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Introdução ..................................................................................................................... 1
1.2. Os dois princípios da justiça como equidade: Liberdade igual e Diferença ...... 4
2. Conclusão ............................................................................................................ 11
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1. A JUSTIÇA EM JONH RAWLS
1.1.A Proposta de Justiça como Equidade
Para que isso ocorresse, porém, os integrantes deveriam estar num estado de
igualdade, cobertos pelo denominado véu da ignorância. Nesse estágio ninguém definiria
valores de justiça os quais propusessem vantagens para certos indivíduos em detrimento
dos outros, visto que por ninguém saber o porvir, a escolha de valores genéricos
determinaria um estágio inicial onde todos adquiririam o bem-estar.
“Uma vez que todos estão numa situação semelhante e ninguém pode designar
princípios para favorecer sua condição particular, os princípios da justiça são o resultado
de um consenso ou ajuste equitativo. [...] A essa maneira de considerar os princípios da
justiça eu chamarei de justiça como equidade” (RAWLS, 1981. pág.33).
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A partir daí, o raciocínio de Rawls é desenvolvido de acordo com as seguintes
considerações: Ele observa que as pessoas dispõem de posições sociais diferentes às quais
estão sujeitas desde o seu nascimento.
Estas posições, segundo Rawls, afetam seriamente as suas expectativas de vida a
partir da percepção de que algumas pessoas têm mais, ou menos, sorte que outras na
distribuição das posições sociais e dos dotes e habilidades naturais e, que, em função
disso, se beneficiam mais, ou menos, dos resultados da cooperação social.
Para a solução do conflito gerado pela distribuição dos benefícios da cooperação
social, Ele desenvolve princípios de justiça aplicados à estrutura básica da sociedade que
sejam aceitos por todos de maneira equitativa. Rawls imagina uma sociedade
caracterizada por uma situação de igualdade democrática, em que, por meio da justiça
contida nas suas instituições sociais, esteja garantido o direito de todas as pessoas se
favorecerem dos benefícios da cooperação social.
Rawls desenvolve a sua alegoria do contrato social a fim de alcançar este objetivo.
Para tanto, imagina as pessoas todas reunidas no que ele chama de posição original. Nesta
posição original as pessoas estão cobertas pelo véu de ignorância e em função disso não
sabem qual a posição social de cada uma delas, mais precisamente o seu status social, da
mesma forma também não sabem como os dotes pessoais (físicos e mentais) estão
distribuídos entre elas.
Assim, a escolha dos princípios de justiça é feita de modo que as pessoas não são
capazes de propor supostos princípios de justiça que favoreçam mais a umas que a outras.
É preciso, portanto, de acordo com Rawls, que a sociedade seja regulada por uma
concepção política de justiça a fim de promover os justos termos de cooperação entre seus
membros. Tal concepção política de justiça - a justiça como equidade - caracteriza a
sociedade bem-ordenada como aquela na qual todos aceitem e saibam que os outros
aceitam os mesmos princípios de justiça, e as instituições sociais básicas geralmente
satisfazem, e geralmente se sabe que elas satisfazem, esses princípios. (RAWLS, 1981,
pág. 31). É a certeza da reciprocidade no trato entre os homens e a confiança nas
instituições sociais que preservam a sociedade como um empreendimento cooperativo.
Assim, a justiça, na concepção de Rawls, deve, através das instituições sociais, garantir
que não ocorram distinções arbitrárias entre as pessoas na atribuição de direitos e deveres
básicos na sociedade e garantir também regras que proporcionem um equilíbrio estável
entre reivindicações de interesses concorrentes das vantagens da vida social e na
distribuição de renda e riqueza.
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É a partir então da concepção política de justiça gestada numa condição de equidade
entre as pessoas que se desenha o cenário de justiça social rawlsiana.
Rawls, em todo o seu aspecto político e moral, procura desenvolver uma alternativa
ao utilitarismo – a doutrina de que se deve agir de um modo que provenha o maior
benefício para a maioria das pessoas – pois considera o utilitarismo como uma ameaça
aos direitos individuais e se alinha aos pensadores que vêem a sociedade em termos de
um contrato social. (RAWLS, 1981, pág. 40).
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Assim sendo, entende que estes os indivíduos devem necessariamente concordar
com os dois princípios, onde direitos e liberdades devem ser tão extensos quanto possível,
para cada indivíduo, até o ponto que não infringisse direitos e liberdades dos outros
indivíduos e as desigualdades sociais e econômicas devem estar igualmente disponíveis
para qualquer posição prover o melhor benefício pela menor desvantagem.
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O filósofo americano reconhece que a divisão igualitária dos bens primários e da
autoridade traz problemas às eficácias econômicas e organizacionais, bem como o
liberalismo do traz conseqüências sociais graves. Entre os dois extremos, Rawls acredita
encontrar um meio-termo no qual as desigualdades sócio-econômicas são permitidas
desde que haja um compromisso dos mais favorecidos em relação aos menos favorecidos,
ou seja, que o progresso dos primeiros se reflita na melhoria também da situação dos
segundos, ao contrário do que ordinariamente acontecia (e ainda acontece) na lógica do
capitalismo. Isso é o que Rawls chama de princípio da diferença, segundo ele: (...) os
princípios da justiça, em particular o princípio de diferença, aplicam-se aos princípios e
aos programas políticos públicos que regem as desigualdades econômicas e sociais. Eles
servem para ajustar o sistema dos títulos (no sentido jurídico) e dos ganhos e para
equilibrar as normas e preceitos familiares que esse sistema utiliza na vida cotidiana. O
princípio de diferença vale, por exemplo, para a taxação da propriedade e da renda, para
a política econômica e fiscal. (RAWLS, 2000, pág. 34).
Assim, com os dois princípios da justiça de sua teoria, Rawls procura resguardar o
valor do indivíduo, seja protegendo as suas liberdades básicas fundamentais, seja
propiciando melhorias sociais em sua vida. Para tanto, os princípios devem obedecer a
uma ordenação serial, sendo que o primeiro antecede o segundo. Essa ordenação significa
que as violações das liberdades iguais protegidas pelo primeiro princípio não podem ser
justificadas nem compensadas por maiores vantagens sociais (RAWLS, 1981, pág. 65).
Logo se vê que essa é uma garantia que o utilitarismo não poderia dar.
São esses, portanto, os princípios que configuram a idéia da justiça como equidade.
Essa concepção de justiça não pretende a divisão igualitária e totalizadora dos bens
primários ou da autoridade, uma vez que esse tipo de desigualdade é, por um lado,
necessária (como no caso da motivação profissional e da livre iniciativa) e também é, por
outro lado, inevitável, haja vista a dinamicidade da sociedade e as características de cada
pessoa, fatores que a ingerência estatal não consegue jamais controlar.
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Como esses princípios são escolhidos para reger a estrutura básica da sociedade,
formando um conceito de justiça procedimental pura e equânime, a injustiça, nesse caso,
como afirma Rawls, constitui-se simplesmente de desigualdades que não beneficiam a
todos (RAWLS, 1981, pág. 66).
Estes dois pilares compreendem a idéia de justiça formulada por Rawls, embora
não resolvam alguns problemas práticos. De todo modo, a concepção do autor considera
a necessidade de estabelecer certa ordem de prioridades entre os dois princípios. O
princípio da liberdade igual, por exemplo, tem prevalência sobre o segundo. O princípio
da oportunidade justa sobrepõe-se ao da diferença. Uma vez que se esteja em uma
situação de bem-estar acima da luta pela sobrevivência, a liberdade adquire prioridade
sobre o bem-estar econômico ou sobre a igualdade de oportunidades. Sob este prisma,
pode-se inferir que o pensamento de Rawls é o de um liberal.
Não obstante a tudo o que foi dito, acrescenta-se que cada um dos princípios
mantém a idéia de distribuição justa. Quanto à questão da desigualdade apresentada por
RAWLS apud OLIVEIRA salienta:
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É interessante observar que Rawls se atém acerca dos direitos civis e políticos
considerados nas democracias liberais – a liberdade de expressão, o direito de ir e de vir,
o direito à justiça, o direito de se defender juridicamente, o direito de se candidatar a
cargos públicos, assim como o direito de votar e ser votado. Note-se que tais direitos
constituem, sobremodo, a base dos direitos inalienáveis do indivíduo no Estado
Democrático de Direito, constituindo o que hoje se entende por Cláusulas Pétreas na
Constituição Moçambicana actual.
Entende-se que embora a maioria das pessoas conceba que os indivíduos têm
oportunidades iguais, esta idéia não respeita o fato de que estes indivíduos deveriam ter
os seus destinos determinados pelas suas escolhas e não pelos determinantes sociais pura
e simplesmente. É o que Rawls articula em seus escritos.
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Dessa forma, Rawls fundamenta a sua teoria da sociedade justa. Ele exige que os
princípios sejam inseridos em ordem serial ou lexical (opção do autor, já que o termo
correto, lexicográfico, é considerado por ele muito desajeitado). Através deste método, o
primeiro princípio da ordenação deve ser satisfeito antes de podermos passar para o
segundo, o segundo antes de considerarmos o terceiro e assim por diante. Um
determinado princípio não será considerado até que aqueles que o precedem sejam
plenamente aplicados ou se constate que não se aplicam ao caso. Uma ordenação serial
evita, portanto, que sequer precisemos ponderar princípios; os que vêm antes na
ordenação têm um peso absoluto, por assim dizer, em relação aos que vêm depois, e valem
sem exceção.
- Uma liberdade desigual deve ser aceitável para aqueles que têm liberdade menor
para aqueles cidadãos com a liberdade maior).
Para definir as prioridades de liberdade básica (RAWLS, 1981, pág. 52), socorre-
se de Aristóteles, já que este grande filósofo observa que uma das peculiaridades dos
homens é que eles possuem um senso do justo e do injusto, e que o fato de partilharem
um entendimento comum da justiça cria a polis. Depois, a teoria da justiça repousa sobre
pressupostos pouco exigentes e amplamente acatados. Assim, poderá ela conseguir uma
aceitação geral. As nossas liberdades estão mais firmemente embasadas quando derivam
de princípios com os quais as pessoas, situadas equitativamente umas em relação às
outras, podem concordar.
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O segundo principio é o da Prioridade da Justiça sobre a Eficiência e sobre o Bem-Estar
que é lexicalmente anterior ao princípio de eficiência e ao princípio de maximização da
soma de vantagens: e a igualdade equitativa de oportunidades é anterior ao princípio da
diferença. Existem dois casos:
- Uma taxa excessiva de poupança deve, avaliados todos os fatores, tudo é somado,
mitigar as dificuldades dos que carregam este fardo.” (RALWS, 2002, pág. 55). Estas
liberdades (de cidadania) incluem a liberdade de consciência e de pensamento, a liberdade
individual e a igualdade dos direitos políticos (RAWLS, 1981, pág. 67).
Assim, frente aos princípios de justiça, pouco importa intensidade dos sentimentos
ou o fato que estes sejam compartilhados pela maioria. As bases da doutrina da liberdade
pessoal não estão bem assentadas, baseando-se na idéia que a liberdade de consciência
deve fundar-se em princípios que assegurem a integridade das liberdades religiosa e
moral. A manutenção de valores religiosos e morais, porém, sobrepõem-se naturalmente
a outro interesse, a tal ponto que as generalizações do utilitarismo sobre elas recai, como
visto, contrariando à própria justiça igualitária.
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2. Conclusão
A Teoria da Justiça de John Rawls tem o mérito de ser a primeira grande teoria
geral sobre a justiça, embora tenha sido – e ainda venha sendo – alvo de críticas quanto
ao seu conteúdo. Não obstante, veio a provocar uma reorientação no pensamento
filosófico americano, até então interessado em questões epistemológicas e lingüísticas,
canalizando-o em direção aos problemas ético-sociais. Também alcançou o mérito de ter
propiciado um novo tipo de igualitarismo teórico, um igualitarismo não mais de
oportunidades, mas de resultados.
Os princípios da justiça idealizados por Rawls são as liberdades públicas ou direitos
fundamentais, que a melhor doutrina jurídica sobrepõe a todo e qualquer direito ou dever,
até mesmo de natureza constitucional, já que são alicerce do próprio Estado de Direito.
Nesse sentido, é possível a afirmação de que toda lei injusta é substancialmente
inconstitucional. Quando Rawls sustenta a possibilidade da desobediência civil, sempre
que houver descumprimento de tais liberdades, na realidade, significa que a
governabilidade corre sérios riscos, caso o sentimento de justiça da sociedade não
coincida com o ordenamento jurídico. Muito embora a lei injusta possa ser vinculativa
nos casos de inocorrência de inconstitucionalidade a mesma cairá no desuso e, portanto,
a sua aplicação ocasionará o descrédito das instituições.
De fato, é inconcebível a existência de uma unidade a respeito de justiça, eis que
diferentes são as pessoas e diferentes são também as culturas e as sociedades. Ao contrário
do que se imagina, Rawls reconhece tal impossibilidade, ao sustentar a necessidade de
um consenso sobre justiça. Assim sendo, a justiça terá sempre um conceito relativo,
devendo prevalecer o entendimento da maioria daqueles que com ela convivem.
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3. Referências Bibliográficas
RAWLS, John. Uma Teoria da Justiça. Brasília: Universidade de Brasília, 1981.
__________, O Liberalismo Político, 2ª edição. São Paulo: Editora Ática, 2000.
___________,Justiça e democracia. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
BARZOTTO, L. F. A Democracia na Constituição. São Leopoldo: Editora Unisinos,
2003.
KUKATHAS, Chandran. PETTIT, Philip. Rawls: Uma teoria da Justiça e os seus
críticos. 1ª Edição. São Paulo: Gradiva, 1995.
MACEDO, Ubiratan Borges de. A crítica de Michael Walzer a Rawls. v. 21 Rio de
Janeiro, 1996.
NEDEL, José. John Rawls: uma tentativa de integração de liberdade e igualdade. Porto
Alegre: Edipucrs, 2000.
OLIVEIRA, Neiva Afonso. Rousseau e Rawls: contrato em duas vias. Porto Alegre:
Edipucrs, 2000.
OLIVEIRA, Nythamar Fernandes de. Tratados ético-politico. Genealogia do ethos
moderno. Porto Alegre: Edipucrs, 2003.
PERELMAN, Chaim. Ética e Direito. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
(Fraguimentos da monografia apresentada ao Curso de Especialização em Filosofia
Política da Universidade Federal do Maranhão)
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