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CONSTRUÇÃO COLETIVA
DO CONHECIMENTO
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Carteiras enfileiradas dão lugar a outros modos de organizar o espaço, favore-
cendo o trabalho em duplas ou trios, em roda de conversa e grupos de trabalho, por
exemplo. Assim, criam-se alternativas aos modelos de ensino centrados unicamente
no professor ou que trabalham exclusivamente a aprendizagem individual. Não se
trata, portanto, de eliminar atividades em que os alunos trabalham sozinhos, mas de
combinar esse tipo de prática com as que possibilitam a colaboração, dependendo
do que se pretende atingir em relação ao aprendizado dos estudantes.
Uma prática bastante comum que não combina com a aprendizagem colaborativa
é formar grupos em torno da elaboração de um trabalho e esperar deles apenas as
produções finais para avaliação, ignorando todas as outras condições e contextos
que envolveram essas produções. O que se espera, na perspectiva da aprendizagem
colaborativa, é que o professor ajude os alunos a conectarem a atividade com o con-
texto maior do que estão vivendo, oriente a organização dos agrupamentos (duplas,
trios, quartetos, times), acompanhe o desenvolvimento do trabalho (colaborando com
perguntas, dicas, sugestões, mas sem fazer as atividades que propôs aos estudantes)
e avalie o processo, o resultado e as aprendizagens. A mensagem que transmite aos
jovens, assim, é que a atividade é importante no percurso formativo e que, portanto,
exige forte envolvimento e compromisso de todos.
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aprendizagem e à dos colegas, e de que eles têm muito a ensinar e a aprender, ao
trabalharem de modo colaborativo, é um desafio cotidiano. Uma das razões para isso
é que, em geral, a vivência escolar anterior deles propiciou poucas oportunidades
para que exercitassem a colaboração. Na história escolar da maioria dos jovens, as
oportunidades de trabalho colaborativo mais significativas ocorreram durante o período
da educação infantil e, depois, gradativamente, os modelos de ensino-aprendizagem
individualizados se tornaram predominantes.
Quanto mais presentes e diversificadas forem as propostas de trabalho que
demandam a colaboração entre os alunos e com o professor, mais os estudantes terão
a oportunidade de aprender com elas. Essa diversidade refere-se a dois aspectos.
O primeiro é a natureza e complexidade das atividades. Sugere-se que o professor
identifique, permanentemente, que tipos de atividades pode promover para que os
alunos trabalhem de modo colaborativo. Estudo de textos de referência, resolução de
problemas matemáticos, construção de regras de convivência, elaboração de textos
diversos, realização de pesquisa de campo e desenvolvimento de projetos são alguns
exemplos possíveis. Por meio de atividades com natureza e complexidade diferentes,
os jovens são estimulados a mobilizar conhecimentos e competências variadas, tor-
nando o processo formativo dos alunos mais rico e motivador.
O outro aspecto relacionado à diversidade é o modo de agrupar os estudantes.
Dependendo da complexidade da atividade, será mais indicado que os alunos tra-
balhem em duplas, trios, quartetos ou times maiores. Um problema ou situação de
baixa complexidade demanda dois ou três alunos para enfrentá-lo, enquanto que um
projeto de média ou alta complexidade requer um time.
A tendência é que, conforme sejam realizadas atividades que demandem a cola-
boração entre os alunos, eles superem uma visão bastante arraigada que trazem de
suas vivências escolares: a de que um do grupo faz e os demais colocam o nome
no trabalho, ou então aquela em que cada um escreve uma parte do trabalho, sem
discutir em conjunto o projeto todo. Mais que isso, eles percebem o quanto cada
um pode crescer a partir da construção coletiva e que, por meio dela, os resultados
se qualificam. Até mesmo as dificuldades e dilemas que envolvem a colaboração são
importantes para o crescimento dos alunos.
“Eu era daquelas pessoas que assumem tudo: fazia o trabalho, botava o nome de
todo mundo, fim. Aprendi a sentar com meu grupo de trabalho, planejar, dividir as
tarefas, trocar experiências com o outro e realmente fazer um trabalho em equipe,
em time”, conta a estudante Karina Madruga. “Quando ela diz que pegava o trabalho
e colocava o nome de todo mundo, era só a sua opinião, o que ela achava, o seu
ponto de vista. Não tem como ampliar nada, é só você mesmo, você e sua pesquisa,
você sem ninguém a mais para lhe complementar”, completa sua colega Lais Souza.
A professora de Matemática Denise Oliveira concorda: “Um aluno que não participa
muito da aula, na hora de um trabalho em time, fala. Essa é a mudança. Porque, assim,
podemos evitar a situação: eu dou aula, o bom aluno responde, o que tem medo fica
na dele e não cresce tanto quanto poderia. No trabalho em time, ele se socializa. Não
vou dizer que consigo com todo o mundo, mas tem muita gente que não se coloca
em sala, mas que em time se coloca, se porta, dá dicas. Eu vejo alguns falando: ‘Isso
mesmo, esqueci!’. Tira a ideia de que eu sou bom, você é ruim, você é mediano”.
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TRABALHANDO EM TIMES MAIORES
N os times compostos por um número maior de estudantes, eles têm a oportunidade de conhecer diferentes formas
de pensar, ampliar repertórios cognitivos e socioemocionais para aprender a aprender e, também, para conviver
e produzir de forma colaborativa. Para isso, é importante que as atividades propostas sejam verdadeiramente desa-
fiadoras. Ao cooperarem para enfrentar situações complexas de aprendizagem, os estudantes se organizam para lidar
com obstáculos que poderiam ser grandes demais para serem resolvidos individualmente ou em duplas e trios. Todos os
estudantes de um time se tornam coautores do conhecimento construído ou de um projeto, sendo corresponsáveis pela
realização das atividades e por seus resultados.
Essa experiência de ser parte de um time é valorizada pelo jovem Lucien Gilbert. “Eu acho a atuação em time
fundamental para aprender a trabalhar junto com outras pessoas. A gente interage, consegue ter uma visão melhor do
que está ao redor. Também consegue, ao mesmo tempo, exercitar coisas como, por exemplo, a responsabilidade de não
deixar os colegas na mão, o espírito de liderança para coordenar as ações do time, o cuidado de se autogerir quanto ao
tempo e à estratégia para realizar determinada atividade”.
Na mediação dos times importam, portanto, intervenções docentes que ajudem os jovens a fazerem a travessia do
paradigma do mau uso da noção de trabalhos em grupo para o trabalho em times verdadeiramente colaborativo, em
favor da construção de conhecimentos, desenvolvimento pessoal e engajamento em práticas cidadãs.
“Uma aluna falou que essa prática do trabalho em time ajudou muito porque eles começaram a se misturar, aquele
aluno que sabia mais um conteúdo do que o outro se misturava entre eles, não havia mais as panelinhas. Eles come-
çaram a fazer essa prática, e ela disse que isso deu certo, um aprendendo com o outro. Isso é legal, é um trabalho
colaborativo”, conta a professora de Física Cláudia Sozinho.
DO GRUPO AO TIME
O professor não se envolve com o trabalho O professor acompanha o trabalho dos estudantes,
dos alunos (está preocupado com o circulando pelos times, orientando-os quando se desviam
produto final) ou estabelece uma relação da tarefa, estimulando que persistam nos momentos de
de dependência, dando respostas prontas frustração, provocando-os a pensarem soluções antes de
ou resolvendo os problemas por eles. ouvirem a sua opinião, potencializando a aprendizagem.
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No trabalho em times, é importante que os alunos experimentem liderar os colegas
e serem liderados por eles. Liderar o time, na perspectiva da aprendizagem colaborativa,
é disponibilizar seus conhecimentos, atuar como um incentivador da participação dos
colegas, fazer a gestão do tempo e ter foco no trabalho que precisa ser feito naquele
momento. Além disso, o líder tem um importante papel de organização do trabalho
e mediação de conflitos de convivência ou de discordância sobre o andamento das
ações. Isso todo aluno pode fazer, desde que assuma a responsabilidade, tenha o
apoio dos colegas e do professor e seja dedicado e comprometido com a atividade
ou projeto. É indicado que seja feito rodízio na liderança, para que todos exercitem
esse papel e aprendam com ele. Cabe ao professor, no processo, orientar os alunos
a compreenderem o que é ser líder e como exercer a liderança, além de avaliar com
eles essa experiência, para que possam compreender, progressivamente, as suas
dimensões e aprendizados.
A MEDIAÇÃO DO PROFESSOR NA
RODA DE CONVERSA E NOS TIMES
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Planejar atividades complexas, que necessitem do trabalho colaborativo
para serem resolvidas. Exercitar a mediação e o acompanhamento durante
as atividades dos grupos, pois as aprendizagens acontecem no processo.
Não deixar os estudantes “à deriva”!
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Estimular todos os estudantes a assumirem a liderança dos times, em
rodízio, para que possam experimentar serem líderes e serem liderados,
aprendendo com essa experiência. Assim, todos os integrantes de um
time se tornam coautores do conhecimento construído e
corresponsáveis pela realização das atividades e por seus resultados.
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A APRENDIZAGEM COLABORATIVA NA
GESTÃO DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM
Defina, durante o planejamento da aula ou sequência de atividades, que tipos de ações pretende
realizar, de modo a possibilitar que os alunos atuem de modo colaborativo.
Planeje a melhor maneira de agrupar os estudantes nas diversas atividades a serem realizadas
durante a aula: Leitura de texto individual ou coletiva? Realização de exercícios individuais ou
em duplas? Busca de informações na internet em trios ou times? Debate de ideias em times ou
com toda a turma? Etc.
Planeje formas de envolver aqueles estudantes que estão demonstrando pouca abertura para
as atividades em duplas, trios, quartetos, times e nas rodas de conversa, mas sem expô-los.
Uma conversa individual antes da aula pode ser muito eficaz. Outra ação possível é pensar
em “provocações” à participação deles, como questões que dialogam com os seus interesses e
experiências anteriores. Uma terceira possibilidade é contar com a força mobilizadora dos jovens
da própria turma, que podem apoiar os colegas que ainda não se engajaram.
Oriente e acompanhe o trabalho das duplas, trios, quartetos ou times, garantindo que cada
estudante participe ativamente, dando o melhor de si e sendo responsável pelo seu aprendizado
e, também, pelo aprendizado dos companheiros. No caso dos times, é preciso ter atenção a
papéis que dão suporte ao trabalho, como a responsabilidade pelo registro, o controle do tempo
e a liderança. Esse último papel é fundamental: todos os membros do time devem aprender
a liderar e a serem liderados. O papel do líder deve rodiziar a cada atividade e não pode ser
confundido com o papel de “quem manda ou toma as decisões sozinho”. É preciso relacioná-lo
à função de organizar o trabalho coletivo, dividir as tarefas, motivar a participação de todos,
assegurar a conclusão das ações.
É tarefa das duplas, trios ou times resolver por si mesmos os problemas propostos ou que
surgirem. O professor pode e deve ser chamado a colaborar diante dos desafios, mas não deve
resolvê-los pelos alunos.
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DEPOIS DA AULA: APRIMORANDO A EXPERIÊNCIA DE
ENSINAR E APRENDER COLABORATIVAMENTE
Identifique o que os alunos já aprenderam e o que eles ainda não aprenderam em relação aos
conhecimentos trabalhados nas últimas aulas das disciplinas escolares ou nos encontros de
prática de projetos. Investigue, ainda, o que podem avançar com relação ao desenvolvimento das
competências cognitivas e socioemocionais. Essa identificação necessita de um “duplo olhar”
do professor, tanto com relação ao desenvolvimento da turma quanto sobre cada estudante,
tomando como parâmetro avaliativo o próprio aluno com relação a si mesmo.
Verifique as necessidades de diálogo com outros professores ou com os gestores da escola, para
que, juntos, possam traçar estratégias a fim de solucionar os desafios e promover a aprendizagem.
Promova momentos de reflexão coletiva sobre os significados das atividades que envolvem a
colaboração. Instigue-os a pensar sobre as diferenças entre essas atividades e aquelas em que
aprendem individualmente; o que tem sido mais difícil para eles, nos momentos em que são
chamados a colaborar; o que aprendem com essas atividades; e o que consideram que ainda
precisam aprender e fazer, para que a colaboração seja mais rica para cada um e para todos.
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