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LUIZ SILVA
Pós-doutorado pela The University of Texas
Pós-doutorado Sênior pela Universität de Barcelona
Doutor em Direito – UFMG
LL.M EG-Recht – Universität Zu Köln
Especialista em Direito Internacional – UNITAR/ONU
P rofessor da Faculdade de Direito da UFMG
CURSO DE
DIREITO INTERNACIONAL
2018
Escrever uma obra requer razoável domínio do assunto (uma vez que total domínio nunca o teremos, já que conhecimento é algo sempre a ser
adquirido, aprofundado e amadurecido), alguma coragem (para estar aberto à vulnerabilidade que nos impomos ao passarmos de “pedra” para
“vidraça”) e muita contribuição daqueles que, mesmo nas críticas, sempre se aproximaram e nos acolheram com o afeto do familiar, com as
pertinentes observações do colega estudioso do assunto, com os questionamentos do aluno ávido por aprimorar seu conhecimento e com o
apoio daqueles que acreditaram na viabilidade da transformação de anotações de sala de aula em uma obra editorialmente viável e que se
tornou clássica nas diversas edições publicadas pela Editora Del Rey nos últimos 20 anos.
Em função da dinâmica da mídia social e da necessidade de constante atualização de enunciados que atendessem a acelerada dinâmica da
Sociedade Internacional contemporânea, optamos por apresentar uma nova versão que atendesse aos anseios dos estudiosos de Direito
Internacional, não mais restritos ao curso de Direito, mas presente nas diversas áreas em que tal estudo se faz fundamental: Relações
Internacionais; Comércio Exterior, Ciência do Estado, Economia, Administração Pública, Sociologia, História, dentre outros.
Roberto Luiz Silva
Belo Horizonte/2018
ISBN: 9781980477198
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1
DA IMP ORT ÂNCIA DO DIREIT O INT ERNACIONAL NOS DIAS AT UAIS
1. A Nova Ordem Econômica Internacional – NOEI (1974)
2. A Nova Ordem Internacional – NOI (1989)
2.1 Nova Ordem Política Internacional
2.2 Nova Ordem Econômica Internacional
2.3 Nova Ordem do Comércio Internacional
3. Perspectivas
CAPÍTULO 2
A SOCIEDADE INT ERNACIONAL E O DIREIT O INT ERNACIONAL
1. Sociedade Internacional – SI
1.1 Comunidade v.Sociedade
1.2 Conceito
1.3 Sujeitos da Sociedade Internacional
1.4 Forças da Sociedade Internacional
1.5 Concepções que Fundamentam a Sociedade Internacional
1.6 Características da Sociedade Internacional
2. O DireitoInternacional Público – DIP
2.1 Conceito
2.2 Terminologia
2.3 Divisão
2.4 Relações
2.5 Histórico
2.6 Revisão e Eficácia do Direito Internacional Público – DIP
CAPÍTULO 3
LEX M ERCATORI A
1. Antecedentes
2. Conceito
3. Operações do Mercado Internacional
3.1 Operações de Venda
3.2 Operações de Crédito
3.3 Operações de Transporte
4. Lex Mercatoria e Soberania Nacional
5. Jurisprudência Internacional
6. Act of July 19th, 1984, doEstado de Nova Iorque
7. Conclusões
CAPÍTULO 4
FONT ES DO DIREIT O INT ERNACIONAL
1. Fonte x Fundamento
2. Classificação
3. Fontes segundo o Estatuto da Corte Internacional de Justiça
3.1 Fontes Principais
3.2 Fontes Auxiliares ou Secundárias
3.3 Hierarquia das Fontes
4. Fontesnão previstas no Estatuto da CIJ
CAPÍTULO 5
TRATADOS INT ERNACIONAI S
1. Introdução
2. Conceito
3. Terminologia
4. Condições de Validade dos Tratados
4.1 Capacidade das Partes
4.2 Habilitação dos Agentes Signatários
4.3 Objeto Lícito e Possível
4.4 Mútuo Consentimento
5. Classificação dos Tratados
6. Fundamento dos Tratados
7. Efeito dos Tratados
8. Normas Contraditórias entre Tratados
9. Composição
10. Idiomas
11. Processo de Conclusão
12. Execução dos Tratados
13. Interpretação dos Tratados
13.1 Métodos de Interpretação
14. Conflito Tratado v. Direito Interno
14.1 A Posição do Judiciário brasileiro
15. Extinção dos Tratados
16. Cláusulas
17. Sistemas de Redação dos Tratados Internacionais
18. Os Tratados no Direito brasileiro
18.1 A Constituição
18.2 Apreciação do Legislativo
18.3 Acordos Complementares
18.4 Emendas e Reservas
18.5 Trâmite dos Tratados
18.5.1 Tratados Solenes e Completos .........................................
18.5.2 Tratados de Adesão.............................................................
18.5.3 Acordos Simples e Abreviados / Acordos Executivos ............
19. A Convenção de Viena
CAPÍTULO 6
OUT RAS FONT ES DO DIREIT O INT ERNACIONAL
1. Costume Internacional
1.1 Conceito
1.2 Costume v.Uso
1.3 Elementos
1.4 Fundamento
1.5 Características
1.6 Prova
1.7 Interpretação
1.8 Decadência
2. Princípios Gerais de Direito
2.1 Princípios Gerais de Direito Internacional
3. Jurisprudência e Doutrina
3.1 Jurisprudência
3.2 Doutrina
4. Eqüidade e Analogia
4.1 Eqüidade
4.2 Analogia
5. Atos Unilaterais
6. Decisões das Organizações Internacionais
6.1 Classificação
7. Soft Law
CAPÍTULO 7
RELAÇÕES ENT RE O DIREIT O INT ERNO E O DIREIT O INT ERNACIONAL
1. Concepção Dualista
1.1 A Teoria da Incorporação de Triepel
1.2 Críticas
2. Concepções Monistas
2.1 Monismo com Primazia do Direito Interno
2.1.1 Críticas
2.2 Monismo com Primazia do Direito Internacional
3. Teorias Conciliadoras
3.1 Críticas
4. Posição da Doutrina
5. Prática Internacional
5.1 Itália
5.2 Alemanha
5.3 Espanha e França
5.4 Estados Seguidores do Sistema de Common Law
5.4.1 Reino Unido .........................................................................
5.4.2 Estados Unidos da América – EUA .....................................
5.5 Argentina
CAPÍTULO 8
AP LICAÇÃO DO DIREIT O EST RANGEIRO
1. Natureza Jurídica
2. Prova
3. Interpretação
4. Homologação da Sentença Estrangeira
5. Cartas Rogatórias
CAPÍTULO 9
P ESSOAS INT ERNACIONAI S
1. O Estado
2. As Organizações Internacionais
3. A Pessoa Humana
4. As Empresas Transnacionais
5. As Organizações Não-Governamentais – ONG
CAPÍTULO 10
OS ESTADOS
1. Conceito
2. Classificação
2.1 Estados Simples
2.2 Estados Compostos
2.2.1 Estados Compostos por Coordenação
2.2.1.1 A Commonwealth
2.2.2 Estados Compostos por Subordinação
2.3 Estados Divididos
3. Elementos Constitutivos
3.1 Poder
3.1.1 Governo v. Soberania
3.2 Povo
3.2.1 Povo v. População v. Nação
3.2.2 Nacionalidade v. Naturalidade v. Cidadania
3.3 Território
3.3.1 Formas
3.4 Domínios
3.4.1 Domínio Terrestre
3.4.1.1 A Demarcação na América Latina
3.4.2 Domínio Fluvial
3.4.3 Domínio Lacustre e mares internos
3.4.4 Domínio Aéreo
3.4.5 Domínio Marítimo
3.4.5.1 Mar Territorial
3.4.5.2 Zona Contígua
3.4.5.3 Zona Econômica Exclusiva
3.4.5.4 Plataforma Continental
3.4.5.5 Alto-mar
3.4.5.6 Estreitos e Canais
3.4.6 Domínio público
3.4.6.1 Pólo Norte
3.4.6.2 Antártida
CAPÍTULO 11
RECONHECIMENT O DE ESTADO E DE GOVERNO
1. Reconhecimento de Estado
1.1 Requisitos
1.2 Natureza Jurídica
1.2.1 Teoria Constitutiva (Openheim e Jellinek)
1.2.2 Teoria Declaratória (Scelle e Aciolly)
1.2.3 Teoria Mista (Lauterpacht)
1.3 Reconhecimento por Estado
1.4 Reconhecimento por Organização Internacional
1.5 Formas de Reconhecimento
1.5.1 Reconhecimento Tácito
1.5.2 Reconhecimento Expresso
2. Reconhecimento de Governo
2.1 Formas de Governo
2.1.1 Governo de Fato
2.1.2 Governo de Direito
2.2 Prática Internacional
2.3 Requisitos
2.4 Formas de Reconhecimento
2.4.1 Reconhecimento de Governo no Exílio
2.5 Doutrinas
CAPÍTULO 12
JURISDIÇÃO DO ESTADO
1. Competência Pessoal do Estado
1.1 Nacionais
2. Nacionalidade
3. Sistemas Básicos de Nacionalidade
3.1 Nacionalidade Originária
3.2 Nacionalidade Derivada, Secundária ou Adquirida
3.2.1 Naturalização .......................................................................
3.2.2 Naturalização Coletiva ........................................................
3.2.3 Casamento ...........................................................................
3.2.4 Legitimação ou Adoção ......................................................
3.2.5 Residência Definitiva .........................................................
3.2.6 Jus Laboris .........................................................................
3.2.7 Prática de Serviço Militar ...................................................
3.3. Perda e Reaquisição de Nacionalidade .................................
3.4. Igualdade de Direitos ............................................................
3.5. Apátrida .................................................................................
4. Relações do Estado com os Nacionais no Exterior
4.1 Jus Avocandi
4.2 Proteção Diplomática
5. Relação do Estado com Estrangeiros em seu Território
5.1 Sistema de Visto
5.2 Documentos de Viagem
5.2.1 Passaporte
5.2.2 Bilhete de Viagem
5.2.3 Certificado Internacional de Vacinação e Profilaxia – CIVP
5.3 Impedimentos para o Ingresso no Brasil
5.4 Direitos e Deveres
5.5Autorização de Residência
CAPÍTULO 13
DIREIT OS DE ASIL O
1. Introdução
2. Asilo Territorial
3. Asilo Diplomático
3.1 O Caso do Direito de Asilo / Haya de La Torre
4. A Situação Jurídica do Refugiado ................................................
5. ODireito de Asilo no Brasil
CAPÍTULO 14
DEP ORTAÇÃO
1. Conceito
2. Prazo
3. Procedimento
4. Retorno do Deportado
5. Impedimento de Ingresso e Repatriação
6. Prisão e Entrega do Deportado
7. Impossibilidade de Deportação
CAPÍTULO 15
EXP ULSÃO
1. Conceito
2. Processo
3. Impossibilidade de Expulsão
4. Entrega do Expulso
CAPÍTULO 16
EXT RADIÇÃO
1. Conceito e Justificativa
1.1 Transferência de Apenados ......................................................
2. Natureza Jurídica
3. Fundamento
3.1 Tratados de Extradição
3.2 Promessa de Reciprocidade
4. Princípios Fundamentais
4.1 Aut Dedere aut Judicare / Punire
4.2 Dupla Incriminação / Identidade
4.3 Non Bis In Idem
4.4 Especialidade / Efeito Limitativo da Extradição
4.4.1 Extradição Supletiva / Extensão da Extradição
4.4.2 Purga de Extradição
5. Classificação
6. Regras Processuais
6.1 Territorialidade
6.2 Delitos que Admitem Extradição
6.3 Hipóteses de Inadmissibilidade de Extradição
7. Processo de Extradição
8. O Pedido de Extradição
8.1 Indeferimento do Pedido
8.2 Deferimento do Pedido
9. Abdução Internacional
10. Estudo de Casos
10.1 Extradições Deferidas
10.2 Extradições Deferidas em Parte
10.3 Extradições Indeferidas
CAPÍTULO 17
DIREIT OS, DEVERES E SUCESSÃO DO ESTADO
1. Direitos do Estado
1.1 Convenção Nacional Francesa (1789)
1.2 Organização dos Estados Americanos - OEA
1.3 Organização das Nações Unidas - ONU
1.4 Legítima Defesa v. Represália v. Legítima
Defesa Coletiva
2. Deveres dos Estados
2.1 Organização dos Estados Americanos - OEA
2.2 Organização das Nações Unidas - ONU
3. Sucessão de Estados
CAPÍTULO 18
REP RESENTAÇÃO INT ERNACIONAL
1. Chefe de Estado
1.1Prerrogativas e Imunidades
2. Ministro das Relações Exteriores
3. Agentes Diplomáticos
3.1 Chefe daMmissão Diplomática
3.2 A Representação Diplomática
3.3 Prerrogativas e Imunidades
3.4 Documentos
3.5 Deveres
3.5.1 Perante o seu Estado de Origem
3.5.2 Perante o Estado em que Atua
3.6 Término das Funções
4. Agentes Consulares
4.1 Classificação
4.2 Carta-patente e Exequatur
4.3 Prerrogativas e Imunidades
4.4 Deveres
4.5 Término das Funções
CAPÍTULO 19
RESP ONSABILIDADE INT ERNACIONAL DO ESTADO
1. Conceito
2. Características
3. Elementos
4. Natureza Jurídica
4.1 Teoria da Culpa (Grotius/von Liszt)
4.2 Teoria do Risco ou Objetiva (Triepel)
5. Espécies
6. Proteção Diplomática
6.1 Condições
7. Proteção Funcional
8. Atos que ensejam a Ação de Responsabilidade Internacional
8.1 Guerra Civil
9. Excludentes de Responsabilidade Internacional
9.1. Legítima Defesa .........................................................................
9.2 Caso Fortuito, Força Maior e Estado de Necessidade ................
9.3 Prescrição Liberatória .................................................................
9.4 Cláusula Calvo .............................................................................
10. A Reparação
CAPÍTULO 20
ORGANIZAÇÕES INT ERNACIONAIS – OI
1. Teoria Geral
1.1 Características
1.2 Critérios
1.3 Espécies
1.4 Responsabilidade Internacional
1.5 Direitos
1.6 Financiamento
1.7 Efeitos Jurídicos de Suas Normas
2. ASociedade das Nações – SDN
CAPÍTULO 21
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU
1. Histórico
2. Finalidades
3. Membros
4. Idiomas
5. Órgãos
5.1 Assembléia Geral – AG
5.2Conselho de Segurança – CS
5.3 Conselho Econômico e Social – CES / ECOSOC
5.4 Conselho de Tutela – CT
5.5 Secretariado
5.6 Corte Internacional de Justiça – CIJ
CAPÍTULO 22
ORGANIZAÇÕES ESP ECIALIZADAS DA ONU
1. Organização Internacional do Trabalho – OIT
1.1 Conferência Internacional do Trabalho – CIT
1.2 Conselho de Administração – CA
1.3 Repartição Internacional do Trabalho – RIT/BIT
1.4 Comitê de Liberdade Sindical – CLS
1.5 A Regulamentação Internacional do Trabalho
1.5.1 Convenções internacionais
2. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e
Agricultura – FAO
3. Fundo Monetário Internacional – FMI
3.1 A Relação Brasil-FMI
4. Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
– BIRD
5. Organização Mundial da Saúde – OMS
6. Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência
e Cultura – UNESCO
7. Conferência das Nações Unidas para Comércio e
Desenvolvimento – CNUCED / UNCTAD
8. Outras Organizações Especializadas
9. A Organização Mundial do Comércio – OMC ..............................
9.1. Das Rodadas de Negociação do GATT à Rodada de Doha ........
CAPÍTULO 23
ORGANIZAÇÕES REGIONAI S
1. Condições
2. Etapas de Integração
3. Organizações Européias
3.1 União Européia – UE
3.2.1 Benelux
3.2 Associação Européia de Livre Comércio – AELC / EFTA
3.3 Conselho da Europa
3.4 Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN/NATO
3.5 Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico
– OCDE
4. Organizações Americanas
4.1 Organização dos Estados Americanos – OEA
4.2 Associação Latino-Americana de Integração – ALADI
4.3 O Mercado Comum do Sul – MERCOSUL
4.3.1 Os Protocolos do MERCOSUL ...........................................
4.4 Acordo de Livre Comércio da América do Norte – NAFTA
4.5 Comunidade Andina – CAN
4.6 Comunidade do Caribe – CARICOM
4.7 Associação dos Estados do Caribe – ACS
4.8 Mercado Comum Centro-Americano – MCCA
5. Organizações Asiáticas
5.1 Associação das Nações do Sudeste Asiático – ASEAN
5.2 Cooperação Econômica para a Ásia e Pacífico – APEC
5.3. Liga dos Estados Árabes
6. Organizações Africanas
7. Organizações Sobre Produtos de Base
CAPÍTULO 24
ORGANIZAÇÕES NÃO ESTATAI S
1. Santa Sé
2. Soberana Ordem Militar de Malta
3. Cruz Vermelha Internacional
4. Empresas Transnacionais
5. Organizações Não-Governamentais – ONG
CAPÍTULO 25
A P ESSOA HUMANA
1. Personalidade Internacional do Indivíduo
1.1 A Posição Doutrinária
2. Proteção Jurídico-Internacional do Indivíduo
2.1 AONU e os Direitos do Homem
2.2 A Europa e os Direitos do Homem
2.3 As Américas e os Direitos do Homem
2.4 A África e os Direitos do Homem
2.5 O Brasil e os Direitos Humanos
3. A Pessoa Humana nos Tribunais Internacionais
CAPÍTULO 26
CONFLIT O INT ERNACIONAL
1. Conceito
2. Modos Pacíficos de Solução dos Conflitos Internacionais
2.1 Modos Diplomáticos
2.1.1 Negociações Diplomáticas
2.1.2 Bons Ofícios
2.1.3 Sistema de Consultas
2.1.4 Mediação
2.1.5 Conciliação
2.1.6 Investigação ou Inquérito
2.2 Modos Políticos
2.3 Modos Jurisdicionais
2.3.1 Arbitragem
2.3.2 Tribunal Internacional de Caráter Permanente
CAPÍTULO 27
SANÇÕES DE DIREIT O INT ERNACIONAL
1. Conceito
1.1 Rompimento das Relações Diplomáticas
1.2 Retorsão
1.3 Represália (Retaliation)
CAPÍTULO 28
DIREIT O DE GUERRA E DESARMAMENT O
1. Conceito e Elementos da Guerra
2. O Direito de Guerra (jus ad bellum)
3. Crimes de Guerra
4. Desarmamento
4.1 Strategic Arms Limitation Talks– SALT
4.2 Tratado de Tlatelolco
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Capítulo 1
DA IMPORTÂNCIA DO DIREITO
INTERNACIONAL[1] NOS DIAS ATUAIS
1. SOCIEDADE INTERNACIONAL – SI
Como nos ensina Brierly, o Direito só existe em uma sociedade, não podendo haver nenhuma
sociedade sem um sistema jurídico que regule as relações entre seus membros. Se se fala em Direito
internacional (Law of Nations), presumir-se-á a existência de uma sociedade de nações[103]. Sociedade
internacional é, dessa forma, o meio onde se aplicam as regras do Direito Internacional Público. Alguns
autores utilizam a terminologia “comunidade” para identificar tal meio. Todavia, pelas razões que
passaremos a expor, o termo “sociedade” é o que se adequa melhor as especificidades e ao momento
atual em que se desenvolve o Direito Internacional[104].
1.1 Comunidade v. Sociedade
Para explicar a distinção entre tais termos partiremos das posições de Freyer e Weber.
Segundo Freyer, comunidade é a coletividade extra-histórica, em que não haveria poder de dominação,
ou seja, de aspecto eminentemente natural, enquanto a sociedade teria formação histórica, sendo possível
determinar o momento em que foi criada. Esta é constituída por grupos heterogêneos, nos quais está
constantemente presente a tensão de domínio, existindo, dessa forma, um poder dominante.
Já para Weber, comunidade é a coletividade que teria origem num sentimento subjetivo, como a
tradição, os laços familiares, fatores emocionais, culturais[105]. Já a sociedade surgiria da vontade
orientada pela razão (aspecto objetivo), visando a obter determinada finalidade[106].
Dessa forma, verifica-se que o Direito Internacional insere-se em uma “sociedade internacional” e não
em uma comunidade internacional, por causa da constante tensão de domínio. A comunidade somente
existiria nas sociedades primitivas. Ao primeiro conflito, tornar-se-ia uma sociedade internacional lato
sensu[107].
Sociedade Internacional, prima facie, é um fato político e social atestado pelo sistema diplomático e
aceito pelo Direito Internacional e também, por um certo instinto de sociabilidade, algo cujos efeitos são
amplamente difundidos entre quase todos indivíduos – desde curiosidade turística até um profundo senso
de parentesco com todo o gênero humano[108].
1.2 Conceito
Para Batiffol, sociedade é o conjunto de relações tanto dos indivíduos entre si, quanto dos Estados uns
com os outros, que tendem a organizar-se e viver dentro de uma ordem internacional.
Halliday[109] afirma que o conceito de sociedade é supostamente emprestado da Sociologia e emergiu
em seu uso mais corrente durante o século XIX. Citando Tonnies, sustenta a existência de uma sociedade
frouxa, mais informal – a Gesellschaft – e uma comunidade mais fechada, mais moralmente coesa – a
Gemeinschaft. Nos escritos que fazem uso do termo, a “sociedade internacional” exerce sua função
constitutiva em três importantes dimensões: como uma explicação para o funcionamento do sistema
internacional além do conflito hobbesiano, como uma resposta teórica para a ausência de uma autoridade
única na esfera internacional e como uma categoria central para estudar a difusão mundial do sistema
europeu ocidental. A partir dessa constatação, apresenta três sentidos para o termo “sociedade in-
ternacional”:
a) “realismo”, usado por Martin Wight e Hedley Bull,[110] dentro do qual Sociedade
Internacional refere-se à relação entre os Estados, baseada em normas compartilhadas e entendimentos;
b) “transnacionalismo”, desenvolvido por Evan Luard e Michael Featherstone e que se refere à
emergência de laços não estatais de economia, de política, de associação, de cultura e de ideologia que
transcendem as fronteiras dos Estados e constituem, em maior ou menor medida, uma sociedade que vai
além dessas mesmas fronteiras;
c) “homogeneidade”, utilizado por Karl Marx e Francis Fukuyama, e que indica uma relação
entre a estrutura interna das sociedades e a da Sociedade Internacional, investigando de que maneira,
como resultado das pressões internacionais, os Estados são compelidos a conformarem seus arranjos
internos aos demais. É um conceito que se refere tanto ao desenvolvimento interno quanto às relações
internacionais, já que o funcionamento interno dos Estados tanto influencia como é influenciado pelos
processos internacionais.
É Brierly[111], todavia, quem melhor correlaciona “comunidade” e “sociedade” ao afirmar que o
problema da “comunidade mundial” é essencialmente moral e, em parte, diplomático enquanto a
Sociedade Internacional urge por instituições pelas quais os seus sujeitos possam aprender a trabalhar
conjuntamente em prol de fins sociais comuns.
Para sabermos o ambiente em que se situa essa Sociedade Internacional, devemos verificar quais entes
(sujeitos) participam dela e as forças que interferem em sua vontade.
1.3 Sujeitos da Sociedade Internacional
A Sociedade Internacional é formada pelos destinatários diretos do Direito Internacional, isto é, pelas
entidades as quais as normas jurídicas internacionais atribuem direitos e impõem obrigações. Tais
sujeitos seriam:
a) Estado – seu membro originário e principal sujeito, para a maior parte dos autores, o criador
dos demais sujeitos, apesar de para alguns, como Touscoz, tal ente, que de resto atravessa uma manifesta
crise de identidade, não é – nem nunca foi – o único nem o principal sujeito de Direito Internacional[112];
b) Organização Internacional – associação voluntária de sujeitos de Direito Internacional,
criada para desenvolver da melhor maneira possível as relações entre os Estados, permitindo-lhes
cumprir em conjunto funções que não poderiam realizar separadamente, uma vez que existem certos
problemas que só podem ser resolvidos com a colaboração dos demais membros da Sociedade
Internacional; e,
c) Pessoa Humana – na Sociedade Internacional, a pessoa humana tem o exercício de seus
direitos limitado, somente tem acesso livre às Cortes de Direitos Humanos. Fora isso, as pessoas devem
recorrer à proteção do seu Estado de origem por meio diplomático ou da Organização Internacional onde
esteja prestando serviço, a chamada proteção funcional. Não há acesso livre a todos os tribunais. Assim,
a pessoa humana não se equipara em atributos e obrigações aos demais entes, apesar de alguns autores,
como Touscoz, entenderem que as pessoas sempre desempenharam um papel importante na Sociedade
Internacional, quer ajam por conta de uma entidade pública ou privada (como governo, dirigente ou
agente), quer ajam em nome próprio (no plano das ideias ou das realizações concretas)[113].
As empresas transnacionais,[114] apesar de estarem presentes na Sociedade Internacional, não possuem
personalidade jurídica de Direito Internacional. Não podem ser responsabilizadas internacionalmente por
seus atos, sendo apenas pessoas de direito interno. Isso, obviamente, representa uma vantagem, haja vista
que, apesar de serem sujeitos de direito interno do ponto de vista jurídico-formal, vinculando sua nacio-
nalidade à do Estado em que atuam, possuem enorme poderio econômico, superior inclusive ao de muitos
Estados. O mesmo acontece com as Organizações Não Governamentais – ONG que, mesmo participando
de conferências internacionais, não tem capacidade internacional, uma vez que não possuem poder de
voto.
Joaquim da Silva Cunha[115] apresenta interessante classificação dos sujeitos, os quais, em função da
sua situação jurídica, seriam:
• Sujeitos de direitos e sujeitos de deveres – seriam a regra, apesar de haver entidades a quem o
Direito Internacional atribua apenas direitos (p. e., indivíduos com direito de petição junto a
tribunais ou organizações internacionais) ou só imponha obrigações (p. e., indivíduos julgados por
crimes de guerra).
• Sujeitos ativos e sujeitos passivos – os ativos gozariam da faculdade de cooperar diretamente
na formação do Direito Internacional positivo (p. e., Estados, Igreja Católica, certas associações
de Estados e algumas organizações internacionais); os passivos seriam os destinatários das normas
jurídicas internacionais, sem participação efetiva na sua formação.
• Sujeitos permanentes e sujeitos transitórios – permanentes seriam apenas os Estados e a
Igreja Católica; transitórios seriam as organizações internacionais e os beligerantes.
• Sujeitos originários e sujeitos supervenientes – originários seriam os Estados da Europa
ocidental e a Igreja Católica; supervenientes seriam os outros Estados e as outras categorias de
membros da Sociedade Internacional.
• Sujeitos com autodeterminação e sujeitos sem autodeterminação – só gozariam de plena
autodeterminação os Estados soberanos e a Igreja Católica, podendo, ao lado deles, haver sujeitos
com autodeterminação parcial ou limitada, como os protetorados e os Estados vassalos.
• Sujeitos de Direito Internacional Comum e sujeitos de Direito Internacional Particular – os
da primeira categoria seriam aceitos como tal pela generalidade dos Estados; os da segunda
apenas seriam reconhecidos por alguns Estados (p. e., Soberana Ordem Militar de Malta).
• Sujeitos de Direito Internacional Público e de Direito Internacional Privado – os Estados
seriam sujeitos de Direto Internacional Público, mas, na relação com outros Estados, também
poderiam intervir como sujeitos de Direito Privado. O Direito Internacional também reconheceria,
por vezes, sujeitos de Direito Privado, como as Organizações Não Governamentais – ONG e as
empresas transnacionais.
Alguns autores modernos, como Akehurst, definem o Direito Internacional, num primeiro momento,
como o ordenamento jurídico que regula as relações entre Estados para, posteriormente, esclarecer que:
tempos houve em que os Estados eram os únicos titulares de direitos e obrigações de caráter
internacional, mas, atualmente, o Direito Internacional também atribui, por vezes, direitos e obri-
gações às organizações internacionais, às sociedades comerciais e a indivíduos, embora se possa
corretamente afirmar que o Direito Internacional se ocupa ‘primordialmente’ dos Estados.[123]
Para Duguit e Scelle, o homem é o único sujeito da Sociedade Internacional. O Direito Internacional
seria o conjunto de regras e princípios que regem as relações jurídicas entre homens pertencentes a
grupos políticos distintos.
Para Delbez e L’huillier, os sujeitos da Sociedade Internacional[124] são os Estados, as corporações
extra-estatais (les corps extra-étatiques, no caso, a Igreja Católica) e as corporações infra-estatais (les
corps infra-étatiques) criadas por um ato de vontade dos Estados (no caso, as associações de Estados e
as Organizações Internacionais).[125] O Direito Internacional seria o conjunto de regras e princípios que
regem as relações jurídicas dos Estados e outras entidades internacionais personificadas entre si e uns
com os outros, ou que, nas palavras de L’Huillier, regem as relações jurídicas mútuas de um conjunto de
coletividades independentes, não submetidas a uma autoridade política comum.[126]
Para Accioly, as definições do direito internacional público (DI) dependem das teorias defendidas
pelos diversos estudiosos dessa área, principalmente quanto ao seu fundamento, fontes e evolução
histórica. Nesse sentido, até fins do século XIX a doutrina só atribuía essa condição aos Estados,
posteriormente às organizações intergovernamentais, mais e mais impondo-se reconhecer, ainda que em
medida restrita, a personalidade jurídica internacional a entidades não estatais e ao homem, como
princípio e fim último de todo ordenamento lega. Assim sendo, define o Direito Internacional como:
o conjunto de normas jurídicas que regulam as relações mútuas dos Estados e, subsidiariamente,
as das demais pessoas internacionais, como determinadas organizações, e dos indivíduos[127].
2.4 Relações
a) Relações com as ciências em geral: Economia, Política, História, Geografia,
Demografia, etc.
b) Relações com as ciências jurídicas: Direito Constitucional (quando aborda conclusões de
tratados e relação entre o direito interno e o internacional); Direito Civil (diversos institutos de DIP
tiveram no Direito Civil a sua origem, p. e., acessão e ocupação); Direito Penal (questões como
extradição, genocídio etc.); Direito Internacional Privado (diversas normas de DIP têm influência e
repercussão no Direito Internacional Privado, p. e., imunidade dos Estados e Chefes de Estado).
2.5 Histórico
Há resquícios de normas de caráter internacional desde a antiguidade. O primeiro tratado internacional
data de 3.100 a. C., celebrado por Eannatum, senhor da Cidade-Estado de Lagash, e os homens de Umma,
duas cidades da Mesopotâmia, que tratava de questões de fronteiras. Os primeiros tratados relacionaram-
se basicamente à guerra.
Na Grécia antiga, surgiram institutos como a arbitragem e a inviolabilidade dos embaixadores das
Cidades-Estado.
Em Roma, a pax romana impunha a lei de Roma aos Estados vencidos. Havia o jus gentium, formado
pelas normas de direito romano, que os estrangeiros podiam invocar (ramo do direito romano interno), e
o jus fetiale, que regulava as relações entre as nações estrangeiras. Como forma de entendimento
internacional, os tratados celebrados eram de amicitia (amizade), hospitium (hospitalidade), foedus
(aliança) e sponsio (acordos transitórios concluídos pelos generais, sendo obrigatório sua ratificação
pelo Senado).
Na Idade Média, o Direito Internacional encontrou um grande desenvolvimento sob a influência da
Igreja, contrária às guerras privadas, que exerceu preponderante papel no sentido de humanizá-las, por
meio de institutos como a Paz de Deus (que distingue beligerantes de não-beligerantes), a Trégua de
Deus[140] e a Quarentena do Rei.[141]
Na Idade Moderna, deu-se o fim da supremacia do papado com a Reforma. O reconhecimento do
Direito Internacional como um objeto de estudo autônomo dá-se a partir do séc. XVI. Surgem teólogos
preocupados com novos aspectos éticos relacionados à guerra e ao exercício do domínio sobre os
habitantes do Novo Mundo, tais como Francisco de Vitória, professor em Salamanca, entre 1526 e 1546,
e autor de Relectiones Theologicae, Relectiones De Indis e De jure belli Hispanorum in Barbados e
Alberico Gentili, professor em Oxford e autor do De jure belli, de 1598. Surgem as obras de Grócio: De
jure praedae (1604), que contém uma defesa em prol da liberdade dos mares, por ele preparada para a
Companhia das Índias Orientais, e De jure belli ac pacis (1625), que aborda não só questões de guerra,
mas outras como contratos, compra e venda, sociedades e danos. A partir da Paz de Westphalia entre
protestantes e católicos, em 1648, tivemos o surgimento dos Estados Nacionais, baseados no princípio da
igualdade jurídica e do equilíbrio europeu (bilanx justae potestatis, système copartageant)[142]. Por
meio dela, afirmou-se a igualdade dos Estados cristãos, sem diferenças de credo nem de formas
políticas. Em 1650, o professor de Oxford Richard Zouche publica seu Jus et judicium feciale, sive jus
inter gentes, obra considerada como sendo o primeiro manual de Direito internacional[143]. Samuel
Pufendorf, professor de Heildelberg, publica o De jure naturae et gentium, em 1672, por meio do qual
cria a chamada “Escola Naturalista”, pela qual baseia a pratica entre as nações apenas num “direito
natural”, negando qualquer outra fonte de obrigatoriedade. Em posição contraria, aparece o juiz holandês
Cornelius van Bynkershoek que, em seu Quaestiones júris publici, de 1737, afirma a existência de uma
“Escola Positiva”, baseada em costumes que devem ser explicados e controlados pela razão. Por fim, o
diplomata suíço Emerich de Vattel, em seu Le Droit des gens, de 1758, introduz a noção de igualdade dos
Estados como um direito natural.
Na Idade Contemporânea, com a Revolução Francesa, tivemos o surgimento do princípio das
nacionalidades, a Declaração dos Direitos do Homem (Abade Gregoire – 1795) e o hábito de fazer
conferências para criar regras para todos os Estados (Congresso de Viena – 1815, Conferência de Berlim
sobre os Balcãs – 1878, Tratado de Versalhes – 1919, Carta da ONU – 1945).
Atualmente vivenciamos um período denominado “Nova Ordem Internacional” caracterizado pela
redução da importância das tensões político-ideológicas em detrimento de aspectos de natureza
econômico-comercial levando a uma redefinição do papel do Estado enquanto sujeito de Direito. Mesmo
nessa nova moldura, a antinomia do Direito Internacional continua se expressando nas controvérsias entre
aqueles que postulam a supremacia de soberania nacional sobre a ordem internacional e os que postulam
a supremacia de ordem internacional sobre a lei nacional[144].
2.6 Revisão e eficácia do Direito Internacional Público – DIP
Atualmente, propugna-se por uma revisão do Direito Internacional Público - DIP. O Direito
Internacional clássico é eminentemente europeu, não atendendo todos de forma igualitária na Sociedade
Internacional, apresentando aspectos geográfico (europeu), religioso (cristão), mercantilista e
imperialista. Sendo uma variável da Sociedade Internacional, deverá evoluir acompanhando a
infraestrutura política, econômica, social, cultural e tecnológica, de onde tira o seu fundamento. Assim
sendo, o Grupo dos 77[145] da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento –
UNCTAD tem reivindicado o estabelecimento de normas de Direito Internacional mais favorável a ele,
com a instituição do princípio da igualdade vantajosa, no qual lhe será concedido um tratamento mais
benéfico em termos de comércio e aplicação de recursos.
A internacionalização dos interesses econômicos estabeleceu reivindicações empresariais que, muitas
vezes, conflitam com os próprios interesses estatais e suplantam as fronteiras nacionais, dando ao Direito
Internacional Contemporâneo uma forte conotação econômica.
Friedmann[146] já identificava três modelos básicos de relações dentro desse novo sistema:
a) Coexistência: baseada em regras que garantam a paz entre todos os Estados, independente de
sua estrutura política e social;
b) Cooperação universal: por meio da implementação de tratados internacionais e criação de
organizações internacionais de caráter permanente que transformam as normas da Sociedade
Internacional de um anterior “Código negativo de Conduta” para uma agenda positiva de cooperação; e,
c) Cooperação regional: baseado em normas que reflitam valores e propósitos mais restritos e
integrados.
Koskenniemi, a partir de uma ideia de fragmentação, descreve o Direito Internacional como uma
linguagem que foi construída por oposições binárias que representam possíveis – mas contraditórias –
respostas a qualquer problema legal internacional. Destaca que a globalização e a crise da soberania
intensificaram as críticas de uma visão do Direito Internacional como mero “direito estatal” sob o ponto
de vista, sociológico, funcional e ético – possibilitando a sua reconstrução como projeto político –, para
concluir que o Direito Internacional é uma expressão de política da mesma forma que o Cristianismo
constitui uma forma de expressão religiosa[147].
Já Casella afirma que a construção do direito internacional pós-moderno se põe como fato do nosso
tempo histórico e contexto cultural pois, ao mesmo tempo em que integra a realidade internacional
presente, se faz a cada dia: seja para construir, seja para solapar o que fora antes construído, a partir do
direito internacional moderno, se renovando sempre. Neste contexto internacional, continua, durante
séculos preponderantemente estruturado e operado por Estados, doravante se fazem presentes e atuantes
outros agentes, além destes tradicionais Estados, sem que a esses novos agentes se lhes tenham atribuído
funções nem determinado canais de operação, aumentando a fragmentação e a aparente desconexão entre
as partes deste sistema internacional. Assim, o direito internacional pós moderno se verá, primeiro, como
sistema e, a seguir, como aplicação deste sistema. E conclui que, esta aplicação se faz no plano
internacional, ou melhor, nos vários planos internacionais, sejam estes: bilaterais ou multilaterais, de
vocação universal ou regional, no âmbito de organizações de caráter político, técnico ou científico, nas
relações entre países desenvolvidos, entre países subdesenvolvidos, como também, ao mesmo tempo,
entre uns e outros, quer, mais uma vez, em contextos bilaterais ou multilaterais[148].
Outro grande desafio que se apresenta e nos conduz à necessidade de repensar o estudo do Direito
Internacional vem a partir da própria horizontalização da Sociedade Internacional, como consequência da
expansão do número de seus membros que, de um grupo reduzido de nações passa para, virtualmente,
todo o gênero humano, inclusive civilizações cujos valores diferem profundamente do cristão-ocidental
além do aparecimento de cisões na estrutura sociopolítico-econômica dos Estados, conduzindo à
formação de agrupamentos de Estados e de sistemas regionais de Direito Internacional (como os
derivados do processo de integração econômica), algumas vezes derrogando muitos de seus princípios
tradicionais. O mais interessante é que, mesmo com todas essas mudanças, a grande maioria dos manuais
mantém-se fiéis aos princípios do Direito Internacional Clássico. Poucos são os que incluem novas
temáticas, como o estudo das Organizações Internacionais, do Direito Comunitário ou mesmo consideram
a existência de um movimento normativo alternativo, capitaneado tanto pelas empresas transnacionais
quanto pelas organizações não governamentais, sem contar com o alargamento trazido pela crescente
preocupação com o indivíduo, enquanto sujeito de Direito Internacional.
É certo que o Direito Internacional é, por vezes, impunemente infringido, mas, segundo Akehurst, o
mesmo se pode afirmar em relação a qualquer sistema jurídico.[149] Os Estados obedecem ao Direito
Internacional com muito mais frequência do que a opinião pública supõe. O medo das sanções pouco tem
a ver com essa obediência. Existem outros fatores, inerentes à própria natureza do Direito Internacional e
da Sociedade Internacional, que induzem os Estados a atuarem em conformidade com ele (p. e., a
inexistência de um poder legislativo levando os Estados a construírem, em larga medida, o direito para si
mesmos, sendo improvável que criem um direito que não se ajuste aos seus interesses ou que se sintam
inclinados a violar), compensando, de modo mais do que adequado, a debilidade das sanções.[150]
Castro chega a adotar a terminologia “semidireito internacional”, afirmando que a materialização do
conjunto normativo do Direito Internacional, também em sua vertente pública, depende muito do trinômio
força-poder-interesse de um grupo de países caracterizados como potências: o Direito Internacional é
eficaz e eficiente em momentos específicos, politicamente determinados, no cenário internacional
estratificado pelos atributos dos capitais de força-poder-interesse. Nesse sentido, seus momentos
específicos de eficácia ou não são determinados pelo(s) país(es) que amoldam e determinam a ordem
mundial de acordo com sua agenda interna e externa, calcada por sua cultura política e dinâmicas de
pressão de grupos domésticos, revelando sua jurisdicização parcial, descentralizada com reduzida
efetividade e eficácia para os Estados. O “semi”, conclui, se refere ao caráter de relativização da
eficácia e da eficiência do Direito Internacional em momentos ou instâncias pontuais, como em processos
de justificativa de intervenções militares ou ataques cirúrgicos, em que o elemento jurídico-regulador
objetivo da conduta internacional seria esquecido em prol de interesses estatais[151].
Como qualquer sistema que busca regulamentar relações jurídicas, especialmente no contexto da Nova
Ordem Internacional, o Direito Internacional Contemporâneo apresenta falhas, sobretudo na forma como
suas normas deveriam ser cumpridas e respeitadas, mas não há como negar que, atualmente, este busca
critérios mais eficazes e realistas que, efetivamente, garantam o seu cumprimento por todos e em toda a
Sociedade Internacional.
Capítulo 3
LEX MERCATORIA[152]
1. ANTECEDENTES
a) Lex Rhodia – Lei do Mar de Rodes (300 a.C.) – regras marítimas adotadas pelos gregos e
pelos romanos, posteriormente introduzidas no restante da Europa. Tal posição não e uniformemente
aceita como precedente da Lex Mercatoria. De Ly, por exemplo, entende que tais normas fariam parte do
chamado ius gentium, um ramo do Direito Romano, não se enquadrando, dessa forma, na perspectiva de
autonomia da Lex Mercatoria[153]. Por outro lado, Tetley as situa como antecessora da Lex Maritima, uma
parte da Lex Mercatoria composta de costumes marítimos, códigos, convenções e práticas presentes nos
Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e diversas outras nações[154].
b) Ius Mercatorum (séc. XIV) – criado pelas sociedades marítimas e pelos outros grupos de
interesse comercial, principalmente no norte da Itália,[155] nos Países Baixos e também em tribunais da
França, Alemanha e Inglaterra, onde profissionais com experiência mercantil eram escolhidos como
juízes.
A Lex Mercatoria foi elaborada nas feiras em resposta aos direitos feudais, plenos de privilégios, que
dificultavam o comércio, como ordenamento a reger as relações entre os comerciantes de modo uniforme,
por meio da aplicação obrigatória dos costumes comerciais e solução dos litígios “transnacionais” pelos
Tribunais Mercantis dos diversos centros mercantis europeus[156], além das fronteiras de determinado
burgo. Tais normas serviram não só para harmonizar as práticas mercantis e de comércio marítimo como
também, a partir da ação de notários, criaram documentos que serviam de modelos para as demais
transações comerciais.
De Ly afirma que, historicamente, o termo “Lex Mercatoria” foi primeiramente utilizado na “The
Fleta”, uma coleção inglesa datada de 1290[157]. Com certeza, historicamente, a obra mais relevante
acerca da Lex Mercatoria foi a de Gerard Malynes, publicada em Londres em 1685 e intitulada
Consuetudo vel Lex Mercatoria: or the Ancient Law-Merchant,[158] na qual o autor define Lex
Mercatoria como a verdadeira lei, a razão certa, agradável à natureza em todos os pontos, difundida
perpetuamente em todas as nações, sem ab-rogação.[159] Esse autor desenvolve o tema em três áreas:
artigos (commodities), dinheiro (money) e troca de dinheiro por notas de troca (bills of exchanges).
A partir de 1954, Clive Schmitthoff, na obra intitulada “International business law: a new law
merchant”, passa a desenvolver uma teoria acerca de um sistema autônomo de normas.
Atualmente, fala-se em uma Lex Mercatoria moderna[160], baseada, além dos usos e costumes,[161] em
contratos-padrão, preparados por entidades estrangeiras e, mais recentemente, composta de inúmeros
outros elementos, inclusive Direito Internacional Público, leis uniformes e regras das organizações
internacionais.[162] A inclusão do Direito Internacional Público como sua fonte foi criticada por não
refletir necessariamente a compreensão da comunidade comerciante internacional e pelo fato de,
geralmente, ele reger relações entre Estados e não entre entes privados. O Direito Internacional Público,
entretanto, tem sido aplicado em contratos entre Estados e empresas privadas, como observado no caso
Texaco vs. Libya, de 1979, em que a Corte de Arbitragem afirmou que contratos entre Estados e pessoas
privadas estrangeiras poderiam ser “internacionalizados”, no sentido de torná-los sujeitos de Direito
Internacional Público.
2. CONCEITO
São vários os conceitos de Lex Mercatoria.
Para Goldman, é um conjunto de princípios gerais e regras costumeiras, referidas espontaneamente ou
criadas dentro de uma estrutura do comércio internacional, sem referência a um sistema jurídico nacional
em particular.[163] Apesar de mais recentemente ter admitido tratar-se de um direito em formação e ainda
incompleto[164], sua concepção é a mais aceita. Dela destacam-se três características:
• são suas fontes os Princípios Gerais de Direito[165] e as regras costumeiras;
• elas ou são aceitas espontaneamente pelos sujeitos, ou são elaboradas para a melhoria das
relações dos diversos entes da Sociedade Internacional;
• não se baseiam em nenhum sistema jurídico específico de um Estado da Sociedade
Internacional.
A Lex Mercatoria seria, assim, a forma ideal encontrada pelas partes contratantes de superar os
obstáculos provenientes das soluções submetidas ao direito nacional.
Para Lando, a Lex Mercatoria é o conjunto de regras de direito comuns a todos ou à maioria dos
Estados envolvidos no comércio internacional. Não sendo tais regras identificáveis, eleger-se-iam as que
parecessem mais apropriadas e eqüitativas.
Para Langen, a Lex Mercatoria é o conjunto de regras do jogo do comércio internacional.
Para Schmitthoff, a Lex Mercatoria é um conjunto de princípios comuns do direito, relativos às
transações do comércio internacional. Ao contrário de Goldman, ele não acredita em uma ressurreição do
Ius Mercatorum medieval, uma vez que as atuais normas são bem diferentes das medievais[166].
Para Kahn, seria o direito transnacional econômico. Essa é também a posição de De Ly, para quem tal
expressão não só refletiria o limite natural das normas de comércio internacional, como também evitaria
a utilização do termo “internacional”, uma vez que, nesse contexto, não refletiria uma relação entre
Estados[167]. Também nesse sentido é a posição de Galgano, para quem, hoje em dia, a nova Lex
Mercatoria deve ser entendida como um direito criado pelo empresariado, sem a intermediação do
Poder Legislativo dos Estados e formado por regras destinadas a disciplinar de modo uniforme, além da
unidade política dos Estados, as relações comerciais que se estabelecem dentro da unidade econômica
dos mercados[168].
Highet,[169] no entanto, a define não como Lex Mercatoria, mas como principia mercatoria, ou seja, um
conjunto de princípios gerais que não têm efeitos legais independentes, similar às roupas do Imperador,
que não têm qualquer existência sem ele.
Finalmente, para Strenger, seria um conjunto de procedimentos que possibilita adequadas soluções
para as expectativas do comércio internacional, sem conexões necessárias com os sistemas nacionais e
de forma juridicamente eficaz.
5. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL
As normas internacionais influenciam as normas internas. Temos, como exemplo, dois casos que deram
origem a três decisões de tribunais internos com suporte na Lex Mercatoria:
Sirketi x Norsolor[184]
Esse caso referia-se ao término de um contrato de representação estabelecido pela empresa francesa
Norsolor e seu agente turco Palback Ticaret Limited Sirkety, o qual requeria o pagamento de comissões
além de uma indenização pelo término do contrato. Como os árbitros encontraram dificuldade em
identificar qual a lei aplicável, uma vez que se tratava de um contrato transnacional, a empresa francesa
entrou com ação junto à Corte de Apelação de Viena contra a empresa turca, alegando violação da Lex
Mercatoria sobre divisão de mercado. A Corte de Apelação de Viena não deu guarida à pretensão da
empresa francesa, recusando-se a interpretar o § 595, 6, da sua Lei de Processo Civil (ZPO –
Zivilprozeßordnung) de forma extensiva, para abarcar as pretensões francesas e utilizar uma “lei mundial
de autoridade questionável”[185]. Em recurso à Suprema Corte da Áustria, ela afirmou ser possível
fundamentar uma decisão arbitral exclusivamente baseada nos princípios de lealdade e boa-fé, típicos da
Lex Mercatoria. O mesmo conflito foi levado ao Tribunal de Grande Instância de Paris pela empresa
francesa que obteve o mesmo sucesso, uma vez que a Câmara de Comércio Internacional de Paris, dada a
natureza transnacional do contrato, tem permitido ao árbitro julgar em conformidade com a Lex
Mercatoria.
DST x Rakoil[186]
O conflito entre a empresa alemã Deutsche Schachtbau und Tiefbohrgesellschaft m.b.h. – D.S.T. e a
refinadora do Oriente Médio Ras Al Khaimah National Oil Co. – Rakoil perante a London Court of
Appeals, em 1987, foi decidido por um tribunal arbitral suíço e, quando da execução da sentença e
pagamento da indenização no Reino Unido, a empresa Rakoil recorreu, baseando seu argumento no fato
de que sua execução contrariaria a política pública de dar eficácia a julgamentos baseados em princípios
incertos[187]. Houve decisão favorável à empresa alemã, também com base na Lex Mercatoria e na
possibilidade de sua utilização pelo direito suíço.
Na realidade, tais decisões, restritas à década de 80, basearam-se eminentemente em aspectos
políticos, tendo em vista que favoreceram empresas européias em detrimento de empresas não-européias.
Não podemos deixar de mencionar que alguns árbitros aplicaram regras de Lex Mercatoria em
detrimento de normas de Direito internacional ou mesmo de direito interno, como o Juiz sueco Gunner
Lagergreen, no caso B.P. vs. Libya[188], e Dupuy, no caso Texaco and Calasiatic vs. Libya[189].
7. CONCLUSÕES
A arbitragem não pode ser imposta por uma associação de profissionais. É necessária não só a
expressa autorização das partes para se constituir tribunal arbitral, mas também, em última instância, o
consentimento estatal.
Para que a Lex Mercatoria seja considerada um sistema jurídico, ela deve ser positivada não só pela
jurisprudência, mas também por tratados ou leis nacionais. Além do mais, num conflito entre Lex
Mercatoria e normas de direito interno, prevalecerá sempre as últimas, mesmo no mais liberal dos
Estados.
Por fim, um comércio internacional com regras criadas diretamente pelos atores, sem conteúdo
necessariamente jurídico, torna-se alvo de especulações político-econômicas e financeiras.
A Lex Mercatoria, todavia, emerge na atualidade como um corpo de normas jurídicas escritas ou não,
ainda incompleto, que visa a regência das relações internacionais do comércio, como um poder
normativo independente do direito positivo dos Estados, já que, para o comércio internacional, a
utilização do método conflitual como meio de solução dos litígios apresenta características de incerteza e
imprevisibilidade, inaceitáveis para a sua dinâmica. Apesar disso, é inegável que a teoria da Lex
Mercatoria tem influenciado, sobremaneira, a prática transnacional.
Capítulo 4
FONTES DO DIREITO
INTERNACIONAL
1. FONTE V. FUNDAMENTO
Fonte é o modo pelo qual o direito se manifesta. A partir dela surgirão as normas jurídicas
relacionadas a determinados sistemas. Para Virally, a expressão “fontes de direito” encontra-se
tradicionalmente limitada aos métodos de criação das normas jurídicas, quer dizer, das regras gerais e
permanentes capazes de serem aplicadas, repetidamente, sem nenhum limite[193].
Os fundamentos são circunstâncias que dão obrigatoriedade ao sistema jurídico.
Por exemplo, na Lex Mercatoria a jurisprudência e os contratos-tipo são fontes e o comércio
internacional é fundamento.
Touscoz enuncia existirem estreitas interdependências entre as diversas fontes do Direito Internacional.
Referindo-se às fontes enumeradas pelo artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, afirma
que é cômodo distinguir essas diferentes fontes do Direito, cujos regimes são diferentes, mas é
importante sublinhar que elas mantêm estreitas e complexas relações que revelam a unidade fundamental
do Direito Internacional[194].
Já Menezes afirma que, em tempos de globalização, três instrumentos foram fundamentais para a
mudança nos paradigmas do Direito Internacional e influenciaram na formação de normas jurídicas, como
a criação de organizações internacionais, a proteção internacional dos Direitos Humanos e a
sistematização de uma ordem econômica internacional. Considera como, etimologicamente, fonte, tudo
aquilo que origina ou produz, sendo a origem determinante de algo e, no caso em tela, seriam os
instrumentos com os quais se formam as normas internacionais que posteriormente serão aplicadas[195].
2. CLASSIFICAÇÃO
Há conflito de posições entre os doutrinadores.
Para Accioly, há três fontes de Direito Internacional:
a) fonte real: é a fundamental (princípios gerais de direito);
b) fontes formais ou positivas: dão positividade ao direito objetivo preexistente, sendo, em
geral, sancionadas pelo Poder Público (costumes e tratados internacionais);
c) fontes auxiliares: são aquelas que ajudam na compreensão do sistema jurídico, também
chamadas indiretas (doutrina e jurisprudência dos Estados, legislação interna dos Estados e sentenças
arbitrais).
Segundo Mello, são fontes: concepção positivista-voluntarista (Cavaglieri): são fontes do Direito
Internacional somente as que emanam da vontade comum dos Estados-membros da Sociedade
Internacional. Exemplo: os tratados internacionais são tidos como fonte expressa e o costume inter-
nacional como fonte tácita; concepção objetivista: elaborada por autores como Accioly e Sully, as fontes
seriam formais ou materiais.
Segundo Meira Mattos, teríamos: fontes formais: seriam aquelas caracterizadas pela exteriorização da
vontade das partes. Exemplo: os tratados-lei, os costumes, os princípios gerais do direito, as decisões
das organizações internacionais e a equidade; fontes materiais: aquelas que tratariam do fundo
(conteúdo) de determinado sistema jurídico. Seriam, no Direito Internacional, o contrato, a doutrina, a
analogia e a opinião pública.
TRATADOS INTERNACIONAIS
1. INTRODUÇÃO
Os tratados são instrumentos jurídicos essenciais para a Sociedade Internacional, por abordarem as
matérias mais importantes entre os Estados. Além disso, são a forma mais democrática de manifestação
da vontade na Sociedade Internacional, apresentando, pelo menos aparentemente, certas vantagens de
ordem técnica: podem ser negociados e concluídos em prazos breves; as regras que aprovam podem ser
facilmente invocadas sem problemas de prova; são claros e precisos[203].
Os tratados constituem o principal instrumento de cooperação em relações internacionais. A tecnologia
moderna, as comunicações e o comércio aumentaram, mais do que nunca, a interdependência entre os
Estados e a disposição deles para aceitarem regras internacionais sobre um grande número de questões
de interesse comum, sendo tais normas usualmente recolhidas em tratados que se assemelham
frequentemente, aos contratos dos sistemas jurídicos nacionais, mas também assumem funções que, nos
ordenamentos nacionais, são desempenhadas por atos legislativos, por certificados de transferência de
título ou pelos estatutos de uma sociedade. Em certa medida, os tratados substituem o direito
consuetudinário. Assim, sempre que é possível obter acordo acerca das normas costumeiras, procede-se
a sua codificação por meio de um tratado[204].
A essência dos tratados constitui-se na fonte específica de uma obrigação de Direito Internacional
contraída voluntariamente por uma pessoa internacional a favor de outra ou outras e que dá origem, por
sua vez, a direitos recíprocos[205].
2. CONCEITO
Como afirma Aréchaga, por mais que a definição do que seja tratado internacional pareça, à primeira
vista, ser questão puramente acadêmica, a experiência judiciária demonstra que a determinação de certo
instrumento constituir ou não um tratado possui importantes consequências práticas[206]. Demonstrando tal
afirmativa, temos três casos levados à Corte Internacional de Justiça, nos quais a determinação de um
instrumento jurídico formar-se em tratado foi de fundamental importância para a solução do litígio:
a) no caso da Companhia Petrolífera Anglo-iraniana, a jurisdição da Corte foi invocada pelo
Reino Unido (com base na aceitação, feita pelo Irã em 1932, da cláusula opcional relativa às disputas
envolvendo a apli cação de tratados ou convenções aceitas pela Pér sia), no intuito de se considerar um
tratado inter na cional um contrato de concessão, firmado em 1933 entre o governo do Irã e a Companhia
Petrolífera Anglo-iraniana. Em sua decisão, a Corte afirmou que “este contrato não é outra coisa senão
um contrato de concessão entre um governo e uma so ciedade privada estrangeira (...), não existe
nenhuma relação contratual entre o governo do Irã e o governo do Reino Unido”;
b) no caso do mandato sobre a África do Sul Ocidental, de 1962, a Corte admite que a
noção de tratado compreenderá também os acordos entre Estados e Organizações Internacionais
dotadas de personalidade jurídica e que possuam o jus tractum. Pela sua decisão, afirmou-se que “o
Mandato, de fato ou de direito, é um acordo internacional que tem o caráter de tratado ou convenção
(...) na qual a Liga das Nações era por si só uma das partes”;
c) na questão relativa à Plataforma Continental sobre o Mar Egeu, a Grécia invocou, como um
dos fundamentos da jurisdição da corte, um comunicado conjunto dos Primeiros-ministros da Grécia e
Turquia, pelo qual decidiram que a controvérsia seria submetida à Corte Internacional de Justiça. Em sua
defesa, a Turquia sustentou que tal comunicado de imprensa, carente de assinatura e credenciais, não se
constituía um acordo conforme o Direito Internacional. A corte rechaçou expressamente o argumento
turco, afirmando que “sobre a questão de forma, a Corte só necessita fazer notar que não existe regra de
Direito Internacional que impeça que um comunicado conjunto constitua-se num acordo
internacional”[207].
A partir de tal análise, temos como de fundamental importância a correta definição do que seja tratado
internacional. Autores clássicos, como von Liszt, conceituavam-no como o acordo entre dois ou mais
Estados sobre direitos próprios de soberania[208].
Virally, em seu conceito, estende às organizações internacionais a capacidade para celebrar tratados,
ao afirmar que tratado é qualquer acordo internacional celebrado por dois ou mais Estados ou outras
pessoas internacionais e que está regido pelo Direito Internacional.[209] Posição semelhante também é
adotada por Reuter, para quem um tratado é uma manifestação de vontades concordantes, imputável a
dois ou mais sujeitos de direito internacional e destinada a produzir efeitos jurídicos em conformidade
com as normas de direito internacional[210].
Para Rezek, tratado é um acordo formal concluído entre sujeitos de direito internacional público e
destinado a produzir efeitos jurídicos[211]. Trata-se de conceito bastante genérico, pelo qual o termo
“acordo” tem por essência uma noção que conduz, simultaneamente, a distingui-lo do ato jurídico
unilateral e a entendê-lo como resultante da livre manifestação das partes, sendo “formal” por se
exprimir com precisão em determinado momento histórico, por ter seu teor contornos bem definidos e por
ser voltado, essencialmente, “a produzir efeitos jurídicos”, já que tal não pode ser visto senão na sua
dupla qualidade de ato jurídico e de norma.
A maioria dos autores prefere o conceito positivado, encontrado na Convenção de Viena sobre o
Direito dos Tratados entre Estados, celebrada em 23 de maio de 1969.
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados
Decreto nº 7.030 (14.12.2009)
Artigo 2º
1.
a) Tratado é o acordo internacional celebrado por escrito entre Estados e regido pelo Direito
Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos,
qualquer que seja sua denominação particular.
Acordo internacional, por ter na Sociedade Internacional o seu âmbito de aplicação, devendo, para ter
eficácia em nível interno dos sujeitos de Direito Internacional, passar por um processo de adequação e
aceitação dos órgãos competentes, juridicamente definidos para tal fim. Nesse sentido, Pereira e Quadros
afirmam que, em primeiro lugar, o tratado é acordo de vontades, um ato voluntário – ex consensu advenit
vinculum – sendo-lhe, portanto, aplicáveis, com a devida adaptação, as regras da teoria geral do negócio
jurídico[212]. É importante salientar que, para a doutrina norte-americana, acordos internacionais
(international agreements) são utilizados como um termo genérico, ao contrário dos tratados (treaties)
que se referem especificamente ao acordo internacional celebrado pelo presidente com o conselho e o
consentimento do Senado, por 2/3 de votos[213].
O tratado, quando celebrado por escrito, possui, dessa forma, maior precisão que conduz a uma
certeza com relação ao conteúdo do Direito. Para muitos doutrinadores, não seria nulo o chamado
“tratado oral”, celebrado por meio de acordo de cavalheiros ou troca de notas diplomáticas. Esse tipo de
tratado, no entanto, não é comum.
Celebrado por Estados, não se exclui, no entanto, os outros sujeitos de Direito Internacional, pois, no
artigo 3º, c[214], a própria Convenção de Viena reconhece a validade dos acordos celebrados por outros
sujeitos que não os Estados. Tais acordos serão válidos, desde que os requisitos para sua celebração
sejam observados. Por fim, foi celebrada, em 21 de março de 1986, a Convenção de Viena sobre o
direito dos Tratados entre Estados e Organizações Internacionais ou entre Organizações
Internacionais, que ainda não entrou em vigor[215].
Consubstanciando-se em um ou mais instrumentos, sendo todos perfeitamente válidos, os tratados
podem ser escritos em um ou mais idiomas. Hoje, é usual celebrá-los em tantos idiomas quantos forem
os países que contratam. Antigamente, usava-se o latim como língua universal, posteriormen te, adotou-
se o francês e o inglês. Há ainda a figura dos chamados idiomas oficiais, a ONU, por exemplo, utiliza
seus seis idiomas oficiais[216], enquanto a União Européia vale-se dos seus vinte e quatro idiomas
oficiais[217]. Em geral, se dois Estados fazem um tratado, ele é transcrito em três idiomas, sendo o
terceiro fonte de interpretação.
3. TERMINOLOGIA
Apesar das diferenças terminológicas não serem de fundamental importância para determinar se um
instrumento jurídico é ou não um tratado internacional, pois, para tanto, basta que ele se insira no
conceito apresentado pela Convenção de Viena, utiliza-se uma vasta lista de “títulos alternativos”[218]
para caracterizá-lo em contextos especiais.
Os mais comuns são:
a) Tratados: são acordos internacionais de natureza solene. Exemplo: tratados de paz, como o
Tratado de Versalhes, de 1919[219]; tratados de integração, como o Tratado de Assunção, de 1991, criando
o MERCOSUL e Tratado de Maastricht, de 1992, criando a União Européia; de divisão e cessão
territorial, como o Tratado de Tordesilhas (1494)[220] e o Tratado de Petrópolis (1903)[221]; e de auxílio
judiciário, como os tratados de extradição. Para Seitenfus e Ventura a expressão “tratado” identifica todo
e qualquer acordo internacional, independente de sua formulação, podendo, dessa forma, designar tanto o
“conteúdo” do acordo, bem como o “instrumento” que o formaliza[222].
b) Convenções: são acordos internacionais que criam normas gerais acerca de determinada
matéria de Direito Internacional. Exemplo: Convenção de Varsóvia para a unificação de certas regras
relativas ao Transporte Aéreo Internacional (1929); Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas
(1961); Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados celebrados entre Estados (1969); Convenção
n. 158 da OIT sobre o Término da Relação Laboral por Iniciativa do Empregador (1982); Convenção das
Nações Unidas sobre Direito do Mar (Convenção de Montego Bay – 1982); e a Convenção de Viena para
a Proteção da Camada de Ozônio (1985).
c) Declarações: são acordos internacionais que firmam princípios jurídicos para a Sociedade
Internacional, não sendo, via de regra, imediatamente obrigatórios para os sujeitos de Direito
Internacional. Exemplo: Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948); a Declaração sobre o
Direito ao Desenvolvimento (1986); a declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (1992); a Declaração de Chapultepec sobre Liberdade de Imprensa (1994); e a
Declaração de Pequim sobre as Mulheres (1995).
d) Estatutos: são tratados coletivos, geralmente relacionados à criação e funcionamento de
tribunais internacionais permanentes. Exemplo: Estatuto da Corte Internacional de Justiça (1945); e
Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (1998).
e) Compromisso: acordo internacional que trata dos litígios internacionais e da forma como
serão solucionados caso não sejam levados à um tribunal permanente, como o Compromisso de Berna,
sobre a solução arbitral dos litígios envolvendo a Convenção Relativa aos Transportes Internacionais
Ferroviários (1980)[223].
f) Acordos: são tratados de cunho econômico, financeiro, social e, às vezes, cultural, como no
caso do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio – Gatt (1948); Acordo de Cartagena,
instituidor do Pacto Andino (1969); do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha[224]; e Acordo Constitutivo da
Organização Mundial do Comércio (1994).
g) Atos: são acordos internacionais que estabelecem regras de direito. Exemplo: Ato de Berlim
de 1885, sobre divisão dos Estados africanos pelos europeus; o Ato de Chapultepec sobre a Proteção da
América pós-Segunda Guerra (1945); e do Ato Constitutivo da União Africana (1999).
h) Pactos: foram muito utilizados após a Primeira Guerra Mundial, por influência do presidente
americano Woodrow Wilson, para quem o “pacto” seria a “terminologia para uma nova era”. Exemplo:
Pacto da Liga das Nações (1919); Pacto de Varsóvia (1955-1999); Pacto Internacional sobre Direitos
Civis e Políticos (1966); Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966); e
Pacto de San Jose da Costa Rica (Convenção Americana de Direitos Humanos – 1969).
i) Carta: acordo internacional que cria direitos e deveres para os membros da Sociedade
Internacional, estando geralmente relacionada à criação de uma Organização Internacional, sendo
exemplos: Carta das Nações Unidas (1945); e da Carta da OEA (1948), instrumentos de criação de
organização internacional, em geral.
j) Modus Vivendi: acordo internacional temporário celebrado por troca de notas diplomáticas
(essas trocas de notas têm cunho administrativo). Como exemplo temos o Modus Vivendi sobre a
navegação do Rio Reno, celebrado entre Alemanha, Suíça e França, na fase intermediária entre guerras,
acerca de arrecadação alfandegária, e o Modus Vivendi firmado em La Paz em março de 1903, ou seja,
antes da assinatura do Tratado de Petrópolis, que assegurou uma suspensão das hostilidades entre o
governo da Bolívia e o dos revolucionários acreanos e permitiu ao Brasil a ocupação administrativa e
militar do território sob litígio[225].
k) Concordata: acordo internacional celebrado entre a Santa Sé e os demais Estados da
Sociedade Internacional, a respeito das relações entre ela e eles.[226] A concordata, no entanto, não é o
único instrumento convencional celebrado pela Santa Sé nas suas relações exteriores, como bem o
provam os Acordos de Latrão (1929)[227], a Concordata de Worms (1125)[228] e a Concordata entre a Santa
Sé e a República Portuguesa (2004).
l) Protocolo Conferência: é a ata da conferência, como a ata final que incorpora os resultados
da Rodada Uruguai de Negociações Comerciais Multilaterais do GATT – Protocolo de Marraqueche, de
15.04.1994[229].
m) Protocolo Acordo: é um tratado que cria normas jurídicas complementares a um tratado
principal, como no caso do Protocolo de Brasília para a Solução de Controvérsias no Mercosul (1991)
[230]
; do Protocolo de Quioto à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (1992)
[231]
; do Protocolo de Buenos Aires sobre Jurisdição Internacional em Matéria Contratual (1994)[232]; e do
Protocolo de Olivos para a Solução de Controvérsias no Mercosul (2002).
n) Convênio: acordo internacional celebrado no domínio de matéria cultural, comercial ou
transportes. Exemplo: Convênio Brasil-Alemanha de intercâmbio de estudantes; Convênio Internacional
do Café (2001); e o Convênio sobre Aviação Civil Internacional (Convênio de Chicago – 1944).
o) Arranjo: acordo internacional que visa a regulamentar a aplicação de um tratado anterior,
como os arranjos institucionais para o Acompanhamento da Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e o Desenvolvimento e o arranjo sobre o Acordo da Lua (1967).
p) Troca de Notas Diplomáticas: é utilizada para assuntos de natureza administrativa, bem
como para alterar ou interpretar cláusulas de acordos internacionais já concluídos, como a troca de notas
relativas ao Acordo sobre Transportes Aéreos de 04 de julho de 1947 entre Brasil e Chile.
q) Memorando de Entendimento: utilizado para atos de forma bastante simplificada,
destinados a registrar princípios gerais que orientarão as relações entre as partes, como o Memorando de
Entendimento n. 01 sobre linhas gerais de orientação e modalidades de realização de um programa
conjunto para definição, desenvolvimento, produção e apoio durante a fase de emprego de um caça-
bombardeio-reconhecedor ligeiro entre Brasil e Itália (1981).
r) Acordos do Executivo: acordos internacionais não concluídos em concordância com o artigo
2º da Constituição dos estados Unidos da América, não requerendo, dessa forma, a aprovação de 2/3 do
Senado. Como salienta Chen, os acordos do executivo representam uma prática específica norte-
americana[233].
s) Minuta: projeto resultante de um processo de negociação entabulado pelo representante legal
designado para tal desiderato, indicando sua concordância preliminar, mas sem gerar qualquer obrigação
jurídica de cumprimento do pactuado (mesmo se contiver a rubrica do agente negociador), uma vez que o
processo de negociação continua ainda em curso, podendo, inclusive, seu texto ser modificado à medida
que avancem as negociações, como no caso da Terceira Minuta da Área de Livre Comércio das Américas
– ALCA (2003).
t) Pactum de Negotiando: é uma obrigação que os sujeitos de Direito Internacional assumem
de iniciar negociações de boa-fé, com a finalidade de concluir tratado a respeito de matéria
conflituosa. Não havendo conciliação, pode ser celebrado acordo internacional para divisão entre os
Estados (por organização internacional). Exemplo: Pactum para o início de negociações entre palestinos
e judeus.
u) Pactum de Contrahendo: é um acordo concluído pelos sujeitos de Direito Internacional com
compromisso de celebrar um acordo final sobre a matéria em litígio, é o chamado tratado preliminar.
v) Acordo de Cavalheiros / Gentlemen’s Agreement: afirma a existência de normas morais
relacionadas a um programa de ação política conjunta entre as partes contratantes. Por ser negociado em
nome pessoal dos estadistas, fundado sobre a honra e condicionado, no tempo, à permanência de seus
atores no poder, o acordo de cavalheiros não pode ser entendido como um tratado internacional, não
criando, dessa forma, qualquer efeito jurídico para os Estados[234].
4. CONDIÇÕES DE VALIDADE DOS TRATADOS
São quase as mesmas dos atos jurídicos em geral. Como afirma Janis, no Direito Civil dos Contratos, o
Direito Internacional dos Tratados procura principalmente o consentimento e a vontade das partes para
determinar se um acordo foi legalmente concluído. Tal ênfase, contudo, não só é devida ao Direito Civil,
mas também às realidades do sistema legal internacional, permeados pela independência e soberania
estatal[235]. Dessa forma, temos como condição de validade dos tratados: capacidade das partes;
habilitação dos agentes signatários; objeto lícito e possível; e mútuo consentimento.
Como bem ilustra Rezek,[243] as empresas, tanto privadas quanto públicas, pouco importando sua
dimensão econômica ou sua eventual multinacionalidade, não têm personalidade jurídica de Direito
Internacional, carecendo de capacidade para celebrar tratados. Citando Raymond Goy, ao comentar o
caso da Anglo-Iran Oil Company, acerca de um acordo entre o governo do Irã e essa empresa
petrolífera, efetuado em 1932, sobre a nacionalização da indústria do petróleo, efetivada pelo Irã em
1951, e sobre a proteção diplomática apresentada pelo Reino Unido àquela empresa junto à Corte Inter-
nacional de Justiça, esta deixou claro que tal acordo se tratava de “um contrato de concessão, feito com
uma companhia, e não um tratado internacional feito com outro Estado”.
4.2 Habilitação dos Agentes Signatários
Os representantes do Estado devem estar de posse de instrumento de plenos poderes[244]. No caso das
organizações internacionais, segundo Parry, à falta de disposições explícitas que deleguem a faculdade
de celebrar tratados a determinado órgão, reconhece-se tal poder aos órgãos plenários[245]. A habilitação
é feita perante o secretário da conferência e torna os representantes estatais plenipotenciários.
Há, contudo, entes que não necessitam da apresentação desse documento. De acordo com o artigo 7º, 2,
da Convenção de Viena, são eles:
• Chefes de Estado[246] e de governo, ministros das relações exteriores, em sentido lato, para
qualquer ato internacional.
• Chefes de missões diplomáticas, a quem é conferida uma competência ex officio perante o
Estado onde esteja acreditado, mesmo assim, apenas no caso de tratados bilaterais (celebrados
entre o Estado que representa e o Estado onde está exercendo suas atividades).
• Representantes acreditados pelo Estado perante uma convenção. Ser acreditado é ter em mãos
uma credencial e passaporte diplomático especial, conferido por tempo limitado, que credencia seu
titular a atuar em nome do Estado.
4.3 Objeto Lícito e Possível
Não se pode elaborar tratado internacional que contrarie a moral internacional ou que não seja
possível. Por exemplo, é impossível a celebração de tratado Brasil-EUA para extração de ouro na Lagoa
dos Patos, que sabidamente não possui ouro.
Aréchaga, em capítulo especial sobre a “legalidade do objeto do tratado e o jus cogens”,[247] analisa
tal condição de validade afirmando que a Escola Voluntarista, que predominou no século XIX e na
primeira parte do século XX, não aceitava limitações à autonomia da vontade dos Estados para celebrar
tratados, levando Jellinek ao extremo da doutrina da liberdade contratual dos Estados, afirmando que
todo ato ilícito internacional poderia ser levado ao nível de um ato jurídico se dele fosse feito o conteúdo
de um tratado. Algumas manifestações de mudança em tal posicionamento surgiram após a experiência do
Nazismo e a Segunda Guerra Mundial, a partir de Verdross[248] e de Lautepacht.[249] Para Rezek, seria ele
o conjunto de normas que, no plano de Direito das Gentes, se impõe objetivamente aos Estados, a
exemplo das normas de ordem pública que em todo sistema de direito interno limitam a liberdade
contratual das pessoas[250].
Mann, citando Scheuner, agrupa tais normas em três grupos: regras protegendo os fundamentos do
Direito, paz e humanidade, como as que proíbem o genocídio, a escravidão ou o uso da força; regras de
cooperação para a paz, protegendo interesses fundamentais comuns, como as relativas à liberdade dos
mares; e regras que protejam a pessoa humana, como as relativas à proteção de sua dignidade, igualdade
racial, vida e liberdade[251].
O artigo 53, infra, da Convenção de Viena consagrou a exigência de obediência ao chamado jus
cogens, que representa os princípios de Direito Internacional geral e não pode ser violado na celebração
de tratados.
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados
Artigo 53.
É nulo o tratado que, no momento de sua conclusão, conflita com uma norma imperativa de
direito internacional geral. Para os fins da presente Convenção, uma norma imperativa de direito
internacional geral é uma norma aceita e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados
no seu conjunto, como norma da qual nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser
modificada por nova norma de direito internacional geral da mesma natureza.
No conceito de jus cogens, inclui-se a proibição do uso ou ameaça de força e a agressão; a prevenção
e repressão do genocídio, da pirataria, do tráfico de escravos, da discriminação racial, do terrorismo ou
da tomada de reféns. A observância de tais princípios, firmemente arraigados na Sociedade Internacional,
é exigida a todos os Estados e sua violação afetará a todos, eivando de nulidade absoluta o ato. A função
do jus cogens é a de proteger todos os Estados contra acordos que são celebrados desafiando certos
valores e interesses gerais do conjunto de Estados da Sociedade Internacional, representando um avanço
significativo no Direito Internacional tanto do ponto de vista científico como no ponto de vista prático,
não sendo uma espécie de direito natural imutável, mas sim uma noção evolutiva[252].
Temos o exemplo do apartheid que, mesmo tendo sido aceito, por longos anos, pelo Direito de um
Estado, não poderia ser objeto de um tratado, por violar uma regra de jus cogens, ou ainda o acordo pelo
qual um Estado beligerante autorizaria outro Estado beligerante, como no caso do Governo de Vichy com
relação à Alemanha Nazista, a utilizar os prisioneiros de guerra que tivesse capturado do primeiro
Estado como mão-de-obra forçada, para a produção de armamentos, violando a Convenção de Genebra
sobre o tratamento de Prisioneiros de Guerra (1929)[253]. Apesar do número de regras poder ser limitado,
novas regras com esse caráter podem ser aceitas e reconhecidas por meio de tratados gerais multilaterais
ou Declarações da Assembleia Geral da ONU, como as relativas à utilização de armas de destruição em
massa, proteção do meio ambiente ou o estabelecimento de princípios mais equitativos para regular o
comércio internacional[254].
4.4 Mútuo Consentimento
Erro, dolo, corrupção e coação viciam os tratados, tornando-os nulos absoluta (erga omnes) ou
relativamente (anuláveis), trazendo, segundo Aréchaga, consequências maiores do que a sua extinção,
pois são vícios existentes já no momento de sua conclusão. Uma vez declarada ou reconhecida essa
nulidade, o tratado é considerado nulo ab initio e, portanto, os atos de execução também constituem
nulidades, pois todos os efeitos jurídicos de um tratado nulo devem ser eliminados e as coisas devem
voltar, segundo o princípio restitutio ad pristinum, a seu estado primitivo, como se o tratado nunca
tivesse existido. A diferença entre nulidade absoluta e relativa pode definir-se, como no Direito Civil,
por dois elementos estreitamente ligados entre si:
a) a nulidade relativa só pode ser alegada pelo Estado vítima do erro, dolo ou corrupção; já a
nulidade absoluta pode ser alegada por qualquer Estado interessado e deve ser declarada motu proprio
por um tribunal competente ou por qualquer órgão internacional encarregado da aplicação do tratado,
mesmo que não tenha sido invocada pelas partes contratantes;
b) a nulidade relativa pode ser sanada por acordo expresso ou aquiescência posterior da parte
interessada; a nulidade absoluta não pode ser sanada por nenhuma conduta posterior[255].
Tal nulidade, entretanto, deve ser considerada algo excepcional, devendo o tratado ser considerado
válido até que se estabeleça ou declare sua nulidade com base nos seguintes fatores[256]:
• Erro: no Direito Internacional, o erro deverá ser substancialmente importante para ocasionar a
anulação de um tratado. Erros de datilografia ou mesmo de tradução não se prestam a anular um
tratado. Na prática internacional, é raro que se recorra ao erro como vício do consentimento,
geralmente este ocorre em tratados sobre delimitação ou transferências territoriais, em função da
inadequação de descrições geográficas ou de elaboração de mapas, sendo, via de regra, tais casos
objeto de ação junto à Corte Internacional de Justiça. Deve-se ressaltar que a parte que alega erro
não pode ter contribuído para sua existência.
• Dolo: uma parte age propositadamente para que a outra celebre o tratado ludibriada. Até hoje,
não houve alegação de dolo na celebração de tratados. Isso porque há um grande prazo para a
ratificação deles, mas, caso persista o dolo, este poderá ser considerado um delito
internacional[257].
• Corrupção[258]: é sinal de evolução a inclusão da corrupção como vício que pode gerar
nulidade, mesmo que ela tenha surtido efeito em apenas uma cláusula do tratado. Só pode ser
alegada se a manifestação do consentimento de um Estado for obtida por meio da corrupção do seu
representante, pela ação direta ou indireta de outro Estado negociador, mesmo assim, apenas para
Estados que tenham ratificado a Convenção de Viena[259].
• Coação: Parry afirma que só terá validade se exercida sobre a pessoa do plenipotenciário.[260]
De acordo com a Convenção de Viena, somente viciará a celebração do tratado o emprego de
força militar. Coação política, econômica e financeira não vicia tratados.[261] Além disso, a força
militar deve se caracterizar como injurídica. A ONU, por exemplo, pode usar força militar para
forçar a paz em determinado Estado e isso é jurídico e válido. O vício ocorreria se outro Estado o
fizesse. Nesse sentido, a Tchecoslováquia invocou, em 1973, a nulidade do Acordo de Munique,
de 29.09.1938, obtido sob a ameaça nazista de utilizar a força contra este país[262].
Pela Convenção de Viena se estabelece a nulidade relativa nos casos de incapacidade e de presença
de erro, dolo e corrupção, enquanto que a coação ou violação de um jus cogens motivará nulidade
absoluta.
Quando da análise pela Comissão de Direito Internacional[272] em 1964, levantou-se a figura do acordo
colateral celebrado, por um lado, pelas partes contratantes no tratado e, por outro, por um terceiro
Estado, que deveria manifestar expressa ou implicitamente o seu consentimento. Isso foi objeto de
diversas críticas, levando a mesma Comissão, em 1966, a abandonar essa figura, ao suprimir a necessi-
dade de aceite expresso ou implícito do terceiro Estado.
b) Não têm efeito retroativo. Como bem informa a Convenção de Viena, somente produzem
efeito para um Estado depois que é ratificado. O Brasil só poderá alegar corrupção dos tratados
celebrados a partir da data de sua ratificação.
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados
Artigo 28.
A não ser que uma intenção diferente resulte do tratado, ou salvo disposição em contrário, as
disposições de um tratado não obrigam uma parte em relação a um fato ou ato anterior ou a uma
situação que deixou de existir antes da entrada em vigor do tratado em relação a essa parte.
10. IDIOMAS
Os tratados podem ser celebrados em tantas línguas quantas forem as das partes contratantes;[275] pode
ser indicado um terceiro idioma ou um idioma comum (universal) ou, ainda, em tantas línguas quantas
forem as das partes contratantes e num terceiro idioma, que só será considerado autêntico para a
interpretação e solução de controvérsias.
Von Liszt nos ensina que, a partir de Luís XIV, foi introduzido paulatinamente o uso do francês nas
negociações e resoluções dos congressos internacionais. Até o século XII, havia-se empregado o latim, a
partir daí e até o século XIII o italiano.[276] Atualmente, temos o inglês como idioma mais utilizado na
celebração dos tratados internacionais.
11. PROCESSO DE CONCLUSÃO
Touscoz afirma que a iniciativa da conclusão dos tratados pertence na maior parte das vezes aos
Estados, mas as organizações internacionais desempenham também um papel neste domínio: são
preparadas numerosas convenções por alguns dos seus órgãos e negociadas sob sua égide[277].
Para que o tratado tenha autoridade como tal, deverá ser elaborado em várias fases. São elas:
a) Negociação: em se tratando de tratado bilateral, não há regras preestabelecidas. É comum que
o convite se faça por meio de nota diplomática de uma parte a outra, desenvolvendo-se no território de
uma das partes contratantes. No caso de tratado multilateral, ocorre nos congressos e conferências
internacionais, onde é discutido o objeto do acordo internacional. Essa fase se encerra com a elaboração
do texto final do tratado, que deverá ser aprovado, segundo o artigo 9º da Convenção de Viena, por no
mínimo 2/3 dos presentes, nos casos das conferências internacionais. Em alguns casos, dependendo do
teor da matéria a ser pactuada, é preciso unanimidade.
b) Assinatura: tal fase teve reduzida a sua importância à medida que a ratificação foi adquirindo
prestígio na Sociedade Internacional. Atualmente, serve para autenticar o texto dos tratados[278] e para que
se inicie a contagem dos prazos para troca ou depósito dos instrumentos de ratificação. Qualquer
autoridade pode assinar um ato internacional, desde que possua Carta de Plenos Poderes, firmada pelo
Chefe de Estado e referendada pelo Ministro das Relações Exteriores ou seu equivalente. No Brasil, a
elaboração da referida carta cabe à Divisão de Atos Internacionais, que age mediante pedido formal. Há,
ainda, a figura da assinatura diferida, prática internacional de conceder aos Estados um prazo mais
longo para assinar os tratados, de maneira a habilitar aqueles que não participaram das negociações a
figurar como partes contratantes originárias, possibilitando-lhes aproveitar esse prazo para concluir seus
procedimentos internos de aprovação antes de firmar o tratado, de maneira que a assinatura efetivamente
obrigue a parte, sem necessidade da ratificação[279].
c) Ratificação:[280] é o ato unilateral com que o sujeito de Direito Internacional, signatário de um
tratado, exprime definitivamente, no plano internacional, sua vontade de se obrigar.[281] Ato de
competência do Chefe de Estado, ela pressupõe, em regra, manifestação de anuência do Poder
Legislativo.
Originariamente derivada do mandato do Direito Romano, a ratificação era uma mera confirmação,
por parte do mandante, de que seu agente, ao negociar o acordo, não havia excedido em suas instruções.
A partir do século XIX, compreendeu-se que seria necessário aguardar um lapso, depois da etapa da as-
sinatura, no qual se pudesse avaliar a compatibilidade dos termos de um novo tratado com o conjunto dos
compromissos e da política do Estado e se pudesse elaborar a legislação necessária para colocá-lo em
vigor. Assim, de simples formalidade, a ratificação converteu-se num trâmite essencial pelo qual os Esta-
dos se obrigavam mutuamente por tratados[282].
Autores há que admitem a figura da ratificação tácita, contanto que se evidencie por atos inequívocos,
e.g., o começo da execução do tratado, posição esta indubitavelmente questionável. O poder competente
para realizar a ratificação é definido livremente pelo direito interno dos Estados, geralmente na
Constituição, estando, muitas vezes já expresso no próprio texto do Tratado, como podemos verificar
abaixo:
Convenção sobre Asilo Territorial
Decreto nº 55.929 (14.04.1965)
Artigo 12.
A presente Convenção fica aberta à assinatura dos Estados-Membros da Organização dos
Estados Americanos e será ratificada pelos Estados signatários de acordo com as respectivas
normas constitucionais.
omente poderão ser invocados como prova na Corte Internacional de Justiça – CIJ os tratados
S
registrados na ONU.[289] É o que afirma o artigo 102 da Carta da ONU:
Carta das Nações Unidas
Decreto nº 19.841 (22.10.1945)
Artigo 102.
1. Todo tratado e todo acordo internacional, concluídos por qualquer membro das Nações Unidas
depois da entrada em vigor da presente Carta, deverão, dentro do mais breve prazo possível, ser
registrados e publicados pelo secretariado.
2. Nenhuma parte em qualquer tratado ou acordo internacional que não tenha sido registrado em
conformidade com as disposições do parágrafo primeiro deste artigo, poderá invocar tal tratado
ou acordo perante qualquer órgão das Nações Unidas.
Como exposto por José Carlos de Magalhães[302], o raciocínio desenvolvido no muito criticado
acórdão é o de que o processo legislativo brasileiro está previsto na Constituição da República, dele não
constando o tratado nem qualquer indicação de eventual posição hierárquica sobre a lei ordinária. Sendo
assim, se o tratado revoga a lei por ser a ela posterior, a lei também pode revogá-lo independentemente
de o país continuar obrigado a cumpri-lo na esfera internacional, por não o ter denunciado. A falta da
denúncia do tratado, segundo o entendimento expresso pelo Supremo Tribunal Federal, não impede que o
Estado, no plano interno, lhes retire os efeitos, deixando de dar-lhes aplicação, não se cogitando de
responsabilidade internacional que dessa inadimplência possa advir.
Já a Convenção n. 158 da OIT,[303] que protegia o trabalhador contra a dispensa arbitrária ou sem justa
causa, gerou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, a ADI n. 1.480,[304] cujo relator, o Ministro Celso
de Mello, em sua liminar, teceu um longo comentário sobre a relação entre os tratados internacionais e as
normas jurídicas internas, como podemos observar a seguir:
Supremo Tribunal Federal - STF
Mais uma vez valendo-nos dos ensinamentos de José Carlos de Magalhães,[306] entendemos que o
exame da constitucionalidade de uma lei não deve ter sua compatibilidade cingida apenas às normas
constitucionais, mas também aos compromissos assumidos pelo Estado na esfera internacional, por meio
dos tratados por ele firmados. Tal posição foi finalmente cristalizada pela Emenda Constitucional n. 45,
de 08 de dezembro de 2004, que mudou o texto constitucional, infra:
Constituição da República Federativa do Brasil
Artigo 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal (...)
III – (...)
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
Por fim, autores como Mazzuoli defendem a posição de que, em se tratando de normas jurídicas de
Direitos Humanos, os tratados ratificados pelo Brasil teriam índole e nível constitucionais, além de
aplicação imediata, não podendo ser revogados por lei ordinária posterior[307]. Tal, todavia, não parece
ser o entendimento do Executivo, uma vez que tem ratificado as diversas convenções internacionais sob a
forma de decreto[308] e, reforçando argumento contrário ao do citado autor, a Emenda Constitucional n. 45,
de 8 de dezembro de 2004, pela qual apenas se os decretos forem aprovados, em cada Casa do
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos, poderão ter equivalência constitucional.
No que tange às normas aprovadas antes da Emenda Constitucional ou mesmo aquelas aprovadas com
quórum inferior a três quintos, entende-se que tais teriam uma natureza supralegal, qual seja, valem mais
que Lei Ordinária, mas menos que a Constituição. É o que se pode notar a partir do voto do ministro
Gilmar Mendes, no Recurso Extraordinário nº 466.343/06, infra.
c) Condição resolutória: exprime-se na forma de certo fato que se realiza ou não. Quando se
realiza o fato, extingue-se o tratado; o esgotamento operacional é, no caso, a condição resolutória.
d) Redução do número de partes a um número inferior ao necessário à entrada em vigor de um
tratado multilateral. Por exemplo, a Convenção de Viena, para entrar em vigor, exigiu um mínimo de 35
partes contratantes, caso, em algum momento, o número seja inferior a 35, ela estará automaticamente
revogada. Já a Convenção sobre os Direitos Políticos da Mulher, de 1953, é taxativa nesse sentido:
Convenção sobre os Direitos Políticos da Mulher
Decreto nº 52.476 (12.9.1963)
Art. 8º (...)
§ 2º A presente convenção deixará de vigorar a partir da data em que surtir efeito a denúncia que
reduza a menos de seis o número de partes.
e) Denúncia: trata-se do ato unilateral, pelo qual o Estado manifesta a sua vontade de deixar de
ser parte num acordo internacional. Só é válida nos tratados temporários se houver cláusula a respeito.
Nos tratados permanentes/perpétuos a denúncia só é valida se expressamente prevista em determinada
cláusula[312] e, mesmo assim, é condicionada a um lapso de tempo entre a manifestação de vontade do
Estado denunciante e o rompimento efetivo do vínculo jurídico decorrente de sua condição de parte no
tratado, o chamado pré-aviso.
Aréchaga apresenta o instituto da denúncia implícita, pelo qual um tratado que não contém disposição
alguma sobre seu tempo de duração, nem tampouco uma cláusula de denúncia, pode ser denunciado
pelas partes, pelo fato de sua natureza ter se convertido em um elemento autossuficiente, independente
da intenção das partes, como no caso de um tratado de arrendamento, que, tanto em direito interno,
quanto internacional, nunca poderia ter caráter perpétuo, e os tratados de aliança.[313]
Para a efetivação da denúncia, há a necessidade do cumprimento de um aviso prévio, além do envio de
uma notificação ou carta de denúncia elaborada pelo representante do governo do Estado que deseja se
retirar. Deve ser dado um prazo, em geral, não inferior a 12 meses de antecedência,[314] devendo ser
cumprido pelo decurso de tempo previamente estipulado pelo tratado.[315] Entende-se que deve ser feita
pelo Poder Executivo do Estado.
Um exemplo típico de denúncia nos é apresentado pelo Decreto n. 2.100, de 20.12.1996, por meio do
qual o Presidente da República tornou pública a denúncia da Convenção nº 158 da OIT,[316] desta forma
redigido:
Decreto nº 2.100 (20.12.1996)
Torna pública a denúncia, pelo Brasil, da Convenção da OIT n. 158 relativa ao término da relação
de trabalho por iniciativa do empregador.
O Presidente da República torna público que deixará de vigorar para o Brasil, a partir de 20 de
novembro de 1997, a Convenção da OIT n. 158, relativa ao término da relação de trabalho por
iniciativa do empregador, adotada em Genebra, em 22 de junho de 1982, visto haver sido
denunciada por nota do governo brasileiro à Organização Internacional do Trabalho, tendo sido a
denúncia registrada, por esta última, a 20 de novembro de 1996.
Fernando Henrique Cardoso – Presidente da República.
Luiz Felipe Lampreia.
f) Ab-rogação por outro tratado: considera-se extinto um tratado quando todas as suas partes
concluírem um tratado posterior sobre o mesmo assunto. Foi o que aconteceu no caso do Tratado de
Montevidéu (1960), que havia criado a Associação Latino-americana de Livre Comércio – ALALC, o
qual foi substituído pelo Tratado de Montevidéu (1980), que criou a Associação Latino-americana de
Integração – ALADI. Nesse sentido, aplicam-se as disposições do tratado anterior enquanto este não
tenha sido ratificado por todos os países signatários, por um período de até1 ano após a sua entrada em
vigor, é o que dispõe o Tratado de Montevidéu de 1980:
Tratado de Montevidéu de 1980
Decreto nº 87.054 (23.03.1982)
CAPÍTULO X
Disposições Transitórias
Artigo 65
Até que todos os países signatários tenham ratificado o presente Tratado, a partir de sua entrada
em vigor pela ratificação dos três primeiros, serão aplicadas aos países signatários que ainda não
o tenham feito, tanto em suas relações recíprocas como nas relações com os países signatários
ratificantes, as disposições da estrutura jurídica do Tratado de Montevidéu, de 18 de fevereiro de
1960, no que corresponder (...),.
Estas disposições não continuarão sendo aplicadas às relações entre os países signatários que
tenham ratificado o presente Tratado e aqueles que ainda não o tenham feito, a partir de um ano
de sua entrada em vigor.
Artigo 66
Os órgãos da Associação Latino-Americana de Livre Comércio, estabelecidos pelo Tratado de
Montevidéu, de 18 de fevereiro de 1960, deixarão de existir a partir da entrada em vigor do
presente Tratado.
d) Cláusula de Adesão: permite a um Estado não contratante tornar-se parte do tratado. Tal
cláusula está presente, por exemplo, no Tratado de Assunção.
Tratado de Assunção – Decreto nº 350 (21.11.1991)
Artigo 20
O presente Tratado estará aberto à adesão, mediante negociação, dos demais países membros da
Associação Latino-americana de Desenvolvimento e Integração, cujas solicitações poderão ser
examinadas pelos Estados-Partes depois de cinco anos de vigência deste Tratado.
Celso Bastos, todavia, sustenta que, caso os limites fixados pelo Senado não sejam respeitados,
incorre-se em crime de responsabilidade, automaticamente desobrigando a União a respeitar a obrigação
assumida[337].
18.3 Acordos Complementares
Para Marotta Rangel, em princípio, acordos meramente complementares ao Acordo principal não
necessitam ser novamente submetidos ao Poder Legislativo, todavia, em sendo incompatível com o
objetivo e a finalidade do Acordo principal demandaria submissão específica ao Poder Legislativo[338].
Em outras palavras, se o acordo complementar alterar cláusula do acordo internacional básico, se
implicar ônus ao Tesouro Nacional ou modificação do ordenamento jurídico interno, deverá ser
submetido à aprovação do Congresso.
Essa é a posição adotada pelo Executivo no Brasil, como podemos ver a partir da leitura do Protocolo
de Quioto, infra.
Protocolo de Quioto
Decreto nº 5.445 (12.05.2005)
Art. 2º São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar em
revisão do referido Protocolo ou que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
patrimônio nacional, nos termos do art. 49, inciso I, da Constituição.
No tocante à Reserva, a Convenção de Viena (1969) define-a, em seu artigo 2º, 1, d, como:
uma declaração unilateral, feita por um Estado, seja qual for o seu teor ou denominação, ao as-
sinar, ratificar, aceitar ou aprovar um tratado, ou a ele aderir, com o objetivo de excluir ou
modificar o efeito jurídico de certas disposições do tratado em sua aplicação a esse Estado[340].
Para Aréchaga, não constituem reservas as simples declarações que não excluam ou modifiquem os
efeitos do tratado e que recaiam sobre a maneira como se propõe a cumprir o tratado o Estado
interessado, nem as declarações acerca de seu entendimento ou interpretação, a menos que tais de-
clarações pressuponham uma alteração nos efeitos jurídicos do tratado, havendo três sistemas que
poderão lhe ser aplicados:
a) O primeiro, que procura preservar o princípio da integridade da convenção, afirma que, se um
Estado fizer uma reserva, seu texto circula por todas as demais partes e, se uma delas formular uma
objeção, não se aceita a reserva e o Estado que a formulou não pode ser parte no tratado.
b) O segundo, conhecido como sistema pan-americano e seguido pela Organização dos Estados
Americanos – OEA defende que, ainda que a reserva seja rechaçada por algum Estado-parte do tratado, o
reservante torna-se parte e fica obrigado com os Estados que aceitaram suas reservas. Tal sistema, ao fa-
cilitar a formulação de reservas, possibilita o aumento do número de ratificações e, por conseguinte, a
generalização e extensão dos tratados, acelerando a sua entrada em vigor.
c) Por fim, existem tratados que, por sua natureza e objeto, requerem uma aceitação íntegra e sem
qualquer reserva, como no caso dos acordos sobre desarmamento, em que a reserva por parte de um
sujeito de Direito Internacional destruiria a própria razão de ser do tratado[341].
Em vista de tais posições, a Corte Internacional de Justiça – CIJ, a partir de uma consulta formulada
pela Assembleia Geral da ONU, relativa à Convenção contra o Genocídio, exarou um Parecer, em 28 de
maio de 1951, onde afirmou que:
(...) um Estado que fez e manteve uma reserva que foi contestada por uma ou mais partes da
Convenção, mas não por outras, pode ser considerado como parte da Convenção, se a reserva
for compatível com o objeto e propósito da Convenção; caso contrário, aquele Estado não pode
ser considerado parte da Convenção.
Na ausência de um artigo na Convenção dispondo sobre reservas, não se pode inferir que elas
são proibidas. Na falta de qualquer previsão expressa sobre a matéria, para determinar a
possibilidade de se fazer reservas assim como seus efeitos, deve-se levar em conta o seu caráter,
seu propósito, suas disposições, seu modo de preparação e adoção. A preparação da Convenção
sobre Genocídio mostra que uma discussão ocorreu na Assembleia Geral quanto à faculdade de
se fazer reservas e que é permitido concluir que, ao momento de se tornarem partes, os Estados
consentiram com tal fato.
(...) o objeto e propósito da Convenção implicam que a intenção da Assembleia Geral e dos
Estados que a adotaram era o de reunir maior número possível de participantes. Esse propósito
seria frustrado se a objeção a uma pequena reserva produzisse a complexa exclusão da
Convenção. (...) a avaliação de uma reserva e dos efeitos de uma objeção dependem das
circunstâncias de cada caso[342].
Dessa forma, a Corte estabeleceu o critério da compatibilidade da reserva com o objeto e fim do
tratado. Parry complementa afirmando que as partes podem, ocasionalmente, estipular expressamente
quais reservas podem ser propostas ou aceitas – funcionando, todavia, o tratado sem uniformidade ou
perdendo o tratado o valor, caso os Estados mais importantes apresentem reservas –, ou então se
estipular que não podem opor qualquer reserva[343].
A Comissão de Direito Internacional da ONU, por outro lado, afirmou que, quando se tiver um número
reduzido de Estados negociadores e a aplicação do tratado em sua integridade entre todas as partes seja
condição essencial para a sua eficácia, uma reserva exigirá a aceitação de todas as partes, como no caso
de um tratado que estabeleça a integração econômica de um grupo de Estados[344].
No tocante à doutrina brasileira, temos três posições sobre a possibilidade de apresentação de
emendas e reservas quando da aprovação dos tratados:
a) Bevilacqua e Trindade entendem que o Congresso deve aprovar in toto ou rejeitar in toto os
acordos internacionais. O Congresso Nacional aprova, ou rejeita, in toto, acordos internacionais ao seu
crivo; a rejeição parcial de um ou mais artigos, ou a proposta de quaisquer alterações, importariam, em
última análise, na rejeição global do acordo em questão. O Legislativo aprova, ou não, in toto, o acordo
que lhe foi submetido pelo Executivo não sendo dado ao Congresso Nacional, constitucionalmente,
alterar o teor de um acordo já negociado pelo Executivo. De outro modo, estariam comprometidas a
independência e colaboração entre os poderes (Executivo e Legislativo), pela introdução de uma
indevida relação de subalternidade. A alteração de um texto convencional só pode dar-se mediante
renegociação de novo acordo, pelo órgão ministerial competente especificamente para tal, o Ministério
das Relações Exteriores; um acordo internacional, ato concluído de boa fé, só pode ser alterado de
comum entendimento com a(s) outra(s) parte(s) contratante(s) mediante negociações que competem
exclusiva e privativamente ao Poder Executivo[345].
b) Carlos Maximiliano entende que, a rigor, o Congresso não poderia emendar a convenção
internacional, entretanto, em vez de rejeitá-la, pura e simplesmente, não haveria qualquer óbice a que ele
sugerisse ao Governo modificações que, levadas por este ao plenipotenciário estrangeiro e por ele
aceitas, determinariam sua aprovação definitiva[346], ou seja, é possível a apresentação de emendas ou
reservas, desde que as demais partes contratantes as aceitem.
c) Já Celso Albuquerque Mello e Marotta Rangel afirmam ser de suma importância a distinção
entre emenda e reserva . Enquanto aquelas pretendem a revisão ou a reforma de determinadas cláusulas,
estas visam a suspender-lhes a aplicação nas relações de Partes entre si[347].
Mello, citando Pontes de Miranda, crê ser possível a aprovação do tratado com reserva, mas não com
emendas. Se fosse possível apresentar emendas, o Congresso estaria indiretamente participando da
elaboração do instrumento jurídico, que é de competência exclusiva do Poder Executivo. Já no que diz
respeito às reservas, tais seriam possíveis por serem um ato do Poder Executivo.
Marotta Rangel, por outro lado, como consultor jurídico do Ministério das Relações Exteriores,
entendeu que a introdução de reservas não é irrestrita. Um Estado pode, ao assinar, ratificar, aceitar ou
aprovar um tratado, ou a ele aderir formular uma reserva, a menos que:
Quanto às emendas estas seriam mais fáceis nos tratados bilaterais, - devendo-se analisar caso a caso,
situando-se na esfera das competências do Poder Executivo A razão dessa prudência resulta do fato de
que o tratado é resultante de um delicado esforço de negociação, e o equilíbrio em decorrência alcançado
não deve ser rompido com propostas ulteriores de modificação. Tais propostas podem ter o significado
de rejeição pura e simples do tratado. Muitas vezes seria preferível proclamar francamente este
significado a exigir esforço penoso e inútil de renegociação[349].
Por fim, destaca haver três possibilidades de emendas aos tratados internacionais:
a) se, em sendo bilateral, houver concordância da outra Parte Contratante com a emenda
proposta[350];
b) se, em sendo multilateral, houver concordância das demais Partes Contratantes;
c) se, em sendo multilateral e havendo discrepância de Parte Contratante, existirem cláusulas a
respeito de emenda e modificação do próprio tratado e a emenda proposta com estas cláusulas se
harmonize[351].
Em 2004, o assunto voltou à tona, gerando a Consulta n° 4, sobre os limites e os efeitos jurídicos do
poder de emendar do Congresso Nacional, ao referendar tratados internacionais celebrados pelo
Presidente da República. Por ela, como podemos constatar abaixo, sinaliza-se a possibilidade de
emendas que visem a produzir alterações ao texto do ato internacional de forma indireta, porque são
apostas ao texto do projeto de decreto legislativo, o qual as apresenta como condição para a aprovação
do ato internacional. Nesse caso, caberá ao Poder Executivo proceder segundo sua própria
discricionariedade, podendo promover novas negociações internacionais, visando a adequar o ato
internacional às condições para a aprovação definidas pelo Congresso, ou abandoná-lo definitivamente.
Consulta nº 4/04
Se considerarmos o poder de emendar em senso lato, ou seja, como expressão da convicção do
Congresso sobre a matéria, fruto de deliberação parlamentar, por meio da qual ele estabelece os
termos e condições com os quais concorda ou mesmo propugna a assunção de determinadas
obrigações internacionais pelo País, então a resposta é positiva, pois o Poder Legislativo detém,
nos termos da Constituição, competência para resolver definitivamente sobre os atos
internacionais, o que equivale a dizer que detém poder irrestrito de decidir a respeito do conteúdo
obrigacional constante dos compromissos internacionais submetidos à sua apreciação.
Contudo, se for entendido o poder de emendar em sentido estrito, ou seja, como faculdade do
Congresso de apresentação de emendas diretamente ao texto de um ato internacional que se
encontre a ele submetido, então a resposta será, sem sombra de dúvida, negativa, haja vista: (i) a
natureza jurídica dos atos internacionais, os quais, ontologicamente, possuem vigência
exclusivamente no plano do Direito Internacional, pelo menos até que o Estado decida internalizá-
lo, após a ratificação; (ii) a legitimidade dos Chefes de Estado e de dos demais agentes dotados
de poderes plenipotenciários, competentes para representar o Estado nas relações exteriores e,
de outra parte, (iii) a falta de competência constitucional do Poder legislativo para exercer
funções de representação internacional do Estado, além dos demais argumentos adiante expostos,
que nos conduzem à conclusão da inconstitucionalidade de tais emendas (...).
Assim, (...) quanto aos limites do poder do Congresso Nacional de emendar os atos
internacionais, com base no exposto, concluímos que:
1º) não é admissível a apresentação de emendas formuladas diretamente ao texto dos atos
internacionais;
2º) são admissíveis emendas aditivas, supressivas e modificativas ao projeto de decreto legislativo
(PDL), cuja formulação visará à aprovação condicionada e, portanto, parcial, do ato
internacional;
3º) não serão admissíveis emendas substitutiva ou substitutiva global, pois se o Legislativo
discordar de todo ou quase todo o conteúdo do texto do ato internacional, cabe-lhe, então, rejeitá-
lo, ao invés de emenda-lo.
(...) os efeitos jurídicos das emendas aprovadas pelo Congresso Nacional, expressas no corpo do
Decreto Legislativo como condição para a aprovação do ato internacional, serão plenos e
constituem expressão da poder dever do Congresso de resolver definitivamente sobre os atos
internacionais. Tais efeitos repercutirão, naturalmente, sobre a ação do Poder Executivo, ao qual
cumpre proceder diante de tal aprovação parcial. Neste caso, caberá ao Poder Executivo
proceder segundo sua própria discricionariedade, podendo, por hipótese, promover novas
negociações internacionais, visando a adequar o ato internacional às condições para a aprovação
definidas pelo Congresso, ou abandoná-lo definitivamente.
Já a Convenção de Viena (1969) adotou relativamente às reservas uma posição bastante liberal, que
prioriza a multilateralização do tratado, em afinidade com a prática atual em que a maior parte dos
tratados multilaterais são adotados pelo voto de dois terços. Sem regular todos os aspectos atinentes à
reserva, os artigos 19 a 24 da Convenção de 1969 traçam regras detalhadas sobre a liberdade de
reservar, acerca da possibilidade de sua aceitação, além, de objeções que possam ser feitas e do
procedimento para reservas.
18.5 Trâmite dos Tratados
Para uma melhor compreensão do tramite dos acordos internacionais no Direito Brasileiro, dividimos
tais instrumentos em três categorias: Tratados Solenes e Completos, qual seja aqueles em que se
participa do processo de negociação; Tratados de Adesão, aqueles em que, por não termos participado
de sua negociação, só nos tornamos parte após a sua conclusão; e, Acordos Simples e Abreviados,
aqueles que não necessitam da aprovação do Congresso Nacional.
Uma vez no Senado, em regra estabelecida pelo art. 172, II, c do Regimento Interno, há a
possibilidade de que seu Presidente possa incluir na ordem do dia o Projeto sem a necessidade que este
esteja instruído com os pareceres das comissões. De qualquer forma, por maioria de votos, estando
presente a maioria absoluta de seus membros, esta Casa poderá:
a) rejeitar o projeto, enviando mensagem para o Presidente da República, o qual poderá
apresentar nova proposta;
b) aprová-lo com emendas[361], o que gera o retorno do Projeto de Decreto Legislativo para a
Câmara[362], caso haja mudança no mérito, a qual decide em caráter final[363], para que seja promulgado
pelo Presidente do Senado Federal;
c) aprovar o Projeto de Decreto Legislativo sem emendas, com promulgação pelo Presidente do
Senado Federal.
Após a aprovação o Decreto Legislativo[364] é, então, numerado pela Secretaria-Geral da Mesa do
Senado e publicado na Seção I do Diário Oficial da União e na Seção II do Diário do Congresso
Nacional. Somente após ter o Congresso aprovado o ato é que o governo fica autorizado a ratificá-lo,
seguindo-se a troca ou depósito de tais instrumentos[365].
O Decreto Legislativo é submetido à ratificação pelo Presidente da República, que tem liberdade de
ratificá-lo ou não,[366] em momento que julgar oportuno. Nesse sentido, a Divisão de Atos Internacionais
do Ministério das Relações Exteriores providencia, de ofício, a ratificação do tratado, em geral por meio
de envio de instruções ao posto do Itamaraty no exterior que deverá notificar sobre o cumprimento dos
requisitos internos de aprovação pelo Brasil.
O Tratado vinculará o país internacionalmente quando cumprido o prazo estipulado para tal fim,
geralmente disposto em seu próprio texto, como se pode notar pelo Decreto que promulgou o Tratado de
Montevidéu de 1980, abaixo:
Decreto nº 87.054 (23.03.1982)
Promulga o Tratado de Montevidéu 1980
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA,
CONSIDERANDO que o CONGRESSO NACIONAL aprovou pelo Decreto Legislativo nº 66,
de 16 de novembro de 1981, o Tratado de Montevidéu 1980, (...)
CONSIDERANDO que o Instrumento de Ratificação do referido Tratado por parte da
República Federativa do Brasil foi depositado em Montevidéu, a 15 de janeiro de 1982;
CONSIDERANDO que o mencionado Tratado entrou em vigor para a República Federativa do
Brasil a 15 de fevereiro de 1982; (...)
Com a ratificação do tratado pelo Brasil e a sua entrada em vigor para o País no plano internacional,
elabora-se uma Minuta de exposição de motivos e de decreto presidencial para a promulgação.
Por fim, é promulgado decreto,[367] - trazendo, via de regra, cópia do Tratado, em apenso –,
submetendo-o à publicação no Diário Oficial da União, bem como, geralmente, uma segunda publicação
do Decreto Legislativo no Diário do Congresso Nacional.
Como consagrado pelo STF na ADI nº 1480, a Constituição de 1988 permite que a execução dos
tratados internacionais e a sua incorporação à ordem jurídica interna decorra da conjugação de duas
vontades homogêneas: a do Congresso Nacional, mediante decreto legislativo, e do Presidente da
República, enquanto Chefe de Estado, mediante decreto. Enfatiza que o decreto presidencial, que sucede
a aprovação congressual do ato internacional, e a troca (ou depósito) dos respectivos instrumentos de
ratificação revelam-se – como momento culminante do processo de incorporação desse ato internacional
ao sistema jurídico doméstico – manifestações essenciais e insuprimíveis. A aprovação congressual e a
promulgação presidencial atuam, nessa condição, como pressupostos indispensáveis da própria
aplicabilidade, no plano normativo interno, da convenção internacional celebrada pelo Brasil.
Decretos promulgatórios de tratados internacionais costumam determinar a própria vigência na data da
sua publicação. Quando silentes, fazem operar a norma da Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro (Lei nº 12.376/2010), que, no caput de seu artigo 1º, difere em 45 dias, depois de oficialmente
publicada, essa vigência.. Num e noutro caso, é também esse o ponto cronológico em que começa a
vigorar no plano interno o tratado, sempre que sua vigência internacional já seja fato consumado[368].
O tratado internacional, uma vez em vigor em território nacional, é autoaplicável. Essa conclusão
envolve a percepção de que, com a incorporação do tratado, passam a integrar o direito interno do País
as normas dele emanadas, gerando-se, assim, para o Estado e para todos os que se encontram
subordinados à respectiva ordem jurídica, direitos e obrigações[369].
8.5.2. Tratados de Adesão
1
Na adesão, por não ter participado da fase de negociação, o Estado se vinculará mediante uma única
manifestação, o depósito do instrumento de adesão. O Presidente da República tem o poder
discricionário de submeter ao Congresso Nacional o texto convencional a que o País ainda não é parte,
enviando Mensagem ao Congresso Nacional, solicitando autorização para adesão. A partir desse
momento, segue um procedimento análogo ao dos Tratados Solenes e Completos. Concedida a
autorização, este assina e deposita o instrumento de adesão junto a autoridade depositária do tratado.
Este é, então, incorporado à ordem jurídica interna por meio da promulgação e publicação de decreto
específico, como podemos notar pela adesão do Brasil ao Tratado de Renúncia à Guerra, ou Pacto de
Briand-Kellog, infra.
Decreto nº 24.557 (03.07.1934)
Promulga o Tratado de Renúncia à Guerra, concluído e assinado em París a 27 de agôsto de
1928.
O Chefe do Govêrno Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil:
Tendo feito declarar, por nota da Embaixada do Brasil em Washington, datada de 20 de fevereiro
último, ao Govêrno dos Estados Unidos da América, que o Govêrno brasileiro aderia ao Tratado
de Renúncia à Guerra, concluído e assinado em París a 27 de agôsto de 1928; e, tendo sido
confirmada essa adesão, em 10 de maio próximo passado, pelo respectivo depósito do
instrumento de ratificação, conforme comunicou por nota de 24 do mesmo mês o Departamento
de Estado dos Estados Unidos da América à Embaixada do Brasil em Washington;
Decreta que o referido Tratado, apenso por cópia ao presente decreto, seja executado e
cumprido tão inteiramente como nele se contém.
Rio de Janeiro, DF., em 3 de julho de 1934, 113º da Independência e 46º da República.
GETÚLIO VARGAS
Felix de Barros Cavalcanti de Lacerda
Rezek, todavia, repudia tais argumentos metajurídicos. Para ele, o suposto ritmo trepidante do labor
convencional, nas relações internacionais contemporâneas, seria fator idôneo à tentativa de inspirar o
constituinte, nunca à pretensão de desafiá-lo. Por outro lado, é inexata e arbitrária a assertiva de que os
parlamentos, em geral, quando vestidos de competência para resolver sobre tratados, tomem nisso maior
tempo regular que aquele dispendido pelos governos – também em geral – para formar suas próprias
decisões definitivas a respeito, mesmo que não considerado o período de negociação, em que agentes
destes – e não daqueles – já conviviam com a matéria em processo formativo. Toda pesquisa por
amostragem permitirá, neste país, e não apenas nele, concluir que a demora eventual do Legislativo na
aprovação de um tratado é companheira inseparável da indiferença do próprio Executivo em relação ao
andamento do processo; e que o empenho real do governo pela celeridade, ou a importância da matéria,
tendem a conduzir o parlamento a prodígios de expediência. Apesar de tudo, o acordo executivo – se
assim chamamos todo pacto internacional carente da aprovação individualizada do Congresso – é uma
prática convalidável desde que, abandonada a ideia tortuosa dos assuntos da competência privativa do
governo, busque-se encontrar na lei fundamental a sua sustentação jurídica[374].
Rezek acata a celebração solitária de tratados pelo Executivo em dois casos:
a) Ajustes complementares a tratado principal, cobertos por assentimento prévio do Congresso;
b) Acordos terminantemente circunscritos à rotina diplomática, ou de “diplomacia ordinária”,
fundamentados no inciso VII do art. 84 da Constituição, desde que sejam reversíveis, isto é,
desconstituíveis sem delongas, e haja cobertura orçamentária, ou seja, dependa exclusivamente dos
recursos públicos previstos para as relações exteriores. O modus vivendi, o pactum de contrahendo e os
acordos interpretativos de tratado em vigor são incluídos nesta modalidade.
Por fim, menciona também os acordos de trégua entre comandantes militares como suscetíveis de
celebração solitária pelo Executivo. Cachapuz de Medeiros propõe que o Congresso Nacional seja
sempre informado da conclusão de tais acordos e que lhe seja facultado rejeitá-los quando entender que o
Executivo extrapolou as condições para a sua validade[375]. É o que consta do pelo Decreto nº 8694, de
21 de março de 2016, que promulgou o Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o
Governo dos Estados Unidos da América relativo a Medidas de Segurança para a Proteção de
Informações Militares Sigilosas – aprovado internamente pelo Decreto Legislativo nº 147, de 25 de
junho de 2015 –, infra:
Decreto nº 8.694 (21.03.2016)
Art. 2º. São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional atos que possam resultar em revisão do
Acordo e ajustes complementares que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
patrimônio nacional, nos termos do inciso I do caput do art. 49 da Constituição.
O certo é que, diferentemente do que ocorre nos tratados solenes, os acordos simples e abreviados
contam apenas com as fases de negociação, assinatura ou troca de notas e publicação, esta última
ocorrendo na Seção do Ministério das Relações Exteriores. Não são promulgados na forma de decreto ou
decreto legislativo mas apenas publicados, tendo a sua denominação aquela que lhe conceder o órgão
responsável. Esta é estampada na Seção I do Diário Oficial, no setor correspondente ao Ministério das
Relações Exteriores, encabeçada pelos dizeres: Secretaria Geral / Subsecretaria Geral do Serviço
Exterior / Departamento Consular e Jurídico / Divisão de Atos Internacionais[376].
Quanto à processualística dos acordos executivos concluídos pelo Brasil, sua base instrumental pode
consistir de uma troca de notas ou de um único texto articulado, geralmente formulado em duas ou mais
cópias autênticas. O definitivo do acordo em forma simplificada é preparado pela Divisão de Atos
Internacionais do Ministério das Relações Exteriores, que toma as providências necessárias à publicação
do texto convencional no Diário Oficial da União, após a sua celebração[377].
O acordo publicado é antecedido de uma breve introdução, que declara ter sido celebrado, em
determinada data, acordo entre o Brasil e o País ou Organismo Internacional mencionado, sobre certo
assunto, “o qual entrou em vigor na data de sua assinatura”, ou na data especificada, ou, ainda, “por troca
de notas diplomáticas”[378].
19. A CONVENÇÃO DE VIENA
Foi celebrada em 23.05.1969, entrando em vigor em 27.01.1980, após o depósito de 35 instrumentos
de ratificação. Segundo Touscoz, esse “tratado dos tratados” que comporta 85 artigos e que enuncia as
regras relativas à maior parte dos aspectos do Direito dos Tratados (conclusão, aplicação, interpretação,
modificação, nulidade etc.) não teve a influência que os seus autores haviam imaginado. Muitas de suas
disposições foram de fato adotadas pela maioria dos Estados signatários, mas os Estados da minoria
(entre os quais figuram os países desenvolvidos de economia de mercado) não as aceitaram e recusaram-
se a ratificar essa convenção, sobretudo por causa das disposições relativas aos vícios da vontade, à
nulidade dos tratados e, particularmente, ao jus cogens.[379] Tal afirmativa não parece condizer com a
realidade fática, afinal dos 17 Estados signatários da Convenção que não a ratificaram apenas os Estados
Unidos figuram nessa categoria. Dos demais, 3 são latino-americanos – Bolívia, El Salvador, Trinidad e
Tobago –; 5 são asiáticos – Afeganistão, Camboja, Irã, Nepal, Paquistão –; e, 8 são africanos – Costa do
Marfim, Etiópia, Gana, Madagascar, Quênia e Zâmbia[380].
Com relação ao Brasil, seu processo de ratificação iniciou-se apenas em 1992, quando o Presidente
Itamar Franco enviou mensagem ao Congresso para que a convenção fosse submetida à ratificação.
Rapidamente apreciada, transformou-se no projeto de Decreto Legislativo n. 214/92. Em 22.02.1995,
este foi aberto à apresentação de emendas do plenário. Em 08 de novembro do mesmo ano, após a leitura
e publicação dos pareceres da Comissão de Constituição e Justiça e de Redação – CCJ e da Comissão de
Relações Exteriores, foi considerado “pronto para a ordem do dia”.
A continuidade de seu processo de aprovação no Legislativo deu-se apenas em 2009, quando o foi,
finalmente, pelo Decreto Legislativo n. 496[381], sendo o instrumento de ratificação depositado junto ao
Secretário-Geral da ONU, depositário desse tratado, em setembro do mesmo ano. Finalmente a
promulgação deu-se, em dezembro de 2009, por meio do Decreto nº 7.030[382]. Apesar de, como visto
acima, nem todos os Estados da Sociedade Internacional que a assinaram a tenham ratificado,
entendemos que a Convenção de Viena é norma balizadora de suas relações internacionais, constituindo-
se, desta forma, a principal fonte, como costume internacional, para as negociações também entre eles.
Outra Convenção de Viena, celebrada em 21 de março de 1986 para complementar a Convenção de
Viena de 1969, foi a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados entre Estados e Organizações
Internacionais ou entre Organizações Internacionais. Em seu art. 85, a mesma estabelece a sua entrada
aopos o depósito do 35º instrumento de ratificação, o que ainda não aconteceu. O Brasil, apesar de ter
sido seu signatário originário, ainda não a aprovou em âmbito de Direito interno.
Capítulo 6
OUTRAS FONTES DO
DIREITO INTERNACIONAL
Em cada ordenamento, ao lado da fonte direta, temos fontes indiretas que podem ser distinguidas em
fontes reco nhecidas, como o costume, e fontes delegadas, como o re gulamento com relação à lei[383].
Neste capítulo, nos dedicaremos não só às fontes reconhecidas do Direito Internacional, mas ainda
faremos uma ligeira e superficial incursão no soft law. Tais fontes não só se encontram discriminadas
no artigo 38 do Estatuto da CIJ, mas são também resultado de posi cio na mentos doutrinários e da
prática internacional.
1. COSTUME INTERNACIONAL
Estatuto da Corte Internacional de Justiça
Artigo 38
1. A Corte, cuja função é decidir de acordo com o Direito Internacional as controvérsias que lhe
forem submetidas, aplicará: (...)
b) o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o direito;
Como preceitua Virally, o costume, que é o produto direto das necessidades da vida internacional,
surge quando os Estados adquirem o hábito de adotar, em relação a dada e repetida situação, uma
atividade determinada, à qual se atribui significado jurídico[384].
1.1 Conceito
Costume internacional é o conjunto de normas consagradas pelo longo uso e observadas na ordem
internacional como obrigatórias.
Observa-se na definição o aspecto temporal que assume a prática, para ser caracterizada como
costume, não sendo, via de regra, delimitado o tempo necessário para tanto, desde que a uniformidade e a
generalidade da prática sejam demonstradas[385]. Tal fato é, na Sociedade Internacional Contemporânea,
um dos obstáculos à aplicação do costume como fonte do Direito Internacional.
Ressalta-se, ainda, o caráter impositivo e obrigatório da prática, para esta ser considerada costume.
Segundo Brownlie, o uso consiste numa prática geral que não reflete uma obrigação jurídica, as
saudações de cortesia no mar e a prática de isentar os veículos diplomáticos de proibições de
estacionamento constituem exemplos de uso[388].
É o elemento normativo, ligado à certeza de se conformar com as exigências de Direito, que distingue
o costume do uso[389]. Tal distinção, todavia, tem sido considerada mais de cunho teórico, uma vez que,
como salienta De Ly, mesmo em decisões judiciais, essa distinção tende a ser suplantada em função das
diferentes jurisdições a que usos e costumes podem ser submetidos. Em outras palavras, caberá a lei
aplicável a consideração de ter ou não usos e costumes, aplicação e eficácia distintos[390].
1.3 Elementos
No costume internacional, destacam-se dois elementos:
a) Elemento material:[391] é o uso geral (prática/multiplicação de precedentes)[392], seguido por
parcela da sociedade internacional, com a convicção de que é obrigatório. Os precedentes podem emanar
de todos os sujeitos da ordem internacional. Uma série de precedentes pode constituir uma prática, mas
não é suficiente para estabelecer a existência de um costume. Ele implica a existência de um elemento
psicológico, a convicção dispersa pelos sujeitos de Direito de que a prática é obrigatória.[393] A
convicção da obrigatoriedade reporta-se não a qualquer psicologia coletiva, mas à interpretação
funcional e normativa da vontade manifestada por sujeitos de Direito Internacional ou pelos seus órgãos.
[394]
O uso exige tempo e repetição de comportamentos, seja por ação ou por omissão. Aréchaga afirma
que, apesar de alguns autores, como Dupuy, aludirem como costume a prática continuada desde um tempo
imemorial, uma prática estatal que já tenha durado 15 anos é suficiente para caracterizá-lo, pois o
requisito tradicional de duração não é um fim em si mesmo, senão um meio para demonstrar a
generalidade e uniformidade de determinada prática estatal[395], tendo a Corte aludido expressamente esse
tema em sua sentença, de 20 de fevereiro de 1969, no caso da Plataforma Continental do Mar do
Norte[396]:
(...) embora o fato de ter se passado apenas um breve lapso de tempo não constituir
necessariamente um impedimento à formação de uma nova regra de direito internacional
costumeiro, permanece indispensável que, nesse lapso de tempo, a prática dos Estados, incluindo
os que são particularmente interessados, tenha sido frequente e praticamente uniforme no sentido
da disposição invocada, e se manifestado de maneira a estabelecer o reconhecimento geral de
uma regra de direito.
Tal posição é reiterada na decisão do caso das Atividades Militares e Paramilitares dentro e contra a
Nicarágua (Nicarágua v. Estados Unidos)[399], no qual se afirma que:
Corte Internacional de Justição – CIJ
Caso das Atividades Militares e Paramilitares dentro e contra a Nicarágua
(...) para que uma nova regra consuetudinária se forme, não só devem os atos em questão
‘constituir uma prática instituída’, como devem também ser acompanhadas pela opinio juris sive
necessitatis(...)
A Corte deve satisfazer-se quando a existência do opinio juris é confirmado pela prática.
1.4 Fundamento
O costume internacional é apresentado por três teorias:
a) Teoria voluntarista (Escola Positivista): o fundamento do costume encontra-se no
consentimento tácito dos Estados. Autores, do porte de Virally, afirmam estar o Estado obrigado por uma
regra consuetudinária se não adotou uma persistente atitude de oposição a ela durante o período de sua
formação. Os novos Estados ficam obrigados por todas as regras de Direito Internacional-
Consuetudinário que se aplicam indiferentemente a todos os Estados independentes desde que não tenham
apresentado reservas, expressas e determinadas, quando entrarem em relações internacionais normais[400].
Brownlie, por sua vez, citando o caso das Zonas Pesqueiras (Fisheries Jurisdiction)[401] afirma poder
um Estado subtrair-se à força obrigatória de um costume durante o seu processo de formação.[402]
Tal teoria peca por não considerar ser o costume uma prática evolutiva. Segundo Jorge Miranda, as
doutrinas voluntaristas estão ultrapassadas e nem sequer fornecem uma base segura para a compreensão
de costumes locais ou bilaterais[403].
b) Teoria da consciência Jurídica Coletiva (Escola Histórica Alemã – von Savigny): sustenta a
existência de um Volksgeist, ou seja, um espírito do povo. O costume não seria elaborado, mas sim
“descoberto”. Todos os povos, em seu foro íntimo, teriam noção de razão, justiça e solidariedade, ou
seja, haveria uma consciência jurídica coletiva. No entanto, tal afirmativa é vaga e insuficiente, por
exemplo, para justificar o princípio que afirma que todo Estado que obtém sua independência, tornando-
se ente soberano na sociedade internacional, passaria por uma fase de inexistência de obrigações – a
tábula rasa –,[404] que seria substituída paulatinamente pelos costumes a que esse Estado aderisse e pela
celebração de tratados, constituindo, dessa forma, obrigações internacionais.
c) Teoria sociológica: o costume seria produto da vida social, que viria a atender as
necessidades sociais. É a teoria que prevalece atualmente, pois vê o costume como produto da evolução
da sociedade, como podemos notar pela evolução da legalidade do costume de utilização de mão de obra
escrava, chegando a sua total abolição.
1.5 Características
O costume internacional é prática comum, que resulta da repetição uniforme de certos atos da vida
internacional. Brownlie afirma exigir-se não uma completa uniformidade, mas uma uniformidade
substancial. Trata-se, essencialmente, de uma questão de apreciação, gozando um tribunal, em muitos
casos, de ampla liberdade de determinação.[405]
É prática obrigatória, ou seja, o costume é direito, em consequência de ser respeitado por toda a
sociedade internacional.
É prática evolutiva, ou seja, possui plasticidade, que lhe permite adequar-se às novas circunstâncias
da vida social.
1.6 Prova
Segundo Brownlie, em princípio, presume-se que um tribunal conhece o Direito, podendo aplicar o
costume mesmo que este não tenha sido expressamente alegado. Na prática, quem invocar um costume
tem o ônus da prova, cuja natureza irá variar de acordo com o objeto e com a forma que revestirem as
alegações, ou seja, em litígio internacional, cabe à parte que o alega provar sua existência[406].
Pela concepção anglo-saxônica, o costume poderá ser comprovado numa prática generalizada ou num
consenso da doutrina ou ainda em decisões anteriores, quer da CIJ, quer de outros tribunais
internacionais, já que a escolha da abordagem parece depender da natureza das questões e da
discricionariedade do Tribunal[407].
Akehurst afirma que a prova deve ser procurada na atual prática dos diversos Estados, da qual é
possível se ter uma ideia geral por meio da consulta de material publicado sob a forma de boletins
informativos, versando sobre medidas por eles adotadas e declarações ao parlamento por parte dos
representantes governamentais.[408] Tal posição também é compartilhada por Mello e Rezek, segundo os
quais o costume será provado não só por meio dos chamados atos executórios, que são os atos dos
diversos órgãos estatais judiciários, legislativos e executivos, mas também daqueles que compõem a
prática diplomática, como as declarações políticas e correspondência internacional, e ainda pelos textos
legais e decisões judiciárias que disponham sobre tema de interesse de Direito Internacional, tal é
também a posição de Brierly[409]. Já Boson reconhece que a prova decorrerá da verificação de um número
razoável de precedentes inequívocos, manifestados pelo Estado a que são atribuídos,[410] posição
divergente da de Akehurst, para quem, quando não existe qualquer prova “contra” uma alegada norma
consuetudinária, parece que um “pequeno” número de práticas é suficiente para criar tal tipo de norma,
ainda que essa prática implique alguns Estados e tenha tido pouca duração[411].
As principais declarações da Corte Internacional de Justiça quanto à prova do Costume surgem no
acórdão do caso Haya de la Torre quando, em sua sentença de 20 de novembro de 1950, afirma que:
Corte Internacional de Justiça – CIJ
Caso Haya de la Torre
(...) a Colômbia não provou que existia, regional ou localmente, uso constante e uniforme de
qualificação unilateral, traduzindo um direito para o Estado que concede o asilo e um dever para o
Estado territorial. Os fatos submetidos à Corte revelam excesso de contradições e variações para
que seja possível deles extrair um costume próprio à América Latina e que tenha força de direito.
É certo que existe uma prática segundo a qual o Agente diplomático solicita imediatamente o
salvo-conduto e este lhe é concedido: mas essa prática, que se explica por motivos de
conveniência, não gera obrigação para o Estado territorial.
Aréchaga, por fim, afirma ter a Corte Internacional de Justiça adotado, nos últimos tempos, um enfoque
“inovador e potencialmente fecundo”, afastando-se das posições extremas da heterodoxia jurídica, pois,
em lugar de insistir na prova estrita do consentimento do Estado demandado, como defendido pela Escola
Positivista, busca o consenso geral dos Estados. Descarta, assim, a concepção voluntarista e coloca em
uma perspectiva mais ampla certos pronunciamentos anteriores relativos ao costume regional e local.
Aceita, em certas circunstâncias, o valor normativo de uma prática consolidada em um breve espaço de
tempo, admitindo-se, dessa forma, que o desenvolvimento do costume deve medir-se pelo ritmo da vida
contemporânea e não pelo que “se tem estabelecido desde um tempo muito longo e imemorial”[412].
1.7 Interpretação
Não há método preciso de interpretação dos costumes, ao contrário do que ocorre com os tratados. Há
princípios normalmente aceitos: costume especial derroga o geral e costume posterior derroga o anterior.
1.8 Decadência
Como já afirmado, os costumes são fonte de Direito Internacional que não têm meio de prova pacífico,
muito menos método de interpretação. Outro aspecto que contribui para a sua decadência como fonte de
Direito internacional é o fato de que o desenvolvimento de um “novo” costume é sempre resultado de um
lento processo, ainda mais na esfera da sociedade internacional.
A partir da decisão da Corte Internacional de Justiça no caso Plataforma Continental do Mar do Norte,
em que esta, não reconhecendo a existência de um direito costumeiro internacional que regulasse o objeto
do litígio, instigou as partes a celebrar um acordo sobre a matéria[413], ficou evidente que o Costume
Internacional estava perdendo prestígio se comparado a tratados. Ademais, matérias de considerável
importância para as relações internacionais passaram a ser codificadas, como ocorreu com a própria
celebração de acordos internacionais, objeto de tratado específico – a Convenção de Viena de 1969 –,
celebrado apenas alguns meses após esta decisão.
Além de normas costumeiras que já haviam sido codificadas com a conclusão das Convenções de
Viena sobre Relações e Imunidades Diplomáticas (1961), de Relações e Imunidades Consulares (1963),
essa tendência prevalece em normas contemporâneas, como a Convenção de Montego Bay sobre o
Direito do Mar (1982). São evidentes as vantagens conseguidas pela codificação do Direito
Consuetudinário por meio de tratados, à medida que as normas se tornam mais precisas e acessíveis e os
novos Estados se mostram mais dispostos a acatar normas de cuja elaboração tenham participado[414]. Por
outro lado, apresenta-se o inconveniente de, ao codifica-los, tornar a sua evolução mais difícil[415].
Mesmo com essa redução de importância ainda hoje, há áreas do Direito Internacional regulamentadas
basicamente pelo costume internacional, quer pela sua dificuldade em encontrar consenso negocial, quer
pela atualidade de sua abordagem como no caso da guerra, das imunidades e responsabilidade
internacional dos Estados[416], da soberania nos espaços aéreos e de alto-mar e até mesmo, da
legitimidade dos títulos de dominação colonial a partir da concessão de independência aos povos e
países colonizados.
A partir desse artigo, surge, primeiramente, a necessidade de se identificar o que seriam “nações
civilizadas”. Virally considera que tal frase denota princípios tão gerais que se aplicam dentro dos
sistemas jurídicos que tenham logrado um determinado estado de desenvolvimento.[417] Brownlie noticia
que não se alcançou um consenso de contornos muito definidos sobre o significado preciso dessa
expressão no comitê de juristas que preparou o Estatuto.[418]
Rezek afirma não ter substrato discriminatório o uso de tal termo, uma vez que os redatores do texto,
em 1920, pensavam indicar com essa expressão os princípios gerais aceitos por todas as nações in foro
domestico, quedando excluídas apenas as sociedades primitivas.[419]
Os princípios gerais de direito têm a finalidade de preencher lacunas do Direito, sendo elemento
subsidiário para a decisão da CIJ, apresentando-se ou como princípios gerais comuns à ordem interna e
internacional, como o pacta sunt servanda, o princípio da boa-fé e do direito adquirido ou como
princípios gerais de Direito Internacional.
Quando extrapolamos a jurisdição da Corte Internacional de Justiça, no contexto transnacional, por
exemplo, os princípios gerais de direito indicam que diferentes sistemas legais têm uma regra semelhante
para determinada situação abstrata, afastando, dessa forma, a discussão acerca de qual norma jurídica
deve reger suas relações[420].
Brierly destaca que a sua inclusão, como fonte de Direito para os julgamentos da Corte Internacional
de Justiça, foi de vital importância como rejeição à doutrina positivista, pela qual o Direito Internacional
constituir-se-ia apenas de regras as quais os Estados houvessem dado seu consentimento[421].
A Resolução n. 2.625 (XXV) da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 24.10.1970,[424] com base no
relatório de seu Comitê Especial dos Princípios de Direito Internacional, enumerou os seguintes
princípios fundamentais nas relações entre os Estados:
a) Abstenção de ameaça ou uso da força
Este primeiro princípio consagrado pela Resolução afirma que os Estados, em suas relações
internacionais, se abstêm de recorrer a ameaça ou uso da força ou qualquer outra forma incompatível com
os propósitos das Nações Unidas, contra a integridade territorial ou a independência política de outro
Estado. O uso da força será desta forma, ilegítimo, a não ser que seja aplicado como uma sanção
ordenada ou autorizada por um órgão ou organização internacional competente, ou seja, exercido como
ato lícito de legítima defesa.
Até o Pacto da Sociedade das Nações[425], o emprego da força pelos Estados era lícito. A força armada
era descrita como um recurso de última instância que os Estados podiam utilizar discricionariamente
como meio para solucionar as controvérsias ou para alcançar outros fins de apoio à sua diplomacia. O
pacto introduziu limitações parciais no direito dos Estados de recorrer à guerra, deliberando:
Pacto da Sociedade das Nações
Decreto nº 13.990 (12.01.1920)
As Altas Partes Contratantes
Considerando que, para desenvolver a cooperação entre as Nações e para lhes garantir a paz e a
segurança, importa:
aceitar certas obrigações de não recorrer à guerra; (...)
Adoptam o presente Pacto que institui a Sociedade das Nações. (...)
Artigo 12
Todos os Membros da Sociedade convêm que, se entre eles houver um litígio que possa trazer
rompimento, o submeterão ao processo de arbitragem ou ao exame do Conselho. Convêm mais
que, em nenhum caso, deverão recorrer à guerra antes de expirar o prazo de três meses depois
da sentença dos árbitros ou do parecer do Conselho.
Em todos os casos previstos neste artigo a sentença dos árbitros deverá ser dada num prazo
razoável e o parecer do Conselho deverá ser lido nos seis meses, a contar da data em que tiver
tomado conhecimento da divergência.
Outro instrumento, o Tratado de Renúncia à Guerra[426], também conhecido por Pacto Briand-Kellog ou
Pacto de Paris condenou veementemente o recurso da guerra para a solução das controvérsias
internacionais, renunciando a ela como instrumento de política nacional, em suas mútuas relações,
consagrando o princípio da solução pacífica dos litígios internacionais, conforme infra:
Tratado de Renúncia à Guerra
Artigo I
As Altas Partes contratantes declaram solenemente, em nome dos respectivos povos, que
condenam o recurso à guerra para a solução das controvérsias internacionais, e á ela renunciam
como instrumento de política nacional nas suas mútuas relações.
Artigo II
As Alta Partes contratantes reconhecem que o ajuste ou a solução de todas as controvérsias ou
conflitos qualquer natureza ou origem, que se suscitem entre elas: nunca deverá ser procurado
senão por meios pacíficos.
Proíbe-se não apenas o uso, mas também a ameaça do uso da força, esclarecendo-se tratar, nesse caso,
da força armada, e não de outras formas de pressão econômica ou política.[427] As represálias armadas, a
agressão indireta[428] e o uso da força contra povos que exercem seu direito à livre determinação também
são consideradas ilegítimas.
b) Solução pacífica dos litígios internacionais
Segundo a Resolução 2625, os Estados solucionarão suas controvérsias por meios pacíficos, de tal
maneira que não se ponha em perigo nem a paz e seguridade internacional, nem a justiça. Estes devem
buscar uma solução rápida e justa mediante: negociação; investigação; mediação; conciliação;
arbitragem; solução judicial; recurso a organismos ou sistemas regionais; ou, outros meios pacíficos que
eles próprio elejam.
A solução pacífica das controvérsias se baseará na igualdade soberana dos Estados e se fará conforme
o princípio de livre eleição destes meios e, mesmo que não consigam obter sucesso por nenhum desses
meios, os Estados deverão sempre tentar buscar solucionar suas controvérsias de forma pacífica.
c) Não-intervenção em assuntos de jurisdição interna
Pela Resolução 2625, instituiu-se a obrigação de não intervir nos assuntos que são de jurisdição
interna dos Estados. Nesse sentido, nenhum Estado ou grupo de Estados tem o direito de intervir direta ou
indiretamente nos assuntos internos ou externos de nenhum outro Estado, seja qual for o motivo. Tal
princípio aplica-se não apenas contra a intervenção armada, mas também a qualquer outra forma de
ingerência ou de ameaça atentatória à personalidade do Estado ou seus elementos políticos, econômicos
e culturais.
Tal princípio, originário dos Estados latino-americanos, contou com uma resistência inicial por
parte dos Estados Unidos, que afirmavam que este princípio vincular-se-ia apenas à ONU. Esta posição
não logrou êxito, pois, ao proclamar a igualdade soberana dos Estados, a Carta das Nações Unidas
proíbe que um Estado se ingira nos assuntos internos de outro. Para Aréchaga, grande parte da noção
clássica de não-intervenção foi absorvida pela proibição de recorrer à ameaça e ao uso da força.[429]
d) Cooperação
Institui-se ainda, pela Resolução 2625, a obrigação dos Estados de cooperar entre si –
independente da diferença de seus sistemas políticos, econômicos e sociais –, nas diversas esferas das
relações internacionais, afim de manter a paz e segurança internacional e de promover a estabilidade e
progresso da economia mundial, o bem estar geral das nações e a cooperação internacional livre de toda
discriminação baseada nessas diferenças.
e) Igualdade de direitos e livre determinação dos povos
Manifesta-se por meio da necessidade de levar em consideração os desejos livremente expressos
pelos povos, segundo expresso na Resolução n. 2.625 in fine:
Em virtude do princípio da igualdade de direitos e da livre determinação dos povos, consagrado na
Carta das Nações Unidas, todos os povos têm direito de determinar livremente, sem ingerência
externa, sua condição política, e de procurar seu desenvolvimento econômico, social e cultural e
todo o Estado tem o dever de respeitar este direito, em conformidade com as disposições da
Carta.
Durante muitos anos, a livre determinação dos povos era considerada mais como um postulado
político-moral do que um princípio jurídico propriamente dito. A partir de 1945, tal princípio se
converteu na principal base jurídica do processo de descolonização, culminando com a Declaração
sobre a Independência dos Povos Coloniais, instituída pela Resolução n. 1.514 (XV), de 1960.
Aréchaga afirma que nenhum pretexto de boa administração, de moderna eficiência ou de benévolo
paternalismo pode compensar a injúria intolerável que se comete quando se negam direitos políticos a
toda uma raça, não existindo hoje Estado que seja capaz de invocar a legitimidade do título colonial ou
que questione abertamente o requerimento de que todo o poder deve ser transferido aos povos dos
antigos territórios coloniais, sem qualquer discriminação[430].
A livre determinação fundamenta-se na consulta à vontade popular, podendo, dessa forma, ser
garantida inclusive em territórios que não tenham alcançado completamente sua autonomia, como no caso
dos Estados Associados, como se observa no seguinte excerto da Resolução nº 2.625:
O estabelecimento de um Estado soberano e independente, a livre associação ou integração com
um Estado independente ou a aquisição de qualquer outra condição política livremente decidida
por um povo constituem formas de exercício do direito de livre determinação deste povo.
Tal princípio sofre restrições ligadas ao fato de se considerar se certa população constitui ou não em
um povo ou se viola o princípio do respeito à integridade territorial e à unidade nacional dos Estados, ao
fomentar movimentos insurretos e de secessão que poderiam levar a uma fragmentação dos Estados.[431]
Autoriza-se, por fim, os Estados a darem apoio moral e material aos povos que estejam lutando pelo seu
direito à livre determinação.
f) Igualdade soberana
Autores como Eduardo Hornedo afirmam ser a soberania “fictícia”, uma vez que jamais pode
cumprir-se em termos de igualdade em um mundo pleno de desigualdades de todo o gênero, sendo uma
das maiores mentiras políticas que se possa imaginar e resultando em um conceito inteiramente estéril
do ponto de vista da produção e contribuição dos países para o progresso e desenvolvimento social
dos Estados débeis e atrasados[432].
Para Yusuf[433], a ideia de igualdade entre os Estados com o princípio geral de Direito
Internacional é um resultado da própria noção de soberania, que emergiu, após o colapso do Império
Sacro Romano, com a idéia de Estado nacional, consagrado no Tratado de Osnabrück (um dos que
compuseram a Paz de Westfália), apesar de a doutrina de igualdade entre os Es tados soberanos só ter
surgido com os jusnaturalistas Pufen dorf e Vatel. Nesse sentido, apesar da ideia de igualdade cor res -
ponder, para os jusnaturalistas, a um direito natural, a desi gualdade entre os Estados tem levado alguns
juristas não só a expres sa rem dúvida acerca da existência de tal princípio, mas, também, a negarem a
sua existência por completo. Segundo o mesmo autor, uma distinção normalmente feita na doutri na é
entre igualdade legal (“equality before the law”) e capacidade legal para exercer direitos (“equal
capacity for rights”), ou seja, entre o fato de serem as mesmas regras aplicáveis a todos os Estados
(igualdade legal) e o fato de que todos os Estados devem possuir os mesmos direitos e as mesmas
obrigações (capacidade legal para exercer direitos), insinuando que todos os Estados têm direitos
iguais ou idênticos, mas que nem todos possuem uma oportunidade igual para a aquisição de direitos.
Encerra sua abordagem afirmando que a Carta das Nações Unidas ignora, em seu artigo 1º, § 2º, a
capacidade legal dos Estados para exercer direitos, pois, apesar de o princípio tra dicional de
igualdade não ter sido abandonado, foi de tal forma “modificado” que o tratamento igual de Estados
desiguais (igualdade formal e abstrata) termina por eliminar as reais desigualdades que existem entre
esses mesmos Estados, já que a igualdade entre Estados e até mesmo entre indivíduos só poderá ser
exercida quando houver algum grau de comparação patrimonial entre eles.[434]
g) Cumprimento em boa-fé das obrigações contraídas pelos Estados
Pela Resolução 2625, todo Estado tem o dever de cumprir de boa-fé as obrigações por ele
contraídas em acordos internacionais, desde que não sejam contrárias as assumidas com a ONU, em
virtude dos princípios e normas de Direito Internacional geral.
Segundo Charles Rousseau,[435] teríamos princípios comuns à ordem jurídica interna e à ordem jurídica
internacional. Os primeiros seriam os princípios gerais de direito propriamente ditos, os quais se
dividem em: princípios relativos ao nascimento das obrigações, como o das obrigações nascidas de atos
unilaterais; princípios relativos à execução das obrigações, como o pacta sunt servanda; princípios
relativos ao exercício de direitos, como o do abuso de direito e respeito ao direito adquirido; princípios
relativos à extinção das obrigações, como o da prescrição liberatória. Os princípios especiais da ordem
jurídica internacional, ou princípios gerais de Direito Internacional,[436] seriam os princípios aplicáveis
especificamente às relações entre Estados que se distinguiriam tanto das regras convencionais quanto dos
costumes e seriam:
a) Primado do Direito Internacional sobre a lei interna: tal princípio foi qualificado como
geralmente reconhecido em Direito das Gentes pela Corte Permanente de Justiça Internacional – CPJI,
por meio do Aviso Consultivo (Avis Consultif) relativo às comunidades greco-búlgaras, de 31.07.1930.
b) Respeito à independência dos Estados: estabelecido pelo Caso Dorten do Tribunal de
Comércio de Luxemburgo, em 08.03.1930.
c) Continuidade dos Estados: reconhecido na sentença arbitral no Caso Tinoco, em 18.10.1923.
d) Responsabilidade internacional: cujo princípio geral de que a indenização deveria ser
apreciada a partir da data de realização efetiva do prejuízo, surge a partir da Sentença Arbitral no Caso
Florestas do Rhodope (Grécia), em 29.03.1933[437].
e) Patrimônio comum da humanidade: surgiu a partir da Declaração da Assembleia Geral da
ONU sobre os princípios que regulam os Fundos Marinhos e Oceânicos – Resolução n. 2.749 (XXV), de
17.12.1970, que o enunciou da seguinte forma:
Nenhum Estado nem pessoa, natural ou jurídica, reivindicará, exercerá ou adquirirá direitos com
respeito à zona ou seus recursos, que sejam incompatíveis com o regime internacional que há de
estabelecer-se e com os princípios da presente Declaração.
Por fim, devemos destacar que a própria Constituição Brasileira consagra uma série de princípios
gerais de Direito Internacional a balizarem nossas relações internacionais, senão vejamos:
Constituição da República Federativa do Brasil
Art. 4º - A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos
seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único - A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política,
social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-
americana de nações.
3. JURISPRUDÊNCIA E DOUTRINA
Estatuto da Corte Internacional de Justiça
Artigo 38
1. A Corte, cuja função é decidir de acordo com o Direito Internacional as controvérsias que lhe
forem submetidas, aplicará: (...)
d) sob ressalva da disposição do art. 59, as decisões judiciárias e a doutrina dos juristas mais
qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito.
Artigo 59
A decisão da Corte não tem força vinculativa senão para as partes em litígio e em relação a esse
caso concreto.
De acordo com o art. 38, I, d, do Estatuto da CIJ, jurisprudência e doutrina funcionam como meio
auxiliar. Assim sendo, não seriam normas de expressão de Direito, mas instrumentos úteis ao seu correto
entendimento e aplicação, objetivando uma boa interpretação da norma internacional.
3.1 Jurisprudência
Trata-se, a priori, das decisões judiciais originárias da própria Corte Internacional de Justiça – CIJ,
mas inclui, ainda, decisões judiciais de outros tribunais internacionais, decisões arbitrais, pareceres da
CIJ, laudos e relatórios dos diversos mediadores das comissões de conciliação internacional, apesar de,
segundo o artigo 59 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, a decisão não ser obrigatória senão
para as partes em litígio e em relação a esse caso específico, ou seja, os tribunais internacionais não são
obrigados a seguir as decisões judiciais anteriores[440].
Aréchaga, citando Ross, afirma que uma sentença constitui o “pulso da vida do Direito”, em que entra
em jogo a análise de suas fontes[441].
Para Virally, é por meio de tais decisões que os princípios gerais de Direito se incorporam à prática
do Direito Internacional, apesar de não terem força vinculante para outros tribunais[442].
Brownlie, aceitando o fato de que um corpo jurisprudencial coerente terá, naturalmente, consequências
jurídicas importantes, pondera que, em bom rigor, a jurisprudência não constitui uma fonte formal, mas,
pelo menos em alguns exemplos, é considerada uma prova autorizada do estado do Direito[443].
3.2 Doutrina
A Doutrina no Estatuto da Corte, artigo 38, reflete um pensamento eurocêntrico quando afirma que
válida é a doutrina dos juristas mais qualificados, os quais seriam, é claro, os europeus. Atualmente, é
muito difícil obter-se o consenso doutrinário, pelo fato de haver muitos novos entes na Sociedade
Internacional, por isso, a doutrina é raramente invocada na CIJ. Quando é citada, restringe-se aos votos
vencidos, nos quais a doutrina é denominada “opinião geral” ou “doutrina dominante”.
4. EQUIDADE E ANALOGIA
Não são propriamente fontes de direito, mas métodos de raciocínio jurídico, utilizados quando há
lacunas nas normas ou inexistência de normas que disciplinem o assunto. Não são obrigatórias para os
sujeitos de Direito Internacional e são muito pouco utilizadas em tribunais internacionais
4.1 Equidade
Estatuto da Corte Internacional de Justiça
Artigo 38
1. A Corte, cuja função é decidir de acordo com o Direito Internacional as controvérsias que lhe
forem submetidas (...).
2. A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de decidir uma questão ex aequo
et bono, se as partes com isto concordarem.
Para Charles Rousseau, a equidade é a aplicação dos princípios de justiça a um determinado caso[444] e
deriva de dois sistemas: do romano-germânico (surgido a partir da Lei Aebutia destinada a combater o
excesso do formalismo jurídico) e do common law (originária da jurisdição do chanceler, fundada não no
costume ou na lei escrita, mas sim nos imperativos de consciência).
Para o sistema romano-germânico, a equidade só vale como solução de litígio se as partes
expressamente concederem poderes ao juiz[445] para que decida com base nela. O artigo 2º do Estatuto da
CIJ também prevê essa necessidade. Já Akehurst afirma que juízes ou árbitros podem sempre utilizar a
equidade para “interpretar” ou “preencher lacunas” no Direito, mesmo sem expressa autorização para tal
feito, não podendo, contudo, tomar uma decisão em que a equidade se “sobreponha” a todas as outras
normas, a não ser que para isso sejam expressamente autorizados[446].
Caso um processo seja julgado única e exclusivamente com base na equidade, sem concordância das
partes envolvidas, será nulo por excesso de competência/poderes. A não concessão de poderes para se
decidir com base na equidade esteve em tela quando do julgamento, pela Corte Permanente de
Arbitragem, da Arbitragem Abyei – Governo do Sudão/GoS vs. Movimento/Exército de Libertação do
Povo Sudanês/SPLM/A[447] –, pelo qual, em 22 de julho de 2009, se decidiu:
A função essencial dos Peritos ABC era alcançar uma decisão concludente com respeito aos
limites da Área Abyei, até mesmo face à escassa evidência factual.
O mero fato de que o ABC tenha sido designado “Comissão de Limite” (Boundary Comission)
não esclarece por si só a natureza do mandato do ABC. Historicamente, diversos órgãos, com
diferentes títulos estiveram dotados da tarefa específica de demarcar limites.
Como outras comissões de limite, o ABC é melhor considerado como uma entidade singular, cuja
natureza é derivada de suas próprias e específicas características.
O Apendice Abeyei prescreve uma composição própria do ABC, incluindo 5 representantes do
Governo do Sudão, 5 representantes do Movimento/Exército de Libertação do Povo Sudanês, e 5
representantes independentes, coletivamente nomeados pelo Governo do Reino Unido e dos
Estados Unidos (...) indivíduos conhecidos e reconhecidos nos campos da história africana e
sudanesa, política, administração pública, etnografia e cultura.
(...) nenhuma Parte expressou qualquer objeção relativa à composição dos Peritos ABC antes da
apresentação do Relatório à Presidência de Sudanesa. Ambas Partes participaram dos
procedimentos perante os Peritos ABC Peritos, e não se buscou impugnar a credibilidade ou
competência de qualquer do indivíduo [Peritos ABC] nem a integridade dos procedimentos a
qualquer hora enquanto os Peritos ABC estavam realizando o seu trabalho.
Enquanto muitas das características do ABC são diferentes da maioria dos tribunais arbitrais,
outros aspectos dos procedimentos os associavam a corpos adjucatórios.
(...) a função do ABC não pode ser dissociada do processo de paz sudanês (...) as partes eram
incapazes de chegar a um acordo sobre o local preciso do limite entre o norte e o sul do país na
área de Abyei. Na ausência de tal acordo submeteram esta tarefa ao ABC.
Dada às características singulares do ABC, a maioria da Corte não encontrou dificuldades em
concluir que este tem poder de decisão. Embora as Partes não requeressem a aplicação do
Direito Internacional ou um raciocínio legal para a delimitação da Area Abyei, estas demandaram
que os Peritos chegassem a uma decisão que solucionaria o litígio. É esta capacidade decisória
que, na visão da maioria, é a característica do ABC.
(...) quando um arbitro é envolvido por diversos pedidos independentes e, consequentemente,
toma diversas decisões, a nulidade de uma não interfere nas demais pois, como no presente caso,
não está em questão a integridade e boa-fé do árbitro. (...)
c) Limite Oriental
Em relação à decisão dos Peritos ABC, estes excederam o seu mandato. O limite oriental deve
permanecer como estava definido no dia 1º de janeiro de 1956.
4.2 Analogia
Consiste em fazer valer para determinada situação de fato a norma jurídica concebida para aplicar-se a
uma situação semelhante. Esta, por si só, não pode suprir as lacunas do direito, não constando sequer do
enunciado do art. 38 da Corte Internacional de Justiça.
Não se pode construir pela analogia restrições à soberania dos Estados, nem obrigar um Estado ou ente
da Sociedade Internacional a submeter-se a determinado juízo internacional.
5. ATOS UNILATERAIS
Para Rousseau,[451] os atos unilaterais são a manifestação de vontade de um sujeito de Direito
Internacional suficiente para produzir efeitos jurídicos.
São espécie do gênero ato jurídico internacional, sendo definido por von Liszt como a declaração de
vontade encaminhada a produzir um efeito internacional (criação, modificação, extinção de uma relação
jurídica), devendo ser feita por órgão estatal devidamente autorizado para tal, declarando-se de uma
maneira expressa ou tácita ou por meio de atos manifestos[452]. Para Virally, devem ser atos jurídicos de
significação internacional ou, em outras palavras, atos realizados com a intenção de afetar as relações
jurídicas internacionais[453].
Para ter eficácia, o ato unilateral deve atender as seguintes condições:
a) Deve ser público, de conhecimento da Sociedade Internacional;
b) Seu autor ou criador deve ser um Estado Soberano ou outro sujeito de Direito
Internacional[454];
c) O seu conteúdo deve ser materialmente possível e não proibido por norma peremptória de
Direito Internacional (jus cogens)[455];
d) Deve haver intenção do Estado que elabora esse ato de se obrigar. Não é possível fazer-
se ato unilateral obrigando outro Estado.
Os atos unilaterais podem ser:
i. Tácitos
ii. Expressos
Há outras organizações internacionais, por outro lado, cuja eficácia das decisões depende mais da
vontade política de seus membros que de um fator jurídico. Esse é o caso da ONU, mesmo tendo em sua
carta constitutiva o seguinte dispositivo:
Carta das Nações Unidas
Artigo 10. A Assembleia Geral poderá discutir quaisquer questões ou assuntos que estiverem
dentro das finalidades da presente Carta ou que se relacionarem com as atribuições e funções de
qualquer dos órgãos nela previstos e, com exceção do estipulado no artigo 12, poderá fazer
recomendações aos Membros das Nações Unidas ou no Conselho de Segurança, ou a êste e
àqueles, conjuntamente com referência a qualquer daquelas questões ou assuntos.
Artigo 39. O Conselho de Segurança determinará a existência de qualquer ameaça à paz, ruptura
da paz ou ato de agressão, e fará recomendações ou decidirá que medidas deverão ser tomadas
de acordo com os artigos 41 e 42, a fim de manter ou estabelecer a paz e a segurança
internacionais.
Virally justifica tal posição afirmando que, como consequência do princípio da soberania, tais
resoluções geralmente não têm força obrigatória para os membros das Nações Unidas, necessitando,
desta forma, serem aprovadas em nível estatal interno, como concluímos da leitura do Decreto[462], infra:
Decreto n. 6.735 – 12.01.2009
Dispõe sobre a incorporação, ao ordenamento jurídico nacional, da Resolução n. 1.835,
de 27 de setembro de 2008, do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a qual mantém
as sanções previstas nas Resoluções nos 1.737 (2006), 1.747 (2007) e 1.803 (2008)
daquele Conselho.
Art. 1º Fica incorporada ao ordenamento jurídico nacional a Resolução no 1.835 (2008), adotada
pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas em 27 de setembro de 2008, anexa a este
Decreto.
Art. 2º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
ANEXO
O Conselho de Segurança,
Tomando nota do Relatório do Diretor Geral da Agencia Internacional de Energia Atômica, de 15
de setembro de 2008, sobre a implementação do Acordo de Salvaguardas sob o TNP e dos
dispositivos pertinentes das resoluções do Conselho de Segurança (GOV/2008/3 8),
Reafirmando seu compromisso com o Tratado sobre a Não-proliferação de Armas Nucleares
(TNP),
1. Reafirma a Declaração de seu Presidente, S/PRST/2006/l 5, de 29 de março de 2006, e suas
resoluções 1696 (2006), de 31 de julho de 2006; 1737 (2006), de 23 de dezembro de 2006; 1747
(2007), de 24 de março de 2007; e 1803 (2008), de 3 de março de 2008;
2. Toma nota da Declaração dos Ministros de Relações Exteriores da Alemanha, da China, dos
Estados Unidos da América, da Federação da Rússia, da França e do Reino Unido, endossada
pelo Alto Representante da União Européia, que descreve a abordagem dual para a questão
nuclear iraniana;
3. Reafirma seu compromisso, nesse contexto, com uma pronta solução negociada para a
questão nuclear iraniana e acolhe os esforços contínuos que têm sido feitos nesse sentido;
4. Exorta o Irã a que cumpra integralmente e sem demora com suas obrigações em
conformidade com as resoluções do Conselho de Segurança supramencionadas e a que
cumpra com as exigências da Junta de Governadores da AIEA;
5. Decide continuar ocupando-se ativamente da questão.
(grifos nossos)
As resoluções da Assembleia Geral que incorporam declarações de direitos ou de princípios não são,
por si mesmas, atos criadores de novas normas de Direito Internacional, vendo-se, por exemplo, as
Resoluções n. 217A (III) – Declaração Universal dos Direitos Humanos, n. 1.386 (XVI) – Direitos das
Crianças e n. 1.962 (XVIII) – Regime Jurídico do Espaço Exterior, pois a Assembleia Geral não tem
poder legislativo[463].
Kelsen, todavia, já nos alertava para o fato de que mesmo sendo tais atos considerados sob alguns
aspectos inconstitucionais, poderíamos afastar o princípio ex injuria jus non oritur (o direito não pode
se originar de um ato ilegal) para admitir, em casos extraordinários, que a norma fosse criada em
violação a um direito preexistente, como no caso da legitima defesa coletiva, tornada efetiva pela Reso-
lução de 25 de junho de 1950, do Conselho de Segurança, com relação à Guerra da Coréia[464].
6.1 Classificação
a) Direito primário: origina-se dos tratados, ou seja, da competência que os Estados delegaram
diretamente para as organizações internacionais.
b) Direito secundário: atos que se originam dos órgãos criados no seio das organizações
internacionais.
7. SOFT LAW
Após o surgimento de normas superiores à vontade dos Estados (jus cogens), emerge outro tipo de
norma que ainda está em fase de aceitação e compreensão, denominada de soft law. Esta tem, na
crescente atuação da diplomacia multilateral criando regras cujo descumprimento não acarreta nenhum
tipo de sanção, seu ponto de partida, mas, paulatinamente, por meio da flexibilização de regras
processuais locais, ampliam seus limites de atuação, avançando em temas polêmicos, transformando-se,
gradativamente, em hard law. Por exemplo, pela aceitação no STF, de determinado documento em
italiano sem tradução oficial, ou por um Juiz Federal, de determinado extrato bancário suíço em alemão.
Segundo Salem Nasser, o surgimento da soft law estaria diretamente relacionado à evolução da
violência (real e simbólica) do movimento de descolonização, bem como à luta pela construção de uma
nova ordem econômica mundial, que não poderia aguardar nem uma gradual e demorada construção dos
novos costumes ou recrutar as vontades dos que discordavam dos novos rumos, para a celebração de
tratados internacionais sendo, desta forma, o resultado da busca de novos modos de criar um direito
diferente, encontrando nas Resoluções da Assembleia Geral, notadamente a “Declaração e Programa de
Ação sobre a instauração de um Nova Ordem Econômica Internacional” e a “Carta dos Direitos e
Deveres Econômicos dos Estados” as primeiras expressões deste fenômeno, que se relaciona com a
mutação do costume internacional, mas com ele não se confunde. O fenômeno da soft law manifesta-se de
duas maneiras distintas no Direito Internacional ou no conjunto mais amplo da regulação normativa,
jurídica e não jurídica. O primeiro desses meios ou mecanismos é o que se poderia chamar de soft law
material ou substancial relacionada às características substanciais das normas jurídicas, às obrigações
por elas criadas, à sua precisão, ou bem às consequências de suas violações. As normas do Direito
Internacional, especialmente as contidas nos tratados internacionais, serão consideradas soft se
possuírem uma ou várias das seguintes características: disposições genéricas de modo a criar princípios
e não propriamente obrigações jurídicas; linguagem ambígua ou incerta impossibilitando a identificação
precisa de seu alcance; conteúdo não exigível, como simples exortações e recomendações; ausência de
responsabilização e de mecanismos de coercibilidade (tribunais). O Direito Internacional do
Desenvolvimento, assim como outros ramos do direito internacional, é um domínio em que proliferam
essas expressões de uma normatividade relativa, uma vez que a combinação da necessidade da ação
centrada no longo prazo e a complexidade dos problemas, ligada tanto à sua dimensão propriamente
técnica ou social, quanto aos interesses divergentes, faz com que surjam em abundância as soluções de
compromisso, em que os Estados se “obrigam” a colaborar, a trabalhar em conjunto e a envidar esforços,
enunciam princípios gerais, e valem-se de ambiguidades. A segunda forma de soft law, no entanto é a que
mais apresenta interesse e é a que está mais conectada com a transformação dos modos de produzir
direito internacional, que consiste na tese de que se pode criar Direito Internacional por meio de
mecanismos soft, implicando, no fundo, a revolução no campo das fontes desse direito. Esses
mecanismos consistem em instrumentos concertados que não são, a priori, obrigatórios. Desses
instrumentos, o exemplo histórico mais marcante, e talvez o mais relevante até hoje, é o das Resoluções
da Assembleia Geral da ONU. De fato, o traço comum que caracteriza algumas dessas Resoluções, os
chamados gentlemen’s agreements, algumas atas finais, comunicados conjuntos, códigos de conduta, e
tantos outros, tão comuns no universo do direito do desenvolvimento, está no fato de serem, todos eles,
instrumentos que resultam da atividade diplomática dos Estados, mas aos quais estes últimos não
quiseram atribuir caráter obrigatório (no sentido de vinculante). A qualificação desses instrumentos como
sendo de soft law vem de que eles são vistos como portadores de um direito que ainda não é, mas virá a
ser[465].
Capítulo 7
RELAÇÕES ENTRE O
DIREITO INTERNO E O DIREITO
INTERNACIONAL
Direito Interno é a designação técnica que os internacionalistas costumam atribuir ao Direito nacional
de um Estado. O Direito Internacional não ignora totalmente o Direito Interno. No entanto, tem como
regra geral que um Estado não pode invocar uma norma ou uma lacuna do seu Direito Interno como
defesa em face de uma reivindicação baseada no Direito Internacional.[466] É o que preconiza o artigo 27
da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (1969):
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados
Artigo 27
Direito Interno e Observância de Tratados
Uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para justificar o inadimplemento
de um tratado. Esta regra não prejudica o artigo 46[467].
A questão das relações entre o Direito Internacional e o Direito Interno envolve, primeiramente, a
discussão relativa à existência ou não de conexão entre ambos, podendo ainda gerar muitos problemas de
ordem prática, especialmente se, havendo um conflito entre eles, decidir qual dos dois prevalecerá.
Assim sendo, segundo Virally, surgiram duas correntes: a escola do dualismo, que sustenta que os
sistemas são totalmente distintos e incapazes de qualquer penetração mútua, e a dos monistas, que
considera ambos os direitos unidos dentro do marco de um ordenamento jurídico global[468].
1. CONCEPÇÃO DUALISTA
Para Rousseau, a concepção dualista considera o Direito Internacional e o Direito Interno como dois
sistemas de direito iguais, independentes e separados, sem se confundir jamais[469]. Jackson considera que
dualismo significa que tratados não se tornam parte do Direito Interno[470].
Em verdade, não há conexão entre os sistemas jurídicos (Direito Interno e Direito Internacional), nem
conflitos entre eles, por serem noções jurídicas diferentes, que caracterizam sistemas jurídicos
independentes.
Para essa concepção, o Direito Interno, fundamentado na autoridade constitucional, regula as relações
dos indivíduos entre si e dos indivíduos com o sistema estatal em que estão inseridos. Já o Direito
Internacional, fundamentado na norma pacta sunt servanda, regula as relações entre os Estados da
Sociedade Internacional. Para Barroso, nesta ordem de ideias, um ato internacional qualquer, como um
tratado normativo, somente operará efeitos em âmbito interno de um Estado se uma lei vier incorporá-lo
ao ordenamento jurídico positivo. Os autores se referem a esta lei com "ordem de execução"[471]. Assim,
enquanto o Direito Internacional teria fundamento na vontade individual ou comum dos Estados, possuiria
a finalidade de reger as relações entre aqueles e seria um direito fundado em bases coordenativas, o
Direito Interno teria fundamento exclusivo na vontade soberana e unilateral do Estado nacional (que o
elabora), possuiria a finalidade de reger as relações entre as pessoas estabelecidas no território estatal e
seria um direito fundado na ideia de subordinação[472].
1.2 Críticas
i. Não há inserção de outros sujeitos de Direito Internacional (organizações internacionais e
pessoa humana). Tal concepção somente leva em conta o Estado como sujeito de Direito
Internacional.
ii. Tal teoria não é suficiente para explicar, por si só, a obrigatoriedade dos costumes
internacionais.
iii. A diferença essencial entre a norma internacional e a norma interna não é de natureza
(conteúdo), mas de estrutura. Direito Internacional e Direito Interno regem sociedades de estrutura
diferentes, tornando o Direito das Gentes bem mais individualista e menos solidário que o Direito
Interno. O Direito Internacional é um Direito de Coordenação, enquanto o Direito Interno é um
Direito de Subordinação[475].
iv. Atualmente temos normas internacionais (decisões das cortes internacionais e de diversas
organizações internacionais) diretamente aplicáveis aos sujeitos de Direito Internacional,
independentemente de serem incorporadas ao sistema jurídico interno.
Tal concepção, apesar de ultrapassada, ainda é adotada por alguns Estados da Sociedade Internacional
e chegou até a ser consagrada pelo Ministro Celso Mello, enquanto relator em decisão envolvendo a
Carta Rogatória , expedida pela Justiça da República da Argentina com a finalidade de viabilizar a
efetivação, em território brasileiro, de atos de caráter executório, donde destacamos o excerto abaixo:
Supremo Tribunal federal – STF
Carta Rogatória nº 8279 (17/06/1998)[476]
Relator: Celso de Mello
(...) impende destacar que o tema concernente à definição do momento a partir do qual as
normas internacionais tornam-se vinculantes no plano interno excede, em nosso sistema jurídico,
à mera discussão acadêmica em torno dos princípios que regem o monismo e o dualismo, pois
cabe à Constituição da República- e a esta, somente - disciplinar a questão pertinente à vigência
doméstica dos tratados internacionais. Sob tal perspectiva, o sistema constitucional brasileiro -
que não exige a edição de lei para efeito de incorporação do ato internacional ao direito interno
(visão dualista extremada) - satisfaz-se, para efeito de executoriedade doméstica dos tratados
internacionais, com a adoção de iter procedimental que compreende a aprovação congressional e
a promulgação executiva do texto convencional (visão dualista moderada).
De qualquer maneira, impõe-se aguardar, no caso ora em análise, a definitiva incorporação, ao
sistema de direito positivo interno brasileiro, do Protocolo de Medidas Cautelares aprovado no
âmbito do MERCOSUL, sem o que esse ato de direito internacional público não poderá ser
aplicado, no âmbito doméstico, pelas autoridades nacionais. Assim sendo, e tendo em
consideração as razões expostas, nego exequatur à presente carta rogatória.
2. CONCEPÇÕES MONISTAS
Não há duas ordens jurídicas autônomas, independentes e não derivadas. Segundo Kelsen,[477] o Direito
Internacional e o nacional não regulam a conduta de distintos sujeitos, mas ambos regulam a conduta de
indivíduos. O que os diferencia é a técnica de regulação (o Direito Internacional é criado pela
colaboração de dois ou mais Estados, enquanto o Direito Interno é criado pela “vontade” de um Estado,
ou seja, pelos seus órgãos). Fora isso, a ideia do Estado como um corpo no espaço que tem um “interior”
e um “exterior” é apenas uma imagem.
Há uma única ordem jurídica que, nas palavras de Jackson, tende a incorporar os acordos
internacionais na lei interna sem a intervenção de posteriores atos governamentais[478].
Nesse sentido, a discussão que se coloca é acerca da prevalência da ordem internacional sobre a
ordem interna ou vice-versa, uma vez que este sistema jurídico se baseia no princípio da subordinação.
Bahia[479] afirma que, quando se considera a norma interna violadora de disposição de Direito
Internacional como fato a causar consequências de natureza internacional (sanção internacional), tem-se o
monismo internacionalista, ao revés, quando é a norma internacional considerada como mero fato
incapaz, por si só, de qualquer consideração quanto a sua eficácia, tem-se o monismo nacionalista.
2.1 Monismo com Primazia do Direito Interno[480]
Tem raízes em Hegel, que afirmava a presença de um Estado com soberania absoluta. Essa concepção,
proposta por autores da Escola de Bonn, do porte de Kaufmann e Wenzel,[481] influenciou a formação de
movimentos como o nazifascismo.
Por essa corrente, há soberania absoluta do Estado que não está sujeito a nenhum sistema jurídico que
não tenha surgido de sua própria vontade. O fundamento do Direito Internacional é a autolimitação que o
Estado dá à manifestação de sua vontade. O Direito Internacional não passaria de um Direito Estatal
Externo, partindo da suposição de que regula as relações do Estado com o “exterior”, as suas relações
com outros Estados[482].
Para Kelsen,[483] a hipótese da primazia do Direito nacional é um paralelo da filosofia subjetivista, que,
a fim de compreender o mundo, parte do próprio ego do filósofo e interpreta o mundo como a vontade e a
ideia do sujeito. Essa filosofia jurídica é incapaz de compreender outros Estados como iguais ao Estado
do filósofo, ou seja, como seres jurídicos que também sejam soberanos. Desse modo, segundo os que
pressupõem a primazia do Direito nacional, a soberania do Estado implica em este não ser sempre
obrigado por tratados que firmou com outros estados ou em não poder ser submetido à jurisdição de um
tribunal internacional ou então em não poder ser obrigado contra a sua vontade por resoluções
majoritárias de órgãos colegiados internacionais – o Direito positivo demonstra que todas as asserções
acima são incorretas.
2.1.1 Críticas
i. A concepção nega a própria existência do Direito Internacional como sistema jurídico
autônomo e independente.
ii. Tal concepção não estaria de acordo com a prática internacional. Caso estivesse de acordo
com essa prática, qualquer mudança na vontade de um Estado, como no caso de um golpe de Estado,
ocasionaria a ruptura de todos os tratados anteriormente celebrados, o que não ocorre. De acordo
com o princípio da continuidade dos Estados, estes devem respeitar os tratados já celebrados[484].
iii. Como já salientado nas críticas ao dualismo, os Estados não são os únicos sujeitos de
Direito Internacional. Mesmo que o fossem, a ordem jurídica do Estado singular apenas deve
estatuir os seus atos de coerção específicos para o espaço de validade que nesse Direito lhe é
reservado. Esses atos de coerção apenas podem ser estabelecidos sem ofensa do Direito
Internacional dentro desse espaço[485].
Como se verificou por meio da análise do RE 80.004/77, no Brasil, adota-se a tese de que a
promulgação de uma norma internacional a nacionaliza, incorporando-a ao sistema brasileiro,
concluindo-se, então, que, se ela entrar em desacordo com outros preceitos legislativos ou executivos
nacionais tratar-se-á apenas de um conflito de leis no tempo a ser solucionado segundo os preceitos da
Lei de Introdução ao Código Civil. Se a norma brasileira for posterior ao compromisso assumido
internacionalmente, este se vê revogado, caracterizando-nos, dessa forma, como monistas com primazia
do direito interno, ressalvada a ocorrência de antinomias entre o conteúdo normativo dos tratados e a
legislação interna brasileira[486].
Autores há que procuram descaracterizar tal posição, identificando o Brasil como partidário do
Dualismo[487]. Valemo-nos, todavia, dos ensinamentos de Xavier para rebater tal posição uma vez que,
não se deve invocar a necessidade de publicação para a eficácia dos tratados na ordem interna como
manifestação de uma entorse à pureza do princípio monista, pois da essência do princípio monista é
apenas que os tratados valham como tal, mantendo a sua natureza, e não a dispensa de formalidades
internas para a sua eficácia plena. Os autores de inspiração dualista, que insistem em ver nos atos
internos de referendo ou promulgação instrumentos de “transformação” dos tratados em lei interna, não
conseguem explicar por que é que um tratado internacional, ainda que referendado e promulgado, só entra
em vigor a partir dos procedimentos exigidos pelo Direito Internacional Público, eventualmente
posteriores àqueles atos, e ainda porque é que perde a sua força internamente, quando é denunciado ou
revogado nos termos do Direito Internacional[488].
Mesmo tendo nossa Constituição consagrado, em diversos artigos, o comprometimento do Estado
brasileiro com a ordem internacional, o STF reafirma o entendimento de autoridade da norma interna
sobre a internacional, como verificamos ao analisar a liminar da ADI nº 1480, cujos excertos
apresentamos abaixo:
Supremo Tribunal Federal – STF
Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.480-DF
Relator: Celso de Mello
... É na Constituição da República – e não na controvérsia doutrinária que antagoniza monistas e
dualistas – que se deve buscar a solução normativa para a questão da incorporação dos atos
internacionais ao sistema de direito positivo interno brasileiro. (...)
No sistema jurídico brasileiro, os tratados ou convenções internacionais estão hierarquicamente
subordinados à autoridade normativa da Constituição da República. (...)
O exercício do treaty-making power, pelo Estado brasileiro – não obstante o polêmico art. 46 da
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (ainda em curso de tramitação perante o
Congresso Nacional) –, está sujeito à necessária observância das limitações jurídicas impostas
pelo texto constitucional. (...)
No sistema jurídico brasileiro, os atos internacionais não dispõem de primazia hierárquica sobre as
normas de direito interno. A eventual precedência dos tratados ou convenções internacionais
sobre as regras infraconstitucionais de direito interno somente se justificará quando a situação de
antinomia com o ordenamento doméstico impuser, para a solução do conflito, a aplicação
alternativa do critério cronológico (lex posterior derogat priori) ou, quando cabível, do critério
da especialidade. (...)
O primado da Constituição, no sistema jurídico brasileiro, é oponível ao princípio pacta sunt
servanda, inexistindo, por isso mesmo, no direito positivo nacional, o problema da concorrência
entre tratados internacionais e a Lei Fundamental da República, cuja suprema autoridade
normativa deverá sempre prevalecer sobre os atos de direito internacional público.
Como assevera Magalhães, fica-se, pois, com a convicção de que, ao decidir que tratado revoga lei e
que esta revoga tratado, mesmo não tendo sido denunciado, o STF faz incorrer a responsabilidade do
Estado brasileiro perante a ordem internacional e os compromissos assumidos pelo país,[489]posição esta
compartilhada por Barroso segundo o qual a derrogação do tratado pela lei não exclui eventual
responsabilidade internacional do Estado, se este não se valer do meio institucional próprio de extinção
de um tratado, que é a denúncia[490].
3. TEORIAS CONCILIADORAS[498]
Propostas pelos doutrinadores espanhóis Antonio de Luna, Navarro, Miaja de la Muela e Truyol y
Serra. Para eles, teríamos dois sistemas jurídicos autônomos coordenados pelo Direito natural. Teríamos,
então, a prevalência do Direito natural sobre o Direito Interno e o Direito Internacional.
Patrícia Henriques Ribeiro afirma que outras teorias também devem ser citadas como integrantes das
conciliadoras, dentre elas a de Kaufman que fala em ideia de Direito, que é a mesma nos dois
ordenamentos jurídicos, unindo-os, existindo princípios de Direito natural que pertencem a uma ordem
superior e que se impõem onde o Direito é aplicado. Todavia, conclui que, na realidade, essas teorias
afirmam o primado do Direito Internacional, pois também admitem a responsabilidade internacional do
Estado quando uma norma interna viola o ordenamento jurídico internacional[499].
3.1 Críticas
i. Tais teorias não explicam de que forma as ordens jurídicas seriam coordenadas.
ii. Ao admitirem a possibilidade da ação de responsabilidade internacional, são contraditórias,
pois dá primazia ao Direito Internacional.
iii. Não foram ainda incorporadas por nenhum sistema jurídico.
4. POSIÇÃO DA DOUTRINA
Como verificamos, não há uma posição doutrinária consensual acerca da forma de relacionamento
entre Direito Interno e Direito Internacional e muito menos sobre a prevalência de um sobre outro.
Segundo Kelsen, a sua oposição baseia-se na diferença de dois sistemas de referências diversos. Um
está solidamente vinculado com a ordem jurídica do nosso próprio Estado, o outro com a ordem jurídica
internacional. Os dois sistemas são igualmente corretos e igualmente justificados. É impossível, com
base numa consideração de ciência jurídica, decidir por um deles. A ciência jurídica apenas pode
apresentar os dois e verificar que um ou outro dos sistemas de referência tem de ser aceito quando se
pretenda definir a relação entre Direito Internacional e Direito estadual[500]. Todavia, somente a ordem
jurídica internacional, e não qualquer ordem jurídica estadual é soberana, pois, se as ordens jurídicas
estaduais ou as comunidades jurídicas por elas constituídas, os Estados, são designadas como
“soberanas”, isso significa simplesmente que elas se encontram subordinadas à ordem jurídica
internacional, que nesses termos são imediatas[501].
Como assevera Bahia,[502] em qualquer dos dois casos, tem-se uma vigência internacional e uma
vigência interna, não simultâneas, e dois âmbitos de validade distintos, para evitar, assim, a confusão
advinda do uso das expressões “monismo” e “dualismo”.
5. PRÁTICA INTERNACIONAL
A prática internacional é quase unânime em consagrar a primazia do Direito Internacional sobre o
Direito Interno, excetuando-se os países islâmicos, governos fortes e ditatoriais e o antigo governo
soviético[503].
Segundo Virally, os tribunais da maioria dos Estados procuram evitar os conflitos interpretando o
Direito Interno de maneira que não contradiga o Direito Internacional[504].
Veremos a seguir a prática de alguns Estados, sempre considerando a grande alteração da ordem
jurídica internacional após a década de 1980 (nova ordem internacional).
5.1 Itália
Em princípio, adotou o regime dualista, posteriormente substituído pela teoria da primazia do Direito
Interno, no regime fascista. Ao perder a guerra, houve a imposição da Constituição de 1947, com
limitações à sua soberania, em nome da paz e da justiça entre as nações. Tal Constituição previa, em seu
artigo 107º, que a ordem jurídica interna devia se conformar com as normas de Direito Internacional
geralmente aceitas e que toda norma interna posterior e contrária aos tratados internacionais deveria ser
considerada inconstitucional pelo Tribunal Constitucional italiano. Caso não fosse considerada
inconstitucional por esse tribunal, prevaleceria.
Após a sua inserção na União Européia, o Acórdão Granital, de 1984, afirmou que a norma
comunitária não poderia ser derrogada em hipótese alguma (nem por reforma constitucional). Não
competiria ao Tribunal Constitucional italiano afirmar se a norma é inconstitucional ou não.
5.2 Alemanha
A Constituição de Weimar, em seu artigo 4º, afirmava que as normas do Direito Internacional
universalmente aceitas vigorariam como Direito Interno alemão (noção dualista)[505].
Com o Nazismo, prevaleceu o monismo com primazia do direito interno. No conflito, prevaleceria a
norma posterior, que obviamente era de direito interno alemão.
Pela “Lei Fundamental”, de 1949, as normas de Direito Internacional teriam valor superior ao das
normas internas. Os conflitos porventura originados por norma interna posterior e contrária à norma
internacional seriam solucionados pelo Tribunal Constitucional Federal.
Com a União Européia, o Acórdão Solange determinou que não caberia ao Tribunal Constitucional
Federal alemão analisar a constitucionalidade de uma lei com a lei comunitária.
5.5 Argentina
Após a Reforma Constitucional de 1994, consagra também o monismo com primazia do Direito
Internacional, não podendo, dessa forma, um tratado ser revogado por lei ordinária interna a ele
posterior, havendo hipóteses em que tratados, por ter hierarquia constitucional, só possam ter eficácia ou
ser denunciados se aprovados por 2/3 de ambas as câmaras, como se verá a seguir:
Constitución de la Nación Argentina
Capítulo IV
Atribuciones Del Congreso
Artículo 27. El gobierno federal está obligado a afianzar sus relaciones de paz y comercio con las
potencias extranjeras por medio de tratados (...).
Artículo 31. Esta constitución, las leyes de la Nación que en su consecuencia se dicten por el
Congreso y los tratados con las potencias extranjeras, son la ley suprema de la Nación (...).
Articulo 75. Corresponde al Congreso:
22. Aprobar o desechar tratados concluidos con las demás naciones y con las organizaciones
internacionales y los concordatos con la Santa Sede. Los tratados y concordatos tienen jerarquía
superior a las leyes.
La Declaración Americana de los Derechos y Deberes Del Hombre; la Declaración Universal
de Derechos Humanos (...) en las condiciones de su vigencia, tienen jerarquía constitucional (...).
Sólo podrán ser denunciados, en su caso, por el Poder Ejecutivo nacional, previa aprobación de
las dos terceras partes de la totalidad de los miembros de cada Câmara.
Los demás tratados y convenciones sobre derechos humanos, luego de ser aprobados por el
Congreso, requerirán del voto de las dos terceras partes de la totalidad de los miembros de cada
Câmara para gozar de la jerarquia constitucional.
24. Aprobar tratados de integración que deleguen competencias y jurisdicción a organizaciones
supraestatales en condiciones de reciprocidad e igualdad (...). Las normas dictadas en su
consecuencia tienen jerarquía superior a las leyes.
Segundo Ruiz,[510] se uma lei derroga ou modifica unilateralmente um tratado, será uma lei
inconstitucional, já que afeta o artigo 27 da Constituição argentina. Além do mais, a Corte Suprema, a
partir do Caso Ekmekdjian c/ Sofovich, de 7 de julho de 1992, concluiu que o Direito Internacional tem
prioridade sobre o Direito Interno e que o congresso não poderia, constitucionalmente, derrogar, por
meio de lei, um tratado internacional, como se observa ao analisar alguns excertos da decisão:
Corte Suprema de Justicia de la Nación – CSJN
Ekmekdjian, Miguel A. c/ Sofovich, Gerardo y otros
(...) La derogación de un tratado internacional por una ley del Congreso violenta la distribución de
competencias impuesta por la misma Constitución Nacional, porque mediante una ley se podría
derogar el acto complejo federal de la celebración de un tratado. Constituiría un avance
inconstitucional del Poder Legislativo nacional sobre atribuciones del Poder Ejecutivo nacional,
que es quien conduce, exclusiva y excluyentemente, las relaciones exteriores de la Nación (...)
(...) La Convención de Viena sobre el derecho de los tratados – aprobada por ley 19.865,
ratificada por el Poder Ejecutivo nacional el 5 de diciembre de 1972 y en vigor desde el 27
de enero de 1980 – confiere primacía al derecho internacional convencional sobre el derecho
interno. Ahora esta prioridad de rango integra el ordenamiento jurídico argentino. La
convención es un tratado internacional, constitucionalmente válido, que asigna prioridad a los
tratados internacionales frente a la ley interna en el ámbito del derecho interno, esto es, un
reconocimiento de la primacía del derecho internacional por el propio derecho interno.
(...) La necesaria aplicación del art. 27 de la Convención de Viena impone a los órganos del
Estado argentino asignar primacía al tratado ante un eventual conflicto com cualquier norma
interna contraria o con la omisión de dictar disposiciones que en sus efectos, equivalgan al
incumplimiento del tratado internacional en los términos del citado art. 27.
(...) Cuando la Nación ratifica un tratado que firmó com outro Estado, se obliga
internacionalmente a que sus organos administrativos y jurisdiccionales lo apliquen a los supuestos
que esse tratado contemple (...).
No que concerne aos tratados de integração, temos que as referidas competências e hierarquias só
serão válidas se houver reciprocidade e igualdade entre os Estados, exigindo-se para tal maioria
absoluta da totalidade dos membros de cada uma das câmaras.[511]
Capítulo 8
APLICAÇÃO DO DIREITO
ESTRANGEIRO
Da reciprocidade esperada por um Estado em relação a outro é que deriva a unidade do Direito
Internacional, não no sentido da uniformidade de preceitos jurídicos de ordem privada, e sim no da
aceitação ou recepção por todos os Estados de preceitos da legislação estrangeira em seu território,
regulando, por iniciativa própria, por exemplo, a situação jurídica do estrangeiro. Trata-se, segundo
Diniz,[512] da competência internacional que determinará o poder do tribunal de um Estado para conhecer
o litígio que se lhe submete e para prolatar sentença em condições de receber o exequatur[513] em outro
país. Cada Estado, ao delimitar sua competência internacional, deverá considerar dois princípios
fundamentais:
a) Efetividade – estabelece ser o juiz incompetente para proferir decisão que não tenha
possibilidade de ser executada.
b) Submissão – estabelece que, em certas hipóteses mais ou menos limitadas, uma pessoa poderá
sujeitar-se, voluntariamente, a uma jurisdição a que não estaria normalmente submetida.
Continuando o seu raciocínio, a mesma autora afirma que não se poderá falar tecnicamente em norma
de competência internacional, pois o que realmente há é o direito de um Estado recusar sua competência
quando um determinado fato não tiver qualquer relação com a jurisdição local ou quando, pelo domicílio
das partes litigantes ou situação dos bens, o tribunal verifique que não terá meios para executar sua
decisão.[514]
Ao aplicar o direito estrangeiro, o magistrado deverá atentar para a lei estrangeira na sua totalidade,
sendo-lhe, porém, facultado determinar diligências para apuração do teor, vigência e interpretação de tal
direito. As autoridades aplicarão o direito estrangeiro da mesma forma que ele seria aplicado pelos
juízes do Estado cuja lei é aplicada sem prejuízo do direito das partes de pleitear e provar a existência e
o conteúdo da lei estrangeira invocada, ou seja, lex loci execuciones/locus regit actum.
1. NATUREZA JURÍDICA
Alguns autores, como Batiffol, consideram a lei estrangeira fato, vale dizer, quando o juiz aplicar o
direito estrangeiro, não o aplicará da mesma forma que aplicaria a sua própria lei, pois só analisaria o
que seria admitido em fato (sein = ser/procura o que é).
Já outros autores, do porte de Dolinger, afirmam que o juiz deverá aplicar a lei estrangeira ex officio,
independentemente da invocação das partes, já que a sua obrigação é julgar cada ação de acordo com o
direito que a rege (sollen = dever ser).
2. PROVA
A preocupação com a prova da lei estrangeira já se fazia presente na Convenção de Direito
Internacional Privado dos Estados Americanos – Código de Bustamante –, como considerado abaixo:
Código de Bustamante
Decreto nº 18.871 (13.08.1929)
Art. 398. A lei que rege o delito ou a relação de direito, objeto de ação cível ou comercial,
determina a quem incumbe a prova.
Art. 402. Os documentos lavrados em cada um dos Estados contratantes terão nos outros o
mesmo valor em juízo que os lavrados neles próprios, se reunirem os requisitos seguintes:
1. Que o assunto ou matéria do ato ou contrato seja lícito e permitido pelas leis do país onde foi
lavrado e daquele em que o documento deve produzir efeitos.
2. Que os litigantes tenham aptidão e capacidade legal para se obrigar conforme sua lei pessoal.
3. Que ao se lavrar o documento se observem as formas e solenidades estabelecidas no país
onde se tenham verificado os atos ou contratos.
4. Que o documento esteja legalizado e preencha os demais requisitos necessários para a sua
autenticidade no lugar onde dele se faça uso.
Art. 409. A parte que invoque a aplicação do direito de qualquer Estado contratante em um dos
outros, ou dela divirja, poderá justificar o texto legal, sua vigência e sentido mediante certidão,
devidamente legalizada, de dois advogados em exercício no país de cuja legislação se trate.
Art. 410. Cada Estado contratante se obriga a ministrar aos outros, no mais breve prazo possível,
a informação a que o artigo anterior se refere e que deverá proceder de um mais alto tribunal ou
de qualquer de suas câmaras ou seções, ou da procuradoria-geral ou da Secretaria ou Ministério
da Justiça.
Como se verificou nesse código, a prova poderá ser obtida tanto por via diplomática, por meio de
informações do mais alto Tribunal do Estado, seu Procurador-Geral ou Ministro da Justiça, ou por meio
de certidão legalizada de dois advogados em exercício no país cuja legislação se deseje conhecer. Pela
concepção anglo-saxã, deverá ser obtida por declaração escrita de profissionais da área, que podem até
ser convocados para deporem no processo.
Com relação ao ônus da prova, está desta forma estabelecido no ordenamento jurídico brasileiro:
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
Lei nº 12.376 (30.12.2010)
Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto
ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei
brasileira desconheça.
Art. 14. Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem a invoca prova do texto
e da vigência.
3. INTERPRETAÇÃO
Poderá ser feita por meio da recepção material (Anzilotti) em que há a incorporação e nacionalização
da norma estrangeira, tornando-se parte integrante do direito do foro, dessa forma sofrendo uma
interpretação local, ou pela recepção formal (Ago) em que, mesmo incorporando-se ao sistema jurídico
do foro, respeitaria o sentido que lhe seria dado pelo sistema jurídico estrangeiro ou, ainda, sem
qualquer incorporação ou integração ao regime jurídico do foro.
Pelo sistema de delibação, o processo homologatório da sentença estrangeira, que é sumário, visa
apenas o exame formal do cumprimento de certos requisitos previstos em lei. Assim o juízo competente,
em cuja sentença estrangeira deve ser executada, verifica se a sentença proferida no exterior atende a
certos requisitos legais, imprimindo-se valor formal de ato de soberania estatal ao conteúdo do ato
jurisdicional estrangeiro
Com a Emenda constitucional nº 45, de 08.12.2004, a competência para a homologação de sentença
estrangeira e concessão de exequatur às cartas rogatórias foi deslocada do Supremo Tribunal Federal
para o Superior Tribunal de Justiça, passando a ter a Constituição brasileira a seguinte redação:
Constituição da República Federativa do Brasil
Artigo 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I – processar e julgar originariamente
i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias;
Neste sentido, foi editada a Emenda Regimental nº 18, de 17 de dezembro de 2014, que inclui o Título
VII-A – Dos Processos Oriundos de Estados Estrangeiros, no Regimento Interno para disciplinar a
homologação de sentença estrangeira e a concessão de exequatur a carta rogatória – no Regimento Interno
do Superior Tribunal de Justiça – STJ.
Constituem requisitos indispensáveis à homologação de sentença estrangeira: haver sido proferida por
autoridade competente; terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado a revelia; ter
transitado em julgado; e estar autenticada pelo cônsul brasileiro e acompanhada de tradução por
intérprete autorizado – tradutor oficial ou juramentado – e não ofender a soberania nacional, a ordem
pública, os bons costumes e a dignidade da pessoa humana. Nesse sentido, dispõe a Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro e a Emenda Regimental nº 18/2014 do STJ:
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
Art. 15. Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reúna os seguintes
requisitos:
a) haver sido proferida por juiz competente;
b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia;
c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a execução no
lugar em que foi proferida;
d) estar traduzida por intérprete autorizado;
e) ter sido homologada pelo Superior Tribunal de Justiça.
Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade,
não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons
costumes.
Um dos aspectos que mais gera controvérsia é a identificação dos elementos constantes no artigo 17 da
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – ofensa à soberania nacional, a ordem pública e os
bons costumes –. Nesse sentido, na Sentença Estrangeira Contestada nº 5.493[516], o voto do Ministro
Felix Fischer do Superior Tribunal de Justiça – STJ, em 21 de setembro de 2011, manifestou:
Superior Tribunal de Justiça – STJ
Sentença Estrangeira Contestada nº 5.493 - US (2011/0125467-4)
Relator: Felix Fischer
Com a devida vênia, entendo que a d. Subprocuradoria-Geral da República, ao opinar pelo
indeferimento do presente pedido, deixou de apontar dados concretos que dessem suporte à tese
de que a homologação da presente sentença estrangeira resultaria em ofensa à ordem pública e à
soberania nacional (tais como: criar embaraços a eventuais obrigações contraídas em solo
brasileiro; dificultar a identificação de laços familiares, atrapalhar o andamento de ações
judiciais que por ventura pudessem estar em curso contra o ora requerente, v.g.).
A sentença estrangeira que se busca homologar foi proferida com fundamento nas leis vigentes
no direito norte-americano, lá encontrando o seu fundamento de validade. Ademais, a ausência
de previsão semelhante no ordenamento pátrio, além de não tornar nulo o ato estrangeiro,
não implica, no presente caso, ofensa à ordem pública ou aos bons costumes.
Assim, a toda evidência, não é a ausência de previsão legal no direito brasileiro que impede a
homologação da sentença estrangeira que altera o nome civil da pessoa com base na legislação
alienígena.
(...) não acarretará ofensa à ordem pública e à soberania nacional, pois, como já ressaltado, não
se trata de alteração de registro civil brasileiro, mas de homologação de sentença que, legalmente
fundada nas normas do país de origem, autorizou a mudança de nome civil do ora requerente.
Sendo assim, por vislumbrar presentes os requisitos indispensáveis à homologação do pedido e
por entender que a pretensão deduzida não ofende a soberania nacional, a ordem pública, nem os
bons costumes, voto no sentido de se homologar a presente sentença estrangeira.
(grifos nossos)
Na homologação de sentença estrangeira e na carta rogatória, a defesa somente poderá versar sobre
autenticidade dos documentos, inteligência da decisão e observância dos requisitos dessa resolução,
cabendo agravo regimental da decisão do Presidente do STJ[517]. Neste sentido, é o que destaca a Emenda
Regimental nº 18/2014 do STJ:
Superior Tribunal de Justiça - STJ
Emenda Regimental nº 18 (17.12.2014)
Art. 216-H. A parte interessada será citada para, no prazo de quinze dias, contestar o pedido.
Parágrafo único. A defesa somente poderá versar sobre a inteligência da decisão alienígena e a
observância dos requisitos indicados nos arts. 216-C, 216-D e 216-F.
5. CARTAS ROGATÓRIAS
É a solicitação feita pela Justiça de um país à de outro, por via diplomática, com a finalidade de se
fazer cumprir uma diligência necessária à formação ou instrução do pedido. Tem por finalidade:
a) efetuar citações, intimações e notificações;
b) a tomada de provas testemunhais ou depoimento pessoal;
c) a realização de prova pericial.
É, pois, uma forma de cooperação jurídica internacional no sentido de providenciar, no estrangeiro, o
cumprimento de medidas cientificatórias, atos ou diligências sem caráter executório (intimação, no-
tificação, citações, provas periciais, inquirições de testemunhas etc.), subordinando-se à lei do país
rogante, no que diz respeito ao conteúdo ou matéria de que é objeto, e à lei do país rogado, no tocante ao
procedimento, conforme destaca a Lei nº 12.376/2010:
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou
aqui tiver de ser cumprida a obrigação.
§ 2º A autoridade judiciária brasileira cumprirá, concedido o exequatur e segundo a forma
estabelecida pele lei brasileira, as diligências deprecadas por autoridade estrangeira competente,
observando a lei desta, quanto ao objeto das diligências.
Dessa forma, a rogatória deverá conter indicação exata das diligências que deverão ser realizadas e
cumpridas nos termos da diligência requerida sem quaisquer limitações ou ampliações.[519] Está assim
prevista no Código de Bustamante e na Portaria MRE nº 501/2012:
Código de Bustamante
Art. 388. Toda diligência judicial que um Estado contratante necessite praticar em outro será
efetuada mediante carta rogatória ou comissão rogatória, transmitida por via diplomática (...)
Portaria MRE nº 501 (21.03.2012)
Art. 7º - As cartas rogatórias deverão incluir:
I..indicação dos juízos rogante e rogado;
II..endereço do juízo rogante;
III..descrição detalhada da medida solicitada;
IV..finalidade a ser alcançada com a medida solicitada;
V..nome e endereço completos da pessoa a ser citada, notificada, intimada ou inquirida na
jurisdição do juízo rogado, e, se possível, sua qualificação, especificando o nome da genitora, data
de nascimento, lugar de nascimento e o número do passaporte;
VI..encerramento, com a assinatura do juiz; e
VII..qualquer outra informação que possa a ser de utilidade ao juízo rogado para os efeitos de
facilitar o cumprimento da carta rogatória.
§ 1º - No caso da medida solicitada consistir em interrogatório da parte ou inquirição de
testemunha, recomenda-se, sob pena de impossibilidade de cumprimento da medida, que as
cartas rogatórias incluam ainda:
a) texto dos quesitos a serem formulados pelo juízo rogado;
b) designação de audiência, a contar da remessa da carta rogatória ao Ministério da Justiça, com
antecedência mínima de:
(i) 90 (noventa) dias, quando se tratar de matéria penal; e
(ii) 180 (cento e oitenta) dias, quando se tratar de matéria cível.
§ 2º - No caso de cooperação civil, as cartas rogatórias deverão ainda incluir, quando cabível, o
nome e endereço completos do responsável, no destino, pelo pagamento das despesas
processuais decorrentes do cumprimento da carta rogatória no país destinatário, salvo as
extraídas das ações:
I. que tramitam sob os auspícios da justiça gratuita;
II. de prestação de alimentos no exterior, para os países vinculados à Convenção de Nova Iorque,
promulgada no Brasil pelo Decreto nº. 56.826, de 2 de setembro de 1965, nos termos do artigo 26
da Lei nº. 5.478 de 25 de julho de 1968;
III. da competência da justiça da infância e da juventude, nos termos da Lei nº. 8.069, de 13 de
junho de 1990.
A carta rogatória é enviada à autoridade estrangeira por via diplomática depois de traduzida por
tradutor oficial para a língua do país em que há de se praticar o ato e autenticada com a chancela consular
na origem.[520] Far-se-á a citação por edital quando o país se recusar a cumpri-la. Apresentamos abaixo
um modelo simplificado de carta rogatória:
CARTA ROGATÓRIA
Processo n.:
Juízo Rogante:
Juízo Rogado: Ao Juízo Competente de ....... (País Rogado) ou a quem suas vezes fizer e o
conhecimento desta deva pertencer.
O Exmo.(a) Sr.(a) Dr.(a) da Comarca de .............
FAZ SABER
À JUSTIÇA ........ que perante este Juízo se processam regularmente os atos e termos da ação
de ......, proposta por ..... contra ....., tudo de conformidade com as peças que seguem, as quais
ficam fazendo parte integrante desta rogatória.
FINALIDADE:
ADVERTÊNCIA: Não sendo oportunamente contestada a ação, presumir-se-ão aceitos como
verdadeiros os fatos articulados pelo autor, consoante previsão legal.
PRAZO PARA DEFESA: ......... dias, contados da juntada da presente rogatória devidamente
cumprida nos autos do processo.
ADVOGADO(A) DO(A) AUTOR(A): ..........
Assim, pelo que dos autos consta, expediu-se a presente, na qual roga a Vossa Excelência que,
após exarar o seu respeitável “CUMPRA-SE” digne-se determinar as diligências para o seu
inteiro cumprimento, com o que estará prestando relevantes serviços à Justiça, garantindo à
autoridade expedidora reciprocidade nos limites que a legislação brasileira e os tratados perti-
nentes permitirem.
Dada e passada nesta cidade e comarca de ...., ...... (UF), República Federativa do Brasil, aos ...
dias do mês de .... do ano de ...... Eu, ............ (nome), .......... (cargo), a digitei. Eu, ............
(nome), .......... (cargo), a conferi e subscrevo-a.
(Assinatura do Juiz)
Compete ao presidente do STJ conceder exequatur à carta rogatória de tribunais estrangeiros, cabendo
agravo de sua decisão. A defesa somente poderá versar sobre a autenticidade dos documentos, a
inteligência da decisão e a observância dos requisitos previstos no Regimento Interno do STJ. Em sendo
concedido o exequatur, ela será remetida para cumprimento ao Juízo Federal competente, cabendo
embargos ao Presidente do Superior Tribunal de Justiça – STJ das decisões deste. Tais critérios estão
dispostos abaixo:
Superior Tribunal de Justiça - STJ
Emenda Regimental nº 18 (17.12.2014)
Art. 216-O. É atribuição do Presidente conceder exequatur a cartas rogatórias, ressalvado o
disposto no art. 216-T.
§ 1º Será concedido exequatur à carta rogatória que tiver por objeto atos decisórios ou não
decisórios.
§ 2º Os pedidos de cooperação jurídica internacional que tiverem por objeto atos que não ensejem
juízo deliberatório do Superior Tribunal de Justiça, ainda que denominados de carta rogatória,
serão encaminhados ou devolvidos ao Ministério da Justiça para as providências necessárias ao
cumprimento por auxílio direto.
Art. 216-Q. A parte requerida será intimada para, no prazo de quinze dias, impugnar o pedido de
concessão do exequatur.
§ 1º A medida solicitada por carta rogatória poderá ser realizada sem ouvir a parte requerida,
quando sua intimação prévia puder resultar na ineficiência da cooperação internacional.
§ 2º No processo de concessão do exequatur, a defesa somente poderá versar sobre a
autenticidade dos documentos, a inteligência da decisão e a observância dos requisitos previstos
neste Regimento.
Art. 216-U. Das decisões do Presidente ou do relator na concessão de exequatur a carta
rogatória caberá agravo.
Art. 216-V. Após a concessão do exequatur, a carta rogatória será remetida ao Juízo Federal
competente para cumprimento.
§ 1º Das decisões proferidas pelo Juiz Federal competente no cumprimento da carta rogatória
caberão embargos, que poderão ser opostos pela parte interessada ou pelo Ministério Público
Federal no prazo de dez dias, julgando-os o Presidente deste Tribunal.
O “cumpra-se” ou sua denegação não produzirá coisa julgada formal. Logo, os pedidos poderão ser
renovados e as concessões revogadas quando se perceber, exemplificativamente, que, para processar e
julgar a causa, apenas a Justiça brasileira é competente[521].
Cumprida a carta rogatória, será devolvida ao presidente do STJ no prazo de 10 (dez) dias e por ele
remetida em igual prazo por meio do Ministério da Justiça ou do Ministério das Relações Exteriores à
autoridade judiciária de origem.
Superior Tribunal de Justiça - STJ
Emenda Regimental nº 18 (17.12.2014)
Art. 216-X. Cumprida a carta rogatória ou verificada a impossibilidade de seu cumprimento, será
devolvida ao Presidente deste Tribunal no prazo de dez dias, e ele a remeterá, em igual prazo, por
meio do Ministério da Justiça ou do Ministério das Relações Exteriores, à autoridade estrangeira
de origem.
Por fim, uma questão que se apresenta cada vez mais usual diz respeito aos limites da cooperação
jurídica internacional. O Ministério Público Federal – MPF brasileiro, por exemplo, fez 174 pedidos de
informações a 38 países, com o objetivo de subsidiar as investigações realizadas na Operação Lava
Jato[522]. No mesmo sentido, o Brasil recebeu outros 89 pedidos de 28 países que apuram fatos
relacionados ao caso. Em se tratando de cooperação jurídica internacional já se manifestaram os
tribunais brasileiros:
Superior Tribunal de Justiça - STJ
Accioly, sob influência de tal decisão, considera que sujeito do Direito Internacional é a entidade
jurídica que goza de direitos e deveres no plano internacional, com capacidade para exercê-los[528].
Kapoor apresenta, basicamente, três teorias que indicariam os sujeitos de Direito Internacional como:
a) Apenas os Estados – como resultado do triunfo do positivismo, paulatinamente, a partir
de fins do Século XVIII os indivíduos foram deixando de serem considerados sujeitos, passando a
figurar como objeto de Direito Internacional. Essa é a visão original de Oppenheim, para quem
desde que o Direito Internacional é primariamente um direito entre Estados, estes são, nesta
extensão, os únicos sujeitos de Direito Internacional. A principal crítica a esta posição é o fato de
que a Corte Internacional de Justiça, no Parecer sobre a Reparação por Danos sofridos a
Serviço das Nações Unidas, de 11 de abril de 1949, já considerou que tem a Organização das
Nações Unidas a capacidade para fazer uma reivindicação internacional contra um Estado, a fim
de obter reparação dos danos por ele causados tanto às Nações Unidas, quanto ao próprio
indivíduo enquanto este atue como seu agente.
b) Apenas os indivíduos – diametralmente oposta à anterior, considera apenas os indivíduos
como sujeitos de Direito Internacional, pois, para o Direito Internacional, as obrigações dos
Estados são, em última análise, obrigações dos indivíduos. Esta visão, todavia, não consegue
explicar a grande deficiência dos indivíduos em fazer valer a sua capacidade processual
internacional.
c) Estados, indivíduos e algumas entidades não estatais – esta terceira visão, não apenas
combina as duas anteriores, mas inclui as organizações internacionais e algumas entidades não
estatais como sujeitos de Direito Internacional. Sem dúvida, os Estados são ainda os principais
sujeitos e quem a conduta e relações são as principais preocupações do Direito Internacional,
mas, devido ao seu caráter variável, organizações internacionais, algumas entidades não estatais
e indivíduos são, também, sujeitos de Direito Internacional[529].
Pessoas internacionais são, concluindo, os destinatários das normas internacionais. Nesse sentido,
inserem-se os Estados, as organizações internacionais, alguns entes não estatais, a pessoa humana e,
modernamente, tem sido reivindicada a capacidade das empresas transnacionais e, em alguns casos, até
mesmo das organizações não-governamentais[530].
1. O ESTADO
É o contingente humano a viver sob alguma forma de regra mento dentro de certa área territorial[531].
Varella afirma que, entre os sujeitos, é o único que possui plena capacidade jurídica, ou seja,
habilidade de munir-se de direitos, de poderes e de obrigações. A priori, os Estados são iguais entre si
em direitos e obrigações, independentemente de suas qualificações; entretanto, na prática um número
restrito de Estados exerce maior autoridade sobre a Comunidade [Sociedade] Internacional[532].
Segundo Kelsen, o território de um Estado é, no sentido de se compreender os limites da jurisdição, o
espaço no qual seus órgãos estão autorizados pelo Direito Internacional a executar a ordem jurídica
nacional[533]. Depreende-se dessa noção que o território compreende o espaço onde o Estado exerce seu
poder soberano ao colocar em prática atos coercitivos, excluídos os demais Estados.
O Estado é uma realidade física – povo e território – e, desta forma, possui personalidade jurídica
originária. Dele emanam as normas que regulam as relações jurídicas e da manifestação de sua vontade
surgem os demais sujeitos de Direito com capacidade para atuar na Sociedade Internacional.
O Direito Internacional emana, primeiramente, da vontade dos Estados: os Estados que compõem o
sistema internacional ordenam-se por modos distintos, implícitos e explícitos, de coordenação e a
personalidade internacional dos Estados inclui tanto a capacidade para criar o direito quanto de estar
sujeito a este mesmo direito[534].
2. AS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS - OI
É definida da seguinte forma pela Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (1969):
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados
Decreto n° 7.030 (14.12.2009)
Artigo 2
Expressões Empregadas
1. Para os fins da presente Convenção:
i) "organização internacional" significa uma organização intergovernamental.
Uma vez que carece da dimensão material, da realidade física presente nos Estados, sua existência
apoia-se no tratado que a institui, fruto de elaboração negocial que resulta da manifestação da vontade
dos Estados na Sociedade Internacional sendo, por isso mesmo, uma realidade jurídica. Nesse sentido
sua personalidade só se concretizará a partir da entrada em vigor deste e só existirá enquanto este for
válido na Sociedade Internacional caracterizando, desta forma, o Princípio da Efetividade.
Para Seitenfus elas existem a partir da materialização de uma vontade cooperativa dos Estados,
sendo sujeitos mediatos ou secundários do Direito Internacional, porque dependem da vontade de seus
membros para a sua existência e para a concretude e eficácia dos objetivos por ela perseguidos[536].
O processo de reconhecimento das Organizações Internacionais como sujeitos de Direito Internacional
acompanhou o desenvolvimento e a importância que elas passaram a ter, principalmente a partir do fim
da Segunda Guerra, tendo como marco decisivo para tanto a criação da ONU. Na doutrina, três correntes
se manifestaram a respeito do assunto: a primeira concebia uma personalidade internacional plena e uma
competência geral para realizar todo tipo de atos internacionais, considerada essa tendência como
radical; a segunda, diametralmente oposta, é a corrente que rechaçava a ideia da subjetividade
internacional das OI, encarando-as como mera forma de atuação coletiva dos Estados; e, por último, a
terceira que defendia a personalidade internacional das organizações, sendo ela, no entanto, diferente da
dos Estados, uma vez que tal personalidade está adstrita às competências e objetivos fixados pelo seu
tratado constitutivo, sendo esta a tendência a que predomina.
Vallejo entende que é pelo exame das regras próprias de cada organização que será possível
determinar as competências internacionais que lhes têm sido atribuídas ou que se podem deduzir delas.
Do conjunto dessas competências se extrairá a personalidade jurídica internacional da qual goza cada
organização em concreto[537].
Quanto ao problema da oponibilidade de sua personalidade internacional, sedimentado está o
entendimento de que os tratados constitutivos atinentes valem perante terceiros Estados. Desta forma o
foi interpretado pela CIJ, no Parecer Consultivo sobre a Reparação dos Danos Sofridos a Serviço das
Nações Unidas, ao enfatizar:
Corte Internacional de Justiça – CIJ
Parecer Consultivo sobre a Reparação dos Danos Sofridos a Serviço das Nações Unidas
(...) a Carta conferiu à Organização direitos e deveres distinto daqueles conferidos a seus
membros.
(...) a Organização, como detentora de direitos e obrigações, tem uma larga medida de
personalidade internacional e de capacidade para operar no plano internacional, embora não seja
certamente um super-Estado.
(...) é dever da Organização manter a ordem, paz e segurança internacionais. De acordo com
esses princípios a Organização das Nações Unidas tem competência para operar num plano
internacional.
(...) a Organização tem competência para apresentar uma denúncia internacional contra um País
(quer seja ele membro ou não da organização) (...)
(...) os membros das Nações Unidas criaram uma entidade possuindo personalidade internacional
objetiva e não meramente uma personalidade reconhecida somente por eles.
Como bem assevera Vallejo, a crescente participação das organizações no cenário internacional unida
ao princípio da efetividade que inspira o Direito Internacional postulam em favor do reconhecimento
objetivo da personalidade internacional delas, tendo tal reconhecimento por parte do terceiro estado um
valor mais político que jurídico ou, em outros termos, mais declaratório que constitutivo[538].
Por fim, podemos considerar que os tratados que criam as organizações internacionais são mais
importantes para elas do que a Constituição para um Estado soberano. Isso porque se o tratado for extinto
a organização internacional deixará de ter existência jurídica na Sociedade Internacional, enquanto,
mesmo ainda não tendo Constituição (tábula rasa) ou estando com a mesma suspensa em função de um
Golpe de Estado, os Estados ainda são caracterizados enquanto tal, desde que apresentem os elementos
que os caracterizem: povo, território e poder soberano.
3. A PESSOA HUMANA
A Pessoa Humana passou a ter questionada a sua personalidade internacional como algo inerente à
Sociedade Internacional na medida em que a visão positivista, que consagrava os Estados como únicos
sujeitos de Direito Internacional, foi ganhando espaço e a reduziu, por fim, a mero objeto da manifestação
de vontade destes quando diversas normas nesse sentido passaram a ser aprovadas em conferências
internacionais. Como exemplo, podemos citar a Conferência Geral da Organização Internacional do
Trabalho que, em 28 de julho de 1930, aprovou a Convenção nº 29, sobre o Trabalho Forçado ou
Obrigatório e que instituiu:
Convenção nº 29 – Sobre o Trabalho Forçado ou Obrigatório
Decreto nº 41.721 (25.06.1967) - Revigorado pelo Decreto nº 95.461 (11.12.1987 )
Artigo 2º
1. Para fins desta Convenção, a expressão "trabalho forçado ou obrigatório" compreenderá todo
trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de sanção e para o qual não se tenha
oferecido espontaneamente.
Artigo 3º
Para os fins desta Convenção, o termo "autoridade competente" designará uma autoridade do
país metropolitano ou a mais alta autoridade central do território concernente.
Artigo 8º
1. Caberá á mais alta autoridade civil do território interessado a responsabilidade por qualquer
decisão de recorrer a trabalho forçado ou obrigatório. (...)
Artigo 11
1. Só adultos do sexo masculino fisicamente aptos, cuja idade presumível não seja inferior a
dezoito anos nem superior a quarenta e cinco, podem ser convocados para trabalho forçado ou
obrigatório. (...)
Com o fim da segunda Guerra Mundial e a criação da Organização das Nações Unidas esta, já em sua
Carta originária, expressou a necessidade de retomar a consideração jurídica internacional da
personalidade da pessoa humana, expressa da seguinte forma:
Carta das Nações Unidas
Decreto nº 19.841 (22.10.1945)
NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS
Resolvidos a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes no espaço
da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reanimar a fé nos direitos
fundamentais do homem na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direitos dos
homens e das mulheres (...)
Artigo 1
Os Propósitos das Nações Unidas são:
3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter
econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos
humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião;
e
4. Ser um centro destinado a humanizar a ação das Nações para a consecução desses objetivos
comuns.
Uma parcela considerável da doutrina, todavia, ainda nega a personalidade internacional da pessoa
humana sob a justificativa desta não poder se envolver, a título próprio, na produção do acervo
normativo internacional, somente se envolvendo enquanto representantes dos estados e organizações
internacionais. Além disso, não dispõe de prerrogativa ampla para reclamar nos foros internacionais, só
podendo fazê-lo quando houver vínculo de sujeição entre ela e o Estado Soberano ao qual está vinculada
pela sua nacionalidade. Tal posição não nem pacífica e muito menos por nós sustentada, pois, a partir do
momento em que há tribunais internacionais que aceitam diretamente suas reclamações entendemos que
esta poderá exercer sua personalidade internacional. É o que se verifica na Convenção Europeia de
Direitos Humanos, abaixo:
Convenção Europeia de Direitos Humanos
Artigo 34º
Petições individuais
O Tribunal [Corte] pode receber petições de qualquer pessoa singular, organização não
governamental ou grupo de particulares que se considere vítima de violação por qualquer Alta
Parte Contratante dos direitos reconhecidos na Convenção ou nos seus protocolos. As Altas
Partes Contratantes comprometem – se a não criar qualquer entrave ao exercício efectivo desse
direito.
No caso da jurisdição do Tribunal Penal Internacional, a previsão é a de que a pessoa humana possa
ser julgada na condição de ré, não lhe sendo facultada a possibilidade de propor uma ação, como se
verifica abaixo:
Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional
Decreto nº 4.388 (25.09.2002)
Artigo 1º
É criado, pelo presente instrumento, um Tribunal Penal Internacional ("o Tribunal"). O Tribunal
será uma instituição permanente, com jurisdição sobre as pessoas responsáveis pelos
crimes de maior gravidade com alcance internacional, de acordo com o presente Estatuto, e
será complementar às jurisdições penais nacionais.
Artigo 4º
1. O Tribunal terá personalidade jurídica internacional. Possuirá, igualmente, a capacidade jurídica
necessária ao desempenho das suas funções e à prossecução dos seus objetivos.
Artigo 5º
1. A competência do Tribunal restringir-se-á aos crimes mais graves, que afetam a comunidade
internacional no seu conjunto. Nos termos do presente Estatuto, o Tribunal terá competência para
julgar os seguintes crimes:
a) O crime de genocídio;
b) Crimes contra a humanidade;
c) Crimes de guerra;
d) O crime de agressão.
Artigo 12
1. O Estado que se torne Parte no presente Estatuto, aceitará a jurisdição do Tribunal
relativamente aos crimes a que se refere o artigo 5º.
2. Nos casos referidos nos parágrafos a) ou c) do artigo 13, o Tribunal poderá exercer a sua
jurisdição se um ou mais Estados a seguir identificados forem Partes no presente Estatuto ou
aceitarem a competência do Tribunal de acordo com o disposto no parágrafo 3º:
a) Estado em cujo território tenha tido lugar a conduta em causa, ou, se o crime tiver sido
cometido a bordo de um navio ou de uma aeronave, o Estado de matrícula do navio ou aeronave;
b) Estado de que seja nacional a pessoa a quem é imputado um crime. (...)
Artigo 13
O Tribunal poderá exercer a sua jurisdição em relação a qualquer um dos crimes a que se refere
o artigo 5o, de acordo com o disposto no presente Estatuto, se:
a) Um Estado Parte denunciar ao Procurador, nos termos do artigo 14, qualquer situação em
que haja indícios de ter ocorrido a prática de um ou vários desses crimes;
b) O Conselho de Segurança, agindo nos termos do Capítulo VII da Carta das Nações Unidas,
denunciar ao Procurador qualquer situação em que haja indícios de ter ocorrido a prática de um
ou vários desses crimes; ou
c) O Procurador tiver dado início a um inquérito sobre tal crime, nos termos do disposto no
artigo 15.
Artigo 15
1. O Procurador poderá, por sua própria iniciativa, abrir um inquérito com base em informações
sobre a prática de crimes da competência do Tribunal.
Artigo 34
O Tribunal será composto pelos seguintes órgãos: (...)
c) O Gabinete do Procurador;
(grifos nossos)
Uma exceção interessante registrou-se no Tribunal Internacional de Nuremberg, que condenou nazistas
por crimes contra a humanidade. Quando de sua instauração, houve muitos protestos dos juristas em
virtude de sacrifício da correta formulação do raciocínio jurídico em nome de imperativos éticos e
morais. Nele não foi levado em consideração que os militares nazistas cometeram atos ilícitos na ordem
jurídica internacional, mas lícitos na ordem jurídica nacional[539].
No caso das empresas transnacionais, há exceções interessantes que permitem a sua participação na
Sociedade Internacional:
a) Centro Internacional para Arbitragem de Disputas sobre Investimentos / International
Center for Settlement of Investment Disputes – ICSID: em 1965 foi concluída a Convenção para a
Resolução de Diferendos Relativos a Investimentos entre Estados e Nacionais de Outros Estados, sob a
égide do Banco Mundial, pela qual estabeleceu-se o Centro Internacional para Arbitragem de Disputas
sobre Investimentos – ICSID. Por essa Convenção, empresas transnacionais poderiam apresentar ao
Centro reclamações sobre os investimentos efetuados nos Estados, desde que tal jurisdição fosse por
estes aceita. Assim sendo, em havendo conflito entre o Estado e a empresa, tal seria julgado por um
tribunal arbitral. Apesar do Brasil não ser parte da Convenção, esta representa um importante avanço
nas relações entre Estados e Empresas Transnacionais, uma vez que envolve mais de 150 Estados
membros contratantes.
Nesse sentido, em outubro de 2012, um tribunal arbitral constituído junto ao ICSID condenou o
governo do Equador ao pagamento de mais de US$ 1,8 bilhão as empresa Occidental Petroleum
Corporation e Occidental Exploration Petroleum Company, por este ter anulado um contrato com a
empresa petrolífera, sob a alegação de esta não poderia alienar seus direitos a outra entidade sem
permissão governamental. O Tribunal, apesar de reconhecer que a empresa violou uma cláusula do
Contrato de Participação[543], decidiu que o Equador violou o Tratado entre Equador e Estados Unidos
sobre Promoção e Proteção Recíproca de Investimentos, ao não dar tratamento justo e equitativo ao
investimento da empresa e ao não concedê-la um tratamento mínimo conforme o Direito Internacional –
utilizando-se de medida equivalente à expropriação –[544].
b) Itaipu Binacional: é caso singular de empresa transnacional, que por artifício jurídico foi
constituída como pessoa jurídica de Direito Privado Binacional, em 1974[545]. As leis serão aplicadas de
acordo com a nacionalidade e domicílio das partes. Mesmo que um paraguaio trabalhe na parte bra-
sileira, será regido pelas leis trabalhistas paraguaias.
Tratado de Itaipu – Decreto nº 7.270 (28.08.1973)
ARTIGO III
As Altas Partes Contratantes criam, em igualdade de direitos e obrigações, uma entidade
binacional denominada ITAIPU, com a finalidade de realizar o aproveitamento hidrelétrico a que
se refere o Artigo I.
ARTIGO XI
§ 1º As Altas Partes Contratantes adotarão todas as medidas necessárias para que seus
nacionais possam empregar-se, indistintamente, em trabalhos efetuados no território de uma
outra, relacionados com objetivo do presente Tratado.
ARTIGO XIX
O foro da ITAIPU, relativamente às pessoas físicas ou jurídicas domiciliadas ou com sede no
Brasil ou no Paraguai, será, respectivamente, o de Brasília e o de Assunção.
ARTIGO XXI
A responsabilidade civil e/ou penal dos Conselheiros, Diretores, Diretores Adjuntos e demais
empregados brasileiros ou paraguaios da ITAIPU, por atos lesivos aos interesses desta, será
apurada e julgada de conformidade com o disposto nas leis nacionais respectivas.
Parágrafo único. Para os empregados de terceira nacionalidade proceder-se-á de conformidade
com a legislação nacional brasileira ou paraguaia, segundo tenham a sede de suas funções no
Brasil ou no Paraguai.
A prática internacional tem conferido a possibilidade das ONGs poderem participar, enquanto
observadoras, de Congressos e Conferências Internacionais. Foi o que ocorreu quando da realização da
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – Rio-92, quando, embora
destituídas do direito de deliberar, elas influíram nos debates tendo participação direta na elaboração da
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
Capítulo 10
OS ESTADOS
1. CONCEITO
Para von Liszt, no sentido do Direito Internacional, Estado é a pessoa jurídica independente dentro dos
limites de um território, é dizer, a comunidade humana que habita um território determinado e está
governada por um poder soberano independente.[549]
2. CLASSIFICAÇÃO
2.1 Estados Simples
Possuem poder único e centralizado, em que há uma maior força do governo central, como no caso da
França. O objetivo final de um Estado é sempre ser um Estado simples.
3.2 Povo
3.2.1 Povo v. População v. Nação
A População é expressão numérica do conjunto de pessoas que vivem num Estado, incluindo nacionais
e estrangeiros.
Já a Nação é a comunidade de base histórico-cultural, como no caso dos curdos, palestinos e ciganos.
Por fim, Povo é o conjunto de pessoas que se unem para constituir um Estado, criando um vínculo
jurídico-político de natureza permanente.
3.2.2 Nacionalidade v. Naturalidade v. Cidadania
Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que une o indivíduo ao Estado.
A Naturalidade é o vínculo material-geográfico. Nem sempre são naturais do Brasil aqueles que
possuem nacionalidade brasileira.
Já a Cidadania refere-se ao exercício de direitos políticos de determinado povo.
Nem sempre o nacional poderá exercer plenamente a cidadania, como no caso do naturalizado
brasileiro que não poderá, por exemplo, candidatar-se ao cargo de Presidente da República.
3.3 Território
É a porção da superfície do globo terrestre sobre a qual o Estado exerce seus direitos de soberania.
3.3.1 Formas
O Território apresenta-se das seguintes formas:
a) Território íntegro ou compacto: a porção da superfície da terra é compacta, como no caso do
Brasil. A maior parte dos Estados da Sociedade Internacional possuem território íntegro.
b) Território desmembrado ou dividido: a porção da superfície terrestre é formada por partes. É
o que acontece com o território dos EUA, que tem o Alasca separado do território dos demais Estados-
membros pelo Canadá.
c) Território encravado: cercado inteiramente pela superfície de outro Estado sem ter qualquer
saída para o mar, como no caso do Lesoto em relação à África do Sul, de San Marino e da cidade-Estado
do Vaticano em relação à Itália.
3.4 Domínios
O território dos Estados apresenta-se em diversos aspectos físicos, os chamados domínios, que podem
ser: terrestre, fluvial, lacustre, aéreo e marítimo, além do domínio público internacional[560].
3.4.1 Domínio Terrestre
Formado pelo solo e subsolo do Estado. O Estado tem o direito de marcar materialmente ou indicar
concretamente os seus limites. Os limites poderão ser naturais (arcifínios), que acompanham acidentes
geográficos do solo, ou artificiais (intelectuais ou matemáticos), que seguem uma linha astronômica.
A demarcação é o ato de assinalar a linha divisória de determinado Estado. Pode ser realizada
unilateralmente pelo Estado, mas somente será definitiva quando for aprovada pelos governos dos
Estados limítrofes.
Pode ser feita por postes, boias, balizas, marcos ou por acidentes geográficos do solo do Estado. Por
exemplo: pode ser estipulada em uma cordilheira, tanto pela linha de máxima altura (Europa, Alpes),
quanto por divisor de águas.
3.4.1.1 A demarcação na América Latina
Os traçados fronteiriços resultam de acontecimentos históricos ou de tratados entre os Estados. Na
América Latina, utilizou-se artifício jurídico original, também utilizado na demarcação africana e que é o
uti possidetis.
O uti possidetis é interdito possessório, criado no Direito Romano, com o objetivo de defender a
posse de determinado território. No caso da América Latina, antes de ele ser aplicado, tivemos dois
tratados que regulamentaram a sua demarcação territorial entre Portugal e Espanha.
Tratado de Tordesilhas
Celebrado em 1497, pela interferência do Papa, pondo fim ao litígio entre Espanha e Portugal. Por
esse tratado, tudo que fosse descoberto dentro do espaço de 370 léguas do arquipélago de Cabo Verde
seria de Portugal e a partir dessa distância seria território espanhol.
Tratado de Madri
Em 13.01.1750, foi feita uma revisão do Tratado de Tordesilhas por meio do Tratado de Madri,[561]
pelo qual, contrariando o Tratado de Utrecht (1715),[562] seria considerado português tudo o que havia
sido ocupado por Portugal até aquela data,[563] consagrando, pela primeira vez, o uti possidetis na
América e legalizando a ocupação e alargamento da colônia feito por bandeirantes, religiosos e colonos.
Formalmente, o Tratado de Madri foi substituído pelo Tratado de Santo Idelfonso (1777), pelo qual foi
feita uma revisão das fronteiras, conservando Portugal, para o Brasil, as fronteiras oeste e norte obtidas
pelo Tratado de Madri, deslocando a divisória sul para o leste, com a passagem de Sete Povos das
Missões à soberania espanhola. Em 1801, Portugal e Espanha travam a Guerra de las Naranjas, tendo
Portugal retomado o território dos Sete Povos e encerrado o conflito com a celebração do Tratado de
Badajós, que não revalidou o Tratado de Santo Idelfonso nem qualquer outro tratado de limites anterior.
Quando as nações hispano-americanas se libertaram do vínculo colonial, a partir de 1811, não havia,
pois, nenhum tratado em vigor sobre fronteira, firmando-se, pouco a pouco, a doutrina da não-validade
do Tratado de Santo Idelfonso e do conseqüente recurso ao uti possidetis.[564]
Em 1848, durante a Conferência de Lima, ao procurar uma saída para os conflitos demarcatórios nas
ex-colônias portuguesas e espanholas, tentou-se reavivar o uti possidetis, mesmo sabendo-se que este só
poderia ser utilizado em caso de conflito entre os Estados.[565] Apesar disso, os governantes de origem
espanhola decidiram fixar, como limites dos novos Estados, aqueles existentes à época do direito
colonial nas circunscrições administrativas espanholas. Tal argumento não foi aceito pelo representante
do Brasil (Barão do Rio Branco) que, em 1857, propôs a implantação do uti possidetis de fato, ou seja,
toda a porção da superfície terrestre que os novos Estados possuíssem até aquela data seria incorporada,
definitivamente, ao seu território, sendo esta a sua argumentação:
O Tratado de 1777 foi roto e anulado pela guerra superveniente, em 1801, entre Portugal e
Espanha, e assim ficou para sempre, não sendo restaurado pelo Tratado de Paz assinado em
Badajós aos 6 dias do mês de junho do mesmo ano. (...) O Governo de S.M. o Imperador do
Brasil, reconhecendo a falta de direito escrito para a demarcação de suas raias com os Estados
vizinhos, tem adotado e proposto as únicas bases razoáveis e equitativas que podem ser
invocadas: ‘uti possidetis’ onde esse existe e as estipulações do Tratado de 1777, onde elas se
conformam ou não, vão de encontro às possessões atuais de uma e outra parte contratante.[566]
RECONHECIMENTO DE
ESTADO E DE GOVERNO
1. RECONHECIMENTO DE ESTADO
É o ato pelo qual os Estados já existentes constatam a existência de um novo membro da Sociedade
Internacional.
O reconhecimento de Estado é feito, via de regra, a pedido do Estado que surgiu, o qual notifica as
potências da Sociedade Internacional, requerendo o reconhecimento.
Tal instituto teve importância fundamental até meados deste século, sendo considerado imprescindível
para a configuração do ente como Estado. Hoje, a maioria dos autores não considera imprescindível o
reconhecimento. Basta reunir as características essenciais (povo, território e soberania) para ser Estado.
1.1 Requisitos
a) Possuir governo independente e autônomo na conduta dos negócios estrangeiros (requisito
volátil).
b) O governo deve ter autoridade efetiva dentro de seu território, congregando as forças ali
existentes.
c) Deve possuir território delimitado.
Na Palestina houve grande preocupação de se realizar eleições para que o governo de Yasser Arafat
demonstrasse sua autoridade, podendo ser reconhecido como Estado (o reconhecimento da Palestina
como Estado é artificial).
1.2 Natureza Jurídica
1.2.1 Teoria Constitutiva (Openheim e Jellinek)
A personalidade do Estado seria constituída a partir do reconhecimento do Estado. Tal teoria justifica
a ideia de que o ente deveria primeiramente ser reconhecido pela Metrópole, refletindo um pensamento
eurocêntrico.
1.2.2 Teoria Declaratória (Scelle e Aciolly)
O reconhecimento é simples ato de constatação de um Estado preexistente. O ente seria Estado desde
que reunisse os elementos essenciais para tanto.
1.2.3 Teoria Mista (Lauterpacht)
Por um lado o reconhecimento constata um fato (elemento declaratório da teoria), mas por outro lado a
partir desse reconhecimento se estabelece uma relação de direitos e deveres desse novo Estado com
aquele que o reconhece.
1.3 Reconhecimento por Estado
É ato unilateral (manifestação da vontade de um único ente da Sociedade Internacional).
É ato irrevogável, mas não é perpétuo. Se o Estado perder os elementos que o caracterizam como tal,
deixará de sê-lo. Exemplo: A Ilha de Nauru, não terá mais território daqui a algum tempo, dada a
exploração de minerais ali existente.
É ato discricionário. O Estado faz o reconhecimento quando bem entende.
É ato retroativo, tendo em vista a teoria de que o reconhecimento é apenas uma constatação.
1.4 Reconhecimento por Organização Internacional
Somente prevalece perante a organização internacional, cuja personalidade jurídica é distinta da dos
Estados que a compõem, não obrigando os Estados-membros da organização internacional. Exemplo: O
reconhecimento pela ONU da Bósnia e Croácia não obriga o Brasil.
2. RECONHECIMENTO DE GOVERNO
O Estado já existe e torna-se necessário o reconhecimento de governo quando há ruptura na ordem
política do Estado em que há violação do sistema constitucional do Estado.
Para alguns autores franceses, o reconhecimento de governo somente seria obrigatório se houvesse
auxílio externo de outro Estado para que se modificasse a ordem constitucional do Estado.
Para a maioria dos autores, entretanto, o reconhecimento de governo é obrigatório sempre que há
mudança nele por meios inconstitucionais.
JURISDIÇÃO DO ESTADO
1.1 Nacionais
São as pessoas submetidas à autoridade direta do Estado, que, em contrapartida, lhes confere direitos
civis e políticos, estabelecendo, segundo Quoc Dinh,[572] um vínculo de fidelidade particular que as
subordina. O Estado pode, entre os diversos sujeitos de Direito Internacional, invocar esse vínculo a seu
favor.
2. NACIONALIDADE
Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que liga o indivíduo ao Estado, fazendo com que esse se
torne um componente do povo e o capacitando a exigir sua proteção, em contrapartida, o sujeita a
cumprir os deveres impostos pelo Estado a todos. É a qualidade inerente aos nacionais. Incumbe ao
direito interno de cada Estado a fixação de regras de nacionalidade. Akehurst define a nacionalidade
como a condição de uma pessoa pertencer a um Estado para fins de Direito Internacional.[573] Já para
Corte Internacional de Justiça – CIJ, em sua sentença de 18 de novembro de 1953, no Caso
Nottebohm[574]:
Corte Internacional de Justiça – CIJ
Caso Nottebohm (06.04.1955)
(...) nacionalidade é o vínculo legal tendo por base um fator social de ligação, uma conexão
genuína de existência, interesses e sentimentos, junto com a existência de direitos e deveres
recíprocos. Pode ser dito que para constituir a expressão jurídica deste fato, o indivíduo a quem
ele foi conferido, seja diretamente pelo Direito ou pelo resultado de um ato de autoridades, é na
realidade mais intimamente ligado com a população do Estado que lhe conferiu a nacionalidade
do que com a população de qualquer outro Estado.
Angola
Constituição de Angola (05.02.2010)
Art. 9º.
2. É cidadão angolano de origem o filho de pai ou de mãe de nacionalidade angolana, nascido em
Angola ou no estrangeiro.
iii. Sistema Misto: Combina os dois sistemas anteriores. Será nacional tanto aquele que nascer
no território do Estado quanto o que tem laços familiares com nacional do Estado. É o sistema que
prevalece em Estados que surgiram a partir do fim do Império Britânico – Austrália, África do Sul,
Canadá, Irlanda, dentre outros –, e Estados americanos que institucionalizaram exceções ao jus soli
– Bolívia, Estados Unidos, Venezuela, etc –.
Bolívia
Constitución de Bolivia (07.02.2009)
Artículo 141.
I. La nacionalidad boliviana se adquiere por nacimiento o por naturalización. Son bolivianas y
bolivianos por nacimiento, las personas nacidas en el territorio boliviano, con excepción de
las hijas y los hijos de personal extranjero en misión diplomática; y las personas nacidas en el
extranjero, de madre boliviana o de padre boliviano.
Venezuela
Constitución de la Republica Bolivariana de Venezuela (15.12.1999)
Artículo 32. Son venezolanos y venezolanas por nacimiento:
1. Toda persona nacida en territorio de la República.
2. Toda persona nacida en territorio extranjero, hijo o hija de padre venezolano y madre
venezolana por nacimiento.
(grifos nossos)
O Brasil, legalmente, é regido pelo jus soli,[580] mas há algumas exceções constitucionais que
determinam também o jus sanguinis.
Constituição da República Federativa do Brasil
Artigo 12. São brasileiros:
I – natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes
não estejam a serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço
da República Federativa do Brasil,[581]
c) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que sejam registrados em
repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem,
em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade brasileira, pela nacionalidade brasileira;
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
Artigo 95. Os nascidos no estrangeiro entre 7 de junho de 1994 e a data da promulgação desta
Emenda Constitucional. Filhos de pai brasileiro ou mãe brasileira, poderão ser registrados em
repartição diplomática ou consular brasileira competente ou em ofício de registro, se vierem a
residir na República Federativa do Brasil.(EC nº 54/2007)
Não há, dessa forma, qualquer restrição quanto à múltipla nacionalidade de brasileiros – polipatridia –
que possuam nacionalidade originária estrangeira em virtude de nascimento (jus soli) ou de ascendência
(jus sanguinis).
Nesse sentido, o Decreto nº 9.199/2017 que regulamentou a lei de Migração tratou de estabelecer
regras concernentes à opção pela nacionalidade brasileira.
Decreto nº 9.199 (20.11.2017)
Art. 213. A opção pela nacionalidade é o ato pelo qual o brasileiro nascido no exterior e
que não tenha sido registrado em repartição consular confirma, perante a autoridade
judiciária competente, a sua intenção de manter a nacionalidade brasileira.
§ 1º A opção de nacionalidade não importará a renúncia de outras nacionalidades.
§ 2º A opção de nacionalidade é ato personalíssimo e deverá ocorrer por meio de procedimento
específico, de jurisdição voluntária, perante a Justiça Federal, a qualquer tempo, após atingida a
maioridade civil.
Art. 214. O filho de pai ou de mãe brasileira nascido no exterior e que não tenha sido
registrado em repartição consular poderá, a qualquer tempo, desde que esteja residindo
no País, promover ação de opção de nacionalidade.
Art. 215. O filho de pai ou mãe brasileira nascido no exterior e cujo registro estrangeiro de
nascimento tenha sido transcrito diretamente em cartório competente no País terá a
confirmação da nacionalidade vinculada à opção pela nacionalidade brasileira e pela
residência no território nacional.
§ 1º Depois de atingida a maioridade e até que se faça a opção pela nacionalidade brasileira, a
condição de brasileiro nato ficará suspensa para todos os efeitos.
§ 2º Feita a opção pela nacionalidade brasileira, os efeitos da condição de brasileiro nato
retroagem à data de nascimento do interessado.
Art. 216. A comprovação da opção pela nacionalidade brasileira ocorrerá por meio do
registro da sentença no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais, observado o
disposto no art. 29, caput, inciso VII, da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973.
Art. 217. O registro consular de nascimento deverá ser trasladado em Cartório de Registro Civil
das Pessoas Naturais para gerar efeitos plenos no território nacional, observado o disposto no art.
32 da Lei nº 6.015, de 1973.
São privativos de brasileiro nato os cargos: de Presidente e Vice-Presidente da República; de
Presidente da Câmara dos Deputados; de Presidente do Senado Federal; de Ministro do Supremo
Tribunal Federal; da carreira diplomática; e, de oficial das Forças Armadas.
Existem Estados que concedem a sua nacionalidade da forma mais abrangente possível, como é o caso
de Portugal.
Portugal
Lei da Nacionalidade – Lei nº 37 (03.10.81)
1 – São Portugueses de origem:
a) Os filhos de pai português ou mãe portuguesa nascidos em território português ou sob
administração portuguesa, ou no estrangeiro se o progenitor português aí se encontrar ao serviço
do Estado português;
b) Os filhos de pai português ou mãe portuguesa nascidos no estrangeiro se declararem que
querem ser portugueses ou inscreverem o nascimento no registro civil português;
c) Os indivíduos nascidos em território português filhos de estrangeiros que aqui residam
habitualmente há, pelo menos, seis anos, desde que não estejam ao serviço do respectivo Estado,
se declararem que querem ser portugueses;
d) Os indivíduos nascidos em território português quando não possuam outra
nacionalidade.
2 – Presumem-se nascidos em território português ou sob administração portuguesa, salvo prova
em contrário, os recém-nascidos expostos naqueles territórios.
(grifos nossos)
Art. 65. Será concedida a naturalização ordinária àquele que preencher as seguintes condições:
II - seja ou tenha sido empregado em missão diplomática ou em repartição consular do Brasil por
mais de 10 (dez) anos ininterruptos.
III - não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei.
Como se vê, uma vez efetivada a naturalização com a entrega do certificado, esta só poderá ser
revogada por sentença judicial. Tal posição encontra respaldo em posição já expressa pelo Supremo
Tribunal Federal, cujos excertos dos votos do Relator e do Voto Vista, apresentamos abaixo:
Supremo Tribunal Federal – STF
Recurso Ordinário em Mandado de Segurança nº 27.840 DF (07.02.2013)[594]
Relator: Ricardo Lewandowski
A questão central discutida diz respeito à possibilidade de o Ministro de Estado da Justiça, por
meio de ato administrativo, cancelar a concessão de naturalização quando entender que os
documentos que instruíram o pedido encontram-se eivados de vícios insanáveis.
A decisão ora recorrida baseou-se na tese de que a Administração possui o poder/dever de rever
seus atos a qualquer tempo, sobretudo quando o ato administrativo baseia-se em premissas
falsas. Afirmou-se ainda que não se poderia falar, in casu, em ato jurídico perfeito, razão pela
qual a segurança foi denegada.
Voto Vista: Carmen Lúcia
Reconheço ser a naturalização expressão do poder soberano do Estado, o qual pode negá-la sem
qualquer motivação, ainda que o estrangeiro preencha todas as condições da lei.
Entretanto, também é certo que, desatendidas essas condições legais (...), o Poder Executivo
estará impossibilitado de conceder a nacionalização pretendida pelo estrangeiro.
(...) o Brasil firmou com a comunidade internacional [pela Convenção para a Redução dos Casos
de Apatridia] o compromisso de somente exercer o direito de privar uma pessoa da nacionalidade
brasileira, sob o fundamento de ter sido obtida por declaração falsa ou mediante fraude, se
garantir ao interessado a realização do seu direito à ampla defesa em “um tribunal ou outro órgão
independente”.
O certo é que o § 4º do art. 8º da Convenção para a Redução dos Casos de Apatridía diverge
frontalmente do preceito legal utilizado para fundamentar a atuação do Ministério da Justiça na
espécie (§ 3º do art. 112 do Estatuto do Estrangeiro).
A inaplicabilidade desse dispositivo da Lei n. 6.815/1980 não resulta, portanto, de sua não
recepção em face da ordem constitucional vigente, mas da derrogação efetivada pela convenção
internacional referida.
Venezuela
Constitución de la Republica Bolivariana de Venezuela (15.12.1999)
Artículo 33. Son venezolanos y venezolanas por naturalización:
1. Los extranjeros o extranjeras que obtengan carta de naturaleza. A tal fin deberán tener
domicilio en Venezuela con residencia ininterrumpida de, por lo menos, diez años, inmediatamente
anteriores a la fecha de la respectiva solicitud.
2. El tiempo de residencia se reducirá a cinco años en el caso de aquellos y aquellas que tuvieren
la nacionalidad originaria de España, Portugal, Italia, países latinoamericanos y del Caribe.
4. Los extranjeros o extranjeras menores de edad para la fecha de la naturalización del padre o
de la madre que ejerza sobre ellos la patria potestad, siempre que declaren su voluntad de ser
venezolanos o venezolanas antes de cumplir los veintiún años de edad y hayan residido en
Venezuela, ininterrumpidamente, durante los cinco años anteriores a dicha declaración.
.
Em Portugal, a matéria é regida pela Lei de Nacionalidade, que estipula os seguintes
requisitos para a naturalização:
Portugal
Lei da Nacionalidade – Lei nº. 37 (03.10.81)
Artigo 6º (Aquisição da nacionalidade por naturalização)
1- O Governo pode conceder a nacionalidade portuguesa, por naturalização, aos estrangeiros que
satisfaçam cumulativamente os seguintes requisitos:
a) Serem maiores ou emancipados à face da lei portuguesa;
b) Residirem há seis anos, pelo menos, em território português ou sob administração portuguesa;
c) Conhecerem suficientemente a língua portuguesa;
d) Terem idoneidade moral e civil;
e) Possuírem capacidade para reger a sua pessoa e assegurar a sua subsistência.
2- Os requisitos constantes das alíneas b) e c) podem ser dispensados em relação aos que
tenham tido a nacionalidade portuguesa, aos que forem havidos como descendentes de
portugueses, aos membros de comunidades de ascendência portuguesa e aos estrangeiros que
tenham prestado ou sejam chamados a prestar serviços relevantes ao Estado Português.
Portugal
Lei da Nacionalidade – Lei nº. 37 (03.10.81)
Artigo 3º (Aquisição em caso de casamento)
1- O estrangeiro casado com nacional português pode adquirir a nacionalidade portuguesa
mediante declaração feita na constância do casamento.
2 - A declaração de nulidade ou anulação do casamento não prejudica a nacionalidade adquirida
pelo conjuge que o contraiu de boa fé.
Venezuela
Constitución de la Republica Bolivariana de Venezuela (15.12.1999)
Artículo 33. Son venezolanos y venezolanas por naturalización:
3. Los extranjeros o extranjeras que contraigan matrimonio con venezolano o venezolana desde
que declaren su voluntad de serlo, transcurridos por lo menos cinco años a partir de la fecha del
matrimonio.
Portugal
Lei da Nacionalidade – Lei nº. 37 (03.10.81)
Artigo 5º (Aquisição por adopção plena)
O adoptado plenamente por nacional português adquire a nacionalidade portuguesa.
Argentina
Constitución de la Nación Argentina (22.08.1994)
Artículo 20. Los extranjeros (...) obtienen nacionalización residiendo dos años contínuos em la
Nación; (...)
Bolívia
Constitución de Bolivia (07.02.2009)
Artículo 142.
I. Podrán adquirir la nacionalidad boliviana por naturalización las extranjeras y los extranjeros en
situación legal, con más de tres años de residencia ininterrumpida en el país bajo supervisión del
Estado, que manifiesten expresamente su voluntad de obtener la nacionalidad boliviana y cumplan
con los requisitos establecidos en la ley.
Lei de Migração
Art. 66. O prazo de residência fixado no inciso II do caput do art. 65 será reduzido para, no
mínimo, 1 (um) ano se o naturalizando preencher quaisquer das seguintes condições:
III - ter cônjuge ou companheiro brasileiro e não estar dele separado legalmente ou de fato no
momento de concessão da naturalização;
Parágrafo único. O preenchimento das condições previstas nos incisos V e VI do caput será
avaliado na forma disposta em regulamento.
Portugal
Lei da Nacionalidade – Lei nº. 37 (03.10.81)
Artigo 6º (Aquisição da nacionalidade por naturalização)
1- O Governo pode conceder a nacionalidade portuguesa, por naturalização, aos estrangeiros que
satisfaçam cumulativamente os seguintes requisitos: (...)
2- Os requisitos constantes das alíneas b) e c) podem ser dispensados em relação aos que
tenham tido a nacionalidade portuguesa, aos que forem havidos como descendentes de
portugueses, aos membros de comunidades de ascendência portuguesa e aos estrangeiros que
tenham prestado ou sejam chamados a prestar serviços relevantes ao Estado
Português.
(grifos nossos)
Definida a nacionalidade, o Estado passa a exercer direitos e deveres sobre a pessoa. Isso reflete nas
relações que mantém com os estrangeiros em seu território e com os nacionais no exterior.
Em 24 de maio de 2017 foi promulgada a Lei de Migração – Lei 13.445/2017 que, no Capítulo IV – Da
Opção de nacionalidade e da Naturalização, dedica a Seção IV à Perda de Nacionalidade e a Seção V à
Reaquisição da mesma. Como só é possível a perda da nacionalidade para brasileiros naturalizados, esta
norma jurídica dispõe:
Lei de Migração
Art. 75. O naturalizado perderá a nacionalidade em razão de condenação transitada em julgado
por atividade nociva ao interesse nacional, nos termos do inciso I do § 4o do art. 12 da
Constituição Federal.
Parágrafo único. O risco de geração de situação de apatridia será levado em consideração antes
da efetivação da perda da nacionalidade.
Para requerê-la o brasileiro nato deverá encaminhar requerimento devidamente preenchido via carta
registrada ou SEDEX, para a Polícia Federal, para o Protocolo Geral do Ministério da Justiça ou na
repartição consular brasileira no exterior juntando a seguinte documentação: cópia autenticada da
certidão de nascimento; e, cópia autenticada do certificado de naturalização, legalizado junto às
autoridades consulares brasileiras no exterior e traduzido oficialmente. A repartição consular cuidará da
instauração, no Brasil, do processo de perda de nacionalidade, que se consubstanciará na data da
publicação da Portaria. Nesse ínterim, constará do passaporte do interessado anotação de que responde
processo de perda de nacionalidade.
O brasileiro que tenha adquirido voluntariamente outra nacionalidade, sem ainda ser efetivada a perda
de sua nacionalidade, será tratado pela Autoridade Consular como cidadão brasileiro, sem que haja
necessidade de colocação de visto em seu passaporte estrangeiro.
No caso da aquisição de outra nacionalidade, já há decisões judiciárias no sentido da possibilidade de
reaquisição de nacionalidade brasileira, caso a mesma se tenha dado para usufruir direitos em outro
Estado, como se verifica da análise da Apelação Cível: 63972 MG 2000.01.00.063972-8, do Tribunal
Regional Federal da 1ª Região TRF-1, abaixo:
Tribunal Regional Federal da 1ª Região
Aos cidadãos que estejam respondendo a processo de perda de nacionalidade brasileira é assegurado
o uso de passaporte brasileiro, no qual deverá ser feita anotação de que o titular responde ao referido
processo e de que também é portador de passaporte estrangeiro da nacionalidade adquirida.
Mesmo tendo perdido a nacionalidade, é possível readquiri-la. Neste sentido, a Lei de Migração e o
Decreto n] 9.199/2017 que a regulamentou dispõe:
Lei de Migração
Art. 76. O brasileiro que, em razão do previsto no inciso II do § 4º do art. 12 da Constituição
Federal, houver perdido a nacionalidade, uma vez cessada a causa, poderá readquiri-la ou ter o
ato que declarou a perda revogado, na forma definida pelo órgão competente do Poder
Executivo.
Equador
Constitución de la Republica del Ecuador (20.10.2008)
Articulo 6.
La nacionalidad ecuatoriana se obtendrá por nacimiento o por naturalización y no se perderá por
el
matrimonio o su disolución, ni por la adquisición de otra nacionalidad.
Espanha
Constitución Española (29.12.1978)
Articulo 11
2. Ningún español de origen podrá ser privado de su nacionalidad.
3.El Estado podrá concertar tratados de doble nacionalidad con los países iberoamericanos o con
aquellos que hayan tenido o tengan una particular vinculación con España. En estos mismos
países, aún cuando no reconozcan a sus ciudadanos un derecho recíproco, podrán naturalizarse
los españoles sin perder su nacionalidad de origen.
Uruguai
Constitución de la República Oriental del Uruguay (1997)
Artículo 81.
La nacionalidad no se pierde ni aún por naturalizarse en otro pais, bastando simplesmente, para
recuperar el ejercicio de los derechos de ciudadanía, avecinarse en la republica e inscribirse en el
Registro Cívico.
Venezuela
Constitución de la Republica Bolivariana de Venezuela (15.12.1999)
Artículo 34. La nacionalidad venezolana no se pierde al optar o adquirir otra nacionalidad.
Existem outros, como o Paraguai, em que, apesar de não se perder a nacionalidade originária, se perde
a derivada por se ausentar do país por determinado período.
Paraguai
Constitución de la República de Paraguay (20.06.1992)
Articulo 147
Ningún paraguayo natural será privado de su nacionalidad, pero podrá renunciar voluntariamente
a ella.
Artículo 150
Los paraguayos naturalizados pierden la nacionalidad en virtud de ausencia injustificada de la
República por más de tres años, declarada judicialmente, o por la adquisición voluntaria de otra
nacionalidad.
3.5. Apátrida
Apátrida é toda pessoa que não seja considerada seu nacional pela legislação de nenhum Estado. Esta
é a definição contida na Lei de Migração, que assim dispõe:
Lei de Migração
Art. 1º
§ 1º Para os fins desta Lei, considera-se:
VI - apátrida: pessoa que não seja considerada como nacional por nenhum Estado, segundo a sua
legislação, nos termos da Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas, de 1954, promulgada pelo
Decreto nº 4.246, de 22 de maio de 2002, ou assim reconhecida pelo Estado brasileiro.
A principal norma internacional que regulamenta a sua situação jurídica é a Convenção sobre o
Estatuto dos Apátridas (1954)[605], promulgada pelo Decreto nº 4.246, de 22 de maio de 2002. Por ela, os
Estados deverão conceder o mesmo regime que se concede aos estrangeiros em geral. Com relação ao
acesso à educação, os Estados Contratantes assegurarão aos apátridas um tratamento tão favorável quanto
possível e, em todo caso, não menos favorável que aquele concedido aos estrangeiros em geral, nas
mesmas circunstâncias, no que se refere às categorias de ensino e, notadamente, no que concerne o acesso
aos estudos, ao reconhecimento de certificados de estudos, de diplomas e de títulos universitários
expedidos no estrangeiro, a isenção de direitos e taxas e a concessão de bolsas de estudos.
Pela Convenção, os Estados Contratantes expedirão documentos de identidade a todo apátrida que se
encontre no seu território e que não tenha documento de viagem válido. Neste documento – redigido em
duas línguas, sendo uma o inglês ou francês – deverá conter a indicação de que o possuidor é apátrida no
sentido da Convenção de 28 de setembro de 1954. No caso brasileiro, estes poderão serão beneficiários
de visto temporário, de registro e identificação civil além de autorização provisória de residência,
conforme disposto na Lei de Migração:
Lei de Migração
Art. 14. O visto temporário poderá ser concedido ao imigrante que venha ao Brasil com o intuito
de estabelecer residência por tempo determinado e que se enquadre em pelo menos uma das
seguintes hipóteses:
III - outras hipóteses definidas em regulamento.
§ 3º O visto temporário para acolhida humanitária poderá ser concedido ao apátrida (...)
Art. 19. O registro consiste na identificação civil por dados biográficos e biométricos, e é
obrigatório a todo imigrante detentor de visto temporário ou de autorização de residência.
Art. 20. A identificação civil de solicitante de refúgio, de asilo, de reconhecimento de apatridia e
de acolhimento humanitário poderá ser realizada com a apresentação dos documentos de que o
imigrante dispuser.
Art. 31
§ 4º O solicitante de refúgio, de asilo ou de proteção ao apátrida fará jus a autorização provisória
de residência até a obtenção de resposta ao seu pedido.
Por fim, a Convenção prescreve que a expulsão de um apátrida só poderá ocorrer por motivos de
segurança nacional ou de ordem pública, devendo ser facilitada, na medida do possível, sua assimilação
e naturalização. Pela Lei de Migração, sua deportação só será possível com prévia autorização da
autoridade competente.
No âmbito interno, além do Decreto nº 4.246/2002, que promulgou a Convenção sobre o Estatuto dos
Apátridas (1954), temos o Decreto nº 50.215/1961, que promulgou a Convenção relativa ao Estatuto dos
Refugiados, a Lei nº 9.474/97, que define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados,
o decreto nº 8.501/2015, que promulgou a Convenção para a Redução dos Casos de Apatridia e a Lei de
Migração – Lei nº 13.445/17 –, que em seu Capítulo III, dedica toda uma Seção à proteção do Apátrida e
à redução da Apatridia, da qual destacamos:
Lei de Migração
Capítulo III – Da Condição Jurídica do Migrante e do Visitante
Seção II – Da Proteção do Apátrida e da Redução da Apatridia
Art. 26. Regulamento disporá sobre instituto protetivo especial do apátrida, consolidado em
processo simplificado de naturalização.
§ 1º O processo de que trata o caput será iniciado tão logo seja reconhecida a situação de
apatridia.
§ 3° Aplicam-se ao apátrida residente todos os direitos atribuídos ao migrante relacionados no
art. 4º.
§ 5º O processo de reconhecimento da condição de apátrida tem como objetivo verificar se o
solicitante é considerado nacional pela legislação de algum Estado e poderá considerar
informações, documentos e declarações prestadas pelo próprio solicitante e por órgãos e
organismos nacionais e internacionais.
§ 6º Reconhecida a condição de apátrida, nos termos do inciso VI do § 1º do art. 1º, o solicitante
será consultado sobre o desejo de adquirir a nacionalidade brasileira.
§ 8º O apátrida reconhecido que não opte pela naturalização imediata terá a autorização de
residência outorgada em caráter definitivo.
§ 9º Caberá recurso contra decisão negativa de reconhecimento da condição de apátrida.
§ 10. Subsistindo a denegação do reconhecimento da condição de apátrida, é vedada a
devolução do indivíduo para país onde sua vida, integridade pessoal ou liberdade
estejam em risco.
§ 11. Será reconhecido o direito de reunião familiar a partir do reconhecimento da condição de
apátrida.
§ 12. Implica perda da proteção conferida por esta Lei:
I - a renúncia;
II - a prova da falsidade dos fundamentos invocados para o reconhecimento da condição de
apátrida; ou
III - a existência de fatos que, se fossem conhecidos por ocasião do reconhecimento, teriam
ensejado decisão negativa.
(grifos nossos)
Algumas pessoas, em virtude de conflito entre jus soli e jus sanguinis na determinação de sua
nacionalidade, podem nascer apátridas, como é o caso de um filho de argentinos (jus soli) nascido na
Espanha (jus sanguinis). Não será argentino, porque não nasceu em solo argentino e não será espanhol,
por não ter ascendência familiar espanhola. Dessa forma, deverá ser facilitada a concessão de sua
nacionalidade, como preceitua a Convenção para a Redução dos Casos de Apatridia (1961), promulgada
em nosso país pelo Decreto nº 8.501/2015:
Convenção para a Redução dos Casos de Apatridia
Decreto nº 8.501 (18.08.2015)
Artigo 1
1. Todo Estado Contratante concederá sua nacionalidade a uma pessoa nascida em seu
território e que de outro modo seria apátrida. A nacionalidade será concedida:
(a) de pleno direito, no momento do nascimento; ou
(b) mediante requerimento apresentado à autoridade competente pelo interessado ou em seu
nome, conforme prescrito pela legislação do Estado em questão. Nos termos do disposto no
parágrafo 2 deste Artigo, nenhum requerimento poderá ser indeferido.
A proteção diplomática só poderá ser apresentada pelo Estado de nacionalidade do indivíduo (pessoa
física) ou da sociedade (pessoa jurídica), conforme já decidido pela Corte Internacional de Justiça – CIJ,
na solução de diversos litígios internacionais.
Corte Internacional de Justiça - CIJ
Caso Nottebohm
(...) é somente o vínculo de nacionalidade entre o Estado e o indivíduo que confere a este o
direito de proteção diplomática.
Concedida por um Estado, este somente adquirirá o direito de exercer a proteção, se ela for a
tradução, em termos jurídicos, da conexão do indivíduo com o mesmo.
O ato de sua concessão chama-se endosso e, além da nacionalidade, deve-se observar o esgotamento
dos recursos internos.
A Lei de Migração reservou o Capítulo VII – do Emigrante[611] – para a estipulação de regras de
proteção dos nacionais brasileiros no exterior, com destaque para as seguintes disposições:
Lei de Migração
Art. 3º A política migratória brasileira rege-se pelos seguintes princípios e diretrizes:
XIX - proteção ao brasileiro no exterior;
Art. 77. As políticas públicas para os emigrantes observarão os seguintes princípios e diretrizes:
I - proteção e prestação de assistência consular por meio das representações do Brasil no
exterior;
IV - atuação diplomática, nos âmbitos bilateral, regional e multilateral, em defesa dos direitos do
emigrante brasileiro, conforme o direito internacional;
Art. 79. Em caso de ameaça à paz social e à ordem pública por grave ou iminente instabilidade
institucional ou de calamidade de grande proporção na natureza, deverá ser prestada especial
assistência ao emigrante pelas representações brasileiras no exterior.
Consiste no suporte jurídico que o Estado pode oferecer ao seu nacional perante tribunais estrangeiros.
Este está expressamente prevista na Convenção de Viena sobre Relações Consulares como uma função
consular:
Convenção de Viena sobre Relações Consulares
Decreto nº 61.078 (26.07.1967)
Art. 5º Funções Consulares
As funções consulares consistem em:
e) prestar ajuda e assistência aos nacionais, pessoas físicas ou jurídicas do Estado que envia;
Art. 36 Comunicação com os Nacionais do Estado que Envia
1. A fim de facilitar o exercício das funções consulares relativas aos nacionais do Estado que
envia:
b) se o interessado lhes solicitar, as autoridades competentes do Estado receptor deverão,
sem tardar, informar a repartição consular competente quando, em sua jurisdição, um
nacional do Estado que envia for preso, encarcerado, posto em prisão preventiva ou
detido de qualquer outra maneira. Qualquer comunicação endereçada à repartição consular
pela pessoa detida, encarcerada ou presa preventivamente deve igualmente ser transmitida sem
tardar pelas referidas autoridades. Estas deverão imediatamente informar o interessado de
seus direitos nos termos do presente sub-parágrafo;
c) os funcionários consulares terão direito de visitar o nacional do Estado que envia, o qual estiver
detido, encarcerado ou preso preventivamente, conservar e corresponder-se com ele, e
providenciar sua defesa perante os tribunais. Terão igualmente o direito de visitar qualquer
nacional do Estado que envia encarcerado, preso ou detido em sua jurisdição em virtude de
execução de uma sentença. Todavia, os funcionários consulares deverão abster-se de intervir em
favor de um nacional encarcerado, preso ou detido preventivamente, sempre que o interessado a
isso se opuser expressamente.;
(grifos nossos)
O desrespeito à obrigação contida neste instrumento internacional foi a base de reclamações tanto da
Alemanha – Caso LaGrand[612] –, quanto do México – Caso Avena[613] –, contra os Estados Unidos perante
a Corte Internacional de Justiça, como destacamos abaixo.
Corte Internacional de Justiça – CIJ
Caso LaGrand
(...) ao não informar sem demora Karl e Walter LaGrand, após sua prisão, dos direitos que
tinham em virtude da alínea b) do parágrafo 1º do artigo 36 da Convenção, e privando, por esse
fato, a República Federal da Alemanha da possibilidade de fornecer aos interessados, em tempo
hábil, a assistência prevista pela Convenção, os Estados Unidos da América violaram as
obrigações às quais estavam vinculados em face da República Federal da Alemanha e em face
dos irmãos LaGrand, em virtude do parágrafo 1º do artigo 36;
(...) ao não permitir, à luz dos direitos reconhecidos pela Convenção, o reexame e a revisão dos
vereditos de culpabilidade dos irmãos LaGrand e de suas penas, uma vez constatadas as
violações presentes no parágrafo 3º acima, os Estados Unidos da América violaram a obrigação
à qual estavam vinculados em face da República Federal da Alemanha e em face dos irmãos
LaGrand, em virtude do parágrafo 2º do artigo 36 da Convenção;
(...) ao não tomar as medidas das quais dispunha para que Walter LaGrand não fosse executado,
enquanto a Corte Internacional de Justiça não tivesse tomado sua decisão definitiva no caso, os
Estados Unidos da América violaram a obrigação à qual estavam vinculados em virtude da
decisão de indicação de medidas cautelares, tomada pela Corte em 3 de março de 1999;
Considera o compromisso assumido pelos Estados Unidos da América de assegurar a aplicação
das medidas específicas adotadas na execução de suas obrigações a título da alínea b) do
parágrafo 1º do artigo 36 da Convenção; e entende que esse engajamento deve ser considerado
como satisfatório à demanda da República Federal da Alemanha, visando obter uma garantia
geral de não-repetição.
(grifos nossos)
A proteção diplomática não é concedida apenas em caso de delito grave praticado pelo nacional de um
Estado no exterior, esta pode também ser reivindicada quando o Estado se recusa a cumprir uma
obrigação contratual, como se depreende pela leitura do Recurso Ordinário nº 0088522-2/2004 – MG,
infra:
Superior Tribunal de Justiça – STJ
Recurso Ordinário nº 39 MG 0088522-2/2004 (06.10.2005)[614]
Relator: Jorge Scartezini
Competência ordinária deste Colegiado para o julgamento da presente via
recursal, porquanto integrada por ‘Estado estrangeiro(...), de um lado, e, do
outro, (...) pessoa residente ou domiciliada no País’ (art. 105, II, “c”, da CF/88).
In casu, seja com fulcro na distinção entre atos de império e gestão, seja com
lastro na comparação das praxes enumeradas em leis internas de diversas
Nações como excludentes do privilégio da imunidade, inviável considerar-se o
litígio, disponente sobre o recebimento, por cidadão brasileiro, de
recompensa prometida por Estado estrangeiro (EUA) enquanto
participante de conflito bélico, como afeto à jurisdição nacional. Em
outros termos, na hipótese, tal manifestação unilateral de vontade não evidenciou
caráter meramente comercial ou expressou relação rotineira entre o Estado
promitente e os cidadãos brasileiros, consubstanciando, ao revés, expressão de
soberania estatal, revestindo-se de oficialidade, sendo motivada, de forma
atípica, pela deflagração de guerra entre o Estado ofertante (EUA) e Nação
diversa (Iraque), e conseqüente persecução, por aquele, de desfecho vitorioso;
por outro lado, não se inclui a promessa de recompensa, despida de índole
negocial, entre as exceções habitualmente aceitas pelos costumes
internacionais à regra da imunidade de jurisdição, quais sejam, ações
imobiliárias e sucessórias, lides comerciais e marítimas, trabalhistas ou
concernentes à responsabilidade civil extracontratual, pelo que de rigor a
incidência da imunidade à jurisdição brasileira.
Recurso Ordinário conhecido e provido para, reconhecendo-se a competência
concorrente da autoridade judiciária brasileira, nos termos do art. 88, III,
do CPC e, simultaneamente, as imunidades de jurisdição e execução ao
Estado estrangeiro, determinar o prosseguimento do feito, com a
notificação ou citação do Estado demandado, a fim de que exerça o direito
à imunidade jurisdicional ou submeta-se voluntariamente à jurisdição
pátria.
(grifos nossos)
Caso a proteção seja dada, o país tem de se comprometer a dar a seu nacional a punição cabível.
Na hipótese de conflito de nacionalidade, quando, por exemplo, um indivíduo possuir múltiplas
nacionalidades por nascimento (nasceu em território de Estado partidário de jus soli e é filho de
nacional de Estado partidário do jus sanguinis) ou por casamento, um Estado não poderá oferecer sua
proteção contra o outro Estado de nacionalidade do indivíduo. Se ela for proposta contra um terceiro
Estado, deverá se averiguar no território de qual dos Estados essa pessoa reside ou então com qual
Estado possui uma relação efetiva mais estreita.
IV - não discriminação em razão dos critérios ou dos procedimentos pelos quais a pessoa foi
admitida em território nacional;
VI - acolhida humanitária;
XIV - fortalecimento da integração econômica, política, social e cultural dos povos da América
Latina, mediante constituição de espaços de cidadania e de livre circulação de pessoas;
Ademais, a Lei de Migração trata da sua situação documental, sua condição jurídica, entrada e saída
do território nacional, das medidas de retirada compulsória, da opção de nacionalidade e naturalização,
das medidas de cooperação e das infrações e penalidades administrativas que a ele podem ser impostas.
Por fim foram revogadas a Lei nº 8.181/49 – que regulamentava a aquisição, a perda e a reaquisição da
nacionalidade, e a perda dos direitos políticos –, e a Lei nº 6.815/1980 – Estatuto do Estrangeiro.
Lei de Migração
Art. 12. Ao solicitante que pretenda ingressar ou permanecer em território nacional poderá ser
concedido visto:
I - de visita;
II - temporário;
III - diplomático;
IV - oficial;
V - de cortesia.
O visto de visita poderá ser concedido ao visitante que venha ao Brasil para estada de curta duração,
sem intenção de estabelecer residência, nos seguintes casos: turismo[617]; negócios[618]; trânsito[619]; e,
atividades artísticas ou desportivas[620]. É vedado ao seu beneficiário exercer atividades remunerada no
Brasil[621]. A prorrogação do visto de visita deverá ser requerida na unidade de Polícia Federal mais
próxima do local de residência. Seu prazo de validade está estipulado no Decreto nº 9.199/2017 da
seguinte forma:
O visto temporário poderá ser concedido ao imigrante que venha ao Brasil com o intuito de
estabelecer residência por tempo determinado e que se enquadre em pelo menos uma das seguintes
hipóteses: pesquisa, ensino ou extensão acadêmica[622]; tratamento de saúde[623]; acolhida humanitária[624];
estudo[625]; trabalho[626]; férias-trabalho[627]; prática de atividade religiosa ou serviço voluntário[628];
realização de investimento ou de atividade com relevância econômica, social, científica, tecnológica ou
cultural[629]; reunião familiar; e, atividades artísticas ou desportivas com contrato por prazo
determinado[630]. É reconhecida ao imigrante a quem se tenha concedido visto temporário para trabalho a
possibilidade de modificação do local de exercício de sua atividade laboral. O estrangeiro admitido na
condição de temporário deverá registrar-se dentro de 30 dias da data de sua entrada no país ou da
concessão do asilo no Departamento de Polícia Federal, como prescreve o art. 58 do Decreto nº
86.715/81. A prorrogação do prazo de estadia dos estrangeiros deverá ser requerida no Departamento de
Polícia Federal mais próxima do local de residência ou no Protocolo Geral do Ministério da Justiça. Seu
prazo de validade está regulamentado da seguinte forma:
Decreto nº 9.199 (20.11.2017)
Art. 16. O visto temporário poderá ser concedido com prazo de validade de até um ano, e,
exceto se houver determinação em contrário do Ministério das Relações Exteriores, permitirá
múltiplas entradas no País enquanto o visto estiver válido.
Parágrafo único. O prazo de validade do visto temporário não se confunde com o prazo da
autorização de residência.
Art. 38. O visto temporário para trabalho poderá ser concedido ao imigrante que venha exercer
atividade laboral com ou sem vínculo empregatício no País.
§ 1º O visto temporário para trabalho com vínculo empregatício será concedido por
meio da comprovação de oferta de trabalho no País, observado o seguinte:
I - a oferta de trabalho é caracterizada por meio de contrato individual de trabalho ou de
contrato de prestação de serviços; e
II - os marítimos imigrantes a bordo de embarcação de bandeira brasileira deverão possuir
contrato individual de trabalho no País.
§ 2º O visto temporário para trabalho sem vínculo empregatício será concedido por meio da
comprovação de oferta de trabalho no País, quando se tratar das seguintes atividades:
I - prestação de serviço ou auxílio técnico ao Governo brasileiro;
II - prestação de serviço em razão de acordo de cooperação internacional;
III - prestação de serviço de assistência técnica ou transferência de tecnologia;
IV - representação, no País, de instituição financeira ou assemelhada sediada no exterior;
V - representação de pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos;
VI - recebimento de treinamento profissional junto a subsidiária, filial ou matriz brasileira;
VII - atuação como marítimo com prazo de estada superior a noventa dias, a bordo de
embarcação ou plataforma de bandeira estrangeira;
VIII - realização de estágio profissional ou intercâmbio profissional;
IX - exercício de cargo, função ou atribuição que exija, em razão da legislação brasileira, a
residência por prazo indeterminado;
X - realização de atividade como correspondente de jornal, revista, rádio, televisão ou agência
noticiosa estrangeira; ou
XI - realização de auditoria ou consultoria com prazo de estada superior a noventa dias.
§ 7º A possibilidade de modificação do local de exercício de atividade laboral, na mesma
empresa ou no mesmo grupo econômico, será reconhecida ao imigrante a quem tenha sido
concedido o visto temporário para trabalho, por meio de comunicação ao Ministério do
Trabalho.
Art. 42. O visto temporário poderá ser concedido ao imigrante pessoa física que pretenda,
com recursos próprios de origem externa, realizar investimento em pessoa jurídica no País,
em projeto com potencial para geração de empregos ou de renda no País.
(grifos nossos)
O visto diplomático deverá ser concedido às autoridades diplomáticas estrangeiras acreditadas junto
ao governo, aos funcionários com status diplomático e aos chefes de escritórios de organismos
internacionais, bem como aos seus cônjuges e filhos menores de 18 anos, sendo sua concessão de
competência do Ministério das Relações Exteriores – MRE.
O visto oficial será concedido aos estrangeiros que se encontram em missão oficial, aos funcionários
de organizações internacionais e, aos funcionários de embaixadas e consulados que não possuam status
de diplomata, bem como aos seus cônjuges e filhos menores de 18 anos[631].
Os titulares dos vistos diplomático e oficial somente poderão ser remunerado por Estado estrangeiro
ou organismo internacional[632].
Tanto o visto diplomático quanto o oficial poderão ser transformados em autorização de residência, o
que importará cessação de todas as prerrogativas, privilégios e imunidades decorrentes do respectivo
visto (art. 15, parágrafo único – Lei de Migração).
O visto de cortesia[633], poderá ser concedido aos empregados domésticos estrangeiros dos chefes de
missão e de funcionários diplomáticos e consulares acreditados junto ao governo brasileiro; às
autoridades estrangeiras em viagem não-oficial ao Brasil, e, aos dependentes de portadores de visto
oficial ou diplomático, maiores de 18 anos e menores de 24 anos na condição de dependência
econômica e de estudantes[634]. Segundo o art. 18 da Lei de Migração, o empregado particular titular de
visto de cortesia somente poderá exercer atividade remunerada para o titular de visto diplomático,
oficial ou de cortesia ao qual esteja vinculado, sob o amparo da legislação trabalhista brasileira.
Em nenhum caso se aplica aos titulares dos vistos diplomático, oficial e de cortesia o disposto na
legislação trabalhista brasileira (art. 16, § 1º da Lei de Migração).
Os vistos diplomático, oficial e de cortesia terão prazo de validade de até três anos, e permitirão
múltiplas entradas no território nacional, desde que os seus portadores cumpram os requisitos de registro
estabelecidos pelo Ministério das Relações Exteriores (art. 17 – Decreto nº 9.199/2017). Além disso:
Decreto nº 9.199 (20.11.2017)
Art. 51. Os vistos diplomático, oficial e de cortesia serão concedidos, prorrogados ou dispensados
em ato do Ministro de Estado das Relações Exteriores.
Art. 52. Os vistos diplomático e oficial poderão ser transformados em autorização de residência,
desde que atendidos os requisitos para a obtenção da autorização de residência e importará
cessação de todas as prerrogativas, os privilégios e as imunidades decorrentes do visto.
Art. 55. O dependente de titular de visto diplomático ou oficial poderá exercer atividade
remunerada no País, observada a legislação trabalhista brasileira, desde que haja reciprocidade
de tratamento em relação ao nacional brasileiro.
O art. 6º do Decreto nº 9.199/2017 estabelece ainda que o estrangeiro poderá possuir mais de um visto
válido, desde que estes sejam diferentes, competindo à Polícia Federal a definição migratória aplicável
quando da sua entrada em território nacional.
O visto deve ser requerido no local em que a pessoa reside, devendo esta comprovar possuir meios
de subsistência no local que pretende visitar e, em alguns casos, apresentar o bilhete de transporte
aéreo ou marítimo de ida e volta. Ao estrangeiro que deseja entrar no Brasil, é esperado que tenha
posse da documentação comprovatória de seu status em português. Caso não seja possível, será
aceitável em francês, inglês ou espanhol. O art. 10 do Decreto nº 9.199/2017, estabelece um rol dos
documentos que deverão ser apresentados quando da solicitação do visto, com destaque: documento de
viagem válido; certificado internacional de imunização, quando exigido pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária – ANVISA; e, comprovante de pagamento de emolumentos consulares. Como
estatui o art. 35 da Lei de Migração, a posse ou propriedade de bem no Brasil não confere o direito de
obter visto ou autorização de residência em território nacional, sem prejuízo do disposto sobre visto
para realização de investimento.
Há a possibilidade, mediante requerimento e registro, de transformação em autorização de residência
do visto de visita ou de cortesia, conforme dispões o art. 36 da Lei de Migração.
É dá Polícia Federal a competência para exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de
fronteira, nos pontos de entrada e saída do território brasileiro (art. 38, Lei de Migração). Além disso, é
ela competente para:
Decreto nº 9.199 (22.11.2017)
Art. 58. Compete à Polícia Federal:
I - organizar, manter e gerir os processos de identificação civil do imigrante;
II - produzir a Carteira de Registro Nacional Migratório; e
III - administrar a base de dados relativa ao Registro Nacional Migratório.
A Lei inovou ao possibilitar a autorização, em caráter excepcional, da admissão de pessoa que não
possua visto, seja titular de visto emitido com erro ou omissão, tenha perdido a condição de residente
por ter permanecido ausente do País, mas detenha as condições objetivas para a concessão de nova
autorização de residência, e seja criança ou adolescente desacompanhado de responsável legal e sem
autorização expressa para viajar desacompanhado, independentemente do documento de viagem que
portar, hipótese em que haverá imediato encaminhamento ao Conselho Tutelar ou a instituição indicada
pela autoridade competente.
Por outro lado, o Decreto nº 9.199/2017, que regulamentou a Lei de Imigração estabeleceu hipóteses
em que o visto poderá ser negado ao solicitante.
Decreto nº 9.199 (20.11.2017)
Art. 27. O visto não será concedido:
I - a quem não preencher os requisitos para o tipo de visto pleiteado, definidos em
regulamentos específicos, quando cabível;
II - a quem comprovadamente ocultar condição impeditiva de concessão de visto ou de
ingresso no País;
III - a menor de dezoito anos desacompanhado ou sem autorização de viagem por escrito dos
responsáveis legais ou de autoridade competente; e
IV - a quem, no momento de solicitação do visto, comportar-se de forma agressiva,
insultuosa ou desrespeitosa para com os agentes do serviço consular brasileiro.
Parágrafo único. A não concessão de visto não impede a apresentação de nova solicitação, desde
que cumpridos os requisitos para o tipo de visto pleiteado.
Art. 28. O visto poderá ser denegado à pessoa:
I - anteriormente expulsa do País, enquanto os efeitos da expulsão vigorarem;
II - nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998,
promulgado pelo Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002, condenada ou respondendo a
processo por:
a) ato de terrorismo ou crime de genocídio;
b) crime contra a humanidade;
c) crime de guerra; ou
d) crime de agressão;
III - condenada ou respondendo a processo em outro país por crime doloso passível de
extradição segundo a lei brasileira;
IV - que tenha o nome incluído em lista de restrições por ordem judicial ou por
compromisso assumido pelo País perante organismo internacional; e
V - que tenha praticado ato contrário aos princípios e aos objetivos dispostos na Constituição.
Parágrafo único. A pessoa que tiver visto brasileiro denegado será impedida de ingressar no País
enquanto as condições que ensejaram a denegação perdurarem.
(grifos nossos)
Por fim, com relação à União Européia, os cidadãos brasileiros não necessitam de visto para entrar em
qualquer um dos Países Europeus integrantes do Espaço Schengen[635], quando estiverem se deslocando a
turismo e por no máximo 90 dias.
Os dois primeiros são expedidos, em nosso Estado, pelo Ministério das Relações Exteriores, no
território nacional e pelas missões diplomáticas ou repartições consulares brasileiras, no exterior. Já os
passaportes comum, para estrangeiro e de emergência serão expedidos, no território nacional, pelo
Departamento de Polícia Federal e, no exterior, pelas repartições consulares[645].
No caso do Passaporte Comum são condições gerais para a sua obtenção: ser brasileiro; comprovar
sua identidade e demais dados pessoais necessários ao cadastramento no banco de dados de requerentes
de passaportes; estar quite com a justiça eleitoral e o serviço militar obrigatório; recolher a taxa ou
emolumento devido; submeter-se à coleta de dados biométricos; e, não ser procurado pela Justiça nem
impedido judicialmente de obter passaporte[646]. Com relação ao menor de 18 anos, assim está disposto:
Decreto nº 5.978 (04.12.2006)
Art. 27. Quando se tratar de menor de dezoito anos, salvo nas hipóteses de cessação de
incapacidade previstas em lei, é vedada a emissão de documento de viagem sem a expressa
autorização:
I - de ambos os pais ou responsável legal;
II - de apenas um dos pais ou responsável legal, no caso de óbito ou destituição do poder familiar
de um deles, comprovado por certidão de óbito ou decisão judicial brasileira ou estrangeira
legalizada; e
III - do único genitor registrado na certidão de nascimento ou documento de identidade.
Parágrafo único. Divergindo os pais quanto à concessão do documento de viagem do menor, o
documento será concedido mediante decisão judicial brasileira ou estrangeira legalizada.
Com o estabelecimento da figura jurídica do residente fronteiriço, pelo art. 23 da Lei de Migração, a
ele foi concedido, mediante requerimento, o direito de realização de atos da vida civil.
Diferente dos direitos e apesar de constar como disposição geral da Lei de Migração, os deveres do
estrangeiro não estão enunciados em um único artigo, mas dispersos em poucos dispositivos desta norma
jurídica, em especial no seu Capítulo IX, que trata das infrações e penalidades administrativas. Neste
sentido, destacamos:
a) registro e de identificação civil (art. 19);
b) permanecer em área de fiscalização até que seu documento de viagem tenha sido verificado
(art. 39);
c) apenas entrar no território nacional se autorizado (art. 109, I);
d) não permanecer em território nacional depois de esgotado o prazo legal da documentação
migratória (art. 109 – II);
e) se registrar, dentro do prazo de 90 dias do ingresso no País, quando for obrigatória a
identificação civil (art. 109 – III);
f) não transportar para o Brasil pessoa que esteja sem documentação migratória regular (art. 109,
IV);
g) não furtar-se ao controle migratório, na entrada ou saída do território nacional (art. 109,
VI).
5.5 Autorização de Residência
Disposta na Seção IV, do capítulo referente à condição jurídica do migrante e do visitante, a
residência poderá ser autorizada, mediante registro, ao imigrante, ao residente fronteiriço ou ao visitante
em uma das seguintes hipóteses:
Lei de Migração
Art. 30 (...)
b) tratamento de saúde;
c) acolhida humanitária;
d) estudo;
e) trabalho;
f) férias-trabalho;
i) reunião familiar;
II - a pessoa:
c) já tenha possuído a nacionalidade brasileira e não deseje ou não reúna os requisitos para
readquiri-la;
e) seja beneficiária de refúgio, de asilo ou de proteção ao apátrida;
g) tenha sido vítima de tráfico de pessoas, de trabalho escravo ou de violação de direito agravada
por sua condição migratória;
DIREITO DE ASILO
1. INTRODUÇÃO
O asilo surgiu no Direito Romano. A palavra significa sítio ou local inviolável. O instituto se
consolidou, entretanto, com a Revolução Francesa no sentido de fornecer asilo para crimes políticos,
havendo, para os crimes comuns, a possibilidade de extradição. Asilo é a proteção concedida por um
Estado, no seu território, à revelia da jurisdição do país de origem, baseada no princípio do non-
refoulement[649] e que se caracteriza pelo gozo dos direitos dos refugiados reconhecidos pelo Direito
Internacional de Asilo e que, normalmente, é concedida sem limite de tempo.
A concessão de asilo reflete uma manifestação soberana do Estado, no sentido deste proteger o
estrangeiro que esteja sendo perseguido por crimes políticos, delitos de opinião e crimes que não sejam
de natureza penal comum.
Atualmente temos diversos instrumentos internacionais que preveem o direito de asilo, com destaque
para a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), a Convenção relativa ao Estatuto dos
Refugiados (1951)[650] e o Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados (1967)[651] aprovadas no seio da
Organização das Nações Unidas – ONU, no âmbito universal; e, as Convenções sobre Asilo Diplomático
(1954) [652] e Asilo Territorial (1954) [653], aprovadas pelos Estados-membros da Organização dos Estados
Americanos – OEA, além da Convenção de Dublin (1990)[654] e da Resolução relativa aos Pedidos de
Asilo Manifestamente Infundados (1992), aprovadas pelos membros da União Européia – UE, no âmbito
regional.
Neste sentido, dispõe a Declaração Universal dos Direitos do Homem:
Declaração Universal dos Direitos do Homem (10.12.1948)
Artigo 14.
1. Toda pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e gozar de asilo em outros países.
2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime
de direito comum ou por atividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas.
No âmbito interno, a Constituição Federal enuncia que a República Federativa do Brasil rege-se, nas
suas relações internacionais, pelo princípio da concessão de asilo político (art. 4º, X). Além disso, a
matéria é regulada pela Lei nº 9.474/97, que define mecanismos para a implementação do Estatuto dos
Refugiados de 1951, e, por fim, regula a matéria na Seção III (Do Asilado), do Capítulo III (Da Condição
Jurídica do Migrante e do Visitante), da Lei 13.445/2017 – Lei de Migração.
O Estatuto do Refugiado foi implementado pela Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997, nela são
definidos não só o conceito de refugiado, sua condição jurídica e o procedimento de solicitação de
refúgio, mas ainda o órgão que deverá analisar o pedido de refúgio em nosso Estado, o Comitê
Nacional para os Refugiados – CONARE, órgão de deliberação coletiva, no âmbito do Ministério da
Justiça.
Estatuto do Refugiado
Lei nº 9.474 (22.07.1997)
Artigo 11 - Fica criado o Comitê Nacional para os Refugiados - CONARE, órgão de deliberação
coletiva, no âmbito do Ministério da Justiça.
Artigo 14 - O CONARE será constituído por:
I - um representante do Ministério da Justiça, que o presidirá;
II - um representante do Ministério das Relações Exteriores;
III - um representante do Ministério do Trabalho;
IV - um representante do Ministério da Saúde;
V - um representante do Ministério da Educação e do Desporto;
VI - um representante do Departamento de Polícia Federal;
VII - um representante de organização não-governamental, que se dedique a atividades de
assistência e proteção de refugiados no País.
§ 1º - O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados – ACNUR será sempre
membro convidado para as reuniões do CONARE, com direito a voz, sem voto.
Autores, como Marcelo Varella, afirmam distinguir-se o direito de asilo do direito de refúgio, uma
vez que o asilo decorreria da perseguição ao indivíduo enquanto o refúgio seria fundamentado pela
perseguição a um grupo de indivíduos[655]. Estamos certos da distinção entre direito de asilo e direito
de refúgio, todavia, não comungamos tal posição, uma vez que, pela própria letra da lei, resta claro não
só que este poderá ser requerido individualmente, mas ainda que a opinião política também gera o
direito a refúgio em nosso Estado. Outros, como Valerio Mazzuoli, baseiam sua posição no fato de que
o asilo seria regulado por tratados multilaterais bastante específicos de âmbito regional que nada mais
fizeram do que expressar o costume até então aplicado no Continente Americano, enquanto o refúgio
teria suas normas elaboradas por uma organização vinculada à ONU, o Alto Comissariado das Nações
Unidas para Refugiados – ACNUR [656]. Em verdade, o instituto do asilo, como citado em nossa
introdução, surgiu no Direito Romano. Assim sendo, consideramos refúgio como o direito, concedido
ao imigrante por fundado temor de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo
social ou opiniões políticas, enquanto asilo é a proteção concedida aos estrangeiros perseguidos por
crimes políticos, delitos de opinião e crimes que não sejam de direito comum. Nesse sentido,
reportando-nos mais uma vez à letra da lei, verifica-se que esta utiliza tanto o termo refúgio ou asilo
quanto refugiados ou asilados políticos.
Convenção sobre Asilo Territorial
Decreto nº 55.929 (14.04.1965)
Artigo 8º
Nenhum Estado tem o direito de pedir a outro Estado que restrinja aos asilados ou refugiados
políticos a liberdade de reunião ou associação que a legislação interna deste reconheça a todos
os estrangeiros dentro do seu território, salvo se tais reuniões ou associações tiverem por objetivo
promover o emprego da força ou da violência contra o governo do Estado suplicante.
Artigo 9º
A pedido do Estado interessado, o país que concedeu refúgio ou asilo procederá à vigilância ou
ao internamento, em distância prudente de suas fronteiras dos refugiados ou asilados políticos
que forem dirigentes notórios de um movimento subversivo, assim como daqueles sobre os quais
existam provas de que se dispõem a incorporar-se no mesmo movimento. (...).
(grifos nossos)
Desta forma, quando nos referirmos a refugiados neste capítulo, o estaremos fazendo enquanto
detentores de asilo político.
Há dois tipos de asilo: o asilo territorial e o diplomático. Para Rezek, é inútil a distinção, uma vez que
todo asilo é político, todavia, há de se salientar que, a simples existência de Convenções com conteúdo
distinto, como as de Asilo Territorial e de Asilo Diplomático, rechaça tal assertiva. Este entendimento,
inclusive, foi expresso por Vicente Marotta Rangel quando, no Parecer sobre o Projeto de Convenção
Interamericana sobre Desaparecimento Forçado de Pessoas, de 15 de fevereiro de 1991, afirmou:
A expressão asilo político deveria ser evitada, não apenas por vincular-se a tratado que se pode
considerar superado pelas convenções de Caracas, mas também por não usufruir da precisão dos
termos asilo diplomático e asilo territorial[657].
Contrariando tal entendimento, o legislador brasileiro optou por classificar o asilo diplomático e
territorial como subespécies do asilo político:
Lei de Migração
Art. 27. O asilo político, que constitui ato discricionário do Estado, poderá ser diplomático ou
territorial e será outorgado como instrumento de proteção à pessoa.
Decreto nº 9.199 (20.11.2017)
Art. 108. O asilo político, que constitui ato discricionário do Estado, poderá ser diplomático ou
territorial e será concedido como instrumento de proteção à pessoa que se encontre perseguida
em um Estado por suas crenças, opiniões e filiação política ou por atos que possam ser
considerados delitos políticos.
Art. 112. Compete ao Presidente da República decidir sobre o pedido de asilo político e sobre a
revogação de sua concessão, consultado o Ministro de Estado das Relações Exteriores.
Art. 114. O ato de concessão do asilo político disporá sobre as condições e os deveres a serem
observados pelo asilado.
Art. 115. O asilado deverá se apresentar à Polícia Federal para fins de registro de sua condição
migratória no prazo de trinta dias, contado da data da publicação do ato de concessão do asilo
político.
Art. 116. O solicitante de asilo político fará jus à autorização provisória de residência,
demonstrada por meio de protocolo, até a obtenção de resposta do seu pedido.
Art. 118. A saída do País sem prévia comunicação ao Ministério das Relações Exteriores
implicará renúncia ao asilo político.
2. ASILO TERRITORIAL
É o acolhimento pelo Estado de estrangeiro perseguido por motivo de dissidência política, delitos de
opinião e crimes que não sejam do direito comum.
Neste sentido, decidiu o Superior Tribunal de Justiça – STJ, a partir do voto-vista de Luiz Fux. pela
improcedência de pedido de asilo e, consequentemente, concessão de refúgio com base em outras
justificativas não previstas em lei:
Superior Tribunal de Justiça – STJ
Consigna-se no direito de permitir que o Estado exerça plenos poderes, em seu território, tendo
jurisdição exclusiva. Todo Estado tem direito, no exercício de sua soberania, de admitir dentro de seu
território as pessoas que julgar convenientes, sem que, pelo exercício desse direito, nenhum outro Estado
possa fazer qualquer reclamação.
Decreto nº 9.199 (20.11.2017)
Art. 109. O asilo político poderá ser:
II - territorial, quando solicitado em qualquer ponto do território nacional, perante unidade da
Polícia Federal ou representação regional do Ministério das Relações Exteriores. (...)
§ 2º O pedido de asilo territorial recebido pelas unidades da Polícia Federal será encaminhado ao
Ministério das Relações Exteriores.
§ 3º O ingresso irregular no território nacional não constituirá impedimento para a solicitação de
asilo e para a aplicação dos mecanismos de proteção, hipótese em que não incidirá o disposto no
art. 307, desde que, ao final do procedimento, a condição de asilado seja reconhecida.
3. ASILO DIPLOMÁTICO
É forma provisória de asilo político, só podendo ser concedido em casos de urgência e pelo tempo
estritamente indispensável para que o asilado deixe o país com as garantias concedidas pelo governo do
Estado territorial, a fim de não correrem perigo sua vida, sua liberdade ou sua integridade pessoal, ou
para que de outra maneira o asilado seja posto em segurança.
Não há reciprocidade de tratamento dos Estados. É concedido aos estrangeiros perseguidos no seu
próprio território, sendo feito em geral pela própria representação diplomática onde se circunscreve a
presença do estrangeiro, que também, como legítima representante jurisdicional de seu Estado, é
competente não só para classificar a natureza do delito, mas ainda os motivos da perseguição.
O asilo diplomático é forma de exceção à plenitude que o Estado exerce sobre o seu território. Ocorre
uma ficção jurídica de extraterritorialidade pela qual há objetos móveis e imóveis que representam um
Estado estrangeiro. Tais objetos, na verdade, representariam a jurisdição do Estado. Uma violação a
essas áreas poderia ser equiparada a uma invasão ao Estado. Assim, é possível conceder o asilo
diplomático nas missões diplomáticas, inclusive imóveis residenciais, acampamentos militares e navios
de guerra.
A maioria dos autores considera inadmissível a concessão de asilo diplomático em repartições
consulares[659], que são apenas entidades administrativas.
Convenção sobre Asilo Diplomático
Decreto nº 42.628 (13.11.1957)
Artigo I
O asilo outorgado em legações, navios de guerra e acampamentos ou aeronaves militares, a
pessoas perseguidas por motivos ou delitos políticos, será respeitado pelo Estado territorial, de
acordo com as disposições desta Convenção.
Para os fins desta Convenção, legação é a sede de toda missão diplomática ordinária, a
residência dos chefes de missão, e os locais por eles destinados para esse efeito, quando o
número de asilados exceder a capacidade normal dos edifícios.
Os navios de guerra ou aeronaves militares, que se encontrarem provisoriamente em estaleiros,
arsenais ou oficinas para serem reparados, não podem constituir recinto de asilo.
Uma vez adentrado o limite jurídico do Estado, o chefe da missão diplomática ou seu correspondente
requererá o salvo-conduto, que é um pedido ao Estado persecutor para que o asilado possa se retirar em
condições de segurança do seu território.
Convenção sobre Asilo Diplomático
Artigo XI
O governo do Estado territorial pode, em qualquer momento, exigir que o asilado seja retirado do
país, para o que deverá conceder salvo-conduto e as garantias estipuladas no Artigo V.
Artigo XII
Concedido o asilo, o Estado asilante pode pedir a saída do asilado para território estrangeiro,
sendo o Estado territorial obrigado a conceder imediatamente, salvo caso de força maior, as
garantias necessárias a que se refere o Artigo V e o correspondente salvo-conduto.
Artigo XIII
Ao Estado asilante cabe o direito de conduzir o asilado para fora do país. O Estado territorial
pode escolher o itinerário preferido para a saída do asilado, sem que isso implique determinar o
país de destino.
É importante ressaltar que o salvo-conduto apenas poderá ser reivindicado se o asilo for concedido
regularmente e se o Estado não desejar que o refugiado permaneça em seu território.
O asilo diplomático é, portanto, forma preliminar de asilo territorial, uma vez que a pessoa terá de se
deslocar a um porto ou aeroporto para embarcar para o Estado que lhe concedeu asilo.
O Decreto nº 9.199/2017 regulamentou da seguinte forma esta matéria:
Decreto nº 9.199 (20.11.2017)
Art. 109. O asilo político poderá ser:
I - diplomático, quando solicitado no exterior em legações, navios de guerra e acampamentos ou
aeronaves militares brasileiros;
§ 1º Considera-se legação a sede de toda missão diplomática ordinária e, quando o número de
solicitantes de asilo exceder a capacidade normal dos edifícios, a residência dos chefes de missão
e os locais por eles destinados para esse fim.
Art. 110. O asilo diplomático consiste na proteção ofertada pelo Estado brasileiro e na condução
do asilado estritamente até o território nacional, em consonância com o disposto na Convenção
Internacional sobre Asilo Diplomático, promulgada pelo Decreto nº 42.628, de 13 de novembro de
1957.
§ 1º Compete à autoridade máxima presente no local de solicitação de asilo diplomático zelar pela
integridade do solicitante de asilo e estabelecer, em conjunto com a Secretaria de Estado das
Relações Exteriores, as condições e as regras para a sua permanência no local de solicitação e
os canais de comunicação com o Estado territorial, a fim de solicitar salvo-conduto que permita
ao solicitante de asilo acessar o território nacional.
§ 2º Considera-se Estado territorial aquele em cujo território esteja situado o local de solicitação
de asilo diplomático.
§ 3º A saída não autorizada do local designado pela autoridade de que trata o caput implicará a
renúncia ao asilo diplomático.
§ 4º Após a chegada ao território nacional, o beneficiário de asilo diplomático será imediatamente
informado sobre a necessidade de registro da sua condição.
A Colômbia apresentou pedido de interpretação da sentença no mesmo dia em que a mesma foi
proferida, todavia o mesmo foi considerado inadmissível pela CIJ[662]. O político permaneceu na
embaixada colombiana até 1954, quando Peru e Colômbia entraram com novo pedido junto à Corte
Internacional de Justiça, que confirmou sua sentença anterior, salientando que a Colômbia o entregaria se
quisesse. Reafirmou, assim, o critério de cortesia e oportunidade, que é a base do asilo diplomático e
segundo o qual um Estado concederá salvo-conduto se quiser e o outro receberá a pessoa também se
quiser. Desta forma, ele ficou “exilado” por cinco anos na embaixada da Colômbia, em Lima, até ter
permissão para deixar o país dirigindo-se ao México onde permaneceu até 1957. Tal situação
possivelmente não se repetirá em virtude da celebração da Convenção sobre Asilo Diplomático, em
1954, mesmo não tendo ainda a Colômbia ratificado tal instrumento.
Outro caso semelhante ocorreu com o Cardeal-Primaz da Hungria József Mindszenty, condenado à
prisão perpétua em 1949 por não aceitar as imposições dos comunistas, obtendo a liberdade em 1956.
Asilou-se, todavia, na embaixada norte-americana quando as tropas russas derrubaram o governo húngaro
de Imre Nagy. Os EUA, mesmo não sendo signatário de nenhuma Convenção sobre Asilo, concederam o
asilo, mas não foi dado salvo-conduto pela Hungria. O cardeal permaneceu na embaixada por 15 anos,
até que foi anistiado em 1971 e recolheu-se a um seminário húngaro em Viena.
Recentemente tivemos o caso de Julian Assange, jornalista australiano que, como porta voz do site
WikiLeaks – de denúncias e vazamentos de informações – que após o vazamento da vasta massa de
documentos sobre possíveis crimes de guerra cometidos pelo Exército dos Estados Unidos nas Guerras
do Afeganistão e do Iraque, em 2010, terminou sendo colocado na lista de procurados pela Interpol a
partir de uma acusação de estupro e abuso sexual contra uma prostituta sueca, no mesmo ano, que acabou
com o pedido de sua extradição para aquele país, concedida em 31 de maio de 2012 pela Suprema Corte
do reino Unido. Por temer que, tão logo chegasse à Suécia, pudesse ser extraditado para os Estados
Unidos e processado por espionagem, fraude e abuso de computadores, fato que poderia puni-lo com a
prisão perpétua naquele país, Assange consegue entrar na Embaixada do Equador de Londres em 19 de
junho, onde requer asilo diplomático, que lhe é conferido pelo presidente equatoriano Rafael Correa, em
16 de agosto de 2012. O governo britânico não apenas desconsiderou o pedido de asilo, mas ameaçou
invadir o local, iniciando uma operação de vigilância ininterrupta, realizada pela Scotland Yard, apenas
foi encerrada em 2015. O impasse perdura até a presente data, permanecendo Assange refugiado nas
dependências da embaixada equatoriana em Londres.
Outro escândalo envolveu o vazamento de informações confidenciais norte-americanas aconteceu a
partir da publicação de detalhes de vários programas que constituem o sistema de vigilância global da
Agencia de Segurança Nacional – National Secutity Agency – NSA, a partir das revelações de Edward
Snowden, analista de sistemas norte-americano, que foi administrador de sistemas tanto da CIA, quanto
da NSA. Estas se deram através de detalhes fornecidos aos jornais The Guardian (Reino Unido) e The
Washington Post (EUA) no qual ele detalhava o funcionamento da vigilância global de comunicações e
tráfego de informações executadas pelo programa de vigilância PRISM dos Estados Unidos, mantido
secreto desde a sua criação em 2007 até as referidas denúncias, em 7 de junho de 2013. A partir daí,
Snowden foi acusado de roubo de propriedade do governo, comunicação não autorizada de informações
de defesa nacional e comunicação intencional de informações classificadas como de inteligência para
pessoa não autorizada pelo governo dos Estados Unidos. Do Havaí, onde trabalhava, e antes de revelar
os documentos secretos aos jornalistas, Snowden viajou para Hong Kong em 20 de maio. As autoridades
norte-americanas ao tomar conhecimento de sua presença em Hong Kong solicitaram, sem sucesso, sua
extradição. Em Hong Kong, ele então se reuniu com o jornalista Glenn Greenwald e a cineasta e
jornalista Laura Poitras, e lhes entregou os documentos que comprovavam as suas afirmações da
existência dos programas de vigilância em massa. Em 23 de junho de 2013, Snowden embarcou em um
avião comercial da Aeroflot, de Hong Kong com destino a Moscou sob os cuidados de Sarah Harrison,
jornalista britânica, pesquisadora legal e editora de WikiLeaks. Na manhã de 24 de junho de 2013, ficou
detido na área de trânsito do Aeroporto Internacional Sheremetyevo enquanto Harrison trabalhava para
obter asilo para Snowden juntamente com advogados russos, aí permanecendo até 1º de agosto de 2013,
quando finalmente efetivou a sua entrada em território russo, depois de ter recebido documentação do
Serviço de Migração russo que lhe concedeu asilo na Rússia. Em 18 de janeiro de 2017, a Rússia
estendeu o asilo político à Snowden até 2020.
A sua naturalização deve ser facilitada se assim o desejarem, uma vez que, geralmente, são expatriados
por seu Estado de origem, tornando-se apátridas. É o que dispõe a Convenção sobre o Estatuto dos
Refugiados:
Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados
Decreto nº 50.215 (28.01.1961)
Artigo 34 – Naturalização
Os Estados Contratantes facilitarão, na medida do possível, a assimilação e a naturalização dos
refugiados. Esforçar-se-ão, em especial, para acelerar o processo de naturalização e reduzir,
também na medida do possível, as taxas e despesas desse processo.
O reconhecimento da condição de refugiado obstará o seguimento de qualquer pedido de extradição
baseado nos fatos que fundamentaram a concessão de refúgio (art. 33 – Estatuto dos Refugiados). Além
disso, apenas poderão ser expulsos por motivos de segurança nacional ou de ordem pública (art. 36 –
Estatuto dos Refugiados) e, mesmo assim, somente em consequência de decisão judicial proferida em
processo legal (art. 32, 2 – Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados).
Cessará a condição de refugiado quando ele: voltar a valer-se da proteção do país de que é nacional;
recuperar voluntariamente a nacionalidade outrora perdida; adquirir nova nacionalidade e gozar da
proteção do país cuja nacionalidade adquiriu; estabelecer-se novamente de maneira voluntária no país
que abandonou ou fora do qual permaneceu por medo de ser perseguido; não puder mais recusar a
proteção do país de que é nacional por terem deixado de existir as circunstâncias em consequência das
quais foi reconhecido como refugiado; e, sendo apátrida, estiver em condições de voltar ao país no qual
tinha sua residência habitual, uma vez que tenham deixado de existir as circunstâncias em consequência
das quais foi reconhecido como refugiado[674].
Implicará em perda da condição de refugiado: a renúncia; a prova da falsidade dos fundamentos
invocados para o reconhecimento da condição de refugiado ou a existência de fatos que, se fossem
conhecidos quando do reconhecimento, teriam ensejado na negativa do pedido; o exercício de atividades
contrárias à segurança nacional ou à ordem pública; e, a saída do território nacional sem prévia
autorização do Governo brasileiro[675].
A repatriação de refugiados aos seus países de origem deve ser caracterizada pelo caráter voluntário
do retorno, salvo nos casos em que não possam recusar a proteção do país de que são nacionais, por não
mais subsistirem as circunstâncias que determinaram o refúgio (art. 42 – Estatuto dos Refugiados).
Por fim, há a figura do reassentamento que se aplica àqueles refugiados que, por questões de
segurança, adaptação ou integração, não permanecem no primeiro país de acolhida, sendo realocados em
um terceiro Estado uma vez que se encontram impedidos de retornar ao país de origem. Neste sentido,
dispõe o Estatuto dos Refugiados:
Estatuto dos Refugiados
Artigo 45 - O reassentamento de refugiados em outros países deve ser caracterizado, sempre
que possível, pelo caráter voluntário.
Artigo 46 - O reassentamento de refugiados no Brasil se efetuará de forma planificada e com a
participação coordenada dos órgãos estatais e, quando possível, de organizações não-
governamentais, identificando áreas de cooperação e de determinação de responsabilidades.
Caso de concessão de asilo político que proporcionou acaloradas discussões foi o do ex-Presidente
paraguaio e proprietário da Construtora 14 de Julio – uma das responsáveis pela construção da
hidrelétrica de Itaipu – Raúl Cubas Grau, concedida em 30.03.1999 pelo então Ministro da Justiça Renan
Calheiros por um prazo inicial de quatro anos. Cubas, tendo adentrado na Embaixada Brasileira em
Assunção, solicitou asilo político no Brasil após decisão de prisão domiciliar ordenada pela justiça
paraguaia para investigar sua responsabilidade no assassinato do Vice-Presidente paraguaio Luis Maria
Argaña. O governo brasileiro enviou um avião da Força Aérea Brasileira – FAB para transportá-lo e a
seus familiares do Paraguai para Balneário Camboriú – SC. Cubas terminou retornando ao Paraguai em
2002, sendo preso e processado por corrupção e conspiração para o assassinato de Argaña, tendo sido
absolvido pela justiça paraguaia.
Outro caso a ser destacado é o do serra-leonês Gofu Corleoma, utilizado pelo Ministério da Justiça
como símbolo da política brasileira para os refugiados. Após fugir como clandestino da África do Sul,
embarcando no Porto de Durban no navio de bandeira panamenha Aldebaran II, Gozu foi jogado ao mar
pela tripulação oriental em águas brasileiras por ordem do capitão da embarcação Yao Ren Fu, de
nacionalidade chinesa[680]. O africano foi recolhido por pescadores do Rio Grande do Norte no dia 1º de
janeiro de 2001, obtendo o status de refugiado.
Mais interessante ainda, foi a situação inusitada causada pelo hondurenho Manuel Zelaya que levou à
violação sucessiva de normas de Direito internacional[681], pelos mais variados sujeitos de Direito que,
voluntária ou involutariamente, se viram envolvidos em mais uma das “trapalhadas” políticas que ainda
persistem na América Latina.
Eleito presidente da República de Honduras, Zelaya exerceu o cargo de 27 de janeiro de 2006 a 28 de
junho de 2009 quando foi preso em sua residência e encaminhado “compulsoriamente”, em aeronave
pertencente às Forças Aéreas Hondurenhas para San Jose, Costa Rica. Ao ser entregue às autoridades
locais, seus detentores, antes de retornar a Tegucigalpa, afirmaram que obedeciam à decisão da Suprema
Corte de seu país, que não só o depôs, mas indicou para substituí-lo Roberto Micheletti, sob a alegação
de “desobediência constitucional”[682].
Em comunicado tanto a Organização das Nações Unidas – ONU, quanto a Organização dos Estados
Americanos – OEA, classificam tal ato como um condenável Golpe de Estado. Em resposta, o “Governo
Golpista” denuncia a Carta da OEA, o que envolve, segundo seu entendimento, o não reconhecimento da
aplicação das normas e da jurisdição desse organismo em território hondurenho[683].
Zelaya busca, então, apoio na sede da OEA que suspende, por unanimidade, a participação de
Honduras no organismo. Desta forma parte de Washington para Honduras em um avião venezuelano, mas
não consegue aterrissar em Tegucigalpa, retornando novamente a Washington. De volta à capital dos
Estados Unidos da América, reúne-se com a Secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, onde
é acordado o início de negociações sob a mediação do presidente da Costa Rica e Prêmio Nobel da Paz
em 1987, Oscar Arias. Arias apresenta, em 18 de julho, um plano de sete pontos, entre eles a “restituição
de Zelaya como presidente de Honduras até janeiro de 2010”, possibilidade imediatamente rejeitada pelo
“Governo golpista”[684].
Tomando um desfecho ainda mais novelístico e cada vez menos jurídico, após buscar apoio no
México, Brasil, Chile e Peru, onde é recebido com honras de Chefe de Estado, Zelaya retorna
inesperadamente, ao seu país em 21 de setembro de 2009 e acompanhado por dezenas de simpatizantes,
aloja-se na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa. No mesmo dia, o Ministro das Relações Exteriores,
Celso Amorim confirmou que a entrada do presidente deposto na missão diplomática brasileira se deu
por meios “próprios e pacíficos”, abrindo um precedente sui generis nas Relações Internacionais, onde a
missão diplomática de um Estado refugia alguém que sequer manifesta a intenção de requerer Asilo em
suas dependências, uma vez que, claramente, a sua intenção não foi a de obter o asilo territorial ou o
refúgio no Brasil, nem o asilo diplomático na embaixada brasileira, mas sim a de retornar e permanecer
em segurança no território hondurenho.Aproveitando-se da ausência do embaixador brasileiro e da
inviolabilidade da embaixada brasileira, Zelaya transformou-a num palanque político, incitando, da
sacada do prédio, a multidão de simpatizantes contra o governo hondurenho que, logo após a sua
chegada, havia cercado o imóvel. Diante disso e a partir do impasse político gerado por um fato jurídico
de difícil tipificação, o governo brasileiro se viu obrigado a advertir o presidente hondurenho impondo,
como uma das condições para a manutenção do abrigo, a adoção de uma postura discreta por parte de
Zelaya.
Em reação contra a concessão de abrigo à Zelaya na embaixada brasileira de Tegucigalpa, Micheletti
ordenou que soldados hondurenhos cercassem a embaixada e dispersassem os manifestantes que se
aglomeraram em torno do imóvel, além de determinar suspensão do fornecimento de eletricidade, de água
e de alimentos e o corte da linha telefônica da representação diplomática brasileira.
Em 28 de outubro de 2009, o Embaixador de Honduras nos Países Baixos apresentou uma reclamação
contra o Brasil perante a Corte Internacional de Justiça – CIJ. Nesse pedido, conhecido como Algumas
Questões sobre relações Diplomáticas – Certain Questions concerning Diplomatic Relations (Honduras
v. Brazil)[685], Honduras instituiu procedimentos contra o Brasil – envolvendo questões legais
relacionadas às relações diplomáticas associadas ao princípio da não-intervenção em assuntos de sua
jurisdição doméstica, previstas na Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas (1961), e na Carta
das Nações Unidas (1945), respectivamente – requerendo, por fim, que a Corte declarasse que o Brasil
não teria direito de permitir que sua Missão em Tegucigalpa fosse usada para promover atividades
ilegais promovidas por cidadão hondurenhos. No mesmo dia, uma cópia da reclamação foi enviada ao
Governo Brasileiro que não se manifestou a respeito[686].
Com a posse de um novo presidente – Porfírio Lobo –, em 20 de janeiro de 2010, valendo-se de um
salvo-conduto dado pelo novo presidente do país, Manuel Zelaya, acusado de violação à Constituição de
Honduras, deixou a Embaixada do Brasil, onde ficou abrigado por quatro meses, rumo à República
Dominicana. Honduras terminou sendo suspensa da Organização dos Estados Americanos – OEA até que,
em 28 de maio de 2011, Manuel Zelaya regressou ao país, após 16 meses de exílio na República
Dominicana.
Por fim, temos o caso do senador boliviano Roger Pinto Molina, um dos principais parlamentares de
oposição ao governo do presidente boliviano, Evo Morales. Molina, que representava a região de Pando
(norte), estava refugiado na embaixada brasileira em La Paz desde o dia 28 de maio de 2012, e ali pediu
asilo alegando ser vítima de perseguição política por criticar Morales e acusá-lo de não atuar contra o
narcotráfico. Concedido o asilo, em 8 de junho de 2012, ele vivia em uma pequena sala de representação
da embaixada brasileira em La Paz. Como o governo boliviano não concedeu o salvo-conduto para a sua
saída do país, alegando pratica de crime de danos econômicos ao Estado calculados em pelo menos US$
1,7 milhões, este fugiu para o Brasil com o apoio de Eduardo Sabóia, encarregado de negócios, que o
levou até Corumbá, em percurso de mais de 20 horas, feito por um carro da embaixada brasileira, onde
chegou em 24 de agosto de 2013. De Corumbá, Molina seguiu para Brasília de avião. O parlamentar
boliviano desembarcou à 1:10 do dia seguinte no Aeroporto de Brasília, acompanhado pelo senador
Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da Comissão de Relações Exteriores. Esta operação provocou
uma crise diplomática entre Evo Morales e a então presidente Dilma Roussef, que terminou com o pedido
de demissão do então Ministro das Relações Exteriores Antonio Patriota, em 26 de agosto, e a suspensão
de Eduardo Saboya do Itamaraty. Molina veio a falecer, em 16 de agosto de 2017, em decorrência dos
ferimentos causados por um acidente aéreo no Estado de Goiás.
Capítulo 14
DEPORTAÇÃO
1. CONCEITO
A matéria está tratada nos artigos 50 a 53 da Seção III (Deportação), do Capítulo V (Das Medidas de
Retirada Compulsória) e 109 do Capítulo IX (Das infrações e Penalidades Administrativas) da Lei nº
13.445 – Lei de Migração, de 24 de maio de 2017 – e, na Seção III, do Capítulo XI (Das Medidas de
Retirada Compulsória) do Decreto nº 9.199/2017.
É a exclusão do estrangeiro do âmbito territorial do Estado onde se encontra em situação migratória
irregular, pelo fato de ali ter adentrado de forma irregular ou, mesmo tendo entrado de forma regular, a
sua estadia tenha se tornado irregular.
Lei de Migração
Art. 109. Constitui infração, sujeitando o infrator às seguintes sanções:
I - entrar em território nacional sem estar autorizado:
Sanção: deportação, caso não saia do País ou não regularize a situação migratória no prazo
fixado;
II - permanecer em território nacional depois de esgotado o prazo legal da
documentação migratória:
Sanção: multa por dia de excesso e deportação, caso não saia do País ou não regularize a
situação migratória no prazo fixado;
(grifos nossos)
2. PRAZO
A Lei de Migração alterou o prazo para a execução da Deportação, ampliando-o significativamente.
Enquanto que pelo Decreto nº 86.715/81 o prazo girava entre 3 e 8 dias, pela atual norma jurídica, este
foi estabelecido em, no mínimo, 60 dias após a notificação pessoal do deportando, prorrogáveis por
igual período. Este prazo, todavia, poderá ser reduzido em caso de prática de ato contrário aos
princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal (art. 45, IX – Lei de Migração).
3. PROCEDIMENTO
A deportação é medida decorrente de processo administrativo, devendo ser precedida de notificação
pessoal ao deportado, da qual constem expressamente as irregularidades administrativas.
Decreto nº 9.199 (20.11.2017)
Art. 187. A deportação consiste em medida decorrente de procedimento administrativo da
qual resulta a retirada compulsória da pessoa que se encontre em situação migratória irregular no
território nacional.
Parágrafo único. Os procedimentos concernentes à deportação observarão os princípios do
contraditório, da ampla defesa e da garantia de recurso com efeito suspensivo.
(grifos nossos)
O Procedimento será instaurado pela Polícia Federal, estando previsto da seguinte forma pelo Decreto
nº 9.199/2017:
Decreto nº 9.199 (20.11.2017)
Art. 188. O procedimento que poderá levar à deportação será instaurado pela Polícia Federal.
§ 1º O ato de que trata o caput conterá relato do fato motivador da medida e a sua
fundamentação legal, e determinará:
I - a juntada do comprovante da notificação pessoal do deportando prevista no art. 176;
II - notificação, preferencialmente por meio eletrônico:
a) da repartição consular do país de origem do imigrante;
b) do defensor constituído do deportando, quando houver, para apresentação de defesa técnica no
prazo de dez dias; e
c) da Defensoria Pública da União, na ausência de defensor constituído, para apresentação de
defesa técnica no prazo de vinte dias.
§ 2º As irregularidades verificadas no procedimento administrativo da deportação constarão,
expressamente, das notificações de que trata o § 1º.
§ 3º A assistência jurídica providenciará defesa técnica no prazo a que se refere o § 1º, e, se
entender necessário:
I - tradutor ou intérprete; e
II - exames ou estudos.
§ 4º A ausência de manifestação da Defensoria Pública da União, desde que prévia e
devidamente notificada, não impedirá a efetivação da medida de deportação.
Art. 189. Caberá recurso com efeito suspensivo da decisão sobre deportação no prazo
de dez dias, contado da data da notificação do deportando.
Art. 190. Não se procederá à deportação se a medida configurar extradição não admitida pela
legislação brasileira.
(grifos nossos)
Com relação à entrega, se a pessoa vier de seu próprio Estado, será deportada de volta para lá. Se
proceder de Estado que não o de sua nacionalidade, em geral, será deportada para este. É possível,
ainda, que o deportado seja recebido por um terceiro Estado que consinta em recebê-lo.
7. IMPOSSIBILIDADE DE DEPORTAÇÃO
Não se procederá à deportação se a medida configurar em extradição não admitida pela legislação
brasileira (art. 53 – Lei de Migração).
Não poderá ser deportado o indivíduo que seja juridicamente considerado refugiado ou ainda tenha seu
pedido de asilo analisado pelas autoridades competentes[695], como ratifica a decisão do Tribunal
Regional Federal da 5ª Região, abaixo transcrita:
Tribunal Regional Federal da 5ª Região – TRF-5
Não poderá ainda ser deportado o estrangeiro que se beneficiar de norma jurídica específica que lhe
conceda ou estenda direitos, como a Lei nº 11.961, de 2 de julho de 2009 que, dispôs sobre a residência
provisória para o estrangeiro em situação irregular no território nacional.
Hipóteses impeditivas da expulsão poderão ser consideradas, de forma extensiva, também para a
deportação, conforme se depreende do excerto da decisão abaixo:
Tribunal Federal de Recursos da 5ª Região
Apelação / Reexame Necessário nº 31290-PB (28.10.2014) [697]
Relator: Ivan Lira de Carvalho
O caso não se trata de expulsão, mas de deportação proveniente de estada irregular em território
brasileiro. Contudo, as hipóteses de vedação à expulsão podem ser utilizadas para o caso de
deportação (casamento e filho).
O recorrido faz jus à permanência no Brasil em razão da reunião familiar (art. 226, CF), não se
devendo admitir a possibilidade de deportação de estrangeiro que seja casado e tenha filho
dependente economicamente.
Capítulo 15
EXPULSÃO
1. CONCEITO
É a exclusão do estrangeiro por iniciativa do Estado em que se encontra.
Está prevista na Seção IV (Da Expulsão), do Capítulo V (Das Medidas de Retirada Compulsória) da
Lei de Migração, e na Seção IV (da Expulsão), do Capítulo XI (Das Medidas de Retirada Compulsória)
do Decreto nº 9.199/2017 da seguinte forma:
Lei de Migração
Art. 54. A expulsão consiste em medida administrativa de retirada compulsória de migrante ou
visitante do território nacional, conjugada com o impedimento de reingresso por prazo
determinado.
§ 1º Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada em julgado relativa
à prática de:
I - crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de
agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998,
promulgado pelo Decreto no 4.388, de 25 de setembro de 2002; ou
II - crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade
e as possibilidades de ressocialização em território nacional.
2. PROCESSO
Seu procedimento está da seguinte forma regulamentado pelo Decreto nº 9.199/2017.
Decreto nº 9.199 (20.11.2017)
Art. 195. O procedimento de expulsão será iniciado por meio de Inquérito Policial de Expulsão.
§ 1º O Inquérito Policial de Expulsão será instaurado pela Polícia Federal, de ofício ou
por determinação do Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública, de requisição ou de
requerimento fundamentado em sentença, e terá como objetivo produzir relatório final sobre a
pertinência ou não da medida de expulsão, com o levantamento de subsídios para a decisão,
realizada pelo Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública, acerca:
I - da existência de condição de inexpulsabilidade;
II - da existência de medidas de ressocialização, se houver execução de pena; e
III - da gravidade do ilícito penal cometido.
§ 2º A instauração do Inquérito Policial de Expulsão será motivada:
I - na hipótese prevista no inciso I do caput do art. 192, pelo recebimento, a qualquer tempo, por
via diplomática, de sentença definitiva expedida pelo Tribunal Penal Internacional; ou
II - na hipótese prevista no inciso II do caput do art. 192, pela existência de sentença.
§ 3º Os procedimentos concernentes à expulsão observarão os princípios do contraditório e da
ampla defesa.
§ 4º O ato de que trata o caput conterá relato do fato motivador da expulsão e a sua
fundamentação legal, e determinará que seja realizada, de imediato, a notificação,
preferencialmente por meio eletrônico:
I - do expulsando;
II - da repartição consular do país de origem do imigrante;
III - do defensor constituído do expulsando, quando houver; e
IV - da Defensoria Pública da União.
§ 5º A assistência jurídica providenciará defesa técnica no prazo a que se refere o art. 196, e, se
entender necessário, tradutor ou intérprete.
§ 6º A expulsão somente ocorrerá após o trânsito em julgado da ação que julgar o
processo de expulsão.
Art. 196. O defensor constituído terá o prazo de dez dias para apresentação de defesa
técnica no procedimento administrativo de expulsão e dez dias para interposição de
pedido de reconsideração, quando for o caso.
Parágrafo único. Os prazos estabelecidos no caput serão contados em dobro em relação à
Defensoria Pública da União.
Art. 197. Iniciado o processo de expulsão, o expulsando será notificado da sua instauração, além
da data e do horário fixados para o seu interrogatório.
Parágrafo único. Se o expulsando não for encontrado, a Polícia Federal dará publicidade à
instauração do Inquérito Policial de Expulsão em seu sítio eletrônico e tal publicação será
considerada como notificação para todos os atos do referido procedimento.
Art. 200. O Inquérito Policial de Expulsão será instruído com os seguintes documentos:
I - o ato a que se refere o art. 195, § 1º , e a documentação que fundamentou a sua edição;
II - a cópia da sentença penal condenatória e a certidão de trânsito em julgado, se disponíveis;
III - o documento do juízo de execução penal que ateste se o expulsando é beneficiário de
medidas de ressocialização em cumprimento de penas cominadas ou executadas no território
nacional, se já houver execução;
IV - o termo de notificação pessoal do expulsando ou a cópia da notificação publicada no sítio
eletrônico da Polícia Federal;
V - os termos de notificação:
a) do representante consular do país de nacionalidade do expulsando; e
b) do defensor constituído do expulsando ou, em sua ausência, da Defensoria Pública da União
ou de defensor dativo;
VI - o auto de qualificação e interrogatório;
VII - a defesa técnica apresentada:
a) pelo defensor constituído do expulsando, quando houver; ou
b) pela Defensoria Pública da União ou por defensor dativo;
VIII - o termo das diligências realizadas; e
IX - o relatório final.
§ 1º O Inquérito Policial de Expulsão poderá ser instruído com outros documentos, a critério da
autoridade que o presidir.
§ 4º Durante o inquérito, suscitada a hipótese de inexpulsabilidade, as diligências para a sua
confirmação serão providenciadas.
§ 5º Na hipótese de indeferimento das diligências requeridas pela defesa do expulsando, a
autoridade que presidir o Inquérito Policial de Expulsão deverá elaborar despacho fundamentado.
Art. 201. O direito à palavra deverá ser dado ao expulsando e ao seu defensor na oitiva de
testemunhas e no interrogatório, anteriormente ao encerramento do Inquérito Policial de
Expulsão.
Art. 202. O relatório final com a recomendação técnica pela efetivação da expulsão ou pelo
reconhecimento de causa de impedimento da medida de retirada compulsória será encaminhado
para apreciação e deliberação do Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública.
Muito se discutiu se a norma que previa a possibilidade de prisão do estrangeiro sujeito a expulsão –
Lei 6.815/90 –, conflitaria com norma Constitucional[698]. Hoje em dia tal questão já se tornou superada,
como podemos inferir da análise da decisão, infra:
Tribunal Regional Federal da 1ª Região – TRF-1
Caso seja decidida a expulsão, poderá o estrangeiro requerer reconsideração, dentro de dez dias após
a sua notificação pessoal, conforme instruiu tanto a Lei de Migração quanto o Decreto nº 9.199/2017, que
a regulamentou.
Lei de Migração
Art. 58. No processo de expulsão serão garantidos o contraditório e a ampla defesa.
§ 2º Caberá pedido de reconsideração da decisão sobre a expulsão no prazo de 10 (dez) dias, a
contar da notificação pessoal do expulsando.
Decreto nº 9.199 (20.11.2017)
Art. 203. Publicado o ato do Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública que disponha
sobre a expulsão e o prazo determinado de impedimento para reingresso no território nacional, o
expulsando poderá interpor pedido de reconsideração no prazo de dez dias, contado da data
da sua notificação pessoal.
Parágrafo único. Ato do dirigente máximo da Polícia Federal disporá sobre a notificação pessoal
por meio eletrônico nas hipóteses de expulsão.
(grifos nossos)
3. IMPOSSIBILIDADE DE EXPULSÃO
Tanto o art. 55 da Lei de Migração quanto o art. 193 do Decreto nº 9.199/2017 que a regulamentou,
dispõe sobre as hipóteses em que não se poderá expulsar o estrangeiro, que são:
Lei de Migração
Art. 55. Não se procederá à expulsão quando:
I - a medida configurar extradição inadmitida pela legislação brasileira;
II - o expulsando:
a) tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência econômica ou socioafetiva
ou tiver pessoa brasileira sob sua tutela;
b) tiver cônjuge ou companheiro residente no Brasil, sem discriminação alguma,
reconhecido judicial ou legalmente;
c) tiver ingressado no Brasil até os 12 (doze) anos de idade, residindo desde então no País;
d) for pessoa com mais de 70 (setenta) anos que resida no País há mais de 10 (dez) anos,
considerados a gravidade e o fundamento da expulsão.
(grifos nossos)
Por fim, no caso de refugiado regularmente registrado, mesmo que sua estadia se torne
indesejável, por motivos de segurança nacional ou de ordem pública, não poderá a expulsão ser
efetivada para Estado onde sua vida, liberdade ou integridade física possam estar em risco, e
apenas o será quando da certeza de sua admissão em país onde não haja riscos de perseguição
(arts. 36 e 37 – Estatuto dos Refugiado).
4. ENTREGA DO EXPULSO
Em geral, o expulso é entregue ao Estado de sua nacionalidade, só podendo retornar ao nosso país
com a revogação do Decreto/Portaria de expulsão.
Caso reingresse no país, incidirá no crime previsto no artigo 338 do Código Penal (reingresso de
estrangeiro expulso), que sujeita o estrangeiro à pena de reclusão, de 1 a 4 anos, sem prejuízo de nova
expulsão após o cumprimento da pena.
Capítulo 16
EXTRADIÇÃO
1. CONCEITO E JUSTIFICATIVA
A extradição é o ato no qual um Estado entrega uma pessoa que se encontra em seu território às
autoridades de outro Estado, a fim de que lá seja julgada pelos delitos nele cometidos ou para que
cumpra pena por um delito no qual já tenha sido julgada e condenada.
Está prevista no Título VIII (da Extradição) do Decreto nº 86.715/81 e na Seção I (Da Extradição), do
Capítulo VII (Das Medidas de Cooperação) da Lei de Migração, bem como na Seção I (Da Extradição),
do Capítulo XIV (Das Medidas de Cooperação Vinculadas à Mobilidade) da seguinte forma:
Lei de Migração – Lei nº 13.445 (24.05.2017)
Art. 81. A extradição é a medida de cooperação internacional entre o Estado brasileiro e outro
Estado pela qual se concede ou solicita a entrega de pessoa sobre quem recaia condenação
criminal definitiva ou para fins de instrução de processo penal em curso.
A extradição se justifica por dois motivos: interesse da justiça: interesse de que a pessoa não seja
subtraída às consequências do delito por ela cometido; e, solidariedade dos Estados contra o crime no
intuito de manter a ordem social na Sociedade Internacional.
3. FUNDAMENTO
A extradição fundamenta-se em dois instrumentos jurídicos:
O não cumprimento deste princípio resultou no pleito, proposto pela Bélgica contra Senegal perante a
Corte Internacional de Justiça – CIJ, em 16 de fevereiro de 2009, questionando a não aplicação deste
princípio quando do pedido belga de extradição do ex-presidente do Chade, Hisséne Habré, acusado de
cometer crimes contra a humanidade. Neste sentido, pronunciou-se a Corte.
Corte Internacional de Justiça – CIJ
(grifos nossos)
Estatuto de Roma
Artigo 20 – Ne bis in idem
1. Salvo disposição contrária do presente Estatuto, nenhuma pessoa poderá ser julgada pelo
Tribunal por atos constitutivos de crimes pelos quais este já a tenha condenado ou
absolvido.
2. Nenhuma pessoa poderá ser julgada por outro tribunal por um crime mencionado no artigo 5°,
relativamente ao qual já tenha sido condenada ou absolvida pelo Tribunal.
3. O Tribunal não poderá julgar uma pessoa que já tenha sido julgada por outro tribunal, por atos
também punidos pelos artigos 6º, 7º ou 8º, a menos que o processo nesse outro tribunal:
a) Tenha tido por objetivo subtrair o acusado à sua responsabilidade criminal por crimes da
competência do Tribunal; ou
b) Não tenha sido conduzido de forma independente ou imparcial, em conformidade com as
garantias de um processo equitativo reconhecidas pelo direito internacional, ou tenha sido
conduzido de uma maneira que, no caso concreto, se revele incompatível com a intenção de
submeter a pessoa à ação da justiça.
(grifos nossos)
Segundo Carolina Lisboa, tal princípio tem duplo propósito: por um lado, por uma questão de
respeito à soberania, o sistema judicial do Estado requerido deve ter prioridade ao do Estado
requerente; por outro, deve garantir um direito fundamental do indivíduo, impedindo que seja
perseguido, ainda que em jurisdição diferente, pelo mesmo fato[713].
4.4 Especialidade / Efeito Limitativo da Extradição
O extraditando só será processado e julgado pelos crimes previstos no pedido. Se, posteriormente,
verificar-se que ele cometeu outros delitos, até mesmo mais graves, não poderá ser julgado por este, pois
não fizeram parte do pedido de extradição. Tal princípio não é absoluto, possuindo as duas exceções:
extradição supletiva; e, purga da extradição.
Superior Tribunal de Justiça – STJ
Habeas Corpus nº 135.546 – RJ (17.02.2013)[714]
Relatora: Marilza Maynard
(...) em função do Princípio da Especialidade, também adotado no Brasil, o paciente não pode ser
processado nem ter sua liberdade de locomoção restringida por qualquer fato anterior que não
esteja previsto no acordo de extradição.
(...) deve ser revogada a prisão preventiva do paciente, tendo em vista o mencionado princípio,
bem como o excesso de prazo da prisão, ocasionado pela suspensão do processo.
(...) a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é assente no sentido de que o princípio da
especialidade não tem natureza absoluta, podendo ser superado, entre outros motivos, pela
extensão da extradição,
5. CLASSIFICAÇÃO
São diversas as classificações:
a) Extradição ativa v. passiva
A extradição ativa é aquela vista sob o ponto de vista do autor do pedido – Estado Requerente –,
enquanto a passiva leva em consideração o Estado requerido.
Decreto nº 9.199 (20.11.2017)
Art. 266. A extradição passiva ocorre quando o Estado estrangeiro solicita ao Estado brasileiro a
entrega de pessoa que se encontre no território nacional sobre quem recaia condenação criminal
definitiva ou para fins de instrução de processo penal em curso.
Art. 278. A extradição ativa ocorre quando o Estado brasileiro requer a Estado Estrangeiro a
entrega de pessoa sobre quem recaia condenação criminal definitiva ou para fins de instrução de
processo penal em curso.
Lei de Migração
Art. 99. Salvo motivo de ordem pública, poderá ser permitido, pelo órgão competente do Poder
Executivo, o trânsito no território nacional de pessoa extraditada por Estado estrangeiro, bem
como o da respectiva guarda, mediante apresentação de documento comprobatório de concessão
da medida.
i) Extradição indireta
É expediente fraudulento do Estado interessado no intuito de obter mais facilmente a extradição. É o
que ocorreu com Ronald Biggs, o assaltante do trem pagador. O Reino Unido não quis celebrar tratado ou
promessa de reciprocidade. Como havia entrado de forma irregular em nosso estado, foi requerida a sua
deportação, que na realidade configuraria uma extradição indireta, instrumento não admitido em nossa
legislação.
6. REGRAS PROCESSUAIS
Prevalecem as regras do Estado ativo. Em relação a isso, algumas condições que devem ser
observadas, de acordo com a Lei de Migração.
Lei de Migração
Art. 83. São condições para concessão da extradição:
I - ter sido o crime cometido no território do Estado requerente ou serem aplicáveis ao
extraditando as leis penais desse Estado; e
II - estar o extraditando respondendo a processo investigatório ou a processo penal ou ter
sido condenado pelas autoridades judiciárias do Estado requerente a pena privativa de
liberdade.
(grifos nossos)
6.1 Territorialidade
Poderá requerer extradição tanto um Estado onde a pessoa tenha cometido o delito no todo ou em parte
quanto aquele que possa aplicar sua jurisdição sobre o extraditando, recaindo a preferência sobre o
Estado em que no território o delito tenha sido praticado.
Admite-se, todavia, a extensão do princípio da jurisdição territorial[720] desde que o mesmo esteja
previsto quando da celebração do Tratado de Extradição e atenda a requisitos específicos, como vemos
abaixo:
Tratado de Extradição Brasil – Venezuela
Decreto n° 5.362 -12.03.1940
Artigo IV
Quando a infração se tiver verificado fora do território das Altas Partes Contratantes, o pedido
de extradição poderá ter andamento se as leis do Estado requerente e as do Estado requerido
autorizarem a punição de tal infração, nas condições indicadas, isto é, cometida em país
estrangeiro.
No caso de crimes variados praticados em diversos Estados, todos são aptos para pedir extradição.
Neste caso terá preferência no pedido o Estado onde foi cometido o delito mais grave. Caso os delitos
tenham o mesmo grau de gravidade, prevalecerá o Estado que houver feito o pedido de extradição
primeiro[721]. Caso os pedidos sejam simultâneos, verifica-se a nacionalidade do extraditando e terá
preferência o Estado de sua nacionalidade. Se o extraditando contar com dupla, múltipla ou nenhuma
nacionalidade, o critério será o de seu domicílio. Caso nenhuma dessas situações solucione o conflito de
competência, competirá ao Poder Executiva a sua decisão.
Lei de Migração
Art. 85. Quando mais de um Estado requerer a extradição da mesma pessoa, pelo mesmo
fato, terá preferência o pedido daquele em cujo território a infração foi cometida.
§ 1º Em caso de crimes diversos, terá preferência, sucessivamente:
I - o Estado requerente em cujo território tenha sido cometido o crime mais grave, segundo a
lei brasileira;
II - o Estado que em primeiro lugar tenha pedido a entrega do extraditando, se a gravidade dos
crimes for idêntica;
III - o Estado de origem, ou, em sua falta, o domiciliar do extraditando, se os pedidos forem
simultâneos.
§ 2º Nos casos não previstos nesta Lei, o órgão competente do Poder Executivo decidirá sobre a
preferência do pedido, priorizando o Estado requerente que mantiver tratado de
extradição com o Brasil.
§ 3º Havendo tratado com algum dos Estados requerentes, prevalecerão suas normas no que diz
respeito à preferência de que trata este artigo.
(grifos nossos)
Temos aí uma ordem de prelação, que ocorre para solucionar os conflitos de competência e que é
analisada pelo Supremo Tribunal Federal, com o auxílio do Governo brasileiro, nos casos omissos.
6.2 Delitos que Admitem Extradição
Deve-se verificar em qual sistema jurídico foi praticado o delito:
a)Civil Law: em geral são passíveis de extradição os crimes com penas superiores a 1 ano, exceção
brasileira, consubstanciada a partir da Lei de Migração.
Lei de Migração
Art. 82. Não se concederá a extradição quando:
IV - a lei brasileira impuser ao crime pena de prisão inferior a dois (dois) anos;
Argentina
Ley de Cooperación Internacional em Materia Penal – Ley 24.767 (18.12.1996)
ARTICULO 6°-para que proceda a La extradición de una persona, El hecho materia Del
proceso deberá constituir un delito que tanto en La ley argentina cuanto en La Del Estado
requirente tenga prevista una pena privativa de libertad con mínimo y máximo tales que su
semisuma sea AL menos de un año.
Espanha
Ley quatro de Extradición Passaiva (2103.1985)
Artículo segundo.
Se podrá conceder La extradición por aquellos hechos para los que las Leyes españolas y las de
La parte requirente señalen una pena o medida de seguridad cuya duración no sea inferior
a un año de privación de libertad en su grado máximo o a una pena más grave o cuando La
reclamación tuviere por objeto El cumplimiento de condena a una pena o medida de seguridad no
inferior a cuatro meses de privación de libertad por hechos también tipificados en La legislación
española.
Portugal
Lei de Extradição – Decreto-lei nº 437 (16.05.1975)
Artigo 2.º (Fim e fundamento da extradição)
1. A extradição pode ter lugar para efeitos de procedimento criminal ou para cumprimento de
pena privativa da liberdade por crime cujo julgamento seja da competência dos tribunais do
Estado requerente.
2. Para qualquer desses efeitos, só é admissível a entrega da pessoa reclamada nos casos de
autoria, cumplicidade ou encobrimento de crime, ainda que só frustrado ou tentado, punível pelas
leis dos Estados interessados com pena privativa de liberdade superior a um ano.
(grifos nossos)
É regra básica do direito pátrio, de nível constitucional, a não admissão de extradição de nacionais
(originários ou de nacionalidade brasileira adquirida)[723]. Tal regra, que é a prática geral de boa parte
dos Estados da Sociedade Internacional, tem sido alterada no sentido de sua admissão quando houver
reciprocidade. Com relação ao consignado no Estatuto de Roma (Decreto nª 4.388/02), que criou o
Tribunal Penal Internacional – TPI e, juntamente com ele, a possibilidade tanto da extradição de nacional
quanto da aplicação de prisão perpétua, a tese de inconstitucionalidade destas cláusulas ainda é objeto de
acaloradas discussões[724]. O fato de ser casado com cidadão brasileiro ou ter filho menor dependente
economicamente não é fator impeditivo da extradição, conforme consignado pela Súmula nº 421, do
Supremo tribunal federal - STF[725].
Como já visto anteriormente, há a necessidade da observância da dupla tipicidade e do non bis in
idem. Além disso, não serão passíveis de extradição crimes com pena de prisão inferior a 2 anos, crimes
políticos e ou de opinião (art. 5º, LII da Constituição Federal), cuja punibilidade estiver extinta pela
prescrição, no caso do extraditando ter que responder perante tribunal ou juízo de exceção e, a partir de
jurisprudência consignada em nossos tribunais, em processos nos quais haja violação de direitos e
garantias individuais[726],
Ainda não será possível se o extraditando for beneficiário de refúgio ou asilo territorial, bem como se
o ato de deportação ou expulsão reverter-se em extradição indireta.
Por fim, não poderá ser concedida a extradição quando o Brasil for competente para julgar o crime
imputado ao extraditando, na ocorrência de litispendência (o extraditando está sendo processado no
Estado passivo pelo mesmo crime) e ubiquidade (o crime, no todo ou em parte, também tenha sido
cometido no Estado passivo, como é o caso de tráfico de entorpecentes).
7. PROCESSO DE EXTRADIÇÃO
É instaurado por escrito e por via diplomática[727].
Lei de Migração – Lei 13.445 (24.05.2017)
Art. 81
§ 1º A extradição será requerida por via diplomática ou pelas autoridades centrais designadas
para esse fim.
Caso o Brasil seja o Estado requerente, o Ministério da Justiça - MJ recebe do Poder Judiciário a
documentação relativa ao pedido de extradição[728]. Cabe ao Departamento de Estrangeiros do Ministério
da Justiça realizar a análise de admissibilidade da documentação a fim de verificar se está de acordo
com o previsto em Tratado ou em lei específica. Em caso positivo, o pedido de extradição é
encaminhado ao Ministério das Relações Exteriores, por meio de Aviso Ministerial, a fim de ser
formalizado ao país onde se encontra o foragido da justiça brasileira[729]. Tal procedimento está previsto
pela Lei de Migração e pelo Decreto nº 9.199/2017, da seguinte forma:
Lei de Migração
Art. 88. Todo pedido que possa originar processo de extradição em face de Estado estrangeiro
deverá ser encaminhado ao órgão competente do Poder Executivo diretamente pelo
órgão do Poder Judiciário responsável pela decisão ou pelo processo penal que a
fundamenta.
§ 1º Compete a órgão do Poder Executivo o papel de orientação, de informação e de
avaliação dos elementos formais de admissibilidade dos processos preparatórios para
encaminhamento ao Estado requerido.
§ 2º Compete aos órgãos do sistema de Justiça vinculados ao processo penal gerador de pedido
de extradição a apresentação de todos os documentos, manifestações e demais elementos
necessários para o processamento do pedido, inclusive suas traduções oficiais.
§ 3º O pedido deverá ser instruído com cópia autêntica ou com o original da sentença
condenatória ou da decisão penal proferida, conterá indicações precisas sobre o local, a
data a natureza e as circunstâncias do fato criminoso e a identidade do extraditando e
será acompanhado de cópia dos textos legais sobre o crime, a competência, a pena e a
prescrição.
Segundo Rezek,[730] a natureza do pronunciamento judiciário, entre nós, está próxima do padrão
britânico, pois, se o Estado requerente se apóia num tratado que o vincule ao Brasil, o papel do governo
é secundário e estritamente executivo: prender o extraditando, encaminhar os papéis ao Supremo e, se
cabível, consumar materialmente a extradição, entregando o acusado à autoridade estrangeira. Se o
pedido se apóia numa promessa de reciprocidade, o governo deve usar seu poder de aceitação ou recusa
da promessa “antes” de qualquer envolvimento judiciário. O pronunciamento da Corte tem caráter
decisório incontornável: o Supremo Tribunal “concede” ou “nega” a extradição. Concedida, nada mais
poderia frustrar a extradição senão a omissão do Estado requerente à hora de dar as garantias
condicionantes da entrega ou sua negligência quanto à necessária retirada do extraditando do território
brasileiro no prazo legal de 60 dias. Contrariando tal entendimento, em decisão recente e polêmica na
Extradição nº 1085 – Cesare Battisti, firmou-se jurisprudência no sentido de não haver obrigatoriedade
do Presidente, em casos de extradição, cumprir a decisão do Supremo Tribunal Federal – STF e entregar
o extraditando ao Estado ativo.
A documentação exigida no processo deverá ser fornecida em duas vias. A original deverá estar no
idioma do Estado ativo e a cópia na língua do Estado passivo ou em outra língua que este aceite. O
pedido de extradição deverá ser instruído com:
i. original ou cópia autenticada da sentença condenatória autenticada ou da decisão penal
proferida;
ii. indicações precisas sobre o local, data, natureza e circunstâncias do delito e identidade do
extraditando;
iii. cópia de todos os textos legais que dizem respeito ao crime, a competência, a pena e a sua
prescrição.
Verificado o não preenchimento dos requisitos formais para a abertura do processo de extradição, o
pedido será arquivado, podendo ser renovado posteriormente pelo Estado interessado.
Lei de Migração
Art. 89.
Parágrafo único. Não preenchidos os pressupostos referidos no caput, o pedido será arquivado
mediante decisão fundamentada, sem prejuízo da possibilidade de renovação do pedido,
devidamente instruído, uma vez superado o óbice apontado.
O Estado ativo, mesmo não sendo considerado parte no processo,[731] tem o direito de pedir a prisão
cautelar do extraditando em caso de urgência, formalizado por correio, fax, mensagem eletrônica ou
qualquer outro meio que assegure a comunicação por escrito, e inclusive por intermediação da
INTERPOL[732]. Esta deverá ser fundamentada e conter informações sobre o crime cometido, podendo
perdurar até o julgamento final do pedido, conforme disposto na Lei de Migração.
Lei de Migração
Art. 84. Em caso de urgência, o Estado interessado na extradição poderá, previamente ou
conjuntamente com a formalização do pedido extradicional, requerer, por via diplomática ou por
meio de autoridade central do Poder Executivo, prisão cautelar com o objetivo de assegurar a
executoriedade da medida de extradição que, após exame da presença dos pressupostos formais
de admissibilidade exigidos nesta Lei ou em tratado, deverá representar à autoridade judicial
competente, ouvido previamente o Ministério Público Federal.
§ 1º O pedido de prisão cautelar deverá conter informação sobre o crime cometido e deverá ser
fundamentado, podendo ser apresentado por correio, fax, mensagem eletrônica ou
qualquer outro meio que assegure a comunicação por escrito.
§ 2º O pedido de prisão cautelar poderá ser transmitido à autoridade competente para extradição
no Brasil por meio de canal estabelecido com o ponto focal da Organização Internacional de
Polícia Criminal (Interpol) no País, devidamente instruído com a documentação comprobatória da
existência de ordem de prisão proferida por Estado estrangeiro, e, em caso de ausência de
tratado, com a promessa de reciprocidade recebida por via diplomática.
§ 6º A prisão cautelar poderá ser prorrogada até o julgamento final da autoridade
judiciária competente quanto à legalidade do pedido de extradição.
Decreto nº 9.199 (20.11.2017)
Art. 275
§ 2º Na ausência de tratado, o Ministério das Relações Exteriores será provocado pelo Ministério
da Justiça e Segurança Pública para obtenção, junto ao país requerente, da promessa de
reciprocidade de tratamento necessária à instrução do pedido de prisão.
§ 5º Na ausência de disposição específica em convenção ou tratado internacional, o Estado
estrangeiro deverá formalizar o pedido de extradição no prazo de sessenta dias, contado da data
em que tiver sido cientificado da prisão do extraditando.
(grifos nossos)
Ao solicitar-se a prisão cautelar para fins de extradição, esta será encaminhada, por intermédio do
Ministério da Justiça, ao Supremo Tribunal Federal – STF. Caso esta seja decretada pela Egrégia Corte,
o prazo para formalização do pedido de extradição será, via de regra, de 60 dias e iniciar-se-á tão logo a
Embaixada do país requerente seja notificada da efetivação da prisão.
Lei de Migração
Art. 84.
§ 3º Efetivada a prisão do extraditando, o pedido de extradição será encaminhado à autoridade
judiciária competente.
§ 4º Na ausência de disposição específica em tratado, o Estado estrangeiro deverá
formalizar o pedido de extradição no prazo de 60 (sessenta) dias, contado da data em que
tiver sido cientificado da prisão do extraditando.
§ 5º Caso o pedido de extradição não seja apresentado no prazo previsto no § 4º, o extraditando
deverá ser posto em liberdade, não se admitindo novo pedido de prisão cautelar pelo mesmo fato
sem que a extradição tenha sido devidamente requerida.
(grifos nossos)
8. O PEDIDO DE EXTRADIÇÃO
No Brasil, compete ao Supremo Tribunal Federal a análise formal do pedido de extradição.
Neste sentido, durante o curso do processo, este poderá transformar possível prisão cautelar em
albergue, domiciliar ou até mesmo determinar que o extraditando responda o processo em liberdade, com
o devido acautelamento do passaporte.
Lei de Migração
Art. 86. O Supremo Tribunal Federal, ouvido o Ministério Público, poderá autorizar prisão
albergue ou domiciliar ou determinar que o extraditando responda ao processo de extradição em
liberdade, com retenção do documento de viagem ou outras medidas cautelares necessárias, até
o julgamento da extradição ou a entrega do extraditando, se pertinente, considerando a situação
administrativa migratória, os antecedentes do extraditando as circunstâncias do caso.
Recebido o pedido, é sorteado relator que designará dia e hora para o interrogatório do extraditando e,
conforme o caso nomear-lhe curador ou advogado (art. 91 – Lei de Migração).
A defesa do extraditando, a ser apresentada no prazo de dez dias contados da data do interrogatório,
não pode adentrar no mérito da acusação[733], devendo versar sobre sua identidade, defeito de forma de
documento apresentado ou ilegalidade da extradição, ou seja, o único contraditório que se admite é com
relação à identidade do extraditando[734].
Não estando o processo devidamente instruído o Tribunal, a requerimento do órgão do Ministério
Público Federal correspondente, poderá converter o julgamento em diligência para suprir a falta,
concedendo prazo improrrogável de 60 dias, a partir da notificação à missão diplomática do Estado
requerente (art. 91, §§ 2º, 3º e 4º - Lei de Migração). Após este período, o pedido deverá ser julgado,
podendo ser indeferido[735].
8.1 Indeferimento do Pedido
Negada a extradição em fase judicial, o governo que a requereu será notificado, por nota diplomática,
pelo governo do Estado que a indeferiu. Não poderá ser feito novo pedido de extradição daquela pessoa
com base no mesmo fato (art. 94 – Lei de Migração), mesmo que se obtenham novas provas ou que se
altere norma interna que impossibilitasse a assinatura do múltiplo compromisso quando da concessão da
extradição[736].
8.2 Deferimento do Pedido
Julgado procedente o pedido e transitada em julgado a decisão que concede a extradição, o Ministério
da Justiça e Segurança Pública avaliará se o estrangeiro cumpre os requisitos para ser extraditado (art.
271 – Decreto nº 9.199/2017). Se assim entender, faz-se a comunicação, por via diplomática ou pelas
autoridades centrais do Estado requerente, que no prazo de 60 dias da comunicação, deverá retirar o
extraditando do território do Estado passivo (art. 92 – Lei de Migração).
Caso desta forma não proceda, será o extraditando posto em liberdade (art. 93 – Lei de Migração), e o
Brasil, na condição de país requerido, não será obrigado a detê-lo novamente em razão de sua extração.
O Estado que concede a extradição elabora um múltiplo compromisso, que poderá ser assumido
também pelo Chefe da Missão Diplomática junto ao Estado-requerido.[737] Tal instrumento contém
cláusulas que reafirmam os princípios relativos à extradição e expressos na Lei de Migração:
Lei de Migração – Lei 13.445
Art. 96. Não será efetivada a entrega do extraditando sem que o Estado requerente assuma o
compromisso de:
I - não submeter o extraditando a prisão ou processo por fato anterior ao pedido de extradição;
II - computar o tempo da prisão que, no Brasil, foi imposta por força da extradição;
III - comutar a pena corporal, perpétua ou de morte em pena privativa de liberdade, respeitado o
limite máximo de cumprimento de 30 (trinta) anos;
IV - não entregar o extraditando, sem consentimento do Brasil, a outro Estado que o reclame;
V - não considerar qualquer motivo político para agravar a pena; e
VI - não submeter o extraditando a tortura ou a outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos
ou degradantes.
Ao regulamentar a Lei de Migração, o Decreto nº 9.199/2017 inovou ao passar a exigir um
compromisso prévio do Estado requerente para que se possa, inclusive, admiti-lo.
9. ABDUÇÃO INTERNACIONAL
É a captura irregular de estrangeiro que se encontra sob a jurisdição de determinado Estado, com o
objetivo de julgá-lo em outro Estado. Utiliza-se as vias de fato e não as de direito.
Não há norma processual que caracterize a abdução internacional. Todavia, há princípios de Direito
Internacional que afirmam que o Estado onde ela ocorreu tem o direito de requerer a devolução da
pessoa capturada sempre que a abdução for efetuada por agentes públicos do Estado infrator. Há também
a possibilidade de a pessoa ser sequestrada por caçadores de recompensa (nacionais do Estado onde
ocorre a abdução), nesse caso o Estado não poderá requerer a devolução do sequestrado, mas poderá
pedir a extradição dos seus nacionais que praticaram a abdução.
Rezek[739] afirma que a abdução não pode exatamente ser vista como quebra da Declaração Universal
dos Direitos do Homem, que previne a prisão arbitrária. Isso porque, na maioria das vezes, um mandato
regular de prisão fora expedido contra o fugitivo por autoridade competente no Estado que o reclama.
Assim, sua captura, no contexto da abdução, só é arbitrária porque é levada a cabo fora dos limites da
jurisdição daquele Estado.
Destacamos os seguintes casos, internacionalmente conhecidos, de abdução internacional:
a) Em 1960, Adolf Eichmann, general nazista responsável por gerir a logística das deportações
em massa e, consequentemente, pela morte de judeus em campo de concentração, foi capturado na
Argentina pelo Mossad (serviço secreto israelense)[740], para ser julgado em Israel por 15 crimes,
incluindo crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra o povo judeu. A partir da ciência
de tal fato e em função do insucesso em reaver a pessoa abduzida, a Argentina solicitou uma reunião
urgente ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para protestar, pois considerava a captura como
um ato de violação dos seus direitos soberanos. Por seu turno, a representante israelita e futura primeira-
ministra Golda Meir que tal ato configuraria apenas uma “violação isolada da lei argentina” perpetrada
por pessoas privadas, e não agentes do Mossad.
Em 23 de Junho de 1960, o Conselho de Segurança aprovou, por 8 votos e 2 abstenções – Polônia e
União Soviética – a Resolução nº 138, com o seguinte teor:
Conselho de Segurança das Nações Unidas
Resolução nº 138 (23.06.1960)[741]
Questão Relativa ao caso de Adolf Eichmann
O Conselho de Segurança,
Havendo examinado a denúncia de violação de soberania da República Argentina resultante do
traslado de Adolf Eichmann ao território de Israel,
Considerando que a violação da soberania de um Estado membro é incompatível com a Carta
das Nações Unidas, (...)
1. Declara que fatos como o considerado, que afetam a soberania de um Estado Membro e, por
conseguinte, provocam uma fricção internacional podem, se repetido, colocar em perigo a paz e
segurança internacional.
2. Requer ao Governo de Israel que proceda a uma adequada reparação, em conformidade com
a Carta das Nações Unidas e normas de Direito Internacional.
3. Expressa a esperança de que melhorem as relações tradicionalmente amistosas entre
Argentina e Israel.
Após algumas negociações, em 3 de Agosto do mesmo ano, Israel e a Argentina emitiram uma
declaração conjunta admitindo a violação da soberania argentina, mas concordando em pôr um fim à
disputa. Eichmann foi julgado por um tribunal de Israel, considerado culpado por crimes de guerra e
enforcado em 1 de junho de 1962.
b) Em 1981, Ronald Biggs foi sequestrado em sua residência, no Rio de Janeiro, por um um
grupo de ex-soldados britânicos e levado para Barbados, onde foi entregue às autoridades locais,
todavia, por ter filho menor dependente economicamente, este terminou por regressar ao Brasil.
c) Em 1990, Humberto Alvarez Machain, médico mexicano, é sequestrado em sua clínica, na
cidade de Guadalajara, por caçadores de recompensa mexicanos, liderados por um ex-policial de nome
Jose Francisco Sosa, que o entregam à polícia norte-americana na cidade de El Paso – Texas e,
posteriormente, são admitidos no programa de proteção à testemunhas dos Estados Unidos. Lá Machain é
acusado de sequestro, tortura e morte do agente do DEA Enrique Camarena Salazar, ocorrida em 1985,
por prolongar sua vida para que traficantes mexicanos o pudessem torturar interrogar.
Após concluir que agentes do DEA eram responsáveis pela sua abdução, a Corte Distrital de Los
Angeles decide pela sua repatriação, com base na violação do art. 9 do Tratado de Extradição entre
Estados Unidos e México (1978), que desobriga as partes da entrega de seus nacionais. O Departamento
de Justiça apela da decisão e o caso é encaminhado então à Corte de Apelações do Nono Distrito que
confirma a decisão da Corte inferior – United States v. Alvarez-Machain, 946 F.3d 1466, 1466-67 (9th
Cir. 1991).
Por fim, a questão é levada à Suprema Corte dos Estados que, reportando-se à Doutrina Ker-Frisbie
estabelecida nos precedentes Ker v. Illinois (1886) e Frisbie v. Collins (1952), considerou que:
Suprema Corte dos Estados Unidos
United States v. Alvarez-Machain (15.06.1992) [742]
(a) Um acusado não pode ser processado em violação aos termos de um tratado de extradição.
United States v. Rauscher, 119 U.S. 407. Porém, quando um tratado não foi invocado, um tribunal
pode corretamente exercer sua jurisdição embora a presença do acusado tenha sido obtida por
meio de uma abdução forçada. Assim, se o tratado de extradição não proibir a abdução do réu,
as regras de Ker se aplicam e a jurisdição era própria.
(b) Nem a linguagem do tratado nem o histórico das negociações e sua prática sustenta a
proposição que proíbe abdução fora de suas condições. O Tratado não diz nada nem sobre a
impossibilidade de um país sequestrar pessoas de outro território nem sobre as consequências,
caso isso ocorra. Além disso, apesar do governo do México ter ciência da Doutrina Ker já em
1906 (...) a versão atual do tratado não contém tal cláusula.
(c) Princípios Gerais de Direito Internacional não apresentam nenhuma base para interpretar o
Tratado para incluir uma condição que proíbe abduções [sequestros] internacionais.
Ext. nº 1462 – Cláudia Costa (Estados Unidos) – extradição instrutória, extraditanda não ostenta
nacionalidade brasileira por ter adquirido nacionalidade secundária norte-americana, em situação que
não se subsume às exceções previstas no § 4º, do art. 12, para a regra de perda da nacionalidade
brasileira como decorrência da aquisição de nacionalidade estrangeira por naturalização.
Tratou-se de pedido de extradição instrutória formulada pelo Governo dos Estados Unidos da
América, por meio da Nota Verbal nº 436/2016, com fundamento no Tratado de Extradição Brasil-
Estados Unidos, de janeiro de 1961, internalizado pelo Decreto nº 55.750/1965, encaminhado pela via
diplomática, com o objetivo de processar e julgar a extraditanda pela prática do crime de homicídio
doloso supostamente cometido no dia 12 de março de 2007, que tramita no Tribunal de Causas Comuns
do Tribunal Distrital do Condado de Trumbull, Estado de Ohio.
Consta dos autos que a extraditanda, nascida no Brasil e de pais brasileiros, radicou-se nos Estados
Unidos da América, onde se casou, em 1990, com Thomas Bolte, razão pela qual obteve visto de
permanência naquele país, o denominado “green card”. Em 1999, quando ainda casada com Thomas
Bolte, requereu a nacionalidade norteamericana, declarando “renunciar e abjurar fidelidade a qualquer
Estado ou soberania”.
Divorciada de Thomas Bolte, casou-se novamente com Karl Hoerig. Investigações policiais
realizadas no Estado de Ohio revelaram que a extraditanda, em 10.03.2007, teria comprado um revólver
Smith & Wesson, calibre 357, com visor laser incorporado, tendo praticado tiro ao alvo em polígono de
tiro próximo ao seu local de residência. Ainda de acordo com as mesmas investigações, em 12.03.2007,
um vizinho teria visto Cláudia deixar sua residência, não tendo ela jamais sido vista novamente nos
Estados Unidos da América.
O corpo de seu marido foi encontrado três dias após na residência do casal com ferimentos à bala na
cabeça e nas costas. Pouco dias depois, Cláudia chegava ao Brasil, de onde não voltaria para os Estados
Unidos da América, país no qual foi formalmente acusada do homicídio de Karl Hoerig.
Em 12.09.2011, foi aberto de ofício o Procedimento Administrativo nº 08018.011847/2011-01, que
culminou com a declaração de perda da nacionalidade brasileira, veiculada na Portaria Ministerial nº
2.465/13.
Impugnando esta decisão, a extraditanda impetrou o Mandado de Segurança nº 33.864, julgado em
19.04.2016, em que foi denegada a segurança, mantendo-se a decisão administrativa de perda da
nacionalidade brasileira.
Na Defesa escrita, sustentou-se, em caráter preliminar:
(i) a nulidade do julgamento do Mandado de Segurança nº 33.864, em razão de usurpação da
competência do Superior Tribunal de Justiça para o seu julgamento, uma vez que o ato coator fora
praticado por Ministro de Estado, no caso, o Ministro da Justiça, em face do que requer a devolução do
mandado de segurança ao STJ para julgamento pelo Ministro Napoleão Maia, prevento para o caso;
(ii) a ausência de sentença condenatória ou decisão penal proferida por autoridade competente do
Estado Requerente, não satisfazendo o relatório do Promotor de Justiça responsável pelo caso os
requisitos do art. 80 da Lei nº 6815/1980;
(iii) a ausência de autenticidade dos documentos anexados, uma vez que não há qualquer carimbo ou
elemento que comprove a sua autenticidade;
(iv) a ausência de tradução oficial para o idioma português dos documentos anexados, em que não
consta a informação de que a tradução foi efetuada por tradutor juramentado;
(v) a ausência de compromisso formal do Estado requerente de computar o tempo de prisão cumprido
pela extraditanda no Brasil;
(vi) a ausência de formalização do compromisso de comutar a pena corporal ou de morte em privativa
de liberdade.
Requereu-se, assim, a extinção do processo sem julgamento de mérito, ou, no caso da ausência de
compromissos formais de detrair a pena cumprida no brasil e de comutar a pena corporal ou de morte em
privativa de liberdade
No mérito, a Defesa sustentou:
(i) a ausência de vontade da extraditanda em perder a nacionalidade brasileira, consubstanciada no
fato de que renovou seu passaporte em 2003 e entrou no Brasil em 2007, utilizando seu passaporte
renovado, sendo que aqui permanece cumprindo todas as suas obrigações legais e no fato de que,
conforme parecer do Ministério da Justiça, a perda da nacionalidade brasileira só poderia ocorrer com
manifestação de vontade inequívoca neste sentido, por meio do preenchimento de um formulário
constante no site do Ministério das Relações Exteriores;
(ii) a manutenção da nacionalidade brasileira da extraditanda, uma vez que se enquadra na exceção
prevista no art. 12, § 4º, II, b, da Constituição Federal, dispositivo este instituído pela Emenda
Constitucional de Revisão nº 03, de 1994, que, segundo alegou, não torna automática a perda da
nacionalidade brasileira em caso de aquisição de outra nacionalidade. Sustentou, ainda, com relação a
esta questão, que o greencard restringia a sua liberdade, pois não permite que os seus portadores se
ausentem do país por mais de 1 (um) ano, além de não permitir o exercício pleno da carreira de
contadora, uma vez que as vagas de emprego de contador são destinadas apenas aos nacionais
norteamericanos, de modo que, antes de adquirir a nacionalidade norteamericana, a extraditanda somente
conseguia trabalhar como auxiliar contábil, recebendo um valor correspondente a um quinto do valor
recebido por um contador.
Diante disso, a defesa alegou que não se podia considerar completamente voluntária a aquisição da
nacionalidade norte-americana. Para reforçar a ausência de voluntariedade, argumentou que o ato solene
de juramento realizado nos Estados Unidos é semelhante a um contrato de adesão, uma vez que, para sua
formalização, se deve obedecer às regras impostas sem possibilidade de alteração.
A Defesa sustentou, ainda, a existência de pressão política exercida pelos Estados Unidos para a
perda da nacionalidade brasileira da extraditanda.
Observou-se que não havia qualquer óbice ao deferimento da extradição, entre aqueles fixados pelo
art. 77 da Lei nº 6.815/1980:
(i) a extraditanda, como se viu, não era nacional brasileira,
(ii) sua extradição foi requerida por Estado que mantém Tratado de Extradição com o Brasil,
(iii) a pena máxima prevista para os crimes comuns, pelo qual responde, é superior a 01 (um) ano de
privação de liberdade (art. III, do Tratado de Extradição2),
(iv) a prisão foi decretada por Juízo regularmente instituído,
(v) o Brasil não é competente para julgamento do crime; e
(vi) o crime não possui conotação política.
Extradição deferida, em 28 de março de 2017, devendo o Estado requerente assumir os compromissos
de:
(i) não executar pena vedada pelo ordenamento brasileiro, pena de morte ou de prisão perpétua (art.
5º, XLVII, a e b, da CF );
(ii) observar o tempo máximo de cumprimento de pena possível no Brasil, 30 (trinta) anos (art. 75, do
CP); e
(iii) detrair do cumprimento de pena eventualmente imposta o tempo de prisão para fins de extradição
por força deste processo.
10.2 Extradições Deferidas em Parte
Ext. nº 506 – Toscanino (Itália) – competência cumulativa das jurisdições penais brasileira
(associação para o tráfico de entorpecentes com processo no Brasil) e italiana (tráfico de entorpecentes
sem processo no Brasil). O julgamento da extradição iniciou-se em 19.12.1990, foi suspenso em virtude
da liberação do extraditando por erro da carceragem da Polícia Federal de São Paulo, reiniciado após a
sua captura e transferência para Brasília por questões de segurança (01.07.1991) e encerrado com o
deferimento em parte da extradição, por maioria de votos (19.12.1991).
Tratou-se de pedido de extradição sob promessa de reciprocidade, requerido por meio da Nota Verbal
n. 372 (08.08.1989) e fundado em mandato de captura decretado pelo Juizado de Instrução do Tribunal de
Nápoles, contra o extraditando Francesco Toscanino e outras sete pessoas, acusadas da prática dos
crimes de tráfico de entorpecentes e associação para o tráfico de entorpecentes, previstos pela Lei
Italiana n. 685/75, tendo tais figuras correspondentes na Lei Brasileira (Lei n. 6.368/76). Já existia
processo no Brasil quando foi recebido o pedido de prisão preventiva para extradição (15.08.1989),
havendo, por isso, a prevalência da jurisdição brasileira.
O extraditando foi preso em flagrante (02.08.1989), como incurso nos crimes de regresso de
estrangeiro expulso/falsidade ideológica/associação para tráfico de entorpecentes, e denunciado pelo
Ministério Público Federal perante o Juízo Federal da 3a Vara em São Paulo (10.08.1989) como
componente da Camorra (complexa organização criminosa cujo objetivo era a introdução em território
italiano de grandes quantidades de substâncias estupefacientes, procedentes da América do Sul,
especialmente do Brasil). Na sentença, o juiz absolveu o extraditando do crime de associação para o
tráfico de entorpecentes, mas o condenou a três anos de reclusão pelo crime de reingresso de estrangeiro
expulso. Por ter sido absolvido pelo crime de associação para o tráfico de entorpecentes, o extraditando
não poderia ser processado nem condenado na Itália. Além disso, a pena que o extraditando cumpre no
Brasil não seria computada como tempo de prisão imposto por força de extradição. Com relação ao
fundamento de crime de tráfico de entorpecentes, não havia processo no Brasil. Assim, foi deferido em
parte o pedido de extradição, para que o Estado requerente pudesse cumprir o decreto judicial de prisão
preventiva por acusação de ter praticado, unicamente, o crime de tráfico de entorpecentes, ressalvando-
se que a extradição poderia se efetivar independentemente do cumprimento integral da condenação
sofrida no Brasil (faculdade que a Lei n. 6.815/80 reserva ao Presidente da República).
Ext. nº 511 – Smith (EUA) – correspondência admitida entre o crime de sodomia de segundo grau
(previsto na legislação do Estado de Oregon) e o delito de atentado violento ao pudor (Código Penal
brasileiro). Todavia, foi recusada a correspondência entre o crime de estupro de terceiro grau (legislação
norte-americana) e o delito de corrupção de menores (legislação brasileira). O julgamento da extradição
realizou-se em 21.11.1990, quando foi deferido em parte, por unanimidade, o pedido.
Tratou-se de pedido de extradição formulado pelo governo dos Estados Unidos da América, com base
em tratado de extradição, envolvendo o seu nacional Richard John Smith, contra quem existia mandado
de prisão expedido pelo Tribunal de Justiça do Estado de Oregon, em face da condenação, transitada em
julgado, pela prática do crime de sodomia e por crime de estupro de terceiro grau.
O extraditando naturalizou-se brasileiro, sendo casado com brasileira (já divorciados) e tendo um
filho brasileiro menor de idade e dependente da economia paterna (inexistia prova de que o menor estava
sob a sua guarda e de que era seu dependente). O crime de estupro em terceiro grau efetivamente não
correspondia a nenhum dos tipos previstos no Código Penal brasileiro. Já com relação ao crime de
sodomia de segundo grau, existe correspondência com a legislação brasileira. Deferiu-se o pedido, com
a ressalva do delito de estupro de terceiro grau, por falta de dupla tipicidade.
Ext. nº 523 – Schoeni (Suíça) – crime de estelionato e apropriação indébita (correspondente na lei
brasileira), crime de dano e pena inferior a um ano (causa impeditiva da concessão). Julgamento
realizado em 19.12.1990 com deferimento em parte do pedido, por unanimidade.
O governo da Suíça, com base em tratado de extradição firmado com o Brasil (23.07.1932),
formalizou, por meio de sua Embaixada no Brasil, pedido de extradição do nacional suíço Bruno
Schoeni, para responder perante o Juiz de Instrução da Quarta Comarca do Cantão Suíço de Friburgo
pelos delitos de estelionato e apropriação indébita (previstos no Código Penal Suíço), além de pena de
três dias de detenção por infração à lei federal sobre taxa militar. O pedido foi deferido em 31.08.1990.
O extraditando compareceu espontaneamente à Polícia Federal, manifestando desejo de ser
urgentemente extraditado, reservando sua defesa à justiça de seu país. Concedida em parte a extradição
requerida, exceto para processá-lo pelo crime de dano e para o cumprimento de pena de três dias.
Ext. nº 526 – Torsi (Itália) – associação criminosa do tipo Camorrista, extorsão mediante sequestro,
porte ilegal de armas, detenção de munições e receptação perpetrados no território do Estado requerente,
não havendo processo contra o extraditando pelos mesmos crimes no Brasil. Julgamento realizado em
20.02.1992, com deferimento em parte do pedido de extradição, por unanimidade, quanto aos crimes de
associação criminosa (que encontra correspondente no Direito Penal Brasileiro), no delito de
quadrilha/bando armado e na extorsão mediante sequestro e receptação. Desatende-se o pedido no que
respeita a condenação por contravenção, eis que a lei brasileira não autoriza extradição em virtude do
fato nela capitulado como contravenção e, ainda, em se tratando de fato penalmente irrelevante segundo a
lei penal brasileira (detenção de munições).
Tratou-se de pedido de extradição requerido pelo governo da Itália, encaminhado ao Supremo com o
Aviso GM/MJ n. 473 (05.07.1990), objetivando a extradição, com reciprocidade de tratamento, do
cidadão italiano Bruno Torsi, que se encontrava condenado à pena de 28 anos de reclusão a teor da
ordem de execução expedida pela Procuradoria-Geral da República, com atuação perante o Tribunal do
Júri de Nápoles (19.04.1986), pelo seqüestro/dano patrimonial de Presta Luigi em Nápoles (fev./mar.
1983), detimento/uso ilegal de armas e munição para efetivarem o crime em local público, bem como a
entrega dos objetos e valores apreendidos, referentes aos crimes que motivaram a condenação do
extraditando. Havendo a justiça brasileira condenado o extraditando por outros delitos perpetrados no
Brasil (processo junto à 6a Vara da Justiça Federal de São Paulo), a extradição seria executada depois do
cumprimento da pena, salvo se fosse conveniente ao interesse nacional a imediata entrega do extraditando
ao Estado requerente.
10.3 Extradições Indeferidas
Ext. nº 310 – Borsani/Bianchi (Itália) – dúvida sobre a identidade do extraditando, diligência não
cumprida no prazo determinado. Indeferimento do pedido, por unanimidade, em 23 de agosto de 1972.
Tratou-se do pedido de extradição, encaminhado pelo Ministro da Justiça ao STF por meio do Aviso
G/27, de Piero Borsani, também conhecido com o nome de Guido Bianchi, condenado, no Estado
requerente, a 31 anos de prisão, conforme sentença confirmada em grau de cassação, que transitou em
julgado (22.06.1953). Na sentença condenatória, contudo, não estava escrito que Guido Bianchi usasse
também o nome de Piero Borsani, inexistindo, ainda, no pedido de extradição indicações precisas sobre
a identidade do extraditando, o que causou dúvida ao STF sobre se Guido Bianchi e Piero Borsani eram
uma única e só pessoa.
Dessa forma, opinaram no sentido de converter o julgamento em diligência (10.03.1972), a fim de que
o Estado requerente, dentro do prazo legal (45 dias, de acordo com o art. 95, § 4º, do Decreto-lei n.
941/69), fornecesse elementos probatórios acerca da identidade do extraditando. Decorridos 60 dias da
notificação à Embaixada Italiana sem que a exigência fosse satisfeita e diante da impossibilidade de sua
prorrogação, o Supremo indeferiu o pedido de extradição.
Ext. nº 524 – Stroessner (Paraguai) – extradição passiva, incerteza quanto à adequada descrição dos
fatos delituosos, extradição política disfarçada, inextrabilidade por delitos políticos ou de opinião
(direito público subjetivo oponível ao próprio Estado e de cogência inquestionável) apesar de não haver
incompatibilidade absoluta entre o instituto do asilo político e o da extradição passiva. Pedido de
extradição indeferido, por unanimidade, em 31.10.1990.
Tratou-se de extradição requerida ao Brasil, por via diplomática (Nota Verbal n. 97, de 24.08.1989),
pelo governo paraguaio, que pretendia a entrega de seu súdito, o nacional paraguaio Gustavo Adolfo-
Stroessner Mora, pela alegada prática de delitos penais comuns: crimes contra a Administração Pública,
de corrupção/venalidade, de enriquecimento ilícito e de ofensa patrimonial aos direitos aduaneiros e
fiscais do Estado. O extraditando teve sua prisão preventiva decretada por um juiz criminal de primeira
instância de Assunção, tendo ingressado em território brasileiro logo após o movimento político que
depôs o seu pai, o general Alfredo Stroessner, da Presidência da República do Paraguai (05.02.1989).
Refugiando-se no Brasil, foi-lhe deferida, por decisão do senhor Ministro da Justiça, a formal condição
de asilado político. No decreto judicial de prisão preventiva, faltou a necessária e precisa descrição dos
fatos delituosos, alegadamente cometidos pelo extraditando. Dela constou, tão-somente, simples menção
à suposta prática dos delitos contra a Administração Pública, corrupção e venalidade, referência
genérica também consignada no despacho judicial (constou nos autos outras peças judiciais sempre em
bases extremamente vagas).
A condição jurídica de asilado político não suprime, só por si, a possibilidade de o Estado brasileiro
conceder, presentes e satisfeitas as condições constitucionais e legais que a autorizam, a extradição que
lhe fora requerida. O estrangeiro asilado no Brasil só não será passível de extradição quando o fato
ensejador do pedido assumir a qualificação de um crime político ou de opinião ou as circunstâncias
subjacentes à ação do Estado requerente demonstrarem a configuração de inaceitável extradição política
disfarçada. Impõe-se repelir todas as pretensões extradicionais fundadas em peças processuais cuja
desvalia resulte, fundamentalmente, da ausência ou insuficiência descritiva dos fatos delituosos
subjacentes ao pedido de extradição. Impõe-se, desse modo, no plano da demanda extradicional, que seja
plena a descrição dos fatos, por parte do Estado requerente, para análise incontroversa dos aspectos
concernentes à:
• dupla incriminação;
• prescrição penal;
• gravidade objetiva do delito;
• competência jurisdicional do Estado requerente e eventual concurso de jurisdição;
• n atureza do delito; e
• a plicação do princípio da especialidade.
O descumprimento desse ônus processual, por parte do Estado requerente, justifica e impõe, quer em
atenção ao que preceituam as cláusulas do tratado de extradição, quer em obséquio às prescrições de
nosso direito positivo interno, o integral e pleno indeferimento da extradição passiva,[743] considerando-
se, ainda, a absoluta inutilidade de conversão do julgamento em diligência, posto que o Estado requerente
não foi capaz de atender às exigências convencionais.
Ext. nº 541 – Donnini (Itália) – brasileiro naturalizado antes da ocorrência do crime de tráfico
internacional de entorpecentes no qual há suspeita de sua participação. Possibilidade de extradição de
brasileiro naturalizado anteriormente ao crime, no caso de comprovado envolvimento em tráfico ilícito
de entorpecentes (Constituição/88, art. 5º, LI). No julgamento, realizado em 07.11.1991, foi indeferida,
por maioria, a extradição e determinada, por unanimidade, a remessa da cópia dos autos para o
Ministério Público Federal, para as providências cabíveis, por eventual delito praticado no Brasil.
O governo da Itália, pela Nota Verbal n. 156 (18.04.1991) de sua Embaixada no Brasil (enviada ao
STF pelo Aviso GM/MJU n. 337, de 23.04.1991), protestando por reciprocidade e invocando a
Convenção Única de Nova Iorque sobre Entorpecentes, de 30.03.1961 (promulgada pelo Decreto
54.216/64), solicitou ao governo brasileiro a extradição de Giancarlo Donnini, nascido na Itália e
naturalizado brasileiro (28.04.1987), informando que contra o extraditando fora expedida ordem de
custódia cautelar pelo Tribunal de Brindisi (21.12.1990) para investigações preliminares por tráfico de
entorpecentes. Considerando haver graves indícios de culpabilidade, em co-autoria com mais três
italianos, de importação de considerável quantidade de cocaína (1 kg), encontrada em uma mala no
aeroporto de Brindisi (12.09.1990), a partir de depoimentos e gravações telefônicas, o Procurador-Geral
da República (Aristides Junqueira) e o Ministro Relator do processo (Néri da Silveira) deferiram o
pedido.
A partir da intervenção do Ministro Sepúlveda Pertence, considerou-se que não havia comprovação de
envolvimento do extraditando com o tráfico de entorpecentes, pois tal comprovação competiria
privativamente à justiça brasileira. No caso, o que a rigor se teria seria um pedido de extradição pré-
processual. Além do mais, a promessa de reciprocidade não poderia ser cumprida pelo governo italiano,
haja vista que a sua Constituição (art. 26) só permitiria a extradição de seu cidadão (e, para o direito
italiano, o extraditando era italiano, independentemente de sua naturalização) caso houvesse uma
convenção internacional a esse respeito, o que não existia (para ele, baseado na Ext. n. 272/67, ato
unilateral não seria convenção internacional). Indeferiu, dessa forma, o pedido, determinando a remessa
da cópia dos autos para o Ministério Público Federal para a apuração dos fatos, já que, a seu ver,
bastaria que uma das condutas alternativamente incriminadas se realizasse no Brasil (os atos executórios,
e.g., deter/possuir/transportar a droga ao aeroporto, despachando-a para a Itália por intermédio de um
coparticipante), para que aqui se reputasse consumado o crime. Nesse caso, configurar-se-ia o crime a
distância ou delito de espaço máximo, pois se realizaram em lugares desiguais (Brasil e Itália), os atos
executórios e o resultado/evento delituoso. Assim, pelo fato de o nosso ordenamento jurídico obstar a
concessão de extradição quando o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado
ao extraditando, foi indeferida, por maioria, a extradição.
Ext. nº 546 – Salgues (França) – nacional francês cuja extradição o STF autorizou em 24.08.1977
(Ext. n. 342). Decisão não cumprida. Pedido renovado com a extinção da pena de morte na França pela
Lei n. 81.908 (09.10.1981). Pedido de extradição indeferido, por unanimidade, em 26.02.1992.
Tratou-se de pedido de extradição, manifestado pelo governo da França pelo Aviso MG/MJ n. 901
(24.09.1991), com promessa de reciprocidade para casos análogos, visando à entrega àquele país de
Christian Salgues, nacional francês, contra quem se expediu, no Estado requerente, mandado de captura
judicial, pela Vara de Acusação do Tribunal da Relação de Toulouse, em virtude de sentença
(06.02.1979). Por haver praticado crime de homicídio, o extraditando foi condenado à prisão perpétua,
ressaltando-se que o Estado ativo, em face de pedido anterior, obteve o deferimento da extradição do
estrangeiro, por unanimidade de votos (24.08.1977). Decisão que, entretanto, não foi executada diante da
impossibilidade manifestada pelo governo francês, naquela ocasião, de assumir o compromisso de
comutar eventual pena de morte em privativa de liberdade, sobrevindo a soltura do extraditando. Mesmo
não se consubstanciando a extradição, o processo teve andamento, culminando com uma sentença do
Tribunal do Alto Garona, condenando o extraditando à reclusão criminosa perpétua, em sentença
prolatada em 16.05.1979.
Havendo o STF deferido o pedido de Extradição n. 342 (24.08.1977), não cabe, pelo mesmo fato,
tomar conhecimento de novo pedido de extradição, eis que a entrega do extraditando não se verificou, à
época, pela inviabilidade de o Estado requerente atender à exigência do múltiplo compromisso. Ainda
quando se admitisse como certo que o governo francês não pudesse, por antecipação, determinar ao juízo
criminal que evitasse a imposição de pena de morte, não faltariam àquele governo outros meios de honrar
o compromisso assumido ante o Brasil, por meio, p. e., do poder dos chefes de Estado para a concessão
do indulto, da graça e de benefícios congêneres. Havendo transitado em julgado o acórdão de
24.08.1977, que deferiu o pedido de extradição, não cabe conhecer de novo pedido de extradição sobre o
mesmo fato criminoso.
Ext. nº 551 – Cichon (Alemanha) – extinção de punibilidade, extradição indeferida, por unanimidade
de votos, em 18.12.1992.
O governo da Alemanha solicitou, com promessa de reciprocidade, a extradição de Theodor Karl
Cichon, cidadão alemão, condenado, pela 10a Grande Câmara Criminal do Tribunal Regional de
Koblenz, a cinco anos de prisão (sentença prolatada em 15.12.1982), pela prática dos crimes de
desfalque, fraude e falsificação de documentos, e a quem, em virtude de fuga (04.07.1983), resta cumprir
1.396 dias (três anos, dez meses e um dia) de pena.
Embora os delitos sejam graves, portanto de extradição, em tese, autorizada, correspondendo no Brasil
aos crimes de apropriação indébita, estelionato e falso documento, o pedido não pode ser atendido em
face da ocorrência da extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão executória, segundo a lei
brasileira, pois tal prazo, de oito anos (a ser contado da data da fuga), fluiu por inteiro.
Ext. nº 561 – Emilse (Argentina) – não encaminhamento, no prazo determinado, de documentação
necessária à devida instrução do pedido, formalizado depois da prisão preventiva da extraditanda.
Pedido de extradição indeferido, por unanimidade de votos, em 10.12.1992.
Tratou-se do pedido de extradição de Carlesso Amanda Emilse ou Amanda Emilse Carlesso, feito pelo
governo argentino, com base em tratado específico, pela prática do crime de defraudação reiterada.
Todavia, o governo requerente não apresentou cópias autenticadas do mandado de prisão e dos textos
legais aplicáveis à espécie, dentro do prazo de 45 dias, a contar da prisão preventiva da extraditanda,
enviando, tão-somente, uma cópia da comunicação que outro juiz argentino tinha feito à Justiça de Nova
Yorque de que, em 22.02.1992, estava expedindo ordem de detenção, sem fazer qualquer menção ao fato
imputado, à data, ao local e às circunstâncias em que foi praticado (documento que, evidentemente, não
era hábil para a instrução do pedido de extradição).
Por votação unânime, o tribunal indeferiu o pedido de extradição e determinou imediata soltura da
extraditanda, com ressalva de renovação do pedido, desde que regularmente instruído.
Ext. nº 633 – Qian Hong (China) – extradição por crime de estelionato punível com pena de morte.
Tipificação penal precária e insuficiente, inviabilizando o exame do requisito concernente à dupla
incriminação. Pedido indeferido em 28.08.1996.
Tratou-se de pedido de extradição de Qian Hong feito, com base em promessa de reciprocidade, pelo
governo da República Popular da China, pelo Chefe da Missão Diplomática em nosso Estado, por meio
da prática do crime de estelionato, punível com pena de morte na China.
O STF, por meio de seu Ministro, Celso de Mello, relator do processo, indeferiu o pedido, entendendo
que:
a) O ato de tipificação penal impõe ao Estado o dever de identificar, com clareza e precisão, os
elementos definidores da conduta delituosa. As normas de incriminação que desatendem a essa
exigência de objetividade – além de descumprirem a função de garantia que é inerente ao tipo
penal – qualificam-se como expressão de um discurso normativo absolutamente incompatível com
a essência mesma dos princípios que estruturam o sistema penal no contexto dos regimes
democráticos. É que o regime de indeterminação do tipo penal implica, em última análise, a
própria subversão do postulado constitucional da reserva de lei, daí resultando, como
conseqüência imediata, o gravíssimo comprometimento do sistema das liberdades públicas. A
cláusula de tipificação penal, cujo conteúdo descritivo se revela precário e insuficiente, não
permite que se observe o princípio da dupla incriminação, inviabilizando, em conseqüência, o
acolhimento do pedido extradicional.
b) A essencialidade da cooperação internacional na repressão penal aos delitos comuns não
exonera o Estado brasileiro – e, em particular, o Supremo Tribunal Federal – de velar pelo
respeito aos direitos fundamentais do súdito estrangeiro que venha a sofrer, em nosso país,
processo extradicional instaurado por iniciativa de qualquer Estado estrangeiro. O fato de o
estrangeiro ostentar a condição jurídica de extraditando não basta para reduzi-lo a um estado de
submissão incompatível com a essencial dignidade que lhe é inerente como pessoa humana e que
lhe confere a titularidade de direitos fundamentais inalienáveis, entre os quais avulta, por sua
insuperável importância, a garantia do due process of law. Em tema de direito extradicional, o
Supremo Tribunal Federal não pode nem deve revelar indiferença diante de transgressões ao
regime das garantias processuais fundamentais. É que o Estado brasileiro – que deve obediência
irrestrita à própria Constituição que lhe rege a vida institucional – assumiu, nos termos desse
mesmo estatuto político, o gravíssimo dever de sempre conferir prevalência aos direitos humanos
(art. 4º, II).
c) O extraditando assume, no processo extradicional, a condição indisponível de sujeito de
direitos, cuja intangibilidade há de ser preservada pelo Estado a quem foi dirigido o pedido de
extradição. A possibilidade de ocorrer a privação, em juízo penal, do due process of law, nos
múltiplos contornos em que se desenvolve esse princípio assegurador dos direitos e da própria
liberdade do acusado – garantia de ampla defesa, garantia do contraditório, igualdade entre as
partes perante o juiz natural e garantia de imparcialidade do magistrado processante –, impede o
válido deferimento do pedido extradicional. O Supremo Tribunal Federal não deve deferir o
pedido de extradição se o ordenamento jurídico do Estado requerente não se revelar capaz de
assegurar, aos réus, em juízo criminal, a garantia plena de um julgamento imparcial, justo, regular e
independente. A incapacidade de o Estado requerente assegurar ao extraditando o direito ao fair
trial atua como causa impeditiva do deferimento do pedido de extradição.
d) O ordenamento positivo brasileiro, nas hipóteses em que se delineia a possibilidade de
imposição do supplicium extremum, impede a entrega do extraditando ao Estado requerente, a
menos que este, previamente, assuma o compromisso formal de comutar, em pena privativa de
liberdade, a pena de morte, ressalvadas, quanto a esta, as situações em que a lei brasileira –
fundada na Constituição Federal (art. 5º, XLVII, a) – permitir a sua aplicação, caso em que se
tornará dispensável a exigência de comutação. O chefe da Missão Diplomática pode assumir, em
nome de seu governo, o compromisso oficial de comutar a pena de morte em pena privativa de
liberdade, não necessitando comprovar, para esse efeito específico, que se acha formalmente
autorizado pelo Ministério das Relações Exteriores de seu país. A Convenção de Viena sobre
Relações Diplomáticas (art. 3º, n. 1, a) outorga à Missão Diplomática o poder de representar o
Estado acreditante (État denvoi) perante o Estado acreditado ou Estado receptor (o Brasil, no
caso), derivando, dessa eminente função política, um complexo de atribuições e de poderes
reconhecidos ao agente diplomático que exerce a atividade de representação institucional de seu
país. A nota diplomática, que vale pelo que nela se contém, goza da presunção juris tantum de
autenticidade e de veracidade. Trata-se de documento formal cuja eficácia jurídica deriva das
condições e peculiaridades de seu trânsito por via diplomática. Presume-se a sinceridade do
compromisso diplomático. Essa presunção de veracidade – sempre ressalvada a possibilidade de
demonstração em contrário – decorre do princípio da boa-fé, que rege, no plano internacional, as
relações político-jurídicas entre os Estados soberanos.
e) O ordenamento positivo brasileiro, no que concerne aos processos extradicionais, não exige
que a ordem de prisão contra o extraditando tenha emanado, necessariamente, de autoridade
estrangeira integrante do Poder Judiciário. Basta que se cuide de autoridade investida, nos termos
da legislação do próprio Estado requerente, de atribuição para decretar a prisão do extraditando.
Capítulo 17
DIREITOS, DEVERES E
SUCESSÃO DO ESTADO
1. DIREITOS DO ESTADO
A necessidade de estabelecer direitos e deveres dos Estados é recente. Surgiu a partir do século
XVIII, com a Paz de Westfália, pela necessidade de afirmação da independência dos novos Estados-
nação perante o papado e os demais Estados existentes à época. Sendo o Estado um sujeito de
Direito Internacional, tais direitos permitem-lhe cumprir seus objetivos.
Neste sentido, foi assinada, em 26 de dezembro de 1933, a Convenção sobre Direitos e Deveres
dos Estados – Convenção de Montevidéu que estabelece:
Convenção sobre os Direitos e Deveres dos Estados Decreto nº 1.570 (13.04.1937)
Art. 5º Os direitos fundamentais dos Estados não são suscetíveis de ser atingidos sob qualquer
forma.
Art. 8º Nenhum Estado possui o direito de intervir em assuntos internos ou externos de outro.
Nosso Estado, além das obrigações assumidas em virtude da Convenção de Montevidéu, estabelece os
seguintes deveres em suas relações internacionais:
Desta forma, estabeleceu-se o direito à independência (art. 118), à igualdade entre os Estados (art.
119), de jurisdição (art. 120) e domínio sobre o seu território (art. 121).
1.2 Organização dos Estados Americanos – OEA
A Carta da Organização dos Estados Americanos – OEA[745] dedica o seu Capítulo III aos direitos e
deveres fundamentais dos Estados, enumerando-os do art. 6 ao art. 19, com destaque para os seguintes:
a) direito de igualdade jurídica, desfrutando-se da capacidade para exercê-los, pelo simples fato
da sua existência com personalidade jurídica internacional (art. 6);
b) direito de existência política independentemente de reconhecimento pelos outros Estados.
Mesmo antes de ser reconhecido, o Estado tem o direito de defender sua integridade e independência,
organizando-se como melhor entender (art. 9);
c) direito de desenvolver e proteger a sua existência. Todos os meios podem ser usados pelo
Estado para se proteger, desde que não pratique atos ilícitos contra outros Estados (art. 11);
d) direito de exercer a jurisdição sobre todos os habitantes, nacionais ou estrangeiros, nos
limites de seu território nacional (art. 12);
e) direito de desenvolvimento político, cultural e econômico, respeitando-se os direitos da
pessoa humana e os princípios da moral universal (art. 13);
f) direito de inviolabilidade do território, não podendo ser objeto de ocupação militar, nem de
outras medidas de força tomadas por outro Estado, direta ou indiretamente (art. 17).
1.3 Organização das Nações Unidas – ONU
No seio da Organização das Nações Unidas – ONU, há a Comissão de Direito Internacional, que é
responsável por um projeto de declaração de direitos e deveres dos Estados, apresentando-os como:
a) direito à independência: reflete-se na soberania dos Estados, que deve ser ampla tanto interna
quanto externamente, somente se subordinando à ordem internacional.
A soberania interna manifesta-se pelos três poderes: legislativo, executivo e judiciário, que permitem
ao Estado sua autodeterminação.
A soberania externa manifesta-se em quatro atividades básicas: pelo direito que os Estados têm de
celebrar tratados com outros Estados (direito de convenção); pelo respeito mútuo entre os Estados, em
relação à fronteira, jurisdição, regime político; pelo direito de legação, que é o direito de um Estado
fazer-se representar em outros Estados e pelo direito de negociar, comercializar com outros Estados;
b) direito à igualdade: não se trata de igualdade absoluta, mas relativa, haja vista o disposto no
artigo 23 da Carta da ONU acerca da participação, como membros permanentes do Conselho de
Segurança, China, EUA, Grã-Bretanha, França e Rússia, conferindo-lhes o direito de veto;
c) direito de domínio sobre o seu território: é o direito de exercer jurisdição sobre pessoas e
coisas que se encontram dentro de seu território. Não é absoluto, mas relativo, havendo exceções;
d) direito de utilizar-se das coisas comuns, como o alto-mar e o espaço sideral; e
e) direito à legítima defesa.
1.4 Legítima Defesa v. Represália v. Legítima Defesa Coletiva
A legítima defesa é a reação de um Estado ao uso ilícito de força por parte de outro Estado. O objetivo
é paralisar a violação de uma norma de Direito Internacional. O ato de se defender da agressão não
poderá ser superior em força à agressão.
Na represália, a reação é contra qualquer ato ilícito, não necessariamente contra um ato de força. Há
uma punição do Estado ao autor do ilícito. A represália não é consignada como um direito do Estado
propriamente dito.
Na legítima defesa coletiva, considera-se, por ficção, que a agressão a um Estado seria uma agressão a
todos os Estados da Sociedade Internacional ou a um grupo de Estados, o que é possível desde que haja
consentimento do Estado agredido. Tal instrumento que já estava previsto no Pacto da Sociedade das
Nações, continua presente em diversos Tratados internacionais:
Pacto da Sociedade das Nações - Decreto nº 13.990 (12.01.1920)
Artigo 16.
1. Se algum Membro da Sociedade recorrer à guerra, contrariamente aos compromissos
assumidos nos arts. 12, 13 ou 15, ele será ipso facto considerado como tendo cometido um ato
de guerra contra todos os outros membros da Sociedade (...).
3. SUCESSÃO DE ESTADOS
A sucessão de Estados ocorre quando um Estado sofre transformações que atingem seus elementos
constitutivos – território e povo – através da mudança da soberania sobre eles exercida. A principal
questão que se coloca a esse respeito consiste na transmissibilidade ou não de direitos e obrigações. As
principais hipóteses anunciadas pela doutrina tradicional seriam[746]:
a. cessão de um Estado a outro de parcela de seu território;
b. anexação por um Estado do território ou parte do território de outro;
c. fusão entre dois ou mais Estados;
d. integração de um Estado a uma Federação;
e. desmembramento ou partilha do território de um Estado; e,
f. separação ou secessão de parcelas do território de um Estado que ascendem a essa
categoria, isto é, se transformam em novos Estados.
Em 1974 foi aprovada, no seio da Comissão de Direito Internacional – CDI da Organização das
Nações Unidas, uma proposta de artigos sobre sucessão de Estados em matéria de tratados
internacionais, que originou a Convenção de Viena sobre Sucessão de Estados em Matéria de Tratados,
de 23 de agosto de 1978, ainda não ratificada pelo Brasil[747]. Posteriormente, com base em um projeto
elaborado pela CDI com o objetivo de complementar a codificação de 1978, a Assembleia Geral da
ONU aprovou, em 08 de abril de 1983,a Convenção de Viena sobre Sucessão de Estados em Matéria de
Bens, Arquivos e Dívidas.Com relação às organizações internacionais, a regra geral é a de que o Estado
sucessor não ocupa o lugar do predecessor, uma vez que a condição de membro de uma Organização
Internacional depende de pedido expressamente formulado, fato comum nas situações de divisão
territorial, que não acarretam o desaparecimento do Estado existente.
Caso interessante se deu com a desintegração da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS,
quando a Federação Russa comunicou ao Secretário-geral da ONU, no final de 1991, que substituiria a
URSS no Conselho de Segurança, bem como nos demais órgãos e organizações da ONU, assumindo os
encargos financeiros desta participação. Nesse sentido, a ONU houve por bem aceitar que a Rússia
sucedesse a URSS com base no princípio da estabilidade das relações internacionais e na identidade dos
elementos que propiciaram, em 1945, o reconhecimento da condição de membro à URSS – tais como
relevância militar, tamanho de território e população, entre outros. Assim sendo, enquanto Ucrânia e
Bielorrússia apenas retomaram a condição de membros originários das Nações Unidas, ao demais
Estados originados do fim da União Soviética necessitaram passar pelo processo de admissão àquela
organização internacional.
O mesmo entendimento não foi estendido quando da dissolução da Iugoslávia. No início dos anos
noventa, a República Federal Socialista da Iugoslávia, constituída pela Bósnia-Herzegovina, Croácia,
Macedônia, Montenegro, Sérvia e Eslovênia, começou a se desintegrar. Em 25 de junho de 1991, a
Croácia e a Eslovênia declararam a sua independência, seguidas pela Macedônia em 17 de setembro de
1991 e pela Bósnia- Herzegovina em 6 de março de 1992[748]. Em 27 de abril de 1992, os participantes
da sessão comum da Assembleia da República Federativa Socialista da Iugoslávia, da Assembleia
Nacional da República da Sérvia e da Assembleia da República de Montenegro adotaram uma
declaração no sentido de que:
A República Federal da Iugoslávia, assegurando a continuidade do Estado e da personalidade
jurídica e política internacional da República Federativa Socialista da Iugoslávia, respeitará
estritamente todos os compromissos que a República Federativa Socialista da Iugoslávia assumiu
internacionalmente, permanecendo vinculada a todas as suas obrigações vis-à-vis das
organizações e instituições internacionais às quais ela pertence (...).
Em uma nota oficial da Missão Permanente da Iugoslávia junto à Organização das Nações Unidas -
ONU, foi indicado inter alia que:
Em estrito respeito à continuidade da personalidade internacional da Iugoslávia, a República
Federal da Iugoslávia continuará a exercer todos os direitos conferidos à República Federativa
Socialista da Iugoslávia e a cumprir todas as obrigações assumidas por essa última nas relações
internacionais, aí compreendido o que concerne à sua permanência em todas as organizações
internacionais e sua participação em todos os tratados internacionais que a Iugoslávia ratificou ou
naqueles a que ela aderiu[749].
Em 22 de setembro de 1992, todavia, a Assembleia Geral adotou sua Resolução A/47/1 na qual,
seguindo a Recomendação feita pelo Conselho de Segurança em sua Resolução 777, de 19 de setembro
de 1992, considerou que:
Considerando que a República Federativa da Iugoslávia (Sérvia e Montenegro) não pode assumir
automaticamente a continuidade da qualidade de membro das Nações Unidas no lugar da antiga
República Federativa Socialista da Iugoslávia; e desta forma decide que a República Federativa
da Iugoslávia (Sérvia e Montenegro) deve apresentar um pedido de admissão as Nações Unidas
e, não participará dos trabalhos da Assembleia Geral[750].
REPRESENTAÇÃO INTERNACIONAL
1. CHEFE DE ESTADO
É o mais alto órgão do Estado, não importando a designação que receba – Rei, Imperador, Presidente
da República, Primeiro-Ministro –, sendo quem representa o Estado na Sociedade Internacional.
Compete ao direito interno de cada Estado designar esse ente supremo, bem como especificar quais
serão seus poderes e limitações, que, no caso do sistema brasileiro, é de competência de um único
agente, que congrega as funções de representação do Estado e o exercício dos poderes substantivos de
Governo, como se depreende da análise da Constituição Federal de 1988.
Constituição da República Federativa do Brasil
Artigo 76. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros
de Estado.
Artigo 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
(...)
VII – manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos;
VIII – celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso
Nacional;
(...)
XIX – declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou
referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas
condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional;
XX – celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional;
(...)
XXII – permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo
território nacional ou nele permaneçam temporariamente;
Para o Direito Internacional o Chefe de Estado exerce a chamada diplomacia direta ou de cúpula
enquanto órgão que representa o Estado na Sociedade Internacional, desta forma tem-se que, pelo
princípio do jus representationis omnimodae – direito de representação em todos os tipos –, os atos por
ele praticados são atribuídos ao próprio Estado, mesmo que tais atos contrariem o disposto no direito
interno. Nesse sentido já dispôs a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (1969) e foi
decidido pela Corte Internacional de Justiça – CIJ através da análise dos atos unilaterais do representante
da França no Caso dos Testes Nucleares no Pacífico Sul (1973/74), e dos atos do presidente Bósnio na
decisão sobre a implementação de medidas cautelares no Caso Relativo à Aplicação da Convenção
sobre a Prevenção e Repressão aos Crimes de Genocídio (1993):
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados – Decreto nº 7.030 (14.12.2009)
Artigo 7 Plenos Poderes
1. Uma pessoa é considerada representante de um Estado para a adoção ou autenticação do
texto de um tratado ou para expressar o consentimento do Estado em obrigar-se por um
tratado se:
b) a prática dos Estados interessados ou outras circunstâncias indicarem que a intenção do
Estado era considerar essa pessoa seu representante para esses fins e dispensar os
plenos poderes.
2. Em virtude de suas funções e independentemente da apresentação de plenos poderes, são
considerados representantes do seu Estado:
a) os Chefes de Estado, os Chefes de Governo e os Ministros das Relações Exteriores, para a
realização de todos os atos relativos à conclusão de um tratado;
Como vimos, dele dependem e estão vinculados todos os agentes que representam o Estado, tendo,
ainda, as seguintes atribuições:
• conferenciar com os agentes diplomáticos estrangeiros;
• designar os representantes do Estado no exterior; e
• representar o Chefe de Estado na assinatura de acordos internacionais,
independentemente da apresentação de plenos poderes.
3. AGENTES DIPLOMÁTICOS
O diplomata é um órgão que representa um Estado junto à soberania local de outro Estado. A
Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, celebrada em 18 de abril de 1961, regulamenta a sua
atuação.
Pelo fato de representarem a soberania do Estado, só poderão ser diplomatas pessoas que possuam a
nacionalidade do Estado, como observamos tanto pela análise da Constituição brasileira quanto pela
análise da Convenção de Viena:
Constituição da República Federativa do Brasil
Artigo 12. (...)
(...)
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:
(...)
V – da carreira diplomática;
A atuação dos agentes diplomáticos na Sociedade Internacional decorre do direito de legação dos
Estados. Tal direito depende do consenso mútuo entre os Estados, não podendo ser imposto.
A expressão “agentes diplomáticos” engloba o Chefe de Missão, assim entendida a pessoa encarregada
de agir nessa qualidade pelo Estado acreditante e os agentes que com ele trabalham na repartição
diplomática. É o chamado corpo diplomático: chefe da missão diplomática; e, pessoal diplomático da
missão.
A competência para decidir causas trabalhistas que envolvam empregados domésticos de agentes
diplomáticos é da Justiça do Trabalho:
d) isenção de todos os impostos e taxas pessoais, com exceção dos impostos indiretos que
estejam normalmente incluídos no preço das mercadorias ou dos serviços; impostos e taxas sobre bens
imóveis privados, situados no território do Estado acreditado, a não ser que o agente diplomático os
possua em nome do Estado acreditante e para os fins da missão; os direitos de sucessão percebidos pelo
Estado; os impostos e taxas sobre rendimentos privados que tenham a sua origem no Estado acreditado e
os impostos sobre capital, referentes a investimentos em empresas comerciais; os impostos e taxas
cobrados por serviços específicos prestados e os direitos de registro, de hipoteca, custas judiciais e
imposto de selo relativos a bens imóveis.
3.4 Documentos
a) documento de identidade denominado passaporte diplomático,[762] com validade estabelecida
de acordo com a natureza da função de seu titular ou a duração da missão. No Brasil sua concessão ao
agente diplomático está regulada na Seção I (Do Passaporte Diplomático), do Decreto nº 5.978/2006:
Decreto nº 5.978 (04.12.2006)
Art. 6º Conceder-se-á passaporte diplomático:
IV - aos funcionários da Carreira de Diplomata, em atividade e aposentados, de Oficial de
Chancelaria e aos Vice-Cônsules em exercício;
(...)
VIII - aos chefes de missões diplomáticas especiais e aos chefes de delegações em reuniões de
caráter diplomático, desde que designados por decreto;
b) credencial que o acredita perante o Estado em que irá servir. O Estado acreditante deverá
certificar-se de que a pessoa que pretenda nomear como Chefe de Missão perante o Estado acreditado
obteve o agrément do referido Estado[763].
Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas
Decreto nº 61.078 (de 26.07.1967)
Artigo 13.
1. O Chefe da Missão é considerado como tendo assumido as suas funções no Estado acreditado
no momento em que tenha entregado suas credenciais ou tenha comunicado a sua chegada e
apresentado as cópias figuradas de suas credenciais ao Ministério das Relações Exteriores, ou ao
Ministério em que se tenha convindo, de acordo com a prática observada no Estado acreditado, a
qual deverá ser aplicada de maneira uniforme.
2. A ordem de entrega das credenciais ou de sua cópia figurada será determinada pela data e
hora da chegada do Chefe da Missão.
3.5 Deveres
3.5.1 Perante o seu Estado de Origem
• representação da soberania do seu Estado de origem, protegendo seus interesses e de seus
nacionais, dentro dos limites permitidos pelo Direito Internacional;
• observação, inteirando-se, por todos os meios lícitos, das condições existentes e da
evolução dos acontecimentos no Estado acreditado e informar a esse respeito o seu governo; e
• promoção de relações amistosas e desenvolvimento das relações econômicas, culturais e
científicas.
3.5.2 Perante o Estado em que atua
• tratar o Estado com respeito e consideração;
• não intervir nos assuntos internos do Estado;
• não participar de movimentos políticos e partidários; e,
• não exercer nenhuma atividade profissional ou comercial em proveito próprio.
4. AGENTES CONSULARES
As repartições consulares representam o Estado de origem no que tange a assuntos privados (interesses
comerciais, assistência e proteção a seus nacionais naquela localidade), situando-se, via de regra, nos
portos e nas principais cidades dos Estados. Tais atos de representação são regidos pela Convenção de
Viena sobre Relações Consulares.
Os membros das repartições consulares deverão, em princípio, ter a nacionalidade do Estado que
envia, somente poderão ser nacionais ou residentes permanentes do Estado receptor com o seu
consentimento expresso[764].
O estabelecimento de relações consulares far-se-á por consentimento mútuo. A ruptura de relações
diplomáticas não implica a ruptura de relações consulares.
4.1 Classificação
Os funcionários consulares podem ser:
a) de carreira: assemelham-se aos agentes diplomáticos, sendo diplomatas deslocados para as
funções consulares e que têm as mesmas prerrogativas; e
b) honorários: instituídos facultativamente pelo Estado.
4.2 Carta-patente e Exequatur
Enquanto o diplomata deve apresentar credencial ao Estado em que pretende atuar, o agente consular
apresenta um documento denominado carta-patente, que atesta sua qualidade e indica, como regra geral,
seu nome completo, sua classe e categoria, a jurisdição consular e a sede da repartição consular.
Convenção de Viena sobre Relações Consulares
Decreto nº 61.078 (26.07.1967)
Artigo 11. Carta-patente ou notificação da nomeação
1. O chefe da repartição consular será munido, pelo Estado que envia, de um documento, sob a
forma de carta-patente ou instrumento similar, feito para cada nomeação, que ateste sua
qualidade e que indique, como regra geral, seu nome completo, sua classe e categoria, a
jurisdição consular e a sede da repartição consular.
Artigo 12. Exequatur
1. O Chefe da repartição consular será admitido no exercício de suas funções por uma
autorização do Estado receptor denominada ‘exequatur’, qualquer que seja a forma dessa
autorização.
2. O Estado que negar a concessão de um exequatur não estará obrigado a comunicar ao Estado
que envia os motivos dessa recusa.
Ser portador de carta patente não gera direito líquido e certo de receber o exequatur:
Superior Tribunal de Justiça – STJ
Como vimos, a carta-patente é analisada no Estado e, caso ele concorde com o exercício das
atividades do agente consular, lhe fornecerá o exequatur, que é o reconhecimento da autoridade do
agente consular e a permissão para que inicie suas atividades. Somente a partir do fornecimento do
exequatur os agentes consulares passam a ter imunidades e prerrogativas, as quais são mais restritas que
as dos diplomatas.
4.4 Deveres
• proteger, no Estado receptor, os interesses do Estado que representa e de seus nacionais,
dentro dos limites permitidos pelo Direito Internacional;
• fomentar o desenvolvimento das relações comerciais, econômicas, culturais e científicas;
• informar-se, por todos os meios lícitos, das condições e da evolução da vida comercial,
econômica, cultural e científica do Estado receptor;
• expedir passaportes e documentos de viagem aos nacionais do Estado que o envia, bem
como vistos e documentos apropriados às pessoas que desejarem viajar para o referido Estado;
• prestar ajuda e assistência aos nacionais, pessoas físicas ou jurídicas, do Estado que o
envia;
• agir na qualidade de notário e oficial de registro civil;
• resguardar os interesses dos menores e dos incapazes nacionais do país que o envia,
particularmente no tocante a tutela e curatela;
• representar os nacionais e tomar as medidas convenientes para sua representação perante
tribunais e outras autoridades do Estado receptor;
• comunicar decisões judiciais e extrajudiciais e executar comissões rogatórias de
conformidade com os acordos internacionais; e
• prestar assistência às embarcações e aeronaves no tocante a controle e inspeção no Estado
receptor.
RESPONSABILIDADE
INTERNACIONAL DO ESTADO
1. CONCEITO
É o instituto jurídico pelo qual um Estado ao qual é imputado um ato ilícito, segundo o Direito
Internacional, deve uma reparação ao Estado contra o qual esse ato ilícito foi cometido.
Segundo Accioly, o Estado é internacionalmente responsável por todo ato ou omissão que lhe seja
imputável e do qual resulte a violação de norma jurídica internacional ou de suas obrigações
internacionais[770].
Von Liszt declara que tais atos responsabilizariam o Estado desde que cometidos em seu território
pelos seus próprios súditos ou por estrangeiros, por pessoas particulares ou pelas autoridades.
Os Estados são responsáveis se os atos são cometidos por pessoas privadas ou pelos seus
órgãos representativos internacionais, ainda que fora do exercício de suas funções ou pelos
seus órgãos puramente internos e sem representatividade alguma internacional (tribunais,
autoridades administrativas) em virtude de sua soberania internacional. Responde também
pelas ações cometidas por estrangeiros em seu território, mas não pelos atos cujo autor
desfruta da extraterritorialidade, não estando, portanto, subordinado à sua autoridade[771].
Aréchaga afirma que essa nova situação jurídica automaticamente surge sempre que se viola, por
ação ou por omissão, um dever estabelecido em qualquer regra de Direito Internacional[772].
O Caso Chorzów Factory, julgado pela Corte Permanente de Justiça Internacional – CPJI, em 1927,
afirma ser a responsabilidade internacional um princípio de Direito Internacional no sentido de que
qualquer incumprimento de um compromisso impõe a obrigação de efetuar uma reparação.
Corte Permanente de Justiça Internacional – CPJI
Caso Chorzów Factory[773]
É um princípio de direito internacional que a violação de um compromisso envolve uma
obrigação de fazer reparação em uma forma adequada.
2. CARACTERÍSTICAS
a) tem finalidade de reparação de prejuízo;
b) a reparação internacional é, em geral, de Estado para Estado, sendo possível, entretanto,
reparação de Estado para organização internacional. Desta forma opinou a Corte Internacional de Justiça
- CIJ em Parecer Consultivo relativo a uma série de atentados ocorridos na Palestina que culminaram
com a morte do Conde Bernadotte, então Mediador das Nações Unidas na Palestina e do Coronel Sérot,
Observador das Nações Unidas, em 17 de setembro de 1948, pelos quais o Secretário-Geral da ONU
questionava a possibilidade de requerer reparação ou reembolso dos Estados ou Governos onde ou sob
cuja responsabilidade tais atos ocorreram:
Corte Internacional de Justiça – CIJ
Reparação de Danos Sofridos a Serviço das Nações Unidas [774]
Parecer Consultivo de 11 de abril de 1949
(...) a Organização tem a capacidade para apresentar uma reclamação internacional contra um
Estado (membro ou não) que, por uma violação de suas obrigações para com a Organização,
tenha-lhe causado um dano.
c) é instituto consuetudinário, de natureza política. Cada caso deve ser analisado separadamente,
tendo as decisões um cunho eminentemente político. Foi elaborado, pela Comissão de Direito
Internacional das Nações Unidas, um Projeto sobre Responsabilidade Internacional dos Estados no
intuito de dar contornos jurídicos definitivos a este instituto, mas que, até a presente data, não foi
submetido à votação;
d) não é possível ação de responsabilidade penal contra um Estado. Tal fato foi reforçado
quando do julgamento do Caso da Aplicação da Convenção sobre a Prevenção e a Punição do Crime de
Genocídio , quando a CIJ reafirmou:
Corte Internacional de Justiça - CIJ
Caso da Aplicação da Convenção sobre a Prevenção e a Punição do Crime de
Genocídio [775]
(...) por uma questão de princípio, o direito internacional não reconhece a responsabilidade
criminal do Estado, e a Convenção sobre Genocídio não oferece um veículo para a imposição
de tal responsabilidade criminal.
(grifos nossos)
3. E LEMENTOS
a) Ato ilícito: deve haver violação dos deveres ou obrigações internacionais do Estado, não
apenas aquelas estipuladas em tratados, mas também as resultantes de costume e de princípios gerais do
Direito. A Comissão de Direito Internacional das Nações Unidas, em seu Projeto sobre Responsabilidade
Internacional dos Estados definiu ato ilícito da seguinte forma:
Comissão de Direito Internacional das Nações Unidas
Projeto sobre Responsabilidade Internacional dos Estados (2001)[776]
Art. 2º Elementos de um ato internacionalmente ilícito do Estado
Há um ato internacionalmente ilícito do Estado quando a conduta, consistindo em uma ação ou
omissão:
a) é atribuível ao Estado consoante o Direito Internacional; e
b) constitui uma violação de uma obrigação internacional do Estado.
Art. 3º Caracterização de um ato de um Estado como internacionalmente ilícito.
A caracterização de um ato de um Estado, como internacionalmente ilícito, é regida pelo
Direito Internacional. Tal caracterização não é afetada pela caracterização do mesmo ato
como lícito pelo direito interno.
Art. 12. Existência de uma violação de uma obrigação internacional
Há uma violação de uma obrigação internacional por um Estado quando um ato deste Estado
não está em conformidade com o que lhe é requerido pela obrigação, seja qual for a
origem ou natureza dela.
(grifos nossos)
b) Imputabilidade: é o nexo de causalidade, que liga o ato ilícito a quem é por ele
responsável. Não se confunde a imputabilidade na esfera de Direito Internacional com o conceito de
imputabilidade penal, uma vez que não se vincula necessariamente à autoria do ilícito e sim a sua
atribuição a um Estado.
c) Dano ou prejuízo: Pode ser material ou moral. Pode ser causado contra o Estado ou
contra um particular do Estado. O seu conceito é variável, estando sua definição prevista em diversas
normas internacionais:
Convenção sobre Responsabilidade Internacional por Danos Causados por Objetos
Espaciais
Decreto nº 71.981 (22.03.1973)
Artigo 1º Para os propósitos da presente Convenção:
a) o termo «dano» significa perda de vida, ferimentos pessoais ou outro prejuízo à saúde; perdas
de propriedade do Estado ou de pessoas físicas ou jurídicas ou danos sofridos por tais
propriedades, ou danos e perdas no caso de organizações intergovernamentais internacionais;
4. NATUREZA JURÍDICA
4.1 Teoria da Culpa (Grotius/von Liszt)
A violação de norma internacional por parte do Estado acarreta sua culpa para ser responsabilizado
internacionalmente. Os atos devem ser não só antijurídicos objetivamente, mas também imputável por
dolo ou imprudência às pessoas que o cometem[777]. A crítica a essa corrente se dá pelo fato de a culpa
ser um elemento psicológico de difícil comprovação.
4.2 Teoria do risco ou objetiva (Triepel)
O Estado será sempre responsável internacionalmente, desde que haja um nexo de causalidade entre
ele e o autor do ato ilícito.
5. ESPÉCIES
a) Direta, quando movida contra o governo de um Estado, seus órgãos e funcionários[778] ou indireta,
quando movida contra uma coletividade que se encontra sob a responsabilidade desse Estado.
b) Por comissão, se ocorre quando o ato ilícito resulta de uma ação do Estado ou por omissão, se
ocorre quando o Estado deixa de praticar um ato internacional. Um exemplo clássico nesse sentido nos é
apresentado no Caso do Canal de Corfu quando, por não ter avisado a frota britânica da existência de
minas, a Albânia foi condenada pela Corte Internacional de Justiça – CIJ.
Corte Internacional de Justiça – CIJ
Caso do Canal de Corfu[779]
(...) quando o governo Albanês tomou conhecimento da existência de um campo minado,
protestou violentamente contra a atividade da Frota Britânica, mas não contra a colocação das
minas, apesar de que este ato, executado sem seu consentimento, teria sido uma séria violação de
sua soberania. E não notificou a frota da existência do campo minado, como seria
requerido pela lei internacional, ele não tomou nenhuma medida de investigação judicial
que seria sua incumbência em tal caso. Tal atitude só pode ser explicada se o governo Albanês,
mesmo sabendo do campo minado, desejava que tal fato permanecesse em segredo.
(...) a colocação das minas não poderia ter sido executada sem o conhecimento da Albânia. Com
respeito às obrigações resultantes desse fato que ela deveria obedecer, estas não foram
discutidas. Era seu dever notificar a frota e especialmente, avisar os navios que estavam
passando pelo Canal no dia 22 de outubro, do perigo a que eles estavam expostos. Na
verdade, nada foi tentado pela Albânia para prevenir o desastre estas graves omissões
denunciam sua responsabilidade internacional.
(grifos nossos)
6. PROTEÇÃO DIPLOMÁTICA
Há possibilidade de os particulares, por meio de seu Estado, terem acesso aos tribunais internacionais.
É o que se chama proteção diplomática. Por ela, o Estado endossa reclamação de um indivíduo ou de
uma sociedade tornando-a sua, tendo, contudo, o poder discricionário para fazê-lo ou não.
6.1 Condições
a) a nacionalidade do autor da reclamação deve ser a do Estado: o indivíduo deve ter
possuído, na época da violação do seu direito, a nacionalidade do Estado reclamante e encontrar-se
ainda nessa situação no momento da apresentação da reclamação[781].
No caso de sociedades nacionais ou transnacionais, alguns autores afirmavam que a proteção deveria
ser feita pelo Estado da nacionalidade do maior acionista; segundo a Corte Internacional de Justiça – CIJ
no Caso Barcelona Traction, a regra tradicional atribui o direito de exercer a proteção diplomática de
uma sociedade ao Estado sob cujas leis ela foi constituída e em cujo território tem a sua sede[782].
Com relação aos engenhos, eles terão a nacionalidade expressa pela sua bandeira, que refletirá no
pavilhão adotado (navios), no Estado do registro de sua matrícula (aeronaves), ou matrícula feita pelo
Estado de lançamento (engenhos espaciais).
Por fim, quando houver dupla ou múltipla nacionalidade, um Estado não poderá endossar uma ação
contra o(s) outro(s) Estado(s) de nacionalidade do indivíduo.
b) esgotamento dos recursos internos: devem esgotar-se, sem êxito, as vias de recurso
oferecidas pela legislação interna do Estado que cometeu ou onde se cometeu o ato lesivo; e
c) o autor da reclamação deve ter conduta ilibada: Garcia-Arias propôs as seguintes
definições para tal requisito:
1) a pessoa física ou jurídica estrangeira teve uma conduta correta em relação ao
Estado territorial, respeitando as suas leis e não se imiscuindo nos assuntos políticos
internos; e
2) um Estado não pode apresentar uma reclamação em favor de uma pessoa física
ou jurídica que ele tem o direito de proteger diplomaticamente perante um outro Estado
se essa pessoa não teve uma conduta correta em relação a esse outro Estado[783].
7. PROTEÇÃO FUNCIONAL
É concedida por organizações internacionais a seus agentes que sofrem qualquer restrição à prática de
seus serviços.
A Corte Internacional de Justiça, no Parecer Consultivo Consultiva de 11.04.1949, declarou que:
a capacidade da Organização das Nações Unidas para exercer a proteção funcional sobre seus
agentes deriva da interpretação necessária da Carta[784].
b) Atos do Poder Legislativo: quando o Estado aprova ou não revoga leis contrárias às normas
internacionais ou deixa de aprovar leis indispensáveis ao cumprimento da norma internacional.
c) Atos do Poder Judiciário: são os casos de denegação de justiça, ou seja, de violação do
Direito Internacional em detrimento de estrangeiros. Pode ocorrer em sentido amplo, quando o aparelho
judiciário é deficiente, há decisão injusta ou que viole normas internacionais ou em sentido restrito,
quando o Judiciário veda o acesso aos tribunais do estrangeiro[787]. Segundo Accioly, existe denegação de
justiça:
1) quando um Estado não fornece aos estrangeiros a devida assistência judiciária, porque não
lhes permite o acesso a seus tribunais ou porque não possui tribunais adequados;
2) quando as autoridades judiciárias se negam a tomar conhecimento das causas que os
estrangeiros lhes submetem por meios regulares e a cujo respeito tenham jurisdição;
3) quando as ditas autoridades se negam a proferir sentença em tais causas ou retardam
obstinadamente as respectivas sentenças;
4) quando os tribunais dos Estados não oferecem aos estrangeiros as garantias necessárias
para a boa administração da justiça[788].
d) Atos de particulares: devem ser lesivos a um Estado (e.g., atentado contra o Chefe de
Estado em visita oficial) ou a estrangeiros (e.g., arrastão na praia de Ipanema). A ação será possível caso
o Estado não use de meios eficazes para prevenir e evitar tais atos. O Estado só poderá ser responsabili-
zado por atos de seus nacionais. Neste sentido, vide excerto do Laudo Arbitral nº 12 do MERCOSUL[789]:
Tribunal Arbitral “Ad Hoc” del MERCOSUR
constituido para decidir la controversia entre la REPÚBLICA ORIENTAL DEL URUGUAY y la
REPÚBLICA ARGENTINA sobre ‘Omisión del Estado Argentino en adoptar medidas
apropiadas para prevenir y/o hacer cesar los impedimentos a la libre circulación
derivados de los cortes en territorio argentino de vías de acceso a los puentes
internacionales Gral. San Martín y Gral. Artigas que unen la República Argentina con la
República Oriental del Uruguay’.
116) (...) el Estado puede igualmente ser considerado responsable, ya no por el hecho ajeno,
sino por el hecho propio, si omitiera la ‘conducta debida’, esto es, por la ‘falta de diligencia’ en
prevenir o corregir actos de los particulares que puedan causar perjuicio a otro Estado.
(grifos nossos)
Tal prescrição só poderá ser aplicada quando invocada pela parte que pretenda propor a ação de
responsabilidade internacional.
9.4. Cláusula Calvo
A partir da chamada Doutrina Calvo que entendia que o estrangeiro deveria respeitar a legislação do
Estado em que residia, sem a necessidade de invocar a proteção diplomática em processos derivados de
contrato, insurreição ou guerra civil, uma cláusula, com o mesmo nome, passou a ser inserida nos
contratos de concessão entre empresas transnacionais e governos latino-americanos. Por ela essas
empresas renunciavam à proteção diplomática do Estado de sua nacionalidade. Qualquer reclamação
deveria ser solucionada exclusivamente pelo tribunal interno do Estado. A partir daí, a competência dos
tribunais internos passariam a ser exclusivas e não mais preliminares à proteção diplomática
(esgotamento dos recursos internos).
Segundo Rezek, a Cláusula Calvo exprimiria renúncia a uma faculdade alheia, sendo por isso nula de
pleno direito[794], todavia, ainda encontramos resquícios de sua utilização, como podemos verificar no art.
27 da Constituição Mexicana, de 1917, reformada em 2004.
Constitución Política de los Estados Unidos Mexicanos
Artículo 27. La propiedad de las tierras y aguas comprendidas dentro de los límites del territorio
nacional, corresponde originariamente a la Nación, la cual ha tenido y tiene el derecho de
transmitir el dominio de ellas a los particulares, constituyendo la propiedad privada. (...)
La capacidad para adquirir el dominio de las tierras y aguas de la Nación, se regirá por las
siguientes prescripciones:
I. – Sólo los mexicanos por nacimiento o por naturalización y las sociedades mexicanas tienen
derecho para adquirir el dominio de las tierras, aguas y sus accesiones o para obtener
concesiones de explotación de minas o aguas.
El Estado podrá conceder el mismo derecho a los extranjeros, siempre que convengan ante la
Secretaría de Relaciones en considerarse como nacionales respecto de dichos bienes y en no
invocar, por lo mismo, la protección de sus gobiernos por lo que se refiere a aquéllos; bajo
la pena, en caso de faltar al convenio, de perder en beneficio de la Nación, los bienes que
hubieren adquirido en virtud de lo mismo.
(Grifos nossos)
10. A REPARAÇÃO
É a finalidade da Responsabilidade Internacional do Estado. O Estado responsável tem obrigação de
reparar integralmente o prejuízo causado pelo ato internacionalmente ilícito, podendo ser efetivada nas
seguintes formas:
a) Restitutio in Integrum: é a reparação direta, ou seja, a colocação das coisas no estado
anterior. Um exemplo desse instituto de reparação se deu com as “idas e vindas” do território da Alsácia-
Lorena. Originalmente pertencente ao Sacro Império Romano-Germânico (I Reich), foi tomado por Luís
XIV da França depois da Paz de Westfália em 1648. Ao final da Guerra Franco-Prussiana, com a
assinatura do Tratado de Frankfurt, de 10 de Maio de 1871, foi imposto à França, por direito de guerra
que a província francesa da Alsácia e parte da Lorena seriam devolvidas, passando para o domínio do
Império Alemão (II Reich). Por aquele Tratado, a França foi obrigada, ainda, a pagar uma indenização de
guerra de cinco bilhões de francos em ouro e a financiar os custos da ocupação das províncias do norte
pelas tropas alemãs, até o pagamento de toda a indenização. Tal território, por fim, foi retomado pela
França após a Primeira Guerra Mundial, nos termos da Seção V, do Tratado de Versalhes de 1919[795]. A
restituição está desta forma prevista no Projeto sobre Responsabilidade Internacional do Estado:
Comissão de Direito Internacional das Nações Unidas
Projeto sobre Responsabilidade Internacional dos Estados (2001)
Art. 35. Restituição
Um Estado responsável por um ato internacionalmente ilícito tem a obrigação de restituir, ou seja,
de reestabelecer a situação que existia antes que o ato ilícito fosse cometido, desde que
e na medida que a restituição:
a) não seja materialmente impossível;
b) não acarrete um ônus totalmente desproporcional com relação ao benefício que derivaria de
restituição em vez dada indenização.
(grifos nossos)
ORGANIZAÇÕES
INTERNACIONAIS – OI
1. TEORIA GERAL
Atualmente, passamos por uma proliferação de organizações internacionais em virtude do fato dos
Estados se encontrarem impossibilitados, por razões estruturais e políticas, de realizar seus objetivos em
um quadro determinado.
As poucas definições formais dadas a tais pessoas internacionais são insuficientes para fornecer um
conceito preciso[798]. Assim, devemos recorrer aos autores de Direito Internacional para apresentarmos
seu conceito, do qual extrairemos também suas principais características.
Segundo Sereni, organização internacional é a associação voluntária de sujeitos de Direito
Internacional, constituída por um ato internacional e disciplinada nas relações entre as partes por normas
de Direito Internacional, que se realiza em um ente de aspecto estável que possui um ordenamento
jurídico interno próprio e é dotado de órgãos e institutos próprios por meio dos quais realiza as
finalidades comuns de seus membros mediante funções particulares e o exercício de poderes que lhe
foram conferidos.
Seguindo essa orientação, Vallejo define as organizações internacionais como associações voluntárias
de Estados estabelecidas por acordo internacional, dotadas de órgãos permanentes, próprios e
independentes, encarregadas de gerir os interesses coletivos e capazes de expressar uma vontade
juridicamente distinta da dos seus membros. Enumera, todavia, quatro elementos essenciais que diferem
as Organizações Internacionais das entidades afins, quais sejam: composição essencialmente interestatal,
base jurídica convencional, estrutura orgânica permanente e independente e estrutura jurídica[799].
Quoc Dihn adotou conceito próximo, segundo o qual esse tipo de organização seria uma associação de
Estados, constituída por tratado, dotada de uma constituição e de órgãos comuns, possuindo uma
personalidade jurídica distinta da dos Estados-membros e estando seu funcionamento inevitavelmente
marcado pela tensão e pela complementaridade dos princípios de direito dos tratados, por um lado, pelas
exigências de autonomia e de eficácia de toda organização humana, pelo outro[800].
Para Abdulah el Erian, organização internacional seria a associação de Estados, estabelecida por
tratado, possuindo uma constituição e órgãos comuns e tendo personalidade legal distinta da dos Estados-
membros.
Ricardo Seitenfus a define como uma associação voluntária entre Estados, constituída por um tratado
que prevê um aparelhamento institucional permanente e uma personalidade jurídica distinta dos Estados
que a compõem, com o objetivo de buscar interesses comuns por meio da cooperação entre seus
membros[801].
Nos tratados internacionais que fazem menção a sua existência, essas organizações são tidas como
organizações intergovernamentais, exatamente para distingui-las das Organizações Não Governamentais
– ONG, como podemos identificar quando da leitura da Convenção de Viena sobre o Direito dos
Tratados entre Estados e Organizações Internacionais ou entre organizações internacionais, de 1986:
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (...) – 1986
Artigo 2º Expressões empregadas:
i) ‘organização internacional’ significa uma organização intergovernamental;
1.1 Características
Dentre as definições anteriormente enumeradas, somos partidários da apresentada por Sereni, por
acreditarmos ser a mais completa e que realmente vislumbra de maneira clara o sujeito de Direito
Internacional. A partir dela, podemos destacar as seguintes características das organizações
internacionais:
a) associação voluntária de sujeitos de Direito Internacional: em regra, é formada apenas por
Estados, mas já se admite que também seja constituída por outras organizações internacionais, como foi o
caso da Organização Mundial do Comércio – OMC, que, criada pelo Acordo de Marrakesh, em
15.04.1994, teve como uma das partes signatárias as Comunidades Europeias[802];
b) instituída por ato internacional: geralmente, esse ato é denominado de tratado ou
convenção, que, além de não ter prazo de validade, será interpretado pela organização internacional,
sendo sua execução feita por diversos outros atos, tendo tal instrumento jurídico primazia sobre outros
tratados e, por fim, importância superior à de uma Constituição para os Estados, já que um Estado pode
existir, teoricamente, mesmo sem uma Constituição, ao passo que as organizações internacionais jamais
poderão subsistir sem um tratado que as constitua;
c) ordenamento jurídico interno próprio: possui estatuto interno que regula o funcionamento de
seus órgãos;
d) personalidade internacional: tal personalidade só passa a vigorar no momento que ela
efetivamente entra em funcionamento (princípio da efetividade). Como bem lembra Mello,[803] vários
doutrinadores consideravam que a Liga das Nações não tinha personalidade internacional e era uma
simples associação de Estados. Contudo, um modus vivendi, concluído em 1926, com a Suíça,
reconheceu a sua personalidade. Segundo ele, mesmo a ONU teve a sua personalidade limitada a uma
capacidade jurídica necessária ao exercício de suas funções e à realização de seus propósitos, como
estatuiu o artigo 104 da Carta das Nações Unidas. Por fim, indica que tal questão só foi definitivamente
resolvida por um parecer da Corte Internacional de Justiça – CIJ, de 1949, sobre a Reparação por Danos
Sofridos em Serviço da ONU reconhecendo que os Estados-membros criaram-na enquanto organização
dotada de personalidade internacional objetiva afirmando, dessa forma, que é indispensável que a
organização tenha personalidade internacional[804];
e) órgãos próprios: em geral é constituída por um órgão executivo, geralmente denominado
conselho, um órgão que congrega todos os Estados (assembleia) e um órgão encarregado da parte
administrativa (secretariado);
f) existência de poderes próprios: fixados pelos tratados que a instituíram, geralmente
concedidos pelos Estados sob a forma de soberania compartilhada; e,
g) sede própria: estabelecida por um acordo de sede entre a organização internacional e um
Estado soberano, que faculte a instalação física de seus órgãos em algum ponto de seu território.
1.2 Critérios
Segundo o Yearbook of International Organization, que em seu Volume I (1996) descreveu ou listou
mais de 28.036 órgãos que, de alguma forma, podem ser considerados Organizações Internacionais[805],
além das características supracitadas, uma OI para se caracterizar como tal deve estar de acordo com os
seguintes critérios:
• ter pelo menos três Estados com direito a voto;
• ter estrutura formal;
• os funcionários não devem ter a mesma nacionalidade;
• p elo menos três Estados devem contribuir substancialmente para a sociedade; e
• t er objetivo internacional.
1.3 Espécies
As organizações internacionais apresentam-se de acordo com a sua natureza, sua composição e seu
objetivo.
Quanto à sua natureza, podem ser classificadas em políticas e técnicas:
• Políticas: tratam de questões conflitivas, agindo preventivamente na manutenção da paz e da
segurança internacionais. É o caso da Organização das Nações Unidas – ONU.
• Técnicas: sua atuação está relacionada à cooperação técnica em áreas específicas. Por
exemplo, a Organização Internacional do Trabalho – OIT.
Quanto à sua composição, apresentam um alcance universal e um alcance regional:
• Alcance universal: estão vocacionadas para acolher o maior número possível de Estados, sem
restrições de índole geográfica, cultural ou econômica. É o caso da ONU.
• Alcance regional: constituída por pessoas internacionais identificadas entre si no aspecto
geográfico, cultural ou econômico, como a União Européia, o Mercosul e a Organização dos
Estados Americanos – OEA.
Quanto ao seu objetivo, ou seja, quanto ao papel que desempenham, podem ser classificadas em
organizações de cooperação ou de coordenação e organizações de integração ou unificação:
• Organizações de Cooperação: têm por ambição aproximar políticas que continuam a ser da
responsabilidade dos Estados, como o caso da Organização de Cooperação e Desenvolvimento
Econômico – OCDE.
• Organizações de Integração – permitem o desenvolvimento de políticas e objetivos comuns,
geridas por orgãos próprios. Na maioria dos casos, tais organizações englobam as de cooperação,
ultrapassando-as em suas funções e competências, como no caso da União Européia.
1.4 Responsabilidade Internacional
Segundo Mello,[806] não existem normas específicas para a responsabilidade internacional das
organizações internacionais. Em muitos casos, elas utilizam as normas existentes para a responsabilidade
dos Estados, os quais, todavia, não podem ilidir suas obrigações de direito costumeiro e princípios
gerais de Direito pela criação de uma organização internacional, que não estaria confinada pelos limites
legais impostos sobre seus Estados-membros. Em outras palavras, a qualidade de membro de uma
organização internacional não pode implicar uma correlata redução da responsabilidade do Estado por
meio de uma delegação de poderes.
As organizações internacionais são passíveis de ação de responsabilidade internacional não só por
atos de seus órgãos competentes por meio de seus funcionários,[807] mas ainda por atos de particulares
realizados em sua sede.
A questão da responsabilidade internacional pode ser trazida perante cortes nacionais, tribunais
administrativos, tribunais arbitrais e a Corte Internacional de Justiça pelos pareceres consultivos. A
quantidade de fóruns não reflete uma completa responsabilização das Organizações Internacionais.
Analisando caso a caso, vamos encontrar alguns obstáculos. Como exemplo temos a sua imunidade de
jurisdição perante as cortes nacionais, a qual se não for negada ou renunciada e conjugada com a falta de
meios procedimentais alternativos pode resultar numa negação do acesso à justiça ou corretivo da lesão
sofrida pelas partes não estatais.
É ponto pacífico na doutrina que as organizações internacionais, como reclamantes junto a um Estado,
devem cumprir os mesmos requisitos previstos para a efetivação da proteção diplomática por parte dos
Estados, inclusive o esgotamento dos recursos internos. Como salienta Mello, quando a organização
internacional faz pagamento de indenização, esta recai sobre todos os seus Estados-membros, uma vez
que o montante é incluído no orçamento, o qual é formado por contribuições dos Estados-membros[808].
1.5 Direitos
Os principais direitos que as organizações internacionais possuem são:
• Direito de convenção: concluir acordos internacionais em nome próprio, estando dentro do
seu domínio o fato de ter ou não capacidade para celebrar tratados, como demonstra o artigo 6º da
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados entre Estados e Organizações Internacionais ou
entre Organizações internacionais, de 1986:
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (...) – 1986
Artigo 2º Capacidade das organizações internacionais para concluir tratados.
A capacidade de uma organização internacional para concluir tratados é regida pelas regras da
organização.
Cada Estado-membro mantém uma representação ou uma missão permanente junto às organizações
internacionais. No entanto, é comum que o embaixador do Estado-membro junto àquele país onde situe
sua sede, responda igualmente pela representação junto à organização internacional[809].
• Direito de denúncia: é o direito que os Estados-membros têm de se retirar da organização
desde que tal pressuposto esteja previsto no seu tratado instituidor, que cumpram um aviso prévio
e que tenham atualizado suas contas perante a OI, como podemos verificar no Tratado de
Assunção, que instituiu o MERCOSUL.
Tratado de Assunção
Decreto nº 350 (22.11.1991)
Artigo 21. O Estado-parte que desejar desvincular-se do presente tratado deverá comunicar
essa intenção aos demais Estados-partes de maneira expressa e formal, efetuando no prazo de
60 (sessenta) dias a entrega do documento de denúncia ao Ministério das Relações Exteriores da
República do Paraguai, que os distribuirá aos demais Estados-partes.
Artigo 22. Formalizada a denúncia, cessarão para o Estado os direitos e obrigações que
correspondam à sua condição de Estado-parte, mantendo-se os referentes ao programa de
liberação do presente tratado e outros aspectos que os Estados-partes, juntos com os Estados
denunciantes, acordem no prazo de 60 (sessenta) dias após a formalização da denúncia, esses
direitos e obrigações do Estado denunciante continuarão em vigor por período de 2 (dois) anos a
partir da data da mencionada formalização.
1.6 Financiamento
Seu orçamento é constituído por cotizações (contribuições dos Estados-membros). Uma organização
internacional pode, ainda, contrair empréstimos em nome próprio. Segundo Seitenfus, o orçamento
divide-se em despesas fixas e flexíveis. As primeiras referem-se aos gastos administrativos ordinários,
que permitem o funcionamento normal da organização. As segundas vinculam-se a programas e operações
específicos (manutenção da paz, desenvolvimento econômico e social).[810] Geralmente, a forma de
financiamento estará presente no próprio tratado constitutivo da OI, como podemos observar na análise
da ONU.
Carta das Nações Unidas
Decreto nº 19.841 (22.10.1945)
Artigo 17. (...)
2. As despesas da organização serão custeadas pelos membros, segundo cotas fixadas pela
Assembleia Geral.
Artigo 19. O membro das Nações Unidas que estiver em atraso no pagamento de sua
contribuição financeira à organização não terá voto na Assembleia Geral se o total das
contribuições igualar ou exceder à soma das contribuições correspondentes aos dois anos
anteriores completos.
1. HISTÓRICO
A Organização das Nações Unidas – ONU é uma organização única de países independentes que se
juntaram voluntariamente para trabalharem para a paz mundial e para o progresso econômico e social.
Foi formalmente constituída em 24.10.1945 com 51 Estados-membros[827].
• Declaração das Nações Unidas (01.01.1942) ➔ elaborada na Conferência de Washington,
realizada após a entrada da União Soviética e dos EUA na guerra, formando, com mais 24 países,
uma aliança contra o Eixo[828].
• Conferência de Moscou (outubro de 1943) ➔ representantes da China, da União Soviética,
do Reino Unido e dos Estados Unidos encontraram-se em Moscou e acordaram estabelecer uma
organização de nações para garantir a paz uma vez terminada a guerra.
• Conferência de Dumbarton Oaks (agosto a outubro de 1944) ➔ proposições iniciais para a
futura Organização Internacional, que teria como objetivo a manutenção da segurança.
• Conferência de Yalta (janeiro de 1945) ➔ o Presi dente Roosevelt, o Primeiro-Ministro
Churchill e o líder da URSS Josef Stalin reuniram-se numa conferência em Yalta, na União
Soviética, onde acordaram sobre o sistema de votação a ser usado no Conselho de Segurança,
decidindo, igualmente, que a Conferência das Nações Unidas deveria ter lugar em São
Francisco.
• Conferência de São Francisco (25.04 a 26.06.1945) ➔ representantes de 50 países estiveram
presentes na Conferência de São Francisco. Prepararam e adotaram por unanimidade, em 26 de
junho, a Carta das Nações Unidas e as leis da nova Corte Internacional de Justiça, assinadas
solenemente pelo Presidente norte-americano Harry Truman, e abertas a ratificação para os
Estados aliados contra o Eixo[829].
• 24.10.1945 ➔ entrada em vigor da ONU, com sede em Nova Iorque,[830] após o depósito dos
instrumentos de ratificação dos membros permanentes do Conselho de Segurança e da maioria dos
signatários da carta.
• Cúpula Mundial (14 a 16.09.2005) ➔ convocada pelo então Secretário-Geral Kofi Annan que
propôs um "grande contrato global" de Reforma das Nações Unidas, que renovaria o foco da
organização sobre a paz, segurança, direitos humanos e desenvolvimento, e a tornaria mais bem
equipada para o enfrentamento das questões do século XXI[831].
2. FINALIDADES
• resolver os litígios no intuito de manter a paz entre os Estados;
• mobilizar a Sociedade Internacional para deter uma agressão; e
• promover o respeito aos Direitos Humanos.
Carta das Nações Unidas
Artigo 1. Os propósitos das Nações Unidas são:
1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para este fim: tomar coletivamente, medidas
efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da
paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito
internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma
perturbação da paz;
2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio da
igualdade de direito e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao
fortalecimento da paz universal;
3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter
econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos
humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião;
e
4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos
comuns.
3. MEMBROS
No seio da ONU temos:
A totalidade dos 193 membros da ONU arca com os seus gastos. Há dois tipos de orçamento: o
orçamento regular que inclui as funções estabelecidas para o Secretariado em Nova Iorque e para as
delegações em todo o mundo e o orçamento de manutenção de paz que paga as diversas operações com
frequência em “pontos quentes” à volta do mundo. As contribuições dos Estados-membros para ambos os
orçamentos são obrigatórias. Os membros pagam de acordo com uma escala acordada entre todos, a qual
se baseia na capacidade do país para pagar, rendimento nacional e população[832].
Em 1997, o orçamento regular anual da ONU atingiu US$ 1,3 bilhões, o que seria equivalente a apenas
4% do orçamento anual da cidade de Nova Iorque. A partir daí, ele foi sendo constantemente revisto até
que, para o biênio 2016-2017 chegou a US$ 5,61 bilhões. Para o biênio 2018-2019 o orçamento sofreu
uma queda para US$ 5,397 bilhões. Esse orçamento bienal inclui as despesas de pessoal da organização.
Para 2018 e 2019 foi aprovado um total de 9.959 postos, 131 a menos que os empregados que tinha no
biênio anterior. A partir de 2020, as Nações Unidas testarão um modelo de orçamento anual, que poderá
facilitar a prestação de contas da Organização, a maior crítica apresentada pelos Estados contribuintes.
O sistema das Nações Unidas gasta igualmente cerca de US$ 4,5 bilhões por ano no desenvolvimento
econômico e social. Essa quantia é recolhida e gasta por diversos fundos e programas das Nações Unidas
– o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), o Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP) e o Programa
Alimentar Mundial (PAM) – por meio de contribuições voluntárias dos Países-membros[833].
4. IDIOMAS
A ONU conta com seis idiomas oficiais (árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo), além de
idiomas de trabalho que variam de acordo com o órgão (CIJ = 2: inglês e francês; AG/CES = 3: inglês,
francês e espanhol).
Um delegado pode falar em qualquer uma das línguas oficiais que o seu discurso será interpretado
simultaneamente para as outras línguas oficiais. A maior parte dos documentos oficiais, tanto impressos
quanto on-line, são igualmente publicados nas seis línguas oficiais. Por vezes, um delegado pode
escolher uma língua que não seja língua oficial. Em tais situações, a delegação em questão deverá
proporcionar tanto a interpretação quanto um texto escrito do depoimento numa das línguas oficiais.
5. ÓRGÃOS
5.1 Assembléia Geral – AG
Prevista nos artigos 9º a 22 da Carta da ONU é o principal órgão deliberativo da ONU, encarregado
das seguintes funções:
• discutir e fazer recomendações sobre qualquer assunto/questão dentro das finalidades da ONU;
• considerar princípios gerais de cooperação na manutenção da paz e segurança internacionais;
• elaborar recomendações sobre a solução pacífica de qualquer litígio internacional;
• aprovar o orçamento da ONU; e
• eleger os membros não-permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
São membros da AG todos os seus Estados-membros com direito a voto, apesar de serem
representados por até 5 delegados. Como salienta Seitenfus,[834] quase todos os Estados formam grupos
regionais e/ou ideológicos para atuarem conjuntamente, como os ocidentais, socialistas, latino-
americanos e afro-asiáticos. Reúne-se, sob o comando de seu presidente ou secretário-geral, em uma
sessão ordinária anual, de setembro a dezembro e depois de janeiro até que todas as questões sejam
abordadas, momento em que todos os membros têm a oportunidade de manifestar-se oralmente. Ela
também pode se reunir para sessões especiais e de emergência. Sua reunião anual acontece na terceira
terça-feira de setembro – estendendo-se, como visto, por um período de pelo menos 3 meses – e, via de
regra é aberta por um representante do Brasil[835]. Pode realizar ainda reuniões extraordinárias a pedido
do Secretário-geral.
Nas questões processuais, exige-se maioria simples, enquanto para as questões importantes exige-se
2/3 dos votos. São consideradas questões importantes como eleição dos membros do Conselho de
Segurança e do Conselho Econômico e Social e admissão ou expulsão de um Estado-membro[836].
Para exercer suas atividades, conta com o auxílio de sete comissões: política, política especial,
econômica, social, tutelar, comissão administrativa e financeira e comissão jurídica.
É constituído por 15 membros, sendo cinco permanentes (China[837], EUA, França, Grã-Bretanha e
Rússia[838]) e 10 eleitos pela Assembléia Geral para um mandato de dois anos não renováveis, seguindo
um critério geopolítico: 2 da África, Ásia, América Latina e Caribe, e da Europa Ocidental; e, 1 do Leste
Europeu e, alternadamente a cada dois anos, por outro país da Ásia ou da África.
A Presidência do Conselho de Segurança é exercida de modo rotativo pelos membros do órgão na
ordem alfabética em inglês do nome do país. Cada Presidente exerce o cargo por um mês do calendário.
Assim sendo, os membros permanentes do Conselho exercem a Presidência aproximadamente a cada 15
meses, já os membros não permanentes exercem-na uma ou duas vezes em cada mandato.
O seu sistema de votação é diferenciado para questões processuais (afirmativo de nove membros) e
para os outros assuntos (afirmativo de nove membros, tendo a obrigatoriedade do voto afirmativo de
todos os membros permanentes), e é aí que surge a figura do veto, em que o voto negativo de um dos
membros permanentes do Conselho de Segurança é suficiente para a não-aprovação da questão[839]. Como
a Carta da ONU não estabelece quais são as questões processuais na prática, o direito de veto é utilizado
em todas as questões mais polêmicas[840]. A abstenção ou a ausência de um dos membros permanentes
numa votação não são entendidas como veto. Para impedir a utilização demasiada do veto no Conselho
de Segurança, surgiu a figura do consenso a ser aplicado nas chamadas questões delicadas, em que o
presidente do CS tira conclusões dos debates realizados acerca de determinada controvérsia, tornando-as
posições comuns sem submetê-las a votação.
As Resoluções do Conselho de Segurança não são autoaplicáveis. Para ter eficácia em nosso Estado,
deverão ser promulgadas por decreto, como se verifica nos exemplos a seguir.
Decreto nº 3.755 (19.02.2001)
Dispõe sobre a execução, no Território Nacional, das sanções contra o Talibã e contra Usama bin
Laden, estabelecidas pela Resolução 1.333 (2000) do Conselho de Segurança das Nações
Unidas.
Nas suas decisões, exige-se maioria simples dos votos e são realizadas duas reuniões anuais: a
primeira em Genebra e a última em Nova Iorque.
5.4 Conselho de Tutela – CT
Previsto nos artigos 86 a 91 da Carta da ONU, tal órgão, encarregado de conduzir os povos do
regime de tutela para a independência, foi substituído, em 1991, pelo Comitê Especial para a
Implementação da Declaração de Independência de Povos e Países Coloniais, que teve atuação até
1994, com a independência de Palau.
O Conselho de Tutela suspendeu suas operações em 1º de novembro de 1994 e, embora sob a Carta
das Nações Unidas, ainda continue formalmente a existir, sua função e até mesmo a sua existência
permanece incerta. A formal eliminação do Conselho de Tutela requer uma revisão na Carta das
Nações Unidas, razão pela qual não se tem avançado nesta intenção.
5.5 Secretariado
Arrolado nos artigos 97 a 101 da Carta da ONU, é o órgão permanente incumbido da parte
administrativa da organização e do registro e publicação dos tratados internacionais. É composto pelo
Secretário-Geral, indicado pela Assembléia Geral mediante recomendação do Conselho de Segurança
para um mandato de cinco anos, e pelo pessoal do Secretariado, nomeados pelo Secretário-Geral com
regras estabelecidas pela Assembléia Geral e critérios previsto na própria Carta.
Carta das Nações Unidas
Artigo 101.
1. A consideração principal que prevalecerá na escolha do pessoal e na determinação das
condições de serviço será a da necessidade de assegurar o mais alto grau de eficiência,
competência e integridade. Deverá ser levada na devida conta a importância de ser a escolha do
pessoal feita dentro do mais amplo critério geográfico possível.
Os processos são submetidos à CIJ por notificação do acordo especial ou petição escrita entregue ao
escrivão[851], que juntamente com o Presidente da Corte deverá residir em Haia. Posteriormente, o
escrivão comunica a existência da petição aos interessados e ao Secretário-Geral da ONU, que tratará de
torná-la pública aos demais membros da organização. As partes serão representadas por agentes
assessorados por consultores e advogados.
Não é designado juiz relator. Cada juiz prepara seu próprio projeto de julgamento, mas a CIJ poderá
indicar medidas provisórias no intuito de preservar o direito das partes.
O processo passa por uma fase escrita (comunicações corte/partes por meio de memórias,
contramemórias e réplicas) e uma fase oral, marcada por uma audiência pública onde se ouvem
testemunhas e peritos e, posteriormente, os agentes, consultores e advogados dos litigantes. As
deliberações serão privativas e secretas e as sentenças definitivas e inapeláveis[852] apesar de deverem
declarar as razões da decisão. Só será possível a revisão da sentença se surgir um fato novo de
desconhecimento tanto das partes quanto da corte, e apenas dentro do prazo de seis meses após o seu
conhecimento. Nenhum pedido de revisão poderá ser solicitado depois de transcorrido dez anos da
publicação da sentença.
Capítulo 22
ORGANIZAÇÕES
ESPECIALIZADAS DA ONU
Com o advento da ONU, foram instituídas organizações especializadas a ela vinculadas, criadas por
acordos intergovernamentais, com amplas responsabilidades internacionais definidas em seus
instrumentos básicos e com atuação nas esferas econômica, social, cultural, educacional, sanitária e
conexas. Tais acordos, que regem as relações entre a ONU e o organismo, são verdadeiros tratados
internacionais, preparados pelo Conselho Econômico e Social e aprovados pela Assembléia Geral. O
Conselho Econômico e Social deverá ainda coordenar suas atividades (por meio de consultas e
recomendações), exigir relatórios e participar de suas reuniões.
Carta das Nações Unidas
Artigo 63.
1. O Conselho Econômico e Social poderá estabelecer acordos com qualquer das entidades a que
se refere o art. 57, a fim de determinar as condições em que a entidade interessada será
vinculada às Nações Unidas. Tais acordos serão submetidos à Assembléia Geral.
2. Poderá coordenar as atividades das entidades especializadas por meio de consultas e
recomendações às mesmas e de recomendações à Assembléia Geral e aos membros das Nações
Unidas.
Apesar da estreita relação das organizações especializadas com a ONU, elas são autônomas, já que:
a) desenvolvem atividades próprias no campo internacional;
b) possuem estrutura administrativa autônoma e orçamento próprio;
c) têm sede diferenciada e seus membros nem sempre são também membros da ONU; e,
d) possuem personalidade internacional, podendo, inclusive, solicitar pareceres à CIJ.
1. ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT
Prevista na Parte XIII do Tratado de Versalhes, a OIT, pessoa jurídica de Direito Internacional
Público, com sede em Genebra, foi constituída como órgão autônomo da Sociedade das Nações e assim
permaneceu até 1946, quando se transformou em organismo especializado da ONU com o objetivo de
atingir a paz universal por meio da justiça social, contando para tanto com a Conferência Internacional do
Trabalho, o Conselho de Administração, a Repartição Internacional do Trabalho e o Comitê de Liberdade
Sindical e utilizando-se de convenções, recomendações e resoluções. A OIT tem como objetivo
promover:
a) a plenitude do emprego e a elevação dos níveis de vida;
b) o emprego dos trabalhadores nas ocupações para as quais estejam aptos;
c) a criação de meios para a formação profissional e possibilidade de transferência para os
trabalhadores, incluindo-se as migrações de mão-de-obra e de colonos;
d) uma justa distribuição dos frutos do progresso e um salário mínimo vital para os
trabalhadores;
e) um reconhecimento efetivo do direito ao contrato coletivo e à cooperação entre empregadores
e empregados;
f) a extensão da seguridade social bem como a proteção da vida e da saúde dos trabalhadores;
g) a proteção da infância e da maternidade; e
h) o fornecimento de alimentos, moradias, meios recreativos e culturais e iguais oportunidades
educativas e culturais.
Para desempenhar as suas funções, a OIT conta com órgãos, alguns deles compostos de forma tripartite
(Estado-empregadores-empregados).
Tais objetivos são alcançados ao colocar-se à disposição dos Estados-membros os recursos de que
dispõe por meio dos seguintes auxílios financeiros baseados no intercâmbio de moedas:
a) direito de saque/acordo de troca/swap: nessa modalidade, objetiva-se atender uma falta
temporária de moeda conversível num Estado-membro. O Estado entrega sua moeda na quantidade
correspondente à moeda estrangeira de que necessita e, num prazo de três a cinco anos, a resgata com um
pagamento em moeda que o fundo aceite ou em ouro;
b) acordos de confirmação/stand by agreements: é uma linha de crédito suplementar
previamente debatida entre o FMI e o Estado-membro que dele necessita e que possibilita a este efetuar
saques, durante certo período e sobre montantes determinados. Para tanto, são elaborados dois
documentos: as condições de saque e o Memorando do Ministro da Fazenda acerca da política
monetária a ser seguida, visando o controle de salários e a restrição aos créditos. É a chamada Carta de
Intenções (condição para que o Estado obtenha a linha de crédito desejada),[861] que, segundo o FMI, não
seria um tratado internacional, e sim um Acordo de Executivos, não necessitando, dessa forma, ser
ratificado. Tal posição, todavia, encontra forte resistência na doutrina nacional, quando Cachapuz de
Medeiros afirma ser de competência do Senado Federal apreciar as Cartas de Intenções. Acredito,
contudo, que tal competência estender-se-ia à Câmara dos Deputados, haja vista serem essas cartas muito
amplas nos seus efeitos do que uma simples operação de crédito, vez que os Estados signatários a elas
atrelariam uma política econômica que repercutirá em vários setores, levando inclusive a constantes
alterações e adequações da norma interna para que se atinja o seu desiderato; e
c) direitos especiais de saque/special drawing rights: surgiram em virtude da necessidade de
dez Estados-membros (Alemanha, Bélgica, Canadá, EUA, França, Itália, Japão, Países Baixos, Reino
Unido e Suécia) se defenderem da escassez do ouro e das crises de confiança do dólar, evitando a
estagnação econômica. Sua retirada é incondicional e independente de autorização do fundo.
São órgãos do FMI o Conselho de Governadores, que engloba todos os Estados-membros, sendo o
órgão que decide sobre as quotas e condições de acesso ao fundo, e o Conselho de Administradores, que
conta com a participação de 24 membros, 19 eleitos pelo Conselho dos Governadores e os demais
indicados pelos seus cinco maiores subscritores (EUA, Alemanha, Japão, França e Reino Unido). As
votações se dão por quota-parte subscrita pelo Estado-membro.[862]
Desde 1982, o FMI tem dedicado boa parte dos seus recursos para solucionar a crise da dívida externa
gerada pelo excesso de endividamento dos países menos industrializados. Os Estados do terceiro mundo,
todavia, têm preferido recorrer ao setor privado pelos Acordos de Rescalonamento das Dívidas com
Bancos Privados do Clube de Paris ou com o Consórcio de Bancos Norte-americanos. Mesmo nesses
casos, exige-se não só a conclusão de um stand by agreements com o FMI, mas também a apresentação
de um programa de estabilização. Deve-se notar, porém, que, nos últimos anos, todos os programas de
estabilização negociados com o fundo, além de o serem apenas com países em desenvolvimento,
basearam-se todos numa visão particular da economia e/ou nas convicções de uma única escola de
pensamento econômico, resultando em retóricas e frustradas metas de ajuste econômico tais como:
recuperação do balanço de pagamentos, melhor utilização do potencial produtivo e aumento da taxa de
crescimento econômico a longo prazo.
Somente graves desequilíbrios no setor externo justificam, hoje em dia, a subordinação aos préstimos
do FMI. Autoridades monetárias com gestões fragilizadas financeiramente assumem esse compromisso
quando se torna manifesto o esgotamento próximo ou iminente de suas reservas cambiais. O acordo com
o fundo torna disponível aportes de créditos emergenciais. Como se viu, seu aval possibilita que os
bancos privados internacionais retomem os financiamentos necessários à rolagem das obrigações
externas. Para conceder esse aval, todavia, o FMI indica ou exige procedimentos político-econômicos
que garantam a recuperação dos créditos dos investidores internacionais, tendo como contrapartida a
implantação de um quadro interno recessivo, no qual todas as perspectivas econômicas internas se
deterioram. É o que se nota do acordo celebrado, em 1998, entre o FMI, o Brasil e uma série de bancos
privados internacionais, por meio da fixação de critérios de desempenho e metas indicativas e do
surgimento do conceito de piso das reservas cambiais[863].
i. lutar para que todos os povos alcancem o mais alto grau possível de saúde;
ii. erradicar as epidemias e endemias;
iii. estabelecer padrões internacionais para produtos biológicos e farmacêuticos além de
métodos de diagnóstico; e,
iv. coordenar as atividades internacionais em matéria de saúde.
Para tanto, conceitua saúde como um estado de completo bem-estar físico que não consiste apenas em
ausência de doenças ou enfermidades.
Possui uma Assembléia Mundial de Saúde que congrega representantes de todos os Estados-membros
e tem como função primordial traçar a política da organização, aprovando convenções nacionais a serem
submetidas à ratificação, num prazo de até 18 meses, dos Estados-membros, um conselho, composto por
31 membros, que, ao contrário de outras instituições, são eleitos por critérios de competência
profissional pela própria OMS, para um mandato de três anos e um secretariado, responsável pelas
questões técnicas e administrativas e chefiado por um Diretor-Geral. Dispõe, por fim, de seis secretarias
regionais: África, com sede em Brazzaville (Congo); Ásia, com sede em Nova Délhi (Índia); Europa,
com sede em Copenhague (Dinamarca); Mediterrâneo, com sede em Alexandria (Egito); e Pacífico, com
sede em Manila (Filipinas)[869].
6. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E
CULTURA – UNESCO[870]
Instituída pela Conferência de Londres (1945) em substituição ao Instituto Internacional de Cooperação
Intelectual com sede em Paris, a UNESCO tem por finalidades:
Estruturalmente, conta com uma Conferência Geral, da qual participam todos os Estados-membros da
ONU, que determina o seu programa, aprova as suas convenções e recomendações e o seu orçamento,
detendo, por fim, a personalidade jurídica dessa organização, um Conselho Executivo, que conta com a
participação de 51 membros, eleitos pela Conferência Geral, segundo critérios geopolíticos, para um
mandato de quatro anos, sendo o órgão encarregado de executar o programa de suas atividades e um
secretariado, encarregado da parte administrativa e comandado por um Diretor-Geral, eleito pela
conferência, para um mandato de seis anos.
Para Seitenfus,[871] as ações básicas da UNESCO buscam eliminar o analfabetismo, desenvolver o
ensino básico e melhorar os manuais escolares. No plano científico, a UNESCO organiza colóquios,
publica livros e revistas e tenta estar presente nos debates sobre os rumos da ciência. Finalmente, desde
1960, a UNESCO trabalha na preservação e reestruturação de sítios de valor cultural e histórico.
ORGANIZAÇÕES REGIONAIS
1. CONDIÇÕES
Ao contrário das organizações internacionais de cunho universal, que não criam obstáculos para a
entrada de novos sujeitos de Direito Internacional em seu seio, as organizações regionais são marcadas
pela presença de caracteres comuns entre aqueles que queiram constituí-la e adequação a seus propósitos
para aqueles que queiram tornar-se membros após a sua constituição. Deutsch destaca os seguintes
fatores para a constituição de organizações regionais: países com código comum para se comunicar;
valores básicos compatíveis e previsibilidade de comportamento; e, elite que não se sinta ameaçada pela
integração
2. ETAPAS DE INTEGRAÇÃO
Apesar de encontrarmos organizações regionais com distintas finalidades, a Nova Ordem Internacional
tem-se caracterizado pela conclusão de tratados dentro de um processo de integração que, apesar de,
embrionariamente, atender a um apelo econômico, cada vez mais tem ampliado sua estrutura e
objetivos[896].
A integração é o processo político entre governos nacionais visando a redução de barreiras que
limitam o comércio recíproco. É imprescindível mudanças coordenadas em âmbito político, econômico e
social nos países envolvidos em tal processo[897].
O caminho para se alcançar a integração é longo, podendo atingir diferentes graus e estágios de
complexidade de acordo com os interesses dos Estados-membros. Podemos ter, então, tipos distintos de
modelos de integração em ordem crescente de um mesmo processo de complementaridade entre duas ou
mais economias assim distribuídas: Área de Tarifas Preferenciais; Área de Livre Comércio; União
Aduaneira; Mercado Comum; e União Econômica e Monetária.
Como primeiro nível, em termos de integração, a Área de Tarifas Preferenciais representa a redução
parcial das tarifas alfandegárias entre duas ou mais nações. Essa redução pode dar-se de maneira
uniforme ou não, ou seja, pode-se reduzir as alíquotas de forma diferenciada por produtos, sendo que a
concessão não é, necessariamente, ampliada a todos os setores ou produtos. A adoção desse tipo de
integração não implica outras políticas de ajuste para a sua viabilização, nem mesmo ocorre mudança na
Política Tarifária com relação a terceiros países.
A segunda etapa ou estágio de integração é a formação da Área de Livre Comércio. Nessa fase,
teremos a abolição total das tarifas que incidam no comércio intra-área, o que não precisa ocorrer,
necessariamente, para todos os produtos simultaneamente, porém geralmente ocorrendo para um certo
número de produtos, inicialmente, e a gradual ampliação da pauta de produtos a terem sua alíquota
“zerada” no decorrer do processo. Aqui também se adota o sistema tarifário independente com relação a
terceiros países. Como se observa, não existem grandes diferenças entre o primeiro e o segundo estágio
de integração até aqui apresentados. Pode-se dizer que o segundo seria uma continuação do primeiro. A
distinção tem teor mais didático, pois nada impede que um grupo de países anule as tarifas de alguns
produtos e apenas reduza a de outros. Todavia, alguns cuidados devem ser observados ao se adotar uma
integração em nível de Área de Livre Comércio: em primeiro lugar, é importante que se adote uma
unificação das normas de controle de qualidade e de padronização de produtos, e em segundo lugar, a
não-unificação da Política Tarifária traria problemas sérios à integração, ao se criar a possibilidade de
que algum membro, com tarifas mais baixas, importasse e repassasse aos outros membros com tarifas
nulas, o que representaria um desvio de comércio.[898] Atualmente, o principal exemplo de Área de Livre
Comércio nos é pelo Acordo de Livre Comércio da América do Norte – Nafta, composto pelo Canadá,
estados Unidos e México.
A terceira etapa do processo de integração é o estabelecimento de uma União Aduaneira. Nesse
estágio ocorre, além da anulação das Tarifas Alfandegárias, uma unificação da estrutura tarifária relativa
a terceiros países, evitando-se o problema dos desvios de comércio, mas implicando um mínimo de
harmonização das Políticas Fiscal, Monetária e Cambial. Em geral, quando se chega a adotar uma União
Alfandegária, já se atingiu o estágio da alíquota zero para todos os produtos do comércio intra-área.
Como exemplo típico de união aduaneira tínhamos o Benelux (União formada por Bélgica, Países Baixos
e Luxemburgo), que atualmente, como União Econômica, está agregada à União Européia. O Mercosul
pode ser enquadrado como uma União Aduaneira “imperfeita”, uma vez que ainda não conseguiu
implementar todos os objetivos que caracterizam essa etapa de integração.
A quarta etapa no processo de integração é conhecida como Mercado Comum. Esse estágio inclui uma
União Aduaneira somada à livre mobilidade dos fatores de produção. Dessa forma, além do livre
comércio de insumos e de produtos finais, ocorre a livre locomoção de bens de capital, recursos
financeiros e de mão-de-obra. Para tanto, há a necessidade de coordenação de vários aspectos da
política econômica dos países signatários, como uma unificação do sistema previdenciário, do tributário
e das leis trabalhistas. Por outro lado, a livre mobilidade do fator capital necessita da criação de uma
legislação comum em matéria de investimentos estrangeiros, royalties, e repatriamento de lucros. Como
podemos notar, no Mercado Comum há um grau elevado de integração, representando uma sincronização
das políticas econômicas em geral. O exemplo clássico de Mercado Comum era o Mercado Comum
Europeu/Comunidade Européia.
A última etapa de Integração é a União Econômica ou Monetária. Tal estágio seria superado apenas
pela fusão política dos membros e a criação de um novo Estado. Nessa fase, atingir-se-ia tal grau de
complementaridade do processo de integração que chegaríamos à unificação das Políticas Monetária,
Fiscal e Cambial dos países-membros, criando-se uma moeda única e um Banco Central independente.
Nessa etapa, como forma final do processo de integração, teríamos a constituição de uma Autoridade
Supranacional, com suas decisões acatadas e respeitadas pelos Estados-Membros, como acontece na
União Européia.
Da primeira etapa, redução parcial das tarifas, até a última, integração total, decorre um longo e
sinuoso caminho, sendo possível que muitas das propostas de integração hoje apresentadas no cenário
mundial não venham a alcançar o último estágio.
Área de Tarifas Preferenciais
• redução parcial das tarifas alfandegárias não necessariamente a todos os produtos.
3. ORGANIZAÇÕES EUROPÉIAS
Maiores avanços em termos de organizações internacionais em virtude não só da necessidade de
recuperação após a Segunda Guerra Mundial, mas também de um ambiente cultural favorável a esse tipo
de iniciativa. Além da União Européia, que é a principal organização regional da Sociedade
Internacional, abordaremos a seguir as organizações européias de destaque.
i. favorecer o progresso econômico e social e uma união mais estreita dos Estados-membros;
ii. defender os direitos do homem e a democracia parlamentar, assegurando a preeminência do
direito; e,
iii. ser um ancoradouro político e o guardião dos direitos do homem para as democracias pós-
comunistas da Europa, auxiliando os países da Europa central e oriental a pôr em marcha e a
consolidar reformas políticas, legislativas e constitucionais, paralelamente às reformas econômicas.
Com a Nova Ordem Internacional, o Conselho da Europa assumiu um novo “mandato político” quando,
reunidos em Viena, em outubro de 1993, os Chefes de Estado e de Governo decidiram que essa
Organização Internacional seria a guardiã da segurança democrática (baseada nos direitos do homem, na
democracia e no estado de direito)[926].
O Conselho da Europa tem por órgãos principais: o Comitê de Ministros composto pelos 47 ministros
dos negócios estrangeiros ou pelos seus delegados sediados em Estrasburgo
(embaixadores/representantes permanentes), sendo o órgão de decisão da organização; uma Assembléia
Parlamentar que reagrupa 630 membros (315 titulares e 315 suplentes), provindos dos 47 parlamentos
nacionais mais a delegação de convidados especiais do parlamento de um Estado candidato; um
Congresso dos Poderes Locais e Regionais composto por uma Câmara dos Poderes Locais e de uma
Câmara das Regiões; e um Secretariado-geral composto por cerca de 1.800 funcionários.
Como órgão de coordenação de políticas européias, o conselho patrocinou a conclusão de convenções
de cooperação judicial, cultural e social[927]. Promoveu o respeito dos direitos humanos[928] e, respeitando
o seu caráter de subordinação aos organismos universais, coopera com estes, em particular com as
Nações Unidas[929].
Mais conhecida por suas publicações e estatísticas, seu trabalho cobre desde assuntos econômicos e
sociais de macroeconomia até desenvolvimento e educação. Sua estrutura institucional comporta um
Conselho (representado por um nacional de cada Estado-membro e um representante da União Européia),
cujas decisões são tomadas por consenso por Comitês Especializados e por um Secretariado sediado em
Paris.
4. ORGANIZAÇÕES AMERICANAS
O continente americano é formado por uma série de organizações internacionais, algumas das quais
tendo surgido em substituição a outras mais antigas, como foi o caso da ALADI em relação à ALALC e
outras, propugnando uma adequação do continente aos novos contornos internacionais, como o NAFTA e
o MERCOSUL.
4.1 Organização dos Estados Americanos – OEA
O ideal de união dos Estados americanos concretizou-se a partir da Primeira Conferência Internacional
Americana, realizada em Washington – DC, em 1890, que, ao criar a União Internacional das Repúblicas
Americanas, promoveu sucessivas reuniões internacionais nas Américas: na Cidade do México (1901),
no Rio de Janeiro (1906), em Buenos Aires (1910), em Santiago (1923), em Havana (1928), em Mon-
tevidéu (1933) e em Lima (1938). A Nona Conferência Internacional Americana, realizada em Bogotá no
início de 1948, aprovou a Carta da Organização dos Estados Americanos[937], que foi posteriormente
reformada pelo Protocolo de Buenos Aires[938], Protocolo de Cartagena das Índias[939], Protocolo de
Washington[940] e, por fim, Protocolo de Manágua[941].
Conta com quase todos os Estados americanos[942] e, baseando-se na solidariedade resultante da
vizinhança geográfica, tem como objetivos:
Em sua Carta, a OEA afirma os princípios da solução pacífica de controvérsias, da segurança coletiva
e do desenvolvimento integral pela ação dos seguintes órgãos:
a) Assembléia Geral – principal instância política da organização. Reúne-se anualmente, no
âmbito ministerial, para deliberar sobre as questões que lhe são submetidas pelos Estados-membros e
para definir diretrizes e linhas de ação em seus diferentes campos de atividade.
b) Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores – realiza-se com a finalidade
de considerar problemas de caráter urgente e de interesse comum para os Estados americanos e para
servir de órgão de consulta. Qualquer Estado-membro poderá pedir que se convoque a reunião de
consulta. A solicitação deverá ser dirigida ao Conselho Permanente da Organização, o qual decidirá por
maioria absoluta de votos se a reunião é procedente.
c) Conselhos Permanente e Interamericano de Desenvolvimento Integral – o primeiro vela
pela manutenção das relações de amizade entre os Estados-membros, executa as decisões da Assembléia
Geral ou da Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores cujo cumprimento não seja
encarregado a nenhuma outra entidade, zela pela observância das normas que regulam o funcionamento
da Secretaria-Geral, prepara, a pedido dos Estados membros, projetos para promover e facilitar a
colaboração entre a OEA e a ONU e outros organismos americanos, formula recomendações à
Assembléia Geral sobre o funcionamento da organização e a coordenação de seus órgãos subsidiários,
organismos e comissões. É constituído por um representante por cada Estado-membro nomeado
especialmente pelo governo respectivo na categoria de embaixador. Já o segundo, criado em 1996, tem
seu foco na promoção do desenvolvimento econômico e no combate à pobreza.
d) Comissão Jurídica Interamericana – com sede no Rio de Janeiro, esse órgão atua como
corpo consultivo em assuntos jurídicos de natureza internacional, promovendo o desenvolvimento
progressivo e a codificação de direito internacional. É composto por 11 juristas de nacionalidade dos
Estados-membros.
e) Comissão Interamericana de Direitos Humanos – órgão consultivo da OEA em matéria de
promoção e defesa dos direitos humanos;
f) Secretaria-Geral – implementa os programas e políticas estabelecidos por seus órgãos
políticos. Tem à frente o secretário-geral e o secretário-geral adjunto, eleitos pelos Estados-membros
para mandatos de cinco anos.
g) Conferências especializadas – realizam-se quando são determinadas pela Assembléia Geral
ou pela Reunião de Consultas dos Ministros das Relações Exteriores por iniciativa própria ou a pedido
de alguns dos conselhos ou organismos especializados. As conferências especializadas tratam de
assuntos técnicos especiais e do desenvolvimento de temas específicos de cooperação interamericana.
h) Organismos especializados – Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Instituto
Interamericano da Criança (IIN), Comissão Interamericana das Mulheres (CIM), Instituto Pan-Americano
de Geografia e História (IPHG), Instituto Interamericano do Índio (III), Instituto Interamericano para
Cooperação para a Agricultura (IICA).
i) Outras entidades e organismos – Comissão Interamericana para o Controle do Abuso de
Drogas (CICAD); Comissão Interamericana de Telecomunicações (CITEL), Comitê Interamericano
contra o Terrorismo (CICTE), Comissão Interamericana de Redução de Desastres Naturais (CIRDN),
Centro de Estudos da Justiça das Américas, Tribunal Administrativo, Fundação Pan-Americana para o
Desenvolvimento, Junta Interamericana de Defesa (IADB), Corte Interamericana de Direitos Humanos,
Comissão Interamericana de Portos e Junta de Auditores Externos.
Um aspecto a se destacar é que, no seu seio, a igualdade entre os Estados é absoluta, já que não há o
poder de veto como no caso da ONU.
No tocante à defesa, em 1947 foi elaborado no Rio de Janeiro o Tratado Interamericano de Assistência
Reciproca – TIAR a ser aplicado em caso de agressão externa. O termo “agressão” foi definido como o
uso da força armada por um Estado contra a integridade territorial ou a independência política de
outro Estado, incluindo aí a invasão, o bloqueio, o bombardeio e o envio de tropas armadas,
consagrando-se, também, o princípio da Legítima Defesa Coletiva.
4.2 Associação Latino-Americana de Integração – ALADI
Criada pelo Tratado de Montevidéu, de 12.08.1980,[944] em substituição à Associação Latino-
Americana de Livre Comércio – ALALC[945], a Associação Latino-Americana de Integração/Associación
Latino-Americana de Integración – ALADI, constituída por 12 Estados,[946] tem como objetivo dar
prosseguimento ao processo de integração, criando, de forma gradual e progressiva, um mercado comum
latino-americano mediante a concessão de preferências tarifárias regionais e a assinatura de acordos
regionais e de alcance parcial, promovendo e regulando, dessa forma, o comércio recíproco e
desenvolvendo sistemas econômicos de cooperação.
Fundamenta-se nos seguintes princípios:
i. Pluralismo: sustentado pela vontade dos países-membros para sua integração, acima da
diversidade que em matéria política e econômica possa existir na região.
ii. Convergência: multilateralização progressiva dos acordos de alcance parcial.
iii. Flexibilidade: capacidade de permitir a celebração de tais acordos de forma compatível com
a consecução progressiva de sua convergência e pelos fortalecimentos dos vínculos de integração.
iv. Tratamentos diferenciais: com base nas categorias de Estados (de desenvolvimento médio e
de menor desenvolvimento econômico relativo).
v. Multiplicidade: possibilitando distintas formas de ajuste entre os países-membros.
A ALADI goza de completa personalidade jurídica e conta, na sua estrutura, com os seguintes órgãos:
a) Conselho de Ministros das Relações Exteriores: órgão supremo, ao qual cabe fixar
objetivos e adotar decisões que correspondam à condução da política superior.
b) Conferência de Avaliação e Convergência: incumbe-se da promoção do funcionamento dos
diferentes mecanismos previstos no Tratado de Montevidéu, bem como das ações de maior alcance em
matéria de integração.
c) Comitê de Representantes: foro permanente negociador de todas as iniciativas destinadas a
aperfeiçoar o processo de integração.
d) Secretaria-Geral: responsável pelo apoio técnico, pela proposição de projetos de acordos
regionais e parciais e resoluções sobre temas normativos e de liberalização do comércio e de
cooperação.
4.3 O Mercado Comum do Sul – MERCOSUL
A proposta mercosulina de integração, instituída entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai[947] a
partir do Tratado de Assunção, de 26.03.1991, visa promover a inserção mais competitiva dos quatro
paí ses no mercado internacional. Ao contrário das tentativas anteriores de integração, da ALALC e da
ALADI, o Tratado de Assunção apresenta propostas mais estru tu radas e consistentes, aumentando,
assim, a possibilidade de êxito dessa nova tentativa diante da realidade atual.
O Tratado prevê, em seu Capítulo I, os seguintes propósitos e princípios, que deveriam ter sido
consolidados até 01.01.1995: livre circulação de bens e serviços de fatores produtivos entre os países-
membros; estabelecimento de uma tarifa externa e de uma política comercial comum em relação a
terceiros Estados ou agrupamentos de Estados; a coordenação de posições em foros econômico-
comerciais regionais e internacionais e a coordenação de políticas econômicas e setoriais entre os
Estados-partes, bem como de comércio exterior, agrícola, industrial, fiscal, cambial, de capitais, de
serviços alfandegários, de transporte, comunicações e outros. Para se alcançar tais objetivos, serão
utilizados os seguintes instrumentos:
i. um programa de liberação comercial, que consistirá em reduções tarifárias progressivas,
lineares e automáticas, acompanhadas da eliminação de barreiras não-tarifárias sobre a totalidade
do universo tarifário, prevendo-se a implementação de uma Tarifa Externa Comum – TEC, em torno
de 16%, até 2006[948];
ii. um regime geral de origem, a ser adotado no período de transição, até 1995;
iii. um sistema de solução de controvérsias da Cláusula de Salvaguarda;
iv. a constituição de subgrupos de trabalho do Grupo de Mercado Comum – GMC; e
v. a celebração de acordos setoriais.
O Capítulo II do tratado estabelece uma estrutura orgânica intergovernamental, com decisões tomadas
por consenso, por meio de três órgãos responsáveis pela ação administrativa e executiva do Mercosul:
a) Conselho do Mercado Comum – CMC, órgão superior de caráter político, formado pelos
ministros das relações exteriores dos países-membros e responsável pela condução política e pela
tomada de posições.
b) Grupo de Mercado Comum – GMC, órgão executivo, formado por representantes dos
ministérios das relações exteriores, da economia ou de seus equivalentes Bancos Centrais, que será
responsável pela coordenação de políticas econômicas e setoriais.
c) Secretaria Administrativa do MERCOSUL – SAM, cuida da guarda dos documentos e dos
diversos comunicados entre os Estados-membros.
A partir do Protocolo de Ouro Preto,[949] de 17.12.1994, foram, ainda, inseridas:
d) Comissão de Comércio do MERCOSUL – CCM, órgão assessor do GMC, com a tarefa de
velar pela aplicação dos instrumentos de política comercial acordados pelos Estados-partes, que se
reúne mensalmente e se manifesta por diretrizes.
e) Comissão Parlamentar Conjunta – CPC, órgão de representação do poder legislativo dos
Estados-partes, possuindo 16 parlamentares de cada integrante.
f) Foro Consultivo Econômico e Social – FCES, órgão de caráter consultivo, representante dos
setores econômicos e sociais dos quatro Estados-partes.
Além disso, através da Decisão nº 11/2003, constituiu-se:
g) Comissão de Representantes Permanentes do MERCOSUL – CRPM, órgão
permanente do CMC, integrado por representantes de cada Estado Parte e presidida por uma
personalidade política destacada de um dos países partes. Sua função principal é apresentar iniciativas
ao CMC sobre temas relativos ao processo de integração, as negociações externas e a conformação do
Mercado Comum.
Há, por fim, a previsão da Reunião de Ministros, sem periodicidade preestabelecida, na qual
atualmente se reúnem nove conjuntos de Ministros, entre eles os de Economia, de Agricultura, de Justiça,
de Trabalho e Presidentes de Bancos Centrais.
Para facilitar seu trabalho, o GMC constituiu, inicialmente, 10 Subgrupos de Trabalho – SGT de
acordo com áreas de atuação específicas. A partir da Decisão nº 59, de 14.12.2000, os SGT passaram a
ser em número de 14, assim distribuídos:
SGT 1 – Comunicações.
SGT 2 – Aspectos Institucionais.
SGT 3 – Regulamentos Técnicos e Avaliação de Conformidade.
SGT 4 – Assuntos Financeiros.
SGT 5 – Transportes.
SGT 6 – Meio Ambiente.
SGT 7 – Indústria.
SGT 8 – Agricultura.
SGT 9 – Energia e Mineração.
SGT 10 – Assuntos Laborais, Emprego e Seguridade Social.
SGT 11 – Saúde.
SGT 12 – Investimentos.
SGT 13 – Comércio Eletrônico.
SGT 14 – Acompanhamento da Conjuntura Econômica e Comercial.
A vigência do tratado é determinada no Capítulo III, cabendo ao Paraguai notificar o governo de cada
um dos demais signatários a data de sua entrada em vigor.
O Capítulo IV é dos mais importantes, pois abre as portas do MERCOSUL a outros países-membros da
Aladi, sendo a aprovação das solicitações de entrada objeto de decisão unânime dos Estados-partes.
O Capítulo V, denominado denúncia, é a demonstração cabal da honestidade de princípios que
nortearam os autores do tratado, no sentido de permitir, democraticamente, que qualquer país, ao
verificar prejuízos políticos, econômicos ou sociais, tenha a liberdade de se desvincular das obrigações
do tratado.
Finalmente, as Disposições Gerais estabelecem o nome do tratado (Tratado de Assunção), uma
Comissão Parlamentar Conjunta, encarregada de sua organização e execução, e a necessidade de todos os
documentos serem submetidos aos poderes legislativos de cada país, prioritariamente.
Complementando o Tratado de Assunção, os quatro signatários subscrevem o acordo de alcance
parcial de Complementação Econômica n. 18 (ACE n. 18) com o intuito de se estabelecer normas para a
eliminação de barreiras tarifárias de forma progressiva, linear e automática.
Atualmente, a estrutura do MERCOSUL mostra-se muito mais complexa do que o previsto em suas
normas fundamentais. Assim, temos a presença de Reuniões Especializadas,[950] Grupos Ad Hoc[951] e
Comitês[952].
Propósitos Iniciais:
i. mercado comum ➔➔ 31.12.1994 (Tratado de Assunção)
1. livre circulação de bens/serviços/fatores produtivos;
2. estabelecimento de uma TEC + adoção de política comercial comum;
3. coordenação das políticas macroeconômicas e setoriais = concorrência;
4. harmonização das legislações; e
5. princípios: gradualidade – flexibilidade – equilíbrio.
ii. união aduaneira ➔➔ 31.12.2005 (Protocolo de Ouro Preto)
1. implementação dos instrumentos de política comercial; e
2. elaboração de um quadro normativo complementar.
Com relação aos conflitos oriundos no seio da organização internacional, prevê-se, por meio do
Protocolo de Brasília,[953] que:
Protocolo de Brasília
Decreto nº 922 (13.09.1993)
Artigo 1º As controvérsias que surgirem entre os Estados partes sobre a interpretação, a
aplicação ou o não cumprimento das disposições contidas no Tratado de Assunção, dos acordos
celebrados no âmbito do mesmo, bem como das decisões do Conselho do Mercado Comum e das
Resoluções do Grupo Comum, serão submetidas aos procedimentos de solução estabelecidos
neste protocolo.
Artigo 25. O procedimento estabelecido no presente capítulo aplicar-se-á às reclamações
efetuadas por particulares (pessoas físicas ou jurídicas) em razão da sanção ou aplicação, por
qualquer dos Estados Partes, de medidas legais ou administrativas de efeito restritivo, discrimina-
tórias ou de concorrência desleal, em violação do Tratado de Assunção, dos acordos celebrados
no âmbito do mesmo, das decisões do Conselho do Mercado Comum ou das Resoluções do
Grupo Mercado Comum.
Artigo 36. Serão idiomas oficiais em todos os procedimentos previstos no presente protocolo o
português e o espanhol, segundo resultar aplicável.
Por esse instrumento, estabelece-se uma série de etapas na solução das controvérsias entre Estados e
entre particulares. No tocante aos conflitos entre Estado, temos, primeiramente, a necessidade de
negociações diretas (art. 2º) que não poderão, salvo acordo entre as partes, exceder um período de 15
dias. Caso as negociações não surtam o efeito esperado, qualquer dos Estados-membros conflitantes
poderão submetê-lo às considerações do Grupo Mercado Comum (art. 4º), que, assessorado por um
grupo de “experts” e dentro do prazo de 30 dias, elaborará uma recomendação. Por fim, caso nenhuma
das etapas anteriores consiga resolver a pendência, será estabelecido o procedimento arbitral (art. 7º)
perante um Tribunal Ad Hoc composto por três árbitros[954].
Em 2004, entrou em vigor o Protocolo de Olivos (2002), que criou o Tribunal Arbitral Permanente de
Revisão do MERCOSUL, com sede na cidade de Assunção (Paraguai), passando a ser uma das fontes de
segurança jurídica para a solução dos litígios nesse bloco de integração.
Até a presente data, foram elaborados 12 (doze) laudos arbitrais e 6 (seis) Laudos do Tribunal
Permanente de Execução.
O primeiro, datado de 28.04.1999, é denominado Laudo do Tribunal Ad Hoc do MERCOSUL sobre
os Comunicados n. 37 de 17 de dezembro de 1997 e n. 7 de 20 de fevereiro de 1998 do Departamento
de Operações de Comércio Exterior (Decex) da Secretaria de Comércio Exterior (Secex): aplicação de
medidas restritivas ao comércio recíproco. O Tribunal instituído em Montevidéu,[955] a partir de uma
controvérsia entre Argentina (reclamante) e Brasil (reclamado), em que aquela afirmava que os
Comunicados n. 37, 7 e 23 estabeleciam medidas administrativas equivalentes a restrições, o que
implicaria um descumprimento dos compromissos estabelecidos no Tratado de Assunção, seu Anexo I e
no Acordo de Complementação Econômica n. 18 (ACE n. 18), na Decisão do Conselho do Mercado
Comum n. 3/94 (CMC n. 3/94) e na Decisão do Conselho do Mercado Comum n. 17/97 (CMC n. 17/97),
decidiu pelo acolhimento parcial da reclamação no intuito do ajustamento das medidas tomadas pelo
órgão brasileiro aos critérios mercosulinos.
O segundo laudo, denominado Laudo do Tribunal Ad Hoc do MERCOSUL sobre reclamação feita
pela República Argentina à República Federativa do Brasil sobre subsídios à produção e exportação
de carne de porco, foi proferido em 27.09.1999, em tribunal instalado em Assunção.[956] A reclamação
inicialmente apresentada se referia à existência de estoques públicos de milho (Conab), ao Proex
(Programa de Financiamento para Exportações) e aos Adiantamentos de Contrato de Câmbio (ACC) e
Adiantamentos de Contratos de Exportação (ACE). Em seguida, a República Argentina acrescentou
novos argumentos referidos a este último item e introduziu uma nova reclamação com relação ao crédito
presumido do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). Em sua decisão, o tribunal não acatou as
reclamações feitas pela Argentina relativas à aplicação do sistema da Conab, ACC e ACE, mas apenas a
relativa ao Proex, que ficou reduzido, no tocante ao MERCOSUL, a bens de capital de longo prazo. Pela
primeira vez foi utilizado o mecanismo de solicitação de esclarecimento do laudo arbitral, apresentado
pela Argentina por meio de seis pontos e efetivado pelos árbitros em 27.10.1999.
O terceiro laudo, proferido em Colônia, em 10.03.2000, intitulado Laudo do Tribunal Ad Hoc do
Mercosul sobre a aplicação de medidas de salvaguarda sobre produtos têxteis (Resolução n. 861/99)
do Ministério de Economia e Obras e Serviços Públicos, tratava de reclamação brasileira contra a
Resolução n. 861/99, que estabelecia cotas sobre produtos têxteis de algodão do Brasil, argumentando
que tal medida teria caráter discriminatório por favorecer outros países não incluídos na união aduaneira,
em detrimento do Brasil, além de considerá-la incompatível com as condições estabelecidas no Acordo
sobre Têxteis e Vestimenta (ATV) da Organização Mundial de Comércio (OMC). Em sua decisão, o
tribunal[957] considerou que tal Resolução e seus atos administrativos não são compatíveis com o Anexo
IV do Tratado de Assunção, nem com a normativa MERCOSUL em vigor, devendo, portanto, ser
revogados. Mais uma vez, a Argentina utilizou-se do pedido de esclarecimento do laudo arbitral
efetivado em 07.04.2000.
O quarto tribunal arbitral,[958] que chegou, em 21.05.2001, na cidade de Montevidéu, é o laudo do
Tribunal Arbitral Ad Hoc sobre a aplicação de medidas antidumping contra a exportação de frangos
inteiros, provenientes do Brasil, pela Resolução n. 574/2000, do Ministério da Economia da República
Argentina. Em tal disputa, entendia o Brasil que não existiam elementos necessários à aplicação de
medidas antidumping e que tampouco foram respeitados os procedimentos para a investigação do suposto
dumping, resultando o direito antidumping em situação tal que este será maior até mesmo que a margem
de dumping. O laudo, mesmo afirmando a inexistência de normas específicas no MERCOSUL que
regulem o procedimento de investigação de dumping e aplicação de medidas antidumping intrazona,
decidiu que o procedimento argentino constituía um descumprimento da regra de livre circulação de bens
no Mercosul.
O quinto laudo, proferido em Assunção, em 29 de setembro de 2001, foi constituído para deliberar
sobre Restrições de acesso ao mercado argentino de bicicletas de origem uruguaia pelo qual o Uruguai
sustentava que a Argentina havia aberto um complexo e confuso processo de questionamento da origem
de um e definitivamente de todos os modelos de bicicletas da empresa Motociclo S.A., desviando e
violando flagrantemente as normas aplicáveis em matéria de origem. Por seu turno, a Argentina
considerava infundadas as argumentações apresentadas pelo Uruguai por entender que as suas ações
estavam perfeitamente ajustadas ao regulamento de origem. O laudo do tribunal[959] foi no sentido de que
a resolução da Argentina infringia a normativa MERCOSUL, devendo ser revogada e tornada sem efeito,
além de declarar como dever da Argentina a permissão do livre acesso ao seu mercado interno, como
mercadoria intrazona, das bicicletas exportadas do Uruguai pela empresa Motociclo S.A. que tenham
certificados de origem uruguaio.
O sexto laudo foi proferido em Montevidéu, em 09 de janeiro de 2002 e dizia respeito a uma
reclamação do Uruguai contra o Brasil relativa a Proibição de Importação de Pneumáticos Remoldados
(Remolded) Procedentes do Uruguai. Para o Uruguai o objeto da controvérsia estava constituído básica
e fundamentalmente pela Portaria n. 8 de 25 de setembro de 2000, da Secretaria de Comércio Exterior
(Secex) do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, pela qual se dispunha que não
seriam concedidas licenças de importação de pneumáticos recauchutados e usados, seja como bens de
consumo, seja como matéria-prima, classificados na Posição 4.012 da NCM, solicitando ao Tribunal
Arbitral que recomendasse a anulação de todas as disposições jurídicas e atos materiais adotados pelo
Brasil que impedissem a exportação de pneumáticos remoldados a ele por empresas uruguaias. Por seu
turno, o Brasil alegava que o Uruguai não havia especificado as normas do Mercosul violadas por sua
norma interna e que as questões genéricas formuladas pelo Uruguai a respeito de normas existentes não
individualizadas ou futuras normas transformam as questões formuladas em verdadeiras abstrações que
atentam contra o direito de defesa do Brasil na instância arbitral. Em sua decisão, o tribunal[960]
declarou ser a Portaria n. 8 de 25 de setembro de 2000 da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do
Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior incompatível com as normas do
MERCOSUL, devendo o Brasil, em consequência, adaptar sua legislação interna em consideração à
citada incompatibilidade.
O sétimo laudo, proferido em Assunção, em 19 de abril de 2002, estava relacionado aos Obstáculos à
entrada de produtos fitossanitários ao mercado brasileiro e não-incorporação das Resoluções GMC n.
48/96, 87/96, 149/96, 156/96 e 71/98, o que impede sua entrada em vigência no Mercosul. A Argentina
alegava que o Brasil não estava cumprindo a obrigação de incorporar em seu ordenamento interno a
normativa Mercosul adotada pelos quatro Estados partes em matéria de facilitação do comércio de
produtos fitossanitários para o Mercosul. Por seu turno, o Brasil afirmava que as exigências do sistema
de registro de produtos fitossanitários, tal como está vigente em seu âmbito territorial, não violava o
princípio de livre comércio estabelecido no artigo 1º do Tratado de Assunção. O Tribunal[961] declarou
estar o Brasil descumprindo as obrigações impostas pelos artigos 38 e 40 do Protocolo de Ouro Preto e à
incorporação em seu ordenamento jurídico interno das disposições contidas nas Resoluções GMC n.
48/96, 87/96, 149/96, 156/96 e 71/98, devendo, dessa forma, incorporar em seu ordenamento jurídico
interno as Resoluções GMC n. 48/96, 87/96, 149/96, 156/96 e 71/98 e, se for necessário, adotar as
medidas e ditar as normas jurídicas internas que garantam a efetiva aplicação dessas normas, sem
prejuízo de seu direito a aplicar, nos casos concretos e específicos em que tal medida couber, as
restrições autorizadas pelo artigo 50 do Tratado de Montevidéu de 1980.
O oitavo laudo arbitral, proferido em São Paulo, em 21 de maio de 2002, tratava de uma controvérsia
entre o Paraguai e o Uruguai sobre a aplicação do Imposto Específico Interno (Imesi) à
comercialização de cigarros oriundos da República do Paraguai. O objeto da controvérsia era a
incompatibilidade das normas uruguaias referentes à aplicação do “Imposto Específico Interno” ou
“Imesi”. Por um lado o Paraguai sustentava que a aplicação do Imesi rompia o princípio de igualdade de
tratamento e restringia o acesso de seus produtos ao mercado uruguaio, o que causa incompatibilidade
com o princípio do artigo 7º do Tratado de Assunção, inibindo a livre circulação de bens, segundo o que
se estabelece no artigo 1º do Tratado de Assunção, bem como a reciprocidade de direitos e obrigações
entre os Estados Partes, já que o acesso ao Paraguai dos cigarros provenientes do Uruguai era irrestrito.
Por outro lado, o Uruguai afirmava que os princípios abarcados pelos artigos 1º e 7º do Tratado de
Assunção tinham caráter programático não sendo, portanto, auto-executaveis. Ao contrário, o Uruguai
entendia que o Paraguai, ao exigir a imediata eliminação do Imesi, não estaria respeitando os princípios
de gradualidade, flexibilidade e equilíbrio pretendidos pelo Tratado de Assunção. Analisando ambos
argumentos, o tribunal[962] decidiu dever o Uruguai cessar os efeitos discriminatórios com relação aos
cigarros paraguaios, baseados na condição de país não fronteiriço.
O nono laudo, proferido em Montevidéu, em 04 de abril de 2003, estava relacionado a um litígio entre
Argentina e Uruguai acerca da Incompatibilidade do Regime de Estímulo à Industrialização de Lã
outorgado pelo Uruguai, estabelecido pela Lei 13.695/68 e Decretos complementares, com a
Normativa MERCOSUL que regula a aplicação e a utilização de incentivos no comércio intrazona. A
Argentina alegava que uma bonificação concedida às exportações dos produtos industrializados de lã
pela Lei uruguaia 13.695, de 24 de outubro de 1968, e aos decretos complementares constituía um
incentivo à exportação proibido no comércio intrazona. O Uruguai, em sua defesa, afirmava não ter
violado nenhuma norma mercosulina e, como no caso relativo à importação de cigarros paraguaios, mais
uma vez invocava os princípios do gradualismo, flexibilidade e equilíbrio. O Tribunal[963] decidiu que o
Uruguai deveria eliminar tal bonificação no tocante a exportações de produtos industrializados de lãs
destinadas aos Estados Partes do MERCOSUL.
O décimo laudo arbitral, proferido em 05 de agosto de 2005 na sede da secretaria administrativa do
MERCOSUL em Montevidéu, envolveu uma controvérsia relativa a medidas discriminatórias e
restritivas ao comércio de tabaco e produtos derivados do tabaco entre Uruguai e Brasil. O Uruguai
alegou que o decreto brasileiro n. 3.646 de 30 de outubro de 2000 (que dispunha sobre a incidência de
uma alíquota de 150% de imposto de exportação de alguns produtos para o Paraguai e Uruguai) era
incompatível com as normas do MERCOSUL. Já o Brasil não apresentou contestação, uma vez que, em
uma comunicação de 19 de julho de 2005 dirigida ao Coordenador Nacional do Grupo Mercado Comum
do Uruguai, informava que na mesma data foi publicado no Diário Oficial da União o Decreto n. 5.492 de
18 de julho de 2005, revogando o Decreto n. 3.646/00. O tribunal[964] conclui pelo término da
controvérsia fundamentada no fato de que a reclamação do Uruguai havia sido satisfeita pelo Brasil por
meio da revogação daquelas normas internas que violavam regras e princípios do MERCOSUL.
O décimo primeiro laudo proferido em Montevidéu, em 25 de outubro de 2005, estava relacionado a
um litígio entre Uruguai e Argentina acerca da Proibição de Importação de Pneumáticos (ii), do
Uruguai à Argentina. Nesse sentido o Uruguai afirmava que normas argentinas que proibiam a
importação de pneumáticos remoldados violavam a normativa MERCOSUL, uma vez que após a edição
da Lei Argentina n. 25.626, de 09 de agosto de 2002, que estendia nacionalmente a proibição de pneus e
Câmaras pneumáticas recauchutadas apenas refletiu na importação de produtos uruguaios, uma vez que a
Argentina continuou realizando importação de pneus remoldados de outros países. Segundo a Argentina,
a referida Lei era compatível com a legislação do MERCOSUL, uma vez que estava amparada nas
exceções previstas no art. 50 do Tratado de Montevidéu da Aladi, recepcionado pelo Anexo I do Tratado
de Assunção uma vez que: o bem jurídico tutelado seria a proteção à vida e à saúde das pessoas, animais
e vegetais; o comércio do bem em questão foi insignificante em face do total de exportações do Uruguai
para a Argentina; e, não se poderia falar em princípio da proporcionalidade, pois se tratava da vida,
saúde e padrão de vida dos habitantes de um país, além dos recursos naturais existentes. O tribunal[965]
entendeu que a Lei n. 25.626 interrompeu o comércio internacional de pneus remoldados do Uruguai para
a Argentina, contrariando o princípio de livre circulação de mercadorias assegurado pelo art. 1º do
Tratado de Assunção, todavia, esta liberdade de comércio não poderia ser considerada princípio
absoluto e inderrogável, imune a quaisquer exceções. Assim, constatado que o ingresso em um país de
pneus remoldados aumenta seu passivo ambiental, concluiu que a Argentina teve justa razão em impedir a
entrada no país de pneus usados, recapados ou remoldados.
Por fim, o décimo segundo laudo proferido em Montevidéu, em 6 de setembro de 2006, estava
relacionado a um litígio entre Uruguai e Argentina acerca dos Impedimentos Impostos à Livre
Circulação (Barreiras às Vias de Acesso às Pontes Internacionais Gal. San Martin e Gal. Artigas) do
Uruguai à Argentina. A reclamação do Uruguai fundamentava-se na omissão das autoridades argentinas
em tomar medidas apropriadas para fazer cessar as barreiras às rotas de acesso a pontes internacionais
que ligam os dois países, realizadas por ambientalistas argentinos em protesto à construção de fábricas
de celulose no Rio Uruguai, limítrofe entre os dois países, causando danos e prejuízos a setores e agentes
econômicos do país vinculados a negócios de exportação e importação, turismo e transporte terrestre de
passageiros e mercadorias. A Argentina afirmou que as manifestações realizadas constituíam exercício de
um direito legítimo, havendo uma contraposição dos direitos à livre expressão e à reunião, de um lado, e
o direito à livre circulação de bens, de outro, sendo que, naquele país, os Direitos Humanos têm caráter
constitucional, enquanto que o Direito de Integração tem caráter legal. O tribunal[966] afirmou que o
Estado não poderia ser responsabilizado pelos atos de particulares, mas apenas pelas ações ou omissões
dos seus agentes, não obstante, poderia ser considerado responsável se omitiu a “conduta devida”, isto é,
“por falta de diligência” em prevenir ou corrigir atos de particulares que possam causar prejuízos a outro
Estado. Quanto à afirmação argentina de que os direitos humanos têm proteção constitucional enquanto o
direito da integração possui caráter legal, esta se contraporia ao princípio de que os Estados não podem
invocar normas de direito interno para se esquivar de obrigações internacionais, prevista no art. 27 da
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969 e sustentado pela jurisprudência internacional
não só no tocante as leis nacionais, mas também a própria Constituição. Em função disso, o tribunal
acolheu parcialmente a pretensão do Uruguai, declarando que a ausência das devidas diligências por
parte da Argentina não era compatível com o compromisso assumido pelos Estados-parte do Mercosul,
apesar de reconhecer que não lhe competia adotar ou promover determinações sobre condutas argentinas
futuras.
O sistema de solução de controvérsias entre particulares[967] é bem mais simples, constituído apenas
por uma reclamação formalizada perante a Seção Nacional do Grupo Mercado Comum do Estado-parte
onde tenham sua residência habitual ou a sede de seus negócios, que, caso não obtenha sucesso dentro do
prazo de 15 dias, será encaminhada para um exame do Grupo Mercado Comum.
Em 2004, foi instalado, em Assunção, o Tribunal Permanente de Revisão do MERCOSUL[968],
composto por 5 árbitros que julgaram os recursos de revisão dos laudos dos Tribunais Arbitrais Ad Hoc
apresentados pelos Estados-partes, emitindo um laudo definitivo que poderá confirmar, modificar ou
revogar a fundamentação jurídica e as decisões prolatadas nos tribunais arbitrais. Assim sendo, a partir
de 2005 o Tribunal Permanente de Revisão emitiu as seguintes decisões:
5. ORGANIZAÇÕES ASIÁTICAS
São muito poucas as organizações regionais formadas exclusivamente por Estados asiáticos. A maior
parte deles se insere em organizações internacionais multirregionais, como no caso da OCDE, da APEC
e da Liga dos Estados Árabes.
Como destaque temos apenas a Associação das Nações do Sudeste Asiático – ASEAN, que objetiva
criar uma organização de segurança coletiva puramente asiática,[979] e a Cooperação Econômica para a
Ásia e Pacífico – APEC.
A APEC é, dessa forma, um fórum de cooperação econômica que coordena e facilita o crescimento
interdependente da região da Ásia e do Pacífico de forma a sustentar o crescimento econômico. Trata-se
de um processo consultivo operando sobre base voluntária e consenso entre os seus membros por meio
de compromissos não-obrigatórios, não se constituindo um bloco econômico, mas um conjunto de países
que opera dentro do sistema de regionalismo aberto. A APEC está assim estruturada:
a) Reuniões de Líderes das Economias integrantes da APEC (Fórum): ocorrem anualmente,
delas participando os Chefes de Estado ou de Governo que definem e estabelecem os programas de
trabalho para os comitês, o grupo ad hoc em nível político, os grupos de trabalho e demais fóruns
existentes.
b) Reuniões Ministeriais e de Funcionários Graduados / Senior Officials Meetings (SOM):
são preparatórias para a Reunião Ministerial anual. As SOM preparam as recomendações para os
ministros, embasando suas decisões, além de supervisionar e coordenar, com aprovação dos Ministros, o
orçamento e os programas de trabalho.
c) Conselho Consultivo de Negócios: é permanente e se compõe de até três representantes de
cada Estado-membro, tendo como objetivo prestar aconselhamento na implementação dos planos de
ação.
d) Secretaria: coordena as reuniões e centraliza a documentação referente às várias instâncias
de discussão.
e) Comitês (de Administração e Orçamento, de Comércio e Investimento e Econômico),
Subcomitê sobre Cooperação Econômica e Tecnológica e Grupos de Trabalho (energia, ciência e
tecnologia industrial, telecomunicações, promoção comercial e transportes, entre outros).
i. Organização dos Países Exportadores de Petróleo – OPEP: criada em 1960 e com sede
em Viena, é composta por Arábia Saudita, Argélia, Emirados Árabes Unidos, Equador, Gabão,
Indonésia, Irã, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria, Qatar e Venezuela. Tem por finalidade coordenar as
políticas relativas ao petróleo elaboradas por seus Estados-membros por meio da estabilização do
preço do petróleo e do aumento das receitas dos países exportadores de petróleo. Os países
membros detêm 78% das reservas mundiais de petróleo, suprindo 40% da produção mundial e 60%
das exportações mundiais. Desta forma a OPEP é o exemplo mais conhecido de cartel, uma vez que
busca unificar a política petrolífera dos países-membros, centralizando a administração da
atividade, o que inclui um controle de preços e do volume de produção, estabelecendo pressões no
mercado.
ii. Organização Internacional do Café – OIC: estabelecida em Londres em 1963, sob os
auspícios das Nações Unidas, com o objetivo de estabelecer um sistema de quotas de exportação,
devido à grande importância econômica do café. Desde então, administrou seis Convênios
Internacionais do Café, o mais recente dos quais entrou em vigor em caráter provisório em
1º de outubro de 2001, e em caráter definitivo em 17 de maio de 2005. De seus 77 membros, 45 são
países exportadores e 32, países importadores de café. Funciona por meio do Conselho
Internacional do Café, da Junta Executiva, da Junta Consultiva do Setor Privado, do Diretor-
Executivo e de uma pequena Secretaria.
Capítulo 24
1. SANTA SÉ
Somente começou a ter a sua personalidade internacional discutida após a invasão de Roma pelas
tropas do General Cadorna (1870),[987] para a realização da Unificação Italiana. Essa questão foi
levantada porque a Santa Sé, com a incorporação dos Estados Pontifícios ao Reino da Itália, perdeu a
base territorial sobre a qual assentava a sua soberania. É interessante salientar que no início da questão
romana o papado não reconheceu o Estado Italiano e não permitiu que os católicos participassem da vida
política italiana. Por outro lado, o governo italiano, por meio da Lei de Garantias, de 13.05.1871,
reconhecia ao Papa todas as prerrogativas e privilégios de Chefe de Estado, com estatuto jurídico
comparado ao Rei da Itália, garantindo-lhe ainda a posse das edificações do Vaticano.
A Questão Romana foi definitivamente resolvida com os Acordos de Latrão (11.02.1929), entre a
Santa Sé e a Itália,[988] que compreenderam um acordo político (que reconheceu a soberania do domínio
internacional da Santa Sé e o seu direito à plena propriedade e jurisdição soberana, segundo seu artigo
26, sobre o Estado da Cidade do Vaticano),[989] outro financeiro e uma concordata.
A personalidade internacional, reconhecida expressamente no artigo 12,[990] é da Santa Sé e não do
Vaticano. A relação entre o Vaticano e Santa Sé é uma relação entre Estado e governo[991]. A Santa Sé é
a união:
i. da Cúria Romana, que é a reunião da congregação que auxilia o Papa em seu ministério, dos
tribunais[992] encarregados do Poder Judiciário e do secretariado encarregado do trabalho
administrativo (Secretaria Apostólica); e,
ii. do Papa.
4. EMPRESAS TRANSNACIONAIS
Apesar de podermos encontrar fenômenos semelhantes às atuais empresas transnacionais, como a
Companhia Holandesa das Índias Orientais, que atuou, entre outros países, no Brasil e em Angola,
modernamente, tais sociedades vinculam-se, do ponto de vista jurídico-formal, a certo Estado, mas
exercem suas atividades em numerosos outros Estados.
Vulgarmente conhecidas pelo termo “multinacionais”, tais sociedades, do ponto de vista do Direito
Internacional, em verdade e de acordo com a própria nomenclatura adotada pela ONU, devem ser
denominadas “transnacionais” (transational corporations).
As sociedades comerciais, possuindo direitos e deveres, surgem normalmente como participantes
ativos e passivos dentro de organizações européias, como no caso da Ceca.
A caracterização das empresas transnacionais não é pacífica e os critérios têm variado:
• aquelas capazes de influenciar a economia de diversos países ao exercerem atividades neles;
• o poder de decisão está disperso nas suas subsidiárias; e
• atuam nos Estados hospedeiros como pessoa jurídica de direito interno.
A conceituação dentro das empresas é muito difícil. Francesco Franceoni apresenta seus elementos da
seguinte forma:
• empresa com enorme potencial financeiro;
• patrimônio científico-tecnológico;
• objetiva o controle da fonte de matéria-prima;
• internacionalização da administração; e
• unidade econômica e diversidade jurídica das diferentes unidades que têm nacionalidades
diferentes.
Elas surgiram em virtude da necessidade de novos mercados bem como de, nos países
subdesenvolvidos, encontrarem mão-de-obra mais barata e condições físicas favoráveis.
Sua política é conservadora, tendo em vista que elas, para operarem no estrangeiro, negociam com os
grupos dominantes. Na África, para se instalarem, contraem empréstimos em bancos locais com taxas de
juros mais baixas.
A PESSOA HUMANA
Por outro lado, são doutrinas que afirmam a personalidade internacional do indivíduo:
a) Teoria Individualista (Duguit, Scelle): apenas o homem é sujeito de direito. O próprio
Estado se reduziria a indivíduos. Todavia, essa teoria não se encontra de acordo com a realidade
jurídica, uma vez que os Estados continuam a ser os mais importantes e atuantes do Direito Internacional.
b) Teoria do Sujeito Indireto (Le Fur): o homem seria sujeito indireto do Direito Internacional,
enquanto o Estado seria o sujeito direto. Tal posição, no entanto, não tem qualquer apoio na prática
internacional, nem mesmo razão de ser.
A conclusão a que podemos chegar é que a melhor posição é a que defende serem sujeitos de Direito
Internacional os Estados, as organizações internacionais e o homem. É a corrente que filia o maior
número de doutrinadores (Accioly, Pallieri, Lauterpacht, entre outros). É o homem pessoa internacional
como o é o Estado. Apenas a capacidade jurídica de agir daquele é bem mais limitada que a deste ente.
Brierly, ao analisar a solução pacífica dos litígios internacionais, chega a uma afirmação que pode ser
considerada paradigmática para a conclusão de nossa posição:
(...) é importante nos lembrarmos de que, qualquer que seja o Estado, ele é uma associação de
indivíduos e, quando um Estado entra em conflito com outro, pelo menos os elementos do
problema são idênticos ao se tivéssemos uma disputa entre dois indivíduos ou duas associações
individuais, que não fossem Estados[1009].
A Declaração de 1948 possui em seu bojo os chamados direitos humanos de 1a geração (direitos civis
e políticos), direitos humanos de 2a geração (direitos econômicos, sociais e culturais) e direitos
humanos de 3a geração (teses novas, p. e., direito à paz, ao meio ambiente etc.).
Diante da fraqueza da Declaração Universal dos Direitos do Homem, a ONU elaborou duas
convenções sobre o assunto, aprovadas em 16.02.1966 pela Assembléia Geral:
A diferença entre os dois pactos, no tocante ao mecanismo de proteção, decorre do fato de que do
Pacto de Direitos Civis e Políticos surgem obrigações precisas e imediatas para os Estados, enquanto
que do Pacto de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais há a aplicação progressiva.
Bem antes da relação dos pactos de direitos humanos da ONU, certos direitos de conteúdo econômico
e social eram consagrados pela atuação de agências especializadas da ONU (OIT, desde 1919, Unesco,
OMS, FAO), utilizando-se de duas medidas de implementação: o sistema de relatórios e o de petições ou
reclamações.
Nos últimos anos, os órgãos das Nações Unidas, ao prepararem instrumentos internacionais no campo
dos direitos humanos, têm evidenciado uma tendência crescente para se referirem não só à Declaração
Universal dos Direitos do Homem, mas também a outros textos a ela relacionados. Foi o caso, por
exemplo, da Declaração sobre a Proteção da Mulher e da Criança em Situação de Emergência e de
Conflito Armado, proclamada em 1974, da Declaração sobre a Utilização do Progresso Tecnológico e
Científico em Benefício da Paz e da Humanidade, proclamada em 1975, e da Declaração sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Intolerância e de Discriminação por Motivos de Religião ou Credo,
proclamada em 1981.
Como vemos, a partir da Emenda Constitucional nº 45/2004, facultou-se a recepção dos tratados e
convenções internacionais sobre direitos humanos como equivalentes às emendas constitucionais, desde
que sejam aprovados com o rigor destas, na forma prevista no parágrafo. Nesse sentido entende-se que os
tratados se incorporam automaticamente no ordenamento jurídico brasileiro, porque fazem parte dos
referidos tratados internacionais de proteção dos direitos humanos, que no § 2º do art. 5º da Constituição
atribui uma forma própria de receptividade e uma hierarquia diferenciada dos demais tratados ratificados
pelo Brasil[1015].
A Emenda através da faculdade imposta pela norma constitucional causou uma certa divisão sobre a
hierarquia dos tratados de direitos humanos, uma vez que vários já haviam sido recepcionados pelo
quórum tradicional dos tratados comuns em relação a estes que seguiram o rigor das emendas
constitucionais.
Assim sendo, Mendes entende que os tratados de direitos humanos que foram recepcionados pela via
tradicional teriam status de norma supralegal, estando em uma posição acima das leis ordinárias, mas
abaixo da Constituição, enquanto os tratados que forem recepcionados conforme o rito do § 3º teriam
status de norma constitucional, por serem equivalentes às emendas constitucionais. É o que se verifica
quando da análise do seu voto no Recurso Extraordinário nº 466.343/06, infra.
Supremo Tribunal Federal - STF
Tal ideal tornou-se realidade com a criação do Tribunal Penal Internacional pelo Estatuto de Roma[1017]
e sua entrada em vigor é referendado pela Emenda Constitucional n. 45, de 2004 que inseriu o § 4º, no
artigo 5º, LXXXVII, com a seguinte redação:
Constituição da República Federativa do Brasil
Artigo 5o (...)
LXXVII – (...)
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha
manifestado adesão.
A Lei nº 4.319 (16.03.1964), criou entre nós o Conselho de Defesa dos Direitos de Pessoa Humana
para funcionar no âmbito do Ministério da Justiça. Entre suas funções estão:
a) realizar inquéritos sobre a eficácia das reuniões que visam assegurar os direitos do
homem;
b) divulgar os direitos do homem; e
c) receber e investigar denúncias sobre violação dos direitos do homem.
a. O TPI é uma instituição permanente e autônoma, vinculada ao sistema das Nações Unidas
e com sede na Haia;
b. Tem caráter excepcional e complementar ao exercício da jurisdição penal dos Estados.
Somente poderá intervir em casos em que se verifique claramente a incapacidade ou a falta de
disposição dos Estados em processar os responsáveis por crimes previstos no estatuto;
c. Sua jurisdição está limitada aos crimes de genocídio, crimes de guerra, crimes contra a
humanidade e crime de agressão (tipificada mediante emenda ao tratado e válida apenas para os
Estados que a ratifiquem);
d. O Estatuto de Roma não tem caráter retroativo: o TPI considerará apenas crimes
cometidos após a entrada em vigor do estatuto, salvo nos casos em que um Estado aceite
expressamente a jurisdição do tribunal para delitos cometidos anteriormente. Não são permitidas
reservas ao estatuto e a apresentação de emendas ao seu texto só poderá ocorrer após decorridos
sete anos da entrada em vigor;
e. O exercício de sua jurisdição terá como precondição que sejam parte do Estatuto ou que
tenha aceitado, voluntariamente, a sua jurisdição o Estado em cujo território tenha ocorrido o crime
ou o Estado de nacionalidade do indivíduo acusado;
f. O tribunal contará com 18 juízes, um procurador e procuradores-adjuntos, todos eleitos
pela Assembléia dos Estados partes para um mandato de 9 anos;
g. O tribunal poderá ser acionado por meio de: comunicação de qualquer dos Estados
partes ao procurador; comunicação do Conselho de Segurança, ao abrigo do Capítulo VII da Carta
da ONU[1023]; e investigações iniciadas ex officio pelo procurador;
h. As questões relativas à admissibilidade das causas perante o TPI serão decididas por um
juízo de instrução, de cujas decisões caberá recurso ao juízo de recursos; e
i. Dentre as penas previstas destacam-se a de reclusão por período que não exceda 30 anos
e, se a extrema gravidade do crime ou as condições pessoais do condenado o justificarem, a de
prisão perpétua sujeita a revisão após o cumprimento de 25 anos a serem cumpridas em Estado
designado pelo tribunal entre aqueles que manifestarem disposição para tanto, ficando o tribunal
responsável pela supervisão da execução da pena.
Capítulo 26
CONFLITO INTERNACIONAL
1. CONCEITO
Conflito ou litígio internacional pode ser definido como todo desacordo sobre certo ponto, de fato ou
de direito, ou ainda toda contradição ou oposição de teses jurídicas ou de interesses entre dois Estados.
Segundo Halajczuk,[1024] os litígios classificam-se em jurídicos e não jurídicos, um referindo-se à
aplicação de uma norma de Direito Internacional positivo, outro quando houver lacuna do Direito
Internacional. Tal qualificação, no entanto, tem cunho apenas didático, uma vez que todo conflito
internacional tem um aspecto jurídico e outro político, e dependerá da vontade das partes.
Brierly[1025] ressalta que a utilização equivocada do termo “arbitragem” gerou uma confusão acerca da
solução pacífica de litígios internacionais, uma vez que se acostumou a associá-los à arbitragem quando,
em verdade, esta é apenas uma entre as diversas formas de solução pacífica de conflitos internacionais.
A Corte Internacional de Justiça – CIJ, afirma ser conflito internacional o que se estabelece entre
dois Estados soberanos. Sabemos, porém, que os protagonistas dos conflitos internacionais podem ser
grupos de Estados e até mesmo organizações internacionais.
Não podemos deixar de mencionar as “inovações” trazidas pela constituição de 1988 e pela Emenda
Constitucional n. 45, de 08 de dezembro de 2004, que “concedem” competência ao Supremo Tribunal
Federal ao Superior Tribunal de Justiça e Justiça Federal para processar e julgar os litígios envolvendo
interesses nacionais, bem como declarar a inconstitucionalidade de tratado que estabeleça o contrário,
conforme podemos aferir do texto constitucional, infra:
Constituição da República Federativa do Brasil
Artigo 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição,
cabendo-lhe:
I – processar e julgar originariamente:
e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito
Federal ou Território;
III –
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
Artigo 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
II – julgar, em recurso ordinário:
c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um lado, e,
do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliado no País;
III – julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou ultima instância, pelos
Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos estados, do distrito Federal e Territórios,
quando a decisão recorrida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;
Artigo 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
II – as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa
domiciliada ou residente no País;
III – as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo
internacional;
Cabe-nos aguardar pacientemente pela existência de um conflito internacional envolvendo uma das
partes supracitadas, observar a efetiva aplicação de tal preceito e a aceitação de seu ditame pelos demais
membros da Sociedade Internacional.
2. MODOS PACÍFICOS DE SOLUÇÃO DOS CONFLITOS INTERNACIONAIS
O Pacto da Sociedade das Nações afirmava, em seu artigo 12, que todo conflito entre os Estados-
membros deveria se resolver de forma pacífica. Tanto a Carta das Nações Unidas quanto a Carta da OEA
contém capítulo próprio para a solução pacífica de controvérsias.
Carta das Nações Unidas
CAPÍTULO VI
SOLUÇÃO PACÍFICA DE CONTROVÉRSIAS
Artigo 33.
1. As partes numa controvérsia, que possa vir a constituir uma ameaça, à paz e à segurança
internacionais, procurarão, antes de tudo, chegar a uma solução por negociação, inquérito,
mediação, conciliação, arbitragem, solução judicial, recurso a entidades ou acordos regionais, ou a
qualquer outro meio pacífico à sua escolha.
2.1.5 Conciliação
Procedimento de solução pacífica de conflitos internacionais, geralmente utilizado preliminarmente ao
procedimento arbitral, em que uma comissão examina o litígio e apresenta um informe às partes com
propostas concretas para sua solução.
Admite-se que qualquer litígio seja solucionado pela arbitragem, a não ser aqueles objeto da cláusula
facultativa da CIJ, ou quando o compromisso arbitral seja passível de reservas no tocante à matéria
objeto da arbitragem[1040].
A arbitragem como solução jurisdicional não é obrigatória, sendo o seu procedimento consagrado no
compromisso arbitral concluído entre os litigantes. Na realidade, trata-se de um tratado bilateral que
contém:
a) o compromisso de submeter a questão à arbitragem e de cumprir fielmente sua
sentença;
b) o objeto do litígio;
c) o método de formar o tribunal e o número de juízes;
d) as regras de direito a serem seguidas pelo tribunal e se há poder de equidade;
e) o prazo em que a sentença deve ser proferida; e
f) o idioma a ser utilizado no processo.
Há, no entanto, hipóteses em que o compromisso arbitral é obrigatório para as partes. Tal ocorre nas
hipóteses de existência prévia de um Tratado Geral de Arbitragem ou de uma cláusula arbitral inserida
em um tratado internacional.
O processo compreende duas fases: a escrita e os debates orais. Pode-se ainda determinar medidas
provisórias com o objetivo de preservar o direito das partes. Há a possibilidade da realização de um
processo sumário de arbitragem nos litígios de pequeno valor. Nesse caso, serão indicados três árbitros,
não havendo a fase oral. A sentença arbitral é obrigatória para as partes litigantes, uma vez que elas,
pelo compromisso arbitral, se obrigaram a acatar o laudo. Conterá uma exposição de motivos e uma parte
dispositiva que deverá ser dada por maioria de votos e será escrita e proferida em audiência pública.
A sua execução caberá às partes litigantes, que devem executá-la de boa-fé.[1041] O Pacto da Sociedade
das Nações autorizava, em seu artigo 13, § 4º, o conselho a tomar as medidas adequadas contra um
Estado que não cumprisse uma sentença arbitral. A Carta da ONU é omissa nessa matéria.
A sentença é definitiva, podendo ser interposto, por qualquer das partes, pedido de interpretação,
desde que previsto no compromisso arbitral. É possível a revisão da sentença arbitral, desde que esteja
prevista no compromisso arbitral, haja a descoberta de fato novo, decisivo para a solução do litígio, de
desconhecimento tanto do tribunal quanto da parte que o invoca, a revisão seja requerida dentro do prazo
de seis meses da descoberta do fato e não haja transcorrido dez anos da sentença.
O processo será nulo quando houver excesso de poderes, violação de um princípio fundamental do
processo, erro na motivação da sentença ou corrupção de um membro do tribunal. O prazo para requerer
a nulidade variará de dois a seis meses (corrupção de membro do tribunal) após a descoberta do fato.
SANÇÕES DE DIREITO
INTERNACIONAL
1. CONCEITO
Segundo Cavaré, “em uma certa organização, os seus membros percebem a violação de uma regra e
têm consciência que uma ação social deve ser realizada para apagar a perturbação causada por essa
violação”.
As sanções objetivam:
Como salienta Brierly, o Direito Internacional obviamente não utiliza os mesmos métodos previstos no
direito interno, dessa forma, a real diferença entre os dois sistemas não está no fato de que um tem
sanções e o outro não, mas sim no fato de que em um as sanções são organizadas em um processo
sistemático (Direito interno) e no outro elas são indeterminadas (Direito internacional), concluindo que o
problema não está em se criar sanções em Direito internacional, mas sim em tentar organizá-las de forma
sistemática[1044].
Procura-se evitar o uso da força contra os Estados, até mesmo porque, como enumera Quincy
Wright[1045], quatro motivos tornam tal sanção muito mais difícil de ser aplicada do que quando as
interpõem contra particulares: a unidade estatal é maior; o sentimento nacional propicia a criação de uma
força policial unificada; punir uma nação com multas, indenizações ou perda de parcela do território
arruína a estrutura econômica interna e termina gerando também prejuízo para outras nações; e, via de
regra, a responsabilidade moral não pode ser atribuída apenas a uma nação e jamais a toda população de
uma nação.
A ONU, por meio da atuação conjunta entre a Assembléia Geral e o Conselho de Segurança, tentou
organizar um sistema coletivo de sanções a ser por ela aplicado sobre os Estados, que serve de
parâmetro para o estudo das sanções em Direito Internacional. Temos, dessa forma, o rompimento das
relações diplomáticas, a retorsão e a represália.
1.1 Rompimento das Relações Diplomáticas
Se dá com a retirada dos agentes diplomáticos dos Estados envolvidos no litígio, ou seja, a interrupção
das relações entre ambos, encerrando, assim, a possibilidade de futuras negociações. Trata-se de um ato
unilateral discricionário obrigatório se derivado de uma resolução da organização internacional à qual
está vinculado o Estado. Tal ato, no entanto, não leva à extinção das imunidades dos agentes
diplomáticos, nem acarreta, necessariamente, o rompimento das relações econômicas e consulares.
Antes do rompimento, podemos ter a suspensão das relações diplomáticas que se caracteriza apenas
pela retirada do Chefe da Missão Diplomática ou do Encarregado de Negócios.
1.2 Retorsão
Caracteriza-se pela aplicação, do ofendido ao ofensor, das mesmas medidas que contra ele forem
aplicadas.
É um ato lícito destinado a prejudicar um Estado que haja cometido qualquer ato ilícito, como no caso
da interrupção de ajuda econômica (o que em si é um ato lícito, posto que não existe obrigação legal de
proporcionar ajuda em termos econômicos se tal não está contido nas cláusulas de um tratado especial).
[1046]
Tal sanção, muito comum à época da distensão entre capitalistas e socialistas, era utilizada mesmo que
não houvesse violação a uma norma internacional.
1.3 Represália (Retaliation)
Medida empregada por um Estado contra aquele que haja violado seus direitos internacionais. São
seus requisitos:
DIREITO DE GUERRA
E DESARMAMENTO
1. CONCEITO E ELEMENTOS DA GUERRA
Delbez conceitua guerra como a luta armada entre Estados desejada ao menos por um deles e
empreendida tendo em vista um interesse nacional. As guerras, não obstante, empreendem-se por uma
parte: por agressores e violadores do Direito, também é levada a cabo em parte para manter o
Direito[1048].
Possui um elemento objetivo que seria a prática de atos que criam o estado de guerra, p. e., a luta
armada e um elemento subjetivo, qual seja, o animus beligerandi (intenção de fazer a guerra).
i. contra a paz;
ii. contra a humanidade; e,
iii. crimes de guerra propriamente ditos.
Tais tribunais são passíveis de uma série de críticas, entre as quais se destacam: o fato de seus
criadores terem se colocado perante os acusados como parte e julgadores, admissibilidade da
retroatividade das penas e punição restrita apenas a indivíduos, não atingindo Estados e, mesmo assim,
não se levando em consideração que os mesmos atuavam cumprindo normas superiores e em consonância
com o seu direito interno.
4. DESARMAMENTO
O termo “desarmamento” pode ser utilizado tanto para designar a redução de armamentos quanto a sua
supressão. Alguns autores chegam a empregá-lo no sentido de estabelecer um limite de armamento. Tal
termo, todavia, deve ser distinguido do controle de armas. No desarmamento há a redução ou abolição de
armamentos, podendo ser unilateral/multilateral, local/geral, parcial/completo e sem controle/controlado.
Já o controle de armas é exercido internacionalmente tanto em relação à política de armamentos quanto
ao respeito do nível, características e uso de armamentos. Tem, dessa forma, o objetivo de proibir certos
tipos de armas.
Há diversas razões que podem levar ao desarmamento por parte de um Estado:
i. poupança;
ii. redução da tensão internacional; e,
iii. opinião pública favorável.
Em 1952, a Assembléia Geral da ONU criou a Comissão de Desarmamento, a qual, em 1961, aprovou
em uma resolução a desnuclearização da África. Em 1970, foi concluído um tratado proibindo a
colocação de armas de destruição em massa no fundo dos mares.
[1] Seguindo os ensinamentos de Akehurst (AKEHURST, M ichael. Introdução ao direito internacional. Coimbra: Almedina, 1985, p. 61), quando se emprega a
expressão “Direito Internacional” sem mais qualificações, quase sempre se entende que se fala de Direito Internacional Público.
[2]
Seção Extraordinária VI – M atérias Primas e Desenvolvimento, convocada pela Argélia e realizada entre 09 de abril e 02 de maio de 1974.
[3]
Votaram contra a Carta: Alemanha; Bélgica; Dinamarca; Estados Unidos; Luxemburgo; e Reino Unido.
[4]
Houve 10 abstenções: Áustria; Canadá; Espanha; Franca; Irlanda; Israel; Itália; Japão; Países Baixos; e Noruega.
[5]
Uma das obras que melhor expressa o conteúdo falho da Carta, concedendo apenas direitos aos Estados em desenvolvimento é a de Eduardo Hornedo, La Carta
coja: critica a la Carta de Derechos e Deveres de Las Naciones, M éxico: G. de Anda, 1975.
[6]
BROWER, Charles N.; TEPE JR., John B. The Charter of Economic Rights and Duties of States: A Reflection or Rejection of International Law?. In:__.
International Lawyer, vol. 9, n. 2, 1976. p. 301.
[7]
M EAGHER, Robert F. An International Redistribution of Wealth and Power: a study of the Charter of economic Rights and Duties of States, p. 88.
[8]
Foi produzida uma vasta literatura acerca da Carta, principalmente em meados da década de 70 e por autores mexicanos, como Jorge Castaneda, Jorge Witker,
César Sepulveda. Talvez tal proficuidade tenha se dado em função da Carta ser uma iniciativa vitoriosa do ex-presidente mexicano Luis Echeverría.
[9]
ALCÁNTARA, Tomás Polanco. La Obligatoriedade y Validez de la Carta de Derechos y Deberes Económicos de Los Estados. In:__. CASTANEDA, Jorge et al.
Derecho económico internacional, p. 123-136.
[10]
É usual que se utilize a terminologia “New World Order” para identificar o momento em que se desenvolvem as profundas mudanças na Sociedade
Internacional que trataremos a seguir. A maior parte dos autores de língua portuguesa optam por sua tradução simples e literal – Nova Ordem M undial –. De nossa
parte cunhamos o termo “Nova Ordem Internacional” por acreditar estar o mesmo mais próximo da abordagem jus-econômica que pretendemos dar-lhe, superando
uma visão eminentemente política que o termo Nova Ordem M undial pudesse sugerir. Apesar da utilização dessa terminologia, a maior parte dos historiadores
insistem em afirmar que muito pouco efetivamente mudou: os Estados Unidos continuam poderosos; a Europa continua seu caminho integracionista; a divisão Norte-
Sul não desapareceu; e as guerras continuam a arruinar as paisagens. Até mesmo as organizações internacionais que dominam os assuntos globais são praticamente as
mesmas (Otan, FM I, Banco M undial, etc.). COX, M ichael. International History since 1989. In:___ BAYLIS, John; SM ITH, Steve. The Globalization of world
nd
politics. 2 ed., p. 110 et seq.
[11]
Obviamente trata-se de uma divisão própria, elaborada a partir de nossa compreensão da Nova Ordem Internacional dentro da perspectiva do Direito
Internacional. Autores, como Hauss, a dividem, por exemplo, em problema (guerra, meio ambiente, economia e minorias); interdependência (confrontação,
interdependência e novo pensamento); e, mudança (mudança, raízes, privado e público, e, interesse global). HAUSS, Charles. Beyond confrontation: transforming
the new world order. Westport:Praeger, 1996.
[12]
Com o refúgio do Emir Jaber al Sabah na Arábia Saudita.
[13]
Tornada nula pela Resolução n. 662 do Conselho de Segurança da ONU, de 09.08.1990.
[14]
De 02 de agosto a 28 de setembro: -32% em Tóquio; -24% em Paris; -17% em Londres e, -15,4% em Nova Iorque.
[15]
Estavam inseridos, desde 07 de agosto, na Operação Escudo do Deserto, os EUA e diversos Estados-membros da OTAN, liderados pelo Reino Unido.
[16]
Criando tal Resolução um precedente histórico no qual, pela primeira vez, a ONU autoriza os Estados-membros a usarem da força contra um outro Estado-
membro.
[17]
Aceita pelo Iraque em 06.04.1991.
[18]
Autores como Halliday (Repensando as relações internacionais. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1999, p. 110) afirmam que foi a pressão
internacional pela homogeneização que destruiu a União Soviética; foi o t-shirt e o supermercado, não a canhoneira ou as manufaturas mais baratas que dest ruíram a
legitimidade e a estabilidade do sistema soviético.
[19]
São membros da CEI: Armênia, Belarus, Cazaquistão, Federação Russa, M oldávia, Quirguistão, Tadjiquistão, Turcomenistão, Ucrânia, Uzbequistão (1991),
Geórgia e Azerbaijão (1993). Desde 26 de agosto de 2005, o Turcomenistão não é mais membro permanente da entidade, atuando apenas como membro associado. A
Ucrânia é participante “de fato”, uma vez que não ratificou o Acordo de Criação da CEI, de 8 de dezembro de 1991.
[20]
Em 19 de dezembro de 1999 temos o retorno de M acau, a última colônia europeia na Ásia, para a China.
[21]
Em verdade, foi a China que declarou unilateralmente sua intenção de reassumir a soberania sobre Hong Kong a partir daquela data. Para um estudo mais apro-
fundado sobre os contornos jurídicos de tal ato, vide artigo de Peter Slinn, intitulado Aspects juridiques du retour à la Chine de Hong Kong, publicado no Annuaire
Français de Droit International, XLII, 1996, p. 273-295.
[22]
Já no dia 02 de julho de 1997, o governo da Tailândia desiste de defender a paridade da moeda local, o “bath” perante o dólar, desvalorizando-a. Estima-se que,
ao final daquele ano, mais de US$ 700 bilhões em capital tenham sido perdidos, algumas mercadorias tenham tido seu preço elevado em até 300% e a taxa de
desemprego tenha triplicado.
[23]
O conflito explodiu porque a província sérvia de Kosovo, na Iugoslávia, desejava autonomia política. Para impedi-la, as tropas sérvias, sob o comando de
Slobodan M ilosevic, iniciaram uma “limpeza étnica”, que resultou na morte de centenas de civis de origem albanesa. Em 17 de fevereiro de 2008, um ato das
Instituições Provisórias do Governo Autônomo da Assembleia do Kosovo aprova a Declaração de Independência do Kosovo.
[24]
Em janeiro de 2000, o Equador anuncia a medida como forma de salvar a economia e gerar emprego. É seguido por El Salvador, forçado pela falta de
credibilidade do cólon, a moeda local.
[25]
Na tentativa desesperada de salvar seu governo e as finanças públicas, o sucessor de M enem, Fernando de la Rúa, e o superministro Domingo Cavallo
lançaram mão de medidas emergenciais, aplicando de uma só vez todos os remédios amargos preconizados pelo Fundo M onetário Internacional para nações com
fortes desarranjos nas finanças do Estado. Cavallo impôs medidas recessivas, uma depois da outra, a uma população em que 18% das pessoas estavam
desempregadas. Cortou 13% dos salários do funcionalismo e das aposentadorias dos idosos. Ao cabo de uma recessão que entrava em seu terceiro ano, limitou os
saques bancários a 250 dólares por semana, uma vez que, contrariando abertamente a política fiscal do governo central, as províncias haviam passado a emitir suas
próprias moedas. Somente em 2001 circularam catorze tipos de moedas regionais, que substituíram o dinheiro vivo e títulos da dívida. O resultado foi caótico. As
províncias argentinas passaram a dever o equivalente a 7% do PIB do país a credores privados.
[26]
Em 1999, a Turquia havia assinado um acordo de 4 bilhões de dólares com o FM I para conter a inflação, que na época estava em 65% ao ano, sendo fixada uma
meta de reduzir o índice para menos de 10% até 2002.
[27]
Apenas alguns dias após a entrega de M ilosevic, representantes de 40 países se reúnem em Bruxelas e anunciam a concessão de US$ 1,3 bilhão para ajudar na
reconstrução da Iugoslávia, uma vez que a sua extradição era uma condição imposta pela União Européia e pelos EUA para a liberação dos recursos. M ilosevic foi
responsável por sua própria defesa. O julgamento terminou, no entanto, sem qualquer veredito, já que ele acabou morrendo, em 11 de março de 2006, depois de quase
cinco anos encarcerado na Prisão de Criminosos de Guerra, em Haia.
[28]
Segundo o presidente do país, o tratado contrariaria os interesses econômicos norte-americanos, uma vez que exigiria a redução das emissões de gases-estufa,
como o dióxido de carbono, que resulta da queima de combustíveis fósseis. Como o modelo industrial norte-americano é movido a carvão e petróleo, sua remodelação
para adequação ao Protocolo seria de alto custo, levando seu país a perder competitividade industrial, caso cumprisse as metas, mesmo reconhecendo ser ele o
responsável, sozinho, por um quarto das 6 bilhões de toneladas de gás carbônico, lançadas anualmente na atmosfera.
[29]
Em 1995, M cVeigh explodiu um prédio do governo federal, na capital do Estado de Oklahoma, matando 168 pessoas e ferindo centenas, sob a justificativa de
tê-lo realizado por ódio ao governo e em resposta à ação de tropas federais contra uma seita messiânica em Waco, no Texas, em 1993, que resultou na morte de 82
pessoas.
[30]
Que, em seus pronunciamentos, prega a “guerra santa” contra os EUA, aos quais acusa, entre outras coisas, de profanar um lugar sagrado do Islã com sua base
militar na Arábia Saudita e de patrocinar a ocupação de terras palestinas por Israel.
[31]
O primeiro caso, na Flórida, provoca a morte de um jornalista que abriu uma carta postada antes dos atentados de 11 de setembro. As cartas, despachadas no
próprio país, multiplicam-se, chegando a interromper os trabalhos do Congresso por vários dias e deixam, até o início de novembro, um saldo de quatro mortos e 14
contaminados.
[32]
O denominado Uniting and Strengthening America by Providing Appropriate Tools Required to Intercept and Obstruct Terrorism – USA Patriot Act 2001,
assinado em 26 de outubro de 2001, após ter sido aprovado por 98 votos contra 1 no Senado e 357 votos contra 66 na Câmara, contendo normas que vão desde o
aprimoramento da segurança doméstica contra o terrorismo até lavagem de dinheiro e sigilo bancário, proteção das fronteiras, troca de informações entre as diversas
agências de investigação e punição severa para todos que pratiquem ou auxiliem a prática de atos terroristas, foi renovado em 02 de março de 2006 com o voto de 89
contra 11 membros do Senado, em 07 de março de 2006 por 280 contra 138 votos na Câmara e, finalmente, assinado novamente pelo Presidente George W. Bush em 9
de março de 2006. O Patriot Act teve diversas de suas seções reautorizadas ao longo do tempo. Uma dessas ocorreu em 26 de maio de 2011, já no governo do
democrata Barak Obama que, utilizando-se de um mecanismo denominado “autopen”, estendeu por quatro anos os mecanismos de escuta telefônica, buscas de
registros de negócios e condução de vigilância aos chamados “lobos solitários”.
[33]
Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Grécia, República da Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos e Portugal. Apenas três Estados (Grã-
Bretanha, Dinamarca e Suécia) não aderem à moeda única europeia.
[34]
Formando a chamada “coalizão dos determinados”, que chegou a contar com pouco mais de 36 países “aliados”, mas que tinha no exército norte-americano,
integrados por um contingente de 150 mil soldados, e das forças britânicas, que incluem pouco mais de 9 mil soldados em sua base operacional, uma vez que nenhum
outro contingente significativo de tropas estrangeiras estava estacionado no país.
[35]
No caso de Chipre, os greco-cipriotas do sul não aceitaram a proposta da ONU de unificação com o norte turco-cipriota, e apenas o sul da ilha faz parte do
bloco.
[36]
O programa de US$ 600 milhões – Resolução 986 do Conselho de Segurança –,, lançado em 1996, tinha o objetivo de permitir que o governo do Iraque
pudesse comprar alimentos, remédios e outros suprimentos de valor humanitário, usando o dinheiro arrecadado com a venda de petróleo, sem que isso implicasse na
violação das sanções comerciais impostas ao país depois da invasão do Kuwait, em 1990. A iniciativa buscava ajudar os civis iraquianos, que enfrentavam dificuldades
por causa das sanções e acabou formalmente em 2003, quando as tropas estrangeiras lideradas pelos Estados Unidos invadiram o Iraque e afastaram Saddam Hussein
do poder. É importante salientar que até abril de 2008 a compensação global autorizada pela Comissão de Compensação das Nações Unidas – United Nations
Compensation Commission (UNCC), já havia chegado a mais de US$ 25 bilhões de dólares que, após o encerramento do Programa Oil for Food passaram a ser objeto
de Resoluções do Conselho de Segurança. Segundo o mesmo órgão, há ainda dezoito reivindicações compensatórias, incluindo 5 reivindicações ambientais, a serem
analisadas. Em dezembro de 2010 é aprovada, no Conselho de Segurança, Resolução que pede ao então Secretário-geral da ONU, Ban-Ki-M oon, a extinção de todas as
atividades residuais decorrentes deste programa.
[37]
Os muçulmanos estão divididos entre sunitas, o grupo majoritário, e xiitas, a minoria dentro da religião. Os sunitas formam o tronco principal da religião, ligado
à interpretação mais aceita da história islâmica e reúnem cerca de 90% dos muçulmanos no mundo. A diferença em relação ao Islã xiita é a aceitação à sequência de
califas da história islâmica. Sem características comuns entre si, os muçulmanos sunitas incluem praticantes da religião em todas as partes do mundo e de todas as
tendências, dos mais conservadores até os moderados e seculares.
[38]
Os xiitas, que reúnem cerca de 10% dos muçulmanos, surgiram como movimento político de apoio a Ali e acabaram formando uma ramificação da religião
islâmica. A dissidência surgiu quando os xiitas se uniram para apoiar Ali, primo de M aomé, como o herdeiro legítimo do poder no Islã após a morte do profeta, com
base na suposta declaração de que ele era seu sucessor ideal. A evolução para uma fórmula religiosa diferente teria começado com o martírio de Husain, o filho mais
novo de Ali, no ano de 680, em Karbala (no atual Iraque). Os clérigos xiitas são os mulás e mujtahids, mas o clero não tem uma hierarquia formal. Os xiitas foram os
responsáveis pela revolução islâmica do Irã, em 1979, e têm graves divergências com setores do islamismo sunita.
[39]
Segue-se a eleição de Jalal Talabani para a presidência do Iraque. É a primeira vez na história do país que um curdo acede a tal cargo, sendo nomeado como
primeiro-ministro o xiita Ibrahim al-Jaafari.
[40]
A França foi o primeiro país da UE a rejeitar o tratado constitucional, seguida, em 1º junho, pelos Países Baixos, onde o “não” obtém 61,6%.
[41]
Que, pelo seu artigo 12, permite que países desenvolvidos invistam em projetos (energéticos ou florestais) de redução de emissões e utilizem os créditos para
reduzir suas obrigações: cada tonelada deixada de ser emitida ou retirada da atmosfera poderá ser adquirida pelo país que tem metas de redução a serem atingidas. Cria-
se assim um mercado mundial de Reduções Certificadas de Emissão (RCE).
[42]
Não só em função da natureza (explosões em meios de transporte de grandes metrópoles) e sua justificativa (ideais islâmicos), mas ainda pela forma como é
reivindicada sua autoria: por meio de grupos islâmicos pouco conhecidos ligados à rede Al-Qaeda, que publicam comunicados em websites, onde assumem a
responsabilidade pelos atentados. Tais militantes, leais a Osama bin Laden (chefe da rede Al-Qaeda), foram responsáveis pelos ataques de 11 de setembro de 2001
nos EUA e pelos atentados de Bali e M adri.
[43]
Para aqueles que queriam a ALCA, não se conseguiu incluir nem cronograma nem datas específicas para a próxima reunião. Para aqueles que não queriam
avançar no tema, terminou-se por incluí-lo de maneira ambígua em uma declaração final que foi assinada até mesmo por seus maiores opositores, como Hugo Chávez,
sem que em troca fosse obtido um compromisso sobre a eliminação de subsídios (tema que obviamente ficou sujeito à negociação com a União Européia na
Organização M undial do Comércio).
[44]
É interessante ressaltar que, em 2006, tivemos 11 eleições presidenciais na América Latina, boa parte delas com ingerência direta do presidente venezuelano.
Com isso, acredita-se que o principal risco político para a América Latina está no ressurgimento de quatro paradigmas que, no passado, serviram de obstáculo ao
desenvolvimento: o populismo, uma vez que a partir de Chávez retomou a velha tradição do político centralizador que cativa os pobres com promessas de soluções
milagrosas para problemas complexos; o militarismo, Chávez é egresso dos quartéis e, embora se apresente como civil, tende a ver o uso da força como uma
alternativa legítima para conquistar e manter o poder; as ideologias revolucionárias, que ganham nova roupagem com o nacionalismo e o movimento indianista, onde se
encaixa o presidente boliviano Evo M orales; e o modelo de economia fechada e estatizante.
[45]
As consequências do desenvolvimento da tecnologia nuclear, comandada pelo presidente M ahmoud Ahmadinejad, o mesmo que diz que o holocausto é uma
mentira dos judeus e clama pela destruição de Israel, são imprevisíveis. O Governo do Irã sustenta que seus esforços são modestos e pacíficos, uma vez que,
oficialmente, o urânio será enriquecido apenas 5%, potência suficiente para acionar usinas geradoras de energia elétrica, mas bem abaixo dos 90% exigidos para armar
uma bomba. A questão está no fato de que a tecnologia empregada em ambos os casos é a mesma, todavia, com a quarta maior produção de petróleo do mundo, os
iranianos confiam que os países industrializados vão relutar em aprovar sanções comerciais contra eles, temendo uma alta generalizada no preço dos combustíveis.
Com isso, o presidente iraniano, contrariando um ultimato do Conselho de Segurança da ONU, insistiu em avançar em um programa nuclear com fins obscuros e
mantê-lo longe dos olhos dos inspetores internacionais.
[46]
A população majoritária é de muçulmanos xiitas (60% do total). Os curdos, que não são árabes, representam 15% e usufruem relativa autonomia na região
em que são maioria, no norte. Os árabes sunitas, 20% da população, tinham o poder na ditadura de Saddam e não se conformam com a eleição que entregou o
comando do governo às etnias rivais. Desde a invasão norte-americana, terroristas sunitas, muitos deles árabes vindos de países vizinhos, vêm provocando os
xiitas com carros e homens-bomba. Com inesperada sabedoria, seus aiatolás têm recomendado paciência, visto que, pela primeira vez na história, graças às
eleições democráticas de 2005, eles estão conseguindo que a superioridade numérica se traduza em poder real. A rixa entre as duas principais vertentes islâmicas,
tão distantes uma da outra, quanto católicos e protestantes no cristianismo, é de relevante importância no Iraque. Nos países muçulmanos onde são minoria, os
xiitas são tratados como cidadãos de segunda classe. No caos que se seguiu à ocupação norte-americana, muitos jovens sunitas, sobretudo sauditas, viram no
Iraque a oportunidade perfeita para massacrar xiitas, que consideram apóstatas. A Al-Qaeda na M esopotâmia, grupo terrorista liderado pelo jordaniano Abu
M usab al-Zarqawi, declarou formalmente guerra aos muçulmanos xiitas. O grão-aiatolá Ali Sistani, o principal líder xiita, advertiu que, se o governo não é capaz
de garantir a segurança de sua gente, chegou a hora de fazer justiça com as próprias mãos, tal apelo ressonou no Irã (90% de xiitas), no Barein (70%) e até no
Líbano, por meio de ações do Hezbollah.
[47]
A Resolução apelou, igualmente, para a libertação incondicional dos dois soldados israelitas raptados pelo Hezbollah, apontado como o casus beli desse
conflito.
[48]
Estabelecido pela Casa Branca, esse tribunal poderia julgar os acusados de terrorismo em sessões secretas e condenar sem direito a apelação. Com o veredicto
da Suprema Corte, não só tais julgamentos tiveram de ser cancelados como o próprio status dos prisioneiros foi colocado em questão.
[49]
Com aprovação unânime na Assembleia Geral em 13 de outubro, dando-se após a aprovação pelo Conselho de Segurança em 09 de outubro. Ban é o primeiro
asiático apontado para ser Secretário-geral das Nações Unidas desde U Thant, da Birmânia, que ocupou o posto de 1961 a 1971, substituindo Kofi Anan a partir de 1º
de janeiro de 2007.
[50]
Estados Unidos e China criaram uma interessante simbiose entre um intenso comércio bilateral e uma aliança financeira singular: quase todo o dinheiro que os
americanos gastam comprando artigos chineses volta ao país quando o governo chinês adquire títulos do Tesouro americano. A importância da China é também capital
para as outras duas potências econômicas, Japão e Alemanha, segunda e terceira economias do mundo. A fabulosa máquina exportadora alemã tem na China o seu
maior comprador. Quanto ao Japão, boa parte da recuperação de sua economia, estagnada por mais de uma década, se deve ao fenômeno chinês. Finalmente, os
produtos chineses de baixo preço são um dos fatores que explicam a inflação controlada de boa parte dos países do Ocidente – desenvolvidos, subdesenvolvidos e
emergentes. Pela extensão de seu território, pelo tamanho de sua população e pela sua capacidade de alterar a geopolítica do planeta, o milagre chinês guarda muitas
semelhanças com o surgimento do império americano, entre fins do século XIX e início do XX.
[51]
Nas áreas econômica, financeira e monetária, observou-se um patente fracasso da política estabelecida pelo Sistema da Reserva Federal, ao tentar ocultar as
injeções maciças de liquidez no sistema financeiro deixando de divulgar a evolução do índice monetário M -3 (que inclui depósitos à vista, moeda em poder do público,
títulos em poder do público e depósitos em poupança). O objetivo era substituir a bolha imobiliária norte-americana, em situação crítica, por uma bolha financeira em
uma tentativa de manter o crescimento – e a conseqüente atratividade – dos EUA. Com isto, a Reserva Federal dos EUA estaria experimentando uma histórica perda
de controle sobre as taxas de juros, pela primeira vez desde 1918, com exceção dos períodos de guerras e depressão socioeconômica. A partir daí, a crise do mercado
imobiliário atingiu grandes instituições financeiras dos EUA, como a Bear Stearns, Goldman Sachs e Freddie M ac.
[52]
Um fator político que pode ter acelerado esta Crise pode ter sido o impasse criado na Conferencia de Potsdam, em junho de 2007, quanto à retirada de
subsídios agrícolas de EUA e União Européia, levando Brasil e Índia a se retiram da negociação da Rodada de Doha.
[53]
Em seu primeiro ano de mandato, em 2017, Donald Trump tomou uma série de iniciativas polêmicas. Retirou-se do Acordo de Paris, que estabelece metas de
redução de gases do efeito estufa, e do Acordo Transpacífico, um bloco destinado a ser a maior área de livre-comércio do mundo. Além disso, contrariou a sociedade
internacional ao reconhecer Jerusalém como capital de Israel e adotou medidas para impedir a entrada de imigrantes muçulmanos nos EUA. Por fim, através de
comunicados via mídia social, que não excedem a 400 palavras, iniciou uma série de discussões com o líder norte-coreano Kim Jong-Un acerca do tamanho,
mobilidade e possibilidade de utilização de seu arsenal militar contra aquele Estado.
[54]
A sigla Brexit é uma junção de “Britain” e “exit”, que em português significa saída do Reino Unido da União Europeia. No dia 23 de junho de 2016, os
cidadãos daquele país participaram de um referendo, organizado após a aprovação do European Union Referendum Act de 2015 pelo Parlamento Britânico, em que
podiam escolher entre duas opções: o Reino Unido permanecer (“remain”) ou deixar (“leave”) a União Europeia. O Brexit, opção que venceu com cerca de 51,8% dos
votos – num universo de pouco mais de 72% de eleitores que compareceram às urnas – , consiste basicamente no desmembramento, por parte do Reino Unido, da
União Europeia. Dias após a aprovação do Brexit, a Escócia indicou que gostaria de realizar um novo referendo para deixar o Reino Unido, movimento também
presente na Irlanda do Norte. Em 13 de março de 2017 ambas as câmaras do Parlamento rejeitaram emendas que poderiam prolongar o processo de retirada do país,
permitindo assim que a primeira-ministra Theresa M ay denuncie formalmente o Tratado da União Europeia e inicie as negociações para a saída britânica do bloco.
[55]
A doutrina majoritária identifica como um processo que teve seu início no período dos grandes descobrimentos, no século XV. Com efeito, as expedições
lideradas pelo navegante genovês Cristóvão Colombo e financiadas pelo Reino de Castilla y Aragón romperam, em 1492, o isolamento entre o “Velho” e o “Novo
M undo” e implicaram crescente contato entre os países então existentes, seguindo-se a criação da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais (1621), com o objetivo
de eliminar a competição entre diferentes postos mercantis estabelecidos pelos mercadores, e a Companhia das Índias Orientais, criada pela Inglaterra a partir da fusão
de diferentes sociedades, aspirantes ao monopólio do comércio com aquela parte do mundo, em uma única companhia, em 1702.
[56]
Vide http://www.iis.com.br/~rbsoares/geo7.htm, consultado em 25.03.2005.
[57]
Vide http://www.dhnet.org.br/direitos/textos/globalizacao_dh/dhglobal.html, consult ado em 13 de agosto de 2006.
[58]
FALK, Richard A. The Declining world order: america’s imperial geopolitics. New York: Routledge, 2004, p. vii-xi.
[59]
Apesar de utilizada por grande parcela da Doutrina, o termo “Empresas M ultinacionais” não possui o rigor jurídico-científico apresentado ao utilizar-se
Empresas Transnacionais, uma vez que elas, sendo de caráter econômico, possuem uma matriz em determinado Estado e atividades produtivas em outros (os
chamados “estados hospedeiros”), onde se instalam como indústria nacional, por exemplo, Ford do Brasil S.A. Já as empresas multinacionais são aquelas constituídas
de capitais originários de diversos Estados, como é o caso da SAS – Scandinavian Air System – constituída por capital sueco, dinamarquês, norueguês e finlandês.
[60]
FARIA, José Eduardo. O Direito na economia globalizada. 1ª Edição, 3ª Tiragem. São Paulo: M alheiros, 2002, p. 298.
[61]
Do ponto de vista dos investidores estrangeiros, as economias indiana e chinesa já são vistas como complementares. Trata-se de um arranjo recente no
mercado global que beneficia a ambas. As transnacionais já produzem nos dois países, destinando à China as etapas relativas à indústria mais pesada e à Índia a
produção de softwares e setores de serviço. Em 2005, três gigantes americanos na área de alta tecnologia – Microsoft, Intel e Cisco – anunciaram investimentos na
Índia da ordem de 3,7 bilhões de dólares.
[62]
NASCIM ENTO, Blenda. “O multilateralismo econômico e a acessão da China à OM C: abrindo a Grande M uralha”. In:___. SILVA, Roberto Luiz;
NASCIM ENTO, Blenda (Org.). A OMC e o regime jurídico do comércio internacional. Belo Horizonte: M ovimento Editorial da Faculdade de Direito da UFM G,
2006, p. 234-236.
[63]
Vide: BURKI, Sahid Javed. South Asia in the New World Order: the role of regional cooperation. London: Routledge, 2011, pp. 53-5.
[64]
BRIC foi um acrônimo criado em novembro de 2001 pelo economista Jim O´Neill, do grupo Goldman Sachs, para designar os 4 (quatro) principais países
emergentes do mundo, a saber: Brasil, Rússia, Índia e China no relatório Building Better Global Economic Brics. Usando as últimas projeções demográficas e modelos
de acumulação de capital e crescimento de produtividade, o grupo Goldman Sachs mapeou as economias dos países BRICs até 2050. Especulava-se que esses países
poderiam se tornar a maior força na economia mundial, pois possuirão mais de 40% da população mundial e juntos terão um PIB de mais de 85 trilhões de dólares.
Em 24 de dezembro de 2010, após ser convidada pela China, a África do Sul é admitida oficialmente como uma nação BRIC, transformando-os, desta forma em
BRICS .
[65]
A partir de tal fenômeno, Sapir introduz a ideia de “desglobalização” através da qual seria desenvolvido um movimento protecionista, por agrupamentos de
países com um nível de desenvolvimento similar, sobre uma base de entendimento de que a globalização, em sua dimensão comercial e financeira, não tem permitido o
seu crescimento econômico. Vide: SAPIR, Jacques. La démondialisation. Paris: Editions du Seuil, 2011, pp. 114-8.
[66]
Sendo a primeira rodada de negociações sob a Gestão da OM C, que deveria ser concluída até janeiro de 2005. É importante destacar que China e Formosa
(Taiwan) foram aceitas como membros da OM C em dezembro desse mesmo ano e logo a seguir a Arábia Saudita. Com a adesão da Rússia, em 2011, a OM C passa a
contar com todas os principais “players” em seu quadro que, atualmente, é constituído por 164 membros.
[67]
As negociações, formalmente chamadas de Agenda de Desenvolvimento de Doha, foram concentradas em quatro áreas principais: agricultura, produtos não
agrícolas, serviços e facilitação do comércio.
[68]
Com o objetivo de “planejar um acordo concreto sobre os objetivos da Rodada de Doha”, tendo fracassado após quatro dias de discussão entre os países
membros sobre subsídios agrícolas e acesso aos mercados e a posição do G20 (grupo de negociação liderado pelo G4: África do Sul, Brasil, China e Índia) ao
rejeitarem em bloco um acordo que viam como plenamente desfavorável aos países em desenvolvimento.
[69]
Que chegou a um esboço de acordo sobre a abertura do comércio global.
[70]
Quando os negociadores procuraram atingir progressos tangíveis antes do próximo encontro da OM C, em Hong Kong.
[71]
Que se distinguiu das reuniões anteriores pela atuação ativa dos países em desenvolvimento, principalmente concentrados no G20, sob liderança ativa do
Brasil e da Índia.
[72]
Uma vez que o G6 – Austrália, Brasil, Estados Unidos, Índia, Japão e União Européia – não conseguiu acertar suas diferenças quanto à liberalização no setor
agrícola, significando, na prática, que não seria possível chegar a um acordo final antes do fim de 2006, considerada a data-limite para as negociações pelos americanos,
já que o mandato do presidente norte-americano para firmar pactos de livre comércio sem a necessidade de discutir ponto por ponto no Congresso, o chamado fast
track, se encerra em julho de 2007.
[73]
Em 28/2/2017, Roberto Azevêdo foi reconduzido, pelo Conselho-geral da OM C, ao cargo de Diretor-geral para um segundo mandato de quatro anos, a iniciar-
se em 1º de setembro.
[74]
Com o objetivo de simplificar a burocracia e agilizar os procedimentos para o comércio internacional de bens, com medidas de reforço de transparência na
elaboração de normas e a cooperação entre as autoridades aduaneiras, o AFC entrou em vigor em 22 de fevereiro de 2017, tendo sido aprovado no Brasil pelo
Decreto Legislativo nº 1, de 4 de março de 2016.
[75]
Tendo como resultados principais: proibição imediata de conceder subsídios à exportação de produtos agrícolas por países desenvolvidos e em três anos por
países em desenvolvimento, com algumas exceções; medidas para evitar que empresas estatais exportadoras de produtos agrícolas concedam subsídios disfarçados;
Prolongamento do “waiver” que permite conceder preferências no comércio de serviços para os países de menor desenvolvimento relativo, da moratória sobre a
cobrança de tarifas no comércio eletrônico e da moratória de abertura de controvérsias denominadas de “não violação” na área da propriedade intelectual; e, “waiver”
para países de menor desenvolvimento relativo na implementação de certos dispositivos do Acordo de Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio
da OM C.
[76]
A criação de painéis constitui-se no principal mecanismo de solução de controvérsias da OM C.
[77]
A qual prevê em consonância com o Acordo TRIPS – Acordo sobre aspectos dos direitos de propriedade intelectual relacionados ao comércio – que, em casos
de “emergência nacional” e de “interesse público” (art. 71 da Lei n. 9.279/96 – Código da Propriedade Intelectual), o país poderá fabricar remédios de laboratórios
estrangeiros que não sejam feitos no Brasil . Os americanos “desistiram” da investigação junto a OM C desde que o Brasil se comprometesse a avisar com antecedência
qualquer intenção de quebra de patente por meio da licença compulsória. Com isso, o país pode, por exemplo, produzir a preços reduzidos, os medicamentos que
entram na composição do coquetel contra AIDS.
[78]
Tal postura refletiu-se na inclusão, na Rodada de Doha, de uma declaração de direito dos países-membros de quebrar patentes de medicamentos e conceder
licenças para a produção de genéricos para proteger a saúde pública.
[79]
Em 4 de setembro de 2001, a Compaq e a Hewlett-Packard (HP) anunciam a fusão das duas empresas de informática. A HP adquiriu a Compaq por cerca de 25
bilhões de dólares em ações. A nova companhia tornou-se, dessa forma, a maior fabricante de computadores do mundo, gerando uma receita anual de 87 bilhões de
dólares. A associação tinha como objetivo superar a Dell Computer Corporation, líder em vendas de computadores no planeta, e igualar, em tamanho, à IBM , o que foi
motivado pela queda nas vendas e no valor dos títulos das duas empresas no mercado acionário, ou seja, para não quebrar, as empresas optaram pela fusão.
[80]
Como a tentativa frustrada de fusão da siderúrgica anglo-holandesa Corus e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que daria o controle da CSN à Corus em
2002.
[81]
Como qualquer intento em estabelecer uma classificação dentro da NOI, esta também não é pacífica. Hulsman, por exemplo, citando Franz Schurmann,
apresenta uma classificação usual na Guerra Fria – nacionalistas (Taft), imperialistas (Truman) e internacionalistas (Wallace) – , que é substituída, em sua visão, pela
tríade: democratas (Fukuyama, Huntington, Allison, Wattenberg) um misto entre imperialistas e nacionalistas que tem suas bases no pensamento de Kant; neo-
realistas (Kissinger, Eagleburger, Grieco), com uma visão muito próxima dos imperialistas, valorizando a estabilidade e o jogo de soma zero nas relações
internacionais; e, institucionalistas (Nye, Keohane, Bergsten.), com uma posição próxima aos internacionalistas, que acreditam na promoção da prosperidade
econômica a partir da expansão das instituições internacionais. HULM AN, John C. A paradigma for the New World Order: a schools-of-tough analysis of American
Foreign Policy in the Post-Cold War Era. London: M acmillan Press Ltd., 1997.
[82]
FOX, M ichael. International History since 1989. In:__ BAYLIS, John; SM ITH, Steve. The Globalization of world politics. 2 nd
ed. Oxford: Oxford University
Press, 2001, p. 114.
[83]
Op. cit., p. 115.
[84]
Op. cit., p. 115-116.
[85]
Op. cit., p. 116-117.
[86]
Vide: COX, Robert W. The New Realism: perspectives on multilateralism and world order. London: M acmillan Press Ltd., 1997, p. XVI
[87]
Apesar de o termo “Terceiro M undo” ter sido concebido, na década de 50, a partir da existência de dois outros “mundos” (um democrático e capitalista, outro
intervencionista e comunista), e de, sob o ponto de vista de alguns analistas, ter perdido o sentido a partir do fim da bipolarização de poder, ainda costuma-se utilizá-
lo para designar as nações que continuam alijadas dos benefícios da Nova Ordem Internacional. Para M arcos Kaplan, sob a qualificação de “Terceiro M undo”
agrupam-se uma vasta gama de países subdesenvolvidos e dependentes que comportam uma problemática específica, determinada, em última instância, pelo
cruzamento das forças, estruturas e processos de dominação e exploração interna e pela dependência externa. Vide KAPLAN, M arcos. Lo viejo y lo nuevo en el orden
político mundial. In:___ CASTANEDA, Jorge et al. Derecho económico internacional. M éxico D.F.: Fondo de Cultura Econômica, 1976, p. 35.
[88]
FOX, M ichael, op.cit., p. 117.
[89]
Vide: COX, M ichael. Radical Theory and the International Disorder after Cold War. In:__HANSEN, Birthe; HEURLIN, Bertel (eds). The new World Order
Contrasting Theories. London: M acmillan Press Ltd., 2000, pp. 197 segs.
[90]
Cerca de 1,5 trilhão de dólares percorre as principais praças financeiras do planeta nas 24 horas do dia. Isso corresponde ao volume do comércio internacional
em um ano. O mais importante para o comércio internacional é a convergência de capitais, partindo disso a avidez de captação de investimentos, demonstrada na
política de alta taxa de juros do Brasil. M esmo assim, 3/4 do investimento internacional está aplicado nestes três blocos, União Européia, Nafta e Japão/Tigres
Asiáticos, por terem um sistema de governo e política econômica mais estáveis.
[91]
Expressão criada por John Williamson, em 1990, como o mínimo denominador comum de recomendações de políticas econômicas que estavam sendo
cogitadas pelas instituições financeiras com sede em Washington D.C – FM I, Banco M undial, Departamento do Tesouro Americano –, e que deveriam ser aplicadas
nos países da América Latina. Independente das intenções originais de seu criador, o termo Consenso de Washington passou a ser usado ao redor do mundo e,
inclusive, recomendado pelo FM I aos países emergentes, constituindo-se, em resumo, nas seguintes regras: disciplina fiscal; redução dos gastos públicos; reforma
tributária; juros de mercado; investimento estrangeiro direto e sem restrições; privatização; desregulamentação das leis trabalhistas; e, respeito à propriedade
intelectual.
[92]
nd
CHOSSUDOVSKY M ichel, The Globalization of Poverty and the New World Order, 2 . Ed. Pincourt (Québec): Global Research, 2003, pp. 305-6.
[93]
FARIA, José Eduardo, op.cit. p. 25.
[94]
A situação limite de um cenário de ingovernabilidade é uma crise fiscal, quando o Estado perde credito público, deixa de acumular poupança, é pressionado por
grupos de interesse de todos os tipos, enfrenta dificuldades crescentes para executar suas políticas e vê comprometida sua capacidade de regular a economia e
promover transferências de renda no interior da sociedade. Essa crise se torna particularmente visível no momento em que as despesas sociais destinadas a legitimar
um modo específico de produção, mediante a busca de harmonia social e de lealdade às regras do jogo econômico, em troca de programas de bem-estar nas áreas da
saúde, transporte, previdência, saneamento básico, moradia e educação, passam a crescer mais rapidamente do que os meios de financiá-la. Vide: FARIA, José
Eduardo, op.cit. p. 25.
[95]
ALM EIDA, Paulo Roberto de. A Globalização e seus benefícios: um contraponto ao pessimismo. In:___. M ENEZES, Wagner (Org.). O Direito internacional
e o direito brasileiro: homenagem a José Francisco Rezek. Ijuí: Ed. Unijuí, 2004, p. 272-284.
[96]
FARIA, José Eduardo, op.cit. pp.8-9.
[97]
Interesses ligados aos países avançados estão muitas vezes por trás de tais conflitos, que apresentam, também, um forte componente étnico-religioso. A nova
ordem, que elimina as diferenciações ideológicas presentes na Guerra Fria, vê ressurgir ou se aprofundar ódios entre povos que disputam uma mesma região. Conflitos
levam à desagregação de diversas nações, que se dividem ou assistem ao crescimento de movimentos separatistas.
[98]
O Islamismo foi fundado no ano de 622, na região da Arábia, atual Arábia Saudita. Seu fundador, o profeta M aomé, reuniu a base da fé islâmica num conjunto
de versos conhecido como Corão – segundo ele, as escrituras lhe foram reveladas por Deus por intermédio do Anjo Gabriel. O seguidor do islamismo tem como
algumas de suas obrigações “promover o bem e reprimir o mal”, evitar a usura e o jogo e não consumir o álcool e a carne de porco. Um dos principais desafios do
muçulmano é obter êxito na jihad, que, ao contrário do que muitos acreditam no Ocidente, não significa exatamente “guerra santa”, mas sim o esforço e a luta do
muçulmano para agir corretamente e cumprir o caminho indicado por Deus. O fenômeno do fundamentalismo islâmico iniciou-se no norte da África, estendeu-se ao
Oriente M édio, Ásia e, inclusive, em países ocidentais. Concomitantemente à coesão político-ideológica dos Estados muçulmanos, há uma maior desest abilização
econômica, em decorrência do seu crescimento e fort alecimento.
[99]
EPPERSON, A. Ralph, New World Order - 2016 reprinted edition, African Tree Press,, pp. 301-2.
[100]
Op.cit. pp. 151-6.
[101]
Autores como Jennie Hatfield-Lyon tem adotado esse termo para distingui-lo da concepção clássica de Direito Internacional. Vide HATFIELD-LYON, Jennie.
The Historical Development of International Law. In:___. DORN, Walter (Ed.). World order for a new millennium, p. 16.
[102]
Termo consagrado em nossa literatura jurídica por Paulo Borba Casella. Vide: CASELLA, Paulo Borba. Fundamentos do Direito Internacional Pós-moderno.
São Paulo: Quartier Latin, 2008.
[103]
BRIERLY, James Leslie. The Law of Nations: an introduction to the international law of peace, p. 41.
[104]
Nossa posição é compartilhada por autores do porte de Seitenfus, para quem convém anotar que apesar da denominação “sociedade internacional” não refletir
com exatidão o que pretendemos descrever (meio internacional ou sistema internacional), optando-se por outra designação, qual seja “comunidade internacional”,
estaríamos nos distanciando ainda mais das características objetivas que marcam as Relações Internacionais. Com efeito, a expressão “comunidade” implica a
existência de uma comunhão de interesses e a vontade de viver em forma congraçada. Contudo, as relações internacionais demonstram que o congraçamento não
consiste no maior de seus traços. Portanto, adotamos a expressão “sociedade internacional” no seu sentido sociológico, a demonstrar a existência de um mínimo de
vontade de convivência. In:___. SEITENFUS, Ricardo. Manual das organizações internacionais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 29.
[105]
Toda comunidade consensual ou relação associativa que era portadora de ordens especiais era, na época anterior à imposição do contrato funcional, da
liberdade de contrato no sentido atual e do caráter de instituição da associação política, ou bem um grupo de pessoas, determinado por fatos objetivos (nascimento,
vínculos políticos, étnicos ou religiosos, condução da vida ou atividade profissional), ou então um grupo oriundo de uma confraternização explícita. Vide: WEBER,
M ax, Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva – vol. 2.São Paulo: Imprensa Oficial, 1999, pp. 42.
[106]
Constituindo o chamado "direito correto" como ordem de uma sociedade de homens que exercem livremente sua vontade - tanto como padrão
legislativo para a criação racional de direito quanto como fonte da aplicação de direito. Op.cit. p.153.
[107]
L’HUILLIER, Jean. Éléments de droit international public. Paris: Rousseau, 1950, p. 1.
[108]
WIGHT, M artin. International Theory: The Three Traditions. New York: Holmes & M eier, 1992, p. 31.
[109]
HALLIDAY, Fred. Op. cit., p. 107 et seq.
[110]
Para Bull, apud Halliday (Ibidem, p. 111), uma sociedade de Estados (ou Sociedade Internacional) existe quando um grupo de Estados, conscientes de certos
interesses e valores comuns, forma uma sociedade, no sentido de que concebem a si mesmos como determinados por um conjunto comum de regras em suas relações
uns com os outros e compartilham o funcionamento de instit uições comuns.
[111]
Op. cit., p. 44-5.
[112]
T OUSCOZ, Jean. Direito internacional. M em M artins: Europa-América, 1993, p. 24.
[113]
Ibidem, p. 27.
[114]
Apesar de essas sociedades serem vulgarmente denominadas “multinacionais”, “mundiais” ou “cosmossociedades”, o termo correto, consagrado pela ONU é o
de transnacionais (transnational corporations).
[115]
CUNHA, Joaquim da Silva. Direito internacional público (a sociedade internacional). Lisboa:AAF- DL, 1993, p. 9 et seq.
[116]
Vide HALLIDAY, Fred. Op. cit., p. 116.
[117]
Segundo Touscoz (Op. cit., p. 26), reúnem pessoas provenientes de Estados diferentes, associadas para executar, em conjunto, no plano internacional e sem
fins lucrativos, as mais diversificadas tarefas (investigação científica, ações humanitárias, promoção dos Direitos do homem e do desenvolvimento, atividades
culturais, artísticas ou lúdicas etc.).
[118]
Ibidem, p. 46 e 49.
[119]
ROUSSEAU, Charles. Droit international public. Paris: Sirey, 1970, p. 35.
[120]
M ENEZES, Wagner. Ordem global e transnormatividade. Ijuí: Ed. Ijuí, 2005, p. 114-5.
[121]
BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. Brasília: Editora UnB, 1999, p. 21.
[122]
VON LISZT, Franz. Derecho internacional público. Barcelona: Gustavo, 1929, p. 7.
[123]
AKEHURST, M ichael. Op. cit., p. 1.
[124]
No caso, para tais autores, tratar-se-ia de uma Comunidade Internacional.
[125]
DELBEZ, Louis. Manuel de droit international public: droit général et droit particulier des Nations Unies. Paris: Libraire Générale de Droit et de la
Jurisprudence, 1951, p. 30 et seq.
[126]
L’HUILLIER, Jean. Op. cit., p. 1.
[127]
ACCIOLY, Hildebrando. SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento e. Manual de direito internacional público. 15ª Ed.. São Paulo: Saraiva, 2002, pp. 2-4.
[128]
In: SORENSEN, M ax. Manual de derecho internacional público. M exico: Fondo de Cultura Económica, 1998, p. 53.
[129]
T OUSCOZ, Jean. Op. cit., p. 23.
[130]
M ACHADO, Jónatas E. M . Direito internacional: do paradigma clássico ao pós-11 de setembro. 3ª Ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2006. pp.21-23.
[131]
Apesar de o jus gentium romano referir-se a um Direito comum a todos os cidadãos.
[132]
Introduzida pela Lei n. 314, de 30.10.1895, como cadeira do 2º ano do Curso Jurídico.
[133]
GROTIUS: Hugo. O Direito da guerra e da paz, vols. I-II. Ijuí: Ed. Unijuí, 2005.
[134]
Z OUCHE, Richard. Iuris et Iudicii Fecialis, Sive, Iuris Inter Gentes, et Quaestionum de Eodem Explicatio, vols. I and II. Washington D.C.: Carnegie
Institutuion of Washington, 1911.
[135]
FOIGNET, Rene. Manuel elementaire de droit international public. Paris: A. Rousseau, 1926.
[136]
BUSTAM ANET Y SIRVEN, Antonio Sanchez de. Manual de derecho internacional public. La Habana: La M ercantil, 1942.
[137]
FRIEDM ANN, Wolfgang Gaston. The changing structure of international law. New York: Columbia University Press, 1966.
[138]
BOAS, Gideon. Public International Law: Contemporary Principles and Perspectives. Cheltenham: Edward Elgar, 2013, pp. 27-38.
[139]
O Direito Internacional Privado surgiu com base na crença de que, em certas circunstâncias, seria correta a aplicação do Direito estrangeiro ou a autorização
para que o tribunal estrangeiro decidisse o caso. AKEHURST, M ichael. Op. cit., p. 61.
[140]
Proibia a guerra das 15h do sábado às 6h da segunda-feira para que os fiéis pudessem cumprir com os seus deveres para com a Igreja.
[141]
Proibia as guerras privadas entre nobres por 40 dias, contados a partir da data do delito, para que o rei pudesse julgar a questão.
[142]
Friedmann afirma que o Tratado de Westphalia sancionou a “nacionalização” da religião, submetendo os assuntos religiosos à soberania estatal (cujus regio ejus
religio). Op. cit., p. 20.
[143]
BRIERLY. Op. cit., p. 35.
[144]
FRIEDM ANN. Op. cit., p. 80.
[145]
Formado por países africanos, asiáticos e latino-americanos.
[146]
BRIERLY. Op. cit., p. 60-63.
[147]
KOSKENNIEM I, M artii, The Politics of International Law. Oxford: Hart Publishing, 2011, pp. V, 247, 262 e 298.
[148]
CASELLA, Paulo Borba. Fundamentos do Direito Internacional Pós-moderno. São Paulo: Quartier Latin, 2008, pp. 15-9.
[149]
AKEHURST, M ichael. Op. cit., p. 2.
[150]
Ibidem, p. 9-10.
[151]
CASTRO, Thales. Teoria das Relações Internacionais. Brasília: FUNAG, 2012, pp. 348-52.
[152]
A presente unidade tem como parâmetro o Capítulo 6, “Lex Mercatoria e sentença estrangeira”, da obra de Hermes M arcelo Huck (Sentença
estrangeira e lex mercatoria: horizontes do comércio internacional. São Paulo: Saraiva, 1994), acrescido das pesquisas realizadas pelo autor na Fordham University, no
segundo semestre de 1999, e na The University of Texas at Austin, em 2005.
[153]
DE LY, Filip. International Business Law and Lex M ercatoria, p. 9-15.
[154]
T ETLEY, William. The Lex M aritima. In:__. CARBONNEAU, Thomas E. ed. Lex mercatoria and arbitration: a discuss of the new law M erchant, p. 43.
[155]
Como no caso do Estatuto Calimalae de Florença (1302), dos Estatutos de Bréscia (1313), Leis Genovesas (1403-1407), que se baseavam no princípio da
equidade – ex aequo et bono.
[156]
Op. cit., p. 15.
[157]
Op. cit., p. 207.
[158]
Republicada em 1981 pela Professional Books, de Abindgton, Inglaterra.
[159]
Lex mercatoria. Op. cit., p. 2.
[160]
Segundo Galgano, citado por Fradera, a expressão tem uma origem erudita, querendo aludir ao renascimento, na época moderna de um direito também universal,
como foi universal o direito dos mercadores da época medieval. Vide M ENEZES, Wagner (Org.). O Direito internacional e o direito brasileiro, Ijuí: Ed. Unijuí, 2004,
p. 814.
[161]
Estes, na prática comercial, revelam-se, sobretudo, na interpretação de contratos, segundo a tradição dos negociantes. Sob tal perspectiva, tanto cláusulas
contratuais (como a de força maior) como novas espécies de contrato (como os contratos turn key podem ser qualificados como costume.
[162]
LAKE, Ralph B. Breach and adaptation of international contracts: an introduction to lex mercatoria. Salem: Butterworth Legal Publishers, 1992, p. 13.
[163]
Tal conceito, atualizado em 1985, altera sensivelmente a sua primeira definição, de 1964, na qual a Lex Mercatoria seria o conjunto de princípios gerais e
regras costumeiras aplicadas espontaneamente ou elaboradas para o comércio internacional, sem se referir a um específico sistema de direito nacional.
[164]
GOLDM AN, Berthold. La Lex Mercatoria dans les contrats et l’arbitrage internationaux: realité et perspective. In:__. Journal de Droit International. 475, 502
(1979), p. 106.
[165]
De Ly, citando Coing e Sanders, salienta que, primeiramente, os proponentes da Lex Mercatoria caracterizaram o princípio pacta sunt servanda como um
princípio transnacional, todavia, tal princípio é vago e dificilmente será suficiente, por si só, para resolver as disputas, principalmente quando confrontado com a regra
rebus sic stantibus (hardship), concluindo pela existência de alguns princípios transnacionais de Direito, mas sendo estes apenas diretrizes dentro desse sistema legal.
Vide DE LY, Filip. International Business Law and Lex M ercatoria, p. 282-3.
[166]
Op. cit., p. 8.
[167]
Op. cit., p. 7-8.
[168]
Citado por Fradera, em: M ENEZES, Wagner (Org.). O Direito internacional e o direito brasileiro, Ijuí: Ed. Unijuí, 2004, p. 814.
[169]
Citado por LAKE, Ralph B. Op. cit., p. 8.
[170]
CARBONNEAU, Thomas E. (Ed.). Lex Mercatoria and Arbitration: a discuss of the new Law M erchant, p. 16 et seq.
[171]
DE LY. Op. cit., p. 192.
[172]
T ratam-se de fórmulas contratuais padrão elaboradas por organismos que lidam com o comércio internacional, que, embora facultativas, pelo seu alto grau de
especialidade, constituem um verdadeiro direito formulário, contendo claras regras materiais e também normas sobre a sua interpretação.
[173]
Já em 1886, tal associação promoveu, no comércio de cereais, a uniformização das transações, por meio da implementação de usos, fundamentados em
princípios justos e equânimes para o comércio de grãos, possuindo 60 fórmulas-tipo, aplicáveis também para o comércio de seda, para produtos florestais e minerais.
[174]
Estabelecem obrigações e direitos do vendedor e do comprador, além de sua responsabilidade, por meio das cláusulas específicas, como a CIF e FOB.
[175]
T ratam-se de fórmulas elaboradas pela Comissão Econômica para a Europa, da ONU.
[176]
A plicáveis aos créditos documentários, adotadas por associações bancárias ou bancos individuais em 175 países. A primeira edição da UCP foi publicada
em 1933, sendo revisada em 1951, 1962, 1974 e 1983, sendo tal norma aplicada pelos bancos nos países com ativa “associação de banqueiros” (Banker’s
Association).
[177]
Op. cit., p. 188-189.
[178]
LOWENFELD, Andréas F. Lex Mercatoria: na arbitror’s view. In:__. CARBONNEAU, Thomas E. (Ed.). Lex mercatoria and arbitration: a discuss of the new
law M erchant, p. 85.
[179]
O conceito de transnacionalidade da norma pode ser discutido tanto do ponto de vista do Direito Doméstico e Uniforme, quanto do Direito Internacional
Público. Pode-se encontrar, no Direito Internacional Público, menção a transnacionalidade em normas de regulamentação econômica, comercial e tributaria. Vide DE
LY, Filip. Op. cit., p. 21-54.
[180]
Sobre o tema vide DELAUM E, Georges R. The myth of the Lex Mercatoria and State Contracts. In:__. CARBONNEAU, Thomas E. (Ed.). Lex mercatoria
and arbitration: a discuss of the new law M erchant, p. 111-32.
[181]
A esse respeito, veja as objeções apresentadas por Berman e Dasser no capítulo The “new” Law M erchant and the “old”: sources, content and Legitimacy da
obra CARBONNEAU, Thomas E. (Ed.). Lex mercatoria and arbitration: a discuss of the new law M erchant, p. 53 et seq.
[182]
De Ly cita como exemplo de Estados que seguem tal regra a Bélgica, Países Baixos, Suíça e Reino Unido e, como exceção, Alemanha e França. Vide DE LY,
Filip. Op. cit., p. 86.
[183]
FRADERA, Vera M . Jacob de. A saga da uniformização da compra e venda internacional. In: M ENEZES, Wagner (Org.). O Direito internacional e o direito
brasileiro. Ijuí: Ed. Unijuí, 2004. p. 814.
[184]
Vide: France / 09 October 1984 / France, Cour de cassation / Société Pablak Ticaret Limited Sirketi v Norsolor S.A. / 83-11.355, disponível em
http://newyorkconvention1958.org/index.php?lvl=notice _display&id=118, consultado em 28/02/2018.
[185]
BERM AN; DASSER. Op. cit., p. 67.
[186]
Vide: Deutsche Schachtbau-Und Tiefbohrgesellschaft M.B.H. v R'as Al-Khaimah National Oil Company [1988] UKHL J0623-1, [1990] 1 AC 295, disponível
em https://app.justis.com/case/deutsche-schachtbauund-tiefbohrgesellschaft-mbh-v-ras-alkhaimah/overview/c4ytm1ydoWWca, consultado em 28/02/2018.
[187]
DRAETTA, Ugo; LAKE, Ralph B.; NANDA, Ved P. Breach and adaptation of International Contracts: an introduction to Lex Mercatoria, p. 21.
[188]
Vide: BP Exploration v. Libyan Arab Republic (53 I.L.R. 297) 1973, disponível em https://pt.scribd.com/document/190391346/BP-Exploration-v-Libyan-Arab-
Republic-53-I-L-R-297-1973, consultado em 28/02/2018.
[189]
Vide: Int’l Arbitral Award, 104 J. Droit Int’l 350 (1977), translated in 17 I.L.M . 1 (1978).
[190]
O CPLR é um apêndice do New York State Code e refere-se às normas processuais adotadas naquele Estado.
[191]
CARSLILE, Jay C. Civil Practice. In: __. Syracuse Law Review. Vol. 40:77, p. 113.
[192]
A questão envolveu conflito de lei e de foro, uma vez que a Stewart havia ajuizado o p rocesso no Estado do Alabama e a Ricoh requeria o seu
desarquivamento e envio p ara julgamento no Estado de Nova Iorque. A Sup rema Corte decidiu que a Corte de Nova Iorque não p oderia dar efeito legal a essa
transferência, p orque, segundo as leis do Estado do Alabama, isso não seria p ermissível, uma vez que não confere às p artes o direito de eleição de foro.
[193]
In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 152.
[194]
T OUSCOZ, Jean. Op. cit., p. 203-204.
[195]
M ENEZES, Wagner. Ordem global e transnormatividade. Ijuí: Ed. Ijuí, 2005, p. 123-4.
[196]
Posição comungada com autores do porte de James Brierly para quem “Esse é o texto da mais alta autoridade e podemos razoavelmente assumir que expressa o
dever de qualquer tribunal que é chamado para administrar Direito Internacional”. Vide BRIERLY, James Leslie. The law of nations: an introduction to the international
law of peace, p. 56.
[197]
Aprova a Carta das Nações Unidas, assinada em São Francisco, a 26 de junho de 1945, da qual faz parte integrante o anexo Estatuto da Corte Internacional
da Justiça.
[198]
Artigo 59. A decisão da Corte não tem força vinculativa senão para as partes em litígio e em relação a esse caso concreto.
[199]
BROWNLIE, Ian. Princípios de direito internacional público. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997, p. 15.
[200]
Ibidem, p. 15.
[201]
Op. cit., p. 58.
[202]
M ENEZES, Wagner. Ordem Global e Transnormatividade. Ijuí: Ed. Unijuí, 2005, p. 142.
[203]
T OUSCOZ, Jean. Op. cit., p. 205.
[204]
AKEHURST, M ichael. Op. cit., p. 30-32.
[205]
PARRY, Clive. In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 172.
[206]
ARÉCHAGA, Eduardo Jiménez de. El derecho internacional contemporaneo. M adrid: Tecnos, 1980, p. 46.
[207]
Ibidem, p. 46, 47 e 49.
[208]
VON LISZT, Franz. Op. cit., p. 224.
[209]
In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 155.
[210]
REUTER, Paul. Introducción al derecho de los tratados, p. 45.
[211]
REZEK, José Francisco. Direito dos tratados. Rio de Janeiro: Forense, 1984, p. 21 et seq.
[212]
PEREIRA, André Gonçalves; QUADROS, Fausto de. Manual de direito internacional público. 3. ed., p. 173.
[213]
Nas palavras de Chen: “International agreement instead of treaty is chosen as a generic term of reference... Under article 2 of the U.S. Constitution, the term
treaty refers specifically to an international agreement made by the president with the advice and consent of the Senate by two-thirds vote.” Vide CHEN, Lung-chu.
nd
An introduction to contemporary international law: a police oriented perspective. 2 ed., p. 255-6.
[214]
Artigo 3º, c) a aplicação da Convenção às relações entre estados, regulados em acordos internacionais, em que sejam igualmente partes outros sujeitos de direito
internacional.
[215]
O texto desta Convenção foi submetido à aprovação do Congresso Nacional Brasileiro pela M ensagem nº 589, de 29.12.2015. Apesar de tramitar em Regime
de Prioridade – art. 151, II do regimento Interno da Câmara dos Deputados – ainda aguarda Parecer do Relator da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa
Nacional para dar continuidade ao seu trâmite.
[216]
Árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo.
[217]
Alemão, búlgaro, croata, dinamarquês, eslovaco, esloveno, espanhol, estônio, finlandês, francês, grego, holandês, húngaro, inglês, irlandês, italiano, letão,
lituano, maltês, polonês, português, romeno, sueco e tcheco.
[218]
Termo utilizado por PARRY, Clive. In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 200.
[219]
O principal ponto do tratado determinava que a Alemanha aceitasse todas as responsabilidades por causar a guerra e que, sob os termos dos artigos 231-247,
fizesse reparações a um certo número de nações. Os termos impostos à Alemanha incluiam a perda de uma parte de seu território para um número de nações
fronteiriças (como no caso da devolução da Alsácia e Lorena à França), de todas as colônias sobre o oceano e sobre o continente africano, e uma restrição ao tamanho
do exército.
[220]
T ratado que estabelecia um meridiano imaginário, situado a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde, nas costas da África, onde as terras a oeste desse
meridiano pertenceriam à Espanha e as terras a leste seriam de Portugal.
[221]
Pelo qual a Bolívia abria mão de todo o Acre em troca de territórios brasileiros do Estado de M ato Grosso mais a importância de 2 milhões de libras esterlinas.
[222]
SEITENFUS, Ricardo; VENTURA, Deisy. Direito internacional público. 4. ed., p. 42.
[223]
Ou ainda o compromisso arbitral previsto no artigo 3º da Lei n. 9.307, de 23 de setembro de 1996. A mesma norma jurídica define, em seu artigo 9º,
compromisso arbitral como sendo a convenção por meio da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas.
[224]
Denominado “Acordo sobre Cooperação no Campo dos Usos Pacíficos da Energia Nuclear”, celebrado em Bonn (27.06.1975) e aprovado pelo Decreto
Legislativo n. 85/75 e que tinha relevância econômica, uma vez que previa a construção de oito usinas nucleares, já que o governo esperava sérios blecautes já a partir
da década de 80.
[225]
JORGE, Arthur Guimarães de Araújo. Rio Branco e as fronteiras do Brasil: uma introdução às obras do Barão do Rio Branco. Brasília: Senado Federal, 1999,
p. 105.
[226]
Segundo Rezek (Op. cit., p. 109), em matéria de relações Igreja-Estado, o temário da concordata é a garantia do patrimônio eclesiástico, a isenção de tributos e,
eventualmente, algum privilégio processual dos sacerdotes, em contrapartida, era comum que se reservasse ao governo do Estado co-pactuante influência mais ou
menos decisiva na escolha dos bispos e demais dignatários da igreja local.
[227]
Os acordos compreenderam um tratado político – reconhecimento de Roma como a capital italiana; uma concordata – que regula o Estatuto da Igreja com a
Itália; e uma convenção financeira.
[228]
Por vezes chamada de Pactum Calixtinum por historiadores papais, foi um tratado entre o Papa Calisto II e o Sacro Imperador Henrique V, celebrado em 23 de
setembro de 1122, perto de Worms. Encerrou a primeira fase da Questão das Investiduras entre o Papado e o Sacro Império Romano. Reconheceu ao Imperador o
direito de investir bispos com a autoridade secular (“pela lança”) nos territórios que eles governassem, mas não com a autoridade sagrada (“pelo anel e báculo”).
[229]
Constituiu a Organização M undial do Comércio – OM C, promulgada pelo Decreto n. 1.355, de 30.12.1994.
[230]
Promulgado pelo Decreto n. 922, de 10.09.1993.
[231]
Decreto n. 5.445, de 12 de maio de 2005. A Convenção-Quadro data de 1992 e foi promulgada pelo Decreto n. 2.652, de 1 de julho de 1998.
[232]
Aprovado pelo Decreto Legislativo n. 129, de 05 de outubro de 1995, e promulgado pelo decreto n. 2.095, de 17 de dezembro de 1996.
[233]
“ Executive agreements represent a unique American practice”. Vide CHEN, Lung-chu. Op. cit., p. 256.
[234]
Rezek (Ibidem, p. 73-74) cita como exemplos de gentlemen’s agreement a Carta do Atlântico, firmada entre Roosevelt e Churchill, em 14.08.1941, e o Acordo
de Yalta, de fevereiro de 1945, celebrado também com a participação de Stalin.
[235]
JANIS, M ark W. An introduction to international law. 3 rd
, p. 20-1.
[236]
Na linguagem da Convenção de Viena, artigo 2º, 1, i, organização internacional é assemelhada a organização intergovernamental.
[237]
PARRY, Clive. In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 206-207.
[238]
Op. cit., p. 49.
[239]
REZEK, José Francisco. Op. cit., p. 51 et seq.
[240]
Artigo 52, V, da Constituição Federal: autorizar operações externas de natureza financeira, de interesse da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Territórios e dos M unicípios.
[241]
Vide artigo 32, § 3º.
[242]
CORWIN, Edward S. A Constituição norte-americana e seu significado atual. Rio de Janeiro: Zahar, 1986, p. 105-106.
[243]
Op. cit., p. 26-27.
[244]
Segundo a linguagem da própria convenção (art. 2º, c), trata-se de um documento expedido pela autoridade competente de um Estado, designando uma ou
várias pessoas para representar o Estado na negociação, adoção ou autenticação do texto de um tratado, para manifestar o consentimento do Estado em se obrigar
por um tratado ou para praticar qualquer ato relativo a um tratado.
[245]
In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 211.
[246]
P ara Parry (Ibidem, p. 208), possuem o jus omnimodae representationis, ou seja, o direito ou capacidade de representar o Estado em qualquer
circunstância.
[247]
Op. cit., p. 78 et seq.
[248]
Verdross, já em 1937, havia escrito na Áustria o artigo intitulado “Tratados proibidos pelo Direito Internacional”.
[249]
Propondo, em 1953, perante a Comissão de Direito Internacional que um tratado ou qualquer de suas disposições é nulo se sua execução implica num ato ilegal,
declarado como tal pela Corte Internacional de Justiça, conforme o Direito Internacional.
[250]
Op. cit., p. 523.
[251]
M ANN, Frederick Alexander. Further studies in international law, p. 86-87.
[252]
ARÉCHAGA, Eduardo Jiménez de. Op. cit., p. 81, 82, 84.
[253]
O termo “prisioneiro de guerra” é definido nessa convenção como o combatente que foi capturado, podendo ser desde um soldado de um exército, um membro
de uma milícia ou ainda alguns civis, como os resistentes. Essa convenção fixa igualmente os limites do tratamento geral de prisioneiros como: a obrigação de tratá-los
humanamente, sendo a tortura e quaisquer atos de pressão física ou psicológica proibidos; obrigações sanitárias, seja em nível da higiene ou da alimentação; e o
respeito da religião dos prisioneiros.
[254]
Ibidem, p. 82.
[255]
Ibidem, p. 75, 85.
[256]
Reuter, todavia, chama a atenção para o fato de que os textos empregam, em suas diferentes versões lingüísticas, os termos de direito interno, mas deve
salientar-se que nenhum deles tem exatamente o mesmo significado que num sistema jurídico nacional determinado, como no caso do termo “dolo” que, em Estados de
língua inglesa, é enunciado como “fraud”. Vide REUTER, Paul. Introducción al derecho de los tratados, p. 202, 205.
[257]
REUTER, Paul. Op. cit., p. 206.
[258]
Aréchaga (Ibidem, p. 77) não o considera um vício do consentimento autônomo, mas sim uma forma de dolo.
[259]
Neste sentido é interessante destacar a entrada em vigor da Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos estrangeiros em transações
Comerciais, de1977 (promulgada no Brasil pelo Decreto nº 3678/00), que não só enquadrou tal ato como delito internacional (art. 1º), como sujeita, seu autor, a um
processo de extradição (art. 10).
[260]
PARRY, Clive. In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 223.
[261]
Aréchaga (Op. cit., p. 78) considera a pressão econômica ou política uma noção demasiado imprecisa e vaga para ser tipificada como vício do consentimento, já
que a maior parte dos tratados correspondem às necessidades econômicas e políticas das partes contratantes.
[262]
Aréchaga (Ibidem, p. 86) informa que tal acordo foi oficialmente declarado nulo mediante um convênio entre a República Federal da Alemanha e a República
Socialista da Tchecoslováquia, em 11.12.1973.
[263]
Segundo ele, tanto no tratado chamado “contratual” quanto naquele dito “normativo”, a vontade convencional das partes tem sempre um mesmo objeto,
constituído pela integralidade do teor do tratado. Vide REZEK, José Francisco. Op. cit., p. 130.
[264]
Este afirma não ser essa distinção aceita pela Convenção de Viena, por ser muito difícil de aplicar na prática. Vide ARÉCHAGA, Eduardo Jiménez de. Op. cit.,
p. 55.
[265]
Para quem, confiar-se muito nela pode levar-nos a subestimar as consideráveis diferenças jurídicas existentes entre os tratados, as leis ou os contratos de
Direito interno e resultar na dedução de analogias que são, às vezes, falsas e perigosas. In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 157.
[266]
RANGEL, Vicente M arotta.”Emendas dos Tratados Internacionais. In__. CACHAPUZ DE M EDEIROS, Antônio Paulo (org.). Pareceres dos Consultores
Jurídicos do Itamaraty: Volume IX (1990-2000). Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2009, p. 86.
[267]
VON LISZT, Franz. Op. cit., p. 224-225.
[268]
Tal regra está consignada no artigo 34 da Convenção de Viena, ao estabelecer que um tratado não cria obrigações nem direitos para um terceiro Estado sem o seu
consentimento. Parry (In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 234) afirma que, nesse contexto, “partes” significam os Estados ou outras pessoas internacionais que
contratam originariamente ou que aderem ao tratado posteriormente.
[269]
Aditado pelo Decreto n. 73.413, de 04.01.1974, que substituiu o compromisso de construção da Estrada de Ferro M adeira-M amoré, prevista no Artigo VII,
pela construção de uma estrada de rodagem entre Porto Velho, Abunan, Villa M urtinho e Guajará-M irim, além de uma ponte sobre o Rio M amoré entre Puerto Sucre
(Bolívia) e Guajará-M irim (Brasil).
[270]
Em troca de compensações territoriais em vários trechos da fronteira mat ogrossense, uma área de 3.200 km² habitada por bolivianos entre o Beni e o M adeira, a
construção da Estrada de Ferro entre Porto Velho e Guajará-M irim e a indenização de dois milhões de libras esterlinas. Vide GOES, Synesio Samp aio. Navegantes,
bandeirantes, diplomatas: aspectos da descoberta do continente, da penetração do território brasileiro extra-Tordesilhas e do estabelecimento das fronteiras da
Amazônia. Brasília: IPRI, 1991, p. 166.
[271]
ARÉCHAGA, Eduardo Jiménéz de. Op. cit., p. 65.
[272]
Criada pela Assembléia Geral da ONU por meio da Resolução n. 174 (II), de 21.11.1947.
[273]
Vide artigo 30 da Convenção de Viena acerca da aplicação de tratados sucessivos sobre o mesmo assunto.
[274]
Op. cit., p. 251.
[275]
É prudente assinalar qual há de ser o texto autorizado. Vide PARRY, Clive. In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 232.
[276]
VON LISZT, Franz. Op. cit., p. 221.
[277]
T OUSCOZ, Jean. Op. cit., p. 207.
[278]
Isso para que não haja erro ou confusão acerca de seus exatos termos.
[279]
GABSCH, Rodrigo D’Araujo. Aprovação de tratados internacionais pelo Brasil: possíveis opções para acelerar o seu processo. Brasília:FUNAG, 2010, p.
57.
[280]
No âmbito da Convenção de Viena, artigo 2º, 1, b, ratificação, aceitação, aprovação e adesão significam, conforme o caso, o ato internacional, assim denominado,
pelo qual um Estado estabelece no plano internacional seu consentimento em se obrigar por um tratado.
[281]
REZEK, José Francisco. Op. cit., p. 267.
[282]
PARRY, Clive. In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 213.
[283]
Rezek (Op. cit., p. 202) procura evitar o uso dessa expressão, já que não oferece segurança conceitual à altura da sua popularidade, visto que experimentada às
vezes em doutrina e freqüentemente em linguagem diplomática para significar três coisas diversas. Num primeiro extremo, cuida-se da capacidade que têm os Estados
e outras personalidades jurídicas de Direito das Gentes para convencionar sobre o pálio desse mesmo direito: a República do Peru e a Comunidade Econômica
Européia ostentam o treaty-making power, não possuído pelas unidades federadas do Arizona ou da Bahia, nem pela Ordem de M alta, nem pela United Fruit
Corporation; e ficando o caso da Organização para Libert ação da Palestina a critério de cada potencial co-pactuante. No extremo oposto, trata-se da competência que
pode revestir certo servidor do Estado para falar externamente em seu nome: nesse sentido, diz-se, por exemplo, que o presidente do Conselho de M inistros detém o
treaty-making power independentemente da apresentação de uma carta de plenos poderes. O emprego correto da expressão há de corresponder, todavia, a um plano
intermediário, primordialmente afeto à ordem jurídica interna do Estado. O treaty-making power é, dessarte, aquela competência que a ordem jurídica própria a cada
Estado costuma partilhar entre o governo e o parlamento. Não é uma competência negocial, é o poder de determinar, em definitivo, a disposição do Estado em relação
ao compromisso.
[284]
Em função disso, instituiu-se a prática de celebrar acordos de executivo (Agreements), em que não há a necessidade de aprovação formal do Senado.
[285]
CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. São Paulo: M alheiros, 1998, p. 155.
[286]
BASTOS, Celso R.; M ARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição de 1988. São Paulo: Saraiva, 1995, v. 4, t. I, p. 169-170.
[287]
VON LISZT, Franz. Op. cit., p. 229.
[288]
Esse pacto, em seu artigo 18, proclamava que “nenhum desses tratados ou compromissos internacionais será obrigatório antes de ter sido registrado”.
[289]
Não significa, todavia, que os tratados não registrados não sejam obrigatórios, apenas exclui a possibilidade de que seu não-cumprimento gere uma ação perante
a Corte Internacional de Justiça.
[290]
VON LISZT, Franz. Op. cit., p. 243.
[291]
O primeiro tratado é chamado oficialmente de “The Treaty Concerning the Permanent Neutrality and Operation of the Panama Canal” (Tratado referente à
Neutralidade Permanente e à Operação do Canal do Panamá), normalmente referido como “The Neutrality Treaty” (O Tratado de Neutralidade), pelo qual os EUA
mantêm o direito permanente de defender o canal de qualquer ameaça que possa interferir com seu serviço neutro continental a navios de todos os países. O segundo
tratado é chamado de “The Panama Canal Treaty” (O Tratado do Canal do Panamá), efetivamente, o que garantiu que, depois do ano 2000, o Panamá assumiu o
controle total das operações do canal e tornando-se o primeiro responsável por sua defesa.
[292]
Lançado em 28 de fevereiro de 1986, o Plano Cruzado pretendia deter de uma só vez a inflação, baseado nas seguintes medidas principais: 1) introdução de
nova moeda, o cruzado, em substituição ao cruzeiro; 2) conversão de todos os contratos pela média dos últimos seis meses, incluindo os salários; 3) término da
indexação; 4) congelamento de todos os preços; 5) reajuste do salário mínimo em 15%; 6) concessão de um abono de 8% para todos os salários; 7) reajustamento
dos salários, uma vez que a taxa de inflação acumulada chegou a 20% (gatilho); 8) estabelecimento de taxa de câmbio fixa. Sem acordo prévio com o Fundo
M onetário Internacional (FM I), o governo brasileiro reescalonou um terço da sua dívida externa, incluindo no “acordo” a eliminação da comissão de renegociação
da dívida, bem como uma redução na taxa de risco paga pelo Brasil, que era de 1,75% acima da taxa básica de juros americana. Em contrapartida, o Brasil obteve,
dos dezesseis credores do Clube de Paris, o prazo de seis anos, com três de carência, para pagamento de uma dívida de 3,274 bilhões de dólares (principal e juros
de 1985 a 1986), tal acerto, feito sem o aval do Fundo M onetário Internacional (FM I), não incluiu o rolamento da dívida total de 1987, calculada em quase um
bilhão de dólares. Decidiu-se, por fim, que os 348 milhões de dólares de juros de mora pelos atrasos de 1986 seriam pagos em três parcelas semestrais, a primeira
em 30 de junho de 1988.
[293]
As sanções econômicas norte-americanas contra o Brasil manifestaram-se, p.e., na taxação do aço e do suco de laranja.
[294]
ARÉCHAGA, Eduardo Jiménez de. Op. cit., p. 56, 62.
[295]
Como nas obras de Aréchaga (Ibidem, p. 61), ao afirmar sobre a questão de um texto ser claro ou não, de certo modo, de caráter subjetivo, e de Parry (In:
SO RENSEN, M ax. Op. cit., p. 231), ao aceitá-lo apenas quando o texto em si não for claro.
[296]
JACKSON, John Howard. The world trading system: law and policy of international economic relations. Boston: M IT, 1998, p. 84.
[297]
“ Agreement is a law for those who make it, which supersedes, suplements, or derogates from the original law of the land. M odus et convenio vincunt
lege”.Vide BRIERLY, James Leslie. The law of nations: an introduction to the international law of peace, p. 57.
[298]
Promulgada no Brasil pelo Decreto n. 55.663, de 24.01.1966.
[299]
De acordo com o artigo 75.
[300] Oportuno faz-se apresentar a posição de Rezek a esse respeito (Op. cit., p. 472 et seq.), o qual afirma que admitiram as vozes majoritárias que, faltante na
Constituição do Brasil garantia de privilégio hierárquico do tratado internacional sobre as leis do Congresso, era inevitável que a Justiça devesse garantir a autoridade
da mais recente das normas, porque paritária sua estatura no ordenamento jurídico. Parecia importante, entretanto, que a decisão do tribunal não produzisse em seus
futuros analistas a ideia abstrusa de que a lei interna “revoga” o tratado vigente. Citando Leitão de Abreu, afirma não se aplicar, nesse contexto, o princípio da lex
posterior derogat priori, pois a lei, em tal caso, não revoga, em sentido técnico, o tratado, senão lhe afasta a aplicação. A diferença está em que, se a lei revogasse o
tratado, este não volt aria a se aplicar, na parte revogada, pela revogação pura e simples da lei dita revogatória. A lei não o revoga, mas simplesmente afasta, enquanto
em vigor, as normas dos tratados com ela incompatíveis, voltando o tratado a aplicar-se, se revogada a lei que impediu a aplicação das prescrições nele
consubstanciadas.
[301]
STF - RE: 80004 SE, Relator: M in. XAVIER DE ALBUQUERQUE, Data de Julgamento: 01/06/1977, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 29-12-1977
PP-09433 DJ 19-05-1978 PP-03468 EM ENT VOL-01083-02 PP-00915 RTJ VOL-00083-03 PP-00809.
[302]
M AGALHÃES, José Carlos de. O Supremo Tribunal Federal e o direito internacional. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2000, p. 58 et seq.
[303]
Promulgada pelo Decreto n. 1.855/96.
[304]
Questionando a possibilidade de um tratado internacional ser sucedâneo de uma Lei Complementar, já prevista para regulamentar a matéria, segundo o artigo 7º,
I, da Constituição Federal.
[305]
STF - ADI: 1480 DF, Relator: M in. CELSO DE M ELLO, Data de Julgamento: 26/06/2001, Data de Publicação: DJ 08/08/2001 PP-00003.
[306]
M AGALHÃES, José Carlos de. Op. cit., p. 62.
[307]
M AZZUOLI, Valerio de Oliveira. O novo § 3º do art. 5º da Constituição e sua eficácia. In: Revista Forense, vol. 378, ano 101, Rio de Janeiro, mar./abr.
2005, p. 90.
[308]
Foi o que aconteceu, apenas a título de ilustração, com a convenção para a prevenção e repressão do crime de genocídio (1948) promulgada pelo Decreto n.
30.822, de 06 de maio de 1952, e, mais recentemente, com o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, promulgado pelo Decreto n. 4.388, de 25 de setembro
de 2002.
[309]
STF - RE: 466343 SP, Relator: M in. CEZAR PELUSO, Data de Julgamento: 03/12/2008, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-104 DIVULG 04-06-
2009 PUBLIC 05-06-2009 EM ENT VOL-02363-06 PP-01106 RDECTRAB v. 17, n. 186, 2010, p. 29-165.
[310]
ARÉCHAGA, Eduardo Jiménez de. Op. cit., p. 75.
[311]
Conforme Rezek (Op. cit., p. 412), embora possa o tratado dispor de modo diverso, a fixação do termo significa normalmente que, até então, o tratado não
pode ser denunciado por uma das partes, como se verifica da leitura do Artigo XI do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha.
[312]
Como no caso do Tratado de Assunção (Decreto n. 350, de 21.11.1991), que estipulou, em seu artigo 21, que “o Estado-Parte que desejar desvincular-se do
presente tratado deverá comunicar essa intenção aos demais Estados-Partes de maneira expressa e formal, efetuando no prazo de 60 (sessenta) dias a entrega do
documento de denúncia ao M inistério das Relações Exteriores da República do Paraguai, que os distribuirá aos demais Estados-Partes”.
[313]
ARÉCHAGA, Eduardo Jiménez de. Op. cit., p. 87-89.
[314]
Artigo 56, 2, da Convenção de Viena.
[315]
No caso do Tratado de Assunção (art. 22), “esses direitos e obrigações do Estado denunciante continuarão em vigor por período de 2 (dois) anos a partir da
data da mencionada formalização”.
[316]
Promulgada pelo Decreto n. 1.855, de 10.04.1996, que tinha como pressuposto fundamental o término da relação de trabalho apenas por causa justificada
relacionada à capacidade ou comportamento do trabalhador ou baseada nas necessidades de funcionamento da empresa, estabelecimento ou serviço.
[317]
Segundo Rezek (Op. cit., p. 515), a máxima conventio omnis intelligibur rebus sic stantibus foi encontrada por Alberico Gentili na obra de Tomás de Aquino e
analisada em De jure belli, seu livro de 1598. Significa que toda convenção deve ser entendida sob a premissa de que as coisas permanecem no estado em que se
achavam quando da assunção do compromisso.
[318]
REZEK, José Francisco. Ibidem, p. 515 et seq.
[319]
VON LISZT, Franz. Op. cit., p. 238-239.
[320]
PARRY, Clive. In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 250.
[321]
Op. cit., p. 335.
[322]
ARÉCHAGA, Eduardo Jiménez de. Op. cit., p. 89-98.
[323]
T OUSCOZ, Jean. Op. cit., p. 212.
[324]
VON LISZT, Franz. Op. cit., p. 240-241.
[325]
Op. cit., p. 85.
[326]
T OUSCOZ, Jean. Op. cit., p. 211.
[327]
P revista no Artigo I do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio – GATT (Lei n. 313, de 30.07.1948), com a seguinte redação: “Qualquer
vantagem, favor, imunidade ou privilégio concedido por uma parte contratante em relação a um produto originário de ou destinado a qualquer outro país, será
imediata e incondicionalmente estendido ao produtor similar, originário do território de cada uma das outras partes contratantes ou ao mesmo destinado.”
[328]
VON LISZT, Franz. Op. cit., p. 235.
[329]
SILVA, Roberto Luiz. Direito econômico internacional e direito comunitário. Belo Horizonte: Del Rey, 1995, p. 376.
[330]
LYNCH, Christian Edward Cyril. Tratado, Governo e Congresso. In__. Revista de Informação Legislativa. Brasília, a. 46, nº 181, jan/mar 2009, p. 198.
[331]
FERREIRA FILHO, M anoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 1997, v. 1, p. 312-313.
[332]
FERREIRA, Pinto. Comentários à Constituição brasileira. São Paulo: Saraiva, 1994, v. 2, p. 548 et seq.
[333]
RANGEL, Vicente M arotta. Acordo celebrado com o Governo Venezuelano sobre Circulação de Turistas. Necessidade ou não de ser esse Acordo submetido
ao Congresso Nacional. Interpretação do inciso I do artigo 49 da Constituição. Parecer CJ/004 do Consultor Jurídico do M inistério das Relações Exteriores, de 21 de
agosto de 1990. p. 11
[334]
CRETELLA JÚNIOR, José. Comentários à Constituição de 1988. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997, v. 5, p. 2534-2535.
[335]
CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto (Ed.). A Incorporação das normas internacionais de proteção dos direitos humanos. San José: IIDH, 1996, p.
270.
[336]
DELAUM E, Georges R. The myth of the Lex M ercatoria and State Contracts. In:__. CARBONNEAU, Thomas E. (Ed.). Lex mercatoria and arbitration: a
discuss of the new law M erchant, p. 112-4.
[337]
BASTOS, Celso R.; M ARTINS, Ives Gandra. Op. cit., t. II, p. 178.
[338]
RANGEL, Vicente M arotta.” M odificação de Acordo anterior. ‘O termo “entendimento’. Necessidade ou não de aprovação parlamentar de ajuste adicional ao
Acordo”.. In__. CACHAPUZ DE M EDEIROS, Antônio Paulo (org.). Pareceres dos Consultores Jurídicos do Itamaraty: Volume IX (1990-2000). Brasília:
Fundação Alexandre de Gusmão, 2009, p. 18.
[339]
Promulgada no Brasil pelo Decreto nº 3678/00.
[340]
Touscoz (Op. cit., p. 208) define reserva como “um ato unilateral através do qual um estado exclui ou modifica o efeito jurídico de certas disposições do
tratado daquilo que lhe diz respeito”.
[341]
ARÉCHAGA, Eduardo Jiménez de. Op. cit., p. 50-51.
[342]
Disponível em http://www.icj-cij.org/en/case/12.
[343]
PARRY, Clive. In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 217-220.
[344]
Ibidem, p. 53.
[345]
CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. “Acordos Internacionais. Competências dos Poderes Executivo e Legislativo. Negociação pelo Executivo.
Aprovação Parlamentar.” In__. CACHAPUZ DE M EDEIROS, Antônio Paulo (org.). Pareceres dos Consultores Jurídicos do Itamaraty: Volume VIII (1985-1990).
Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2004, pp. 464-465.
[346]
SANTOS, Carlos M aximiliano Pereira dos. Comentários à Constituição brasileira de 1891. Rio de Janeiro: Jacinto Ribeiro dos Santos Editor, 1918, p. 360.
[347]
RANGEL, Vicente M arotta. ”Emendas dos Tratados Internacionais”. In__. CACHAPUZ DE M EDEIROS, Antônio Paulo (org.). Pareceres dos Consultores
Jurídicos do Itamaraty: Volume IX (1990-2000). Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2009, p. 89.
[348]
Op. cit, p. 89.
[349]
Idem, p. 91-3.
[350]
Nesse sentido, faz referência ao único caso sobre emenda constante da prática brasileira: a Nota do M inistro das Relações Exteriores da
Tchecoslováquia, de 10 de janeiro de 1963, em resposta à que lhe endereçara a 18 de setembro de 1962 o Embaixador do Brasil em Praga, concordando com as
sugestões de modificações propostas pelo Congresso Nacional e com as quais o governo brasileiro “esteve conforme”. Op. cit., p. 94.
[351]
Idem, pp. 93-4.
[352]
Consulta é um instrumento dirigido à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa Legislativa, com vistas a esclarecer sobre a propriedade e a
constitucionalidade de determinados procedimentos e instrumentos jurídicos.
[353]
Segundo o artigo 1º, III, do Anexo I do Decreto n. 2.246, de 06 de junho de 1997, que aprova a estrutura regimental e indica a natureza e competência do
M inistério das Relações Exteriores, toda negociação de ato internacional deve ser acompanhada por funcionário diplomático, devendo ser o texto final aprovado pela
Consultoria Jurídica quanto pela Divisão de Atos Internacionais (encarregada de sua análise processual).
[354]
Tal ato não acarretará obrigações imediatas, uma vez que o ato praticado pelo Poder Executivo, ou seu representante, carece de aprovação pelo Congresso
Nacional, conforme o artigo 49, I, da Constituição Federal.
[355]
Com o seguinte teor: “Senhores M embros do Congresso Nacional: de confor midade com o disposto no artigo 49, inciso I, da Constituição Federal,
submeto à elevada consideração de Vossas Excelências, acompanhado de exposição de motivos do Senhor M inistro de Estado das Relações Exteriores, o texto
do... (menciona-se o título do tratado que está sendo encaminhado). Brasília... (data). (Assinatura do Presidente da República).” M EDEIROS, Antônio Paulo
Cachapuz de. O poder de celebrar tratados. Porto Alegre: Fabris, 1995, p. 462.
[356]
A matéria é discutida e votada separadamente, primeiro na Câmara, depois no Senado. A aprovação do Congresso implica, nesse contexto, a aprovação de uma
e outra das suas duas casas. Vale dizer que a desaprovação no âmbito da Câmara dos Deputados põe termo ao processo, não havendo porque levar a questão ao
Senado em tais circunstâncias. Vide REZEK, José Francisco. Op. cit., p. 331.
[357]
A aprovação do Congresso implica, nesse contexto, a aprovação de uma e outra das suas duas casas. Vale dizer que a desaprovação no âmbito da Câmara dos
Deputados põe termo ao processo, não havendo porque levar a questão ao Senado em tais circunstâncias. Vide REZEK, José Francisco. Op. cit., p. 331.
[358]
Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações das Comissões serão tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de
seus membros, prevalecendo em caso de empate o voto do Relator (art. 56, § 2º do Regimento Interno da Câmara dos Deputados – RICD).
[359]
Urgência é a dispensa de exigências, interstícios ou formalidades regimentais, para que determinada proposição, nas condições previstas no inciso I do artigo
antecedente, seja de logo considerada, até sua decisão final (art. 152 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados – RICD).
[360]
Art. 172. A inclusão em Ordem do Dia de proposição em rito normal, sem que esteja instruída com pareceres das comissões a que houver sido distribuída, só
é admissível nas seguintes hipóteses: II - por ato do Presidente, quando se tratar: c) de projeto de decreto legislativo referente a tratado, convênio ou acordo
internacional, se faltarem dez dias, ou menos, para o término do prazo no qual o Brasil deva manifestar-se sobre o ato em apreço.
[361]
M arotta Rangel, no Parecer já citado, intui que as emendas que se incorporem ao projeto de decreto legislativo e que a este eventualmente se integrem não
constituem, a rigor, emendas do tratado internacional. Estas são de competência do Poder Executivo. As emendas que venham a incorporar-se ao decreto legislativo,
concernentes a esse tratado, valem como se fossem propostas de emenda do tratado. São propostas encaminhadas à apreciação do Poder Executivo. Elas têm
significado, para usar de termos empregados por Pontes de M iranda, de sugestão de alterações do tratado, que o Poder Legislativo endereça ao Presidente da
República. Decidido, porém, o oferecimento de emendas, não tem o Congresso Nacional competência de propô-las diretamente às Partes Contratantes, mas, sim, o
de sugerir ao Poder Executivo que as proponha. Op. cit., p. 92-5.
[362]
Em regime de tramitação urgente (art. 151, I, m do Regimento Interno da Câmara dos Deputados – RICD).
[363]
M antendo-se o quórum do art. 163 do RICD: maioria de votos, presente a maioria absoluta de seus membros.
[364]
Decreto legislativo, segundo Estevão de Rezende M artins (In: CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto (Ed.). Op. cit., p. 285), é o ato normativo pelo qual
o Congresso Nacional exerce sua competência exclusiva bicameral, mediante processo sucessivo de deliberação (primeiro uma Casa – Câmara ou Senado – e, em
seguida, a outra). Como afirma Rezek (Op. cit., p. 332), o uso do decreto legislativo como instrumento de aprovação congressional dos tratados é de melhor técnica
que o uso da lei formal, a qual se pratica na França e que já se praticou, outrora, no Brasil. Não faz sentido que esse ato aprobatório, espelhando com absoluta pureza
a posição do Congresso, comporte sanção do Presidente da República e abra consequentemente, a insólita possibilidade do veto.
[365]
Apesar da dúvida levantada por alguns acerca da anterioridade ou não dessa fase à promulgação do decreto, o próprio Supremo Tribunal Federal reitera nossa
afirmativa, ao não acolher o pedido da justiça argentina, manifestado por meio de Carta Rogatória, com a finalidade de viabilizar, em território nacional, atos calcados
no Protocolo de Ouro Preto de M edidas Cautelares, ao afirmar que “(…) embora o Protocolo tenha sido aprovado pelo Congresso Nacional (Decreto Legislativo n.
192/95), e a despeito de já ratificado (instrumento de ratificação depositado em 18.03.1997), ainda não foi promulgado, mediante decreto, pelo Presidente da
República (…)”.
[366]
Antônio Paulo Cachapuz de M edeiros (Op. cit., p. 469) cita como exemplo de tratado internacional aprovado pelo Congresso Nacional, mas não ratificado pelo
Executivo as Convenções de Genebra sobre M ar Territorial e Zona Contígua, sobre o Alto M ar, sobre a Pesca e Conservação dos Recursos Vivos do Alto M ar e sobre
a Plataforma Continental (Decreto Legislativo n. 45, de 15.10.1968).
[367]
Segundo Antônio Paulo Cachapuz de M edeiros (Op. cit., p. 469), alega-se, basicamente, que, passado algum tempo da assinatura do acordo internacional,
podem ter mudado as circunstâncias políticas e a nova conjuntura não recomendar mais o engajamento do Estado.
[368]
REZEK, José Francisco. Op. cit., p. 386.
[369]
DALLARI, Pedro B. A. Constituição e Tratados Internacionais. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 104.
[370]
Nesse sentido, o Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República do M ali sobre o Exercício de Atividade Remunerada
por parte de Dependentes do Pessoal Diplomático, Consular, M ilitar, Administrativo e Técnico, de 22.10.2009, foi assinado pelo M inistro das Relações
Exteriores. Já o Acordo sobre o Exercício de Atividade Remunerada por Parte de Dependentes do Pessoal Diplomático, Consular, M ilitar, Administrativo e Técnico
entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Gabonesa, de 18.10.2010, foi assinado pelo Embaixador do Brasil no Gabão.
[371]
RODAS, João Grandino. “Os Acordos em Forma Simplificada”. In_. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, vol. 58, nº 1, 1973, pp.
321, 332.
[372]
GABSCH, op. cit., p. 158.
[373]
RODAS, op. cit, p. 322.
[374]
REZEK, José Francisco. “Parlamento e Tratados: o modelo constitucional do Brasil. In__. Revista de Informação Legislativa, v. 41, n. 162, abr/jun 2004, p.
130, 133.
[375]
GABSCH, op. cit., p. 166.
[376]
CACHAPUZ DE M EDEIROS, Antônio Paulo. “Brasil–Reino Unido. Bitributação. Transportes aéreos e marítimos. Acordo por troca de notas. Celebração
sem assentimento específico do Congresso Nacional. Consulta da British Airways “.In__. CACHAPUZ DE M EDEIROS, Antônio Paulo (org.). Pareceres dos
Consultores Jurídicos do Itamaraty: Volume IX (1990-2000). Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2009, p. 223.
[377]
GABSCH, op. cit., p. 176-9.
[378]
CACHAPUZ DE M EDEIROS, op. cit., p. 224.
[379]
T OUSCOZ, Jean. Op. cit., p. 206.
[380]
Vide: https://treaties.un.org/pages/ViewDetailsIII.aspx?src=TREATY&mtdsg_no=XXIII-1&chapter= 23&Temp=mtdsg3 &clang=_en, consultado em
16.09.2017.
[381]
O Decreto Legislativo n. 496, de 17 de julho de 2009, publicado no Diário Oficial da União em 20 de julho de 2009 aprovou o texto da Convenção de Viena
sobre o Direito dos Tratados, ressalvados os artigos 25 e 66.
[382]
Gabsch identifica a demora na aprovação interna dos compromissos convencionais do Brasil como um dos grandes problemas que o País enfrenta no seu
relacionamento internacional, concluindo que, o lapso médio de 2 anos e 9 meses para o trâmite interno de tratados só pode ser qualificado como excessivo. Op. cit.,
p. 203.
[383]
BOBBIO, Norberto. Op. cit., p. 38-39.
[384]
In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 160.
[385]
BROWNLIE, Ian. Op. cit., p. 17.
[386]
Op. cit., p. 30.
[387]
M ais conhecido como Caso do Direito de Asilo, este tem a sua origem em um asilo concedido em 3 de janeiro de 1949, pelo Embaixador da Colômbia em Lima,
a Victor Raul Haya de la Torre, líder do partido político Aliança Popular Revolucionária Americana e considerado responsável por ter suscitado e dirigido uma
rebelião militar no Peru, em 3 de outubro de 1948. Procurado pelas autoridades peruanas, este encontrou asilo na Embaixada da Colômbia, em Lima. A partir de
então, o Embaixador Colombiano demandou às autoridades peruanas um salvo-conduto para que ele pudesse retirar-se do país, uma vez que este havia sido
qualificado como refugiado político. O governo do Peru recusou conceder o salvo conduto, alegando que Haya de la Torre havia cometido crimes de direito comum e
não podendo ser beneficiado com o asilo. Não estando em acordo, Colômbia e o Peru submeteram à Corte a controvérsia, tendo esta declarado que: a Colômbia não
tem o direito de qualificar unilateralmente, de maneira obrigatória para o Peru, a natureza do delito; o governo do Peru não era obrigado a entregar o salvo-conduto ao
asilado; a única acusação contra Haya de la Torre era a de rebelião militar, o que não configura crime comum. Vide: http://www.icj-cij.org/en/case/14
[388]
Op. cit., p. 17.
[389]
M IRANDA, Jorge. Direito internacional público – I. Lisboa: Pedro Ferreira, 1995, p. 65.
[390]
DE LY, Filip. International Business Law and Lex Mercatoria, p. 163-164.
[391]
Designado por alguns autores como elemento histórico.
[392]
São exemplos de precedentes as comunicações diplomáticas, as instruções às missões diplomáticas e aos agentes consulares, as declarações executivas e, até
mesmo, a assinatura de um tratado, mesmo que não seja seguida da ratificação. Vide VIRALLY, M ichel. In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 161.
[393]
Vide TOUSCOZ, Jean. Op. cit., p. 213.
[394]
Ibidem, p. 64-65.
[395]
ARÉCHAGA, Eduardo Jiménez de. Op. cit., p. 32-33.
[396]
Nele, a Corte rejeitou a tese da Dinamarca e dos Países Baixos segundo a qual estas delimitações deveriam ser realizadas de acordo com o princípio da
equidistância definido no artigo 6º da Convenção de Genebra de 1958 sobre a Plataforma Continental. Ela considerou, com efeito: a) que a República Federal da
Alemanha, que não ratificou a referida Convenção, não está juridicamente obrigada pelos dispositivos do artigo 6º; b) que o princípio da equidistância não se impõe
como uma consequência necessária da concepção geral do regime jurídico da plataforma continental e não é uma regra de direito internacional costumeiro. Tampouco
aceitou as teses alemãs, ainda que propusessem o princípio de uma repartição da plataforma continental em partes justas e equitativas. Ela considerou que cada parte
tem, a princípio, direito às zonas da plataforma continental que constituem o prolongamento natural de seu território sob o mar. Não se trata desta forma, de repartir
ou partilhar essas zonas, mas de delimitá-las. A Corte declarou, por fim, que as delimitações em causa deveriam se realizar por via de acordo entre as partes e
conforme princípios equitativos e indicou fatores a serem considerados para esse fim. Caberia agora às partes negociar seguindo esses princípios tal como foram
acordados. Disponível em http://www.icj-cij.org/en/case/51 e http://www.icj-cij.org/en/case/52.
[397]
O termo técnico é opinio juris sive necessitatis, expressão que costuma ser definida como a convicção sentida pelos Estados de o Direito Internacional exigir um
determinado tipo de conduta, como informam Akehurst (Op. cit., p. 36), Haggenmacher (no artigo intitulado La Doctrine du Droit Coutumier dans la pratique de la
Cour Internationale, publicado em 1986, na Revue Générale du Droit International Public) e Aréchaga (Op. cit., p. 32).
[398]
Apesar de ainda haver autores, como Boson, que afirmam, citando a Teoria Pura do Direito, que o elemento psicológico (opinio juris) não pode ser considerado
ao se tratar da elaboração de uma regra costumeira. Vide BOSON, Gerson de Britto M ello. Direito internacional público: o estado em direito das gentes. Belo
Horizonte: Del Rey, 1994, p. 188-189.
[399]
A Nicarágua imputou aos Estados Unidos uma série de atos violadores do Direito Internacional, com destaque para: colocação de minas nos portos,
no mar territorial e nas águas internas de seu território por militares norte americanos e/ou pessoas latino-americanas contratadas mediante pagamento seu; violação
do seu espaço aéreo por aeronaves militares; adoção de medidas econômicas consideradas como intervenção indireta em seus assuntos internos. Em sua defesa, Os
Estados Unidos alegaram que a Nicarágua estava fazendo incursões militares contra Estados vizinho – Honduras e Costa Rica –, e dando apoio a grupos armados,
especialmente em El Salvador. Através de uma ordem emitida a Corte; a) rejeitou o pedido feito pelos Estados Unidos para que o caso fosse retirado da lista e
indicou as seguintes medidas provisórias, à espera da decisão final; 1 Os Estados Unidos deveriam suspender imediatamente e abster-se de qualquer ação que
restringisse o acesso aos portos da Nicarágua, e, em particular, a colocação de minas; 2 O direito de soberania e a independência política da Nicarágua, como qualquer
outro Estado da região ou do mundo deveriam ser totalmente respeitados e não deveriam ser, de maneira alguma, colocados em riscos por atividades militares ou
paramilitares, que são proibidas pelo princípio da lei internacional, em particular o princípio em que os Estados deveriam se abster, nas suas relações internacionais,
da ameaça ou do uso da força contra a integridade territorial ou contra a independência política de qualquer Estado, e o princípio referente á obrigação de não intervir
na jurisdição doméstica de um Estado, princípios incluídos na Carta das Nações Unidas e na Carta da Organização dos Estados Americanos; 3 Os E.U.A e a
Nicarágua deveriam assegurar que nenhuma ação que pudesse agravar ou prolongar a discussão submetida á Corte seria feita. 4 Os Estados Unidos e a Nicarágua
deveriam garantir que nenhuma ação que pudesse prejudicar os direitos da outra parte seria feita, independente da decisão que a Corte pudesse tomar. Vide
http://www.icj-cij.org/en/case/70.
[400]
BOSON, Gerson de Britto M ello. Op. cit., p. 166-168.
[401]
Conflito envolvendo a Noruega e o Reino Unido, solucionado em 16 de dezembro de 1951. Por meio de um Decreto de 12 de julho de 1935, o governo
norueguês delimitou na porção norte do país a zona na qual a pesca estaria reservada aos seus nacionais. Este local, por séculos, foi utilizado por pescadores ingleses,
mas estes, a partir do Século XVII e por 300 anos, passaram a se abster desta prática – logo após uma reclamação feita pelo Rei da Noruega –. Em 1906, contudo,
embarcações inglesas começaram a reaparecer, estas eram navios de arrastão com modernos e poderosos equipamentos, que passou a perturbar os moradores locais e,
a partir daí, medidas foram tomadas pela Noruega com o objetivo de determinar os limites nos quais a pesca para os estrangeiros estaria proibida. Incidentes se
tornaram cada vez mais frequentes e, em 12 de julho de 1935, o governo da Noruega delimitou a zona de pesca por meio de um Decreto. O Reino Unido solicitou
então à CIJ que declarasse se tal demarcação estava ou não de acordo com o direito internacional, argumentando que a linha de base deveria seguir a linha de baixa-
mar, por ser este o critério geral adotado pela prática costumeira dos Estados. Em sua sentença, a Corte determinou que nem o método utilizado para criar a
demarcação, por meio de um Decreto, nem as linhas por ele delineadas, eram contrários ao direito internacional. Vide: http://www.icj-cij.org/en/case/5.
[402]
Op. cit., p. 22.
[403]
Op. cit., p. 64.
[404]
Tal princípio é definido pela Comissão de Direito Internacional da ONU como uma “forma cômoda de exprimir a idéia básica de que um Estado de
independência recente começa a sua vida internacional livre de toda a obrigação com os outros Estados”. Vide Multilateral Treaties deposited with the Secretary Ge-
neral. Sattus as at 31 december 1982. New York: United Nations, 1983, p. 213.
[405]
Op. cit., p. 17.
[406]
Ibidem, p. 23.
[407]
Ibidem, p. 19.
[408]
AKEHURST, M ichael. Op. cit., p. 32.
[409]
Op. cit., p. 60-1.
[410]
Op. cit., p. 191.
[411]
Op. cit., p. 35.
[412]
ARÉCHAGA, Eduardo Jiménez de. Op. cit., p. 15 et seq.
[413]
Vide § 101, C, 1 da decisão pela qual delimitação será efetuada por acordo conforme princípios eqüitativos (“delimitation is to be effected by agreement in
accordance with equitablc principles”). Vide: http://www.icj-cij.org/en/case/51 e http://www.icj-cij.org/en/case/52.
[414]
AKEHURST, M ichael, op. cit., p. 41.
[415]
T OUSCOZ, Jean, op. cit., p. 214.
[416]
Que ainda encontra-se em fase de Projeto pela Comissão de Direito Internacional das Nações Unidas.
[417]
In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 172.
[418]
Op. cit., p. 27.
[419]
REZEK, José Francisco. Direito internacional público. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 138.
[420]
Vide DE LY. Op. cit., p. 193.
[421]
BRIERLY. Op. cit., p. 63.
[422]
Op. cit., p. 107 et seq.
[423]
Concluída em São Francisco em 26.06.1945, ratificada pelo Brasil em 21.09.1945 e promulgada pelo Decreto 19.841, de 22.10.1945.
[424]
Declaração sobre os Princípios de Direito Internacional referentes às Relações de Amizade e Cooperação entre os Estados de conformidade com a Carta das
Nações Unidas.Vide: http://www.un.org/documents/ga/res/25/ares25.htm
[425]
O Pacto é a primeira parte do Tratado de Versalhes, de 28 de junho de 1919, tendo sido ratificado pelo Brasil em 10.12.1919 e Promulgado pelo Decreto nº
13.990, de 12.1.1920.
[426]
Originariamente assinado em Paris em 27.8.1928, pelos representantes da Alemanha, Bélgica, França (Aristide BRIAND), Estados Unidos (Frank B.
KELLOG), Itália, Japão, Polônia, Reino Unido e Tchecoslováquia. O Brasil aderiu em 1934, promulgando-o pelo Decreto nº 24.557, de 3.7.1934.
[427]
Segundo Aréchaga (Ibidem, p. 109), estas podem expressar-se por meio de um ultimatum anunciando que se recorrerá a medidas militares, se certas exigências
não forem aceitas, ou a concentração repentina de forças em uma zona limítrofe quando existe uma disputa de fronteiras. Por outro lado, uma intensificação na
aquisição de armamentos não constitui, necessariamente e por si só, uma ameaça de força.
[428]
No caso de o Estado organizar ou fomentar a organização de forças irregulares ou de grupos armados, inclusive mercenários, para fazer incursões no território
de outro Estado.
[429]
Ibidem, p. 137.
[430]
Ibidem, p. 126-127.
[431]
Tal restrição é vista por Aréchaga (Ibidem, p. 135) como uma cláusula de salvaguarda para os Estados, independentes e soberanos, cujo Governo seja
representativo da totalidade do povo, uma vez que os protegem de qualquer reclamação de “livre determinação” de uma parcela de sua população.
[432]
HORNEDO, Eduardo. La Carta coja: critica a la Carta de Derechos e Deveres de las Naciones, M éxico: G. de Anda, 1975, p. 23.
[433]
YUSUF, Abdulquawi. Legal aspects of trade preferences for developing states: a study in the influence of development needs on the evolution of
international law. The Hangue: M artinus Nijhoff Publishers, 1982, p. 29 et seq. Vide também a obra de Djura Ninc. The problem of sovereignty in the charter and
in the practice of The United Nations. The Hague: Nijhoff, 1970, p. 37-42.
[434]
YUSUF, Abdulquawi. Op. cit., p. 30.
[435]
Op. cit., p. 379 et seq.
[436]
Rousseau (Ibidem, p. 390) afirma haver uma extrema diversidade terminológica adotada para qualificá-los: princípios gerais de direito internacional; princípios
geralmente reconhecidos de direito internacional; regras gerais de direito internacional; regras de direito das gentes etc.
[437]
Vide: Forests of Central Rhodope (M erits) case, 3 UNRIAA, p.1405; Tito v Waddell (No.2) [1977] 1 Ch.106, 328).
[438]
Op. cit., p. 28-31.
[439]
Op. cit., p. 28-31.
[440]
AKEHURST, M ichael. Op. cit., p. 45.
[441]
Op. cit., p. 14.
[442]
In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 179.
[443]
Op. cit., p. 31.
[444]
Op. cit., p. 399.
[445]
Entendendo-se aqui – e de acordo com os ensinamentos de Bobbio (Op. cit., p. 27) – que juiz é aquele ao qual uma norma do ordenamento atribui o poder e o
dever de estabelecer quem tem razão e quem não tem e de tornar assim possível a execução de uma sanção.
[446]
AKEHURST, M ichael. Op. cit., p. 49.
[447]
O litígio envolvia o estabelecimento dos limites da área Abyei. Nele, o Governo do Sudão argumentava que a conclusão dos Peritos ABC (ABC Experts) na
delimitação da área Abey – em particular a escolha da latitude 10°22’30”N, para o limite oriental – era ilegítima porque o ex aequo et bono deveria ser expressamente
autorizado quando um Estado soberano estivesse envolvido. Por outro lado, o M ovimento/Exército de Libertação do Povo Sudanês defendia que os Peritos, em
verdade, haviam utilizado o “princípio legal de divisão equitativa de direitos secundários compartilhados” (“the legal principle of the equitable division of shared
secondary rights”), uma vez que para eles o ex aequo et bono seria um princípio geral de direito distinto da mera decisão por equidade - mesmo que estes tivessem
errado na sua compreensão ou aplicação, sua decisão não havia sido uma mera decisão por equidade – e, mesmo na alternativa de se considerar que a decisão estivesse
baseada em equidade, não havia nada no Compromisso celebrado pelas partes que estabelecesse a necessidades de prévio consentimento antes de qualquer decisão
assim tomada. Vide: https://pca-cpa.org/en/cases/92/.
[448]
BOSON, Gerson de Britto M ello Boson. “Fontes do Direito Internacional”. In__. Revista da Faculdade de Direito, v. 8 (1956), p.31.
[449]
Op. cit., p. 31.
[450]
ROUSSEAU, Charles. Op. cit., p. 403.
[451]
Ibidem, p. 416 et seq.
[452]
VON LISZT, Franz. Op. cit., p. 219-220.
[453]
VIRALLY, M ichel. In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 181.
[454]
DEGAN, V. D. Sources of international law, p. 286.
[455]
Op. cit., p. 286.
[456]
Ibidem, p. 183.
[457]
Op. cit., p. 418.
[458]
Tais atos foram base para a decisão da Corte num primeiro caso, a ela submetido em 1974 por Nova Zelândia e Austrália, quando afirmou que “o objetivo da
Austrália e Nova Zelândia foram atingidos já que a França, em várias declarações públicas, tinha anunciado sua intenção de não levar a cabo nenhum teste nuclear
atmosférico adicional na conclusão das séries de 1974. A demanda não mais possui qualquer objeto, não há, portanto, lugar para uma decisão”. Vide: http://www.icj-
cij.org/en/case/59
[459]
T ratava-se de demanda neozelandesa originada a partir do anúncio pelo Presidente da França François M iterrand, em 13 de junho de 1995, de que conduziria
uma série final de oito testes nucleares no Pacífico Sul, iniciando-os em setembro de 1995 e que, caso fossem levados adiante, alterariam os fundamentos do
julgamento proferido pela Corte em 20 de dezembro de 1974. Ao final de seu pedido, a Nova Zelândia declarou que os direitos para os quais buscava proteção
recaíam no quadro dos direitos invocados no parágrafo 28 de sua demanda anterior, buscando o reconhecimento dos direitos que seriam desfavoravelmente afetados
pela poluição do ambiente marinho devido ao material radioativo resultante dos testes a serem realizados nos atóis de M ururoa e Fangatufa, e de seu direito a ser
protegido e a se beneficiar de uma avaliação de impacto ambiental adequada requerendo que a CIJ declarasse: a) que a condução dos testes nucleares propostos
constituirá uma violação dos direitos da Nova Zelândia, bem como de outros Estados, com relação ao direito internacional; b) que a França não teria o direito de
conduzir tais testes nucleares antes de empreender uma avaliação de impacto ambiental de acordo com os parâmetros internacionais reconhecidos. Na mesma data,
esta entrou com pedido de M edidas Cautelares para que a França: se abstivesse de conduzir quaisquer novos testes nucleares nos atóis de M ururoa e Fangatufa;
empreendesse uma avaliação de impacto ambiental dos testes nucleares propostos em consonância com os parâmetros internacionais reconhecidos, e que ela se
abstenha de proceder a estes testes se esta avaliação não demonstrar que eles não provocam contaminação radioativa do meio ambiente marinho; e, que França e
Nova Zelândia assegurem que nenhuma ação será tomada que possa agravar ou estender a disputa submetida à Corte ou prejudicar os direitos da outra parte em
relação às decisões a serem tomadas. Antes mesmo de qualquer medida da CIJ, a França realizou dois testes nucleares, em 06 e 11 se setembro. A decisão foi
proferida em 22 de setembro de 1995 e, por 12 votos a 3, a Corte desconsiderou o pedido da Nova Zelândia, justificando sua decisão com o argumento de que a
França havia se obrigado, unilateralmente, a não realizar explosões atmosféricas e os testes anunciados seriam subterrâneos. Em sua decisão, a Corte afirmou que para
a finalidade da demanda de 1974, a reivindicação da Nova Zelândia deveria ser interpretada como aplicável somente a testes atmosféricos, conduzidos de modo a dar
causa a contaminações radioativas do território neozelandês e não a ensaios de outro tipo, uma vez que o próprio presidente francês, em um comunicado de 8 de
junho de 1974, havia afirmado que, com o fim dos testes de 1974, em vista do desenvolvimento alcançado na execução do seu programa de defesa nuclear, a França
estará em posição para avançar ao estágio de explosões subterrâneas. A Corte definiu desse modo, que o fundamento do julgamento de 1974 era o compromisso
francês de não conduzir testes nucleares atmosféricos adicionais, apenas uma retomada dos mesmos afetaria a base do julgamento, hipótese que não se materializou.
Vide: http://www.icj-cij.org/en/case/97
[460]
AKEHURST, M ichael. Op. cit., p. 47.
[461]
SILVA, Roberto Luiz. Direito comunitário e da integração. Porto Alegre: Síntese, 1999.
[462]
Vide http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=258297, consultado em 30.11.2009.
[463]
In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 187-188.
[464]
KELSEN, Hans. The Law of the United Nations, p. 911, 912 e 927 a 931.
[465]
Vide Desenvolvimento, Costume Internacional e Soft law, de Salem Hikmat Nasser em
gedirj.files.wordpress.com/.../desenvolvimentocostumeinternacionaloftlawalemnasser.pdf, consultado em 30.11.2009.
[466]
AKEHURST, M ichael. Op. cit., p. 53.
[467]
O artigo 46 refere-se as disposições do direito interno sobre competência para concluir tratados.
[468]
In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 192.
[469]
ROUSSEAU, Charles. Op. cit., p. 39.
[470]
JACKSON, John Howard. Op. cit., p. 83.
[471]
BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição: fundamentos de uma dogmática constitucional transformadora. São Paulo:Saraiva,2004, p.
31.
[472]
BAHIA, Saulo José Casali. Tratados internacionais no direito brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 72.
[473]
LUPI, André Lipp Pinto Basto. “O Brasil é dualista? Anotações sobre a vigência de normas internacionais no ordenamento brasileiro”. In__. Revista de
Informação Legislativa. Brasília, ano 46 nº 184 out./dez. 2009, p. 31, 2.
[474]
VIRALLY. In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 194.
[475]
ROUSSEAU, Charles. Op. cit., p. 27.
[476]
STF – Carta Rogatória nº 8279, AgR, Relator(a): M in. CELSO DE M ELLO, Tribunal Pleno, julgado em 17/06/1998, DJ 10-08-2000 pp-00006 EM ENT VOL-
01999-01 pp-00042.
[477]
KELSEN, Hans. Derecho y paz en las relaciones internacionales. M exico: Fondo de Cultura Económica, 1996, p. 110 et seq.
[478]
Op. cit., p. 83-84.
[479]
BAHIA, Saulo José Casali. Op. cit., p. 76.
[480]
Também denominado de monismo nacionalista. Vide BAHIA, Saulo José Casali. Ibidem, p. 72.
[481]
Vide Juristische Grundproblemen, de 1920.
[482]
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 4. ed. São Paulo: M artins Fontes, 1994, p. 373.
[483]
Idem. Teoria geral do direito e do estado. 2. ed. São Paulo: M artins Fontes, 1992, p. 374-375.
[484]
L’HUILLIER, Jean. Op. cit., p. 11.
[485]
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito, cit., p. 376.
[486]
Há, no próprio direito, critérios para a correção de antinomias, entre eles: o hierárquico (lex superior derrogat inferiori), o cronológico (lex posterior derrogat
priori), especialidade (lex specialis derrogat generali).
[487]
Este é o caso de CARRAZA em seu Curso de Direito Constitucional Tributário.
[488]
XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil. Rio de Janeiro: Forense, 2015, pp. 83-98.
[489]
M AGALHÃES, José Carlos de. Op. cit., p. 67.
[490]
BARROSO, Luís Roberto. op. cit., p. 32.
[491]
Também denominado de monismo internacionalista. Vide BAHIA, Saulo José Casali. Op. cit., p. 73.
[492]
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito, cit., p. 369.
[493]
Idem. Derecho y paz em las relaciones internacionales, cit., p. 140.
[494]
Idem. Teoria geral do direito e do estado, cit., p. 369.
[495]
Kelsen (Teoria pura do direito, cit., p. 376) afirma que “em nossa escolha somos obviamente guiados por preferências éticas e políticas. Uma pessoa cuja
postura política é marcada pelo nacionalismo e pelo imperialismo estará naturalmente inclinada a aceitar a hipótese da primazia do Direito nacional. Uma pessoa cujas
simpatias são pelo internacionalismo e pelo pacifismo estará inclinada a aceitar a hipótese da primazia do Direito internacional.”
[496]
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito, cit., p. 375.
[497]
In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 191, 194.
[498]
Também denominado de monismo jusnaturalista. Vide BAHIA, Saulo José Casali. Op. cit., p. 73.
[499]
RIBEIRO, Patrícia Henriques. As relações entre o direito internacional e o direito interno. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 74, 76.
[500]
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito, cit., p. 385.
[501]
Ibidem, p. 377.
[502]
Op. cit., p. 81-82.
[503]
Em sentido contrário, Rousseau (Op. cit., p. 44) afirma que a prática internacional não consagra nenhuma das duas teorias.
[504]
In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 194.
[505]
Apesar de Kelsen afirmar que a interpretação de tal norma depende da teoria que se adote em relação ao Direito nacional e ao Direito Internacional. Vide
KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do estado, cit., p. 370.
[506]
AKEHURST, M ichael. Op. cit., p. 55.
[507]
Ibidem, p. 56-57.
[508]
Op. cit., p. 82 et seq., em que afirma “executive agreements may be approved under U.S. constitucional practice in several ways: they may be submitted to the
Congress for approval by the passage of a statute that grants the authority to the president to accept the international agreement (...); authorizes the president in
advance to negociate, enter into, and accept for the United States na international agreement (...); may give the president advance delegated authority within the limits
to enter an executive agreement designed to implement the treaty; and finaly under the Constitution the president may enter into some executive agreements on his
own “inherent”authority, without any participation either before or after the negotiation by the Congress as a whole or the Senate alone. (...) authorized by explicit
constitucional grants of authority to the president (such as his authority as commander in chief of the armed forces) or implied by the Constitution as falling under
presidential authority (executive power).”
[509]
Ibidem, p. 87.
[510]
RUIZ, M arta V. de. Manual de la constitución nacional: sistemas político-constitucionales contemporáneos. Buenos Aires: Heliasta, 1997, p. 143 et seq.
[511]
Ibidem, p. 182-183.
[512]
DINIZ, M aria Helena. Lei de Introdução ao Código Civil interpretada. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 306.
[513]
Exequatur é o processo pelo qual se concederá no fórum valor de título exequendo à sentença estrangeira. Consiste, portanto, no processo homologat ório para
que a sentença estrangeira possa ser executada, que se limitará a um exame formal da decisão, sem analisar o mérito. Vide DINIZ, M aria Helena. Ibidem, p. 334.
[514]
Ibidem, p. 311.
[515]
DINIZ, M aria Helena. Op. cit., p. 331-333.
[516]
T ratou-se de pedido de homologação de sentença estrangeira formulado por LUIZ CLAUDIO CLIM ACO II, no qual se objetivava homologar o ato que
autorizou a retificação de seu nome civil para “LOUIS CLAUDE NAKAM URA KATZM AN”, Sendo natural de Nova York, filho de pai brasileiro e mãe norte-
americana, este teve seu nascimento registrado nos Estados Unidos pelo Consulado Geral do Brasil, em Nova York. Em 1994, o requerente, por razões profissionais,
passou a residir no Brasil e lavrou o termo de Transcrição de sua Certidão de Nascimento no Cartório do Registro Civil das Pessoas Naturais do Primeiro Subdistrito
Sé de São Paulo. Em 27/10/2006, o requerente solicitou ao órgão judicial competente do Condado de Nassau, no Estado de Nova York, a alteração de seu nome civil
para “LOUIS CLAUDE NAKAM URA KATZM AN”, nome pelo qual sempre foi conhecido na comunidade norte-americana em que residia, tendo seu pedido sido
deferido em 12/12/2006, Em 2008, manifestou sua opção pela nacionalidade brasileira, nos termos do artigo 12, inciso I, alínea 'c' da CF, a qual foi devidamente
homologada por sentença transitada em julgado. Em 2009, o requerente voltou a manter residência profissional nos Estados Unidos da América, onde praticava
todos os atos de sua vida civil naquele país com o nome de “Louis Claude Nakamura Katzman”, razão pela qual estariam expostos (o Requerente e sua família), a
inúmeros problemas ao transitar entre os dois países, o que fazem com frequência, em razão da divergência entre seus documentos oficiais. Vide: Documento:
1091350 - Inteiro Teor do Acórdão - DJe: 06/10/2011.
[517]
Artigo 9º e 11 da Resolução n. 9 do STJ, de 04 de maio de 2005.
[518]
M AGALHÃES, José Carlos de. Op. cit., p. 124.
[519]
DINIZ, M aria Helena. Op. cit., p. 315.
[520]
No Brasil, é recebida pelo M inistério das Relações Exteriores, que a transmitirá ao Presidente do Supremo Tribunal Federal – STF, após vista ao Procurador-
Geral da República.
[521]
DINIZ, M aria Helena. Op. cit., p. 316.
[522]
Segundo dados da Assessoria de Comunicação Estratégica da Procuradoria-Geral da República (pgr-noticias@mpf.mp.br), a maioria dos pedidos feitos por
autoridades brasileiras foram destinados a países europeus e se referem, na maior parte, a informações sobre dados bancários e repatriação de ativos. Já os pedidos
feitos por autoridades estrangeiras se referem, em sua maioria, à relação de empresas com a Petrobras, provas ligadas à Odebrecht e depoimentos de pessoas
residentes no Brasil. Ao todo, 32 depoimentos foram realizados pelo M PF em auxílio jurídico a países estrangeiros.
[523]
O caso tratou de um pedido de cooperação jurídica, consistente em compartilhamento de prova, formulado por autoridade estrangeira (Procuradoria Geral da
Federação da Rússia) no exercício de atividade investigatória, dirigido à congênere autoridade brasileira (Procuradoria Geral da República), que obteve a referida prova
também no exercício de atividade investigatória extrajudicial. Vide: DJe 16/12/2009, RSTJ vol. 217 p. 308.
[524]
O M inistério Público, em sede de cooperação jurídica internacional solicitada pela República Federal da Alemanha, através da Procuradoria da República de
Dresden, requereu o sequestro de bem imóvel, pertencente ao cidadão alemão Klaus Werner Stolle, situado na Rua Edgar da Costa, nº 160, Ingleses, Florianópolis/SC.
o órgão ministerial da Alemanha solicitou a execução da medida assecuratória tendo em vista que Klaus Werner Stolle foi condenado naquele país pelo crime previsto
no Código Penal Alemão, no 263º, alíneas 1ª, 3ª e 5ª (denominado burla - infração penal semelhante ao tipificado no art. 171 do Código Penal Brasileiro). Em seu
Relatório, a Juíza observou que não obstante a argumentação exposta pelo M inistério Público Federal no sentido da possibilidade de auxílio direto entre Brasil e
Alemanha no que diz respeito ao caso dos autos, não há em vigor instrumento jurídico que viabilize a cooperação direta entre os dois países - em casos não
relacionados a crime organizado transnacional ou a tráfico internacional de drogas - sem que antes tramite o feito perante o Superior Tribunal de Justiça. Dessa
maneira, para que o pedido da Justiça Alemã possa ser executado em território brasileiro por meio de auxílio direto, é necessário que primeiro tramite perante o
Superior Tribunal de Justiça, que é o órgão judiciário competente para, se assim entender, dispensar o exequatur à carta rogatória e determinar que seja recebido o
pedido como auxílio direto. Ou seja, diante da inexistência de instrumento jurídico que possibilite o auxílio direto internacional sem deliberação pelo STJ, imperioso o
encaminhamento da carta rogatória para que o Tribunal Superior ou conceda o exequatur ou, caso entenda não ser necessário juízo de delibação, devolva ao
M inistério da Justiça para o cumprimento por auxílio direto, sob pena de usurpação da competência constitucionalmente atribuída àquela Corte Superior. Disponível
em https://trf-4.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/112480992/recurso-criminal-em-sentido-estrito-rccr-50091703620134047200-sc-5009170-3620134047200?
ref=juris-tabs.
[525]
PORTM ANN, Roland. Legal Personality in International Law. Cambridge: Cambridge University Press, 2010, p. 5-7.
[526]
Como consequência do assassinato, em Jerusalém (setembro de 1948), do Conde Folke Bernadotte – M ediador das Nações Unidas para a Palestina –, e outros
membros da M issão das Nações Unidas para a Palestina, a Assembleia Geral das Nações Unidas apresentou as seguintes questões à CIJ: I - No caso de um agente
das Nações Unidas, na execução de seus direitos, sofrer injúrias em circunstâncias que envolvam a responsabilidade de um País, as Nações Unidas como organização
que é, tem a competência de trazer uma denúncia contra o responsável pela injúria com o fim de obter reparação devida à respeito do dano causado; a) às Nações
Unidas; b) à vítima ou pessoas consideradas como tal?; II – No caso de uma resposta afirmativa ao ponto I-b, como agirá as Nações Unidas para conciliar tais
direitos com os direitos do País do qual a vítima é originária? Vide: http://www.icj-cij.org/en/case/4
[527]
Excerto extraído de “What it does mean is that it is a subject of international law and capable of possessing international rights and duties, and that it has
capacity to mantain its rights by bringing international claims”. Reparation for injuries suffered in the service of the United Nations, Advisory Opinion: I.C.J.
Reports, p. 179.
[528]
CASELLA, Paulo Borba. ACCIOLY, Hildebrando. NASCIM ENTO E SILVA, Geraldo Eulálio. Manual de Direito Internacional Público. 20ª Ed. São Paulo:
Saraiva, 2012, p. 234.
[529]
th
KAPOOR, Dr. S.K. International Law and Human Rights. 19 . Ed. Allahabad: Central Law Agency, 2014, p. 119-23.
[530]
Casella inclui ainda, como participantes das relações internacionais, os rebeldes, os beligerantes, os povos, os movimentos de liberação nacional e mesmo os
seres humanos, estejam de um modo ou de outro organizados, como expressão do que se vem chamar de sociedade civil internacional. Op. cit., p. 234.
[531]
Tal definição justifica a participação da Palestina (OLP) nos foros da ONU, embora não possua as características de Estado como conhecido em nosso direito
interno.
[532]
VARELLA, M arcelo D. Direito Internacional Público. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 149.
[533]
KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado, p. 299.
[534]
PORTM ANN, Roland, op.cit., p. 9.
[535]
CUNHA, Joaquim da Silva, op. cit., p. 77.
[536]
SEITENFUS, Ricardo. Manual das Organizações Internacionais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997, p. 53-54.
[537]
VALLEJO, M anuel Diez de Velasco. Las organizaciones internacionales. 11. ed. M adrid: Tecnos, 1999, p. 67.
[538]
Op. cit., p. 70.
[539]
Vide: Nuremberg Trials, disponível em https://www.loc.gov/rr/frd/M ilitary_Law/Nuremberg_trials.html
[540]
Seitenfus (Ibidem, p. 27) oportunamente descarta o termo “multinacional” para caracterizar tais empresas por elas possuírem uma matriz num determinado
Estado e atividades de produção ou serviços por meio de filiais localizadas em outros Estados. Já Joaquim da Silva Cunha (Op. cit., p. 112) afirma que, ante o estado
atual da doutrina e perante a falta de acordo entre os Estados sobre esta matéria, é possível aceitar que a sociedade transnacional é a que procura otimizar os seus
lucros por meio de operações com ou no estrangeiro, sujeita a influências nacionais diversas e exercendo pressão sobre dois ou mais Estados.
[541]
Recherces sur les Sociétes Transnationales, 1976 (E/C 10/12).
[542]
A Companhia Barcelona Traction foi constituída em 1911 em Toronto (Canadá), onde se encontra a sua sede. Com a finalidade de criar e de desenvolver um
sistema de produção e distribuição de energia elétrica na Catalunha (Espanha), esta companhia formou várias companhias subsidiárias, cujos escritórios foram
registrados no Canadá e na Espanha. Após a Primeira Guerra M undial, o capital financeiro da Barcelona Traction foi adquirido em grande parte por nacionais belgas.
Em 1936, as transações de seus foram suspensas em razão da Guerra Civil Espanhola. Após esta guerra, as autoridades espanholas de controle de câmbio recusaram-
se a autorizar a transferência da moeda corrente estrangeira necessária para a reativação das transações dos títulos em Libras Esterlinas. Em 1948, três detentores
espanhóis de títulos pagáveis em Libras da Barcelona Traction solicitaram à Corte de Reus (província de Tarragona) que esta fizesse uma declaração julgando a
companhia falida, devido ao não pagamento dos títulos. Em 12 de fevereiro de 1948, um julgamento declarou a companhia falida, requisitando a apreensão dos
recursos da Barcelona Traction e de duas de suas companhias subsidiárias. Com a finalidade de obter reparação pelos danos sofridos por seus nacionais, acionistas da
companhia, o governo belga depositou um primeiro requerimento junto à Corte contra o governo espanhol em 1958. Em 1961, solicitou a interrupção do processo,
em razão das negociações entre os representantes dos interesses privados envolvidos, e o caso foi removido da lista geral da Corte. Tendo as negociações falhado, o
governo belga, em 19 de junho de 1962, submeteu à Corte uma nova demanda. Esta foi apresentada em nome de pessoas físicas e jurídicas, nacionais belgas e
acionistas da Barcelona Traction prejudicadas pelos tos contrários ao direito internacional cometidos em desfavor da companhia por órgãos do Estado espanhol. Em
sua defesa, o Governo espanhol alegou a incapacidade do governo belga para submeter qualquer reivindicação relativa aos erros cometidos contra uma companhia
canadense, mesmo sendo os acionistas belgas. A Corte considerou que faltou à Bélgica jus standi para exercer a proteção diplomática dos acionistas de uma
companhia canadense, no que se refere a medidas contra ela empreendidas na Espanha. Vide: http://www.icj-cij.org/en/case/41
[543]
No caso, a Cláusula 16.1 do Contrato de Participação, ao não obter a autorização ministerial necessária para os fins de transferência de direitos.
[544]
Além da indenização de US$ 1.769.625.000,00 o Tribunal impôs o pagamento de juros de 4,188% ao ano sobre o valor da indenização de 16 de maio de 2006
até a data do Laudo – 5 de outubro de 2012 –, e de juros posteriores à emissão do Laudo, de acordo com a taxa LIBOR. Caso CIADI NO. ARB/06/11 disponível
em:
http://www.internationalarbitrationcaselaw.com/a/internationalarbitrationcaselaw.com/web/casos/occidentalpetroleumcorporationyoccidentalexplorationproductioncom
[545]
A Itaipu é resultado de intensas negociações entre Brasil e Paraguai, que ganharam em impulso na década de 1960. Em 22.06.1966, os M inistros das Relações
Exteriores do Brasil, Juracy M agalhães, e do Paraguai, Sapena Pastor, assinaram a Ata do Iguaçu, uma declaração conjunta que manifestava a disposição de estudar o
aproveitamento dos recursos hidráulicos pertencentes em condomínio aos dois países, no trecho do Rio Paraná “desde e inclusive o Salto de Sete Quedas até a foz do
Rio Iguaçu”. Em 1970, o consórcio formado pelas empresas IECO (Estados Unidos da América) e ELC (Itália) venceu a concorrência internacional para a realização
dos estudos de viabilidade e para a elaboração do projeto da obra. O início do trabalho deu-se em fevereiro de 1971 e, como resultado, em 26.04.1973, Brasil e
Paraguai assinaram o Tratado de Itaipu, instrumento legal para o aproveitamento hidrelétrico do Rio Paraná pelos dois países. A entidade binacional, denominada
Itaipu, foi criada em maio de 1974, para gerenciar a construção da usina, sendo que o início efetivo das obras deu-se em janeiro de 1975. A entrada das unidades
geradoras em operação comercial aconteceu a partir de 05.05.1984. As unidades geradoras foram sendo instaladas, de acordo com o cronograma, ao ritmo de duas a
três por ano, até que a décima oitava e última unidade geradora entrou em fase de produção comercial de energia no dia 09.04.1991. Embora seja de Direito Privado, a
empresa foi financiada pelo poder público e não esteve sujeita ao confisco do governo Collor, que atingiu pessoas físicas e jurídicas internas, inclusive as empresas
transnacionais instaladas em nosso país.
[546]
Op. cit., p. 249.
[547]
Vide Droit international public, p. 563.
[548]
Afirma ser o termo “organizações internacionais” uma designação ampla, abarcando duas realidades bem distintas: as organizações internacionais propriamente
ditas, correntemente chamadas de organizações intergovernamentais (OIG), e as organizações não governamentais (ONG). Vide CAM POS, João M ota de (Coord.).
Organizações internacionais. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1999, p. 22.
[549]
VON LISZT, Franz. Op. cit., p. 83.
[550]
FERREIRA FILHO, M anoel Gonçalves. Op. cit., p. 151.
[551]
Na maior parte das vezes, as confederações precedem a formação de estados federais.
[552]
É interessante notar que, segundo Louis Delbez (Op. cit., p. 50), a guerra entre Estados-membros de uma confederação não será entendida como uma guerra
civil, mas sim como uma guerra internacional.
[553]
Pelos fatos mais recentes, notamos que a Commonwealth tende cada vez mais a se descaracterizar, pois os vínculos dos Estados que a constituem tornam-se
dia a dia mais débeis.
[554]
A Turquia utilizou-se da vassalagem para reconhecer a autonomia de alguns povos que se emanciparam da sua soberania sem, contudo, reconhecer abertamente
essa emancipação, como o Egito, Romênia e a Bulgária.
[555]
Apesar de alguns autores, como Joaquim da Silva Cunha (Op. cit., p. 22), considerarem ainda em situação semelhante à vassalagem Andorra, Liecht enst ein,
M ônaco e San M arino.
[556]
T ratado de Fez, de 30.03.1912 (entre França e o Sultão do M arrocos), e Tratado entre França e Espanha, de 27.11.1912. No Tratado de Fez, o sultão
Abdelhafid do M arrocos cedeu a soberania do seu país a França, que acabou por transformar o território central e sul de M arrocos num protetorado, o Protetorado
Francês do M arrocos. Como parte do Tratado, a Alemanha reconheceu as esferas de influência da França e Espanha no M arrocos, recebendo em troca territórios no
Congo, que se converteram nos Camarões Alemães. A Espanha, por sua vez, recebeu alguns territórios no norte e sul de M arrocos, a concessão para a exploração das
minas de ferro do M onte Uixan e a permissão para construir uma estrada de ferro entre estas minas e a cidade de M ellila.
[557]
T ratado de Bardo, de 12.05.1881, e Convenção de M arsa, de 12.06.1883. O artigo 1º da Convenção de M arsa afirmava que “A fim de facilitar ao governo
francês o cumprimento de seu protetorado, Sua Alteza o Bei de Tunis se compromete em executar a reforma administrativa, judicial e financeira. que o governo
francês considera fundamental”.
[558]
O protetorado britânico sobre o Brunei foi instituído pelo Tratado de Proteção, de 17 de setembro de 1888, pelo qual se aceitou a presença de um cidadão
britânico como “consultor” do Sultão em assuntos internos e externos, à exceção de matéria que envolvesse o islamismo e a cultura malaia. Brunei obteve sua
independência do Reino Unido em 1] de janeiro de 1984.
[559]
BOBBIO, Norberto. Op. cit., p. 25.
[560]
Joaquim da Silva Cunha (Op. cit., p. 207) distingue os domínios da Sociedade Internacional em domínio direto – formado pelos espaços em que o Direito
Internacional é direta e imediatamente aplicável (p. e., limites e fronteiras) – e domínio indireto – constituído pelos espaços sob jurisdição dos Estados, onde o Direito
Internacional só é aplicável mediante incorporação nas respectivas ordens jurídicas ou em resultado de declarações de subordinação destas àquele (p. e., domínio
terrestre, fluvial, lacustre, marítimo e aéreo).
[561]
Uma análise profunda desse tratado poderá ser obtida na obra Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid (1750), organizada por Jaime Cortesão e publicada
pelo Instituto Rio Branco.
[562]
Que, em seu artigo V, afirmava: “As Praças, Castellos, Cidades, Lugares e Campos pertencentes às duas Coroas, assim em Europa como em qualquer outra
parte do mundo serão restituídas inteiramente (...) no mesmo estado que antes da presente guerra (...).” Vide CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado
de M adrid (1750). Rio de Janeiro: Instituto Rio Branco, 1951, Parte III, t. I, p. 75.
[563]
Como se observa no mapa apresentado à página 113 da obra de Synesio Sampaio Goes (Op. cit.), o Tratado de M adri levou o Brasil a ter limites muito
próximos dos atuais.
[564]
GOES, Synesio Sampaio. Op. cit., p. 115 et seq.
[565]
O princípio do uti possidetis passou a ser norma geral da diplomacia imperial brasileira a partir de 1849, quando assumiu o M inistério dos Negócios
Estrangeiros o futuro Visconde do Uruguai, Paulino José Soares de Souza.
[566]
GOES, Synesio Sampaio. Op. cit., p. 123-124.
[567]
Seu objetivo de ditar as normas internacionais que regulam as práticas relativas à concepção e ao funcionamento das aeronaves, às qualificações e às atividades
dos pilotos, das tripulações, dos controladores de tráfego aéreo e operadores terrestres e de manutenção, assim como os requisitos e procedimentos de segurança nos
aeroportos internacionais e a proibição do transporte aéreo de drogas ilícitas; fixar normas de voo e traçar mapas aeronáuticos para a navegação internacional; ajudar os
países em desenvolvimento a criar ou melhorar os seus sistemas de transporte aéreo e a formar o seu pessoal. Também é responsabilidade da OACI a harmonização
internacional dos sistemas aeronáuticos de telecomunicações (frequências de rádio e procedimentos de segurança).
[568]
A internacionalização do Canal de Kiel resultou dos artigos 380 a 386 do Tratado de Versalhes de 1919, denunciado unilateralmente pela Alemanha em 1936 e
restabelecido em 1945.
[569]
Disponível em http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/1825/b_2/
[570]
KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado, p. 319.
[571]
VERDROSS, Alfred. Derecho internacional publico. M adrid: Aguilar, 1974, p. 236.
[572]
QUOC DINH, Nguyen et al. Direito internacional público. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1999, p. 447.
[573]
AKEHURST, M ichael. Op. cit., p. 101.
[574]
O caso Nottebohm foi levado perante a Corte mediante o requerimento do Principado do Liechtenstein contra a República da Guatemala. O Liechtenstein
pediu uma restituição e compensação, tendo em vista medidas contrárias ao direito internacional tomadas pelo governo da Guatemala em relação ao Sr. Friedrich
Nottebohm, um cidadão do Liechtenstein. A Guatemala, por sua vez, alegou que o pedido era inadmissível por várias razões, uma das quais relacionada à
nacionalidade de Nottebohm, cuja proteção foi invocada pelo Liechtenstein ao acionar a Corte. Em sua sentença, a Corte aceitou o pedido da Guatemala e, em
th
consequência, considerou inadmissível a demanda do Liechtenstein. Vide: Nottebohm Case (second phase), Judgment of April 6 ., 1955: I.C. J. Reports 1955, p.
23.
[575]
Ao tratar da questão do serviço militar, Kelsen afirma que cidadania ou nacionalidade é um status pessoal, cuja aquisição e perda são reguladas pelo Direito
nacional e pelo internacional. Op. cit., p. 231
[576]
QUOC DINH, Nguyen et al. Op. cit., p. 447.
[577]
Op. cit., p. 239.
[578]
AM ORIM , Edgar Carlos de. Direito internacional privado. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 30.
[579]
No original: Art 116 (1) Deutscher im Sinne dieses Grundgesetzes ist vorbehaltlich anderweitiger gesetzlicher Regelung, wer die deutsche Staatsangehörigkeit
besitzt oder als Flüchtling oder Vertriebener deutscher Volkszugehörigkeit oder alsdessen Ehegatte oder Abkömmling in dem Gebiete des Deutschen Reiches nach
dem Stande vom 31. Dezember 1937 Aufnahme gefunden hat. (2) Frühere deutsche Staatsangehörige, denen zwischen dem 30. Januar 1933 und dem 8. M ai 1945 die
Staatsangehörigkeit aus politischen, rassischen oder religiösen Gründen entzogen worden ist, und ihre Abkömmlinge sind auf Antrag wieder einzubürgern. Sie gelten
als nicht ausgebürgert, sofern sie nach dem 8. M ai 1945 ihren Wohnsitz in Deutschland genommen haben und nicht einen entgegengesetzten Willen zum Ausdruck
gebracht haben.
[580]
Segundo Amorim (Ibidem, p. 31), dentro do sistema do jus soli são brasileiros os nascidos no solo pátrio, nas aeronaves militares e públicas, nos navios de
guerra, no mar territorial, nas sedes das embaixadas, nas ilhas, nos golfos, nos estreitos, nos canais, nos lagos, nos rios, bem como no nosso espaço aéreo. No Brasil, a
matéria está sob a competência do M inistério da Justiça (art. 1º - VII, Decreto nº 9.150/2017 – Anexo I).
[581]
A Lei n. 1.542, de 05.01.1952, dispõe sobre o casamento de funcionários de carreira diplomática com pessoa de nacionalidade estrangeira.
[582]
Aos filhos de brasileiro ou brasileira nascidos no exterior após 07.06.1994, cujos pais não estejam a serviço do governo brasileiro, será expedido, até a
maioridade, documento de viagem brasileiro com a seguinte anotação: “Passaporte concedido à luz do artigo 12, inciso I, letra c, da Constituição Federal de 1988.”
[583]
Vide: DJ 22-04-2005, pp.00015 EM ENT VOL-02188-04 pp.00756 LEXSTF v. 27, n. 318, 2005, p. 246-254 RT v. 94, n. 838, 2005, p. 176-180 RTJ VOL-
00194-03 pp.-01069.
[584]
Segundo Akehurst (Op. cit., p. 103).
[585]
A Cédula de Identidade de Estrangeiro – CIE é concedida ao portador de visto temporário, permanente, asilado ou refugiado e fronteiriço, com validade em todo
território nacional, com prazo de validade de nove anos de acordo com a Portaria/M J nº 526, de 12.05.1995. No curso do processo de naturalização, o naturalizando
poderá requerer a tradução ou a adaptação do seu nome à língua portuguesa, mas será mantido cadastro com o nome traduzido ou adaptado associado ao nome
anterior (art. 71, §§ 1º e 2º da Lei de M igração).
[586]
Vide Portaria/M J nº 1, de 23 de janeiro de 2007, que estabelece a relação de documentos necessários à instrução de processos administrativos de naturalização
ordinária e extraordinária.
[587]
Com relação aos modelos e documentos exigidos para instruir o pedido de naturalização, vide a Portaria/M J n. 703, de 13 de junho de 1995.
[588]
Conforme prescreve o artigo 73 da Lei de M igração, a naturalização produz efeitos após a publicação no Diário Oficial do ato de naturalização.
[589]
A competência da entrega do certificado é do Juiz Federal da cidade onde tenha o interessado residência. Onde houver mais de um Juiz Federal, a entrega será
feita pelo da 1ª Vara. Na ausência deste a entrega deverá ser feita pelo Juiz Ordinário da Comarca e, na sua falta, pelo da Comarca mais próxima.
[590]
O naturalizando tem o prazo de 12 (doze) meses, contados da data da publicação, para comparecer em juízo e solicitar a entrega do certificado de naturalização.
Se não o fizer neste prazo, salvo motivo de força maior, devidamente comprovado perante o M inistro da Justiça, o certificado será devolvido ao Departamento de
Estrangeiros, a fim de que seja determinado o cancelamento do mesmo, bem como o arquivamento do processo. Neste caso, o ato de naturalização não se completará,
ficando, automaticamente, sem efeito.
[591]
Pela Portaria/M J nº 1/2007, foi instituída a realização do teste de português, devidamente assinado pelo naturalizando e atestado pela autoridade que o
aplicou.
[592]
De acordo com o artigo 4º da Lei n. 6.192, de 19.09.1974.
[593]
A declaração de nulidade processar-se-á administrativamente no M inistério da Justiça, de ofício ou mediante representação fundamentada. Tal reflete
entendimento geral, expresso na Súmula 473 do STF pela qual: “A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem ilegais,
porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos,
a apreciação judicial”.
[594]
Werner Rydl adquiriu a nacionalidade brasileira por meio de processo administrativo de naturalização, que resultou na Portaria nº 1.037, de 21 de agosto de
1995, do M inistro da Justiça. No processo administrativo, apurou-se a observância dos requisitos objetivos e subjetivos autorizadores da naturalização, inclusive
com a declaração pelo impetrante de que nunca fora condenado, nem respondera a processo de qualquer natureza no Brasil ou no exterior. Contudo, mais de doze
anos depois, o recorrente teve sua naturalização anulada, após procedimento administrativo que apurou a existência de erro de fato consubstanciado na omissão pelo
impetrante de sua condição de condenado em momento anterior à naturalização. Por essa razão, o ato, por meio da Portaria nº 361, de 20 de fevereiro de 2008, foi
declarado nulo, com base na previsão legal contida no art. 112, §§ 2º e 3º, da Lei nº 6.815/80 – Estatuto do Estrangeiro. Diante disso, impetrou o recorrente mandado
de segurança perante o STJ, requerendo a declaração de nulidade do ato administrativo externado por meio da Portaria nº 361/2008, do M inistro da Justiça, e o
reconhecimento da impossibilidade da perda da naturalização pela via administrativa, em face do que dispõe o inciso I, § 4º, do art. 12 da Constituição de 1988. Nos
autos da Extradição nº 975 (Relator o M inistro M arco Aurélio, DJ de 13/10/06), o Supremo Tribunal Federal já havia concedido a sua extradição para o Governo da
Áustria, tendo sido entregue às autoridades austríacas em setembro de 2009. É importante destacar que o recorrente foi extraditado em virtude da prática de crime
comum praticado antes da naturalização (art. 5º, LI, CF/88).
[595]
CASTRO, Amílcar de. Direito internacional privado. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 401, 403.
[596]
Segundo Quoc Dinh (Op. cit., p. 449), a Constituição Soviética de 1924 autorizava qualquer trabalhador estrangeiro estabelecido na URSS a adquirir sua
nacionalidade.
[597]
Vide: TRF-1 - AC: 63972 M G 2000.01.00.063972-8, Relator: DESEM BARGADOR FEDERAL FAGUNDES DE DEUS, Data de Julgamento:
16/11/2005, QUINTA TURM A, Data de Publicação: 28/11/2005 DJ p.101
[598]
Conforme disposto no art. 1º do Decreto nº 3.453/2000: “Fica delegada competência ao M inistro de Estado da Justiça, vedada a subdelegação, para declarar a
perda e a reaquisição da nacionalidade brasileira nos casos previstos nos arts. 12, § 4o, inciso II, da Constituição, e 22, incisos I e II, e 36 da Lei no 818, de 18 de
setembro de 1949.”.
[599]
O Caso envolve Cláudia Cristina Sobral, brasileira naturalizada norte-americana, acusada pelas autoridades dos Estados Unidos da América, de ter praticado
o crime de homicídio contra seu marido, nacional norte-americano, razão pela qual foi formulado pedido de extradição. Nascida no Brasil de pais brasileiros, ela
radicou-se nos Estados Unidos da América, onde se casou, em 1990, com Thomas Bolte, razão pela qual obteve visto de permanência naquele país, o denominado
“green card”, requerendo em 1999, a nacionalidade norte-americana, e ao obtê-la declarou “renunciar e abjurar fidelidade a qualquer Estado ou soberania”. Divorciada
de Thomas Bolte, casou-se novamente com Karl Hoerig. Investigações policiais realizadas no Estado de Ohio revelaram que, em 10.03.2007, Cláudia teria comprado
um revólver Smith & Wesson, calibre 357, com visor laser incorporado, tendo praticado tiro ao alvo em polígono de tiro próximo ao seu local de residência. Em
12.03.2007, um vizinho teria visto Cláudia deixar sua residência. Três dias depois, o corpo de seu segundo marido, Karl Hoerig, foi encontrado na residência do casal
com ferimentos à bala na cabeça e nas costas. Pouco dias depois, Claudia chegava ao Brasil, de onde jamais voltaria aos Estados Unidos da América, onde fora
formalmente acusada do homicídio de Karl Hoerig. Em 12.09.2011, foi aberto de ofício o Procedimento Administrativo nº 08018.011847/2011-01 que culminou com
a declaração de perda da nacionalidade brasileira, veiculada na Portaria M inisterial nº 2.465/13. Em 09.09.2013, foi requerida pelos Estados Unidos da América a sua
prisão para fins de extradição, por meio da Nota Verbal nº 617. Após a negativa deste M andado de Segurança, o STF decidiu a favor da extradição de Cláudia, em 28
de maço de 2017 – Extradição nº 1462 –. Vide: http://stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp
[600]
Recentemente, porém, chegou-se ao entendimento de que poderá ser promovida a revogação do decreto de perda de nacionalidade, caso a caso, sem a
necessidade de o interessado voltar a residir no Brasil.
[601]
Conforme:http://www.abe.mre.gov.br/mundo/america-do-norte/estados-unidos-da-america/washington/servicos/reaquisição _nacionalidade, consultado em 12
de maio de 2008.
[602]
Essas exigências são formuladas igualmente aos brasileiros em território português. Os direitos e obrigações civis e o gozo dos direitos políticos podem ser
requeridos isoladamente ou em conjunto, desde que preencha o interessado os requisitos exigidos para ambos.
[603]
Com a juntada da seguinte documentação: cópia autenticada da Carteira de identidade para estrangeiro permanente; certidão consular atual de nacionalidade
portuguesa, da qual conste, expressamente, que se destina a instruir pedido de reconhecimento de igualdade de direitos e obrigações civis; declaração de residência, sob
as penas da lei, anexando o comprovante de residência (conta de água, luz, telefone ou outros); atestado de antecedentes criminais, expedido pelo Instituto de
Identificação da Secretaria de Segurança Pública.
[604]
Por meio da juntada dos seguintes documentos: cópia autenticada da carteira de identidade brasileira; certidão consular atual de não privação dos direitos
políticos em Portugal na qual se destina a instruir pedido de igualdade de direitos políticos; declaração de residência, sob as penas da lei, anexando o comprovante de
residência (conta de luz, água, telefone ou outros); atestado de antecedentes criminais, expedido pelo Instituto de Identificação da Secretaria de Segurança Pública;
prova de que sabe ler e escrever o idioma português, por meio de diploma ou declaração de escolaridade; certidão consular comprovando que possui a nacionalidade
portuguesa; original do certificado de igualdade de direitos e obrigações civis.
[605]
Adotada em 28 de setembro de 1954 pela Conferência de Plenipotenciários convocada pela Resolução 526 A (XVII) do Conselho Econômico e Social.
[606]
T rata-se de apelação e remessa oficial da União Federal em razão de sentença que julgou procedente o pedido para reconhecer a condição de apátrida do
autor, Andrimana Buyoya Habiziman, e condenar a União a conferir-lhe os direitos mencionados na Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas, promulgado pelo
Decreto 4.246/2002. Andrimana pleiteou que fosse reconhecido pelo Brasil a sua condição de apátrida. Alegou que nasceu no Burundi, pequeno país da África, que
faz fronteira com a Ruanda, a Tanzânia e a República Democrática do Congo, região conhecida pelos conflitos étnicos e guerras civis. Em razão do genocídio étnico,
crise econômica e política e o falecimento de seus familiares, em 2006, embarcou clandestinamente em navio cargueiro proveniente da África do Sul, tendo
desembarcado no Porto de Santos-SP. No mesmo ano, embarcou no voo com destino a Lisboa, mas foi devolvido ao Brasil, em razão de ter se utilizado de falsa
documentação. Em seguida, foi condenado pela justiça brasileira, já tendo cumprido a pena integralmente por esse crime. Em razão de diligências promovidas pela
Polícia Federal, tanto a Embaixada de Burundi não lhe assegurou a cidadania quanto a Embaixada da África do Sul, local de embarque para o Brasil, informou não
aceitar sua deportação. Assim, ficou em um limbo jurídico, pois nenhum Estado lhe reconheceu como cidadão. Em sequência, solicitou ao Conselho Nacional para
Refugiados – CONARE e ao Conselho Nacional de Imigração – CNIg, refúgio político e visto permanente, tendo obtido negativa em ambos os pleitos.
Preliminarmente, suscitou a União ausência de interesse de agir do apelado. Alega que o apelado não apresentou provas contundentes de que havia requerido a
nacionalidade burundiana e que esta lhe foi negada. Vide: TRF-5 - REEX: 200984000065700, Relator: Desembargador Federal Bruno Leonardo Câmara Carrá, Data
de Julgamento: 29/09/2011, Terceira Turma, Data de Publicação: 17/11/2011, https://trf-5.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23510117/apelreex-apelacao-reexame-
necessario-reex
[607]
Com relação aos estrangeiros residentes no exterior reza o Manual de Serviço Consular e Jurídico que a Autoridade Consular deverá alistar os brasileiros
entre 18 e 45 anos de idade, sendo a época normal de alistamento o primeiro semestre do ano em que completar 18 anos. No caso dos brasileiros naturalizados e
por opção o alistamento deverá ser feito dentro do prazo de 30 (trinta) dias, a contar da data em que receberam o certificado de naturalização ou da assinatura do
termo de opção. Por fim, o brasileiro que não tiver se apresentado para o alistamento obrigatório estará sujeito à multa, segundo a norma supra citada.
[608]
Segundo o Parecer do Instituto de Direito Internacional, 1931, referente ao Jus Avocandi e Criminis Delictus.
[609]
No original: Article 1. Definition and scope - For the purposes of the present draft articles, diplomatic protection consists of the invocation by a State,
through diplomatic action or other means of peaceful settlement, of the responsibility of another State for an injury caused by an internationally wrongful act of that
State to a natural or legal person that is a national of the former State with a view to the implementation of such responsibility. Vide: Yearbook of the International
Law Commission, 2006, vol. II, Part Two.
[610]
Instituído através de uma demanda datada de 19 de junho de 1962, na qual o governo belga solicitou a reparação por danos causados a seus nacionais,
acionistas da Companhia Canadense Barcelona Traction, cometidos por vários órgãos do Estado espanhol e que levaram a empresa à falência. Vide: http://www.icj-
cij.org/en/case/50
[611]
Emigrante é o brasileiro que se estabelece temporária ou definitivamente no exterior (art. 1º, § 1º, III – Lei de M igração).
[612]
Em 1982, as autoridades do Arizona (Estados Unidos) prenderam dois nacionais alemães Karl e Walter LaGrand, Estes, contudo, foram julgados e condenados
à pena capital sem terem sido informados de seus direitos, como o exige a alínea b do parágrafo 1º do artigo 36 da Convenção de Viena. Como a notificação não foi
realizada, a Alemanha ficou impedida de proteger os interesses de seus nacionais perante os tribunais dos Estados Unidos, tanto em primeira instância quanto em
grau de apelação, como o preveem os artigos 5 e 36 da Convenção de Viena. Assim sendo, esta instaurou um processo contra os Estados Unidos perante a CIJ em 2
de março de 1999, requerendo medidas cautelares urgentes para impedir a execução de Walter LaGrand, marcada para 3 de março – uma vez que Karl LaGrand já
havia sido executado em 24 de fevereiro –, ressaltando que “a importância e o caráter sagrado da vida humana são princípios consolidados do direito internacional”.
Por carta de 2 de março de 1999, o Vice-Presidente da Corte dirigiu-se ao governo dos Estados Unidos nos termos seguintes: “Exercendo a presidência da Corte em
virtude dos artigo 13 e 32 do Regulamento da Corte, e agindo conforme as disposições do parágrafo 4º do artigo 74 do referido Regulamento, chamo, pela presente, a
atenção do vosso governo sobre a necessidade de agir de maneira que qualquer decisão da Corte sobre a demanda de indicação de medidas cautelares possa ter os
efeitos pretendidos”. Walter LaGrand foi executado em 3 de março de 1999. Vide: http://www.icj-cij.org/en/case/104
[613]
T rata-se de demanda impetrada pelo M éxico em 2003, no que tange à violação dos artigos 5º e 36º da Convenção de Viena sobre Relações Consulares em
relação a cinquenta e quatro cidadãos mexicanos que haviam sido julgados e condenados à morte em alguns Estados norte-americanos, sem que lhes fossem garantidas
quaisquer assistência consular para auxiliá-los na defesa de seus julgamentos. Nesse sentido, o M éxico requereu que os Estados Unidos fossem condenados por
violação de suas obrigações internacionais e que fossem adotadas todas as medidas necessárias para impedir qualquer execução de cidadão mexicano enquanto não
lhes fosse garantido o direito à assistência consular. Como decisão provisória, a CIJ solicitou que os Estados Unidos adotassem todas as medidas necessárias para
garantir que os cidadãos mexicanos não fossem executados enquanto não houvesse uma decisão definitiva sobre o caso. O M éxico voltou a ingressar na CIJ com um
pedido de interpretação de sua decisão (2008) e de medidas provisórias (2009), após a execução de José Ernesto M edellín Rojas no Texas, em 5 de agosto de 2008. A
CIJ afirmou, em 19 de janeiro de 2009, que os Estados Unidos violaram a obrigação que lhes foram impostas nos acórdãos de 2004 e 2008, decidindo que este
deveria oferecer garantias de que não haverá nova execução de um cidadão mexicano envolvido no processo, enquanto todas as medidas referentes ao acesso aos
serviços consulares e de revisão e reconsideração das sentenças não fossem adotadas. Vide: Avena and Other M exican Nationals (M exico v. United Slates of
America), Judgment, I. C. J. Reports 2004, p. 12; e, Request for Interpretation of the Judgment of 31 M arch 2004 in the Case concerning Avena and Other M exican
Nationalsc(M exico v. United States of America), Judgment, I.C.J. Reports 2009, p. 3
[614]
Recurso Ordinário interposto por Juscelino Nóbrega da Luz contra sentença que, concluindo pela incompetência da Justiça pátria, extinguiu, sem exame de
mérito Ação Ordinária proposta por cidadão brasileiro contra Estados Unidos da América – EUA, sob alegação de constituir-se em credor da promessa de
recompensa publicamente efetivada pelo Estado recorrido, equivalente a US$ 25.000.000,00 (vinte e cinco milhões de dólares norte-americanos). Nesta ação, este
afirmava que, possuindo o dom da premonição, desde antes da deflagração do conflito bélico entre EUA e Iraque, havia endereçado missivas a diversas autoridades
norte-americanas nas quais indicava precisamente o esconderijo de Saddam Hussein, capturado em 14.12.2003, consoante se infere dos seguintes excertos extraídos
da carta remetida ao próprio Presidente dos EUA. STJ - RO: 39 M G 2004/0088522-2, Relator: M inistro JORGE SCARTEZZINI, Data de Julgamento: 06/10/2005,
T4 - Quarta Turma, Data de Publicação: DJ 06/03/2006 p. 387RDR vol. 40 p. 452.
[616]
Com destaque para a Lei 6.815/80 (Estatuto do Estrangeiro), Decreto 86.715/81 (Regulamenta a Lei 6815/80), Decreto 3.447/2000 (Delega competência ao
M inistério da Justiça para resolver sobre Expulsão de Estrangeiro).
[617]
Considera-se como turismo qualquer atividade de caráter recreativo ou de visita, sem finalidade imigratória do estrangeiro.
[618]
Concedido para aqueles profissionais que venham ao Brasil em atividades empresariais, sem a intenção de imigrar.
[619]
Concedido ao estrangeiro que, para atingir o país de destino, tenha que entrar uma única vez, em território brasileiro.
[620]
Indicado para os profissionais que vêm ao Brasil para participar de eventos de natureza artística ou prática de desportos, sem vínculo empregatício no País.
Lembrando que a instituição que receberá o estrangeiro deve ter a autorização prévia do M inistério do Trabalho e Emprego.
[621]
O beneficiário deste visto poderá, no entanto, receber pagamento do governo, de empregador brasileiro ou de entidade privada a título de diária, ajuda de custo,
cachê, pró-labore ou outras despesas com a viagem, bem como concorrer a prêmios, inclusive em dinheiro, em competições desportivas ou em concursos artísticos
ou culturais, de acordo com o parágrafo segundo do art. 13 da Lei de M igração.
[622]
Poderá ser concedido ao imigrante com ou sem vínculo empregatício com a instituição de pesquisa ou de ensino brasileira, exigida, na hipótese de vínculo, a
comprovação de formação superior compatível ou equivalente reconhecimento científico.
[623]
Poderá ser concedido ao imigrante e a seu acompanhante, desde que o imigrante comprove possuir meios de subsistência suficientes.
[624]
Poderá ser concedido ao apátrida ou ao nacional de qualquer país em situação de grave ou iminente instabilidade institucional, de conflito armado, de
calamidade de grande proporção, de desastre ambiental ou de grave violação de direitos humanos ou de direito internacional humanitário, ou em outras hipóteses, na
forma de regulamento.
[625]
Poderá ser concedido ao imigrante que pretenda vir ao Brasil para frequentar curso regular ou realizar estágio ou intercâmbio de estudo ou de pesquisa. Aos
estudantes de cursos regulares (ensinos fundamental, médio, superior, pós-graduação e outros), é vedada atividade remunerada, sob pena de multa, notificação ou
ainda deportação. Terá validade de até 1 (um) ano, prorrogável por igual período sucessivas vezes até o fim do curso. O pedido de prorrogação deve ser autuado até
30 (trinta) dias antes do prazo expirar na Polícia Federal local ou no Protocolo Geral do M inistério da Justiça. O estudante poderá transferir de curso ou de
instituição diversa daquela que deu ensejo ao visto, devendo o titular do visto informar ao M inistério da Justiça, no momento do pedido de prorrogação, as alterações
nas condições que ensejaram a concessão do visto.
[626]
Poderá ser concedido ao imigrante que venha exercer atividade laboral, com ou sem vínculo empregatício no Brasil, desde que comprove oferta de trabalho
formalizada por pessoa jurídica em atividade no País, dispensada esta exigência se o imigrante comprovar titulação em curso de ensino superior ou equivalente. A
empresa responsável pelo ingresso e estada do estrangeiro no Brasil deve solicitar previamente junto ao M inistério do Trabalho e Emprego, a autorização de trabalho
correspondente, observadas as Resoluções do Conselho Nacional de Imigração – CNIg. É reconhecida ao imigrante a quem se tenha concedido visto temporário para
trabalho a possibilidade de modificação do local de exercício de sua atividade laboral (art. 14, § 8º - Lei de M igração). Caso o estrangeiro seja admitido no território
nacional para prestar serviço em uma determinada empresa e pretenda transferir-se para outra deve solicitar, previamente (via Protocolo junto à Polícia Federal ou no
Protocolo Geral do M inistério da Justiça), a competente autorização do M inistério da Justiça, que ouvirá o M inistério do Trabalho e Emprego.
[627]
Poderá ser concedido ao imigrante maior de 16 (dezesseis) anos que seja nacional de país que conceda idêntico benefício ao nacional brasileiro, em termos
definidos por comunicação diplomática.
[628]
Aplica-se àqueles que viajam com atribuições de ministro de confissão religiosa ou membro de instituto de vida consagrada e de congregação ou ordem
religiosa, sendo, neste caso, o visto concedido por até 1 (um) ano prorrogável por igual período, findo este prazo poderá pleitear a transformação em permanente,
por meio de requerimento endereçado ao M inistério da Justiça.
[629]
Poderá ser concedido ao imigrante que aporte recursos em projeto com potencial para geração de empregos ou de renda no País.
[630] Poderá ainda ser concedido caso o imigrante seja beneficiário de tratado em matéria de vistos ou em atendimento a interesses da política migratória nacional
(art. 33, I, II – Decreto nº 9.199/2017).
[631]
Possui validade de até 2 (dois) anos ou pelo período da missão, atendendo o princípio da reciprocidade. A concessão dos vistos oficiais é de competência do
M inistério das Relações Exteriores.
[632]
Pela regra do art. 17, parágrafo único da Lei de M igração, dependente de titular de visto diplomático ou oficial poderá exercer atividade remunerada
no Brasil, sob o amparo da legislação trabalhista brasileira, desde que seja nacional de país que assegure reciprocidade de tratamento ao nacional brasileiro, por
comunicação diplomática.
[633]
Caso seu titular permaneça em nosso país por mais de 90 dias, deverá providenciar seu registro no M inistério das Relações Exteriores (art. 61, Decreto nº
86.715/81).
[634]
Válido por 90 (noventa) dias, prorrogável por igual período junto ao M inistério das Relações Exteriores.
[635]
O Espaço Schengen permite a livre circulação de pessoas dentro dos países signatários, sem a necessidade de apresentação de passaporte nas fronteiras.
M esmo que não haja controle nas fronteiras, os cidadãos residentes nos países signatários devem, por norma, portar um documento legal de identificação, como a
carteira de identidade. Para os turistas de países não signatários, a prova de identidade é sempre o passaporte ou, no caso de longa permanência, o documento legal
substitutivo, emitido pelas autoridades de imigração de um dos países signatários. Fazem parte do Espaço não apenas Estados-membros da União Européia (a
exceção de Bulgária, Chipre, Croácia, Irlanda, Reino Unido e Romênia), mas ainda Liechtenstein, Noruega, Islândia e Suíça.
[636]
Aos cidadãos estrangeiros que visitam o Espaço Schengen e que estão sujeitos à obrigação de visto nos termos do Regulamento (UE) n.º 539/2001 é concedido
um visto comum que lhes permite circular livremente no território Schengen durante o seu período de validade. Esse período não pode ultrapassar 90 dias. As
estadias de duração superior a 90 dias e as condições de residência nos países Schengen são regidas pela legislação nacional.
[637]
Esta norma jurídica alterou dispositivos do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal -, relativos à prisão processual, fiança,
liberdade provisória e demais medidas cautelares.
[638]
P rocesso no qual se requereu a p risão p reventiva de Luiz Rup p enthal, diretor técnico da União dos Trabalhadores em Resíduos Esp eciais e
Saneamento Ambiental – UTRESA, entidade que teria sido ap ontada como diretamente resp onsável p ela mortandade de p eixes no Rio dos Sinos devido à
violação das normas de p roteção ambiental e do p róp rio emp reendimento, p elo fato deste não colaborar com a investigação e estar obstruindo p rovas. STF,
Relator M inistro M arco Aurélio, p ublicado no Diário da Justiça de 23.10.2007, p . 29.
[639]
A decisão envolveu Efrain del Carmen Cortes Olivares, de nacionalidade chilena, condenado à pena de 2 anos, 2 meses e 10 dias de reclusão, substituída por
duas sanções restritivas de direitos. Tendo em vista que o paciente não demonstra vínculo com o território nacional e foi preso em flagrante, portando droga, quando
embarcava para o exterior, condicionou-se a concessão da ordem ao acautelamento de seu passaporte, na Secretaria do Juízo, e à assinatura de termo de compromisso
de comparecimento a todos os atos do processo, sempre que se fizesse necessário. No Habeas Corpus impetrado, este alegou que a retenção do seu passaporte
ensejaria constrangimento ilegal, pois o impediria de trabalhar.
[640]
Conceder-se-á passaporte diplomático: ao Presidente da República, ao Vice-Presidente e aos ex-Presidentes da República; aos M inistros de Estado, aos
ocupantes de cargos de natureza especial e aos titulares de Secretarias vinculadas à Presidência da República; aos Governadores dos Estados e do Distrito Federal; aos
Funcionários da Carreira de Diplomata, em atividade ou aposentados; aos Oficiais de Chancelaria; aos Vice-Cônsules em exercício; aos correios diplomáticos; aos
adidos credenciados pelo M inistério das Relações Exteriores; aos militares a serviço em missões da Organização das Nações Unidas e de outros organismos
internacionais, a critério do M inistério das Relações Exteriores; aos chefes de missões diplomáticas especiais e aos chefes de delegações a reuniões de caráter
diplomático, desde que designados por decreto; aos membros do Congresso Nacional; aos M inistros do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores da União
e do Tribunal de Contas da União; ao Procurador-Geral da República e aos Subprocuradores-Gerais do M inistério Público Federal; aos juízes brasileiros em Tribunais
Internacionais Judiciais ou Tribunais Internacionais Arbitrais; a funcionários de outras categorias (a critério do M inistério das Relações Exteriores e levando-se em
conta as peculiaridades do país onde estiverem a serviço, em missão de caráter permanente); a pessoas que devam portá-lo em função do interesse do País (mediante
autorização do M inistro de Estado das Relações Exteriores). Vide art. 6º do Decreto nº 5.978/2006.
[641]
O passaporte oficial será concedido: aos servidores da administração direta que viajem em missão oficial dos governos Federal, Estadual e do Distrito Federal;
aos servidores das autarquias dos governos Federal, Estadual e do Distrito Federal, das empresas públicas, das fundações federais e das sociedades de economia mista
em que a União for acionista majoritária; às pessoas que viajem em missão relevante para o País, a critério do M inistério das Relações Exteriores; aos auxiliares de
adidos credenciados pelo M inistério das Relações Exteriores (art. 7º - Decreto nº 5.978/2006).
[642]
Concedido a todo brasileiro (art. 10 - Decreto nº 5.978/2006).
[643]
O passaporte para estrangeiro poderá ser concedido tanto no território nacional quanto no exterior. No território nacional será concedido: ao apátrida ou de
nacionalidade indefinida; ao asilado ou refugiado no País, desde que reconhecido nestas condições pelo governo brasileiro; ao nacional de país que não tenha
representação no território nacional nem seja representado por outro país, ouvido o M inistério das Relações Exteriores; ao estrangeiro comprovadamente desprovido
de qualquer documento de identidade ou de viagem, e que não tenha como comprovar sua nacionalidade; ao estrangeiro legalmente registrado no Brasil e que necessite
deixar o território nacional e a ele retornar, nos casos em que não disponha de documento de viagem. Já no exterior será concedido: ao apátrida ou de nacionalidade
indefinida; ao cônjuge, viúvo ou viúva de brasileiro que haja perdido a nacionalidade originária em virtude de casamento; ao estrangeiro legalmente registrado no Brasil
e que necessite ingressar no território nacional, nos casos em que não disponha de documento de viagem válido, ouvido o Departamento de Polícia Federal (art. 12 do
Decreto nº 5.978/2006).
[644]
Será concedido passaporte de emergência àquele que, tendo satisfeito às exigências para concessão de passaporte, necessite de documento de viagem com
urgência e não possa comprovadamente aguardar o prazo de entrega, nas hipóteses de catástrofes naturais, conflitos armados ou outras situações emergenciais,
individuais ou coletivas, definidas em ato dos M inistérios da Justiça ou das Relações Exteriores, conforme o caso (art. 13 do Decreto nº 5.978/2006).
[645]
Consideram-se repartições consulares os consulados gerais, consulados, vice-consulados, setores consulares das missões diplomáticas e escritórios de
representação do Brasil no exterior (art. 5º, parágrafo único do Decreto nº 5.798/2006).
[646]
Vide Artigos 20 a 22, Decreto nº 5.978, de 4 de dezembro de 2006.
[647]
A vacina contra febre amarela requer um prazo de aproximadamente 10 dias para surtir efeito.
[648]
Op. cit., p. 289.
[649]
Princípio segundo o qual nenhum refugiado será expulso ou reenviado para um país onde a sua vida ou liberdade estejam ameaçadas. Aplica-se sempre que um
refugiado se encontra no território, ou nas fronteiras de um determinado país, independentemente de ter sido, ou não, formalmente reconhecido o seu estatuto de
refugiado.
[650]
Concluída em Genebra, em 28 de julho de 1951, e promulgada no Brasil pelo Decreto nº 50.215, de 28 de janeiro de 1961.
[651]
Concluído em Nova York, a 31 de Janeiro de 1967, e promulgado no Brasil pelo Decreto nº 70.946, de 7 de agosto de 1972.
[652]
Celebrada em Caracas, em 28 de março de 1954 e promulgada no Brasil pelo Decreto nº 42.628, de 13 de novembro de 1957.
[653]
Celebrada em Caracas, em 28 de março de 1954 e promulgada no Brasil pelo Decreto nº 55.929, de 14 de abril de 1965.
[654]
A Convenção de Dublin, de 15 de junho de 1990 estabelece uma hierarquia de critérios para identificar o Estado-M embro responsável pela análise de um
pedido de asilo na Europa. O regulamento estabelece como princípio que um só Estado-M embro é responsável pela análise de um pedido de asilo. Este princípio tem
por objetivo evitar que os requerentes de asilo sejam enviados de um país para outro, bem como evitar o abuso do sistema através da apresentação de vários pedidos
de asilo por uma única pessoa. Assim, são definidos critérios objetivos e hierarquizados que permitem determinar, para cada pedido de asilo, o Estado-M embro
responsável. Este é predominantemente com base em laços familiares, seguido de responsabilidade atribuída com base no Estado através do qual o requerente de asilo
entrou primeiro, ou do Estado responsável pela sua entrada no território dos Estados-M embros da União Européia – UE, Noruega, Islândia, Liechtenstein e Suíça.
Esta também é conhecida como Regulamento de Dublin ou Sistema de Dublin, sendo atualizada pelo Regulamento (CE) nº 343, de 18 de março de 2003, conhecido
como Regulamento Dublin II
[655]
VARELLA, M arcelo. Direito Internacional Público. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 176
[656]
M AZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. São Paulo: RT, 2008, p. 676 et seq.
[657]
CACHAPUZ DE M EDEIROS, Antônio Paulo. Pareceres dos Consultores Jurídicos do Itamaraty. Volume IX (1990-1999). Brasília: Senado Federal, 2008,
p. 32.
[658]
T ratou-se de habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado em favor de M anuel José Dias, cidadão angolano, contra ato do M inistro da Justiça,
consistente na manutenção da decisão que lhe negou o reconhecimento de refugiado, visando à sua permanência no território brasileiro. Tendo nascido em 1983,
M anuel decidiu vir à Pátria Brasileira, após a invasão pela UNITA do local em que trabalhava com seus pais na lavoura, resultando na dispersão de seus parentes de
quem não teve mais notícias. Deslocou-se, então, à Luanda, e, com ajuda de amigos conseguiu vir para o Brasil, ingressando em território nacional aos 15/04/2001,
com o escopo de juntar-se àquele que sobrou de sua família, seu primo Ramiro Antônio Hebo, declarado refugiado, com quem coabita e depende economicamente.
Vide: STJ - HC: 36033 DF 2004/0080104-3, Relator: M inistro FRANCISCO FALCÃO, Data de Julgamento: 13/12/2004, S1 - PRIM EIRA SEÇÃO, Data de
Publicação: DJ 14/03/2005 p. 185.
[659]
Em sentido contrário, vide M arcelo Varella, op.cit., p. 175.
[660]
Que chegou pela primeira vez ao poder com Alan García que, em 1985 com 35 anos de idade, foi eleito presidente constitucional da República do Peru para o
período 1985-1990. Os membros deste partido são popularmente conhecidos como Apristas, em referência à sigla 'APRA'.
[661]
Colombian-Peruvian Asylum Case, Judgment of November 20th 1950:I.C.J. Reports 1950, p. 266. Vide: http://www.icj-cij.org/en/case/14.
[662]
th th
Vide: Request for interpretation of the Judgrnent of November 20 ., 1950, in the AsylumCase, Judgment of November 27 . 1950 : I. C. J. Reports 1950, p.
th
395." Houve ainda um terceiro pedido, formulado por ambos Estados à CIJ, mas com resultados insatisfatórios - Haya de la Torre Case, Judgment of June 13 1951 :
I.C. J. Reports 1951, p. 71.".
[663]
Art. 1º, Lei nº 9.474/97 – Estatuto dos Refugiados.
[664]
O ingresso irregular no território nacional não constitui impedimento para o estrangeiro solicitar refúgio às autoridades competentes (art. 8º, Lei nº 9.474/97 –
Estatuto dos Refugiados).
[665]
No caso de decisão negativa, esta deverá ser fundamentada na notificação ao solicitante, cabendo direito de recurso, em última instância, ao M inistério de
Estado da Justiça, no prazo de quinze dias, contados do recebimento da notificação (art. 29, Lei nº 9.474/97 – Estatuto dos Refugiados).
[666]
O recurso deverá ser entregue em qualquer Unidade da Polícia Federal, dentro de 15 dias, a contar da data do recebimento da notificação da decisão.
[667]
Tal asilo é concedido pelo M inistro da Justiça, por prazo limitado, no máximo por dois anos, renovável enquanto subsistem as condições adversas. A decisão
pelo reconhecimento da condição de refugiado será considerada ato declaratório e deverá estar devidamente fundamentada (art. 26 – Estatuto dos Refugiados).
[668]
O Registro Nacional de Estrangeiro – RNE passou a adotar essa terminologia em virtude do art. 117 da Lei de M igração.
[669]
Desde a sua criação, em 01.01.1951, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados – ACNUR, órgão subsidiário da Assembleia Geral das
Nações Unidas, encarrega-se da proteção dos refugiados, cujo estatuto jurídico se encontra definido em dois instrumentos internacionais: a Convenção sobre o
Estatuto dos Refugiados – Convenção de Genebra (1951) e o Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados – Protocolo de Nova York (1967). O Alto Comissariado é
eleito pela Assembleia Geral das Nações Unidas e assessorado por um Comitê Executivo, estabelecido pelo Conselho Econômico e Social. Além de velar pela
proteção internacional dos refugiados contra a expulsão, o repatriamento pela força e as detenções ilícitas, o ACNUR define igualmente o seu direito ao trabalho, à
educação, à assistência social, o acesso aos tribunais, a liberdade de circulação, assim como os seus direitos em matéria de propriedade literária, artística e industrial.
Financiado exclusivamente por contribuições voluntárias de governos e fontes privadas, o ACNUR presta aos refugiados ajuda material que lhes permita encontrar
uma solução definitiva para os seus problemas, seja facilitando a sua instalação no país de asilo, seu repatriamento voluntário ao país de asilo ou a sua integração
numa nova comunidade nacional.
[670]
Caritas Internacional (Caritas Internationalis) é uma confederação de 162 organizações humanitárias da Igreja Católica que atua em mais de duzentos países,
no sentido de trabalhar para construir um mundo melhor, especialmente para os pobres e oprimidos. Inicialmente estabelecida em Freiburg, Alemanha, em 1897, teve
sua primeira Assembleia Geral realizada em 1951, após a aprovação de seu Estatuto pela Santa Sé, tornando-se uma instância oficial da Igreja para a promoção de sua
ação social.
[671]
Art. 5º, Lei nº 9.474/97 – Estatuto dos Refugiados.
[672]
Arts. 3º e 4º do Decreto nº 55.929, de 14 de abril de 1965.
[673]
T ratou-se de ação civil pública ajuizada pela Defensoria Pública da União - DPU contra a Caixa Econômica Federal - CEF e a União Federal, objetivando
fosse afastada a exigência de visto de permanência no Brasil para que os refugiados residentes no país tivessem acesso ao Programa M inha Casa M inha Vida -
PM CM V. Narrou a DPU que atualmente os vistos permanentes somente são deferidos passados quatro anos de residência no Brasil, exigência que deveria ser
afastada para possibilitar o acesso aos programas sociais, considerando a situação de extrema vulnerabilidade dos refugiados. Vide: TRF-4 - AC:
50038949620144047100 RS 5003894-96.2014.404.7100, Relator: FERNANDO QUADROS DA SILVA, Data de Julgamento: 09/09/2015, TERCEIRA TURM A,
Data de Publicação: D.E. 14/09/2015
[674]
Art. 38, Lei nº 9.474/97 – Estatuto dos Refugiados.
[675]
Art. 39, Lei n. 9.474/97 – Estatuto dos Refugiados.
[676]
Se é da atribuição administrativo do Comitê Nacional para os Refugiados/CONARE analisar e decidir todos os pedidos de refúgio no Brasil, não tem qualquer
possibilidade jurídica o pleito do impetrante em atropelar a competência desse órgão do M inistério da Justiça, pretendendo que o Judiciário invada atribuição do
Poder Executivo e aprecie - em sede de mandado de segurança onde se admite apenas a prova documental pré-constituída - a condição de "refugiado". Vide: TRF-3 -
AM S: 00104785620154036100 SP, Relator: DESEM BARGADOR FEDERAL JOHONSOM DI SALVO, Data de Julgamento: 26/01/2017, SEXTA TURM A,
Data de Publicação: e-DJF3 Judicial 1 DATA:07/02/2017
[677]
Como expresso no texto da Extradição nº1008 – Francisco Antonio Cadena Collazos OU Oliverio M edina OU Camilo Lopez OU Cura Camilo
(Colômbia), em que o STF afirmou que: “(...) mesmo crimes relacionados à participação do extraditando – então sacerdote da Igreja Católica – em ação militar das
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC)(...) o reconhecimento administrativo da condição de refugiado feita pelo Comitê Nacional para Refugiados
– CONARE , enquanto dure, é elisiva, por definição, da extradição que tenha implicações com os motivos do seu deferimento. (...). É válida a lei que reserva ao
Poder Executivo – a quem incumbe, por atribuição constitucional, a competência para tomar decisões que tenham reflexos no plano das relações internacionais do
Estado – o poder privativo de conceder asilo ou refúgio. (...) A circunstância de o prejuízo do processo advir de ato de um outro Poder – desde que compreendido
na esfera de sua competência – não significa invasão da área do Poder Judiciário. (...) Caso em que de qualquer sorte, incidiria a proibição constitucional da
extradição por crime político, na qual se compreende a prática de eventuais crimes contra a pessoa ou contra o patrimônio no contexto de um fato de rebelião de
motivação política. Pedido de extradição não conhecido, extinto o processo, sem julgamento do mérito”, determinando a expedição de alvará de soltura
extraditando. Vide: STF - Ext: 1008 CB, Relator: M in. GILM AR M ENDES, Data de Julgamento: 21/03/2007, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-082
DIVULG 16-08-2007 PUBLIC 17-08-2007 DJ 17-08-2007 PP-00024 EM ENT VOL-02285-02 PP-00216.
[678]
Vide Extradição nº 785 – Sergio Gustavo Andrade Sanchez (M éxico), Questão de Ordem: “(...) o pedido de refúgio, formulado após o julgamento de mérito da
extradição, produz o efeito de suspender o processo, mesmo quando já publicado o acórdão, (...)”. Vide: STF - Ext: 785 M E, Relator: M in. NÉRI DA SILVEIRA,
Data de Julgamento: 07/06/2000, Data de Publicação: DJ 15/06/2000 PP-00011.
[679]
Vide http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2017/06/numero-de-refugiados-no-brasil-aumentou-12-em-2016, consultado em 16 de outubro de 2017.
[680]
De acordo com o Inquérito Policial nº 652/2001, Processo nº 2001.5674-7, da Procuradoria da República do Estado do M aranhão.
[681]
Cite-se, apenas a título exemplificativo o artigo 15 da Carta da OEA: “Nenhum Estado ou grupo de Estados tem o direito de intervir direta ou indiretamente
seja qual fôr o motivo, nos assuntos internos ou externos de qualquer outro. Êste princípio exclui não somente a fôrça armada. M as, também, qualquer forma de
interferência ou de tendência atentarória contra a personalidade dos Estados e os elementos políticos econômicos e culturais que o constituem.”
[682]
Por ter, em 23 de março 2009, decretado consulta popular sobre a realização de um plebiscito que serviria como fundamento para que o Executivo enviasse ao
Congresso Nacional, um projeto de lei sobre a colocação de uma quarta urna nas seções eleitorais durante o pleito de novembro pela qual se decidiria sobre a
convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, que aprovasse uma nova Constituição para o país, sendo tal consulta desautorizada pelo Congresso e pelo
Judiciário.
[683]
A denúncia é formalizada em 3 de julho de 2009, mesmo estando expresso no art. 143 da Carta da OEA que: “Esta Carta vigorará indefinidamente, mas poderá
ser denunciada por qualquer dos Estados membros, mediante uma notificação escrita à Secretaria-Geral (...). Transcorridos dois anos a partir da data em que a
Secretaria-Geral receber uma notificação de denúncia, a presente Carta cessará seus efeitos em relação ao dito Estado denunciante e este ficará desligado da
Organização, depois de ter cumprido as obrigações oriundas da presente Carta.”
[684]
Sob a justificativa de que: “O que aconteceu em Honduras na verdade não foi um golpe. O então presidente Zelaya desrespeitou a Constituição ao propor um
plebiscito sobre sua reeleição, estando previsto na Constituição Hondurenha que aquele que propor mudar a legislação eleitoral – passando por cima da Constituição –
será destituído do poder e perderá seus direitos políticos por 10 anos. Assim sendo, o que a Suprema Corte fez foi restaurar a ordem política e convocar as Forças
Armadas para fazerem uma ‘reintegração de posse’ colocando na Presidência o próximo da escala mandatária, ou seja, o Presidente do Congresso, Roberto
M icheletti”.
[685]
Disponível em http://www.icj-cij.org/en/case/147, consultado em 23 de outubro de 2017.
[686]
Entre disputas internas envolvendo a legitimidade do Embaixador de Honduras nos Países Baixos perante a Corte Internacional de Justiça e sua substituição
por alguém indicado pelo “governo legítimo” de M anuel Zelaya como representante legítimo de Honduras perante aquele tribunal, o Governo de Honduras, através
de seu M inistro das Relações Exteriores comunicou a retirada da reclamação/procedimento contra o Brasil.
[687]
O chefe da unidade da Polícia Federal poderá representar perante o juízo federal, respeitados os direitos à ampla defesa e ao devido processo lega (art. 48 – Lei
de M igração).
[688]
Vide: TJ-M S - EP: 00004173120148120008 M S 0000417-31.2014.8.12.0008, Relator: Des. M anoel M endes Carli, Data de Julgamento: 25/04/2014, 2ª
Câmara Criminal, Data de Publicação: 25/04/2014.
[689] Vide (art. 51, parágrafo único – Decreto nº 86.712/81).
[690]
Vide: TJ-SP - APL: 9053250822006826 SP 9053250-82.2006.8.26.0000, Relator: José M arcos M arrone, Data de Julgamento: 09/11/2011, 23ª Câmara de
Direito Privado, Data de Publicação: 11/11/2011.
[691]
Vide Habeas Corpus nº 2004.04.01.012596-0/RS, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, de 2 de junho de 2004.
[692]
Vide: TRF-1 - HC: 26049 DF 1998.01.00.026049-4, Relator: JUIZ CÂNDIDO RIBEIRO, Data de Julgamento: 09/06/1998, TERCEIRA TURM A, Data de
Publicação: 01/07/1998 DJ p.376.
[693]
Vide: TRF-4 - HC: 12596 RS 2004.04.01.012596-0, Relator: LUIZ FERNANDO WOWK PENTEADO, Data de Julgamento: 02/06/2004, OITAVA
TURM A, Data de Publicação: DJ 16/06/2004 PÁGINA: 1244.
[694]
Vide: STJ - RHC: 50270 SP 2014/0191359-5, Relator: M inistro GURGEL DE FARIA, Data de Publicação: DJ 05/05/2015.
[695]
Art. 7º, § 1º, Lei nº 9.474/97 – Estatuto dos Refugiados.
[696]
M ARCELO SANTA CRUZ OLIVEIRA e outros imp etraram habeas corp us em favor de M AKUIZA SAM PY (natural de Kinshasa, Rep ública
Democrática do Congo) alegando que o mesmo está p reso administrativamente p or decreto do Juiz Federal da 4ª Vara da Seção Judiciária de Alagoas desde 29
de outubro de 2004 (...). Alegam os Imp etrantes que o Paciente, vindo da África como clandestino no navio Heidi II de bandeira da Geórgia, desembarcou no
território brasileiro em 21 de outubro de 2004. Ap ós evadir-se do navio com o auxílio de trip ulantes, escondeu-se em um caminhão de transp orte de açúcar
até chegar a Corurip e/AL. Naquela cidade, foi p rontamente engajado no corte de cana, até ser detido e conduzido à Delegacia Regional da Polícia Federal. (...)
Aduzem que a p risão é ilegal p or considerar a hip ótese de dep ortação, p rocedimento incabível ao caso do Paciente, p ois este já ap resentou p edido formal de
refúgio p erante o CONARE. Vide: TRF-5 - HC: 2065 AL 0042560-39.2004.4.05.0000, Relator: Desembargador Federal Paulo Gadelha, Data de Julgamento:
17/03/2005, Terceira Turma, Data de Publicação: Fonte: Diário da Justiça - Data: 09/06/2005 - Página: 682 - Nº: 109 - Ano: 2005.
[697]
Vide: TRF-5 - APELREEX: 00070225420124058200 AL, Relator: Desembargador Federal Ivan Lira de Carvalho, Data de Julgamento: 28/10/2014, Quarta
Turma, Data de Publicação: 13/11/2014.
[698]
In casu, o Art. 5º, LXI da Constituição Federal que prescreve: “ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei.”
[699]
T RF-1 - HC: 58549 BA 2009.01.00.058549-6, Relator: DESEM BARGADOR FEDERAL CÂNDIDO RIBEIRO, Data de Julgamento: 24/01/2009,
TERCEIRA TURM A, Data de Publicação: 23/10/2009 e-DJF1 p.83
[700]
Vide: STF - HC: 101269 DF, Relator: M in. CÁRM EN LÚCIA, Data de Julgamento: 07/04/2011, Data de Publicação: DJe-071 DIVULG 13/04/2011
PUBLIC 14/04/2011.
[701]
Vide: STJ - HC: 90760 DF 2007/0219219-4, Relator: M inistra DENISE ARRUDA, Data de Julgamento: 27/02/2008, S1 - PRIM EIRA SEÇÃO, Data de
Publicação: DJe 17/03/2008.
[702]
Impetrado com o fito de obstar a efetivação de nova expulsão de cidadã estrangeira, que retornou ao território brasileiro, sendo processada pelo crime de
reingresso ilegal (Art. 338 do Código Penal), do qual foi absolvida, porém, por sentença que determinou judicialmente a sua saída do território. Por fatos ocorridos
em 17.07.2002, a paciente foi condenada a 4 anos e 8 meses de reclusão, mais 70 dias-multa, pelo tráfico internacional de 4,95Kg de cocaína (art. 12, c/c o art. 18, I e
III, da Lei nº 6.368/19761). Em grau de apelação, deu-se a redução da reprimenda para 4 anos, 5 meses e 12 dias de reclusão. Considerada a nacionalidade peruana da
acusada, sobreveio Decreto de Expulsão expedido pelo M inistro da Justiça por delegação do Presidente da República (Portaria nº 0053, de 01.02.2005), sendo certo
que a efetivação da medida foi condicionada ao cumprimento da pena a que a paciente esteve sujeita no Brasil. O Decreto de Expulsão foi efetivado em 19.05.2006.
Em 13 de julho de 2007, a estrangeira foi presa em flagrante delito, no território brasileiro, acusada do crime do artigo 338 do Código Penal (reingresso de estrangeiro
expulso). A Defensoria Pública da União – DPU formulou pedido de reconsideração da medida expulsória sob o argumento de que a paciente possui filho brasileiro,
nascido no Brasil em 16.02.2006, o qual se encontra sob a guarda judicial de seu ex-companheiro, todavia, não demonstrou a guarda ou dependência econômica da
prole brasileira. O pedido de reconsideração foi indeferido pelo M inistro da Justiça, em 08.10.2010. Inconformada, a Defensoria Pública da União impetrou habeas
corpus no Superior Tribunal de Justiça – STJ, que concluiu que “a não comprovação dos requisitos mínimos para a não expulsão do estrangeiro acarreta a denegação
da ordem”. A DPU recorreu então ao STF. Vide: STF - HC: 114236 DF, Relator: M in. ROBERTO BARROSO, Data de Julgamento: 20/05/2014, Primeira Turma,
Data de Publicação: DJe-117 DIVULG 17-06-2014 PUBLIC 18-06-2014.
[703]
Vide: STJ - HC: 293634 DF 2014/0099841-3, Relator: M inistro SÉRGIO KUKINA, Data de Julgamento: 22/10/2014, S1 - PRIM EIRA SEÇÃO, Data de
Publicação: DJe 29/10/2014
[704]
O M inistério Público Federal já se manifestou a respeito da constitucionalidade dos Tratados de Transferência de Presos, assinalando que os mesmos podem ser
formalizados, porque não se sujeitam, a priori, ao controle singular de uma homologação de sentença estrangeira. O Brasil possui tratados celebrados com Argentina, Canadá,
Chile, Espanha, Paraguai e Reino Unido. Tramitam ainda no Congresso Nacional Projetos de Tratados de Transferência de Pessoas Condenadas com Portugal, Peru e a
Convenção Interamericana sobre o Cumprimento de Sentenças Penais no Exterior.
[705]
Estão em outras fases, tramitando no Congresso Nacional ou pendentes de outros requisitos para terem vigência, os Projetos de Tratados de extradição
bilaterais com o Canadá, Guatemala e o Líbano.
[706]
Segundo Rezek (Direito internacional público, cit., p. 168) aqui a analogia é genérica e abstrata, ela não deve espelhar mais que a óbvia similitude reinante entre
todos os pedidos de extradição.
[707]
Vide Extradição nº 541 – Donnini, no item 10.3 deste Capítulo.
[708]
Vide: STF - HC: 83113 DF, Relator: M in. CELSO DE M ELLO, Data de Julgamento: 26/06/2003, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 29-08-2003 PP-
00020 EM ENT VOL-02121-17 PP-03409 RTJ VOL-0187-03 PP-01069.
[709]
Vide: STF - Ext: 916 AT, Relator: M in. Carlos Britto, Data de Julgamento: 19/05/2005, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 21-10-2005 PP-00006
EM ENT VOL-02210-01 PP-00042 RTJ VOL-00196-01 PP-00050 LEXSTF v. 27, n. 324, 2005, p. 330-333.
[710]
Vide: STF - Ext: 1223 DF, Relator: M in. Celso de M ello, Data de Julgamento: 22/11/2011, Segunda Turma, Data de Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO
DJe-042 DIVULG 27-02-2014 PUBLIC 28-02-2014.
[711]
A Bélgica acionou o Senegal, por este violar a obrigação de “extraditar ou processar” prevista na Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e
Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, 15 de fevereiro de 1984 que, em seu art. 7, inciso 1 afirma:” O Estado Parte no território sob a
jurisdição do qual o suposto autor de qualquer dos crimes mencionados no Artigo 4º for encontrado, se não o extraditar, obrigar-se-á, nos casos contemplados no
Artigo 5º, a submeter o caso as suas autoridades competentes para o fim de ser o mesmo processado”. Neste sentido esta afirmou, em seu M emorial que, desde 2001
vinha requisitando o julgamento de Hissène Habré, ex-ditador do Chade que se refugiou no Senegal após ser deposto do cargo em 1990, por crimes contra a
humanidade e atos de tortura, e desde 2005, que o governo do Senegal o processasse diretamente, uma vez que este não tinha atendido ao seu pedido de extradição.
Além disso, a falha do Senegal em processar ou extraditar Habré pelos crimes a ele imputados seria uma violação da obrigação costumeira de punir crimes de direito
humanitário, como os crimes contra a humanidade, presente em diversos textos secundários de direito e em tratados. Desta forma, a Bélgica requer à Corte
Internacional de Justiça que determine que: a) a República do Senegal deve processar criminalmente Habré por atos que incluem crimes de tortura e crimes
contra a humanidade; e que b) falhando nesta obrigação, o Senegal deve extraditar Habré para que ele possa responder por seus crimes perante as cortes belgas Vide:
Questions relating to the Obligation to Prosecute or Extradite (Belgium v. Senegal), Judgment, I.C.J. Reports 2012, p. 422.
[712]
Vide Extradição nº 511 – Smith, no item 10.2 deste Capítulo.
[713]
LISBOA, Carolina Cardoso Guimarães. Op. cit., p. 166.
[714]
ide: STJ - HC: 135546 RJ 2009/0085516-5, Relator: M inistra M arilza M aynard (Desembargadora Convocada do TJ/SE), Data de Julgamento: 17/12/2013,
V
T6 – Sexta Turma, Data de Publicação: DJe 13/02/2014.
[715]
Vide: STF - Ext: 571, Relator: M in. CELSO DE M ELLO, Data de Julgamento: 07/06/1995, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 04-08-1995 PP-22440
EM ENT VOL-01794-01 PP-00009.
[716]
Vide: STF - Ext: 716, Relator: M in. M arco Aurélio, Data de Julgamento: 13/03/2012, Primeira Turma, Data de Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO
DJe-062 Dilvulg 26-03-2012 Public 27-03-2012.
[717]
Vide: STF - Inq: 731 AG, Relator: M in. Néri da Silveira, Data de Julgamento: 28/06/1995, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 20-10-1995 PP-35255
Ement Vol-01805-01 pp-00103.
[718]
REZEK, José Francisco. Direito internacional público, cit., p. 196.
[719]
ma vez que, mesmo dentro do Presídio de Segurança M áxima Bangu I, escutas telefônicas flagraram Beira-M ar dando ordens para a morte de desafetos em
U
seu reduto em Duque de Caxias e encomendando um míssil. Em 11 de setembro de 2002, comandou uma matança na penitenciária, quando três rivais foram
assassinados, entre eles, o traficante Uê, então seu principal concorrente no fornecimento de drogas e, por fim, no início de 2003, o traficante ordenou uma série de
ataques na cidade do Rio de Janeiro, como queimas de ônibus e atentados contra policiais, levando a Secretaria de Segurança Pública a transferi-lo para a Penitenciária
de Segurança M áxima de Presidente Bernardes, no interior de São Paulo.
[720]
A expressão jurisdição territorial, para efeitos de tratado de extradição, via de regra, significa: o território, inclusive as águas territoriais, e o espaço aéreo
superjacente, pertencentes a, ou sob o controle de, um dos Estados Contratantes; e embarcações e aeronaves pertencentes a um dos Estados Contratantes ou a
cidadão ou empresa dos mesmos, quando tal embarcação estiver em alto mar ou tal aeronave sobre o alto mar. Vide: artigo IV do Tratado de Extradição entre Brasil e
Estados Unidos da América, promulgado pelo Decreto nº 55.750, de 11 de fevereiro de 1965.
[721]
Vide Extradição nº 415, Buschetta, no item 10.1 deste Capítulo.
[722]
Neste sentido, vide STF - Ext: 1121, Relator: M in. Celso de M ello, Data de Julgamento: 18/12/2009, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-116 DIVULG
24-06-2010 PUBLIC 25-06-2010 EM ENT VOL-02407-01 PP-00001.
[723]
Essa é a regra do artigo 5º, LI, da Constituição Brasileira: “nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes
da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei.”
[724]
Os defensores da constitucionalidade destas cláusulas baseiam seu argumento no fato de o que se permite é o exercício de jurisdição de um Tribunal
Internacional para casos específicos, do qual, inclusive, o país de origem do acusado faz parte e assenti aos princípios. Quanto à pena perpétua, observado o
princípio da razoabilidade, é possível notar que o Estatuto de Roma não a trata de forma rígida e descompromissada com os direitos do réu, sobretudo porque, de
ofício, obriga que o Tribunal revise a pena em período inferior ao da pena máxima de detenção, de forma que a pena perpétua somente subsista se o próprio réu se
mostrar absolutamente resistente à condenação imposta, dificultando os trâmites processuais e mostrando-se potencialmente danoso à comunidade internacional.
Vide: Walter José de Souza Neto, “O Estatuto de Roma perante a Constituição da República Federativa do Brasil: As garantias do tratado que criou o Tribunal Penal
Internacional e as discussões acerca de sua constitucionalidade” http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13746, consultado em 18/11/2009.
[725]
Neste sentido vide também: Ext. nº 415 – Buschetta; Ext. nº 557 – Gross; Ext nº 571 - Dubs, à frente.
[726]
Como exp resso no texto da Ext. n. 633 – Qian Hong (China), em que o STF afirmou que: “(...) a essencialidade da coop eração internacional na
rep ressão p enal aos delitos comuns não exonera o Estado brasileiro – e, em p articular, o Sup remo Tribunal Federal – de velar p elo resp eito aos direitos
fundamentais do súdito estrangeiro que venha a sofrer, em nosso País, p rocesso extradicional instaurado p or iniciativa de qualquer Estado estrangeiro.”
[727]
Excepcionalmente, na ausência de agentes diplomáticos, pode se aceitar que o pedido seja feito por agente consular, Vide: artigo IX do Tratado de Extradição
entre Brasil e Estados Unidos da América, promulgado pelo Decreto nº 55.750, de 11 de fevereiro de 1965.
[728]
A documentação deverá ser encaminhada pelo Poder Judiciário, via correio, por meio de Ofício dirigido ao Excelentíssimo Senhor M inistro da Justiça,
solicitando expressamente a extradição do indivíduo foragido. Ao recebê-la, o M inistério da Justiça encaminhará o pedido, por via diplomática, ao Governo do país
requerido.
[729]
Sendo deferida a extradição pelo país requerido, as autoridades brasileiras deverão retirar o extraditando do território estrangeiro no prazo previsto em
Tratado, se houver, ou na data estipulada pelo Governo requerido. Caso não se promova a sua retirada, o indivíduo poderá ser colocado em liberdade no país
requerido.
[730]
Op. cit., p. 181.
[731]
Segundo Rezek (Ibidem, p. 192).
[732]
C om sede em Lyon, na França, a International Criminal Police Organization – INTERPOL atua como uma central de informações para que as polícias de todo
o mundo possam trabalhar integradas no combate ao crime internacional, o tráfico de drogas e os contrabandos. Tem representação em mais de 160 países sendo que
no Brasil, seu escritório localiza-se no complexo da Polícia Federal em Brasília, mantendo ainda representações estaduais em todas as Superintendências Regionais
da Polícia Federal.
[733]
Vide Extradição nº 542 – Henson, nº 571 – Dubs e Ext. nº 615 – Garcia M eza, no item 10.1 deste Capítulo.
[734]
Vide Ext. nº 415 – Buschetta.
[735]
Vide Ext. nº 310 – Borsani/Bianchi e nº 561 – Emilse, no ítem 10.3 deste capítulo.
[736]
Vide Art. 88 do Estatuto do estrangeiro (Lei 6815/80) e Extradição nº 546 – Salgues, no item 10.3 deste Capítulo.
[737]
Como expresso na Ext. n. 633, Qian Hong (China), em que o STF entendeu que: “A Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas – Artigo 3º, n. 1, a –
outorga à M issão Diplomática o poder de representar o Estado acreditante (État denvoi) perante o Estado acreditado ou Estado receptor (o Brasil, no caso),
derivando, dessa eminente função política, um complexo de atribuições e de poderes reconhecidos ao agente diplomático que exerce a atividade de representação
institucional de seu País. (...) A Nota Diplomática, que vale pelo que nela se contém, goza da presunção juris tantum de autenticidade e de veracidade.”
[738]
A partir da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.538, proposta pelo Partido Democratas (DEM ) contra o Parecer AGU/AG nº 17/2010, aprovado pelo
Presidente da República com base no art. 4º da Lei Complementar nº 73/93. Vide: STF - ADI: 4538 DF, Relator: M in. Gilmar M endes, Data de Julgamento:
31/08/2011, Data de Publicação: DJe-170 DIVULG 02/09/2011 PUBLIC 05/09/2011.
[739]
Direito internacional público, cit., p. 201-202.
[740]
omo a Argentina tinha um histórico de recusar pedidos de extradição de criminosos nazistas, o primeiro-ministro israelita David Ben-Gurion tomou a decisão
C
de capturar Eichmann em vez de pedir a sua extradição, e leva-lo a Israel para julgamento. Este foi capturado próximo à sua residência, nos arredores de Buenos Aires
em 11 de maio de 1960. Após permanecer alguns dias em cativeiro, quando sua identidade foi confirmada, Eichmann foi sedado, vestido de assistente de bordo e
colocado a bordo de um avião da companhia aérea israelense El Al que, dias antes, havia levado a delegação israelita para as celebrações do 150.º aniversário da
independência da Argentina. Chegaram a Israel no dia 22 de M aio, e Ben-Gurion anunciou a captura de Eichmann ao Knesset—o parlamento israelita—nessa mesmo
dia, enquanto na Argentina, o sequestro foi recebido com uma onda violenta de antissemitismo levada a cabo por membros da extrema-direita, incluindo o
M ovimento Nacionalista Tacuara. Enquanto aguardava o julgamento, Eichmann escreveu suas memórias, nas quais insistia em sua condição de mero cumpridor de
ordens superiores durante a Segunda Guerra M undial.
[741]
Vide: http://www.un.org/Docs/journal/asp/ws.asp?m=S/RES/138(1960), consultado em 28 de outubro de 2017.
[742]
No original: “(a) A defendant may not be prosecuted in violation of the terms of an extradition treaty. United States v. Rauscher, 119 U.S. 407. However,
when a treaty has not been invoked, a court may properly exercise jurisdiction even though the defendant's presence is procured by means of a forcible abduction.
Ker v. Illinois, 119 U.S. 436. Thus, if the Extradition Treaty does not prohibit respondent's abduction, the rule of Ker applies and jurisdiction was proper. (b)
Neither the Treaty's language nor the history of negotiations and practice under it supports the proposition that it prohibits abductions outside of its terms. The
Treaty says nothing about either country refraining from forcibly abducting people from the other's territory or the consequences if an abduction occurs. In addition,
although the M exican government was made aware of the Ker doctrine as early as 1906, (…), the Treaty's current version contains no such clause. (c) General
principles of international law provide no basis for interpreting the Treaty to include an implied term prohibiting international abductions.” Vide: United States v.
Alvarez-M achain (91-712), 504 U.S. 655 (1992), disponível em https://www.law.cornell.edu/supct/html/91-712.ZS.html, consultado em 28 de outubro de 2017.
[743]
Em 2000, todavia, uma resolução elaborada pelos parlamentares do M ERCOSUL solicitou a anulação do asilo político concedido a Alfredo Stroessner.
[744]
opulares que promoviam agitações nos centros das cidades francesas. Faziam parte da plebe urbana e usavam uma espécie de gorro vermelho na cabeça.
P
[745]
Assinada em 30.04.1948 e emendada pelos Protocolos de Buenos Aires de 1967 (aprovado pelo Decreto Legislativo n. 2, de 27.01.1968), Cartagena das Índias
(aprovado pelo Decreto Legislativo n. 67, de 16.09.1988), Washington (aprovado pelo Decreto Legislativo n. 44, de 11.04.1995, promulgado pelo Decreto n. 2.760,
de 27.08.1998) e M anágua (promulgado pelo Decreto n. 26.771, de 17.07.1998).
[746]
CUNHA, Joaquim da Silva. Op. cit., p. 39.
[747]
Seu processo de aprovação pelo Congresso Nacional iniciou-se apenas em 24 de fevereiro de 2015, com o envio ao Congresso Nacional da M ensagem nº 39.,
transformado no Projeto de Decreto Legislativo nº 254/2015, que encontra-se pronto para Pauta no Plenário da Câmara dos Deputados. Vide:
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2024701, consultado em 29 de outubro de 2017.
[748]
Em 22 de maio de 1992 Bósnia-Herzegovina, Croácia e Eslovênia foram admitidas na qualidade de membros da Organização das Nações Unidas. O mesmo
ocorreu em 8 de abril de 1993 para a M acedônia.
[749]
Vide: UN A/46/915, 7 M ay 1992, disponível em https://treaties.un.org/doc/source/docs/A_46_915-Eng.pdf, consultado em 30 de outubro de 2017.
[750]
No original: Considers that the Federal Republic of Yugoslavia (Serbia and M ontenegro) cannot continue automatically the membership of the former Socialist
Federal Republic of Yugoslavia in the United Nations; and therefore decides that the Federal Republic of Yugoslavia (Serbia and M ontenegro) should apply for
membership in the United Nations and that it shall not participate in the work of the General Assembly. Vide: A/RES/47/1, disponível em
http://www.un.org/documents/ga/res/47/a47r001.htm, consultado em 30 de outubro de 2017.
[751]
Vide: STJ - Rcl: 2645 SP 2007/0254916-5, Relator: M inistro Teori Albino Zavascki, Data de Julgamento: 18/11/2009, CE - CORTE ESPECIAL, Data de
Publicação: DJe 16/12/2009RSTJ vol. 217 p. 308.
[752]
Vide: Nuclear Tests (New Zealand v. France), Judgment, I.C.J. Reports 1974, p. 457.
[753]
Vide: Application of the Convention on the Prevention and Punishment of the Crime of Genocide, Provisional M easures, Order of 8 April1993, Z.C.J.
Reports 1993, p. 3.
[754]
Apenas a Convenção de Direito Internacional Privado, também conhecida como Código de Bustamante, promulgada pelo Decreto nº 18.871 de 13 de agosto de
1929 trás norma expressa sobre imunidade de Estado e de Chefe de Estado: “Art. 333. Os juízes e tribunais de cada Estado contratante serão incompetentes para
conhecer dos assumptos cíveis ou comerciais em que sejam parte demandada os demais Estados contratantes ou seus chefes, se se trata de uma ação pessoal, salvo o
caso de submissão expressa ou de pedido de reconvenção.”
[755]
Vide: Jurisdictional Immunities of the State (Germany v. Italy : Greece intervening), Judgment, I.C.J. Reports 2012, p. 99
[756]
Vide: STF - ACO: 526 SP, Relator: M in. Celso de M ello, Data de Julgamento: 28/08/2013, Data de Publicação: DJe-171 DIVULG 30/08/2013 PUBLIC
02/09/2013.
[757]
Que dispõe sobre autorizações para que o M inistro das Relações Exteriores e os servidores não diplomáticos do M inistério das Relações Exteriores se
ausentem do país.
[758]
Retificado (art. 32) pelo Decreto nº 95.711, de 19 de fevereiro de 1988.
[759]
Em caso de falecimento do agente diplomático, seus familiares continuarão no gozo dos privilégios e imunidades a que têm direito, até a expiração de um prazo
razoável, que lhes permita deixar o território do Estado acreditado.
[760]
De acordo com o artigo 32, § 1º, da Convenção de Viena, o Estado acreditante poderá renunciar, expressamente, à imunidade de jurisdição dos seus agentes
diplomáticos.
[761]
Vide: STF - RE: 222368 PE, Relator: M in. Celso de M ello, Data de Julgamento: 30/04/2002, Segunda Turma, Data de Publicação: DJ 14-02-2003 PP-00070
EM ENT VOL-02098-02 PP-00344.
[762]
Vide Decreto n. 637, de 24.08.1992, que regulamenta os documentos de viagem.
[763]
Vide Art. 4, 1 da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas.
[764]
Vide Art. 22 da Convenção de Viena sobre Relações Consulares.
[765]
Vide: STJ - M S: 6713 DF 1999/0114583-0, Relator: M inistro José Delgado. Data de Julgamento: 10/05/2000, S1 - PRIM EIRA SEÇÃO, Data de Publicação:
--> DJ 07/08/2000 p. 96 LEXSTJ vol. 135 p. 47.
[766]
Vide: STF - RM S: 23760 DF, Relator: M in. M OREIRA ALVES, Data de Julgamento: 20/11/2001, Primeira Turma, Data de Publicação: DJ 01-02-2002 PP-
00107 EM ENT VOL-02055-01 PP-00152.
[767]
Arts. 31 a 35 e 41 a 53 da Convenção de Viena sobre Relações Consulares. Tais prerrogativas e imunidades não serão concedidas aos membros da família de
funcionário consular honorário (Art. 71 da Convenção de Viena sobre Relações Consulares).
[768]
STF - HC: 55014 SP, Relator: M in. M OREIRA ALVES, Data de Julgamento: 04/03/1977, SEGUNDA TURM A, Data de Publicação: RTJ VOL-00082-03
PP-00707.
[769]
STJ - HC: 129189 M A 2009/0030522-0, Relator: M inistra Laurita Vaz, Data de Julgamento: 04/10/2011, T5 - QUINTA TURM A, Data de Publicação: DJe
13/10/2011.
[770]
ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 124.
[771]
VON LISZT, Franz. Op. cit., p. 254.
[772]
A análise da responsabilidade internacional é feita no Capítulo X de sua obra El derecho internacional contemporaneo, cit., p. 317 et seq.
[773]
Em 1915, o governo da Alemanha assinou um contrato com a Bayrische Stickstoffwerk para construir para o Reich, na cidade de Chorzów (Alta Silésia) uma
Fábrica de Nitratos. Caberia à empresa gerenciar o empreendimento até 1941, detendo ainda propriedade das patentes, licenças e outros bens intangíveis decorrentes
do empreendimento. Em 1919 as terras e a propriedade da fábrica, bem como a matéria prima e os demais bens tangíveis foram vendidos, passando da propriedade do
Reich para a propriedade da Oberschlesische Stickstoffwerk, continuando o gerenciamento da fábrica, a gestão de sua força de trabalho e as patentes e demais bens
intangíveis a pertencer à Bayrische Stickstoffwerk. Com o final da Primeira Guerra M undial e a assinatura do Tratado de Versalhes, a Alemanha terminou por perder
parcela do seu antigo território, incluindo aí a Alta Silésia, onde estava instalada a Fábrica de Nitratos, abrindo mão de sua soberania em favor da Polônia. Neste
Estado foi decidido, em 1922, que os ativos alemães naquela região seriam expropriados por simples alteração de registro, sem o pagamento de qualquer valor a título
de desapropriação ou indenização. A Oberschlesische Stickstoffwerk não se conformando com a expropriação demandou, tanto no Tribunal Arbitral M isto Germano-
Polonês de Paris quanto na justiça polonesa, que se restaurasse a situação anterior ou se pagasse indenização. Como a causa não havia sido julgada por nenhum desses
tribunais, o governo alemão, endossando o interesse de seus nacionais, propôs, então, ação perante a Corte Permanente de Justiça Internacional – CPJI, afirmando que
tal ato transcendera os interesses de seus nacionais, saindo da esfera de mera responsabilidade civil para a responsabilidade internacional. Em sua decisão, a CPJI
entendeu que os alemães, proprietários da fábrica de Chorzów, possuíam direito adquirido da propriedade, sendo este oponível mesmo em caso de sucessão de
Estados. Neste sentido, a CPJI declarou, in verbis: “(…) It is a principle of international law that the breach of an engagement involves an obligation to make
reparation in adequate form”. Vide: http://www.icj-cij.org/en/pcij-series-a, consultado em 25 de novembro de 2009.
[774]
O caso é consequência do assassinato do diplomata sueco Conde Folke Bernadotte em Jerusalém, em 1948, onde atuava como mediador da Organização
das Nações Unidas – ONU. Nesse sentido, o Parecer Consultivo da Corte Internacional de Justiça assegurou à ONU o direito de formular reclamações
internacionais contra o governo de outros Estados com o intuito de receber reparação de danos. Reconheceu-se assim o status de personalidade jurídica
internacional para a ONU. Além disso, ao garantir o direito da ONU de solicitar reparação, a CIJ estabeleceu superioridade da proteção funcional, proporcionada
pelo exercício de sua função na ONU, em relação à proteção diplomática, que seria garantida pela Suécia. Vide: Reparation for injuries suffered in the service of the
United Nations, Advisory Opinion: I.C. J. Reports 1949, p. 174. Nesse sentido vide, também, o art. 22 da Convenção dobre Responsabilidade Internacional por
danos causados por Objetos Espaciais, promulgada pelo Decreto nº 71.981/73.
[775]
Vide: Application of the Convention on the Prevention and Punishment of the Crime of Genocide (Bosnia and Herzegovina v. Serbia and M ontenegro), Judgment,
I.C.J. Reports 2007, p. 43
[776]
Vide: http://legal.un.org/docs/?path=../ilc/texts/instruments/english/draft_articles/9_6_2001.pdf&lang=EF, consultado em 4 de novembro de 2017.
[777]
VON LISZT, Franz. Op. cit., p. 254.
[778]
Accioly (Op. cit., p. 124) afirma que, em rigor, a responsabilidade do Estado será sempre indireta, porque somente pode praticar atos por meio dos seus
agentes, e quando responde por atos de particulares não é por os ter praticado.
[779]
Este caso surgiu dos incidentes que ocorreriam, em 22 de outubro de 1.946, no Canal de Corfu, quando dois destroyers britânicos colidiram com minas nas
águas territoriais da Albânia, no Canal de Corfu. As explosões causaram danos materiais aos navios e a perda de vida de 45 marinheiros. Sustentando que havia
responsabilidade do Governo albanês, visto que o mesmo se encontrava envolvido, o Reino Unido primeiro interpelou o Conselho de Segurança das Nações Unidas
que, por uma Resolução de 19 de abril de 1.947, aconselhou os dois governos a submeter a disputa à CIJ. Por esta razão, o Reino Unido encaminhou uma Petição que
depois de uma objeção à sua admissibilidade, levantada pela Albânia, foi assunto de julgamento, datado de 25 de março de 1.948, no qual a Corte declarou que ela
tinha jurisdição. No julgamento de 9 de abril de 1.949, a Corte considerou a Albânia culpada, de acordo com as Leis Internacionais, pelas explosões que ocorreram em
22 de outubro de 1.946, em águas albanesas, pelos danos causados e perda de vidas humanas do Reino Unido. No mesmo julgamento, o Tribunal decidiu que tinha
jurisdição para estipular a quantia de indenização, condenando a Albânia a pagar ao Reino Unido a indenização total de £ 843.947 (oitocentos e quarenta e três mil,
novecentos e quarenta e sete libras). Vide: Corfu Channel Case, Judgment of April 8th. 1949 I.C..J. Reports 1949, p. 4.
[780]
Citado na obra de Aréchaga (Op. cit., p. 83).
[781]
Accioly, op. cit., p. 141.
[782]
Caso Barcelona Traction, in verbis: “(…) is definitively inadmissible for want of capacity on the part of the Belgian Government in the present case, in view
of the fact that the Barcelona company does not possess Belgian nationality and that in the case in point it is not possible to allow diplomatic action or international
judicial proceedings on behalf of the alleged Belgian shareholders of the company on account of the damage which the company asserts it has suffered. (…) as
international law does not recognize, in respect of injury caused by a State to a foreign company, any diplomatic protection of shareholders exercised by a State other
than the national State of the company (…). The Barcelona Traction, Light and Power Company, Limited, is a holding company incorporated in 1911 in Toronto
(Canada), where it has its head office (…) some years after the First World War Barcelona Traction’s share capital came to be very largely held by Belgian nationals-
natural or juristic persons-and a very high percentage of the shares has since then continuously belonged to Belgian nationals (…). The acts complained of (…) took
place not in relation to any Belgian natural or juristic person but to the Barcelona Traction company, which is a juristic entity registered in Canada”. Vide:
http://www.icj-cij.org/docket/index.php?p1=3&p2=3&code=bt2&case=50&k=1a, consultado em 25.11.2009.
[783]
Citado por Celso M ello em sua obra Responsabilidade internacional do estado (Rio de Janeiro: Renovar, 1995, p. 104).
[784]
No original: “Upon examination of the character of the functions entrusted to the Organization and of the nature of the missions of its agents, it becomes
clear that the capacity of the Organization to exercise a measure of functional protection of its agents arises by necessary intendment out of the Charter”. Vide:
Reparation for injuries suffered in the service of the United Nations, Advisory Opinion: I.C. J. Reports 1949, p. 174
[785]
Não nos olvidemos de que a própria Constituição de 1988, em seu artigo 85, prevê como crime de responsabilidade os atos do Presidente da República que
atentem contra a Constituição Federal, o mesmo ocorrendo com relação aos ministros de Estado, conforme artigo 13 da Lei nº 1.079/50.
[786]
Este Recurso tratou da impossibilidade de responsabilização do Banco Central do Brasil pelos prejuízos advindos da desvalorização monetária. Vide: STJ -
REsp: 614048 RS 2003/0225547-0, Relator: M inistro Luiz Fux, Data de Julgamento: 15/03/2005, T1 - PRIM EIRA TURM A, Data de Publicação: DJ 02/05/2005 p.
172
[787]
Brierly salienta todavia que, mesmo na mais ampla interpretação, o termo “denegação de justiça” deve representar uma conduta imprópria extremamente grave,
como corrupção ou julgamento direcionado pelo Executivo. BRIERLY, James Leslie. The law of nations: an introduction to the international law of peace, p. 287.
[788]
Op. cit., p. 131.
[789]
Vide http://www.mercosur.int/msweb/portal%20intermediario/PT/controversias/laudo.html, consultado em 27 de novembro de 2009. Um comentário do Laudo
poderá ser consultado no Capítulo 23 da presente obra.
[790]
K ELSEN, Hans. The Law of the United Nations, p. 914-15. Por outro lado, ao analisar a “legítima defesa coletiva”, Kelsen afirma que: “defesa ‘coletiva’
significa defesa organizada; e tal organização só será efetiva se preparada antes que ocorra um ataque armado.” Talvez encontremos aí a idéia embrionária de uma
“legítima defesa preventiva”, como apregoado quando da decisão norte-americana de invadir o Iraque, legitimada pela Resolução n. 1.483, de 22 de maio de 2003.
[791]
ARÉCHAGA, Eduardo Jiménez de. Op. cit., p. 111.
[792]
Nesse sentido no Parecer solicitado pela Assembléia Geral da ONU à Corte Internacional de Justiça acerca do muro construído na Palestina, esta manifestou-
se, in verbis: “the state of necessity is a ground recognized by customary international law that can only be accepted on na exceptional basis; it can only be invoked
under certain strictly defined conditions which must be cumulatively satisfied; and the State concerned is not the sole judge of whether those conditions have been
met. (...) One of those conditions was stated by the Court in terms used by the International Law Commission, in a text which in its present form requires that the
act being challenged be “the only way for the State to safeguard an essential interest against a grave and imminent peril. (…) In conclusion, the Court considers that
Israel cannot rely on a right of self-defence or on a state of necessity in order to preclude the wrongfulness of the construction of the wall.” Assim sendo concluiu-se
não só que a construção do muro não era o único meio de defesa dos israelenses como estabeleceu que Israel deveria cessar a construção do muro, demolir o que foi
construído e indenizar os palestinos que tiveram suas propriedades confiscadas para a obra. ICJ – Legal Consequences of the Construction of a Wall in the Occupied
Palestinian Territory, http://www.icj-cij.org/docket/index.php?p1=3&p2=4&k=5a&case=131&code=mwp&p3=4, consultado em 25.11.2009.
[793]
VON LISZT, Franz. Op. cit., p. 257.
[794]
Direito internacional público, cit., p. 287. Tal é também a posição de Brierly (Op. cit., p. 288), segundo o qual uma parte contratante não pode renunciar a um
direito que não lhe pertença, mas sim ao seu Governo.
[795]
In verbis: “Art. 51. The territories which were ceded to Germany in accordance with the Preliminaries of Peace signed at Versailles on February 26, 187l, and
the Treaty of Frankfort of M ay l0, 1871, are restored to French sovereignty as from the date of the Armistice of November 11, 1918. The provisions of the Treaties
establishing the delimitation of the frontiers before 1871 shall be restored.”. Vide: http://www.firstworldwar.com/source/versailles.htm, consultado em 27 de
novembro de 2009.
[796]
Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/2005/08/050815_japaoep.shtml>. Acesso em: 15 de agosto de 2005.
[797]
Como afirma a Accioly (Op. cit., p. 146), no tocante aos danos materiais, se deve conceder reparação não só pelo prejuízo propriamente dito (damnum
emergens), mas também pelo que a parte prejudicada deixou de ganhar (lucrum cessans).
[798]
A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, de 1969, em seu artigo 2º, 1, i, a define como uma organização intergovernamental.
[799]
VALLEJO, M anuel Diez de Velasco. Las organizaciones internacionales. 11. ed. M adrid: Tecnos, 1999, p. 44 et seq.
[800]
QUOC DINH, Nguyen et al. Direito internacional público. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1999, p. 523 et seq.
[801]
SEITENFUS, Ricardo. Op. cit., p. 27 e 28.
[802]
Posição reiterada pela Decisão n. 94/800/CE do Conselho das Comunidades Européias, de 22 de dezembro de 1994, relativa à celebração, em nome da
Comunidade Européia e em relação às matérias da sua competência, dos acordos resultantes das negociações multilaterais da Rodada Uruguai (1986/1994). A
Comunidade Européia, enquanto membro de pleno direito da OM C, dispõe de um número de votos igual ao número dos seus Estados-M embros que são membros da
OM C. O acordo precisa que o número de votos da CE e dos seus Estados-membros não pode, em caso algum, ultrapassar o número dos Estados-membros da CE.
Sobre a participação da União Européia na OM C, vide GOYOS JÚNIOR, Durval de Noronha. A OMC e os tratados da rodada Uruguai. São Paulo: Observador
Legal, 1994.
[803]
Op. cit., p. 193 et seq.
[804]
Accordingly the Court concludes that the Organization possessing as it does rights and obligations, has at the same time a large measure of international
personality and the capacity to operate upon an international plane, although it is certainly not a super-state. Vide Reparation for injuries suffered in the service of the
united nations – Advisory Opinion of 11 april 1949. Disponível em: http://www.icj-cij.org/icjwww/idecisions/isummaries/iisunsummary490411.htm. Acesso em: 08
de setembro de 2006.
[805]
Vide http://laetusinpraesens.org/docs/classif3.php#review1. Acesso em: 08 de setembro de 2006.
[806]
Ibidem, p. 194.
[807]
Como no caso das indenizações pagas pela ONU aos estrangeiros que se encontravam no Congo quando da atuação das forças especiais da ONU.
[808]
Op. cit., p. 195-196.
[809]
Vide obra de Seitenfus (Op. cit., p. 82).
[810]
Ibidem, p. 81-82.
[811]
CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Direito das Organizações Internacionais. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 40.
[812]
CANÇADO TRINDADE. Op. cit., p. 39.
[813]
ÖBERG, M arko Divac. The Legal Effects of Resolutions of the UN Security Council and General Assembly in the Jurisprudence of the ICJ. The European
Journal of International Law. Vol. 16, n. 5, 2006. A esse respeito ver ainda a opinião separada do juiz Lauterpacht no caso Legal Consequences for States of the
Continued Presence of South África in Namíbia Notwithstanding Security Council Resolution 276 e dissenting opinion of Judge Gros.
[814]
Geralmente a corte separa decisions para aquelas resoluções obrigatórias e recommendations para as não obrigatórias. As declarations possuem uma natureza
diferente por terem um efeito extrínseco baseado nas normas de direito internacional. Ver ÖBERG. Op. cit, p. 39.
[815]
Ver Resoluções 1593 (XV), 1564 (XV), 1568 (XV), 1565 (XV) da Assembléia Geral da ONU. Disponíveis em:
http://www.un.org/documents/ga/res/15/ares15.htm. Acesso em: 08 de setembro de 2006.
[816]
ALVAREZ, Jose E. Internacional Organizations: then and now. American Journal of International Law, April, 2006. Traduzido livremente do original: “The
same might be said of many resolutions, codes of conduct, conference declarations, and similar products of IO, some of which are mentioned by Shelton, that, even
when not cited by governments as binding authority, are frequently deployed by other actors – nongovernmental organizations (NGO), multinational corporations,
and international secretariats – in lobbying, settling disputes, or assisting in the interpretation of binding law, both national and international.”
[817]
Como afirma Seitenfus (Ibidem, p. 85), “com a Liga das Nações, tem-se pela primeira vez uma organização internacional com o objetivo específico de manter a
paz através de mecanismos jurídicos, o que somente é possível através da hecatombe representada pela guerra”.
[818]
Op. cit., p. 135 et seq.
[819]
M esmo não tendo eles ratificado o Tratado de Versalhes.
[820]
Em função da sua discordância da entrada da Alemanha na liga.
[821]
Pela invasão da província chinesa da M anchúria, sob o argumento de proteger uma ferrovia sob sua responsabilidade.
[822]
A partir da ascensão de Hitler ao poder, denunciando os acordos anteriormente celebrados.
[823]
Com a ocupação e anexação da Etiópia por M ussolini.
[824]
Expulsa em razão de ter invadido a Finlândia.
[825]
Quando a Alemanha entrou na sociedade, imediatamente reivindicou e lhe foi concedido, um assento permanente, o que provocou a revolta dos demais Estados.
Criou-se então o status de semipermanentes, cujos ocupantes eram indefinidamente reelegíveis.
[826]
Tal devolução se deu a partir de um plebiscito que, por 81,4% dos votos, opinou pela sua anexação à Alemanha.
[827]
Hoje em dia, o número dos seus membros aumentou para 193, contando ainda com 2 observadores – Santa Sé e Palestina – contando estes com o direito de fala
na Assembleia Geral, de voto nos assuntos procedimentais e de assinatura nos tratados e acordos da instituição. As Ilhas Cook e o Niue, ambos Estados Associados à
Nova Zelândia, são membros completos de diversas agências especializadas da ONU e têm sua "capacidade de realização de tratados" reconhecida pelo Secretariado.
Nenhum país deixou até hoje a ONU. A Indonésia afastou-se temporariamente em 1965 por causa de uma disputa com a vizinha M alásia, mas regressou no ano
seguinte.
[828]
O Eixo surgiu no Pacto Anticomintern, um tratado anticomunista assinado pela Alemanha e Japão em 25 de novembro de 22 1936. A Itália aderiu ao Pacto em
1937. O "Eixo Roma–Berlim" tornou-se uma aliança militar em 22 de maio de 1939 com o Pacto de Aço e integrou seus objetivos militares em 27 de setembro de
1940, com o Pacto Tripartite, atingindo o seu auge com a ocupação de grande parte da Europa, África, Ásia e ilhas do oceano Pacífico. Em 14.08.1941, após uma
reunião secreta a bordo de um navio de guerra no Oceano Atlântico, o Presidente Franklin D. Roosevelt, dos Estados Unidos, e o Primeiro-M inistro Winston
Churchill, do Reino Unido, anunciaram um plano para a paz mundial, o qual foi chamado de Carta Atlântica. Em 01.01.1942, representantes de 26 países reuniram-se
em Washington e assinaram a Declaração das Nações Unidas. O Eixo foi dissolvido oficialmente em 2 de setembro de 1945.
[829]
O Brasil a ratificou em 12.09.1945.
[830]
A Sede das Nações Unidas localiza-se em Nova Iorque. Na primeira reunião da Assembléia Geral, em Londres, ficou decidido que a sede permanente da
organização deveria ser nos Estados Unidos. Os quatro edifícios que compõem hoje a sede das Nações Unidas são o Edifício da Assembléia Geral, com a cúpula
baixa, a torre do Secretariado, de vidro e mármore, com 39 andares, o Edifício das Conferências, baixo e retangular, ao longo do rio, e a Biblioteca Dag
Hammarskjold no lado sudoeste da praça. O solo e as construções da sede da ONU são considerados zona internacional. Isso significa que as Nações Unidas têm
a sua própria bandeira e os seus próprios oficiais de segurança, que patrulham a área e que emitem os seus próprios selos. Apesar de a Assembléia Geral ter
decidido que a sede das Nações Unidas ficaria nos Estados Unidos, Nova Iorque não foi a primeira escolha para a comissão a quem foi pedido que encontrasse
um local. Tinha-se considerado cidades como Filadélfia, Boston e São Francisco. M esmo quando Nova Iorque foi escolhida, a comissão tinha em mente alguns
locais ao norte da cidade. O que os persuadiram a se instalarem no local onde se encontram hoje foi um donativo de última hora de 8,5 milhões de dólares de John
D. Rockefeller Jr. para a compra do edifício na First Avenue. M ais tarde, a Cidade de Nova Iorque ofereceu terrenos adicionais.
[831]
As principais discussões dizem respeito à reformulação do Conselho de Segurança, que apresenta um claro desequilíbrio em seus membros dentro da Nova
Ordem Internacional. O desequilíbrio de forças se deve, principalmente, à ausência do Japão e da Alemanha (respectivamente, terceira e quarta maiores economias do
planeta), nações que, por terem sido derrotadas na Segunda Guerra M undial, ficaram fora do núcleo do Conselho. Além disso, uma nação Africana (África do Sul) e
uma nação Latino-Americana (Brasil) reivindicam tornar-se membros. Alemanha, Brasil, Japão e Índia constituíram, desta forma, o G-4 e apresentaram uma
proposta para expandir o Conselho para 25 membros, com mais cinco permanentes além dos atuais. Os novos membros permanentes seriam assim divididos: 2
membros da Ásia (Japão e Índia); 1 da América Latina (Brasil); 1 da Europa Central (Alemanha); e, 1 da África (África do Sul, Egito ou Nigéria). Resistências
regionais, contudo, existem contra os planos do G-4: Paquistão contra Índia, Coreia do Sul e China contra Japão, Argentina e M éxico contra Brasil e Itália contra
Alemanha.
[832]
Os 10 principais sete contribuintes são: EUA (22%), Japão (10,8%), Alemanha (7,1%), França (5,6%), Reino Unido (5,2%), China (5,1%), Itália (4,4%), e,
Brasil, Canadá e Espanha (com cerca de 2,9% cada).
[833]
Tal valor equivale a US$ 0,80 por ser humano no mundo. Por outro lado, em 1994, os governos de todo o mundo gastaram US$ 778 bilhões de dólares em
despesas militares, o equivalente a US$ 134 por pessoa.
[834]
Op. cit., p. 121-122.
[835]
Historicamente, o Brasil sempre faz o primeiro discurso nas Assembleias. A ordem tradicional dos discursos – Brasil primeiro, Estados Unidos em segundo, e
depois os demais países, é estabelecida de acordo com um sistema que leva em conta, entre outros critérios, o nível de representação (Chefe de Estado, M inistro das
Relações Exteriores, Representante Diplomático), e só começou, de fato, em 1955, na Décima Assembleia. A tradição de conferir o primeiro discurso ao Brasil se deu
em reconhecimento ao papel desempenhado pelo brasileiro Oswaldo Aranha (1894-1960) nos primórdios da Organização das Nações Unidas, quando este presidiu a
Primeira Assembleia Geral Especial das Nações Unidas, realizada em 1947, e a Segunda Assembleia Geral Ordinária, no mesmo ano, reuniões responsáveis pelo
papel histórico de determinar – por meio da Resolução nº 181 da Assembleia Geral –, a partição da Palestina entre árabes e judeus, abrindo caminho para a criação do
Estado de Israel.
[836]
As Resoluções adotadas pela Assembléia Geral são apenas recomendações para os países-membros.
[837]
A China possui dois governos: A República da China (Formosa) e a República Popular da China (China continental). A República da China foi um dos
membros fundadores das Nações Unidas e um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, ao lado das potências vencedoras da Segunda
Guerra M undial, até ser substituída pela República Popular da China em 1971. Durante o início da Guerra Fria, a República da China ainda era reconhecida por
muitos países ocidentais e pela ONU como o único governo legítimo da China, até perder a Guerra Civil Chinesa e ser forçada a transferir a sede do seu governo
para Taipé em dezembro de 1949. O governo de Chiang Kai-Shek, signatário da Carta de São Francisco, tendo-se exilado em Formosa quando do movimento
revolucionário de M ao Tsé-tung, permaneceu, desta forma, como legítimo representante da China até a edição da Resolução da AG/ONU n. 2.578, de 25.10.1971,
que decidiu “(…) restaurar todos os direitos da República Popular da China e reconhecer os representantes de seu governo como os únicos representantes
legítimos da China nas Nações Unidas, e expulsar de imediato os representantes de Chiang Kai-Shek do lugar que ilegalmente ocupam nas Nações Unidas e em
todas as organizações àquela relacionadas”.
[838]
Em substituição à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS.
[839]
Segundo Seitenfus (Op. cit., p. 123), “Estados Unidos, França e Inglaterra tomam suas decisões em reuniões prévias, chamadas instância P3, que sintetiza a
posição ocidental. E depois os cinco membros permanentes reúnem-se em petit comité no que se convencionou chamar de instância P5. Há, portanto, dois rounds,
definidos não somente no tempo e no espaço mas também politicamente, que podem resultar em bloqueio da atuação coletiva, antes mesmo que se chegue à reunião
do organismo”.
[840]
Os casos de veto já aplicados estão assim distribuídos: URSS/Rússia (122); Estados Unidos (79); Reino Unido (32); França (18); e, China (5).
[841]
O trabalho do ECOSOC é demasiado vasto para um único organismo, de modo que tem muitas comissões para o apoiar. Algumas são conhecidas como
comissões funcionais e aconselham o ECOSOC em assuntos específicos. São elas: Comissão dos Direitos Humanos; Comissão da Droga; Comissão para o
Desenvolvimento Social; Comissão para a População e Desenvolvimento; Comissão para o Estatuto da M ulher; Comissão de Estatística; Comissão para a
Prevenção do Crime e a Justiça Criminal; Comissão para o Desenvolvimento Sustentável; e Comissão para o Desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia.
[842]
Instituído em 15 de março de 2006, apesar da oposição dos Estados Unidos, sendo formado por 47 países. Sua criação foi aprovada por 170 membros da
Assembléia: 4 nações votaram contra (Estados Unidos, Ilhas M arshall, Israel e Palau); e, 3 não votaram (Bielorrússia, Irã e Venezuela). Os Estados Unidos, as Ilhas
M arshall, Palau e Israel justificaram seus votos contrários, alegando que haveria pouco poder envolvido e não se conseguiria evitar os abusos contra os Direitos
Humanos que acontecem ao redor do mundo.
[843]
A CEPAL foi constituída em 25.02.1948, pela Resolução n. 106/III do Conselho Econômico e Social, aprovada pela Assembléia Geral da ONU. Foi a partir da
Resolução n. 1948/LXVII, de 27.07.1984, que seu nome deixou de ser apenas “Comissão Econômica para a América Latina”, passando a denominar-se Comissão
Econômica para a América Latina e o Caribe. Além da sede, que fica em Santiago, no Chile, existem duas sub-regionais, uma para a América Central, na Cidade do
M éxico, e a outra para o Caribe, em Porto Espanha (Trinidad e Tobago). A Cepal tem, ainda, escritórios em Bogotá, Brasília, Buenos Aires, M ontevidéu e
Washington.
[844]
Já foram Secretários-Gerais: o norueguês Trygve Lie (1946 a 1953); o sueco Dag Hammarskjold (1953 a 1961); o birmanês U Thant (1961 a 1972); o austríaco
Kurt Waldheim (1972 a 1982); o peruano Javier Perez de Cuellar (1982 a 1992), o egípcio Boutros Ghali (1992 a 1997), o ganês Kofi Annan (1997 a 2007), e o sul-
coreano Ban Ki-M oon (2007 a 2017).
[845]
Promulgado juntamente com a Carta das Nações Unidas, pelo Decreto nº 19.841 (22.10.1945).
[846]
Art. 36 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça.
[847]
Caso tais órgãos não cheguem a um consenso, intervém uma comissão mediadora. Em dezembro de 2017, pela primeira vez deste a sua criação, um Estado-
membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, no caso o Reino Unido, não terá um representante seu como Juiz da Corte. Tal fato se deu com a eleição do
indiano Dalveer Bhandari, em detrimento ao britânico Christopher Greenwood, e pode ser entendida como uma primeira consequência do Brexit, uma vez que sua
candidatura não contou com o apoio de 22 Estados-membros da União Européia, incluindo Alemanha, França e Itália, que se abstiveram. Com relação ao Brasil,
Antônio Augusto Cançado Trindade tomou posse como juiz da Corte Internacional de Justiça em 6 de fevereiro de 2009 tornando-se, desta forma, o quinto brasileiro
a integrar o corpo de juízes da CIJ, tendo sido precedido por Francisco Rezek (1996-2006), José Sette Câmara (1979-1988), Levi Fernandes Carneiro (1951-1955) e
José Philadelpho de Barros e Azevedo (1946-1951). Além deles, Rui Barbosa foi eleito para o mandato inicial (1921-1930) da Corte Permanente de Justiça
Internacional - CPJI, mas veio a falecer em 1923, antes de ter participado de qualquer sessão da Corte, sendo substituído por Epitácio Pessoa, que e a integrou de
1923 a 1930, depois de ter sido Presidente da República.
[848]
Vide artigo 31 do Estatuto da Corte.
[849]
Art. 34, 1, do Estatuto da Corte Internacional de Justiça.
[850]
Art. 53 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça.
[851]
Art. 40 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça.
[852]
Segundo o artigo 60 do Estatuto da CIJ, em caso de controvérsia quanto ao sentido e ao alcance da sentença, caberá à corte interpretá-la a pedido de qualquer
das partes.
[853]
Op. cit., p. 143.
[854]
Op. cit., p. 165.
[855]
Food Agricultural Organization.
[856]
O conselho, composto por 49 países-membros eleitos pela conferência segundo uma repartição geográfica precisa, atua como órgão diretor entre as sessões da
conferência.
[857]
T rata-se de Harry Dexter White, economista do tesouro norte-americano.
[858]
Elaborado por John M aynard Keynes, consultor não remunerado do ministro das finanças britânico.
[859]
EINCHENGREEN, Barry J. A globalização do capital: uma história do sistema monetário internacional. São Paulo: Ed. 34, 2000, p. 135.
[860]
Seus membros comprometem-se a prestar informações sobre as políticas econômicas e financeiras que possam afetar as operações cambiais de suas unidades
monetárias nacionais, para que os demais membros possam tomar as decisões que julgarem necessárias.
[861]
T rata-se dos conhecidos programas de ajustes, que definem a política orçamentária, a emissão monetária, a taxa de câmbio, a política comercial e os pagamentos
externos, criando o princípio da condicionalidade, ou seja, os recursos somente serão liberados caso as metas definidas na Carta de Intenções sejam atingidas. Vide
SEITENFUS, Ricardo. Op. cit., p. 149.
[862]
As votações se dão por voto ponderado, em que cada Estado-membro detém 250 votos adicionados à sua cota-parte. Cada US$ 100 mil correspondem a um
voto.
[863]
Que não poderá ser inferior a US$ 20 bilhões.
[864]
Sustenta-se que o aumento da dívida interna e a atração de hot money e dinheiro “sujo” para o sistema bancário brasileiro foram causados pela alta de juros
imposta pelo FM I ao Brasil.
[865]
CHOSSUDOVSKY, M ichel. A globalização da pobreza. São Paulo: M oderna, 1999, p. 183.
[866]
RSF n. 33, de 26.08.1999. Autoriza a união a contratar operação de reescalonamento de seus créditos junto a República da Guiné, oriundos de operações de
financiamento do Fundo de Financiamento a Exportação – FINEX, no montante de US$11,326,588.45 (onze milhões, trezentos e vinte e seis mil, quinhentos e
oitenta e oito dólares norte-americanos e quarenta e cinco centavos).
[867]
Instituição encarregada de canalizar os empréstimos concedidos pelo banco, por meio de financiamento a projetos de desenvolvimento aos países que não
podem pagar as taxas de juros do mercado.
[868]
As três instituições são, nos planos jurídico e financeiro, independentes.
[869]
Nas Américas, funciona por meio da Organização Pan-americana de Saúde, com sede em Washington.
[870]
United Nations Education Scientific Cultural Organization.
[871]
Op. cit., p. 166-167.
[872]
United Nations Conference for Trade and Development.
[873]
Enquadrando-se como órgão subsidiário da Assembléia Geral, já que não lhe é conferida a possibilidade de criar Organizações Internacionais por meio de
resoluções, estando sujeito, por esse motivo, o estatuto da UNCTAD a modificações aprovadas pela Assembléia Geral da ONU.
[874]
O atual secretário da UNCTAD é o brasileiro Rubens Ricupero.
[875]
Op. cit., p. 135.
[876]
International Civil Aviation Organization.
[877]
O Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio (General Agreement on Tariffs and Trade – Gatt) foi implementado a partir da não-ratificação norte-
americana da Carta de Havana, que previa a criação da Organização Internacional de Comércio – OIT. Segundo Seitenfus (Op. cit., p. 155), originalmente, o Gatt não
foi concebido para ser uma organização especializada das Nações Unidas, definindo-o como um acordo comercial multilateral dinâmico.
[878]
Que consolidou as concessões feitas pelas partes durante a Rodada Uruguai, para efeitos de multilateralização. No Brasil, foi promulgado pelo Decreto n.
1.355, de 30.12.1994.
[879]
Configurados no Entendimento sobre a Interpretação do Artigo II, b, 1, acerca das concessões feitas no decorrer da Rodada Uruguai; Entendimento sobre a
Interpretação do Artigo XVII, quanto ao controle sobre empresas comerciais estatais; Entendimento sobre as Provisões de Balanço de Pagamentos; Entendimento
sobre a Interpretação do Artigo XXIV, relativo às Uniões Aduaneiras e Zonas de Livre Comércio; Entendimento sobre a Interpretação do Artigo XXV, sobre a
dispensa das obrigações assumidas no Acordo; Entendimento sobre a Interpretação do Artigo XXVIII, a respeito das concessões recíprocas entre as partes
contratantes; e Entendimento sobre a Interpretação do Artigo XXXV, a propósito da sua não-aplicação em Acordos Bilaterais.
[880]
Segundo Barral, os principais resultados alcançados substanciados no Acordo de M arrakesh foram: um corte médio nas tarifas de 37%; o aperfeiçoamento dos
instrumentos de defesa comercial; a integração dos produtos agropecuários ao sistema multilateral de comércio e a redução das barreiras não tarifárias; a incorporação
dos produtos têxteis ao sistema multilateral de comércio; o estabelecimento do GATS e do TRIPS; a instituição do Acordo sobre M edidas de Investimento
Relacionadas ao Comércio – TRIM s; o estabelecimento de um novo Sistema de Solução de Controvérsias e de um M ecanismo de Revisão de Política Comercial dos
países-membros e a criação da Organização M undial do Comércio – OM C. Vide BARRAL, Welber. O Brasil e a OMC: os interesses brasileiros e as futuras
negociações multilaterais. Florianópolis: Diploma Legal, 2000, p. 25-26.
[881]
Onde cada Estado-membro terá direito a um voto.
[882]
Op. cit., p. 159.
[883]
Op. cit., p. 27.
[884]
O sistema de solução de controvérsias no GATT não previa prazos fixos, era facilmente obstruído e o funcionamento dos painéis era demorado, com a
elaboração de relatórios que muitas vezes não eram aprovados pelo Conselho do GATT ou eram obstruídos pelo Estado vencido, uma vez que as decisões só
poderiam ser implementadas por consenso. Ibidem, p. 27.
[885]
Que consolidou as concessões feitas pelas partes durante a Rodada do Uruguai, para efeitos de multilateralização. No Brasil, foi promulgado pelo Decreto nº
1.355, de 30 de dezembro de1994.
[886]
Configurados no Entendimento sobre a Interpretação do Artigo II, b, 1, acerca das concessões feitas no decorrer da Rodada Uruguai; Entendimento sobre a
Interpretação do Artigo XVII, quanto ao controle sobre empresas comerciais estatais; Entendimento sobre as Provisões de Balanço de Pagamentos; Entendimento
sobre a Interpretação do Artigo XXIV, relativo às Uniões Aduaneiras e Zonas de Livre Comércio; Entendimento sobre a Interpretação do Artigo XXV, sobre a
dispensa das obrigações assumidas no Acordo; Entendimento sobre a Interpretação do Artigo XXVIII, a respeito das concessões recíprocas entre as partes
contratantes; e Entendimento sobre a Interpretação do Artigo XXXV, a propósito da sua não-aplicação em Acordos Bilaterais.
[887]
Sobre os diversos Grupos de Negociação estabelecidos na Rodada Uruguai vide: SILVA, Roberto Luiz. Direito Econômico Internacional e Direito
Comunitário, pp.87-98.
[888]
Sendo a primeira rodada de negociações sob a Gestão da OM C, que deveria ser concluída até janeiro de 2005. É importante destacar que China e Formosa
(Taiwan) foram aceitas como membros da OM C em dezembro desse mesmo ano e logo a seguir a Arábia Saudita, aumentando para 149 o número de partes-
contratantes.
[889]
As negociações, formalmente chamadas de Agenda de Desenvolvimento de Doha, foram concentradas em quatro áreas principais: agricultura, produtos
não agrícolas, serviços e facilitação do comércio.
[890]
Com o objetivo de “planejar um acordo concreto sobre os objetivos da Rodada de Doha”, tendo fracassado após quatro dias de discussão entre os países
membros sobre subsídios agrícolas e acesso aos mercados e a posição do G20 (grupo de negociação liderado pelo G4: África do Sul, Brasil, China e Índia) ao
rejeitarem em bloco um acordo que viam como plenamente desfavorável aos países em desenvolvimento.
[891]
Que chegou a um esboço de acordo sobre a abertura do comércio global.
[892]
Quando os negociadores procuraram atingir progressos tangíveis antes do próximo encontro da OM C, em Hong Kong.
[893]
Que se distinguiu das reuniões anteriores pela atuação ativa dos países em desenvolvimento, principalmente concentrados no G20, sob liderança ativa do
Brasil e da Índia.
[894]
Uma vez que o G6 – Austrália, Brasil, Estados Unidos, Índia, Japão e União Européia – não conseguiu acertar suas diferenças quanto à liberalização no setor
agrícola, significando, na prática, que não seria possível chegar a um acordo final antes do fim de 2006, considerada a data-limite para as negociações pelos
americanos, já que o mandato do presidente norte-americano para firmar pactos de livre comércio sem a necessidade de discutir ponto por ponto no Congresso, o
chamado fast track, se encerra em julho de 2007.
[895]
HOEKM AN, Bernard M . M AVROIDIS, Petros C. The World Trade Organization: law, economics and politics, p. 15.
[896] A pesar de reconhecermos a União Européia como paradigmática dentro da análise do processo de Integração, tal característica de “horizontalização” do
processo de integração também pode ser verificada pela análise dos mais recentes protocolos, adotados dentro do M ercosul, como o Protocolo de Ushuhaia, de 24 de
julho de 1998, que afirma ser a vigência plena das instituições democráticas uma condição essencial para o desenvolvimento do processo de integração.
[897] SILVA, Roberto Luiz. Direito Econômico Internacional e Direito Comunitário, p. 65 et seq.
[898] P
ara que isso não ocorra, é necessário todo um aparato jurídico-burocrático, representado pelos certificados de origem dos bens e serviços, no comércio entre
os membros.
[899] S egundo Pfeifer, o desvio de comércio é condenado como prática indesejável de comércio internacional, porquanto favorece as nações associadas em esquemas
de integração comercial, em detrimento de terceiros. Vide OLIVEIRA, Henrique Altemani de. Relações internacionais e sua construção jurídica: a Alca e os blocos
internacionais. São Paulo: FTD, 1998, p. 118.
[900] A lemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Portugal, Reino Unido e Suécia. Em 1º
de maio de 2004 aderiram à União Européia: Chipre, Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, M alta, Polônia e República Checa. Em 1º de janeiro
de 2007entraram Bulgária e Romênia, por fim, em 2013, a Croácia se tornou o mais novo membro da UE. Antes da adesão, esses Estados tiveram que adotar o acervo
comunitário e, por conseguinte, aplicar integralmente as mais de 80.000 páginas de Direito Comunitário, além de incrementar a eficácia da sua administração,
consolidar os sistemas judiciais e intensificar a segurança nas fronteiras dos países do Leste Europeu, que passaram a ser as fronteiras externas da União com 25
Estados-membros. Estão ainda em fase de negociação a adesão da Turquia e da Croácia.
[901] O
Tratado de Paris criou a CECA por um período limitado de 50 anos, dessa forma, essa Organização Internacional foi extinta, por termo, em 23 de julho de
2002.
[902] C
omunidade Européia do Carvão e do Aço – CECA, Comunidade Econômica Européia – CEE e Comunidade Européia da Energia Atômica –
EURATOM /CEEA.
[903] E ntrou em vigor em 1º de maio de 1999, alterando o Tratado da União Européia e o Tratado que instituiu a Comunidade Européia, atribuindo uma nova
numeração às suas disposições, incluindo, em anexo, as respectivas versões consolidadas. Alterou, ainda, os artigos do Tratado da União Européia, que, em vez de
serem identificados pelas letras A a S, passaram a ser numerados.
[904] E ntrou em vigor em 1º de fevereiro de 2003. Incidiu principalmente na reforma das Instituições a fim de assegurar o funcionamento eficaz da União Européia na
sequência do seu alargamento em 2004 para 25 Estados‑M embros e em 2007 para 27 Estados-M embros. O Tratado de Nice, o anterior Tratado da União Européia e
o Tratado que institui a Comunidade Européia foram, então, reunidos numa versão única consolidada.
[905] A ntes, teve que ser ratificado pelos 27 Estados-M embros, sendo o último desses realizado pela República Tcheca, em novembro de 2009. Seus principais
objetivos são aumentar a democracia na UE – em resposta às grandes expectativas dos cidadãos europeus em matéria de responsabilidade, de abertura, de
transparência e de participação – e aumentar a eficácia da atuação da UE e a sua capacidade para enfrentar os atuais desafios globais, inserindo novas matérias, não
previstas no tratado anterior, tais como as alterações climáticas, a segurança e o desenvolvimento sustentável. Nos termos do artigo 6º do Tratado de Lisboa, “O
presente Tratado entra em vigor no dia 1 de Janeiro de 2009, se tiverem sido depositados todos os instrumentos de ratificação ou, na falta desse depósito, no primeiro
dia do mês seguinte ao do depósito do instrumento de ratificação do Estado signatário que proceder a esta formalidade em último lugar”.
[908] A s eleições para o Parlamento Europeu (designadas “Eleições Européias”) realizam-se de cinco em cinco anos, tendo direito a voto todos os cidadãos da UE
que estejam recenseados enquanto eleitores. Atualmente é composto por 736 membros representando todos os Estados, desde o menos expressivo, M alta (5
membros), até o mais importante, Alemanha (99 membros). Com as novas regras implementadas pelo Tratado de Lisboa, o Parlamento Europeu terá o número de
cadeiras limitado a 751 variando de seis a 96 eurodeputados para cada Estado-membro.
[909] Não tendo, dessa forma, função legislativa, mas sim deliberativa, apesar de deter o poder de “demitir” os membros da comissão.
[910] É composto por representantes de todos os Estados-membros. Suas decisões são, via de regra, tomadas por maioria qualificada de votos, tendo o voto de cada
Estado um “peso” proporcional a sua importância dentro da Organização Internacional: Alemanha, França, Itália e Reino Unido (29 votos); Espanha e Polônia (27
votos); Romênia (14 votos); Bélgica, Grécia, Hungria, República Checa e Portugal (12 votos); Áustria, Bulgária e Suécia (10 votos); Dinamarca, Irlanda, Finlândia,
Lituânia e Eslováquia (7 votos); Chipre, Estônia, Letônia, Luxemburgo e Eslovênia (4 votos); e M alta (3 votos). A partir do Tratado de Lisboa, as votações no
Conselho de M inistros ganham uma fórmula: só serão aprovadas propostas que receberem voto favorável de pelo menos 15 Estados-membros (ou 55% do total de
países-membros), desde que os votos representem um mínimo de 65% da população da UE. M inorias de bloqueio devem ser formadas por pelo menos quatro países;
caso a minoria não seja formada, as decisões poderão ser adotadas mesmo se o critério de população representada não atingir 65%. O organismo, no entanto, só
adotará este sistema a partir de 2014.
[911] O Tribunal de Justiça é composto por um juiz de cada Estado-membro, garantindo a representação de todos os sistemas jurídicos da UE. Por razões de
eficiência o Tribunal quase nunca se reúne em sessão plenária. Reúne normalmente em “Grande Secção”, composta apenas por 13 juízes, ou em secções de três ou
cinco juízes. É assistido por oito “advogados-gerais”, aos quais incumbe apresentar, publicamente e com imparcialidade, pareceres fundamentados sobre os processos
a ele submetidos.
[912] T
al Tribunal (que está associado ao Tribunal de Justiça) é também composto por, pelo menos, um juiz por Estado-membro. Tem competência para proferir
sentenças em certas categorias de processos, em especial ações instauradas por particulares ou relacionadas com a concorrência entre empresas. Funciona em secções
compostas por cinco ou três juízes ou, em certos casos, com juiz singular. Pode igualmente funcionar em Grande Secção (treze juízes) ou em Tribunal Pleno, quando a
complexidade jurídica ou a importância do processo o justifiquem. Contrariamente ao Tribunal de Justiça, o Tribunal de Primeira Instância não dispõe de
advogados‑gerais permanentes. Essa função pode, no entanto, ser excepcionalmente confiada a um juiz.
[913] C omposto por sete juízes nomeados pelo Conselho, por um período de seis anos renovável, após convite para a apresentação de candidaturas e parecer de um
comitê composto por sete personalidades escolhidas de entre antigos membros do Tribunal de Justiça e do Tribunal de Primeira Instância e juristas de reconhecida
competência. É competente para conhecer, em primeira instância, dos litígios entre as Comunidades e os seus agentes, bem como para os litígios relativos a
determinadas categorias de pessoal específicas, designadamente o pessoal da Eurojust, da Europol, do Banco Central Europeu e do Instituto de Harmonização do
M ercado Interno (IHM I). Em contrapartida, não tem competência para conhecer dos litígios que opõem as Administrações nacionais aos respectivos agentes. As
decisões proferidas pelo Tribunal podem, no prazo de dois meses, ser objeto de recurso, limitado às questões de direito, para o Tribunal de Primeira Instância.
[914] Criado em 1977 e composto por um representante de cada Estado-membro, nomeado pelo Conselho por um período renovável de seis anos.
[915] A Autoridade Européia para a Proteção de Dados – EDPS, foi criada em 2001, ao abrigo do artigo 286 do Tratado CE, com o objetivo de garantir que as
instituições ou órgãos da UE respeitem os direitos à vida privada ao procederem ao tratamento de dados pessoais. De certa forma, essa foi a resposta da União
Européia ao cerceamento dos direitos individuais implementado nos Estados Unidos da América pelo Patriot Act. Suas atividades, todavia, são regidas por regras
rigorosas em matéria de privacidade, por exemplo, as instituições e órgãos da UE não estão autorizados a tratar dados pessoais que revelem a raça ou origem étnica,
opiniões políticas, convicções religiosas ou filosóficas ou adesão a sindicatos. Não podem também processar dados sobre a saúde ou vida sexual, exceto se tais dados
forem necessários para efeitos de cuidados de saúde, mesmo assim, estes devem ser tratados por um profissional da área da saúde ou outra pessoa vinculada ao
segredo profissional.
[916] C omposto por 344 membros (variando desde 24, no caso da Alemanha, França, Itália e Reino Unido a 5 para M alta), que representam empregadores,
sindicatos, agricultores, consumidores e outros grupos de interesses que, no seu conjunto, formam a denominada “sociedade civil organizada”.
[917] Criado em 1958 pelo Tratado de Roma enquanto organismo de concessão de empréstimos a longo prazo da União Européia.
[918] Criado em 1994 pelo Tratado da União Européia como um órgão consultivo composto por 344 representantes dos poderes locais e regionais da Europa.
[919] C
riado pelo Tratado de M aastricht (1992), tendo competências para receber e investigar queixas apresentadas por qualquer cidadão, empresa, instituição da
UE ou qualquer pessoa singular ou coletiva que resida ou tenha a sua sede estatutária num país da UE sendo eleito pelo Parlamento Europeu por um período
renovável de cinco anos.
[920] C riado em 1998 está sediado em Frankfurt (Alemanha). Compete‑lhe gerir o Euro – a moeda única da UE, bem como salvaguardar a estabilidade dos preços
para os mais de dois terços de cidadãos da UE que utilizam essa moeda, sendo igualmente responsável pela definição e execução da política monetária da área do euro.
[921] Sobre o Direito Comunitário vide SILVA, Roberto Luiz. Direito comunitário e da integração. Porto Alegre: Síntese, 1999.
[922] Pelo Tratado de 03.02.1958, assinado em Haia, que entrou em vigor em 01.11.1960.
[923] Instituída pelo Tratado de 31 de março de 1965, entrando em vigor em 1º de janeiro de 1974.
[924] É importante salientar, todavia, que os Estados-membros da EFTA que celebraram o Espaço Econômico Europeu – EEE não transferiram nenhuma
competência legislativa aos órgãos do EEE, os quais são incapazes, constitucionalmente, de aceitar decisões diretas pela Comissão ou pelo Tribunal de Justiça. Para
solucionar essa questão, estes decidiram acatar quaisquer decisões por meio de consenso.
[925] Reconhecendo ainda o estatuto de “observador” a Santa Sé, Estados Unidos, Canadá, Japão e M éxico.
[926] N
a Cúpula de Estrasburgo, em outubro de 1997, os chefes de Estado e de Governo adotaram um plano de ação para reforçar o trabalho do Conselho da Europa
em quatro domínios: democracia e direitos do homem, coesão social, segurança dos cidadãos e valores democráticos e diversidade cultural.
[927] C
om destaque para a Convenção Européia dos Direitos do Homem, a Convenção Européia para a Prevenção da Tortura e das Penas ou Tratamentos
Desumanos e Degradantes e a Convenção-quadro para a Proteção das M inorias.
[928] C
om a criação de um sistema internacional de proteção, pela Corte Européia de Direitos do Homem, onde Estados e particulares, independentemente da sua
nacionalidade, podem dirigir-se a esse órgão judiciário quando estimem ser vítimas de uma violação, pelos Estados contratantes, de algum dos direitos garantidos pela
convenção. A competência do tribunal é obrigatória para todos os Estados contratantes.
[930] V inculando, inicialmente, a Bélgica, Canadá, Dinamarca, EUA, França, Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Países Baixos, Portugal e Reino Unido, o tratado
entrou em vigor em 24 de agosto de 1949, após o deposito do instrumento de ratificação de todos os Estados-membros. Posteriormente, aderiram Grécia e Turquia
(1951), Alemanha (1954), Espanha (1982), Hungria, Polônia e República Checa (1999) e, por fim, Bulgária, Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Letônia, Lituânia e
Romênia (2004).
[931] I ntegrada, atualmente por Albânia, Alemanha (República Federal da Alemanha antes da reunificação alemã), Bélgica, Bulgária, Canadá, Croácia, Dinamarca,
Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos da América, Estônia, França, Grécia, Hungria, Islândia, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Noruega, Países
Baixos, Polônia, Portugal, República Checa, Reino Unido, Romênia e Turquia.
[933] I ntervindo diretamente nos 3 conflitos dos Bálcãs: na Bósnia-Herzegovina em 1995; no Kosovo em 1999; e na M acedônia em 2001. Atualmente dirige duas
missões de manutenção da paz: a Força de Estabilização (SFOR) na Bósnia-Herzegovina, com um mandato da ONU não apenas para manter a paz na Bósnia-
Herzegovina mas também para, onde necessário, a impor; e a Força do Kosovo (KFOR) na província do Kosovo no sul da Sérvia, resultante de um acordo técnico-
militar assinado pela OTAN e pelos comandantes iugoslavos e da Resolução 1.244 do Conselho de Segurança da ONU, ambos de junho de 1999.
[934] J á em 1999, ou seja, antes mesmo dos atentados de 11 de setembro de 2001, os membros da OTAN acordaram em um novo “Conceito Estratégico”, que definia
as ameaças à segurança confrontadas pela aliança e a forma como ela procura enfrentá-las, descrevendo os riscos de segurança como “multidirecionais e muitas vezes
difíceis de prever” e dedicando especial atenção à ameaça representada pela proliferação das armas de destruição em massa e dos seus meios de lançamento, atos
terroristas, sabotagem e crime organizado bem como a interrupção da circulação de recursos vitais.
[935] O objetivo essencial da OECE consistia em planejar o desenvolvimento econômico dos Estados-membros signatários do Pacto de Bruxelas (17.03.1948) –
Bélgica, França, Luxemburgo, Países Baixos, Reino Unido – com os recursos oriundos dos empréstimos concedidos pelo Plano M arshall. Vide SEITENFUS, Ricardo.
Op. cit., p. 230.
[936] A tualmente é constituída por 30 Estados: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Coréia do Sul, Dinamarca, Eslováquia, Espanha, Estados Unidos,
Finlândia, França, Grã-Bretanha, Grécia, Hungria, Islândia, Irlanda, Itália, Japão, Luxemburgo, M éxico, Noruega, Nova Zelândia, Países Baixos, Polônia, Portugal,
República Checa, Suécia, Suíça e Turquia.
[943] E
nunciado pela Ata de Chapultelpec (06.03.1945) e pelo Pacto do Rio de Janeiro (02.09.1947), pelos quais todo ataque contra a integridade do território, a
soberania ou a independência política de um Estado americano seria considerado ato de agressão contra todos os signatários da declaração.
[945] O Tratado de M ontevidéu 1980, que instituiu a Aladi, substituiu o Tratado assinado em 18 de fevereiro de 1960, pelo qual foi criada a ALALC (Associação
Latino-Americana de Livre-Comércio). Ambos os tratados coincidiam nos seus objetivos e tinham como meta final o estabelecimento, a longo prazo, de um mercado
comum latino-americano. Por outro lado, em comparação com a ALALC, a ALADI é uma instituição mais aberta, pois, além de possibilitar a adesão ao tratado que a
institui, permite a participação de países não-membros em ações parciais com os países-membros bem como a participação da associação como instituição nos
movimentos de cooperação horizontal entre países em vias de desenvolvimento.
[946] A rgentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, M éxico, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. O Tratado de M ontevidéu (1980) está aberto à
adesão de qualquer país latino-americano. Foi utilizando-se desse instrumento que, em 26 de julho de 1999, Cuba formalizou perante o Governo do Uruguai – país
sede do organismo – o depósito do instrumento de adesão, constituindo-se no décimo segundo membro pleno em 26 de agosto do mesmo ano.
[947] A ssociaram-se ao M ERCOSUL outros países, com o status de Estados Associados: Bolívia e Chile (1996), Peru (2003), Colômbia e Equador (2004). A
Venezuela teve seu processo de adesão concretizado em virtude da destituição do presidente paraguaio Fernando Lugo, quando o país foi temporariamente suspenso
do bloco. Tal fato tornou possível a adesão venezuelana como membro pleno do M ercosul a partir do dia 31 de julho de 2012,pois a inclusão era até então impossível
em razão do veto paraguaio, porém, em 1° de dezembro de 2016, esta terminou por ser suspensa do grupo, por não cumprir com as diretrizes do bloco, entre os quais
o compromisso com a promoção e proteção dos direitos humanos.
[948] A Tarifa Externa Comum encontra-se definida para praticamente todo o universo tarifário do M ercosul, foi implementada em grande parte a partir de 1º de
janeiro de 1995. Até 2006, quando termina o período de convergência ascendente ou descendente das tarifas nacionais que ainda se encontram em regime de exceção, a
TEC estará implementada para a totalidade do universo tarifário.
[949] T rata-se do Protocolo Adicional ao Tratado de Assunção sobre a Estrutura Institucional do M ercosul, promulgado em nosso Estado pelo Decreto n. 1.901, de
09.05.1996.
[950] A
utoridade de Aplicação em M atéria de Drogas, Prevenção de seu Uso Indevido e Recuperação de Drogas e Dependentes; M ulher; Ciência e Tecnologia;
Comunicação Social; Turismo; Promoção Comercial; M unicípios/Intendências do M ERCOSUL; Infraestrutura da Integração.
[952] C omitê de Cooperação Técnica; Comitê de Diretores de Aduana; Comitê de Sanidade Animal e Vegetal e Comitês Técnicos (CT-1: Tarifas, Nomenclatura e
Classificação de M ercadorias; CT-2: Assuntos Aduaneiros; CT-3: Normas e Disciplinas Comerciais; CT-4: Políticas Públicas que Distorcem a Competitividade; CT-
5: Defesa da Concorrência; CT-6: Comitê de Defesa Comercial e Salvaguardas; e CT-7: Defesa do Consumidor).
[953] E m 18 de fevereiro de 2002 foi celebrado o Protocolo de Olivos que alterou o sistema de solução de controvérsias no M ERCOSUL. Esse protocolo foi
promulgado no Brasil pelo Decreto nº 4.982 de 09 de fevereiro de 2004. Criou-se, através desse Protocolo, o Tribunal Permanente de Revisão – TPR, com o fim de
controlar a legalidade das decisões arbitrais. Um estágio seguinte poderá ser a criação de uma corte permanente do M ERCOSUL. O TPR é formado por cinco árbitros
designados um por Estado, por um período de dois anos, renovável por até duas vezes consecutivas. A escolha do quinto árbitro será feita por unanimidade, para um
período de três anos, não renovável, salvo acordo em contrário.
[954] Para uma análise mais profunda do tema, vide SILVA, Roberto Luiz. Direito comunitário e da integração. Porto Alegre: Síntese, 1999.
[955] Sendo árbitros: Juan Carlos Blanco (presidente), Guilhermo M ichelson Irusta e João Grandino Rodas.
[956] Presidido por Jorge Peirano Basso, contando ainda com Atílio Aníbal Alterini e Luiz Olavo Baptista.
[957] Presidido pelo norte-americano Gary N. Horlick e integrado por José Carlos de M agalhães e Raúl E. Vinuesa.
[958] Presidido por Juan Carlos Blanco e integrado por Enrique Carlos Barreira e Tércio Sampaio Ferraz Junior.
[959] Constituído pelos árbitros Luis M artí M ingarro (Presidente), Atílio Anibal Alterini e Ricardo Olivera García.
[960] Formado pelos árbitros Raúl Emilio Vinuesa (Presidente), M aristela Basso e Ronald Herbert.
[961] Integrado por Ricardo Olivera García (Presidente), Héctor M asnatta e Guido Fernando Silva Soares.
[962] Constituído por Luís Olavo Baptista (Presidente), Evelio Fernández Arévalos e Juan Carlos Blanco.
[963] Integrado pelos árbitros Ricardo Alonso García (Presidente), Enrique C. Barreira Eduardo M ezzera.
[964] Constituído por Raúl Emilio Vinuesa (Presidente), Nádia de Araújo e Ronald Herbert.
[965] Integrado por Hermes M arcelo Huck (Presidente), José M aria Gamio e M arcelo Antonio Gottifredi.
[966] Composto por Luis M artí M ingarro (Presidente), José M aria Gamio e Enrique Carlos Barreira.
[967] Não se tem notícia de utilização, até o presente momento, dessa forma de solução de controvérsias.
[970] Extraído do Bush Summay of Nafta, divulgado em 12.08.1992, publicado no Jornal of World Trade Law.
[971] A
s disposições iniciais do NAFTA estabelecem formalmente uma Zona de Livre Comércio entre Canadá, EUA e M éxico compatível com as regras do GATT.
Definem, ainda, uma regra geral para aplicação do acordo pelas esferas de governo municipal e estadual dos três países.
[972] Um conjunto de exceções a essa disposição foi apresentado com vistas a minimizar inconsistências entre diferentes acordos.
[974] P or meio do “Protocolo M odificatorio del Tratado de Creación del Tribunal de Justicia”, de 1996, se implementou o princípio da “aplicabilidade direta” de
suas decisões e resoluções no território dos Estados-membros, além de conceder-lhe novas competências por meio do Recurso por Omisión o Inactividad e da função
arbitral e jurisdição trabalhista.
[975] N o seio da Comunidade Andina, “convênios” são instituições intergovernamentais criadas para complementar os esforços integracionistas nos setores
econômico e comercial, com destaque para o “Convênio Andrés Bello”, que promove a integração educacional, tecnológica e cultural, “Convênio Hipólito Unanue”,
relacionado a melhoria da saúde da população, e “Convênio Simón Rodríguez” para a promoção da integração sociolaboral.
[976] A ntígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Granada, Guiana, Haiti (membro provisório), Jamaica, M ontserrat, Santa Lúcia, São Cristóvão e
Névis, São Vicente e Granadinas, Suriname e Trinidad e Tobago.
[977] A
ntígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Dominica, El Salvador, Granada, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Jamaica,
M éxico, Nicarágua, Panamá, República Dominicana, Santa Lúcia, São Cristóvão e Névis, São Vicente e Granadinas, Suriname, Trinidad e Tobago e Venezuela.
[978] C osta Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua. Em 1991, foi subscrito o Protocolo de Tegucigalpa que, além de estabelecer e consolidar o Sistema
de Integração Centro-americano – Sica, incorporou o Panamá como Estado-membro do M CCA. Em dezembro de 2001, Belize adere à Sica na qualidade de Estado-
membro e, em dezembro de 2003, chega a vez da República Dominicana também aderir, mas na qualidade de Estado Associado.
[979] O Tratado de Bali, assinado em 1976, permite a Estados de fora da região participar de alguns processos regionais para solução de controvérsias, por meio da
constituição de um conselho de representantes em nível ministerial, que cuida de disputas passíveis de afetar a estabilidade da região. Em 29.11.2000 foi anunciada a
entrada em vigor de um protocolo permitindo a adesão de Estados fora do sudeste asiático ao Tratado de Amizade e Cooperação no Sudeste da Ásia.
[980] Brunei Darussalam, Camboja, Cingapura, Filipinas, Indonésia, Laos, M alásia, M ianmar, Tailândia e Vietnã.
[982] A ustrália, Brunei Darussalam, Canadá, Chile, China, Cingapura, Coréia do Sul, Estados Unidos da América (EUA), Filipinas, Hong Kong, Indonésia, Japão,
M alásia, M éxico, Nova Zelândia, Papua-Nova Guiné, Peru, Rússia, Tailândia, Taiwan e Vietnã. Dentro da estrutura da Apec, seus membros são denominados
“member economies”.
[983] S
ão seus membros originários: Arábia Saudita, Egito, Iêmen do Norte, Iraque, Líbano, Síria e Transjordânia (Jordânia em 1950). À medida que foram
ascendendo à independência, juntaram-se à liga: Líbia (1953), Sudão (1956), M arrocos e Tunísia (1958), Kuwait (1961), Argélia (1962), Iêmen (1967), Omã,
Emirados Árabes Unidos, Qatar e Bahrein (1971), M auritânia (1973), Somália (1974), Djibuti (1977) e Ilhas Comores (1993), completando o conjunto de 22
membros da liga.
[984] A ngola, Burundi, Congo, Djibuti, Egito, Eritréia, Etiópia, Ilhas Comores, Ilhas M aurício, Líbia, M adagascar, M alaui, Quênia, Ruanda, Seicheles, Sudão,
Suazilândia, Uganda, Zâmbia e Zimbábue.
[985] I ntegrada por Benin, Burkina Faso, Cabo Verde, Costa do M arfim, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Libéria, M ali, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e
Togo.
[986] Á
frica do Sul, Angola, Botsuana, Lesoto, M alavi, M aurício, M oçambique, Namíbia, República Democrática do Congo, Seychelles, Suazilândia, Tanzânia,
Zâmbia e Zimbábue.
[987] Até esta data, o pontífice acumulava as funções de Chefe Supremo da Igreja Católica com a de Chefe dos Estados Pontifícios.
[988] F irmado em nome do rei Vítor Emanuel III por Benito M ussolini e do Papa Pio XI pelo Cardeal Gaspari. Esse documento incluía uma cláusula política em que
se estabelecia a criação do Estado do Vaticano e se concedia a completa soberania desse território à Santa Sede. Em 1984, firmou-se um novo tratado.
[989] M esmo sendo esta questionada por autores que equiparam a Santa Sé a um serviço internacional de natureza espiritual, como Nguyen Quoc Dinh no seu Droit
international public, p. 376, e M aryan Green N. A. em seu International law: law of the peace, p. 69. A Cidade do Vaticano é governada pelo Papa, que tem poder
executivo, legislativo e judiciário absolutos, sua própria moeda (a lira vaticana, que equivale à lira italiana) e seu próprio sistema postal. O italiano é a língua do
Estado, embora se utilize o latim nos atos oficiais.
[990] O nde se diz que “a Itália reconhece a soberania da Santa Sé no domínio internacional, como atributo inerente à sua natureza, em conformidade com a sua
tradição e as exigências de sua missão no mundo”.
[991] No preâmbulo do tratado, afirma-se que o Vaticano destina-se a assegurar à Santa Sé uma sede territorial.
[992] São eles: Penitenciaria Apostólica, Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica e Tribunal da Rota Romana.
[994] A lguns autores, como Louis Delbez, em seu Manuel de droit international public, p. 57, a consideram uma Comitas Gentium que, apesar de ter sido parte na
Corte de Cassação Italiana em dois casos, um de 17.12.1931 e outro de 13.03.1935, tal fato esteve mais ligado a um aspecto de cortesia do que de direito de uma parte
contratante em Direito Internacional.
Já Rezek, em seu Direito dos tratados (cit., p. 54), afirma que a Ordem de M alta nada tem que se assemelhe a um Estado e a nenhum título ostenta, à análise
objetiva, a personalidade jurídica de Direito das Gentes, estando presente em certas conferências internacionais sob o estatuto de entidade observadora.
[995] Entre os quais podemos destacar, além do Brasil, a Espanha, Portugal, San M arino e o Haiti.
[996] E
m tempos de paz, proporciona ajuda médica e de outro tipo a pessoas afetadas por desastres ou cataclismos, como inundações, terremotos, epidemias, fome,
além de realizar outras funções de serviço público.
[997] A pesar de os órgãos supramencionados regerem-se pelo direito interno dos Estados-membros, a Convenção de Genebra sobre Proteção de Prisioneiros de
Guerra, de 12.08.1949, atribui a esse organismo estatuto jurídico internacional, confiando-lhe, em certas circunstâncias, a execução de tarefas que estaria, a priori, a
cargo dos Estados. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1917, 1944 e 1963.
[998] HERM ANN, H.K. Rechenberg. Non governamental organizations. Encyclopedia of Public International Law, 1986 p. 276.
[999] S
egundo Bárbara Oliveira, a inexistência de fins lucrativos não significa que a ONG não possa gerar renda para a manutenção de suas atividades, mas sim que
não poderá haver distribuição de lucros entre seus membros. Vide OLIVEIRA, Bárbara. As Organizações não-governamentais face ao Direito Internacional, p. 16.
[1004] STOSIC, Borko D. Les organisations non gouvernementales et les Nations Unies. Genebra, Librairie Droz, 1964, p. 25.
[1005] WHITE, Lyman Crowell. International Non-Governmental Organizations: Their purposes, methods, and accomplishments. New Brunswick,
Rutgers University Press, 1951, p. 4 e 279.
[1007] CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. Coimbra: Almedina, 1993, p. 240.
[1008] M AZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de direito internacional público. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 750.
[1010] VASCO, M iguel A. In: CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto (Ed.). Op. cit., p. 653. O Estatuto de Roma está em plena sintonia com os
princípios da prevalência dos direitos humanos, defesa da paz nas relações internacionais e da dignidade da pessoa humana como fundamento do Estado, inscritos na
Constituição. Além disso, o art. 7º das Disposições Constitucionais Transitórias estabelece que o Brasil propugnará pela criação de um tribunal internacional dos
direitos humanos.
[1011] O artigo define, portanto, as premissas básicas da declaração: que o direito à liberdade e à igualdade é um direito inato e não pode ser alienado e que o homem,
por ser racional e moral, é diferente de todas as outras criat uras da terra, por isso titular de certos direitos e liberdades de que as outras criaturas não gozam.
[1013] Também conhecida como Pacto de San José, assinada em 22.11.1969 e em vigor desde 18.07.1978.
[1014] T exto aditado a Constituição pela Emenda Constitucional n. 45, de 08 de dezembro de 2004. Dessa forma, exige-se maioria qualificada para que as normas
internacionais de Direitos Humanos tenham hierarquia constitucional. M azzuoli, todavia, entende que “o novo § 3º do art. 5º da Constituição em nada influi no ‘status
de norma constitucional’ que os tratados de direitos humanos ratificados pelo Estado brasileiro já detêm no nosso ordenamento jurídico, em virtude da regra do § 2º do
mesmo art. 5º”. Vide M AZZUOLI, Valerio de Oliveira. O novo § 3º do art. 5º da Constituição e sua eficácia. In: Revista Forense, vol. 378, ano 101, Rio de Janeiro,
mar./abr. 2005, p. 103.
[1017] Assinado pelo Brasil em 07 de fevereiro de 2000 e promulgado pelo Decreto n. 4.388, de 25 de setembro de 2002.
[1018] M AZZUOLI, Valerio de Oliveira. O novo § 3º do art. 5º da Constituição e sua eficácia. In: Revista Forense, vol. 378, ano 101, Rio de Janeiro, mar./abr. 2005,
p. 89-90.
[1020] Instaurado pelo Acordo de Londres, de 08.08.1945, ressaltando-se que tal instrumento jurídico foi instituído pelos Estados aliados vencedores da
guerra e entre os bombardeios de Hiroshima (06 de agosto) e Nagasaki (09 de agosto).
[1021] Criado em 19.01.1946, à semelhança do Acordo de Londres, sendo seu Estatuto “aprovado” pelo general comandante em chefe das tropas de
ocupação norte-americanas.
[1022] Anteriormente, os atos de agressão praticados em violação ao Pacto da Sociedade das Nações e ao Pacto Briand-Kellog eram imputáveis apenas aos
Estados soberanos.
[1023] Facultando-lhe a possibilidade de solicitar ao TPI a suspensão por até doze meses (renovável por igual prazo) de investigação ou processo já
iniciados.
[1024] HALAJCZUK, Bohdan T.; M OYA DOM INGUEZ, M aria Teresa del R. Derecho internacional publico. Buenos Aires: Ediar, 1999, p. 650.
[1025] BRIERLY, James Leslie. The law of nations: an introduction to the international law of peace, p. 346.
[1027] Conforme Brierly, apesar de não ser “elegante”, tal classificação é a preferível, uma vez que, com certeza, pelo simples fato de as partes serem
Estados, o conflito toma contornos políticos e não deixará de ser político apenas por ter total ou parcialmente contornos jurídicos. Além disso, praticamente toda
disputa contém elementos legais e políticos, mesmo no sentido estrito da palavra. Vide BRIERLY, J. L. The basis of obligation in International Law, p. 96.
[1029] Ibidem.
[1030] Ibidem.
[1031] Ibidem, p. 653-654. Tal autor afirma ter sido esse procedimento aplicado antes mesmo de 1907, citando o caso da explosão do navio de guerra norte-
americano M aine, em 1898, que se encontrava no porto de Havana, sob soberania espanhola, e, mesmo tendo-se revelado que os explosivos que se encontravam no
encouraçado norte-americano explodiram espontaneamente, provocou a guerra hispano-estadunidense.
[1036] Brierly (Op. cit., p. 347) ressalta que “um arbitro é um juiz, apesar de diferenciar-se de um juiz de uma Corte de Justiça por ser escolhido pelas partes
e pelo fato de que suas funções judiciais se encerram com a decisão da questão a ele submetida. É interessante notar, todavia que, o mesmo autor ao identificar o termo
‘arbitragem’ como denotando a solução de um litígio por uma junta de mediadores que não aplicam, necessariamente, regras de direito, recorre ao termo ‘mediadores’
ao invés de ‘juiz’”. Vide: BRIERLY, J. L. The basis of obligation in International Law, p. 95.
[1039] Tal litígio envolveu a reivindicação norte-americana de compensação por parte da Grã-Bretanha dos danos causados pela utilização de navios de
guerra britânicos “disfarçados” de navios mercantes, em favor dos Estados confederados, durante a Guerra Civil, ferindo seu compromisso de “neutralidade” e
“prolongando” a Guerra Civil por mais dois anos. Em função dos danos causados, os Estados Unidos sugeriu “inclusive” a entrega do Canadá como “compensação”
aos extensos danos causados. A Comissão de Arbitragem constituída pelo Tratado de Washington emitiu sua decisão, em setembro 1872, rejeitando as reivindicações
americanas para os danos indiretos, mas requisitando à Grã-Bretanha o pagamento de U$15,5 milhões aos EUA como compensação.
[1040] Halajczuk (Ibidem, p. 667) cita a chamada Cláusula Argentina, que excluiria da arbitragem toda a matéria que afete a Constituição Nacional.
[1041] Uma exceção a essa regra é a prevista no Convênio Drago-Porter, que autorizou, em 1907, o recurso unilateral da força para impor o cumprimento de
laudos arbitrais relativos a pagamentos de dívidas.
[1042] Envolvendo um acidente marítimo, ocorrido em 02 de agosto de 1926, entre o navio postal francês Lotus e a embarcação turca Boz-Kourt nas
proximidades da costa turca, mas fora de seu mar territorial. O navio turco afundou, levando 8 de seus tripulantes, de nacionalidade turca, ao óbito, enquanto a
embarcação francesa prosseguiu até Istambul onde o seu capitão, o francês Demons, e o capitão da embarcação turca foram submetidos a julgamento e condenados por
homicídio culposo. França e Turquia concordaram em levar a questão para a CPJI onde se questionou o princípio da territorialidade frente as normas de Direito
Internacional, mais precisamente, se o capitão francês poderia ser julgado por tribunal turco e segundo as leis daquele país (que previam estar submetido ao Código
Penal Turco todo o estrangeiro que cometesse alguma ofensa contra a Turquia ou seus interesses). A decisão foi no sentido de que um direito interno não terá eficácia
fora do território nacional. Foi nesse julgamento que surgiu, pelas palavras do juiz Loder, o celebre ditado “every door is open unless it is closed by treaty or
established custom” (toda porta está aberta, desde que não esteja fechada por um tratado ou costume vigente).
[1043] Cujo estatuto, celebrado em Roma entre 15 de junho e 17 de julho de 1998, já foi objeto de uma resolução do parlamento europeu no intuito de
comprometer os Estados-membros da União Européia à sua ratificação.
[1045] Apud BRIERLY, J. L. The basis of obligation in International Law, p. 205, nota 4.
[1048] Vide PARRY, Clive. In: SORENSEN, M ax. Op. cit., p. 53.