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O lento índice de enchimento é atribuído a dois fatores. Em primeiro lugar, foi calculado que as perdas
anuais por infiltração subterrânea chegam à cerca de 15 bilhões de metros cúbicos, principalmente nos
arenitos altamente porosos que formam toda a margem ocidental do lago. No começo esperava-se que
o limo iria encher os poros destas rochas e compensar em pouco tempo as perdas. Agora, porém,
consta que a maior parte do depósito sedimentar ocorre no centro do lago, ao longo do primitivo leito do
rio, e que as perdas por infiltrações permanecem elevadas ao longo das margens ocidentais. Em
segundo lugar, as perdas por evaporação têm sido mais altas do que se previa. É claro que se contava
com elevadas perdas, já que a represa se localiza numa das regiões mais quentes e secas do mundo. A
perda anual de 15 bilhões de metros cúbicos, agora calculada, está cerca de 50% acima das
estimativas feitas durante o período de planejamento. Ao que parece, estes cálculos prévios erraram
por não tomarem em conta a influência da ação dos ventos sobre a evaporação na superfície do lago.
As perdas por infiltração e evaporação são aproximadamente iguais à descarga anual total do Nilo no
Mediterrâneo antes da construção da represa. Deste modo a represa está perdendo a mesma água que
se desejava preservar.
Contudo, os problemas nas áreas abaixo da represa ultrapassam de longe os aspectos de volume de
água. Depois que a represa foi concluída, cerca de 700.000 acres de solo foram transformados de
irrigados pelo rio em irrigados por canais, conquistando-se perto de 300.000 acres. Estas áreas podem
agora ser cultivadas durante todo o ano. Embora tal medida tenha aumentado sensivelmente a
produção agrícola, originaram-se alguns problemas sérios. Primeiro: nas áreas não ocorre mais
nenhuma deposição de limo durante o período das cheias. Quase todo o limo do Nilo é agora
depositado no fundo do Lago Nasser. Em conseqüência, aumentou a necessidade de fertilizantes
artificiais para os solos irrigados. Porém o uso maior de fertilizantes não iguala a fertilização feita pelo
limo, o que afeta, tanto a quantidade quanto a qualidade das colheitas.
Além disto, as águas das cheias, antes serviam para lavar o solo dos sais, sobretudo na área do delta,
já que eram os principais solos abertos as inundações. Nestes solos, o movimento capilar da água
sobre a superfície da terra serve para transportar e concentrar os sais provindos das camadas mais
profundas do solo. Esta ação de "limpeza" já não ocorre, e grandes áreas de terra irrigada, tanto no
delta como nas regiões superiores do vale, sofrem aumento da salinidade. Calculou-se que grande
parte deste solo vai tornar-se rapidamente imprestável se não forem tomadas medidas preventivas, no
valor de no mínimo um bilhão de dólares (Sterling, 1971).
Um terceiro problema, relacionado com o volume reduzido de limo nas águas abaixo da represa, é a
erosão das margens do rio, dos canais e do delta. A água desprovida de limo abaixo da represa,
aumenta sua correnteza e procura adquirir sua carga normal de limo. A erosão resultante ameaça minar
os fundamentos das três represas e das 550 pontes entre a represa de Assuã e o mar Mediterrâneo.
Um projeto conhecido como a "Cascata do Nilo" foi proposto para reduzir a erosão. Este projeto inclui a
construção de 10 novos diques para diminuir o fluxo do rio, e custará cerca de 250 milhões de dólares.
A linha costeira do delta, protegida antes pelo depósito de milhões de toneladas de limo, está agora
recuando - em algumas áreas à razão de várias jardas por ano (1 jarda = 914 mm).
Além disso tudo, a expansão da irrigação por canais aumentou a incidência de algumas doenças, entre
elas a esquistossomose, a malária e o tracoma, que são transmitidos por invertebrados aquáticos
(Wagner, 1971). A esquistossomose é uma verminose causada por vermes trematodos parasitas
(Schistoma haematobium e Schistosoma mansoni). Estes parasitas possuem ciclos vitais alternando
entre homem e diversas espécies de caramujos pulmonados de água doce. O parasita contamina o
homem no estágio de cercária. Cercárias são formas diminutas, livres, que são liberadas pelos
caramujos e que podem prender-se e penetrar na pele das pessoas que entram na água. No interior do
corpo humano, as cercárias penetram pelos vasos da bexiga, do reto e dos intestinos. Mostram especial
preferência pelo sistema porta que leva o sangue do intestino ao fígado. Ali, depois de alguns meses
tornam-se adultas, com mais de 2 cm de comprimento. Os ovos destes vermes adultos saem do corpo
humano através da urina e das fezes, e se alcançam água doce, nascem como miracídios minúsculos e
ciliados, capazes de infestar caramujos aquáticos.
A esquistossomose não é ordinariamente fatal ao homem, mas é uma doença debilitante. Nos casos
crônicos, o homem se torna fraco e magro, com o abdome cheio de líquido e inchado, indicando a
circulação deficiente do sistema venoso intestinal. A esquistossomose foi sempre uma doença comum
no Vale do Nilo. Antes da construção da Represa de Assuã, sua incidência era estimada em cerca de
47%. Com a construção de sistemas de irrigação permanente, porém, aumentou muito a incidência.
Ocorreu isso porque os caramujos de água doce se espalharam dentro das valas de irrigação
permanente. Outrora, estes caramujos eram exterminados pela secagem periódica das valetas e dos
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açudes. Lá onde se deu esta expansão, a incidência de esquistossomose passou de um índice quase
zero a aproximadamente 80% (Sterling, 1971). O aumento da esquistossomose acrescentou alguns
milhões de novos casos ao lastro de uma doença que já estava exigindo um gasto econômico da ordem
de aproximadamente 56 milhões de dólares/ano (Bernarde, 1970). Estas mesmas valetas de irrigação
também estão proporcionando áreas de criação para mosquitos da malária (Anopheles sp) e para uma
mosca que transmite o tracoma (Wagner, 1971).
A influência da Represa de Assuã não se restringe às fronteiras do Egito. Antes da construção da
represa, uma média de 30 bilhões de metros cúbicos de água de inundação, carregada de limo, e estes
eram anualmente carregados para o Mar Mediterrâneo. Esta descarga ocorria tão somente durante o
período das cheias, enquanto que, nos demais períodos, diques temporários de terra fechavam os dois
maiores desaguadouros do Nilo. Estes diques permitiam a irrigação de grandes extensões de terras do
delta. Quando a enchente começava a atingir o delta, abria-se, primeiro um, depois o outro dique (Oren,
1969).
A descarga do Nilo influenciava toda a ecologia do Mediterrâneo oriental. A salinidade foi claramente
afetada numa extensão de 600 milhas de águas continentais, desde o delta até o Líbano, em direção
leste. Reduções de salinidade de mais de 25% foram registradas na costa de Israel (Oren, 1969).
Formações de fitoplâncton e zooplâncton ocorriam no período de descarga do Nilo (Oren, 1969). Estas
formações, na maioria das vezes, eram certamente conseqüência do acréscimo de nutrientes vindos
pelo rio.
Que este efeito era também fator importante na ecologia das espécies de peixes, evidenciou-se por
declínio imediato da captura de pescado após o fechamento da Represa de Assuã. Em 1964, último ano
em que as águas das cheia atingiram o mar, a captura total de pescado por barcos do Egito era de 135
mil toneladas. Em 1967 desceu para 85 mil toneladas (Anon, 1970). Antes de 1965, só a captura de
sardinhas atingia uma média de 15 mil toneladas/ano. Em 1968 caiu para 500 toneladas e, em 1971,
informou-se que a captura das sardinhas desaparecera por completo (Mayhew, 1971). Ainda que esteja
prevista a pesca em águas doces do Lago Nasser, calcula-se o suprimento apenas de 12 mil toneladas,
quando em plena atividade (Wagner, 1971). A perda destas capturas no mar constitui um sério
problema para o povo do Egito - país em que o consumo per capita de proteínas atinge somente 10 Kg
por ano (Anon, 1970).
O prognóstico e a solução de tais problemas requer sem dúvida, um conhecimento dos relacionamentos
ecológicos em vários níveis de complexidade. Exige o conhecimento de como os fatores ambientais
atuam para controlar a distribuição de determinadas espécies particulares, tais como os vetores da
esquistossomose e da malária. Requer o conhecimento das interações dinâmicas dentro e entre as
populações de diferentes espécies, por exemplo, do homem, dos esquistossomas e dos caramujos
aquáticos. Exige um conhecimento da dinâmica de agrupamentos complexos, tais como de fitoplâncton,
zooplâncton e peixes do leste do Mediterrâneo. De mais a mais, requer uma apreciação dos padrões de
acúmulo e do ciclo dos nutrientes, sais e minerais do solo, e uma apreciação de como eles controlam a
fertilidade básica das terras e das águas do Vale do Nilo. A Represa de Assuã é apenas um exemplo do
grau em que a tecnologia humana está atualmente modificando o meio natural.
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Convém salientar que muitas vezes o transporte deliberado é responsável por paralelas introduções
involuntárias. Como exemplo citamos o transporte de vegetais que em cuja terra que os acompanha
encontram-se animais e vegetais microscópicos que podem afetar a equilíbrio pedológico, ou seja, na
fertilidade e estabilidade do solo, em função da presença destes novos microrganismos.
É importante lembrar que uma espécie introduzida num ecossistema estranho, pode comportar-se como
um competidor mais robusto e mais bem armado que seus homólogos autóctones que assim são
eliminados. Esta espécie introduzida também pode modificar a seu modo de vida, inclusive o seu
regime alimentar. Esta modificação pode resultar de variações genéticas, devido ao numero reduzido de
genitores introduzidos, o que provoca uma redistribuição do patrimônio hereditário.
Através de alguns clássicos exemplos, procuraremos demonstrar os efeitos das introduções de novas
espécies, deliberadas ou involuntárias.
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E aqui no Brasil porque não é praga? Pelo fato de existirem no seu habitat natural espécies animais e
vegetais que através de doenças ou predatismo limitam seu crescimento.
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2.2. SIMPLIFICAÇÃO POR ELIMINAÇÃO DE ESPÉCIES VEGETAIS NATIVAS
Aqui, nos deteremos mais nos aspectos nocivos resultantes do desflorestamento e conseqüente
eliminação de espécies vegetais autóctones.
Para entendermos como este desflorestamento interfere no equilíbrio dos ecossistemas, devemos
lembrar que esta atividade perniciosa elimina habitats e destrói nichos ecológicos de diversos
predadores de insetos fitófagos (estes predadores são principalmente morcegos, pássaros, anfíbios,
répteis e insetos entomófagos), cuja proliferação excessiva se volta contra a agricultura humana.
Numa floresta nativa, a variedade de espécies vegetais proporciona habitat para inúmeros tipos de
insetos fitófagos. Entretanto a densidade numérica extremamente baixa de cada espécie vegetal e a
sua esparsa disseminação, ou seja, a distância que separa um hospedeiro de outro, protege-os do
ataque de pragas dificultando a devastação trazida por uma eventual proliferação de insetos. Além
disso, a presença dos predadores, já citados, ajuda na manutenção deste equilíbrio.
A falta desta situação, produzida por um desflorestamento crescente para dar lugar a monoculturas de
plantas cultivadas, tem produzido a proliferação anormal de cartas espécies de insetos nocivos, que
devido ao seu ciclo vital curto, abundância de alimento disponível e ausência de predadores
específicos, crescem espantosamente num curto lapso de tempo.
Convém salientar que, além de muitas outras desvantagens da monocultura, as plantas cultivadas vêm
sendo selecionadas pelo homem através dos séculos, com o objetivo de aumentar sua palatabilidade e
produtividade. O preço pago pela hibridação e seleção dessas plantas tem provocado um
enfraquecimento de suas defesas químicas e mecânicas contra o ataque de insetos e organismos
patogênicos. As plantas nativas são muito manos vulneráveis às doenças a aos insetos porque dispõem
de defesas químicas contra esses inimigos (o quinino e a cortisona, por exemplo). A energia e os
recursos gastos pelas plantas silvestres na produção desses agentes químicos de defesa são
canalizados, no caso das plantas cultivadas, para as reservas alimentares. Esta substituição constitui
um arranjo ideal do ponto de vista dos insetos. Eles têm à sua disposição numa área inteiramente livre
de inimigos, uma abundante e uniforme fonte de alimentos, de acesso fácil e de ótima palatabilidade.
E como responde o homem? Com eficientes e caros pesticidas sintéticos, principalmente com os
organoclorados, como o DDT, que são ótimos inseticidas e excelentes homicidas.