Вы находитесь на странице: 1из 2

Turma B – Gabriel C.

Caseiro

Resumo: “Racismo no Brasil: quando inclusão combina com exclusão”, de Lilia M. Schwarcz

Para ilustrar as linhas gerais do pensando sobre o racismo no Brasil a ser desenvolvido ao
longo do artigo, é relatado o episódio “exemplar” que ocorrera com o jogador brasileiro de
futebol Grafite. Um adversário argentino xinga-o de forma discriminatória, com termos como
“negro e macaco”, e gera intensa comoção nacional e pronto repúdio e indignação de Grafite.
O acontecimento é “exemplar” pois ilustra um tipo particular de conflito, que surge por conta
do “outro”: haveria um “preconceito de ter preconceito”. Com esse racismo retroativo,
tendemos a relegar ao “outro” o comportamento racista e discriminatório, não vendo
qualquer dos problemas emanado de nós mesmos.
O episódio também reacenderia um embate clássico entre os que colocam a discriminação
como mais associada à cor de pele, e os que veem a origem social como o âmago da questão.
Há longa tradição de estudiosos que acreditam ser a base da discriminação no Brasil mais
flexível do que em países como EUA e África do Sul. Enquanto aqui o contexto em que o
indivíduo se insere e sua situação econômica parecem ser os mais fortes determinantes na
“brancura e negritude”, nesses outros países haveria um preconceito mais ligado à origem
“biológica”, fundamentado em arcaicas noções de raças.
Sob essa noção flexível, é possível observar a ambivalência do racismo praticado em nosso
país. Se por um lado Grafite aceita a alcunha que delimita sua cor, tornando-o, talvez,
publicamente mais “branco” do que em outras contingências, por outro, fica revoltado
quando sua origem social e de classe surge no conflito com o preconceito vindo do “outro”.
Lilia reforça a inexistência de raça como conceito científico: seria antes uma categoria
classificatória meramente estatística, uma construção social. No entanto, ainda não sendo um
conceito natural, sua pertinência continua na prática como classificação social diante de
grupos devidamente discriminados; não se abre mão de suas implicações e novas
classificações. Ao expor a concepção da antropóloga Manuela Carneiro da Cunha de cultura
como patrimônio geral e “cultura” como propriedade particular agenciada de cada povo,
também se distingue raça de “raça”. Enquanto raça é o conceito arcaico relacionado à biologia
e à genética, “raça” tornar-se um conceito crucial, demonstrando a qualidade reflexiva de
uma cultura e estabelecendo uma relação de simultaneidade antitética entre antropologia e
política.
Toda essa discussão de reinterpretação da “raça” carrega em si o mérito de trazer à tona um
debate que, no Brasil, permanece “debaixo do tapete”. Ainda que não tenhamos vivenciado
uma política discriminatória oficial, seria irreal negar que há uma discriminação latente.
Parece haver uma ideia de que as posições de desigualdade são naturais e atitudes racistas
seriam minoritárias e excepcionais – valendo todo o estardalhaço público, como no conflito
entre o argentino e Grafite. Todavia, mesmo negando um racismo escancarado,
reconhecemos a existência do racismo no outro: são inúmeras as pesquisas que mostram uma
grande maioria da população a afirmar não ter qualquer tipo de preconceito racial e,
concomitantemente, afirmar conhecer alguém próximo que tinha, sim, preconceito.
Turma B – Gabriel C. Caseiro

Tendemos a nos colocar como que em “ilhas de democracia racial”, cercadas de racismo por
todos os lados.
De forma inversa, mas simétrica, há outros estudos em que a maioria dos entrevistados diz
nunca ter sido vítima de racismo, mas confirma conhecer familiares e conhecidos que tenham
sido. Nos mesmos estudos, constata-se que os casos de racismos, quando há, não ocorrem
em pequenas cidades, mas em grandes conglomerados; e os moradores desses
conglomerados afirmam que o preconceito se concentra mais no interior. Essa posição
ambígua é também observada em questões de interpretação histórica: haveria uma tendência
para o brasileiro “jogar” o racismo para o período escravocrata, aparentemente negando sua
atual pertinência. O passado está longe, é um “outro” distante. Em todas essas pesquisas e
posicionamentos, não se nega a existência do racismo no país, mas sempre ele seria um
atributo do “outro”.
Parece que prevalece no Brasil a máxima de que “de perto ninguém é perfeito”: podemos
afirmar oficialmente a existência do racismo; porém não o reconhecemos na intimidade,
tendemos a subvalorizar a questão. Essa polêmica divide pensadores brasileiros entre os que
buscam destacar o caráter singular e positivo do modelo miscigenado de conivência, e os que
que acreditam que miscigenação não quer dizer ausência de discriminação.
Portanto, tudo indica que o racismo com o qual nos defrontamos é de um tipo ambivalente e
silencioso, escondido atrás de uma ilusão de “democracia racial”, na qual não há discriminação
oficializada e a discriminação, quando existe, está no “outro”. Como coloca Lilia, “raças e cores
no Brasil atuam como classificações sociais arbitrárias, mas não aleatórias”. Raças são
“construções relacionais e posicionais”, que constituem argumento político poderoso para
uma realidade política igualmente problemática.
Racismo é um tema contemporâneo incontornável: até que ponto vivemos, de fato, em uma
sociedade democrática e igualitária? A reinterpretação da raça como “raça” e a dissolução do
“véu da democracia racial” são indispensáveis quando pensamos em uma agenda nacional de
inclusão social. Quando vemos Grafite reagindo a uma situação a que tenderia a acomodar-se
se vivida no privado, considerando-a injustificável quando publicamente manifestada,
estamos vendo, na realidade, o forte lado político da raça e a tradução da problemática e
antagônica realidade (do público X privado) em que nos inserimos.

Вам также может понравиться