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1. PRINCÍPIOS
1.1. FUNDAMENTAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS: Análise do art. 489, § 1º,
IV, do CPC/2015 – (Info 585) – IMPORTANTE!!!
2. CURADOR ESPECIAL
2.1. Curador especial pode apresentar reconvenção – (Info 613) – IMPORTANTE!!!
O curador especial tem legitimidade para propor reconvenção em favor do réu cujos
interesses está defendendo.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.088.068-MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 29/8/17 (Info
613).
OBS:
Curador especial: O CPC prevê que, em determinadas situações, o juiz terá que
nomear um curador especial que irá defender, no processo civil, os interesses do réu.
O curador especial também é chamado de curador à lide.
Hipóteses em que será nomeado curador especial: Estão previstas no art. 72 do CPC.
São quatro situações:
a) Quando o réu for incapaz e não tiver representante legal;
b) Quando o réu for incapaz e tiver representante legal, mas os interesses deste
(representante) colidirem com os interesses daquele (incapaz);
c) Quando o réu estiver preso;
d) Quando o réu tiver sido citado por edital ou com hora certa, enquanto não for
constituído advogado.
Quais são os poderes do curador especial? O que ele faz no processo? O curador
especial exerce um múnus público. Sua função é a de defender o réu em juízo naquele
processo. Possui os mesmos poderes processuais que uma “parte”, podendo oferecer
as diversas defesas (contestação, exceção, impugnação etc.), produzir provas e
interpor recursos. Por óbvio, o curador especial não pode dispor do direito do réu
(não pode, por exemplo, reconhecer a procedência do pedido), sendo nulo qualquer
ato nesse sentido. Vale ressaltar que, ao fazer a defesa do réu, o curador especial pode
apresentar uma defesa geral (“contestação por negação geral”), não se aplicando a
ele o ônus da impugnação especificada dos fatos (parágrafo único do art. 341 do
CPC). Desse modo, o curador especial não tem o ônus de impugnar pontualmente
(de forma individualizada) cada fato alegado pelo autor.
O que essa função de curador especial tem a ver com a Defensoria Pública? A Lei
Orgânica da Defensoria Pública (LC 80/94) estabelece o seguinte:
Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública,
dentre outras:
XVI – exercer a curadoria especial nos casos previstos em lei;
Desse modo, o múnus público de curador especial de que trata o art. 72 do CPC deve
ser exercido pelo Defensor Público. O CPC/2015 afirmou isso expressamente:
Art. 72 (...)
Parágrafo único. A curatela especial será exercida pela
Defensoria Pública, nos termos da lei.
Quando o Defensor Público atua como “curador especial”, ele terá direito de receber
honorários? NÃO. O Defensor Público não faz jus ao recebimento de honorários
pelo exercício da curatela especial por estar no exercício das suas funções
institucionais, para o que já é remunerado mediante o subsídio em parcela única.
STJ. Corte Especial. REsp 1.201.674-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 6/6/2012.
Desse modo, apenas para que fique claro, o que se está dizendo é que o Defensor
Público que atua como curador especial não tem que receber honorários para atuar
neste múnus público, considerando que já se trata de uma de suas atribuições
previstas em lei.
2.2. Quando o Defensor Público atua como “curador especial”, ele terá direito de
receber honorários? – (SEM INFO) – (DPEMT-2016)
3. DEPOSITÁRIO JUDICIAL
3.1. Possibilidade de o depositário judicial exercer direito de retenção – (Info 578)
O particular que aceita exercer o múnus público de depositário judicial tem o direito
de reter o depósito até que sejam ressarcidas as despesas com armazenagem e
conservação do bem guardado e pagos os seus honorários.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.300.584-MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 3/3/16 (Info
578).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa "A" ajuizou execução contra a
empresa "B". No curso do processo, foram penhorados 5kg de soja pertencentes à
executada. A soja foi guardada em um dos galpões da "Silva Armazém", empresa
privada especializada em armazenar mercadorias para outras empresas. O depósito
na "Silva Armazém" foi determinado pela Justiça e o gerente da referida empresa ficou
como depositário judicial da soja. As empresas "A" e "B" resolveram fazer um acordo
e, por essa razão, a execução foi extinta. A empresa "B" foi, então, buscar a soja de volta
no galpão, mas a "Silva Armazém" afirmou que só devolveria o produto após ser
indenizada pelas despesas que teve com a armazenagem e conservação do bem, além
de receber a remuneração pelo serviço prestado.
A conduta do depositário de reter a mercadoria foi lícita? Ela poderia ter feito isso?
SIM. O depositário judicial pode se valer do direito de retenção previsto no art. 644
do Código Civil, que assim dispõe:
Art. 644. O depositário poderá reter o depósito até que se lhe
pague a retribuição devida, o líquido valor das despesas, ou
dos prejuízos a que se refere o artigo anterior, provando
imediatamente esses prejuízos ou essas despesas.
5. AÇÃO DEMOLITÓRIA
5.1. Litisconsórcio passivo necessário em ação demolitória – (Info 565)
Na hipótese de ser proposta ação real imobiliária, o CPC determina que haja a
citação não apenas do réu, mas também de seu cônjuge. Confira:
CPC-1973: Art. 10. (...) § 1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados
para as ações: I - que versem sobre direitos reais imobiliários;
CPC 2015: Art. 73 (...) § 1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados
para a ação: I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados
sob o regime de separação absoluta de bens;
Como a ação de nunciação de obra nova e de ação demolitória, são ações reais
imobiliárias, o réu que for casado deverá ser citado, salvo se, nos termos do novo
CPC, o regime de bens for da separação absoluta (art. 73, § 1º, I, do CPC 2015).
Assim, nos casos de ação de nunciação de obra nova e a ação demolitória haverá
litisconsórcio passivo necessário entre o proprietário do imóvel e seu cônjuge, salvo
se eles forem casados sob o regime de separação absoluta de bens, situação na qual
somente será réu o proprietário do bem.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.374.593-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 5/3/2015 (Info 565).
6. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ
6.1. Para a aplicação da multa por litigância de má-fé não se exige a comprovação
de dano – (Info 601) – IMPORTANTE!!!
O dano processual não é pressuposto para a aplicação da multa por litigância de má-
fé prevista no art. 18 do CPC/1973 (art. 81 do CPC/2015). Trata-se de mera sanção
processual, aplicável inclusive de ofício, e que não tem por finalidade indenizar a
parte adversa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.065-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. p/acórdão Min.
Paulo de Tarso Sanseverino, j. 21/2/2017 (Info 601).
OBS:
Para o STJ, uma vez reconhecida a litigância de má-fé, devem ser impostas a multa e
a indenização (perdas e danos), sendo, no entanto, DESNECESSÁRIA a prova do
prejuízo sofrido pela parte adversa. A Corte entende que, em momento algum, o art.
18, caput e § 2º do CPC/1973 (art. 81, caput e § 3º do CPC/2015) exigem que haja prova
do prejuízo para que a indenização seja fixada. Segundo pensa o STJ, para a fixação
da indenização, a lei só exige que haja um prejuízo, mas este pode ser potencial ou
presumido (não precisando ser demonstrado em concreto). Outro argumento do STJ
é o de que se fosse exigida comprovação de prejuízo, essa demonstração seria
extremamente difícil de ser feita, o que praticamente impossibilitaria a aplicação de
tais sanções, comprometendo a sua eficácia.
7. HONORÁRIOS PERICIAIS
7.1. Mesmo que o dispositivo da sentença mencione apenas a condenação em
custas processuais, é possível incluir a cobrança dos honorários periciais – (Info 598)
8. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
8.1. Configura supressão de instância o STJ fixar diretamente os honorários
advocatícios que haviam sido estipulados erroneamente com base no CPC/1973 – (Info
617)
8.2. Para que a cessão do precatório seja válida, é necessário que o crédito cedido
esteja expressamente consignado no precatório – (Info 607)
O cessionário de honorários advocatícios tem legitimidade para se habilitar no
crédito consignado em precatório desde que comprovada a validade do ato de
cessão por escritura pública e seja discriminado o valor devido a título de verba
honorária no próprio requisitório, não preenchendo esse último requisito a simples
apresentação de planilha de cálculo final elaborada pelo Tribunal de Justiça.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.127.228-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 21/6/17
(Info 607).
8.3. Sentença proferida após o CPC/2015 deverá observar as suas regras quanto aos
honorários, ainda a ação tenha sido proposta antes da sua entrada em vigor – (Info
602)
Nos contratos em que estipulado o êxito como condição remuneratória dos serviços
advocatícios prestados, a renúncia do patrono originário, antes do julgamento
definitivo da causa, não lhe confere o direito imediato ao arbitramento de verba
honorária proporcional ao trabalho realizado, sendo necessário aguardar o desfecho
processual positivo para a apuração da quantia devida.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.337.749-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 14/2/17 (Info 601).
8.5. Advogado deve receber seus honorários calculados sobre o total do precatório,
antes de ser realizada eventual compensação de crédito – (Info 597)
João propôs ação de indenização por danos morais contra Pedro, tendo o juiz
julgado o pedido procedente, condenando o réu ao pagamento de: a) R$ 200 mil a
título de danos morais; b) honorários advocatícios de 10% sobre o valor da
condenação; c) custas e despesas processuais. Pedro interpôs apelação e o Tribunal
de Justiça anulou a sentença, extinguindo o processo sem resolução do mérito. Ao
final do voto, o Desembargador escreveu o seguinte: "invertidos os ônus da
sucumbência".
Contra o acórdão do TJ não houve recurso das partes, tendo havido o trânsito em
julgado. O advogado de Pedro, de posse do acórdão do TJ, ingressou com execução
de honorários advocatícios cobrando de João R$ 20 mil reais. Segundo o advogado,
o TJ, ao inverter os ônus da sucumbência, condenou João a pagar o valor que havia
sido arbitrado pelo juiz, em 1ª instância, como honorários advocatícios (10% sobre
o valor da condenação).
A execução proposta pelo advogado teve sucesso?
NÃO. Não cabe a execução de honorários advocatícios com base na expressão
"invertidos os ônus da sucumbência" empregada por acórdão que, anulando
sentença de mérito que fixara a verba honorária em percentual sobre o valor da
condenação, extinguiu o processo sem resolução de mérito.
Quando o Tribunal escreve essa expressão "invertidos os ônus da sucumbência",
isso não é suficiente para concluir que ele tenha condenado o vencido a pagar os
honorários advocatícios do vencedor do recurso. Para o STJ, não se pode entender
que os honorários advocatícios estão implicitamente incluídos. Na verdade,
entende-se que, neste caso, houve omissão do Tribunal.
Assim, para o STJ, se o Tribunal, ao anular ou reformar a sentença, omite-se quanto
à condenação da parte vencida em honorários advocatícios, deve a parte vencedora
opor embargos de declaração. Não o fazendo, não é possível depois voltar ao tema
na fase de execução, buscando a condenação da parte vencida ao pagamento da
referida verba, sob pena de ofensa à coisa julgada.
O entendimento acima permanece o mesmo com o CPC 2015?
NÃO. O novo CPC traz regra expressa prevendo que, mesmo que a decisão judicial
seja omissa quanto aos honorários, ainda assim será possível cobrá-los mediante
ação autônoma. Veja:
Art. 85 (...) § 18. Caso a decisão transitada em julgado seja omissa quanto ao direito
aos honorários ou ao seu valor, é cabível ação autônoma para sua definição e
cobrança.
Diante disso, com a entrada do CPC 2015, a súmula 453 do STJ fica SUPERADA.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.285.074-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 23/6/15 (Info
565).
8.9. A execução de contrato de honorários não pode ser proposta contra pessoa
jurídica que não tenha assinado o pacto, mesmo que integrante do mesmo grupo
econômico – (Info 555)
Os honorários advocatícios não são devidos à Defensoria Pública quando ela atua
contra a pessoa jurídica de direito público à qual pertença (Súmula 421/STJ).
Também não são devidos honorários advocatícios à Defensoria Pública quando ela
atua contra pessoa jurídica de direito público que integra a mesma Fazenda Pública.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.102.459-RJ, Rel. Min. Adilson Vieira Macabu (Desembargador
convocado do TJ-RJ), julgado em 22/5/2012.
9. CORREÇÃO MONETÁRIA
9.1. Correção monetária deve incluir os índices de deflação – (Info 542)
11. PRECATÓRIO
11.1. Incidem juros da mora entre a data da realização dos cálculos e a da requisição
ou do precatório – (Info 617)
11.2. O limite previsto no § 2º do art. 100 da CF/88 é aplicável para cada precatório
individualmente considerado (Info 570) – IMPORTANTE!!!
O § 2º do art. 100 prevê que os débitos de natureza alimentícia que tenham como
beneficiários pessoas com 60 anos de idade ou mais ou portadoras de doenças
graves terão uma preferência ainda maior. É como se fosse uma “fila com
superpreferência”.
A superprioridade para créditos alimentares de idosos e portadores de doenças
graves (§ 2º) só vai até 3 vezes o valor da RPV (§ 4º do art. 100). Assim, se o valor a
ser recebido pelo idoso ou doente grave for superior a 3 vezes o que é considerado
"pequeno valor" para fins de precatório (§ 4º), parte dele será paga com
superpreferência e o restante será quitado na ordem cronológica de apresentação
do precatório.
Imagine que um idoso possua mais de um precatório para receber. Esse valor
máximo para receber na fila superpreferencial do § 2º é um valor para cada
precatório ou para a totalidade deles? Ex: Pedro tem dois precatórios para receber
da União: um no valor de 120 salários-mínimos e outro no valor de 100 salários-
mínimos. Em se tratando da União, o limite de que trata o § 2º é 180 salários-
mínimos (3x60). Pedro poderá receber os dois precatórios na fila especial do § 2º?
SIM. A limitação de valor para o direito de preferência previsto no art. 100, § 2º, da
CF aplica-se para cada precatório de natureza alimentar, e não para a totalidade dos
precatórios alimentares de titularidade de um mesmo credor preferencial, ainda
que apresentados no mesmo exercício financeiro e perante o mesmo devedor.
A CF/88 não proibiu que a pessoa maior de 60 anos ou doente grave participasse da
listagem de credor superpreferencial do § 2º por mais de uma vez. Ela só proibiu
que o precatório recebido fosse maior do que 3x o valor da RPV. Logo, não cabe ao
intérprete criar novas restrições não previstas no texto constitucional.
Assim, em nosso exemplo, Pedro poderá receber os dois precatórios na fila do § 2º
do art. 100. Isso porque, se considerados individualmente, nenhum dos dois
precatórios é superior a 180 salários-mínimos.
STJ. 1ª Turma. RMS 46.155-RO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 22/9/15 (Info
570).
11.3. Cobrança dos honorários por meio de RPV ainda que o crédito dito “principal”
seja executado por meio do regime de precatórios – (Info 539) – IMPORTANTE!!!
MUDANÇA DE ENTENDIMENTO!!!
Se a Fazenda Pública for condenada a pagar dinheiro, deverá o pagamento ser feito,
em regra, por meio de precatório.
Se a quantia for considerada como de “pequeno valor”, não haverá necessidade de
precatório.
É possível que a execução de honorários advocatícios devidos pela Fazenda Pública
se faça mediante Requisição de Pequeno Valor (RPV) na hipótese em que os
honorários não excedam o valor limite a que se refere o art. 100, § 3º, da CF, ainda
que o crédito dito “principal” seja executado por meio do regime de precatórios.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.347.736-RS, Rel. Min. Castro Meira, Rel. para acórdão Min.
Herman Benjamin, j. 9/10/13 (recurso repetitivo) (Info 539).
13. LITISCONSÓRCIO
13.1. O prazo em dobro dos litisconsortes com procuradores diferentes aplica-se aos
processos judiciais eletrônicos? – (Info 560) – IMPORTANTE!!!
Quando houver litisconsórcio, seja ele ativo (dois ou mais autores) ou passivo (dois
ou mais réus), caso os litisconsortes tenham advogados diferentes, os seus prazos
serão contados em dobro. É o que determina o art. 191 do CPC 1973.
O art. 229 do CPC 2015 também traz regra semelhante, exigindo, contudo, que, além
de serem procuradores (advogados) diferentes, os causídicos também sejam de
escritórios de advocacia diferentes: “Os litisconsortes que tiverem diferentes
procuradores, de escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em dobro
para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente
de requerimento.”
O benefício do prazo em dobro para os litisconsortes vale para processos eletrônicos?
No CPC 1973: SIM. O objetivo do prazo em dobro é facilitar o acesso aos
autos, já que, havendo advogados diferentes, eles não poderiam tirar os
autos do cartório. Com base nisso, o STJ entende que não haveria
justificativa para o prazo em dobro nos processos eletrônicos, contudo, como
o art. 191 do CPC 1973 não faz qualquer distinção entre processos físicos e
eletrônicos, o STJ afirma que não se pode excluir o prazo em dobro mesmo
nos processos eletrônicos, sob pena de haver uma afronta ao princípio da
legalidade.
No CPC 2015: NÃO. O § 2º do art. 229 do CPC 2015 “corrige” essa falha da
lei e determina expressamente que não se aplica o prazo em dobro para
litisconsortes diferentes se o processo for em autos eletrônicos. Desse modo,
quando o CPC 2015 entrar em vigor, os litisconsortes não terão prazo em
dobro no processo eletrônico mesmo que possuam procuradores diferentes.
Até lá, contudo, continua sendo aplicado o prazo em dobro tanto para
processos físicos como eletrônicos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.488.590-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
14/4/2015 (Info 560).
Atenção: não há qualquer problema se o autor enfermo optar por ajuizar a ação contra
o Estado e a União como litisconsortes passivos. Nesse caso, a demanda será
processada na Justiça Federal. O que não pode é o réu acionado querer impor ao autor
que litigue também contra os demais entes federativos.
16. COMPETÊNCIA
16.1. Compete à Justiça Estadual julgar ação proposta por ex-empregado para
continuar no plano de saúde de autogestão que era oferecido pela empresa – (Info 620)
Com maior razão, por já ter sido encerrado o seu contrato de trabalho, a pretensão
do ex-empregado de manutenção no plano de assistência à saúde fornecido pela ex-
empregadora não pode ser vista como simples relação de trabalho.
Dessa forma, conclui-se que a Justiça competente para o exame e julgamento de ação
fundada nos arts. 30 e 31 da Lei 9.656/98, que discute direitos de ex-empregado
aposentado ou demitido sem justa causa de permanecer em plano de saúde coletivo
oferecido pela própria empresa empregadora aos trabalhadores ativos, na
modalidade de autogestão, é a Justiça Comum estadual, visto que a causa de pedir e
o pedido se originam de relação autônoma nascida com a operadora de plano de
saúde, a qual possui natureza eminentemente civil, envolvendo tão somente, de
maneira indireta, os aspectos da relação de trabalho.
16.2. Não se aplica a regra do art. 53, V, do CPC para a ação de indenização proposta
pela seguradora em caso de acidente de veículo envolvendo o locatário – (Info 604) –
IMPORTANTE!!!
A tese da seguradora, quanto à competência, foi acolhida pelo STJ? Aplica-se, neste
caso, o art. 53, V, do CPC/2015? NÃO.
Razão de ser do art. 53, V, do CPC/2015: Em regra, a ação fundada em direito pessoal
ou em direito real sobre bens móveis será proposta no foro de domicílio do réu (art.
46). Assim, em regra, uma ação de indenização proposta por alguém que mora em São
Paulo (SP) contra outra pessoa que mora em Florianópolis (SC) deverá ser ajuizada
capital catarinense, domicílio do réu. Como exceção a essa regra, o art. 53, V prevê
que, nas ações de reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de
veículos, será competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato. Essa
exceção foi prevista pelo legislador como uma forma de facilitar o acesso à justiça ao
jurisdicionado, vítima do acidente.
Benefício do art. 53, V, do CPC/2015 não deve ser aplicado para empresas locadoras
de veículos: Como a locadora de veículos pode alugar carros que irão circular por todo
o país, é algo normal ao negócio que possam ocorrer acidentes em qualquer parte do
território nacional. Assim, se fosse permitido que a autora propusesse a ação sempre
no seu domicílio, haveria uma deturpação do objetivo da norma. Haveria um
privilégio não razoável em favor de uma empresa especializada e aparelhada, em
detrimento de pessoas que terão sérias dificuldades de se defender em outros Estados.
A escolha dada ao autor de ajuizar a ação de reparação de dano decorrente de acidente
de veículos é exceção à regra geral de competência, definida pelo foro do domicílio do
réu. Não se pode dar à exceção interpretação tão extensiva a ponto de subverter o
escopo da regra legal, especialmente quando importar em privilégio à pessoa jurídica
cujo negócio é alugar veículos em todo território nacional em detrimento da defesa do
réu pessoa física.
Reconhecimento de que houve delito: Desse modo, seria prematuro estabelecer que a
competência desse feito fosse definida pelas regras referentes à reparação de danos.
Isso porque a própria autoria da obra intelectual é matéria controvertida. Se o autor
pretende ser reconhecido como titular de obra utilizada por terceiro, não se pode
afirmar – salvo após o julgamento por sentença de mérito – a existência sequer do
ilícito civil, o qual seria o pressuposto para a incidência da regra especial de
competência do parágrafo único do art. 53, V, do CPC.
16.5. Causas que podem produzir reflexos no processo eleitoral são de competência
da Justiça Eleitoral – (Info 596)
O que o STJ decidiu neste caso concreto? De quem é a competência para julgar esta
ação? Justiça Eleitoral.
16.8. Dever de remessa dos autos ao juízo competente mesmo em caso de processo
eletrônico – (Info 586)
Tendo a parte optado por ingressar com MS, ela deverá se sujeitar às regras próprias
de competência deste tipo de ação, sendo competente o local da sede funcional da
autoridade. Esta competência é absoluta.
Quando o juiz reconhece a sua incompetência absoluta, qual a providência que ele
deve adotar? O juiz, reconhecendo sua incompetência, deverá remeter os autos ao
juízo competente (art. 64, § 3º do CPC/2015). Vale ressaltar que se o juízo
incompetente já tiver praticado atos decisórios, em regra, eles continuarão produzindo
efeitos até que o juízo competente os confirme ou revogue. Veja:
Art. 64 (...)
§ 4º Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-
ão os efeitos de decisão proferida pelo juízo incompetente até
que outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente.
O juiz deverá remeter os autos ao juízo competente mesmo que a ação proposta tenha
sido um mandado de segurança? O art. 64, § 3º do CPC é aplicado também para os
processos de MS? SIM. Nesse sentido já decidiu o STJ na vigência do CPC passado:
STJ. 1ª Seção. MS 21.744/DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/09/2015. O
mesmo entendimento continua válido com o novo CPC.
Vamos voltar ao nosso exemplo: O Juiz Federal de Recife decidiu que era
absolutamente incompetente para julgar o MS. No entanto, em vez de remeter os autos
ao juízo competente, ele extinguiu o processo sem resolução do mérito. O magistrado
argumentou que o processo é eletrônico e que, como são regiões diferentes (TRF5 e
TRF1) existe uma impossibilidade técnica de enviar os autos para a Seção Judiciária
do DF pelo sistema do PJE (Processo Judicial Eletrônico).
Contra quem e em qual juízo deverá ser proposta esta demanda? Contra a instituição
de ensino superior e contra a União, em litisconsórcio passivo, sendo demanda de
competência da Justiça Federal.
No STJ, este tema já havia sido pacificado por meio de recurso especial repetitivo: STJ.
1ª Seção. REsp 1344771/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
24/04/2013.
Existe também precedente do STF no mesmo sentido: STF. 2ª Turma. ARE 750186 AgR,
Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 24/06/2014.
Ação Competência
Se a ação proposta for mandado de segurança Justiça Federal
Ação (diferente do MS) discutindo questões privadas Justiça Estadual
relacionadas ao contrato de prestação de serviços
firmado entre a instituição de ensino e o aluno (exs:
inadimplemento de mensalidade, cobrança de taxas etc.).
Ação (diferente do MS) discutindo registro de diploma Justiça Federal
perante o órgão público competente ou o
credenciamento da entidade perante o Ministério da
Educação (obs: neste caso, a União deverá figurar na
lide).
16.12. Ação de consignação em pagamento proposta pela União para afastar eventual
responsabilização trabalhista subsidiária -Atenção! Advocacia Pública! - (Info 571)
A conexão entre duas causas ocorre quando elas, apesar de não serem idênticas,
possuem um vínculo de identidade entre si quanto a algum dos seus elementos
caracterizadores. São duas (ou mais) ações diferentes, mas que mantêm um vínculo
entre si.
Segundo o texto do CPC, existe conexão quando duas ou mais ações tiverem o
mesmo pedido (objeto) ou causa de pedir.
Quando o juiz verificar que há conexão entre duas causas, ele poderá ordenar, de
ofício ou a requerimento, a reunião delas para julgamento em conjunto. Essa é a
regra geral, não sendo aplicável, contudo, quando a reunião implicar em
modificação da competência absoluta.
O conceito de conexão previsto na lei é conhecido como concepção tradicional
(teoria tradicional) da conexão. Existem autores, contudo, que defendem que é
possível que exista conexão entre duas ou mais ações mesmo que o pedido e a causa
de pedir sejam diferentes. Em outras palavras, pode haver conexão em situações que
não se encaixem perfeitamente no conceito legal de conexão. Tais autores defendem
a chamada teoria materialista da conexão, que sustenta que, em determinadas
situações, é possível identificar a conexão entre duas ações não com base no pedido
ou na causa de pedir, mas sim em outros fatos que liguem uma demanda à outra.
Eles sustentam, portanto, que a definição tradicional de conexão é insuficiente.
Essa teoria é chamada de materialista porque defende que, para se verificar se há
ou não conexão, o ideal não é analisar apenas o objeto e a causa de pedir, mas sim a
relação jurídica de direito material que é discutida em cada ação. Existirá conexão
se a relação jurídica veiculada nas ações for a mesma ou se, mesmo não sendo
idêntica, existir entre elas uma vinculação.
Essa concepção materialista é que fundamenta a chamada “conexão por
prejudicialidade”. Podemos resumi-la em uma frase: quando a decisão de uma
causa interferir na solução da outra, há conexão.
No caso concreto, havia duas ações: em uma delas o autor (empresa 1) executava
uma dívida da devedora (empresa 2). A executada, por sua vez, ajuizou ação
declaratória de inexistência da relação afirmando que nada deve para a empresa 1.
Nesta situação, o STJ reconheceu que havia conexão por prejudicialidade e decidiu
o seguinte: “pode ser reconhecida a conexão e determinada a reunião para
julgamento conjunto de um processo executivo com um processo de conhecimento
no qual se pretenda a declaração da inexistência da relação jurídica que fundamenta
a execução, desde que não implique modificação de competência absoluta.”
Importante: o CPC 2015 manteve, no caput do art. 55, a definição tradicional de
conexão. No entanto, dando razão às criticas da doutrina, o novo CPC adota, em seu
§ 3º, a teoria materialista ao prever a conexão por prejudicialidade:
§ 3º Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco
de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos
separadamente, mesmo sem conexão entre eles.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.221.941-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
24/2/2015 (Info 559).
Nos casos em que a parte questiona a própria validade do contrato, ela não precisará
respeitar o foro de eleição referente a esse ajuste.
Ex: duas empresas fizeram um contrato e elegeram como foro de eleição a comarca
de Florianópolis; ocorre que o contrato, apesar de aprovado, não chegou a ser
assinado. Uma das empresas ajuizou ação questionando a validade desse ajuste
pelo fato de ele não ter sido assinado. Neste caso, em que a própria validade do
contrato está sendo objeto de apreciação judicial pelo fato de que não houve
instrumento de formalização assinado pelas partes, a cláusula de eleição de foro não
deve prevalecer, ainda que ela já tenha sido prevista em contratos semelhantes
anteriormente celebrados entre as mesmas partes.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.491.040-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
3/3/2015 (Info 557).
16.16. Competência para processar e julgar ação de divórcio quando o marido for
incapaz – (Info 552) – IMPORTANTE!!!
Ainda que proferida por juízo absolutamente incompetente, é válida a decisão que,
em ação civil pública proposta para a apuração de ato de improbidade
administrativa, tenha determinado — até que haja pronunciamento do juízo
competente — a indisponibilidade dos bens do réu a fim de assegurar o
ressarcimento de suposto dano ao patrimônio público.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.038.199-ES, Rel. Min. Castro Meira, j. 7/5/2013 (Info 524).
O art. 30, II, da Lei nº 8.906/94, prevê que os membros do Poder Legislativo
(Vereadores,
Deputados e Senadores) são impedidos de exercer a advocacia contra ou a favor das
pessoas jurídicas de direito público, empresas públicas, sociedades de economia
mista, fundações públicas, entidades paraestatais ou empresas concessionárias ou
permissionárias de serviço público.
Essa proibição abrange a advocacia envolvendo qualquer dos entes federativos
(União, Estados, DF e Municípios).
Assim, o desempenho de mandato eletivo no Poder Legislativo impede o exercício
da advocacia a favor ou contra pessoa jurídica de direito público pertencente a
qualquer das esferas de governo – municipal, estadual ou federal.
Ex1: um Deputado Estadual, além de não poder advogar em causas relacionadas
com o Estado-membro, também está impedido de advogar em processos
envolvendo os Municípios ou a União.
Ex2: um Vereador não pode advogar contra o INSS, mesmo sendo esta uma
autarquia federal.
Ex3: um Deputado Federal não pode, advogando em causa própria, ajuizar uma ação
popular, qualquer que seja o ente federativo envolvido.
STJ. 1ª Seção. EAREsp 519.194-AM, Rel. Min. Og Fernandes, j. 14/6/17 (Info 607).
18. IMPEDIMENTO
18.1. Decisão que não aprecia o mérito não gera impedimento por parentesco entre
magistrados – (Info 611)
Decisão que não aprecia o mérito não gera impedimento por parentesco entre
magistrados.
Ex: em uma ação que tramitava na 1ª instância, o juiz proferiu decisão interlocutória
e, contra ela, o autor interpôs agravo de instrumento. No Tribunal, a relatora deste
agravo foi a Des. Maria. O agravo foi extinto sem julgamento do mérito por um
“vício” processual neste recurso. Passado mais algum tempo, o juiz sentenciou o
processo. Contra a sentença, o autor interpôs apelação e foi sorteado como relator
do recurso no Tribunal o Des. João. João é marido de Maria. Mesmo assim ele não
está impedido de julgar porque sua esposa não apreciou o mérito da causa no
julgamento anterior.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.673.327-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12/9/2017 (Info 611).
OBS: art. 147 do CPC/2015 c/c o art. 128 da LOMAN:
Art. 147. Quando 2 (dois) ou mais juízes forem parentes,
consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral, até o
terceiro grau, inclusive, o primeiro que conhecer do processo
impede que o outro nele atue, caso em que o segundo se
escusará, remetendo os autos ao seu substituto legal.
19. SUSPEIÇÃO
19.1. Suspeição por motivo superveniente não anula atos processuais anteriores –
(Info 587) – IMPORTANTE!!!
20. CITAÇÃO/INTIMAÇÃO
20.1. Início do prazo em caso de intimação/citação realizadas por correio, oficial de
justiça ou por carta de ordem, precatória ou rogatória – (Info 604)
Nos casos de intimação/citação realizadas por correio, oficial de justiça, ou por carta
de ordem, precatória ou rogatória, o prazo recursal inicia-se com a juntada aos autos
do aviso de recebimento, do mandado cumprido, ou da juntada da carta.
STJ. Corte Especial. REsp 1.632.777-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
julgado em 17/5/2017 (recurso repetitivo) (Info 604).
21. CITAÇÃO
21.1. Falta de citação e manifestação do réu em agravo de instrumento – (Info 573)
22. INTIMAÇÃO
22.1. Intimação eletrônica prevalece sobre o Diário da Justiça Eletrônico – (Info 601)
23. REVELIA
23.1. Efeito material da revelia em caso de ação de indenização por danos materiais
– (Info 574) – IMPORTANTE!!!
24. PROCEDIMENTO
24.1. PRAZO PARA O AUTOR EMENDAR A INICIAL
25. CONTESTAÇÃO
25.1. Arguição de compensação em contestação – (Info 567) –
IMPORTANTE!!!
A compensação de dívida pode ser alegada em contestação.
A compensação é meio extintivo da obrigação, caracterizando-se como defesa
substancial de mérito ou espécie de contradireito do réu.
A compensação pode ser alegada em contestação como matéria de defesa,
independentemente da propositura de reconvenção, em obediência aos princípios
da celeridade e da economia processual.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.524.730-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
18/8/2015 (Info 567).
Deve ser suspensa a ação reivindicatória de bem imóvel, pelo prazo máximo de um
ano (art. 265, IV, "a", do CPC 1973 / art. 313, V, “a”, do CPC 2015), enquanto se
discute, em outra ação, a nulidade do próprio negócio jurídico que ensejou a
transferência do domínio aos autores da reivindicatória.
STJ. 1ª Turma. EREsp 1.409.256-PR, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 6/5/2015
(Info 563)
27.2. Prazo máximo para suspensão do processo cível nos casos do art. 110 do
CPC 1973 – (Info 555) – IMPORTANTE!!!
O art. 110 do CPC 1973 prevê que, se o resultado do processo (conhecimento da lide)
depender necessariamente da verificação da existência de fato delituoso, o juiz do
processo cível pode mandar sobrestar o andamento do processo até que o juízo
criminal decida se houve ou não o crime.
O STJ decidiu que a suspensão do processo determinada com base no art. 110 do
CPC 1973 não pode superar 1 ano, de modo que, ultrapassado esse prazo, pode o
magistrado apreciar a questão prejudicial (pode o juízo cível decidir se houve ou
não crime), que, no entanto, não fará coisa julgada material.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.198.068-MS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 2/12/2014 (Info
555).
28. PROVAS
28.1. PROVA EMPRESTADA ORIUNDA DE PROCESSO NO QUAL NÃO
FIGURAVAM AS MESMAS PARTES – (Info 543)
A prova pode ser emprestada mesmo que a parte contra a qual será utilizada não
tenha participado do processo originário onde foi produzida? Ex.: no processo 1, foi
produzida determinada prova. Em uma ação de “A” contra “B” (processo 2), “A”
deseja trazer essa prova emprestada. Ocorre que “B” não participou do processo 1.
Será possível trazer essa prova mesmo assim?
SIM. É admissível, assegurado o contraditório, a prova emprestada vinda de
processo do qual não participaram as partes do processo para o qual a prova será
trasladada.
A prova emprestada não pode se restringir a processos em que figurem partes
idênticas, sob pena de se reduzir excessivamente sua aplicabilidade sem
justificativa razoável para isso.
Quando se diz que deve assegurar o contraditório, significa que a parte deve ter o
direito de se insurgir contra a prova trazida e de impugná-la.
STJ. Corte Especial. EREsp 617.428-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
4/6/2014 (Info 543).
Não é cabível a multa cominatória, caso o autor tenha ingressado com pedido,
incidental ou autônomo, de exibição de documento relativo a direito DISPONÍVEL.
Em caso de processos que tratam sobre direitos indisponíveis, o STJ tem admitido
a cominação de astreintes.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.333.988-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
9/4/2014 (recurso repetitivo) (Info 539).
Como regra, os documentos devem ser juntados aos autos com a petição inicial (no
caso do autor) ou com a resposta (no caso do réu).
A jurisprudência do STJ admite a juntada de documentos novos após a petição
inicial e a contestação mesmo em situações não previstas na lei desde que:
(i) não se trate de documento indispensável à propositura da ação;
(ii) não haja má fé na ocultação do documento;
(iii) seja ouvida a parte contrária (art. 398 do CPC).
No caso julgado, o STJ afirmou que a mera declaração do juiz de que a prova
documental é intempestiva e, por isso, deve ser desentranhada dos autos, não é
capaz de, por si só, impedir o conhecimento da referida prova pelo Tribunal no
julgamento de recurso, tendo em vista a maior amplitude no processo civil moderno
dos poderes instrutórios do juiz, ao qual cabe determinar, até mesmo de ofício, a
produção de provas necessárias à instrução do processo (art. 130 do CPC).
Assim, se a prova permaneceu nos autos mesmo tendo sido declarada intempestiva
pelo juiz de 1ª instância, poderá o Tribunal analisá-la para fundamentar seu
veredicto.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.072.276-RN, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
21/2/2013 (Info 516).
2ª) Prevalece a 2ª coisa julgada, a não ser que ela seja desconstituída por ação
rescisória.
- Posição da 2ª Turma do STJ.
- Na doutrina: Pontes de Miranda, Vicente Greco Filho, Barbosa Moreira,
Cândido Rangel Dinamarco, Humberto Theodoro Jr.
- Havendo conflito entre duas coisas julgadas, prevalecerá a que se formou por
último, enquanto não desconstituída mediante ação rescisória. Assim, em regra,
prevalece a segunda sentença transitada em julgado, a não ser que ela seja
desconstituída por meio de ação rescisória. Enquanto não for, ela é que vale. Se
passar o prazo de 2 anos da rescisória, a segunda valerá para sempre.
- Havendo conflito entre duas coisas julgadas, prevalecerá a que se formou por
último, enquanto não se der sua rescisão para restabelecer a primeira. A exceção
de pré-executividade não serve no caso para substituir a ação rescisória.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.354.225-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 24/2/15
(Info 557).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.524.123-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 26/5/15 (Info 565).
Houve uma divergência entre os contratantes e a empresa ajuizou ação contra João na
comarca de São Paulo. João, que mora em Porto Alegre (RS), arguiu a incompetência
relativa do foro de São Paulo (incompetência territorial) argumentando que a referida
cláusula de eleição de foro é abusiva.
Vale lembrar que, com o CPC/2015, a incompetência relativa não é mais alegada por
meio de “exceção de incompetência”, mas sim como um mero tópico da contestação:
Art. 64. A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada
como questão preliminar de contestação.
O juiz indeferiu o pedido de João por entender que a cláusula é válida. Contra esta
decisão, João interpôs agravo de instrumento. O Tribunal de Justiça não conheceu do
recurso afirmando que as hipóteses de cabimento do agravo de instrumento estão
previstas taxativamente (exaustivamente) no art. 1.015 do CPC/2015 e que neste rol
não existe a previsão de agravo de instrumento contra a decisão relacionada com
definição de competência. Veja a lista do art. 1.015 do CPC/2015:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões
interlocutórias que versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento
do pedido de sua revogação;
VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo
aos embargos à execução;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, §
1º;
XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento
contra decisões interlocutórias proferidas na fase de
liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no
processo de execução e no processo de inventário.
Tema correlato: é possível interpor agravo de instrumento contra decisão que não
concede efeito suspensivo aos embargos à execução: É admissível a interposição de
agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito suspensivo aos
embargos à execução.
As hipóteses em que cabe agravo de instrumento estão
previstas art. 1.015 do CPC/2015, que traz um rol taxativo.
Apesar de ser um rol exaustivo, é possível que as hipóteses
trazidas nos incisos desse artigo sejam lidas de forma ampla,
com base em uma interpretação extensiva.
Assim, é cabível agravo de instrumento contra decisão que
não concede efeito suspensivo aos embargos à execução com
base em uma interpretação extensiva do inciso X do art. 1.015:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões
interlocutórias que versarem sobre:
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo
aos embargos à execução;
STJ. 2ª Turma. REsp 1.694.667-PR, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 05/12/2017 (Info 617).
32.2. É possível interpor agravo de instrumento contra decisão que não concede
efeito suspensivo aos embargos à execução – (Info 617) – Novo CPC! IMPORTANTE!!!
Desse modo, pode-se afirmar que os embargos à execução não têm efeito suspensivo
ope legis (por força de lei – efeito suspensivo próprio), mas possuem efeito
suspensivo ope iudicis (efeito suspensivo impróprio), ou seja, por decisão do
magistrado, segundo a análise do caso concreto.
Assim, é cabível agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito
suspensivo aos embargos à execução com base em uma interpretação extensiva do
inciso X do art. 1.015 do CPC/2015.
Como reforço argumentativo, o Min. Herman Benjamin afirmou que o caso poderia se
enquadrar também no inciso I do art. 1.015 do CPC/2015, considerando que o
requerimento de concessão de efeito suspensivo aos embargos à execução pode ser
caracterizado como um pedido de tutela provisória de urgência.
32.3. Se a decisão proferida pelo juiz induzir a parte a interpor o recurso errado,
deve-se reconhecer que houve dúvida objetiva, que justifica o princípio da
fungibilidade – (Info 613)
Qual é o sentido desse princípio? A parte recorrente não será prejudicada se interpôs
o recurso errado, desde que esteja de boa-fé, não tenha sido um erro grosseiro e o
recurso incorreto tenha sido manejado no prazo do recurso certo.
Previsão no CPC: O princípio da fungibilidade não está previsto de forma específica
nem genérica no CPC. Apesar disso, a doutrina admite a sua existência. Nesse sentido:
Enunciado 104-FPPC: O princípio da fungibilidade recursal é
compatível com o CPC e alcança todos os recursos, sendo
aplicável de ofício.
A tese de João foi acolhida pelo STJ? SIM. Para o STJ, há situações em que os termos
em que é redigida a decisão pelo julgador são determinantes para a interposição
equivocada do recurso. Na hipótese analisada, embora a decisão do juiz singular não
tenha colocado termo ao processo de execução, o referido magistrado deu-lhe
verdadeiro tratamento de sentença - assim denominando-a e registrando-a, bem como
recebendo e processando o recurso de apelação.
32.4. O pedido de antecipação dos efeitos da tutela pode ser feito em sede de
sustentação oral – (Info 608)
Exemplo de agravo interno: João ajuizou ação contra Pedro. O juiz negou os benefícios
da justiça gratuita que haviam sido formulados pelo autor. Diante disso, João interpôs
agravo de instrumento para o TJ (art. 1.015, V, do CPC). O Desembargador Relator,
monocraticamente, negou provimento ao recurso (art. 932, IV, "a"). Contra esta decisão
monocrática, o autor interpôs agravo interno (art. 1.021):
Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo
interno para o respectivo órgão colegiado, observadas, quanto
ao processamento, as regras do regimento interno do tribunal.
§ 1º Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará
especificadamente os fundamentos da decisão agravada.
O Relator do agravo interno será o próprio magistrado que proferiu a decisão. Ele
deverá preparar um voto mantendo ou reformando a sua decisão monocrática e
submeter este voto para ser apreciado pelo colegiado do qual faz parte segundo as
competências definidas no regimento interno do Tribunal (Turma, Câmara, Plenário
etc.). Desse modo, no agravo interno existe a possibilidade de o Relator se retratar em
relação à decisão anteriormente proferida:
§ 2º O agravo será dirigido ao relator, que intimará o agravado
para manifestar-se sobre o recurso no prazo de 15 (quinze)
dias, ao final do qual, não havendo retratação, o relator levá-
lo-á a julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em
pauta.
Esta forma de decisão continua sendo válida? A 3ª Turma do STJ entendeu que não.
Isso porque o NCPC proibiu expressamente esta forma de decidir o agravo interno.
Confira:
Art. 1.021 (...)
§ 3º É vedado ao relator limitar-se à reprodução dos
fundamentos da decisão agravada para julgar improcedente o
agravo interno.
O órgão julgador não está obrigado a rebater, com minúcias, cada um dos argumentos
deduzidos pelas partes. Apesar disso, o NCPC, exaltando os princípios da cooperação
e do contraditório, impõe-lhe o dever de enfrentar todas as questões capazes de, por
si sós e, em tese, infirmar a sua conclusão sobre os pedidos formulados, sob pena de
se reputar não fundamentada a decisão proferida. É o que prevê o art. 489, § 1º, IV:
Art. 489 (...)
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão
judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo
capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo
julgador;
Admite-se a aplicação da teoria da causa madura (art. 515, § 3º, do CPC/1973 / art.
1.013, § 3º do CPC/2015) em julgamento de agravo de instrumento.
Ex: o MP ingressou com ação de improbidade contra João, Paulo e Pedro pedindo a
indisponibilidade dos bens dos requeridos. O juiz deferiu a medida em relação a
todos eles, no entanto, na decisão não houve fundamentação quanto à autoria de
Pedro. Diante disso, ele interpôs agravo de instrumento. O Tribunal, analisando o
agravo, entendeu que a decisão realmente é nula quanto a Pedro por ausência de
fundamentação. No entanto, em vez de mandar o juiz exarar nova decisão, o
Tribunal decidiu desde lodo o mérito do pedido e deferiu a medida cautelar de
indisponibilidade dos bens de Pedro, apontando os argumentos pelos quais este
requerido também praticou, em tese, ato de improbidade.
STJ. Corte Especial. REsp 1.215.368-ES, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 1/6/16 (Info
590).
OBS:
Julgamento do mérito diretamente pelo Tribunal ("teoria da causa madura"): O
CPC/1973, em seu art. 515, § 3º, permitia que o TJ ou o TRF, ao decidir a apelação
interposta contra sentença terminativa, julgasse ele próprio (o Tribunal) o mérito da
ação caso entendesse que o juiz não deveria ter extinguido o processo sem resolução
do mérito.
Ex: João ajuíza ação contra Pedro e o magistrado profere sentença extinguindo o
processo sem resolução do mérito por entender que o autor seria parte ilegítima. João
interpõe apelação ao TJ. O Tribunal analisa o recurso e entende que ele é sim parte
legítima, ou seja, não havia razão jurídica para o magistrado ter extinguido o processo
sem examinar o mérito. Em vez de mandar o processo de volta à 1ª instância, o próprio
TJ poderá julgar o mérito da demanda. Para isso, no entanto, a causa tem que estar em
condições de imediato julgamento (ex: se a sentença indeferiu a petição inicial, não há
condições de o Tribunal julgar o mérito; ao contrário, se a sentença foi proferida após
a fase instrutória, em tese, já haveria essa possibilidade).
O CPC/2015 repetiu essa regra do Código revogado e foi além, trazendo mais três
hipóteses em que o Tribunal, ao dar provimento à apelação, poderá julgar diretamente
o mérito, sem ter que devolver a questão ao juiz.
CPC/1973 CPC/2015
Art. 515 (...) Art. 1.013. (...)
§ 3º Nos casos de extinção do processo § 3º Se o processo estiver em condições
sem julgamento do mérito (art. 267), o de imediato julgamento, o tribunal deve
tribunal pode julgar desde logo a lide, se decidir desde logo o mérito quando:
a causa versar questão exclusivamente I - reformar sentença fundada no art.
de direito e estiver em condições de 485;
imediato julgamento. II - decretar a nulidade da sentença por
não ser ela congruente com os limites do
pedido ou da causa de pedir;
III - constatar a omissão no exame de um
dos pedidos, hipótese em que poderá
julgá-lo;
IV - decretar a nulidade de sentença por
falta de fundamentação.
Agiu corretamente o Tribunal neste caso? É possível que o Tribunal, ao julgar agravo
de instrumento, aplique a teoria da causa madura e aprecie desde logo o mérito? SIM.
É o que foi decidido no Info 590.
Já sob a égide do novo CPC, Daniel Assumpção Neves também defende o mesmo
entendimento:
O CPC/2015 trouxe previsão legal expressa de que não cabe agravo para o STJ contra
decisão que inadmite recurso especial quando o acórdão recorrido decidiu em
conformidade com recurso repetitivo (art. 1.042). Tal disposição legal aplica-se aos
agravos apresentados contra decisão publicada após a entrada em vigor do NCPC,
em conformidade com o princípio tempus regit actum.
Caso o Tribunal de origem decida em conformidade com entendimento firmado
pelo STJ em recurso repetitivo, a parte deverá interpor agravo interno. Se, em vez
disso, a parte interpuser o agravo em recurso especial para o STJ (art. 1.042),
cometerá erro grosseiro.
Chegando ao STJ este agravo, ele não será conhecido e ele não retornará para que
seja julgado pelo Tribunal de origem como agravo interno.
Assim, após a entrada em vigor do CPC/2015, não é mais devida a remessa pelo STJ,
ao Tribunal de origem, do agravo interposto contra decisão que inadmite recurso
especial com base na aplicação de entendimento firmado em recursos repetitivos,
para que seja conhecido como agravo interno.
STJ. 3ª Turma. AREsp 959.991-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 16/8/16 (Info
589).
OBS:
Interposição de REsp e juízo de admissibilidade: A parte que deseja interpor um
Recurso Especial (REsp) deve protocolizá-lo no juízo a quo (recorrido) e não
diretamente no juízo ad quem (STJ), nos termos do art. 1.029 do CPC.
Ex.: TRF1 profere acórdão, por unanimidade, em apelação, afirmando que Gilson,
servidor público federal, não possui determinado direito previsto na Lei 8.112/90.
Nessa hipótese, ele poderá interpor recurso especial contra a decisão, a ser julgado
pelo STJ, com base no art. 105, III, “a”, da CF/88.
O REsp deverá ser protocolizado no próprio TRF1. A recorrida (no caso, a União) será
intimada para apresentar suas contrarrazões. Logo após, o Presidente do Tribunal (ou
Vice-Presidente, a depender do regimento interno), em decisão monocrática, irá fazer
um juízo de admissibilidade do recurso, nos termos do art. 1.030 do CPC.
Suponhamos que o advogado de João não seja profundo conhecedor de Processo Civil
e cometa o seguinte erro: em vez de agravo interno no Tribunal de origem, ele interpôs
agravo contra inadmissão de recurso especial (art. 1.042) endereçado ao STJ. Qual a
postura do STJ diante desta situação?
32.8. Desnecessidade de ratificação do Resp que foi interposto antes dos embargos
se estes não modificaram a decisão recorrida – (Info 587)
A parte pode pagar o preparo recursal por meio da internet, imprimir essa transação
bancária e juntar no recurso? É válida a prova da realização do preparo recursal
mediante a juntada de comprovante de pagamento emitido via internet?
SIM. O pagamento do preparo recursal pode ser comprovado por intermédio de
recibo extraído da internet, desde que esse meio de constatação de quitação
possibilite a aferição da regularidade do recolhimento. A guia eletrônica de
pagamento via Internet constitui meio idôneo à comprovação do recolhimento do
preparo, desde que preenchida com a observância dos requisitos regulamentares,
permitindo-se ao interessado a impugnação fundamentada.
STJ. 2ª Turma. EAREsp 423.679-SC, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 24/6/2015 (Info
565).
Se o dia do início do prazo do recurso cair em uma data na qual o expediente forense
foi encerrado mais cedo que o normal, haverá prorrogação do início para o dia
subsequente?
CPC-1973: NÃO
CPC-2015: SIM
Para o CPC-1973, a prorrogação em razão do encerramento prematuro do expediente
forense aplica-se tão somente em relação ao dies ad quem (dia do vencimento) do
prazo recursal, não se aplicando para o dies a quo (dia de início).
STJ. Corte Especial. EAREsp 185.695-PB, Rel. Min. Felix Fischer, j. 4/2/15 (Info 557).
33. APELAÇÃO
33.1. POSSIBILIDADE DE A PARTE JUNTAR NOVOS DOCUMENTOS EM SEDE
DE APELAÇÃO – (Info 533)
É possível que a parte junte novos documentos em sede de apelação, desde que
atendidos os seguintes requisitos:
a) não se trate de documento indispensável à propositura da ação;
b) não haja indício de má fé;
c) seja ouvida a parte contrária, garantindo-se o contraditório (art. 398 do CPC).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.176.440-RO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
17/9/2013 (Info 533).
34. AGRAVO
34.1. AGRAVO DE INSTRUMENTO: Se o processo é eletrônico na 1ª instância, mas
é físico no Tribunal, não se aplica a dispensa de juntada de documentos prevista no
art. 1.017, § 5º do CPC/2015 – (Info 605)
A disposição constante do art. 1.017, § 5º, do CPC/2015, que dispensa a juntada das
peças obrigatórias à formação do agravo de instrumento em se tratando de processo
eletrônico, exige, para sua aplicação, que os autos tramitem por meio digital tanto
no primeiro quanto no segundo grau de jurisdição.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.643.956-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 9/5/17 (Info
605)
OBS:
Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída:
I — obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da
contestação, da petição que ensejou a decisão agravada, da
própria decisão agravada, da certidão da respectiva intimação
ou outro documento oficial que comprove a tempestividade e
das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do
agravado;
II — com declaração de inexistência de qualquer dos
documentos referidos no inciso I, feita pelo advogado do
agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal;
III — facultativamente, com outras peças que o agravante
reputar úteis.
(...)
§ 5º Sendo eletrônicos os autos do processo, dispensam-se as
peças referidas nos incisos I e II do caput, facultando-se ao
agravante anexar outros documentos que entender úteis para
a compreensão da controvérsia.
Ex.: “A” ingressa com uma ação de alimentos contra “B” e pede a concessão de
alimentos provisórios no valor de R$ 2 mil. O juiz, em decisão interlocutória, nega a
fixação dos alimentos provisórios. “A” interpõe agravo de instrumento contra a
decisão do juiz de 1ª instância (juízo a quo) diretamente no Tribunal de Justiça (juízo
ad quem).
O nome do recurso é agravo de instrumento porque neste tipo de agravo deverá ser
formado um “instrumento”, ou seja, um conjunto de documentos para que o Tribunal
analise se as razões invocadas pelo recorrente são procedentes ou não. Isso ocorre
porque o processo continua tramitando no juízo a quo e, para o juízo ad quem examinar
as razões do recurso, será necessário que ele tenha cópias de alguns documentos
presentes naqueles autos originários.
Em nosso exemplo, “A” irá preparar a petição do recurso, tirar cópias de vários
documentos dos autos, juntá-los à petição e protocolá-los, como agravo de
instrumento, no Tribunal de Justiça.
E quais são estes documentos? Estão previstos no art. 525 do CPC 1973 (art. 1.017 do
CPC 2015). Fique atento para as partes em cinza porque são novidades:
O que acontece caso a parte agravante não junte algum dos documentos considerados
obrigatórios? Na falta da cópia de qualquer peça ou no caso de algum outro vício que
comprometa a admissibilidade do agravo de instrumento, o relator deverá, antes de
considerar inadmissível o recurso, conceder o prazo de 5 dias ao agravante para que
seja sanado vício ou complementada a documentação exigível (art. 1.017, § 3º do
CPC/2015). Caso, mesmo intimado, o agravante não junte o documento faltante ou
corrija o vício, aí sim deverá o relator julgar inadmissível o agravo de instrumento
manejado.
Imagine que o processo é físico (em papel). Mesmo assim, poderá o agravante juntar
esses documentos acima listados em formato digital, ou seja, escaneados e salvos em
um DVD? SIM.
Além disso, o CPC não exige que o agravante junte as peças originais. Desse modo, se
ele apresentar as peças em formato eletrônico (mídia contendo imagens)
acompanhada da declaração de autenticidade pelo advogado, tal apresentação deverá
ser considerada válida, salvo se a parte adversária demonstrar que sejam inautênticas.
Ex.: “A” ingressa com uma ação de alimentos contra “B” e pede a concessão de
alimentos provisórios no valor de R$ 2 mil. O juiz, em decisão interlocutória, nega a
fixação dos alimentos provisórios. “A” interpõe agravo de instrumento contra a
decisão do juiz de 1ª instância (juízo a quo) diretamente no Tribunal de Justiça (juízo
ad quem).
O nome do recurso é agravo de instrumento porque neste tipo de agravo deverá ser
formado um “instrumento”: é um conjunto de documentos para que o Tribunal analise
se as razões invocadas pelo recorrente são procedentes ou não. Isso ocorre porque o
processo continua tramitando no juízo a quo e, para o juízo ad quem examinar as razões
do recurso, será necessário que ele tenha cópias de alguns documentos presentes
naqueles autos originários. Em nosso exemplo, “A” irá preparar a petição do recurso,
tirar cópias de vários documentos dos autos, juntá-los à petição e protocolá-los, como
agravo de instrumento, no Tribunal de Justiça.
E quais são estes documentos? Estão previstos no art. 1.017 do CPC 2015:
Em outras palavras, mesmo que o agravante não tenha juntado a cópia da certidão de
intimação, é possível que o Tribunal releve a ausência dessa peça obrigatória (e
conheça o recurso) se existir nos autos algum outro meio de se ter certeza que o agravo
foi interposto dentro do prazo.
Ex.: o agravante não juntou a certidão de intimação, mas pela data da decisão
agravada (que está nos autos) e a data em que foi protocolado o agravo, percebe-se
que não se passaram mais que 15 dias (prazo do AI no CPC 2015). É lógico que a
intimação ocorreu após a data da decisão, de modo que está provado que o recurso
foi interposto dentro do prazo, mesmo não havendo a certidão. Esse posicionamento
do STJ é aplicado em homenagem ao princípio da instrumentalidade das formas, para
o qual o exagerado processualismo deve ser evitado, de forma a que o processo e seu
uso sejam convenientemente conciliados e realizados.
Novo CPC: O CPC 2015 considerou e positivou, pelo menos em parte, esse correto
entendimento jurisprudencial acima explicado. Com efeito, o inciso I do art. 1.017
prevê que o agravante deverá juntar cópia da certidão da respectiva intimação ou
outro documento oficial que comprove a tempestividade. A interpretação do STJ vai
além do texto do novo CPC e permite que se constate a tempestividade (dispensando-
se a certidão de intimação) por outros meios em geral (não exigindo, necessariamente,
documento oficial).
A decisão acima está em sintonia com o novo CPC que, como vimos, no inciso I do art.
1.017, prevê que o agravante deverá juntar cópia da certidão da respectiva intimação
ou outro documento oficial que comprove a tempestividade.
Não cabe recurso especial contra acórdão que indefere a atribuição de efeito
suspensivo a agravo de instrumento. A decisão colegiada que entende pela ausência
dos requisitos necessários à atribuição do efeito suspensivo a agravo de
instrumento não resulta em decisão de única ou última instância, como previsto art.
105, III, da CF. Há necessidade de que o Tribunal julgue, definitivamente, o agravo
de instrumento em seu mérito para que a parte vencida possa ter acesso à instância
especial.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.289.317-DF, Rel. Min. Humberto Martins, j. 27/5/14 (Info 541).
Multa do art. 1.022, § 2º do CPC 2015: Se não houver vício a ser sanado, mas apenas a
pretensão do recorrente em rediscutir a decisão, o julgador poderá aplicar a multa
prevista no art. 1.022, § 2º, do CPC 2015, desde que fique caracterizado que o
embargante estava com intuito de procrastinar (prolongar indevidamente o processo).
Ressalta-se, no entanto, que, mesmo nessa hipótese do § 2º, haverá interrupção do
prazo para os demais recursos.
João propõe ação de indenização por danos morais contra Pedro pedindo o
pagamento de R$ 30 mil. O juiz julga o pedido procedente, condenando o réu a
pagar a indenização por danos morais, mas fixando o valor em R$ 10 mil. João
pensou consigo mesmo: “eu queria mais, no entanto, prefiro acabar logo com esse
processo e receber imediatamente esses R$ 10 mil do que ficar tentando R$ 30 mil
por mais alguns anos; não vou recorrer”. Ocorre que, no último dia do prazo, Pedro
interpôs apelação.
João foi, então, intimado para apresentar contrarrazões à apelação. Neste momento,
ele pensou: “ah, já que ele recorreu, então agora eu também quero recorrer para
aumentar o valor da indenização; já que vou esperar mesmo, então quero tentar uma
quantia maior”. Diante disso, o advogado de João interpõe recurso adesivo pedindo
a majoração do valor da indenização por danos morais.
Pedro apresenta contrarrazões alegando que o recurso interposto por João é
incabível, considerando que o recurso adesivo só cabe se existir sucumbência
recíproca e, no caso, não houve, conforme preconiza a súmula 326 do STJ: “Na ação
de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado
na inicial não implica sucumbência recíproca.”
A tese de Pedro está correta?
NÃO. O recurso adesivo pode sim ser interposto pelo autor da ação de indenização
julgada procedente, quando arbitrado, a título de danos morais, valor inferior ao
que era almejado. Isso porque, neste caso, estará configurado o interesse recursal
do demandante em ver majorada a condenação, hipótese caracterizadora de
sucumbência material.
Realmente, só cabe recurso adesivo se houver sucumbência recíproca, ou seja, se
tanto o autor como o réu perderem na sentença.
Se o autor pediu a condenação do réu em R$ 30 mil a título de danos morais e
conseguiu a condenação em R$ 10 mil, ele ganhou a demanda sob o ponto de vista
formal (processual). Não se pode dizer que houve sucumbência formal, já que a
providência processual requerida foi atendida (o réu foi obrigado a pagar). No
entanto, sob o ponto de vista material, o autor teve sim uma sucumbência parcial
(derrota parcial). Isso porque ele não obteve exatamente o bem da vida que
pretendia (queria 30 e só teve 10). Logo, neste caso, o autor terá interesse em ver
majorada a condenação, hipótese caracterizadora, portanto, da sucumbência
material viabilizadora da irresignação recursal.
Não se aplica a Súmula 326 do STJ porque esse enunciado é baseado na definição
da responsabilidade pelo pagamento de despesas processuais e honorários
advocatícios. Ele não está relacionado com interesse recursal. A correta leitura da
súmula 326 é a seguinte:
Para fins de definição de quem irá pagar as despesas processuais e os honorários
advocatícios, “na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante
inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca”.
Logo, se o autor pediu uma quantia a título de danos morais e obteve valor inferior
ao desejado, podemos concluir que:
Sob o ponto de vista formal, ele foi o vencedor da demanda e não terá que
pagar as despesas processuais e os honorários advocatícios do réu (Súmula
326-STJ);
Sob o ponto de vista material, ele foi sucumbente e terá direito de interpor
recurso (principal ou adesivo), já que não obteve o exato bem da vida
pretendido.
STJ. Corte Especial. REsp 1.102.479-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, Corte Especial, julgado
em 4/3/2015 (recurso repetitivo) (Info 562).
Cabe recurso especial – e não recurso extraordinário – para examinar se ofende o art.
6º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB) a interpretação
feita pelo acórdão recorrido dos conceitos legais de direito adquirido e de ato
jurídico perfeito a qual ensejou a aplicação de lei nova a situação jurídica já
constituída quando de sua edição.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.124.859-MG, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para
acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 26/11/2014 (Info 556).
Súmula 518-STJ: Para fins do art. 105, III, a, da Constituição Federal, não é cabível
recurso especial fundado em alegada violação de enunciado de súmula.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 26/02/2015 (Info 556).
Em julgamentos submetidos ao rito do art. 543-C do CPC 1973 (art. 1.036 do CPC
2015), cabe ao STJ traçar as linhas gerais acerca da tese aprovada, descabendo a
inserção de soluções episódicas ou exceções que porventura possam surgir em
outros indetermináveis casos, sob pena de se ter de redigir verdadeiros tratados
sobre todos os temas conexos ao objeto do recurso.
STJ. Corte Especial. EDcl no REsp 1.124.552-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado
em 6/5/2015 (Info 562).
Na égide do CPC 1973, a parte pode interpor o agravo do art. 544 (agravo nos
próprios autos) contra a decisão do Presidente do tribunal de origem que nega
seguimento ao recurso especial com base no inciso I do § 7º do art. 543-C do CPC
1973?
NÃO. Não cabe agravo em recurso especial (art. 544 do CPC 1973) contra decisão
que nega seguimento a esse recurso com base no art. 543-C, § 7º, I, do CPC 1973,
podendo a parte interessada interpor agravo interno ou regimental no tribunal de
origem, demonstrando a especificidade do caso concreto.
Mesmo assim, caso a parte, de forma equivocada, interponha o agravo em recurso
especial (art. 544 do CPC 1973), nesta hipótese o STJ não irá conhecer do recurso e
remeterá esse agravo ao Tribunal de origem para que ele aprecie o recurso como se
fosse um agravo interno.
Obs: com o CPC 2015, esse julgado acima perde importância, já que o novo CPC
prevê nestes casos que será cabível uma nova espécie de agravo chamada de "agravo
em recurso especial" e "agravo em recurso extraordinário" (art. 1.042, II do CPC
2015). Esse agravo é interposto perante o Presidente ou Vice-presidente do tribunal
de origem (TJ/TRF), mas quem irá julgá-lo é o STJ (ou STF). Trata-se de um agravo
que é juntado nos próprios autos do REsp (ou RE).
STJ. Corte Especial. AgRg no AREsp 260.033-PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em
5/8/2015 (Info 569).
40.2. PARTE QUE TEVE PROCESSO SOBRESTADO NÃO PODE INTERVIR
COMO ASSISTENTE SIMPLES – (Info 540)
Quando determinado tema é selecionado para ser julgado sob a sistemática do art.
543-C (recursos especiais repetitivos), é escolhido um ou alguns recursos para serem
analisados pelo STJ (recursos paradigmas) e os demais que tratem sobre a mesma
matéria ficarão suspensos no tribunal de origem até que o STJ se pronuncie sobre o
tema central.
A parte que teve seu processo sobrestado não poderá intervir nem como assistente
simples nem como amicus curiae no recurso especial paradigma que será analisado
pelo STJ.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.418.593-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 14/5/14 (Info 540).
Contra a decisão do Tribunal de origem que, com fulcro no art. 543-C, §7º, I, do CPC,
aplica entendimento firmado em recurso especial submetido ao procedimento dos
recursos representativos de controvérsia, não cabe nenhum recurso, nem
reclamação.
STJ. 2ª Seção. AgRg na Rcl 10.805-RS, Rel. Min. Luiz Felipe Salomão, j. 4/2/13 (Info
513).
Ao propor este recurso, o recorrente deverá realizar uma comparação entre o acórdão
recorrido e um acórdão paradigma do mesmo Tribunal provando que o acórdão
recorrido foi divergente do acórdão paradigma.
Imagine a seguinte situação hipotética: João, servidor público federal, ingressou com
ação pedindo o pagamento da gratificação “X”. O Juiz Federal e, depois, o TRF1
entenderam que João não teria direito à referida gratificação. Contra o acórdão do
TRF1, João interpôs recurso especial, com fundamento no art. 105, III, da CF/88,
alegando que a conclusão do TRF1 se mostra divergente da interpretação dada por
outros Tribunais:
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única
ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou
pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios,
quando a decisão recorrida:
(...)
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja
atribuído outro tribunal.
Neste caso, no agravo que manteve a decisão monocrática houve verdadeiro exame
do mérito do recurso especial, tendo o acórdão da 1ª Turma considerado que os
servidores públicos não têm direito à gratificação X.
Os precedentes que deram origem à súmula 315 do STJ referem-se acerca do não
cabimento de embargos de divergência em sede de agravo de instrumento no recurso
especial (atual agravo em recurso especial) quando o acórdão embargado não tivesse
examinado o mérito do recurso especial, limitando-se a obstar o seu seguimento em
razão da existência de óbices de admissibilidade.
Em outras palavras, a súmula 315-STJ aplica-se a situações em que no julgamento do
agravo não se apreciou o mérito do recurso especial. Por outro lado, se o mérito foi
examinado, não é o caso de incidir a súmula, cabendo, portanto, os embargos de
divergência.
Desse modo, o óbice da súmula 315-STJ aplica-se apenas naqueles casos em que a
parte quer apresentar embargos de divergência para rediscutir pressupostos de
conhecimento do recurso especial. Isso porque os embargos de divergência têm por
finalidade exclusiva a uniformização da jurisprudência interna do Tribunal quanto
à interpretação do direito em tese, não servindo para discutir o acerto ou desacerto
na aplicação das regras formais de conhecimento do Resp.
Nos casos em que o acórdão embargado nega seguimento ao Resp com base na
Súmula 83-STJ, o que o acórdão faz é examinar o mérito da controvérsia recursal.
Logo, repito, tendo sido examinado o mérito do recurso, é cabível a interposição de
embargos de divergência.
Nas rescisórias julgadas pelo STJ: SIM. Nas ações rescisórias processadas e
julgadas originariamente no STJ, mesmo após o advento do CPC/2015,
continua existindo a figura do revisor. Isso porque existe previsão específica
no art. 40, I da Lei nº 8.038/90, que continua em vigor.
STJ. Corte Especial. AR 5.241-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 5/4/17 (Info
603).
OBS:
Relator: Quando um processo (recurso ou ação de competência originária) chega ao
Tribunal (TJ, TRF, STJ, STF), é sorteado um magistrado (Desembargador ou Ministro)
para exercer a função de relator deste processo. O relator examina o recurso antes dos
demais magistrados e elabora um relatório e um voto que serão levados ao colegiado
para que os demais juízes (em sentido amplo) decidam se concordam ou não com as
conclusões do relator. Em tese, os demais magistrados do Tribunal somente têm
conhecimento detalhado do processo quando este é levado a julgamento pelo relator.
Tirando o relator, os demais magistrados não precisam levar um voto escrito para a
sessão de julgamento.
O que fez o CPC/2015? O CPC/2015 não mais previu a figura do revisor. Não existe
um dispositivo semelhante ao art. 551 do CPC/1973. Diante disso, em regra, não mais
existe revisor.
Por que se falou “em regra”? Porque existe uma exceção: continua existindo a figura
do revisor no caso de ações rescisórias julgadas pelo STJ. Isso se deve ao fato de que
há um dispositivo expresso na Lei nº 8.038/90 prevendo o revisor nestes casos.
Confira:
Art. 40. Haverá revisão, no Superior Tribunal de Justiça, nos
seguintes processos:
I - ação rescisória;
Mas esse art. 40, I, da Lei nº 8.038/90 não foi revogado pelo CPC/2015? NÃO. O
CPC/2015 revogou expressamente onze artigos da Lei 8.038/90, dentre os quais não
estava o art. 40. Logo, conclui-se que, quando o legislador quis revogar algum
dispositivo da Lei 8.038/90, ele o fez expressamente. Dessa forma, o CPC/2015 optou
por não revogar o art. 40, I, restando mantida a figura do revisor no caso de ações
rescisórias julgadas pelo STJ.
Nos casos em que se admite a relativização da Súmula 343 do STF, não é cabível
propositura da ação rescisória com base em julgados que não sejam de observância
obrigatória. Não há como autorizar a propositura de ação rescisória - medida
judicial excepcionalíssima - com base em julgados que não sejam de observância
obrigatória, sob pena de se atribuir eficácia vinculante a acórdão que, por lei, não o
possui.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.655.722-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 14/3/2017 (Info 600).
Obs: prevalece que a Súmula 343 do STF não está mais válida tendo em vista a
previsão contida no art. 966, V, § 5º e no art. 525, § 15 do CPC/2015.
OBS: O presente julgado foi decidido com base no CPC/1973. Irei explicá-lo segundo
o Código passado e, ao final, informarei como o tema ficará com o CPC/2015.
Rescisória por violação à literal disposição de lei: O art. 485 do CPC/1973 previa as
hipóteses em que a ação rescisória era cabível. O inciso V afirmava que era cabível a
ação rescisória quando a sentença de mérito transitada em julgado tivesse violado
literal disposição de lei:
Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode
ser rescindida quando:
(...)
V — violar literal disposição de lei;
Súmula 343 do STF: Não é raro que uma mesma lei gere interpretações completamente
diferentes, inclusive dentro de um único Tribunal.
Imaginemos, por exemplo, que a 1ª Turma do STJ afirme que o art. XX da Lei nº
8.112/90 confere determinado direito ao servidor. A 2ª Turma do STJ, por sua vez,
interpreta o dispositivo de forma oposta e entende que a Lei não dá esse direito.
O juiz “A” decidiu com base na interpretação dada pela 1ª Turma do STJ e esta
sentença transitou em julgado. Ocorre que, um ano depois, a 1ª Turma modificou seu
entendimento, curvando-se à posição da 2ª Turma.
Nesse caso, seria possível ajuizar ação rescisória contra a sentença proferida pelo juiz
“A” alegando que ela violou literal disposição do art. XX Lei nº 8.112/90? NÃO. A
jurisprudência entende que, se na época em que a sentença rescindenda transitou em
julgado havia divergência jurisprudencial a respeito da interpretação da lei, não se
pode dizer que a decisão proferida tenha tido um vício. Logo, não caberá ação
rescisória. Isso está expresso na súmula 343 do STF:
Súmula 343-STF: Não cabe ação rescisória por ofensa a literal
dispositivo de lei, quando a decisão rescindenda se tiver
baseado em texto legal de interpretação controvertida nos
tribunais.
Requisito adicional para permitir a ação rescisória: que o acórdão paradigma do STJ
tenha eficácia vinculante: Para a Ministra, mesmo nos casos em que se admite a não
aplicação da Súmula 343-STF, somente será permitida a propositura da ação rescisória
com base no art. 485, V, do CPC/1973 se o entendimento do STJ que foi desrespeitado
tiver sido proferido em um acórdão com eficácia vinculante.
Voltando ao exemplo dado: em abril de 2003, o STJ decidiu que o índice de correção
monetária a ser aplicado deveria ser o INPC. Em 2004, o TJMT decide que o índice de
correção monetária deveria ser o BNTf, ou seja, decidiu em sentido contrário ao STJ.
Esse acórdão do TJMT transitou em julgado. Somente caberá ação rescisória contra o
acórdão do TJMT se a decisão do STJ que pacificou o tema em 2003 tiver eficácia
vinculante.
Quando a decisão do STJ tem eficácia vinculante?
No CPC/1973, possuem eficácia vinculante apenas os recursos especiais
decididos pelo STJ sob a sistemática dos recursos repetitivos (art. 543-C);
No CPC/2015, possuem eficácia vinculante:
1) Os acórdãos proferidos pelo STJ em incidente de assunção de competência
2) Os acórdãos proferidos pelo STJ em recurso especial repetitivo e
3) A orientação do plenário ou do órgão especial do STJ (art. 927).
Assim, levando em conta este raciocínio, somente caberia ação rescisória contra o
acórdão proferido pelo TJMT se a decisão do STJ de 2003 tivesse sido prolatada em
recurso especial repetitivo.
CPC/2015: A maioria da doutrina afirma que a Súmula 343 do STF não está mais
válida, tendo em vista a previsão contida no art. 966, V, § 5º e no art. 525, § 15 do CPC
2015:
Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser
rescindida quando:
V - violar manifestamente norma jurídica;
(...)
§ 5º Cabe ação rescisória, com fundamento no inciso V do
caput deste artigo, contra decisão baseada em enunciado de
súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos
repetitivos que não tenha considerado a existência de
distinção entre a questão discutida no processo e o padrão
decisório que lhe deu fundamento.
Fredie Didier defende que a Súmula 343-STF continua válida em uma hipótese (letra
“a” abaixo):
a) Divergência na interpretação do Direito entre Tribunais, sem que existisse, ao
tempo da prolação da decisão rescindenda, precedente vinculante do STF ou STJ (art.
927, CPC) sobre o tema: não há direito à rescisão, pois não se configura a manifesta
violação de norma jurídica. Aplica-se o n. 343 da súmula do STF.
b) Divergência na interpretação do Direito entre tribunais, sem que existisse, ao
tempo da prolação da decisão rescindenda, precedente vinculante do STF ou STJ (art.
927, CPC) sobre o tema; após o trânsito em julgado, sobrevém precedente obrigatório
do tribunal superior: observado o prazo da ação rescisória, há direito à rescisão, com
base nesse novo precedente, para concretizar o princípio da unidade do Direito e a
igualdade. Note que o § 15 do art. 525, examinado mais à frente, reforça a tese de que
cabe ação rescisória para fazer prevalecer posicionamento de tribunal superior
formado após a coisa julgada.
c) Divergência na interpretação do Direito entre tribunais, havendo, ao tempo da
prolação da decisão rescindenda, precedente vinculante do STF ou do STJ sobre o
tema: se a decisão rescindenda contrariar o precedente vinculante, há direito à
rescisão, pois se configura a manifesta violação de norma jurídica. Violam-se, a um só
tempo, a norma do precedente e a norma que decorre do art. 927, CPC.
d) Divergência na interpretação do Direito entre tribunais, havendo, ao mesmo tempo
da prolação da decisão rescindenda, precedente vinculante do STF ou STJ; após o
trânsito em julgado, sobrevém novo precedente de tribunal superior, alterando o seu
entendimento: não há direito à rescisão, fundado nesse novo precedente, tendo em
vista a segurança jurídica, tal como decidido pelo STF, no RE n. 590.809, rel. Min.
Marco Aurélio, j. em 22.10.2014." (DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro
da. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 3., 13ª ed., Salvador: Juspodivm, 2016, p.
495-496).
42.5. Prorrogação do termo final do prazo para ajuizamento da ação rescisória – (Info
553) – IMPORTANTE!!!
42.6. Início do prazo para a ação rescisória em caso de recursos parciais – (Info 547)
– IMPORTANTE!!!
O inciso V do art. 485 do CPC prevê que é cabível a ação rescisória quando a
sentença de mérito transitada em julgado “violar literal disposição de lei”.
A jurisprudência entende que, se na época em que a sentença rescindenda transitou em
julgado havia divergência jurisprudencial a respeito da interpretação da lei, não se
pode dizer que a decisão proferida tenha tido um vício. Logo, não caberá ação
rescisória. Isso está em um enunciado do STF:
Súmula 343-STF: Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei,
quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação
controvertida nos tribunais.
Imagine o seguinte exemplo: havia divergência na jurisprudência se o índice de
correção índice de correção monetária a ser aplicado em determinada situação
deveria ser o BNTf ou o INPC. Em 2003, o STJ pacificou que o índice seria o INPC.
Se o acórdão do TJ transitou em julgado em 2002 aplicando o BNTf, não
caberá ação rescisória porque na época havia divergência. Aplica-se a
Súmula 343-STJ.
Se o acórdão do TJ transitou em julgado em 2004 aplicando o BNTf, caberá
ação rescisória porque na época não mais havia divergência. Não se aplica a
Súmula 343-STJ.
STJ. Corte Especial. REsp 736.650-MT, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em
20/8/2014 (Info 547).
OBS:
Análise do inciso V: O inciso V do art. 485 prevê que é cabível a ação rescisória quando
a sentença de mérito transitada em julgado “violar literal disposição de lei”. Para
incidir essa hipótese, a violação deve se mostrar aberrante, cristalina, observada primo
ictu oculi (STJ. 1ª Turma. REsp 1458607/SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
julgado em 23/10/2014).
João propõe uma ação de cobrança contra Antônio. A única defesa do réu foi a de
que ele nunca havia mantido nenhum contrato com o autor e, por isso, tal dívida
nunca existiu. Entretanto, João conseguiu provar que houve sim o débito, razão pela
qual a sentença foi procedente. Houve apelação, tendo a decisão sido confirmada,
ocorrendo o trânsito em julgado.
Um ano mais tarde, Antônio descobre que o autor da ação tinha em seu poder um
documento que prova a quitação de seu débito para com João.
Diante disso, Antônio ajuíza uma ação rescisória fundada no art. 485, VII, alegando
que a dívida realmente existiu, mas que foi paga, conforme o documento novo de
que ele agora dispõe e que estava antes na posse do credor, motivo pelo qual não
pode ser anexado em sua defesa no processo originário.
Não será cabível a ação rescisória nesse caso, considerando que a prova que se
deseja ver agora apreciada se refere a fato não alegado pelo réu (quitação) e que,
portanto, não foi analisado pelo juízo no curso do processo em que se formara a
coisa julgada.
Assim, o STJ decidiu que não é possível a rescisão de sentença com fundamento no
inciso VII do art. 485 do CPC (documento novo) na hipótese em que, além de não
existir comprovação acerca dos fatos que justifiquem a ausência de apresentação do
documento em modo e tempo oportunos, este se refira a fato que não tenha sido
alegado pelas partes e analisado pelo juízo no curso do processo em que se formara
a coisa julgada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.293.837-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
2/4/2013 (Info 522).
42.10. INCISO VII: DOCUMENTO QUE JÁ EXISTIA E QUE NÃO FOI JUNTADO
PELA PARTE – (Info 522)
Em regra, se a parte já possuía o documento antes da propositura da ação original
(o documento era preexistente), não tendo sido juntado por desídia, não será
permitido, em regra, frise-se, que ajuíze a ação rescisória trazendo esta prova como
documento novo.
De forma excepcional, o STJ entendeu que é possível ao tribunal, na ação rescisória,
analisar documento novo para efeito de configuração de início de prova material
destinado à comprovação do exercício de atividade rural, ainda que esse documento
seja preexistente à propositura da ação em que proferida a decisão rescindenda
referente à concessão de aposentadoria rural por idade.
Nesse caso, é irrelevante o fato de o documento apresentado ser preexistente à
propositura da ação originária, pois devem ser consideradas as condições desiguais
pelas quais passam os trabalhadores rurais, adotando-se a solução pro misero.
STJ. 3ª Seção. AR 3.921-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/4/2013 (Info
522).
Não cabe ação rescisória contra violação de súmula. Conforme o art. 485, V, do CPC,
a sentença pode ser rescindida quando violar literal disposição de lei, hipótese que
não abrange a contrariedade à súmula. Assim, não há previsão legislativa para o
ajuizamento de ação rescisória sob o argumento de violação de súmula.
STJ. 3ª Seção. AR 4.112-SC, Min. Rel. Marco Aurélio Bellizze, julgada em 28/11/2012.
Sentença deve ser líquida: Em regra, o juiz deverá prolatar a sentença líquida (art. 491).
O CPC prevê, no entanto, duas situações excepcionais em que será autorizado que o
magistrado profira sentença ilíquida. Confira:
REGRA (art. 491, caput): na ação de obrigação de pagar quantia, ainda que a
parte tenha formulado pedido genérico, a decisão deverá definir desde logo a
extensão da obrigação ("quanto se deve"), o índice de correção monetária, a
taxa de juros, o termo inicial de ambos e a periodicidade da capitalização dos
juros.
EXCEÇÕES. Em duas situações será permitido que o magistrado deixe de fixar
os parâmetros acima:
a) quando não for possível determinar, de modo definitivo, na
sentença, o montante devido;
b) quando a apuração do valor devido depender da produção
de prova de realização demorada ou excessivamente
dispendiosa, assim reconhecida na sentença.
Ocorrendo um desses dois casos, o valor devido deverá ser apurado por meio de
liquidação de sentença.
Feita a revisão acima, imagine agora a seguinte situação hipotética: A indústria "AA"
ingressou com ação de indenização contra a empresa "ZZ" por ela ter fornecido moldes
errados, o que fez com que houvesse um paralisação na sua linha de produção. A
demanda foi julgada procedente, tendo a ré sido condenada a pagar:
a) danos emergentes, no valor de R$ 200 mil;
b) lucros cessantes, a serem calculados em liquidação por arbitramento.
Vale ressaltar que quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, o
credor poderá promover simultaneamente:
1) a execução da parte líquida e
2) a liquidação da outra parte (em autos apartados).
Foi o que fez a indústria "AA". Iniciou-se, então, a liquidação por arbitramento. O
perito nomeado pelo juízo calculou que o prejuízo da autora, a título de lucros
cessantes, foi de R$ 300 mil. O juiz acatou as conclusões da perícia. A empresa
devedora, contudo, não concordou com a decisão do juiz e recorreu alegando que a
perícia chegou a esse valor baseada em presunções e deduções do quanto seria
produzido e vendido e que essa metodologia não poderia ser aplicada na liquidação.
A tese da empresa devedora foi aceita pelo STJ? NÃO. Os argumentos da empresa
devedora não foram acolhidos pelo STJ e a decisão do juiz que acolheu a perícia foi
mantida.
Obs: esse julgado não tem relevância sob a égide do novo CPC.
No CPC/1973, para que o devedor apresentasse impugnação, era indispensável a
garantia do juízo, ou seja, era necessário que houvesse penhora, depósito ou caução.
No CPC/2015 isso acabou e é possível impugnação mesmo sem garantia do juízo.
No CPC/1973, o prazo de 15 dias para impugnação era contado da intimação do auto
de penhora e avaliação. No CPC/2015, o prazo para impugnação inicia-se
imediatamente após acabar o prazo de 15 dias que o executado tinha para fazer o
pagamento voluntário (art. 525, caput). Não é necessária nova intimação. Acabou um
prazo, começa o outro. Logo, para fins de início do prazo da impugnação, não mais
interessa o dia em que ocorreu a penhora. Isso porque a penhora (garantia do juízo)
não é mais um requisito para que haja impugnação no CPC/2015.
Lei de imprensa declarada não recepcionada: Ocorre que, em 2009, antes de o jornal
cumprir a obrigação, o STF decidiu que a Lei de Imprensa, em sua inteireza, não foi
recepcionada pela CF/88, sendo, portanto, inválida: STF. Plenário. ADPF 130, Rel.
Min. Carlos Britto, julgado em 30/04/09.
Título foi fundado unicamente na lei inválida: Se o título judicial foi fundado
(baseado) exclusivamente na aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidos
pelo STF como incompatíveis com a Constituição Federal, será permitido o
reconhecimento da inexigibilidade da obrigação na própria fase de execução. Se a
sentença tivesse se baseado no art. 75 da Lei de Imprensa e em outros dispositivos
ainda válidos (ex: no Código Civil ou na CF/88), a obrigação continuaria sendo
exigível. No caso concreto, contudo, a sentença, na parte que condenou o jornal a
publicar a decisão na íntegra, foi fundada unicamente (exclusivamente) no art. 75.
No caso concreto, a aplicação do art. 75 da Lei de Imprensa foi tida como incompatível
com a CF/88 em controle concentrado de constitucionalidade.
45.6. Multa do art. 475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015) em cumprimento
de sentença arbitral – (Info 569)
45.8. Requisitos para a imposição da multa prevista no art. 475-J do CPC no caso de
sentença ilíquida – (Info 560) – IMPORTANTE!!!
O art. 475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015) prevê que o devedor será
intimado para pagar a quantia na qual ele foi condenado no prazo de 15 dias. Caso
não pague, o valor da condenação será acrescido de multa de 10%.
A liquidez da obrigação é pressuposto para o pedido de cumprimento de sentença.
Assim, essa multa do art. 475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015) só será
imposta se a obrigação já estiver líquida, ou seja, se houver o valor certo que o
devedor deverá pagar.
Se a sentença foi ilíquida, antes de intimar o devedor para pagar sob pena da multa
do art. 475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015), será necessário fazer a sua
liquidação.
Desse modo, para fins de recurso especial repetitivo, o STJ fixou a seguinte tese:
No caso de sentença ilíquida, para a imposição da multa prevista no art. 475-J do
CPC, revela-se indispensável (i) a prévia liquidação da obrigação; e, após, o
acertamento, (ii) a intimação do devedor, na figura do seu Advogado, para pagar o
quantum ao final definido no prazo de 15 dias.
Em outras palavras, somente após ter certeza do valor devido (liquidação) é que se
poderá intimar o devedor para pagar. Se ele, mesmo depois de intimado, não quitar
a dívida no prazo de 15 dias, aí sim haverá a imposição da multa de 10% do art. 475-
J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.147.191-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
4/3/2015 (recurso repetitivo) (Info 560).
Na execução de pagar quantia certa (título extrajudicial), o art. 745-A do CPC prevê
expressamente a possibilidade do devedor parcelar em até seis vezes o valor
cobrado na execução, desde que depositado 30% do valor e preenchidos os demais
requisitos legais.
Apesar de não haver previsão legal expressa, o STJ admite essa possibilidade de
parcelamento também ao devedor no caso de cumprimento de sentença.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.264.272-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
15/5/2012.
Decisão concessiva de suspensão condicional do processo não faz coisa julgada para
fins penais: Realmente, o STJ entende que a decisão que concede a suspensão
condicional do processo não faz coisa julgada material. Isso, no entanto, vale apenas
para efeitos penais. Assim, quando o STJ afirma que a decisão concessiva de suspensão
condicional do processo não faz coisa julgada, o que ele quer dizer é que esse benefício
poderá ser revogado se o beneficiário incidir nas hipóteses previstas nos §§ 3º e 4º do
art. 89 da Lei 9.099/99 durante o prazo de suspensão determinado. Neste caso, o
processo criminal retoma seu curso. Daí se dizer que a decisão não faz coisa julgada
material. Essa constatação, contudo, é restrita ao aspecto criminal.
Assim sendo, o referido acordo deve ser considerado como título executivo judicial,
nos termos do art. 515, II, do CPC, visto que seus efeitos cíveis não se confundem com
os efeitos penais da suspensão condicional do processo oferecida pelo Ministério
Público e acatada pelo acusado. Em suma, não há como se confundir o deferimento
da suspensão do processo, que não faz coisa julgada para extinguir a pretensão
punitiva do Estado, com a decisão que homologa o acordo celebrado pelas partes em
juízo, passível de execução por constituir-se título executivo judicial.
48.3. A sentença, qualquer que seja sua natureza, pode ser título executivo judicial,
desde que estabeleça obrigação certa e exigível – (Info 585) – IMPORTANTE!!!
O STJ, ao analisar o inciso I do art. 475-N do CPC 1973, entendia que a sentença
meramente declaratória era título executivo judicial? Na égide do CPC 1973 era
possível a execução de sentenças meramente declaratórias? SIM. Para o STJ, o art. 475-
N, I, do CPC 1973 autorizava a execução de sentença meramente declaratória, desde
que elas possuíssem exigibilidade e certeza. Confira:
(...) A Lei 11.232/2005, ao revogar o art. 584 e inserir o art. 475-
N no Código de Processo Civil, acolheu o entendimento já
esposado por esta Corte de que as sentenças de cunho
declaratório podem ter força executiva se presentes os
elementos necessários à execução, como exigibilidade e
certeza da relação.(...)
STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1384913/ES, Rel. Min. Paulo de
Tarso Sanseverino, julgado em 06/08/2015.
Exemplo de sentença meramente declaratória que pode ser executada: Empresa “X”
(contribuinte) ajuíza, contra a União, ação para que seja declarado que ela não mantém
relação jurídico-tributária válida com o ente federal, considerando que o tributo
cobrado é inconstitucional. A empresa “X” requer, ainda, a compensação dos valores
já pagos relativos a esse tributo com outros débitos que ela tem com a União. A
sentença que julgar procedente essa demanda, apesar de declaratória, possui
conteúdo nitidamente condenatório e, portanto, poderá ser executada.
Nem toda sentença declaratória é título executivo: Nem toda sentença declaratória
possui eficácia executiva, mas apenas aquelas que, reconhecendo a existência da
obrigação, contenham, em seu bojo, os pressupostos de certeza e exigibilidade. Desse
modo, somente as sentenças declaratórias que forem certas e exigíveis é que podem
ser consideradas como título executivo. Não há problema se a sentença for certa e
exigível, mas não for líquida. Isso porque na ausência de liquidez, a parte poderá fazer
a prévia liquidação para, então, executá-la.
Este entendimento acima explicado permanece com o novo CPC? Compare abaixo a
mudança na redação da previsão do título executivo judicial:
CPC 1973 CPC 2015
Art. 475-N. São títulos executivos Art. 515. São títulos executivos judiciais,
judiciais: cujo cumprimento dar-se-á de acordo
I — a sentença proferida no processo com os artigos previstos neste Título:
civil que reconheça a existência de I — as decisões proferidas no processo
obrigação de fazer, não fazer, entregar civil que reconheçam a exigibilidade de
coisa ou pagar quantia; obrigação de pagar quantia, de fazer, de
não fazer ou de entregar coisa;
No mesmo sentido, o Min. Rel. Luis Felipe Salomão em determinado trecho de seu
voto dá a entender que o entendimento do STJ proferido neste julgado continua a
vigorar com o CPC 2015.
O Termo de Acordo de Parcelamento que tenha sido subscrito pelo devedor e pela
Fazenda Pública deve ser considerado documento público para fins de
caracterização de título executivo extrajudicial, apto à promoção de ação executiva,
na forma do art. 585, II, do CPC 1973 (art. 784, II, do CPC 2015).
Ex: João, servidor de um órgão público federal, causou prejuízos ao erário. Foi
aberto um processo administrativo para apurar o dano, que foi orçado em R$ 60 mil.
O servidor aceitou assinar um termo de acordo de parcelamento no qual confessava
a dívida e se comprometia a pagar o débito em 12 prestações. Esse termo de acordo
de parcelamento é considerado título executivo extrajudicial.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.521.531-SE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 25/8/15
(Info 568).
48.5. Contrato de seguro de automóveis não é título executivo extrajudicial – (Info
553) – IMPORTANTE!!!
49. PENHORA
49.1. ADJUDICAÇÃO: Forma preferencial de pagamento ao credor. Momento para
requerimento da adjudicação – (Info 583)
Obs: esses incisos estão organizados segundo uma preferência legal. Em outras
palavras, se houver interessados em adjudicar (inciso I), não será necessário fazer a
alienação. Se não ocorrer a adjudicação, deve-se tentar a alienação (inciso II) antes da
apropriação de frutos (inciso III).
O caput do art. 876 fala apenas no exequente, mas o § 5º prevê outros legitimados que
também podem adjudicar. Veja:
Essa preferência fica clara ao se ler o art. 880 do CPC/2015, que afirma que a alienação
somente ocorrerá se "não efetivada a adjudicação":
Alienação (inciso II): Segundo o art. 879 do CPC 2015, existem duas espécies de
alienação do bem:
a) por iniciativa particular: ocorre quando o próprio exequente (ou algum corretor
ou leiloeiro público credenciado) tenta conseguir um comprador para o imóvel,
seguindo determinadas regras impostas pela lei.
b) leilão judicial (eletrônico ou presencial): é a oferta do bem penhorado aos
interessados em adquiri-lo em um evento organizado pelo Estado-juiz.
O CPC 2015 não repete tais palavras e não mais faz essa distinção. Agora, fala-se em
leilão judicial tanto para bens móveis como imóveis.
50. ARREMATAÇÃO
50.1. Arrematação de bem imóvel mediante pagamento em prestações – (Info 569)
Na segunda praça (CPC 1973) ou no segundo leilão (CPC 2015), o bem poderá ser
alienado por valor inferior ao da avaliação?
1) CPC 1973:
REGRA: SIM. Nesta segunda praça, o bem poderá ser arrematado por preço inferior
ao da avaliação, desde que não seja vil (art. 692 do CPC). Vil = algo de pouco valor,
insignificante.
O CPC 1973 não conceituava o que era preço "vil", cabendo essa tarefa à
jurisprudência.
EXCEÇÃO: no CPC 1973, havia uma exceção a essa regra. Se o licitante propusesse
arrematar o bem, pagando em prestações (parceladamente), então, neste caso, o
valor pago não poderia ser inferior à avaliação mesmo que fosse a segunda praça
(art. 690, § 1º).
2) CPC 2015:
SIM. No CPC 2015, o juiz deverá fixar no edital: o valor de avaliação e o preço
mínimo.
O bem pode ser arrematado por preço inferior ao da avaliação já no primeiro leilão.
O que não pode acontecer é o bem ser vendido por valor inferior ao preço mínimo.
Se for realizado um segundo leilão (por ausência de interessados no primeiro), a
situação continua a mesma: o bem poderá ser alienado por valor inferior ao da
avaliação, mas não poderá ser alienado por valor inferior ao preço mínimo.
Assim, a única restrição imposta (tanto na primeira tentativa de leilão, como na
segunda) é que o bem não poderá ser arrematado por preço VIL (art. 891 do CPC
2015).
O CPC 2015 conceitua o que é "vil". Será considerado vil (muito baixo e, portanto,
proibido):
• O valor abaixo do preço mínimo fixado pelo juiz; ou
• Se o juiz não fixou preço mínimo, será considerado vil o valor abaixo de 50% da
avaliação.
No CPC 2015, mesmo que o alienante proponha pagar em prestações, ainda assim o
valor do bem poderá ser inferior ao da avaliação, desde que não seja vil (art. 895, II).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.340.965-MG, Rel. Min. Raul Araújo, j. 3/9/15 (Info 569).
51. EXECUÇÃO
51.1. IMPENHORABILIDADE: Pacto de impenhorabilidade não pode ser oposto a
terceiros – (Info 625)
Assim, o executado argumentou que este título é impenhorável, nos termos do art.
833, I, do CPC/2015:
Art. 833. São impenhoráveis:
I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não
sujeitos à execução;
A tese do executado foi aceita pelo STJ? NÃO. É o que foi decidido no Info 625 do STJ.
A parte final do art. 833, I, do CPC/2015 realmente prevê que atos voluntários
declarem a impenhorabilidade de determinados bens, afastando-os de eventual
execução. Permite-se, assim, a celebração do pacto de impenhorabilidade. No
entanto, esse pacto de impenhorabilidade fica limitado às partes que o
convencionaram, não podendo envolver terceiros que não anuíram. Se assim não
fosse, particulares poderiam celebrar convenções de impenhorabilidade com o intuito
de prejudicar a satisfação do crédito de terceiros. “Trata-se de impenhorabilidade
relativa, porque o ajuste não envolve pessoas alheias ao pacto.” (ASSIS, Araken.
Manual da Execução. São Paulo: RT, 2015, p. 267).
Imagine a seguinte situação hipotética: João ajuíza uma ação de cobrança contra
Pedro e Ricardo. Vale ressaltar que Pedro e Ricardo possuem advogados distintos, de
escritórios de advocacia diferentes. O juiz julgou a sentença procedente, condenando
Pedro e Ricardo a pagarem R$ 1 milhão ao autor. Houve o trânsito em julgado.
O que acontece agora? João terá que ingressar com uma petição em juízo requerendo
o cumprimento da sentença.
O início da fase de cumprimento da sentença pode ser feito de ofício pelo juiz? NÃO.
O cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar quantia, provisório ou
definitivo, só pode ser feito a requerimento do exequente (art. 513, § 1º do
CPC/2015). Cabe ao credor o exercício de atos para o regular cumprimento da decisão
condenatória, especialmente requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o
montante apurado, consoante demonstrativo discriminado e atualizado do crédito
(art. 524 do CPC/2015).
51.3. Mesmo que o contrato com a escola particular esteja apenas no nome da mãe,
o pai também responderá solidariamente pelas dívidas – (Info 618) – IMPORTANTE!!!
A questão chegou até o STJ. O pedido formulado pela escola (exequente) pode ser
acolhido pelo STJ? SIM. A execução de título extrajudicial por inadimplemento de
mensalidades escolares de filhos do casal pode ser redirecionada ao outro consorte,
ainda que não esteja nominado nos instrumentos contratuais que deram origem à
dívida. STJ. 3ª Turma. REsp 1.472.316-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
julgado em 05/12/2017 (Info 618).
Nos arts. 1.643 e 1644 do CC/02, o legislador reconheceu que, pelas obrigações
contraídas para a manutenção da economia doméstica, e, assim, notadamente, em
proveito da entidade familiar, o casal responderá solidariamente, podendo-se
postular a excussão dos bens do legitimado ordinário e do coobrigado,
extraordinariamente legitimado.
Quando o art. 1.643 estabelece que existe solidariedade entre os cônjuges quanto às
dívidas contraídas para fazer frente à economia doméstica, deve-se entender isso de
forma ampla. Assim, estão abrangidas na locução "economia doméstica" as obrigações
assumidas para a administração do lar e para a satisfação das necessidades da família,
o que inclui despesas alimentares, educacionais, culturais, de lazer, de habitação, etc.
Logo, as despesas contraídas por um dos cônjuges para custear a educação do filho
comum também podem ser enquadradas nos arts. 1.643, I e 1.644 do CC. Desse modo,
deve-se entender que a dívida que surge de um contrato de prestação de serviços
educacionais aos filhos é uma dívida comum do casal, havendo solidariedade entre
eles.
Assim, como já dito, ambos os pais têm o dever de garantir o sustento e a educação
dos filhos, compreendendo, aí, também a manutenção do infante em ensino regular
(art. 55 do ECA), pelo que deverão, solidariamente, responder pelas mensalidades
da escola em que matriculado o filho. Conforme pontua o Min. Paulo de Tarso
Sanseverino:
“Essa mútua responsabilidade, própria das dívidas contraídas
por apenas um dos pais para o sustento do filho, não deixa de
estar presente pelo fato de a dívida ter sido contraída
posteriormente à separação/divórcio, pois é no poder familiar
que ela encontra sua gênese.”
Expropriação: Quando acontece uma dessas três situações acima, dizemos que houve
a “expropriação”, conforme previsto no art. 825 do CPC/2015:
Art. 825. A expropriação consiste em:
I - adjudicação;
II - alienação;
III - apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de
estabelecimentos e de outros bens.
Atenção: esses incisos estão organizados segundo uma preferência legal. Em outras
palavras, se houver interessados em adjudicar (inciso I), não será necessário fazer a
alienação. Se não ocorrer a adjudicação, deve-se tentar a alienação (inciso II) antes da
apropriação de frutos (inciso III).
O caput do art. 876 fala apenas no exequente, mas o § 5º prevê outros legitimados
que também podem adjudicar. Veja:
§ 5º Idêntico direito pode ser exercido por aqueles indicados
no art. 889, incisos II a VIII, pelos credores concorrentes que
hajam penhorado o mesmo bem, pelo cônjuge, pelo
companheiro, pelos descendentes ou pelos ascendentes do
executado.
Alienação (inciso II): Segundo o art. 879 do CPC 2015, existem duas espécies de
alienação do bem:
a) por iniciativa particular: ocorre quando o próprio exequente
(ou algum corretor ou leiloeiro público credenciado) tenta
conseguir um comprador para o imóvel, seguindo
determinadas regras impostas pela lei.
b) leilão judicial (eletrônico ou presencial): é a oferta do bem
penhorado aos interessados em adquiri-lo em um evento
organizado pelo Estado-juiz.
O CPC 2015 não repete tais palavras e não mais faz essa distinção. Agora, fala-se em
leilão judicial tanto para bens móveis como imóveis.
Feita esta breve revisão, imagine a seguinte situação hipotética: João (credor)
ingressou com cumprimento de sentença contra Pedro (devedor). Pedro não pagou
voluntariamente o débito e o juiz determinou a penhora de um apartamento que está
em seu nome. O magistrado determinou a intimação de João para que se manifestasse
sobre seu interesse na adjudicação do bem penhorado e, caso não o tivesse, informasse
as providências necessárias para que efetuasse, por conta própria, a alienação
particular dos bens, na forma do art. 879, I, do CPC/2015 (art. 647, II, do CPC/1973).
João respondeu dizendo que não tinha interesse na adjudicação e que também não
desejava fazer a alienação particular do bem. Diante disso, requereu a alienação
judicial do apartamento em hasta pública, na forma do art. 879, II, do CPC/2015 (art.
647,III, do CPC/1973). O juiz indeferiu o pedido afirmando que, não ocorrendo a
adjudicação, é obrigatório que o credor-exequente tente fazer a alienação do bem
penhorado por iniciativa particular. Somente se não tiver êxito é que poderia ser feita
a alienação judicial (antiga hasta pública). O credor recorreu contra a decisão alegando
que a alienação por iniciativa particular é uma faculdade do credor-exequente, sendo
descabida sua imposição pelo juiz.
Agiu corretamente o juiz? NÃO. Analisando o texto do CPC, conclui-se que, não
havendo interesse do exequente na adjudicação do bem penhorado, abre-se a
possibilidade de que a alienação do bem constrito seja feita por iniciativa do próprio
credor (alienação por iniciativa particular). Realmente existe uma ordem de
preferência nas formas de expropriação previstas no CPC. Vale ressaltar, contudo, que
esta ordem de preferência não é absoluta. Assim, é possível que o credor escolha
forma de expropriação fora da ordem listada no CPC, de acordo com as
particularidades relacionadas ao bem ou ao próprio credor. Isso porque a execução
deve ser realizada no interesse do exequente, conforme preconiza o art. 797 do
CPC/2015 (art. 612 do CPC/1973).
A pequena propriedade rural é impenhorável (art. 5º, XXVI, da CF/88 e o art. 833,
VIII, do CPC) mesmo que a dívida executada não seja oriunda da atividade
produtiva do imóvel.
De igual modo, a pequena propriedade rural é impenhorável mesmo que o imóvel
não sirva de moradia ao executado e à sua família.
Desse modo, para que o imóvel rural seja impenhorável, nos termos do art. 5º,
XXVI, da CF/88 e do art. 833, VIII, do CPC, é necessário que cumpra apenas dois
requisitos cumulativos:
1) seja enquadrado como pequena propriedade rural, nos termos definidos pela lei;
e
2) seja trabalhado pela família.
STJ. 3ª Turma. REsp 1591298-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 14/11/17 (Info
616).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: O filho de João resolveu fazer faculdade na
capital. Para custear as despesas, João tomou um empréstimo bancário e, como
garantia do pagamento, assinou nota promissória no valor de R$ 20 mil. O devedor
não efetuou o pagamento na data do vencimento, razão pela qual o banco ingressou
com execução de título extrajudicial, tendo sido penhorada uma chácara (imóvel rural)
que está em nome de João. O executado alegou que o imóvel em questão é
impenhorável, considerando que se trata de pequena propriedade rural onde pratica
agricultura juntamente com a mulher e os filhos. Invocou, para tanto, o art. 5º, XXVI,
da CF/88 e o art. 833, VIII, do CPC, que estabelecem:
CF88. Art. 5º (...)
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei,
desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora
para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade
produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu
desenvolvimento;
Mas o art. 5º, XXVI, da CF/88 fala que “a pequena propriedade rural, assim definida
em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento
de débitos decorrentes de sua atividade produtiva (...)”. Essa parte grifada não exige
que os débitos sejam relacionados com as atividades desenvolvidas no imóvel rural?
NÃO. O STJ afirma que essa interpretação literal não pode ser feita, já que isso:
não garantiria a máxima efetividade que deve ser dada ao mandamento
constitucional;
conferiria proteção deficiente ao direito fundamental tutelado.
Essa interpretação do art. 5º, XXVI, da CF/88 foi adotada pelo legislador
infraconstitucional, tanto que o CPC/1973 e o CPC/2015 não exigem, para conferir a
impenhorabilidade, que os débitos sejam oriundos da atividade produtiva do imóvel.
Conclui-se, portanto, que, nos termos dos arts. 5º, XXVII, c/c o art. 649, VIII, do
CPC/1973 (art. 833, VIII, do CPC/2015), a proteção da impenhorabilidade da pequena
propriedade rural trabalhada pela entidade familiar, como direito fundamental que é,
não se restringe às dividas relacionadas à atividade produtiva.
O art. 4º, § 2º, da Lei nº 8.009/90 trata sobre bem de família rural (e não sobre a
impenhorabilidade da pequena propriedade rural).
Requisitos: Desse modo, para que o imóvel rural seja impenhorável, nos termos do
art. 5º, XXVI, da CF/88 e do art. 833, VIII, do CPC, é necessário que cumpra apenas
dois requisitos cumulativos:
1) seja enquadrado como pequena propriedade rural, nos
termos definidos pela lei; e
O art. 833, IX, do CPC/2015 (art. 649, IX, do CPC/1973) prevê o seguinte:
Art. 833. São impenhoráveis:
(...)
IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas
para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência
social;
Dessa forma, embora não contido no título, decorre da lei a certeza do direito
perseguido, sem a necessidade de um novo processo cognitivo para se declarar a
obrigação que o ordenamento jurídico já estabeleceu. Ressalta-se, por fim, que o
citado ressarcimento dos prejuízos depende de liquidação incidental no próprio
feito executivo convertido, sendo a prévia apuração do quantum realizada por
estimativa do credor ou por arbitramento.
51.9. Penhora de valores depositados em conta bancária conjunta – (Infos 539 e 613)
– IMPORTANTE!!!
O que o juiz deverá decidir nesse caso? O pedido de Pedro poderá ser atendido? Em
parte.
Ônus da prova é do cotitular que não era devedor: Quando se penhora o valor
constante em conta bancária conjunta solidária, deve-se permitir que o cotitular prove
que a quantia penhorada pertence a ele. Logo, Pedro poderia ter provado que o
dinheiro penhorado pertencia inteiramente a ele. Nesse caso, a verba seria
integralmente liberada. Ressalto, mais uma vez, o ônus da prova cabe ao cotitular que
não é devedor. O credor consegue a penhora e o cotitular da conta, que não tinha nada
a ver com a dívida, é quem terá que provar que o dinheiro que foi penhorado pertencia
exclusivamente a ele.
A partir da vigência da Lei 10.444/02, que incluiu o § 1º ao art. 604, dispositivo que
foi sucedido, conforme Lei 11.232/05, pelo art. 475-B, §§ 1º e 2º, todos do CPC/1973,
não é mais imprescindível, para acertamento de cálculos, a juntada de documentos
pela parte executada ou por terceiros, reputando-se correta a conta apresentada pelo
exequente, quando a requisição judicial de tais documentos deixar de ser atendida,
injustificadamente, depois de transcorrido o prazo legal. Assim, sob a égide do
diploma legal citado, incide o lapso prescricional, pelo prazo respectivo da
demanda de conhecimento (Súmula 150/STF), sem interrupção ou suspensão, não
se podendo invocar qualquer demora na diligência para obtenção de fichas
financeiras ou outros documentos perante a administração ou junto a terceiros.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.336.026-PE, Rel. Min. Og Fernandes, j. 28/6/17 (recurso
repetitivo) (Info 607).
51.11. O fato de ter sido decretada a indisponibilidade do bem não impede que ele
seja objeto de adjudicação decretada em outro processo – (Info 600)
O art. 5º, XXVI, da CF/88 e o art. 833, VIII, do CPC preveem que é impenhorável a
pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela
família. Assim, para que o imóvel rural seja impenhorável, são necessários dois
requisitos:
1) que seja enquadrado como pequena propriedade rural, nos termos definidos pela
lei; e
2) que seja trabalhado pela família.
51.13. As cotas de fundo de investimento não são consideradas dinheiro para os fins
do art. 835, I, do CPC. Recusa de nomeação à penhora de cotas de fundo de
investimento – (Info 589)
Ordem de preferência: O CPC traz uma ordem de preferência para penhora, ou seja,
existem bens que devem ser penhorados antes que outros. Essa lista de prioridades
está prevista no art. 835 do CPC/2015 (art. 655 do CPC/1973):
É possível que esta ordem seja alterada no caso concreto pelo juiz? Ex: existe um bem
previsto no inciso IV, mas o magistrado autoriza que seja penhorado outro do inciso
V?
Nos casos envolvendo dinheiro (inciso I): NÃO. A penhora em dinheiro é
prioritária. Isso significa que, pela redação legal, não se pode penhorar
nenhum outro bem se houver dinheiro disponível.
Nos casos envolvendo os demais incisos: SIM. O juiz pode, nas demais
hipóteses, alterar a ordem prevista no art. 835 do CPC, desde que existam
circunstâncias do caso concreto que justifiquem a medida.
Assim, em regra, se existe um carro disponível (inciso IV), não se pode penhorar
apartamento (inciso V), salvo se, no caso concreto, houver circunstâncias que
justifiquem a alteração da ordem legal.
A súmula 417 do STJ continua aplicável? Sobre o tema explicado acima, o STJ possui
o seguinte enunciado:
O inciso I: O inciso I, conforme vimos acima, afirma que a penhora deverá recair,
preferencialmente, sobre dinheiro. Quando o inciso I fala em dinheiro, isso abrange:
em espécie (ex: dentro de um cofre, "debaixo do colchão"; é o "dinheiro vivo");
em depósito (ex: na conta corrente do devedor);
em aplicação em instituição financeira (ex: dinheiro investido em CDB).
Qual é a natureza jurídica das cotas de fundo de investimento? Segundo o art. 2º, V,
da Lei 6.385/76 (Lei da CVM), possuem natureza jurídica de valores mobiliários com
cotação em mercado:
Art. 2º São valores mobiliários sujeitos ao regime desta Lei:
(...)
V - as cotas de fundos de investimento em valores mobiliários
ou de clubes de investimento em quaisquer ativos;
Além disso, como o executado era um banco, ele alegou que, obrigar a retirar o
dinheiro da CDI, significaria violar, por via transversa, o recolhimento dos depósitos
compulsórios e voluntários exigidos pelo Banco Central do Brasil (art. 10, IV, da Lei
4.595/64) ou afrontar a impenhorabilidade das reservas obrigatórias (art. 68 da Lei
9.069/95):
As teses do banco executado foram aceitas pelo STJ? NÃO. O art. 805 deve ser
observado, mas não se pode esquecer que o processo executivo se desenvolve segundo
os interesses do credor e com a finalidade de satisfazer a obrigação não paga. Os lucros
que a instituição financeira deixaria de obter não interessam ao exequente nem servem
de justificativa idônea para obrigá-lo a aceitar um bem que não guarda em si a aptidão
ideal, segundo as particularidades do caso concreto, para satisfazer o crédito
exequendo. Se a ordem legal for alterada, isso irá beneficiar apenas o banco executado,
podendo prejudicar a satisfação do crédito do exequente.
O banco alega que uma instituição financeira não possui conta-corrente em outros
bancos, de forma que o restrito numerário que possui em suas agências destina-se a
fazer frente "às necessidades de troco e à moeda circulante da população", sendo certo
que a quantia que sobeja, "ou é recolhido ao Banco Central ou é investido em
aplicações financeiras".
Desse modo, foi lícita a recusa feita pelo magistrado, não havendo violação ao art. 805
do CPC.
Além disso, os valores penhorados recaíram sobre numerário constante de suas
agências ou sobre o produto do capital investido em suas aplicações financeiras,
providência que não viola a intangibilidade dos depósitos mantidos no Banco Central,
tampouco a impenhorabilidade das reservas bancárias.
Arrematado bem imóvel, o Juízo da execução que conduziu a arrematação não pode
determinar o cancelamento automático de constrições determinadas por outros
Juízos de mesma hierarquia e registradas na matrícula do bem, mesmo que o edital
de praça e o auto de arrematação tenham sido silentes quanto à existência dos
referidos gravames.
Além de o Juízo da execução não deter competência para o desfazimento ou
cancelamento de constrições e registros determinados por outros Juízos de mesma
hierarquia, os titulares dos direitos decorrentes das decisões judiciais proferidas em
outros processos ("credores"), as quais geraram as constrições e registros
imobiliários que o arrematante pretende cancelar, têm direito ao devido processo
legal, com contraditório e ampla defesa a fim de manterem o bem vinculado a seus
interesses.
As possíveis falhas nos atos judiciais que antecederam a arrematação, porque não
mencionavam as outras constrições de outros Juízos sobre o imóvel a ser
arrematado, não possibilitam ao Juízo da arrematação determinar a baixa de outras
constrições levadas a efeito por outros juízos.
STJ. 4ª Turma. RMS 48.609-MT, Rel. Min. Raul Araújo, j. 19/5/16 (Info 585).
Em execução de título extrajudicial, o credor deve ser intimado para opor fato
impeditivo à incidência da prescrição intercorrente antes de sua decretação de
ofício.
Esse dever de prévia intimação do credor para decretação da prescrição intercorrente
não era previsto expressamente no CPC/1973, sendo aplicado pelo STJ com base na
incidência analógica do art. 40, §§ 4º e 5º, da Lei nº 6.830/80 (Lei de Execução Fiscal).
O CPC/2015, contudo, resolve a questão e prevê expressamente a prévia oitiva das
partes:
Art. 921 (...) § 5º O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15 (quinze) dias,
poderá, de ofício, reconhecer a prescrição de que trata o § 4º e extinguir o processo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.589.753-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 17/5/16 (Info
584).
OBS:
Não localização de bens penhoráveis: João ingressou com execução cobrando R$ 100
mil de Pedro. O executado não pagou espontaneamente o débito e não foram
localizados bens de Pedro que pudessem ser penhorados. Ocorrendo isso, o juiz
deverá proferir uma decisão suspendendo o processo, nos termos do art. 921, III, do
CPC/2015:
Art. 921. Suspende-se a execução:
(...)
III - quando o executado não possuir bens penhoráveis;
Hipóteses do inciso III: Vale ressaltar que a suspensão da execução com base no inciso
III abrange três hipóteses:
1ª) quando não é localizado nenhum bem do devedor (não
tem nada em seu nome);
2ª) quando são localizados bens, mas estes se classificam como
impenhoráveis (exs: o executado tem uma casa em seu nome,
mas é bem de família; o executado possui uma poupança com
menos de 40 salários mínimos depositados);
3ª) quando até foram localizados bens do devedor que podem
ser penhorados, mas se alienados, não pagarão nem as custas
da execução, nos termos do art. 836 do CPC/2015 (ex: o
executado possui uma mobilete, ano 1990).
Por quanto tempo este processo ficará suspenso? O juiz suspenderá a execução pelo
prazo de 1 ano. Neste período de 1 ano, ficará suspensa também a prescrição (§ 1º do
art. 921).
O que acontece se, neste período, for localizado algum bem penhorável? Neste caso,
os autos serão desarquivados para prosseguimento da execução (§ 3º do art. 921).
Depois que passar este prazo de 1 ano, o que acontece? A execução continuará
suspensa. No entanto, o prazo prescricional começará a correr.
Art. 921 (...) § 4º Decorrido o prazo de que trata o § 1º sem
manifestação do exequente, começa a correr o prazo de
prescrição intercorrente.
Qual será o prazo prescricional da prescrição intercorrente? Irá variar de acordo com
o que está sendo executado. Isso porque a execução prescreve no mesmo prazo de
prescrição da ação (Súmula 150-STF).
Ex1: João ingressou com execução de um cheque contra Pedro. O prazo para se
ingressar com ação de execução de cheque é de 5 anos. Significa que o prazo da
prescrição intercorrente na execução de um cheque também será de 5 anos. Logo,
depois de não se localizarem bens de Pedro, este terá que esperar 6 anos para se livrar
do processo (1 ano de suspensão da prescrição + 5 anos até prescrever).
Ex2: João ingressou com ação de indenização contra Pedro. O juiz condenou o réu a
pagar R$ 100 mil. Houve o trânsito em julgado. O credor iniciou o cumprimento de
sentença. Não foram localizados bens penhoráveis. O prazo para que a pessoa ingresse
com ação de reparação civil é de 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC). Significa que o prazo
da prescrição intercorrente no cumprimento de sentença de uma condenação de
reparação civil também será de 3 anos. Logo, depois de não se localizarem bens de
Pedro, este terá que esperar 4 anos para se livrar do processo (1 ano de suspensão da
prescrição + 4 anos até prescrever).
Essas regras acima analisadas valem apenas para a execução de título extrajudicial
ou também para o cumprimento de sentença? Para ambos. As regras da prescrição
intercorrente previstas no art. 921, III e §§ 1º a 5º, do CPC/2015, valem tanto para a
execução de título extrajudicial como para o cumprimento de sentença. Nesse sentido
é o Enunciado 194-FPPC: A prescrição intercorrente pode ser reconhecida no
procedimento de cumprimento de sentença.
A multa por ato atentatório à dignidade da Justiça, prevista no art. 774, IV, do CPC
2015, somente pode ser aplicada no processo de execução, em caso de conduta de
deslealdade processual praticada pelo executado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.231.981/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
15/12/2015 (Info 578).
OBS
Sobrepartilha: É uma ação judicial (processo judicial) proposta quando, após ser
concluída a partilha, descobre-se que ainda existem mais bens que pertenciam ao
falecido e que deveriam ter entrado na partilha, mas ficaram de fora indevidamente.
A sobrepartilha está prevista nos arts. 669 e 670 do CPC 2015 e segue o mesmo
procedimento do inventário e da partilha. Dessa forma, é como se fosse uma partilha,
mas de bens que ficaram de fora.
A decisão do juiz foi tecnicamente correta? NÃO. Desse modo, esta multa não tem
aplicação no caso concreto, que cuidava de pedido incidental de exibição de
documentos em autos de ação de sobrepartilha - demanda tratada como de
procedimento especial de jurisdição contenciosa.
Mas existe alguma outra sanção que o magistrado poderia aplicar ao banco
recalcitrante? SIM. O magistrado poderia:
a) determinar a busca e apreensão dos documentos requisitados; e
b) aplicar a multa por ato atentatório à dignidade da justiça (contempt of court)
prevista no § 2º do art. 77 do CPC 2015:
No CPC 2015:
1) Cancela-se a distribuição da impugnação ao cumprimento de sentença ou dos
embargos à execução na hipótese de não recolhimento das custas no prazo de 15
dias, que só começam a ser contados depois que a parte for intimada na pessoa de
seu advogado (art. 290).
2) Não se determina o cancelamento da distribuição se o recolhimento das custas,
embora intempestivo, estiver comprovado nos autos.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.361.811-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Primeira
Seção, julgado em 4/3/2015 (Info 561).
Imagine que um contrato preveja uma confissão de dívida (líquida, certa e exigível).
Neste mesmo contrato, há uma cláusula compromissória dizendo que eventuais
divergências sobre o ajuste deverão ser dirimidas via arbitragem.
Se a parte que se obrigou a pagar o valor confessado mostrar-se inadimplente, a parte
credora poderá executar o contrato na via judicial ou terá que instaurar o
procedimento arbitral?
Poderá propor diretamente a execução na via judicial. Ainda que possua cláusula
compromissória, o contrato assinado pelo devedor e por duas testemunhas pode ser
levado a execução judicial relativamente à cláusula de confissão de dívida líquida,
certa e exigível. Isso porque o juízo arbitral não possui poderes coercitivos
(executivos). Ele não pode penhorar bens do executado, por exemplo, nem levá-los
à hasta pública. Em outras palavras, o árbitro até decide a causa, mas se a parte
perdedora não cumprir voluntariamente o que lhe foi imposto, a parte vencedora
terá que executar esse título no Poder Judiciário. Logo, não há sentido instaurar a
arbitragem para exigir o valor que já está líquido, certo e exigível por força uma
confissão de dívida.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.373.710-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
7/4/2015 (Info 560).
João foi casado com Cristina, com quem teve um filho (Arthur). O pai paga pensão
alimentícia em favor do filho. Atualmente, João vive em união estável com Beatriz.
Beatriz é sócia, juntamente com uma amiga, de uma sociedade empresária limitada
(empresa XXX). Vale ressaltar que ela se tornou sócia desta sociedade depois que já
vivia em união estável com João. João deixou de pagar a pensão alimentícia, razão
pela qual Arthur ingressou com execução de alimentos. Ocorre que não foram
localizados bens penhoráveis em nome de João.
Diante disso, o exequente pediu que fossem penhoradas 50% das cotas sociais de
Beatriz (companheira do executado) na sociedade empresária “XXX”. A tese do
exequente foi a seguinte: como Beatriz vive em união estável com João, metade do
patrimônio dela pertence a João (direito dele à meação). Logo, ele possui metade das
cotas dela na empresa. Sendo esse patrimônio dele, pode ser penhorado para pagar
suas dívidas.
A tese construída pelo exequente é correta?
SIM. Se duas pessoas vivem em união estável, é como se elas fossem casadas sob o
regime da comunhão parcial de bens (art. 1.725 do CC). Por isso, o companheiro (no
caso, João) possui direito à metade dos bens da companheira (Beatriz), incluindo
metade das quotas sociais porque estas foram adquiridas onerosamente durante à
união estável, de forma que se comunicam ao companheiro.
No caso concreto, era possível que o juiz já determinasse, como primeira providência,
a penhora da metade das quotas de Beatriz (companheira do devedor)?
NÃO. O STJ entende que a penhora sobre as quotas sociais não deve ser a primeira
opção porque esta medida poderá acarretar o fim da pessoa jurídica e nosso Direito
consagra os princípios da conservação da empresa e da menor onerosidade da
execução.
Assim, não se pode autorizar desde logo a penhora sobre as quotas sociais. Cabia
ao exequente requerer, antes disso, a penhora dos lucros relativos às quotas sociais
correspondentes à meação do devedor, não podendo ser deferida, de imediato, a
penhora das cotas sociais de sociedade empresária que se encontra em plena
atividade, o que poderia causar prejuízo a terceiros, como funcionários,
fornecedores etc. Somente se não houvesse lucros é que poderia ser feita a penhora
das quotas com a liquidação da sociedade (art. 1.026 do CC).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.284.988-RS, Rel Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
19/3/2015 (Info 559).
Situação 1. O edital de hasta pública não menciona que o imóvel que está sendo
oferecido possui vários meses de taxa de condomínio atrasados. Se uma pessoa
resolver arrematar (adquirir) esse apartamento, ele ficará responsável pelo
pagamento dessas cotas condominiais que venceram antes da arrematação?
NÃO. As dívidas condominiais anteriores à alienação judicial e que não estavam
previstas no edital não serão de responsabilidade do arrematante, devendo ser
quitadas com o valor obtido com a alienação judicial do imóvel, podendo o
arrematante pedir a reserva de parte desse valor para o pagamento das referidas
dívidas (STJ. 3ª Turma. REsp 1092605/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
28/06/2011).
Situação 2. Houve uma tentativa de alienação judicial do bem, mas não apareceram
interessados. Diante disso, o exequente decidiu adjudicar o apartamento. O
exequente ficará responsável pelo pagamento dessas cotas condominiais que
venceram antes da adjudicação?
SIM. O exequente que adjudicou o imóvel deve arcar com as despesas condominiais
anteriores à aquisição, ainda que tais dívidas tenham sido omitidas no edital da
hasta pública.
A adjudicação e a arrematação possuem características diversas e, portanto,
merecem tratamento distinto no que diz respeito à vinculação ao edital.
A adjudicação consiste na aquisição espontânea pelo exequente do bem penhorado
por preço não inferior ao da avaliação, não havendo sua subordinação ao edital de
praça, haja vista que essa forma de aquisição da propriedade não se insere no
conceito de hasta pública. Logo, não podem ser aplicados à adjudicação os mesmos
dispositivos que tratam sobre a arrematação.
Em outras palavras, os dispositivos do CPC que permitem ao arrematante recusar-
se a cumprir a arrematação caso o edital não esteja completo quanto aos ônus
existentes, não pode ser aplicado ao exequente que faz a adjudicação.
Assim, nada impede que o adjudicante responda pelo pagamento das contribuições
condominiais não pagas no período anterior à adjudicação, aplicando-se o art. 1.345
do CC em sua íntegra.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.186.373-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
24/3/2015 (Info 559).
O art. 649, X, do CPC afirma que “são absolutamente impenhoráveis até o limite de
40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em CADERNETA DE
POUPANÇA.”
O STJ confere interpretação extensiva ao inciso X do art. 649 do CPC, permitindo
que essa impenhorabilidade abranja outras aplicações financeiras, além da
poupança, como é o caso do fundo de investimento.
Assim, é impenhorável a quantia oriunda do recebimento, pelo devedor, de verba
rescisória trabalhista posteriormente poupada em mais de um fundo de
investimento, desde que a soma dos valores não seja superior a 40 salários mínimos.
Admite-se, para alcançar o patamar de 40 salários mínimos, que o valor incida em
mais de uma aplicação financeira, desde que respeitado tal limite. Em outras
palavras, caso o devedor possua mais de um fundo de investimento, todas as
respectivas contas devem ser consideradas impenhoráveis, até o limite global de 40
salários mínimos (soma-se todos os fundos de investimento e o máximo protegido
é 40 salários mínimos).
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.330.567-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 10/12/14 (Info
554).
52. ASTREINTES
52.1. Ao se calcular os honorários advocatícios sucumbenciais, não se deve incluir o
valor das astreintes – (Info 608) – IMPORTANTE!!!
O valor das astreintes não pode ser reduzido de ofício em segunda instância quando
a questão é suscitada em recurso de apelação não conhecido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.508.929-RN, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 7/3/2017 (Info 600).
OBS:
Astreintes: Multa cominatória, também conhecida como astreinte, é prevista no art. 537
do CPC/2015:
Art. 537. A multa independe de requerimento da parte e
poderá ser aplicada na fase de conhecimento, em tutela
provisória ou na sentença, ou na fase de execução, desde que
seja suficiente e compatível com a obrigação e que se
determine prazo razoável para cumprimento do preceito.
Assim, a multa coercitiva pode ser aplicada pelo magistrado como uma forma de
pressionar o devedor a cumprir:
uma decisão interlocutória que concedeu tutela provisória; ou
uma sentença que julgou procedente o pedido do autor.
Ex: em uma ação envolvendo contrato empresarial, o juiz determinou que a empresa
“XX” entregasse para a empresa “YY” 8 mil sacas de soja em determinado prazo, sob
pena de multa diária de R$ 16 mil reais. Essa multa é chamada de astreinte.
É possível que o juiz, após o devedor já ter descumprido a multa fixada, reduza o seu
valor? SIM. É possível que o juiz, adotando os critérios da razoabilidade e da
proporcionalidade, possa limitar o valor da astreinte, a fim de evitar o enriquecimento
sem causa do exequente. Essa possibilidade está prevista no CPC:
Art. 537 (...)
§ 1º O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o
valor ou a periodicidade da multa vincenda ou excluí-la, caso
verifique que:
I - se tornou insuficiente ou excessiva;
II - o obrigado demonstrou cumprimento parcial
superveniente da obrigação ou justa causa para o
descumprimento.
Diante disso, pode-se dizer que a decisão que comina astreintes não preclui e não faz
coisa julgada. Assim, o juiz poderá, mesmo na fase de execução, alterar o valor da
multa. Confira:
A decisão que comina astreintes não preclui, não fazendo
tampouco coisa julgada. A jurisprudência do STJ é pacífica no
sentido de que a multa cominatória não integra a coisa
julgada, sendo apenas um meio de coerção indireta ao
cumprimento do julgado, podendo ser cominada, alterada ou
suprimida posteriormente. STJ. 2ª Seção. REsp 1.333.988-SP,
Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 9/4/2014
(recurso repetitivo) (Info 539).
Vale ressaltar que, mesmo se a multa foi fixada em sentença transitada em julgado,
será possível a modificação de seu valor e/ou periodicidade, considerando que o que
se tornou imutável foi a obrigação reconhecida na sentença, mas não a multa. Em
outras palavras, o que fez coisa julgada foi a obrigação, sendo a multa apenas uma
forma executiva de cumpri-la.
O autor pode exigir o pagamento das astreintes antes do final do processo (antes do
trânsito em julgado)? Em outras palavras, é possível a execução provisória das
astreintes fixadas em tutela provisória de urgência? Sim, é possível. Neste caso, o
devedor da multa será obrigado a depositar o valor em juízo. Caso não faça
voluntariamente, poderão ser tomadas medidas de expropriação (ex: penhora on line).
No entanto, o credor não poderá levantar imediatamente a quantia. O valor da multa
permanecerá depositado em juízo e o credor somente poderá “sacar” a quantia após
o trânsito em julgado da sentença favorável a ele. Veja o dispositivo do CPC/2015 que
trata sobre o tema:
Art. 537. (...)
§ 3º A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento
provisório, devendo ser depositada em juízo, permitido o
levantamento do valor após o trânsito em julgado da sentença
favorável à parte. (Redação dada pela Lei nº 13.256/2016)
Para que a multa comece a produzir efeitos, é necessário que o destinatário da ordem
seja intimado. Como é feita esta intimação?
CPC/1973 CPC/2015
Havia a seguinte distinção: Segundo a doutrina, não mais existe essa distinção.
• Obrigação de pagar quantia O devedor será intimado na forma do art. 513, § 2º:
certa: a intimação era feita na I - pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu
pessoa do advogado. advogado constituído nos autos;
• Obrigação de fazer, não II - por carta com aviso de recebimento, quando
fazer e entregar coisa: a representado pela Defensoria Pública ou quando
intimação deveria ser pessoal. não tiver procurador constituído nos autos,
Súmula 410-STJ: A prévia ressalvada a hipótese do inciso IV;
intimação pessoal do devedor III - por meio eletrônico, quando, no caso do § 1º do
constitui condição necessária art. 246, não tiver procurador constituído nos
para a cobrança de multa pelo autos;
descumprimento da IV - por edital, quando, citado na forma do art. 256,
obrigação de fazer ou não tiver sido revel na fase de conhecimento.
fazer.
A Súmula 410 do STJ está superada.
Nesse sentido: NEVES, Daniel Amorim
Assumpção. Manual de Direito Processual Civil.
Salvador: Juspodivm, 2017, p. 1202.
Feita esta breve revisão sobre astreintes, imagine a seguinte situação hipotética: João
foi condenado a pagar R$ 300 mil a Pedro. Desse valor, R$ 100 mil é referente à
obrigação principal e R$ 200 mil corresponde ao valor das astreintes. A sentença
transitou em julgado. O credor iniciou o cumprimento de sentença. João (devedor),
após ser intimado, decidiu não pagar a dívida, tendo apresentado impugnação ao
cumprimento de sentença. Na impugnação, ele alegou que o valor da multa era
excessivo e que deveria ser reduzido, nos termos do art. 537, § 1º, I, do CPC/2015. O
juiz julgou improcedente a impugnação e determinou o prosseguimento da execução.
João interpôs apelação contra esta decisão do magistrado.
Agiu corretamente o devedor? NÃO. O recurso cabível contra a decisão que julga a
impugnação ao cumprimento de sentença é o seguinte:
Se na decisão que julgou a impugnação o juiz não extinguiu a execução: cabe
agravo de instrumento.
Se na decisão que julgou a impugnação o juiz extinguiu a execução: cabe
apelação.
Agiu corretamente o Tribunal? NÃO. É o que foi decidido no Info 600 do STJ.
Como vimos acima, é certo que a decisão que fixa a multa cominatória não faz coisa
julgada, podendo ser modificada a qualquer tempo. Assim, é possível a modificação
do valor da multa até mesmo de ofício, a qualquer tempo, inclusive na fase de
execução.
Isso, contudo, não quer dizer que o órgão julgador está autorizado a conhecer de ofício
do tema em recurso que não tenha nem sequer ultrapassado a instância de
conhecimento, isto é, que não tenha sido nem mesmo admitido.
No caso concreto, a apelação era incabível, o que significa que ele não poderia ter sido
conhecido. Se o recurso não foi conhecido, conclui-se que não foi aberta a jurisdição
recursal, razão pela qual era impossível que o Tribunal tivesse emitido qualquer
pronunciamento sobre o mérito da questão, ainda que de ofício. Dizer que
determinada questão pode ser conhecida de ofício significa reconhecer que o juiz pode
decidi-la independentemente de pedido, mas há de haver um momento processual
adequado para tanto. Nesse sentido, confira outro precedente do STJ:
(...) 4. Pode o órgão julgador conhecer, de ofício, das questões
de ordem pública, sem que isso implique julgamento extra
petita ou reformatio in pejus. Precedentes do STJ.
5. No âmbito do STJ, tal orientação também encontra guarida,
consoante prescreve o art. 257 do RI/STJ. É necessário, porém,
que a instância recursal seja aberta, o que ocorre quando o
apelo preenche todos os requisitos de admissibilidade. (...)
STJ. 2ª Turma. AgRg no AgRg no REsp 1.218.791/PE, Rel. Min.
Herman Benjamin, julgado em 6/9/2011.
Assim, o valor da multa não poderia ter sido reduzido já que a apelação não foi
conhecida.
52.5. Execução provisória das astreintes fixadas em tutela antecipada – (Info 546) –
IMPORTANTE!!!
A multa diária prevista no § 4º do art. 461 do CPC, devida desde o dia em que
configurado o descumprimento, quando fixada em antecipação de tutela, somente
poderá ser objeto de execução provisória após a sua confirmação pela sentença de
mérito e desde que o recurso eventualmente interposto não seja recebido com efeito
suspensivo.
STJ. Corte Especial. REsp 1.200.856-RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 1º/7/14 (recurso
repetitivo) (Info 546).
OBS: Para o STJ, essa posição prestigia a segurança jurídica e evita que a parte se
beneficie de quantia que, posteriormente, venha a ser considerada indevida. Logo,
aguardando-se mais um pouco para se permitir a execução de tais valores reduz-se
também o inconveniente de um eventual pedido de devolução (repetição de indébito)
que, por vezes, não se mostra exitoso.
52.6. Decisão que fixa valor das astreintes não preclui nem faz coisa julgada – (Info
539)
A decisão que comina astreintes não preclui, não fazendo tampouco coisa julgada.
A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que a multa cominatória não
integra a coisa julgada, sendo apenas um meio de coerção indireta ao cumprimento
do julgado, podendo ser cominada, alterada ou suprimida posteriormente.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.333.988-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 9/4/14
(recurso repetitivo) (Info 539).
OUTRAS QUESTÕES
1) O juiz pode arbitrar as astreintes de ofício (STJ. REsp 1.198.880-MT).
2) É cabível a cumulação de astreintes com juros de mora (STJ. REsp 1.198.880-MT).
3) O destinatário das astreintes é o autor da demanda (STJ. REsp 949.509-RS).
Vale ressaltar, contudo, que esta regra ofende claramente a boa-fé dos terceiros
adquirentes que não teriam, em tese, obrigação de saber que a pessoa que está
alienando o bem é sócio de uma empresa, que a pessoa jurídica está sendo executada
e que, no futuro, poderá ter a personalidade jurídica desconsiderada para atingir o
patrimônio daquele sócio. Enfim, são conjecturas e cautelas muito grandes que se
mostram irrazoáveis de serem impostas ao terceiro. Pela nova regra do art. 792, § 3º, o
ato de comprar bens de um sócio de sociedade empresária passa a ser um negócio
muito arriscado, ainda que contra ele (pessoa física) não haja nenhuma ação judicial
em curso.
Importante lembrar que o STJ possui uma sólida tradição de proteger a boa-fé dos
terceiros adquirentes, de forma que é necessário aguardar para sabermos como o
Tribunal irá interpretar o dispositivo acima e se criará algum outro requisito para
julgar ineficaz a alienação realizada. A doutrina majoritária critica esta previsão e
fornece algumas interpretações para que o dispositivo não seja aplicado textualmente.
2) Sistemática da RPV:
Regra: SIM. Em regra, é cabível a fixação de verba honorária nas execuções
contra a Fazenda Pública, ainda que não embargadas, cujo pagamento da
obrigação é feito mediante RPV.
Exceção: a Fazenda Pública não terá que pagar honorários advocatícios caso
tenha sido adotada a chamada “execução invertida”.
No caso de RVP, não se aplica o art. 1º-D da Lei 9.494/97.
55.2. O prazo prescricional para cobrança das anuidades dos conselhos somente se
inicia quando se atinge o patamar mínimo do art. 8º da Lei 12.514/2011 – (Info 597) –
Atenção! Advocacia Pública Federal!
Desse modo, o art. 8º da Lei acima referida traz uma nova condição para que os
Conselhos profissionais ajuízem execuções fiscais: o total da quantia executada deverá
ser, no mínimo, quatro vezes o valor da anuidade.
Vale frisar que, mesmo não podendo ajuizar a execução, os Conselhos poderão tomar
outras medidas contra o inadimplente, como, por exemplo, suspender seu exercício
profissional. Veja:
Considerando que a limitação de valor mínimo criada pelo art. 8º da Lei 12.514/11
para o ajuizamento da execução fiscal, o surgimento da prescrição e o início de sua
contagem somente poderão ocorrer quando o crédito se tornar exequível (exigível),
ou seja, quando o total da dívida inscrita, acrescida dos respectivos consectários legais,
atingir o patamar mínimo exigido pela Lei.
Se o Conselho ainda não pode cobrar, ele ainda não goza de pretensão exigível. Logo,
não se pode considerar que já iniciou a contagem do prazo prescricional. O Conselho
não está inerte por vontade própria, mas sim porque a lei não permite que ele execute.
A prescrição tributária é um tema cuja disciplina encontra-se reservada à lei
complementar, conforme dispõe o art. 146, III, "b", da CF/88. No entanto, a Lei
12.514/11 não tratou sobre prescrição. Ela estabelece uma vedação para o ajuizamento
da execução e que gera, por consequência lógica, a impossibilidade de se iniciar a
contagem do prazo prescricional.
OBS2: Se o devedor embargar e os embargos forem rejeitados, ele não terá que pagar
honorários advocatícios, já que o encargo do DL 1.025/69 os substituem: Se a pessoa
que está sendo executada pela União decidir apresentar embargos à execução e estes
forem rejeitados, ela não terá que pagar novos honorários advocatícios. O encargo do
DL 1.025/69 já substitui os honorários. Existe uma súmula do extinto Tribunal Federal
de Recursos (que foi substituído pelo STJ com a CF/88) afirmando isso. É a Súmula
168-TFR: O encargo de 20% do Dec.-lei 1.025/69, é sempre devido nas execuções fiscais da
União e substitui, nos embargos, a condenação do devedor em honorários advocatícios.
OBS3: Só incide em caso de execuções fiscais propostas pela União: Este encargo só
incide em execuções fiscais promovidas pela União, não sendo aplicado caso a ação
executiva seja proposta por entidades federais (exs: INSS, IBAMA). A Súmula 168 do
TFR continua válida, mas ela só se aplica para execuções fiscais promovidas pela
União. Não vale para execuções fiscais ajuizadas por suas entidades. Se uma entidade
federal ajuíza execução fiscal não será devida a cobrança do encargo. No entanto, se
houver embargos à execução fiscal e estes forem rejeitados, será possível a condenação
do executado/embargante em honorários de sucumbência (STJ. 1ª Seção. REsp
1143320/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 12/05/10).
Execução fiscal proposta pela União: o executado deverá pagar o encargo do
DL 1.025/69 ainda que não ofereça embargos à execução. Se apresentar
embargos e estes forem rejeitados, não será condenado a pagar honorários
advocatícios de sucumbência (Súmula 168-TFR).
Execução fiscal proposta por entidades federais: o executado não deverá
pagar o encargo do DL 1.025/69. Se apresentar embargos e estes forem
rejeitados, será condenado a pagar honorários advocatícios de sucumbência
(REsp 1143320/RS).
Súmula 558-STJ: Em ações de execução fiscal, a petição inicial não pode ser
indeferida sob o argumento da falta de indicação do CPF e/ou RG ou CNPJ da parte
executada.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 09/12/2015. DJe 15/12/2015.
OBS: O art. 6º da Lei nº 6.830/80 (LEF), que trata sobre os requisitos da petição inicial
na execução fiscal, não exige que o exequente faça a indicação de RG, CPF ou CNPJ
do executado.
Mesmo com o novo CPC, o entendimento exposto na Súmula 558 do STJ continua
válido, seja porque a LEF é especial, seja porque o CPC não faz a exigência do CPF e
CNPJ de forma absoluta e peremptória.
Em sede de execução fiscal, a Fazenda Pública não tem direito de substituir a fiança
bancária prestada pela sociedade empresária executada e anteriormente aceita pelo
ente público por penhora de depósito de quantia destinada à distribuição de
dividendos aos acionistas da devedora, a não ser que a fiança bancária se mostre
inidônea.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.163.553-RJ, Rel. originário e voto vencedor Min. Arnaldo
Esteves Lima, Rel. para o acórdão Min. Mauro Campbell Marques, j. 22/4/15 (Info
569).
55.9. Prazo prescricional para a execução fiscal de crédito rural transferido à União
– (Info 565)
Qual é o prazo prescricional para que a União ajuíze execução fiscal cobrando os
créditos rurais que foram a ela transferidos pela MP 2.196-3/2001?
Crédito rural cujo contrato foi celebrado sob a égide do CC-1916: 20 anos
(prescrição das ações pessoais - direito pessoal de crédito), a contar da data
do vencimento, consoante o disposto no art. 177 do CC-1916, para que dentro
dele (observado o disposto no art. 2º, § 3º, da LEF) sejam feitos a inscrição e
o ajuizamento da respectiva execução fiscal, sem embargo da norma de
transição prevista no art. 2.028 do CC/2002;
Crédito rural cujo contrato tenha sido celebrado sob a égide do CC-2002: 5
anos (prescrição da pretensão para a cobrança de dívidas líquidas constantes
de instrumento público ou particular), a contar da data do vencimento,
consoante o disposto no art. 206, § 5º, I, do CC/2002, para que dentro dele
(observado o disposto no art. 2º, § 3º, da LEF) sejam feitos a inscrição em
dívida ativa e o ajuizamento da respectiva execução fiscal.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.373.292-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 22/10/15
(Info 565).
55.10. Redirecionamento da execução contra sócio que não era gerente no momento
do fato gerador – (Info 564)
O juiz não pode indeferir a petição inicial em ação de execução fiscal com o
argumento de que não houve indicação do RG, CPF ou CNPJ da parte executada.
Isso porque tais informações não são exigidas pelo art. 6º da Lei nº 6.830/80 (LEF).
O art. 15 da Lei 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrônico) exige que a parte autora
informe o CPF ou CNJP da ré, mas tal Lei não prevalece sobre a LEF, por ser esta
norma específica e aquela norma geral.
Em uma execução fiscal, o juiz determinou a intimação da Fazenda Pública para que
se manifestasse se possuía ainda interesse no prosseguimento do processo, sob
pena de extinção do feito. Mesmo tendo sido regularmente intimada, a Fazenda
Pública permaneceu inerte. Nesse caso, se o devedor não tiver apresentado
embargos à execução, o magistrado poderá, de ofício, extinguir a execução sem
resolução do mérito por abandono do autor, nos termos do art. 267, III, do CPC.
Não se aplica o raciocínio presente na Súmula 240 do STJ, ou seja, não é necessário
que haja requerimento do executado para que o juiz extinga a execução.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.450.799-RN, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado
em 21/8/2014 (Info 549).
Os sócios, como regra geral, não respondem pessoalmente (com seu patrimônio
pessoal) pelas dívidas da sociedade empresária, já que vigora o princípio da
autonomia jurídica da pessoa jurídica em relação aos seus sócios. A pessoa jurídica
possui personalidade e patrimônio autônomos, que não se confundem com a
personalidade e patrimônio de seus sócios. No entanto, se o sócio praticou atos com
excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos (art. 135, III), ele
utilizou o instituto da personalidade jurídica de forma fraudulenta ou abusiva,
podendo, portanto, ser responsabilizado pessoalmente pelos débitos. No entanto, o
simples fato de a pessoa jurídica estar em débito com o Fisco não autoriza que o sócio
pague pela dívida com seu patrimônio pessoal. É necessário que tenha praticado atos
com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos (art. 135, III).
Empresa que deixa de funcionar no seu domicílio fiscal e não comunica aos órgãos
competentes, presume-se que foi dissolvida irregularmente: Domicílio tributário (ou
fiscal) é o lugar, cadastrado na repartição tributária, onde o sujeito passivo poderá ser
encontrado pelo Fisco. Se a Administração Tributária tiver que enviar uma notificação
fiscal para aquele contribuinte, deverá encaminhar para o endereço constante como
sendo seu domicílio fiscal. As regras para a definição do domicílio tributário estão
previstas no art. 127 do CTN. Se a empresa deixa de funcionar no seu domicílio fiscal,
presume-se que ela deixou de existir (foi dissolvida). E o pior: foi dissolvida de forma
irregular, o que caracteriza infração à lei e permite o redirecionamento da execução.
Assim, em uma execução fiscal, caso não se consiga fazer a citação da empresa porque
ela não mais está funcionando no endereço indicado como seu domicílio fiscal, será
possível concluir que ela foi dissolvida irregularmente, ensejando o redirecionamento
da execução, conforme Súmula 435-STJ: Presume-se dissolvida irregularmente a
empresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos
competentes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente.
55.20. Reunião de execuções fiscais propostas contra o mesmo devedor – (Info 544)
Na prática forense, surgiu a tese de que, apesar de o art. 28 acima transcrito, dizer que
o juiz “poderá” ordenar a reunião, na verdade, deve-se interpretar o dispositivo como
sendo “deverá”. Isso porque a cumulação das execuções atende aos princípios da
economia e da celeridade processual.
A tese acima exposta foi acolhida pelo STJ? O juiz tem o dever de reunir as execuções
fiscais propostas contra o mesmo devedor? É obrigatório que o magistrado atenda o
requerimento das partes nesse sentido? NÃO. Ainda que existam várias execuções
fiscais propostas contra o mesmo devedor e mesmo que a parte requeira a reunião dos
processos, a decisão de reuni-los ou não é uma faculdade do juiz. Logo, ele não é
obrigado a atender o requerimento da parte.
Assim, a reunião de processos contra o mesmo devedor, por conveniência da unidade
da garantia da execução, nos termos do art. 28 da Lei 6.830/80, é uma faculdade
outorgada ao juiz, e não um dever.
O entendimento do STJ é correto uma vez que existem hipóteses em que é inadequada
a reunião dos processos considerando que essa medida não traria economia ou
celeridade à tramitação. É o caso, por exemplo, de uma das execuções já estar suspensa
pela oposição de embargos enquanto que a outra já se encontra em fase bem avançada,
com leilão marcado. Nesse sentido: GONÇALVES, Eduardo Rauber. Execução fiscal
aplicada. 2ª ed., Salvador: Juspodivm, 2013, p. 79.
55.21. Remessa necessária no caso de sentença que julga procedente exceção de pré-
executividade – (Info 544)
55.23. Garantia do juízo na execução fiscal deve abranger o valor dos honorários
advocatícios – (Info 539)
55.25. Na execução fiscal, exige-se a garantia do juízo para embargar mesmo que o
executado seja beneficiário da AJG – (Info 538)
É indispensável que o executado ofereça garantia para que possa apresentar embargos
à execução fiscal?
SIM. A Lei 6.830/80 prevê, expressamente, que na execução fiscal, para que o
devedor possa se defender por meio de embargos, é indispensável a garantia da
execução (§ 1º do art. 16).
Ainda que a execução fiscal tenha sido arquivada em razão do pequeno valor do
débito executado, sem baixa na distribuição, nos termos do art. 20 da Lei 10.522/2002,
deve ser reconhecida a prescrição intercorrente se o processo ficar paralisado por
mais de cinco anos a contar da decisão que determina o arquivamento, pois essa
norma não constitui causa de suspensão do prazo prescricional.
A mesma razão que impõe à incidência da prescrição intercorrente quando não
localizados o devedor ou bens penhoráveis – impedir a existência de execuções
eternas e imprescritíveis –, também justifica o decreto de prescrição nos casos em
que as execuções são arquivadas em face do pequeno valor dos créditos executados.
O § 1º do art. 20 da Lei 10.522/02 - que permite sejam reativadas as execuções quando
ultrapassado o limite legal – deve ser interpretado em conjunto com a norma do art.
40, § 4º, da LEF – que prevê a prescrição intercorrente -, de modo a estabelecer um
limite temporal para o desarquivamento das execuções, obstando assim a
perpetuidade dessas ações de cobrança.
STJ. 1ª Seção. REsp 1102554/MG, Rel. Ministro Castro Meira, j. 27/05/09.
(PGEMT-2016-FCC): Segundo a jurisprudência dominante no Superior Tribunal de
Justiça a respeito das execuções fiscais, deve ser reconhecida a prescrição
intercorrente caso o processo fique paralisado por mais de cinco anos após a decisão
que determinou o arquivamento da execução fiscal em razão do pequeno valor do
débito executado, sem baixa na distribuição, uma vez que não há suspensão do
prazo prescricional. BL: STJ, REsp 1102554/MG.
O STJ entendeu que a decisão a que se refere o § 6º do art. 273 do CPC, apesar de
ser concedida mediante técnica de cognição exauriente, continua sendo, por opção
legislativa, uma hipótese de tutela antecipada. Logo, por questão de política
legislativa, não é apta a fazer coisa julgada material.
Assim, o valor correspondente à parte incontroversa do pedido pode ser levantado
pelo beneficiado por decisão que antecipa os efeitos da tutela (art. 273, § 6º, do CPC),
mas o montante não deve ser acrescido dos respectivos honorários advocatícios e
juros de mora, os quais deverão ser fixados pelo juiz na sentença.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.234.887-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 19/9/2013
(Info 532).
O autor ingressa com uma ação e pede a tutela antecipada. O juiz defere. Na
sentença, o juiz julga improcedente a demanda e revoga a tutela antecipada.
Ocorre que a tutela antecipada causou danos morais e materiais ao réu.
O autor da ação tem a responsabilidade objetiva de indenizar o réu quanto a esses
prejuízos, independentemente de pronunciamento judicial e pedido específico da
parte interessada.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.191.262-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
25/9/2012.
O autor pode exigir o pagamento das astreintes antes do final do processo (antes do
trânsito em julgado)? Em outras palavras, é possível a execução provisória das
astreintes fixadas em tutela antecipada?
A multa diária prevista no § 4º do art. 461 do CPC, devida desde o dia em que
configurado o descumprimento, quando fixada em antecipação de tutela, somente
poderá ser objeto de execução provisória após a sua confirmação pela sentença de
mérito e desde que o recurso eventualmente interposto não seja recebido com efeito
suspensivo.
STJ. Corte Especial. REsp 1.200.856-RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 1º/7/2014
(recurso repetitivo) (Info 546).
Não é cabível ação de exibição de documentos que tenha por objeto a obtenção de
informações detidas pela Administração Pública que não foram materializadas em
documentos (eletrônicos ou não), ainda que se alegue demora na prestação dessas
informações pela via administrativa.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.415.741-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
3/12/2015 (Info 575).
OBS: A ação de exibição destina-se à obtenção de documentos já existentes que se
encontram em poder da pessoa que se recusa a fornecê-los. Portanto, não há como
admitir o pedido de exibição de documentos que não existem, em que a autora requer
a confecção de certidão e planilha contendo informações que ainda deverão ser
apuradas pelo demandado. O verbo "exibir" não possui o mesmo significado de
"expedir" ou "confeccionar".
Repetindo: não é cabível a ação de exibição de documentos que tenha por objeto
informação não materializada em documento (coisa).
Tal entendimento permanece válido com o novo CPC, que trata sobre a ação de
exibição de documento ou coisa nos arts. 396 a 404. Veja que o Código exige que já
exista um documento ou coisa a ser exibido: “Art. 396. O juiz pode ordenar que a parte
exiba documento ou coisa que se encontre em seu poder.” Não se pode alargar a concepção
da ação de exibição de documento para abarcar informações ainda não materializadas.
O direito à informação, neste caso, pode ser buscado pela via própria, qual seja, o
habeas data (art. 5º, LXXII, da CF/88).
O prazo de cinco dias previsto no art. 892 do CPC 1973 (art. 541 do CPC 2015) NÃO
se aplica para depósitos judiciais relacionados com créditos tributários.
O crédito tributário é exigível a partir do dia de seu vencimento. Se ele não é pago
nesta data, deverá ser cobrado acrescido de juros, multa e correção monetária. Isso
ocorre por força de lei.
Para que o depósito judicial possa acarretar a suspensão da exigibilidade do crédito
tributário, ele deve ser feito dentro do prazo de vencimento da obrigação.
Se a tese acima exposta fosse aceita, o contribuinte que ingressasse com ação de
consignação em pagamento passaria a ser agraciado com cinco dias extras para pagar
o tributo pelo simples fato de ter proposto essa ação. Por outro lado, o contribuinte
que não tivesse proposto a ação continuaria tendo que pagar na data do vencimento.
Perceba, portanto, que haveria uma violação ao princípio da isonomia tributária
(art. 150, I, da CF/88), além de estar-se criando uma espécie de moratória tributária,
de caráter geral, sem previsão legal.
Desse modo, o Fisco poderá sim cobrar multa e juros caso o depósito não seja
realizado dentro do prazo para o pagamento do tributo.
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.365.761-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 9/6/15
(Info 564)
60.2. Possibilidade de utilização de e-mail para instruir ação monitória – (Info 593)
– IMPORTANTE!!!
É possível que um e-mail seja utilizado para instruir a ação monitória? SIM. Para a
propositura da ação monitória, o legislador exige que o autor comprove a relação
jurídica por meio de prova escrita. O legislador não definiu o que seja "prova escrita",
tratando-se, portanto, de conceito eminentemente doutrinário-jurisprudencial. A
prova hábil a instruir a ação monitória não precisa, necessariamente, ter sido emitida
pelo devedor ou nela constar sua assinatura ou de um representante. Basta que tenha
forma escrita e seja suficiente para, efetivamente, influir na convicção do magistrado
acerca do direito alegado. Ademais, para a admissibilidade da ação monitória, não é
imprescindível que o autor instrua a ação com prova robusta, estreme de dúvida,
podendo ser aparelhada por documento idôneo, ainda que emitido pelo próprio
credor, contanto que o magistrado entenda presente o juízo de probabilidade acerca
do direito afirmado.
Nesse sentido:
(...) para a admissibilidade da ação monitória, não é necessária
a apresentação de prova robusta, estreme de dúvida, sendo
suficiente a presença de dados idôneos, ainda que unilaterais,
desde que deles exsurja juízo de probabilidade acerca do
direito afirmado.
STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1278643/ES, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, j. 23/02/16.
Outra novidade do CPC 2015 é que o juiz, ao determinar que o autor emende ou
complete a petição inicial, deverá indicar, com precisão, o que deve ser corrigido ou
completado.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.154.730-PE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
8/4/2015 (recurso repetitivo) (Info 559).
O CPC/2015 não repetiu esse dispositivo porque não mais tratou sobre procedimentos
cautelares típicos (nominados).
Ultra petita ou extra petita: A conversão operada no caso não configura julgamento
ultra petita ou extra petita, ainda que não haja pedido explícito nesse sentido, diante
da impossibilidade de devolução da posse ao autor, sendo descabido o ajuizamento
de outra ação quando uma parte do imóvel já foi afetada ao domínio público,
mediante apossamento administrativo, sendo a outra restante ocupada de forma
precária por inúmeras famílias de baixa renda com a intervenção do Município, que
implantou toda a infraestrutura básica no local, tornando-se a área bairro urbano.
Desapropriação indireta: O caso se amolda ao art. 1.228, §§ 4º e 5º, do CC, que trata
da desapropriação judicial, chamada também por alguns doutrinadores de
desapropriação por posse-trabalho ou de desapropriação judicial indireta, cujo
instituto autoriza o magistrado, sem intervenção prévia de outros Poderes, a declarar
a perda do imóvel reivindicado pelo particular em favor de considerável número de
pessoas que, na posse ininterrupta de extensa área, por mais de cinco anos, houverem
realizado obras e serviços de interesse social e econômico relevante. Confira:
Art. 1.228. (...)
§ 4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o
imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse
ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de
considerável número de pessoas, e estas nela houverem
realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços
considerados pelo juiz de interesse social e econômico
relevante.
§ 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa
indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a
sentença como título para o registro do imóvel em nome dos
possuidores.
63.2. Não se exige a prévia notificação extrajudicial dos invasores para que se
proponha reintegração de posse – (Info 594) – IMPORTANTE!!!
Nos embargos de terceiro cujo pedido foi acolhido para desconstituir a constrição
judicial, os honorários advocatícios serão arbitrados com base no princípio da
causalidade, responsabilizando-se o atual proprietário (embargante), se este não
atualizou os dados cadastrais. Os encargos de sucumbência serão suportados pela
parte embargada, porém, na hipótese em que esta, depois de tomar ciência da
transmissão do bem, apresentar ou insistir na impugnação ou recurso para manter
a penhora sobre o bem cujo domínio foi transferido para terceiro.
Ex: Pedro adquiriu uma casa por meio de contrato de promessa de compra e venda.
Ocorre que não foi até o Registro de Imóveis para providenciar a transcrição do
título. O antigo proprietário do imóvel estava sendo executado e o credor, após
consulta no cartório, indicou a referida casa para ser penhorada, o que foi aceito
pelo juiz. Pedro foi informado da penhora e apresentou embargos de terceiro na
execução provando que o referido imóvel foi por ele adquirido. O juiz acolheu os
embargos e determinou o levantamento da penhora. A parte embargada não se opôs
a isso. Na sentença dos embargos, o juiz deverá condenar Pedro a pagar honorários
advocatícios em favor da parte embargada.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.452.840-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 14/9/16 (recurso
repetitivo) (Info 591)
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João era proprietário de um imóvel e fez uma
promessa de compra e venda com Pedro. Por meio do contrato, João (promitente
vendedor) comprometeu-se a vender a Pedro uma casa, localizada na Rua 02, nº 13,
Centro. Em contrapartida, Pedro (promitente comprador) obrigou-se a pagar o valor
do imóvel em 24 parcelas. O contrato previa que, após os pagamentos, Pedro deveria
fazer a transferência do bem no Registro de Imóveis para seu nome, havendo,
inclusive, uma procuração outorgada por João conferindo tais poderes. Pedro pagou
todas as 24 parcelas e continuou morando na casa por ele adquirida. Ocorre que
acabou esquecendo de ir até o Registro de Imóveis para providenciar a transcrição do
título. Na linguagem popular, ele não foi até o cartório passar a casa para o seu nome.
Embargos de terceiro: Pedro, que mora na casa, foi informado da penhora e procurou
um advogado. Este apresentou embargos de terceiro na execução provando que o
referido imóvel foi adquirido por meio de um contrato de promessa de compra e
venda e que, inclusive, todas as parcelas já foram pagas. Sobre o tema, vale a pena
lembrar o seguinte enunciado:
Súmula 84-STJ: É admissível a oposição de Embargos de
Terceiro fundados em alegação de posse advinda do
compromisso de compra e venda de imóveis, ainda que
desprovido do registro.
Vale ressaltar que os órgãos da advocacia pública federal não oferecem impugnação
nem recorrem em tais casos, desde que não caracterizada a má-fé dos contratantes e o
intuito de fraude à execução (IN AGU 05/07). O juiz acolheu os embargos e
determinou o levantamento da penhora incidente sobre a casa. No entanto, condenou
Pedro a pagar honorários advocatícios em favor da União (embargada). A União
concordou com a sentença e não recorreu. Pedro, por outro lado, apresentou recurso
afirmando que, se os embargos foram julgados procedentes, ficando provado que ele
estava certo, é a União quem deverá pagar os honorários advocatícios em favor dele.
Embargante foi o responsável pelo fato de o bem ter sido penhorado: O adquirente, ao
não providenciar a transcrição do título na repartição competente, permite que o bem
adquirido fique em risco e possa ser submetido à indevida constrição judicial em ações
propostas contra o antigo proprietário. As diligências realizadas pelo oficial de Justiça
ou pela própria parte credora destinadas à localização de bens, no caso específico de
bens sujeitos a registro (imóveis, veículos), são feitas mediante consulta aos Cartórios
de Imóveis (Detran, no caso de veículos), razão pela qual é evidente que se tais
cadastros estiverem com os nomes dos proprietários desatualizados, fatalmente
haverá penhoras indevidas. Isso, não por "culpa" do credor, mas sim do adquirente.
Desse modo, em regra, não pode ser responsabilizado pelos honorários advocatícios
o credor que indica à penhora imóvel transferido a terceiro mediante compromisso de
compra e venda não registrado no Cartório de Imóveis. Com a inércia do comprador
em proceder ao registro, não havia como o exequente tomar conhecimento de uma
possível transmissão de domínio.
O proprietário sem posse a qualquer título não tem legitimidade para ajuizar, com
fundamento no direito de propriedade, embargos de terceiro contra decisão
transitada em julgado proferida em ação de reintegração de posse, da qual não
participou, e na qual nem sequer foi aventada discussão em torno da titularidade
do domínio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.417.620-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 2/12/14
(Info 553).
66. ARBITRAGEM
66.1. Validade de cláusula arbitral que reserve a solução de determinadas situações
para a via judicial – (Info 577)
Essa cláusula é válida? É possível que a cláusula compromissória preveja que parte
dos conflitos será resolvido por arbitragem e outras causas pelo Poder Judiciário?
SIM. A Lei 9307/96 não exige, como condição de existência da cláusula
compromissória, que a arbitragem seja a única via de resolução admitida pelas partes
para todos os litígios e em relação a todas as matérias. Não pode ser considerada
nula a cláusula compromissória constante de acordo que excepcione ou reserve certas
situações especiais a serem submetidas ao Judiciário, especialmente quando essas
demandem tutelas de urgência. A contrario sensu, nulidade haveria em previsão que
vedasse completamente toda e qualquer apreciação de litígio pelo Judiciário. O
convívio harmônico dos juízos arbitrais com os órgãos do Judiciário constitui ponto
fundamental ao prestígio da arbitragem.
O art. 32 da Lei nº 9.307/96 elenca hipóteses nas quais a sentença arbitral é nula.
Essa nulidade é declarada pelo Poder Judiciário. Verificando alguma das situações
do art. 32, a parte interessada poderá propor ação de declaração de nulidade da
sentença arbitral. A ação de declaração de nulidade deve ser proposta em, no
máximo, 90 dias após o recebimento da notificação da sentença arbitral.
Imagine agora a seguinte situação: em fevereiro de 2014 foi proferida sentença
arbitral parcial; em abril de 2014, foi prolatada sentença arbitral final. Suponhamos
que a parte interessada deseja anular a sentença arbitral parcial. O prazo para a ação
anulatória começou a correr em fevereiro ou em abril?
Em fevereiro. O prazo decadencial de 90 dias para o ajuizamento de ação anulatória
(art. 33, § 1º, da Lei nº 9.307/96) em face de sentença arbitral parcial conta-se a partir
do trânsito em julgado desta (sentença parcial), e não do trânsito em julgado da
sentença arbitral final.
Obs: neste julgado o STJ afirmou que, mesmo antes da alteração promovida pela
Lei 13.129/2015, era possível a prolação de sentença arbitral parcial, especialmente
na hipótese de as partes signatárias assim convencionarem.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.519.041-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
1º/9/2015 (Info 568).
67. CAUÇÃO
67.1. Possibilidade de dispensa da caução prevista no art. 835 do CPC 1973 (art. 83
do CPC 2015) – (Info 563)
Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante
a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para
pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação. Essa
caução não será necessária se o autor possuir bens imóveis no Brasil que possam
servir para o pagamento de tais despesas. Isso está previsto no art. 835 do CPC 1973
(art. 83 do CPC 2015).
Essa caução não tem natureza cautelar, sendo exigível no caso em que se verificar a
presença dos requisitos objetivos e cumulativos elencados na lei, podendo ser
dispensada nas hipóteses previstas no art. 836 do CPC 1973 (art. 83, § 1º do CPC
2015) ou quando, com base na prova dos autos, as peculiaridades do caso concreto
indicarem que a sua exigência irá obstaculizar o acesso à jurisdição.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.479.051-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 26/5/15 (Info
563).
E se o pedido de gratuidade foi negado pelo estrangeiro não residente na época do art.
2º da Lei nº 1.060/50 e o processo perdurou durante o CPC/2015?
Assim, negado o pedido de gratuidade de justiça, com base no art. 2º da Lei 1.060/50,
vigente à época, o estrangeiro não residente no Brasil pode voltar a formulá-lo, já sob
a vigência do atual CPC.
68.2. Recurso contra a decisão que julga a impugnação à justiça gratuita – (Info 615)
Se a parte ingressou com a impugnação antes do CPC/2015, mas esta somente foi
julgada após a vigência do novo Código, qual é o recurso que deverá ser interposto
contra essa decisão que rejeitou ou acolheu a impugnação?
Agravo de instrumento. Cabe agravo de instrumento contra o provimento
jurisdicional que, após a entrada em vigor do CPC/2015, acolhe ou rejeita incidente
de impugnação à gratuidade de justiça instaurado, em autos apartados, na vigência
do regramento anterior.
Aplica-se aqui o princípio do tempus regit actum, no qual se fundamenta a teoria
do isolamento dos atos processuais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.666.321-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 7/11/17 (Info 615).
OBS:
Garantia de assistência jurídica integral e gratuita: A CF/88 prevê a garantia da
assistência jurídica integral e gratuita em seu art. 5º, LXXIV: “o Estado prestará
assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”.
Esse dispositivo constitucional consagra duas garantias:
João não se conforma e quer recorrer. Qual deverá ser o recurso interposto por ele para
tentar modificar a decisão que julgou o incidente de impugnação à justiça gratuita?
Agravo de instrumento.
O STJ, acolhendo esse princípio, decidiu que “a lei a reger o recurso cabível e a forma de
sua interposição é aquela vigente à data da publicação da decisão impugnada, ocasião em que o
sucumbente tem a ciência da exata compreensão dos fundamentos do provimento jurisdicional
que pretende combater” (AgInt nos EDcl no AREsp 949.997/AM, 3ª Turma, DJe de
21/09/2017).
68.3. O art. 12, § 2º do Estatuto da Cidade estabelece uma presunção relativa de que
o autor da ação de usucapião especial urbana é hipossuficiente – (Info 599) –
IMPORTANTE!!!
Dessa forma, o art. 12, § 2º, da Lei 10.257/01 não criou uma hipótese de concessão de
benefícios da justiça gratuita completamente dissociada das normas processuais que
regem o tema. O referido dispositivo legal, portanto, deve ser interpretado em
conjunto e em harmonia com as disposições dos arts. art. 98 a 102 do CPC/2015.
O que acontecerá neste caso? O autor terá direito ao benefício da justiça gratuita?
SIM. É o que decidido no Info 590.
O STJ possui entendimento consolidado no sentido de que a parte que celebrou com
seu advogado contrato de honorários com cláusula ad exitum possui direito de receber
os benefícios da justiça gratuita. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp 1.404.556/RS, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/6/2014.
Essa solução é consentânea com o propósito da Lei, pois garante ao cidadão de poucos
recursos o direito de escolher o advogado que, aceitando o risco de não auferir
remuneração no caso de indeferimento do pedido, melhor represente seus interesses
em juízo.
Além disso, esta exigência feita pelo magistrado de que o advogado deverá apresentar
declaração de patrocínio gratuito incondicional não encontra previsão na lei, tendo
sido, portanto, criado um novo requisito em afronta ao princípio da legalidade (art.
5º, II, da CF/88).
68.6. Pedido de assistência judiciária gratuita em sede recursal pode ser feito na
própria petição recursal – (Info 574) – ATENÇÃO! MUDANÇA DE
ENTENDIMENTO! ATUALIZE INFO 2013!
É possível a formulação de pedido de assistência judiciária gratuita na própria
petição recursal, dispensando-se a exigência de petição avulsa, quando não houver
prejuízo ao trâmite normal do processo.
STJ. Corte Especial. AgRg nos EREsp 1.222.355-MG, Rel. Min. Raul Araújo, j. 4/11/15
(Info 574).
OBS: O CPC 2015 autoriza expressamente que o pedido de assistência judiciária
gratuita seja formulado a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição, na própria
petição recursal, dispensado, com isso, a retrógrada exigência de petição avulsa.
Imagine que o juiz conceda o benefício da justiça gratuita logo no início do processo
de conhecimento (ex: na petição inicial ou na contestação). É necessário que a parte
refaça esse pedido quando se iniciarem as outras fases do processo (ex: na fase de
recurso, na fase de execução etc.) ou caso tenha incidentes processuais?
NÃO. Quando a assistência judiciária gratuita for deferida, a eficácia da concessão
do benefício prevalecerá, independentemente de renovação de seu pedido, em
todas as instâncias e para todos os atos do processo – alcançando, inclusive, as ações
incidentais ao processo de conhecimento, os recursos, as rescisórias, assim como o
subsequente processo de execução e eventuais embargos à execução.
Assim, depois de a justiça gratuita ter sido concedida, ela irá perdurar
automaticamente até o final do processo, e só perderá sua eficácia se o juiz ou o
Tribunal expressamente revogarem caso tenha comprovadamente melhorado a
condição econômico-financeira do beneficiário.
Ex: João ajuizou ação de indenização contra Pedro e pediu o benefício da justiça
gratuita, o que foi deferido pelo magistrado logo na decisão inicial. O juiz julgou
o pedido improcedente. João interpôs apelação. O autor não precisará recolher as
custas porque já lhe foi deferida justiça gratuita (e isso ainda está valendo). No
recurso proposto, João não necessita pedir novamente o benefício. Imaginemos que
o Tribunal condene Pedro a pagar a indenização. No momento do cumprimento de
sentença (fase de execução), João continuará tendo direito à justiça gratuita mesmo
que não faça novo pedido nesse sentido.
STJ. Corte Especial. AgRg nos EAREsp 86.915-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em
26/2/2015 (Info 557).
Município tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa de
direitos consumeristas questionando a cobrança de tarifas bancárias.
Em relação ao Ministério Público e aos entes políticos, que têm como finalidades
institucionais a proteção de valores fundamentais, como a defesa coletiva dos
consumidores, não se exige pertinência temática e representatividade adequada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1509586-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/5/18 (Info 626).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: O Município de Brusque (SC) ajuizou ação
civil pública contra o HSBC Bank Brasil S.A. alegando que seria ilegal uma tarifa
bancária denominada “renovação de cadastro” que estava sendo cobrada das contas
bancárias. O banco contestou a demanda alegando, entre outros argumentos, que o
Município não tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa
de direitos consumeristas questionando a cobrança de uma tarifa bancária.
O que decidiu o STJ? O Município tem legitimidade? SIM. É o que foi decidido no
Info 626 do STJ.
Súmula 601-STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa
de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos dos consumidores, ainda
que decorrentes da prestação de serviço público.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 07/02/2018, DJe 14/02/2018 (Info 618).
OBS:
Legitimidade do Ministério Público para a ACP: O MP está legitimado a promover
ação civil pública para a defesa de direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos. No entanto, o MP somente terá representatividade adequada para
propor a ACP se os direitos/interesses discutidos na ação estiverem relacionados
com as suas atribuições constitucionais, que são previstas no art. 127 da CF:
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente,
essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a
defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis.
Vimos acima que o MP somente tem legitimidade para defender direitos individuais
homogêneos caso estes sejam indisponíveis ou tenham relevância social. E no caso
dos direitos individuais homogêneos relacionados com direitos dos consumidores?
Prevalece o entendimento de que “a proteção coletiva dos consumidores constitui
não apenas interesse individual do próprio lesado, mas interesse da sociedade como
um todo. Realmente, é a própria Constituição que estabelece que a defesa dos
consumidores é princípio fundamental da atividade econômica (CF, art. 170, V), razão
pela qual deve ser promovida, inclusive pelo Estado, em forma obrigatória (CF, art.
5º, XXXII). Não se trata, obviamente, da proteção individual, pessoal, particular,
deste ou daquele consumidor lesado, mas da proteção coletiva, considerada em sua
dimensão comunitária e impessoal.
Compreendida a cláusula constitucional dos interesses sociais
(art. 127) nessa dimensão, não será difícil concluir que nela
pode ser inserida a legitimação do MP para a defesa de
‘direitos individuais homogêneos’ dos consumidores, o que
dá base de legitimidade ao art. 82, I da Lei nº 8.078/90 (...)”
(voto do falecido Min. Teori Zavascki no REsp 417.804/PR, DJ
16/05/2005).
A relação de consumo pode se dar com o Poder Público. Em outras palavras, o Estado
presta serviços públicos a uma infinidade de consumidores. Neste caso, o Ministério
Público possui legitimidade para a defesa em juízo dos direitos individuais
homogêneos desses consumidores? SIM. Com mais razão ainda. O MP possui
legitimidade para promover ação civil pública para tutelar não apenas direitos difusos
ou coletivos de consumidores, mas também direitos individuais homogêneos,
inclusive quando decorrentes da prestação de serviços públicos (STJ. 1ª Turma. REsp
929.792/SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 18/02/2016).
A explicação da súmula já acabou. Vamos agora relembrar o que são direitos difusos,
coletivos e individuais homogêneos:
Gênero: os direitos ou interesses coletivos (lato sensu) são o gênero. Eles são
chamados de direitos ou interesses transindividuais, metaindividuais ou
supraindividuais.
Espécies: esses direitos coletivos (em sentido amplo) são divididos em três espécies:
COLETIVOS INDIVIDUAIS
DIFUSOS
(em sentido estrito) HOMOGÊNEOS
Ex: determinado lote de um
Ex: direito ao meio ambiente Ex: reajuste abusivo das
remédio causou lesão a alguns
ecologicamente equilibrado. mensalidades escolares.
consumidores.
São classificados como
São classificados como São classificados como direitos
direitos direitos ACIDENTALMENTE
ESSENCIALMENTE ESSENCIALMENTE COLETIVOS (isso porque são
COLETIVOS. COLETIVOS. direitos individuais, mas tratados
como se fossem coletivos).
Há uma
transindividualidade
São transindividuais (há São transindividuais (há ARTIFICIAL, formal ou
uma transindividualidade uma transindividualidade relativa (são direitos
real ou material). real ou material). individuais que, no entanto,
recebem tratamento legal de
direitos transindividuais).
Têm natureza
Têm natureza Têm natureza DIVISÍVEL.
INDIVISÍVEL.
INDIVISÍVEL.
Tais direitos pertencem a O resultado da demanda pode
O resultado será o mesmo
todos de forma simultânea e ser diferente para os diversos
para aqueles que fizerem
indistinta. titulares (ex: o valor da
parte do grupo, categoria ou
O resultado será o mesmo indenização pode variar).
classe de pessoas.
para todos os titulares.
Os titulares são pessoas:
Os titulares são pessoas:
• indeterminadas e Os titulares são pessoas:
• indeterminadas,
• indetermináveis. • determinadas; ou
• mas determináveis.
• determináveis.
Não se tem como
Os titulares são, a
determinar (dizer de
princípio, indeterminados,
maneira específica) quem
mas é possível que eles
são os titulares desses
sejam identificados.
direitos. Isso porque são
Os titulares fazem parte de
direitos que não pertencem
um grupo, categoria ou
a apenas uma pessoa, mas
classe de pessoas.
sim à coletividade.
Caracterizam-se, portanto,
Caracterizam-se, portanto,
Caracterizam-se, portanto, pela
pela indeterminabilidade
pela indeterminabilidade DETERMINABILIDADE.
RELATIVA.
ABSOLUTA.
Os titulares desses direitos
EXISTE uma relação
NÃO possuem relação
jurídica base entre os
jurídica entre si.
titulares.
Os titulares não são ligados
Os titulares são ligados por entre si, mas seus interesses
Os titulares são ligados
CIRCUNSTÂNCIAS DE decorrem de uma ORIGEM
entre si ou com a parte
FATO. COMUM.
contrária em virtude de
Os titulares se encontram
uma RELAÇÃO
em uma situação de fato
JURÍDICA BASE.
comum.
Outros exemplos:
interesses ligados aos Outros exemplos:
Outros exemplos:
membros de um mesmo Ex: pílula de farinha como
patrimônio histórico;
sindicato ou partido; anticoncepcional: só tem
moralidade administrativa;
integrantes de um mesmo direito a mulher que
publicidade enganosa
conselho profissional (ex: comprovar que tomou o
divulgada pela TV.
OAB). remédio daquele lote.
O MP tem legitimidade
para promover ACP cujo
fundamento seja a
ilegalidade de reajuste de
mensalidades escolares
(Súmula 643-STF).
69.3. Associação de defesa do consumidor não tem legitimidade para ajuizar ACP
discutindo DPVAT – (Info 618) – IMPORTANTE!!!
Uma associação que tenha fins específicos de proteção ao consumidor não possui
legitimidade para o ajuizamento de ação civil pública com a finalidade de tutelar
interesses coletivos de beneficiários do seguro DPVAT. Isso porque o seguro
DPVAT não tem natureza consumerista, faltando, portanto, pertinência temática.
STJ. 2ª Seção. REsp 1091756-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio
Bellizze, j. 13/12/17 (Info 618).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Uma associação chamada “Movimento das
donas de casa e consumidores de Minas Gerais” ajuizou ação civil pública contra a “Sul
América Seguros” alegando que esta seguradora, quando vai pagar as indenizações
do DPVAT, não tem adotado os critérios corretos para o cálculo dos valores, de forma
que tem pagado menos do que os beneficiários teriam direito. A seguradora alegou
que a autora seria parte ilegítima para a causa. Isso porque o estatuto desta associação
prevê que a sua finalidade é a defesa dos consumidores e a relação jurídica dos
beneficiários com as seguradoras do DPVAT não é de consumo. Logo, o pedido
formulado pela associação não teria relação com a sua finalidade estatutária.
A tese da seguradora foi aceita pelo STJ? SIM. Uma associação que tenha fins
específicos de proteção ao consumidor não possui legitimidade para o ajuizamento
de ação civil pública com a finalidade de tutelar interesses coletivos de beneficiários
do seguro DPVAT. STJ. 2ª Seção. REsp 1.091.756-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd.
Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/12/2017 (Info 618).
DPVAT não é uma relação de consumo: O seguro DPVAT não é baseado em uma
relação jurídica contratual. Trata-se de um seguro obrigatório por força de lei, que
tem por objetivo mitigar os danos advindos da circulação de veículos automotores.
Em se tratando de obrigação imposta por lei, não há, por conseguinte, qualquer acordo
de vontade e, principalmente, voluntariedade entre o proprietário do veículo e as
seguradoras componentes do consórcio do seguro DPVAT, o que, por si, evidencia
que não se trata de contrato. A estipulação da indenização securitária em favor da
vítima do acidente, assim como as específicas hipóteses de cabimento (morte,
invalidez permanente, total e parcial, e por despesas de assistência médica e
suplementares) decorrem exclusivamente de imposição legal, e, como tal, não
comportam qualquer temperamento das partes envolvidas. Nesse contexto, não há,
por parte das seguradoras integrantes do consórcio do seguro DPVAT, responsáveis
por realizarem o pagamento, qualquer ingerência nas regras relativas à indenização
securitária. Ao contrário do que ocorre no caso de seguro facultativo (esta, sim, sujeita
ao CDC), a atuação das seguradoras integrantes do consórcio do seguro DPVAT não
é concorrencial nem se destina à obtenção de lucro, na medida em que a respectiva
arrecadação possui destinação legal específica. Tampouco seria possível falar em
vulnerabilidade, na acepção técnico-jurídica, das vítimas de acidente de trânsito - e
muito menos do proprietário do veículo a quem é imposto o pagamento do "prêmio"
do seguro DPVAT - perante as seguradoras, as quais não possuem qualquer margem
discricionária para efetivação do pagamento da indenização securitária, sempre que
presentes os requisitos estabelecidos na lei. Em suma, não há relação de consumo
entre as vítimas do acidente ou beneficiárias e as seguradoras do DPVAT, não se
aplicando as normas protetivas do Código de Defesa do Consumidor. Nesse sentido:
STJ. 3ª Turma. REsp 1.635.398-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 17/10/17 (Info
614).
Associação tem por finalidade a defesa do consumidor: Como não há, no caso, uma
relação de consumo, não se mostra correto aceitar que uma associação que tem fins
específicos de proteção ao consumidor possa ter legitimidade para propor uma ação
civil pública fazendo pedido relacionado com o tema.
69.4. Não se aplica a remessa necessária do art. 19 da LAP para as ações coletivas
tutelando direitos individuais homogêneos – (Info 612)
Obs: o reexame necessário não possui natureza jurídica de recurso. Desse modo, é
tecnicamente incorreto denominar este instituto de “recurso ex officio”, “recurso de
ofício” ou “recurso obrigatório”.
É possível aplicar esse art. 19 da Lei nº 4.717/65 para as AÇÕES CIVIS PÚBLICAS?
Em regra, sim. O STJ entende que é possível aplicar, por analogia, a primeira parte do
art. 19 da Lei nº 4.717/65 para as sentenças de improcedência de ação civil pública.
Nesse sentido: STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1596028/MG, Rel. Min. Og Fernandes,
julgado em 26/09/2017.
Ex: ação proposta pelo Ministério Público pleiteando a defesa dos direitos dos
consumidores contra empresa de seguros.
Se forem analisadas as razões que levaram o STJ a considerar que deveria ser aplicado
o art. 19 da Lei da Ação Popular às ações civis públicas, será possível concluir que isso
ocorreu em virtude da transindividualidade dos direitos nela tutelados, de forma que
a sua relevância para a coletividade como um todo justificaria esse cuidado.
No entanto, em caso de ações coletivas que tutelam direitos individuais
homogêneos, não se observa essa necessidade. Isso porque os direitos individuais
homogêneos são apenas acidentalmente coletivos, não sendo transindividuais nem
atingindo a coletividade como um todo.
69.6. Mesmo sem 1 ano de constituição, associação poderá ajuizar ACP para que
fornecedor preste informações ao consumidor sobre produtos com glúten – (Info 591)
Como regra, para que uma associação possa propor ACP, ela deverá estar
constituída há pelo menos 1 ano.
Exceção. Este requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz quando
haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do
dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido (§ 4º do art. 5º da Lei nº
7.347/85). Neste caso, a ACP, mesmo tendo sido proposta por uma associação com
menos de 1 ano, poderá ser conhecida e julgada.
Como exemplo da situação descrita no § 4º do art. 5º, o STJ decidiu que:
É dispensável o requisito temporal (pré-constituição há mais de um ano) para
associação ajuizar ação civil pública quando o bem jurídico tutelado for a prestação
de informações ao consumidor sobre a existência de glúten em alimentos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.600.172-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 15/9/16 (Info 591).
OBS:
Quem são os legitimados para propor ação civil pública? O rol dos legitimados para
a ACP está previsto no art. 5º da Lei nº 7.347/85:
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação
cautelar:
I - o Ministério Público;
II - a Defensoria Pública;
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de
economia mista;
V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da
lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao
patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao
consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos
direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao
patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
Requisito da pré-constituição
REGRA: como vimos acima, para que uma associação possa propor ACP, ela
deverá estar constituída há pelo menos 1 ano.
EXCEÇÃO: este requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz
quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou
característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido (§ 4º
do art. 5º da Lei 7.347/85). Neste caso, a ACP, mesmo tendo sido proposta por
uma associação com menos de 1 ano, poderá ser conhecida e julgada.
A decisão do juiz foi correta, segundo o STJ? NÃO. O STJ entendeu que o juiz deveria
ter dispensado o requisito temporal de 1 ano da associação, considerando que está
presente no caso o interesse social evidenciado pela dimensão do dano e pela
relevância do bem jurídico tutelado. É fundamental assegurar os direitos de
informação e segurança ao consumidor celíaco, que se vê forçado a seguir uma dieta
isenta de glúten, sob pena de sofrer graves riscos à saúde. Desse modo, a pretensão
veiculada na ACP, em última análise, tem por objetivo a garantia de uma vida digna
para esse grupo de pessoas.
69.7. Cabe ACP com o objetivo de proibir tráfico de veículos pesados no Município
– (Info 591) – IMPORTANTE!!!
É cabível ação civil pública proposta por Ministério Público Estadual para pleitear
que Município proíba máquinas agrícolas e veículos pesados de trafegarem em
perímetro urbano deste e torne transitável o anel viário da região.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.294.451-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 1/9/16 (Info 591).
OBS:
Poder Judiciário pode intervir quando a Administração deixa de promover políticas
públicas: Os Poderes da República são independentes e harmônicos entre si (art. 2º da
CF/88). O Poder Executivo tem prioridade na implementação de políticas públicas.
No entanto, em termos abstratos, o ordenamento jurídico em vigor permite que o
Poder Judiciário seja chamado a intervir em situações nas quais exista uma ação ou
uma omissão ilegítima do administrador público. Assim, não é vedado ao Poder
Judiciário debater o mérito administrativo. Se a Administração deixar de promover
políticas públicas, de proteger hipossuficientes, de garantir o funcionamento dos
serviços públicos, haverá vício ou flagrante ilegalidade a justificar a intervenção
judicial (STJ. 2ª Turma. REsp 1176552/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
22/02/2011).
No caso dos autos, a relevância social é mais que evidente. Há notícia de que o intenso
trânsito dos caminhões e máquinas pesadas no perímetro urbano tem causado
acidentes fatais e problemas de saúde aos munícipes. O ordenamento do trânsito de
veículos no perímetro das cidades tem importância central nas sociedades modernas
e repercute em inúmeros assuntos de interesse público.
Lei prevê a ACP como meio para discutir ordem urbanística: O art. 1º, VI e o art. 3º da
Lei 7.347/85 preveem que a ação civil pública é meio processual adequado para
discutir temas relacionados com a ordem urbanística e para a obtenção de provimento
jurisdicional condenatório de obrigação de fazer:
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da
ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais
e patrimoniais causados:
(...)
VI - à ordem urbanística.
Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em
dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não
fazer.
Existe precedente do STJ afirmando que a ACP é ação adequada para discutir tema
relacionado com a segurança no trânsito: STJ. 1ª Turma. REsp 725257/MG, Rel. Min.
José Delgado, julgado em 10/04/2007.
E quanto ao mérito? A ACP foi julgada procedente? O mérito ainda não foi
examinado. O STJ decidiu apenas que a ACP proposta deverá ser conhecida,
considerando que se trata de meio processual idôneo para veicular este tipo de
pretensão. No mérito, ainda serão discutidas inúmeras outras questões, como por
exemplo: saber se o Município dispõe de recursos suficientes para fazer a obra, se há
necessidades ainda mais prementes da população, se existem formas alternativas de
solucionar o problema etc.
69.8. Extensão dos efeitos de coisa julgada coletiva a autores de ações individuais
não suspensas – (Info 585) – IMPORTANTE!!!
Os autores de ações individuais em cujos autos não foi dada ciência do ajuizamento
de ação coletiva e que não requereram a suspensão das demandas individuais
podem se beneficiar dos efeitos da coisa julgada formada na ação coletiva.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.593.142-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 7/6/16
(Info 585).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Os servidores públicos de determinado
Estado-membro possuem direito a uma gratificação que não está sendo paga pela
Administração Pública. Em razão disso, centenas desses servidores ingressaram com
ações individuais contra o Estado-membro, pedindo a concessão da gratificação. Além
disso, a associação dos servidores públicos deste Estado ajuizou uma ação civil pública
com o mesmo pedido, ou seja, que a gratificação seja concedida a todos os servidores
integrantes da associação.
Imaginemos, no entanto, que o juiz recebeu a ação coletiva, mas não determinou a
suspensão das ações individuais. O que acontece neste caso? Em princípio, a ação
coletiva e as ações individuais continuarão tramitando.
Mas não há, neste caso, litispendência? NÃO. As ações coletivas não induzem
(provocam) litispendência para as ações individuais (art. 104 do CDC).
Mas o resultado da ação coletiva irá beneficiar os autores das ações individuais?
Suponha que a ação coletiva seja julgada antes das ações individuais e a sentença
seja procedente. Esta decisão poderá ser executada pelos autores das ações
individuais? Depende. A lei determina o seguinte: Os autores das ações individuais
deverão ser avisados que foi proposta uma ação coletiva com o mesmo pedido. Depois
de serem avisados, os autores individuais terão que fazer uma opção no prazo de 30
dias:
1) Poderão escolher continuar com a ação individual: neste
caso, não poderão ser beneficiados com eventual decisão
favorável no processo coletivo.
2) Poderão pedir a suspensão da ação individual: neste caso,
os efeitos da coisa julgada produzida na ação coletiva
beneficiarão os autores das ações individuais.
Essa regra está prevista no art. 104 do CDC, que é aplicado a todos os processos
coletivos mesmo que não envolvam direito do consumidor. Assim, apesar de estar no
CDC, ela é considerada como norma geral do processo coletivo. Veja o dispositivo:
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II do
parágrafo único do artigo 81, não induzem litispendência para
as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga
omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo
anterior não beneficiarão os autores das ações individuais, se
não for requerida sua suspensão no prazo de 30 (trinta) dias,
a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.
Quem tem o ônus de fazer essa comunicação aos autores individuais de que foi
ajuizada uma ação coletiva com o mesmo pedido? O réu das ações. Assim, em nosso
exemplo, o Estado-membro teria que peticionar em cada uma das ações individuais
informando que foi ajuizada ação coletiva tratando sobre o tema. A partir daí, o autor
individual terá o prazo de até 30 dias para requerer a suspensão do processo
individual, nos termos do art. 104 do CDC. Caso não requeira a suspensão, seu
processo individual continua normalmente, mas ele não poderá se beneficiar da
sentença coletiva.
Esse litisconsórcio entre os Ministérios Públicos deve ser sempre permitido? NÃO,
nem sempre. O litisconsórcio ativo facultativo entre os ramos do MPU e os MPs dos
Estados, em tese, é possível, mas desde que as circunstâncias do caso recomendem.
Essa foi a decisão do STJ.
Qual é o prazo para que ocorra essa execução? 5 anos, nos termos da jurisprudência
consolidada do STJ:
Qual é o termo inicial deste prazo? O prazo prescricional para a execução individual
é contado do trânsito em julgado da sentença coletiva.
Esta tese foi acolhida pelo STJ? Para que comece a correr o prazo prescricional da
execução, é necessário que os eventuais interessados sejam avisados por meio de
edital, nos termos do art. 94 do CDC? NÃO. O STJ entendeu que a tese de que seria
necessária nova publicação de edital após o trânsito em julgado não encontra amparo
legal.
A associação não tem legitimidade ativa para defender os interesses dos associados
que vierem a se agregar somente após o ajuizamento da ação de conhecimento.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.468.734-SP, Rel. Min. Humberto Martins, j. 1º/3/16 (Info 579).
OBS:
AÇÃO COLETIVA PROPOSTA POR ASSOCIAÇÃO EM FAVOR DE SEUS
FILIADOS
As associações podem propor ações coletivas em favor dos seus associados? SIM. A
CF/88 autoriza que as associações façam a defesa, judicial ou extrajudicial, dos
direitos e interesses individuais e coletivos de seus associados (art. 5º, XXI, da CF/88).
Art. 5º (...)
XXI — as entidades associativas, quando expressamente
autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados
judicial ou extrajudicialmente;
Tese dos associados: Os filiados prejudicados com a decisão recorreram alegando que
o estatuto social já autoriza que a associação ingresse com ações em favor de seus
filiados, de forma que não seria necessária uma autorização específica para cada
demanda a ser proposta. Sustentaram que o art. 5º, XXI, da CF/88 não exige que se
colha uma autorização individual dos filiados para cada ação ajuizada pelas
associações, sob pena de se esvaziar a atribuição de tais entidades na defesa dos seus
membros. Aduziram, ainda, que a associação atuou na qualidade de substituto
processual, razão pela qual não seria necessária a autorização, considerando que isso
já consta expressamente de seu estatuto.
O tema foi decidido pelo STF em sede de repercussão geral, tendo sido firmada a
seguinte tese:
Como deverá ser feita essa autorização? A autorização poderá ser manifestada:
por declaração individual do associado; ou
por aprovação na assembleia geral da entidade.
Logo, no caso concreto, como não foi aprovada na assembleia geral da entidade,
somente os associados que apresentaram, na data da propositura da ação de
conhecimento, autorizações individuais expressas, puderam executar o título judicial
proferido na ação coletiva. Conforme deixou claro o STF, essa autorização é um traço
que distingue a legitimidade das entidades associativas (art. 5º, XXI) em relação à
legitimidade das entidades sindicais (art. 8º, III).
Art. 5º (...)
LXX — o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado
por:
(...)
b) organização sindical, entidade de classe ou associação
legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos
um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou
associados;
Quadro-resumo:
A associação não tem legitimidade ativa para defender os direitos de pessoas que,
depois da propositura da ação, vierem a se agregar à entidade.
Caso a ação seja julgada procedente, o título executivo irá beneficiar apenas os
associados cujos nomes estão na lista de filiados juntada com a petição inicial. Só
essas pessoas é que poderão executar o título.
OBS1: Art. 103, III, do CDC: Uma leitura precipitada do inc. III do art. 103 do CDC
poderia levar à equivocada conclusão de que apenas em caso de procedência da ação
coletiva seria proibida a nova propositura de ação coletiva idêntica. Esta, contudo, não
é a interpretação dada pelo STJ. O inc. III deve ser lido em conjunto com o § 2º, que
estabelece: “§ 2º Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os
interessados que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação
de indenização a título individual.”
OBS2: Interpretando o inciso III em conjunto com o § 2º do art. 103, o STJ chegou à
seguinte conclusão:
1) Se a ação coletiva envolvendo direitos individuais homogêneos for julgada
PROCEDENTE: a sentença fará coisa julgada erga omnes e qualquer
consumidor pode se habilitar na liquidação e promover a execução, provando
o dano sofrido.
2) Se a ação coletiva envolvendo direitos individuais homogêneos for julgada
IMPROCEDENTE (não importa o motivo):
2.a) os interessados individuais que não tiverem intervindo no processo
coletivo como litisconsortes (art. 94 do CDC) poderão propor ação de
indenização a título individual. Ex: os consumidores do medicamento que
não tiverem atendido ao chamado do art. 94 do CDC e não tiverem
participado da primeira ação coletiva poderão ajuizar ações individuais de
indenização contra a empresa.
2.b) não cabe a repropositura de nova ação coletiva mesmo que por outro
legitimado coletivo (não importa se ele participou ou não da primeira ação;
não pode nova ação coletiva).
OBS3: Quadro-resumo:
69.13. Legitimidade da Defensoria para propor ACP em defesa de juridicamente
necessitados – (Info 573) - IMPORTANTE!!! Atualize o Info 541-STJ OK
A Defensoria Pública tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa de
interesses individuais homogêneos de consumidores idosos que tiveram plano de
saúde reajustado em razão da mudança de faixa etária, ainda que os titulares não
sejam carentes de recursos econômicos.
A atuação primordial da Defensoria Pública, sem dúvida, é a assistência jurídica e
a defesa dos necessitados econômicos. Entretanto, também exerce suas atividades
em auxílio a necessitados jurídicos, não necessariamente carentes de recursos
econômicos.
A expressão "necessitados" prevista no art. 134, caput, da CF/88, que qualifica e
orienta a atuação da Defensoria Pública, deve ser entendida, no campo da Ação
Civil Pública, em sentido amplo. Assim, a Defensoria pode atuar tanto em favor
dos carentes de recursos financeiros como também em prol do necessitado
organizacional (que são os "hipervulneráveis").
STJ. Corte Especial. EREsp 1.192.577-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 21/10/15 (Info 573)
A legitimidade de uma associação para a propositura de ACP pode ser afastada pelo
fato de o estatuto da associação ser exageradamente genérico?
SIM. O argumento de que o estatuto da associação é desmesuradamente genérico
tem respaldo na jurisprudência do STJ. Embora a finalidade da associação, prevista
no estatuto, possa ser razoavelmente genérica, não pode ser, entretanto,
desarrazoada, sob pena de admitirmos a criação de uma associação civil para a
defesa de qualquer interesse, o que desnaturaria a exigência de representatividade
adequada do grupo lesado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.213.614-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
1º/10/2015 (Info 572).
69.15. Alteração de polo ativo de ação civil pública promovida por associação - (Info
570)
Caso ocorra dissolução da associação que ajuizou ação civil pública, não é possível
sua substituição no polo ativo por outra associação, ainda que os interesses
discutidos na ação coletiva sejam comuns a ambas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.405.697-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
17/9/2015 (Info 570).
A associação dos servidores públicos federais do órgão "XX" ajuizou ação coletiva
pedindo que fosse reconhecida e paga determinada gratificação devida à classe. A
ação foi julgada procedente, tendo transitado em julgado. João é servidor público
federal do órgão "XX", mas não é nem nunca foi filiado à referida associação. Mesmo
sem ser associado, João poderá pegar a sentença proferida na ação coletiva e ajuizar
execução individual cobrando o pagamento das verbas relacionadas com a aludida
gratificação?
Entendimento tradicional do STJ: SIM. Existem diversos julgados do STJ
afirmando que os sindicatos e associações, na qualidade de substitutos
processuais, detêm legitimidade para atuar judicialmente na defesa dos
interesses coletivos de toda a categoria que representam. Nesse sentido: STJ.
1ª Turma. AgRg no AREsp 454.098/SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia
Filho, julgado em 16/09/2014.
Novo entendimento que ganha força no STJ: NÃO. Em regra, a pessoa não
filiada não detém legitimidade para executar individualmente a sentença de
procedência oriunda de ação coletiva proposta pela associação. Exceção: será
possível executar individualmente mesmo se não for associado, se a sentença
coletiva que estiver sendo executada for mandado de segurança coletivo. Foi
o que decidiu a 4ª Turma do STJ no REsp 1.374.678-RJ, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 23/6/2015.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.374.678-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
23/6/2015 (Info 565).
O MP possui legitimidade para ajuizar ação civil pública em defesa dos direitos
individuais homogêneos dos beneficiários do seguro DPVAT, dado o interesse
social qualificado presente na tutela dos referidos direitos subjetivos.
Está cancelada a súmula 470 do STJ, que tinha a seguinte redação: “O Ministério
Público não tem legitimidade para pleitear, em ação civil pública, a indenização
decorrente do DPVAT em benefício do segurado.”
STJ. 2ª Seção. REsp 858.056/GO, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 27/05/2015 (Info
563).
STF. Plenário. RE 631.111/GO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 06 e 07/08/2014.
69.19. Aplicabilidade do art. 18 da LACP para ação civil pública movida por sindicato
– (Info 558) – IMPORTANTE! – (PGEPE-2018)
O art. 18 da Lei 7.347/85 prevê que o autor da ACP, antes de ajuizar a ação, não terá
que adiantar custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras
despesas, nem será condenado em honorários advocatícios, custas e despesas
processuais, salvo comprovada má-fé.
O STJ decidiu que esse art. 18 da Lei 7.347/85 é aplicável também para a ação civil
pública movida por SINDICATO na defesa de direitos individuais homogêneos da
categoria que representa.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.322.166-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado
em 4/3/2015 (Info 558).
(PGEPE-2018-CESPE): O STJ entende que o sindicato possui legitimidade para
ajuizar, na qualidade de substituto processual, ação civil pública para a defesa de
direitos individuais homogêneos da categoria que ele representa. BL: Info 558, STJ.
O art. 18 da LACP e o art. 87 do CDC preveem que, nas ações de que tratam estas
leis, não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e
quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo
comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas processuais.
O STJ decidiu que essas regras de isenção só se aplicam para as custas judiciais em:
ações civis públicas (qualquer que seja a matéria);
ações coletivas que tenham por objeto relação de consumo; e
na ação cautelar prevista no art. 4º da LACP (qualquer que seja a matéria).
Não é possível estender, por analogia ou interpretação extensiva, essa isenção para
outros tipos de ação (como a rescisória) ou para incidentes processuais (como a
impugnação ao valor da causa), mesmo que tratem sobre direito do consumidor.
STJ. 2ª Seção. PET 9.892-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/2/2015
(Info 556).
69.22. MP tem legitimidade para ajuizar ACP em defesa de mutuários do SFH – (Info
552)
O Ministério Público tem legitimidade ad causam para propor ação civil pública
com a finalidade de defender interesses coletivos e individuais homogêneos dos
mutuários do Sistema Financeiro da Habitação.
O STJ entende que os temas relacionados com SFH possuem uma expressão para a
coletividade e o interesse em discussão é socialmente relevante.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.114.035-PR, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão
Min. João Otávio de Noronha, julgado em 7/10/2014 (Info 552).
69.23. Eficácia subjetiva da ACP e art. 16 da Lei 7.347/85 – (Info 552) – TEMA
POLÊMICO!!!
69.24. Eficácia subjetiva em caso de ACP proposta pelo MP no Distrito Federal com a
participação de entidades de âmbito nacional – (Info 552)
69.25. Termo inicial dos juros de mora na ACP – (Info 549) – IMPORTANTE!!!
Os juros de mora incidem a partir da citação do devedor no processo de
CONHECIMENTO da ação civil pública quando esta se fundar em
responsabilidade contratual, cujo inadimplemento já produza a mora, salvo se a
mora já se configurou em momento anterior à citação.
STJ. Corte Especial. REsp 1.370.899-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 21/5/2014
(recurso repetitivo) (Info 548).
69.27. A associação pode propor ação coletiva contra a União na Justiça Federal do DF
mesmo que os associados residam em outro local – (Info 546)
69.28. ACP pode servir como instrumento processual para cobrança de valores
indevidamente cobrados de consumidores – (Info 546)
Sobre esse julgado, é importante que sejam destacadas três conclusões:
I – Em sede de ACP ajuizada por associação civil de defesa do consumidor,
instituição financeira pode ser condenada a restituir os valores indevidamente
cobrados a título de Taxa de Emissão de Boleto Bancário (TEB) dos usuários de seus
serviços.
II – É possível que sentença condenatória proferida em ACP em que se discuta
direito individual homogêneo contenha determinações explícitas da forma de
liquidação e/ou estabeleça meios tendentes a lhe conferir maior efetividade, desde
que essas medidas se voltem uniformemente para todos os interessados. Ex:
determinação de que a ré envie correspondência aos beneficiários da decisão,
publicação da sentença nos jornais etc.
III –O Tribunal não pode, de ofício, fundado na aplicabilidade de prazo
prescricional maior do que o definido em 1ª instância, aumentar o alcance dos
efeitos da sentença que reconheceu o direito a ressarcimento de valores cobrados
indevidamente ao longo do tempo. Ex: o juiz reconheceu que os beneficiários da
decisão poderiam receber as verbas dos últimos 5 anos; o TJ, sem recurso da parte
vencedora, ampliou esse prazo para 10 anos, afirmando que prescrição é matéria de
ordem pública e que pode ser reconhecida sem provocação. Ocorre que somente
pode ser reconhecida de ofício se isso gerar a perda da pretensão, em homenagem à
economia processual. No caso concreto, contudo, o reconhecimento de ofício
ampliaria o prazo, o que não é admitido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.304.953-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 26/8/14 (Info 546).
69.29. Ação coletiva proposta por sindicato não precisa descrever todas as situações
individuais – (Info 538)
Na hipótese em que sindicato atue como substituto processual em ação coletiva para
a defesa de direitos individuais homogêneos, não é necessário que a causa de pedir,
na primeira fase cognitiva, contemple descrição pormenorizada das situações
individuais de todos os substituídos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.395.875-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 20/2/2014 (Info 538).
Na ação civil pública movida pelo Ministério Público, a questão da verba honorária
foge inteiramente das regras do CPC, sendo disciplinada pelas normas próprias da
Lei 7.347/85.
Posiciona-se o STJ no sentido de que, em sede de ação civil pública, a condenação
do Ministério Público ao pagamento de honorários advocatícios somente é cabível
na hipótese de comprovada e inequívoca má-fé do Parquet.
Dentro de absoluta simetria de tratamento e à luz da interpretação sistemática do
ordenamento, não pode o parquet beneficiar-se de honorários, quando for vencedor
na ação civil pública. Precedentes.
STJ, ERESP 895530, 1ª Seção, Relatora Ministra ELIANA CALMON, DJE 18/12/2009.
70.2. Emenda da inicial da ACP mesmo após ter sido apresentada contestação – (Info
615)
Admite-se emenda à inicial de ação civil pública, em face da existência de pedido
genérico, ainda que já tenha sido apresentada a contestação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.279.586-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 3/10/17 (Info 615).
OBS:
Em relação às ações individuais, o STJ possui julgados divergentes sobre a
possibilidade ou não de emenda da petição inicial após a apresentação da contestação.
Existem julgados admitindo e outros negando.
No que tange às ações civis públicas, contudo, isso deve ser possível. As ações civis
públicas são instrumentos processuais de ordem constitucional voltados à defesa de
interesses metaindividuais, com relevância social. Em virtude da relevância social do
bem envolvido, de natureza social, para a ação civil pública deverão ser adotados
princípios distintos daqueles previstos pelo CPC para as ações individuais.
Um desses princípios que serve para distinguir o regime da ação civil pública é o
princípio da efetividade.
O princípio da efetividade está intimamente ligado ao valor social e deve ser utilizado
pelo juiz da causa para abrandar os rigores da intelecção vinculada exclusivamente ao
Código de Processo Civil - desconsiderando as especificidades do microssistema
regente das ações civis -, dado seu escopo de servir à solução de litígios de caráter
individual.
Súmula 470-STJ: O Ministério Público não tem legitimidade para pleitear, em ação
civil pública, a indenização decorrente do DPVAT em benefício do segurado.
Cancelada em 27/05/2015 pela 2ª Seção do STJ.
70.4. MP tem legitimidade para ACP contra hospital para que este não exija cheque-
caução e para que não cobre valores adicionais de usuários de planos de saúde – (Info
532)
O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública cujos pedidos
consistam em impedir que determinados hospitais continuem a exigir caução para
atendimento médico-hospitalar emergencial e a cobrar, ou admitir que se cobre, dos
pacientes conveniados a planos de saúde, valor adicional por atendimentos
realizados por seu corpo médico fora do horário comercial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.324.712-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 24/9/13 (Info
532).
70.5. MP tem legitimidade para ajuizar ACP relacionada com concurso público –
(Info 528)
O MP tem legitimidade para ajuizar ação civil pública com o objetivo de garantir o
acesso a critérios de correção de provas de concurso público.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.362.269-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 16/5/2013
(Info 528).
O Ministério Público é parte legítima para propor ação civil pública com o objetivo
de que o Poder Público forneça cesta de alimentos sem glúten a portadores de
doença celíaca, como medida de proteção e defesa da saúde.
O direito à vida e à saúde caracterizam-se como direitos individuais indisponíveis.
O MP possui legitimidade para propor ACP na defesa de direitos individuais
indisponíveis.
STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 91.114-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em
7/2/2013 (Info 517)
Novo CPC: O art. 219 do CPC 2015 prevê que "na contagem de prazo em dias,
estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis".
Este art. 219 do CP 2015 é aplicado para o prazo do mandado de segurança? A partir
de agora o prazo de 120 dias deverá ser contado em dias úteis?
Regra: NÃO. O art. 219 aplica-se apenas aos prazos processuais, ou seja,
àqueles prazos para a prática de atos dentro do processo. O prazo de
impetração do MS, em regra, não é processual, de forma que ele deve ser
contado de forma corrida (e não em dias úteis).
Exceção: no caso de mandado de segurança contra ato judicial, o prazo
máximo para impetração será contado em dias úteis. Isso porque, neste caso,
ele terá natureza processual, já que corre dentro do processo. Assim, por
exemplo, se é prolatada uma decisão judicial irrecorrível, a parte prejudicada
terá 120 dias úteis para impetrar mandado de segurança.
A posição acima é defendida por CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública
em Juízo. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 562.
Natureza deste prazo: A posição majoritária afirma que se trata de prazo decadencial.
Sendo prazo decadencial, ele não pode ser suspenso ou interrompido.
Vale ressaltar, no entanto, que o STJ afirma que se o marco final do prazo do MS
terminar em sábado, domingo ou feriado, deverá haver prorrogação para o primeiro
dia útil seguinte. Nesse sentido: STJ. 1ª Seção. MS 14.828/DF, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, julgado em 08/09/2010.
Atenção: Vale ressaltar, no entanto, que, se a pessoa estiver sendo prejudicada por
uma omissão do Poder Público, poderá impetrar o MS a qualquer tempo enquanto
perdurar a omissão. Persistindo a omissão, o prazo renova-se dia a dia.
Qual das duas teses é acolhida pela jurisprudência do STJ, a do autor ou da Fazenda
Pública? A tese da Fazenda Pública. Assim, houve realmente decadência no caso
exposto acima. Nesse sentido: STJ. Segunda Turma. RMS 34.363-MT, Rel. Min.
Herman Benjamin, julgado em 6/12/2012.
Neste caso, pelo fato de já terem se passado mais do que 120 dias da data do ato,
houve decadência? NÃO.
Aplica-se a mesma regra que vimos acima para os casos de ato da Administração que
reduz vantagem. Veja o quadro como fica:
Observação:
Deve-se ter muito cuidado com este entendimento. Isso porque, apesar de ele ter sido
proferido pela Corte Especial do STJ, ele é contrário às Súmulas 269 e 271 do STF e ao
art. 14, § 4º da Lei do MS:
Súmula 269-STF: O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.
Súmula 271-STF: Concessão de mandado de segurança não produz efeitos
patrimoniais, em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados
administrativamente ou pela via judicial própria.
Art. 14 (...) § 4º O pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias assegurados em
sentença concessiva de mandado de segurança a servidor público da administração
direta ou autárquica federal, estadual e municipal somente será efetuado
relativamente às prestações que se vencerem a contar da data do ajuizamento da
inicial.
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Pedro, servidor municipal, recebia
remuneração de R$ 13 mil. Em 10/01/2010, o Prefeito determinou a redução da
remuneração de Pedro para R$ 10 mil (remuneração do Prefeito e teto do
funcionalismo naquele Município). Desse modo, em fevereiro de 2010 Pedro recebeu
apenas R$ 10 mil. Nos meses que se seguiram, ele continuou recebendo esta quantia.
Em outubro de 2010, o advogado do servidor impetrou um mandado de segurança no
Tribunal de Justiça contra o Prefeito alegando que a redução da remuneração foi
inconstitucional. O TJ negou a liminar, mas ao final, o acórdão julgou procedente o
pedido de Pedro. Em outubro de 2011, a decisão favorável ao impetrante transitou em
julgado e a partir desta data a remuneração do autor voltou a ser de R$ 13 mil.
O índice de correção monetária previsto no art. 1º-F da Lei 9.494/97 (TR) não pode
ser aplicado para condenações impostas à Fazenda Pública
O art. 1º-F da Lei 9.494/1997 (com redação dada pela Lei 11.960/09), para fins de
correção monetária, não é aplicável nas condenações judiciais impostas à Fazenda
Pública, independentemente de sua natureza.
Os juros de mora previstos no art. 1º-F da Lei 9.494/97 podem ser aplicados para
condenações impostas à Fazenda Pública, com exceção de matéria tributária
O art. 1º-F da Lei 9.494/1997 (com redação dada pela Lei 11.960/09), na parte em que
estabelece a incidência de juros de mora nos débitos da Fazenda Pública com base
no índice oficial de remuneração da caderneta de poupança, aplica-se às
condenações impostas à Fazenda Pública, excepcionadas as condenações oriundas
de relação jurídico-tributária.
Desapropriações
No tocante às condenações judiciais referentes a desapropriações diretas e indiretas,
relativamente à correção monetária, incidem, em síntese, os índices previstos no
Manual de Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a incidência do IPCA-E
a partir de janeiro de 2001.
Em relação aos juros de mora, de acordo com o Manual de Cálculos da Justiça
Federal, aplicam-se os seguintes índices:
a) até dezembro/2009: 0,5% (capitalização simples), nos termos do art. 15-B do
Decreto-Lei n. 3.365/1941;
b) janeiro/2010 a abril/2012: 0,5% (capitalização simples), nos termos do art. 97, § 16,
do ADCT (incluído pela EC n. 62/2009), combinado com a Lei n. 8.177/1991;
c) a partir de maio/2012: o mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta
de poupança, capitalizados de forma simples, correspondentes a:
i) 0,5% ao mês, caso a taxa SELIC ao ano seja superior a 8,5%;
ii) 70% da taxa SELIC ao ano, mensalizada, nos demais casos, nos termos do art. 97,
§ 16, do ADCT (incluído pela EC n. 62/2009), combinado com a Lei n. 8.177/1991, com
alterações da MP n. 567/2012 convertida na Lei n. 12.703/2012.
No que concerne aos juros compensatórios, os índices previstos são os seguintes:
a) até 10/06/1997: 1% (capitalização simples), nos termos da Súmula n. 618/STF e
Súmula n. 110 do extinto TFR;
b) 11/06/1997 a 13/09/2001: 0,5% (capitalização simples), nos termos do art. 15-A, do
Decreto-Lei n. 3.365/41, introduzido pela MP n. 1.577/97 e suas sucessivas reedições;
c) a partir de 14/09/2001: 1% (capitalização simples), nos termos da ADI 2.332/DF,
REsp 1.111.829/SP e Súmula n. 408/STJ.
Matéria previdenciária
As condenações impostas à Fazenda Pública de natureza previdenciária sujeitam-
se à incidência do INPC, para fins de correção monetária, no que se refere ao período
posterior à vigência da Lei nº 11.430/2006, que incluiu o art. 41-A na Lei nº 8.213/91.
Quanto aos juros de mora, no período posterior à vigência da Lei nº 11.960/2009,
incidem segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança.
Indébito tributário
A correção monetária e a taxa de juros de mora incidentes na repetição de indébitos
tributários devem corresponder às utilizadas na cobrança de tributo pago em atraso.
Não havendo disposição legal específica, os juros de mora são calculados à taxa de
1% ao mês (art. 161, § 1º, do CTN).
Observada a regra isonômica e havendo previsão na legislação da entidade
tributante, é legítima a utilização da taxa Selic, sendo vedada sua cumulação com
quaisquer outros índices.
STJ. 1ª Seção. REsp 1495146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 22/2/18
(recurso repetitivo) (Info 620).
OBS:
Juros e correção monetária em caso de condenações impostas à Fazenda Pública:
Imagine que determinado indivíduo ingressa com uma ação judicial pedindo que a
Fazenda Pública seja condenada a pagar quantia em dinheiro.
Ex1: servidor público propõe ação judicial pedindo a condenação da União ao
pagamento de gratificação funcional de forma retroativa desde a data em que
foi publicada determinada lei.
Ex2: segurado fez requerimento administrativo ao INSS pedindo
aposentadoria por invalidez; como o pedido foi indeferido, o segurado
ingressa com ação judicial pleiteando que o INSS conceda o benefício e que
pague os valores de forma retroativa à data do requerimento administrativo.
Levará alguns meses ou anos até que a ação chegue ao fim. Dessa forma, como há essa
demora em o processo terminar, a legislação prevê que o órgão judicial, ao condenar
a Fazenda Pública, deverá determinar que ela pague a quantia principal acrescida de
juros e correção monetária. Assim, em nosso primeiro exemplo, o juiz irá determinar
que a União pague as gratificações atrasadas acrescidas de juros e correção monetária.
No segundo exemplo, o magistrado condenará o INSS a pagar as prestações pretéritas
da aposentadoria mais juros e correção monetária.
Quais os índices de juros e correção monetária que a Lei prevê para esses casos? O
tema é tratado no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97:
Art. 1º-F. Nas condenações impostas à Fazenda Pública,
independentemente de sua natureza e para fins de atualização
monetária, remuneração do capital e compensação da mora,
haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento,
dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à
caderneta de poupança. (Redação dada pela Lei nº
11.960/2009)
Desse modo, de acordo com esse dispositivo, deveriam ser adotados os seguintes
parâmetros:
Correção monetária: índice oficial de remuneração básica da caderneta de
poupança (este índice é chamado de TR — Taxa Referencial);
Juros de mora: juros simples no mesmo percentual que é pago na poupança
(0,5% ao mês / 6% ao ano).
Assim, de acordo com o texto da Lei, quando a Fazenda Pública estivesse em débito
(atraso), a correção monetária e os juros de mora deveriam adotar os índices e percentuais
aplicáveis às cadernetas de poupança. Esse art. 1ºF da Lei nº 9.494/97 é constitucional?
O que decidiu o STF a respeito?
Se o contribuinte não paga um imposto federal, o Fisco irá cobrar dele exigindo, além
da quantia principal, juros e correção monetária calculados com base em um índice
chamado SELIC (Sistema Especial de Liquidação e Custódia). Logo, se o contribuinte
pagou um imposto federal que era indevido, ele tem direito de receber de volta a
quantia paga também acrescida de juros e correção monetária calculados com base na
SELIC.
Vale ressaltar que, na tese acima exposta, fala-se apenas em juros de mora. Veja: “aos
quais devem ser aplicados os mesmos juros de mora pelos quais a Fazenda Pública
remunera seu crédito tributário”. Apesar disso, ela abrange juros e correção
monetária. Explico.
O índice de juros para débitos tributários é a SELIC. Ocorre que a SELIC é um tipo de
índice de juros moratórios que já abrange juros e correção monetária. Como assim?
No cálculo da SELIC (em sua “fórmula matemática”), além de um percentual a título
de juros moratórios, já é embutida a taxa de inflação estimada para o período (correção
monetária). Em outras palavras, a SELIC é uma espécie de índice que engloba juros
e correção monetária. Logo, a SELIC já irá substituir os dois índices do art. 1º-F da Lei
nº 9.494/97, ou seja, tanto o índice de juros como de correção monetária.
E com relação aos débitos de natureza não-tributária, quais os índices que devem ser
aplicados? O art. 1º-F é constitucional? O art. 1º-F trata sobre juros e também sobre
correção monetária. São institutos distintos. Quanto à CORREÇÃO MONETÁRIA, o
STF afirmou que a previsão do art. 1º-F é inconstitucional. A correção monetária é
simplesmente uma forma de manter o poder de compra da moeda. Se uma pessoa tem
R$ 100 mil hoje, não significa que daqui a dois anos esses R$ 100 mil conseguirão
comprar as mesmas coisas. O normal é que não, em virtude da inflação. Logo, a
correção monetária tem por objetivo fazer com que o valor de compra da moeda seja
“atualizado” O art. 1º-F afirma que a correção monetária deve ser feita pelo índice
oficial da poupança (que é chamado de TR — Taxa Referencial). Ocorre que isso
não consegue evitar a perda de poder aquisitivo da moeda. Esse índice (TR) é fixado
ex ante, ou seja, previamente, a partir de critérios técnicos não relacionados com a
inflação considerada no período. Em outras palavras, a TR é calculada antes de a
inflação ocorrer. Assim, a remuneração da caderneta de poupança – diferentemente
de qualquer outro índice oficial de inflação – é sempre prefixada. Essa circunstância
deixa claro que existe uma desvinculação entre a remuneração da poupança e a
evolução dos preços da economia, isto é, a TR não capta a variação da inflação. A
inflação é um fenômeno tipicamente econômico-monetário e, portanto, mostra-se
insuscetível de captação apriorística (ex ante). Não dá para se ter certeza do quanto
será a inflação e estabelecer um índice antes que ela ocorra. Por essa razão, diz-se que
todo índice definido ex ante é incapaz de refletir a real flutuação de preços apurada
no período em referência. É o caso da TR (poupança). Dessa maneira, como este
índice não consegue manter o valor real da condenação, ele afronta à própria decisão
judicial, tendo em vista que o valor real do crédito previsto na condenação judicial não
será o valor que o credor irá receber efetivamente. Este valor terá sido corroído pela
inflação. A finalidade da correção monetária consiste em deixar a parte na mesma
situação econômica que se encontrava antes. Nesse sentido, o direito à correção
monetária é um reflexo imediato da proteção da propriedade.
Resumindo:
JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA ENVOLVENDO
CONDENAÇÕES DA FAZENDA PÚBLICA
DÉBITOS DE NATUREZA DÉBITOS DE NATUREZA NÃO-
TRIBUTÁRIA TRIBUTÁRIA
O que previa o art. 1º-F da Lei nº O que previa o art. 1º-F da Lei nº
9.494/97? 9.494/97?
• Correção monetária: índice oficial de • Correção monetária: índice oficial de
remuneração básica da poupança (TR); remuneração básica da poupança (TR);
• Juros de mora: juros no mesmo • Juros de mora: juros no mesmo
percentual que é pago na poupança percentual que é pago na poupança
(0,5% a.m. / 6% a.a.). (0,5% a.m. / 6% a.a.).
O que decidiu o STF? O que decidiu o STF?
Essa previsão é inconstitucional.
Tanto os índices de juros como de • Quanto à correção monetária: o art. 1º-
correção monetária previstos no art. 1º-F F é inconstitucional. O índice da
são inconstitucionais. poupança não consegue capturar a
variação de preços da economia, não
sendo capaz de fazer a correta
atualização monetária. Logo, há uma
violação do direito à propriedade.
• Quanto aos juros de mora: o art. 1º-F é
constitucional.
CORREÇÃO MONETÁRIA
O que decidiu o STF: O art. 1º-F da Lei 9.494/94 (com redação dada pela Lei nº
11.960/2009) prevê a TR (Taxa Referencial) como índice de correção monetária nas
condenações judiciais proferidas contra a Fazenda Pública. Ocorre que a TR não
preserva o patrimônio do credor da Fazenda Pública, razão pela qual é um índice
inconstitucional (viola o direito de propriedade).
O que fez, então, o STJ: Concordou com o STF e afirmou o seguinte: como a TR é
inconstitucional, ela não poderá ser utilizada para nenhuma** condenação
envolvendo a Fazenda Pública, não importando a matéria discutida (previdenciário,
tributário, administrativo, servidores públicos etc.). Veja a tese fixada pelo Tribunal:
O art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997 (com redação dada pela Lei
nº 11.960/2009), para fins de correção monetária, não é
aplicável nas condenações judiciais impostas à Fazenda
Pública, independentemente de sua natureza.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 22/02/2018 (recurso repetitivo) (Info
620).
JUROS DE MORA
O que decidiu o STF:
Regra: o índice de juros de mora previsto no art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com
redação dada pela Lei 11.960/09). Assim, em regra, desde a edição da Lei
11.960/09, em toda condenação envolvendo a Fazenda Pública deverá ser
aplicado o índice oficial de remuneração da caderneta de poupança.
Exceção: em caso de condenações contra a Fazenda Pública envolvendo
matéria tributária (ex: indébito tributário), não deverá ser aplicado o art. 1º-
F. Esse índice é inconstitucional em assuntos tributários porque viola o
princípio da isonomia. Se a Fazenda Pública for condenada a pagar ao
particular algum valor relacionado com matéria tributária, os juros aplicados
devem ser os mesmos que o Fisco utiliza para cobrar os contribuintes. Ex: a
União cobra os contribuintes utilizando a SELIC; logo, se ela for condenada a
pagar algum valor tributário, também deverá ser aplicada a SELIC (e não o art.
1º-F).
O que fez, então, o STJ: Seguiu o mesmo entendimento e fixou a seguinte tese:
O art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997 (com redação dada pela Lei
nº 11.960/2009), na parte em que estabelece a incidência de
juros de mora nos débitos da Fazenda Pública com base no
índice oficial de remuneração da caderneta de poupança,
aplica-se às condenações impostas à Fazenda Pública,
excepcionadas as condenações oriundas de relação jurídico-
tributária.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 22/02/2018 (recurso repetitivo) (Info
620).
Fixadas as duas premissas acima, vejamos agora como o STJ decidiu em cada uma das
matérias específicas.
Juros de mora: Como não é matéria tributária, pode ser aplicado o art. 1º-F da Lei
9.494/97 (com redação dada pela Lei 11.960/09). Assim pode ser aplicado o índice
oficial de juros da caderneta de poupança. Ocorre que essa determinação legal
somente foi instituída a partir da Lei 11.960/09. Desse modo, para os períodos
anteriores a esse diploma, deverão ser aplicados os índices de juros previstos nas
respectivas leis existentes. Vou fazer um resumo aqui (não precisa decorar esta tabela):
JUROS DE MORA NAS CONDENAÇÕES JUDICIAIS DE NATUREZA
ADMINISTRATIVA EM GERAL
PERÍODOS ENCARGOS FUNDAMENTO
Arts. 1.062, 1.063 e 1.064 do
CC/1916.
0,5% ao mês (juros Art. 1.062. A taxa dos juros
Até dezembro/2002
simples) moratórios, quando não
convencionada (art. 1.262), será
de 6% (seis por cento) ao ano.
Art. 406 do CC/2002:
De janeiro/2003
SELIC Art. 406. Quando os juros
a junho/2009
moratórios não forem
convencionados, ou o forem
sem taxa estipulada, ou quando
provierem de determinação da
lei, serão fixados segundo a
taxa que estiver em vigor para
a mora do pagamento de
impostos devidos à Fazenda
Nacional.
A partir de Índices oficiais da Lei 11.960/2009, que alterou o
julho/2009 poupança art. 1º-F da Lei 9.494/97.
Correção monetária: Não pode ser aplicado o art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997 (com
redação dada pela Lei nº 11.960/2009). Assim, não pode ser aplicada a TR em
nenhum período. Considerando que a TR é inconstitucional, qual índice deve ser
utilizado então? Aqui nós temos uma sucessão de índices no tempo. Estes índices
foram todos organizados no Manual de Cálculos da Justiça Federal. O STJ afirmou
que os índices ali previstos estão corretos. Não é necessário que você saiba os detalhes
sobre isso. O Manual de Cálculos da Justiça Federal é utilizado para nortear os Juízes,
servidores e partes na elaboração dos cálculos de condenações judiciais envolvendo a
Fazenda Pública federal. Nele constam os índices de juros e correção monetária que
espelham o entendimento do STJ sobre o tema. O referido Manual é aprovado por
meio de Resolução do Conselho da Justiça Federal, que é composto por Ministros do
STJ e Desembargadores dos Tribunais Regionais Federais. O Manual encontra-se
disponível neste endereço: https://www2.jf.jus.br/phpdoc/sicom/sicomIndex.php
Repito: não é necessário que você conheça esses índices acima. Basta que você saiba
que o STJ afirmou que, para fins de correção monetária, deverão ser aplicados os
índices de correção monetária previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal.
Conclusões: Esta tabela pode ser cobrada nas provas, em especial na fase de sentença:
CONDENAÇÕES JUDICIAIS DE NATUREZA ADMINISTRATIVA EM
GERAL
PERÍODOS ENCARGOS
Juros de mora: 0,5% ao mês.
Até dezembro/2002 Correção monetária: de acordo com o Manual de Cálculos
da JF.
Aplica-se apenas a taxa SELIC, vedada a cumulação com
Depois do CC/02 e
qualquer outro índice (isso porquea SELIC inclui juros e
antes da Lei 11.960/09
correção).
Juros de mora: índice de remuneração da caderneta de
Depois da vigência
poupança.
da Lei 11.960/09
Correção monetária: IPCA-E
A tese ficou assim redigida (a tese também pode ser exigida nas provas):
As condenações judiciais de natureza administrativa em
geral sujeitam-se aos seguintes encargos:
a) até dezembro/2002: juros de mora de 0,5% ao mês; correção
monetária de acordo com os índices previstos no Manual de
Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a incidência
do IPCA-E a partir de janeiro/2001;
b) no período posterior à vigência do CC/2002 e anterior à
vigência da Lei nº 11.960/2009: juros de mora
correspondentes à taxa Selic, vedada a cumulação com
qualquer outro índice;
c) no período posterior à vigência da Lei nº 11.960/2009: juros
de mora segundo o índice de remuneração da caderneta de
poupança; correção monetária com base no IPCA-E.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 22/02/2018 (recurso repetitivo) (Info
620).
Conclusão: Esta tabela pode ser cobrada nas provas, em especial na fase de sentença:
CONDENAÇÕES JUDICIAIS ENVOLVENDO DESAPROPRIAÇÃO
ENCARGOS ÍNDICES
Índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça
Correção monetária
Federal.
a) até dezembro/2009: 0,5% (capitalização simples);
b) janeiro/2010 a abril/2012: 0,5% (capitalização simples);
c) a partir de maio/2012: juros da caderneta de poupança,
capitalizados de forma simples, correspondentes a:
Juros de mora
c.1) 0,5% ao mês, caso a taxa SELIC ao ano seja superior a
8,5%;
c.2) 70% da taxa SELIC ao ano, mensalizada, nos demais
casos.
a) até 10/06/1997: 1% (capitalização simples)
Juros compensatórios b) 11/06/1997 a 13/09/2001: 0,5% (capitalização simples);
c) a partir de 14/09/2001: 1% (capitalização simples).
A tese ficou assim redigida:
No tocante às condenações judiciais referentes a
desapropriações diretas e indiretas, relativamente à correção
monetária, incidem, em síntese, os índices previstos no
Manual de Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a
incidência do IPCA-E a partir de janeiro de 2001.
Em relação aos juros de mora, de acordo com o Manual de
Cálculos da Justiça Federal, aplicam-se os seguintes índices:
a) até dezembro/2009: 0,5% (capitalização simples), nos
termos do art. 15-B do Decreto-Lei n. 3.365/1941;
b) janeiro/2010 a abril/2012: 0,5% (capitalização simples), nos
termos do art. 97, § 16, do ADCT (incluído pela EC n.
62/2009), combinado com a Lei n. 8.177/1991;
c) a partir de maio/2012: o mesmo percentual de juros
incidentes sobre a caderneta de poupança, capitalizados de
forma simples, correspondentes a:
i) 0,5% ao mês, caso a taxa SELIC ao ano seja superior a 8,5%;
ii) 70% da taxa SELIC ao ano, mensalizada, nos demais casos,
nos termos do art. 97, § 16, do ADCT (incluído pela EC n.
62/2009), combinado com a Lei n. 8.177/1991, com alterações
da MP n. 567/2012 convertida na Lei n. 12.703/2012.
No que concerne aos juros compensatórios, os índices
previstos são os seguintes:
a) até 10/06/1997: 1% (capitalização simples), nos termos da
Súmula n. 618/STF e Súmula n. 110 do extinto TFR;
b) 11/06/1997 a 13/09/2001: 0,5% (capitalização simples), nos
termos do art. 15-A, do Decreto-Lei n. 3.365/41, introduzido
pela MP n. 1.577/97 e suas sucessivas reedições;
c) a partir de 14/09/2001: 1% (capitalização simples), nos
termos da ADI 2.332/DF, REsp 1.111.829/SP e Súmula n.
408/STJ.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 22/02/2018 (recurso repetitivo) (Info
620).
Correção monetária:
Antes da Lei nº 11.430/2006: devem ser aplicados os índices previstos no
Manual de Cálculos da JF.
Depois da Lei nº 11.430/2006: INPC.
A Lei nº 11.430/2006 incluiu o art. 41-A na Lei nº 8.213/91 com a seguinte redação:
Art. 41-A. O valor dos benefícios em manutenção será
reajustado, anualmente, na mesma data do reajuste do salário
mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas datas de
início ou do último reajustamento, com base no Índice
Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, apurado pela
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.
(Incluído pela Lei nº 11.430/2006)
Juros de mora:
Antes da Lei nº 11.960/2009: 1% ao mês, sujeitos à capitalização simples (art.
3º do DL 2.322/87).
Depois da Lei nº 11.960/2009: juros da poupança (art. 1º-F da Lei 9.494/97, com
a redação dada pela Lei nº 11.960/2009).
Conclusão: Veja a tabela abaixo, que pode ser cobrada nas provas, em especial na fase
de sentença:
CONDENAÇÕES RELACIONADAS COM VERBAS DE NATUREZA
PREVIDENCIÁRIA
PERÍODOS ENCARGOS
Juros de mora: 1% ao mês.
Até a vigência da
Correção monetária: de acordo com o Manual de Cálculos
Lei 11.430/2006
da JF.
Depois da Lei Juros de mora: 1% ao mês.
11.430/2006 e antes da Correção monetária: INPC.
Lei 11.960/2009
Juros de mora: índice de remuneração da caderneta de
Período posterior à
poupança.
Lei 11.960/2009
Correção monetária: INPC.
Em suma:
Correção monetária e juros de mora: são os mesmos utilizados pelo Fisco
para a cobrança de tributo pago em atraso.
Se o ente tributante adotar a taxa SELIC para cobrança de seus tributos (ex:
União): neste caso, será adotada também a SELIC para a repetição de
indébitos tributários. Como a SELIC já engloba juros e correção monetária,
com a sua incidência fica vedada a cumulação com quaisquer outros índices.
Se o ente tributante não tiver uma lei definindo a taxa de juros a ser aplicada
na cobrança de tributos: nesta hipótese, os juros de mora são calculados à
taxa de 1% ao mês.
73.2. Interpretação extensiva do art. 19, § 1º, I, da Lei nº 10.522/2002 – (Info 588)