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A escola vai ao divã:

práticas e mediações entre psicanálise e desenvolvimento educacional

Em recente atividade, realizada em uma escola na região metropolitana de Belo


Horizonte, pude ouvir um discurso que, embora seja cada vez mais comum, ainda não
deixou de ter seus devidos ruídos. “Não suporto mais”, “é cada dia mais difícil”,
“ninguém colabora, todos exigem de nós, professores, mas ninguém vem aqui ‘pra ver’ o
tanto que é difícil”. Tais dificuldades, relatadas informalmente, proporicionaram uma
reflexão que pretendo inicar neste paper e, como questão inicial, proponho a reflexão a
partir de um conceito desenvolvido em tese de doutorado de minha autoria: como o
sentido da culpa, ou da dívida, instituido culturalmente em um mundo real, frio e sem
coração pela religião e pelo capitalismo, tem sido traduzido nos espaços educacionais?, e
(a partir disto), como a psicanálise pode dialogar com estes espaços, e compreender
angústicas, culpas, ilusões e afetos?

Desde Freud, e passando por outros psicanalistas, há uma interesse da “ciência do


inconsciente” pela atividade pedagógica. Educadores, de modo geral, possui significativa
influência afetiva com crianças, adolescentes e adultos que, de diferentes formas,
estabelecem uma dinâmica de “transferência”. No entanto, mais do que transferir a
autoridade do pai ao docente, como inicialmente a psicanálise infere, é necessário
reconhecer que há muitas outras ambivalências elaboradas no espaço escolar, quando
sujeitos reconhecem dramas, medos, aflições, angústias e a culpa. Por muitos motivos, a
escola torna-se um lugar em que tais enfrentamentos, ilusões e frustrações são
potencializadas. A psicanálise, combinada com outros instrumentos de análise, podem
desvendar como as instituições de ensino tem se organizado como “gaiolas da psique
humana”.

A transferência, primeiramente tratada na relação médico-paciente, foi


vista por Freud como se dando também nas mais diversas relações
estabelecidas pelo indivíduo na sua vida. Freud (1912a) fala de
“clichês” ou “séries” psíquicas formadas pelo indivíduo a partir de
vivências infantis e que determinam a modalidade especial de sua vida
erótica. Dessa maneira, podemos dizer que o professor é objeto de
transferência e está ligado a “protótipos”, principalmente à imagem do
pai, mas que podem também estabelecer-se conforme a imagem da mãe,
do irmão, etc., ou seja, as pessoas estimadas ou respeitadas.1

O campo da psicanálise, com real êxito, tem identificado possíveis formas de se relacionar
com o campo da educação. Faz-se necessário reconhecer como tal aproximação pode
ainda se potencializar, ao reconhecer (a) outros personagens, que não apenas professor-
aluno; (b) como a escola é espelho de uma sociedade real, fria e sem coração, e traduz
aos seus espaços as construções sociais e culturais; (c) em que medida o professor se
reconhece nas transferências elaboradas em si e para si.

Mannoni (1973) observa que, na relação professor-aluno, é criada uma


barreira entre o um professor “que sabe tudo” e um aluno “que não sabe
nada”, que garante e contém um conjunto de proteções e resistências. A
pedagogia funciona como um drama que repete muitas vezes situações
da família. Na escola, o desejo de saber do aluno se confronta com o
desejo do professor, que está ligado a um ideal pedagógico colocado
por ele mesmo, desde o início, e que se interdita ao mesmo tempo em
que se mostra ao aluno. O professor espera do aluno um saber que lhe
falta, e o aluno, por sua vez, se defende com medo de se ver frustrado
no produto do seu trabalho. O aluno se encontra numa relação de poder,
sujeito a um desejo inconsciente do professor, que pode chegar a ser
bloqueador.2

Se há diferentes caminhos investigativos para trilhar a relação entre a psicanálise e a


educação, pode-se reconhecer que alguns destes já se apresentam de forma mais
consolidada e organizada. Proponho que, antes de adentrarmos aos espaços escolares e
analisarmos as motivações de desaranjo na relação entre professores e alunos, façamos
uma observação de como a escola se constitui no ambiente social. É colocar a escola, e a
historicidade que a movimenta, no divã.

Ao compreender a escola enquanto um ‘ente’ capaz de passar pela análise, nesse caminho,
é necessário definir como os diferentes personagens que a movimenta elaboram para si e
para o outro muitas ilusões, ou seja, imagens irreais e idealizadas. Como estudantes
idealizam a escola, o professor, o poder “transformador” da educação, a gestão escolar?

1
PEDROZA, Regina Lucia Sucupira. Psicanálise e Educação: análise das práticas pedagógicas e formação
do professor. Psic. da Ed., São Paulo, 30, 1º sem. de 2010, pp. 81-96.
2
Ibid.
Como os professores também idealizam essas personagens? Em ambas as situações,
psicaniliticamente, como se constata a frustração?

A escola é um espaço em que diferentes frustrações se encontram, o que tem


potencializado a (des)ilusão daqueles sujeitos que a constituem. Como forma de
compreender tal situação, deve-se compreender como o mundo em que a escola se situa
está organizada pelo aspecto da culpa/dívida, de maneira a organizar as relações sociais.
O capitalismo, mais do que um sistema econômico, se institui/constitui numa formação
da mentalidade humana, tem organizado o endividamento e a culpa, reordenando as
disputas de modo que as nossas memórias/trajetórias sejam as (únicas?) responsáveis
pelas nossas tragédias.

Os projetos político pedagógicos, como forma de reverter os (muitos) problemas que uma
escola enfrenta cotidianamente, tem direcionado esforços na formação e capacitação dos
professores. Destaca-se que um educador bem preparado é a melhor inovação que uma
instituição de ensino pode ter, mas torna-se essencial (antes mesmo de se colocar tal
formação em prática), a compreensão de como a escola se localiza dentre as tensões
sociais e culturais, e como os afetos estão em disputa.

É dessa maneira que a psicanálise pode ajudar o educador,


permitindo a possibilidade de uma compreensão em profundidade
do sujeito, no que ele tem de mais pessoal e de mais íntimo. Para
tal, é necessário que a escola não mantenha os alunos numa
relação de submissão passiva à autoridade do professor. Este deve
lembrar que as dificuldades encontradas pelo aluno, na escola,
podem ser de origem afetiva. A relação professor-aluno depende,
em grande medida, da maturidade afetiva do professor.3

Retomando as falas apresentadas no primeiro parágrafo, quando ouvimos os professores


que atuam na educação em qualquer instância, da educação infantila o ensino
universitário, deve-se identificar ali como se constitui uma imagem divergente entre a
escola (idealizada, num sentindo romântico, como espaço capaz de “sanear” os problemas
sociais), e o lugar de ensino (vivenciada com múltiplos dramas, que reverberam aquilo
que é experimentado no cotidiano em outros lugares). Ao “receitar” a formação do
professor como uma solução para os problemas da educação, pode-se considerar neste

3
Ibid.
repertório que a situação escolar esteja tal como está devida as características do perfil
docente.

É necessário analisar a escola em um processo histórico e como há diferentes formas de


se idealizar o currículo, os processos escolares, as personagens que a constituem. A escola
no divã pode indicar ações mais precisas de se intervir na escola, sem fórmulas
preconcebidas e preconceitos que, analiticamente, devem ser descartadas.

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