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Entrevista à revista bimensal Edifícios & Energia

As más práticas que hoje caracterizam o sector poderiam ser evitadas com nova
legislação?
Peixeiro Ramos (PR): Sim, mas primeiro seria necessário criar um guião com uma
adequada estratégia para a eficiência energética (EE) e qualidade do ar interior (QAI).
Depois uma equipa que integre pessoas com conhecimentos técnicos e experiência
sólida das instalações dos edifícios, já que a legislação feita por pessoas que não
conhecem os problemas não resulta pela simples razão de que, mesmo quando há boa
vontade, são tecnicamente incapazes de encontrar as melhores soluções. Falta colocar
as pessoas certas nos lugares certos. O que foi feito nos últimos anos foi o contrário.
Com o lançamento da Certificação Energética foi criado uma “comissão tecnocientífica”
que acompanhava o desenvolvimento da aplicação dos regulamentos, detectando os
problemas e apontando soluções. Em 2012 essa “comissão” foi considerada
desnecessária pelas entidades responsáveis ficando o Sistema de Certificação
Energética (SCE) descerebrado, e a pouco e pouco tem sido transformado em mera
burocracia.

Podemos definir dois momentos? Um primeiro em que tudo estava a funcionar e outro
não?
PR: Exactamente. A legislação de 2006 trazia algumas indefinições, imprecisões e
lacunas para as quais se iam arranjando soluções no sentido de melhorar o sistema. Mas
ao entrar em vigor a obrigação da certificação dos edifícios de serviços existentes
(2009/2010), gerou-se uma resistência por parte de alguns sectores e o SCE retraiu-se
à espera da revisão da legislação que chegou totalmente descaracterizada em 2013 com
o abandono da QAI, da manutenção e do comissionamento, através da extinção das
figuras dos Peritos qualificados da QAI e dos TRF, e com a criação dos TIM com poder
para executar tarefas para as quais não têm habilitações, e ainda por cima tornando
essas tarefas actos próprios dos TIM, impedindo que possam ser executadas por quem
tenha habilitação e capacidade, mas não seja TIM.

Mas na legislação temos parâmetros para a QAI, requisitos para as instalações e


manutenção e outros procedimentos obrigatórios. É insuficiente?
PR: A actual legislação é confusa e incongruente pois o articulado não permite atingir os
objectivos traçados. Para que os requisitos sejam cumpridos tem que ser posta em
prática uma estratégia de verificação e controlo eficazes.

Quais são as grandes questões a considerar?


PR: São as mesmas que tínhamos há 20 anos, nomeadamente no que se refere à QAI,
ao conforto térmico e à utilização de energia. No que respeita à QAI, já no final do século
passado havia a noção de que era preciso aumentar os caudais de ar novo e tratar da
questão das partículas porque a poluição no interior dos edifícios era grande e
precisávamos de tratar o ar. Ora em 2012 há um relatório da OMS que comprova que 7
milhões de pessoas morrem por causa deste problema. Tínhamos que melhorar a
filtragem do ar. Por outro lado, o conforto térmico está ligado à produtividade e
sabemos que quando nos afastamos dos 22ºC há perdas significativas. Num edifício com
muitos trabalhadores qualquer perda de produtividade representa somas importantes.
Do ponto de vista da eficiência energética tínhamos os aproveitamentos da energia
solar, do vento e o aquecimento e arrefecimento urbano que inexplicavelmente deixou
de ser falado. Tínhamos também a geotermia e a questão da recuperação de calor.
Quanto à manutenção todos sabemos que a maior parte dos equipamentos mesmo bem
instalados, com uma boa manutenção e bem comissionados ao fim de algum tempo de
trabalho podem ter quebras na ordem dos 15% no seu desempenho. É preciso dar outra
força à manutenção para manter os equipamentos no seu ponto óptimo de
funcionamento. Tudo isto tem que ser considerado na base de qualquer legislação.
Outra questão também muito importante é o conflito de interesses na emissão do
certificado energético pelo PQ.

E como se podia resolver esse conflito de interesses?


PR: Poderia ser uma entidade pública que recebia todos os pedidos de certificação e que
depois nomeasse os PQ para a emissão dos certificados numa base aleatória. As taxas e
a execução de um certificado seriam iguais para toda a gente em qualquer ponto do
país. Isto sim seria uma bolsa de PQ que deveria existir. Essa Entidade deveria facturar
ao cliente e pagar directamente aos PQ. Deste modo os PQ poderiam desempenhar as
suas funções de forma adequada.

Que implicações é que essa solução poderia ter no mercado? Menos PQ a operar?
PR: Não restringia o número de profissionais. A única dificuldade poderia estar na
distribuição do trabalho, para o que deveriam ser estabelecidas regras claras. Tinha que
se arranjar um mecanismo adequado que funcionasse de uma forma transparente. O
argumento da livre concorrência da forma como está montado o sistema não funciona
e já se percebeu que este modelo não é eficaz. Visto a natureza do serviço ser o bem
público este tipo de serviço não deve estar subordinado ao mercado.

Vamos olhar para o certificado como ele existe hoje...


PR: Falando do sector residencial que representa a esmagadora maioria dos certificados,
o modelo actual não traduz a utilização de energia pelo edifício. Os valores espelhados
são potenciais. O edifício é comparado com uma referência, portanto o certificado só
traduz quanto ele se aproxima dessa referência. Só serve para comparar edifícios. Não
serve para sabermos como é a sua real utilização de energia. Mesmo esta comparação
está viciada, antes era pelos equipamentos de ar condicionado, agora é pelas lareiras.
Basta colocar umas salamandras nos espaços, mesmo que não funcionem, para se
passar de B- para A+.
Em relação aos edifícios existentes, não se apura a discrepância entre os valores
apontados para a utilização anual de energia e os que integram as facturas pagas.
Questões essenciais como o relacionamento da inércia térmica com a utilização do
edifício não são consideradas.
Obviamente que as medidas de melhoria são muito importantes, mas não devem ser
tratadas deste modo catalogadas e obrigatórias. Cada caso deve ser olhado como único
e as medidas de melhoria a enunciar devem ser apenas aquelas que, para além de
poderem ser implementadas, traduzem real redução da utilização de energia e não
aquelas que melhoram a classificação energética. O foco deve estar sempre na utilização
racional de energia e não no rótulo energético. Uma das medidas de melhoria com mais
impacto na utilização de energia, mas que nunca vi em nenhum certificado é a
recomendação de mudança de comportamento dos utilizadores, que nem sequer é
investigada.

Mas sabemos à partida quais as maiores fragilidades que existem hoje na maioria dos
nossos edifícios…
PR: Existe muita informação arquivada, mas esta só por si não aumenta o conhecimento
da realidade construída. A informação que interessa e que tem utilidade é aquela que é
passada para os utilizadores, que os leve a optimizar a sua utilização de energia. Esta
informação não existe.

Falamos sempre de qualidade. Esse é o ponto.


PR: Apesar das sucessivas chamadas de atenção para a construção da qualidade do SCE
as entidades responsáveis continuam a confundir este conceito com a mera fiscalização,
não sendo capazes de vislumbrar que a qualidade do SCE só poderá ser garantida pela
repetibilidade, e esta só pode ser obtida pela definição inequívoca de todos os
procedimentos que conduzem à classificação energética. A classificação não pode
depender do perito que faz o certificado.

Notas muito finais e muito resumidas


PR: Legislação absurda que deveria ser remodelada ou substituída, nomeadamente
aquela que se refere às competências para a emissão de certificados e garantia da
manutenção. Veja-se que hoje, um PQ de outro país, que não fale português, que não
conheça as nossas regras e apenas aquelas do seu país de origem, pode cá estar a
exercer actividade de perito qualificado. Depois temos a questão das auditorias da QAI
prometidas em Janeiro pelos responsáveis governamentais: como estão as alterações à
legislação e quem é que as está a fazer? E para quando a sua entrada em vigor?
Objectivectiamente a qualidade do ambiente interior, o conforto, as instalações e a
utilização de energia pelos edifícios não vão melhorar apenas com a legislação e muito
menos da forma como ela está a ser conduzida.

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