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Andreia Rodrigues1, Ana Sacau2, Glória Jollúskin3, Salvador Gonçalves4, Filipa Rua5
1
Bolseira de Doutoramento e Docente da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da
Universidade Fernando Pessoa
2
Professora Associada da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade
Fernando Pessoa
3
Professora Associada da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade
Fernando Pessoa
4
Bolseiro de Investigação e Docente da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da
Universidade Fernando Pessoa
5
Bolseira de Investigação e Docente da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da
Universidade Fernando Pessoa
1. INTRODUÇÃO
2. O(S) OBJECTO(S)
O objecto central que orienta esta investigação consiste então na decisão judicial
de juízes. Pretendia-se promover a aproximação a esta temática por parte da Psicologia,
no sentido de acrescentar conhecimento em torno deste processo. Como em relação a
qualquer objecto metodológico, várias decisões tiveram de ser tomadas, concretamente,
3. A METODOLOGIA E OS OBJECTIVOS
Estes primeiros pedidos de autorização eram consistentes com o objectivo que nos
orientava nesse momento inicial, ou seja, centravam-se no acesso a acórdãos dos vários
juízes. Iniciamos, em fins de Novembro, a pesquisa e umas primeiras leituras desses
materiais assim como a observação do funcionamento e das dinâmicas daquela
instituição, no sentido de a própria realidade nos fazer comunicar eventuais pólos de
interesse que devêssemos seguir e que nos orientassem reformulações aos esboços
metodológicos que já carregávamos connosco.
Foi exactamente isso que aconteceu, ou seja, ao termos acesso aos ditos acórdãos,
assim como aos artigos do código do processo penal que regem a sentença (artigos 365.º
a 380.º do Código do Processo Penal) percebemos que os acórdãos, não obstante
algumas diferenças de estilo entre os juízes, são documentos cuja estrutura, em termos
das suas partes, está devidamente definida nestes artigos (nomeadamente pelo artigo
374.º do Código do Processo Penal), assim como o estão os aspectos a considerar em
cada uma das partes.
Esta tomada de consciência assim como conclusões de outros autores (Henriques
e Pais, 2006) fizeram-nos recuar nas nossas intenções iniciais de proceder a uma análise
de conteúdo exaustiva daqueles documentos, por considerarmos então que este
procedimento provavelmente levar-nos-ia à constatação de que a informação constante
era sobretudo legal, seguindo moldes legalmente estabelecidos e por isso, e mais
importante, talvez não alimentasse a resposta mais aferida ao nosso objectivo por não
informar significativamente quanto ao processo de decisão dos juízes, implícito à
estrutura legal, definida à priori, tal como já referimos.
Para além disto, um outro factor, emergente das nossas observações e contacto
directo com os juízes, levou-nos a afastar os acórdãos como fonte privilegiada de
análise da decisão judicial dos juízes. Tratou-se da constatação de que o acórdão não
exprimia, necessariamente, o processo e percurso de pensamento da emergência de
decisão, tal como ocorria na realidade, antes muitas vezes surgindo como a necessária
legitimação dela. Ou seja, percebemos pela nossa observação e por conversas com
juízes, que, (pelo menos) muitas vezes, a posição de cada juiz e a decisão tomada pelo
colectivo surgiam da ponderação de tudo o que foi desenvolvido nas sessões do
julgamento, servindo depois o acórdão como forma legal de justificar e enquadrar esta
decisão.
quer ao nível político, quer ao nível legal, quer ao nível das atribuições relativas aos
crimes, à sua origem, aos indivíduos que cometem crimes, às diferenças sociais, aos
diferentes objectivos sócio-legais, etc.
Tínhamos clara a noção de que se tratava de um objectivo de acesso bastante
difícil, na medida em que apelava ao implícito de processos de “outros”, previsível e
potencialmente bem defendidos, sobretudo na conjuntura de exposição crítica em que o
sistema de Justiça Português se encontrava. Este facto levou-nos a duas decisões. Por
um lado, a opção por uma metodologia eminentemente qualitativa e, por outro, o
objectivo de que os estudos a efectuar se caracterizassem por tentar captar o nosso
objecto por diferentes ângulos, no sentido de que a sua soma e alimentação progressiva,
nos dessem a melhor perspectiva possível dele.
Partindo do princípio de que as opções metodológicas devem ser tomadas de
acordo com o que se pretende perceber (Silverman, 2000), defendemos então que a
orientação por uma metodologia essencialmente qualitativa era a mais adequada aos
nossos objectivos de aceder ao outro e ao implícito das suas decisões. Isto na medida em
que esta é, por excelência, a metodologia que privilegia o acesso às temáticas a partir
dos contextos onde ocorrem, reportando e dando uma perspectiva dos assuntos a partir
do seu interior (Creswell, 1998). A investigação qualitativa agrega um conjunto de
técnicas particularmente adequadas para a investigação de questões do quotidiano,
sejam vivenciais ou profissionais, devido à sua capacidade para descrições ricas (Bloor,
1998). É, aliás, no âmbito de uma metodologia qualitativa que se postula a redacção por
um estilo narrativo, por longas passagens que exponham as diferentes perspectivas em
causa, incorporando citações dos próprios actores dos fenómenos no sentido de os
representar mais fielmente e de dar uma imagem “complexa e holística” do fenómeno
em causa (Creswell, 1998, p.15). É também esta a metodologia que sustenta, por um
lado, ser uma forma de investigação sem linhas orientadoras fixas e rígidas, onde os
métodos se caracterizam por uma abertura em relação aos objectos (Flick, 1998),
evoluindo com o decorrer dos próprios trabalhos, de acordo com o que for adquirindo
sentido neste processo (Creswell, 1998). Por outro, orientar-se pela análise de
fenómenos concretos nas suas particularidades temporais e locais, a partir das
manifestações e acções das pessoas nos seus contextos reais (Flick, 1998). Isto é, a
metodologia qualitativa opta pelo estudo dos objectos na sua complexidade e
globalidade, no pulsar dos seus quotidianos, intencionalmente não os reduzindo a
- Estudo II -
O estudo II baseia-se na aplicação e tratamento estatístico de um questionário
desenvolvido por nós integrando os dados do estudo I, assim como os dados da
compreensão e interpretação, permitindo-lhes dar o seu sentido a tudo isto, mas também
obrigando-os a projectar o seu pensar de uma forma menos controlável e manipulável
do que o questionário, em termos do socialmente desejável, uma vez que numa
entrevista, sobretudo longa, o entrevistado se pode ver numa situação em que dar
respostas é pensar alto sobre as suas posições. A terceira técnica tentando aceder a
outros aspectos mais implícitos da dita decisão, nomeadamente nas projecções que
podem ser feitas ao nível da devolução do “mais importante” daquela ao arguido e ao
nível da interpretação do espaço que o Código do Processo Penal permite em termos da
legitimidade daquele momento de leitura do acórdão.
Tudo isto no sentido de compor uma metodologia que, no seu conjunto, permitisse
aceder à decisão judicial de juízes da forma mais holística e complexa, captando este
fenómeno nas suas várias dimensões (Creswell, 1998), ou dito de outro modo, pelas
suas várias “frentes”.
AGRADECIMENTOS
Esta investigação é financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, como uma bolsa de
investigação QREN – POPH – Tipologia 4.1 – Estudos Avançados, suportada pelo Fundo
Social Europeu e por fundos nacionais do MCTES, com a referência PTDC/PSI/65044/2006.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS