Вы находитесь на странице: 1из 12

Rev Saude Publica.

2017;51:78 Artigo Original

http://www.rsp.fsp.usp.br/

Fatores de risco para sífilis em mulheres:


estudo caso-controle
Vilma Costa de MacêdoI, Pedro Israel Cabral de LiraII, Paulo Germano de FriasIII, Luciana Maria
Delgado RomagueraIV, Silvana de Fátima Ferreira CairesV, Ricardo Arraes de Alencar XimenesVI

I
Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e Adolescente. Departamento de Enfermagem.
Universidade Federal de Pernambuco. Recife, PE, Brasil
II
Departamento de Nutrição. Universidade Federal de Pernambuco. Recife, PE, Brasil
III
Grupo de Estudos de Avaliação em Saúde. Diretoria de Ensino e Pesquisa. Instituto de Medicina Integral
Prof. Fernando Figueira. Recife, PE, Brasil
IV
Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical. Unidade de Neonatologia do Hospital das Clínicas.
Universidade Federal de Pernambuco. Recife, PE, Brasil
V
Departamento de Parasitologia. Universidade de Pernambuco. Recife, PE, Brasil
VI
Departamento de Medicina Tropical. Universidade Federal de Pernambuco. Recife, PE, Brasil

RESUMO

OBJETIVO: Determinar os fatores sociodemográficos, comportamentais e de assistência à


saúde relacionados à ocorrência de sífilis em mulheres atendidas em maternidades públicas.
MÉTODOS: Trata-se de um estudo caso-controle (239 casos e 322 controles) com mulheres
admitidas em sete maternidades do município do Recife, no período de julho de 2013 a julho de
2014. As mulheres elegíveis foram recrutadas após o resultado do VDRL (Venereal Disease Research
Laboratory) sob qualquer titulação. A seleção dos casos e controles considerou o resultado
da sorologia por ELISA (enzyme-linked immunosorbent assay), variável dependente utilizada
como diagnóstico para sífilis neste estudo. As variáveis independentes foram agrupadas em:
sociodemográficas; comportamentais; e antecedentes clínicos e obstétricos; e assistência à saúde
no pré-natal e na maternidade. As informações foram obtidas por meio de entrevista, durante
Correspondência: o internamento, por aplicação de um questionário. Foi calculado odds ratio (OR), intervalo de
Vilma Costa de Macêdo
Departamento de Enfermagem confiança de 95% e realizada análise de regressão logística para identificar os fatores preditores
Universidade Federal de Pernambuco da variável a ser explicada.
Av. Prof. Moraes Rego, 1235
Anexo ao Hospital das Clínicas – RESULTADOS: A análise de regressão logística identificou como fatores determinantes para
Cidade Universitária
50670-901 Recife, PE, Brasil a sífilis gestacional: nível de escolaridade fundamental incompleto ou analfabeta (OR = 2,02),
E-mail: vilmacmacedo@hotmail.com ausência de acesso a telefone (OR = 2,4), religião católica (OR = 1,70), quatro ou mais gestações
(OR = 2,2), três ou mais parceiros sexuais no último ano (OR = 3,1), uso de drogas ilícitas antes
Recebido: 31 mar 2016
dos 18 anos (OR = 3,0) e uso de drogas ilícitas por parte do atual companheiro (OR = 1,7). Além
Aprovado: 5 set 2016
desses, foram observadas a ocorrência de apenas uma a três consultas ao pré-natal (OR = 3,5)
Como citar: Macêdo VC, Lira PIC, e história anterior de infecção sexualmente transmissível (OR = 9,7).
Frias PG, Romaguera LMD, Caires
SFF, Ximenes RAA. Fatores de risco CONCLUSÕES: Fatores sociodemográficos, comportamentais e de assistência à saúde estão
para sífilis em mulheres: estudo associados à ocorrência de sífilis em mulheres e devem ser levados em consideração na elaboração
caso-controle. Rev Saude Publica.
2017;51:78. de estratégias universais direcionadas à prevenção e controle da sífilis, porém com foco em
situações de maior vulnerabilidade.
Copyright: Este é um artigo de
acesso aberto distribuído sob os DESCRITORES: Sorodiagnóstico da Sífilis Gestantes. Fatores de Risco. Fatores Socioeconômicos.
termos da Licença de Atribuição Serviços de Saúde Materno-Infantil. Estudos de Casos e Controles.
Creative Commons, que permite
uso irrestrito, distribuição e
reprodução em qualquer meio,
desde que o autor e a fonte
originais sejam creditados.

https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2017051007066 1
Fatores risco para sífilis em mulheres Macêdo VC et al.

INTRODUÇÃO

A sífilis gestacional constitui um problema de saúde pública no mundo. Estima-se que


aproximadamente dois milhões de gestantes apresentem a infecção na forma ativa, a cada ano,
e que menos de 10% são diagnosticadas e tratadas1,8. Cerca de 90% dos casos ocorrem em países
em desenvolvimento; entretanto, têm-se observado o reaparecimento em nações desenvolvidas2.
A doença provoca múltiplos desfechos adversos na gravidez, sendo estimado um risco de 4,5 vezes
maior, quando comparados às gestantes sem o diagnóstico10. Ao ocasionar a transmissão vertical
e, se não tratada adequadamente, pode provocar aborto espontâneo, parto prematuro, morte
fetal e neonatal. Os recém-nascidos de mães com sífilis não tratada ou tratada inadequadamente
podem apresentar quadro assintomático. Isso pode levar à ausência de diagnóstico e tratamento,
gerando graves danos à sua saúde, com repercussões psicológicas e sociais6.
As recomendações para seu controle reforçam intervenções direcionadas à prevenção e ao
diagnóstico oportuno, com atenção a grupos populacionais mais expostos9. Inúmeras condições
têm sido associadas à ocorrência de sífilis na gestação, entre elas fatores sociodemográficos,
comportamentais e os relacionados à assistência à saúde13.
Entre os fatores sociodemográficos, a pouca escolaridade, baixa renda e situação conjugal
(união estável ou não estável) são apontadas como situações de risco e uma expressão de que
a sífilis se relaciona com a pobreza, embora não se limite a ela. Igualmente importante são os
comportamentos que vulnerabilizam as mulheres, associando-se a maior risco, como a menor
idade da primeira relação sexual e da gestação, elevado número de parceiros sexuais, não adesão
a práticas de sexo seguro, uso de drogas ilícitas e psicoativas, entre outros8,13,18. Algumas dessas
condições ampliam o risco ao se relacionar com o insuficiente acesso aos serviços de saúde.
O Brasil é signatário de planos internacionais para eliminação da sífilis. Recentemente,
a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu, como metas para certificação da eliminação,
95% de cobertura de cuidados pré-natais e rastreamento para sífilis em gestante, a fim de
alcançar a meta de incidência de sífilis congênita de 0,5 casos por 1.000 nascidos vivos,
situação alcançada, na América Latina, apenas por Cuba e Chile12.
No cenário brasileiro, a sífilis gestacional apresenta elevada magnitude e a maior parte dos
casos continua sendo diagnosticada tardiamente, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste,
persistindo dificuldades no controle da doençaa. Reconhecendo a complexa e dinâmica
determinação das infecções sexualmente transmissíveis, o aprofundamento sobre os fatores
de risco, diante das mudanças sociodemográficas, comportamentais, condições de vida,
e organizacionais do sistema e serviços de saúde, pode contribuir para a atualização de
intervenções voltadas para o seu enfrentamento9,12.
O presente estudo objetivou determinar os fatores sociodemográficos, comportamentais
e de assistência à saúde relacionados à ocorrência de sífilis em mulheres atendidas em
maternidades públicas.

MÉTODOS
Trata-se de um estudo do tipo caso-controle, realizado no período de julho de 2013 a julho de
2014, em sete maternidades (seis de administração pública e uma filantrópica), correspondendo
à totalidade de unidades em funcionamento e que atendiam pelo Sistema Único de Saúde
(SUS) no Recife, capital do estado de Pernambuco, situada no Nordeste brasileiro.
Foram recrutadas as mulheres elegíveis após o resultado do exame VDRL (Venereal Disease
Research Laboratory) sob qualquer titulação, admitidas nesses serviços em trabalho de
a
Boletim Epidemiológico Sífilis. parto, pós-parto, aborto e qualquer outra intercorrência clínico-cirúrgica do ciclo gravídico
Brasília (DF): Ministério da Saúde
(BR), Departamento de DST, Aids puerperal. Não foram recrutadas mulheres internadas em unidade de terapia intensiva (UTI)
e Hepatites Virais; 2015;4(1). e as que não demonstravam condições clínicas ou cognitivas de responder a entrevista.

https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2017051007066 2
Fatores risco para sífilis em mulheres Macêdo VC et al.

Os casos e controles residiam no município do Recife. A classificação entre casos e controles


foi estabelecida após a realização do diagnóstico sorológico pelo método ELISA (Enzyme-linked
immunosorbent assay), exame confirmatório treponêmico, independentemente do resultado
do VDRL (Figura). Isso foi necessário porque o VDRL não é um teste treponêmico e vários
fatores podem interferir no seu resultado.
A estimativa do tamanho da amostra foi realizada no programa Stalcalc do pacote estatístico
EpiInfo, versão 6.04, baseando-se no estudo de Melo et al.15 Considerou-se o nível de confiança
de 95% e poder de 80%; odds ratio (OR) estimado de aproximadamente 2,8 para a pior
situação, segundo os indicadores socioeconômicos, biológicos e de assistência pré-natal no
município de Recife (2004/2006). A razão foi de um caso para dois controles e ponderou-se
a possibilidade de 10% de perdas ou recusas. A distribuição amostral considerou o porte
do estabelecimento de saúde e a proporção do número de leitos disponíveis em obstetrícia,
conforme dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúdeb (CNES), variando de
6% (menor) a 27% (maior). Adotando esses critérios, estimou-se que seriam necessárias 480
mulheres, sendo 160 casos e 320 controles.
As informações foram obtidas por meio de entrevista, durante o internamento, por meio de
um questionário estruturado aplicado por profissionais de saúde e estudantes universitários
da área de saúde e ciências sociais. Ao final, coletava-se 2 ml de sangue para realização
da sorologia para sífilis pelo método ELISA, escolhido devido à sua elevada sensibilidade
e especificidade frente a outros testes treponêmicos (TPHA, FTA-ABS) e por não sofrer
interferências na análise, dado que amostras hemolisadas ou com relativa concentração de
lipídeos podem ser processadasc. As amostras, inicialmente, ficavam acondicionadas nos
laboratórios das maternidades, sob refrigeração, identificadas com o número da pesquisa e,
a cada dois dias, eram transportadas a curta distância ao Serviço de Imunologia e Parasitologia
do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Pernambuco (UPE). Para realização
do ELISA, utilizou-se o kit da Wiener Laboratórios®, que possui antígenos recombinantes do
Treponema pallidum. Seu processamento ocorreu de acordo com as instruções do fabricante.
As variáveis independentes foram agrupadas em: a) sociodemográficas (idade na ocasião da
entrevista, estado conjugal, raça/cor, renda familiar per capita com base no salário mínimo
(SM) à data da entrevista (R$ 724,00, equivalente a US$ 270), classe econômica (ABEPd),
escolaridade, trabalho remunerado, inserção no mercado de trabalho, acesso à internet e
telefone); b) comportamentais (religião, idade da primeira relação sexual e primeira gestação,
b
Ministério da Saúde (BR),
número de gestações anteriores e parceiros sexuais, frequência de uso de preservativo, idade
DATASUS. Cadastro Nacional em que iniciou o cigarro, uso de bebida alcoólica ou drogas ilícitas; uso de drogas ilícitas pelo
dos Estabelecimentos de Saúde: atual companheiro; sentimento de discriminação (raça, gênero, situação financeira); frequência
consulta: leitos. Brasília (DF):
Secretaria de Atenção à Saúde; com que utiliza a televisão e o rádio, autoavaliação sobre acesso à informação e situação de
2013 [citado 15 jun 2017]. conflito ( familiar, trabalhista ou criminal); c) antecedentes clínicos, obstétricos e assistência à
Disponível em: http://cnes2.
saúde no pré-natal e na maternidade (história de aborto, infecção sexualmente transmissível
datasus.gov.br/Mod_Ind_Tipo_
Leito.asp anterior, número de consultas no pré-natal, idade gestacional e local em que realizou o maior
c
Ministério da Saúde (BR). número de consultas, disponibilidade do cartão de pré-natal desde a primeira consulta e
Portaria nº 3.242, de 30 de resultados das solicitações dos exames laboratoriais; participação em grupo de gestantes,
dezembro de 2011. Dispõe
sobre o Fluxograma Laboratorial cadastro em unidade de saúde da família e resultado da sorologia para HIV na maternidade).
da Sífilis e a utilização de
testes rápidos para triagem da Os dados foram codificados, processados em dupla entrada e validados no software EpiInfo,
sífilis em situações especiais e versão 6.04. As variáveis idade de início do uso do fumo, álcool e drogas ilícitas e seu uso no
apresenta outras recomendações.
Brasília (DF); 2011 [citado 3 abr período gestacional apresentaram elevada colinearidade (Pearson: r > 0,8). Optou-se pela
2017]. Disponível em: http:// inclusão das variáveis idade em que iniciou o uso do fumo, álcool e drogas ilícitas pelo maior
www.aids.gov.br/sites/default/
files/anexos/page/2010/233/
poder explicativo no modelo e foram excluídas as que avaliaram o seu uso na gestação.
portaria_3242_12_pdf_28838.pdf
d
Associação Brasileira de
No programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 13, foram realizadas as
Empresa de Pesquisa. Critério de análises bivariadas entre os fatores associados e o desfecho para as estimativas de odds ratio
Classificação Econômica Brasil (OR) e respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%). As variáveis que apresentaram
2009. São Paulo: ABEP; 2009.
Disponível em: http://www.abep. valor de p ≤ 0,20 foram incluídas no modelo de análise multivariada. Nessa etapa, adotou-se
org/criterio-brasil como estratégia para introdução das variáveis o processo de modelagem hierarquizada por

https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2017051007066 3
Fatores risco para sífilis em mulheres Macêdo VC et al.

blocos, considerando os possíveis fatores de risco para sífilis gestacional. O último bloco
foi ajustado pelos fatores de risco dos blocos 1 e 2. Assim, as variáveis do último bloco não
influenciaram o poder explicativo dos blocos anteriores.
Para a estimativa OR não ajustada e ajustada e seus respectivos IC95% foi definida, como
categoria de referência, aquela com menor risco para sífilis gestacional na amostra estudada,
considerando como significante valores de p ≤ 0,05.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Centro de Ciências da Saúde da Universidade
Federal de Pernambuco (Protocolo 136.500, de 11/2012). Todos os cuidados foram adotados
visando a garantir o sigilo e a confidencialidade das informações. Antes da realização de
cada entrevista, foi obtido o aceite por escrito da participante após leitura do termo de
consentimento livre e esclarecido.

RESULTADOS
Das 586 mulheres potencialmente elegíveis, identificadas nas maternidades participantes,
ocorreram 25 perdas devido a inadequações sorológicas do VDRL. Dessa forma, foram
incluídas 239 casos e 322 controles (Figura).
As participantes apresentaram semelhança entre as faixas etárias, com aproximadamente
25% para cada categoria considerada. Quanto ao estado conjugal, prevaleceu a união estável,
com 62%; as casadas corresponderam apenas a 9%. Em relação à escolaridade, 37% não
concluíram o ensino fundamental ou não eram alfabetizadas e 28% completaram o ensino
médio. Grande parte das mulheres (40%) referiram possuir renda familiar per capita entre
1/2 a 1/4 de salário mínimo, e apenas 9% tinham ganho superior. A maior parte das mulheres
não utilizava preservativo masculino ou feminino nas relações sexuais.
A Tabela 1 mostra a distribuição das principais variáveis sociodemográficas para os casos
e controles, com seus correspondentes OR brutos e IC95%. As variáveis selecionadas para
análise multivariada (p ≤ 0,20) foram: estado conjugal, raça autorreferida, escolaridade,
classe econômica, acesso à internet e telefone.

Maternidades
Residentes do Recife
(n = 586)

25 perdas

VDRL Total
(n = 561)

VDRL reagente VDRL não reagente


37,6% 62,4%
(n = 211) (n = 350)

ELISA + ELISA - ELISA - ELISA +


91,4% 8,1% 87,1% 12,9%
(n = 194) (n = 17) (n = 305) (n = 45)

Caso
(n = 322)

Caso
(n = 239)

VDRL: Venereal Disease Research Laboratory; ELISA: enzyme-linked immunosorbent assay

Figura. Fluxograma de captação das participantes nas maternidades. Recife, PE, Brasil, 2014.

https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2017051007066 4
Fatores risco para sífilis em mulheres Macêdo VC et al.

Na Tabela 2, encontram-se as variáveis comportamentais. A religião, idade na primeira


relação sexual e gestação, número de gestações e parceiros sexuais, idade em que iniciou
o uso de cigarro, bebida alcoólica e drogas ilícitas alcançaram significância. Ainda foram
consideradas as seguintes variáveis: condição do atual companheiro quanto ao uso ou não
de drogas ilícitas, acesso à informação e situação de conflito.
Entre as variáveis relacionadas aos antecedentes clínicos, obstétricos e assistenciais, foram
selecionadas para a etapa de ajustamento na análise multivariada: número de consultas durante
o pré-natal, ocorrência anterior de infecção sexualmente transmissível, participação em grupo de
gestante, cadastro em unidade de saúde da família e sorologia para HIV na maternidade (Tabela 3).

Tabela 1. Análise bivariada de fatores sociodemográficos para sífilis em mulheres. Recife, PE, Brasil, 2014.
Total Caso Controle
Variável OR IC95% p
n = 561 % n = 239 n = 322
Bloco 1 – Características sociodemográficas
Renda familiar per capita (SM) 0,236
> 1,0 50 8,9 20 30 1,00
1,0–0,50 133 23,7 58 75 1,16 0,59–2,24
0,5–0,25 222 39,6 85 137 0,93 0,49–1,74
≤ 0,25 156 27,8 76 80 1,42 0,74–2,72
Classe econômica 0,033
B1 + B2 + C1 153 27,3 54 99 1,00
C2 263 46,9 112 151 1,36 0,90–2,05
D+E 145 25,8 73 72 1,85 1,16–2,95
Escolaridade < 0,001
Médio e superior (C/I) 158 28,2 45 113 1,00
Fundamental (C) 195 34,8 79 116 1,71 1,09–2,67
Fundamental (I)/
208 37,1 115 93 3,10 1,99–4,82
Analfabeto
Trabalha 0,931
Sim 147 26,2 63 84 1,00
Não 290 51,7 125 165 1,01 0,67–1,50
Nunca trabalhou 124 22,1 51 73 0,93 0,57–1,51
Situação do trabalho atual 0,234
Carteira assinada 82 14,6 30 52 1,00
Outros 479 85,6 209 270 1,34 0,82–2,17
Acesso à internet < 0,001
Sim 437 77,9 168 269 1,00
Não 124 22,1 71 53 2,14 1,43–3,21
Acesso à telefone 0,001
Sim 513 91,4 207 306 1,00
Não 48 8,6 32 16 2,95 1,58–5,52
Faixa etária (anos) 0,365
≥ 30 133 23,7 56 77 1,00
25–29 113 20,1 42 71 0,81 0,48–1,36
20–24 159 28,3 76 83 1,25 0,79–2,00
≤ 19 156 27,8 65 91 0,98 0,61–1,57
Estado conjugal 0,005
Casada 51 9,1 14 37 1,00
União estável 350 62,4 142 208 1,80 0,94–3,45
Solteira/Separada/ Viúva 160 28,5 83 77 2,84 1,43–5,67
Raça (autorreferida) 0,200
Branca 97 17,3 36 61 1,00
Não branca 467 82,7 203 261 1,31 0,84–2,06
C: completo; I: incompleto

https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2017051007066 5
Fatores risco para sífilis em mulheres Macêdo VC et al.

Tabela 2. Análise bivariada de fatores comportamentais para sífilis em mulheres. Recife, PE, Brasil, 2014.
Total Caso Controle
Variável OR IC95% p
n = 561 % n = 239 n = 322
Bloco 2 – Características comportamentais
Religião 0,044
Sem religião 208 37,1 92 116 1,00
Católica 177 31,6 85 92 1,16 0,77–1,74
Evangélica 176 31,4 62 114 0,68 0,45–1,03
Idade na 1ª relação sexual (anos) 0,002
≥18 114 20,3 34 80 1,00
≤ 17 447 79,7 205 242 1,99 1,28–3,10
Idade na 1a gestação (anos) < 0,001
≥ 18 302 53,8 108 194 1,00
≤ 17 259 46,2 131 128 1,83 1,31–2,57
Número de gestações (anterior + atual) 0,002
1 187 33,3 62 125 1,00
2–3 256 45,6 115 141 1,64 1,11–2,43
≥4 118 21,0 62 56 2,23 1,39–3,58
Número de parceiros sexuaisa < 0,001
1 434 77,4 161 273 1,00
2 75 13,4 40 35 1,93 1,18–3,17
≥3 52 9,3 38 14 4,60 2,42–8,75
Usa preservativo 0,338
Sempre 60 10,7 29 31 1,00
Às vezes 186 33,2 84 102 0,88 0,49–1,57
Não usa 315 56,1 126 189 0,71 0,40–1,24
Idade que iniciou uso cigarro (anos) < 0,001
Não fuma 449 80,0 166 283 1,00
≥ 18 19 3,4 9 10 1,53 0,61–3,85
≤ 17 93 16,6 64 64 3,76 2,33–6,07
Idade que iniciou uso bebida alcoólica (anos) 0,144
Não bebe 453 80,7 187 266 1,00
≥ 18 30 5,3 11 19 0,82 0,38–1,77
≤ 17 78 13,9 41 37 1,57 0,97–2,55
Idade que iniciou uso de drogas (anos) < 0,001
Não usa 480 85,6 181 299 1,00
≥ 18 19 3,4 10 9 1,83 0,73–4,60
≤ 17 62 11,1 48 14 5,66 3,03–10,56
Atual companheiro usa droga < 0,001
Não 454 80,9 176 278 1,00
Sim 107 19,1 63 44 2,26 1,47–3,47
Discriminadaa 0,731
Não 435 77,5 187 248 1,00
Sim 126 22,5 52 74 0,93 0,62–1,39
Assiste televisão 0,426
Todos os dias 483 86,1 209 274 1,00
Algumas vezes por semana 78 13,9 30 48 0,81 0,50–1,33
Ouve rádio 0,499
Todos os dias 224 39,9 102 122 1,00
Algumas vezes por semana 217 38,7 87 130 0,24 0,54–1,16
Nunca 120 21,4 50 70 0,49 0,54–1,33
Acesso à informaçãob 0,140
Melhorou 396 70,6 160 236 1,00
Permaneceu o mesmo 145 25,8 67 78 1,26 0,86–1,85
Piorou 20 3,6 12 8 2,21 0,88–5,53
Situação de conflitob 0,070
Não 434 77,4 176 258 1,00
Sim 127 22,6 63 64 1,44 0,97–2,14
a
Últimos 12 meses.
b
Últimos 5 anos.

https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2017051007066 6
Fatores risco para sífilis em mulheres Macêdo VC et al.

Tabela 3. Análise bivariada de fatores relacionados a antecedentes clínicos, obstétricos e de assistência


à saúde no pré-natal e na maternidade para sífilis em mulheres. Recife, PE, Brasil, 2014.
Total Caso Controle
Variável OR IC95% p
n = 561 % n = 239 n = 322

Bloco 3 – Antecedentes clínicos, obstétricos e de assistência à saúde no pré-natal e na maternidade

História de aborto anterior 0,001

Não 406 72,4 155 251 1,00

Sim 155 27,6 84 71 1,91 1,31–2,78

História de IST anterior < 0,001

Não 434 77,4 135 300 1,00

Sim 127 22,6 105 22 10,68 6,46–17,66

Idade gestacional que iniciou o pré-natal (trimestre) < 0,001

Primeiro 323 57,6 112 211 1,00

Segundo 149 26,6 68 81 1,58 1,06-2,34

Terceiro 17 3,0 11 6 3,45 1,24-9,58

Não fez pré-natal 72 12,8 48 24 3,76 2,19-6,47

Número consultas no pré-natal < 0,001

≥7 217 38,7 67 150 1,00

6–4 178 31,7 66 112 1,31 0,86–2,00

3–1 94 16,8 58 44 3,60 2,17–5,98

Não fez pré-natal 72 12,8 48 24 4,47 2,53–7,90

Local do pré-natal < 0,001

PSF 273 48,7 109 164 1,00

Outros 216 38,5 82 134 0,92 0,63–1,32

Não fez pré-natal 72 12,8 48 24 3,00 1,74–5,19

Recebeu o cartão do pré-natal na 1ª consulta < 0,001

Sim 454 80,9 178 276 1,00

Não 35 6,2 13 22 0,91 0,45–1,86

Não fez pré-natal 72 12,8 48 24 3,10 1,83–5,24

Foi solicitado exames na 1ª consulta do pré-natal < 0,001

Sim 463 82,5 176 287 1,00

Não 26 4,6 15 11 2,22 0,99–4,95

Não fez pré-natal 72 12,8 48 24 3,26 1,93–5,51

Participou de grupo de gestante* < 0,001

Sim 103 18,4 38 65 1,00

Não 386 68,8 153 233 1,12 0,71–1,76

Não fez pré-natal 72 12,8 48 24 3,42 1,81–6,44

Possui cadastro em USF 0,156

Sim 398 70,9 162 236 1,00

Não 163 29,1 77 86 1,30 0,90–1,88

Sorologia para HIV na maternidade 0,017

Negativo 541 96,4 225 316 1,00

Positivo 20 3,6 14 6 3,27 1,24–8,65


IST: infecção sexualmente transmissível; PSF: programa saúde da família; USF: unidade de saúde da família; HIV:
vírus da imunodeficiência humana
* Na gravidez atual.

https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2017051007066 7
Fatores risco para sífilis em mulheres Macêdo VC et al.

Na Tabela 4, encontram-se os resultados da análise multivariada, incluindo todas as variáveis


analisadas. História anterior de infecção sexualmente transmissível (OR = 9,7; IC95% 5,4–17,2)
e realização de apenas uma a três consultas durante o pré-natal (OR = 3,5; IC95% 1,8–6,6) foram
os fatores associados ao maior risco para sífilis. As mulheres que tiveram três ou mais parceiros
sexuais no último ano apresentaram três vezes mais risco para infecção. Resultado similar foi
encontrado entre as que iniciaram o uso de drogas antes dos 18 anos (OR = 3,0; IC95% 1,4–6,4).
A ausência de acesso ao telefone associou-se com a sífilis (OR = 2,4; IC95% 1,2–4,7). Entre as que
apresentaram menor nível de escolaridade, a ocorrência de sífilis teve OR de 2,02 (IC95% 1,1–3,4).
Verificou-se maior risco da ocorrência de sífilis entre as multíparas (OR = 2,2; IC95% 1,3–3,9)
e entre as que relataram que o atual companheiro é usuário de drogas ilícitas (OR = 1,7;
IC95% 1,0–2,9). A religião, embora sugestivo de proteção, evidenciou associação para o
risco. A categoria “sem religião” foi utilizada como referência e as afiliadas à religião católica
apresentaram o maior risco (OR = 1,70; IC95% 1,0–2,6).

Tabela 4. Regressão logística multivariada de fatores sociodemográficos, comportamentais, antecedentes


clínicos, obstétricos e de assistência à saúde no pré-natal e na maternidade para sífilis em mulheres.
Recife, PE, Brasil, 2014.
Não ajustadas Ajustadas
Variável
OR IC95% p OR IC95% p
Bloco 1a – Características sociodemográficas
Escolaridade < 0,001 0,024
Médio e superior (C/I) 1,00 1,00
Fundamental (C) 1,71 1,09–2,67 1,27 0,73–2,19
Fundamental (I)/Analfabeto 3,10 1,99–4,82 2,02 1,17–3,47
Acesso a telefone 0,001 0,006
Sim 1,00 1,00
Não 2,95 1,58–5,52 2,45 1,28–4,70
Bloco 2b – Características comportamentais
Religião 0,044 0,012
Sem religião 1,00 1,00
Católica 1,16 0,77–1,74 1,70 1,07–2,68
Evangélica 0,68 0,45–1,03 0,86 0,53–1,39
Número de gestações incluindo a atual 0,002 0,008
1 1,00 1,00
2–3 1,64 1,11–2,43 1,77 1,12–2,79
≥4 2,23 1,39–3,58 2,27 1,30–3,95
Número de parceiros sexuais nos últimos 12 meses < 0,001 0,004
1 1,00 1,00
2 1,93 1,18–3,17 1,66 0,93–2,97
≥3 4,60 2,42–8,75 3,15 1,51–6,53
Idade que iniciou uso de drogas (anos) < 0,001 0,003
Não usa 1,00 1,00
≥ 18 1,83 0,73–4,60 0,50 0,16–1,53
≤ 17 5,66 3,03–10,56 3,04 1,45– 6,40
Atual companheiro usa droga <0,001 0,026
Não 1,00 1,00
Sim 2,26 1,47–3,47 1,78 1,07–2,98
Bloco 3c – Antecedentes clínicos, obstétricos e de assistência à saúde no pré-natal e na maternidade
Número de consultas no pré-natal < 0,001 < 0,001
≥7 1,00 1,00
6–4 1,31 0,86–2,00 1,48 0,88–2,49
3–1 3,60 2,17–5,98 3,53 1,86–6,69
Não fez pré-natal 4,47 2,53–7,90 3,20 1,36–7,54
História de IST anterior < 0,001 < 0,001
Não 1,00 1,00
Sim 10,68 6,46–17,66 9,70 5,46–17,24
C: completo; I: incompleto; IST: infecção sexualmente transmissível
a
Odds ratio ajustada por todas as variáveis do bloco 1 com p ≤ 0,20.
b
Odds ratio ajustada pelas variáveis do bloco 1 e pelas variáveis do bloco 2 com p ≤ 0,20.
c
Odds ratio ajustada pelas variáveis do bloco 1 e 2 e pelas variáveis do bloco 3 com p ≤ 0,20.

https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2017051007066 8
Fatores risco para sífilis em mulheres Macêdo VC et al.

DISCUSSÃO
Neste estudo, identificamos que a pobreza e suas decorrentes condições vulnerabilizantes – sejam
comportamentais ou de acesso e qualidade da assistência pré-natal ofertada nos serviços de
saúde – encontram-se significativamente associadas à sífilis em gestantes. Esse resultado
sinaliza que o controle da transmissão permanece como desafio não superado, em
conformidade com o observado em outras investigações8,15,18. A sífilis, apesar de apresentar
métodos de diagnósticos e tratamento simples, continua sendo um problema de saúde e
social em todo o mundo17,21.
O presente estudo tem limitações que devem ser apontadas. Como as informações
foram captadas por entrevista face a face, existe a possibilidade de erros de classificação,
principalmente nas variáveis comportamentais, como o uso do preservativo, o uso de
álcool e número de parceiros sexuais. Por outro lado, não há evidência de que tenha havido
erro de classificação diferencial entre casos e controles. Como nem o entrevistador, nem
o respondente sabiam, no momento da entrevista, quem era reagente e não reagente ao
ELISA, esses erros de classificação são não diferenciais, tendendo a tornar os grupos mais
semelhantes e a subestimar as associações encontradas.
Em relação às características da assistência à saúde no pré-natal e na maternidade, uma
questão metodológica merece discussão: a categoria “não fez pré-natal” se repetiu entre seis
variáveis analisadas, influenciando a exclusão e o poder das demais nos ajustes. Optou-se
pela permanência da variável, “número de consultas ao pré-natal”, devido à sua estabilidade
em diferentes ajustes e por conseguir consolidar o conjunto de ações estabelecidos pelo
programa de assistência pré-natal.
As estimativas das desigualdades sociais em saúde, no Brasil, oferecem suporte para
a hipótese de que a sífilis gestacional relaciona-se ao baixo nível socioeconômico e ao
atendimento pré-natal inadequado, contribuindo para persistência da transmissão vertical
e expondo as diversas fragilidades da assistência não só quanto ao acesso, mas também à
oportunidade de rastreamento, diagnóstico, tratamento das gestantes e seus parceiros17,23.
É reconhecido que práticas sexuais inseguras e ausência de apoio social aumentam o risco
de infecções recorrentes15,17.
As variáveis que mostraram maior força de associação para a sífilis gestacional, neste
estudo, foram história anterior de infecção sexualmente transmissível, seguido de número
inadequado de consultas no pré-natal (uma a três consultas). É bem reconhecido que a sífilis
é uma das infecções sexualmente transmissíveis que causam maior danos a gestantes e seus
conceptos, sendo associada com o aumento do risco da aquisição do HIV21.
A baixa frequência às consultas do pré-natal, apontada como desencadeadora de diversos
agravos na gestação, apresentou um risco de 3,5 para sífilis. A categoria “não fez pré-natal”
mostrou um risco similar (OR = 3,2). Isso constata a estreita relação dos efeitos adversos
à gestação com o tipo de assistência prestada no pré-natal e revela que a continuidade do
cuidado com a realização de procedimentos de detecção de risco para sífilis é importante
para sua efetividade. Muito tem sido discutido acerca do papel protetor do pré-natal,
cabendo ao mesmo, também, a possibilidade de minimizar os efeitos das desigualdades
socioeconômicas1,9,14. Nossos resultados indicam que as mulheres com baixa frequência às
consultas de pré-natal apresentam maior risco para a ocorrência da sífilis, efeito que diminui
à medida que cresce o número de consultas.
Embora esses achados não sejam inesperados, eles levantam aspectos que precisam
ser discutidos por todos os intervenientes da assistência pré-natal, a ausência ou o não
cumprimento da rotina mínima preconizada pelo Ministério da Saúde, incluindo as ações de
aconselhamento, vigilância epidemiológica, farmacológica, laboratorial e o rastreamento de
parceiros comprometem o controle da transmissão da sífilis16. A perda dessas “oportunidades”
produz uma atuação menos efetiva da equipe e dos serviços de saúde, que não conseguem
assegurar um cuidado integral, com repercussões sobre a gestante e o concepto.

https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2017051007066 9
Fatores risco para sífilis em mulheres Macêdo VC et al.

O número de parceiros sexuais no último ano apresentou associação com o desfecho


estudado. Estudos populacionais no Brasil mostram que, quanto mais precoce for o início da
vida sexual, maior o número de parceiros, assim como as chances de risco à saúde22. Entre as
mulheres brasileiras, a média de parceiros(as) sexuais nos últimos 12 meses diminui quanto
mais aumenta a escolaridade, condição considerada como processo de autoproteção22.
É importante salientar que as ações propostas para o enfrentamento da sífilis entre as
mulheres ainda têm como desafio a articulação entre a prevenção e a assistência, no que
se refere à promoção de autonomia sexual e reprodutiva.
Não foi realizada abordagem com os parceiros sexuais nesta pesquisa. Investigou-se algumas
variáveis junto à mulher. O uso de drogas ilícitas mostrou associação à ocorrência de sífilis nas
mulheres. Em que pesem as limitações, as perguntas eram relativas ao atual parceiro. Os resultados
foram importantes porque ampliaram o olhar para outras características comportamentais
e não se limitaram apenas à adequação ou inadequação do tratamento recebido. Entre as
mulheres, o uso de drogas ilícitas antes dos 18 anos também esteve associado à sífilis.
É possível que o aumento da incidência da infecção seja explicado pelas situações de
vulnerabilidade, que envolvem desde as características comportamentais e reprodutivas
às práticas sexuais inseguras5,7,19. O perfil comportamental dos parceiros merece estudos
mais específicos, que evidenciem situações ainda excludentes, como é o caso do uso de
outras drogas, insuficiente adesão para acompanhar a mulher às consultas de pré-natal e o
acolhimento inadequado nos serviços de saúde4.
O não acesso ao telefone e o baixo nível de escolaridade mostraram associação com a presença
da sífilis, condição amplamente explorada em diversos estudos13,15,18,23. O acesso ao telefone
foi analisado como variável sociodemográfica por representar o poder aquisitivo individual.
Adicionalmente, em nossa amostra, houve uma maior ocorrência de sífilis em mulheres de estratos
sociais mais desfavorecidos e estilos de vida mais vulneráveis. Entretanto, reconhecidamente a
adoção de comportamentos sexuais seguros mostra-se complexa, não dependendo unicamente
do nível educacional, renda, acesso a informações e insumos como preservativos, mas também
dos significados atribuídos à sexualidade e ao cuidado com a própria saúde13,18.
O elevado número de gestações apresentou associação com a ocorrência de sífilis. No Brasil,
desde a década de 1970, observa-se uma redução da taxa de fecundidade entre as mulheres.
Entretanto, o impacto é variado por influências de fatores sociodemográficos, menor
escolaridade, ausência de companheiro, uso de drogas, precocidade do início da vida sexual
e não realização do pré-natal1,13,25.
Cabe ressaltar ainda que é grande a proporção de mulheres que finalizam o curso da gestação
e que não são submetidas ao tratamento recomendado para o controle e prevenção da
transmissão vertical da sífilis, consequentemente persiste a infecção de uma gravidez para
a outra com maiores chances de desfechos adversos para o concepto, como o abortamento,
prematuridade e óbito17. A assistência pré-natal adequada poderia não só reduzir casos
de sífilis incidentes durante a gravidez por meio de aconselhamento e estímulo ao uso de
preservativo, mas também se tratado corretamente os casos prevalentes em futuras gestações11.
A afiliação à religião católica mostrou-se associada à sífilis. Embora existam estudos que
indicam que a religiosidade tende a retardar o início da vida sexual, as inter-relações entre
a variável e o comportamento sexual ainda são pouco exploradas na literatura científica e
mais pesquisas nessa direção são necessárias no Brasil20.
Embora não tenha sido detectado nesta amostra, outros estudos encontraram associação da
não utilização de preservativos e o crescimento de infecção sexualmente transmissível13,22.
A elevada frequência de relacionamentos estáveis nessa população pode ter contribuído
para realização do sexo desprotegido, provavelmente devido à maior afetividade e confiança
no parceiro, relativizando as medidas de prevenção às infecções e gravidez. Além disso,
o preservativo ainda é visto como símbolo de infidelidade ou desconfiança, devendo ser
utilizado apenas em relacionamentos com parceiros “não conhecidos”5,22.

https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2017051007066 10
Fatores risco para sífilis em mulheres Macêdo VC et al.

Campos et al.4 ponderam, em relação a essas dificuldades sobre o uso do preservativo, que os
serviços de saúde deveriam adotar uma postura diferenciada, inclusive, durante o pré-natal,
que favorecesse o acolhimento e identificação, em conjunto com a mulher, de estratégias de
negociação com o parceiro, uma vez que a reinfecção pode perpetuar a sífilis.
A faixa etária não se mostrou associada à sífilis, embora pesquisas nacionais e regionais3,9,15,23,24
realizadas nos últimos 10 anos encontraram maior ocorrência da infecção entre mulheres
com média de idade de 23 anos e as adolescentes. Embora os achados não possam ser
extrapolados para outros locais, considerando as características da amostra, são relevantes a
disseminação do agravo e a necessidade de ampliar o desenvolvimento de ações em educação
e prevenção para alcançar as mulheres de todas as faixas de idade, incluindo as de maior
vulnerabilidade. Nas últimas décadas, ocorreram relevantes mudanças sociodemográficas
no país, o que implica em novas condutas em relação à regulação da vida sexual20. Contudo,
essa variável deve continuar sendo investigada em estudos de fatores de risco que incluam
um maior número de participantes.
As associações encontradas indicam a necessidade de reorganização das ações, priorizando
mulheres com as características de risco identificadas. Estratégias direcionadas para essas
populações podem ser consideradas o ponto inicial do processo e fundamental para redução
da transmissão vertical da sífilis.

REFERÊNCIAS
1. Arnesen L, Martinez G, Mainero L, Serruya S, Durán P. Gestational syphilis and stillbirth
in Latin America and the Caribbean. Int J Gynaecol Obstet. 2015;128 (3):241-5.
https://doi.org/10.1016/j.ijgo.2014.09.017
2. Cameron CE, Lukehart SA. Current status of syphilis vaccine development: need, challenges,
prospects. Vaccine. 2014;32(14):1602-9. https://doi.org/10.1016/j.vaccine.2013.09.053
3. Campos ALA, Araújo MAL, Melo SP, Gonçalves MLC. Epidemiologia da sífilis gestacional em
Fortaleza, Ceará, Brasil: um agravo sem controle. Cad Saude Publica. 2010;26(9):1747-55.
https://doi.org/10.1590/S0102-311X2010000900008
4. Campos ALA, Araújo MAL, Melo SP, Andrade RFV, Gonçalves MLC. Sífilis em parturientes:
aspectos relacionados ao parceiro sexual. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012;34(9):397-402.
https://doi.org/10.1590/S0100-2032012000900002
5. Carreno I, Costa JSD. Uso de preservativos nas relações sexuais: estudo de base populacional.
Rev Saude Publica. 2006;40(4):720-6. https://doi.org/10.1590/S0034-89102006000500024
6. Casal CAD, Silva MO, Costa IB, Araújo EC, Corvelo TCO. Molecular detection of Treponema
pallidum sp. Pallidum in blood samples of VDRL- seroreactive women with lethal pregnancy
outcomes: a retrospective observational study in northern Brazil. Rev Soc Bras Med Trop.
2011;44(4):451-6. https://doi.org/10.1590/S0037-86822011005000047
7. Cruzeiro ALS, Souza LDM, Silva RA, Pinheiro RT, Rocha CLA, Horta BL. Comportamento
sexual de risco: fatores associados ao número de parceiros sexuais e ao uso de
preservativos em adolescentes. Cienc Saude Coletiva. 2010;15 Supl1:1149-58.
https://doi.org/10.1590/S1413-81232010000700023
8. Domingues RMS, Saraceni V, Hartz ZMA, Leal MC. Sífilis congênita: evento sentinela da
qualidade da assistência pré-natal. Rev Saude Publica. 2013;47(1):147-57. https://doi.
org/10.1590/S0034-89102013000100019
9. Domingues RMSM, Szwarcwald CL, Souza Junior PRB, Leal MC. Prevalence of syphilis in
pregnancy and prenatal syphilis testing in Brazil: Birth in Brazil study. Rev Saude Publica.
2014;48(5):766-74. https://doi.org/10.1590/S0034-910.2014048005114
10. Gomez GB, Kamb ML, Newman LM, Mark J, Broutet N, Hawkes SJ. Untreated maternal syphilis
and adverse outcomes of pregnancy: a systematic review and meta-analysis. Bull WHO.
2013;91(3):217-26. https://doi.org/10.2471/BLT.12.107623
11. Hebmuller MG, Fiori HH, Lago EG. Gestações subsequentes em mulheres
que tiveram sífilis na gestação. Cienc Saude Coletiva. 2015;20(9):2867-78.
https://doi.org/10.1590/1413-81232015209.20332014

https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2017051007066 11
Fatores risco para sífilis em mulheres Macêdo VC et al.

12. Kuznik A, Muhumuza C, Komakech H, Marques EMR, Lamorde M. Antenatal syphilis


screening using point-of-care testing in low- and middle-income countries in Asia
and Latin America: a cost-effectiveness analysis. PLoS One. 2015;10(5):e0127379.
https://doi.org/10.1371/journal.pone.0127379
13. Lago EG, Rodrigues LC, Fiori RM, Stein AT. Congenital syphilis: identification of two distinct
profiles of maternal characteristics associated with risk. Sex Transm Dis. 2004;31(1):33-7.
https://doi.org/10.1097/01.OLQ.0000105003.72411.FB
14. Lima BGC, Costa MCN, Dourado MIC. Avaliação da qualidade do rastreamento de
HIV/aids e sífilis na assistência pré-natal. Epidemiol Serv Saude. 2008;17(2):125-7.
https://doi.org/10.5123/S1679-49742008000200007
15. Lima MG, Santos RFR, Barbosa GJA, Ribeiro GS. Incidência e fatores de risco para
sifilis congênita em Belo Horizonte, Minas Gerais, 2001-2008. Cienc Saude Coletiva.
2013;18(2):499-506. https://doi.org/10.1590/S1413-81232013000200021
16. Macêdo VC, Bezerra AFB, Frias PG, Andrade CLT. Avaliação das ações de
prevenção da transmissão vertical do HIV e sífilis em maternidades públicas de
quatro municípios do Nordeste brasileiro. Cad Saude Publica. 2009;25(8):679-92.
https://doi.org/10.1590/S0102-311X2009000800004
17. Magalhães DMS, Kawaguchi IAL, Dias A, Calderon IMP. Sífilis materna e congênita: ainda um desafio.
Cad Saude Publica. 2013;29(6):1109-20. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2013000600008
18. Melo NGDO, Melo Filho DA, Ferreira LOC. Diferenciais intraurbanos de sífilis congênita
no Recife, Pernambuco, Brasil (2004-2006). Epidemiol Serv Saude. 2011;20(2):213-22.
https://doi.org/10.5123/S1679-49742011000200010
19. Melo VH, Botelho APM, Maia MMM, Correa Júnior MD, Pinto JA. Uso de drogas ilícitas
por gestantes infectadas pelo HIV. Rev Bras Ginecol Obstet. 2014;36(12):555-61.
https://doi.org/10.1590/So100-720320140005155
20. Paiva V, Aranha F, Bastos FI; Grupo de Estudos em População, Sexualidade e Aids. Opiniões e
atitudes em relação à sexualidade: pesquisa de âmbito nacional, Brasil 2005. Rev Saude Publica.
2008;42 Supl 1:54-64. https://doi.org/10.1590/S0034-89102008000800008
21. Pinto VM, Tancredi MV, Buchalla CM, Miranda AE. History of syphilis in women living with
AIDS and associated risk factors in São Paulo, Brazil. Rev Assoc Med Bras. 2014;60(4):342-8.
https://doi.org/10.1590/1806-9282.60.04.013
22. Ribeiro KCS, Silva J, Saldanha AAW. Querer é poder? A ausência do uso do preservativo
nos relatos de mulheres jovens. DST-J Bras Doenç Sex Transm. 2011;23(2):84-9.
https://doi.org/10.5533/2177-8264-201123206
23. Rodrigues CS, Guimarães MDC, Grupo Nacional de Estudo sobre Sífilis Congênita. Positividade
para sífilis em puérperas: ainda um desafio para o Brasil. Rev Panam Salud Publica.
2004;16(3):168-75. https://doi.org/10.1590/S1020-49892004000900003
24. Soeiro CMO, Miranda AE, Saraceni V, Santos MC, Talhari S, Ferreira LCL. Syphilis in pregnancy
and congenital syphilis in Amazonas State, Brazil: an evaluation using database linkage.
Cad Saude Publica. 2014;30(4):715-23. https://doi.org/10.1590/0102-311X00156312
25. Viellas EF, Domingues RMSM, Dias MAB, Gama SGN, Theme Filha MM,
Costa JV, et al. Assistência pré-natal no Brasil. Cad Saude Publica. 2014;30 Supl 1:S85-100.
https://doi.org/10.1590/0102-311X00126013

Financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq – Processo


478837/2012-7 – bolsas de pesquisa e produtividade de PICL e RAAX) e Fundação de Amparo à Ciência e
Tecnologia do Estado de Pernambuco (PPSUS Rede – 0025-400/13).
Contribuição dos Autores: Concepção do estudo, revisão da literatura, análise e interpretação dos dados, revisão
crítica do texto: VCM, PICL, PGF, LMDR, SFFC, RAAX. Revisão da literatura, análise dos dados, revisão crítica do
texto: VCM, PICL, PGF. Análise estatística, análise sorológica e interpretação dos dados, revisão crítica do texto:
VCM, PICL, PGF, SFFC. Revisão crítica do manuscrito: VCM, PICL, PGF, RAAX. Todos os autores aprovaram sua
versão final e assumem a responsabilidade pública pelo conteúdo do artigo.
Agradecimentos: À Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco e à Secretaria Municipal de Saúde do Recife
pelo apoio logístico.
Conflito de Interesses: Os autores declaram não haver conflito de interesses.

https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2017051007066 12

Вам также может понравиться