DECISÃO: Trata-se de agravo interposto contra decisão de
inadmissibilidade de recurso extraordinário em face de acórdão do
Tribunal Regional Federal da 3ª Região que reconheceu a especialidade de período de tempo em que o agravado esteve exposto ao agente nocivo eletricidade (fl. 228). No recurso extraordinário, interposto com fundamento no art. 102, III, a, da Constituição Federal, aponta-se violação aos arts. 5º, XXXV, XXXVI, LIV, e LV; 195, §5º; e 201, § 1º, todos do texto constitucional. Nas razões recursais, alega-se que não há previsão legal para o reconhecimento da eletricidade como agente apto a caracterizar o tempo de serviço como especial para fins previdenciários. O recurso fora inadmitido por ter reputado o Tribunal de origem que a controvérsia cinge-se ao âmbito infraconstitucional. É o relatório. Decido. A irresignação não merece prosperar. Inicialmente, no tocante à suposta ofensa ao princípios da ampla defesa e do contraditório, observo que o Supremo Tribunal Federal já apreciou a matéria no ARE-RG 748.371 (Tema 660), de minha relatoria, DJe 1º.8.2013, oportunidade em que rejeitou a repercussão geral, tendo em vista a natureza infraconstitucional da questão quando a solução depender da prévia análise da adequada aplicação das normas infraconstitucionais. Eis a ementa do julgado:
“Alegação de cerceamento do direito de defesa. Tema
relativo à suposta violação aos princípios do contraditório, da ampla defesa, dos limites da coisa julgada e do devido processo legal. Julgamento da causa dependente de prévia análise da adequada aplicação das normas infraconstitucionais. Rejeição da repercussão geral”.
Ademais, vale aduzir que o Tribunal de origem assim decidiu a
matéria:
“Pleiteia o requerente o reconhecimento como especial e
sua respectiva conversão para comum dos períodos em que teria trabalhado sujeito a agentes agressivos, tendo juntado a documentação pertinente, abaixo discriminada: -Perfil Profissiográfico Previdenciário de fls. 21/23, pertinente ao vínculo empregatício estabelecido junto a Telecomunicações de São Paulo - TELESP S/A, entre 09 de novembro de 1981 e 10 de março de 2006, contendo as seguintes informações quanto às atividades exercidas pelo postulante: -entre 09 de novembro de 1981 e 30 de setembro de 1991: realizar projetos de telecomunicações, instalar, testar e realizar manutenções preventivas e corretivas de sistema de telecomunicações. Acompanhar tecnicamente processos e serviços de telecomunicações, preparar documentação técnica, bem como, reparar equipamentos e prestar assistência técnica aos clientes. -entre 01 de outubro de 1991 e 31 de dezembro de 2000: supervisionar, coordenar, inspecionar e/ou orientar, diretamente, atividades de execução referentes à instalação, retirada e remanejamento de circuitos de fios nus e isolados, bem como, as atividades referentes à emenda e pressurização de cabos e proteção elétrica de rede. Ademais, por determinação judicial, foi realizada a perícia nos demais locais descritos na exordial, sendo apresentado o laudo pericial de fls. 114/121, onde consta a exposição aos seguintes agentes agressivos: -Cetenco Engenharia S/A., entre 20 de janeiro de 1978 e 09 de junho de 1978, exercia a função de auxiliar técnico e estava exposto ao agente agressivo eletricidade acima de 250 volts. -Telemont Engenharia de Telecomunicações Ltda., entre 15 de junho de 1978 e 05 de maio de 1981, exercia a função de auxiliar técnico e estava exposto ao agente agressivo eletricidade acima de 250 volts. -Retel Eletricidade e Telecomunicações Ltda., entre 05 de maio de 1981 e 30 de outubro de 1981, exercia a função de auxiliar técnico de redes e estava exposto ao agente agressivo eletricidade acima de 250 volts. -Telecomunicações de São Paulo - Telesp S/A., entre 09 de novembro de 1981 e 30 de junho de 1989, exercia a função de técnico de manutenção de redes e estava exposto ao agente agressivo eletricidade acima de 250 volts. -Telecomunicações de São Paulo - Telesp S/A., entre 01 de julho de 1989 e 30 de setembro de 1991, exercia a função de técnico de telecomunicações II e estava exposto ao agente agressivo eletricidade acima de 250 volts. -Telecomunicações de São Paulo - Telesp S/A., entre 01 de outubro de 1991 e 31 de dezembro de 2000, exercia a função de supervisor técnico de telecomunicações e estava exposto ao agente agressivo eletricidade acima de 250 volts. No que se refere aos períodos em que o autor esteve exposto ao agente agressivo eletricidade, destaco que o Decreto nº 53.831, de 25 de março de 1964, ao dispor sobre a aposentadoria especial instituída pela Lei 3.807/60, considerou perigosa a atividade profissional sujeita ao agente físico "eletricidade", em instalações ou equipamentos elétricos com riscos de acidentes, tais como eletricistas, cabistas, montadores e outros, expostos à tensão superior a 250 volts (item 1.1.8 do anexo). De seu lado, a Lei nº 7.369, de 20 de setembro de 1985, reconheceu a condição de periculosidade ao trabalhador do setor de energia elétrica, independentemente do cargo, categoria ou ramo da empresa. A seguir, o Decreto nº 93.412, de 14 de outubro de 1986, regulamentou-a para assegurar o direito à remuneração adicional ao empregado que permanecesse habitualmente na área de risco e em situação de exposição contínua, ou nela ingressasse de modo intermitente e habitual, onde houvesse equipamentos e instalações, de cujo contato físico ou exposição aos efeitos da eletricidade resultassem incapacitação, invalidez permanente ou morte (arts. 1º e 2º), exceto o ingresso e permanência eventual, tendo referida norma especificado, ainda, as atividades e áreas de risco correspondentes, na forma de seu anexo. Tem, assim, natureza especial o trabalho sujeito à eletricidade e exercido nas condições acima previstas, consoante os anexos regulamentares, suscetível da conversão em tempo de serviço comum, desde que comprovada a efetiva exposição ao agente físico nos moldes da legislação previdenciária, e, excepcionalmente, à falta de formulários ou laudos eventualmente exigidos, se demonstrado o pagamento da remuneração adicional de periculosidade ao empregado durante tal período. Precedentes: STJ, 5ª Turma, RESP nº 386717, Rel. Min. Jorge Scartezzini, j. 08/10/2002, DJU 02/12/2002, p. 337; TRF3, 8ª Turma, AC nº 2003.61.83.003814-2, Rel. Des. Fed. Marianina Galante, j. 11/05/2009, DJF3 09/06/2009, p. 642; TRF3, 9ª Turma, AC nº 2001.61.08.007354-7, Rel. Juiz. Fed. Conv. Hong Kou Hen, j. 30/06/2008, DJF3 20/08/2008. Por fim, em decisão proferida em sede de recurso especial representativo de controvérsia repetitiva (REsp nº 1.306.113/SC, 1ª Seção, DJE 07/03/2013), o Colendo Superior Tribunal de Justiça acabou por reconhecer a especialidade da atividade sujeita a eletricidade, ainda que referido agente nocivo tenha sido suprimido pelo Decreto nº 2.172/97. Como se vê, tem direito o postulante à conversão do tempo da atividade de natureza especial em comum no tocante aos períodos compreendidos entre 20 de janeiro de 1978 e 09 de junho de 1978, 15 de junho de 1978 e 05 de outubro de 1981, 06 de maio de 1981 e 30 de dezembro de 2000. Considerando os limites do pedido estabelecidos à fl. 11, tenho que, por ocasião do advento da emenda constitucional nº 20/98, contava a parte autora com 30 anos, 06 meses e 24 dias de tempo de serviço, conforme evidencia a planilha anexa a esta decisão, vale dizer, tempo suficiente a ensejar a concessão da aposentadoria por tempo de serviço proporcional, com renda mensal inicial correspondente a 70% (setenta por cento) do salário de benefício, com a aplicação das regras vigentes até a entrada em vigor da referida norma. Ademais, depreende-se da exordial que a parte autora conta com vínculos empregatícios posteriores a 15 de dezembro de 1998, e, poderia incluir os respectivos períodos no cálculo do tempo de serviço, a fim de majorar o salário de benefício. Em outras palavras, incorporaria lapso temporal posterior à Emenda Constitucional nº 20/98, mas se valeria do arcabouço legislativo anterior para aferir o valor do benefício. A pretensão, no entanto, configuraria a utilização de regimes distintos de aposentação, comumente denominado de "sistema híbrido ", e esbarra na vedação legal, assim reconhecida, em sede de repercussão geral, pelo Colendo Supremo Tribunal Federal, por ocasião do julgamento do Recurso Extraordinário nº 575.089/RS (10 de setembro de 2008), de que foi Relator o Eminente Ministro Ricardo Lewandowski. Assim, cabível a concessão, à parte autora, de aposentadoria por tempo de serviço proporcional, considerando o tempo de serviço totalizado até a data do requerimento administrativo e anterior à vigência da Emenda Constitucional nº 20/98”. (228-229)
Sendo assim, verifico que divergir do entendimento adotado pelo
tribunal a quo demandaria o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, providência vedada na via extraordinária, bem como da legislação infraconstitucional aplicável à espécie, em face do óbice previsto nos Enunciados 279 e 636 da Súmula do STF. Quanto ao tema, confiram-se os seguintes julgados:
“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PREVIDENCIÁRIO. CRITÉRIOS PARA RECONHECIMENTO DE ATIVIDADE ESPECIAL. NECESSIDADE DO REEXAME DE LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL E DO CONJUNTO PROBATÓRIO. OFENSA CONSTITUCIONAL INDIRETA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 279 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO”. (ARE 668.513-AgR/SC, Rel. Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, DJe 28.3.2012)
“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL. ABONO DE PERMANÊNCIA. NECESSIDADE DE REEXAME DAS PROVAS DOS AUTOS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 279 DO STF. IMPRESCINDIBILIDADE DA INTERPRETAÇÃO DA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA REFLEXA. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I - Para se chegar à conclusão contrária à adotada pelo acórdão recorrido quanto ao preenchimento dos requisitos para a concessão do abono de permanência seria necessário o reexame do conjunto fático-probatório constante dos autos, o que é vedado pela Súmula 279 do STF, bem como seria imprescindível a interpretação da legislação infraconstitucional aplicável à espécie (Lei Complementar 51/1985), o que inviabiliza o extraordinário. Precedentes. II Agravo regimental a que se nega provimento”. (ARE 798.574-AgR/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, DJe 8.5.2014)
“AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. NECESSIDADE DE REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA 279. MANUTENÇÃO DOS FUNDAMENTOS INFRACONSTITUCIONAIS DO ACÓRDÃO RECORRIDO. SÚMULA 283 DO STF. I – Inviável em recurso extraordinário o reexame do conjunto fático-probatório constante dos autos. Incide, no caso, a Súmula 279 do STF. II – Com a negativa de seguimento ao recurso especial, tornaram-se definitivos os fundamentos infraconstitucionais suficientes que ampararam o acórdão recorrido. Incidência da Súmula 283 do STF. Precedentes. III – Agravo Regimental improvido.” (RE 653729 AgR, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, DJe 19.6.2012)
Ante o exposto, conheço do presente agravo para negar-lhe
provimento (art. 544, §4º, II, a, CPC e art. 21, §1º, RISTF).