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RESUMO DOS INFORMATIVOS - SITE DIZER O DIREITO

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Obs.: Com julgados anteriores ao CPC/2015

Atualizado em 18/08/2018: novos julgados + questões de concurso.

Pontos atualizados: nº 69 (Info 626)

1. PRINCÍPIOS
1.1. FUNDAMENTAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS: Análise do art. 489, § 1º,
IV, do CPC/2015 – (Info 585) – IMPORTANTE!!!

O julgador não está obrigado a responder a todas as questões suscitadas pelas


partes, quando já tenha encontrado motivo suficiente para proferir a decisão.
O julgador possui o dever de enfrentar apenas as questões capazes de infirmar
(enfraquecer) a conclusão adotada na decisão recorrida. Essa é a interpretação que
se extrai do art. 489, § 1º, IV, do CPC/2015.
Assim, mesmo após a vigência do CPC/2015, não cabem embargos de declaração
contra a decisão que não se pronunciou sobre determinado argumento que era
incapaz de infirmar a conclusão adotada.
STJ. 1ª Seção. EDcl no MS 21.315-DF, Rel. Min. Diva Malerbi (Desembargadora
convocada do TRF da 3ª Região), j. 8/6/16 (Info 585).
OBS:
Fundamentação das decisões judiciais: O § 1º do art. 489 do CPC 2015 traz importantes
regras sobre a fundamentação da decisão judicial:
Art. 489 (...)
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão
judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato
normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão
decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar
o motivo concreto de sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer
outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo
capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo
julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula,
sem identificar seus fundamentos determinantes nem
demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou
precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência
de distinção no caso em julgamento ou a superação do
entendimento.
Vejamos agora um julgado envolvendo o inciso IV. Imagine a seguinte situação
hipotética (diferente do caso concreto apreciado pelo STJ): João propôs ação de
cobrança contra Pedro. O juiz extinguiu o processo com resolução do mérito, nos
termos do art. 487, II, do CPC/2015, por reconhecer que a pretensão do autor estava
prescrita. Além disso, o magistrado afirmou que estava provado que Pedro já pagou
o débito, não havendo, portanto, mais qualquer dívida. O autor não se conformou e
interpôs apelação. O Tribunal manteve a sentença, mas se manifestou apenas sobre a
prescrição, reconhecendo que ela estava presente no caso concreto. O acórdão nada
falou sobre o pagamento da dívida que foi reconhecido pelo juiz de 1º grau e
questionado por João no recurso. Diante disso, o autor apresentou embargos de
declaração alegando que o acórdão do Tribunal foi omisso porque não se pronunciou
sobre o seu argumento de que o débito ainda não foi pago e que, portanto, a dívida
ainda existe. Assim, para o embargante, o acórdão violou o inciso IV do § 1º do art.
489 do CPC/2015:
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão
judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo
capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo
julgador;

Os embargos opostos merecem ser acolhidos? Houve omissão do acórdão do


Tribunal? O acórdão do Tribunal contrariou a regra do art. 489, § 1º, IV, do CPC/2015?
NÃO. A prescrição é uma causa de extinção do processo que, sendo reconhecida, faz
com que o julgador não examine mais se a dívida é ou não devida. Logo, no exemplo
hipotético, o Tribunal não tinha razão para se manifestar sobre a discussão se o débito
tinha sido ou não pago.

1.2. Boa-fé Objetiva e a “nulidade a algibeira: Nulidade da decisão do relator que


julga o agravo de instrumento a favor do agravante sem ouvir o agravado – (Info 539)

A "nulidade de algibeira" ocorre quando a parte se vale da “estratégia” de não alegar


a nulidade logo depois de ela ter ocorrido, mas apenas em um momento posterior,
se as suas outras teses não conseguirem ter êxito. Dessa forma, a parte fica com um
trunfo, com uma “carta na manga”, escondida, para ser utilizada mais a frente, como
um último artifício.
Esse nome foi cunhado pelo falecido Ministro do STJ Humberto Gomes de Barros.
Algibeira = bolso. Assim, a “nulidade de algibeira” é aquela que a parte guarda no
bolso (na algibeira) para ser utilizada quando ela quiser.
Tal postura viola claramente a boa-fé processual e a lealdade, que são deveres das
partes e de todos aqueles que participam do processo. Por essa razão, a “nulidade
de algibeira” é rechaçada pela jurisprudência do STJ.
STJ. 3ª Turma. REsp 1372802-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 11/3/14 (Info
539).

2. CURADOR ESPECIAL
2.1. Curador especial pode apresentar reconvenção – (Info 613) – IMPORTANTE!!!

O curador especial tem legitimidade para propor reconvenção em favor do réu cujos
interesses está defendendo.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.088.068-MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 29/8/17 (Info
613).
OBS:
Curador especial: O CPC prevê que, em determinadas situações, o juiz terá que
nomear um curador especial que irá defender, no processo civil, os interesses do réu.
O curador especial também é chamado de curador à lide.

Hipóteses em que será nomeado curador especial: Estão previstas no art. 72 do CPC.
São quatro situações:
a) Quando o réu for incapaz e não tiver representante legal;
b) Quando o réu for incapaz e tiver representante legal, mas os interesses deste
(representante) colidirem com os interesses daquele (incapaz);
c) Quando o réu estiver preso;
d) Quando o réu tiver sido citado por edital ou com hora certa, enquanto não for
constituído advogado.

Veja a redação legal:


Art. 72. O juiz nomeará curador especial ao:
I - incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses
deste colidirem com os daquele, enquanto durar a
incapacidade;
II - réu preso revel, bem como ao réu revel citado por edital ou
com hora certa, enquanto não for constituído advogado.

Quais são os poderes do curador especial? O que ele faz no processo? O curador
especial exerce um múnus público. Sua função é a de defender o réu em juízo naquele
processo. Possui os mesmos poderes processuais que uma “parte”, podendo oferecer
as diversas defesas (contestação, exceção, impugnação etc.), produzir provas e
interpor recursos. Por óbvio, o curador especial não pode dispor do direito do réu
(não pode, por exemplo, reconhecer a procedência do pedido), sendo nulo qualquer
ato nesse sentido. Vale ressaltar que, ao fazer a defesa do réu, o curador especial pode
apresentar uma defesa geral (“contestação por negação geral”), não se aplicando a
ele o ônus da impugnação especificada dos fatos (parágrafo único do art. 341 do
CPC). Desse modo, o curador especial não tem o ônus de impugnar pontualmente
(de forma individualizada) cada fato alegado pelo autor.

O curador especial pode apresentar reconvenção? SIM. Como já dito, o curador


nomeado tem como função precípua defender o réu nas hipóteses legais. Por “defesa”,
deve-se entender isso de forma ampla, incluindo também a possibilidade de propor
reconvenção. Tal orientação é a que melhor se coaduna com o direito ao contraditório
e à ampla defesa. A doutrina vai além e afirma que o curador especial pode também
propor ações autônomas de impugnação, a exemplo do mandado de segurança contra
ato judicial.

Este art. 72 é aplicável apenas ao processo (fase) de conhecimento? NÃO. O art. 72


deve ser aplicado em qualquer processo, inclusive no caso de execução.
Súmula 196-STJ: Ao executado que, citado por edital ou por
hora certa, permanecer revel, será nomeado curador especial,
com legitimidade para apresentação de embargos.

O que essa função de curador especial tem a ver com a Defensoria Pública? A Lei
Orgânica da Defensoria Pública (LC 80/94) estabelece o seguinte:
Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública,
dentre outras:
XVI – exercer a curadoria especial nos casos previstos em lei;

Desse modo, o múnus público de curador especial de que trata o art. 72 do CPC deve
ser exercido pelo Defensor Público. O CPC/2015 afirmou isso expressamente:
Art. 72 (...)
Parágrafo único. A curatela especial será exercida pela
Defensoria Pública, nos termos da lei.

Quando o Defensor Público atua como “curador especial”, ele terá direito de receber
honorários? NÃO. O Defensor Público não faz jus ao recebimento de honorários
pelo exercício da curatela especial por estar no exercício das suas funções
institucionais, para o que já é remunerado mediante o subsídio em parcela única.
STJ. Corte Especial. REsp 1.201.674-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 6/6/2012.

Todavia, ao final do processo, se o réu se sagrar vencedor da demanda, a instituição


Defensoria Pública terá direito aos honorários sucumbenciais.

Desse modo, apenas para que fique claro, o que se está dizendo é que o Defensor
Público que atua como curador especial não tem que receber honorários para atuar
neste múnus público, considerando que já se trata de uma de suas atribuições
previstas em lei.

O Ministério Público pode exercer a função de curador especial? NÃO.

2.2. Quando o Defensor Público atua como “curador especial”, ele terá direito de
receber honorários? – (SEM INFO) – (DPEMT-2016)

O Defensor Público não faz jus ao recebimento de honorários pelo exercício da


curatela especial por estar no exercício das suas funções institucionais, para o que
já é remunerado mediante o subsídio em parcela única.
STJ. Corte Especial. REsp 1.201.674-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 6/6/2012.
(DPEMT-2016-UFMT): O Defensor Público não faz jus ao recebimento de
honorários pelo múnus de curador especial, por estar no exercício das suas funções
institucionais, para o que já é remunerado mediante o subsídio em parcela única.

OBS: Em linha de princípio, a Defensoria Pública faz jus a honorários sucumbenciais.

 Nessa hipótese, o STJ entende que os honorários sucumbenciais são devidos,


salvo se a ação foi ajuizada contra o próprio ente ao qual pertence a DP
(Súmula 421 do STJ: "Os honorários advocatícios não são devidos à Defensoria
Pública quando ela atua contra a pessoa jurídica de direito público à qual
pertença").
 Para o STF, são devidos os honorários sucumbenciais, ainda que a ação seja
contra o ente ao qual vinculada a DP ("Após as ECs 45/04, 74/13 e 80/14,
passou a ser permitida a condenação do ente federativo em honorários
advocatícios em demandas patrocinadas pela Defensoria Pública, diante de
autonomia funcional, administrativa e orçamentária da Instituição. STF.
Plenário. AR 1937).
Porém, a situação é outra em se tratando de honorários pelo exercício de curadoria
especial, quando, então, aqueles não são devidos.

Nesse sentido: "Sendo o exercício da curadoria especial função institucional da


Defensoria Pública, descabe a fixação de honorários advocatícios pelo exercício do
referido encargo" (REsp 1203312).

3. DEPOSITÁRIO JUDICIAL
3.1. Possibilidade de o depositário judicial exercer direito de retenção – (Info 578)

O particular que aceita exercer o múnus público de depositário judicial tem o direito
de reter o depósito até que sejam ressarcidas as despesas com armazenagem e
conservação do bem guardado e pagos os seus honorários.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.300.584-MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 3/3/16 (Info
578).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa "A" ajuizou execução contra a
empresa "B". No curso do processo, foram penhorados 5kg de soja pertencentes à
executada. A soja foi guardada em um dos galpões da "Silva Armazém", empresa
privada especializada em armazenar mercadorias para outras empresas. O depósito
na "Silva Armazém" foi determinado pela Justiça e o gerente da referida empresa ficou
como depositário judicial da soja. As empresas "A" e "B" resolveram fazer um acordo
e, por essa razão, a execução foi extinta. A empresa "B" foi, então, buscar a soja de volta
no galpão, mas a "Silva Armazém" afirmou que só devolveria o produto após ser
indenizada pelas despesas que teve com a armazenagem e conservação do bem, além
de receber a remuneração pelo serviço prestado.

A "Silva Armazém" tem direito de ser indenizada pelas despesas de armazenagem e


de receber uma "contraprestação" pelo serviço que desempenhou mesmo exercendo um
múnus público, qual seja, o de depositário judicial? SIM. A pessoa física ou jurídica
que aceita o encargo de se tornar depositária de coisa ou bem apreendido em juízo
tem o direito de ser ressarcida das despesas que efetuou, além de perceber uma
remuneração pelo exercício do encargo público (honorários), nos precisos termos do
art. 160 do CPC 2015:
Art. 160. Por seu trabalho o depositário ou o administrador
perceberá remuneração que o juiz fixará levando em conta a
situação dos bens, ao tempo do serviço e às dificuldades de
sua execução.

A conduta do depositário de reter a mercadoria foi lícita? Ela poderia ter feito isso?
SIM. O depositário judicial pode se valer do direito de retenção previsto no art. 644
do Código Civil, que assim dispõe:
Art. 644. O depositário poderá reter o depósito até que se lhe
pague a retribuição devida, o líquido valor das despesas, ou
dos prejuízos a que se refere o artigo anterior, provando
imediatamente esses prejuízos ou essas despesas.

4. LEGITIMIDADE EM AÇÕES ENVOLVENDO CONTRATO DE SEGURO


4.1. Terceiro prejudicado não pode ajuizar a ação de indenização apenas contra a
seguradora do causador do dano – (Info 562)

Súmula 529-STJ: No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o


ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta e exclusivamente em face da
seguradora do apontado causador do dano.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 13/05/2015, DJe 18/05/2015.

5. AÇÃO DEMOLITÓRIA
5.1. Litisconsórcio passivo necessário em ação demolitória – (Info 565)

Na hipótese de ser proposta ação real imobiliária, o CPC determina que haja a
citação não apenas do réu, mas também de seu cônjuge. Confira:
 CPC-1973: Art. 10. (...) § 1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados
para as ações: I - que versem sobre direitos reais imobiliários;
 CPC 2015: Art. 73 (...) § 1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados
para a ação: I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados
sob o regime de separação absoluta de bens;
Como a ação de nunciação de obra nova e de ação demolitória, são ações reais
imobiliárias, o réu que for casado deverá ser citado, salvo se, nos termos do novo
CPC, o regime de bens for da separação absoluta (art. 73, § 1º, I, do CPC 2015).
Assim, nos casos de ação de nunciação de obra nova e a ação demolitória haverá
litisconsórcio passivo necessário entre o proprietário do imóvel e seu cônjuge, salvo
se eles forem casados sob o regime de separação absoluta de bens, situação na qual
somente será réu o proprietário do bem.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.374.593-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 5/3/2015 (Info 565).

6. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ
6.1. Para a aplicação da multa por litigância de má-fé não se exige a comprovação
de dano – (Info 601) – IMPORTANTE!!!

O dano processual não é pressuposto para a aplicação da multa por litigância de má-
fé prevista no art. 18 do CPC/1973 (art. 81 do CPC/2015). Trata-se de mera sanção
processual, aplicável inclusive de ofício, e que não tem por finalidade indenizar a
parte adversa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.065-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. p/acórdão Min.
Paulo de Tarso Sanseverino, j. 21/2/2017 (Info 601).
OBS:
Para o STJ, uma vez reconhecida a litigância de má-fé, devem ser impostas a multa e
a indenização (perdas e danos), sendo, no entanto, DESNECESSÁRIA a prova do
prejuízo sofrido pela parte adversa. A Corte entende que, em momento algum, o art.
18, caput e § 2º do CPC/1973 (art. 81, caput e § 3º do CPC/2015) exigem que haja prova
do prejuízo para que a indenização seja fixada. Segundo pensa o STJ, para a fixação
da indenização, a lei só exige que haja um prejuízo, mas este pode ser potencial ou
presumido (não precisando ser demonstrado em concreto). Outro argumento do STJ
é o de que se fosse exigida comprovação de prejuízo, essa demonstração seria
extremamente difícil de ser feita, o que praticamente impossibilitaria a aplicação de
tais sanções, comprometendo a sua eficácia.

6.2. Litigância de má-fé e desnecessidade de prova de prejuízo – (Info 565)


A indenização prevista no art. 18, caput e § 2º, do CPC 1973 (art. 81, caput e § 3º do
CPC 2015) tem caráter reparatório (ou indenizatório), decorrendo de um ato ilícito
processual.
Apesar disso, é desnecessária a comprovação do prejuízo para que haja condenação
ao pagamento da indenização prevista nesse dispositivo.
Em outras palavras, é desnecessária a comprovação de prejuízo para que haja
condenação ao pagamento de indenização por litigância de má-fé (art. 18, caput e §
2º, do CPC 1973 / art. 81, caput e § 3º do CPC 2015).
STJ. Corte Especial. EREsp 1.133.262-ES, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 3/6/15 (Info
565).

7. HONORÁRIOS PERICIAIS
7.1. Mesmo que o dispositivo da sentença mencione apenas a condenação em
custas processuais, é possível incluir a cobrança dos honorários periciais – (Info 598)

A sentença transitou em julgado condenando a parte a pagar "custas processuais",


sem falar sobre os honorários periciais. É possível que esses honorários periciais
sejam cobrados da parte sucumbente mesmo não tendo sido expressamente
mencionados na sentença?
SIM. É adequada a inclusão dos honorários periciais em conta de liquidação mesmo
quando o dispositivo de sentença com trânsito em julgado condena o vencido,
genericamente, ao pagamento de custas processuais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.558.185-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 2/2/17 (Info 598).

OBS: existe precedente em sentido contrário (STJ. 3ª Turma. AgRg no AREsp


718.020/RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 15/10/15). No entanto, em provas
de concurso é mais "seguro" adotar o entendimento acima exposto porque se trata de
julgado mais recente e que foi divulgado em Informativo.

8. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
8.1. Configura supressão de instância o STJ fixar diretamente os honorários
advocatícios que haviam sido estipulados erroneamente com base no CPC/1973 – (Info
617)

Configura supressão de grau de jurisdição o arbitramento no STJ de honorários de


sucumbência com base no CPC/2015, na hipótese em que as instâncias ordinárias
utilizaram equivocadamente o CPC/1973 para a sua fixação.
Ex: TJ fixou honorários advocatícios com base no CPC/1973, mesmo tendo o acórdão
sido prolatado após o CPC/2015; no Resp, o STJ deverá reformar o acórdão recorrido
e determinar o retorno dos autos ao TJ para que esta Corte faça um novo julgamento
da apelação e analise os honorários advocatícios de sucumbência com base no
CPC/2015.
STJ. 1ª Turma. REsp 1647246-PE, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min.
Regina Helena Costa, j. 21/11/17 (Info 617).

8.2. Para que a cessão do precatório seja válida, é necessário que o crédito cedido
esteja expressamente consignado no precatório – (Info 607)
O cessionário de honorários advocatícios tem legitimidade para se habilitar no
crédito consignado em precatório desde que comprovada a validade do ato de
cessão por escritura pública e seja discriminado o valor devido a título de verba
honorária no próprio requisitório, não preenchendo esse último requisito a simples
apresentação de planilha de cálculo final elaborada pelo Tribunal de Justiça.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.127.228-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 21/6/17
(Info 607).

8.3. Sentença proferida após o CPC/2015 deverá observar as suas regras quanto aos
honorários, ainda a ação tenha sido proposta antes da sua entrada em vigor – (Info
602)

Os honorários advocatícios nascem contemporaneamente à sentença e não


preexistem à propositura da demanda.
Assim sendo, nos casos de sentença proferida a partir do dia 18/3/2016, deverão ser
aplicadas as normas do CPC/2015.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.636.124-AL, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 6/12/16 (Info 602).

8.4. Honorários com cláusula ad exitum e renúncia do advogado antes do fim da


demanda – (Info 601)

Nos contratos em que estipulado o êxito como condição remuneratória dos serviços
advocatícios prestados, a renúncia do patrono originário, antes do julgamento
definitivo da causa, não lhe confere o direito imediato ao arbitramento de verba
honorária proporcional ao trabalho realizado, sendo necessário aguardar o desfecho
processual positivo para a apuração da quantia devida.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.337.749-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 14/2/17 (Info 601).

8.5. Advogado deve receber seus honorários calculados sobre o total do precatório,
antes de ser realizada eventual compensação de crédito – (Info 597)

O advogado deve receber os honorários contratuais calculados sobre o valor global


do precatório decorrente da condenação da União ao pagamento a Município da
complementação de repasses ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do
Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), e não sobre o
montante que venha a sobrar após eventual compensação de crédito de que seja
titular o Fisco federal.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.516.636-PE, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 11/10/16
(Info 597).
OBS: Os honorários contratuais, no caso de pagamento via precatório, devem ser
deduzidos do montante a ser recebido pelo credor, ou seja, deduzidos da
integralidade do precatório, do seu valor original, não havendo qualquer justificativa
para que, no caso dos autos, o Município proceda a negociação com a União a fim de
quitar seus débitos tributários, para, só então, chegar à base de cálculo da verba
honorária.

8.6. Não cabem honorários recursais em recurso envolvendo processo de mandado


de segurança – (Info 592) – IMPORTANTE!!!
Não cabe a fixação de honorários recursais (art. 85, § 11, do CPC/2015) em caso de
recurso interposto no curso de processo cujo rito exclua a possibilidade de
condenação em honorários. Em outras palavras, não é possível fixar honorários
recursais quando o processo originário não preveja condenação em honorários.
Assim, suponha que foi proposta uma ação que não admite fixação de honorários
advocatícios. Imagine que uma das partes, no bojo deste processo, interponha
recurso extraordinário. O STF, ao julgar este RE, não fixará honorários recursais,
considerando que o rito aplicável ao processo originário não comporta condenação
em honorários advocatícios.
Como exemplo desta situação, podemos citar o mandado de segurança, que não
admite condenação em honorários advocatícios (art. 25 da Lei nº 12.016/2009,
súmula 105-STJ e súmula 512-STF). Logo, se for interposto um recurso ordinário
constitucional ou um recurso extraordinário neste processo, o Tribunal não fixará
honorários recursais.
Assim, pode-se dizer que o art. 25 da Lei 12.016/09, que veda a condenação em
honorários advocatícios "no processo mandamental", afasta a incidência do regime
do art. 85, § 11, do CPC/2015.
STJ. 2ª Turma. RMS 52.024-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 6/10/16 (Info
592).

8.7. Advogado pode ser obrigado a restituir os honorários advocatícios de


sucumbência caso a sentença seja rescindida – (Info 589)

Advogado recebeu honorários de sucumbência decorrentes de sua atuação em um


processo que transitou em julgado. Posteriormente, esta sentença é rescindida em
ação rescisória. O advogado poderá ser obrigado a devolver os valores que recebeu
a título de honorários.
Em um caso concreto, o STJ entendeu que, se a decisão judicial que ensejou a
fixação de honorários de sucumbência for parcialmente rescindida, é possível que
o autor da rescisória, em posterior ação de cobrança, pleiteie a restituição da parte
indevida da verba advocatícia, ainda que o causídico, de boa-fé, já a tenha
levantado.
Os honorários são verbas alimentares. O princípio da irrepetibilidade das verbas de
natureza alimentar não proíbe, neste caso, a devolução?
NÃO. O princípio da irrepetibilidade das verbas de natureza alimentar não é
absoluto e, no caso, deve ser flexibilizado para viabilizar a restituição dos
honorários de sucumbência já levantados, tendo em vista que, com o provimento
parcial da ação rescisória, não mais subsiste a decisão que lhes deu causa. Devem
ser aplicados os princípios da vedação ao enriquecimento sem causa, da
razoabilidade e da máxima efetividade das decisões judiciais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.549.836-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para
acórdão Min. João Otávio de Noronha, j. 17/5/16 (Info 589).

8.8. Impossibilidade de condenação implícita em honorários advocatícios – (Info


565)

João propôs ação de indenização por danos morais contra Pedro, tendo o juiz
julgado o pedido procedente, condenando o réu ao pagamento de: a) R$ 200 mil a
título de danos morais; b) honorários advocatícios de 10% sobre o valor da
condenação; c) custas e despesas processuais. Pedro interpôs apelação e o Tribunal
de Justiça anulou a sentença, extinguindo o processo sem resolução do mérito. Ao
final do voto, o Desembargador escreveu o seguinte: "invertidos os ônus da
sucumbência".
Contra o acórdão do TJ não houve recurso das partes, tendo havido o trânsito em
julgado. O advogado de Pedro, de posse do acórdão do TJ, ingressou com execução
de honorários advocatícios cobrando de João R$ 20 mil reais. Segundo o advogado,
o TJ, ao inverter os ônus da sucumbência, condenou João a pagar o valor que havia
sido arbitrado pelo juiz, em 1ª instância, como honorários advocatícios (10% sobre
o valor da condenação).
A execução proposta pelo advogado teve sucesso?
NÃO. Não cabe a execução de honorários advocatícios com base na expressão
"invertidos os ônus da sucumbência" empregada por acórdão que, anulando
sentença de mérito que fixara a verba honorária em percentual sobre o valor da
condenação, extinguiu o processo sem resolução de mérito.
Quando o Tribunal escreve essa expressão "invertidos os ônus da sucumbência",
isso não é suficiente para concluir que ele tenha condenado o vencido a pagar os
honorários advocatícios do vencedor do recurso. Para o STJ, não se pode entender
que os honorários advocatícios estão implicitamente incluídos. Na verdade,
entende-se que, neste caso, houve omissão do Tribunal.
Assim, para o STJ, se o Tribunal, ao anular ou reformar a sentença, omite-se quanto
à condenação da parte vencida em honorários advocatícios, deve a parte vencedora
opor embargos de declaração. Não o fazendo, não é possível depois voltar ao tema
na fase de execução, buscando a condenação da parte vencida ao pagamento da
referida verba, sob pena de ofensa à coisa julgada.
O entendimento acima permanece o mesmo com o CPC 2015?
NÃO. O novo CPC traz regra expressa prevendo que, mesmo que a decisão judicial
seja omissa quanto aos honorários, ainda assim será possível cobrá-los mediante
ação autônoma. Veja:
Art. 85 (...) § 18. Caso a decisão transitada em julgado seja omissa quanto ao direito
aos honorários ou ao seu valor, é cabível ação autônoma para sua definição e
cobrança.
Diante disso, com a entrada do CPC 2015, a súmula 453 do STJ fica SUPERADA.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.285.074-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 23/6/15 (Info
565).

8.9. A execução de contrato de honorários não pode ser proposta contra pessoa
jurídica que não tenha assinado o pacto, mesmo que integrante do mesmo grupo
econômico – (Info 555)

Determinado advogado assinou contrato de prestação de serviços advocatícios com


a empresa “A” que, depois de alguns meses, mostrou-se inadimplente.
O advogado ajuíza, então, execução de título extrajudicial contra a empresa “A” e
também contra duas outras pessoas jurídicas “B” e “C”, que têm personalidades
jurídicas distintas, mas que integram o mesmo grupo econômico da empresa “A”.
Ele poderia ter feito isso? As empresas “B” e “C” podem figurar no polo passivo
dessa execução em virtude de fazerem parte do mesmo grupo econômico?
NÃO. Não estão legitimadas a integrar o polo passivo de ação de execução de
honorários advocatícios as sociedades empresárias que não figurarem no título
executivo extrajudicial, ainda que sejam integrantes do mesmo grupo econômico da
sociedade empresária que firmou o contrato de prestação de serviços advocatícios.
O fato de sociedades empresárias pertencerem a um mesmo grupo econômico, por
si só, não as torna automaticamente solidárias nas respectivas obrigações.
Cada pessoa jurídica tem personalidade e patrimônio próprios, distintos,
justamente para assegurar a autonomia das relações e atividades de cada sociedade
empresária, ainda que integrantes de um mesmo grupo econômico. Somente em
casos excepcionais essas distinções podem ser superadas, motivadamente (art. 50 do
CC).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.404.366-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 23/10/2014 (Info
555).

8.10. Inexistência de honorários ao perito que elabora os cálculos do credor na


chamada “liquidação por cálculos” – (Info 541) – IMPORTANTE!!!

I – Na chamada “liquidação por cálculos do credor”, o exequente não pode transferir


para o executado o ônus que ele teve com o pagamento de honorários a um perito
para que este elaborasse a memória de cálculos.

Para o STJ, na liquidação por cálculos do credor, as operações aritméticas


necessárias para se chegar ao quantum debeatur são elementares (soma, subtração,
divisão e multiplicação). Por isso, não há necessidade de o credor contratar um
profissional para a sua elaboração. Essa memória de cálculos deverá ser elaborada
diretamente pela parte ou por seu advogado. Se o credor contratar um expert para
elaborar a planilha isso é um problema dele, ou seja, é um custo extra que o credor
decidiu assumir, não havendo previsão no CPC de que esse ônus possa ser
repassado ao devedor.

II – Se o credor for beneficiário da gratuidade da justiça, pode-se determinar a


elaboração dos cálculos pela contadoria judicial.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.274.466-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 14/5/14
(recurso repetitivo) (Info 541).

8.11. HONORÁRIOS E DEFENSORIA PÚBLICA

Os honorários advocatícios não são devidos à Defensoria Pública quando ela atua
contra a pessoa jurídica de direito público à qual pertença (Súmula 421/STJ).
Também não são devidos honorários advocatícios à Defensoria Pública quando ela
atua contra pessoa jurídica de direito público que integra a mesma Fazenda Pública.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.102.459-RJ, Rel. Min. Adilson Vieira Macabu (Desembargador
convocado do TJ-RJ), julgado em 22/5/2012.

9. CORREÇÃO MONETÁRIA
9.1. Correção monetária deve incluir os índices de deflação – (Info 542)

Correção monetária significa atualizar o valor nominal da obrigação, ou seja, manter


no tempo o poder de compra original daquela quantia. Com isso, evita-se que as
oscilações por causa da inflação façam com que seja diminuído o poder de compra
do dinheiro.
Se, no período que se busca fazer a correção monetária, houve índices negativos
(deflação), tais índices devem ser também considerados no cálculo final da correção
monetária. No entanto, se, no período que se busca fazer a correção, a soma de todos
os índices for negativa, não se deve aplicar esse percentual porque senão o credor
seria prejudicado e receberia uma quantia menor do que o valor original. O credor
seria punido pelo devedor não ter pago no tempo correto. Logo, em tal situação em
que a correção monetária for negativa, o credor deverá receber o valor original (valor
nominal), sem a aplicação do índice.
O STJ decidiu isso agora em sede de recurso repetitivo, resumindo a tese em uma
frase:
“Aplicam-se os índices de deflação na correção monetária de crédito oriundo de título
executivo judicial, preservado o seu valor nominal.”
STJ. Corte Especial. REsp 1.361.191-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado
em 19/3/2014 (recurso repetitivo). (Info 542)

10. ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA


10.1. Ônus da sucumbência em caso de sentença de extinção do processo sem
resolução do mérito – (Info 600)

Nas hipóteses de extinção do processo sem resolução de mérito provocada pela


perda do objeto da ação em razão de ato de terceiro e sem que exista a possibilidade
de se saber qual dos litigantes seria sucumbente se o mérito da ação fosse julgado,
o pagamento das custas e dos honorários advocatícios deve ser rateado entre as
partes.
Ex: João teve um ataque cardíaco e foi internado em um hospital particular, onde
colocaram um stent no paciente. Inicialmente, o plano de saúde de João recusou-se
a pagar ao hospital os valores despendidos com o stent. Diante disso, o hospital
ingressou com ação cobrando este valor de João. Ocorre que João havia feito um
pedido administrativo de reconsideração ao plano de saúde, que foi acolhido e,
assim, o convênio transferiu espontaneamente o dinheiro do tratamento ao hospital.
Neste caso, o juiz deverá extinguir o processo sem resolução do mérito por perda
superveniente do interesse de agir e condenar as duas partes ao pagamento das
custas e dos honorários advocatícios divididos entre elas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.641.160-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 16/3/17 (Info 600).
OBS: Segundo a jurisprudência do STJ, sendo o processo extinto sem resolução do
mérito, cabe ao juiz investigar, sob a égide do princípio da causalidade, qual parte
deu origem à extinção do processo sem julgamento de mérito ou qual das partes seria
sucumbente se o mérito da ação fosse julgado. No presente caso, a extinção do feito
não foi causada por ato das partes, mas sim por ato de terceiro, que efetuou o
pagamento do valor devido. Desse modo, é impossível dizer qual dos litigantes seria
sucumbente se o mérito da ação fosse julgado. Assim, na situação em tela, é inviável
imputar a uma ou a outra parte a responsabilidade pelos ônus sucumbenciais,
mostrando-se adequado que cada uma das partes suporte os encargos relativos aos
honorários advocatícios e às custas processuais, rateando o quantum estabelecido pela
sentença. Vale ressaltar que o plano de saúde é considerado “terceiro” porque não
participava da relação processual.

11. PRECATÓRIO
11.1. Incidem juros da mora entre a data da realização dos cálculos e a da requisição
ou do precatório – (Info 617)

Incidem os juros da mora no período compreendido entre a data da realização dos


cálculos e a da requisição de pequeno valor (RPV) ou do precatório.
STF. Plenário.RE 579431/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 19/4/17 (repercussão geral)
(Info 861).
STJ. Corte Especial. EREsp 1150549-RS, Rel. Min. Og Fernandes, j. 29/11/2017 (Info
617).
Obs: cuidado para não confundir com a SV 17: Durante o período previsto no
parágrafo 1º (obs: atual § 5º) do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora
sobre os precatórios que nele sejam pagos. O período de que trata este RE 579431/RS
é anterior à requisição do precatório, ou seja, anterior ao interregno tratado pela SV
17.

11.2. O limite previsto no § 2º do art. 100 da CF/88 é aplicável para cada precatório
individualmente considerado (Info 570) – IMPORTANTE!!!

O § 2º do art. 100 prevê que os débitos de natureza alimentícia que tenham como
beneficiários pessoas com 60 anos de idade ou mais ou portadoras de doenças
graves terão uma preferência ainda maior. É como se fosse uma “fila com
superpreferência”.
A superprioridade para créditos alimentares de idosos e portadores de doenças
graves (§ 2º) só vai até 3 vezes o valor da RPV (§ 4º do art. 100). Assim, se o valor a
ser recebido pelo idoso ou doente grave for superior a 3 vezes o que é considerado
"pequeno valor" para fins de precatório (§ 4º), parte dele será paga com
superpreferência e o restante será quitado na ordem cronológica de apresentação
do precatório.
Imagine que um idoso possua mais de um precatório para receber. Esse valor
máximo para receber na fila superpreferencial do § 2º é um valor para cada
precatório ou para a totalidade deles? Ex: Pedro tem dois precatórios para receber
da União: um no valor de 120 salários-mínimos e outro no valor de 100 salários-
mínimos. Em se tratando da União, o limite de que trata o § 2º é 180 salários-
mínimos (3x60). Pedro poderá receber os dois precatórios na fila especial do § 2º?
SIM. A limitação de valor para o direito de preferência previsto no art. 100, § 2º, da
CF aplica-se para cada precatório de natureza alimentar, e não para a totalidade dos
precatórios alimentares de titularidade de um mesmo credor preferencial, ainda
que apresentados no mesmo exercício financeiro e perante o mesmo devedor.
A CF/88 não proibiu que a pessoa maior de 60 anos ou doente grave participasse da
listagem de credor superpreferencial do § 2º por mais de uma vez. Ela só proibiu
que o precatório recebido fosse maior do que 3x o valor da RPV. Logo, não cabe ao
intérprete criar novas restrições não previstas no texto constitucional.
Assim, em nosso exemplo, Pedro poderá receber os dois precatórios na fila do § 2º
do art. 100. Isso porque, se considerados individualmente, nenhum dos dois
precatórios é superior a 180 salários-mínimos.
STJ. 1ª Turma. RMS 46.155-RO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 22/9/15 (Info
570).

11.3. Cobrança dos honorários por meio de RPV ainda que o crédito dito “principal”
seja executado por meio do regime de precatórios – (Info 539) – IMPORTANTE!!!
MUDANÇA DE ENTENDIMENTO!!!

Se a Fazenda Pública for condenada a pagar dinheiro, deverá o pagamento ser feito,
em regra, por meio de precatório.
Se a quantia for considerada como de “pequeno valor”, não haverá necessidade de
precatório.
É possível que a execução de honorários advocatícios devidos pela Fazenda Pública
se faça mediante Requisição de Pequeno Valor (RPV) na hipótese em que os
honorários não excedam o valor limite a que se refere o art. 100, § 3º, da CF, ainda
que o crédito dito “principal” seja executado por meio do regime de precatórios.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.347.736-RS, Rel. Min. Castro Meira, Rel. para acórdão Min.
Herman Benjamin, j. 9/10/13 (recurso repetitivo) (Info 539).

12. DEPÓSITOS JUDICIAIS


12.1. A correção monetária dos depósitos judiciais deve incluir os expurgos
inflacionários

A correção monetária dos depósitos judiciais deve incluir os expurgos


inflacionários.
STJ. Corte Especial. REsp 1.131.360-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel.
para acórdão Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 3/5/17 (recurso repetitivo) (Info
607).

13. LITISCONSÓRCIO
13.1. O prazo em dobro dos litisconsortes com procuradores diferentes aplica-se aos
processos judiciais eletrônicos? – (Info 560) – IMPORTANTE!!!

Quando houver litisconsórcio, seja ele ativo (dois ou mais autores) ou passivo (dois
ou mais réus), caso os litisconsortes tenham advogados diferentes, os seus prazos
serão contados em dobro. É o que determina o art. 191 do CPC 1973.
O art. 229 do CPC 2015 também traz regra semelhante, exigindo, contudo, que, além
de serem procuradores (advogados) diferentes, os causídicos também sejam de
escritórios de advocacia diferentes: “Os litisconsortes que tiverem diferentes
procuradores, de escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em dobro
para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente
de requerimento.”
O benefício do prazo em dobro para os litisconsortes vale para processos eletrônicos?
 No CPC 1973: SIM. O objetivo do prazo em dobro é facilitar o acesso aos
autos, já que, havendo advogados diferentes, eles não poderiam tirar os
autos do cartório. Com base nisso, o STJ entende que não haveria
justificativa para o prazo em dobro nos processos eletrônicos, contudo, como
o art. 191 do CPC 1973 não faz qualquer distinção entre processos físicos e
eletrônicos, o STJ afirma que não se pode excluir o prazo em dobro mesmo
nos processos eletrônicos, sob pena de haver uma afronta ao princípio da
legalidade.
 No CPC 2015: NÃO. O § 2º do art. 229 do CPC 2015 “corrige” essa falha da
lei e determina expressamente que não se aplica o prazo em dobro para
litisconsortes diferentes se o processo for em autos eletrônicos. Desse modo,
quando o CPC 2015 entrar em vigor, os litisconsortes não terão prazo em
dobro no processo eletrônico mesmo que possuam procuradores diferentes.
Até lá, contudo, continua sendo aplicado o prazo em dobro tanto para
processos físicos como eletrônicos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.488.590-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
14/4/2015 (Info 560).

14. DENUNCIAÇÃO DA LIDE


14.1. Mesmo apresentada fora do prazo, a denunciação da lide feita pelo réu pode
ser admitida se o denunciado comparece apenas para contestar o pedido do autor –
(Info 606)

Não é extinta a denunciação da lide apresentada intempestivamente pelo réu nas


hipóteses em que o denunciado contesta apenas a pretensão de mérito da demanda
principal.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.637.108-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 6/6/17 (Info 606).

14.2. Denunciação da lide da seguradora e condenação ao pagamento da indenização


– (Info 564)

Súmula 537-STJ: Em ação de reparação de danos, a seguradora denunciada, se


aceitar a denunciação ou contestar o pedido do autor, pode ser condenada, direta e
solidariamente junto com o segurado, ao pagamento da indenização devida à
vítima, nos limites contratados na apólice.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.

15. CHAMAMENTO AO PROCESSO


15.1. CHAMAMENTO AO PROCESSO E FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO
– (Info 539) – IMPORTANTE!!!

Nas ações para fornecimento de medicamentos, apesar de a obrigação ser solidária


entre Municípios, Estados e União, caso o autor tenha proposto a ação apenas contra
o Estado-membro, não cabe o chamamento ao processo da União, medida que
apenas iria protelar a solução da causa.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.203.244-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 9/4/14 (recurso
repetitivo) (Info 539).
OBS:
O STJ tem jurisprudência consolidada de que esse chamamento ao processo não é
admitido. Argumentos:
 Este art. 77, III, é típico de obrigações solidárias de pagar quantia, o que não é
o caso, uma vez que as ações para fornecimento de medicamento são para
entrega de coisa certa;
 O chamamento ao processo da União por determinado Estado-membro revela-
se medida protelatória, que não traz nenhuma utilidade ao processo, além de
atrasar a resolução do feito, revelando-se meio inconstitucional para evitar o
acesso aos remédios necessários para o restabelecimento da saúde do enfermo.

Atenção: não há qualquer problema se o autor enfermo optar por ajuizar a ação contra
o Estado e a União como litisconsortes passivos. Nesse caso, a demanda será
processada na Justiça Federal. O que não pode é o réu acionado querer impor ao autor
que litigue também contra os demais entes federativos.

Atenção: esse julgado é bem possível de ser cobrado no próximo concurso da


Defensoria Pública.

16. COMPETÊNCIA
16.1. Compete à Justiça Estadual julgar ação proposta por ex-empregado para
continuar no plano de saúde de autogestão que era oferecido pela empresa – (Info 620)

Compete à Justiça Comum Estadual o exame e o julgamento de feito que discute


direitos de ex-empregado aposentado ou demitido sem justa causa de permanecer
em plano de saúde coletivo oferecido pela própria empresa empregadora aos
trabalhadores ativos, na modalidade de autogestão.
STJ. 3ª Turma. REsp 1695986-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 27/2/18 (Info
620).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João era empregado do Banco do Brasil e
possuía plano de saúde coletivo oferecido aos funcionários da instituição. Vale
ressaltar que se tratava de plano de saúde de autogestão. No ano de 2010, João foi
demitido sem justa causa e pediu para continuar no plano de saúde com as mesmas
condições de cobertura assistencial que gozava, pagando as mensalidades. O plano de
saúde recusou o pedido. Diante disso, João ingressou com ação requerendo a
permanência no plano de saúde com base no art. 30 da Lei 9.656/98 (Lei que trata
sobre os planos de saúde):
Art. 30. Ao consumidor que contribuir para produtos de que
tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei, em decorrência de
vínculo empregatício, no caso de rescisão ou exoneração do
contrato de trabalho sem justa causa, é assegurado o direito
de manter sua condição de beneficiário, nas mesmas
condições de cobertura assistencial de que gozava quando da
vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o seu
pagamento integral.

A relação jurídica mantida entre o usuário do plano de saúde e a entidade de


autogestão empresarial não é apenas uma derivação da relação de emprego. O
próprio art. 458, § 2º, IV, da CLT, incluído pela Lei 10.243/01, é expresso em dispor
que a assistência médica, hospitalar e odontológica concedida pelo empregador, seja
diretamente ou mediante seguro-saúde, não será considerada como salário. Isso
porque o plano de saúde fornecido pela empresa empregadora, mesmo a título
gratuito, não possui natureza retributiva, não constituindo salário-utilidade (salário
in natura), sobretudo por não ser contraprestação ao trabalho.

Ao contrário, referida vantagem apenas possui natureza preventiva e assistencial,


sendo uma alternativa às graves deficiências do Sistema Único de Saúde (SUS),
obrigação do Estado. Ademais, as entidades de autogestão são enquadradas como
operadoras de planos de saúde, de modo que são reguladas e fiscalizadas pela ANS.

Desse modo, em virtude da autonomia jurídica, as ações originadas de controvérsias


entre usuário de plano de saúde coletivo e entidade de autogestão (empresarial,
instituída ou associativa) não se adequam ao ramo do Direito do Trabalho, tampouco
podem ser inseridas em “outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho”
(art. 114, IX, da CF/88), sendo, pois, predominante o caráter civil da relação entre os
litigantes, mesmo porque, como visto, a assistência médica não integra o contrato de
trabalho.

Assim, as ações que discutem abusividade de mensalidades, cobertura de


tratamento médico, deficiência de prestação de serviços suplementares de saúde
propostas pelos usuários contra as operadoras de plano de saúde, incluídas as
autogestões, são de competência da Justiça comum estadual.

Com maior razão, por já ter sido encerrado o seu contrato de trabalho, a pretensão
do ex-empregado de manutenção no plano de assistência à saúde fornecido pela ex-
empregadora não pode ser vista como simples relação de trabalho.

Dessa forma, conclui-se que a Justiça competente para o exame e julgamento de ação
fundada nos arts. 30 e 31 da Lei 9.656/98, que discute direitos de ex-empregado
aposentado ou demitido sem justa causa de permanecer em plano de saúde coletivo
oferecido pela própria empresa empregadora aos trabalhadores ativos, na
modalidade de autogestão, é a Justiça Comum estadual, visto que a causa de pedir e
o pedido se originam de relação autônoma nascida com a operadora de plano de
saúde, a qual possui natureza eminentemente civil, envolvendo tão somente, de
maneira indireta, os aspectos da relação de trabalho.

16.2. Não se aplica a regra do art. 53, V, do CPC para a ação de indenização proposta
pela seguradora em caso de acidente de veículo envolvendo o locatário – (Info 604) –
IMPORTANTE!!!

A competência para julgar ação de reparação de dano sofrido em razão de acidente


de veículos é do foro do domicílio do autor ou do local do fato (art. 53, V, do
CPC/2015).
Contudo, essa prerrogativa de escolha do foro não beneficia a pessoa jurídica
locadora de frota de veículos, em ação de reparação dos danos advindos de acidente
de trânsito com o envolvimento do locatário.
STJ. 4ª Turma. STJ. 4ª Turma. EDcl no AgRg no Ag 1.366.967-MG, Rel. Min. Marco
Buzzi, Rel. para acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, j. 27/4/17 (Info 604).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Pedro, que reside em Fortaleza (CE), estava
com seu veículo no conserto e, por isso, alugou um carro para realizar suas atividades.
Determinado dia, voltando do trabalho, acabou sendo atingido na traseira por outro
veículo, conduzido por João, que não viu o semáforo fechar. Pedro tirou fotos da
batida, fez um boletim de ocorrência pela internet e repassou tudo para a locadora.
Cerca de dois meses depois, João, causador do acidente, recebeu uma citação, em sua
casa, em Fortaleza, a respeito de uma ação proposta pela seguradora cobrando o
conserto do veículo. O susto de João foi ainda maior quando ele viu de onde veio a
citação. Isso porque a seguradora propôs a ação em Belo Horizonte (MG), local onde
funciona a sua sede principal da pessoa jurídica. O argumento da seguradora para
propor a ação em Belo Horizonte (MG), e não em Fortaleza (CE), foi o art. 53, V, do
CPC/2015:
Art. 53. É competente o foro:
(...)
V - de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de
reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de
veículos, inclusive aeronaves.

A tese da seguradora, quanto à competência, foi acolhida pelo STJ? Aplica-se, neste
caso, o art. 53, V, do CPC/2015? NÃO.
Razão de ser do art. 53, V, do CPC/2015: Em regra, a ação fundada em direito pessoal
ou em direito real sobre bens móveis será proposta no foro de domicílio do réu (art.
46). Assim, em regra, uma ação de indenização proposta por alguém que mora em São
Paulo (SP) contra outra pessoa que mora em Florianópolis (SC) deverá ser ajuizada
capital catarinense, domicílio do réu. Como exceção a essa regra, o art. 53, V prevê
que, nas ações de reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de
veículos, será competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato. Essa
exceção foi prevista pelo legislador como uma forma de facilitar o acesso à justiça ao
jurisdicionado, vítima do acidente.

Benefício do art. 53, V, do CPC/2015 não deve ser aplicado para empresas locadoras
de veículos: Como a locadora de veículos pode alugar carros que irão circular por todo
o país, é algo normal ao negócio que possam ocorrer acidentes em qualquer parte do
território nacional. Assim, se fosse permitido que a autora propusesse a ação sempre
no seu domicílio, haveria uma deturpação do objetivo da norma. Haveria um
privilégio não razoável em favor de uma empresa especializada e aparelhada, em
detrimento de pessoas que terão sérias dificuldades de se defender em outros Estados.
A escolha dada ao autor de ajuizar a ação de reparação de dano decorrente de acidente
de veículos é exceção à regra geral de competência, definida pelo foro do domicílio do
réu. Não se pode dar à exceção interpretação tão extensiva a ponto de subverter o
escopo da regra legal, especialmente quando importar em privilégio à pessoa jurídica
cujo negócio é alugar veículos em todo território nacional em detrimento da defesa do
réu pessoa física.

16.3. É de competência da Justiça Estadual a ação de restituição de indébito proposta


pelo usuário contra a concessionária de energia elétrica – (Info 601)

Não há, em regra, interesse jurídico da ANEEL – Agência Nacional de Energia


Elétrica – para figurar como ré ou assistente simples de ação de repetição de indébito
relativa a valores cobrados por força de contrato de fornecimento de energia elétrica
celebrado entre usuário do serviço e concessionária do serviço público.
Em razão disso, essa ação é de competência da Justiça Estadual.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.389.750-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 14/12/16 (recurso
repetitivo) (Info 601).
OBS:
O fato de a concessionária do serviço de energia elétrica ser uma sociedade de
economia mista federal não desloca a competência para a Justiça Federal? NÃO. As
sociedades de economia mista, ainda que mantidas pela União, não são julgadas pela
Justiça Federal. Houve uma opção do constituinte de não incluir tais empresas estatais
no rol do art. 109 da CF/88. Sobre esse tema existem três enunciados de súmula do
STF:
Súmula 508-STF: Compete à justiça estadual, em ambas as
instâncias, processar e julgar as causas em que for parte o
Banco do Brasil S.A.
Súmula 517-STF: As sociedades de economia mista só têm
foro na justiça federal, quando a União intervém como
assistente ou opoente.
Súmula 556-STF: É competente a justiça comum para julgar
as causas em que é parte sociedade de economia mista.

Situação parecida com as demandas propostas contra a ANATEL


Súmula vinculante 27: Compete à Justiça Estadual julgar
causas entre consumidor e concessionária de serviço público
de telefonia, quando a Anatel não seja litisconsorte passiva
necessária, assistente nem opoente.
Súmula 506-STJ: A Anatel não é parte legítima nas demandas
entre a concessionária e o usuário de telefonia decorrentes de
relação contratual.

16.4. É de competência do domicílio do réu a ação pretendendo declarar a violação


de direito autoral e cobrar indenização decorrente deste fato – (Info 599)

O pedido cumulado de indenização, quando mediato e dependente do


reconhecimento do pedido antecedente de declaração da autoria da obra, não afasta
a regra geral de competência do foro do domicílio do réu.
Ex: João lançou um livro. Pedro, alegando que o conteúdo da obra é uma cópia de
um livro escrito por ele anos atrás, ajuíza ação de indenização contra João. A
competência, neste caso, será do domicílio do réu, nos termos do art. 46 do CPC.
A análise do pedido de reparação de danos pressupõe o anterior acolhimento do
pedido declaratório de reconhecimento de autoria da obra. Este é o objeto principal
da lide. Em outras palavras, não se pode condenar o réu a indenizar o autor por
violação a direito autoral se, antes, não for demonstrado que o requerente é o
verdadeiro autor da obra. Nesse contexto, a competência deve ser definida levando-
se em conta o pedido principal, de índole declaratória, de modo que deve incidir a
regra geral do art. 46 do CPC.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.138.522-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 8/2/2017 (Info 599).
OBS: Cumulação de pedidos: O pedido de indenização decorre de uma suposta
violação dos direitos autorais do requerente. Desse modo, é indispensável primeiro se
reconhecer o ato ilícito para, depois, verificar a existência ou não de danos (prejuízos)
a ressarcir. Portanto, nesse tipo de demanda há uma "cumulação de pedidos
interligados". Essa cumulação é subsidiária sucessiva. Isso porque a apreciação do
segundo pedido depende do acolhimento do primeiro.

Reconhecimento de que houve delito: Desse modo, seria prematuro estabelecer que a
competência desse feito fosse definida pelas regras referentes à reparação de danos.
Isso porque a própria autoria da obra intelectual é matéria controvertida. Se o autor
pretende ser reconhecido como titular de obra utilizada por terceiro, não se pode
afirmar – salvo após o julgamento por sentença de mérito – a existência sequer do
ilícito civil, o qual seria o pressuposto para a incidência da regra especial de
competência do parágrafo único do art. 53, V, do CPC.

16.5. Causas que podem produzir reflexos no processo eleitoral são de competência
da Justiça Eleitoral – (Info 596)

Em regra, as ações tratando sobre divergências internas ocorridas no âmbito do


partido político são julgadas pela Justiça Estadual.

Exceção: se a questão interna corporis do partido político puder gerar reflexos


diretos no processo eleitoral, então, neste caso a competência será da Justiça
Eleitoral.
Assim, compete à Justiça Eleitoral processar e julgar as causas em que a análise da
controvérsia é capaz de produzir reflexos diretos no processo eleitoral.
STJ. 2ª Seção. CC 148.693-BA, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 14/12/16 (Info
596).
OBS:
Quando dois juízes vinculados a “Justiças” diferentes estão divergindo acerca da
competência, quem deverá julgar este conflito? Quem julga o conflito entre um juiz de
direito e um juiz eleitoral? STJ, nos termos do art. 105, I, “d”, da CF/88:
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I - processar e julgar, originariamente:
(...)
d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais,
ressalvado o disposto no art. 102, I, "o", bem como entre
tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados
a tribunais diversos;

O que o STJ decidiu neste caso concreto? De quem é a competência para julgar esta
ação? Justiça Eleitoral.

16.6. Competência para julgar demanda indenizatória por uso de imagem de


jogador de futebol – (Info 587)

É da Justiça do Trabalho (e não da Justiça Comum) a competência para processar e


julgar a ação de indenização movida por atleta de futebol em face de editora pelo
suposto uso indevido de imagem em álbum de figurinhas quando, após
denunciação da lide ao clube de futebol (ex-empregador), este alegar que recebeu
autorização expressa do jogador para ceder o direito de uso de sua imagem no
período de vigência do contrato de trabalho.
Na ementa oficial do julgado, restou assim consignado:
Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar ação indenizatória movida contra
editora, por suposto uso indevido de imagem de atleta de futebol, caracterizado por
publicação, sem autorização, do autor de sua fotografia em álbum de figurinhas, na
hipótese de denunciação da lide pela ré ao clube empregador.
STJ. 2ª Turma. CC 128.610-RS, Rel. Min. Raul Araújo, j. 22/6/16 (Info 587).

16.7. Competência para julgar MS contra ato do chefe do MPDFT no exercício de


atividade submetida à jurisdição administrativa federal – (Info 587) –
IMPORTANTE!!!

É do TRF da 1º Região (e não do TJDFT) a competência para processar e julgar


mandado de segurança impetrado contra ato do Procurador-Geral de Justiça do
Distrito Federal que determinou a retenção de Imposto de Renda (IR) e de
contribuição ao Plano de Seguridade Social (PSS) sobre valores decorrentes da
conversão em pecúnia de licenças-prêmio.
O Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal, ao determinar a retenção de
tributos federais por ocasião do pagamento de parcelas remuneratórias (conversão
de licenças-prêmio em pecúnia), está no exercício de função administrativa federal,
razão pela qual não se pode reconhecer a competência do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal para o julgamento de mandado de segurança impetrado contra tal
ato.
Obs: quando o MS é impetrado contra atos praticados pelo PGJ-DF sob jurisdição
administrativa local, a competência será do Tribunal de Justiça do Distrito Federal.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.303.154-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 16/6/16 (Info 587).

16.8. Dever de remessa dos autos ao juízo competente mesmo em caso de processo
eletrônico – (Info 586)

Se o juízo reconhece a sua incompetência absoluta para conhecer da causa, ele


deverá determinar a remessa dos autos ao juízo competente e não extinguir o
processo sem exame do mérito.
O argumento de impossibilidade técnica do Poder Judiciário em remeter os autos
para o juízo competente, ante as dificuldades inerentes ao processamento
eletrônico, não pode ser utilizado para prejudicar o jurisdicionado, sob pena de
configurar-se indevido obstáculo ao acesso à tutela jurisdicional.
Assim, implica indevido obstáculo ao acesso à tutela jurisdicional a decisão que,
após o reconhecimento da incompetência absoluta do juízo, em vez de determinar
a remessa dos autos ao juízo competente, extingue o feito sem exame do mérito, sob
o argumento de impossibilidade técnica do Judiciário em remeter os autos para o
órgão julgador competente, ante as dificuldades inerentes ao processamento
eletrônico.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.526.914-PE, Rel. Min. Diva Malerbi (Desembargadora
convocada do TRF da 3ª Região), j. 21/6/2016 (Info 586).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João impetrou mandado de segurança na
Justiça Federal de 1ª instância da Seção Judiciária de Recife (PE) contra ato praticado
pelo Superintendente de uma entidade federal. O Juiz Federal entendeu que a
autoridade apontada como coatora possui domicílio funcional em Brasília (DF), de
forma que a Justiça Federal da Seção Judiciária de Brasília (DF) seria competente para
conhecer a demanda. Diante disso, o Juiz Federal de Recife, de ofício, reconheceu sua
incompetência para o julgamento da causa.

A incompetência, neste caso, é absoluta ou relativa? Absoluta. Segundo


entendimento consolidado no STJ, “em se tratando de mandado de segurança, a
competência para processamento e julgamento da demanda é estabelecida de acordo
com a sede funcional da autoridade apontada como coatora e a sua categoria
profissional, o que evidencia a natureza absoluta e a improrrogabilidade da
competência, bem como a possibilidade de seu conhecimento ex officio" (STJ. 1ª Seção.
CC 41.579/RJ, Rel. Min. Denise Arruda, julgado em 14/09/2005).

Assim, se a parte resolve impetrar mandado de segurança contra uma autoridade


federal, será competente a seção judiciária do local onde esta autoridade tenha sede
funcional, ou seja, onde ela trabalha. Não se aplica ao autor do mandado de segurança
a prerrogativa prevista no art. 109, § 2º da CF/88:

Art. 109 (...)


§ 2º As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas
na seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquela
onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda
ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.
A justificativa dada é a de que, em se tratando de mandado de segurança, é a
autoridade impetrada que será notificada para prestar informações. Logo, se a
autoridade possui sede funcional em Brasília, o mandamus deverá ser impetrado na
Seção Judiciária do DF, sendo inviável que a autoridade que more e resida em um
local seja demandada em outro. Diferente seria o caso se a parte autora tivesse
ingressado com uma ação ordinária. Nesta hipótese, ela teria opções e poderia propor
a ação na seção judiciária:
a) onde ela mora;
b) onde o ato ou fato ocorreu;
c) onde esteja situada a coisa;
d) ou no DF.

Tendo a parte optado por ingressar com MS, ela deverá se sujeitar às regras próprias
de competência deste tipo de ação, sendo competente o local da sede funcional da
autoridade. Esta competência é absoluta.

O juiz poderia ter declarado a incompetência de ofício? Sim. A incompetência


absoluta pode ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição e deve ser
declarada de ofício (art. 64, § 1º do CPC/2015).

Quando o juiz reconhece a sua incompetência absoluta, qual a providência que ele
deve adotar? O juiz, reconhecendo sua incompetência, deverá remeter os autos ao
juízo competente (art. 64, § 3º do CPC/2015). Vale ressaltar que se o juízo
incompetente já tiver praticado atos decisórios, em regra, eles continuarão produzindo
efeitos até que o juízo competente os confirme ou revogue. Veja:
Art. 64 (...)
§ 4º Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-
ão os efeitos de decisão proferida pelo juízo incompetente até
que outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente.

O juiz deverá remeter os autos ao juízo competente mesmo que a ação proposta tenha
sido um mandado de segurança? O art. 64, § 3º do CPC é aplicado também para os
processos de MS? SIM. Nesse sentido já decidiu o STJ na vigência do CPC passado:
STJ. 1ª Seção. MS 21.744/DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/09/2015. O
mesmo entendimento continua válido com o novo CPC.

Vamos voltar ao nosso exemplo: O Juiz Federal de Recife decidiu que era
absolutamente incompetente para julgar o MS. No entanto, em vez de remeter os autos
ao juízo competente, ele extinguiu o processo sem resolução do mérito. O magistrado
argumentou que o processo é eletrônico e que, como são regiões diferentes (TRF5 e
TRF1) existe uma impossibilidade técnica de enviar os autos para a Seção Judiciária
do DF pelo sistema do PJE (Processo Judicial Eletrônico).

O argumento invocado pelo magistrado foi aceito pelo STJ? NÃO.

16.9. Demanda em que se pede a obtenção de diploma de curso de ensino à distância


negado por problemas de credenciamento da instituição de ensino superior junto ao
MEC – (Info 581)

Súmula 570-STJ: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento de demanda


em que se discute a ausência de ou o obstáculo ao credenciamento de instituição
particular de ensino superior no Ministério da Educação como condição de
expedição de diploma de ensino a distância aos estudantes.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 27/04/2016, DJe 02/05/2016.
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: João cursava uma faculdade, na modalidade à
distância, tendo concluído integralmente o curso e colado grau. Apesar disso, ele não
consegue obter o diploma devidamente registrado, em virtude do fato de a instituição
de ensino não estar credenciada pelo MEC, órgão da União. Ele quer ajuizar uma ação
para conseguir a entrega do diploma de conclusão do curso devidamente registrado e
para receber indenização por danos morais em virtude dos transtornos que sofreu.

Contra quem e em qual juízo deverá ser proposta esta demanda? Contra a instituição
de ensino superior e contra a União, em litisconsórcio passivo, sendo demanda de
competência da Justiça Federal.

Credenciamento de cursos de ensino à distância é incumbência da União: Conforme o


art. 9º, IX e o art. 80, §§ 1º e 2º, da Lei 9.394/96, cabe à União credenciar e fiscalizar as
instituições de ensino que oferecem programas de educação à distância:

Art. 9º A União incumbir-se-á de:


(...)
IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar,
respectivamente, os cursos das instituições de educação
superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino.

Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a


veiculação de programas de ensino a distância, em todos os
níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada.
§ 1º A educação a distância, organizada com abertura e regime
especiais, será oferecida por instituições especificamente
credenciadas pela União.
§ 2º A União regulamentará os requisitos para a realização de
exames e registro de diploma relativos a cursos de educação a
distância.
(...)

Assim, se for proposta ação na qual se discuta a dificuldade do aluno de obter o


diploma do curso à distância que realizou por causa da ausência/obstáculo de
credenciamento da instituição particular junto ao MEC, haverá nítido interesse da
União, que deverá compor a lide no polo passivo da demanda, já que é ela quem
credencia as instituições.

No STJ, este tema já havia sido pacificado por meio de recurso especial repetitivo: STJ.
1ª Seção. REsp 1344771/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
24/04/2013.

Existe também precedente do STF no mesmo sentido: STF. 2ª Turma. ARE 750186 AgR,
Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 24/06/2014.

E se João propusesse a ação pedindo unicamente a indenização por danos morais?


Neste caso, a ação teria que ser proposta somente contra a instituição de ensino, e a
competência seria da Justiça Estadual. Nesse sentido:
(...) No caso em análise, não há interesse jurídico da União a
ensejar o deslocamento do feito para a Justiça Federal, uma
vez que a autora não pleiteou a emissão do diploma, somente
a reparação dos supostos danos morais e materiais sofridos
em decorrência da conduta da parte ré. (...)
(STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1553120/PR, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 17/11/2015)

Quadro-resumo (REsp 1344771/PR):


De quem é a competência para julgar ações propostas contra instituição PRIVADA
de ensino superior?

Ação Competência
Se a ação proposta for mandado de segurança Justiça Federal
Ação (diferente do MS) discutindo questões privadas Justiça Estadual
relacionadas ao contrato de prestação de serviços
firmado entre a instituição de ensino e o aluno (exs:
inadimplemento de mensalidade, cobrança de taxas etc.).
Ação (diferente do MS) discutindo registro de diploma Justiça Federal
perante o órgão público competente ou o
credenciamento da entidade perante o Ministério da
Educação (obs: neste caso, a União deverá figurar na
lide).

16.10. Competência internacional e relação de consumo – (Info 580)

A Justiça brasileira é absolutamente incompetente para processar e julgar demanda


indenizatória fundada em serviço fornecido de forma viciada por sociedade
empresária estrangeira a brasileiro que possuía domicílio no mesmo Estado
estrangeiro em que situada a fornecedora, quando o contrato de consumo houver
sido celebrado e executado nesse local, ainda que o conhecimento do vício ocorra
após o retorno do consumidor ao território nacional.
A vulneralidade do consumidor, ainda que amplamente reconhecida em foro
internacional, não é suficiente, por si só, para alargar a competência da justiça
nacional prevista nos arts. 21 a 23 do CPC 2015.
Nas hipóteses em que a relação jurídica é firmada nos estritos limites territoriais
nacionais, ou seja, sem intuito de extrapolação territorial, o foro competente, aferido
a partir das regras processuais vigentes no momento da propositura da demanda,
não sofre influências em razão da nacionalidade ou do domicílio dos contratantes,
ainda que se trate de relação de consumo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.571.616-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
5/4/2016 (Info 580).

16.11. Ação discutindo o empréstimo compulsório sobre o consumo de energia


elétrica instituído em favor da Eletrobrás – (Info 574)
Súmula 553-STJ: Nos casos de empréstimo compulsório sobre o consumo de energia
elétrica, é competente a Justiça estadual para o julgamento de demanda proposta
exclusivamente contra a Eletrobrás. Requerida a intervenção da União no feito após
a prolação de sentença pelo juízo estadual, os autos devem ser remetidos ao
Tribunal Regional Federal competente para o julgamento da apelação se deferida a
intervenção.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 09/12/2015. DJe 15/12/2015.

16.12. Ação de consignação em pagamento proposta pela União para afastar eventual
responsabilização trabalhista subsidiária -Atenção! Advocacia Pública! - (Info 571)

Imagine a seguinte situação: a União possui um contrato com a empresa privada


"XXX Vigilância Ltda". Por meio deste contrato, a empresa, com seus funcionários,
obrigou-se a fazer a vigilância armada do prédio onde funciona o órgão público
federal, recebendo, em contraprestação, R$ 200 mil mensais. A União, percebendo
que a empresa estava atrasando os salários e com receio de ser condenada por
responsabilidade subsidiária (Súmula 331 do TST), decidiu suspender o pagamento
da contraprestação mensal devida e ajuizar ação de consignação em pagamento a
fim de depositar em juízo os R$ 200 mil previstos no contrato. Surgiu, no entanto,
uma dúvida: onde deverá ser proposta essa ação, na Justiça Federal comum ou na
Justiça do Trabalho? Justiça do Trabalho. A Justiça do Trabalho é competente para
processar e julgar ação de consignação em pagamento movida pela União contra
sociedade empresária por ela contratada para a prestação de serviços terceirizados,
caso a demanda tenha sido proposta com o intuito de evitar futura
responsabilização trabalhista subsidiária da Administração nos termos da Súmula
331 do TST.
STJ. 2ª Seção. CC 136.739-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 23/9/2015 (Info 571).

16.13. Foro para o ajuizamento de ação em face de entidade fechada de previdência


complementar – (Info 571)

É possível ao participante ou assistido de plano de benefícios patrocinado ajuizar


ação em face da respectiva entidade fechada de previdência privada nos seguintes
lugares:
• no foro do domicílio da ré;
• no eventual foro de eleição do contrato; ou
• no foro onde labora ou laborou para a patrocinadora do plano.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.536.786-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
26/8/2015 (Info 571).

16.14. Conexão por prejudicialidade – (Info 559) – IMPORTANTE!!!

A conexão entre duas causas ocorre quando elas, apesar de não serem idênticas,
possuem um vínculo de identidade entre si quanto a algum dos seus elementos
caracterizadores. São duas (ou mais) ações diferentes, mas que mantêm um vínculo
entre si.
Segundo o texto do CPC, existe conexão quando duas ou mais ações tiverem o
mesmo pedido (objeto) ou causa de pedir.
Quando o juiz verificar que há conexão entre duas causas, ele poderá ordenar, de
ofício ou a requerimento, a reunião delas para julgamento em conjunto. Essa é a
regra geral, não sendo aplicável, contudo, quando a reunião implicar em
modificação da competência absoluta.
O conceito de conexão previsto na lei é conhecido como concepção tradicional
(teoria tradicional) da conexão. Existem autores, contudo, que defendem que é
possível que exista conexão entre duas ou mais ações mesmo que o pedido e a causa
de pedir sejam diferentes. Em outras palavras, pode haver conexão em situações que
não se encaixem perfeitamente no conceito legal de conexão. Tais autores defendem
a chamada teoria materialista da conexão, que sustenta que, em determinadas
situações, é possível identificar a conexão entre duas ações não com base no pedido
ou na causa de pedir, mas sim em outros fatos que liguem uma demanda à outra.
Eles sustentam, portanto, que a definição tradicional de conexão é insuficiente.
Essa teoria é chamada de materialista porque defende que, para se verificar se há
ou não conexão, o ideal não é analisar apenas o objeto e a causa de pedir, mas sim a
relação jurídica de direito material que é discutida em cada ação. Existirá conexão
se a relação jurídica veiculada nas ações for a mesma ou se, mesmo não sendo
idêntica, existir entre elas uma vinculação.
Essa concepção materialista é que fundamenta a chamada “conexão por
prejudicialidade”. Podemos resumi-la em uma frase: quando a decisão de uma
causa interferir na solução da outra, há conexão.
No caso concreto, havia duas ações: em uma delas o autor (empresa 1) executava
uma dívida da devedora (empresa 2). A executada, por sua vez, ajuizou ação
declaratória de inexistência da relação afirmando que nada deve para a empresa 1.
Nesta situação, o STJ reconheceu que havia conexão por prejudicialidade e decidiu
o seguinte: “pode ser reconhecida a conexão e determinada a reunião para
julgamento conjunto de um processo executivo com um processo de conhecimento
no qual se pretenda a declaração da inexistência da relação jurídica que fundamenta
a execução, desde que não implique modificação de competência absoluta.”
Importante: o CPC 2015 manteve, no caput do art. 55, a definição tradicional de
conexão. No entanto, dando razão às criticas da doutrina, o novo CPC adota, em seu
§ 3º, a teoria materialista ao prever a conexão por prejudicialidade:
§ 3º Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco
de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos
separadamente, mesmo sem conexão entre eles.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.221.941-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
24/2/2015 (Info 559).

16.15. Inaplicabilidade da cláusula de eleição de foro prevista em contrato sem


assinatura das partes – (Info 557)

Nos casos em que a parte questiona a própria validade do contrato, ela não precisará
respeitar o foro de eleição referente a esse ajuste.
Ex: duas empresas fizeram um contrato e elegeram como foro de eleição a comarca
de Florianópolis; ocorre que o contrato, apesar de aprovado, não chegou a ser
assinado. Uma das empresas ajuizou ação questionando a validade desse ajuste
pelo fato de ele não ter sido assinado. Neste caso, em que a própria validade do
contrato está sendo objeto de apreciação judicial pelo fato de que não houve
instrumento de formalização assinado pelas partes, a cláusula de eleição de foro não
deve prevalecer, ainda que ela já tenha sido prevista em contratos semelhantes
anteriormente celebrados entre as mesmas partes.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.491.040-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
3/3/2015 (Info 557).
16.16. Competência para processar e julgar ação de divórcio quando o marido for
incapaz – (Info 552) – IMPORTANTE!!!

Compete ao foro do domicílio do representante do marido interditado por


deficiência mental – e não ao foro da residência de sua esposa capaz e produtiva –
processar e julgar ação de divórcio direto litigioso, independentemente da posição
que o incapaz ocupe na relação processual (autor ou réu).
No confronto entre o art. 100, I, do CPC (que prevê o foro do domicílio da mulher)
e o art. 98 (que preconiza o foro do domicílio do representante do incapaz), deverá
prevalecer este último em virtude de o incapaz apresentar maior fragilidade,
necessitando, portanto, de uma maior proteção.
STJ. 4ª Turma. REsp 875.612-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 4/9/2014 (Info
552).

16.17. Competência da Justiça Comum para julgar danos causados a estagiário


durante estágio obrigatório curricular – (Info 543) – IMPORTANTE!!!

Compete à JUSTIÇA COMUM ESTADUAL (e não à Justiça do Trabalho) julgar


ação de reparação de danos materiais e morais promovida por aluno universitário
contra estabelecimento de ensino superior em virtude de danos ocorridos durante o
estágio obrigatório curricular.
STJ. 2ª Seção. CC 131.195-MG, Rel. Min. Raul Araújo, j. 26/2/2014 (Info 543).
OBS:
Tema polêmico: É importante conhecer esse precedente, mas ressalte-se que se trata
de tema polêmico. Isso porque o inciso VI do art. 114 da CF/88, com redação dada
pela EC 45/04, prevê a competência da Justiça do Trabalho para julgamento de “ações
de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de
TRABALHO”, não se restringindo mais a relações de emprego. Se for cobrado na
prova, contudo, assinale a posição acima explicada do STJ.

16.18. Acidente de trabalho atípico e competência da Justiça Estadual para julgar a


ação previdenciária – (Info 542)

Se determinado vendedor é morto durante um assalto ocorrido na loja, tal evento


caracteriza-se como acidente de trabalho atípico (art. 21, II, “a”, da Lei 8.213/91).
A ação proposta pela viúva desse vendedor contra o INSS buscando o benefício
previdenciário da pensão por morte deve ser julgada pela Justiça Estadual (art. 109,
I, parte final, da CF/88).
STJ. 1ª Seção. CC 132.034-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 28/5/2014
(Info 542).
(DPBA-2010-CESPE): Compete à justiça comum dos estados processar e julgar as
ações acidentárias, as propostas, pelo segurado, contra o INSS, visando a benefício
e aos serviços previdenciários correspondentes a acidente do trabalho. (CERTO)

(DPDF-2013-CESPE): De acordo com a Lei 8.213/91, que dispõe sobre os planos de


benefícios da previdência social, equipara-se ao acidente do trabalho o acidente
sofrido pelo segurado do RGPS no local e no horário do trabalho, em consequência
de ato de agressão praticado por terceiro. (CERTO)
16.19. RECONHECIMENTO DE INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA E PROLAÇÃO
DE DECISÃO ACAUTELATÓRIA – (Info 524)

Ainda que proferida por juízo absolutamente incompetente, é válida a decisão que,
em ação civil pública proposta para a apuração de ato de improbidade
administrativa, tenha determinado — até que haja pronunciamento do juízo
competente — a indisponibilidade dos bens do réu a fim de assegurar o
ressarcimento de suposto dano ao patrimônio público.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.038.199-ES, Rel. Min. Castro Meira, j. 7/5/2013 (Info 524).

16.20. RESTITUIÇÃO DE INDÉBITO RELACIONADA COM TARIFA DE


ENERGIA ELÉTRICA – (Info 516)

É de competência da JUSTIÇA ESTADUAL a ação de restituição de indébito


proposta contra a concessionária de energia elétrica por causa de um aumento ilegal
da tarifa de energia. Isso porque, a princípio, não há nenhum interesse da União ou
da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) que justifique que elas figurem
no polo passivo desta demanda.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.307.041-RS, Min. Mauro Campbell Marques, julgado
em 18/12/2012 (Info 516).

16.21. DEMANDAS CONTRA DIRIGENTE DE INSTITUIÇÃO DE ENSINO


SUPERIOR

É da Justiça estadual, via de regra, a competência para julgar a ação em que se


discute a legalidade da cobrança de instituição de ensino superior estadual,
municipal ou particular de taxa para expedição de diploma de curso, salvo quando
se tratar de mandado de segurança cuja impetração se volta contra ato de dirigente
de universidade pública federal ou de universidade particular, hipótese de
competência da Justiça Federal.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.295.790-PE, Rel. Mauro Campbell Marques, julgado em
6/11/2012.
OBS:

17. IMPEDIMENTO PARA ADVOCACIA


17.1. Impedimento à advocacia envolvendo parlamentares – (Info 607)

O art. 30, II, da Lei nº 8.906/94, prevê que os membros do Poder Legislativo
(Vereadores,
Deputados e Senadores) são impedidos de exercer a advocacia contra ou a favor das
pessoas jurídicas de direito público, empresas públicas, sociedades de economia
mista, fundações públicas, entidades paraestatais ou empresas concessionárias ou
permissionárias de serviço público.
Essa proibição abrange a advocacia envolvendo qualquer dos entes federativos
(União, Estados, DF e Municípios).
Assim, o desempenho de mandato eletivo no Poder Legislativo impede o exercício
da advocacia a favor ou contra pessoa jurídica de direito público pertencente a
qualquer das esferas de governo – municipal, estadual ou federal.
Ex1: um Deputado Estadual, além de não poder advogar em causas relacionadas
com o Estado-membro, também está impedido de advogar em processos
envolvendo os Municípios ou a União.
Ex2: um Vereador não pode advogar contra o INSS, mesmo sendo esta uma
autarquia federal.
Ex3: um Deputado Federal não pode, advogando em causa própria, ajuizar uma ação
popular, qualquer que seja o ente federativo envolvido.
STJ. 1ª Seção. EAREsp 519.194-AM, Rel. Min. Og Fernandes, j. 14/6/17 (Info 607).

18. IMPEDIMENTO
18.1. Decisão que não aprecia o mérito não gera impedimento por parentesco entre
magistrados – (Info 611)

Decisão que não aprecia o mérito não gera impedimento por parentesco entre
magistrados.
Ex: em uma ação que tramitava na 1ª instância, o juiz proferiu decisão interlocutória
e, contra ela, o autor interpôs agravo de instrumento. No Tribunal, a relatora deste
agravo foi a Des. Maria. O agravo foi extinto sem julgamento do mérito por um
“vício” processual neste recurso. Passado mais algum tempo, o juiz sentenciou o
processo. Contra a sentença, o autor interpôs apelação e foi sorteado como relator
do recurso no Tribunal o Des. João. João é marido de Maria. Mesmo assim ele não
está impedido de julgar porque sua esposa não apreciou o mérito da causa no
julgamento anterior.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.673.327-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12/9/2017 (Info 611).
OBS: art. 147 do CPC/2015 c/c o art. 128 da LOMAN:
Art. 147. Quando 2 (dois) ou mais juízes forem parentes,
consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral, até o
terceiro grau, inclusive, o primeiro que conhecer do processo
impede que o outro nele atue, caso em que o segundo se
escusará, remetendo os autos ao seu substituto legal.

Art. 128 - Nos Tribunais, não poderão ter assento na mesma


Turma, Câmara ou Seção, cônjuges e parentes consanguíneos
ou afins em linha reta, bem como em linha colateral até o
terceiro grau.
Parágrafo único. Nas sessões do Tribunal Pleno ou órgão que
o substituir, onde houver, o primeiro dos membros
mutuamente impedidos, que votar, excluirá a participação do
outro no julgamento.

O STJ, ao julgar controvérsias que versam sobre impedimentos de juízes e


desembargadores, tem adotado postura que busca valorizar a aplicação do princípio
da instrumentalidade das formas, bem como a necessidade de demonstração de
prejuízo para que seja decretada qualquer nulidade (princípio do pas de nullité sans
grief).

19. SUSPEIÇÃO
19.1. Suspeição por motivo superveniente não anula atos processuais anteriores –
(Info 587) – IMPORTANTE!!!

A declaração pelo magistrado ("autodeclaração") de suspeição por motivo


superveniente não tem efeitos retroativos, não importando em nulidade dos atos
processuais praticados em momento anterior ao fato ensejador da suspeição.
STJ. 1ª Seção. PET no REsp 1.339.313-RJ, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. para acórdão
Min. Assusete Magalhães, j. 13/4/16 (Info 587).

20. CITAÇÃO/INTIMAÇÃO
20.1. Início do prazo em caso de intimação/citação realizadas por correio, oficial de
justiça ou por carta de ordem, precatória ou rogatória – (Info 604)

Nos casos de intimação/citação realizadas por correio, oficial de justiça, ou por carta
de ordem, precatória ou rogatória, o prazo recursal inicia-se com a juntada aos autos
do aviso de recebimento, do mandado cumprido, ou da juntada da carta.
STJ. Corte Especial. REsp 1.632.777-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
julgado em 17/5/2017 (recurso repetitivo) (Info 604).

21. CITAÇÃO
21.1. Falta de citação e manifestação do réu em agravo de instrumento – (Info 573)

Não supre a falta de citação em ação revisional de alimentos o comparecimento do


réu para contraminutar agravo de instrumento contra decisão denegatória de tutela
antecipada, sem que haja qualquer pronunciamento na ação principal por parte do
demandado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.310.704-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
10/11/2015 (Info 573).

22. INTIMAÇÃO
22.1. Intimação eletrônica prevalece sobre o Diário da Justiça Eletrônico – (Info 601)

Na hipótese de duplicidade de intimações, prevalece a intimação eletrônica sobre


aquela realizada por meio do DJe.
STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 903.091-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j.
16/3/17 (Info 601).

22.2. Publicação de intimação com erro na grafia do sobrenome do advogado – (Info


553) – IMPORTANTE!!!

NÃO há nulidade na publicação de ato processual em razão do acréscimo de uma


letra ao sobrenome do advogado no caso em que o seu prenome, o nome das partes
e o número do processo foram cadastrados corretamente, sobretudo se, mesmo com
a existência de erro idêntico nas intimações anteriores, houve observância aos
prazos processuais passados, de modo a demonstrar que o erro gráfico não impediu
a exata identificação do processo.
O entendimento do STJ é no sentido de que o erro insignificante na grafia do nome
do advogado, aliado à possibilidade de se identificar o processo por outros
elementos, como o seu número e o nome da parte, não enseja a nulidade da
publicação do ato processual.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.356.168-RS, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para
acórdão Min. Jorge Mussi, julgado em 13/3/2014 (Info 553).

23. REVELIA
23.1. Efeito material da revelia em caso de ação de indenização por danos materiais
– (Info 574) – IMPORTANTE!!!

Em uma ação de indenização, se ocorrer a revelia, deve-se presumir a veracidade


quanto aos danos narrados na petição inicial. No entanto, esta presunção de
veracidade não alcança a definição do quantum indenizatório indicado pelo autor.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.520.659-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 1º/10/2015 (Info
574).
OBS: Assim, o que deve ser considerado "verdadeiro" é a ocorrência do dano. Não se
pode, contudo, confundir a existência do dano com a sua correta quantificação feita
pelo autor na petição inicial. O quantum, ou seja, o valor do dano deve corresponder
ao prejuízo efetivamente sofrido pela parte lesada, sob pena de ocorrer
enriquecimento sem causa.
Dessa forma, reconhecida a ocorrência dos alegados danos materiais, foi correta a
decisão do magistrado de determinar que o valor da indenização seja apurado em
liquidação.

24. PROCEDIMENTO
24.1. PRAZO PARA O AUTOR EMENDAR A INICIAL

O prazo para que o autor emende a PI é um prazo dilatório (e não peremptório).


Logo, o juiz poderá aceitar a emenda da PI mesmo fora deste prazo. Este prazo pode
ser reduzido ou ampliado por convenção das partes ou por determinação do juiz.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.133.689-PE, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 28/3/2012
(recurso repetitivo).

24.2. IMPROCEDÊNCIA LIMINAR

Não é possível a aplicação do art. 285-A do CPC 1973 quando o entendimento


exposto na sentença, apesar de estar em consonância com a jurisprudência do STJ,
divergir do entendimento do tribunal de origem.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.225.227-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/5/2013
(Info 524).

25. CONTESTAÇÃO
25.1. Arguição de compensação em contestação – (Info 567) –
IMPORTANTE!!!
A compensação de dívida pode ser alegada em contestação.
A compensação é meio extintivo da obrigação, caracterizando-se como defesa
substancial de mérito ou espécie de contradireito do réu.
A compensação pode ser alegada em contestação como matéria de defesa,
independentemente da propositura de reconvenção, em obediência aos princípios
da celeridade e da economia processual.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.524.730-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
18/8/2015 (Info 567).

26. TRANSAÇÃO JUDICIAL


26.1. Possibilidade de transação judicial após a publicação do acórdão – (Info 572) –
IMPORTANTE!!!

Mesmo após a prolação da sentença ou do acórdão que decide a lide, podem as


partes transacionar o objeto do litígio e submetê-lo à homologação judicial. Assim,
a publicação do acórdão que decide a lide não impede que as partes transacionem.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.267.525-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
20/10/2015 (Info 572).

27. SUSPENSÃO DO PROCESSO


27.1. Prejudicialidade externa entre ação reivindicatória e ação de nulidade de
negócio jurídico – (Info 563)

Deve ser suspensa a ação reivindicatória de bem imóvel, pelo prazo máximo de um
ano (art. 265, IV, "a", do CPC 1973 / art. 313, V, “a”, do CPC 2015), enquanto se
discute, em outra ação, a nulidade do próprio negócio jurídico que ensejou a
transferência do domínio aos autores da reivindicatória.
STJ. 1ª Turma. EREsp 1.409.256-PR, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 6/5/2015
(Info 563)

27.2. Prazo máximo para suspensão do processo cível nos casos do art. 110 do
CPC 1973 – (Info 555) – IMPORTANTE!!!

O art. 110 do CPC 1973 prevê que, se o resultado do processo (conhecimento da lide)
depender necessariamente da verificação da existência de fato delituoso, o juiz do
processo cível pode mandar sobrestar o andamento do processo até que o juízo
criminal decida se houve ou não o crime.
O STJ decidiu que a suspensão do processo determinada com base no art. 110 do
CPC 1973 não pode superar 1 ano, de modo que, ultrapassado esse prazo, pode o
magistrado apreciar a questão prejudicial (pode o juízo cível decidir se houve ou
não crime), que, no entanto, não fará coisa julgada material.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.198.068-MS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 2/12/2014 (Info
555).

28. PROVAS
28.1. PROVA EMPRESTADA ORIUNDA DE PROCESSO NO QUAL NÃO
FIGURAVAM AS MESMAS PARTES – (Info 543)
A prova pode ser emprestada mesmo que a parte contra a qual será utilizada não
tenha participado do processo originário onde foi produzida? Ex.: no processo 1, foi
produzida determinada prova. Em uma ação de “A” contra “B” (processo 2), “A”
deseja trazer essa prova emprestada. Ocorre que “B” não participou do processo 1.
Será possível trazer essa prova mesmo assim?
SIM. É admissível, assegurado o contraditório, a prova emprestada vinda de
processo do qual não participaram as partes do processo para o qual a prova será
trasladada.
A prova emprestada não pode se restringir a processos em que figurem partes
idênticas, sob pena de se reduzir excessivamente sua aplicabilidade sem
justificativa razoável para isso.
Quando se diz que deve assegurar o contraditório, significa que a parte deve ter o
direito de se insurgir contra a prova trazida e de impugná-la.
STJ. Corte Especial. EREsp 617.428-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
4/6/2014 (Info 543).

28.2. Consequência pelo descumprimento de determinação de exibição de


documento – (Info 539) – IMPORTANTE!!!

Não é cabível a multa cominatória, caso o autor tenha ingressado com pedido,
incidental ou autônomo, de exibição de documento relativo a direito DISPONÍVEL.
Em caso de processos que tratam sobre direitos indisponíveis, o STJ tem admitido
a cominação de astreintes.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.333.988-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
9/4/2014 (recurso repetitivo) (Info 539).

28.3. Utilização de provas colhidas em processo criminal como fundamento para


condenar o réu em ação de indenização no juízo cível – (Info 536)

Desde que observado o devido processo legal, é possível a utilização de provas


colhidas em processo criminal como fundamento para reconhecer, no âmbito de
ação de conhecimento no juízo cível, a obrigação de reparação dos danos causados,
ainda que a sentença penal condenatória não tenha transitado em julgado.
Não viola o art. 935 do CC a utilização de provas colhidas no processo criminal como
fundamentação para condenar o réu à reparação do dano no juízo cível.
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 24.940-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j.
18/2/14 (Info 536).

28.4. PROVA DOCUMENTAL E MOMENTO DA JUNTADA – (Info 516)

Como regra, os documentos devem ser juntados aos autos com a petição inicial (no
caso do autor) ou com a resposta (no caso do réu).
A jurisprudência do STJ admite a juntada de documentos novos após a petição
inicial e a contestação mesmo em situações não previstas na lei desde que:
(i) não se trate de documento indispensável à propositura da ação;
(ii) não haja má fé na ocultação do documento;
(iii) seja ouvida a parte contrária (art. 398 do CPC).

No caso julgado, o STJ afirmou que a mera declaração do juiz de que a prova
documental é intempestiva e, por isso, deve ser desentranhada dos autos, não é
capaz de, por si só, impedir o conhecimento da referida prova pelo Tribunal no
julgamento de recurso, tendo em vista a maior amplitude no processo civil moderno
dos poderes instrutórios do juiz, ao qual cabe determinar, até mesmo de ofício, a
produção de provas necessárias à instrução do processo (art. 130 do CPC).
Assim, se a prova permaneceu nos autos mesmo tendo sido declarada intempestiva
pelo juiz de 1ª instância, poderá o Tribunal analisá-la para fundamentar seu
veredicto.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.072.276-RN, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
21/2/2013 (Info 516).

29. COISA JULGADA


29.1. RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA INCONSTITUCIONAL:
Impossibilidade de relativizar coisa julgada fundada em lei posteriormente declarada
não recepcionada pela CF/88 – (Info 576)

Não é possível utilizar ação declaratória de nulidade (querela nullitatis) contra


título executivo judicial fundado em lei declarada não recepcionada pelo STF em
decisão proferida em controle incidental que transitou em julgado após a
constituição definitiva do referido título.
A decisão do STF que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de
lei ou ato normativo não produz a automática reforma ou rescisão das sentenças
anteriores que tenham adotado entendimento diferente; para que tal ocorra, será
indispensável a interposição do recurso próprio ou, se for o caso, a propositura da
ação rescisória própria, observado o respectivo prazo decadencial de 2 anos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.237.895-ES, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 15/9/2015
(Info 576).

29.2. Conflito de sentenças transitadas em julgado – (Info 565) – IMPORTANTE!!!


ATUALIZE O INFO 557 DO STJ!!!

Caso haja duas sentenças transitadas em julgado envolvendo as mesmas partes,


mesma causa de pedir e mesmo pedido, qual delas deverá prevalecer?
Existem duas correntes na doutrina e no STJ:
1ª) Prevalece a 1ª coisa julgada.
- Posição da 3ª Turma do STJ.
- Na doutrina: Arruda Alvim, Nelson Nery Jr. e Rosa Nery, Araken de Assis,
Teresa Wambier, Sérgio Gabriel Porto, Sálvio de Figueiredo Teixeira.
- A segunda sentença seria inexistente, porque foi proferida numa demanda em
que o autor era carente de ação (por falta de interesse jurídico). A coisa julgada
também é um pressuposto processual negativo (ou extrínseco), de forma que a
segunda ação foi proposta em afronta a esse pressuposto, o que também conduz
à inexistência da segunda sentença.
- Para essa corrente, a partir do momento em que se entende que a segunda
sentença é inexistente, não há necessidade de ação rescisória, podendo-se obter
a declaração de inexistência perante o próprio juízo de origem, por meio de ação
ou objeção, esteja ou não transcorrido o prazo decadencial da rescisória. Vale
ressaltar, no entanto, que o lesado poderá perfeitamente alegar o vício por meio
de rescisória.

2ª) Prevalece a 2ª coisa julgada, a não ser que ela seja desconstituída por ação
rescisória.
- Posição da 2ª Turma do STJ.
- Na doutrina: Pontes de Miranda, Vicente Greco Filho, Barbosa Moreira,
Cândido Rangel Dinamarco, Humberto Theodoro Jr.
- Havendo conflito entre duas coisas julgadas, prevalecerá a que se formou por
último, enquanto não desconstituída mediante ação rescisória. Assim, em regra,
prevalece a segunda sentença transitada em julgado, a não ser que ela seja
desconstituída por meio de ação rescisória. Enquanto não for, ela é que vale. Se
passar o prazo de 2 anos da rescisória, a segunda valerá para sempre.
- Havendo conflito entre duas coisas julgadas, prevalecerá a que se formou por
último, enquanto não se der sua rescisão para restabelecer a primeira. A exceção
de pré-executividade não serve no caso para substituir a ação rescisória.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.354.225-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 24/2/15
(Info 557).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.524.123-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 26/5/15 (Info 565).

30. RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA


30.1. Inaplicabilidade da teoria da relativização da coisa julgada inconstitucional
para erro na fixação dos honorários advocatícios – (Info 556)

A mera alegação de que houve um erro de julgamento não é apta a justificar a


aplicação da teoria da relativização da coisa julgada com vistas a desconstituir
decisão que fixou equivocadamente os honorários advocatícios com base no § 3º do
art. 20 do CPC, quando deveria ter utilizado o § 4º do referido dispositivo, ainda
que o valor dos honorários seja excessivo e possa prejudicar os demais credores.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.163.649-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 16/9/14 (Info 556).

31. JULGAMENTO PARCIAL


31.1. (Im) Possibilidade de julgamento parcial de mérito – (Info 562)

É válido o julgamento parcial de mérito?


 CPC 1973: NÃO. Não é permitido o julgamento parcial de mérito. Adotou-se
a teoria da unidade estrutural da sentença, segundo a qual não é possível
existir mais de uma sentença no mesmo processo ou na mesma fase
processual de conhecimento ou de liquidação.
 CPC 2015: SIM. É permitido o julgamento parcial de mérito. O novo CPC
introduziu no sistema processual civil brasileiro a permissão para que o juiz
profira julgamento parcial de mérito (art. 356).

Ex: João ajuizou ação de indenização contra determinada empresa pedindo a


condenação da ré ao pagamento de R$ 100 mil a título de danos emergentes e R$ 200
mil por lucros cessantes.
A empresa apresentou contestação e pediu a realização de perícia para aferir se
realmente houve lucros cessantes e qual seria o seu valor exato. Não foi pedida a
realização de instrução probatória no que tange aos danos emergentes. Sendo
permitida sentença parcial de mérito, o juiz poderá cindir o feito e julgar desde logo
o pedido dos danos emergentes, determinando o prosseguimento do feito quanto
ao pedido de lucros cessantes.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.281.978-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 5/5/15 (Info
562).
32. RECURSOS
32.1. É cabível agravo de instrumento contra decisão interlocutória relacionada à
definição de competência – (Info 618) – IMPORTANTE!!!

É cabível a interposição de agravo de instrumento contra decisão relacionada à


definição de competência, a despeito de não previsto expressamente no rol do art.
1.015 do CPC/2015.
Apesar de não previsto expressamente no rol do art. 1.015 do CPC/2015, a decisão
interlocutória que acolhe ou rejeita a alegação de incompetência desafia recurso de
agravo de instrumento, por uma interpretação analógica ou extensiva da norma
contida no inciso III do art. 1.015 do CPC/2015, já que ambas possuem a mesma ratio
-, qual seja, afastar o juízo incompetente para a causa, permitindo que o juízo
natural e adequado julgue a demanda.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.679.909-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 14/11/17 (Info 618)
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João celebrou contrato com a empresa
“Gráfica Arco” e nele havia a previsão de uma cláusula de eleição de foro:
“8.1. Fica eleito o foro da cidade de São Paulo/SP em
detrimento de qualquer outro, por mais privilegiado que seja,
para dirimir quaisquer dúvidas ou controvérsias oriundas do
presente instrumento.”

Houve uma divergência entre os contratantes e a empresa ajuizou ação contra João na
comarca de São Paulo. João, que mora em Porto Alegre (RS), arguiu a incompetência
relativa do foro de São Paulo (incompetência territorial) argumentando que a referida
cláusula de eleição de foro é abusiva.

Vale lembrar que, com o CPC/2015, a incompetência relativa não é mais alegada por
meio de “exceção de incompetência”, mas sim como um mero tópico da contestação:
Art. 64. A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada
como questão preliminar de contestação.

O juiz indeferiu o pedido de João por entender que a cláusula é válida. Contra esta
decisão, João interpôs agravo de instrumento. O Tribunal de Justiça não conheceu do
recurso afirmando que as hipóteses de cabimento do agravo de instrumento estão
previstas taxativamente (exaustivamente) no art. 1.015 do CPC/2015 e que neste rol
não existe a previsão de agravo de instrumento contra a decisão relacionada com
definição de competência. Veja a lista do art. 1.015 do CPC/2015:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões
interlocutórias que versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento
do pedido de sua revogação;
VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo
aos embargos à execução;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, §
1º;
XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento
contra decisões interlocutórias proferidas na fase de
liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no
processo de execução e no processo de inventário.

Agiu corretamente o Tribunal de Justiça? Qual é o recurso cabível contra a decisão


interlocutória que acolhe ou rejeita a alegação de incompetência formulada pelo réu
na contestação? Não agiu corretamente o TJ. O recurso cabível, neste caso, é
realmente o agravo de instrumento.

Agravo de instrumento no CPC/2015: No CPC/1973 era possível a interposição do


agravo de instrumento contra toda e qualquer decisão interlocutória. O CPC/2015, ao
contrário, previu que o agravo de instrumento só será cabível em face das decisões
interlocutórias expressamente listadas pelo legislador.

Intepretação analógica ou extensiva: Apesar de não prevista expressamente no rol do


art. 1.015, a decisão interlocutória, relacionada à definição de competência continua
desafiando recurso de agravo de instrumento, por uma interpretação analógica ou
extensiva da norma do inciso III do art. 1.015:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões
interlocutórias que versarem sobre:
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;

A possibilidade de imediata recorribilidade da decisão advém de uma interpretação


lógico-sistemática do CPC considerando que o § 3º do art. 64 afirma que “o juiz
decidirá imediatamente a alegação de incompetência” (§ 3º do art. 64).

Esse é também o entendimento da doutrina especializada:


(...) A interpretação extensiva da hipótese de cabimento de
agravo de instrumento prevista no inciso III do art. 1.015 é
plenamente aceitável. É preciso interpretar o inciso III do art.
1.015 do CPC para abranger as decisões interlocutórias que
versam sobre competência. O foro de eleição é um exemplo
de negócio jurídico processual; a convenção de arbitragem,
também. Ambos, a sua maneira, são negócios que dizem
respeito à competência do órgão jurisdicional.” (DIDIER JR.,
Fredie. Curso de direito processual civil. V. 1. Salvador:
Juspodivm, 2016, p. 237-238)

Tema correlato: é possível interpor agravo de instrumento contra decisão que não
concede efeito suspensivo aos embargos à execução: É admissível a interposição de
agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito suspensivo aos
embargos à execução.
As hipóteses em que cabe agravo de instrumento estão
previstas art. 1.015 do CPC/2015, que traz um rol taxativo.
Apesar de ser um rol exaustivo, é possível que as hipóteses
trazidas nos incisos desse artigo sejam lidas de forma ampla,
com base em uma interpretação extensiva.
Assim, é cabível agravo de instrumento contra decisão que
não concede efeito suspensivo aos embargos à execução com
base em uma interpretação extensiva do inciso X do art. 1.015:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões
interlocutórias que versarem sobre:
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo
aos embargos à execução;
STJ. 2ª Turma. REsp 1.694.667-PR, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 05/12/2017 (Info 617).

32.2. É possível interpor agravo de instrumento contra decisão que não concede
efeito suspensivo aos embargos à execução – (Info 617) – Novo CPC! IMPORTANTE!!!

É admissível a interposição de agravo de instrumento contra decisão que não


concede efeito suspensivo aos embargos à execução.
As hipóteses em que cabe agravo de instrumento estão previstas art. 1.015 do
CPC/2015, que traz um rol taxativo. Apesar de ser um rol exaustivo, é possível que
as hipóteses trazidas nos incisos desse artigo sejam lidas de forma ampla, com base
em uma interpretação extensiva.
Assim, é cabível agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito
suspensivo aos embargos à execução com base em uma interpretação extensiva do
inciso X do art. 1.015:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões
interlocutórias que versarem sobre:
X - concessão, modificação ou revogação do efeito
suspensivo aos embargos à execução;
STJ. 2ª Turma. REsp 1694667-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 5/12/17 (Info 617).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: “FN” ingressou com execução contra “JY”. O
devedor apresentou embargos à execução.

Para que o devedor apresente embargos à execução, é necessária garantia do juízo?


Execução “comum”: NÃO Execução fiscal: SIM
O executado, independentemente de Não são admissíveis embargos do
penhora, depósito ou caução, poderá executado antes de garantida a
se opor à execução por meio de execução (art. 16, § 1º, da Lei nº
embargos (art. 914 do CPC/2015). 6.830/80 – Lei de Execução
Fiscal).

Os embargos à execução possuem efeito suspensivo? Se o devedor apresenta esta


espécie de defesa, a execução deverá ficar paralisada até que os embargos sejam
julgados?
 Regra: os embargos à execução não possuem efeito suspensivo. Em outras
palavras, a oposição de embargos à execução não suspende automaticamente
os atos executivos.
 Exceção: o juiz poderá atribuir efeito suspensivo aos embargos desde que
cumpridos três requisitos cumulativos:
1) deve haver pedido expresso do embargante (executado);
2) devem estar presentes os requisitos para a concessão da
tutela provisória; e
3) a execução precisa estar garantida por penhora, depósito ou
caução suficientes.

Veja o texto do CPC/2015:


Art. 919. Os embargos à execução não terão efeito suspensivo.
§ 1º O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir
efeito suspensivo aos embargos quando verificados os
requisitos para a concessão da tutela provisória e desde que a
execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução
suficientes.

Desse modo, pode-se afirmar que os embargos à execução não têm efeito suspensivo
ope legis (por força de lei – efeito suspensivo próprio), mas possuem efeito
suspensivo ope iudicis (efeito suspensivo impróprio), ou seja, por decisão do
magistrado, segundo a análise do caso concreto.

E como é o efeito suspensivo nos embargos à execução fiscal? Na Lei de Execução


Fiscal (Lei nº 6.830/80) não há nenhum dispositivo tratando de forma específica
sobre os efeitos dos embargos à execução. Diante disso, o STJ afirma que deverão
ser aplicadas as mesmas regras do CPC referentes à execução “comum” (STJ. 1ª
Seção. REsp 1.272.827-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
22/5/2013). Em outras palavras, o art. 919 do CPC/2015 vale também para a execução
fiscal.

Voltando ao nosso exemplo: O devedor apresentou embargos à execução e requereu


a atribuição de efeito suspensivo. O juiz rejeitou o pedido de efeito suspensivo
afirmando que não estavam presentes os requisitos do art. 919, § 1º, do CPC/2015.
Inconformado com a decisão, o executado interpôs agravo de instrumento. O Tribunal
de 2ª instância não conheceu do recurso afirmando que as hipóteses de cabimento do
agravo de instrumento estão previstas taxativamente (exaustivamente) no art. 1.015
do CPC/2015 e que neste rol não existe a previsão de agravo de instrumento contra a
decisão que nega efeito suspensivo aos embargos à execução. O Tribunal afirmou que
o inciso X do art. 1.015 é muito claro ao dizer que cabe agravo de instrumento contra
a decisão que CONCEDE, MODIFICA ou REVOGA efeito suspensivo, não
mencionando a hipótese em que o juiz NÃO CONCEDE (rejeita) o efeito
suspensivo. Veja a lista do art. 1.015 do CPC/2015:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões
interlocutórias que versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento
do pedido de sua revogação;
VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo
aos embargos à execução;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, §
1º;
XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento
contra decisões interlocutórias proferidas na fase de
liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no
processo de execução e no processo de inventário.

O executado (embargante/agravante) tem razão? É possível interpor agravo de


instrumento contra decisão que não concede efeito suspensivo aos embargos à
execução? SIM. É admissível a interposição de agravo de instrumento contra decisão
que não concede efeito suspensivo aos embargos à execução. STJ. 2ª Turma. REsp
1.694.667-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 05/12/2017 (Info 617).

Interpretação extensiva: O rol do art. 1.015 do CPC/2015 é realmente taxativo


(numerus clausus). No entanto, apesar disso, é possível que as hipóteses trazidas nos
incisos desse artigo sejam lidas de forma ampla, com base em uma interpretação
extensiva. Como explicam Fredie Didier e Leonardo Cunha:
“As hipóteses de agravo de instrumento estão previstas em rol
taxativo. A taxatividade não é, porém, incompatível com a
interpretação extensiva. Embora taxativas as hipóteses de
decisões agraváveis, é possível interpretação extensiva de
cada um dos seus tipos”. (DIDIER, JR., Fredie; CUNHA,
Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 3.
13ª ed., Salvador: Juspodivm, p. 209).

Assim, é cabível agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito
suspensivo aos embargos à execução com base em uma interpretação extensiva do
inciso X do art. 1.015 do CPC/2015.

Como reforço argumentativo, o Min. Herman Benjamin afirmou que o caso poderia se
enquadrar também no inciso I do art. 1.015 do CPC/2015, considerando que o
requerimento de concessão de efeito suspensivo aos embargos à execução pode ser
caracterizado como um pedido de tutela provisória de urgência.

32.3. Se a decisão proferida pelo juiz induzir a parte a interpor o recurso errado,
deve-se reconhecer que houve dúvida objetiva, que justifica o princípio da
fungibilidade – (Info 613)

O conceito de "dúvida objetiva", para a aplicação do princípio da fungibilidade


recursal, pode ser relativizado, excepcionalmente, quando o equívoco na
interposição do recurso cabível decorrer da prática de ato do próprio órgão julgador.
STJ. 2ª Seção. EAREsp 230.380-RN, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 13/9/17
(Info 613).
OBS:
Princípio da fungibilidade: O princípio da fungibilidade recursal também é chamado
de “teoria do recurso indiferente”, “teoria do tanto vale”, “princípio da
permutabilidade dos recursos” ou “princípio da conversibilidade dos recursos”.

Qual é o sentido desse princípio? A parte recorrente não será prejudicada se interpôs
o recurso errado, desde que esteja de boa-fé, não tenha sido um erro grosseiro e o
recurso incorreto tenha sido manejado no prazo do recurso certo.
Previsão no CPC: O princípio da fungibilidade não está previsto de forma específica
nem genérica no CPC. Apesar disso, a doutrina admite a sua existência. Nesse sentido:
Enunciado 104-FPPC: O princípio da fungibilidade recursal é
compatível com o CPC e alcança todos os recursos, sendo
aplicável de ofício.

Alguns autores afirmam que o CPC/2015 previu o princípio da fungibilidade de


forma específica em dois casos:
 Recebimento de embargos de declaração contra decisão monocrática em
tribunal como agravo interno (art. 1.024, § 3º);
 Recebimento de REsp como RE e vice-versa (arts. 1.032 e 1.033).

Art. 1.024 (...)


§ 3º O órgão julgador conhecerá dos embargos de declaração
como agravo interno se entender ser este o recurso cabível,
desde que determine previamente a intimação do recorrente
para, no prazo de 5 (cinco) dias, complementar as razões
recursais, de modo a ajustá-las às exigências do art. 1.021, § 1º.

Art. 1.032. Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça,


entender que o recurso especial versa sobre questão
constitucional, deverá conceder prazo de 15 (quinze) dias para
que o recorrente demonstre a existência de repercussão geral
e se manifeste sobre a questão constitucional.
Parágrafo único. Cumprida a diligência de que trata o caput,
o relator remeterá o recurso ao Supremo Tribunal Federal,
que, em juízo de admissibilidade, poderá devolvê-lo ao
Superior Tribunal de Justiça.

Art. 1.033. Se o Supremo Tribunal Federal considerar como


reflexa a ofensa à Constituição afirmada no recurso
extraordinário, por pressupor a revisão da interpretação de lei
federal ou de tratado, remetê-lo-á ao Superior Tribunal de
Justiça para julgamento como recurso especial.

Requisitos: Com base na jurisprudência do STJ, para a aplicação do princípio da


fungibilidade, é necessário o preenchimento dos seguintes requisitos:
a) dúvida objetiva a respeito do recurso cabível;
b) inexistência de erro grosseiro;
c) que o recurso interposto erroneamente tenha sido apresentado no prazo daquele
que seria o correto.
Nesse sentido: STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1656690/RJ, Rel. Min. Regina Helena
Costa, julgado em 19/10/2017.

Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação: João, executado, ingressou


com uma espécie de defesa chamada “exceção de pré-executividade”. Podemos
vislumbrar dois cenários mais prováveis neste caso:
1) O juiz acolhe a exceção de pré-executividade e extingue a execução: isso é feito por
meio de sentença e, caso o exequente não se conforme, poderá interpor como recurso
a apelação.
2) O juiz rejeita a exceção de pré-executividade e mantém o prosseguimento da
execução: isso é feito por meio de decisão interlocutória e, caso o executado não se
conforme, poderá interpor como recurso o agravo de instrumento.

Suponhamos que o juiz rejeitou a exceção de pré-executividade de João. Qual seria o


recurso que ele deveria interpor? Agravo de instrumento. Ocorre que João se
equivocou e interpôs apelação. O Tribunal de Justiça não conheceu da apelação
afirmando justamente que João interpôs o recurso errado. João não se conformou e
interpôs recurso especial contra o acórdão do TJ. No Resp, João alegou que o TJ
deveria ter aplicado o princípio da fungibilidade e que foi induzido em erro pelo juiz.
Isso porque o magistrado nomeou a decisão que rejeitou a exceção de pré-
executividade como “sentença”. Além disso, a Secretaria da vara teria lançado no
sistema a decisão como sentença. Essas circunstâncias geraram uma dúvida objetiva
na parte, fazendo com que ela acabasse concluindo que se tratava realmente de
sentença e, contra ela, deveria ser interposta apelação.

A tese de João foi acolhida pelo STJ? SIM. Para o STJ, há situações em que os termos
em que é redigida a decisão pelo julgador são determinantes para a interposição
equivocada do recurso. Na hipótese analisada, embora a decisão do juiz singular não
tenha colocado termo ao processo de execução, o referido magistrado deu-lhe
verdadeiro tratamento de sentença - assim denominando-a e registrando-a, bem como
recebendo e processando o recurso de apelação.

Dessa forma, o juízo colaborou diretamente para o surgimento da dúvida quanto ao


recurso cabível, afastando-se a eventual má-fé da parte na interposição da apelação -
o que legitima a aplicação do princípio da fungibilidade.
Conforme constou em outro precedente, “tem entendido esta Corte que não pode o
jurisdicionado responder por erro induzido pelo magistrado.” (STJ. 2ª Turma. REsp
1349832/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 16/05/2013).

32.4. O pedido de antecipação dos efeitos da tutela pode ser feito em sede de
sustentação oral – (Info 608)

É possível o requerimento de antecipação dos efeitos da tutela em sede de


sustentação oral.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.332.766-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 1/6/17 (Info 608).
OBS:
É possível que a antecipação dos efeitos da tutela seja requerida no recurso? SIM.
Essa possibilidade era admitida pela doutrina e jurisprudência e agora está prevista
expressamente no CPC/2015:
Art. 299. (...)
Parágrafo único. Ressalvada disposição especial, na ação de
competência originária de tribunal e nos recursos a tutela
provisória será requerida ao órgão jurisdicional competente
para apreciar o mérito.

A sustentação oral é uma manifestação formal da parte (art. 937 do CPC/2015),


podendo isso ser considerado como requerimento válido para fins de concessão de
tutela provisória.
32.5. Relator do agravo interno não pode simplesmente "copiar e colar" a decisão
agravada – (Info 592) – IMPORTANTE!!!

É vedado ao relator limitar-se a reproduzir a decisão agravada para julgar


improcedente o agravo interno.
O NCPC proibiu expressamente esta forma de decidir o agravo interno (art. 1.021, §
3º).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.622.386-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 20/10/16 (Info 592).
OBS:
Agravo interno: É um recurso interposto contra decisões monocráticas (unipessoais)
proferidas por Desembargador, Ministro ou juiz da Turma Recursal. O Relator dos
processos nos Tribunais possui autorização para decidir monocraticamente diversos
temas, conforme se pode observar pelo art. 932 do CPC. Contra tais decisões caberá
agravo interno. Vale ressaltar que também cabe agravo interno contra decisões
proferidas pelo Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal (ex: cabe agravo interno
contra a decisão do Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal que nega seguimento
a recurso especial se o acórdão atacado está em conformidade com entendimento do
STJ exarado em recurso repetitivo). O objetivo do agravante é fazer com que o
colegiado do qual faz parte este magistrado possa apreciar seus argumentos e, assim,
alterar esta decisão que foi tomada de forma sozinha.

Exemplo de agravo interno: João ajuizou ação contra Pedro. O juiz negou os benefícios
da justiça gratuita que haviam sido formulados pelo autor. Diante disso, João interpôs
agravo de instrumento para o TJ (art. 1.015, V, do CPC). O Desembargador Relator,
monocraticamente, negou provimento ao recurso (art. 932, IV, "a"). Contra esta decisão
monocrática, o autor interpôs agravo interno (art. 1.021):
Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo
interno para o respectivo órgão colegiado, observadas, quanto
ao processamento, as regras do regimento interno do tribunal.
§ 1º Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará
especificadamente os fundamentos da decisão agravada.

O Relator do agravo interno será o próprio magistrado que proferiu a decisão. Ele
deverá preparar um voto mantendo ou reformando a sua decisão monocrática e
submeter este voto para ser apreciado pelo colegiado do qual faz parte segundo as
competências definidas no regimento interno do Tribunal (Turma, Câmara, Plenário
etc.). Desse modo, no agravo interno existe a possibilidade de o Relator se retratar em
relação à decisão anteriormente proferida:
§ 2º O agravo será dirigido ao relator, que intimará o agravado
para manifestar-se sobre o recurso no prazo de 15 (quinze)
dias, ao final do qual, não havendo retratação, o relator levá-
lo-á a julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em
pauta.

O que acontecia muito na prática: Na prática forense, o mais comum era o


Desembargador ou Ministro manter a decisão monocrática que ele havia proferido e
simplesmente colar no voto do agravo a íntegra da manifestação anterior. Exemplo:
"O agravante alega...
Na decisão agravada afirmei que... (transcrição integral da decisão).
Os argumentos trazidos pelo agravante não servem para infirmar o
posicionamento já expendido.
Ante o exposto, mantenho a decisão agravada por seus próprios
fundamentos."

Esta forma de decisão continua sendo válida? A 3ª Turma do STJ entendeu que não.
Isso porque o NCPC proibiu expressamente esta forma de decidir o agravo interno.
Confira:
Art. 1.021 (...)
§ 3º É vedado ao relator limitar-se à reprodução dos
fundamentos da decisão agravada para julgar improcedente o
agravo interno.

O órgão julgador não está obrigado a rebater, com minúcias, cada um dos argumentos
deduzidos pelas partes. Apesar disso, o NCPC, exaltando os princípios da cooperação
e do contraditório, impõe-lhe o dever de enfrentar todas as questões capazes de, por
si sós e, em tese, infirmar a sua conclusão sobre os pedidos formulados, sob pena de
se reputar não fundamentada a decisão proferida. É o que prevê o art. 489, § 1º, IV:
Art. 489 (...)
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão
judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo
capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo
julgador;

32.6. Possibilidade de aplicação da teoria da causa madura em julgamento de agravo


de instrumento – (Info 590)

Admite-se a aplicação da teoria da causa madura (art. 515, § 3º, do CPC/1973 / art.
1.013, § 3º do CPC/2015) em julgamento de agravo de instrumento.
Ex: o MP ingressou com ação de improbidade contra João, Paulo e Pedro pedindo a
indisponibilidade dos bens dos requeridos. O juiz deferiu a medida em relação a
todos eles, no entanto, na decisão não houve fundamentação quanto à autoria de
Pedro. Diante disso, ele interpôs agravo de instrumento. O Tribunal, analisando o
agravo, entendeu que a decisão realmente é nula quanto a Pedro por ausência de
fundamentação. No entanto, em vez de mandar o juiz exarar nova decisão, o
Tribunal decidiu desde lodo o mérito do pedido e deferiu a medida cautelar de
indisponibilidade dos bens de Pedro, apontando os argumentos pelos quais este
requerido também praticou, em tese, ato de improbidade.
STJ. Corte Especial. REsp 1.215.368-ES, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 1/6/16 (Info
590).
OBS:
Julgamento do mérito diretamente pelo Tribunal ("teoria da causa madura"): O
CPC/1973, em seu art. 515, § 3º, permitia que o TJ ou o TRF, ao decidir a apelação
interposta contra sentença terminativa, julgasse ele próprio (o Tribunal) o mérito da
ação caso entendesse que o juiz não deveria ter extinguido o processo sem resolução
do mérito.

Ex: João ajuíza ação contra Pedro e o magistrado profere sentença extinguindo o
processo sem resolução do mérito por entender que o autor seria parte ilegítima. João
interpõe apelação ao TJ. O Tribunal analisa o recurso e entende que ele é sim parte
legítima, ou seja, não havia razão jurídica para o magistrado ter extinguido o processo
sem examinar o mérito. Em vez de mandar o processo de volta à 1ª instância, o próprio
TJ poderá julgar o mérito da demanda. Para isso, no entanto, a causa tem que estar em
condições de imediato julgamento (ex: se a sentença indeferiu a petição inicial, não há
condições de o Tribunal julgar o mérito; ao contrário, se a sentença foi proferida após
a fase instrutória, em tese, já haveria essa possibilidade).

O CPC/2015 repetiu essa regra do Código revogado e foi além, trazendo mais três
hipóteses em que o Tribunal, ao dar provimento à apelação, poderá julgar diretamente
o mérito, sem ter que devolver a questão ao juiz.

Nomenclatura: Esse julgamento do mérito diretamente pelo Tribunal ficou conhecido


na prática como "teoria da causa madura", ou seja, estando a causa "em condições de
imediato julgamento" (leia-se: madura), o Tribunal já deverá decidir desde logo o
mérito.

Comparativo: Com uma melhor redação, o CPC/2015 repetiu a regra do § 3º do art.


515 do CPC/1973. Além disso, acrescentou três novas hipóteses (incisos II, III e IV).
Algumas delas já eram admitidas pela jurisprudência, mas agora constam
expressamente na legislação. Compare:

CPC/1973 CPC/2015
Art. 515 (...) Art. 1.013. (...)
§ 3º Nos casos de extinção do processo § 3º Se o processo estiver em condições
sem julgamento do mérito (art. 267), o de imediato julgamento, o tribunal deve
tribunal pode julgar desde logo a lide, se decidir desde logo o mérito quando:
a causa versar questão exclusivamente I - reformar sentença fundada no art.
de direito e estiver em condições de 485;
imediato julgamento. II - decretar a nulidade da sentença por
não ser ela congruente com os limites do
pedido ou da causa de pedir;
III - constatar a omissão no exame de um
dos pedidos, hipótese em que poderá
julgá-lo;
IV - decretar a nulidade de sentença por
falta de fundamentação.

Em provas de concurso, fiquem atentos para a redação dos incisos II a IV do § do art.


1.013 porque eles serão exaustivamente cobrados.

Feitas estas considerações, imagine agora a seguinte situação hipotética: O MP


ingressou com ação de improbidade contra João, Paulo e Pedro pedindo a
indisponibilidade dos bens dos requeridos. O juiz, por meio de decisão interlocutória,
deferiu a indisponibilidade em relação a todos eles, no entanto, na decisão não houve
qualquer fundamentação quanto ao réu Pedro. Diante disso, ele interpôs agravo de
instrumento contra a decisão. O Tribunal, analisando o agravo, decidiu que a decisão
realmente é nula quanto a Pedro por ausência de fundamentação. No entanto, em vez
de mandar o juiz exarar nova decisão, o Tribunal decidiu desde lodo o mérito do
pedido e deferiu a medida cautelar de indisponibilidade dos bens de Pedro,
apontando os argumentos pelos quais este requerido também praticou, em tese, ato
de improbidade. Pedro interpôs recurso especial contra a decisão do Tribunal
argumentando que o CPC, ao tratar sobre a teoria da causa madura, é expresso ao
falar em "sentença". Além disso, o parágrafo que trata sobre esse assunto está inserido
dentro do artigo que cuida da apelação. Assim, não seria possível a aplicação da teoria
da causa madura para agravos de instrumento.

Agiu corretamente o Tribunal neste caso? É possível que o Tribunal, ao julgar agravo
de instrumento, aplique a teoria da causa madura e aprecie desde logo o mérito? SIM.
É o que foi decidido no Info 590.

O entendimento adotado pelo STJ é amplamente aceito pela doutrina:


"(...) Está aí, portanto, a questão da dimensão do disposto pelo
novo parágrafo do art. 515 - se ele abrange apenas o recurso de
apelação, ou também outros. Figure-se a hipótese da decisão
interlocutória com que o juiz determina a realização de uma
prova e a parte manifesta agravo de instrumento com o pedido
de que essa prova não seja realizada: se o tribunal aceitar os
fundamentos do recurso interposto, para que a prova não se
realize, e entender também que nenhuma outra existe a ser
realizada, é de rigor que passe desde logo ao julgamento do
meritum causae, porque assim é o espírito da Reforma - acelerar
a oferta da tutela jurisdicional, renegando mitos seculares,
sempre que isso não importe prejuízo à efetividade das
garantias constitucionais do processo nem prejuízo ilegítimo às
partes (...)" (DINAMARCO, Cândido Rangel. A reforma da
reforma. 6ª ed., São Paulo: Malheiros, 2003, p. 162-163).

"Inclinamo-nos pela admissibilidade de aplicação do art. 515,


§3º também ao agravo de instrumento. (...)" (WAMBIER, Teresa
Arruda Alvim. Os agravos no CPC brasileiro. 4ª ed., São Paulo:
RT, 2006, p. 350).

"Cumpre esclarecer que o §3º do art. 515 não se restringe ao


âmbito do recurso de apelação, sendo comum a todos os meios
de impugnação, tendo em vista que, salvo exceções, a
modificação legislativa não é restritiva, mas sim extensiva a
todo o sistema recursal." (ROGRIGUES, Marcelo Abelha.
Manual de Direito Processual Civil. 5ª ed., São Paulo, RT, p.
644).

Já sob a égide do novo CPC, Daniel Assumpção Neves também defende o mesmo
entendimento:

"Conforme se nota da expressa previsão do art. 1.013, § 3.º, I, do


Novo CPC, a norma diz respeito à apelação, sabidamente uma
das espécies recursais. Ocorre, entretanto, que parcela
considerável da doutrina entende ser a regra pertencente à
teoria geral dos recursos. Dessa forma, defende-se a aplicação
da regra em todo e qualquer recurso, em especial no agravo de
instrumento (...)" (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo
CPC comentado. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 1.680).
32.7. Se a parte interpõe o agravo do art. 1.042 em vez do agravo interno, o STJ não
conhecerá do recurso e não mais aplicará o princípio da fungibilidade – (Info 589) –
IMPORTANTE!!!

O CPC/2015 trouxe previsão legal expressa de que não cabe agravo para o STJ contra
decisão que inadmite recurso especial quando o acórdão recorrido decidiu em
conformidade com recurso repetitivo (art. 1.042). Tal disposição legal aplica-se aos
agravos apresentados contra decisão publicada após a entrada em vigor do NCPC,
em conformidade com o princípio tempus regit actum.
Caso o Tribunal de origem decida em conformidade com entendimento firmado
pelo STJ em recurso repetitivo, a parte deverá interpor agravo interno. Se, em vez
disso, a parte interpuser o agravo em recurso especial para o STJ (art. 1.042),
cometerá erro grosseiro.
Chegando ao STJ este agravo, ele não será conhecido e ele não retornará para que
seja julgado pelo Tribunal de origem como agravo interno.
Assim, após a entrada em vigor do CPC/2015, não é mais devida a remessa pelo STJ,
ao Tribunal de origem, do agravo interposto contra decisão que inadmite recurso
especial com base na aplicação de entendimento firmado em recursos repetitivos,
para que seja conhecido como agravo interno.
STJ. 3ª Turma. AREsp 959.991-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 16/8/16 (Info
589).
OBS:
Interposição de REsp e juízo de admissibilidade: A parte que deseja interpor um
Recurso Especial (REsp) deve protocolizá-lo no juízo a quo (recorrido) e não
diretamente no juízo ad quem (STJ), nos termos do art. 1.029 do CPC.

Ex.: TRF1 profere acórdão, por unanimidade, em apelação, afirmando que Gilson,
servidor público federal, não possui determinado direito previsto na Lei 8.112/90.
Nessa hipótese, ele poderá interpor recurso especial contra a decisão, a ser julgado
pelo STJ, com base no art. 105, III, “a”, da CF/88.

O REsp deverá ser protocolizado no próprio TRF1. A recorrida (no caso, a União) será
intimada para apresentar suas contrarrazões. Logo após, o Presidente do Tribunal (ou
Vice-Presidente, a depender do regimento interno), em decisão monocrática, irá fazer
um juízo de admissibilidade do recurso, nos termos do art. 1.030 do CPC.

Se o juízo de admissibilidade for Se o juízo de admissibilidade for


POSITIVO NEGATIVO
Significa que o Presidente (ou Vice) do Significa que o Presidente (ou Vice) do
Tribunal entendeu que os pressupostos Tribunal entendeu que algum
do REsp estavam preenchidos e, então, pressuposto do REsp não estava
remeterá o recurso para o STJ. presente e, então, não admitirá o recurso.
Contra esta decisão, não cabe recurso, Contra esta decisão, a parte prejudicada
considerando que o STJ ainda irá poderá interpor recurso.
reexaminar novamente esta
admissibilidade.

Motivos da inadmissibilidade: O Presidente (ou Vice) do Tribunal de origem poderá


fazer o juízo negativo de admissibilidade com base em dois fundamentos:

Inciso I do art. 1.030 Inciso V do art. 1.030


O Presidente (ou Vice) negará Este inciso V é utilizado para todas as
seguimento ao recurso especial com base demais hipóteses de inadmissibilidade.
neste inciso se o acórdão atacado estiver Exs: cabimento, legitimidade,
em conformidade com entendimento do tempestividade, interesse, regularidade
STJ exarado em recurso repetitivo. formal etc.
Ex: o STJ, em um recurso repetitivo, Ex: o recorrente interpôs o recurso
disse que os servidores não têm direito à especial, mas não efetuou o preparo. O
gratificação X. No caso dos autos, o TRF Presidente do Tribunal recorrido negará
negou a gratificação X a determinado seguimento ao recurso com base no
servidor. Este não se conformou e inciso V do art. 1.030.
interpôs REsp. O Presidente do TRF
negará seguimento ao recurso.
Recurso cabível contra esta decisão: Recurso cabível contra esta decisão:
agravo interno, que será julgado pelo agravo em recurso especial e
próprio Tribunal de origem. extraordinário (art. 1.042).

Veja o que diz o art. 1.042:

Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do


vice-presidente do tribunal recorrido que inadmitir recurso
extraordinário ou recurso especial (nas hipóteses genéricas do
inciso V do art. 1.030), salvo quando fundada na aplicação de
entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em
julgamento de recursos repetitivos (situação do inciso I do
art. 1.030, quando caberá agravo interno).

Feitas as devidas considerações, imagine a seguinte situação hipotética: João,


servidor público federal, ingressou com ação pedindo o pagamento da gratificação X.
O Juiz Federal julgou improcedente o pedido, tendo a sentença sido mantida pelo TRF.
O acórdão do TRF foi contrário ao servidor baseando-se no entendimento do STJ que,
em recurso repetitivo, já havia decidido que os servidores públicos federais não têm
direito à gratificação X. Mesmo assim, João não se conformou e interpôs recurso
especial contra o acórdão do TRF. O Vice-Presidente do TRF negou seguimento ao
recurso com fundamento no art. 1.030, I, “b”, do CPC/2015:

Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do


tribunal, o recorrido será intimado para apresentar
contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os
autos serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do
tribunal recorrido, que deverá:
I – negar seguimento:
(...) b) a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto
contra acórdão que esteja em conformidade com
entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior
Tribunal de Justiça, respectivamente, exarado no regime de
julgamento de recursos repetitivos;

João continua inconformado e deseja recorrer contra a decisão do Vice-Presidente do


TRF. Qual será o recurso cabível? Agravo interno, que é julgado pelo próprio TRF.

Suponhamos que o advogado de João não seja profundo conhecedor de Processo Civil
e cometa o seguinte erro: em vez de agravo interno no Tribunal de origem, ele interpôs
agravo contra inadmissão de recurso especial (art. 1.042) endereçado ao STJ. Qual a
postura do STJ diante desta situação?

Na época do CPC/1973 Após a entrada em vigor do CPC/2015


O STJ declarava que a parte havia O STJ não conhece do agravo e não mais
interposto o agravo errado. No entanto, remete ao Tribunal de origem para que
o STJ remetia o agravo ao Tribunal de julgue como agravo interno.
origem para que ele apreciasse o recurso O CPC/2015 trouxe previsão legal
como se fosse um agravo interno. expressa de que não cabe agravo para o
Como no CPC anterior não havia STJ contra decisão que inadmite recurso
dispositivo legal expresso regulando especial quando o acórdão recorrido
esta hipótese, o STJ entendia que isso decidiu em conformidade com recurso
não configurava erro grosseiro. repetitivo (art. 1.042).
STJ. Corte Especial. AgRg no AREsp Logo, isso constitui agora erro grosseiro,
260.033-PR, Rel. Min. Raul Araújo, j. não sendo mais devida a determinação
5/8/15 (Info 569). de retorno dos autos ao Tribunal a quo
para que o aprecie como agravo interno.
Vale ressaltar que este art. 1.042 se aplica
aos agravos apresentados contra decisão
publicada após a entrada em vigor do
NCPC, em conformidade com o
princípio tempus regit actum.

32.8. Desnecessidade de ratificação do Resp que foi interposto antes dos embargos
se estes não modificaram a decisão recorrida – (Info 587)

Súmula 579-STJ: Não é necessário ratificar o recurso especial interposto na


pendência do julgamento dos embargos de declaração, quando inalterado o
resultado anterior.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 01/07/2016, DJe 01/08/2016.

32.9. Perda do objeto de agravo de instrumento interposto contra decisão de


antecipação de tutela – (Info 573)

A superveniência de sentença de mérito acarreta a perda do objeto do agravo de


instrumento interposto contra decisão anteriormente proferida em tutela
antecipada.
STJ. Corte Especial. EAREsp 488.188-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 7/10/15
(Info 573).

32.10. Desnecessidade de ratificação do recurso interposto na pendência de


julgamento de embargos declaratórios – (Info 572) – IMPORTANTE!!!

Não é necessária a ratificação do recurso interposto na pendência de julgamento de


embargos de declaração quando, pelo julgamento dos aclaratórios, não houver
modificação do julgado embargado. Essa conclusão é reforçada pelo art. 1.024, § 5º
do novo CPC.
STJ. Corte Especial. REsp 1.129.215-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
16/9/2015 (Info 572).

32.11. Comprovação de pagamento de preparo recursal via recibo extraído da internet


– (Info 565)

A parte pode pagar o preparo recursal por meio da internet, imprimir essa transação
bancária e juntar no recurso? É válida a prova da realização do preparo recursal
mediante a juntada de comprovante de pagamento emitido via internet?
SIM. O pagamento do preparo recursal pode ser comprovado por intermédio de
recibo extraído da internet, desde que esse meio de constatação de quitação
possibilite a aferição da regularidade do recolhimento. A guia eletrônica de
pagamento via Internet constitui meio idôneo à comprovação do recolhimento do
preparo, desde que preenchida com a observância dos requisitos regulamentares,
permitindo-se ao interessado a impugnação fundamentada.
STJ. 2ª Turma. EAREsp 423.679-SC, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 24/6/2015 (Info
565).

32.12. Insuficiência do preparo e intimação do recorrente para suprir o pagamento –


(Info 563)

O preparo consiste no pagamento das custas e do porte de remessa e de retorno dos


autos.
A parte que interpõe recurso contra uma decisão precisa comprovar, no momento
da interposição, o preparo.
Se a parte, no ato da interposição do recurso, recolhe apenas uma das verbas
indispensáveis ao seu processamento (paga só as custas ou paga só as despesas com
o porte de remessa e retorno), ela deverá ser intimada para suprir o preparo no prazo
de 5 dias. Caso não faça isso no prazo, será decretada a sua deserção.
STJ. Corte Especial. REsp 844.440-MS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em
6/5/2015 (Info 563).

32.13. (Im)possibilidade de prorrogação do termo inicial do prazo recursal diante do


encerramento prematuro do expediente forense – (Info 557) – IMPORTANTE!!!

Se o dia do vencimento do prazo do recurso cair em uma data na qual o expediente


forense foi encerrado mais cedo que o normal, haverá prorrogação para o dia
subsequente?
 CPC-1973: SIM
 CPC-2015: SIM

Se o dia do início do prazo do recurso cair em uma data na qual o expediente forense
foi encerrado mais cedo que o normal, haverá prorrogação do início para o dia
subsequente?
 CPC-1973: NÃO
 CPC-2015: SIM
Para o CPC-1973, a prorrogação em razão do encerramento prematuro do expediente
forense aplica-se tão somente em relação ao dies ad quem (dia do vencimento) do
prazo recursal, não se aplicando para o dies a quo (dia de início).
STJ. Corte Especial. EAREsp 185.695-PB, Rel. Min. Felix Fischer, j. 4/2/15 (Info 557).

32.14. Assinatura eletrônica e assinatura digitalizada

A assinatura ELETRÔNICA é válida, podendo ser aposta nas petições em geral e


nos recursos, estando regulamentada pela Lei 11.419/2006.
A assinatura DIGITALIZADA (“escaneada”) NÃO é válida. Se for aposta no
recurso, este não será conhecido, sendo reputado inexistente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.442.887-BA, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 6/5/14 (Info 541).
OBS:
Não se poderia aplicar, no caso, o princípio da instrumentalidade das formas para se
aceitar o recurso? NÃO. Segundo pontuou a Min. Nancy Andrighi, embora, na
moderna ciência processual, seja consagrado o princípio da instrumentalidade das
formas, sua aplicação deve encontrar limites exatamente no princípio da segurança
jurídica. Não se trata de privilegiar a forma pela forma, mas de conferir aos
jurisdicionados, usuários das modernas ferramentas eletrônicas, o mínimo de critérios
para garantir a autenticidade e integridade de sua identificação no momento da
interposição de um recurso ou de apresentação de outra peça processual. Posto isso,
considera-se como inexistente o recurso cuja assinatura para identificação do
advogado foi obtida por digitalização.

33. APELAÇÃO
33.1. POSSIBILIDADE DE A PARTE JUNTAR NOVOS DOCUMENTOS EM SEDE
DE APELAÇÃO – (Info 533)

É possível que a parte junte novos documentos em sede de apelação, desde que
atendidos os seguintes requisitos:
a) não se trate de documento indispensável à propositura da ação;
b) não haja indício de má fé;
c) seja ouvida a parte contrária, garantindo-se o contraditório (art. 398 do CPC).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.176.440-RO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
17/9/2013 (Info 533).

34. AGRAVO
34.1. AGRAVO DE INSTRUMENTO: Se o processo é eletrônico na 1ª instância, mas
é físico no Tribunal, não se aplica a dispensa de juntada de documentos prevista no
art. 1.017, § 5º do CPC/2015 – (Info 605)

A disposição constante do art. 1.017, § 5º, do CPC/2015, que dispensa a juntada das
peças obrigatórias à formação do agravo de instrumento em se tratando de processo
eletrônico, exige, para sua aplicação, que os autos tramitem por meio digital tanto
no primeiro quanto no segundo grau de jurisdição.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.643.956-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 9/5/17 (Info
605)
OBS:
Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída:
I — obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da
contestação, da petição que ensejou a decisão agravada, da
própria decisão agravada, da certidão da respectiva intimação
ou outro documento oficial que comprove a tempestividade e
das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do
agravado;
II — com declaração de inexistência de qualquer dos
documentos referidos no inciso I, feita pelo advogado do
agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal;
III — facultativamente, com outras peças que o agravante
reputar úteis.
(...)
§ 5º Sendo eletrônicos os autos do processo, dispensam-se as
peças referidas nos incisos I e II do caput, facultando-se ao
agravante anexar outros documentos que entender úteis para
a compreensão da controvérsia.

34.2. AGRAVO DE INSTRUMENTO: É possível que as peças do agravo de


instrumento sejam entregues em DVD – (Info 591) – IMPORTANTE!!!

As peças que devem formar o instrumento do agravo podem ser apresentadas em


mídia digital (DVD).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.608.298-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 1/9/2016 (Info 591).
OBS:
O agravo de instrumento é um recurso interposto diretamente no juízo ad quem, ou
seja, é encaminhado diretamente para o Tribunal que irá julgá-lo.

Ex.: “A” ingressa com uma ação de alimentos contra “B” e pede a concessão de
alimentos provisórios no valor de R$ 2 mil. O juiz, em decisão interlocutória, nega a
fixação dos alimentos provisórios. “A” interpõe agravo de instrumento contra a
decisão do juiz de 1ª instância (juízo a quo) diretamente no Tribunal de Justiça (juízo
ad quem).

O nome do recurso é agravo de instrumento porque neste tipo de agravo deverá ser
formado um “instrumento”, ou seja, um conjunto de documentos para que o Tribunal
analise se as razões invocadas pelo recorrente são procedentes ou não. Isso ocorre
porque o processo continua tramitando no juízo a quo e, para o juízo ad quem examinar
as razões do recurso, será necessário que ele tenha cópias de alguns documentos
presentes naqueles autos originários.

Em nosso exemplo, “A” irá preparar a petição do recurso, tirar cópias de vários
documentos dos autos, juntá-los à petição e protocolá-los, como agravo de
instrumento, no Tribunal de Justiça.

E quais são estes documentos? Estão previstos no art. 525 do CPC 1973 (art. 1.017 do
CPC 2015). Fique atento para as partes em cinza porque são novidades:

CPC 1973 CPC 2015


Art. 525. A petição de agravo de Art. 1.017. A petição de agravo de
instrumento será instruída: instrumento será instruída:
I — obrigatoriamente, com cópias da I — obrigatoriamente, com cópias da
decisão agravada, da certidão da petição inicial, da contestação, da
respectiva intimação e das procurações petição que ensejou a decisão agravada,
outorgadas aos advogados do agravante da própria decisão agravada, da certidão
e do agravado; da respectiva intimação ou outro
II — facultativamente, com outras peças documento oficial que comprove a
que o agravante entender úteis. tempestividade e das procurações
outorgadas aos advogados do agravante
e do agravado;
II — com declaração de inexistência de
qualquer dos documentos referidos no
inciso I, feita pelo advogado do
agravante, sob pena de sua
responsabilidade pessoal;
III — facultativamente, com outras peças
que o agravante reputar úteis.

O que acontece caso a parte agravante não junte algum dos documentos considerados
obrigatórios? Na falta da cópia de qualquer peça ou no caso de algum outro vício que
comprometa a admissibilidade do agravo de instrumento, o relator deverá, antes de
considerar inadmissível o recurso, conceder o prazo de 5 dias ao agravante para que
seja sanado vício ou complementada a documentação exigível (art. 1.017, § 3º do
CPC/2015). Caso, mesmo intimado, o agravante não junte o documento faltante ou
corrija o vício, aí sim deverá o relator julgar inadmissível o agravo de instrumento
manejado.

Imagine que o processo é físico (em papel). Mesmo assim, poderá o agravante juntar
esses documentos acima listados em formato digital, ou seja, escaneados e salvos em
um DVD? SIM.

O art. 425, VI, do CPC/2015 prevê a validade das reproduções digitalizadas:


Art. 425. Fazem a mesma prova que os originais:
(...)
VI - as reproduções digitalizadas de qualquer documento
público ou particular, quando juntadas aos autos pelos órgãos
da justiça e seus auxiliares, pelo Ministério Público e seus
auxiliares, pela Defensoria Pública e seus auxiliares, pelas
procuradorias, pelas repartições públicas em geral e por
advogados, ressalvada a alegação motivada e fundamentada
de adulteração.

Além disso, o CPC não exige que o agravante junte as peças originais. Desse modo, se
ele apresentar as peças em formato eletrônico (mídia contendo imagens)
acompanhada da declaração de autenticidade pelo advogado, tal apresentação deverá
ser considerada válida, salvo se a parte adversária demonstrar que sejam inautênticas.

34.3. AGRAVO DE INSTRUMENTO: Comprovação da tempestividade mediante


apresentação do termo de abertura de vista e remessa dos autos à Fazenda Nacional –
(Info 577)
No agravo de instrumento, em regra, se o agravante não juntou a cópia de certidão
de intimação da decisão agravada, seu recurso não será conhecido em virtude de
esta certidão ser prevista como documento obrigatório (art. 525, I, do CPC 1973 / art.
1.017, I, do CPC 2015). A Lei exige esse documento para que o Tribunal possa saber
quando a parte foi intimada e, assim, ter certeza que o recurso foi interposto
tempestivamente.
Exceção: é possível dispensar a certidão de intimação se existirem outros meios para
se aferir a tempestividade do recurso.
O termo de abertura de vista e remessa dos autos à Fazenda Nacional substitui, para
efeito de demonstração da tempestividade do agravo de instrumento por ela
interposto, a apresentação de certidão de intimação da decisão agravada (art. 525, I,
do CPC 1973 / art. 1.017, I, do CPC 2015).
STJ. Corte Especial. REsp 1.383.500-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
17/2/2016 (recurso repetitivo) (Info 577).
OBS:
AGRAVO DE INSTRUMENTO E DOCUMENTOS OBRIGATÓRIOS E
FACULTATIVOS QUE DEVEM INSTRUIR A PETIÇÃO DO RECURSO
O agravo de instrumento é um recurso interposto diretamente no juízo ad quem
(encaminhado diretamente para o Tribunal que irá julgá-lo).

Ex.: “A” ingressa com uma ação de alimentos contra “B” e pede a concessão de
alimentos provisórios no valor de R$ 2 mil. O juiz, em decisão interlocutória, nega a
fixação dos alimentos provisórios. “A” interpõe agravo de instrumento contra a
decisão do juiz de 1ª instância (juízo a quo) diretamente no Tribunal de Justiça (juízo
ad quem).

O nome do recurso é agravo de instrumento porque neste tipo de agravo deverá ser
formado um “instrumento”: é um conjunto de documentos para que o Tribunal analise
se as razões invocadas pelo recorrente são procedentes ou não. Isso ocorre porque o
processo continua tramitando no juízo a quo e, para o juízo ad quem examinar as razões
do recurso, será necessário que ele tenha cópias de alguns documentos presentes
naqueles autos originários. Em nosso exemplo, “A” irá preparar a petição do recurso,
tirar cópias de vários documentos dos autos, juntá-los à petição e protocolá-los, como
agravo de instrumento, no Tribunal de Justiça.

E quais são estes documentos? Estão previstos no art. 1.017 do CPC 2015:

Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída:


I — obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da
contestação, da petição que ensejou a decisão agravada, da própria
decisão agravada, da certidão da respectiva intimação ou outro
documento oficial que comprove a tempestividade e das
procurações outorgadas aos advogados do agravante e do
agravado;
II — com declaração de inexistência de qualquer dos documentos
referidos no inciso I, feita pelo advogado do agravante, sob pena de
sua responsabilidade pessoal;
III — facultativamente, com outras peças que o agravante reputar
úteis.

CÓPIA DE CERTIDÃO DE INTIMAÇÃO:


Regra: se não foi juntada no recurso, este não será conhecido: Uma das peças
consideradas obrigatórias é a certidão de intimação da decisão agravada (art. 525, I,
do CPC 1973 / art. 1.017, I, do CPC 2015). A Lei exige esse documento para que o
Tribunal possa saber quando a parte foi intimada e, assim, ter certeza de que o recurso
foi interposto tempestivamente. Por essa razão, o agravante deverá juntar, em anexo,
uma cópia dessa certidão na petição do agravo de instrumento. O STJ já editou até um
enunciado afirmando isso:

Súmula 223-STJ: A certidão de intimação do acórdão recorrido


constitui peça obrigatória do instrumento de agravo.

Em regra, se o agravante não juntar a certidão de intimação do acórdão recorrido, seu


recurso (agravo de instrumento) não será conhecido.

Exceção: é dispensada a certidão se existir outra prova da tempestividade: O STJ tem


abrandado a regra geral, fixando a seguinte exceção: é possível dispensar a certidão
de intimação se existirem outros meios para se aferir a tempestividade do recurso.
Assim, a ausência da cópia da certidão de intimação da decisão agravada não será
óbice (empecilho) ao conhecimento do agravo de instrumento se, por outros meios
inequívocos, for possível aferir a tempestividade do recurso. STJ. 2ª Seção. REsp
1.409.357-SC, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 14/5/2014 (recurso repetitivo) (Info
541).

Em outras palavras, mesmo que o agravante não tenha juntado a cópia da certidão de
intimação, é possível que o Tribunal releve a ausência dessa peça obrigatória (e
conheça o recurso) se existir nos autos algum outro meio de se ter certeza que o agravo
foi interposto dentro do prazo.

Ex.: o agravante não juntou a certidão de intimação, mas pela data da decisão
agravada (que está nos autos) e a data em que foi protocolado o agravo, percebe-se
que não se passaram mais que 15 dias (prazo do AI no CPC 2015). É lógico que a
intimação ocorreu após a data da decisão, de modo que está provado que o recurso
foi interposto dentro do prazo, mesmo não havendo a certidão. Esse posicionamento
do STJ é aplicado em homenagem ao princípio da instrumentalidade das formas, para
o qual o exagerado processualismo deve ser evitado, de forma a que o processo e seu
uso sejam convenientemente conciliados e realizados.

Novo CPC: O CPC 2015 considerou e positivou, pelo menos em parte, esse correto
entendimento jurisprudencial acima explicado. Com efeito, o inciso I do art. 1.017
prevê que o agravante deverá juntar cópia da certidão da respectiva intimação ou
outro documento oficial que comprove a tempestividade. A interpretação do STJ vai
além do texto do novo CPC e permite que se constate a tempestividade (dispensando-
se a certidão de intimação) por outros meios em geral (não exigindo, necessariamente,
documento oficial).

AI INTERPOSTO PELA FAZENDA NACIONAL E CÓPIA DO TERMO DE


ABERTURA DE VISTA E REMESSA DOS AUTOS:
A certidão de concessão de vista dos autos pode ser considerada como elemento
suficiente para demonstrar se o agravo de instrumento interposto pela Fazenda
Nacional foi ou não tempestivo. Isso porque nela constará a data em que a Fazenda
foi intimada da decisão agravada. Perceba, portanto, que esse “termo de abertura de
vista e remessa” cumpre a função da certidão de intimação.

Considerando a prerrogativa que possui a Fazenda Nacional de ser intimada das


decisões por meio da concessão de vista pessoal e, em atenção ao princípio da
instrumentalidade das formas, pode a certidão de concessão de vistas dos autos ser
considerada elemento suficiente à demonstração da tempestividade do agravo de
instrumento, substituindo a certidão de intimação legalmente prevista.

A decisão acima está em sintonia com o novo CPC que, como vimos, no inciso I do art.
1.017, prevê que o agravante deverá juntar cópia da certidão da respectiva intimação
ou outro documento oficial que comprove a tempestividade.

34.4. Multa e depósito do § 2º do art. 557 do CPC e sua aplicabilidade à Fazenda


Pública – (Info 551) – IMPORTANTE!!!

O § 2º do art. 557 do CPC prevê que, quando manifestamente inadmissível ou


infundado o agravo, o tribunal condenará o agravante a pagar ao agravado multa
entre 1% e 10% do valor corrigido da causa, ficando a interposição de qualquer outro
recurso condicionada ao depósito do respectivo valor.
Esse dispositivo também é aplicável ao Poder Público. Assim, havendo condenação
da Fazenda Pública ao pagamento da multa prevista no art. 557, § 2º, do CPC, a
interposição de qualquer outro recurso fica condicionada ao depósito prévio do
respectivo valor.
O art. 1º-A da Lei 9.494/97 prevê que as pessoas jurídicas de direito público estão
dispensadas de depósito prévio para interposição de recurso. No entanto, para a
jurisprudência, o “depósito prévio” de que trata o art. 1º-A da Lei 9.494/97 não é o
mesmo depósito previsto no § 2º do art. 557 do CPC. São institutos diversos, com
finalidades diversas. O segundo (mencionado no § 2º do art. 557) caracteriza-se
como uma verdadeira penalidade enquanto o depósito prévio de que trata o art. 1º-
A da Lei 9.494/97 não tem essa natureza.
STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 553.788-DF, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em
16/10/2014 (Info 551).

34.5. Conhecimento do agravo de instrumento mesmo sem a certidão de intimação


da decisão agravada – (Info 541) – IMPORTANTE!!!

A ausência da cópia da certidão de intimação da decisão agravada não será óbice


(empecilho) ao conhecimento do agravo de instrumento se, por outros meios
inequívocos, for possível aferir a tempestividade do recurso.
Em outras palavras, mesmo que o agravante não tenha juntado a cópia da certidão
de intimação, é possível que o Tribunal releve a ausência dessa peça obrigatória (e
conheça o recurso) se existir nos autos algum outro meio de se ter certeza que o
agravo foi interposto dentro do prazo.
Ex.: o agravante não juntou a certidão de intimação, mas pela data da decisão
agravada (que está nos autos) e a data em que foi protocolizado o agravo, percebe-
se que não se passaram mais que 10 dias. Ora, é lógico que a intimação ocorreu após
a data da decisão, de modo que está provado que o recurso foi interposto dentro do
prazo, mesmo não havendo a certidão.
Esse posicionamento do STJ é aplicado em homenagem ao princípio da
instrumentalidade das formas, para o qual o exagerado processualismo deve ser
evitado, de forma a que o processo e seu uso sejam convenientemente conciliados e
realizados.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.409.357-SC, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 14/5/2014
(recurso repetitivo) (Info 541).

34.6. Irrecorribilidade da decisão que concede ou nega efeito suspensivo ao agravo


de instrumento – (Info 541)

Não cabe recurso especial contra acórdão que indefere a atribuição de efeito
suspensivo a agravo de instrumento. A decisão colegiada que entende pela ausência
dos requisitos necessários à atribuição do efeito suspensivo a agravo de
instrumento não resulta em decisão de única ou última instância, como previsto art.
105, III, da CF. Há necessidade de que o Tribunal julgue, definitivamente, o agravo
de instrumento em seu mérito para que a parte vencida possa ter acesso à instância
especial.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.289.317-DF, Rel. Min. Humberto Martins, j. 27/5/14 (Info 541).

35. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO


35.1. Embargos de declaração com efeitos infringentes não podem ser recebidos
como pedido de reconsideração – (Info 575) – IMPORTANTE!!! ATUALIZE INFOS
2013!

Os embargos de declaração, ainda que contenham nítido pedido de efeitos


infringentes, não devem ser recebidos como mero "pedido de reconsideração".
Tal proceder é incabível por três razões principais:
a) não atende a nenhuma previsão legal, tampouco aos requisitos de aplicação do
princípio da fungibilidade recursal considerando que pedido de reconsideração
nem é previsto na lei nem pode ser considerado recurso;
b) traz surpresa e insegurança jurídica ao jurisdicionado, pois, apesar de interposto
tempestivamente o recurso cabível, ficará à mercê da subjetividade do magistrado;
c) acarreta ao embargante grave sanção sem respaldo legal, qual seja, a não
interrupção de prazo para posteriores recursos, aniquilando o direito da parte
embargante, o que supera a penalidade objetiva positivada no § 2º do art. 1.022 do
CPC 2015.
STJ. Corte Especial. REsp 1.522.347-ES, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 16/9/2015
(Info 575).
OBS:
Três observações importantes sobre o art. 1.022 do CPC 2015:
 Ficou expressamente previsto que cabem embargos de declaração contra qualquer
decisão judicial. Antes, diante da literalidade do art. 535 do CPC 1973, havia
entendimentos de que não caberia embargos de declaração contra decisões
interlocutórias. Com o novo CPC, não há dúvidas de que isso é possível;
 O conceito do que seja “omissão” para fins de embargos de declaração foi
ampliado;
 Foi acrescentada uma nova hipótese de embargos de declaração, que já era
admitida pela jurisprudência: situação em que se verifica um “erro material” na
decisão.

Os objetivos típicos dos embargos são: a) esclarecer obscuridade; b) eliminar


contradição; c) suprir omissão; d) corrigir erro material.
No entanto, muitas vezes, ao se dar provimento aos embargos, pode acontecer de o
resultado da decisão ser alterado. Quando isso acontece, dizemos que os embargos de
declaração assumem um efeito infringente.

Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de recurso (art.


1.026 do CPC 2015): Ex: juiz prolatou uma sentença. Logo, a parte prejudicada teria o
prazo de 15 dias para interpor o recurso cabível para o caso (apelação). No entanto,
essa parte vislumbrou a existência de uma contradição no pronunciamento judicial.
Desse modo, antes de interpor a apelação, decidiu opor embargos de declaração.
Somente quando o juiz julgar esses embargos é que começará a contar o prazo de 15
dias para a apelação. Vale ressaltar que os embargos de declaração, ainda que
rejeitados, interrompem o prazo recursal.

Excepcionalmente, é possível a modificação do julgado por meio dos embargos de


declaração, desde que ele seja omisso, obscuro, contraditório ou tenha algum erro
material, de forma que, a partir de sua integração, o fundamento desta acarrete,
necessariamente, a alteração da decisão.

Multa do art. 1.022, § 2º do CPC 2015: Se não houver vício a ser sanado, mas apenas a
pretensão do recorrente em rediscutir a decisão, o julgador poderá aplicar a multa
prevista no art. 1.022, § 2º, do CPC 2015, desde que fique caracterizado que o
embargante estava com intuito de procrastinar (prolongar indevidamente o processo).
Ressalta-se, no entanto, que, mesmo nessa hipótese do § 2º, haverá interrupção do
prazo para os demais recursos.

O que pode ser considerado como embargos de declaração manifestamente


protelatórios? Apontamos 2 hipóteses de embargos de declaração manifestamente
protelatórios: 1ª) O recorrente não aponta, de forma concreta, nenhuma das hipóteses
de cabimento (obscuridade, contradição ou omissão), ficando bem claro que seu
objetivo foi apenas o de prolongar indevidamente o processo; e 2ª) O recorrente visa
rediscutir matéria já apreciada e decidida pela Corte de origem em conformidade com
súmula do STJ ou STF ou, ainda, precedente julgado pelo rito do recurso repetitivo ou
da repercussão geral.

Receber os embargos como se fossem pedido de reconsideração é punição muito


severa: O recebimento dos aclaratórios como pedido de reconsideração padece de, ao
menos, duas manifestas ilegalidades, sendo a primeira a ausência de previsão legal
para tal sanção subjetiva, e a segunda a "não interrupção do prazo recursal",
aniquilando o direito da parte embargante e ignorando a penalidade objetiva,
estabelecida pelo legislador no § 2º do art. 1.022 do CPC 2015.

Situações em que os embargos de declaração não irão interromper o prazo para os


demais recursos: Há 2 hipóteses em que os embargos declaratórios não deverão ser
conhecidos e, como consequência, não irão interromper o prazo (embargante irá
perder o prazo para os demais recursos). São elas: 1) Quando os embargos de
declaração forem intempestivos (tiverem sido opostos fora do prazo); 2) Não serão
admitidos novos embargos de declaração se a parte já tiver apresentado dois
embargos anteriormente e estes tiverem sido considerados protelatórios (§ 4º do art.
1.026 do CP 2015).
35.2. SÃO PROLETATÓRIOS OS EMBARGOS OPOSTOS CONTRA ACÓRDÃO
EM HARMONIA COM O STF/STJ – (Info 541)

Caracterizam-se como protelatórios os embargos de declaração que visam rediscutir


matéria já apreciada e decidida pela Corte de origem em conformidade com súmula
do STJ ou STF ou, ainda, precedente julgado pelo rito dos artigos 543-C e 543-B do
CPC.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.410.839-SC, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 14/5/2014
(recurso repetitivo) (Info 541).

35.3. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO MANIFESTAMENTE PROTELATÓRIOS:


aplicação de multa e indenização – (Info 541) – IMPORTANTE!!!

Em caso de embargos de declaração manifestamente protelatórios, é possível aplicar


a multa do art. 538, parágrafo único, juntamente com a indenização prevista no art.
18, § 2º do CPC.
A multa prevista no art. 538, parágrafo único, do CPC tem caráter eminentemente
administrativo — punindo conduta que ofende a dignidade do tribunal e a função
pública do processo —, sendo possível sua cumulação com a sanção prevista nos
arts. 17, VII, e 18, § 2º, do CPC, de natureza reparatória.
STJ. Corte Especial. REsp 1.250.739-PA, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. em 4/12/2013
(Info 541).

36. RECURSO ADESIVO


36.1. Recurso adesivo para majorar quantia indenizatória decorrente de dano moral
– (Info 562) – IMPORTANTE!!!

João propõe ação de indenização por danos morais contra Pedro pedindo o
pagamento de R$ 30 mil. O juiz julga o pedido procedente, condenando o réu a
pagar a indenização por danos morais, mas fixando o valor em R$ 10 mil. João
pensou consigo mesmo: “eu queria mais, no entanto, prefiro acabar logo com esse
processo e receber imediatamente esses R$ 10 mil do que ficar tentando R$ 30 mil
por mais alguns anos; não vou recorrer”. Ocorre que, no último dia do prazo, Pedro
interpôs apelação.
João foi, então, intimado para apresentar contrarrazões à apelação. Neste momento,
ele pensou: “ah, já que ele recorreu, então agora eu também quero recorrer para
aumentar o valor da indenização; já que vou esperar mesmo, então quero tentar uma
quantia maior”. Diante disso, o advogado de João interpõe recurso adesivo pedindo
a majoração do valor da indenização por danos morais.
Pedro apresenta contrarrazões alegando que o recurso interposto por João é
incabível, considerando que o recurso adesivo só cabe se existir sucumbência
recíproca e, no caso, não houve, conforme preconiza a súmula 326 do STJ: “Na ação
de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado
na inicial não implica sucumbência recíproca.”
A tese de Pedro está correta?
NÃO. O recurso adesivo pode sim ser interposto pelo autor da ação de indenização
julgada procedente, quando arbitrado, a título de danos morais, valor inferior ao
que era almejado. Isso porque, neste caso, estará configurado o interesse recursal
do demandante em ver majorada a condenação, hipótese caracterizadora de
sucumbência material.
Realmente, só cabe recurso adesivo se houver sucumbência recíproca, ou seja, se
tanto o autor como o réu perderem na sentença.
Se o autor pediu a condenação do réu em R$ 30 mil a título de danos morais e
conseguiu a condenação em R$ 10 mil, ele ganhou a demanda sob o ponto de vista
formal (processual). Não se pode dizer que houve sucumbência formal, já que a
providência processual requerida foi atendida (o réu foi obrigado a pagar). No
entanto, sob o ponto de vista material, o autor teve sim uma sucumbência parcial
(derrota parcial). Isso porque ele não obteve exatamente o bem da vida que
pretendia (queria 30 e só teve 10). Logo, neste caso, o autor terá interesse em ver
majorada a condenação, hipótese caracterizadora, portanto, da sucumbência
material viabilizadora da irresignação recursal.
Não se aplica a Súmula 326 do STJ porque esse enunciado é baseado na definição
da responsabilidade pelo pagamento de despesas processuais e honorários
advocatícios. Ele não está relacionado com interesse recursal. A correta leitura da
súmula 326 é a seguinte:
Para fins de definição de quem irá pagar as despesas processuais e os honorários
advocatícios, “na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante
inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca”.
Logo, se o autor pediu uma quantia a título de danos morais e obteve valor inferior
ao desejado, podemos concluir que:
 Sob o ponto de vista formal, ele foi o vencedor da demanda e não terá que
pagar as despesas processuais e os honorários advocatícios do réu (Súmula
326-STJ);
 Sob o ponto de vista material, ele foi sucumbente e terá direito de interpor
recurso (principal ou adesivo), já que não obteve o exato bem da vida
pretendido.
STJ. Corte Especial. REsp 1.102.479-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, Corte Especial, julgado
em 4/3/2015 (recurso repetitivo) (Info 562).

36.2. Impossibilidade de desistência do recurso principal se foi concedida tutela


antecipada no recurso adesivo – (Info 554)

Em regra, se a parte que interpôs o recurso principal pede a sua desistência, o


recurso adesivo seguirá a mesma sorte, e não será mais conhecido (art. 500, III, do
CPC).
Vale ressaltar, ainda, que o recorrente poderá, a qualquer tempo, desistir do recurso,
mesmo que sem a anuência do recorrido (art. 501).
No entanto, segundo decidiu o STJ, se já foi concedida antecipação dos efeitos da
tutela no recurso adesivo, não se admite a desistência do recurso principal de
apelação.
A apresentação da petição de desistência logo após a concessão dos efeitos da tutela
recursal teve a nítida intenção de esvaziar o cumprimento da determinação judicial,
no momento em que o réu anteviu que o julgamento final da apelação lhe seria
desfavorável, sendo a pretensão, portanto, incompatível com o princípio da boa-fé
processual.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.285.405-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
16/12/2014 (Info 554).

37. RECURSO ESPECIAL


37.1. Conhecimento pelo STJ de RESP em parte inadmitido na origem – (Info 567)
O recurso especial que foi em parte admitido pelo Tribunal de origem pode ser
conhecido pelo STJ na totalidade, ainda que à parte inadmitida tenha sido aplicado
o art. 543-C, § 7º, I, do CPC 1973 e o recorrente não tenha interposto agravo
regimental na origem para combater essa aplicação.
Foram aplicados, por analogia, dois enunciados do STF que possuem a seguinte
redação:
Súmula 292-STF: Interposto o recurso extraordinário por mais de um dos
fundamentos indicados no art. 101, III, da Constituição, a admissão apenas por um
deles não prejudica o seu conhecimento por qualquer dos outros.
Súmula 528-STF: Se a decisão contiver partes autônomas, a admissão parcial, pelo
presidente do tribunal "a quo", de recurso extraordinário que, sobre qualquer delas
se manifestar, não limitará a apreciação de todas pelo Supremo Tribunal Federal,
independentemente de interposição de agravo de instrumento.
STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 1.472.853-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
4/8/2015 (Info 567).

37.2. Cabimento de REsp em caso de aplicação de lei nova a situação jurídica já


constituída antes de sua edição – (Info 556)

Cabe recurso especial – e não recurso extraordinário – para examinar se ofende o art.
6º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB) a interpretação
feita pelo acórdão recorrido dos conceitos legais de direito adquirido e de ato
jurídico perfeito a qual ensejou a aplicação de lei nova a situação jurídica já
constituída quando de sua edição.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.124.859-MG, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para
acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 26/11/2014 (Info 556).

37.3. Não cabe REsp por violação de súmula – (Info 556)

Súmula 518-STJ: Para fins do art. 105, III, a, da Constituição Federal, não é cabível
recurso especial fundado em alegada violação de enunciado de súmula.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 26/02/2015 (Info 556).

38. RECURSO EXTRAORDINÁRIO


38.1. TEMPESTIVIDADE DE RECURSO ESPECIAL OU EXTRAORDINÁRIO E
FERIADO LOCAL

É admissível comprovação posterior da tempestividade de recurso no STJ ou no STF


quando o recurso houver sido julgado intempestivo em virtude de feriados locais
ou de suspensão de expediente forense no tribunal a quo.
STJ. Corte Especial. AgRg no AREsp 137.141-SE, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira,
julgado em 19/9/2012.
STF. Plenário. RE 626358 AgR/MG, rel. Min. Cezar Peluso, 22/3/2012.

39. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO


39.1. Limites do julgamento submetido ao rito do art. 543-C do CPC – (Info 562)

Em julgamentos submetidos ao rito do art. 543-C do CPC 1973 (art. 1.036 do CPC
2015), cabe ao STJ traçar as linhas gerais acerca da tese aprovada, descabendo a
inserção de soluções episódicas ou exceções que porventura possam surgir em
outros indetermináveis casos, sob pena de se ter de redigir verdadeiros tratados
sobre todos os temas conexos ao objeto do recurso.
STJ. Corte Especial. EDcl no REsp 1.124.552-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado
em 6/5/2015 (Info 562).

39.2. Intervenção da Defensoria Pública como amicus curiae em recursos


representativos de controvérsia – (Infos 537 e 547) – ATENÇÃO! DPU!

A DPU e as Defensorias Públicas estaduais podem atuar como amicus curiae em


recursos especiais repetitivos e recursos extraordinários submetidos à repercussão
geral, assim como em processos de controle concentrado de constitucionalidade. Para
isso, deverão demonstrar que possuem legítimo interesse e representatividade para
essa atuação como amigo da Corte.
A mera afirmação de que a Defensoria Pública atua em vários processos que tratam
do mesmo tema versado no recurso representativo da controvérsia a ser julgado não
é suficiente para caracterizar-lhe a condição de amicus curiae.
Dois exemplos em que o STJ não admitiu a intervenção da instituição como amicus
curiae:
 Recurso especial repetitivo em que se discutia encargos de crédito rural,
destinado ao fomento de atividade comercial.
 Recurso especial repetitivo em que se debatia a possibilidade de
redirecionamento de execução fiscal em caso de dívidas não-tributárias.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.371.128-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 10/9/14 (Info
547).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.333.977-MT, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 26/2/14 (Info 537).

40. JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM DO RESP E RE


40.1. Não cabimento do agravo do art. 544 contra decisão fundamentada no art. 543-
C, § 7°, I, do CPC 1973 – (Info 569) – SUPERADO – Info 589 (Vide item “Recursos”).

Na égide do CPC 1973, a parte pode interpor o agravo do art. 544 (agravo nos
próprios autos) contra a decisão do Presidente do tribunal de origem que nega
seguimento ao recurso especial com base no inciso I do § 7º do art. 543-C do CPC
1973?
NÃO. Não cabe agravo em recurso especial (art. 544 do CPC 1973) contra decisão
que nega seguimento a esse recurso com base no art. 543-C, § 7º, I, do CPC 1973,
podendo a parte interessada interpor agravo interno ou regimental no tribunal de
origem, demonstrando a especificidade do caso concreto.
Mesmo assim, caso a parte, de forma equivocada, interponha o agravo em recurso
especial (art. 544 do CPC 1973), nesta hipótese o STJ não irá conhecer do recurso e
remeterá esse agravo ao Tribunal de origem para que ele aprecie o recurso como se
fosse um agravo interno.
Obs: com o CPC 2015, esse julgado acima perde importância, já que o novo CPC
prevê nestes casos que será cabível uma nova espécie de agravo chamada de "agravo
em recurso especial" e "agravo em recurso extraordinário" (art. 1.042, II do CPC
2015). Esse agravo é interposto perante o Presidente ou Vice-presidente do tribunal
de origem (TJ/TRF), mas quem irá julgá-lo é o STJ (ou STF). Trata-se de um agravo
que é juntado nos próprios autos do REsp (ou RE).
STJ. Corte Especial. AgRg no AREsp 260.033-PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em
5/8/2015 (Info 569).
40.2. PARTE QUE TEVE PROCESSO SOBRESTADO NÃO PODE INTERVIR
COMO ASSISTENTE SIMPLES – (Info 540)

Quando determinado tema é selecionado para ser julgado sob a sistemática do art.
543-C (recursos especiais repetitivos), é escolhido um ou alguns recursos para serem
analisados pelo STJ (recursos paradigmas) e os demais que tratem sobre a mesma
matéria ficarão suspensos no tribunal de origem até que o STJ se pronuncie sobre o
tema central.
A parte que teve seu processo sobrestado não poderá intervir nem como assistente
simples nem como amicus curiae no recurso especial paradigma que será analisado
pelo STJ.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.418.593-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 14/5/14 (Info 540).

40.3. IRRECORRIBILIDADE DA DECISÃO DO TRIBUNAL DE ORIGEM QUE


APLICA O ENTENDIMENTO DO RESP REPETITIVO – (Info 513)

Contra a decisão do Tribunal de origem que, com fulcro no art. 543-C, §7º, I, do CPC,
aplica entendimento firmado em recurso especial submetido ao procedimento dos
recursos representativos de controvérsia, não cabe nenhum recurso, nem
reclamação.
STJ. 2ª Seção. AgRg na Rcl 10.805-RS, Rel. Min. Luiz Felipe Salomão, j. 4/2/13 (Info
513).

41. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA


41.1. Cabem embargos de divergência no âmbito de agravo que não admite Resp
sob a alegação de que o mérito do acórdão impugnado está em sintonia com o
entendimento do STJ – (Info 610)

Cabem embargos de divergência no âmbito de agravo que não admite recurso


especial com base na Súmula 83/STJ para dizer que, no mérito, o acórdão
impugnado estaria em sintonia com o entendimento firmado por esta Corte
Superior.
STJ. 1ª Seção. EAREsp 200.299-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 23/8/17
(Info 610).
OBS:
Embargos de divergência: Os embargos de divergência são um recurso previsto nos
arts. 1.043 e 1.044 do CPC/2015, bem como nos regimentos internos do STF e do STJ.
Este recurso possui dois objetivos:
1) Obter a reforma ou anulação do acórdão embargado;
2) Uniformizar a jurisprudência interna do STF e do STJ, evitando que prevaleçam
decisões conflitantes.

Só cabem os embargos de divergência contra decisão de:


 órgão fracionário do STJ (turma ou seção) em julgamento de Recurso especial;
 órgão fracionário do STF (turma) em julgamento de Recurso extraordinário.

A decisão do órgão fracionário do STJ deve ter sido divergente em relação ao


julgamento de qualquer outro órgão do mesmo tribunal (STJ).
A decisão do órgão fracionário do STF deve ter sido divergente em relação ao
julgamento de qualquer outro órgão do mesmo tribunal (STF).

Veja a redação do CPC:


Art. 1.043. É embargável o acórdão de órgão fracionário que:
I - em recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir
do julgamento de qualquer outro órgão do mesmo tribunal,
sendo os acórdãos, embargado e paradigma, de mérito;
(...)
III - em recurso extraordinário ou em recurso especial,
divergir do julgamento de qualquer outro órgão do mesmo
tribunal, sendo um acórdão de mérito e outro que não tenha
conhecido do recurso, embora tenha apreciado a controvérsia;

Ao propor este recurso, o recorrente deverá realizar uma comparação entre o acórdão
recorrido e um acórdão paradigma do mesmo Tribunal provando que o acórdão
recorrido foi divergente do acórdão paradigma.

Imagine a seguinte situação hipotética: João, servidor público federal, ingressou com
ação pedindo o pagamento da gratificação “X”. O Juiz Federal e, depois, o TRF1
entenderam que João não teria direito à referida gratificação. Contra o acórdão do
TRF1, João interpôs recurso especial, com fundamento no art. 105, III, da CF/88,
alegando que a conclusão do TRF1 se mostra divergente da interpretação dada por
outros Tribunais:
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única
ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou
pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios,
quando a decisão recorrida:
(...)
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja
atribuído outro tribunal.

Decisão monocrática: Chegando o processo no STJ, foi sorteado um Ministro Relator


e este, monocraticamente, negou seguimento ao Resp alegando que o pleito do
recorrente era manifestamente contrário à jurisprudência do STJ. A decisão
monocrática foi baseada Súmula 83 do STJ:
Súmula 83-STJ: Não se conhece do recurso especial pela
divergência, quando a orientação do tribunal se firmou no
mesmo sentido da decisão recorrida.

Decisão da 1ª Turma do STJ: Contra a decisão monocrática, João interpôs agravo


interno. A 1ª Turma do STJ negou provimento ao agravo interno e manteve a decisão
monocrática dizendo que o mérito do acórdão impugnado estava em sintonia com o
entendimento do STJ.

Embargos de divergência: Contra o acórdão da 1ª Turma do STJ, João apresentou


embargos de divergência argumentando que a 2ª Turma do STJ entende que é devida
a gratificação X para os servidores públicos federais. A União apresentou
contrarrazões dizendo que os embargos de divergência não deveriam ser conhecidos,
aplicando-se o raciocínio contido na súmula 315 do STJ:
Súmula 315-STJ: Não cabem embargos de divergência no
âmbito do agravo de instrumento que não admite recurso
especial.

A pergunta que surge é a seguinte: cabem embargos de


divergência neste caso? SIM. Cabem embargos de divergência
no âmbito de agravo que não admite recurso especial com
base na Súmula 83/STJ para dizer que, no mérito, o acórdão
impugnado estaria em sintonia com o entendimento firmado
por esta Corte Superior. STJ. 1ª Seção. EAREsp 200.299-PE,
Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 23/8/2017
(Info 610).

Neste caso, no agravo que manteve a decisão monocrática houve verdadeiro exame
do mérito do recurso especial, tendo o acórdão da 1ª Turma considerado que os
servidores públicos não têm direito à gratificação X.
Os precedentes que deram origem à súmula 315 do STJ referem-se acerca do não
cabimento de embargos de divergência em sede de agravo de instrumento no recurso
especial (atual agravo em recurso especial) quando o acórdão embargado não tivesse
examinado o mérito do recurso especial, limitando-se a obstar o seu seguimento em
razão da existência de óbices de admissibilidade.
Em outras palavras, a súmula 315-STJ aplica-se a situações em que no julgamento do
agravo não se apreciou o mérito do recurso especial. Por outro lado, se o mérito foi
examinado, não é o caso de incidir a súmula, cabendo, portanto, os embargos de
divergência.
Desse modo, o óbice da súmula 315-STJ aplica-se apenas naqueles casos em que a
parte quer apresentar embargos de divergência para rediscutir pressupostos de
conhecimento do recurso especial. Isso porque os embargos de divergência têm por
finalidade exclusiva a uniformização da jurisprudência interna do Tribunal quanto
à interpretação do direito em tese, não servindo para discutir o acerto ou desacerto
na aplicação das regras formais de conhecimento do Resp.
Nos casos em que o acórdão embargado nega seguimento ao Resp com base na
Súmula 83-STJ, o que o acórdão faz é examinar o mérito da controvérsia recursal.
Logo, repito, tendo sido examinado o mérito do recurso, é cabível a interposição de
embargos de divergência.

42. AÇÃO RESCISÓRIA


42.1. Se a ação rescisória busca desconstituir também o capítulo dos honorários
advocatícios, o advogado beneficiado na primeira demanda deverá estar no polo
passivo da rescisória – (Info 605)

A ação rescisória, quando busca desconstituir sentença condenatória que fixou


honorários advocatícios sucumbenciais, deve ser proposta não apenas contra o
titular do crédito principal formado em juízo, mas também contra o advogado em
favor de quem foi fixada a verba honorária.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.651.057-CE, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 16/5/17 (Info 605).
OBS:
O CPC não traz nenhuma norma expressa tratando sobre a legitimidade passiva para
a ação rescisória. Diante disso, devem incidir as regras normais da legitimidade
passiva extraídas da teoria geral do processo.
Para saber quem deve figurar como réu, é preciso atentar, portanto, para aquele que
terá ou poderá ter seus direitos, concretamente definidos pela sentença rescindenda,
afetados pelo julgamento a ser proferido.

O principal critério a ser considerado é, portanto, o pedido deduzido no juízo


rescisório.

Conforme informado pela teoria da asserção, devem estar no polo passivo da


demanda todos aqueles e somente aqueles que possam ser afetados pelo provimento
do pedido.

No caso concreto, a ação rescisória busca desconstituir toda a sentença, inclusive na


parte que fixou os honorários advocatícios. Logo, como a decisão da ação rescisória
poderá afetar o crédito do advogado, ele também deverá constar no polo passivo da
demanda.

42.2. Figura do revisor na ação rescisória – (Info 603) – IMPORTANTE!!!

Ainda existe a figura do revisor na ação rescisória?


 Nas rescisórias julgadas pelo TJ e TRF: NÃO. O CPC/2015 eliminou, como
regra geral, a figura do revisor em caso de ação rescisória.

 Nas rescisórias julgadas pelo STJ: SIM. Nas ações rescisórias processadas e
julgadas originariamente no STJ, mesmo após o advento do CPC/2015,
continua existindo a figura do revisor. Isso porque existe previsão específica
no art. 40, I da Lei nº 8.038/90, que continua em vigor.
STJ. Corte Especial. AR 5.241-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 5/4/17 (Info
603).
OBS:
Relator: Quando um processo (recurso ou ação de competência originária) chega ao
Tribunal (TJ, TRF, STJ, STF), é sorteado um magistrado (Desembargador ou Ministro)
para exercer a função de relator deste processo. O relator examina o recurso antes dos
demais magistrados e elabora um relatório e um voto que serão levados ao colegiado
para que os demais juízes (em sentido amplo) decidam se concordam ou não com as
conclusões do relator. Em tese, os demais magistrados do Tribunal somente têm
conhecimento detalhado do processo quando este é levado a julgamento pelo relator.
Tirando o relator, os demais magistrados não precisam levar um voto escrito para a
sessão de julgamento.

Revisor: O revisor é um outro magistrado, que tem o dever de examinar o processo


antes de ele ir a julgamento e de elaborar um voto escrito sobre o caso. Assim, depois
de o relator elaborar seu relatório, ele o encaminha ao revisor, que irá analisá-lo e,
quando tiver terminado de estudar o processo, irá liberá-lo para julgamento. O art.
551 do CPC/1973 afirmava que era obrigatória a figura do revisor em três processos
que tramitam nos Tribunais: apelação, embargos infringentes e ação rescisória.

O que fez o CPC/2015? O CPC/2015 não mais previu a figura do revisor. Não existe
um dispositivo semelhante ao art. 551 do CPC/1973. Diante disso, em regra, não mais
existe revisor.
Por que se falou “em regra”? Porque existe uma exceção: continua existindo a figura
do revisor no caso de ações rescisórias julgadas pelo STJ. Isso se deve ao fato de que
há um dispositivo expresso na Lei nº 8.038/90 prevendo o revisor nestes casos.
Confira:
Art. 40. Haverá revisão, no Superior Tribunal de Justiça, nos
seguintes processos:
I - ação rescisória;

Mas esse art. 40, I, da Lei nº 8.038/90 não foi revogado pelo CPC/2015? NÃO. O
CPC/2015 revogou expressamente onze artigos da Lei 8.038/90, dentre os quais não
estava o art. 40. Logo, conclui-se que, quando o legislador quis revogar algum
dispositivo da Lei 8.038/90, ele o fez expressamente. Dessa forma, o CPC/2015 optou
por não revogar o art. 40, I, restando mantida a figura do revisor no caso de ações
rescisórias julgadas pelo STJ.

42.3. Não é cabível a propositura de rescisória fundada no art. 485, V, do CPC/1973


com base em julgados que não sejam de observância obrigatória – (Info 600)

Nos casos em que se admite a relativização da Súmula 343 do STF, não é cabível
propositura da ação rescisória com base em julgados que não sejam de observância
obrigatória. Não há como autorizar a propositura de ação rescisória - medida
judicial excepcionalíssima - com base em julgados que não sejam de observância
obrigatória, sob pena de se atribuir eficácia vinculante a acórdão que, por lei, não o
possui.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.655.722-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 14/3/2017 (Info 600).

Obs: prevalece que a Súmula 343 do STF não está mais válida tendo em vista a
previsão contida no art. 966, V, § 5º e no art. 525, § 15 do CPC/2015.
OBS: O presente julgado foi decidido com base no CPC/1973. Irei explicá-lo segundo
o Código passado e, ao final, informarei como o tema ficará com o CPC/2015.

Rescisória por violação à literal disposição de lei: O art. 485 do CPC/1973 previa as
hipóteses em que a ação rescisória era cabível. O inciso V afirmava que era cabível a
ação rescisória quando a sentença de mérito transitada em julgado tivesse violado
literal disposição de lei:
Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode
ser rescindida quando:
(...)
V — violar literal disposição de lei;

Súmula 343 do STF: Não é raro que uma mesma lei gere interpretações completamente
diferentes, inclusive dentro de um único Tribunal.

Imaginemos, por exemplo, que a 1ª Turma do STJ afirme que o art. XX da Lei nº
8.112/90 confere determinado direito ao servidor. A 2ª Turma do STJ, por sua vez,
interpreta o dispositivo de forma oposta e entende que a Lei não dá esse direito.

O juiz “A” decidiu com base na interpretação dada pela 1ª Turma do STJ e esta
sentença transitou em julgado. Ocorre que, um ano depois, a 1ª Turma modificou seu
entendimento, curvando-se à posição da 2ª Turma.
Nesse caso, seria possível ajuizar ação rescisória contra a sentença proferida pelo juiz
“A” alegando que ela violou literal disposição do art. XX Lei nº 8.112/90? NÃO. A
jurisprudência entende que, se na época em que a sentença rescindenda transitou em
julgado havia divergência jurisprudencial a respeito da interpretação da lei, não se
pode dizer que a decisão proferida tenha tido um vício. Logo, não caberá ação
rescisória. Isso está expresso na súmula 343 do STF:
Súmula 343-STF: Não cabe ação rescisória por ofensa a literal
dispositivo de lei, quando a decisão rescindenda se tiver
baseado em texto legal de interpretação controvertida nos
tribunais.

O raciocínio que inspirou essa súmula é o seguinte: se há nos tribunais divergência


sobre um mesmo preceito normativo, é porque ele comporta mais de uma
interpretação, significando que não se pode qualificar qualquer dessas interpretações,
mesmo a que não seja a melhor, como ofensiva ao teor literal da norma interpretada.
Trata-se da chamada “doutrina da tolerância da razoável interpretação da norma”
(Voto do Ministro Teori Zavascki no RE 590809/RS).

Relativização da Súmula 343-STF: A Min. Nancy Andrighi afirma que, em alguns


casos, a jurisprudência do STJ admite a “relativização” da Súmula 343-STF. Para a
Ministra, uma situação de relativização da súmula seria o caso em que, na época em
que foi proferido o acórdão, a divergência já havia cessado e, mesmo assim, o julgado
foi em sentido contrário à jurisprudência dominante.

Exemplificando o que seria, para a Ministra, um caso de “relativização” da súmula:


Um acórdão do TJMT reconheceu que o índice de correção monetária a ser aplicado
em determinada situação deveria ser o BNTf. Esse acórdão transitou em julgado em
2002. Na época, havia divergência nos Tribunais sobre o indexador a ser aplicado, se
seria o BNTf ou o INPC. Tal divergência somente veio a ser pacificada pelo STJ em
abril de 2003, quando o STJ afirmou que seria aplicado o INPC. Logo, não cabia ação
rescisória contra esse julgado do TJMT, com base no art. 485, V, do CPC/1973,
considerando que o acórdão foi prolatado em 2002, ou seja, ANTES da pacificação da
jurisprudência em sentido contrário. Aplica-se, portanto, o raciocínio da Súmula 343
do STF.

Agora vejamos o contrário: Se o acórdão do TJMT tivesse sido proferido em 2004, ou


seja, APÓS a pacificação, nesse caso seria cabível a ação rescisória. Não se aplicaria a
Súmula 343 do STF.

Requisito adicional para permitir a ação rescisória: que o acórdão paradigma do STJ
tenha eficácia vinculante: Para a Ministra, mesmo nos casos em que se admite a não
aplicação da Súmula 343-STF, somente será permitida a propositura da ação rescisória
com base no art. 485, V, do CPC/1973 se o entendimento do STJ que foi desrespeitado
tiver sido proferido em um acórdão com eficácia vinculante.

Voltando ao exemplo dado: em abril de 2003, o STJ decidiu que o índice de correção
monetária a ser aplicado deveria ser o INPC. Em 2004, o TJMT decide que o índice de
correção monetária deveria ser o BNTf, ou seja, decidiu em sentido contrário ao STJ.
Esse acórdão do TJMT transitou em julgado. Somente caberá ação rescisória contra o
acórdão do TJMT se a decisão do STJ que pacificou o tema em 2003 tiver eficácia
vinculante.
Quando a decisão do STJ tem eficácia vinculante?
 No CPC/1973, possuem eficácia vinculante apenas os recursos especiais
decididos pelo STJ sob a sistemática dos recursos repetitivos (art. 543-C);
 No CPC/2015, possuem eficácia vinculante:
1) Os acórdãos proferidos pelo STJ em incidente de assunção de competência
2) Os acórdãos proferidos pelo STJ em recurso especial repetitivo e
3) A orientação do plenário ou do órgão especial do STJ (art. 927).

Assim, levando em conta este raciocínio, somente caberia ação rescisória contra o
acórdão proferido pelo TJMT se a decisão do STJ de 2003 tivesse sido prolatada em
recurso especial repetitivo.

Tema era controvertido e foi pacificado. CABE AÇÃO RESCISÓRIA?


Se o acórdão contrário à jurisprudência Se o acórdão contrário à jurisprudência
do STJ foi prolatado ANTES da do STJ foi prolatado APÓS a pacificação:
pacificação: NÃO cabe ação rescisória. CABE a ação rescisória.
Aplica-se a Súmula 343 do STF. Não se aplica a Súmula 343 do STF.
A pacificação pelo STJ deve ter ocorrido
pela prolação de julgado de observância
obrigatória (vinculante).

CPC/2015: A maioria da doutrina afirma que a Súmula 343 do STF não está mais
válida, tendo em vista a previsão contida no art. 966, V, § 5º e no art. 525, § 15 do CPC
2015:
Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser
rescindida quando:
V - violar manifestamente norma jurídica;
(...)
§ 5º Cabe ação rescisória, com fundamento no inciso V do
caput deste artigo, contra decisão baseada em enunciado de
súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos
repetitivos que não tenha considerado a existência de
distinção entre a questão discutida no processo e o padrão
decisório que lhe deu fundamento.

Art. 525 (...)


§ 12. Para efeito do disposto no inciso III do § 1º deste artigo,
considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em
título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo
considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal,
ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato
normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como
incompatível com a Constituição Federal, em controle de
constitucionalidade concentrado ou difuso.
(...)
§ 15. Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito
em julgado da decisão exequenda, caberá ação rescisória, cujo
prazo será contado do trânsito em julgado da decisão
proferida pelo Supremo Tribunal Federal.

Fredie Didier defende que a Súmula 343-STF continua válida em uma hipótese (letra
“a” abaixo):
a) Divergência na interpretação do Direito entre Tribunais, sem que existisse, ao
tempo da prolação da decisão rescindenda, precedente vinculante do STF ou STJ (art.
927, CPC) sobre o tema: não há direito à rescisão, pois não se configura a manifesta
violação de norma jurídica. Aplica-se o n. 343 da súmula do STF.
b) Divergência na interpretação do Direito entre tribunais, sem que existisse, ao
tempo da prolação da decisão rescindenda, precedente vinculante do STF ou STJ (art.
927, CPC) sobre o tema; após o trânsito em julgado, sobrevém precedente obrigatório
do tribunal superior: observado o prazo da ação rescisória, há direito à rescisão, com
base nesse novo precedente, para concretizar o princípio da unidade do Direito e a
igualdade. Note que o § 15 do art. 525, examinado mais à frente, reforça a tese de que
cabe ação rescisória para fazer prevalecer posicionamento de tribunal superior
formado após a coisa julgada.
c) Divergência na interpretação do Direito entre tribunais, havendo, ao tempo da
prolação da decisão rescindenda, precedente vinculante do STF ou do STJ sobre o
tema: se a decisão rescindenda contrariar o precedente vinculante, há direito à
rescisão, pois se configura a manifesta violação de norma jurídica. Violam-se, a um só
tempo, a norma do precedente e a norma que decorre do art. 927, CPC.
d) Divergência na interpretação do Direito entre tribunais, havendo, ao mesmo tempo
da prolação da decisão rescindenda, precedente vinculante do STF ou STJ; após o
trânsito em julgado, sobrevém novo precedente de tribunal superior, alterando o seu
entendimento: não há direito à rescisão, fundado nesse novo precedente, tendo em
vista a segurança jurídica, tal como decidido pelo STF, no RE n. 590.809, rel. Min.
Marco Aurélio, j. em 22.10.2014." (DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro
da. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 3., 13ª ed., Salvador: Juspodivm, 2016, p.
495-496).

42.4. Valor da causa na ação rescisória – (Info 556)

É necessário que o autor da ação rescisória atribua um valor à causa?


SIM. A ação rescisória é uma ação e, portanto, o autor, na petição inicial, deverá
indicar o valor da causa.

Qual é o critério para se atribuir o valor da causa na ação rescisória?


Em regra, o valor da causa na ação rescisória deverá ser o mesmo que foi atribuído
para a ação principal (originária), devidamente atualizado monetariamente (valor
da causa da ação originária + correção monetária).
Exceção: é possível que, mesmo o autor tendo indicado o mesmo valor da ação
principal, a parte ré impugne o valor da causa demonstrando que o benefício
econômico pretendido na rescisória está em descompasso com essa fixação (ex:
provando que houve uma excepcional valorização do bem pretendido na ação
rescisória). O impugnante deverá demonstrar, com precisão, o valor correto que
entende devido para a ação rescisória, instruindo a inicial da impugnação com os
documentos necessários à comprovação do alegado.
STJ. 2ª Seção. PET 9.892-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/2/2015
(Info 556).

42.5. Prorrogação do termo final do prazo para ajuizamento da ação rescisória – (Info
553) – IMPORTANTE!!!

Que dia ocorre o trânsito em julgado?


O trânsito em julgado ocorre no dia imediatamente subsequente ao último dia do
prazo para o recurso em tese cabível.

Qual é o termo inicial do prazo de 2 anos da ação rescisória?


O prazo de 2 anos começa a ser contado do exato dia em que ocorre o trânsito em
julgado.
O termo "a quo" para o ajuizamento da ação rescisória coincide com a data do
trânsito em julgado da decisão rescindenda.
Dito de outro modo, o prazo decadencial para a propositura de ação rescisória
começa a correr da data do trânsito em julgado da sentença rescindenda, incluindo-
se-lhe no cômputo o dia do começo.

Se o último dia do prazo da rescisória for sábado, domingo ou feriado, haverá


prorrogação para o primeiro dia útil subsequente?
SIM. O termo final do prazo para o ajuizamento da ação rescisória, embora
decadencial, prorroga-se para o primeiro dia útil subsequente se recair em dia de
não funcionamento da secretaria do Juízo competente.
STJ. Corte Especial. REsp 1.112.864-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, Corte Especial, julgado
em 19/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 553).

42.6. Início do prazo para a ação rescisória em caso de recursos parciais – (Info 547)
– IMPORTANTE!!!

Impugnada parcialmente a sentença, os capítulos não impugnados transitam em


julgado desde logo ou deve-se aguardar o julgamento do recurso quanto ao restante
da sentença?
Em outras palavras, o prazo para a ação rescisória se iniciará para cada capítulo ou
deve-se aguardar que não haja mais a possibilidade de se interpor qualquer recurso?
 STJ: deve-se aguardar o julgamento do recurso quanto ao restante da
sentença. Somente quando não for cabível qualquer recurso, terá início o
prazo para a ação rescisória.
 STF e doutrina: os capítulos não impugnados transitam em julgado desde
logo. O prazo da ação rescisória se iniciará para cada capítulo, à medida que
ele transitar em julgado. Assim, o prazo decadencial da ação rescisória, nos
casos de existência de capítulos autônomos, deve ser contado do trânsito em
julgado de cada decisão (cada capítulo).
STJ. Corte Especial. REsp 736.650-MT, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em
20/8/2014 (Info 546).
STF. 1ª Turma. RE 666589/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 25/3/2014 (Info
740).

42.7. Aplicabilidade da Súmula 343 do STF – (Info 547) – IMPORTANTE!!!

O inciso V do art. 485 do CPC prevê que é cabível a ação rescisória quando a
sentença de mérito transitada em julgado “violar literal disposição de lei”.
A jurisprudência entende que, se na época em que a sentença rescindenda transitou em
julgado havia divergência jurisprudencial a respeito da interpretação da lei, não se
pode dizer que a decisão proferida tenha tido um vício. Logo, não caberá ação
rescisória. Isso está em um enunciado do STF:
Súmula 343-STF: Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei,
quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação
controvertida nos tribunais.
Imagine o seguinte exemplo: havia divergência na jurisprudência se o índice de
correção índice de correção monetária a ser aplicado em determinada situação
deveria ser o BNTf ou o INPC. Em 2003, o STJ pacificou que o índice seria o INPC.
 Se o acórdão do TJ transitou em julgado em 2002 aplicando o BNTf, não
caberá ação rescisória porque na época havia divergência. Aplica-se a
Súmula 343-STJ.
 Se o acórdão do TJ transitou em julgado em 2004 aplicando o BNTf, caberá
ação rescisória porque na época não mais havia divergência. Não se aplica a
Súmula 343-STJ.
STJ. Corte Especial. REsp 736.650-MT, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em
20/8/2014 (Info 547).
OBS:
Análise do inciso V: O inciso V do art. 485 prevê que é cabível a ação rescisória quando
a sentença de mérito transitada em julgado “violar literal disposição de lei”. Para
incidir essa hipótese, a violação deve se mostrar aberrante, cristalina, observada primo
ictu oculi (STJ. 1ª Turma. REsp 1458607/SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
julgado em 23/10/2014).

Quando o inciso fala em “lei” abrange também as normas constitucionais? SIM. A


palavra “lei”, nesse caso, deverá ser interpretada em sentido amplo, abrangendo lei
ordinária, lei complementar, medida provisória, norma constitucional, decreto,
resolução e qualquer outro ato normativo. Se a sentença violar literal disposição de
lei, de norma constitucional ou de qualquer outra norma jurídica caberá, em tese, ação
rescisória.

Se a sentença violar um princípio, caberá ação rescisória? SIM. A jurisprudência do


STJ possui precedentes reconhecendo o cabimento de ação rescisória por conta de
violação a princípios. A doutrina atual considera que o princípio é uma espécie de
norma jurídica. Nesse sentido: STJ. 1ª Turma. REsp 1458607/SC, Rel. Min. Napoleão
Nunes Maia Filho, julgado em 23/10/2014.

Se a sentença violar literal disposição de súmula (comum ou vinculante), caberá ação


rescisória? NÃO. Não cabe ação rescisória contra violação de súmula. O inciso V não
abrange a contrariedade à súmula porque não se trata de ato normativo. Conforme
prevê o art. 485, V, do CPC, a sentença pode ser rescindida quando violar literal disposição
de lei, hipótese que não abrange a contrariedade à súmula. Logo, não há previsão legislativa
para o ajuizamento de ação rescisória sob o argumento de violação de súmula (STJ. 3ª
Seção. AR 4.112-SC, Min. Rel. Marco Aurélio Bellizze, julgada em 28/11/2012).

O raciocínio que inspirou a Súmula 343 do STF é o seguinte: Se há nos tribunais


divergência sobre um mesmo preceito normativo, é porque ele comporta mais de uma
interpretação, significando que não se pode qualificar qualquer dessas interpretações,
mesmo a que não seja a melhor, como ofensiva ao teor literal da norma interpretada.
Trata-se da chamada “doutrina da tolerância da razoável interpretação da norma” (Voto do
Ministro Teoria Zavascki no RE 590809/RS).

42.8. INCISO V DO ART. 485 DO CPC


O inciso V do art. 485 do CPC prevê que é cabível a ação rescisória quando a
sentença de mérito transitada em julgado “violar literal disposição de lei”.
A jurisprudência entende que, se na época em que a sentença rescindenda transitou
em julgado havia divergência jurisprudencial a respeito da interpretação da lei, não
se pode dizer que a decisão proferida continha um vício. Logo, não caberá ação
rescisória. Isso está em um enunciado do STF:
Súmula 343-STF: Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei,
quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação
controvertida nos tribunais.
Imagine o seguinte exemplo: havia divergência na jurisprudência sobre o índice de
correção índice de correção monetária a ser aplicado em determinada situação, se
deveria ser o BNTf ou o INPC. Em 2003, o STJ pacificou que o índice aplicado seria
o INPC.
• Se o acórdão do TJ transitou em julgado em 2002 aplicando o BNTf, não caberá
ação rescisória porque na época havia divergência. Aplica-se a Súmula 343-STF.
• Se o acórdão do TJ transitou em julgado em 2004 aplicando o BNTf, caberá ação
rescisória porque na época não mais havia divergência. Não se aplica a Súmula 343-
STJ.
STJ. Corte Especial. REsp 736.650-MT, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em
20/8/2014 (Info 547).

42.9. INCISO VII (DOCUMENTO NOVO) – (Info 522)

João propõe uma ação de cobrança contra Antônio. A única defesa do réu foi a de
que ele nunca havia mantido nenhum contrato com o autor e, por isso, tal dívida
nunca existiu. Entretanto, João conseguiu provar que houve sim o débito, razão pela
qual a sentença foi procedente. Houve apelação, tendo a decisão sido confirmada,
ocorrendo o trânsito em julgado.
Um ano mais tarde, Antônio descobre que o autor da ação tinha em seu poder um
documento que prova a quitação de seu débito para com João.
Diante disso, Antônio ajuíza uma ação rescisória fundada no art. 485, VII, alegando
que a dívida realmente existiu, mas que foi paga, conforme o documento novo de
que ele agora dispõe e que estava antes na posse do credor, motivo pelo qual não
pode ser anexado em sua defesa no processo originário.
Não será cabível a ação rescisória nesse caso, considerando que a prova que se
deseja ver agora apreciada se refere a fato não alegado pelo réu (quitação) e que,
portanto, não foi analisado pelo juízo no curso do processo em que se formara a
coisa julgada.
Assim, o STJ decidiu que não é possível a rescisão de sentença com fundamento no
inciso VII do art. 485 do CPC (documento novo) na hipótese em que, além de não
existir comprovação acerca dos fatos que justifiquem a ausência de apresentação do
documento em modo e tempo oportunos, este se refira a fato que não tenha sido
alegado pelas partes e analisado pelo juízo no curso do processo em que se formara
a coisa julgada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.293.837-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
2/4/2013 (Info 522).

42.10. INCISO VII: DOCUMENTO QUE JÁ EXISTIA E QUE NÃO FOI JUNTADO
PELA PARTE – (Info 522)
Em regra, se a parte já possuía o documento antes da propositura da ação original
(o documento era preexistente), não tendo sido juntado por desídia, não será
permitido, em regra, frise-se, que ajuíze a ação rescisória trazendo esta prova como
documento novo.
De forma excepcional, o STJ entendeu que é possível ao tribunal, na ação rescisória,
analisar documento novo para efeito de configuração de início de prova material
destinado à comprovação do exercício de atividade rural, ainda que esse documento
seja preexistente à propositura da ação em que proferida a decisão rescindenda
referente à concessão de aposentadoria rural por idade.
Nesse caso, é irrelevante o fato de o documento apresentado ser preexistente à
propositura da ação originária, pois devem ser consideradas as condições desiguais
pelas quais passam os trabalhadores rurais, adotando-se a solução pro misero.
STJ. 3ª Seção. AR 3.921-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/4/2013 (Info
522).

42.11. AÇÃO RESCISÓRIA E VIOLAÇÃO DE SÚMULA

Não cabe ação rescisória contra violação de súmula. Conforme o art. 485, V, do CPC,
a sentença pode ser rescindida quando violar literal disposição de lei, hipótese que
não abrange a contrariedade à súmula. Assim, não há previsão legislativa para o
ajuizamento de ação rescisória sob o argumento de violação de súmula.
STJ. 3ª Seção. AR 4.112-SC, Min. Rel. Marco Aurélio Bellizze, julgada em 28/11/2012.

43. AÇÃO ANULATÓRIA


43.1. Ação anulatória proposta por particular com o objetivo de anular acordo
firmado com a Fazenda Pública e homologado judicialmente – (Info 581)

No caso em que particular e Fazenda Pública firmaram, sem a participação judicial,


acordo que tenha sido meramente homologado por decisão judicial - a qual, por sua
vez, apenas extinguiu a relação jurídica processual existente entre as partes, sem
produzir efeitos sobre a relação de direito material existente entre elas -, o prazo
decadencial para anular o ajuste por meio de ação ajuizada pelo particular é de 5
anos, contados da data da celebração da transação, e não da decisão homologatória.
STJ. 2ª Turma. REsp 866.197-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
18/2/2016 (Info 581).
OBS:
O prazo para a ação anulatória será de 4 anos, nos termos do art. 178 do CC ("Art.
178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio
jurídico, contado:")? NÃO. O prazo é de 5 anos, com base no art. 1º do Decreto
20.910/32. Em se tratando de ação anulatória proposta contra a Fazenda Pública, o
prazo decadencial é regido pelo Decreto 20.910/32, prazo este aplicável em relação a
todo e qualquer direito ou ação exercitável contra a Fazenda Pública (federal, estadual
ou municipal), seja qual for a sua natureza. Logo, não é aplicável o prazo previsto no
art. 178 do CC (quatro anos), utilizado apenas quando a Fazenda Pública não ocupa o
polo passivo da ação anulatória.

44. LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA


44.1. É possível a utilização de deduções e presunções na apuração de lucros
cessantes – (Info 590)
É possível ao julgador, na fase de liquidação de sentença por arbitramento, acolher
as conclusões periciais fundadas em presunções e deduções para a quantificação do
prejuízo sofrido pelo credor a título de lucros cessantes.
A utilização de presunções não pode ser afastada de plano, uma vez que esta espécie
de prova é utilizada pelo direito processual nacional como forma de facilitação de
provas difíceis, desde que razoáveis.
Na apreciação de lucros cessantes, o julgador não pode se afastar de forma absoluta
de presunções e deduções, porquanto deverá perquirir acerca dos benefícios
legítimos que não foram realizados por culpa da parte ex adversa. Exigir prova
absoluta do lucro que não ocorreu, seria impor ao lesado o ônus de prova impossível
(prova diabólica).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.549.467-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 13/9/16 (Info
590).
OBS:
O que é sentença líquida? Segundo posição majoritária, para o CPC, sentença líquida
é aquela que define o quantum debeatur, ou seja, é aquela que fixa exatamente o valor
da obrigação devida.

Sentença deve ser líquida: Em regra, o juiz deverá prolatar a sentença líquida (art. 491).
O CPC prevê, no entanto, duas situações excepcionais em que será autorizado que o
magistrado profira sentença ilíquida. Confira:
 REGRA (art. 491, caput): na ação de obrigação de pagar quantia, ainda que a
parte tenha formulado pedido genérico, a decisão deverá definir desde logo a
extensão da obrigação ("quanto se deve"), o índice de correção monetária, a
taxa de juros, o termo inicial de ambos e a periodicidade da capitalização dos
juros.
 EXCEÇÕES. Em duas situações será permitido que o magistrado deixe de fixar
os parâmetros acima:
a) quando não for possível determinar, de modo definitivo, na
sentença, o montante devido;
b) quando a apuração do valor devido depender da produção
de prova de realização demorada ou excessivamente
dispendiosa, assim reconhecida na sentença.

Ocorrendo um desses dois casos, o valor devido deverá ser apurado por meio de
liquidação de sentença.

O que é a liquidação da sentença? A liquidação da sentença pode ser conceituada


como a etapa do processo que ocorre após a fase de conhecimento e que se destina a
descobrir o valor da obrigação (quantum debeatur) quando não foi possível fixar essa
quantia diretamente na sentença.

Objetivo da liquidação: Descobrir o quantum debeatur e, assim, permitir o


cumprimento da sentença (execução).

Natureza: A liquidação da sentença não gera um processo autônomo. Trata-se apenas


de uma nova fase do processo. Sua natureza é, portanto, de fase procedimental. A
liquidação tem natureza cognitiva, ou seja, trata-se de uma fase de conhecimento, não
sendo considerada como uma fase executiva (execução).

Espécies: O art. 509 do CPC/2015 prevê apenas duas espécies de liquidação:


POR ARBITRAMENTO PELO PROCEDIMENTO COMUM
(antiga liquidação por artigos)
Ocorre quando for necessária a Ocorre quando for necessário alegar e
realização de uma PERÍCIA para se provar um FATO NOVO para se
descobrir o quantum debeatur. descobrir o quantum debeatur.

A liquidação por arbitramento deverá É utilizada quando forem necessários


ser feita quando: outros meios de prova para se
a) o magistrado assim determinar na determinar o valor da condenação, além
sentença; da perícia. Deve-se esclarecer que, na
b) as partes convencionarem que será liquidação por artigos, também pode ser
feito dessa forma; realizada perícia se esta for necessária
c) a natureza do objeto da liquidação para provar um fato novo. O critério que
exigir que seja feita dessa forma. a diferencia da liquidação por
arbitramento é que na liquidação por
Requerida a liquidação por artigos será necessário provar um fato
arbitramento, o juiz nomeará o perito e novo.
fixará o prazo para que ele entregue o
seu laudo. Obs.: fato novo é aquele que não tenha
sido analisado e decidido durante o
processo. Não significa necessariamente
que tenha surgido após a sentença. Novo
= ainda não apreciado no processo.
Prevista no art. 510: Prevista no art. 511:
Art. 510. Na liquidação por Art. 511. Na liquidação pelo
arbitramento, o juiz intimará as partes procedimento comum, o juiz
para a apresentação de pareceres ou determinará a intimação do requerido,
documentos elucidativos, no prazo que na pessoa de seu advogado ou da
fixar, e, caso não possa decidir de plano, sociedade de advogados a que estiver
nomeará perito, observando-se, no que vinculado, para, querendo, apresentar
couber, o procedimento da prova contestação no prazo de 15 (quinze) dias,
pericial. observando-se, a seguir, no que couber,
o disposto no Livro I da Parte Especial
deste Código.
Ex.: João estava construindo um prédio, Ex.: Pedro foi vítima de infecção
tendo essa construção causado danos na hospitalar. O juiz condena o hospital a
estrutura do imóvel vizinho. O juiz pagar todas as despesas que ele já teve
condena João a indenizar o autor da por conta da moléstia, bem como as que
ação. Na fase de liquidação, um ainda terá após a sentença. Na fase de
engenheiro irá fazer um laudo dos liquidação da sentença, Pedro irá alegar
prejuízos causados. e provar os gastos que teve após a
sentença.

Algumas vezes a sentença traz todos os parâmetros para se encontrar o quantum


debeatur, mas o valor exato da condenação dependerá de alguns cálculos aritméticos
(ex: o juiz condena o réu a pagar 500 mil, acrescidos de multa de 2%, mais juros legais
e correção monetária). Neste caso, será necessária realizar liquidação? NÃO. Quando
a apuração do valor depender apenas de cálculo aritmético, o credor poderá
promover, desde logo, o cumprimento da sentença (§ 2º do art. 509 do CPC). Nestes
casos, o próprio credor (com o auxílio do seu advogado e de programas existentes na
internet) elabora os cálculos e, após eles estarem prontos, apresenta-os em juízo,
instaurando-se logo em seguida o cumprimento de sentença.
Obs: na época do CPC/1973 isso era chamado de liquidação por mero cálculo
aritmético (liquidação por cálculos do credor). O CPC/2015 deixou claro que esses
cálculos aritméticos não são uma terceira espécie de liquidação e que só existem
atualmente duas espécies: liquidação por arbitramento e pelo procedimento comum.

Feita a revisão acima, imagine agora a seguinte situação hipotética: A indústria "AA"
ingressou com ação de indenização contra a empresa "ZZ" por ela ter fornecido moldes
errados, o que fez com que houvesse um paralisação na sua linha de produção. A
demanda foi julgada procedente, tendo a ré sido condenada a pagar:
a) danos emergentes, no valor de R$ 200 mil;
b) lucros cessantes, a serem calculados em liquidação por arbitramento.

Vale ressaltar que quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, o
credor poderá promover simultaneamente:
1) a execução da parte líquida e
2) a liquidação da outra parte (em autos apartados).

Foi o que fez a indústria "AA". Iniciou-se, então, a liquidação por arbitramento. O
perito nomeado pelo juízo calculou que o prejuízo da autora, a título de lucros
cessantes, foi de R$ 300 mil. O juiz acatou as conclusões da perícia. A empresa
devedora, contudo, não concordou com a decisão do juiz e recorreu alegando que a
perícia chegou a esse valor baseada em presunções e deduções do quanto seria
produzido e vendido e que essa metodologia não poderia ser aplicada na liquidação.

A tese da empresa devedora foi aceita pelo STJ? NÃO. Os argumentos da empresa
devedora não foram acolhidos pelo STJ e a decisão do juiz que acolheu a perícia foi
mantida.

45. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA


45.1. É incabível a rejeição do seguro garantia judicial pelo exequente, salvo por
insuficiência, defeito formal ou inidoneidade da salvaguarda oferecida – (Info 615)

Dentro do sistema de execução, a fiança bancária e o seguro garantia judicial


produzem os mesmos efeitos jurídicos que o dinheiro para fins de garantir o juízo,
não podendo o exequente rejeitar a indicação, salvo por insuficiência, defeito
formal ou inidoneidade da salvaguarda oferecida.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.691.748-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 7/11/17
(Info 615).

45.2. Termo inicial do prazo para apresentar impugnação em caso de


comparecimento espontâneo logo após a penhora – (Info 601)

No CPC/1973, o termo inicial do prazo para apresentar impugnação ao cumprimento


de sentença era contado a partir da ciência inequívoca do devedor quanto à penhora
“on-line” realizada, não havendo necessidade de sua intimação formal.
STJ. Plenário. EREsp 1.415.522-ES, Rel. Min. Felix Fischer, j. 29/3/2017 (Info 601).

Obs: esse julgado não tem relevância sob a égide do novo CPC.
No CPC/1973, para que o devedor apresentasse impugnação, era indispensável a
garantia do juízo, ou seja, era necessário que houvesse penhora, depósito ou caução.
No CPC/2015 isso acabou e é possível impugnação mesmo sem garantia do juízo.
No CPC/1973, o prazo de 15 dias para impugnação era contado da intimação do auto
de penhora e avaliação. No CPC/2015, o prazo para impugnação inicia-se
imediatamente após acabar o prazo de 15 dias que o executado tinha para fazer o
pagamento voluntário (art. 525, caput). Não é necessária nova intimação. Acabou um
prazo, começa o outro. Logo, para fins de início do prazo da impugnação, não mais
interessa o dia em que ocorreu a penhora. Isso porque a penhora (garantia do juízo)
não é mais um requisito para que haja impugnação no CPC/2015.

45.3. Se o devedor for assistido da Defensoria, o prazo do art. 475-J do CPC/1973


deverá ser contado em dobro – (Info 594)

Se o devedor for assistido da Defensoria Pública, o prazo do art. 475-J do CPC/1973


deverá ser contado em dobro, ou seja, o executado terá 30 dias para o débito.
A prerrogativa da contagem em dobro dos prazos tem por objetivo compensar as
peculiares condições enfrentadas pelos profissionais que atuam nos serviços de
assistência judiciária do Estado, que enfrentam deficiências de material, pessoal e
grande volume de processos.
A intimação para o cumprimento da sentença gera ônus para o representante da
parte vencida, que deverá comunicá-la do desfecho desfavorável da demanda e
alertá-la de que a ausência de cumprimento voluntário implica imposição de sanção
processual. Logo, deve ser aplicado o prazo em dobro nesta situação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.261.856-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 22/11/16 (Info 594).
OBS:
Novo CPC: O julgamento acima foi proferido ainda sob a ótica do CPC/1973,
considerando que os fatos ocorreram na vigência do Código passado. Há dúvidas se
o entendimento permanece válido com o novo CPC. Isso porque o art. 513, § 2º, II, do
CPC/2015 determina que se o devedor for assistido da Defensoria Pública, ele deverá
ser intimado para cumprir a sentença por meio de carta com aviso de recebimento.
Essa previsão não existia no CPC/1973.
Assim, em tese, a intimação para cumprimento da sentença não demandaria mais
nenhum ônus para o Defensor Público. Logo, em princípio, não haveria motivo para
se aplicar o prazo em dobro, já que o cumprimento voluntário teria deixado de ser um
ato de natureza dúplice e seria, agora, um ato a ser praticado apenas pela parte. É
preciso, no entanto, aguardar para se ter certeza. Qualquer novidade, você será
alertado no site.

45.4. Inexigibilidade de obrigação fundada em lei não recepcionada pela


Constituição – (Info 588)

Ainda que tenha havido o trânsito em julgado, é inexigível a obrigação reconhecida


em sentença com base exclusivamente em lei não recepcionada pela Constituição.
Fundamento: art. 475-L, II e § 1º, do CPC/1973 (art. 525, § 1º, III e § 12 do CPC/2015).
Obs: existe uma inovação trazida pelo CPC/2015 que é importante ser ressaltada e
que geraria solução diferente ao caso concreto apreciado. Para que o devedor possa
alegar a inexigibilidade da obrigação argumentando que o título é baseado em lei
incompatível com a Constituição, exige-se que a decisão do STF seja anterior à
formação da coisa julgada. Se for posterior, a matéria não poderá ser alegada em
impugnação, devendo ser proposta ação rescisória. É isso que se extrai do art. 525,
§§ 14 e 15 do CPC/2015.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.531.095-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 9/8/16 (Info
588).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Em 2008, o jornal "XX" publicou uma
reportagem ofensiva à honra de João. O ofendido ajuizou ação contra o periódico,
tendo este sido condenado a:
a) pagar indenização por danos morais, com fundamento no art. 5º, V e X, da CF/88;
b) publicar no jornal a íntegra da sentença condenatória, conforme autorizava o art. 75
da Lei nº 5.250/67 (Lei de Imprensa):
Art. 75. A publicação da sentença cível ou criminal, transitada
em julgado, na íntegra, será decretada pela autoridade
competente, a pedido da parte prejudicada, em jornal,
periódico ou através de órgão de radiodifusão de real
circulação, ou expressão, às expensas da parte vencida ou
condenada.

Houve trânsito em julgado. A partir daí João iniciou o cumprimento de sentença,


considerando que o jornal não cumpriu voluntariamente as obrigações impostas.

Lei de imprensa declarada não recepcionada: Ocorre que, em 2009, antes de o jornal
cumprir a obrigação, o STF decidiu que a Lei de Imprensa, em sua inteireza, não foi
recepcionada pela CF/88, sendo, portanto, inválida: STF. Plenário. ADPF 130, Rel.
Min. Carlos Britto, julgado em 30/04/09.

Desse modo, a partir do julgamento do STF, a jurisprudência passou a entender que o


art. 75 da Lei de Imprensa é inaplicável (STJ. 3ª Turma. REsp 1297426/RO, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 03/11/15).

Voltando ao caso concreto: O jornal pagou a indenização. No entanto, diante da


decisão do STF, apresentou impugnação na qual argumentou que não pode mais ser
obrigado a publicar a sentença condenatória porque o título judicial que a obrigava se
fundou em dispositivo legal (art. 75 da Lei de Imprensa) incompatível com a CF/88,
sendo, portanto, inexigível neste ponto.
João refutou a argumentação afirmando que houve trânsito em julgado e que,
portanto, isso não poderia mais ser questionado.

A tese do jornal foi acolhida pelo STJ? SIM.

Lei de Imprensa é inválida desde a promulgação da Constituição: A Lei de Imprensa


foi declarada não recepcionada (ADPF 130). O STF não modulou os efeitos desta
decisão. Isso significa dizer que a citada norma legal deve ser considerada
inteiramente inválida desde a promulgação da CF/88. Daí porque, desde 05/10/88, o
art. 75 da Lei de Imprensa não é válido.

Título foi fundado unicamente na lei inválida: Se o título judicial foi fundado
(baseado) exclusivamente na aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidos
pelo STF como incompatíveis com a Constituição Federal, será permitido o
reconhecimento da inexigibilidade da obrigação na própria fase de execução. Se a
sentença tivesse se baseado no art. 75 da Lei de Imprensa e em outros dispositivos
ainda válidos (ex: no Código Civil ou na CF/88), a obrigação continuaria sendo
exigível. No caso concreto, contudo, a sentença, na parte que condenou o jornal a
publicar a decisão na íntegra, foi fundada unicamente (exclusivamente) no art. 75.

O caso em tela pode ser enquadrado como "inexigibilidade da obrigação"? SIM.


Segundo o § 1º do art. 475-L, do CPC/1973 (§ 12 do art. 525 do CPC/2015), considera-
se também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial quando este
for fundado...
 em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo STF; ou
 em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo STF como
incompatível com a CF.
... em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso.

No caso concreto, a aplicação do art. 75 da Lei de Imprensa foi tida como incompatível
com a CF/88 em controle concentrado de constitucionalidade.

Peculiaridade envolvendo o novo CPC: As redações do antigo e do novo CPC são


muito semelhantes. No entanto, existe uma inovação trazida pelo CPC/2015 que é
importante ser ressaltada e que geraria solução diferente ao caso concreto apreciado.
Para que o devedor possa alegar a inexigibilidade da obrigação argumentando que o
título é baseado em lei incompatível com a Constituição, exige-se que a decisão do STF
seja anterior à formação da coisa julgada. Se for posterior, a matéria não poderá ser
alegada em impugnação, devendo ser proposta ação rescisória. É isso que se extrai do
art. 525, §§ 14 e 15 do CPC/2015:
Art. 525 (...)
§ 14. A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 12
deve ser anterior ao trânsito em julgado da decisão
exequenda.
§ 15. Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito
em julgado da decisão exequenda, caberá ação rescisória, cujo
prazo será contado do trânsito em julgado da decisão
proferida pelo Supremo Tribunal Federal.

45.5. Impugnação ao cumprimento de sentença e necessidade de garantia do juízo –


(Info 573)

Na fase de cumprimento de sentença, não é cabível a apresentação de impugnação


fundada em excesso de execução (art. 475-L, V, do CPC 1973) antes do depósito da
quantia devida (art. 475-J, caput, do CPC 1973); contudo, se mesmo assim ela for
apresentada, não haverá preclusão da faculdade de apresentar nova impugnação a
partir da intimação da penhora realizada nos autos (art. 475-J, §1º, do CPC 1973).
Com o CPC 2015, essa decisão perde relevância, já que não é mais necessária
garantia do juízo para que o executado apresente impugnação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.455.937-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 3/11/15 (Info
573).

45.6. Multa do art. 475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015) em cumprimento
de sentença arbitral – (Info 569)

No âmbito do cumprimento de sentença arbitral condenatória de prestação


pecuniária, a multa de 10% (dez por cento) do artigo 475-J do CPC 1973 (art. 523, §
1º do CPC 2015) deverá incidir se o executado não proceder ao pagamento
espontâneo no prazo de 15 (quinze) dias contados da juntada do mandado de citação
devidamente cumprido aos autos (em caso de título executivo contendo quantia
líquida) ou da intimação do devedor, na pessoa de seu advogado, mediante
publicação na imprensa oficial (em havendo prévia liquidação da obrigação
certificada pelo juízo arbitral).
STJ. Corte Especial. REsp 1.102.460-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, Corte Especial, julgado
em 17/6/2015 (recurso repetitivo) (Info 569).

45.7. Desnecessidade de exaurimento das vias extrajudiciais para a utilização do


sistema RENAJUD – (Info 568)

Para que o exequente requeira do Poder Judiciário a consulta ao RENAJUD sobre a


existência de veículos em nome do executado, é necessário que comprove que tentou
previamente obter essa informação do DETRAN, mas não conseguiu?
NÃO. A utilização do sistema RENAJUD com o propósito de identificar a existência
de veículos penhoráveis em nome do executado não pressupõe a comprovação do
insucesso do exequente na obtenção dessas informações mediante consulta ao
DETRAN.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.347.222-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
25/8/2015 (Info 568).

45.8. Requisitos para a imposição da multa prevista no art. 475-J do CPC no caso de
sentença ilíquida – (Info 560) – IMPORTANTE!!!

O art. 475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015) prevê que o devedor será
intimado para pagar a quantia na qual ele foi condenado no prazo de 15 dias. Caso
não pague, o valor da condenação será acrescido de multa de 10%.
A liquidez da obrigação é pressuposto para o pedido de cumprimento de sentença.
Assim, essa multa do art. 475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015) só será
imposta se a obrigação já estiver líquida, ou seja, se houver o valor certo que o
devedor deverá pagar.
Se a sentença foi ilíquida, antes de intimar o devedor para pagar sob pena da multa
do art. 475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015), será necessário fazer a sua
liquidação.
Desse modo, para fins de recurso especial repetitivo, o STJ fixou a seguinte tese:
No caso de sentença ilíquida, para a imposição da multa prevista no art. 475-J do
CPC, revela-se indispensável (i) a prévia liquidação da obrigação; e, após, o
acertamento, (ii) a intimação do devedor, na figura do seu Advogado, para pagar o
quantum ao final definido no prazo de 15 dias.
Em outras palavras, somente após ter certeza do valor devido (liquidação) é que se
poderá intimar o devedor para pagar. Se ele, mesmo depois de intimado, não quitar
a dívida no prazo de 15 dias, aí sim haverá a imposição da multa de 10% do art. 475-
J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.147.191-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
4/3/2015 (recurso repetitivo) (Info 560).

45.9. Cumprimento de sentença de improcedência de pedido declaratório – (Info


557)
No caso em que, em ação declaratória de nulidade de notas promissórias, a sentença,
ao reconhecer subsistente a obrigação cambial entre as partes, atestando a existência
de obrigação líquida, certa e exigível, defina a improcedência da ação, o réu poderá
pleitear o cumprimento dessa sentença, independentemente de ter sido formalizado
pedido de satisfação do crédito na contestação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.481.117-PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
3/3/2015 (Info 557).

45.10. Cabimento de honorários advocatícios se não houve pagamento voluntário –


(info 556)

Súmula 517-STJ: São devidos honorários advocatícios no cumprimento de sentença,


haja ou não impugnação, depois de escoado o prazo para pagamento voluntário,
que se inicia após a intimação do advogado da parte executada.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 26/02/2015 (Info 556).

45.11. Cumprimento de sentença e parcelamento

Na execução de pagar quantia certa (título extrajudicial), o art. 745-A do CPC prevê
expressamente a possibilidade do devedor parcelar em até seis vezes o valor
cobrado na execução, desde que depositado 30% do valor e preenchidos os demais
requisitos legais.
Apesar de não haver previsão legal expressa, o STJ admite essa possibilidade de
parcelamento também ao devedor no caso de cumprimento de sentença.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.264.272-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
15/5/2012.

46. IMPUGNAÇÃO EM CUMPRIMENTO DE SENTENÇA


46.1. Não cabimento de honorários advocatícios na impugnação – (Info 556)

Súmula 519-STJ: Na hipótese de rejeição da impugnação ao cumprimento de


sentença, não são cabíveis honorários advocatícios.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 26/02/2015 (Info 556).

46.2. Petição da impugnação ao cumprimento de sentença por excesso de execução –


IMPORTANTE!!!

Se o devedor apresentar impugnação ao cumprimento de sentença alegando que há


excesso de execução e que o credor está pleiteando quantia superior à que é devida,
ele deverá apontar, na petição da impugnação, a parcela incontroversa do débito,
bem como as incorreções encontradas nos cálculos do credor. Caso não faça isso, o
juiz deverá rejeitar liminarmente a impugnação (§ 2º do art. 475-L), não sendo
permitido que o devedor faça a emenda da inicial da impugnação para corrigir essa
falha.
STJ. Corte Especial. REsp 1.387.248-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 7/5/14
(recurso repetitivo) (Info 540).

46.3. Garantia do juízo


Para que o devedor apresente IMPUGNAÇÃO (na fase de cumprimento de
sentença) é necessária a garantia do juízo, ou seja, é indispensável que haja prévia
penhora, depósito ou caução.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.195.929-SP, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 24/4/2012.

47. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE


47.1. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – (Info 534)

Julgada procedente em parte a exceção de pré-executividade, são devidos


honorários de advogado em favor do excipiente/executado na medida do respectivo
proveito econômico.
A procedência do incidente de exceção de pré-executividade, ainda que resulte
apenas na extinção parcial da execução ou redução de seu valor, acarreta a
condenação na verba honorária.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.276.956-RS, Rel. Min. Ari Pargendler, j. 4/2/2014 (Info 534).

48. TÍTULOS EXECUTIVOS


48.1. Construcard não é título executivo – (Info 606) – Atenção! Juiz Federal e DPU!

O contrato particular de abertura de crédito a pessoa física visando financiamento


para aquisição de material de construção – Construcard –, ainda que acompanhado
de demonstrativo de débito e nota promissória, não é título executivo extrajudicial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.323.951-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 16/5/17 (Info 606).

48.2. Acordo de reparação de danos feito no bojo da suspensão condicional do


processo é título executivo judicial – (Info 599)

O ato de composição entre denunciado e vítima visando à reparação civil do dano,


embutido na decisão concessiva de suspensão condicional do processo (art. 89 da
Lei nº 9.099/95), é título judicial apto a lastrear eventual execução.
Ex: João foi denunciado pelo crime do art. 129, § 1º, do CP por ter praticado lesão
corporal contra Pedro. Na audiência, o Promotor ofereceu ao réu proposta de
suspensão condicional do processo, exigindo, no entanto, como uma das condições,
que ele pagasse, no prazo de um mês, R$ 20 mil a título de reparação pelos danos
sofridos pela vítima (art. 89, § 1º, I). O réu e seu advogado concordaram com a
proposta. A vítima e seu advogado, que também estavam presentes, igualmente
aceitaram o acordo. Diante disso, o juiz homologou a suspensão condicional do
processo e esse acordo que aconteceu no bojo da proposta. Esse acordo cível de
reparação dos danos é título executivo judicial e poderá ser executado caso o agente
não cumpra o que foi combinado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.123.463-DF, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 21/2/2017 (Info
599).
OBS: Decisão que se amolda ao inciso II do art. 515 do CPC: O ato de composição
entre denunciado e vítima visando à reparação civil do dano embutido na decisão
concessiva de suspensão condicional do processo enquadra-se na previsão do art. 515,
II, do CPC:
Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento
dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título:
(...)
II - a decisão homologatória de autocomposição judicial;

Decisão concessiva de suspensão condicional do processo não faz coisa julgada para
fins penais: Realmente, o STJ entende que a decisão que concede a suspensão
condicional do processo não faz coisa julgada material. Isso, no entanto, vale apenas
para efeitos penais. Assim, quando o STJ afirma que a decisão concessiva de suspensão
condicional do processo não faz coisa julgada, o que ele quer dizer é que esse benefício
poderá ser revogado se o beneficiário incidir nas hipóteses previstas nos §§ 3º e 4º do
art. 89 da Lei 9.099/99 durante o prazo de suspensão determinado. Neste caso, o
processo criminal retoma seu curso. Daí se dizer que a decisão não faz coisa julgada
material. Essa constatação, contudo, é restrita ao aspecto criminal.

Efeitos cíveis não se confundem com os efeitos penais da suspensão condicional do


processo: Por outro lado, o acordo para a composição dos danos aperfeiçoou-se com a
concordância do denunciado, da vítima e a chancela do Juiz. Esse acordo, homologado
pelo juiz, enquadra-se na previsão do art. 515, II, do CPC:
Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento
dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título:
(...)
II - a decisão homologatória de autocomposição judicial;

Assim sendo, o referido acordo deve ser considerado como título executivo judicial,
nos termos do art. 515, II, do CPC, visto que seus efeitos cíveis não se confundem com
os efeitos penais da suspensão condicional do processo oferecida pelo Ministério
Público e acatada pelo acusado. Em suma, não há como se confundir o deferimento
da suspensão do processo, que não faz coisa julgada para extinguir a pretensão
punitiva do Estado, com a decisão que homologa o acordo celebrado pelas partes em
juízo, passível de execução por constituir-se título executivo judicial.

Princípios da confiança, da boa fé e da segurança: A vítima compareceu em juízo e


aceitou proposta de acordo para composição de danos. A ata da audiência foi assinada
pelo Juiz, Promotor de Justiça, denunciado, vítima e advogados. A compreensão de
que tal ato não constituiria título cível em favor da vítima e de que caberia a esta
propor ação de conhecimento contra o ofensor vai de encontro aos princípios da
confiança, boa fé e da segurança, uma vez que ela teria sido induzida a crer, por ato
praticado em juízo, que tivera seus direitos resguardados. Por outro lado, o
reconhecimento do acordo celebrado entre o autor do fato e a vítima na audiência em
que deferida a suspensão condicional do processo como título executivo atende ao
intuito da Lei dos Juizados Especiais de primar pela celeridade e concentração dos
atos processuais, assim como pela simplificação dos procedimentos, a fim de
incentivar as partes à realização de autocomposição.

48.3. A sentença, qualquer que seja sua natureza, pode ser título executivo judicial,
desde que estabeleça obrigação certa e exigível – (Info 585) – IMPORTANTE!!!

A sentença, qualquer que seja sua natureza, de procedência ou improcedência do


pedido, constitui título executivo judicial, desde que estabeleça obrigação de pagar
quantia, de fazer, não fazer ou entregar coisa, admitida sua prévia liquidação e
execução nos próprios autos.
STJ. Corte Especial. REsp 1.324.152-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 4/5/16 (Info
585).
Obs: existe polêmica na doutrina se este entendimento prevalece ou não com o novo
CPC, que trata sobre o tema no art. 515, I. A posição majoritária é a de que sim. No
mesmo sentido, o Min. Rel. Luis Felipe Salomão em determinado trecho de seu voto
dá a entender que o entendimento do STJ proferido neste julgado continua a vigorar
com o CPC 2015.
OBS:
Observação preliminar: Este julgado foi proferido segundo a ótica do CPC 1973. Vou
explicar o que foi decidido e, após, tecerei algumas considerações sobre o CPC 2015.

Títulos executivos judiciais: No CPC 1973, os títulos executivos judiciais estavam


previstos no art. 475-N. Dentre eles, destaca-se o inciso I:
Art. 475-N. São títulos executivos judiciais:
I - a sentença proferida no processo civil que reconheça a
existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou
pagar quantia;

O STJ, ao analisar o inciso I do art. 475-N do CPC 1973, entendia que a sentença
meramente declaratória era título executivo judicial? Na égide do CPC 1973 era
possível a execução de sentenças meramente declaratórias? SIM. Para o STJ, o art. 475-
N, I, do CPC 1973 autorizava a execução de sentença meramente declaratória, desde
que elas possuíssem exigibilidade e certeza. Confira:
(...) A Lei 11.232/2005, ao revogar o art. 584 e inserir o art. 475-
N no Código de Processo Civil, acolheu o entendimento já
esposado por esta Corte de que as sentenças de cunho
declaratório podem ter força executiva se presentes os
elementos necessários à execução, como exigibilidade e
certeza da relação.(...)
STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1384913/ES, Rel. Min. Paulo de
Tarso Sanseverino, julgado em 06/08/2015.

Exemplo de sentença meramente declaratória que pode ser executada: Empresa “X”
(contribuinte) ajuíza, contra a União, ação para que seja declarado que ela não mantém
relação jurídico-tributária válida com o ente federal, considerando que o tributo
cobrado é inconstitucional. A empresa “X” requer, ainda, a compensação dos valores
já pagos relativos a esse tributo com outros débitos que ela tem com a União. A
sentença que julgar procedente essa demanda, apesar de declaratória, possui
conteúdo nitidamente condenatório e, portanto, poderá ser executada.

O que importa é o conteúdo e não a classificação da sentença: Para analisar se uma


sentença possui ou não exequibilidade, não se deve levar em consideração a natureza
da decisão (se condenatória, constitutiva, meramente declaratória etc.), até mesmo
porque estas classificações são objeto de polêmicas doutrinárias que nunca se
resolvem.
Assim, para se examinar se uma sentença possui ou não exequibilidade, o que importa
é analisar o conteúdo da decisão, ou seja, se ela, em seu conteúdo, reconhece que a
parte deverá cumprir uma prestação de dar, fazer, não fazer ou pagar quantia. Se
possuir esta determinação, deve-se considerá-la como título executivo.

Nem toda sentença declaratória é título executivo: Nem toda sentença declaratória
possui eficácia executiva, mas apenas aquelas que, reconhecendo a existência da
obrigação, contenham, em seu bojo, os pressupostos de certeza e exigibilidade. Desse
modo, somente as sentenças declaratórias que forem certas e exigíveis é que podem
ser consideradas como título executivo. Não há problema se a sentença for certa e
exigível, mas não for líquida. Isso porque na ausência de liquidez, a parte poderá fazer
a prévia liquidação para, então, executá-la.

Inutilidade de nova ação judicial se já há uma sentença declaratória: Outro


argumento para se reconhecer exequibilidade para a sentença declaratória está no fato
de que seria uma enorme perda de tempo e de gastos exigir que a parte que já possui
em seu favor uma sentença declaratória fosse obrigada a ingressar com nova ação,
desta feita para obter uma sentença condenatória. Além disso, esta segunda demanda
seria inútil, considerando que, se a primeira sentença já declarou a existência do
direito, a nova sentença a ser prolatada não poderia nem mesmo contrariar esta
conclusão, sob pena de ofensa à coisa julgada.

Este entendimento acima explicado permanece com o novo CPC? Compare abaixo a
mudança na redação da previsão do título executivo judicial:
CPC 1973 CPC 2015
Art. 475-N. São títulos executivos Art. 515. São títulos executivos judiciais,
judiciais: cujo cumprimento dar-se-á de acordo
I — a sentença proferida no processo com os artigos previstos neste Título:
civil que reconheça a existência de I — as decisões proferidas no processo
obrigação de fazer, não fazer, entregar civil que reconheçam a exigibilidade de
coisa ou pagar quantia; obrigação de pagar quantia, de fazer, de
não fazer ou de entregar coisa;

Diante da alteração na redação acima, alguns autores defenderam que a sentença


meramente declaratória não mais seria título executivo judicial. Nesse sentido:
BUENO, Cassio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil anotado. São Paulo:
Saraiva, p. 640.
A doutrina majoritária, no entanto, está se formando no sentido de que o CPC 2015
prevê que a sentença meramente declaratória é sim título executivo judicial, desde que
reconheça a exigibilidade de uma obrigação. É a conclusão, por exemplo, de Daniel
Amorim Assumpção Neves (NCPC comentado. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 872).

No mesmo sentido, o Min. Rel. Luis Felipe Salomão em determinado trecho de seu
voto dá a entender que o entendimento do STJ proferido neste julgado continua a
vigorar com o CPC 2015.

48.4. Natureza jurídica do termo de acordo de parcelamento para fins de execução –


(Info 568)

O Termo de Acordo de Parcelamento que tenha sido subscrito pelo devedor e pela
Fazenda Pública deve ser considerado documento público para fins de
caracterização de título executivo extrajudicial, apto à promoção de ação executiva,
na forma do art. 585, II, do CPC 1973 (art. 784, II, do CPC 2015).
Ex: João, servidor de um órgão público federal, causou prejuízos ao erário. Foi
aberto um processo administrativo para apurar o dano, que foi orçado em R$ 60 mil.
O servidor aceitou assinar um termo de acordo de parcelamento no qual confessava
a dívida e se comprometia a pagar o débito em 12 prestações. Esse termo de acordo
de parcelamento é considerado título executivo extrajudicial.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.521.531-SE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 25/8/15
(Info 568).
48.5. Contrato de seguro de automóveis não é título executivo extrajudicial – (Info
553) – IMPORTANTE!!!

A via adequada para cobrar a indenização securitária fundada em contrato de


seguro de automóvel é a ação de conhecimento sob o rito sumário (e não a ação
executiva).
Não é possível propor diretamente a execução nesse caso porque o contrato de
seguro de automóvel não se enquadra como título executivo extrajudicial (art. 585
do CPC).
Por outro lado, os contratos de seguro de vida, por serem dotados de liquidez,
certeza e exigibilidade, são títulos executivos extrajudiciais (art. 585, III), podendo
ser cobrados por meio de ação de execução.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.416.786-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
2/12/2014 (Info 553).

48.6. Sentença declaratória pode ser título executivo

A sentença declaratória que traz definição integral da norma jurídica


individualizada é título executivo judicial. Assim, tem eficácia executiva a sentença
ou acórdão que contenha carga condenatória. A sentença proferida no processo civil
que reconhece a existência de dada obrigação de pagar é título executivo hábil a
fundar pedido de cumprimento pelo réu de pagamento pelo autor da dívida
reconhecida.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.100.820-SC, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em
18/9/2012.

49. PENHORA
49.1. ADJUDICAÇÃO: Forma preferencial de pagamento ao credor. Momento para
requerimento da adjudicação – (Info 583)

Ao analisar o instituto da adjudicação e em especial a sua preferência sobre outras


formas de expropriação e o momento de realizá-la, o STJ enunciou duas conclusões:
I - A adjudicação é forma preferencial de pagamento ao credor, devendo ser
assegurada ao legitimado que oferecer preço não inferior ao da avaliação. Assim,
se um dos legitimados previstos em lei requereu a adjudicação e ofereceu preço não
inferior ao da avaliação, não deve o magistrado indeferir o pedido e determinar a
alienação do bem penhorado.
II - A adjudicação poderá ser requerida após resolvidas as questões relativas à
avaliação do bem penhorado e antes de realizada a alienação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.505.399-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 12/4/16 (Info
583).
OBS:
O que acontece com o bem penhorado? Se o bem penhorado for dinheiro, ele é
transferido ao credor, quitando-se a obrigação. Se o bem penhorado for coisa diferente
de dinheiro, ele poderá ser:
a) adjudicado;
b) alienado;
c) concedido em usufruto ao exequente.
Quando acontece uma dessas três situações acima, dizemos que houve a
“expropriação”, conforme previsto no art. 825 do CPC/2015:

Art. 825. A expropriação consiste em:


I - adjudicação;
II - alienação;
III - apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de
estabelecimentos e de outros bens.

Obs: esses incisos estão organizados segundo uma preferência legal. Em outras
palavras, se houver interessados em adjudicar (inciso I), não será necessário fazer a
alienação. Se não ocorrer a adjudicação, deve-se tentar a alienação (inciso II) antes da
apropriação de frutos (inciso III).

Adjudicação (inciso I): A adjudicação ocorre quando a propriedade do bem


penhorado (móvel ou imóvel) é transferida para o exequente (ou para um terceiro
legitimado a adjudicar), como forma de pagamento da dívida que está sendo cobrada
em juízo. O instituto encontra-se previsto no art. 876 do CPC/2015, cujo caput
estabelece:

Art. 876. É lícito ao exequente, oferecendo preço não inferior


ao da avaliação, requerer que lhe sejam adjudicados os bens
penhorados.

O caput do art. 876 fala apenas no exequente, mas o § 5º prevê outros legitimados que
também podem adjudicar. Veja:

§ 5º Idêntico direito pode ser exercido por aqueles indicados


no art. 889, incisos II a VIII, pelos credores concorrentes que
hajam penhorado o mesmo bem, pelo cônjuge, pelo
companheiro, pelos descendentes ou pelos ascendentes do
executado.

Essa preferência fica clara ao se ler o art. 880 do CPC/2015, que afirma que a alienação
somente ocorrerá se "não efetivada a adjudicação":

Art. 880. Não efetivada a adjudicação, o exequente poderá


requerer a alienação por sua própria iniciativa ou por
intermédio de corretor ou leiloeiro público credenciado
perante o órgão judiciário.

A legislação não estabelece expressamente o limite temporal para requerimento da


adjudicação, mas isso pode ser extraído da redação do art. 880 do CPC/2015.

Podemos concluir que o termo inicial para o pedido de adjudicação é a entrega da


avaliação. Tendo o bem sido avaliado, ele já poderá ser adjudicado. Por outro lado, o
termo final da adjudicação é a realização da alienação. Se a coisa já foi alienada (seja
por iniciativa particular, seja por leilão judicial), não é mais permitida a adjudicação.

Imagine que o exequente, em um primeiro momento, não queira adjudicar o bem.


Diante disso, são iniciados os preparativos para a realização da sua alienação. Ocorre
que também não se consegue vender a coisa. O novo CPC prevê, de forma inovadora,
que, nesta situação, será permitido novamente que o exequente (ou algum legitimado)
requeira a adjudicação. Veja do que estou falando:

Art. 878. Frustradas as tentativas de alienação do bem, será


reaberta oportunidade para requerimento de adjudicação,
caso em que também se poderá pleitear a realização de nova
avaliação.

Confira os comentários de Daniel Assumpção Neves a respeito deste dispositivo:

"Conforme indicado pelo art. 880, caput, do NCPC, a


adjudicação é a forma preferencial de satisfação do direito do
exequente, no sentido de que, antes de ser determinada
qualquer outra medida que busque tal satisfação, poderá
ocorrer a adjudicação. Mas não se deve entender que exista
uma preclusão temporal que impeça a adjudicação de ocorrer
depois desse momento inicial de expropriação, desde que ela
ainda seja materialmente possível. É natural que não tenha
sentido falar em adjudicação após o bem penhorado já ter sido
alienado ou, ainda, já estar em curso o seu 'usufruto
executivo'. Mas nenhuma preclusão impedirá que, frustrada a
alienação do bem, o exequente ou qualquer outro legitimado
requeira a adjudicação do bem." (NCPC Comentado.
Juspodivm, 2016, p.1391-1392).

Alienação (inciso II): Segundo o art. 879 do CPC 2015, existem duas espécies de
alienação do bem:
a) por iniciativa particular: ocorre quando o próprio exequente (ou algum corretor
ou leiloeiro público credenciado) tenta conseguir um comprador para o imóvel,
seguindo determinadas regras impostas pela lei.
b) leilão judicial (eletrônico ou presencial): é a oferta do bem penhorado aos
interessados em adquiri-lo em um evento organizado pelo Estado-juiz.

Observação: No CPC 2015, o que é chamado atualmente de “leilão judicial” era


conhecido como “hasta pública” (expressão do CPC 1973). Assim, no CPC 1973
existiam duas formas de hasta pública (art. 686, IV):
a) praça, quando a coisa a ser alienada era bem imóvel;
b) leilão, quando a coisa a ser alienada era bem móvel.

O CPC 2015 não repete tais palavras e não mais faz essa distinção. Agora, fala-se em
leilão judicial tanto para bens móveis como imóveis.

Apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros


bens (antigo “usufruto de bem móvel ou imóvel”) (inciso III): No CPC 1973, isso era
tratado como sendo “usufruto de bem móvel ou imóvel”, expressão que era criticada
pela doutrina e que, por isso, foi substituída no novo Código (art. 867, NCPC).

Art. 867. O juiz pode ordenar a penhora de frutos e


rendimentos de coisa móvel ou imóvel quando a considerar
mais eficiente para o recebimento do crédito e menos gravosa
ao executado.
Ex: foi penhorado um apartamento do executado, que se encontra alugado a um
terceiro; pode o juiz determinar que o exequente fique recebendo o valor dos aluguéis
até que o débito da execução seja totalmente pago.

49.2. Possibilidade excepcional de penhora sobre honorários advocatícios – (Info


553) – IMPORTANTE!!!

Os honorários advocatícios (contratuais ou sucumbenciais) são a remuneração do


advogado e, portanto, possuem caráter alimentar. Logo, são, em princípio,
impenhoráveis, com base no art. 649, IV, do CPC.
No entanto, o STJ entende que o art. 649, IV, do CPC não pode ser interpretado de
forma literal ou absoluta. Em determinadas circunstâncias é possível a sua
relativização.
Assim, se os honorários advocatícios recebidos são exorbitantes e ultrapassam
valores que seriam razoáveis para sustento próprio e de sua família, a verba perde
a sua natureza alimentar (finalidade de sustento) e passa a ser possível a sua
penhora, liberando-se apenas uma parte desse valor para o advogado.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.264.358-SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em
25/11/2014 (Info 553).

49.3. Penhora diretamente sobre bens do espólio – (Info 552)

Em ação de execução de dívida contraída pessoalmente pelo autor da herança, a


penhora pode ocorrer diretamente sobre os bens do espólio, em vez de no rosto dos
autos do inventário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.318.506-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
18/11/2014 (Info 552).

49.4. PENHORA SOBRE FATURAMENTO

É possível, em caráter excepcional, que a penhora recaia sobre o faturamento da


empresa, desde que o percentual fixado não torne inviável o exercício da atividade
empresarial. Não há violação ao princípio da menor onerosidade para o devedor,
previsto no art. 620 do CPC 1973 (art. 805 do CPC 2015).
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 242970-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 13/11/12.
OBS: A penhora sobre o faturamento ou renda da sociedade empresária é prevista no
CPC e admitida pelo STJ (art. 655, VII, do CPC/1973) (art. 835, X, do CPC/2015).
Entretanto, para que a penhora sobre faturamento de empresa seja deferida é
necessário que se cumpram três requisitos (STJ. Ag 1380194/SC):
a) que o devedor não possua bens ou, se os tiver, sejam esses
de difícil execução ou insuficientes a saldar o crédito
demandado;
b) que seja promovida a nomeação de administrador e que se
apresente plano de pagamento;
c) que o percentual fixado sobre o faturamento não torne
inviável o exercício da atividade empresarial.

50. ARREMATAÇÃO
50.1. Arrematação de bem imóvel mediante pagamento em prestações – (Info 569)

Na segunda praça (CPC 1973) ou no segundo leilão (CPC 2015), o bem poderá ser
alienado por valor inferior ao da avaliação?
1) CPC 1973:
REGRA: SIM. Nesta segunda praça, o bem poderá ser arrematado por preço inferior
ao da avaliação, desde que não seja vil (art. 692 do CPC). Vil = algo de pouco valor,
insignificante.
O CPC 1973 não conceituava o que era preço "vil", cabendo essa tarefa à
jurisprudência.
EXCEÇÃO: no CPC 1973, havia uma exceção a essa regra. Se o licitante propusesse
arrematar o bem, pagando em prestações (parceladamente), então, neste caso, o
valor pago não poderia ser inferior à avaliação mesmo que fosse a segunda praça
(art. 690, § 1º).

2) CPC 2015:
SIM. No CPC 2015, o juiz deverá fixar no edital: o valor de avaliação e o preço
mínimo.
O bem pode ser arrematado por preço inferior ao da avaliação já no primeiro leilão.
O que não pode acontecer é o bem ser vendido por valor inferior ao preço mínimo.
Se for realizado um segundo leilão (por ausência de interessados no primeiro), a
situação continua a mesma: o bem poderá ser alienado por valor inferior ao da
avaliação, mas não poderá ser alienado por valor inferior ao preço mínimo.
Assim, a única restrição imposta (tanto na primeira tentativa de leilão, como na
segunda) é que o bem não poderá ser arrematado por preço VIL (art. 891 do CPC
2015).
O CPC 2015 conceitua o que é "vil". Será considerado vil (muito baixo e, portanto,
proibido):
• O valor abaixo do preço mínimo fixado pelo juiz; ou
• Se o juiz não fixou preço mínimo, será considerado vil o valor abaixo de 50% da
avaliação.
No CPC 2015, mesmo que o alienante proponha pagar em prestações, ainda assim o
valor do bem poderá ser inferior ao da avaliação, desde que não seja vil (art. 895, II).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.340.965-MG, Rel. Min. Raul Araújo, j. 3/9/15 (Info 569).

51. EXECUÇÃO
51.1. IMPENHORABILIDADE: Pacto de impenhorabilidade não pode ser oposto a
terceiros – (Info 625)

O pacto de impenhorabilidade de título patrimonial contido explicitamente em


estatuto social de clube desportivo não pode ser oposto contra exequente/credor não
sócio.
O pacto de impenhorabilidade previsto no art. 833, I, do CPC/2015 está limitado às
partes que o convencionaram, não podendo envolver terceiros que não anuíram,
salvo exceções previstas em lei.
STJ. 3ª Turma. REsp 1475745-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 24/4/18 (Info
625).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João foi condenado a pagar R$ 20 mil em favor
de Pedro. O credor iniciou o cumprimento de sentença e o juiz determinou a penhora
de um título patrimonial que João possui no “Iate Clube do Rio de Janeiro”, avaliado
em R$ 15 mil. O devedor impugnou o cumprimento de sentença alegando que esse
título é impenhorável, conforme prevê o art. 4º, § 1º, do Estatuto Social do Iate Clube:
Art. 4º O patrimônio social do Clube é representado por 3.000
(três mil) títulos patrimoniais pertencentes aos Sócios
Proprietários e aos Postulantes a Sócios Proprietários, 70%
(setenta por cento) dos quais, no mínimo, devem ser
brasileiros.
§ 1º O título patrimonial é individual, nominativo,
impenhorável, privativo de pessoas físicas, susceptível de
compra e venda, transmissível, mas sua posse não importa, de
per si, na outorga da qualidade de Sócio Proprietário ou de
Postulante a Sócio Proprietário ao adquirente ou herdeiro, que
só terão essas atribuições se aprovados pela Comissão Mista,
observadas as condições regimentais.

Assim, o executado argumentou que este título é impenhorável, nos termos do art.
833, I, do CPC/2015:
Art. 833. São impenhoráveis:
I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não
sujeitos à execução;

A tese do executado foi aceita pelo STJ? NÃO. É o que foi decidido no Info 625 do STJ.

A parte final do art. 833, I, do CPC/2015 realmente prevê que atos voluntários
declarem a impenhorabilidade de determinados bens, afastando-os de eventual
execução. Permite-se, assim, a celebração do pacto de impenhorabilidade. No
entanto, esse pacto de impenhorabilidade fica limitado às partes que o
convencionaram, não podendo envolver terceiros que não anuíram. Se assim não
fosse, particulares poderiam celebrar convenções de impenhorabilidade com o intuito
de prejudicar a satisfação do crédito de terceiros. “Trata-se de impenhorabilidade
relativa, porque o ajuste não envolve pessoas alheias ao pacto.” (ASSIS, Araken.
Manual da Execução. São Paulo: RT, 2015, p. 267).

Assim, o pacto de impenhorabilidade de título patrimonial, contido explicitamente


em estatuto social do clube desportivo (art. 4º, § 1º), não pode ser oposto contra o
exequente (não sócio). Isso porque as decisões tomadas pela associação somente
vinculam os seus respectivos sócios e associados, além de não haver previsão legal
para se reconhecer a eficácia erga omnes de tais deliberações do clube.

51.2. O prazo para cumprimento voluntário de sentença deverá ser computado em


dobro no caso de litisconsortes com procuradores distintos (art. 229 do CPC) – (Info
619) – IMPORTANTE!!!

Em regra, o prazo para cumprimento voluntário da sentença é de 15 dias úteis (art.


523 do CPC).
Se os devedores forem litisconsortes com diferentes procuradores, de escritórios de
advocacia distintos, este prazo de pagamento deverá ser contado em dobro, nos
termos do art. 229 do CPC/2015, desde que o processo seja físico.
Assim, o prazo comum para cumprimento voluntário de sentença deverá ser
computado em dobro (ou seja, em 30 dias úteis) no caso de litisconsortes com
procuradores distintos, em autos físicos.
STJ. 4ª Turma. REsp 1693784-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 28/11/17 (Info 619).
OBS:
PRAZO PARA CUMPRIMENTO VOLUNTÁRIO DA SENTENÇA
Procedimento para execução: O procedimento para execução de quantia pode ser
realizado de duas formas:
a) execução de quantia fundada em título executivo
extrajudicial;
b) execução de quantia fundada em título executivo judicial
(cumprimento de sentença).

Imagine a seguinte situação hipotética: João ajuíza uma ação de cobrança contra
Pedro e Ricardo. Vale ressaltar que Pedro e Ricardo possuem advogados distintos, de
escritórios de advocacia diferentes. O juiz julgou a sentença procedente, condenando
Pedro e Ricardo a pagarem R$ 1 milhão ao autor. Houve o trânsito em julgado.

O que acontece agora? João terá que ingressar com uma petição em juízo requerendo
o cumprimento da sentença.

O início da fase de cumprimento da sentença pode ser feito de ofício pelo juiz? NÃO.
O cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar quantia, provisório ou
definitivo, só pode ser feito a requerimento do exequente (art. 513, § 1º do
CPC/2015). Cabe ao credor o exercício de atos para o regular cumprimento da decisão
condenatória, especialmente requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o
montante apurado, consoante demonstrativo discriminado e atualizado do crédito
(art. 524 do CPC/2015).

Em outras palavras, o início da fase de cumprimento da sentença exige um


requerimento do credor:
Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada
em liquidação, e no caso de decisão sobre parcela
incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-
á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado
para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de
custas, se houver.

A partir do requerimento do credor, o que faz o juiz? O juiz determina a intimação do


devedor para pagar a quantia em um prazo máximo de 15 dias.

O prazo de 15 dias, previsto no art. 523 do CPC/2015, é contado em dias úteis ou


corridos? Dias úteis. O tema ainda não está pacificado, mas esta é a posição
majoritária:
Enunciado 89 – I Jornada CJF: Conta-se em dias úteis o prazo
do caput do art. 523 do CPC.

Esse prazo de 15 dias é contado a partir de quando? Da intimação do devedor para


pagar. Não basta que o devedor já tenha sido intimado anteriormente da sentença que
o condenou. Para começar o prazo de 15 dias para pagamento, é necessária nova
intimação. Assim, a multa de 10% depende de nova intimação prévia do devedor. A
forma dessa intimação está prevista no art. 513 do CPC/2015:
Art. 513 (...)
§ 2º O devedor será intimado para cumprir a sentença:
I - pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado
constituído nos autos;
II - por carta com aviso de recebimento, quando representado
pela Defensoria Pública ou quando não tiver procurador
constituído nos autos, ressalvada a hipótese do inciso IV;
III - por meio eletrônico, quando, no caso do § 1º do art. 246,
não tiver procurador constituído nos autos
IV - por edital, quando, citado na forma do art. 256, tiver sido
revel na fase de conhecimento.
§ 3º Na hipótese do § 2º, incisos II e III, considera-se realizada
a intimação quando o devedor houver mudado de endereço
sem prévia comunicação ao juízo, observado o disposto no
parágrafo único do art. 274.
§ 4º Se o requerimento a que alude o § 1º for formulado após 1
(um) ano do trânsito em julgado da sentença, a intimação será
feita na pessoa do devedor, por meio de carta com aviso de
recebimento encaminhada ao endereço constante dos autos,
observado o disposto no parágrafo único do art. 274 e no § 3º
deste artigo.

Se os executados forem litisconsortes com diferentes procuradores, de escritórios de


advocacia distintos, este prazo de 15 dias poderá ser contado em dobro? Em nosso
exemplo, Pedro e Ricardo terão 30 dias para pagar voluntariamente a quantia fixada
na sentença? SIM. O prazo comum para cumprimento voluntário de sentença
deverá ser computado em dobro no caso de litisconsortes com procuradores
distintos, em autos físicos. STJ. 4ª Turma. REsp 1.693.784-DF, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 28/11/2017 (Info 619).

O cumprimento voluntário da sentença possui natureza dúplice. Cuida-se de ato a


ser praticado pela própria parte, mas a fluência do prazo para pagamento inicia-se
com a intimação do advogado pela imprensa oficial, o que impõe ônus ao patrono,
qual seja, o dever de comunicar o devedor do desfecho desfavorável da demanda,
alertando-o das consequências jurídicas da ausência do cumprimento voluntário.
Assim, uma vez constatada a hipótese prevista no art. 229 do CPC/2015 (litisconsortes
com procuradores de escritórios diferentes), o prazo comum para pagamento
espontâneo deverá ser computado em dobro, ou seja, será de 30 dias úteis.

51.3. Mesmo que o contrato com a escola particular esteja apenas no nome da mãe,
o pai também responderá solidariamente pelas dívidas – (Info 618) – IMPORTANTE!!!

A execução de título extrajudicial por inadimplemento de mensalidades escolares


de filhos do casal pode ser redirecionada ao outro consorte, ainda que não esteja
nominado nos instrumentos contratuais que deram origem à dívida.
Ex: mãe assina contrato com a escola e termo de confissão de dívida se
comprometendo a pagar as mensalidades; em caso de atraso, a escola poderá
ingressar com execução tanto contra a mãe como contra o pai do aluno, considerando
que existe uma solidariedade legal do casal quanto às despesas com a educação do
filho (arts. 1.643 e 1.644 do CC).
STJ. 3ª Turma. REsp 1472316-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 5/12/17
(Info 618).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Lucas é filho de João e Maria. Maria
matriculou Lucas em uma escola particular e, para tanto, teve que assinar um contrato
de prestação de serviços educacionais, comprometendo-se as pagar as mensalidades.
O ano terminou e Maria ficou devendo o pagamento de 5 mensalidades. A escola
chamou a mãe de Lucas para renegociar o débito, tendo ela assinado um termo de
confissão de dívida e, em troca, o colégio aceitou receber apenas 4 parcelas. Ocorre
que, passado o prazo, essas 4 prestações também não foram pagas, razão pela qual a
escola ingressou com execução de título executivo extrajudicial contra Maria. No curso
da execução, não foram localizados bens penhoráveis da executada. Diante disso, a
escola (exequente) requereu que a execução fosse redirecionada contra João. O juiz
negou o pedido afirmando que o contrato e o termo de confissão de dívida não foram
assinados por João, que nem sequer constava nesses instrumentos.

A questão chegou até o STJ. O pedido formulado pela escola (exequente) pode ser
acolhido pelo STJ? SIM. A execução de título extrajudicial por inadimplemento de
mensalidades escolares de filhos do casal pode ser redirecionada ao outro consorte,
ainda que não esteja nominado nos instrumentos contratuais que deram origem à
dívida. STJ. 3ª Turma. REsp 1.472.316-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
julgado em 05/12/2017 (Info 618).

Legitimidade passiva ordinária para a execução: A legitimidade passiva ordinária


para a execução é daquele que estiver nominado no título executivo. Assim, em regra,
somente deve figurar na execução aquele que consta no título executivo. Vale
ressaltar, no entanto, que aqueles que se obrigam, por força da lei ou do contrato,
solidariamente à satisfação de determinadas obrigações, apesar de não nominados
no título, possuem legitimidade passiva extraordinária para a execução.

Solidariedade do casal por dívidas contraídas para a administração do lar e para as


necessidades da família: O Código Civil reconheceu a solidariedade entre os cônjuges
em relação a determinadas dívidas, mesmo quando contraídas por apenas um dos
consortes. É o que está disposto nos arts. 1.643 e 1.644:
Art. 1.643. Podem os cônjuges, independentemente de
autorização um do outro:
I - comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia
doméstica;
II - obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas
coisas possa exigir.
Art. 1.644. As dívidas contraídas para os fins do artigo
antecedente obrigam solidariamente ambos os cônjuges.

Nos arts. 1.643 e 1644 do CC/02, o legislador reconheceu que, pelas obrigações
contraídas para a manutenção da economia doméstica, e, assim, notadamente, em
proveito da entidade familiar, o casal responderá solidariamente, podendo-se
postular a excussão dos bens do legitimado ordinário e do coobrigado,
extraordinariamente legitimado.

Quando o art. 1.643 estabelece que existe solidariedade entre os cônjuges quanto às
dívidas contraídas para fazer frente à economia doméstica, deve-se entender isso de
forma ampla. Assim, estão abrangidas na locução "economia doméstica" as obrigações
assumidas para a administração do lar e para a satisfação das necessidades da família,
o que inclui despesas alimentares, educacionais, culturais, de lazer, de habitação, etc.
Logo, as despesas contraídas por um dos cônjuges para custear a educação do filho
comum também podem ser enquadradas nos arts. 1.643, I e 1.644 do CC. Desse modo,
deve-se entender que a dívida que surge de um contrato de prestação de serviços
educacionais aos filhos é uma dívida comum do casal, havendo solidariedade entre
eles.

Há essa solidariedade mesmo havendo somente o nome de um dos cônjuges no


contrato? SIM. Em se tratando de dívida contraída em benefício da família e no
cumprimento do dever de ambos os pais matricularem os seus filhos no ensino
regular, não importa que apenas o nome de um dos cônjuges esteja no contrato ou
na confissão de dívida. Isso porque, conforme já vimos, o Código Civil prevê que
existe, neste caso, uma solidariedade do casal.

E se os pais estiverem separados/divorciados? Suponhamos que João não mais


estivesse casado (ou nunca tivesse sido casado) com Maria, ainda assim teria
legitimidade para figurar na execução? SIM. Por força do poder familiar. Os pais,
detentores do poder familiar, têm o dever de garantir o sustento e a educação dos
filhos, compreendendo, aí, a manutenção do infante em ensino regular, pelo que
deverão, solidariamente, responder pelas mensalidades da escola em que
matriculado o filho. A obrigação relativa à manutenção dos filhos no ensino regular
é, sem dúvida alguma, de ambos os pais, o que é evidenciado pelos arts. 21, 22 e 55 do
ECA:
Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de
condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a
legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em
caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária
competente para a solução da divergência.
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e
educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no
interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as
determinações judiciais.
Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm
direitos iguais e deveres e responsabilidades compartilhados
no cuidado e na educação da criança, devendo ser
resguardado o direito de transmissão familiar de suas crenças
e culturas, assegurados os direitos da criança estabelecidos
nesta Lei.
(...)
Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular
seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino.

No mesmo sentido é o Código Civil:


Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: (...)
IV - sustento, guarda e educação dos filhos;

Assim, como já dito, ambos os pais têm o dever de garantir o sustento e a educação
dos filhos, compreendendo, aí, também a manutenção do infante em ensino regular
(art. 55 do ECA), pelo que deverão, solidariamente, responder pelas mensalidades
da escola em que matriculado o filho. Conforme pontua o Min. Paulo de Tarso
Sanseverino:
“Essa mútua responsabilidade, própria das dívidas contraídas
por apenas um dos pais para o sustento do filho, não deixa de
estar presente pelo fato de a dívida ter sido contraída
posteriormente à separação/divórcio, pois é no poder familiar
que ela encontra sua gênese.”

51.4. Possibilidade de requerer a alienação em leilão judicial em vez de fazer a


alienação por iniciativa particular – (Info 617)

Se a parte exequente manifestar desinteresse na adjudicação e na alienação


particular do imóvel penhorado, ela poderá, desde logo, requerer sua alienação em
leilão judicial (antiga alienação em hasta pública). Isso porque o CPC confere ao
credor a faculdade de se valer da alienação por iniciativa particular, mas não impede
que o credor opte, desde logo, pela alienação judicial (alienação em hasta pública).
STJ. 1ª Turma. REsp 1312509-RN, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 7/12/17 (Info 617).
OBS:
O que acontece com o bem penhorado? Se o bem penhorado for dinheiro, ele é
transferido ao credor, quitando-se a obrigação. Se o bem penhorado for coisa diferente
de dinheiro, ele poderá ser:
a) adjudicado;
b) alienado;
c) concedido em usufruto ao exequente.

Expropriação: Quando acontece uma dessas três situações acima, dizemos que houve
a “expropriação”, conforme previsto no art. 825 do CPC/2015:
Art. 825. A expropriação consiste em:
I - adjudicação;
II - alienação;
III - apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de
estabelecimentos e de outros bens.

Atenção: esses incisos estão organizados segundo uma preferência legal. Em outras
palavras, se houver interessados em adjudicar (inciso I), não será necessário fazer a
alienação. Se não ocorrer a adjudicação, deve-se tentar a alienação (inciso II) antes da
apropriação de frutos (inciso III).

Adjudicação (inciso I): A adjudicação ocorre quando a propriedade do bem


penhorado (móvel ou imóvel) é transferida para o exequente (ou para um terceiro
legitimado a adjudicar), como forma de pagamento da dívida que está sendo cobrada
em juízo. O instituto encontra-se previsto no art. 876 do CPC/2015, cujo caput
estabelece:
Art. 876. É lícito ao exequente, oferecendo preço não inferior
ao da avaliação, requerer que lhe sejam adjudicados os bens
penhorados.

O caput do art. 876 fala apenas no exequente, mas o § 5º prevê outros legitimados
que também podem adjudicar. Veja:
§ 5º Idêntico direito pode ser exercido por aqueles indicados
no art. 889, incisos II a VIII, pelos credores concorrentes que
hajam penhorado o mesmo bem, pelo cônjuge, pelo
companheiro, pelos descendentes ou pelos ascendentes do
executado.
Alienação (inciso II): Segundo o art. 879 do CPC 2015, existem duas espécies de
alienação do bem:
a) por iniciativa particular: ocorre quando o próprio exequente
(ou algum corretor ou leiloeiro público credenciado) tenta
conseguir um comprador para o imóvel, seguindo
determinadas regras impostas pela lei.
b) leilão judicial (eletrônico ou presencial): é a oferta do bem
penhorado aos interessados em adquiri-lo em um evento
organizado pelo Estado-juiz.

Observação importante: No CPC 2015, o que é chamado atualmente de “leilão


judicial” era conhecido como “hasta pública” (expressão do CPC 1973). Assim, no CPC
1973 existiam duas formas de hasta pública (art. 686, IV):
a) praça, quando a coisa a ser alienada era bem imóvel;
b) leilão, quando a coisa a ser alienada era bem móvel.

O CPC 2015 não repete tais palavras e não mais faz essa distinção. Agora, fala-se em
leilão judicial tanto para bens móveis como imóveis.

Apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros


bens (antigo “usufruto de bem móvel ou imóvel”) (inciso III): No CPC 1973, isso era
tratado como sendo “usufruto de bem móvel ou imóvel”, expressão que era criticada
pela doutrina e que, por isso, foi substituída no novo Código. Compare:
CPC 1973 CPC 2015
Art. 716. O juiz pode conceder ao Art. 867. O juiz pode ordenar a
exequente o usufruto de móvel ou penhora de frutos e rendimentos
imóvel, quando o reputar menos de coisa móvel ou imóvel quando a
gravoso ao executado e eficiente considerar mais eficiente para o
para o recebimento do crédito. recebimento do crédito e menos
gravosa ao executado.

Ex: foi penhorado um apartamento do executado, que se encontra alugado a um


terceiro; pode o juiz determinar que o exequente fique recebendo o valor dos aluguéis
até que o débito da execução seja totalmente pago.

Feita esta breve revisão, imagine a seguinte situação hipotética: João (credor)
ingressou com cumprimento de sentença contra Pedro (devedor). Pedro não pagou
voluntariamente o débito e o juiz determinou a penhora de um apartamento que está
em seu nome. O magistrado determinou a intimação de João para que se manifestasse
sobre seu interesse na adjudicação do bem penhorado e, caso não o tivesse, informasse
as providências necessárias para que efetuasse, por conta própria, a alienação
particular dos bens, na forma do art. 879, I, do CPC/2015 (art. 647, II, do CPC/1973).
João respondeu dizendo que não tinha interesse na adjudicação e que também não
desejava fazer a alienação particular do bem. Diante disso, requereu a alienação
judicial do apartamento em hasta pública, na forma do art. 879, II, do CPC/2015 (art.
647,III, do CPC/1973). O juiz indeferiu o pedido afirmando que, não ocorrendo a
adjudicação, é obrigatório que o credor-exequente tente fazer a alienação do bem
penhorado por iniciativa particular. Somente se não tiver êxito é que poderia ser feita
a alienação judicial (antiga hasta pública). O credor recorreu contra a decisão alegando
que a alienação por iniciativa particular é uma faculdade do credor-exequente, sendo
descabida sua imposição pelo juiz.
Agiu corretamente o juiz? NÃO. Analisando o texto do CPC, conclui-se que, não
havendo interesse do exequente na adjudicação do bem penhorado, abre-se a
possibilidade de que a alienação do bem constrito seja feita por iniciativa do próprio
credor (alienação por iniciativa particular). Realmente existe uma ordem de
preferência nas formas de expropriação previstas no CPC. Vale ressaltar, contudo, que
esta ordem de preferência não é absoluta. Assim, é possível que o credor escolha
forma de expropriação fora da ordem listada no CPC, de acordo com as
particularidades relacionadas ao bem ou ao próprio credor. Isso porque a execução
deve ser realizada no interesse do exequente, conforme preconiza o art. 797 do
CPC/2015 (art. 612 do CPC/1973).

51.5. Requisitos para a impenhorabilidade da pequena propriedade rural – (Info


616) – IMPORTANTE!!!

A pequena propriedade rural é impenhorável (art. 5º, XXVI, da CF/88 e o art. 833,
VIII, do CPC) mesmo que a dívida executada não seja oriunda da atividade
produtiva do imóvel.
De igual modo, a pequena propriedade rural é impenhorável mesmo que o imóvel
não sirva de moradia ao executado e à sua família.
Desse modo, para que o imóvel rural seja impenhorável, nos termos do art. 5º,
XXVI, da CF/88 e do art. 833, VIII, do CPC, é necessário que cumpra apenas dois
requisitos cumulativos:
1) seja enquadrado como pequena propriedade rural, nos termos definidos pela lei;
e
2) seja trabalhado pela família.
STJ. 3ª Turma. REsp 1591298-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 14/11/17 (Info
616).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: O filho de João resolveu fazer faculdade na
capital. Para custear as despesas, João tomou um empréstimo bancário e, como
garantia do pagamento, assinou nota promissória no valor de R$ 20 mil. O devedor
não efetuou o pagamento na data do vencimento, razão pela qual o banco ingressou
com execução de título extrajudicial, tendo sido penhorada uma chácara (imóvel rural)
que está em nome de João. O executado alegou que o imóvel em questão é
impenhorável, considerando que se trata de pequena propriedade rural onde pratica
agricultura juntamente com a mulher e os filhos. Invocou, para tanto, o art. 5º, XXVI,
da CF/88 e o art. 833, VIII, do CPC, que estabelecem:
CF88. Art. 5º (...)
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei,
desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora
para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade
produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu
desenvolvimento;

CPC/Art. 833. São impenhoráveis:


VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei,
desde que trabalhada pela família;

Teses do exequente: O banco refutou a tese de João apresentando dois argumentos:


1) a dívida foi contraída para interesses particulares (e não para promover a atividade
produtiva desenvolvida no imóvel). Logo, como o débito não tem relação com o
imóvel, não gera a sua impenhorabilidade;
2) João e a sua família não moram na chácara que foi penhorada. Eles residem em uma
casa alugada, que fica na vila a alguns minutos do imóvel rural. Dessa forma, incidiria
a hipótese do art. 4º, § 2º, da Lei nº 8.009/90:
Art. 4º (...)
§ 2º Quando a residência familiar constituir-se em imóvel
rural, a impenhorabilidade restringir-se-á à sede de moradia,
com os respectivos bens móveis, e, nos casos do art. 5º, inciso
XXVI, da Constituição, à área limitada como pequena
propriedade rural.

A primeira tese do exequente foi aceita pelo STJ? NÃO.


A pequena propriedade rural é impenhorável (art. 5º, XXVI,
da CF/88 e o art. 833, VIII, do CPC) mesmo que a dívida
executada não seja oriunda da atividade produtiva do imóvel.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.591.298-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 14/11/2017 (Info 616).

Mas o art. 5º, XXVI, da CF/88 fala que “a pequena propriedade rural, assim definida
em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento
de débitos decorrentes de sua atividade produtiva (...)”. Essa parte grifada não exige
que os débitos sejam relacionados com as atividades desenvolvidas no imóvel rural?
NÃO. O STJ afirma que essa interpretação literal não pode ser feita, já que isso:
 não garantiria a máxima efetividade que deve ser dada ao mandamento
constitucional;
 conferiria proteção deficiente ao direito fundamental tutelado.

A correta interpretação do dispositivo é, portanto, a seguinte: a CF/88 não permite a


penhora da pequena propriedade rural mesmo que o devedor tenha dado o imóvel
em garantia de dívidas contraídas para assegurar a sua atividade produtiva. Logo,
com mais razão, esse imóvel também é impenhorável com relação a débitos de outra
natureza, ou seja, não necessariamente relacionados com a atividade produtiva da
propriedade rural.

Essa interpretação do art. 5º, XXVI, da CF/88 foi adotada pelo legislador
infraconstitucional, tanto que o CPC/1973 e o CPC/2015 não exigem, para conferir a
impenhorabilidade, que os débitos sejam oriundos da atividade produtiva do imóvel.
Conclui-se, portanto, que, nos termos dos arts. 5º, XXVII, c/c o art. 649, VIII, do
CPC/1973 (art. 833, VIII, do CPC/2015), a proteção da impenhorabilidade da pequena
propriedade rural trabalhada pela entidade familiar, como direito fundamental que é,
não se restringe às dividas relacionadas à atividade produtiva.

A segunda tese do exequente foi aceita pelo STJ? Também NÃO.


A pequena propriedade rural é impenhorável, nos termos do
art.5º, XXVI, da CF/88 e do art. 833, VIII, do CPC, mesmo que
o imóvel não sirva de moradia ao executado e à sua família.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.591.298-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 14/11/2017 (Info 616).
Impenhorabilidade do art. 833, VIII, do CPC não é o mesmo que a impenhorabilidade
do bem de família rural: Tanto a impenhorabilidade do art. 833, VIII, do CPC como a
impenhorabilidade do bem de família rural estão relacionadas com o princípio da
dignidade da pessoa humana, garantindo-se ao executado a preservação de um
patrimônio mínimo, do qual lhe seja possível extrair condições dignas de subsistência.
Apesar disso, são institutos diferentes com fundamentos diferentes:
 Impenhorabilidade do art. 833, VIII, do CPC: destina-se a garantir o direito
fundamental à moradia;
 Impenhorabilidade do bem de família rural: tem por objetivo assegurar o
direito, também fundamental, de acesso aos meios geradores de renda, no
caso, o imóvel rural, de onde a família do trabalhador rural, por meio do labor
agrícola, obtém seu sustento.

O art. 4º, § 2º, da Lei nº 8.009/90 trata sobre bem de família rural (e não sobre a
impenhorabilidade da pequena propriedade rural).

Requisitos: Desse modo, para que o imóvel rural seja impenhorável, nos termos do
art. 5º, XXVI, da CF/88 e do art. 833, VIII, do CPC, é necessário que cumpra apenas
dois requisitos cumulativos:
1) seja enquadrado como pequena propriedade rural, nos
termos definidos pela lei; e

2) seja trabalhado pela família.

51.6. IMPENHORABILIDADE: Não se pode penhorar FGTS para pagamento de


honorários sucumbenciais – (Info 614) – IMPORTANTE!!!

Não é possível a penhora do saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço -


FGTS para o pagamento de honorários de sucumbência.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.619.868-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 24/10/17
(Info 614).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João foi condenado a pagar R$ 100 mil a Pedro
como indenização por danos morais e R$ 10 mil a Dr. Ruy, advogado do vencedor, a
título de honorários advocatícios sucumbenciais. Dr. Ruy iniciou a execução dos
honorários e o juiz determinou a penhora do saldo do FGTS de João. João alegou que
a penhora foi indevida considerando que recaiu sobre o seu saldo de FGTS, verba
impenhorável, nos termos do art. 833, IV, do CPC/2015:
Art. 833. São impenhoráveis:
(...)
IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as
remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os
pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por
liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e
de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os
honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2º;

O exequente refutou o argumento afirmando que a verba executada (honorários


advocatícios) possui natureza alimentar e, portanto, enquadra-se na exceção prevista
no art. 833, § 2º do CPC. Em outras palavras, em regra, o FGTS é impenhorável, salvo
quando se está executando verbas alimentares. Veja o dispositivo do CPC:
Art. 833 (...)
§ 2º O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à
hipótese de penhora para pagamento de prestação
alimentícia, independentemente de sua origem, bem como
às importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos
mensais, devendo a constrição observar o disposto no art. 528,
§ 8º, e no art. 529, § 3º.

Afinal de contas, é possível a penhora de saldo de FGTS para pagamento de


honorários sucumbenciais? NÃO.

O STJ tem dado interpretação extensiva à expressão “prestação alimentícia”


constante do § 2º do art. 833 do CPC, para englobar não somente as “prestações
alimentícias” stricto senso (pensão alimentícia), como também os honorários
advocatícios.
Ocorre que, no caso dos autos, a hipótese não é propriamente de penhora de salários
e vencimentos, mas sim de saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço -
FGTS, que tem regramento próprio. De acordo com o art. 7º, III, da CF/88, o FGTS é
um direito de natureza trabalhista e social. Trata-se de uma poupança forçada do
trabalhador, que tem suas hipóteses de levantamento elencadas na Lei 8.036/90. O rol
não é taxativo, tendo sido contemplados casos diretamente relacionados com a
melhora da condição social do trabalhador e de seus dependentes, mais
especificamente em casos de comprometimento de direito fundamental do titular do
fundo.
Nessa linha de entendimento, tem-se admitido a penhora de saldo do FGTS para
pagamento de prestação alimentícia stricto senso, considerando que a dignidade do
trabalhador está em risco, diante da possibilidade de sua prisão, assim como de seus
dependentes.
Destaca-se, porém, que a penhora de verbas do FGTS é medida extrema, que só se
justifica para evitar a prisão do devedor de alimentos e atender as necessidades
imediatas de sua prole. Dessa forma, não se justifica a liberação de valores do fundo
de garantia fora das hipóteses legais para o pagamento de dívidas do trabalhador,
ainda que tenham natureza alimentar em sentido amplo, como as decorrentes de
honorários sucumbenciais e quaisquer outros honorários devidos a profissionais
liberais.

51.7. IMPENHORABILIDADE: Recursos do FIES transferidos para as instituições


de ensino são impenhoráveis – (Info 614)

São absolutamente impenhoráveis os créditos vinculados ao programa Fundo de


Financiamento Estudantil - FIES constituídos em favor de instituição privada de
ensino.
Fundamento: art. 833, IX, do CPC/2015.
O FIES tem por objetivo conceder financiamento a estudantes de cursos superiores
que sejam integrantes de famílias de menor renda.
Se fosse permitida a penhora dos recursos públicos transferidos às instituições
particulares de ensino para custear o FIES, isso poderia frustrar a adesão ao
programa e, em consequência, o atingimento dos objetivos por ele traçados.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.588.226-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 17/10/17 (Info 614).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa “XX” ingressou com execução de
título extrajudicial contra a instituição privada de ensino “ZZZ”. O juízo de primeiro
grau deferiu a penhora de créditos que a instituição de ensino possuía e que eram
oriundos do programa Fundo de Financiamento Estudantil-FIES.

Agiu corretamente o magistrado? NÃO. São absolutamente impenhoráveis os créditos


vinculados ao programa Fundo de Financiamento Estudantil - FIES constituídos em
favor de instituição privada de ensino. STJ. 3ª Turma. REsp 1.588.226-DF, Rel. Min.
Nancy Andrighi, j. 17/10/17 (Info 614).

O art. 833, IX, do CPC/2015 (art. 649, IX, do CPC/1973) prevê o seguinte:
Art. 833. São impenhoráveis:
(...)
IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas
para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência
social;

O programa Fundo de Financiamento Estudantil-FIES destina-se à concessão de


financiamento a estudantes de cursos superiores não gratuitos, considerando sua
renda familiar mensal bruta per capita, a qual, atualmente, está limitada a 03 (três)
salários mínimos. Trata-se, portanto, de programa que concretiza política pública
voltada a promover educação para a população de menor renda.
Muito mais que constituir simples remuneração por serviços prestados, os créditos
recebidos do FIES retribuem a oportunidade dada aos estudantes de menor renda de
obter a formação de nível superior, de aumentar suas chances de inserção no mercado
de trabalho formal e, por conseguinte, de melhorar a qualidade de vida da família.
Como se vê, são recursos vinculados a um fim social, e, portanto, impenhoráveis.

51.8. Atraso na entrega da coisa e conversão do procedimento para execução por


quantia certa – (Info 614)

É possível a conversão do procedimento de execução para entrega de coisa incerta


para execução por quantia certa na hipótese em que o produto perseguido for
entregue com atraso, gerando danos ao credor da obrigação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.507.339-MT, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 24/10/17
(Info 614).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A indústria “XX” ajuizou execução de título
extrajudicial para entrega de coisa incerta contra a empresa agropecuária “ZZ”
pedindo a entrega de 100 Kg de soja comercial. Subsidiariamente, a indústria pediu
que, em não sendo encontrada a coisa perseguida, se convertesse a execução para
entrega de coisa para execução por quantia certa. Em 2004, a executada ofereceu em
juízo os 100 Kg de soja, de determinada espécie, ficando como depositária da coisa.
Ocorre que a exequente alegou que o produto oferecido não se enquadrava nos
padrões de qualidade. Foi, então, requerida perícia judicial. O processo foi se
arrastando até que, em 2009, a executada ofereceu nova espécie de soja. Insatisfeita
com esse atraso, a credora postulou a conversão da execução para entrega de coisa em
execução por quantia certa, argumentando que entre 2004 e 2009 houve depreciação
do valor da saca de soja, o que gerou a ela inúmeros prejuízos.

O pedido da exequente pode ser aceito? SIM.


O art. 809 do CPC/2015 (art. 627 do CPC/1973) autoriza a referida conversão para as
hipóteses de frustração do meio executório, ou seja, nas situações específicas em
que:
a) não for encontrada a coisa perseguida;
b) não for entregue;
c) estiver deteriorada a coisa; e
d) não for reclamada de terceiro adquirente.

Art. 809. O exequente tem direito a receber, além de perdas e


danos, o valor da coisa, quando essa se deteriorar, não lhe for
entregue, não for encontrada ou não for reclamada do poder
de terceiro adquirente.

Segundo o art. 807 do CPC/2015 (art. 624 do CPC/1973), mesmo satisfeita a


obrigação de entregar a coisa, se “prosseguirá a execução” para o pagamento de
frutos e/ou ressarcimento de prejuízos.
Art. 807. Se o executado entregar a coisa, será lavrado o termo
respectivo e considerada satisfeita a obrigação, prosseguindo-
se a execução para o pagamento de frutos ou o ressarcimento
de prejuízos, se houver.

Dessa forma, embora não contido no título, decorre da lei a certeza do direito
perseguido, sem a necessidade de um novo processo cognitivo para se declarar a
obrigação que o ordenamento jurídico já estabeleceu. Ressalta-se, por fim, que o
citado ressarcimento dos prejuízos depende de liquidação incidental no próprio
feito executivo convertido, sendo a prévia apuração do quantum realizada por
estimativa do credor ou por arbitramento.

51.9. Penhora de valores depositados em conta bancária conjunta – (Infos 539 e 613)
– IMPORTANTE!!!

Se forem penhorados valores que estão depositados em conta-corrente conjunta


solidária, o cotitular da conta, que não tenha relação com a penhora, pode tentar
provar que a totalidade do dinheiro objeto da constrição pertencia a ele.
Se conseguir fazer isso, o numerário será integralmente liberado.
Se não conseguir, presume-se que os valores constantes da conta pertencem em
partes iguais aos correntistas, de forma que se mantém penhorada apenas a parte do
cotitular que tenha relação com a penhora (cotitular devedor/executado).
Ex: João ingressou com execução contra Luciana. Foram penhorados R$ 100 mil da
conta conjunta solidária. Pedro, marido de Luciana, apresentou embargos de
terceiro afirmando que os valores penhorados pertenciam exclusivamente a ele. Se
ele tivesse conseguido provar isso, teria todo o dinheiro liberado. Como não
conseguiu fazer essa prova, o juiz deverá considerar que apenas metade da quantia
pertence a ele, liberando R$ 50 mil.
Assim, em se tratando de conta-corrente conjunta solidária, na ausência de
comprovação dos valores que integram o patrimônio de cada um, presume-se a
divisão do saldo em partes iguais, de forma que os atos praticados por quaisquer
dos titulares em suas relações com terceiros não afetam os demais correntistas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.510.310-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 3/10/17 (Info 613).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.184.584-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 22/4/14 (Info
539).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João ingressou com execução contra Luciana.
No bojo da ação, foram penhorados R$ 100 mil que estavam na conta-corrente de
Luciana. Pedro, marido de Luciana, apresentou, então, embargos de terceiro
afirmando que o dinheiro foi penhorado em uma conta bancária conjunta solidária
que ele mantém com a esposa. Alegou, ainda, que, apesar de a mencionada conta ser
conjunta, os valores penhorados pertenciam exclusivamente a ele. Diante disso, pediu
a liberação de toda a quantia. Vale ressaltar que Pedro não apresentou nenhum
documento comprovando que o dinheiro pertencia realmente a ele.

O que o juiz deverá decidir nesse caso? O pedido de Pedro poderá ser atendido? Em
parte.

Espécies de conta-bancária: Há duas espécies de conta-corrente bancária:


1) individual (ou unipessoal): possui um único titular.
2) coletiva (ou conjunta): possui dois ou mais titulares.

A conta-corrente bancária coletiva ou conjunta, por sua vez, pode ser:


2.a) fracionária: é aquela que é movimentada por intermédio de todos os titulares, isto
é, sempre com a assinatura de todos. Ex: conta aberta em nome de todos os herdeiros,
para administrar os bens do falecido antes da partilha.
2.b) solidária: cada um dos titulares pode movimentar a integralidade dos fundos
disponíveis, em decorrência da solidariedade ativa em relação ao banco.

O que significa essa palavra “solidária”? Quando se fala em conta-corrente conjunta


solidária, isso quer dizer que existe uma relação obrigacional solidária dos correntistas
com o banco. Assim, os correntistas são credores solidários do banco quando há saldo,
ou seja, cada um dos dois pode exigir o dinheiro todo da instituição financeira. Ao
mesmo tempo, os correntistas também são devedores solidários do banco caso exista
alguma tarifa ou outra despesa relacionada com a conta. Vale ressaltar, no entanto,
que essa solidariedade não existe em relação a terceiros. Assim, por exemplo, se um
dos correntistas emite um cheque sem fundos, o outro correntista da conta não tem
qualquer responsabilidade perante o beneficiário do cheque. Ele não é devedor
solidário juntamente com o emitente do cheque.

Voltando ao nosso exemplo: é possível a penhora de valores que estejam em uma


conta bancária conjunta mesmo que a dívida seja apenas de um dos correntistas?
SIM. A penhora de valores contidos em conta bancária conjunta é admitida pelo
ordenamento jurídico. No entanto, a constrição não pode se dar em proporção maior
que o numerário pertencente ao devedor da obrigação, devendo ser preservado o
saldo dos demais cotitulares. Em outras palavras, deve ser penhorado apenas o
dinheiro que pertence ao executado.

Ônus da prova é do cotitular que não era devedor: Quando se penhora o valor
constante em conta bancária conjunta solidária, deve-se permitir que o cotitular prove
que a quantia penhorada pertence a ele. Logo, Pedro poderia ter provado que o
dinheiro penhorado pertencia inteiramente a ele. Nesse caso, a verba seria
integralmente liberada. Ressalto, mais uma vez, o ônus da prova cabe ao cotitular que
não é devedor. O credor consegue a penhora e o cotitular da conta, que não tinha nada
a ver com a dívida, é quem terá que provar que o dinheiro que foi penhorado pertencia
exclusivamente a ele.

E se o cotitular não conseguir provar que o dinheiro pertencia inteiramente a ele, o


que acontecerá? Se o cotitular não executado não conseguir provar que a verba
penhorada pertencia inteiramente a ele, deve-se presumir que a quantia existente na
conta bancária era dividida igualmente entre os cotitulares. Em outras palavras, como
Pedro não conseguiu provar que o dinheiro era todo dele, deve-se considerar que dos
R$ 100 mil, R$ 50 mil eram seus e a outra metade era de Luciana. Dessa forma, em
nosso exemplo, como não houve prova de que o dinheiro era todo do embargante, o
juiz deverá manter penhorados R$ 50 mil e desbloquear os R$ 50 mil que,
presumidamente, são de Pedro.

Confira um julgado do STJ que espelha esse entendimento:


A penhora de valores depositados em conta bancária conjunta
solidária somente poderá atingir a parte do numerário
depositado que pertença ao correntista que seja sujeito passivo
do processo executivo, presumindo-se, ante a inexistência de
prova em contrário, que os valores constantes da conta
pertencem em partes iguais aos correntistas. STJ. 4ª Turma.
REsp 1.184.584-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 22/4/14
(Info 539).

51.10. Demora de se obter documentos em poder de terceiro e prescrição da execução


– (Info 607)

A partir da vigência da Lei 10.444/02, que incluiu o § 1º ao art. 604, dispositivo que
foi sucedido, conforme Lei 11.232/05, pelo art. 475-B, §§ 1º e 2º, todos do CPC/1973,
não é mais imprescindível, para acertamento de cálculos, a juntada de documentos
pela parte executada ou por terceiros, reputando-se correta a conta apresentada pelo
exequente, quando a requisição judicial de tais documentos deixar de ser atendida,
injustificadamente, depois de transcorrido o prazo legal. Assim, sob a égide do
diploma legal citado, incide o lapso prescricional, pelo prazo respectivo da
demanda de conhecimento (Súmula 150/STF), sem interrupção ou suspensão, não
se podendo invocar qualquer demora na diligência para obtenção de fichas
financeiras ou outros documentos perante a administração ou junto a terceiros.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.336.026-PE, Rel. Min. Og Fernandes, j. 28/6/17 (recurso
repetitivo) (Info 607).

51.11. O fato de ter sido decretada a indisponibilidade do bem não impede que ele
seja objeto de adjudicação decretada em outro processo – (Info 600)

A indisponibilidade de bens do executado deferida em ação civil pública não


impede a adjudicação de um determinado bem ao credor que executa o devedor
comum com substrato em título executivo judicial.
Ex: o MP ajuizou ACP contra a empresa “X”. O juiz determinou a indisponibilidade
de todos os bens da requerida. Alguns meses depois, João ajuizou ação de
indenização contra a mesma empresa. A sentença julgou o pedido procedente,
condenando a requerida ao pagamento de R$ 100 mil. O juiz determinou a penhora
de um imóvel pertencente à devedora. João gostou do bem penhorado e requereu a
sua adjudicação, nos termos do art. 876 do CPC. O fato de este bem estar
indisponível não impede a adjudicação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.493.067-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 21/3/17 (Info 600).

51.12. Quem tem o encargo de provar os requisitos da impenhorabilidade da pequena


propriedade rural? – (Info 596) – IMPORTANTE!!!

O art. 5º, XXVI, da CF/88 e o art. 833, VIII, do CPC preveem que é impenhorável a
pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela
família. Assim, para que o imóvel rural seja impenhorável, são necessários dois
requisitos:
1) que seja enquadrado como pequena propriedade rural, nos termos definidos pela
lei; e
2) que seja trabalhado pela família.

Quem tem o encargo de provar esses requisitos?


 Requisito 1 (pequena propriedade rural): trata-se de ônus do executado
(devedor).
 Requisito 2 (propriedade trabalhada pela família): não é necessário que o
executado faça prova disso. Existe uma presunção juris tantum (relativa) de
que a pequena propriedade rural é trabalhada pela família. Tal presunção é
relativa e admite prova em sentido contrário. O ônus dessa prova, no
entanto, é do exequente (credor).

Resumindo: no que concerne à proteção da pequena propriedade rural, incumbe ao


executado comprovar que a área é qualificada como pequena, nos termos legais; e
ao exequente demonstrar que não há exploração familiar da terra.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.408.152-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 1/12/16 (Info 596).

51.13. As cotas de fundo de investimento não são consideradas dinheiro para os fins
do art. 835, I, do CPC. Recusa de nomeação à penhora de cotas de fundo de
investimento – (Info 589)

A cota de fundo de investimento não se subsume à ordem de preferência legal


disposta no inciso I do art. 835 do CPC/2015 (art. 655 do CPC/1973).
Em outras palavras, as cotas de fundo de investimento não podem ser consideradas
como dinheiro aplicado em instituição financeira.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.388.642-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 3/8/16 (recurso
repetitivo) (Info 589).

Em uma execução contra um banco, o magistrado determinou a penhora de dinheiro


constante de suas agências bancárias para pagamento do credor e negou a nomeação
que havia sido feita pelo banco para que a penhora recaísse sobre cotas de fundo de
investimento. O STJ decidiu que:
A recusa da nomeação à penhora de cotas de fundo de investimento, reputada
legítima a partir das particularidades de cada caso concreto, não encerra, em si,
excessiva onerosidade ao devedor, violação do recolhimento dos depósitos
compulsórios e voluntários do Banco Central do Brasil ou afronta à
impenhorabilidade das reservas obrigatórias.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.388.642-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 3/8/16 (recurso
repetitivo) (Info 589).
OBS:
O que é a penhora? Penhorar significa apreender judicialmente os bens do devedor
para utilizá-los, direta ou indiretamente, na satisfação do crédito executado.

Ordem de preferência: O CPC traz uma ordem de preferência para penhora, ou seja,
existem bens que devem ser penhorados antes que outros. Essa lista de prioridades
está prevista no art. 835 do CPC/2015 (art. 655 do CPC/1973):

Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte


ordem:
I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em
instituição financeira;
II - títulos da dívida pública da União, dos Estados e do
Distrito Federal com cotação em mercado;
III - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado;
IV - veículos de via terrestre;
V - bens imóveis;
VI - bens móveis em geral;
VII - semoventes;
VIII - navios e aeronaves;
IX - ações e quotas de sociedades simples e empresárias;
X - percentual do faturamento de empresa devedora;
XI - pedras e metais preciosos;
XII - direitos aquisitivos derivados de promessa de compra e
venda e de alienação fiduciária em garantia;
XIII - outros direitos.
§ 1º É prioritária a penhora em dinheiro, podendo o juiz, nas
demais hipóteses, alterar a ordem prevista no caput de acordo
com as circunstâncias do caso concreto.
§ 2º Para fins de substituição da penhora, equiparam-se a
dinheiro a fiança bancária e o seguro garantia judicial, desde
que em valor não inferior ao do débito constante da inicial,
acrescido de trinta por cento.
(...)

É possível que esta ordem seja alterada no caso concreto pelo juiz? Ex: existe um bem
previsto no inciso IV, mas o magistrado autoriza que seja penhorado outro do inciso
V?
 Nos casos envolvendo dinheiro (inciso I): NÃO. A penhora em dinheiro é
prioritária. Isso significa que, pela redação legal, não se pode penhorar
nenhum outro bem se houver dinheiro disponível.
 Nos casos envolvendo os demais incisos: SIM. O juiz pode, nas demais
hipóteses, alterar a ordem prevista no art. 835 do CPC, desde que existam
circunstâncias do caso concreto que justifiquem a medida.

Assim, em regra, se existe um carro disponível (inciso IV), não se pode penhorar
apartamento (inciso V), salvo se, no caso concreto, houver circunstâncias que
justifiquem a alteração da ordem legal.
A súmula 417 do STJ continua aplicável? Sobre o tema explicado acima, o STJ possui
o seguinte enunciado:

Súmula 417-STJ: Na execução civil, a penhora de dinheiro na


ordem de nomeação de bens não tem caráter absoluto.

Diante da redação do s§ 1º do art. 835 acima transcrito, alguns autores passaram a


defender a tese de que esta súmula deveria ser revista pelo STJ. É o caso de Daniel
Assumpção Neves, que sustenta que, agora, a preferência pela penhora em dinheiro
tem caráter absoluto por imposição legal (NEVES, Daniel Assumpção Neves. Manual
de Direito Processual Civil. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 1164).
É preciso, no entanto, aguardar mais um pouco para saber qual será o entendimento
do STJ porque não é improvável que o Tribunal, mesmo com este novo dispositivo,
continue entendendo que não há caráter absoluto, mantendo-se a súmula. Fica,
contudo, o alerta para discussão do tema em uma eventual prova discursiva ou oral.

O inciso I: O inciso I, conforme vimos acima, afirma que a penhora deverá recair,
preferencialmente, sobre dinheiro. Quando o inciso I fala em dinheiro, isso abrange:
 em espécie (ex: dentro de um cofre, "debaixo do colchão"; é o "dinheiro vivo");
 em depósito (ex: na conta corrente do devedor);
 em aplicação em instituição financeira (ex: dinheiro investido em CDB).

Assim, dinheiro aplicado em instituições financeiras continua sendo dinheiro e está


enquadrado no inciso I.

O inciso I abrange também a "cota de fundo de investimento"? As "cotas de fundo de


investimento" também são consideradas "dinheiro", para os fins do inciso I do art.
835 do CPC? NÃO.

O que são os fundos de investimento? A Instrução Normativa 555/14 da CVM define


o fundo de investimento como sendo "uma comunhão de recursos, constituído sob a forma
de condomínio, destinado à aplicação em ativos financeiros" (art. 3º). No fundo de
investimento, várias pessoas se reúnem e entregam recursos para que um terceiro
(pessoa jurídica autorizada pela CVM) aplique esse dinheiro em carteiras
diversificadas disponíveis no mercado. O capital investido é transformado em cotas,
distribuídas proporcionalmente aos investidores, que passam a ter direito apenas
sobre estas frações patrimoniais do fundo (cotas). Quanto maior o dinheiro investido,
maior o número de cotas do indivíduo. Esse dinheiro aplicado gerará, em tese,
dividendos que serão distribuídos entre as pessoas que investiram e que possuem
cotas deste fundo. É possível também que dê prejuízo, a depender da volatilidade do
mercado e nível de risco das aplicações escolhidas. Ainda segundo a IN 555/2014:

Art. 4º O fundo pode ser constituído sob a forma de


condomínio aberto, em que os cotistas podem solicitar o
resgate de suas cotas conforme estabelecido em seu
regulamento, ou fechado, em que as cotas somente são
resgatadas ao término do prazo de duração do fundo.

Qual é a natureza jurídica das cotas de fundo de investimento? Segundo o art. 2º, V,
da Lei 6.385/76 (Lei da CVM), possuem natureza jurídica de valores mobiliários com
cotação em mercado:
Art. 2º São valores mobiliários sujeitos ao regime desta Lei:
(...)
V - as cotas de fundos de investimento em valores mobiliários
ou de clubes de investimento em quaisquer ativos;

As cotas de fundos de investimento encontram-se sujeitas, de forma mais intensa, aos


riscos de mercado, de crédito e de liquidez, circunstâncias que fazem com que elas não
possam receber o mesmo tratamento legal que "dinheiro".

Esse é o entendimento consolidado no STJ:


(...) 2. A expressão "dinheiro em aplicação financeira" não
equivale ao valor financeiro correspondente às cotas de
fundos de investimento.
3. Ao se proceder à penhora dinheiro em depósito ou em
aplicação financeira, a constrição processual atinge numerário
certo e líquido, que fica bloqueado ou depositado, à
disposição do juízo da execução fiscal. Por sua vez, o valor
financeiro referente a cotas de fundo de investimento não é
certo e pode não ser líquido, a depender de fatos futuros que
não podem ser previstos pela parte exequente, ou pela
executada ou pelo juízo da execução.
(...)
5. Conclui-se, portanto, pela impossibilidade jurídica de se
equiparar as cotas de fundos de investimento a "dinheiro em
aplicação financeira", embora os fundos de investimento
sejam uma espécie de aplicação financeira. Não há, pois,
violação do art. 655, inciso I, do CPC. (...)
STJ. 1ª Turma. REsp 1346362/RS, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, julgado em 04/12/2012).

Em qual inciso se enquadram as cotas de fundo de investimento? No inciso III do art.


835 ("títulos e valores mobiliários com cotação em mercado").

Imagine a seguinte situação hipotética: O devedor (executado) dispõe de 1 milhão de


reais investido em CDI (uma aplicação bancária). Além disso, ele também possui cotas
de fundo de investimento em igual valor. Diante disso, ele oferece para penhora as
cotas de fundo de investimento alegando que, se tiver que resgatar a aplicação
financeira da CDI, haverá uma perda de rentabilidade, causando prejuízos
desnecessários. O juiz nega o pedido e afirma que deverá ser respeitada a ordem
preferencial do art. 835, I, do CPC. O devedor recorre alegando que a decisão do
magistrado violou o princípio da menor onerosidade, previsto no art. 805 do CPC:

Art. 805. Quando por vários meios o exequente puder


promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo
menos gravoso para o executado.
Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a medida
executiva mais gravosa incumbe indicar outros meios mais
eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos
executivos já determinados.

Além disso, como o executado era um banco, ele alegou que, obrigar a retirar o
dinheiro da CDI, significaria violar, por via transversa, o recolhimento dos depósitos
compulsórios e voluntários exigidos pelo Banco Central do Brasil (art. 10, IV, da Lei
4.595/64) ou afrontar a impenhorabilidade das reservas obrigatórias (art. 68 da Lei
9.069/95):

Art. 68. Os depósitos das instituições financeiras bancárias


mantidos no Banco Central do Brasil e contabilizados na conta
"Reservas Bancárias" são impenhoráveis e não responderão
por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal,
previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, contraída por
essas instituições ou quaisquer outras a elas ligadas.
Parágrafo único. A impenhorabilidade de que trata o caput
deste artigo não se aplica aos débitos contratuais efetuados
pelo Banco Central do Brasil e aos decorrentes das relações das
instituições financeiras com o Banco Central do Brasil.

As teses do banco executado foram aceitas pelo STJ? NÃO. O art. 805 deve ser
observado, mas não se pode esquecer que o processo executivo se desenvolve segundo
os interesses do credor e com a finalidade de satisfazer a obrigação não paga. Os lucros
que a instituição financeira deixaria de obter não interessam ao exequente nem servem
de justificativa idônea para obrigá-lo a aceitar um bem que não guarda em si a aptidão
ideal, segundo as particularidades do caso concreto, para satisfazer o crédito
exequendo. Se a ordem legal for alterada, isso irá beneficiar apenas o banco executado,
podendo prejudicar a satisfação do crédito do exequente.

O banco alega que uma instituição financeira não possui conta-corrente em outros
bancos, de forma que o restrito numerário que possui em suas agências destina-se a
fazer frente "às necessidades de troco e à moeda circulante da população", sendo certo
que a quantia que sobeja, "ou é recolhido ao Banco Central ou é investido em
aplicações financeiras".

O argumento do banco não é acolhido pela jurisprudência do STJ considerando que a


instituição financeira dispõe de outros recursos e que os valores penhorados não
atingem as reservas bancárias obrigatórias exigidas pelo Banco Central. Existe até um
enunciado sobre o tema:

Súmula 328-STJ: Na execução contra instituição financeira, é


penhorável o numerário disponível, excluídas as reservas
bancárias mantidas no Banco Central.

Desse modo, foi lícita a recusa feita pelo magistrado, não havendo violação ao art. 805
do CPC.
Além disso, os valores penhorados recaíram sobre numerário constante de suas
agências ou sobre o produto do capital investido em suas aplicações financeiras,
providência que não viola a intangibilidade dos depósitos mantidos no Banco Central,
tampouco a impenhorabilidade das reservas bancárias.

51.14. Invalidade da penhora sobre a integralidade de imóvel submetido a time


sharing – (Info 589) – IMPORTANTE!!!

É inválida a penhora da integralidade de imóvel submetido ao regime de


multipropriedade (time-sharing) em decorrência de dívida de condomínio de
responsabilidade do organizador do compartilhamento.
A multipropriedade imobiliária, mesmo não efetivamente codificada, possui
natureza jurídica de direito real, harmonizando-se com os institutos constantes do
rol previsto no art. 1.225 do Código Civil.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.546.165-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para
acórdão Min. João Otávio de Noronha, j. 26/4/16 (Info 589).

51.15. Competência para cancelar gravame em matrícula de imóvel arrematado – (Info


585)

Arrematado bem imóvel, o Juízo da execução que conduziu a arrematação não pode
determinar o cancelamento automático de constrições determinadas por outros
Juízos de mesma hierarquia e registradas na matrícula do bem, mesmo que o edital
de praça e o auto de arrematação tenham sido silentes quanto à existência dos
referidos gravames.
Além de o Juízo da execução não deter competência para o desfazimento ou
cancelamento de constrições e registros determinados por outros Juízos de mesma
hierarquia, os titulares dos direitos decorrentes das decisões judiciais proferidas em
outros processos ("credores"), as quais geraram as constrições e registros
imobiliários que o arrematante pretende cancelar, têm direito ao devido processo
legal, com contraditório e ampla defesa a fim de manterem o bem vinculado a seus
interesses.
As possíveis falhas nos atos judiciais que antecederam a arrematação, porque não
mencionavam as outras constrições de outros Juízos sobre o imóvel a ser
arrematado, não possibilitam ao Juízo da arrematação determinar a baixa de outras
constrições levadas a efeito por outros juízos.
STJ. 4ª Turma. RMS 48.609-MT, Rel. Min. Raul Araújo, j. 19/5/16 (Info 585).

51.16. Necessidade de prévia intimação das partes antes de se decretar a prescrição


intercorrente – (Info 584) – IMPORTANTE!!!

Em execução de título extrajudicial, o credor deve ser intimado para opor fato
impeditivo à incidência da prescrição intercorrente antes de sua decretação de
ofício.
Esse dever de prévia intimação do credor para decretação da prescrição intercorrente
não era previsto expressamente no CPC/1973, sendo aplicado pelo STJ com base na
incidência analógica do art. 40, §§ 4º e 5º, da Lei nº 6.830/80 (Lei de Execução Fiscal).
O CPC/2015, contudo, resolve a questão e prevê expressamente a prévia oitiva das
partes:
Art. 921 (...) § 5º O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15 (quinze) dias,
poderá, de ofício, reconhecer a prescrição de que trata o § 4º e extinguir o processo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.589.753-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 17/5/16 (Info
584).
OBS:
Não localização de bens penhoráveis: João ingressou com execução cobrando R$ 100
mil de Pedro. O executado não pagou espontaneamente o débito e não foram
localizados bens de Pedro que pudessem ser penhorados. Ocorrendo isso, o juiz
deverá proferir uma decisão suspendendo o processo, nos termos do art. 921, III, do
CPC/2015:
Art. 921. Suspende-se a execução:
(...)
III - quando o executado não possuir bens penhoráveis;

Hipóteses do inciso III: Vale ressaltar que a suspensão da execução com base no inciso
III abrange três hipóteses:
1ª) quando não é localizado nenhum bem do devedor (não
tem nada em seu nome);
2ª) quando são localizados bens, mas estes se classificam como
impenhoráveis (exs: o executado tem uma casa em seu nome,
mas é bem de família; o executado possui uma poupança com
menos de 40 salários mínimos depositados);
3ª) quando até foram localizados bens do devedor que podem
ser penhorados, mas se alienados, não pagarão nem as custas
da execução, nos termos do art. 836 do CPC/2015 (ex: o
executado possui uma mobilete, ano 1990).

Por quanto tempo este processo ficará suspenso? O juiz suspenderá a execução pelo
prazo de 1 ano. Neste período de 1 ano, ficará suspensa também a prescrição (§ 1º do
art. 921).

O que acontece se, neste período, for localizado algum bem penhorável? Neste caso,
os autos serão desarquivados para prosseguimento da execução (§ 3º do art. 921).

Depois que passar este prazo de 1 ano, o que acontece? A execução continuará
suspensa. No entanto, o prazo prescricional começará a correr.
Art. 921 (...) § 4º Decorrido o prazo de que trata o § 1º sem
manifestação do exequente, começa a correr o prazo de
prescrição intercorrente.

Para que o prazo prescricional comece a correr, é necessária decisão ou despacho do


juiz afirmando isso? NÃO. Depois que transcorrer 1 ano da execução suspensa, o
prazo da prescrição intercorrente começa a correr automaticamente, sem necessidade
de decisão ou despacho do magistrado.
Enunciado 195-FPPC: O prazo de prescrição intercorrente
previsto no art. 921, § 4º, tem início automaticamente um ano
após a intimação da decisão de suspensão de que trata o seu §
1º.

Qual é o nome desta prescrição? Prescrição intercorrente. É assim chamada porque


ocorre durante o processo.

Qual será o prazo prescricional da prescrição intercorrente? Irá variar de acordo com
o que está sendo executado. Isso porque a execução prescreve no mesmo prazo de
prescrição da ação (Súmula 150-STF).
Ex1: João ingressou com execução de um cheque contra Pedro. O prazo para se
ingressar com ação de execução de cheque é de 5 anos. Significa que o prazo da
prescrição intercorrente na execução de um cheque também será de 5 anos. Logo,
depois de não se localizarem bens de Pedro, este terá que esperar 6 anos para se livrar
do processo (1 ano de suspensão da prescrição + 5 anos até prescrever).

Ex2: João ingressou com ação de indenização contra Pedro. O juiz condenou o réu a
pagar R$ 100 mil. Houve o trânsito em julgado. O credor iniciou o cumprimento de
sentença. Não foram localizados bens penhoráveis. O prazo para que a pessoa ingresse
com ação de reparação civil é de 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC). Significa que o prazo
da prescrição intercorrente no cumprimento de sentença de uma condenação de
reparação civil também será de 3 anos. Logo, depois de não se localizarem bens de
Pedro, este terá que esperar 4 anos para se livrar do processo (1 ano de suspensão da
prescrição + 4 anos até prescrever).

Daí ter sido editado o Enunciado 196-FPPC: O prazo de prescrição intercorrente é o


mesmo da ação.

A prescrição intercorrente pode ser decretada de ofício ou depende de requerimento do


executado? Pode ser decretada de ofício. No entanto, antes de decretar, o juiz deverá
intimar as partes para que se manifestem no prazo de 15 dias:
Art. 921 (...) § 5º O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo
de 15 (quinze) dias, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição
de que trata o § 4º e extinguir o processo.

O executado normalmente não se manifesta ou simplesmente vai corroborar a ideia


de que a execução deve ser extinta pela prescrição. O exequente, contudo, poderá
alegar algum fato que obste a decretação da prescrição (ex: o juiz contou errado o
prazo).

Essas regras acima analisadas valem apenas para a execução de título extrajudicial
ou também para o cumprimento de sentença? Para ambos. As regras da prescrição
intercorrente previstas no art. 921, III e §§ 1º a 5º, do CPC/2015, valem tanto para a
execução de título extrajudicial como para o cumprimento de sentença. Nesse sentido
é o Enunciado 194-FPPC: A prescrição intercorrente pode ser reconhecida no
procedimento de cumprimento de sentença.

51.17. ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA: Aplicação da multa do


art. 774, IV, do CPC 2015 é restrita ao processo de execução – (Info 578)

A multa por ato atentatório à dignidade da Justiça, prevista no art. 774, IV, do CPC
2015, somente pode ser aplicada no processo de execução, em caso de conduta de
deslealdade processual praticada pelo executado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.231.981/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
15/12/2015 (Info 578).
OBS
Sobrepartilha: É uma ação judicial (processo judicial) proposta quando, após ser
concluída a partilha, descobre-se que ainda existem mais bens que pertenciam ao
falecido e que deveriam ter entrado na partilha, mas ficaram de fora indevidamente.
A sobrepartilha está prevista nos arts. 669 e 670 do CPC 2015 e segue o mesmo
procedimento do inventário e da partilha. Dessa forma, é como se fosse uma partilha,
mas de bens que ficaram de fora.

Imagine a seguinte situação hipotética: Durante um processo judicial de


sobrepartilha, o juiz determinou ao banco que, no prazo de 10 dias, apresentasse
extratos de uma aplicação financeira que estava em nome do falecido. A instituição
financeira não apresentou os documentos requisitados, razão pela qual o magistrado
expediu nova intimação ao banco para que fornecesse os extratos, no prazo de 48
horas, sob pena de multa por ato atentatório ao exercício da jurisdição. Mesmo sendo
novamente intimada, a instituição quedou-se inerte, motivo pelo qual o magistrado
aplicou multa por ato atentatório à dignidade da Justiça, invocando o art. 774, IV, do
CPC 2015:

Art. 774. Considera-se atentatória à dignidade da justiça a


conduta comissiva ou omissiva do executado que:
(...)
IV - resiste injustificadamente às ordens judiciais;

A decisão do juiz foi tecnicamente correta? NÃO. Desse modo, esta multa não tem
aplicação no caso concreto, que cuidava de pedido incidental de exibição de
documentos em autos de ação de sobrepartilha - demanda tratada como de
procedimento especial de jurisdição contenciosa.

Mas existe alguma outra sanção que o magistrado poderia aplicar ao banco
recalcitrante? SIM. O magistrado poderia:
a) determinar a busca e apreensão dos documentos requisitados; e
b) aplicar a multa por ato atentatório à dignidade da justiça (contempt of court)
prevista no § 2º do art. 77 do CPC 2015:

Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres


das partes, de seus procuradores e de todos aqueles que de
qualquer forma participem do processo:
(...)
IV - cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de
natureza provisória ou final, e não criar embaraços à sua
efetivação;
(...)
§ 1º Nas hipóteses dos incisos IV e VI, o juiz advertirá qualquer
das pessoas mencionadas no caput de que sua conduta poderá
ser punida como ato atentatório à dignidade da justiça.
§ 2º A violação ao disposto nos incisos IV e VI constitui ato
atentatório à dignidade da justiça, devendo o juiz, sem
prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis,
aplicar ao responsável multa de até vinte por cento do valor
da causa, de acordo com a gravidade da conduta.

Dessa forma, existia a possibilidade de aplicação de multa por ato atentatório à


dignidade da justiça, mas o fundamento legal invocado pelo magistrado foi incorreto.

51.18. Impenhorabilidade da pequena propriedade rural – (Info 574)

A pequena propriedade rural, trabalhada pela família, é impenhorável, ainda que


dada pelos proprietários em garantia hipotecária para financiamento da atividade
produtiva.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.368.404-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
13/10/2015 (Info 574).

51.19. É incabível o oferecimento de reconvenção em embargos à execução – (Info 567)

É incabível o oferecimento de reconvenção em embargos à execução.


O processo de execução tem como finalidade a satisfação do crédito constituído,
razão pela qual revela-se inviável a reconvenção, na medida em que, se admitida,
ocasionaria o surgimento de uma relação instrumental cognitiva simultânea, o que
inviabilizaria o prosseguimento da ação executiva.
Assim sendo, a reconvenção somente tem finalidade de ser utilizada em processos
de conhecimento, haja vista que a mesma demanda dilação probatória, exigindo
sentença de mérito, o que vai de encontro com a fase de execução, na qual o título
executivo já se encontra definido. Esse entendimento persiste mesmo com a entrada
em vigor do CPC 2015.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.528.049-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
18/8/2015 (Info 567).

51.20. Impenhorabilidade de valores do Fundo Partidário – (Info 562)

Os recursos do Fundo Partidário são absolutamente impenhoráveis, inclusive na


hipótese em que a origem do débito esteja relacionada às atividades previstas no
art. 44 da Lei n. 9.096/95.
Fundamento legal: art. 649, XI, do CPC 1973; art. 833, XI, do CPC 2015.
Ex: a empresa de publicidade “XXX” ajuizou ação de cobrança contra o Partido
“ZZZ” em virtude do não pagamento pela prestação de serviços de marketing
eleitoral realizados na campanha. A sentença foi julgada procedente, determinando
o pagamento de R$ 100 mil reais.
Como não houve pagamento voluntário após a condenação, iniciou-se a fase de
cumprimento de sentença. O juiz determinou a penhora “on line” e a quantia
devida foi penhorada em uma conta bancária em nome do partido político. Após a
penhora, o partido apresentou impugnação alegando que a conta bancária onde os
valores foram penhorados é utilizada exclusivamente para o recebimento de repasse
oriundo do Fundo Partidário e, portanto, trata-se de verba impenhorável. A alegação
do partido política está correta. O CPC estabelece um rol de bens que não podem
ser objeto de penhora. Dentre esses, encontram-se previstos os “recursos do fundo
partidário”.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.474.605-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
7/4/2015 (Info 562).

51.21. Cancelamento da distribuição da impugnação ou dos embargos à execução por


falta de recolhimento das custas – (Info 561)

Sobre o tema, cancelamento da distribuição da impugnação ou dos embargos à


execução por falta de recolhimento das custas, é possível apontar as seguintes
conclusões:
No CPC 1973:
1) Cancela-se a distribuição da impugnação ao cumprimento de sentença ou dos
embargos à execução na hipótese de não recolhimento das custas no prazo de 30
dias, independentemente de prévia intimação da parte.
2) Não se determina o cancelamento da distribuição se o recolhimento das custas,
embora intempestivo, estiver comprovado nos autos.

No CPC 2015:
1) Cancela-se a distribuição da impugnação ao cumprimento de sentença ou dos
embargos à execução na hipótese de não recolhimento das custas no prazo de 15
dias, que só começam a ser contados depois que a parte for intimada na pessoa de
seu advogado (art. 290).
2) Não se determina o cancelamento da distribuição se o recolhimento das custas,
embora intempestivo, estiver comprovado nos autos.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.361.811-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Primeira
Seção, julgado em 4/3/2015 (Info 561).

51.22. Arrematação de bem por oficial de justiça aposentado – (Info 561)

Os juízes, servidores do Judiciário, arbitradores, peritos e outros serventuários ou


auxiliares da justiça não podem adquirir bens que estejam sendo leiloados pelo
tribunal ou juízo do lugar onde atuarem (art. 497, III, do CC).
Essa vedação estende-se também para oficiais de justiça aposentados? Eles também
estão proibidos de arrematar?
NÃO. A vedação contida no art. 497, III, do CC não impede o oficial de justiça
aposentado de arrematar bem em hasta pública. A proibição tem como razão de ser
o exercício efetivo da função, a fim de evitar influências ou favorecimentos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.399.916-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 28/4/2015
(Info 561).

51.23. Execução de título extrajudicial que contenha cláusula compromissória – (Info


560)

Imagine que um contrato preveja uma confissão de dívida (líquida, certa e exigível).
Neste mesmo contrato, há uma cláusula compromissória dizendo que eventuais
divergências sobre o ajuste deverão ser dirimidas via arbitragem.
Se a parte que se obrigou a pagar o valor confessado mostrar-se inadimplente, a parte
credora poderá executar o contrato na via judicial ou terá que instaurar o
procedimento arbitral?
Poderá propor diretamente a execução na via judicial. Ainda que possua cláusula
compromissória, o contrato assinado pelo devedor e por duas testemunhas pode ser
levado a execução judicial relativamente à cláusula de confissão de dívida líquida,
certa e exigível. Isso porque o juízo arbitral não possui poderes coercitivos
(executivos). Ele não pode penhorar bens do executado, por exemplo, nem levá-los
à hasta pública. Em outras palavras, o árbitro até decide a causa, mas se a parte
perdedora não cumprir voluntariamente o que lhe foi imposto, a parte vencedora
terá que executar esse título no Poder Judiciário. Logo, não há sentido instaurar a
arbitragem para exigir o valor que já está líquido, certo e exigível por força uma
confissão de dívida.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.373.710-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
7/4/2015 (Info 560).

51.24. Penhora de quotas sociais na parte relativa à meação – (Info 559)

João foi casado com Cristina, com quem teve um filho (Arthur). O pai paga pensão
alimentícia em favor do filho. Atualmente, João vive em união estável com Beatriz.
Beatriz é sócia, juntamente com uma amiga, de uma sociedade empresária limitada
(empresa XXX). Vale ressaltar que ela se tornou sócia desta sociedade depois que já
vivia em união estável com João. João deixou de pagar a pensão alimentícia, razão
pela qual Arthur ingressou com execução de alimentos. Ocorre que não foram
localizados bens penhoráveis em nome de João.
Diante disso, o exequente pediu que fossem penhoradas 50% das cotas sociais de
Beatriz (companheira do executado) na sociedade empresária “XXX”. A tese do
exequente foi a seguinte: como Beatriz vive em união estável com João, metade do
patrimônio dela pertence a João (direito dele à meação). Logo, ele possui metade das
cotas dela na empresa. Sendo esse patrimônio dele, pode ser penhorado para pagar
suas dívidas.
A tese construída pelo exequente é correta?
SIM. Se duas pessoas vivem em união estável, é como se elas fossem casadas sob o
regime da comunhão parcial de bens (art. 1.725 do CC). Por isso, o companheiro (no
caso, João) possui direito à metade dos bens da companheira (Beatriz), incluindo
metade das quotas sociais porque estas foram adquiridas onerosamente durante à
união estável, de forma que se comunicam ao companheiro.

A legislação permite a penhora de quotas sociais?


SIM. Isso está previsto no art. 655, VI, do CPC 1973 (art. 835, IX, do CPC 2015)

No caso concreto, era possível que o juiz já determinasse, como primeira providência,
a penhora da metade das quotas de Beatriz (companheira do devedor)?
NÃO. O STJ entende que a penhora sobre as quotas sociais não deve ser a primeira
opção porque esta medida poderá acarretar o fim da pessoa jurídica e nosso Direito
consagra os princípios da conservação da empresa e da menor onerosidade da
execução.
Assim, não se pode autorizar desde logo a penhora sobre as quotas sociais. Cabia
ao exequente requerer, antes disso, a penhora dos lucros relativos às quotas sociais
correspondentes à meação do devedor, não podendo ser deferida, de imediato, a
penhora das cotas sociais de sociedade empresária que se encontra em plena
atividade, o que poderia causar prejuízo a terceiros, como funcionários,
fornecedores etc. Somente se não houvesse lucros é que poderia ser feita a penhora
das quotas com a liquidação da sociedade (art. 1.026 do CC).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.284.988-RS, Rel Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
19/3/2015 (Info 559).

51.25. Responsabilidade do adjudicante por dívidas condominiais pretéritas – (Info


559)

Situação 1. O edital de hasta pública não menciona que o imóvel que está sendo
oferecido possui vários meses de taxa de condomínio atrasados. Se uma pessoa
resolver arrematar (adquirir) esse apartamento, ele ficará responsável pelo
pagamento dessas cotas condominiais que venceram antes da arrematação?
NÃO. As dívidas condominiais anteriores à alienação judicial e que não estavam
previstas no edital não serão de responsabilidade do arrematante, devendo ser
quitadas com o valor obtido com a alienação judicial do imóvel, podendo o
arrematante pedir a reserva de parte desse valor para o pagamento das referidas
dívidas (STJ. 3ª Turma. REsp 1092605/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
28/06/2011).

Situação 2. Houve uma tentativa de alienação judicial do bem, mas não apareceram
interessados. Diante disso, o exequente decidiu adjudicar o apartamento. O
exequente ficará responsável pelo pagamento dessas cotas condominiais que
venceram antes da adjudicação?
SIM. O exequente que adjudicou o imóvel deve arcar com as despesas condominiais
anteriores à aquisição, ainda que tais dívidas tenham sido omitidas no edital da
hasta pública.
A adjudicação e a arrematação possuem características diversas e, portanto,
merecem tratamento distinto no que diz respeito à vinculação ao edital.
A adjudicação consiste na aquisição espontânea pelo exequente do bem penhorado
por preço não inferior ao da avaliação, não havendo sua subordinação ao edital de
praça, haja vista que essa forma de aquisição da propriedade não se insere no
conceito de hasta pública. Logo, não podem ser aplicados à adjudicação os mesmos
dispositivos que tratam sobre a arrematação.
Em outras palavras, os dispositivos do CPC que permitem ao arrematante recusar-
se a cumprir a arrematação caso o edital não esteja completo quanto aos ônus
existentes, não pode ser aplicado ao exequente que faz a adjudicação.
Assim, nada impede que o adjudicante responda pelo pagamento das contribuições
condominiais não pagas no período anterior à adjudicação, aplicando-se o art. 1.345
do CC em sua íntegra.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.186.373-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
24/3/2015 (Info 559).

51.26. Análise da impenhorabilidade prevista nos incisos IV e X do art. 649 do CPC –


(Info 554) – IMPORTANTE!!! Mudança de entendimento! Atualize o Info 547-STJ

O art. 649, X, do CPC afirma que “são absolutamente impenhoráveis até o limite de
40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em CADERNETA DE
POUPANÇA.”
O STJ confere interpretação extensiva ao inciso X do art. 649 do CPC, permitindo
que essa impenhorabilidade abranja outras aplicações financeiras, além da
poupança, como é o caso do fundo de investimento.
Assim, é impenhorável a quantia oriunda do recebimento, pelo devedor, de verba
rescisória trabalhista posteriormente poupada em mais de um fundo de
investimento, desde que a soma dos valores não seja superior a 40 salários mínimos.
Admite-se, para alcançar o patamar de 40 salários mínimos, que o valor incida em
mais de uma aplicação financeira, desde que respeitado tal limite. Em outras
palavras, caso o devedor possua mais de um fundo de investimento, todas as
respectivas contas devem ser consideradas impenhoráveis, até o limite global de 40
salários mínimos (soma-se todos os fundos de investimento e o máximo protegido
é 40 salários mínimos).
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.330.567-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 10/12/14 (Info
554).

52. ASTREINTES
52.1. Ao se calcular os honorários advocatícios sucumbenciais, não se deve incluir o
valor das astreintes – (Info 608) – IMPORTANTE!!!

O valor da multa cominatória (astreintes) não integra a base de cálculo da verba


honorária.
Ex: juiz proferiu sentença condenando o réu a pagar: a) R$ 100 mil a título de danos
morais; b) R$ 40 mil de multa cominatória (astreintes); c) 10% de honorários
advocatícios sobre o valor da condenação. Os 10% do advogado serão calculados
sobre R$ 100 mil (e não sobre R$ 140 mil). A base de cálculo dos honorários
advocatícios sucumbenciais na fase de conhecimento é a condenação referente ao
mérito principal da causa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.367.212-RR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 20/6/17
(Info 608).
OBS:
Art. 85. (...)
§ 2º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o
máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do
proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-
lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos:
I - o grau de zelo do profissional;
II - o lugar de prestação do serviço;
III - a natureza e a importância da causa;
IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido
para o seu serviço.

O que se entende por valor da condenação? As astreintes estão incluídas no conceito


de valor da condenação para fins de honorários advocatícios sucumbenciais? NÃO.
Quando se fala em “valor da condenação”, na fase de conhecimento do processo,
deve-se entender que é o “valor do bem pretendido pelo demandante”, ou seja, o
montante econômico da questão litigiosa conforme o direito material (Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva). Assim, a base de cálculo dos honorários advocatícios
sucumbenciais na fase de conhecimento é a condenação referente ao mérito principal
da causa.

Astreintes é um instrumento processual: A multa cominatória constitui instrumento


de direito processual criado para a efetivação da tutela específica perseguida, ou para
a obtenção de resultado prático equivalente, nas ações de obrigação de fazer ou não
fazer, constituindo, portanto, medida de execução indireta. Em virtude de sua
natureza inibitória, destina-se a impedir a violação de um direito, de forma imediata
e definitiva.
Ademais, por ser um meio de coerção indireta ao cumprimento do julgado, a decisão
que arbitra astreintes não faz coisa julgada material, podendo, por isso mesmo, ser
modificada, a requerimento da parte ou de ofício, seja para aumentar ou diminuir o
valor da multa ou, ainda, para suprimi-la. Verifica-se, assim, que as astreintes, sendo
apenas um mecanismo coercitivo posto à disposição do Estado-Juiz para fazer
cumprir as suas decisões, não ostentam caráter condenatório, tampouco transitam
em julgado, o que as afastam da base de cálculo dos honorários advocatícios.

O julgado acima comentado permanece válido com o CPC/2015? No entendimento do


Dizer o Direito, sim. A redação do art. 85, § 2º do CPC/2015 também fala em “valor
da condenação”, de forma que deve ser aplicado o mesmo entendimento.

52.2. É possível a imposição de astreintes contra a Fazenda Pública para


fornecimento de medicamento – (Info 606) – IMPORTANTE!!! – (TJPB-2015) (TJDFT-
2015)

É permitida a imposição de multa diária (astreintes) a ente público para compeli-lo


a fornecer medicamento a pessoa desprovida de recursos financeiros.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.474.665-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 26/4/17 (recurso
repetitivo) (Info 606).
52.3. É possível que as astreintes sejam alteradas de ofício no recurso, no entanto,
para isso, é indispensável que o recurso tenha sido conhecido – (Info 600)

O valor das astreintes não pode ser reduzido de ofício em segunda instância quando
a questão é suscitada em recurso de apelação não conhecido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.508.929-RN, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 7/3/2017 (Info 600).
OBS:
Astreintes: Multa cominatória, também conhecida como astreinte, é prevista no art. 537
do CPC/2015:
Art. 537. A multa independe de requerimento da parte e
poderá ser aplicada na fase de conhecimento, em tutela
provisória ou na sentença, ou na fase de execução, desde que
seja suficiente e compatível com a obrigação e que se
determine prazo razoável para cumprimento do preceito.

Assim, a multa coercitiva pode ser aplicada pelo magistrado como uma forma de
pressionar o devedor a cumprir:
 uma decisão interlocutória que concedeu tutela provisória; ou
 uma sentença que julgou procedente o pedido do autor.

Ex: em uma ação envolvendo contrato empresarial, o juiz determinou que a empresa
“XX” entregasse para a empresa “YY” 8 mil sacas de soja em determinado prazo, sob
pena de multa diária de R$ 16 mil reais. Essa multa é chamada de astreinte.

Principais características da multa cominatória (astreinte):


 Essa multa coercitiva tornou-se conhecida no Brasil pelo nome de astreinte em
virtude de ser semelhante (mas não idêntica) a um instituto processual
previsto no direito francês e que lá assim é chamado.
 A finalidade dessa multa é coercitiva, isto é, pressionar o devedor a realizar a
prestação. Trata-se de uma técnica judicial de coerção indireta.
 Apresenta um caráter híbrido, possuindo traços de direito material e também
de direito processual.
 Não tem finalidade ressarcitória, tanto é que pode ser cumulada com perdas e
danos.
 Pode ser imposta pelo juiz de ofício ou a requerimento, na fase de
conhecimento ou de execução.
 Apesar de no dia-a-dia ser comum ouvirmos a expressão “multa diária”, essa
multa pode ser estipulada também em meses, anos ou até em horas. O CPC
2015, corrigindo essa questão, não fala mais em “multa diária”, utilizando
simplesmente a palavra “multa”.
 O valor da multa deve ser revertido em favor do credor, ou seja, o destinatário
das astreintes é a pessoa que seria beneficiada com a conduta que deveria ter
sido cumprida (STJ REsp 949.509-RS / art. 537, § 2º do CPC 2015). Geralmente,
as astreintes foram impostas para que o réu cumprisse determinada conduta,
de forma que a multa será revertida em favor do autor. No entanto, é possível
imaginar alguma situação na qual, durante o processo, o juiz imponha uma
obrigação ao autor sob pena de multa. Neste caso, o beneficiário das astreintes
seria o réu.
 A parte beneficiada com a imposição das astreintes somente continuará tendo
direito ao valor da multa se sagrar-se vencedora. Se no final do processo essa
parte sucumbir, não terá direito ao valor da multa ou, se já tiver recebido,
deverá proceder à sua devolução.

É possível a imposição de astreintes contra a Fazenda Pública? SIM. É perfeitamente


possível ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, fixar multa diária cominatória
(astreintes) contra a Fazenda Pública, em caso de descumprimento de obrigação de
fazer (STJ. 2ª Turma. REsp 1654994/SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
06/04/2017).

Pode ser imposta multa ao agente público pelo descumprimento da obrigação de


fazer? Depende. Se ele foi parte na ação, sim. Caso não tenha sido parte, não é
possível, por ofensa aos princípios do contraditório e da ampla defesa. Confira:
(...) 1. O ora agravante, à época Secretário de Estado da
Administração e dos Recursos Humanos do Governo do Rio
Grande do Norte, foi condenado, ante sua responsabilidade
pessoal, pela Corte de origem ao pagamento de astreintes
devido ao não cumprimento imediato de determinação
judicial no bojo de mandado de segurança do qual ele foi,
efetivamente, parte impetrada.
(...)
3. As astreintes podem ser direcionadas pessoalmente às
autoridades ou aos agentes responsáveis pelo cumprimento
das determinações judiciais, em particular quando eles foram
parte na ação. (...)
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1388716/RN, Rel. Min.
Humberto Martins, julgado em 23/10/2014.

(...) o agente público não pode ser pessoalmente condenado ao


pagamento de astreintes se não figurou como parte na relação
processual em que imposta a cominação, sob pena de afronta
ao direito constitucional de ampla defesa.
STJ. 1ª Turma. REsp 1433805/SE, Rel. Min. Sérgio Kukina,
julgado em 16/06/2014.

É possível que o juiz, após o devedor já ter descumprido a multa fixada, reduza o seu
valor? SIM. É possível que o juiz, adotando os critérios da razoabilidade e da
proporcionalidade, possa limitar o valor da astreinte, a fim de evitar o enriquecimento
sem causa do exequente. Essa possibilidade está prevista no CPC:
Art. 537 (...)
§ 1º O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o
valor ou a periodicidade da multa vincenda ou excluí-la, caso
verifique que:
I - se tornou insuficiente ou excessiva;
II - o obrigado demonstrou cumprimento parcial
superveniente da obrigação ou justa causa para o
descumprimento.

Diante disso, pode-se dizer que a decisão que comina astreintes não preclui e não faz
coisa julgada. Assim, o juiz poderá, mesmo na fase de execução, alterar o valor da
multa. Confira:
A decisão que comina astreintes não preclui, não fazendo
tampouco coisa julgada. A jurisprudência do STJ é pacífica no
sentido de que a multa cominatória não integra a coisa
julgada, sendo apenas um meio de coerção indireta ao
cumprimento do julgado, podendo ser cominada, alterada ou
suprimida posteriormente. STJ. 2ª Seção. REsp 1.333.988-SP,
Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 9/4/2014
(recurso repetitivo) (Info 539).

Vale ressaltar que, mesmo se a multa foi fixada em sentença transitada em julgado,
será possível a modificação de seu valor e/ou periodicidade, considerando que o que
se tornou imutável foi a obrigação reconhecida na sentença, mas não a multa. Em
outras palavras, o que fez coisa julgada foi a obrigação, sendo a multa apenas uma
forma executiva de cumpri-la.

Como é analisado se o valor da multa é excessivo? Para saber se a multa é excessiva,


deve-se analisar o seu valor no momento de sua fixação em comparação com o valor
da obrigação principal. Assim, no momento em que a multa é estipulada, o seu valor
não pode ser superior ao da obrigação principal. Isso porque não é razoável que o
acessório (multa) seja maior que o principal. No entanto, se, no instante em que a
multa é fixada, o seu valor é bem abaixo da quantia principal, mas o devedor demora
muito para cumprir a determinação, podemos considerar que, neste caso, a multa não
é excessiva, podendo ser cobrada mesmo que, após longo tempo de atraso, ela já esteja
maior que a obrigação principal. Assim, é possível imaginar situações em que o valor
de multa cominatória pode ser exigido em montante superior ao da obrigação
principal.

A apuração da razoabilidade e da proporcionalidade do valor da multa diária deve


ser verificada no momento de sua fixação em cotejo com o valor da obrigação
principal. Com efeito, a redução do montante total a título de astreinte, quando
superior ao valor da obrigação principal, acaba por prestigiar a conduta de
recalcitrância do devedor em cumprir as decisões judiciais, bem como estimula a
interposição de recursos com esse fim, em total desprestígio da atividade jurisdicional
das instâncias ordinárias. Em suma, deve-se ter em conta o valor da multa diária
inicialmente fixada e não o montante total alcançado em razão da demora no
cumprimento da decisão. Portanto, a fim de desestimular a conduta recalcitrante do
devedor em cumprir decisão judicial, é possível se exigir valor de multa cominatória
superior ao montante da obrigação principal. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp
1.352.426-GO, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 5/5/2015 (Info 562).

O autor pode exigir o pagamento das astreintes antes do final do processo (antes do
trânsito em julgado)? Em outras palavras, é possível a execução provisória das
astreintes fixadas em tutela provisória de urgência? Sim, é possível. Neste caso, o
devedor da multa será obrigado a depositar o valor em juízo. Caso não faça
voluntariamente, poderão ser tomadas medidas de expropriação (ex: penhora on line).
No entanto, o credor não poderá levantar imediatamente a quantia. O valor da multa
permanecerá depositado em juízo e o credor somente poderá “sacar” a quantia após
o trânsito em julgado da sentença favorável a ele. Veja o dispositivo do CPC/2015 que
trata sobre o tema:
Art. 537. (...)
§ 3º A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento
provisório, devendo ser depositada em juízo, permitido o
levantamento do valor após o trânsito em julgado da sentença
favorável à parte. (Redação dada pela Lei nº 13.256/2016)
Para que a multa comece a produzir efeitos, é necessário que o destinatário da ordem
seja intimado. Como é feita esta intimação?

CPC/1973 CPC/2015
Havia a seguinte distinção: Segundo a doutrina, não mais existe essa distinção.
• Obrigação de pagar quantia O devedor será intimado na forma do art. 513, § 2º:
certa: a intimação era feita na I - pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu
pessoa do advogado. advogado constituído nos autos;
• Obrigação de fazer, não II - por carta com aviso de recebimento, quando
fazer e entregar coisa: a representado pela Defensoria Pública ou quando
intimação deveria ser pessoal. não tiver procurador constituído nos autos,
Súmula 410-STJ: A prévia ressalvada a hipótese do inciso IV;
intimação pessoal do devedor III - por meio eletrônico, quando, no caso do § 1º do
constitui condição necessária art. 246, não tiver procurador constituído nos
para a cobrança de multa pelo autos;
descumprimento da IV - por edital, quando, citado na forma do art. 256,
obrigação de fazer ou não tiver sido revel na fase de conhecimento.
fazer.
A Súmula 410 do STJ está superada.
Nesse sentido: NEVES, Daniel Amorim
Assumpção. Manual de Direito Processual Civil.
Salvador: Juspodivm, 2017, p. 1202.

Feita esta breve revisão sobre astreintes, imagine a seguinte situação hipotética: João
foi condenado a pagar R$ 300 mil a Pedro. Desse valor, R$ 100 mil é referente à
obrigação principal e R$ 200 mil corresponde ao valor das astreintes. A sentença
transitou em julgado. O credor iniciou o cumprimento de sentença. João (devedor),
após ser intimado, decidiu não pagar a dívida, tendo apresentado impugnação ao
cumprimento de sentença. Na impugnação, ele alegou que o valor da multa era
excessivo e que deveria ser reduzido, nos termos do art. 537, § 1º, I, do CPC/2015. O
juiz julgou improcedente a impugnação e determinou o prosseguimento da execução.
João interpôs apelação contra esta decisão do magistrado.

Agiu corretamente o devedor? NÃO. O recurso cabível contra a decisão que julga a
impugnação ao cumprimento de sentença é o seguinte:
 Se na decisão que julgou a impugnação o juiz não extinguiu a execução: cabe
agravo de instrumento.
 Se na decisão que julgou a impugnação o juiz extinguiu a execução: cabe
apelação.

No caso concreto, o magistrado julgou improcedente a impugnação e não extinguiu a


fase executiva. Logo, João deveria ter interposto agravo de instrumento.

O Tribunal poderia, com base no princípio da fungibilidade, receber a apelação


interposta como se fosse agravo de instrumento?
(...) A decisão que resolve a impugnação sem por fim à
execução desafia o recurso de agravo de instrumento,
caracterizando erro grosseiro a interposição de apelação, (...)
STJ. 3ª Turma. EDcl no AgRg no AREsp 209.349/SP, Rel. Min.
João Otávio de Noronha, DJe 28/3/2016.
O que aconteceu quando a apelação chegou ao Tribunal? O Tribunal negou
seguimento (não conheceu) à apelação, sob o fundamento de que se tratava de recurso
incabível na espécie. No entanto, de ofício, reduziu o valor da multa executada para
R$ 100 mil.

Agiu corretamente o Tribunal? NÃO. É o que foi decidido no Info 600 do STJ.

Como vimos acima, é certo que a decisão que fixa a multa cominatória não faz coisa
julgada, podendo ser modificada a qualquer tempo. Assim, é possível a modificação
do valor da multa até mesmo de ofício, a qualquer tempo, inclusive na fase de
execução.

Isso, contudo, não quer dizer que o órgão julgador está autorizado a conhecer de ofício
do tema em recurso que não tenha nem sequer ultrapassado a instância de
conhecimento, isto é, que não tenha sido nem mesmo admitido.

No caso concreto, a apelação era incabível, o que significa que ele não poderia ter sido
conhecido. Se o recurso não foi conhecido, conclui-se que não foi aberta a jurisdição
recursal, razão pela qual era impossível que o Tribunal tivesse emitido qualquer
pronunciamento sobre o mérito da questão, ainda que de ofício. Dizer que
determinada questão pode ser conhecida de ofício significa reconhecer que o juiz pode
decidi-la independentemente de pedido, mas há de haver um momento processual
adequado para tanto. Nesse sentido, confira outro precedente do STJ:
(...) 4. Pode o órgão julgador conhecer, de ofício, das questões
de ordem pública, sem que isso implique julgamento extra
petita ou reformatio in pejus. Precedentes do STJ.
5. No âmbito do STJ, tal orientação também encontra guarida,
consoante prescreve o art. 257 do RI/STJ. É necessário, porém,
que a instância recursal seja aberta, o que ocorre quando o
apelo preenche todos os requisitos de admissibilidade. (...)
STJ. 2ª Turma. AgRg no AgRg no REsp 1.218.791/PE, Rel. Min.
Herman Benjamin, julgado em 6/9/2011.

Assim, o valor da multa não poderia ter sido reduzido já que a apelação não foi
conhecida.

52.4. Exequibilidade de multa cominatória de valor superior ao da obrigação


principal – (Info 562)

A depender do caso concreto, o valor de multa cominatória pode ser exigido em


montante superior ao da obrigação principal.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.352.426-GO, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 5/5/15 (Info 562).

52.5. Execução provisória das astreintes fixadas em tutela antecipada – (Info 546) –
IMPORTANTE!!!

A multa diária prevista no § 4º do art. 461 do CPC, devida desde o dia em que
configurado o descumprimento, quando fixada em antecipação de tutela, somente
poderá ser objeto de execução provisória após a sua confirmação pela sentença de
mérito e desde que o recurso eventualmente interposto não seja recebido com efeito
suspensivo.
STJ. Corte Especial. REsp 1.200.856-RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 1º/7/14 (recurso
repetitivo) (Info 546).
OBS: Para o STJ, essa posição prestigia a segurança jurídica e evita que a parte se
beneficie de quantia que, posteriormente, venha a ser considerada indevida. Logo,
aguardando-se mais um pouco para se permitir a execução de tais valores reduz-se
também o inconveniente de um eventual pedido de devolução (repetição de indébito)
que, por vezes, não se mostra exitoso.

52.6. Decisão que fixa valor das astreintes não preclui nem faz coisa julgada – (Info
539)

A decisão que comina astreintes não preclui, não fazendo tampouco coisa julgada.
A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que a multa cominatória não
integra a coisa julgada, sendo apenas um meio de coerção indireta ao cumprimento
do julgado, podendo ser cominada, alterada ou suprimida posteriormente.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.333.988-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 9/4/14
(recurso repetitivo) (Info 539).
OUTRAS QUESTÕES
1) O juiz pode arbitrar as astreintes de ofício (STJ. REsp 1.198.880-MT).
2) É cabível a cumulação de astreintes com juros de mora (STJ. REsp 1.198.880-MT).
3) O destinatário das astreintes é o autor da demanda (STJ. REsp 949.509-RS).

53. FRAUDE À EXECUÇÃO


53.1. Venda do bem pelo sócio antes da desconsideração da personalidade jurídica
e do redirecionamento da execução para a pessoa física – (Info 594) – IMPORTANTE!!!

A fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de disposição do bem for


posterior à citação válida do sócio devedor, quando redirecionada a execução que
fora originariamente proposta em face da pessoa jurídica.
Ex: havia uma execução tramitando apenas contra a sociedade empresária; durante
o curso deste processo, um dos sócios vendeu bem que estava em seu nome; algum
tempo depois, o juiz determinou a desconsideração da personalidade jurídica e o
redirecionamento da execução contra o sócio; esta alienação realizada pelo sócio não
ocorreu mediante fraude à execução; isso porque, quando ele vendeu o bem, ainda
não tinha sido citado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.391.830-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 22/11/16 (Info 594).

O entendimento acima exposto permanece válido com o CPC/2015?


Haverá polêmica, mas pela redação literal do novo CPC, não. Isso porque o
CPC/2015 traz uma nova regra, que não havia no Código passado, afirmando que a
fraude à execução tem como marco a data da citação da pessoa jurídica que é objeto
da desconsideração:
Art. 792 (...) § 3º Nos casos de desconsideração da
personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir
da citação da parte cuja personalidade se pretende
desconsiderar.
OBS: Desse modo, pela redação do CPC/2015, os efeitos da desconsideração deverão
retroagir à data em que a pessoa jurídica foi citada. Neste caso, adotando-se a
literalidade do dispositivo, o entendimento acima exposto teria que ser alterado agora.

Vale ressaltar, contudo, que esta regra ofende claramente a boa-fé dos terceiros
adquirentes que não teriam, em tese, obrigação de saber que a pessoa que está
alienando o bem é sócio de uma empresa, que a pessoa jurídica está sendo executada
e que, no futuro, poderá ter a personalidade jurídica desconsiderada para atingir o
patrimônio daquele sócio. Enfim, são conjecturas e cautelas muito grandes que se
mostram irrazoáveis de serem impostas ao terceiro. Pela nova regra do art. 792, § 3º, o
ato de comprar bens de um sócio de sociedade empresária passa a ser um negócio
muito arriscado, ainda que contra ele (pessoa física) não haja nenhuma ação judicial
em curso.

Importante lembrar que o STJ possui uma sólida tradição de proteger a boa-fé dos
terceiros adquirentes, de forma que é necessário aguardar para sabermos como o
Tribunal irá interpretar o dispositivo acima e se criará algum outro requisito para
julgar ineficaz a alienação realizada. A doutrina majoritária critica esta previsão e
fornece algumas interpretações para que o dispositivo não seja aplicado textualmente.

Mas atenção! Em provas de concurso, a redação literal do art. 792, § 3º será


exaustivamente cobrada nas provas, devendo ser assinalada como correta.

53.2. Requisitos para o reconhecimento da fraude à execução – (Info 552) –


IMPORTANTE!!!

O STJ, apreciando o tema sob o regime do recurso repetitivo, definiu as seguintes


teses sobre fraude à execução:
1) Em regra, para que haja fraude à execução, é indispensável que tenha havido a
citação válida do devedor.
2) Mesmo sem citação válida, haverá fraude à execução se, quando o devedor
alienou ou onerou o bem, o credor já havia realizado a averbação da execução nos
registros públicos (art. 615-A do CPC). Presume-se em fraude de execução a
alienação ou oneração de bens realizada após essa averbação (§ 3º do art. 615-A do
CPC).
3) Persiste válida a Súmula 375 do STJ, segundo a qual o reconhecimento da fraude
de execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé
do terceiro adquirente.
4) A presunção de boa-fé é princípio geral de direito universalmente aceito,
devendo ser respeitado a parêmia (ditado) milenar que diz o seguinte: “a boa-fé se
presume, a má-fé se prova”.
5) Assim, não havendo registro da penhora na matrícula do imóvel, é do credor o
ônus de provar que o terceiro adquirente tinha conhecimento de demanda capaz de
levar o alienante à insolvência (art. 659, § 4º, do CPC).
STJ. Corte Especial. REsp 956.943-PR, Rel. originária Min. Nancy Andrighi, Rel. para
acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 20/8/2014 (recurso repetitivo)
(Info 552).
OBS:
Atenção: As teses acima expostas continuam válidas, devendo, no entanto, ser
observada também agora a hipótese do art. 792, § 2º do CPC/2015.
54. EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA
54.1. Descabimento de fixação de honorários advocatícios em execução invertida –
(Info 563) – IMPORTANTE!!!

Nas execuções contra a Fazenda Pública são devidos honorários advocatícios?


1) Sistemática dos PRECATÓRIOS:
 Se a Fazenda Pública apresentou embargos à execução: SIM.
 Se a Fazenda Pública não apresentou embargos à execução: NÃO.
Aplica-se aqui a regra do art. 1º-D da Lei 9.494/97.

2) Sistemática da RPV:
 Regra: SIM. Em regra, é cabível a fixação de verba honorária nas execuções
contra a Fazenda Pública, ainda que não embargadas, cujo pagamento da
obrigação é feito mediante RPV.
 Exceção: a Fazenda Pública não terá que pagar honorários advocatícios caso
tenha sido adotada a chamada “execução invertida”.
No caso de RVP, não se aplica o art. 1º-D da Lei 9.494/97.

A execução invertida consiste no seguinte: havendo uma decisão transitada em


julgado condenando a Fazenda Pública ao pagamento de uma quantia considerada
como de “pequeno valor”, o próprio Poder Público (devedor) prepara uma planilha
de cálculos com o valor que é devido e apresenta isso ao credor. Caso este concorde,
haverá o pagamento voluntário da obrigação. Desse modo, a Fazenda Pública, em
vez de aguardar que o credor proponha a execução, ela já se antecipa e apresenta os
cálculos da quantia devida. O Poder Público, sem necessidade de processo de
execução, cumpre voluntariamente a condenação.
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 630.235-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em
19/5/2015 (Info 563).

55. EXECUÇÃO FISCAL


55.1. Alienante do imóvel continua responsável pelos débitos tributários cujo fato
gerador ocorreram antes da alienação – (Info 610)

O alienante possui legitimidade passiva para figurar em ação de execução fiscal de


débitos constituídos em momento anterior à alienação voluntária de imóvel.
Ex: em 01/01/2015, data do fato gerador do IPTU, João era proprietário de um imóvel;
alguns meses mais tarde ele aliena para terceiro; Município poderá ajuizar execução
fiscal contra João cobrando IPTU do ano de 2015.
STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 942.940-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 15/8/17
(Info 610).

55.2. O prazo prescricional para cobrança das anuidades dos conselhos somente se
inicia quando se atinge o patamar mínimo do art. 8º da Lei 12.514/2011 – (Info 597) –
Atenção! Advocacia Pública Federal!

O prazo prescricional para cobrança das anuidades pagas aos conselhos


profissionais tem início somente quando o total da dívida inscrita, acrescida dos
respectivos consectários legais, atingir o patamar mínimo estabelecido pela Lei
12.514/2011.
Ex: João está devendo as anuidades de 2011, 2012, 2013; as anuidades de 2014, 2015 e
2016 foram pagas; assim, somente em 2017 atingiu-se o valor mínimo exigido pelo
art. 8º da Lei, ocasião em que o Conselho ajuizou a execução; o termo inicial da
prescrição somente se iniciou em 2017.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.524.930-RS, Rel. Min. Og Fernandes, j. 2/2/17 (Info 597).
OBS: Veja o art. 8º da Lei 12.514/2011:

Art. 8º Os Conselhos não executarão judicialmente dívidas


referentes a anuidades inferiores a 4 (quatro) vezes o valor
cobrado anualmente da pessoa física ou jurídica inadimplente.

Desse modo, o art. 8º da Lei acima referida traz uma nova condição para que os
Conselhos profissionais ajuízem execuções fiscais: o total da quantia executada deverá
ser, no mínimo, quatro vezes o valor da anuidade.

Vale ressaltar que no valor correspondente a 4 anuidades no ano do ajuizamento


computam-se também as multas, juros e correção monetária, e não apenas a
quantidade de parcelas em atraso. Assim, o processamento da execução fiscal fica
desautorizado somente quando os débitos exequendos correspondam a menos de 4
vezes o valor cobrado anualmente da pessoa física ou jurídica inadimplente, tomando-
se como parâmetro para definir este piso o valor da anuidade referente ao ano de
ajuizamento, bem como os encargos legais (multa, juros e correção monetária).

Vale frisar que, mesmo não podendo ajuizar a execução, os Conselhos poderão tomar
outras medidas contra o inadimplente, como, por exemplo, suspender seu exercício
profissional. Veja:

Art. 8º (...) Parágrafo único. O disposto no caput não limitará a


realização de medidas administrativas de cobrança, a
aplicação de sanções por violação da ética ou a suspensão do
exercício profissional.

O prazo prescricional para que os Conselhos ajuízem execução cobrando a anuidade


é de 5 anos. A contagem desse prazo prescricional se inicia com o vencimento de cada
anuidade não paga ou somente quando a dívida atinge o valor consolidado de quatro
anuidades? Ex: João está devendo as anuidades de 2011, 2012, 2013; as anuidades de
2014, 2015 e 2016 foram pagas; somente em 2017 atingiu-se o valor mínimo exigido
pelo art. 8º da Lei, ocasião em que o Conselho ajuizou a execução; quando se iniciou
o termo inicial da prescrição: no momento do vencimento de cada anuidade ou
somente em 2017? Somente em 2017, ou seja, quando a dívida atingiu o valor
consolidado de quatro anuidades.

Considerando que a limitação de valor mínimo criada pelo art. 8º da Lei 12.514/11
para o ajuizamento da execução fiscal, o surgimento da prescrição e o início de sua
contagem somente poderão ocorrer quando o crédito se tornar exequível (exigível),
ou seja, quando o total da dívida inscrita, acrescida dos respectivos consectários legais,
atingir o patamar mínimo exigido pela Lei.

Se o Conselho ainda não pode cobrar, ele ainda não goza de pretensão exigível. Logo,
não se pode considerar que já iniciou a contagem do prazo prescricional. O Conselho
não está inerte por vontade própria, mas sim porque a lei não permite que ele execute.
A prescrição tributária é um tema cuja disciplina encontra-se reservada à lei
complementar, conforme dispõe o art. 146, III, "b", da CF/88. No entanto, a Lei
12.514/11 não tratou sobre prescrição. Ela estabelece uma vedação para o ajuizamento
da execução e que gera, por consequência lógica, a impossibilidade de se iniciar a
contagem do prazo prescricional.

Em suma, enquanto os créditos tributários não alcançarem patamar igual ou superior


a 4 (quatro) vezes o valor cobrado anualmente da pessoa física ou jurídica
inadimplente, não há que se falar em surgimento ou início de prescrição executória.

55.3. Súmula 583-STJ – (Info 595)

Súmula 583-STJ: O arquivamento provisório previsto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002,


dirigido aos débitos inscritos como dívida ativa da União pela Procuradoria-Geral
da Fazenda Nacional ou por ela cobrados, não se aplica às execuções fiscais movidas
pelos conselhos de fiscalização profissional ou pelas autarquias federais.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 14/12/2016.

55.4. Encargo do art. 1º do DL 1.025/69 incide mesmo em execuções fiscais propostas


contra pessoas jurídicas de direito público – (Info 575)

O encargo previsto no art. 1º do DL 1.025/69 incide nas execuções fiscais promovidas


pela União contra pessoas jurídicas de direito público.
Incide o encargo do art. 1º do DL 1.025/69 nas execuções fiscais promovidas pela
União, independentemente do polo passivo da demanda ser ocupado por particular
ou por ente público
STJ. 2ª Turma. REsp 1.540.855-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 17/12/15
(Info 575).
OBS1: Encargo do art. 1º do DL 1.025/69: Quando os Estados, o DF ou os Municípios
propõem uma ação de execução fiscal, eles irão cobrar, além da dívida principal, juros
e multa moratórios, que serão um percentual sobre o montante principal. O
interessante é que, quando a União ajuíza uma execução fiscal, ela irá cobrar do
executado: 1) a dívida principal, acrescida de juros e multa; e 2) um valor de 20% sobre
o montante principal, conhecido na praxe forense como "encargo de 20%", sendo esta
verba prevista no art. 1º do Decreto-lei nº 1.025/69. Esse encargo passa a ser devido a
partir do instante em que ocorre a inscrição em Dívida Ativa da União. Quando a
dívida é inscrita, já se acrescenta estes 20% e eles serão cobrados junto com o principal,
os juros e a multa na execução fiscal proposta pela União. Como este encargo é pouco
conhecido, é comum as pessoas que estão sendo executadas pela União acharem que
o valor está maior por conta destes 20%. No entanto, tal encargo possui previsão no
DL 1.025/69, que se encontra em pleno vigor com status de lei ordinária.

OBS2: Se o devedor embargar e os embargos forem rejeitados, ele não terá que pagar
honorários advocatícios, já que o encargo do DL 1.025/69 os substituem: Se a pessoa
que está sendo executada pela União decidir apresentar embargos à execução e estes
forem rejeitados, ela não terá que pagar novos honorários advocatícios. O encargo do
DL 1.025/69 já substitui os honorários. Existe uma súmula do extinto Tribunal Federal
de Recursos (que foi substituído pelo STJ com a CF/88) afirmando isso. É a Súmula
168-TFR: O encargo de 20% do Dec.-lei 1.025/69, é sempre devido nas execuções fiscais da
União e substitui, nos embargos, a condenação do devedor em honorários advocatícios.
OBS3: Só incide em caso de execuções fiscais propostas pela União: Este encargo só
incide em execuções fiscais promovidas pela União, não sendo aplicado caso a ação
executiva seja proposta por entidades federais (exs: INSS, IBAMA). A Súmula 168 do
TFR continua válida, mas ela só se aplica para execuções fiscais promovidas pela
União. Não vale para execuções fiscais ajuizadas por suas entidades. Se uma entidade
federal ajuíza execução fiscal não será devida a cobrança do encargo. No entanto, se
houver embargos à execução fiscal e estes forem rejeitados, será possível a condenação
do executado/embargante em honorários de sucumbência (STJ. 1ª Seção. REsp
1143320/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 12/05/10).
 Execução fiscal proposta pela União: o executado deverá pagar o encargo do
DL 1.025/69 ainda que não ofereça embargos à execução. Se apresentar
embargos e estes forem rejeitados, não será condenado a pagar honorários
advocatícios de sucumbência (Súmula 168-TFR).
 Execução fiscal proposta por entidades federais: o executado não deverá
pagar o encargo do DL 1.025/69. Se apresentar embargos e estes forem
rejeitados, será condenado a pagar honorários advocatícios de sucumbência
(REsp 1143320/RS).

OBS4: Destinação dos recursos: Atualmente, os recursos arrecadados com o encargo


previsto no art. 1º do DL 1025/69 são destinados a cobrir as despesas efetuadas para
arrecadar (cobrar) a dívida ativa da União, incluindo projetos de modernização e
despesas judiciais (art. 3º, parágrafo único, da Lei 7711/88). Esse encargo é utilizado
para o aparelhamento e aperfeiçoamento da arrecadação fiscal da União.

OBS5: Natureza jurídica: O encargo do art. 1º do DL 1025/69 possui dupla natureza


jurídica: a) Serve como encargo legal destinado a fomentar, desenvolver e aperfeiçoar
os meios para a arrecadação fiscal (art. 3º, § único da Lei 7711/88). É uma forma de
remuneração das despesas com os atos judiciais para a propositura da execução; e b)
Substitui os honorários sucumbenciais que seriam pagos pelo devedor em favor da
Fazenda Nacional caso o executado apresentasse e perdesse os embargos à execução
(Súmula 168-TFR).

OBS6: Se a União ajuizar execução fiscal contra um Estado-membro (fazenda


pública estadual), incidirá também neste caso o encargo do art. 1º do DL 1.025/69?
O Estado-membro executado é obrigado a pagar o referido encargo? O fato de a
Fazenda Estadual estar no polo passivo da execução fiscal não afasta a incidência do
encargo contido no art. 1º do DL 1025/69 porque esta é uma regra especial que
prevalece sobre as regras do CPC que tratam sobre honorários e demais verbas de
sucumbência. Ou seja, incide o encargo do art. 1º do DL 1025/69 nas execuções fiscais
promovidas pela União, independentemente do polo passivo da demanda ser ocupado
por particular ou por ente público.

55.5. Indisponibilidade de bens do art. 185-A do CTN – (Info 574)

Súmula 560-STJ: A decretação da indisponibilidade de bens e direitos, na forma do


art. 185-A do CTN, pressupõe o exaurimento das diligências na busca por bens
penhoráveis, o qual fica caracterizado quando infrutíferos o pedido de constrição
sobre ativos financeiros e a expedição de ofícios aos registros públicos do domicílio
do executado, ao Denatran ou Detran.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 09/12/2015. DJe 15/12/2015.
Cuidado para não confundir:
 Para que seja decretada a penhora on-line, não é necessário que o credor tente
localizar outros bens penhoráveis em nome do devedor. Não se exige do exequente
o exaurimento das vias extrajudiciais na busca de bens a serem penhorados (STJ.
Corte Especial. REsp 1112943/MA, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
15/09/2010).
 Para que seja decretada a indisponibilidade de bens de que trata o art. 185-A do
CTN, exige-se que a Fazenda Pública exequente prove que tentou localizar outros
bens penhoráveis em nome do devedor. Exige-se o exaurimento das diligências na
busca por bens penhoráveis (STJ. 1ª Seção. REsp 1.377.507-SP, Rel. Min. Og
Fernandes, julgado em 26/11/2014).

55.6. Requisitos da petição inicial da execução fiscal – (Info 574)

Súmula 559-STJ: Em ações de execução fiscal, é desnecessária a instrução da petição


inicial com o demonstrativo de cálculo do débito, por tratar-se de requisito não
previsto no art. 6º da Lei n. 6.830/1980.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 09/12/2015. DJe 15/12/2015.
OBS: O art. 6º da Lei 6.830/80 (LEF) trata sobre os requisitos da petição inicial na
execução fiscal e não exige que o exequente instrua a petição inicial com o
demonstrativo de cálculo do débito.
Consequentemente, é desnecessária a apresentação do demonstrativo de cálculo, em
execução fiscal, uma vez que a Lei nº 6.830/80 dispõe, expressamente, sobre os
requisitos essenciais para a instrução da petição inicial e não elenca o demonstrativo
de débito entre eles. O tema tratado na súmula já havia sido objeto de recurso especial
repetitivo: STJ. 1ª Seção. REsp 1138202/ES, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
09/12/2009.

55.7. Requisitos da petição inicial da execução fiscal – (Info 574)

Súmula 558-STJ: Em ações de execução fiscal, a petição inicial não pode ser
indeferida sob o argumento da falta de indicação do CPF e/ou RG ou CNPJ da parte
executada.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 09/12/2015. DJe 15/12/2015.
OBS: O art. 6º da Lei nº 6.830/80 (LEF), que trata sobre os requisitos da petição inicial
na execução fiscal, não exige que o exequente faça a indicação de RG, CPF ou CNPJ
do executado.
Mesmo com o novo CPC, o entendimento exposto na Súmula 558 do STJ continua
válido, seja porque a LEF é especial, seja porque o CPC não faz a exigência do CPF e
CNPJ de forma absoluta e peremptória.

55.8. Substituição de fiança bancária por penhora de depósito de quantia destinada


à distribuição de dividendos – (Info 569)

Em sede de execução fiscal, a Fazenda Pública não tem direito de substituir a fiança
bancária prestada pela sociedade empresária executada e anteriormente aceita pelo
ente público por penhora de depósito de quantia destinada à distribuição de
dividendos aos acionistas da devedora, a não ser que a fiança bancária se mostre
inidônea.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.163.553-RJ, Rel. originário e voto vencedor Min. Arnaldo
Esteves Lima, Rel. para o acórdão Min. Mauro Campbell Marques, j. 22/4/15 (Info
569).

55.9. Prazo prescricional para a execução fiscal de crédito rural transferido à União
– (Info 565)

Qual é o prazo prescricional para que a União ajuíze execução fiscal cobrando os
créditos rurais que foram a ela transferidos pela MP 2.196-3/2001?
 Crédito rural cujo contrato foi celebrado sob a égide do CC-1916: 20 anos
(prescrição das ações pessoais - direito pessoal de crédito), a contar da data
do vencimento, consoante o disposto no art. 177 do CC-1916, para que dentro
dele (observado o disposto no art. 2º, § 3º, da LEF) sejam feitos a inscrição e
o ajuizamento da respectiva execução fiscal, sem embargo da norma de
transição prevista no art. 2.028 do CC/2002;
 Crédito rural cujo contrato tenha sido celebrado sob a égide do CC-2002: 5
anos (prescrição da pretensão para a cobrança de dívidas líquidas constantes
de instrumento público ou particular), a contar da data do vencimento,
consoante o disposto no art. 206, § 5º, I, do CC/2002, para que dentro dele
(observado o disposto no art. 2º, § 3º, da LEF) sejam feitos a inscrição em
dívida ativa e o ajuizamento da respectiva execução fiscal.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.373.292-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 22/10/15
(Info 565).

55.10. Redirecionamento da execução contra sócio que não era gerente no momento
do fato gerador – (Info 564)

Em 2012, a sociedade empresária "ABC" deixou de pagar determinado imposto,


tornando-se inadimplente com o Fisco. Em 2013, João tornou-se sócio-gerente da
sociedade empresária "ABC". Em 2014, a sociedade empresária "ABC" fechou suas
portas sem observar as formalidades legais, ou seja, foi dissolvida de forma
irregular. Em 2015, o Fisco ajuizou execução fiscal contra a referida sociedade
empresária, não tendo, contudo, encontrado ninguém no endereço onde ela
funcionava. A dissolução irregular da sociedade autoriza o redirecionamento da
execução para o sócio-gerente (súmula 435-STJ). A pergunta que surge, no entanto,
é a seguinte:
É possível redirecionar a execução fiscal contra João mesmo sabendo que ele não
exercia a gerência no momento do fato gerador do tributo cobrado? É permitido o
redirecionamento da execução fiscal contra o sócio-gerente que, no momento da
dissolução, exercia a gerência, mas que não era o gerente no momento do fato gerador
do tributo?
1ª corrente: NÃO. É a posição tradicional do STJ, ainda adotada pela 1ª Turma.
AgRg no AREsp 729.285/SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 06/08/2015.
2ª corrente: SIM. É a nova posição da 2ª Turma do STJ. REsp 1.520.257-SP, Rel. Min.
Og Fernandes, julgado em 16/6/2015 (Info 564).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.520.257-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 16/6/2015
(Info 564).

55.11. Indeferimento de pedido de penhora com fundamento na potencial iliquidez


do bem – (Info 563)
Na ação de execução fiscal, frustradas as diligências para localização de outros bens
em nome do devedor e obedecida a ordem legal de nomeação de bens à penhora,
não cabe ao magistrado recusar a constrição de bens nomeados pelo credor
fundamentando a decisão apenas na assertiva de que a potencial iliquidez deles
poderia conduzir à inutilidade da penhora. Isso porque, nos termos do art. 612 do
CPC 1973 (art. 797 do CPC 2015), a execução é realizada no interesse do credor que
adquire, pela penhora, o direito de preferência sobre os bens indicados. Ademais,
conforme preceitua o art. 591 do CPC 1973 (art. 789 do CPC 2015), todo o patrimônio
presente e futuro do devedor pode ser utilizado para pagamento de débitos.
Ex: a União ajuizou execução fiscal contra João cobrando uma dívida de R$ 20 mil.
Foi tentada a penhora “on line” (via sistema “Bacen Jud”), não tendo sido
localizadas contas bancárias em nome do devedor. Buscou-se também a localização
de outros bens penhoráveis, mas sem sucesso. Diante disso, a União requereu a
penhora de um veículo do executado, qual seja, um Volkswagen SANTANA CD
(fabricado em 1985). O juiz indeferiu a constrição do veículo, sob o argumento de
que o bem era muito antigo, o que ensejaria a inutilidade da penhora. Em uma
situação parecida com esta, o STJ deu provimento ao recurso e determinou que a
penhora fosse realizada.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.523.794-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 19/5/15 (Info 563).

55.12. Termo inicial do prazo para o oferecimento de embargos à execução fiscal


quando afastada a necessidade de garantia prévia – (Info 563)

No caso em que a garantia à execução fiscal tenha sido totalmente dispensada de


forma expressa pelo juízo competente - inexistindo, ainda que parcialmente, a
prestação de qualquer garantia (penhora, fiança, depósito, seguro-garantia) -, o
prazo para oferecer embargos à execução deverá ter início na data da intimação da
decisão que dispensou a apresentação de garantia, não havendo a necessidade, na
intimação dessa dispensa, de se informar expressamente o prazo para embargar.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.440.639-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
2/6/2015 (Info 563).

55.13. Oferecimento de seguro garantia em execução fiscal – (Info 559) –


IMPORTANTE!!!

A Lei 13.043/2014 alterou o inciso II do art. 7º da Lei 6.830/80 (LEF) e previu


expressamente mais uma forma de garantia do juízo: o SEGURO GARANTIA.
A mudança foi importante porque o STJ possuía entendimento pacífico de que o
seguro garantia não servia como garantia da execução fiscal em virtude da ausência
de previsão na LEF.
A Lei 13.043/2014 entrou em vigor em 14/11/2014; é possível aceitar seguro garantia
para uma execução fiscal que tenha se iniciado antes desta data e que ainda esteja
tramitando? Em outras palavras, a alteração promovida pela Lei 13.043/2014 no que
tange ao seguro garantia aplica-se às execuções fiscais que foram instauradas antes
de sua vigência e que ainda estejam em curso?
SIM. O inciso II do art. 9° da Lei 6.830/80 (LEF), alterado pela Lei 13.043/2014, que
faculta expressamente ao executado a possibilidade de oferecer fiança bancária ou
seguro garantia nas execuções fiscais, possui aplicabilidade imediata aos processos
em curso.
A norma que permite a garantia do juízo por meio de seguro garantia é de cunho
processual, de modo que possui aplicabilidade imediata aos processos em curso.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.508.171-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 17/3/2015
(Info 559).

55.14. Dispensabilidade da indicação do RG, CPF ou CNPJ do devedor – (Info 553)

O juiz não pode indeferir a petição inicial em ação de execução fiscal com o
argumento de que não houve indicação do RG, CPF ou CNPJ da parte executada.
Isso porque tais informações não são exigidas pelo art. 6º da Lei nº 6.830/80 (LEF).
O art. 15 da Lei 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrônico) exige que a parte autora
informe o CPF ou CNJP da ré, mas tal Lei não prevalece sobre a LEF, por ser esta
norma específica e aquela norma geral.

Assim, em ações de execução fiscal, descabe indeferir a petição inicial sob o


argumento da falta de indicação do RG, CPF ou CNJP da parte executada (pessoa
física ou jurídica), visto tratar-se de requisito não previsto no art. 6º da Lei 6.830/80
(LEF), cujo diploma, por sua especialidade, ostenta primazia sobre a legislação de
cunho geral, como ocorre frente à exigência contida no art. 15 da Lei 11.419/06.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.450.819-AM e 1.455.091-AM, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgados
em 12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 553).

55.15. Requisitos para a decretação de indisponibilidade de bens e direitos na


execução fiscal – (Info 552) – IMPORTANTE!!!

O art. 185-A do CTN prevê a possibilidade de ser decretada a indisponibilidade dos


bens e direitos do devedor tributário na execução fiscal. Vale ressaltar, no entanto,
que a indisponibilidade de que trata o art. 185-A do CTN só pode ser decretada se
forem preenchidos três requisitos:
1) deve ter havido prévia citação do devedor;
2) o executado deve não ter pago a dívida nem apresentado bens à penhora no prazo
legal;
3) não terem sido localizados bens penhoráveis do executado mesmo após a Fazenda
Pública esgotar as diligências nesse sentido.
Obs.: para que a Fazenda Pública prove que esgotou todas as diligências na tentativa
de achar bens do devedor, basta que ela tenha adotado duas providências:
a) pedido de acionamento do Bacen Jud (penhora “on line”) e consequente
determinação pelo magistrado;
b) expedição de ofícios aos registros públicos do domicílio do executado e ao
Departamento Nacional ou Estadual de Trânsito - DENATRAN ou DETRAN.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.377.507-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/11/2014
(recurso repetitivo) (Info 552).

55.16. O redirecionamento da execução não exclui a responsabilidade tributária da


pessoa jurídica – (Info 550)

Quando ocorre o redirecionamento da execução fiscal para atingir o sócio-gerente, a


pessoa jurídica deixa de responder pelo débito? Tendo havido o redirecionamento, a
execução irá prosseguir apenas contra a pessoa física?
NÃO. Nos casos de dissolução irregular da sociedade empresária, o
redirecionamento da Execução Fiscal para o sócio-gerente não constitui causa de
exclusão da responsabilidade tributária da pessoa jurídica.
Apesar de o art. 135 do CTN falar em “responsabilidade pessoal”, o STJ consolidou
o entendimento de que essa responsabilidade do sócio-gerente, por atos de infração
à lei, é solidária (não excluindo a responsabilidade da empresa). Logo, responderão
pelo débito o sócio-gerente e a pessoa jurídica, figurando ambos na execução fiscal,
em litisconsórcio passivo.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.455.490-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 26/8/2014
(Info 550).

55.17. Extinção da execução por abandono da Fazenda Pública – (Info 549)

Em uma execução fiscal, o juiz determinou a intimação da Fazenda Pública para que
se manifestasse se possuía ainda interesse no prosseguimento do processo, sob
pena de extinção do feito. Mesmo tendo sido regularmente intimada, a Fazenda
Pública permaneceu inerte. Nesse caso, se o devedor não tiver apresentado
embargos à execução, o magistrado poderá, de ofício, extinguir a execução sem
resolução do mérito por abandono do autor, nos termos do art. 267, III, do CPC.
Não se aplica o raciocínio presente na Súmula 240 do STJ, ou seja, não é necessário
que haja requerimento do executado para que o juiz extinga a execução.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.450.799-RN, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado
em 21/8/2014 (Info 549).

55.18. Redirecionamento da execução fiscal de dívida ativa não-tributária – (Info 547)


– IMPORTANTE!!! MUDANÇA DE ENTENDIMENTO! ATUALIZAR INFOS 2013!!!

Quando a sociedade empresária for dissolvida irregularmente, é possível o


redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente da pessoa jurídica
executada mesmo que se trate de dívida ativa NÃO-TRIBUTÁRIA. Para que seja
autorizado esse redirecionamento, não é preciso provar a existência de dolo por
parte do sócio.
Assim, a Súmula 435 do STJ pode ser aplicada tanto para execução fiscal de dívida
ativa tributária como também na cobrança de dívida ativa NÃO-TRIBUTÁRIA.
No caso concreto, a ANATEL estava executando créditos não-tributários que eram
devidos por uma rádio comunitária. Quando o Oficial de Justiça chegou até o
endereço da empresa constatou que ela não mais estava funcionando ali, estando
presumidamente extinta. Logo, caberá o redirecionamento da execução para o sócio-
gerente.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.371.128-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 10/9/14
(recurso repetitivo) (Info 547).

(TJSP-2014-VUNESP) É de se presumir que determinada empresa foi dissolvida


irregularmente quando deixa de funcionar naquele que é o seu domicílio fiscal
conhecido, omitindo-se no dever de efetuar a comunicação da mudança aos órgãos
competentes, o que pode ocasionar o redirecionamento da ação de execução fiscal.
(DPDF-2013-CESPE) De acordo com o STJ, a não localização de determinada
sociedade no domicílio fiscal fornecido gera presunção iuris tantum de dissolução
irregular, sendo possível, nesse caso, o redirecionamento da execução fiscal ao
sócio-gerente da sociedade.
OBS1:
Redirecionamento: Quando a Fazenda Pública ajuíza uma execução fiscal contra a
“empresa” (rectius: empresário ou sociedade empresária) e não consegue localizar
bens penhoráveis, o CTN prevê a possibilidade de o Fisco redirecionar a execução
para algumas pessoas físicas que tenham relação com a “empresa” e hajam atuado
com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos, nos termos do
art. 135 do CTN.

Os sócios, como regra geral, não respondem pessoalmente (com seu patrimônio
pessoal) pelas dívidas da sociedade empresária, já que vigora o princípio da
autonomia jurídica da pessoa jurídica em relação aos seus sócios. A pessoa jurídica
possui personalidade e patrimônio autônomos, que não se confundem com a
personalidade e patrimônio de seus sócios. No entanto, se o sócio praticou atos com
excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos (art. 135, III), ele
utilizou o instituto da personalidade jurídica de forma fraudulenta ou abusiva,
podendo, portanto, ser responsabilizado pessoalmente pelos débitos. No entanto, o
simples fato de a pessoa jurídica estar em débito com o Fisco não autoriza que o sócio
pague pela dívida com seu patrimônio pessoal. É necessário que tenha praticado atos
com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos (art. 135, III).

Nesse sentido, a Súmula 430-STJ: O inadimplemento da obrigação tributária pela


sociedade não gera, por si só, a responsabilidade solidária do sócio-gerente.

A dissolução irregular da empresa caracteriza infração à lei: Se isso ocorre, a


jurisprudência entende que houve infração à lei (art. 135 do CTN) já que o
procedimento para a extinção de sociedades empresárias é disciplinado na lei,
devendo ser cumpridas uma série de formalidades, de sorte que se essa dissolução
ocorre de forma irregular, a legislação está sendo desrespeitada.

Empresa que deixa de funcionar no seu domicílio fiscal e não comunica aos órgãos
competentes, presume-se que foi dissolvida irregularmente: Domicílio tributário (ou
fiscal) é o lugar, cadastrado na repartição tributária, onde o sujeito passivo poderá ser
encontrado pelo Fisco. Se a Administração Tributária tiver que enviar uma notificação
fiscal para aquele contribuinte, deverá encaminhar para o endereço constante como
sendo seu domicílio fiscal. As regras para a definição do domicílio tributário estão
previstas no art. 127 do CTN. Se a empresa deixa de funcionar no seu domicílio fiscal,
presume-se que ela deixou de existir (foi dissolvida). E o pior: foi dissolvida de forma
irregular, o que caracteriza infração à lei e permite o redirecionamento da execução.
Assim, em uma execução fiscal, caso não se consiga fazer a citação da empresa porque
ela não mais está funcionando no endereço indicado como seu domicílio fiscal, será
possível concluir que ela foi dissolvida irregularmente, ensejando o redirecionamento
da execução, conforme Súmula 435-STJ: Presume-se dissolvida irregularmente a
empresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos
competentes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente.

O redirecionamento é permitido apenas nas execuções fiscais que cobrem débitos


TRIBUTÁRIOS ou também pode ser aplicado a dívidas NÃO-TRIBUTÁRIAS? O STJ
decidiu que, quando a sociedade empresária for dissolvida irregularmente, é possível
o redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente da pessoa jurídica
executada mesmo que se trate de dívida ativa NÃO-TRIBUTÁRIA. Assim, a Súmula
435 do STJ pode ser aplicada tanto para execução fiscal de dívida ativa tributária como também
na cobrança de dívida ativa NÃO-TRIBUTÁRIA.

55.19. Requisitos do mandado de intimação da penhora – (Info 546)

Na execução fiscal, para o que mandado de intimação da penhora seja válido é


necessário que:
a) a intimação do executado ocorra de forma pessoal; e
b) o mandado contenha expressa menção do prazo legal para o oferecimento de
embargos à execução.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.269.069-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 6/4/14 (Info 546).

55.20. Reunião de execuções fiscais propostas contra o mesmo devedor – (Info 544)

Súmula 515-STJ: A reunião de execuções fiscais contra o mesmo devedor constitui


faculdade do juiz.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 14/08/2014.
OBS:
Existe a possibilidade de essas execuções fiscais serem reunidas para tramitarem e
serem julgadas em conjunto? SIM. Trata-se de possibilidade expressamente prevista
na Lei 6.830/80 (Lei de Execução Fiscal):
Art. 28. O Juiz, a requerimento das partes, poderá, por
conveniência da unidade da garantia da execução, ordenar a
reunião de processos contra o mesmo devedor.
Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, os processos serão
redistribuídos ao Juízo da primeira distribuição.

Na prática forense, surgiu a tese de que, apesar de o art. 28 acima transcrito, dizer que
o juiz “poderá” ordenar a reunião, na verdade, deve-se interpretar o dispositivo como
sendo “deverá”. Isso porque a cumulação das execuções atende aos princípios da
economia e da celeridade processual.

A tese acima exposta foi acolhida pelo STJ? O juiz tem o dever de reunir as execuções
fiscais propostas contra o mesmo devedor? É obrigatório que o magistrado atenda o
requerimento das partes nesse sentido? NÃO. Ainda que existam várias execuções
fiscais propostas contra o mesmo devedor e mesmo que a parte requeira a reunião dos
processos, a decisão de reuni-los ou não é uma faculdade do juiz. Logo, ele não é
obrigado a atender o requerimento da parte.
Assim, a reunião de processos contra o mesmo devedor, por conveniência da unidade
da garantia da execução, nos termos do art. 28 da Lei 6.830/80, é uma faculdade
outorgada ao juiz, e não um dever.

O entendimento do STJ é correto uma vez que existem hipóteses em que é inadequada
a reunião dos processos considerando que essa medida não traria economia ou
celeridade à tramitação. É o caso, por exemplo, de uma das execuções já estar suspensa
pela oposição de embargos enquanto que a outra já se encontra em fase bem avançada,
com leilão marcado. Nesse sentido: GONÇALVES, Eduardo Rauber. Execução fiscal
aplicada. 2ª ed., Salvador: Juspodivm, 2013, p. 79.
55.21. Remessa necessária no caso de sentença que julga procedente exceção de pré-
executividade – (Info 544)

Caso o juiz julgue procedente a exceção de pré-executividade e extinga a execução


fiscal será obrigatória, em regra, a remessa necessária, aplicando-se por analogia o
art. 475, II, do CPC.
Se o executado apresenta exceção de pré-executividade e a Fazenda Pública, ao ser
intimada, concorda com o argumento do excipiente, o juiz irá extinguir a execução.
Nesse caso, a jurisprudência entende que não haverá reexame necessário porque o
Poder Público anuiu.
Se a execução fiscal for extinta porque o Fisco cancelou a inscrição de dívida ativa
que lastreava a execução também não haverá reexame necessário porque a própria
Fazenda Pública reconheceu que não havia título executivo.
No caso concreto julgado pelo STJ, afirmou-se que não se sujeita ao reexame
necessário, ainda que a Fazenda Pública tenha sido condenada a pagar honorários
advocatícios, a sentença que extinguiu execução fiscal em razão do acolhimento de
exceção de pré-executividade pela qual se demonstrara o cancelamento, pelo Fisco,
da inscrição em dívida ativa que lastreava a execução.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.415.603-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 22/5/14 (Info 544).

55.22. Execução fiscal: ausência de impugnação e inexistência de preclusão na


alegação dessas matérias em sede de apelação – (Info 542)

Não implica preclusão a falta de imediata impugnação pela Fazenda Pública da


alegação deduzida em embargos à execução fiscal de que o crédito tributário foi
extinto pelo pagamento integral. A preclusão consiste na simples perda de uma
faculdade processual. Nos casos relacionados a direitos materiais indisponíveis da
Fazenda Pública, a falta de manifestação não autoriza concluir automaticamente
que são verdadeiros os fatos alegados pela parte contrária. Em razão da
indisponibilidade do direito controvertido e do princípio do livre convencimento,
nada impede, inclusive, que o juízo examine esse tema.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.364.444-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 8/4/14 (Info 542).

55.23. Garantia do juízo na execução fiscal deve abranger o valor dos honorários
advocatícios – (Info 539)

A garantia do juízo no âmbito da execução fiscal deve abranger honorários


advocatícios, mesmo que eles não estejam previstos na CDA e somente venham a
ser arbitrados pelo juiz ao despachar a petição inicial na execução.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.409.688-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 11/2/14 (Info 542).
OBS: Há situações em que o valor dos honorários advocatícios já consta na própria
CDA. Isso ocorre quando a lei que rege o crédito cobrado permite essa inclusão.
Nesses casos, não há qualquer dúvida de que a garantia oferecida deverá abranger
também o montante dos honorários. Existem, contudo, outras hipóteses em que na
CDA não vêm previstos os honorários e estes são arbitrados pelo juiz ao despachar a
petição inicial na execução. Aqui havia dúvida se a garantia deveria também englobá-
los. O STJ entendeu que sim. Isso porque, como a LEF não trata do assunto, deve-se
aplicar subsidiariamente o CPC e este determina que a penhora de bens seja feita de
modo a incluir o principal, os juros, as custas e os honorários advocatícios. Em resumo,
a garantia do juízo no âmbito da execução fiscal deve abranger honorários
advocatícios, sejam eles previstos na CDA ou arbitrados judicialmente.
55.24. Emenda da inicial na execução fiscal para fazer constar que a executada
encontra-se em estado falimentar – (Info 538)

A constatação posterior ao ajuizamento da execução fiscal de que a pessoa jurídica


executada tivera sua falência decretada antes da propositura da ação executiva não
implica a extinção do processo sem resolução de mérito.
Deve ser dada a oportunidade de o exequente retificar a CDA, fazendo constar a
informação de que a parte devedora se encontra em estado falimentar, e emendar a
Inicial.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.372.243-SE, Rel. originário Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel.
para acórdão Min. Og Fernandes, j. 11/12/13 (recurso repetitivo) (Info 538)

55.25. Na execução fiscal, exige-se a garantia do juízo para embargar mesmo que o
executado seja beneficiário da AJG – (Info 538)

É indispensável que o executado ofereça garantia para que possa apresentar embargos
à execução fiscal?
SIM. A Lei 6.830/80 prevê, expressamente, que na execução fiscal, para que o
devedor possa se defender por meio de embargos, é indispensável a garantia da
execução (§ 1º do art. 16).

Exige-se a garantia do juízo mesmo que o executado seja beneficiário da assistência


judiciária gratuita?
SIM. Por força do princípio da especialidade das leis, o disposto no art. 16, § 1º, da
Lei 6.830/80 deve prevalecer sobre o art. 3º, VII, da Lei 1.060/1950, o qual determina
que os beneficiários da justiça gratuita ficam isentos dos depósitos previstos em lei
para interposição de recurso, ajuizamento de ação e demais atos processuais
inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.437.078-RS, Rel. Min. Humberto Martins, j. 25/3/14. (Info 538)

55.26. Prescrição intercorrente – (Sem Info) – (PGEMT-2016)

Ainda que a execução fiscal tenha sido arquivada em razão do pequeno valor do
débito executado, sem baixa na distribuição, nos termos do art. 20 da Lei 10.522/2002,
deve ser reconhecida a prescrição intercorrente se o processo ficar paralisado por
mais de cinco anos a contar da decisão que determina o arquivamento, pois essa
norma não constitui causa de suspensão do prazo prescricional.
A mesma razão que impõe à incidência da prescrição intercorrente quando não
localizados o devedor ou bens penhoráveis – impedir a existência de execuções
eternas e imprescritíveis –, também justifica o decreto de prescrição nos casos em
que as execuções são arquivadas em face do pequeno valor dos créditos executados.
O § 1º do art. 20 da Lei 10.522/02 - que permite sejam reativadas as execuções quando
ultrapassado o limite legal – deve ser interpretado em conjunto com a norma do art.
40, § 4º, da LEF – que prevê a prescrição intercorrente -, de modo a estabelecer um
limite temporal para o desarquivamento das execuções, obstando assim a
perpetuidade dessas ações de cobrança.
STJ. 1ª Seção. REsp 1102554/MG, Rel. Ministro Castro Meira, j. 27/05/09.
(PGEMT-2016-FCC): Segundo a jurisprudência dominante no Superior Tribunal de
Justiça a respeito das execuções fiscais, deve ser reconhecida a prescrição
intercorrente caso o processo fique paralisado por mais de cinco anos após a decisão
que determinou o arquivamento da execução fiscal em razão do pequeno valor do
débito executado, sem baixa na distribuição, uma vez que não há suspensão do
prazo prescricional. BL: STJ, REsp 1102554/MG.

56. TUTELA ANTECIPADA


56.1. TUTELA ANTECIPADA PREVISTA NO § 6º DO ART. 273 DO CPC – (Info
532)

O STJ entendeu que a decisão a que se refere o § 6º do art. 273 do CPC, apesar de
ser concedida mediante técnica de cognição exauriente, continua sendo, por opção
legislativa, uma hipótese de tutela antecipada. Logo, por questão de política
legislativa, não é apta a fazer coisa julgada material.
Assim, o valor correspondente à parte incontroversa do pedido pode ser levantado
pelo beneficiado por decisão que antecipa os efeitos da tutela (art. 273, § 6º, do CPC),
mas o montante não deve ser acrescido dos respectivos honorários advocatícios e
juros de mora, os quais deverão ser fixados pelo juiz na sentença.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.234.887-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 19/9/2013
(Info 532).

56.2. RESPONSABILIDADE PELOS PREJUÍZOS CAUSADOS POR TUTELA


ANTECIPADA

O autor ingressa com uma ação e pede a tutela antecipada. O juiz defere. Na
sentença, o juiz julga improcedente a demanda e revoga a tutela antecipada.
Ocorre que a tutela antecipada causou danos morais e materiais ao réu.
O autor da ação tem a responsabilidade objetiva de indenizar o réu quanto a esses
prejuízos, independentemente de pronunciamento judicial e pedido específico da
parte interessada.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.191.262-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
25/9/2012.

56.3. EXECUÇÃO PROVISÓRIA DAS ASTREINTES FIXADAS EM TUTELA


ANTECIPADA – (Info 546)

O autor pode exigir o pagamento das astreintes antes do final do processo (antes do
trânsito em julgado)? Em outras palavras, é possível a execução provisória das
astreintes fixadas em tutela antecipada?
A multa diária prevista no § 4º do art. 461 do CPC, devida desde o dia em que
configurado o descumprimento, quando fixada em antecipação de tutela, somente
poderá ser objeto de execução provisória após a sua confirmação pela sentença de
mérito e desde que o recurso eventualmente interposto não seja recebido com efeito
suspensivo.
STJ. Corte Especial. REsp 1.200.856-RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 1º/7/2014
(recurso repetitivo) (Info 546).

56.4. BLOQUEIO E SEQUESTRO DE VERBAS PÚBLICAS – (Info 532)


Em ação para fornecimento de medicamentos, o juiz pode determinar o bloqueio e
sequestro de verbas públicas em caso de descumprimento da decisão.
Tratando-se de fornecimento de medicamentos, cabe ao Juiz adotar medidas
eficazes à efetivação de suas decisões, podendo, se necessário, determinar, até
mesmo, o sequestro de valores do devedor (bloqueio), segundo o seu prudente
arbítrio, e sempre com adequada fundamentação.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.069.810-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
23/10/2013 (recurso repetitivo) (Info 532).

57. AÇÃO EXIBITÓRIA


57.1. Impossibilidade de utilização de ação exibitória como substitutiva de habeas
data – (Info 575)

Não é cabível ação de exibição de documentos que tenha por objeto a obtenção de
informações detidas pela Administração Pública que não foram materializadas em
documentos (eletrônicos ou não), ainda que se alegue demora na prestação dessas
informações pela via administrativa.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.415.741-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
3/12/2015 (Info 575).
OBS: A ação de exibição destina-se à obtenção de documentos já existentes que se
encontram em poder da pessoa que se recusa a fornecê-los. Portanto, não há como
admitir o pedido de exibição de documentos que não existem, em que a autora requer
a confecção de certidão e planilha contendo informações que ainda deverão ser
apuradas pelo demandado. O verbo "exibir" não possui o mesmo significado de
"expedir" ou "confeccionar".

Repetindo: não é cabível a ação de exibição de documentos que tenha por objeto
informação não materializada em documento (coisa).
Tal entendimento permanece válido com o novo CPC, que trata sobre a ação de
exibição de documento ou coisa nos arts. 396 a 404. Veja que o Código exige que já
exista um documento ou coisa a ser exibido: “Art. 396. O juiz pode ordenar que a parte
exiba documento ou coisa que se encontre em seu poder.” Não se pode alargar a concepção
da ação de exibição de documento para abarcar informações ainda não materializadas.
O direito à informação, neste caso, pode ser buscado pela via própria, qual seja, o
habeas data (art. 5º, LXXII, da CF/88).

58. PROCESSO CAUTELAR


58.1. AÇÃO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS: Cominação de multa diária em
ação de exibição de documentos em face das peculiaridades do caso concreto – (Info
554)

É cabível a cominação de multa diária – astreintes – em ação de exibição de


documentos movida por usuário de serviço de telefonia celular para obtenção de
informações acerca do endereço de IP (Internet Protocol) de onde teriam sido
enviadas, para o seu celular, diversas mensagens anônimas agressivas, por meio do
serviço de SMS disponibilizado no sítio eletrônico da empresa de telefonia.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.359.976-PB, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
25/11/2014 (Info 554).
58.2. Ação cautelar de exibição de documentos bancários – (Info 553)

A propositura de ação cautelar de exibição de documentos bancários (cópias e


segunda via de documentos) é cabível como medida preparatória a fim de instruir
a ação principal, bastando a demonstração da existência de relação jurídica entre as
partes, a comprovação de prévio pedido à instituição financeira não atendido em
prazo razoável, e o pagamento do custo do serviço conforme previsão contratual e
normatização da autoridade monetária.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.349.453-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção,
julgado em 10/12/2014 (recurso repetitivo) (Info 553).

58.3. Requisitos para a propositura de ação de exibição de documentos relativos ao


Crediscore – (Info 553)

Para existir interesse de agir em ação cautelar de exibição de documentos ajuizada


por consumidor com o objetivo de obter extrato contendo sua pontuação no sistema
Crediscore, é necessário que o requerente comprove:
a) que a recusa do crédito se deu em razão da pontuação que lhe foi atribuída pela
dita ferramenta de scoring; e
b) que tenha havido resistência da instituição responsável pelo sistema na
disponibilização das informações requeridas pelo consumidor em prazo razoável.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.268.478-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 18/12/14 (Info
553).

59. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO


59.1. Não incidência do prazo do art. 892 do CPC 1973 (art. 541 do CPC 2015) para os
depósitos judiciais de tributos – (Info 564)

O prazo de cinco dias previsto no art. 892 do CPC 1973 (art. 541 do CPC 2015) NÃO
se aplica para depósitos judiciais relacionados com créditos tributários.
O crédito tributário é exigível a partir do dia de seu vencimento. Se ele não é pago
nesta data, deverá ser cobrado acrescido de juros, multa e correção monetária. Isso
ocorre por força de lei.
Para que o depósito judicial possa acarretar a suspensão da exigibilidade do crédito
tributário, ele deve ser feito dentro do prazo de vencimento da obrigação.
Se a tese acima exposta fosse aceita, o contribuinte que ingressasse com ação de
consignação em pagamento passaria a ser agraciado com cinco dias extras para pagar
o tributo pelo simples fato de ter proposto essa ação. Por outro lado, o contribuinte
que não tivesse proposto a ação continuaria tendo que pagar na data do vencimento.
Perceba, portanto, que haveria uma violação ao princípio da isonomia tributária
(art. 150, I, da CF/88), além de estar-se criando uma espécie de moratória tributária,
de caráter geral, sem previsão legal.
Desse modo, o Fisco poderá sim cobrar multa e juros caso o depósito não seja
realizado dentro do prazo para o pagamento do tributo.
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.365.761-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 9/6/15
(Info 564)

60. AÇÃO MONITÓRIA


60.1. Pedido de alongamento da dívida em embargos à monitória – (Info 604)
O pedido de alongamento da dívida originada de crédito rural pode ser feito em
sede de embargos à monitória ou contestação, independentemente de reconvenção.
O preenchimento dos requisitos legais para a securitização da dívida originada de
crédito rural (ou alongamento) constitui matéria de defesa do devedor, passível de
ser alegada em embargos à monitória ou contestação, independentemente de
reconvenção.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.531.676-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 18/5/2017 (Info 604).

60.2. Possibilidade de utilização de e-mail para instruir ação monitória – (Info 593)
– IMPORTANTE!!!

O correio eletrônico (e-mail) pode fundamentar a pretensão monitória, desde que


o juízo se convença da verossimilhança das alegações e da idoneidade das
declarações.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.381.603-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 6/10/16 (Info
593).
OBS:
Ação monitória: Ação monitória é um procedimento especial, previsto no CPC, por
meio do qual o credor exige do devedor o pagamento de soma em dinheiro ou a
entrega de coisa com base em prova escrita que não tenha eficácia de título executivo.
Ex1: ação monitória para cobrança de cheque prescrito.
Ex2: ação monitória para cobrança de valores baseados em contrato bancário de
abertura de conta-corrente.
O cheque prescrito e o contrato bancário de abertura de conta são provas escritas do
débito, mas que não se constituem em título executivo.
 Se o credor tem título executivo, pode ingressar desde logo com a execução.
 Se o credor não tem nenhuma prova documental, só lhe resta a ação de
cobrança.
 Se o credor tem prova escrita que não goza de eficácia de título executivo: cabe
ação monitória.

Imagine agora a seguinte situação hipotética: João vendeu para Pedro um


computador por R$ 3 mil. A venda foi toda negociada por e-mail, tendo João enviado
o computador pelos Correios para Pedro. Este, contudo, não efetuou o pagamento
combinado. Os e-mails trocados demonstram que houve a compra do produto e que
Pedro se comprometeu em efetuar o pagamento dos R$ 3 mil. João imprimiu os e-
mails e ajuizou ação monitória contra Pedro.

É possível que um e-mail seja utilizado para instruir a ação monitória? SIM. Para a
propositura da ação monitória, o legislador exige que o autor comprove a relação
jurídica por meio de prova escrita. O legislador não definiu o que seja "prova escrita",
tratando-se, portanto, de conceito eminentemente doutrinário-jurisprudencial. A
prova hábil a instruir a ação monitória não precisa, necessariamente, ter sido emitida
pelo devedor ou nela constar sua assinatura ou de um representante. Basta que tenha
forma escrita e seja suficiente para, efetivamente, influir na convicção do magistrado
acerca do direito alegado. Ademais, para a admissibilidade da ação monitória, não é
imprescindível que o autor instrua a ação com prova robusta, estreme de dúvida,
podendo ser aparelhada por documento idôneo, ainda que emitido pelo próprio
credor, contanto que o magistrado entenda presente o juízo de probabilidade acerca
do direito afirmado.
Nesse sentido:
(...) para a admissibilidade da ação monitória, não é necessária
a apresentação de prova robusta, estreme de dúvida, sendo
suficiente a presença de dados idôneos, ainda que unilaterais,
desde que deles exsurja juízo de probabilidade acerca do
direito afirmado.
STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1278643/ES, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, j. 23/02/16.

(...) 1. A prova hábil a instruir a ação monitória, a que alude o


artigo 1.102-A do Código de Processo Civil não precisa,
necessariamente, ter sido emitida pelo devedor ou nela
constar sua assinatura ou de um representante. Basta que
tenha forma escrita e seja suficiente para, efetivamente, influir
na convicção do magistrado acerca do direito alegado.
2. Dessarte, para a admissibilidade da ação monitória, não é
necessário que o autor instrua a ação com prova robusta,
estreme de dúvida, podendo ser aparelhada por documento
idôneo, ainda que emitido pelo próprio credor, contanto que,
por meio do prudente exame do magistrado, exsurja o juízo
de probabilidade acerca do direito afirmado pelo autor. (...
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 289.660/RN, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 04/06/2013.

60.3. Inviabilidade de se analisar matérias de mérito, ainda que de ordem pública,


se o réu se manteve inerte – (Info 574)

Em ação monitória, após o decurso do prazo para pagamento ou entrega da coisa


sem a oposição de embargos pelo réu, o juiz não poderá analisar matérias de mérito,
ainda que conhecíveis de ofício.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.432.982-ES, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
17/11/2015 (Info 574).
OBS: Se o devedor se manteve inerte quando foi citado, haverá a conversão do
mandado monitório em mandado executivo automaticamente, ou seja, por força de
lei (ope legis). Isso significa que nenhuma das matérias que ele poderia alegar em sua
defesa nos embargos poderá ser invocada agora.
O despacho proferido pelo juiz que converte o mandado inicial em mandado
executivo não detém natureza jurídica de sentença nem de decisão. É um mero
despacho sem conteúdo decisório porque esta conversão do mandado monitório em
executivo (título executivo) ocorre por força de lei. Relembre que o § 2º do art. 701 do
CPC 2015 falou que a conversão em título executivo ocorre "independentemente de
qualquer formalidade". Como o título executivo já se formou automaticamente com o
fim do prazo do réu, não é mais possível a análise de matérias de mérito, ainda que
sejam de ordem pública (conhecíveis de ofício).

60.4. Demonstrativo de débito atualizado como requisito da petição inicial – (Info


559) – IMPORTANTE!!!

O CPC 1973 não traz os requisitos da petição inicial da ação monitória.


Apesar disso, a jurisprudência exige que a petição inicial da ação monitória na qual
o autor cobra do réu soma em dinheiro deve ser instruída com demonstrativo de
débito atualizado até a data do ajuizamento.
O STJ entende que esse documento é indispensável para que o devedor possa ter o
conhecimento detalhado da quantia que lhe está sendo cobrada, inclusive com a
indicação dos critérios, índices e taxas utilizados, a fim de que o devedor possa
validamente impugná-los nos embargos.
O CPC 2015 já traz em seu texto os requisitos para a petição inicial da ação
monitória. Um deles é justamente a memória de cálculo da dívida que esteja sendo
cobrada. Desse modo, o entendimento do STJ acima explicado foi incorporado pelo
novo CPC (art. 700, § 2º, I).
O que acontece se o autor ajuizar a ação e não juntar esse demonstrativo (ou se o
demonstrativo estiver incompleto)?
O juiz deverá intimá-lo para que corrija esse vício e traga aos autos o demonstrativo
atualizado.
Qual é o prazo que o autor possui para emendar a petição inicial?
 10 dias no CPC 1973 (art. 284);
 15 dias no CPC 2015 (art. 321).

Outra novidade do CPC 2015 é que o juiz, ao determinar que o autor emende ou
complete a petição inicial, deverá indicar, com precisão, o que deve ser corrigido ou
completado.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.154.730-PE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
8/4/2015 (recurso repetitivo) (Info 559).

60.5. Inexigibilidade de recolhimento de custas em embargos à monitória – (Info


558)

Ação monitória é um procedimento especial, previsto no CPC, por meio do qual o


credor exige do devedor o pagamento de soma em dinheiro, a entrega de coisa
fungível ou a entrega de determinado bem móvel com base em prova escrita que
não tem eficácia de título executivo.
Obs: com o CPC de 2015, a ação monitória poderá ser utilizada para exigir a entrega
de coisas infungíveis e também para exigir a entrega de bens imóveis, situações que
não eram abarcadas pelo antigo Código. Além disso, o CPC 2015 prevê que a ação
monitória serve também para exigir que o réu cumpra obrigação de fazer ou não
fazer sobre a qual ele está inadimplente.
O réu citado poderá defender-se das alegações do autor. A defesa na ação monitória
é denominada de “embargos à ação monitória”. Os embargos à ação monitória são
classificados como uma forma de defesa, sendo semelhante à contestação.
Para que o réu apresente embargos monitórios, ele precisa pagar previamente as
custas?
NÃO. Não se exige o recolhimento de custas iniciais para oferecer embargos à ação
monitória. Isso porque os embargos à monitória têm natureza jurídica de defesa.
Vimos acima que é como se fosse uma contestação e o réu não precisa recolher custas
para apresentar contestação. Isso vale tanto para o CPC 1973 como para o novo CPC.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.265.509-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
19/3/2015 (Info 558).

61. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO


61.1. Conceito de documento comum do art. 844, II, do CPC/1973 – (Info 609)
O conceito de documento comum, previsto no art. 844, II, do CPC/1973, não se limita
àquele pertencente a ambas as partes, mas engloba também o documento sobre o
qual elas têm interesse comum, independentemente de o solicitante ter participado
de sua elaboração.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.645.581-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 8/8/17 (Info
609).
OBS: “Documento comum não é, assim, apenas o que pertence indistintamente a
ambas as partes, mas também o que se refere a uma situação que envolva ambas as
partes , ou uma das partes e terceiro”. (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de
Direito Processual Civil. Vol. II. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 605)

O CPC/2015 não repetiu esse dispositivo porque não mais tratou sobre procedimentos
cautelares típicos (nominados).

62. AÇÃO DEMARCATÓRIA


62.1. Ação demarcatória parcial e inexistência de litisconsórcio necessário com os
confinantes de imóveis cujos limites não estão sendo discutidos – (Info 586)

Em ação demarcatória de parte de imóvel, é facultativo - e não necessário - o


litisconsórcio passivo entre o réu e os confinantes da área do bem que não é objeto
de demarcação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.599.403-MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 23/6/16 (Info
586).

63. REINTEGRAÇÃO DE POSSE


63.1. Conversão da ação reintegratória em indenizatória – (Info 619) – ATENÇÃO!
Concursos MP e Defensoria!

O terreno do proprietário foi invadido por inúmeras pessoas de baixa renda.


O proprietário ingressou com ação de reintegração de posse, tendo sido concedida
a medida liminar, mas nunca cumprida mesmo após vários anos.
Vale ressaltar que o Município e o Estado fizeram toda a infraestrutura para a
permanência das pessoas no local.
Diante disso, o juiz, de ofício, converteu a ação reintegratória em indenizatória
(desapropriação indireta), determinando a emenda da inicial, a fim de promover a
citação do Município e do Estado para apresentar contestação e, em consequência,
incluí-los no polo passivo da demanda.
O STJ afirmou que isso estava correto e que a ação possessória pode ser convertida
em indenizatória (desapropriação indireta) - ainda que ausente pedido explícito
nesse sentido - a fim de assegurar tutela alternativa equivalente (indenização) ao
particular que teve suas térreas invadidas.
STJ. 1ª Turma. REsp 1442440-AC, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 7/12/17 (Info 619).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Em 1990, invasores de baixa renda ocuparam
um terreno enorme de João. O proprietário ingressou com ação de reintegração de
posse, tendo sido deferida liminar em 1991. Ocorre que o mandado não foi cumprido
em virtude inicialmente da propositura de inúmeros incidentes processuais e, em
seguida, pela ausência de força policial para a sua efetivação. Diante da demora para
resolver o imbróglio, o Município e o Estado construíram uma infraestrutura no local
para permitir a moradia dos invasores, fazendo ruas e construindo instalações para
órgãos públicos atenderem a população. O juiz constatou, então, que já não era mais
possível devolver a posse do terreno ao proprietário em virtude de a situação das
famílias estar consolidada. Por conta disso, ele decidiu converter, de ofício, a ação
reintegratória em indenizatória (desapropriação indireta), determinando a emenda da
inicial, a fim de promover a citação do Município e do Estado para apresentar
contestação e, em consequência, incluí-los no polo passivo da demanda.

Agiu corretamente o magistrado? SIM. A ação possessória pode ser convertida em


indenizatória (desapropriação indireta) - ainda que ausente pedido explícito nesse
sentido - a fim de assegurar tutela alternativa equivalente ao particular, quando a
invasão coletiva consolidada inviabilizar o cumprimento do mandado reintegratório
pelo município. STJ. 1ª Turma. REsp 1.442.440-AC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado
em 07/12/2017 (Info 619).

O STJ já se manifestou no sentido da possibilidade de conversão da ação


possessória em indenizatória, em respeito aos princípios da celeridade e economia
processuais, a fim de assegurar ao particular a obtenção de resultado prático
correspondente à restituição do bem, quando situação fática consolidada no curso da
ação exigir a devida proteção jurisdicional, com fulcro nos arts. 461, § 1º, do
CPC/1973 (art. 499 do CPC/2015):
Art. 499. A obrigação somente será convertida em perdas e
danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica
ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente.

Ultra petita ou extra petita: A conversão operada no caso não configura julgamento
ultra petita ou extra petita, ainda que não haja pedido explícito nesse sentido, diante
da impossibilidade de devolução da posse ao autor, sendo descabido o ajuizamento
de outra ação quando uma parte do imóvel já foi afetada ao domínio público,
mediante apossamento administrativo, sendo a outra restante ocupada de forma
precária por inúmeras famílias de baixa renda com a intervenção do Município, que
implantou toda a infraestrutura básica no local, tornando-se a área bairro urbano.

Princípio da congruência: Não há se falar em violação ao princípio da congruência,


devendo ser aplicada à espécie a teoria da substanciação, segundo a qual apenas os
fatos vinculam o julgador, que poderá atribuir-lhes a qualificação jurídica que
entender adequada ao acolhimento ou à rejeição do pedido, como fulcro nos brocardos
iura novit curia e mihi factum dabo tibi ius e no art. 462 do CPC/1973 (art. 493 do
CPC/2015):
Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato
constitutivo, modificativo ou extintivo do direito influir no
julgamento do mérito, caberá ao juiz tomá-lo em consideração,
de ofício ou a requerimento da parte, no momento de proferir
a decisão.
Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz
ouvirá as partes sobre ele antes de decidir.

Desapropriação indireta: O caso se amolda ao art. 1.228, §§ 4º e 5º, do CC, que trata
da desapropriação judicial, chamada também por alguns doutrinadores de
desapropriação por posse-trabalho ou de desapropriação judicial indireta, cujo
instituto autoriza o magistrado, sem intervenção prévia de outros Poderes, a declarar
a perda do imóvel reivindicado pelo particular em favor de considerável número de
pessoas que, na posse ininterrupta de extensa área, por mais de cinco anos, houverem
realizado obras e serviços de interesse social e econômico relevante. Confira:
Art. 1.228. (...)
§ 4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o
imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse
ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de
considerável número de pessoas, e estas nela houverem
realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços
considerados pelo juiz de interesse social e econômico
relevante.
§ 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa
indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a
sentença como título para o registro do imóvel em nome dos
possuidores.

Os conceitos abertos existentes no art. 1.228 do CC/2002 propiciam ao magistrado


uma margem considerável de discricionariedade ao analisar os requisitos para a
aplicação do referido instituto.

Participação do Município e do Estado no caso: Vale ressaltar que, em regra, o STJ


entende que o simples fato de o Estado e o Município terem feito obras de
infraestrutura no local não significa que eles passam a ter responsabilidade pela
invasão ou que esta conduta configure desapropriação indireta. Nesse sentido:
“(...) inexiste desapossamento por parte do ente público ao
realizar obras de infraestrutura em imóvel cuja invasão já se
consolidara, pois a simples invasão de propriedade urbana
por terceiros, mesmo sem ser repelida pelo Poder Público, não
constitui desapropriação indireta” (STJ. 2ª Turma. AgRg no
REsp 1.367.002/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
julgado em 20/06/2013).

No entanto, no caso concreto, a situação é um pouco diferente. Isso porque ficou


comprovado que os danos causados ao proprietário do imóvel decorreram de atos
omissivos e comissivos da administração pública, tendo em conta que deixou de
fornecer a força policial necessária para o cumprimento do mandado reintegratório,
ainda na fase inicial da invasão, permanecendo omissa quanto ao surgimento de
novas habitações irregulares, além de ter realizado obras de infraestrutura no local,
com o objetivo de garantir a função social da propriedade, circunstâncias que
ocasionaram o desenvolvimento urbano da área e a desapropriação direta de parte
do bem.

Assim, o Município e o Estado são sujeitos passivos legítimos da indenização


prevista no art. 1.228, § 5º, do CC/2002, visto que os possuidores, por serem
hipossuficientes, não podem arcar com o ressarcimento dos prejuízos sofridos pelo
proprietário do imóvel. Nesse sentido, confira:
Enunciado 308 da Jornada de Direito Civil do CJF: A justa
indenização devida ao proprietário em caso de
desapropriação judicial (art. 1.228, § 5º) somente deverá ser
suportada pela Administração Pública no contexto das
políticas públicas de reforma urbana ou agrária, em se
tratando de possuidores de baixa renda e desde que tenha
havido intervenção daquela nos termos da lei processual. Não
sendo os possuidores de baixa renda, aplica-se a orientação do
Enunciado 84 da I Jornada de Direito Civil.

Enunciado 84 da Jornada de Direito Civil do CJF: A defesa


fundada no direito de aquisição com base no interesse social
(art. 1.228, §§ 4º e 5º, do novo Código Civil) deve ser arguida
pelos réus da ação reivindicatória, eles próprios responsáveis
pelo pagamento da indenização.

63.2. Não se exige a prévia notificação extrajudicial dos invasores para que se
proponha reintegração de posse – (Info 594) – IMPORTANTE!!!

A notificação prévia dos ocupantes não é documento essencial à propositura da


ação possessória.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.263.164-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 22/11/16 (Info 594).

64. AÇÃO DE EXIGIR CONTAS


64.1. Impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em ação de prestação de
contas – (Info 592)

Não é possível a revisão de cláusulas contratuais em ação de exigir contas (ação de


prestação de contas).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.497.831-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para
acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, j. 14/9/16 (recurso repetitivo) (Info 592).

64.2. Não cabimento em caso de contratos de mútuo e financiamento – (Info 558) –


(TRF3-2016)

Nos contratos de mútuo e financiamento, o devedor não possui interesse de agir


para a ação de prestação de contas.
O entendimento acima exposto continua válido com o CPC 2015, mas devem ser
feitas duas observações:
1) O nome da ação passou a ser “ação de exigir contas”;
2) O CPC 2015 não mais fala em “condição da ação”. Essa categoria foi abolida. O
interesse de agir, que era uma condição da ação, continua sendo examinado, mas
agora tem natureza jurídica de requisito de admissibilidade do processo. Trata-se
de um pressuposto de validade objetivo extrínseco.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.293.558-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/3/2015
(Info 558).

65. EMBARGOS DE TERCEIRO


65.1. Desconstituída penhora indevida, em regra, não haverá condenação do
embargado em honorários se o imóvel ainda estava no nome do antigo proprietário –
(Info 591) – IMPORTANTE!!!

Nos embargos de terceiro cujo pedido foi acolhido para desconstituir a constrição
judicial, os honorários advocatícios serão arbitrados com base no princípio da
causalidade, responsabilizando-se o atual proprietário (embargante), se este não
atualizou os dados cadastrais. Os encargos de sucumbência serão suportados pela
parte embargada, porém, na hipótese em que esta, depois de tomar ciência da
transmissão do bem, apresentar ou insistir na impugnação ou recurso para manter
a penhora sobre o bem cujo domínio foi transferido para terceiro.
Ex: Pedro adquiriu uma casa por meio de contrato de promessa de compra e venda.
Ocorre que não foi até o Registro de Imóveis para providenciar a transcrição do
título. O antigo proprietário do imóvel estava sendo executado e o credor, após
consulta no cartório, indicou a referida casa para ser penhorada, o que foi aceito
pelo juiz. Pedro foi informado da penhora e apresentou embargos de terceiro na
execução provando que o referido imóvel foi por ele adquirido. O juiz acolheu os
embargos e determinou o levantamento da penhora. A parte embargada não se opôs
a isso. Na sentença dos embargos, o juiz deverá condenar Pedro a pagar honorários
advocatícios em favor da parte embargada.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.452.840-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 14/9/16 (recurso
repetitivo) (Info 591)
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João era proprietário de um imóvel e fez uma
promessa de compra e venda com Pedro. Por meio do contrato, João (promitente
vendedor) comprometeu-se a vender a Pedro uma casa, localizada na Rua 02, nº 13,
Centro. Em contrapartida, Pedro (promitente comprador) obrigou-se a pagar o valor
do imóvel em 24 parcelas. O contrato previa que, após os pagamentos, Pedro deveria
fazer a transferência do bem no Registro de Imóveis para seu nome, havendo,
inclusive, uma procuração outorgada por João conferindo tais poderes. Pedro pagou
todas as 24 parcelas e continuou morando na casa por ele adquirida. Ocorre que
acabou esquecendo de ir até o Registro de Imóveis para providenciar a transcrição do
título. Na linguagem popular, ele não foi até o cartório passar a casa para o seu nome.

Execução contra o antigo proprietário: João, antigo proprietário da casa, possuía


débitos com a União e estava sendo executado. No processo de execução, João foi
citado, mas não pagou a dívida. A Fazenda Nacional consultou os cartórios em busca
de bens em nome do devedor. O Registro de Imóveis informou à União que há uma
casa localizada na Rua 02, nº 13, Centro registrada em nome de João. A exequente
requereu, então, a penhora da casa para pagamento da dívida, o que foi deferido pelo
magistrado.

Embargos de terceiro: Pedro, que mora na casa, foi informado da penhora e procurou
um advogado. Este apresentou embargos de terceiro na execução provando que o
referido imóvel foi adquirido por meio de um contrato de promessa de compra e
venda e que, inclusive, todas as parcelas já foram pagas. Sobre o tema, vale a pena
lembrar o seguinte enunciado:
Súmula 84-STJ: É admissível a oposição de Embargos de
Terceiro fundados em alegação de posse advinda do
compromisso de compra e venda de imóveis, ainda que
desprovido do registro.

Vale ressaltar que os órgãos da advocacia pública federal não oferecem impugnação
nem recorrem em tais casos, desde que não caracterizada a má-fé dos contratantes e o
intuito de fraude à execução (IN AGU 05/07). O juiz acolheu os embargos e
determinou o levantamento da penhora incidente sobre a casa. No entanto, condenou
Pedro a pagar honorários advocatícios em favor da União (embargada). A União
concordou com a sentença e não recorreu. Pedro, por outro lado, apresentou recurso
afirmando que, se os embargos foram julgados procedentes, ficando provado que ele
estava certo, é a União quem deverá pagar os honorários advocatícios em favor dele.

A sentença do magistrado foi correta? Afinal de contas, quem deverá pagar os


honorários advocatícios neste caso? SIM. A sentença foi correta e quem deverá pagar
os honorários é o embargante Pedro (atual proprietário).

Princípio da causalidade: O pagamento dos honorários advocatícios baseia-se no


princípio da causalidade, ou seja, esta verba deverá ser paga por aquele que deu causa
à propositura da ação. Assim, a sucumbência, para fins de arbitramento dos
honorários advocatícios, tem por norte a aplicação do princípio da causalidade. No
caso dos embargos de terceiro existe inclusive um enunciado que espelha este
entendimento:
Súmula 303-STJ: Em embargos de terceiro, quem deu causa à
constrição indevida deve arcar com os honorários
advocatícios.

Normalmente, constata-se que o sucumbente (quem perdeu) foi o responsável pela


propositura da ação. Em outras palavras, como a parte perdeu, em regra, entende-se
que foi ela quem deu causa ao ajuizamento da demanda. O pensamento é o seguinte:
se não fosse ela, a ação não teria que ter existido; foi ela quem criou o "problema". Por
essa razão, em regra, o sucumbente é condenado a pagar os honorários advocatícios.
A isso chamamos de princípio da sucumbência (quem perdeu, paga).

Assim, em geral, os princípios da sucumbência e da causalidade caminham juntos.


Diz-se, inclusive que o princípio da sucumbência é uma forma de se cumprir o
princípio da causalidade. Dito de outro modo: em geral, quem perdeu (princípio da
sucumbência) é quem deu causa à demanda (princípio da causalidade).

Algumas vezes, no entanto, pode-se constatar que a responsável pela existência da


causa foi a parte vencedora. A parte venceu a demanda, mas foi uma atitude dela que
fez com que o problema tenha surgido. Nestes casos, será o vencedor (e não o
sucumbente) quem irá pagar os honorários advocatícios. Dizemos que o princípio da
sucumbência cede espaço para o princípio da causalidade.

Sobre o tema, veja os seguintes julgados do STJ:


(...) O princípio da causalidade não se contrapõe ao princípio
da sucumbência. Antes, é este um dos elementos norteadores
daquele, pois, de ordinário, o sucumbente é considerado
responsável pela instauração do processo e, assim, condenado
nas despesas processuais. O princípio da sucumbência,
contudo, cede lugar quando, embora vencedora, a parte deu
causa à instauração da lide.
Se o credor indicou à penhora imóvel objeto de contrato de
compra e venda não registrado, é iniludível que a necessidade
do ajuizamento dos embargos de terceiro pelo adquirente é
resultado da desídia deste em não promover o registro,
providência que a par da publicidade do ato poderia evitar a
indesejada constrição patrimonial, haja vista a eficácia erga
omnes dos atos submetidos a registro. Assim, face ao
princípio da causalidade, cabe ao terceiro-embargante,
adquirente do imóvel, arcar com os consectários da
sucumbência.
STJ. 3ª Turma. REsp 303.597/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j.
17/04/01.

(...) 1. Em regra, os ônus sucumbenciais devem ser aplicados


em conformidade com o princípio da sucumbência. Entende-
se, assim, que o sucumbente é considerado responsável pelo
ajuizamento da ação, de maneira que deve ser condenado nas
despesas processuais. Todavia, há casos em que, embora
sucumbente, a parte não deu causa ao ajuizamento da ação,
não devendo, por conseguinte, sobre ela recair os ônus da
sucumbência. Nessas hipóteses, então, o princípio da
sucumbência deve ser aplicado em consonância com o
princípio da causalidade, segundo o qual as despesas
processuais e honorários advocatícios devem ser suportados
por quem deu causa à instauração do processo.
2. Em se tratando de embargos de terceiro, deve o magistrado,
na condenação dos ônus sucumbenciais, atentar para os
princípios da sucumbência e da causalidade, pois há casos em
que o embargante, embora vencedor na ação, é o responsável
por seu ajuizamento, devendo sobre ele recair as despesas do
processo e os honorários advocatícios. A respeito do tema, a
Corte Especial editou a Súmula 303/STJ, consignando que
"em embargos de terceiro, quem deu causa à constrição
indevida deve arcar com os honorários advocatícios". (...)
STJ. 1ª Turma. REsp 724.341/MG, Rel. Min. Denise Arruda, j.
02/10/07.

Embargante foi o responsável pelo fato de o bem ter sido penhorado: O adquirente, ao
não providenciar a transcrição do título na repartição competente, permite que o bem
adquirido fique em risco e possa ser submetido à indevida constrição judicial em ações
propostas contra o antigo proprietário. As diligências realizadas pelo oficial de Justiça
ou pela própria parte credora destinadas à localização de bens, no caso específico de
bens sujeitos a registro (imóveis, veículos), são feitas mediante consulta aos Cartórios
de Imóveis (Detran, no caso de veículos), razão pela qual é evidente que se tais
cadastros estiverem com os nomes dos proprietários desatualizados, fatalmente
haverá penhoras indevidas. Isso, não por "culpa" do credor, mas sim do adquirente.
Desse modo, em regra, não pode ser responsabilizado pelos honorários advocatícios
o credor que indica à penhora imóvel transferido a terceiro mediante compromisso de
compra e venda não registrado no Cartório de Imóveis. Com a inércia do comprador
em proceder ao registro, não havia como o exequente tomar conhecimento de uma
possível transmissão de domínio.

Resumindo: Desconstituição de penhora indevida incidente sobre imóvel pertencente


a terceiro:
 REGRA: não haverá condenação da parte embargada a pagar honorários
advocatícios quando verificado que não foi registrada a alteração na
titularidade dominial (no cartório ainda consta o antigo proprietário).
 EXCEÇÃO: a parte embargada terá que pagar honorários advocatícios se,
mesmo ciente de que houve transmissão da propriedade, opuser resistência e
defender a manutenção da penhora (foi explicado no processo que houve a
transferência e, mesmo assim, a parte credora continua insistindo na penhora).

65.2. Cabimento de embargos de terceiro em medida cautelar – (Info 571)

São admissíveis embargos de terceiro em ação cautelar.


O pressuposto para o cabimento dos embargos de terceiro é a existência de uma
constrição judicial que ofenda a posse ou a propriedade de um bem de pessoa que
não seja parte no processo, nos termos do art. 1.046 do CPC 1973 (art. 674 do CPC
2015).
STJ. 4ª Turma. REsp 837.546-MT, Rel. Min. Raul Araújo, j. 1º/10/15 (Info 571).

65.3. Embargos de terceiro não servem para impugnar decisão se o fundamento


invocado pelo autor não é a posse, mas sim, unicamente, a propriedade – (Info 553)

O proprietário sem posse a qualquer título não tem legitimidade para ajuizar, com
fundamento no direito de propriedade, embargos de terceiro contra decisão
transitada em julgado proferida em ação de reintegração de posse, da qual não
participou, e na qual nem sequer foi aventada discussão em torno da titularidade
do domínio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.417.620-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 2/12/14
(Info 553).

66. ARBITRAGEM
66.1. Validade de cláusula arbitral que reserve a solução de determinadas situações
para a via judicial – (Info 577)

É válida a cláusula compromissória que excepcione do juízo arbitral certas situações


especiais a serem submetidas ao Poder Judiciário.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.331.100-BA, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Rel. para acórdão
Min. Raul Araújo, julgado em 17/12/2015 (Info 577).
OBS:
Em que consiste a arbitragem: Representa uma técnica de solução de conflitos por
meio da qual os conflitantes aceitam que a solução de seu litígio seja decidida por uma
terceira pessoa, de sua confiança. É uma forma de heterocomposição (instrumento por
meio do qual o conflito é resolvido por um terceiro).

Regulamentação: É regulada pela Lei 9.307/96, havendo também alguns dispositivos


no CPC versando sobre o tema.

Convenção de arbitragem: As partes interessadas podem submeter a solução de seus


litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem (art. 3º). Convenção de
arbitragem é o gênero, que engloba duas espécies:
 a cláusula compromissória e
 o compromisso arbitral.

Em que consiste a cláusula compromissória: A cláusula compromissória, também


chamada de cláusula arbitral, é...
 uma cláusula prevista no contrato,
 de forma prévia e abstrata,
 por meio da qual as partes estipulam que
 qualquer conflito futuro relacionado àquele contrato
 será resolvido por arbitragem (e não pela via jurisdicional estatal).

A cláusula compromissória está prevista no art. 4º da Lei 9307/96:

Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as


partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os
litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.

Feitos tais esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: A empresa “AA”


celebrou contrato com a empresa “BB”. Ao final do contrato, havia uma cláusula
compromissória dizendo que: “Fica ajustado pelas Partes que qualquer controvérsia
ou reivindicação decorrente ou relativa a este Contrato será dirimida por arbitragem
de acordo com as regras do Centro de Arbitragem e mediação da Câmara de Comércio
Brasil-Canadá, com exceção das causas mencionadas na cláusula oitava, que deverão
ser submetidas ao Poder Judiciário.”

Essa cláusula é válida? É possível que a cláusula compromissória preveja que parte
dos conflitos será resolvido por arbitragem e outras causas pelo Poder Judiciário?
SIM. A Lei 9307/96 não exige, como condição de existência da cláusula
compromissória, que a arbitragem seja a única via de resolução admitida pelas partes
para todos os litígios e em relação a todas as matérias. Não pode ser considerada
nula a cláusula compromissória constante de acordo que excepcione ou reserve certas
situações especiais a serem submetidas ao Judiciário, especialmente quando essas
demandem tutelas de urgência. A contrario sensu, nulidade haveria em previsão que
vedasse completamente toda e qualquer apreciação de litígio pelo Judiciário. O
convívio harmônico dos juízos arbitrais com os órgãos do Judiciário constitui ponto
fundamental ao prestígio da arbitragem.

66.2. Prazo decadencial para ajuizamento de ação anulatória no procedimento


arbitral – (Info 568)

O art. 32 da Lei nº 9.307/96 elenca hipóteses nas quais a sentença arbitral é nula.
Essa nulidade é declarada pelo Poder Judiciário. Verificando alguma das situações
do art. 32, a parte interessada poderá propor ação de declaração de nulidade da
sentença arbitral. A ação de declaração de nulidade deve ser proposta em, no
máximo, 90 dias após o recebimento da notificação da sentença arbitral.
Imagine agora a seguinte situação: em fevereiro de 2014 foi proferida sentença
arbitral parcial; em abril de 2014, foi prolatada sentença arbitral final. Suponhamos
que a parte interessada deseja anular a sentença arbitral parcial. O prazo para a ação
anulatória começou a correr em fevereiro ou em abril?
Em fevereiro. O prazo decadencial de 90 dias para o ajuizamento de ação anulatória
(art. 33, § 1º, da Lei nº 9.307/96) em face de sentença arbitral parcial conta-se a partir
do trânsito em julgado desta (sentença parcial), e não do trânsito em julgado da
sentença arbitral final.
Obs: neste julgado o STJ afirmou que, mesmo antes da alteração promovida pela
Lei 13.129/2015, era possível a prolação de sentença arbitral parcial, especialmente
na hipótese de as partes signatárias assim convencionarem.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.519.041-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
1º/9/2015 (Info 568).

67. CAUÇÃO
67.1. Possibilidade de dispensa da caução prevista no art. 835 do CPC 1973 (art. 83
do CPC 2015) – (Info 563)

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante
a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para
pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação. Essa
caução não será necessária se o autor possuir bens imóveis no Brasil que possam
servir para o pagamento de tais despesas. Isso está previsto no art. 835 do CPC 1973
(art. 83 do CPC 2015).
Essa caução não tem natureza cautelar, sendo exigível no caso em que se verificar a
presença dos requisitos objetivos e cumulativos elencados na lei, podendo ser
dispensada nas hipóteses previstas no art. 836 do CPC 1973 (art. 83, § 1º do CPC
2015) ou quando, com base na prova dos autos, as peculiaridades do caso concreto
indicarem que a sua exigência irá obstaculizar o acesso à jurisdição.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.479.051-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 26/5/15 (Info
563).

68. JUSTIÇA GRATUITA


68.1. Possibilidade de concessão de gratuidade da justiça a estrangeiros não
residentes no Brasil – (Info 622) – IMPORTANTE!!!

O estrangeiro residente no Brasil tem direito à gratuidade da justiça?


SIM. O estrangeiro residente no Brasil possui direito à gratuidade da justiça. Isso é
previsto no CPC/2015 e também já era garantido na Lei nº 1.060/50.

E o estrangeiro não residente no Brasil?


Lei 1.060/50: Não tinha direito. Só poderia ser deferida a gratuidade da justiça para
estrangeiros residentes no Brasil (art. 2º).
CPC/2015: possui o direito. Atualmente, pode ser deferida a gratuidade da justiça
para estrangeiros residentes ou não-residentes no Brasil (art. 98).
A gratuidade da justiça passou a poder ser concedida a estrangeiro não residente no
Brasil após a entrada em vigor do CPC/2015.
STJ. Corte Especial. Pet 9815-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 29/11/2017 (Info
622).
OBS:
Garantia de assistência jurídica integral e gratuita: A CF/88 prevê a garantia da
assistência jurídica integral e gratuita em seu art. 5º, LXXIV: “o Estado prestará
assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”.

Esse dispositivo constitucional consagra duas garantias:

I – Assistência jurídica integral e II – Gratuidade da justiça (Assistência


gratuita Judiciária Gratuita – AJG).
Fornecimento pelo Estado de orientação Isenção das despesas que forem
e defesa jurídica, de forma integral e necessárias para que a pessoa
gratuita, a ser prestada pela Defensoria
Pública, em todos os graus, aos necessitada possa defender seus
necessitados (art. 134 da CF). interesses em um processo judicial.
Regulada pela Lei Complementar 80/94. Era regulada pela Lei nº 1.060/50, mas o
CPC 2015 passou a tratar sobre o tema,
revogando quase toda essa lei.

Quem tem direito à gratuidade da justiça? Tem direito à gratuidade da justiça a


pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos
para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios (art. 98 do
CPC-2015).

Quem está abrangido por ela?


 Pessoas físicas (brasileiras ou estrangeiras);
 Pessoas jurídicas (brasileiras ou estrangeiras).

O estrangeiro residente no Brasil tem direito à gratuidade da justiça? SIM. O


estrangeiro residente no Brasil possui direito à gratuidade da justiça. Isso é previsto
no CPC/2015 e também já era garantido na Lei nº 1.060/50.

E o estrangeiro NÃO RESIDENTE no Brasil?


Lei 1.060/50 CPC/2015
Não tinha direito. Possui o direito. Atualmente, pode ser
Só poderia ser deferida a gratuidade da deferida a gratuidade da justiça para
justiça para estrangeiros residentes no estrangeiros residentes ou não-
Brasil. residentes no Brasil.
Art. 2º Gozarão dos benefícios desta Lei Art. 98. A pessoa natural ou jurídica,
os nacionais ou estrangeiros residentes brasileira ou estrangeira, com
no país, que necessitarem recorrer à insuficiência de recursos para pagar as
Justiça penal, civil, militar ou do custas, as despesas processuais e os
trabalho. (Revogado pela Lei honorários advocatícios tem direito à
13.105/2015) gratuidade da justiça, na forma da lei.

A gratuidade da justiça passou a poder ser concedida a


estrangeiro não residente no Brasil após a entrada em vigor
do CPC/2015.
STJ. Corte Especial. Pet 9.815-DF, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 29/11/2017 (Info 622).

E se o pedido de gratuidade foi negado pelo estrangeiro não residente na época do art.
2º da Lei nº 1.060/50 e o processo perdurou durante o CPC/2015?

Exemplo: Em 2015, antes do NCPC, Juan, nacional da Colômbia, residente em Bogotá,


propôs ação no Brasil e requereu a concessão dos benefícios da gratuidade da justiça.
O pedido foi negado pelo fato de ele não ser residente no Brasil, conforme exigia o art.
2º da Lei nº 1.060/50. Juan não se conformou e recorreu contra a decisão. Antes que o
TJ julgasse o recurso, entrou em vigor o CPC/2015.

O TJ poderá aplicar a nova regra do art. 98 e conceder a gratuidade da justiça? SIM.


Isso porque se trata de norma de direito processual, portanto, a sua incidência é
imediata, aplicando-se aos processos em curso, consoante dispõe o artigo 14 do
CPC/2015:
(...) 1. O artigo 2º da Lei 1.060/50 fora revogado pelo Novo
Código de Processo Civil, cuja matéria passou a ser
disciplinada no artigo 98 do CPC/2015 (...)
1.1. Trata-se de norma de direito processual, portanto, a sua
incidência é imediata, aplicando-se aos processos em curso,
consoante dispõe o artigo 14 do CPC/2015.
2. Em que pese à época da apreciação da matéria pelo Tribunal
de piso, a legislação em vigor não prever a possibilidade de
concessão da assistência judiciária ao estrangeiro residente no
exterior, com a vigência das novas regras processuais passou-
se a admitir tal hipótese.
2.1. O caput do artigo 98 do Código de Processo Civil vigente
ampliou o rol dos sujeitos que podem ser beneficiados pela
concessão da assistência judiciária, em relação ao disposto no
revogado artigo 2º da Lei 1.060/50. Portanto, não há qualquer
impeditivo legal à pessoa estrangeira residente no exterior de
postular a assistência judiciária gratuita e ter deu pedido
apreciado pelo juízo. (...)
STJ. 4ª Turma. REsp 1225854/RS, Rel. Min. Marco Buzzi,
julgado em 25/10/2016.

Assim, negado o pedido de gratuidade de justiça, com base no art. 2º da Lei 1.060/50,
vigente à época, o estrangeiro não residente no Brasil pode voltar a formulá-lo, já sob
a vigência do atual CPC.

68.2. Recurso contra a decisão que julga a impugnação à justiça gratuita – (Info 615)

A impugnação à justiça gratuita é feita nos autos do próprio processo ou em autos


apartados?
 Antes do CPC/2015: autos apartados.
 Depois do CPC/2015: nos autos do próprio processo.

Qual é o recurso cabível contra a decisão que acolhe ou rejeita a impugnação à


gratuidade de justiça?
 Antes do CPC/2015: apelação.
 Depois do CPC/2015: agravo de instrumento.

Se a parte ingressou com a impugnação antes do CPC/2015, mas esta somente foi
julgada após a vigência do novo Código, qual é o recurso que deverá ser interposto
contra essa decisão que rejeitou ou acolheu a impugnação?
Agravo de instrumento. Cabe agravo de instrumento contra o provimento
jurisdicional que, após a entrada em vigor do CPC/2015, acolhe ou rejeita incidente
de impugnação à gratuidade de justiça instaurado, em autos apartados, na vigência
do regramento anterior.
Aplica-se aqui o princípio do tempus regit actum, no qual se fundamenta a teoria
do isolamento dos atos processuais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.666.321-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 7/11/17 (Info 615).
OBS:
Garantia de assistência jurídica integral e gratuita: A CF/88 prevê a garantia da
assistência jurídica integral e gratuita em seu art. 5º, LXXIV: “o Estado prestará
assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”.
Esse dispositivo constitucional consagra duas garantias:

I – Assistência jurídica integral e II – Gratuidade da justiça (Assistência


gratuita Judiciária Gratuita – AJG).
Fornecimento pelo Estado de orientação Isenção das despesas que forem
e defesa jurídica, de forma integral e necessárias para que a pessoa
gratuita, a ser prestada pela Defensoria necessitada possa defender seus
Pública, em todos os graus, aos interesses em um processo judicial.
necessitados (art. 134 da CF). Era regulada pela Lei nº 1.060/50, mas o
Regulada pela Lei Complementar 80/94. CPC 2015 passou a tratar sobre o tema,
revogando quase toda essa lei.

Quem tem direito à gratuidade da justiça? Tem direito à gratuidade da justiça a


pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos
para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios (art. 98 do
CPC-2015).

Quem está abrangido por ela?


 Pessoas físicas (brasileiras ou estrangeiras);
 Pessoas jurídicas (brasileiras ou estrangeiras).

A pessoa beneficiada pela justiça gratuita está dispensada do pagamento de quais


verbas? Segundo o § 1º do art. 98 do CPC/2015, a gratuidade da justiça compreende:
I - as taxas ou as custas judiciais;
II - os selos postais;
III - as despesas com publicação na imprensa oficial,
dispensando-se a publicação em outros meios;
IV - a indenização devida à testemunha que, quando
empregada, receberá do empregador salário integral, como se
em serviço estivesse;
V - as despesas com a realização de exame de código genético
- DNA e de outros exames considerados essenciais;
VI - os honorários do advogado e do perito e a remuneração
do intérprete ou do tradutor nomeado para apresentação de
versão em português de documento redigido em língua
estrangeira;
VII - o custo com a elaboração de memória de cálculo, quando
exigida para instauração da execução;
VIII - os depósitos previstos em lei para interposição de
recurso, para propositura de ação e para a prática de outros
atos processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do
contraditório;
IX - os emolumentos devidos a notários ou registradores em
decorrência da prática de registro, averbação ou qualquer
outro ato notarial necessário à efetivação de decisão judicial
ou à continuidade de processo judicial no qual o benefício
tenha sido concedido.

Dispensa parcial: A gratuidade da justiça poderá ser concedida em relação a alguns


ou a todos os atos processuais, ou pode consistir apenas na redução percentual das
despesas processuais que o beneficiário tiver de adiantar no curso do procedimento (§
5º do art. 98 do CPC/2015).

Parcelamento: A depender do caso concreto, o juiz poderá conceder ao requerente o


direito de parcelar as despesas processuais que tiver de adiantar no curso do
procedimento (§ 6º do art. 98 do CPC/2015).

Despesas processuais e honorários advocatícios de sucumbência: Mesmo sendo


beneficiária da justiça gratuita, a pessoa terá que pagar as despesas processuais e os
honorários advocatícios decorrentes de sua sucumbência (§ 2º do art. 98 do
CPC/2015). No entanto, as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob
condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos 5 anos
subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar
que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão
de gratuidade. Em outras palavras, em até 5 anos, o credor deverá demonstrar que o
devedor passou a ter condições de custear tais despesas. Passado esse prazo, tais
obrigações do beneficiário são consideradas extintas (§ 3º do art. 98 do CPC/2015).

Multas processuais: Mesmo sendo beneficiária da justiça gratuita, a pessoa terá o


dever de pagar, ao final, as multas processuais que lhe foram impostas (§ 4º do art. 98
do CPC-2015). Ex: multa por litigância de má-fé.

O juiz poderá conceder de ofício o benefício da assistência judiciária gratuita? NÃO.


É vedada a concessão “ex officio” do benefício de assistência judiciária gratuita pelo
magistrado. Assim, é indispensável que haja pedido expresso da parte (AgRg nos EDcl
no AREsp 167.623/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em
05/02/2013).

Recurso contra a decisão que INDEFERE ou REVOGA o benefício: O juiz pode


indeferir por meio de decisão interlocutória ou na própria sentença.
 Se for por decisão interlocutória: o recurso cabível é o agravo de instrumento.
 Se for por sentença: o recurso será a apelação.

A parte contrária poderá impugnar o pedido de justiça gratuita? SIM. Isso é


comumente chamado de “impugnação à justiça gratuita”, “impugnação à concessão
do benefício de assistência judiciária gratuita” ou “revogação da justiça gratuita”. Veja
como o CPC/2015 trata sobre o tema (art. 100):
A parte poderá oferecer impugnação à justiça gratuita na:
 Na contestação;
 Na réplica;
 Nas contrarrazões do recurso; ou
 Nos casos de pedido superveniente ou formulado por terceiro, a impugnação
será feita por meio de petição simples.

Prazo para oferecimento da impugnação: 15 dias.

A impugnação é feita nos autos do próprio processo ou em autos apartados?


 Antes do CPC/2015: deveria ser feita em autos apartados, formando-se um
incidente de impugnação à assistência judiciária (Lei nº 1.050/60).
 Depois do CPC/2015: deve ser feita nos autos do próprio processo.
Qual é o recurso cabível contra a decisão que acolhe ou rejeita a impugnação à
gratuidade de justiça?
 Antes do CPC/2015: apelação.
 Depois do CPC/2015: agravo de instrumento (exceção: se a impugnação for
decidida na própria sentença, como um de seus capítulos).

Veja o texto do CPC/2015:


Art. 101. Contra a decisão que indeferir a gratuidade ou a que
acolher pedido de sua revogação caberá agravo de
instrumento, exceto quando a questão for resolvida na
sentença, contra a qual caberá apelação.

Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões


interlocutórias que versarem sobre:
(...)
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento
do pedido de sua revogação;

Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação hipotética: João ingressou


com ação contra a empresa “XYZ”. O autor pediu a gratuidade da justiça, o que foi
deferido pelo magistrado. A ré ingressou, então, com impugnação à gratuidade de
justiça. Como isso ocorreu em janeiro/2016, a ré apresentou essa impugnação em
autos apartados, conforme exigia a Lei nº 1.050/60. Em julho/2016, ou seja, já na
vigência do CPC/2015, que revogou quase que integralmente a Lei nº 1.050/60, o juiz
acolheu a impugnação oferecida e revogou o benefício concedido a Joao.

João não se conforma e quer recorrer. Qual deverá ser o recurso interposto por ele para
tentar modificar a decisão que julgou o incidente de impugnação à justiça gratuita?
Agravo de instrumento.

A solução para essa controvérsia envolve a chamada “sucessão de leis processuais no


tempo”. Nesses casos, o STJ adota o princípio do tempus regit actum, no qual se
fundamenta a teoria do isolamento dos atos processuais.
Sobre a teoria dos atos processuais isolados, importante transcrever a lição de
Marinoni e Mitidiero:
(...) 3. Isolamento dos atos processuais. A exata compreensão
da distinção entre efeito imediato e efeito retroativo da
legislação leva à necessidade de isolamento dos atos
processuais a fim de que saiba se a aplicação da legislação
nova importa efeito imediato ou efeito retroativo. A
observação ganha em importância a propósito da aplicação da
lei nova a situações pendentes. O que interessa é saber se do
ato processual advém ou não direito para qualquer dos
participantes do processo. Vale dizer: se há ou não direito
adquirido processual. Nesse caso, a lei nova tem que respeitar
a eficácia do ato processual já praticado. O exemplo clássico
encontra-se no direito recursal. A lei do recurso é a lei do dia
em que se tornou recorrível a decisão. A abertura do prazo
recursal dá lugar a uma situação jurídica pendente: aguarda-
se a interposição ou não do recurso. O recorrente tem direito
à observação do direito vigente à época da abertura do prazo
recursal. Fora daí há ofensa a direito processual adquirido e
efeito retroativo da legislação. (...) (MARINONI, Luiz
Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Código de Processual Civil -
Comentado artigo por artigo. 5ª ed., São Paulo : RT, 2012, p.
997⁄998).

Assim, de acordo com essa teoria - atualmente positivada no art. 14 do CPC/2015 - a


lei processual nova tem aplicação imediata aos processos em desenvolvimento,
resguardando-se, contudo, a eficácia dos atos processuais já realizados na forma da
legislação anterior, bem como as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da
norma revogada. Veja o que diz o CPC:
Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável
imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos
processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas
sob a vigência da norma revogada.

O STJ, acolhendo esse princípio, decidiu que “a lei a reger o recurso cabível e a forma de
sua interposição é aquela vigente à data da publicação da decisão impugnada, ocasião em que o
sucumbente tem a ciência da exata compreensão dos fundamentos do provimento jurisdicional
que pretende combater” (AgInt nos EDcl no AREsp 949.997/AM, 3ª Turma, DJe de
21/09/2017).

No caso examinado, a impugnação à concessão da assistência judiciária gratuita foi


proposta na vigência da Lei 1.050/60. No entanto, a decisão que acolheu a impugnação
e revogou a gratuidade de justiça anteriormente concedida foi proferida já na vigência
do CPC/2015.

Dessa maneira, apesar de instaurado o incidente em autos apartados, o recurso cabível


contra o referido provimento jurisdicional é o agravo de instrumento, segundo a lei
processual vigente à época da prolação da decisão recorrida (CPC/2015).

68.3. O art. 12, § 2º do Estatuto da Cidade estabelece uma presunção relativa de que
o autor da ação de usucapião especial urbana é hipossuficiente – (Info 599) –
IMPORTANTE!!!

O Estatuto da Cidade, ao tratar sobre a ação de usucapião especial urbana, prevê


que "o autor terá os benefícios da justiça e da assistência judiciária gratuita,
inclusive perante o cartório de registro de imóveis."
Isso significa que o autor da ação de usucapião especial urbana gozará sempre da
gratuidade da justiça? Há uma presunção absoluta de que este autor não tem
recursos suficientes para pagar as custas? NÃO.
O art. 12, § 2º da Lei 10.257/01 (Estatuto da Cidade) estabelece uma presunção
relativa de que o autor da ação de usucapião especial urbana é hipossuficiente. Isso
significa que essa presunção pode ser ilidida (refutada) a partir da comprovação
inequívoca de que o autor não é considerado "necessitado".
STJ. 3ª Turma. REsp 1.517.822-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 21/2/17
(Info 599).
OBS:
Por que se diz que o art. 12, § 2º, do Estatuto da Cidade prevê apenas uma presunção
relativa? Porque, segundo o STJ, o art. 12, §2º, da Lei 10.257/01 não pode ser lido
isoladamente, devendo ser interpretado em conjunto e harmonia com as regras sobre
gratuidade da justiça, que estão previstas nos arts. 98 a 102 do CPC/2015. A intenção
do § 2º do art. 12 do Estatuto da Cidade foi a de amparar a população de baixa renda,
que normalmente é aquela a quem a ação de usucapião especial urbana visa proteger,
além de criar uma espécie de presunção inicial da hipossuficiência do autor. Apesar
de a redação da norma não ser muito clara, é possível concluir que a presunção de
hipossuficiência prevista no § 2º do art. 12 é relativa. Assim, o juiz, ao receber a inicial
da usucapião urbana, deverá deferir a gratuidade da justiça pelo simples fato de ter
sido requerida. No entanto, por outro lado, deverá negar o benefício se houver
comprovação inequívoca de que o autor não poderia ser considerado "necessitado",
ou seja, se não preencher os requisitos do art. 98 do CPC/2015:
Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira,
com insuficiência de recursos para pagar as custas, as
despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito
à gratuidade da justiça, na forma da lei.

Dessa forma, o art. 12, § 2º, da Lei 10.257/01 não criou uma hipótese de concessão de
benefícios da justiça gratuita completamente dissociada das normas processuais que
regem o tema. O referido dispositivo legal, portanto, deve ser interpretado em
conjunto e em harmonia com as disposições dos arts. art. 98 a 102 do CPC/2015.

68.4. Possibilidade de concessão de assistência judiciária gratuita ao contratante de


serviços advocatícios ad exitum – (Info 590)

É possível o deferimento de assistência judiciária gratuita a jurisdicionado que


tenha firmado com seu advogado contrato de honorários com cláusula ad exitum.
Obs: cláusula ad exitum (ou quota litis) é aquela na qual fica previsto que o
advogado somente irá receber de seu cliente os honorários advocatícios contratuais
ao final da causa, se esta for exitosa.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.504.432-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, j. 13/9/16 (Info 590).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João propôs ação contra Pedro. Na petição
inicial, o autor requereu os benefícios da justiça gratuita, ou seja, pediu para não pagar
as custas judiciais e as despesas processuais, conforme previsto no art. 98 do
CPC/2015:
Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira,
com insuficiência de recursos para pagar as custas, as
despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito
à gratuidade da justiça, na forma da lei.

O juiz proferiu o seguinte despacho:


"Segundo o art. 98 do CPC/2015, os benefícios da justiça
gratuita somente poderão ser deferidos para o jurisdicionado
que não tenha condições de pagar as custas, as despesas
processuais e os honorários advocatícios. Constato que o autor
está sendo assistido juridicamente por advogado particular.
Logo, presume-se que ele está pagando os honorários deste
profissional ou que ele está trabalhando pro bono.
Diante do exposto, como condição para o deferimento do
benefício, intime-se o autor para que apresente declaração do
advogado de que não está cobrando honorários advocatícios
do requerente, havendo patrocínio gratuito incondicional."
O autor respondeu ao despacho afirmando que celebrou com o advogado contrato ad
exitum, ou seja, ele não pagou nada ainda e o profissional só receberá caso a ação seja
julgada procedente, hipótese na qual o requerente entregará um percentual de 30%
sobre o que vier a receber do réu.

O que acontecerá neste caso? O autor terá direito ao benefício da justiça gratuita?
SIM. É o que decidido no Info 590.

O STJ possui entendimento consolidado no sentido de que a parte que celebrou com
seu advogado contrato de honorários com cláusula ad exitum possui direito de receber
os benefícios da justiça gratuita. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp 1.404.556/RS, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/6/2014.

Essa solução é consentânea com o propósito da Lei, pois garante ao cidadão de poucos
recursos o direito de escolher o advogado que, aceitando o risco de não auferir
remuneração no caso de indeferimento do pedido, melhor represente seus interesses
em juízo.

Além disso, esta exigência feita pelo magistrado de que o advogado deverá apresentar
declaração de patrocínio gratuito incondicional não encontra previsão na lei, tendo
sido, portanto, criado um novo requisito em afronta ao princípio da legalidade (art.
5º, II, da CF/88).

68.5. Prescindibilidade de preparo para a análise de assistência judiciária gratuita


em sede recursal – (Info 574) – IMPORTANTE!!!

É desnecessário o preparo do recurso cujo mérito discute o próprio direito ao


benefício da assistência judiciária gratuita. Não há lógica em se exigir que o
recorrente primeiro recolha o que afirma não poder pagar para só depois a Corte
decidir se faz jus ou não ao benefício.
Assim, não se aplica a pena de deserção a recurso interposto contra o indeferimento
do pedido de justiça gratuita.
Se o recurso diz respeito justamente à alegação do recorrente de que ele não dispõe
de condições econômico-financeiras para arcar com os custos da demanda, não faz
sentido considerá-lo deserto por falta de preparo, uma vez que ainda está sob
análise o pedido de assistência judiciária e, caso seja deferido, neste momento, o
efeito da decisão retroagirá até o período da interposição do recurso e suprirá a
ausência do recolhimento e, caso seja indeferido, deve ser dada oportunidade de
regularização do preparo.
STJ. Corte Especial. AgRg nos EREsp 1.222.355-MG, Rel. Min. Raul Araújo, j. 4/11/15
(Info 574).
OBS: O CPC 2015 adota expressamente a conclusão acima exposta e prevê que o
recorrente não precisará fazer o recolhimento das custas até que haja uma decisão do
relator sobre a questão, antes do julgamento do recurso (art. 101, § 1º).

68.6. Pedido de assistência judiciária gratuita em sede recursal pode ser feito na
própria petição recursal – (Info 574) – ATENÇÃO! MUDANÇA DE
ENTENDIMENTO! ATUALIZE INFO 2013!
É possível a formulação de pedido de assistência judiciária gratuita na própria
petição recursal, dispensando-se a exigência de petição avulsa, quando não houver
prejuízo ao trâmite normal do processo.
STJ. Corte Especial. AgRg nos EREsp 1.222.355-MG, Rel. Min. Raul Araújo, j. 4/11/15
(Info 574).
OBS: O CPC 2015 autoriza expressamente que o pedido de assistência judiciária
gratuita seja formulado a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição, na própria
petição recursal, dispensado, com isso, a retrógrada exigência de petição avulsa.

68.7. Eficácia da concessão de assistência judiciária gratuita – (Info 557) –


IMPORTANTE!!!

Qual é o momento em que deverá ser formulado o pedido de justiça gratuita?


Normalmente o pedido de justiça gratuita é feito na própria petição inicial (no caso
do autor) ou na contestação (no caso do réu). No entanto, a orientação pacífica da
jurisprudência é de que a assistência judiciária gratuita pode ser pleiteada a
qualquer tempo.

Imagine que o juiz conceda o benefício da justiça gratuita logo no início do processo
de conhecimento (ex: na petição inicial ou na contestação). É necessário que a parte
refaça esse pedido quando se iniciarem as outras fases do processo (ex: na fase de
recurso, na fase de execução etc.) ou caso tenha incidentes processuais?
NÃO. Quando a assistência judiciária gratuita for deferida, a eficácia da concessão
do benefício prevalecerá, independentemente de renovação de seu pedido, em
todas as instâncias e para todos os atos do processo – alcançando, inclusive, as ações
incidentais ao processo de conhecimento, os recursos, as rescisórias, assim como o
subsequente processo de execução e eventuais embargos à execução.
Assim, depois de a justiça gratuita ter sido concedida, ela irá perdurar
automaticamente até o final do processo, e só perderá sua eficácia se o juiz ou o
Tribunal expressamente revogarem caso tenha comprovadamente melhorado a
condição econômico-financeira do beneficiário.
Ex: João ajuizou ação de indenização contra Pedro e pediu o benefício da justiça
gratuita, o que foi deferido pelo magistrado logo na decisão inicial. O juiz julgou
o pedido improcedente. João interpôs apelação. O autor não precisará recolher as
custas porque já lhe foi deferida justiça gratuita (e isso ainda está valendo). No
recurso proposto, João não necessita pedir novamente o benefício. Imaginemos que
o Tribunal condene Pedro a pagar a indenização. No momento do cumprimento de
sentença (fase de execução), João continuará tendo direito à justiça gratuita mesmo
que não faça novo pedido nesse sentido.
STJ. Corte Especial. AgRg nos EAREsp 86.915-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em
26/2/2015 (Info 557).

68.8. Beneficiário da justiça gratuita tem direito de requerer auxílio da contadoria


judicial para elaboração de seus cálculos – (Info 540)

O beneficiário da assistência judiciária, ainda que seja representado pela


Defensoria Pública, pode se utilizar do serviço de contador judicial para apuração
do crédito que será objeto de execução, independentemente da complexidade dos
cálculos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.200.099-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 6/5/2014 (Info 540).
OBS:
CPC/2015: O professor Márcio Cavalcante acredita que o entendimento acima exposto
permanece válido com o novo CPC, apesar de não existir no CPC/2015 um dispositivo
com redação semelhante ao art. 475-B, § 3º do CPC/1973.

68.9. Concessão de ofício do benefício de assistência judiciária gratuita pelo juiz

É vedada a concessão “ex officio” do benefício de assistência judiciária gratuita pelo


magistrado. Assim, é indispensável que haja pedido expresso da parte.
STJ. AgRg nos EDcl no AREsp 167.623/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta
Turma, j. 05/02/2013.

69. PROCESSO COLETIVO


69.1. Legitimidade do Município para defesa dos consumidores – (Info 626) –
IMPORTANTE!!!

Município tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa de
direitos consumeristas questionando a cobrança de tarifas bancárias.
Em relação ao Ministério Público e aos entes políticos, que têm como finalidades
institucionais a proteção de valores fundamentais, como a defesa coletiva dos
consumidores, não se exige pertinência temática e representatividade adequada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1509586-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/5/18 (Info 626).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: O Município de Brusque (SC) ajuizou ação
civil pública contra o HSBC Bank Brasil S.A. alegando que seria ilegal uma tarifa
bancária denominada “renovação de cadastro” que estava sendo cobrada das contas
bancárias. O banco contestou a demanda alegando, entre outros argumentos, que o
Município não tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa
de direitos consumeristas questionando a cobrança de uma tarifa bancária.

O que decidiu o STJ? O Município tem legitimidade? SIM. É o que foi decidido no
Info 626 do STJ.

A legitimidade extraordinária dos entes políticos: Os entes federativos ou políticos,


enquanto gestores da coisa pública e do bem comum, são, em tese, os maiores
interessados na defesa dos interesses metaindividuais, considerando que o Estado
“tem por fim o bem comum de um povo situado em um determinado território”
(DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral do estado. São Paulo: Saraiva,
1999, p. 100). Assim, na defesa do bem comum do povo, cabe aos órgãos públicos
promover a tutela dos interesses da população. Trata-se, em verdade, de dever-poder,
o que impõe aos entes políticos o dever de agir na defesa de interesses
metaindividuais. Ademais, a legitimação dos entes políticos para a defesa de
interesses metaindividuais é justificada pela qualidade de sua estrutura, capaz de
conferir maior probabilidade de êxito na implementação da tutela coletiva.

Pertinência temática e representatividade adequada dos entes políticos: No caso de


ação civil pública proposta por ente político, a pertinência temática ou
representatividade adequada são presumidas. Isso porque não há dúvidas de que os
entes políticos possuem, dentre suas finalidades institucionais, a defesa coletiva dos
consumidores. Trata-se, inclusive, de um comando constitucional:
Art. 5º (...)
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do
consumidor;

Aliás, no que se refere especificamente à defesa de interesses individuais


homogêneos dos consumidores, o Município é o ente político que terá maior contato
com as eventuais lesões cometidas contra esses interesses, pois, “por certo, será no
Município que esses fatos ensejadores da ação civil pública se farão sentir com maior
intensidade [...] em face da proximidade, da imediatidade entre ele e seus
munícipes” (LEONEL, Ricardo de Barros. Manual do Processo Coletivo. 3ª ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 165).

Como foi cobrado em concursos:


 “A ação civil pública não poderá ser proposta pelos Estados e Municípios”.
(Analista Judiciário – TRF3 – FCC- 2007 – Falso)
 “O Município não tem legitimidade para propor ação civil pública”.
(Procurador Municipal de Poá-SP – VUNESP – 2014 – Falso).
 “Têm legitimidade para propor a ação civil pública, dentre outros, os
Municípios”. (Analista Judiciário – TRT 11a – FCC – 2017 – Verdadeiro).

69.2. Súmula 601 do STJ – (Info 618)

Súmula 601-STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa
de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos dos consumidores, ainda
que decorrentes da prestação de serviço público.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 07/02/2018, DJe 14/02/2018 (Info 618).
OBS:
Legitimidade do Ministério Público para a ACP: O MP está legitimado a promover
ação civil pública para a defesa de direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos. No entanto, o MP somente terá representatividade adequada para
propor a ACP se os direitos/interesses discutidos na ação estiverem relacionados
com as suas atribuições constitucionais, que são previstas no art. 127 da CF:
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente,
essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a
defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis.

Desse modo, indaga-se: o MP possui legitimidade para ajuizar ACP na defesa de


qualquer direito difuso, coletivo ou individual homogêneo? O entendimento
majoritário está exposto a seguir:

Direitos Direitos Direitos


DIFUSOS COLETIVOS (stricto sensu) INDIVIDUAIS
HOMOGÊNEOS

SIM SIM 1) Se esses direitos forem


indisponíveis: SIM
O MP está sempre O MP está sempre (ex: saúde de um menor)
legitimado a defender legitimado a defender
qualquer direito difuso. qualquer direito coletivo. 2) Se esses direitos forem
disponíveis: DEPENDE
(o MP sempre possui (o MP sempre possui O MP só terá legitimidade
representatividade representatividade para ACP envolvendo
adequada). adequada). direitos individuais
homogêneos disponíveis se
estes forem de interesse
social (se houver relevância
social).

Quatro conclusões importantes:


1) Se o direito for difuso ou coletivo (stricto sensu), o MP sempre terá legitimidade
para propor ACP (há posições em sentido contrário, mas é o que prevalece).
2) Se o direito individual homogêneo for indisponível (ex: saúde de um menor
carente), o MP sempre terá legitimidade para propor ACP.
3) Se o direito individual homogêneo for disponível, o MP pode agir desde que haja
relevância social.
Ex1: defesa dos interesses de mutuários do Sistema Financeiro de
Habitação.
Ex2: defesa de trabalhadores rurais na busca de seus direitos
previdenciários.

4) O Ministério Público possui legitimidade para a defesa de direito individual


indisponível mesmo quando a ação vise à tutela de pessoa individualmente
considerada (tutela do direito indisponível relativo a uma única pessoa).
Ex: MP ajuíza ACP para que o Estado forneça uma prótese auditiva a um
menor carente portador de deficiência.

Assim, o MP sempre terá legitimidade quando os direitos envolvidos:


 Revestirem-se de interesse social; ou
 Caracterizarem-se como individuais indisponíveis.

Exemplos de direitos individuais homogêneos dotados de relevância social


(Ministério Público pode propor ACP nesses casos):
1) MP pode questionar edital de concurso público para diversas categorias
profissionais de determinada Prefeitura, em que se previa que a pontuação adotada
privilegiaria candidatos que já integrariam o quadro da Administração Pública
municipal (STF RE 216443);
2) na defesa de mutuários do Sistema Financeiro de Habitação (STF AI 637853 AgR);
3) em caso de loteamentos irregulares ou clandestinos, inclusive para que haja
pagamento de indenização aos adquirentes (REsp 743678);
4) o Ministério Público tem legitimidade para figurar no polo ativo de ACP destinada
à defesa de direitos de natureza previdenciária (STF AgRg no AI 516.419/PR);
5) o Ministério Público tem legitimidade para propor ACP com o objetivo de anular
Termo de Acordo de Regime Especial - TARE firmado entre o Distrito Federal e
empresas beneficiárias de redução fiscal. O referido acordo, ao beneficiar uma
empresa privada e garantir-lhe o regime especial de apuração do ICMS, poderia, em
tese, implicar lesão ao patrimônio público, fato que legitima a atuação do parquet na
defesa do erário e da higidez da arrecadação tributária (STF RE 576155/DF);
6) o MP tem legitimação para, por meio de ACP, pretender que o Poder Público
forneça medicação de uso contínuo, de alto custo, não disponibilizada pelo SUS, mas
indispensável e comprovadamente necessária e eficiente para a sobrevivência de um
único cidadão desprovido de recursos financeiros;
7) defesa do direito dos consumidores de não serem incluídos indevidamente nos
cadastros de inadimplentes (REsp 1.148.179-MG).

Exemplos de direitos individuais homogêneos destituídos de relevância social


(Ministério Público NÃO pode propor ACP nesses casos):
1) o MP não pode ajuizar ACP para veicular pretensões que envolvam tributos
(impostos, taxas etc.), contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo
de Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários
podem ser individualmente determinados (art. 1º, parágrafo único, da LACP). Ex: o
MP não pode propor ACP questionando a cobrança excessiva de uma determinada
taxa, ainda que envolva um expressivo número de contribuintes;
2) “O Ministério Público não tem legitimidade ativa para propor ação civil pública na
qual busca a suposta defesa de um pequeno grupo de pessoas - no caso, dos associados
de um clube, numa óptica predominantemente individual.” (STJ REsp 1109335/SE);
3) o MP não pode buscar a defesa de condôminos de edifício de apartamentos contra
o síndico, objetivando o ressarcimento de parcelas de financiamento pagas para
reformas afinal não efetivadas.

E no caso de direitos dos consumidores? O Ministério Público poderá defender em


juízo direitos individuais homogêneos dos consumidores? SIM. O MP possui
legitimidade para promover ação civil pública para tutelar não apenas direitos difusos
ou coletivos de consumidores, mas também direitos individuais homogêneos. Trata-
se de legitimação que decorre, de forma genérica, dos arts. 127 e 129, III da CF/88 e,
de modo específico, do art. 82, I do CDC:
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são
legitimados concorrentemente:
I - o Ministério Público;
(...)
Art. 81. (...)
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se
tratar de:
(...)
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim
entendidos os decorrentes de origem comum.

Vimos acima que o MP somente tem legitimidade para defender direitos individuais
homogêneos caso estes sejam indisponíveis ou tenham relevância social. E no caso
dos direitos individuais homogêneos relacionados com direitos dos consumidores?
Prevalece o entendimento de que “a proteção coletiva dos consumidores constitui
não apenas interesse individual do próprio lesado, mas interesse da sociedade como
um todo. Realmente, é a própria Constituição que estabelece que a defesa dos
consumidores é princípio fundamental da atividade econômica (CF, art. 170, V), razão
pela qual deve ser promovida, inclusive pelo Estado, em forma obrigatória (CF, art.
5º, XXXII). Não se trata, obviamente, da proteção individual, pessoal, particular,
deste ou daquele consumidor lesado, mas da proteção coletiva, considerada em sua
dimensão comunitária e impessoal.
Compreendida a cláusula constitucional dos interesses sociais
(art. 127) nessa dimensão, não será difícil concluir que nela
pode ser inserida a legitimação do MP para a defesa de
‘direitos individuais homogêneos’ dos consumidores, o que
dá base de legitimidade ao art. 82, I da Lei nº 8.078/90 (...)”
(voto do falecido Min. Teori Zavascki no REsp 417.804/PR, DJ
16/05/2005).

“A tutela efetiva de consumidores possui relevância social


que emana da própria Constituição Federal (arts. 5º, XXXII, e
170, V).” (STJ. 3ª Turma. REsp 1254428/MG, Rel. Min. João
Otávio de Noronha, julgado em 02/06/2016).

Assim, “o Ministério Público ostenta legitimidade ativa para


a propositura de Ação Civil Pública objetivando resguardar
direitos individuais homogêneos dos consumidores.” (STJ.
2ª Turma. AgInt no REsp 1569566/MT, Rel. Min. Herman
Benjamin, j. 7/3/17).

Os direitos dos consumidores muitas vezes são disponíveis (ex: direitos


patrimoniais). Mesmo assim, o Ministério Público terá legitimidade para a ação civil
pública em tais casos? O MP tem legitimidade para a defesa de direitos individuais
homogêneos de consumidores mesmo que estes sejam direitos disponíveis? SIM.
O MP tem legitimidade ativa para a propositura de ação civil
pública destinada à defesa de direitos individuais
homogêneos de consumidores, ainda que disponíveis, pois
se está diante de legitimação voltada à promoção de valores
e objetivos definidos pelo próprio Estado (STJ. 3ª Turma.
REsp 1254428/MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j.
02/06/2016).

A relação de consumo pode se dar com o Poder Público. Em outras palavras, o Estado
presta serviços públicos a uma infinidade de consumidores. Neste caso, o Ministério
Público possui legitimidade para a defesa em juízo dos direitos individuais
homogêneos desses consumidores? SIM. Com mais razão ainda. O MP possui
legitimidade para promover ação civil pública para tutelar não apenas direitos difusos
ou coletivos de consumidores, mas também direitos individuais homogêneos,
inclusive quando decorrentes da prestação de serviços públicos (STJ. 1ª Turma. REsp
929.792/SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 18/02/2016).

Ex: ACP proposta pelo MP contra o Município e contra a empresa concessionária do


serviço público de transporte de passageiros questionando o reajuste da tarifa de
ônibus, que teria sido abusivo, violando os direitos individuais homogêneos dos
consumidores.

A explicação da súmula já acabou. Vamos agora relembrar o que são direitos difusos,
coletivos e individuais homogêneos:
Gênero: os direitos ou interesses coletivos (lato sensu) são o gênero. Eles são
chamados de direitos ou interesses transindividuais, metaindividuais ou
supraindividuais.

Espécies: esses direitos coletivos (em sentido amplo) são divididos em três espécies:
COLETIVOS INDIVIDUAIS
DIFUSOS
(em sentido estrito) HOMOGÊNEOS
Ex: determinado lote de um
Ex: direito ao meio ambiente Ex: reajuste abusivo das
remédio causou lesão a alguns
ecologicamente equilibrado. mensalidades escolares.
consumidores.
São classificados como
São classificados como São classificados como direitos
direitos direitos ACIDENTALMENTE
ESSENCIALMENTE ESSENCIALMENTE COLETIVOS (isso porque são
COLETIVOS. COLETIVOS. direitos individuais, mas tratados
como se fossem coletivos).
Há uma
transindividualidade
São transindividuais (há São transindividuais (há ARTIFICIAL, formal ou
uma transindividualidade uma transindividualidade relativa (são direitos
real ou material). real ou material). individuais que, no entanto,
recebem tratamento legal de
direitos transindividuais).

Têm natureza
Têm natureza Têm natureza DIVISÍVEL.
INDIVISÍVEL.
INDIVISÍVEL.
Tais direitos pertencem a O resultado da demanda pode
O resultado será o mesmo
todos de forma simultânea e ser diferente para os diversos
para aqueles que fizerem
indistinta. titulares (ex: o valor da
parte do grupo, categoria ou
O resultado será o mesmo indenização pode variar).
classe de pessoas.
para todos os titulares.
Os titulares são pessoas:
Os titulares são pessoas:
• indeterminadas e Os titulares são pessoas:
• indeterminadas,
• indetermináveis. • determinadas; ou
• mas determináveis.
• determináveis.
Não se tem como
Os titulares são, a
determinar (dizer de
princípio, indeterminados,
maneira específica) quem
mas é possível que eles
são os titulares desses
sejam identificados.
direitos. Isso porque são
Os titulares fazem parte de
direitos que não pertencem
um grupo, categoria ou
a apenas uma pessoa, mas
classe de pessoas.
sim à coletividade.
Caracterizam-se, portanto,
Caracterizam-se, portanto,
Caracterizam-se, portanto, pela
pela indeterminabilidade
pela indeterminabilidade DETERMINABILIDADE.
RELATIVA.
ABSOLUTA.
Os titulares desses direitos
EXISTE uma relação
NÃO possuem relação
jurídica base entre os
jurídica entre si.
titulares.
Os titulares não são ligados
Os titulares são ligados por entre si, mas seus interesses
Os titulares são ligados
CIRCUNSTÂNCIAS DE decorrem de uma ORIGEM
entre si ou com a parte
FATO. COMUM.
contrária em virtude de
Os titulares se encontram
uma RELAÇÃO
em uma situação de fato
JURÍDICA BASE.
comum.
Outros exemplos:
interesses ligados aos Outros exemplos:
Outros exemplos:
membros de um mesmo Ex: pílula de farinha como
patrimônio histórico;
sindicato ou partido; anticoncepcional: só tem
moralidade administrativa;
integrantes de um mesmo direito a mulher que
publicidade enganosa
conselho profissional (ex: comprovar que tomou o
divulgada pela TV.
OAB). remédio daquele lote.
O MP tem legitimidade
para promover ACP cujo
fundamento seja a
ilegalidade de reajuste de
mensalidades escolares
(Súmula 643-STF).

Atenção: a definição legal dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais


homogêneos é fornecida pelo art. 81, parágrafo único do CDC.

69.3. Associação de defesa do consumidor não tem legitimidade para ajuizar ACP
discutindo DPVAT – (Info 618) – IMPORTANTE!!!

Uma associação que tenha fins específicos de proteção ao consumidor não possui
legitimidade para o ajuizamento de ação civil pública com a finalidade de tutelar
interesses coletivos de beneficiários do seguro DPVAT. Isso porque o seguro
DPVAT não tem natureza consumerista, faltando, portanto, pertinência temática.
STJ. 2ª Seção. REsp 1091756-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio
Bellizze, j. 13/12/17 (Info 618).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Uma associação chamada “Movimento das
donas de casa e consumidores de Minas Gerais” ajuizou ação civil pública contra a “Sul
América Seguros” alegando que esta seguradora, quando vai pagar as indenizações
do DPVAT, não tem adotado os critérios corretos para o cálculo dos valores, de forma
que tem pagado menos do que os beneficiários teriam direito. A seguradora alegou
que a autora seria parte ilegítima para a causa. Isso porque o estatuto desta associação
prevê que a sua finalidade é a defesa dos consumidores e a relação jurídica dos
beneficiários com as seguradoras do DPVAT não é de consumo. Logo, o pedido
formulado pela associação não teria relação com a sua finalidade estatutária.

A tese da seguradora foi aceita pelo STJ? SIM. Uma associação que tenha fins
específicos de proteção ao consumidor não possui legitimidade para o ajuizamento
de ação civil pública com a finalidade de tutelar interesses coletivos de beneficiários
do seguro DPVAT. STJ. 2ª Seção. REsp 1.091.756-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd.
Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/12/2017 (Info 618).

DPVAT não é uma relação de consumo: O seguro DPVAT não é baseado em uma
relação jurídica contratual. Trata-se de um seguro obrigatório por força de lei, que
tem por objetivo mitigar os danos advindos da circulação de veículos automotores.
Em se tratando de obrigação imposta por lei, não há, por conseguinte, qualquer acordo
de vontade e, principalmente, voluntariedade entre o proprietário do veículo e as
seguradoras componentes do consórcio do seguro DPVAT, o que, por si, evidencia
que não se trata de contrato. A estipulação da indenização securitária em favor da
vítima do acidente, assim como as específicas hipóteses de cabimento (morte,
invalidez permanente, total e parcial, e por despesas de assistência médica e
suplementares) decorrem exclusivamente de imposição legal, e, como tal, não
comportam qualquer temperamento das partes envolvidas. Nesse contexto, não há,
por parte das seguradoras integrantes do consórcio do seguro DPVAT, responsáveis
por realizarem o pagamento, qualquer ingerência nas regras relativas à indenização
securitária. Ao contrário do que ocorre no caso de seguro facultativo (esta, sim, sujeita
ao CDC), a atuação das seguradoras integrantes do consórcio do seguro DPVAT não
é concorrencial nem se destina à obtenção de lucro, na medida em que a respectiva
arrecadação possui destinação legal específica. Tampouco seria possível falar em
vulnerabilidade, na acepção técnico-jurídica, das vítimas de acidente de trânsito - e
muito menos do proprietário do veículo a quem é imposto o pagamento do "prêmio"
do seguro DPVAT - perante as seguradoras, as quais não possuem qualquer margem
discricionária para efetivação do pagamento da indenização securitária, sempre que
presentes os requisitos estabelecidos na lei. Em suma, não há relação de consumo
entre as vítimas do acidente ou beneficiárias e as seguradoras do DPVAT, não se
aplicando as normas protetivas do Código de Defesa do Consumidor. Nesse sentido:
STJ. 3ª Turma. REsp 1.635.398-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 17/10/17 (Info
614).

Associação tem por finalidade a defesa do consumidor: Como não há, no caso, uma
relação de consumo, não se mostra correto aceitar que uma associação que tem fins
específicos de proteção ao consumidor possa ter legitimidade para propor uma ação
civil pública fazendo pedido relacionado com o tema.

O requisito da “pertinência temática” constitui um dos critérios para verificação da


chamada “representatividade adequada” do grupo lesado, traduzindo-se na
necessidade de que haja uma relação de congruência entre as finalidades
institucionais da associação (expressamente enumeradas no estatuto social) e o
conteúdo da pretensão. No presente caso é muito clara a ausência de pertinência
temática considerando que as finalidades institucionais da associação (defesa do
consumidor) não estão relacionadas com o seguro DPVAT (que não tem natureza
consumerista).

69.4. Não se aplica a remessa necessária do art. 19 da LAP para as ações coletivas
tutelando direitos individuais homogêneos – (Info 612)

Não se admite o cabimento da remessa necessária, tal como prevista no art. 19 da


Lei 4.717/65, nas ações coletivas que versem sobre direitos individuais homogêneos.
Ex: ação proposta pelo MP tutelando direitos individuais homogêneos de
consumidores.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.374.232-ES, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 26/9/17 (Info 612).
OBS:
Noções gerais sobre o reexame necessário: O chamado “reexame necessário” ou
“duplo grau de jurisdição obrigatório” é um instituto previsto no art. 496 do
CPC/2015 e em algumas leis esparsas:
Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não
produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal,
a sentença:
I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os
Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de
direito público;
II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos
à execução fiscal.
§ 1º Nos casos previstos neste artigo, não interposta a apelação
no prazo legal, o juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunal,
e, se não o fizer, o presidente do respectivo tribunal avocá-los-
á.
§ 2º Em qualquer dos casos referidos no § 1o, o tribunal julgará
a remessa necessária.

Deixa eu explicar melhor:


- Se a sentença proferida pelo juiz de 1ª instância: a) for contra a Fazenda Pública; ou
b) julgar procedentes os embargos do devedor na execução fiscal (o que também é
uma sentença contra a Fazenda Pública);
- Essa sentença deverá ser, obrigatoriamente, reexaminada pelo Tribunal de 2º grau
(Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal);
- Mesmo que a Fazenda Pública não recorra;
- E, enquanto não for realizado o reexame necessário, não haverá trânsito em julgado.

Obs: o reexame necessário não possui natureza jurídica de recurso. Desse modo, é
tecnicamente incorreto denominar este instituto de “recurso ex officio”, “recurso de
ofício” ou “recurso obrigatório”.

Exceções ao reexame necessário: O CPC prevê, em dois parágrafos, situações em que,


mesmo a sentença se enquadrando nos incisos do art. 496, não haverá a
obrigatoriedade do reexame necessário:
§ 3º Não se aplica o disposto neste artigo quando a condenação
ou o proveito econômico obtido na causa for de valor certo e
líquido inferior a:
I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas
autarquias e fundações de direito público;
II - 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o
Distrito Federal, as respectivas autarquias e fundações de
direito público e os Municípios que constituam capitais dos
Estados;
III - 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais
Municípios e respectivas autarquias e fundações de direito
público.
§ 4º Também não se aplica o disposto neste artigo quando a
sentença estiver fundada em:
I - súmula de tribunal superior;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo
Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos
repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de
demandas repetitivas ou de assunção de competência;
IV - entendimento coincidente com orientação vinculante
firmada no âmbito administrativo do próprio ente público,
consolidada em manifestação, parecer ou súmula
administrativa.

Reexame necessário “invertido” previsto na Lei de Ação Popular: A Lei nº 4.717/65


prevê que se o juiz concluir pela carência ou pela improcedência da ação popular, essa
sentença estará sujeita ao reexame necessário. Veja:
Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela
improcedência da ação está sujeita ao duplo grau de
jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada
pelo tribunal; da que julgar a ação procedente caberá apelação,
com efeito suspensivo.
Assim, quando a sentença da ação popular for procedente, não haverá reexame
necessário. Perceba, portanto, que o art. 19 inverte a lógica da remessa necessária do
CPC. Pelo CPC, se a Fazenda “perde”, haverá reexame. Na ação popular, o reexame
necessário ocorre se o cidadão perde. Em virtude disso, podemos dizer que esse art.
19 traz uma hipótese de duplo grau de jurisdição invertido, ou seja, um duplo grau
que ocorre em favor do cidadão (e não necessariamente da Fazenda Pública).

É possível aplicar esse art. 19 da Lei nº 4.717/65 para as ações de IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA? SIM. A sentença que concluir pela carência ou pela
improcedência de ação de improbidade administrativa está sujeita ao reexame
necessário, com base na aplicação subsidiária do CPC e por aplicação analógica da
primeira parte do art. 19 da Lei nº 4.717/65. STJ. 1ª Seção. EREsp 1.220.667-MG, Rel.
Min. Herman Benjamin, julgado em 24/5/2017 (Info 607).

É possível aplicar esse art. 19 da Lei nº 4.717/65 para as AÇÕES CIVIS PÚBLICAS?
Em regra, sim. O STJ entende que é possível aplicar, por analogia, a primeira parte do
art. 19 da Lei nº 4.717/65 para as sentenças de improcedência de ação civil pública.
Nesse sentido: STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1596028/MG, Rel. Min. Og Fernandes,
julgado em 26/09/2017.

Existe, contudo, uma exceção:


Não se admite o cabimento da remessa necessária, tal como
prevista no art. 19 da Lei nº 4.717/65, nas ações coletivas que
versem sobre direitos individuais homogêneos. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.374.232-ES, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
26/09/2017 (Info 612).

Ex: ação proposta pelo Ministério Público pleiteando a defesa dos direitos dos
consumidores contra empresa de seguros.
Se forem analisadas as razões que levaram o STJ a considerar que deveria ser aplicado
o art. 19 da Lei da Ação Popular às ações civis públicas, será possível concluir que isso
ocorreu em virtude da transindividualidade dos direitos nela tutelados, de forma que
a sua relevância para a coletividade como um todo justificaria esse cuidado.
No entanto, em caso de ações coletivas que tutelam direitos individuais
homogêneos, não se observa essa necessidade. Isso porque os direitos individuais
homogêneos são apenas acidentalmente coletivos, não sendo transindividuais nem
atingindo a coletividade como um todo.

69.5. MP não pode obter, em ACP, informações bancárias sobre os clientes da


instituição porque estas são protegidas pelo sigilo bancário – (Info 607)

O exercício da legitimação extraordinária, conferida para tutelar direitos


individuais homogêneos em ação civil pública, não pode ser estendido para abarcar
a disposição de interesses personalíssimos, tais como a intimidade, a privacidade e
o sigilo bancário dos substituídos.
Configura quebra de sigilo bancário a decisão judicial que antecipa os efeitos da
tutela para determinar que o banco forneça os dados cadastrais dos correntistas que
assinaram determinado tipo de contrato, a fim de instruir ação civil pública.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.611.821-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 13/6/17 (Info
607).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Segundo indícios que chegaram ao
conhecimento do Ministério Público, o consumidor que procurava o Banco “XXX”
para obter um empréstimo era obrigado a também fazer um contrato de seguro de
vida, o que configura venda casada, prática vedada pelo CDC (art. 39, I). Diante disso,
o MP ajuizou ação civil pública contra este banco pedindo, como tutela provisória de
urgência, que a instituição financeira fornecesse os nomes e endereços dos
consumidores que assinaram, nos anos de 2012 e 2013, de forma simultânea (ou
sucessiva), contrato de empréstimo bancário e contrato de seguro de vida.

O magistrado deverá deferir o pedido da instituição financeira? NÃO.

Quebra do sigilo: Fornecer a informação de quem contratou com o banco


genericamente resulta em quebra não autorizada do sigilo bancário dos clientes que
sequer participam diretamente da ação judicial. Os dados cadastrais dos clientes são
abrangidos pela proteção do sigilo bancário, nos termos do que preconiza o art. 1º, da
LC 105/2001. Muito embora não se trate de proteção absoluta, as limitações impostas
ao dever legal de sigilo devem ser interpretadas de forma restritiva e sempre com
muita prudência.

Ministério Público, mesmo gozando de legitimidade extraordinária, não pode decidir


sobre o sigilo do consumidor: É certo que o próprio consumidor pode afastar o sigilo,
ou seja, ele mesmo poderia requerer judicialmente as informações bancárias a seu
respeito e o banco não poderia recusar. Por outro lado, não se pode aceitar que o MP,
ainda que atuando sob o pálio da legitimidade extraordinária, queira afastar uma
garantia personalíssima dos consumidores requerendo a divulgação irrestrita de
dados protegidos. Ainda que o intuito declarado pelo Parquet seja tão somente o de
colher provas que demonstrem a realização de venda casada, não se pode aceitar
tamanha invasão indiscriminada à intimidade do consumidor.

Direitos individuais homogêneos: Deve-se ainda ter em mente que a pretensão


veiculada na presente demanda tem por objetivo a tutela de direitos individuais
homogêneos – direitos acidentalmente coletivos – atuando o MP como mero
substituto processual das vítimas da conduta abusiva. Desse modo, enquanto
legitimado extraordinário, não lhe é dado atuar de forma dispositiva, abrindo mão de
interesses personalíssimos, em nome de quem é por ele substituído na demanda.

69.6. Mesmo sem 1 ano de constituição, associação poderá ajuizar ACP para que
fornecedor preste informações ao consumidor sobre produtos com glúten – (Info 591)

Como regra, para que uma associação possa propor ACP, ela deverá estar
constituída há pelo menos 1 ano.
Exceção. Este requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz quando
haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do
dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido (§ 4º do art. 5º da Lei nº
7.347/85). Neste caso, a ACP, mesmo tendo sido proposta por uma associação com
menos de 1 ano, poderá ser conhecida e julgada.
Como exemplo da situação descrita no § 4º do art. 5º, o STJ decidiu que:
É dispensável o requisito temporal (pré-constituição há mais de um ano) para
associação ajuizar ação civil pública quando o bem jurídico tutelado for a prestação
de informações ao consumidor sobre a existência de glúten em alimentos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.600.172-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 15/9/16 (Info 591).
OBS:
Quem são os legitimados para propor ação civil pública? O rol dos legitimados para
a ACP está previsto no art. 5º da Lei nº 7.347/85:
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação
cautelar:
I - o Ministério Público;
II - a Defensoria Pública;
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de
economia mista;
V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da
lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao
patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao
consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos
direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao
patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

Requisito da pré-constituição
 REGRA: como vimos acima, para que uma associação possa propor ACP, ela
deverá estar constituída há pelo menos 1 ano.
 EXCEÇÃO: este requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz
quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou
característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido (§ 4º
do art. 5º da Lei 7.347/85). Neste caso, a ACP, mesmo tendo sido proposta por
uma associação com menos de 1 ano, poderá ser conhecida e julgada.

Imagine agora a seguinte situação: Determinada associação de defesa do consumidor


ajuizou ACP contra uma rede de lanchonetes requerendo que ela fosse obrigada a
informar, nas embalagens e rótulos de seus produtos, sempre que houvesse a presença
de glúten na composição. Isso com o objetivo de garantir a segurança dos portadores
da doença celíaca. O juiz extinguiu a ação sem resolução do mérito afirmando que a
associação autora não era parte legítima, já que não cumpriu o requisito do art. 5º, V,
"a", da Lei 7.347/85 (pré-constituição há pelo menos 1 ano). A associação interpôs
recurso contra a decisão e o tema chegou até o STJ.

A decisão do juiz foi correta, segundo o STJ? NÃO. O STJ entendeu que o juiz deveria
ter dispensado o requisito temporal de 1 ano da associação, considerando que está
presente no caso o interesse social evidenciado pela dimensão do dano e pela
relevância do bem jurídico tutelado. É fundamental assegurar os direitos de
informação e segurança ao consumidor celíaco, que se vê forçado a seguir uma dieta
isenta de glúten, sob pena de sofrer graves riscos à saúde. Desse modo, a pretensão
veiculada na ACP, em última análise, tem por objetivo a garantia de uma vida digna
para esse grupo de pessoas.

Uma última pergunta correlata. Suponha que determinada associação, quando


propôs a ACP, não tinha ainda 1 ano de constituição. No entanto, ela completa este
tempo no curso do feito, antes que o juiz extinga o processo por ilegitimidade. Neste
caso, a falta desse requisito é suprida? O magistrado poderá continuar com o
processo? SIM. Em observância aos princípios da economia processual e efetividade
da jurisdição, deve ser reconhecida a legitimidade ativa da associação que complete 1
ano de constituição durante o curso do processo (STJ. 3ª Turma. REsp 705.469/MS,
Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 16/06/05).

69.7. Cabe ACP com o objetivo de proibir tráfico de veículos pesados no Município
– (Info 591) – IMPORTANTE!!!

É cabível ação civil pública proposta por Ministério Público Estadual para pleitear
que Município proíba máquinas agrícolas e veículos pesados de trafegarem em
perímetro urbano deste e torne transitável o anel viário da região.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.294.451-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 1/9/16 (Info 591).
OBS:
Poder Judiciário pode intervir quando a Administração deixa de promover políticas
públicas: Os Poderes da República são independentes e harmônicos entre si (art. 2º da
CF/88). O Poder Executivo tem prioridade na implementação de políticas públicas.
No entanto, em termos abstratos, o ordenamento jurídico em vigor permite que o
Poder Judiciário seja chamado a intervir em situações nas quais exista uma ação ou
uma omissão ilegítima do administrador público. Assim, não é vedado ao Poder
Judiciário debater o mérito administrativo. Se a Administração deixar de promover
políticas públicas, de proteger hipossuficientes, de garantir o funcionamento dos
serviços públicos, haverá vício ou flagrante ilegalidade a justificar a intervenção
judicial (STJ. 2ª Turma. REsp 1176552/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
22/02/2011).

ACP é o meio próprio de se buscar a implementação de políticas públicas com


relevante repercussão social: O STJ tem admitido o debate de políticas públicas no
bojo de ações civis públicas propostas pelo MP:
(...) O Ministério Público detém legitimidade ativa para o
ajuizamento de ação civil pública que objetiva a
implementação de políticas públicas ou de repercussão social,
como o saneamento básico ou a prestação de serviços
públicos. (...)
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 50.151/RJ, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, j. 03/10/13.

No caso dos autos, a relevância social é mais que evidente. Há notícia de que o intenso
trânsito dos caminhões e máquinas pesadas no perímetro urbano tem causado
acidentes fatais e problemas de saúde aos munícipes. O ordenamento do trânsito de
veículos no perímetro das cidades tem importância central nas sociedades modernas
e repercute em inúmeros assuntos de interesse público.

Lei prevê a ACP como meio para discutir ordem urbanística: O art. 1º, VI e o art. 3º da
Lei 7.347/85 preveem que a ação civil pública é meio processual adequado para
discutir temas relacionados com a ordem urbanística e para a obtenção de provimento
jurisdicional condenatório de obrigação de fazer:
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da
ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais
e patrimoniais causados:
(...)
VI - à ordem urbanística.
Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em
dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não
fazer.

Existe precedente do STJ afirmando que a ACP é ação adequada para discutir tema
relacionado com a segurança no trânsito: STJ. 1ª Turma. REsp 725257/MG, Rel. Min.
José Delgado, julgado em 10/04/2007.

E quanto ao mérito? A ACP foi julgada procedente? O mérito ainda não foi
examinado. O STJ decidiu apenas que a ACP proposta deverá ser conhecida,
considerando que se trata de meio processual idôneo para veicular este tipo de
pretensão. No mérito, ainda serão discutidas inúmeras outras questões, como por
exemplo: saber se o Município dispõe de recursos suficientes para fazer a obra, se há
necessidades ainda mais prementes da população, se existem formas alternativas de
solucionar o problema etc.

69.8. Extensão dos efeitos de coisa julgada coletiva a autores de ações individuais
não suspensas – (Info 585) – IMPORTANTE!!!

Os autores de ações individuais em cujos autos não foi dada ciência do ajuizamento
de ação coletiva e que não requereram a suspensão das demandas individuais
podem se beneficiar dos efeitos da coisa julgada formada na ação coletiva.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.593.142-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 7/6/16
(Info 585).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Os servidores públicos de determinado
Estado-membro possuem direito a uma gratificação que não está sendo paga pela
Administração Pública. Em razão disso, centenas desses servidores ingressaram com
ações individuais contra o Estado-membro, pedindo a concessão da gratificação. Além
disso, a associação dos servidores públicos deste Estado ajuizou uma ação civil pública
com o mesmo pedido, ou seja, que a gratificação seja concedida a todos os servidores
integrantes da associação.

O juiz, ao receber a ação coletiva proposta pela associação, poderá determinar a


suspensão das ações individuais que estejam tramitando e que tenham o mesmo
objeto? SIM. Segundo o STJ, ajuizada ação coletiva atinente a macrolide geradora de
processos multitudinários, suspendem-se as ações individuais, no aguardo do
julgamento da ação coletiva (STJ. 2ª Seção. REsp 1110549/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti,
julgado em 28/10/2009). Assim, é possível determinar a suspensão do andamento de
processos individuais até o julgamento, no âmbito de ação coletiva, da questão jurídica
de fundo neles discutida, ou seja, até que se decida se a gratificação é devida ou não.

Imaginemos, no entanto, que o juiz recebeu a ação coletiva, mas não determinou a
suspensão das ações individuais. O que acontece neste caso? Em princípio, a ação
coletiva e as ações individuais continuarão tramitando.

Mas não há, neste caso, litispendência? NÃO. As ações coletivas não induzem
(provocam) litispendência para as ações individuais (art. 104 do CDC).

Mas o resultado da ação coletiva irá beneficiar os autores das ações individuais?
Suponha que a ação coletiva seja julgada antes das ações individuais e a sentença
seja procedente. Esta decisão poderá ser executada pelos autores das ações
individuais? Depende. A lei determina o seguinte: Os autores das ações individuais
deverão ser avisados que foi proposta uma ação coletiva com o mesmo pedido. Depois
de serem avisados, os autores individuais terão que fazer uma opção no prazo de 30
dias:
1) Poderão escolher continuar com a ação individual: neste
caso, não poderão ser beneficiados com eventual decisão
favorável no processo coletivo.
2) Poderão pedir a suspensão da ação individual: neste caso,
os efeitos da coisa julgada produzida na ação coletiva
beneficiarão os autores das ações individuais.

Essa regra está prevista no art. 104 do CDC, que é aplicado a todos os processos
coletivos mesmo que não envolvam direito do consumidor. Assim, apesar de estar no
CDC, ela é considerada como norma geral do processo coletivo. Veja o dispositivo:
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II do
parágrafo único do artigo 81, não induzem litispendência para
as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga
omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo
anterior não beneficiarão os autores das ações individuais, se
não for requerida sua suspensão no prazo de 30 (trinta) dias,
a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.

Quem tem o ônus de fazer essa comunicação aos autores individuais de que foi
ajuizada uma ação coletiva com o mesmo pedido? O réu das ações. Assim, em nosso
exemplo, o Estado-membro teria que peticionar em cada uma das ações individuais
informando que foi ajuizada ação coletiva tratando sobre o tema. A partir daí, o autor
individual terá o prazo de até 30 dias para requerer a suspensão do processo
individual, nos termos do art. 104 do CDC. Caso não requeira a suspensão, seu
processo individual continua normalmente, mas ele não poderá se beneficiar da
sentença coletiva.

E se o réu não fizer essa comunicação? O processo individual continua a correr


normalmente, mas, se for proferida uma decisão favorável no processo coletivo, o
autor individual poderá se beneficiar dela. Desse modo, se a ação coletiva for julgada
procedente e transitar em julgado, o autor individual que não foi comunicado
formalmente pelo réu de que havia sido ajuizada uma ação coletiva, poderá requerer
a desistência da ação individual e pedir a sua habilitação para promover a execução
da sentença coletiva.

Ao disciplinar a execução de sentença coletiva, o art. 104 do CDC dispõe que os


autores devem requerer a suspensão da ação individual que veicula a mesma questão
em ação coletiva, a fim de se beneficiarem da sentença que lhes é favorável no feito
coletivo. Todavia, compete à parte ré dar ciência aos interessados da existência desta
ação nos autos da ação individual, momento no qual começa a correr o prazo de 30
dias para a parte autora postular a suspensão do feito individual.

Desse modo, constitui ônus do demandado dar ciência inequívoca da propositura da


ação coletiva àqueles que propuseram ações individuais, a fim de que possam fazer a
opção pela continuidade do processo individual, ou requerer a sua suspensão para se
beneficiar da sentença coletiva.
69.9. Necessidade de demonstração de motivos para a formação de litisconsórcio
ativo facultativo entre o MPE e o MPF – (Info 585) – IMPORTANTE!!!

Em ação civil pública, a formação de litisconsórcio ativo facultativo entre o


Ministério Público Estadual e o Federal depende da demonstração de alguma razão
específica que justifique a presença de ambos na lide.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.254.428-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 2/6/16 (Info
585).
OBS:
É possível, em tese, que dois Ministérios Públicos ingressem, em conjunto, com uma
ação civil pública? SIM. Apesar de existirem importantes vozes em sentido contrário,
a Lei e a jurisprudência admitem o litisconsórcio ativo facultativo entre Ministérios
Públicos. Isso está expressamente previsto no art. 5º, § 5º, da Lei 7.347/85:
§ 5º Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os
Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos
Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta
lei.

O litisconsórcio ativo facultativo entre os ramos do Ministério Público da União e os


Ministérios Públicos dos Estados, em tese, é possível, sempre que as circunstâncias do
caso recomendem, para a propositura de ações civis públicas que visem à
responsabilização por danos morais e patrimoniais causados ao meio-ambiente, ao
consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico e paisagístico, à
ordem econômica e urbanística, bem como a qualquer outro interesse difuso ou
coletivo, inclusive de natureza trabalhista. Essa atuação conjunta deve-se ao cunho
social do Parquet e à posição que lhe foi erigida pelo constituinte (de instituição
essencial à função jurisdicional do Estado), incumbindo-lhe a defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

O Plenário do STF já reconheceu, em tese, a possibilidade de litisconsórcio entre o MPF


e o MPE: ACO 1.020/SP, Rel. Min. Carmen Lúcia, julgado em 08/10/2008.

Esse litisconsórcio entre os Ministérios Públicos deve ser sempre permitido? NÃO,
nem sempre. O litisconsórcio ativo facultativo entre os ramos do MPU e os MPs dos
Estados, em tese, é possível, mas desde que as circunstâncias do caso recomendem.
Essa foi a decisão do STJ.

69.10. Termo a quo do prazo prescricional das execuções individuais de sentença


coletiva – (Info 580)

O prazo prescricional para a execução individual é contado do trânsito em julgado


da sentença coletiva, sendo desnecessária a providência de que trata o art. 94 da Lei
nº 8.078/90 (CDC), ou seja, a publicação de editais convocando eventuais
beneficiários.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.388.000-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para
acórdão Min. Og Fernandes, julgado em 26/8/2015 (recurso repetitivo) (Info 580).
OBS:
Sentença coletiva: É aquela proferida em uma ação coletiva. Se a sentença for
condenatória, ela precisará ser executada para satisfazer o direito dos beneficiários.
Ex: uma associação de defesa do consumidor ingressa com ação coletiva contra
determinada fabricante de remédios que colocou em circulação um lote de
medicamentos deteriorados. A sentença reconheceu o ato ilícito e condenou a
fornecedora a indenizar os consumidores lesados. Esta sentença precisará ser
executada.

Obs: algumas vezes, antes da execução (cumprimento da sentença coletiva) será


indispensável realizar a liquidação da sentença. É o caso do exemplo dado acima (arts.
95 e 97 do CDC).

Qual é o prazo para que ocorra essa execução? 5 anos, nos termos da jurisprudência
consolidada do STJ:

No âmbito do Direito Privado, é de cinco anos o prazo


prescricional para ajuizamento da execução individual em
pedido de cumprimento de sentença proferida em Ação Civil
Pública.
(STJ. 2ª Seção. REsp 1273643/PR, Rel. Min. Sidnei Beneti,
julgado em 27/02/2013)

Qual é o termo inicial deste prazo? O prazo prescricional para a execução individual
é contado do trânsito em julgado da sentença coletiva.

Necessidade ou não de comunicação aos eventuais beneficiários para que o prazo


comece a correr: Surgiu uma tese de que a prescrição da execução da sentença
condenatória coletiva somente deveria se iniciar após os eventuais beneficiários serem
comunicados de que houve o trânsito em julgado e que este é favorável a eles. Assim,
deveria haver uma comunicação direta aos beneficiários ou, no mínimo, a publicação
de um edital avisando sobre o êxito da ação, à semelhança do que é previsto no art. 94
do CDC:

Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial,


a fim de que os interessados possam intervir no processo como
litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios
de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do
consumidor.

Esta tese foi acolhida pelo STJ? Para que comece a correr o prazo prescricional da
execução, é necessário que os eventuais interessados sejam avisados por meio de
edital, nos termos do art. 94 do CDC? NÃO. O STJ entendeu que a tese de que seria
necessária nova publicação de edital após o trânsito em julgado não encontra amparo
legal.

69.11. Legitimidade ativa de associação para defender os interesses de seus filiados –


(Info 579) – IMPORTANTE!!!

A associação não tem legitimidade ativa para defender os interesses dos associados
que vierem a se agregar somente após o ajuizamento da ação de conhecimento.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.468.734-SP, Rel. Min. Humberto Martins, j. 1º/3/16 (Info 579).
OBS:
AÇÃO COLETIVA PROPOSTA POR ASSOCIAÇÃO EM FAVOR DE SEUS
FILIADOS
As associações podem propor ações coletivas em favor dos seus associados? SIM. A
CF/88 autoriza que as associações façam a defesa, judicial ou extrajudicial, dos
direitos e interesses individuais e coletivos de seus associados (art. 5º, XXI, da CF/88).

A associação precisa da autorização dos associados para propor a ação na defesa de


seus interesses? SIM. O inciso XXI do art. 5º da CF/88 exige que as associações tenham
sido expressamente autorizadas. Veja:

Art. 5º (...)
XXI — as entidades associativas, quando expressamente
autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados
judicial ou extrajudicialmente;

Qual é a amplitude da locução “expressamente autorizadas”? Essa autorização pode


ser genericamente prevista no estatuto ou deverá ser uma autorização para cada ação
a ser proposta? Para o STF, a autorização estatutária genérica conferida à associação
não é suficiente para legitimar a sua atuação em juízo na defesa de direitos de seus
filiados. Assim, para cada ação a ser proposta, é indispensável que os filiados a
autorizem de forma expressa e específica.

Vejamos o seguinte exemplo (com adaptações): A Associação do Ministério Público de


Santa Catarina (ACMP) ajuizou ação pedindo o pagamento de determinada verba aos
seus filiados. Acompanhando a petição inicial, a ACMP juntou declarações de
diversos associados autorizando que fosse proposta a ação. O pedido foi julgado
procedente e transitou em julgado. Diante disso, vários Promotores de Justiça
ingressaram com execuções individuais cobrando a gratificação reconhecida na
sentença. Ocorre que o juiz somente aceitou a execução proposta pelos filiados que
haviam autorizado expressamente o ajuizamento da ação. Quanto aos associados que
não assinaram a autorização, a execução não foi conhecida pelo juiz sob o argumento
de que os efeitos da sentença judicial transitada em julgado somente alcançam os
associados (no caso, Promotores) que, na data da propositura da ação de
conhecimento, autorizaram expressamente que a associação ingressasse com a
demanda. Em suma, para o magistrado, somente tem direito de executar a decisão os
filiados que autorizaram a propositura da ação.

Tese dos associados: Os filiados prejudicados com a decisão recorreram alegando que
o estatuto social já autoriza que a associação ingresse com ações em favor de seus
filiados, de forma que não seria necessária uma autorização específica para cada
demanda a ser proposta. Sustentaram que o art. 5º, XXI, da CF/88 não exige que se
colha uma autorização individual dos filiados para cada ação ajuizada pelas
associações, sob pena de se esvaziar a atribuição de tais entidades na defesa dos seus
membros. Aduziram, ainda, que a associação atuou na qualidade de substituto
processual, razão pela qual não seria necessária a autorização, considerando que isso
já consta expressamente de seu estatuto.

O STF concordou com os argumentos invocados pelos filiados? NÃO. Segundo


decidiu o STF, a autorização estatutária genérica conferida à associação não é
suficiente para legitimar a sua atuação em juízo na defesa de direitos de seus filiados.
Assim, para cada ação a ser proposta, é indispensável que os filiados autorizem de
forma expressa e específica a demanda. Essa é a interpretação que deve ser dada ao
inciso XXI do art. 5º da CF/88:
Art. 5º (...) XXI — as entidades associativas, quando
expressamente autorizadas, têm legitimidade para
representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;

O tema foi decidido pelo STF em sede de repercussão geral, tendo sido firmada a
seguinte tese:

O disposto no artigo 5º, inciso XXI, da Carta da República


encerra representação específica, não alcançando previsão
genérica do estatuto da associação a revelar a defesa dos
interesses dos associados. As balizas subjetivas do título
judicial, formalizado em ação proposta por associação, é
definida pela representação no processo de conhecimento,
presente a autorização expressa dos associados e a lista destes
juntada à inicial.
STF. Plenário. RE 573232/SC, rel. orig. Min. Ricardo
Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado
em 14/5/2014 (Info 746).

Como deverá ser feita essa autorização? A autorização poderá ser manifestada:
 por declaração individual do associado; ou
 por aprovação na assembleia geral da entidade.

Logo, no caso concreto, como não foi aprovada na assembleia geral da entidade,
somente os associados que apresentaram, na data da propositura da ação de
conhecimento, autorizações individuais expressas, puderam executar o título judicial
proferido na ação coletiva. Conforme deixou claro o STF, essa autorização é um traço
que distingue a legitimidade das entidades associativas (art. 5º, XXI) em relação à
legitimidade das entidades sindicais (art. 8º, III).

A regra acima exposta apresenta alguma exceção? A associação precisará da


autorização expressa para toda e qualquer ação a ser proposta? Existe exceção. No
caso de impetração de mandado de segurança coletivo, a associação não precisa de
autorização específica dos filiados. Veja o que diz a CF/88:

Art. 5º (...)
LXX — o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado
por:
(...)
b) organização sindical, entidade de classe ou associação
legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos
um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou
associados;

Súmula 629-STF: A impetração de mandado de segurança


coletivo por entidade de classe em favor dos associados
independe da autorização destes.

Quadro-resumo:

As associações precisam de autorização específica de seus filiados para o


ajuizamento de ações em defesa destes?
Regra geral: SIM Exceção: MS coletivo
A autorização estatutária genérica No caso de impetração de mandado de
conferida à associação não é suficiente segurança coletivo, a associação não
para legitimar a sua atuação em juízo na precisa de autorização específica dos
defesa de direitos de seus filiados. Para filiados.
cada ação, é indispensável que os
filiados autorizem, de forma expressa e
específica, a demanda.
O inciso XXI do art. 5º da CF/88 exige O inciso LXX do art. 5º da CF/88 NÃO
autorização expressa. exige autorização expressa.
Trata-se de hipótese de legitimação Trata-se de hipótese de legitimação
processual (a associação defende, em extraordinária (substituição processual),
nome dos filiados, direito dos filiados ou seja, a associação defende, em nome
que autorizaram). próprio, direito dos filiados.

AÇÃO COLETIVA PROPOSTA POR ASSOCIAÇÃO EM FAVOR DE SEUS


FILIADOS ATUAIS E FUTUROS: IMPOSSIBILIDADE
A associação dos Auditores Fiscais ajuizou ação coletiva pedindo que a União fosse
condenada a pagar a gratificação "X" a todos os Auditores filiados à associação, bem
como àqueles que vierem a se associar até o momento da execução do título judicial.
Esse pedido poderá ser conhecido? NÃO. Conforme foi definido pelo STF, "as balizas
subjetivas do título judicial, formalizado em ação proposta por associação, é definida
pela representação no processo de conhecimento, presente a autorização expressa dos
associados e a lista destes juntada à inicial." (STF. Plenário. RE 573232/SC, rel. orig.
Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em
14/5/2014. Info 746).

Em palavras mais simples, no momento em que a associação ajuíza a demanda, ela


deverá juntar aos autos autorização expressa dos associados para a propositura
dessa ação e uma lista com os nomes de todos as pessoas que estão associadas
naquele momento.

A associação não tem legitimidade ativa para defender os direitos de pessoas que,
depois da propositura da ação, vierem a se agregar à entidade.

Caso a ação seja julgada procedente, o título executivo irá beneficiar apenas os
associados cujos nomes estão na lista de filiados juntada com a petição inicial. Só
essas pessoas é que poderão executar o título.

69.12. Não é possível a repropositura de ação coletiva de direitos individuais


homogêneos julgada improcedente, ainda que por falta de provas – (Info 575) –
IMPORTANTE!!! – (Procurador/IPSM-2018)

Após o trânsito em julgado de decisão que julga improcedente ação coletiva


proposta em defesa de direitos individuais homogêneos, independentemente do
motivo que tenha fundamentado a rejeição do pedido, não é possível a propositura
de nova demanda com o mesmo objeto por outro legitimado coletivo, ainda que em
outro Estado da federação.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.302.596-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para
acórdão Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/12/2015 (Info 575).
(Procurador/IPSM-2018-VUNESP): Transitada em julgado decisão que julga
improcedente ação coletiva proposta em defesa de direitos individuais homogêneos
não é possível a propositura de nova demanda com o mesmo objeto por outro
legitimado coletivo. BL: art. 103, §2º c/c art. 103, inciso III do CDC e Info 575 do
STJ.

OBS1: Art. 103, III, do CDC: Uma leitura precipitada do inc. III do art. 103 do CDC
poderia levar à equivocada conclusão de que apenas em caso de procedência da ação
coletiva seria proibida a nova propositura de ação coletiva idêntica. Esta, contudo, não
é a interpretação dada pelo STJ. O inc. III deve ser lido em conjunto com o § 2º, que
estabelece: “§ 2º Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os
interessados que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação
de indenização a título individual.”

OBS2: Interpretando o inciso III em conjunto com o § 2º do art. 103, o STJ chegou à
seguinte conclusão:
1) Se a ação coletiva envolvendo direitos individuais homogêneos for julgada
PROCEDENTE: a sentença fará coisa julgada erga omnes e qualquer
consumidor pode se habilitar na liquidação e promover a execução, provando
o dano sofrido.
2) Se a ação coletiva envolvendo direitos individuais homogêneos for julgada
IMPROCEDENTE (não importa o motivo):
2.a) os interessados individuais que não tiverem intervindo no processo
coletivo como litisconsortes (art. 94 do CDC) poderão propor ação de
indenização a título individual. Ex: os consumidores do medicamento que
não tiverem atendido ao chamado do art. 94 do CDC e não tiverem
participado da primeira ação coletiva poderão ajuizar ações individuais de
indenização contra a empresa.
2.b) não cabe a repropositura de nova ação coletiva mesmo que por outro
legitimado coletivo (não importa se ele participou ou não da primeira ação;
não pode nova ação coletiva).

OBS3: Quadro-resumo:
69.13. Legitimidade da Defensoria para propor ACP em defesa de juridicamente
necessitados – (Info 573) - IMPORTANTE!!! Atualize o Info 541-STJ OK

A Defensoria Pública tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa de
interesses individuais homogêneos de consumidores idosos que tiveram plano de
saúde reajustado em razão da mudança de faixa etária, ainda que os titulares não
sejam carentes de recursos econômicos.
A atuação primordial da Defensoria Pública, sem dúvida, é a assistência jurídica e
a defesa dos necessitados econômicos. Entretanto, também exerce suas atividades
em auxílio a necessitados jurídicos, não necessariamente carentes de recursos
econômicos.
A expressão "necessitados" prevista no art. 134, caput, da CF/88, que qualifica e
orienta a atuação da Defensoria Pública, deve ser entendida, no campo da Ação
Civil Pública, em sentido amplo. Assim, a Defensoria pode atuar tanto em favor
dos carentes de recursos financeiros como também em prol do necessitado
organizacional (que são os "hipervulneráveis").
STJ. Corte Especial. EREsp 1.192.577-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 21/10/15 (Info 573)

69.14. Afastamento de ofício da presunção de legitimação de associação para


propositura de ação coletiva – (Info 572) – IMPORTANTE!!!

É possível ao juízo, de ofício, reconhecer a inidoneidade de associação regularmente


constituída para propositura de ação coletiva?
SIM. Quando houver sintomas de que a legitimação coletiva vem sendo utilizada
de forma indevida ou abusiva, o magistrado poderá, de ofício, afastar a presunção
legal de legitimação de associação regularmente constituída para propositura de
ação coletiva.

A legitimidade de uma associação para a propositura de ACP pode ser afastada pelo
fato de o estatuto da associação ser exageradamente genérico?
SIM. O argumento de que o estatuto da associação é desmesuradamente genérico
tem respaldo na jurisprudência do STJ. Embora a finalidade da associação, prevista
no estatuto, possa ser razoavelmente genérica, não pode ser, entretanto,
desarrazoada, sob pena de admitirmos a criação de uma associação civil para a
defesa de qualquer interesse, o que desnaturaria a exigência de representatividade
adequada do grupo lesado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.213.614-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
1º/10/2015 (Info 572).

69.15. Alteração de polo ativo de ação civil pública promovida por associação - (Info
570)

Caso ocorra dissolução da associação que ajuizou ação civil pública, não é possível
sua substituição no polo ativo por outra associação, ainda que os interesses
discutidos na ação coletiva sejam comuns a ambas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.405.697-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
17/9/2015 (Info 570).

69.16. Legitimidade do MP para propor ACP objetivando a liberação de saldo de


contas PIS/PASEP – (Info 568)
O MP tem legitimidade para propor ação civil pública objetivando a liberação do
saldo de contas PIS/PASEP, na hipótese em que o titular da conta -
independentemente da obtenção de aposentadoria por invalidez ou de benefício
assistencial - seja incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de
atividade que lhe garanta a subsistência, bem como na hipótese em que o próprio
titular da conta ou quaisquer de seus dependentes for acometido das doenças ou
afecções listadas na Portaria Interministerial MPAS/MS 2.998/2001.
Esse pedido veiculado diz respeito a direitos individuais homogêneos que gozam
de relevante interesse social. Logo, o interesse tutelado referente à liberação do
saldo do PIS/PASEP, mesmo se configurando como individual homogêneo, mostra-
se de relevante interesse à coletividade, tornando legítima a propositura de ação
civil pública pelo Ministério Público, visto que se subsume aos seus fins
institucionais.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.480.250-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/8/2015
(Info 568).

69.17. Impossibilidade de execução individual de sentença coletiva por pessoa não


filiada à associação autora da ação coletiva – (Info 565) – TEMA POLÊMICO!!!

A associação dos servidores públicos federais do órgão "XX" ajuizou ação coletiva
pedindo que fosse reconhecida e paga determinada gratificação devida à classe. A
ação foi julgada procedente, tendo transitado em julgado. João é servidor público
federal do órgão "XX", mas não é nem nunca foi filiado à referida associação. Mesmo
sem ser associado, João poderá pegar a sentença proferida na ação coletiva e ajuizar
execução individual cobrando o pagamento das verbas relacionadas com a aludida
gratificação?
 Entendimento tradicional do STJ: SIM. Existem diversos julgados do STJ
afirmando que os sindicatos e associações, na qualidade de substitutos
processuais, detêm legitimidade para atuar judicialmente na defesa dos
interesses coletivos de toda a categoria que representam. Nesse sentido: STJ.
1ª Turma. AgRg no AREsp 454.098/SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia
Filho, julgado em 16/09/2014.
 Novo entendimento que ganha força no STJ: NÃO. Em regra, a pessoa não
filiada não detém legitimidade para executar individualmente a sentença de
procedência oriunda de ação coletiva proposta pela associação. Exceção: será
possível executar individualmente mesmo se não for associado, se a sentença
coletiva que estiver sendo executada for mandado de segurança coletivo. Foi
o que decidiu a 4ª Turma do STJ no REsp 1.374.678-RJ, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 23/6/2015.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.374.678-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
23/6/2015 (Info 565).

69.18. Legitimidade do MP para ajuizar ACP em defesa dos beneficiários do DPVAT


– (Info 563)

O MP possui legitimidade para ajuizar ação civil pública em defesa dos direitos
individuais homogêneos dos beneficiários do seguro DPVAT, dado o interesse
social qualificado presente na tutela dos referidos direitos subjetivos.
Está cancelada a súmula 470 do STJ, que tinha a seguinte redação: “O Ministério
Público não tem legitimidade para pleitear, em ação civil pública, a indenização
decorrente do DPVAT em benefício do segurado.”
STJ. 2ª Seção. REsp 858.056/GO, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 27/05/2015 (Info
563).
STF. Plenário. RE 631.111/GO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 06 e 07/08/2014.

69.19. Aplicabilidade do art. 18 da LACP para ação civil pública movida por sindicato
– (Info 558) – IMPORTANTE! – (PGEPE-2018)

O art. 18 da Lei 7.347/85 prevê que o autor da ACP, antes de ajuizar a ação, não terá
que adiantar custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras
despesas, nem será condenado em honorários advocatícios, custas e despesas
processuais, salvo comprovada má-fé.
O STJ decidiu que esse art. 18 da Lei 7.347/85 é aplicável também para a ação civil
pública movida por SINDICATO na defesa de direitos individuais homogêneos da
categoria que representa.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.322.166-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado
em 4/3/2015 (Info 558).
(PGEPE-2018-CESPE): O STJ entende que o sindicato possui legitimidade para
ajuizar, na qualidade de substituto processual, ação civil pública para a defesa de
direitos individuais homogêneos da categoria que ele representa. BL: Info 558, STJ.

69.20. Alcance da regra de isenção de custas processuais da LACP e do CDC – (Info


556)

O art. 18 da LACP e o art. 87 do CDC preveem que, nas ações de que tratam estas
leis, não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e
quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo
comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas processuais.
O STJ decidiu que essas regras de isenção só se aplicam para as custas judiciais em:
 ações civis públicas (qualquer que seja a matéria);
 ações coletivas que tenham por objeto relação de consumo; e
 na ação cautelar prevista no art. 4º da LACP (qualquer que seja a matéria).
Não é possível estender, por analogia ou interpretação extensiva, essa isenção para
outros tipos de ação (como a rescisória) ou para incidentes processuais (como a
impugnação ao valor da causa), mesmo que tratem sobre direito do consumidor.
STJ. 2ª Seção. PET 9.892-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/2/2015
(Info 556).

69.21. Retenção de honorários contratuais em execução de demanda coletiva – (Info


555)

Na execução de título judicial oriundo de ação coletiva promovida por sindicato na


condição de substituto processual, não é possível destacar os honorários contratuais
do montante da condenação sem que haja autorização expressa dos substituídos ou
procuração outorgada por eles aos advogados.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.464.567-PB, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 3/2/2015
(Info 555).

69.22. MP tem legitimidade para ajuizar ACP em defesa de mutuários do SFH – (Info
552)

O Ministério Público tem legitimidade ad causam para propor ação civil pública
com a finalidade de defender interesses coletivos e individuais homogêneos dos
mutuários do Sistema Financeiro da Habitação.
O STJ entende que os temas relacionados com SFH possuem uma expressão para a
coletividade e o interesse em discussão é socialmente relevante.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.114.035-PR, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão
Min. João Otávio de Noronha, julgado em 7/10/2014 (Info 552).

69.23. Eficácia subjetiva da ACP e art. 16 da Lei 7.347/85 – (Info 552) – TEMA
POLÊMICO!!!

O art. 16 da LACP (Lei 7.347/1985), que restringe o alcance subjetivo de sentença


civil aos limites da competência territorial do órgão prolator, tem aplicabilidade nas
ações civis públicas que envolvam direitos individuais homogêneos. Ressalte-se,
no entanto, que se trata de tema ainda polêmico, havendo decisões em sentido
contrário.
Imagine agora que o juiz decidiu uma ACP envolvendo direitos individuais
homogêneos e este processo chegou até o STJ, por meio de recurso especial. Após o
STJ decidir o recurso, os efeitos dessa decisão serão nacionais?
NÃO. O simples fato de a causa ter sido submetida à apreciação do STJ, por meio
de recurso especial, não faz com que os efeitos da sentença prolatada na ACP
passem a ter alcance nacional. Assim, os efeitos da ACP continuariam restritos aos
limites da competência territorial do juiz prolator da sentença.
Ex.: se a sentença foi proferida por um juiz de direito de Limeira (SP), os efeitos da
decisão somente valerão para os titulares dos direitos individuais homogêneos de
Limeira (SP), mesmo tendo o STJ confirmado a sentença.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.114.035-PR, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão
Min. João Otávio de Noronha, julgado em 7/10/2014 (Info 552).

69.24. Eficácia subjetiva em caso de ACP proposta pelo MP no Distrito Federal com a
participação de entidades de âmbito nacional – (Info 552)

Tem abrangência nacional a eficácia da coisa julgada decorrente de ação civil


pública ajuizada pelo Ministério Público, com assistência de entidades de classe de
âmbito nacional, perante a Seção Judiciária do Distrito Federal, e sendo o órgão
prolator da decisão final de procedência o STJ. É o que se extrai da inteligência dos
arts. 16 da LACP, 93, II, e 103, III, do CDC.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.319.232-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
4/12/2014 (Info 552).

69.25. Termo inicial dos juros de mora na ACP – (Info 549) – IMPORTANTE!!!
Os juros de mora incidem a partir da citação do devedor no processo de
CONHECIMENTO da ação civil pública quando esta se fundar em
responsabilidade contratual, cujo inadimplemento já produza a mora, salvo se a
mora já se configurou em momento anterior à citação.
STJ. Corte Especial. REsp 1.370.899-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 21/5/2014
(recurso repetitivo) (Info 548).

69.26. Litisconsórcio entre Ministérios Públicos – (Info 549) – IMPORTANTE!!!

A Lei e a jurisprudência admitem o litisconsórcio ativo facultativo entre Ministérios


Públicos.
No caso concreto, o STJ admitiu que o MPF, o MPE e o MPT ajuizassem uma ACP
em litisconsórcio. Na situação examinada, a UFRN, por meio do seu hospital
universitário, prestava serviços médicos à população. Ocorre que os médicos que
desempenhavam suas funções não eram concursados. O Estado do RN fez um
convênio com a Universidade e contratava médicos de uma cooperativa para lá
trabalharem. Diante disso, o MPF, o MPE e o MPT ajuizaram, em litisconsórcio
ativo, ACP contra a Cooperativa, a União, a UFRN e o Estado do RN, pedindo que o
contrato fosse rescindido e que fosse realizado concurso público para preencher as
vagas de médicos. O STJ entendeu que seria possível o litisconsórcio ativo nesta
ACP, considerando que ela visava a tutela de interesses difusos que estavam
inseridos nas atribuições dos três Ministérios Públicos.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.444.484-RN, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
18/9/2014 (Info 549).

69.27. A associação pode propor ação coletiva contra a União na Justiça Federal do DF
mesmo que os associados residam em outro local – (Info 546)

A entidade associativa (associação), ainda que possua abrangência local – e não


âmbito nacional – poderá, se assim desejar, ajuizar a ação coletiva em favor de seus
associados contra a União na Justiça Federal do DF, independentemente do lugar
do território nacional onde tenha ocorrido a lesão ao direito vindicado.
A Justiça Federal do DF foi escolhida pela CF/88 para funcionar como uma espécie
de juízo universal, sendo competente para apreciar as ações judiciais intentadas
contra a União mesmo que os fatos tratados na demanda não tenham ocorrido lá e
ainda que os beneficiários residam em outro local. Isso está previsto no art. 109, §
2º, da CF/88.
O art. 2º-A da Lei 9.404/97 estabelece que a sentença coletiva “abrangerá apenas os
substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da
competência territorial do órgão prolator”. A Justiça Federal do DF, como visto, tem
competência em todo o território nacional, pois, a critério do autor, pode ser instada
a processar e julgar qualquer demanda ajuizada em desfavor da União (art. 109, §
2º, da CF/88). Logo, os efeitos da sentença a ser proferida pelo Juízo Federal de
Brasília alcançarão, naturalmente, os associados da autora, mesmo que não morem
no Distrito Federal.
STJ. 1ª Seção. CC 133.536-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j.14/8/14 (Info 546).

69.28. ACP pode servir como instrumento processual para cobrança de valores
indevidamente cobrados de consumidores – (Info 546)
Sobre esse julgado, é importante que sejam destacadas três conclusões:
I – Em sede de ACP ajuizada por associação civil de defesa do consumidor,
instituição financeira pode ser condenada a restituir os valores indevidamente
cobrados a título de Taxa de Emissão de Boleto Bancário (TEB) dos usuários de seus
serviços.
II – É possível que sentença condenatória proferida em ACP em que se discuta
direito individual homogêneo contenha determinações explícitas da forma de
liquidação e/ou estabeleça meios tendentes a lhe conferir maior efetividade, desde
que essas medidas se voltem uniformemente para todos os interessados. Ex:
determinação de que a ré envie correspondência aos beneficiários da decisão,
publicação da sentença nos jornais etc.
III –O Tribunal não pode, de ofício, fundado na aplicabilidade de prazo
prescricional maior do que o definido em 1ª instância, aumentar o alcance dos
efeitos da sentença que reconheceu o direito a ressarcimento de valores cobrados
indevidamente ao longo do tempo. Ex: o juiz reconheceu que os beneficiários da
decisão poderiam receber as verbas dos últimos 5 anos; o TJ, sem recurso da parte
vencedora, ampliou esse prazo para 10 anos, afirmando que prescrição é matéria de
ordem pública e que pode ser reconhecida sem provocação. Ocorre que somente
pode ser reconhecida de ofício se isso gerar a perda da pretensão, em homenagem à
economia processual. No caso concreto, contudo, o reconhecimento de ofício
ampliaria o prazo, o que não é admitido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.304.953-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 26/8/14 (Info 546).

69.29. Ação coletiva proposta por sindicato não precisa descrever todas as situações
individuais – (Info 538)

Na hipótese em que sindicato atue como substituto processual em ação coletiva para
a defesa de direitos individuais homogêneos, não é necessário que a causa de pedir,
na primeira fase cognitiva, contemple descrição pormenorizada das situações
individuais de todos os substituídos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.395.875-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 20/2/2014 (Info 538).

61.24. O beneficiário individual da sentença coletiva pode, inclusive, executar a


sentença no juízo de seu domicílio (Sem Info) – (DPESP-2015) (DPERR-2013)

A liquidação e a execução individual de sentença genérica proferida em ação civil


coletiva pode ser ajuizada no foro do domicílio do beneficiário, porquanto os
efeitos e a eficácia da sentença não estão circunscritos a lindes geográficos, mas aos
limites objetivos e subjetivos do que foi decidido, levando-se em conta, para tanto,
sempre a extensão do dano e a qualidade dos interesses metaindividuais postos em
juízo.
STJ. Corte Especial. REsp 1243887/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 19/10/11.
(DPESP-2015): Em julgamento de recurso representativo de controvérsia, o
Superior Tribunal de Justiça assentou que a liquidação e a execução individual de
sentença genérica proferida em ação civil coletiva pode ser ajuizada no foro do
domicílio do beneficiário.
69.30. O MP não tem direito a honorários (em ACP) por ser verba destinada a
advogado – (julgados não publicado em Informativos) – (TJRJ-2016)

Na ação civil pública movida pelo Ministério Público, a questão da verba honorária
foge inteiramente das regras do CPC, sendo disciplinada pelas normas próprias da
Lei 7.347/85.
Posiciona-se o STJ no sentido de que, em sede de ação civil pública, a condenação
do Ministério Público ao pagamento de honorários advocatícios somente é cabível
na hipótese de comprovada e inequívoca má-fé do Parquet.
Dentro de absoluta simetria de tratamento e à luz da interpretação sistemática do
ordenamento, não pode o parquet beneficiar-se de honorários, quando for vencedor
na ação civil pública. Precedentes.
STJ, ERESP 895530, 1ª Seção, Relatora Ministra ELIANA CALMON, DJE 18/12/2009.

O Ministério Público tem por finalidade institucional a defesa dos interesses


coletivos e individuais indisponíveis (CF, art. 127). A Lei 8.906/94, a seu turno,
dispõe que os honorários sucumbenciais pertencem aos advogados, constituindo-
se direito autônomo (art. 23), determinação que está na base da Súmula STJ/306.
Nessa linha, não há título jurídico que justifique a condenação da parte sucumbente
à remessa dos honorários para o Estado quando não se verifica a atuação de
advogados no pólo vencedor. A par de não exercer advocacia, o Ministério Público
é financiado com recursos provenientes dos cofres públicos, os quais são custeados,
por entre outras receitas, por tributos que a coletividade já suporta.
STJ, REsp 1034012, Rel. Min. Sidnei Beneti, 3a Turma do STJ, DJe 07/10/2009

(TJRJ-2016-VUNESP): O Ministério Público ajuizou ação civil pública em face de


ex-prefeito de município por ato de improbidade administrativa, causador de lesão
ao erário e atentatório aos princípios da Administração Pública, praticado no
exercício do mandato eletivo. A partir desses fatos, assinale a alternativa correta,
considerando a jurisprudência majoritária dos Tribunais Superiores. Se a ação for
julgada procedente, como ela foi proposta pelo Ministério Público, não cabe
condenação em honorários advocatícios, por ser verba destinada a advogado.

70. AÇÃO CIVIL PÚBLICA


70.1. AÇÃO CIVIL PÚBLICA: Legitimidade do MP para pleitear tratamento médico
ou entrega de medicamentos – (Info 624) – IMPORTANTE!!!

O Ministério Público é parte legítima para pleitear tratamento médico ou entrega


de medicamentos nas demandas de saúde propostas contra os entes federativos,
mesmo quando se tratar de feitos contendo beneficiários individualizados, porque
se refere a direitos individuais indisponíveis, na forma do art. 1º da Lei n. 8.625/1993
(Lei Orgânica Nacional do Ministério Público).
STJ. 1ª Seção. REsp 1682836-SP, Rel. Min. Og Fernandes, j. 25/4/18 (recurso
repetitivo) (Info 624).
OBS:
Delimitação da matéria: O presente julgado não trata sobre a possibilidade de o MP
propor demandas envolvendo direitos difusos, coletivos ou individuais
homogêneos, até porque inexiste qualquer dúvida da sua legitimidade nestes casos,
sendo tema pacífico. De igual forma, este julgado não trata sobre a legitimidade do
Ministério Público para ajuizar ações em favor de interesses de menores, incapazes
e de idosos em situação de vulnerabilidade. Em tais hipóteses, a legitimidade do
órgão ministerial decorre expressamente da lei (art. 201, VIII, da Lei nº 8.069/90 e art.
74, II e III, da Lei nº 10.741/2003). O presente julgado discute a legitimidade do MP
para ingressar com demandas de saúde, contra os entes federativos, em favor de
beneficiários individuais.

Em outras palavras, o que se discute aqui é o seguinte: o Ministério Público poderia


ajuizar uma ação pedindo tratamento de saúde ou a entrega de medicamento em favor
de uma só pessoa? A resposta é SIM.

Direitos individuais indisponíveis: O MP possui legitimidade para a defesa de


direitos individuais indisponíveis, conforme previsão expressa no art. 127 da CF/88 e
no art. 1º da Lei nº 8.625/93:
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente,
essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a
defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis.

Art. 1º O Ministério Público é instituição permanente,


essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a
defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis.

O pedido para tratamento médico ou para a entrega de medicamento em favor de uma


pessoa é uma demanda que envolve direito individual INDISPONÍVEL? SIM. O
direito à saúde é um direito indisponível. Isso porque está relacionado com o próprio
direito à vida. O direito à saúde foi previsto, pela Constituição Federal de 1988, como
direito fundamental do cidadão, corolário do direito à vida, bem maior do ser
humano. A propósito do tema, o STF, ao interpretar os arts. 5º, caput, e 196 da CF/88,
consagrou o direito à saúde como consequência indissociável do direito à vida,
assegurado a todas as pessoas (STF. 2ª Turma. ARE 685.230 AgR/MS, Rel. Min. Celso
de Mello, DJe de 25/03/2013). Nesse contexto, conclui-se o caráter indisponível do
direito à saúde, por estar diretamente associado ao direito à vida. Assim, o MP detém
legitimidade ad causam para pleitear tratamento de saúde ou fornecimento de
medicamento a beneficiários individualizados, por força do disposto no art. 1º da
Lei 8.625/93, que incumbiu ao Parquet a defesa dos direitos individuais indisponíveis.

O MP, nestes casos, não estaria “pegando o lugar” da advocacia privada e da


Defensoria Pública? NÃO. Conforme já decidiu o STF:
(...) A Constituição do Brasil, em seu artigo 127, confere
expressamente ao Ministério Público poderes para agir em
defesa de interesses sociais e individuais indisponíveis,
como no caso de garantir o fornecimento de medicamentos a
hipossuficiente.
2. Não há que se falar em usurpação de competência da
defensoria pública ou da advocacia privada. (...)
STF. 2ª Turma. RE 554088 AgR, Rel. Min. Eros Grau, j. 3/6/08.

70.2. Emenda da inicial da ACP mesmo após ter sido apresentada contestação – (Info
615)
Admite-se emenda à inicial de ação civil pública, em face da existência de pedido
genérico, ainda que já tenha sido apresentada a contestação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.279.586-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 3/10/17 (Info 615).
OBS:
Em relação às ações individuais, o STJ possui julgados divergentes sobre a
possibilidade ou não de emenda da petição inicial após a apresentação da contestação.
Existem julgados admitindo e outros negando.

No que tange às ações civis públicas, contudo, isso deve ser possível. As ações civis
públicas são instrumentos processuais de ordem constitucional voltados à defesa de
interesses metaindividuais, com relevância social. Em virtude da relevância social do
bem envolvido, de natureza social, para a ação civil pública deverão ser adotados
princípios distintos daqueles previstos pelo CPC para as ações individuais.

Um desses princípios que serve para distinguir o regime da ação civil pública é o
princípio da efetividade.

O princípio da efetividade está intimamente ligado ao valor social e deve ser utilizado
pelo juiz da causa para abrandar os rigores da intelecção vinculada exclusivamente ao
Código de Processo Civil - desconsiderando as especificidades do microssistema
regente das ações civis -, dado seu escopo de servir à solução de litígios de caráter
individual.

A ação civil constitui instrumento de eliminação da litigiosidade de massa, capaz de


dissipar infindos processos individuais, evitando, ademais, a existência de
diversidade de entendimentos sobre o mesmo caso, possuindo, ademais, expressivo
papel no aperfeiçoamento da prestação jurisdicional, diante de sua possibilidade de
proteger um número elevado de pessoas mediante um único processo.

70.3. Cancelamento da Súmula 470-STJ – (Info 564)

Súmula 470-STJ: O Ministério Público não tem legitimidade para pleitear, em ação
civil pública, a indenização decorrente do DPVAT em benefício do segurado.
Cancelada em 27/05/2015 pela 2ª Seção do STJ.

70.4. MP tem legitimidade para ACP contra hospital para que este não exija cheque-
caução e para que não cobre valores adicionais de usuários de planos de saúde – (Info
532)

O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública cujos pedidos
consistam em impedir que determinados hospitais continuem a exigir caução para
atendimento médico-hospitalar emergencial e a cobrar, ou admitir que se cobre, dos
pacientes conveniados a planos de saúde, valor adicional por atendimentos
realizados por seu corpo médico fora do horário comercial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.324.712-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 24/9/13 (Info
532).
70.5. MP tem legitimidade para ajuizar ACP relacionada com concurso público –
(Info 528)

O MP tem legitimidade para ajuizar ação civil pública com o objetivo de garantir o
acesso a critérios de correção de provas de concurso público.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.362.269-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 16/5/2013
(Info 528).

70.6. MP assumir a titularidade da ACP em caso de vício na representação


processual da associação autora – (Info 524)

Na ação civil pública, reconhecido o vício na representação processual da associação


autora, deve-se, antes de proceder à extinção do processo, conferir oportunidade ao
Ministério Público para que assuma a titularidade ativa da demanda.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.038.199-ES, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 7/5/2013 (Info
524).

70.7. Legitimidade do MP para ACP em benefício de uma só pessoa em questões de


saúde – (Info 523)

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ACP contra a concessionária de


energia elétrica com a finalidade de evitar a interrupção do fornecimento do serviço
à pessoa carente de recursos financeiros diagnosticada com enfermidade grave e
que dependa, para sobreviver, da utilização doméstica de equipamento médico com
alto consumo de energia.
Conforme entendimento do STJ, o MP detém legitimidade para propor ACP que
objetive a proteção do direito à saúde de pessoa hipossuficiente, porquanto se trata
de direito fundamental e indisponível, cuja relevância interessa à sociedade.
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.162.946-MG, Rel. Ministro Sérgio Kukina, julgado em
4/6/2013 (Info 523).

70.8. ACP proposta pelo MP e defesa da saúde – (Info 517)

O Ministério Público é parte legítima para propor ação civil pública com o objetivo
de que o Poder Público forneça cesta de alimentos sem glúten a portadores de
doença celíaca, como medida de proteção e defesa da saúde.
O direito à vida e à saúde caracterizam-se como direitos individuais indisponíveis.
O MP possui legitimidade para propor ACP na defesa de direitos individuais
indisponíveis.
STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 91.114-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em
7/2/2013 (Info 517)

70.9. Instauração e prosseguimento de inquérito civil com a finalidade de apurar


possível incompatibilidade entre a evolução patrimonial de vereadores e seus
respectivos rendimentos

É possível a instauração e o prosseguimento de inquérito civil com a finalidade de


apurar possível incompatibilidade entre a evolução patrimonial de vereadores e
seus respectivos rendimentos, ainda que o referido procedimento tenha se
originado a partir de denúncia anônima, na hipótese em que realizadas
administrativamente as investigações necessárias para a formação de juízo de valor
sobre a veracidade da notícia.
Ressalte-se que o art. 13 da Lei de Improbidade obriga os agentes públicos a
disponibilizarem periodicamente informações sobre seus bens e evolução
patrimonial. Vale destacar que os agentes políticos sujeitam-se a uma diminuição
na esfera de privacidade e intimidade, de modo que se mostra ilegítima a pretensão
de não revelar fatos relacionados à evolução patrimonial.
STJ. 2ª Turma. RMS 38.010-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 4/4/2013.

70.10. Competência para processar e julgar ACP

A competência para processar e julgar ação civil pública é absoluta e se dá em


função do local onde ocorreu o dano.
STJ. 1ª Seção. AgRg nos EDcl no CC 113.788-DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j.
14/11/2012.

70.11. Ação Civil Pública e sua utilização na defesa do erário – (MPSC-2016)

A despeito de ser a ação civil pública, em razão de suas finalidades sociais,


preponderantemente condenatória, implicando na obrigação de fazer ou não fazer,
esta Corte tem-na admitido para defesa do erário.
STJ, REsp 78.916/SP, Rel. Min. Castro Meira, DJ 6.9.2004.
(MPSC-2016): A despeito de ser a ação civil pública, em razão de suas finalidades
sociais, preponderantemente condenatória, implicando na obrigação de fazer ou
não fazer, ela pode ser proposta em defesa do erário.

71. MANDADO DE SEGURANÇA


71.1. Prazo decadencial para impetrar MS contra redução de vantagem de servidor
público – (Info 578)

O prazo decadencial para impetrar mandado de segurança contra redução do valor


de vantagem integrante de proventos ou de remuneração de servidor público
renova-se mês a mês.
A redução, ao contrário da supressão de vantagem, configura relação de trato
sucessivo, pois não equivale à negação do próprio fundo de direito. Assim, o prazo
decadencial para se impetrar a ação mandamental renova-se mês a mês.
 Ato que SUPRIME vantagem: é ato ÚNICO (o prazo para o MS é contado da
data em que o prejudicado tomou ciência do ato).
 Ato que REDUZ vantagem: consiste em prestação de TRATO SUCESSIVO
(o prazo para o MS renova-se mês a mês).
STJ. Corte Especial. EREsp 1.164.514-AM, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
julgado em 16/12/2015 (Info 578).

Essa distinção já foi exigida em concurso público.


(TRF2-2011-CESPE): Consoante entendimento do STJ, a supressão, pelo poder
público, de gratificação que esteja sendo paga a servidor público configura ato
comissivo, de efeitos permanentes, e não de trato sucessivo, razão pela qual a
impetração de mandado de segurança para impugnar o ato deve ocorrer no prazo
de cento e vinte dias contados da sua edição. (CERTO)
OBS:
PRAZO DO MS
Prazo para impetração do mandado de segurança: A Lei nº 12.016/09 prevê um prazo
para o ajuizamento do mandado de segurança:

Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança


extinguir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da
ciência, pelo interessado, do ato impugnado.

Novo CPC: O art. 219 do CPC 2015 prevê que "na contagem de prazo em dias,
estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis".

Este art. 219 do CP 2015 é aplicado para o prazo do mandado de segurança? A partir
de agora o prazo de 120 dias deverá ser contado em dias úteis?
 Regra: NÃO. O art. 219 aplica-se apenas aos prazos processuais, ou seja,
àqueles prazos para a prática de atos dentro do processo. O prazo de
impetração do MS, em regra, não é processual, de forma que ele deve ser
contado de forma corrida (e não em dias úteis).
 Exceção: no caso de mandado de segurança contra ato judicial, o prazo
máximo para impetração será contado em dias úteis. Isso porque, neste caso,
ele terá natureza processual, já que corre dentro do processo. Assim, por
exemplo, se é prolatada uma decisão judicial irrecorrível, a parte prejudicada
terá 120 dias úteis para impetrar mandado de segurança.

A posição acima é defendida por CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública
em Juízo. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 562.

Natureza deste prazo: A posição majoritária afirma que se trata de prazo decadencial.
Sendo prazo decadencial, ele não pode ser suspenso ou interrompido.

Súmula 430-STF: Pedido de reconsideração na via


administrativa não interrompe o prazo para o mandado de
segurança.

Vale ressaltar, no entanto, que o STJ afirma que se o marco final do prazo do MS
terminar em sábado, domingo ou feriado, deverá haver prorrogação para o primeiro
dia útil seguinte. Nesse sentido: STJ. 1ª Seção. MS 14.828/DF, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, julgado em 08/09/2010.

A previsão de um prazo para o MS é constitucional? SIM. Súmula 632-STF: É


constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a impetração de mandado de
segurança.

Termo inicial do prazo: Em regra, o prazo para impetrar o MS inicia-se na data em


que o prejudicado toma ciência do ato coator praticado.

(...) Considerou, ainda, que a ofensa ao direito líquido e certo


não se conta a partir da expedição da resolução (ato
impugnado no mandado de segurança), mas sim do momento
em que produzir efeitos. Tal entendimento harmoniza-se com
a jurisprudência do STJ de que o prazo decadencial no
mandado de segurança tem início na data em que o
interessado teve ciência inequívoca do ato atacado. (...)
REsp 1.088.620-SP, Rel. para o acórdão Min. Castro Meira,
julgado em 18/11/2008.

Atenção: Vale ressaltar, no entanto, que, se a pessoa estiver sendo prejudicada por
uma omissão do Poder Público, poderá impetrar o MS a qualquer tempo enquanto
perdurar a omissão. Persistindo a omissão, o prazo renova-se dia a dia.

PRAZO DO MS EM CASO DE ATO QUE SUPRIME VANTAGEM PAGA A


SERVIDOR
Imagine a seguinte situação hipotética 1:
João, servidor público, recebia há anos a gratificação “X”. A Administração Pública
entendeu que esta gratificação era indevida e deixou de pagá-la a partir do mês de
janeiro de 2010. Desse modo, em janeiro o servidor não mais recebeu a gratificação.
Nos meses que se seguiram, ele continuou sem a verba em seu contracheque. Em
outubro de 2010, o advogado do servidor impetrou um mandado de segurança contra
o administrador público alegando que a retirada da gratificação foi um ato ilegal e
requereu a sua reinclusão. A PGE ingressou no feito apresentando contestação (art. 7º,
I da Lei nº 12.016/2009) e alegando, como preliminar, que houve decadência do MS
porque este foi proposto mais de 120 dias após a cessação do pagamento da verba (o
que ocorreu em janeiro de 2010). O autor do MS já havia alegado, em sua petição
inicial, que não havia decadência porque, no caso, haveria uma prestação de trato
sucessivo, de forma que o ato coator se renovaria todos os meses. Em outras palavras,
para o impetrante, a cada mês que a Administração deixou de pagar a verba, reiniciou-
se o prazo para impetrar mandado de segurança.

Qual das duas teses é acolhida pela jurisprudência do STJ, a do autor ou da Fazenda
Pública? A tese da Fazenda Pública. Assim, houve realmente decadência no caso
exposto acima. Nesse sentido: STJ. Segunda Turma. RMS 34.363-MT, Rel. Min.
Herman Benjamin, julgado em 6/12/2012.

PRAZO DO MS EM CASO DE ATO QUE REDUZ VANTAGEM PAGA A SERVIDOR


Imagine a seguinte situação hipotética 2: Pedro, servidor municipal, recebia
remuneração de R$ 13 mil. O Prefeito determinou a redução da remuneração de Pedro
para R$ 10 mil (remuneração do Prefeito e teto do funcionalismo naquele Município).
Isso foi em janeiro de 2010. Desse modo, em fevereiro Pedro recebeu apenas R$ 10 mil.
Nos meses que se seguiram, ele continuou recebendo esta quantia. Em outubro de
2010, o advogado do servidor impetrou um mandado de segurança contra o Prefeito
alegando que a redução da remuneração foi inconstitucional.

Neste caso, pelo fato de já terem se passado mais do que 120 dias da data do ato,
houve decadência? NÃO.

Para o STJ, é preciso fazer a seguinte distinção:


No caso de a Administração Pública ter reajustado a pensão de uma pessoa em valor
inferior ao que seria devido, como é contado o prazo para que a interessada impetre
um MS?

O prazo renova-se mês a mês. Segundo entende o STJ, esta


hipótese consiste em uma conduta omissiva ilegal da
Administração, que envolve obrigação de trato sucessivo.
Logo, o prazo decadencial estabelecido pela Lei do Mandado
de Segurança se renova de forma continuada mês a mês. STJ.
2ª Turma. AgRg no AREsp 243.070-CE, Rel. Min. Humberto
Martins, julgado em 7/2/2013 (Info 517).

Aplica-se a mesma regra que vimos acima para os casos de ato da Administração que
reduz vantagem. Veja o quadro como fica:

71.2. Efeitos financeiros da concessão de ordem mandamental contra ato de redução


de vantagem de servidor público – (Info 578) – Tema Polêmico!

Em mandado de segurança impetrado contra redução do valor de vantagem


integrante de proventos ou de remuneração de servidor público, os efeitos
financeiros da concessão da ordem retroagem à data do ato impugnado.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.164.514-AM, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
julgado em 16/12/2015 (Info 578).

Observação:
Deve-se ter muito cuidado com este entendimento. Isso porque, apesar de ele ter sido
proferido pela Corte Especial do STJ, ele é contrário às Súmulas 269 e 271 do STF e ao
art. 14, § 4º da Lei do MS:
Súmula 269-STF: O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.
Súmula 271-STF: Concessão de mandado de segurança não produz efeitos
patrimoniais, em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados
administrativamente ou pela via judicial própria.
Art. 14 (...) § 4º O pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias assegurados em
sentença concessiva de mandado de segurança a servidor público da administração
direta ou autárquica federal, estadual e municipal somente será efetuado
relativamente às prestações que se vencerem a contar da data do ajuizamento da
inicial.
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Pedro, servidor municipal, recebia
remuneração de R$ 13 mil. Em 10/01/2010, o Prefeito determinou a redução da
remuneração de Pedro para R$ 10 mil (remuneração do Prefeito e teto do
funcionalismo naquele Município). Desse modo, em fevereiro de 2010 Pedro recebeu
apenas R$ 10 mil. Nos meses que se seguiram, ele continuou recebendo esta quantia.
Em outubro de 2010, o advogado do servidor impetrou um mandado de segurança no
Tribunal de Justiça contra o Prefeito alegando que a redução da remuneração foi
inconstitucional. O TJ negou a liminar, mas ao final, o acórdão julgou procedente o
pedido de Pedro. Em outubro de 2011, a decisão favorável ao impetrante transitou em
julgado e a partir desta data a remuneração do autor voltou a ser de R$ 13 mil.

Examine novamente as datas:


 Em fevereiro de 2010, houve uma redução de R$ 3 mil na remuneração mensal
do autor.
 Em outubro de 2010 (8 meses depois do início dos descontos), ele impetrou o
MS.
 Em outubro de 2011 (12 meses depois do início do MS), os R$ 3 mil voltaram
para a remuneração mensal do autor.

Pedro precisará propor ação judicial cobrando os valores atrasados que


correspondem ao período entre o dia da impetração do MS (10/2010) e a data da
efetiva implementação da verba (10/2011)? NÃO. É pacífico o entendimento de que
não é necessário ajuizar ação autônoma cobrando valores que venceram durante
processo do mandado de segurança. Neste caso, a própria decisão concessiva do
mandado de segurança poderá ser executada e o autor receberá a quantia atrasada por
meio de precatório ou RPV (caso esteja dentro do limite considerado com de pequeno
valor).

Pedro precisará propor ação judicial cobrando os valores atrasados que


correspondem ao período entre o dia da redução da verba (02/2010) e a data da
propositura do MS (10/2010)?
Observação: Deve-se ter muito cuidado com este entendimento. Isso porque, apesar
de ele ter sido proferido pela Corte Especial do STJ, o que se observa é que, mesmo
após a sua prolação, o próprio Tribunal já aplicou novamente as Súmulas 269 e 271 do
STF:

A Primeira Seção deste Superior Tribunal firmou


entendimento segundo o qual o mandado de segurança não
produz efeitos patrimoniais pretéritos, motivo pelo qual os
eventuais valores devidos, anteriores à data impetração,
deverão ser reclamados administrativamente ou pela via
judicial própria. Súmulas 269/STF e 271/STF. (...)
(STJ. 1ª Turma. AgRg no RMS 47.640/RS, Rel. Min. Regina
Helena Costa, julgado em 10/03/2016)

Atenção: A posição divulgada no julgado do STJ é manifestamente contrária ao art.


14, § 4º da Lei do MS. Resta aguardar, portanto, para se saber se o novo entendimento
irá realmente prevalecer. Por enquanto, fiquem atentos porque nas provas poderá ser
cobrada tanto a redação literal do art. 14, § 4º como também a transcrição do julgado
do STJ. Se ocorrer a segunda hipótese, é provável que a banca examinadora coloque
alguma expressão como "segundo a jurisprudência..." ou "segundo o STJ".

71.3. Parcelas devidas entre a data de impetração e a de implementação da concessão


da segurança devem ser pagas por meio de precatórios – (Info 576) – IMPORTANTE!!!

No mandado de segurança impetrado por servidor público contra a Fazenda


Pública, as parcelas devidas entre a data de impetração e a de implementação da
concessão da segurança devem ser pagas por meio de precatórios, e não via folha
suplementar.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.522.973-MG, Rel. Min. Diva Malerbi (Desembargadora
convocada do TRF da 3ª Região), julgado em 4/2/2016 (Info 576).
OBS: O art. 100 da CF/88 determina que os pagamentos devidos pela Fazenda Pública
estão sujeitos ao sistema de precatórios, o que abrange, inclusive, as verbas de caráter
alimentar. O simples fato de se tratar de sentença concessiva de mandado de
segurança não serve para afastar a regra dos precatórios. Nesse sentido: STF. Plenário.
RE 889173 RG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 07/08/2015 (repercussão geral). Assim,
não se tratando de dívida de pequeno valor (§ 3º do art. 100, da CF/88), deve-se
respeitar a sistemática dos precatórios.

71.4. Indicação errônea da autoridade coatora – (Info 551)

O que o juiz deverá fazer se o autor indicar incorretamente a autoridade coatora na


petição inicial? É possível que o magistrado determine a emenda da petição inicial ou
notifique a autoridade correta?
O tema é polêmico, sendo possível encontrar decisões nos dois sentidos:
1ª) NÃO. Havendo erro na indicação da autoridade coatora, deve o juiz extinguir o
processo sem julgamento do mérito, pela ausência de uma das condições da ação,
sendo vedada a substituição do polo passivo da relação processual (STJ. 1ª Turma.
AgRg no AREsp 188.954/MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
18/12/2012).
2ª) SIM. Nos casos de equívoco facilmente perceptível na indicação da autoridade
coatora, o juiz competente para julgar o mandado de segurança pode autorizar a
emenda da petição inicial ou determinar a notificação, para prestar informações, da
autoridade adequada, desde que seja possível identificá-la pela simples leitura da
petição inicial e exame da documentação anexada (STJ. 4ª Turma. RMS 45.495-SP,
Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 26/8/2014).
STJ. 4ª Turma. RMS 45.495-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 26/8/2014 (Info
551).

71.5. É possível desistir do MS mesmo após a sentença de mérito – (Info 533)

O impetrante pode desistir de mandado de segurança sem a anuência do impetrado


mesmo após a prolação da sentença de mérito.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.405.532-SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 10/12/2013
(Info 533).

71.6. Não há sucessão processual em MS – (Info 528) – (TJMSP-2016) (MPGO-2016)


No mandado de segurança, se o impetrante morre, os seus herdeiros não podem se
habilitar para continuar o processo. Assim, falecendo o impetrante, o mandado de
segurança será extinto sem resolução do mérito, ainda que já esteja em fase de
recurso. Isso ocorre em razão do caráter mandamental e da natureza personalíssima
do MS.
STJ. 3ª Seção. EDcl no MS 11.581-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/6/2013
(Info 528).
(MPGO-2016): O Mandado de Segurança deve ser extinto, sem resolução do mérito,
no caso de ocorrer o falecimento do impetrante, por não ser permitido que os
herdeiros se habilitem. BL: Info 528, STJ.

72. JUIZADOS ESPECIAIS


72.1. Requisitos para admissibilidade de reclamação e de pedido de uniformização
de jurisprudência – (Info 559) – IMPORTANTE!!!

Não é cabível reclamação, tampouco pedido de uniformização de jurisprudência ao


STJ contra acórdão de Turma Recursal do Juizado Especial da Fazenda Pública sob
a alegação de que a decisão impugnada diverge de orientação fixada em precedentes
do STJ.
STJ. 1ª Seção. Rcl 22.033-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
8/4/2015 (Info 559).

72.2. Mandado de segurança para controle da competência dos juizados especiais –


(Info 533)

É cabível mandado de segurança, a ser impetrado no Tribunal Regional Federal,


com a finalidade de promover o controle da competência dos Juizados Especiais
Federais.
STJ. 2ª Turma. RMS 37.959-BA, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 17/10/2013
(Info 533).

72.3. Defensores públicos não são intimados pessoalmente nos juizados

A jurisprudência do STJ afirma que, no âmbito dos Juizados Especiais, não é


necessária a intimação pessoal dos Defensores Públicos, podendo esta ocorrer até
mesmo pela Imprensa Oficial.
Nesse sentido: HC 241.735/SP, Min. Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma,
julgado em 19/11/2012; HC 105.548/ES, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Quinta
Turma, julgado em 27/04/2010.

73. FAZENDA PÚBLICA EM JUÍZO


73.1. Índices de juros e correção monetária aplicados para condenações contra a
Fazenda Pública – (Info 620) – IMPORTANTE!!!

O índice de correção monetária previsto no art. 1º-F da Lei 9.494/97 (TR) não pode
ser aplicado para condenações impostas à Fazenda Pública
O art. 1º-F da Lei 9.494/1997 (com redação dada pela Lei 11.960/09), para fins de
correção monetária, não é aplicável nas condenações judiciais impostas à Fazenda
Pública, independentemente de sua natureza.

Os juros de mora previstos no art. 1º-F da Lei 9.494/97 podem ser aplicados para
condenações impostas à Fazenda Pública, com exceção de matéria tributária
O art. 1º-F da Lei 9.494/1997 (com redação dada pela Lei 11.960/09), na parte em que
estabelece a incidência de juros de mora nos débitos da Fazenda Pública com base
no índice oficial de remuneração da caderneta de poupança, aplica-se às
condenações impostas à Fazenda Pública, excepcionadas as condenações oriundas
de relação jurídico-tributária.

Ações condenatórias em geral


As condenações judiciais de natureza administrativa em geral sujeitam-se aos
seguintes encargos:
a) até dezembro/2002: juros de mora: de 0,5% ao mês; correção monetária de acordo
com os índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal, com destaque
para a incidência do IPCA-E a partir de janeiro/2001;
b) no período posterior à vigência do CC/2002 e anterior à vigência da Lei nº
11.960/2009: juros de mora correspondentes à taxa Selic, vedada a cumulação com
qualquer outro índice;
c) no período posterior à vigência da Lei nº 11.960/2009: juros de mora: segundo o
índice de remuneração da caderneta de poupança; correção monetária: com base no
IPCA-E.

Servidores e empregados públicos


As condenações judiciais referentes a servidores e empregados públicos sujeitam-
se aos seguintes encargos:
a) até julho/2001: juros de mora: 1% ao mês (capitalização simples); correção
monetária: índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal, com
destaque para a incidência do IPCA-E a partir de janeiro/2001;
b) agosto/2001 a junho/2009: juros de mora: 0,5% ao mês; correção monetária: IPCA-
E;
c) a partir de julho/2009: juros de mora: remuneração oficial da caderneta de
poupança; correção monetária: IPCA-E.

Desapropriações
No tocante às condenações judiciais referentes a desapropriações diretas e indiretas,
relativamente à correção monetária, incidem, em síntese, os índices previstos no
Manual de Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a incidência do IPCA-E
a partir de janeiro de 2001.
Em relação aos juros de mora, de acordo com o Manual de Cálculos da Justiça
Federal, aplicam-se os seguintes índices:
a) até dezembro/2009: 0,5% (capitalização simples), nos termos do art. 15-B do
Decreto-Lei n. 3.365/1941;
b) janeiro/2010 a abril/2012: 0,5% (capitalização simples), nos termos do art. 97, § 16,
do ADCT (incluído pela EC n. 62/2009), combinado com a Lei n. 8.177/1991;
c) a partir de maio/2012: o mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta
de poupança, capitalizados de forma simples, correspondentes a:
i) 0,5% ao mês, caso a taxa SELIC ao ano seja superior a 8,5%;
ii) 70% da taxa SELIC ao ano, mensalizada, nos demais casos, nos termos do art. 97,
§ 16, do ADCT (incluído pela EC n. 62/2009), combinado com a Lei n. 8.177/1991, com
alterações da MP n. 567/2012 convertida na Lei n. 12.703/2012.
No que concerne aos juros compensatórios, os índices previstos são os seguintes:
a) até 10/06/1997: 1% (capitalização simples), nos termos da Súmula n. 618/STF e
Súmula n. 110 do extinto TFR;
b) 11/06/1997 a 13/09/2001: 0,5% (capitalização simples), nos termos do art. 15-A, do
Decreto-Lei n. 3.365/41, introduzido pela MP n. 1.577/97 e suas sucessivas reedições;
c) a partir de 14/09/2001: 1% (capitalização simples), nos termos da ADI 2.332/DF,
REsp 1.111.829/SP e Súmula n. 408/STJ.

Matéria previdenciária
As condenações impostas à Fazenda Pública de natureza previdenciária sujeitam-
se à incidência do INPC, para fins de correção monetária, no que se refere ao período
posterior à vigência da Lei nº 11.430/2006, que incluiu o art. 41-A na Lei nº 8.213/91.
Quanto aos juros de mora, no período posterior à vigência da Lei nº 11.960/2009,
incidem segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança.

Indébito tributário
A correção monetária e a taxa de juros de mora incidentes na repetição de indébitos
tributários devem corresponder às utilizadas na cobrança de tributo pago em atraso.
Não havendo disposição legal específica, os juros de mora são calculados à taxa de
1% ao mês (art. 161, § 1º, do CTN).
Observada a regra isonômica e havendo previsão na legislação da entidade
tributante, é legítima a utilização da taxa Selic, sendo vedada sua cumulação com
quaisquer outros índices.
STJ. 1ª Seção. REsp 1495146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 22/2/18
(recurso repetitivo) (Info 620).
OBS:
Juros e correção monetária em caso de condenações impostas à Fazenda Pública:
Imagine que determinado indivíduo ingressa com uma ação judicial pedindo que a
Fazenda Pública seja condenada a pagar quantia em dinheiro.
 Ex1: servidor público propõe ação judicial pedindo a condenação da União ao
pagamento de gratificação funcional de forma retroativa desde a data em que
foi publicada determinada lei.
 Ex2: segurado fez requerimento administrativo ao INSS pedindo
aposentadoria por invalidez; como o pedido foi indeferido, o segurado
ingressa com ação judicial pleiteando que o INSS conceda o benefício e que
pague os valores de forma retroativa à data do requerimento administrativo.

Levará alguns meses ou anos até que a ação chegue ao fim. Dessa forma, como há essa
demora em o processo terminar, a legislação prevê que o órgão judicial, ao condenar
a Fazenda Pública, deverá determinar que ela pague a quantia principal acrescida de
juros e correção monetária. Assim, em nosso primeiro exemplo, o juiz irá determinar
que a União pague as gratificações atrasadas acrescidas de juros e correção monetária.
No segundo exemplo, o magistrado condenará o INSS a pagar as prestações pretéritas
da aposentadoria mais juros e correção monetária.

Quais os índices de juros e correção monetária que a Lei prevê para esses casos? O
tema é tratado no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97:
Art. 1º-F. Nas condenações impostas à Fazenda Pública,
independentemente de sua natureza e para fins de atualização
monetária, remuneração do capital e compensação da mora,
haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento,
dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à
caderneta de poupança. (Redação dada pela Lei nº
11.960/2009)

Desse modo, de acordo com esse dispositivo, deveriam ser adotados os seguintes
parâmetros:
 Correção monetária: índice oficial de remuneração básica da caderneta de
poupança (este índice é chamado de TR — Taxa Referencial);
 Juros de mora: juros simples no mesmo percentual que é pago na poupança
(0,5% ao mês / 6% ao ano).

Assim, de acordo com o texto da Lei, quando a Fazenda Pública estivesse em débito
(atraso), a correção monetária e os juros de mora deveriam adotar os índices e percentuais
aplicáveis às cadernetas de poupança. Esse art. 1ºF da Lei nº 9.494/97 é constitucional?
O que decidiu o STF a respeito?

Débitos relacionados oriundos de relação jurídico-tributária: Pela redação do art. 1º-


F, a correção monetária e os juros de mora dos débitos da Fazenda Pública deveriam
sempre adotar os índices e percentuais aplicáveis às cadernetas de poupança,
independentemente da natureza do débito. Isso significa dizer que, pela lei, não
importava se a dívida fosse relacionada com servidor público (natureza
administrativa), com segurado do INSS (natureza previdenciária) ou com contribuinte
de tributos (natureza tributária). Os índices seriam sempre esses, independentemente
da origem da dívida. Isso estava claro por meio da expressão “independentemente de
sua natureza” prevista no art. 1ºF. O STF, contudo, entendeu que essa previsão é
inconstitucional.

Para o Supremo, se as dívidas da Fazenda Pública são relacionadas com débitos de


natureza tributária, deverão ser aplicados os mesmos juros de mora que são exigidos
pelo Poder Público quando ele está cobrando os créditos tributários.

Vamos explicar melhor.

Se o contribuinte não paga um imposto federal, o Fisco irá cobrar dele exigindo, além
da quantia principal, juros e correção monetária calculados com base em um índice
chamado SELIC (Sistema Especial de Liquidação e Custódia). Logo, se o contribuinte
pagou um imposto federal que era indevido, ele tem direito de receber de volta a
quantia paga também acrescida de juros e correção monetária calculados com base na
SELIC.

Em suma, em ações de indébito tributário, a Fazenda Pública deverá pagar suas


dívidas segundo o mesmo índice de juros que utiliza para receber os créditos
tributários (atualmente, a SELIC). Isso se justifica em razão do princípio da equidade
(isonomia). Não seria isonômico a Fazenda Pública cobrar os créditos tributários
utilizando a SELIC e no momento em que tivesse que pagar alguma quantia ao
contribuinte utilizasse os índices da caderneta de poupança (que são bem menores
que a SELIC). O STF assim decidiu, fixando a seguinte tese:
O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº
11.960/2009, na parte em que disciplina os juros moratórios
aplicáveis a condenações da Fazenda Pública, é
inconstitucional ao incidir sobre débitos oriundos de relação
jurídico-tributária, aos quais devem ser aplicados os
mesmos juros de mora pelos quais a Fazenda Pública
remunera seu crédito tributário, em respeito ao princípio
constitucional da isonomia (art. 5º, da CF/88).
STF. Plenário. RE 870947/SE, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
20/9/2017 (repercussão geral) (Info 878).

Vale ressaltar que, na tese acima exposta, fala-se apenas em juros de mora. Veja: “aos
quais devem ser aplicados os mesmos juros de mora pelos quais a Fazenda Pública
remunera seu crédito tributário”. Apesar disso, ela abrange juros e correção
monetária. Explico.

O índice de juros para débitos tributários é a SELIC. Ocorre que a SELIC é um tipo de
índice de juros moratórios que já abrange juros e correção monetária. Como assim?
No cálculo da SELIC (em sua “fórmula matemática”), além de um percentual a título
de juros moratórios, já é embutida a taxa de inflação estimada para o período (correção
monetária). Em outras palavras, a SELIC é uma espécie de índice que engloba juros
e correção monetária. Logo, a SELIC já irá substituir os dois índices do art. 1º-F da Lei
nº 9.494/97, ou seja, tanto o índice de juros como de correção monetária.

E com relação aos débitos de natureza não-tributária, quais os índices que devem ser
aplicados? O art. 1º-F é constitucional? O art. 1º-F trata sobre juros e também sobre
correção monetária. São institutos distintos. Quanto à CORREÇÃO MONETÁRIA, o
STF afirmou que a previsão do art. 1º-F é inconstitucional. A correção monetária é
simplesmente uma forma de manter o poder de compra da moeda. Se uma pessoa tem
R$ 100 mil hoje, não significa que daqui a dois anos esses R$ 100 mil conseguirão
comprar as mesmas coisas. O normal é que não, em virtude da inflação. Logo, a
correção monetária tem por objetivo fazer com que o valor de compra da moeda seja
“atualizado” O art. 1º-F afirma que a correção monetária deve ser feita pelo índice
oficial da poupança (que é chamado de TR — Taxa Referencial). Ocorre que isso
não consegue evitar a perda de poder aquisitivo da moeda. Esse índice (TR) é fixado
ex ante, ou seja, previamente, a partir de critérios técnicos não relacionados com a
inflação considerada no período. Em outras palavras, a TR é calculada antes de a
inflação ocorrer. Assim, a remuneração da caderneta de poupança – diferentemente
de qualquer outro índice oficial de inflação – é sempre prefixada. Essa circunstância
deixa claro que existe uma desvinculação entre a remuneração da poupança e a
evolução dos preços da economia, isto é, a TR não capta a variação da inflação. A
inflação é um fenômeno tipicamente econômico-monetário e, portanto, mostra-se
insuscetível de captação apriorística (ex ante). Não dá para se ter certeza do quanto
será a inflação e estabelecer um índice antes que ela ocorra. Por essa razão, diz-se que
todo índice definido ex ante é incapaz de refletir a real flutuação de preços apurada
no período em referência. É o caso da TR (poupança). Dessa maneira, como este
índice não consegue manter o valor real da condenação, ele afronta à própria decisão
judicial, tendo em vista que o valor real do crédito previsto na condenação judicial não
será o valor que o credor irá receber efetivamente. Este valor terá sido corroído pela
inflação. A finalidade da correção monetária consiste em deixar a parte na mesma
situação econômica que se encontrava antes. Nesse sentido, o direito à correção
monetária é um reflexo imediato da proteção da propriedade.

A título de curiosidade, veja como a TR é um índice completamente injusto e que não


garante o poder de compra: Imaginemos que, em maio de 2009, a pessoa possuía um
crédito de R$ 100 mil para receber da União. Se aplicarmos a TR, em dezembro de 2014
esse crédito estará em R$ 103.572,42 (cento e três mil, quinhentos e setenta e dois reais
e quarenta e dois centavos). É óbvio que nesses 5 anos o valor da inflação foi superior
a isso, ou seja, mesmo com a correção monetária, a pessoa perdeu poder de compra.
Se aplicarmos o IPCA-E como índice de correção monetária neste mesmo período, esse
crédito será equivalente a R$ 137.913,29 (cento e trinta e sete mil, novecentos e treze
reais e vinte e nove centavos). Perceba que a diferença supera 30%. Em suma, a taxa
básica de remuneração da poupança não mede, de forma adequada, a inflação
acumulada do período e, portanto, não pode servir de parâmetro para a correção
monetária.

O STF assim decidiu, fixando a seguinte tese:


O art. 1º-F da Lei 9.494/97, com a redação dada pela Lei
11.960/09, na parte em que disciplina a atualização monetária
das condenações impostas à Fazenda Pública segundo a
remuneração oficial da caderneta de poupança, revela-se
inconstitucional ao impor restrição desproporcional ao
direito de propriedade (art. 5º, XXII, da CF/88), uma vez que
não se qualifica como medida adequada a capturar a
variação de preços da economia, sendo inidônea a promover
os fins a que se destina.
STF. Plenário. RE 870947/SE, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
20/9/2017 (repercussão geral) (Info 878).

Quanto aos JUROS DE MORA relacionados com dívidas não-tributárias, o STF


afirmou que o índice previsto no art. 1º-F é válido (constitucional). O STF entendeu
que não há qualquer inconstitucionalidade no fato de a lei ter previsto que os juros
moratórios das dívidas não-tributárias seriam equivalentes aos da caderneta de
poupança. Assim, no caso de juros moratórios quanto a débitos não-tributários da
Fazenda Pública, continua sendo aplicado o art. 1º-F. É o que acontece, por exemplo,
quando a Fazenda Pública é condenada a pagar benefícios previdenciários ou verbas
a servidores públicos. Em tais situações, os juros moratórios serão os da poupança.
O STF assim decidiu, fixando a seguinte tese:
Quanto às condenações oriundas de relação jurídica não-
tributária, a fixação dos juros moratórios segundo o índice
de remuneração da caderneta de poupança é constitucional,
permanecendo hígido, nesta extensão, o disposto no art. 1º-
F da Lei 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009.
STF. Plenário. RE 870947/SE, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
20/9/2017 (repercussão geral) (Info 878).

Resumindo:
JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA ENVOLVENDO
CONDENAÇÕES DA FAZENDA PÚBLICA
DÉBITOS DE NATUREZA DÉBITOS DE NATUREZA NÃO-
TRIBUTÁRIA TRIBUTÁRIA
O que previa o art. 1º-F da Lei nº O que previa o art. 1º-F da Lei nº
9.494/97? 9.494/97?
• Correção monetária: índice oficial de • Correção monetária: índice oficial de
remuneração básica da poupança (TR); remuneração básica da poupança (TR);
• Juros de mora: juros no mesmo • Juros de mora: juros no mesmo
percentual que é pago na poupança percentual que é pago na poupança
(0,5% a.m. / 6% a.a.). (0,5% a.m. / 6% a.a.).
O que decidiu o STF? O que decidiu o STF?
Essa previsão é inconstitucional.
Tanto os índices de juros como de • Quanto à correção monetária: o art. 1º-
correção monetária previstos no art. 1º-F F é inconstitucional. O índice da
são inconstitucionais. poupança não consegue capturar a
variação de preços da economia, não
sendo capaz de fazer a correta
atualização monetária. Logo, há uma
violação do direito à propriedade.
• Quanto aos juros de mora: o art. 1º-F é
constitucional.

A decisão do STF acima explicada traz os parâmetros gerais sobre as condenações


envolvendo a Fazenda Pública e declara que a TR é inconstitucional. No entanto,
vários temas não foram enfrentados pelo STF, razão pela qual o STJ teve que se
debruçar sobre o assunto.

O trabalho do STJ foi o de esmiuçar quais os índices de correção monetária e taxas


de juros deveriam ser aplicados em cada um dos assuntos. Ex: condenação
envolvendo servidores públicos, desapropriação, matéria tributária etc. Isso porque o
STF afirmou que a TR é inconstitucional, mas não forneceu mais detalhes sobre
quais os índices deveriam substitui-la, apontando, em um trecho do voto do Min.
Luiz Fux (RE 870947/SE), que seria o SELIC e o IPCA-E, mas sem que isso tenha
constado expressamente na ementa.

Vejamos o que foi decidido.

CORREÇÃO MONETÁRIA
O que decidiu o STF: O art. 1º-F da Lei 9.494/94 (com redação dada pela Lei nº
11.960/2009) prevê a TR (Taxa Referencial) como índice de correção monetária nas
condenações judiciais proferidas contra a Fazenda Pública. Ocorre que a TR não
preserva o patrimônio do credor da Fazenda Pública, razão pela qual é um índice
inconstitucional (viola o direito de propriedade).

O que fez, então, o STJ: Concordou com o STF e afirmou o seguinte: como a TR é
inconstitucional, ela não poderá ser utilizada para nenhuma** condenação
envolvendo a Fazenda Pública, não importando a matéria discutida (previdenciário,
tributário, administrativo, servidores públicos etc.). Veja a tese fixada pelo Tribunal:
O art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997 (com redação dada pela Lei
nº 11.960/2009), para fins de correção monetária, não é
aplicável nas condenações judiciais impostas à Fazenda
Pública, independentemente de sua natureza.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 22/02/2018 (recurso repetitivo) (Info
620).

** Cuidado. O STJ decidiu que o índice de correção monetária aplicável sobre as


contas do FGTS continua sendo a TR e que isso é válido (STJ. 1ª Seção. REsp
1.614.874-SC, Min. Benedito Gonçalves, jugado em 11/04/2018).

JUROS DE MORA
O que decidiu o STF:
 Regra: o índice de juros de mora previsto no art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com
redação dada pela Lei 11.960/09). Assim, em regra, desde a edição da Lei
11.960/09, em toda condenação envolvendo a Fazenda Pública deverá ser
aplicado o índice oficial de remuneração da caderneta de poupança.
 Exceção: em caso de condenações contra a Fazenda Pública envolvendo
matéria tributária (ex: indébito tributário), não deverá ser aplicado o art. 1º-
F. Esse índice é inconstitucional em assuntos tributários porque viola o
princípio da isonomia. Se a Fazenda Pública for condenada a pagar ao
particular algum valor relacionado com matéria tributária, os juros aplicados
devem ser os mesmos que o Fisco utiliza para cobrar os contribuintes. Ex: a
União cobra os contribuintes utilizando a SELIC; logo, se ela for condenada a
pagar algum valor tributário, também deverá ser aplicada a SELIC (e não o art.
1º-F).

O que fez, então, o STJ: Seguiu o mesmo entendimento e fixou a seguinte tese:
O art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997 (com redação dada pela Lei
nº 11.960/2009), na parte em que estabelece a incidência de
juros de mora nos débitos da Fazenda Pública com base no
índice oficial de remuneração da caderneta de poupança,
aplica-se às condenações impostas à Fazenda Pública,
excepcionadas as condenações oriundas de relação jurídico-
tributária.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 22/02/2018 (recurso repetitivo) (Info
620).

Fixadas as duas premissas acima, vejamos agora como o STJ decidiu em cada uma das
matérias específicas.

CONDENAÇÕES JUDICIAIS DE NATUREZA ADMINISTRATIVA EM GERAL


O que são? Quando o STJ fala em “condenações judiciais de natureza administrativa
em geral”, ele está se referindo às “ações condenatórias em geral”. Ex: sentença em
ação de responsabilidade civil do Estado; sentença em ação de cobrança contra o
Estado por enriquecimento sem causa. São as condenações em geral, que não se
enquadram em nenhuma das outras hipóteses.

Juros de mora: Como não é matéria tributária, pode ser aplicado o art. 1º-F da Lei
9.494/97 (com redação dada pela Lei 11.960/09). Assim pode ser aplicado o índice
oficial de juros da caderneta de poupança. Ocorre que essa determinação legal
somente foi instituída a partir da Lei 11.960/09. Desse modo, para os períodos
anteriores a esse diploma, deverão ser aplicados os índices de juros previstos nas
respectivas leis existentes. Vou fazer um resumo aqui (não precisa decorar esta tabela):
JUROS DE MORA NAS CONDENAÇÕES JUDICIAIS DE NATUREZA
ADMINISTRATIVA EM GERAL
PERÍODOS ENCARGOS FUNDAMENTO
Arts. 1.062, 1.063 e 1.064 do
CC/1916.
0,5% ao mês (juros Art. 1.062. A taxa dos juros
Até dezembro/2002
simples) moratórios, quando não
convencionada (art. 1.262), será
de 6% (seis por cento) ao ano.
Art. 406 do CC/2002:
De janeiro/2003
SELIC Art. 406. Quando os juros
a junho/2009
moratórios não forem
convencionados, ou o forem
sem taxa estipulada, ou quando
provierem de determinação da
lei, serão fixados segundo a
taxa que estiver em vigor para
a mora do pagamento de
impostos devidos à Fazenda
Nacional.
A partir de Índices oficiais da Lei 11.960/2009, que alterou o
julho/2009 poupança art. 1º-F da Lei 9.494/97.

Correção monetária: Não pode ser aplicado o art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997 (com
redação dada pela Lei nº 11.960/2009). Assim, não pode ser aplicada a TR em
nenhum período. Considerando que a TR é inconstitucional, qual índice deve ser
utilizado então? Aqui nós temos uma sucessão de índices no tempo. Estes índices
foram todos organizados no Manual de Cálculos da Justiça Federal. O STJ afirmou
que os índices ali previstos estão corretos. Não é necessário que você saiba os detalhes
sobre isso. O Manual de Cálculos da Justiça Federal é utilizado para nortear os Juízes,
servidores e partes na elaboração dos cálculos de condenações judiciais envolvendo a
Fazenda Pública federal. Nele constam os índices de juros e correção monetária que
espelham o entendimento do STJ sobre o tema. O referido Manual é aprovado por
meio de Resolução do Conselho da Justiça Federal, que é composto por Ministros do
STJ e Desembargadores dos Tribunais Regionais Federais. O Manual encontra-se
disponível neste endereço: https://www2.jf.jus.br/phpdoc/sicom/sicomIndex.php

Repito: não é necessário que você conheça esses índices acima. Basta que você saiba
que o STJ afirmou que, para fins de correção monetária, deverão ser aplicados os
índices de correção monetária previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal.

Conclusões: Esta tabela pode ser cobrada nas provas, em especial na fase de sentença:
CONDENAÇÕES JUDICIAIS DE NATUREZA ADMINISTRATIVA EM
GERAL
PERÍODOS ENCARGOS
Juros de mora: 0,5% ao mês.
Até dezembro/2002 Correção monetária: de acordo com o Manual de Cálculos
da JF.
Aplica-se apenas a taxa SELIC, vedada a cumulação com
Depois do CC/02 e
qualquer outro índice (isso porquea SELIC inclui juros e
antes da Lei 11.960/09
correção).
Juros de mora: índice de remuneração da caderneta de
Depois da vigência
poupança.
da Lei 11.960/09
Correção monetária: IPCA-E

A tese ficou assim redigida (a tese também pode ser exigida nas provas):
As condenações judiciais de natureza administrativa em
geral sujeitam-se aos seguintes encargos:
a) até dezembro/2002: juros de mora de 0,5% ao mês; correção
monetária de acordo com os índices previstos no Manual de
Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a incidência
do IPCA-E a partir de janeiro/2001;
b) no período posterior à vigência do CC/2002 e anterior à
vigência da Lei nº 11.960/2009: juros de mora
correspondentes à taxa Selic, vedada a cumulação com
qualquer outro índice;
c) no período posterior à vigência da Lei nº 11.960/2009: juros
de mora segundo o índice de remuneração da caderneta de
poupança; correção monetária com base no IPCA-E.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 22/02/2018 (recurso repetitivo) (Info
620).

CONDENAÇÕES JUDICIAIS REFERENTES A SERVIDORES E EMPREGADOS


PÚBLICOS
Acima, vimos as condenações em geral da Fazenda Pública (ex: indenização por danos
morais). No caso de condenações referentes a servidores e empregados públicos,
existem algumas regras específicas. Imagine que determinado servidor público
ingressa com ação judicial cobrando determinada gratificação que ele entende devida.
Vamos ver abaixo quais os índices de juros e correção monetária que o magistrado
deverá aplicar em caso de condenação.
Veja a tabela abaixo, que pode ser cobrada nas provas, em especial na fase de sentença:
CONDENAÇÕES RELACIONADAS COM VERBAS DE SERVIDORES E
EMPREGADOS PÚBLICOS
PERÍODOS ENCARGOS
Juros de mora: 1% ao mês (capitalização simples).
Até julho/2001 Correção monetária: de acordo com o Manual de Cálculos
da JF.
De agosto/2001 Juros de mora: 0,5% ao mês.
a junho/2009 Correção monetária: IPCA-E.
Juros de mora: índice de remuneração da caderneta de
A partir de
poupança.
julho/2009
Correção monetária: IPCA-E

A tese ficou assim redigida:


As condenações judiciais referentes a servidores e
empregados públicos sujeitam-se aos seguintes encargos:
a) até julho/2001: juros de mora: 1% ao mês (capitalização
simples); correção monetária: índices previstos no Manual
de Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a
incidência do IPCA-E a partir de janeiro/2001;
b) agosto/2001 a junho/2009: juros de mora: 0,5% ao mês;
correção monetária: IPCA-E;
c) a partir de julho/2009: juros de mora: remuneração oficial
da caderneta de poupança; correção monetária: IPCA-E.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 22/02/2018 (recurso repetitivo) (Info
620).

CONDENAÇÕES JUDICIAIS REFERENTES A DESAPROPRIAÇÕES


Correção monetária: Aplicam-se os índices previstos no Manual de Cálculos da
Justiça Federal.

Juros de mora: Os juros de mora decorrem da demora no pagamento. Em relação aos


juros de mora, a tabela a seguir, extraída do Manual de Cálculos daJustiça Federal,
demonstra os índices incidentes de acordo com o período respectivo (não precisa
memorizar):
JUROS DE MORA NA DESAPROPRIAÇÃO
PERÍODOS ENCARGOS FUNDAMENTO
Art. 15-B do DL 3.365/41
Art. 15-B. Nas ações a que se
refere o art. 15-A, os juros
moratórios destinam-se a
recompor a perda decorrente
do atraso no efetivo
pagamento da indenização
0,5% ao mês
Até dezembro/2009 fixada na decisão final de
(capitalização simples)
mérito, e somente serão
devidos à razão de até seis por
cento ao ano, a partir de 1º de
janeiro do exercício seguinte
àquele em que o pagamento
deveria ser feito, nos termos
do art. 100 da Constituição.
Art. 97, § 16, do ADCT
(incluído pela EC 62/09),
combinado com a Lei
8.177/91
§ 16. A partir da promulgação
desta Emenda Constitucional,
a atualização de valores de
requisitórios, até o efetivo
pagamento,
independentemente de sua
De janeiro/2010 0,5% ao mês
natureza, será feita pelo
a abril/2009 (capitalização simples)
índice oficial de remuneração
básica da caderneta de
poupança, e, para fins de
compensação da mora,
incidirão juros simples no
mesmo percentual de juros
incidentes sobre a caderneta
de poupança, ficando
excluída a incidência de juros
compensatórios.
O mesmo percentual de Art. 97, § 16, do ADCT
jurosincidentes sobre a (incluído pela EC 62/09),
caderneta de poupança, combinado com o art. 12 da
capitalizados de Lei 8.177/91, com alterações
formasimples, da MP 567/12 convertida na
A partir de
correspondentes a: - 0,5% Lei 12.703/12:
julho/2009
ao mês, caso a taxa SELIC Art. 12. Em cada período de
ao ano seja superior a 8,5%; rendimento, os depósitos de
- 70% da taxa SELIC ao poupança serão
ano,mensalizada, nos remunerados:
demais casos.
I – como remuneração básica,
por taxa correspondente à
acumulação das TRD, no
período transcorrido entre o
dia do último crédito de
rendimento, inclusive, e o dia
do crédito de rendimento,
exclusive;
II – como remuneração
adicional, por juros de:
a) 0,5% (cinco décimos por
cento) ao mês, enquanto a
meta da taxa Selic ao ano,
definida pelo Banco Central
do Brasil, for superior a 8,5%
(oito inteiros e cinco décimos
por cento); ou
b) 70% (setenta por cento) da
meta da taxa Selic ao ano,
definida pelo Banco Central
do Brasil, mensalizada,
vigente na data de início do
período de rendimento, nos
demais casos.

Juros compensatórios: O juiz pode autorizar que, antes de a ação de desapropriação


chegar ao fim, o Poder Público já assuma a posse do bem desapropriado. A isso se
chama de imissão provisória na posse. Ocorre que, se o valor da indenização fixada
na sentença for maior do que a quantia oferecida pelo Poder Público, isso significa que
o proprietário do bem estava certo ao questionar esse valor e que ele foi
“injustamente” retirado prematuramente da posse de seu bem. Digo “injustamente”
porque o valor oferecido era menor realmente do que o preço devido. Assim, a
legislação, como forma de compensar essa perda antecipada do bem, prevê que o
expropriante deverá pagar juros compensatórios ao expropriado. Desse modo, os
juros compensatórios na desapropriação são aqueles fixados com o objetivo de
compensar o proprietário em razão da ocorrência de imissão provisória na posse.
No que concerne aos juros compensatórios, os índices previstos são os seguintes (não
decorar):
JUROS COMPENSATÓRIOS NA DESAPROPRIAÇÃO
PERÍODOS ENCARGOS FUNDAMENTO
Súmula 618 STF: Na
desapropriação, direta ou
indireta, a taxa dos juros
compensatórios é de 12% (doze
1% ao mês por cento) ao ano.
Até 10/06/97
(capitalização simples) Súmula 110-TFR: Os juros
compensatórios, na
desapropriação, são calculados
à taxa de 12% (doze por cento)
ao ano.
Art. 15-B do DL 3.365/41
Art. 15-B. Nas ações a que se
refere o art. 15-A, os juros
moratórios destinam-se a
recompor a perda decorrente
do atraso no efetivo pagamento
da indenização fixada na
De 11/06/97 a 0,5% ao mês
decisão final de mérito, e
13/09/01 (capitalização simples)
somente serão devidos à razão
de até seis por cento ao ano, a
partir de 1º de janeiro do
exercício seguinte àquele em
que o pagamento deveria ser
feito, nos termos do art. 100 da
Constituição.
STF ADI 2.332/DF; STJ REsp
1.111.829/SP
Súmula 408-STJ: Nas ações de
desapropriação, os juros
compensatórios incidentes
1% ao mês após a Medida Provisória n.
A partir de 14/09/01
(capitalização simples) 1.577, de 11/6/1997, devem ser
fixados em 6% ao ano até
13/09/2001, e, a partir de
então, em 12% ao ano, na forma
da súmula n. 618 do Supremo
Tribunal Federal.

Como se verifica, no âmbito das condenações judiciais referentes a desapropriações


diretas e indiretas, existem regras específicas no que concerne aos juros moratórios e
compensatórios, razão pela qual não se justifica a incidência do art. 1º-F da Lei Nº
9.494/97 (com redação dada pela Lei Nº 11.960/2009), nem para compensação da mora
(juros de mora)nem para remuneração do capital (juros compensatórios).

Conclusão: Esta tabela pode ser cobrada nas provas, em especial na fase de sentença:
CONDENAÇÕES JUDICIAIS ENVOLVENDO DESAPROPRIAÇÃO
ENCARGOS ÍNDICES
Índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça
Correção monetária
Federal.
a) até dezembro/2009: 0,5% (capitalização simples);
b) janeiro/2010 a abril/2012: 0,5% (capitalização simples);
c) a partir de maio/2012: juros da caderneta de poupança,
capitalizados de forma simples, correspondentes a:
Juros de mora
c.1) 0,5% ao mês, caso a taxa SELIC ao ano seja superior a
8,5%;
c.2) 70% da taxa SELIC ao ano, mensalizada, nos demais
casos.
a) até 10/06/1997: 1% (capitalização simples)
Juros compensatórios b) 11/06/1997 a 13/09/2001: 0,5% (capitalização simples);
c) a partir de 14/09/2001: 1% (capitalização simples).
A tese ficou assim redigida:
No tocante às condenações judiciais referentes a
desapropriações diretas e indiretas, relativamente à correção
monetária, incidem, em síntese, os índices previstos no
Manual de Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a
incidência do IPCA-E a partir de janeiro de 2001.
Em relação aos juros de mora, de acordo com o Manual de
Cálculos da Justiça Federal, aplicam-se os seguintes índices:
a) até dezembro/2009: 0,5% (capitalização simples), nos
termos do art. 15-B do Decreto-Lei n. 3.365/1941;
b) janeiro/2010 a abril/2012: 0,5% (capitalização simples), nos
termos do art. 97, § 16, do ADCT (incluído pela EC n.
62/2009), combinado com a Lei n. 8.177/1991;
c) a partir de maio/2012: o mesmo percentual de juros
incidentes sobre a caderneta de poupança, capitalizados de
forma simples, correspondentes a:
i) 0,5% ao mês, caso a taxa SELIC ao ano seja superior a 8,5%;
ii) 70% da taxa SELIC ao ano, mensalizada, nos demais casos,
nos termos do art. 97, § 16, do ADCT (incluído pela EC n.
62/2009), combinado com a Lei n. 8.177/1991, com alterações
da MP n. 567/2012 convertida na Lei n. 12.703/2012.
No que concerne aos juros compensatórios, os índices
previstos são os seguintes:
a) até 10/06/1997: 1% (capitalização simples), nos termos da
Súmula n. 618/STF e Súmula n. 110 do extinto TFR;
b) 11/06/1997 a 13/09/2001: 0,5% (capitalização simples), nos
termos do art. 15-A, do Decreto-Lei n. 3.365/41, introduzido
pela MP n. 1.577/97 e suas sucessivas reedições;
c) a partir de 14/09/2001: 1% (capitalização simples), nos
termos da ADI 2.332/DF, REsp 1.111.829/SP e Súmula n.
408/STJ.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 22/02/2018 (recurso repetitivo) (Info
620).

CONDENAÇÕES JUDICIAIS DE NATUREZA PREVIDENCIÁRIA: Como já


mencionado, o art. 1º-F da Lei 9.494/97, para fins de correção monetária, não é
aplicável nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua
natureza, o que impede, evidentemente, a sua utilização para fins de atualização
monetária de condenações de natureza previdenciária, impondo-se a adoção dos
seguintes critérios:

Correção monetária:
 Antes da Lei nº 11.430/2006: devem ser aplicados os índices previstos no
Manual de Cálculos da JF.
 Depois da Lei nº 11.430/2006: INPC.

A Lei nº 11.430/2006 incluiu o art. 41-A na Lei nº 8.213/91 com a seguinte redação:
Art. 41-A. O valor dos benefícios em manutenção será
reajustado, anualmente, na mesma data do reajuste do salário
mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas datas de
início ou do último reajustamento, com base no Índice
Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, apurado pela
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.
(Incluído pela Lei nº 11.430/2006)

Observação importante: se for benefício assistencial (BPC, também chamado de


LOAS), neste caso, aplica-se o IPCA-E, conforme decidiu o STF no RE 870947/SE.
Portanto, não confunda:
 Benefício previdenciário: INPC.
 Benefício assistencial: IPCA-E.

Juros de mora:
 Antes da Lei nº 11.960/2009: 1% ao mês, sujeitos à capitalização simples (art.
3º do DL 2.322/87).
 Depois da Lei nº 11.960/2009: juros da poupança (art. 1º-F da Lei 9.494/97, com
a redação dada pela Lei nº 11.960/2009).

Conclusão: Veja a tabela abaixo, que pode ser cobrada nas provas, em especial na fase
de sentença:
CONDENAÇÕES RELACIONADAS COM VERBAS DE NATUREZA
PREVIDENCIÁRIA
PERÍODOS ENCARGOS
Juros de mora: 1% ao mês.
Até a vigência da
Correção monetária: de acordo com o Manual de Cálculos
Lei 11.430/2006
da JF.
Depois da Lei Juros de mora: 1% ao mês.
11.430/2006 e antes da Correção monetária: INPC.
Lei 11.960/2009
Juros de mora: índice de remuneração da caderneta de
Período posterior à
poupança.
Lei 11.960/2009
Correção monetária: INPC.

Atualmente, portanto, as condenações da Fazenda Pública envolvendo verbas


previdenciárias devem obedecer aos seguintes encargos:
 Juros de mora: índice da poupança.
 Correção monetária: INPC.

A tese ficou assim redigida:


As condenações impostas à Fazenda Pública de natureza
previdenciária sujeitam-se à incidência do INPC, para fins
de correção monetária, no que se refere ao período posterior
à vigência da Lei nº 11.430/2006, que incluiu o art. 41-A na
Lei nº 8.213/91.
Quanto aos juros de mora, no período posterior à vigência
da Lei nº 11.960/2009, incidem segundo a remuneração
oficial da caderneta de poupança.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 22/02/2018 (recurso repetitivo) (Info
620).

CONDENAÇÕES JUDICIAIS NA REPETIÇÃO DE INDÉBITOS TRIBUTÁRIOS: Em


relação às condenações judiciais de natureza tributária, é ilegítima a aplicação do art.
1º-F da Lei nº 9.494/97, com redação dada pela Lei nº 11.960/2009, tanto em relação à
correção monetária quanto aos juros de mora.

Diante da inconstitucionalidade do art. 1º-F, quais serão os índices de correção


monetária e juros a serem aplicados? Em ações de indébito tributário, a Fazenda
Pública deverá pagar suas dívidas segundo o mesmo índice de juros que utiliza para
receber os créditos tributários. Isso se justifica em razão do princípio da isonomia.
Não seria isonômico a Fazenda Pública cobrar os créditos tributários utilizando um
índice e no momento em que tivesse que pagar alguma quantia ao contribuinte
utilizasse outros índices menores, como os da poupança.

Em suma:
 Correção monetária e juros de mora: são os mesmos utilizados pelo Fisco
para a cobrança de tributo pago em atraso.
 Se o ente tributante adotar a taxa SELIC para cobrança de seus tributos (ex:
União): neste caso, será adotada também a SELIC para a repetição de
indébitos tributários. Como a SELIC já engloba juros e correção monetária,
com a sua incidência fica vedada a cumulação com quaisquer outros índices.
 Se o ente tributante não tiver uma lei definindo a taxa de juros a ser aplicada
na cobrança de tributos: nesta hipótese, os juros de mora são calculados à
taxa de 1% ao mês.

A tese ficou assim redigida:


A correção monetária e a taxa de juros de mora incidentes na
repetição de indébitos tributários devem corresponder às
utilizadas na cobrança de tributo pago em atraso.
Não havendo disposição legal específica, os juros de mora
são calculados à taxa de 1% ao mês (art. 161, § 1º, do CTN).
Observada a regra isonômica e havendo previsão na
legislação da entidade tributante, é legítima a utilização da
taxa Selic, sendo vedada sua cumulação com quaisquer
outros índices.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 22/02/2018 (recurso repetitivo) (Info
620).

QUADRO-RESUMO DA SITUAÇÃO ATUAL:


JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA EM CONDENAÇÕES DA FAZENDA
PÚBLICA
MATÉRIA ÍNDICES ATUAIS
Condenações judiciais • Juros de mora: poupança.
em geral (ex: danos • Correção monetária: IPCA-E
morais)
Verbas de servidores e • Juros de mora: poupança.
empregados públicos Correção monetária: IPCA-E
• Juros de mora: poupança, capitalizados de forma
simples, correspondentes a:
a) 0,5% ao mês, caso a taxa SELIC ao ano seja superior a
Desapropriação 8,5%;
b) 70% da taxa SELIC ao ano, mensalizada, nos demais
casos.
• Juros compensatórios: 1% (capitalização simples)
• Correção monetária: Manual de Cálculos da JF
Benefícios • Juros de mora: poupança.
previdenciários • Correção monetária: INPC.
• Juros de mora: poupança.
Benefícios assistenciais
• Correção monetária: IPCA-E.
• Se o ente tributante adotar a taxa SELIC para cobrança
de seus tributos (ex: União): neste caso, será adotada
também a SELIC para a repetição de indébitos
tributários. Como a SELIC já engloba juros e correção
monetária, com a sua incidência fica vedada a cumulação
com quaisquer outros índices.
Indébitos tributários • Se o ente tributante adotar outro índice diferente da
SELIC: este mesmo índice deverá ser utilizado quando
esta Fazenda for condenada em matéria tributária.
• Se o ente tributante não tiver uma lei definindo a taxa
de juros a ser aplicada na cobrança de tributos: nesta
hipótese os juros de mora são calculados à taxa de 1% ao
mês.

73.2. Interpretação extensiva do art. 19, § 1º, I, da Lei nº 10.522/2002 – (Info 588)

Aplica-se a dispensa de condenação em honorários advocatícios prevista no art. 19,


§ 1º, I, da Lei nº 10.522/2002, na hipótese em que a Fazenda Nacional contesta a
demanda, mas, ato contínuo, antes de pronunciamento do juízo ou da parte
contrária, apresenta petição em que reconhece a procedência do pedido e requer a
desconsideração da peça contestatória.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.551.780-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 9/8/16 (Info
588).

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