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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS


Pró-Reitoria Comunitária e de Extensão

Reitor
Pe. Aloysio Bohnen, S.].
O TIPO NA ARQUITETURA
Vice-Reitor
Pe. Pedro Gilberto Gomes, SJ. da teoria ao projeto

Pró-Reitor Comunitário e de Extensão


Vicente de Paulo Oliveira Sant'Anna

ENEIDA RIPOLL STROHER, org.


HONORES MAMBRINI
ISABEL AMALIA MEDERO ROCHA
ml EDITORA UNISINOS Luís FERNANDO DA Luz
RONALDO DE AZAMB LUA STRÕHER
TÂNIA TORRES ROSSARI
D1-mo, I
VILMAR FRANCISCO MAYER
Carlos Alberto Gíanotti

Conselho Editorial
Carlos Alberto Gíanotti
Fernando Iacques Althoff
Pe. José Ivo Follmann, S.].
Pe. Marcelo Fernandes de Aquino, S.].
Nestor Torellyt Martins

EDITORA UNISINOS
2001

I
i ~ ¿

© dos autores, 2001


Direitos de publicação reservados à Editora Unisinos, 2001
ISBN 85-7431-067-0

l
Sumário
A reprodução, ainda que parcial, por qualquer meio, das páginas que l

compõem esta obra, mesmo para uso didático, sem a autorização escrita ‹

do editor, é ilícita e se constitui numa contrafação prejudicial ã cultura. 1


Apresentação
Foi feito o depósito legal. . .
Eneida Ripoll Ströher
7
Quatremère de Quincy e Jean-Nicolas-Louis Durand -
Ed“°raça°
Décio Remigius Ely
Algumas considerações sobre a interpretação do conceito de
Tipo em arquitetura
Revisão Ronaldo de Azambuja Ströher
Renato Deitos
9
Capa Considerações sobre o conceito de tipologia arquitetônica
José Luís Ströher Eneida Ripoll Ströher
25
cfâfizzz
ImPfeSSã°
âzz uN1s1Nos,2oo1
i A com osi
,p, Ç
ão ar uitetônica em ambiente com utacional
_ q , P ,_
-
l Estrategias pro]etua1s e o processo de ensino-aprendizagem
Isabel Amalia Medero Rocha
43
Versalhes e Hampton Court- Caráter e tipologia dos jardins
Í ,
franceses e ingleses do século XVII
Luis Fernando da Luz
L
l 99
A arquitetura historicista de Porto Alegre e a critica tipologica
Editora da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Tânia Tãríä RÚSSÚTÍ
EDITORA UNISINOS
Av. Unisinos, 950 Tipologias e aspectos compositivos de bibliotecas
- São Leopoldo, RS, Brasil
,=

93022-000 li
¡‹ Honores Mambrini
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153
Tipologia de planta da arquitetura religiosa colonial na Bahia
Tel--' 515903239 Vilmar Francisco Mayer
Fax: 515908238
E-mail: editora@luna.unisinos.br
183

Y
5

«Q
Apresentação

As questões relativas à noção ou à idéia de tipo, muito dis-


i

cutidas ao longo da história da arquitetura, foram praticamente


relegadas ao esquecimento com o advento do movimento mo-
l
i

derno.
Foi a década de 1960, porém, a responsável por trazer à tona
o debate acerca da idéia de tipo, que, na arquitetura, pode ser de-
iv

finido por meio de um único conceito ou, mais habitualmente,


i
mediante vários conceitos que vão desde o vínculo a uma estru-
z z
l
tura formal previa ate um intrínseco relacionamento com a teoria
e a história. De qualquer maneira, a idéia traz em si uma noção de
l precedente que entrou em conito com os ideais modernistas de
originalidade.
«
Este livro reúne sete trabalhos relacionados a essas ques-
Ê
tões. Eles orientam-se ou por uma abordagem teórica e histórica,
ii
ou por uma abordagem que vincula a teoria a programas especí-
Í
É

ficos da arquitetura.
Ronaldo de Azambuja Ströher aborda a origem do tipo,
seus desdobramentos através da história, enfocando o conceito
nos trabalhos de Quatremère de Quincy e Iean-Nicolas-Louis
Durand.
Isabel Medero Rocha introduz uma abordagem atual, rela-
cionando a questão do tipo arquitetônico, linguagem computaci-
onal e processo de projeto.
Luís Fernando da Luz compara dois projetos de jardins da
realeza européia, analisando o seu caráter e tipologia. O jardim

7
i
j J

i à-L-_
ENEIDA Ruaou. STRÕHER
É .›

z f 1
do Palacio de Versalhes, exemplificando as caracteristicas de jar-
dim francês, e o de Hampton Court, analisando o jardim inglês.
A tipologia palaciana é o tema do trabalho de Tânia Torres J
Rossari, em que uma pesquisa sobre os antecedentes arquitetôni- A

cos do Palácio Piratini de Porto Alegre vai encontrar, na Itália,


sua referência. Quatremère de Quincy e Iean-Nicolas-Louis Durand
Honores Mambrini estuda as tipologias de bibliotecas, ana- Algumas eerrsideraeões sobre a interpretação de
lisando questões relativas à história das bibliotecas, e apresenta -
conceito de tipo
-
em arquitetura
- ,,

os aspectos compositivos de algumas importantes bibliotecas da


segunda parte do século XIX. Ronaldo de Azambuja Ströherer
Na última parte do livro, Vilmar Mayer elabora um estudo
sobre as formas e espaços desenvolvidos nas plantas de igrejas
da arquitetura religiosa na Bahia.
Em minha contribuição' apresento tópicos de um te×t° de Em todos os países, a arte de construir corretamente nasceu
Rafael Moneo e discuto as idéias apresentadas, introduzindo a z de um germe preexisrenre para rude e necessário um anreee_
OPÍHÍÊO de 01-IÍTOS GSÍUCÍÍOSOS dO aSSu1'\'f0- dente; nada, em qualquer gênero, provém do nada, e isso
Os conceitos emitidos acerca do tema, assim como de ou- M. deve ser aplicado a todas as invenções humanas. Vemos tam-
tras questões da arquitetura, refletem as opiniões dos autores e bém que todas as coisas, a despeito de modificações posterio-
pgdem, muitas vezes, nãg ser ¢0in¢j¢1ente5_ l res, conservam de maneira sempre visível, sempre evidente
ao sentimento e à razão, seu princípio elementar. É como uma
J¡ , ,
especie de nucleo em torno do qual se agregam e ao qual sao
Eneida Ripoll Ströher, organizadora coordenados, ao longo do tempo, os desenvolvimentos e as
variações formais aos quais o objeto é suscetível. Temos, as-
A
sim, milhares de coisas em cada genero; e uma das principais
¡

ocupações da ciência e da filosofia é procurar a origem e a


Í
i
causa primitiva. Eis o que devemos chamar tipo em arquitetu-
ë'

Texto baseado em capítulo da dissertação de mestrado "As transforma-


ções na tipologia e no caráter do prédio bancário em meados deste sécu-
lo", 1999. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Í V ** Arquiteto com mestrado em Arquitetura, na área de Teoria, História e
Crítica de Arquitetura, PROPAR, UFRGS, doutorando em Arquitetura -
PROPAR, UFRGS, é professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo na
UNISINOS, São Leopoldo.

8 9
RQNALDO DE AZAMBUJA STRÕI-IER QUATREMÊRE DE QUINCY EIEAN-Nicoi.As-Louis DURAND

ra, como em todas as outras invenções e instituições huma- majgr Qu mengr grau de Cgmplexidade definição, 0 que me pa-
à_

nos- (Quatfemefe de QdÍ¡`*eY› De i'ÍmÍiedoo---- P~ Í-VHL UX) i rece marcante, ao longo de seu trabalho e na maior parte de seus
textos, é a lucidez e profundidade de seu pensamento, que apro-
A maioria dos artigos escritos nos úiiimos trinta anos a res' xima a arquitetura da filosofia. Assim, não obstante sua recomen-
Peito do tipo arddireionioo atribui a Quairomèro do Quincy sua dação para que os arquitetos retornassem continuamente ao tipo
rormdiaçaof Citando' freqüentemente' Pario dos textos da para evitar os descaminhos da arquitetura, sua preocupação pa-
Encyclopédie méthodiqwf, Pubiieada Por C- I' Panokodoko entre rece ter sido sempre mais profunda e filosófica do que a de uma
1781 e 1825, ou do Dictionnaire historique..., do próprio Quatremè- mora indicação de um ffesquolotoff da forma ou a do Suprimento
re' Pdbiicado em 1832' de dados para determinar um processo classificatório.
Aniho1'iY Vidierfi dm dos estudiosos que Vêm abordando o O simples fato de diferenciar o modelo do tipo, fazendo com
assunto, diz, entretanto, que o conceito ia existia anteriormente que esse Seja 9 princípjç, Qu a ”1050a” daquele, coloca o primei-
. . , A _ . .

com 'roiioraooes reiigiosad e tendo 'entre os, Piaroniooon dormi' ro na categoría de obieto visível, palpável, e o segundo, na condi-
çoes como a dada pelo dicionario da Academie française (1773) de ção de idéia, Conceito, princípio intangívol
,, . ,. _ . . . ,, .
que as ideias de Deus sao os tipos de todas as coisas criadas , in- César Naseuil em uma nota de seu amoo ~La tlpologla
formando/ ainda/ que a aproxmidoeo do enfoelde de Qdarremoro como elemento proyectual”,4 fala sobre essa ”intangibilidade”:
teria se dado com os textos de Ribart de Chamoust em seu traba-
1110 L'0rdr‹f un ais troiwé dans la nature- Dessa afirma às às uairsmêzzs sdemss inferir us em sua
. . . 2 .
"
Ç 'P q
Da mesma maneira ue Vidler, S lvia Lavin, outra P es Clui- idéia o tiPo é uma norma, uma lei 8eratriz interna abstrata,
_ l

sadora envolvida com o trabalho de Quatremère e de seu tempo, não referente ao guratzvo, nem ao visual geometrico. Posto que
conta-nos que tanto Iean-Baptiste Rondelet quanto Iean-Louis tampouco se depreende de seu famoso texto a natureza desse
Viel de Saint-Maux e Francesco Algarotti utilizaram o conceito L elemento que serve de fefšfe eo modelo/ evldenfemeoie Inter'
anteriormente ou ao mesmo tempo em que Quatremère estabele- no ao obleiof “ao indicando se ifa_ia'Se gd do espaço' ou da
da sua longa formulação funçao, ou de tantas outras materias so re as quais se cons-
A . . , truiu a noçao de tipo, evidentemente (Quatremere - nota mi-
Mas se essas precedencias tem o poder de asseverar a cele- - .
nha) refere-se ao poder estruturador desse elemento, nao impor-

í--í-
. - r ,, , ,,
bre afirmaçao de Quatremere de que nada provem do nada , tando Substância
elas lhe garantem o crédito de verdadeiro autor, em função do A

aprofundamento sistemático e das conotações por ele atribuídas


ao conceito de tipo.
` 3 Como lembra Anthony Vidler, op. cit., p.226: "O tipo tornou-se quase si-

í-iii
.

Embora Quatremere tenha abordado e reescrito O tema em nônimo da 'Idéia' celebrizada por Bellori e Winckelmann, um conceito
mais de uma 0Ca5Íã0 9 tenha, nessas abordagens/ Ímprímido um metafísico ao qual todas as manifestações físicas deveriam ser relacio-
nadas, mas apenas de forma imperfeita. Assim, de uma forma que até
então não havia tido tal consistência, of‹~tipo›››foi~d=istinguido do modelo;
este, ao implicar em 'cópia literal' no seu uso comum, tinha muitas co-
l VIDLER, Anthony. El espacio de la ilnstración, 1997, p. 219 a 223. notações do empírico, do físico e do mímico, para ser usado adequada-
2 LAVIN, Sylvia. Quntremère de Quincy and the invention of a modern lan- ¿ mente numa maneira filosófica”.
giiage of architecture, 1992, p. 90. 4 In: Summaries, n° 86/87, fev. /março de 1985, p. 34.

10 11
RONALDO DE AZAMBUJA Srizöi-IER QUATREMÊRE DE Qumcy E JEAN-NIcou.sLoUis DURAND

Em boa parte de seus textgs, Quatremère exige, muitas ve- rio, um modelo definido baseado nas experiências imediata-
zes, que se vincule as noções de imitação e de tipo a um processo mente Pfeeedenfeef Senlíez N°Y°nf Leenf-~ DO meeme mede
ou a uma soma de diversos processos que, de maneira simplifica- °Pefa O maeeffe de Cheftfee eem feSPe1t° e Beuftšesí aefee'
da , podem ser assim resumidos.. a Natureza fornece um Sítio e centando mais um anel (embora, desta vez, culminante) à ca-
um certo numero de materiais disponiveis para que uma deter- dela de examples amenoršs' avançando por um emo Cam
. . . , .. nho de depuraçao e aperfeiçoamento.
minada sociedade, cujo temperamento tambem foi por ela forja-
do a renda numa rela ao dialética a su rir suas necessidades . .
Os estudos feitos por Quatremere sobre as origens da ar-
.
' p ' Ç ' P
físicas e culturais de abrigo e de espaço para o convívio dos indi- . . . . , .
uitetura (e mais es ecificamente no caso da ar uitetura e i cia
_

víduos. Nesse sábio aprendizado, o homem acaba por criar uma q . p . q . gP ~ '
que ele pesquisou e analisou em profundidade) e sua vinculaçao
_

segunda Natureza que reflete sua inteligencia e sua sensibilidade . . . . , .


, _ , . com as origens da linguagem, a partir dos hieroglifos, devem ter
aplicadas na soluçao dos problemas que a propria Natureza . , ~ . .
criou transformando arquitetura ele d Zida Hmásca contribuido para a melhor compreensao do conceito de tipo e de
I o u - . . _
,, 5 sua estreita ligaçao com o conceito do caráter arquitetônico.
ra embelezadora da necessidade
j

` _ Ao representarem uma linguagem mais próxima da lingua-


Mas como não seria razoável uma nova invençao da Natu- . , . . . . . , . . -
_ gem pictorica primitiva, isto e, mais distante da abstraçao dos ca-
reza a cada geração, numa sociedade onde não há intervençao de . . . . .
racteres chineses e mais ainda das letras e palavras atuais, os hie-
fatores externos com ete aos 'ovens manter aceso o rocesso de , . , . . . .
ro 8 lifos, alem de terem maior comunicabilidade na medida em
_

~ ' P J P
-
cria ao dos es a os e elementos ue se mostraram ade uados ao .
Ç P Ç q q que “fala-se melhor aos olhos do que aos ouvidos",7 possuem a
exercício da vida e ao desenvolvimento das atividades sociais. . . ~ . , . .
_ . _ facilidade da representaçao direta e numa unica imagem, tanto
De certa maneira, esse processo e sua continuidade pare-
. , , , 6 de dados físicos concretos quanto de conceitos relativamente
cem bem resumidos por Carlos Marti Aris, quando afirma:
abstratos.
Enquanto o saber tradicional da arquitetura manteve sua vi- l_ _ESâa leme de escritura' ao ãosslblhtâremonstra
a Slmples matei-ld'
gênoial o homem veio utilizando, do um modo direto o ¡mo_ izaçao e i eias razoave mente a .stratas,. necessi- a

diato, a experiência precedente. A arquitetura era então uma dade de due t°d° e qualquer C°nCe1t° Preclsaf Para seu entendl'
' arte eminentemente coletiva, cujo exercício dependia estreita- menm 9 dÍVl-1183-Çã-0/ alguma P055ÍbÍ1Ídad-e de fepresentaçã-0 físi'
mente da e×i5iên¢ia de mgdeløs ngrmavos dgs quais par- ca. Ao lidarmos com a arquitetura, na qual todas as abstrações
tia-se sempre, como algo certo e firmemente estabelecido. acabam por concretizar-se na forma de um edifício, de um monu-
ASSim, quando 0 mestre da Catedral de Bourges defronta-Se mento ou de uma cidade, as idéias, além de forçosamente preci-
COH1 21 COHSÍYUÇÊO 61° edÍfÍCÍ°z nãe Parte de alguns dades abs' sarem da transposição física, necessitam legitimar, perante o
tratos e carentes de forma; seu ponto de partida é, pelo contrá- usuário, a identidade dessa tranSpoSíçãO_
Quatremère teve consciência de toda essa dialética entre
objetividade e subjetividade ao recomendar que a única possibi-
Conforme definição de Iean le Rond d'Alembert, citado por Anthony
5
Vidler - op. cit., p. 42. ._.___.m
6 MARTÍ ARÍS, Carlos. Las wiriaciones de la identídad - Ensayo sobre el tipo
en arquitectura, 1993, p. 138. 7 Jean-Jacques Rousseau, citado por Anthony Vidler, op. cit., p. 207.

12 13
RONALDO DE AZAMBUJA Srxöi-raiz QUATREMÊRE DE QUINCY E JEAN-NicoLAs-Louis DURAND

lidade da arquitetura era o retorno aos princípios fundamentais de uma Cabeça? (Quffemèfe de Químyz De l'ímíf“fÍ0n-~- P-
que a originaram. UX' LX)
Parece-me, assim, que seu conceito de tipo, por mais que
possa ser traduzido em formas ou esquemas materiais I refere-se Dessa forma'
, , la a peter de Quatremere' p°de`Se detectar
essencialmente ao processo de aprendizado das lições da Nature- uma earaetenstlea mareante que tem aeempanhade O eeneeíte
za / aplicado às necessidades físicas e psicológicas do ser humano ate Os dias de hole e que e' justamente' a eentrapeeieãe entre °
num determinado estágio de sua evoiuçãa abstrato e o concreto, representada pela dificuldade em traduzir
Não resta dúvida de que O conceito ganhou com Quatremè aquele ll germe /I num esquema de forma razoavelmente compre-
re uma consistência que, sem afastá-lo de cogítações filosóficas enslveãlj,
precedentes, vinculou-o à própria idéia de fazer arquitetura. Ja meeme
II Quatremere'
antee e eiuan ° O tipo 1, _ene81`
Í/
As dificuldades em lidar com uma idéia tão abstrata e, ao ea se eem por Deus eu eem O Arquehpo' 0
as eelses enadas
mesmo tempo, tão associada à exempiaridade do modelo Ze_ conceito precisa necessariamente livrar-se de toda a abstraçao e
i

ram com que, em alguns trechos de seus textos, Quatremere ti- × materializar-se numa imagem concreta ' visível. A observação fei-
vesse que aproximar a filosofia da materialidade, principalmente É por 31 eret na Êneye fpe perííee Iflestrâr âssa necessidade
Ze

porque seu objetivo, mais do que filosofar, deveria ser o de orien- e pre uz” uma a straeae a part” e Vamos a Os eeneretes eu'
tar a prática arquitetônica / ou pelo menos I o de reconduzir a prá-
1 inversamente' a de eenereezar' num exemplar' a abstração de
_

tica arquitetônica aos sólidos caminhos originais. Assim, no meio um eeneelte'


de textos abstratos, encontraremos algumas passagens mais obje-
. O Senhor Winckelmann observa que (...) os gregos haviam al-
tivas, como, por exemplo:
cançado a beleza ideal em todos os gêneros (...) observando
. . . . habitualmente gente bonita nos ginásios, nos anfiteatros, nas
Aplicamos ainda palavra tipo, na arquitetura, a certas for-
a
_ , _ , , , termas (...) Esses re o 5, tal como as abelhas ue fazem seu
mas gerais e caracteristicas do edificio que as recebe. Essa , e g . q . .
, , _ , _ mel com o nectar das flores, combinaram os olhos mais admi-
aplicacao cabe perfeitamente nas intençoes e no espirito da , . . .
raveis com a mais perfeita das bocas, etc. ; e compuseram, des-
i teoria precedente. De resto, ainda podemos, se desejarmos,
, _ _ sa maneira, um tipo (itálico de Vidler) de beleza no gênero fe-
empregar muitos usos proprios a certas artes mecanicas, que minimo (A ud Anthon Vidie Cit 221)
podem servir de exemplo. Ninguém ignora que uma quanti- ' p y r' P' "P
dade de móveis, de utensílios, de vestimentas, tem o seu tipo . , _
, .
necessario baseado no emprego que deles fazemos e nos usos Por isso, o que um grande numero de abordagens da noçao
naturais aos quais os destinamos. Cada uma dessas coisas de tlpe' apos Quatremer e' pel-eee reetlr eum? especie de matem'
tem, na Verdade, não seu modeioi mas seu ti-po, nas neceSsi¿a_ alizaçao do processo com Vistas a sua aplicaçao ao exercício pro-
des e ua natureza' Maigiado aquilo que O espiiiiu iudusuiai fissional cotidiano. E se alguns autores mais recentes têm manti-
bizarro procura inovar nesses objetos, contrariando O insiinis do fidelidade ao seu enfoque filosófico, parece-me necessário
mais elementar, quem não prefere num vaso a forma circular
à poligonal? Quem não acredita que a forma das costas do ho- _'___-_í_*
mem deva ser O tipo de eneeste de uma cadeira? que a forma 8 Termo que pode ser definido como "modelo de seres criados; padrão,
arredondada não seja o único tipo razoável para o penteado exemplar, modelo, proiótipoff (dicionário Au,.¿¡i0)_

14 15
c RoNALDo DE AZAMBUJA STRÓHER QUATREMERE DE QUINCY E JEAN-N1coLAs-Louis DURAND
É

contrapor às realizações de Quatremère, o trabalho - tão impor- Declaradamente, a preocupação de Durand era a de tornar
tante para os rumos da arquitetura quanto o seu - de um ”prag- o exercício de projeto uma atitude prática e objetiva, profunda-
mático" contemporâneo: Iean-Nicolas-Louis Durand. mente envolvida com a racionalidade e a economia da constru-
O trabalhe de Durand, que foi publieadg pgueos anos antes ção e em contraposição direta com os ideais artísticos e subjetivos
do de Quatremère9 e cujos dois tratados não mencionam direta- que caracterizavam antecessores e contemporâneos seus tais
mente o conceito de tipo, parece-me em boa parte responsável C0m0 B0ullée Ou Ledøux.
pela materialização a que me refiro. E apesar de boa parte do material contido em seus dois tra-
tados reetirem uma prática de amostragem e de comparação
$› entre prédios exemplares do passado, já encontrada em trabalhos
como os de Fischer von Erlach e Iulien-David le Roy, foi justa-
it
A egndiçäg de prgfessor, a partir de 1796, na recém-criada mente o processo. de simplificação geométrica das diversas par-
I ' alungs tinham egmg uma das
Eeglg Palytechnique de Paris, eujgs
z
tes componentes do edificio e a reversão representada pela mar-
metas exercer a engenharia e todos os processos relativos à cons- Che ä Sblívfe, que parecem Constituir-se na maior contribuição de
-
trução inclusive o mais subjetivo deles, isto é, o processo do Durand-
A

-
projeto em colônias francesas distantes da civilização européia, Emb0ra alguns tratadístas já tivessem, anterior e contem-
fez com que Jean-Nicolas Louis Durand precisasse desenvolver perâneamente, m0Strad0 que um edifício era composto por par-
um metade bastante Objetivo para a pratica pr0ssí0na1,*° tes (ou elementos de arquitetura, segundo Durand), cuja vincula-
ção ao todo dependia das regras culturais vigentes e, cada vez
___________.___ mais, do arbítrio e da criatividade do arquiteto, ninguém até en-
tão havia dissecado o processo do projeto e reduzido ao mínimo
9 Os dois tratados de Durand foram publicados originalmente entre 1799 sua Subjetividade tal como O fez Durand
e 1805 e, a esar de arte dos textos de Quatremère á a arecerem na edi- 1 . . . .
E claro
que al_g o de subJ etivo P ermanecia no ato P roJ etual '
P P . . J P
ção de 1788 da Encyclopédze méthodique, sua formulação completa do
conceito de tipo arquitetônico parece só ter sido consolidada por volta P015 Come O Pmpne Durand reconheceu/ de Posse de todos 95
F
de 1325, elementos de arquitetura e bem treinado na marche à suivre, o ar-
1O Evidentemente, essa condição de preparar engenheiros para projetar quiteto dependia ainda de uma eSpeCial habilidade para "juntar
em locais distantes não pode ser considerada a principal causa do traba- todas as peças" do processa A própria análise dos projetos p1.O_
lho desenvolvido por Durand. As várias descobertas no campo da físi- postos por Durand mostra Comportamento bastante Clássico
ca, que associadas ao incremento tecnológico faziam da recém-criada _

profissão da Engenharia um ramo de Conhecimento em que' além de na composição dos elementos, distanciando-o bastante do ecle-
mais descobertas, entrevia-se a perspectiva de que tais descobertas con- tÍ5m0 que enC0nt1`a1`Íam95z PÔT e×emP10z 110 COT1t€mP01`âI1€O
duzissem a resultados que efetivamente contribuiriam para o progresso Iean-Iacques Lequeu em seu Rendez-v0uS de Bellevue.
da sociedade - em contraposição à subjetividade filosófica das experi-
ências arquitetônicas e a própria crise pela qual a produção da arquite-
tura vinha passando desde o primeiro quarto do século XVIII -, soma-
ram-se à prática dos tratados que se preocupavam em ilustrar os pré-
dios exemplares (muitos deles há pouco descobertos) sob uma ótica de
í---í-
samento excepcionalmente perspicaz e racional que era característico
crescente domínio da geometria. Some-se, ainda, a esses fatores, o pen- de Durand-

16 17
Í
I

i
RONALDO DE AZAMBUJA STRÕHER QUATREMÊRE DE QUINCY E JEAN-N1coLAs-Louis DURAND
l
K Mas Se, POI' um iaCi0z a SUbÍetiViCiäCie na eseeiha de Pa1'ÍeS quitetura. Por essa razão, ele teria achado necessário eliminar
componentes de um projeto apresentava uma liberdade desco- traços individuais ou acidentais, sujeitando as representações
nhecida, que conduziu ao Ecletismo, pelo outro lado, a mesma li- dos edifícios a umprocesso de regularização. Nesse c0nte×t0z
berdade representava o drama da perda de referências e normas 05edificios antigos Pioifiani o maior iai de fondo Com o quai
a partir das quais o objeto arquitetônico poderia ser criado.” Ddfand f“i×oi'nPiiiioaVa a Sistematização do oonnooiinonio ai'
Assim, se os tratados que mostravam os prédios antigos de- quiieiomco'
senhados lado a lado, indicando maior ou menor quantidade de
detalhes, encaixavam-se dentro do processo convencional de De forma mais ou menos semelhante, Werner Oechslinii
~
criaçao arquitetônica a partir de modelos precedentes, os trata- também mostra essa “má-interpretação” de que foi alvo o traba-
dos e métodos disponibilizados por Durand tinham a vantagem lho de Durand:
de não só apresentarem os modelos do passado, como também, a , ,
A tabela de Durand Ensemble d ediƒices résultant des divisons du
essência geométrica desses modelos reduzindo-os a um esque
'
ma de forma que acabou sendo identificado com a “tipificação”
' quarré, du parallèlogramme, et de leurs combinaisons avec le cercle,
publ.ica d a em seu P recis
z- d Z z . h b
e eçons, e vista a itualmente como
do Predio- um exemplo dessa concepção estreita da tipologia, que trans-
Leandro Madrazo exemplifica essa esquematização, ao d1- forma a base sólida da linguagem universal da geometria
Zerí para aplicá-la, de uma maneira tão adulterada quanto possí-

n-
vel, aos objetos arquitetônicos concretos. A relaçao direta fei
Pode-se afirmar que o que Durand estava pretendendo com a ta por Durand entre Configurações geernétrieas (puras) e Q
simplificação e regularização dos desenhos era usar os edifíci- preeesse de prejete, emerge elararnente tante da tabela citada
os individuais para ilustrar alguns princípios genéricos de ar- do Précis quanto da justaposição de figuras geométricas e ti-
pos arquitetônicos, na segunda edição da tabela, em 1813.
Na verdade, um exame mais acurado mostra que Durand não
representa, de forma alguma, apenas uma contraposição à
11 No artigo "Durand and dia oonnnniil' of iradidonuf in MIDDLETON' discussão "histórica" de Quatremère de Quincy sobre o con-
Í Robin. The beaux-arts and the nineteenth century architecture, 1982, Werner
ceito de tipologia. Tampouco Durand fala somente de uma
Szambien, após citar vários ”títulos" atribuídos pelos historiadores a ,,r d _ étr. d .t t ,, A tr, . el
Durand dentre eles o de novo Vitrúvio e o de responsápel pela ruptura e uçao geom ma a arciul e um' O Con ano' e preo
' - clássica em arquitetura, lembra um aspecto importante de
da tradiçao cupa-se em esclarecer o relacionamento entre uma tipologia
sua conduta para a ”desmistificação" do ato projetual quando diz (p. Concreta (nisiofioainonie) o×i5ienio 9 a "forma geral" baseada
21): "Era típico de Durand adaptar o projeto de outros. Por toda a parte nas ieis Universais Cia geemetfia- 0 que Pareeiaz na tabela de
ele adaptou arranjos tradicionais às suas próprias idéias, reduzindo to- 1802, um CÍGSGHVOÍVÍITIBHÍO Pufâmenfe eUCiÍCiiaI10 da f0I`1Tl-az
das as composições a formas elementares, estandartizadas, tais como o inserido dentro da corrente de tentativas de classificação que
círculo e o quadrado, constituídas por um padrão repetitivo de unida- foram extremamente populares a partir do século XVIII, trans-
des básicas. Durand não apenas corrigiu originais, ele reduziu plantas a
diagramas abstratos, deixando muitas vezes de mencionar a fonte de
seus exemplos e mesmo suas funções".
12 Leandro Madfazof no artigo iniiiniado "Durand and the Science of 13 Werner Oechslin, no artigo ”Premises for the Resumption of the Discus-
Architecture” (1994f P' 13'14)- sion of Typology”, in Assemblage, n° 1, de outubro de 1986, p. 45/46.

18 19

L
RONALDO DE AZAMBUIA STRÕHER QUATREMÊRE DE QUINCY E JEAN-NIcoLAs-Louis DURAND

t0fma'se/ aPÕs uma rigeresa °b5ei'VaÇa°z numa tentativa Cui' derá ter a devida isenção para analisar a obra sob aspectos que
Ciadesameiite rieseriveiviea Para iegitimar as eeiiiiguraeees não lhe seriam permitidos caso houvesse um envolvimento dire-
arquitetônicas mais cempiexas' Apesar da natureza eiemen' to, existe sempre o conceito de que a crítica e a teoria, mais do que
tar das figuras geométricas mostradas, mesmo nessas formas . _ _.
uma investigaçao de fatos consumados, sao um instrumento
_

simples, podemos imaginar o pensamento arquitetônico sub


jacente Durand nos revela isso na versão revisada da tabela-I
u para a prática profissional futura'
de 1813, onde figuras geométricas (puras) simples e seus cor- Pode-se, assim ' afirmar que o trabalho de Durand pro-
relatos arquitetônicos na forma de tipos Completamente de_ põe-se decidida e declaradamente a ser tal instrumento na medí-
senvolvidos, são apresentados juntos na mesma ilustração. eia em que es exempiares de Passado sae simpiirieaeiesf esque'
matizados, reduzidos e decompostos em partes, numa espécie de
‹$› "anatomia arquitetônica". Essa sistemática faz com que eles se-
jam completamente desvinculados dos sítios e das condições físi-
A Comparação dos trabalhos de Durand com Os de Qua- cas, culturaise tecnológicas em que foram gerados, facilitando al-
1

1
×
tremere de Quincy pode parecer impertinente, já que, na verda- guns aspectos analíticos, mas, sem qualquer dúvida, contribuin-
de, existem diferenças radicais nos enfoques dos dois autores ue Para e esqueeimeiite eu eieseerisideraçae de muites des meti'
com respeito à teoria e à prática da arquitetura. Ves Peies quais aqueia arquiteiur a rei Preeiuziria-
O trabalho de Quatremère é composto por textos não ilus- Dessa maneira/ Parecem iiae mteressar aDurariei as eeiieiieees
trados, ao contrário do de Durand, em que as ilustrações consti- esPeeirieas e e Preeesse euiturai que Preeiuziram es e×emPies Per
-
tuem-se na grande eloqüência quase todos os trabalhos recente- eie apreseiitaeies- Se existe aigum Pr eeesse imPiieite em sua te0fÍã,
mente publicados sobre Durand fazem extensivos comentários esse e e da raeieriaiieiaeie ua ariaiise das termas e Veiumes Para ue'
sobre seus desenhos e pouco sobre seus textos,“ o que me parece fiiifšae de esquema geemetriee _ eu eia marcha ri suiere ¬ mais aee'
evidenciado em observações como a de Werner Szambienzis "Eu quaeie Para gerar e esPaÇe que nessas iieeessiriaues mimaiias re'
ignorei a teoria de Durand, uma vez que seus exemplos nem querem efiium seguriee raaemeritef aPiiear es eiemeiites de arquite'
sempre coincidem com suas exposições teórícas." tura e/ eu de eemPe5iÇae que e geste Pesseai de arquitete luigara
Embora a maior parte da crítica arquitetônica se faça sobre mais aeiequaues Para I/Ve7surem" e esquema resuitarite-
projetos /prédios existentes, numa espécie de visão posteriori 11 Caries it/iarti Arisz ae raiar de trabaihe e da mfiueiieia de
que permita um distanciamento crítico em que O Observador P0- Durand, manifesta sua contrariedade com a falta de um princípio
que estruture esse conjunto de elementos:

14 Acrescente-se a isso o fato de que o texto final do Recueil et purallèle.. 16 A expressãoElementos de Arquitetura que se refere a pilares, colunas,
um 1'€SUlT\0 Cie um t€Xt0 €SCfit0 POI' l- G~ i-egfad Para Sua HÍSÍOÍTC 85115' cornijas, portas, janelas, etc..., faz parte das definições formuladas por
AnÍhOny
Tale de l,I1TChÍÍ€CÍllf€..., S€gUndO ÍnfOI'Í1'la HO artigo "The Durand em seu trabalhgl 05 ambientes/gspaçcs pør eles confgn-na-
Idea of Type: The TrãnSf0rmafi01'1 Of the ACâd€mÍC Ideal, 1750-1830" dos e que aparecem nos desenhos dos dois tratados, constituem, de
(mí ÕPP05ÍtÍ0"5z 11° 8/ Primavera de 1977, P- 107, n0ta 24 ' NGW Y0Ti<¡ MIT acordo com definição posterior (segundo estou informado, de Julien
PreSS,1977). Guadet), os Elementos de Composição.
15 Werner Szambien, Op. Cit., p- 33- 17 Em Las variaciones de la identidad, 1993, p. 140.

20 21
RoNALDo DE AZAMBUJA STRÓHER QUATREMERE DE QUINCY E JEAN-N1co¡_As-Louis DURAND

Sem embargo, no papel predominante que Durand atribui desconexas, a idéia criativa, ou imagem, é um meio de expres-
aos elementos, reside a principal debilidade de sua teoria. sao que permite a percepção de coisas e eventos diferentes
Cita-se com freqüência uma frase em que Durand, ponderan- como um todo, como algo coerente.
do a importância dos elementos, assinala que estes são para a
arquitetura ”o que as palavras são para o discurso e as notas Assim, a diferença de enfoque entre Durand e Quatremere
para a música”. Se aceitamos os termos em que esta analogia e extrema, na medida em que o aprofundamento filosófico feito
esta' proposta, poderemos dela extrair importantes conse
s
por Quatremere conduziu a uma abordagem onde as condições
qüências. Com efeito, do mesmo modo que resultaria inacei- específicas e o processo gerador são fundamentais para a com-
tável definir o discurso como uma mera combinação de pala- preensão da obra e para e possibilidade de reprodução de seu
vras ou a música como uma simples justaposição de notas, processo.
â
também, ao privilegiar univocamente 0 caminho que leva dos
elementos ao todo, como modo de construir a arquitetura,
%
corre-se o risco de empobrecê-la e desnaturalizá-la.
z
Para que exista musica, discurso ou arquitetura, não bastam
¬

os elementos; requer-se também uma estrutura, uma idéia ge-


Por isso, independentemente da abordagem, estabelece-se
ral que governe as relações que existem entre eles, em função a constatação de que ambos os teóricos, tanto direta e intencio-
de determinados objetivos. A estrutura manifesta-se por nalmente, como é o caso de Quatremère, quanto indiretamente,
meio da reunião dos elementos mas, de certo modo, os prece- como aconteceu com Durand, acabaram por vincular seus traba-
de. Ela é um princípio ordenador, capaz de fazer com que os lhos à idéia de tipo e, de certa forma, as diferenças nesses vínculos
elementos desempenhem o papel que lhes corresponde: uma parecem mostrar toda a complexidade e as múltiplas possibilida-
idéia nuclear que move a mão do artífice. Essa estrutura, que des de interpretação do conceito.
no caso da arquitetura coincide com seu princípio tipológico, E, também, independentemente das qualidades e defeitos
resulta ser, assim, a grande ausente na teoria de Durand. intrínsecos, tanto o trabalho de Quatremere quanto o de Durand
representam uma resposta ã crise da sua disciplina no século
Da mesma forma, Edson Mahfuzm manifesta seu ponto de XVIII. E seus diferentes posicionamentos reetem a polarização,
vista com respeito ao processo do projeto' comentando a necessi- freqüente em momentos de crise, que fez com que um deles pro-
-
dade do poder de estruturação no caso, a cargo da imagem: curasse na história e na filosofia e, o outro, na ciência e na tecnolo-
gia, as possibilidades para solução do problema que tinham em
Aqui chegamos a um ponto importante, pois nos damos conta
comum.
de que toda obra de arquitetura deve possuir um conceito
Pode-se, assim, com base em tudo o que já foi dito sobre o
central ao qual todos os outros elementos permanecem subor-
dinados. Assim como o significado de uma frase completa é
diferente do significado de um grupo de palavras ou, como
trabalho de ambos, simplificar essa polarização dizendo que Du-
rand procurou a soluçao- .
no corpo da arquitetura, em suaenato-
\
uma palavra é mais significativa do que uma linha de letras mia visivel, ao passo que Quatremere perscrutou a alma da ar-
quitetura em busca dessa mesma solução.
____m_._._í____

18 Em Ensaio sobre u razão compositiva, 1995, p. 23.

22 23
RoNALDo DE AZAMBUJA Srnöi-:ER

Referências bibliográficas

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architecture. Cambridge: MIT Press, 1992.
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UFV/ AP, 1995. tipologia arquitetônica*
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1993.
Eneida Rípoll Ströher**
NASELLI, César. La tipologia como elemento proyectual. In: Summaries, n°
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OECHSLIN, Werner. Premises for the Resumption of the Discussion of
Typology. In: Assemblzzge, n° 1, de outubro de 1986.
QUATREMERE DE QUINCY, Antoine C. De Vimitation. Bruxelas: Ed. Introdução
A.A.M., 1980. (Reedição do original de 1823, coordenada por Leon Krier
e Demetri Porphyrios.)
l
O objetivo deste texto é a discussao sobre os temas tipo, ti-
SZAMBIEN, Werner. Durand and the continuity of Tradition. In: Middle-
ton, Robin. The beaux-arts and níneteerzth century architecture. Cambridge: pologia e modelo no contexto da arquitetura.
MIT Press, 1982. As discussões sobre tipo arquitetônico, que datam já do sé-
VIDLER, Anthony. The Idea of Type: The Transformation of the Academic culo XV, foram um pouco esquecidas e colocadas de lado com o
Ideal, 1750-1830. In: Oppositions, n° 8. Cambridge: MIT Press, primave- movimento moderno. Na década de 1960, a partir da retomada,
ra de 1977.
principalmente por teóricos italianos, das questões tipológicas
. El esp acio de la ilustraciôn . Madrid'. Alianza Editorial , 1997.
muitos profissionais, passaram a se preocupar novamente com
as contribuições que um estudo tipológico traria ao desenvolvi-
mento projetual. Várias opiniões foram levantadas, discutidas e
conceitos elucidados.

* Texto baseado em monografia apresentada na disciplina Pensamento


Arquitetônico Contemporâneo, ministrada pelo prof. Edson da Cunha
Mahful, PROPAR, UFRGS, 1995.

** Arquiteta com mestrado em Arquitetura, na área de Teoria, História e


Crítica da Arquitetura, PROPAR, UFRGS, é professora do Curso de Arqui-
tetura e Urbanismo da UNISINOS, São Leopoldo.

24 25

L
"
ENE IDA Rii=oi.i. Srizoriiaiz _ .
CoNsiDERAÇoEs soisiaiz o coNcEii'o DE i'ii=oLoGiA ARQurrE'roNicA

PI'etend.e'Se, basead) HO lÍeXtÓ de Rafael. MOHÊO I/De la ÍÍPO' posto, fica levantada a hipótese do apoio da
ISSO
z 1 ‹ _ . _

10815,/ lr trazendo/ 30101180 das eXP°51Ç°e5f °P1n1a0 de d1VeT5°5 ao processo de projeto, participando de uma metodologia de pro-
teóricos sobre o assunto. jeto
Moneo responde à sua pergunta sobre o que seja tipo, di-
zendo:
Conceito de tipo /tipologia
Talvez possa ser definido como aquele conceito que descre-
Rafael Moneo inicia situando a questão da obra arquitetôni- ve um grupo de objetos caracterizados por ter a mesma es-
ca, enfocada sob dois aspectos aparentemente antagônicos, vista fratura f0rma1- NãO SB frafa POÍS, Ham de um diagrama asa-
como um objeto único, original ou, por outro lado, como um ob- cial/ nem dO °bÍeÍ° médÍ° de uma Série- O C°nCeÍt° de ÍÍPÚ se
jetg que permita a 1-epetíbjdade, a produção em séria baseia fundamentalmente na possibilidade de agrupar os
Sob o ponto de vista de objeto único, como toda e qualquer objetos servindo-se daquelas similitudes estruturais que
forma de manifestação artística, pode ser caracterizada pelo que lhes Sao merentesz podena dlzer mduslve que O tipo permite
possui de particular e especial. pensar em grupo'

com b`t
.
Porém as obras de ar uitetura odem ser vistas tamb'
- q
,O .O Je Os que Sao pro uzl, os
P
d`d '
em.S_ene~ASS1m' rio decorrer
historia, foram sendo constrmdas edificaçoes repetidas, tentando
em
da
dade
.
. .
Com essa definição, vem à tona a questão da obra de arqui-
,. .
tetura como o objeto de uma serie e contra a ideia de individuali-
... .

atende 'd d d t . ' - ' . . . .

Ã; ÍÊSf§zÍͧ,°ÊÉͧ.zÍ p}^ɧÍiÍÍaãlíaÍ;.zÍÍzÉÊÃi“ͧÃâ`.fsd§e
.enVO1íÍ`.zÍÊÍ.ÍÊ1 O d° “P0 C°m° Paípate d° mé*.°d° °1@..Pf°1@E°
d . . _ . , . contra algumas argumentaçoes contra. A mais frequente e a de
ca a construtor, de modificaçoes trazidas tambem por materiais ou
_

que a escolha de um determinado tipo no processo de projeto li-


técnicas construtivas novas de novos re uerimentos ftmcionais . . . . . - _
' q e mita, tira a liberdade e induz a uma repetiçao sem reflexoes.
de no t ultur . ` . .

lg? âiäaiiifâtíira pãilissada nesses termos Rafael Moneo diz' . Rafae1MOneo eslabelece' porém' que)L.1St,a.mente O Concelto
' ' de tzpo, tal como ele interpreta, traz uma ideia de mudança e
”...a essência do objeto arquitetônico se encontra em sua repetihif- _ . . . _
1. d transformação. Afirma, ainda, que a repetiçao de certas formas
i ade ,, z

S
ob
É ponto .ustamente
'tdt' J q
'tt
P
ri inar as d.iscussoe
.

re.: O Concel O .e IPO em arqul e um' Ou, Sela' qualquer Obra de


arquitetura permite ser a base para outra igual ou semelhante, e
g
'
. _
S
q
do de tipos, diz:
.'..
nao deve ser creditada a utilizaçao do tipo, mas prefere pensar
. .
ue ” ara identicos problemas 1denticasformas”.4
P..
. A . .

. .
Giulio Argan, a partir da defmição de tipologia como estu-
entre a igualdade ou semelhança. Moneo e outros discutem os
conceitos d ' ' . .
Portanto a tipologia, entendida tanto na acepçao comum
_ _
e mødelo ou tipo' respectlvamente'
_

`
como na específica da história e da crítica de arte, considera os

1 MONEO, Rafael. De la tipologia. Summarios, 79, julho, 1984. 3 MONEO, Rafaej Op Gif” p_ 15_

'2 MONEO' Rafael' Op' cl-t" P' 15' 4 MONEO, Rafael. Op. cit., p. 16.

%
26 27
ENEiDA Rirou. STRÓHER CoNsiDERAÇoEs soBRE o coNcEii'o DE 'nPoi.oG1A ARQUHETÓNICA

objetos da produção em seus aspectos formais de série, devi- esquemas formais, formas ornamentais, etc., e que tais agrupa-
dos a uma função comum ou a uma recíproca imitação, em mentos não têm finalidade de juízo de Valor nem de definição
contraste com os aspectos individuaisf histórica. .

Como tipo, Argan define:


No caso, os aspectos individuais caracterizariam a obra
ÚHÍCE1, COI1Cre'Câ. O tipo se configura, assim, como um esquema deduzido me-
Argan expõe as relações entre as obras de arte e 3 adoção de diante um processo de redução de um conjunto de variantes a
um tipo estabelecendo um paralelismo entre tipologia em arqui- uma f°fma'baSe 011 esquema wmum-
fofura e a iconograa nas artes guraVa5_ O tipo é um modo de organização do espaço e de pré figura-
ção da forma e em conseqüência se refere sempre a uma con-
Considerada pois ao nível da produção artesanal, a tipologia ce_pçã° hístófica do espaço e da fuma' ainfla se se aflnfije que
aparece como uma eondiçãø Ou uma componente concreta da tais conçepçoes mudam com o desenvolvimento historico da
produção mesma, e como condição ou componente não elimi- cultura'
nável porque a eleição de um tipo substitui o projeto ou ao
menos uma fase notável do processo relativo. A configuração Werner Oechshn refere'Se a Argan C°m° quem teve O mé'
tradicional do objeto, da qual toma movimento a obra artesa- rito de recolocar em discussão o conceito de tipo / tipologia em
nal, está fixada P elos costumes e P or exi 8ências funcionais ez 1962 e tece al umas críticas sobre a osí ão de Ar an em rela ão
verossimelmente, corresponde ao pedido dos consumidores, à importância da tipologia e sua ligação ao método e à prática de
P610 que P0de C0I1S1C1erar-Se, em riger, um fenômeno de inër- projeto. Critica também a comparação estabelecida por ele entre
cia; porem ha casos nos quais a escolha e realizada consciente- tipologia o íoonología, ressaltando que é dado um enfoque fun-
pientelpelotarltistp, tendpl em vista um determinado objetivo cional na classificação dos tipos arquitetônicos. Estima que o fa-
o m ' ' ' ' '_ , , ,
i al e ls O as a par? elfuinstfar a lmposslblhdade
minaçao do problema tipologico.
de eh
. . . .
tor de analise sob o ponto de vista historico e artistico distanciou
, . . _ . . .
. . .

' o enfoque tipologico do processo de projeto, nao permitindo um


Pode-se entender aqui que a utilização de determinados ti- esclarecimento das. relações tipo. X método de projeto'
pos independe, muitas vezes, de uma vontade consciente, mas ela
Nao se oderia deixar de citar Nicolaus Pevsner e seu trata-
,, . . P . . . , . ,,
faz parte do conhecimento de cada um e depende de repertório do Historia de las tipologias arquitectonicas , que, segundo
' . 1 hi ,I d. ~ lh
individual que pode vir à tona em qualquer projeto de arquitetu- Ono BO gas' no pro 980 que escreveu para a e .lçao Gaste ima'
ra. demonstra um entendimento completamente diferente de tipo-
.
Argan argumenta, ainda, . , . . , . lo ia. OriolBohí as diz sobre o ue Pevsner conceitua:
que o criterio tipologico nunca g g q
leva a resultados definitivos e define com maior pragmatismo
que se pode fazer agrupamentos por tipos funcionais, estruturais,

7 ARGAN, Giulio Carlo. Op. cit., p. 4.


5 ARGAN, Giulio Carlo. Tipologia. Summarios, 79, julho, 1984, p. 2. 8 OECHSLIN, Werner. Premises for the Resumption of the Discussion of
6 ARGAN, Giulio Carlo. Op. cit., p. 3. Tipology. Assemblage, n° 1, outubro, 1986.

28 29
.

ENEIDA RiI›oLL STRÓHER CONSIDERAÇÕES sosiziz o coivciairo DE i'ii=oi.oGiA ARouii's'roi×iicA

A tipologia é aqui uma mera desculpa de ordenação temática Werner Oechslin remonta ao tempo do vitruvianismo em
para alcançar outros objetivos (...) Ainda que Pevsner indique que discussões entre Alberti e Bárbaro ocorriam a respeito de
explicitamente que os objetivos da análise são o estilo, os ma- tipo e mQde1Q_ Cglgca também que a definição do Cgngeítg de
fefíais e as funções/ fica bem dam/ 3° 1°n8° d° 1ÍVf°f que 0 tipo em Quatremère é inconcebível sem considerar o precedente
tema Pfoemínente É ° e5tÍ1°'9 do questionamento clássico sobre a questão da forma e do tema,
assim como da integração da geometria euclidiana na arquitetu-
Um conceito completamente diferente dos anteriormente ra
Vistos' Segundo Oechslin, Henry Wotton, na publicação de 1624,
Pevsner, no prefacio do seu livro' destaca: of architecture, estabelece duas maneiras de abordagem
_Eleme11ts
do projeto, o histórico e o sistemático ou lógico, sendo que so-
A história dos edifícios em seus diversos tipos me fascinou
. . .
durante muitos anos, porque tal estudo dos edificios
, . mente o último permite extrair regras do contexto histórico e
permite
uma demonstração da evolução tanto de seu estilo como de transformadas em metodo de proleto'
sua função, sendo o primeiro tema da história arquitetônica e
. , .
o segundo da historia social.
_ w A palavra tipo não representa tanto a imagem de uma coisa
_ _ _ , _
que tenha que copiar-se e imitar-se perfeitamente, senao a
, idéia de um elemento que deve servir de regra ao modelo... O»
Confirmando assim a interpretaçao dada por Bohigas. . ~
' ' modelo, entendido segundo a execuçao prática da arte, é um
O que tem ficado, muitas vezes, de discussoes sobre tipolo- objeto que deve se repetir tal qual é; O tl-p0_ ao comráriq é um
gia é uma idéia simplista sobre a mesma, o conceito fica limitado objeto de aoordo como qual Cada um pode conceber obras
à classificação de formas e funções, perdendo sua riqueza ligada que não se assemelhavam em absoluto entre Tudo está
às tradições 9 à história/ SegU1`1d0 Õ€ChS1Í1'1~ dado e é preciso no modelo; tudo é mais ou menos vago no
tipo. Assim vemos que a imitação dos tipos não tem nada que o
sentimento e o espírito não possam reconhecer... Para tudo é
. . . ... . . f ' '
Primeiras discussoes sobre tipo em arquitetura I'l€C€SSâr10 um ãfEC€d€Hfez nada Sal dO nada-
11

Qualquer artigo que se leia sobre tipo/tipologia obr¡gato_ Rafael Moneo, analisando os postulados de Quatremère,
riamente deverá referir-se ao teórico francês do século XVIII, d1Z¡
Quatremère de Quincy. Rafael Moneo cita Quatremère como o
o tipo se identificava com a logica da forma, com base na ra-
primeiro teórico a discutir a idéia de tipo. '"_
zao e no uso, de maneira que podia pensar-se em todas aque-
las obras de arquitetura que ao largo da história haviam al-
cançado a categoria de típicas ao identificar-se com uma for-

9 BOI-IIGAS, Oriol. ln: PEVSNER, Nicolaus. Historia de las tipologias arqui-


tectónicas. Barcelona: Gustavo Gili, 1980, Prólogo.
----------í
10 PEVSNER, Nicolaus. Historia de las tipologias arquitectónicas. Barcelona: 11 Qllãffemëfe de QUÍHCY- Cífãd0 POI' MARTÍNEZ A1f0HS0 C01'011- 511511!/0
Gustavo Gili, 1980. sobre el proyecto. Buenos Aires. CP67, 1991, p. 122.

30 31
ENEIDA RIPOLL STRÕHER
CoNsiDERAçoEs soam: o cowcisrro DE rii=oi.oc;iA ARQUiii:rÓNicA

ma Precisa/ eram filhas daquela s“P°sÍa1Ô8ÍCa que as d°taVa Moneo salienta as diferenças na maneira de Ver e fazer ar-
de sentida a° ma5m° temP° que estendia uma P°“le em dl' quitetura entre Durand e Quatremère. Para Durand a arquitetura
reçãf” a° Passado' ('") O “P0 que elleenllava ella lazae ele eel reflete as mudanças exigidas pelos novos programas e à idéia de
' ' ' a d 'a ortanto ser con- - ,
?e Êläella' a llalugezle e O ueotnã O evinfa do obfeto . . .
composiçao ele vincula diretamente necessidades programati- . .

LlI`\lOCO1TlOI'l'lO €OâI`€€l OI'1'1eCâ


12

'
. ,_ ,_ . ,
l
_

P Ç cas. Seus criterios sao comodidade e economia.


Moneo afirma entretanto que no século XIX aídéia de tipo Dulanel elllenella que a lmpellanela elee elelllelllee de al'
foi modificada Sur' forèa déia de proglfama não quitetura (pilares, abóbadas, etc.) e suas formas já eram consoli-
' g ' dadas pelo uso e pela natureza dos materiais, cabendo ao arqui-
com arecia em uatremère e 0 conceito rínci al de orma-ti 0
P Q _ . '
da lugar ao de composiçao-programa.
P le le f teto, dentro dos criterios de economia e comodidade, e com auxi-
_ _
,
lio da composiçao, dispor esses elementos em seus projetos. Ele
_

E
A composição passava a ser O mecánismo capaz de resolver a oferecia como modelos uma série de soluçoes (escadas, pátios,
relação entre forma e programa, ou forma e função, comer- vestíbulos), as quais os arquitetos usariam para consolidar, por
tendo-se no conceito básico para entender a idéia de arquite- meio de uma composição adequada à futura edificação.
tura que aparece naquele momento.” ”... ele preocupa-se em esclarecer o relacionamento entre
uma tipologia concreta (historicamente) existente e a forma geral
Surge com esses novos conceitos a figura de Durand, pro- baseada nas leis universais da geometria”.l5
fessor da Escola Politécnica de Paris, que muito contribuiu para Durand propôs duas ferramentas, a partir das quais se ob-
desenvolvimento dessas idéias. teria uma composição adequada a cada edificação, independente
Corona Martínez destaca muito bem essa questao: do programa.
A primeira é o uso de uma retícula ou malha contínua e a
se °bss1`V°u que a ffadÍÇa° acadêmisa d° sé¢ul° Passada que segunda o uso de eixos para definição das partes e dos elementos
desenvolveu a técnica da composição elementar, e para tanto da edícaçãa
wntnbulu a° de5l°ã“?enC;° do “P0 Íome eíquema base' flae Desaparece, dessa maneira, a idéia de forma-tipo, como
^ ' '
fllepes uma leegleai ' ` ` s as com osi oes' ,
eDllal aãala lea lzalfom šenülfio ' .
precedente para proieto, . ~ .
e sera usada a composiçao pelos eixos e
a Vez pOrque, es e uran. , COITIPOI' _ _
, . . . _ .
era a destreza especifica do arquiteto, e sua transmissao devia retículas para solucionar novos programas.
dar-se pelo exemplo na intimidade da relação entre mestre e Segundo Alan Celqullollllee la ne flnal de seculo Xvlll' Os
alunos 14 arquitetos começaram a falar em "crise" na arquitetura, quando a
tradição clássica começa a ser questionada em busca de novos
paradigmas para soluções arquitetônicas.

12 MONEO, Rafael. Op. cit., p. 17. 15 OECHSLIN, Werner. Op. cit., p. 46.
13 MONEO, Rafael. Op. Cit-, p- 13- 16 COLQUHOUN, Alan. Tipology and Design Method. Essays in architectu-
14 MARTÍNEZ, A1f01'\s0 C01`0na- EWWVÚ sobre el Proyecto' Buen°5 Aires- ral criticism, modern architecture and historical change. Cambridge: MIT
CP67, 1991, p. 122. Press, 1984, 6a ed.

32
33
ENEIDA RIPOLL STRÕHER CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE TIPOLOGIA ARQUITETÔNICA

Essa crise se estendeu durante o século XIX mediante as dis- pensada como um objeto que poderia ser produzido em série.
cussões que aqui estão sendo tratadas. Esta nova visão entrava em choque com os ideais modernistas,
que viam a obra de arquitetura como única, criada pelo gênio cria-
dor do artista a partir do nada, desconsiderando totalmente histó-
Movimento moderno e tipologia ria e precedentes.
De qualquer maneira, o conceito de obra de arquitetura
No início do século XX, um movimento, tentando definir como objeto único ou objeto produzido em série descarta total-
novos caminhos para a arquitetura, posicionou-se totalmente mente a idéia de tipo.
contra a teoria acadêmica do século XIX.
Assim, na obra de Le Corbusier se faz evidente a contradição
Os teóricos do movimento moderno rechaçavam o conceito que existe entre aquele modo de entender a arquitetura que a
de tipo, tal como ele havia sido entendido no século XIX, por- considera como um fato singular e único e aquele outro que a
.
que para eles era sinonimo de imobilidade, um conjunto de vê, simplesmente, como o resultado do processo ao qual cabe
l

restrições impostas ao criador, que para eles devia gozar de li- qualificar de industrial.”
berdade total.”
As preocupações com os programas e as funções deram ori-
Houve, nessa época, um movimento de menosprezo pela gem a uma vertente modernista, o funcionalismo, no qual a for-
história e pelas lições que a mesma poderia fornecer, e, conse- ma arquitetônica era uma conseqüência direta da função, estabe-
qüentemente, uma não-aceitação do tipo como precedente para lecendo novas regras para projeto.
projeto, Entretanto:
Era pensamento geral que a nova arquitetura deveria estar
vinculada a uma nova maneira de ver o mtmdo, refletindo os ...o determinismo biotécnico do movimento moderno era te-
progressos da era da máquina e as novas Condições de Vída_ leológico, ao considerar a estética da forma arquitetônica
Rafael Moneo cita Mies van der Rohe como um dos arquite- como algo que se °bfÍnha sem 3 Ínte1'V@Çã° Consciente dO
tos que demonstrou em seus projetos uma clara mudança de con- entretanto/ era Posfulada como sua fi'
Pf§{Jâf1âÍaz,â°f>fén";oq“e›
, . . ,. . .
ceitos. Mies se preocupava em definir um espaço plastico, abstra-
1:
na 1 a e u Ima
to. .
~ Moneo, a partir dos trabalhos de Alexander Klein, diz que
. .

A Mies nao o preocupavam nem as funçoes, nem os mate- ,, , ,


da forma do
_ _

um paradoxalmente a teoria funcionalista ia proporcionar as bases


' _ , _ ` . . ara um novo modo de entender a idéia de ti o”.21
A nova situação da industria em desenvolvimento criou P p
uma relação diferenciada entre a produção e 0 objeto que até en-
tao não havia acontecido. A obra de arquitetura começøu a Ser _í___
19 MONEO, Rafael. Op. CÍÍ., p. 20.
17 MONEO, Rafael. Op. cit., p. 19. 20 COLQUHOUN, Alan. Op. cit., p. 45.
18 MONEO, Rafael. Op. cit., p. 19. 21 MONEO, Rafael. Op. cit., p. 21.

34 35
ENEIDA R1PoLL STRÕHER CONSIDERAÇÕES soam; o coNcEiTo DE 'rii>oLoGiA ARQUITETÓNICA

2 z
Klein, em 1934, estudou a casa unifamiliar, sistematizando Os eS'fUd<_>S fÍP°1°8ÍC°_5 e urban” f°fam WCIUÍÉÍÍOS ÍmP°fta'
seus elementos e reconhecendo o valor do tiP0 como estrutura tes em mmha f°rma9a°' De fmma geral' °°n51der°'°5 aspec'
. . ~ - tos imP ortantes e fundamentais na forma ão do ar uiteto.”
subjacente, aceitando-o como uma contribuiçao do passado. Ele
_

Ç 9
estudou os espaços em termos de uso analisando dimensões, cir-
culações e orientação solar. No caso, o tipo modificava o conceito '

abstrato elaborado por Quatre m`e r e e ad quiria um


conceito flexí- _ . _ , .
Resolver a arquitetura em explicaçao metodologica supunha,
vel/ ad-aPtand0'Se a programas ela anos' naqueles anos, admitir que a arquitetura não era outra coisa
Il . . .
Para Klem 0 tipo la Ser/ ta e como O mterpre al/Em seus senão a expressão formal das diversas funções e que cabia es-
u 1

Contemlwrâneosf uma Iímítaçãf) ímP°5ta Pela história-I tabelecer mediante a arquitetura laços entre a realidade e di-
Mas da qual não se pode fugir. tas funções?

Segundo Moneo, Rogers, estudando a questão, chega a ex-


A partir da década de 1960 pressar o conceito de forma-tipo contra o conceito de método. Ro-
gers dizia que o conhecimento de tipo era necessário para conhe-
Na década de 1960, vários teóriçzos preocupados com o pro- cer a realidade e para fazer arquitetura é necessário a aceitação
cesso de projeto colocaram em discussão novamente os conceitos do conceito de tipo.
de tipo. Surgiram teorias para explicar a cidade como uma estru-
tura formal, que só poderia ser compreendida pela análise de seu E na Verdade que a identificação de um fip0 é uma eleição em
desenvolvimento ao longo da história. virtude da qual o arquiteto estabelece firmes laços com a so-
Segundo Moneo, Muratori postulava que o tipo era a chave Cledadef Por um 13010/ a um f°mP° que/ PCT °“'ff°› 3° atuar 5°'
para entendimento entre as formas da cidade e os elementos bre um determinad° tiP°"neCe55ariamente Vag°f inde“id°
. ,.
componentes da mesma, pelos estudos tipologicos era possivel
z - ao transforma-lo no inevitavel P rocesso de ada ta ão ue
Ç 25 q
_ nos leva ate o singular, se alcança o nivel do especifico.
um estudo morfológico da cidade.
l\(/íluäatori, nq estíuclto que lrlealizou do qesíinvolviínenctqnhtiš De acordo Alan Colquhouní
tórico e eneza, az o ipo ac ave para en en er a re aça
as formas globais e os diversos elementos individuais compo- Muitos crêemlnão sem Certa razão, que Os métodosintuitivos
IIGHÍGS da Cídâde- de projeto utilizados tradicionalmente pelos arquitetos se
Moneo diz que as idéias lançadas por Muratori serviram de mastram incapazes de abordar a Complexidade dos prable-
base para vários estudos tipológicos, que foram desenvolvidos mas a resolver e que, sem uns instrumentos de análise e de
por Aldo Rossi e um círculo de estudiosos, com a intenção de en-
tender a cidade na sua globalidade.
RÔSSÍ declaraí 23 ROSSI, Aldo. Ten Opinions on the Type. Casabella, 509-510, janeiro /feve-

. _
reiro, 1985.
24 MONEO, Rafael. Op. cit., p. 22.
22 MoNEo, Rafael. Op. cit., p. 21. 25 MONEQI Rafael- OP~ C”-1 P- 22-

sõ 37

Q
ENEIDA RIPOLL STRÕHER CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE TIPOLOGIA ARQUITETÕNICA

classificação mais refinados, o projetista tende a recorrer a loglca se llmlla a Produção de lmagens ou a feSlllulÇa° de ll'
exemplos anteriores para solucionar novos problemas, quer Poloãlas lfadlclollals- Pode se dlzeff Por úlllmof que é a nos'
dizer, a Soluções tipof talgia do tipo que dá consistência formal a tais obras.”

ossi,' no ina
' a e' a
eca , 1an ç Qu um cgngeifo mais
_
Essa ex osi ão remete às discussões entre orma-ti o e com-
sutil e complexo e também mais problemático para tipo, de acor- posição-programa do início do texto, e um novo Conceito parece
do com Moneo. Para Rossi, a lógica da forma arquitetônica reside ä0IãIz que Se P0deríâ ÍrâC1L1ZíI COI1101 O Pr0CeSSO de Pf0jet0 P215-
em uma definição de tipo baseada na justaposição de memória e Sã pela COITIPOSIÇÊO de SLÚDÍIPOS 0r1g1I1á1'i0S (10 ÍIPO f0III1â1-
razãO_ Oríol Bohigas, referindo-se a maneira como vem sendo uti-
lizado o conceito de tipo, como ferramenta de trabalho, reflete:

j Conceitos finais O erro dessa instrumentalização está em conceber a tipologia


como um meio de suprimento de certas formas/ modelos aca-
.. A . . . bados em vez de colocá-la no lugar adequado dentro do com-
t d t d t '
_

d b . . .
As Consequenclas do re esco “men O O concel O e IPO plexo processo de criação formal. Como diz Vittorio Gregotti,
_

foram muito pouco sentidas nas obras daqueles arquitetos que utilização do tipo ferramenta de trabalho condw
dizem respellar Ê questao opologlca' consldera Moneo' Clta O ziu a uma arquitetura de objetos autocontidos, sem conexão
exemplo dos Irmaos Krlerl com a edificação, com a distribuição de instalações, nem com
as condições específicas de seus estabelecimentos. E, final-
Aaslmf na obra dos lrmaos Krler a nova Vlsao da “dade en' mente, conduziu a uma reutilização inescrupulosa da tradi-
globa aqueles componentes estruturais que vimos na cidade ção Clássica, em detrimento do progresso metodológico e _
antiga; a cidade que eles desenham e um espaço complexo no pológico do movimento mOdemO_29
qual a relação de continuidade entre diferentes escalas e ele-
mentos é sua característica mais marcante.” já Carlo Aymoníno pensa;

I Molleo Coloca que elos apresentam uma Vlsâo llpologloa da é que, se transformarmos os estudos tipológicos de método
Cidade (do global Para Ú Pal7llCUla1`)/ mas a Cldade allllga/ efllen' de conhecimento em ferramenta projetual, estaremos prati-
dida como uma soma de elementos com identidade própria, que cando um grande avanço cultural; estaremos, por meio de so-
relacionava cidade, lugar e tempo por um conceito de tipo, desa- luções arquitetônicas, questionando os modelos e regulamen-
pareceu. tos que sobrevivem hoje como uma garantia coletiva mínima.”

Em outras palavras, a tipologia é assumida como um meca-


nismo de composição. O que hoje se chama investigação tipo-
í"""i'_"'
28 MONEO/ Rafael' Op- Citi

29 BOHIGAS, Oriol. Ten Opinions on the Type. Casabella, 509-510, janei-


ro/ fevereiro, 1985.

`
26 COLQUHOUN, Alan Op Citv p_ 43_ 30 AYMONINO, Carlo. Ten Opinions on the Type. Casabella, 509-510, janei-
27 MONEO, Rafael. Op. cit., p. 24. lo/feverellof 1985'

38

_ 39
ENEIDA Rrrou. STRÓHER CoNs1Ds1zAçÓEs soam: o coNcErro DE 'rrr›oLoc1A ARQUITETÓNICA

R0b Krier afirma; R€fEI'êl1CÍaS bÍb1Í0gI'áfÍCaS

Se for desprezada a fusão do edifício com sua herança cultu- ARGAN GÍUÍÍO Cã1'10- Tip010gíâ- 5lH11111l11'í0Sz 79, jU1h0z 1934-
ral, a solução será individualista e fútil. A arte da arquitetura, AYMÚNÍNÕ, CHTIO- Ten ÔPÍHÍOHS 011 'fhe Type- Csbllz 509-510, jãI1ei1'0/
a escolha dos tipos de casa e a configuração do corpo constru- fevereiro/ 1985
tivo têm seu início com a sobreposição consciente das cOndi_ BOI-IIGAS, Oriol. Ten Opinions on the Type. Casabella, 509-510, janeiro/ fe-

ções do terreno e das necessidades do proprietário; Armado COL`ãSeägë;;,5Àl


dessas premissas, cada arquiteto honesto logo estara em posi- . . . an 1,? O ogy an esígn Method' Essa?/_5 Í" Wehiteefuml
de obter Simples compreensível crztzczsm, modern architecture and hzstorzcal change. Cambridge: MIT Press,
. _.. c 31
' _ 1984, 63 ed.
Pendente a uma Sltuaçae Perneulee KRIER, Rob. Ten Opinions on the Type. Casabella, 509-510, janeiro/ feverei-
ro, 1985.
j Finalizando, Moneo diz que a COlOCaçãO típológica tradicio- MARTÍNEZ, Alfonso Corona. Ensayo sobre el proyecto. Buenos Aires. CP67.
` nal fracassou. E pergunta se terá algum sentido ainda hoje a preo- 1991-
cupação com o conceito de tipo. Entretanto reforça: “Porém en- MONEO' Refae1'De1atÍP°1e8Ía- Sllmmfíosz 79z1í}1h0z 1934~
tender Significa Conceito de tipo é todo hoje OECHSLIN, Werner. Premises for the Resumption of the Discussion of
' N32 Typology. Assemblage, n° 1, outubro, 1986.
tambem/ entender qual Sela e natureza da Obra de arquitetura- ROSSI, Aldo. Ten Opinions on the Type. Casabella 509-510 janeiro/ feverei-
E mais adiante: "A obra de arquitetura não pode ser consi- ro, 1935, ' '
deracla como um fato único e isolado, singular e irrepetível, uma
vez que sabemos o quanto está condicionada pelo mundo que a
rodeia e por sua história/'33
O conceito de tipo não pode ficar atrelado somente a ques-
tões formais ou funcionais, mas está ligado à história da arquite-
tura, assim como a especulações intelectuais, como modelo teóri-
co, abstrato, do qual o processo projetual possui uma interdepen-
dência consciente ou não da parte do arquiteto. Tomado como
modelo teórico, pode-se tornar eficaz ferramenta auxiliar no pro-
jeto.
O conceito de tipo inclui conceitos de história, teoria, criati-
vidade, forma, função, tecnologia, geometria, emoção, mudança,
repetição....

31 KRIER, Rob. Ten Opinions on the Type. Casabella, 509-510, janeiro/ feve-
reiro, 1985.
32 MONEO, Rafael. Op. cit., p. 25.
33 MONEO, Rafael. Op. cit., p. 25.

| 49 41

L__ _ ___....._..
~
A composiçao arquitetônica
em ambiente computacional
Estratégias projetuais e o processo de
ensino-aprendizagem*
;

Isabel Amalia Medero Rocha”

As estratégias projetuais e os componentes de subordinação, lógi-


ca e alta definiçao dos programas computacionais

O arquiteto expressa as idéias pela linguagem natural, lin-


guagem gráfica e linguagem arquitetônica, as quais equivalem,
respectivamente, à teoria, aos desenhos e à obra arquitetônicaf A
definição do partido como primeira síntese do processo de proje-
to, em que todos os aspectos importantes do projeto estão defini-

Í * Texto baseado em dissertaçao de mestrado da autora, apresentada no


Programa de Pós~Graduação em arquitetura. PROPAR. UFRGS. Porto Ale-
gre, novembro/ 1998. Os programas de computador e 0 processo de pro-
jeto na construção do conhecimento arquitetônico. Analogia entre operado-
res computacionais e projetuais.

** Isabel Amalia Medero Rocha, arquiteta com mestrado em Arquitetura

í
pela UFRGS, é professora no Curso de Arquitetura e Urbanismo da Uni-

_
versidade do Vale do Rio dos Sinos/ UNISINOS, São Leopoldo-RS.

1 SAINZ, Iorge. El dibujo de arquitectura. Madrid: NEREA, 1990, p. 21.

43
ISABEL AMALIA MEDERO ROCHA A coMPosicÃo ARQUITETÓNICA EM AMBIENTE coM1=u'rAc1oNAL
z

dos, corresponde à tomada de decisão, em que se assumem al- A aproximação ao objeto pode iniciar por uma modelagem
guns C0nCeíf0S COI110 dírefrílesz eXC1L1índ0-Se OUÍFOS POSSÍVGÍS tridimensional gerada a partir de figuras geométricas básicas (SD
conceitos, que também seriam soluções viáveis para atender às objects), operações booleanas de montagem e acoplamento (BD
necessidades apresentadas durante a parte analíea, na etapa array, union, subtract, intersect de regiões ou sólidos), transformações
programática inicial dO pr0CeSSO de pr0jeÍO- A ínferprefaçäe des- de entidades bidimensionais (extrude or rotate) ou por figuras es-
se que corresponde à adoção de um partido pode ser a adoção de cultóricas em que não se identifica a geometria básica. O opera-
um ÍÍPO arqL1íÍeÍÔniCO- dor pode também optar por uma modelagem tridimensional a
A fase de apr0XiInaçÕeS entre ideia/imagem/ObjeÍ0, HO de- partir do conceito de linha, ponto e plano (grid, na concepção de
correr do processo de projeto, faz-se pelas estratégias compositi- uma greina bi ou iridimensionai, geometria espaeiai e ou georne-
Vas, baseadas em "a1“ranj0s 1íVreS Ou em regras de COmbíI1aÇä0 C0- tria analítica), sempre com visualização e transformação em tem-
ClÍfÍCâClaS".2 P0 real,
A um Paffídd' É uma
aÇã0 Pr0jeÍL1a1 deC0f1`enÍe de "ad0'faI Esses procedimentos seriam viáveis, caso a opção inicial
decisão alimentada por componentes subjetivos e objetivos, con- estivesse referida na tridimensionalidade do objeto arquitetôni-
figurando, por meio da imagem, aspectos específicos e concretos co. Porém, a seqüência dos principios adotada inicialmente pelo
que definem a C0nCePÇãO bäSÍCa dO Pf0ÍeÍ0z Ç[UãI1Í0 f0fmaz à Ê1 arquiteto pode referir-se a outros procedimentos. Podem deri-
C0mp0síÇã0 e ã COnSt1TL1Çã0-3 AS questões de quisz 007110 e P07' QUÊ var de um contexto físico, uma citação tipológica do entorno,
Os dades pOdería1n ser in'fr0dL1Zíd0S nO C0InPUÍad0r Pe10 GSÍU' um acidente geográfico, algum aspecto cultural ou tecnológico
dante são cruciais no processo de desenho e projeto de arquitetu- do sitio onde sera inserida a proposta, Em eada um desses enfo-
Ia‹ ques, o uso do computador implicará uma abordagem específi-
A seqüência dos princípios projetuais é um dos fatores em ea, por meio da seieçao do programa adequado, da ieenoiogia
que os programas de computador interferem claramente durante que meinor se aproxima para gerar as bases digitais bi ou ii-idi-
o processo de decisão do projetista. Os princípios dos programas mensionais; essa tecnologia poderá ser a scaneização de um esbo-
já estão definidos dentro de uma lógica seqüencial de procedi- oo, a identificação de um sistema construtivo, a area de um en-
r

mentos, estabelecendo um alto grau de subordinação durante o torno tridimensional, eartografias disponíveis, em
prOCeSs0 na inÍeIfaCe COI11 O USUÉIÍO- Ao se tratar do estudante e não do profissional arquiteto,
nem sempre a opção arquitetônica está clara e definida na passa-
gem do croqui a lápis e sem escala do esboço inicial para a ferra-
menta computacional. A disponibilidade de operadores de dese-
2 MAHFUZ, Edson da Cunha. Ensaio sobre a razão composition, p. 18. nho e de modelagem, visualmente disponíveis na tela do compu-
3 O Paffíd° fí×a a C°n¢ePÇã° básica de um Pf°leÍ°z a sua essêncíaz em fer* tador pelos menus, caixas de diálogo, barras de rolagens e ícones, que
mos de organização planimétrica e volumétrica, assim como suas possi- facilita sem Sombra de dúvida O trabalho de representar e VíSua_
bilidades estruturais e de relação com o contexto. Sendo uma tomada de 1. fd ,. t, d 1 A '
1 d. t it ~
posiçao, o partido possui um forte componente subjetivo. No entanto, fzar a 1 ela e a e eâenvo Ve' a me _1an e a exerc ação e O seu Ile-
para que possa gerar um partido, a imagem precisa, obrigatoriamente, flnamenmr Caracterlzaf em determmado momento/ uma opçao
apoiar-se no repertório que configura o aspecto objetivo e transmissível projetual, em que deve ser pensado e decidido como introduzir a
do conhecimento arquitetônico (MAHFUZ, op. cit., p. 28). idéia no Computador (input de dados)_

44 45

ii
ISABEL AMALIA MEDERO ROCHA A COMPOSIÇÃO ARQUITETÓNICA EM AMBIENTE COMPUTACIONAL

Essa opção deriva de um conhecimento teórico exercitado sobre O uso da tecnologia computacional durante o processo de
/
no ateliê de projeto, no estudo das variáveis de relação forma es- ensino e sobre a aprendizagem do projeto arquitetônico.
paço, teorias compositivas, relações de contexto ou em referências A ação de trãZer ã tona durante 21 utilização dãS P1'ímítíWSz
em obras consideradas exemplares, que abranjam amplo espectro comandos, rendering e animações, dos programas computacionais,
de escolas e linhas de pensamento arquitetônico. conceitos provenientes da arquitetura como elementos de arquite-
O conhecimento durante a ação projetual se adquire na me- tura, elementos e esquemas de composição, partido, tipologias, tipo e ca-
dida em que O estudante, ao idealizar um objeto, mentalizar uma ráter, permite desenvolver esses conteúdos criticamente durante
figura ou uma forma geométrica, exteriorizá-las pelo gesto a - O processo projetual.

mão que expressa o pensamento -, representando-a no meio gráfico,


reelabora a sua relação com o objeto passando para um novo pa-
. tamar de conhecimento. Pode ocorrer uma ruptura sutil nesse Os programas de CAD e as diferentes formas de projetar:
processo, caso O repertório externo de formas e estratégias ofere- aquestão do bidimensional e do tridimensional; as primitivas e os
cidas pelo programa computacional insinue uma opção automá- comandos
tica por parte do aluno.
De acordo com O tipo de problema de arquitetura apresen- A escolha do programa gráfico é fundamental. Cada pro-
tado, a opção conceptual do projetista indicará a necessidade de grama implica um método de trabalho, que determinará a futura
utilização de maior ou menor aporte científico e tecnológico du- forma de desenhar O projeto. Na relação de correspondência en-
rante O processo projetual. É sabido que a lógica dos programas tre os programas de computador e os componentes significativos
computacionais utilizados para arquitetura se aproxima às estra- do projeto arquitetônico, são fundamentais Os conceitos de primi-
tégias projetuais pelo lado daquelas em que as regras e procedi- tivas e comandos e as características - 2D/3D - dos programas de
mentos estão aprioristicamente mais definidos. CAD.
Ao estabelecer a correspondência entre Os operadores do Não se começa um projeto do mesmo modo com todos os
projeto e os operadores dos programas computacionais, conside- programas. A filosofia de concepção do programa introduz di-
rando os operadores de projeto como categorias que caracteri- ferentes formas à questão do bi e tridimensional, e às Opções ini-
zam estratégias projetuais, torna-se plausível, por analogia, con- ciais de decisão projetual. O entendimento das regras que con-
siderar que os operadores dos programas de computador tam- trolam as operações de projeto é a condição indispensável para
bém caracterizam estratégias projetuais. A idéia de elaborar ana- utilizar O programa com consciência das limitações que O mes-
logias entre as categorias operativas de projeto e dos programas mo impõe. A introdução dos dados no Computador Se dá de for-
gera a possibilidade de qualificar essa relação, de forma que a ma lógica, escolhendo opções do menu para introduzir dados
tecnologia computacional possa ser um dos meios de ensinar ar- como eixos, módulos, linhas, planos, figuras, sólidos, superfí-
quitetura. cies, etc., a partir de opção bi ou tridimensional, definida pelo
Nesse caso, a qualificação das categorias operativas resulta- operador ou por imposição do próprio programa.
ria na qualificação do objeto pelo projeto, e, por conseqüência, a A reflexão principal, ao abordar as fases iniciais de concep-
reflexão, a partir de conceitos extraídos da teoria da composição ção do projeto com O uso do computador, vai referir a decisão
. arquitetônica, poderá servir como ponto de encontro da reflexão projetual que implica a forma como introduzem os dados no pro-

3
46 47

í-mí
ISABEL AMALIA MEDERO ROCHA A COMPOSIÇÃO ARQUITETÔNICA EM AMBIENTE COMPUTACIONAL

grama computacional. No projeto tradicional, de um modo geral, emuire cemPie×a Para que a esceina 2D eu 3D de um Pregr ama
o arquiteto imagina o objeto em sua totalidade e representa algu~ gráfico possa ser definida a priori pelo projetista /estudante que f
mas imagens parciais que, somadas e articuladas, permitam a Prevaveimenref nae assimiieu ainda uma rerma de Prelerar clue
construçao
~
do objeto. se adapte a suas idéias.
Durante esse processo de aproximações ao objeto due esta Caso se considere a interferencia da variavel de indução, que
sendo gerado, Corona Martínez descreve que cada nova renresen_ pode existir no caso de o estudante nao possuir uma ideia consis-
tação se efetua para solucionar tridimensionalmente um aspecto renre de seu Preleref a rerma ceme se inrreduzem es dades Pede
do problema, conforme é captado pelo projetista no momento em assumir a iegica de Pregrama cemPuiacienai~ As decisees que es'
que inicia a representação e, dessa forma, o problema que está sen- rabeiecem es Passes a serem seguides duranre e Pr ecesse Pre'
do solucionado evolui cada vez que "termina o desenho".4 Quaroni leruai sae aiimeniadas Per cenreudes clue Pedern ser ePleiiVes e
fala do processo compositivo (criação) como etapa do processo subleuves- Nessa eeleuvidadef a ParriciPa§ae de cenreude arciui'
projetual, em que o projetista estrutura mentalmente o todo do edi- ierenice se faz necessaria Para aludar a decidir cluai e Passe se'
fício que se expressa e se transmite por uma série de projeções geo-- guinie duranre e Pr ecesse de Preleief clue dererminar a a cemPesi'
métricass capazes de pautar visualmente em duas dimensões as eae e decemPesiÇae des eieinenies de Prelere'ePlere nes direren'
tres dtrnensoes do ob]-eto_nro]-eto, duando construído tes programas e sua capacidade e forma de tratar os aspectos bidi-
Aparentemente, a rnteraeao do nroeesso pro]-etnaj no dual mensionais ou tridimensionais do objeto. Enfim, que primitivas e
secompõem e decompõem idéias, cuja grafia vai delineando geo- que cemaiides deVerae ser acienades em cada Pr ecedimenre-
metrias e suas projeçoes,
~
pode ser reproduzido basicamente da O importante é reconhecer os princípios e conceitos de deter-
mesrna forrna no Computador como se faz no napej_ Aparente_ minado software. Os procedimentos e comandos podem mudar, e
mente, porque, mesmo que seja possível essa analogia com o sis- os alunos devem conhece-los também à luz da teoria projetual.
tema tradicional de representação no papel, a diferença está na Discuiir as imPiicaÇees embutidas em cada Pregrama cem'
concepção do objeto arquitetônico, isto é, na forma como a repre- Puracienaif ebserVar as mudanças ne rnede de agir e de Pensar de
sentação atua durante a abstração do processo projetual. A quali- Preleusia'aiunef e rmperranre Para esc_iarecer_ a seiueae clue mais
dade da informação processada e existente na memória do com- se adaPra a esPeciricidade de cada Preleief sela de Penre de Visra
putador não tem relação com a informação que o projetista vai ar- riiesericef sela de Penie de Vista de Pregramaf eu da esrraregia
mazenando e processando na mente a medida que vai evoluindo Preleruai clue se Prerende aderar~ Essa Pesrura cririca na esceina
a renresentaoao ate o o¬ojeto_ Do ponto de Vista da abstraoao do do programa parece ser a melhor maneira de introduzir a tecnolo-

.mí
processo projetual, a utilização de recursos bidimensionais ou gia cemPuracienai ne ensine de Prelere- Tedes es Pregramas ira'
tridimensionais na representação do objeto que está sendo criado Painam cem iegica Precisa? assim/ cluem desenna deve seguir re'
gras. Como resultado, não existe programa computacional que

4
5
CORONA MARTÍNEZ, Alfonso. Ensayo sobre el proyecto, p. 39.
Refere-se a plantas, secções, vistas, perspectivas, axonometrias, eventu-
ahnente ajudado por rnadnetas QUARONL LndoV¡eo_ proyectar tm ed¡f¡_
*ím-
nao traga uma filosofias e nao inuencie a interaçao com o usuário.

6 QUECi<, Chris. The use of computers as na educational tool in architecture and


cio, n_ 29_ Planning. Canadá, s/d.

48 49
ISABEL AMAUA MEDERO Roci-IA
A COMPOSIÇÃO ARQUITETÔNICA EM AMBIENTE COMPUTACIONAI.

As primitivas e os comandos

Iá ficou evidenciado que 0 potencial de tridimensionalida-


de dos programas de CAD é um dos indicativos que o qualificam
como ferramenta auxiliar ao projeto de arquitetura, e que a forma
como se constrói o objeto tridimensional difere de um programa
para outro, podendo o modelo ser construído por meio de super-
fícies ou pelos sólidos. Nos dois casos, a visualização e a qualida-
de da imagem são semelhantes. A diferença na forma de constru-
ir os modelos afeta as operações que podem ser efetuadas com es-
ses modelos e incide na abordagem conceitual do projeto. Um
modelo tridimensional 2D+3D pode ter suas partes editadas e
modificadas como superfícies. Nesse processo, um cubo pode ter
uma face subtraída ou modificada, por exemplo, o que não acon-
Figura 1- Primitivas - Menu de tela do Autocad. No estudo das correspon-
tece com o 3D do modelo sólido que, por ser uma entidade única, dências, as primitivas correspondem às geometrias básicas da arquitetura,
não permite esse tipo de edição de decomposição em superfícies tanto no formato bt como tt¡¿¡monS¿onaj_
planas ou curvas.7 Esse compor e decompor objetos se relaciona
com o projeto na definição da estratégia projetual a ser adotada.
Para entendimento dessas relações, é necessário conhecer concei-
tualmente as diferenças entre primitivas e comandos dos progra-
- -
mas de CAD Figuras 1 e 2 e os componentes dos programas de
-
Rendering e Animaçao Figura 3.

A
7


SAINZ, J. , VALDERRAMA, F. Infograa y arquitectura, p. 138.
Figura 2- Comandos - Menu de tela do Autocad. Traçando analogia com o
processo projetual, os comandos correspondem às idéias geratrizes da arqui-
tetura_

51
ISABEL AMALIA MEDERO Roci-IA A coMi›osiÇÃo ARQUITETÓNICA EM AMsiEi×m5 coMi=urAcioNAL

Os comandos correspondem às ações e procedimentos para


criar, alterar, visualizar o que se está desenhando, para extrair in-
formações dos desenhos ou para fornecer dados sobre o projeto.
Numa analogia com o processo projetual, os comandos correspon-
dem às idéias geratrizes da arquitetura. Por meio deles, é possível
transformar a forma em suas dimensões; ou, a partir de opera-
ções de adição e subtração, efetuar modificações compositivas,
definindo estratégias de projeto que determinam partidos dife-
renciadosf
A composição subtrativa inicia geralmente pela seleção de
um sólido platônico, forma tridimensional disponível visual-
mente como primitiva básica no menu dos programas gráficos.
Mediante as manipulações geométricas, de giro, translação, so-
breposição, rotação, retícula, estabelecem-se relações de impacto
e de articulação entre as partes arquitetônicas durante o processo
projetual; definem-se também modelos de configuração formal e es-
pacial (organização, relação, distribuição).
Agrupam-se elementos volumétricos, mantendo sua indi-
Figura 3- Tela 3DStudio MAX - Rendering e animação de quarteirão da area Vídualização como em Composições adivasl cuja intenção prOje_
de estudo de disciplina de projeto arquitetônico IV (UNISINOS), com inser-
. . .
ção de proposta de aluno. As propriedades visuais da forma e os componen-
tual e si gnificado corres P ondem às estraté ias dos chamados ar-
9 g P
tes espaciais do objeto arquitetônico são experimentados e propostos, du- “das dffcampostos (Figura 4)'
rante a ação projetual auxiliada por computador. E possível trabalhar com proporção e escala; com princípios
de ordenação por meio de eixos, simetrias, sistemas de proporcio-
Nesse estudo de correspondências, as primitivas correspom nalidade, hierarquia, ritmo e repetição. Tomando como exemplo
dem às geometrias básicas da arquitetura, tanto no formato tridi-
mensional como no bidimensional. Essas entidades geométricas __i'"__í_
- ponto, linha, plâ1'1O G VOÍUITIG - ÍI'ã0 C0Í`lfÍg111'a1” 3 ffm (Shape) 8 Cf. MAHFUZ, op. cit., p. 133, "Qualquer edifício considerado só pode ser
com todas as propriedades, transformações e articulações que a definido como uma composição aditiva ou subtrativa; não há outra op-
entidade gráfica adquire como forma arquitetônica definidora de Ça0› Estas duas estratégias de Pf°l€f° determinam a°í5 PaffÍd°S= um
chamado de 'partido compacto' e o outro de 'partido decomposto'”.
. 9 MAHFUZ, op. czt., p. 134, “Entre as razões que levariam um arquiteto a
A relaçao dentro do Programa de CAD pode ser considera- optar por esta estratégia compositiva estão: a necessidade de diminuir o
da unívøca da geømetria Para a ar quitetur a ` Geometria à Arqui` impacto de um programa com área muito grande sobre o seu contexto;
teíura. No Caso da abstração Clo processo projetual, trata-Se de a intenção de integrar o edifício com 0 espaço circundante ou com o
uma 1-elaçãg biunívgça _- Gggmgtria <=> Arquitetura, contexto urbano; ou ainda o propósito de manifestar no volume os di-
versos componentes do programa".

52 53
15 ABEL AMAUA MEDER0 RQCHA A coMPosiÇÃo ARQUITETÕNICA EM AMBIENTE coMi›U'rAcioNAL

W
VOLUME ESCOUÍIDO PARÁ
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Z
P ro P osta S/ P ermitindo f P or exem P lo f

z ...
simula Ç ão P ara estudos de
iluminação, acabamentos, materiais e outros (Figura 5).
Com o auxílio de Programas de Animação, é possível expe-
.
rimentar a vinculaçao entre os espaços internos e externos de um
z

edificio e seu entorno, por meio do estudo da circulaçao e seus


componentes espaciais (percursos, visuais) e formais, é possível
experimentar a configuração do espaço-circulação e sua relação

Os componentes dos programas estabelecem procedimen-


tos de operação cuja decisão deriva em uma estratégia projetual
com definições de forma, composição e construção.

°< t T1po e composiçao. Categorias ou operadores do projeto arquiteto


nico: uma analogia possível com os operadores dos programas
computacionais
Figura 4- Teatro - Disciplina de P.A. 5. Professor Heitor Costa e Silva. Traba-
lho do aluno João Vignatti 1997/ 2. Altemativas de partidos gerados com os A ambigüidade e a diversidade de definições que gii-am em
elementos de composição, ocasionando soluções diferenciadas para planta torno da noçao ~
de tipo como instrumento operativo permite a
semelhante. A facilidade de operações que o programa permite, após gera- . - , . .
.. ãpI`OX11'I`lâÇaO ã uma das â1'1âlOg1âS POSSIVGIS COII1 OS pI`OgI`8.II1âS
dos os modelos das partes (elementos de composiçao) e rapidez no processo
de gerar alternativas, pode-se transformar durante o processo de projeto do Computa-Ciønais' O conceito de tipo/ num enfoque especicamen'
aluno num mero jogo de armar, se o professor não orientar a reflexão duran- te PI OJÊÍ1-131/ COÍHO f0I`I1'1a de C01`lh€C1m€I`lÍ0 que POÔ-G 591' 3P11CãCl0
te a ação projetual. ao trabalho de projeto” configura um corpo de conhecimento ob-
jetivo e transmissível e vai delinear a sutil relação com a tecnolo-
gia computacional no confronto desse conceito como ferramen-
O Pr0grãmâ AUÍOCAD, OS C0mãI\C10S €Sfã0 ãgfUPãd0S em Dfw, ta” ou como categoria. Questões emergem como dúvidas, consta-
Construct, Modzfy, View, Render, Model” (Figuras 1 e 2). tações ou sugestões para o ensino de projeto.
Com o auxílio dos Programas de Renderíng, as proprieda-
des visuais da forma, a partir de suas propriedades e atributos de
contorno I tamanho I cor I textura I posição, são experimentadas e 11 C°f°“a Martínez/ OP' af" P-
, , , ,
119-
“No hay una única definición de tipologia edilicia, sino que cada vez se
^

12
la redefine en función de la investigación que se pretende realizar. Es un
instrumento y no una categoria." AYMONINO, C. Lo studio delƒenomirzi
10 "Um comando é uma série de ordens usadas para executar uma função. urbuni. Roma, 1977, p. 19. Enquanto Martí Arís considera tipo como uma
Uma função é a produção de uma mudança na tela." VOISINET, Donald categoria que, junto a outras duas categorias, uma, formada pelos ele-
D. CADD -
Projeto e desenho auxiliados por computador. Introdução, concei- mentos de arquitetura (construtivos e de composição), e a outra, refe-
tos e aplicações. São Paulo: McGraw-Hill, 1988, p. 77. rente à estrutura de relação formal entre estes elementos [....]

54 55
ISABEL AMALIA MEDERQ Rocr-:A A coMPosIcÃo ARQUITETÔNICA EM AMBIENTE COMPUTACIONAL

Quais os componentes arquitetônicos a serem categoriza- de construção de um conhecimento a partir do repertório acumu-
dos na composição? Devem ser de projeto ou construtivos? Espa- lado para cada ato projetual.”
cíaís (as partes ou recintos) ou físicos (elementos arquitetônicos ou Oprocesso projetual corresponde a uma série de operações
comp0sitivos)? A relação entre o tipo geométrico” e o tipo arquitetôni- que culminam por resultado em um modelo.” Os processos e os
co caracteriza os operadores do CAD genérico e do CAD específi- instrumentos que atuam durante essas operações, na aproxima-
co? O conceito de bibliotecas e de macros dos menus pode interferir ção de alternativas para configuração dos esquemas básicos e das
no processo de ensino aprendizagem? diferentes classes de processos, são abordados aqui, enfocando o
A bibliografia que dá base à interpretação do tipo arquitetô- projeto como estratégias de composição, cotejados junto com 0
nico denota a ambigüidade que a terminologia determina em di- método de Durand, elementos de composição de Guadet, concei-
ferentes épocas e para diferentes estratégias projetuais. Diferen- tos de imitação e de tipo formulados por Quatremère de Quincy.
tes noções de tipo aparecem, à medida que diferentes estratégias A reflexão sobre concepção e representação do objeto ar-
projetuais vão se delineando no processo, interagindo com os quitetônico elucida aspectos do processo projetual, aprofundan-
operadores de programas gráficos, estabelecendo procedimen- do a problemática da tecnologia computacional e o projeto de ar-
tos e modalidades peculiares a cada processo de projeto enfoca- quitetura.
do. A seqüência do esquema proposto infra corresponde à
A idéia de tipo, como protagonista de princípios geratrizes construção do conhecimento arquitetônico durante a interação
da arquitetura, contrapõe os enfoques de Durand e Quatremère.“ com o modelo, gerado durante a ação projetual do estudante. A
As discussões entre tipo e modelo estão subjacentes à discussão partir do esquema, percebe-se o processo de aprendizado. Aação
sobre a importância do repertório arquitetônico na produção projetual do estudante passa pela decisão perante a tela do com-
projetual do estudante de arquitetura, emergindo com proprie- putador de decidir a forma de Compor seu projeto por intermédio
dade a questão do precedente arquitetônico, como possibilidade das opções que o programa oferece, estabelecendo as diretrizes
básicas para o projeto a partir do todo conceitual e da definição de
princípios de organização que se adaptem à estratégia compositi-
va que reflete seu conceito inicial.

13 Terminologia utilizada por Corona Martínez, em seu Ensaio sobre o pro-


jeto, p. 132.
14 "A noção de tipo foi associada por muito tempo a Jean-Nicolas-Louis f

- -
Durand que, na verdade, nunca utilizou a palavra e com a noção
funcionalista de sistemas programáticos de projeto. Contudo foi Qua-
tremère quem introduziu o tipo na teoria da arquitetura, e seu objetivo
-----_-----
ao fazê-lo era o de transformar especulações teóricas sobre os sistemas 15 ”[...] la importancia, para el proyecto, de las preexistencias dela arqui-
inerentes à arquitetura em meios operativos para a prática arquitetôni- tectura, sobre las formas y disposiciones que constituyen conocimiento
ca no mundo moderno." LAVIN, Silvia. The transformation of Type. In: acumulado y disponible para cada nuevo acto proyectual.” CORONA
__. Quatremère de Quincy and the invention of a modern language of archi- MARTÍNEZ, op. cit. p. 15.
tecture. Cambridge: MIT Press, 1992, p. 86. 16 CORONA MARTÍNEZ, op. cit., p. 15.

56 57
ISABEL AMALIA MEDERO ROCHA A co1vn›os1ÇÃo ARQUITETÓNICA EM AMBxEN'r¡~: coMr>urAc1oNAL

se O computador muda como se mais definidos, pré-fixados nos menus (bibliotecas) ou pelo opera-
Pensa dor (blocos) ou configurados pelos diversos comandos, atenden-
Trabajha do a uma composição com alto grau de definição formal, como
Pemebe em uma composição acadêmica, conforme foi descrito na teoria
41 de projeto formulada por Durand, cujos esquemas de sistemati-
Construção da imagem no papel e no computador zação representaram um novo pensar arquitetônico. E deriva na
5' estratégia projetual em que prevalece um enfoque redacionista
A idéia de C°mP°f E d°C°mP°f ° °bÍeÍ° arquitetônico ufbalw em que o arranjo das partes não é uma questão de sintaxe for-
U' mal-espacial, e sim de uma geometria plana, elementar e `ƒinita", es-
A Vcumema baÊ1°aj *Í m°rf°l°$1a' a t1P°1°g1a' tabelecendo uma seqüência de comandos para descrever uma reti-
°S Pnnclplgs gemtnzes cala ortogonal inscrita em um quadrado, a qual deve ajustar-se a mecâ-
nica da composição.”
o modelo I o exercício / o entendimento
Ou pode apresentar, como os sistemas abertos dos CAD ge-
néricos 2D+ 3D ou 3D, figuras sólidas e princípios ordenadores
que possibilitem uma composição mais livre, atendendo a pres-
Essa composição pode iniciar por agrupamentos de primiti- supostos modernistas de projeto ou configurando um projeto ca-
vas ou por princípios definidos por comandos. O grau de definição racterizado pela autonomia das partes, valorizando a geometria
f0rm¡=11 CIO PâI`d0, ã CO1'1fígL11'âÇã0 fOI`I'ã1 de SEUS límíteâ 6 OS tridimensional dos sólidos platônicos como a arquitetura instau-
princípios de organização que estabelecem esses limites são algu~ rada por Ledoux e Boullèe, que antecederam a Durand no século
mas das realidades embutidas nesse processo, obedecendo à es- XVIII.” Esse tema, das partes e do todo na composição arquitetô-
tratégia de projeto adotada. nica, possui um caráter investigatório amplamente discutido na
Para entender essas relações de correspondência com as teoria do projeto, principalmente por aqueles envolvidos com o
primitivas e os comandos, é necessário que o estudante conheça os ensino de arquitetura.
conceitos que regem as estratégias compositivas em arquitetura. Mahfuz, em seu Ensaio Sobre mzão Cgmpggitizm, pmpöe "a
¿z

SegunCl0 C0r0na Martínez, ë p0SSíVel eS'fãbe1€C€r C011C€iÍOS g€1'¢1íS natureza das relações existentes e possíveis entre partes e todos
para o projetar a partir das características de certos ordenamen- no âmbito da composição arquitetônica como a essência do pró-


tos espaciais." O referido autor define que compor é relacionar prio processo projetual" e conclui que "a noção de que a arquite-
partes para formar um todo e decidir qual será a relação entre es- tura procede do todo para as partes deriva da ilusão de que o
sas partes, refletindo questões significativas de forma, espaço e

-ía
ordem em arquitetura.
Um programa de computador é formado por partes. Pode
apresentar elementos de arquitetura e elementos de Composição 18 "Durand ve en los esquemas elementales en planta. la única solución
correcta. Se burla de aquellas personas que empiezan un proyecto
por la fachada'/' KAUFMANN, Emil. De Ledoux a Le Corbusier. Origen y
desarrollo dela arquitectura autónoma, p. 81.
17 CORONA MARTINEZ, op. cit., p. 30. 19 KAUFMANN, Op, Cir, p_ 55,

58 59
Iaaarr AMAUA Maorizo Room, A coM1=os1cÃo ARQurrErÓN1cA EM AMBIENTE coM1=u'rAc1oNAr.

todo existe previamente às partes. Só pode existir um todo após ` PeiaS Suas Variadas Conoraçoes no quai incidem PrinCÍPioS logi-
as operações de projeto e construção estarem concluídas".2° i oos e anaiogieosf orereee aigumas inierPreraÇoes e deduooes Pe'
As relações entre as partes e o todo na composição definem ias oluais e PossiVei traçar anaiogias Como forma de aPro×imaÇao
formas de projetar, às quais subjazem premissas conceituais, cuja aos Programas eomPuiaeionais~
materialização em procedimentos gráficos de projeto pode estabe- As Primirioas e os Comandos Pr oPioiam oPeraÇoes de Proleio
lecer, por analogia, formas de utilização das primitivas e çoman- que se relacionam com a natureza dos elementos de arquitetura e de
dos dos programas de CAD 05 programas Computacionais, pela composição e com as estratégias compositivas. A analogia entre as
natureza de sua estrutura lógica, estão formados por partes que Categorias oPerariVas dos Programas Computacionais e de Prole'
podern ser relaeionadae ou tratadas Corno unidades. Por sua gene- to faz emergir da teoria aspectos que elucidem a natureza da rela-
ses matemática, os programas de CAD apresentam diferentes ca- Çao enrre o iilio arduireronioo e o significado das imagens rePre'
raeteríefieae geornetrieaeii que eonfiguram formas de operar as sentadas nas operações efetuadas pela utilização de primitivas e
partes de um todo bi ou tridimensional. Essas partes e esse todo do Comandos do Programa de CAD-
programa, embora nao eorreepondarn ae partes e ao rodo arquire- Figuras geométricas precisas e definidas, precedente visual
tônico, têm relação com a forma, o espaço e o princípio de ordena- de uma aoao Proleruaif Procedimentos que Permirem a rransror'
ção desses últimos, por meio de entidades cuja representação não maçao dessas imagens/ Poderiam assumir a earaorerisiiea de ri'
se assemelha a representação no papel, na earaererizaeao diferen- pos? Ou as bibliotecas com elementos de arquitetura, fragmentos
ciada entre a memória do computador e a plotagem gráfica.” oe rnodeios a serem oopiados (o frOn'fa0z a Soiuçao de 'feinad0Sz a
cúpula, os subsistemas da arquitetura moderna (estrutura, veda-
ções) poderiam ser instauradoresr de idéias para o projeto?
O tipo como estrutura formal e a estrutura formal dos programas A relação entre o fazer e o descrever arquitetura aparece na
de CAD i leitura que se efetiva do objeto, pela descrição dos componentes
arquitetônicos e de suas relações, e na transformação dessa leitu-
No momento atual, já é possível denotar diversas reflexões ra em conhecimento, como precedente que contribui para ali-
da crítica arquitetônica que tomam como base conceitual as teo- t mentar o repertório que propicia o fazer arquitetônico.”
rias de Quatremère de Quincy. A discussão do conceito de tipo,

23 Castro Oliveira apresenta essa relação entre o descrever e o fazer, e a trans-


20 MAHFUZ, op, Cir, P, 14_ Corona Martinez, por sua vez, ao relaeionar as formação que a análise crítica pode efetuar do objeto arquitetônico como
partes e o todo com a composição, acrescenta a questão da representa- eoniieoimenio que Preeede a um novo Proleroi "A imagem Pode ser des'
ção: En la composicion se decide Ia identidad de las partes habitables del edificio erira e rran5Posra Para uma noVa situaçao Proleruai " SerVindoz assim/ a
y la posicion relativa de esas partes; todo ello através dela representación. CO- construçao do oonneeimenro arduiieronioo ¬ Precisa ser ”reProÍerada”
RONA MARTÍNEZ, op, Cir, p_ 31_ pela decomposição e representação seletiva de seus elementos, inserin-
21 Geometria analítica, cotada, descritiva, elementar, espacial, euclidiana, do'5e Peia analise Crífioa no Conjunto de enunciados de um noVo Proleio-
plana, Sólida eto Desse processo resulta a modificação da imagem precedente, melhor
22 A questão das partes e do todo, dentro de um enfoque mais didático e ` dito, do tipo arquitetônico anteriormente descrito pela análise”. CASTRO
operacional, é abordada pela aurora, em sua dissertação de mestrado, OLIVEIRA, Rogério de. Conhecimento e projeto: o conceito de imitação como
numa analggia rgferente 305 Cgmandgs Lgygr e Zg0m_ fltfldümefllü de llm Púfüúllgmú dldLÍllC0 dll L17'qllÍl€lllTt1, 49.

60 61
ISABEL AMAUA MEDERO ROCHA
A COMPOSIÇÃO ARQUITETÔNICA EM AMBIENTE COMPUTACIONAL

Carlos Martís considera o tipo arquitetônico como estrutura rerura ao mesmo remPo que esrabeleee bazses Proleluals Para Pro'
formal, dentro da idéia de conceitos que se "referem a uma estru- duçao de Prolero ou obra de arqullerura-
tura I a uma idéia de organização da forma que conduz os ele- f
Essa duPla Posslbllldade do llP0 reeua rlo lemPo aPosu~lras
ú o ‹ n .... I .... .
mentos de arquitetura para uma ordem reconhecível/'24 O tipo reorleas dlrereneladas A deserlçao e a Produçao do oblero arqul'
passa a ser formulado como um princípio ordenador, "segtmdo o reromeo Podem eslar rerer eueladas em um “P0 arqulrelomeoí
qual uma série de elementos I governados por umas relações pre- tambem/ um mesmo “Po arqullelorlleo Pode servlr de base Para
cisas adquirem uma determinada estruturazzjs O conceítø de obras diferentes em forma, tempo e lugar. A existencia
O
I A 0

de atribu-
0

tipo / como estrutura formal Í é enfocado por Rafael Moneo, em los geuerleos que earaererlzam o rlbo eselareeem em Parre a rle'
seu ensaio Dela tipologia ao definir o grupo de obras de arquite- eessldade de se esrudar o rlbo a Parrlr de uma marrlz uPolo‹°-šleazs
tura dão lugar t P 0_zó
1-
num processo de transformaçao dinamica e nao de principios es-
Essa seqüência de idéias e formulações, cuja fundamenta- rarleos-
ção enfatiza a dimensão conceptual de tipo, transforma-se numa ía lmagem grarlea que rePreseurarla um llllo molde na
porta de entrada para se equacionar a relação que pode ser aferi- questao dos graus de absrruçfla que dermlrlam as çaraererlsueas
da entre tipo arquitetônico e os programas de computador consi- de sua rePreserllaçao e_sl8mrleado- Coroualvlarrmezf ao arlall'
derando o conceito de tipo como uma estrutura formal, a questão sar os gr aus de abslraçaof aPreseura o eonrllro que surge quall'
dos elementos de arquitetura e composição, os graus de abstração e a do se rerlra earaelerlaaros rllvels de generalldade em que se sllu'
propriedade de transformação do tipo. am ps tipos. lšsses niveis podem corresponder, clesde uma abs-
O tipo, considerado como categoria analítica da obra arqui- rraeao geomelrlea a um esquema ef as Vezes/ are um esboço de
tetônica e como um instrumento que qualifica o projeto, significa Prolero/ lusrlrloaudo que um rule Pode ser deslgnado ou deserl'
um operador de dupla utilização na arquitetura seja para descre- lo/ mas nao moslrzado na realldadef Pols nesse easo ele Passarla
ver e para gerar o objeto. O tipo permite que se estabeleçam bases a ser um modelo-
projetuais para descrição de uma obra ou de um projeto de arqui- í______¿
27 ”[...] el mundo de los objetos criados por la arquitectura no está simples-
mente descrito por los tipos; el concepto de tipo afecta a la producción de
.
la arquitetctura misma. [...]al ser el tipo el concepto de que dispone para
., . › a render las cosas el ob'eto de su traba'o se refere ao ar uiteto
24 "La accion construtora del tipo requiere la presencia de un principio lo-
‹ - ~ - -
tpb f l ld (1 q _) Í íSu
.

gico capaz de filtrar la arquitectura y abstraer de ella exclusivamente ra alo comlânza Cone reconoclmlento e llpo' MONEQ OP' Cuvp' 5-
. . .
aquel sistema de relaciones que constituye su osatura. El caracter con- 28 Em seu estu icofda
o Martí Arís ínodema ti 0 ao enfo
ao submeter 0 conceito dedilãensões
. ,
àqlue
. . .
ceptual del tipo es condicion necesaria para formular los procedimien-
- u
Í/ estštico V
-
go šão Q_
. , , u
tos de transformacino a traves de los cuales se desarrolla el proyecto. fz Ç P P 1 c P f e com u a ri
MARTÍ ARÍS Carlos Las a r a C Dn eS de la identl-dad_ Ensayo sobre el tipo en
1- 1-
ou estrutura aberta: "Desde este punto de vista cabe entender la arquitec-
arquitectura' Barcelona P 31 e 32_ tura, no tanto como el reflejo o manifestación del tipo, cuanto como el re-
25 Ibídem sultado de la interaccción y mutua fecundación de las estructuras tipo-
26 É devido tanto à realidade à qual serve como aos princípios geométricos logleas l---l roda Vefdadef fquífeüura pøsee una matriz tipo1ógica".
que os estruturam formalmente, tentando caracterizar a forma mediante MARTI ARÍSI Op' cu" P' 191'
conceitos geométricos precisos. MONEO Rafael. Dela tipologia. p. 15. 29 CORONA MARTÍNEZI OP' elf" P' 129/ 130'

62
63
ISAEEL AMALIA MEDERO Rocx-IA A coM1>os1ÇÃo ARQUITETÓNICA EM AMBIENTE coMPU'rAc1oNAL

Dessa forma, é possível conjeturar que, em relação aos graus Por exemplo, é necessário anteceder à implementação do
de generalidade nos quais transitam os tipos, indo do concreto ao comando array para justapor, lado-a-lado, uma série de casas, o
abstrato, tem-se, de um lado, um nível de máxima concretude, que conceito de tipo casa-ƒita e o que representa espacialmente sua for-
se aproxima ao modelo, e do outro lado, o nível de máxima abstra- ma como tipologia e no contexto no qual irá se inserir. Pergun-
ção, que se aproxima a esquemas sem atribuição funcional e di- ta~se, então, que relações se estabelecem entre o espaço público e
mensional, só figuras geométricas. privadofl dentro de uma relação que vincula tipo a uma realida-
Martí Arís, ao referenciar o tipo como um importante ins- de e a um uso específico.
trumento operativo do ato projetual, considera que, embora o es- Percebe-se, nessa discussão, o aporte de duas matrizes his-
quema seja uma imagem que conduz ao conceito ou provenha do tóricas, Durand e Quatremère: o tipo como instrumental classifi-
mesmo, não é propriamente o conceito e sim sua representação catório reduzido a esquemas de organização manipuláveis grafi-
gráfica, pois o esquema, ao evidenciar com rapidez alguns aspec- camente e o tipo cujo conceito se identifica com a lógica formal ba-
tos da forma, passa a ser um instrumento operacional fundamen- seada na razão e no uso, em uma estreita relação com a Disciplina
tal para o projeto arquitetônico, porém "isto não deve indu- da Arquitetura. Se a crítica arquitetônica atual considera o conce-
zir-nos a identificar o esquema com o tipo.” ito de tipo a partir do enfoque de Quatremère, a estrutura formal
O aspecto eminentemente gráfico dos operadores dos pro- dos programas de CAD se aproxima da idéia de Durand.
gramas de CAD, nesse caso, são considerados esquemas possíve- A relação entre tipo e modelo, teorizada por Quatremère de
is, que implementados podem representar graficamente o tipo, Quincyfz no século XVIII, é fundamental para o entendimento
porém não se identificam com ele, uma vez que essa identificação dos operadores durante o processo projetual e, conseqüentemen-
fixaria o tipo com uma imagem. A prévia fixação da imagem de te, da analogia com os operadores dos programas computaciona-
um esquema geométrico ou figura, ou de um princípio de orde- is. O desconhecimento por parte do estudante do conceito abstra-
nação matemática, pode induzir à formulação da estratégia pro- to e vago de tipo pode facilmente confrmdir os componentes geo-
jetual, confundindo, no processo, o operador computacional de métricos, comandos e bibliotecas dos programas com tipos arquitetô-
princípios de ordenação (comandos de simetria, grid, array, etc., e , nicos na sutil, porém, diferente relação entre princípios geométricas
(ou) primitivas geométricas) com o princípio ordenador definido e principios arquitetônicos.
pelo conceito de tipo.
""'--_--__
*

A relação dos operadores dos programas computacionais


com o tipo arquitetônico está referenciada no resultado das ope- 31 Ver Casas tipotal in: QUARONL dt 64 65.

raçøes efetuadas com Os elementos Cømponentes dos Programas' 32 "A noção de tipo foi associada por muito tempo a Iean-Nicolas-Louis
A 1lÍÍ11ZaÇã0 dO P170g1`amaz Sem 0 COUCÊIÍO P1`éV10 Cl0 ÍIPÔ arqul' Durand - que, na verdade, nunca utilizou a palavra - e com a noção
tetônico a ser utilizado, ocasiona justamente a adoção de um en- funcionalista de sistemas programáticos de projeto. Contudo foi Qua-
foque reducionista do Conceitø de tipo como um esquema grá__ tremère quem introduziu o tipo na teoria da arquitetura, e seu objetivo,
ao fazê-lo, era o de transformar especulações teóricas sobre os sistemas
C0' inerentes à arquitetura em meios operativos para a prática arquitetôni-
__.._______í_ ca no mundo moderno." LAVIN, Silvia. The transformation of Type. In:
_. Quatremère de Quincy and the invention of a modern language of archi-
30 MARTÍ ARÍS, op. cit., p. 33. tecture. Cambridge: MIT Press, 1992, p. 86.

64 65
IsABEL AMALIA MEDERO ROCHA
A COMPOSIÇÃO ARQUITETÔNICA EM AMBIENTE COMPUTACIONAL

O conhecimento que o estudante Vai adquirindo e proces' A questão destacada se refere justamente à rica disponibili-
sandof na medida em que conceitos de tipo Vao sendo assimiia' dade visual e operacional que os programas de computador ofe-
dos como instrumentos Piausiveis de serem utiiizados como ope' recem quanto a possíveis alternativas gráficas que, aparentemen-
radores de um proletof pode abrir espaco Para gerar niveis de au" te neutras, aguardam a decisão que o operador, como estudante
tonomia em suas decisoes Proletuaisf com atitudes que o ievem a de arquitetura e não operador (desenhista) de CAD, precisará to-
considerar a questão do tipo, aceitando-o, modificando-o, igno- mar cienfro de um processo proietuat
rando'o ou recusando'o como um possivei Principio gerador do A solução de problemas de arquitetura implica solucionar
pr oletods problemas de uso e de forma dos espaços que atendam a necessi-
A necessidade de o estudante de arquitetura de opter o co' dades técnicas e de utilização. O caminho que conduz à solução
nhecimento na manipulação desses conceitos, como uma das for- pode passar pela definicao de elementos de arquitetura (muros,
mas de interagir com a criação de seu objeto arquitetônico duran- paredes, piiares, cúpuias, etc.) que, ao adquirirem uma certa es-
te o exercicio proletuaif antecede e independe da introducao da truturação formal, definem espaços cuja configuração e articula-
computação no ateiiê e nos curriculos' ção caracterizarão os elementos de composição (pátios, vestíbu-
O desconhecimento do conceito dinâmico e interativo de tipo, tos, escadas ___), referenciancio, por exemplo, Durand, que intro-
que possipiiita sua utiiizacao como proVedor de connecimento duz a questão dos "elementos" como componentes físicos e cons-
da Praxis arquitetonicaf r epr esentaf muitas Vezes/ uma ruptura trutivos, enfatizando, porém, a qualificação das partes a partir da
entre o conhecer e descrever as tipologias da fase analítica e a in composiçao.
Vaticando Proleto da tase proletuai- A Partir de um previo estudo A seqüência desse processo pode variar e incidir em dife-
de tipos da tematica proposta no ateiie de proleiof Poderiam deri' ' rentes modalidades projetuais, instauradas pelas formas de com-
var estudos projetuais de diferentes alternativas de soluções ar- por o objeto arquitetônico A interface grafica dos programas
quitetonicas ou Partidos- apresenta grupos de objetos e procedimentos operacionais que,
A diricuidade de tomada de decisao/ Por parte do estudan' ao serem manipulados, geram uma estrutura formal entre os ele-
te, entre a fase analítica e a síntese projetual definida pelo parti- mentos geoinetricos a partir de ordens definidas pelos coman-
do, por meio de soluções cuja consistência referencie uma boa ar- dos
quiteturaf e uma questao Presente no ensino de proleto/ indepen' Essa estruturação poderá caracterizar um diagrama, um es-
dente da tecnologia computacional. No entanto a presença do cinema, uma configuracao, ate uma planta ou corte se o aluno es-
computador grafico/ durante a etapa do Partido/ acentua ou mas' tiver trabalhando com programas aplicativos em que os objetos a
cara, às Vezes, essas dificuldades, servindo como ponto de apoio serem rnanipuiados nao configuram linhas, pianos ou sojidosl e
referencial ao estudante, ao decidir as suas ações a partir das pos- sim paredes, pilares, aberturas, fragmentos arquitetônicos, etc.
sipiiidades apresentadas Peio Programa- ' Esse grafismo, semelhante visualmente ao grafismo que re-
presentaria o projeto, aproxima o estudante de um aparente ato
projetual. A opção pela estruturação das informações pode estar

33 O arquiteto atua sobre o tipo, cfe. Moneo, destruindo-o, transformando-o,


ou respeitando-0. MONEO, op. cit., p. 15.

66 57
ls^Brl- AMA'-r^ Msoeao ROCHA A coMPos1cÃo ARQUITETÓNICA EM AMBIENTE COMPUTACIONAL

sulelta mars a um metodo matematloo do que a estruturaçao for' ' Nada garante que, ao estabelecer os limites e dimensões de
mal da arquitetura.” Essa questão remete de imediato ao conceito um grid, e distribuir ou sobrepor os elementos estruturais (pila-
de tipo como estrutura formal, já mencionado anteriormente.” res, lajes, escadas, rampas, aberturas), dentro do procedimento
Martí Arts/ ao eorleeber o ttlro como estrutura em Prooesso lógico do programa de computador, o estudante esteja conscien-
formativo, sujeito a uma série de transformações internas, impli- te do processo analogleo que o acompanha nas tomadas de deol-
ca a existência de um material prévio, elementos ou ingredientes soes quanto ao sistema de referencia que, de dentro da arqultetu-
Por melo de eula maulPulaÇao se gera a rorma do obletof atastan' ra, acena com as similitudes dessas operações projetuais.
do-se, assim, da invenção individual da forma e também do de- ' Ao referlr-se, por exemplo, a ldela de deoomposloao dos
termlnlsrrlo do modelo- subsistemas dos elementos da arquitetura moderna, na utiliza-
Dentro desse errtotluef Martí Arts eorlstrol a sua tese eorlslde' ção de uma malha bi e tridimensional junto com a biblioteca estru-
rarldo a Posslbllldade de transformação da arrlultetura como um tural do programa, nem sempre estão presentes o conceito de plan-
dos elementos esserrelals da Produeao ar olurtetoruoaf e que "toda ta livre, a estrutura Hebenique e as relações espaciais de sua
arquitetura pode ser vista como o resultado de uma série de trans- transformação na Maison Domlno de Le Çorbusler Qu, entao, a
formações operadas sobre outras arquiteturas".36 Essa tese defen- ` semelhança dos edlfíolos em altura ou torre de Mles Van der
dlda Por Martí Arts Posslblllta atlrmarf Por analogia/ que/ de um Rohe, a analogia passaria por um prisma de base retangular, cujo
modo geral/ os Programas de CAD/ generreos ou esPeortloosf utlll' conceito arquitetônico referencia sua construção mediante uma
Zados Pelos estudantes/ nao rePreseutam uma base ardultetomoaf retícula estrutural em que a estrutura portante e a estrutura for-
eula transformação/ Por melo das oPeraÇoes Posslbllltadas Pelo mal se equivalem.” Ou, ainda, se a idéia estiver referenciada no
Programa eomPutaolonalf resultem numa soluçao de ar qultetura- caráter de monolitismo de uma arquitetura tradicional, implica-

__í_~" ria outro procedimento conceitual.


Nesse caso, que relação teria o comando grid, ou como seria
34 O conceito de estrutura de grupo como categoria de elementos matemáti- trabalhado o trldlmenslorlal a Partir de um 3DSurfuC@z ou mode'
cos e suas relações é aprofundado por Martí Arís, considerando as pos- lado por exírude, revolue, primiííves Ou talvez gerando geometrias
slbllldades de aPlÍCÇã° 210 ¢amP° flP°lÕ8Í°0z Cotelado Com a °°“CePÇã0 booleanas, ou configurando o objeto a partir de elementos previa-
de Moneo de que o tipo permite pensar em grupos. El concepto de transƒor- mente definidos com Sintaxes arquitetônicas?
mación en arquitectura. In: MARTÍ ARIS, op. cit., p. 111 a 115' D t f ~ f da
,C .ti .

35 Rafael Moneo complementa sua referência de tipo também como uma e cer a gama' Operaçoes e e ua S com prum V S e co
estrutura formal: "Talvés pueda ser definido como aquel concepto que maudosf que taeultam a construçao de um modelo/ detluem dlte'
describe un grupo de objetos caracterizados por tener la misma estruc- IGIIÍES eâfrafégias de Conguração inicial de uma idéia arquitetô-
tura formal. No se trata, pues, ni de un diagrama espacial, ni del térmi- nica, que nem sempre está precisa na mente do projetista, e que
no medio de una serie. El concepto de tipo se basa fundamentalmente en Vai se delíneando com mais clareza durante O projeto didática O
la poslblhdsd de agrupar °l)let°S.SlrV.lend°'Se de aduellas slmhtudes
que les son mherentes, podria declrse incluso que el tipo permite pensar
resultado pode estar mais preciso desde o início do processo na
, . ,, _,
en grup0S,,_ MONEO op dt, p_ 15_ adoçao de um tipo como base proletual, ou a ideia de tipo nao se
36 ”Toda arquitetura puede ser vista entonces como el resultado de una
série de transformaciones operadas sobre otras arquitecturas.” MARTÍ
ARÍSz OP- Cif-z p. 115. 37 MARTÍ Anis, op. za., p. 154.

68 69
ISABEL AMALIA MEDERO ROCHA A COMPOSIÇÃO ARQUITETÕNICA EM AMBIENTE COMPUTACIONAL

estabelece tão claramente e vai se delineando durante O processo, Outro exemplo seria O caso do tipo-pátio que tem implica-
à medida que opções projetuais vão abrindo possibilidades de ções de forma e de uso, que não se referem somente ao diagrama
utilização de tipos como partes ou com um todo na concretização de vazio e cheio proporcionado pelas figuras geométricas, ou ao
do objeto. conceito topológico de região, a idéia de fechamento, de dentro e
Estabelecer a noção de tipo arquitetônico, a partir de um fora.”
conceito de tipo mais abstrato, conduz a que as relações entre os Apesar de tudo ser vago” no tipo, O significado arquitetônico
elementos que O compõem possam ser facilmente explicitadas a está inerente por maior grau de abstração que o mesmo possua.
partir de parâmetros matemáticos. Descrever princípios de orga- Esse é um dos pontos cruciais no ensino de projeto, em que a ma-
nização espacial, efetuados puramente no âmbito dos elementos tematização dos operadores efetuada durante a utilização do
geométricos ou das relações topológicas, conduz, algumas vezes, computador como ferramenta pode confundir o tipo geométrico
à idéia errônea de estar operando-se com tipos arquitetônicos; na com o tipo arquitetônico.
realidade, a operação efetuada com "tipos" (melhor classes) geo- Corona Martínez, ao desenvolver sobre os níveis de abstra-
métricosfs sem os componentes de significado embutidos duran- ção do tipo, argumenta que, ao se traçar semelhança da termino-
te a operação projetual, é mero esquema desprovido de arquite- logia de tipo à figura geométrica ou a uma referência genérica,
tura. tornando-a extremamente vaga, conduz a um equívoco, porque

E
Por exemplo, as edificações tipo-fita, como unidades autô- uma figura geométrica ou um volume abstrato são, em sua essên-
nomas associadas lateralmente em um mesmo nível, a partir da cia, tipos geométricos e não tipos arquitetônicos.”
justaposição dos volumes ou em mais de um nível, configurando Esse fato de confundir a figura geométrica conduz a um
mais de um pavimento sobrepostos, são arranjos e combinações erro:
bastante reconhecíveis na arquitetura como formas de organiza-
ção espacial e volumétrica para resolver problemas habitacionais
(Vila IAPI, Cidade Iardim, Unité d`habitation, Copan). O conteú-
do da espacialidade das funções na relação frente-fundos das 49 MAFHUZI 0¡,_ cftv p_
unidades habitacionais, ou as implicações da integração espacial 41 "La palabra tipo no representa tanto la imagen de una cosa que ha de co-
e de uso dos espaços privados e semipúblicos em sua inserção ur.. piarse e imitarse perfectamente sino la idea de un elemento que debe
bana são características associadas ao tipo arquitetônico tipo-fita Sefvif de regla al m°delÊ)["']E1 m°de1°f e“teIÍdÍd° según la Êlecución
. , . . . . . . › . practica del arte, es un ob]eto que se debe repetir tal cual es; el tipo, por el
(na V1laIAPI' os panos Internos' pnvados' Olardlm Semlpnvado contrario, es un objeto de acuerdo al cual cada uno puede concebir
Cømpartídø POI duas ou quatro unidades habita-Cíønaíslag obras que no se asemejarán en absoluto entre si. Todo está dado y es
preciso en el modelo; todo es más O menos vago en el tipo. Así vemos
que la imitación de los tipos no tiene nada que el sentimiento y el espíri-
______.__í tu no puedan reconocer [...]Para todo es necesario un antecedente; nada
sale de la nada." Tradução In: CORONA MARTINEZ, op. cit., p. 122. Esse
38 Essa terminologia é utilizada por Corona Martínez, na p. 132, do Ensayo conceito canônico de Quatremère de Quincy consta do Dictionaire histo-
sobre el proyecto, e é explicitada mais adiante neste texto. rique d'architecture, v. II, Paris, 1832. Cfe. Referência bibliográfica de Ra-
39 A relevância conceitual do uso, razão e contexto equacionadas por Qua- fael Moneo, Martí Arís, entre Outros. ~

tremere de Quincy. 42 CORONA MARTÍNEZ, op. aii., p. 132.

70 71
ISABEL AMALIA MEDERO ROCHA A coMPosiÇÃo ARQUUETÓNICA EM AMBIENTE COMPUTACIONAL
z

”[...] lleva al error porque una figura geométrica o un volu- mação lenta. Um dos argumentos contra a postulação projetual, a
men bSffã¢f0 SOH 2110 SUIHO 'ÍÍPOS ge0mëfriC0S` per0 110 ti- partir de uma tipologia, é de considerar o tipo como operador
Pos af<lU1f@Cf°111C0S¡ fevelafuã d@f01'mC10 HWY COYFÍQIWÊ projetual um "mecanismo rígido que torna difíceis as mudanças e
en losarquitectosy que consiste en exagerar la importância provoca uma repetição quase automatica" 44

de IÍS slmllftflldes fírmales d"e°t_anÍlÊ:tel Perclepobles' Y A contrapartida em


relação a esse argumento é referida
âC€ al' Im lC1 8111 ,
tes llas denfás Cualiãlgâešluílílsllsgts Íml 1 U leñfslân prelslen'
. A . .
tambem por Moneo, ao enfatizar que a permanencia de tipos, no
t › *

~^' «i W ' I`lU€nãO E af l.I”EG- _. . . .

solo
tônico que las de-ten‹te se iiproducirányde manera autc‹1)má“ti-
repleta aquellast que tendran poder evocatlvo
tanblén para los habltanteg-42
tempo' nao se deve ao concelto de tipo' e sim ao fato de que' em
uma sociedade, .as modificaçoes sao lentas e a arquitetura e refle-
xo dessa estabilidade pela imagem da cidade.
O conceito em si está aberto à mudança, na medida em que,
A Vaiotacao inadequada dos aspeetos fonnais pereepldos na arquitetura, detecta-se obsolescência; o tipo passa a ser o quadro
no objeto, e que são percebidos pela sua geometria, induz muitas ou mareo no qual a transformação e a mudauea se ererlvam/ Passan“
vezes os arquitetos a pensarem que a qualificação do objeto está do a ser o melo no qual se nega o Passado e ameelPa'se o rururo-46
inerente à repetição de uma determinada sintaxe; isso se dá em Uma das errrleas que aeomPanrlam o uso do eomPurador
funcao de que a operacao efetuada durante a acao proletual e a se refere à sua rigidez de gerar soluções formais repetitivas e
mesma que ocasionou o objeto que está sendo tomado como refe- semelhantes/ esrabeleeldas Pelos Proeedlmenlos merodologl'
rência_ cos que definem uma seqüência de passos gráficos a serem se-
A rapidez com que se efetuain transformações pelo eompu_ ~ guidos no uso do programa. Essa padronização encontra-se na
tador e o tênue limite que se estabelece entre um tipo arquitetônico e defmleao da Planta/ da malha/ da eslrulura/ da Parede/ na ex'
um tipo geométrico já seriam suficientes para justificar a reflexão e a trusão como processo tridimensional; nas bibliotecas de símbolos
participação dinâmica do professor orientador quando se introduz Com as oPÇoes de larlelas/ Portas/ escadas/ de eolaerluras/ areos
a tecnologia computacional como "ferramenta auxiliar", no proces- e eupulas/ ele- Os slslemas e subslsremas Padromzados em ru'
so a que o estudante se subineige no desenvolver do pt-oleto_ toriais de diferentes programas gráficos indicam os passos a
Abre-se a possibilidade, a partir dos operadores da geome- . serem seguldos Para geração do oblero arqulleronleo/ Passos
tria dos programas, de chegar à discussão do tipo arquitetônico, esses dermldos mals a Parrlr de uma sequenela de PrmeÍPlos
por exemplo, o que representa o círculo, 0 esquema radial e a ' eouslrurlvos do que Proleluals-
questao da centralidade ai¡cluitetoniea_ No tipo, a presença da arquitetura e densamente percebida
A vinculação com a realidade objetiva que o conceito de tipo Pela rleeessldade de eoerenela lmerrla aPreseulada Pelo olalero/
traz consigo faz com que as mudanças tipológicas demorem a se -_-_-__._í
efetuar, pois as transformações urbanas se processam gradativa- '

- 44 Uno de los argumentos utilizados com mas frecuencia contra los pre-
mente no tempo. Essa constataçao faz com que os tipos, ao acom- . , ,, . , . ,,
supuestos tipologicos es el considerarlos como mecanismos rigidos
_ _

__

Parlharem as modlfleaçoes da arqullelura/ tenham uma rrarlsror'


____m_ que hacen difíciles los cambios y que provocan una repetición casi auro-
mática." MONEO, op. cit., p.16.
45 MONEO, op. cit., p. 16
43 CORQNA MARTÍNEZ, op. cit., p. 132 e 135. 46 Ibidem.

72 4 15
.-z, .
MB

ISABEL AMALIA MEDERO ROCHA A COMPOSIÇÃO ARQUITETÕNICA EM AMBIENTE COMPUTACIONAL

aPf0×1ma1"lCl0-0, d€SSâ f0rI11ã, da f0fmU1âÇa0 de Quaffemèfez de ou na intercessão de múltiplas figuras, Sainz pressupõe a possibi- " 8* P

rdenurleaeao do tipo com a logica deforma/ W250 6 0 uso- Os esque'


01 lidade de pensar que arquiteturas de geometrias e figuras mais Â
mas absrraros gerados Pelos Programas/ mesmo que tenham 51d0 complexas tenham sido esquecidas devido à impossibilidade de., .W
mduzídos Por alguma earaorerrsuea do Programa/ nao 5e a55e' representaçãofs formulando como hipótese que se pode imagi- eo
memam aos esquemas de absrraeao que geraram o “Po Podem/ nar que o computador serviria para eliminar tais barreiras e per- O
110 e1"lÍä11'f0z C011fUI1d1f'Se Corn um “Po e duranre a aeao Prolerual
- . . . .
mitir ao arquiteto ' caso deseje, projetar com toda liberdade suas va
assumlr como Proragonlsras rormars rlgurauvos do Processo de formas com garantia de que sempre poderão ser representadas.” 'as
projeto arquitetônico. .
Dada a noção de tipo como está sendo equacionada até aqui,
É
Por outro lado/ nada ÍmPede que sistemas eomPuraeÍonaÍs em sua relação com a arquitetura estabelecendo laços .com o pas-
selam Programados eom elementos e geomerrias oriundas da ar' sado, e sua transformação dependente das transformações da so-
elurrerura (Por eXemP1o/ sistemas ProPoreÍonaÍs baseados no re' ciedade, a facilidade de manipulação por meio do computador
rangulo aureo/ modulor/ metodo de Durand/ erC-)- não seria suficiente para uma transformação mais radical, confi-
Não se Objetiva dizer como devam ser formulados os progra- guraudo neves tu-,010gía5_ `

mas, e, sim, a clareza dos conceitos que deverão estar sendo coteja- Q mecanismo que fez com que um tipo conhecido Seje ebaH-
dos no Proeesso de ensmo durante a manÍPl~uaÇao dos Programas- donado, dando lugar à criação de um novo tipo, segundo Moneo,
O “Po como assimuavel a uma rorma'Pase/ referida Por ocorre em função de acontecimentos externos, de novas técnicas
Argan/ ao Consumir os esquemas graficos dÍsPonÍVeÍs Visual' ou novas exigências sociais. A questão da interferência das novas
mente no Programa/ Podem are earaererizar um “Po eonneeído- tecnologias computacionais está em aberto, para ser discutida.
A diferença no uso da ferramenta tradicional de desenho é que É lícito questionar e investigar ao mesmo tempo algumas
€Sfâ 11230 tr-HZ imbutido 0 conteúdo gráfico como os programas intervenções arquitetônicas que parecem ter sido influenciadas
eomPurae1ona1s- A rldueza e a_ faculdade com que os oPeradores pela utilização da ferramenta computacional, como seria o caso
dos programas computacionais atuam na transformação do obje- de peter Eíeeumenu, Frank Qhery, zaha Hadid e outros, que
t0, E partir de Sua lÍ€pI`eSeI1ta.ÇãO gI`áC3. OU. lÍI`ÍCl.lITl€I'|.SlOna.1, Su' compõem 0 grupo dgs Sete arquítetgs escolhidøs pelø
pera as possibilidades dos meios tradicionais de representação. para arquitetura descenet,/u¢¡¡,¡5ta_5°
Segundo Moneo, a intervenção no tipo dependerá da capa-
cidade de invenção do arquitetof” essa afirmação conduz a uma
reexão sobre o papel que O computador terá durante esse pro-
-_-_-í
48 "La rapidez y efectividad del ordenador en estas cuestiones hace que se
cesso d e H'invençao ~ H
.
C .d d _ esté planteando el tema dela mayor O menor simplicidad formal de la
(an/S1_ eram O quf Os Programas ap Permuem trabalhar . arquitectura en función de la fa cilidad de su representación gráfica.”
GS G O 1n1C1O COIT1 OS tres S1SlIeI'I`1aS de p1'O]eÇaO geOI'I`l€ÍI`1Ca., Clâ' SAINZ e VALDERRAMA_ I11 08 rg 'a grri uitecturzz, 0P CÍL, P 90,
_ _
LV

do acesso a representaçoes que tradicionalmente se descartaram 49 Ibidem.


devido à sua complexidade, no uso de geomeu-ias complicadas 50 Mostra de arquitetura desconstrutivista, exibida em junho de 1988, no

_"'”"“í"
47 ,
Museu de Arte Moderna (MOMA) em Nova York. Reuniu os trabalhos de
Frank O. Gehry, Daniel Libeskind, Rem Koolhas, Peter Einsenman, Zaha
Hadid, Bernard Tschumi, e Coop Himmelblau. Coordenados por Philip
MONEO, op. cit., p. 27. Johnson. JODIDIO, Philip. New forms. Architecture in the 19905, p. 8.

74 75
1

ISABEL AMAUA MEDERO ROCHA ' ARQUITETONICA


A COMPOSIÇAO ' EM AMEI EN I E CO MP UTACIONAL

O método compositivo proposto por Durand cai como uma luva


nos programas de CAD específicos para arquitetura. “Onde pára a
geometria e começa a arquitetura num processo de ro'eto?”“
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piciada pelos programas computacionais, ao sistema Beaux Arts, z
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ha a aproximaçao dos manuais e tratados do seculo XIX, quando _..¿¿1§1_z!!l!!1l!1§g;r


a idéia de tipo é aplicada inversamente ao proposto por Qua- š-im í
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O mecanismo capaz de resolver a relaçao entre forma x pro- j//' É


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grama e forma x função passa a ser a idéia protagonizada princi-


.
palmente pelo enfoque conceitual de.]: N. L. Durand, cu]a. .
teoria
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/”` /§;:i:â-É?
Ú/_
` ' àizumzm `

formula principios de composição, utilizando critérios de confor- ' rf '

to e economia, e estabelece que os atributos de uma boa composi- Y Figura 5a- J. L. N. Durand - Éléments des édifices - Construção.
ção são a simetria, a regularidade e a simplicidade.52 i

Surge com clareza, na formulação de Durand, a associação


que se efetua com os programas computacionais específicos para
-
arquitetura. Para ele, o arquiteto dispõe de elementos colunas,
-
pilares, fundações, abóbadas, etc. que assumem determinadas
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51 Essa questão é levantada por MADRAZO, Leandro. Durand and the scien-
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Figura 5b' l- L- N~ Durand " Êléments des édíces


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Revestimentos das Pare'


*sx .

ce of architecture. CÍGS-
52 Ibidem. '

76 77

ISABEL AMM-IA MEDERO ROCHA A COMPOSIÇÃO ARQurrsrÓN1cA EM AMBIENTE coMPU'rAc1oNAi.

Na C0mbinaçã0 desses elementos, surgem objetgs mais princípios gráficos bem conhecidos e utilizados até a atualida-

I
complexos que, acoplados entre si pela composição, conver- dezsa
tem-se em edifícios concretos (Figura 6). A noção de tipo, como a razão de ser da arquitetura, trans-
forma-se com a teoria de Durand em um restrito método de com-
posição, desaparecendo a conexão entre tipo e forma
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Esse princípio, em que importa a composição e o programa,

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//f~ referencia o sistema arquitetônico desenvolvido pela Tradição
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Beaux-Arts: metodo P ara chegar ao objeto como produto, como

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resultado. Um instrumento p ara a composição (Figura 7).
"
4

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Figura 6- ]. L. N. Durand - Dela Composition - Combinações verticais de ar- ' "


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. . i . " '~'~' '_-' =

Durand propõe os famosos catálogos com fragmentos de Figura 7-J. L. N. Durand. Dela composition-Murche A'Suz'vre... Caminhos a
edifícios, atendendo a programas definidos: vestíbulos, pátios, Seguir na C0mP0SÍÇã0 de um Pf°Íef° qualquer-
escadas etc. Essas partes do todo do edifício configuram modelos I

prévios 'a_ Serem uiizados Pe1°5 3-ÍQUÍÍÊÍÔS Para, medíante 3- 53 Um restrito método de composição é assim definido por Moneo: ”[...]la
COITIPOSIÇ3-Oz COHSÍIUII' â Obra Cle arquitetura. canticlad se opone abiertamente a la calidad; sobre una retícula y unos
QS ClOiS Conhecidos instrumentgg prgpggtgg por Durand I a ejes los programas, los edificios, podian ser flexibles, maleables, capa-
retícula e os eixos, já vêm especificados como Layers nos progra- ces de adaptar-se a las mas diversas circunstancias. La cuadrícula acaba
con la idea de arquitectura elaborada en el Renascimiento y de la que se
mas de CAD. Os comandos grid, mirror e array podem assumir di- h 1 . . d f. _, d ti _

habian servido los arquitectos asta entonces, av1e]a e inicion e po,


. . _

ferentes C0n°taÇ0eS “ na arclulteturaf


'
Para Durand/ sua ut1hZaÇa0/' ' ~ ~
,
la razón de ser de la forma en ar uitectura se transformaba, con la teoria
.

no e nt an t0, era b em d 9 f'H11'd 3 G P1'€ClSâ-


' '
A 1'€f1CL1lâ '
C011t 1111111 E mw~ q
propuesta por Durand, en estricto método de composición baseado en
dZf€1'€7'lClLldü 9 OS e1XOS, COmO Suporte das partes 6 d0S elementos, São una geometria de ejes, reponsables en último término dela regularidad
y la simetria que se dibujan sobre el cañamazo de una indiferenciada re-
tícula. Con Durand la conexión entre tipo y forma desaparecia". MO-
NEO, op. cit., p. 18.

78 79
i
ISABEL AMAUA MEDERO Roci-IA t A coMPos1ÇÃo ARQUITETÔNICA EM AMBIENTE coM1=u'rAc1oNAL

Durand, inuenciado pelo cientificismo do século XIX, em tos de arquitetura e as partes e explicando o arranjo dessas partes e
classificar e sistematizar o conhecimento, propôs levar esses pro- , elementos pela composição.
cedimentos à arquitetura, principalmente para ensinar.” Declara Os elementos de arquitetura, como componentes físicos-cons-
a classzficação como técnica para extrair princípios gerais de casos trutivos e a qualificação das partes correspondem aos espaços e
particulares, procurando estabelecer princípios gerais da arquite- seus componentes, articulados na composição, conforme diz Co-
tura.55 A idéia que transparece no trabalho de Durand é a de que a rona Martínez, dentro de um jogo de armar.”
representação gráfica desempenha um papel crucial na sistema- Os elementos mais simples que estão em todos os edifícios,
tização do conhecimento arquitetônico. Faz parte dessa repre- ` independente do estilo, correspondem às paredes, aberturas e co-
sentação gráfica um procedimento de regularizar e simplificar os lunas; os componentes a que esses elementos dão suporte são la-
desenhos por meio da geometria. Durand procura abstrair da ` jes, tetos e abóbadas. São os éléments des édifices.
realidade dos modelos os princípios subjacentes nas formas dos As partes do edifício ou parties que resultam da combinação
projetos reais, por intermédio da economia de meios, exemplifi- ` dos elementos mais simples correspondem aos pórticos, vestíbu-
cados pelo uso da retícula, figuras geométricas e tipos edilícios los, escadas, salas e pátios. A produção do edifício se dá pela
simples. combinação das parties, que correspondem à última etapa deno-
Durand e, posteriormente, Viollet Le Ducsó estabelecem os minada de ensemble des édificesfs
componentes fundamentais que caracterizam a arquitetura como Durand propõe seu famoso método compositivo, no qual
disciplina, e os seus elementos axiomáticos, definindo os elemen- os elementos e o modo de agrupamento e organização dos mes-
mos correspondem a um sistema a ser adotado pelo projetista, es-
-i_--._-- colhido de acordo com o tipo de trabalho a ser projetado, dentro
de uma quadrícula gráfica (papel quadriculado).
54 'fz.1;i;i;?.;°§:f.á:§.5f:f::Sê;i퓧:§;:;i§:;°:¿í§:Lä;í¢*à::
q ' z 'estaz resumido em dois«P Â des
no fim do passam a dema-
das, P or Guadet, Elementos de Com Posi Ção,59 dentro de uma idéia
trabalho teorico
- -
livros.. o Recuezl et Parallele
z -

édices de tout genre, anciens e modernes, publicado entre 1799 e 1801, e o de Partes ÊSWCÍÚÍS- Nesse €nf0qu€z C0mP0T É 1`€1aCÍ01'1¡=11` Partes Para
Précis des leçons d'architecture données à l'ÊcoIe polytechnique, publicado chegar a um todo, decidindo qual deva ser a relação entre essas
pela primeira vez entre 1802 e 1805. MADRAZO, Leandro. Durand and pa¡‹te5_
the Science of Architecture. [ournal ofArchi tectural Education, ACSA, Inc.
48/1, set./1994, p. 12. í._..___.__.__._
55 Durand se utiliza da seqüência lógica racionalista, baseada nas quatro
regras que deveriam servir como regra para a razão, do Discurso do mé- 57 Ibidem.
todo de Descartes (1637), colecionando e classificando os edifícios do pas- l 58 MADRAZO, op. cit., p. 14.
sado, para, mediante a análise, chegar à síntese e estabelecer as caracte- 59 "Nada mais sedutor que a composição. [...]Que é compor? É pôr junto,
rísticas comuns. MADRAZO, op. cit., p. 22, nota 5. soldar, unir, as partes de um todo. Essas partes por sua vez são os Ele-
56 Para Violet- Le - Duc, o projeto começa na planta, para satisfazer uma mentos de Composição. Assim como vocês (os alunos) realizarão suas
necessidade de programa, por meio da organização dos espaços: ”[...] la concepções com parede, aberturas, abóbadas, tetos - todos eles elemen-
idea dela planta reaparece en la elevacinó indicando las partes que hay tos de arquitetura -, assim vocês estabelecerão sua composição com
que enriquecerylas que hay que sacrificar. Asicompone el arquitecto”. quartos, vestíbulos, corredores e escadas. Esses são os Elementos da
CORONA MARTÍNEZ, Ensayo sobre el proyecto, op. cit., p. 16. Composição.” GUADET, Julien. In: CORONA MARTÍNEZ, op. cit., p. 179.

80 81
Y
i

ISABEL AMAUA MEDERO ROCHA A coiviPos1ÇÃo ARQUITETÓNICA EM AMBIENTE coM1>U'rAc1oNAL


i

Madraze/ Per meie da reeensrrueae des Passes iegiees de Madrazo, na análise das ilustrações do Précis, confirma
desenvolvimento do sistema teórico e análise da seqüência de essa relaçao eausai de geometria/arquitetura; enquanto na pri-
procedimentos nas ilustrações dos diferentes Prècis, constata que 1 meira ediçao do prèeis o esquema geométrico e apenas uma abs-
e merede de Durand/ Prepesre na "Niiirriie ii suiere dans ia eemíie' i tração da forma arquitetônica; nas últimas edições, o processo é
siiieii din” Prelei iliieireiiiiueuóo (Figura 7) nae eemeea eem uma se' invertido. A figura geométrica não é mais uma simplificação de
ieeae de eiemenres/ e sim eem um esquema geemeiriee eensrrui' uma forma existente, é o ponto inicial para a criação de um proje-
de Per iinnas em Piania baixa/ Precadimeiiie que iriiiisferiiiii Ú Zee' to. Na descrição da simetria proposta, destaca os eixos principais
meiriii em arquitetura- e os eixos secundários, como traçado de partido para qualquer
O merede de Durand esta eensiiiuide Per seis esiagies as' projeto: isso mostra, em parte, que nem sempre a distribuição da
sim deseriies Per Madrazeí planta esteve regida por razões funcionais. Nesse caso, a simetria
absoluta é um pressuposto projetual, independente da aplicabili-
O prmiefro consiste n°_ lançamento des e1X,°s rmclpals de i dade espacial na distribuição dos elementos de composição.
composição (nombre et situation des parties principales). No se~
O método compositivo formado por elementos predetermi-
~

, . . , .
gundo estagio, uma nova malha de eixos secundarios com- , _

plementa os primeiros (nombre e situation des partes secondai-


nados, como e proposto basicamente por Durand, pode automa-
resj Então/ São lançados os paredes ao longo dos eixos (tmoé “ ticamente representar uma aphcaçao customizada de um progra-
desmars), e as colunas são localizadas dentro das áreas limita- ma de CAD' O inéiede Cempesiuve Prelaesie Per Durand Cai
das Pelas paredes (placemenf des Cola;/¡neS)_ No quinto estágio, COTÍÍO uma ZHUÚ HOS prÔgraÍna.S de af) aflrfnar O Carater dedutl'
as paredes, os pórticos, as escadas e outros elementos arquite- U0 do projeto e um repertório de arquitetura limitado e sem um
tônicos são desenhados em planta. Finalmente, a elevação e a programa de necessidades detalhado.
seção são geradas a partir da p1anta”.'“ z Os elementos de arquitetura são atributos dos programas
computacionais específicos para arquitetura (parede, aberturas,
Sem duvida/ a esrraiegia Preleiuai de Durand e uma das ' etc.) como elemento a ser definido a priori nas bibliotecas disponí-
anaiegias mais direias eem es eempenenres des Preãramas de veis nos menus, assim como o uso da quadrícula e dos eixos como
CAD 2D+3D- procedimento projetual, incluído em tutoriais que descrevem a
Nessa ferma de Prelerar/ a rermineiegia de Cemlmsiçãe eer' seqüência de passos no desenvolvimento do projeto, ou constan-
respende a dispesieae gerai de seus esleaees/ e nae ae desenVei' te na automação de desenhos protótipos que já formulam a base
vimento da forma, como precisão de sua materialidade. A confi- grafica sobre a quai o usuario irá irabaihai- (Figura 3),
guração espacial aparece como uma estrutura básica (geometria) , Qs esquemas geoméiiicos inseridos nos programas espeeí-
sebre a quai se desenVeiVe e rrabaine sebre a ferma~62 ficos (não é o caso dos CADs genéricos) podem corresponder por
analogia à idéia de transformação da geometria em arquitetura,
no processo descrito por Durand. Enquanto nos CAD genéricos
. sempre se inicia pela geometria, nos programas específicos, de
60 Caminhos, a seguir, na composição de um projeto qualquer. i arquitetura, geralmente O processo pode Ser iniciado a partir da
61 MADRAZO, op. cit., p. 18. escolha de elementos arquitetônicos: parede, colunas, aberturas,
62 CORÕNA MARTÍNEZ/ P. 150. cobertura, etc. (Figura 8).

82 ss
I5A5E¡_ AMALIA MEDER0 RQÇHA ( A COMPOSIÇÃO ARQUITETÓNICA EM AMBIENTE COMPUTACIONAL

Logo, no método proposto por Durand, as linhas geométri-


cas constituem os elementos fundamentais da disciplina da ar-
quitetura, em lugar das paredes e dos domos. Um método, para
projeto de um edifício, precisa de um conjunto de abstrações fun-
damentais específicas da arquitetura, e Durand, ao não possuir
essas abstrações, utiliza-se da geometria.
Subjacente a essa questão está justamente o conceito de tipo
z
ja analisado. Essa abstração inerente à disciplina arquitetônica
`

seria representada pela noção de tipo, definida por Quatremère


de Quincy, que nesse -caso difere da teoria de Durand. Conside-
rar que a compatibilidade da idéia de composição como uma
combinação de elementos e regras deveria começar com um con-
HI! junto de elementos arquitetônicos, aproxima a seqüência de pro-
cedimentos dos programas computacionais específicos para ar-
quitetura (Figura 8).
Ao confirmar que os elementos teriam conotações de uma
certa forma ou estilo de arquitetura, possibilita uma reexão jus-
Figura 8- ARQUI3D - Aplicativo para desenvolvimento de projetos de ar- tamente sobre questões já equacionadas, a respeito do estudante
quitetura
Automação de processos. Parâmetros de controle e normas. Opções e cami- mlclar seu proletø a partlr de paredes' colunas' como elementos
nhos predeterminados: Layers padronizados. Tipologias predefinidas. Cor- físicos e C°n5truüV05~ 1559 leva a que/ algumas Vezes/ nesses Ca'
tes e dimensionamento automático. Conversão 2D/ 3D por extrusão. SOS, 0S~C0r1€eit0S e as idéias Sejam fO1'mU.lâClâS HG Ê-Il'lb1-Í0 da-COUS'
truçãzo.
Durand considera um componente de decisão a opção pelo
tipo de elemento, disponível no c1ztálog0;visto assim, poderia ser
E×P1ÍCa MadraZ°f Cluef em um menu de tela do programa computacional. No entanto, o
desenvolvimento formal nao e o principal na sistematização pro-
”[...] para ser compatível com a idéia da composição ser uma
jetual proposta por Durand; depois de montado o esquema dis-
combinação de elementos e regras, o método de Durand de "'
veria começar com um conjunto de elementos arquitetônicos, tributivo, ez que se escolhe o estilo para a resultante da ordem for-
d d, f,
1 _

em vez de linhas geometricas. Entretanto, esses elementos ma O mm'


e 1

inevitavelmente teriam conotações de uma certa forma ou es- \z A Complexldade do Cmqm' ao representar O mimo de um
510 de arqu¡›¡e›mra~_f›f~ processo de projeto, inexiste na estratégia projetual prescrita por
Durand, que inicia na escolha do Partie Grafique. De forma seme-
lhante, o início do processo projetual em alguns programas de
CAD se dá a partir de uma escolha gráfica de um elemento, ou de
63 MADRAZO, op. cit., p. 17. um princípio gráfico de simetria, eixos e quadrícula.

84 l 85
ISABEL AMALIA MEDERO ROCHA A COMPOSIÇÃO ARQUITETÔNICA EM AMBIENTE COMPUTACIONAL

. É possível, muitas vezes, que, na maneira gráfica tradicio-


nal, o aluno inicie também o projeto a partir de um processo se-
melhante à estratégia gráfica descrita no computador; no entanto '

esses elementos não estão disponíveis visualmente e automatiza-


dos como nos programas computacionaisy
A forma de elaborar as variáveis gráficas no meio tradicío- ,

nal pode iniciar também com a idéia de quadrícula, eixos, etc.,


como estratégia, porém, nesse processo a reflexão inerente ao ges- .

tual está presente durante a ação projetual e o grau de dificuldade


e questionamento gerado pela decisão do próximo passo a ser se-
guido pelo projetista transforma a interação com o meio gráfico
em objeto de conhecimento. Nem sempre isso ocorrerá com o
grafismo definido a partir de um programa de CAD, se não hou-
ver um questionamento prévio à operação com os comandos, uma
vez que a necessidade de pensar o próximo passo diminui, se, por Zunm

meio da imagem, uma possibilidade de tomada de decisão é


apresentada ao estudante na tela do computador.
Os elementos arquitetônicos, já definidos nas bibliotecas bi
e tridimensionais, e os procedimentos da composição, previstos
pelos macros e funções em bases de desenhos protótipos, base so-
bre a qual se comporia com as partes do projeto em planta baixa, e l
o procedimento de extrusão com o qual se geram as elevações, in- 1

duzem a um "método " gráfico de aproximação ao objeto, comum


aos alunos na utilização dos programas de CAD. «

O comando extrude é muito usado como procedimento de E

chegar à tridimensionalidade do objeto que está sendo gerado a W


partir de uma projeção em planta. Nos CAD genéricos, ele precisa '

ser acíønado pelo usuário; em alguns Prøgra-mas específicos' esse ' Figura 9- 3DHomeArchitect Deluxe - Catálogo de casas com plantas e vis-
procedimento já está automatizado. A construção da volumetria tas 3D. Módulo de visualização dinâmica com opções de modificação de
é direta de 2D, apenas clicando ne menu a_ Qpçãg 3D, e 0 proeesgg materiais e efeitos. Módulo de desenvolvimento de projeto com seqüên-
de extrusão da forma está implícito na Configuração do progra_ ' cia-padrão de aplicativos dedicados. Semelhante ao ARQUI 3D: Automação
F 8 9) de processos Parâmetros de controle e normas ' Opções e caminhos prede-
ma i uras . _
~

'
terminados: Layers padronizados. Tipologias predefinidas. Cortes automá-
( g e
ticos. Conversão 2D/ 3D por extrusão.

86 87
ISABEL AMALIA MEDERO ROCHA A COMPOSIÇÃO ARQUITETÔNICA EM AMBIENTE COMPUTACIONAL

Tudo é uma questão de como estão sendo trabalhados no OS Operadores de projeto propostos por Durand (grid e ei-
ateliê de projeto esses aspectos que caracterizam as diferentes XOS), Seus princípios compositivos, já se tornaram um exemplo
formas de projetar. Há momentos em que a opção de extrudar é clássico de analogia com os operadores dos programas de CAD,
um excelente meio para visualização de uma volumetria, princi- principalmente na medida em que se encara o alto grau de geo-
palmente para representar aspectos de morfologia urbana. No * metrização-matemática e dimensional-e o procedimento gráfi-
caso da edificação individual, é preciso definir a idéia de forma a C0 CÍO më'fO<í0 de Durand-
partir de um contexto conceitual, para depois ver que programa Independente da tecnologia computaCi011â1z P€fCeb€~S€z 110
ou que comando responde melhor às premissas formais em pau- ensino de projeto, as dificuldades do aluno entender a retícula,
ta durante o processo de projeto (Figura 10). como instrumento do processo de projeto, cuja utilização estabe-
lece um sistema de referência que depende das premissas concei-
tuais do projetista. Mais uma vez, estão pautados aspectos con-
ceítuais no uso dos programas de CAD.
O comando grid nos programas específicos determina uma
base com eixos geralmente para a malha estrutural, porém pode
ser utilizado de outras formas, em diferentes planos e como tra-
' çado regulador que estabelece a ordem entre a geometria do pro-
grama e a da arquitetura.
A dificuldade inicial de adotar uma estratégia projetual
para iniciar o processo de projeto leva o estudante a procurar um
. . .
método, uma receita que amenize a ansiedade natural de decidir
|

,
É

5 5555 ,l _, , , _,
i por uma opçao em detrimento de outras possiveis soluçoes; nesse
momento, inconscientemente, o programa computacional pode
a b .

Figura 10- Edifício Comércio e Serviços. 1997/ 2 -trabalho da aluna Fernan- preencher uma_ lacllna' mterrompendo um Processo em que essa
da Schimt. Disciplina Proj. Arq. IV, UNISINOS, ministrada pela autora. lacuna Ca-ractenzana um momento de reflexão e Pøderia rePre5en`
a eb tar um instante substancial na construção de conhecimento arqui-
Uma seqüência de operações comuns nos programas de computador para . tetôníco a partir das tentativas de aproximação aO Objeto.
extrusao a partir do perimetro da planta. Inadvertidamente muitas vezes o O questionamento levantado pelas Considerações deSen_
aluno, por meio de operaçoes de extrude ou thickness (para um pavimento) e ' Volvídae ness e ensaio extrapola Durand e a Computação gráfica
3Darray (n° de pavtos.), gera a volumetria simplificada do objeto arquitetô- . I
trazendo a` tona um assunto fundamental no ambito
. .
nice para iniciar estudos de forma e espaee da arquite-
. _ , tura e sua relação com a geometria. Madrazo traz à pauta essa
t-
_ _ _ _

(a)Na busca de uma simplificaçao volumetrica os operadores induzem a t t. A . d b d t .


uma forma que pode não refletir a idéia de objeto tridimensional que está ques ao' ao comem ar a per mencla e Sa er On E e como afmn Elm
de1¿nean¿0_se na mente do projesm entre a arquitetura e a geometria pode ser definida ou, em outras pala-
(b) Observa se nas duas janelas da esquerda volumetria por extrusao da
planta (realizadas depois), enquanto na janela à direita, a verdadeira idéia
inicial do aluno.

88 89
ISABEL AMAUA MEDERO ROCHA A COMPOSIÇÃO ARQUITETÔNICA EM AMBIENTE COMPUTACIONAL

vras, onde, para a geometria, começa a arquitetura, num processo de transformações que .esses conceitos assumem na transição do sé-
pm]-et0_õ4 culo XIX para o movimento moderno permitem traçar as analogi-
O aprofundamento em Durand levanta questões, aparente- as com a tecnologia computacional com um aporte de enfoque
mente óbvias, quanto à geometria e arquitetura, porém esclarece- mais científico ou enfoque mais "artístico" dos programas de ren-
doras da relevância de discutir os programas de CAD, aprofun- dering e animação.
dando a teoria e a prática dos procedimentos projetuais durante Os programas gráficos apresentam uma gama de operado-
o processo de ensino-aprendizagem. A objetividade e a subjetívi- res que transitam entre os extremos da precisão geométrica dos
dade da arquitetura, relacionada à objetividade inerente aos pro- CAD até os recursos de pintura, luz e cor dos programas de pro-
gramas de CAD, toca diretamente na teoria e no processo de pro- cessamento e manipulação das imagens. Esses aspectos tocam di-
jeto do arquiteto retamente no componente formal e de imagem da arquitetura.
O conceito de caráter se transforma, assumindo enfoques
diferenciados desde a tradição acadêmica até a atualidade. A sua
Composição e caráter e os efeitos na imagem digital importância se deve ao sentido essencialóó que denota ter na inter-
pretação da obra arquitetônica.” Sem aprofundar a discussão que
A ferramenta computacional incide na beleza G na ÍGCHOÍO- o tema mereceria, necessário se faz, no entanto, destacar algumas
gia Na trilogia ciência, arte e tecnologia, a partir de um COHÍGXÍQ It idéias decorrentes das transformações temporais que o conceito
filosófico mais amplo, é possível considerar que, atualmente, uni- foi a5Sumjndo_
versal é a tecnologia” e fragmentários são os estilos, as linguagens e A associação do conceito de Caráter a terminojogía Composl;
os métodos. çãoconfere à composição arquitetônica um significado simbólico
Na Eterna dÍSCUSSã0 da dertnrçã-0 de arquitetura Cerne arte/ que extrapola seu comprometimento como estrutura e função
como ciência e como técnica, e da subjetividade e objetividade da dos axíomas de geraeao da forma da arquitetura modema Collin
arquitetura/ emergem ee Prtrtetptes erelttttetôntees que/ embere Rowe, referindo-se a Robert Morris, comenta a possibilidade da
não Selerrt Pttramertte Prtnetptes arttsttees eu Prtnetptes etentttt' primeira citação em língua inglesa da palavra composição asso-
cos, estão intrinsecamente ligados a esses. A arquitetura como
ciência e como arte pode aproximar-se da tecnologia por um lado
que privilegie um enfoque científico ou, por um lado, que canali- 66 Colin Rovve, ao citar os autores dos livros de composição, [...]un editi-
Componentes artísticos da diScip1ína_ cio significativo es, en primer lugar, una estructura organizada segun
Novas interpretações atuam utilização do vocábulo COm_ los principios de la composición arquitectónica e imbuida de un conte-
_ , 1 XVIII XIX . sí icado leva relacionar nido simbólico que generalmente es descrito como caracter. [...], la pre-
P05tÇa0 nos Secu 05 e culo gn
1 sencia de una buena composición y de un carater apropriado es algo
lâd0 II1â1S flgl-11`at1V0 e Pletortee dos programas graftcos' As esencial para que el edificio tenga éxito, aunque la presencia de la pri-
mera no produce automáticamente el segundo”. ROWE, Collin. Las ma-
temáticas de la vivienda ideal, p. 65.
64 Ibidem 67 Mahfuz desenvolve a importância da interação composição e caráter na
65 Referência à disseminação e à disponibilidade tecnológica que depen- qualificação da arquitetura, procurando delimitar em cinco tipos: cará-
de, muitas vezes, mais de aspectos econômicos do que de aspectos soci- ter imediato, genérico, essencial, programático e associativo. MAHFUZ,
oculturais, de uma região. Edson. Revista Projeto Design, abr./ 1996, p. 100.

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IsAsEL AMALiA MEDERQ Roci-IA A coM1=osiÇÃo Ar‹QUrrErôNicA EM AMBIENTE coivii›UrAcioNAi.
'I

Cíada a arte e a beleza da arquitetura, "La arquitetura es un arte útil l vimento, expressando características pictóricas decorrentes de
y amplio,basado en la belleza y los puntos claves de su composición son efeitos de Sombra e de luz, conduzindo à interpretação do concei-
la WOPÚWÍÕ" 0 Wmuní "-68 to de caráter arquitetônico.
A0 ÍHÍYÔCÍUZÍIV 110 ambÍÍ0 da CÍÍSCUSSEÍO, questões sobre com- Esse conceito traz intrínseco um forte componente subjeti-
posição e caráter, passa-se de componentes objetivos como geo- vo, cuja interpretação deriva também da percepção de compo-
metria e materiais para aspectos mais subjetivos da composição nentes pictóricos de efeitos de luz, cor, textura, do significado
arquitetônica como efeitos e movimento. simbólico da noção de movimento gerado pela conformação espa-
Robert Adam, em fins do século XVIII, define, no Work of ar- ' cial dos componentes arquitetônicos, e cuja relação com os pro-
chitecture, que a composição se associa ao "movimento" e o rela- I gramas de rendering e animações é plausível de gerar algumas
ciona com a aparência de uma forma diversificada.” A origem analogias curiosas e significativas.
desses conceitos é apresentada por Collin Rowe em seu texto so- H A terminologia de composição, ao ser utilizada para descre-
Pre Composição e Cafafefím l ver o resultado das inovações formais do pitoresco, é aplicada
também a organizações livres e assimétricas, não se enquadran-
Lrsëãafšlilâllenro debe e×PfeSâfàa Subida Y la Caiua/ e1aYa1_'*¢e Y do dentro das categorias estéticas da tradição acadêmica.”
g Y aforras Vem a es de la fmma' en las drsrmras Os programas computacionais estabelecem operações que,
partes de un edlclf) modo que eumente fuertemente elas' de diferentes formas, vão gerando partes e, mediante procedi-
pecto dela composicion. El movimiento [...]sirve para produ- . . . . . . . .
agradable diversificado contorno mentos compositivos, configuram as imagens bi ou tridimensio-
`

Cir reSal_

ta como un cuadro creando una variedad de luces y sombra nais que surgem na tela e que podem ser manipuladas e transfor-
que da a la composición un gran espíritui belleza y efectoyi madas ad znfznztum pelo estudante, se os limites nao forem estabe-
lecidos pela teoria projetual.
A mudança de ênfase nos requisitos da teoria acadêmica ao O ereseerue aPorre que a eomPuraÇão grárrea traz luruo aos
passar da obra arquitetônica ao efeito que a mesma produz sobre efeitos Possrvers que Podem ser gerados Pelos Programas grarreos
o observador," introduz conceitos de composição associada ao mo- rraz a tona questoes rundamenrals ua eonCePÇao e 1nrerPreraÇao
do objeto arquitetoruco e urbano (Figura 11).
_*"__“í°" As inúmeras possibilidades de texturas, cores e implicações
,, , _ ' ' ` d
formais que caracterizam efeltos de luz e sombra Os programas
.
[...] Carater e Composiçao é um tema a partir de 1770. Nem Palladio,
_ 1

68
nem Alberti, nem Blondel falaram nisso. Eles seguiam a tradição vitru- computacionais tocam em aspectos de imagem real e Virtual'
-
viana de invenção, compartição, distribuição y ordenamento, em 1774 Ro- com Ímpueaçoes obleuvas e subjetivas na obra arquitetônica/ tra'
bert Morris diz que a arquitetura é arte util e ampla baseada na beleza e Zendø à 'tona questões de representatividade que refletem direta-
que os pontos-chaves de sua composição são a proporção e a harmonia, V mente ng Caráter arquítetônícg da me5ma_
refere-se a uma arquitetura grave, jovial e encantadora." ROWE, Collin, Apesar da busca incessante da tecnologia em aproximar
. 't., . 66. _ _ _ _

69 ÊÊÀÊEI SP' cl-tv p_ 66_ cada vez mais da realidade os programas utilizados, esses mee-
70 Ibidem.
71 ROWE, op. cit., p. 67.
72 Ibidem. ' 73 ROWE,op. cit.,p.63.

92 «
93
ISABEL AMALIA MEDERO ROCHA A coMr=os1ÇÃo ARQUITETÓNICA EM AMBIENTE COMPUTACIONAL

mos programas, pelo seu próprio sentido de universalidade, esta- E assim como a tecnología Computacional se aproxima, por
belecern padrões de imagem que se repetem em diferentes contex- um 1ã<10, (10 CWÉÍET â1'quíf€ÍÔI1íC0, COITI OP€râd0r€S quê interfe-
tos, apresentando semelhanças na representação do projeto que, rem na €XP1'€SSã0 110 MS0 OU na EXPTBSSÊO da f01'm74 dO 0bÍef0z eSSã
muitas vezes, não condizem com a realidade do referido projeto. m€Smâ f€CI1010gÍ Se ãfâStF=l Cl0 111651110 qL1â11Cl0 Se Pr0CL1I'â 21 COH-
sístência interna do objeto, pelas características definidas pela re-
E
lação entre a composição correta e o caráter adequado cuja dialética
I dará significado à arquitetura, isto é, a adequação de procedi-
mentos projetuais que mantenham coerência com a estratégia
projetual adotada, quando se definem técnicas e materiais, solu-
ções volumétricas e de inserção urbana.
As imagens de projetos geradas pelo 3DStudio estão disse-
minadas pelo mundo, guardadas as devidas relações, quase
como foi o caso do International Style. A padronização de textu-
ras, cores e efeitos de luz e sombra, que acompanham as bibliote-
cas e os tutoriais dos programas de rendering, estabeleceram um
` padrão universal de imagem que se assemelha em diferentes nú-
cleos urbanos, independente, muitas vezes, do contexto no qual
se insere o objeto.
O conhecimento advindo das diversas nuances que o con-
ceito de caráter adquire nem sempre está junto com o estudante e
o professor no ateliê de projeto. Há exemplos que procuram uma
` aproximação do real no mapeamento de texturas existentes, estu-
' dos de cor e luz, partindo das características do contexto do pro-
jeto, procurando aproximar as simulações de parâmetros exis-
l tentes de entorno físico, orientação, etc. No entanto os programas
computacionais homogeneízam, muitas vezes, as imagens de-
correntes das cores, texturas, do objeto. A manipulação formal
dos programas oferece procedimentos projetuais que acentuam a
, possibilidade de gerar efeitos visuais e criar movimento, consideran-
Figura 11- Igreja São Miguel Arcanjo/ RS - As possibilidades de gerar efei-
tos, por meio de programas de rendering, fascinam os estudantes. Imagens
foto-realísticas buscam, pelos estudos de texturas, luz e sombras, uma apro-
, -í-------
ximação fotográfica com a realidade. Por outro lado, a proliferação de efeitos 74 O Caráter expresso pelas características de programa, da organização
possíveis em mapas de céus, acentuando ou deformando características funcional (expressão do uso) ou em função de uma intenção plástica re-
plásticas do objeto arquitetônico, pode transformar a arquitetura em maté- P1”€S€11ÍÍív‹1 (€×Pr€SSã0 df01'mâ)- COMAS, Cr10S EClUaI'C10 DÍEIS- Ó l€11f0
ria-amálgama, base para o jogo de efeitos especiais. e gradual retorno às bases, p. 51.

94 95
ISABEL AMALIA MEDERO ROCHA A coMPosiÇÃo ARQUITETÓNICA EM AMBIENTE co1vii=Ui'AcioNAL

do os conceitos explicitados no início do texto' e desenvolvidos 1-AVINI 5Í1V_Íe- The ffenefefmeen Of TYPe- 1111 __- Qffemëfe de Quincy
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Versalhes e Hampton Court I

Lista de ilustrações Caráter e tipologia dos jardins franceses


n 1 d I
e ing eses o seculo XVII

-
NCG_C6 Núcleo de Computação Gráfica - Centro de Ciências Exatas e
Tecnológicas. UNISINOS LUÍS F<='mf=Wí° da LUZ*
-
IV Projeto arquitetônico IV
_

. V -
Projeto arquitetônico IV

Figuras 1 e 2 - Menus de telas do programa AutoCad v. 14 da Auto Desk (pri- Os jardins são 0 produto do ócio e não 5,10 possíveis em uma S0-
mitivas e Comandos). Imagens Cle Síntese. ciedade que necessita de todas suas energias para sobreviver,
Figura 3 - Simulação. Área de estudo em Porto Alegre. Disciplina: P.A IV. mas tão logo uma sociedade tenha tempo e energia sobrando,
Menus de tela do programa 3DStudio Max, da Autodesk. Frames de ani- C°"5"8m Pafff desse EXCESSO desfmff 0uf"°5 "SPÊCÍÚS do ES'
11

mação. Imagens de síntese. Fonte: N CG_C6 - Arquitetura - Unisinos. W991 d° °“”“'°›e da Pmagem-
Figura 4 - Projeto do aluno João Vignatti. Disciplina: Projeto arquitetônico
V. 1997/ 2 (Prof. Heitor Costa e Silva). Tema: Teatro. Imagens de sintese em C 1 Ord
geradas em AutoCad V. 14.
Figuras 6, 7 e 8 - Desenho AutoCad - NCG_C6 - Lámina do Précis des Leçons
d' Arquitecture. 2a Parte. De la composition. Pranchas 4, 5, 11 e 21. Introdução
DURAND, J. N. L. Précis des leçons d 'architecture données a L' Êcole Royale
Polytechnique. Paris: De L'imprimerie de Firmin Didot: Imprimeur du A t~ , . ~

Roi, ei de L'1nsfui, 1s19.ver1zg Dr.A1f‹›ns Ui-iL,Nõf¢11ingen, 1981. S Wes “es do Water 8 da Composlçao
Figura 8 - Telas do ARQBD, GRAPHO, aplicativo para arquitetura desen-
volvido pela customização do AutoCAD, por Geraldo Broadbeck. Durante 0 Século XVII e iníciø do Século XVIII/ épøca do Bar'
Figura 9 Telas do 3D Home architect - Desenvolvido por De Luxe Broder- 1`0C0z 3 al' (111-ÍÍ€ÍL11`â de jâI`ClÍl1S na Europa foi influenciada pelo es-
bund S0f1Wr€,1n¢-and Advmed R@1fi0a1 T€C1"1010gy - 1993-1997, tilo francês. A arquitetura da paisagem desenvolveu-se, tornan-

_-iii
CD Para ambiente Windows- › do-se uma forma de arte. Os jardins em muitos casos eram dese-
Figura 10 - Projeto de aluno. Disciplina: P. A. IV. 1997/ 2. Imagens de síntese
geradas AutoCad V. 14. Fonte NCG_C6 - Arquitetura - UNISINOS.
Figura 11 -Igreja de São Miguel Arcanjo, RS/ Brasil. Gian Battista Primoli.
Projeto Missões Computação Gráfica. Imagens de síntese. Fonte:
NCG C6 Arquitetura UNISINOS Luis Fernando da Luz, arquiteto com mestrado em Arquitetura pelo Pro-
` grama de Pesquisa e Pos-Graduaçao em Arquitetura - PROPAR/ UFRGS,
Porto Alegre. Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da
UNISINOS, São Leopoldo.

93 ‹ 99
, VERSALI-Irs E HAMPTON CoUR'r
Luís FERNANDO DA Luz
I
1

nhades com a eeepei-ação de arquiieies, engenheiros iiidráiiiiees, sição em arquitetura estão intimamente associados à palavra ca-
decoradgresi esgultgres e jardirieirQS_ Iater. Em 1`elaÇaO a beleZa, a1'1ÍeS de era CO1"lSIlde]Íada, de
Os princípios de composição e as idéias básicas não eram aC°fd° C°m VÍÚÚVÍOI C°m° um Pmblema de Pf°P°fÇÕe5z feiaCÍ°'
realmente novos, uma vez que o tema da unidade entre edifícios nada C0m um Slsfema l1a1fm011í0S0 de ÍH'fe1'Val0S matemáfieos
e jardins, noções de proporção e beleza datam da antigüidade ' abstratos e com as proporções do homem. Vitrúvio atribuía a be-
clássica e foram reintroduzidos no período do Renascimento. ` leza a Simetria e as Pf0P01`ÇÕeS das Partes- POI mei0 de uma "Si-
Nesse período, a Itália praticamente dominou a arquitetura e, meiífía Sagrada", em qualquer ângul0 em que Se Situe 0 Observa-
também, a planificação de jardins. Existia um intercâmbio muito l d0f diante de um g1?uP0 de 0bjeÍOS diSPOSf0S Símetrieamente, a
grande entre Qs arquitetgs e iardirieiros, que trabalhavam ern I`elaÇaO geOITIeÍ]Íl.Ca entre eles Sera COITlpI'eeI"ldlda de ÍInedlalÍO.

versas cortes e acabavam levando a influência de determinados Para 05 afquiteÍ0S dO ReHaSCí1'I1eI1Í0 e perÍOCl0S SubSeqüen-
esiiies para sua própria nação, tes, era inconcebível que alguém pudesse desenhar deliberada-
Smit (1996) ressalta que, apesar do estilo francês ter domi- mente um edifício ou jardim em que o lado esquerdo fosse dife-
nado em quase toda a Europa, os jardins em diferentes nações ti- Tente d0 lad0 difeii0z da I11eSma fO1”ma C0m0 Se a Natureza pro-
veram suas próprias características, devido à natureza da terra, à *
duZiSSe animais COXOS-
mentalidade das pessoas e suas tradições, o que permitiu o de- De aC0fd0 Cem C0ma5 (1989)z Ha C°mP°5iÇã0 remete a um
senvoivimenio do tema em diversas manei¡as_ conjunto de regras conhecidas de ordenação de partes de um edi-
Para Caracterização e análise (105 jardins da Segunda meta.. fÍClO, O Caráter aO Seu. COI'1lIeÚ.dO SlI`bÔllCO". Guadet fala de dllaS
de do século XVII, é preciso entêhder o contexto da época quanto variedades de caráter: o caráter tipológico ou programático, e
ao meio físico, a história social, a filosofia, a arquitetura e a paisa- busea feVelaT 0 PTOPÓSÍÍO dO edífÍCí0 e OS Val0IeS C0neXOS a eSSe
gem, bem eemo eeneeiios de earáierf propósito, levando em conta a influência do clima e a natureza
Rowe (1976) expressa seu conceito de caráter eiiande as pa- L do sítio e do lugar e o caráter genérico, que busca representar ci-
lavras de Morris em Lectureso11Architecture (1734): "A arquitetura ^ VÍliZaÇa0 e Cultura em C00fdeHadaS 'fempOIaíS e geOgráfiCaS, O
é uma arte útil e ampla, baseada na beleza, e os pontos-chaves de "eSPÍTi'f0 da eP0Ca" Ou 0 "eSPÍfif0 dO lugar".
sua eemposiçãe são e piepeieãe e a harmenia"_ junto dessa ideia ` Dentre uma série tipológica de caracteres possíveis, citadas
de arquitetura "cgrnposta" Verri irnplicadg O que mais tarde Se- POI' Mahful O Caráter eSSe1'1Clal., baSlCa1TlenlIe abSlII`atO, que

ria dengrriiriadg carater_ As palavras carater e Cornpøsiçao S0- CO1'1SlSl§e DO "COI`l.teúdO pSl.COl.ÕglCO que a Obra e Capaz de Sl1SCltaI'I

mente Cgrneçarn a aparecer ng Vgcabuiario arquitetônicg e tgr.. eSlII`aI`lheZa, lflnltllde, Variedade, fantasia, Se1`eI1ldade," eÍC., pa'

nam-se bastante freqüentes apartir de 1770. Conceitos de compo- feee Ser 0 ÍÍPO maí adequad0 Para a aI1aliSe CleSSeS jardins da
realeza, bem como o caráter genérico de Guadet (Comas, 1989),
í____í___ «
que busca o espírito da época e do lugar.

1 A definiçao de caráter segundo o novo dicionário da língua portuguesa


de Aurélio B. H. Ferreira, diz: ”marca, especialidade. Qualidade ineren-
te a uma pessoa, animal ou coisa... o que os distingue de outra pessoa,
animal ou coisa. O conjunto de traços particulares, o modo de ser de um
indivíduo ou grupo. Índole, temperamento, natureza”.

101
100
LUÍS FERNANDO DA LUZ VEi‹sAu-iss E HAMPTON Couxr

O jardim francês Iellicoe (1995), a "uma parada militar em que todas as linhas estão
adequadamente formadas e só se movem segundo ordens; a ita-
A França no século XVII liana, ao contrário, seria comparável a uma reunião de moda em
f H
que os elementos estão em continua mistura e movimento .
c

'

Os artistas barrocos italianos, como Bernini, desejavam, por Essa concepÇã0 de 35509169510 ordenada transformou radi' z
intermédio da pintura e da escultura, atingir os espectadores com calmente Paris e serviu de inspiração à planificação urbana ate o l

a suprema arte da decoração teatral. O espírito do Barroco era cri- presente século. Criou o tipo globalizador da cidade, palácios
z
e
ar a ilusão, a fantasia pelos efeitos teatrais, com os recursos do jardins de Versalhes com o conceito de composição unitaria. i

movimento e decoração excessiva. Tal espírito poderia manifes-


tar-se, inclusive, em uma simples perspectiva de uma cidade ou
paisagem. Não só a Igreja mostrava seu poder e encantava os Versalhes: o caráter e 0 tipo do jardim francês
fiéis com visões do Paraíso, com edifícios ricamente ornamenta-
dos no seu interior, como também os reis e príneípes de foda a I Os jardins franceses são um produto dos jardins italianos.
Europa descobriram o poder da arte de impressionar e atordoar. Devido às guerras (Batalhas de Crecy, Poitiers e AgínC0UfÍ)z 05
Ostentavam seu poderio influenciando o espírito de seus súditos Castelos rodeados por foSSOS e CiClãCl€S f0fÍÍfÍCada5 f0fam de
(Gombrich, 1954). 5 grande valor prático na França (início do século XV). Com a der-
Iellicoe (1995) diz que a filosofia dessa civilização que este- l rota dos ingleses, por fim, a monarquia francesa e a aristocracia
Ve Sob 0 manto da monarquia era caracterizada por um refinado saíram de suas mansões entre fossos, porém conservaram os refe-
materíalismo. Estava tudo centrado no Rei Sol (Luís XIV), e as ar- ridos fossos. A aversão francesa em habitar um espaço aberto não
tes eram, em princípio, uma expressão dos prazeres da vida, dífe- fortificado continuou por muito tempo e tardou a morrer. Esta-
rente da Itália, onde se tinha a convicção de que as artes deveriam vam habituados com a reclusão. Resquício ainda dos jardins me-
transmitir algo mais além dos sentidos. Maquiavel, um dos filó- C1í€VãíS Ílítfamums-
sofos mais estudados, cujas teorias foram as mais praticadas, em A monarquia francesa acaba por absorver a febre do Renas-
sua obra-chave O príncipe sustentava que os príncipes deveriam cimento em suas andanças pela Itália, entre 1494 e 1524, segundo
Ser absolutos e que para esse fim todos os meios eram jus- Clifford (1970). Os franceses de volta à França tentaram imitar o
cáveis. padrão de vida que haviam provado na Itália.
A França desenvolveu um estilo barroco contido, com a uti- Em relação à c°mP°5ÍÇã0 ÔOS e5PaÇ°5f 05 edifícios e 05 lar'
lização de complicados esquemas geométricos, associação de es- dins deveriam formar uma unidade inquebrável. Gravuras com
cultura com arquitetura, sendo que a grande glória do barroco perspectiva tipo olho-de-pássaro mostravam claramente como
francês está nos jardins. As esculturas descem a partir dos áticos e u deveriam ficar ligados os jardins e os principais edifícios,. por
começam a aparecer em outras superfícies horizontais: os muros meio de um dominante eixo central. A partir desse eixo principal,
de jardins (Upjhon, 1975). partiam caminhos retos, formando um sistema de eixos, com os
A tendência à composição global do espaço convertía os quais todas as áreas do jardim e os ornamentos eram combina-
edifícios individuais em subordinados ao conjunto. A típica dos, formando um todo. Os lagos mais ornamentais com suas
agrupação francesa de edifícios pode ser comparada, segundo fontes e estatuárias eram localizados no cruzamento do eixo

102 103
Luís FERNANDO DA Luz VERsAi.i-ii=_s E I-IAMrfroN Couirr

principal com os eixos secundários. Ao lado de cada um desses mente poderiam ser obtidas mediante o alargamento organizado
eixos, e×isam imríneados e eomplieados pzzrfgrresz (do frances das vistas. Ainda que existissem terraços, esses eram menos altos
p¿zr-,f@mze = sobre o so1o)_ O espaço entre os eanteiros verdes eram que os italianos, menos freqüentes e arquitetonicamente menos

f
preenchidos com terra colorida, areia, gravetos ou plantas que importantes. Uma vez que nem sempre ao término do jardim a
parecem um tapete no solo. posição do solo demandava um terraço, continuaram construin-
Árvores e arbustos eram "rremae1os" em todas as formas do passeios elevados, conforme os princípios do jardim medie-
possíveis e desejáveis, subordinados ã arquitetura do todo. A Val, 210 1'€d0f de qUäff01ad0S (Figura 1)~

»
Natureza "imperfeita" era redesenhada de acordo com regras de
arte, para então servir ao homem com propósitos utilitários, ins-
trutivos e de entretenimento. O que expressava muito bem o es-
pírito da época, na qual o Rei dominava, inclusive a natureza. "
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tres exemplares de jardins franceses importantes: o jardim de . W*
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Dampierre; o jardim . .
de Anet, desenhado por Philibert de L'Orme 1
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e Vaux-le-Vicomte, criado por Andre Le Notre. f-
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O jardim de Daumpierre, somente conhecido pelos escritos yfl
de Androuet de Cerceau, constituiu um fino exem lo de transi-
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ção, do jardim medieval para o jardim barroco. Nele, toda a área _


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do jardim está murada, porém, dentro dessa área, o jardim prin- Éfbirfvnc ._
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cipal está rodeado por um fosso, totalmente independente do - . ..

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castelo, e o mais interessante e que um segundo canal corre para-
lelo ao lado do jardim Principal, sem funçao defensiva. O fosso
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agem Se eneentra a Pente de t0fnaf'5e um Canal meramente de' Figura 1- Castelo de Daumpierre. O fosso protetor começa a ser motivo or-
corativo. Os jardins franceses ficaram no nivel do solo ou sobre namental. O parterre principal ja não esta rodeado de um muro claustral e,
pequeníssimas colinas, pois era mais fácil obter água mansa do ainda que o fosso estreito dê uma impressão de segurança, há uma visão li-
que cascatas e fontes, e as perspectivas (visuais panorâmicas) so vre.

2 Parterres são desenhos geométricos, em geral de formas complexas,


como arabescos feitos no solo com vegetação e que se constituíam em Foi por essa última razao que os franceses começaram a
verdadeiros bordados (compartimentos de broderie). Eram construídos construir os parterres, o jardim visto como horizontal. Quando co-
para serem vistos de cima, muitas vezes se erguiam passeios com de- meçaram a dividir e subdividir o jardim medieval, formou-se o
graus mais altos para serem apreciados em seu conjunto. A origem está
costume, influenciado em parte pelas plantas que cresciam den-
nos jardins medievais, onde os físicosáusavarn cercas vivas para separar
as ervas medicinais. Com o tempo, essa separação deixou de ter caráter tro e em parte simplesmente pelo desejo de variedade, de dividir
funcional e converteu-se em algo ornamental. cada retângulo em formas diferentes. As linhas de dívisao se fize-

104 105
Luís FERNANDO DA Luz VERsAi.H1=s E HAMPTON COURT

ram mais importantes que os espaços que formavam. A prática ente máximo francês nessa arte foi Boycean, que, além de prati-
de tecer modelos intrincados no solo tem relação com o minotau- _
cá-la, escreveu um livro que foi publicado depois de sua morte,
ro, Com Tróia, Com O antigo Egii0 e COIII O l10II1eH I1e0lÍC0« Um em 1638. Esse livro continha alguns dos primeiros intentos de re-
labirinto feito de muros provém de uma tendência natural do ho- duzir a arte da jardinaria em princípios.
mem em elaborar defesas. O mistério criado pela complexidade Vau×-le-Vicomte, o terceiro e×emp1ar importante, de
sugere O mágicos André Le Nôtre, construído em 1656, e outros que se seguiram,
O arquiteto franCêS Du Perae, em 1532, Voltou de uma longa foi o íntimo reflexo do espírito de seu tempo. Além da monarquia
estada na Itália, com a noção de tratar todo o parterre como uma absoluta na França, a nocão de que o homem necessitava de uma
unidade e relaeionar Cada díViSã0 Com O reSÍO, em lugar de Cada autoridade central absolutamente indiscutível foi aceita sem pro-
uma como uma individualidade para ser vista de cima. A totali- blemas, Toda a arte reetia a subordinação política a um tema
dade do jardim tinha que se ajustar a um grande desenho. Enri- central, porem o tema era uma fachada, uma ficção, Havia um
que IV fez eSSa forma no famoso paSSeiO de am0reíraS ao redor grande tema central ao qual todos estavam subordinados. A épo-
das planas Tulerías. Quando mais tarde o jardim francês de pers- ca necessitava uma autoridade absoluta e a criava,
pectiva alcançou sua máxima etapa de desenvolvimento, os fran- Le Notre se viu obrigado a tracar em Vau×-le-Vicomte um
ceses mantiveram seu carinho pelo tipo de parterre chamado de jardim destinado, não para a reclusão ou repouso, mas para um
C01`PãffÍm€n'f0 de b1”0d@1'Í@ (b0fdCl0 em f1'aI1CÊS)- DU Pefa CYÍOU estupendo teatro de festas. Para isso, Le Nôtre se baseou em um
0 primeiro compartimento de broderie no castelo de Anet, o se- grande princípio: que a total extensão do enorme jardim deveria
gundo eXemplar referido. Era provável que a OÇã0 de ur1ÍfiCar ser visível num primeiro golpe de vista, e qualquer variedade en-
um jardim, que já era familiar aoS il?aliaHOS, C0mbiI10u-Se C0111 a tre as partes deveria estar subordinada ao total. Dessa maneira,
redescoberta do arabesco espanhol para produzir essas figuras nasce o jardim de perspectiva e o pequeno jardim quadrado, fos-
de exfraordinária invenção- sado, que se desenvolveu em um enorme tecido desde o terraço
Dentre algumas características da doutrina "parterrista" do castelo até uma distância tão remota que pareceria uma ficção
está a perfeita simetria e o uso de uma espécie arbustiva chamada teatral mais que uma realidade. Seu propósito era aturdir e não ›

buxos (cerca viva) e não era permitido nenhuma árvore ou arbus- encantar, Esse era o carater que teria Versalhes, l

to que pudesse expandir-se e obscurecer 0 quadro, somente o uso A história de Versalhes, que durou de 1624 até 1688, é digna
de um cipreste ou outra espécie vegetal configurada era permiti- de destaque, porque é um exemplo claro de um palácio que foi
do para formar um ponto central ou marcar as esquinas. O expo- criado por um jardim, mais que o inverso. Os jardins do palácio
de Versalhes (Figura 2) contribuíram em grande parte para criar
o Rei que os criou. Nesse jardim, Luís XIV promovia grandes fes-
3 Acreditava-se que os maus espíritos viajavam em linha reta desde a tas em um Cenário magnífico el Obviamente, precisava de uma
China até o Peru e que ,odeiam os caminhos confusos. E por isso que grande audiência, bem como acomodações adequadas para eja_
bruxas se rodeiam em circulos magicos. Desse modo, 0 tesouro do Rei
M. . . . . .
mos estava protegido em um labirinto. Na antiga Roma, os jogos de Até 1682, vinte mil pessoas se haviam reunido em Versalhes e,
Tróia, que consistiam em desenhar uma figura de labirinto, foi popular dentre essas/ Clnco md Pessoas Vlvlam no mesmo palaclo prmC1`
entre as crianças. CLIFFORD, D. Los jardines. História, trazudo, arte. Ma- pal. A assombrosa Criação denominada Versalhes não Se limitou
drid: Clos-as-Orcoyen, 1970, 247 p. somente ao prédio do palácio. Criou-se uma cidade para 0 palá- ›

106 107 _;

jr

il
LUÍS FERN^Nee DA LUZ VsRsALi-iss E HAMProN COURT

cio e não menos de quatro retiros: o Trianon, o pequeno Trianon, Ainda que Le Nôtre tivesse prática como pintør e seus jar- it:
*ll

Cragnl' e Mar1Yf estande dnídes ae magnrriee Centre Pelas avení' dins permaneçam na memória como uma série de quadros pictó-
das de um Vaere Parque- O Íardnn desennade Per Le Nerre na' ricos, foi sua estreita ligação com a arquitetura e a tradição jardi-
queres Prrmerres anes de 1ee1'1ee7f rneerne rreeande alguns de' neira que iniciaram a forte planificação geométrica, um tanto
rarnesf Perrnaneeería rrxe eerne Plane PríneÍPa-rf durante e Pre' quanto monótona, porém as principais fontes e esculturas do
eesse de Ífansfeflnaçae de Paraere-4 principal eixo de vistas foram trocando de tempos em tempos e
evitando a monotonia pelos jardins reservados, ocultos entre os
bosques de cada ala (jellicoe, 1995). A geometria tridimensional
de André Le Nôtre foi influenciada pelo físico, filósofo e matemá-
tico, Blaise Pascal (1623-1662), que desenvolveu um ensaio sobre
as seções cônicas. O que ele fez foi impulsionar um método per-
feitamente estabelecido até suas últimas conseqüências. Foi a úl-
tima expressão da grande escola francesa de jardineiros. Nada
l mais se podia fazer depois de Le Nôtre com respeito a perspecti-
vas, nem se fez nada antes. Houve um limite para o desenvolvi-
mento do jardim quadrado, porque a mente e a vista humanas
são limitadas. Da mesma forma, o jardim de perspectiva também
chegou ao seu fim, uma vez que a vista penetrou no espaço, e a
perspectiva ficou além de seu alcance.

1
i

A
O jardim ingles

ííí
Figura 2- Jardins e palácio de Versalhes. A Inglaterra no século XVII

O panorama dos jardins europeus que rodeavam a França


tinha texturas diversas. O clima, a topografia e a geologia produ-
ziram um tipo de variedade, bem como as características raciais
produziram outro. A Inglaterra estava criando paisagens geomé-
z
tricas que convinham a sua morfologia topografica ondulante.
l

4 Q Plane desenhado Por Le Nôtre Pefmaneceu Ínarrefade devide ae re' l

conhecimento que obteve do Rei Luis XIV. Um exemplo de como esse A s formas de governo, nesse periodo,
z
foram caracterizadas -
. . . . .
reconhecimento era importante foi o caso de Racine. Esse escritor de te- 1 , b 1 d , I _
i

atro, cujo domínio era a tragédia, somente passou a ser conhecido como pe as monarqulas a SO utas nos gran es paises' çOm_a grela ae
autor cômico, quando teve a aprovação do Rei, após a apresentação da €SfOrÇanClO para manter-se no poder. Para O prlmelrü Cl8SaflO l

peça Os Litígmztes (Les Plzzideurs, de 1668), em Versalhes. BERRETINI, C. ' conceitual sério a monarquia absoluta se produziu justamente na
`
Inglaterra, cujas tradições liberais rgmontarn a Carta Magna
i

_ O ÍEHÍTO Oflfem 6 Í'l0j6. D€l)ãÍ€S 166. SãO PâLllOZ PGFSIDBCÍÍVB, 1980. 174 ,

108 109
Luís FERNANDO DA Luz VERsAu-nas E HAMPTON Coum

(1215) e que já havia rompido com o Papado em 1530 (]elli- A primeira preocupação dos paisagistas do resto da Euro-
coe,1995). A nobreza e os cidadãos poderosos desejavam liberda- pa, excetuando França e Itália, foi de desenvolver o jardim, pas-
de para conduzir suas vidas nos seus respectivos territórios sem sando do modelo medieval de pátio interno para um modelo
estorvos. O liberalismo filosófico se desenvolveu especialmente mais moderno, prolongando o edifício até o exterior. Os ingleses
na Inglaterra e na Holanda, países que se converteram em refú- acrescentaram avenidas a seus desenhos retilíneos, freqüente-
gio de revolucionários. mente se interligando com seus vizinhos, alcançando tal exten-
já no final do século XVI, de 1580 a 1642, graças a Shakespe- são pela paisagem para produzir um sentimento de retorno, tan-
are, Londres teve obras dramáticas, como em nenhum outro pe- to entre os aristocratas como entre os plebeus.
ríodo da história, exceto Atenas no século V. Shakespeare pôde A Inglaterra, no que se refere ã sua topografia, tinha suaves
ver o mundo desde o ponto de vista do caráter. Seus personagens ondulações e verdes extensões de gramados com árvores exube-
famosos, como as figuras históricas de Cleóprata, Octávio, César, rantes. No século seguinte (século XVIII), houve uma onda de to-
etc., adquirem vida, força e convicção revelando o talento deste tal repúdio a qualquer imposição geométrica estrangeira no de-
escritor em apresentar o caráter (Whiting, 1972). senho da paisagem.
Descartes, em 1596, com sua famosa afirmação "Penso;
logo, existo", pressupunha que todo o indivíduo poderia chegar
ao conhecimento de sua própria pessoa, por meio do pensamen- Hampton Court: 0 caráter e o tipo do jardim inglês
to e da experiência individual. Tal atitude entrava em conflito
com o direito sagrado dos reis e, por ser uma demonstração de fé A noção renascentista de um plano de jardim unificado
na democracia e na igualdade de todos os homens, favorecia as aparece pela primeira vez, na Inglaterra, no jardim ideal de Ba-
classes médias e ao direito de propriedade. Esses princípios esta- con, escrito em 1597. Apesar de não plenamente medieval, esse
vam contidos na obra de Iohn Locke (1632-1704) de grande influ- jardim de transição, todavia, não está muito emancipado do me-
ência na Inglaterra e, posteriormente, seriam a base da Constitui- dievalismo. É realmente um jardim literário, portanto tem uma
ção americana. qualidade de sonho nostálgico e nenhuma das qualidades de
O desenho paisagístico mais importante foi feito na Inglater- drama que deve ter um jardim romântico para merecer seu
ra insular, onde o ambiente político favoreceu a construção de ca- nome. O jardim ideal de Bacon é o jardim de um rei que, todavia,
sas e jardins no campo. Sob a influência do paisagismo urbano ho- não tem qualidades reais, senão extravagância. Não existe previ-
landês em grande escala, com uma característica mais doméstica são de uma corte residencial, nem intento de impressionar. Se os
que monumental (jardins ricos em ores e vistas, próximos as ca- jardins franceses eram para resplandecer-se neles, os ingleses
sas), com edifícios de pouca altura e tapetes geométricos de cam- eram para passear. Um sítio para renovar o próprio espírito. Uma
pos e lavouras, pelos quais corriam canais e diques, surge a arqui- permanente característica dos jardins ingleses são os gramados.
tetura inglesa como compromisso entre o doméstico e o monu- Mas como esse é um jardim ideal, e não a descrição de um real,
mental. Nessa linha e em oposição ao estilo francês, construiu-se o Bacon se interessa pelos prazeres e dota de passeios com cercas
Palácio de Hampton Court, por Christophen Wren (1623-1723), vivas cobertas por trepadeiras em cada lado do gramado, de for-
nas margens do Tames, abaixo de Londres. ma que com um tempo quente pudesse passear no jardim confor-
tavelmente, qualidade essa que faltava no jardim francês.

110 111
Luis FERNANDO DA Luz VERSALHES E I-IAMPTON CoUR'r

Clifford (1970) nos diz que a família de Andrés Mollet foi ' XVII/ em 1699/ quando Se rraeou o Parelue desenhado Por Lonrron
responsável pela única variante importante do jardim francês: o e Wise- O Paraero rem roda a gama oe desenvorvrmenro arqorre'
patte ,zfoie (pe de gansoj Não há evidencia sobre quem realizou tural, desde o portal de castelo medieval a leste, até cortes inicia-
pela primeira vez essa forma caracterizada por um semicírculo dos Por Wølseyf em 1515/ Para o lado reeref eonerurdos Por Wren'
do qual partem cinco avenidas. Para os jogos de caça de Luís XIV, 0 Paraerof rodeado Pero lardrmf la nao era easrerof mas havra se
abriam-se grandes pistas nas florestas e, sendo essas retas, mais eonverrído em edrrrero oomeerreo Para eonrorro e osrenraçao- O
velozmente se poderia perseguir a caça real, e, se as pistas esta- lardrm rambem rreou rÍVre das rrmrraeoes de umerrro Proregrdo-
vam feitas para convergir em um ponto, um caçador que perdeu O lardrm medieval mrramuroe rreou Para rras (rrãura 3)~
o contato' com a caça poderia abandonar sua pista e redescobri-la.
Le Nôtre utilizou o patte d'0ie, geralmente, para as distâncias do
parque, mas nunca planejou de que forma essas avenidas radiais
terminariam no castelo.
Foram realmente os Mollet que mudaram a posição e utili-
zação do patte d 'oie como base para as vistas exteriores. Em Le jar-
din de Plaisir, de Andrés Mollet, publicado em 1651, existe um de-
senho simétrico, proposto para um castelo enfossado. Aqui, o
patte d'oie é uma parte essencial do desenho axial e está separado
do castelo somente pela distância do parterre principal.
A Revolução Gloriosaf de 1688, levou a Inglaterra um rei
holandês, William III, com duas paixões particulares, seu exército
e seus jardins; sua rainha inglesa Mary foi entusiasta e habilidosa
botânica. O casal real foi responsável pela inuência do desenho
do jardim holandês na Inglaterra. Talmann, que desenhou o Tria-
non, para o Rei William, trabalhou na Holanda, no Château de j Figura 3- jardins e pa1ᢡ0 de Hampton Court
Voorst, em 1695, e sabia tudo sobre o gosto holandês por ocasião
da concepção desse, em 1699, embora nunca tenha sido construí-
do.
Hampton Court havia sido um palácio Tudor e foi recons-
truído por Wren como um "versalhes inglês", já no final do século Nos jardins de Hampton Court, as figuras mais impressio-
nantes foram o labirinto, o monte com suas pérgulas, galerias e os
canteiros elevados. O monte era de maior envergadura e estava
construído com ladrilhos. Continha um emparreirado elaborado
5 A sangrenta derrota, em 1688, de James II da Inglaterra e a ascensão ao
que estava ligado a outras partes do jardim mediante galerias co-
trono de sua filha Mary II e seu marido protestante holandês, William
III, é conhecida como a Revolução Gloriosa. Em um ano, William e bertas. Esses emparreirados eram na realidade salas de jardim,
Mary construíram os princípios da moderna monarquia. embelezadas e permanentes. Tinham muitas formas. As vezes

112 113
LUÍS FERNANDO DA LUZ VERSAU-iss E HAMPTON COURT

eram pequenos edifícios retangulares ou albergues, situados nas Qs franceses dominaram rapidamente a ideia de compor
esquinas do jardim, desde onde se podia contemplar a natureza seus grandes jardins como unidades de um quadro, numa geo-
circundante. Outra característica desse jardim inglês era o uso de metrica camisa-de_forca com uma rígida disciplina, uma tipoio-
balaustradas ae feder des canteiresz cem seus Paiaustres Pinta' gia tipicamente francesa. Eles são extremistas, falando-se de ca-
des de Verde e Prancef muite cemuns nes lardins da EurePa ne ráter moral. Uma de suas características é reduzir a vida a uma
secuie XV/ Pr evaveirnente Para Pretecae des canteires de tieres série ou sistema de leis, regulamentos e lógica. Quando descobri-
des descuidades Passeantesf cavaies e animais Perdides- Essas ram a idéia de simetria, a exploraram até seus limites; o mesmo
baiauãtfada 11-ae fefam nenhuma meVaÇaez mas um Veine me' que, sob Luís XIV, exploraram a idéia de monarquia e, um século
delo em decadência. Tinha complicado e intricado parterres de mais tarde, exploraram ao extremo o conceito de reVoiucao_
Daniei Maretf esPecies Vegetais aParadas em terma de Pir ami' O caráter inglês refuta os extremos. Prefere não levar nada
des, estatuária barroca, labirintos e fontes resplandecentes. A ate suas uitimas consequencias e trata seus problemas empirica_
cencePcae desse lardim Parece cenvidar a diversae e aes legesf mente. Conseqüentemente, todos os jardins ingleses davam a im-
ceme terma de iitieracae de rigide escluema estensiVe da Vida ne pressão de uma superfície recortada. A tipologia dos jardins in-
Pã1áCí0- gleses é orgânica, buscando semelhanças com a própria nature-
Nennum iugar iiustra meiner a sucessae de intiuencias es' za. Todos os grandes jardins da Inglaterra, no século XVI, incor-
trangeiras de que HamPten Ceurt¡ a intiuencia des lardins ne' poraram modelos do Renascimento, mas nenhum deles, nem os
landeses; a influência francesa dos irmãos Mollet e a firma de jar- mais elaborados, foram concebidos como conjunto Uma suces_
dinagem cemerciai de Lenden and Wise/ em ie89f que centmueu são de partes, em si mesmas atraentes, ajustavam sua realização
o curso de influência francesa. Hampton Court desejava ser com- as exigências do soio, mas sem ter em conta a inter_reiacao de
Parada cem grandes e×emPies Parreces franceses/ tante em sua suas partes. Magnifícência cerimonial, que é essencialmente um
neVa cenetrucae Per Wrenf ceme Per seus lardins- produto da ordem calculada (caso dos jardins franceses), estava
fora do alcance dos jardins ingleses. A influência do jardim ho-
landês em Hampton Court fez com que esse jardim tivesse um
C0115ÍdefaÇÕeS finais caráter mais doméstico, menos monumental. Era importante que
as extremidades do jardim estivessem diretamente relacionadas
Em reiaeae ae carater generice de Guadet (cemasz 1989)/ com a casa e desde qualquer ponto de distância a casa fosse visí-
ambos os jardins refletem da maneira mais convincente possível vei
o espírito da época e o espírito do lugar. Os dois jardins em estu- Q uso da forma patte mais (Pata de ganso) fez com que os
de teram desennades e censtruides see e regime da menarduia jardins ingleses tivessem uma integração maior com o castelo,
bS01L1fä- Vefsalhes (1ÕÕ1'1ÕÕ7) ÍOÍ a Ca5a de feí Luís XIV» e uma vez que os eixos terminavam nesse, ao contrário dos france-
HamPten Ceurt (1699) rei a residencia de Wiiiiam iii/ um rei ne' ses que utilizavam essa forma somente nas distâncias dos par-
1ãHdêS~ ques. Os ingleses estavam preocupados em interligar seus jar-
APesar des PrinciPies de cemPesiÇae desses lardins da rea' dins com os jardins vizinhos, criando uma paisagem com sentido
ieza serem extremamente semeinantesf aigumas diferenças ter' de retorno, o que expressa o caráter mais contido dos ingleses.
nam esses exemplares distintos com relação ao seu caráter e tipo.

114 115
5

LUÍS FERNANDQ DA LUZ :

VERsAu‹xEs E HAMPTON Couizr

Analisando-se o caráter do tipo essencial, dado pelo con- SMIT, D. & HAR1OGH, fêraljnfvglíüívfiefgggláãfdens- EsPanha*

.Psicológico que ‹› W:‹›u.‹›bfa pode


mos dizer que, apesar dos dois jardins serem Poderia-
jardins de perspec- ....;;s:,%?í.*í
São Paulo: DIFEL/
S. ..;
SAI 1975, 253 P_
Mâââiiërs. ....
vasf ne sende de estarem seb largas e extensas avenidas e es" WH1T1NG,F.M.1zzzmz1zzzzión zzz team. Mé×i<z‹›z Diana, 1972, 431 p.
sas avenidas quase sempre terem um ponto de terminação, Ver-
salhes apresenta um caráter monumental, fantasioso e teatral,
dado pelas avenidas que terminam no infinito, como se continu- Lista das ilustrações
assem por toda a eternidade. ]á Hampton Court tem um caráter
men05 irreal 9 fanta5Í050z mais Serem) 9 COHÍÍCÍÕ- O limite de Ilustração 1, desenho do autor. Ilustrações2 e3, fotos do autor.
Hampton Court pode estar mais adiante, mas é visível.
Em sua obra A poética do espaço, Gaston Bachelard, reve-
la-nos que o jardim faz parte da casa, integra seu espírito, seu
universo. Versalhes e Hampton Court foram a moradia de reis e
refletiram, em seus jardins, o mesmo espírito que impregnava os
palácios.
1

Referências bibliográficas

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Cultura Economica, 1992, 281 p.
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GOMBRICI-I, E. H. História del arte. Barcelona: Argos, 1954.
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ROWE, C. The mathematics of the ideal villa e other essays. Cambridge: Mit
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115
117
A arquitetura historicista de Porto Alegre
e a crítica tipológica

Tânia Torres Rossari*

A história não é nunca definitiva, se reescreve continuamente


desde cada presente, desde cada circunstância cultural, desde
as convicções de cada historiador.
Marina Waisman

Prefácio

O presente estudo tem como objetivo estruturar um con-


junto de informaçoes sobre um tema relativamente ”antigo”: a
arquitetura historicista da cidade de Porto Alegre. Esse tema tem
sido trabalhado de forma a produzir visões de síntese, nas quais
uma série de prédios, devido às suas características estilísticas,
são classificados dentro de uma ou outra corrente estética. Nou-
tros trabalhos, mais específicos, enfocam-se determinadas obras
concernentes à produção concreta de arquitetos conhecidos,
quando, como fica claro, o interesse parece concentrar~se mais

* Tânia Torres Rossari, historiadora com mestrado em Antropologia So-


cial, é professora no Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNISINOS, S.
Leopoldo.

" 119
A

TÂNIA TQRRE5 RQSSAR1 . A ARQUITETURA H1sToR1c1sTA DE PORTO ALEGRE E A CRÍTICA TIPQLÓGICA

sobre o arquiteto que sobre a própria obra. Há, também, estudos ' européia (mais precisamente italiana, apesar da origem francesa
que pretendem abordar os projetos a partir de sua inserção no de Maurice Gras, autor do projeto). Como se sabe, ohistorícismo
contexto ideológico que os origina. europeu chegou aqui com muita força já no século XIX e prolon-
Aqui, os palácios governamentais de Porto Alegre são enfo- gou-se por muito tempo, o que acarretaria não só eventuais alte-
cados como expressão particular da postura historicista, com ên- rações como possíveis perdas dentro de uma pretensa lingua-
fase sobre o Palácio Piratini. O critério de análise, diferentemente gem. Foi preocupação deste estudo, se fosse o caso, identificar re-
das abordagens citadas, é tipológica. Nesse caso, a investigação já orientações mais significativas no momento em que foi erguido o
não recai sobre os autores nem sobre as circunstâncias históricas prédio. (Nos marcos desta pesquisa, seria impossível analisar as
que envolveram a construção do prédio, e muito menos sobre os modificações posteriores.)
percalços administrativos, as pressões políticas, as disposições fi-
nanceiras ou quaisquer outros dados contextuais.
Interessa, portanto, estabelecer o alcance do argumento ti- Tipologias neoclássicas e o conceito de revival
pológico. Para Marina Waisman, a tipologia pode ser entendida
de diferentes modos quando se trata de historiografia arquitetô- É possível analisar alguns prédios exponenciais da arquite-
nica: a) como ponto de partida para periodização; b) como objeto tura de Porto Alegre mediante a articulação teórica dos conceitos
de estudo em si; c) como base para a análise crítico/ histórica dos de tipologia e de historicismo. O primeiro tem um caráter mais
fatos arquitetônicos. A tipologia atinge também aspectos relati- operativo, e o segundo mais cultural (ou contextual).
vos à composição arquitetônica, entendida aqui como o conjunto Para Giulio Argan, o tipo é um resultado abstrato, uma for-
/
de elementos morfológico espaciais colocados em relação. l ma ideal, derivada da análise dos aspectos invariantes de uma sé-
O presente estudo do Palácio Piratini focaliza alguns aspec- rie de prédios com as mesmas funções, de um mesmo períoçlg
tos da tipologia formal dos projetos de palácios residenciais ou histórico, numa região determinada. Diferentemente de um
administrativos, que já possuem longa tradição na arquitetura "modelo", dada sua abstração, é impossível copiá-lo. O que se
ocidental, aparecendo com destaque desde os exemplos orenti- . torna exeqüível (e, em certas circunstâncias até mesmo recomen-
nos do século XV. Nessa época, tais palácios se constituem como ' dável) é que o arquiteto adote uma conduta tipológica.
tipos arquitetônicos, e, sob tal perspectiva, determinam-se seus as- Ainda que, em teoria, a intenção historicista pareça ter-se
pectos básicos, tais como configuração, volumetria, tratamento inclinado em direção a determinados modelos consagrados da
do espaço e das superfícies, estratégias compositivas, repertório história da Arquitetura, como inspiração formal, acabamos por
decorativo, etc. Como se vê, a análise deve concentrar-se exclusi- constatar que, na prática, a conduta dos arquitetos foi, essencial-
vamente sobre elementos da própria arquitetura. Acima de tudo, mente, tipológica, posto que os resultados geralmente alcança-
busca-se assinalar o caráter clássico desse projeto, sua filiação ti- dos não conseguem resguardar uma imagem idêntica àdos pré-
pológica e os elementos que sustentam tal classificação. .` dios em que se basearam. Isso ocorreu tanto na Europa neoclássi-
Uma vez que a experiência arquitetônica das Américas, até ` ca como nas sucessivas importações da arquitetura européia que
as primeiras décadas do século XX, constitui-se de lições aprendi- -
se deram na América Latina cujo tema desta pesquisa não deixa
das da Europa, é pertinente interrogar até que ponto e de que ma- de ser uma expressão local.
_neira o Palácio Piratini se mantém dentro da matriz tipológica

120 .

121
5

mim
TÂNIA ToRREs RossAR1 A ARQUITETURA H1sToR1c1sTA DE PORTO ALEGRE E A cRír1cA T11>oLÓG1cA

Aldo Rossi conceitua tipologia como algo permanente e XVIII e, principalmente, XIX. Aqui, elas são expressão do presen-
complexo, um enunciado lógico que está antes da forma e que a te, e mais ainda, de um projeto de modernidade, operando no
constitui. Portanto, para ele, a tipologia é um dado prévio, uma sentido de sustentar uma ruptura com o colonial e buscando uma
espécie de forma mental que determina o projeto do arquiteto. nguagom ahemava _ para O que a Opção Clássica/ ao longo da
Quatremere de QUÍHCY estabeleee que O ÍÍPO 11a0 rePreSe11Ía ÍaHt0 história, tem-se revelado a mais aceita (porque menos polêmica,
a imagem de uma coisa a ser copiada ou imitada perfeitamente, conceitualmente mais embasada, e por isso garantindo a priori a
quanto à idéia de um elemento que deve, ele 1neSm0, Servir Cle re' qualificação do projeto). Se a Catedral Metropolitana de Porto
gra a um modelo. Em qualquer das duas perspectivas teóricas, Alegre, por exemplo, é renascentista, o é menos por amor ao con-
cujas ênfases são levemente CliferenCiaClaS, enquadram-Se Pre- texto histórico e cultural do Renascimento que por uma estraté-
dios da cidade de Porto Alegre, como o Mercado Público, o Palá- gia de superação da imagem tradicional (e, portanto, ”anqua_
cio Piratini, a Igreja Santa Terezinha, o Teatro São Pedro, posto da") das igrejas góticas. O mesmo se pode, então, afirmar quanto
que reClL1'fÍVeíS a ÍÍPOS- (Nae aPe1"1a5 eleez mas Pfatíeamete ÍOCÍOS ao Palácio Piratini: se ele nos traz à lembrança os prédios italia-
os edifícios de Porto Alegre. Acredito que só escapem da análise nos do Século XVI, não foi porque se pretendeu, numa postura re-
tíP0lÔgíCa alguna Pr0lef0S de e×CeÇa0z m°ff°l08ÍCame1'1te ínelas' vivalista, atualizar o Renascimento, mas porque, com esse tipo
sificáveis, como, por exemplo, o Museu Guggenheim, Cle Frank arquitetônico, deixava-se para trás os vínculos com a arquitetura
Gehry, em Bilbao, ou seu antecessor não menos ilustre, o Gugge- colonial sem, contudo, aderir a um moderno que, no início do sé-
nlleín n0Va-íOrqL1ÍI10, de Fr aI1l< Ll0YCl WrÍ8hÍ~) NO enlíante 0 mais culo XX, ainda não firmara suas formas nem seus conceitos.
comum é que, como conseqüência de sua condição de aconteci-
mento histórico, o objeto arquitetônico tende a assumir sua pró-
pria época mediante a adoção das tipologias vigentes em seu mo- Os projetos para os palácios governamentais de Porto Alegre _
mento. Histórico
Uma vez rapidamente visitado o campo teórico do tipo
e /ou da tipologia, permanece a questão do vinculo entre histori- Porto Alegre, em sua condição de capital estadual, tem al-
cismo e revivalismo. Porque é bom advertir-se que o Palácio Pira- guns palácios arquitetonicamente significativos, que sediam as
tini, ainda que historicista, não é uma eXpreSSã0 Cle reVíValiSm0- atividades estaduais. Excluiu-se desta pesquisa o palácio-sede da
Argan assinala que o revival é uma tentativa Cultural Cle rea- Prefeitura Municipal. O foco, então, é o Palácio Piratini, sede do
tualização “ativa” do passado, o qual orientaria, além das pró- governo estadual, e, secundariamente, o chamado Palacinho, sede
prias opções estéticas, também uma série de atitudes mentais e das atividades do vice-governador, que aparece como um con-
disposições culturais socialmente compartilhadas, ao passo que a traponto projetual ao primeira
história, em seu "caráter catártico"... "assegura que o passado é já Ambos os palácios datam da primeira metade do século XX.
passado e não pode repetir-se ou retornar...” f O Piratini, mais antigo, tem seu início na primeira década daque-
No caso das tipologias historicistas, européias ou autócto- le século, ao passo que o outro é dos anos 3O_ Ambos São bons
nes, que oresceram no mundo americano, não podemos, pelo exemplares da arquitetura historicista, e, nessa condição, o Pirati-
que foi exposto, associa-las ao espírito revívalista que enquadrou ni foi objeto de outros estudos, que o visualizam como expressão
seu aparecimento no diferente contexto europeu dos séculos máxima, no Rio Grande do Sul, da "arquitetura positivista" _

122 ^ 123
r

TÂNIA TQRRE5 RQSSARI A ARQUITETURA 1-11sroR1c1srA DE Porâro ALEGRE E A CRÍTICA rrr›oLÓc1cA

classificação essa que criou raízes a partir do uso insistente que Capacidade evocativa ou defínidora de outras expressões, tais
dela se fez (Weimer, Bittencourt). Cumpre aqui algumas conside- como "gótico", ou "barroco", as quais indicam sistemas estéticos
rações, posto que o uso do rótulo ”positivista" para qualquer ob- muito bem definidos. Por outro lado, a época positivista assistiu
jeto arquitetônico pode ser inadequado, ou, no mínimo, questio- ` ao desenvolvimento Cle tantas e tão diferentes opções estéti-
nável. Efetivamente, a expressão "arquitetura positivista" (ou co/ arquitetônicas (programáticas e estilísticas), que o termo ape-
”do positivismo", num texto um pouco mais cauteloso), que é nas serve como cobertura para tudo que foi feito por iniciativa
uma classificação ideológica e não essencialmente estético/ ar- política de governos positivistas. No caso de Porto Alegre, por
quitetônica, apenas nos remete a um determinado período da ' exemplo, o ”positivismo" tanto pode aderir ao clássico (Palácio
história do pensamento político no RS, período esse marcado por Piratini) quanto ao eclético (Biblioteca Pública), Sofrendo, por-
figuras como Iúlio de Castilhos e Borges de Medeiros, ambos po- tanto, um esvaziamento estético, e perdendo objetividade con-
sitivistas. Mas esses são dados da história política do RS, que se ceitual para a análise arquitetônica. Não especifica nada. Talvez o
entrelaçam com a história das idéias. É óbvio que, em certa histo- principal denominador comum entre esses dois prédios tenha
riografia da arquitetura do Rio Grande do Sul, o fascínio do pen- sido o fato de que o governador positivista Borges de Medeiros
sarnento histórico e de sua metodologia específica determinou , Clespachava no palácio e lia Seus jornais na biblioteca. E eSSe fato
que as considerações do ambiente ideológico da época acabas- encaminha outra questão: até que ponto o poder político conse-
sem pesando mais (ou excessivamente) sobre a percepção do fato V
guiu, ao longo de toda a história da arte, criar seus próprios siste-
arquitetônico, de tal modo que a análise feita, o prédio em si, em mas estéticos. Poderá aderir ao que já existe, fazer acentuar deter-
sua materialidade, perde a importância face à (re)construção his- ' minados traços, mas não atuar diretamente sobre a criação plásti-
tórica. Assim, o objeto empírico parece recuar das vistas do pes- t ca (arquitetônica, pictórica, escultórica, etc.). Sobra-lhe, é claro,
quisador e é substituído por um tipo de documentação (arquivos j certa margem de atuação sobre os conteúdos, muito mais que so-
históricos, artigos, etc.) que será sempre periférica em face da l bre as formas. Por exemplo, se a Alemanha nazista privilegiou
obra em análise. E que o próprio edifício diz mais que os docu- i prédios de feição clássica, isso não significa que o nazismo tenha
mentos a seu respeito, especialmente se nos ativermos aos termos -
Criado O C1âSSíCíSm0 OU quê S€^L1S V€IC1âd€if0S CrÍãd0r€S, gr€g0Sz
da própria disciplina arquitetônica, que podem ser morfológicos, ` romanos e renascentistas tenham sido, ideologicamente, nazis-
estruturais, funcionais, etc. Certo, o discurso ideológico da arqui- tas.
tetura pode ser um u priori ou um a posteriori em relação ao proje- Uma terceira consideração é que esse rótulo não é mais que
to, mas não é nunca o próprio projeto. Desse modo, entende-se de uso regional, não sendo universalmente utilizado para a ar-
que é preciso trabalhar com arquitetura (teoria e projeto) dentro quitetura, nem mesmo no país que deu origem à filosofia positi-
de seu próprio sistema conceitual. No caso do "positivismo", o -
vista a França.
termo pode ser índiferentemente utilizado para a literatura, his- X Conforme adverte Demétrio Ribeiro, o termo positivismo
toriografia, filosofia e outras manifestações do pensamento. Com j nada mais é que uma das expressões de um espírito geral científi-
legitimidade. Seu trânsito para a arquitetura é que se questiona, , co/ racionalista do século XIX, e que expressões artísticas dos
porquanto, “positivista” não é um critério rigorosamente arqui- ideais positivistas foram escassas, existindo somente dois pré-
tetônico, em nenhuma das acepçöes da arquitetura (funcional, dios ”positivistas" no mundo: o Templo Positivista de Porto Ale-
formal, estrutural, etc.). Por si só, a palavra positivismo não tem a j gre e o do Rio de Ianeiro. No mais, teríamos, quando muito, uma

124 125
TÃNIA TORRES RossAR1 A ARQUITETURA HisTORic1sTA DE PORTO ALEGRE E A CRÍTICA TIPOLÓGICA

homenagem ao positivismo feita pela inclusão de vultos famosos com a sua colunata em toda a altura com sacadas sobre O primei-
da História, nos nichos da fachada da Biblioteca Pública do RS. ro pavimento; O do lado esquerdo, que é um volume um pouco
mais alto e mais avançado que O central, com janela e pórtico
muito marcantes; e O do lado direito, uma torre aproximadamen-
Arquitetura do Palácio Piratini te três vezes mais alta que O restante do prédio, bastante despro-
porcional.
Foi do francês M. Augustin Rey o primeiro projeto para o
Palácio do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Embora seu wš
projeto não tivesse sido executado, o de Maurice Gras segue mui-
to de perto a sua proposta. E
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A documentação original referente ao primeiro projeto do " .z

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Palácio Piratini (Rey) encontra-se na Biblioteca do Museu


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D'Orsay, em Paris, e dela se obteve uma copia da fachada, que zz~ - K
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será analisada. Esse projeto participou de concurso público reali-


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zado em 1908, não sendo este O único projeto vencido por esse ar-
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quiteto. O significado fundamental dessa vitória é que, por inter-
A

médio de Rey, mais uma vez afirma-se aqui no Brasil a arquitetu-


-
ra francesa a vertente hístoricista francesa. Conforme O docu-
mento roveniente do Museu D'Orsa , era ambi ão do ar uiteto . ,

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que aqui se construisse um palacio tal que pudesse ser considera-


do un des monuments les plus importants du Brésil.
Localizado no centro da cidade, busca uma implantação ;_.< . ø
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monumental, que particularidades do projeto deverao realçar. im

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Os P redios vizinhos completam um entorno importante, nao so i


do ponto de vista das hierarquias sociopolítícas, como sob O as-
pecto da arquitetura propriamente dita, estando a fachada prin-
cipal ladeada a direita pela Assembleia
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Legislativa, e a esquerda,
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pela Igreja matriz (cujo prédio, em 1908, ainda não era O que hoje
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conhecemos). Esses três prédios se articulavam pelos porticos. mz ;.zz-‹ . ›zzz‹ - :Í ` ze”
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Também são pórticos que enlaçam O teatro S. Pedro, mais ao nor-
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te, aos principais e d i f'icios administrativos da cidade . Esse con-


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junto de pré d'ios co nstituiria um enclave monumental- expres- `
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são característica das grandes cidades. .W gwmi -W V Luwxwu z?z;%%:` ¿_4

A composição é assimétrica, O que contraria O rigoroso clas-


Figura 1- A fachada de Agustin Rey para O Palácio Piratini.
z sicismo da parte central. O projeto cria três corpos: O do centro,

126 127
TÂNIA ToRREs RossAR1 A ARQUITETURA H1s'roR1c1s'rA DE PoR'ro ALEGRE E A CRÍTICA 'r1PoLÓG1cA

Quanto ao interior, o projeto executado, de Maurice Gras, Nao por acaso, entao, abre se um concurso em Paris, que julgaria
manteve o vestíbulo central no nível do solo, sem escadarias na os dois melhores projetos enviados para um novo palácio aqui
fachada, o que era intenção original do arquiteto. A grande esca- em Porto Alegre. O governo escolheria um dentre os dois primei-
da que dá acesso ao salão do primeiro andar está localizada con- ros colocados. Venceu o do francês Agustín Rey, mas vários per-
forme a planta original. calços, de toda natureza, fizeram com que esse projeto não fosse
Também foram mantidos, desse primeiro projeto, os gran- executado, até que, finalmente, os trabalhos parados reiniciaram.
des terraços, que podem ser avistados na fachada lateral esquer- l O novo projeto era o de Maurice Gras, arquiteto francês que não
da e que se adaptam perfeitamente às condições climáticas do concorrera, mas que já gozava de certa projeção na sua terra. Ele
Estado. veio a Porto Alegre e acertou com o governo estadual a constru-
ção de seu projeto, que não diferia demasiadamente do de Rey,
I

com a exceção mais significativa da alta torre lateral, prevista


O Palácio Piratini- Projeto de Maurice Gras l pelo projeto anterior, e que foi suprimida, adequando-se mais à
tipologia palácio administrativo clássico. A construção iniciou
No século XVIII, construiu-se o primeiro palácio do gover~ em 1897. Apesar do lançamento da pedra fundamental a 20 de se-
no estadual do RS, em Porto Alegre, já na colina que hoje é a rua tembro de 1909, não houve festividades de inauguração. Apenas
Duque de Caxias. O prédio estava alinhado com a Igreja Matriz e a imprensa foi chamada pelo governador Borges de Medeiros
a Casa da Tesouraria e a Real Fazenda. Esse palácio ficou pronto para uma visita oficial ao novo prédio, em 1921.
em 1789 e foi ocupado pelos governantes do estado por mais de Embora em sua tese sobre o Palácio Piratini Doris Bitten-
cem anos. court o correlacione com um projeto francês, a comparação com
Em 1894, foi decidida a construção de um prédio novo, de- â os protótipos renascentistas italianos parece mais próxima, ainda
vido às precárias condições em que se achava o primeiro palácio, ¿ que seu projetista, Maurice Gras, não tenha deixado nada regis-
além do custo das necessárias reformas. Em 1896, o Legislativo , trado sobre suas prováveis fontes de inspiração. Abandonando,
foi informado da decisão do governador Iúlio de Castilhos de portanto, o caminho trilhado por Bittencourt, parte-se do pressu-
construir um novo palácio. O responsável inicial pelo projeto foi posto de que os projetos italianos são suficientemente famosos e
o engenheiro Affonso Hebert, e de fato, sob sua direção, começa- constantemente referidos na literatura sobre arquitetura renas-
ram os trabalhos de demolição do prédio antigo, o terreno foi centista européia para que não fossem conhecidos por Gras. Por
aplainado e assentadas as bases. Entretanto o novo governador, outro lado, a escala do mundo europeu permite, hoje como nos
Carlos Barbosa, foi inuenciado por Cândido José de Godoy, ti- séculos XIX e XX, um contato relativamente fácil entre a arquite-
tular das Obras Públicas, que vislumbrava um projeto mais en- tura italiana e os arquitetos franceses.
compassado com a importância de Porto Alegre como capital, e Com efeito, dentre os palácios italianos ~ que, devemos
mais afeito à cultura arquitetônica européia, na qual estava im- , lembrar, têm servido de arquétipo para as condutas tipológicas
plícíta uma imagem bem definida de como deveria ser um palá- de arquitetos de todo o mundo e de todas as épocas -, desta-
cio de governo. Ignorando o que já estava em andamento (embo- 1 cam-se os palácios gêmeos Capitolinos, de Miguel Ângelo e um
ra se propusessem a manter o embasamento), decidiram-se por f palácio de Andrea Palladio, o Valmarana, que, segundo a litera-
um prédio mais grandioso, de maior expressão arquitetônica. ¡ tura especializada, traz ecos dos anteriores. Por outro lado, a in-

128 129
TÂNIA TORRES ROSSARI A ARQUITETURA 1-nsroR1c1srA DE Ponro ALEGRE E A CRITICA r1PoLÓc1cA

clusão, neste estudo, do palácio do vice-governador estadual traz Roma, século XVI), que é a origem dos outros dois. O de Palladio
outras questões, além da evidente base üpelógiea formalr palá- (Palacio Valmarana, em Vicenza, século XVI) é uma retomada da
cio. A mais relevante é a da própria data, pois não coincide com a pmposia fgimal do primeira Finalmente, Q Piratini (projeto de
época do projeto Piratini. Esse segundo palácio governamental l\/[_ Gras, em poi-ig Alegre, Século XX) parece fazer uma dupla re-
de Porto Alegre é da década de 1940 e nem foi concebido com a fi- ferência, iantg a Miguel Ângelo Comi) a Pa1ladi0_
nalidade precípua de ser um prédio administrativo. Era um pro-
jeto para uso particular de Santo Meneghetti, e só mais tarde foi
adquirido pelo governo estadual. Muito embora não tenha uma
feição neoclássica, nem por isso deixa de ser um prédio historicis-
ta, pois foi projetado com forte inspiração eclética no qual apare-
cem temas que vao do renascimento ao déco. Assim, sua inclusao
se justifica neste estudo, tanto por sua atual função quanto por fa- «X
zer parte do ciclo historicista a que pertence o Palácio Piratini, j
embora sua origem tipológica não deva ser pesquisada nos proje-
tos clássicos que se afinizam com esse último. Neste estudo, o
projeto de Armando Boni é utilizado como contraponto formal.
A seguir, definem-se as obras arquitetônicas que embasam
a comparação morfológica:
a) Palácio Valmarana (Andrea Palladio, Vicenza, século
XVI )
b) Palácio do Conservatório (Miguel Ângelo, Roma, século
XVI)
c) Palácio Piratini (M. Gras, Porto Alegre, século XX)
d) Palácio do vice-governador (Armando Boni, Porto Ale-
gre, século XX)
A comparação detém-se mais cuidadosamente nos exterio-
res, devido à hipótese de que, embora todos pertençam à tipolo- i¿

gia genérica "palácio", estão separados por vários séculos, e


Figura 2- Palacio Valmarana - Vicenza, seculo XVI.
`

A . ~ . .
como decorrencia nao se poderia encontrar multas correspon-
dências internas, pois, com o passar do tempo, vão-se modifican-
do os usos e as necessidades, o que se traduz em alterações no
programa e, portanto, na planta. Conforme já ficou dito, a análise
que segue deriva de uma abordagem analógica. A primeira ana-
logia é feita entre os projetos de Rey e Gras. A segunda analogia
se faz entre três palácios: o do Conservatório (de Michelangelo, '

130 ` 131
TÃNiA TORREs RossAR1 A ARQUITETURA 1-11sTORIc1sTA DE PORTO ALEGRE E A CRITICA TIROLÓGICA

Não é intenção analisar exaustivamente tudo aquilo que


compõe o seu espaço interno. Entretanto se descobre ali muitos
elementos expressivos, formais e / ou espaciais: os grandes salões
de uso coletivo, as portas e as escadarias, além da própria lingua-
gem ornamental.

Volumetria

O Palácio Piratini é definido como um grande retângulo de


acentuação horizontal, devido à platibanda, seqüência de janelas
z
Figura 3- Palácio do Conservatório - Roma, seculo XVI (Miguel Angelo). e sacadas. Em termos de volume, o Palacio Piratini apresenta um
z
A

elemento novo em relação aos dois outros palácios clássicos, em-


bora encontrado várias vezes em diversas outras obras de Palla-
dio: a superfície central é levemente avançada em relação às par-
Em relaçao ao Piratini, a pesquisa demonstra que, ao longo
tes laterais, e é nesse avanço que se incluem as colunas. Essa dife-
da história da arquitetura, produziram-se outros palácios seme-
rença compositiva é bem nítida
lhantes (por exemplo, a Banqueting House, de Inigo Iones, em
em relação aos outros dois mo-
Londres, século XVII, de inspiração palladiana).
delos.
Este estudo preferiu identificar, para fins de analogia, os
dois projetos italianos citados, os quais, por razões cronológicas e A análise revela que esse
avanço corresponde aos espa-
pela envergadura de seus autores, têm sido universalmente to-
ços cerimoniais internos, tanto
mados como referência.
no primeiro piso como no piano
mobile do piso superior.
Todos os três palácios pos-
Análise arquitetônica do Palácio Piratini
suem dois pisos; no Piratini, O
~ segundo piso é mais alto, com as
Os aspectos exteriores dos palácios estudados sao facilmen-
1

aberturas igualmente mais altas


te comparáveis, devido à maior disponibilidade de informações
(pouco tempo mais tarde, O pa-
visuais e bibliográficas. O mesmo nao acontece com os interiores,
lácio eclético de Armando Boni
sobre os quais a literatura arquitetônica oferece poucos sub-
criaria um terceiro piso).
sídios. Por isso, a análise dos interiores do Piratini não pode usar
como referência os dois palácios italianos, já que há aspectos cuja As portas partem direta' Figura 4- Fachada principal do
origem está noutros projetos. mente do 5019/ sem escadaria Ín' Palácio Piratini. Volumetria: um
'terna de articulação. discreto avanço da superfície
central.

132 133

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TÂNIA ToRREs RossAR1 A ARourrE1UM 1-nsroR1c1srA DE PoR'ro ALEGRE E A CRÍTICA rn=oLÓ<;1cA

O sentido de massa é atenuado pelo ritmo das colunas e No Piratini, 8 C0mposi- ,ë


aberturas. (O Palacinho, sem abrir mão do ritmo, deve obtê-lo por ção das colunas se altera no
meio de outros elementos compositivos, notadamente balcões e CGHÍIO da fâChâCl P1`íCÍPâ1z
mísulas bem salientes, além das próprias aberturas.) aparecendo aos pares (sem
balcão entre ambas) na demar-
cação da porta principal. Nes-
se caso, em vez de sacadas ín-
termediárias, aparecem está-
tuas simbólicas (Indústria e
Comércio/ Agricultura) de cu-
nho clássico na sua concepção,
mas de efeito barroco na sua
colocação
A base é bastante acen-
tuada nos três palácios. Nela,

Figura 5- Fachada do Palácio Piratini, à rua Duque de Caxias.


Figura 6- Estátuas simbólicas na
fachada do Palácio Piratini.

a) Detalhes compositivos
as colunas se erguem sobre pó-
Os três elementos básicos da composição são: colunas, dios elevados, que lembram a
aberturas e platíbanda. Nos três projetos, há uma distribuição arquitetura romana clássica.
muito semelhante das aberturas e colunas. Todos os palácios No Palácio de Miguel
comparados possuem sete aberturas em cada piso e oito colunas Ângelo, a base é seccionada
na ordem colossal (uma criação de Miguel Ângelo para os pelas portas. Os outros dois
palácios Capitolinos). As sacadas são decoradas por coruchéus palácios têm térreos vazados
nos três casos. por portas e janelas, com
Nos projetos de Miguel Ângelo e Palladio, as colunas são pódios que formam volumes
achatadas. No Piratini, embora também adossadas à parede, são horizontais mais contínuos.
semícirculares. Quanto aos capitéis: nos dois primeiros, são co- Pequenas colunas emol-
ríntíos, e, no Piratini, lembram o jônico, devido às volutas, porém _ . duram as portas e janelas de
não são puros devido ao seu ângulo e à presença de alguns ou- Figura 7- Base de inspiração roma- Miguel Ângelo (Palácio d0
tros elementos mais típicos de um tratamento barroco. na com pódio elevado. Conservatório), formando ele-

134 135

_í.i__..;_í
TÂNIA TORRES RossARi A ARQUITETURA i-iis'roRicisrA DE Ponro ALEGRE E A cRIi'icA TIPOLÓGICA

mentos menores laterais às pilastras. Esse tipo mais rico de com- ` Numa concepção bem clássica, as cornijas aparecem denticula-
posição não aparece nos dois outros casos onde os pilares estão das tanto no Palácio Piratini como no Palácio do Conservatório.
isolados.
Analisando a simetria compositiva dos Palácios Piratini e Cornija: forma um volume bem pronunciado no palácio do
do Conservatório, em Roma, nota-se que essa é reforçada por um Conservatório e no Piratini, e, nesse caso, reforça a sensação de
eixo central mais decorado, que demarca as salas ou salões prin- h0riZOnta1ídaCle.
cipais. Nessa zona, as janelas recebem molduras mais elaboradas
que as demais. '

As janelas, nos três projetos, têm formato quadrado na sua lí) El€m€11t0S decorativos
maior parte. No entanto há uma variação no palácio Valmarana,
onde a janela central forma um arco de meio ponto na parte supe- › b-1) TeXturaS1 0 palácio do Conservatório tem paredes qua-
rior. se totalmente lisas, ao passo que, em Palladío e no projeto de
Semelhantes na concepção das aberturas no primeiro piso, i Augustin, já aparece a pedra rusticada, tão freqüente nas modali-
o Piratini e o Valrnarana apresentam uma abertura menor, aeirna dades italianas de palácios, quer sejam renascentistas, barrocos
das janelas, que varia somente quanto a forrna; ovaladas, no pri- ou neoclássicos. No projeto do Piratini, é mais evidente, porque
meiro caso; e quadradas, no segundo. J usada em maiores superfícies e mais saliente. No projeto de Pal-
ladío, é pouco saliente, rodeando
Platibanda: no projeto de as aberturas do primeiro pavi-
Miguel Ângelo, é quase total- mento, e reaparecendo com mais
mente vazada, com esculturas a força expressiva no pódio
espaços iguais, que proporcio-
nam um prolongamento da linha b.2) Motivos ornamentais.
vertical das colunas. dos tres palacios analisados, o de
No projeto de Palladío, a menor empostação ornamental
platibanda é substituída por es- (externa) e o de Palladio. No de
paços fechados com pequenas Miguel Ângelo, eleva-se para o
aberturas quadradas, que servem segundo piso a maioria dos moti-
para atividades secundárias. vos florais (festões e guirlandas,
No Palácio Piratini, retor- que preenchem os frontões trian-
nam as platibandas - igualmente gulares e Semícirculares acima
vazadas, com preenchimento na das janelas). No Palácio Piratini,
área que corresponde ao término 2 , _ eSSa Ornamentação está mais
das colunas, apenas mais largas F1gura.8_Fl)rmadentlc.l'l1adadê igualmente dÍSt1'Íl3uÍda. Ainda
A parte inferior da cornija do Pi- -
Flgul'-"fl 9
~ -
DÊCOYHÇGO JUHÍO 50
que as de Miguel Angelo, e sem mini remete e experiencia dee ~ aSS1m, ha maior ênfase na parte acesso principal de Palácio Pi-
as estátuas de acabamento. templos greco-romanos. ` Central, Cl€VÍClO 810 brãSãO G SU.âS THÍÍHÍ-

136 137
TÂNIA TORRES ROSSARI A ARQUITETURA H1sroR1c1srA DE PoRro ALEGRE E A CRÍTICA T1PoLÓc1cA

extensoes bilaterais. (Esse brasao é característico da arquitetura


dos palácios renascentistas italianos desde o século XV, embora
assumam maior importância compositiva nas fachadas do século
XVI.) Também servem como ornamentação os elementos vertica-
is superiores entre as colunas, bem como a guirlanda e as mísulas
das três sacadas centrais.

b.3) Cor: totalmente monocromático, em tom bege claro. A


única nota colorida que interrompe esse cromatismo é o reflexo
das cores do céu no vidro das amplas janelas, ou a iluminação in-
terna nos dias mais escuros e horários mais tardios.
Figura 10- Palácio Piratini: salão de acesso.

Análise do interior do Palácio Piratini

NO ffâÍâm€1^L'f0 ÍHÍBTÍOT, muda râClÍCã1me11f€ â referêmí Dois pares de colunas de fuste liso, simetricamente dispos-
histórica. Ao contrário da ênfase clássico /renascentista do exte- tas à direita e à esquerda, um pouco à frente da escada, criam um
rior, a inspiração agora é estilisticamente mais híbrida, derivan- espaço cenográfico que se abre
do de duas fontes básicas, o rococó e o neoclassicismo, às quais se para a escadaria, servindo para
juntam ecos do Barroco. Esse procedimento torna evidente, aí, emoldurá-la.
uma conduta eclética, que já não se deixa orientar por tipologias Ali, no entanto, a referida
rigidamente renascentistas. calma espacial é ligeiramente
O estudo dos interiores quase sempre exige uma análise da perturbada pela ênfase barroca
espacialidade, entendida aqui como categoria de análise do pro- da escadaria de articulação entre
jeto. A espacialidade do Piratini define-se por uma serenidade os dois pisos. Essa escadaria é an-
clássica que deriva, possivelmente, das linhas retas dos salões tecedida por um primeiro lance
que se sucedem por um eixo retilíneo, tanto no primeiro como no de cinco degraus, que demarcam
segundo piso. Essa disposição expressa as linhas da planta que uma área intermediária no espa-
são retilíneas e apenas nos jardins do fundo, na escada que leva ço total do salão de entrada, ser-
aos planos inferiores externos, há certa movimentação barroca. vindo, também, para criar uma
O salão de acesso, no piso térreo, é o cartão de apresentação ›‹ hierarquia espacial. Esse ponto
arquitetônico do interior, exemplificando também, um conceito l intermediário, além da escada re-
geral de espacialidade e decoração. tilínea, é ladeado por bases das
Figura 11- Palácio Piratini: es- qllâíã qL1âÍS Se Êfguemz SÍITIÊÍYÍ'
Cadaria prinipal. cas, duas colunas e duas pilastras.

138 139
TÂNIA TORRES RossARI 1 A ARQUITETURA I-I1sroR1cIsI'A DE Poizro ALEGRE E A CRÍTICA TIPOLÓGICA

Na parte superior, o capitel apóia uma arquitrave decorada por 1


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frisos retilmeos, cuja severidade das linhas so e quebrada pelos
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dentículos que rodeiam todo o salão. Situada no centro do salão


de entrada, ela revela um movimento curvilíneo no entrepiso, e
um caprichoso jogo de curvas e contracurvas nas bordas dos de-
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â"‹=?j 2., ';^1'.' ¿ "`›×‹i^

graus, cujo mármore claro se integra perfeitamente ao tom pastel °:;ÍVl* .;_lí:_¡
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das paredes, as quais acompanham essa referida curvatura.
Í.
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ii!-{.,_f«... zig ._/-1-ff, _ .Ig


Não só a forma em si, mas elementos decorativos como os l l¡i~ :ill

contrapontos cromáticos, criados pelo corrimão em metal negro


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ig./i A:-«xiii ía
e pelo tapete vermelho, além das luminárias laterais em ferro ne-
llzifi
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gro, em sua base, também auxiliam na criação do "efeito barro- r 'Ê

co".

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I
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São arredondadas na junção com o teto, com um tratamen- I

to decorativo que cria uma faixa contínua separando um plano Figura 12- Palácio Piratini: elementos decorativos internos em metal.
do outro. Esse é um recurso característico do estilo Império, en-
z A 1
contrado no seculo XIX frances. As superficies lisas, sem textura e
Y

de cores claras, são decoradas com essa faixa e com estuques, es-
pelhos, afrescos e meias pilastras, na mesma cor. TETO
Esses elementos decorativos se distribuem principalmente
Em quase todas as salas (exceto na de conferência /audiên-
no teto, junto às portas e janelas, além de aberturas ovaladas aci-
cia e seu anexo), o teto é da mesma cor clara das paredes. No cen-
ma delas. Também há painéis que seccionam as paredes junta- -
tro, não há decoração esta é periférica. Os motivos ornamentais,
mente com os espelhos e os afrescos. Vários nichos aparecem
' em estuque, derivam do rococó francês e estruturam-se sobre
com espelhos e outros objetos decorativos. ~
duas volutas que se encontram e sao arrematadas por uma forma
9

Demostrando também algum ecletismo bem como ele- conchoidal. Motivos florais secundários se distribuem ao longo
'
mentos de prestígio na época de sua construção foi anexada uma
' das volutas. No centro do teto, há uma luminária em metal dou-
decoração em ferro (corrimão portas, balcões internos) proveni-
_ ,, ', ' rado e cristais. A luz proveniente das aberturas garante uma boa
ente da tradiçao europeia do seculo XIX. . _
Iluminaçao diurna e realça os pormenores decorativos do teto.
' .

140 141
TÂNIA TORRES RossAR1 A ARQUITETURA H1s'roR1c1s'rA DE PoR1'o ALEGRE E A CRITICA TIPOLÓGICA

cos que lhe servem de moldura.


Todas as portas apresentam al-
gum tipo de moldura ou são en-
gastadas abaixo de um painel e
entre duas pilastras. Todas são
retilíneas (de origem formal
clássica), às vezes fazendo com-
posição com os nichos laterais
espelhados, encimados por um
pequeno arco. O tema do arco,
que é outro elemento clássico,
Figura 13- Palácio Piratini: detalhes do teto. também aparece sobre as mol-
duras.
As molduras das portas
Figura 15- Palácio Piratini: deta- variam bastante Algumas São
lhe das portas originais. mais Simples _ as dos Salões
PORTAS -
principais e outras mais com-
Não são muitas, mas ga- -
plexas as que levam a peque-
rantem o acesso e a comunica- nos gabinetes laterais.
ção entre os vários ambientes. As complexas apresentam elementos superiores como guir-
Acompanhando o tom monu- landas e capitéis, e, pelo menos num caso, acima, uma abertura
mental do palácio, são altas, e
as originais são de madeira en-
talhada; outras, mais recentes,
são de vidro ou espelhadas.
Essas últimas não podem ser
confundidas com as originais,
mas, por sua leveza, não che-
gam a comprometer. Desta-
ca-se pela altura a porta que ar-
ticula os dois salões principais:
essa vence quase todo o pé di-
reito, tem efeito monumental,
devido, inclusive, ao tratamen- E1gurz114- Pziâzio Piraúnâz portas
to decorativo temas c1áSSí_ mais reCenteS_ Figura 16- Palácio Piratini: aberturas circulares.

142
143
Â

TÂNIA TORRES ROSSARI .


A ARQUITETURA i¬1isToRicisTA DE PORTO ALEGRE E A cRíTicA TiRoLÓc1cA

Crrwrar é ladeada Por PáS5ar°5f n°urr° Caso/ ladeada Por rrguras vessem sido utilizados de forma menos canônica, incorporando,
femininas/ Gula reÍÇä0 CurVÍ1rnea aPr0×Íma'5e do e5tÍ10 ¿”'r'”0”Ue“ inclusive, estilemas barrocos e até mesmo um ou outro pequeno
au próprio dos momentos finais do século XIX, e não do classicis- indício do proiomodomo ,i,z¿_d¿oo, tao ao gosto da arquitetura
mo. ` porto-alegrense na década de 1940.
Está situado na avenida Cristóvão Colombo, esquina com a
rua Santo Antônio, distante, portanto, do eixo monumental dos
O historicismo eclético dv Prllrlíflh edifícios públicos que rodeiam a Praça da Matriz, o que se explica
` pela sua origem: não foi projetado para sediar atividades gover-
E1T1b01`äãb0fdad0 de m0d° mais Sírlréríw que 0 Piratini/ e namentais. Era, de início, a residência da família de Santo Meneg-
mais a título de complementação, foi usada a mesma estrutura de _i hoiii_
análise para o Palacinho - prédio projetado pelo italiano Arman- '

do Boni no início da década de 1940 -, com base em três aspectos: Voziimem-a


a) volumetria, b) elementos compositivos e c) elementos decora- T
Tai como os demais paiaoios osmdados, aprosoniaso como
tivos. um volume maciço, com o formato básico de um retângulo. A di-
ferença é que, em se tratando de uma edificação em menor escala,
”×\ W ' houve maior compactação de vá-
rios elementos compositivos,
como aberturas e balcões, que se
aproximam mais entre si, garan- A

tindo, dessa forma, visualmente,


uma ligeira ênfase verticalista às
fachadas, bem mais nítida que no
Palácio Piratini.
Aspecto marcante de sua
volumetria é o chanfrado da es-
-
quina aliás, um tratamento bem
ao gosto do ecletismo, um corte
Figura 17- O atual palácio do vice-governador do Estado, em Porto Alegre. j que não impede que as Superfí_
i cies, aí, apresentem os mesmos
elementos das outras fachadas e
que, dessa vez contrariando o
Esse prédio pertence à mesma família tipologica (generica) procedimento Comum ao e C1 etíS_
dos ”palácios". Foi projetado conforme uma inspiração esteti- molevita Coiøcar uma porta nesse
co / estilística eclética, embora, como já foi assinalado anterior- ponto' Figura 18_ Palacmhoz detalhe do
mente, os elementos arquitetônicos derivados do classicismo ti- chanfm da eSqu¡na_

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TÂNIA ToRREs RossAR1 A ARQUITETURA H1sroR1c1srA DE PORTO ALEGRE E A cRincA 'rIPoLÓc.1cA

O volume total se divide horizontalmente em três corpos, central, bem marcado pela porta e janela superior, diferentes dis-
sendo mais elevado o corpo central. Na base, o grande e maciço tâncias encompassam a seqüência das aberturas, mais aproxima-
pódio dos palácios neoclássicos é substituído por um porão alto, das à esquerda e mais distanciadas à direita.
típico das residências mais sofisticadas do ecletismo. Apesar de Se as portas e janelas se constituem nos principais elemen-
se constituir numa superfície fechada que configura o corpo infe- tos de marcação vertical, as linhas horizontais são fortemente de-
rior, ela não é muito alta, e este porão ganha janelas menos im- finidas pela seqüência de balcões muito salientes entre o plano
pressivas que as demais, que contrastam com as superiores 'em intermediário e o terceiro plano, as quais são substituídas por sa-
sua simplicidade retilínea, embora guardando a (clássica) relação cadas mais achatadas, menos expressivas, sob as altas janelas do
simétrica com as outras. plano médio. Se, no entanto, essas sacadas fossem tão enfatiza-
Ainda que harmonioso no todo, registram-se diferenças su- das quanto as superiores, teriam neutralizado toda a monumen-
tis de composição em cada um dos seus corpos horizontais, fican- talidade que Armando Boni quis conferir para a grande porta
do evidente uma hierarquização pela qual se dá maior expressão central e para as janelas que a acompanham. Balcões superiores,
ao corpo central, mais alto que os demais e onde o arquiteto pare- muito projetados, são os principais responsáveis pelo aspecto
ce ter querido concentrar a decoração. A relação de altura entre muito musculado da volumetria das fachadas, quase anulando o
os três corpos, de baixo para cima, é de 1: 2: 1,5. impacto da cornija e platibanda que dão o acabamento superior
ao prédio.

a) Elementos compositivos
b) Elementos decorativos .

Num olhar menos


atento, o edifício parece A característica mais mar-
manteravocação simétri- cante, na decoração, são as se-
ca das tipologias clássi- qüências de mísulas que percor-
cas, mas uma análise mais rem as fachadas, complementan-
detida revela assimetrias do a linha inferior dos balcões e
que correspondem à refe- logo abaixo da cornija de fecha-
rida sutileza das diferen- mento. Sendo variada a largura de
ças compositivas. Ê cada sacada, também é variável o
Os elementos de su- número de mísulas em cada uma
perfície, especialmente as delas (duas a três por sacada).
aberturas (e conseqüente- Igualmente, variam um pouco
mente os balcões abaixo quanto ao tamanho (altura e lar-
delas), não seguem um Êëgãtrâralsg' Palacmhoz assimetrias nas gura) e grau de saliência, embora
ritmo contínuo.Nos lados ' todas sejam bastante grandes. Sua pígura 29- p,,z,,C,~,,¡.,,,. mísulas
direitoeesquerdo do eixo forma é a de uma Voluta jônica na fachada principal.

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TÀNTA ToRREs RossAR1 A ARQUITETURA H1sToR1c1sTA DE PORTO ALEGRE E A cRÍ'ncA TIPOLÓGICA

voltada para frente (0 que indica, sem dúvida, a inspiração no re- pelo uso do vidro e do ferro, numa atualização da bandeira neo-
'pertório decorativo barroco). Aparecendo nos três corpos longi- clássica.
tudinais, elas seguem uma redução progressiva, desde o alto até Sobre todas as aberturas volta-se a encontrar um elemento
o nível térreo, com disposição rigorosamente simétrica no senti- que enraíza nos palácios clássicos: os medalhões, dentre os quais
do vertical. se destaca o da porta central, mais imponente, com formas enro-
Outras áreas de forte concentração decorativa são as aber- ladas que sustentam uma guirlanda de folhas.
turas do corpo intermediário, que, juntamente com a grande por-
ta central, recebem arquivoltas que as tornam mais impressivas.

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f. Figura 22- Palacznho: decoraçao sobre a porta central.

Figura 21- Palacinho: molduras nas aberturas intermediárias.

As sacadas intermediárias são também decoradas, com pla-


nejamentos barrocos e compoteiras, lado a lado.
Em meio a tal tipo de moldura, é usada uma linha na forma O ferro, que aparece muito marcante na porta central, rea-
de cordão, que tanto remete as formas torsas do barroco, que Parece em algumassacadasSupefímeseC0m°§šfadÍ1dePf0teÇa0
aqui na América Latina apareciam como símbolos dos cordões ClâS âb9fÍUfaS (10 P0fã0z Sem HUI1Cã Perder Sua EXPIBSSÊO d6C0râ-
da ordem franciscana, quanto pode, também, derivar diretamen- fÍVã-
te da multiplicidade de formas da arquitetura medieval. Essa Tais elementos de ferro são, seguramente, de proveniência
mesma linha torcida decora a verga que atravessa o arco superior ' €SÍrâ11g€í1'az uma VEZ que Se €I1C0I1fram 1105 ârqUÍV0S de Arman-
dessas janelas e da grande porta. Aliás, essa verga de arco de vol- (10 BOHÍ Câ'fá10g0S GUIOPBUS CÍGSSBS GÍGIHGHÍOS-
ta inteira, seccionada por dois elementos, formando uma subdi- A conclusão que se impõe é que tanto o Piratini como o Pa-
vjsäo interna do arm, é própria do ecletísmg, bem Caracterjzadg ' lacinho oscilam entre linguagens clássicas e ecléticas, embora, no

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TÂNIA TORRES ROSSARI A ARQUITETURA i-iis'roRicis'rA DE PoRTo ALEGRE E A CRITICA 'rii=oi.ÓGicA

primeiro caso, haja maior pureza


na concepção global clássica. Tal-
vez pela sua própria destinação
original, o Palácio do Governo te-
nha-se mantido mais fiel às tipolo-
gias clássico/renascentistas, ao Agradecimentos
passo que o programa residencial
definido por Armando Boni, no Pa-
lacinho, garantiu-lhe maiores possi-
A autora agradece à colaboração dos amigos e colegas:
bilidades de trabalhar com maior
autonomia em relação a precisão Arquitetos Eneida e Ronaldo Ströher, pelas sugestões e foto do Palácio
estilística. Isso não impede que sua Valmarana;
residência se mantenha nos marcos Arquiteto Maturino Luz, pela cessão de cópia dos planos de Agustín Rey;
Professor Alexandre Santos, pela troca de idéias sobre o Palacinho;
tipológicos dos palazzos do século Arquiteta Alba Maranzana, pelo apoio técnico com as fotos;
XVI .
Por Outro lado, a referida ”- Figura 23- Pizlzzcinhoz detalhes Também meus agradecimentos aos funcionários do Palácio Piratini, go-
. . . .
delidade” do Piratini ao canone,r A t^ ' B 'tt `aboavontade não haveria ual ueranálise
em fefm' Vemo. nomo. n .°'Sem culd q q
ou registro do interior do pre io;
clássico é mantida com maior rigor
apenas nQ5 extgrigreg, P015, inter- À UNISINOS, que sustentou a pesquisa da qual deriva este capítulo;
namente, vários impactos se sucedem: transposta a entrada, insi- Ao acadêmico Pedro Piantá, pela reprodução do desenho do projeto de
. , . . . .
Agustin Rey para o Palacio Piratini;
nua-se uma vibraçao espacial barroca - merce da presença forte
_ _ ,_

Cla eSCãClarÍâ Central. A Seguir, SObr€VéITl p€I'C€pÇãO Cl€ equipa-


21 E meu muito obrigada especial à colaboração dedicada e desinteressada
mentos arquitetônicos ou elementos decorativos que aderem a da aluna Liliane BenderLima, indispensável na organizaçao do material.
diferentes linguagens, muitas vezes superpostas: barrocas, ecléti-
cas, neoclássicas - para não falar das amplas áreas pintadas por
Locatelli, que já se encaminham para vertentes modernas. É sur-
preendente como todos esses elementos se ajustam numa totali-
dade que repousa antes numa concordância visual que em crité-
rios rigorosos de estilo.

150 151
TÂNIA Toiuzes Rossmu

Referências bibliográficas

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WEIMER, G. A arquitetura no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aber- Por mais paradoxal que pareça, as bibliotecas são anteriores
to, 1983. aos livros e até aos manuscritos. As bibliotecas com tabletas de
. “A Arquitetura Erudita do Rio Grande do Sul". Tese de Doutora- argila constituem-se nas mais antigas e são denominadas de "mi-
do, FAUUSP, S. Paulo, 1989.
nerais", enquanto as "vegetais" e "animais", constituídas de ro-
_ ,
Fotos: com exceçao do Palácio Valmarana, todas as fotos deste capitulo fo- . los de papiros e pergaminhos, seguiram-se àquelas (Martins,
ram feitas pela autora. A foto do Palácio Valmarana foi cedida por Ro- 1996).
naldo Ströher. Na Antigüidade, tinha-se a biblioteca de Alexandria, que
fazia parte do Ramesseum (Canfora, 1989); no tempo de Ptolo-
meu II, Philadelphus (século III a. C.), que continha duzentos mil

* Baseado em capítulo da dissertaçao de mestrado em Arquitetura, "Bi


bliotecas: Evolução histórica das tipologias e os aspectos de conforto
ambiental", apresentada no Programa de Pesquisa e Pós-Graduação da
Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, em dezembro de 1997, sob a orientação da Dra. Lucia R. de Mascaró.

** Arquiteto e urbanista, com mestrado em Arquitetura pelo Programa de


-
Pós-Graduação em Arquitetura UFRGS. E professor no Curso de Arqui-
tetura e Urbanismo e no Curso de Pós-Graduação em Arquitetura Co-
mercial da UNISINOS.

152 153
HONORE5 MAMBRN
Tn=oLoc1As E As1=Ec'ros coivmosmvos DE BIBLIOTECAS

roloS de p€fg¿11'I1ÍI1h0S e P¡1PÍ1`05z en<luant0 Outms aumres ar' tica de prender os livros pelas correntes era comum em quase to-
mam que Chegou a ter setecentos mil (Pevsner, 1980)- Chamada das as bibliotecas, e essa sistemática permaneceu por muito tem-
de Monseion, era a maior biblioteca do mundo antigo G tinha po. O sistema de atris (móveis com plano inclinado onde o livro
como trabalhadores líderes letrados da época. Infelizmente, foi era colocado aberto, para comodidade do leitor) exigia muito es-
destruída durante a guerra civil no terceiro século depois de Cris- paço e, com a invenção da imprensa, em 1455, e a substituição do
to (Compton's New Media Inc., 1994 e 1995). pergaminho pelo papel, os livros se multiplicaram e se produziu
Por meio de escavações arqueológicas, conheceu-se a edifi- a mais importante melhoria realizada no século )(111_
CaÇaO da bÍbllOt€Ca h€l€I1ÍStlCa dê PéI`gaII\O 6 OS €dlfÍClOS ClaS Na Idade apareçe Qutro elementg impgrtante de
bliotecas romanas de Éfeso, Timgad, 6 â de Atenas (PeV5efz z configuração de biblioteca. E o do uso de pequenos nichos, junto
1980, p. 107). A biblioteca de Éfeso foi construída com paredes as paredes externas, dotados de janelas, que nos claustros dos
duplas, e entre elas circulava o ar, grande preocupação COI*-1 0 mosteiros serviam de localpara os monges lerem eescreverem. O
COI`1fOI`ÍO aI`I1bl.€1'llIal€ COII1 a PIOÍGÇÊO dO aC€I'VO. Em VaI`laS gLl1`aS , melhgr exemplg Cgnservado é 0 de Glgueegter, antjgg mgstejfg,
e desenhos da época, pode-se verificar a existência de armários que só chegou a ser catedral na época de Henrique VIII, composto
para a guarda dOS lÍ.V1`OS. E, COIIIO COI1Sta em dlV€1'SaS paSSage1'1S, per Vinte njçhgg, Cada qual Com uma janela (IbÍd_, 109)_
”armarium" era sinônimo de biblioteca (Ibid., p. 108). A biblíote- Da biblioteca da Antigüidade para a da Idade Média não
ea de Éfeso era um amplo local, onde os leitores ocupavam 0 BS' houve modificações substanciais na organização, na composição
paÇO C€I1Í1`al} aS paI`€d€S €I`aI'I1 I`€V€SlI1daS POI' €SÍaI1t€S para I`OlOS e ng funeignamentg, pgdendg-se dizer que se trata dg megmg
de pergaminhos ou papiros com nichos para esculturâS. tipo funcional adotado.
Q Século XIII é o da consolidação das uniVerSídaCl€S, quê Até a Renascença, as bibliotecas não estavam à disposição
SãO ÍIISÍÍÍUÍÇÕGS de 61151110 que aI`lZlC1llaIT\ um COI'1j1lI1'£0 de €SCOlaS dgs prgfanggj eram çongjderadas grganígmgg mais Qu mengs Sa-
SLIPQIIOIBS deSlÍl1'1adaS a fOI'I1'1aÇaO pI`Of1SS101'1al G Cl€I'lÍÍflCa, G a gradgs Qu relígjgsgs, degtinadgs aQ5 que faziam parte de uma
IT1alS lIT1pO1'lÇa1'1t€ blbl1OÍ€Ca aCadê1'IIlCa d€SS8 SéCU_lO É a da SOI'bO- "01'dem" Qu um "(201-P0” igualmente reljgiesg Qu Sagi-ad0_ I550 é
ne, constituída por um edifício isolado de um comprimento de 19 comprovado pelo fato de muitas delas não terem saída para o ex-
janelas (Ibid., p. 110). terior, como a grande Biblioteca de N ínive, ou então, por estarem
situadas no interior dos conventos, com acesso somente aos reli-
Os livros não estavam em armários e sim em atris, dos quais, giøsos (Martins, 1996, p_ 71 e 72)_
ao que parece, trinta e oito estavam colocados dois a dois, e os O renascimento italiano mudou O programa da cOnSeI,Va_
ÍÍVYOS estavam Pres” a eles "Para ° uS° da Comunidade/,"' A ção dos livros, o que alterou também o estilo arquitetônico dos
dispqsição da Sorbone' com Os livros presos aos atris' e com edifícios bibliotecários ou das salas-biblioteca, porém não mu-
uma janela correspondendo a cada par destes, demonstrou ter d d_ f_ 1_ d d d 1 nh
no ). ou a isposiçao nem as ma i a es e as em ne um aspecto
muita aceitaçao, principalmente na Inglaterra (Ib1d., p.
que valha a pena ressaltar. Os atris permaneceram, assim como
A preocupação de vincular a luz natural, através das jane_ as correntes. Apareceu a divisão entre a nave central e as laterais,
1 plano de leitura Consulta aparece como um fato ím_ não usadas até então, ressaltando as diferenças entre as zonas de
as, com .

a tris e o corredor central. O primeiro exemplo é o da biblioteca


f
ucas alternativas ara iluminar. A pra-
-
d - -

portante' e era uma as po P dos frades dominicanos de São Marcos de Florença (Figura 1), co-

154
155
HQNQRES NIAMBRINI
l TIPOLOGIAS E ASPECTOS CONEPOSITIVOS DE BIBLIOTECAS

nhecidos como a confraria de Fra Angelico, que foi construída

J\
por Míchelozzo para Cosme de Medici em 1438. O mesmo esque-

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|\¬\i\1\l|I{[1m~ __ ma de nave central e alas laterais se repete na Biblioteca Malates~
,
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/ ta Novello, em Casenha, construída em 1447-52. Tem mais de 130
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` pes de comprimento, separada com vinte Janelas a\ direita e a es


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É' querda (Pevsner, 1980, p. 111). Tanto no primeiro como no se-
\ \.. ,il “i,=¿l¡‹;¿,\ ¡1¡*;l)¶¿z

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I'_; gundo exemplos, a iluminação natural se dá pelas duas laterais;
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no primeiro, os atris são centrais, e a iluminação das laterais e po-
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sicionada na parte superior. No segundo, os atris estão posicio-
nados mais próximos das janelas, e essas têm peítoríl mais baixo,
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I ¡Epí- permitindo uma iluminação maior.


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i Clemente VII, o segundo papa Medici, encarregou a Miche-
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z- :Í _.;;¡.- L 'ii langelo de construir com novos critérios a segunda biblioteca
_ 1;; af... _._'_ -'":.'ëiÊ' ii
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Medici em Floren Ç a, a Laurenziana (F1 g ura 2 > . Esse monumento
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'- ' entre 1523 e 1571, e tem seu vesti-z
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Y' ' ` 1E== .
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55% ¡¡¡¡;¡¡¿:¡_ do Maneirismo foi construido
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.- bulo bastante grande, que dá continuidade à biblioteca propria-
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mente dita, composta por uma só nave, muito baixa e larga, pro-
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'*'!¡'¡!!l5l|III1=- u vida de atris colocados em filas, com assentos unidos aos encos-
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tos (Ibid. , p. 112). A iluminação natural provinha das janelas loca-

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lizadas ao longo das duas paredes laterais aos atris
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Entre a criaçao " da biblioteca
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de Alexandria (seculo III a. C.)
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- ._ e o começo da biblioteca Laurenziana, de Michelangelo, em Flo-
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*`i2E*‹;'¡¿*`~'~-'i”".-"~'z«¶fz=z
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r , ,,,: T . . . .
_-'» revestidas de estantes para os rolos e papiros (tipo funcional da

-' \~ biblioteca colonial romana);


==š_';':ãâzâs'z==iií'šÊáK
\ `›`-~ ""` 'f' \" ` F:
,~:;_:; ' 2 a da presença de pequenos nichos individuais para cada

3,
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,
4 i

.f¿\\..\-
-_.=›-- ' z- --___ -_ '
šl i ` leitor, propiciando maior concentração ao mesmo - dentro dos
__;z'¿_ princípios monásticos (Brawne, 1970 p 10 e 11)
ç: ~ : ~ ¬'
c
' \ \\_ A partir do seculo XIV, os fechamentos se criaram mediante
'¬"'__`--~-›-~ ' \' a disposição do mobiliário, como é o caso da biblioteca do Que-
en's College (Cambridge 1448), onde armários, bancos, estantes
Figura 1 - Biblioteca de Sao Marcos em Florença, de Míchelozzo. 1438. e mesas de leitura formam um ângulo reto com 3 Parede maciça
entre as janelas regularmente posicionadas (Ibid., p. 12). Esse sis-
tema, em que os livros eram guardados em armários ou em arcas,

156 157
HoNoREs MAMBRINI

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que se processou em relação às primeiras bibliotecas do Renasci-


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vado a planta medieval.
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Figura 2 - Biblioteca Laurenziana, de Michelangelo, Florença. 1523-1571.


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Figura. 3 - Biblioteca do Escorial, Espanha. 1567.

funcionou bem, enquanto o número de leitores e de livros era pe-


queno. Em 1500, com o aparecimento de um maior número de li- A biblioteca Ambrosiana de Milão
(1603-1609) foi um dos
vros, houve uma retomada do tipo funcional romano, dispondo primeiros exemplos de um grande local, com teto abobadado, em
as estantes junto às paredes. Com o acréscimo do número de li- que foi projetado um mezanino para facilitar o acesso aos livros.
vros, essas foram ficando cada vez mais altas, criando a necessi- As estantes inferiores tinham altura de 4 m, enquanto as superio-
dade de escadas e fazendo aparecer mezaninos e balcões. res eram de 2,60 m . O acesso ao plano intermediário era feito pe-
A biblioteca do Escorial (Espanha, 1567) (Figura 3), que las escadas posicionadas nos cantos da sala (Figura 4). Na Ingla-
abrigava 18.mil volumes, com estantes junto às paredes terra, na biblioteca de Bodley (1610-1612), foi adotado esse mes-
(wall-system), foi um significativo ponto de partida da mudança mo tipo arquitetônico.

158 159
1

HONORES I I MBRINI TIPOLOGIAS E ASPECTOS COMPOSITIVOS DE BIBLIOTECAS

Q O conceito de biblioteca como uma grande sala unificada,


em cujas paredes se colocavam os livros, tal como se havia feito

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cionados junto às galerias, no nível superior.


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* de livros impressos, mas ainda de leitores, ao mesmo tempo em

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invariavelmente afeta a` Corte a` Ig re a ou a` Universidade (Ibid 'I
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14) . O edificio da biblioteca de Wolfenbuttel (1706-1710) foi o pri-
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it .lr J. iuniiiluu ner, 1980, p. 117).
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E5 ,I até então. O novo tipo veio com a mudança na concepção concei-
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perpendicularmente à rua ”Unter den Linden" e sobre um
plano elevado como adaptação de um projeto de Fischer von
Erlach para o Holburg - o Palácio Real. Desde o princípio, foi
Figura4 Biblioteca Ambrosiana Milão deL Buzzi continuada porTesau considerada como biblioteca pública e leva a inscrição ou
rO_1603_1609_ lema Nutrimentum Spiritus, eloqüente testemunho da nova
função educativa das bibliotecas em geral. (Brawne, 1970, p.
14)

160 161
HoNoREs MAMBRINI

Esses novos problemas da biblioteca - o de suportar o au-


mento de livros e leitores - foram explorados pelos arquitetos
franceses do final do século XVIII, principalmente por Boullée,
entre 1785 e 1788, em três projetos para a Biblioteca Nacional de
Paris.
Tanto as dimensoes como a nova importancia simbolica da
biblioteca como santuário de conhecimento tiveram imediato eco
eƒracionalizaçao
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~ nos esforços monument/ais realizados por Boul _

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lee, Ledoux e Lefebvre (Ib1d., p. 16). Porem coube a um italiano,


Leopoldo della Santa, o emprego de um novo tipo funcional para
a biblioteca (1816), que constava em separar as funções de arma-
zenamento, gabinetes de trabalho, e a grande sala de leitura adja-
cente a um local de catálogos. Essa separação tripartida foi adota-
da praticamente por todas grandes bibliotecas do século XIX.
Foi essa separação em seções a idéia que direcionou o proje-
to de Henri Labrouste ara a biblioteca Sainte Geneviève
P
(1843-1851) em Paris (Figura 5). A grande sala de leitura que aco-
moda seiscentos leitores é provida com iluminação zenital, preo-
cupação importante, visto que foi construída antes do apareci-
mento da iluminação a gas ou a eletricidade. As inovações cria-
, .

decorativas arcadas desse mesmo material, empregadas na am-


.
das no edificio de Labrouste sao as colunas de ferro fundido e as

pla sala de leitura e ao longo de todo primeiro piso. No pavimen-


to terreo, fica parte do armazenamento de livros. Sua sobria fa-
chada em estilo renascentista italiano nao faz prever um interior
. , .
tão revolucionario (Pevsner, 1980, p. 127).
A separação horizontal (das três funções básicas da biblio-
teca) volta a ser usada em dois importantes projetos de bibliote-
cas da época de 1850: o da biblioteca do Museu Britânico de Lon-
dres e o da Biblioteca Nacional de Paris.
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a 1 ioteca do Museu Britanico (1854-56), Sydney Smir-
ke, atuando, segundo as idéias de Panizzi, que era então o biblio-
tecário, criou um grande local circular (Figura 6), que podia aco-
modar 364 leitores rodeados de estantes de ferro com três níveis
de 2,45 m de altura cada um. A cúpula de ferro e cristal permite

152
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uma boa iluminação ao local. Porém os dois pontos importantes
nesse projeto são o do método de ventilação e o do conceito de
uma estrutura única (Brawne, 1970, p. 18).
›\ i O projeto de Labrouste para a Biblioteca Nacional de Paris

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(antiga Bibliothèque du Roi) que data de 1865-68 tem presente a
estrutura de ferro fundido como seu elemento marcante, repetin-
do o sistema construtivo que havia usado na Sainte Geneviève.
¬
yI{:>/'/,!|¿"”/ fi/ Possui novamente o ferro à vista em forma de 16 colunas que sus-
tentam nove cúpulas de cerâmica e cristal (Figura 7). Nessa bi-
\
blioteca, Labrouste adotou o sistema horizontal da divisão de
W funções, a exemplo da do Museu Britânico, e a impressão é de
mais luminosidade e elegância do que a da sala de leitura daque-
\ 1
\
la, porem
z
menos apropriada para concentração. Novamente, as
` estantes são posicionadas nas paredes periféricas da sala, em três
níveis, a exemplo da do Museu Britânico (Prevsner, 1980, p. 129).
P¬r~ Com esse tipo arquitetônico adotado nessas duas bibliote-
cas, onde os livros cercam o ambiente - ideal perseguido no pe-

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ríodo barroco -, o leitor passa a ser a finalidade suprema outra
vez, como o era na época medieval. Porém, dessa vez, o grau de

5:ú
i isolamento era bem menor. Sua individualização era buscada
l il `

pela criação de espaços menores integrados ao espaço maior. Os


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-¿=..-5¡;;¡----~ ‹¿-¬~_-__'__='z;_-;r¿_¶_.¬_.¬____,__ ‹ _`¬__ ponto de vista, a divisão criada no século XIX propiciava novos
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problemas e solucionava outros. O grau de acesso do usuário às
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fontes de informaçao diminuiu, enquanto a segurança aumen-
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c.-~.~¡iâ.z=i‹vJ,.+i.›
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Ri A Biblioteca Nacional de Paris ganhou, posteriormente,


=.-mi-_;-.;.
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”Q. \
` mais uma sala. Essa, chamada de Sala Oval, destinada ao departa-
=.z/
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mento de periódicos, foi projetada pelo arquiteto Pascal, sucessor


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..` de Henri Labrouste, e só foi concluída em 1935 Nessa, o espaço é


`-Zái ` único com grande iluminaçao ~ zenita 1 , mantendo a C1 isposiçao
~ zi as

estantes junto às paredes periféricas, a exemplo da do Museu Bri-


ãigura 6 - Biblioteca do Museu Britânico, Londres. 1857. Vista da Sala Circular de fânÍCO.
'Í , ' Cl -
Entre 1800 e 1820, as prensas sofreram aprimoramentos tec-
.
el um na epoca e sua abertura
nológicos significativos, melhorando consideravelmente seu de-

164 155
HONORES MAMBRINI TiI›oLoGIAs E Asi>Ec'i'os coMPosmvos DE BIBLIOTECAS

No início do século XX, existia uma hierarquia de bibliote-


-'\/l ~ wtfq / z /Q cas em cada país. Tinha-se uma biblioteca nacional, que ocupava

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o topo da escala, seguindo-se as regionais, as centrais das cidades


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cante foi o das instituiçoes especializadas, como das ciencias e
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das artes, estarem interligadas por .um serviço de emprestimo
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com outras bibliotecas, o que poderia satisfazer a demanda dos
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Em 1927 Alvar Aalto ganhou o prêmio com o projeto da Bi-
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cadas, até o piso mais alto da biblioteca onde estava situado o
controle que inspecionava não so as estantes como tambem o
115% šõ-Slšiblioteca Nacional de Paris. Vista intema da Sala de Leitura, de Henri Labrouste. tr local de leitura' Tal disposição facmtava não Sømente referi_
¿l da inspeção mas criava também numerosos locais individua-
lizados, ainda que estivessem interligados entre si e separa-
dos por diferenças de nível, dentro de um só volume, e todos
sempenho. Com isso, houve um aumento muito grande de publi-
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iluminados com luz zenital por clarabóias cônicas circulares
caçoes. Decorreu disso a separaçao das diferentes funçoes da bi- de uns dois- -A
metros de diametro. ~
A colocaçao das estantes de
blioteca, e isso apareceu pela primeira vez na Biblioteca Pública '
livros criava ainda, como nas bibliotecas barrocas, superfícies
de Sa1l7YkeV'ShehedfÍn em Sãe Petefsbufgez Onde/ Cem sua adicionais acessíveis junto à parede, e fazia com que os livros
ampliação em 1830, foram criadas salas de leituras, locais para ' fgrmagsem parte integrante dg redntg que fechava 0 lgçal,
pesquisas especializadas, salas para periódicos e salas para revis-
tas (Brawne, 1970, p. 20).
Outra importante subdivisão funcional foi a de separar os
empréstimos da consulta e leitura no local. Essa separação foi O que Aalto (luís Sugerir em VÍÍPUYÍI nas Suas úlmas Qbfasfe
realizada em Marburgo em 1840' Essa tendência continuou du_ foi adotado em muitos outros edifícios de bibliotecas, é que e
possível criar um edifício público que, apesar de seu caráter e
rante a segunda metade do século XIX, o que influenciou o esta-
belecimento de classes diferentes de bibliotecas tanto nas institu- fzunçao' Segue Sendo domestlco e cotldlano ao mesmo tempo'
' E uma complexidade de missões que, ainda que importantes
cionais como nas públicas.

166 167
l

HONQRES M AMBHN1 TrPoLoGiAs E Asrscros coMi>osn'ivos DE BiBLioTEcAs

em muitos tipos de locais, parece especialmente apropriada Aspectos compositivos de bibliotecas representativas a partir da
no caso das bibliotecas. (Ibid., 1970, p. 22 e 23) segunda metade do século XIX

Muitas bibliotecas importantes foram construídas após as As transformações na arquitetura não se devem a fatos
de Alvar Aalto, nas décadas subseqüentes. Fica Claro, ao se anali- isolados. Resultam de uma complexa interação de fenômenos
gar Q3 pgs nelas adgtadgsl qug 55-guefn princípios que remgn- COITI OS qu2lÍS mantêm uma ÍIIGVÍÍÂVBI CO€I'Êl'lCÍâ. A Obra COIIS-

tam ao século XIX e anteriores. A separação das diversas funções tfuíde fepfesente 3 SUPefeÇä0 das dÍfÍC}11dedeS â COHÍÍH'
que fazem parte de uma biblioteca, adotadas praticamente em tO_ gências conceituais, técnicas e financeiras. E um fato real e tes-
das as existentes na atualidade, fortalece o que se afirmou acima. temunha algo dO I_n°d° _de Ser' pensar e Sentir d° grupo hu'

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mano que a prouziu. (Nicolaeff, p. 38, s/ d)

O século XIX foi marcado pela Revolução Industrial, inicia-


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de transformações estruturais. Essas ocorreram em todos os seto-
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artisticos. A Europa, com sua posiçao de supremacia mundial,
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uma Variedade de estilos e que foram ocasionalmente incorpora-
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neoclassicismo
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` ~1\\I||m Esse periodo e particularmente importante, pois foi nele
¿ que surgiu, na França, a Ecole des Beaux-Arts (1819), cu]o nome
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~ mais importante de seu quadro de professores foi Quatremère de


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I .I 1» _ ~ Quincy. Paralelamente a essa, existia a École de Ponts et Chaus-


sées, criada em 1747 e que foi transformada na Êcole Polytechni-
Figura 8 - Biblioteca Municipal de Viipuri, de Alvar Aalto. Vista intema da escada que conduz à que POI” NâpOl€ãO. NGSSEI, O GXPOGIIÍG fOÍ Ieân-NÍCOlãS-LOUÍS DLI-
recepção, no piso superior. Concluída em 1935.
rand (176U-1834). É dele Obra PTÉCÍS Ef L6Ç071S d'A7”CÍlÍf€Cí1zl1'€, que
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se tornou fundamental para a arquitetura do século XIX, pois vi-


sava facilitar aos engenheiros a aquisição de conhecimentos de
arquitetura e estabelecer normas claras e práticas de composição
(Ibz'd., p. 39), centrado na investigação tipológica e sobre a combi-

153 169
HONORES MAMBRINI Tn=oLoG1As E ASPECTOS comrosmvos DE B1BuorEcAs

nação e articulação de elementos preestabelecídos e codificados ._; unificado. Isso se deve em parte ao fato de que a fileira de co-
(De Fusco, 1981, p. 44). O ecletismo implícito nas propostas de lunas no centro nao se estende de uma ponta ã outra e deixa
Durand, baseado na possibilidade de cambiar estilos, foi assimi- desimpedidas as áreas em cada extremidade.
lado por muitos arquitetos e posto em prática em vários países. O edifício é muito mais comprido do que largo, mas o trata-
Essa influência aparece em três grandes bibliotecas de meados do *
mento das fachadas compridas e curtas é idêntico: a mesma
século XIX: a biblioteca de Sainte Geneviève e a Nacional de Paris ' amcu ação' a mesma eneseagem e tem em as mesmas es'
ambas de Labrouste, e a do Museu Britânico, de Smirke, em Lon-
' tantes de livros ao redor, com escadas colocadas diagonal-
mente em cada canto (de modo que nenhum canto imponha
dres.
uma direção hierárquica ao espaço). Esta equivalência de pa-
HeÊ1riT"abrOL{StÊ' que hevífa estudado na EC_O_le de Beaux'AItS' redes compridas e curtas é o que torna a biblioteca tão singu-
deu eonhnuldade a lmhe Prmclpal de neeclasslclsmo de Blendel' lar do ponto de vista da espacialidade: a maneira como o teto
DeP015 de ganhar 0 Premle de Rema em 1824/ Pa550l1 05 C1rlC0 211105 com dupla abóbada cilíndrica deixa o espaço sem divisão, in-
seguintes na Academia Francesa, dedicando grande parte do seu f taztg, é verdadeiramente surpfeen<;1ente_
tempo na Itália ao estudo dos templos gregos em Paestum. Em
1840, Labrouste foi nomeado arquiteto da Bibliothèque Sainte Ge- Da mesma maneira que Labrouste integrou seus elementos
z
nevíève de París, que havia sido Criada para abrigar parte do fundø para criar uma espacialidade unificada extraordinaria, no seu l

de livros encampadø pelo Estado francês, em 17g9_ caso a arte de fazer e o fazer da arte sao indissociaveis. Sua so-
lução não é meramente o resultado do que ele era capaz de
Henri Labrouste foi o primeiro arquiteto-engenheiro a pro- reallzarf mas tambem/ e de mallelra bem mais lmperlarllef ele
jetara construção de ferro em que a moldura real é uma fel Capaz ele reallzar O que llavla Perlsacle em termos de e5Pa'
expressão arquitetônica deliberada. Clalldade- (Heftzberššerf 1996/ P- 244 e 245)

Embora cercada de maciças paredes neo-renascentistas, a sala E559 1`äCÍ0nälÍSm0 estf UÍU1' al f0I`n0U'S€z Í0C1aVÍãz mãÍS refi-
de leitura alongada da Biblioteca Sainte Geneviève tem uma nado na sala principal de leitura e reserva de livros que Labrous-
estrutura metálica com uma aparência surpreendentemente te construiu para a Bibliothèque Nationale em 1860 e 1868.
frágil, com um teto formado por duas coberturas com abóba-
das cilíndricas. O delicado trabalho de ferro é como um acrés- Este complexo, inserido no pátio do Palais-Mazarin, consiste
cimo moderno aos pesados resíduos do passado, e, embora se em uma sala de leitura coberta por um teto de ferro e cristal,
possam encontrar motivos classicistas nas colunas delgadas, suportado por 16 colunas de ferro fundido, e estantes múl-
eles nao passam de decoraçao superficial. Os arabescos em tiplas de ferro forjado e soldado.
forma de plantas que decoram os arcos não ocultam o fato de Prescindindo dos últimos traços do historicismo, Labrouste
que a estrutura de ferro serve a um propósito puramente desenhou essas últimas como umajaula iluminada por cima,
construtivo: a solução do arquiteto, aqui, é na verdade um na qual a luz se filtra até embaixo, através das superfícies de
exemplo de art nouveau avant la lettre. Embora o teto seja for- ferro, desde o teto até o piso. Ainda que essa solução se deri-
mado por dois vãos paralelos que se transformam graciosa- vasse da sala de leitura e as estantes de ferro construídas por
mente em abóbadas cilíndricas em cada extremidade, o espa- Sydney Smirke no pátio do neoclássico Museu Britânico de
ço não está dividido em duas metades: permanece um todo Robert Smirke, em 1854, a forma precisa de sua execução im-

170 171
I

I-IoNoREs IVIAMBRINI T1PoLoo1As E Asmscros CoMi>osmvos DE BIBLIOTECAS

plicava uma nova estética cujo potencial não seria compreen- dessa Corrente arquitetônica, especialmente da Sua Versão abstra-
dido até o trabalho construtivista do século XX. (Frampton, togeomemeal que foi Construída em Glasgøw em 1398, amplia-
1998/ P- 17 e 18) da em 1907.
Esse edifício apresenta um esquema planimétrico muito li-
Sydney Smu-ke' em seu proieto para a blbhoteca do Museu near: de um lado, o do acesso, duas fileiras de salas de aula, e na
Bmamco' Cnou um espaço Clrcular muco' amp 1°' com um pedi' parte posterior a escada principal, rodeada por uma galeria dedi-
reito alto. A sala mede 32 m de altura e seu diametro, delimitado Cada ao museu; e nas extremidades do edifício, dois corpos, um
pelo perímetro que formam as estantes de parede, é de 4l2 m. Gra- destinado à direção e O Outro à bibhOteca_
\ . Í Í
ças a sua maciça estrutura sobreviveu aos bombardeios da se-
»

A ampliação, que foi citada anteriormente, deu-se com a


gunda guerra mundial. A abóbada está sustentada por vinte ar' construção da biblioteca. O acréscimo feito ficou perfeitamente
cos de ferro fundido coberto de concreto. Com sua cupula de fer-
integrado ao prédio existente, e a biblioteca se particulariza por
roecrista ,propicia ao am iente uma uminosi a e 1 usa muito ter um pédireito dupla
agradável. Com sua forma circular e com a distribuição radial de
seu mobiliário, essa sala de leitura cria um espaço de perfeita har- O eepaee tem uma mama perfeitamente quadrad a e e fator
monia arquitetônica. Toda a ventilação é feita de forma natural, e mais importante de sua Conformação Consiste em possuir
a iluminação, que é obtida por meio de vinte janelas de 8 m de al- uma galeria que circunda as paredes, suportada por uma es-
tura por 3,5 m de largura ao redor de sua cúpula e mais uma cla- trutura de madeira totalmente aparente. Se compõe de pilares
rabóia de 12 m de diâmetro, é bastante eficiente. Existe, ainda, que vão do piso ao teto, unindo-se às vigas duplas que susten-
uma complementação com luz artificial, para as mesas de leitura. iam fi Piaiafofma do galeria/ muito bom oiioposia em relação
O grande mérito dessa biblioteca é o de ter uma estrutura única, aos iiioiiiaiiiosf o rodeado Por uma boiausiif-'ida que aofooooii'
ao contrário do que acontece com a Biblioteca Nacional de Paris. ta à dinâmica espacial d°S element” men°1°“ad°S' um toque
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Labrouste apesar de ter se baseado na biblioteca britânica para a decorativo que provém do entalhe E das cores os a aústres'
concepção da Nacional de Paris criou um espaço que não é úni- (De Fusco' 1981' P' 144 E 145)
co, porém, extremamente aconchegante, ao contrário da do Mu- . . . .
Depois do art nouveau surgiu o proto racionalismo e os mo-
Seu Bgêalriifse ao ecletismo historicista o art nouveau ue foi Vimentos da Vanguarda figufaiiVo- A fUnCiÇã0 (10 CÍAM (Con-
g 'q gresso Internacional de Arquitetura Moderna), em 1928, foi con-
uma reação individualista de alto conteúdo romântico frente às . . , . . . .
siderada como o inicio da fase academzca da arquitetura moderna.
tendências ecléticas e ao classicismo acadêmico. Foi um fenôme- , . _ . . .
~ ~ Isso ocorreu apos a Exposiçao Weissenhof (1927), onde ficou evi-
no plural que afetou nao só quase toda a Europa, senao também a . . A . .
, . . . dente que havia certa concomitancia entre os estilos e as conce p -
Amenca do Norte' entre 1890 e 1910' recebendo dlstmtas deno ções internacionais. Essa iniciativa se deve a Hélène de Mandrod,
minaçöes e possuindo uma série de variantes (Lampugnani, . , . . .
. , que reuniu em seu castelo na Suiça arquitetos que tinham posi-
1989, p. 28). Entre as variantes desse codigo-estilo, encontra-se a
_ _

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Escola de Glasgow, na Escócia, tendência liderada pela obra de goes parecldas' ›

Charles Rennie Mackintosh (1868-1928). Do trabalho desse arqui- Na exposição que fez ante as delegações que depois se conste
teto/ de5iaca`5e a Escola de Arte de Glasgow/ Obra Paradigmática tuíram, disse: O objeto principal e afinalidude que aqui nos reuniu,
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172 173

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HONORE5 M AMBRM Tii>oi.oc;iAs E ASPECTOS coizivosirivos DE BIBLIOTECAS

é o dejuntar os diferentes elementos da arquitetura atual em um em seus dois percursos, obtido pelo sensível recurso de um corri-
todo harmônico, e dar a arquitetura um sentido real, social e econô- mão localizado no centro, separando o acesso desde o depósito
mico. A arquitetura deve, portanto, libertar-se da estéril influência até a regepçäg e a passagem desse pgnto à Sala de leitura A1ém
aaa aaaaamías E ae Saasfarmalas aarraaaaaí de funcional, o desenho da escada e dos corrimãos representa
E dizer que/ a Partir dar/ a arquitetura devia se reger Por toda uma antecipação do gosto orgânico com suas influências
novas fórmulas, distintas das anteriores. (Hatje, 1970, p. 78) plásticas lineares.
O ponto alto desse tipo arquitetônico de biblioteca é o uso
dd
A racionalidade rigorosa das formas arquitetonicas, enten-
d d _ 1, t. d
. b. t.
. A .,
. . z . . . i
da iluminaçao zenital. A iluminaçao se obtém por meio de aber-
1 as aama e açoea Og i aaa a P ar ir e exi g encias o e ivas ' e a1
. . . .
turas tronco-conicas colocadas no teto, de maneira que exterior-
essencia do movimento moderno. Dai o porque desse movimen-
mente, excetuando o desnível já mencionado da cobertura, a vo-
to ser tam em C ama O a raclona lama' ( a uam' ' P' lumetria dessa parte do edifício consista em um único bloco fe-
8277) zhazio e maciço (iizza, 1981, p. 396-399).
Um grand? aiígpitetâ elauqqr dq-lpro]eto de varšâis biälioêe-
É importante lembrar que essa biblioteca foi implantada em
cas Importantes O1 Var a ta' ma e auaa mala ao acl as 1- uma região de clima frio e em geral com céu encoberto fazendo
bliotecas é a de Viipuri. O projeto da Biblioteca Municipal de Vií- Solução adotada tomasse plenamente eciénta PaS_
Pari' na parte leste aa Finlandia (haja Vybarg' Rúaaia)' indicativo sando ao bloco menor, acima das oficinas, fica a sala de conferên-
da arquitetura arga^ni C a ea r ap éia ' foi o que Venceu um concurso
` . . . . . -
cias, famosa pelo revestimento do teto feito por Justaposiçao de
em 1927' A abra aa foi aaíaaaaa em 1935' peças de madeira, formando uma superfície de alternância côn-
Ava l amatna g eral da biblioteca a p resenta dois blocos aco-
` . .
cavo-convexa Justificada em parte por razoes
_ _ , . ,
acusticas, porem
plaaoa' porem' em aeaalvel ' . O bloco malar aaatém ' na P lanta bai-
` , .
elaboradas, sem duvida, pelo gosto de uma nova figuraçao.
. -
xa ' o vestíbulo ' os locais de consulta, os depositos, etc., e no piso
Observe-se que, enquanto o ambiente da biblioteca está
superior, a sala de leitura, articulada em .dois niveis. O bloco me- Completamente fechado/ isolado do mundo exterior,
nor Cantam? em seu PISO mfenor Vanaa Ocmaa' enquanto O andar tir a máxima concentração do leitor sobre o livro, na sala de con-
Superior e Completamente ocupado por uma Sala de con' ferências, escutando o orador, é possível contemplar a paisagem
ferências. A divisão da sala de leitura em duas zonas consegue-se
d d d
. . , -
circunjacente. Esse e um exemplo da funçao psicológica que a
me lan a um e s alva no qua se si ua uma g ran eesca a e u- i . i . .
tendencia organica exalta sobre o mero funcionalismo .
de alguns
plo lanço que comunica a zona destinada aos leitoresd
com a zona
racionalistas. A biblioteca é considerada sua obra-prima, porque
e c assi icaçaoe con/ r o eee S au imacomos e P_osios. . . . .
nela ele manifesta a capacidade de intervir em todos os setores
Nesse proieto ' ia se observa o que se constitui um fator re-
para desenhar e redesenhar tudo o que é possível, desde a estru-
aorrenfa faafaalo'
ale Aaltae em ge?
al da ar uitetura or ânica . . , . , . , .
q g _' tura do equipamento fixo, os moveis, ate as luminarias (Gutheim,
.

como e o vao livre , quer dizer, a articulaçao em dois ou mais ni- 1961
veis do espaço interno de uma volumetria compacta, b
ainda que .~
d_f Em outra época e regiao, outra biblioteca que se tornou re-
nesse Caso aa ra 1 a' am em' no ex amor' n r r ' a era n-
a co e u a
1
. . . . . .
presentativa foi a da Academia Philip Exeter, projeto do arquite- .

ça de altura entre os dois pisos interiores. Outro elemento impor- to Louis I' Kahn' Esse edifício New Hampshire, USA, foi
tanta aos espaços que esta senao analisado é a escada' funcional truído entre 1967 e 1972 e se compõe de duas partes distintas: o

174 175
TI1=oLoG1As E ASPECTOS cowosmvos DE BxBL1oTEcAs
I-loNoREs MAMBRINI
i.
1.

depósito pesado e maciço de livros e a sala de leitura, onde o lei- Ê AS entradas prineipais abrem diretamente para uma área
tor pode isolar-se, mais próximo da luz natural. A intenção foi Ê, de controle e informações onde se encontram os catálogos. Do
criar um amplo hall com um pé direito igual à altura de todo edi- I' outro lado, a 1.20 m abaixo desse nível, está a sala de leitura. O
fício, onde o usuário se sentisse estar penetrando em um santuá- acervo de livros está disposto em dois níveis, e as prateleiras es-
rio de livros e idéias. A grande sala de leitura se encontra à parte, tão díSp0StaS radíalmente a VíSta da meSa de C0Htr0lez a qualz
'
deSSe modo, tem t0tal SuperVíSäO da Sala de leitura e area de es-
l

porque o arquiteto considerou que a leitura deve realizar-se em


calma. Na parte periférica dos pavimentos, estão localizadas tantes. Esse princípio está baseado diretamente no da biblioteca
uma série de cabinas de leitura, a exemplo do que foi adotado na do British Museum e de sua concepção do seculo XIX, baseado
biblioteca do Mosteiro de Gloucester em 1400. Kahn, nessa bi- em rígidos princípios de controle. A mesa da recepção é também
blioteca, fez uma releitura do tipo medieval. um console de onde calor, luz e ventilação são ajustados. As má-
Todas as paredes externas são de tijolos aparentes, e, no lo- quinas de exaustão no topo da cobertura envidraçada são contro-
cal onde se guardam os livros, o material empregado é o concreto ladas por essa mesa. A malha de aço do telhado Sobre a sala de
aparente (Giurgola e Mehta, 1976, p, 84-86). Na cobertura do leitura tem superfícies envidraçadas, interna e externamente;
grande hall, encontra-se uma clarabóia com uma interessante ilu- essa contém venezianas reguláveis e ventilação entre as duas pe-
minação zenital. ~ les de vidro.
Na Universidade de Cambridge, tem-se a biblioteca da Fa- A Faculdade considerou que o estreito contato entre a sala
culdade de História, como mais uma das bibliotecas a serem des- de leitura e os outros compartimentos era essencial, e o arranjo i

dos corredores como galerias em torno da sala de leitura foi o


tacadas. O projeto é do Arquiteto Iames Stirling e equipe. Esse


edifício é 0 resultado de um concurso fechado que, após algumas principal fato gerador do projeto. As janelas dos corredores e os
modificações no projeto original e mudanças em sua localização lay-bys, os quais se projetam no espaço aéreo da sala de leitura,
no terreno, foi concluído em 1968. O terreno previsto incluía uma permitem aos estudantes, nos andares superiores, manterem um
faixa voltada a oeste. Depois do concurso, foi decidido que a me- contato visual sem serem intrusivos com a sala de leitura.
tade do terreno não estava disponível, e isso fez com que o prédio Os três andares superiores do bloeo em "L" contêm salas
fosse reposicionado no terreno e girou a face leste para o norte. administrativas privativas que são as vezes usadas como salas de
Nos condicionantes, era necessário prover de acessos multidire- professores. AbaiX0, eXistem dois andares de grande altura com
cionais para a Faculdade de História. Para permitir a circulação e salas para seminários, e, ainda abaixo, um pavimento com salas
integração com os caminhos que cruzam o campus, foram cria- comuns aos estudantes e funcionários. As salas menores estão,
das quatro entradas, duas das quais estäo no térreo. Na frente do portanto, no alto do prédio e alargam-se nos pavimentos inferio-
prédio, existe também acesso por rampa para entrada dos funcio- res onde as grandes estão localizadas. A transição de um edifício
nários. O programa incluía sala de leitura para 300 pessoas, 3.600 fino para largo é efetivada no exterior por uma pele de vidro es-
m lineares de estantes, o que significa, aproximadamente, 50% da calonada. Em adição às torres de escada e de elevadores na frente
área do andar. Essa tem a forma de um quadrante de círculo en- do prédio existem cinco escadas de saída em cada final do bloco
caixado entre as duas alas de um edifício de ensino, de seis anda- em "L". As superfícies eXternaS são duras, refletantes e lisas: Ví-
res, em forma de ”L". As outras acomodações são área funcional, dro, tijolos e ladrilhos cerâmicos. De noite, as superfícies de vi-
sanitários e salas comuns. dros escalonadas reluzem brilhantemente (Brawne, 1970, p. 10 e

176 177
HONORES MAMBRINT TIPOLOGIAS E ASPECTOS COMPOSITIVOS DE BIBLIOTECAS

ii)' A aoiueao adotada eoin o uso ao Vidro interfere airetainente dos com brises-soleil internos pivotantes feitos de placas de ma-
na runçao _da biblioteca/ razendo com due as criticas surlam de .. deira; e osuperior, destinado ao armazenamento do acervo, onde
uma maneira muito intensa' i essas mesmas placas são fixas. Aí é que surge o questionamento
O que se Pode observar na biblioteca Proletada Por Stirling L da duplicidade formalista de Dominique, que provavelmente
e clue ele associa o Procedimento da Planta livre nerdada do utilizou esse material para dar uniformidadeàsuperfície externa
movimento moderno à idéia de um vazio delimitado g eometrica- ' e conservar a integridade do volume.
mente (De Fuscof i98if P- 34o'348)¡ outro Ponto imPortante e o Outra crítica que normalmente é feita está relacionada à
seu ear ater rnonurnentai' e o uso exagerado ele eieinentos rneca' distribuição das funções nessa volumetria, visto que o acervo não
nieoa' para que ainesina possa ser utiiizaaa' necessitaria estar na parte superior da edificação, onde encontra
Um dos ultimos grandes projetos de bibliotecas foi o da Bi- grande luminosidade (Ibid., p. 32-43).
blioteca Nacional da França. O projeto do arquiteto Dominique
Perrault e equipe adotou como partido uma ampla esplanada de A arquitetura da Biblioteca Nacional da França, ao desejar se
base, ocupando o subsolo, com seis pavimentos abrindo para um desfazer de uma multiplicidade de signos iconográficos con-
jardim interno, e quatro torres em forma de "L", posicionadas vencionais, retomaa neutralidade e encara a realidade arqui-
nos quatro Cantos dessa mesma base g que sãg destinadas ags se- tetônica última: a matéria bruta. Talvez inconscientemente,
tores administrativos e armazenagem do acervo. As salas de lei- i
¿
Perrault foi/ê as ÍHSÍÍÍUÍÇÕGS de um, Adolf, i-oosf colo "Prince
. . .

tura e demais dependencias abertas ao publico estão localizadas > Pio do revestimento,/f exposto na um seculo' merece' iaole
nos pavimentos de baixo da esplanada. A exemplo da biblioteca mais do que nunca, ser objeto de meditação. Loos, contra toda
uma tradição que fazia da arquitetura um problema de ex-
de Stirling, nessa também foi empregado um número grande de
pressão de dados da construçao, ou seja, da estrutura, da os-
elementos mecânicos para seu controle ambiental. Inaugurada . . .
1995 1 t_ ,d M,tt d d _
. . . .
satura, da carpintaria, privilegiava o revestimento, ou seja,
d ' pe O en ao presr en e 1 _erran ' pre rn e reunir urria i aquilo que assegura o fechamento, o invólucro, e que garante
serie e acervos espalhados por diversos locais de Paris, e e a O prazer e O Conforto de uma interioridade. ~N0 Começo em a

maior obra Parisiense do rim do seculo XX- veste... a cobertura é a mais antiga expressão da arquitetura”.
(1bz'â., p. 40)
A linguagem arquitetônica abstrata presente na Biblioteca
Nacional da França recorre ao minimalismo e à neutralidade
Para abrigar o acervo de vinte milhões de volumes que se
passiva de expressão. Suas formas geométricas puras estão
encontram espalhados em diversos locais de Londres, foi criada a
também presentes em outros dos grandes projetos da era Mit-
z A
terrand, como o arco de La Defense, a piramide do Louvre e a j Biblioteca Britânica. Essa reúne o acervo de diversas bibliotecas,
Géode do Museu de Ciência e Tecnologia no Parque La inclusive o da Sala Circular de Leitura do Museu Britânico, que
Villette. (Lucan, 1996, p. 32) possuía trinta mil obras para consulta. O novo prédio, aberto ao
público em novembro de 1997, foi construído em Euston Road,
Perrault utiliza para as quatro torres um mesmo material Per to da Estação de St-Pâ11CrãSz 9 foi Projetado Pelo arcluiteto Co'
como invólucro: o vidro. Cabe ressaltar que, nas torres, têm-se L im St- loim Wilson e e<luiPe- A Sala Circular de Leitura esta nova'
dois registros: o inferior, com setores administrativos, concebi- í mento Sob a aoim1n15traÇão do Museu Britamcof e dePois de um
grande trabalho de restauração de seus elementos originais,

178 179
HONORE5 MAMBRINI TIPOLOGIAS E ASPECTOS COMPOSITIVOS DE BIBLIOTECAS

compõe parte do Novo Complexo Cultural do Museu. Esse com- ro como elemento de composição espacial. Suas colunas de fer-
plexe euitural é projeta de arquiteta Ngrman Fester e equipe, e ro fundido aparente e as arcadas decoradas surgem como uma
privilegia sem uma cobertura Q grande pátio de museu, A Sala nova concepção técnico-construtiva, oportunizando um resul-
Circular de Leitura deverá ficar permanentemente aberta ao pú- tado espacial de grande plasticidade. Esse mesmo arquiteto
blico em geral, o que acontece pela primeira vez em sua história. aprimorou ainda mais o emprego do ferro fundido como técni-
O visitante poderá circular e vivenciar uma das mais famosas sa- ca construtiva empregada em bib1i0'f€CâS, COII1 um Te5U1fad0
las do mundo, a qual serviu de inspiração para muitas outras plástico ainda maior, na grande Sala de Leitura da Biblioteca
(The British Museum, p, 2-3, s/d), Nacional de Paris, visto que incorporou abóbadas cerâmicas
com cristal, para a obtenção de iluminação zenital, fundamental
para esse tipo de espaço.
Considerações finais A retomada, por parte de grandes arquitetos, de partidos
arquitetônicos adotados em bibliotecas de épocas passadas é ou-
O estude de tema bibiieteea fei enfeeade dentre de um tra referência notória quando se faz uma revisão histórica do
marco referencial que incluiu desde seu aparecimento como tipo tema em questão. Nesse sentido, pode-se visualizar, na Bibliote-
arquitetônico até sua transformação e conformação atual. Isso se ca da Academia Philip Exeter, onde Louis Kahn faz a releitura da
processou em conseqüência da evolução da produção tecnológi- biblioteca medieval do Mosteiro de Gloucester, posicionandoças
ca, das transformações sociais e econômicas, assim como dos pa- ' Cabinas de leitura, da mesma forma, na parte periférica da edifi-
radigmas arquitetônicos, que inuíram nas soluções construti- ' cação. Também se pode citar a Biblioteca Nacional de Paris, de
vas. As modificações de comportamento social refletiram direta- i Labrouste, que adotou o mesmo princípio usado por Sydney
mente 110 espaço físiço da bib1iQteCa_ A5 ingvaçõeg teçnológiçag, Smirke na Sala CÍI'CL1la1' Cle Leitura Cla BÍl;)lÍO't€Ca dO MUSEU Britâ-
da mesma forma, modificaram os partidos arquitetônicos dessa ¿ nico e que consiste em posicionar as estantes de livros na perife-
função. Exemplo disso é a invenção da imprensa, que trouxe z' ria da grande sala de leitura. Essas duas grandes bibliotecas de
como conseqüência um aumento significativo do número de li- meados do século XIX acompanham o partido adotado, pela pri-
vros, e refletiu na ampliação do espaço para seu armazenamento. meira vez, na Biblioteca do Escorial, de meados do século XVI.
O tema biblioteca foi projetado, nas diversas épocas, por E pertinente observar que os fatos são cíclicos, e o referenci-
mestres da arquitetura, que produziram obras exemplares, pela al histórico é de muita importância para a compreensão dos para-
sua adequação espacial-compositiva às novas solicitações da É digmas adotados nos diferentes tipos de bibliotecas.
evolução programática desse ente arquitetônico. No período da
execução dessas bibliotecas, foram incorporados a elas os avan- ›

ços tecnológicos e construtivos pertinentes. tz


'S

Henri Labrouste, por exemplo, na Biblioteca de Sainte Ge-


neviève, concebeu um espaço amplo para a sala de leitura, sepa-
rando-a do armazenamento dos livros, princípio esse que foi
usado pela primeira vez por Leopoldo della Santa. Mas o maior
mérito dessa grande biblioteca de Labrouste é o emprego do fer-

iso 5,
181
HONORES MAMBRINI

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1996 p_ 244 e 245 diversas capitanias do Brasil-Colônia, não ter apresentado total
LAMPUGNANI, V. M. (ed.). Enciclopedia GG de la arquitetura del siglo XX. unidade entre Suas regiões, resultando COm algumas Característi-
B~'=1f¢e1°1\1 GG 1939z P- 23 cas próprias, e em decorrência da grande riqueza de dados que
LUCAN' Jacques' A Simphcidaldâ aâmšnte °°“Itab` Os eSI§°rç°S de uma ar' constitui a arquitetura religiosa colonial de cada uma dessas re-
u itet ura ue encaraare a a e amateria
1` ' ruta. evzsta P ro eto D e-
' .L . ., - A
gioes, torna-se inviavel querer abordar todo o Brasil-Colonia
` ` -
q _ q J 1
sign, Sao Paulo, n° 199, ago. 1996, p. 32.
-
MARTINS, Wilson. A palavra escrita história do livro, da imprensa e da bibliote- num único trabalho- Sendø assim/ determin0u'5e Para este artigo
ca. São Paulo: Ática, 1996, p. 71. o estudo de uma única região, ou se]a, a Bahia, a qual, alem de
N ICOLAEFF, Alex. Consideraçoes sobre 0 ecletismo. Cópia xerográfica, p. 38.
PEVSNER, Nikolaus. História de las tipologias arquitectonicas. Barcelona: GG,
1980, p. 107.
TI-IE BRITISH MUSEUM. The great court- The British Museum's Milennium
Project. London, p. 2-3. * O respectivo artigo é baseado no capítulo sobre "Arquitetura religiosa
colonial na Bahia", da dissertação de mestrado desenvolvida no PROPAR
- UFRGS, em 1999, na área de Teoria, História e Crítica da Arquitetura,
com o título "Arquitetura Religiosa Colonial Luso-Brasileira: Uma análi-
se tipológica das igrejas de Portugal e Bahia", sob a orientação da Prof.”
Dr? Glenda Pereira da Cruz.

** Vilmar Francisco Mayer, arquiteto, com mestrado em Arquitetura pelo


Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura - PROPAR -
UFRGS, Porto Alegre; professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da
UNISINOS, São Leopoldo; e profissional autônomo.
1

182 183
VU-MAR FRANCISCO MAYER T1r›oLoc1A DE PLANTA DA ARQUITETURA REuc1osA coLoN1AL NA BAHIA

corresponder a uma das principais regiões do Brasil-Colônia, metrópole, como no caso das ordens religiosas que construíram
teve a cidade de Salvador como primeira capital do Brasil. suas igrejas, na maioria das vezes, com características arquitetô-
Esse tema será abordado por meio de uma análise da tipo- nicas correspondentes à sua tradição, adotando, então, as formas
logia de planta da arquitetura religiosa colonial na Bahia, procu- i utilizadas em Portugal. Foi praticamente pelos jesuítas e pelos
rando-se destacar com esse estudo a transformação da planta de engenheiros militares que a arquitetura desornamentada, vigen-
suas capelas e igrejas, revelando, assim, uma parte da história da ' te em Portugal, chegou ao Brasil.
nossa arquitetura religiosa no período de colonização. As primitivas igrejas brasileiras, inspiradas nas portugue-
sas, não tiveram a mesma perfeição da metrópole, pois seus pro-
jetos foram bem mais simplificados em função do meio físico e
Tipologia de planta - século XVI/XVII dos meios de edificação.
As igrejas da Bahia, construídas no século XVI, caracteriza-
A arquitetura religiosa colonial baiana manteve uma certa ram-se, basicamente, pela sua construção de pequeno porte, com
uniformidade no partido de suas igrejas, devido ã preferência ` uma Volumetria compacta resultante de uma tipologia de planta
pela tipologia de planta longitudinal adotada nas igrejas da Con- longitudinal, a qual se apresenta composta de uma nave: única e
tra-Reformal portuguesa, resultando, assim, com as mesmas ca- capela-mor,3 inscritas num plano retangular (Planta 1), ou então,
racterísticas da Metrópole: compactas e com suas funções inscri- com a capela-mor de menor largura que a nave (Planta 2), poden-
tas, basicamente, num grande plano retangular. do essa ser precedida, ou não, por um alpendre, de largura variá-
A maioria de suas construções são compostas de paralele- vel, como se verifica, principalmente, nas primitivas capelas ru-
pípedos justapostos e fachadas com certa sobriedade decorrentes rais.
de sua ornamentação austera, calcada especialmente na ordem Dentre as primitivas capelas e igrejas do século XVI e XVII,
toscana, seguindo uma tradição arquitetônica estabelecida nas encontram-se, também, algumas raras soluções que se dife-
igrejas de Portugal, obtendo uma linguagem contrária ã do con- renciam das demais, devido ao acréscimo de uma abside semicir-
ceito espacial e plástico do Barroco italiano. É evidente que Por- cular na capela-mor (Planta 3a), projetando-se visivelmente no
tugal sempre esteve exposto ao gosto italiano e das demais re- exterior, típica das capelas românicas européias do século XII e
giões européias, mas a resistência portuguesa à imitação resultou XIII e também de Portugal, construídas até o século XIV. Essa so-
da existência de aspirações peculiares a Portugal. lução foi adotada na igreja de N. Sra. das Neves, na ilha da Maré,
As igrejas construídas no Brasil do século XVI até o século em Salvador, a qual se apresenta, atualmente, com construções
XVII corresponderam a uma certa transposição formal de Portu-
gal, o que resultou praticamente em uma imagem reetida da
2 Nave: corresponde à parte interior de uma igreja que se estende desde a en-
trada principal até a capela-mor. Denomina-se nave central ou principal quan-
do este espaço é subdividido por pilares, colunas ou arcos. Nesse caso, existem
1 A Contra-Reforma foi tanto a reação da Igreja que permaneceu fiel à tra- naves laterais (ALVIM, v. 1, p. 244).
dição do Papado romano, em oposição ao protestantismo emergente, 3 Capela-mor (capela principal): corresponde à capela situada na cabeceira
como o movimento reformista no interior da própria Igreja Católica, no da nave de uma igreja, onde se localiza o altar-mor. A capela-mor ocupa o lugar
` d€C0ff€^f 0195 SÉCUÍOS XVI 6 XVII- do coro nas igrejas européias (ALVIM, v. 1, p. 238).

134 185
VILMAR FRANCISCO MAYER T1r›oLoc1A DE PLANTA DA ARQUITETURA REL1G1osA coLoN1AL NA BAHIA

nas laterais da nave, acrescentadas no século XVIII. A abside se-


micircular também foi utilizada na capela N. Sra. da Penha, em
Cachoeira, no século XVII, mas só que nessa capela ela não se evi-
dencia no exterior, pelo fato de se apresentar envolvida por outro
compartimento, a partir do qual se ergueram as paredes externas
PLANTA 2 PLANTA 3a PLANTA 317
planas (Planta 3b).
MNTM , _ _ l Decorrente da necessidade de um espaço exclusivo para sa-
cristia ou outras funções, surge, inicialmente, uma construção
adjacente à capela-mor (Planta 4), que corresponde a uma transi-
ção entre a planta simples de nave e capela-mor e a do partido em
T". Essa solução foi utilizada na capela de N. Sra da Escada (sé-
culo XVII), em Salvador, na primitiva igreja de N. Sra. do Monte

_
Ê Ê, " Serrat (1650-79), em Salvador, e em capelas rurais.
Quanto ao partido em "T", corresponde à tipologia de plan-

_
ta longitudinal de nave única com sacristia e consistório4 adjacen-
i›LANTA.zz z›LANrA.â i›LANTA.ó tes às laterais da capela-mor, com os quais resulta uma largura
maior que a da nave (Planta 5). O partido em "T" foi muito adota-
do nos séculos XVII e XVIII, pelos construtores das capelas rurais.

I |
Muitas dessas construções apresentam na lateral da sua nave
uma escadaria externa sobre abóbada, que permite acesso ao púl-
pito e ao coro, e, também, em alguns casos, com sineiras ou tor-
J “j res. Tem-se como exemplo a capela N. Sra. do Loreto (século
XVII-XVIII), localizada na ilha dos Frades, a Capela de Santo
E 3 zzzzâi Antônio de Pindobas (século XVIII), em Candeias, (capela de en-

PLANTAJ

"
E ` ....

¡›¡_AN-M8

'r|PoLoe|A DE PLANTA _ sÉcuLo xv|/xv|| - BAH|A


DESENHO DO AUTOR- Im
"`
1

-"
É PLANTA_9

"""
genho, localizada em área rural), e a primitiva igreja da Palma
(1630), em Salvador, a qual sofreu uma ampliação no século
XVIII quando foram acrescentadas novas construçoes nas
laterais da nave, como também feitas subdivisões na sacristia e
1 ;
COIISISÍOIIO.
z

Al 3umas P rimitivas i g re'as de vilas e cidades e P rinci P al-


1

_ mente de áreas rurais tiveram acrescentadas as suas construções

Quadro 1- Tipologia de planta - desenho do autor - 1999.


4 Consistório: corresponde a uma sala de reunião de uma confraria ou de
qualquer assembléia paroquial (ALVIM, v. 1, p. 239).

135 187
VILMAR FRANCISCO MAYER TIPOLOGIA DE PLANTA DA ARQUITETURA RELIGIOSA COLONIAL NA BAHIA

Ez

um alpendre, localizado na frente da fachada principal (Plantas século XVIII (Planta 6). Esses pórticos laterais foram utilizados
2, 4 e 5), como na igreja de N. Sra. de Monte Serrat (1650-79), em nas igrejas seiscentistas de Santo Amaro de Ipitanga, em Lauro
Salvador, e na capela de N. Sra. da Ajuda (século XVII), em Ca- de Freitas, e na de São Bartolomeu, em Maragogipe. No século
choeira, sendo que essa capela foi composta inicialmente por um =¿ XVIII, foi construída, com essa solução, a igreja do Senhor do Bon-
nártex,5 o qual foi substituído posteriormente por um alpendre. fim (1740-72), em Salvador, embora, nessa época, o uso desse ele-
Encontram-se também alpendres localizados em apenas uma la- mento já fosse considerado arcaico. A utilização desse elemento
teral da nave, como na igreja de São Lourenço (século XVII), em persistiu, aqui, em função da natureza especial da igreja, pois ti-
Itaparica, e na Igreja N. Sra. Encarnação de Passé, em Candeias, nha o objetivo de propiciar fluidez nos percursos do grande nú-
ou então, em ambas laterais e na frente da fachada frontal, como mero de peregrinos em dias de festas religiosas.
foi proposto inicialmente para a capela do Bom Jesus da Glória, Com a Contra-Reforma, iniciada na Itália a partir de mea-
em Iacobina, a qual se encontra, atualmente, com o alpendre do dos do século XVI, deu-se ên-
lado direito fechado, transformado num corredor lateral. fase à construção de igrejas
O uso do alpendre foi uma solução típica do século XVII, com a tipologia de planta
tanto na área urbana como na rural, mas esse elemento é encon- ‹ longitudinal de nave única, "i__ .._I
...........

trado em edificações até do século XVIII, principalmente em ca- visando atender à demanda
pelas rurais. da Igreja Católica de procu- `_`""”'m:"5;"'
Além do alpendre, foram também utilizadas varandas ad- rar agrupar os fiéis num es- ‹'\
j acentes às fachadas laterais da igreja. Essa solução foi adotada na paço único, para facilitar a
lateral esquerda da primitiva construção da igreja de N. Sra. da concentração e a compreen- ,
Graça (1645), em Salvador, que, atualmente, apresenta sua arca- ,¿ sao da pregaçao.
da fechada. l Em 1568, iniciou-se, em
A partir da solução dos avarandados, sem construção su- Roma, a construçao de uma
perposta, surgiram, na segunda metade do século XVII, pórticos igreja bem no espírito da
laterais com arcadas encimados por tribunasf os quais corres- Contra-Reforma, onde já não ~›

pondem a uma evolução para os corredores laterais, típicos do se vive só em êxtases, olhos =

postos no céu, e, sim, procu- Hj


rando atender ao homem.
5 Nártex ou galilé: corresponde ao espaço coberto de transição que dá acesso à C0n5trói'5e uma igrela`m0'
nave de uma igreja, localizado abaixo do coro. Geralmente se encontra entre as Clelo pelos jesultas, em Roma, Figura 1_ Planta baixa esquemática
torres da fachada principal, e suas aberturas se desenvolvem em forma de arca- a igreja dg Gesü (Figura 1), térreo desenho do autor 1999_
da. Espécie de vestíbulo situado na frente da nave, com uma configuração bem de jacopo Barozzí Cla Vígnola Ig. do Gesú, Roma ~ 1568.
definida em planta (ALVIM, v. 1, p. 241).
6 Tribunas: correspondem ao lugar elevado com aberturas, formando janelas
ou balcões que dão para a capela-mor e/ou para a nave. Geralmente reservadas
as pessoas ilustres, de onde assistem às cerimônias religiosas (ALVIM, v. 1, p. São também um elemento téeniço de reforço na sustentação das altas
247). As tribunas, além de apresentarem valores funcionais ou estéticos, paredes da nave principal.

188 189
VILMAR FRANCSCO 1\/[AyER TIPOLOGIA DE PLANTA DA ARQUITETURA RELIGIOSA COLONIAL NA BAHIA

e Giacomo Della Porta, que veio a se constituir no marco inicial 3)/ as quais ad0Íafan1 a Planta 10ngÍÍ11dÍna1 de naVe ÚnÍCa C0In Ca-
da arquitetura da C0nf¡‹a-RefQrma_ pelas laterais intercomunicantes através de um pequeno vão nas
A tipologia adatada para essa igreja fgj a de planta langítu- suas paredes divisórias. Tanto a igreja de São Roque como a igre-

mí -I
dinal, de nave única, com Capelas laterais, cúpula no cruzeiro, la do ESPÍTÍÍO 5anÍ0 na0 Seguífaln a ÍÍP010gía Cla Planta P1`0P0SfSa
transepto pouco profundo e tribunas, a qual vai, posteriormente, Para igreja Cl0 Gesü, em Roma, da mesma época, que se apresen-
influenciar as Cgnstruções de muitas Qutras igrgjaa ÍOU. COIII LIIII CI`L1Z€l1`O de fOI'I1'la quadrada, COI`OadO POI' uma Cúpu-
Essa solução não foi inovadora, pois já havia sido usada an- la C0In lanterna que Se aPÔÍa S0bI`€ um 'fa1'nb0r í111Inínad0-
teriormente na Itália por outros arquitetos, como a igreja de S.

II
A n d rea, em M^an tua, d e Alb er t'1, cons trui'd aem 1472 , cons id era d a
durante certo tempo como a sua precursora mais direta. Na bus-
ca de uma referência tipológica, historiadores da arquitetura en-
contraram antecedentes bem mais antigos, passando a conside-
I_
rar que essa tipologia teria sido formulada a partir do século XIII
e que apresentava uma origem mais complexa: - _-
O uso desta tipologia representa o retorno a um plano gótico . ¡ . .
mais evoluído na França meridional, o qual foi adotado na l' 'J
Catalunha durante o século XIII. Veio a ser usado tanto na 1 n z: :Jz
Espanha, durante um período de praticamente duzentos
anos, assumindo um caráter nacional, como também em fins I n H IJ'
do século XV, em Portugal, com a construção da igreja de São
. .
- l 'In n
-J'
Francisco em Évora, erguida entre 1460 e 1501, e que prova-
velmente se tornou como um exem P lo de ins P ira Ç ão em Por-
tugal. (BAZIN, 1983)
' . I :¢:;,; I

Portugal, procurando atender a essa solicitaçao da Igreja


Católica, passa, também, a construir suas igrejas com essa tipolo- --l- J---l--l--
gía' As primeiras igrelas representativas desse períødo foram as Figura 2- Planta baixa esquemática - Figura 3- Planta baixa esquemática
dos ColégioS j€SL1ÍÍaSz COÍÍSÍÍUÍÔ3-5 P01` V0lta de 1567, a de Sa0 R0' térreo - desenho do autor - 1999. Ig. - térreo - desenho do autor - 1999.
que, em Lisboa (Figura 2) e a de Espirito Santo, em Evora (Figura do Colegio Jesuita São Roque - Lis- Ig. do Colégio Iesuíta Espírito Santo
boa _ 1567/só. - Évora - 1567/74.

7 Essa citação não é uma transcrição literal do texto, e, sim, apenas uma
síntese da pesquisa apresentada por Germain Bazim sobre a tipologia
adotada para a igreja do Gesü, em Roma. BAZIN, Germain. A arquitetu-
ra religiosa barroca no Brasil. Rio de Janeiro: Record, 1983. v. 1, p. 80-84.

190 191
V¡1_MAR FRANC15ÇO MAYER TIPOLOGIA DE PLANTA DA ARQUITETURA RELIGIOSA COLONIAL NA BAHIA

A tipologia da planta da ¿_Aí___j_: dor, e na igreja N. Sra. da Barroquinha (1722-?), em Salvador, em_
Contra-Reforma, de nave bora essas i 8 re`as
l não a P resentem caP elas intercomunicantes lo-
unica com capelas laterais, 2.; calizadas nas laterais da nave -

adotada em portugal até a A tipologia da planta adotada para a igreja do Gesü, em


primeira metade do Ségulo zz _., ,_ ='¬=l Roma, influenciou consideravelmenteaigreja agostiniana de São
XVII, foi praticamente a mes- Vicente de Fora (1582-1629), em Lisboa (Figura 5), e, conseqüen-
ma adotada para as igrejas z~ .za
temente, essa serviu de inspiração para outras igrejas construídas
Seíscenstas construídas ng É = em Portugal. Essa tipologia também foi adotada para algumas
Brasil, particularmente nas igrejas no Brasil. Na Bahia, a igreja que adota fielmente essa tipo-
igrejas da Bahia, construídas '
.:
c 1 '
logia de planta longitudinal, de nave unica, com capelas laterais,
»

Li f
transepto, e cupula sobre o cruzeiro (Planta 8) ef a do mosteiro de
.'‹.

na segunda metade do mes-


mo século (Planta 7). Essa ti- ' São Bento (1679-século XIX), em Salvador (Figura 6).
pologia veio caracterizar al-
gumas igrejas monumentais _
de colégios jesuítas ou de or- I |'_T"f:r».~.
dens monásticas, como, por ' 7:"-:,_. -&
JI-Í
,z/' Í
Í
Í
'za
'

g
uz
ã-
;,
'

exemplo: a igreja do Colégio W }1¿¡

Jesuíta (1657-72), atual cate- 8 “ ¡


dfal basíça de Salvadgrs Figura 4- Planta baixa - tëI'I'€O - z ç.” "§
gura 4); a antiga Sé de Sa1Va_ Fonte:.lPAC,,v. 1, p. 23. Ig. do antigo
Colegio Jesuita - atual Categral de _Ç7==IÇ' ~ jr
dor, iniciada em meados do 1;

Salvador - Salvador - 1657/72.


século XVII e demolida em
1933; e a igreja do Convento
de N. Sra. do Carmo (século XVII-XVIII), também em Salvador.
Essa tipologia de planta de igreja, em cruz latina, com nave _m_¿. _

única, capela-mor e duas capelas opostas próximas ao arco cru- Í Í ' I


zeiro, situada na linha da tradição jesuítica luso-brasileira e com .
origem na igreja Espírito Santo, em Evora, foi adotada, também, Q š
na pequena igreja de São Tomé de Paripe (século XVII), em Salva- .
IIIIIIII Ô_ Õ
..... .

8 Com a expulsão dos Iesuítas do Brasil em 1759 as suas instalações fica- Figura 5' Planta baixa esquemáca _ Figura 6' Planta baixa _ térreo _
ram totalmente abandonadas o que plossibilitolu a transferência para lá termo _ desenho do autor _ 1999' Ig' Fonte: IPAC' V' 1' P' 69' Ig' do MOS'
da sede da catedral de Salvador, que se apresentava em péssimo estado, do Convento Agostlmano Sao Vlcen' tem) df! Sao Bento _ Salvador _
em 1765, permanecendo até hoje como catedral basílica de Salvador. te de Fora _ Llsboa _ 1582/1629' 1679/seculo XIX' -

192 193
VILMAR FRANCISCO MAYER TiPoLoGiA DE PLANTA DA ARQUITETURA RELioiosA coLoNiAL NA BAHIA

_
1

Uma outra igreja que se aproxima dessa tipologia é a igreja


do convento de Santa Teresa, também em Salvador, apesar dessa
ter adotado parte de suas capelas laterais para uso de confessio- *

nario e, tambem, apresentar a cupula coberta externamente por


um telhado de quatro águas. iii.. I.
Quanto à típica planta das igrejas dos conventos francisca-
nos do Nordeste (Figura 7), composta de nave unica, capela-mor
com corredores ou salas adjacentes nas laterais, de forma a ocu-
par toda, ou quase toda a largura da nave, sacrístia transversal,

_
A 5*
z
galile de tres arcos superposta por um coro, e uma torre recuada, 'Í
foi adotada elas i re`as dos conventos, na Bahia, com al uma
1

diferenciação. É o caso da capela-mor e corredores laterais adja- ~ M,


centes, ocupando maior ' largura que a nave, e uma certa evolu _ ¡¿¡ ¡¿
ft» X, «J
¡1
:‹;'. Zz F

ção, que consiste no aumento da galilé de três para cinco arcos


(Planta 9). Tem-se como exemplo as igrejas dos conventos de
tot'"" j
Santo Antônio (1654-século XVIII), em Cairu (Figura 8), e a de
A . r . . Figura 7- Planta baixa esquemática Figura 8- Planta baixa - térreo ~
Santo Antonio, em Sao Francisco do Conde (1718 22). Nessa igre térreo desenho do autor 1999. Fonte: IPAQ V5/ 39. Ig-
ja I teve-se ainda o uso de duas torres no mesmo plano da fachada/' Ig. dos Conventos Franciscanos do vento Franciscano de Santo Antônio
Ambas igrejas apresentam a capela da Ordem Terceira construi- Nordeste. - Cairu - 1654/ século XVIII.
da perpendicularmente à nave. g .

]á a igreja do convento de São Francisco do Paraguaçu


(1ÕÔÚ'8Ô)z em Santíage de Iguape/ dífereneÍa'5e das antefíeres Quanto à igreja do Convento de São Francisco (1708-48), em
Per apresentar uma Planta híbrida entre a das Ígrelas dos eelwen' Salvador, diferenciou-se ainda mais desse grupo de igrejas, por ter
tos do Nordeste e a de nave única com corredores laterais super- 1 Sídø Composta de três naves e duas tOrreS_ A pøjogía da pjanta
postos por galerias avarandadas de tribunas. Essa igreja demons- I,
das igrejas dos conventos franciscanos do Nordeste foi adotada,
traz aínda/ a Íntençae de fen°VaÇae/ que e a Cie Se Criar uma ima' também, em igrejas matrizes e de irmandades, como na igreja ma-
gem 1"l0Vâ Para OS COHVQHÍOS índ€P€1"ld€1`l'fe5~ triz N. Sra. do Pilar (1739-século XIX), em Salvador,1° que se apre-
senta sem galilé e com uma única torre levemente recuada.

9 Tanto o convento franciscano de Santiago do Iguape como o de Cairu


10 No século XVII, as irmandades permaneceram, inicialmente, junto a uma
foram os primeiros a serem construídos após a separaçao dos francisca
igreja paroquial ou à de algum convento, onde possuíam uma capela com
nos da Província de Santo Antônio de Portugal, tornando-se, assim,
um altar e o santo de devoção. Em geral, eram separadas por classes e
conventos independentes. Daí a necessidade de se criar uma imagem -1

Vl condiçoes sociais, como, por exemplo: confraria dos brancos, dos negros,
nova para seus conventos. v

194 195
VILMAR FRANCISCO MAYER TIPOLOGIA DE PLANTA DA ARQUITETURA RELIGIOSA COLONIAL NA BAHIA

Tipologia de planta - fins do século XVII/XVIII

Na arquitetura religiosa baiana, adotou-se também a vari-

lí;
ante da tipologia de planta longitudinal das igrejas de conventos
das irmãs Clarissas de Portugal, que corresponde à planta de
nave única com acesso principal perpendicular ao eixo longitudi-
nal da nave (Planta 10), como a da igreja de Santa Clara (1600-10),
em Evora, ou da igreja de Santa Clara a Nova (1649-96), em
Coimbra (Figura 9).
PLANTA”

_
nàí
PLANTA-l l PLANTA-12 PLANTA-13

Q
Figura 9- Planta baixa esquemática -térreo - desenho do autor - 1999. Ig. do
Convento de Santa Clara a Nova - Coimbra - 1649 / 96.

dos padres, dos militares e das Ordens Terceiras. As confrarias das


Ordens Terceiras Franciscanas e do Carmo eram as mais procuradas pela PLANTM4 vLANTA.1s PLANTA-iõ
aristocracia. No início do século XVIII, com o maior enriquecimento dos
membros dessas confrarias, esses procuraram construir suas próprias ca- T|_P_0L0G|A DE PLANTA - F|NS D0 SECUL0 XV" / XV||| - BAHIA
pelas, principalmente para se tornarem autônomos e independentes da ...BÍSENHO DO AUTOR ._ .

comunidade paroquial. As confrarias mais importantes, as de maior po-


der econômico, como no caso das Ordens Terceiras, tinham o privilégio
de um capelão próprio, o qual era designado especificamente para deter- Quadro 2- Tipologia de planta - desenho do autor ~ 1999. Fins do século
.minada capela. XVII / XVIII ~ Bahia.

196 197
VILMAR FRANCISCO MAYER TII=oI_oGIA DE I=LAN'rA DA ARQUITETURA REI.IGIosA coI.oNIAL NA BAHIA

As plantas dessas igrejas se distinguem das demais, princi- ladeada por duas torres, integradas numa composição de facha-
palmente por ter a porta de acesso dos fiéis localizada na fachada da conjunta de raro equilibrio e harmonia, e que, apesar dessa di-
lateral que é a principal da igreja. Essas plantas são compostas ferenciação na planta, resultou uma fachada bem mais expressi-
por dois coros, um baixo e um elevado. Quanto ao acesso princi- va que a das outras igrejas de mesma tipologia.
pal, perpendicular ao eixo longitudinal da nave, esse se apresen~ Na segunda metade do século XVII, surgiu uma planta de
ta totalmente contrário à solução tradicional das igrejas de planta transição entre a tipologia de planta longitudinal de nave única,
longitudinal. Essa variante foi utilizada na Bahia, já em fins do sé- sem construções adjacentes nas laterais da nave, e a planta com
culo XVII, na construção da igreja do primeiro convento femini- corredores laterais à nave
no, a igreja N. Sra. do Desterro (1681-século XVIII), em Salvador, a encimados por tribunas.
qual pertence à ordem religiosa das irmãs Clarissas. Adotou-se Essa solução transitória
para essa a mesma composição das plantas das igrejas da própria consiste em agrupar, na la-
ordem, em Portugal. teral da nave, contruções z I 3*

Solução semelhante encontra-se, no século XVIII, na igreja Cl€StíI1ã<íãS ä Sãlã de IGU- -' _ I I

N. Sra. da Conceição da Lapa (1750-século XVIII), do convento nião, depósito e outras fun- Í”
das freiras Franciscanas Concepcionistas, em Salvador, e na igre- ções, as quais se apresen- W " H' ¡¿¿¿¿¿¡--›---«-‹-

ja N. Sra. Anunciada (1732-59), do antigo Noviciado Iesuíta, em tam como um pseudocorre-


Salvador, que hoje é o Colégio dos Órfãos de São Ioaquim. dor (Planta 11). A igreja que SW”
A planta da igreja do antigo Noviciado Iesuíta (Figura 10) adota nitidamente essa so- ' z

apresenta-se com soluções bem mais refinadas e criativas que a 1uçã0 de 5â11'f0 AHÍÔHÍO
É â É
proposta para a ordem das Clarissas, em função de ter sido utili- da Barra (século XVII), em É
zada uma galilé como acesso principal encimada por tribunas e Salvador (Figura 11), que ip-,

contém diversas funções

z
adlacentes na lateral es-
querda da nave' entre essas
'““““×.........x:.:;;;;:::::

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j 1 ...WM ...............

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---- -- _.-I elemento, bem arcaícol que
um
Figura 11- Planta baixa - terreo - Fonte:
cortes Onde à escada de IPAC, v. 1, p. 63. Ig. Santo Antônio da
gs é
. P . Barra - Salvador - século XVII.
¡ ¡£ acesso ao pavimento supe-
z 2* fã i
Lu. rior com entrada externa.
Quanto à igreja de São Lourenço (século XVII), em Itaparica,

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5

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apresenta funções diversas de ambos os lados da nave, sendo
que, no lado esquerdo, essas ocupam totalmente a lateral da
nave, enquanto que no lado direito ocupam apenas parte dessa
Figura Io- Planta bzII×a _ térreo - Fonrez 1PAc,v. 1, p. 77. Ig. do Amigo No- lateral, na qual também Se localiza um alpendre- No Século XVIII,
\'iCid0l@S11ífíC0 N- Sra- Ammiada _ Salvador - 1732/ 59- algumas igrejas ainda se utilizaram dessa composição, decorren-

'l 98 199
VILMAR FRANCISCO MAYER TIPOLOGIA DE PLANTA DA ARQUITETURA RELIGIOSA COLONIAL NA BAHIA

te da necessidade de apresentar funções compartimentadas na por exemplo, a igreja São Pedro dos Clérigos (1709-1887) (Figura
lateral da nave, Çorng ng Cage da igreja Bgrn jesus d05 Passes 12), a igreja Matriz N. Sra. de Brotas (1714-Século XVIII), Compos-
(1766), em Salvador, que se encøntra com cômodos no lado es- ia de galilé, e a igreja N. Sra. da Saúde e Glória (1723-26), ambaS
querdo, acrescidos a uma planta de partido em "T". em Salvador.
No início do século XVIII, surgem igrejas compostas de ape- Uma Segunda Solução
nas um corredor na lateral da nave, deixando a outra lateral livre Correspønde à utÍZaÇã0 da
(Planta 12), como no caso da capela de São Lázaro, e na primitiva sacristia transversal/ 10Ca1ÍZä'
igreja de Santo Antônio da Mouraria (1724-26), ambas em Salva- da aÍráS da Capela-mor, uma
dor. Essa última foi composta inicialmente de uma planta de íflblëmía daS ígI€jaS d0S C011~ z`i'i"=;: ~

nave única e capela-mor, com sacristia adjacente à sua esquerda, VGHÍOS fraHCiSCaHoS, Como S6 --

uma escada externa de acesso ao púlpito e ao coro, localizada no encontra na igreja matriz N.
mesmo lado, e um largo corredor superposto por um consistório, Sra- do ROSárí0 (1693-SëCL1lo
do l a Cl o d ireito. XVIII ), em Ca c ll oeira, na igreja Z

Mas a grande maio- da Ordem Terceira de N. Sra.


ria das igrejas construídas da Conceição do Boqueirão
na primeira metade dg Sé-
culo XVIII foram marcadas
principalmente pela ado-
' 2
(1728-SéCL1lO XVIII), em Salva-
dor, e na igreja Matriz do San-
tíssimo Sacramento (1737-sé-
ção da tipologia de planta culo XVIII), em Salvador (Fi-
longitudinal de nave única 5 I l gura 13).
com dois corredores late- ` " A partir da tipologia de
rais encimados por tribu- ' " * planta das igrejas dos conven- rim.
nas (Planta 13), que se tor~ I I tos franciscanos do Nordeste l "" A '

nou, na Bahia, a tipologia e da planta tlpíca das igrejas Figura 13- Planta baixa - térreo/ pa-
característica das igrejas j matrizes e de irmandades, vimento superior - Fonte: IPAC, v.
matrizes e de irmandades. I surgiu uma planta híbrida 1zP-39- 18- Matriz do Santíssimo Sa'
Uma primeira Solução deS_ -- L J; (Planta 14)_ Essa Solução foi cramento ou da Rua do Passo - Sal-
tipologia corresponde a . . . . vador - 1737/ século XVIII.
sa utilizada na igreja da Ordem
um desenvglvimentg na
tural do partido em "T",
tendo a sacristia e 0 Consíg-
l

i Í” 1
TeI'Ceira de São FranCiSCO
(1702-século XVIII) e na igreja de N. Sra. do Rosário dos Pretos
(1704-81) (Figura14), ambas em Salvador. Os corredores laterais
tório nas laterais da Cape- utilizados nessa solução não exercem a mesma função que os das
la-mor, quando, geralmen- mšnto Superior Fonte: IPAQ V_p1' plantas típicas dasligrejas matrizes e de irmandades, pois não
'fez a lgfela Se UÍSCTGVG num 85. Ig. São Pedro dos Clérigos - Salva- conduzem a sacristia e, sim, a outras funções.
retângulo perfeito, como, dor - 1709/1887.

200 201
ViiMAR FRANCISCO MAYER Tii>oLociA DE PLANTA DA ARQUITETURA RELiciosA coLoNiAL NA BAHiA

'"'”“*” :Y * l 1"
.

iqíƒifn
1
A tipologia de planta longitudinal de nave única' com cor-
.
z-lz
redores laterais superpostos por tribunas, possibilitou a justapo-
.... l

'¡«.z..¡.f×J""'
f' A
sição de dois novos blocos de função religiosa nas laterais da
igreja, onde os corredores longitudinais se apresentam de uso co-
1

É...›,.z«»z»-›«.=-.«..«.-.w›w-._
wii* mum, tanto de apoio às funções religiosas como às administrati-
»
vas (Planta 16). Essa solução resultou no partido de três corpos
de construção separados por corredores longitudinais, como se
observa na igreja da Ordem Terceira de São Domingos (1731-37),
1+ H e na igreja basílica de N. Sra. da Conceição da Praia (1739-73), am-
bas em Salvador.

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Figura 14- Planta baixa - térreo - Figura 15- Planta baixa - térreo - ' `

Fonte: IPAC, v. 1, p. 43. lg. N. Sra. do Fonte: IPAC, V. 1, p. 87. Ig. Sant`Ana
Rosário dos Pretos - Salvador - - Salvador - 1744 / século XIX. "Í

il
1704/81.
z ».,..

Uma outra variante da planta hibrida, construída no século


XVIII, rara na arquitetura religiosa baiana, foi adotada na igreja -f:
de Sant'Ana (1744-século XIX), em Salvador (Figura 15), que de-
.. i . .
i
. .
corre da conciliaçao entre a planta tipica das matrizes e de irman- .. .: ..-,¿..
.;
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-,
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'''''''' "
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dades do século XVIII e a planta da igreja do Gesu, em Roma, com ev
` R Wit.. ' P `

transepto e cúpula no cruzeiro (Planta 15). Essa solução resultou ..


"v'.l°2,
3 fzç:
W
~ _,.¢~.'
(ff-9'

numa planta longitudinal de nave única com corredores laterais . .. í*;fRsziz«:§j;', f '
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superpostos por tribunas, sacristia adjacente a lateral da cape-


la-mor, um transepto extremamente curto de mesma largura da
mezanino braços, alta Cúpula 1an_ l Figura 16- Planta baixa -.térreo ~ Fonte: IPAC, v. 1, p. 37. Ig. Basílica de N.
Sra. da Conceição da Praia - Salvador - 1739/73.
terna apoiada sobre um tambor iluminado semelhante à da igreja
de San Fedele, na Itália.

202 203

uni mi-iz -
l
VILMAR FRANCISÇQ MAYER TIPOLOGIA DE PLANTA DA ARQUITETURA RELIGIOSA COLONIAL NA BAHIA

A igreja basílica de N. Sra. da Conceição da Praia (Figura madas no século XIX para três naves, mas, geralmente, mantendo
16), apesar de ter sido construída no século XVIII, com nave úni- suas características externas, como é o caso da igreja N. Sra. da
ca, nichos profundos nas suas laterais, corredores laterais e tribu- Boa Viagem, em Salvador.
nas, tem sua planta correspondente a uma transição entre as Uma outra tipologia, básica no Renascimento e no Barroco,
plantas de igrejas do século XVII, com capelas laterais, e as do sé- e não muito freqüente na arquitetura religiosa baiana, foi a tipo-
culo XVIII, com corredores laterais e tribunas. Quanto à sua nave logia de planta centrada. Apesar dessa tipologia ter sido muito
longitudinal com cantos chanfrados, semelhantes aos das igrejas utilizada na arquitetura religiosa na Itália e no restante da Euro-
portuguesas do Menino Deus (1711), em Lisboa, e a de São ]oão pa, não ocorreu o mesmo, pelo menos com a mesma intensidade,
Batista (1734), em Campo Maior, também se apresenta como uma nas igrejas construídas em Portugal a partir do século XVI. Como
transição entre a forma retangular e a poligonal. na própria metrópole a preferência era evidente pela tipologia de
Além das igrejas de nave única de forma retangular, forma planta longitudinal de nave única, não seria diferente no Brasil.
que caracterizou a maioria das igrejas coloniais baianas, também Sendo assim, a tipologia de planta centrada, embora adotada em
construíram-se alguns exemplos de igrejas com a tipologia de algumas igrejas portuguesas, não apresentou grandes influên-
planta longitudinal de três naves, como no caso da igreja do con- cias na arquitetura religiosa baiana. Os poucos exemplos de edifi-
vento de São Francisco (1708-48), em Salvador (Figura 17). Essas cações religiosas de planta centrada construídos na Bahia corres-
poneas igrejas de tres pondem principalmente a capelas de pequeno porte, em função
naves eenstruídas na dos problemas estruturais gerados em construções de grandes
Bahia tiveram a influên- -»-¬-« -z ---H-›~~¬¬- Vä0S.
cia das igrejas pa- j T A tipologia de planta centrada com í__í_.__
roquiais portuguesas, nave hexagonal, regular, encontra-se na
soiuçae i-nuiie fieqüen- capela da Torre de Garcia D'Ávila, em São
ie nas igrejas de Perdi- x l Ioão da Mata (Figura 18), construída no sé- 1

gai do seeuie )(V1_ já ne culo XVI, cuja forma hexagonal da nave se u

início da colonização do E . evidencia também no seu exterior. É en- u

Brasil, em 1559, foi ado- contrada também na igreja do Seminário


tada essa tipologia ao ' É *jr Maior de N. Sra. da Conceição (1751/ 56),
em Salvador, já demolida, pertencente aos
substituir a primitiva
igreja da catedral de jesuítas, a qual demonstra uma tendência

L
z g A'

.. Q . ... .
de mudanças no partido tradicional, do
ponderiaàsua segunda 1 próprio Colégio, até entao adotado pela térreo Fonte:
eonstrnçad Aiguinas ' " . ..z._j-z . 4"' Ordem. Com a expulsão dos jesuítas, em 1pAC,V_2,p_ 89_ Carr
igrejas de nave úniça 1759, esse processo foi totalmente inter- da Torre de García
com corredores laterais, Figura 17_ planta barxa _ térreo _ 1:Onre¡ rompido. D'Ávila - Mata de
construídas no século IPCA v. 1, p. 17. Ig. do Convento de São Além da planta centrada com nave 5ã° 1050 ' Século
XVIII, foram transfor- FranCiSC0-5alVa‹I10r-1708/43- hexagonal, encontram-se alguns raros XVI'

204 205
›.

VILMAR FRANCISCO MAYER TIPOLOGIA DE PLANTA DA ARQUITETURA RELIGIOSA COLONIAL NA BAHIA

exemplos de edificações religiosas com nave de forma quadrada De uma maneira geral, podemos concluir que as tipologias
e também octogonal. Com nave quadrada, tem-se a capela N. Sra. de plantas da arquitetura religiosa baiana se apresentam com as
da Penha (Figura 19), do antigo Engenho Velho do Paraguaçu, mesmas características das igrejas portuguesas, compactas e com
em Cachoeira, construída por volta de 1660, a qual sustenta uma isuas funções inscritas, basicamente, num grande plano retangu-
cúpula com auxílio de pendentes, e a cape 1 a N . S ra. d a C onceiçao
' " ar.
(século XVIII), também em Cachoeira, a qual apresenta nave e ca- Verifica-se, também, que as tipologias das plantas adotadas
pela-mor de forma quadrada, com o que, imagina-se, ambas de- nas igrejas de Portugal, mesmo não estando mais em moda na
veriam ser cobertas por cúpula. só que isso não ocorreu, quem metrópole, foram sempre trazidas para o Brasil, como ocorreu
sabe por falta de recursos ou de domínio da técnica construtiva. com a tipologia da planta de nave única com capelas lateraíS,
Quanto à planta centrada com nave octogonal, encontra-se adotada em Portugal somente até o início o século XVII, e utiliza-
na capela do Engenho D`Água (Figura 20), em São Francisco do da nas igrejas monumentais da Bahia ainda na segunda metade
Conde, para a qual foi adotado o partido centrado renascentista, <í0 SëCulO XVII-
embora essa tenha sido construída na segunda metade do século Apesar de terem surgido, no início do século XVIII, algumas
XVIL soluções diferenciadas de Portugal, foi só a partir da metade do

mídia
século XVIII que essas soluções se tornaram mais evidentes. No

i
,_ Ê
/ , ,V
A


caso dos Franciscanos, na Bahia, esses procuraram evoluir suas
formas tradicionais, com criações originais nas construções, já na
segunda metade do século XVII.
Dessa arquitetura religiosa colonial baiana, definida por

f
× \.
“ E I

I I
um grande número de capelas e igrejas, teve-se as mais significa-
tivas construidas em Salvador e no Reconcavo Baiano. As igrejas
construídas em Salvador, de grande valor arquitetônico, desta-
"*.',
i

I
'

cam-se devido a suas imponentes construções, o que torna, do


. ' ponto de vista monumental, Salvador a cidade mais significativa
'W do Brasil, em termos de arquitetura religiosa.
Figura 19- Planta baixa - tér- Figura 20- Planta baixa - tér- Essas diversas capelas e igrejas da Bahia deixam uma valio-
N20 IPAQ V- 3/ P~
_ FOHÍQI fe0'F°“te= IPAQV- 2f,P- 185- sa contribuição para a arquitetura religiosa colonial no Brasil, as
121- Cap-N' Sfa' da Penha `
Cachoeira ~ seculo XVII.
CÊP' do Engenho D'/xgua
Sao Francisco do Conde - se-
Í quais são a memória viva do nosso passado, retratando passo a
história da Colonização'
culo XVII.

zoõ 207
Á!

VILMAR FRANc1sco MAYER

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