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CURSO – Delegado da Polícia Federal Nº 40

DATA – 17/10/16

DISCIPLINA – Direito Penal (Parte especial)

PROFESSOR – Christiano Gonzaga

MONITOR(A) – Bruna Ribeiro Guimarães

AULA – 05

Sumário:

6. Apropriação indébita previdenciária (art. 168-A, CP) (continuação)


7. Estelionato (art. 171, CP)
7.1. Fraude no pagamento por meio de cheque (art. 171, §2, VI, CP)
7.2. Estelionato previdenciário (art. 171, §3º, CP)
7.3. Estelionato contra idoso (art. 171, §4º, CP)
8. Receptação (art. 180, CP)
8.1. Receptação simples (art. 180, caput, CP)
8.2. Receptação qualificada (art. 180, §1º, CP)
8.3. Receptação culposa (art. 180, §3º, CP)
8.4. Receptação de semovente domesticável de produção (art. 180-A, CP)

9. Disposições gerais (art. 181, CP)

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL


1. Estupro (art. 213, CP)
2. Violação sexual mediante fraude (art. 215, CP)
3. Assédio sexual (art. 216-A)

Recapitulação:

Na aula passada finalizamos o estudo do crime de roubo. Passamos pelo estudo da


extorção, extorção mediante sequestro e dano. Finalizamos a aula com o estudo do crime de
apropriação indébita previdenciária, que será retomado na aula de hoje.

6. Apropriação indébita previdenciária (art. 168-A, CP) (continuação)

O crime de apropriação indébita previdenciária prevê, como causa de extinção da


punibilidade o pagamento do débito. Ademais, prevê como causa de suspensão da ação penal
seu parcelamento. O parcelamento previsto para este crime é o parcelamento do REFIS, que
pode ser pago em até 20 anos com juros de 0,1%.
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O pagamento é previsto na lei 10.584/03 e no §4º do artigo 6º da Lei 12.382/11 e o
parcelamento, atualmente, é previsto no artigo 9º da lei 12.382/11.

Pagamento:

Art. 9o É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes previstos nos arts.
1o e 2o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e nos arts. 168A e 337A do Decreto-
Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, durante o período em que a
pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no regime
de parcelamento.
§ 1o A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão
punitiva.
§ 2o Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa
jurídica* relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de
tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios.

Art. 6º, § 4o Lei 12.382/11 - Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos no caput
quando a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o
pagamento integral dos débitos oriundos de tributos, inclusive acessórios, que tiverem sido
objeto de concessão de parcelamento.

Nos termos dessas leis, o requerimento do pagamento pode ser feito a qualquer tempo
antes do trânsito em julgado.

*Embora a lei mencione apenas a possibilidade de pagamento do débito pela pessoa


jurídica, ele também pode ser efetuado pela pessoa física.

Parcelamento:

O parcelamento também era regido pela Lei 10.584/03, entretanto, ela foi tacitamente
revogada, no que diz respeito aos dispositivos do parcelamento. Atualmente o parcelamento é
regido pelo artigo 6º da Lei 12.382/11. Vejamos:

Art. 6o § 1o Na hipótese de concessão de parcelamento do crédito tributário, a


representação fiscal para fins penais somente será encaminhada ao Ministério Público
após a exclusão da pessoa física ou jurídica do parcelamento.
§ 2o É suspensa a pretensão punitiva do Estado referente aos crimes previstos no caput,
durante o período em que a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente
dos aludidos crimes estiver incluída no parcelamento, desde que o pedido de
parcelamento tenha sido formalizado antes do recebimento da denúncia criminal.
§ 3o A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão
punitiva.

Nos termos desta lei, o prazo para requerimento do parcelamento do débito tributário é
até o recebimento da denúncia.

Aos crimes cometidos antes de 2011 (durante a vigência da lei 10.684)), o parcelamento
poderá ocorrer a qualquer tempo. A lei 10.684 irá ultragir, aplicando-se também ao parcelamento.
Irá ocorrer ultratividade benéfica.

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7. Estelionato (art. 171, CP)

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.

Estelionato X furto mediante fraude - No crime de estelionato o agente utiliza a fraude para
convencer a vítima a lhe entregar o bem. No furto mediante fraude, esta é utilizada para desviar a
atenção e facilitar a subtração (que será realizada pelos próprios agentes).

A fraude é inerente ao crime de estelionato. Neste crime a vítima entrega o bem ao agente.

Súmula 73, STJ: A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em


tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual.

O STF entende que para a configuração do crime de moeda falsa deve haver
potencialidade lesiva, logo, o papel moeda grosseiramente falsificado configura crime de
estelionato.

Súmula 17, STJ: Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva,
é por este absorvido.

Conforme entendimento do STJ, aplicar-se-á o princípio da consunção quando a


potencialidade lesiva da falsificação se exaurir no estelionato. Quando a potencialidade lesiva da
falsificação não se exaurir no estelionato, haverá concurso material de crimes.

Na hipótese prevista na súmula 17, o agente responderá apenas por crime de estelionato,
ainda que o crime de falso tenha pena maior (de 2 a 6 anos).

7.1. Fraude no pagamento por meio de cheque (art. 171, §2, VI, CP)

§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem:


VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o
pagamento.

Este crime prevê duas condutas: emitir cheque sem fundo ou frustrar o pagamento do
cheque.

Emitir é constituir o título de crédito. A frustração do pagamento é qualquer meio que


impeça o sacado de obter o pagamento. Ambas as condutas constituem crime de fraude no
pagamento por meio de cheque.

Caso o agente endosse o cheque de terceiros incidirá no estelionato do caput do artigo


171, pois não emitiu o cheque ou frustrou seu pagamento. A previsão legal é taxativa. Endossar é
passar o cheque de terceiros para frente.

Súmula 554, STF: O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o
recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal.

Conforme a súmula 554 do STF, no caso do crime de fraude no pagamento por meio de
cheque, o pagamento feito antes do recebimento da denúncia extingue a ação penal.

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A hipótese prevista na súmula não configura arrependimento posterior (art. 16, CP), pois a
reparação do dano prevista no artigo 16 ocasiona apenas a redução da pena, enquanto que o
pagamento do cheque extingue a ação penal.

Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano
ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do
agente, a pena será reduzida de um a dois terços.

7.2. Estelionato previdenciário (art. 171, §3º, CP)

Art. 171, § 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de


entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou
beneficência.

Configura-se o crime de estelionato previdenciário quando o agente engana a previdência


social se passando por segurado. A pessoa se inscreve fradulentamente como beneficiário e
recebe o benefício. A inscrição pode ocorrer utilizando de documento falso, mediante falsidade
ideológica, etc. Independente do meio utilizado para praticar o crime do 171, §3º, o agente
responderá exclusivamente por ele.

O princípio da insignificância não é aplicável aos crimes cometidos contra a administração


pública.

Para fins de contagem do prazo prescricional no crime de estelionato previdenciário a


natureza jurídica do crime é relevante e, a este respeito a opinião doutrinária é divergente.

A primeira corrente entende que o estelionato previdenciário é crime permanente, ou seja,


aquele cuja consumação perdura no tempo. A contagem do prazo prescricional nesta espécie de
crime ocorre a partir da prática último ato criminoso (art. 111, III, CP).

Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr:
III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência;

A segunda corrente entende que o estelionato previdenciário é crime instantâneo de


efeitos permanentes e, portanto, o prazo prescricional começaria a contar da prática do primeiro
ato criminoso (art. 111, I, CP).

Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr:
I - do dia em que o crime se consumou;

No crime de estelionato previdenciário, a prática do primeiro ato criminoso ocorre com a


apresentação de documento falso. Assim sendo, o prazo prescricional começaria a contar da data
da apresentação do documento falso para enganar a previdência.

O STJ, durante muito tempo, entendeu que o crime em estudo era crime instantâneo de
efeitos permanentes. De acordo com esse entendimento o prazo prescricional começaria a contar
da data da apresentação do documento falso.

Entretanto, o STF adotou uma teoria intermediária, chamada teoria mista / dual / binária.
Conforme essa teoria, consubstanciada no informativo 600, o agente que comete apenas
falsidade (para permitir a outrem obter vantagem indevida), terá a contagem do prazo
prescricional na forma do artigo 111, I, ou seja, o prazo começará a ser contado a partir da data
da falsificação. Este indivíduo responderá apenas pelo crime de falsificação.
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Entretanto, aquele que utiliza o documento falso para se passar por segurado da
previdência, terá o prazo prescricional contado nos termos do artigo 111, III, CP (crime
permanente). Desta forma, o prazo prescricional começará a ser contado da data do último ato
delituoso praticado.

Vejamos o informativo 600 do STF que dispõe sobre o tema:

Informativo 600 – Estelionato Previdenciário: Natureza e Prescrição: a Turma indeferiu


habeas corpus no qual se pretendia fosse declarada a extinção da punibilidade de
condenado pelo delito descrito no art. 251 do CPM (“Obter, para si ou para outrem,
vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante
artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento.”). Na espécie, o paciente sacara, entre
janeiro de 2000 e maio de 2005, os valores depositados, a título de pensão, na conta-
corrente de um parente falecido. Consignou-se que, em tema de estelionato previdenciário,
o Supremo tem jurisprudência consolidada quanto à natureza binária, ou dual, da infração.
Reafirmou-se que a situação de quem comete uma falsidade para permitir a outrem
obter vantagem indevida distingue-se da conduta daquele que, em interesse próprio,
recebe o benefício ilicitamente. No primeiro caso, a conduta, a despeito de produzir
efeitos permanentes em prol do beneficiário da indevida vantagem, materializa os
elementos do tipo instantaneamente. No ponto, evidenciou-se não haver que se cogitar
da possibilidade de o agente fraudador sustar, a qualquer tempo, a sua conduta delituosa.
Observou-se que, na segunda hipótese — que seria a situação dos autos —, em que a
conduta é cometida pelo próprio beneficiário e renovada mensalmente, tem-se entendido
que o crime assume a natureza permanente. Neste ponto, ressaltou- se que o agente tem
o poder de, a qualquer tempo, fazer cessar a ação delitiva. Por derradeiro, registrou-se que
a mencionada distinção estaria estampada em vários julgados das Turmas do STF. HC
104880/RJ, rel. Min. Ayres Britto, 14.9.2010.(HC-104880)

7.3. Estelionato contra idoso (art. 171, §4º)

§ 4o Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido contra idoso. (Incluído pela Lei nº
13.228, de 2015)

Conforme a Lei 13.228/15, idoso é aquele que possui idade igual ou superior a 60 anos.

8. Receptação (art. 180, CP)

Existem três espécies de receptação: simples (art. 180, caput), qualificada (art. 180, §1º) e
culposa (art. 180, §3º).

8.1. Receptação simples (art. 180, caput, CP)

Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio,
coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira,
receba ou oculte:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

A receptação simples se aplica ao indivíduo que compra bens que sabe ser produto de
crime.

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Em razão do princípio da taxatividade, não configura-se crime de receptação quando o
indivíduo adquire, recebe, transporta, conduz ou oculta, em proveito próprio ou alheio, coisa que
sabe ser produto de contravenção penal.

8.2. Receptação qualificada (art. 180, §1º)

§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar,


remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser
produto de crime:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.

O artigo 180, §1º se aplica ao indivíduo que explora economicamente o produto de crime,
àquele que pratica a receptação como atividade lucrativa.

8.3. Receptação culposa (art. 180, §3º)

§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e
o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio
criminoso:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas.

O agente não sabe que o bem é produto de crime, mas pela natureza ou pela
desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deveria saber.

O crime de receptação culposa é de competência do Juizado Especial Criminal.

8.4. Receptação de semovente domesticável de produção (art. 180-A, CP)

Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender,
com a finalidade de produção ou de comercialização, semovente domesticável de
produção, ainda que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

9. Disposições gerais (art. 181, CP)

Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em
prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou
natural.

O artigo 181 do CP prevê hipóteses de imunidade material.

Obs: o artigo 181, II se aplica também ao companheiro (analogia em bonan partem).

Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é
cometido em prejuízo:
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;

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III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.

O artigo 182 prevê hipóteses de imunidade formal, ou seja, para instauração do inquérito
exige-se representação do autor.

Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:


I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave
ameaça ou violência à pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta)
anos.

Quando o artigo 183, II utiliza a expressão “estranho que participa do crime” está se
referindo ao crime cometido em concurso de agentes.

Se as vítimas indicadas no artigo 181 e 182 forem maiores de 60 anos não é possível a
aplicação de quaisquer das imunidades.

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

A lei 12.015/09 alterou o título dos crimes contra a dignidade sexual. Antes dessa lei,
existia um capítulo que tratava de crimes contra os costumes. Atualmente o capítulo prevê os
crimes contra a dignidade sexual.

Outra alteração trazida pela mencionada lei foi a retirada da expressão “mulher honesta”
de todos os artigos. Antes, a vítima dos crimes sexuais deveria necessariamente ser mulher, e
mais, ser “mulher honesta”. “Mulher honesta” era elemento normativo dos crimes contra os
costumes.

Nelson Hungria apresenta o seguinte conceito de “mulher honesta”: mulher que se recolhe
aos seus aposentos até as 22 horas.

Após a alteração sofrida pelo capítulo, a expressão mulher honesta foi substituída pelo
termo “alguém”.

1. Estupro (art. 213, CP)

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção
carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

O estupro é crime comum, ou seja, qualquer pessoa pode ser vítima.

O crime é praticado através do constrangimento da pessoa por meio de violência ou grave


ameaça.

Constranger é obrigar, forçar. Violência consiste na imposição de força física. Ameaça é a


promessa de mal injusto e grave.

O agente irá obrigar a vítima a manter com ele conjunção carnal ou ato libidinoso diverso
da conjunção carnal.

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Conjunção carnal é a cópula vaginal. Neste caso, o constrangimento deve ser
heterossexual.

Ato libidinoso diverso é qualquer ato que possui o objetivo de satisfazer o desejo sexual.
Não pode ser a cópula vaginal. Tanto o sujeito passivo quando o sujeito ativo podem ser qualquer
pessoa. O constrangimento pode ser homossexual ou heterossexual.

O estupro é tipo misto alternativo e, portanto, a prática das duas condutas descritas no
mesmo contexto fático gera crime único (informativo 543, STJ).

DIREITO PENAL. APLICAÇÃO RETROATIVA DA LEI 12.015/2009.

O condenado por estupro e atentado violento ao pudor, praticados no mesmo


contexto fático e contra a mesma vítima, tem direito à aplicação retroativa da Lei
12.015/2009, de modo a ser reconhecida a ocorrência de crime único, devendo a
prática de ato libidinoso diverso da conjunção carnal ser valorada na aplicação da
pena-base referente ao crime de estupro. De início, cabe registrar que, diante do
princípio da continuidade normativa, não há falar em abolitio criminis quanto ao crime de
atentado violento ao pudor cometido antes da alteração legislativa conferida pela Lei
12.015/2009. A referida norma não descriminalizou a conduta prevista na antiga redação
do art. 214 do CP (que tipificava a conduta de atentado violento ao pudor), mas apenas a
deslocou para o art. 213 do CP, formando um tipo penal misto, com condutas alternativas
(estupro e atentado violento ao pudor). Todavia, nos termos da jurisprudência do STJ, o
reconhecimento de crime único não implica desconsideração absoluta da conduta
referente à prática de ato libidinoso diverso da conjunção carnal, devendo tal conduta ser
valorada na dosimetria da pena aplicada ao crime de estupro, aumentando a pena-base.
Precedentes citados: HC 243.678-SP, Sexta Turma, DJe 13/12/2013; e REsp 1.198.786-
DF, Quinta Turma, DJe 10/04/2014. HC 212.305-DF, Rel. Min. Marilza Maynard
(Desembargadora Convocada do TJ/SE), julgado em 24/4/2014.

O crime de atentado violento ao pudor sofreu o fenômeno da continuidade normativa típica,


ou seja, sofreu alteração no seu nomen juris sem haver abolitio criminis. Atualmente, o crime de
atentado violento ao pudor está abrangido pelo crime de estupro. Está contido na expressão “ato
libidinoso diverso da conjunção carnal”.

A consumação do crime de estupro ocorre com a prática de qualquer das condutas


descritas no tipo penal.

Cabe continuidade delitiva nos crimes sexuais (informativo 613, STF).

Estupro e atentado violento ao pudor: continuidade delitiva - 1


A 1ª Turma concedeu, de ofício, habeas corpus para incumbir ao juízo da execução a
tarefa de enquadrar o caso ao cenário jurídico trazido pela Lei 12.015/2009, devendo, para
tanto, proceder à nova dosimetria da pena fixada e afastar o concurso material entre os
ilícitos contra a dignidade sexual, aplicando a regra da continuidade (CP, art. 71, parágrafo
único: “Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave
ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta
social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a
pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo,
observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código”). Na

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situação dos autos, pleiteava-se a exclusão da causa de aumento de pena prevista no art.
9º da Lei 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos) a condenado pela prática dos crimes de
estupro e atentado violento ao pudor contra menores de 14 anos. A impetração
argumentava que: a) a aplicação da referida causa especial de aumento com a presunção
de violência decorrente da menoridade das vítimas, sem a ocorrência do resultado lesão
corporal grave ou morte, implicaria bis in idem, porquanto a violência já teria incidido na
espécie como elementar do crime; e b) o art. 9º daquela norma estaria implicitamente
revogado após o advento da Lei 12.015/2009.
HC 103404/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 14.12.2010. (HC-103404)

Estupro e atentado violento ao pudor: continuidade delitiva - 2


Inicialmente, a Turma, por maioria, vencido o Min. Marco Aurélio, não conheceu do writ, ao
fundamento de que a apreciação da matéria sob o enfoque da nova lei acarretaria indevida
supressão de instância. Salientou-se, no entanto, a existência de precedentes desta Corte
segundo os quais não configuraria bis in idem a aludida aplicação da causa especial de
aumento de pena. Ademais, observaram-se recentes posicionamentos das Turmas no
sentido de que, ante a nova redação do art. 213 do CP, teria desaparecido o óbice que
impediria o reconhecimento da regra do crime continuado entre os antigos delitos de
estupro e atentado violento ao pudor. Por fim, determinou-se que o juízo da execução
enquadre a situação dos autos ao atual cenário jurídico, nos termos do Enunciado 611 da
Súmula do STF (“Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das
execuções a aplicação de lei mais benigna”). Alguns precedentes citados: HC 102355/SP
(DJe de 28.5.2010); HC 94636/SP (DJe de 24.9.2010).
HC 103404/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 14.12.2010. (HC-103404)

A ação penal nos crimes contra a dignidade sexual está prevista no artigo 225 do CP.
Vejamos:

Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação
penal pública condicionada à representação. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a
vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.

Polêmica recai sobre os crimes contra a dignidade sexual que resultem em lesão grave ou
morte da vítima.

A súmula 608 do STF dispõe que no crime de estupro, praticado mediante violência real, a
ação penal será pública incondicionada.

Entretanto esta súmula é anterior à 2009, que é o ano que houve a reforma do capítulo dos
crimes contra a honra e, portanto, é anterior ao surgimento do artigo 225.

Em razão disso, duas correntes jurisprudenciais discutem do tema. Vejamos:

A primeira corrente, defendida pela 5ª turma do STJ, dispõe que deve ser aplicado o
artigo 225 do CP (ação penal pública condicionada) em razão do princípio da legalidade.
Conforme este entendimento o artigo 225 é lei e, em razão disso, deve prevalecer sobre a súmula
608. Onde o legislador não distingue não cabe ao intérprete fazê-lo. Ademais, a súmula é anterior
à 2009 e, portanto, está revogada pelo artigo 225 do código penal. Esse foi o entendimento
manifestado no Resp. 1227746/RS. Vejamos:
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PENAL. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. PRATICADO ANTES DA VIGÊNCIA DA
LEI 12.015/2009. VIOLÊNCIA REAL. AUSÊNCIA. EXTINÇAO DAPUNIBILIDADE PELA
RENÚNCIA AO DIREITO DE QUEIXA. DISCUSSAO ACERCADA EFETIVA
OCORRÊNCIA DE VIOLÊNCIA REAL. SÚMULA 608/STF. AÇAOPENAL PÚBLICA
INCONDICIONADA. RETROATIVIDADE DA NOVA LEI.DEPENDENTE DA
CONFIGURAÇAO DA VIOLÊNCIA REAL. RECURSODESPROVIDO. I. Até o advento da
Lei 12.015/2009, os crimes definidos nos arts. 213a 220 do Código Penal procediam-se
mediante queixa, com as exceções dispostas nos 1º e 2º da antiga redação do
art. 225 do Código Penal, na Súmula 608 do Supremo Tribunal Federal, que previa a
hipótese de ação penal pública incondicionada, para os casos em que se
houvesse emprego de violência real, bem como nos casos que resultassem em lesão
corporal grave ou morte (art. 223), inserido no mesmo capítulo do art. 225, e não nos
capítulos anteriores, aos quais o dispositivo remetia em sua redação original.
II. Com o advento da Lei 12.015/2009, que alterou a redação do art. 225 do Código
Penal, os delitos de estupro e de atentado violento ao pudor, mesmo com violência real
(hipótese da Súmula 608/STF) ou com resultado lesão corporal grave ou morte (antes
definidos no art. 223 do Código Penal e hoje definidos no art. 213, 1º e 2º), passaram a
se proceder mediante ação penal pública condicionada à representação, nos termos da
nova redação do art. 225 do Código Penal, com exceção apenas para os casos de vítima
menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável (parágrafo único do art. 225do Código
Penal).
III. Se a lei nova se apresenta mais favorável ao réu nos casos de estupro qualificado, o
mesmo deve ocorrer com as hipóteses de violência real, isto é, para as ações penais
públicas incondicionadas nos termos da Súmula 608/STF, segundo a qual, "no crime de
estupro, praticado mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada" .
Tais ações penais deveriam ser suspensas para que as vítimas manifestassem desejo de
representar contra o réu. IV. Hipótese em que o recorrido foi denunciado pela prática do
delito descrito no art. 214, c/c o art. 14, II, ambos do Código Penal, tendo a ação penal
sido instaurada por iniciativa do Ministério Público, nos termos da referida Súmula
608/STF, tendo as instâncias ordinárias entendido pela inexistência de violência real,
afastando a aplicação da referida súmula e extinguindo a punibilidade do réu, por
renúncia ao direito de queixa. V. Conforme se compreenda pela ausência de violência
real, o deslinde da questão encontra-se devidamente equacionado nos moldes referidos
nas instâncias ordinárias, isto é, pela renúncia da vítima ao direito de queixa, nos termos
do art. 107, V, do Código Penal. Até porque, nessa hipótese, não haveria que se cogitar
em retroatividade da lei penal.
VI. Ao contrário, se o entendimento se desse no sentido da efetiva ocorrência de
violência real, não seria o caso de aplicação do disposto na Súmula 608/STF, conforme
já explicitado acima, diante da nova redação no art. 225 do Código Penal, dada pela
lei 12.015/2009, por se tratar de lei penal mais benéfica.
VII. A discussão acerca da efetiva ocorrência de violência real redundaria em
revolvimento de matéria fático-probatória, impossível de ser satisfeita na via especial,
diante do óbice da Súmula 07/STJ. VIII. Ainda que se entendesse pela ocorrência de
violência real, proceder-se-ia à nova contagem do prazo decadencial de 6 (seis) meses
para a representação da ofendida, que passaria a fluir da data da entrada em vigor da lei
nova, isto é, em 10/08/2009, estando alcançado, de qualquer modo, pelos efeitos da
decadência.

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IX. Recurso especial que não prospera por qualquer dos fundamentos, eis que qualquer
solução que se apresente, implicará na renúncia ao direito de queixa ou na decadência
do direito de representação da ofendida (art. 107, IV e V, do Código Penal).
X. Recurso desprovido.

A segunda corrente, defendida pela 6º Turma do STJ, entende que deve ser aplicada a
súmula 608 (ação penal pública incondicionada), sob o fundamento da proporcionalidade.
Conforme este entendimento, se o homicídio e a lesão corporal grave são de ação penal pública
incondicionada, não é proporcional que o estupro seguido de lesão grave ou morte também não
seja. Esse é o entendimento manifestado no RHC 22362, STJ.

RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 22.362 - RO (2007/0265042-0)


O SENHOR MINISTRO HAROLDO RODRIGUES (DESEMBARGADOR CONVOCADO
DO TJ/CE): Trata-se de recurso ordinário em habeas corpus interposto por V. da S.,
denunciado pela prática de estupro, desafiando acórdão proferido pelo Tribunal de
Justiça de Rondônia, assim ementado:
"Habeas Corpus. Estupro. Violência Real. Retratação da vítima. Irrelevância. Denúncia.
Constrangimento ilegal. Inocorrência.
Não há que se falar em ilegitimidade para a propositura da ação pelo Ministério Público,
mesmo com a retratação da vítima, no caso de crimes de estupro praticado
mediante violência real, visto que a ação penal é pública incondicionada." (fl. 62)
Busca-se o trancamento da ação penal, sustentando a ilegitimidade do Ministério Público
para a propositura da ação, levando em conta que a vítima se retratara antes do
oferecimento da denúncia.
Instada a manifestar-se (fls. 102/104), a douta Subprocuradoria-Geral da República
opinou pelo não provimento do recurso.
A liminar foi indeferida pelo Ministro Paulo Gallotti, antigo Relator, à fl. 124.
Posteriormente, os autos foram atribuídos à minha Relatoria (fl. 127).
É o relatório.

2. Violação sexual mediante fraude (art. 215, CP)

Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante
fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da
vítima: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

No crime de violação sexual mediante fraude, o agente, mediante fraude, induz a vítima a
manter com ele relação sexual.

A vítima entrega o corpo ao agente induzida em erro, ou seja, há consentimento da vítima,


entretanto o consentimento é viciado. Ex: pastor que induz fiéis a com ele praticar relação sexual
sob o argumento de cura;

3. Assédio sexual (art. 216-A)

Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência

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inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função." (Incluído pela Lei nº 10.224, de 15
de 2001)
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.

Para a configuração do crime de assédio sexual é exigido que haja relação de trabalho +
hierarquia/ascendência entre a vítima e o autor.

A relação de trabalho exigida é a relação latu sensu, ou seja, pode advir do serviço público
ou privado.

Se trata de crime formal, pois consuma-se com o mero constrangimento, não sendo
necessária a efetiva prática de relação sexual.

O entendimento dos Tribunais é o de que não é possível o cometimento de crime de


assédio sexual entre aluno e professor, pois não há relação de trabalho entre eles. O professor
tem relação de emprego com a faculdade e não com o aluno.

A ação penal neste crime é pública condicionada à representação.

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