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A Descentralização e a Gestão Municipal

d a Política d e S a ú d e

Luciano A. Prates Junqueira 1

A construção do novo nas políticas


sociais, apontada por Barros, é bus-
cada mediante soluções que privilegiam estra-
A gestão do sistema local de saúde e a
garantia de acesso dos seus munícipes aos
serviços de saúde de qualidade são de atribui-
tégias viabilizadoras de uma sociedade mais ção dos municípios. Assim, tudo que se refere
equânime e menos desigual. Para isto a autora a essa gestão já é de sua competência, en-
fala da necessidade da ação estatal tornar-se quanto poder definido constitucionalmente. Por
mais ágil e flexível, através da descentralização. isso o conceito de descentralização como trans-
Esta constituiria uma condição essencial para ferência de poder de um nível de governo
mudar o próprio aparato estatal, tornando-o para outro não é adequado a essa situação,
mais eficaz, de modo a garantir a todo cidadão pois quem transfere o poder pode, quando
o direito de acesso a serviços de qualidade. E lhe aprouver, recuperá-lo integralmente. Isso
isso deve ser assegurado por um processo não ocorre com os municípios no que se re-
decisório participativo e pelo controle dos fere à saúde. Eles têm poder sobre a prestação
sujeitos sociais. Esse processo se consolida no não apenas dos serviços públicos de saúde,
município, espaço onde as relações do cida- mas dos privados, ou seja do sistema local de
dão com os serviços ocorrem de maneira pri- saúde. O que lhes é transferido são os recur-
vilegiada. sos financeiros, de que também devem dispor,
A descentralização, na ótica da autora, deve por definição constitucional.
garantir aos municípios, através da "atribuição Nesse contexto parece mais oportuno fa-
de responsabilidades", a gestão da prestação lar de não-centralização, conceito utilizado por
de serviços de saúde. Será que esse processo Elazar (1990, p. 35) para designar esse proces-
é de descentralização? Será que o município so de distribuição de competências nos países
necessita de novas responsabilidades para tor- federativos. Nessa concepção não está presen-
nar eficaz a gestão dos serviços de saúde, ou te a descentralização, pois a autoridade central
apenas da garantia de transferência dos recur- não tem poder nem para descentralizar nem
sos financeiros para o desempenho de suas para recentralizar, conforme seus desejos ou
atribuições? interesses. A autoridade do município não
Para visualizar essa questão é importante advém do governo federal nem do estadual, e,
ter claro o significado que assume a descentra- ainda que participe de atividades patrocinadas
lização nos países, como o Brasil, onde o por estes níveis de governo, ele não perde seu
município é um ente federado e, como tal, poder de decisão sobre o sistema local de
possui atribuições definidas pela Constituição saúde.
federal e pelas leis complementares. Apesar do Brasil ser um dos únicos países
em que os municípios são entes federativos
==1
Diretoria de Gestão de Políticas Governamentais - (Camargo, 1994, p. 88), isso não se efetiva
Fundação do Desenvolvimento Administrativo - FUNDAP, plenamente, já que esse "novo statiis recém-
Brasília. conquistado exige autonomia financeira e ¬
autogoverno". Por isso, o discurso que pre- ção da instituição no sistema, da incorporação
valece é o da descentralização, tornando oficial da integralidade da atenção na sua prática.
a dependência dos municípios com relação à Essa questão da autonomia assume um
gestão da política de saúde, o mesmo ocor- significado particular quando se considera a
rendo com os estados federados. Assim, o necessidade de encontrar novas soluções para
município, como um ente federativo, tem au- superar os constrangimentos que vêm sendo
tonomia para implantar um sistema local imputados ao SUS. A busca de alternativas de
resolutivo. O problema é saber em que gestão tem sido apontada como uma saída
medida, em um país com as desigualdades para a eficácia do sistema. Nesse sentido a
sociais abismais que caracterizam a socieda- autonomia pode constituir um importante ins-
de brasileira, o município pode constituir-se trumento, inclusive para redefinir a relação
sem articulação ou mesmo dependência de Estado e Sociedade. O fato da saúde ser um
outros níveis de governo. Isso não significa direito do cidadão e um dever do Estado
que os municípios não possam encontrar não significa que, para garantir um novo
saídas novas e conduzir a gestão do seu sis- modelo de atenção, apenas a instituição es-
tema local de saúde de maneira inovadora e tatal esteja apta a realizar a tarefa. É neces-
mesmo de forma autônoma. Com isso, não sário pensar que as ações de promoção da
estou reiterando a autonomização, que a saúde são também de responsabilidade da
autora diz ser uma das deficiências da pro- sociedade e que a devolução dessa tarefa
posta de reforma do Sistema de Saúde, dado para suas instituições pode se constituir em
que é inerente ao SUS, enquanto sistema, a um fator de superação dos pontos de estran-
interdependência. No entanto, essa interde- gulamento que vêm afetando o desempenho
pendência não retira do município sua auto- do SUS. E por que não poderia ser o campo
nomia de gestão dos serviços de saúde, pois da saúde o público-privado onde o Estado
lhe cabe garantir aos munícipes o acesso a transferiria competência para a execução, man-
serviços resolutivos, mesmo quando não si- tendo o seu poder de regulação e controle ?
tuados no seu âmbito. Assim, a construção do novo nas políti-
Essa questão da autonomização, que Bar- cas sociais, ao privilegiar a participação e o
ros considera, da perspectiva da proposta da controle social, se viabiliza pelo reordena-
reforma, como um fator de desagregação e mento do aparato estatal, através da criação
de conseqüências nefastas à integração do de instâncias de negociação que permitam
sistema, inviabilizando a sua "accountability", aos usuários dos serviços de saúde controlá-
merece ser melhor qualificada. Não creio que los e participarem do processo de tomada
o compromisso e o resultado do trabalho de de decisão. Isso talvez não agilize as deci-
uma instituição de saúde possa ser compro- sões, mas pode criar oportunidades para que
metido pelo fato de possuir autonomia de os cidadãos participem e incorporem seus in-
gestão. Talvez, ocorra mesmo o contrário, teresses e necessidades à prática dos serviços.
pois, ao dispor de poder sobre seus recur-
sos, a organização pode ser avaliada quanto
à eficácia de seus serviços.
No que diz respeito à integralidade da Referências bibliográficas
atenção a situação é um pouco diferente,
pois a autonomia institucional pode aprofun- ELAZAR, D. (1990) - Exploring Federalism.
dar a fragmentação do sistema, como identi- Tuscalossa: University of Alabama Press.
ficado pela autora. Mesmo aí, creio que a CAMARGO, A. (1994) - O novo pacto fede-
questão não é da autonomia, mas da inser¬ rativo. Revista do Serviço Público 118(1):87-94.

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