Вы находитесь на странице: 1из 34

260 A r t e & Ens a i os | r ev is ta do ppg a v /eba /uf r j | n.

2 6 | junho/J uni 2013


As fAvelAs: entre o balaio de gatos e o mito da
marginalidade
Die fAvelAs: zwischen balaio de gatos und dem Mythos
der Marginalität

Giuseppe Cocco

pacificação favelas violência marginalidade arte cidade Pazifizierung


Befriedung Favelas Armenviertel Gewalt Marginalität Kunst Stadt

A escravidão era o vulcão em que assentava a sociedade, e esta se tornou a fonte de uma situação
de violência para ambos, senhores e escravos
fernando Henrique Cardoso
Eu careço de que o bom seja bom e o ruim seja ruim (...) este mundo é muito misturado
João Guimarães Rosa
Quem joga bombas de efeito moral não tem moral para falar nada
Grafiti – muros da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, 11 de junho de 2013

O processo de pacificação (o desarmamen- Der Prozess der Pazifizierung (der Entwaff-


to) das favelas do Rio de Janeiro é atra- nung) der favelas von Rio de Janeiro wird von
vessado por uma série de transformações einer Reihe von Transformationen begleitet,
cujos êxitos podem, em retorno, esvaziar a deren erfolgreiche Umsetzung genau die-
própria dinâmica da paz: no lugar da se- se Dynamik der Befriedung im Gegenzug
gurança de viver, uma nova paz do medo, untergraben kann: an stelle eines sicheren
uma paz sem voz que claramente anuncia lebens, ein neuer frieden der Angst, ein
as novas faces de uma velha guerra. A pa- frieden ohne stimme, der deutlich die neu-
cificação das favelas mostra que o mito da en seiten eines alten Kampfes ankündigt.
marginalidade e, com ele, o quebra-cabeça Die Pazifizierung der Favelas zeigt, dass der
da violência estão totalmente presentes e Mythos der Marginalität und mit ihm das
vivos no Rio de Janeiro e em geral no Brasil. Problem der Gewalt in Rio de Janeiro wie
Podemos dizer que a pacificação é atraves- in ganz Brasilien nach wie vor gegenwärtig
sada por dois movimentos opostos, mas und lebendig ist. Wir können sagen, dass

Nildo da Mangueira veste Parangolé P15 Capa 11, Incorporo a Revolta


Nildo da Mangueira zieht den Parangolé P15 Umhang 11 an, Ich verleibe mir die Revolte ein
Hélio Oiticica, 1967
foto Claudio Oiticica

ARTIGOS | CRIS e S | B eITRÄ G e | KRISe N | GIU S eP Pe COCCO 261


misturados: por um lado, a ‘brasilianiza- die Pazifizierung von zwei gegensätzlichen,
ção’ do Brasil, ou seja, uma modernização aber miteinander verwobenen Bewegun-
que atualiza as tradicionais mazelas de se- gen gekennzeichnet ist: auf der einen seite
gregação e fragmentação social; por outro, die Brasilianisierung Brasiliens, das bedeutet
um devir-Brasil do mundo que desloca as eine Modernisierung, die die traditionellen
tradicionais clivagens, afirmando a potên- Makel der sozialen segregation und frag-
cia dos pobres e da periferia no horizonte. mentierung fortschreibt; auf der anderen
seite ein werdendes Brasilien der Welt, das
die traditionellen Konfliktlinien verlagert,
indem es das Potenzial der Armen und der
Peripherie am Horizont aufzeigt.

Favelas: between a cat’s cradle and myth oF marginality | The pacification process (disar-
mament) of Rio de Janeiro’s favelas is crossed by a series of changes whose success may in return drain the
very dynamics of peace: a new peace of fear rather than a safe place to live, voiceless peace that clearly
announces new aspects of an old war. The pacification of favelas shows that the myth of marginality to-
gether with the jigsaw puzzle of violence is all present and alive in Rio de Janeiro and around Brazil. We can
say that pacification is crossed by two opposite but mixed movements: on one hand, the ‘Brazilianisation’
of Brazil, namely, modernization updating the traditional ailments of segregation and social fragmenta-
tion; on the other, a changing Brazil in the world that displaces the traditional divisions, affirming the
power of the poor and the periphery on the horizon. | Pacification, favelas, violence, marginality, art, city

Um número crescente de favelas do Rio de Janei- eine wachsende Anzahl an favelas in Rio de Ja-
ro está passando por um processo de pacificação, neiro durchläuft den Prozess der Pazifizierung,
com a implementação de Unidades de Polícia Pa- indem dort Einheiten der Befriedungspolizei (Uni-
cificadora. O primeiro objetivo declarado das UPPs dades de Polícia Pacificadora/UPP) installiert wer-
é “reconquista de territórios” dos quais o estado den. Das erste erklärte Ziel dieser UPPs ist die „Zu-
estaria ausente. Em seguida, diz-se que a pacifica- rückeroberung der Territorien”, in denen der staat
ção significa o “desarmamento” do tráfico. Se o nicht präsent ist. Darüber hinaus, so wird gesagt,
alcance mais geral da pacificação fica indefinido, gilt die Pazifizierung der „Entwaffnung“ des Dro-
sobretudo do ponto de vista das articulações com genhandels. Bleibt jedoch der allgemeinere Um-
as políticas sociais (a UPP-Social, depois de anun- fang der Pazifizierung unbestimmt, vor allem was
ciada, não encontrou ainda âmbito institucional die der Einbeziehung der Sozialpolitik angeht (trotz
definido nem sequer orçamento), a pacificação Ankündigung ihrer einführung verfügt die soziale
está se afirmando como um processo de legaliza- schiene der UPP bislang über keinen festgelegten
ção, de combate a tudo que é informal: algo que institutionellen Rahmen und nicht einmal einen fi-
parece querer ser um processo de ‘desfavelização’ nanzierungsplan), bestätigt sich die Pazifizierung
do Rio de Janeiro ou pelo menos de suas zonas als ein Prozess der legalisierung, der Bekämpfung
mais ricas e turísticas. Há três grandes indicadores all dessen, was als informell gilt: etwas, das wie

262 A r t e & Ens a i os | r ev is ta do ppg a v /eba /uf r j | n. 2 6 | junho/J uni 2013


dos efeitos do processo de pacificação: a queda ein Prozess der desfavelização, der Beseitigung
da taxa de mortalidade (ou seja, dos assassinatos), der favelas in Rio de Janeiro, erscheinen mag,
a valorização imobiliária dentro e fora das favelas zumindest in den wohlhabenderen und touristi-
pacificadas (alimentada, aliás, pelo processo ge- scheren stadtvierteln. es gibt drei große indika-
ral de valorização imobiliária) e, enfim, a redução toren für die Auswirkungen des Pazifizierungs-
vertical das perdas das empresas de serviços, ou Verlaufs: der Rückgang der Sterberate (das heißt
seja, a redução dos ‘gatos’. Enfim, junto com a der Morde), die Aufwertung der immobilien in
pacificação, mas também antes dela por meio das den befriedeten Favelas und in ihrem Umfeld (im
obras do PAC, chegam projetos de urbanização Übrigen beflügelt durch den allgemeinen Prozess
(Morar Carioca) e de infraestrutura (teleféricos) der immobilien-spekulation) und schließlich die
que, além de não ser minimamente discutidos vertikale verlustreduzierung der service-Anbieter,
com as comunidades, preveem a remoção de par- das heißt das vermeiden von sogenannten gatos,
te das favelas e se destinam a usos turísticos que wie umgangssprachlich die illegal Beschaffung
não envolvem diretamente os moradores. dieser Dienstleistungen (z.B. durch das Anzapfen
von stromleitungen) bezeichnet wird. Kurzum,
Resumindo, os elementos positivos que marcam
mit der Pazifizierung, aber auch schon vor dieser
a pacificação (o desarmamento) são atravessados
aufgrund der Baumaßnahmen des Programms
por uma série de transformações cujos êxitos po-
zur Beschleunigung des Wirtschftachstums (PAC),
dem, em retorno, esvaziar a própria dinâmica da
werden Urbanisierungs- (Morar Carioca) und
paz: no lugar da segurança de viver, uma nova paz
Infrastruktur-Projekte (Seilbahnen) durchgeführt,
do medo, uma paz sem voz que claramente anun-
die, abgesehen davon, dass sie nicht mit den be-
cia as novas faces de uma velha guerra. Com efeito,
troffenen Gemeinden diskutiert wurden, die Be-
a pacificação implica a explicitação paradoxal dos
seitigung eines Teils der favelas vorsehen und auf
temas da guerra e da violência (senão, por que fa-
einen Nutzen für den Tourismus abzielen, was die
lar em pacificação?). A formalização dos serviços,
Anwohner jedoch nicht direkt einbezieht.
em vez de traduzir investimentos de universaliza-
ção em territórios nos quais as condições urba- Zusammengefasst: die positiven elemente, welche
nas e sociais são extremamente precárias, aparece die Pazifizierung auszeichnen werden von einer
como repressão ao que é definido como furto de Reihe von Transformationen begleitet, deren er-
energia, água, sinal de Tv e internet a cabo, e, en- folgreiche Umsetzung, genau diese Dynamik der
fim, a urbanização e outras obras parecem indicar Befriedung im Gegenzug untergraben kann: an
uma nova geração de políticas de remoção. A pa- stelle eines sicheren lebens, ein neuer frieden der
cificação das favelas mostra que o mito da margi- Angst, ein frieden ohne stimme, der deutlich die
nalidade e, com ele, o quebra-cabeça da violência neuen seiten eines alten Kampfes ankündigt. Die
estão totalmente presentes e vivos no Rio de Janei- Befriedung impliziert die paradoxe erläuterung
ro e em geral no Brasil. Podemos dizer que a pacifi- solcher Themen wie Krieg und Gewalt (warum
cação é atravessada por dois movimentos opostos, sollte man sonst von Befriedung sprechen?). An-
mas misturados: por um lado, a ‘brasilianização’ do statt allgemeinnützige Investitionen in diesen Ge-
Brasil, ou seja, uma modernização que atualiza as bieten vorzunehmen, in welchen die sozialen und
tradicionais mazelas de segregação e fragmenta- urbanen lebensbedingungen extrem prekär sind,

ARTIGOS | CRIS e S | B eITRÄ G e | KRISe N | GIU S eP Pe COCCO 263


kommt es nun zur formalisierung der Dienstlei-
stungen und dies erscheint wie die Bekämpfung
dessen, was als die illegale Abzweigung von
strom, Wasser, fernseh- und internetzugängen
definiert wird. Die Urbanisierungs- und Baumaß-
nahmen offenbaren sich somit als eine neue form
der Beseitigungspolitik. Die Pazifizierung der Fa-
velas zeigt, dass der Mythos der Marginalität und
mit ihm das Problem der Gewalt in Rio de Janeiro
wie in ganz Brasilien nach wie vor gegenwärtig
und lebendig ist. Wir können sagen, dass die Pa-
zifizierung von zwei gegensätzlichen, aber mit-
Cadê o Amarildo?
Wo ist Amarildo? einander verwobenen Bewegungen durchzogen
Rio de Janeiro, 2013
Foto Ratão Diniz wird: auf der einen seite die der Brasilianisierung
Brasiliens, das bedeutet eine Modernisierung, die
Durante os meses de maio e junho de 2013, inúmeras
cidades brasileiras estiveram imersas em manifestações die traditionellen Makel der sozialen segregation
MULTITUDINARIAS. O aumento da tarifa de ônibus serviu como
gancho para um amplo debate sobre as políticas públicas, und Fragmentierung fortschreibt; auf der anderen
resultando em inúmeros confrontos entre manifestantes e o
Estado. No Rio de Janeiro, os debates ultrapassaram a questão
seite ein werdendes Brasilien der Welt, das die
do transporte público e giraram em torno das reformas urbanas traditionellen Konfliktlinien verlagert, indem es
propostas em decorrência da Copa do Mundo e das Olímpiadas,
da instauração de polícias pacificadoras nos morros cariocas, etc. das Potenzial der Armen und der Peripherie vor
Algumas imagens publicadas neste artigo expõem momentos
dessas manifestações na rua. dem Horizont einer universellen Rassenmischung
hervorhebt.3 Diese Opposition entlud sich in den
Im Mai und Juni 2013 kam es in unzähligen Städten Brasiliens
zu Demonstrationen. Die Anhebung der Busfahrkartenpreise Demonstrationen im Monat Juni 2013, als sich
gab Anstoß zu einer großen Debatte über die öffentliche Politik,
die zu zahlreichen Konfrontationen zwischen Demonstranten die Masse des „Brasil Menor“4 gegen das neolibe-
und der Staatsgewalt führten. In Rio de Janeiro führten die rale Projekt des Staates (einer strukturalistischen
Diskussionen von den öffentlichen Verkehrsmitteln hin zu
städtischen Reformen, die angesichts der bevorstehenden Wirtschaftspolitik) erhob, das sich „Brasil Maior“5
Fußball-WM und den Olympischen Spielen vorgeschlagen
waren, zum Einsatz der Friedenspolizei in den Hügeln Rios etc. nennt. (Neoliberal deshalb, weil es die soziale Mo-
Einige hier publizierte Bilder zeigen Momentaufnahmen dieser
Demonstrationen.
bilität in den entkräfteten Werten der ‚neuen Mit-
telklasse‘ homologisiert.).

ção social; pelo outro, um devir-Brasil do mundo


que desloca as tradicionais clivagens, afirmando Der balaio de gatos6 und die perruque
a potência dos pobres e da periferia, no horizon-
Die Pazifizierung wird nicht durch ein Projekt
te de uma mestiçagem universal.1 Essa oposição
und eine Planung mit genauer Ablaufskizze und
explodiu nas jornadas de junho de 2013, quando
Zielbestimmung installiert, sondern lässt sich viel-
a multidão do Brasil Menor levantou-se contra o
mehr als work in progress beschreiben.
projeto estatal (neodesenvolvimentista) e neoliberal
(de homologação da mobilidade social nos valores 7
Zur gleichen Zeit veranschaulicht die prekäre exis-
extenuados de uma ‘nova classe média’) chamado tenz der UPP-social8 die Zunahme der Komplexität
de Brasil Maior. und der Widersprüche des Pazifizierungsprozesses,

264 A r t e & Ens a i os | r ev is ta do ppg a v /eba /uf r j | n. 2 6 | junho/J uni 2013


O balaio de gatos2 e a perruque proportional zum Grad der Wichtigkeit, die ihm
zuteil wird. Mit ihren spezifischen Widersprüchen
Um projeto e um planejamento com todos os
reproduziert die Pazifizierung auf eine andere Wei-
seus passos e objetivos definidos não constituem
se die Ambiguität, die das verhältnis des staates zu
a pacificação, que antes se trata de um work in
den favelas kennzeichnet, seitdem diese existieren.
progress.3 Ao mesmo tempo, a conturbada exis-
es ist kein Zufall, dass das Phänomen favela auf ju-
tência da UPP-social4 exemplifica o aumento da
ristischem Gebiet die Grundlagen findet um als so-
complexidade e das contradições do processo de
zial-räumliche Kategorie definiert zu werden. Das
pacificação proporcionalmente ao nível de impor-
Recht, so erinnert Rafael Gonçalves ganz richtig,
tância que ele adquire. Com suas contradições
beschränkt sich nicht darauf, zu verbieten oder zu
específicas, a pacificação está reproduzindo em
billigen, aber übernimmt auch die fundamentale
outros termos as ambiguidades que marcaram a
Aufgabe der Kodifizierung, die sich über die Zuwei-
relação do Estado com as favelas desde que elas
existem. Não por acaso, é no terreno jurídico que sung eines Namens für die unterschiedlichen sozia-

o fenômeno da favela encontra as bases para ser len Realitäten vollzieht. Auf diese Weise institutio-
definido como categoria socioespacial. O direito, nalisiert das Recht eine spezifische Klassifizierung
como bem lembra Rafael Gonçalves, não se limita der sozialen Struktur; es festigt und reproduziert
a proibir ou aprovar, mas desempenha papel fun- die symbolische Ordnung der sozialen struktur:
damental de codificação que passa pela atribui- „auf diese Weise stellt das Recht die Welt im Recht
ção de um nome às diferentes realidades sociais. dar wie auch der Komponist die Welt in der Musik
Dessa maneira, o direito institucionaliza uma clas- einfängt“.9 Die favela ist ein sich konstruierender
sificação específica da estrutura social; estabelece Prozess, „als gesonderte juristische Kategorie kon-
e reproduz a ordem simbólica da estrutura social: fliktgeladen und kumulativ“.10
“dessa maneira, o direito põe o mundo em direito Und dieser Konflikt wird, was die Favelas betrifft,
da mesma maneira que o compositor o põe em immer mehrdeutig bleiben, offen für eine unend-
música”.5 A favela é um processo de construção liche Modulation von lösungen: „tolerieren ohne
“conflitivo e cumulativo enquanto categoria jurí- zu konsolidieren“.11 In seinen Geschichtsstudien
dica particular”.6 zu den favelas und der frage des Rechts bringt
E esse conflito, no que diz respeito às favelas, Gonçalves zahlreiche Beispiele für diese perma-
permanecerá sempre ambíguo, aberto a uma mo- nente und permanent mehrdeutige Bewegung:
dulação infinita de soluções: “tolerar sem consoli- die Verordnung der Stadtverwaltung Nr. 374 vom
dar”. em seu trabalho de historiador das favelas e
7 24. Februar 1961, die die formale Erhebung von
do direito, Gonçalves multiplica os exemplos des- Mieten in den favelas verbot, sollte deren expan-
se movimento permanente e permanentemente sion eindämmen, hatte allerdings zur folge die
ambíguo: o decreto municipal n. 374, de 24 de „informellen Praktiken zu stimulieren, die weiter
fevereiro de 1961, que proibia a cobrança formal gediehen“,12 auch nach Widerruf des Dekrets
de aluguel nas favelas, tinha como objetivo frear (im Jahr 1970). Selbst der „Kampf Rios gegen
sua expansão e terá apenas o efeito de “estimu- die favelas” durch deren Beseitigung, angeführt
lar as práticas informais que continuaram a pros- von Carlos Lacerda, resultiert im Gegenteil: „die
perar”, mesmo depois da revogação do decreto
8 offizielle Anerkennung der Favelas“.13 schon vor

ARTIGOS | CRIS e S | B eITRÄ G e | KRISe N | GIU S eP Pe COCCO 265


(em 1970). A própria “batalha do Rio contra as Lacerda, bereits im Jahr 1937, zur Zeit des Estado
favelas” conduzida por Carlos lacerda mediante Novo, wurde mit der verabschiedung des „Bau-
suas remoções acaba no resultado oposto: “o re- gesetzes” offiziell die Rechtswidrigkeit der Corti-
conhecimento oficial das favelas”. Antes de la-
9
ços (Elendsviertel) und Favelas bekannt gegeben.
cerda, ainda em 1937, durante o Estado Novo, a es handelte sich zur gleichen Zeit um den „ersten
promulgação do “Código da Construção” decre- juristischen Text, der explizit den Begriff ,favela‘
tou oficialmente a ilegalidade de cortiços e favelas aufgriff. indem er die Rechtswidrigkeit der favela
e, ao mesmo tempo, foi “o primeiro texto jurídico bestätigte, erkannte er diese paradoxer Weise of-
que usou explicitamente o termo ‘favela’. Afir- fiziell im urbanen und politischen Raum der Stadt
mando a ilegalidade das favelas, paradoxalmente an“.14 Denn die Prekarität bekräftigt und reprodu-
as reconheceu oficialmente no espaço urbano e ziert sich in der Art, wie die Armen regiert werden
político da cidade”.10 Com efeito, a precariedade und folglich als eine der urbanen Hauptformen,
se afirma e se reproduz como o modo de governo die sie produzieren und zur selben Zeit leben.
dos pobres e, portanto, como uma das principais Aufgrund der neuen Methoden der Arbeitsorga-
formas urbanas que eles produzem e ao mesmo nisation ist die Prekarität heute ein generalisierter
tempo vivem. A precariedade é hoje condição ge- Zustand, etwas, das wie die Brasilianisierung der
neralizada pelos novos métodos de organização Welt erscheint. 15
do trabalho, algo que aparece como uma brasilia-
Sergio Magalhães behauptet: „In Wirklichkeit ge-
nização do mundo.11
schieht das ungeregelte Wachstum [der favelas
Sergio Magalhães confirma: “Na realidade, o und der stadt] genau aufgrund der Nicht-Aner-
crescimento desordenado [das favelas e da cida- kennung des Rechts des Armen auf einen Wohnort
de] decorre justamente do não reconhecimento und auf eine stadt“.16 Jailson de souza und Jorge
do direito do pobre à habitação e à cidade”. 12
Barbosa sprechen vom Aufkommen einer „para-
doxen logik”: in ihrer Armut [in der Armut der
favela] gab es letzten endes Raum für die schön-
heit und lyrik der brasilianischen Populärkultur“.17
Dies findet sich deutlich in einem Artikel der Zei-
tung Correio da Manhã wieder, der von ihnen zi-
tiert wird: „Unsere Hügel haben noch niemanden
gefunden, der ihnen ihre raue und brutale Poesie
fühlt, in deren schönheit sich die nostalgischen
Refrains der „samba-lieder“ und das grausame
Drama der ‚bam-bam-bans‘ mischen. Der ‚Bam-
ba’ ist eine Mischung aus einem Draufgänger und
einem schlitzohr.”18 es handelt sich um eine sehr
alte politische strategie. in einer Werbebroschüre
des Vargas-Regimes aus dem Jahr 1941, die den
Ato ecumênico da Maré Titel (und die Widmung) Die Hügel Rio de Janeiros
Universaler Akt von Maré
Rio de Janeiro, 2013 und das neue Regime trägt, finden wir genau die-
foto Rúbia Pella

266 A r t e & Ens a i os | r ev is ta do ppg a v /eba /uf r j | n. 2 6 | junho/J uni 2013


Jailson de souza e Jorge Barbosa falam assim do se diskursive und mehrdeutige instrumentalisie-
aparecimento de uma “lógica paradoxal”: “em rung19. in der schrift, die sich wie die Auszüge aus
sua pobreza [da favela] afinal havia espaço para a journalistischen Reportagen liest, heißt es: „wir
beleza e o lirismo da cultura popular brasileira”. 13
kennen die favela seit drei Jahrzehnten. Wir sind
É o que aparece claramente num artigo do Cor- diese immer wieder hoch und runter gegangen.
reio da Manhã citado por eles: “Os nossos mor- Wir haben ihrer Wandlung beobachtet. sie macht
ros ainda não encontraram quem lhes sentisse a uns keine Angst mehr. es macht keinen sinn mehr
rude e brutal poesia, em cuja beleza se mistu- sie wie folgt zu betiteln – ‚Schlupfloch für Krimi-
ram refrões nostálgicos dos ‘sambas’ e o drama nelle‘“.20 Das bedeutet, „es gab leute, denen es
sangrento dos ‘bam-bam-bans’. O ‘Bamba’, um gefiel, nur so auf die Favela zu schimpfen. Man
misto de valentão e de malandro.” 14
Trata-se hörte für gewöhnlich Bemerkungen wie ‚schwar-
de uma política bem antiga. Num opúsculo de zer Fleck’, ‚deprimierend für unsere Foren der Zi-
propaganda do regime Vargas datado de 1941, vilisation’ etc.” Jetzt nicht mehr, die Stadt hat ihre
intitulado (e dedicado a) Os morros cariocas no Trennungen überwunden: „Die Favela (...) ist nun
novo regime, encontramos exatamente o mesmo bereits mit der stadt verbunden, sie gehört bereits
regime discursivo ambíguo . No que se apresen-
15
zur sozialen Gemeinschaft. Und das Heilmittel
ta como notas de reportagem jornalística, diz-se: war ein so einfaches: statt Polizei, moralischer Bei-
“conhecemos há três décadas a favela. Temo-la stand; statt Gefängnis, schulen, Krankenhäuser,
subido e descido constantemente. Assistimos à Arbeit.”21 Wir können auch beobachten, dass „die
sua transformação. Já não mete medo. Perdeu ärmlichen Hütten, in ihrer Mehrheit, besser, fast
a razão de ser o título que lhe davam – ‘reduto gänzlich nicht länger Zufluchtsorte für gewöhn-
de criminosos’”.16 Ou seja, “havia quem gostasse liche Kriminelle sind”22 und das, weil „genau die
só de xingar a favela. Alinhavam-se frases costu- Bewohner der Hügel am meisten von der allge-
meiras, ‘negra mancha’, ‘deprimente para nos- meinen Unterstützung profitieren (...)”.23 Auf die-
sos foros de civilização’, etc.”. Agora não mais, se Weise haben sich „selbst die ‚bambas’, die in
a cidade já superava suas divisões: “A Favela (...) das neue Umfeld eingebunden wurden und Bei-
já está relacionada com a cidade, já participa da spiele gerechter Unterstützung durch den staat
comunhão social. E o remédio foi tão simples: erfuhren, korrigiert”.24 Und diese Unterstützung
ao invés de polícia, assistência moral; ao invés – so heißt es in der Broschüre – hat Gesetz des
de cadeia, escola, hospital, trabalho.” Podemos
17
Mindestlohnes zur Grundlage, ein „lebenswichti-
também aprender que “os casebres, na maioria, ges Gehalt25”, das diese „Bewohner, [die] nichts
melhor, na quase totalidade, deixaram de ser va- hatten, zum Großteil [zusammengesetzt] aus un-
lhacondutos de criminosos costumeiros”18 e isso gelernten Arbeitern, [die] keinen richtigen lohn
porque “as populações dos morros são as que erhielten, (zu) Tischlern, Maurern, Stuckateuren,
mais se beneficiaram (...) do amparo geral”. 19
schlossern, ganz allgemein zu Handwerkern wer-
Assim, os “próprios ‘bambas’ se corrigiram, en- den lässt (...)”.26 Der Horizont der Arbeiterbewe-
volvidos que foram pelo novo ambiente, pelos gung könnte nicht deutlicher sein, wie auch sein
exemplos oriundos da justa assistência dada pelo korporativistischer Bezug: es wird das „kollektive
estado”. 20
E essa assistência – afirma o opúscu- interesse und nicht die Klasse”27 anvisiert, und
lo – tem como base a lei do salário mínimo, um „die leute von den Hügeln tun recht daran, Präsi-

ARTIGOS | CRIS e S | B eITRÄ G e | KRISe N | GIU S eP Pe COCCO 267


“salário vital21” que transforma essas “populações denten Getúlio Vargas so zu achten und zu schät-
[que] não tinham nada [, compostas] na maioria zen wie sie es tun”.28 Wenn es allerdings darum
de trabalhadores não especializados, [que] não geht, die Beseitigung des Hügels santo Antônio
tinham salário certo [em] carpinteiros, pedreiro, zu rechtfertigen, verändert sich der Diskurs grund-
estucador, serralheiro, o artífice enfim (...)”.22 O legend und greift auf stereotypen zurück, die auf
horizonte trabalhista não poderia ser mais nítido, den ersten seiten noch als überholt bezeichnet
bem como seu referencial corporativo: visa-se ao worden waren: „santo Antonio war eine favela
“interesse coletivo e não de classe”,23 e “as gentes im Herzen der stadt. Welllblechhütten, bewohnt
dos morros têm razão de estimar como estimam o von gefährlichen Menschen, der Rest der Capo-
Presidente Getulio Vargas”.24 Quando, porém, se eiras.29 30 Umgestaltet durch Pereira Passos, „wird
trata de justificar a destruição do morro de San- die stadt ansehnlich und wunderschön. Und die
to Antônio, o regime discursivo muda totalmente Favela Santo Antonio? Diese hätte bleiben sollen?
e passa a usar os estereótipos que nas páginas Das war nicht möglich. Dort, auf dem Hügel, das
iniciais afirmava ultrapassados: “Era uma favela o Lyrirsche. Die ‚Gauner’ mit ihrem ginga-ginga,31
Santo Antonio, em pleno coração da cidade. Ca- mischen sich unter die führende Keise der gro-
sebres de lata, ocupados então por gente perigo- ßen eleganten. Wie soll man sich da nicht an das
sa, remanescente dos ‘capoeiras’.” Remodelada
25
Gedicht von Vinicius de Moraes über den Morro
por Pereira Passos, a “cidade torna-se de bonita do Castelo erinnern: „Was für ein Castelo? Der ist
em estonteantemente bela. e a favela do santo schon weg! / Schon weg? Wie absurd!” 32
Antonio? Ficaria? Não era possível. Ali, ao morro,
Die favela ist strukturell von Prekarität gekenn-
o Lírico. Os ‘malandros’, naquele ‘ginga-ginga’, a
zeichnet, aber auch vom Widerstand und von for-
misturar-se com os cartolas dos grandes elegan-
men des Kampfes, die ein werdendes Brasilien der
tes.”26 Como não lembrar o poema de Vinicius de
Welt aufzeigen. Und genau in dieser aufgezwun-
Moraes sobre o Morro do Castelo: “Que Castelo?
genen Prekarität und im ginga der Gaunerei, durch
Já acabou! / Já acabou? Mas que absurdo!”27
welchen sich der Widerstand vollzieht, entwickelt
A favela é estruturalmente atravessada pela preca- die favela eine cultura do gato, das heißt eine
riedade, mas também pela resistência e formas de Handlungsweise, die die politische Macht als
luta que desenham um devir-Brasil do mundo. É „illegales entwenden“ begreift, und die Armen
nessa precariedade imposta e na ginga da malan- als „improvisations-Taktik“. Wie schon das bra-
dragem, pela qual passa a resistência, que a favela silianische sprichwort besagt: Wer keinen Hund
desenvolve uma ‘cultura do gato’, ou seja, algo hat, jagt eben mit der Katze.33 Barbara szaniecki
que o poder enxerga como ‘desvio ilegal’, e os stellt unterschiedliche Prozesse der Aneignung
pobres consideram ‘táticas do improviso’. Como und des Widerstands vor, die miteinander ver-
diz o ditado, quem não tem cão, caça com gato. 28
woben sind, wie bei einem balaio de gatos: „sub-
Barbara szaniecki apresenta assim diferentes versive Aneignungen (Parodien), Anneignungen
processos de apropriação e resistência que se durch Hybridisierungen (Rekombination) und An-
entrelaçam, como num balaio de gatos: “apro- eignungen durch Inkorporation (Kannibalismus
priações subversivas (paródias), apropriações der Zeichen oder semiophagie) von Körpern, die
por hibridização (recombinação) e apropriações als visuelle Aussagen verstanden werden”.34 somit

268 A r t e & Ens a i os | r ev is ta do ppg a v /eba /uf r j | n. 2 6 | junho/J uni 2013


Pixação na Assembleia Legislativa
Pixação (Graffiti) in der Gesetzgebenden Versammlung
Rio de Janeiro, 2013
Foto Giuseppe Cocco

por incorporação (antropofagia de signos ou se- sind wir genau bei dieser Kunst, existenz zu schaf-
miofagia) de corpos entendidos como enuncia- fen, angelangt, auf welche sich Michel de Certeau
ções visuais”.29 estamos exatamente naquela arte bezieht, um „die Erfindung des Alltäglichen“ zu
do fazer a existência à qual se referia Michel de begreifen, wie auch Michel foucault in seinen Kur-
Certeau para apreender a “invenção do cotidiano” sen über den Mut zur Wahrheit.35 Das werdende
e também Michel foucault em seus cursos sobre a Brasilien der Welt ist auch ein werdendes Brasilien
coragem da verdade. O devir-Brasil do mundo é
30
Brasiliens. Das ist der Arbeiter, der die Arbeitszeit
também um devir-mundo do Brasil. É o operário und die Werkzeuge der fabrik nutzt, um seine ei-
que usa o tempo de trabalho e as ferramentas da genen Produkte zu fertigen, was sich auf franzö-
fábrica para fazer sua própria produção, o que em sisch perruque nennt.36 Das sind Kampfformen,

ARTIGOS | CRIS e S | B eITRÄ G e | KRISe N | GIU S eP Pe COCCO 269


die – „von innen und dagegen” – den Exodus, das
heißt eine Abwendung und loslösung von den
sozialen Beziehungen kapitalistischer Natur orga-
nisieren. Der Reflexionshintergrund ist nicht mehr
der der Revolution, die die Gesetze der Geschichte
verändern wird, aber der der alltäglichen Prakti-
ken, die die sozialen Hierarchien des Alltags unter-
Polícia passa e fica a dor, ato ecumênico da Maré laufen, die die Verhaltensmuster modifizieren und
Die Polizei geht und die Schmerzen bleiben,
Universaler Akt in Maré ändern. Dies geschieht auf dem Gebiet der Popu-
Rio de Janeiro, 2013
foto Marcella Marer lärkultur und zeitgleich erlangen die Begriffe Kul-
tur und populär neue Dimensionen. Die perruque
ist ein Handlungsstil, der sich in die Gesellschaft
einschleicht, und der gato, das illegale Aneignen,
geschieht nicht nur in den favelas, auf den Hügeln
und in deren Randbezirken. Die ganze stadt wird
von einer gato-Zirkulation, einer improvisieren-
den, illegalen, unprofessionellen Produktion ein-
Terra em Transe genommen: “‘dem gato , dem gato der Urbani-
Filme de Glauber Rocha, 1967
tät, dem gato der hegemonialen Kommunikation,
dem gato des normalen Lebens’ ”.37

De Certeau mobilisiert so, was er als die „schön-


francês se chama perruque. São formas de luta
31 heit der Welt” und „Populärkultur” bezeichnet,
que organizam − “dentro e contra” − o êxodo, o ein Prozess des Widerstands und erst dann als Kul-
desvio para fora das relações sociais de tipo capi- tur anerkannt, wenn diese Zensur und Unterdrük-
talista. O horizonte da reflexão não é mais aquele kung erfährt.38 es ist das „Verhältnis der Kultur
da revolução que transformará as leis da história, zur Gesellschaft, das sich verändert hat: die Kultur
mas aquele das práticas cotidianas que desviam ist nicht mehr einem bestimmten Milieu vorbehal-
as hierarquizações sociais no dia a dia, que mo- ten; sie gehört nicht mehr bestimmten Berufsspar-
dificam e tranformam as condutas. É no terreno ten (Lehrern, freien Berufen) an; sie ist nicht mehr
das culturas populares que isso acontece e que, fest und durch einen Code definiert, der allen zu-
ao mesmo tempo, o próprio conceito de cultura gänglich ist ”.39 Noch interessanter ist, festzuhal-
e de popular adquire outra dimensão. A perru- ten, wie Michel de Certeau damals (Anfang der
que é um estilo de ação que se infiltra na socie- 70er Jahre), um in dieser Populärkultur eine Form
dade, e o gato vai muito além das favelas, seus des Kampfes darzulegen, zuerst über die Gewalt,
morros e periferias. A cidade é tomada por uma die Marginalität und Brasilien reflektiert. „Die Kul-
“circulação ‘gato’ de uma produção gambiarra’”: tur im Singular erfordert immer das Gesetz einer
“‘gato’ da economia tradicional, ‘gato’ de urbani- Macht.” Dieser „expansion einer Kraft, die koloni-
dade, ‘gato’ da comunicação hegemônica, ‘gato sierend vereinheitlicht, muss sich ein Widerstand
da vida’ normal”. 32 entgegensetzen. eine jede kulturelle Produktion

270 A r t e & Ens a i os | r ev is ta do ppg a v /eba /uf r j | n. 2 6 | junho/J uni 2013


De Certeau mobiliza assim aquilo que ele chama a steht in einem Zwangsverhältnis zum Tod, der sie
“beleza do mundo” e uma “cultura popular” que beschränkt und zum Kampf, der sie verteidigt. Die
é processo de resistência e só é reconhecida como Kultur im Plural ist ein permanenter Aufruf zu die-
cultura a partir do momento em que é censurada ser Auseinandersetzung”,40 das heißt, die Kultur,
e reprimida. É a própria “relação da cultura com
33
welche von interesse ist, ist diejenige, die „an den
a sociedade que mudou: a cultura não é mais re- Rändern wuchert”.41 So finden wir in der Antikul-
servada a um determinado ambiente; ela não per- tur-Abhandlung des jesuitischen Philosophen von
tence mais a determinadas especialidades profis- Mai 196842 Überlegungselemente, die der Anti-
sionais (professores, profissões liberais); ela não é kunst von Hélio Oiticica sehr nahe kommen. es
mais estável e definida por um código recebido de handelt sich um einen äußerst aktuellen Ansatz,
todos”. 34
Ainda mais interessante é notar como, um über das heutige Brasilien, seine städte und
naquela época (início dos anos 70), para desen- den Prozess der Pazifizierung nachzudenken.
volver essa abordagem da cultura popular como
luta, Michel de Certeau passa a refletir sobre a
Über die Kritik am Mythos der Marginali-
violência, a marginalidade e o Brasil. “A cultura tät hinaus - die Wahrheit des Mythos
no singular impõe sempre a lei de um poder.” A
Die Ambiguität der öffentlichen Politik im Hinblick
essa “expansão de uma força que unifica coloni-
auf die favelas hat eine klare Grundlage: die an
zando deve-se opor uma resistência. Há uma re-
die Zeiten angepasste Wiederherstellung gerade
lação necessária de cada produção cultural com a
dieser mehrdeutigen Beziehungen zwischen skla-
morte que a limita e com a luta que a defende. A
verei und favela. eine Ambiguität, die sich in der
cultura no plural é um chamado permanente para
zweiten Hälfte des 20. Jahrhunderts im Hinblick
esse combate”,35 ou seja, a cultura que interessa
auf den Zusammenhang zwischen dem fortbeste-
é aquela que “prolifera nas margens”.36 Assim, na
hen der kolonialen und feudalen Kontrollverhält-
abordagem anticultura do filósofo jesuíta do maio
nissen über den Boden in den ländlichen Gebie-
de 196837 encontramos elementos de reflexão
ten und den dadurch ausgelösten gewaltsamen
muito próximos da antiarte de Hélio Oiticica. Uma
Phänomenen der Landflucht, erneuert hat. Das
reflexão extremamente atual para pensar o Brasil
Phänomen der favelas ist alt. Wenn wir eine län-
de hoje, suas cidades e o processo de pacificação.
gerfristige Perspektive einnehmen, vermengt sich
die Geschichte der Favela mit der Geschichte der
Para além da crítica do mito da marginali- Kolonisation und insbesondere mit der der sklave-
dade, a verdade do mito
rei, auch wenn diese zu damaligen Zeitpunkt noch
A ambiguidade das políticas públicas vis-à-vis as einen anderen Namen trägt: Quilombo (Wehrdorf
favelas tem uma base material: a reprodução, no flüchtiger Sklaven)! „Die Ungleichheit in Brasilien
tempo, das relações justamente ambíguas entre hat eine Farbe. Ihre Gefühle haben eine Geschich-
escravidão e favela. Uma ambiguidade renovada, te”, wie die Studien von Marcelo Paixão aufzeigen
na segunda metade do século 20, em termos de und bekräftigen.43 Nicht zufällig fordert einer der
correlação entre a permanência das relações co- historischen führer der Bewohnerbewegung in
loniais e feudais de controle da terra no campo e Rocinha, o Xaolin, den schwarzen Ursprung der
os violentos fenômenos de êxodo rural que elas favela ein: „da es einen Quilombo in leblon gab,

ARTIGOS | CRIS e S | B eITRÄ G e | KRISe N | GIU S eP Pe COCCO 271


determinaram. O fenômeno das favelas é antigo. wird es auch einen in Rocinha gegeben haben.
se o colocamos numa perspectiva de longa dura- Die schwarzen kamen von den Kaffeeplantagen
ção, ele se confunde com a história da colonização in Tijuca. Sie besetzten das Gebiet der Straße 1,
e sobretudo da escravidão, embora tenha nesse das bis heute ein Gebiet der Schwarzen ist”. Es
caso outro nome: quilombo! “A desigualdade, no handelte sich um „die schwarzen, die von den
Brasil, tem cor. seus sentimentos têm história”, Kaffeeplantagen in Richtung Leblon flüchteten”.44
como mostram e afirmam os estudos de Marcelo Auf Grundlage systematischer und sorgfältiger
Paixão.38 Não por acaso, uma das lideranças histó- Untersuchungen forscht Andrelino Campos in die-
ricas de seu movimento de moradores, o Xaolin, se Richtung: „Man muss bedenken (...), dass die
reivindica a origem negra da Rocinha: “como havia geflohenen oder befreiten schwarzen sklaven von
um quilombo no leblon, devia ter um na Rocinha. den Plantagen, die in der Nähe des königlichen
Os negros vinham das fazendas de café na Tijuca. Hofs lagen, wie die in Jacarepaguá, irajá, Tijuca
Eles ocuparam a área da Rua 1 que continua sen- und sogar in Iguaçu, wo (...) einer der größten
do até hoje uma área de negros”. eram “os negros Quilomobos in stadtnähe lag, den Behörden des
fugindo dos cafezais, em direção ao Leblon”.39 königlichen Hofes große sorgen bereiteten. Aus
em termos sistemáticos e com base em pesquisa verschiedenen Gründen erwies sich die Flucht in
cuidadosa, é nessa direção que trabalha Andrelino zentrale oder stadtnahe Gebiete als sinnvoll. Die
Campos: “Há de se contabilizar (...) que os negros große Konzentration von Schwarzen im Gebiet
escravos fugidos ou forros de fazendas próximas à nahe dem stadtzentrum erschwerte es, sie zu
Corte, como as de Jacarepaguá, irajá, Tijuca e, até identifizieren, sei es als Sklaven, sei es als Freie”.45
mesmo, de Iguaçu, onde (...) localizou-se um dos Der liedtext des sambas der samba-schule Man-
maiores quilombos periurbanos, deixaram grandes gueira, die 1988 das 100-jährige Jubiläum der
preocupações às autoridades da Corte. Por motivos Befreiung feierte, erinnerte daran, dass der skla-
diferentes, a fuga para a área central ou periurba- ve heute zwar „(...) frei [ist] von der Peitsche der
na da cidade fazia sentido. A grande concentra- sklavenhaltung, aber gefangen in der Misere der
ção de negros, na área central, não permitia que favela”.46 vera Malaguti verbindet diese Dynamik
pudessem ser identificados, seja como escravos, mit der Angst vor dem Albtraum einer möglichen
seja como libertos”.40 A letra do samba-enredo da schwarzen Rebellion, dem Abstieg der Armen von
Mangueira que comemorou em 1988 os 100 anos den Hügeln, die der Gesellschaft der Sklavenhalter
da libertação, lembrava que o escravo estava hoje seit jeher anhing. Diese sukzessiven „Wellen der
“(...) Livre do açoite da senzala, preso na miséria Angst sind notwendig für die Durchsetzung einer
da favela”.41 vera Malaguti articula essa dinâmica Politik von Gesetz und Ordnung. Die schwarze
com o medo que sempre caracterizou a sociedade Masse, sklaven oder freie, wird zu einem riesigen
escravagista diante do pesadelo da possível rebe- Zombie, der einen schatten auf die Zivilisation
lião negra, da descida dos morros. Essas sucessivas wirft; von den Quilombos zu den Bandenüberfäl-
“ondas de medo são necessárias para a implan- len an den stränden Rio de Janeiros ”.47
tação de políticas de lei e ordem. A massa negra,
escrava ou liberta, se transforma num gigantesco Wenn wir diese aus einer zeitgenössischeren
Zumbi que assombra a civilização; dos quilombos Perspektive und im Rahmen der Geschichte der
ao arrastão nas praias cariocas”. 42 modernen Urbanisierung betrachten, lässt sich

272 A r t e & Ens a i os | r ev is ta do ppg a v /eba /uf r j | n. 2 6 | junho/J uni 2013


se a colocamos numa perspectiva mais contem- die Genealogie des Phänomens Favela als urbane
porânea e dentro da história da urbanização mo- Form im Sertão48 verorten. An der Wurzel eines
derna, a genealogia do fenômeno favela como Mythos über die Ursprünge der ersten favela in
forma urbana está lá no sertão. Na raiz de um dos Rio de Janeiro finden wir eine Form des konso-
mitos sobre as origens da primeira favela carioca lidierten Widerstands einer stadt sui generis, die
encontramos uma forma de resistência solidifica- von euclydes da Cunha in seinem Roman Os ser-
da numa cidade sui generis que foi imortalizada tões verewigt wurde.49 [Die siedlung] Canudos ist
por euclydes da Cunha em Os sertões.43 Canudos die Pionierform der favela und all ihrer schmerzen
é a forma pioneira da favela e de todas suas dores und freuden: befreite sklaven, ex-soldaten aus
e alegrias: escravos libertos, ex-soldados da cam- dem feldzug von Canudos lassen sich auf dem
panha de Canudos se abrigam no morro da Pro- Hügel Morro da Providência nieder, so besagt die
vidência nos diz a vasta literatura sobre favelas. umfangreiche literatur über die favelas. Wie kann
Como não ver logo nessa genealogia, a relação man in dieser Genealogie nicht gleich den Zusam-
de exclusão e inclusão que atravessa a constru- menhang von exklusion und inklusion sehen, der
ção da própria noção de povo brasileiro da qual die Konstruktion des Begriffs des brasilianischen
falava Darcy Ribeiro e o quebra-cabeça dessas volks durchzieht, von dem Darcy Ribeiro sprach
guerras entre soldados pobres e pobres soldados und das schwierige Unterfangen dieser Kriege
em torno das quais passaram a ser reguladas a zwischen armen und noch ärmeren soldaten, von
moradia e a vida... dos pobres?! denen ausgehend die Wohnsituation und das le-
ben .... der Armen geregelt wurden?!
Há hoje vastíssima literatura acadêmica sobre fa-
velas.44 em meio a esse grande volume de produ- es gibt heute einen großen Umfang an akademi-
ção e de abordagens, contudo, podemos apontar scher literatur über die favelas.50 Unter diesen
para um grande eixo em torno do qual se articula zahlreichen studien und Abhandlungen indes
boa parte de toda a literatura sobre o fenômeno können wir eine breite Achse ausmachen, um
das favelas. esse grande eixo é o da marginalida- welche sich ein Großteil der ganzen Literatur über
de, ou seja, do contraste que fixa os territórios em das Phänomen der favela dreht. Diese große Ach-
que se concentra esse tipo de construção e auto- se ist die Marginalität, das heißt, der Kontrast, der
construção da moradia popular nas margens do die Territorien determiniert, in denen sich diese
tecido social e urbano formal. As favelas estão es- Art des Baus und selbstaufbaus von populären
truturalmente associadas às linhas, sinuosas mas Wohnorten an den Rändern des sozialen Gewebes
onipresentes, de segregação e exclusão espacial und der formalen stadtlandschaft konzentriert.
dos pobres. linhas que estabelecem espacialmen- Die favelas werden strukturell mit unsteten, aber
te as modulações sociais e étnicas de uma socieda- allgegenwärtigen linien der räumlichen Segrega-
de e de uma cidade profundamente marcada pelo tion und Exklusion der Armen in verbindung ge-
período da escravidão, as condições de sua abo- bracht. linien, die räumlich die sozialen und eth-
lição e seus impactos nos processos migratórios nischen Abstufungen einer Gesellschaft und einer
internos (e também externos). Terreno das mar- stadt festlegen, die durch die Periode der sklave-
gens e da marginalidade, as favelas abrigavam os rei, die Umstände ihrer Abschaffung und dessen
pobres, e esses constituíam a versão brasileira das Auswirkungen auf die Prozesse der internen (und

ARTIGOS | CRIS e S | B eITRÄ G e | KRISe N | GIU S eP Pe COCCO 273


“classes perigosas”.45 A partir da década de 1960, auch externen) Migration tief geprägt wurden.
o fenômeno da favela passou por duas inflexões Als Terrain der Ränder und der Marginalität dien-
importantes, em âmbitos totalmente diferencia- ten die Favelas den Armen als Zufluchtsort, und
dos, mas, podemos dizer, que se alimentaram diese wiederum konstituierten die brasilianische
reciprocamente. Por um lado, as migrações in- vaeriante der „gefährlichen Klasse“.51 Ab 1960
ternas foram-se acelerando por meio do violento durchlief das Phänomen favela zwei wichtige
processo de êxodo rural que faria das favelas um veränderungen, unter gänzlich anderen Rahmen-
fenômeno “marginal” totalmente paradoxal pelos bedingungen, aber wir können sagen, dass diese
efeitos de escala que passará a caracterizá-lo no sich gegenseitig befruchteten. Auf der einen sei-
Rio de Janeiro:46 a margem tornou-se, em termos te beschleunigten sich die internen Migrationen
de tamanho, a maioria. Pelo outro, toda uma ge- aufgrund des vehementen Phänomens der land-
ração de sociólogos e antropólogos (brasileiros e flucht, das durch die Skaleneffekte, die dieses
norte-americanos) se irá formando no estudo das letztlich in Rio de Janeiro charakterisieren, aus den
favelas e particularmente na crítica da margina- favelas ein vollkommen paradoxes „marginales“
lidade, que passa a ser chamada de “mito”, um Phänomen machen sollte:52 der Rand wird, was
mito a ser desconstruído. A tese de doutorado da die Größe betrifft, zur Mehrheit. Auf der ande-
norte-americana Janice Perlman tornou-se a refe- ren Seite widmet sich eine ganze Generation von
rência clássica dessa nova geração. 47
Apesar de Soziologen und Anthropologen (Brasilianer und
sua originalidade ser contestada por licia valla- Nordamerikaner) studien über die favela und ins-
dares, o trabalho de Perlman constituiu a primeira besondere der Kritik der Marginalität, die fortan
grande desconstrução do regime discursivo hege- als „Mythos” bezeichnet wird, einen Mythos, den
mônico sobre o fenômeno das favelas.48 es zu entkräften gilt. Die Dissertation der Norda-
merikanerin Janice Perlman wird zu einer klassi-
Perlman pretendia ultrapassar o mito da margi-
schen Referenz dieser neuen Generation.53 Auch
nalidade em suas vertentes ‘negativa’ e ‘positiva’:
wenn die Originalität ihrer studie von licia valla-
“(e)m português e espanhol, a simples palavra
dares angefochten wird, stellt die Arbeit Perlmans
marginal tem conotações profundamente nega-
die erste große Dekonstruktion des hegemonialen
tivas. Um marginal, ou um elemento marginal
Diskurses über das Phänomen favela dar.54
significa um vagabundo indolente e perigoso, em
geral ligado ao submundo do crime, da violência, Perlman beabsichtigte, den Mythos der Margina-
das drogas e da prostituição”.49 Assim, Janice cita lität sowohl in seiner negativen als auch in seiner
um relatório oficial da Fundação Leão XIII, do Rio positiven Auslegung, zu überwinden: „auf Portu-
de Janeiro, em que se podia ler: “As famílias do giesisch und auf spanisch, hat das einfache Wort
interior são puras e unidas – legalmente ou não marginal tiefe negative Konnotationen. ein margi-
– de maneira estável. A desintegração começa na nal, oder ein elemento marginal bezeichnet einen
favela, em consequência da promiscuidade, dos faulen und gefährlichen Rumtreiber, der in der
maus exemplos e das dificuldades financeiras (...) Regel der Unterwelt des Verbrechens, der Gewalt,
A bebida e os tóxicos servem para anestesiar as der Drogen und der Prostitution angehört”.55 Ja-
desilusões, humilhações e deficiências alimenta- nice zitiert einen offiziellen Bericht der Stiftung
res da vida na favela. As noites pertencem aos Fundação Leão XIII aus Rio de Janeiro, in dem

274 A r t e & Ens a i os | r ev is ta do ppg a v /eba /uf r j | n. 2 6 | junho/J uni 2013


zu lesen war: „Die familien des inlands sind rein
und vereint – rechtsgültig oder nicht – auf eine
solide und beständige Weise. Die Desintegration
beginnt in der favela, als folge von Promiskui-
tät, von schlechten Beispielen und finanziellen
Schwierigkeiten (...) Der Alkohol und die Rausch-
mittel helfen die Desillusionen, die Demütigungen
und die unzureichende ernährung in den favelas
zu betäuben. Die Nächte gehören den Kriminel-
len (...). Die Polizei betritt die Favelas nur selten,
es sei denn in Gruppen”.56 Bereits in den 1950er
Jahren wurde die favela, zur damaligen Zeit noch
inbegriff der Marginalität, als etwas verstanden,
„das materiell ausgemerzt werden muss, als ein
symptom, für das es ein einfaches Heilmittel
gebe: deren Beseitigung und [substituierung]
durch den von der Regierung finanzierten Bau
einfacher kostengünstiger und adäquater Wohn-
einheiten”.57 Zu der Theorie und dem Diskurs der
Marginalität reihen sich die kulturellen studien
zur Armut, die sich „in die lange akademische
Tradition (...) einfügen (...), den Armen die Schuld
für ihre eigene Armut zuzuschreiben”.58 eine An-
schauung, die natürlich von dem Theoretiker
über den „Kampf der Kulturen“ entwickelt wur-
“Gatos” na Favela Rio dos Pedras de. 1968 schrieb Samuel Huntington: „es existiert
illegales Anzapfen von stromleitungen in der favela
Rio das Pedras ein hohes Maß an gegenseitigem Misstrauen in
Rio de Janeiro, 2009-2010
foto luisa Meirelles den urbanen elendsvierteln, was folglich jedwede
Art organisierter Kooperation schwierig gestal-
criminosos (...). Os policiais raramente entram tet”.59 Dagegen bekräftigt Perlman allerdings:
nas favelas, a não ser em grupo”.50 Já durante a „die ‚isolierten Enklaven’, von welchen die Theo-
década de 1950, a favela enquanto manifestação rie der Marginalität spricht, existieren schlichtweg
da marginalidade tinha sido compreendida como nicht”.60 „Der favela-Bewohner darf nicht einfach
“algo a ser erradicado materialmente, um sintoma als sozialer Außenseiter [marginal social] gesehen
que teria uma cura simples: remoção e construção werden. sowohl im Hinblick auf das Kriterium
financiada pelo governo de moradias adequadas des inneren Zusammenhalts, als auch im Hinblick
de baixo custo”. À teoria e ao discurso da mar-
51 auf die Nutzung der äußeren stadt, können wir
ginalidade juntam-se os estudos culturais da po- schlussfolgern, dass er also in diesem sinne in-
breza que se “encaixam (...) na longa tradição tegriert sein muss ”.61 Die favela-Bewohner sind
acadêmica de (...) culpar os pobres pela própria keine Außenseiter, sie sind integriert. Zur gleichen

ARTIGOS | CRIS e S | B eITRÄ G e | KRISe N | GIU S eP Pe COCCO 275


pobreza”.52 Uma visão desenvolvida, obviamente, Zeit vollzieht sich diese integration aber auf eine
pelo teórico do choque das civilizações. Em 1968, ungünstige, sogar demütigende Weise.
Samuel Huntington escrevia: “existe alto nível de
Die entkräftung der negativen Dimension des My-
desconfiança mútua nos cortiços urbanos, o que,
thos der Marginalität führt allerdings nicht auto-
por conseguinte, torna difícil qualquer espécie de
matisch zu einer positiven Dimension der favelas
cooperação organizada”.53 Contra isso, porém,
und der Armen als revolutionäre politische Ak-
Perlman afirma: “os ‘enclaves isolados’ de que
teure. Die sogenannten Außenseiter (marginais)
fala a teoria da marginalidade simplesmente não
sind „weder apathisch noch radikal”. es gibt keine
existem”.54 “O favelado não pode ser considerado
„Anzeichen einer radikalen ideologie oder eines
como marginal social, quer quanto ao critério
Hangs zu revolutionären Handlungen (und) in der
de coesão interna como de uso da cidade exte-
Regel unterstützen die favela-Bewohner das sy-
rior, podemos concluir que então ele deve estar
stem und halten die Regierung nicht für schlecht”.
integrado nesse sentido”.55 Os favelados não
Perlman kommt zu folgendem schluss: „Das Pa-
são marginais, mas integrados. Ao mesmo tem-
radigma der Marginalität basiert auf einem aus-
po essa integração acontece de maneira desfa-
geglichenen oder integrierten Gesellschaftsmo-
vorável e até humilhante.
dell. Nicht nur die Mythen sind falsch, auch das
Contudo, o desmonte da dimensão negativa do Modell ist ungültig. Die Theorie der Marginalität
mito da marginalidade não desemboca automati- setzt voraus, dass in einem funktionierenden sy-
camente numa dimensão positiva das favelas e dos stem das Zusammenspiel zwischen den segmen-
pobres como atores políticos revolucionários. Os ten dazu tendiert, diese gegenseitig zufriedenzu-
chamados marginais não são “nem apáticos nem stellen und allen zum vorteil zu gereichen. es ist
radicais”. Não há “sinais de ideologia radical, ou jedoch möglich, dass ein stabiles system existiert,
inclinação à ação revolucionária (e) os favelados em dessen Gleichgewicht gerade dank der expliziten
geral apoiam o sistema e acham que o governo não oder impliziten Ausbeutung von anderen nur eini-
é mau”. Em síntese, Perlman conclui nestes termos: ge begünstigt. Die ausgebeuteten Gruppen sind

“O paradigma da marginalidade baseia-se num mo- nicht schlichtweg Außenseiter (marginais), son-

delo equilibrado ou integrado de sociedade. Não dern weitgehend in das system integriert, und
funktionieren wie ein vitaler Bestandteil dessen.
apenas os mitos são falsos, mas o modelo também
Kurzum, integration geht nicht immer mit Rezi-
não é válido. A teoria da marginalidade supõe que
prozität einher.”62
num sistema em funcionamento as interconexões
entre segmentos tendem a ser mutuamente satis- im vorwort zur brasilianischen Ausgabe des Buchs
fatórias e benéficas para todos. É possível, todavia, von Janice greift fernando Henrique Cardoso die-
haver um sistema estável cujo equilíbrio beneficie a se schlussfolgerungen auf, jedoch auf eine etwas
alguns precisamente graças à exploração explícita subtilere Weise: „sind die Bewohner der favelas
ou implícita de outros. Os grupos assim explorados auch keine ‚Außenseiter‘(...) besteht die Tatsache,
não são assim marginais, mas integrados em larga dass der Mangel an ökonomischen, kulturellen
medida no sistema, funcionando como uma parte und politischen Mitteln real ist, fort.” Wir sollten
vital do mesmo. Em resumo, integração nem sem- uns keine sorgen über die „‚Notlage der Außen-
pre implica reciprocidade.”56 seiter‘“ machen „(...) aber über die systematische

276 A r t e & Ens a i os | r ev is ta do ppg a v /eba /uf r j | n. 2 6 | junho/J uni 2013


No prefácio à edição brasileira do livro de Janice, Armut, die Ausbeutung und die Unterdrückung,
fernando Henrique Cardoso retoma essas conclu- was, auch wenn dies über der ganzen sozialen
sões, mas de uma maneira um pouco mais sutil: Pyramide steht, in den favelas und den einfa-
“As populações faveladas não são ‘marginais’ (...) chen Wohngegenden am unmittelbarsten zum
subsiste o fato de que a falta de recursos econômi- vorschein kommt und wahrnehmbar wird. Der
cos, culturais e políticos é real.” Não devemos nos nächste schritt, methodisch gesehen, wäre es, die
preocupar com a situação de “carência dos ‘mar- Geschichte dieser Ausbeutung zu rekonstruieren
ginais’ (...) mas com a pobreza, a exploração e a und die Mechanismen aufzuzeigen, durch welche
repressão sistemática que, se bem incidam sobre auf unterschiedliche Weise aber beständig die
toda a pirâmide social, se tornam mais diretamen- Methoden der Ausbeutung und Unterdrückung
te visíveis e perceptíveis nas favelas e tugúrios. O durch strukturelle Bedingungen, die die Begrün-
passo seguinte, metodologicamente, seria recons- dung und die Anfangsphase der kapitalistischen
tituir a história desta exploração e estabelecer os Akkumulation charakterisieren, erneuert werden
mecanismos pelos quais, de modo diferente mas (...)”.63 fernando Henrique Cardoso bekräftigt
persistente, são recriados os modos de explora- also, dass der Mythos falsch sein kann, dass er
ção e de repressão pelas condições estruturais que aber die Maschine, die die favela-Bewohner nach
caracterizam a formação e as etapas iniciais da bestimmten Modalitäten der exklusion und der
acumulação capitalista (...)”. fernando Henrique
57
Raum- und Rassentrennung integriert und zu-
Cardoso, portanto, afirma que o mito pode ser gleich ausbeutet, mit antreibt. es geht nicht dar-
falso, mas ele participa da máquina que integra um die Wahrheit hinter dem Mythos zu erkennen,
e ao mesmo tempo explora os favelados segundo sondern die Wahrheit des Mythos, dass heißt
determinadas modalidades de exclusão e segre- in den Worten Cardosos, „die struktur des My-
gação espacial e racial. Não se trata de descobrir thos“64: seine funktionsweise, seine Kraft.
a verdade atrás do mito, mas a verdade do mito,
Denn mehr als 40 Jahre nach diesen Untersuchun-
ou seja, nas palavras de Cardoso, “a estrutura do
gen, die das Ziel hatten, den Mythos der Margina-
mito”:58 seu modo de funcionamento, sua força.
lität zu entkräften, existiert dieser nicht nur weiter,
Com efeito, mais de 40 anos depois dessas pes- sondern hat sich durch die Gewalteskalation, die
quisas que pretendiam desconstruir o mito da sich seit den 1980er Jahren manifestiert und bis
marginalidade, ele não só continua vivo, como heute anhält als todbringende falle, der niemand
foi reforçado e potencializado pela escalada da einhalt gebieten vermochte, verstärkt und verviel-
violência que se vem manifestando desde a dé- fältigt. Hier die eindrückliche schilderung eines
cada de 1980 e continua até hoje como armadi- vertreters der kommunistischen Partei, Partido
lha mortífera que ninguém conseguiu deter. Aqui Comunista Brasileiro, der auch für statistikbehör-
a descrição impressionista de um intelectual do de IBGE arbeitete: „die aktuelle Situation in den
Partido Comunista Brasileiro e estatístico do IBGE: Stadtgebieten (...) unseres Landes werden von ei-
“a situação atual na áreas metropolitanas (...) de ner Häufigkeit an Vorkommnissen gebrandmarkt,
nosso País está sendo estigmatizada por aconteci- die die Grenzen überschreitet (...). Zu der Gewalt
mentos de tal frequência que excedem os limites der Kriminellen kommt die Gewalt der Opfer hin-
(...). À violência dos criminosos se junta a violência zu und zu diesen beiden fügt sich eine dritte: die

ARTIGOS | CRIS e S | B eITRÄ G e | KRISe N | GIU S eP Pe COCCO 277


Gewalt der polizeilichen
Behörden (...)“.65 Wie wir
bereits gesehen haben, ist
es unmöglich die Genealo-
gie der favelas zu begrei-
fen ohne sich den Gesell-
schaftstyp vor Augen zu
führen, den die sklaverei
hervorgebracht und Brasi-
lien vermacht/hinterlassen
hat, auch nach ihrer Ab-
schaffung. Nicht aus Zufall
entfaltet sich die sozio-
logie fernando Henrique
Cardoso zu Beginn aus der
Untersuchung der Bezie-
hung zwischen „sklaverei
und Kapitalismus“. Die
„Marginalität” erscheint
wie die Herstellung und
Wiederherstellung der
sklaverei innerhalb des
Kapitalismus und, damit
einhergehend, zu einem
gewissen Grad auch der
Gewalt, die sich jeglicher
Art einer dialektischen
Wiederherstellung entzog:
„(...) Der Sklave verneinte
für sich die Bedingungen,
die ihm auferlegt wurden,
und versuchte innerhalb
der existierenden sozialen
Barrieren die soziale situa-
tion, in die man ihn gestellt
vista do morro
Blick vom Hügel hatte, zu verändern. in den
Santa Marta, Rio de Janeiro, 2013 gewaltsamen Reaktionen gegen die institutionali-
Foto Giuseppe Cocco
sierte Gewalt der Sklavenhalter und in den beharr-
lichen fluchtversuchen brachte der sklave seine
Grundeigenschaft als Mensch zum Ausdruck (...)“.

278 A r t e & Ens a i os | r ev is ta do ppg a v /eba /uf r j | n. 2 6 | junho/J uni 2013


das próprias vítimas e, a essas duas, uma tercei- Und kurz darauf unterstreicht der junge Dokto-
ra se vem juntar: a violência dos órgãos policiais rand: „Deshalb war die sklaverei der Vulkan, auf
(...)”.
59
Como afirmamos, é impossível apreender dem die Gesellschaft ruhte und diese wurde zur
a genealogia das favelas sem pensar no tipo de Quelle einer Gewaltsituation für beide, die Herren
sociedade que a escravidão engendrou e legou ao und die sklaven”.66 im vorwort zur fünften Ausga-
Brasil, mesmo depois da abolição. Não por aca- be seines Buches im Jahr 2003 erinnert Fernando
so, a sociologia de fernando Henrique Cardoso se Henrique daran, dass es ein wichtiger Beitrag war
construiu inicialmente no estudo das relações en- „direkt und unverfälscht das letzte fundament der
tre “escravidão e capitalismo”. A “marginalidade” sklaverei: die Gewalt” zu beschreiben.67 Dieser vul-
aparece como produção e reprodução da escra- kan existiert heute in form von Hügeln und favela-
vidão dentro do capitalismo e, com ela, de um Komplexen, die die landschaft Rio de Janeiros cha-
certo nível de violência que fugia a qualquer tipo rakterisieren. Hier vergegenwärtigt sich der Grande
de recuperação dialética: “(...) o escravo negava Sertão und seine dramatischen Auswüchse in der
subjetivamente a condição que lhe era imposta e Großstadt: „Wir kommen aus der Hölle – wir alle –
procurou transformar, dentro dos limites social- (...) dort ist es das triviale Vergnügen eines jeden,
mente existentes, a situação social em que o en- dem anderen böse mitzuspielen (...) die gewöhnli-
volveram. Nas reações violentas contra a violência che Bosheiten, von denen man in so vielen armen
senhorial institucionalizada e nas fugas constan- Dörfern hörte: es wird geschossen und erstochen,
tes, o escravo exprimia a qualidade fundamental es werden eingeweide ausgenommen, Augen aus-
de homem (...)”. E o jovem doutorando enfatizava gekratzt, Zungen und Ohren abgeschnitten, auch
logo depois: “Por isso, a escravidão era o vulcão kleine Kinder werden nicht verschont, unschuldi-
em que assentava a sociedade, e esta se tornou ges vieh wird abgeknallt, es werden Personen ver-
a fonte de uma situação de violência para am- brannt, die noch halb am leben sind, am Rande
bos, senhores e escravos”.60 No Prefácio à quinta der blutigen Zerstörung (...).”68
edição de seu livro, em 2003, Fernando Henrique
es gibt sehr umfangreiche literatur aus den Be-
lembra que a grande contribuição foi descrever
reichen der soziologie, der Anthropologie, der
“de forma direta e crua o fundamento último da
Politik, der Urbanistik und der fiktion zum The-
escravidão: a violência”.61 Esse vulcão hoje tem a
ma Gewalt. Doch die Lektüre, auch eine schnel-
forma dos morros e dos complexos de favelas que
le, dieser umfangreichen literatur zu den The-
caracterizam a paisagem carioca. eis o Grande
men Favelas, Marginalität und Gewalt führt uns
Sertão e suas dramáticas veredas na grande me-
trópole: “A gente viemos do inferno – nós todos systematisch in eine Sackgasse; sie funktioniert
– (...) lá o prazer trivial de cada um é judiar os wie eine richtige Falle: auf der einen seite die
outros (...) as ruindades de regra que escutavam offensichtliche feststellung, dass für die favela-
em tantos pobrezinhos arraiais: baleando, esfa- Bewohner (und für die Mehrzahl der Forscher),
queando, estripando, furando os olhos, cortando zwischen den Drogenkartellen in den favelas und
línguas e orelhas, não economizando as crianças der Polizei, ohne Zweifel die letztere die Haupt-
pequenas, atirando na inocência do gado, quei- bedrohung der „lebenssicherheit“ der Armen, die
mando pessoas ainda meio vivas, na beira do es- dort wohnen, darstellt und immer dargestellt hat.
trago de sangues (...).”62 Auf der anderen seite die moralische Notwendig-

ARTIGOS | CRIS e S | B eITRÄ G e | KRISe N | GIU S eP Pe COCCO 279


Há uma gigantesca literatura sociológica, antro- keit, sich von dieser „politischen lähmung“, die
pológica, política, urbanística e de ficção sobre diese feststellung bestimmt und impliziert, zu
violência. Grosso modo, a leitura, mesmo rápida, distanzieren. so weisen die autobiographischen
dessa vasta literatura sobre favelas, marginalidade Berichte von Celso Athayde und Mv Bill in dem
e violência nos leva sistematicamente ao impas- mit luiz eduardo soares verfassten Buch auf den
se; ela funciona como uma verdadeira armadi- von der Polizei ausgeübten Rassismus und auf ihre
lha: por um lado, a constatação evidente de que willkürlichen und korrupten Handlungen hin. Die
para as populações faveladas (e para a maioria von Miriam Guindani geführten und von dem
dos pesquisadores), entre o tráfico encastelado Anthropologen kommentierten interviews lassen
nas favelas e a polícia não há hesitação: é esta erschreckende schlussfolgerungen zu: „in Rio
última que sempre constituiu e ainda constitui a würde es keinen sinn machen vom Drogenhan-
principal ameaça à “segurança da vida” dos po- del zu sprechen, ohne das Augenmerk auf die
bres que ali moram. Pelo outro, a necessidade Polizei zu richten, denn die Drogenhändler und
moral de se distanciar da “paralisia política” que die Polizisten bilden ein system, ein einziges Netz
essa constatação determina e implica. Assim, os (...).”69 Die Gewalt geht von den Banditen und
relatos autobiográficos de Celso Athayde e MV Bill von der Polizei aus, aber – trotz aller Vorsicht
no livro que escreveram com luiz eduardo soares – erscheint die polizeiliche Gewalt sogar in den
apontam para a vivência do racismo e da atuação Überlegungen des Anthropologen als gravieren-
arbitrária e corrupta da polícia. As entrevistas der: „in den favelas Rio de Janeiros gibt es eine
realizadas por Miriam Guindani e comentadas doppelte Tyrannei: die, die von den Kriminellen
pelo antropólogo propõem conclusões assusta- ausgeübt wird und jene andere, noch perverse-
doras: “No Rio, não faria sentido falar do trá- re, die von der Polizei diktiert wird (...)”. Warum
fico sem dar grande atenção à polícia, porque ist die Gewalt von Seiten der Polizei schlimmer?
traficantes e policiais formam um sistema, uma Weil „es schrecklich ist – erklärt Soares – unter
única rede (...).”63 A violência é dos bandidos e der Diktatur einer kriminellen „falange“ und ih-
da polícia, mas – apesar de todas as precauções – ren willkürlichen Regeln zu leben. Aber es ist noch
aquela policial aparece até nas reflexões do antro- schlimmer – dafür gibt es unzählige Aussagen
pólogo como sendo pior: “Há, nas favelas cario- dieser Art – im Schatten einer Polizeigewalt zu le-
cas, uma dupla tirania, portanto: aquela imposta ben, die überhaupt keinem Code folgt, die sich
pelos criminosos e a outra, mais perversa, ditada nach keinerlei definierten und allgemein bekann-
pela polícia (...)”. Por que a violência da polícia é ten Regeln richtet”. Trotz der Besonnenheit ist der
pior? Porque “é terrível viver – explica Soares – sob Abschnitt, den wir gerade zitiert haben, von einer
a ditadura de uma falange criminosa e de suas unglaublichen und schrecklichen Klarheit: im Um-
regras arbitrárias. Mas é ainda pior – são inúmeros gang mit den Armen unterlassen die vertreter des
os depoimentos nesse sentido – viver à sombra Gesetzes es nicht nur, die Legalität zu verteidigen,
de uma poder policial que não segue nenhum có- sie richten sich auch nach keinerlei Art von Nor-
digo, nenhum conjunto definido e publicamente men, zum Beispiel auch nicht nach jenen, die die
conhecido de regras”. Apesar da prudência, o tre- Kommandos des Drogenhandels zu respektieren
cho que acabamos de citar é de uma incrível e ter- scheinen. Die Polizei ist rein willkürlich und des-
rível clareza: os homens da lei, quando se relacio- halb erscheint sie den Bewohnern als schlimmer:

280 A r t e & Ens a i os | r ev is ta do ppg a v /eba /uf r j | n. 2 6 | junho/J uni 2013


nam com os pobres, não apenas não defendem a „wie soll man eine Überlebensstrategie ergreifen,
legalidade como nem sequer seguem algum tipo wenn die Erwartungen der Tyrannen nicht defi-
de normas, aquelas, por exemplo, que os coman- niert sind?” fragt der Anthropologe. Es wäre ein
dos do narcotráfico parecem respeitar. A polícia irrtum, zu glauben, dass dies geschieht, weil die
é arbítrio puro e por isso ela aparece como pior Polizei sich vom Gesetz distanziert hat und von
para os moradores: “como adotar uma estratégia all dem, was ihr „Wesen“ sein sollte. Im Gegen-
de sobrevivência quando as expectativas dos tira- teil, in dieser Art zu handeln und zu existieren
nos não se definem?” pergunta o antropólogo. liegt das eigentliche Wesen der Polizei von Rio
seria um engano pensar que isso acontece por- de Janeiro, das in keinerlei demokratische Züge
que a polícia se distanciou da lei e daquela que trägt, die es den Armen erlauben würden, ihre
seria a sua “essência”. Nesse modo de agir e de Rechte einzufordern. Noch einmal finden wir uns
existir da polícia carioca, ao contrário, encontra- im Grande Sertão wieder: “Der Jagunço70 trieb
mos a figura “pura” de sua essência, cuja pureza nur die steuern ein.”71 “Der Jagunço (...)(schrie)
não é matizada por nenhuma forma de democra- mit lauter Stimme: – ‘Es lebe das Gesetz! Es lebe
cia que permita aos pobres afirmar seus direitos. das Gesetz...! Und es knallte peng peng. Oder: –
Mais uma vez, estamos no Grande Sertão: “O ja- ‘Frieden! Frieden!’ – schrie man auch: und Feuer
gunço só cobrava imposto.”64 “O jagunço (...) aos (...)‘Es lebe das Gesetz! Es lebe das Gesetz...! Von
brados (gritava): – ‘Viva a lei! Viva a lei...! E era wegen, welches Wissen, welches Gesetz, hier
pipoco-paco. Ou: – ‘Paz!Paz!’ – gritava também: wusste man von all dem nichts.”72in einem an-
e bala (...) ‘Viva a lei! Viva a lei!...’. Há-de-o, que deren Text verdeutlicht soares aber: „Die Zeit der
quilate, que lei, alguém soubesse?” 65
Glamourisierung des Banditentums ist schon vor-
bei, in der man Kriminelle behandelte als wären
Contudo, em outro texto, soares precisa: “Já se
diese Volkshelden (...) es gab eine Zeit, im Brasili-
foi o tempo da glamourização do banditismo, em
en der Diktatur, in der Hélio Oiticica zur Aufsässig-
que se cultuavam os criminosos como se fossem
keit aufrufen konnte, indem er seine subversiven
heróis populares (...) houve um tempo, no Brasil
Provokationen verbreitete: “Sei ein Außenseiter,
da ditadura, em que Hélio Oiticica podia concla-
sei ein Held. Die obskurantistische Zeit war eine
mar à rebeldia, divulgando suas provocação sub-
einladung zum Manichäismus”. Heute, so soares,
versiva: “Seja marginal, seja herói. A época obscu-
„leben wir ein anderes land“. Allerdings ist dieses
rantista era um convite ao maniqueísmo”. Hoje,
land nicht ein anderes, weil es die Tragödie der
diz Soares, “vivemos um outro país”. Só que, este
Gewalt „gelöst” hat, sondern nur weil „heute die
país não é outro por ter “resolvido” a tragédia
Kriminalität die ganze Gesellschaft bedroht, aus-
da violência, mas apenas porque “hoje, o crime nahmslos, aber gerade die ärmste Bevölkerung
ameaça toda a sociedade, indistintamente, mas wird am brutalsten unterdrückt“.73.luiz eduardo
oprime com mais brutalidade justamente os mais soares wiederholt somit, auf wesentlich interes-
pobres”.66. luiz eduardo soares está repetindo, santere Weise, den Diskurs von Zuenir ventura,
de maneira bem mais interessante, o discurso de der die soziologische Misere der Banditen auf-
Zuenir ventura que mostrava a miséria sociológica zeigte, die für Oiticica als „Helden“ galten.74 es
dos bandidos que para Oiticica teriam sido “he- ist allerdings so, dass die Armen, zunächst, nicht
róis”.67 Acontece que, em primeiro lugar, os po- genauso denken: sie denken schon, dass sie die-

ARTIGOS | CRIS e S | B eITRÄ G e | KRISe N | GIU S eP Pe COCCO 281


bres não pensam exatamente isso: eles pensam, jenigen sind, die am meisten unter der Gewalt
sim, ser os que mais sofrem a violência e, pois, que leiden und dass die Kriminalität nicht die ganze
o crime não ameaça toda a sociedade, sobretudo Gesellschaft bedroht, vor allem in ihren Formen
nas formas da violência e do arbítrio policial. Em der Gewalt und der polizeilichen Willkür. Zwei-
segundo lugar, os pobres e as comunidades sa- tens wissen die Armen und die Gemeinden sehr
bem, sim, que vivem numa situação de margina- wohl, dass sie in einer situation der Marginalität
lidade (racismo, segregação, arbítrio policial e do leben (Rassismus, Ausgrenzung, Willkür der Poli-
estado em geral) que faz parte dos mecanismos zei und des staates im Allgemeinen), was zu den
de dominação. Nessa situação material, o próprio Dominierungs-Mechanismen gehört. selbst luiz
luiz eduardo soares dirá que é preciso desfazer eduardo soares wird in dieser materiellen situa-
certezas, ou seja, “desfazer muitas ideias precon- tion sagen, dass es notwendig ist, Gewissheiten
cebidas sobre crime e juventude”. e isso porque einzureißen, das bedeutet, „viele vorurteile über
há “uma surpreendente continuidade entre os
Kriminalität und Jugendliche beiseite zu legen”.
dois mundos, o legal (da família e do emprego)
Und dies, weil es zwischen den zwei Welten, der
e o ilegal (do tráfico), sem negar as diferenças
legalen (der Familie und des Berufs) und der il-
profundas entre as consequências de estar ou não
legalen (des Drogenhandels) eine erstaunliche
estar envolvido no crime”.68 O geógrafo da UfRJ
Kontinuität gibt, ohne zu leugnen, dass eine
Marcelo lopes de souza, com base em ampla pes-
verwicklung in die Kriminalität - oder nicht - tief-
quisa de campo, em outros termos faz afirmação
greifenden Unterschiede für das leben der Men-
igual: “Entre ser ‘gerente’ ou mesmo ‘dono’ de
uma ‘boca-de-fumo’ e ser um trabalhador de sa- schen zur folge hat”.75 Marcelo lopes de souza,
lário mínimo, que tenta apenas fazer de tudo para Geograf der staatlichen Universität UFRJ, kommt
não ser molestados pelos ‘bandidos’, há muito nach einer weitreichenden feldstudie zu der glei-
mais situações possíveis e reais do que as vãs filo- chen Aussage in anderen Worten: „Zwischen der
sofias reducionistas e maniqueístas querem fazer Möglichkeit der ‚Betreiber‘ oder der ‚eigentümer‘
crer.”69 Em terceiro lugar, a figura do artista aqui eines ‚boca-de-fumo’ (eines Drogenumschlagplat-
mobilizada não é, paradoxalmente, uma figura zes) zu sein und der ein Mindestlohn-Arbeiter zu
marginal; e menos ainda quando olhamos sua sein, der lediglich alles tut, um von den ‚Banditen‘
obra:70 Hélio Oiticica é figura central de um dos nicht belästigt zu werden, gibt es viel mehr weite-
movimentos culturais do Brasil contemporâneo (o re mögliche und reelle situationen als uns die lee-
movimento neoconcreto e a tropicália) e um dos ren reduktionistischen und manichäistischen Phi-
artistas que hoje mais circulam nos museus brasi- losophien glauben machen wollen.”76 Drittens ist
leiros e sobretudo mundiais. Enfim, como homem die figur des hier mobilisierten Künstlers parado-
e como artista, Oiticica foi também uma figura da xer Weise keine Außenseiter-Figur; noch weniger,
“integração potente” entre o asfalto (de onde ele wenn wir seine Werke betrachten:77 Hélio Oiticica
vem) e o morro (a Mangueira). Sergio Cabral (pai)
ist Zentralfigur einer der kulturellen Bewegungen
declarou um dia: “eu quero registrar que o Hélio
des zeitgenössischen Brasiliens (die Neokonkre-
é um dos mais ilustres passistas da Mangueira”.71
tismus- und Tropicalia-Bewegung) und einer der
Com efeito, na obra de Hélio não há nenhuma Künstler, die heute am häufigsten in den Muse-
glamourização da marginalidade, mas a expres- en Brasiliens, aber vor allem weltweit ausgestellt

282 A r t e & Ens a i os | r ev is ta do ppg a v /eba /uf r j | n. 2 6 | junho/J uni 2013


são potente e trágica de sua ambiguidade e de werden. Kurzum, als Mensch und als Künstler
sua potência: “Eu acho – declara Oiticica a Paulo war Oiticica auch eine figur der „potenten inte-
Francis – que o trabalho criador propõe uma nova grierung” zwischen dem Asphalt (von wo er kam)
sociedade. É exatamente aí que eu acho que todo und dem Hügel (a Mangueira). Sergio Cabral (der
esforço criador tem um lado marginal, um lado vater) sagte eines Tages: „ich möchte festhalten,
marginalizado (...)”.
72
Aqui, marginal é sinônimo dass Hélio einer der illustresten Tänzer der samba-
de conhecimento: atravessar fronteiras, inventar, schule Mangueira ist”.78
bem próximo do conhecimento nômade do prag-
Denn in den Werken Hélios kommt es zu keinerlei
matismo de William James.73 em outro momento,
Glamourisierung der Marginalität, aber zu einer
Hélio escreveu: “A liberdade moral não é uma nova
potenten und tragischen veranschaulichung ih-
moral, mas uma espécie de antimoral, baseada na
rer Ambiguität und ihres Potenzials: „ich glaube
experiência de cada um (...) e está acima do bem,
– äußerte sich Oiticica gegenüber Paulo Francis –
do mal etc. Deste modo estão como que justifica-
dass die kreierende Arbeit eine neue Gesellschaft
das todas as revoltas individuais contra valores e
hervorbringt. Und genau an diesem Punkt, glaube
padrões estabelecidos: desde as mais socialmen-
ich, weist jede schaffende Kraft eine marginale
te organizadas (revoluções, por exemplo) até as
seite, eine marginalisierte Seite auf (...)”.79 Hier
mais viscerais e individuais (a do marginal, como é
ist marginal ein Synonym für Wissen: Grenzen
chamado aquele que se revolta, rouba e mata).”74
überschreiten, erfinden - was dem nomadischen
Oiticica sabe muito bem que dizer isso é ‘perigo-
Wissen des Pragmatismus von William James
so’, que pode levar (como levou e leva a maioria
sehr nahe kommt.80 Zu einem anderen Zeitpunkt
dos ‘marginais’) à autodestruição: “Sei que isto é
uma afirmação perigosa, que é uma faca de dois schrieb Hélio: „Die moralische freiheit ist keine
gumes, mas que vale a pena. só um mau-caráter neue Moral, aber eine Art Gegenmoral, die auf
poderia ser contra um Antonio Conselheiro, um der Erfahrung eines jeden einzelnen beruht (...)
Lampião, um Cara de Cavalo, e a favor dos que und über Gut und Böse steht etc. Auf diese Weise
os destruíram”. Ele sabia que o trabalho de artista sind alle individuellen Revolten gegen festgeleg-
não é produzir objetos, mas criar valor; sabia tam- te Werte und Muster wie gerechtfertigt: von den
bém que com essa radicalização ele simplesmente sozial organisierten (wie beispielsweise den Revo-
mergulhava a produção de um “outro valor” na lutionen) bis hin zu den innersten und individu-
materialidade trágica (e heroica ao mesmo tem- ellsten (die des Außenseiters, wie jener genannt
po) da situação social e da violência generalizada. wird, der sich auflehnt, stiehlt und mordet).”81
Não por acaso, ele dizia logo em seguida: “Daí é Oiticica weiß sehr genau, dass dies zu behaup-
fácil deduzir o que não estará por acontecer no ten ‚gefährlich’ ist, dass dies zur Selbstzerstörung
mundo e nas comunidades – ou tudo muda (e führen kann (wohin es die Mehrheit der ‚Außen-
há que mudar!) ou continuamos a guerra. Não seiter geführt hat und führt): „ich weiß, dass dies
sou pela paz (...) – como pode haver paz ou se eine gefährliche Aussage ist, dass dies ein zwei-
prender a ela, enquanto houver senhor e escra- schneidiges schwert ist, aber es lohnt sich. Nur ein
vo!” A arte de Hélio queria ser uma antiarte por
75
schlechter Mensch kann sich gegen Antonio Con-
procurar criar formas de vida e ambiências mais selheiro, Lampião, Cara de Cavalo stellen und auf
do que objetos, e essa valorização que hoje conti- seiten derer stehen, die sie vernichtet haben”. er

ARTIGOS | CRIS e S | B eITRÄ G e | KRISe N | GIU S eP Pe COCCO 283


nua conquistando o mundo tinha em seu cerne a wusste, dass die Arbeit eines Künstlers nicht darin
favela: “Na arquitetura da ‘favela’ (...) está implí- besteht, Objekte herzustellen, sondern Werte zu
cito um caráter do Parangolé, tal a organicidade schaffen; er wusste auch, dass er mit dieser Radi-
estrutural entre os elementos que o constituem e kalisierung schlicht die Herstellung eines „anderen
a circulação interna e o desmembramento externo Werts” in die tragische (und zugleich heroische)
dessas construções; não há passagens bruscas do Beschaffenheit der sozialen situation und der ge-
‘quarto’ para a ‘sala’ ou ‘cozinha’, mas o essen- neralisierten Gewalt tauchte. Nicht zufällig sagte
cial que define cada parte que se liga a uma ou- er kurz darauf: „von da an ist es ein leichtes, ab-
tra em continuidade.” 76
Ao mesmo tempo, Hélio zuleiten, was in der Welt und in den Gemeinden
dizia com lucidez: “ou tudo muda, ou a guerra nicht passieren wird – entweder ändert sich alles
continua”, e isso em 1966: quase 50 anos depois, (und muss sich ändern!) oder der Krieg geht wei-
podemos dizer que ele tinha razão, que apenas ter. Ich bin nicht für den Frieden (...) – wie soll es
apontava para o horizonte de um futuro de vio- frieden geben oder wie soll man an diesem festhal-
lência generalizada e, embora não o fizesse do ten, wenn es weiterhin Herren und Sklaven gibt!”82
ponto de vista de uma nova moral e de uma “bela Die Kunst Hélios beabsichtigte eine Anti-Kunst zu
consciência”, ele tampouco o fazia de um ponto sein, indem sie eher nach neuen lebensformen
de vista cínico: por isso, seu ponto de vista era o und -welten suchte als nach Gegenständen, und
do marginal, ou seja, o contrário do maniqueísmo diese Werteermittlung, die heute weiter die Welt
que lhe atribui luiz eduardo soares: o que artis- erobert, hatte die favela zum zentralen Thema:
ta enfrenta é mesmo o desafio da construção de „in der Architektur der ‚favela’ (...) ist ein Charak-
uma ética diante de uma situação moral (de crise ter der Parangolé inbegriffen, so die strukturelle
moral) que torna impossível a distinção entre o Organität zwischen den elementen, die es zusam-
bem e o mal. Hélio Oiticica disse em termos artísti- mensetzen, sowie der interne Kreislauf und die
cos o que está dizendo o secretário de Segurança externe Zergliederung dieser Konstruktionen; es
hoje sobre as UPPs: não poderá haver paz sem um gibt keine brüsken Durchgänge vom ‚schlafzim-
novo regime de “cidadania”. Não é disso que nos mer‘ zum ‚Wohnzimmer‘ oder zur ‚Küche‘, aber
fala João Guimarães Rosa, mais ou menos na mes- das Wesentliche definiert jedes Teil, welches sich
ma época? Falando de sua própria literatura, ele in Kontinuität mit einem anderen verbindet.”83
Zur gleichen Zeit sagte Hélio mit geistiger Klar-
diz que está falando de um sertão e de um Brasil
heit: „entweder alles ändert sich, oder der Krieg
que ainda estão “Jenseits von Gut und Böse (além
geht weiter”, und dies 1966: fast 50 Jahre spä-
do bem e do mal)”.77
ter können wir sagen, dass er Recht hatte, dass
Outra figura genial do pensamento da brasilidade er lediglich auf den Horizont einer Zukunft gene-
como potência dos pobres, Glauber Rocha, dizia, ralisierter Gewalt hinwies und, auch wenn er dies
que era preciso partir da dimensão primeira do nicht aus dem standpunkt einer neuen Moral und
“amor”: “A liberação, mesmo nos encontros da eines „guten Gewissens” getan hat, so tat er dies
violência provocada pelo sistema, significa sempre genauso wenig aus einer zynischen Perspektive:
negar a violência em nome de uma comunidade aus diesem Grund war seine Perspektive die eines
fundada pelo sentido do amor ilimitado entre Außenseiters, das bedeutet, dem Manichäismus,
os homens”,78 dos homens como pobres. e isso dem ihm luiz eduardo soares zuschrieb, entge-

284 A r t e & Ens a i os | r ev is ta do ppg a v /eba /uf r j | n. 2 6 | junho/J uni 2013


significava lembrar que “(...) somos países subde- gengesetzt: der Künstler sieht sich mit der Heraus-
senvolvidos e este é um problema que nenhum forderung konfrontiert vor dem Hintergund einer
regime político ou ideologia resolve. Somente tra- moralischen Situation (einer moralischen Krise),
balho, construção e organização”. 79
De Certeau, die eine Unterscheidung zwischen Gut und Böse
no mesmo período que Glauber passava da “esté- unmöglich macht, eine ethik zu konstruieren. Hé-
tica da fome” (com sua carga de violência) para lio Oiticica artikulierte auf künstlerische Weise,
o “sonho” do amor, realizava transições iguais. was der sicherheits-sekretär heute über die UPPs
Pensando nas formas de luta, nas culturas e no sagt: ohne ein neues Regime des „Bürgerrechts“
sincretismo das “populações rurais e que já são wird es keinen frieden geben. ist das nicht, wovon
subproletárias do sertão ou das periferias de Re- auch João Guimarães Rosa spricht, fast zur selben
cife”, ele problematizava a passagem das místicas Zeit? In Anmerkungen über seine eigene Literatur
violentas da teologia da libertação para as estra- sagt er, dass er von einem Sertão und von einem
tégias não violentas de um “murmúrio revolucio- Brasilien spricht, die sich noch “Jenseits von Gut
nário” que funcionava como desenvolvimento und Böse“ befinden”.84
marginal das contraculturas, nos interstícios da
Glauber Rocha, eine weitere geniale Figur dieser
organização dominadora, como o “trabalho sur-
Reflektion zur Brasilianität als Macht der Armen,
do de uma erosão, que ainda sem poder nomear-
sagte, es wäre notwendig von einer ersten Di-
-se, manifesta as demandas do dominado na lin-
mension der „liebe” auszugehen: „Die Befreiung,
guagem do dominador”80. Glauber afirmava que
auch in den gewaltsamen Zusammenstößen, die
“a única maneira de lutar é produzir”;81 de Cer-
durch das system herbeigeführt werden, bedeu-
teau falava – inspirado no Brasil – em “subversão
tet immer, die Gewalt zu leugnen, im Namen
que passava pela participação”, e Hélio Oiticica
einer Gemeinschaft, gegründet durch den sinn
desenvolvia sua antiarte nas articulações entre o
der uneingeschränkten liebe zwischen den Men-
vestir e o assistir numa perspectiva antropofágica
schen”,85 der Menschen als Arme. Und dies be-
que transformava o underground em subterrania.
deutet, daran zu erinnern, dass „(...) unsere Län-
É a atualidade dessas práticas éticas e estéticas que
der unterentwickelt sind und das ist ein Problem,
precisamos mobilizar para enfrentar os quebra-ca-
beças da pacificação, rumo à constituição de uma das kein politisches system und keine ideologie

verdadeira paz, ou seja, a segurança do viver, de lösen kann. sondern nur Arbeit, Konstruktion und
um bom viver: nem fugir da favela, nem desfa- Organisation”.86 In derselben Zeit, in der Glauber
velizar o Rio, mas, como propôs Rosiclei da silva, von der „Ästhetik des Hungers” (mit ihrer Bürde
fazer as favelas fugirem.82 der Gewalt) zum Traum von der „Liebe“ überging,
vollzieht De Certeau gleiche Transitionen. Unter
Berücksichtigung der Kampfformen, der Kulturen
und des synkretismus der „ländlichen Bevölkerung
und derer, die schon das lumpenproletariat des
Sertão und der Peripherien Recifes bilden”, pro-
Giuseppe Cocco é professor dos Programas de Pós- blematisierte er den Übergang von den gewalt-
Graduação em Comunicação e Ciência da Informação da samen Mystiken der Befreiungstheologie zu den
Universidade Federal do Rio de Janeiro. nicht gewaltsamen strategien eines „revolutionä-

ARTIGOS | CRIS e S | B eITRÄ G e | KRISe N | GIU S eP Pe COCCO 285


Notas ren Gemurmels”, das als marginale Entwicklung
der Kontra-Kulturen in den Zwischenräumen der
1 Desenvolvi esses temas em MundoBraz: o devir- dominierenden Organisation funktionierte wie die
Brasil do mundo e o devir-mundo do Brasil, Rio de „taube Arbeit einer erosion, die auch wenn sie
Janeiro: Record, 2009 e em Revolução 2.0: Sol, Sul, sich noch nicht benennen kann, die forderungen
Sal. In Cocco, Giuseppe; Albagli, Sarita. Revolução des Dominierten in der sprache des Dominieren-
2.0. Rio de Janeiro: Garamond. 2012. den manifestiert.”87 Glauber behauptete, dass
2 inspirado no uso das metáforas de Barbara sza- „das Schaffen, die einzige Art zu kämpfen ist”;88
niecki no belo artigo sobre a resistência na favelas
de Certeau sprach – durch Brasilien inspiriert –
Quem não tem cão, caça com gato, apresentado ao
von der „subversion, die sich durch die Partizipa-
Grupo de Trabalho Comunicação e Sociabilidade, do
tion vollzog”, und Hélio Oiticica entwickelte seine
XVII Encontro da Compós, São Paulo, junho de 2008.
Anti-Kunst durch die verbindung zwischen ein-
3 As declarações públicas do secretário de Segurança
nehmen und Zusehen aus einer atropofagischen
do Rio de Janeiro vão nesse sentido. A genealogia
relatada por Luiz Antonio Machado da Silva (UPPs:
Perspektive, die den Underground in Untergrund
pacificação ou controle autoritário? Disponível verwandelte. Um die schwierigkeiten der Pazi-
em http://www.comunidadesegura.org/MATERIA- fizierung anzugehen, müssen wir die Aktualität
upps-pacificacao-ou-controle-autoritario, 2011), dieser ethischen und ästhetischen Praktiken mo-
que atribui as UPPs a uma virada que coincidiria, bilisieren, Kurs nehmend auf die Konstituierung
no momento da reeleição do governador, com o eines echten friedens, das heißt, auf die sicher-
esgotamento das tradicionais receitas truculentas, e heit des lebens, auf ein gutes leben: indem man
a volta de José Mariano Beltrame de uma viagem à weder vor den Favelas flüchtet, noch die Favelas
Colômbia vai também nesse sentido. in Rio ausmerzt, sondern, wie Rosiclei da silva
4 logo depois de criada no âmbito da secretara vorschlägt, die Favelas sich verflüchtigen lässt.89
de Direitos Humanos e Assistência social do estado
do Rio de Janeiro, com a nomeação do economista
Ricardo Henriques, a UPP-Social migrou – junto Giuseppe Cocco ist Professor der Postgraduierten-Pro-
com o secretário – para o município, especifica- gamme im Bereich Kommunikation und Informationswis-
mente para o instituto Pereira Passos. seu arquiteto, senschaft an der öffentlichen Bundesuniversität von Rio
Ricardo Henriques, saiu do cargo no final de 2012. de Janeiro (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
5 Rafael Gonçalves, Les favelas de Rio de Janeiro:
histoire et droit, XIX et XX siècles. Paris: L’Harmat-
tan, 2010:20. Anmerkungen
6 Id., ibid.:21.
7 Id., ibid.:125. 1 Balaio de gatos ist eine brasilianische Redewendung.
8 Id., ibid.:170. Die wörtliche Übersetzung lautet „Katzenkorb“ und
9 Id., ibid.:169. wird als Metapher für Wirre, Getümmel, Durcheinander
10 Id., ibid.:83. gebraucht. Das Wort gato (wörtliche Übersetzung: Ka-
11 ver os Quaderni San Precario, movimento italia- ter), Bestandteil dieses festen Ausdrucks, wird auch für
no, http://quaderni.sanprecario.info/ sich allein umgangssprachlich verwendet und beschreibt

12 Palestra no Seminário “Os Futuros Possíveis das das illegale Anzapfen von Stromleitungen (A.d.Ü.).

favelas e da Cidade do Rio de Janeiro”, outubro de 2 sprengkörper, die bei Demonstrationen und Massen-

286 A r t e & Ens a i os | r ev is ta do ppg a v /eba /uf r j | n. 2 6 | junho/J uni 2013


2003, in Souza e Silva, Jailson de; Barbosa, Jorge aufmärschen eingesetzt werden. in der Regel sind diese
luiz. Favela: alegria e dor na cidade, Rio de Janeiro: nicht tödlich, aber wirken auf das menschliche Empfin-
Senac-Rio/X-Brasil, 2005:133. den äußerst unangehm (A.d.Ü.).
13 Souza e Silva, Barbosa, op. cit.:34. 3 Diese Themen entwickelte der Autor in MundoBraz:
14 ibid. Por sua vez, souza e silva e Barbosa encon- o devir-Brasil do mundo e o devir-mundo do Brasil, Rio
traram a citação em Abreu, Mauricio de Almeida. de Janeiro: Record, 2009 und in Revolução 2.0: Sol, Sul,
Reconstruindo uma história esquecida – origem e Sal. In Cocco, Giuseppe; Albagli, Sarita. Revolução 2.0.
expansão inicial das favelas do Rio de Janeiro. Espa- Rio de Janeiro: Garamond. 2012.
ço e debates, Rio de Janeiro, n. 37, 1994. 4 Ein vom Autor eingeführter Ausdruck, als Gegenbe-
15 Dias da Cruz, H. Os morros cariocas no novo re- griff zu „Brasil Maior“ (A.d.Ü. Erklärung siehe unten).
gime: notas de reportagem. Rio de Janeiro: Gráfica 5 Mit dem Plan „Brasil Maior“ (Größeres Brasilien)
Olímpica Miguel Couto, 1941. aus dem Jahr 2011 beabsichtigte die Regierung unter
16 Id., ibid.:12. Grifos nossos. staatspräsidentin Dilma Rousseff die Wettbewerbs-
17 Dias da Cruz., ibid.:13. fähigkeit der Wirtschaft zu stärken. Zu diesem Zweck
18 Id., ibid.:2. Grifos nossos. wurden steuererleichterungen für die industrie- und
19 Id., ibid.:21. Technologiebranchen vorgesehen (A.d.Ü.).
20 Id., ibid. Grifos nossos. 6 Inspiriert durch den Gebrauch der Metaphern durch
21 Id., ibid.:23. Barbara szaniecki in ihrem schönen Artikel über die Re-
22 id., ibid. sistenz in den favelas: Wer keinen Hund hat, jagt mit der
23 Id., ibid.:23. Grifos nossos. Katze, der der Arbeitsgruppe Comunicação e Sociabili-
24 Id., ibid.:28. dade auf dem Treffen XVII Encontro da Compós in São
25 Id., ibid.:43. Grifos nossos . Paulo, im Juni 2008 präsentiert wurde.
26 id., ibid. 7 Die öffentlichen stellungnahmen des sicherheits-se-
27 Moraes, vinicius de. Roteiro lírico e sentimental kretärs in Rio de Janeiro gehen in diese Richtung. Die
da cidade do Rio de Janeiro. São Paulo: Companhia von Luiz Antonio Machado da Silva (2011) beschrie-
das Letras, 1992:63. bene Genealogie (UPPs: pacificação ou controle auto-
28 szaniecki, op. cit. ritário? Zugänglich unter: www.comunidadesegura.
29 id., ibid. org/MATERIA-upps-pacificacao-ou-controle-autoritario,
30 Cabe notar que Michel de Certeau desenvolvia 2011), die die UPPs einem Wendepunkt zuschreibt, der
esses conceitos em polêmica aberta com os trabalhos sich während der Wiederwahl des Gouverneurs und der
do ‘primeiro’ Foucault sobre sociedade disciplinar: erschöpfung der traditionellen Rezepturen sowie zeit-
“Se trata”, escreve de Certeau, “de questões análogas gleich zur Rückkehr José Mariano Beltrames von einer
e opostas àquelas de que trata Foucault (Surveiller et Reise nach Kolumbien ereignete, ebenfalls.
Punir)”, L’invention du quotidien. Vol.1 Arts de faire 8 Kurz nachdem diese im Aufgabenbereich des sekre-
(1980). Paris: Folio, 1990:XL. tariats für Menschenrechte und sozialhilfe des staates
31 Certeau, 1990, op. cit.:43-47. Rio de Janeiro mit der ernennung des Wirtschaftswis-
32 szaniecki, op. cit. senschaftlers Ricardo Henriques begründet worden ist,
33 Certeau, Michel de. La culture au pluriel (1974). migriert die UPP-Social – zusammen mit dem Sekretär
Paris: Seuil, 1993:45. – in den Verwaltungsbereich der Stadt und wird dem
34 Id., ibid.:87. Grifos do autor. institut Pereira Passo zugeordnet. ihr Begründer Ricardo
35 Id., ibid.:213. Henrique legte das Amt Ende 2012 nieder.

ARTIGOS | CRIS e S | B eITRÄ G e | KRISe N | GIU S eP Pe COCCO 287


36 Id., ibid. Grifos nossos. Nessas mesmas pági- 9 Rafael Gonçalves, Les favelas de Rio de Janeiro: histoire
nas, aliás, de Certeau antecipa em anos a crítica da et droit, XIX et XX siècles. Paris: L’Harmattan, 2010:20.
propriedade intelectual: “Uma ideologia de propri- 10 Ebd.:21.
etários isola o ‘autor’, o ‘criador’ ou a ‘obra’. Na 11 Ebd.:125.
realidade a criação é uma proliferaçao disseminada. 12 Ebd.:170.
Ela pulula. Uma festa multiforme que se infiltra em 13 Ebd.:169.
todo lugar, festa nas ruas e nas casas” (214). 14 Ebd.:83.
37 ver Certeau, Michel de. La prise de parole 15 Siehe Os Quaderni San Precario, italienische Bewe-
(1968). Paris: Seuil, 1994. gung, http://quaderni.sanprecario.info/
16 Vortrag anlässlich des Seminars “Os Futuros Possí-
38 Paixão, Marcelo; Rossetto, Irene; Montovanele,
veis das favelas e da Cidade do Rio de Janeiro”, Oktober
Fabiana; Carvano, Luiz M. (orgs.). Relatório Anual
2003, in Souza e Silva, Jailson de; Barbosa, Jorge Luiz.
das Desigualdades Raciais no Brasil, 2009-2010.
Favela: alegria e dor na cidade, Rio de Janeiro: senac-
Rio de Janeiro: Laeser/UFRJ/Garamond, 2011. Ver
Rio/X-Brasil, 2005:133.
também Soares, Luiz Eduardo; Bill, M.V.; Athayde,
17 Souza e Silva, Barbosa, a.a.O.:34.
Celso. Cabeça de porco. Rio de Janeiro: Objetiva,
18 ibid. souza e silva und Barbosa ihrerseits fanden das
2005:73.
Zitat bei Abreu, Mauricio de Almeida. Reconstruindo
39 in Pastuk et al. Favela como Oportunidade. uma história esquecida – origem e expansão inicial das
Plano de desenvolvimento das favelas para sua in- favelas do Rio de Janeiro. Espaço e debates, Rio de Jan-
clusão social e econômica, Fórum Nacional, Rio de eiro, n. 37, 1994.
Janeiro, 2012:248. 19 Dias da Cruz, H. Os morros cariocas no novo regime:
40 Campos, Andrelino. Do quilombo à favela. A notas de reportagem. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica
produção do espaço criminalizado no Rio de Janei- Miguel Couto, 1941.
ro. Rio de Janeiro: Betrand Brasil, 2004:55. 20 Ebd.:12. Hervorhebung durch den Autor.
41 ver siqueira, Marcello. Cidadania partida. A má- 21 Dias da Cruz., ibid.:13.
cula do Rio. Rio de Janeiro: Editora Revan, 1996:57. 22 Ebd.:2. Hervorhebung durch den Autor.
42 Batista, vera Malaguti. O medo na cidade do Rio 23 Ebd.:21.
de Janeiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2003:21. 24 ebd. Hervorhebung durch den Autor.
43 Andrelino Campos fala de três “versões” sobre 25 Ebd.:23.
a genealogia da primeira favela carioca e do pró- 26 ebd.
prio termo favela: elas dizem respeito aos solda- 27 Ebd.:28.
dos desmobilizados após a Guerra do Paraguai, 28 Ebd.:28.
àqueles desmobilizados depois da campanha de 29 Ebd.:43. Hervorhebung durch den Autor.
Canudos e aos moradores removidos pelas destrui- 30 im historischen Brasilianisch steht „capoeira“ für
ções dos cortiços no Centro da cidade. Campos, Räuber und Unruhestifter, in der Regel mit schwarzer
op. cit.:55-62. Hautfarbe (A.d.Ü.).
44 Obras, trabalhos, pesquisas a respeito de favelas, 31 Der Ausdruck bezieht sich auf den lässigen Bewe-
incluídas as obras literárias e artísticas em geral, são, gungs- und Verhaltensstil der Gauner (A.d.Ü.).
contudo, tão numerosas, que dificilmente é possível 32 Moraes, vinicius de. Roteiro lírico e sentimental da
quantificá-las. Por exemplo, a meticulosa bibliogra- cidade do Rio de Janeiro. São Paulo: Companhia das
fia analítica elaborada por Licia Valladares e Lidia Letras, 1992:63.

288 A r t e & Ens a i os | r ev is ta do ppg a v /eba /uf r j | n. 2 6 | junho/J uni 2013


Medeiros (Pensando as favelas do Rio de Janeiro, 33 szaniecki, a.a.O.
1906-2000, uma bibliografia analítica. Rio de Janei- 34 ebd.
ro: Faperj/Relume Dumará, 2003) ou as centenas de 35 es muss erwähnt werden, dass Michel de Certeau
títulos listados pelo Observatório de Favelas (in Sou- diese Konzepte in einer offenen Auseinandersetzung
za e Barbosa, op. cit.:158-225) não poderiam conter mit den Arbeiten des ‚ersten’ Foucault über die Diszi-
referências às páginas de Claude Lévi-Strauss sobre plinargesellschaft entwarf: „es handelt sich”, schreibt
favelas do Rio de Janeiro em seu Tristes trópicos. isso de Certeau, „um fragestellungen, die zu jenen, die fou-
vale, obviamente, para um sem-número de livros e cault behandelt, analog und entgegengesetzt sind (Sur-
veiller et Punir)”, L’invention du quotidien. Vol.1 Arts de
artigos de arquitetura, urbanismo, artes, cultura etc.
faire (1980). Paris: Folio, 1990:XL.
45 Ver Guimarães, Alberto Passos As classes perigosas:
36 Certeau, 1990, a.a.O.:43-47.
banditismo urbano e rural (1982). Rio de Janeiro:
37 szaniecki, a.a.O.
Editora UFRJ, 2008.
38 Certeau, Michel de. La culture au pluriel (1974). Paris:
46 lembremos alguns dados básicos. Os recen-
Seuil, 1993:45.
seamentos gerais indicam que, em 1950, havia 58
39 Ebd.:87. Hervorhebung durch den Autor.
favelas no Rio de Janeiro, para o total de 169.305
40 Ebd.:213.
favelados. Em 1980, o número de favelas tinha
41 ebd. Hervorhebung durch den Autor. im Übrigen,
passado para 192 (multiplicou-se 3,3 vezes, por- auf denselben seiten nimmt de Certeau die Kritik des
tanto), e os favelados eram 628.170 (3,7 vezes geistigen eigentums um einige Jahre vorweg: „eine ideo-
mais), ao passo que a população tinha “apenas” logie der eigentümer isoliert den ‚Autor‘, den ‚schöpfer‘
dobrado. Em 30 anos, portanto, o ritmo de ‘fav- und das ‚Werk‘. Denn eigentlich ist das schöpfen eine
elização’ era duas vezes maior do que o ritmo de streuende Weiterverbreitung. es wuchert. ein vielförmi-
crescimento da cidade, seu contingente passando, ges fest, das überall eindringt, ein fest auf den straßen,
assim, de 7,1 para 12,3% da população total. Em ein Fest in den Häusern ”, (214).
2000, a população favelada alcançou 1.092.958, 42 siehe Certeau, Michel de. La prise de parole (1968).
passando a constituir 18,7% da geral. Segundo o Paris: Seuil, 1994.
Censo de 2010, havia 1.393.314 pessoas nas 763 43 Paixão, Marcelo; Rossetto, Irene; Montovanele, Fa-
favelas cariocas, ou seja, 22,03% dos 6.323.037 biana; Carvano, Luiz M. (Org.). Relatório Anual das Desi-
moradores do Rio. O crescimento da população gualdades Raciais no Brasil, 2009-2010. Rio de Janeiro:
Laeser/UFRJ/Garamond, 2011. Siehe auch Soares, Luiz
em “aglomerados subnormais” em dez anos foi de
Eduardo; Bill, M.V.; Athayde, Celso. Cabeça de porco.
27,65%, enquanto a cidade regular, excetuando os
Rio de Janeiro: Objetiva, 2005:73.
moradores das favelas, cresceu em ritmo oito vezes
44 in Pastuk u.a. Favela como Oportunidade. Plano de
menor, apenas 3,4%, passando de 4.765.621 para
desenvolvimento das favelas para sua inclusão social e
4.929.723.
econômica, Fórum Nacional, Rio de Janeiro, 2012:248.
47 Perlman, Janice e. O mito da marginalidade. Fa- 45 Campos, Andrelino. Do quilombo à favela. A pro-
velas e política no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Paz dução do espaço criminalizado no Rio de Janeiro. Rio de
e Terra, 1977 (publicada primeiramente nos Estados Janeiro: Betrand Brasil, 2004:55.
Unidos). 46 siehe siqueira, Marcello. Cidadania partida. A
48 “É preciso ressaltar que a sua (de Perlman) crí- mácula do Rio. Rio de Janeiro: Editora Revan, 1996:57.
tica da teoria da marginalidade nem era original, 47 Batista, vera Malaguti. O medo na cidade do Rio
nem pioneira, quer nos estados Unidos que no Bra- de Janeiro. 2. Auflage. Rio de Janeiro: Revan, 2003:21.

ARTIGOS | CRIS e S | B eITRÄ G e | KRISe N | GIU S eP Pe COCCO 289


sil.” valladares, licia do Prado. A invenção da fave- 48 Sertão bezeichnet die halbwüstenartige, häufig
la. Do mito de origem a favela.com. Rio de Janeiro: von Dürre betroffene Region im Nordosten Brasili-
Fundação Getulio Vargas, 2005:129. É preciso, con- ens (A.d.Ü.).
tudo, ver e lembrar que a crítica do mito da mar- 49 Andrelino Campos spricht von drei „versionen” im
ginalidade desenvolvida por Janice está fortemente Hinblick auf die Genealogie der ersten Favela in Rio de
marcada pela disputa política em torno do controle Janeiro und was den Begriff „favela“ selbst betrifft: sie
e/ou conquista dos favelas por projetos alternativos beziehen sich auf die aus dem Dienst entlassenen solda-
de sociedade na era da Guerra Fria. O Partido Co- ten nach dem Krieg gegen Paraguay, auf jene soldaten,
munista Brasileiro tinha ensaiado bons resultados die nach dem feldzug von Canudos enlassenen wurden
eleitorais nas favelas do Rio antes de voltar a ser de- und auf die Bewohner, die aufgrund der Beseitigung des
Cortiço, ein elendsquartier im Zentrum der stadt, ver-
clarado ilegal, e os pesquisadores norte-americanos
trieben wurden. Campos, a.a.O.:55-62.
chegavam ao Brasil ao mesmo tempo que os acor-
dos entre o governador Carlos lacerda e o Usaid
50 Die Werke, Arbeiten und studien über die favelas,
literarische und künstlerische Werke im Allgemeinen
através da Aliança para o Progresso: as remoções
einbezogen, sind so zahlreich, das es kaum möglich ist,
levavam os favelados para longínquos conjuntos
ihre Anzahl zu bestimmen. Zum Beispiel hätten die akri-
habitacionais cujas “denominações não foram es-
bische analytische Bibliografie, die von Licia Valladares
colhidas por acaso”; com elas o governador antifa-
und Lidia Medeiros zusammengestellt wurde (Pensando
vela Carlos lacerda decidiu homenagear ao mesmo
as favelas do Rio de Janeiro, 1906-2000, uma biblio-
tempo “o presidente americano e o programa de
grafia analítica. Rio de Janeiro: Faperj/Relume Dumará,
financiamento internacional” − eis, portanto, a Vila
2003) und die Liste mit mehreren hundert Titeln der
Kennedy e a Vila Aliança.
einrichtung Observatório de Favelas (in Souza e Bar-
49 Perlman, op. cit.:124. Grifos do autor.
bosa, a.a.O.:158-225) keine Angaben über Referenzen
50 Trata-se de um texto mimeografado de 1968,
zum Thema favela in Claude lévi-strauss‘ Werk Tristes
apud Perlman, op. cit.:125.
trópicos beinhalten können. Dies gilt natürlich für sehr
51 Perlman, op. cit.:136. Grifos do autor.
viele Bücher und Artikel aus den Bereichen Architektur,
52 Perlman, op. cit.:150.
Urbanismus, Künste, Kultur etc.
53 Apud Perlman, op. cit.:169.
51 Siehe Guimarães, Alberto Passos As classes perigo-
54 Perlman, op. cit.:174.
sas: banditismo urbano e rural (1982). Rio de Janeiro:
55 Perlman, op. cit.:176. Grifos nossos.
Editora UFRJ, 2008.
56 Perlman, op. cit.:288.
52 Wir erinnern an einige grundlegende Daten. Die
57 Cardoso, fernando Henrique. Prefácio in Perl- allgemeinen erfassungen deuten darauf hin, dass es
man, op. cit.:5. Grifos nossos. 1950 58 Favelas in Rio de Janeiro gab, mit insgesamt
58 Cardoso, op. cit.:13. 169.305 Bewohnern. 1980 war die Anzahl der Fave-
59 Guimarães, op. cit.:218. Ver também Coelho, las auf 192 angestiegen (das heißt die Anzahl hatte
edmundo Campos. Série Estudos, n. 60, Rio de Ja- sich folglich um den Faktor 3,3 erhöht) und die Ge-
neiro: Iuperj, 1987. samtzahl der Favela-Bewohner belief sich auf 628.170
60 Cardoso, fernando Henrique. Capitalismo e escra- (3,7-mal mehr), während sich die Gesamtbevölkerung
vidão no Brasil meridional. O negro na sociedade es- „nur“ verdoppelt hatte. In 30 Jahren war also der
cravocrata do Rio Grande do Sul (1962), 5. ed. Rio de Rhythmus der Favelização um ein zweifaches schnel-
Janeiro: Civilização Brasileira, 2003:352.Grifos nossos. ler als der Wachstumsrhythmus der stadt, womit sich

290 A r t e & Ens a i os | r ev is ta do ppg a v /eba /uf r j | n. 2 6 | junho/J uni 2013


61 ”Relendo papéis antigos” in Cardoso, 2003, op. der Anteil der Favela-Bevölkerung somit von 7,1 auf
cit.:12. 12,3% an der Gesamtbevölkerung erhöhte. 2000 be-
62 Rosa, João Guimarães. Grande sertão, veredas. lief sich die Favela-Bevölkerung auf 1.092.958 und
Ficção completa, v.2. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, umfasste somit 18,7% der Gesamtbevölkerung. Nach
2009:33. der Volkszählung von 2010 wurden die 763 Favelas
63 Soares, Luiz Eduardo. “Polícias fluminenses: longa in Rio de Janeiro von 1.393.314 Menschen bewohnt,
jornada noite adentro”. in soares, Bill e Athayde, op. das bedeutet 22,03% der 6.323.037 Bewohner Rio
de Janeiros. Die Bevölkerung in den „subnormalen
cit.:267. Grifos nossos. No mesmo capítulo podemos
Ballungsgebieten” wuchs in zehn Jahren um 27,65%,
ainda ler: “Não há tráfico e domínio territorial do trá-
während für die reguläre stadt, die favela-Bewohner
fico sem a participação policial que azeita a máquina
ausgenommen, die Wachstumsrate um ein achtfa-
do crime com imobilismo, provisão de meios, tea-
ches niedriger lag, nämlich bei nur 3,4%, was eine
tro, informação e proteção. A ponto de uma falange
Bevölkerungszunahme von 4.765.621 auf 4.929.723
vingar-se de outra ou golpeá-la, acionando campanhas
bedeutete.
policiais para enfraquecer a rival e tomar-lhe os ter-
53 Perlman, Janice e. O mito da marginalidade. Fave-
ritórios.” E isso vale para as duas polícias: “A anar-
las e política no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Paz e
quia institucional reina sob a aparência de ordem
Terra, 1977 (Die Studie wurde zuerst in den vereinig-
que é produzida pela simbologia hierárquica, com
ten staaten veröffentlicht).
seus parâmetros, vocabulários, rituais, sua estética e
54 „Es muss hervorgehoben werden, dass ihre (Perl-
a iconografia militar. A desordem da Polícia Civil é
mans) Kritik an der Theorie der Marginalität weder
mais evidente e se revela a quem levantar o véu dos
originell/neuartig noch bahnbrechend war, we-
protocolos. A anarquia institucional é o campo fértil
der in den vereinigten staaten noch in Brasilien.”
onde prospera o crime organizado”(269).
valladares, licia do Prado. A invenção da favela.
64 Rosa, op. cit:51. Do mito de origem a favela.com. Rio de Janeiro:
65 Rosa, op. cit.:52. Fundação Getulio Vargas, 2005:129. es ist indes
66 “A Esperanças como dever”, Soares, Bill e Athay- notwendig zu erkennen und zu erinnern, dass die
de, op. cit.:124, grifos nossos. Kritik des Mythos der Marginalität, die von Janice
67 “fascinado pela marginalidade, passista da entwickelt wurde, sehr stark von der politischen Dis-
Mangueira, companheiro de malandros e bandi- kussion um die Kontrolle und/oder Eroberung der
dos, frequentador de favelas, Oiticica (era) radical Favelas durch alternative Gesellschaftsprojekte aus
(e) considerava a arte como revolta (...) semelhan- Zeiten des kalten Krieges markiert ist. Die kommuni-
te à do bandido que rouba e mata, em busca da stische Partei, o Partido Comunista Brasileiro, hatte,
felicidade.” ventura, Zuenir. Cidade Partida (1994), bevor diese wieder als illegal deklariert worden war,
16a reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, in den favelas gute Wahlergebnisse eingefahren und
2010:38. die forscher aus Nordamerika kamen zeitgleich mit
68 Soares, 2005, op. cit.:235. den Abkommen zwischen dem Gouverneur Carlos
69 souza, Marcelo lopes de. O desafio metropoli- lacerda und der Usaid, durch die Allianz für den
tano. Um estudo sobre a problemática socioespacial fortschritt, a Aliança para o Progresso: die Umsied-
nas metrópoles brasileiras. Rio de Janeiro: Bertrand lungen führte die favela-Bewohner in weit abgele-
Brasil,1999:61. gene Wohnkomplexe, deren „Benennungen nicht
70 Apesar de ridicularizar seu “amor” pelos bandi- zufällig erfolgte“; der Anti-Favela-Gouverneur Carlos

ARTIGOS | CRIS e S | B eITRÄ G e | KRISe N | GIU S eP Pe COCCO 291


dos, Zuenir cita o crítico Frederico de Morais: “Oiti- lacerda beschloss damit sowohl „den amerikani-
cica ‘foi o maior inventor da arte brasileira, um dos schen Präsidenten als auch das internationale finan-
maiores da arte contemporânea em todo o mun- zierungsprogramm“ zu ehren – deshalb benannte er
do’.” Ventura, op. cit.:38. Grifos nossos. diese folglich als Vila Kennedy und Vila Aliança.
71 “entrevista para O Pasquim (com Capinam)”, 55 Perlman, a.a.O.:124. Hervorhebung durch den Autor.
por luiz Carlos Maciel, flavio Rangel, Marta Alencar, 56 Hierbei handelt sich um die Mimeographie-Kopie ei-
Paulo francis, Nelson Motta e sergio Cabral. in Oiti- nes Textes von 1968, apud Perlman, a.a.O.:125.
57 Perlman, a.a.O.:136. Hervorhebung durch den Autor.
cica, Hélio. Encontros. Apresentação de César Oiti-
58 Perlman, a.a.O.:136. Hervorhebung durch den Autor.
cica Filho. Rio de Janeiro: Azougue, 2. ed., 2010:71.
59 Apud Perlman, a.a.O.:169.
72 Id., ibid.:69.
60 Perlman, a.a.O.:174.
73 James, William. The Meaning of Truth. (1909)
61 Perlman, a.a.O.:176. Hervorhebung durch den Autor.
Cambridge: Harvard University Press, 1992:247.
62 Perlman, a.a.O.:288.
74 “Julho de 1966, Posição ética”. In Oiticica, Hélio. 63 Cardoso, fernando Henrique. Prefácio in Perlman,
Museu é o mundo. Rio de Janeiro: Azougue, 2011:84. a.a.O.:5. Hervorhebung durch den Autor.
Grifos nosso. 64 Cardoso, a.a.O.:13.
75 id., ibid., grifos nossos. 65 Guimarães, a.a.O.:218. Siehe auch Coelho, Ed-
76 Oiticica, Hélio. Novembro de 1964: bases funda- mundo Campos. Série Estudos, n. 60, Rio de Janeiro:I-
mentais para uma definição do Parangolé. In Oitici- uperj, 1987.
ca, 2011, op. cit.:71. A favela como inspiração de 66 Cardoso, fernando Henrique. Capitalismo e escra-
inovações na arquitetura e no urbanismo aparece vidão no Brasil meridional. O negro na sociedade escra-
em um sem-número de publicações e bienais. Por vocrata do Rio Grande do Sul (1962), 5. ed. Rio de
exemplo, sustainable libing Urban Model lAB, in- Janeiro: Civilização Brasileira, 2003:352. Hervorhebung
formal Toolbox, Slum Lab Paraisópolis (São Paulo: durch den Autor.
Prefeitura de São Paulo, 2008). Ver também Post-It 67 ”Relendo papéis antigos” in Cardoso, 2003,
City, catálogo de exposição, Barcelona, Santiago de a.a.O.:12.

Chile, São Paulo, 2005.


68 Rosa, João Guimarães. Grande sertão, veredas.
Ficção completa, v.2. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
77 Lorenz, Günter. “Diálogo com João Guimarães
2009:33.
Rosa”. in Rosa, op. cit.:XliX.
69 Soares, Luiz Eduardo. “Polícias fluminenses: lon-
78 Id., ibid.:251.
ga jornada noite adentro”. in soares, Bill e Athayde,
79 Rocha, Glauber. Revolução do Cinema Novo.
op. cit.:267. Hervorhebung durch den Autor. Im sel-
São Paulo: Cosac & Naify, 2004:184.
ben Kapitel können wir auch lesen: „es gibt keinen
80 De Certeau, op. cit.:142.
Drogenhandel und die Beherrschung eines Gebiets
81 Id., ibid.:236. durch den Drogenhandel ohne die Partizipation der
82 silva, Rociclei. Informação, cultura e cidadania Polizei, die die Maschine des verbrechens durch still-
no coração da periferia pelas batidas do hip hop. halten, Mittelbeschaffung, Theater, information und
Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) Protektion fettet. sogar dahin gehend, dass eine
− Universidade Federal do Rio de Janeiro/Instituto falange sich an einer anderen rächt oder ihr einen
Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, schlag versetzt, indem sie Polizei-einsätze provoziert,
Rio de Janeiro, 2011. um den Rivalen zu schwächen und diesem Gebiete

292 A r t e & Ens a i os | r ev is ta do ppg a v /eba /uf r j | n. 2 6 | junho/J uni 2013


abzunehmen.” Und dies gilt für beide Polizeien: „Die Hélio. Encontros. Apresentação de César Oiticica Filho.
institutionelle Anarchie herrscht unter dem Anschein Rio de Janeiro: Azougue, 2. ed., 2010:71.
von Ordnung, die durch die hierarchische symbolik 79 Ebd.:69.
hergestellt wird, nach ihren Maßstäben, mit ihrem 80 James, William. The Meaning of Truth. (1909)
vokabular, ihren Ritualen, ihrer Ästhetik und ihrer Cambridge: Harvard University Press, 1992:247.
militärischer ikonographie. Die Unordnung der Zivil- 81 “Julho de 1966, Posição ética”. In Oiticica,
polizei, Polícia Civil, ist offensichtlicher und offenbart Hélio. Museu é o mundo. Rio de Janeiro: Azougue,
sich jedem, der den schleier der Protokolle beseite 2011:84. Hervorhebung durch den Autor.
zieht. Die institutionalisierte Anarchie ist der frucht- 82 ebd., Hervorhebung durch den Autor.
bare Boden, auf dem die organisierte Kriminalität 83 Oiticica, Hélio. November 1964: bases fun-
gedeiht ”(269). damentais para uma definição do Parangolé. In
70 Anmerkung des Übersetzers: Jagunço ist die Be- Oiticica, 2011, a.a.O.:71. Die Favela erscheint in vie-
zeichnung für einen bewaffneter Mann im Dienst len Publikationen und Biennalen als inspiration für
von Großgrundbesitzern, vor allem im Nordosten innovationen in der Architektur und im Urbanismus.
und im Sertão Brasiliens gebräuchlich. Zum Beispiel: sustainable libing Urban Model lAB,
71 Rosa, a.a.O.:52. informal Toolbox, Slum Lab Paraísopolis (São Paulo:
72 Rosa, a.a.O.:51. Prefeitura de São Paulo, 2008). Siehe auch Post-It
73 “A Esperanças como dever”, Soares, Bill e Athay- City, Ausstellungskatallog, Barcelona, santiago de
de, op. cit.:124, Hervorhebung durch den Autor. Chile, São Paulo, 2005.
74 „fasziniert von der Marginalität, Tänzer bei Man- 84 Lorenz, Günter. “Diálogo com João Guimarães
gueira, Kumpel von Gaunern und Banditen, ständig Rosa”. in Rosa, a.a.O.:XliX.
in der Favela unterwegs, Oiticica (zeigte sich) radi- 85 Ebd.:251.
kal (und) sah in der Kunst eine Revolte (...) ähnlich 86 Rocha, Glauber. Revolução do Cinema Novo. São
der (Revolte) des Banditen, der, auf der Suche nach Paulo: Cosac & Naify, 2004:184.
Glück, raubt und mordet.” Ventura, Zuenir. Cidade 87 De Certeau, a.a.O.:142.
Partida (1994), 16er Nachdruck. São Paulo: Compan- 88 Ebd.:236.
hia das Letras, 2010:38. 89 silva, Rociclei. Informação, cultura e cidadania
75 Soares, 2005, a.a.O.:235. no coração da periferia pelas batidas do hip hop. Dis-
sertation (Masterarbeit in Informationswissenschaft)
76 souza, Marcelo lopes de. O desafio metropo-
− Universidade Federal do Rio de Janeiro/Instituto
litano. Um estudo sobre a problemática socioespacial
Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, Rio
nas metrópoles brasileiras. Rio de Janeiro: Bertrand
de Janeiro, 2011.
Brasil,1999:61.
77 Auch wenn er dessen „liebe” zu den Banditen
ins lächerliche zieht, zitiert Zuenir den Kritiker fre-
derico de Morais: „Oiticica war der größte Erfinder
der brasilianischen Kunst, einer der größten Erfinder
der zeitgenössischen Kunst weltweit’.” Ventura, op.
cit.:38. Hervorhebung durch den Autor.
78 “entrevista para O Pasquim (com Capinam)”, por Tradução/Übersetzung Anne essel
luiz Carlos Maciel, flavio Rangel, Marta Alencar, Paulo Revisão Técnica/Technisches Korrektur Lesen
francis, Nelson Motta und sergio Cabral. in Oiticica, Marília Palmeira

ARTIGOS | CRIS e S | B eITRÄ G e | KRISe N | GIU S eP Pe COCCO 293

Вам также может понравиться