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Malandragem, característica

do brasileiro
27/11/2015 / DANILO CATALANO

O livro de Manuel Antônio de Almeida “Memórias de um sargento de


milícias” se passa na época da vinda do rei de Portugal para o Brasil, em um
tempo onde o país era movido pelos escravos, o único meio de trabalho era o
deles, os quais trabalhavam em fazendas de senhores de engenho.
“Esquematizando, pode-se dizer que a colonização produziu, com base no
monopólio da terra, três classes de produção: o latifundiário, o escravo e o
“homem livre”, na verdade dependente.” (SCHWARZ, 2000, p. 15), também
havia o homem livre, pessoas brancas que não eram senhores de engenho, eles
não podiam ter empregos, pois não havia quem os contratassem, então eles se
viam a margem desta sociedade colonial.
“Nem proprietários nem proletários, seu acesso à vida social e a seus bens
depende materialmente do favor, indireto ou direto de um grande. O agregado
é a sua caricatura. O favor é, portanto, o mecanismo através do qual se
reproduz uma das grandes classes da sociedade, envolvendo também a dos
que têm.” (SCHWARZ, 2000, p.16)

Pelo homem branco e livre, não poder viver de um salário, mesmo que às
vezes ele trabalhasse em algo, que na realidade da época não teria alguma
remuneração, mas ocuparia o tempo ocioso desta classe, eles viviam de
favores, muitas vezes com a ajuda dos senhores de engenho que podiam dar-
lhes algum trabalho e em troca eles viviam em seus casarões, isto é, seria uma
troca de favores na qual um dá abrigo e comida e em troca o outro oferece sua
mão de obra.

“[…] Malandragem visa quase sempre ao proveito ou a um problema


concreto, lesando frequentemente terceiros na sua solução” (CANDIDO,
1970, p.68) podemos relacionar a vida de favor desta época com a ideia de
“quem indica”, na qual muitas pessoas se vêm favorecidas por conhecer
alguém importante, que eventualmente lhes ajuda em diferentes questões, isto
é, esta é a origem dos favores dados a quem está procurando emprego, o
porquê, que uma pessoa tem mais chances do que outras. O que muitas vezes
pode acontecer de uma pessoa ser mais qualificada do que outra para algum
emprego, mas será dependente do vinculo de amizades se a pessoa conseguirá
ou não, portanto, poderíamos dizer que este favor, proveniente da época da
colônia no Brasil, é de onde teria nascido à malandragem.

“Apenas tinha feito o Leonardo um pequeno favor em ocasião em que este se


achava embaraçado por causa de umas irregularidades em uns autos que se lhe
atribuía, e que era muito bom homem e amigo de servir a todos.” (ALMEIDA,
1996, p.39).

No capítulo do livro, onde Leonardo é ajudado pela comadre a sair da cadeia,


pode-se ver ai o favor da época, pois ela só ajudou a ele, pelo simples fato
dele ser um bom homem e amigo de todos, mas a questão aqui não é o porquê
da ajuda, mas sim a ajuda em si, que se deu devido ao costume do homem
livre da época retratada, houve ai um favor, a comadre tirou Leonardo da
cadeia, isto é, o protagonista deu um jeito de se safar, por meio do favor.

Mesmo que haja poucos exemplos na história de favores entre personagens


que não seja o protagonista, podemos ver que de certa forma toda a história se
baseia em que todos os personagens se beneficiam dos favores, mas nem
todos são malandros, portanto, vemos uma distinção entre os dois termos:
necessitados de favores e malandros.
“O Leonardo disse então o que queria: tratava-se nada menos do que de ir o
Chico-Juca nessa mesma noite, fosse como fosse, à função da cigana, e de
armar ali por alta noite uma grande desordem: preveniu-o logo que o Vidigal
havia de estar por perto; e assim, apenas estivesse armada a história, era pôr-
se ao fresco” ( ALMEIDA, 1996, p.55)

A passagem das distintas formas que o protagonista usa para se safar dos
problemas que passa e no caso, quando criança se vingar do que os adultos o
fizeram passar, é uma forma da malandragem, pois demonstra uma forma
sorrateira, porém divertida para quem observa de longe, de sair dos seus
problemas, que pode muitas vezes se relacionar a uma forma de favor, porque
Leonardo pede a cigana e a Chico-Juca, que o ajudem em sua vingança.
Podemos ver ai, a distinção entre o favor, que permeia todos os personagens
de Manuel Antônio de Almeida e a figura do malandro, que é a características
de Leonardo, esta diferença é que um utiliza de maneiras para sair de
problemas, apenas em momentos em que seja expressamente necessário e o
outro vive assim, seu meio de sair de problemas, não apenas serve para tal,
mas para vinganças e outras coisas, ele seria por assim dizer um especialista
em dar um jeito de se safar.

“O malandro espanhol termina sempre, ou numa resignada mediocridade,


aceita como abrigo depois de tanta agitação, ou mais miserável do que nunca,
no universo do desengano e da desilusão, que marca fortemente a literatura
espanhola do Século de Ouro” (CANDIDO, 1970, p. 68)

A figura do malandro, não é uma característica especifica do Brasil, pois em


obras espanholas também podemos ver este estilo de protagonistas, mas que
diferentemente dos brasileiros, ele termina muito mal, sem esperanças de sair
da mediocridade, como se este final fosse, por assim dizer, uma repressão a
quem fosse malandro na sociedade espanhola, em outras palavras, é como se
por meio das obras a malandragem fosse reprimida.

Já nas obras literárias brasileiras, assim como o final de “Memórias de um


sargento de milícias”, no qual Leonardo se torna sargento por uma carta
enviada ao major. Tal final mostra diferentemente do malandro espanhol, que
o malandro brasileiro consegue sair desta marginalidade, fazendo algum
trabalho, pois desta maneira ele poderia se sentir mais maduro e de certa
forma deixar essa vida “vadia”.

Nunca se saberá o que aconteceu com Leonardo após a história contada, mas
podemos apenas imaginar que sua vida por meio de favores e sua figura de
malandro, que eram as principais características dele na história, continuarão.
A diferença é que agora ele está mais amadurecido e tem um trabalho, mas
isso não muda os aprendizados e a maneira de ser do protagonista, isto é,
mesmo que ele trabalhe e seja sargento das milícias, Leonardo continuará
malandro nas maneiras de sair dos problemas, como pudemos ver em sua
nomeação para sargento, a qual foi um pedido por carta ao major,
simplificando, foi um favor pedido por Leonardo.

A questão é que o malandro brasileiro não se dá mal, muito pelo contrário, ele
se integra a sociedade, tendo uma vida “normal”, sem mais estar
marginalizado. As obras culturais brasileiras não mostram que a malandragem
é algo que marginalizará quem se utiliza dela, mas sim mostra que com ela é
possível levar uma boa vida, podendo até se mostrar como uma característica
positiva do protagonista.

Não podemos dizer com certeza se a malandragem dos brasileiros teria


nascido dos favores da classe branca da época da colonização, mas mesmo
assim podemos ver semelhanças entre os dois, por isso é possível dizer que a
época retratada em “Memórias de um sargento de milícias” é a que veio a
caracterizar o brasileiro como um povo que se utiliza do “jeitinho” para se sair
de problemas. Portanto é possível dizer que o chamado “jeitinho brasileiro”
incorpora o favor e as diferentes formas de se sair de problemas da maneira
fácil, como sua caracterização; se diferenciando assim da figura do malandro,
que seria um especialista do “jeitinho”. O conceito que, chega, portanto, a unir
todos estes conceitos é a malandragem, que é toda a maneira de fazer do
brasileiro, seguindo as leis ou não, para conseguir o que precisa.

“A consciência moral da sociedade encontrar-se-ia em todos os indivíduos


com uma vitalidade suficiente para impedir qualquer ato que a ofendesse, quer
se tratasse de erros puramente morais quer de crimes.” (DURKHEIM, 1973,
p. 423), a ideia de “jeitinho” é uma caracterização dos brasileiros, para
explicarmos melhor, em se tratando da sociologia de Durkheim, é possível ver
na sociedade um Fato Social em comum, que seria um ponto importante para
diferenciar a sociedade brasileira das outras sociedades, este fato é a
malandragem, mas falando em termos mais técnicos, é um Fato Social normal
que identifica a sociedade brasileira. Com isso aquele que não age dessa
forma, será coagido a respeitar esta ordem pelos demais brasileiros, muitas
vezes esta forma de coação será por meio da ridicularizarão deste indivíduo ou
até mesmo levando-o a um sentimento de marginalização.

“Não somente estes tipos de conduta ou de pensamento são exteriores ao


indivíduo, como são dotados dum poder imperativo e coercitivo em virtude do
qual se lhe impõem, que ele queira quer não.” (DURKHEIM, 1973, p. 390), as
obras brasileiras impõem a sociedade uma maneira de ser que influência a
todos os indivíduos, mas estas obras só são assim por conta da manifestação
de como é a sociedade na qual é retratada, isto é, as manifestações culturais de
um povo, apenas são a sua caracterização em outros meios e é por isso que por
meio deles é possível conhecer minimamente os diferentes povos, sem a
necessidade de passar um tempo em seu habitat. Por isso, como falamos
anteriormente, se algum indivíduo brasileiro não praticar a malandragem ele
sentira uma força coercitiva dos demais, que fará com que ele comece a
pratica-la ou ele não se integrará completamente a sociedade brasileira.

“Por tudo isso, não há no Brasil quem não conheça a malandragem, que não é
só um tipo de ação concreta situada entre a lei e a plena desonestidade, mas
também, e sobretudo, é uma possibilidade de proceder socialmente, um modo
tipicamente brasileiro de cumprir ordens absurdas, uma forma ou estilo de
conciliar ordens impossíveis de serem cumpridas com situações especificas, e
– também – um modo ambíguo de burlar as leis e as normas sociais mais
gerais.” (DAMATTA, 1984, p.65)

A malandragem brasileira entra em conflito com as leis pré-estabelecidas no


momento em que o indivíduo utiliza todas as suas ferramentas disponíveis
para conseguir o que deseja, não lhe importará se seus atos estão dentro da lei
ou não, mas sim a sua concretização. As leis estão na sociedade com o papel
de mantê-la em ordem e por isso aqueles que não a seguem são punidos de
diferentes maneiras, mas em questão da malandragem podemos dizer que ela é
um costume do brasileiro e é por isso que está sempre em conflito com as leis,
por serem os dois, morais da sociedade, mas neste caso elas se confrontam,
pois a malandragem depende da não existência ou da anulação das leis para
ser praticada.

“É um papel social que está à nossa disposição para ser vivido no momento
em que a lei pode ser esquecida ou até mesmo burlada com certa classe ou
jeito” (DAMATTA, 1984, p.66), assim as leis estão na sociedade brasileira,
mas se ela vai ou não ser praticada, cabe a cada indivíduo que a compõe. Com
exemplo no livro, “Memórias de um sargento de milícias” poderíamos dizer
que o papel da lei está incorporada no Vidigal, cabe a ele impor e ser a
personificação da lei no Brasil.

“Esta última pôs-se aos pés do Vidigal, mas ele foi inflexível; e o Rev. foi
conduzido com os outros para a casa da guarda na Sé, sendo-lhe apenas
permitido pôr-se em hábitos mais decentes” (ALMEIDA, 1996, p.57), Vidigal
não cedeu, mesmo com o pedido exaustivo do Rev. de tentar dar um jeito de
não ser levado para a cadeia, nesta parte o autor, mostra exatamente que
Vidigal é a personificação da lei e por isso ele não cede, se mostra inflexível
por toda a história, mas em momentos em que ele não está presente, a
malandragem se dispersa e é praticada livremente.
“Um fato social só pode ser considerado normal para uma dada espécie social
quando relacionado com uma fase bem determinada do seu desenvolvimento;
por conseguinte, para saber se ele tem direito a essa designação, não é
suficiente observar a forma sob a qual se apresenta na generalidade das
sociedades que pertencem a esta espécie; é ainda necessário considerá-las
numa fase correspondente da evolução respectiva” (DURKHEIM, 1973,
p.417)

A malandragem em si é um fato social normal da sociedade brasileira, pois a


define, pelo fato dela poder ter tido origem na época da colonização pelo favor
que em sua evolução veio a ser o “jeitinho”, que é o favor, misturado com as
formas de se sair de problemas; estes dois fatos que se juntam e formam na
malandragem, necessariamente dependem de seu conflito com a lei, para que
a sociedade não entre em um ponto no qual, a lei deixe de ser valida e a
malandragem acabe sendo sua única forma de organização.

Bibliografia
Almeida, Manuel Antônio, Memórias de um sargento de milícias, 26 Ed, São
Paulo, Editora Ática, 1996.

Candido, Antônio, Dialética da malandragem caracterização das memórias de


um sargento de milícias, in: Revista do instituto de estudos brasileiros, N 8,
São Paulo, USP, 1970, pp. 67-69.

Schwarz, Roberto, Ao vencedor as batatas, Editora 34, 2000.

Durkheim, Émilie, Os pensadores XXXIII: As regras do método sociológico,


1 ed., São Paulo, Editora Abril S. A., 1973.

DaMatta, Roberto, O que faz o brasil, Brasil, Rio de Janeiro, Editora ROCCO
ltda, 1984.
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A sociologia por trás do "jeitinho


brasileiro"
Publicado em 09/12/2015, às 14h26 | Atualizado em 09/12/2015, às 15h16


 A

 A

Thiago VieiraDo NE10


Roberto DaMatta é um dos principais pensadores do "jeitinho brasileiro"Foto: reprodução/ Youtube

Quase que como uma marca, o "jeitinho brasileiro" faz parte da identidade nacional. O
senso comum diz que o brasileiro é acostumado a ter uma saída e um modo fácil de
resolver qualquer coisa em benefício próprio, mesmo que, para isso, seja necessário
algum pequeno ato de corrupção.

 Vamos falar sobre corrupção no #10Horas

Essa cultura atravessa várias esferas hierárquicas da sociedade, desde pegar a


resposta do colega durante a prova da escola até o desvio de dinheiro público. A
corrupção no País é histórica e é mote de vários estudos nas áreas da sociologia e da
antropologia.

Nesse campo, são discutidas as peculiaridades e a origem deste comportamento. O


antropólogo Roberto DaMatta destaca que o "jeitinho" pode ser atribuído de forma
positiva quando relacionada a relações interpessoais do brasileiro, mas como negativa
no âmbito institucional e na maneira peculiar de lidar com as leis.

"Quando o jeitinho é contextualizado no âmbito das relações interpessoais sua


interpretação é, via de regra, positiva. Quando ele surte nas discussões sobre nossas
instituições sua qualificação é negativa", disse Roberto no prefácio do Livro O jeitinho
brasileiro: a arte de ser mais igual que os outros, de Lívia Barbosa.
Embora essa malandragem e desejo inato de burlar as regras sejam atribuídas ao
DNA do brasileiro, o pesquisador de pós-doutorado do Departamento de Sociologia da
UFPE, Marcos de Araújo Silva, define este pensamento como preconceituoso e
observa o mesmo comportamento em outros países.

"O desejo de burlar as leis não é um privilégio do brasileiro. Na Espanha, por exemplo,
existe a cultura do 'pelotazo', em que as pessoas procuram flexibilizar as leis em
benefício próprio", disse o pesquisador.

Marcos disse ainda que o sentimento de impunidade e a hierarquização social são


outros fatores que contribuem para o desejo de corrupção. Ele também destaca
perceber uma certa valorização àquele que consegue driblar as normas.

"Quando alguém percebe que as leis não são cumpridas em determinadas camadas
sociais, surge um sentimento de que ele também pode realizar tais atos. Percebo em
muitos jovens da periferia da Região Metropolitana do Recife o sentimento positivo
quanto à corrupção, em que aqueles que aproveitam oportunidades para benefícios
individuais são 'espertos'".

De modo consensual, os estudos acadêmicos trazem o problema do "jeitinho


brasileiro" em uma perspectiva de herança histórica. Zuleica Dantas, socióloga da
Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) reforça que o desenvolvimento da
democracia irá criar a cultura de uma prática de direitos e deveres igualitários a todos.

"A democracia ainda é muito recente no Brasil e as pessoas ainda não estão
culturalmente acostumadas que a lei seja cumprida da mesma forma em todas as
camadas da sociedade", disse Zuleica.
Zé Carioca é a representação do estereótipo brasileiro na DisneyFoto: divulgação

Fora do âmbito acadêmico, o estereótipo do brasileiro malandro e esperto é


consolidado em diverso segmentos artísticos, desde o famoso Agostinho, personagem
interpretado por Pedro Cardoso no seriado A Grande Família, ao Zé Carioca da
Disney, papagaio que, para Walt Disney, seria a representação do brasileiro.

Em ambos os casos, os pequenos atos de corrupção são atenuados e disfarçados de


esperteza e flexibilidade diante de normas sociais, gerando um tom de comicidade
que, por vezes, pode incentivar a glamourização de obter vantagem em cima do outro.

Não há no Brasil algo inato que lhe dê o desejo de burlar as leis. Existe, na verdade,
uma construção histórica e conjuntural, aliados ao sentimento de impunidade que
reflete nos pequenos atos do cidadão. O brasileiro tem o desafio de afastar de si o
estigma

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