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Paola Fabres
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Projeto Gráco de Capa e Miolo: Paola Fabres
Direção Editorial: Márlon Calza
Revisão Editorial: Janice Mayer e Ubirajara Machado
Produção Editorial: CopyStar
FABRES, Paola.
O Design Gráco Contemporâneo e suas
Linguagens
Linguag ens Visuais. Porto Alegre: Uniritter,
2011
Bibliograa
ISBN 978 - 85 - 04 - 01560 - 4
4
Paola Fabres
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All of a sudden, an immensely vital
and multi-faceted wave broke free. (...)
Eccentricity and individual expression were
much sought after and ceased to be looked
down upon. Instead of concepts that had
to win majorities, design was back offering
cheeky and surprising design solutions.
Niklaus Troxler
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SUMÁRIO
Prefácio ....................................................................................... 11
Introdução .................................................................................. 15
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PREFÁCIO
Vivemos em um mundo de imagens. Desde os primórdios da civilização
até a vida de hoje o homem se apegou à representação imagética, tenha essa um
m comunicativo, simbólico ou estético. Essas imagens tem estado intimamente
vinculadas ao contexto no qual se encontram. Temos a transposição de signos e
símbolos ao longo do tempo e a reprodução de narrativas repetidas, entretanto, a
produção criativa de um determinado momento atua como agente de seu tempo,
colaborando sempre na construção da cultura visual de uma determinada época
e na representação da forma de expressão e reexão de uma sociedade.
No decorrer do tempo, ao longo das transformações tecnológicas,
culturais e comportamentais da sociedade, altera-se a forma de pensamento
do ser humano, assim como seu raciocínio criativo. Pode-se observar, durante a
história humana, essa relação direta entre indivíduo, seu entorno e sua produção.
O estudo sobre a expressão artística ou, mais especicamente, sobre a produção
gráca de uma sociedade não deve estar dissociado da análise de seu contexto
geral. O estudo desta contextualização subentende a relevância das mais
variadas inuências, sejam elas no campo histórico, econômico, tecnológico,
geográco, losóco ou cultural. Tal inuência afetará diretamente os códigos
da comunicação visual, vindo a construir, então, as características e os estilos
referentes à produção criativa.
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Dene-se aqui estilo como uma referência à feição especial típica de um
prossional, de um gênero, de uma escola ou de uma época; na maioria das vezes,
o termo apenas indica uma estética visual dominante em uma época e em um
lugar determinado. Os estilos artísticos construíram e caracterizaram suas épocas,
respondendo formalmente ao perl e à visão de seu período.
As transformações da estrutura da sociedade, afetadas pela tecnologia,
tem se apresentado de forma signicativa e cada vez mais acelerada. Estaria,
então, o contexto atual, caracterizado por transformações abismáticas nos
campos da tecnologia, da comunicação e da globalização, causando qualquer
tipo de inovação também no campo criativo? Seria possível identicar um estilo
na produção gráca nesse período contemporâneo, ou teriam também os estilos
se transformado ao longo do tempo, restando cada vez mais uma aglomeração
de repertórios e informações visuais dissociadas umas das outras? O presente
livro busca, fundamentalmente, a discussão sobre o diálogo estético que vem
sendo comunicado nas últimas décadas e como se dá a caracterização dessa
linguagem visual, visando a apresentação de trabalhos grácos que provoquem
essas questões.
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INTRODUÇÃO
Em paralelo com o amadurecimento da atuação do design, cresce a
quantidade de informação visual que o mundo nos propõe. Sabe-se hoje que
toda informação que nos atinge em um curto período de tempo equivale à
informação percebida de uma vida inteira da sociedade de 60 anos atrás. A
cultura visual tem ampliado seus horizontes e se faz presente constantemente
na vida cotidiana do ser humano. É possível observar no campo do design uma
relação direta entre a sociedade e seu consumo. Tem seu próprio nascimento
atrelado às características de uma sociedade capitalista e liberal que colaboraram
com o aumento considerável do consumo através de necessidades cada vez mais
presentes e subjetivas. O designer deve estar constantemente focado nas novas
transformações no comportamento humano, atento às novas questões ou novas
necessidades da sociedade, sejam essas no âmbito material ou intelectual.
Percebe-se criações grácas nos comerciais televisivos, em campanhas
publicitárias, nos materiais grácos, nas superfícies têxteis, nas interfaces grácas,
nos livros, nos muros de ruas, entre outras várias manifestações da sociedade
atual. O prossional da criação gráca possui um mundo de referências em seu
entorno e deve usufruir desse “bombardeamento” para alimentar seu repertório
visual. A criatividade está diretamente relacionada a uma postura ativa que
provém de um olhar amplo, mas ao mesmo tempo atento e minucioso do mundo.
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Perante todo esse repertório de informações, o designer gráco ou
prossional de criação deve praticar a busca pelo entendimento sobre as respostas
criativas do seu entorno, inclusive sobre a produção gráca atual. O trabalho
de design deve sempre observar o contexto social, relevar a transformação do
pensamento do homem e as noções e discernimentos da compreensão de símbolo
e imagem. Ao lidar com qualquer tipo de criação, informação ou comunicação
visual, o conhecimento sobre as referências externas aprofundará a abordagem
de qualquer trabalho.
É possível perceber, na última metade do século XX, uma nova
organização na sociedade, e o design gráco também atravessa essas mudanças.
Á medida que entramos mais e mais na era digital, o design vai se transformando e
passa a apresentar uma nova geração de prossionais que questionam as formas
de percepção existentes e as noções estabelecidas. A velocidade de metamorfose
da expressão artística e criativa vem se acelerando com o tempo. Atualmente, o
“banquete visual”das expressões grácas torna-se cada vez mais farto e, agora,
o hibridismo apresenta-se como uma característica recorrente da atualidade ao
ser reetido na produção da sociedade.
Percebe-se, atualmente, um pluralismo globalizado em termos de
produção criativa, caracterizado pela ausência de critérios canônicos e pelo
conceito do “tudo pode”. Na verdade, deve-se buscar entender as grandes
questões que dão existência a esse contexto marcado pela impossibilidade
de categorias e pelo alargamento dos próprios limites da arte e da criação. O
desenvolvimento da capacidade criativa e expressiva do homem tem se adiantado
na tradução do mundo caótico em que vivemos. A produção contemporânea vem
manifestando-se através da experimentação, da interatividade, da virtualidade e
de questionamentos que pontuam novas congurações artísticas. Ainda assim,
as alternativas de soluções grácas são inndáveis, atribuindo esse quesito, em
grande parte, à questão tecnológica. As possibilidades proporcionadas pelas
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ferramentas, softwares, maquinários de impressão e tantas outras facilidades
agregam ao designer uma innita capacidade de expressão e maior agilidade no
momento produtivo.
O propósito deste livro é proporcionar e estimular a busca por essa
compreensão, de forma a enriquecer o conhecimento do leitor sobre a criação
projetual e auxiliar não apenas no entendimento da expressão alheia, como no
da sociedade atual em geral. A erudição sobre a identicação de inovações que
pontuam o repertório atual de criação muito colaborará na formação de nossa
bagagem criativa individual e auxiliará, cada vez mais, na produção de uma
comunicação visual eciente e atualizada no seu contexto.
O Mundo Contemporâneo
O mundo mudou muito nos últimos cinqüenta anos, tanto que ca cada vez
mais difícil encontrar pontos de tangência que justiquem agrupar em um mesmo capítulo
a realidade de dez ou quinze anos atrás com o mundo distante das décadas de 1950
e 1960. Com o ingresso na era digital, então, ca cada vez mais nítido que os velhos
paradigmas já não servem mais. Os avanços da informática vêm impondo crescente uidez
nos processos de produção, consumo e uso; e, por conseguinte, alguns dos pressupostos
mais caros do campo do design estão caindo por terra.
Rafael Cardoso, 2OO8.
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A monotonia e pasteurização do design ocidental vai começar a ser contestada
a partir dos anos 60, quando jovens designers começam a propor alternativas não-
dogmáticas, mais descontraídas (retorno à ornamentação, ao simbolismo, ao humor e à
improvisação) para fugir da esterilidade das formas modernistas. O pós-modernismo no
design é uma reação intuitiva da nova geração de designers aos excessos racionalistas e
positivistas dos programadores visuais dos pós-guerra.
Flávio Vinícios Cauduro, 2000
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na sociedade contemporânea, estimularam a poética criativa, colaborando com
novas propostas na comunicação. Ao mesmo tempo em que a popularização
das tecnologias digitais injetou, sem sombra de dúvida, uma grande dose de
liberdade no exercício do design, pode-se argumentar que ela também trouxe
no seu bojo novos limites para a imaginação humana. A marca registrada da
pós-modernidade é o pluralismo, ou seja, a abertura para posturas novas e a
tolerância para posições divergentes. Já não existe mais a pretensão de encontrar
uma única forma correta de fazer as coisas, uma única solução que resolva todos
os problemas, única narrativa que amarre todas as pontas. Na produção criativa,
as regras já pré-concebidas passam a ser reavaliadas e a expressão gráca como
um todo passa a sofrer marcantes transformações inclusive no âmbito formal e
organizacional.
Noções de legibilidade (na tipograa), de funcionalismo e a própria
idealização de clareza e eciência na comunicação são algumas das preocupações
que foram desaadas, re-apropriadas e renovadas, principalmente pelo ponto de
vista de uma maior liberdade de expressão e autonomia criativa. A comunicação
imagética, a partir do nal do século XX e início do século XXI, inspira um novo
imaginário, marcado pela retórica da ‘inclusividade visual’, provocando novas
linguagens e características gráco-visuais. Representações formais híbridas e
com técnicas heterogêneas, o alto grau de informação visual no espaço gráco, a
desconstrução tipográca, historicismos e expressões retrós, e a crítica e a reexão
como discurso do trabalho gráco, são alguns exemplos de classicações da
estética contemporânea que observaremos a seguir.
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1 HETEROGÊNEO
A Hibridização e a Heterogeneidade
na Expressão Gráfica Contemporânea
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2222
A visualidade contemporânea tem como característica primordial
a fusão de elementos e linguagens, resultando em dimensões múltiplas da
expressão gráca, mistura essa reprimida pela imagem moderna.
A globalização é também um fator contribuinte para o surgimento do
hibridismo na expressão gráca dos últimos tempos, sendo ela a grande responsável
pela unicação de culturas na manifestação artística e gráca. O acesso global de
toda a comunicação visual, que leva ao mundo a informação criativa, produzida
pelos mais diversos povos e países, traz na cultura imagética uma criação coletiva
de tribos, facilitada pela tecnologia. O conceito de hibridização, enseja analisar
as manifestações culturais como resultado da mistura dessas expressões, sem ver
nisso uma perda de ordem ou valor.
As imagens pós-modernas passaram a expressar cultivar uma linguagem
heterogênea, construída a partir da fusão de manifestações grácas díspares,
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confundindo formas, traços e técnicas variadas. Essas características se tornam
freqüentes nos trabalhos grácos da contemporaneidade e reetem a estrutura
híbrida da sociedade atual, o que vem gerando uma outra concepção criativa
causada pelo pluralismo cultural.
2323
Stephan Bundi Boll Design, projeto Studio Boot, projeto editorial
de cartaz virtual para o Teatro Biel Samsam, revista infantil, Holanda,
Solothurn, Suíça, 2008 desde 1999
2424
Martin Venezky, sítio virtual e cartaz para palestra, 2007
2525
No matter how fast the
computer can work, my
imagination is always
much faster. I follow the
instincts of my senses
or my imagination. (Não
importa quão rápido um
computador trabalhe,
minha imaginação é
sempre mais rápida. Eu
sigo os instintos dos
meus sentidos e
da minha imaginação).
Makoto Saito, 2002
2626
Makoto Saito, cartaz para
a empresa Alpha Cubic,
Japão, 1993
2727
Makoto Saito, cartaz para
a empresa Alpha Cubic,
Japão, 1988
Há uma tendência nas imagens pós-modernas de cultivar
a polissemia, a indeterminação, o que vem gerando uma
outra concepção para os mitos contemporâneos. A nova
visualidade pós-moderna é cada vez mais heterogênea
e complexa pela liberalidade e profusão dos pontos de
vista dos discursos artísticos atuais, acrescidos dos novos
meios de comunicação audiovisuais, de alcance global.
Maria Beatriz Rahde e Flávio Vinícios Caurudro, 2005
28
Makoto Saito, cartaz
para os 100 anos de
aniversário do colégio
Kokura Technical High
School, Japão, 1998
2929
Makoto Saito, cartaz para a empresa Toppan Printing Co.,
à esquerda, e cartaz para The Massachusetts College of
Art, à direita, Japão, 1999
3030
A nova visualidade
pós-moderna é cada
vez mais heterogênea
e complexa pela
liberalidade e profusão
dos pontos de vista dos
discursos artísticos atuais,
acrescidos dos novos
meios de comunicação
audiovisuais, de alcance
global.
Maria Beatriz Rahde e
Flávio Vinícios Cauduro,
2005
Natalya Sapojkova,
poster para festival de
“Projetos Irrealistas de
Design”, Rússia, 1999
3131
Nancy Skolos e
Thomas Wedel, cartaz
para exposição
de Nancy Skolos,
Estados Unidos, 1996
3232
The profession of graphic
design has drastically
changed since 1980,
much more than I
anticipated. Our skills
put us in a powerful
position to shape and
direct communication.
(A prossão de
design gráco mudou
drasticamente desde
1980, muito mais
do que eu antecipei.
Nossas habilidades
nos colocou em uma
posição poderosa para
moldar e direcionar a
comunicação)
Nancy Skolos, 2003
3333
Jean Paul Goude, Vrtuelle,
campanha publicitária
Galerias La Fayette,
França, 2001
3434
Jean Paul
Goude,
Vrtuelle,
campanha
publicitária
Galerias
La Fayette,
França, 2001
3535
Alejandro Magallanes, cartaz de divulgação de workshop de ilustração e
cartaz de conferência de Alejandro Magallanes na França, México, 2008
3636
Alejandro Magallanes, cartaz de divulgação de workshop de desenho de cartazes
e cartaz de mostra de desenhos contemporâneos, México, 2009 e 2010
3737
Trabalhos de April
Greiman, Estados
Unidos, 2007
38
38
Nada mais natural que a nova
geração de prossionais com
ideias provocadoreas questione as
formas de percepção existentes e as
noções estabelecidas. Toda vez que
acreditamos estar na vanguarda,
percebemos que estamos apenas
no começo, e que o futuro é um
horizonte aberto.
Philip Meggs, 2009
3939
40
2 CAOS FORMAL
A Informação e a Poluição Visual
no Trabalho Gráfico
41
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O século XX deniu-se pela saturação de imagens, pela poluição visual,
pelo bombardeio da publicidade e pelo olhar como forma de consumo. De forma
contrária ao lema moderno minimalista de less is more (menos é mais), hoje
se prolifera pela produção gráca a poluição formal, o excesso e a indenição.
O número excessivo de signicantes visuais no espaço da comunicação
contemporânea, através de representações visuais, verbais, mistas e sobrepostas
resulta, muitas vezes, em uma estética de caos formal. Através dessa poluição de
“ruídos” e “resíduos” de caráter e expansão internacional, o designer permite-
se expressar a fragilidade da vida e da criação humana, relacionando-se mais
intimamente ao indivíduo e ao coletivo e suas imperfeições.
O estúdio britânico de design Tomato, atuante na década de 1990,
apresenta exemplos de trabalhos com expressivos e caóticos grasmos. Com
prossionais da área de design, da arte e da ilustração, produziu muitos trabalhos
de capas de álbum musicais apresentando sempre fragmentos grácos que
apresentam diculdade de leitura. A cena musical da década de 1990 em Seattle,
4343
denominada também pelo termo grunge, inuenciou os designers da época com
sua estética de desconstrução expressiva. Da mesma forma, o grupo Art Chantry,
que resistiu ao uso da tecnologia digital, utilizava um estilo idiossincrático que faz
uso de letras e imagens apropriadas do mundo vernacular para criar composições
com uma energia cinéticaforte que atraiam o espectador (ESKILSON, 2007). Suas
imagens, que misturavam tipograa com imagens e desenho, apresentavam uma
forte carga de informação visual, muitas vezes beirando a proposta ilegível e
caótica. Pode-se visualizar alguns exemplos desses trabalhos a partir da gura 7.
David Carson também atuou na produção de trabalhos grácos desintegrados,
mas revolucionou principalmente no âmbito tipográco.
A cena punk dos Estados Unidos e da Inglaterra também colaborou com a
exploração da abordagem gráca caótica, através de um espírito anáquico e
fortes inuências da composição Dáda. Fotomontagem e colagens foram técnicas
bastante utilizadas e contribuiram com expressões agressivas e desorganizadas
propostas pelo estilo. O designer Jamie Reid trouxe muitodessa atmosfera em
seus trabalhos e inclusive Neville Brody também atuou através dessas linguagens.
44
Art Chantry, cartaz Kustom Kulture, Condom Penis Cop, cartaz para seviço
público e cartaz para Johnny O’donnell, Estados Unidos, 1994, 2002 e 2009
4545
Studio Boot, cartaz
para marca Dolf Jansen,
cartaz da palestra Studio
Boot para o Graphic
Design Museum e cartaz
Vara Leids Cabaret
Festival, Holanda,
2008 à 2010
46
Nancy Skolos e Thomas
Wedel, cataz para marca
The Merchandise Mart,
Estados Unidos, 1991
4747
Neville Brody, projeto
editorial The Graphic
Language of Neville Brody,
Estados Unidos, 1990
A pós-modernidade está
centrada na armação
individual da liberdade,
trazendo consigo a perda
da segurança, da ordem e
da harmonia.
Ana Claudia
Gruszynski, 2000
4848
Carson descartou princípios cristalizados
como o grid, hierarquia de informações,
leiaute consistente e padrões tipográcos;
em vez disso, optou por explorar as
possibilidades expressivas de cada objeto
e de cada página dupla, rejeitando noções
convencionais de sintaxe e imagens
tipográcas. Ele costumava espaçar
as letras dos títulos de seus artigos
de maneira irregular ou os dispunha
em sequências antes expressivas que
normativas. Também exigia que o leitor
decifrasse sua mensagem fatiando partes
das letras. Os tipos de textos de Carson
muitas vezes desaavam os critérios
fundamentais de legibilidade
Philip Meggs, 2009.
4949
Paula Scher, Map Paintings
(pinturas de mapas), Estados
Unidos, 2000 e 1998
5050
Paula Scher, Map Paintings
(pinturas de mapas), Estados
Unidos, 1999
5151
52
3 TIPOS
A Desconstrução e Exploração
Tipográfica
53
5454
O estudo sobre a criação e utilização tipográca permanece freqüente
nos trabalhos grácos contemporâneos. A expressão tipográca nos dias de
hoje diverge-se evidentemente da expressão moderna, uma vez que conceitos
de ordem, diagramação, legibilidade e visibilidade são transgredidos em nome
da livre experimentação que prioriza a atração estética sobre a eciência da
mensagem gráca. O grande percussor da desconstrução formal e tipográca
é David Carson, gura polêmica que surgiu na década de 1990 e trabalhou em
projetos grácos editoriais criando ambientes espaciais instáveis, cinéticos e
dinâmicos no qual haviam imagens e tipos sobrepostos e esmaecidos.
Muitos designers trabalharam com a ênfase do estudo tipográco nos
materiais grácos e persistem explorando até os dias de hoje. Figuras como
NiklausTroxler, Jianping He e Karl Dominic inseriram a tipograa como grande
elemento discursivo em suas obras, principalmente nos trabalhos de cartazes.
Designers como Uwe Loesche, Hideki Nakajima, propuseram a tipograa em
uma linguagem mais conceitual, desenvolvendo o caráter poético dos tipos em
seus trabalhos. E não podemos esquecer também dos experimentalismos de
Stefan Sagmeister, a representação dinâmica e inovadora dos tipos nos trabalhos
5555
de Neville Brody. Esses e muitos outros designers especularam o elemento
tipográco muito além de seu propósito textual informativo. Compuseram
imagens através de textos, criaram ambientes dinâmicos através do uso de
espaços, e entrecruzaram os limites entre a tipograa e o desenho ilustrativo. Na
maioria dos casos, abre-se mão das idéias convencionais de beleza em favor de
combinações tensas de texturas e expressões grácas. A palavra ‘desconstrução’
descreve a quebra dessas estruturas pré-concebidas e utiliza a convenção formal
Robert Slimbach, cartaz
tipográco, Estados como ponto de partida para novas maneiras de estabelecer ligações verbais e
Unidos, 1994 visuais entre imagem e linguagem.
5656
Michael Bierut, série de cartazes simpósio,
para Yale School of Architecture, Estados
Unidos,
5757
John Maeda, cartaz
“Meanings of Realm”
(Signicados de Realm),
Estados Unidos, 2005
5858
Uwe Loesch, “Nur Fliegen its
schoner“ (Somente Voar é muito
belo) cartaz para exposição de
projetos próprios, Alemanha, 2003
5959
Jianping He, cartaz de exibição solo
em Kuala Lumpur, China, 2004
6060
Jianping He, cartaz
tipográco, China, 2004
6161
Catherine Zask,
cartaz para Concerto
Sauvage, França,
2007
62
Edward Fella, yers de anúncios de palestras e exposições, Estados Unidos, 1990
616363
Norm, cartaz da série
“Supercial” (Supercial),
Suíça, 2008
6464
Phillipe Apeloig, cartaz
para a Exposição Beteaux
Sur l’Eau, Riviéres et
Canaux (Barcos na água,
rios e canais) em Rouen,
França, 2003
6565
Thonik, Assinatura Visual
VPRO, Holanda, 2008
66
Thonik, cartaz de
exposição Solo, Spiral
em Tókio, Holanda, 2009
6767
Trabalhos de Stefan Sagmeister, fachada loja Douglas, capa de cd do artista Lou Reed, cartaz
de conferência para AIGA e projeto editorial Made You Look, Austria, desde 1990
6868
Stefan Sagmeister, cartaz para palestra
para AIGA em Michigan, Austria, 1999
6969
70
4 RETRÔ
Referências e Historicismos na
Criação Gráfica
71
7272
Pode-se armar que, a criação muitas vezes provém de uma reunião
de referências e repertórios, armazenados e acessados, seja de forma consciente
ou não, já que o número ‘abusivo’ de informações visuais que nos atinge hoje
em dia cria uma impossibilidade de controle. Ainda assim, podemos identicar
uma característica especíca dentro das linguagens grácas contemporâneas,
intimamente relacionadas a um tipo de historicismo de estilos já explorados.
Isso pode ser visível em trabalhos atuais que reetem grasmos semelhantes
ao traçado orgânico Art Déco, ilustrações psicodélicas, tipograas inspiradas em
outras épocas como os tipos góticos, clássicos ou barrocos e até abordagens
semelhantes a movimentos como o Construtivismo russo.
7373
74
Shepard Fairey, material
gráco da campanha
eleitoral de Barack
Obama, 2008
7575
Finalmente essas
representações não se
preocupam com a sua
‘impureza estilística’ ou
com o fato de não serem
inéditas e originais,
pois no contemporâneo
considera-se que
essas representações
nostálgicas ou retrôs
incorporam características
ou detalhes que são
intertextualizações,
citações, emulações de
signos de outras épocas e
lugares.
Maria Beatriz Rahde e
Flávio Vinícios Cauduro
2005.
7676
Milton Glaser, projeto
de Calendário para o
Aeroporto Internacional
de Peoria, Estados
Unidos, 2010
7777
Rocco Piscatello, cartaz
para programa de
visitação artística, pelo
Fashion Institute of
Technology, Estados
Unidos, 2002
7878
Alain Le Quernec, cartaz
para ópera de Puccini, La
Tosca, França, 1995
7979
Shigeo Fukunda,
cartaz de exposição
internacional em
homenagem à Henri
Tolousse-Lautrec,
Japão, 2001
8080
James Victore, cartaz de
exposição internacional
em homenagem à Henri
Tolousse-Lautrec,
Estados Unidos, 2001
8181
V. Golubenco, cartaz
musical para Igor
Matvienco’s Production
Center, Rússia, 2001
8282
V. Golubenco, cartaz musical para Igor
Matvienco’s Production Center, Rússia, 2001
8383
Andrea Palermo, cartaz
de manifesto, Italia, 2010
84
Paula Scher, cartaz
“Best of Jazz”
(Melhor do Jaz), para
CBS, Estados Unidos,
2000
8585
Niklaus Troxler, cartaz para Maryland Paula Scher, cartaz musical para
Institute College of Art, 2009 o Teatro Público, Estados Unidos
8686
Paula Scher, cartaz “Bring in ’Da Noise” (Traga o
Barulho), para o Teatro Público e cartaz musical para
concerto, Estados Unidos, 1995
8787
Carin Goldberg, capa de
CD do grupo musical The
Dandy Warhol, Welcome
To The Monkey House,
Estados Unidos, 2006
8888
Wladyslaw Pluta, cartaz
para exposição Image
of Jazz in Polish Posters
(Imagem do Jazz em
Cartazes Poloneses),
hungria, 2002
8989
90
5 CONCEITUALISMO
A Reflexão e a Crítica como Discurso
no Trabalho Gráfico
91
9292
Pode-se perceber também, na expressão gráca contemporânea,
uma abordagem conceitual de trabalhos em circulação no mercado. Esse perl
conceitual se refere à uma idéia ou mensagem pelo o qual será comunicado o
trabalho vigente. Segundo Andrew Haslam (2007), o pensamento conceitual
por traz da obra gráca é também chamado de “idéia gráca” e é denido
pelo pensamento reduzido, no lugar de expandido. Ou seja, utilizam-se idéias
complexas sintetizadas em uma representação gráco-visual sucinta e vigorosa.
A utilização do pensamento conceitual ao longo de uma manifestação
gráca abriu espaço também para muitos trabalhos de cunho político e losóco,
resultando em uma linguagem, muitas vezes, contestadora. É possível estabelecer
uma relação entre essas características semânticas com a linguagem dadaísta,
que introduziu o valor do humor e do fator surpreendente no conteúdo visual,
como estética atrativa e incitante.
9393
Luba Lukova, cartazes de
manifesto, Bulgária, 2009
94
94
Luba Lukova, cartazes de
manifesto, Bulgária, desde
1999
9595
Fang Chen cartaz
para Lahti Poster
Biennial, “Victory”
(Bienal de Cartazes
de Lahiti, “Vitória”)
China, 1999
96
Yarom Vardimon,
cartaz para Lahti
Poster Biennial,
“Peace” (Bienal de
Cartazes de Lahiti,
“Paz”) Israel, 1999
9797
Alain Le Quernec, cartaz
para Boycott Total,
festival pro-ecologia,
França, 1999
9898
Alain Le Quernec, cartaz
de protesto à pedolia,
França, 1998
9999
Chaz Maviyane Davies, Zimbabwe, 2009 Jianping He, China, 2009
Cauduro, 2000
100
100
Joe Scorsone Alice
Drueding, Estados
Unidos, 2009
101101
Alejandro
Magallanes,
México, 2009
Mirko Ilic,
Bosnia,
2007
Hong Wang,
China,
2009
Migliang Li,
China,
2010
102
102
Marco Valentini, cartaz
de manifesto, Italia,
2009
103
103
104
Patrick Staudt série de cartazes “Simplicity”
(Simplicidade), Estados Unidos, 2009
105105
106
CONCLUSÃO
Partindo de uma pesquisa sobre aspectos históricos, culturais e formais
sobre a construção da identidade do design gráco e sua transformação ao
longo dos anos, reuniu-se um material de trabalhos grácos de designers da
contemporaneidade, objetivando a discussão sobre a estética visual proposta no
período atual.
As classicações da estética contemporânea foram organizadas
objetivando melhor ilustrar aspectos originais da época atual. É importante
ressaltar também que as classicações visuais propostas neste projeto não são
absolutas. Apresentaram-se aqui categorias características da estética do design
gráco contemporâneo, julgadas pertinentes para avaliar as transformações
formais e conceituais do design em relação à identidade gráca moderna, mas
que não necessariamente servirão como considerações únicas de um determinado
trabalho. Um material gráco pode trazer mais de uma (ou todas) classicação
em sua solução gráca, expressando um aspecto híbrido, com desconstruções
tipográcas, trazendo abordagens históricas e um conteúdo crítico e provocativo
em meio à uma proposta gráca caótica. “O design gráco da última década,
porém, é uma arena mais complexa, com um campo de atuação muito mais
nivelado. As fronteiras entre várias disciplinas visuais também passaram a ser
cada vez mais indistintas” (MEGGS, 2009, p. 08).
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O livro elaborado objetiva o auxílio aos interessados na área de criação
imagética, através de um espaço de pesquisa de referenciais e repertórios grácos
contemporâneos. De certa forma, ajuda na construção de uma bagagem criativa,
imprescindível ao prossional de criação visual. O livro busca não apenas servir
como fonte de inspiração criativa, como também de informação e conhecimento,
através da apresentação de trabalhos reconhecidos e conceituados dentro do
universo de design gráco. Pode servir como estímulo de despreendimento ao
prossional apegado à normas anteriores pré-concebidas, assim como incentivo
ao encontro com uma forma de manifestação própria e autêntica. Antes de
tudo, este livro procura ser nada mais que um exemplo da representação gráca
espelhada no período contemporâneo.
Conforme coloca Niklaus Troxler, designer suíço atuante desde a década
de 1970, no livro de Maia Francisco (2009), The Sourcebook of Contemporary
Design: “Suddenly, the experimental aspect turned to be the focal point. There
seemed to be no bounds to creative playfulness and ‘free’ integration of
typographic and illustrative material. Graphic design turned to be the focus of
attention in visual communication” (De repente, o aspecto experimental tornou-
se o foco principal. Não parecia haver limites para brincadeiras criativas e livres
integrações entre tipograa e material ilustrativo. O design gráco passou a ser o
foco de atenção na comunicação visual).
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As imagens deste livro foram adquiridas
através de sítios virtuais divulgadores de trabalhos
grácos, portifólios online de designers, assim como
também através de livros e edições periódicas.
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REFERÊNCIAS
CARDOSO, Rafael. Uma Introdução à História do Design. São Paulo: Edgar
Blucher LTDA, 2002.
GODFREY, Jason. Bibliográco: 100 livros clássicos sobre design gráco. São
Paulo: Cosac Naify, 2009.
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__________________. Design Gráco: do Invisível ao Ilegível. Rio de Janeiro:
2AB, 2000.
HASLAM, Andrew. O Livro e o Designer II: Como criar e produzir livros. São
Paulo: Rosari, 2007.
JUBERT, Roxane. Typography and Graphic Design: From Antiquity to the Present.
Paris: Flammarion, 2006.
MEGGS, Philip B. História do Design Gráco. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
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Papel Couchê fosco 180m/g
Tipograa de títulos: Tall Films Extended
Tipograa de textos: Frutiguer LT Std Condensed
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