudaremos independentemente desta forma.
21. Portanto, um valor de uso, um bem, só encerra um valor por ser encarnação ou
materialização do trabalho humano abstrato. Como se mede a magnitude deste valor? Pela
quantidade de “substância criadora de valor”, quer dizer, de trabalho, que contem. E, por
sua vez, a quantidade de trabalho nele contido se mede pelo tempo de sua duração, e o
tempo de trabalho, tem, finalmente, sua unidade de medida nas diferentes frações de
tempo: horas, dias, etc.
22. Dir-se-á que se o valor de uma mercadoria se determina pela quantidade de trabalho
gasto em sua produção, as mercadorias encerrarão tanto mais valor quanto mais folgazão ou
mais torpe seja o homem que as produz ou, o que é o mesmo, quanto mais tempo demore
para as produzir. Mas não; o trabalho que forma a substância dos valores é trabalho humano
igual, dispêndio da mesma força humana de trabalho. É como se toda a força de trabalho da
sociedade, materializada na totalidade dos valores que formam o mundo das mercadorias,

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representasse para estes efeitos uma imensa força humana de trabalho, não obstante ser a
soma de um sem número de forças de trabalho individuais. Cada uma destas forças é uma
força humana de trabalho equivalente às demais, sempre e quando apresente o caráter de
uma força média de trabalho social e dê, além disso, o rendimento correspondente a essa
força media de trabalho social; ou, o que é o mesmo, sempre e quando para produzir uma
mercadoria não consuma mais que o tempo de trabalho que representa a média necessária,
ou seja o tempo de trabalho socialmente necessário. Tempo de trabalho socialmente
necessário é aquele que se requer para produzir um valor de uso qualquer, nas condições
normais de produção e com o grau médio de destreza e intensidade de trabalho
predominantes na sociedade. Assim, por exemplo, depois de introduzir-se na Inglaterra o
tear de vapor, o volume de trabalho necessário para converter em tecido uma determinada
quantidade de fio, certamente ficaria reduzido na metade. O tecelão manual inglês seguia
gastando nesta operação, naturalmente, o mesmo tempo de trabalho que antes, mas agora o
produto de seu trabalho individual só representava meia hora de trabalho social, ficando
portanto reduzido à metade de seu valor original.
23. Por conseguinte, o que determina a magnitude de valor de uma mercadoria não é
mais que a quantidade de trabalho socialmente necessária, ou seja o tempo de trabalho
socialmente necessário para sua produção9. Para estes efeitos, cada mercadoria se
considera como um exemplar médio de sua espécie.10 Mercadorias que encerram
quantidades de trabalho iguais ou que podem ser produzidas no mesmo tempo de trabalho
representam, portanto, a mesma magnitude de valor. O valor de uma mercadoria está para o
valor de qualquer outra, assim como o tempo de trabalho necessário para a produção da
primeira está para o tempo de trabalho necessário para a produção da segunda.
"Consideradas como valores, as mercadorias não são todas elas mais que determinadas
quantidades de tempo de trabalho cristalizado.”11
24. A magnitude de valor de uma mercadoria permaneceria, portanto, constante, invariável,
se permanecesse também constante o tempo de trabalho necessário para sua produção. Mas
este muda ao mudar a capacidade produtiva do trabalho. A capacidade produtiva do
trabalho depende de uma série de fatores, entre os quais se contam o grau médio de
destreza do trabalhador, o nível de progresso da ciência e de suas aplicações, a organização
social do processo de produção, o volume e a eficácia dos meios de produção e as
condições naturais. Assim, por exemplo, a mesma quantidade de trabalho que em anos de
boa colheita fornece 8 bushels (8) de trigo, em anos de má colheita só fornece 4. O
rendimento obtido na extração de metais com a mesma quantidade de trabalho variará
conforme se trate de jazidas ricas ou pobres, etc. Os diamantes são raros na crosta da terra;
por isso sua extração supõe, em média, muito tempo de trabalho, e esta é a razão por que se
representem, em dimensões pequeníssimas, quantidades de trabalho enormes. Jacob duvida
que o ouro um dia pague todo seu valor. O mesmo poderia se dizer, embora com maior
razão ainda, dos diamantes. Segundo os cálculos de Eschwege, em 1823 a extração total
das minas de diamantes do Brasil não alcançava, calculada com base num período de
oitenta anos, o preço representado pelo produto médio das plantações brasileiras de açúcar
e café durante ano e meio, apesar de supor muito mais trabalho e, portanto, muito mais

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valor. Em minas mais ricas, a mesma quantidade de trabalho representaria mais diamantes,
com o que estes objetos diminuiriam de valor. E se o homem chegasse a conseguir
transformar o carvão em diamante com pouco trabalho, o valor dos diamantes cairia abaixo
do dos tijolos. Dito em termos gerais: quanto major seja a capacidade produtiva do
trabalho, tanto menor será o tempo de trabalho necessário para a produção de um artigo, tão
menor a quantidade de trabalho cristalizada nele e tão mais reduzido seu valor. E ao
contrário, quanto menor seja a capacidade produtiva do trabalho, tanto maior será o tempo
de trabalho necessário para a produção de um artigo e tão maior o valor de este. Portanto, a
magnitude do valor de uma mercadoria muda em razão direta à quantidade e em razão
inversa à capacidade produtiva do trabalho que nela se inverte.
25. Um objeto pode ser valor de uso sem ser valor. Assim acontece quando a utilidade que
esse objeto encerra para o homem não se deve ao trabalho. É o caso do ar, da terra virgem,
das pradarias naturais, dos bosques silvestres, etc. E pode, do mesmo modo, um objeto ser
útil e produto do trabalho humano sem ser mercadoria.. Os produtos do trabalho destinados
a satisfazer as necessidades pessoais de quem os cria são, indubitavelmente, valores de uso,
mas não mercadorias. Para produzir mercadorias, não basta produzir valores de uso, mas
sim é mister produzir valores de uso para outros, valores de uso sociais. (E não só para
outros, pura e simplesmente. O lavrador da Idade Média produzia o trigo do tributo para o
suserano e o trigo do dízimo para o padre; e, entretanto, apesar de produzi-lo para outros,
nem o trigo do tributo nem o trigo do dízimo eram mercadorias. Para ser mercadoria, o
produto tem que passar à mãos de outro, do que o consome, por meio de um ato de troca.)12
Finalmente, nenhum objeto pode ser um valor sem ser por sua vez objeto útil. Se for inútil,
sê-lo-á também o trabalho que este encerra; não contará como trabalho nem representará,
portanto, um valor.

26. 2. Duplo caráter do trabalho representado pelas mercadorias

27. Vimos no começo que a mercadoria tinha duas faces: a de valor de uso e a de valor de
troca. Mais tarde, voltamos a nos deparar com o fato de que o trabalho expresso no valor
não apresentava os mesmos caracteres que o trabalho criador de valores de uso. Ninguém,
até agora, tinha posto em relevo criticamente este duplo caráter do trabalho representado
pela mercadoria.13 E como este ponto é o eixo em torno do qual gira a compreensão da
economia política, temos que nos deter a examiná-lo com certo cuidado.
28. Tomemos duas mercadorias, V. gr.: um casaco e 10 varas de tecido. E digamos que a
primeira tem o dobro de valor que a segunda; quer dizer, que se 10 varas de tecido = v, 1
casaco = 2 v.
29. O casaco é um valor de uso que satisfaz uma necessidade concreta. Para criá-lo, requer-
se uma determinada classe de atividade produtiva. Esta atividade está determina por seu
fim, modo de operar, objeto, meios e resultado. O trabalho cuja utilidade vem a
materializar-se assim no valor de uso de seu produto ou no fato de que seu produto seja um

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valor de uso, é o que chamamos, resumindo, trabalho útil. Considerado deste ponto de
vista, o trabalho se nos revela sempre associado a sua utilidade.
30. Do mesmo modo que o casaco e o tecido são valores de uso qualitativamente distintos,
os trabalhos a que devem sua existência – ou seja, o trabalho do alfaiate e o do tecelão –
são também trabalhos qualitativamente distintos. Se não fossem valores de uso
qualitativamente distintos e, portanto, produtos de trabalhos úteis qualitativamente distintos
também, aqueles objetos de nenhum modo poderiam enfrentar-se um com o outro como
mercadorias. Não é prático trocar um casaco por outro, valores de uso por outros idênticos.
31. Sob o tropel dos diversos valores de uso ou mercadorias, desfila ante nós um conjunto
de trabalhos úteis não menos variados, trabalhos que diferem uns de outros em gênero,
espécie, família, subespécie e variedade: é a divisão social do trabalho, condição de vida da
produção de mercadorias, embora, esta não o seja, por sua vez, da divisão social do
trabalho. Assim, por exemplo, a comunidade da Índia antiga, supõe uma divisão social do
trabalho, apesar da qual os produtos não se convertem ali em mercadorias. Para apreentar
outro exemplo mais próximo a nós: em toda fábrica reina uma divisão sistemática do
trabalho, mas esta divisão não se apóia no fato de que os operários troquem entre si seus
produtos individuais. Só os produtos de trabalhos privados independentes uns dos outros
podem revestir em suas relações mútuas o caráter de mercadorias.
32. Vemos, pois, que o valor de uso de toda mercadoria representa uma determinada
atividade produtiva encaminhada a um fim ou, o que é o mesmo, um determinado trabalho
útil. Os valores de uso não podem enfrentar-se uns com os outros como mercadorias se não
contiverem trabalhos úteis qualitativamente distintos. Em uma sociedade cujos produtos
revestem em geral a forma de mercadorias, quer dizer, em uma sociedade de produtores de
mercadorias, a diferença qualitativa que se evidencia entre os distintos trabalhos úteis
realizados independentemente uns dos outros como atividades privativas correspondentes
de produtores independentes, vai se desenvolvendo até formar um complicado sistema, até
converter-se em uma divisão social do trabalho.
33. Para o casaco, enquanto casaco, é de resto indiferente que seja vestido pelo alfaiate ou
seu cliente. Em ambos os casos cumpre sua missão de valor de uso. Em realidade, a relação
entre esse objeto e o trabalho que o produz não muda tampouco porque a atividade do
alfaiate se converta em profissão especial, em categoria independente dentro da divisão
social do trabalho. Ali onde a necessidade de vestimenta se fazia valer mais e mais, o
homem passou longos séculos cortando peças mais ou menos brutas antes de converter-se
de homem em alfaiate. Entretanto, o casaco, o tecido, todos os elementos da riqueza
material não fornecidos pela natureza, devem sempre sua existência a uma atividade
produtiva específica, útil, por meio da qual se assimilam determinadas matérias que a
natureza brinda ao homem a determinadas necessidades humanas. Como criador de valores
de uso, quer dizer como trabalho útil, o trabalho é, portanto, condição de vida do homem, e
condição independente de todas as formas de sociedade, uma necessidade perene e natural
sem a que não se conceberia o intercâmbio orgânico entre o homem e a natureza nem, por
conseguinte, a vida humana.

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34. Os valores de uso, casaco, tecido, etc., ou o que é o mesmo, as mercadorias consideradas
como objetos corpóreos, são combinações de dois elementos: a matéria oferecida pela
natureza e o trabalho. Se descontarmos o conjunto de trabalhos úteis contidos no casaco, no
tecido, etc., ficará sempre um substrato material, que é o que a natureza oferece ao homem
sem intervenção da mão de este. Em sua produção, o homem só pode proceder como
procede a natureza mesma, quer dizer, fazendo com que a matéria mude de forma..14 Mais
ainda. Neste trabalho de conformação, o homem se apóia constantemente nas forças
naturais. O trabalho não é, pois, a fonte única e exclusiva dos valores de uso que produz,
da riqueza material. O trabalho é, como disse William Petty, o pai da riqueza, e a terra a
mãe.
35. Passemos agora da mercadoria considerada como objeto útil à mercadoria considerada
como valor.
36. Partimos do suposto de que o casaco vale o dobro de 10 varas de tecido. Mas esta é uma
diferença puramente quantitativa, que, no momento, não nos interessa. Limitemo-nos,
portanto, a recordar que se o valor de um casaco é o dobro do de 10 varas de tecido, 20
varas de tecido representarão a mesma magnitude de valor que um casaco. Considerados
como valores, o casaco e o tecido são objetos que encerram idêntica substância, objetos de
igual natureza, expressões objetivas do mesmo tipo de trabalho. Mas o trabalho do alfaiate
e o do tecelão são trabalhos qualitativamente distintos. Há, entretanto, sociedades em que o
mesmo homem trabalha alternativamente como alfaiate e tecelão e em que, portanto, estas
duas modalidades diferentes de trabalho não são mais que variantes do trabalho do mesmo
indivíduo, em que não representam ainda funções fixas e concretas de diferentes pessoas,
do mesmo modo que o casaco que hoje corta nosso alfaiate e as calças que cortará amanhã
não representam mais que modalidades do mesmo trabalho individual. Aparentemente se
nota, além disso, que em nossa sociedade capitalista uma quantidade concreta de trabalho
humano se aloca alternativamente em forma de trabalho de alfaiataria ou de trabalho têxtil,
segundo as flutuações que experimente a demanda de trabalho. É possível que estas
mudanças de forma do trabalho não se operem sem resistência, mas têm que operar-se,
necessariamente.
37. Se prescindirmos do caráter concreto da atividade produtiva e, portanto, da utilidade do
trabalho, o que permanece dele? Resta, simplesmente, ser um gasto de força humana de
trabalho. O trabalho do alfaiate e o do tecelão, ainda que representando atividades
produtivas qualitativamente diferentes, têm de comum o fato de ser um gasto produtivo de
cérebro humano, de músculo, de nervos, de braço, etc.; portanto, neste sentido, ambos os
são trabalho humano. Não são mais que duas formas diferentes de aplicar a força de
trabalho do homem. Claro está que, para poder aplicar-se sob tal ou qual forma, é
necessário que a força humana de trabalho adquira um grau maior ou menor de
desenvolvimento. Mas, em sí, o valor de 1a mercadoria só representa trabalho humano,
gasto de trabalho humano pura e simplesmente. Ocorre com o trabalho humano, a esse
respeito, o que na sociedade burguesa ocorre com o homem, que enquanto homem deixa de
ser apenas um nada na medida em que se engalana e se valoriza representando um grande

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papel nessa sociedade, figurando então como general ou como banqueiro.15 O trabalho
humano é o emprego dessa simples força de trabalho que todo homem comum, em média,
possui em seu organismo corpóreo, sem necessidade de uma especial educação. O simples
trabalho médio muda, indubitavelmente, de caráter segundo os países e a cultura de cada
época, mas existe sempre, dentro de uma sociedade dada. O trabalho complexo não é mais
que o trabalho simples potencializado ou, melhor dizendo, multiplicado: donde uma
pequena quantidade de trabalho complexo pode equivaler a uma quantidade grande de
trabalho simples. E a experiência demonstra que esta redução de trabalho complexo a
trabalho simples é um fenômeno que se dá todos os dias e a toda hora. Por muito complexo
que seja o trabalho a qual deve sua existência uma mercadoria, o valor a reduz em seguida
a um múltiplo do trabalho simples, e enquanto valor só representa, portanto, uma
determinada quantidade de trabalho simples.16 As diversas proporções em que diversas
classes de trabalho se reduzem à unidade de medida do trabalho simples se estabelecem
através de um processo social que opera às costas dos produtores, e isto lhes move a pensar
que trata-se de fruto do costume. Na seqüência, para maior simplicidade, consideraremos
sempre a força de trabalho, qualquer que ela seja, como expressão direta da força de
trabalho simples, nos economizando assim o incomodo de reduzi-la à unidade.
38. Do mesmo modo que nos valores casaco e tecido se prescinde da diferença existente
entre seus valores de uso, nos trabalhos que esses valores representam se faz caso omisso
da diferença de suas formas úteis, ou seja da atividade do alfaiate e da do tecelão. E assim
como os valores de uso tecido e casaco são fruto da combinaci6n de uma atividade útil
produtiva, com a tecelagem e a fiação respectivamente, quando considerados como valores,
o casaco e o tecido não são, ao contrário, mais que simples cristalizações análogas de
trabalho, os trabalhos contidos nestes valores não são o que são devido à relação produtiva
que guardam com a tecelagem e a fiação, mas sim por serem dispêndio de força humana de
trabalho pura e simplesmente. Os trabalhos do alfaiate e o tecelão são elementos
integrantes dos valores de uso casaco e tecido devido precisamente a suas diversas
qualidades; ao contrário, só são substância e base dos valores tecido e casaco enquanto
neles se faça abstração de suas qualidades específicas, para reduzi-los à mesma qualidade:
a do trabalho humano.
39. Porém o casaco e o tecido não são somente valores em geral, mas valores de uma
determinada magnitude, pois já havíamos dito que, segundo o suposto de que partimos, o
casaco vale o dobro de 10 varas de tecido. Como se explica esta diferença de magnitude de
valor? Sua explicação reside no fato de que as 10 varas de tecido só contém a metade de
trabalho que um casaco; o que quer dizer que, para produzir este, a força de trabalho deverá
funcionar dobro tempo do que se necessita para produzir aquelas.
40. Portanto, se com relação ao valor de uso o trabalho representado pela mercadoria só
interessa qualitativamente, com relação à magnitude do valor interessa só em seu aspecto
quantitativo, uma vez reduzido à unidade de trabalho humano puro e simples. No primeiro
caso, o que interessa é a classe e qualidade do trabalho; no segundo caso, sua quantidade,
sua duração. E como a magnitude do valor de uma mercadoria só mostra a quantidade do

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trabalho contido nela, em certas e determinadas proporções as mercadorias representassem


sempre, necessariamente, valores iguais.
41. Se a capacidade produtiva de todos os trabalhos úteis necessários para a produção de um
casaco, suponhamos, permanece invariável, a magnitude do valor dos casacos aumentará na
medida em que aumente sua quantidade. Se por exemplo um casaco representar x dias de
trabalho, 2 casacos representarão 2 x dias de trabalho, etc. Mas suponha-se que o trabalho
necessário para produzir um casaco se duplica ou que se reduz pela metade. No primeiro
caso, um casaco terá o mesmo valor que antes dois, e no segundo caso serão necessários
dois casacos para formar o valor que antes tinha um, apesar de que tanto em um como em
outro caso este artigo segue prestando exatamente os mesmos serviços e de que o trabalho
útil que encerra segue sendo da mesma qualidade. O que muda é a quantidade de trabalho
investida em sua produção.
42. Quanto major seja a quantidade de valor de uso maior será, de per si, a riqueza material:
Dois casacos contém mais riqueza que um. Com dois casacos podem agasalhar duas
pessoas; com um destes artigos se agasalha uma somente, etc. Entretanto, pode ocorrer que
à medida que cresce a riqueza material, diminua a magnitude de valor que representa. Estas
flutuações contraditórias entre si se explicam pelo duplo caráter do trabalho. A capacidade
produtiva é sempre, naturalmente, capacidade produtiva de trabalho útil, concreto. E só
determina, como é lógico, o grau de eficácia de uma atividade produtiva útil, dirigida a um
fim, dentro de um período de tempo dado. Portanto, o trabalho útil renderá uma quantidade
mais ou menos grande de produtos segundo o ritmo com que aumente ou diminua sua
capacidade produtiva. Ao contrário, as mudanças operadas na capacidade produtiva não
afetam por si mesmas o trabalho que o valor representa. Como a capacidade produtiva é
sempre função da forma concreta e útil do trabalho, é lógico que tão logo se faça caso
omisso de sua forma concreta, útil, esta não mais afete o valor. O mesmo trabalho rende,
portanto, durante o mesmo tempo, idêntica quantidade de valor, por muito que mude sua
capacidade produtiva. Ao contrário, ele pode gerar no mesmo tempo quantidades diferentes
de valores de uso, maiores ou menores conforme sua capacidade produtiva aumente ou
diminua. Como se vê, a mesma mudança operada na capacidade produtiva, em virtude da
qual aumenta o rendimento do trabalho e, portanto, a massa dos valores de uso criados por
este, diminui a magnitude de valor desta massa total incrementada, sempre supondo que se
abrevie o tempo de trabalho necessário para sua produção. E vice-versa.
43. Todo trabalho é, de uma parte, gasto de força humana de trabalho no sentido fisiológico
e, como tal, como trabalho humano igual ou trabalho humano abstrato, forma o valor da
mercadoria. Mas todo trabalho é, de outra parte, gasto de força humana de trabalho sob uma
forma especial e dirigida a um fim e, como tal, como trabalho concreto e útil, produz os
valores de uso.17

44. 3. A forma do valor ou valor de troca

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45. As mercadorias vêm ao mundo sob a forma de valores de uso ou objetos materiais: ferro,
tecido, trigo, etc. É sua forma prosaica e natural. Entretanto, se forem mercadorias é por
conter uma dupla significação: a de objetos úteis e, ao mesmo tempo, a de materializações
do valor. Portanto, só se apresentam como mercadorias, só revestem o caráter de
mercadorias, quando possuem esta dupla forma: sua forma natural e a forma valor.
46.A objetivação do valor das mercadorias se distingue de Wittib Hurtig, a amiga do
Falstaff, em que não se sabe por onde agarrá-la. Cabalmente ao reverso do que ocorre com
a materialidade das mercadorias corpóreas, visíveis e tangíveis, em seu valor objetivado
não entra nem um átomo de matéria natural. Podemos tomar uma mercadoria e virá-la
como queiramos: como valor, nos depararemos com algo sempre inapreensível.
Recordemos, entretanto, que as mercadorias só se materializam como valores enquanto são
expressão da mesma unidade social: trabalho humano, que, portanto, sua materialidade
como valores é puramente social, e compreenderemos sem nenhum esforço que essa sua
materialidade como valores só pode revelar-se na relação social de umas mercadorias com
outras. Com efeito, em nossa investigação começamos estudando o valor de troca ou
relação de troca das mercadorias, para descobrir, contido nesta relação, seu valor. Agora,
não temos nada a fazer senão retornarmos novamente a esta forma ou manifestação de
valor.
47.Todo mundo sabe, embora não saibam mais que isso, que as mercadorias possuem uma
forma comum de valor que contrasta de uma maneira muito visível com a extrema
diversidade de formas naturais que seus valores de uso apresentam: esta forma é o dinheiro.
Agora é mister que consigamos o que a economia burguesa sequer tentou: elucidar a gênese
da forma dinheiro, em virtude do que teremos que investigar, remontando a partir esta
forma fascinante até suas manifestações mais simples e menos explícitas, o
desenvolvimento da expressão do valor que está contida na relação de valor das
mercadorias. Com isso, veremos ao mesmo tempo como o enigma do dinheiro se esfuma.
48. A relação mais simples de valor é, evidentemente, a relação de valor de uma mercadoria
com outra concreta e distinta, qualquer que ela seja. A relação de valor entre duas
mercadorias constitui, portanto, a expressão mais simples de valor de uma mercadoria.

49. A.FORMA SIMPLES, CONCRETA OU FORTUITA DO VALOR

50. X mercadoria A = e mercadoria B, ou: x mercadoria A vale e mercadoria B


51. (20 varas tecido = 1 casaco, ou: 20 varas tecido valem 1 casaco)

52. 1. Os dois pólos da expressão do valor: forma relativa do valor e forma equivalente

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53. Nesta forma simples do valor reside o segredo de todas as formas do valor. Por isso é
em sua análise onde reside a verdadeira dificuldade do problema.
54. Duas mercadorias distintas, A e B, em nosso exemplo o tecido e o casaco, desempenham
aqui dois papéis manifestamente distintos. O tecido expressa seu valor no casaco; o casaco
serve de material para esta expressão de valor. A primeira mercadoria desempenha um
papel ativo, a segunda um papel passivo. O valor da primeira mercadoria aparece sob a
forma do valor relativo, ou o que é o mesmo, reveste a forma relativa do valor. A segunda
mercadoria funciona como equivalente, ou o que é o mesmo, reveste forma equivalente.
55. Forma relativa do valor e forma equivalente são dois aspectos da mesma relação,
aspectos inseparáveis e que se condicionam mutuamente, mas também e ao mesmo tempo
dois extremos opostos e antagônicos, os dois pólos da mesma expressão do valor; estes
dois termos se desdobram constantemente entre as diversas mercadorias relacionadas entre
si pela expressão do valor. Assim, por exemplo, o valor do tecido não pode expressar-se em
tecido. A relação de 20 varas de tecido = 20 varas de tecido não representaria expressão
nenhuma de valor. Esta igualdade só nos diria que 20 varas de tecido não são mais que 20
varas de tecido, quer dizer, uma determinada quantidade do objeto útil tecido. Portanto, o
valor do tecido só pode expressar-se em termos relativos, quer dizer recorrendo a outra
mercadoria; ou, o que é o mesmo, a forma relativa do valor do tecido supõe como premissa
que outra mercadoria qualquer desempenhe em relação ao tecido a função de forma
equivalente. E por sua vez, esta outra mercadoria que funciona como equivalente não pode
desempenhar ao mesmo tempo o papel de forma relativa de valor. Não é seu próprio valor
o que ela expressa. Limita-se a fornece o material para a expressão de valor do outra
mercadoria.
56. Certo é que a relação 20 varas de tecido = 1 casaco ou 20 varas de tecido valem 1
casaco leva implícita a forma inversa: 1 casaco = 20 varas de tecido ou 1 casaco vale 20
varas de tecido. Mas, na realidade, o que se faz aqui é inverter os termos da igualdade para
expressar o valor do casaco de um modo relativo; ao fazê-lo, o tecido cede ao casaco seu
posto de equivalente. Portanto, uma mesma mercadoria não pode assumir ao mesmo tempo
ambas as formas na mesma expressão de valor. Estas formas se excluem a uma à outra
como os dois pólos ou os dois extremos de uma linha.
57. Que uma mercadoria revista a forma relativa do valor ou a forma oposta, a de
equivalente, depende exclusivamente da posição que essa mercadoria ocupe dentro da
expressão de valor em um momento dado, quer dizer, de que seja a mercadoria cujo valor
se expressa ou aquela em que se expressa o valor.

58. 2. A forma relativa do valor

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59. a) Conteúdo da forma relativa do valor

60. Para investigar onde reside, na relação de valor entre duas mercadorias, a expressão
simples do valor de uma delas não há outro meio que começar prescindindo totalmente do
aspecto quantitativo desta relação. Cabalmente ao inverso do que se está acostumado a
fazer, pois habitual é não ver na relação de valor mais que a proporção de equivalência
entre determinadas quantidades de duas mercadorias distintas. Sem notar que para que
quantidades de objetos distintos possam ser quantitativamente comparáveis entre si, é
necessário acima de tudo reduzí-las à mesma unidade. Somente representando-as como
expressões da mesma unidade poderemos ver nelas magnitudes de igual signo e, portanto,
comensuráveis.18
61. Quando dizemos que 20 varas de tecido = 1 casaco, ou igual a 20 ou igual x casacos, em
cada uma destas relações se subentende que tecido e casacos são, como magnitudes de
valor, expressões diferentes da mesma unidade, objetos de igual natureza.
62.Tecido = casaco: heis aí a fórmula que serve de suporte à relação. Mas nesta igualdade,
as duas mercadorias qualitativamente equiparadas não desempenham o mesmo papel. A
igualdade só expressa o valor do tecido. Como? Referindo-se ao casaco como a seu
“equivalente” ou objeto “permutável” por ele. Nesta relação, o casaco só interessa como
exteriorização do valor, como valor materializado, pois só em função de tal pode dizer-se
que exista identidade entre ele e o tecido. Por outra parte, trata-se de fazer ressaltar, de
fazer com que assuma expressão substantiva, a existência do valor próprio do tecido, já que
só enquanto valor pode este achar-se numa relação de equivalência ou troca com o casaco.
Um exemplo. O ácido butírico é um corpo distinto do formiato de propilo. E, no entanto,
ambos são integrados pelas mesmas substâncias químicas: carbono (C), hidrogênio (H) e
oxigênio (0) e em idêntica proporção, ou seja C4 H8 02. Pois bem, se disséssemos que o
formiato de propilo é igual ao ácido butírico, diríamos duas coisas: primeiro, que o formiato
de propilo não é mais que uma modalidade da fórmula C4 H8 02; segundo, que o ácido
butírico é formado pelos mesmos elementos e em igual proporção. Quer dizer que,
equiparando o formiato de propilo ao ácido butírico, expressaríamos a substância química
comum a estes dois corpos de forma diferente.
63.Ao dizer que as mercadorias, consideradas como valores, não são mais que
cristalizações de trabalho humano, nossa análise as reduz à abstração do valor, porém sem
dar-lhes uma forma de valor distinta das formas naturais que revestem. A coisa muda
quando se trata da expressão do valor de uma mercadoria. Aqui, é sua própria relação com
outra mercadoria o que evidencia seu caráter de valor.
64. Assim, por exemplo, ao equiparar o casaco, como valor materializado, ao tecido, o que
fazemos é equiparar o trabalho que aquele contém ao trabalho contido neste. Já sabemos
que o trabalho do alfaiate que faz o casaco é um trabalho concreto, distinto do trabalho do
tecelão que produz o tecido. Mas ao equipara-lo a este, reduzimos o trabalho do alfaiate ao
que tem que igual em ambos os trabalhos, ao seu traço comum, que é o de ser trabalho
humano. E deste modo, por um meio indireto, devemos dizer ao próprio tempo, que o

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trabalho do tecelão, ao tecer valor, não contém nada que o diferencie do trabalho do
alfaiate, sendo portanto trabalho humano, abstrato. É a expressão de equivalência de
diversas mercadorias que põe de manifesto o caráter específico do trabalho como fonte de
valor, ao reduzir ao seu elemento comum, o de trabalho humano puro e simples, os diversos
trabalhos contidos nas diversas mercadorias.19
65.Não basta, no entanto, expressar o caráter específico do trabalho que forma o valor do
tecido. A força humana de trabalho em seu estado fluido, ou seja o trabalho humano, cria
valor, mas não é por si mesmo valor. Converte-se em valor ao plasmar-se, ao tomar forma
corpórea. Para expressar o valor do tecido como cristalização de trabalho humano, temos
necessariamente que expressá-lo como "algo objetivo” distinto corporalmente do próprio
tecido e ao mesmo tempo comum a este e a outra mercadoria. Este problema já o
resolvemos.
66. O que na expressão de valor do tecido permite ao casaco assumir o papel de seu igual
qualitativo, de objeto de idêntica natureza, é o ser um valor. O casaco, pois, para estes
efeitos, é considerado objeto em que toma corpo o valor, objeto que representa o valor em
sua forma natural e tangível. Mas ressalte-se que o casaco, a materialidade da mercadoria
casaco, é um simples valor de uso. Realmente, um casaco é um objeto tão pouco apto para
expressar valor como qualquer peça de tecido. O que prova que, situado na relação ou razão
de valor com o tecido, o casaco adquire uma importância que não tem fora dela, do mesmo
modo que certas pessoas ganham em status ao enfiarem-se em um casaco agaloado.
67. Na produção do casaco se dispendeu real e efetivamente, sob a forma de trabalho de
alfaiataria, força humana de trabalho. Nela se acumula, portanto, trabalho humano. Assim
considerado, o casaco é “representação de valor”, embora esta sua propriedade não se
evidencie nem mesmo através do mais simples dos casacos. Na relação ou razão de valor
do tecido, o casaco só nos interessa neste aspecto, quer dizer como valor materializado ou
encarnação corpórea de valor. Por mais se abotoe os botões, o tecido descobre nele a sua
alma gêmea palpitante de valor. Entretanto, para que o casaco desempenhe em relação ao
tecido o papel de valor, é imprescindível que o valor revista ante o tecido a forma de
casaco. É o mesmo que acontece em outra ordem de relações, onde o indivíduo B não pode
assumir ante o indivíduo A os atributos da majestade sem que ao mesmo tempo a majestade
revista aos olhos de este a figura corpórea de B, os traços fisionômicos, a cor do cabelo e
muitos outros gestos pessoais do soberano reinante em um momento dado.
68. Portanto, na relação ou razão de valor em que o casaco atua como equivalente do tecido,
a forma casaco é considerada como forma do valor. O valor da mercadoria tecido se
expressa, por conseguinte, na materialidade corpórea da mercadoria casaco; ou o que é o
mesmo, o valor de uma mercadoria se expressa no valor de uso de outra. Considerado
como valor de uso, o tecido é um objeto materialmente distinto do casaco, mas considerado
como valor é algo "igual ao casaco" e que apresenta, portanto, a mesma fisionomia deste.
Isto faz que revista uma forma de valor diferente de sua forma natural. Em sua identidade
com o casaco se revela sua verdadeira natureza como valor, do mesmo modo que o caráter
de cordeiro do cristão se revela em sua identidade com o cordeiro de Deus.

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69. Portanto, tudo o que já nos havia dito antes a análise do valor da mercadoria nos repete
agora o próprio tecido, ao travar contato com outra mercadoria, com a mercadoria casaco.
O que ocorre é que o tecido expressa suas idéias em sua linguagem peculiar, na linguagem
própria de uma mercadoria. Para dizer que o trabalho, considerado em abstrato, como
trabalho humano, cria seu próprio valor, diz-nos que o casaco, no que tem de comum com
ele ou, o que tanto faz, no que tem de valor, é constituído pelo mesmo trabalho que o
tecido. Para dizer que sua sublime materialização do valor não se confunde com seu rígido
corpo de tecido, diz-nos que o valor assume a forma de um casaco e que portanto ele, o
tecido, considerado como objeto de valor, se parece com o casaco como um ovo com outro
ovo. Diremos incidentalmente que a linguagem das mercadorias possui também, além
destes meneios talmúdicos, outras muitas maneiras mais ou menos corretas de expressar-se.
Assim por exemplo, a expressão alemã Wertsein expressa com menos força que o verbo
latino valere, valer, valoir, como a equiparação da mercadoria B à mercadoria A é a
expressão própria de valor desta. Paris vaut bien une messe! (9)
70. Portanto, a relação ou razão de valor faz que a forma natural da mercadoria B se
converta na forma do valor da mercadoria A ou que a materialidade corpórea da primeira
sirva de espelho do valor da segunda.20 Ao referir-se à mercadoria B como materialização
corpórea do valor, como encarnação material do trabalho humano, a mercadoria A converte
o valor de uso B em material de sua própria expressão de valor. O valor da mercadoria A
expresso assim, quer dizer, expresso no valor de uso da mercadoria B, reveste a forma do
valor relativo.

71. b) Determinação quantitativa da forma relativa do valor

72. Quando tratamos de expressar o valor de uma mercadoria, referimo-nos sempre a


determinada quantidade de um objeto de uso: 15 fanegas de trigo, 100 libras de café, etc.
Esta quantidade dada de uma mercadoria encerra uma determinada quantidade de trabalho
humano. Portanto a forma do valor não pode limitar-se a expressar valor pura e
simplesmente mas sim tem que expressar um valor quantitativamente determinado, uma
quantidade de valor. Na relação ou proporção de valor da mercadoria A com a mercadoria
B, do tecido com o casaco, não só equiparamos qualitativamente a mercadoria casaco ao
tecido enquanto representação do valor em geral, mas sim estabelecemos a proporção com
uma determinada quantidade de tecido, por exemplo entre 20 varas de tecido e uma
determinada quantidade da representação corpórea do valor ou equivalente, V. gr. um
casaco.
73. A relação “20 varas de tecido = 1 casaco ou 20 varas de tecido valem 1 casaco” parte do
suposto de que em 1 casaco está contida a mesma substância de valor que em 20 varas de
tecido; quer dizer, do suposto de que ambas as quantidades de mercadorias custam a mesma
soma de trabalho ou o mesmo tempo de trabalho. Mas como o tempo de trabalho necessário
para produzir 20 varas de tecido ou 1 casaco muda ao mudarr a capacidade produtiva da

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indústria têxtil ou de alfaiataria, convém que investiguemos mais de perto como atuam
estas mudanças na expressão relativa da magnitude de valor.

74. I. Suponhamos que varia o valor do tecido 21 sem que o valor do casaco sofra alteração.
Ao duplicar o tempo de trabalho necessário para produzir o tecido, como efeito,
suponhamos, do esgotamento progressivo do solo em que se cultiva o linho, duplica-se
também seu valor. Em vez de 20 varas de tecido = casaco, teremos, portanto: 20 varas de
tecido = 2 casacos, já que agora 1 casaco só encerra a metade de tempo de trabalho de 20
varas de tecido. E ao inverso, se o tempo de trabalho necessário para produzir o tecido fica
reduzido pela metade, V. gr. em função dos progressos conseguidos na fabricação de
teares, o valor do tecido ficará também reduzido na metade. Portanto, agora: 20 varas de
tecido = 1/2 casaco. O valor relativo da mercadoria A, ou seja, seu valor expresso na
mercadoria B, aumenta e diminui, portanto, em razão direta ao aumento ou diminuição
experimentados pela mercadoria A, sempre e quando o valor da segunda permaneça
constante.

75. II. Suponha-se que o valor do tecido não varia e que varia, no entanto, o valor do
casaco. Se, nestas circunstâncias, o tempo de trabalho necessário para produzir o casaco se
duplica, V. gr., em função do menor rendimento da tosquia, teremos, em vez de 20 varas de
tecido = 1 casaco, 20 varas de tecido = 1/2 casaco. Ao contrário, se o valor do casaco fica
reduzido pela metade, a relação será: 20 varas de tecido = 2 casacos. Portanto,
permanecendo inalterável o valor da mercadoria A, seu valor relativo, expresso na
mercadoria B, aumenta ou diminui em razão inversa às mudanças de valor experimentados
por esta.

76. Comparando os distintos casos expostos nos dois parágrafos anteriores, vemos que a
mesma mudança de magnitude do valor relativo pode provir de causas opostas. Assim, por
exemplo, a igualdade 20 varas de tecido = 1 casaco dá origem: l° à equação 20 varas de
tecido = 2 casacos, seja porque o valor do tecido se duplique, seja porque o valor dos
casacos fique reduzido pela metade, e 2° à igualdade 20 varas de tecido =1/2 casaco, seja
porque o valor do tecido se reduza na metade, ou porque o valor do casaco aumente o
dobro.

77. III. Mas pode também ocorrer que as quantidades de trabalho necessárias para produzir
o tecido e o casaco variem simultaneamente no mesmo sentido e na mesma proporção.
Neste caso, a igualdade, quaisquer que sejam as mudanças experimentadas por seus
correspondentes valores, seguirá sendo a mesma: 20 varas de tecido = 1 casaco. Para
descobrir as mudanças respectivas de valor destas mercadorias, basta compará-las com uma
terceira cujo valor se mantém constante. Se os valores de todas as mercadorias
aumentassem ou diminuíssem ao mesmo tempo e na mesma proporção, seus valores
relativos permaneceriam invariáveis. Sua mudança efetiva de valor se revelaria no fato de

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que no mesmo tempo de trabalho se produziria, em termos gerais, uma quantidade maior ou
menor de mercadorias que antes.

78. IV. Os tempos de trabalho necessários respectivamente para produzir o tecido e o


casaco, e portanto seus valores, podem mudar ao mesmo tempo e no mesmo sentido, mas
em grau desigual, em sentido oposto, etc. Para ver como todas estas possíveis combinações
influem no valor relativo de uma mercadoria, basta aplicar os casos I, II e III.
79. Como se vê, as mudanças efetivas que podem dar-se na magnitude do valor, não se
mostram de um modo inequívoco nem completo em sua expressão relativa ou na magnitude
do valor relativo. O valor relativo de uma mercadoria pode mudar até permanecendo
constante o valor desta mercadoria. E vice-versa, pode ocorrer que seu valor relativo
permaneça constante embora mude seu valor. Finalmente, não é necessário que as
mudanças simultâneas experimentadas pela magnitude de valor das mercadorias coincidam
com as da expressão relativa desta magnitude de valor.22

80. 3. A forma equivalente

81. Vimos que quando a mercadoria A (o tecido) expressa seu valor no valor de uso de outra
mercadoria, ou seja, na mercadoria B (na casaco), imprime a esta uma forma peculiar de
valor, a forma de equivalente. A mercadoria tecido revela sua própria essência de valor por
sua igualação com a casaco, sem necessidade de que este revista uma forma de valor
diferente de sua forma corporal. Portanto, onde o tecido expressa real e verdadeiramente
sua essência própria de valor está no fato de poder trocar-se diretamente pelo casaco. A
forma equivalente de uma mercadoria é, por conseguinte, a possibilidade de trocar-se
diretamente por outra mercadoria.
82. Que uma classe de mercadorias, v gr. casacos, sirva de equivalente a outra classe de
mercadorias, V. gr. tecido; que, portanto, os casacos encerrem a propriedade característica
de poder trocar-se diretamente por tecido não indica de nenhum modo a proporção em que
podem trocar-se um e outros. Esta proporção depende, dada a magnitude do valor do
tecido, da magnitude de valor dos casacos. Quer se expresse o casaco como equivalente e o
tecido como valor relativo, ou ao inverso, o tecido como equivalente e como valor relativo
o casaco, sua magnitude de valor corresponde sempre ao tempo de trabalho necessário para
sua produção, sendo independente, portanto, da forma que seu valor revista. Mas logo que a
classe de mercadoria casaco ocupa na expressão do valor o lugar de equivalente, sua
magnitude de valor não tem expressão como tal magnitude de valor, mas sim figura na
igualdade como uma determinada quantidade de um objeto.
83. Por exemplo, 40 varas de tecido “valem”... o quê? 2 casacos. Como aqui a classe de
mercadorias representada pelos casacos desempenha o papel de equivalente, quer dizer
como o valor de uso casaco assume com respeito ao tecido a função de materializar o valor,
basta uma determinada quantidade de casacos para expressar uma determinada quantidade
de valor do tecido. Dois casacos podem expressar, portanto, a magnitude de valor de 40

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varas de tecido, mas não podem expressar jamais sua própria magnitude de valor, a
magnitude de valor de dois casacos. A observação superficial deste fato, do fato de que na
equação de valor o equivalente reveste sempre a forma de uma quantidade simples de um
objeto, de um valor de uso, induziu Bailey, como a muitos de seus predecessores e
sucessores, a não ver na expressão de valor mais que uma relação puramente quantitativa.
E, longe disso, não é assim, mas sim que a forma equivalente de uma mercadoria não
contém nenhuma determinação quantitativa de valor.
84. A primeira característica com que tropeçamos ao estudar a forma equivalente é a
seguinte: nela, o valor de uso se converte em forma ou expressão de sua antítese, ou seja,
do valor.
85. A forma natural da mercadoria se converte, pois, em forma de valor. Mas ressalte-se
que este quid pró quo (10) só se dá com respeito a uma mercadoria, à mercadoria B
(casaco, trigo, ferro. Etc.), dentro da relação de valor que guarda com ela outra mercadoria
qualquer, a mercadoria A (tecido, etc.), única e exclusivamente nesta relação. Posto que
nenhuma mercadoria pode referir-se a si mesma como equivalente, nem, portanto, tomar
sua própria pele natural por expressão de seu próprio valor, não há alternativa senão
referir-se como equivalente a outra mercadoria como sua forma de seu próprio valor .
86. O exemplo de uma medida inerente às mercadorias materiais enquanto tais, enquanto
mercadorias materiais, quer dizer como valores de uso, nos esclarecerá o seguinte. Uma
barra de açúcar, pelo mero feito de ser um corpo, é pesado, tem um peso, e entretanto,
nem a vista nem o tato acusam em nenhuma barra de açúcar esta propriedade. Tomemos
vários pedaços de ferro, pesados previamente. A forma física do ferro não é de por si, de
nenhum modo, signo ou manifestação da gravidade, como não é a da barra de açúcar. E
entretanto, quando queremos expressar a barra de açúcar como peso a relacionamos com o
peso do ferro. Nesta relação, o ferro representa o papel de um corpo que não assume outra
função senão a da gravidade. Quantidades diferentes de ferro servem, portanto, de medida
de peso do açúcar, e não têm, em relação à materialidade física do açúcar, outra função que
a do peso, a de servir de forma de manifestação da gravidade. Mas o ferro só desempenha
este papel dentro da relação que guarda com ele o açúcar, ou o corpo, qualquer que seja,
que se trata de pesar. Se ambos os objetos não fossem pesados, não poderia estabelecer-se
entre eles esta relação, nem portanto tomar um como medida para expressar o peso do
outro. Com efeito, se depositarmos ambos os objetos nos pratos da balança, veremos que,
do ponto de vista da gravidade, ambos são o mesmo, ambos compartilham em determinada
proporção a mesma propriedade do peso. Pois bem, do mesmo modo que a materialidade
física do ferro, considerada como medida de peso, não representa com respeito à barra de
açúcar mais que gravidade, em nossa expressão de valor a materialidade física do casaco
não representa com respeito ao tecido mais que valor.
87. Mas a analogia não passa daí. Na expressão do peso da barra de açúcar, o ferro
representa uma propriedade natural comum a ambos os corpos: sua gravidade; pelo
contrário, na expressão do valor do tecido, a casaco assume uma propriedade sobrenatural
de ambos os objetos, algo puramente social: seu valor.

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88. Ao expressar sua essência de valor como um algo perfeitamente distinto de sua
materialidade corpórea e de suas propriedades físicas, v. gr. como algo análogo ao casaco, a
forma relativa do valor de uma mercadoria, do tecido por exemplo, já dá a entender que
esta expressão encerra uma relação de ordem social. Ao reverso do que ocorre com a forma
equivalente, a qual consiste precisamente em que a materialidade física de uma mercadoria,
tal como o casaco, este objeto concreto com suas propriedades materiais, expresse valor,
quer dizer, possua por obra da natureza forma de valor. Claro está que isso só ocorre
quando este corpo se acha situado dentro da relação de valor em que a mercadoria tecido se
refere à mercadoria casaco como seu equivalente.23 Mas como as propriedades de um
objeto não brotam de sua relação com outros objetos, posto que esta relação não faz mais
que as confirmar, parece como se o casaco devesse sua forma de equivalente, quer dizer, a
propriedade que a faz suscetível de ser diretamente trocada, à natureza, assim como sua
propriedade de ser pesada ou de guardar calor. Daí o caráter misterioso da forma
equivalente, caráter que o olhar burguesamente embotada do economista só nota quando
esta forma se apresenta já definitivamente materializada no dinheiro. Ao encontrar-se com
o dinheiro, o economista se esforça por apagar o caráter místico do ouro e da prata,
colocando em seu posto mercadorias menos fascinantes e percorrendo com crescente
regozijo o catálogo de toda a multidão de mercadorias às quais em outros tempos esteve
reservado o papel de equivalentes de valor. Sem suspeitar sequer que este mistério da forma
equivalente se encerra já na expressão mais simples do valor, v. gr. na de 20 varas de tecido
= 1 casaco.
89. A materialidade corpórea da mercadoria que serve de equivalente reina sempre como
encarnação do trabalho humano abstrato e é sempre produto de um determinado trabalho
concreto, útil; quer dizer, que este trabalho concreto se converte em expressão de trabalho
humano abstrato. O casaco, por exemplo, considera-se como simples materialização, e o
trabalho do alfaiate, que toma corpo real neste objeto, como simples forma de realização do
trabalho humano abstrato. Na expressão do valor do tecido, a utilidade do trabalho do
alfaiate não consiste em fazer trajes e portanto homens (11) , mas sim em criar um corpo
que nos diz, apenas ao vê-lo, que é valor, e por conseguinte cristalização de trabalho
materializado no valor do tecido. Para poder criar semelhante espelho de valor, é necessário
que o trabalho do alfaiate não reflita absolutamente nada mais que sua qualidade abstrata de
trabalho humano.
90. Sob a forma do trabalho do alfaiate, como sob a forma do trabalho do tecelão, desdobra-
se força humana de trabalho. Ambas as atividades revestem, portanto, a propriedade geral
de ser trabalho humano, e por conseguinte, em determinados casos, como por exemplo na
produção de valor, só podemos enfocá-las a partir este ponto de vista. Tudo isto não tem
nada de misterioso. Mas ao chegar à expressão de valor da mercadoria, a coisa se inverte.
Para expressar, por exemplo, que o tecer não cria o valor do tecido em sua forma concreta
de atividade têxtil, mas em sua modalidade geral de trabalho humano, o comparamos com o
trabalho do alfaiate, com o trabalho concreto que produz o equivalente do tecido, como
forma tangível de realização do trabalho humano abstrato.

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91. Quer dizer que a segunda característica da forma equivalente é que o trabalho concreto
se converte aqui em forma ou manifestação de sua antítese, ou seja, do trabalho humano
abstrato.
92. Mas, considerado como simples expressão do trabalho humano em geral, este trabalho
concreto, o trabalho do alfaiate, reveste formas de igualdade com outro trabalho, com o
trabalho encerrado no tecido, e é portanto, embora trabalho privado, como tantos quantos
que produzem mercadorias, trabalho em forma diretamente social. Eis aqui por que se
traduz em um produto suscetível de ser diretamente trocado por outra mercadoria. Portanto,
a terceira característica da forma equivalente é que nela o trabalho privado reveste a
forma de sua antítese, ou seja, do trabalho em forma diretamente social.
93. Estas duas últimas características da forma equivalente se nos apresentarão ainda com
maior clareza se remontarmos ao grande pensador que primeiro analisou a forma do valor,
como tantas outras formas do pensamento, da sociedade e da natureza. Nos referimos a
Aristóteles.
94. Acima de tudo, Aristóteles diz claramente que a forma–dinheiro da mercadoria não faz
mais que desenvolver a forma simples do valor, ou o que é o mesmo, a expressão do valor
de uma mercadoria em outra qualquer. Eis aqui suas palavras:
95. “5 camas = 1 casa”
96. (“Khívai Révre avri oixías”)

97.“ Não se distingue” de

98. “5 camas = tanto ou quanto dinheiro”


99. (“Khívai révre avri ... ooov ai révre xhívai”)

100. Aristóteles adverte, além disso, que a relação de valor em que esta expressão de
valor se contém é, por sua vez, uma relação condicionada, pois a casa equiparar-se
qualitativamente às camas, e não mediando alguma igualdade substancial, estes objetos
corporalmente distintos não poderiam relacionar-se entre si como magnitudes
mensuráveis. “A troca – diz Aristóteles – não poderia existir sem a igualdade, nem esta
sem a comensurabilidade”. Mas ao chegar aqui, se detém e renúncia a seguir analisando a
forma do valor. “Mas a rigor – acrescenta – é impossível que objetos tão distintos sejam
mensuráveis”, quer dizer, qualitativamente iguais. Esta equiparação tem que ser
necessariamente algo alheio à verdadeira natureza das coisas, e portanto um simples
“recurso para sair do impasse ante as necessidades da prática”.
101. O próprio Aristóteles nos diz, pois, no que ele tropeça ao levar adiante sua análise:
tropeça na carência de um conceito do valor. Onde está o igual, a substância comum que a
casa representa com respeito às camas, na expressão de valor destas? Semelhante
substância “não pode existir, a rigor”, diz Aristóteles. Por que?

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102. A casa representa em relação às camas alguma coisa igual na medida em que
representa aquilo que há realmente de igual em ambos os objetos, ou seja: trabalho
humano.
103. Aristóteles não podia decifrar por si mesmo, analisando a forma do valor, o fato de
que na forma dos valores das mercadorias todos os trabalhos se expressam como trabalho
humano igual, e portanto como equivalentes, porque a sociedade grega estava baseada no
trabalho dos escravos e tinha, portanto, como base natural a desigualdade entre os homens
e suas forças de trabalho. O segredo da expressão do valor, a igualdade e equiparação do
valor de todos os trabalhos, enquanto são e pelo fato de ser todos eles trabalho humano em
geral, só podia ser descoberto a partir do momento em que a idéia da igualdade humana
possuísse já a firmeza de um preceito popular. E para isto era necessário chegar a uma
sociedade como a atual, em que a forma–mercadoria é a forma geral que revestem os
produtos do trabalho, em que, portanto, a relação social preponderante é a relação dos
homens, uns com os outros, como possuidores de mercadorias. O que credencia
precisamente o gênio do Aristóteles é o ter descoberto na expressão de valor das
mercadorias uma relação de igualdade. Foi a limitação histórica da sociedade de seu tempo
que lhe impediu de desentranhar em que consistia, “a rigor”, esta relação de igualdade.

104. 4. A forma simples do valor, vista em conjunto

105. A forma simples do valor de uma mercadoria vai implícita em sua relação de valor
com uma mercadoria diferente ou na relação de troca com esta. O valor da mercadoria A se
expressa qualitativamente na possibilidade de trocar diretamente a mercadoria B pela
mercadoria A. Quantitativamente, se expressa mediante a possibilidade de trocar uma
quantidade determinada da mercadoria B por uma determinada quantidade da mercadoria
A. Ou, dito em outros termos: o valor de uma mercadoria se expressa independentemente
ao a representarmos como “valor de troca”. No começo deste capítulo dizíamos, seguindo a
linguagem tradicional: a mercadoria é valor de uso e valor de troca. A rigor, esta afirmação
é falsa. A mercadoria é valor de uso, objeto útil, e “valor”. A partir do momento em que seu
valor assume uma forma própria de manifestar-se, diferente de sua forma natural, a
mercadoria revela este seu duplo aspecto, mas não assume jamais aquela forma se a
contemplarmos isoladamente: para tanto, temos que situá-la em uma relação de valor ou
troca com outra mercadoria. Sabendo isto, aquele modo de expressar-se não levará a
engano e, embora seja falso, pode usar-se com vistas a brevidade.
106. Nossa análise demonstrou que a forma do valor ou a expressão do valor da
mercadoria brota da própria natureza do valor desta, e não o reverso, o valor e a magnitude
do valor a partir da sua modalidade de expressão como valor de troca. Mas fixam-se aí,
com efeito, não só os mercantilistas e seus modernos admiradores, tais como Ferrier,
Ganilh, etc.,24 mas também seus antípodas, esses modernos caixeiros-viajantes do livre-
câmbio que são Bastiat e consortes. Os mercantilistas insistem em fixar-se de modo muito
especial no aspecto qualitativo da expressão do valor e, portanto, na forma equivalente da

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mercadoria, que tem no dinheiro sua definitiva configuração; ao contrário, os modernos


camelôs do livre-câmbio, dispostos a dar sua mercadoria a qualquer preço procurando
desfazerem-se dela, insistem no aspecto quantitativo da forma relativa do valor. Isto é, para
eles a mercadoria não tem valor nem magnitude de valor fora da expressão que reveste na
relação de troca, ou o que é o mesmo, nos boletins diários de cotação dos preços. Já o
escocês MacLeod, esforçando-se por cumprir sua obrigação, que é tirar o maior brilho
possível de erudição às idéias arquiconfusas de Lombardstreet, brinda-nos com a síntese
mais perfeita dos mercantilistas supersticiosos e os caixeiros viajantes ilustrados do livre-
câmbio.
107. Analisando de perto a expressão de valor da mercadoria A, tal como consta em sua
relação de valor com a mercadoria B, víamos que, dentro desta relação, a forma natural da
mercadoria A só interessava enquanto cristalização de valor de uso; a forma natural da
mercadoria B, ao contrário, só enquanto forma ou cristalização de valor. Portanto, a antítese
interna de valor de uso e valor que reside na mercadoria toma corpo em uma antítese
externa, quer dizer na relação entre duas mercadorias, das quais uma, aquela cujo valor
trata de expressar-se, só interessa diretamente como valor de uso, enquanto a outra, aquela
em que se expressa o valor, interessa só diretamente como valor de troca. A forma simples
do valor de uma mercadoria é, portanto, a forma simples em que se manifesta a antítese de
valor de uso e de valor contida nela.
108. O produto do trabalho é objeto de uso em todos os tipos de sociedade; só em uma
época historicamente dada do progresso, a que vê no trabalho investido para produzir um
objeto de uso uma propriedade “materializada” deste objeto, ou seja seu valor, converte-se
o produto do trabalho em mercadoria. Daqui se depreende que a forma simples do valor da
mercadoria é ao mesmo tempo a forma simples de mercadoria do produto do trabalho; que,
portanto, o desenvolvimento da forma da mercadoria coincide com o desenvolvimento da
forma do valor.
109. À primeira vista, se descobre já quão insuficiente é a forma simples do valor, esta
forma germinal, que terá que acontecer uma série de metamorfoses antes de chegar a
converter-se na forma preço.
110. Sua expressão em uma mercadoria qualquer, na mercadoria B, não faz mais que
diferenciar o valor da mercadoria A de seu próprio valor de uso; não faz, portanto, mais que
pô-la em uma relação de troca com uma classe qualquer de mercadorias diferente dela
mesma, em vez de acusar sua igualdade qualitativa e sua proporcionalidade quantitativa
com todas as demais mercadorias. À forma simples e relativa do valor de uma mercadoria
corresponde a forma concreta equivalente de outra. Assim por exemplo, na expressão
relativa do valor do tecido, a casaco só toma forma de equivalente ou forma de
permutabilidade direta com relação a esta classe especial de mercadoria: o tecido.
111. Entretanto, a forma simples do valor remonta por si mesma a formas mais
complicadas. Por meio desta forma, o valor de uma mercadoria, da mercadoria A, só pode
expressar-se, indubitavelmente, em uma mercadoria de outro gênero. Qual o gênero desta
outra mercadoria, se casacos, ferro, trigo, etc., não vem ao caso.

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112. Por conseguinte, conforme aquela mercadoria se enquadre em uma relação de valor
com esta ou a outra classe de mercadorias, teremos diferentes expressões simples de valor
da mesma mercadoria.25 O número de possíveis expressões de valor de uma mercadoria
não esbarra com maior limitação do que a do número de classes de mercadorias existentes
diferentes dela. Sua expressão simples de valor se converte, portanto, em uma série
constantemente expansível de diversas expressões simples de valor.

113. B.FORMA TOTAL OU DESENVOLVIDA DO VALOR

114. z mercadoria A = u mercadoria B, ou = v mercadoria C, ou = w mercadoria D, ou =


x mercadoria E, etc.

115. (20 varas de tecido = 1 casaco, ou = 10 libras de chá, ou = 40 libras de café, ou = 1


quarter de trigo, ou = 2 onças de ouro, ou = 1/2 tonelada de ferro, etc.)

116. 1. A forma relativa de valor desenvolvida

117. O valor de uma mercadoria, do tecido por exemplo, se expressa agora em outros
elementos inumeráveis do mundo das mercadorias.26 Aqui é onde se vê verdadeiramente
como este valor não é mais que a cristalização de trabalho humano indistinto. Com efeito,
o trabalho criador de valor se expressa agora explicitamente como um trabalho equiparável
a todo outro trabalho humano qualquer que seja a forma natural que assuma, quer se
materialize, portanto, em casacos ou em trigo, em ferro ou em ouro, etc. Como se vê, sua
forma valor põe agora o tecido em relação, não mais com uma determinada classe de
mercadorias, mas sim com o mundo das mercadorias em geral. Considerado como
mercadoria, o tecido adquire certidão de cidadania dentro deste mundo. Ao mesmo tempo,
a série infinita de suas expressões indica que ao valor das mercadorias é indiferente a
forma específica de valor de uso que possa assumir.
118. Na primeira forma, ou seja: 20 varas de tecido = 1 casaco, que estas duas
mercadorias sejam suscetíveis de trocarem-se em uma determinada proporção quantitativa
pode constituir-se num fato puramente casual. Na segunda forma se vislumbra já, pelo
contrário, em seguida, a existência de um fundamento substancialmente distinto da
manifestação casual, que a preside e determina. O valor do tecido é sempre o mesmo, quer
se expresse em casacos, em café, em ferro, etc., quer dizer em inumeráveis mercadorias
diferentes, pertencentes aos mais diversos possuidores. O caráter casual da relação entre
dois possuidores individuais de mercadorias desapareceu. Agora, é evidente que a
magnitude de valor da mercadoria não se regula pela mudança, mas sim, ao inverso, este se
acha regulado pela magnitude de valor da mercadoria.

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119. 2. A forma equivalente concreta

120. Toda mercadoria, casaco, chá, trigo, ferro, etc., desempenha, na expressão de valor
de tecido, o papel de equivalente, e portanto de materialização do valor. Agora, a forma
natural concreta de cada uma destas mercadorias é uma forma equivalente dada, ao lado
de muitas outras. E o mesmo ocorre com as diversas classes de trabalho útil, concreto,
determinado, contidas nas diversas mercadorias materiais: só interessam como outras tantas
formas específicas de realização ou manifestação do trabalho humano em geral.

121. 3. Defeitos da forma total ou desenvolvida do valor

122. Em primeiro lugar, a expressão relativa do valor da mercadoria é sempre


incompleta, pois a série em que toma corpo não acaba nunca. A cadeia na qual cada
equação de valor se articula com as outras pode alargar-se constantemente, juntando-se a
ela mais e mais classes de mercadorias, que oferecem os materiais para mais e mais
expressões de valor. Em segundo lugar, diante de nós se desdobra um mosaico matizado de
expressões de valor díspares e diferentes. E, finalmente, se o valor relativo de toda
mercadoria se expressa, como necessariamente tem que expressar-se, nesta forma
desenvolvida, a forma relativa do valor de cada mercadoria se representa por uma série
infinita de expressões de valor diferentes da forma relativa de valor de qualquer outra
mercadoria. Os defeitos da forma relativa do valor desenvolvida se refletem, por sua vez,
na correspondente forma equivalente. Como aqui a forma natural de cada classe concreta de
mercadorias é uma forma equivalente determinada ao lado de outras inumeráveis, só
existem formas equivalentes restringidas, cada uma das quais exclui às demais. E o mesmo
ocorre com a classe de trabalho útil, concreto, determinado, contido em cada equivalente
especial de mercadorias: só é uma forma específica, e portanto incompleta, do trabalho
humano. Claro está que este tem sua forma total ou completa de manifestar-se no conjunto
de todas aquelas formas específicas, mas não possui uma forma única e completa de
manifestação.
123. Entretanto, a forma relativa do valor desenvolvida só consiste em uma soma de
expressões ou igualdades relativas e simples de valor da primeira forma, tais como:
124. 20 varas de tecido = 1 casaco,
125. 20 varas de tecido = 10 libras de chá, etc.

126. Porém, por sua vez, cada uma destas equações contem, se a invertermos, outra
equação idêntica, ou seja:
127. 1 casaco = 20 varas de tecido,
128. 10 libras de chá = 20 varas de tecido, etc.

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129. Com efeito, se uma pessoa trocar seu tecido por muitas outras mercadorias,
expressando portanto o valor deste em toda uma série de mercadorias diferentes, é lógico
que todos outros possuidores de mercadorias troquem estas por tecido e que, portanto,
expressem numa terceira e mesma mercadoria, em tecido, o valor de todas as suas, por
mais diversas que elas sejam. Por conseguinte, se invertermos a série: 20 varas de tecido =
1 casaco, ou = 10 libras de chá, etc., quer dizer, se expressarmos a relação invertida
contida já logicamente nessa série, chegamos ao seguinte resultado:

130. C.FORMA GERAL DO VALOR

131. 1 casaco =
132. 10 libras chá =
133. 40 libras café =
134. 1 quarter trigo = 20 varas tecido.
135. 2 onças oro =
136. 1/2 tonelada ferro =
137. X mercadoria A =
138. Etc. mercadoria =

139. 1. Novo caráter da forma do valor

140. Em primeiro lugar, as mercadorias expressam agora seus valores de um modo


simples, já que o expressam em uma só mercadoria, e em segundo lugar, expressam-no de
um modo único, pois o expressam todas na mesma mercadoria. Sua forma de valor é
simples e comum a todas; é, portanto, geral.
141. As formas I e II só conseguiam expressar o valor de uma mercadoria como algo
distinto de seu próprio valor de uso ou de sua materialidade corpórea de mercadoria.
142. A primeira forma traduzia-se em equações de valor tais como: 1 casaco = 20 varas
de tecido, 10 libras de chá = 1/2 tonelada de ferro, etc. Nestas equações, o valor do casaco
se expressa como algo igual ao tecido, o valor do chá como algo igual ao ferro, etc. Mas o
igual ao tecido e o igual ao ferro, expressões de valor do casaco e o do chá,
respectivamente, são coisas tão diferentes entre si como o tecido e o ferro mesmos.
Evidentemente, esta forma só se apresentava com um caráter prático em tempos muito
primitivos, quando os produtos do trabalho se transformavam em mercadorias por meio de
atos de troca eventuais e episódicas.
143. A segunda forma distingue mais radicalmente que a primeira o valor de uma
mercadoria de seu próprio valor de uso, pois o valor da casaco, por exemplo, enfrenta-se
aqui com sua forma natural sob todas as formas possíveis, como algo igual ao tecido, ao
ferro, ao chá, etc., quer dizer, como algo igual a todas as mercadorias, com a única exceção

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do próprio casaco. Mas, por outra parte, esta forma exclui diretamente toda expressão
comum de valor das mercadorias, pois na expressão de valor de cada uma destas, as demais
se reduzem todas à forma de equivalentes. A forma desenvolvida do valor começa a
apresentar-se na realidade a partir do momento em que um produto do trabalho, o gado por
exemplo, troca-se, mas não como algo extraordinário, mas habitualmente, por diversas
outras mercadorias.
144. Esta forma nova a que estamos nos referindo expressa os valores do mundo das
mercadorias em uma só classe de mercadorias destacada dentre elas, por exemplo o tecido,
de tal modo que os valores de todas as mercadorias se manifestam por sua relação com este.
Agora, o valor de cada mercadoria, considerada como algo igual ao tecido, não só se
distingue de seu próprio valor de uso, mas também de todo valor de uso em geral, que é
precisamente o que lhe permite expressar-se como aquilo que tem de comum com todas as
mercadorias. Esta forma é, pois, a que relaciona e enlaça realmente todas as mercadorias
como valores, a que faz com que se manifestem como valores de troca umas em relação às
outras.
145. As duas formas anteriores expressavam o valor de uma determinada mercadoria, a
primeira em uma mercadoria concreta diferente dela, a segunda em uma série de diversas
mercadorias. Tanto em um caso como em outro era, por assim dizer, incumbência privativa
de cada mercadoria dar-se uma forma de valor, por si mesma, o que realizava sem a
cooperação das demais mercadorias; estas limitando-se a desempenhar aí um papel
puramente passivo de equivalentes. Não é assim que ocorre com a forma geral de valor, que
brota por obra comum da totalidade do mundo das mercadorias. Uma mercadoria só pode
assumir expressão geral de valor se ao mesmo tempo todas as demais expressam seu valor
no mesmo equivalente, e cada nova classe de mercadorias que aparece tem necessariamente
que seguir o mesmo caminho. Isto revela que a materialização do valor das mercadorias,
por ser a mera “existência social” destes objetos, só pode expressar-se mediante sua relação
social com todos outros; que portanto sua forma valor, tem que ser, necessariamente, uma
forma que reine socialmente.
146. Sob a forma de algo igual ao tecido, todas as mercadorias se revelam agora, não só
como fatores qualitativamente iguais, como valores em geral, mas também como
magnitudes de valor quantitativamente comparáveis entre si. Ao refletir suas magnitudes de
valor no mesmo material, no tecido, estas magnitudes de valor se refletem também
reciprocamente umas às outras. Assim, por exemplo, se 10 libras de chá = 20 varas de
tecido e 40 libras de café = 20 varas de tecido, 10 libras de chá = 40 libras de café. A partir
do que dizemos que 1 libra de café só contem 1/4 de substância de valor, de trabalho, de 1
libra de chá.
147. A forma relativa geral do valor do mundo das mercadorias imprime à mercadoria
destacada por elas como equivalente, ao tecido, o caráter de equivalente general. Sua forma
natural própria é a configuração de valor comum a todo este mundo de mercadorias, e isso
é o que permite que o tecido possa ser diretamente trocado por qualquer outra mercadoria.
A forma corpórea do tecido é considerada como encarnação visível, como a roupagem geral

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que reveste dentro da sociedade todo o trabalho humano. O trabalho têxtil, ou seja, o
trabalho privado que produz o tecido, acha-se enlaçado ao mesmo tempo em uma forma
social de caráter geral, em uma forma de igualdade, com todos outros trabalhos. As
inumeráveis equações que integram a forma geral do valor vão equiparando sucessivamente
o trabalho realizado no tecido a cada um dos trabalhos contidos nas demais mercadorias,
convertendo assim o trabalho têxtil em forma geral de manifestação do trabalho humano,
qualquer que ele seja. Deste modo, o trabalho materializado no valor das mercadorias não
se manifesta tão somente de um modo negativo, como trabalho em que se faz abstração de
todas as formas concretas e qualidades úteis dos trabalhos reais, mas com isso colocamos
em relevo, de um modo rápido, seu próprio caráter positivo. O que fazemos é reduzir todos
os trabalhos reais ao caráter de trabalho humano comum a todos eles, a dispêndio de força
humana de trabalho.
148. A forma geral do valor, forma que apresenta os produtos do trabalho como simples
cristalizações de trabalho humano indistinto; demonstra através de sua própria estrutura que
é a expressão social do mundo das mercadorias. E revela ao mesmo tempo que, dentro
deste mundo, é o caráter geral e humano do trabalho o que forma seu caráter
especificamente social.

149. 2. Relação entre o desenvolvimento da forma relativa do valor e o da


forma equivalente

150. Ao grau de desenvolvimento da forma relativa do valor corresponde o grau de


desenvolvimento da forma equivalente. Mas há que notar cuidadosamente que o
desenvolvimento da forma equivalente não é senão a expressão e o resultado do
desenvolvimento da forma relativa do valor.
151. A forma relativa simples ou isolada do valor de uma mercadoria converte a outra
mercadoria em equivalente individual dela. A forma desenvolvida do valor relativo,
expressão do valor de uma mercadoria em todas as demais, imprime a estas a forma de
diversos equivalentes concretos. Por último, uma forma especial de mercadorias assume a
forma de equivalente general quando todas as demais a convertem em matéra de sua forma
única e geral de valor.
152. Mas no mesmo grau em que se desenvolve a forma do valor em geral, desenvolve-
se também a antítese entre seus dois pólos, entre a forma relativa do valor e a forma
equivalente.
153. Esta antítese está contida já na primeira forma, na de 20 varas de tecido = 1 casaco,
mas sem materializar-se ainda. Conforme esta equação se leia para frente ou para trás, cada
uma das mercadorias que formam seus termos, o tecido e o casaco, ocupa o lugar da forma
relativa do valor ou o da forma equivalente. Aqui resulta difícil ainda fixar os dois pólos
antitéticos.

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154. Na forma II, só uma das classes de mercadorias pode desenvolver integralmente
seu valor relativo, só ela possui em si mesma a forma relativa de valor desenvolvida, já que
todas as demais revestem com respeito a ela a forma de equivalentes. Aqui, já não cabe
inverter os termos da expressão de valor – v gr. 20 varas de tecido = 1 casaco, ou = 10
libras de chá, ou = 1 quarter de trigo, etc. – sem mudar todo seu caráter, transformando-a
de forma total em forma geral do valor.
155. Finalmente, a última forma, a forma III, imprime ao mundo das mercadorias a
forma relativa geral–social do valor, uma vez que todas as mercadorias que o compõem,
exceção feita de apenas uma, ficam excluídas da forma de equivalente general. É uma só
mercadoria, o tecido, a que reveste, portanto, a forma de objeto diretamente permutável por
todos outros, a que apresenta forma diretamente social, posto que as demais se acham todas
impossibilitadas para fazê-lo.27
156. Por sua vez, a mercadoria que figura como equivalente general se acha excluída da
forma relativa única e portanto geral do valor do mundo das mercadorias. Se o tecido,
quer dizer a mercadoria que reveste forma de equivalente general, pudesse compartilhar
além disso a forma relativa geral do valor, teria forçozamente que postar-se de equivalente
para consigo mesma. E assim, chegaríamos à fórmula de 20 varas de tecido = 20 varas de
tecido, tautologia que não expressaria nem valor nem magnitude de valor. Para expressar o
valor relativo do equivalente general, não temos outro meio que dirigir os olhos à forma
III. O equivalente general não participa da forma relativa do valor das demais mercadorias,
mas sim seu valor se expressa de um modo relativo na série infinita de todas as demais
mercadorias materiais. Donde a forma relativa desenvolvida do valor ou forma II,
apresenta-se aqui como forma relativa específica do valor da mercadoria que faz funções
de equivalente.

157. 3. Transição da forma geral do valor à forma dinheiro

158. A forma equivalente general é uma forma do valor em abstrato. Pode, portanto,
recair sobre qualquer mercadoria. Por outra parte, uma mercadoria só ocupa o posto que
corresponde à forma de equivalente general (forma III) sempre e quando todas as demais
mercadorias a separassem de seu meio como equivalente. Até o momento em que esta
operação não se concretize definitivamente em uma classe determinada e específica de
mercadorias não adquire firmeza objetiva nem vigência geral dentro da sociedade a forma
única e relativa de valor do mundo das mercadorias.
159. Neste momento, a classe específica de mercadorias a cuja forma natural incorpora
socialmente a forma de equivalente é a que se converte em mercadoria–dinheiro ou
funciona como dinheiro. Esta mercadoria tem como função social específica, e portanto
como monopólio social dentro do mundo das mercadorias, desempenhar o papel de
equivalente general. Este posto privilegiado foi conquistado historicamente por uma
determinada mercadoria, que figura entre aquelas que na forma II figuram como
equivalentes especiais do tecido e que na forma III expressam conjuntamente com este seu

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valor relativo: o ouro. Assim, basta substituir na forma III o tecido por ouro, para
obteremos a fórmula seguinte:

160. D.FORMA DINHEIRO

161. 20 varas tecido =


162. 1 casaco =
163. 10 libras chá =
164. 40 libras café = 12 onças oro.
165. 1 quarter trigo =
166. 1/2 tonelada ferro =
167. x mercadoria =

168. A transição da forma I à forma II e a desta à forma III, entranha mudanças


substanciais. Ao contrário, a forma IV não se distingue da forma III senão em que aqui é o
ouro que deve substituir o tecido em seu papel de forma de equivalente general. Na forma
IV, o ouro desempenha a função de equivalente general que, na forma III, correspondia ao
tecido. O progresso consiste pura e simplesmente em que agora a forma de
permutabilidade direta e geral, ou seja a forma de equivalente general, adere-se
definitivamente, pela força do hábito social, à forma natural específica da mercadoria oro.
169. Se o ouro se defronta com as demais mercadorias na função de dinheiro é,
simplesmente, porque já antes se enfrentava com elas na função de mercadoria. Igual a
todas as demais mercadorias, o ouro funcionava com respeito a estas como equivalente:
umas vezes como equivalente isolado, em atos fortuitos de troca, outras vezes como
equivalente concreto, ao mesmo tempo de outras mercadorias também equivalentes. Pouco
a pouco, o ouro vai adquirindo, em proporções mais ou menos extensas, a função de
equivalente general. Logo que conquista o monopólio destas funções na expressão de valor
do mundo das mercadorias, o ouro se converte na mercadoria dinheiro, e é então, a partir
do momento em que já se converteu em mercadoria dinheiro, que a forma IV se distingue
da forma III, ou, o que é o mesmo, que a forma geral do valor se converte na forma
dinheiro.
170. A expressão simples e relativa do valor de uma mercadoria, por exemplo do tecido,
naquela outra mercadoria que funciona já como mercadoria dinheiro, v. gr. em ouro, é a
forma preço. Portanto, a “forma preço” do tecido será:

171. 20 varas tecido = 2 onças oro,

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172. ou, supondo que as 2 onças ouro, traduzidas à linguagem monetária, denominem-se
2 libras esterlinas,

173. 20 varas tecido = 2 libras esterlinas.

174. A dificuldade do conceito da forma dinheiro se limita a compreensão do que é a


forma do equivalente general, ou seja a forma geral de valor pura e simples, a forma III.
Esta, por sua vez, reduz-se por inversão à forma II, à forma desenvolvida de valor, cujo
elemento constitutivo é a forma I, ou seja, 20 varas tecido = 1 casaco ou x mercadoria A =
z mercadoria B. O germe da forma dinheiro já está contido, portanto, na forma simples da
mercadoria.

175. O fetichismo da mercadoria, e seu segredo

176. A primeira vista, parece como se as mercadorias fossem objetos evidentes e triviais.
Mas, analisando-as, vemos, que são objetos muito intrincados, cheios de sutilezas
metafísicas e de ressaibos teológicos. Considerada como valor de uso, a mercadoria não
encerra nada de misterioso, resultando o mesmo quer a contemplemos do ponto de vista de
um objeto apto para satisfazer necessidades do homem ou quer enfoquemos esta sua
propriedade como produto do trabalho humano. É evidente que a atividade do homem
muda as matérias naturais de forma, para servir-se delas. A forma da madeira, por exemplo,
muda quando é convertida em uma mesa. Não obstante, a mesa segue sendo madeira, segue
sendo um objeto físico vulgar e corrente. Mas quando começa a comportar-se como
mercadoria, a mesa se converte em um objeto fisicamente metafísico. Não só se põe sobre
suas patas sobre o chão, mas também se posta frente a todas as demais mercadorias, e de
sua cabeça de madeira começam a brotar desejos muito mais originais e estranhos como se
de repente a mesa irrompesse a dançar por seu próprio impulso.28
177. Como vemos, o caráter místico da mercadoria não brota de seu valor de uso. Mas
tampouco brota do conteúdo de suas determinações de valor. Em primeiro lugar, porque
por muito que difiram os trabalhos úteis ou atividades produtivas, é uma verdade
fisiológica incontrovertível que todas essas atividades são funções do organismo humano e
que cada uma delas, quaisquer que sejam seu conteúdo e sua forma, representa um gasto
essencial de cérebro humano, de nervos, músculos, sentidos, etc. Em segundo lugar, no que
se refere à magnitude de valor e ao que serve para determiná-la, ou seja, a duração no
tempo daquele gasto ou a quantidade de trabalho investido, é evidente que a quantidade se
distingue inclusive mediante os sentidos da qualidade do trabalho. O tempo de trabalho
necessário para produzir seus meios de vida teve que merecer forçozamente o interesse do
homem em todas as épocas, embora não lhe interessasse por igual nas diversas fases de sua
evolução.29 Finalmente, logo que os homens trabalhem uns para os outros, qualquer que
seja o modo que o façam, seu trabalho assume uma forma social.

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178. De onde procede, então, o caráter misterioso que apresenta o produto do trabalho,
logo que reveste a forma de mercadoria? Procede, evidentemente, desta mesma forma. Nas
mercadorias, a igualdade dos trabalhos humanos assume a forma material de uma
objetivação igual de valor dos produtos do trabalho, o grau em que se gaste a força humana
de trabalho, medido pelo tempo de sua duração, assume a forma de magnitude de valor dos
produtos do trabalho, e, finalmente, as relações entre uns produtores e outros, relação em
que se traduz a função social de seus trabalhos, assumem a forma de uma relação social
entre os próprios produtos de seu trabalho.
179. O caráter misterioso da forma mercadoria assenta-se, portanto, pura e simplesmente,
no fato de que projeta frente aos homens o caráter social do trabalho destes como se fosse
um caráter material dos próprios produtos de seu trabalho, um dom natural social destes
objetos e como se, portanto, a relação social que medeia entre os produtores e o trabalho
coletivo da sociedade fosse uma relação social estabelecida entre os objetos mesmos, à
margem de seus produtores. Este quid pró quo é o que converte os produtos de trabalho em
mercadoria, em objetos fisicamente metafísicos ou em objetos sociais. É algo assim como o
que ocorre com a sensação luminosa de um objeto no nervo ocular, que parece como se não
se tratasse de uma excitação subjetiva do nervo ocular, mas a forma material de um objeto
situado fora do olho. E, entretanto, neste caso há realmente um objeto, a coisa exterior, que
projeta luz sobre outro objeto, sobre o olho. É uma relação física entre objetos físicos. Ao
contrário, a forma mercadoria e a relação de valor dos produtos do trabalho em que essa
forma toma corpo, não tem absolutamente nada que ver com seu caráter físico nem com as
relações materiais que deste caráter se derivam. O que aqui reveste, aos olhos dos homens,
a forma fantasmagórica de uma relação entre objetos materiais não é mais que uma relação
social concreta estabelecida entre os mesmos homens. Por isso, se queremos encontrar uma
analogia para este fenômeno, temos que remontar às regiões nebulosas do mundo da
religião, onde os produtos da mente humana se assemelham a seres dotados de vida própria,
de existência independente, e relacionados entre si e com os homens. Assim acontece no
mundo das mercadorias com os produtos da mão do homem. A isto eu chamo o fetichismo
sob o qual se apresentam os produtos do trabalho logo que sejam criados na forma de
mercadorias o que é inseparável, por conseguinte, deste modo de produção.
180. Este caráter fetichista do mundo das mercadorias responde, como já o pôs de
manifesto a análise anterior, ao caráter social genuíno e peculiar do trabalho produtor de
mercadorias.
181. Se os objetos úteis adotam a forma de mercadorias é, pura e simplesmente, porque
são produtos de trabalhos privados independentes os uns dos outros. O conjunto destes
trabalhos privados forma o trabalho coletivo da sociedade. Como os produtores entram em
contato social ao trocar entre si os produtos de seu trabalho, é natural que o caráter
especificamente social de seus trabalhos privados só vem à tona dentro deste intercâmbio.
Também poderíamos dizer que os trabalhos privados só funcionam como elos do trabalho
coletivo da sociedade por meio das relações que a troca estabelece entre os produtos do
trabalho e, através deles, entre os produtores. Por isso, frente a estes, as relações sociais que
se estabelecem entre seus trabalhos privados aparecem como o que são; quer dizer, não

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como relações diretamente sociais das pessoas em seus trabalhos, mas sim como relações
materiais entre pessoas e relações sociais entre coisas.
182. É no ato da troca onde os produtos do trabalho assumem uma materialidade de valor
socialmente igual e independente de sua múltipla e diversa materialidade física de objetos
úteis. Este desdobramento do produto do trabalho em objeto útil e materialização de valor
só se apresenta virtualmente ali onde a troca adquire a extensão e importância suficientes
para que se produzam objetos úteis com vistas à troca, onde, portanto, o caráter de valor
dos objetos já se manifesta no momento de serem produzidos. A partir deste instante, os
trabalhos privados dos produtores assumem, de fato, um duplo caráter social. De uma parte,
considerados como trabalhos úteis concretos, têm necessariamente que satisfazer uma
determinada necessidade social e encaixarem-se, portanto, dentro do trabalho coletivo da
sociedade, dentro do sistema elementar da divisão social do trabalho. Mas, por outra parte,
só estarão aptos a satisfazer as múltiplas necessidades de seus próprios produtores na
medida em que cada um desses trabalhos privados e úteis concretos seja suscetível de ser
trocado por qualquer outro trabalho privado útil, ou o que é o mesmo, na medida em que
represente um equivalente dele. Para encontrar a igualdade toto coelo (13) de diversos
trabalhos, terá que se fazer forçosamente abstração de sua desigualdade real, reduzi-los ao
caráter comum a todos eles como dispêndio de força humana de trabalho, como trabalho
humano abstrato. O cérebro dos produtores privados se limita a refletir este duplo caráter
social de seus trabalhos privados nas formas em que a troca de produtos revela-se na
prática: o caráter socialmente útil de seus trabalhos privados mas sob a forma que o produto
do trabalho tem de ser útil, e útil para outros; e o caráter social da igualdade dos distintos
trabalhos, agora sob a forma do caráter de valor comum a todos esses objetos
materialmente diversos que são os produtos do trabalho.
183. Portanto, os homens não relacionam entre si os produtos de seu trabalho como
valores porque estes objetos lhes pareçam envoltórios simplesmente materiais de um
trabalho humano igual. É o contrário. Ao equipararem uns com outros na troca como
valores seus diversos produtos, o que fazem é equiparar entre si seus diversos trabalhos,
como modalidades de trabalho humano. Não sabem, mas o fazem.30 Portanto, o valor não
traz escrito na face o que é. Longe disso, converte todos os produtos do trabalho em
hieróglifos sociais. Logo, vêm os homens e se esforçam para decifrar o sentido destes
hieróglifos, para descobrir o segredo de seu próprio produto social, pois é evidente que
conceber os objetos úteis como valores é obra social sua, do mesmo modo que a
linguagem. O descobrimento científico tardio de que os produtos do trabalho, considerados
como valores, não são mais que expressões materiais do trabalho humano gasto em sua
produção, é uma descoberta que fez época na história do progresso humano, mas que não
dissipa de nenhum modo a sombra material que acompanha ao caráter social do trabalho. E
o que tem razão de ser somente nesta forma concreta de produção, na produção de
mercadorias, é que o caráter especificamente social dos trabalhos privados independentes
uns dos outros reside no que têm de igual como modalidades de trabalho humano,
revestindo a forma do caráter de valor dos produtos do trabalho, o que segue sendo, para os
espíritos cativos nas redes da produção de mercadorias, até mesmo depois de feita aquela

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descoberta, algo tão perene e definitivo como a tese de que a decomposição científica do ar
em seus elementos deixa intocada a forma do ar como forma física material.
184. O que acima de tudo interessa virtualmente aos que trocam produtos por outros, é
saber quantos produtos alheios obterão pelo seu próprio, quer dizer, em que proporções se
trocarão uns produtos por outros. Logo que estas proporções assumem, pela força do
costume, certa fixidez, parece como se brotassem da própria natureza inerente aos produtos
do trabalho; como se, por exemplo, 1 tonelada de ferro encerrasse o mesmo valor que 2
onças de ouro, do mesmo modo que 1 libra de ouro e 1 libra de ferro encerram um peso
igual, não obstante suas diferentes propriedades físicas e químicas. Em realidade, o caráter
de valor dos produtos do trabalho só se consolida ao funcionar como magnitudes de valor.
Estas alteram-se constantemente, sem que nisso intervenham a vontade, o conhecimento
prévio nem os atos das pessoas entre as quais se realiza a troca. Seu próprio movimento
social assume, a seus olhos, a forma de um movimento de coisas sob cujo controle estão,
em vez de ser elas quem as controle. E faz falta que a produção de mercadorias se
desenvolva em toda sua integridade, para que da própria experiência nasça a consciência
científica de que os trabalhos privados que se realizam independentemente os uns dos
outros, embora guardem entre si e em todos seus aspectos uma relação de mútua
interdependência, como elos elementares que são da divisão social do trabalho, podem
reduzir-se constantemente a seu grau de proporção social, porque nas proporções fortuitas e
sem cessar oscilantes da troca de seus produtos se impõe sempre como lei natural
reguladora o tempo de trabalho socialmente necessário para sua produção, do mesmo modo
como se impõe a lei da gravidade quando a casa cai em cima de alguém. 31 A determinação
da magnitude de valor pelo tempo de trabalho é, portanto, o segredo que se esconde detrás
das oscilações aparentes dos valores relativos das mercadorias. O descobrimento deste
segredo destrói a aparência da determinação puramente casual das magnitudes de valor dos
produtos do trabalho, mas não destrói, de nenhum modo, sua forma material.
185. A reflexão a respeito das formas da vida humana, incluindo portanto a análise
científica desta, segue em geral um caminho oposto ao curso real das coisas. Começa post
festum e parte, portanto, dos resultados preestabelecidos do processo histórico. As formas
que convertem os produtos do trabalho em mercadorias e que, como é natural, pressupõem
a circulação destas, possuem já a consistência de formas naturais da vida social antes que os
homens se esforcem por explicar-se, não o caráter histórico destas formas, que consideram
já algo imutável, mas seu conteúdo. Assim, compreende-se que fosse simplesmente a
análise dos preços das mercadorias que tenha levado os homens a investigar a determinação
da magnitude do valor, e a expressão coletiva em dinheiro das mercadorias o que lhes
moveu a fixar seu caráter de valor. Mas esta forma acabada do mundo das mercadorias – a
forma dinheiro –, longe de revelar o caráter social dos trabalhos privados e, portanto, as
relações sociais entre os produtores privados, o que faz é as encobrir. Se disser que o
casaco, as botas, etc., referem-se ao tecido como à materialização geral de trabalho humano
abstrato, em seguida salta à vista o absurdo deste modo de expressar-se. E entretanto,
quando os produtores de casacos, botas, etc., referem estas mercadorias ao tecido – ou ao

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ouro e à prata, que no caso é o mesmo – como equivalente general, referem seus trabalhos
privados ao trabalho social coletivo sob a mesma forma absurda e desatinada.
186. Estas formas são precisamente as que constituem as categorias da economia
burguesa. São formas mentais aceitas pela sociedade, e portanto objetivas, em que se
expressam as condições de produção deste regime social de produção historicamente dado
que é a produção de mercadorias. Por isso, todo o misticismo do mundo das mercadorias,
todo o encanto e o mistério que nublam os produtos do trabalho baseados na produção de
mercadorias se esfumam logo que os remetamos a outras formas de produção.
187. E já que a economia política gosta tanto das robinsonadas,32 observemos acima de
tudo Robinson em sua ilha. Em que pese a sua inata sobriedade, Robinson tem
forçosamente que satisfazer toda uma série de necessidades que se apresentam, e isto lhe
obriga a executar diversos trabalhos úteis: fabrica ferramentas, constrói móveis, domestica
chamas, pesca, caça etc. E não falamos do rezar e de outras coisas do tipo, pois nosso
Robinson se diverte com isso e considera essas tarefas como uma satisfação. Apesar de
toda a diversidade de suas funções produtivas, ele sabe que não são mais que diversas
formas ou modalidades do mesmo Robinson, quer dizer, diversas manifestações do trabalho
humano. A própria limitação em que vive lhe obriga a distribuir minuciosamente o tempo
entre suas diversas funções. Que umas ocupem mais espaço e outras menos dentro de sua
atividade total, depende das dificuldades maiores ou menores que tem que vencer para
alcançar o resultado útil esperado. A experiência o ensina assim, e nosso Robinson, que
conseguiu salvar do naufrágio relógio, livro de contas, tinta e caneta, apressa-se, como bom
inglês, a contabilizar sua vida. Em seu inventário figura uma relação dos objetos úteis que
possui, das diversas operações exigidas pela sua produção e finalmente do tempo de
trabalho que exige, por em média, a elaboração de determinadas quantidades destes
diversos produtos. Tão claras e tão simples são as relações que se interpõem entre Robinson
e os objetos que formam sua riqueza, riqueza originada de suas próprias mãos, que até um
senhor M. Wirth poderia compreendê-las sem exigir muito de seu talento. E, entretanto,
nessas relações já estão contidos todos os fatores substanciais do valor.
188. Nos translademos agora da luminosa ilha do Robinson à tenebrosa Idade Média
européia. Aqui, o homem independente desapareceu; todo mundo vive subjugado: servos e
senhores da gleba, vassalos e senhores feudais, seculares e eclesiásticos. A sujeição pessoal
caracteriza, nesta época, tanto as condições sociais da produção material como as relações
de vida que têm esta como base. Mas, precisamente por tratar-se de uma sociedade baseada
nos vínculos pessoais de sujeição, não é necessário que os trabalhos e os produtos assumam
nela uma forma fantástica diferente de sua realidade. Aqui, os trabalhos e os produtos se
incorporam à engrenagem social como serviços e prestações. O que constitui a forma
diretamente social do trabalho é a forma natural de este, seu caráter concreto, e não seu
caráter geral, como no regime de produção de mercadorias. O trabalho do vassalo se mede
pelo tempo, nem mais nem menos que o trabalho produtivo de mercadorias, mas o servo
sabe perfeitamente que é uma determinada quantidade de sua força pessoal de trabalho que
dedica a serviço de seu senhor. O dízimo abonado ao clérigo é muito mais evidente do que
as bênçãos deste. Portanto, qualquer que seja o julgamento que mereçam os papéis que aqui

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representam os homens frente a outros, o fato é que as relações sociais das pessoas em seus
trabalhos se revelam como relações pessoais delas próprias, sem disfarçar-se de relações
sociais entre as coisas, entre os produtos de seu trabalho.
189. Para estudar o trabalho comum, quer dizer, diretamente socializado, não precisamos
nos remontar à forma primitiva do trabalho coletivo que se apresenta nos primórdios
históricos de todos os povos civilizados.33 A indústria rural e patriarcal de uma família
camponesa, dessas que produzem trigo, gado, fios, tecido, peças de vestuário, etc., para
suas próprias necessidades, nos traz um exemplo muito mais ao alcance da mão. Todos
esses artigos produzidos pela família representam para ela os respectivos produtos de seu
trabalho familiar, mas não guardam entre si relação de mercadorias. Os diversos trabalhos
que engendram estes produtos, a agricultura e o gado, o fiar, o tecer e o cortar, etc., são, por
sua forma natural, funções sociais, posto que são funções de uma família em cujo seio reina
uma divisão própria e elementar do trabalho, nem mais nem menos do que ocorre na
produção de mercadorias. As diferenças de sexo e idade e as condições naturais do
trabalho, que mudam ao mudarem as estações do ano, regulam a distribuição dessas
funções dentro da família e o tempo que os indivíduos que a compõem têm que trabalhar.
Mas aqui, o dispêndio das forças individuais de trabalho, regulado pela sua duração no
tempo, reveste a forma lógica e natural de um trabalho determinado socialmente, já que
neste regime as forças individuais de trabalho só atuam corno órgãos da força coletiva de
trabalho da família.
190. Finalmente, imaginemos, por fim, uma associação de homens livres que trabalhem
com meios coletivos de produção e que desdobrem suas numerosas forças individuais de
trabalho, com plena consciência do que fazem, como uma grande força de trabalho social.
Nesta sociedade se repetirão todas as normas que presidem o trabalho de um Robinson, mas
com caráter social e não individual. Os produtos de Robinson eram todos produto pessoal e
exclusivo dele, e portanto objetos diretamente destinados a seu uso. O produto coletivo da
associação a que nos referimos é um produto social. Uma parte deste produto volta a
prestar serviço sob a forma de meios de produção. Segue sendo social. Outra parte é
consumida pelos indivíduos associados, sob forma de meios de vida. Deve, portanto, ser
distribuída. O caráter desta distribuição variará segundo o caráter especial do próprio
organismo social de produção e relativamente ao nível histórico dos produtores. Partiremos,
entretanto, ainda que só a título de paralelo com o regime de produção de mercadorias, do
suposto de que a participação atribuída a cada produtor nos meios de vida depende de seu
tempo de trabalho. Nestas condições, o tempo de trabalho representaria, como se vê, uma
dupla função. Sua distribuição de acordo com um plano social servirá para regular a
proporção adequada entre as diversas funções do trabalho e as diferentes necessidades. De
outra parte, e simultaneamente, o tempo de trabalho serviria para regular a parte individual
do produtor no trabalho coletivo e, portanto, na parte do produto também coletivo destinada
ao consumo. Como se vê, aqui as relações sociais dos homens com seu trabalho e com os
produtos de seu trabalho são perfeitamente claras e simples, tanto no referente à produção
como no que se refere à distribuição.

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191. Para uma sociedade de produtores de mercadorias, cujo regime social de produção
consiste em comportar-se face aos seus produtos como mercadorias, quer dizer como
valores, e em relacionar seus trabalhos privados, revestidos desta forma material, como
modalidades do mesmo trabalho humano, a forma de religião mais adequada é,
indubitavelmente, o cristianismo, com seu culto do homem abstrato, sobretudo em sua
modalidade burguesa, sob a forma de protestantismo, deismo, etc. Nos sistemas de
produção da antiga a Ásia e de outros países da Antigüidade, a transformação do produto
em mercadoria, e, portanto, a existência do homem como produtor de mercadorias,
desempenha um papel secundário, embora vá tomando um relevo cada vez mais manifesto
à medida que aquelas comunidades se aproximam de sua fase de extinção. Só encontramo-
nos com verdadeiros povos comerciais, enquistados nos interstícios do mundo antigo, como
os deuses do Epicuro ou os judeus nos poros da sociedade polonesa. Aqueles antigos
organismos sociais de produção são extraordinariamente mais simples e mais claros que o
mundo burguês, mas se apóiam, quer no caráter rudimentar do homem ideal, que ainda não
se desprendeu do cordão umbilical de seu elo natural com outros seres da mesma espécie,
quer em um regime direto de senhorio e escravidão. Estão condicionados por um baixo
nível de progresso das forças produtivas do trabalho e pela natural falta de desenvolvimento
do homem dentro de seu processo material de produção de vida, e, portanto, dos homens
com outros homens e frente à natureza. Este acanhamento real se reflete de um modo
idealizado nas religiões naturais e populares dos antigos. O reflexo religioso do mundo real
só poderá desaparecer para sempre quando as condições da vida diária, laboriosa e ativa,
representem para os homens relações claras e racionais entre si e em relação à natureza. A
forma do processo social de vida, ou o que é o mesmo, do processo material de produção,
só se despojará de seu halo místico quando esse processo seja obra de homens livremente
associados e posta sob seu mando consciente e racional. Mas, para isso, a sociedade
precisará contar com uma base material ou com uma série de condições materiais de
existência, que são, por sua vez, o fruto natural de uma longa e penosa evolução.
192. A economia política analisou, indubitavelmente, embora de um modo imperfeito,34
o conceito do valor e sua magnitude, descobrindo o conteúdo que se escondia sob estas
formas. Mas não lhe ocorreu perguntar-se sequer por que este conteúdo reveste aquela
forma, quer dizer, por que o trabalho toma corpo no valor e por que a medida do trabalho
segundo o tempo de sua duração se traduz na magnitude de valor do produto do trabalho.35
Trata-se de fórmulas que trazem estampado na face seu estigma de fórmulas próprias de um
regime de sociedade em que é o processo de produção que tem comando sobre o homem, e
não este sobre o processo de produção; mas a consciência burguesa dessa sociedade as
considera como algo necessário por natureza, lógico e evidente como o próprio trabalho
produtivo. Por isso, para ela, as formas pré-burguesas do organismo social de produção são
algo como o que para os pais da Igreja, v. gr., eram as religiões anteriores a Cristo.36
193. Até que ponto o fetichismo inerente ao mundo das mercadorias, ou seja a aparência
material das condições sociais do trabalho, empana o olhar de não poucos economistas,
prova-o entre outras essa coisas aborrecida e néscia discussão sobre o papel da natureza na
formação do valor de troca. O valor de troca não é mais que uma determinada maneira

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social de expressar o trabalho despendido em um objeto e não pode, portanto, conter


matéria natural alguma, como não pode contê-la, v. gr., a cotação cambial.
194. A forma mercadoria é a forma mais geral e rudimentar da produção burguesa, razão
pela qual aparece na cena histórica desde cedo, embora não com o caráter predominante e
peculiar que tem hoje em dia; por isso seu fetichismo parece relativamente fácil de analisar.
Mas ao assumir formas mais concretas, apaga-se até esta aparência de simplicidade. De
onde provêm as ilusões do sistema monetário? O sistema monetário não via no ouro e na
prata, considerados como dinheiro, manifestações de um regime social de produção, mas
objetos naturais dotados de virtudes sociais maravilhosas. E os economistas modernos, que
olham por cima do ombro o sistema monetário, não caem também, de modo tão flagrante,
no vício do fetichismo, tão logo tratem do capital? Acaso faz tanto tempo que se
desvaneceu a ilusão fisiocrática de que a renda do solo brotava da terra, e não da
sociedade?
195. Mas para não nos adiantemos, nos limitemos a pôr aqui um exemplo referente à
própria forma das mercadorias. Se estas pudessem falar, diriam: é possível que nosso valor
de uso interesse ao homem, mas o valor de uso não é atributo material nosso. O inerente a
nós, como tais coisas, é nosso valor. Nossas próprias relações de mercadorias o
demonstram. Só nos relacionamos umas com as outras como valores de troca. Ouçamos
agora como fala o economista, lendo na alma da mercadoria: o valor (valor de troca) é um
atributo das coisas, a riqueza (valor de uso) um atributo do homem. O valor, considerado
neste sentido, implica necessariamente a troca; a riqueza, não.37 “A riqueza (valor de uso) é
atributo do homem; o valor, atributo das mercadorias. Um homem ou uma sociedade são
ricos; uma pérola ou um diamante são valiosos... Uma pérola ou um diamante encerram
valor como pérola ou diamante.”38 Até hoje, nenhum químico conseguiu descobrir valor
de troca no diamante ou na pérola. Entretanto, os descobridores econômicos desta
substância química, gabando-se de sua grande sagacidade crítica, entendem que o valor de
uso das coisas é independente de suas qualidades materiais e, pelo contrário, seu valor é
inerente a elas. E nesta opinião os confirma a peregrina circunstância de que o homem
realiza o valor de uso das coisas sem troca, em um plano de relações diretas com elas,
enquanto que o valor só se realiza mediante a troca, quer dizer, em um processo social.
Ouvindo isto, lembre-se do bom Dogberry, quando dizia a Seacoal, o sereno: “O porte e a
beleza, as dão as circunstâncias, mas o saber ler e escrever é um dom da natureza.”39

NOTAS
1 Karl Marx, Contribuição à crítica da economia política. Berlim, 1859, P. 3.
2 "Apetência implica necessidade; é o apetite do espírito, tão natural para o espírito como a
fome para o corpo ... A maioria (das coisas) tem um valor pelo fato de satisfazer as
necessidades do espírito" (Nicholas Barbon, A Discourse on coining the new money lighter,
ín answer to Mr. Locke's Considerations, etc. Londres, 1696, pp. 2, 3. (1)

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3 "As coisas têm uma virtude interna (Vertue é, no Barbon, o termo específico para
designar o valor de uso), virtude que é sempre e em todas partes a mesma, do mesmo modo
como a do ímã de atrair o ferro." (Barbon, A Discourse on coining the new money lighter,
P. 6) Entretanto, a propriedade do ímã de atrair o ferro não foi útil até que por meio dela se
descobriu a polaridade magnética.
4 "O valor natural (natural Worth) de todo objeto consiste em sua capacidade de satisfazer
as necessidades elementares da vida humana ou de servir à comodidade do homem" (John
Locke, Some Considerations on the Consequences of the lowering of interest (2). 1691, in
Works, ed. Londres, 1777, vol. II, P. 28). Nos escritores ingleses do século XVII é corrente
encontrar-se ainda dois termos distintos para designar o valor de uso e o valor de troca, que
são os de " Worth" e “Value” respectivamente, como é próprio ao espírito de uma língua
que gosta de expressar a idéia direta com um têrmo germânico e a idéia reflete com um
termo latino.
5 Na sociedade burguesa, reina a fictio juris (3) de que todo comprador de mercadorias
possui conhecimentos enciclopédicos a respeito destas.
6 "O valor consiste na proporção em que se troca um objeto por outro. Uma determinada
quantidade de um produto por uma determinada quantidade de outro” (Le Trosne. De l
´intéret social. Physiocrates (4), ed. Daire, Paris, 1846, P. 889).
7 “Nada pode conter um valor de troca intrínseco” (N. Barbon, A Discourse on coining the
new money lighter, P. 6. Ou, como diz Butler:
The value of a thing
Is just as much as it will bring. (6)
8 “One sort of wares are as good as another, if the value be equal. There is no difference
or distinction in things of equal value . .” E Barbon contínua: “...100 libras esterlinas de
chumbo ou de ferro têm exatamente o mesmo valor de troca que 100 libras esterlinas de
prata ou de ouro." ("One hundred pounds Worth of lead or iron, is of as great a value as
one hundred pounds Worth of silver and gold.") A Discourse on coining the new money
lighter, pp. 53 e 7.
9 Nota a 2a edição. "The value of them (the necessaries of life) when they are exchanged the
one for another, is regulated by the quantity of labour necessarily required and commonly
taken in producing them" (Some Thoughts on the Interest of Money in general. and
particularly in the Public Funds, etc., Londres. P. 36). Esta notável obra anônima do século
passado não traz data de publicação. Entretanto, de seu conteúdo se deduz que deve ter
vindo à luz sob o reinado do Jorge II, por volta dos anos 1739 ou 1740.
10 "Os produtos do mesmo trabalho formam um todo, a rigor, uma só massa, cujo preço se
determina de um modo geral e sem atender às circunstâncias do caso concreto." (Le Trosne,
De l’Interet Social, P. 983)
11 Karl Marx, Contribuição à crítica da economia política, P. 6.

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12 Nota a 4a ed. Acrescentei o que aparece entre parênteses para evitar o engano, bastante
freqüente, dos que acreditam que Marx considera mercadoria, sem mais, todo produto
consumido por outro que não seja o próprio produtor. – F. E.
13 Karl Marx, Contribuição à crítica da economia, pp. 12, 13 e ss
14 “Os fenômenos do universo, quer os provoque a mão do homem, quer se achem regidos
pelas leis gerais da natureza, não representam nunca uma verdadeira criação do nada, mas
sim uma simples transformação da matéria. Quando o espírito humano analisa a idéia da
reprodução, encontra-se sempre, constantemente, diante de coisas úteis, embora o autor,
nesta sua polêmica contra os fisiocratas, não saiba ele mesmo a ciência certa da classe
elementos com as quais lida com operações de associação e dissociação; exatamente o
mesmo acontece com a reprodução do valor (valore, valor de uso, embora o autor, nesta sua
polêmica contra os fisiocratas, não sabe ele mesmo a ciência certa a que classe de valor se
refere) e da riqueza, quando a terra, o ar e a água se transformam em trigo sobre o campo
ou quando, sob a mão do homem, a secreção viscosa de um inseto se converte em seda ou
umas quantas peças de metal se juntam para formar um relógio de repetição" (Pietro Verri.
Meditazíoni sulla Economia Poulítica, obra impressa pela primeira vez em 1773,
Economistas italianos, ed. Custodi, Parte Moderna, vol. XV, P. 22)
15 Ver Hegel, Philosophie des Rechts, Berlim, 1840, P. 250 f 190.
16 Atente o leitor que aqui não nos referimos ao salário ou valor pago ao operário por um
dia de trabalho, suponhamos, mas sim ao valor das mercadorias nas quais sua jornada de
trabalho se traduz. Nesta primeira fase de nosso estudo, é como se a categoria do salário
não existisse.
17 Nota a 2a ed. Para provar "que o trabalho é a única medida definitiva e real pela qual
pode apreciar-se e comparar-se em todos os tempos e em todos os lugares o valor de todas
as mercadorias", diz A. Smith: "Quantidades iguais de trabalho possuem sempre o mesmo
valor para o operário, em todos os tempos e em todos os lugares. Em seu estado normal de
saúde, força e diligência e suposto nele o grau médio de destreza, o operário tem que
sacrificar sempre a mesma quantidade de descanso, liberdade e gozo." (Wealth of Nations,
T. I, cap. 5 [ed. E. G.]. Wakefield. Londres, 1836. T. I, pp 104, S.). De uma parte, A. Smith
confunde aqui (embora não sempre) a determinação do valor pela quantidade de trabalho
investida na produção da mercadoria com a determinação dos valores das mercadorias pelo
valor do trabalho, pretendendo portanto demonstrar que a quantidades iguais de trabalho
corresponde sempre um valor igual. De outra parte, pressente que o trabalho, assim que
materializado no valor das mercadorias, só interessa como gasto de força de trabalho, mas
volta a conceber este ato simplesmente como um sacrifício do descanso, a liberdade e o
gozo do operário, e não como uma função normal de vida. Claro está que, ao dizer isto,
refere-se ao operário assalariado moderno. Muito mais acertado está o precursor anônimo
de A. Smith citado na P. 44 N. 9, quando diz: “Uma pessoa investe uma semana em
produzir um objeto útil ... Se outra lhe der em troca dele outro objeto, não disporia de
medida melhor para apreciar a verdadeira equivalência entre os dois objetos que calcular
qual dos que possui lhe custou o mesmo trabalho (labour) e o mesmo tempo. O que quer

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dizer, em realidade, que o trabalho que uma pessoa empregou em seu produto durante um
determinado período de tempo se troca pelo trabalho que a outra investiu em outro objeto
durante um período de tempo igual." (Some Thoughts on the Interest of money etc., P. 39)
(Nota a 4a ed. O idioma inglês tem a vantagem de possuir dois termos distintos para
designar estes dois aspectos distintos do trabalho. O trabalho que cria valores de uso e se
determina qualitativamente recebe o nome de work, para distingui-lo do trabalho que cria
valor e só se mede quantitativamente, ao que se dá o nome de labour. Veja-se nota à edição
inglesa, P. 14. – F. E.)
18 Os poucos economistas que, como S. Bailey, ocuparam-se de analisar a forma do valor,
não conseguiram chegar a nenhum resultado positivo; em primeiro lugar, porque
confundem a forma do valor com o valor, e em segundo lugar porque, influenciados
grosseiramente pelo critério do burguês prático, limitam-se desde o primeiro momento a
enfocar exclusivamente a determinação quantitativa do valor. “A possibilidade de dispor de
uma quantidade... é o que constitui o valor” (Money and its Vicissitudes. Londres, 1837, P.
11. Autor, S. Bailey).
19 Nota a 2a ed. Um dos primeiros economistas que compreendeu, depois de William Petty,
a natureza do valor, o famoso Franklin, diz: “Posto que o comércio não é mais que a troca
de uns trabalhos por outros, como mais exatamente se determinará o valor de todos os
objetos será cotando-os em trabalho”. (The Works of B. Franklin, etc., ed. Sparks, Boston,
1836, vol. II, P. 267) Franklin não se dá conta de que, ao cotar em “trabalho” o valor de
todos os objetos, faz abstração da diversidade dos trabalhos que se trocam, reduzindo-os a
um trabalho humano igual. Não se dá conta disso, mas o diz. Primeiro, fala de “uns
trabalhos”, logo depois de “outros” e por último de “Trabalho” em geral, como substância
do valor de todos os objetos.
20 Ao homem ocorre de certo modo o mesmo que às mercadorias. Como não vem ao
mundo provido de um espelho nem proclamando filosoficamente, como Fichte: “eu sou
eu”, só se reflete, num primeiro intento, em um semelhante. Para referir-se a si mesmo
como homem, o homem Pedro tem que começar referindo-se ao homem Paulo como a seu
igual. E ao fazê-lo assim, o tal Paulo é para ele, com cabelos e pele, em sua corporeidade
paulina, a forma ou manifestação que reveste o gênero homem.
21 Empregamos aqui a palavra “valor”, como já temos feito mais acima algumas vezes, na
acepção de valor quantitativamente determinado, ou seja, como sinônimo de magnitude de
valor.
22 Nota a 2a ed. Esta incongruência entre a magnitude do valor e sua expressão relativa foi
explorada pela economia vulgar com a perspicácia a que estamos acostumados. Por
exemplo: “Admita-se tão somente que A diminui ao aumentar B, objeto pelo qual aquele se
troca, embora o trabalho investido em A seja o mesmo, e seu princípio geral do valor
ruirá... Basta apenas reconhecer que pelo mero fato de que o valor de A experimente um
aumento relativo em relação a B ou o valor de B diminua relativamente em relação a A,
desmorona-se o fundamento em que Ricardo apóia toda sua tese de que o valor de uma
mercadoria depende sempre da quantidade de trabalho materializado nela. Pois, se ao

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alterar-se o custo de A não só altera-se seu próprio valor em relação a B, ou seja, o objeto
pelo que se troca, mas sim varia também relativamente o valor de B respeito ao de A,
apesar de não operar a menor mudança na quantidade de trabalho necessário para a
produção de B, não só vem por terra a doutrina que assegura que o valor de um artigo se
regula pela quantidade de trabalho investida nele, mas também também a doutrina de que é
o custo de produção de um artigo o que regula seu valor” (J. Broadhurst, Treatise on
Political Economy, Londres, 1834. páginas 11 e 14).
O senhor Broadhurst poderia dizer, com igual razão: Contemplemos as frações 10/20,
10/50, 10/100, etc. O numerador 10 permanece invariável, e entretanto, sua magnitude
proporcional, ou seja sua magnitude com relação aos denominadores 20, 50, 100, diminui
constantemente. Isto joga por terra o grande princípio de que a magnitude de um número
inteiro, por exemplo 10, "regula-se” pelo número de unidades que contém.
23 Com estas determinações por efeito reflexo ocorre sempre uma coisa curiosa. Tal
homem é, por exemplo, rei porque outros homens se comportam em relação a ele como
súditos. Mas eles, por sua vez, acreditam ser súditos porque o outro é rei.
24 Nota a 2° ed. F.D.A. Ferrier (subinspetor de alfândegas). Du Gouvernement consideré
dans ses rapports avec le commerce, Paris, 1805, e Charles Ganilh, Des Systemes de
l’économie politique, 2a ed. Paris, 1821.
25 Nota a 2a ed. Em Homero, por exemplo, o valor de um objeto aparece expresso em uma
série de objetos distintos.
26 Por isso se fala do valor do tecido em casacos, quando seu valor se representa nestes
objetos, de seu valor em trigo, quando se representa em trigo, etc. Estas expressões indicam
que é seu valor o que toma corpo nos valores de uso casaco, trigo, etc.
“O valor de toda mercadoria expressa sua proporção na troca; por isso podemos nos referir
a ele como a seu. . . valor em trigo ou em pano, segundo a mercadoria com que o
comparemos; e por isso existem mil valores diversos, tantos quanto as mercadorias, valores
todos eles que têm, por conseguinte, tanto de real como de imaginários.” ("A Critical
Dissertation on the Nature, Measure and Cause of Value: chiefly in reference to the
writings of Mr. Ricardo and his followers.” By the Author of "Essays on the Formation etc.
of Opinions”, Londres, 1825, P. 39). S. Bailey, autor desta obra anônima, que em seu
tempo causou uma grande polvorosa na Inglaterra, acreditava ter descoberto todas as
determinações conceituais do valor apontando as diversas e matizadas expressões relativas
do valor de uma mesma mercadoria. De resto, a irritação com foi atacado pela escola
ricardiana, por exemplo na Westminster Review, é prova de que, em que pese a suas
próprias limitações, este autor chegou a tocar alguns pontos vulneráveis da teoria
ricardiana.
27 A forma de objeto geral diretamente permutável não apresenta ao exterior nenhum signo
em que se revele a forma antitética de mercadoria que nele se encerra, forma que no pólo
positivo é na verdade inseparável do caráter negativo do outro pólo. Caberia, portanto,
pensar que a todas as mercadorias se pode imprimir de uma vez o selo de objetos
diretamente permutáveis, do mesmo modo que caberia pensar que todos os católicos podem

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converter-se em batatas. Para o pequeno burguês, que vê na produção de mercadorias o non


plus ultra da liberdade humana e da independência individual, seria muito grato,
naturalmente, ver remediados os abusos que leva consigo esta forma, entre eles e muito
principalmente o da impossibilidade de que, todos os objetos sejam diretamente
cambiáveis. A desenhar esta utopia de filisteu se reduz o socialismo do Proudhon, que
como tive oportunidade de demonstrar em outro lugar não pode presumir-se nem sequer de
originalidade, já que tal socialismo foi desenvolvido muito antes dele, e bastante melhor,
por Gray, Bray e outros. O que não impede que essa sabedoria faça hoje verdadeiros
estragos entre certa gente, sob o nome de “ciência”. Jamais nenhuma escola prodigalizou
tanto a palavra “ciência” que a proudhoniana, pois sabido é que “à falta de idéias, sai-se a
passo com um palavreado”.
28 Recorde-se como a China e as mesas irromperam a dançar quando todo o resto do
mundo parecia estar tranqüilo... pour encourager les autres. (12)
29 Nota a 2a ed. Os antigos germânicos calculavam as dimensões de uma permuta de terra
pelo trabalho de um dia, razão pela qual davam a fanega o nome do Tagwek (ou Tagwanne)
(jurnale ou jurnalis, terra jurnalis, jurnalis ou diornalis, em latim), Mannwerk, Mannshraft,
Mannsmahd, Mannshauet, etc. Veja-se Jorge Luis von Maurer, Einleitung zur Geschichte
der Mark–, Hof–, ustv, Verfassung, Munich, 1854, pp. 128 S.
30 Nota a 2a ed. Portanto, quando Galiani diz que o valor é uma relação entre pessoas (“la
ricchezza é uma ragione tra due persone”), deveria acrescentar: disfarçada sob um
envoltório material (Galiani, Della Moneta, P. 220, T. III da Coleção “Scrittori Classic
Italiani di Economia Política”, dirigida por Custodi. Parte Moderna. Milão, 1803).
31 “O que pensar de uma lei que só pode impor-se através de revoluções periódicas? Trate-
se, com efeito, de uma lei natural apoiada na inconsciência dos interessados”. (Federico
Engels, “Apontamentos para uma crítica da economia política”, no Deutsch–Franzosische
Jahrbücher, dirigidos por Arnold Ruge e Karl Marx, Paris, 1844)
32 Nota a 2a ed. Tampouco em Ricardo falta a conhecida imagem robinsoniana. “Ao
pescador e ao caçador primitivos, que ele nos descreve trocando imediatamente seu
pescado e sua caça como possuidores de mercadorias, referenciando à proporção do tempo
de trabalho materializado nestes valores de troca. E incorre no anacronismo de apresentar
seu caçador e pescador primitivos calculando o valor de seus instrumentos de trabalho em
as tabelas de anuidades que era costume utilizar-se em 1817 na Bolsa de Londres. Os
'paralelogramos do senhor Owen' parecem ser a única forma de sociedade que este autor
conhece, fora da burguesa.” (Karl Marx, Contribuição à crítica, etc., pp. 38 e 39.)
33 Nota a 2a ed. “É um preconceito ridículo, ampliado nestes últimos tempos, o de que a
forma da propriedade coletiva natural seja uma forma especificamente eslava, mais ainda,
exclusivamente russa. É a forma primitiva que encontramos, como pode demonstrar-se,
entre os romanos, os germânicos e os celtas, e ainda hoje os índios nos poderiam oferecer
todo um mapa com múltiplas evidências desta forma de propriedade, embora em estado
ruinoso algumas delas. Um estudo minucioso das formas asiáticas, e especialmente das
formas índias de propriedade coletiva, demonstraria como das distintas formas da

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propriedade coletiva natural se derivam distintas formas de dissolução deste regime. Assim,
por exemplo, os diversos tipos originais de propriedade privada romana e germânica têm
sua raiz em diversas formas da propriedade coletiva a Índia”. (Karl Marx, Contribuição à
crítica, etc., P. 10)
34 Quão insuficiente é a análise que traça Ricardo da magnitude do valor – e a sua é a
menos ruim – o veremos nos terceiro livros e quarto desta obra. No que se refere ao valor
em geral, a economia política clássica não distingue jamais expressamente e com clara
consciência do que faz o trabalho materializado no valor e o que toma corpo no valor de
uso de seu produto. De fato, traça, naturalmente, a distinção, posto que em um caso
considera o trabalho quantitativamente e em outro caso de um ponto de vista qualitativo.
Mas não lhe ocorre pensar que a simples diferença quantitativa de vários trabalhos
pressupõe sua unidade ou igualdade qualitativa, e portanto, sua redução a trabalho
humano abstrato. Ricardo, por exemplo, mostra-se de acordo com Destutt de Tracy,
quando diz: “Sendo evidente que não temos mais riqueza originária que nossas capacidades
físicas e espirituais, o uso destas capacidades, uma certa espécie de trabalho, constitui nosso
tesouro originário; este uso é o que cria todas as coisas a que damos o nome de riquezas...
Além disso, é evidente que todas essas coisas não representam mais que o trabalho que as
criou, e se possuírem um valor, ou inclusive dois valores distintos, é graças ao do (ao
valor do) trabalho de que brotam.” ([Destutt de Tracy, Eléments d'ideologie IV e V partes,
Paris, 1826, pp. 35 e 36]. Veja-se Ricardo, The Principles of Political Economy, 3a ed.,
Londres, 1821, P. 334) Advertimos de passagem que Ricardo atribui a Destutt um sentido
profundo que é alheio a ele. É certo que Destutt diz, de uma parte, que todas aquelas coisas
que formam a riqueza “representam o trabalho que as criou”, mas por outro lado diz que
obtêm seus “dois valores distintos” (o valor de uso e o valor de troca) do “valor do
trabalho”. Cai portanto na bobagem da economia vulgar, ao pressupor o valor de uma
mercadoria (aqui, o trabalho) para logo determinar, partindo dele, o valor das demais.
Ricardo lhe interpreta no sentido de que tanto o valor de uso como o valor de troca
representam trabalho (trabalho e não valor deste). Mas nem ele mesmo distingue o duplo
caráter do trabalho, representado desse duplo modo, como o demonstra o fato de que, em
todo o capítulo titulado “O valor e a riqueza, suas características distintivas”, não faz mais
que envolver-se, fatigosamente, com as vulgaridades de um J. B. Say. Por isso, ao terminar,
mostra-se completamente assombrado de que Destutt esteja de acordo com ele sobre o
trabalho como fonte do valor, entendendo-se ao mesmo tempo com o Say ao definir o
conceito deste.
35 E um dos defeitos fundamentais da economia política clássica é o de não ter conseguido
jamais desentranhar da análise da mercadoria, e mais especialmente do valor desta, a forma
do valor que o converte em valor de troca. Precisamente na pessoa de seus melhores
representantes, como Adam Smith e Ricardo, estuda a forma do valor como algo
perfeitamente indiferente ou exterior à própria natureza da mercadoria. A razão disto não
está somente em que a análise da magnitude do valor absorve por completo sua atenção. A
causa é mais profunda. A forma de valor que reveste o produto do trabalho é a forma mais
abstrata e, ao mesmo tempo, a mais general do regime burguês de produção, caracterizado

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assim como uma modalidade específica de produção social e ao mesmo tempo, e por isso
mesmo, como uma modalidade histórica. Portanto, quem vê nela a forma natural eterna da
produção social, passará por cima necessariamente do que tem de específico na forma do
valor e, por conseguinte, na forma mercadoria, 'que, ao desenvolver-se, conduz à forma
dinheiro, à forma capital, etc.' Eis aqui por que até em economistas que coincidem
totalmente em reconhecer o tempo de trabalho como medida da magnitude do valor nos
encontramos com as idéias mais variadas e contraditórias sobre o dinheiro, quer dizer, a
respeito da forma definitiva em que se plasma o equivalente general. Assim o revelam, por
exemplo, de um modo evidente, os estudos a respeito dos Bancos, onde não bastam essas
definições do dinheiro feitas de lugares comuns. E que daqui surgisse, por antítese, um
sistema mercantilista restaurado (Ganith, etc.), que não vê no valor mais que a forma social,
ou seja, sua simples aparência, despida de toda substância. E, para dizê-lo de uma vez por
todas, advirto que entendo por economia política clássica toda a economia que, desde W.
Petty, investiga a concatenação interna do regime burguês de produção, diferentemente da
economia vulgar, que não sabe mais que pinçar nas concatenações aparentes, acautelando-
se tão somente de explicar e fazer gratos os fenômenos mais avultados, se nos permite a
frase, mascando até converter em mingau para o uso doméstico da burguesia os materiais
oferecidos pela economia científica desde muito tempo atrás, e que ademais se contente em
sistematizar, pedantizar e proclamar como verdades eternas as idéias banais e presunçosas
que os agentes do regime burguês de produção formam a respeito de seu mundo, como o
melhor dos mundos possíveis.
36 “Os economistas têm um modo curioso de proceder. Para eles, não há mais que duas
classes de instituições: as artificiais e as naturais. As instituições do feudalismo são
instituições artificiais; as da burguesia, naturais. Nisto se parecem com os teólogos, que
classificam também as religiões em duas categorias. Toda religião que não seja a sua
própria, é invenção humana: a sua, no entanto, revelação divina. Assim, terá podido existir
uma história, mas esta termina ao chegar a nossos dias.” (Karl Marx, Misére de la
Philosophie. Reponse à la philosophie de la Misére par M. Proudhon, 1847, P. 113).
Homem verdadeiramente divertido é o senhor Bastiat, que se figura que os antigos gregos e
romanos só viviam do roubo. Mas, para poder viver do roubo durante tantos séculos, tem
que existir por força, constantemente, algo que possa roubar-se, ou reproduzir-se
incesantemente o objeto do roubo. É de acreditar, pois, que os gregos e os romanos teriam
também um processo de produção, e, portanto, uma economia, em que residiria a base
material de seu mundo, nem mais nem menos que na economia burguesa reside a base do
mundo atual. 0u Bastiat pensa, acaso, que um regime de produção apoiado no trabalho dos
escravos é um regime de produção erigido sobre o roubo como sistema? Se pensa assim,
estará em um terreno perigoso. E se um gigante do pensamento como Aristóteles se
equivocava ao ajuizar o trabalho dos escravos, por que não tem que equivocar-se também
ao ajuizar o trabalho assalariado um pigmeu da economia como Bastiat? Aproveitarei a
ocasião para responder brevemente a uma objeção feita a mim por um periódico alemão da
América do Norte ao publicar-se, em 1859, minha obra Contribuição à crítica da economia
política. Este periódico dizia que minha tese segundo a qual o regime de produção vigente

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em uma época dada e as relações de produção próprias deste regime, em uma palavra “a
estrutura econômica da sociedade, é a base real sobre a qual se eleva a superestrutura
jurídica e política e a que correspondem determinadas formas de consciência social” e de
que “o regime de produção da vida material condiciona todo o processo da vida social,
política e espiritual” era indubitavelmente exata com respeito ao mundo moderno, em que
preponderam os interesses materiais, mas não podia ser aplicada à Idade Média, em que
reinava o catolicismo, nem a Atenas e Roma, onde imperava a política. Em primeiro lugar,
é surpreendente que haja ainda quem pensa que todos esses tópicos vulgaríssimos que
correm por aí a respeito da Idade Média e do mundo antigo sejam ignorados por alguém. É
indubitável que nem a Idade Média pôde viver do catolicismo nem o mundo antigo da
política. Longe disso, o que explica por que em uma era fundamental a política e na outra o
catolicismo é precisamente o modo como uma e outra ganhavam a vida. De resto, não é
necessário ser muito versado na história da república romana para saber que sua história
secreta reside na história da propriedade territorial. Já Dom Quijote pagou caro o engano de
acreditar que a cavalaria andante era uma instituição compatível com todas as formas
econômicas da sociedade.
37 “Value is a property of things, riches of men. Value, in this sense, necessarily implies
exchange, riches do not”. Observations on certain verbal disputes in Political Economy,
particularly relating to value and to demand and supply. Londres, 1821, P. 16.
38 “Riches are the attribute of man, value is the attribute of commodities. A man or a
community is rich, a pearl or a Diamond is valuable... A pearl or a Diamond is valuable as
a pearl or a Diamond.” S. Bailey, A Critical Dissertation, etc., P. 165.
39 O autor das “Observations” e S. Bailey reprovam a Ricardo por ter convertido o valor de
troca de um valor puramente relativo em algo absoluto. Justamente o contrário. É ele quem
reduz a aparente relatividade que possuem estes objetos, os diamantes e as pérolas por
exemplo, considerados como valores de troca, à verdadeira relação que se esconde detrás
dessa aparência, a sua relatividade como simples expressões que são do trabalho humano. E
se os ricardianos respondem a Bailey bastante grosseiramente, mas sem argumentos
decisivos, é simplesmente porque o próprio Ricardo não lhes orienta sobre o enlace interno
que existe entre o valor e a forma do valor ou valor de troca.

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196. NOTA DA TRADUÇÃO BRASILEIRA DE 2010

197. A presente tradução tem sua única e exclusiva utilidade como material acessório no
âmbito das disciplinas de Economia Política I e II do Curso de Graduação em Economia da
FEA-PUCSP cujas turmas estejam sob minha responsabilidade - portanto, não é uma
versão que deva alcançar o grande público, nem tem essa finalidade neste momento.
198. A presente tradução teve como base a Edição online de Venceslau Roces para a
Fundo de Cultura, disponível em Marxists.Org, que por sua vez teve como base a 4a Edição
Alemã de O Capital. Dada a premência do tempo, para essa primeira versão da 1a Edição
fizemos um inicial, sumário, superficial e provisório confronto com as edições em
português de Reginaldo Sant'Anna e de Paul Singer, também com a edição em espanhol de
Pedro Scaron e colaboradores. Além de aprofundar e contextualizar os confrontos com as
edições em português e espanhol, após a edição completa dos três livros faremos confrontos
em detalhe com as edições francesas, com a inglesa e com a 4a edição alemã.
199. Os parágrafos estão numerados seguindo a diagramação daquela versão, e assim
será feito para cada capítulo da obra.
200. A presente versão ainda não sofreu uma revisão rigorosa e é, assim, portadora de
inevitáveis e graves erros tanto de tradução como de português - diante do que agradecemos
todos os comentários, críticas e contribuições. Para este caso disponibilizamos o endereço
de email do editor jasonborba@pucsp.br - não serão lidas mensagens que não portem
claramente o seu objeto no campo de assunto e em que o remetente não esteja devidamente
identificado; quando se tratar de casos específicos ou pontuais, referenciar obrigatoriamente
os comentários à numeração dos respectivos parágrafos da seguinte maneira p.ex.: [LI-Pref-
109], ou seja, "Livro I", "prefácios" seguida da numeração do respectivo parágrafo; ou
quando se tratar dos capítulos subsequentes à obra teríamos [LI-Cap01-40], ou seja, "Livro
I", "Capítulo 01", seguido do número do parágrafo, 40. No caso das notas aos prefácios ou
aos capítulos que seguirão em arquivos específicos, a referências viriam como [LI-Pref-
Nota-10] ou [LI-Cap01-Nota-10] onde teríamos "Livro I", "Prefácios" ou "Capítulo 1" e o
respectivo número do parágrafo ou da nota. Possivelmente, dada as especificidades de cada
capítulo, teremos instruções suplementares sobre o modo de referenciar os respectivos
parágrafos.
201. Nosso plano é franquear um portal específico para desenvover a interatividade com
os leitores nas próximas edições livres dessa obra e de outras que porventura estejam no
nosso alcance empreender.
202. De há muito os leitores em lingua portuguesa carecem da disponibilidade de uma
versão online livre da obra maior do marxismo científico - essa iniciativa, caso seu futuro
amadurecimento justifique, visa contribuir para sanar essa insuportável carência.
203. Toda a responsabilidade sobre a atual tradução nos cabe integralmente.
204. Cotia, janeiro/fevereiro de 2010
205. Jason T.Borba

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