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Conhecimento escolar

e ensino de Sociologia
Anita Handfas | Julia Polessa Maçaira | Alexandre Barbosa Fraga Org.

Conhecimento escolar
e ensino de Sociologia
instituições, práticas e percepções
© 2015 Anita Handfas, Julia Polessa Maçaira e Alexandre Barbosa Fraga
Este livro segue as normas do Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa de 1990, adotado no Brasil em 2009.

Coordenação Editorial
Isadora Travassos

Produção Editorial
Eduardo Süssekind
Rodrigo Fontoura
Sofia Soter
Victoria Rabello

cip-brasil. catalogação-na-fonte
sindicato nacional dos editores de livros, rj

c759

Conhecimento escolar e ensino de Sociologia : instituições, práticas e


percepções / organização Anita Handfas, Julia Polessa Maçaira, Alexandre
Barbosa Fraga. – 1. ed. - Rio de Janeiro : 7Letras, 2015.

isbn 978-85-421-0333-5

1. Sociologia educacional. I. Handfas, Anita. II. Maçaira, Julia


Polessa. III. Fraga, Alexandre Barbosa.

15-21352 cdd: 306.43


cdu: 316.74:37

2015
Viveiros de Castro Editora Ltda.
Rua Visconde de Pirajá, 580 – sl. 320 – Ipanema
Rio de Janeiro – rj – cep 22420-902
Tel. (21) 2540-0076
editora@7letras.com.br – www.7letras.com.br
Sumário

Prefácio
Luiz Antônio Cunha9

Apresentação15
Anita Handfas
Julia Polessa Maçaira
Alexandre Barbosa Fraga

um balanço do campo
O estado da arte da produção científica sobre
o ensino de Sociologia na educação básica25
Anita Handfas
Julia Polessa Maçaira

práticas docentes
Saberes docentes para o ensino de Sociologia nas escolas
do Distrito Federal: reflexões sobre a formação dos licenciandos
em Ciências Sociais da Universidade de Brasília49
Sayonara Leal
Vanessa Jansen
Kendy Neris
Fernanda Menezes
Ana Carolina Laureano Brandão
A formação de professoras de Sociologia: o debate
sobre os modelos formativos e algumas hipóteses de pesquisa67
Diogo Tourino de Sousa
Mariane Silva Reghim
Arthur Fontgaland Gomes

Sociologia no ensino médio: com que “roupa” ela vai?87


Ana Beatriz Maia Neves
Currículos em mudança: a prática do ensino
de Sociologia no Rio de Janeiro101
Julia Polessa Maçaira
Gabriela Montez
Beatriz Gesteira

A identidade profissional dos primeiros professores


de Sociologia do Colégio Pedro II115
Jefferson da Costa Soares

percepções discentes
Reflexões sobre representação social da Sociologia
a partir da visão dos estudantes do ensino médio do DF 133
Tauvana da Silva Yung
Bruno Moreira Borges de Castro
Vinícius Corbucci Campos

Jovens conectados por uma atitude reflexiva:


uma proposta para estudar a cibercultura na escola básica 146
Fátima Ivone de Oliveira Ferreira

O ensino de Sociologia no Colégio Estadual Lauro Corrêa:


uma abordagem acerca das desigualdades sociais 156
Marlon da Costa Guimarães

A juventude e o ensino de Sociologia:


as percepções de alunos da rede pública do Rio de Janeiro 168
Viviane Alves Campos

A Sociologia no ensino médio:


o que pensam os estudantes de Duque de Caxias? 182
Aline Barbosa da Silva

instituições
Florestan Fernandes: socialização escolar da Sociologia
e o desenvolvimento social do Brasil 199
Maycon Bezerra de Almeida
O ensino da Sociologia na educação brasileira
entre 1882 e 1942: algumas considerações211
Marcelo Pinheiro Cigales
Eduardo Arriada

Uma análise sobre o Currículo do Estado de São Paulo


para o ensino médio 226
Simone da Conceição Silva

Sociologia e ensino no Ceará: novas perspectivas


sobre o ensino da disciplina na escola média240
Manoel Moreira de Sousa Neto

A Sociologia no vestibular e no ENEM:


o caminho da legitimidade pelo enquadramento252
Alexandre Barbosa Fraga
Thiago Oliveira Lima Matiolli

conhecimento escolar
Formação do habitus docente em Ciências Sociais na UFMA281
Ana Caroline Silva Sardinha
Márcia Pereira de Sousa
Tarantini Pereira Freire

Faça o que eu digo, mas não faça o comum: uma reflexão


acerca da prática etnográfica voltada para a compreensão
do itinerário do ensino de Sociologia dos bancos
acadêmicos ao interior das escolas brasileiras295
Antonádia Borges
Bernardo Peixoto Leal Ferreira Silva
Gabriela Cunha dos Santos
Paulo César Ferreira

Currículo escolar e ensino de Sociologia no Paraná308


Luiz Aparecido Alves de Souza
Francieli Manginelli

Ensinar sobre a luta ou ensinar a lutar? Uma análise preliminar


dos movimentos sociais no livro didático de Sociologia 323
Vinícius Carvalho Lima
Reconstituindo o processo de escolha do livro didático
de Sociologia no estado da Paraíba336
Márcio Silva de Melo
Vinícius Gabriel da Silva

sobre os autores347
Prefácio
Luiz Antônio Cunha

Os currículos escolares são arenas de lutas, que guardam vestígios varia-


dos: vão desde ideais sinceros até objetivos econômicos de grupos de
interesse; desde concepções baseadas em reflexões e experiências práticas
até improvisações irresponsáveis. O mesmo acontece com as disciplinas,
componentes indissociáveis dos currículos. A Filosofia e a Sociologia não
chegaram ao ensino médio descidas do céu da pura reflexão, mas abriram
caminhos em meio a lutas.
Não vou fazer retrospecto dessas disciplinas antes da ditadura, por-
que ela agiu de tal modo na recomposição do currículo do ensino de 1o e
2o Graus que qualquer linha evolutiva ficaria prejudicada, mesmo contem-
plando oscilações. Com efeito, o decreto-lei 869/69 e a lei 5.692/71 deram
nova cara ao ensino médio/2o Grau. O primeiro enxertou a Educação
Moral e Cívica, irmã siamesa do Ensino Religioso no que dizia respeito
ao conteúdo e ao magistério preferencial; a segunda determinou a profis-
sionalização universal e compulsória que passou a definir o que fazer em
função do mais imediatista para quê.
O fim da ditadura, em 1985, no que diz respeito aos aspectos institu-
cionais do poder político, abriu caminho para a reorientação dos currícu-
los, no plano federal, aproveitando o impulso dado no campo educacional
pelos governos eleitos pelo voto direto em 1982, principalmente no Rio
de Janeiro, em Minas Gerais, em São Paulo, no Paraná e em Mato Grosso
do Sul. A Educação Moral e Cívica foi uma espécie de pedra de toque das
mudanças curriculares. Ao contrário do que ocorreu na queda do Estado
Novo, quando essa disciplina foi imediatamente suprimida do currículo,
desta feita ela teve uma longa sobrevida. A lei que a extinguia teve lenta
tramitação no Congresso (sete anos). Tão logo aprovada, foi sancionada
pelo presidente Itamar Franco – lei 8.663/93.
Nesse tempo de luta contra o que era o suprassumo das políticas educa-
cionais da ditadura, a Filosofia foi projetada tanto como herdeira dissimulada

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quanto como oponente da Educação Moral e Cívica; a Sociologia, só como
sua oponente. Os defensores de ambas as disciplinas reivindicavam para
elas o monopólio do “espírito crítico” – essa expressão tão cara quanto
imprecisa, mas que só aos mais reacionários deixa de entusiasmar.
A turbulenta tramitação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
no Congresso Nacional resultou num texto que não valorizava muito a
Sociologia, em termos pedagógicos. Tanto quanto a Filosofia, ambas
teriam conteúdos tratados pelas diferentes disciplinas do ensino médio.
Estavam certos os que pensavam que esse artifício curricular não tinha o
menor cabimento. A equação inevitável seria: diluição dos conteúdos +
professores sem formação específica = fracasso pedagógico assegurado.
No entanto, a valorização de ambas as disciplinas ficava patente no texto
da mesma LDB pela sua finalidade: elas deveriam propiciar aos alunos
conhecimentos necessários ao exercício da cidadania.
Os movimentos pela introdução da Filosofia e da Sociologia como
disciplinas, propriamente ditas, não aceitaram a situação e definiram
como objetivo político uma lei que tratasse exclusivamente da introdu-
ção dessas disciplinas no currículo do ensino médio, mediante reforma
da LDB. A alternativa de buscar essa inserção mediante emenda ao Plano
Nacional de Educação não deu certo: aprovada em plenário e inserida no
PNE, foi vetada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Para a sur-
presa dos mais ingênuos, um sociólogo barrou a entrada da Sociologia no
ensino médio.
O primeiro projeto de lei naquele sentido foi do deputado (também
sacerdote, também professor de universidade estadual paranaense) Roque
Zimermann, aliás, Padre Roque (PT-PR).
Político recém-ascendido ao plano federal, o padre/professor/depu-
tado chegou à Câmara atirando para todos os lados. Foi logo notícia por
oferecer projeto de emenda constitucional que instituía a cobrança de
contribuição financeira aos ex-alunos de graduação e de pós-graduação
de universidades públicas, proporcional a suas rendas, de modo a gerar
recursos para a ampliação de vagas e a melhoria salarial dos professores.
A censura dos que defendiam a gratuidade do ensino superior público foi
geral, inclusive no seu estado, onde essa conquista havia acontecido havia
pouco, com a Constituição de 1988.
Membro da Comissão de Educação da Câmara, Roque Zimermann
aumentou sua fama com a direita ao relatar o substitutivo aos projetos de

10
lei de reforma do artigo 33 da LDB, o que tratava do Ensino Religioso nas
escolas públicas. Seu texto, que consolidou três outros, (um do ministro
da Educação do governo FHC, Paulo Renato Souza, outro de deputado do
PSDB gaúcho, outro ainda de deputado do PMDB paranaense), continha
um dos maiores equívocos (para dizer o mínimo) da legislação educa-
cional brasileira: o Ensino Religioso, embora facultativo (por imperativo
constitucional), foi alçado a parte integrante da formação do cidadão. O
substitutivo do padre/professor/deputado foi aprovado em julho de 1997,
às vésperas do desembarque, no Rio de Janeiro, do papa João Paulo II, a
quem a CNBB e FHC pretendiam agradar com a mudança da LDB.
Roque Zimermann voltou à cena com o projeto de lei 3.178/97, visando
à inserção da Filosofia no ensino médio. A justificação do projeto não tinha
uma concepção própria, mas evocava a de Franklin Leopoldo da Silva,
professor da Universidade de São Paulo. Uma frase de seu texto, transcrita
na justificação, dá uma ideia da pretensão do filósofo para sua disciplina:
ela teria “uma função de articulação do indivíduo enquanto personagem
social, se entendemos que o autêntico processo de socialização requer a
consciência e o reconhecimento da identidade social e uma compreensão
crítica da relação homem-mundo”. Tão ampla a função pretendida para
a Filosofia, que Zimermann escreveu em seguida: “As observações supra
valem mutatis mutandis para a Sociologia”. E foi tudo o que disse sobre
essa disciplina... Apesar da justificação rala para a Filosofia e inexistente
para a Sociologia, o projeto foi aprovado em 2001. A despeito do serviço
prestado pelo padre/professor/deputado ao governo na alteração do artigo
33 da LDB, o ingrato FHC o vetou integralmente. O Congresso manteve o
veto presidencial.
Novo projeto de lei foi apresentado à Câmara visando à inserção
da Filosofia e da Sociologia no ensino médio. Seu autor foi o deputado
Ribamar Alves (PSB-MA). O PLC 1.641/03 continha a mesma rarefação de
argumentos na justificação que seu antecessor. Citou mais gente do que
Zimermann, sobre o currículo em geral e a Filosofia nele, inclusive o
mesmo trecho do professor da USP, mas conseguiu ser pior do que aquele,
pois nenhuma palavra disse sobre a Sociologia...
A tramitação do projeto estava parada na Câmara quando o governo
federal, já no governo Lula, interveio, acionado pelo movimento em prol
das duas disciplinas. Os protagonistas do movimento conseguiram que a
Secretaria de Educação Básica do MEC promovesse uma audiência pública

11
no início de 2006 para tratar da questão, da qual resultou consulta formal
ao Conselho Nacional de Educação. A SEB/MEC perguntava sobre como
garantir que os conhecimentos de Filosofia e de Sociologia, necessários ao
exercício da cidadania, como determinava a LDB, fossem adequadamente
tratados pelas demais disciplinas. E não escondia sua preferência pela sua
autonomização na forma de disciplinas específicas.
O CNE manifestou-se em parecer elaborado por uma comissão, da
qual fizeram parte o sociólogo Cesar Callegari e o historiador Murilo
Hingel (ministro da Educação de Itamar Franco). A comissão foi enfatica-
mente favorável à inserção da Filosofia e da Sociologia no ensino médio,
na forma de disciplinas. Sua posição foi expressa em proposta de altera-
ção de resolução anterior do próprio conselho, de modo que as escolas
que adotassem a organização curricular baseada em disciplinas tivessem
de oferecer também aquelas duas. O parecer foi concluído com proposta
de resolução e, em seguida, aprovado pelo conselho e homologado pelo
ministro Fernando Haddad – Resolução CNE/CEB 4/2006.
Mas o espírito de 1932 deve ter baixado nos membros do Conselho
Estadual de Educação de São Paulo, que, indignados com o que seria uma
invasão do CNE em sua área de competência, decidiu pela não obrigato-
riedade da Filosofia e da Sociologia no ensino médio paulista. A pendên-
cia federalista somente foi eliminada pela aprovação pelo Congresso do
projeto do deputado Ribamar Alves, que ganhou fôlego com o parecer do
CNE, apesar do separatismo paulista. Foi promulgada, assim, a lei federal
11.684/08, logo sancionada pelo vice-presidente José Alencar. Diante dela,
os conselheiros paulistas tiveram de se curvar.
Considerando o que foi dito acima, haverá quem diga que a Sociologia
no ensino médio nasceu com um “pecado original”, não tem salvação,
o jeito é suprimi-la. Muito pelo contrário, eu prefiro evocar Jean-Paul
Sartre, que disse: “O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que
nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós”. E adaptar para a
Sociologia no ensino médio essa diretiva existencial importa, sim, como
e por quem e para que a disciplina chegou ao currículo, mas, sobretudo,
importa o que estamos fazendo e ainda vamos fazer com ela.
Daí a relevância de obras como a coletânea Conhecimento escolar e
ensino de Sociologia: instituições, práticas e percepções, que reúne resul-
tados de pesquisas empíricas sobre a disciplina em foco. Seus 20 artigos
abordam a dimensão institucional da disciplina, as práticas e as percepções

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dos seus docentes, bem como o conhecimento escolar implicado. A obra
é enriquecida com um panorama da produção acadêmica recente sobre o
ensino da Sociologia no ensino médio.
Pelo conteúdo e pelo momento em que é lançada, a coletânea ocu-
pará um lugar de destaque na bibliografia pedagógica brasileira, pelo
que estão de parabéns todos os 40 autores, vinculados a instituições de
educação superior e de educação básica, em especial o trio organizador
– Anita Handfas, Julia Polessa Maçaira e Alexandre Barbosa Fraga –, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, instituição que também merece
meus cumprimentos por sediar o Laboratório de Ensino de Sociologia
Florestan Fernandes, do qual esta coletânea é produto.

13
Apresentação
Anita Handfas
Julia Polessa Maçaira
Alexandre Barbosa Fraga

A tarefa de apresentar o presente livro, que reúne artigos provenientes dos


Grupos de Trabalho do 3o Encontro Estadual de Ensino de Sociologia – 3o
Ensoc, realizado em setembro de 2012, na UFRJ, nos obriga a um olhar
retrospectivo. Com este livro, que ora lançamos com muita satisfação, pas-
samos a contar com uma trilogia que nos permite realizar um balanço do
que tem sido produzido sobre o ensino de Sociologia na educação básica.
Afinal, já se passaram mais de seis anos desde que realizamos o 1o Ensoc
(2008) e, de lá para cá, fatos novos surgiram no cenário, o que certamente
nos coloca em um novo patamar de discussão sobre a temática.
Assim, olhando para trás, nos perguntamos: quais eram as questões
que mobilizavam nosso campo de estudos?
Lembremos que uma delas se referia à necessidade de superar a pers-
pectiva empírica recorrente em pesquisas e trabalhos apresentados nos
fóruns acadêmicos e divulgados por meio de artigos, ou dissertações de
mestrado. Por sua ligação estreita com a escola, a pesquisa sobre o ensino
de Sociologia sempre se caracterizou por sua natureza prática, uma vez
que é na sala de aula que ela acontece e é por meio das práticas pedagógi-
cas do professor que o conhecimento escolar da Sociologia se realiza. No
entanto, o desafio era alcançar uma perspectiva analítica capaz de levantar
elementos teóricos e práticos que pudessem se deslocar de um olhar empí-
rico para um conhecimento mais sistematizado sobre o objeto de estudo.
Passada mais de uma década, se considerarmos os anos 2000 como
um marco da produção científica sobre o ensino de Sociologia na educa-
ção básica, podemos indagar sobre os caminhos percorridos até aqui.
Avaliamos que muitos são os avanços, cujas causas se originam de
um contexto político e institucional que propiciou novas condições para a

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consolidação da Sociologia como componente curricular na escola básica.
Se a obrigatoriedade da disciplina no ensino médio, por si só, ainda não foi
capaz de corrigir as distorções e lacunas que ainda permanecem na escola
e no currículo, tais como professores sem formação específica ministrando
aulas de Sociologia, ou carga horária reduzida, certamente ela atuou como
catalisador de um sentimento que há muito vinha rondando os setores
que reivindicavam o retorno da Sociologia ao ensino médio.
Esse sentimento logo se reverteu em ações práticas, tais como a mul-
tiplicação de fóruns de discussão, o crescimento vertiginoso da produção
acadêmica e a criação de novas licenciaturas. Tais iniciativas, em conjunto,
vêm animando o campo, com a chegada de novos atores – professores da
escola básica, estudantes dos cursos de licenciatura em Ciências Sociais e
professores universitários, cujas experiências e especificidades de olhares
vêm enriquecendo o debate a partir de novos elementos trazidos da escola
e da universidade.
O livro Conhecimento escolar e ensino de Sociologia: instituições, prá-
ticas e percepções representa, de alguma maneira, esse percurso. Ele reúne
um conjunto de artigos escritos por professores e pesquisadores da escola
básica e da universidade que tratam dos mais diversos temas, revelando
alguns achados de pesquisas e trazendo à tona novos elementos que nos
ajudam a elucidar inúmeros problemas concernentes à prática pedagógica,
à formação do professor de Sociologia, bem como aspectos relacionados
às condições de institucionalização da Sociologia como disciplina escolar.
Avaliamos que esse conjunto de artigos, escritos por 40 autores que
atuam em diferentes instituições de ensino da educação básica e do ensino
superior, expressa o avanço do campo, sobretudo pelo fato de que eles
tomam o debate sobre a Sociologia na educação básica sem perder de vista
as dimensões prática e teórica do tema.
Coerentes com essa perspectiva, as seções que compõem esta coletâ-
nea estão organizadas em torno de grandes temas, possibilitando, assim,
incluir em cada uma delas tanto artigos resultantes de pesquisas quanto
reflexões oriundas das práticas de sala de aula.
O livro está organizado em quatro seções, totalizando 20 capítulos,
além de um capítulo inicial que abre a coletânea, apresentando o estado
da arte da produção acadêmica sobre o ensino de Sociologia na educa-
ção básica. Neste artigo, Anita Handfas e Julia Polessa buscam fazer um

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balanço, traçando a evolução desse campo de estudos, indicando algumas
questões recorrentes e sugerindo lacunas a serem superadas.
A primeira seção, dedicada às Práticas Docentes, é formada por cinco
capítulos. No primeiro deles, intitulado “Saberes docentes para o ensino de
Sociologia nas escolas do Distrito Federal: reflexões sobre a formação dos
licenciandos em Ciências Sociais da Universidade de Brasília”, Sayonara
Leal, Vanessa Jansen, Kendy Neris, Fernanda Menezes e Ana Carolina
Laureano Brandão apresentam resultados de uma pesquisa sobre os atores
e os recursos pedagógicos envolvidos no processo de formação de profes-
sores realizado no curso de licenciatura em Ciências Sociais da UnB.
No capítulo seguinte, “A formação de professoras de Sociologia: o
debate sobre os modelos formativos e algumas hipóteses de pesquisa”,
Diogo Tourino de Sousa, Mariane Silva Reghim e Arthur Fontgaland
Gomes, com base em um levantamento dos cursos de bacharelado e licen-
ciatura em Ciências Sociais existentes no Brasil, discutem alguns dos desa-
fios da formação de professores nessa área.
Em seguida, Ana Beatriz Maia Neves apresenta o texto “Sociologia no
ensino médio: com que “roupa” ela vai?”, no qual parte das diferentes visões
docentes sobre os objetivos dessa disciplina na educação básica e sobre
os conteúdos programáticos trabalhados em sala de aula, construindo, a
partir disso, “tipos ideais” de professores de Sociologia. Relevante destacar
que esse artigo resulta da pesquisa de monografia realizada pela autora no
Curso de Especialização em Ensino de Sociologia (CESPEB) da UFRJ.
No quinto capítulo do livro, “Currículos em mudança: a prática do
ensino de Sociologia no Rio de Janeiro”, Julia Polessa Maçaira, Gabriela
Montez e Beatriz Gesteira analisam, como parte das pesquisas desenvolvi-
das no Laboratório de Ensino de Sociologia Florestan Fernandes da UFRJ
(LabES), entrevistas realizadas com 24 professores de Sociologia do ensino
médio que atuavam, entre 2010 e 2011, em colégios da Metropolitana VI
na rede pública estadual do Rio de Janeiro. Três questões presentes nas
falas dos professores são destacadas neste artigo: os objetivos atribuídos
ao ensino de Sociologia, os principais conteúdos lecionados e o uso das
propostas curriculares estaduais.
Encerrando esta seção, temos o artigo “A identidade profissional dos
primeiros professores de Sociologia do Colégio Pedro II”, contribuição de
Jefferson da Costa Soares. Nele, o autor estuda o processo de construção

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de uma identidade profissional dos professores secundários que foram os
primeiros a lecionar Sociologia nesse nível de ensino, remontando as tra-
jetórias seguidas por eles, de forma a verificar o que há de comum e de
singular nelas.
A segunda parte desta coletânea está centrada nas Percepções Discentes.
Essa discussão é iniciada pelo sétimo capítulo do livro, “Reflexões sobre
representação social da Sociologia a partir da visão dos estudantes do
ensino médio do DF”, de Tauvana Yung, Bruno Borges e Vinícius Corbucci.
Nele, a presença da Sociologia no ensino médio é observada por meio da
opinião dos alunos da rede de ensino do Distrito Federal, que foi cap-
tada em questionários compostos de questões abertas e fechadas sobre a
infraestrutura das escolas, a qualidade de ensino e o entendimento do que
é Sociologia.
O oitavo capítulo é intitulado “Jovens conectados por uma atitude
reflexiva: uma proposta para estudar a cibercultura na escola básica”.
Fátima Ivone de Oliveira Ferreira analisa o programa elaborado pelo
Departamento de Sociologia do Colégio Pedro II para mobilizar conteú-
dos do campo da chamada cibercultura nas aulas do nono ano do ensino
fundamental, discutindo seus fundamentos teóricos e conceituais e as ati-
vidades planejadas para que os alunos possam desnaturalizar e estranhar
a cultura digital.
No capítulo seguinte, com o texto “O ensino de Sociologia no Colégio
Estadual Lauro Corrêa: uma abordagem acerca das desigualdades sociais”,
Marlon da Costa Guimarães analisa o conteúdo de redações elaboradas por
alunos do 1o, 2o e 3o anos do ensino médio sobre a desigualdade social, com
o intuito de identificar que tipo de influência o ensino de Sociologia exerce
sobre o aprendizado, algo possível ao se comparar o texto dos alunos que
haviam estudado Sociologia (2o e 3o anos) ao dos que ainda não (1o ano).
O autor também cursou a especialização em Ensino de Sociologia –
CESPEB/UFRJ e aqui apresenta os resultados de sua pesquisa monográfica.
O décimo capítulo, de autoria de Viviane Alves Campos, cujo título
é “A juventude e o ensino de Sociologia: as percepções de alunos da rede
pública do Rio de Janeiro”, investiga qual é a percepção que os próprios
alunos têm sobre a disciplina Sociologia, no sentido de seu papel na for-
mação escolar e em suas vidas. Para isso, em pesquisa monográfica reali-
zada no CESPEB, a autora analisa, por meio de questionários e entrevistas,

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as expectativas e as percepções que eles têm em relação aos conteúdos e às
atividades propostas.
Esta seção é encerrada com mais um trabalho que se debruçou
sobre a questão de como os alunos enxergam a Sociologia e também foi
resultado da formação na pós-graduação lato sensu do CESPEB da UFRJ.
Trata-se de “A Sociologia no ensino médio: o que pensam os estudantes
de Duque de Caxias?”, de Aline Barbosa da Silva. Nele, a autora discute o
grau de importância que os alunos dão à Sociologia na vida escolar deles,
bem como o papel que eles atribuem a ela. Tendo esse objetivo, investiga
as visões dos alunos do 3o ano do ensino médio de três escolas estaduais
situadas na Baixada Fluminense, no município de Duque de Caxias, no
estado do Rio de Janeiro, que, portanto, já estudaram a disciplina durante
os três anos finais da educação básica.
A terceira parte deste livro reúne artigos sobre outro ator envolvido
no ensino de Sociologia: as Instituições. Essa discussão tem início com o
artigo de Maycon Bezerra de Almeida, “Florestan Fernandes: socializa-
ção escolar da Sociologia e o desenvolvimento social do Brasil”. Nele, o
autor se debruça sobre a obra de Florestan Fernandes, buscando encontrar
no projeto científico (teórico e prático) desse autor o lugar ocupado pelo
tema da socialização escolar da Sociologia e a sua relação com a questão
mais abrangente do desenvolvimento social brasileiro.
O décimo terceiro capítulo traz o trabalho “O ensino da Sociologia
na educação brasileira entre 1882 e 1942: algumas considerações”. Marcelo
Pinheiro Cigales e Eduardo Arriada estudam o surgimento da Sociologia
no Brasil e a sua institucionalização no ensino secundário, no período de
1882 a 1942, destacando os principais personagens e acontecimentos que
marcaram esse importante período da trajetória dessa disciplina.
No capítulo seguinte, “Uma análise sobre o Currículo do Estado de
São Paulo para o ensino médio”, Simone da Conceição Silva, com base
na perspectiva de Antonio Gramsci sobre a educação escolar, examina o
currículo do estado de São Paulo – Ciências Humanas e suas Tecnologias,
tentando perceber quais são seus pressupostos, concepções educacionais e
possíveis implicações pedagógicas.
O décimo quinto capítulo é de Manoel Moreira de Sousa Neto, que,
com o artigo intitulado “Sociologia e ensino no Ceará: novas perspecti-
vas sobre o ensino da disciplina na escola média”, reflete sobre a proposta

19
programática para a disciplina de Sociologia elaborada pelo estado do
Ceará em duas modalidades do ensino médio: a regular e a profissional.
Além disso, acompanha como essa proposta curricular foi construída em
algumas escolas públicas estaduais de Fortaleza.
O capítulo que finaliza essa discussão sobre as instituições é “A
Sociologia no vestibular e no ENEM: o caminho da legitimidade pelo
enquadramento”, no qual Alexandre Barbosa Fraga e Thiago Oliveira
Lima Matiolli estudam a forma como a Sociologia vem sendo cobrada no
Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e nos vestibulares de 16 uni-
versidades públicas brasileiras. Buscam compreender qual é o efeito disso
no processo de sua legitimação, no qual há uma troca, por meio de um
enquadramento, de liberdade por legitimidade.
Após terem sido discutidos três atores envolvidos no ensino de
Sociologia, professores, alunos e instituições, a quarta e última parte deste
livro destaca aquilo que é produzido na relação entre esses três agentes: o
Conhecimento Escolar. O primeiro capítulo deste bloco, e décimo sétimo
do livro, é o trabalho de Ana Caroline Silva Sardinha, Márcia Pereira de
Sousa e Tarantini Pereira Freire, cujo título é “Formação do habitus docente
em Ciências Sociais na UFMA”. Nele, as autoras discutem a transposição
dos conteúdos de Sociologia para serem trabalhados na educação básica,
observando as aulas de uma escola na cidade de São Luís do Maranhão e
entrevistando docentes do curso de Ciências Sociais da UFMA, professores
da rede pública e alunos do ensino médio.
Em seguida, temos o texto de Antonádia Borges, Paulo César Ferreira,
Bernardo Peixoto Leal Ferreira Silva e Gabriela Cunha dos Santos, “Faça o
que eu digo, mas não faça o comum: uma reflexão acerca da prática etno-
gráfica voltada para a compreensão do itinerário do ensino de Sociologia
dos bancos acadêmicos ao interior das escolas brasileiras”, que apresenta
a experiência etnográfica nas salas de aulas de Sociologia para o ensino
médio em escolas públicas e privadas do Distrito Federal. Entre os assun-
tos observados, os autores privilegiaram abordar a questão do “senso
comum”, problematizando-o e identificando o tratamento dado pelos pro-
fessores às respostas e às reações dos alunos.
No décimo nono capítulo, “Currículo escolar e ensino de Sociologia
no Paraná”, Luiz Aparecido Alves de Souza e Francieli Manginelli verifi-
cam os recursos didáticos disponibilizados pela rede de ensino pública
do estado do Paraná, refletindo sobre a sua utilização para o ensino da

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