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Práxis e dialética da resistência

Pensar a resistência que nos cabe atualmente está ligado à reflexão sobre o lugar
em que nos encontramos, isto é, nosso contexto histórico-concreto. Há muito já sabemos
que vivemos sob os imperativos do capitalismo tardio, com seu novo espírito e suas novas
razões. Tal capitalismo tem como uma de suas características elementares o fato de que
ele agora é um sistema mundial, que só funciona a nível global e que, portanto, sua crise
assim como sua crítica são realizadas também no nível planetário.
Nas últimas décadas da era do capitalismo global e sua expansão fictícia de capital
destacam-se três períodos mais ou menos precisos: de 1946 a 1973 em que se predominou
os modelos de produção fordistas e as políticas econômicas keynesianas, de 1973 a 1981
com o esfacelamento do capitalismo fordista-keynesiano e sua consequente crise, e da
década de 80 em diante inicia-se à contrarrevolução neoliberal que se caracteriza por seu
estado de crises constantes (1987, 1996, 2001 e 2008), que explicitam a lógica do
“capitalismo das bolhas”, forma originaria do nosso sistema institucional-político na
mundialização financeira. O processo de reestruturação capitalista que se inicia nesse
último período é impulsionado nas mais diversas áreas da vida social, imputando uma
derrota das forças políticas e sociais de esquerda e a vitória das forças políticas do
neoconservadorismo neoliberal e seu irmão gêmeo, o neoliberalismo progressista.
Exemplo disso é o quadro que vivemos atualmente na crise à brasileira: independente de
quem ocupa o cargo executivo, sabemos que quem verdadeiramente “governa” é a junta
financeira dos bancos e grandes corporações – em que conservadorismo e progressismo
são as duas variantes internas de um mesmo modelo econômico. E, infelizmente, nada
ainda nos indica alguma perspectiva concreta e real de superação, pois, a crise de
formação da valorização do valor é também a crise da deformação dos sujeitos
contemporâneos que ainda não foram capazes de operar uma “negação da negação”
efetiva.

Desde a Inglaterra do século XVI, quando o capitalismo começou a se desenvolver


no interior das relações sociais entre os grandes latifundiários ingleses e os arrendatários de
terras1, o que é constante de suas dinâmicas embrionárias até os dias de hoje, é sua
capacidade de regulação e controle enquanto sistema econômico da produção e
“distribuição” da riqueza social. Ou seja, ao tratarmos do capitalismo, por mais que ele
sofra seus processos de mutações e atualizações devido suas crises internas, munindo-se
de um novo espírito e nos oferecendo novas razões, precisamos ter em mente que ele se
perpetua na medida em que é capaz de regular a produtividade social, seja ela qual for, e
sua distribuição desigual. Ao conseguir dominar essa dinâmica da vida social, o
capitalismo domina todo o resto, pois no mais fundo da nossa condição humana ainda
pesa nossas necessidades fisiológicas: lá onde a fome grita a teoria perde sua voz. Não à

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Durante muitos anos os seres humanos proveram suas necessidades físicas trabalhando a terra, e
mesmo nas sociedades pré-capitalistas houveram divisões em classes entre os que trabalhavam e os
que se apropriavam do trabalho alheio. Todos esses agricultores detinham a posse dos meios de
produção, portanto, também, de sua reprodução. Quando o trabalho excedente era apropriado por
terceiros, isso se dava através de meios extra-econômicos – coerção direta de grandes proprietários ou
Estados que empregavam forças militares, jurídicas ou políticas. No capitalismo, entretanto, e somente
nele, os modos de apropriação baseiam-se na desapropriação dos produtores, cujo trabalho excedente
é apropriado através de meios puramente econômicos.
toa nos é dada liberdade total de crítica ao capitalismo, mas nunca que alteremos suas
dinâmicas econômicas de produção e distribuição.
No lugar onde o capitalismo demonstra sua força, isto é, na economia, aparece
também a sua fragilidade, pois a economia nunca é somente econômica, mas só se
sustenta na medida em que é implementada através da política. Por isso Marx sempre
insistiu em falar em termos de uma economia política em contraste com Ricardo e Smith,
que tentavam explicar as novas dinâmicas do mundo industrial apenas em termos
econômicos. Um dos segredos fundamentais da produção capitalista, descoberto por
Marx, refere-se às relações sociais e à disposição do poder que se estabelece entre os
proletários e o capitalista. É uma disposição do poder que tem como fundamento a
configuração política do conjunto da sociedade, por isso podemos dizer que o capitalismo
tem como seu segredo uma dimensão política que é escamoteada pela dimensão
econômica. A própria economia não se constitui sobre uma rede de forças incorpóreas,
mas sim sobre o conjunto das relações sociais que são em primeira e última instâncias
políticas. Ao separar o sistema de produção de seus atributos sociais específicos,
economistas partidários do capitalismo intentam demonstrar uma certa “eternidade e
harmonia das relações sociais”, quando na realidade se esforçam para ocultar que os
modos de produção têm seus alicerces na exploração politicamente legitimada de uns
sobre outros.
Com isso, atingimos um primeiro objetivo buscado pelo texto, pois, apresentar o
capitalismo em seu aspecto político tornar-se o modo de permitir que ele seja realmente
contestado como relação de dominação, como direitos de propriedade, como poder de
organizar e governar a produção e a apropriação. Em suma, o objetivo dessa postura
teórica é prático, e busca lançar luzes sobre o terreno de luta observando os modos de
produção não como estruturas abstratas, mas como eles realmente enfrentam as pessoas
que devem agir em relação a eles.
No início afirmamos que pensar a resistência é pensar nosso contexto histórico-
material. Mas pensar a resistência também deve revelar um outro aspecto: nossa
capacidade de ação. Resistir é, acima de tudo, agir. E nossa ação nunca é óbvia o
suficiente para que não seja motivo de reflexão.
Existem diferentes modalidades de resistência, como por exemplo, resistir
enquanto suportar, enquanto resiliência, ou, resistir enquanto defesa, como reação à um
ataque. Há também a resistência enquanto negação, como recusa. Em certa medida, todas
essas formas tem uma estreita ligação entre si, e todas elas nos são bastante familiares.
Entretanto, gostaria de propor que pensemos uma outra maneira de resistência, que não
exclui nenhuma das anteriores, mas as complementam de forma a torná-las mais efetivas:
resistência enquanto práxis dialética. Com isso, denomina-se uma maneira de resistência
que não se reduz a negatividade, mas que traz em sua negação uma atuação positiva por
parte dos sujeitos implicados: os sujeitos políticos da resistência não podem, se quiserem
transformar sua realidade político-concreta, contentar-se em meramente suportar ou
defenderem-se por meio da negação, mas necessitam apreender a dimensão
transformativa da positividade que é capaz de instaurar o novo. Existe na positividade a
dimensão de uma negação da negação que se caracteriza por uma capacidade afirmativa
irredutível. Práxis enquanto resistência, portanto, é essa positividade que é capaz de
fundar por cima do que se nega. Ela própria é uma práxis política na medida em que é
uma teoria prática. Ou seja, não é uma prática que se conduz pelo ditar teórico, mas é a
própria teoria que é prática, isto é, erige-se de dentro da prática política cotidiana: a
compreensão se desdobra em ação e, assim, o agir se faz compreender.
Resistência e ação, política e revolução. São esses os nomes que se manifestam
sobre dois polos complementares: o sujeito e a história. O agir da resistência político-
revolucionária nos remete sempre à um sujeito que age. Mas tal sujeito age efetivamente
somente na medida em que consegue visualizar o terreno histórico em que se movimenta.
Por isso toda revolução traz em si uma dualidade absoluta: a forte e incontornável relação
que existe entre existência e história. Os dois polos se retroalimentam em um movimento
de tensão perpétua, pois a história nada seria sem o sujeito singular, e o sujeito, por sua
vez, não seria um sujeito caso não se desenvolvesse no horizonte indefino e universal da
história que o constitui.
Desse modo, a dualidade que se apresenta no interior de uma revolução tem
sempre um traço trágico, pois na medida em que a existência busca alcançar a história por
meio da ação, desvela-se, nesse movimento, um comprometimento que tem sua grandeza
rivalizada com a inutilidade: o sujeito para se realizar na revolução da história, deve,
antes, se perder para que consiga novamente se possuir, e nada o garante que ao lançar-
se nesse movimento de despossessão, que conseguirá obter a transformação pretendida.
Assim, a práxis revolucionária é sempre uma saída de si, que já não busca mais somente
seus próprios interesses, mas que se lança em um movimento de transformação que jamais
se completa na realização da mudança pretendida, posto que uma práxis dessa natureza
está sempre em tensão, e só obtém alguma transformação na medida em que é capaz de
fundar por meio de uma ação que é sempre gratuita, pois seu engajamento tem origem na
interioridade do sujeito, onde o que há é uma absoluta gratuidade em viver: sua
positividade é sempre re-posta enquanto um fundamento que nunca é estável o suficiente
para se fixar permanentemente; como existe por tensão, sua atuação é constante e, por
isso mesmo, sua perda é sempre um reencontro com o mesmo que se diferencia na medida
em que age na realidade histórico-política.
A política, e não menos a revolução, só adquirem significado na medida em que
pairam sobre esses dois polos: o subjetivo e o histórico. Devido a isso, a atuação de uma
práxis eficaz precisa sempre de compreender a ambos em suas potencialidades inerentes.
Lá onde o sujeito se determina é o mesmo lugar onde ele se ultrapassa para fazer a história
por meio de sua ação, e no local onde a história é imperativo determinante das vidas
subjetivas, só o é no instante em que a pluralidade de ações a constitui. Resistimos, pois,
no centro de uma dialética: nos perdemos para fazer a história para que então a história
nos refaça. Seria esse o segredo da experiência que a práxis revolucionária proporciona a
cada um que a vive, e desse segredo retiramos a potência capaz de ameaçar a perpetuação
do capitalismo.
Se o capitalismo enquanto sistema econômico só se realiza na medida em que a
própria política o permite, desde sempre para que ele se perpetue é a política que precisa
ser negada. A política carrega em seu seio a contingência da ação, e por isso onde ela
existe e vigora, sempre paira a possibilidade, e não necessariamente a iminência, de uma
revolução. É comum descrever o capitalismo como o reino das liberdades individuais,
mas seu problema, e não menos sua fragilidade, é limitar-se a isso, uma vez que se tais
liberdades se desenvolverem para a ação do sujeito singular que encarna o universal,
ultrapassando a si mesmo para transformar o curso da história, o capitalismo é posto em
cheque: ele só admite sujeitos fechados em si próprios, que não transbordam para além
de si mesmos e, por isso, não reconhecem sua capacidade implicativa na História. De
todos os grandes feitos de Marx, talvez o reconhecimento da potência transformativa que
reside no interior de cada sujeito seja um dos maiores: não basta interpretar o mundo, é
preciso transformá-lo, nunca quis dizer que devemos abdicar do pensamento teórico para
agirmos compulsivamente. A décima primeira tese sobre Feuerbach sempre foi um aceno
para a força da compreensão somada a ação. O pensamento que se dirige ao mundo, deve
incidir sobre a ação que transforma a história. Tão ineficaz quanto a teoria anódina e a
prática irrefletida.
Não é de se espantar que o buraco em que nos encontramos hoje coincida
exatamente com a falência da política: o espaço público encontra-se laminado sob as
pressões do terror econômico e as lamentações de um moralismo abstrato, de modo a
assistirmos calados o depauperamento da política e seus atributos (a estratégia e a ação
conjunta). Essa dissolução [da política] acontece não pelo seu desaparecimento, e sim no
seu revestimento estético, ou seja, a estetização da política que se expressa através da
exaltação das proximidades, das microesferas, do acumulo ornamental e a busca de um
simulacro de autenticidade. No fundo tudo isso só faz transparecer uma certa
desorientação contemporânea diante da incerteza da ação política. Cada vez mais
caminhamos para uma diversidade sem diferença, uma massa de singularidades
indiferentes que ressaltam pequenas diferenças para que possam deixar de pertencerem
como cidadãos ou membros de uma classe social e melhor aderirem às suas próprias
demandas identitárias. Contra isso deveríamos mais do que nunca reafirmar a relevância
da contingência estratégica, a arte da decisão no momento propício, e as potencialidades
da unidade do agir coletivo.
Mas como a relação implicativa entre os sujeitos e a história é sempre mais
complexa do que qualquer texto pode pretender revelar, as forças reais capazes de
transformarem o macro social e político jamais se encontram nesse ou naquele texto ou
teoria. A construção de uma política revolucionária passa sempre pelo defronte que
apenas a situabilidade do contexto social somada a capacidade organizativa de seus atores
podem oferecer. Isso porque toda práxis revolucionária traz em si o elemento do contato,
da dialética da vida real, da possibilidade de união de singularidades em uma
universalidade comum, isto é, a ação conjunta com vistas as fins que nunca são um fim
em si mesmo, mas sempre rumos de um agir que ultrapassa cada uma das partes
envolvidas para se realizar na soma das forças integrantes. Isso o capitalismo e seus
aparatos de ordem não suportam, pois a eles interessam a dispersão, o fragmentário, a
multiplicidade sem coesão, o fechamento de cada um em si próprio para o cumprimento
de suas demandas individuais – algo que se expressa muito bem no famigerado “direito
de ir e vir” frente a toda manifestação política que interrompe a normalidade cotidiana.
Por isso que seu sucesso atual, mesmo diante de uma de suas maiores crises, deriva em
grande medida de seu forte apelo de investimento libidinal e existenciário na realização
do si, do self empreendedor, no abandono da história enquanto construção
constantemente clivada pelas ações políticas, para o refugo nas proximidades, na procura
dos pares concordantes, na elaboração de micro ações voltadas para si mesmas e seus
contornos.

É característico do tempo em que vivemos concebermos certas possibilidades


autênticas e necessárias sem sabermos o que pertence à sua realização. Não sabemos mais
nos doarmos e isso significa que desaprendemos que toda geração que quer algo
precisa atravessar a experiência na qual ela se “sacrifica” pela geração seguinte, sem
resignação, mas muito mais com a força e vontade de quem compreendeu que em todas
as realizações autenticamente humanas cada um não pode ser “senão” precursor para
algum outro. Sendo assim, resistir tem, inevitavelmente, algo dessa potência que reside
no interior de cada singularidade que se dispõem a fazer a experiência concreta da
universalidade histórica: sujeitos políticos que não se contentam com si próprios e agem
com vistas a uma despossessão que transforma o real da história sócio-política. Mas nada
disso seria eficaz se não fosse feito correlatamente ao diagnóstico que a teoria fornece e
os desdobramentos afirmativos que a prática realiza. Resistência enquanto práxis é,
portanto, muito mais que meramente um agir desorientado ou um esforço teórico
contemplativo, ela é, antes, uma atitude, uma maneira de implicar-se que vai de si à
história e retorna, sem que esse movimento jamais cesse, pois a estabilidade não é sua
meta, mas sim a transformação efetiva.
O que importa não é falar, mas atuar. O que tentamos compreender aqui é
justamente o modo como isso se dá.

Abul Nolas

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