Вы находитесь на странице: 1из 68

Ano XXVII- setembro/2016 nº300 - R$ 13,00 - www.musitec.com.

br

A FORTALEZA
DE SAFADÃO
Vintage e moderno juntos no recém-inaugurado
estúdio de uma das maiores estrela pop do país

SCHEPS PARALLEL
PARTICLES AO VIVO
O L U M E DA SUA
Plug-in Waves soma harmônicos OV
X AG E M ESTÁ
M I
e distorção a instrumentos “sem vida” CORRETO
?

LOGIC PRO X NO ESTÚDIO


Formas de controle e criação Panoramização: entendendo
de efeitos com o Environment texturas e interações
A

Rio 2016 – Tudo sobre a iluminação da cerimônia de abertura das Olimpíadas


CEN
Z&
LU

Direção artística de shows: a importância da função na construção de espetáculosáudio música e tecnologia | 1


2 | áudio música e tecnologia
áudio música e tecnologia | 1
ISSN 1414-2821
EDITORIAL
Áudio Música & Tecnologia
Ano XXVIII – Nº 300/setembro de 2016
Fundador: Sólon do Valle

Direção geral: Lucinda Diniz -


lucinda@musitec.com.br

A CASA DO SAFADÃO Edição jornalística: Marcio Teixeira


Consultoria de PA: Carlos Pedruzzi

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO


André Paixão, Cristiano Moura, Enrico De
Há pouco menos de um ano eu estava aqui, nesse mesmo espaço, destacando
Paoli, José Carlos Pires Junior, Lucas C.
que, àquela época, “respeitem o Safadão” era uma das frases mais em evi-
Meneguette, Renato Muñoz e Rodrigo de
dência na internet zueira brasileira. Falei que “os feitos de uma das maiores
Castro Lopes.
estrelas populares do nosso país nos remetem ao que, há algum tempo, e
sem muita graça, era dito sobre Chuck Norris e sua capacidade de ser supe-
Foto de capa: Divulgação
rior a tudo e a todos”, de formal quase divinal. “Mas com Wesley a brincadeira
se baseia em fatos reais”, disse eu, “e não em interpretações canastronas em
REDAÇÃO
filmes enlatados”.Wesley Safadão é de verdade.
Marcio Teixeira - marcio@musitec.com.br
Rodrigo Sabatinelli - rodrigo@musitec.com.br
Se há quase um ano eu falava sobre como um artista vindo do nordeste do
redacao@musitec.com.br
Brasil, do underground popular, merecia cada pedaço de glória e de capa de
cartas@musitec.com.br
revista, nessa AM&T 300 já estamos um passo adiante, e trazemos para você
tudo sobre o estúdio do Safadão, que se tornou realidade após um convite do
DIREÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO
artista ao engenheiro de acústica e projetista de estúdios – sim, ele – Carlos
Client By - clientby.com.br
Duttweller. É conferir a matéria e saber tudo sobre o espaço, que, em meio
Frederico Adão e Caio César
a novidades em termos de equipamentos, também conta com itens vintage.
Assinaturas
No Notícias do Front, uma pergunta bastante simples, mas de importância Karla Silva
fundamental, é feita: o volume de sua mixagem está correto? Confira o artigo assinatura@musitec.com.br
de Renato Muñoz e saiba de que forma a sua resposta pode implicar no som
que está sob seu comando. Na seção Plug-ins o destaque da vez é o Scheps Distribuição: Eric Brito
Parallel Particles, que leva o nome e a assinatura sonora de Andrew Scheps,
engenheiro que já mixou muita coisa de nomes como Red Hot Chili Peppers, Publicidade
Metallica, Adele, entre tantos outros. Como você verá no artigo, trata-se de Mônica Moraes
um plug-in que não é voltado a corrigir ou salvar nada do seu trabalho, mas, monica@musitec.com.br
sim, somar harmônicos ou distorção ao sinal, permitindo uma sonoridade
nova e com cara própria para algo que antes podia sofrer de falta de “vida”. Impressão: Gráfica Stamppa Ltda.

No Desafiando a Lógica, Nervoso propõe ao leitor descobrir mais sobre formas Áudio Música & Tecnologia
de controle e criação de efeitos com os recursos do Environment, enquan- é uma publicação mensal da Editora
to que no Fazendo Música no Estúdio a panoramização está novamente em Música & Tecnologia Ltda,
voga. E tem mais! CGC 86936028/0001-50
Insc. mun. 01644696
Virando a chave para o caderno Luz & Cena, a matéria de capa é sobre aquele Insc. est. 84907529
espetáculo maravilhoso das luzes na cerimônia de abertura das Olimpíadas, Periodicidade Mensal
que mal acabaram e já nos enchem de saudades... Na segunda matéria, um
olhar bastante interessante sobre a direção artística de shows, com Bruno ASSINATURAS
Solino nos falando sobre a importância da função na construção de um grande Tel/Fax: (21) 2436-1825
espetáculo. Muito legal. (21) 3435-0521
Banco Bradesco
Boa leitura! Ag. 1804-0 - c/c: 23011-1
Marcio Teixeira
Website: www.musitec.com.br

Não é permitida a reprodução total ou


parcial das matérias publicadas nesta revista.

AM&T não se responsabiliza pelas opiniões


de seus colaboradores e nem pelo conteúdo
2 | áudio música e tecnologia dos anúncios veiculados.
áudio música e tecnologia | 3
26 32 Desafiando a Lógica
Explorando as entranhas do Logic com o
Environment (Parte 1) - Descubra mais sobre
A Fortaleza de Safadão diferentes formas de controle e criação de efeitos
Vintage e moderno se fundem com os recursosdo Environment
em recém-inaugurado estúdio André Paixãoi
de estrela pop
Rodrigo Sabatinelli 36 Fazendo Música no Estúdio
Panorâmico (Parte 3)
Outras texturas e interações
Rodrigo de Castro Lopes

40 Produção Fonográfica

14 Em Tempo Real
Guilherme Lage
Captando Histórias de Amor: FATEC-Tatuí abre as
portas do seu estúdio para projetos independentes
Marcio Teixeira Lucas C. Meneguette e José Carlos Pires Junior

16 Notícias do Front
O volume da sua mixagem está correto? 64 Lugar da Verdade
Imperfeitamente perfeito
Renato Muñoz
Enrico De Paoli

22 Plug-ins
Scheps Parallel Particles
Pense pouco e experimente muito
Cristiano Moura seções
editorial 2 notícias de mercado 6
novos produtos 10 índice de anunciantes 63

50
58
capa
profissão
Rio 2016 – Tudo sobre a iluminação
Direção artística de shows – Bruno Solino
da cerimônia de abertura do evento
fala sobre a importância da função na
por Rodrigo Sabatinelli
construção de um grande espetáculo
por Rodrigo Sabatinelli

PRODUTOS .................................. 46

EM FOCO .................................... 48

4 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 5
nacionais de pró-áudio e showbusiness ainda
têm muito a evoluir

NoTÍCIAS DE MERCADO

SHURE PROMOVE CURSOS ON LINE…


Fabricante de microfones e fones, dentre outros produtos do Sistemas de Retorno, dia 7 de outubro; Cinco Mitos Sobre
segmento de áudio profissional, a Shure vem promovendo, Microfones, dia 14; Fale Com um Especialista Shure, dia 21,
gratuitamente, ao longo do ano, cursos on line nos quais os e Montagem e Uso de Antenas, dia 28.
participantes podem ver, ouvir e interagir com seus pales-
trantes. O objetivo desses cursos é, de acordo com a fabri- …E ANUNCIA ESPECIALISTA
cante, facilitar o contato da empresa com distribuidores, re- EM DESENVOLVIMENTO
vendedores, consumidores finais e interessados pelo setor.
A empresa anunciou, ainda, no
Ministrados por Adinaldo Neves e Jon último mês, seu mais novo es-
Lopes, especialistas de produtos da pecialista em desenvolvimento
marca, os encontros levam ao público de mercado sênior para a Amé-
informações técnicas sobre produtos rica Latina, Guilherme Steinhau-
para broadcast e conhecimentos de ser (foto). O profissional, que
montagem e uso de antenas, dentre irá trabalhar diretamente com
outros assuntos. Para participar dos o segmento de som instalado,
cursos é preciso cadastrar o e-mail no atendendo aos centros de distri-
site da Shure (www.shurebrasil.com) Guilherme Steinhauser, novo buição, parceiros e os principais
e, no campo “Curso Online”, escolher especialista em desenvolvimento de consumidores da América Latina,
as categorias de seu interesse. mercado sênior para a América Latina tem mais de 20 anos de experi-
ência na indústria de integração
Até agora, agendados para a segunda AV e, recentemente, ocupou o
quinzena de setembro e para todo o mês de outubro estão os cargo de gerente de vendas e desenvolvimento de mercado
cursos A História do Microfone Dinâmico, dia 16 de setembro; em empresas como Bose e Biamp. Na Shure, especificamen-
Microfones Para Câmeras de Vídeo, dia 23 de setembro; So- te, ele irá se reportar a Helio Garbin, diretor associado de
luções de Áudio Para Igrejas, dia 30; Como Usar e Selecionar vendas para a América Latina.

EXPOMUSIC 2016: NO ANHEMBI E COM MAIS NOVIDADES


Prometendo várias novidades, acontece de 21 a 25 de setembro Outra novidade é a criação de espaços para negócios, em
a Expomusic 2016, que este ano será realizada em novo local, um local afastado da agitação dos estandes, para o expositor
o Anhembi. No novo formato, palestrantes renomados irão de- se reunir com clientes e logistas, ampliar parcerias e fechar
bater temas como inovação, tecnologia, marketing, tendências negócios com mais traquilidade. Além disso, muita música
vai rolar no MusicHall, no espaço Arena Expomusic, que é
do varejo, mídias sociais, e-commerce, entre outros. Será uma
composto pelo Auditório Elis Regina e a área externa.
grande oportunidade para que músicos, lojistas, DJs e profissio-
nais do setor adquiram conhecimentos e troquem experiências.
A feira, como sempre, apresentará novidades do mercado
de instrumentos musicais e áudio profissional, e a revista
Áudio Música & Tecnologia estará lá na rua 2/L. No nosso es-
tande poderão ser adquiridos livros e assinaturas da revista
com descontos especiais para a feira. Para conhecer todo o
programa de shows, eventos e lista de expositores, acesse:
www.expomusic.com.br.

Serviço:
Local: Anhembi – São Paulo
Data: 21 a 25/09/2016
Horário: de quarta a sábado, das 13 às 21h, e domingo
das 13 às 19h
No novo formato do evento, palestrantes irão debater
temas como inovação, tecnologia, marketing, tendên-
cias do varejo, mídias sociais e e-commerce
áudio música e tecnologia | 7
NoTÍCIAS DE MERCADO

TV KALUNGA PELO MUNDO


Desde o início desse ano, quando deixou a equipe da cantora de serviço [resolver os problemas técnicos dos usuários], como
Ivete Sangalo para traçar novos rumos profissionais, o enge- meus amigos Renato Vilela e Fernando Canabarra, [técnicos]
nheiro de PA Carlos Kalunga Branco vem dedicando parte de da Daware, mas, aqui [na Flórida], ele [Geraldo] está lado a
seu tempo à TV Kalunga, divertido canal de vídeos, que criou lado com os verdadeiros construtores dos equipamentos, o que
com o objetivo de compartilhar conhecimentos técnicos. E facilita muito na questão do suporte”, explicou Kalunga.
numa de suas recentes viagens aos Estados Unidos, o baiano
visitou a sede da Ground Control Pro Audio, assistência téc-
nica e suporte local da AVID, na Flórida. Além da visita à Ground Control, nesse ano, Kalunga e sua TV
estiveram em fábricas como a da Sennheiser e em feiras como
Na ocasião, Kalunga esteve com Geraldo Souza, técnico respon- a Musikmesse, ambas na Alemanha; em casas de shows como a
sável pelo atendimento aos usuários dos produtos AVID, como, The Fillmore, em São Francisco, Califórnia, na qual se encontrou
por exemplo, as mesas SC48, Profile e S3L. Juntos, eles mostra- com Robert Scovill, e no United Studios, em Los Angeles, onde
ram como funciona o escritório norte-americano da GCPA. encontrou o amigo Moogie Canazio. Aos interessados, o perfil da
TV do engenheiro é o www.youtube.com/user/kalunga1 e o site
“No Brasil, temos outros profissionais habilitados para esse tipo da Ground Control é o www.groundcontrol-usa.com.

Divulgação
Divulgação

Carlos Kalunga Branco em uma de suas mais recen- Kalunga e sua TV recentemente se encontraram com
tes viagens: o engenheiro de PA vem dedicando parte Robert Scovill na casa de shows The Fillmore, em São
de seu tempo à TV Kalunga, divertido canal de vídeos Francisco, Califórnia
criado para compartilhar conhecimentos técnicos

ÁUDIO DE LUTO: FALECEU CARLOS CORREIA


Faleceu, no dia 28 de agosto, Carlos Correia, um dos maiores
AM&T

e mais importantes profissionais do som do país. Nascido no


interior da Bahia, Correia começou sua vida no áudio como
DJ, fabricando suas próprias caixas. Autodidata, em breve se
tornaria um engenheiro de som altamente requisitado.

Em entrevista concedida à AM&T em maio de 2005, Carlos


falou sobre o início de sua carreira, seus projetos de line ar-
ray, e fez observações sobre o mercado. Confira o conteúdo
completo em http://tinyurl.com/CarlosCorreia.

Carlos Correia vai deixar saudades, mas seu legado seguirá


conosco.

8 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 9
novos produtos

WAVES LANÇA PLUG-IN DE CORREÇÃO DE PITCH EM TEMPO REAL


Tune Real-Time. Esse é o nome do novo plug-in da Waves nhecer a escala da música, também será possível inseri-la
que promete corrigir, de forma suave e instantânea, o pitch por meio de um teclado virtual.
de uma performance vocal. Projetado tanto para uso em
apresentações ao vivo quanto para uso em estúdio, a novi- Compatível com todas as aplicações SoundGrid e mixers
dade detecta e corrige o pitch das vozes garantindo que o eMotion, o plug-in pode trabalhar facilmente com qualquer
som delas se mantenha o mais natural possível. console ao vivo via MultiRack, sem necessidade de configu-
rações complexas. Aos interessados, ele pode ser adquirido
Produtores, engenheiros e músicos podem usar a ferra- no site da Waves, o www.waves.com.
menta para uma correção de pitch sutíl e, também,
na produção criativa de um efeito de quantificação

Divulgação
– tudo em tempo real –, afinal, os controles intuiti-
vos, o layout simples e a compatibilidade com telas
sensíveis ao toque são alguns de seus aspectos.

De acordo com o fabricante, o Tune Real-Time


pode ser facilmente programado e personalizado
para a articulação do cantor. O técnico pode con-
trolar o alcance, escolher a escala, marcar notas
específicas para serem corrigidas ou evitadas,
regular a sensitividade do plug-in e, até mesmo,
ajustar o vibrato do cantor enquanto preserva o
movimento natural do som. Se o usuário não co-

APP AMPLITUBE GRATUITO PARA IOS A IK Multimedia disponibilizou gratuitamen-


te, em seu site, no final do mês passado, o
aplicativo para dispositivos iOS AmpliTube
Acoustic. Anunciado como o primeiro estú-
Divulgação

dio de timbres mobile, desenhado especifi-


camente para músicos acústicos, ele emula
a amplificação e a cadeia de efeitos usados
para tocar tanto ao vivo como em estúdio, e é
projetado para trabalhar com o iRig Acoustic,
um microfone para violão acústico da marca.

O app, que deve ficar disponível para downlo-


ad gratuito por pouco tempo, traz três mode-
los de amplificadores, sendo dois solid state e
um valvulado, com outros seis pedais de efei-
tos para serem usados especificamente com
música acústica. Além disso, assim como o
conhecido AmpliTube, voltado para guitarris-
tas e baixistas, a versão Acoustic incorpora
os recursos de looper e ultra tuner e conta
com um gravador de oito pistas. Detalhes em
www.ikmultimedia.com/pt.

10 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 11
NoVoS PRODUTOS

FONE SENNHEISER PARA IPHONE MANíACOS


E o público “abraçou” mais um produto da extensa linha de
fones da Sennheiser. Trata-se do IE 80, modelo in-ear que
promete oferecer aos usuários de dispositivos móveis
como, por exemplo, iPads e iPhones, um som
de alta fidelidade e atenuação de ruídos.

Composto por um sistema de falantes dinâ-


micos com poderosos ímãs em neodímio, o IE
80 também conta com tecnologia exclusiva que
permite ajuste da resposta de graves. Com cabo
substituível e case sólido feito em metal escovado, o
fone foi construído com máxima robustez e flexibilidade.

Divulgação
Informações: pt-br.sennheiser.com

MOOER LANÇA PEDAL PHASER LIQUID


A linha de mini-pedais da Mooer ganhou, recentemente, um novo modelo: o Liquid Phaser Pedal, pedal digital cheio de fun-
cionalidades em um corpo de pequenas proporções. Desenvolvido com o objetivo de proporcionar ao músico um som versátil
e diferenciado, o timbre do equipamento vai de toques suaves a modulações extremas.

Representada no Brasil pela Habro Music, a Mooer inseriu no modelo cinco tipos de efeitos,
assim como um trio de formas de onda – triangular, quadrado e redondo –, a partir das quais
o músico pode criar uma ampla gama de sons.

A novidade possui um único botão de controle, que pode ser


utilizado para ajustar a fase. A funcionalidade é definida
de acordo com o modo selecionado e, com base na
profundidade, o pedal pode ajustar o Q va-
lue, o feedback ou o Q value combinado
com o feedback.

Mais informações em
www.habro.com.br.
Divulgação

12 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 13
Arquivo Pessoal GL
EM TEMPO REAL | Rodrigo Sabatinelli

guilHerme lage
da PrOduÇÃO aO sOm diretO

A
ntes se tornar técnico de som documentários, passando por séries
direto, o carioca Guilherme Lage produzidas para canais a cabo, progra-
trabalhou por cerca de dez anos mas de entrevistas e campanhas pu-
como produtor audiovisual. A mudança blicitárias, dentre outros, com desta-
de mercado, diz ele, foi consequência de que para Conselho Tutelar, Os Anos 80
um desgaste – apesar do fascínio pelo Estão de Volta, A História do Samba e
universo audiovisual – e, também, da MPBambas”, completa o fã dos equipa-
familiaridade com o áudio – especialmente mentos Sennheiser. “Confiança, no nos-
por ter passado boa parte da vida em so métier, é tudo!”, define.
estúdios de ensaio e gravação –, algo que
tornou tal processo ainda mais natural. GRAVADOR: No momento, estou usan-
do um gravador digital modelo H6, da
“O fato de ter sido produtor musical e mú- Zoom. Trata-se de um equipamento de
sico me ajudou bastante, por exemplo, na fácil utilização e de ergonomia favorá-
questão de posicionamento dos microfo- vel à rapidez, uma necessidade de todo
nes e na interação com os demais profis- e qualquer set de filmagem. Como faço
sionais que compõe um set de filmagem, muito som direto para projetos docu-
tais como o diretor, o diretor de fotografia, mentais, que se diferem da dramaturgia
etc”, lembra ele, atuante de um mercado especialmente pelo fato de não haver
que, a cada dia, cresce, e que, no qual, já encenação e, sim, a captação de situa-
deixou sua assinatura em um sem número ções espontâneas, posso dizer que ele [o
de trabalhos. H6] é bastante funcional.

“De pequenos making ofs a grandes FORMATO DE ÁUDIO: Geralmente, gra-

14 | áudio música e tecnologia


vo meus arquivos de áudio em Wave, pois, externas, ou seja, locações, tomo muito
além de [o formato] ter qualidade para cuidados com os ruídos, que são mui-
uma boa edição de som, é leve o suficien- to maiores que os [ruídos] de um es-
te para ser compartilhado de forma rápida túdio, por exemplo. Na verdade, estar
com editores e produtores. de posse de um equipamento pelo qual
o técnico tenha afinidade e, principal-
MICROFONES: Em meu setup, utilizo, mente, confiança é algo fundamental e
basicamente, dois microfones: o boom
indispensável.
ME66 e o lapela EW 100-ENG G3, ambos
da Sennheiser. A opção pela marca se dá
DICAS PARA INICIANTES: Quando
por motivos óbvios: é a mais indicada em
decidi trocar o mercado de produção
nosso segmento. E, pelos modelos [se
pelo de som direto, já sabia o perfil de
dá] – além, claro, da sonoridade –, em
técnico que as produtoras audiovisuais
razão de serem robustos, ou seja, resis-
tentes ao dia a dia que costuma nos guar- do Rio [de Janeiro], onde vivo, procu-
dar muitas surpresas. ravam. E a realidade é a mesma, não
mudou nada: ao mercado, interessa o
FONES: Há anos, trabalho com os fones profissional educado e discreto, do pon-
SMH, da Senal e, por conta disso, meus to de vista pessoal, e, tecnicamente fa-
ouvidos já estão super acostumados lando, aquele que conhece e faz bom
[com eles]. Como, geralmente, filmo em uso de seu equipamento. •

Divulgação

Expostos, os equipamentos do setup de Guilherme: simplicidade


e segurança para atender ao mercado audiovisual

áudio música e tecnologia | 15


NOTíCIAS DO FRONT | Renato Muñoz

O vOlume da sua
mixagem estÁ cOrretO?
E
sta realmente é uma pergunta difícil de ser respon- cidos. Devemos conhecer os equipamentos de medição,
dida, simplesmente por existirem diversos fatores entender um pouco de como as leis funcionam (já que
que devem ser levados em consideração quando são tantas, tão diferentes) e, principalmente, usar o nosso
vamos discutir este tema: desde o tipo de programa que profissionalismo.
estamos mixando, passando pelo tipo de evento, ambien-
te, além de fatores que estão fora do nosso controle. cOmO adaPtar O vOlume da
Há, basicamente, duas maneiras de trabalharmos em re-
mixagem a determinadOs
lação ao volume (pressão sonora) do sistema de sonori- eventOs?
zação. Uma é quando um limite qualquer é estabelecido
(veremos, mais à frente, como isso pode acontecer) e a Para mim, bom senso e profissionalismo! Essa seria a res-
outra é quando este limite não existe e quem determina posta mais objetiva. Tudo vai depender destes dois fato-
isso é a pessoa que está mixando (em alguns casos, junto res e, principalmente, de como os produtores executivos
com o técnico do sistema). e produtores técnicos do evento, além do técnico do sis-
tema e do técnico da banda, irão trabalhar. Todos esses
Muito do que acontece de errado em relação ao volume profissionais são responsáveis por algum ponto dessa his-
de uma mixagem se deve, principalmente, a falta de bom tória – desde estabelecer limites, controlar estes limites e,
senso e de experiência. Alguns técnicos, simplesmente, principalmente, obedecê-los.
não se preocupam com isso e trabalham com um volume
muito acima do necessário. Outros, por sua vez, ainda Trabalhando com o Skank há cerca de 15 anos, já parti-
não conseguem perceber que estão passando do limite e cipei de todo tipo de evento que se possa imaginar. Em
prejudicando o seu trabalho. festivais nacionais, festivais internacionais, eventos cor-
porativos, eventos particulares e shows em geral, sempre
Também há a tradicional necessidade de grande par- procuro me adaptar, o que nem sempre é fácil. E olha que
te do público brasileiro de-
sejar um volume mais alto.

WikiImages
Cansei de assistir a shows
com um volume confortável
e observar comentários de
pessoas como “o som deve-
ria estar mais alto” e “assim
parece ruim”. Claro que isso
não ocorre só aqui no Brasil,
afinal de contas, cada país
possui características dife-
rentes de público.

O que é importante para nós


que trabalhamos com áudio
é saber atuar com ou sem
limites. Devemos, também,
saber resolver problemas que
dificultem o nosso trabalho
dentro de limites estabele-

O público brasileiro, em geral, está acostumado com volume alto nos shows

16 | áudio música e tecnologia


perdimensionados, com mais

WikiImages
som que o necessário, daí,
a importância da decisão do
técnico.

cuidadOs e
sOluÇÕes Para
aJudar O nOssO
trabalHO em
relaÇÃO aO sPl
Um dos grandes problemas
em relação ao volume do sis-
tema é, na verdade, o volume
dos instrumentos e dos moni-
tores no palco. Dependendo
principalmente do tamanho
Em eventos corporativos nem sempre mixamos do ambiente, quanto menor
no mesmo volume do que em festivais for este ambiente, maior se-
rão os problemas para o téc-
nico de PA. Muitas vezes, já vi o som do palco ser mais
eu não estou nem falando sobre trabalhar dentro de de-
terminados volumes. alto que o som do próprio PA, o que, obviamente, difi-
culta – e muito – a mixagem.
Pior que trabalhar dentro de determinados limites de vo-
lume (quando eles fazem sentido) é ter que trabalhar Em ambientes pequenos e até médios, quando a plateia
acima do que acho “aceitável”, situação comum em festi- consegue ouvir bem o som do palco, sempre haverá a
vais. Imagine que a banda anterior a sua trabalhou com possibilidade deste som influenciar no volume geral da
uma média de 105 dBA. Se você trabalhar com 95 dBA, mixagem. Quando isto ocorre, técnicos mais experientes
a sua mixagem pode estar perfeita, porém, o
público tenderá a achar que a sua mix está
pior que a anterior.

Algumas bandas possuem repertórios diferen-


tes, que dependem do tipo de evento no qual
elas estão tocando. Da mesma forma, podemos
trabalhar com o volume da mixagem. Um even-
to corporativo para quatrocentas pessoas, por
exemplo, não precisa ter a mesma pressão so-
nora que um show convencional para duas mil
pessoas, mesmo que as duas situações ocor-
ram no mesmo lugar.

O volume do sistema deve ser responsabili-


dade do técnico que está mixando. Ele deve
WikiImages

estar preparado para adequar o SPL às ne-


cessidades do evento. Com um pouco mais
de experiência, esta adequação fica mais na-
tural, mas nem sempre é fácil manter este
controle, pois alguns sistemas podem ser su-

Show em ambientes pequenos necessitam de mais atenção de


quem está mixando em relação ao som que vem do palco

áudio música e tecnologia | 17


NOTíCIAS DO FRONT

“ouvem” primeiro o som que

WikiImages
vem do palco para, depois, ape-
nas “colocar” os instrumentos
que estão faltando. Essa não é a
melhor situação. É apenas uma
maneira de adaptar a mixagem.

Quando isso ocorre (e não são


poucas vezes), o técnico perde
a capacidade de mixagem, prin-
cipalmente a capacidade de bai-
xar o volume dos instrumentos
mais altos. Para isso não acon-
tecer, ele deve contar com a aju-
da tanto dos músicos quanto do
técnico de monitor (se a banda
utilizar caixas e side fill). Caso
contrário, a mixagem do show,
certamente, ficará prejudicada.
Show do Metallica no Rock in Rio: mixagem perfeita,
Em relação aos instrumentos
porém com mais SPL do que o necessário
no palco (caixas amplificadas),
uma ideia seria vira-las para o lado ou para trás (tirando o fícil para mim quanto comecei a trabalhar. A ideia era que
som do público). A utilização do acrílico na frente da bate- tudo tivesse de ser alto, com pressão. Passados alguns
ria ou de algumas caixas amplificadas também ajuda bas- anos, já não penso mais assim, porém, confesso que ain-
tante na redução do som que sai do palco. Uma situação da é difícil manter o controle e, principalmente, o volume
mais que ideal seria ter todos os instrumentos captados dentro de um nível que não extrapole os limites, claro que
em linhas, usando simuladores, porém, tenho dúvidas da isto depende do artista, da situação etc.
qualidade sonora final.
Recentemente, passei por duas situações relativas a
Além dos instrumentos, a outra grande fonte sonora no SPL que me fizeram repensar algumas coisas. A primei-
palco são os monitores, principalmente o side fill. Hoje ra foi durante o show do Metallica no último Rock in Rio
em dia, muitas bandas trabalham com fones de ouvido, (2015). Pude assistir ao show da house mix, ao lado do
o que reduz ou acaba com a emissão sonora do palco. técnico de PA, e o SPL foi em média de 110dBA. Depois
Quando trabalhamos no palco com caixas, normalmente, de passados 1h30 de show (mais ou menos a metade),
o “instrumento” que se mais ouve é a própria voz. E os comecei a me sentir bastante incomodado com o volu-
instrumentos não amplificados no palco são os que ficarão
me e acabei indo embora.
fora do nosso controle.

Por outro lado, a cerca de dois meses fiz alguns shows


mixar mais altO é melHOr que com o Skank nos Estados Unidos e, em um deles, havia
mixar mais baixO? um limite de 95dBA (tudo combinado antecipadamente
e com as medições sendo feitas da maneira correta). Fi-
Na verdade, essa pergunta é mais uma provocação. Como quei meio desconfiado se daria certo, mas, para a minha
ouço muito mais mixagens com um volume alto do que surpresa, consegui trabalhar facilmente e diria, orgu-
mixagens com volume mais baixo, acho que isso pode lhosamente, dentro dos limites estabelecidos, com boas
ser um padrão. Eu já me deparei com situações em que críticas da plateia.
acabei optando por mixar mais alto e a minha impressão é
que, dessa forma, fica mais fácil esconder alguns defeitos. Na verdade, o importante é se sentir confortável e deixar
o público e a banda confortáveis com o seu trabalho. O
Para ser franco, mixar baixo era realmente uma coisa di- importante é saber qual o momento para uma mixagem

18 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 19
Notícias do Front

mais alta e qual o momento para uma mixagem mais bai- forem cometidos? Tudo isso deve ser levado em con-
xa. Além disso, devemos entender que um sistema bem sideração, principalmente na metodologia da aplicação
dimensionado e bem distribuído permite uma mixagem do limite e, mais importante ainda, na forma como será
mais baixa, porém, com uma cobertura sonora agradável. feito o controle do volume.

O que fazer quando existem Não existe muita lógica para os padrões estabelecido. As
leis são – como sempre – confusas e variam muito, de-
limites estabelecidos?
pendendo da situação e, até mesmo, do Estado. Além dis-
so, as pessoas responsáveis pela medição normalmente
A resposta é bem simples, devemos segui-los! O problema
não têm ideia do que estejam fazendo e, principalmente,
é que, normalmente, duas coisas acontecem e que atra-
não possuem o conhecimento técnico para operar os apa-
palham o nosso trabalho. A primeiro é que, raramente,
relhos de medição.
alguém da produção do evento se lembra de avisar sobre
estes limites, e os técnicos acabam pegos de surpresa. A
segunda e mais tradicional é que os limites estabelecidos Como medir o volume
são quase sempre impossíveis de serem mantidos. da nossa mixagem?
Não sou contra limites de SPL, muito pelo contrário, Independente da maneira como medimos o som da nossa
acho muito importante, principalmente, para a nossa mixagem, os nossos ouvidos sempre devem dar a palavra
saúde auditiva (técnicos e público). Também acho que final. É claro que a experiência ajuda bastante. Nesse mo-
a vizinhança não deve ser importunada além de um mento, o mais importante é sabermos quais são os equi-
limite civilizado (como eu não gosto de ser). Existem pamentos que podemos utilizar para fazer estas medições
outros motivos que nem sempre são compreensíveis, e, principalmente, como eles funcionam e como podem
porém, podem fazer parte nos ajudar.
das regras.
A primeira coisa que nos
Como se diz normalmente, vêm a cabeça quando pen-
o combinado não sai caro. samos em medir o SPL é
Toda vez que sou avisa- um decibelímetro. O pro-
do antecipadamente que blema desse equipamen-
existe alguma limitação to é que, normalmente, a
de volume (SPL), primeiro pessoa encarregada pelas
procuro checar se os valo- medições não tem ideia
res que serão impostos fa- do que está fazendo, en-
zem algum sentido e serão tão, acaba fazendo alguma
possíveis de serem alcan- besteira, o que pode pre-
çados (posso me repor- judicar o nosso trabalho.
tar ao escritório de banda Mais uma vez, temos que
caso veja algum proble- dominar um equipamento
ma) e, depois, posso me relacionado diretamente
preparar para trabalhar. ao nosso trabalho.

O grande problema é: que Podemos encontrar no


limites são estes? Como mercado decibelímetros
eles foram estabelecidos? que variam entre R$150
Quem fará as medições e R$10 mil. É claro que,
necessárias durante os para o nosso dia a dia de
eventos? Como estas me- trabalho, não precisamos
dições serão feitas? Exis- de nada tão caro. O mais
te algum tipo de multa importante é ter certeza de
estabelecida se excessos que o equipamento está

Indicação de limite de SPL na House Mix

20 | áudio música e tecnologia


Diversos decibelímetros encontrados no mercado

calibrado corretamente, caso contrário, as medições não farão muito senti-


do. Então, a primeira dica é comprar um aparelho que possa ser calibrado.

Existe um outro aparelho chamado calibrador que, como o próprio nome


já diz, ajuda a calibrar o decibelímetro (Procure o manual do decibelímetro
para saber se existe essa possibilidade). Outro fator importante é saber com
quais níveis de decibéis o aparelho trabalha, ou seja, qual o volume mais
baixo e o volume mais alto que ele consegue medir.

O mais importante é saber se o aparelho trabalha nas curavas de ponde-


ração A (mais parecida com o que nós ouvimos) e C (uma resposta mais
“flat”). Para o nosso dia a dia de shows, podemos trabalhar com a escala A,
sem problemas. Outro fator muito importante é o local em que a medição
deve ser feita. Isso pode variar entre o meio do publico, a house mix ou o
lado de fora do local do evento. •

Renato Muñoz é formado em Comunicação Social e atua como instrutor


do IATEC e técnico de gravação e PA. Iniciou sua carreira em 1990 e desde
2003 trabalha com o Skank. E-mail: renatomunoz@musitec.com.br

áudio música e tecnologia | 21


PLUG-INS | Cristiano Moura

scHePs Parallel
Particles
Pense pouco e experimente muito

A entendendO a estrutura dOs


Waves assumiu de vez esta abordagem, de pou-
cos controles, menos termos técnicos e uso de
PrOcessamentOs
nomes consagrados da indústria para ajudar a
esculpir os processamentos de seus plug-ins.
O Scheps Parallel Particles (fig. 2) é composto por quatro
elementos. Vamos primeiro entender o Air e o Sub. Para
Andrew Scheps (fig. 1) tem, no seu currículo, mixagens quem gosta de linguagem mais técnica, estes são harmo-
para artistas como Metallica, Adele, Red Hot Chili Peppers, nic exciters, ou seja, recriam artificialmente frequências e
entre outros, e ajudou a Waves a definir os parâmetros e parciais que não estão originalmente no sinal.
ajustes. Ele menciona que é um plug-in pensado mais em
“atitude e emoção” do que em parâmetros técnicos. Eles ajudam a enriquecer o timbre com harmônicos, tanto
nas baixas frequências (Sub) como nas altas frequências
Descontando o marketing em torno desta afirmação, de (Air). E quem é mais “antigo” ou já teve oportunidade tra-
fato, de todos os plug-ins da Waves que abordamos aqui, balhar em algum estúdio com hardwares consegue traçar
o Parallel Particles é o que menos informações técnicas um paralelo com o BBE Sonic Maximizer (fig. 3) ou o Aphex
foram entregues pelo fabricante. Aural Exciter (fig. 4).

É um plug-in que não “corrige” nem “salva” nada. A ideia é Os outros dois elementos são o Bite e o Thick. Cada um
tentar somar, seja harmônicos ou distorção, ao sinal para tra- deles pode ser encarado como um único controle que re-
zer uma identidade em um instrumento que está “sem vida”. gula três processamentos: equalização, compressão e dis-
torção. Enquanto o Bite é mais agressivo na distorção nas
Fiz alguns testes e, portanto, vamos mais a fundo para média-altas, o Thick limpa os médio-graves com equali-
entender um pouco mais sobre o Scheps Parallel Particles. zação ao mesmo tempo em que tenta destacar os graves.

PreParandO O
terrenO Para usar
Ok, e vamos usar este plug-in onde? Em um
instrumento específico? Em um grupo? No
master da mix?

Aqui, vale sair um pouco do assunto central


do artigo e falar de mixagem, de uma maneira
mais aberta.

Evite pensar ou procurar por um “equalizador


bom para voz”, um “compressor para violão”
e assim por diante. Mixagem não funciona as-
sim. Afinal, você pode ter suas preferências
sem nenhum problema, mas nenhum equali-
zador é exclusivamente “para voz”.

fig. 1 - Andrew Scheps

22 | áudio música e tecnologia


Voltando ao assunto, este plug-in Uma coisa interessante é o botão
também não é exclusivo para nada. de link entre o input e o output
Teste em tudo, pois lembre-se de que, (Fig. 5C). Uma vez ligado, ele vai
na essência, são apenas processado- atenuando o output conforme você
res comuns, já ligados e regulados de eleva o input. Isso é ótimo para
uma certa maneira. Você vai reparar você fazer uma comparação com o
que ele é útil para a maioria dos ca- Bypass de forma “justa”, mantendo
sos, alguns mais, outros menos. o nível de sinal relativamente igual.

Antes de começar a rodar botões, Ajustar o nível de ganho é, de


é essencial ajustar corretamente fato, a única coisa que você preci-
o nível de ganho da entrada. Isto fig. 2 - Scheps Parallel Particles sa fazer “direito”. O resto, é gos-
porque, como muitos processamen- to. E você pode ficar livre para ex-
tos envolvem compressão e distorção, e por consequência, perimentar à vontade. Inclusive, se prefere uma direção,
envolvem parâmetros de threshold e ratio, se o sinal de eis minha sugestão: ajuste primeiro o Thick e o Bite, que
entrada não estiver regulado, basicamente, nada funciona são processamentos que ajudam a compor o timbre. Uma
da maneira que foi originalmente projetado. vez com o timbre definido, use o Air e o Sub para trazer
mais clareza nos agudos ou peso no graves.
Entãom deixe tocar um pouco o instrumento em questão e
ajuste o parâmetro “input” (Fig. 5B) até conseguir manter testes e imPressÕes finais
o LED “level” (Fig. 5A) entre o amarelo e o laranja. Isso
é tão importante e fundamental que eu prefiro que vocês Como mencionei acima, prefiro a ideia de usar o Bite e
deixem “beslicar” o vermelho a manter no verde. o Thick como componentes para ajudar a esculpir o tim-

áudio música e tecnologia | 23


Plug-ins

única coisa que você está


regulando é a quantidade
deste processamento, a ser mistura-
do com o seu sinal original. Ou seja, é um “Dry/Wet”.
fig. 3 - BBE Sonic
Maximizer (segundo modelo) Acho que isso limitou demais as possibilidades. Mesmo
sem parâmetros técnicos, seria bom se, ao menos, hou-
vesse umas três opções de cada controle, ou seja, um Thi-
bre, e o Air e o Sub como acabamento dele. Diferente de ck 1, um Thick 2 e um Thick 3, com pequenas diferenças
muitos outros plug-ins similares que testei da mesma em- nos parâmetros entre eles.
presa, pelos quais fui bem surpreendido positivamente,
o Parallel Particles não me trouxe Em elementos ricos em harmô-
a mesma experiência e interesse. nicos, como caixas de bateria,
Acho que a falta mínima de con- pianos, guitarras distorcidas etc.,
trole me incomodou, principal- acaba funcionando bem, mas em
mente no Bite e no Thick. elementos com faixa de frequência
mais limitada, como um bumbos,
É importante entender a diferença: por exemplo, vira uma questão de
na maioria dos plug-ins deste es- sorte mesmo.
tilo, ao mexer em um botão, você
está internamente alterando diver- Repare que no Sub o Waves incor-
sos parâmetros como o Threshold, porou um parâmetro de frequência
o Ratio, a saturação, a frequência que foi muito bem vindo. Serve para
e o ganho, de uma única vez. Por centralizar o ponto principal do efei-
exemplo, em um certo plug-in, se to e, na minha opinião, acho que se-
você ajusta o controle para um ria bom ter isso pelo menos no Bite.
valor baixo, internamente, o Ratio
do compressor fica em 3:1. Mas se Com relação ao Air, fiquei bem sa-
você exagerar, automaticamente, tisfeito, e usaria tranquilo na maio-
fig. 5 - Regulagem de input
o ratio é alterado para 6:1. ria das minhas mixagens e até em
masterizações, pois ele é bem sutil
Infelizmente, com o Bite e o Thick é diferente. Você não está (Do jeito que eu gosto). É importante lembrar que ele não
regulando parâmetros nem do compressor, nem do equaliza- é como um shelving de equalização, e sim, um gerador de
dor, nem de “ninguém”. O processamento é 100% fixo e a harmônicos sintetizados. Ajuda a abrir o som e é muito fá-
cil perder a mão, e reparar, no dia seguinte, que
você exagerou e deixou tudo estridente demais.
Talvez, por isso, o Andrew Scheps optou por não
deixar o processamento ser tão ativo.

Mas, como falei, se para mim está ótimo, outras


pessoas podem achar sutil demais, mesmo no
máximo. E eu até entendo a decisão deles de
limitar um pouco a ação do controle “Air” e ga-
rantir que ninguém exagere, mas tenho minhas
dúvidas se vai ser o suficiente para todos.

fig. 4 - Aphex Aural Exciter (primeiro modelo) Abraços e até a próxima! •

Cristiano Moura é produtor musical e instrutor certificado da Avid. Atualmente leciona cursos oficiais em Pro Tools, Waves, Sibelius e os trei-
namentos em mixagem na ProClass. Também é professor da UFRJ, onde ministra as disciplinas Edição de Trilha Sonora, Gravação e Mixagem
de Áudio e Elementos da Linguagem Musical. Email: cmoura@proclass.com.br

24 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 25
CAPA | Rodrigo Sabatinelli

a fOrtaleza
de safadÃO
vintage e moderno se fundem em
recém-inaugurado estúdio de estrela pop

F
ortaleza, Ceará, 2014. Por intermédio do en- alização de suas produções. E o local escolhido para
genheiro de gravação Jeimes Teixeira, o cantor a construção de duas salas de médio porte e uma
e compositor Wesley Safadão faz um convite técnica foi um galpão no qual é organizada a rotina
ao engenheiro de acústica e projetista de estúdios de logística de seus shows, bem como a acomoda-
Carlos Duttweller, que, até chegar à capital, não ção de sua equipe.
imaginava ser ele, o grande fenômeno de vendas da
música brasileira, seu próximo cliente. Porém, ao iniciar os primeiros rascunhos do que
viria a ser o tal estúdio, o engenheiro entendeu
“O chamado”, segundo Duttweller, tinha um motivo que o local seria insuficiente para “abrigar” tama-
óbvio: Wesley queria construir um estúdio para a re- nha estrutura. E com o aval de Safadão, Carlos

26 | áudio música e tecnologia


Carlos Duttweller

acabou optando por realizar a empreitada em um As paredes das salas foram feitas com blocos de ci-
terreno de 18m x 7m, localizado exatamente ao mento preenchidos com areia, o que, ainda de acordo
lado do galpão, onde construiu duas salas de gra- com Duttweller, “garantiu ao projeto um bom isolamen-
vação e uma técnica. to de ruído exterior”. “E o condicionamento interno dos
ambientes”, lembrou ele, “recebeu estruturas de ma-
“No fim das contas”, disse o engenheiro, “partir para deira auto clavada – matéria prima bastante resistente
a exploração do terreno foi a melhor opção, pois, a umidade e, principalmente, a ataques de cupins –,
como sabemos, construir um projeto ‘do chão’ é além de mantas de lã de rocha de alta densidade, pai-
bem melhor que ter de adaptá-lo a um ambiente néis acústicos com acabamento em tecido anti-chama e
pré-determinado”. madeira de demolição, lançada no piso e nas paredes”.

áudio música e tecnologia | 27


Capa

Carlos Duttweller

Carlos Duttweller
Nas imagens, dois ângulos do grande pé direito do estúdio

Todo o material pré-fabricado – além de todos os mento, três paredes de concreto. “Em seu interior
dutos e o sistema de condicionamento de ar – foi constam, ainda, difusores para corte de ondas es-
comprado de fornecedores locados em São Paulo e tacionárias, instalados no teto, e rebatedores es-
enviado para Fortaleza. “A opção pela ‘importação’”, peciais móveis, usados no controle de reflexões”,
justificou o engenheiro, “tinha como objetivo dimi- acrescentou o engenheiro.
nuir a permanência do pessoal técnico no local e,
naturalmente, com isso, viabilizar os custos da obra, A segunda sala, projetada especialmente para a gra-
que levou cerca de 90 dias para ser concluída”. vação de metais e instrumentos de corda, dentre
outros, é bastante flexível e conta com tempos mais
SALAS SE DIFEREM EM curtos de reverberação, graças a presença de um
CARACTERÍSTICAS difusor omnidirecional. Com 7 m x 6 m e 6 m de pé
direito, ela conta, ainda, com um iso booth dedicado
Uma das salas de gravação, utilizada para regis- a gravação de vozes e / ou vocais e com uma es-
tros de instrumentos como bateria e percussão, foi pécie de mezanino com acesso via escada, no qual
feita com acústica mais viva, especialmente para a podem ser registrados acordeons e teclados.
obtenção de um som natural de ambiência, “algo
muito comum nas produções de Wesley”, como Localizada entre as duas salas de gravação, a téc-
atestou Duttweller. nica, que mede 5,5 , x 5,5 m, é uma sala bastante
confortável. Capaz de acomodar todos os equipa-
Medindo aproximadamente 6 m x 5,5 m, e tendo mentos, além de técnicos e profissionais de pro-
um pé direito de 6 m, ela recebeu, em seu acaba- dução, ela foi desenvolvida dentro do padrão que

28 | áudio música e tecnologia


Duttweller vem utilizando há anos, “com paredes e encontrei ‘pérolas’ como os prés API 512, que res-
teto de expansão”, e também conta com um difusor pondem bem a transientes rápidos; os delays PCM
omnidirecional para o controle de médios e agudos. 42, da Lexicon, e 2290, da TC Electronic; os com-
pressores 2254, da Neve, e 160, da dbx, em rack,
“Em se tratando de sala referencial”, explicou Car- de VU, raríssimo, e o limiter TG12413, da EMI, que
los, “esse formato de control room é simples, fun- pode ser usado para adição de distorção harmônica,
cional e altamente confiável”. “Vale ressaltar, ain- dentre muitos outros”, enumerou Daniel.
da, que todas as salas foram feitas sobre um piso
flutuante com atenuadores, lã de vidro, uma base Esses “muitos outros”, aos quais o engenheiro se
em MDF e acabamento em madeira de demolição refere, são, segundo o próprio, “o reverb, também
natural”, encerrou ele. em rack, M7, da Bricasti Design; o pré-amplificador
de microfone Mono GAMA, da Shadow Hills, e o Dis-
PROJETO DE ÁUDIO TEM tressor, da Empirical Labs, sendo esse último mui-
EQUIPAMENTOS VINTAGE EM MEIO to usado em compressões radicais, ainda mais em
tempos de volume”.
A NOVIDADES
O desejo de construir um estúdio nasceu muito an- CALIBRAGEM DE SALAS
tes de Wesley contactar Duttweller. Durante a mixa- TEM “ISO” DA NEUMANN
gem do DVD que marcava a estreia da carreira solo
do artista, seu irmão, Wátila Safadão, e o engenhei- Um dos 15 profissionais em todo o mundo com cer-
ro Daniel Reis – na ocasião, mixando o trabalho – tificação concedida pela Neumann para a calibragem
visitaram diversos estúdios de gravação, como, por de estúdios em seu padrão, Daniel se utilizou de im-
exemplo, o East West e o Larrabbe, nos quais en- portantes “ferramentas” para executar o trabalho.
contraram inspiração para gerir a filosofia do espaço De posse de um microfone e um aplicativo, exclusi-
que viria a ser do artista. vos para a função, ele deixou os monitores ativos KH
420, bem como os subwoofers, também ativos, KH
Disposto a investir pesado, Wátila seguiu o projeto 870, “a ponto de bala”, como chamamos.
de áudio de Daniel e, em uma visita ao escritório
da SSL, acompanhado pelo amigo, deu seu primei- “Montamos os pares de 420 e 870 como se fos-
ro grande passo e adquiriu uma mesa Duality, de sem uma só caixa. Esse arranjo, que vai contra
48 canais, top de li-
nha da fabricante.
Carlos Duttweller
Os investimentos,
no entanto, não pa-
raram por aí. E, na
sequência, a dupla
foi atrás de precio-
sidades, digamos,
“fora de catálogo”
para que o estúdio
tivesse característi-
cas próprias.

“A Duality tem prés


super transparen-
tes, mas pensando
no engenheiro que
deseja outro tipo de
sonoridade, procurei
algumas raridades e

Em cima da mesa, alguns dos muitos microfones


do estúdio de Wesley: raridades em cena

áudio música e tecnologia | 29


Capa

o padrão – geralmente, o main é montado dis- ESTÚDIO JÁ SEDIA MIXAGEM


tante dos subs – foi testado pelo próprio proje-
DE SEGUNDO DVD
tista das caixas, Andrew Goldberg, na fábrica da
empresa, em Berlim, Alemanha, e os resultados
O DVD que Wesley Safadão lança neste mês é o pri-
foram surpreendentes”, contou. “Da forma como
meiro trabalho a sair de seu estúdio particular. Gra-
[a KH 420] propaga seu driver, temos uma maior
vado ao vivo na casa do cantor e mixado no local por
zona doce, além de maior dispersão horizontal do
Beto Neves – Daniel Reis mixou uma das 20 faixas
som”, completou ele, que, nos últimos anos, dei-
–, o trabalho já mostra que o investimento feito pelo
xou sua assinatura em dezenas de outros proje-
artista valeu à pena. Na opinião de Beto, o estúdio
tos semelhantes.
é, hoje, seguramente, um dos mais bem equipados
e de melhor acústica não somente no Nordeste, mas
COLEÇÃO DE em todo o Brasil.
MICROFONES “ESPANTA”
”Pude sentir isso já na mix do DVD, que foi fei-
“Viciado” em microfones, Daniel sugeriu, ainda, a ta com o objetivo de ampliar nacionalmente – se
Wátila, a aquisição de importantes modelos, que, é que isso é possível – a projeção do trabalho do
de acordo com ele, supririam toda a necessidade de artista. A quantidade de equipamentos à disposi-
um engenheiro. Dentre os escolhidos estiveram os ção me deu muito conforto para realizar o trabalho
dinâmicos MD 421 e 441 e os e945, da Sennheiser, e, além dos já citados, usei o Fatso, da Empirical
e os SM 57, da Shure. Na linha de microfones de Labs, e o De-Esser, da SPL Audio”, encerrou ele,
diafragma grande, os destaques ficaram a cargo dos lembrando que mixou o projeto em uma plataforma
clássicos U47 Fet e USM 69 estéreo, ambos da Neu- Pro Tools HDX. •
mann, indicados, respecti-
vamente, para captação de

Carlos Duttweller
voz e de salas.

“Selecionamos, também, o
C12, da AKG, original, ra-
ríssimo, que parecia muito
novo; o R44C, da AEA, um
microfone de fita incrível,
que cai muito bem em vo-
zes como a de Wesley, que
tem muita emissão; o CMXY
4V, da Schoeps, e o 4038,
da Cole, ambos indicados
para uso em salas; o R122,
da Royer, para captação de
amplificadores de guitarra,
e, por fim, o LoFreQ, da
Solomon, para bumbos de
bateria”, enumerou. Da esquerda para a direita, Jaimes Teixeira, Beto Neves e Carlos Duttweller

Monitoração pessoal é diferencial


Músicos fazem suas próprias mixagens
O sistema de monitoração pessoal do estúdio é, gens, inclusive, sem perda de qualidade, ele conta
sem dúvida, um dos grande atrativos. Capaz de com unidades do HD 25, bastante comuns em es-
endereçar 24 vias independentes, permitindo, com túdios de gravação, além de valiosíssimos modelos,
isso, que os músicos façam suas próprias mixa- como os HD 600 e HD 800.

30 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 31
DESAFIANDO A LÓGICA | André Paixão

exPlOrandO

Parte 1
as entranHas
dO lOgic cOm
O envirOnment
descubra mais sobre diferentes formas
de controle e criação de efeitos com os
recursos do environment

A
série “Stranger Things”, da Netflix, mostra as de um botão ou fader – e criar seu próprio rack
aventuras de um grupo de adolescentes en- virtual, incluindo inúmeras outras possibilidades a
volvidos com um universo paralelo após o su- partir, por exemplo, das inúmeras possibilidades
miço de um deles. Trata-se de uma cópia obscura de de quantização, automação (MIDI Draw) etc.
suas próprias moradias, na forma de um ambiente
sombrio e sinistro. Assim como acontece na história Mas isso foi assunto de colunas passadas. Vamos se-
protagonizada por Winona Ryder, o Logic também guir adiante, ou, seria melhor dizer, explorar aquilo
possui seu universo paralelo, porém, não tão som- que existia, de certa forma, já que o Environment
brio assim. Bem vindo ao complexo e estimulante existia em versões anteriores?
domínio do MIDI Environment no Logic.
O que é e Pra que serve, afinal?
cOmeÇandO dO inÍciO...
Tenho certeza de que a grande maioria dos usuários
A eficiente relação do Logic com o protocolo MIDI de Logic se mantém distante da janela do Environ-
não é novidade para usuários mais antigos. Cer- ment (cmd+0) por diferentes motivos, entre eles,
tamente, nos tempos da Emagic – empresa que o a falta de conhecimento, interesse, necessidade,
colocou no mercado antes de ser vendida à Apple tempo, oportunidade e – muitas vezes, sim, acredi-
–, já era possível, para a turma mais antenada, con- te! – medo. Medo causado por outros diversos moti-
figurar mensagens e controles na plataforma. Hoje vos cujo sentido não cabe nessa coluna.
em dia, não é preciso muito esforço e conhecimento
para controlar instrumentos virtuais, pois o Logic re- Não importa! O que vale aqui é mostrar porque a pos-
conhece praticamente todos dispositivos dispo-
níveis no mercado atual.

Quando isso (reconhecimento automático) não


acontece, obviamente, vale dar uma checada
se o driver do seu controlador foi instalado
corretamente e/ou “dar um pulo” em Logic Pro
X > Control Surfaces > SetUp > New > Install
para botar seu brinquedo em ação. Até mes-
mo configurações mais complexas, como parâ-
metros de plug-ins, ficaram mais fáceis com a
chegada dos Controles Inteligentes (ou Smart
Controls), pelos quais é possível indexar mais
de uma mensagem de diferentes plug-ins – in-
clusive, à um único canal, controlá-los a partir

Por padrão, assim que abrimos o Environment do Logic


(Cmd+0), nos deparamos com a camada Mixer, que nada mais
é do que uma versão gêmea da janela de mixagem tradicional
32 | áudio música e tecnologia
sibilidade de obter um bom proveito desse “universo objetos presentes em nosso projeto. Aliás, é bom se
paralelo”, escondido no Logic, não é tão remota assim. acostumar com esse termo: objeto.
Com um pouco de tempo e paciência no início, tudo vai
ficando menos “obscuro”. Se você é daqueles que não clicK & POrts
se contenta apenas com aquilo que enxerga, mais pre-
cisamente, o óbvio, prepare-se para embarcar numa Outra camada bem popular no universo do Environ-
jornada infinita, caso a visão lhe agrade e, especial- ment, Clicks end Ports é o início de uma compreen-
mente, se possuir hardwares com portas MIDI. são mais sólida sobre o caminho do sinal no Logic,
pois abrange todos os inputs – virtuais e fisicos –
mixer = envirOnment mixer? presentes em seu projeto, representados grafica-
mente em sua interface. Ao lado esquerdo, observa-
Para um usuário do Reason, o Environment pode pa- mos os inputs físicos que nada mais são do que as
recer bem familiar, pois, assim como o software da entradas dos sinais que são enviados para dentro do
Propellerhead, o caminho do sinal é definido através sequenciador, cujos inputs situam-se à direita.
de cabos virtuais, como numa Patch Bay. A diferen-
ça é que, no Logic, nos encontramos inseridos em Num projeto bem básico, com apenas um Software
outro universo, numa outra interface, composta de Instrument inserido, observamos quatro objetos, da
diferentes objetos e recursos. esquerda para a direita: o input físico, onde é pos-
sível visualizar sua placa de som e dispositivos MIDI
Pense, então, no Environment como o cérebro do em geral - como estou utilizando um laptop - com
Logic, que abriga uma série de camadas, cada uma o Logic instalado, obviamente – para escrever essa
com função peculiar. A mais popular delas é o Mixer, coluna, apenas a minha velha M-Audio Fast Track
bem parecida com a própria janela de mixagem do aparece na coluna dos inputs; em seguida, vemos a
Logic. É nessa interface que observamos todos os figura de um teclado, que representa as notas que

áudio música e tecnologia | 33


DESAFIANDO A LÓGICA

celente plug-in MIDI Arpeg-


giator ainda não fazia parte
do pacote. Mesmo assim, vale
utilizar essa técnica como for-
ma de entender melhor essa
complexa estrutura virtual.
O primeiro passo é: abrir um
canal de instrumento virtual
(Software Instrument) e in-
serir um sintetizador com um
preset qualquer como o “Ana-
log Stack Synth”(Library >
Synthesizer > Lead).

Clicks & Ports: por onde o sinal entra e de onde ele


Na janela Environment, abra
vem. Na imagem, repare, ao lado esquerdo, as entradas
o layer Click & Ports – caso
físicas. Ao lado direito, o input do sequenciador, por
ele já não esteja aberto – e,
onde entram as informações de cada objeto.
logo em seguida, vá em New
são tocadas pelo seu controlador ou mesmo o tecla- > Arpeggiator e selecione esse objeto. Ao se deparar
do virtual do Logic (Cmd K). com o ícone respectivo, repare que ele é dotado de
uma pequena seta, situada ao lado direito. Vamos
Experimente tocar algumas notas e perceberá que conectá-lo entre o Input Notes e o Input View atrá-
o tecladinho responde perfeitamente. Caso não vi- ves das pequenas setas localizadas na lateral supe-
sualize o movimento das teclas virtuais, provavel- rior de cada objeto.
mente, ele (o teclado) está abrangendo uma região
diferente, visualmente. Nesse caso, basta selecionar Você vai se decepcionar ao tocar algumas notas do seu
a borda lateral direita e arrastá-la para essa direção, controller – ou teclado virtual do Logic –, pois o efeito
tornando-o maior, ou, tocar em outra região, obvia- do arpejo só estará presente a partir do momento em
mente; à direita, visualizamos uma janela chamada que entrarmos em modo Play ou REC. Ou seja, pres-
Input View, que expõe as notas que foram tocadas sione a barra de espaço e comece a tocar. Assim como
ou sequenciadas, e, por último,
o Sequencer Input, que vai rece-
ber informações dessa pequena e
relativamente simples cadeia de
objetos. É possível arrastar cada
objeto a fim de organiza-los da
melhor forma. À principio, o que
parece bobagem torna-se neces-
sário quando a quantidade de ob-
jetos e conexões aumenta.

arPeJOs dO
PassadO
Para entender o básico do básico,
vamos criar um objeto simples:
o arpejador. Nas versões ante-
riores do Logic, só era possível O Arpeggiator do Logic, exatamente como era utilizado
arpejar um synth com ajuda do nas versões anteriores, sem a opção do plug-in atual,
Environment, pois o atual e ex- inserido na cadeia básica do layer Click & Ports

34 | áudio música e tecnologia


Roll. Mais precisamente, o ar-
pejador fez o seu trabalho com
a ajuda de outros objetos, que
registraram as notas geradas
pelos arpejos. Isso abre um le-
que de possibilidades criativas
para edições, como, por exem-
plo, aumento de duração de
notas, mudança de pitch etc.

Como havia dito antes, podemos


obter o mesmo resultado com o
atual plug-in Arpeggiator do Logic,
mas esse exercício inicial foi ape-
nas o início de um mergulho mais
Ao selecionar o objeto, você pode configurá-lo profundo que daremos nesse uni-
na janela inspector, ao lado esquerdo da tela verso paralelo do Environment. Até a próxima! •

no moderno plug-in do Logic X, é


possível configurar o Arpeggiator
na janela Inspector. É claro que os
atrativos são muito maiores atual-
mente, porém, experimente sele-
cionar o objeto e, ao lado esquerdo
da tela, escolha as melhores op-
ções. Estão lá parâmetros como:
Resolução, Quantização, Velocity e
Região do Teclado (Key Limit)

Agora que você configurou o seu


arpejador da forma que mais lhe
agrada, experimente gravar al-
guns compassos e confira o re-
sultado. Repare que todas as no- A partir de uma configuração simples no layer Midi &
tas do arpejo foram registradas Ports é possível obter o resultado de um arpejo em sua
e podem ser editadas no Piano essência, ou seja, todas as notas geradas por ele

André Paixão é compositor e produtor de trilhas sonoras para teatro, TV, publicidade e cinema. Já trabalhou como roteirista nos canais Te-
lecine e Multishow. Assinou a direção musical de espetáculos teatrais como “Medea en Promenade” e “O Médico que Tinha Letra Bonita”.
O SuperStudio é a sua casa e também de artistas que passam por lá. Alguns deles chegam ao mundo através do selo Super Discos. Como
músico, gravou e lançou discos com bandas como Acabou la tequila, Matanza, Beach Lizards, Nervoso e os Calmantes, Lafayete e os Tre-
mendões. Atualmente finaliza o projeto Fora do Ritmo, um disco autoral com 12 bateristas, entre eles, Wilson das Neves, Pupillo, Guto Goffi,
Rodrigo Barba, entre outros. Acesse foradoritmo.com e descubra mais.

andre@suprasonica.com.br
www.superstudio.com.br
www.facebook.com/DesafiandoLogic

áudio música e tecnologia | 35


Fazendo Música no Estúdio | Rodrigo de Castro Lopes

Panorâmico (Parte 3)
Outras texturas e interações

N
o nosso último encontro dissertamos

Wiki Images
sobre alguns princípios e conceitos para
usar na panoramização de blocos, contra-
cantos e respostas. Agora vamos mudar um pouco
o foco, saindo de elementos que interagem só com
a melodia principal e falar de outras texturas, que
apresentam também interações internas. Vamos
começar com as texturas harmônicas.

HARMONIA
É denominada “harmonia” a execução simultânea
de sons com afinação definida, de forma a
explicitar a escala, função ou contexto em que
as melodias e contracantos vão atuar. Quer
dizer, são sons simultâneos e com uma relação
entre si, que funcionam como fundo para a melodia, mas zir a disposição dos instrumentos no mundo real. No caso
com certa independência em relação a ela. Podemos das cordas, os violinos e violas do lado esquerdo, e cellos e
diferenciar dois tipos de sons com função harmônica: baixos mais para a direita, com diferentes densidades ins-
sons longos, com a função exclusiva de definir a trumentais no centro do campo LR. No caso de formações
harmonia, sem função rítmica; e notas simultâneas e pequenas de metais, o que vai determinar o posicionamento
com atividade rítmica, intercalando sons e pausas, de dos músicos é o arranjo, organizando as vozes que dialo-
forma a conduzir o ritmo, além de explicitar a harmonia. gam e que servem de referência mútua para afinação na
hora de tocar. O grave pode tanto estar no centro quanto em
Na primeira categoria incluímos sons que são chamados de alguma das pontas. É interessante (mas não obrigatório)
“camas”, ou “pads”. Podemos mencionar cordas, teclados, deixar um espaço no centro do palco sonoro para que a voz
coros e outros sons longos. Repare que todos esses instru- ou instrumento solista possa ocupá-lo. Esse espaço tanto
mentos também podem atuar com função de contracanto, pode ser um vazio quanto pode ser um instrumento que
interagindo com a melodia, ou até com intenção rítmica. preencha uma região diferente da voz ou melodia conduto-
Não nos referimos à sua função nesses casos, e sim à situ- ra no espectro harmônico (como o baixo ou o instrumento
ação em que sons longos funcionam como fundo, ou base, mais grave do naipe, por exemplo).
para a melodia, mas apresentando equilíbrio interno, com
condução de diversas vozes ou melodias simultâneas. Na abordagem criativa, pode-se ou não ser fiel à distribuição
espacial original, além de usar processamentos para acen-
Nessa situação, os sons costumam ter como fonte instru- tuar ou modificar essas texturas. Os efeitos mais usados
mentos usados em formações instrumentais grandes, ou são o delay e a equalização. Falaremos mais disso adiante.
outros instrumentos que imitam essas formações, como
teclados, podendo criar também sons artificiais, mas com INSTRUMENTOS
a mesma função. Seguindo a linha das colunas anteriores, HARMÔNICO-RÍTMICOS
podemos descrever duas abordagens.
A segunda categoria abrange instrumentos que permi-
Na abordagem realista, a panoramização tenta reprodu- tem atividade rítmica, além da harmônica. Podemos in-

36 | áudio música e tecnologia


cluir neste grupo os mesmos instrumentos do grupo anterior, mas
executados com outra intenção, intercalando notas e pausas, ou
então instrumentos harmônicos com sons de duração menor, como
violões e pianos, que podem ser tocados de maneira rítmica. Na
abordagem realista, estes instrumentos tanto podem ser abertos
100% no estéreo, tendo como base a microfonação usada, quanto
distribuídos no palco, como se o palco inteiro fosse o foco da mi-
crofonação, e não o instrumento sozinho. Nesse caso, cada instru-
mento ocuparia um espaço angular menor dentro do palco sonoro.

A abordagem criativa permite criar interações que não ficam eviden-


tes no palco. Gosto da ideia de contrabalançar qualquer atividade
rítmica que esteja fora do centro com outra atividade similar, dis-
posta simetricamente no campo LR. Assim, uma guitarra que tenha
atividade rítmica intensa pode dialogar com um chimbau ou outro
instrumento rítmico. Uma situação interessante, que mostra como
a realidade pode ser relativa, é o caso do piano. Costuma-se pensar
no som do piano, realisticamente, com o grave à esquerda e o agudo
à direita, mesmo que só uma pessoa ouça o piano dessa forma: o
pianista. Se formos pensar como o piano realmente soa no palco,
teríamos um som de tamanho angular pequeno ou médio se com-
parado com o tamanho total do palco. O som teria mais transientes
e agudos no extremo esquerdo da imagem do instrumento, onde fi-
cam os martelos, e mais corpo no meio, um pouco à direita: o centro
das cordas graves. O curioso é que, pensando dessa forma, o agudo
fica à esquerda, ao contrário do que se costuma fazer.

Outro exemplo que merece destaque é a bateria. Tanto pode ser


panoramizada pelo ponto de vista do público quanto pelo do ba-
terista. Uma exceção é a mixagem de música para DVDs. Nesse
caso, o ponto de vista é o do público, porque existe uma imagem
descrevendo a cena. Mas o tamanho angular da bateria no palco
sonoro pode variar muito.
darkhorseinstitute.com

Na abordagem realista, instrumentos como violões e


pianos tanto podem ser abertos 100% no estéreo quanto
distribuídos no palco, como se o palco inteiro fosse o
foco da microfonação, e não o instrumento sozinho áudio música e tecnologia | 37
Fazendo Música no Estúdio

Um caso que acho interessante: quando há dois instru- crofones de “over”, que capturam todas as peças ao mes-
mentos iguais (como guitarras, por exemplo), um com mo tempo. Essa microfonação pode ser mono ou estéreo,
função rítmico-harmônica e o outro dialogando com a e cabem aí todas as técnicas de par coincidente e par
melodia, como contracanto. Eles podem ser panorami- espaçado. Nesse caso, considerando que provavelmente
zadas simetricamente uma para cada lado, usando uma o instrumento foi microfonado pensando nas técnicas de
abordagem realista, e deixando um espaço no centro para audiografia, que buscam reproduzir uma imagem sonora
a voz. Apesar de correta, não acho que essa seja ne- fiel da fonte sonora, as peças individuais seriam panora-
cessariamente a visão mais interessante para valorizar o mizadas pensando em casar a sua posição no campo L-R
discurso musical. Gosto quando o contracanto dialoga no com a posição dessa mesma peça no over, onde está sua
panorâmico com a melodia e o instrumento rítmico-har- imagem fantasma. A abertura do estéreo vai depender do
mônico dialoga com outro instrumento rítmico, ou com espaço que se quer dar ao instrumento no palco sonoro e
algum processamento do próprio instrumento. Mas estas da sonoridade, considerando que panoramizações laterais
são somente escolhas estéticas e arbitrárias, sem erro ou extremas acentuam as altas frequências. Cabe aí lembrar
acerto. Cada situação vai gerar discursos musicais únicos as possibilidades com as abordagens realista e criativa.
e as decisões devem ser tomadas caso a caso.
No caso de peças individuais, sem uma microfonação ge-
ral, ou “overhead”, podem-se também usar os princípios
SONS SEM AFINAÇÃO DEFINIDA E
dessas duas abordagens. Na panoramização realista,
COM FUNÇÃO DE CONDUÇÃO procura-se uma posição condizente com o posiciona-
RÍTMICA E ACENTUAÇÃO mento original dos instrumentos. Em uma abordagem
criativa, me parece conveniente buscar sempre o equilí-
Podemos listar nesta categoria instrumentos de percus- brio de qualquer som, compensando ele com outro som
são, a bateria e efeitos em geral. Quando provenientes de mesma função, distribuído simetricamente no pano-
de um instrumento (ou conjunto de instrumentos) que râmico. É bom lembrar que os instrumentos percussivos
possui um tamanho e ocupa um espaço, como uma ba- graves, que em geral possuem curta duração e função de
teria ou um set de percussão, existem algumas aborda- condução ou acentuação, costumam ficar no centro por
gens possíveis para posicionamento no campo L-R, todas todas as razões apresentadas nas colunas anteriores.
dependentes de como o som for captado.
ESTEREOFONIZAÇÃO
Em geral, além dos microfones individuais em algumas
peças, esses instrumentos são captados também por mi- Um recurso usado na abordagem criativa é a panorami-
zação artificial de sons grava-
dos originalmente em mono.
keymusic.com

Neste caso, a dificuldade é


pegar uma fonte sonora de
aparência pontual, isto é, de
tamanho angular igual a 0
grau, e fazer com que ocupe
um espaço maior do campo
L-R. Podemos listar algumas
das abordagens possíveis.

- Equalização: Nesse caso,


algumas frequências são
acentuadas em um dos canais
e atenuadas no outro lado
com a mesma intensidade e
tipo de curva. Estes dois ca-
nais, então, são abertos no
panorâmico. Teoricamente, a
soma em mono dos dois ca-

Em uma abordagem criativa, é conveniente buscar sempre o


equilíbrio de qualquer som, compensando ele com outro som
de mesma função, distribuído simetricamente no panorâmico
38 | áudio música e tecnologia
nais processados não apresentaria diferença se comparada com o
som original. O problema é que a maior parte dos equalizadores
apresenta um deslocamento de fase nas frequências próximas à
frequência central de processamento.

No caso do ganho ou corte, o deslocamento será em direções con-


trárias. Por isso, a soma dos dois sons terá cancelamento em algu-
mas frequências e reforço em outras, modificando o timbre. Equa-
lizadores com resposta linear de fase (digitais, e que usam muita
capacidade de processamento) não apresentam esse problema.

- Delay: O sinal é atrasado e enviado para um lado do LR enquan-


to o sinal original é enviado para o outro. A dificuldade nesse caso
é a diferença de nível percebido entre os dois lados por causa do
que se chama “efeito Haas”. Quando o mesmo som chega aos ou-
vidos vindo de direções diferentes e com um pequeno atraso entre
elas, o cérebro entende o som que chega atrasado como se fosse
uma reflexão, e interpreta como se ele tivesse menos intensidade.
Isto acontece para sons com atrasos de até pouco mais do que 20
ms, e é a região em que esta técnica apresenta melhores resul-
tados. Por isso, depois de aplicar o delay e a abertura no estéreo,
deve-se efetuar um ajuste de nível para que os dois canais fiquem
com o mesmo nível aparente.

Este ajuste é subjetivo e pode ter resultados diferentes se a moni-


toração for feita usando caixas de som ou fones. Quando se houve
esse tipo de processamento em mono, a soma dos dois sinais vai
ter flanging, com cancelamentos e reforços provocados pela dife-
rença de tempo entre os dois canais. Gosto desta técnica quando
temos instrumentos de acompanhamento harmônico/rítmico que
desejamos tirar do centro do palco sonoro, abrindo espaço para a
voz. Uso também quando não tenho outros instrumentos para con-
trapor, criando assim um equilíbrio no estéreo com um instrumento
só. Gosto muito do resultado também quando aplicado a vocais ou
outros elementos de diálogo com a melodia, que assim dão tama-
nho à mixagem sem disputar espaço com o instrumento solista.

Creio ter coberto grande parte das situações em que usamos o


posicionamento através do pan.

Até breve. Abraços! •

Rodrigo Lopes é engenheiro de áudio graduado na Berklee College of Music e


bacharel em Música pela Universidade de Brasília. Indicado ao Grammy 2015 na
categoria Engenharia de Áudio e ganhador do Prêmio Profissionais da Música
2015 na categoria Engenheiro de Mixagem, trabalhou na Visom, PolyGram, Her-
bert Richers e Biscoito Fino. Atualmente leciona matérias de áudio e de música
na Faculdade Souza Lima, em São Paulo. Site: www.rodrigodecastrolopes.com.br

áudio música e tecnologia | 39


Produção Fonográfica | Lucas C. Meneguette e José Carlos Pires Junior

Captando
Histórias de Amor
FATEC-Tatuí abre as portas do seu
estúdio para projetos independentes

D
esde o início do projeto do curso de Pro- produção de áudio como estratégia pedagógica de
dução Fonográfica da FATEC-Tatuí havia formação do alunado. Isso foi impulsionado com a
uma grande preocupação em permitir aos reformulação, em 2014, de parte da grade curricular
alunos uma vivência consistente no processo de do curso, que permitiu a criação de núcleos de prá-
produção do fonograma. Dessa forma, além das ticas profissionalizantes.
aulas regulares semanais, nós projetamos nosso
curso para que o aluno pudesse participar de pro- Atualmente, existem núcleos de pesquisa e pro-
jetos de álbuns ou singles desde o planejamento dução que abrangem diversas áreas relacionadas
até o lançamento, passando pela gravação e pela à produção fonográfica, como os núcleos TecGrav
pós-produção. (Núcleo de Técnicas de Gravação), o NAGA (Nú-
cleo de Áudio e Games), o NAV (Núcleo de Audio-
Recentemente, o curso passou a fazer parcerias com visual), o ProCult (Núcleo de Produção Cultural) e
grupos independentes, dando apoio no processo de o Núcleo de Acústica.

40 | áudio música e tecnologia


Esses núcleos realizam ativi-
dades profissionais que com-
plementam as disciplinas cur-
riculares dando a oportunidade
de o aluno vivenciar, na práti-
ca, o processo de produção de
áudio em diversos meios. Isso
é importante, pois permite ao
aluno criar seu portfólio profis-
sional com base em experiên-
cias concretas. Desse forma, a
criação dos núcleos possibilita
dar suporte a empreendimen-
tos independentes, tais como
álbuns musicais, games, vi-
deoclipes, eventos e projetos
acústicos de estúdio.
Microfonação da bateria
da rua Para O
estÚdiO cantandoamor, no qual foram gravadas 12 faixas au-
torais. Encabeçado pelo ator e compositor Fabrício
Uma experiência recente de gravação foi o álbum In- Zava, o projeto originou músicas que foram com-
tersecções, parte do projeto mais amplo #360dias- postas a partir de intervenções nas ruas, utilizando

áudio música e tecnologia | 41


Produção Fonográfica

histórias que surgiram de conversas com o público sala técnica, com pleno contato visual com a equipe
e por meio da colaboração de pessoas, que enviam de gravação, e os demais músicos formaram um se-
vídeos com declarações de amor, além de poetas, micírculo que permitia a interação entre eles.
músicos e atores. Participaram dessas ações, por
exemplo, o ator Brás Antunes, filho do compositor Mesmo com contato visual, um sistema de talk-
Arnaldo Antunes, o cantor Liniker e a compositora back de mão-dupla foi essencial para dar prosse-
Roberta Campos. guimento à sessão de gravação – o responsável
pela mixagem de monitoramento, nosso aluno Luiz
A equipe é formada pelo produtor fonográfico con- Henrique Kichel, é deficiente visual (de fato, algu-
vidado Pedro Montessanti, os músicos de base Fabio mas situações inusitadas surgiram, como o bate-
Zavanella (guitarra), Fernando Perre (contrabaixo), rista dizendo que ele lhe daria um sinal com a mão
Neto Mantovani (piano) e Pepe Dmarco (bateria), para desligar o click...).
que realizaram as gravações da seção rítmica no Es-
túdio Escola da FATEC-Tatuí. Também passaram por Captação da bateria
aqui um quarteto de cordas, contando com Erica Be-
atriz Navarro (cello), que já trabalhou com Hermeto A bateria utilizada foi uma Gretsch Renown Maple,
Pascoal, e a multi-instrumentista Ana Elisa Colomar microfonada da seguinte forma:
(sax, flauta e cello), do grupo Mawaca. O projeto
conta ainda com participações posteriores de Adil- Caixa: Shure SM57 na pele de ataque e DPA 4099
son Camarão (percussionista) e o renomado acorde- na pele de resposta
onista Toninho Ferragutti. Bumbo: Shure Beta 52 próximo da pele de resposta
e Neumann U87 a cerca de meio metro de distância
Processos de gravação Tons e surdo: Sennheiser e904
Chimbal: Neumann KM184
A base rítmica foi gravada de forma simultânea, Overhead: DPA 4015
com monitoramento via fone de ouvido. A bateria Central: Neumann U87 entre o bumbo e a condução
foi posicionada ao ponto áureo da sala de gravação Ambiência: Neumann M149, valvulado, sobre o ba-
principal, enquanto o amplificador de guitarra e o de terista e Sennheiser e609 perto da parede do estúdio
contrabaixo ficaram selados cada um em uma sala
de amplificadores. Os músicos foram posicionados No bumbo, foi utilizado um pano de lycra para atenuar
de maneira que o baterista ficasse de frente para a frequências “brilhantes” vindas dos pratos. Uma curio-
sidade sobre o microfone
central é que, pela posi-
ção adotada nessa técni-
ca, ele ficou direcionado
para a região pélvica do
baterista (coerentemen-
te, o Montessanti pre-
fere chamá-lo de “dick
mic”...). O microfone de
ambiência e609 foi usado
de forma experimental
(daí o engenheiro chamá-
-lo de “mic estranho”),
mas funcionou: por ser
um microfone dinâmico,
ele foi menos sensível
aos transientes e propor-
cionou uma espécie de
compressão natural da
pressão acústica.

A gravação rítmica foi toda gravada simultaneamente

42 | áudio música e tecnologia


caPtaÇÃO
da base
HarmÔnica
O guitarrista Fábio Zava-
nella ostentou uma quan-
tidade razoável de instru-
mentos: duas guitarras
semiacústicas, uma Tele-
caster, uma Stratocaster,
uma Superstrato, um vio-
lão de nylon e outro de
aço. Para as gravações,
a guitarras escolhidas fo-
ram uma vintage Fender
Stratocaster e uma Iba-
nez Artcore Semihollow.
Elas foram processadas
Captação do quarteto de cordas
na pedaleira digital Zoom
GFX-4, por sua vez, li-
gada a um amplificador Fender transistorizado, O contrabaixo elétrico foi um handmade de seis cor-
que, então, foi captado pelo microfone Sennhei- das. O sinal do instrumento foi dividido via direct
ser e609. box em um sinal de linha e outro endereçado ao am-

áudio música e tecnologia | 43


Produção Fonográfica

plificador. O cabeçote GK MB500 deu potência a uma soprano microfonado por um Sennheiser MD421
caixa Carvin 4x10, microfonada com um Sennhei- na sala de amplificadores, de modo a evitar a re-
ser MD421. Os teclados utilizados foram os Yamaha verberação da sala principal.
Tyros 2 e Motif XF8, em linha.

Consolidando parcerias
Overdubs
Conforme nos comentou Fabrício Zava, a parceria
Um quarteto de cordas complementou a instru-
com a FATEC fez muito sentido no projeto, também
mentação de algumas faixas, com arranjos escri-
pelo fato de que boa parte dos músicos tiveram sua
tos pelo próprio Montessanti. O grupo foi posicio-
nado em um arco de 180º e sua gravação utilizou formação musical iniciada em Tatuí. Fora isso, a di-

oito microfones: uma técnica Blumlein com dois retora artística do projeto, Ester Freire, é professora
Neumann U87, ao centro da formação; quatro DPA do Conservatório de Tatuí, regente de coro e atuante
4099 em microfonação próxima; e um par espaça- na música e no teatro em São Paulo.
do com dois DPA 4006, mais distantes.
Além dos objetivos pedagógicos, a função que o
O par central serviu de base para a captação do pla- Estúdio Escola do curso de Produção Fonográfica
no estereofônico, enquanto os DPA 4099 realçaram vem assumindo é de facilitador de produções in-
os parciais agudos e a sensação de presença. Já o dependentes, colaborando para a redução de cus-
par espaçado serviu de captação da reverberação
to e a viabilidade de projetos com grande poten-
natural da sala, dando a opção de dispensar o acrés-
cial de difusão artística e cultural. Uma vez que o
cimo de reverberação artificial na mixagem.
meio acadêmico é, em boa parte, composto pela
tríade de ensino, pesquisa e extensão, a realiza-
Outras faixas também contaram com um saxofone
ção desses projetos permite
ao curso oferecer uma ex-
tensão dos conhecimentos,
técnicas e produções à co-
munidade.

O estúdio atualmente conta


com diversas outras parce-
rias, como, por exemplo, a
com a banda Mundrungo, do
cantor Leo Bianchini, cujo
material gravado na FATEC
tem lançamento previsto para
esse segundo semestre de
2016. Assim, todo semestre
o estúdio abre suas portas
para novos projetos, que são
selecionados de acordo com a
agenda anual disponível. •

Músicos elogiaram trabalho do aluno Luiz Henrique Kichel

José Carlos Pires Júnior, músico e produtor fonográfico, é professor das disciplinas de Técnicas de Gravação e Acústica
Aplicada ao Instrumento. E-mail: cravelha@gmail.com.

Lucas C. Meneguette, músico e pesquisador, é professor das disciplinas de Software e Hardware e Teoria e Percepção
Musical no curso de Produção Fonográfica da Fatec Tatuí. E-mail: lucasmeneguette@gmail.com

44 | áudio música e tecnologia


RIO 2016
Por dentro das luzes da cerimônia
de abertura das Olimpíadas

DIREÇÃO ARTÍSTICA DE SHOWS


A importância da função na
construção de um grande espetáculo
áudio música e tecnologia | 45
 produtos
BMFL, DA ROBE, EM NOVA VERSÃO
Braço forte da família Robe, o superpoderoso BMFL
WashBeam chega ao mercado com uma abundância de
grandes recursos. Lançado no início do ano, o aparelho
foi usado pela primeira vez no Brasil na iluminação de
disputas olímpicas, como as de esgrima, por exemplo.

“Iluminamos atletas e público com os BMFL, que têm facas


incríveis, de fato, maior diferencial do produto, além, cla-
ro, de sua potência, inquestionável. Ao iluminar a plateia
com eles, trabalhamos as luzes com as cores das bandei-
ras dos países em disputa e conseguimos uma linguagem
muito interessante», disse o lighting designer Caio Bertti.
Divulgação

De acordo com o fabricante, dentre seus grandes recursos


está o obturador de enquadramento, que foi recentemente
desenvolvido, além de saída de brilho extra, grandes len-
tes frontais e roda de animação. Com uma fonte de luz
customizada e projetada pela própria empresa, o BMFL
produz 300.000 lux a cerca de 5 m.

www.robe.cz
www.tacciluminacao.com.br

STAR ANUNCIA PAR LED 64


A Star Lighting Division, sediada em

Divulgação
Campinas, São Paulo, acaba de lançar a
“pequena notável” PAR 64 144 Slim. Com
seis canais DMX, 144 LEDs de alto brilho
em sua estrutura – sendo 48 vermelhos,
48 verdes e 48 azuis –, ela opera com
ângulo de abertura de 30 graus e
nos modos automatic, sound e slave.
Indicado para uso cênico e arquitetural,
o refletor – que pesa somente 3 Kg, tem
dimensão de 21 cm x 24 cm x 7 cm e
é transportado por um sistema de alças
duplas – consome 20W de potência e é
alimentado no modo bivolt.

www.star.ind.br

46 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 47
em fo c o

LPL assina projetos para federações olímpicas

Divulgação
Divulgação

Responsável pela parte criativa/artística dos jogos Martin, sendo a última, das três, a mais usada. Esses
olímpicos internacionais, a The Sports Presentation aparelhos atuaram como uma espécie de ‘termômetro’
Company escolheu, por meio de longa licitação, a LPL das torcidas, acompanhando suas reações, e, além dis-
como fornecedora oficial de equipamentos de luz para so, foram usados em momentos especiais dos jogos,
os jogos da Olimpíada 2016. Representada pelo li- como nos monster blocks e nos set points”, explicou.
ghting designer Caio Bertti, a empresa, que disputou o
posto com mais de 50 companhias, atendeu a diversas Nas partidas de vôlei de praia, servindo à demanda
federações, como, por exemplo, as de voleibol, boxe, dos pontos disputados, o iluminador usou 32 Mac Vi-
esgrima e atletismo. per Air FX, da Martin, e 32 LED 600, da Robe, enquan-
to que, nas disputas de boxe e atletismo, lançou mão
Contratada pelas federações correspondentes a essas
de quatro aparelhos XR2000 Beam, da DTS, e 24 PAR
modalidades, a locadora desenvolveu projetos especí-
LED, cedidos em parceria com a Novalite.
ficos, disponibilizou equipes e elencou programadores
e operadores para alguns ambientes. No entanto, par-
Mas foi nas disputas de esgrima que o iluminador
ticipar dos jogos representou, para a empresa, muito
empenhou uma grande novidade: os aparelhos BMFL
mais que um simples fornecimento, pois, pela primeira
Wash Beam, da Robe, recém-adquiridos por sua em-
vez na história de uma olimpíada, a Olympic Broadcs-
presa. Com 16 desses, que trabalharam juntamente a
ting Service, OBS, autorizou o uso de iluminação cêni-
16 Vari-lite 4000 e 24 Wash 2500, da Robe, Caio colo-
ca nas transmissões, algo, até então, proibido.
cou em prática um verdadeiro show à parte.

“O praxe do órgão [OBS] era, no momento da trans-


missão, desligar as luzes [cênicas] e trabalhar somente “Iluminamos atletas e público com os BMFL, que têm
com a [luz] das arenas. Mas, dessa vez, foi diferente! facas incríveis, de fato, maior diferencial do produto,
Finalmente, ‘quebramos’ isso e conseguimos levar nos- além, claro, de sua potência, inquestionável. Ao ilumi-
so show para a TV”, contou Caio, que aproveitou para nar a plateia com eles, trabalhamos as luzes com as
detalhar ainda mais a experiência de criar tais cenas. cores das bandeiras dos países em disputa e conse-
guimos uma linguagem muito interessante”, encerrou,
“Nas disputas de voleibol, realizadas no ginásio do Ma- lembrando, ainda, que, “para controlar as luzes foram
racanãzinho, por exemplo, utilizamos 198 moving lights usados consoles como grandMA2 Full Size, da MA Li-
do tipo Beam, num mix de marcas como Star, Elation e ghting; Tiger Touch, da Avolites, e Hog4, da High End”.

48 | áudio música e tecnologia


capa rodrigo sabatinelli

RIO 2016
tudo sobre a iluminação da

Divulgação
cerimônia de abertura do evento

N rider cOm claY PaKY,


a noite do dia 5, sexta-feira, o mundo inteiro
assistiu a cerimônia de abertura da Olimpí-
martin e sgm
ada Rio 2016. Realizada no Maracanã, no
Rio de Janeiro, a festa, que teve as participações
Para iluminar a cerimônia foram usadas cente-
de Paulinho da Viola, Caetano Veloso, Gilberto
nas de aparelhos, tendo, dentre eles, 180 Alpha
Gil, Anitta, Ludmilla, Elza Soares, Dream Team do
Passinho, MC Soffia e Karol Conka, dentre outros Profile 1500, 130 Alpha Beam 1500, 152 Mythos,
nomes da música brasileira, foi iluminada pela lo- 120 Sharpy Wash e 260 Sharpy, todos da Clay
cadora italiana Agorà. Paky; 120 Mac 2000 Wash XB, da Martin, e 112
G1 Beam, da SGM, além de 167 módulos de
Assinada pelo lighting designer Durham Marhen- LED Wash P-5, 200 P-2 e 180 Q-7, também da
ghi – um especialista que tem, em seu currículo, a SGM; 10 estrobos de 80kwa T-Light, da Hunga-
iluminação de um grande número de eventos olím- roFLASH; 160 ribaltas de LED, da UK LED, e 16
picos –, a incrível luz do abertura foi programada canhões seguidores Lancelot e quatro Merlyn, da
pelos programadores Andrew Voller, Ross Williams Robert Juliat.
e Paulinho Lebrão e, literalmente, en-
cantou as mais de 30 mil pessoas pre-
Divulgação

sentes no estádio do Maracanã, local


da celebração.

Em entrevista à Luz & Cena, Duhram


e Lebrão falaram, dentre outras coi-
sas, sobre o conceito adotado pelo
iluminador para contar a história cul-
tural e política de um país que, por
décadas, sonhou em sediar a compe-
tição e, agora, finalmente, coloca a
Cidade Maravilhosa num hall também
estrelado por sedes olímpicas como
Seul, Pequim e Atenas.

50 | áudio música e tecnologia


Divulgação
Distribuídos ao redor do piso que cobria o grama- utilizar os equipamentos de sua familiaridade, o que
do, bem como nas estruturas internas e externas do justifica tamanha variedade de marcas e modelos
estádio, esses equipamentos foram controlados por numa mesma estação de controle.
consoles como duas V676 (Main + Spare), da PRG,
que contaram com oito processadores Super Node “Duhram foi muito aberto a deixar que nós es-
(4 Main + 4 Spare); duas Hog4 (Main + Spare), da colhêssemos as plataformas. Andrew Voller, por
High End, que também contaram com 12 DP8000 exemplo, que começou a carreira programando
(6 Main + 6 Spare), e duas grandMA 2 Full Size (1 numa Artisan e, depois, migrou para a Virtuoso,
Main + 1 Spare), da MA Lighting, que contaram com ambas da Vari-Lite, utilizou a V676, da PRG, pelo
quatro NPU (2 Main + 2 Spare). fato de a mesa ter o mesmo conceito e código base
[da Virtuoso]. Ross Williams, outro programador,
A escolha dos sistemas citados, se deu, de acordo escolheu a Hog4, da High End Systems, por já ter
com Paulinho, de forma individual e natural, afinal usado as versões anteriores da mesa, e eu, que,
de contas, como bem assegurou o programador, há dez anos, sou usuário de MA Lighting, fiquei
nada melhor que cada um dos três programadores com as grandMA 2”, explicou.
Divulgação

Divulgação

O enorme rider de luz, composto por uma centena de aparelhos, iluminou o Maracanã em sua totalidade

áudio música e tecnologia | 51


capa

Paulinho Lebrão
Na estação de controle das luzes, Ross Willians: um dos programadores das luzes da cerimônia

Paulinho acrescentou, ainda, que a experiência expressividade semelhante”.


ao lado da dupla foi única. Segundo o iluminador,
“Andrew – o líder dos programadores, respon- bOx citY: “vedete” de luz
sável pela iluminação arquitetural e de plateia –
compartilhou com a equipe uma poderosa ferra- A iluminação da Box City, uma enorme “cidade”
menta de marcação de tempos e cues, o software composta por 72 cubos cênicos – onde, artistica-
InqScribe, além de seu inesgotável conhecimento mente falando, se passou boa parte do espetáculo
musical, enquanto que Ross – responsável pela –, ficou nas mãos do iluminador brasileiro. Iluminá-
luz de TV – dividiu com os companheiros todo o -la, no entanto, não foi tarefa das mais fáceis, se-
expertise de quem ilumina grandes atrações in- gundo disse o próprio Paulinho, especialmente por
ternacionais como o The Voice, dentre outras de conta das proporções do “ambiente”.
Divulgação

Divulgação

Na sequência, dois momentos da Box City: ambiente esteve nas mãos de Paulinho Lebrão

52 | áudio música e tecnologia


“As caixas não ti-

Divulgação
nham tamanho nem
posicionamento si-
métricos, portanto,
para criar uma po-
sition, era preciso ir
até a ‘cidade’ com o
remote e, lá dentro,
torcer para conseguir
encontrar a saída e
retornar à mesa. Era
um verdadeiro labi-
rinto no qual nos per-
díamos com facilida-
de. Eu brincava com o
Joyce Drummond, as-
sistente do Duhram,
dizendo a ela que, ‘a
cada ida minha à Box City, ele corria o risco de ficar Programador assegurou:
sem um programador’”, explicou Paulinho, que uti- "A Box City era um
lizou, para fazer as tais positions, 20 unidades dos verdadeiro labirinto. Sair
Alpha Beam 1500, 20 dos Alpha Profile 1500, 20 de lá não era fácil!"
dos Mac 2000 Wash XB e 20 Mythos.

áudio música e tecnologia | 53


Capa

BATE-BOLA
Profissionais comentam suas participações no evento

Luz & Cena: Paulinho, como você foi parar no restri-

Divulgação
to time de programadores da Olimpíada 2016.

Paulinho Lebrão: Duhram, que é amigo de Patrick [Wo-


droffe, lighting designer], com quem trabalhei em duas
ocasiões – na inauguração do Estádio Beira Rio, em Porto
Alegre, em 2014, e no Rock In Rio, no ano passado –, me
contactou via MA Lighting e, numa reunião, no Rio [de Ja-
neiro], selamos nosso acordo. Eu havia acabado de fechar
com Marcos Olivio minha participação nos Jogos Paralím-
picos e, por um momento, achei que não fosse conseguir
pegar os dois projetos, mas, felizmente, deu tudo certo.

L&C: E como foi estar na equipe do lighting desig-


ner, um especialista em cerimônias como essa?

Paulinho: Foi um aprendizado e tanto! Acho que a adap-


tação, em si, pelo fato de nunca ter trabalhado com ele Como mostram as imagens, a tecnologia
e com seus dois programadores, foi mais delicada, mas se fez presente na cerimônia
o trabalho, no fim das contas, foi realizador. Juntos, de-
senvolvemos muitas soluções, como, por exemplo, criar os elementos que necessitaram de sincronismo para que
um pixel mapping para a Box City, já que a nossa cue list o espetáculo ocorresse perfeitamente.
era bem complexa (Risos). Aliás, o pixel mapping foi uma
solução bastante empregada. Eu mesmo usei em todo o L&C: Além dos três programadores, que outros profis-
interior do estádio, inclusive como luz de plateia. sionais estiveram envolvidos, por exemplo, na enge-
nharia de projeção e na criação de conteúdo exibido?
L&C: Duhram, a cerimônia foi daquelas em que não
se faz economia de tecnologias, não é? Duhram: A engenharia do sistema de projeção de ima-
gens foi planejada por Patrice Bouqueniaux, da ETC da
Duhram Marhenghi: Pois é! Em se tratando de um even- França, e contou com 100 projetores fornecidos pela
to desse porte, transmitido ao vivo para todo o mundo, a Creative Technology, enquanto que a criação do conteú-
segurança é mais que necessária e, por conta disso [da do projetado ficou a cargo de Fabio Soares.
segurança], o uso, por exemplo, do time code acabou
sendo uma realidade. Com ele [o time code], disparamos L&C: Paulinho, o que achou da luz de Duhram? Que
tudo: de áudios a luzes e de vídeos a fogos, ou seja, todos características mais te chamaram a atenção?

Paulinho: Olha, ele [Duhram] apresentou um


conceito de iluminação bem teatral, com muitas
Paulinho Lebrão

cenas, por vezes dramáticas, e efeitos às mãos.


No entanto, tivemos momentos de grande so-
briedade, como, por exemplo, a execução do
Hino Nacional e o juramento à bandeira, que
contaram com luzes mais “protocolares”, mais
voltadas para as câmeras, digamos.

L&C: Na opinião de vocês, quais fo-


ram os momentos de maior destaque
da cerimônia?

Paulo Lebrão foi escolhido por Duhram para ser um


dos três programadores de seu restrito time

54 | áudio música e tecnologia


Paulinho: Foram vários [momentos]! Difícil apontar um ou outro,
mas, dentre tantos, a interpretação de País Tropical, de Jorge Ben
Jor, e do Rap da Felicidade, no bloco de funk do espetáculo, além
do “desfile” das escolas da samba, que foram iluminadas com ata-
ques sincronizados de luz, e, claro, a chegada da tocha à obra do
artista plástico Anthony Howe, uma escultura cinética formada por
centenas de esferas e pratos reflexivos, que media mais de 12 me-
tros de diâmetro e recebia o “passeio” dos beams e dos spots com
íris fechadas, responsáveis por movimentos de pan e tilt.

Duhram: A transformação da floresta em um país tomado por planta-


ções e grandes cidades e os traços arquitetônicos de Oscar Niemeyer
no caminho de Gisele Bundchen, iluminada por uma única fonte de luz,
e a entrada das delegações, abrilhantadas por luzes com as cores de
suas bandeiras.

L&C: Como iluminador, qual é a sensação de participar de um


evento desse “tamanho”?

Paulinho: Bem, a dois minutos do início da cerimônia, ouvi no rádio a


mensagem “standby cue one!”. Aquilo já foi o suficiente para me arre-
piar todo! Faltando cinco segundos, outra mensagem: “Cue one, go!”.
Pronto! As luzes do estádio se apagaram e, dali para a frente, foi só
alegria! A maior emoção da vida!

Programar algo tão complexo dentro de um estádio foi, particularmente,


um grande desafio! Contar com 1000 aparelhos funcionando em um espe-
táculo e ter de identificar, no meio de tantos, qual era o que estava fora de
posição e, por isso, fazendo uma sombra incômoda em tal lugar, é só um
exemplo [desse desafio]. Agora, vamos aos Jogos Paralímpicos.
Paulinho Lebrão

Na tela da mesa, os “caminhos” pelos


quais seguiriam as luzes da festa

áudio música e tecnologia | 55


Capa

56 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 57
Prof is s ão Rodrigo Sabatinelli

Direção Artística
de Shows
Bruno Solino fala sobre a importância da função
na construção de um grande espetáculo

H
á um ano, o cantor Alexandre Pires caiu na

Arquivo Pessoal Bruno Solino


estrada com o show Pecado Original e, em
sua passagem pelo Metropolitan, no Rio
de Janeiro, nossa equipe – convidada pelo lighting
designer Leandro Silveira – acompanhou de perto
a montagem do espetáculo, que, merecidamente,
“ganhou” nossa capa.

Lá, enquanto eram feitos os últimos ajustes, transi-


tando no meio da equipe, estava Bruno Solino, dire-
tor artístico da turnê que, generosamente, ao lado do
já citado Leandro e de outros membros da equipe do
cantor, nos revelou detalhes sobre a mega produção.

O tempo passou e Bruno está de volta às nossas


páginas. Agora, em uma entrevista na qual, além
de rever sua carreira, que começou aos 20 anos de
idade, quando a dupla Gian & Giovani apostou em
seu talento, ele fala sobre como viver do mercado
de direção artística de shows.

L&C: Bruno, como nasceu o interesse por tra-


balhar com espetáculos?

Bruno Solino: Bem, eu nasci em uma “família mu-

A influência da família levou Bruno


ao mercado do show business

58 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 59
Prof is s ão

Arquivo Pessoal Bruno Solino


sical”, né!? E sendo sobrinho de uma cantora da
Jovem Guarda e de um empresário e produtor
musical de artistas como Chitãozinho & Xororó,
João Mineiro & Marciano e Trio Parada Dura, além
de filho de um produtor e vendedor de shows, di-
ficilmente me interessaria por outra coisa. 

L&C: E quando, de fato, você teve sua primei-


ra experiência profissional no meio?

Bruno: A primeira oportunidade de, efetivamen-


te, trabalhar com um artista de grande porte se
deu logo aos 20 anos, quando integrei a equipe Para Bruno, o mercado nacional ainda precisa
de Gian & Giovani, para os quais fiz assistência de enxergar a importância do diretor artístico
produção e, em pouco tempo, a produção geral de
seus shows. e a Gisa [Locatelli, produtora]. E a partir desse con-
tato, ou melhor, dessa experiência, tive ainda mais
L&C: Mas foi ali que você se descobriu diretor certeza de que [a direção] era o caminho que gosta-
artístico? ria de seguir pelo resto da vida.

Bruno: A intimidade com todas as fazes de execu- L&C: Como o mercado nacional de shows vê o
ção desses shows me impulsionou a ir além e, ao papel do diretor?
lado do então iluminador [da dupla], Valmir Laran-
jeiras, assinei a criação de projetos de cenário e Bruno: Apesar de o Brasil ter dado um salto considerá-
programação de luz de quatro espetáculos. Esse foi, vel nos últimos 15 anos, aqui, [o mercado de direção de
digamos, o primeiro passo para a direção, sim. shows] ainda é “tímido”, pois boa parte dos empresários
e artistas, infelizmente, não dá o devido valor a essa
L&C: É verdade que o DVD Em Casa, do cantor função. Acontece que, hoje, o público consumidor não
Alexandre Pires, foi determinante para sua de- se satisfaz mais só com música. Ele precisa de mais!
cisão de dirigir espetáculos?
L&C: É verdade que, em tempos de “orçamentos
Bruno: Pois é! Nesse projeto, trabalhando com o apertados”, o diretor tem que, dentre outras
Alexandre, conheci a Joana [Mazzucchelli, diretora] funções, criar soluções “boas, bonitas e baratas”
para a realização das turnês?
Arquivo Pessoal Bruno Solino

Bruno: Certamente! O bom diretor é aquele que


faz um grande show com o orçamento que tem
nas mãos! O mercado de tecnologia oferece muitas
opções em termos de equipamentos e efeitos, por
exemplo, mas o que faz a diferença é a forma como
esses elementos são utilizados.

A maior prova do que digo é a quantidade enorme


de shows que têm cenografias “massantes”, que
pouco se diferem umas das outras. Sem contar que
[esses shows] não têm um roteiro bacana, uma nar-
rativa, algo fundamental em um grande espetáculo.

L&C: Ainda sobre criação, qual é a importância


de se reunir referências na hora de construir
um grande espetáculo?

Antes de dirigir artisticamente os shows, Solino


coordenou muitas equipes técnicas de estrada

60 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 61
Prof is s ão

arquivo Pessoal Bruno solino


Bruno: Seguramente! E essa relação precisa ser
sempre muito aberta e de confiança, pois, do mes-
mo jeito que o diretor precisa que o artista “abra-
ce” suas ideias, o artista também espera que ele [o
diretor] compreenda seu desejo e o transforme no
melhor produto possível. O mesmo ocorre com os
demais profissionais que compõem uma equipe de
produção de um show, como os diretores de arte, os
figurinistas, etc.

Em Pecado Original, meu mais recente trabalho com


Alexandre, contei com o auxílio luxuoso do diretor de
arte Ulisses Figueiredo, que participou ativamente do
processo mantendo, comigo, uma linha de conceito
definida e, com isso, facilitando muito o trabalho. Jun-
Criar espetáculos que fujam do lugar comum é tos, fizemos um show para lá de dinâmico e criativo,
um dos desafios de um diretor, segundo Bruno com projeções live, imagens pré-produzidas e uma ce-
nografia em LED que se “reconstruia” a todo instante.
Bruno: Muita e, em alguns casos, total! Lembro, por
exemplo, de quando planejávamos o DVD Amizade L&C: Na sua opinião, quem são os grandes di-
Sincera I, de Renato Teixeira e Sergio Reis. Eu havia retores de shows da atualidade?
assistido a um especial do Sting, gravado na Cate-
dral de Durham, e me encantei, especialmente, pela Bruno: Joana Mazzucchelli e os americanos Nick Wi-
direção de fotografia. ckham e Kenny Ortega.

Ao apresentar essa referência ao Danny [Nolan, li- L&C: E, para terminar, o que diria a quem pre-
ghting designer], que assinaria a fotografia do DVD, ele tende, um dia, dirigir artisticamente um gran-
[Danny] sorriu, afinal de contas, era sua a luz em ques- de espetáculo?
tão. Coincidência ou não, Renato [Teixeira] também
havia separado esse especial e levado para a reunião. Bruno: O trivial, né? Estudar muito, pesquisar muito,
assistir a diversos shows e conhecer todas as etapas de
L&C: Para você, em que aspectos a direção um espetáculo: da iluminação à cenografia, passando
pode contribuir para o sucesso de um projeto? pela sonorização e pela escolha de repertório. •

Bruno: Um bom exemplo disso é o DVD

arquivo Pessoal Bruno solino


Eletrosamba, também do Alexandre, no
qual foi feito um alto investimento em
tecnologia. Ele [Alexandre] vinha com
uma roupagem mais pop, se apresentan-
do acompanhado ao vivo por um DJ e,
claro, por uma banda e, por conta disso,
no projeto, usamos elementos modernos,
como projeções mapeadas, cortinas 3D e
arquibancadas no palco, dentre outros.
Não por acaso, o DVD foi vencedor do
Grammy Latino de 2013.

L&C: Você diria que a relação do dire-


tor com o artista tem papel fundamen-
tal na concepção e na execução de um
grande show?

Pecado Original: Novo show de Alexandre Pires é


mais um com a assinatura do diretor artístico

62 | áudio música e tecnologia Até o mês que vem, com mais um caderno Luz & Cena!
ÍNDICE DE ANUNCIANTES

Produto/Empresa Pág Telefone Home-page/e-mail

Arena 39 71 3346-1717 www.arenaaudio.com.br

Attack 9 43 2102-0122 www.wireconex.com.br

Audix (Gobos do Brasil) 21 11 4368-8291 www.gobos.com.br

Behringer (Proshows) 03 11 4083-2720 www.proshows.com.br

d&b (Decomac) 4ª capa 11 3333-3174 www.decomac.com.br

DAS Audio 13 11 3333-0764 www.dasaudio.com

Expomusic 31 www.expomusic.com.br

Fatec Tatuí 43 www.vestibularfatec.com.br

Gigplace 55 www.gigplace.com.br

HPL 49 11 2088 9919 www.hpl.com.br

Iatec 57/63 21 2493-9628 www.iatec.com.br

Igap 55 51 3029-4427 www.igaprs.com.br

João Américo 39 71 3394-1510 www.joao-americo.com.br

Kadosh 2ªe 3ªcapa/01/19/25 21 3657-3005 www.templodosinstrumentos.com.br

Martin 5 www.harmandobrasil.com.br

Mogami 23 11 3095-9699 www.mogami.com.br

Open Smoke 53 contatoopensmoke@gmail.com

Powerclick 33 www.powerclick.com.br

Prisma Audio 37 51 3711-2408 www.prismaproaudio.com.br

Pro Class 49 21 2224-9278 www.proclass.com.br

Robe 47 11 3644-6855 vendas@robebrasil.com.br

Sennheiser 11 www.sennheiser.com

Superstudio 41 21 2512-9278 www.superstudio.com.br

TSI 9 www.microfonetsi.com.br

áudio música e tecnologia | 63


lugar da verdade | Enrico De Paoli

“Imperfeitamente perfeito”
O
ntem, assisti um vídeo produzido pela BBC de assistam à banda, mas conversem alto o suficiente pra se
Londres em homenagem às Olimpíadas no Rio ouvirem com o PA tocando. Ou seja, eu ouvia mais o públi-
de Janeiro. O vídeo, compost por lindas imagens, co do que o próprio PA, a 25 metros longe de mim.
uma narração expressiva e uma sonoridade clássica e vin-
tage, começa mostrando o esplendor carioca e, de repen- Essas milhares de pessoas, felizes, curtindo a noite, jun-
te, o foco se inverte e a matéria passa a mostrar os con- tas, geravam uma boa quantidade de ruído sonoro, que,
trastes da cidade e, então, os problemas. Ele segue e, por então, entrava nos microfones do palco. Principalmente
algum motivo, ainda que com os problemas claramente no microfone principal (do cantor), que está lá cheio de
mostrados, a sensação é de emoção, comoção, e beleza. ganho para captar as nuances de um artista de MPB que
se expressa com dinâmica entre notas altas e muitas ou-
Mesmo assistindo-o por trás de um notebook, vivenciei tras sutis, baixas, tranquilas e quase silenciosas.
sensações de conquistas e realizações. Por minutos, é
como se eu fosse um atleta ou um assíduo torcedor que Para ser ouvido pelo público, este microfone precisa estar
estivesse dentro daquelas cenas. Em dado momento, o ALTO! E quando eu o aumento, ele capta todo tipo de
narrador sugere que, ao contrário do que possivelmente som existente naquele ambiente. Este som todo é am-
pudesse se esperar, as olímpiadas no Rio superaram todas plificado, então, sonorizado pelas caixas de som de volta
as expectativas e, inclusive, aos últimos Jogos Olímpicos ao ambiente, e novamente, a cena se repeta em loop,
que aconteceram em… Londres, com toda a sua perfei- sucessivamente. Sendo assim, mixar nessas situações é
ção. E, enfim, ele termina dizendo que a Cidade Maravi- um desafio muito parecido ao de fazer monitor pra uma
lhosa, durante o evento, estava imperfeitamente perfeita, banda cujo palco é altíssimo em volume de som.
o lugar mais lindo do mundo.
Mas, com todas estas dificuldades, o show estava lindo.
Banhado de emoção em assistir tamanha homenagem Energético! A banda tocando bem e o artista submerso
à cidade do Rio de Janeiro – despida de qualquer orgu- em emoções que eram transmitidas ao público e, então,
lho por parte deles, britânicos, que sediaram as últimas devolvidas a ele. Isso, sim, é um grande show. Eis que,
olimpíadas –, imediatamente associei todo o conteúdo do de repente, com os meus inúmeros cuidados e técnicas
vídeo deles à música, ou melhor, ao nosso trabalho de durante aquela mixagem distante e delicada, num dado e
engenharia de produção de mixagem de música. único momento, deixo sobrar uma frequência na voz que
lutava para que fosse BEM ouvida, e temos meio segundo
Sendo assim, relato uma passagem minha, quase tão re- de microfonia. Três pessoas do público que estavam bem
cente a esta incrível homenagem da BBC. Esta semana à frente da mesa de som, justamente algumas das que,
mesmo, eu estava mixando um show do cantor Jorge Ver- sem perceber (e sem ter culpa), ajudavam a bloquear o
cillo em Campina Grande, no lindíssimo e hospitaleiro Es- som aos meus ouvidos, olham pra mim com cara de hor-
tado da Paraíba. Como quase sempre, nossa inteligência e ror! E eu penso: “será que esta metade de um segundo
conhecimento técnico é posto à prova num dia de show. A foi o suficiente pra destruir por completo um espetáculo?”
console nem sempre está onde deveria, entre outras ques-
tões comuns. Neste dia em específico, a house-mix tinha Eu sou perfeccionista. Não aturo “bom o suficiente”. Não
uma tenda protegendo-a. E, como quase sempre, a tenda aturo “rouba, mas faz”. Não aturo “jeitinho brasileiro”.
era baixa demais. E, pior, ela tinha uma forma parabólica Mas, há tempos, já aprendi que a beleza não está exata-
causando relexões internas que me faziam ouvir tudo, me- mente e somente na perfeição. Não! Isso não é desculpa
nos o som similar ao que o público ouvia fora dela. pra ser fazer algo mal feito. Não me entendam errado!
Uma música que emociona, com certeza não tem todas
Pra piorar a situação, eu, mixando ali de dentro, com o pú- as suas notas cravadas, nem na afinação, nem no tem-
blico todo em pé na frente da console, sobrava – de altura po. Isso a faria soar mecânica. Não confundamos desleixo
entre as cabeças das pessoas e a tenda – somente uns 30 com emoção. A fórmula do que emociona é difícil (ou im-
cm de espaço para o som do PA visitar meus ouvidos. E, possível) de se colocar no papel. Até mesmo os britâni-
pra finalizar, a alegria do brasileiro em estar numa festa cos, com toda a sua precisão, tentaram descrevê-la como
(sim, shows viram festas!), faz com que eles não somente imperfeitamente perfeita. Até mês que vem! •

Enrico De Paoli é engenheiro de produção de música. Mixa para a música. Masteriza para a música. Vive para a satisfação do fazer bem
feito, sem jamais deixar a emoção em segundo plano! Conheça mais sua discografia e treinamentos em engenharia de música no site
www.EnricoDePaoli.com.

64 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 65
66 | áudio música e tecnologia

Вам также может понравиться