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Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/19.219/7039 .
Largo do Paysandu. Imagem de satélite. 1: Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos;
2: edifício Wilton Paes de Almeida; 3: edifício Domingos Fernandes Alonso; 4: conjunto
José Paulino Nogueira; 5: Centro Comercial Grandes Galerias; 6: Cine Arte-Palácio
Imagem divulgação [Google Maps]
Os edifícios históricos (5), por outro lado, são portadores de uma temporalidade
difusa e longeva que admite com facilidade a preservação, até porque muitos
deles estão entre nós há séculos, isto é, já fazem parte da preservação natural
que a própria sociedade criou na sua decantação histórico-cultural
(permanências, diria Aldo Rossi (6)), ainda que isso seja mais evidente na Europa
do que no Brasil.
Edifícios modernos, pelo contrário, são muito recentes e foram pensados para
durar pouco, pois dependeriam sempre das relações com as forças produtivas “ao
serviço das novas necessidades” da sociedade, como afirmou Sert (7), de uma
sociedade que foi sempre pensada como “viva, cambiante, nova”, que são as
palavras com as quais Mies van der Rohe (8) encerra seu famoso aforismo de 1923,
onde pretendia definir a arquitetura.
Assim, ainda que o sistema capitalista seja capaz de “criar espaços novos para
a acumulação” (10), o que é evidente na construção das enormes periferias que
alongam as metrópoles contemporâneas, ele também funciona seguindo o caminho
menos espinhoso. “A sobrevivência do capitalismo é atribuída à capacidade
constante de acumulação pelos meios mais fáceis” (11). A destruição de patrimônio
construído é um ponto chave nesta questão, pois normalmente essas construções
estão situadas em pontos considerados rentáveis e a capacidade da sociedade para
protegê-los é difusa, isto quando existe alguma capacidade nesse sentido.
Evidentemente, demolir o MASP para levantar uma torre mista com galeria comercial
no térreo e nos sobressolos, amplo estacionamento e uma torre de escritórios de
alta rentabilidade acima de tudo isso, não é possível (ainda), mas fazê-lo uns
quarteirões ao sudoeste dessa localização já se mostrou totalmente factível, a
pesar da indignação de alguns setores (pequenos) da sociedade que protestaram
pela destruição de um dos últimos casarões da Av. Paulista e sua enorme área
ajardinada.
Aqui no Brasil, ainda que este comentário não seja generalizável, parecemos
estar mais interessados em inventariar e evitar a destruição de obras. Também
pensamos em seus derivados mais acadêmicos, como “trocar ideias relativas à
conservação de tecnologia, história e educação do movimento moderno” (29). Ou
ainda, nas tarefas operativas que se relacionam com o trabalho dos órgãos de
preservação, como os inventários e o tombamento.
Este caminho apontado pelo grupo internacional parece mais acertado hoje, na
hora de enfrentar a atual conjuntura político econômica, pelo menos em nossas
latitudes. Voltando a Harvey (31), nos resulta evidente que “o caminho da
acumulação seguirá por onde a resistência for mais fraca”, pois o capitalismo
busca sempre “os meios mais fáceis” para realizar seu processo de acumulação.
Afrouxar a resistência à destruição do patrimônio, como pretendem alguns dos
órgãos de preservação (pressionados pela indústria imobiliária, devemos
reconhecer), não é o melhor caminho, mas é o caminho que se seguirá se não
tentamos influenciar de alguma maneira a política desses órgãos.
notas
1
Conferência apresentada no 5º Seminário Docomomo – SP, São Paulo, 16-17 out. 2017,
na Mesa 2: Docomomo Século 21: futuros. A mesa foi desenvolvida sob o lema: "Quando
o Moderno virou passado, mas é ainda contemporâneo, como valorizar, promover e
defender esse importantíssimo legado arquitetônico e cultural?”. Participaram também:
Fernando Diniz Moreira, Cláudia Cabral, Ana Beatriz Galvão. Coordenador: Hugo Segawa.
2
BOHIGAS, Oriol. El ejemplo del azufaifo. El Periódico de Catalunya, Barcelona, 11
jul. 2007. Disponível in <http://www.elperiodico.com/es/opinion/20070711/el-ejemplo-
del-azufaifo-5463439>.
3
RANGEL, Rafael López. La Modernidad arquitectónica mexicana, antecedentes y
vanguardias: 1900-1940. México, UAM-Azcapotzalco, 1989.
4
Referimo-nos ao Giedion do VIII CIAM, onde propus o entendimento da “nova
monumentalidade”.
5
Diferenciamos aqui o patrimônio construído entre “histórico” e “moderno”, não porque
o moderno não seja histórico, mas como uma forma de facilitar a diferenciação entre
essas duas realidades, pois pretendemos demonstrar que são bem diferentes, tanto
desde um ponto de vista conceitual como operativo perante a sociedade.
6
ROSSI, Aldo. La arquitectura de la ciudad. Barcelona, Gustavo Gili, 1982.
7
SERT apud BOHIGAS, Oriol. Op.Cit.
8
MIES VAN DER ROHE, Ludwig. Aforismo 1923. Arq.urb, São Paulo, n. 10, p. 169-172, 2º
semestre 2013. Disponível in <http://www.usjt.br/arq.urb/numero-10/13-classicos-
fernando-g-vazquez.pdf>.
9
HARVEY, David. A produção capitalista do espaço. São Paulo, AnnaBlume, 2006, p. 54.
10
HARVEY, David. Op.cit., p. 67.
11
HARVEY, David. Op.cit., p. 71. Grifado no original.
12
INSPER. Patrimônio em debate: Políticas públicas de preservação. São Paulo, INSPER,
28 jun. 2017. Gravação da Mesa Redonda com a participação de Cyro Laurenza, Carlos
Faggin, Juliana Prata, Raul Lores, Álvaro de Souza e Marcos Lisboa. Disponível in
<https://www.insper.edu.br/agenda-de-eventos/patrimonio-em-debate-politicas-
publicas-de-preservacao/>.
13
Este texto foi escrito em outubro de 2017, bem antes do lamentável incêndio que
acabou com o edifício Wilton Paes de Almeida em 1º de maio de 2018. Preferimos deixar
o texto como foi escrito, sem incluir maiores comentários sobre o terrível evento
porque nos pareceu importante deixar em evidencia nossa preocupação pela situação do
Largo do Paissandu antes do desabamento. Nossa opinião sobre o que aconteceu com o
edifício pode ser lida no sítio do Núcleo Docomomo São Paulo. Disponível in
<https://www.nucleodocomomosp.com.br/noticias>.
14
INSPER. Op. cit. 2:40:09 - 2:40:21. Depois da afirmação, o presidente se pergunta
“se pode jogar fora esse lixo”, e afirma que não, pois há questões sociais (prédios
“invadidos por miseráveis que não tiveram outra solução com eles a não ser enfia-los
em aqueles lugares”) que fazem parte dessa situação de deterioro, o que pareceria
deixar o problema fora do âmbito da preservação. Ainda assim, chama a atenção o fato
de que o presidente perceba tamanho deterioro e não seja capaz de formular, ou pelo
menos sugerir, uma ação de governo, da Secretaria de Cultura ou de outras, para
enfrenta-lo.
15
Idem, ibidem.
16
Idem, ibidem.
17
Idem, ibidem.
18
Idem, ibidem.
19
Idem, ibidem, 3:04:17.
20
Idem, ibidem, 2:41:02.
21
Idem, ibidem, 3:03:50
22
Idem, ibidem.
23
Idem, ibidem, 3:06:58.
24
Revision 2010. Docomomo Constitution. Emenda à constituição do Docomomo de 1990,
realizada em 2010 no Congresso de México. Cidade do México, ago. 2010. Disponível in
<https://www.docomomo.com/pdfs/about/constitution/104836_docomomoconstitution.pdf>.
Tradução livre.
25
Site oficial do Docomomo Internacional. Disponível in
<https://www.docomomo.com/mission>. Tradução livre.
26
Idem, ibidem.
27
Idem, ibidem.
28
Site oficial do Docomomo Brasil. Disponível in <http://docomomo.org.br/sobre-o-
docomomo-brasil/>.
29
Site oficial do Docomomo Internacional. Disponível in
<https://www.docomomo.com/mission>. Item 2, da “missão” do Docomomo International.
30
Idem, ibidem. Item 3 dos “objetivos” do Docomomo Internarional.
31
HARVEY, David. Op. cit., p. 71.
32
Site oficial do Docomomo Internacional. Disponível in
<https://www.docomomo.com/mission>. Item 5 dos “objetivos” do Docomomo
International.
33
HARVEY, David. Op. cit., p. 71.
34
BOHIGAS, Oriol. Op. cit.
35
Mote da mesa temática, onde esta palestra foi ministrada: “Quando o Moderno virou
passado, mas é ainda contemporâneo, como valorizar, promover e defender esse
importantíssimo legado arquitetônico e cultural?”.
36
Site oficial do Docomomo Internacional. Disponível in
<https://www.docomomo.com/mission>. Item 5 dos “objetivos” do Docomomo
International.
sobre o autor
Fernando Guillermo Vázquez Ramos é Professor Adjunto do Programa de Pós-graduação em
Arquitetura e Urbanismo da USJT. Coordenador do Núcleo Docomomo São Paulo. Coeditor
da revista eletrônica “arq.urb”. Doutor (U.P.Madrid, 1992); Magister (Inst. de
Estética y Teoria de las Artes, Madri 1990); Técnico em Urbanismo (INAP, Madri 1988);
Arquiteto (UNBA, 1979).