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Família Conectada:

2 3
Família Conectada:
prevenindo riscos e
promovendo o uso seguro da internet


Ana Maria de Albuquerque Lima

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Título
Família Conectada: prevenindo riscos e promovendo o uso seguro da internet

Autora
Ana Maria de Albuquerque Lima.

Número do ISBN deste livro:


ISBN: 978-85- 921502-2- 8

Revisão e aprimoramento textual


Ana Mattos

Projeto gráfico
Dani Furlan

Setembro, 2016.

Dados da Catalogação Anglo-American Cataloguing Rules – AACR2 Ana Maria de Albuquerque Lima é psicóloga escolar formada
Ficha catalográfica elaborada por Marcelo Diniz - Bibliotecário CRB 2/1533
pela Universidade de Brasília e mestre em Educação pela PUCSP.
L732f
Lima, Ana Maria de Albuquerque Autora do livro Cyberbullying e outros riscos na internet: despertando
Família conectada: prevenindo riscos e promovendo o uso seguro da internet. a atenção de pais e professores, publicado, em 2011, pela editora
/ Ana Maria de Albuquerque Lima. – Joinville, SC: Editora Clube do Livro, 2016.
136 p.; il.: color. Wak.


Contém bibliografia
ISBN 978-85- 921502-2- 8
Ministra palestras e oficinas em escolas sobre prevenção ao
1. Tecnologia - Cyberbullying - Família brasileira - Crianças. 2. Vida digital - Segurança -
cyberbullying, sexting e uso compulsivo das tecnologias digitais pelos
Psicologia. 3. Bullyng - Sexting - Comportamento. 4. Risco na rede - Cyberbullying - Vícios na rede.
I. Título.
jovens. Realiza aconselhamento psicológico virtual para jovens e seus
CDU 364.63:004.73-053.2
familiares na prevenção a riscos on-line como as práticas de
CDD 158.290.046.78 cyberbullying, de sexting, de pornografia de revanche e sobre o uso
© 2016, propriedade intelectual do autor
compulsivo das tecnologias digitais. Também orienta pais ou
responsáveis sobre como educar os seus filhos para uma vida on-line
Índices para catálogo sistemático: mais saudável, ética e responsável.
1. Tecnologia: Rede: Comportamento.
2. Vida digital: Psicologia: Cyberbullying. É autora de cartilhas e do site educacional de prevenção a riscos on-
3. Segurança: Internet: Criança.
line Família Conectada, disponível em: http://familiaconectada.com.
br.
Caso queira entrar em contato para ter maiores informações
sobre palestras e oficinas para a sua escola ou aconselhamento
Atribuição-Não Comercial 
CC BY-NC psicológico virtual para você ou para seu filho, mande uma mensagem
Esta licença permite que outros remixem, adaptem e criem a partir do seu trabalho
para ana@familiaconectada.com.br.
para fins não comerciais, e embora os novos trabalhos tenham de lhe atribuir o Para maiores informações sobre a sua formação profissional, acesse o
devido crédito e não possam ser usados para fins comerciais, os usuários não têm de
licenciar esses trabalhos derivados sob os mesmos termos. seu currículo Lattes, disponível em: http://bit.ly/1SQARS8.

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Agradecimentos

Gostaria de agradecer primeiramente a minha família, em


especial a minha mãe Maria Cândida Moraes, por todo o apoio dado
à construção e revisão desta obra. Agradeço também ao meu pai
Carlos Roberto de Albuquerque Lima e a Magali Izuwa pela força e
incentivos dados para a escrita deste livro. Agradeço também à
minha avó Martha, pelo exemplo de vida para todos nós, pois mesmo
com seus 94 anos de idade, faz aulas de informática toda semana
para poder acompanhar as atividades dos filhos, netos e bisnetos no
Facebook e a navegar junto com as netas menores e bisnetas. Agradeço
as primas Isadora e Ana Luísa, desejando um bom futuro para vocês.
Gostaria de agradecer também a todos os pais e mães que eu
entrevistei para elaborar o livro, por compartilharem suas experiências
de criar filhos para usar a tecnologia de forma segura e ética. Agradeço
a Ana Mattos pelo trabalho de revisão e aprimoramento textual e
suas críticas construtivas. Agradeço a Daniela Furlan pelo trabalho
de diagramação do livro. Agradeço ao David Cavallo e ao Yuri Cesar
Ramos por todo o incentivo à escrita deste livro.
Dedico este livro às famílias brasileiras, para que possamos
criar, juntos, uma internet melhor!

Agradeço ao Universo por tudo!

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Apresentação do
livro pela autora

Em minha experiência como psicóloga especializada em vida


digital, vejo que as famílias se sentem inseguras diante dos filhos pelo
fato de crianças e jovens possuírem maior destreza tecnológica do
que seus pais. Este livro surgiu com o intuito de diminuir esta brecha
e levar informações especializadas às famílias brasileiras. Os pais
podem até, em muitos casos, saber menos sobre tecnologia de
informação do que seus filhos, no entanto, vemos que os adultos são
muito mais capazes do que os jovens a saber discernir sobre o que é
ou não é apropriado para ser compartilhado publicamente na rede,
em razão da experiência adquirida ao longo dos anos de vida. A
questão principal é que a falta de destreza com tecnologia não deve
e não pode ser uma desculpa para que os adultos não se dediquem a
promover um ambiente on-line mais saudável e seguro.
Ainda que haja muitas famílias em que os adultos possuem

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menor fluência tecnológica do que seus filhos, não se pode perder de
vista que a segurança na internet deve ser uma atribuição de todos.
É importante que haja um esforço conjunto em zelar por uma
internet segura, e existem diversas formas de se fazer isso: pode-se
pensar no nível da segurança física dos equipamentos, por meio de
atualizações de segurança das máquinas que nos cercam e de sistemas
eficientes de gerenciamento de contas e as senhas, ou no nível da
segurança física e emocional das pessoas que estão conectadas umas
às outras por meio de tecnologia, e é aí que podem ser utilizados os
conhecimentos provenientes da Psicologia.
O interesse principal deste livro é mostrar, por meio do
esclarecimento de alguns conceitos básicos e da exposição de alguns
dados da minha pesquisa, que é possível reunir pessoas em torno do
objetivo comum de construir um mundo digital melhor. Para isso, é
necessário, também, expor os principais riscos que estamos correndo
quando nossas crianças, aparentemente seguras no quarto ao lado,
estão se relacionando com outras pessoas no mundo virtual.
Falaremos sobre bullying, uso compulsivo de tecnologia, sexting,
pornografia de revanche e de como ajudar jovens e crianças a
superarem traumas advindos de más experiências on-line.
Em minha atuação profissional como palestrante em escolas
públicas e privadas, percebi que há pouca informação disponível
sobre esse assunto, e isso é o que me motiva a escrever sobre o tema
para empoderar e auxiliar as famílias a prevenir riscos on-line, reagir
adequadamente a eles e proteger seus filhos dos perigos desse
fascinante e invisível “mundo virtual”1.
Apesar dos avanços nos últimos anos ainda há, no Brasil,
pouca literatura em português sobre o tema e as famílias e escolas
necessitam de material adequado ao desenvolvimento de ações que
permitam um ambiente virtual seguro para crianças e jovens. Ficarei
muito feliz caso este livro seja usado nas escolas para melhorar as
relações entre escola, alunos e famílias no que se refere a um uso mais
seguro e saudável das tecnologias digitais.
1. Cristine Hoepers (2015) recomenda evitar a oposição entre “mundo real” e mundo virtual, pois ambos são reais.
Ao contrário, a autora recomenda o par “mundo tradicional” e” mundo virtual”. Ela defende a teoria do cibridismo
(BEIGLEMAN, 2010), que não distingue o on-line do offline, pois o mundo amplamente conectado pelas
tecnologias digitais é uma realidade mista, em que o presencial reflete no virtual e vice-versa.

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Prefácio

Maria Cândida Moraes


Universidade Católica de Brasília

É possível ajudar os filhos a se prevenirem contra os usos e


abusos na internet? Como promover o uso seguro da internet? Existe
uma idade adequada para iniciar esses cuidados? Quais são os riscos
on-line a que nossas crianças estão sujeitas? Como ajudar a criança e
o adolescente a superarem seus traumas advindos de suas experiências
negativas com o mundo virtual? Podemos construir um mundo
digital melhor, mais ético, solidário e comprometido? A essas e
outras questões, a psicóloga Ana Maria de Albuquerque Lima tenta
responder neste livro, com competência, o qual tenho a honra de
apresentar à comunidade educacional brasileira.
Participar do nascimento de uma obra é sempre algo muito

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gratificante, mas também de muita responsabilidade, pois nem sexting, além de outros temas relacionados como, por exemplo, a
sempre conseguimos encontrar a maneira mais adequada de dizer necessidade de superação, entre pais e filhos, da brecha digital
tudo aquilo que realmente desejamos a respeito da obra. É como se geracional que tanto prejudica o diálogo entre eles e impede que a
participássemos do nascimento de um filho, neste caso, de um neto família saiba como melhor proteger seus filhos em relação aos riscos
e, como todo filho ou neto que nasce, traz também consigo, além da on-line.
dor, a alegria e a esperança, a energia intelectual esperançosa e Talvez, pelo fato de conhecê-la muito bem, acredito que
amorosa de sua autora, nutrida pela dedicação, pelo esforço e pela devo acrescentar outras dimensões pessoais em sua apresentação.
luta incansável em busca da construção de uma obra diferenciada, Dimensões diferentes daquelas que normalmente se encontram
produto de uma prática reflexiva e transformadora que se expande e destacadas em seu currículo Lattes. Por outro lado, sei que somente
que, necessariamente, precisa alcançar outros leitores e conquistar eu poderia apresentar estes outros olhares construídos ao longo de
novos espaços conspiradores em torno de suas ideias e ideais. nossa convivência, cujas razões serão posteriormente esclarecidas.
Eis, portanto, o nosso grande desafio ao atestar o nascimento, Embora seja difícil distanciar-me para uma análise mais objetiva de
a validade, a importância desta obra! E, neste caso específico, o sua atuação, em função de nossa proximidade, por outro lado,
desafio é muito maior, cujas razões eu explicarei mais adiante. inspirados em Maturana, sabemos que a objetividade pura
verdadeiramente não existe. Ela vem sempre impregnada do olhar,
do afeto, da amorosidade por parte daquele/a que pretende objetivá-
la.
A autora Sabemos que nossa maneira de ser, de observar o mundo ao
nosso redor, de construir conhecimento e atuar na realidade próxima
não acontece independentemente do sujeito. Nosso mundo é criado
Ana Maria Moraes de Albuquerque Lima é psicóloga, com o outro, vivenciado em comunhão, pois não vivemos isolados e
formada pela Universidade de Brasília, com mestrado em Educação descontextualizados. O observador perturba o objeto que pretende
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e com analisar e esse perturba o sujeito que o observar. Assim, a partir
especialização em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade desses processos de interação ao longo da vida, o que é que posso ou
Federal do Rio Grande do Sul. Em seu período de graduação e por devo destacar?
mais alguns anos foi também consultora do Programa de Atenção às Quem é Ana Maria? Quais são seus traços mais marcantes?
Dependências Químicas, da Universidade de Brasília, sob orientação Em que ela se diferencia de seus irmãos ou de seus companheiros de
da professora Dra. Fátima Sudbrack, colaborando na implementação escola ou de faculdade?
de projetos governamentais desenvolvidos na área. Ana Maria nasceu em São José dos Campos, em 25 de
Desde 1999, vem também trabalhando na área da inclusão outubro de 1972, na época em que seus pais trabalhavam no Instituto
digital, desenvolvendo conteúdos digitais sobre a prevenção ao de Pesquisas Espaciais – INPE/CNPq. Com apenas três anos,
Cyberbullying e o uso ético das redes digitais para a formação de mudou-se para Brasília, indo estudar na Escola montessoriana
professores. É palestrante na área de inclusão digital, cyberbullying, Branca de Neve, hoje, Rodolfo de Moraes Rego. Desde o início da

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educação fundamental, sempre foi excelente aluna. Menina criativa, Outras características marcantes da Ana Maria são a
estudiosa, falante como sempre, com uma alegria de viver que criatividade e a espiritualidade. Sempre muito criativa, na infância,
irradiava de seu semblante sempre alegre e risonho. Adorava cantar e inventava histórias mirabolantes, com seus incríveis personagens
acompanhar sua mãe que estudava violão à época. Aos cinco anos de imaginários desenhados com muita habilidade, cheios de vida e
idade, cantava a plenos pulmões e até chamava atenção da vizinhança cores. Através de sua espiritualidade fluía sua necessidade de
que morava ao redor do Bloco F, da Quadra 308 Sul, de Brasília. O dedicação ao próximo, de doação da energia espiritual, mediante o
mais divertido era que, aos cinco anos de idade, sua canção preferida ritual da Arte Mahikari, arte espiritual japonesa de imposição da
era “Meu mundo caiu”, imortalizada pela célebre cantora Maísa, e mão que propaga a luz para a melhoria espiritual das pessoas e dos
uma das canções que sua mãe estudava ao violão. ambientes em que vivemos. Desde muito jovem, ela vem se dedicando
Ana Maria teve uma infância feliz, com muitos amigos, a essa arte japonesa de imposição de mãos e aplicação de energia,
brincando no interior das superquadras de Brasília. Criança amorosa, participando do grupo de jovens e, mais tarde, do grupo de
inteligente, viva e muito alegre... confiava em tudo e em todos. educadores.
Adorava subir nas árvores da quadra, pular o muro que separava o Outra característica importante que se destacou em sua fase
bloco do posto de gasolina em frente ao apartamento em que morava. de estudante de pós-graduação foi sua habilidade para a pesquisa,
Amava correr, brincar de amarelinha... e de estudar. Na adolescência para percepção e registros de dados muitas vezes não percebidos por
e mais tarde, já como estudante de graduação em Psicologia, na outros pesquisadores, característica essa anunciada por nossa amiga
UnB, destacava-se nos esportes, como jogadora de polo aquático e comum, a querida professora Léa Fagundes, da Universidade Federal
de handebol. Vinha sempre com uma ou outra medalha das quais do Rio Grande do Sul que, um dia, me telefonou pedindo para que
muito se orgulhava. ela cultivasse esse dom tão importante para sua futura vida
Sempre foi muito determinada, estudiosa e com muita profissional.
facilidade para o aprendizado de línguas. Adorava viajar, acompanhar Não posso terminar esta apresentação da Ana Maria sem
seu pai, técnico da FAO, e assim conheceu mais de dez países. antes pontuar algo que considero uma de suas características mais
Durante um ano, estudou na Escola Internacional de Moçambique, importantes. Durante sua trajetória de vida, e diante de situações de
cuja experiência lhe foi muito gratificante. Quais são as qualidades sofrimento, percebo que ela possui uma grande capacidade de
que mais chamam atenção em Ana Maria? resiliência. Sua capacidade de superação de adversidades, de
A primeira delas certamente é a sinceridade. Ana Maria minimizar os efeitos de algo sofrido e seguir adiante é uma das
nunca soube mentir, nem aquelas pequenas mentiras sociais que, às qualidades importantes de sua alma. Minimizar, mediante
vezes, são necessárias. Desde pequena, me falava: “Eu não sei ressignificação do fato ou processo vivido, mediante um novo
mentir... não adianta!” E, realmente, era verdade. Sempre falava o despertar que a ajuda a compreender a dimensão simbólica e psíquica
que pensava. Aninha, como era conhecida, sempre teve a alma da existência humana e a transcender os momentos emocionais mais
transparente e, absolutamente, sincera. Outra qualidade sempre difíceis. Essa capacidade de transformação de momentos especiais da
presente era a bondade de seu coração amoroso. Aninha sempre foi vida a tornou uma lutadora, uma guerreira e, certamente, uma
dona de um coração bom e puro. grande vencedora!

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Apesar de ter muita coisa a compartilhar sobre a Ana Maria, impregnada pela experiência da autora, como psicóloga especializada
creio que, neste momento, é preciso falar um pouco de sua obra, em vida digital e palestrante em escolas públicas e privadas, ao
razão maior de estar aqui apresentando o seu livro. observar o quanto as famílias se sentem inseguras diante de seus
filhos, pelo fato de a maioria das crianças e jovens ter maior
competência tecnológica que seus pais. Com o desejo de diminuir
essa brecha, aproximar e facilitar o diálogo entre pais e filhos a
A obra respeito dessa temática, Ana Maria se propôs a defender a ideia de
que é possível reunir a família em torno de um objetivo comum, no
sentido de construir um mundo digital melhor e mais feliz. Para
tanto, é preciso que os pais conheçam e compreendam os principais
Apresentar uma obra à comunidade leitora é algo que
riscos aos quais seus filhos estão submetidos no mundo virtual e se
considero bem difícil e delicado. Algo de muita responsabilidade.
instrumentalizem no sentido de evitar problemas que possam
Isso porque considero a apresentação de um livro um momento de
provocar futuros sofrimentos desnecessários. Por outro lado, os
boas-vindas aos leitores, um momento em que os convidamos a
filhos também precisam entender que a segurança na internet é um
compartilhar as ideias e os sentimentos que a obra suscitou em mim.
dever e uma obrigação de todos e, em especial, daqueles que
É criar um espaço privilegiado de encontro compartilhado entre o
constituem o seu núcleo familiar.
apresentador e o autor, no sentido de anunciar a importância do
Cumpre esclarecer que esta obra foi sendo construída a partir
tema, de despertar o interesse do outro em relação ao autor e à sua
de uma prática vivenciada, até mesmo sofrida, construída,
obra. É facilitar, de imediato, uma compreensão inicial, justificando
desconstruída e reconstruída no cotidiano da vida, à medida que os
a importância do trabalho realizado. E isso, certamente, se reveste de
problemas iam surgindo e sendo resolvidos, discutidos e coletivamente
preocupação para quem apresenta, mas, ao mesmo tempo, não deixa
gerenciados, em busca de melhores soluções.
de ser uma grande honra e, neste caso específico, motivo de profunda
Em sua reflexão e construção da obra, Ana Maria parte da
alegria. Assim, um dos grandes motivos de alegria para uma mãe de
constatação de que a disseminação das tecnologias digitais vem
vida acadêmica é apresentar o trabalho intelectual de uma filha ou de
aumentando a complexidade dos incidentes virtuais no Brasil e no
um filho. Sim, sou mãe de Ana Maria, razão pela qual escrever esta
mundo, à medida que os velhos golpes vão se aprimorando e sendo
apresentação muito me emociona e envaidece.
aplicados a usuários cada vez mais novos e inexperientes. Constata
Inicialmente, pensei: “Não vou fazer, não devo aceitar o
também o aumento do fosso digital existente entre as diferentes
convide de minha filha!” Depois, pensei: “E por que não? Quem
classes sociais e analisa suas possíveis consequências, observando que
mais a conhece do que eu? Quem mais acompanhou o processo de
as famílias brasileiras possuem diferentes níveis de inclusão digital e
construção desta obra do que eu?” E por essas e outras razões, aceitei
diferem muito em termos de nível de escolaridade e classe social.
o desafio.
Famílias mais abonadas, com nível de escolaridade superior,
Assim, esta obra Família Conectada: prevenindo riscos e
geralmente são mais letradas digitalmente, ou seja, têm maior
promovendo o uso seguro da internet nasceu de uma prática
autonomia ou capacidade de uso da tecnologia em seus ambientes

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familiares. Por outro lado, aquelas famílias menos abonadas, cujos Ampliando a temática do livro
pais são analfabetos e oriundos de classes sociais menos privilegiadas,
tendem também a ser analfabetas digitais e, certamente, terão mais
dificuldades no monitoramento das atividades de seus filhos na
Sabemos que qualquer inovação tecnológica na capacidade
internet.
de nos comunicarmos terá sempre uma incidência profunda em
Aumentam-se as dificuldades, mas, muitos deles, mesmo
nossa cultura, em nossa maneira de ser, de viver/conviver, na maneira
assim, não abandonam seus filhos e ficam atentos aos processos
de nos relacionarmos, o que requer não apenas maior competência
vivenciados. Certamente, suas crianças estarão mais sujeitas a riscos
tecnológica no aprendizado das novas linguagens digitais, mas,
on-line ao utilizarem a internet nas chamadas lan houses, pois, ali,
sobretudo, maior competência ética no relacionamento humano. Ao
eles usam a internet, na maioria das vezes, sozinhos, sem a mediação
falar de bullying e cyberbullying, certamente, é a falta de ética que está
de um adulto que domine os códigos de conduta e as regras de
em jogo.
segurança. Esses riscos, entretanto, podem ser diminuídos se as
A evolução cultural, tecnológica e cognitiva, graças aos
crianças puderem contar com educadores mais bem capacitados nos
processos de interdependência e de inter-relações gerados pela
laboratórios das escolas, coisa que nem sempre acontece.
internet e pela globalização, vem gerando a proliferação desmedida
No capítulo três, a autora apresenta os principais riscos on-
de dados, informações e saberes entre pessoas, países e povos. Uma
line atualmente enfrentados pelos jovens, entre eles, o bullying, o
coisa é gerar, produzir, disseminar informações pela rede. Outra é a
cyberbullying, o sexting, a pornografia de revanche, bem como
capacidade humana de processá-las, de construir conhecimento e
aspectos relacionados ao vício na rede, tentando ainda diferenciar o
incorporá-las ao cotidiano, o que nossa condição humana, fruto de
uso saudável do uso patológico das redes digitais. Oferece uma série
nossa evolução biológica, ainda não permite. Assim, esse crescimento
de recomendações de como prevenir e enfrentar essas temáticas,
exponencial da informação disponível é infinitamente superior à
destacando, inclusive, o que os pais devem fazer em momentos
capacidade humana de processá-la. Nossas estruturas biológicas e
difíceis enfrentados por seus filhos. Ela dá pistas importantes de
neuronais limitadas, constitutivas de nossa condição humana,
como se deve proceder em situações de risco on-line, o que certamente
impedem o acompanhamento do crescimento geométrico das
poderá ajudar em certas situações angustiantes que as famílias
informações que circulam pelas redes sociais.
possam vir a enfrentar.
Em realidade, temos uma capacidade coletiva fantástica de
Em vez de continuar tecendo breves comentários a respeito
geração de dados e informações, mas absoluta e desproporcionalmente
dos diversos capítulos componentes desta obra, prefiro deixar que o
inferior à nossa capacidade individual de processamento e construção
leitor descubra, por si mesmo, aspectos de seu interesse. Assim,
de conhecimento, bem como de integração às nossas experiências
utilizarei esta oportunidade para pontuar um pouco mais sobre essa
pessoais cotidianas, reveladoras da finitude e provisoriedade humana.
problemática que exige maior competência ética nas relações
Sabemos que nossa condição humana é intrinsecamente finita e
humanas, aspecto esse que muito me preocupa e que, de certa forma,
mortal.
tem a ver com os usos e abusos que são feitos em relação às tecnologias
Isso vem gerando, sem dúvida, um dos graves problemas
digitais.

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atuais, relacionado ao grande descompasso existente entre o ritmo de Além da falta de ética presente nos casos cada vez mais
nossa evolução cultural e ética em relação ao aumento de informações frequentes de cyberbullying, é também uma geração com sérios
gerado coletivamente. Esse aumento desmesurado esconde alguns problemas de concentração e de relacionamento, acostumada a
perigos aos quais nós, como humanidade, devemos estar mais processar em paralelo. Ao mesmo tempo em que fala no Skype,
atentos. Tais perigos não vêm diretamente da existência em si da responde emails, se manifesta no Facebook, no Twitter e bate-papo
ilusória “sociedade do conhecimento”, mas sim da “sociedade da ao telefone. O que se observa é que os meios e as informações estão
ignorância”, essa última gestada por nossa incapacidade de processar disponíveis, todavia, ainda não sabemos tirar deles o seu melhor
informações disponibilizadas pelas diversas redes digitais. proveito.
Certamente, o perigo que paira sobre nós está muito mais dentro de Isso nos coloca alguns desafios a serem problematizados,
nós mesmos, nos usos e abusos realizados pelo próprio ser humano como por exemplo: No âmbito global da evolução humana, como
que acabou de criá-las. Decorre também das dificuldades que temos articular nossa evolução biológica com a evolução cultural,
em fazer com que os valores éticos que regem as relações humanas tecnológica e ética? É possível encontrar certo equilíbrio ou isso é
consigam acompanhar, se não na mesma proporção, mas de modo verdadeiramente impossível? Como fazer com que nossa condição
mais aproximado, o incrível desenvolvimento científico e tecnológico humana, finita e mortal, aprenda a viver/conviver com aquilo que é
mundial. infinito, incomensurável e, muitas vezes, inalcançável pela mente da
A sociedade da ignorância é também aquela que tem toda grande maioria dos mortais?
informação disponível a um simples toque no mouse, ou na tela do Sabemos que um dos grandes desafios éticos mundiais
seu iPad, mas que, ao mesmo tempo, não consegue processar esse relacionados às tecnologias digitais ainda continua sendo o acesso
caudal de dados e informações disponíveis, condicionado tanto pela desigual à informação que acontece entre e dentro dos próprios
condição humana que não consegue acompanhar a velocidade e a países, promovendo a exclusão automática de imensa maioria da
intensidade das produções coletivas disponibilizadas pelas redes população, apesar dos pesados investimentos financeiros realizados
como, principalmente, pela grande dificuldade em processar a na tentativa de minimizar essa problemática. Em realidade, esse
informação e construir conhecimento, a partir de uma visão crítica também é um problema de natureza ética, além da insistente ameaça
da realidade. Essa ausência de crítica seria, sem dúvida, uma das à privacidade e à intimidade das pessoas invadidas por sistemas e
causas da ignorância e que acaba produzindo uma geração de jovens técnicas de busca de informações pessoais que, não apenas se
que não consegue ler um documento com mais de quatro ou cinco contentam em invadir, captar e disseminar informações de conteúdo
páginas se não estiver em formato multimídia. São indivíduos que emocional pelas redes, mas também ameaçam e violentam suas
confundem aprendizagem com o pegar e colar fragmentos de próprias vítimas, colocando em risco as liberdades civis e os direitos
informações disponíveis na internet. É uma geração pouco reflexiva humanos, como também a vida das pessoas.
e menos crítica, embora mais ativa e aparentemente mais antenada e Dessa forma, é importante lembrar que já não podemos
esperta, mas também dispersiva, impulsiva, agitada, que confunde o continuar privilegiando a visão distorcida da realidade que vê a
uso e o abuso do “control V/ control C” na preparação de trabalhos ou racionalidade técnica e tecnológica como solução para todos os
nas respostas às exigências acadêmicas. males, esquecendo-nos de que a tecnologia é somente uma ferramenta

24 25
e que, se não for acompanhada por valores humanos e éticos, teremos
graves rupturas sociais e uma crise moral e ética sem precedentes em
curto espaço de tempo. Urge, portanto, encontrar mecanismos que
acelerem as discussões entre ética e desenvolvimento científico e
tecnológico, visando descobrir quais são os limites a serem preservados
no sentido de resguardar a liberdade, a integridade humana e a
soberania nacional.
Inspirada nas sábias palavras de Boaventura de Sousa Santos
(2004), é preciso um conhecimento prudente para uma vida mais
decente, e isso também se refere às tecnologias digitais que, por sua
vez, requerem de nossa parte um conhecimento nutrido por uma
ética capaz de ajudar a melhor compreender a dinâmica da vida, a
perceber a interdependência existente entre os elementos constitutivos
do triângulo da vida, ou seja, as relações entre indivíduo, sociedade
e natureza. Uma ética prudente para uma vida mais decente que nos
faça reconhecer a dependência do ser humano em relação ao seu
ambiente natural e ao contexto social onde vive.
Assim, ao abordar as questões das tecnologias digitais, a
problemática do cyberbullying e de outros riscos on-line aos quais
estamos sujeitos, não podemos nos esquecer de que necessitamos de
um novo pensamento capaz de nutrir uma ética que acredite na
partilha, no intercâmbio, na solidariedade e na responsabilidade,
capaz de exercitar uma estrutura mental aberta ao acolhimento, à
hospitalidade, à responsabilidade e ao diálogo. Em vez de
prejudicarmos uns aos outros, ao pensar no uso das tecnologias
digitais, é preciso cultivar uma ética capaz de resgatar o espírito de
solidariedade entre os seres, a amorosidade e a gratidão pela vida.
Assim, desejo a todos uma boa leitura e muito bom proveito
de seus ensinamentos!
À Ana Maria, minha querida filha, muito sucesso e muitas
alegrias com este seu novo livro.

Maria Cândida Moraes


Águas Belas, Ceará, setembro de 2016

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Sumário

Agradecimentos 9

Apresentação do livro pela autora 11

Prefácio 15

Capítulo 1: As famílias brasileiras e o uso de tecnologia 33


1.1 As famílias de profissionais que seguiram
as carreiras tecnológicas 34
1.2 As famílias de profissionais que não seguiram
as carreiras tecnológicas 42
1.3 As famílias sem fluência tecnológica 48

Capítulo 2: A inclusão digital e os perigos da internet 51


2.1 O letramento digital 54
2.2 Como famílias de baixo letramento digital educam
seus filhos para o uso seguro da internet 56

28 29
Capítulo 3: Riscos on-line enfrentados pelos jovens 65 4.6 O que os pais devem fazer quando percebem
3.1 Agressão na rede: bullying 66 que o filho está fazendo uso compulsivo
3.1.1 Dicas de enfrentamento e de como os jovens das tecnologias digitais? 106
e os seus pais podem reportar os casos de
bullying na escola 73 5. Referências 111
3.1.2 Dicas de enfrentamento para jovens
com relação às práticas de cyberbullying 74 6. Anexos 119
3.1.3 Algumas reflexões sobre violência 6.1 Anexo I: Testes e escalas para diagnosticar
virtual e presencial 75 uso compulsivo das tecnologias digitais 119
3.1.3.1 Bullying e cyberbullying 75 6.2. Anexo II: Teste para avaliar a dependência da
3.1.3.2 Sobre a prevenção do bullying escolar 76 internet (IAT) Internet Addiction Test (IAT) 120
3.1.3.3 Dizer “não” ao ódio virtual? 77 6.3 Anexo III: Escala para avaliar a dependência
3.1.3.4 Bullying, obesidade e homofobia 77 do telefone celular 124
3.2 Sexo na rede 79 6.4 AnexoIV: Escala para avaliar a dependência do Facebook. 128
3.2.1 Sexting 79 6.5. Anexo V: Escala para avaliar a dependência de WhatsApp 133
3.2.1.2 Sexting: o que é e o que não é 81
3.2.1.3 Aprendendo a lidar com sexting
de seus filhos 83
3.2.2 Exibicionismo na rede 84
3.2.3 Selfie nude 86
3.2.4 Pornografia de revanche 86

Capítulo 4: Vício na rede 89


4.1 Uso saudável e uso patológico das tecnologias digitais 93
4.1.1 O uso excessivo da internet 96
4.2 Movimento Slow 98
4.3 Desintoxicação tecnológica para prevenção
do vício na rede 100
4.4 Psicopatologias associadas ao uso problemático da rede 103
4.5 O uso compulsivo das tecnologias e a neurociência 104

30 31
Capítulo 1

As famílias brasileiras e
o uso de tecnologia

As famílias brasileiras possuem diferentes níveis de inclusão


digital e diferem muito em nível de escolaridade e classe social. Uma
das condições para que um indivíduo se torne um usuário efetivo
das tecnologias digitais é saber ler e escrever com autonomia. Pessoas
letradas e com nível de escolaridade superior tendem a usar mais a
internet, a ter em seu cotidiano o uso das tecnologias digitais. A essa
capacidade de usar as tecnologias digitais com autonomia dá-se o
nome de letramento digital. Assim, quanto maior for a escolaridade
e o nível sócio econômico de um indivíduo maior é a possibilidade
de ele ter acesso e utilizar as tecnologias de forma efetiva no seu dia-
a-dia. Essa é uma tendência brasileira e mundial. O outro lado
também é verdade: pessoas com baixa inserção na cultura letrada e/
ou provenientes de classes menos favorecidas usam menos a internet,

32 33
isso acontecer, seus pais a ensinarão como fazê-lo. Ela vive num
em decorrência da barreira econômica e linguística. contexto familiar rico na parte tecnológica e que lhe permite
A alfabetização digital refere-se ao uso básico de softwares de desenvolver seus talentos na área. O depoimento do pai sobre a filha
escritório como o pacote Office ou o Open Office ou o ato de pesquisar é de que ela, como usuária de jogos e de software livre, tem o costume
em sites de busca como o Google. Já o letramento digital está de entrar em contato com os criadores e desenvolvedores de um
relacionado a um uso mais efetivo das tecnologias digitais em que o determinado aplicativo para dar a sua contribuição e fazer críticas
indivíduo se torna produtor de conteúdo digital ou em casos mais para a melhoria do sistema. Outra característica é que Lara, aos 11
avançados aprende a ler e escrever linhas de código no computador. anos, deu a sua primeira palestra sobre software livre no Fórum
Assim, pais analfabetos e oriundos de classes sociais menos Internacional de Software Livre – FISL – sendo a palestrante mais
privilegiadas têm menos probabilidade de serem usuários de internet jovem da história deste evento de tecnologia que é um dos maiores
e monitorarem as atividades dos filhos na rede, quando comparados do país e do mundo.
a pais de alta escolaridade e de maior poder aquisitivo. Dessa maneira,
pode-se dizer que as crianças oriundas de famílias em que o uso das
tecnologias digitais não é uma prática dos responsáveis estão mais
sujeitas a riscos on-line do que aqueles cujos pais dominam as
tecnologias digitais de forma efetiva no seu cotidiano e mais ainda
do que as crianças cujos pais são profissionais da área da tecnologia,
que desde cedo alertam seus filhos e os preparam para os perigos da
rede.

1.1 As famílias de profissionais que


seguiram as carreiras tecnológicas

Quero iniciar este capítulo compartilhando o desenho de


Lara, uma criança de 11 anos, que reflete a maneira como ela
compreende a ideia de “família conectada”. Lara possui características Lara explica o seu desenho da seguinte maneira:
típicas de uma nativa digital2, pois se diverte usando as tecnologias Bem, meu pai sempre que fala de software livre ele fala dos
digitais para brincar, interagir com os pais e os familiares e amigos da GNU’s. E ele disse que você está escrevendo um livro sobre a família
sua idade. Segundo o pai, programador e ativista de software livre, conectada e por isso eu resolvi fazer um livro sobre a família conectada
Lara ainda não se interessou em aprender a programar, mas quando dos GNU´s e os membros desta família se comunicando uns com os
outros.
2. Conceito criado por Marc Prensky (Prensky, 2001). São pessoas que nasceram em ambiente permeado por
tecnologias digitais e que as utilizam como se fosse a sua primeira língua, diferentemente dos adultos que nasceram
depois de 1978 e passaram a usar tecnologia já na adolescência ou idade adulta, denominados imigrantes digitais.

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Ana Maria: Por que você gosta de usar software livre? software livre e não universo dos softwares proprietários, que são mais
Lara: Eu gosto de usar software livre porque com ele você é usados pelos usuários como o Windows e o Mac, se dá pelo fato de
livre para criar coisas novas e diferentes com o computador. eu ter entrevistado pais que seguiram carreiras tecnológicas quando
eles estavam participando de um dos principais congressos de
Ana Maria: O que você mais gosta de fazer no computador? tecnologia do Brasil - o Fórum Internacional de Software Livre – Fisl
Lara: Eu gosto de mexer com software livre. – que ocorre todo ano na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do
Sul. A tese defendida neste livro é a de que crianças que nascem em
Ana Maria:Que programas de software livre você usa? famílias em que um dos pais seguiu carreira tecnológica e que foram
Lara:De vez em quando eu mexo com jogos como Gcompris criadas num contexto rico que propicia em alguns casos o uso
e Minetest. Eu gosto de usar o Trisquel e o Freedora. criativo e talentoso das tecnologias digitais, essas crianças são criadas
de forma diferente, comparadas aos pais que não seguiram carreiras
Ana Maria:Que recado você daria para outras crianças tecnológicas ou possuem baixa escolaridade.
sobre o uso do computador? Nos primórdios da computação, o que imperava era a cultura
Lara: Eu explicaria o que é um computador para ela e de software livre pois quase ninguém se preocupava em controlar o
mostraria o que eu gosto de usar. Eu indicaria para ela usar software acesso ao sistema operacional3 das máquinas, até porque cada
livre porque com software livre a gente pode se divertir muito mais fabricante desenhava sistemas específicos para fazer seus equipamentos
com o computador do que com software privativo. funcionaram. Os sistemas desenvolvidos por um determinado
fabricante não eram compatíveis com os de outras empresas. Era
Percebe-se na fala de Lara, filha de programadores, que o uso uma época em que o foco do negócio dessas corporações se
de software livre é algo natural para ela, pois foi o que ela aprendeu a concentrava em vender máquinas e se alguém se apropriasse
usar desde muito pequena e era o que tinha disponível em casa. Ela indevidamente do código de programação de uma não havia muito
disse que gostaria de revelar esse prazer de usar tecnologias livres para problema, pois ele só poderia ser utilizado por um equipamento
outras crianças, em especial àquelas que não têm acesso ao daquela marca (LESSIG 2002).
computador e à internet. Ela defende o posicionamento de “cultura” Os computadores desenvolvidos nas décadas de sessenta e
no universo da tecnologia, em que o computador, em si, é a diversão, setenta não se comunicavam e isso era um transtorno para os
e que ter acesso ao código fonte e poder modificá-lo ou aprimorá-lo usuários. Esta foi a motivação para que se iniciassem os primeiros
é garantia de poder se divertir mais do que se fosse um software esforços no sentido de desenvolver uma linguagem única, que
privativo. Lara resolveu aprender a programar em Python para poder permitisse que diferentes computadores, com diferentes sistemas
criar uma versão em software livre do site infantil Club Penguin que operacionais, pudessem comunicar. A solução para o problema tem
ela tanto gosta, mas que só pode ser usado em computadores que início nos laboratórios da Bell, onde os pesquisadores se engajaram
utilizam software proprietário. Este ambiente virtual que Lara está no projeto de construir um sistema operacional compatível com
criando com outras amigas ela deu o nome de GNU Pet Joia. equipamentos fabricados por diferentes empresas.
O motivo de estar neste livro escrevendo sobre a filosofia do Na história da computação, o trabalho voltado para a criação
3. Sistema operacional é um programa ou um conjunto de programas cuja função é gerenciar os recursos do sistema,
fornecendo uma interface entre o computador e o usuário, e que é executado imediatamente após a máquina ser
ligada.

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de plataformas com linguagem compatível apresenta a base do façam as suas próprias opções tecnológicas quando forem adultos.
sistema operacional UNIX, que foi a base para a criação de outros No Fisl tive a oportunidade de entrevistar várias famílias que utilizam
sistemas operacionais que existem até hoje, como o Windows e o software livre. Por uma questão de ética, os nomes dos entrevistados
Macintosh. Os primeiros usuários deste sistema operacional eram as foram alterados para que eles não fossem identificados. Nota-se que
universidades e os departamentos de ciência da computação que o pensamento crítico destes pais e mães na educação dos seus filhos
utilizavam o código fonte para ensinar os alunos sobre como os no uso da tecnologia difere de outros pais que não seguiram carreiras
sistemas operacionais eram escritos. tecnológicas, tal como podemos ver no depoimento a seguir:
Ao se deparar com a tendência na década de oitenta das
empresas passarem a fechar o código fonte do sistema operacional, Ana Maria: Quando você educa seus filhos no uso das
Richard Stallman, que na época era um programador habilidoso, tecnologias digitais você procura disseminar a filosofia do software
resolveu trilhar um novo caminho e começou a querer criar o seu livre?
próprio sistema operacional e a defender um mundo com maior Pedro: Olha os valores e as filosofias do software livre, sim. Eu
liberdade digital, em que o código fonte fosse deixado em formato acho que eles têm que ter liberdade de escolha. Então, lá em casa,
livre para que outros pudessem estudar e modificá-lo, demonstrando apesar de eu ser um incentivador do software livre, eu tenho máquina
assim, sua maneira de conceber uma sociedade aberta e livre com software privado também. Eu não tenho dual boot em casa, lá
(STALLMAN, 2010; WILLIAMS, 2002). em casa eu tenho máquina que “buta” (funciona) com GNU-Linux,
Para não correr o risco do código fonte do sistema operacional eu tenho máquina que só “buta” com Windows, eu tenho um Mac
criado por ele e outros programadores do projeto GNU ser usado OS. Eu tenho toda esta variedade para que meus filhos aprendam a
por outra pessoa e depois vir a ser fechado, ele optou por entrar com mexer em diferentes softwares e em diferentes sistemas operacionais,
uma ação de direitos autorais e criou uma licença própria para os para depois poderem ter uma maior liberdade de escolha e, assim,
softwares que ele produzisse, no sentido de assegurar a que toda poderem utilizar todos os softwares que eles queiram usar e mais bem
pessoa que utilizasse o código fonte do projeto GNU que o fizesse de se adaptam. Então hoje eles usam todos os tipos de software.
forma que este pudesse permanecer livre para ser modificado por
qualquer um, criando assim a Licença para o Público em Geral, Ana Maria: Ah, que legal! Então eles não usam somente
também conhecida como General Public Licence ou GPL (LESSIG, software livre, mas utilizam todo o tipo de software e aprendem a
2008; STALLMAN, 2010). Para angariar fundos para o projeto programar?
GNU, Richard Stallman resolveu criar a Free Software Foundation, Pedro: Eu quero que eles aprendam a programar e aprendam
em 1984, e começou a receber apoio de várias outras pessoas com o a extrair o que há de bom na tecnologia que eles usam. Meus filhos
mesmo interesse e objetivo. podem aprender e querer ser no futuro um desenvolvedor da
Alguns pais que são ativistas de software livre ensinam os tecnologia. O uso de software livre é algo natural na vida de meus
filhos a programar computadores ainda em idades tenras assim que filhos. Quando meus filhos aprendem a usar a tecnologia, eles
desperta o interesse na criança e também ensinam alguns conceitos aprendem a usar qualquer tipo de tecnologia, pois eles aprenderam a
científicos de universo da tecnologia para os filhos para que eles utilizar qualquer tipo de software.

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Para alguns desses pais, o uso de software de controle de pais ocorreu
Na sua forma de educar os filhos para o uso das tecnologias apenas quando os filhos eram pequenos. À medida que as crianças
digitais Pedro aborda o conceito de liberdade no uso de software, cresceram e demonstraram comportamento responsável e ético em
pois apesar de ser um profissional que atua com software livre, ele relação às tecnologias da informação e da comunicação (TICs), os
procura não impor à força o uso de tecnologias livres para os seus pais optaram por ir dando mais liberdades, restringindo menos e
filhos, pois considera um erro que os pais impeçam os filhos de usar preferindo outros tipos de filtros de conteúdo, apenas para monitorar
uma tecnologia proprietária. Ao incentivar o uso de diferentes tipos o uso e optando por manter o diálogo sobre vida digital na família.
de tecnologia, Pedro procura mostrar aos filhos a importância de Por dominarem melhor a parte técnica, os pais do universo do
estar aberto para utilizar diferentes tipos de tecnologia, seja esta uma software livre se sentem confortáveis no uso de filtros e acham que
tecnologia livre ou proprietária, para que seus filhos possam fazer a isso auxilia no diálogo.
melhor opção de qual sistema operacional e software que quer usar e Os ativistas de software livre procuram fazer uma leitura
assim adquirir uma maior fluência tecnológica. crítica de diferentes aspectos relacionados ao universo da tecnologia.
A fluência tecnológica observada entre os profissionais de Alguns deles, inclusive, enfatizam a importância de pais e mães se
software livre e seus filhos requer que o indivíduo saiba usar familiarizarem no uso das tecnologias digitais, compreenderem as
ferramentas tecnológicas e aprenda a fazer coisas significativas com ferramentas e sites utilizados por seus filhos, além de conceitos sobre
elas. Resnick (2005) faz uma analogia entre fluência tecnológica e vida digital. Tudo isso para que seja possível compreender melhor o
fluência em uma língua estrangeira. Segundo o autor, fluência em mundo vivenciado pelas crianças e adolescentes. Segundo relato de
uma língua estrangeira é mais do que saber ler frases de um livro ou Pedro, no diálogo e no processo de educação sobre uso responsável
se virar em um aeroporto no exterior. Para ser fluente, é necessário das tecnologias da informação e da comunicação (TICs), ocorre um
saber articular ideias complexas ou ser capaz de contar uma história choque saudável de gerações, algo que ele considera enriquecedor
com início, meio e fim. Assim, podemos dizer que a fluência para o relacionamento em família.
tecnológica vai além de saber utilizar os aplicativos de computador Outra entrevistada, Magali, especialista em tecnologia
para fins de escritório. É algo que vai desde a habilidade para usar o educacional e pesquisadora piagetiana, concorda com Pedro e
computador, passando pela capacidade para aprender novidades e defende ser fundamental que os pais procurem estar à altura do seu
compartilhá-las com a comunidade ao seu redor e compreender tempo histórico e que aprendam a usar as tecnologias digitais para
conceitos relacionados às atividades tecnológicas. melhor compreender o mundo em que os seus filhos vivem. Ela
Em todas as entrevistas com pais e mães que seguiram alega que a inclusão digital dos pais faz parte do processo de
carreiras tecnológicas, seja como educadores de tecnologia orientação dos filhos e viabiliza o diálogo sobre vida digital em casa,
educacional ou como programadores, uma das características que pois não se pode falar sobre um universo que não se não conhece.
encontrei em comum é que a maioria delas procura educar os filhos Ela sugere que os pais procurem aprender com os filhos sobre como
para o uso seguro das tecnologias digitais por meio do uso de parental utilizar de uma forma mais efetiva as tecnologias digitais,
control para auxiliar no processo de diálogo sobre vida digital em casa recomendando que procurem não se sentir inferiorizados pelo fato
e para estabelecer regras sobre que sites acessar e em que horários. de os filhos saberem utilizar melhor as ferramentas tecnológicas.

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A inclusão digital da família aumenta as possibilidades de mercado. Muitos têm o costume de usar softwares de parental control
um uso saudável e responsável das tecnologias digitais pelos jovens para auxiliar no diálogo sobre vida digital em casa. Seguem abaixo
brasileiros. O aumento do poder aquisitivo dos brasileiros e a alguns trechos dessas entrevistas:
democratização do acesso aos bens tecnológicos, especialmente por
meio de dispositivos móveis, torna imprescindível que as famílias Ana Maria: Eu vi que vocês usam parental control. Quando
procurem se instruir sobre todos os tipos de tecnologia utilizada por você usa parental control você estabelece alguns limites? Tem
seus filhos. limites de horário ou podem acessar à vontade?
Observa-se que os pais que seguiram as carreiras tecnológicas Márcio: A Clara estava querendo criar um limite de horário
se sentem competentes no processo de mediação parental no uso das um dia desses.
tecnologias digitais e procuram ensinar o uso crítico da tecnologia Clara: O problema de estabelecer limites no uso do celular foi
para os seus filhos, como pode ser observado na fala da Lara, que em mais com o pai, pois ele estava almoçando e ele continuava a acessar
2015 deu sua primeira palestra científica sobre software livre no a internet pelo celular nas refeições. E aí eu disse: agora está demais!
Fórum Internacional de Software Livre - FISL. Além de possuir Aí estabeleci uma regra na casa de que haveria um horário em que
fluência tecnológica atípica para uma criança de sua idade e também não se usaria tecnologia de jeito nenhum e que todos desligariam os
ela tem o costume de participar de forma ativa na melhoria dos jogos aparelhos na hora do almoço e do jantar. Este horário seria apenas
infantis que ela utiliza, dando dicas e sugestões à equipe de para conversar. Outra regra que estabeleci foi que, na semana de
desenvolvedores. prova, minha filha de 13 anos não pode utilizar o celular. Nessas
épocas a minha filha me entrega o celular. Ela aceitou a regra numa
boa. Porque se deixar aberto, depois de estudar, ela vai querer ficar
1.2 As famílias de profissionais que não papeando com a amiga e, se deixar, a conversa vai até tarde da noite
seguiram as carreiras tecnológicas e ela não estuda para a prova da escola. Ela leva para a escola, mas
chega em casa, almoçou, pronto: ela devolve.
Márcio: Minha filha tem o computador na sua mesa de
estudos, no quarto dela. No celular, quando ela está com a amiga no
Os dilemas morais e os desafios de pais que possuem carreira WhatsApp e as mensagens não param de chegar.
Clara: Depois quando vou ver no computador o histórico das
tecnológica e que militam no universo do software livre encontram
são muito diferentes daqueles vivenciados por pessoas que não conversas, vejo que são só conversas do tipo o que vai cair na prova
seguiram as carreiras tecnológicas. Para melhor observar essas e etc.
Márcio: Ela utiliza o celular só para conversar com as amigas.
diferenças, criamos a oportunidade de entrevistar usuários ativos das
tecnologias digitais que não seguiram carreira tecnológica e Mas na época de provas, elas ficam procurando os conteúdos da
observamos que eles, na medida do possível, estão atentos às prova e é o que ela (Clara) está falando: nesses dias a gente fica atento
atividades on-line dos filhos e procuram estar a par das novidades do e está sempre checando o histórico das conversas no computador. E
aí fomos verificar e vimos que elas estavam só vendo vídeos do One

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Direction. do outro na internet, como propõe Papert em seu livro (PAPERT,
1996). No entanto, medidas restritivas tal como o uso de parental
Ana Maria: Perguntamos para a filha Marília de 13 anos: E control podem ser motivo de conflito.
como é isso para você? Você acha que eles estão te espionando o Vejamos agora um outo diálogo:
que você faz ou é algo tranquilo, que você aceita numa boa?
Marília: Eu vejo isso numa boa, pois às vezes meus pais me Ana Maria: Você usa parental control?
ajudam, eles sabem da notícia da banda que eu gosto antes de mim Karina: Sim, eu uso. Eu não sei o nome específico da
e me falam do assunto. ferramenta de parental control, mas foi um técnico de informática
Márcio: Não, o que ela perguntou é o que você acha de saber que instalou e nos ensinou a usar. Eu esqueci o nome do parental
que a gente está olhando o seu e-mail e mensagens no celular? Como control, mas a gente utiliza.
você percebe? Você vê isso como um problema? Ana Maria: Eu acho que o parental control é útil para
Marília: Não, às vezes a minha mãe até me pede o celular. Eu auxiliar no diálogo sobre vida digital em casa, mas não para
aceito. substitui-lo. Este diálogo acontece na sua casa?
Ana Maria: Então você não se incomoda? Karina: Sim, o parental control auxilia no diálogo sobre vida
Marília: Não, porque é para me proteger. digital que acontece lá em casa, pois eu sei o que eles fazem na rede.
Márcio: Eu acho que ela não se incomoda, pois, desde que
nasceu, a gente trabalha assim as regras de casa. A gente não tirou a Ana Maria: E esse diálogo é tranquilo ou ocorrem alguns
liberdade dela. momentos de turbulência, no sentido de ter uma regra não
apreciada?
Ana Maria: Na verdade, esses recursos são mais para auxiliar Karina: Eu acho que não tem grandes conflitos em casa no
no diálogo sobre vida digital em casa. uso da internet. Não chegamos em casa a ter um conflito maior com
Márcio: Sim. E esse negócio que ela falou da banda é no relação ao uso da internet. A questão não é tanto um conflito diante
sentido de ela perceber que temos de estar juntos e participando dos de algum tipo de ferramenta que eles usam. O conflito maior é em
interesses que ela tem na internet. E isto é algo que agrega a família. relação a quantidade de tempo que eles ficam on-line em casa. O
conflito aparece porque eles querem sempre usar a internet por mais
Verifica-se que esta família utiliza técnicas de mediação tempo, mas não há conflito quanto a ferramenta que eles usam em
restritiva4, e que Marília não vê tais técnicas como invasivas, mas casa.
como regra da casa, necessária para protegê-la na internet. Ela
compreende a regra como uma forma de prevenção de incidentes e Ana Maria:Quanto tempo eles estão usando a internet e o
vê como algo positivo o interesse dos pais em saber quais os sites, computador em casa?
softwares e bandas de rock preferidos por ela e seus amigos. Tais Karina: Mais ou menos uma meia hora, de segunda a sexta e
práticas alinham os usuários de tecnologia dentro da casa, onde as nos finais de semana a gente deixa eles usarem um pouco mais. A
gerações se conectam à medida que um se interessa pelas atividades gente coloca a regra de meia hora de uso em casa para depois dar
4. Termo usado para falar da mediação digital feita por meio de filtros ou softwares de controle de pais, a fim de
controlar o tempo e as atividades dos filhos na internet, auxiliando no diálogo sobre vida digital em casa.

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certa flexibilizada, mas a regra é meia hora de uso do computador vocês sabem? Outro dia a professora falou de um aplicativo de
em casa. Se tem um coleguinha no final de semana, aí eu deixo e a matemática interessante para a fase deles. Eu sou “fuxiqueira”, mas
gente renegocia e deixa usar um pouco mais. Então, a gente flexibiliza. não é uma linguagem tão fácil para mim. Eu sou “fuxiqueira...

Ana Maria: Isso é interessante porque é importante intercalar Ao analisar o trecho acima, vemos que esta mãe, psicóloga
as atividades on-line com as outras atividades presenciais, como clínica, manifesta estar sempre procurando o auxílio de terceiros
escola e esporte. para educar os seus filhos para um uso seguro, ético e responsável das
Karina: Ao mesmo tempo é um desafio para a gente. Esse tecnologias digitais. Esta atitude revela uma maternidade atenta aos
tempo, a gente fica desafiado, porque uma coisa é meia hora no desafios de como criar os filhos neste mundo cada vez mais mediado
computador, aí tem o tempo de pesquisa. Se o filho quer ficar mais e interconectado pelas tecnologias digitais. Ela faz mediação parental
tempo, ele tem que apresentar um trabalho e o porquê ele está restritiva, pois usa software de parental control para monitorar as
precisando ficar mais tempo na internet no sentido de justificar este atividades dos filhos na internet. Ela é uma mãe consciente
tempo extra. principalmente sobre a importância de se intercalar atividades
presenciais com virtuais, a fim de enfatizar a importância de se ter
Ana Maria: Você disse que você e seu marido usam as equilíbrio em tudo na vida.
tecnologias no seu dia a dia em casa. Você se sente competente no Karina busca não oferecer tecnologia em demasia, mas
uso das tecnologias digitais? No sentido de auxiliar os filhos no manter equilíbrio entre as atividades on-line e as presenciais, o que
uso das ferramentas ou será que eles usam melhor as ferramentas demonstra um senso de proteção. Não vemos na fala desta mãe a
do que vocês? prática, por vezes frequente, de usar a tecnologia como babá
Karina: Eu acho que, por enquanto, no estágio que meus eletrônica, para deixar os filhos ocupados e distraídos enquanto os
filhos estão, eles não apresentam isso como uma característica muito pais se dedicam a outras tarefas. Também é possível observar que
forte. Eu acho que a gente está num momento confortável, mas eu Karina procura se atualizar no uso das tecnologias digitais, quando
acho que, num futuro próximo, talvez isto não seja tão confortável nos referimos ao termo “fuxiqueira”, empregado por ela para
assim. Por enquanto, está equilibrado. A gente tem que estar sempre descrever seu gosto por explorar as ferramentas tecnológicas.
procurando se aperfeiçoar na ferramenta. Eu não acho que tenho Verifica-se nas duas entrevistas que existe, por parte dessas
grandes domínios, o meu domínio é bem básico da ferramenta, mas famílias, a intenção de proteger os filhos dos riscos a que estão
eu sempre estou procurando ajuda. expostos no uso das tecnologias digitais, e eles materializam essa
intenção com o uso de filtros de conteúdo, softwares de parental
Ana Maria: Esta é a outra pergunta: você procura ler control e o diálogo aberto sobre vida digital. No entanto, essa
matérias sobre vida digital em jornais ou em sites especializados realidade é muito diferente quando olhamos para famílias de baixa
ou procura auxílio da escola? renda e baixo nível de escolarização. Em muitas dessas famílias, os
Karina: Eu estou sempre ligada e lendo sobre este assunto. Eu adultos têm um nível muito baixo de letramento digital e pouco
não tenho isto tão forte, mas às vezes as pessoas perguntam: como acesso aos bens tecnológicos e quase nenhuma preocupação com a

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vida digital das crianças, pois esse lhes é um universo completamente
desconhecido. O desafio da educação digital dos filhos e pais que
não dominam ferramentas de informática é o assunto de que
trataremos a seguir.

1.3 As famílias sem fluência tecnológica

No que se refere ao processo de inclusão digital nas famílias


mais carentes, os jovens costumam ser os únicos usuários de
tecnologia em casa, já que seus pais, seja por falta de dinheiro,
interesse ou em razão das barreiras do letramento, não usam a
tecnologia no seu dia a dia. Um dos maiores fatores de risco no uso
das tecnologias digitais ocorre quando os filhos acabam aprendendo
a usar a internet sozinhos ou com a ajuda de um amigo ou colega da
escola da mesma idade, sem a mediação de um adulto que domine
os códigos de conduta e as regras de segurança.
Os educadores, nesses casos, têm um papel primordial no
processo de inclusão digital das crianças e adolescentes nos
laboratórios de informática das escolas ou por meio do uso de
laptops. Também recai nos educadores a orientação das famílias, no
sentido de dar informações sobre uso seguro e responsável da
internet, e nem sempre os educadores estão preparados para tal
função.

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Capítulo 2

A inclusão digital e os
perigos da internet

Em termos de inclusão digital de crianças e jovens, as escolas


públicas possuem desafios sérios a enfrentar, em decorrência do nível
de escolaridade dos pais dos alunos ser baixo, frequentemente menor
do que o dos filhos, e do seu menor poder aquisitivo. Nessas escolas,
e especialmente nas escolas do meio rural, um dos problemas mais
complexos é o de falar em uma linguagem de fácil compreensão para
pais cujo nível de escolarização e de letramento digital é muito baixo,
o que os impossibilita compreender os problemas do universo digital
que seus filhos enfrentam cotidianamente.
Segundo Hoepers (2008), a crescente democratização no
uso das tecnologias da informação e da comunicação (TICs) no país
aumentou a complexidade dos incidentes cibernéticos no Brasil, à

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medida que velhos golpes de internet são aplicados a novos usuários, pois em pequenos distritos as pessoas se conhecem e há menos
tornando imprescindíveis as ações de prevenção e uso seguro das anonimato na comunidade. Isto agrava muito os impactos causados
tecnologias digitais. por este tipo de violência, a que denominamos cyberbullying6 e de
A disseminação das tecnologias digitais, tanto nas escolas que trataremos com mais atenção na segunda parte deste livro.
públicas das áreas urbanas e rurais, vem aumentando os incidentes É importante que as ações de inclusão digital no Brasil não
virtuais. Os problemas são ainda maiores nas escolas situadas em se restrinjam ao aumento da infraestrutura tecnológica nas escolas
distritos rurais de menos de 2500 habitantes, em decorrência da falta ou a dar acesso a tecnologias móveis, sem levar em conta as ações de
de profissionais especializados sobre vida digital nestas localidades. prevenção aos riscos on-line e de promoção de uma cultura digital
Um dos desafios se refere à disseminação de conteúdos virtuais que valorize a ética e o uso seguro das tecnologias da informação e da
sensíveis nas escolas públicas. O mês de novembro de 2013, por comunicação (TICs). É necessário que professores e pais aprendam
exemplo, foi marcado pelo suicídio de duas adolescentes em um a lidar com os incidentes na rede mundial de computadores e que
espaço de menos de 10 dias, uma no interior do Rio Grande do Sul exista um trabalho sistemático sobre uso seguro das tecnologias
e outra no interior da Paraíba. As duas tragédias foram relacionadas digitais nas escolas, focado nas famílias e na comunidade, para que
a situações de violência virtual, decorrentes da divulgação de vídeos se aprimore o diálogo com os filhos sobre vida digital.
íntimos pelo aplicativo WhatsApp. Uma ação importante de prevenção ao cyberbullying e de
O primeiro caso ocorreu na cidade pacata de Veranópolis, promoção do uso ético e seguro das TICs são as oficinas de prevenção
no interior gaúcho. Após descobrir que fotos íntimas suas tinham criadas pela Safernet e o desenvolvimento de ações no ambiente
sido divulgadas na internet, sem o seu consentimento e também por virtual Nética, disponível em: http://new.netica.org.br/educadores.
sofrer perseguição virtual, a jovem de 16 anos ficou extremamente Outra iniciativa inovadora da Safernet é o serviço gratuito de
constrangida com a situação e, desesperada, se suicidou. O segundo psicologia de vida digital chamado help on-line, coordenado pelo
caso ocorreu no interior da Paraíba, ocasião em que uma jovem teve psicólogo Rodrigo Nejm e que acolhe incidentes cibernéticos. Assim,
um vídeo íntimo de relação sexual a três, ela, o namorado e outra as atividades de prevenção da Safernet em escolas públicas mostram
jovem, vazado no WhatsApp pelo namorado como forma de que o Ministério da Educação e algumas Secretarias Estaduais e
machismo e vingança a essa jovem pelo término do relacionamento. Municipais estão atentas a este problema social e de saúde pública.
Consequentemente, em um ato de profundo sofrimento e desespero, Ainda há muito a ser feito, principalmente nas escolas rurais,
acaba se suicidando logo em seguida. Amplamente divulgados pela onde faltam profissionais capacitados a lidar com tais problemas.
mídia, os casos revelam uma preocupação crescente dos brasileiros Nelas faltam psicólogos escolares e educadores aptos a desenvolverem
com o suicídio de jovens vitimadas pela pornografia de revanche5. ações efetivas de prevenção aos riscos on-line.
Um ponto importante é revelado por essas duas tragédias: a O projeto “Um Computador por Aluno” (UCA), do
disseminação de conteúdos sensíveis não é um fenômeno restrito a Ministério da Educação, desenvolve ações de inclusão digital que
grandes centros urbanos, como se pensava antes. Este tipo de utilizam tecnologias móveis em 300 escolas públicas urbanas e rurais
violência virtual ocorre em cidades do interior do Brasil, ambientes é inovador por trabalhar com o referencial do modelo de aprendizagem
tipicamente conservadores, com consequências ainda mais nefastas, de um computador para cada aluno e não o modelo do laboratório
5. Pornografia de revanche é quando um dos parceiros vaza uma foto íntima ou vídeo íntimo, sem consentimento do 6. “Desejo intenso de infringir danos repetitivos a partir do uso de computadores, internet, celulares e outros tipos de
parceiro, como uma forma de se vingar pelo fim do relacionamento amoroso. Isso pode acontecer tanto com mulheres dispositivos eletrônicos” (HINDUJA & PATCHIN, 2012, p.5).
como com homens, mas é mais comum na cultura machista em que vivemos que este ato seja cometido pelo homem
contra a mulher.

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de informática de poucas máquinas para muitos alunos. A ideia é expressar por meio da linguagem escrita já existente na cultura
permitir mais tempo de utilização dos equipamentos, a fim de impressa, incluindo também o uso de áudio e vídeo como forma de
desenvolver fluência tecnológica. expressão.
Uma experiência inovadora é a do projeto “Escolas Rurais Para Ataíde e Pinho (2013), o letramento é o estado ou
Conectadas” desenvolvido pela Fundação Telefônica, que trabalha condição de indivíduos ou grupos sociais de sociedades letradas que
com a metodologia da aprendizagem por projetos. Oferece internet exercem efetivamente as práticas sociais da leitura e de escrita e
de banda larga na escola do Município de Viamão, disponibilizando participam competentemente de eventos de letramento.
acesso à internet sem fio com velocidade de 54 mbps e que permite Considerando a inserção de novas práticas sociais de leitura e escrita
o acesso com laptops de baixo custo. Para saber mais sobre o projeto propiciadas pelo computador e pela internet, podemos identificar
“Escolas Rurais Conectadas”, acesse o site do projeto em: http://bit. um estado diferente daquele que conduz às práticas de leitura e
ly/1FL9ZQt. escrita já existentes na cultura impressa.
Um dos maiores desafios apresentados referente ao uso Um sujeito é considerado alfabetizado no momento em que
seguro das tecnologias digitais pelos jovens é a falta de letramento ele adquire o processo de escrita, sabendo decodificar os sinais
digital dos seus pais, o que faz com que muitas crianças e adolescentes gráficos do seu idioma. Contudo, neste estágio ele ainda não se
brasileiros aprendam a usar a internet sozinhos ou com a ajuda de apropriou completamente das habilidades de leitura e de escrita
outro jovem com idade parecida. Mas o que é letramento digital? como ocorre no letramento, pois ainda não domina as práticas
sociais da cultura letrada. O sujeito alfabetizado é aquele indivíduo
que, mesmo tendo passado pela escola, ainda lê com dificuldade, de
2.1 O letramento digital modo superficial, escreve com pouca frequência e domina gêneros
textuais de pouca complexidade.
Tal como o conceito tradicional de alfabetização, a
alfabetização digital se refere ao primeiro momento do processo de
Antes de falarmos de letramento digital, cabe explicar o inclusão digital, envolvendo navegação básica na internet, uso de
conceito mais geral de letramento, do qual deriva o letramento mecanismos de busca e aplicativos dedicados a trabalhos de escritório,
digital. Segundo Ataíde e Pinho (2013), o conceito de letramento é tais como o pacote Office ou o Open Office. Nos primeiros estágios
um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema de inclusão digital, o indivíduo ainda não faz um uso efetivo da
simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para internet e não domina as práticas sociais de sobreviver no mundo
objetivos específicos. Um indivíduo letrado é um indivíduo que digital. A maioria dos projetos de inclusão digital existentes não
utiliza a leitura e a escrita no seu cotidiano de forma efetiva, sendo contemplam letramento digital, mas apenas alfabetização digital.
este um estágio superior ao do processo de alfabetização. Com o O letramento digital envolve o domínio de habilidades de
surgimento e democratização da internet, surgiu um novo paradigma letramento e também outras competências necessárias para o
na área do letramento que chamamos de letramento digital e que indivíduo viver de forma plena e autônoma em um mundo cada vez
envolve o uso das tecnologias digitais de forma efetiva para se mais mediado e interconectado pelas tecnologias digitais. Utiliza-se

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a expressão fluência tecnológica como sinônimo de letramento fazerem isto, pois tem gente desconhecida que pede para os meus
digital. filhos aceitarem eles no seu perfil do Facebook. Eu peço para eles não
aceitarem estes pedidos de amizade e não conversem com gente que
não é conhecida na escola e na vizinhança porque a gente sabe que
2.2 Como famílias de baixo letramento digital isso é perigoso.
educam seus filhos para o uso seguro da internet
Apesar de Maria não dominar os recursos tecnológicos, ela
percebe que há perigos e reconhece que algumas práticas de prevenção
de riscos que são usadas no cotidiano presencial podem facilmente
No intuito de introduzir esta seção, transcrevo a seguir uma ser aplicadas para o cotidiano na rede. A respeito da mediação do
entrevista realizada em Brasília. A entrevistada é Maria, mãe de 5 tempo de utilização da internet, eis o que Maria nos ensina:
filhos, dois dos quais adolescentes ainda vivendo em sua casa. O
Ana Maria: Qual medida que você tomou para proibir seus
rapaz tem 18 anos e a menina 13. Maria trabalha como empregada
doméstica em uma casa e teve uma escolarização precária. O netbook filhos de brigarem por causa da internet?
utilizado por sua família foi um presente que ela ganhou da dona da
casa onde trabalha e seu acesso à internet é de banda larga. Seguem Maria: Para acabar com as brigas com relação ao tempo que cada um
abaixo alguns dos trechos da entrevista: ficava usando o computador, eu deixei de pagar a conta da internet
de banda larga. Quando eles viram que a internet de casa tinha sido
Ana Maria: Você educa seus filhos sobre o uso seguro da cortada e quiseram saber o porquê, eu disse só voltaria a pagar a
internet? internet de novo se eles respeitassem o horário de cada um para usar
Maria: Eu sempre procuro falar destas coisas de internet em
a rede. Assim, como a minha filha de 13 anos estuda no período da
casa. tarde, ela pode usar o computador na parte da manhã e como o meu
filho estuda no período da manhã, ele usa o computador no período
Ana Maria: E como é este diálogo? Que cuidados você acha da tarde quando sua irmã está na escola. Eu proibi que meu filho
que seus filhos devem ter ao acessar a internet? usasse o computador a noite, pois ele estava com dificuldades de
Maria: Eu sei que acontece muita coisa séria e estranha na
acordar no dia seguinte e perdeu algumas aulas na escola.
internet e por isso, eu peço para os meus filhos tomarem muito
Ana Maria: E depois que você deixou de pagar a conta da
cuidado ao usar a internet.
internet, o que aconteceu?
Ana Maria: Que tipo de coisa você acha perigosa na internet?
Maria: Agora eles estão respeitando mais o horário um do

Maria: Acho perigoso essa coisa de receber mensagens de


outro e não brigam mais por causa disso, pois eu falei que era muito
pessoas estranhas e que não conhece no presencial. Falo para eles não triste para mim ver eles brigando por causa do uso do computador.
Assim, quando a minha filha mais nova tem que usar o computador,

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ela pode fazer no seu horário da manhã e o mais velho no horário da idade.
tarde quando chega da escola, mas que nenhum deles pode usar a
noite. O computador de casa fica disponível na sala de estar. Eu não Ana Maria: Então é um caso de pedofilia.
deixo ficar à noite usando a internet, pois quando criança usa a Maria: “Eu tenho muito medo destas coisas de pedofilia. E
internet a noite nada se sabe. por isso converso com os meus filhos sobre o assunto. Isso que
ocorreu com essa amiga da minha filha foi um caso de pedofilia. Ela
Maria estabeleceu regras para evitar que os filhos disputassem não é da vizinhança, mas uma amiga da minha filha da escola. A mãe
tempo na internet e reestabeleceu o controle e a autoridade na casa dela estava em desespero por causa disso, pois o adulto era de São
ao deixar de pagar a conta da internet. Por mais que isso revele o seu Paulo e viajou para Brasília para conhecer a sua filha”.
desconhecimento no trato com a tecnologia, já que existem
aplicativos destinados a fazer tais controles, a estratégia funcionou Ana Maria:E que recado você daria para outros pais e mães
como uma medida restritiva. Outro ponto a ser observado no sobre a educação tecnológica dos filhos?
depoimento de Maria é o fato de ela perceber o turno da noite como Maria: O recado que eu dou é para ficar em cima e não deixar
o mais perigoso para seus filhos, o que demonstra um conhecimento eles soltos, fazendo qualquer coisa. Quando estão conversando, é
precário de como funciona a internet, em especial quanto ao preciso saber se a pessoa com quem falam na internet é conhecida ou
recebimento e envio de mensagens, cujo conteúdo é, obviamente, o se é estranha. Enfim, a gente tem que ficar sabendo mesmo disso.
mesmo, independentemente do horário em que são lidas. Percebe-se Como não sei ler, eu até peço ajuda da minha filha mais velha que
pelo depoimento que Maria está atenta às atividades dos filhos e tem 29 anos para ela ver o perfil dos meus filhos no Facebook e
opta por não deixar o filho usar a internet de noite para não ter verificar se está tudo correto lá e se eles não estão falando com
problemas para acordar cedo e ir na escola no dia seguinte. A estranhos ou fazendo coisa errada na internet. Eu sempre estou
entrevista prossegue: mandando a minha filha dar uma olhada na internet principalmente
com a minha filha caçula de 13 anos, pois ela é mulher e assim
Ana Maria: O que você acha que acontece de forma perigosa ficamos sabendo com quem ela conversa. Com o meu filho de 18
na internet? anos, eu não preciso fazer isso.
Maria: Um dia desses uma amiga da mesma idade de sua filha
conheceu um adulto que ela conversava na internet. Ela encontrou Ana Maria: Mesmo sem saber ler, você procura estar perto?
com ele e foi ao ponto de fazer o que não se devia, né?” Maria: Isto, eu procuro estar perto! Mas, mesmo quando eu
estou perto, vendo ela usar o computador, não tem muito como
Ana Maria: Você diz fazer sexo, não é? ajudar, pois eu sou analfabeta e não sei o que ela está escrevendo nas
Maria: “É”. mensagens do Facebook. É como se eu fosse cega, pois ao ver ela
digitar uma mensagem, eu não sei o que ela está falando, pois eu não
Ana Maria: E essa pessoa era adulta? Tinha que idade? sei ler. Mas, aí, eu peço ajuda para as irmãs mais velhas, peço para
Maria: Ela tinha 13 anos e o cara tinha 30 e poucos anos de elas lerem e verem isso para mim. Mas, minha filha de 13 anos é

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mais aberta e conversa comigo sobre diversas coisas. Simplesmente Ivo: Eu não sei usar. Nunca usei a internet ou o computador.
peço para ela não falar com estranhos na internet.
Ana Maria: Então, você acha que seu filho sabe mais sobre
Reconhecer-se como analfabeta não impede Maria de como usar a internet e o computador do que você?
monitorar, utilizando-se da ajuda de sua filha mais velha, as atividades Ivo: Isto, com certeza.
da filha adolescente na internet. Maria não parece se preocupar tanto
com as atividades on-line do filho de 18 anos, talvez pelo fato de ele Ana Maria: E isto é tranquilo para você?
ser maior de idade, ou porque ela acredita que, pelo fato de ele ser Ivo: É algo tranquilo. Não me preocupa não, pois meu filho
homem, ele sabe se defender sozinho e não precisa de ajuda da só faz coisas boas na internet.
família, em caso de algum incidente on-line.
Como se pode observar, mesmo em situações em que a Ana Maria: E no caso, você procura se informar nos jornais,
família não domina nem as ferramentas tecnológicas nem está revistas ou sites sobre vida digital ou junto a escola sobre como
inserida na cultura letrada, é possível desenvolver ações de supervisão educar os filhos?
e estabelecer um diálogo franco sobre vida digital dos filhos, Ivo: Não. Eu nunca li nada sobre este assunto na internet e
transplantando estratégias de prevenção do cotidiano presencial para nos jornais.
o mundo virtual, mitigando os riscos a que estão sujeitos os
adolescentes e jovens na internet. Ana Maria:Mas, você procura conversar sobre este assunto
Algumas semelhanças surgem na entrevista abaixo, com Ivo, com outras pessoas ou com os educadores da escola do seu filho?
jardineiro, que estudou até a quarta série do Ensino Fundamental e Ivo: Na escola, nas reuniões que têm com os pais, nós
é pai de um adolescente de 16 anos. conversamos sobre estes assuntos de comportamento dos filhos e
também converso sobre isso com os amigos do meu filho.
Você dialoga sobre uso seguro da internet em
Ana Maria:
casa? Como se dá isso? Ana Maria: Quando você educa o seu filho, você estabelece
Ivo: Como assim? regras no uso da internet ou do celular?
Ivo: Eu estabeleço mais limites no celular.
Ana Maria: Seriam formas de ensinar os filhos sobre como
lidar com os principais riscos na internet. Ana Maria: Como se dá isso?
Ivo: Sim, eu falo com ele sobre assuntos de pessoas oferecendo Ivo: Como eu faço isso? Controlo o quanto ele pode gastar
drogas na internet e para não andar com más companhias. Eu falo com o celular pré-pago.
com ele sobre estas coisas. O diálogo que tenho com o meu filho
sobre internet é algo tranquilo lá em casa. Mas, você não estabelece limites na quantidade
Ana Maria:
de mensagens de texto ou do tempo que ele gasta na internet no
Ana Maria: E você usa a internet em casa? celular?

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Ivo: Não, eu não estabeleço limites com relação a isto não. especialmente quando as famílias possuem escolarização precária e
não dominam as tecnologias digitais. Podemos criar um espaço na
Ana Maria: Você usa tecnologia de controle de pais? Você escola para trabalho de inclusão digital da família sobre uso seguro
sabe o que é isso? das tecnologias digitais, por meio do desenvolvimento de atividades
Ivo: Não sei o que significa isso. utilizando a abordagem dos círculos de cultura desenvolvida por
Paulo Freire. A partir do debate, os professores podem discutir os
Explicamos como funcionam os softwares de parental control principais aspectos de inclusão digital, os principais riscos on-line
e Ivo confirmou não fazer uso de tais ferramentas. O rapaz prossegue: enfrentados pelos jovens e quais dicas de uso ético e seguro das
tecnologias da informação e da comunicação (TICs), a partir da
Ivo: Eu não entendo destas coisas que você está falando, mas realidade do universo vivenciado pelos pais e seus familiares e de seus
eu tenho um amigo meu que sabe tudo sobre internet, Aí, eu peço círculos de cultura.
sua ajuda para ele ver o perfil do Facebook do meu filho, para saber
se ele não está fazendo nada de errado. Meu amigo, disse que meu
filho só escreve coisas bonitas na internet.

Ana Maria: Que recado você daria para outros pais e mães?
Ivo: O recado que eu daria é voltado para outros pais que não
sabem usar a internet para fazer o que eu faço. Se você não sabe o que
passa com o seu filho no Facebook, peça a ajuda para algum amigo ou
conhecido seu que saiba mais mexer na internet do que você.

Durante essa entrevista tive que reformular várias vezes as


perguntas, pois Ivo não compreendia o que eu queria dizer. O que
dá para perceber é que a internet é um universo totalmente
desconhecido para ele, já que ele nunca usou este tipo de tecnologia
em sua casa. Por mais que ele não compreenda os riscos a que seu
filho está exposto, ao pedir a ajuda de um amigo Ivo revela
preocupação em observar o perfil do adolescente no Facebook. Talvez
o monitoramento não seja muito eficaz, mas demonstra algum
cuidado do pai com relação a educação do filho.
Essas entrevistas dão algumas pistas dos principais desafios
nas escolas públicas urbanas referentes a educação das crianças e
adolescentes para o uso ético e seguro das tecnologias digitais,

62 63
Capítulo 3

Riscos on-line enfrentados


pelos jovens

Nesta seção trataremos dos principais riscos on-line


enfrentados pelos jovens e as boas práticas para prevenir tais riscos,
bem como serão abordadas diferentes maneiras de práticas violentas
intermediadas por tecnologia, tais como bullying, sexting, pornografia
de revanche, entre outras.
Acreditamos, com esse trabalho, estar alertando as famílias
para tais perigos e contribuindo para formar jovens com mais
responsabilidade social no que concerne à comunicação mediada
por tecnologia.

64 65
3.1 Agressão na rede: bullying Patchin, 2006). Na prática de cyberbullying estão incluídos os
seguintes elementos: desejo intenso de ferir o outro, o comportamento
é premeditado e intencional, não acidental, e tal como no presencial,
o bullying virtual configura um padrão de comportamento repetitivo
A palavra bullying, de origem inglesa, implica o desejo e não apenas um incidente isolado.
consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocá-la sob Identifica-se oito tipos de cyberbullying: provocação
tensão. É um termo usado para descrever comportamentos agressivos incendiária, que são discussões que se iniciam on-line e se propagam
e antissociais ou um conjunto de agressões, intencionais e repetitivas, de forma rápida por meio de linguagem vulgar e ofensiva; assédio,
sem causa aparente, adotado por um ou mais indivíduos. Em relação caracterizado pelo envio de mensagens ofensivas, com o objetivo de
à escola, é a agressão gerada a um estudante e que provoca dor, insultar a vítima; difamação: disseminação de fofocas e calunias na
angustia, sofrimento, depressão e desequilíbrio de poder em outro internet, visando causar danos à reputação de uma pessoa; roubo de
aluno (ALBUQUERQUE-LIMA, 2011). identidade, que ocorre quando uma pessoa se faz passar por outra na
Assim, as práticas de bullying, virtual ou presencial, apenas internet, utilizando contas de e-mail ou de mensagens instantâneas
ocorrem quando a vítima não consegue se defender facilmente por para enviar falsas mensagens no intuito de constranger e humilhar a
ter menor força física ou por ser representante de alguma minoria pessoa que teve os dados roubados; violação da intimidade, que
(étnica, racial ou de orientação sexual, entre outras), existindo, ocorre quando há divulgação de segredos ou imagens
portanto, um desequilíbrio de poder entre ambas as partes. Portanto, comprometedoras de alguém; exclusão de uma comunidade virtual;
quando a vítima consegue se defender ou quando a agressão é apenas ameaça cibernética, que é o envio repetitivo de mensagens
pontual, não representando um padrão de comportamento agressivo ameaçadoras ou intimidadoras e o happy slapping, a interface mais
com mais de três agressões vivenciadas, não podemos denominar nítida entre o bullying presencial e o virtual. Este tipo de violência é
esta agressão como sendo bullying. a divulgação de vídeos mostrando cenas de agressão física em que
Observa-se alguns tipos diferentes de bullying, a depender de uma vítima é escolhida, aleatoriamente ou não, para ser agredida na
como se estabelecem as agressões. Há formas de bullying que se rua e a violência infringida é gravada ou filmada para ser postada em
realizam por meio da palavra, com afrontas, ofensas, difamação, sites como You Tube ou o Google Vídeos. A intenção desta prática é
colocar apelidos depreciativos ou fazer piadas ofensivas. Há também intensificar e prolongar a humilhação da pessoa agredida. Ainda não
agressões sociais e psicológicas, tais como excluir alguém do grupo, há tradução deste termo para o português (ALBUQUERQUE-
desprezar, disseminar fofocas, discriminar, menosprezar ou perseguir LIMA, 2011).
alguém. Por fim, há o bullying físico, que é a agressão física É comum que crianças e adolescentes não contem para os
propriamente dita, como chutes, socos, empurrões, espancamento, pais que estão sofrendo agressões. No bullying virtual, isso se dá por
roubo de objetos da vítima, entre outras. diversas razões: tem medo ficar de castigo, sem usar o computador,
Quando tais ações de comportamento agressivo recorrente ou de piorar a situação, causando represálias dos agressores. Nas
se desenrolam por meio de diferentes tecnologias digitais e situações presenciais as vítimas se sentem igualmente impotentes,
dispositivos móveis, dá-se o nome de cyberbullying (Hinduja & envergonhadas e, muitas vezes, culpadas pela própria agressão, por

66 67
serem fracas. Acham que ninguém poderá ajuda-las e que o bullying O debate se acentuou depois do pior massacre escolar na história
seria uma espécie de rito de passagem, um treino de fortalecimento brasileira - o Massacre de Realengo - ocorrido em 7 de abril de 2011,
e preparação para a vida adulta. na cidade do Rio de Janeiro.
É importante, portanto, que as famílias e os profissionais da O atirador responsável pelo massacre, Wellington Menezes,
educação aprendam a ler os sinais emocionais emitidos por uma de 23 anos, foi vítima de bullying na Escola Municipal Tasso da
criança ou adolescente que sofra de bullying, virtual ou presencial, Silveira, onde estudou quando adolescente, tendo desenvolvido um
para que os adultos possam intervir antes do adoecimento emocional grave quadro de adoecimento emocional, possivelmente agravado
da vítima. por uma predisposição genética para doenças psiquiátricas, presentes
No que concerne às agressões presenciais, os sinais emocionais no histórico familiar do rapaz. Para executar o plano, o ex-aluno se
de uma criança agredida podem ser os que estão listados abaixo, mas aproveitou de um evento aberto a visitantes para entrar na escola e
não se restringem a eles: atirou contra crianças e adolescentes, matando, com mais de 30 tiros
• Desinteresse pela escola e pelas atividades relacionadas a ela. de calibre 32 e 38, dez meninas e dois meninos com idades entre 12
• Queda do desempenho; e 16 anos, até ser alvejado por um policial e cometer suicídio.
• Mudanças súbitas de humor; Até esse evento, costumava-se afirmar que massacres
• Roupas rasgadas ou material escolar danificado; escolares, muito frequentes especialmente nos Estados Unidos, país
• Retração e segredos sobre as atividades escolares do cotidiano; em que as armas são comercializadas livremente, não eram uma
• Arranhões, machucados; realidade no Brasil. Ao que parece, Wellington Menezes de Oliveira
• Dores de estômago e dores de cabeça; se inspirou no massacre de Virgínia Tech, o pior massacre escolar do
• Ataques de pânico, insônia e exaustão durante o dia. mundo, com uma lista de 33 mortos, incluindo o atirador, e 21
feridos.
Observa-se, também, como possíveis indícios de bullying a No intuito de apagar evidências, Wellington ateou fogo à
fome excessiva depois da aula, pois a criança pode estar sendo forçada própria casa antes de sair para o massacre. No entanto, a Polícia
a dar o dinheiro do lanche para o agressor. Também tem sido Federal conseguiu recuperar dados do computador queimado que
reportado casos de pequenos roubos de dinheiro em casa, a fim de reforçam a tese de que a intenção do jovem era se vingar do bullying
pagar para não ser agredido. sofrido na escola, ainda que se fale também de misoginia, já que as
Nos casos de cyberbullying, as vítimas costumam apresentar meninas parecem ter sido o alvo preferencial.
sinais de perturbação ou de ansiedade após o uso da internet, Entre documentos de texto e vídeos recuperados pela PF,
autoestima baixa, oscilações súbitas de humor e isolam-se da família encontram-se declarações tais como:
e dos amigos. “A luta pela qual muitos irmãos no passado morreram, e eu
Percebe-se, nos últimos anos, um intenso debate dentro da morrerei, não é exclusivamente pelo que é conhecido como bullying. A
sociedade brasileira sobre o fenômeno do bullying, e esse fenômeno nossa luta é contra pessoas cruéis, covardes, que se aproveitam da
causou confusão entre o conceito de que estamos tratando e outros bondade, da inocência, da fraqueza de pessoas incapazes de se
tipos de violência e crime, tais como homofobia, xenofobia e racismo. defenderem”.

68 69
“A maioria das pessoas que me desrespeitam, acham que eu sou pública em nosso país, que começa nos últimos anos a seguir uma
um idiota, que se aproveitam de minha bondade, me julgam tendência internacional de considerá-lo como uma epidemia. Em
antecipadamente (...). Uma ação fará pelos seus semelhantes que são ambiente presencial, ele transforma a escola em um local inóspito e
humilhados, agredidos, desrespeitados em vários locais, como escolas e pouco propício ao desenvolvimento de uma boa aprendizagem.
colégios”. Ainda que deva ser tratado como caso de justiça, é importante evitar
Alguns desses materiais, que deveriam ficar restritos ao o excesso de judicialização do bullying, especialmente como primeiro
âmbito policial e jurídico, vazaram na internet, demonstrando um recurso. Em um primeiro momento, tentar outras formas de
grave problema de custódia, por parte da PF. Especialistas em reconciliação e mediação do conflito é prudente, levando o caso à
bullying também divulgaram esses materiais em seus respectivos sites, Justiça apenas quando outras tentativas de solucionar o problema
configurando uma grave falta de ética profissional. Isso porque o não tiverem bom resultado.
conteúdo veiculado nas mensagens de Wellington, vestido como O posicionamento adequado da família de um jovem que
muçulmano, de barba longa e com a fala repleta de referências está sendo agredido é, em primeiro lugar, acreditar nele, apoiá-lo,
confusas sobre religião e vingança são extremamente nocivas para a ficar ao seu lado a todo momento, reforçando que há soluções para
sociedade, pois são mensagens wacko7. Tais vídeos servem como o problema. O jovem jamais deve ser responsabilizado por ser vítima
elemento inspirador para que outras pessoas igualmente adoecidas, de pessoas agressivas. Informe a escola imediatamente, em busca de
considerando o agressor como um herói, se motivem a realizar algo ajuda dos profissionais que estão inseridos no ambiente escolar.
parecido e, assim, perpetuar o ciclo da violência. Por mais que vídeos Nunca minimize o problema nem busque soluções intempestivas,
como o de Wellington Menezes auxiliem especialistas em violência como justiça com as próprias mãos, tampouco incentive o jovem a
escolar a compreender o problema, é importante que estes conteúdos fazer isso, pois os resultados podem ser muito desastrosos. Caso não
digitais não sejam postados em sites especializados em bullying. seja possível evitar confronto com a família do agressor, procure ter
Após esse episódio, a TV Justiça, a TV Câmara e a TV testemunhas, a fim de se resguardar judicialmente, caso a situação se
Senado começaram a fazer um excelente trabalho de conscientização agrave.
sobre o problema do bullying, relatando de forma crítica e ética Há verdades incômodas que precisam ser ditas. Uma delas é
diferentes decisões judiciais em diferentes locais do país. O que se que nas situações de violência presencial ou virtual que denominamos
percebe é que o bullying, por ser algo que dá Ibope e aumenta a bullying não existe apenas o lado agredido. Há também o agressor, e
venda de jornais e revistas, motiva a mídia sensacionalista a fazer este indivíduo pode ser o seu filho.
reportagens sobre o assunto apenas para aumentar a audiência e não Assim como as vítimas, agressores também apresentam sinais
para fazer um debate sério sobre este fenômeno na sociedade emocionais de que algo não vai bem em sua vida. Têm sido
brasileira. Esse tipo de abordagem da mídia é um desserviço à encontrados nos agressores de cyberbullying algumas características e
sociedade, pois inclui erroneamente no conceito de bullying outros sintomas em comum, tais como:
tipos de crime e violência, tais como brigas pontuais, desavenças,
ajustes de contas, assédio sexual, entre outras. • Desrespeito à hierarquia familiar;
O bullying tem se tornado um grave problema de saúde • Manipulação de pessoas no intuito de se livrar dos problemas
7. Mensagem wacko é uma “mensagem louca”, ou “mensagem de louco”.

70 71
que arranjam; também se interessar em saber um pouco sobre com quem seus filhos
• Comportamento cínico e arrogante, como se nada estivesse estão se comunicando e que os pais sejam coerentes e eduquem pelo
acontecendo; exemplo.
• Mudança rápida de tela quando alguém se aproxima do
computador; 3.1.1 Dicas de enfrentamento e de como
• Utilização de múltiplas contas de internet; os jovens e os seus pais podem reportar
• Risadas excessivas quando usam o computador, sem querer
compartilhar o motivo do humor;
os casos de bullying na escola
• Mostrar-se defensivo quando perguntado sobre suas práticas
on-line;
• Apresentar comportamentos hostis e agressivos em relação
• Marque um encontro entre você e seu filho com a pessoa
aos pais e a outros familiares;
apropriada na escola para tratar do problema.
• Apresentar consumo abusivo de álcool e cigarros e outros
• Traga ao encontro os fatos escritos com data, tempo, lugar,
vícios.
crianças envolvidas e mais algumas especificidades dos

incidentes de bullying e o impacto que isso está gerando no
É muito importante que os pais estejam sempre atentos. Caso seja
seu filho.
necessário, procurem ajuda profissional de um especialista em saúde
• Trabalhe na elaboração de um plano de como evitar novas
mental como, por exemplo, um psicólogo ou um psiquiatra para
situações de bullying com o seu filho na escola.
tratar o problema com ajuda terapêutica. Quando o padrão de
• Procure saber o que está sendo feito com o agressor e o que a
comportamento violento do agressor não é trabalhado, ou quando
escola deve esperar acerca de como os pais do agressor devem
não há imposição de limites, problemas mais sérios na vida adulta
agir.
podem também acontecer, podendo fazer com que na juventude e
• Se você sentir que o problema não está sendo bem abordado
idade adulta o agressor venha a ter problemas com a Justiça.
pela escola, você pode levar o caso para outras instâncias do
Um dos fatores-chave para a prevenção ao cyberbullying em
distrito de sua escola ou inclusive chamar a polícia.
casa, tanto com relação às vítimas quanto aos agressores, está na
importância de haver um diálogo franco e aberto entre pais e filhos
Já nos casos de cyberbullying, são feitos outros procedimentos, tais
sobre vida on-line. Por mais que muitos pais se sintam intimidados
como veremos a seguir:
pelo fato de seus filhos saberem muito mais sobre ciberespaço que
eles, é importante ressaltar que muitas das regras que visam proteger
os seus filhos em ambientes presenciais servem também para os
ambientes virtuais. Por exemplo, orientações como: “todo cuidado é
pouco ao falar com estranhos”, “tratar bem as pessoas”, “não aceitem
convites de pessoas estranhas”, são sempre benvindas. É importante

72 73
3.1.2 Dicas de enfrentamento para jovens com o agressor e caso isso ocorra numa sala de chat, saia dela
com relação às práticas de cyberbullying imediatamente.
• Procure ter atitudes civilizadas, pois você estará fazendo um
favor a si mesmo, pois isto pode ajudar a terminar com o
ciclo da agressão.
• Nunca responda, pois quando a pessoa reage, acaba atendendo • Não se torne um agressor que pratica cyberbullying, pois esta
ao objetivo do agressor que é o de incomodar e ferir, o que ação pode reverter contra você mesmo e deve ser evitada.
faz com que tais ações se tornem cada vez mais frequentes. • Seja amigo, ou seja, sensível a quem foi agredido e procure
• Não faça nenhuma retaliação, para não reforçar o evitar ser parte da plateia, pois mandar forward de mensagens
comportamento do agressor e também não alimentar o ciclo agressivas pode dar mais poder ao agressor e machucar ainda
de agressão. mais a vítima. Se você puder, procure pedir para o agressor
• Fale sobre o problema com um adulto da sua confiança, parar, pois esta não é uma atitude adequada com o próximo.
como pais e educadores da escola que você frequenta. É Se você não conseguir convencer o agressor a parar com a
sempre bom contar com o apoio dos pais para tentar resolver violência, você pode ajudar a vítima, auxiliando-a a explicar
este tipo de problema, mas quando isso não é possível, pode o que está acontecendo a um adulto responsável.
procurar um professor ou o psicólogo da escola. Se isto lhe • Procure ajuda profissional especializada. Se necessário,
deixa muito aflito e nervoso, procure reportar o incidente de procure ajuda de profissionais de instituições especializadas
forma anônima na escola ou, então, converse com especialistas em combater o cyberbullying, tais como: a Safernet, o CERT.
de instituições como a Safernet, que poderá lhe dar dicas para br ou um psicólogo, ou um psiquiatra, ou um advogado de
resolver o problema. Para denunciar causas de cyberbullying direito em informática.
para a Safernet, acesse o canal Help On-line. Neste canal de
prevenção, os psicólogos da Safernet orientam crianças,
adolescentes e adultos sobre como proceder em situações de 3.1.3 Algumas reflexões sobre
cyberbullying, sexting e outros incidentes. Este serviço pode violência virtual e presencial
ser acessado em: http://bit.ly/1svJ8RI.
• Procure sempre salvar as evidências. Devido ao fato do
cyberbullying ocorrer no ciberespaço, as ações do agressor
podem ser registradas e salvas para serem mostradas para 3.1.3.1 Bullying e cyberbullying
uma pessoa de confiança que possa ajudar. Sem contar que
salvar as evidências é fundamental, caso a vítima queira
buscar apoio na Justiça.
• Bloqueie o agressor. Procure bloquear todas as comunicações A tendência mais atual entre os pesquisadores é não
diferenciar bullying de cyberbullying. A pesquisadora americana

74 75
Danah Boyd, por exemplo, recomenda utilizar o termo bullying para 3.1.3.3 Dizer “não”
a vida virtual e para a presencial, pois é frequente que o comportamento ao ódio virtual?
de risco apresentado no mundo presencial também se estenda ao
mundo virtual e vice-versa. Martha Gabriel, especialista em
tecnologia, critica a diferenciação entre mundo presencial e virtual,
enfatizando o conceito de cibridismo para explicar que não há dois Por mais que possa parecer difícil resistir à tentação, parece
mundos distintos, um on-line e outro offline. Existem, segundo a que a melhor resposta para repudiar o ódio virtual é a não-resposta.
autora, realidades mistas ampliadas, onde o digital só amplifica e Uma matéria da Revista InfoExame publicada em maio de 2013
repercute o que ocorre no presencial havendo uma integração trouxe entrevistas com algumas celebridades da internet e da TV
constante entre on e off. De acordo com Beiguelman (2011), o Brasileira. Os entrevistados relatam que é melhor não fomentar a
fenômeno do cibridismo refere-se à experiência contemporânea de agressão com respostas e tentar levar as formas de agressão com uma
estar entre redes, transitando entre o on-line e o offline. certa dose de humor. Existem algumas ferramentas de TI que
detectam ofensas on-line, mas não em língua portuguesa. Algumas
redes sociais, como o Facebook, possuem canais de denúncia de
3.1.3.2 Sobre a prevenção conduta imprópria e um canal específico para reportar casos de
do bullying escolar bullying ocorridos no site. Também é possível denunciar e retirar do
ar vídeos do Youtube que tratem de ódio virtual. A Safernet,
importante organização não governamental brasileira que defende
os direitos humanos na internet, oferece serviços de orientação
Em decorrência do clima hostil, vítimas e agressores lidam psicológica para lidar com incidentes na internet, chama-se Help
com sérios desafios educacionais, sociais e psicológicos. Por isso, os Online. Neste canal, os psicólogos da Safernet orientam crianças,
programas de prevenção ao bullying devem contemplar o assunto adolescentes e adultos sobre como proceder em situações de violência
como seriedade, ao invés de encarar essa tal de violência como algo virtual.
que faz parte da vida e do crescimento do indivíduo, como rito de
iniciação ou como um tipo de “desafio” que precisa ser superados
pelo jovem, para que ele demonstre resiliência diante da 3.1.3.4 Bullying, obesidade
dificuldade. Palfrey e Boyd enfatizam que os bullies8 não devem e homofobia
ser considerados a única fonte do problema, e sim uma parte de
problema maior, sistêmico. Deve-se mencionar, também, que as
práticas de tolerância zero utilizadas em algumas escolas para
combater o bullying é ineficaz e causa outros tipos de problemas. No Brasil, existem sérios casos de bullying contra obesos,
homossexuais e filhos de famílias homoafetivas. Em uma sociedade

8. Termo em inglês para se referir ao agressor.

76 77
que valoriza a magreza, cultua a aparência física e é intolerante com 3.2 Sexo na rede
as diferenças, as pessoas com alguns quilinhos a mais são um alvo
fácil de agressões.
Um caso que vale a pena relatar é o que motivou criação da
primeira lei estadual de combate ao bullying, no Rio Grande do Sul, Há diversos tipos de práticas de sexo mediadas pela
em 2010. Em uma escola pública de Porto Alegre, um aluno obeso tecnologia, desde o compartilhamento de imagens íntimas até
chamado Matheus Dalvitt, de aproximadamente 2 metros de altura transmissões ao vivo, e muitas delas, por deixarem rastro no mundo
e pesando cerca de 150 quilos, sofreu bullying por vários anos até que virtual, podem ser utilizadas por pessoas mal-intencionadas, a fim de
um dia reagiu, dando uma surra em um dos agressores. Como um causar danos aos envolvidos. Trataremos aqui de algumas dessas
ato de vingança, um dos jovens agressores matou Matheus com um práticas e dos potenciais perigos de praticar sexo na rede.
tiro. O caso de Matheus causou grande comoção pública.
Tal como as pessoas obesas, homossexuais e membros de
famílias homoafetivas também começam a sofrer bullying muito 3.2.1 Sexting
cedo, o que demanda programas de prevenção que valorizem a
diversidade, a fim de evitar sofrimento e adoecimento emocional
dessas pessoas. A negligência em tratar desses temas e combater a
discriminação pode ter consequências terríveis, como vemos quase O sexting é uma palavra da língua inglesa baseada na junção
todos os dias nas páginas policiais: jovens assassinados em razão de das palavras sex (sexo) e texting (envio de mensagens de texto), que
sua orientação sexual. Esses crimes, motivados pela homofobia9, em uma tradução literal significa “sexo por mensagens de texto”
poderiam ser evitados por meio de práticas eficientes de prevenção e (MACHADO & PEREIRA, 2013, p. 1).
combate à violência sistemática imposta aos homossexuais. A prática de compartilhar mensagens com conteúdo sexual
Além dos homossexuais, pessoas oriundas de famílias não é uma novidade na história da nossa sociedade. No entanto, a
homoafetivas também sofrem perseguição no ambiente escolar. De disseminação crescente das tecnologias digitais serviu para intensificá-
maneira geral, as escolas não estão preparadas para lidar com la, tanto pela disponibilidade de meios de transmissão, especialmente
diversidade. No caso das famílias homoafetivas, a situação ainda é por meio dos dispositivos móveis, que contam com poderosas
um pouco pior, pois há múltiplos fatores que promovem a câmeras fotográficas e de vídeo em alta definição, como pela
discriminação: serem filhos de dois homens ou duas mulheres, ou de existência de tecnologias como o Google Glass.
serem crianças adotadas, ou, se geradas por meio de inseminação Segundo Gordon-Messer, Bauermeister. Grodzinski e
artificial, serem “feitos no laboratório”. Não raro, famílias Zimmerman (2012), as práticas de sexting entre jovens e adultos
homoafetivas com filhos adotados configuram um núcleo familiar pode ser dividida nas seguintes categorias:
multirracial, o que também os torna alvo de violências. É importante
que a escola tome consciência do seu papel em trabalhar a diversidade • Pessoas que recebem, mas não enviam mensagens de sexting;
a fim de promover uma cultura de paz e respeito entre as pessoas. • Pessoas que não recebem, mas enviam mensagens de sexting;
9. A palavra “homofobia vem de (homo, pseudo prefixo de homossexual fobia do grego "medo", "aversão
irreprimível") e reflete em uma série de atitudes e sentimentos negativos em relação a pessoas homossexuais,
bissexuais, transgêneros e pessoas intersexuais (Wikipedia, (2015).

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• Pessoas que recebem e que enviam mensagens de sexting. 3.2.1.2 Sexting: o que é
e o que não é
É necessário que os jovens e seus familiares estejam cientes
dos riscos das práticas de sexting. Em minhas oficinas de prevenção a
riscos on-line, costumo conscientizar os jovens sobre os problemas
que tais práticas podem causar, como invasão de privacidade, que Segundo Machado e Pereira (2013), para que um conteúdo
podem durar a vida inteira, e situações violentas decorrentes da digital seja considerado sexting, a imagem deve ser produzida de
exposição sexual na rede. Alguns aplicativos que viabilizam o sexo forma autônoma e com o consentimento de quem está nela. Ou seja,
virtual prometem um certo grau de privacidade, mas não cumprem. imagens produzidas com fins comerciais e imagens produzidas por
O Snapchat, por exemplo, foi considerado o ambiente virtual que terceiros (paparazzi) não se encaixam nesta definição. Nem todas as
mais viola a privacidade dos internautas no mundo. imagens de pessoas famosas que são divulgadas na internet são
Os jovens nativos digitais usam tanto a tecnologia no seu originadas pelas práticas de sexting. Algumas são imagens produzidas
cotidiano que parece um passo natural para eles a exploração do com fins lucrativos, como divulgação de trabalhos artísticos ou
corpo e da sexualidade usando a tecnologia, seja como flerte, sedução, editorias de moda. Outras foram produzidas sem o consentimento
piada ou para dar uma apimentada na relação, no caso dos casais. No de quem está nelas, configurando invasão de privacidade.
entanto, sugerimos que os jovens não pratiquem sexting, mesmo que O termo sexting é desconhecido por 76% dos entrevistados
se tenha confiança no parceiro. em uma pesquisa sobre esta temática no Brasil. Seguida de uma
Existem algumas comunidades virtuais que são amostra de 65% das pessoas que disseram praticar sexting sem
particularmente problemáticas e deveriam ser foco de ações de conhecer o termo, tal como ocorreu com a pessoa por mim
redução de danos, como o Cam4, onde pessoas aparecem nuas na entrevistada. Cerca de 90% dos entrevistados acham importante que
frente da webcam e registram pela câmera do computador ou do as escolas desenvolvam programas de prevenção ao sexting, segundo
celular o ato sexual ou masturbação, como convite ao cibersexo. Um pesquisa realizada pela eCGlobal Solutions, ExMetriz, Telas Amigas
homem que entrevistei disse ter o costume de usar o Cam4 para & CLIPS (2012). Ainda de acordo com os dados desta pesquisa, um
gravar cenas de sexo com o seu companheiro, e comentou ter ficado número maior de homens afirma ter mais problemas com sexting do
assustado pois alguns dias depois de fazer uma gravação recebeu uma que as mulheres, sendo que 49% dos homens que mandaram
mensagem de um internauta que o identificou. Apesar de ser um material próprio com nudez não se sentem completamente seguros.
praticante de sexting assíduo e experiente, ele não tinha experiência Por outro lado, esta mesma pesquisa mostra que as mulheres
no uso da tecnologia e não sabia que suas cenas ficavam registradas brasileiras são mais cuidadosas que os homens ao escolher para quem
na internet para qualquer um olhar. enviam fotos e vídeos com nudez própria.
Segundo dados da pesquisa citada acima, realizada no Brasil,
um total de 27% dos entrevistados afirmou possuir fotos ou vídeos
pessoais envolvendo nudez própria e 44% dos homens praticaram

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sexting enviando mensagens de texto, fotos e vídeos eróticos, contra CLIPS, 2012). Percebe-se que a questão do problema do
33% das mulheres que afirmaram também enviar mensagens de exibicionismo tem a ver com a existência de uma cultura
nudez própria. hipersexualizada no Brasil. Aparentemente também existe alguma
Os principais motivos alegados pelos praticantes de sexting correlação entre o abuso de substâncias entorpecentes (álcool e
são: a) uma forma sexy de presentear o namorado ou namorada drogas, lícitas e ilícitas) e desinibição para o sexo, seja presencial ou
(47%); resposta a uma mensagem de sexting recebida (37%); paquera virtual.
(32%). Um total de 34% disse que enviaram mensagens de nudez de Os dados apontam para a importância de se trabalhar a
outras pessoas como parte de uma piada, não levando a sério as questão das práticas de sexting nas oficinas de promoção do sexo
consequências danosas que este tipo de ato pode gerar em terceiros. seguro desenvolvidas em projetos de redução de danos e de prevenção
Entre os homens que declaram praticar sexting, 53% afirma da Aids entre jovens e adultos, em decorrência do aumento das taxas
enviar tais mensagens para o namorado ou namorada e 48% deles de disseminação do HIV/Aids entre adolescentes e jovens adultos no
afirmam mandar mensagens com conteúdo sexual para amizades Brasil. Diferentemente da minha geração, a geração atual não viu
íntimas. Esses percentuais para as mulheres são 63% e 29%, celebridades que morreram de Aids como Cazuza, Renato Russo e
respectivamente. Lauro Corona, dentre outros artistas da mídia brasileira e isso fez
Outros 48% dos homens, comparado com 29% das com que muitos banalizassem o grave e complexo problema da
mulheres, enviam este tipo de mensagem para amigos íntimos. Um disseminação do HIV entre os jovens brasileiros, em especial, os das
percentual de 31% dos homens afirma enviar mensagens de sexting camadas mais pobres da população e com menor escolarização.
para pessoas que gostam contra 17% das mulheres que afirmam
fazer o mesmo.
Uma prática de risco ainda é mais evidenciada quando 27% 3.2.1.3 Aprendendo a lidar com
dos homens afirmam praticar sexting com pessoas que eles só sexting de seus filhos
conheceram na internet e 17% das mulheres que afirmam fazer o
mesmo. Neste aspecto, configura-se o que os especialistas chamam
de sexo sem compromisso na internet, que pode gerar sérios
problemas de privacidade na rede mundial de computadores e que Segundo Kiesbie (2011), muitos pais expressam preocupação
também é praticado por jovens com desconhecidos em sites como o com o fato de seus filhos visualizarem ou procurarem por sites
Omegle. Este site que por meio do uso de webcam oferece conversas pornográficos. Mesmo que os pais bloqueiem os computadores para
com estranhos na internet sem estabelecer um limite de idade. pornografia on-line, os adolescentes frequentemente encontram
Ainda, de acordo com essa pesquisa, o motivo principal maneiras de ver sites pornográficos. Os dispositivos móveis fizeram
alegado por 65% da amostra se dá em decorrência do exibicionismo, com que o acesso a internet ficasse ainda mais fácil e trouxeram
seguido de 51% como sendo parte do jogo erótico ou do namoro e dificuldades para o monitoramento das atividades on-line. Os pais
26% em decorrência do consumo de álcool e outras drogas lidam com o dilema de invadir a privacidade de seus filhos ou deixá-
(ECGLOBAL SOLUTIONS, EXMETRIZ, TELAS AMIGAS &

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los soltos para entrar em contato com filmes ou vídeos pornográficos. exibicionismo, mas por esse rótulo queremos nos referir a eventos de
As práticas de sexting trouxeram à tona um novo desafio, exibição programada com ou sem o intuito de expressar sexualidade,
pois além de consumirem pornografia on-line, os jovens também tais como o Lingerie Day, criado em 2009, pelo empresário Fábio
estão produzindo e transmitindo conteúdos relacionados a sexo. Rodrigues e pelo advogado Fernando Gravata, como uma brincadeira
Segundo Lemos (2012), por mais que errar seja algo humano, entre os dois colegas e que repercutiu no Twitter e em alguns blogs
esquecer também o é. Um dos problemas da internet é que as pessoas do país. O evento consiste em publicar nas redes sociais Twitter fotos
esquecem, mas a internet não. Muitas vezes é impossível apagar próprias vestindo roupas íntimas, com ou sem exposição de partes
completamente um material indesejado. É comum, às vezes, as íntimas do corpo.
pessoas se irritarem sobre algo que é escrito sobre elas, ou com uma Machado e Pereira (2013) citam o caso da internauta Ana
foto ou vídeo que é postado na rede sem a sua permissão, algo que Carolina Rocha, famosa na web como @tchulimtchulim, que postou
preferíamos que fosse esquecido ou deletado. Isso é ainda mais fotos próprias no Lingerie Day como forma de vingança contra o ex-
complicado para crianças e adolescentes que estão crescendo na rede namorado e acabou ganhando o campeonato de 2010 e um ensaio
e que se encontram em um processo de formação. na revista VIP, tornando-se uma celebridade da internet.
Segundo Lemos (2012), a situação pode se tornar ainda mais É importante enfatizar que nem todos os indivíduos se
grave com as práticas de sexting, pois retirar fotos postadas na rede de sentem confortáveis com este excesso de exposição pública da
forma pública é um longo e difícil processo. O autor menciona que sexualidade, da intimidade e da vida privada, mas muitos desejam
os jovens já estão começando a perceber os riscos da exposição tão fortemente virar celebridade instantânea na web que não medem
excessiva na rede e estão criando estratégias para lidar com o esforços, expondo sua privacidade em imagens ou vídeos íntimos.
problema, tais como utilizar apelidos diferentes para a vida on-line, Os autores mencionam o termo “olimpianos”, criado por Edgar
um apelido diferente para cada ambiente, o que dificulta o Morin para falar da magia que muitas pessoas sentem pelo universo
rastreamento de sua identidade. Começam a surgir em tribunais de das revistas e canais de fofocas, e do culto às celebridades, comparando
todo mundo a defesa do “direito ao esquecimento”, com propostas tal fenômeno à mitologia grega: os deuses do Olimpo.
de leis, como na França, que permitem que qualquer internauta Morin afirma que as celebridades da mídia possuem uma
possa pedir o apagamento de informações antigas sobre ele a fim de vida “ordinária” como as pessoas comuns, mas ressalta que algumas
defender sua privacidade. dessas celebridades podem vir a se tornar modelos de comportamento
para pessoas consideradas comuns, em especial os jovens. Quando
tais celebridades possuem um estilo de vida saudável, não parece
3.2.2 Exibicionismo na rede causar maiores danos, mas em casos como o da cantora e compositora
inglesa Amy Whinehouse, cuja curta vida foi permeada de escândalos
e teve fim em uma overdose, ou da cantora Rihana, ou da atriz
americana Lindsay Lohan, ambas usuárias de drogas e com vidas
O exibicionismo é um comportamento humano e, como tal, turbulentas, a superexposição na internet pode ser bastante
surge nas redes sociais sob diversas formas. O sexting é uma forma de prejudicial para os jovens, por banalizar ou incitar comportamentos
de risco.

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3.2.3 Selfie nude de uma dessas adolescentes foi anunciada na rede social do Twitter,
pouco antes de ela se matar. Cabe ressaltar que o termo para designar
esta prática de violação da privacidade de uma pessoa na internet se
chama pornografia de revanche (tradução livre do termo revenge
De acordo com Guzzi (2013), a selfie, autorretrato feito pelo porn), em que após o término de um relacionamento, um dos
celular, faz parte de uma rotina cada vez maior na internet. A parceiros resolve, no intuito de se vingar e sem o consentimento da
pesquisadora afirma que a selfie é um fenômeno de comunicação de outra parte, divulgar fotos ou vídeos íntimos decorrentes de práticas
massa, e que houve um crescimento de 2012 para 2013 de cerca de de sexting, ou gravados secretamente, causando constrangimento,
17.000% , onde a hashtag #selfie acompanha mais de 58 milhões de estresse e violência entre os envolvidos, podendo, em casos extremos
fotos no Instagram (GUZZI, 2013). terminar em morte. É importante que se faça a perícia do equipamento
Um problema de intimidade que está surgindo na internet para saber se o vazamento do material se deu por vingança e, assim,
são as práticas de sexting denominadas “selfie nude”. Mas o que quer caracterizar o fato como pornografia de revanche. Há casos em que
dizer isso? O selfie nude refere-se às práticas de sexting, em que os o vazamento decorre de um ataque cibernético ou por descuido dos
jovens fazem um selfie fotografando ou filmando a si próprio em usuários com suas senhas de acesso às redes sociais.
momentos de intimidade, como a prática onde casais fazem uma
selfie instantes depois de praticar sexo e transmitem estas imagens
pelo celular, uma espécie de modismo que nasceu nos Estados
Unidos e que vem se tornando uma mania na rede. Contudo, estas
práticas de selfie nude podem gerar problemas de privacidade e levar
a dramas entre jovens casais como a pornografia de revanche que
veremos a seguir.

3.2.4 Pornografia de revanche

O mês de novembro de 2013 foi marcado pelo suicídio de


duas adolescentes em um espaço de menos de 10 dias, gerando uma
comoção em todo o país. As duas tragédias foram relacionadas a
situações de violência virtual decorrentes da divulgação de vídeos
íntimos no aplicativo de celular WhatsApp e a declaração de suicídio

86 87
Capítulo 4

Vício na rede

A partir do início do século XXI, com a queda do preço das


tecnologias da informação e da comunicação (TICs), houve maior
democratização do acesso à internet e iniciou-se uma tendência
crescente em direção à mobilidade, à computação íntima e também
à internet das coisas, o que vem trazendo uma série de benefícios a
sociedade brasileira, tais como a criatividade, o talento no uso das
tecnologias digitais e a web participativa. Por mais que este capítulo
objetive falar dos riscos on-line a que estão sujeitos os jovens, sempre
é importante ter em mente que a maior parcela das pessoas faz um
uso saudável das tecnologias digitais, e apenas uma pequena parcela
faz uso abusivo e problemático da rede mundial de computadores.
Conforme já foi observado no primeiro capítulo deste livro,
existem muitos pais que dialogam, monitoram e educam seus filhos
no cotidiano para que eles façam um uso responsável, seguro e
saudável das tecnologias digitais. Em alguns sistemas familiares, os

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pais, muitas vezes usuários frequentes ou especialistas em tecnologia, frequentes da rede, não supervisionam adequadamente ou não criam
criam um contexto favorável ao desenvolvimento de talentos dos regras para o uso saudável e responsável da web. Como bem ressaltou
filhos, e também para o uso responsável, saudável e crítico das TICS. o pesquisador Rodrigo Nejm (2016) na oficina “Segurança, ética e
A primeira coisa que vem à mente ao se falar em uso cidadania na Internet”, promovida pelo Projeto Ministério Público
patológico é a quantidade de horas diárias que uma pessoa dedica ao pela Educação Digital nas Escolas, em parceria com a organização
uso de tecnologia. Por mais que a quantidade de horas esteja, de fato, não governamental Safernet, é necessário evitar criar um pânico
relacionada ao problema, é importante lembrar que não é correto moral alegando que a rede mundial de computadores é perigosa,
associá-la ao uso compulsivo, sem levar em consideração outros pois, na verdade, sabemos que só o ato de viver já é perigoso.
aspectos qualitativos. Há pessoas que chegam a trabalhar ou estudar Assim, a partir do momento em que a criança nasce, ela está
12 horas por dia na internet sem serem usuários patológicos. Apesar sujeita a correr uma série de riscos no mundo presencial. E para
desta ressalva, a Associação Americana de Psiquiatria recomenda que protegê-las, pais e especialistas criaram vários mecanismos de
crianças e adolescentes não fiquem mais de duas horas on-line e que proteção, como a cadeirinha de segurança do automóvel, o cinto de
procurem equilibrar o uso da internet com outras atividades segurança, o uso da rede de proteção na piscina, a aula de natação
presenciais, tais como, estudar, brincar, ler um livro, fazer atividades para o filho, entre outros.
físicas e sair com os amigos ou familiares. A regra de ouro é o Se podemos tomar como princípio que boa parte das regras
equilíbrio. de segurança utilizadas no mundo presencial valem para a educação
Discute-se, nos últimos anos, na educação e nos movimentos dos filhos no universo digital, quais as razões que levam alguns pais
de inclusão digital, sobre o papel dos games no desenvolvimento de a não terem no ambiente virtual o mesmo zelo? O que mais tenho
fluência tecnológica entre crianças e adolescentes, auxiliando-os a presenciado na minha carreira de psicóloga escolar e educadora são
terem um melhor desempenho escolar, quando utilizados de forma pais que, seja pela falta de habilidades no uso das ferramentas
equilibrada. Além disso, surgiram também inúmeras redes sociais tecnológicas ou pela falta de interesse em aprender a utilizá-las,
para crianças, como o Scratch, o Squeak e o Club Penguin e o uso de falham em promover a educação digital dos filhos. Segundo
jogos que favorecem a criatividade digital como, por exemplo, o Livingstone (2012), é importante que os pais aprendam a usar as
Minecraft, dentre outros recursos tecnológicos e educacionais. O tecnologias digitais, pois um dos maiores riscos sofridos por crianças
pesquisador João Mattar (2009), autor do livro Games em Educação: e adolescentes é crescer no mundo digital sem supervisão e sem
como os nativos digitais aprendem, aborda os aspectos positivos do orientação parental, livre para circular e aprender a usar internet
uso de jogos virtuais na educação e na vida dos jovens, dando sozinha ou com a ajuda de seus pares.
inúmeras dicas de jogos interessantes. Ainda que haja, nas famílias, uma inversão no que se refere
Neste sentido, as tecnologias móveis devem ser vistas como ao mundo da tecnologia, já que na maior parte das vezes o
algo positivo, pois a maioria dos jovens faz um uso saudável dessas desempenho tecnológico dos mais jovens supera o de seus pais, é
ferramentas. Entretanto, como tudo na vida, a internet também sabido que os adultos, em razão de terem mais experiência de vida,
oferece uma série de riscos para as crianças e adolescentes, são as pessoas da casa mais qualificadas para adequar determinados
principalmente quando os pais ou responsáveis não são usuários conteúdos a determinadas faixas etárias, ou a distinguir o que é

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material público do que é privativo. que, por conta do vício, abandonam os estudos e passam o dia inteiro
Segundo Nejm (2016), o diário que guardava os segredos de jogando, permanecendo totalmente dependentes dos pais até a vida
um adolescente no século passado, frequentemente dotado de um adulta. Esses jovens que ficam sem trabalhar nem estudar têm sido
pequeno cadeado, a fim de proteger a privacidade de seu dono, foi denominados “nem, nem”, expressão criada para designar aqueles
deixado de lado. No século XXI, os adolescentes escrevem e que “nem trabalham, nem estudam”.
descrevem suas vidas nos ambientes virtuais, divulgando toda sorte Esses problemas demandam o desenvolvimento de ações
de informação por meio de aplicativos tais como o Snapchat, preventivas nas escolas, a fim de promover parcerias com as famílias,
WhatsApp, Twitter, Facebook ou o Instagram, sejam fotografias, no intuito disseminar informação de qualidade e de auxiliar essas
vídeos, geolocalização, as pessoas de quem são amigos, com quem famílias na gestão da vida digital dos filhos. Não se pode ignorar que
namoram, onde estudam, de quem são parentes. Tais práticas podem há riscos quanto à quantidade de horas que um jovem dedica à vida
ocasionar sérios problemas de privacidade, segurança e desencadear digital, mas também não se pode demonizar indiscriminadamente a
consequências imprevisíveis. Tais problemas são uma das tendências internet, pois o uso equilibrado das tecnologias digitais auxilia o
futuristas mais sombrias da web, vinculadas a uma maior vigilância e desempenho do aluno, serve como apoio à execução das tarefas
controle da internet. escolares e é parte crucial dos processos de socialização entre os
Neste capítulo, iremos falar sobre a tendência ao vício na pares.
rede e os riscos aí envolvidos. Sabemos que os dispositivos móveis
permitem acessar a internet de qualquer local e em qualquer hora, e
isso é positivo. Contudo, quando a mobilidade é estendida a crianças 4.1 Uso saudável e uso patológico
de 10 anos que navega em um smartphone, corre-se o risco de que os das tecnologias digitais
pais percam o controle sobre as atividades do filho, especialmente
quando nenhum filtro de conteúdo é aplicado ao dispositivo.
Em países como a China, o Japão e a Coreia do Sul, todos
muito avançados em termos de utilização de tecnologias digitais, o Para caracterizar um uso patológico da rede é necessário que
uso compulsivo da tecnologia é uma epidemia grave, para a qual o jovem use tecnologia por mais de 4 horas por dia, mas que também
existem centros de tratamento e desintoxicação digital. No Brasil seja incluída, nesse diagnóstico, a incapacidade de fazer pausas.
ainda não se pode falar em epidemia, mas observa-se uma tendência, Outro fator a ser considerado é a obsessão do jovem quando está off-
mas não temos tratamento adequado, nem especialistas treinados ou line, mas com mente fixada na experiência da sessão anterior ou
clínicas apropriadas para receber esse público. projetando suas ações para a sessão seguinte. Outro sintoma de uso
O uso compulsivo de games vem fazendo com que muitos compulsivo são as temáticas relacionadas ao universo tecnológico,
jovens tenham o desempenho escolar diminuído, e já se pode ou frequência muito assídua em comunidades virtuais, como se
relacionar o uso compulsivo a evasão escolar, pois muitos jovens fossem seitas religiosas. Vemos isso em consumidores compulsivos
passam a madrugada acordados, jogando, e isso os impede de ir à dos produtos da Apple, que chegam a ficar dias em filas de lojas
escola na manhã seguinte. Existe uma pequena parcela de jovens

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aguardando o lançamento de um novo iPhone ou iPad. tecnologias criadas para lidar com esse problema, tais como os filtros
Para se fazer um diagnóstico preciso de uso compulsivo da de conteúdo, aplicativos de parental control e aplicativos como Self
internet, Young e Abreu (2011) apontam a existência de um padrão Control e Freedom, entre outros. Essas tecnologias podem auxiliar os
distinto de pensar e de se comportar na internet, do qual resultam responsáveis a monitorar as atividades dos filhos nos dispositivos
consequências negativas para a vida. Podemos, portanto, em termos fixos e móveis, para que os responsáveis possam dialogar com os
genéricos associar o uso patológico ao abuso de certos conteúdos filhos e estabelecer regras de uso da tecnologia em casa. Contudo,
específicos de internet, tais como jogos simultâneos interativos, nem sempre o uso que destas ferramentas é 100% eficaz, pois se o
jogos de azar, consumo de pornografia e cibersexo, entre outros. No jovem for talentoso em tecnologia ou tiver conhecimentos de proxys,
entanto, para que se confirme tal diagnóstico, é necessário um nível ele pode aprender a burlar os filtros sem que os pais percebam.
de exagero que traga consequências pessoais e profissionais negativas. Tal como os softwares de parental control, que não são eficazes
Em tais casos, as pessoas apresentam preferências por comunicações em controlar conteúdo digital do You Tube, por exemplo, os filtros
virtuais em vez das estabelecidas presencialmente. Existe uma de conteúdo servem muito mais para monitorar e estabelecer o
tendência ao isolamento dos amigos presenciais e membros da diálogo sobre a vida digital da família do que de realmente coibir o
família, e mais tempo dedicado ao uso da tecnologia, o que resulta acesso a esses materiais. A maior eficácia dos filtros está em proibir o
em dificuldades no ambiente escolar ou profissional, comprometendo acesso a conteúdo impróprio a determinadas faixas etárias, pois eles
seriamente a produtividade e os relacionamentos. funcionam com base na classificação indicativa dos sites, o que os
Alguns estudos de psiquiatras e psicólogos relacionam o uso torna muito úteis para que crianças pequenas não tenham acesso a
compulsivo das tecnologias digitais com doenças psíquicas, tais conteúdo impróprio para a sua idade. Uma boa característica dessas
como: narcisismo, impulsividade, depressão, síndrome do pânico, tecnologias é a possibilidade de estabelecer quantas horas as crianças
ansiedade e transtornos de humor entre outras. Às vezes é difícil podem ficar conectadas, ajudando-as a dividir o tempo no
diagnosticar qual doença veio primeiro: se o vício da internet ou a computador de forma mais equilibrada com as atividades presenciais.
depressão, já que um sintoma agrava o outro. Assim, é frequente Deve-se evitar expor à tecnologia as crianças menores de 2
encontrar o uso abusivo das tecnologias como uma doença anos à, especialmente sem supervisão. Não é adequado deixá-los na
secundária, resultante de outra patologia. frente de tablets ou conectados ao Skype para falarem com familiares
Crises familiares também contribuem para o uso compulsivo, distantes. Da mesma maneira, deve-se evitar que crianças com idade
em que a alienação promovida pela tecnologia serve como um inferior a dez anos naveguem sozinhas na internet, sem a supervisão
instrumento de fuga dos jovens. Nesses casos, é importante fazer a direta de um adulto de confiança. Nessa faixa etária, pode ser
observação do núcleo familiar, para que se possa prescrever o tipo de interessante evitar que as crianças usem a internet por mais de duas
apoio profissional mais adequado. Se o uso compulsivo ocorre em horas diárias, além de serem de fundamental importância os
decorrências de crises familiares, talvez o melhor tipo de tratamento momentos presenciais de conexão familiar, especialmente durante as
seja uma abordagem de grupo, a fim de que todos os membros da refeições, momentos extremamente propícios à interação.
família aprendam a gerenciar o problema. Um dos tratamentos mais eficazes para vício em dispositivos
A prevenção do uso compulsivo pode contar com a ajuda de tecnológicos é a desintoxicação: entrar em contato com a natureza,

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tomar banhos de mar, rio ou cachoeira, pisar na grama do jardim, Além dessas características, observe se seu filho apresenta os
viajar para uma casa de campo, andar a cavalo e fazer esportes ao ar problemas de ansiedade11 listados abaixo:
livre, entre outros.
• Uso descontrolado das tecnologias;
• Dependência da atividade, que consiste em voltar a jogar ou
4.1.1 O uso excessivo a usar um determinado aplicativo de internet para reaver o
da internet equilíbrio emocional;
• Fuga da realidade;
• Tentativas mal-sucedidas de fazer pausas;
• Preocupação em relação à frequência de utilização dos
A dependência das tecnologias digitais afeta as mesmas áreas aparelhos eletrônicos.
do cérebro que as substâncias químicas, no entanto, o fato de ser • Existência, no ambiente familiar e entre amigos, de rumores
uma dependência sem substância torna o seu diagnóstico mais sobre seu uso excessivo das tecnologias digitais.
difícil, até porque é relativamente fácil mascarar os sintomas, • Medo intenso de perder algum conteúdo na internet quando
bastando para isso a alegação de que a necessidade de utilizar o o smartphone fica esquecido em algum lugar. O nome deste
computador deve-se a demandas escolares. Para uma pessoa ser distúrbio é porforofobia que vem da sigla em inglês FOMO
classificada como sendo dependente de internet, é necessário que ela que significa “fear of missing out”, medo de estar “por fora”
apresente as seguintes características: das novidades.
1. Sentir-se mais realizada virtualmente do que no mundo • Sensações de vibrações fantasmas do celular.
presencial; • Irritação, mudança de humor ou ansiedade quando não se
2. Ficar inquieto, apresentar ansiedade extrema ou depressão está usando os aparelhos eletrônicos.
quando o acesso à rede é interrompido. Às vezes, o problema • Falta de paciência para os relacionamentos presenciais
do vício na internet só é percebido pela família quando quando se está impossibilitado de usar os aparelhos
ocorre uma forte chuva na cidade, cai o sinal da rede e o eletrônicos.
jovem fica muito ansioso, apresentando mudanças repentinas • Percepção de consequências negativas na vida social, como,
de humor por ter ficado off-line por um certo tempo. por exemplo, passar menos tempo com os amigos e familiares
3. Tentar esconder da família a quantidade de tempo que fica no intuito de ficar tempo on-line
on-line. • Tendência ao isolamento.
4. Ter vários tipos de conexão à internet10, a fim de assegurar
que o acesso não seja interrompido. Consulte os anexos ao final dessa publicação, faça os testes e
5. Não querer viajar para conhecer lugares novos se não tiver solicite que seu filho também responda aos questionários. Dessa
certeza absoluta de que existe acesso à internet no local de maneira você terá uma boa noção se você e os membros de sua
destino. família estão utilizando a internet de maneira saudável. Caso você
10. Existem pessoas que optam por ter dois ou três tipos de conexão à internet, banda larga, modem 4G, acesso pelo 11. Albuquerque-Lima (2011) e Rosen (2012).
celular, entre outros.

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verifique nas respostas indicação de uso compulsivo das ferramentas importância de desacelerar a vida e diminuir, o estresse, seja por
de comunicação digital, recomenda-se a procura de ajuda profissional meio do contato com a natureza, de uma alimentação mais saudável
especializada, que possa ajudar você e sua família a lidar com a e em ritmo desacelerado ou de responder e-mails ou mensagens no
questão, antes que ela se agrave. Alguns casos mais severos podem WhatsApp com mais calma. Segundo Zachi (2014), o movimento
requerer a ajuda de uma equipe multidisciplinar frequentemente Slow traz o conceito de que as mensagens virtuais não devem ser
composta por profissionais da área da psiquiatria, psicologia, respondidas em tempo real, mas no tempo adequado à pessoa.
nutrição, e fisioterapia, entre outras especialidades. Carl Honoré, um dos maiores especialistas mundiais do
É necessário prestar atenção às dinâmicas de cada grupo, movimento Slow e autor do livro Devagar: como um movimento
pois o uso abusivo das tecnologias digitais pode estar refletindo mundial está desafiando o culto da velocidade, da editora Record, faz
algum desajuste interno à cada núcleo familiar, agravado ainda mais um manifesto contra a velocidade desmedida de nossa sociedade,
pelo afastamento promovido pelo uso de tais dispositivos. A questão que torna as pessoas mais impacientes e desejosas de que tudo ocorra
do exemplo também é muito pertinente, pois observa-se que quando da forma mais rápida possível.
os adultos da casa usam de forma excessiva os dispositivos móveis, os O movimento Slow defende a importância de se fazer pausas
filhos tendem a ter maior interesse também. Outro problema pode no uso da tecnologia e de se desconectar de vez em quando, para
surgir quando os adultos usam tais dispositivos como babá eletrônica, descansar e desfrutar das oportunidades de estar em contato com a
para acalmar e distrair os filhos enquanto eles se ocupam dos seus natureza, evitando o estresse tecnológico e melhorando a qualidade
afazeres. No intuito de reverter essas tendências, tem surgido no do tempo que se passa conectado.
mundo alguns movimentos culturais que buscam desacelerar o Confome Zachi (2014), o movimento Slow faz perguntas
ritmo, desconectar aparelhos e conectar pessoas, tal como o intrigantes sobre os projetos de vida das pessoas, tais como: você
movimento Slow, de que trataremos a seguir. pretende passar aproximadamente dois meses de cada ano da sua
vida no Facebook, ou os próximos 4 meses apenas jogando na rede?
Se somarmos o tempo que ficamos conectados à rede mundial de
4.2 Movimento Slow computadores e a alguns sites específicos, podemos constatar com
relativa facilidade que houve excesso de tempo dedicado a certas
atividades on-line que poderia ter sido dedicado à projetos mais
prazerosos.
O movimento Slow surgiu na Itália em fins do século XX. A Muitos ativistas na área de preservação do meio ambiente
palavra que o denomina significa “devagar” em inglês e ele por pertencem ao movimento Slow e defendem uma vida mais simples,
finalidade precípua reagir à cultura das refeições do tipo fast food, a com redução nos padrões de consumo para que se produza menos
tendência da massificação e padronização da comida a partir da lixo. É preocupante, em termos de dispositivos eletrônicos, a falta de
entrada da franquia do McDonalds na praça de Piazza, em Roma. Os consciência ambiental de grande parte da população, que, atendendo
princípios do movimento Slow podem ser aplicados à problemática aos apelos da indústria, substitui aparelhos ainda novos, em ótimas
do uso compulsivo de dispositivos móveis. O movimento traz condições de uso, pelo último modelo do mercado, mesmo que as

98 99
inovações trazidas por ele não sejam significativas ou, mesmo, tecnológica que concebeu para se livrar do vício em tecnologia, que
necessárias. quase custou seu casamento, Sieberg publicou o livro The Digital
O apelo publicitário anunciando as novidades é forte, mas é Diet: the 4-step plan to break your tech addiction and regain balance in
preciso não se deixar iludir: smartphones à prova d’água, por exemplo, your life (SIEBERG, 2011).
podem fazer belas imagens submarinas, mas também incentivam os Autores como Burgos (2014), Rosen (2012) e Young &
usuários a levar seus dispositivos tecnológicos para um dos poucos Abreu (2011) defendem não ser possível, em um mundo cada vez
lugares off-line que existem, em que a prioridade não deveria ser mais conectado e intermediado por tecnologias digitais, propor uma
publicar selfies, mas apreciar o contato com a natureza. Será que desintoxicação digital plena, como se faz na recuperação de pessoas
realmente precisamos estar conectados até embaixo d’água? inscritas em programas de recuperação de dependentes de álcool e
É importante evitar os sites fast food, que só ocupam tempo drogas psicoativas. Um programa de redução de danos, que prega o
e pouco agregam em termos de valor de informações, tais como os uso responsável e moderado das tecnologias digitais, e não a
sites de redes sociais Facebook, Twitter, Instagram, Snapchat, abstinência total do uso da internet, parece ser o caminho mais
aplicativos de celular como o WhatsApp e alguns jogos on-line adequado, pois a abstinência total traria mais prejuízos do que
viciantes, como o Candy Crush (ZACCHI, 2014). O movimento vantagens ao paciente, uma vez que a exclusão digital promove perda
Slow também fala da importância de que sejam estabelecidas pausas de relacionamentos, amizades, oportunidades de estudo e trabalho,
constantes no uso do computador, para que a tecnologia seja utilizada piorando os sintomas do paciente, ao invés de melhorar.
de forma saudável, de modo a permitir qualidade de vida. As pessoas No entanto, em certos casos pode ser necessário tomar
devem gerenciar o seu tempo em prol da felicidade delas próprias e medidas drásticas, a fim de proteger a saúde física e psicológica, tal
não da felicidade das outras pessoas. como fez Pedro Burgos, um jornalista brasileiro especializado em
tecnologia, que optou por deixar o trabalho como editor de um site
de tecnologia para arranjar uma ocupação que não demandasse tanto
4.3 Desintoxicação tecnológica para tempo dedicado à atividades on-line. O resultado de sua experiência
prevenção do vício na rede foi o livro “Conecte-se ao que importa: um manual para a vida
digital saudável”, obra cheia de orientações sobre uso saudável de
tecnologia e sobre como combater o vício na rede.
Outro livro interessante sobre o assunto é o de Sherry Turkle
Um conceito parecido com o movimento Slow é a dieta (2011), chamado “Alone Toguether: why we expect more from technology
digital, para evitar a info-obesidade, caracterizada pela sobrecarga de e less from each other”12. A principal advertência da autora é o fato de
informações (overload) a que estamos expostos diariamente na que estamos deixando de nos conectar aos indivíduos próximos a
internet, que nos distrai e nos aliena. O termo dieta digital foi nós, no mundo real, e optando pela conexão com pessoas distantes,
concebido por Daniel Sieberg, jornalista especializado em tecnologia. no universo on-line. Dessa maneira, estamos deixando de aproveitar
A partir da sua estória de vida e do planejamento de desintoxicação o momento presente e nos isolando do mundo à nossa volta.
O isolamento social apontado por Turkle (2011) nem
12. Em tradução livre, Solidão acompanhada: por que esperamos mais da tecnologia do que de nossos pares.

100 101
sempre é percebido pelo internauta, pois muitas vezes ele faz parte imediatamente. Como já falamos anteriormente, tais comportamentos
de uma comunidade virtual, como é o caso, por exemplo, das podem se transformar em doença, a porforofobia, também conhecida
comunidades interativas de jogos em rede, os MMPORGS. A partir como ‘FOMO. Só para se ter uma ideia da dimensão do problema,
do momento em que se estabelece a sensação de pertencimento Burgos (2014) relata 35% dos brasileiros consulta o celular em
àquela comunidade virtual, os jovens, cada vez mais dependentes intervalos de 10 minutos ou menos. É a porforobia que impulsiona
dos relacionamentos com seus pares do mundo virtual, sequer a verificação compulsiva de e-mails e perfis nas redes sociais, não
percebem a solidão em que vivem, pois estar jogando em grupo na permitindo que a pessoa se dedique a atividades off-line que requeiram
internet redes dá-lhes a impressão de que estão interagindo com profundidade, como ler livros ou produzir trabalhos acadêmicos de
pessoas, o que mascara a real situação de isolamento social e qualidade.
emocional em que vivem. Hoje em dia, alguns livros de psiquiatria e psicologia vêm
O isolamento mencionado por Turkle (2011) é facilmente associando as patologias mais comumente relacionadas ao uso
reconhecível quando vamos almoçar com amigos ou familiares e as compulsivo da internet, conforme veremos a seguir.
pessoas ficam mexendo nos seus dispositivos móveis, deixando de
aproveitar o momento do encontro para valorizar o contato com
quem está ausente. Alguns restaurantes até oferecem descontos para 4.4 Psicopatologias associadas ao
pessoas que optem por deixar o celular trancado em um armário, a uso problemático da rede
fim de incentivar o momento da refeição e de melhor apreciar a
refeição. Conforme sugere a jornalista Glória Kalil, no livro Alô,
Chics! (KALIL, 2007), o ideal é deixar o telefone de lado e só atender
caso você esteja esperando alguma chamada urgente e isto deve ser Além de estar atentos aos sinais emocionais comuns ao uso
dito à pessoa com quem você está almoçando, para que a pessoa não compulsivo das tecnologias digitais, é importante também mencionar
se sinta desrespeitada ou desprestigiada. que esses problemas, muitas vezes, estão relacionados a outras
Em termos práticos, ao avaliar o uso que fazemos da psicopatologias prévias, ou decorrentes do uso exagerado da rede, tal
tecnologia devemos, segundo Burgos (2014), nos perguntar coisas como o distúrbio narcisista, que tem se intensificado nos últimos
do tipo: aquela meia hora a mais no Facebook me impediu de tomar anos por causa do Facebook e congêneres (Rosen, 2012).
café com um amigo? Aquela hora dedicada a um jogo no tablet Outra psicopatologia a ser mencionada é a nomofobia, que
adiou a leitura do livro que você quer ler? vem do termo em inglês, “no mobile fobia”, que se refere ao medo de
Observa-se que estamos lendo cada vez mais na rede mundial ficar sem o dispositivo móvel. Há relatos de pessoas que vivenciam
de computadores e cada vez menos nos livros. Muitos jovens ansiedade profunda quando esquecem o aparelho em casa, chegando
apresentam imensa dificuldade em ler livros de mais de 100 páginas, mesmo a perder compromissos importantes, como viagens aéreas,
pois a todo momento a leitura é interrompida para se verificar para não ficar sem o celular. O quadro pode ser ainda mais grave em
mensagens no WhatsApp ou Snapchat. como se alguma informação pessoas que sofrem de síndrome do pânico. Outro sintoma da
muito importante fosse ser perdida por não ser respondida

102 103
nomofobia é o indivíduo carregar consigo mais de um dispositivo gerar lesões no lóbulo frontal. A consequência de tais lesões é a
móvel, para não correr o risco de ficar sem comunicação por falta de pessoa passar a enfrentar dificuldades para perceber sinais faciais que
bateria. Burgos (2014) informa que 83% dos usuários brasileiros denotam emoções, aumentando ainda mais os problemas de
sofrem quando esquecem o celular em casa. interação social. A falta desta habilidade que é muito importante nos
Segundo Young e Abreu (2011), é comum os pesquisadores processos interativos e comunicacionais, trazendo transtornos
da área associarem o vício na rede à mesma mudança nos comportamentais relativamente sérios. No entanto, em razão da
neurotransmissores cerebrais, independentemente do tipo de neuroplasticidade do cérebro humano, tais lesões podem ser
dependência que o indivíduo sofre, seja jogos na internet, álcool, recuperadas e o padrão dos neurotransmissores pode ser devolvido à
drogas psicoativas, sexo, comida, entre outras. Outra questão normalidade por meio de processos de desintoxicação tecnológica
relacionada ao vício na rede é o overload, a sobrecarga de informações (SMALL & VORGAN, 2008).
que chega a um indivíduo diariamente na rede. Quanto mais pegadas Os autores também alertam sobre o limite da capacidade
digitais você possui no Google, maior a tendência a sofrer de humana em realizar múltiplas tarefas. Este é um tipo de habilidade
sobrecarga de informações. muito comum em jovens nativos digitais e possui consequências
Existem maneiras de rastrear suas pegadas digitais, conforme negativas, pois diminui a produtividade e a capacidade de focalizar e
Rodrigo Nejm da Safernet (NEJM, 2016). O psicólogo recomenda aprofundar os conhecimentos em um só assunto, seja nos estudos ou
uma tecnologia chamada Immersion13, criada no Instituto no trabalho. A multitarefa provoca uma diminuição na atenção
Massachussets de Tecnologia (MIT), em Boston, EUA. Outra diante de uma determinada atividade e faz com que a pessoa seja
indicação de Nejm é o navegador Touchgraph14, que ajuda a analisar mais superficial em suas análises e pesquisas escolares. Small &
das pegadas digitais deixadas por seu filho na rede mundial de Vorgan (2008) alertam também sobre a existência de uma brecha
computadores. Nejm também indica o My Account15 do Google, que digital geracional, razão de as pessoas mais velhas terem mais
mostra nossos os rastros digitais quando trocamos e-mails no Gmail dificuldades para realizar tarefas simultâneas.
ou mandamos mensagens pelo Google +. A matéria O que há de diferente no cérebro dos viciados em
videogames, publicada em abril de 2016 na revista Neuroeducação,
divulga os resultados de um estudo realizado por pesquisadores dos
4.5 O uso compulsivo das Estados Unidos e de Cingapura, que constatou a existência de uma
maior conexão entre diversas regiões cerebrais vinculadas à visão, à
tecnologias e a neurociência
audição e à chamada rede de saliência. A rede de saliência é formada
pelo córtex cingulado anterior dorsal e pela ínsula, permitindo,
assim, que o indivíduo identifique objetos que se sobressaem em um
dado instante. Essa conectividade faz com que os jovens que jogam
Segundo Small & Vorgan (2008), neurocientistas americanos na rede com frequência tenham, por exemplo, uma maior facilidade
especializados em tecnologia, o uso excessivo das tecnologias digitais de identificar um rosto particular em uma multidão, ou de ouvir a
acarreta uma mudança nos neurotransmissores do cérebro e podem uma determinada palavra em meio a uma algazarra
(NEUROEDUCAÇÃO, 2016).
13. Maiores informações em http://bit.ly/1gTvTEG.
14. Maiores informações em http://bit.ly/1sEdZuA.
15. Maiores informações em http://bit.ly/1TlV9Ep.

104 105
4.6 O que os pais devem fazer quando fazer naquela sessão on-line, a fim de evitar ficar conectado
percebem que o filho está fazendo uso mais tempo do que necessário;
• Procurar mudar a rotina no uso da rede e não exceder o limite
compulsivo das tecnologias digitais?
máximo de duas horas por dia;
• Fazer pausas e ficar desconectado, por alguns dias, da rede
mundial de computadores;
• Voltar às atividades que você havia abandonado, tais como
A primeira recomendação é procurar um tratamento. A
exercícios físicos, visitas aos amigos ou caminhadas ao ar
depender do caso, pode ser psicoterápico, psiquiátrico ou pode
livre, buscando, sempre, contato com a natureza;
requerer algum outro profissional da saúde, como médico,
• Evitar o uso da tecnologia como “babá eletrônica”. Tal atitude
fisioterapeuta e nutricionista, entre outros. Para as famílias, nem
pode ser a semente do comportamento dependente do jovem;
sempre é uma tarefa fácil levar o seu filho para uma consulta com
• Evitar mensagens de texto ao dirigir o carro ou a atravessar a
psicólogos ou psiquiatras, até porque é comum as pessoas não
rua com os filhos. Nos Estados Unidos e na China este
reconhecerem a dependência de equipamentos eletrônicos, mas
problema vem causando tantas mortes que foi feita uma
acharem que podem parar de usá-los quando quiserem. Recomenda-
campanha nacional mostrando acidentes automobilísticos
se, em muitos casos, que toda a família se apoie simultaneamente e
graves ou fatais envolvendo pedestres e motoristas distraídos
procure fazer uma terapia familiar sistêmica, por meio da qual
com os seus respectivos aparelhos eletrônicos;
poderão promover as mudanças necessárias, trabalhar os
• Fazer uma lista dos prejuízos ao manter a conduta viciante e
relacionamentos e criar regras para um uso mais saudável e responsável
procurar mudar as rotinas do uso do computador;
da internet. Deve-se mencionar, também, que o cuidado com o
• Dar o exemplo de uso responsável de tecnologia é um convite
corpo também é essencial. Deve-se valorizar a prática de exercícios
para que os filhos também o façam. O contrário também é
físicos, no intuito de aumentar a consciência corporal e corrigir a
verdade, pois quando os adultos demonstram interesse
postura, frequentemente afetada por muitas horas dedicadas a
exagerado por tecnologia, os filhos também tendem a fazê-lo.
atividades on-line.
Algumas estratégias podem auxiliar toda a família na
Sieberg (2011) e Burgos (2014) criaram algumas orientações
diminuição do comportamento dependente de tecnologia. Dentre
interessantes para evitar o uso problemático das tecnologias digitais,
elas, destacamentos:
tais como:
• Colocar um alarme longe do computador, de maneira que o
• Manter o celular guardado enquanto se está na presença de
jovem tenha que se levantar da cadeira para desligá-lo,
outras pessoas no restaurante. Somente colocar o celular na
lembrando-o, portanto, de terminar a sessão;
mesa em caso de emergência e neste caso, avisar às pessoas
• Planejar antecipadamente o que se pretende fazer na próxima
que estão em sua companhia;
sessão. Antes de se conectar a internet, planejar o que irá
• Viver a sua vida mais no mundo real do que no virtual;

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• Perguntar a si mesmo se realmente precisa comprar aquela informações, cartilhas e dicas de sites e publicações digitais
nova tecnologia ou dispositivo móvel, evitando assim, o especializadas no assunto, acesse nosso repositório no site: http://
aumento do lixo tecnológico desnecessário. Usar o seu www.delicious.com/familiaconectada ou o site deste livro Família
aparelho o máximo de tempo que for possível; Conectada, disponível em: http://familiaconectada.com.br. Caso
• Procurar suporte tecnológico e usar tecnologias que visem queira você queria fazer aconselhamento psicológico virtual sobre
evitar o uso compulsivo da web e que ajudam a focar, como como educar o seu filho para o uso saudável, ético e seguro da
por exemplo, o aplicativo Self Control, Freedom, entre outros; internet, o meu e-mail para contato é: ana@familiaconectada.com.br.
• Fazer desintoxicação tecnológica com certa regularidade; Finalizo este capítulo enfatizando que não há uma regra
• Não trazer o celular ou computador para dentro do quarto única ou um jeito único de se educar os filhos para ter uma vida on-
na hora de dormir. É importante se livrar de todos os line saudável, pois cada sistema familiar vai encontrar o seu próprio
aparelhos eletrônicos nesse momento, para garantir o sono; modo de educar e seu ponto de equilíbrio no uso das tecnologias
• Prestar mais atenção às pessoas ao seu redor; digitais. Existem, inclusive, muitas famílias que estão atentas e
• Lembrar que as escolhas feitas no mundo virtual podem educando de forma bem interessante e criativa, favorecendo o
trazer um impacto no mundo presencial; desenvolvimento de talentos no uso das tecnologias digitais e ao
• Fazer um cronograma das atividades virtuais que você deverá mesmo tempo, incentivando os filhos a levarem uma vida on-line
fazer durante o dia, fazendo pausas da internet e estabelecendo saudável, criativa e plena.
intervalos de uso, intercalando com outras atividades
presenciais;
• Obedecer a sua intuição: se ela sinaliza que você está usando
muito as tecnologias digitais, provavelmente é porque você
realmente está exagerando.

Neste capítulo, procurei abordar a importância de os pais


criarem regras desde cedo na educação tecnológica dos filhos, a fim
de prevenir o uso compulsivo de dispositivos móveis. Para ajudar na
construção de regras de uso das tecnologias digitais em casa, é
importante que haja um trabalho conjunto de inclusão digital entre
a escola e a família, e que os educadores indiquem e ensinem pais ou
responsáveis o uso de filtros para monitoramento da quantidade de
tempo dedicado ao uso de tecnologia, especialmente na internet,
estabelecendo horários flexíveis que, de preferência, não ultrapassem
duas horas diárias, como recomendado por especialistas e pela
Associação Americana de Psiquiatria. Para ter acesso a mais

108 109
5.

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TAPSCOTT, Dan. Grown up digital: how the net generation is
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TERRES-TRINDADE, Michele. Jovens on-line: práticas parentais,
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em Psicologia Clínica do Programa de Pós-Graduação de
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TURKLE, Sherry. Alone Together: why we expect more from
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Books, 2011.
YOUNG, Kimberly & ABREU, Cristiano Nabuco. Dependência

116 117
6.

Anexos

6.1 Anexo I:
Testes e escalas para diagnosticar uso
compulsivo das tecnologias digitais

Para auxiliar os psicólogos, psiquiatras e educadores na


construção de diagnósticos para saber se uma criança ou adolescente
faz uso compulsivo da internet, Kimberly Young desenvolveu um
questionário traduzido, por Terres-Trindade (2014, p. 90) que será
descrito em sua íntegra com as seguintes questões sobre acerca do
uso da internet nos últimos seis meses:

1. Segundo Terres-Trindade (2014, p. 90): “Você se preocupa


com a internet ou fica pensando pensa sobre atividades
anteriores ou fica antecipando quando ocorrerá a próxima
conexão?

118 119
2. Você sente a necessidade de usar a internet por períodos de diagnóstico feito por especialistas tais como o Internet Addiction Test
tempo cada vez maiores para se sentir satisfeito? (IAT) desenvolvido por Young e traduzido e aplicado por Terres-
Trindade no Brasil (Terres-Trindade, 2014, p. 91 – 92). Este
3. Você já se esforçou repetidas vezes para controlar, diminuir instrumento é composto de um questionário com vinte perguntas
ou parar de usar a internet, mas fracassou? que devem ser respondidas com:

4. Você fica inquieto, mal humorado, deprimido ou irritado 0) Não Aplicável
quando tenta diminuir ou parar de usar a internet? 1) Raramente,
2) Ocasionalmente,
5. Você fica conectado mais tempo do que pretendia 3) Frequentemente,
anteriormente? 4) Geralmente
5) Sempre.
6. Você já se prejudicou ou correu o risco de perder um
relacionamento significativo, emprego ou uma oportunidade Para tanto, responda as seguintes perguntas, apresentadas por Terres-
educacional ou um trabalho por causa da internet? Trindade (2014, p.91-92):

7. Você mentiu para familiares, terapeutas ou outras pessoas 1. “Com que frequência você acha que passa mais tempo na
para esconder a extensão do seu envolvimento com a internet? internet do que pretendia?

8. Você usa a internet como uma maneira de fugir de problemas 2. Com que frequência você abandona as tarefas domésticas
ou de aliviar um humor disfórico, por exemplo, sentimentos para ficar mais tempo na internet?
de impotência, culpa, ansiedade e depressão?” (Terres-
Trindade, 2014, p. 90). 3. Com que frequência você prefere a emoção da internet à
intimidade do seu parceiro ou parceira?

6.2. Anexo II: 4. Com que frequência você cria relacionamentos com novos
Teste para avaliar a dependência da internet (IAT) amigos da internet?
Internet Addiction Test (IAT)
5. Com que frequência outras pessoas na sua vida se queixam
sobre a quantidade de tempo que você passa na internet?

6. Com que frequência suas notas ou tarefas da escola pioram


Existem alguns outros parâmetros que auxiliam no
por causa da quantidade e tempo que você fica na internet?

120 121
7. Com que frequência você acessa o seu e-mail antes de na internet e não consegue?
qualquer coisa que precisa fazer?
18. Com que frequência você tenta esconder a quantidade de
8. Com que frequência piora o seu desempenho ou produtividade tempo que está conectado na internet?
por causa da internet?
19. Com que frequência você opta por ficar mais tempo na
9. Com que frequência você fica na defensiva ou guarda segredo internet ao invés de sair com outras pessoas?
quando alguém lhe pergunta o que faz na internet?
20. Com que frequência você se sente deprimido(a), mal-
10. Com que frequência você bloqueia pensamentos humorado(a), ou nervoso(a) quando desconectado(a) e esse
perturbadores sobre sua vida pensando em se conectar para sentimento vai embora assim que volta a se conectar a
se acalmar-se? internet?”( TERRES-TRINDADE, 2014, p. 91-92).

11. Com que frequência você se pega pensando em quando vai “Agora, some o total de números de suas respostas para ter
entrar na internet novamente? um resultado final. Quanto mais pontos você fizer, maior é o seu
nível de dependência das tecnologias digitais e de problemas
12. Com que frequência você teme que sua vida sem a internet relacionados ao uso da internet. Segue a escala geral:
seria chata, vazia e sem graça?
Entre 20 e 49 pontos: você é usuário padrão de internet.
13. Com que frequência você explode, grita ou se irrita se Você pode ficar de vez em quando mais tempo na internet, mas você
alguém o incomoda enquanto está na internet? tem um controle de seu uso.

14. Com que frequência você dorme pouco para ficar conectado Entre 50 e 79 pontos: você está experimentando problemas
a internet até tarde da noite? ocasionais ou frequentes por causa da internet. Você deve considerar
o impacto total que isso tem em sua vida.
15. Com que frequência você se sente preocupado(a) com a
internet quando está desconectado(a) ou imaginando que Entre 80 e 100 pontos: o seu uso da internet deve estar lhe
poderia estar conectado(a)? causando significativos problemas em sua vida. Você deve avaliar o
impacto da internet na sua vida e perceber quais são os problemas
16. Com que frequência você se pega dizendo “só mais uns gerados pelo seu uso da internet”(Terres-Trindade, 2014, p, 91 –
minutos” quando está conectado(a)? 92). Cabe lembrar que este teste internacional foi traduzido e
adaptado ao Brasil do instrumento realizado pela pesquisadora
17. Com que frequência você tenta diminuir o tempo que fica americana Kimberly Young por Terres-Trindade (2014. p. 91 -92).

122 123
Existem outros testes voltados para analisar a dependência 1. “Com que frequência você usa o telefone celular ao longo do
de smartphones também conhecida como sendo a Escala para avaliar dia?
a dependência do telefone celular que foi traduzida pelos
pesquisadores King, Nardi e Cardoso (2014) e pode ser vista em sua 2. Com que frequência você precisa levar o telefone celular ao
tradução e implementação ao português em sua íntegra a seguir: sair?

3. Com que frequência, quando esquece o celular, costuma


6.3 Anexo III: voltar para busca-lo?
Escala para avaliar a dependência
4. Com que frequência você sente ansiedade quando percebe
do telefone celular
que está sem o telefone celular ou sem bateria?

5. Com que frequência você sente angústia quando percebe que


está sem o telefone celular ou sem bateria?
Escala para avaliar a dependência do telefone celular
6. Com que frequência você sente pânico em alguma situação
O teste original no qual foi traduzido e implementado no
por não ter o telefone celular por perto ou quando fica sem
Brasil por King, Nardi e Cardoso (2014) e que se chama “mobile
bateria para se comunicar?
phone addiction test” é um questionário com 25 perguntas que mede
os níveis leve, moderado e grave de dependência de telefones
7. Com que frequência você tem medo de sair sem o telefone
celulares. Insira ao lado da questão o número correspondente à
celular e passar mal na rua e não ter como pedir “socorro”
resposta.
imediato ou fazer contato com alguém da sua confiança?
Sendo:
8. Com que frequência você se sente rejeitado quando ninguém
0) para não se aplica;
liga para você no telefone celular?
1) para nunca;
2) para quase nunca;
9. Com que frequência você sente baixa autoestima quando vê
3) para às vezes;
que seus amigos recebem mais ligações no telefone celular
4) para quase sempre e
do que você?
5) para sempre.
10. Com que frequência você, com o telefone celular, gosta de
Questões:
poder ser encontrado a qualquer hora?

124 125
11. Com que frequência você mantém o telefone celular sempre 20. Com que frequência você insere na agenda do seu telefone
por perto mesmo em casa? celular o número de um hospital com medo de passar mal
na rua?
12. Com que frequência você mantém o telefone celular ligado 21. Com que frequência você acessa a internet no telefone
24 horas por dia? celular?

13. Com que frequência você dorme com telefone ligado e 22. Com que frequência você joga no telefone celular?
próximo a você?
23. Com que frequência você não emprestaria o seu telefone
14. Com que frequência você sente nervosismo por não ter o celular para alguém por um dia?
telefone celular por perto ou quando fica sem bateria para
se comunicar? 24. Com que frequência você se sente inseguro sem o telefone
celular em mãos ou sem bateria?
15. Com que frequência você não desliga ou não coloca no
modo silencioso o seu telefone celular quando está com 25. Com que frequência você tem a sensação de estar
amigos? acompanhado com o seu telefone celular?” (King, Nardi e
Cardoso, 2014, p. 23 e 24).
16. Com que frequência você não desliga ou não coloca no
modo silencioso o seu telefone celular quando está com o Resultados
seu par?
“Depois de ter respondido a todas as questões, some os
17. Com que frequência você não desliga ou não coloca no pontos que selecionou para cada resposta para obter uma pontuação
modo silencioso o seu telefone celular quando está com a final. Quanto mais alta a pontuação, maior é o nível de dependência
família? do telefone celular e os problemas relacionados.
Abaixo os valores referentes aos pontos obtidos na sua
18. Com que frequência você insere na agenda do telefone pontuação:
celular o número de um médico com medo de passar mal
na rua? Até 50 pontos: Você é um utilizado sem sinais de uso
abusivo do telefone celular e com total controle sobre a sua utilização.
19. Com que frequência você insere na agenda do seu telefone
celular o número de um psicólogo com medo de passar mal 51 - 75 pontos: Você possui sinais de uma possível
na rua? dependência do telefone celular em nível leve. Começa a ter
problemas ocasionais devido ao uso abusivo do telefone celular em

126 127
certas situações. Pode vir a apresentar o impacto na sua vida por ficar Escala para avaliar a dependência do Facebook
usando o telefone celular com maior frequência que o necessário.
Fique atento para que o uso abusivo do telefone celular não traga O teste é um questionário com 25 perguntas que mede os
prejuízos para a sua vida. níveis leve, moderado e grave de dependência do Facebook.
Insira ao lado da questão o número correspondente à
76 - 99 pontos: Você apresenta sinais de uma possível resposta.
dependência do telefone celular em nível moderado. Começa a ter
problemas frequentes devido ao uso abusivo do telefone celular em Sendo:
certas situações. Deve considerar o impacto na sua vida por ficar 0) para não se aplica;
utilizando o telefone celular com maior intensidade do que o 1) para nunca;
recomendado. Deve aprender a lidar com o telefone celular de modo 2) para quase nunca;
mais consciente. 3) para às vezes;
4) para quase sempre e
Acima de 100 pontos: A utilização do telefone celular está 5) para sempre.
causando problemas significativos na sua vida em nível grave. Deve
avaliar as consequências desses impactos que podem estar causando Questões:
prejuízos nas áreas pessoal, social, familiar e profissional,
comprometendo de modo significativo a sua qualidade de vida. 1. “Com que frequência você usa o Facebook ao longo do seu
Recomendamos procurar uma orientação através de ajuda dia?
profissional” (King, Nardi & Cardoso et al., 2014 p. 23 e 24).
2. Com que frequência você sente necessidade de acessar o
Facebook?
6.4 AnexoIV:
Escala para avaliar 3. Com que frequência, quando sai do Facebook, costuma voltar
a acessar?
a dependência do Facebook.
4. Com que frequência você sente ansiedade quando percebe
que está sem acesso ao Facebook?
Segundo King, Nardi & Cardoso et al. (2014) já existe
5. Com que frequência você sente angústia quando percebe que
também uma escala para analisar a dependência de sites de redes
está sem acesso ao Facebook?
sociais, como o Facebook, tais como podemos ver a seguir:
6. Com que frequência você sente pânico em alguma situação

128 129
por não ter acesso ao Facebook? 18. Com que frequência você convida pessoas que conhece para
ser seu amigo no Facebook?
7. Com que frequência você tem medo de ficar sem o Facebook
para se relacionar? 19. Com que frequência você convida pessoas que não conhece
para ser seu amigo no Facebook?
8. Com que frequência você se sente rejeitado quando ninguém
“curte” o que você postou no Facebook? 20. Com que frequência você aceita ser amigo de quem não
9. Com que frequência você sente baixa autoestima quando vê conhece no Facebook?
que seus amigos recebem mais “curtidas” do que você no
Facebook? 21. Com que frequência você acessa o Facebook no seu
smartphone quando está fora de casa?
10. Com que frequência você deixa de fazer atividades na vida
real para ficar na realidade virtual do Facebook? 22. Com que frequência você joga no Facebook?

11. Com que frequência você costuma postar comentários no 23. Com que frequência você para aumentar a sua autoestima
Facebook? posta fotos no Facebook mostrando uma realidade diferente
da sua vida real?
12. Com que frequência você costuma postar fotos no Facebook?
24. Com que frequência você se sente deprimido quando vê no
13. Com que frequência você acredita em tudo o que é postado Facebook que os seus amigos têm uma vida mais interessante
no Facebook? que a sua?

14. Com que frequência você sente nervosismo por não ter 25. Com que frequência você usa o Facebook para evitar a
acesso ao Facebook? sensação de estar só?” (King, Nardi & Cardoso et al., 2014,
p. 25-26)
15. Com que frequência você consulta o Facebook no seu
dispositivo móvel mesmo quando está com amigos? Resultados

16. Com que frequência você consulta o Facebook mesmo “Depois de ter respondido a todas as questões, some os
quando está com o seu par? números que selecionou para cada resposta para obter uma pontuação
final. Quanto mais alta a pontuação, maior é o nível de dependência
17. Com que frequência você consulta o Facebook mesmo do Facebook e os problemas relacionados.
quando está com a sua família?

130 131
A seguir os valores referentes aos pontos obtidos na sua 6.5. Anexo V:
pontuação:
Escala para avaliar
Até 50 pontos: você é um utilizador sem sinais de uso a dependência de WhatsApp
abusivo do Facebook e com total controle sobre a sua utilização.

51 - 75 pontos: você apresenta sinais de uma possível


dependência do Facebook em nível leve. Começa a ter problemas King, Nardi & Cardoso (2014) também foram responsáveis
ocasionais devido ao uso abusivo do Facebook em certas situações. pela tradução e aplicação da escala para avaliar a dependência do
Pode vir a apresentar impacto na sua vida por ficar utilizando o WhatsApp, como podemos ver, em sua íntegra, a seguir.
Facebook com maior frequência do que o necessário. Fique atento
para que o uso abusivo do Facebook não traga prejuízos para a sua Escala para avaliar a dependência do WhatsApp
vida.
O teste é um questionário com 25 perguntas que mede os
76 - 99 pontos: Você apresenta sinais de uma possível níveis leve, moderado e grave de dependência do WhatsApp. Insira
dependência do Facebook em nível moderado. Começa a ter ao lado da questão o número correspondente à resposta.
problemas frequentes devido ao uso abusivo do Facebook em certas
situações. Deve considerar o impacto na sua vida por ficar utilizando Sendo:
o Facebook de modo mais consciente. 0) para não se aplica;
1) para nunca;
Acima de 100 pontos: A utilização do Facebook está 2) para quase nunca;
causando problemas significativos na sua vida em nível grave. Deve 3) para às vezes;
avaliar as consequências destes impactos que podem estar causando 4) para quase sempre e
prejuízos nas áreas pessoal, social, familiar e profissional, 5) para sempre.
comprometendo de modo significativo a sua qualidade de vida.
Recomendamos procurar uma orientação através de ajuda profissional Questões:
especializada” (King, Nardi & Cardoso et al., 2014, p. 25-26).
1. “Com que frequência você usa o WhatsApp ao longo do seu
dia?

2. Com que frequência você sente a necessidade de acessar o


WhatsApp?

132 133
3. Com que frequência quando sai do WhatsApp costuma voltar 14. Com que frequência você sente nervosismo quando percebe
a acessar? que está sem acesso ao WhatsApp?

4. Com que frequência você sente ansiedade quando percebe 15. Com que frequência você consulta o WhatsApp no dispositivo
que está sem acesso ao WhatsApp? móvel mesmo quando está com amigos?

5. Com que frequência você sente angústia quando percebe que 16. Com que frequência você consulta o WhatsApp mesmo
está sem acesso ao WhatsApp? quando está com o seu par?

6. Com que frequência você sente pânico em alguma situação 17. Com que frequência você consulta o WhatsApp mesmo
por não ter acesso ao WhatsApp? quando está com a sua família?

7. Com que frequência você tem medo de ficar sem acesso ao 18. Com que frequência você participa de grupos no WhatsApp
WhatsApp? com pessoas que não conhece na sua vida real?

8. Com que frequência você se sente rejeitado quando percebe 19. Com que frequência você acessa o WhatsApp no seu telefone
que alguém leu e não respondeu de imediato as suas celular fora de casa?
mensagens no WhatsApp?
20. Com que frequência você envia fotos no WhatsApp
9. Com que frequência você troca de foto no WhatsApp para mostrando uma realidade diferente da sua vida real?
melhorar a sua autoestima?
21. Com que frequência você se sente deprimido quando vê no
10. Com que frequência você usa o WhatsApp para evitar a WhatsApp que os seus amigos têm uma vida mais interessante
sensação de estar só? que a sua?

11. Com que frequência você checa mensagens no WhatsApp 22. Com que frequência você tem a sensação de estar
quando está em casa? acompanhado com o WhatsApp?

12. Com que frequência você mantém sinais de alerta de 23. Com que frequência você costuma checar se alguma pessoa
recebimento de mensagem no WhatsApp? está online através do WhatsApp?

13. Com que frequência você participa de grupos no WhatsApp? 24. Com que frequência você ignora pessoas que estão do seu
lado no mundo real para se comunicar com pessoas no
WhatsApp?

134 135
25. Com que frequência você envia ou consulta mensagens no prejuízos nas áreas pessoal, social, familiar e profissional,
WhatsApp quando dirige?”(King, Nardi & Cardoso, 2014, comprometendo de modo significativo a sua qualidade de vida.
p. 26 – 27). Recomendamos procurar uma orientação através de ajuda profissional
especializada” (King, Nardi & Cardoso, 2014, p. 26 – 27).
Resultados
“Depois de ter respondido a todas as questões, some os
números que selecionou para cada resposta para obter uma pontuação
final. Quanto mais alta a pontuação, maior é o nível de dependência
do WhatsApp e os problemas relacionados.
Abaixo os valores referentes aos pontos obtidos na sua
pontuação:

Até 50 pontos: Você é um utilizador sem sinais de uso


abusivo do WhatsApp e com total controle sobre a sua utilização.

51 - 75 pontos: Você apresenta sinais de possível de uma


possível dependência do WhatsApp em nível leve. Começa a ter
problemas ocasionais devido ao uso abusivo do WhatsApp em certas
situações. Pode vir a apresentar impacto na sua vida por ficar
utilizando o WhatsApp com maior frequência do que o necessário.
Fique atento para que o uso abusivo do WhatsApp não traga prejuízos
para a sua vida.

76 - 99 pontos: Você apresenta sinais de uma possível


dependência do WhatsApp em nível moderado. Começa a ter
problemas frequentes devido ao uso abusivo do WhatsApp em certas
situações. Deve considerar o impacto na sua vida por ficar utilizando
o WhatsApp com maior intensidade do que o recomendado. Deve
aprender aS lidar com o WhatsApp de modo mais consciente.

Acima de 100 pontos: A utilização do WhatsApp está


causando problemas significativos na sua vida em nível grave. Deve
avaliar as consequências desses impactos que podem estar causando

136 137
Seu filho está sendo vítima de cyberbullying ou sexting?
Ele fica muito tempo conectado à internet e ao celular? Ele sofre ou fica
muito ansioso quando não consegue se comunicar com os amigos
virtuais ou ficar sem jogar na rede? Seu filho sabe usar mais as tecnologias
digitais do que você? Você sabe como educar seu filho para o uso
saudável, responsável e ético das tecnologias digitais? Na minha
experiência como psicóloga especializada em vida digital, percebo que
os filhos, muitas vezes, podem até ter mais competência técnica de
como usar as ferramentas tecnológicas do que seus pais, gerando uma
inversão de hierarquia nesse quesito, mas, por outro lado, os pais, por
terem mais experiência de vida possuem também uma maior capacidade
de julgamento sobre o uso ético das tecnologias digitais e que conteúdos
devem ser compartilhados na rede ou ficar no âmbito privado. E essa
característica não deve ser menosprezada pelos pais na hora de falarem
sobre vida digital e de criarem regras e limites no uso da tecnologia em
casa com os filhos.
Além da brecha digital geracional, esta obra também aborda as diferentes
culturas familiares no uso da tecnologia, ao comparar como pais que
seguiram as carreiras tecnológicas do universo do software livre criam
seus filhos para o uso crítico, ético, saudável e responsável das tecnologias
digitais, comparados com pais que não seguiram carreiras tecnológicas
e/ou que possuem baixa escolaridade, mostrando que não há um jeito
único de criar os filhos, mas que há diferentes culturas familiares no uso
das tecnologias digitais. Este livro também traz informações para que os
pais aprendam a distinguir se o filho faz um uso saudável ou não das
tecnologias digitais, dando dicas práticas de como educá-lo para uma
vida tecnológica mais ética, responsável, saudável e plena.

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