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ARBITRAGEM E LITIGIOSIDADE EMPRESARIAL

Ana Carolina Brochado Teixeira & Gustavo Pereira Leite Ribeiro

SUMÁRIO: 1. Conceito de arbitragem; 2. Arbitrabilidade dos litígios empresariais;


3. Convenção de arbitragem e seus efeitos; 4. Algumas vantagens da arbitragem
empresarial; 4.1. Agilidade na solução do litígio; 4.2. Escolha do julgador; 4.3.
Exigibilidade da sentença arbitral.

1. Conceito de arbitragem

A socialidade é uma característica intrínseca do ser humano. 1 Adverte-se, com acerto, que
a idéia de um estado de natureza, no qual, originariamente, ele viveria em completa solidão, sem
qualquer tipo de relacionamento com seus semelhantes, não encontra apoio na experiência. 2
Durante sua existência, o indivíduo insere-se em determinados agrupamentos sociais, maiores ou
menores, onde encontra os recursos e as condições favoráveis para o pleno desenvolvimento de suas
potencialidades. É a vida em comunidade que assegura a subsistência da pessoa, bem como a
realização dos seus desejos mais caros, mediante interações de cooperação, de abstenção e de
concorrência.

Certamente, a convivência social implica na conjugação de esforços para o atendimento de


objetivos comuns, mas também envolve o respeito às diferenças que refletem a singularidade de
cada sujeito, bem como sugere a existência de métodos seguros e eficazes de solução de conflitos.
Algumas vezes, as pessoas procuram alcançar o que almejam mediante a exclusão dos outros,
podendo gerar situações de oposições de interesses. Diz-se conflito uma relação entre duas ou mais


Professora de Direito Civil no Centro Universitária UNA. Doutoranda em Direito Civil pela Universidade do Estado
do Rio de Janeiro. Mestre em Direito Privado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Especialista em
Diritto Civile pela Università degli Studi di Camerino. Diretora do Instituto Brasileiro de Direito de Família.

Professor de Direito Civil no Centro Universitário UNA. Doutorando Sanduíche em Direito Privado pela Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, com estágio de investigação na Faculdade de Direito da Universidade de
Coimbra. Bolsista da CAPES/PDEE.
1
MOUCHET, Carlos; BECÚ, Ricardo Zorraquín. Introducción al derecho. 12. ed. Buenos Aires: Abeledo-Perrot,
2000, p. 57.
2
DEL VECCHIO, Giorgio. Lições de filosofia do direito. 5. ed. Coimbra: Arménio Amado, 1979, p. 461-462.
partes em que elas procuram a obtenção de objetivos que são, podem ser ou parecem ser para
alguma delas, incompatíveis. 3

Percebe-se que os litígios são inerentes à vida em sociedade, tornando-se mais freqüentes
diante da crescente complexidade das diversas interações travadas no contexto da
contemporaneidade, especialmente no âmbito econômico e empresarial. Verifica-se, então, que o
ambiente social harmonioso não é aquele onde inexistem conflitos, mas o que melhor está
preparado para enfrentá-los.4 Para além do sistema judiciário, também encontramos a arbitragem
entre os mecanismos específicos de resolução de litígios.

Carlos Alberto Carmona afirma que a arbitragem designa “meio alternativo de solução de
controvérsias através de uma ou mais pessoas que recebem seus poderes de uma convenção privada,
decidindo com base nela, sem intervenção estatal, sendo a decisão destinada a assumir a mesma
eficácia da sentença judicial”. 5 Irineu Strenger conceitua a arbitragem como “instância jurisdicional,
praticada em função de regime contratualmente estabelecido, para dirimir controvérsias entre
pessoas de direito privado e/ou público, com procedimentos próprios e força executória perante
tribunais estatais”. 6 José Cretella Júnior assinala que a arbitragem exprime “sistema especial de
julgamento, com procedimento técnico e princípios informativos próprios e com força executória
reconhecida pelo direito comum, mas a este subtraído, mediante o qual duas ou mais pessoas
físicas, ou jurídicas, de direito privado ou de direito público, em conflito de interesses, escolhem de
comum acordo, contratualmente, uma terceira pessoa, o árbitro, a quem confiam o papel de
resolver-lhes a pendência, anuindo os litigantes em aceitar a decisão proferida”. 7

A arbitragem está disciplinada na Lei n. 9.307, de 23 de setembro de 1996, que revogou os


artigos 1.037 a 1.048, do Código Civil de 1916, assim como os artigos 1.072 a 1.112, do Código de
Processo Civil de 1973. Interessante destacar que a disciplina legal da arbitragem não sofreu
alteração com a vigência do Código Civil de 2002.

3
HIGHTON, Elena; ÁLVAREZ, Gladys. Mediación para resolver conflictos. Buenos Aires: Ad-Hoc, 2004, p. 41-42.
4
CAIVANO, Roque. Arbitraje. Buenos Aires: Ad-Hoc, 1993, p. 23.
5
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 51.
6
STRENGER, Irineu. Contratos internacionais do comércio. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1992, p. 214.
7
CRETELLA JÚNIOR, José. Da arbitragem e seu conceito categorial. Revista dos Tribunais. São Paulo, v. 78, n. 643,
1999, p. 7.

2
2. Arbitrabilidade dos litígios empresariais

Arbitrabilidade exprime a qualidade de um litígio que admite solução por via arbitral.8 Em
nossa sistemática legal, apenas os conflitos envolvendo direitos patrimoniais disponíveis podem ser
cometidos pelos interessados, mediante convenção de arbitragem, à decisão de árbitros, conforme o
art. 1º, da Lei n. 9.307/96.

É freqüente afirmar que os direitos patrimoniais são aqueles que possuem objeto avaliável
em dinheiro. Trata-se de direitos subjetivos que se destinam a satisfazer interesse de natureza
econômica do seu titular. Raul Ventura afirma que a disponibilidade de um direito patrimonial
guarda relação com a possibilidade de seu titular renunciá-lo.9 Joel Dias Figueira Júnior assinala
que os direitos patrimoniais disponíveis são aqueles suscetíveis de alienação. 10 Carlos Alberto
Carmona chega a advertir que os direitos patrimoniais disponíveis são aqueles sobre os quais se
admite transação. 11

Deduz-se que poderão ser decididas por juízo arbitral as controvérsias envolvendo as
diversas espécies de contratos empresariais, por exemplo, agência, distribuição, corretagem,
representação comercial, locação, leasing, empreitada, engeneering, transporte, seguro, know how,
patrocínio, propaganda, concessão mercantil, franquia, entre outros.

Também os dissídios entre os sócios ou acionistas de uma determinada sociedade


empresária, assim como litígios entre os sócios e a própria sociedade, entre os quais se destacam
questões envolvendo interpretação do contrato social, administração da sociedade, alienação de
participação societária, exclusão de sócio, dissolução e liquidação da sociedade, admitem solução
por via arbitral. Aliás, a própria legislação incentiva expressamente que os conflitos societários
sejam dirimidos pela arbitragem, mediante inclusão de cláusula arbitral nos estatutos das sociedades
anônimas, conforme art. 109, § 3º, da Lei 6.404/76.

8
VENTURA, Raul. Convenção de arbitragem. Revista da Ordem dos Advogados. Lisboa, v. 46, n. 2, 1986, p. 317.
9
VENTURA, Raul. Convenção de arbitragem. Revista da Ordem dos Advogados. Lisboa, v. 46, n. 2, 1986, p. 326.
10
FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Arbitragem, jurisdição e execução. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 178.
11
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 56-57.

3
Há quem defenda a possibilidade de utilização da arbitragem na solução de desavenças
quanto ao modo de implementação das medidas constantes em plano de recuperação de empresa.12
E parece-nos também que os conflitos decorrentes das relações que se estabelecem entre o
empresário e o consumidor, 13 assim como entre o empresário e o empregado, 14 podem ser
submetidos ao juízo arbitral.

Oportuno ressaltar que a incidência de normas de ordem pública sobre uma situação
jurídica patrimonial não é suficiente para afastar a possibilidade de utilização da arbitragem. 15 De
acordo com o art. 2º, § 1º, da Lei n. 9.307/96, os interessados poderão estabelecer o modo pelo qual
seu litígio será resolvido, elegendo, para tanto, as regras e princípios materiais e procedimentais que
serão manejados pelos árbitros, desde que não haja violação da ordem pública. As normas de ordem
pública aderem ao conteúdo dos negócios jurídicos, não podendo ser afastadas, independentemente
da liberdade de contratar. Deve-se respeitá-las e, quando for o caso, aplicá-las. Assim, o que torna
o juízo arbitral inválido não é o fato de o litígio envolver questões de ordem pública relativas a
uma matéria suscetível de arbitragem, mas sim o fato de a ordem pública ter sido violada.16

3. Convenção de arbitragem e seus efeitos

Se quiserem submeter seus litígios ao juízo arbitral, os empresários deverão celebrar


convenção de arbitragem, estipulando cláusula compromissória em seus contratos e, quando

12
Vide PINTO, José Emílio Nunes. A arbitragem na recuperação de empresas. Revista de Arbitragem e Mediação. São
Paulo, v. 2, n. 7, 2005, p. 79-100; ARMELIN, Donaldo. A arbitragem, a falência e a liquidação extrajudicial. Revista de
Arbitragem e Mediação. São Paulo, v. 4, n. 13, 2007, p. 16-29.
13
Vide AZEVEDO, Antônio Junqueira de. A arbitragem e o direito do consumidor. Revista de Direito do Consumidor.
São Paulo, n. 23-24, 1997, p. 33-40; PAULA, Adriano Perácio de. Da arbitragem nas relações de consumo. Revista de
Direito do Consumidor. São Paulo, n. 32, 1999, p. 55-73; FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Acesso à jurisdição arbitral e
os conflitos decorrentes das relações de consumo. Revista Genesis. Curitiba, v. 16, 2000, p. 283-306; ANDRIGHI,
Fátima Nancy. Arbitragem nas relações de consumo: uma proposta concreta. Revista de Arbitragem e Mediação. São
Paulo, v. 3, n. 9, 2006, p. 13-21.
14
Vide YOSHIDA, Márcio. A arbitragem e o judiciário trabalhista. Revista Brasileira de Arbitragem. São Paulo, n. 6,
1995, p. 7-17; MAIOR, Jorge Luiz Souto. Arbitragem em conflitos individuais do trabalho: a experiência mundial.
Revista Justiça do Trabalho. Porto Alegre, v. 19, n. 224, 2002, p. 29-37; DELGADO, Maurício Godinho. Arbitragem,
mediação e comissão de conciliação prévia no direito do trabalho brasileiro. Síntese Trabalhista. Porto Alegre, v. 14, n.
159, 2002, p. 9-22.
15
KROETZ, Tarcísio Araújo. Arbitragem, conceito e pressupostos de validade. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997,
p. 97-109.
16
COSTA, José Augusto Fontoura; PIMENTA, Rafaela Lacôrte Vitale. Ordem pública na Lei nº 9.307/96. In
CASELLA, Paulo Borba (coord.). Arbitragem. 2. ed. São Paulo: LTr, 1999, p. 373-390.

4
verificado o litígio, firmar compromisso arbitral, se for o caso. Poderão ainda, independentemente
da existência de cláusula compromissória, celebrar compromisso arbitral quando surgir um conflito
envolvendo direitos patrimoniais disponíveis.

De acordo com o art. 9º, da Lei n. 9.307/96, o compromisso arbitral é a convenção por
meio da qual os interessados submetem litígio atual e concreto à arbitragem. Ressalte-se que o
compromisso arbitral pressupõe a existência de uma efetiva controvérsia entre as partes, o que
acaba por diferenciá-lo da cláusula compromissória.

Deve revestir forma escrita, contemplando, obrigatoriamente, a qualificação das partes, a


identificação ou, se for o caso, a forma de designação do árbitro, a indicação e os contornos do
litígio a ser dirimido e o lugar em que será proferida a sentença arbitral. Poderá ser incluído, entre
outros elementos, o local onde se desenvolverá a arbitragem, o prazo para apresentação da sentença
arbitral, a disciplina procedimental da arbitragem, a fixação dos honorários do árbitro e a
responsabilidade pelo pagamento das despesas da arbitragem.

O compromisso arbitral pode ser judicial, quando instituído perante juiz togado, em razão
de demanda fundada no art. 7º, da Lei n. 9.307/96, ou perante acordo lavrado por termo nos autos,
pendendo demanda judicial entre as partes, a qual será extinta sem julgamento do mérito. Por outro
lado, pode também ser extrajudicial, quando tomado por instrumento particular, assinado pelas
partes e duas testemunhas, ou por instrumento público.

Por sua vez, a cláusula compromissória é a convenção por meio da qual as partes de um
contrato se comprometem a submeter à arbitragem os litígios porventura oriundos do contrato em
questão, conforme o art. 4º, da Lei n. 9.307/96. O traço característico da cláusula compromissória é
a inexistência de conflito concreto entre as partes no momento de sua celebração. A cláusula
compromissória precede e dispõe acerca de eventual disputa.

Carlos Alberto Carmona assinala que “para a validade da cláusula basta que as partes
mencionem as relações jurídicas por elas abarcadas, ou seja, é suficiente reportar-se a determinado
contrato, às relações societárias relativas aos integrantes de determinada empresa, a certos serviços,
sem maior preocupação em especificar os litígios que poderão decorrer do relacionamento
contratual mantido pelas partes”.17

17
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 104.

5
No que tange à sua forma, a cláusula compromissória deve ser estipulada por escrito, não
podendo sua existência ser presumida. Em razão do seu conteúdo, é freqüente classificá-la como
cheia ou vazia.

Segundo Carlos Alberto Carmona, cláusula cheia é aquela que contempla a nomeação do
árbitro, podendo as partes, para tanto, reportar-se às regras de entidade especializada, como
preleciona o art. 5º, da Lei n. 9.307/96. Ao contrário, cláusula vazia é aquela que não permite
identificar qualquer mecanismo de designação do árbitro pelos litigantes. 18 Cumpre frisar que a
classificação proposta é resultado do esforço de corrente doutrinária mais progressista, que não
reconhece a necessidade de celebração do compromisso para se instaurar o juízo arbitral, em razão
da existência de cláusula compromissória cheia. 19 20

De qualquer modo, não se pode deixar de ressaltar que a instalação do juízo arbitral apenas
ocorrerá quando o árbitro indicado pelas partes aceitar o encargo que lhe foi cometido, nos termos
do art. 19, da Lei n. 9.307/96. Entretanto, ambas as espécies de convenção de arbitragem, desde sua
celebração, possuem aptidão para afastar a atuação decisória do órgão judiciário e reservar ao

18
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 131-132.
19
Este parece ser o entendimento adotado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Vide, por exemplo, ARBITRAGEM.
CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA. EXECUÇÃO. Existência de acordo prévio em que as partes estabelecem a forma
de instituir a arbitragem, adotando as regras de órgão arbitral institucional, ou de entidade especializada. Hipótese de
cláusula com promissória cheia. Submissão às normas do órgão ou entidade, livremente escolhido pelas partes.
Desnecessidade de intervenção judicial a firmar o conteúdo do compromisso arbitral. (TJSP, Quinta Câmara de Direito
Privado, Agravo de Instrumento n. 124.217-4, Relator Desembargador Rodrigues de Carvalho, julgado em 16/09/1999);
CONTRATO. COMPROMISSO ARBITRAL. CLÁUSULA CHEIA. NULIDADE. INEXISTÊNCIA. Contratantes
que elegeram o órgão arbitral e se obrigaram a aceitar as normas por ele impostas. Aplicação do art. 5° da Lei n°
9.307/96. Intervenção judicial desnecessária. Art. 7º da mesma lei que trata de cláusula vazia. Arbitragem já instituída.
Tentativa de paralisação da solução da controvérsia. Inadmissível descumprimento de cláusulas contratuais. Reserva
mental. Caracterização. Cláusula compromissória que fixa o objeto da arbitragem. Cientificação do alegado
descumprimento de cláusulas. Ocorrência. Regulamento da Câmara de Comércio. Nulidade da cláusula 5.9. Não
verificação. Regulamento que assegura, em qualquer hipótese, o contraditório. Recurso não provido. (TJSP, Sétima
Câmara de Direito Privado, Apelação Cível n. 29603644, Relator Desembargador Marino Emílio Falcão Lopes, julgado
em 17/12/2003).
20
Em sentido contrário, vale a pena conferir BARBI FILHO, Celso. Cumprimento judicial da cláusula compromissória
na Lei 9.307/96 e outras intervenções do judiciário na arbitragem privada. Revista dos Tribunais. São Paulo, v. 87, n.
749, 1998, p. 107-108, assim como ALVIM, José Eduardo Carreira. Tratado geral da arbitragem. Belo Horizonte:
Mandamentos, 2000, p. 219-229. Este parece ser o entendimento adotado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
Vide, por exemplo, MEDIDA CAUTELAR INOMINADA. INSTAURAÇÃO DA ARBITRAGEM. CLÁUSULA
COMPROMISSÓRIA. NECESSIDADE DO COMPROMISSO ARBITRAL. 1. É possível a intervenção do Poder
Judiciário para garantir a regularidade e a estrita observância à lei do procedimento arbitral, sem adentrar, em absoluto,
no mérito da querela. 2. A cláusula compromissória não dispensa o compromisso arbitral posto que, tem este, o condão
de regulamentar a mesma. 3. Mesmo que a cláusula compromissória firmada entre as partes seja aquela denominada
cláusula cheia, ou seja, aquela que preenche quase todos os requisitos para a instituição da arbitragem, ainda assim, o
compromisso arbitral não perde a sua essencialidade. (TJMG, Agravo de Instrumento n. 1.0024.07.790963-8/001,
Relator Desembargador Wagner Wilson, julgado em 12/06/2008).

6
árbitro autoridade para solucionar a controvérsia entre os litigantes de maneira vinculante. 21 Aliás,
por força do art. 267, inciso VII, do Código de Processo Civil, o manejo de ação judicial,
desconsiderando convenção de arbitragem, conduz à extinção do processo sem julgamento do
mérito.

4. Algumas vantagens da arbitragem empresarial

Armando Castelar Pinheiro adverte que um mecanismo de resolução de disputas será


eficiente quando ostentar baixo custo de acesso e decisões justas, rápidas e previsíveis. 22 Neste
trabalho, pretendemos apresentar apenas algumas considerações sobre os atributos da arbitragem,

21
Vide, por exemplo, PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CLÁUSULA ARBITRAL. LEI DE
ARBITRAGEM. APLICAÇÃO IMEDIATA. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO. 1.
Com a alteração do art. 267, VII, do CPC pela Lei de Arbitragem, a pactuação tanto do compromisso como da cláusula
arbitral passou a ser considerada hipótese de extinção do processo sem julgamento do mérito. 2. Impõe-se a extinção do
processo sem julgamento do mérito se, quando invocada a existência de cláusula arbitral, já vigorava a Lei de
Arbitragem, ainda que o contrato tenha sido celebrado em data anterior à sua vigência, pois, as normas processuais têm
aplicação imediata. (STJ, REsp. 712.566, Terceira Turma, Relatora Ministra Nancy Andrighi, julgado em 18/08/2005);
AÇÃO DE REVISÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM. EXTINÇÃO DO
PROCESSO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO. A convenção de arbitragem transfere ao juízo arbitral a competência
para dirimir as controvérsias que envolvem direitos disponíveis, afastando a competência cognitiva ordinariamente
atribuída ao Estado-Juiz. A ação ajuizada em desacordo com cláusula compromissória deve ser extinta sem julgamento
do mérito. (TJMG, Agravo de Instrumento n. 1.0024.07.502822-5/002, Relator Desembargador José Flávio de Almeida,
julgado em 07/05/2008); AJUSTE BILATERAL. CLÁUSULA ARBITRAL. PRESSUPOSTO PROCESSUAL. A
convenção de arbitragem ainda que na fase de cláusula compromissória, é pressuposto processual de caráter negativo
que, se não observada, leva à extinção do processo, sem julgamento do mérito. (TJMG, Apelação cível n.
1.0439.03.023204-5/001, Relatora Desembargadora Eulina do Carmo Almeida, julgado em 14/02/2008); AÇÃO DE
DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE. EXCLUSÃO DE SÓCIA. REJEIÇÃO DE PRELIMINARES
SUSCITADAS EM CONTESTAÇÃO. CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM. EXTINÇÃO DO FEITO SEM
JULGAMENTO DO MÉRITO. Tendo as partes submetido a solução de seus litígios ao juízo arbitral, conforme o
contrato social da sociedade, não poderão se socorrer ao Poder Judiciário para solucionar controvérsia advinda de sua
relação. Devem, então, submeter-se à decisão a ser proferida pelo árbitro, oportunamente escolhido. Preliminar
acolhida, decisão singular cassada e extinção do feito sem julgamento do mérito. (TJMG, Apelação Cível n.
2.0000.00.471292-1/000, Relator Desembargador Roberto Borges de Oliveira, julgado em 19/04/2005); INSTITUIÇÃO
DE JUÍZO ARBITRAL. ALEGAÇÃO DE FALTA DE LEGÍTIMO INTERESSE PROCESSUAL. ACOLHIMENTO.
Existência de compromisso e procedimento arbitral validamente instalado perante órgão arbitral institucional livremente
eleito pelas partes. Desnecessidade de intervenção judicial. Lei n. 9.307/96. Preliminar acolhida. (TJSP, Quinta Câmara
de Direito Privado, Agravo de Instrumento n. 1242174, Relator Desembargador Rodrigues de Carvalho, julgado em
16/09/1999); COMINATÓRIA CUMULADA COM INDENIZAÇÃO. PROCESSO EXTINTO, SEM RESOLUÇÃO
DO MÉRITO. EXISTÊNCIA DE CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA NO CONTRATO CELEBRADO ENTRE AS
PARTES. APLICAÇÃO IMEDIATA. A existência de cláusula compromissória ou compromisso arbitral desde que
alegada pela parte contrária, impede a utilização do juízo comum para processamento e julgamento do feito,
conduzindo, assim, à extinção do processo sem julgamento do mérito. (TJSP, Primeira Câmara de Direito Privado,
Apelação Cível n. 4569324900, Relator Desembargador Guimarães e Souza, julgado em 09/09/2008).
22
PINHEIRO, Armando Castelar. Judiciário e Economia no Brasil. São Paulo: Sumaré, 2000, p. 28.

7
lembrando que não há como determinar de maneira absoluta a melhor ou pior forma de tutela
jurisdicional, sem levar em conta as peculiaridades do caso concreto.23

4.1. Agilidade na solução do litígio

É freqüente apontar a morosidade como um fator determinante do insatisfatório


desempenho do sistema judiciário de resolução de conflitos, especialmente nas questões envolvendo
interesses empresariais. Em estudo voltado para sistematização de informações sobre decisões
judiciais em matéria societária, entre os anos de 1998 e 2005, no âmbito do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo, realizado sob os auspícios da Fundação Getúlio Vargas, verificou-se que a
solução de um litígio pode demandar, em média, 1.536 dias. Enquanto o julgamento, em primeira
instância, exige, em média, 886 dias, podendo atingir 3.287 dias, o exame, em segunda instância, do
recurso de apelação, por exemplo, demora, em média, 504 dias, podendo alcançar 1.547 dias. Em
conclusão, o encerramento de uma disputa envolvendo questão societária leva, aproximadamente,
quatro anos e meio, sem levar em conta a possibilidade de acesso ao Superior Tribunal de Justiça. 24

A falta de agilidade do sistema judiciário acaba sendo utilizada por oportunistas não para
salvaguardar uma situação jurídica de lesão ou ameaça, mas para impedir que isso aconteça ou
protelar o cumprimento de uma obrigação. Aliás, não se pode esquecer que os litigantes ficam
privados dos bens ou direitos disputados até o efetivo cumprimento da decisão transitada em
julgado, o que impõe custos por vezes bastante elevados. 25

Também não é preciso muito esforço para perceber que a morosidade na solução de
desavenças pode comprometer o desempenho econômico das empresas. Pode causar a interrupção
de atividades, paralisação de equipamentos ou redução de horas trabalhadas, inclusive, com
demissões de empregados, assim como desencorajar projetos de investimentos ou a utilização de
capital disponível, além de exigir uma melhor triagem dos parceiros de negócios e consumidores.

23
FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Arbitragem, jurisdição e execução. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 102.
24
PRADO, Viviane Muller; BURANELLI, Vinícius Correa. Relatório da pesquisa de jurisprudência sobre direito
societário e mercado de capitais no Tribunal de Justiça de São Paulo. Cadernos de Direito GV. São Paulo, v. 2, n. 1,
2006, p. 10-22.
25
PUGLIESE, Antonio Celso Fonseca; SALAMA, Bruno Meyerhof. A economia da arbitragem: escolha racional e
geração de valor. Revista Direito GV. São Paulo, v. 4, n. 1, 2008, p. 19-20.

8
Além disso, a ineficiência do sistema judiciário possui aptidão para distorcer os preços da
economia, na medida em que impõe riscos adicionais aos negócios.26

A arbitragem apresenta vantagem evidente. De acordo com o art. 23, da Lei n. 9.307/96, os
litigantes poderão determinar o prazo para apresentação de sentença arbitral. Nada tendo sido
convencionado, a decisão arbitral deverá ser proferida em até seis meses, contados, em regra, da
instituição do juízo arbitral por meio da aceitação do encargo pelo árbitro escolhido pelas partes.

Importante frisar que os interessados também poderão estabelecer procedimento a ser


observado pelo julgador designado, bem como reportar às regras procedimentais de um órgão
arbitral institucional, permitindo-se, inclusive, delegar ao árbitro a faculdade de regular o
procedimento, nos termos do art. 21, da Lei n. 9.307/96. Assim, não deve causar espanto o repúdio a
expedientes excessivamente solenes, procrastinatórios e inúteis para a solução do litígio, preferindo-se
conduzir a instrução e o julgamento pela simplicidade e objetividade, além de, não raro, se contar com
a infra-estrutura necessária para que as decisões sejam tomadas com rapidez. Em qualquer caso,
sempre deverão ser observados os princípios do contraditório, da igualdade das partes, da
imparcialidade do árbitro e de seu livre convencimento.

4.2. Escolha do julgador

A possibilidade de os litigantes terem o conflito resolvido por alguém que eles mesmos
escolheram é também uma importante vantagem da arbitragem, que acaba por aumentar o grau de
satisfação com o resultado da controvérsia, além de garantir um julgador especializado e discreto.
De acordo com o art. 13, da Lei n. 9.307/96, o árbitro deve possuir capacidade de exercício e
confiança das partes.

O árbitro desfruta de todos os poderes indispensáveis para conhecer o litígio e resolvê-lo.


Ele conhece, analisa e valora as questões de fato e direito deduzidas pelas partes, a fim de formar o
seu convencimento, externado por meio da sentença arbitral, que deve atender aos mesmos
requisitos da sentença proferida pelo órgão judiciário, inclusive no que tange à motivação,
consoante determinação do art. 26, da Lei n. 9.307/96.

26
PINHEIRO, Armando Castelar. Judiciário e Economia no Brasil. São Paulo: Sumaré, 2000, p. 75-130.

9
Tomará depoimento das partes, ouvirá testemunhas e determinará a realização de perícias
ou outras provas que entender pertinentes. Havendo a necessidade de ouvir uma testemunha
renitente, o árbitro se dirigirá ao juiz togado, por meio de ofício, instruído com cópia da convenção
de arbitragem, solicitando ao órgão judiciário que determine a condução coercitiva da testemunha
perante sua presença. O juiz togado se limitará a verificar a regularidade da convenção arbitral e da
investidura do árbitro, de modo a verificar se o julgador escolhido pelos litigantes está agindo
dentro dos limites estabelecidos pela convenção de arbitragem. O juiz togado não poderá perquirir
acerca do mérito da medida, uma vez que não foi provocado para tanto. Somente ao árbitro cabe
avaliar a necessidade, utilidade e pertinência da prova testemunhal, pois, afinal, será ele quem
proferirá decisão definitiva e obrigatória para os litigantes. Caso o juiz togado não atenda a
solicitação do árbitro, sem justificativa, restará a este requerer as providências correcionais cabíveis,
sem prejuízo de pleitear ao tribunal competente, por meio de mandado de segurança, o
cumprimento da diligência.27

Por outro ângulo de análise, parece-nos que o árbitro também possui poderes para decretar
medidas cautelares, sem, contudo, possuir poderes para executá-las coercitivamente, segundo teor
do disposto no art. 22, § 4º, da Lei n. 9.307/96. Dessa forma, havendo necessidade e urgência, o
árbitro decretará a medida cautelar requerida por uma das partes. Se a medida determinada for
prontamente cumprida, não será necessário o concurso do órgão judiciário. Entretanto, havendo
resistência no cumprimento do expediente em questão, será imperioso o auxílio do juiz togado, sendo
solicitado da mesma maneira vista anteriormente.

Vislumbra-se que as atividades do árbitro e do juiz togado relacionam-se de maneira


coordenada, objetivando a tutela jurisdicional efetiva e completa. A falta de coertio e de executio
não desqualifica a atividade do árbitro, uma vez que a carência de tais poderes pode ser suprida pela
atividade coordenada do órgão judiciário, que não analisa o mérito dos atos de coerção e de
execução, mas apenas administra a utilização da força.

Importante frisar que o árbitro deverá proceder sempre com imparcialidade, competência,
diligência e descrição, nos termos do art. 13, § 6º, da Lei n. 9.307/96.

27
CARMONA, Carlos Alberto. Das boas relações entre os juízes e os árbitros. Revista de Processo. São Paulo, v. 22, n.
87, 1997, p. 85.

10
A imparcialidade é representada pela eqüidistância do julgador em relação às partes, não
possuindo o árbitro interesse no objeto do litígio, senão em resolvê-lo seguindo o compromisso
arbitral.28 Deve conceder tratamento equânime aos litigantes. Aliás, o árbitro não deve ter ligações
de cunho pessoal com as partes, incorrendo nas hipóteses de impedimentos e suspeições, assim
como nos mesmos deveres e responsabilidades, do juiz togado, conforme o disposto no art. 14, da
Lei n. 9.307/96.

A competência evidencia um conjunto de habilidades e conhecimentos necessários para


que o árbitro possa solucionar o litígio de maneira adequada. Espera-se que o julgador tenha
razoável experiência e formação específica em área técnica sobre a qual versa a disputa entre as
partes, o que tornará o julgamento de questões de elevada complexidade mais previsível e adequado
às práticas vigentes de determinado setor econômico. Por exemplo, na celebração de contrato de
longa duração, é bastante complicado prever todas as possíveis contingências durante a sua
vigência, exigindo-se que sejam equacionadas na medida em que surjam, sob pena de frustrar o
equilíbrio econômico do contrato e as legítimas expectativas dos contratantes, o que parece ser
realizado de maneira mais adequada por quem se encontre familiarizado com a matéria em questão.
“A especialização permite, assim, a redução dos erros nas decisões arbitrais. Em tese, apesar de
todos os procedimentos estarem sujeitos a erros, a probabilidade de o árbitro especializado decidir
de forma equivocada, por não conhecer a matéria discutida, é menor”. 29 Trata-se de outro aspecto
bastante vantajoso do juízo arbitral. “Quer-se do árbitro decisão técnica, especializada, melhor do
que aquela que seria de esperar de um juiz estatal”.30

A diligência impõe ao julgador zelo na execução de seu encargo, orientando sua conduta
pela presteza, transparência e boa-fé, além de não medir esforços para favorecer a cooperação e o
respeito entre os litigantes. “Os árbitros devem dedicar tempo e atenção que as partes razoavelmente
possam exigir, de acordo com as circunstâncias do caso, e empregar seus melhores esforços em dirigir
a arbitragem de modo tal que os custos não se elevem a uma proporção desmedida, com respeito aos
interesses em litígio”.31

28
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 209.
29
PUGLIESE, Antonio Celso Fonseca; SALAMA, Bruno Meyerhof. A economia da arbitragem: escolha racional e
geração de valor. Revista Direito GV. São Paulo, v. 4, n. 1, 2008, p. 20
30
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 209-210.
31
LEMES, Selma Ferreira. Dos árbitros. In MARTINS, Pedro Antônio Batista; LEMES, Selma Ferreira; CARMONA,
Carlos Alberto. Aspectos fundamentais da lei de arbitragem. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 265.

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Por fim, deve o árbitro atuar com discrição. “O árbitro deve manter confidência de tudo o
que venha a tomar conhecimento em razão de seu ofício, seja em relação às partes, testemunhas,
provas coligidas, informações que lhe sejam confiadas. Enfim, lhe é vedado exteriorizar opinião,
efetuar comentários sobre o assunto objeto da arbitragem, não só durante o procedimento senão
também após proferir a sentença arbitral”.32 O dever de sigilo é mais uma vantagem significativa do
juízo arbitral. E o árbitro que violar este dever poderá responder por perdas e danos. 33

4.3. Exigibilidade da sentença arbitral

Pela sentença arbitral o julgador escolhido pelas partes apresenta solução para a
controvérsia formada entre elas, com força de coisa julgada. De acordo com o art. 31, da Lei n.
9.307/96, a decisão arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença
judicial, e, sendo condenatória, constitui título executivo. 34

Contudo, nem sempre foi assim. Na sistemática legal revogada, a exigência de


homologação judicial da decisão proferida pelo árbitro, para somente depois proceder a sua
execução forçada, acabava por esvaziar a arbitragem de suas vantagens mais significativas.

Hoje, por força do art. 18, da Lei n. 9.370/96, a sentença arbitral não fica mais sujeita a
confirmação judicial ou a qualquer recurso. Segundo José Eduardo Carreira Alvim, trata-se de
disposição de ordem pública, que não pode ser derrogada pela vontade das partes.35 Para Carlos
Alberto Carmona, a avença que submete a decisão dos árbitros ao crivo por órgão judiciário é nula
de pleno direito.36

32
LEMES, Selma Ferreira. Dos árbitros. In MARTINS, Pedro Antônio Batista; LEMES, Selma Ferreira; CARMONA,
Carlos Alberto. Aspectos fundamentais da lei de arbitragem. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 264.
33
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 211.
34
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA ARBITRAL. CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM. COMPETÊNCIA. A
convenção de arbitragem transfere ao juízo arbitral a competência para dirimir as controvérsias que envolvem direitos
disponíveis, afastando a competência cognitiva ordinariamente atribuída ao Estado-Juiz, salvo em relação aos atos de
execução, sobre os quais impera o monopólio da jurisdição estatal. O juízo do foro da sede da pessoa jurídica devedora
é o competente para a execução da sentença arbitral. (TJMG, Agravo de Instrumento n. 1.0433.07.212747-8/001,
Relator Desembargador José Flávio de Almeida, julgado em 07/05/2008)
35
ALVIM, José Eduardo Carreira. Tratado geral da arbitragem. Belo Horizonte: Mandamentos, 2000, p. 437.
36
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 231.

12
É certo que o juiz togado não poderá avaliar o mérito da decisão arbitral, em razão do
simples descontentamento de qualquer das partes,37 entretanto, não poderá furtar-se de examinar a
ocorrência de eventual vício formal, conforme dispõe o art. 32, da Lei n. 9.307/96.38 Assim, a parte
interessada apenas poderá impugnar a decisão proferida pelo árbitro, quando: for nulo o
compromisso arbitral; emanou de quem não podia ser árbitro; proferida fora dos limites da
convenção de arbitragem; não contiver relatório, fundamentação, dispositivo, data e lugar em que
foi proferida; não decidir todo o litígio submetido à arbitragem; proferida por prevaricação,
concussão ou corrupção passiva; forem desrespeitados os princípios do devido processo legal;
proferida fora do prazo convencional ou legal.

37
COBRANÇA. CONTRATO. CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA. POSSIBILIDADE. REDAÇÃO OBSCURA.
INAPLICABILIDADE. A cláusula compromissória é o pacto entre as partes pelo qual estabelecem que as divergências
acerca da interpretação ou execução do contrato devem ser dirimidas pelo juízo arbitral. A cláusula compromissória
deve ser clara e expressa porquanto é fruto de comum acordo para afastar a competência do Poder Judiciário na
resolução do conflito. Não existe a possibilidade de, em sendo frustrada a solução da arbitragem, as partes recorram ao
Poder Judiciário para reexaminar o mérito, pois a decisão do árbitro constitui sentença arbitral com força de título
executivo judicial. (TJMG, Apelação Cível n. 2.0000.00.503787-4/000, Relatora Desembargadora Evangelina Castilho
Duarte, julgamento em 23/09/2005); AÇÃO ANULATÓRIA. SENTENÇA ARBITRAL. Uma vez eleito o juízo arbitral
para dirimir a controvérsia entre as partes, descabida a rediscussão, através do Poder Judiciário, do mérito da decisão,
sendo permitido questionar o julgamento apenas no que diz respeito às hipóteses previstas no art. 32 da Lei de
Arbitragem. (TJRS, Apelação Cível n. 70019761170, Quinta Câmara Cível, Relator Desembargador Umberto Guaspari
Sudbrack, julgado em 05/09/2007); DECLARATÓRIA. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE CONTABILIDADE.
DUPLICATAS. EXTINÇÃO NOS TERMOS DO ARTIGO 267, VII, DO CPC. ARBITRAGEM. Proposta de contrato
de prestação de serviços, com cláusula que previa a resolução de conflitos por intermédio do Tribunal Arbitral do
Comércio. Apreciação pela Câmara de Arbitragem de São Paulo, com condenação da autora ao pagamento de certa
quantia. Título executivo formado, nos termos do art. 31, da Lei n° 9.307/96. Impossibilidade de julgamento desta ação,
que cuida da mesma questão já julgada naquela sede. Extinção bem decretada. (TJSP, Apelação Cível n. 7102600700,
Décima Oitava Câmara de Direito Privado, Relator Desembargador Jurandir de Souza Oliveira, julgado em
23/06/2009).
38
ARBITRAGEM. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE SENTENÇA ARBITRAL. A sentença arbitral foi proferida fora dos
limites da convenção de arbitragem. Sentença arbitral nula (art. 32, inc. IV, da Lei n° 9.307/96). Incumbia ao árbitro
convocar as partes para que o objeto da arbitragem fosse melhor explicitado. Se uma das partes propõe questão fora dos
limites do compromisso de arbitragem, o árbitro não tem autoridade para decidi-la e se o faz por desatenção provocará a
nulidade da sua decisão. O compromisso arbitral limita a pretensão das partes. A sentença arbitral também deixou de
decidir todo o litígio submetido à arbitragem ao rejeitar, em bloco e sem motivação, a pretensão da autora formulada
discriminadamente. Recurso da autora provido para anular por inteiro a sentença arbitral. (TJSP, Vigésima Sexta
Câmara de Direito Privado, Apelação Cível n. 1.220.887- 0/6, Relator Desembargador Carlos Alberto Garbi, julgado
em 04/02/2009); AÇÃO DE NULIDADE DE SENTENÇA ARBITRAL. ART. 33 LEI 9307/96. PRAZO.
NOTIFICAÇÃO SENTENÇA ARBITRAL OU ADITAMENTO. Uma vez proferida, a sentença arbitral haverá
transitado em julgado, nos limites do que for da competência do árbitro, pois, no momento em que é nomeado pelas
partes, o árbitro recebe delas um verdadeiro poder de decidir, impondo em caráter obrigatório e vinculativo a solução
para um determinado e específico conflito de interesses, aplicando a norma ao caso concreto, decidindo
terminativamente a lide por meio de uma jurisdição privada e verdadeiramente voluntária. O artigo 33 da Lei nº
9.307/96 prevê a possibilidade do ajuizamento de uma ação anulatória específica para a anulação do laudo arbitral
viciado por alguma das formas previstas nos oito incisos do artigo 32. Trata-se de meio específico de impugnação da
sentença arbitral, visando a decretação judicial da sua nulidade, ou o retorno da lide ao árbitro para que profira outra
sentença, sanando a nulidade então decretada judicialmente, tudo previsto pela própria Lei de Arbitragem. (TJMG,
Apelação Cível n. 2.0000.00.492234-9/000, Relator Desembargador Nilo Lacerda, julgado em 18/05/2005).

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