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De Paulo Afonso até lá, um esticão, inda mais de noite nessas condições.
Estrada de carroça, peste. Temo Canindé de São Francisco e Monte Alegre de
Sergipe e Nossa Senhora da Glória e Nossa Senhora das Dores e Siriri e
Capela e outros mundãos, sei quantos. Propriá e Maruim, já viu, poeiras e
caminhãos alagoado, a secura fria. E sertão do brabo: favelas e cansançãos,
tudo ardiloso, quipás por baixo, um inferno (RIBEIRO, 2003, p.9).
Elevaldo e disser: pode ir. Vou logo. Isso aqui me dá uma agonia, ainda mais
com Amaro cortando tiririca, mordendo tiririca, lascando o dedo na tiririca, uma
agonia. E olhando o novelo da menina. Não sei. Já é mulher, deve ter uns treze
anos, possa ser catorze, o oveiro já está rebaixado no ponto de mulher. Pois a
tal fica aí, de olho duro em mim.
- Tirando bicho de pé Seu Getúlio?
Não gosto de me chamarem de seu. Ora, pustema, o raio da divisa para que
serve? Estou tirando bicho do pé, não sei mais o que eu podia estar fazendo
uma agulha na mão e o pé para cima, só se quisesse costurar os pés
(RIBEIRO, 2003, p.43).
O fato é que ela bem que queria, deve ser ela mesmo que abriu o homem,
porque as mãos não podia mexer bem naquele estado de amarração. Mas ela
vastou e ficou berrando de solúcios: ela não quis, pai dela, ela foi dar água e ele
agarrou ela, ela é donzela, ela estava quieta no canto dela. […] Sim. Boto um
dinheiro como ela encostou lá por primeiro. An-bem, chu. Quem freta e desliza é
barcaça. […] Mas não teve precisão de segurar mais, porque aquele manguá
era dos de amansar burro, de maneiras que ela amunhecou e ficou ali no canto
dela. Boa taca e manejava bem, sem curva muito grande, só quase que de
munheca, mas batia bem. Homem nenhum uma filha assim não apreceia,
mesmo pensando que não foi ela (RIBEIRO, 2003, p.54-5).
Acho que as músicas devia de ser feitas para entendimentos, assim não. Amaro
sabe diversas, mas tem costume de pegar uma e não e não tirar da boca, e aí
fica o dia todo naquilo só.
Bonequinha linda/dos cabelos louros/olhos tentadôrios/lascos de lubila.
Perguntei que vem a ser lascos de lubila, também não soube, parece mesmo
que não gosta que eu pergunte. Acho despropósito cantar uma coisa que não
se entende e disse isso a ele, mas ele não quer saber, lascos de lubila, lascos
de lubila, nunca ouvi isso. Só ele mesmo (RIBEIRO, 2003, p.50)
2 Trecho da letra original: Bonequinha linda/ de cabelos de ouro/ olhos tentadores/ lábios de rubi/
Bonequinha linda/ todo o meu tesouro/ dize que me queres/ como eu quero a ti.
assimilados e parodiados por “cabelos louros” e “olhos tentadôrios” pela personagem
do romance. Outro fato a destacar é que ao ser indagado sobre o significado de “lascos
de lubila” por Getúlio, Amaro não consegue chegar a uma explicação, transformando a
canção original em sua própria paródia.
Ao finalizarmos a leitura do terceiro capítulo, encontramos o protagonista
exteriorizando pela primeira vez o seu solilóquio, desta maneira mostrando ao leitor o
seu lado de torturador ao punir severamente o prisioneiro:
Seu Nestor trouxe um baú de folha, aquilo assim de ferruge, tão assim que
abriu com um roncor devagar, e deu o alicate. Esse, não muito melhor, um
negrume. Acho que vai estrompar suas gengivas, coisa. Vosmecê desculpe,
não tem outro, mas é isso ou capação. Vá entendendo, viu, esse menino?
- Vosmecê sabe o termo bonito para arrancar dente? Vosmecê não quer abrir
logo essa boquinha de bunina? Ôi peste, ôi peste!
Ai inverti a arma, encarquei duas vezes no beiço do alguém e arranquei quatro
dentes de alicate. E deixei. (RIBEIRO, 2003, p.60)
Esse hudso, quando encrencou por não ter gasolina, eu olhei bem ele e pensei
que isso era um monarquismo de bicho, porque necessitava que a gente
botasse gasolina e as latas acabou e nem bem sei aonde nesse mundo direito
estamos. Dizer a verdade, sei, mas vejo que andar é o que se pode fazer. […]
Eu fiquei olhando esse carro, que é novo mas já ficou velho faz muito tempo, eu
fiquei olhando ele assim, todo frio. Ficou lá morto.
[…] e eu sendo eu, sendo eu, quando eu era menino eu comi barro e entrei por
dentro do chão, comendo barro, cagando barro, e comendo de novo, ôi coisa,
olhe a vida, lá vem a força, em Japaratuba tem umas canas e o canavial é louro
louro como uns portodafolhenses e quem nasce em Muribeca é muribequeno
ou muribequeiro, hem Amaro? quando eu entrei em Luzinete, entrei e fiquei,
minha santa santinha, na lua, minha santa santinha e umas bombas de banana
que jogou nos cabras, porque a gente não dá umas risadas, coisa? que é que
está vendo aí, coisa, o chão? isso é tudo verdume só, coisa, quando chove e
quando não chove é uma amarelidão, mas vosmecê pode se jogar no chão que
não tem perigo que ele lhe abraça, talvez até lhe coma e você vire um pé de
pau ou tu vire um gaiamum ou vossa excelência vire numa pera, isso pode crer
e mesmo quente com a chuva esfumaçando, mesmo assim ele lhe abraça e
pode ficar lá, porque é aonde é que vai ficar mesmo, tem que ficar no chão, já
chorou uma certa feita, coisa? (RIBEIRO, 2003, p.158)
Considerações finais
REFERÊNCIAS:
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2000.
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HOLANDA, H. B.; GONÇALVES, M. A. Política e literatura: a ficção da realidade
brasileira. In: FREITAS FILHO, A. Anos 70. Literatura. Rio de Janeiro: Editora Europa,
1979.
PELLEGRINI, Tânia. “Vazio Cultural”?. In: Gavetas vazias. São Carlos: EDUFSCAR,
1999.
PERRONE-MOISÉS, Leyla. A modernidade em ruínas. In: Altas Literaturas: escolha e
valor na obra crítica de escritores modernos – São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
RIBEIRO, João Ubaldo. Sargento Getúlio – Rio de Janeiro: O Globo; São Paulo: Folha
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ROBIN, Régine. Le roman mémoriel. Montréal: le Préambule, 1989. In: BERND, Zilá.
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SCHØLLHAMMER, Karl Erik. Um novo regionalismo? In: Ficção brasileira
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