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09/11/2017 Robert Kurz - Existe um capitalismo confuciano?

Robert Kurz

EXISTE UM CAPITALISMO CONFUCIANO?


Notas sobre um mal-entendido asiático
Há muito que a influência recíproca entre economia e cultura no sentido mais amplo é um tema das ciências sociais.
Quanto a isso, pode-se observar essencialmente duas vertentes de idéias: uma que parte das leis gerais do capitalismo
e mostra como as culturas tradicionais são destruídas pela economia moderna, e outra que parte inversamente da
diversidade das culturas e mostra como o capitalismo é culturalmente determinado e de seus amplos círculos culturais
resultam versões inteiramente diversas de sua lógica geral. Esse vínculo entre economia e história cultural,
particularmente acalentado na Alemanha desde Werner Sombart e Max Weber, produziu o conceito de "estilo
econômico" (Bertram Schefold). Tal princípio tem hoje grande consideração no Ocidente. O sociólogo francês Pierre
Bourdieu alude a um "capital cultural", e o historiador americano Samuel Huntington, após o colapso do socialismo de
Estado, vê mesmo o alvorecer de uma "guerra das culturas". Ao mesmo tempo, a nova autoconsciência do capitalismo
asiático reporta-se a uma "identidade cultural" própria, que seria superior à do "Ocidente decadente".

Max Weber, que de bom grado é tratado como precursor desse pensamento econômico em categorias culturais, sem
dúvida não dispunha da idéia de um capitalismo culturalmente plural quando passou a redigir sua sociologia das religiões
e investigar a relação entre as culturas definidas religiosamente e o capitalismo moderno. Interessava-lhe antes o
surgimento histórico do próprio capitalismo e o problema da transição para a modernidade. De fato, em todas as
sociedades pré-modernas, inclusive na Europa, os motivos sociais e econômicos eram definidos pela religião, sendo
assim incompatíveis com o cálculo abstrato do homo economicus. A teoria trataria de explicar por que apenas no norte
da Europa Ocidental ocorrera um autêntico nascimento do capitalismo, ao passo que tal modo de produção fora
impingido nas demais regiões do planeta. Como todos sabem, Weber chegou à conclusão de que a ideologia religiosa do
protestantismo era a única transição adequada a uma mentalidade capitalista, ao passo que as outras culturas religiosas,
inclusive o budismo e o confucionismo, revelavam-se incapazes de constituir um conveniente pano de fundo cultural para
o desenvolvimento do capitalismo.

O interessante é como Weber fundamentou essa tese. Ele tinha consciência de que tanto o protestantismo puritano
quanto a ética confuciana favoreciam uma sólida moral do trabalho e um pensamento racionalista. Por que então o
confucionismo não seria igualmente indicado como o protestantismo para o advento capitalista? Para Weber, como se lê
em sua Ética Econômica das Religiões Mundiais, a diferença fundamental era a importância das relações sociais no
exterior do sistema econômico em sentido estrito: "A ética confuciana, de forma absolutamente deliberada, deixava os
indivíduos à mercê de suas relações naturais ou pessoais, sendo estas determinadas por vínculos sociais hierárquicos.
Ela transfigurava eticamente estas últimas, e apenas estas, e por fim desconhecia todas as obrigações sociais que não
os deveres de piedade humana criados por tais relações pessoais de indivíduo para indivíduo, de príncipe para criado,
de funcionário de hierarquia superior para o inferior, de pai para filho, de irmão para irmão, de professor para aluno e de
amigo para amigo. Para a ética puritana, ao contrário, essas relações puramente pessoais – embora, é claro, ela as
deixasse existir, se não fossem contrárias a Deus, e as regulasse eticamente – eram levemente suspeitas, pois que
valiam para as criaturas. A relação com Deus lhe era sob todas circunstâncias precedente. Puras relações humanas
como tais, demasiadamente intensivas e idólatras da criatura, deviam ser evitadas por completo. De fato, a confiança
nos homens, mesmo nos vizinhos de sangue mais próximos, seria perigosa à alma... Seguem-se daí importantíssimas
diferenças práticas das duas concepções éticas, embora designemos ambas como 'racionalistas' em sua aplicação
prática e embora ambas deduzam consequências 'utilitárias'".

Caso substituamos o "Deus" puritano pelo valor econômico ou simplesmente pelo dinheiro, logo salta à vista a
concepção ocidental e liberal do homem como um egoísta isolado, que sacrifica todos os vínculos pessoais e sociais no
altar da racionalidade econômica abstrata e do puro sucesso individual. E, uma vez que o confucionismo resiste
fundamentalmente a tal impulso, Max Weber o toma como inapto ao capitalismo, à diferença do ideário protestante. É
controverso se a específica religiosidade protestante secularizou-se e com isto originou o capitalismo, ou se antes o
capitalismo nascente aproveitou-se da ideologia protestante e talhou-a segundo sua própria imagem mundana. O certo é
que apenas esse amálgama europeu de protestantismo e capitalismo deu luz ao mundo moderno do mercado total, ao
passo que nas culturas muito mais antigas da China, do Japão e do resto da Ásia o capitalismo foi importado com as
idéias européias e não se desenvolveu a partir de dentro.

Nesse sentido histórico, Max Weber não pode mais ser refutado. Contudo, sua tese sobre a escassa capacidade de
integração capitalista do confucionismo (assim como do budismo e de toda a mentalidade asiática) é tida como falsa, já
que hoje a China, o Japão e os "pequenos tigres" parecem criar um capitalismo especificamente asiático, que no fundo
se afasta da versão ocidental, remonta a tradições culturais próprias e é tido como um extraordinário sucesso. Será
então o individualismo econômico socialmente descompromissado e devotado apenas ao "Deus" do dinheiro inessencial
ao modo de produção capitalista? Será que hoje em dia somos testemunhas do nascimento na Ásia de um capitalismo
superior, que se reporta ao "capital cultural" da lealdade pessoal e social? Tal foi a hipótese recentemente defendida pelo
politólogo norte-americano Francis Fukuyama, que se tornou célebre com sua tese sobre o "fim da história".

Creio que estamos às voltas aqui com uma grande ilusão que só poderá ser esclarecida pela não-simultaneidade
histórica do desenvolvimento. O capitalismo asiático não criou um novo modelo, mas apenas percorreu uma etapa do
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desenvolvimento capitalista, que no passado não foi estranha ao Ocidente.

Todas as sociedades pré-modernas e no início da modernidade, inclusive na Europa, foram impregnadas por uma
estrutura de reverência autoritária, por um sistema de lealdades e sujeições pessoais, assim como por uma rigorosa
moral. Isso não é uma especialidade asiática, mas um estigma universal da transição de sociedades agrárias para o
capitalismo. Ora, se só a ideologia individualista do protestantismo pôde dar à luz um capitalismo próprio e autêntico, é
difícil aceitar que os países asiáticos, meros importadores do capitalismo, possam conservar o teor de submissão
autoritária e de lealdade pessoal por meio de formas culturais que já no passado não demonstravam boa vontade com o
capitalismo. A nova autoconsciência da Ásia é uma auto-ilusão, pois a absorção do capitalismo foi realizada a expensas
de sua própria autonomia.

O fato de as estruturas do capitalismo asiático serem historicamente atrasadas e incapazes a médio prazo de resistir
economicamente ao mercado mundial pode ser dissimulado no presente pela concessão de vantagens concorrenciais de
curto prazo, que numa certa perspectiva constituem os (temporários) windfall profits da não-simultaneidade histórica –
mas isto somente para minorias em alguns poucos países. O principal fator não são porém as formas especificamente
asiáticas do "capital cultural", mas os elevados índices de crescimento a partir de bases reduzidas, como já se observara
antes em outros países recém-industrializados, a exemplo da União Soviética na década de 30, sem que disso
redundasse um novo "modelo de sucesso". Apenas diante desse pano de fundo econômico é que as relações
autoritárias de lealdade podem desempenhar por algum tempo o papel de esteio do sucesso.

Se neste respeito tanto a relação do cidadão com o Estado quanto a do assalariado com o empregador são
reinterpretadas quase como um vínculo pessoal de lealdade de "príncipe para criado", isso não passa de uma máscara
para a reificação e anonimização capitalista de todas as estruturas sociais. O pré-capitalismo europeu também foi
testemunha de empreendimentos patriarcais, nos quais a dependência social manifestava-se como relação do "senhor"
com seu "séquito". Da mesma forma, a intervenção autoritária do Estado na economia e o patrocínio de associações
corporativas a serviço da "nação", desde o absolutismo até as ditaduras modernizadoras do século 20, foram tão-
somente uma "fase de crisálida" da moderna democracia capitalista e seu individualismo abstrato, corruptor de todo tipo
de lealdade social. Na medida que favorece uma forte mediação do Estado na economia e um pesado gravame dos
mercados internos, o capitalismo asiático recria a época mercantilista do Ocidente e uma certa uniformização de todos
os cidadãos, o constante entoar dos hinos nacionais etc. constituem no máximo uma música de fundo superficialmente
cultural desse processo.

A transposição para o âmbito da economia empresarial no Japão de exercícios rituais tais como o esporte matutino
semimilitar praticado coletivamente pelos empregados ou a entoação solene dos "hinos da empresa" foi ridiculamente
interpretada no ocidente como uma "nova arma secreta" da filosofia administrativa asiática e macaqueada pelos projetos
de corporate identity, ao passo que se tratava na verdade de fenômenos de transição da mentalidade feudal para a
capitalista. Sob o influxo da globalização, em toda a Ásia desmorona o corporativismo mediado pelo Estado, bem como a
lealdade patriarcal na economia da empresa. No mercado interno, impõe-se a lógica da concorrência, e no lugar da
corporate identity asiática surge imparavelmente o princípio hipercapitalista do hire and fire.

Com o tempo, este também será o destino dos laços e deveres estritos de consanguinidade, que não constituem
igualmente uma especificidade asiática. Até hoje, espalhadas por todo mundo, "grandes famílias" e clãs em número
considerável restam como fósseis da história da modernização – na Arábia, África e América Latina, bem como na China
ou em Cingapura –, sem representarem porém um "modelo capitalista". Talvez o capitalismo confuciano e familiar
elaborado em miniatura na China seja hoje responsável por uma parcela do crescimento, mas suas atividades
restringem-se a serviços secundários, e ele é incapaz de substituir a indústria estatal. Para a industrialização voltada às
exportações, segundo os critérios do mercado mundial, ele será antes um obstáculo – e isso já a médio prazo. Os
próprios imigrantes asiáticos nos Estados Unidos, festejados como um exemplo de empreendimento bem-sucedido,
possuem muitas vezes meros nichos econômicos no comércio ou pequenas cantinas que não refletem de forma alguma
um capitalismo autônomo. O princípio desse sucesso é simples: a exploração brutal da lealdade familiar, inclusive à
custa de trabalho infantil e não remunerado, para abaixar o preço do produto final. Muitas vezes o mesmo princípio é
seguido por migrantes vindos do sul da Europa (Turquia, Grécia, Espanha) em suas pousadas e mercearias na
Alemanha. Quantas gerações suportará tal estrutura de escravatura familiar? Poucas, decerto.

O processo de individualização capitalista, destruidor de laços familiares, como escreviam Marx e Engels já no
"Manifesto Comunista", alcançou agora também os grandes centros metropolitanos da Ásia e não será barrado pelo
código da polícia moral confuciana. Em Cingapura, como posso ler, cuspir na rua e urinar em elevadores é punido a
golpes de chibata. Pergunta-se: os habitantes de Cingapura costumavam antes urinar em elevadores? Tais preceitos
fatalmente trazem à memória as ordens policiais alemãs do século 16, quando o mundo europeu achava-se ainda a
caminho do "processo (capitalista) da civilização" (Norbert Elias) e até a vida íntima era regulada pela polícia. Os
indivíduos no capitalismo tardio não urinam em elevadores, mesmo sem a ameaça policial; pelo fato, no entanto, de
controlarem seus reflexos íntimos, eles calculam também sua vida sexual para além da rígida moral do velho patriarcado.
Não foi o êxtase e o arrebatamento que surgiram no Ocidente em seu lugar, mas a comercialização da sexualidade ou
dos próprios sentimentos. É absurdo supor que justamente estes países asiáticos – os quais como se sabe não vivem só
da exportação de seus carros e chips, mas também do turismo sexual – queiram fundar um capitalismo sobre a base da
moral confuciana. Juntamente com o sujeito automático do dinheiro, do McDonalds e de Hollywood, há muito que os
asiáticos foram agarrados pelo próprio vírus da "decadência ocidental".

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09/11/2017 Robert Kurz - Existe um capitalismo confuciano?

A Europa e principalmente os Estados Unidos nos revelam hoje que o estágio final de todo capitalismo é a perfeita
dissolução da sociedade em indivíduos abstratos e autistas. Há mais de 150 anos, Alexis de Tocqueville já previra que a
sociedade moderna acabaria assim. Não é apenas Bob Dole, candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos,
que evoca ideais pré-modernos para conjurar tal perigo. Enquanto isso, Francis Fukuyama sai a campo em busca de um
socorro para o capitalismo sem peias, olhando de esguelha "determinados aspectos da cultura tradicional" asiática. Seu
sonho é um capitalismo "imposto por tradições culturais, e de que brotam fontes não-liberais": uma suavização do puro
mercado por meio do "capital social" de corporações civis beneficentes e de uma "confiança universal recíproca".
Palavras loucas, ouvidos moucos. Jamais veremos nascer um capitalismo confuciano, piedoso e vegetariano, pois o
deus puritano e secularizado do dinheiro em cultura alguma tolera outros deuses ao seu redor. A tese de Weber sobre a
escassa compatibilidade capitalista do confucionismo e do budismo manterá provavelmente um lugar de destaque não
só na história, mas também no futuro.

Original Gibt es einen konfuzianischen Kapitalismus? em www.exit-online.org. Publicado na Folha de São Paulo de
15.09.1996 com o título O mito do capitalismo confuciano. Tradução de José Marcos Macedo

http://www.exit-online.org/

http://obeco-online.org/

http://www.obeco-online.org/rkurz15.htm 3/3

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