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O processo de tomada de decisões judiciais de juízes no âmbito


criminal – uma abordagem qualitativa

Andreia Rodrigues1, Ana Sacau2, Glória Jollúskin3, Salvador Gonçalves4, Filipa Rua5
1
Bolseira de Doutoramento e Docente da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da
Universidade Fernando Pessoa
2
Professora Associada da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade
Fernando Pessoa
3
Professora Associada da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade
Fernando Pessoa
4
Bolseiro de Investigação e Docente da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da
Universidade Fernando Pessoa
5
Bolseira de Investigação e Docente da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da
Universidade Fernando Pessoa

A presente comunicação pretende dar conta de uma das vertentes de uma


investigação, que conta com o financiamento da Fundação para a Ciência e a
Tecnologia, que está ser conduzida no contexto de um tribunal criminal português.
Pretende-se mais concretamente, com esta investigação, perceber o processo de
tomada de decisão judicial por juízes no âmbito criminal. A abordagem desta
vertente é eminentemente qualitativa, sendo que o desenho e definição dos seus
três estudos foram concretizados na dialéctica entre os dados da literatura (escassa
no contexto português) e o contacto de terreno (numa abordagem à realidade quase
etnográfica). Pretende-se nesta apresentação expor este percurso de emergência de
uma metodologia de investigação desenhada e consolidada pelo contacto com o
terreno e com os actores do fenómeno que se pretende perceber, na qual se
assumiram estes como o ponto de partida e o ponto de chegada dos nossos dados,
apresentando os métodos concretos utilizados. Este desenho metodológico
corresponde à parte empírica da tese de doutoramento da primeira autora.

Palavras-chave: Tomada de decisão; juízes; criminal; qualitativo.

1. INTRODUÇÃO

A presente comunicação pretende expor o desenho metodológico de uma das


vertentes de um projecto de investigação financiado pela Fundação para a Ciência e a
Tecnologia, actualmente em curso. Concretamente, apresentar-se-á um desenho
metodológico de cariz predominantemente qualitativo, como uma das possibilidades de
operacionalizar o objecto da tomada de decisão de juízes, no âmbito criminal, desenho
este que corresponde aos trabalhos empíricos da tese de doutoramento da primeira
autora do presente artigo.

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Numa conjuntura social em que a Justiça se encontra numa posição de grande


visibilidade e exposição, consideramos particularmente relevante acrescentar
conhecimento aos processos relativos aos julgamentos. Conhecimento fundamentado na
investigação aferida ao contexto natural, do fenómeno em concreto, que informe e
eventualmente dissipe a desinformação muitas vezes propagada pelos meios de
comunicação social e pelas análises simplistas e pouco fundamentadas das realidades.
Sendo muito vasto o contributo que a Psicologia pode dar ao Direito, parece-nos que,
em concreto, ao nível do processo de tomada de decisão dos juízes, muito há por onde
introduzir novas compreensibilidades e sentidos. Tomando então o objecto lato da
tomada de decisão judicial como ponto de partida, optamos por permitir e privilegiar o
contacto com o terreno e a realidade em concreto, como bússolas orientadoras das
decisões metodológicas em termos de objectivos da investigação, métodos e técnicas de
recolha dos dados. Assim, a concepção dos três estudos que vão ser apresentados
emergiu da abordagem etnográfica ao objecto de investigação, num paradigma
congruente com o postulado pelas metodologias qualitativas, onde os métodos se
caracterizam por uma abertura em relação aos objectos, no sentido de responder à
diversidade da vida quotidiana (Flick, 1998). Tal como referem Denzin e Lincoln, “os
investigadores qualitativos estudam os fenómenos nos seus contextos naturais, tentando
captar o sentido ou interpretar os fenómenos em termos dos significados que as pessoas
lhes atribuem” (Denzin & Lincoln, 1994, p.2), tendo sido esta a lógica que orientou a
nossa opção por este tipo de abordagem ao terreno. Outros aspectos relacionados com a
concepção do mundo social e do próprio conhecimento contribuíram também para esta
escolha metodológica, uma vez que a investigação qualitativa, por excelência, “orienta-
se em função da análise de casos concretos nas suas particularidades temporais e locais,
e partindo das expressões e actividades das pessoas nos seus contextos locais” (Flick,
1998, p.13).

2. O(S) OBJECTO(S)

O objecto central que orienta esta investigação consiste então na decisão judicial
de juízes. Pretendia-se promover a aproximação a esta temática por parte da Psicologia,
no sentido de acrescentar conhecimento em torno deste processo. Como em relação a
qualquer objecto metodológico, várias decisões tiveram de ser tomadas, concretamente,

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no sentido da delimitação do campo e da consequente facilitação do foco. Uma delas foi


a do tipo de decisão judicial a estudar. Optamos pelo nível criminal por este poder
conter, na nossa perspectiva, uma maior variedade de situações, mais complexas e
menos triviais, que pudessem revelar aspectos mais interessantes ao nível da tomada de
decisão.
Esta será uma investigação que à luz de Creswell (1998) e das cinco tradições que
este autor propõe – designadamente, a biografia, a fenomenologia, a grounded theory, a
etnografia e o estudo de caso – não se enquadra em nenhuma delas de forma exclusiva
ou linear. Antes, trata-se, na nossa perspectiva, de um estudo fenomenológico, com o
qual se pretende fazer grounded theory, que emergiu duma abordagem fenomenológica
ao objecto. Isto na medida em que se trata de tentar compreender o mais possível a
essência das experiências em torno do fenómeno da decisão judicial de juízes,
procurando examiná-lo e aos significados que ele encerra para os actores em causa, tal
como o autor descreve a fenomenologia. No entanto, dada a ausência de conhecimento
teórico específico acerca desta temática, nomeadamente no que concerne ao contexto
português, assim como o paradigma que assumimos no que toca à natureza e construção
do conhecimento, pretende-se também que o estudo se enquadre na tradição da
grounded theory. Isto é, procura-se, em última instância, gerar teoria acerca deste
fenómeno particular, no contexto definido, a partir dos dados que emergirão do terreno
onde os juízes actuam (Creswell, 1998). A par disto, não podemos negligenciar o facto
das definições metodológicas terem emergido de uma aproximação ao terreno
enquadrável numa etnografia. Ou seja, tal como já apontamos, as opções que fizemos
em termos dos três estudos a desenvolver surgiram da observação prolongada e do
contacto com a realidade e os seus actores, tendo sido este processo que nos clarificou o
melhor caminho a prosseguir para perseguir os objectivos então traçados.

3. A METODOLOGIA E OS OBJECTIVOS

3.1. A aproximação ao terreno


A ida para o terreno, para o cenário da nossa investigação – neste caso, o Tribunal
Criminal de S. João Novo – deu-se em Novembro de 2008, altura em que seguimos as
devidas formalidades em termos dos pedidos de autorização.

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Estes primeiros pedidos de autorização eram consistentes com o objectivo que nos
orientava nesse momento inicial, ou seja, centravam-se no acesso a acórdãos dos vários
juízes. Iniciamos, em fins de Novembro, a pesquisa e umas primeiras leituras desses
materiais assim como a observação do funcionamento e das dinâmicas daquela
instituição, no sentido de a própria realidade nos fazer comunicar eventuais pólos de
interesse que devêssemos seguir e que nos orientassem reformulações aos esboços
metodológicos que já carregávamos connosco.
Foi exactamente isso que aconteceu, ou seja, ao termos acesso aos ditos acórdãos,
assim como aos artigos do código do processo penal que regem a sentença (artigos 365.º
a 380.º do Código do Processo Penal) percebemos que os acórdãos, não obstante
algumas diferenças de estilo entre os juízes, são documentos cuja estrutura, em termos
das suas partes, está devidamente definida nestes artigos (nomeadamente pelo artigo
374.º do Código do Processo Penal), assim como o estão os aspectos a considerar em
cada uma das partes.
Esta tomada de consciência assim como conclusões de outros autores (Henriques
e Pais, 2006) fizeram-nos recuar nas nossas intenções iniciais de proceder a uma análise
de conteúdo exaustiva daqueles documentos, por considerarmos então que este
procedimento provavelmente levar-nos-ia à constatação de que a informação constante
era sobretudo legal, seguindo moldes legalmente estabelecidos e por isso, e mais
importante, talvez não alimentasse a resposta mais aferida ao nosso objectivo por não
informar significativamente quanto ao processo de decisão dos juízes, implícito à
estrutura legal, definida à priori, tal como já referimos.
Para além disto, um outro factor, emergente das nossas observações e contacto
directo com os juízes, levou-nos a afastar os acórdãos como fonte privilegiada de
análise da decisão judicial dos juízes. Tratou-se da constatação de que o acórdão não
exprimia, necessariamente, o processo e percurso de pensamento da emergência de
decisão, tal como ocorria na realidade, antes muitas vezes surgindo como a necessária
legitimação dela. Ou seja, percebemos pela nossa observação e por conversas com
juízes, que, (pelo menos) muitas vezes, a posição de cada juiz e a decisão tomada pelo
colectivo surgiam da ponderação de tudo o que foi desenvolvido nas sessões do
julgamento, servindo depois o acórdão como forma legal de justificar e enquadrar esta
decisão.

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3.2. Redefinição dos objectivos e da metodologia congruente com estes


Colocando de lado, então, este estudo baseado centralmente no procedimento de
análise de conteúdo dos acórdãos, outros foram-se constituindo como potenciais, pela
via da referida abordagem etnográfica ao objecto. Denote-se que esta aproximação
etnográfica foi ganhando espaço ao constatarmos no terreno uma receptividade ao nosso
trabalho e à nossa presença muito superior à que esperávamos. Em consequência a este
facto, percebemos a possibilidade, então, de proceder a um trabalho de conhecimento da
realidade e aferição de objectos de investigação in loco, num formato semelhante a uma
etnografia. Procurando, assim, definir o desenho metodológico a partir deste método
que, pretendendo estudar o comportamento de um grupo, neste caso profissional,
consiste no debruçar do investigador “sobre os padrões comportamentais, hábitos e
modos de vida, observáveis e aprendidos, dos indivíduos em causa” (Harris, 1968, in
Creswell, 1998). Este método, que para Agar (1980, in Creswell, 1998) para além de
processo é também, por si só, um produto de investigação, decorreu por cerca de nove
meses, cabendo, assim, no intervalo definido como adequado ao seu desenvolvimento –
de seis meses a um ano, para Creswell (1998).
Foi através deste movimento de observação – uma das técnicas usadas na
etnografia – nalguns momentos participante passiva e, noutros, não participante
(nomeadamente nos formais), atenta aos vários momentos de um julgamento e a tudo o
que nos rodeava, sensível ao que nos captasse a atenção em termos de interesse
investigativo, que reformulamos e definimos os procedimentos metodológicos a
desenvolver, assim como os próprios objectivos e perseguir. Tratou-se de um processo
de imersão da investigadora “no mundo quotidiano dos participantes da investigação no
sentido de alcançar os aspectos viscerais, emocionais e inconscientes da vida do grupo”
(Manning, 2009) na maior extensão que fosse possível. Isto com o objectivo de integrar
esta informação na definição dos objectivos do estudo, no seu desenho metodológico, na
construção dos instrumentos de recolha de dados, assim como da grelha de leitura e
análise do material obtido.
Assim, o contacto com o terreno, com a realidade em concreto e com os seus
actores, sobretudo os juízes, fez-nos alterar a nuance do nosso objectivo central de
analisar o processo de tomada de decisão judicial nomeadamente em termos de factores
extra-legais ponderados, para o acesso e a compreensão do processo da dita decisão, nos
seus aspectos mais implícitos, tentando fazer revelar aspectos como as posições pessoais

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quer ao nível político, quer ao nível legal, quer ao nível das atribuições relativas aos
crimes, à sua origem, aos indivíduos que cometem crimes, às diferenças sociais, aos
diferentes objectivos sócio-legais, etc.
Tínhamos clara a noção de que se tratava de um objectivo de acesso bastante
difícil, na medida em que apelava ao implícito de processos de “outros”, previsível e
potencialmente bem defendidos, sobretudo na conjuntura de exposição crítica em que o
sistema de Justiça Português se encontrava. Este facto levou-nos a duas decisões. Por
um lado, a opção por uma metodologia eminentemente qualitativa e, por outro, o
objectivo de que os estudos a efectuar se caracterizassem por tentar captar o nosso
objecto por diferentes ângulos, no sentido de que a sua soma e alimentação progressiva,
nos dessem a melhor perspectiva possível dele.
Partindo do princípio de que as opções metodológicas devem ser tomadas de
acordo com o que se pretende perceber (Silverman, 2000), defendemos então que a
orientação por uma metodologia essencialmente qualitativa era a mais adequada aos
nossos objectivos de aceder ao outro e ao implícito das suas decisões. Isto na medida em
que esta é, por excelência, a metodologia que privilegia o acesso às temáticas a partir
dos contextos onde ocorrem, reportando e dando uma perspectiva dos assuntos a partir
do seu interior (Creswell, 1998). A investigação qualitativa agrega um conjunto de
técnicas particularmente adequadas para a investigação de questões do quotidiano,
sejam vivenciais ou profissionais, devido à sua capacidade para descrições ricas (Bloor,
1998). É, aliás, no âmbito de uma metodologia qualitativa que se postula a redacção por
um estilo narrativo, por longas passagens que exponham as diferentes perspectivas em
causa, incorporando citações dos próprios actores dos fenómenos no sentido de os
representar mais fielmente e de dar uma imagem “complexa e holística” do fenómeno
em causa (Creswell, 1998, p.15). É também esta a metodologia que sustenta, por um
lado, ser uma forma de investigação sem linhas orientadoras fixas e rígidas, onde os
métodos se caracterizam por uma abertura em relação aos objectos (Flick, 1998),
evoluindo com o decorrer dos próprios trabalhos, de acordo com o que for adquirindo
sentido neste processo (Creswell, 1998). Por outro, orientar-se pela análise de
fenómenos concretos nas suas particularidades temporais e locais, a partir das
manifestações e acções das pessoas nos seus contextos reais (Flick, 1998). Isto é, a
metodologia qualitativa opta pelo estudo dos objectos na sua complexidade e
globalidade, no pulsar dos seus quotidianos, intencionalmente não os reduzindo a

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variáveis singulares (Flick, 1998). A natureza do nosso objecto, a sua formulação de


“como”, e não de “porquê” (Creswell, 1998), a procura de entender e descrever um
fenómeno, tentando interpretá-lo e captar os sentidos que os seus actores lhes atribuem
(Denzin & Lincoln, 1994) e não de estabelecer relações, fazer comparações ou revelar
causas ou efeitos, fundamentam também esta opção.
Em suma, o facto de se tratar de um tópico que precisa de ser explorado,
relativamente ao qual importa gerar teoria empiricamente, e não tanto de se confirmar
ou infirmar determinada teoria; a pertinência de apresentar uma perspectiva detalhada
por oposição a uma panorâmica e distante; a existência de tempo e a possibilidade de
espaço para nos envolvermos num procedimento de recolha de dados extensivo e de
análise detalhada e exigente; e o facto de se enfatizar a aprendizagem activa do próprio
investigador, que pretende mais “contar a estória” a partir dos participantes, do que
avaliar a temática, do ponto de vista do “perito” – todos estes, aspectos apontados por
Creswell (1998) como sendo razões para optar por uma metodologia essencialmente
qualitativa.
Isto na medida em que, sendo um estudo fundado no paradigma qualitativo da
investigação, opta por uma metodologia mista, até porque partilhamos a ideia de
Hammersley (in Silverman, 2000, p.12) de que as nossas opções metodológicas devem
depender da ponderação de uma série de actores que não “compromissos ideológicos
para com um ou outro paradigma metodológico”. Mais do que isto, tal como defendem
Ercikan e Roth (2006), as polarizações entre metodologias quantitativas e qualitativas
per si são desnecessárias, antes devendo os investigadores pensar em termos dos seus
dados e das suas questões de partida, considerando o uso de múltiplas perspectivas e
modos de obter informação.
Assim, a parte prática deste trabalho compõe-se de três estudos, dois deles
qualitativos e um deles quantitativo, como se descreve de seguida.

4. A EMERGÊNCIA DOS 3 ESTUDOS

Devidamente enquadrado o trabalho em termos do paradigma da investigação


importa agora descrever brevemente os três estudos que se seguirão, a lógica da sua
emergência aqui, em termos de adequação ao nosso objecto, assim como a forma como
se complementam e se retroagem.

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4.1. A forma como cada um responde ao objecto


Como já explicitamos, houve um grande investimento da nossa parte em termos
de presença no tribunal para perceber os melhores métodos para aceder aos processos de
tomada de decisão dos juízes, nomeadamente pelo facto de a análise de alguns acórdãos
nos ter conduzido à noção de que muito daquele processo ficava “resguardado” daquele
documento, na medida em que a sua estrutura está muito bem definida em termos do
Código do Processo Penal, não deixando muito espaço à manifestação de como o dito
processo ocorre. Decidimos, então, investir tempo em termos de acompanhar os
procedimentos que nos eram acessíveis, no sentido de perceber onde residiam focos de
investigação que nos permitissem aproximar do dito processo de tomada de decisão, o
mais possível por vários ângulos, nomeadamente pelo facto de este ser um processo
interno, pessoal e, por tudo isto, difícil de aceder.
Deste investimento emergiu a decisão dos três estudos a conduzir, tal como, muito
sucintamente, se descrevem de seguida.
- Estudo I -
O estudo I consiste na análise de conteúdo de 93 momentos de leitura dos
acórdãos dos vários juízes. Constataram-se estilos bastante diferentes ao nível deste
momento de devolução da decisão, sendo que muitos deles revelavam aspectos
importantes motivadores da decisão final, explicados de outro modo que não o do
acórdão, para além de revelar a forma de cada um dos juízes reage à formulação aberta
por que este momento é regido, em termos do Código do Processo Penal. Os dois
objectivos que nos orientam este estudo I são, então, os seguintes:
- Perceber como os juízes significam e materializam o momento de leitura de
acórdãos, preenchendo o quase “vazio” do Código do Processo Penal
relativamente a este momento e à possível alocução;

- Identificar os aspectos salientados naquele momento, em termos da decisão


sentencial, enquanto possíveis indicadores de aspectos particularmente centrais
nesta decisão e/ou considerados relevantes de partilhar.

- Estudo II -
O estudo II baseia-se na aplicação e tratamento estatístico de um questionário
desenvolvido por nós integrando os dados do estudo I, assim como os dados da

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literatura enquanto aspectos relacionados com a tomada de decisão judicial de juízes.


Este questionário engloba áreas como:
- aspectos sócio-demográficos do transgressor:
- sexo,
- idade,
- situação de saúde,
- situação familiar,
- situação sócio-económica,
- constelação de factores;
- aspectos relacionados com o juiz:
- sexo,
- idade,
- ideologia política,
- anos de experiência profissional (rural e urbana),
- ideologias sócio-legais,
- atribuições relacionadas com a criminalidade,
- causas,
- recidiva, perigosidade e controlo do crime,
- justificações para o crime,
- atribuições acerca do sentenciar e do contexto legal Português,
- atribuições de classe,
- características de um bom juiz,
- causas para desacordo inter juízes;
- aspectos relacionados com o acto transgressivo, o transgressor e a vítima:
- características do crime,
- atenuantes,
- agravantes,
- comportamento do transgressor perante o tribunal,
- antecedentes criminais,
- reacção da sociedade;
- aspectos relacionados com as diferentes penas:
- atribuições relativamente à adequação das diferentes penas a diferentes
delitos,

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- atribuições relativamente à adequação das diferentes penas aos


diferentes objectivos sentenciais.
- Estudo III -
Por último, o estudo III trata-se da análise de conteúdo de 12 entrevistas semi-
estruturadas e longas. Pretende-se, com este estudo, aprofundar as questões que foram
sobressaindo dos estudos anteriores e do processo no geral, assim como devolver a voz
aos actores deste processo de decisão no sentido de lhes permitir introduzir (o seu)
sentido a este todo de dados. O guião desta entrevista inclui as seguintes grandes áreas:
- a tarefa de julgar e as sentenças;
- as penas de prisão;
- o arguido em tribunal;
- o sistema penal em Portugal.

4.2. A forma como os estudos se complementam – o todo que constituem


Tal como já avançamos em cima, estes três estudos compõem uma metodologia
mista, abarcando ambas as dimensões quantitativa e qualitativa da investigação ainda
que privilegiando a qualitativa nomeadamente na forma de problematizar e aceder ao
objecto. Não obstante o “privilégio” de uma metodologia em função da outra, quanto a
nós inevitável, enquanto paradigma que enquadra o papel do investigador e espaço de
legitimidade da investigação (Hesse-Biber & Leavy, 2004), optamos por incluir as duas
dimensões no sentido de melhor captar o nosso objecto. Isto é, partilhamos
indubitavelmente a posição de muitos autores de que os métodos e as técnicas devem
ser ponderados e escolhidos em função das respostas que se procuram, isto é, em função
dos objectos em causa (Silverman, 2000).
Assim, tentamos gerar uma metodologia que captasse o mais possível a decisão
judicial dos juízes, por várias formas, isto é, obrigando-os a devolver-nos dados quanto
a esse processo por vários modos. De forma directa, isto é, através de um questionário e
de uma entrevista longa e de forma indirecta através da nossa análise do designado de
extra-acórdão. A primeira técnica “obrigando” à escolha e projecção do seu pensar, em
opções pré-definidas e fechadas, sustentadas pela bibliografia e por dados das nossas
observações e inquietações até então levantadas. A segunda técnica permitindo a livre
exploração de um longo guião que compilava questões emergentes dos anteriores
estudos, com a dupla intenção de devolver aos juízes a voz em todo este processo de

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compreensão e interpretação, permitindo-lhes dar o seu sentido a tudo isto, mas também
obrigando-os a projectar o seu pensar de uma forma menos controlável e manipulável
do que o questionário, em termos do socialmente desejável, uma vez que numa
entrevista, sobretudo longa, o entrevistado se pode ver numa situação em que dar
respostas é pensar alto sobre as suas posições. A terceira técnica tentando aceder a
outros aspectos mais implícitos da dita decisão, nomeadamente nas projecções que
podem ser feitas ao nível da devolução do “mais importante” daquela ao arguido e ao
nível da interpretação do espaço que o Código do Processo Penal permite em termos da
legitimidade daquele momento de leitura do acórdão.
Tudo isto no sentido de compor uma metodologia que, no seu conjunto, permitisse
aceder à decisão judicial de juízes da forma mais holística e complexa, captando este
fenómeno nas suas várias dimensões (Creswell, 1998), ou dito de outro modo, pelas
suas várias “frentes”.

AGRADECIMENTOS
Esta investigação é financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, como uma bolsa de
investigação QREN – POPH – Tipologia 4.1 – Estudos Avançados, suportada pelo Fundo
Social Europeu e por fundos nacionais do MCTES, com a referência PTDC/PSI/65044/2006.

CONTACTO PARA CORRESPONDÊNCIA


Andreia Rodrigues
Universidade Fernando Pessoa, Praça 9 de Abril, 349, gabinete 38, 4249-004 Porto
andreiar@ufp.edu.pt

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Silverman, D. (Ed.) (1998). Qualitative Research – Theory, Method and
Practice. London: Sage Publications.
Creswell, J. W. (1998). Qualitative inquiry and research design: Choosing among five
traditions. California: Sage Publications.
Denzin, N. K. e Lincoln, Y. S. (eds) (1998). Strategies of qualitative inquiry. Thousand
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Ercikan, K. e Roth, W. (2006). What good is polarizing research into qualitative and
quantitative? Educational Research, Vol. 35, No. 5, 14-23.
Flick, U. (1998). An introduction to qualitative research. London: Sage Publications.

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Henriques, I. B. e Pais, L. G. (2006). Compreender como os magistrados compreendem:


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Hesse-Biber, S. N. e Leavy, P. (eds) (2004). Approaches to qualitative research: a
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