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Resumo
Recentemente, as entrevistas “em profundidade” têm atraído interesses de pesquisadores
sociais, como método de coleta de dados, incluindo o campo da Administração. O objetivo
deste artigo é apresentar apontamentos teóricos e metodológicos sobre o uso de entrevistas
“em profundidade” na pesquisa qualitativa em Administração, considerando sua importância
para obter informações sobre realidades sociais e contribuir para o aprimoramento do
conhecimento nesta área. A metodologia deste estudo consiste de uma revisão bibliográfica de
natureza exploratória. O uso da entrevista “em profundidade” ultrapassa as questões técnicas
e, dependendo do fenômeno investigado e do problema de pesquisa, pode se caracterizar
como principal caminho de coleta de dados.
Palavras-chave: Pesquisa Qualitativa; Administração; Entrevistas “em profundidade”.
1. Introdução
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discutimos as vantagens e desvantagens do uso de entrevistas “em profundidade” como
método de coleta de dados e, por fim, apresentamos as considerações finais.
Princípio Descrição
O entrevistado deve aceitar verdadeiramente cooperar, jogar o
jogo, não apenas consentindo na entrevista, mas também
Obter a colaboração do entrevistado dizendo o que pensa, no decorrer da mesma, o que requer
várias negociações que podem ocorrer antes ou durante a
entrevista.
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O pesquisador deve tentar reconfortar ser interlocutor, partindo
Colocar o entrevistado à vontade por
da ideia de que quanto mais ele ficar à vontade, mais ele falará
elementos de encenação
com facilidade e abordará questões que lhes são significativas.
O entrevistado deve se sentir suficientemente confiante para
aceitar “verdadeiramente falar”, de modo que os pesquisadores
Ganhar a confiança do entrevistado
devem tranquilizá-los quanto às suas boas intenções e quanto
ao uso que será feito de suas palavras.
Quanto mais o discurso do entrevistado for espontâneo, menos
ele poderá ser maculado pelo pesquisador, permitindo assim a
Levar o entrevistado a tomar a aproximação ao ideal pesquisado, de um discurso
iniciativa do relato e a se envolver “verdadeiro”. O discurso mais significativo é aquele no qual o
entrevistado se refere o mais próximo possível à sua própria
vivência, ou seja, quando se envolve mais.
Figura 1: Princípios adotados na entrevista como método de coleta de dados na pesquisa qualitativa
Fonte: Elaboração própria com base em Poupart (2008)
O autor aborda, na sequência, as principais estratégias que podem ser utilizada para
alcançar tais princípios. As estratégias que os entrevistadores recorrerem para levar as pessoas
solicitadas a colaborar na pesquisa são: convencê-las do interesse e da utilidade da
investigação; intervir na rede social e se apoiar em laços de reciprocidade, como por exemplo,
as considerações de amizade, familiares ou profissionais. Na falta destes laços, alguns
pesquisadores tentam criá-los, fazendo-se aceitar no meio pesquisado, ou estabelecendo
relações de amizade com membros da comunidade; caso as condições não os permitam criar
tais laços, os entrevistados tentarão estabelecê-los durante a entrevista, através de atitudes
como a escuta e a empatia; por último, não é raro que os entrevistadores apelem para a
autoridade de um terceiro, para convencer eventuais entrevistados a participarem da
entrevista. Essas várias estratégias suscitam um conjunto de questões éticas sobre as
abordagens que podem ser aceitas para obter a colaboração dos entrevistados e para a
existência de uma reciprocidade autêntica entre os entrevistadores e entrevistados.
Para colocar os entrevistados à vontade, os pesquisadores devem intervir de forma
mais ou menos consciente, o que Poupart (2008) diz que poderia ser denominado de
elementos de encenação da entrevista, segundo a fórmula de Goffman (1973), cujo sucesso e
margem de manobra dependem das situações e das pessoas entrevistadas, de modo que se
aconselha que os entrevistadores façam o máximo para criar um ambiente e contexto
favoráveis à entrevista. Dentre esses elementos, podem ser destacados: a escolha do momento
mais propício à entrevista; encontrar o lugar mais favorável ao adequado desenvolvimento das
entrevistas; usar técnicas para reduzir os efeitos possivelmente negativos dos instrumentos de
registro das entrevistas, para que os entrevistados se esqueçam de sua presença, além de
adotar uma indumentária “adaptada” às circunstâncias de entrevista.
Na busca pela confiança dos entrevistados, os pesquisadores recorrem às seguintes
estratégias: garantir aos entrevistados o anonimato, de modo que eles não tenham que temer
pelas eventuais consequências de seus depoimentos; tentar convencê-los de sua neutralidade
no processo de investigação; buscar aplacar os receios quanto à utilização que será feita de
suas falas, assegurando-lhes que estas serão apresentadas corretamente e de forma anônima;
além do uso da empatia, da escuta e do interesse no momento da entrevista e de utilizar regras
elementares de sociabilidade, com base nas convenções sociais. Por fim, as estratégias
utilizadas para facilitar a espontaneidade do entrevistado são: evitar interrompê-lo enquanto
ele fala; respeitar os momentos de silêncios, de modo que ele possa encadear as ideias por si
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mesmo, se necessário; e utilizar técnicas de reformulação com o objetivo de lhe explicitar ou
esclarecer os temas abordados.
Um aspecto que merece destaque é ressaltado por Atkinson e Coffey (2002) quando
afirmam que é necessário dissociar o uso da entrevista do mito de inferioridade, associado a
uma visão romântica do ator social investigado, em relação às demais técnicas de coleta de
dados, mas considerá-la como uma forma igualmente válida de captar os entendimentos e as
representações culturais compartilhadas do mundo social. Desta forma, ao projetar uma
entrevista, é essencial fazer perguntas que são susceptíveis de produzir o máximo de
informações possíveis sobre o fenômeno investigado, bem como, ser capaz de abordar as
metas e objetivos da pesquisa.
Nessa perspectiva, em uma entrevista qualitativa, boas perguntas devem ser abertas,
neutras, sensíveis e compreensíveis (ou seja, exigem mais do que respostas do tipo sim/não).
Assim, é aconselhado começar com as perguntas que os participantes possam responder com
maior facilidade e, então, prosseguir com tópicos mais difíceis ou sensíveis. Isso pode
viabilizar para que os entrevistados se coloquem à vontade, construam confiança e
relacionamento e, muitas vezes gerem dados ricos, no desenvolvimento da entrevista (GILL et
al, 2008).
Godoi e Mattos (2010) ressaltam que a condução do entrevistado por certas trilhas não
implica a previsibilidade da conversação, de modo que o conteúdo conversacional permanece
imprevisível e submetido às regras não fixadas de formação de sentido e interpretação,
mesmo que o movimento da conversação seja repetitivo e até redundante. Observamos,
portanto, que a entrevista “em profundidade” não permanece presa às regras técnicas
preestabelecidas, mas apresenta-se como um método flexível de coleta de dados que pode ser
ajustado no momento em que a entrevista está ocorrendo para se adequar as necessidades do
problema investigado. A partir dessas considerações iniciais abordamos, na sequência, o uso
da entrevista “em profundidade” na pesquisa qualitativa em Administração.
Como vimos, as entrevistas “em profundidade” são aquelas que apresentam uma maior
flexibilidade, permitindo ao entrevistado construir suas respostas sem ficar preso a um nível
mais rigoroso de diretividade e mediação por parte do entrevistador, como acontece no caso
do uso de questionário ou de uma entrevista totalmente estruturada. Desse modo, neste artigo,
consideramos como entrevistas “em profundidade” os tipos de entrevistas individuais que se
classificam como não estruturadas ou semiestruturadas, que permitem um maior
aprofundamento nas questões de pesquisa investigadas.
Godoi e Mattos (2010) afirmam que é na década de 1930 que a entrevista começa a ser
utilizada amplamente pelas ciências sociais nas tarefas de investigação e que estas,
formalmente reconhecidas como tal, se diferenciam de algumas conversações da vida
cotidiana porque há uma expectativa explícita na participação do entrevistado e do
entrevistador que é um falar e o outro escutar, porque o entrevistador anima constantemente o
entrevistado a falar, sem contradizê-lo e, por último, porque aos olhos do entrevistado, o
encarregado de organizar e manter a conversação é o entrevistador, o que cria uma ilusão de
fácil comunicação que faz parecer breve as sessões prolongadas.
Mattos (2010) considerada que a entrevista não estruturada ou semiestruturada é uma
forma especial de conversação, de modo que, em tal interação lingüística, não é possível
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ignorar o efeito da presença e das situações criadas por uma das partes (o entrevistador) sobre
a expressão da outra (o entrevistado) e que há sempre um significado de ação para além do
significado temático da conversação.
O propósito de utilizar a entrevista como método de coleta de dados na pesquisa
qualitativa em Administração é explorar os pontos de vista, experiências, crenças e/ou
motivações dos indivíduos sobre questões específicas no campo organizacional, atendendo
principalmente a finalidades exploratórias, ao abordar experiências e pontos de vistas dos
atores inseridos nestes contextos.
Gill et al (2008) enfatizam que, de um modo geral, existem três tipos de entrevistas
que podem ser utilizadas na pesquisa: entrevistas estruturadas, que são, essencialmente, os
questionários administrados verbalmente aos entrevistados, a partir de uma lista de perguntas
predeterminadas, com pouca ou nenhuma variação e sem margem para inserir perguntas que
mereçam respostas com maior aprofundamento, o que as tornam rápidas e fáceis de aplicar,
mas possuem pouca utilidade quando é necessário profundidade porque limitam as respostas
dos entrevistados; por outro lado, as entrevistas não estruturadas que não refletem qualquer
teoria preconcebida ou ideia e são realizadas com pouca ou nenhuma organização, podem
simplesmente começar com uma pergunta de abertura e o seu progresso depender da resposta
inicial, tornando-as mais demoradas e difíceis de serem gerenciadas, sendo utilizadas quando
pouco se sabe sobre o assunto ou quando é necessário uma profundidade significativa; e, por
fim, as entrevistas semiestruturadas que consistem de várias questões-chave que ajudam a
definir as áreas a serem exploradas, mas também permitem o entrevistador ou entrevistado a
divergirem a fim de obter uma idéia ou resposta em mais detalhes. Nesta abordagem,
especialmente em relação às entrevistas estruturadas, também permite a descoberta ou
elaboração de informações que são importantes para os participantes, mas que podem não ter
sido pensadas como pertinentes pela equipe de pesquisa.
Essas duas últimas são consideradas como tipos de entrevistas inseridas na pesquisa
qualitativa porque são flexíveis, não estão presas a questões padronizadas e permitem obter
profundidade de conhecimento nos fenômenos investigados e, portanto, para fins deste artigo,
classificadas como entrevistas “em profundidade”. Desse modo, ao considerarmos a
necessidade de que em estudos organizacionais é preciso integrar tematização e profundidade
para compreender a complexidade dos fenômenos e das relações que os permeiam,
escolhemos por abordar neste artigo a entrevista “em profundidade” como método de coleta
de dados na pesquisa qualitativa em Administração.
Flick (2009) ressalta que as entrevistas semiestruturadas têm atraído interesse dos
pesquisadores e passaram a ser amplamente utilizadas, o que está associado à expectativa de
que é mais provável que os pontos de vistas dos sujeitos entrevistados sejam expressos em
uma situação de entrevista com o planejamento aberto do que em uma entrevista padronizada
ou em um questionário. A opção entre a entrevista não estruturada e a semiestruturada
relaciona-se com a ênfase na teoria, ou seja, com a existência de uma relação entre categorias
e a antecipação de situações possíveis. Dessa forma, a entrevista não estruturada está
associada a teorias mais abertas, enquanto a semiestruturada está associada à teoria a priori,
com categorias analíticas definidas.
Há uma variedade de designações utilizadas para as entrevistas individuais não
estruturadas e semiestruturadas, mas neste artigo, utilizamos o termo “entrevista em
profundidade” para designá-las no geral. Essas entrevistas apresentam, segundo vários
autores, classificações mais específicas, entretanto, optamos por abordar aqui as apresentadas
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por Flick (2009), a saber: entrevista focalizada, entrevista semipadronizada, entrevista
centrada no problema, entrevista com especialistas e entrevista etnográfica, cujas descrições
são apresentadas na Figura 2.
Flick (2009) apresenta quatro critérios que devem ser utilizados ao longo do
planejamento da entrevista focalizada:1) o não-direcionamento, que é obtido por meio de
diversas formas de perguntas; 2) a especificidade, que significa que a entrevista deve exibir os
elementos que determinam o impacto ou o significado de um evento para os entrevistados; 3)
o espectro, que visa assegurar que todos os aspectos e tópicos relevantes à questão de
pesquisa sejam mencionados durante a entrevista; 4) e a profundidade e o contexto pessoal
demonstrados pelos entrevistados que significam que os entrevistadores devem assegurar-se
de obter um máximo de comentários autoreveladores no que se refere à forma como o
material de estímulo foi experenciado. O autor supracitado destaca que esses critérios foram
sugeridos por Merton e Kendall (1946) e alerta que não é possível reunir alguns objetivos
desses critérios em cada situação, a exemplo da especificidade e profundidade versus
espectro. Destarte, considera que esses critérios podem ser aplicados a outros tipos de
entrevistas sem o uso de um estímulo antecipado e a busca de outras questões de pesquisa, ou
seja, utilizados como uma orientação para a conceitualização e a condução de entrevistas de
um modo geral.
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Nas entrevistas semipadronizadas são reconstruídas os conteúdos da teoria subjetiva a
partir de questões abertas, perguntas controladas pela teoria e direcionadas para as hipóteses e
questões confrontativas. Esse tipo de entrevista caracteriza-se pela introdução de áreas de
tópicos e pela formulação intencional de questões baseadas em teorias científicas sobre o
tópico, reconstruindo os pontos de vista subjetivos.
Na entrevista centrada no problema combinam-se narrativas com questões que visam
focalizar a opinião do entrevistado em relação ao problema em torno do qual a entrevista está
centrada. Portanto, o interesse está nos pontos de vistas subjetivos e a pesquisa baseia-se em
um modelo do processo com o objetivo de elaborar teorias, com questões voltadas para o
conhecimento sobre os fatos ou processo de socialização.
Por último, os tipos de entrevistas apresentados por Flick (2009) são as entrevistas
com especialistas e a entrevista etnográfica, consideradas tipos de entrevistas
semipadronizadas que têm sido desenvolvidas para campos específicos de aplicação. Nas
entrevistas com especialistas há um menor interesse no entrevistado enquanto pessoa (como
um todo) e maior na sua capacidade de ser especialista para um determinado campo de
atividade e a sua interpretação visa, principalmente, analisar e comparar o conteúdo do
conhecimento do especialista. Nas entrevistas etnográficas, o principal problema a ser
enfrentado é a elaboração e a manutenção das situações de entrevistas, que devem ser
distinguidas de conversas cordiais durante a observação participante.
Destacamos que a entrevista focalizada, a entrevista semipadronizada, a entrevista
centrada no problema, e as entrevistas com especialistas e etnográfica podem ser utilizadas
nas pesquisas em Administração, no desenvolvimento de estudos organizacionais. No entanto,
a escolha de qual tipo de entrevista deverá ser utilizado depende da questão de pesquisa
estabelecida e da forma como as pessoas recorridas serão conduzidas pelo entrevistador para
atingir os objetivos da pesquisa.
Por outro lado, Godoi e Mattos (2010) alertam para o perigo de esvaziamento do
significado da entrevista e a recaída na prática investigatória do formalismo e dão ênfase para
o papel da entrevista com um significado radicado na condição humana, como um evento de
intercâmbio dialógico, que pode promover reformulação metodológica capaz de enriquecer a
prática da pesquisa e construir novas situações de conhecimento. Nesse sentido, os referidos
autores ressaltam que a entrevista “em profundidade” deverá ficar fora do alcance do
formalismo técnico, para atender a três condições que eles consideram essenciais a pesquisa
qualitativa: que o entrevistado possa expressar-se a seu modo face ao estímulo do
entrevistador, que a fragmentação e ordem de perguntas não sejam tais que prejudiquem essa
expressão livre, e que fique também aberta ao entrevistador a possibilidade de inserir outras
perguntas ou participações no diálogo, conforme o contexto e as oportunidades, tendo sempre
em vista o objetivo geral da entrevista. Estas condições não se limitam ao uso de entrevista
como método de coleta de dados na pesquisa em Administração, mas se enquadram em
qualquer campo de investigação que faça uso desse método.
Quanto aos dados obtidos na entrevista, Baker (apud SILVERMAN, 2009) levanta as
seguintes questões sobre o seu status: 1) Qual é a relação entre os relatos dos entrevistados e o
mundo que eles descrevem: esses são relatos potencialmente “verdadeiros” ou “falsos”, ou
nenhum dos conceitos é sempre apropriado a eles?; 2) Como deve ser entendida a relação
entre entrevistador e entrevistado, governada por técnicas padronizadas de “boa prática de
pesquisa” ou baseada nas práticas conversacionais usadas na vida cotidiana? Nesse contexto,
o autor apresenta três tipos de respostas diferentes que os cientistas sociais poderiam dar a
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esses questionamentos, dependendo da abordagem paradigmática adotada por eles. Para o
positivismo, os dados das entrevistas têm o potencial de nos dar acesso a “fatos” sobre o
mundo e, portanto, devem ser válidos e confiáveis, independente do local da pesquisa.
Segundo, de acordo com o emocionalismo, os entrevistados são vistos como sujeitos
experientes que constroem ativamente seus mundos sociais, de modo que a entrevista deve
gerar dados que proporcionam um insight autêntico das experiências das pessoas. Por fim, no
construcionismo, entrevistadores e entrevistados estão sempre ativamente engajados em
construir significado, de modo que as entrevistas são tratadas mais como temas do que como
um recurso de pesquisa. Estas três posições são resumidas na Figura 3.
Abordagem
Status dos Dados Métodos
paradigmática
Amostras aleatórias
Fatos sobre comportamentos e
Positivismo Perguntas padronizadas
atitudes
Tabulações
Entrevistas não estruturadas,
Emocionalismo Experiências autênticas
abertas
Qualquer entrevista tratada
Construcionismo Construídas mutuamente
como tema
Figura 3: Três versões dos dados da entrevista
Fonte: SILVERMAN, 2009, p. 115
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presentes na entrevista estruturada. Outra vantagem, é que este tipo de entrevista é visto como
uma forma de enriquecer o material de análise e o conteúdo da pesquisa, o que também está
relacionado à flexibilidade do método que favorece a emergência de dimensões novas não
imaginadas, de início, pelo pesquisador, as quais podem ser determinantes para a
compreensão do universo do entrevistado e do objeto pesquisado. A terceira vantagem
apresentada é que a entrevista não estruturada oferece a possibilidade de explorar mais “em
profundidade” as diferentes facetas da experiência do entrevistado, o qual goza de mais tempo
para se expressar. Ainda como vantagem, menos frequentemente mencionada, é que este tipo
de entrevista possibilitaria uma melhor exposição da experiência do entrevistado, explorando
“em profundidade” o contexto de vida e do meio de pertencimento do entrevistado, que
permite situar e melhor compreender o seu discurso, bem como evidenciar a sua experiência e
seu ponto de vista. Essas vantagens se contrapõem à entrevista totalmente estruturada, na qual
o conteúdo do material pesquisado é inteiramente ou parcialmente fixado de antemão, o
entrevistado, não tem, então, a escolha das questões abordadas, bem como o próprio conteúdo
de suas respostas já é fortemente estruturado, uma vez que estas devem necessariamente
inserir-se nas categorias delimitadas de início (POUPART, 2008)
Já no que se refere à entrevista semiestruturada, que também apresenta a vantagem de
possuir certo grau de flexibilidade para inserção de novas questões no decorrer da entrevista,
Flick (2009) ressalta que o uso consistente de um guia de entrevista pode também se constituir
como vantagem, porque aumenta a comparabilidade dos dados, tornando-os mais estruturados
como resultados das questões do guia. É, portanto, uma forma mais econômica de se alcançar
a elaboração e enunciados concretos. Dessa forma, observamos que as comparações que
evidenciam as vantagens do uso da entrevista “em profundidade”, sejam elas não estruturadas
ou semiestruturadas, geralmente, estão relacionadas em contrapartida ao uso das entrevistas
estruturadas, com base no nível de flexibilidade desses métodos que permitem um maior ou
menor aprofundamento na investigação do problema de pesquisa e em uma maior ou menor
estruturação dos resultados alcançados.
Destarte, Flick (op. cit.) afirma que surgem alguns problemas ao se tentar garantir
perspectivas subjetivas topicamente relevantes em uma entrevista, decorrente de problemas de
mediação entre o input do guia do pesquisador e os objetivos da questão de pesquisa, por um
lado, e o estilo de apresentação do entrevistado por outro. Há algumas decisões que devem ser
tomadas ad hoc e que exigem um alto grau de sensibilidade para o andamento concreto da
entrevista e do entrevistado na situação de entrevista. Hopf (1978, apud FLICK, op. cit.) alerta
sobre a aplicação muito burocrática do guia de entrevista, o que pode restringir os benefícios
da flexibilidade do método e das informações contextuais pelo excesso de rigidez do
entrevistador ao fixar-se nesse guia. Isto nos leva a perceber que o sucesso no planejamento e
na condução da entrevista “em profundidade” está diretamente relacionado à capacidade e a
habilidade do pesquisador na utilização desse método de coleta de dados, pois os principais
problemas na condução das entrevistas “em profundidade” se situam nos processos de
mediação e direcionamento.
Nessa perspectiva, Poupart (2008) afirma que subsiste certa imprecisão quanto à
definição de entrevista do tipo qualitativo, e que, atrás deste rótulo, perfila-se uma variedade
de práticas, a própria noção de não-diretividade e a maneira de como aplicá-las suscitam
algumas divergências. O referido autor segue afirmando que, no ideal rogeriano, o
entrevistador deveria orientar o menos possível as falas do entrevistado, enquanto que Palmer
(1928) e Bourdieu (1993) avaliam que o entrevistador deve estabelecer um compromisso
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entre a não-diretividade e uma certa orientação a dar à entrevista, em função do objeto
pesquisado e, por último, cita Patton (1980) e Burgess (1984), que adotam uma lógica muito
próxima aos métodos quantitativos, ao entender que uma maior não-diretividade prejudica a
generalização dos resultados, tornando mais difíceis as comparações entre as entrevistas, o
que revela concepções diferentes sobre a forma de conceber uma conduta ideal na forma de
realizar entrevistas, ou quanto às relações a estabelecer com as pessoas entrevistadas.
Por fim, observamos que o uso da entrevista “em profundidade” nas pesquisas em
Administração apresenta como principal vantagem a possibilidade de enriquecimento do
conhecimento no campo organizacional, por permitir que a questão investigada possa ser
compreendida a partir da exploração da experiência e do ponto de vista individual dos atores
sociais envolvidos no contexto organizacional, fazendo emergir dimensões de informações
que poderiam escapar ao pesquisador quando este fica preso à números e estatísticas.
Concordamos com Mattos (2010) ao afirmar que estas entrevistas servem a pesquisas voltadas
para o desenvolvimento de conceitos, o esclarecimento de situações, atitudes e
comportamentos, ou o enriquecimento do significado humano deles e que isso tem extensões
poderosas na geração de teorias e decisões práticas, e não se confunde com outro tipo de
utilidade, a generalização indutiva, propiciada pela estatística.
3. Considerações Finais
Referências
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