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Sobre as origens da vogal radical /i/ em sigo~siga no verbo galego-


português: Um fenómeno de contacto linguístico?

Article · January 2011


DOI: 10.1515/shll-2011-1104

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1 author:

Francisco Dubert-García
University of Santiago de Compostela
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Sobre as origens da vogal radical /i/ em sigo ~ siga no verbo galego-português: um fenómeno de contacto
linguístico?1

Francisco Dubert-García
Instituto da Lingua Galega-USC

Abstract
The origin of the height of the radical vowel of Galician and Portuguese sigo ~ siga ‘I follow / I go on’ and cubro ~
cubra ‘I cover’ is problematic: the expected vowel in that context, through a regular phonological evolution, should be
mid high, not high. Given that Galician, Portuguese and Spanish share the unexpected height and that it seems that the
high vowel first appeared and was consolidated in the central dialects of the Peninsula, I will propose that forms like
sigo and cubro were originated in those central dialects and were taken and spread into the occidental dialects by a
language contact situation. As the contact was more prolonged and intense in Galicia than in Portugal, Galician
promoted variants like pido ~ pides ~ pide ~ pida (‘I ask for’), shared with Spanish, and diverged in this respect from
Portuguese, which blocked their spread.

1. Introdução
Muitos verbos galegos e portugueses das 2ª e 3ª conjugações (daqui em diante, C2 e C3, respectivamente) apresentam
alternâncias vocálicas nas formas rizotónicas; porém, os modelos de alternância dos verbos galegos e portugueses não
são iguais. Existe uma considerável bibliografia que tem dedicado a explicar a alternância portuguesa, tanto sincrónica
como diacronicamente; menos existe sobre a galega. Um facto a destacar nas exposições diacrónicas é que raras vezes
se recorre à história do castelhano para dar conta da história dos verbos galego-portugueses, nem sequer naqueles
aspectos mais obscuros em que o galego, o português e o castelhano coincidem.
Quando se olha para o castelhano, faz-se de esguelha, para, afinal, fornecer explicações independentes das que se
encontraram para aquele idioma. Não é evidente a que se deve esta relutância. Porém, dada a contiguidade geográfica
das formas galegas, portuguesas e castelhanas, a existência de um continuum geolectal reconhecido, o intercâmbio
lexical entre estas línguas que se verificou ao longo de séculos, a convivência cultural, social e política que caracterizou
as relações entre os três territórios durante toda a Idade Média e parte da Moderna (e que caracteriza as relações entre a
Galiza e o resto de Espanha em toda a Idade Contemporânea), parece estranho que nos trabalhos sobre o português ou o
galego raras vezes se olhe para o castelhano.
A fronteira que, em 1906, pisou Menéndez Pidal para segregar aquilo que denominou línguas/dialectos ibero-
românicos ocidentais, centrais e orientais é o resultado de uma selecção que lhe pareceu adequada para segmentar em
três línguas/dialectos românicos o continuum (sem esclarecer muito a necessidade linguística da segregação). Eu
próprio estou a falar de galego-português e castelhano e integro neste último o aragonês e o asturiano, o que mostra a
força da tradição.
O certo é que, pelo norte, nem existem fronteiras entre os dialectos românicos nem dentro deles; as fronteiras
artificiais entre os dialectos românicos desenhadas por linguistas do século XX não impedem que os traços linguísticos
se estendam de um lado ao outro dessas fronteiras, nem que viajem antes ou depois do seu traçado: o ensurdecimento
das consoantes fricativas coronais verificou-se em galego, astur-leonês, castelhano e aragonês; o mesmo aconteceu com
o surgimento da consoante fricativa dental, que suplantou a sibilante lâmino-alveolar; o betacismo que caracteriza todo
o norte de Portugal e a maior parte de Espanha, etc.
Mesmo as fronteiras linguísticas verdadeiras (as que separam falantes de dialectos românicos de falantes de
dialectos germânicos, e.g.) não impedem a passagem de traços. É precisamente daí que surge o fenómeno das áreas
geolinguísticas ou Sprachbünde. Neste trabalho pretendo explicar a origem da vogal radical de formas como sigo ~ siga
em galego-português como um fenómeno de área, relacionado com o contacto que os dialectos românicos do centro e
do ocidente mantiveram nos primeiros momentos da sua história, similar a outros como os citados acima.
As vogais altas de sigo ou cubro, inesperadas neste contexto fonológico desde um ponto de vista diacrónico,
constituem um problema similar nas gramáticas históricas galego-portuguesa e castelhana sobre o que se tem escrito
abundantemente. Contudo, para explicar a origem das formas galego-portuguesas praticamente não se teve em
consideração a possibilidade do contacto. Eu vou explorar cá esta hipótese. As razões fundamentais para suste-la são
três: a primeira é que sigo ~ siga e cubro ~ cubra apresentam uma vogal tónica alta em espanhol, asturiano, galego e
português; a segunda é que a explicação histórica desta vogal oferece problemas idênticos em todas estas línguas, pois
em cada uma delas caberia esperar uma vogal média se se tivesse produzido uma evolução fonológica regular; a terceira
é que parece que a vogal alta se generalizou antes no centro da Península do que no ocidente. É por isto que é possível
pensar que a vogal alta apareceu primeiro no centro da Ibero-România e que daí se passou ao ocidente por contacto.
Para analisar a viabilidade desta hipótese em § 1 apresento os dados actuais, em § 2 os elementos do meu quadro
teórico, em § 3 a própria explicação diacrónica das alternâncias e em § 4 umas breves conclusões. No apêndice
apresento o valor das abreviaturas que uso.

2. Os dados actuais
O castelhano, o galego e o português apresentam fenómenos de alternância vocálica nos radicais do PTE.IND dos verbos.
Tanto a ditongação das vogais tónicas Ŏ e Ĕ em castelhano, como as mudanças provocadas pelo contexto fonológico ou
por processos analógicos escondem similitudes e relações históricas. A metafonia da vogal tónica por influência da
vogal átona final em sogro ou a acção da nasal que fecha a sílaba em ponte (que elevaram /ɔ/ a /o/) diluem a relação
entre os cognatos, existente claramente em pares como sogra ~ suegra, nova ~ nueva, morta ~ muerta, que passaram
por uma evolução fonética regular do latim aos dialectos românicos.
Comparemos as seguintes formas das conjugações galega, portuguesa, castelhana e latina dos verbos sentir e servir,
que representam o fenómeno das alternâncias:

(1) Galego Português Castelhano Latim


sentir
a. 1.SG.IND.PTE s[ˈı̃]nto s[ˈı̃]nto s[ˈjẽ]nto SĔNTĬO
b. 2.SG.IND.PTE s[ˈɛ̃]ntes s[ˈẽ]ntes s[ˈjẽ]ntes SĔNTĬS
c. 1.PL.IND.PTE s[e]ntimos s[e]ntimos s[e]ntimos SĔNTĪMUS

d. 2.SG.IMP s[ˈı̃]nte s[ˈẽ]nte s[ˈjẽ]nte SĔNTĪ

e. 1.SG.CONJ.PTE s[ˈı̃]nta s[ˈı̃]nta s[ˈjẽ]nta SĔNTĬAM


f. 2.SG.CONJ.PTE s[ˈı̃]ntas s[ˈı̃]ntas s[ˈjẽ]ntas SĔNTĬAS
g. 1.PL.CONJ.PTE s[ı̃]ntamos s[ı̃]ntamos s[ı̃]ntamos SĔNTĬĀMUS

(2)
servir
a. 1.SG.IND.PTE s[ˈi]rvo s[ˈi]rvo s[ˈi]rvo SĔRVĬO
b. 2.SG.IND.PTE s[ˈɛ]rves s[ˈɛ]rves s[ˈi]rves SĔRVĬS
c. 1.PL.IND.PTE s[e]rvimos s[ɨ]rvimos s[e]rvimos SĔRVĪMUS

d. 2.SG.IMP s[ˈi]rve s[ˈɛ]rve s[ˈi]rve SĔRVĬ

e. 1.SG.CONJ.PTE s[ˈi]rva s[ˈi]rva s[ˈi]rva SĔRVĬO


f. 2.SG.CONJ.PTE s[ˈi]rvas s[ˈi]rvas s[ˈi]rvas SĔRVĬS
g. 1.PL.CONJ.PTE s[i]rvamos s[i]rvamos s[i]rvamos SĔRVĪMUS

A relação cognata das vogais radicais (daqui em diante, VR) de (1b) está ocultada por factores fonológicos, uma
vez que a maioria dos dialectos portugueses elevaram o /ɛ/ travado por nasal, enquanto esta elevação não se produziu
nos dialectos galegos devido à pressão que o modelo dos verbos sem nasal servir, seguir, ferir exerceu (Álvarez & Xove
2005). De facto, os verbos da C2 galega alternam sempre as vogais médias, estejam ou não travadas por nasal: r[õ]mpo,
r[ɔ̃]mpes, r[ɔ̃]mpe, r[ɔ̃]mpen (Álvarez & Xove 2002).2
Mais interessante é a situação de (1a), em que a percepção de cognato se debilita por fenómenos analógicos que, no
castelhano, levam o ditongo [je] das formas das 2. SG, 3.SG e 3.PL.IND.PTE à 1.SG.IND.PTE e a todas as formas rizotónicas do
CONJ.PTE. Mas os fenómenos mais importantes são os representados em (1d), (2a), e (2d):
• Nas 1.SG.IND.PTE (2a) temos, nos três idiomas, uma VR [i] em sirvo, apesar de o étimo latino conter Ĕ; a VR [i]
aparece também nos galego-portugueses sinto de (1a), uma vez que a forma castelhana siento contém ditongo.
Enquanto o galego, o castelhano e o português se comportam do mesmo modo em sirvo e sigo, só o galego-
português partilha sinto. Pelo contrário, o galego e o castelhano partilham pido (1.SG.IND.PTE de pedir), face ao
português peço (com [ɛ]). Contudo, nem o [i] de sinto, sirvo nem o [je] de siento são os resultados esperados
de Ĕ neste contexto, em que se esperaria [e] nos três idiomas.
• Quanto às 2.SG.IMP de (1d) e (2d), os dados mostram uma situação mais complexa: a VR [i] dos galegos sinte ou
sirve não corresponde à vogal latina Ĕ. A VR [e] do português sente corresponde ao Ĕ latino através da elevação
causada pela nasal em coda; deste modo, a VR portuguesa está numa relação directa com o ditongo castelhano
[je] de siente, tal como as VRs de (1b). Quanto ao [ɛ] português de serve, este corresponde à vogal latina, ao
contrário do [i] de sirve no castelhano e no galego. Assim, em sentir, existe uma relação estreita entre o
castelhano e o português, enquanto o galego se encontra à parte. Por outro lado, em servir, o castelhano e o
galego agrupam-se face ao português.

servir sentir servir sentir


latim SĔRVĬŌ SĔNTĬŌ SĔRVĬ SĔNTĬ

galego s[i]rvo s[i]nto s[i]rve s[i]nte


português s[i]rvo s[i]nto s[ɛ]rve s[e]nte
castelhano s[i]rvo s[je]nto s[i]rve s[je]nte

• No Conjuntivo, só as vogais altas de sintamos ~ sirvamos e sintades ~ sintais ~ sintáis (1g, 2g) procedem
directamente do étimo. Nenhuma VR tónica (sinta, sirva ou sienta) resulta da evolução fonológica regular de Ĕ
nesses contextos, onde se esperaria [e] nos três idiomas.
É meu objectivo dar uma explicação unificada destes fenómenos. Dado que sirvo ~ sigo e sirva ~ siga são formas
que aparecem nas três línguas e sendo as três línguas contíguas, seria desejável, por razões de economia explicativa, que
tivessem uma história única, tal como acontece com outros fenómenos comuns às três línguas: a redução tempos >
tempo/tiempo; a redução de quatro conjugações latinas a três (todas com infinitivo arrizotónico); a falta de uso dos
sufixos incoativos na C3 (sirvo face a serveix no catalão, firo ~ hiero face a ferisco no italiano e fereixo no catalão); a
eliminação dos particípios em -udo (face ao catalão perdut, ao francês perdu e ao italiano perduto ‘perdido’); a
conservação de três termos nas dêixis dos demonstrativos (este, esse, aquele, face ao catalão, francês, italiano); etc. Se,
além disso, esta mesma ferramenta servir para dar uma visão unificada das alternâncias, será sempre uma explicação
mais abrangente do que aquelas que propõem evoluções independentes e diferentes para o galego, o português e o
castelhano.
3. Fundamentos teóricos

3.1. Empréstimos entre línguas tipológica e geneticamente aparentadas


Fora do basco ou das línguas que trazem consigo os imigrantes, é um truísmo afirmar que as línguas faladas na
Península são românicas e, assim sendo, estão geneticamente relacionadas. Mais ainda, o parentesco não é só genético,
mas também tipológico (o inglês e o alemão, por exemplo, são línguas geneticamente relacionadas, mas com diferentes
comportamentos tipológicos). As classes de palavras, as categorias morfossintácticas e os recursos sintácticos e
morfológicos básicos das línguas peninsulares estão estreitamente relacionados e são quase idênticos. Pensemos na
flexão verbal: o galego, o castelhano, o asturiano e o português partilham três conjugações com vogais temáticas (daqui
em diante, VT) /a/, /e/, /i/; os modos indicativo e conjuntivo apresentam usos similares; existe uma oposição entre
perfeito e imperfeito (galego e português cantei ~ cantaba / cantava; castelhano e asturiano canté ~ cantaba); os tempos
do futuro e do condicional podem ser expressos sintética (galego e português cantarei; castelhano e asturiano cantaré) e
analiticamente (galego e português vou cantar, hei(-de) cantar; castelhano voy a cantar, he de cantar; asturiano vo
cantar, he a cantar),3 as concordâncias são feitas com o sujeito e não com o objecto (galego e português teño feito as
camas; castelhano he hecho las camas)... Na maior parte dos casos, as diferenças são fonológicas, de pronúncia e de
realização das palavras morfossintácticas.
No momento da constituição das línguas ibero-românicas e até ao século XVII, Portugal, Castela, Leão e Galiza
formavam uma unidade cultural bastante integrada, que funcionava apesar das mudanças nas fronteiras políticas. Pense-
se na corte do rei de Castela produzindo poesia em galego-português ou nos escritores portugueses escrevendo teatro ou
poesia em castelhano. Existia uma situação de contacto linguístico. Como defende Aikhenvald (2008, p. 15), nestas
situações não só existe um intercâmbio de formas (palavras, pronomes, afixos, fonemas), mas também de padrões e
construções sintácticas; a difusão de padrões nem precisa da difusão de formas:
“Borrowed forms are easier to detect than borrowed patterns, and this is why many linguists think—in all
likelihood, erroneously— that they are always more common. A careful inductively based analysis of individual
language contact situations suggests the opposite. Languages with few if any borrowed forms tend to show a
variety of borrowed patterns” (Aikhenvald 2008, p. 40).
Entre os elementos de ordem linguística que facilitam a difusão de padrões (Aikenvald 2008, pp. 26-36) figuram:
1. A frequência: quanto mais frequente é um termo numa variedade, mais fácil se torna que outra o tome
emprestado.
2. A existência prévia de similitudes estruturais, uma vez que facilitam a difusão de formas e de padrões: “Cross-
linguistically, borrowing is much more frequent between structurally similar systems than otherwise. If
languages in contact have similar constructions and patterns, they reinforce each other” (Aikhenvald 2008, p.
32).
3. A existência prévia na língua receptora de padrões semelhantes empregues em elementos gramaticais
similares.
Deste modo, em línguas tipológica e geneticamente tão próximas como o galego, o português e o espanhol é muito
difícil indicar que traços partilhados se devem à evolução de cada uma das variedades ou quais se devem à difusão.
Segundo Heine & Kuteva (2005, p. 32), esta partilha pode dever-se:
a) a uma estratégia universal de mudança favorecida por factores cognitivos e/ou tipológicos;
b) a um processo de difusão entre variedades;
c) ao factor (b) ajudado por (a);
d) ao factor (a) ajudado por (b).
Como nem sempre é possível saber quais são as causas que produzem similitudes, Heine e Kuteva propõem o
seguinte princípio heurístico :
“If there is a linguistic property x shared by two languages M and R, and these languages are immediate
neighbors and/or are known to have been in contact with each other for an extended period of time, and x is also
found in languages genetically related to M but not in languages genetically related do R, then we hypothesize
that this is an instance of contact-induced transfer, more specifically, that x has been transferred from M to R”
(Heine & Kuteva 2005, p. 33).
Dado que o galego, o português, o castelhano, o asturiano e o aragonês são línguas estreitamente relacionadas nos
planos geográfico, genético e tipológico e dada a existência de um certo prejuízo derivado do modelo arbóreo
geralmente empregue para explicar as suas relações históricas, cumprirá modificar este princípio. Realmente, no norte
da Península Ibérica temos um continuum geolectal em que uns dialectos são categorizados como galegos, outros como
portugueses, asturianos, leoneses, mirandeses, castelhanos, etc. Alguns traços aparecem em todo o continuum (como a
oposição entre perfeito e imperfeito, o verbo querer, a VR /i/ em sirvo ~ sigo) enquanto outros estão mais focalizados
em áreas geográficas (como pido no galego e no espanhol, face a peço no português; cantais no espanhol, português,
asturiano e galego, face a cantades no galego (para a distribuição cantás, cantades, cantais, cantandes em galego veja-
se mapa ** de ALGa I); o ditongo [ow] de cantou no norte de Portugal, na Galiza e no ocidente de Astúrias, face ao
monotongo [o] em espanhol, asturiano centro-oriental e português centro-meridional, etc.).
Muitos traços comuns devem-se ao tipo de latim com que se romanizou a Península ou às relações latinas centro /
periferia (tipos QUAERŌ em galego, português e espanhol, face a tipos VŎLŌ em catalão, francês e italiano); os traços de
extensão parcial ao longo do continuum reflectem o ponto máximo a que chegou uma evolução partilhada por alguns
dialectos ou levada de um dialecto para outro. Entre a Galiza e as Astúrias existem formas tipo camín < CAMĪNU e centén
< CENTĒNU, que seguramente nasceram na mesma área geográfica; as formas tipo camín, contudo, estenderam-se muito
mais a oriente e a ocidente do que as formas tipo centén (Dubert 2010). Estas formas, que não se encontram em todos os
dialectos do continuum, mas que apresentam contiguidade geográfica, podem dever-se tanto a evoluções confluentes
dos dialectos, como ao contacto areal, como à interacção dos dois factores. É precisamente essa a ideia que aqui
defenderei para as distintas extensões de sirvo, sigo, pido, etc.

3.2 Os padrões
Por padrões entendo a existência de relações entre uma série de propriedades morfossintácticas e elementos fonológicos
que servem de expoente. Não são as regras transformacionais, mas a expressão declarativa de relações que ligam
elementos sintácticos e fonológicos. Estes existem ao mesmo tempo do que as palavras que os contêm e empregam-se
independentemente delas, uma vez que podem passar de um conjunto de palavras a outro (podem ser considerados
elementos similares às regras de redundância lexical de Jackendoff (1975) ou aos padrões de Bybee (2001, 2010).
Na sua análise do verbo santiaguês, Dubert (1999, pp. 208-215) mostra como actuam. Por exemplo, formas como
trouguen, trouxen, truxen, truguen, trúen, truien de traer existem ao longo do galego (ALGa I, mapa 386 “Trouxen”);
estas variações são similares às de houben, huben em haber (ALGa I, mapa 276 “Houben”) e às de supen, souben,
soupen em saber (ALGa I, mapa 348 “Souben”). O que vemos actuar, de acordo com Dubert (1999, pp. 210-212), é um
padrão que liga as VRs /ou/~/u/ às propriedades morfossintácticas próprias dos temas de perfeito em alguns verbos
irregulares (haber, saber, traer); este padrão da VR actua com uma certa independência da consoante radical (doravante,
CR). O verbo traer, nuns dialectos santiagueses, segue o padrão /ou/ e tem no seu perfeito os morfomes troux- ou
troug-; noutros dialectos, segue o padrão u com os morfomes trux- (para o termo morfome, veja-se Aronoff (1994); para
a sua aplicação no âmbito românico, veja-se Maiden (2005)).
Existem outros padrões que se referem à altura de uma vogal tónica (não VR, nem VT) em relação às propriedades
morfossintácticas. Em galego (ALGa I, mapa 51 “Colliches”, 360 “Fuches”, 55 “Colleu”, 145 “Partiu” e 361 “Foi”)
existem formas como as de (3):

(3) a. Galego normativo e comum b. Galego centro-ocidental c. Galego norocidental


fun ↔ comín fun ↔ comín fun ↔ comín
fuches ↔ comiches, partiches foches ↔ comeches, partiches fostes ↔ comestes, partistes
foi ↔ comeu, partiu foi ↔ comeu, parteu fui ↔ comiu, partiu

A altura da vogal tónica das 1. SG e 2.SG.IND.PTO de ser e ir (fun, fuches) coincide com a altura das formas
correspondentes nos verbos regulares da C2 (comín, comiches); mais significativo é o facto de que nos dialectos (3b,c),
a altura da vogal tónica na 3.SG.IND.PTO de ser e ir (foi, fui) coincide com a altura da vogal tónica dos verbos regulares da
C2 e da C3:
• Dialectos (3b), vogais médias: foi, comeu e parteu aparecem numa área ampla que abrange o norte da Corunha
e Lugo, o leste e sueste da Corunha e o norte de Pontevedra.
• Dialectos (3c), vogais altas: fui, comiu~comío e partiu~partío aparecem de modo compacto no triângulo
formado por C.17, C.21, C.22, C.24, C.27, C.29, C.33, C.34, C.37 e C.43d.
As formas fuches e comiches explicam-se facilmente pela inflexão de - Ī sobre vogais tónicas médias altas; não é tão
simples explicar foches e comeches: explicações possíveis são a falta de inflexão ou uma reconstrução analógica.
Apesar da diferença de contextos (-ĬSTĪ nos verbos regulares e -ŬSTĪ em ser e ir), o processo operou-se de um modo
homogéneo no território. Por outro lado, o aparecimento de -iu nos verbos da C2 ou de -eu nos verbos da C3 nas
3.SG.IND.PTO, assim como a passagem FŬĬT > fui, não têm uma explicação fonológica simples, pelo que, quiçá, se deva
pensar na actuação de um padrão: em (3c), com fui, comiu, partiu, um padrão α introduz uma vogal tónica alta; nos
dialectos (3b), com foi, comeu, parteu, um padrão β introduz uma vogal tónica média.
Esta alteração é individual, atomística. Umas formas concretas dos paradigmas mudam por influência de outras e,
como resultado, todo o paradigma se reestrutura. Um elemento x pode mudar para y num dialecto A; esta nova forma y
de A pode entrar noutro dialecto B por contacto. A introdução de y em B pode desencadear uma reestruturação. As
formas tipo vecín penetraram na área de queda do -N- latino; esta penetração teve consequências distintas em cada
dialecto segundo a história do seu -N-:
dialectos com -N- conservado: vecín, vecina, vecinos, vecinas
dialectos com -N- perdido sem geração de palatal: vecín, vecía, vecíus, vecías
dialectos com -N- perdido com geração de palatal: vecín, veciños, veciña, veciñas

3.3 Nivelamento e mudança analógica


Joel Rini (1999, pp. 1-28) distingue como fenómenos de mudança diferenciados o nivelamento (leveling) e a mudança
analógica (analogical change): neste trabalho adoptarei esta divisão. Rini define analogia nos seguintes termos:
“I shall return to the basic, original meaning of the Greek word analogia and use the terms analogy and
analogical change to refer only to the foregoing types of morphological changes which have been called
“proportional analogy”, “four-part analogy”, “analogical extension”, and “analogical creation”. In the present
view, the terms analogical change and morphological change are not interchangeable” (1999, pp. 13-14; itálico
e negrito no original).
A extensão analógica apresenta-se como uma proporção entre duas formas, que Rini denomina base e derivada. É
uma condição fundamental as duas formas-base pertencerem a lexemas distintos (uso lexema conforme Matthews
(1991, pp. 25-27)). As proporções podem ser descritas tal como em (4):

(4) Forma base 1 : Forma base 2


Forma derivada : X = forma nova

Encontramos extensão analógica em dialectos galegos (Fernández Rei (1990, p. 90); ALGa I, mapas 2 “Cantades”,
17 “Cantaredes”) e portugueses (Vasconcellos (1970, p. 113)) quando a terminação /Ndes/ ligada à 2. PL.IND.PTE de ter e
vir passa a outras formas verbais:

ter, vir : ser, coller, etc.


tendes, vindes : sondes, collendes, etc.

As formas-base estão ligadas por alguma similitude fonológica, sintáctica ou conceptual (Rini (1999, p. 12)). Neste
caso, as formas-base são verbos e as derivadas estão flexionadas do mesmo modo; os falantes vinculam como expoente
de 2.PL a sequência /Ndes/ de tendes e vindes e estendem-na a qualquer outro verbo com 2. PL, com independência de
significado conceptual, tempo, modo, aspecto, conjugação: collendes, partindes, andabandes, etc.
De acordo com Rini (1999), o nivelamento diz respeito a um processo que ocorre dentro do paradigma de cada
lexema. O nivelamento não pode ser representado numa proporção, pois só existe uma base. As formas flexionadas de
um paradigma “by their very nature, are already connected by semantic, syntactic, and in most cases, morphological
similarity” (1999, p. 14). Deste modo:
“In paradigms, then, membership alone is sufficient to cause one form to become more like another form.
Therefore, rather than attempting to present leveling in the form of a proportion, perhaps the leveling process
would be better described as the spreading within a given paradigm, by means of a type of domino effect, of a
particular linguistic feature from one form to another” (1999, pp. 14-15).
Os nivelamentos podem ser parciais, se afectarem só algumas formas do paradigma, ou totais, se afectarem o
paradigma inteiro, e têm como resultado a restauração da uniformidade paradigmática descomposta pela mudança
fonológica. Em (5) ilustra-se um exemplo de nivelamento encontrado na história do radical do galego poñer:

(5) *PŌNĔO > poño (ALGa I, mapa 317 “Poño, pos”)


PŌNIS > pões > pos ~ pois (ALGa I, mapa 317 “Poño, pos”; > poñes só em Le.1)
PŌNĬMUS > poemos > pomos > poñemos (ALGa I, mapa 319 “Poñemos / pomos”)
PŌNĒBAT > puña > poñía (ALGa I, mapa 322 “Poñía / Puña”)
POSUISTĪ > poseste > puxestes > puñeches ~ puíches (ALGa I, mapa 324 “Puxeches”)
POSUĔRA > posera > puxera > puñera ~ poera (ALGa I, mapa 327 “Puxera”)

Nos temas do presente, a maioria dos dialectos galegos apresenta hoje um radical poñ-, fruto do nivelamento
exercido a partir de poñ- 1.SG.IND.PTE e CONJ.PTE, estendido com maior ou menor rapidez segundo os tempos e as pessoas:
em muitos dialectos, aparece poñemos, poñen, poñía, poñerá, mas pos ([pɔs], 2.SG.IND.PTE), pon ([pɔŋ], 3.SG.IND.PTE;
[poŋ], 3.SG.IMP). No tema do perfeito, os dialectos galegos apresentam nivelamento de todo o radical, originariamente
criado na 1.SG.IND.PTO: PŌSĪ > pusi > puxe; daqui passou a puxeches, puxo (cf. português pôs e galego dialectal
poso~poxo), puxera, puxese. Outros dialectos levaram a CR /ɲ/ do tema do presente também ao morfome do perfeito,
mas conservando a VR /u/, de modo que se geraram puñeches, puñera, puñeramos (mas puxen 1.SG.IND.PTO e puxo
3.SG.IND.PTO).
Enquanto o nivelamento da VR /u/ no tema do perfeito é quase completo em galego (restando pontos periféricos
com poxo, poso 3.SG.IND.PTO), só é parcial em português, uma vez que esta língua conserva pôs 3.SG.IND.PTO com plena
vitalidade; o nivelamento da CR /ɲ/ em poñ- é só parcial em galego. Vale a pena frisar outra vez o carácter atomista de
cada fenómeno: o nivelamento da VR /u/ é independente do nivelamento da CR /ɲ/; a actuação de cada uma das
alterações cria diferentes sistemas flexionais em cada dialecto.
Como penso mostrar, na evolução dos verbos da C2 e C3 galegos e portugueses actuaram, de modo distinto em
cada língua, factores analógicos e factores de nivelamento. De facto, a diferença fundamental entre o galego e o
português provém de diferentes pressões analógicas e da força com que actuaram.
4. História das alternâncias em galego e português

4.1. A origem das vogais baixas nas 2.SG, 3.SG e 3.PL.IND.PTE


De acordo com Martins (1988), pode afirmar-se, sem dúvidas, que existe um acordo no seio da linguística histórica
galego-portuguesa, quando se defende que as VR médias baixas das 2. SG, 3.SG e 3.PL.IND.PTE nos verbos da C2 e da C3
resultam da evolução fonológica regular do latim e de extensões analógicas que levaram vogais médias baixas a verbos
que não as tinham:
“A alternância vocálica deve-se assim, nestes casos, a uma abertura da vogal radical de P2, P3 e P6 do presente
de indicativo devida a analogia com os paradigmas dos verbos com /ɛ/ e /ɔ/ radicais, quer da 3.ª quer da 2.ª
conjugações [...]. Nos verbos da 3.ª conjugação com /o/ radical, a alternância vocálica etimológica seria /u/~/o/.
A abertura de /o/ para /ɔ/ é, mais uma vez, analógica” (Martins 1988, pp. 350-351 passim).
Em princípio, os verbos da C2 e da C3 como os de (6), que tiveram em latim VR tónica Ĕ ou Ŏ, conservaram nas
2.SG, 3.SG e 3.PL.IND.PTE uma vogal média baixa /ɛ/ e /ɔ/:

(6) C2 VR /ɔ/ C2 VR /ɛ/ C3 VR /ɔ/ C3 VR /ɛ/


MŎVĔS → m[ɔ]ves PĔRDIS → p[ɛ]rdes DŎRMIS → d[ɔ]rmes pĕtis → p[ɛ]des
MŎVĔT → m[ɔ]ve PĔRDIT → p[ɛ]rde DŎRMIT → d[ɔ]rme pĕtit →p[ɛ]de
MŎVĔNT → m[ɔ]ven PĔRDENT → p[ɛ]rden DŎRMENT → d[ɔ]rmen pĕtint → p[ɛ]den

Estas formas verbais não tinham iode (só a 3. PL a apresentava, mas perdeu-a quando nivelou a sua terminação - IŬNT
com -ENT). No momento em que se produz a extensão analógica, desenvolve-se um padrão, a que chamarei γ, formulado
informalmente conforme (7):

(7) padrão γ: {V[<2.SG, 3> IND.PTE], vr[-abert1]} ↔ vr[+abert3]4


Glosa: A VR média de um Verbo flexionado para 2. SG, 3.SG ou 3.PL.IND.PTE é média baixa.

Este padrão morfológico ([<2.SG, 3> IND.PTE] faz parte das suas condições de satisfação) γ influenciou verbos da C2
como MĬSCĔŌ, ĬMPLĔŌ, BĬBŌ, com VR /e/ < Ĭ, Ē, ou CŬRRŌ, RŬMPŌ, PŌNŌ, com VR /o/ < Ŭ ou Ō. Também alguns verbos da C3
se viram afectados. Em (8) dou o étimo latino juntamente com o resultado da actuação de γ:

(8) C2 VR /o/ C2 VR /e/ C3 VR /o/~/u/ C3 VR /e/


CŬRRIS → c[ɔ]rres TĬMES → t[ɛ]mes SŬBIS → s[ɔ]bes MĒTIS → m[ɛ]des
5

CŬRRIT → c[ɔ]rre TĬMET → t[ɛ]me SŬBIT → s[ɔ]be MĒTIS → m[ɛ]de


CŬRRENT → c[ɔ]rren TĬMENT → t[ɛ]men SŬBENT → s[ɔ]ben MĒTENT → m[ɛ]den

Este padrão ainda hoje se mantém vigente no galego comum nos verbos da C2. Só no sudoeste da Galiza existem
locais com formas tipo p[e]rdes, p[e]rde, p[e]rden, originadas por metafonia de /e/ sobre /ɛ/ tónico em verbos da C2
com VR frontal (ALGa I, mapa 73 “Vendes”) ou em palavras como sete, neve, muller (Fernández Rei 1990, pp. 46-48;
Álvarez & Xove 2005). Existem, ademais, em todo o galego, verbos que fogem ao padrão sem que seja possível apontar
uma razão fonológica clara: ler, ver, deber (Álvarez & Xove 2002). Em português pode ter-se perdido em verbos como
romper, em que a VR estava travada por nasal; no português do Brasil perde-se quando a VR se encontra seguida de
consoante nasal (Parkinson 1982, pp. 27-28). Deste modo, pode haver restrições fonológicas (**[+abert3]N$ no PE e
**[+abert3]N no PB) que pontuam mais alto no ranking do que γ de (7).

4.2 As origens das vogais da 1.SG.IND.PTE


Martins (1988, pp. 351-354) defende que a questão principal está na origem da VR da 1. SG.IND.PTE nos verbos da C2 e
C3 que provoca as alternâncias observadas ao compararmos as VRs de (1a, 2a) e as de (1b, 2b); o maior problema
surge, sobretudo, ao explicar a origem da VR alta nos verbos da C3 relacionada diacronicamente com Ĕ e Ŏ tónicos
(SĔRVĬŌ > sirvo e DŬRMĬO > durmo). Para Williams:
“In Old Portuguese there was presumably no change in the first singular of verbs of the Portuguese second
conjugation while ę was closed to ẹ by yod in the first singular of verbs of the Portuguese third conjugation. At
least, servo is the spelling which at first replaced the older servio, found in the early Cancioneiros. In the
transition to the modern forms through the action of metaphony, sẹrvo became sirvo and vęrto became vẹrto.
Thus the vowel of the first singular of verbs of the Portuguese second conjugation was closed one step by the
action of metaphony while the vowel of the first singular of verbs of the Portuguese third conjugation was closed
two steps by the successive action of a yod and of metaphony” (1967, p. 209).6
Deste modo, as VRs de SĔRVĬŌ e SĔNTĬŌ viram-se inflectidas uma vez pela iode ( SĔRVĬŌ > s[e]rvio) e depois pela
metafonia causada pela vogal final (s[e]rvo > sirvo). Nos verbos da C2 não houve inflexão da iode, mas sim a acção da
metafonia, de modo que a VR de m[ɔ]vo < MŎVĔO passou a m[o]vo. Para que tal evolução se produzisse foi preciso que a
iode tivesse desaparecido cedo das formas verbais da C2. Por outro lado, para Williams a metafonia não actuou na C1:
“Metaphony did not take place in the first singular present indicative of verbs of the first conjugation. In these
forms radical ę (Cl. L. ĕ) and ǫ (Cl. L. ŏ) remained open by analogy with the second and third singular and third
plural present indicative and present subjunctive and second singular imperative: lĕvo > lęvo; rŏgo > rǫgo. But
cf. the noun rôgo” (1967, p. 214).
Note-se que Williams não afirma que existe uma metafonia na 1. SG.IND.PTE corrigida depois por nivelamento, mas
que as vogais baixas nas 2. SG, 3.SG e 3.PL.IND.PTE e 2.SG.IMP bloqueiam (previnem) a acção da metafonia na 1. SG.IND.PTE.
Pelo contrário, Porto Dapena (1973, p. 541-542) e Santamarina (1974) fundamentam a presença das vogais médias altas
na C2 no influxo da iode:
“Con respecto al vocalismo, queda ya señalada la alternancia cerrada / abierta, que a nuestro parecer no puede
ser originada más que por el influjo del yod (que no es otra cosa que la VT, silábica en latín, asilábica en l.v.) por
varias razones: 1) aparece vocal cerrada sólo ante las personas en que hubo yod; en otras palabras, en aquellas
personas en que la VT iba seguida por un SF que comenzase por vocal; 2) no puede ser producida por metafonía,
puesto que ni -o ni -a finales cierran nunca la vocal tónica: mędo, hǫrto, pędra, pǫrta; 3) abundando en lo
anterior: en caso de que existiese una metafonía verbal, no hay razón por la que los verbos afectados hayan de
ser sólo los de la conjugación 2.ª (lat. 2.ª y 3.ª) y no los de la conjugación 1.ª” (Santamarina 1974, p. 32).
As razões de Porto Dapena, Santamarina e Martins são poderosas. A vogal média alta de m[o]vo, f[e]rvo, c[o]zo,
ac[e]ndo, c[o]mo, [e]rgo, etc. aparece na Galiza e em Portugal em áreas sem metafonia. Existem abundantes dados de
dialectos portugueses sem metafonia nominal (Martins 1988, pp. 357-358), de modo que contêm formas como c[ɔ]rvo,
[ɔ]llo, p[ɔ]rco, [ɔ]vo, t[ɔ]rto, n[ɔ]vo...; nestes falares não se verificam verbos com VR média baixa na 1. SG.IND.PTO.
Deste modo, a elevação de formas tipo c[o]mo nestes dialectos não se pode dever a metafonia. No espaço dialectal
galego existem também vastas zonas (geograficamente mais amplas, nalguns casos) sem metafonia em palavras como
c[ɔ]rvo, [ɔ]llo, p[ɔ]rco, [ɔ]vo, t[ɔ]rto, n[ɔ]vo..; e em todos estes pontos a VR de movo ou fervo é média alta:
“Em síntese, tanto no espaço português como no espaço galego, existem áreas linguísticas onde a metafonia
opera regularmente nas formas verbais, mas não opera nas formas nominais. Parece, então, dever concluir-se que
o elemento condicionador da vogal tónica não é o mesmo num e noutro caso. Fica assim posta em causa a
hipótese de Williams” (Martins 1988, pp. 359).
Mais ainda, a vogal que produziu a metafonia foi [u] < -Ŭ.7 O /o/ do SNP da 1.SG.IND.PTE não provém de -Ŭ mas de
-Ō. Esta vogal átona final não se elevou a /u/ em galego (actualmente, em galego pode existir uma vogal [ʊ] muitas
vezes desvozeada [ʊ̥], (Vidal Figueiroa 1997)). Assim, a elevação da vogal tónica nos verbos também não “pode ser
explicada com base na hipótese de Williams”, pois a elevação da VR não pôde ser condicionada “por um -[u] final que
não existe em quase toda a área galega” (Martins 1988, p. 359).
A estas objecções cabe juntar outras duas. A primeira, surge ao comprovar que as vogais /e/ ~ /o/ provenientes de Ē,
Ĭ, Ō e Ŭ em verbos como beber ou correr não se viram afectadas pela metafonia como aconteceu com o /e/ de servo. A
segunda, está relacionada com os verbos da C1 e depende da terceira que defende Santamarina. Para Williams, os
verbos da C1 não tiveram metafonia na 1. SG.IND.PTE, uma vez que esta foi bloqueada pela presença de vogais médias
baixas nas formas rizotónicas do IND.PTE e do IMP. Assim sendo, nos verbos da C2 existiu uma fortíssima tendência para
estender o padrão γ de (7), que levou as VRs médias baixas às 2. SG, 3.SG e 3.PL.IND.PTE de muitos verbos em que antes
não estavam presentes; este padrão, ainda activo na Galiza, foi mais forte no português (pois afecta dever e os verbos
incoativos). Cabe, assim, também perguntar por que razão as formas rizotónicas do IND.PTE com vogais médias baixas,
como verter, não bloquearam a acção da metafonia nos verbos da C2 (e nos da C3 em português).

4.3 A origem das alternâncias na C2


Que a iode da C2 teve de existir nalguns étimos no latim vulgar do noroeste é provado pelas palatalizações das CRs de
verbos da C2: toller provém de um étimo com LL sem iode (TŎLLO, TŎLLIS, TŎLLĔRE); a palatalização produziu-se, com
certeza, a partir de uma forma com iode. 8 A 1.SG.IND.PTE e o CONJ.PTE de poñer ~ pór demonstram a existência de uma
iode latino-vulgar que palatalizou a CR: PŌNĔO > poño. O mesmo acontece em arço < ARDĔŌ, perço < [peɾdjo] < PĔRDŌ

perder, faço < FĂCĬŌ e TĔNĔO > teño. Em todo o caso, a iode não teve por que existir em latim vulgar para todos os verbos
da C2 e as mudanças podem ser explicadas também por analogia. Vejamos as formas de (9):

(9) a. t[e]ño < TĔNĔŌ m[o]vo < MŎVĔŌ


t[i]mo < TĬMĔŌ
b[e]bo < BĬBŌ c[o]rro < CŬRRŌ
b. ac[ɛ]ndo < ACCĔNDŌ v[ɔ]lvo < VŎLVŌ

Combinadas as formas de (9) com outras formas rizotónicas do IND.PTE, representadas pela 2.SG em (10), é possível
observar um panorama do latim vulgar ocidental com muita diversidade nos paradigmas:

(10) t[e]ño t[i]mo b[e]bo ac[ɛ]ndo m[o]vo c[o]rro v[ɔ]lvo


t[ɛ]nes t[e]mes b[e]bes ac[ɛ]ndes m[ɔ]ves c[o]rres v[ɔ]lves

A extensão das vogais médias altas (quer através do resultado da inflexão da iode, quer do resultado directo de Ē, Ĭ,
Ō e Ŭ) a todas as 1.SG.IND.PTE e a todo o CONJ.PRES da C2 com vogal não-central permitiu a produção de outro padrão δ que
ligava a 1.SG.IND.PTE e o CONJ.PRES à vogal média alta, levado às formas que conservaram uma VR tónica média baixa
(acendo) ou alta (timo): 9
(11) padrão δ: {V[<1.SG.IND.PTE, CONJ.PRES>], vr[-abert1]} ↔ vr[+abert2]10
Glosa: A VR média de um Verbo flexionado para 1. SG.IND.PTE ou para CONJ.PRES é média alta.

Antes de prosseguir, cumpre advertir que dado que a iode durou mais tempo na C2 no ocidente da Península
Ibérica, é possível que também tivesse inflectido as vogais médias altas dos verbos provenientes de Ĭ, Ē, como fez com
alguns substantivos (PIGRĬTĬA > preguiza, VINDĒMĬA > vendima ou VĬTRĔUM > vidro). Se tal aconteceu, verbos como TĬMĔŌ

ou MĬSCĔŌ de (9a) puderam ter resultados com VR /i/ e uma alternância /i/ na 1. SG.IND.PTE e /e/ no resto do IND.PTE, como
mostro em (10).11 Consequentemente, estes verbos também foram atraídos pelos padrões γ de (7) e δ de (11). Outro
elemento sobre o qual me debruçarei mais adiante contribuiu para este processo de atracção: a tendência para evitar
vogais altas nos radicais dos verbos da C2.
A aplicação dos padrões γ de (7) e δ de (11) gerou o vocalismo rizotónico no IND.PTE dos verbos galego-portugueses
da C2. Como bem defende Santamarina (e Porto Dapena 1973, p. 542):
“Las formas con vocalismo diferente son minoritarias, por lo cual se llevó a cabo un nivelamiento analógico a
expensas de ellas. En efecto, se sentirían como irregularidades y por lo tanto resultaría un paradigma cargado de
particularidades poco rentables. Se salvaron de esta nivelación todos los verbos incoativos, por formar un núcleo
nutrido y bien trabado, que dan lugar en cierto modo a un paradigma especial. Quedan también aparte de esta
nivelación ler, deber, crer y ver; éste último podría dar lugar a homonimias, en la P2, P3, P6 del Pr., con vir. Los
otros tres, inexplicablemente” (1974, p. 33).
Uma diferença clara o entre galego e o português é que este último também levou o padrão γ de (7) aos verbos
incoativos em -ecer e a dever; o galego, no entanto, manteve deber sem alternância em todos os seus dialectos,
enquanto os verbos incoativos alternam ou não segundo o dialecto (ALGa I, mapa 84 “Agradezo”).
O CONJ.PTE da C2 passou por uma evolução diferente. Em princípio, esperar-se-ia:
a) Vogais médias altas nas formas rizotónicas com iode (t[e]ña, m[o]va) descendentes de Ĕ ~ Ŏ, nas rizotónicas
descendentes de Ē ~Ĭ~ Ō ~ Ŭ (b[e]ba, c[o]rra) e nas arrizotónicas descendentes de Ĕ ~ Ŏ ~ Ē ~Ĭ~ Ō ~ Ŭ sem iode
(b[e]bamos, ac[e]ndamos, v[o]lvamos, c[o]rramos).
b) Vogais médias baixas nas formas rizotónicas descendentes de Ĕ ~ Ŏ sem iode (ac[ɛ]nda, v[ɔ]lva); se estas
formas também tiveram iode, esta pôde inflecti-las, de modo a que já apresentassem vogal média alta.
c) Quiçá existiram vogais altas nas formas arrizotónicas dos verbos com iode, se esta inflectiu as VRs /e/ ~/o/,
fruto da fusão de Ĕ ~ Ē ~ Ĭ átonos na série frontal e Ŏ ~ Ŭ ~ Ō na série dorsal: t[i]ñamos < TĔNĔĀMOS, t[i]mamos <
TĬMĔĀMOS, m[u]vamos < MŎVĔĀMOS. Também poderíamos esperar vogais altas nas formas com iode e VR Ĭ ~ Ē tónica se a
iode inflectiu estas vogais em palavras como t[i]ma < TĬMĔAM.
Porém, vários factores pesaram para a extensão das vogais médias altas a todas as formas do CONJ.PTE da C2. Em
primeiro lugar, um princípio quase geral da gramática do galego, do português e do castelhano, de que poucos verbos
escapam, e que é herdado do latim: a 1. SG.IND.PTE e o CONJ.PTE nos verbos da C2 e da C3 têm sempre o mesmo radical
(caio ~ caes ~ caia, vexo ~ ves ~ vexa). Se o radical do 1.SG.IND.PTE tem VR alta, o CONJ.PTE terá VR alta. Em segundo
lugar, um nivelamento com as formas rizotónicas que apresentavam vogais médias altas. Em terceiro lugar, uma
influência analógica dos verbos sem iode com vogais médias altas arrizotónicas. Em quarto lugar, a tendência que
Penny (2002b) chama polarização do vocalismo radical (também Montgomery 1976) para tornar inaceitáveis as vogais
altas no radical dos verbos da C2 e que já produzira alterações de conjugação no latim vulgar: LŪCĒRE > lucir.
Quanto à 2.SG.IMP, cumpre lembrar que o galego e o português apresentam VRs diferentes nos verbos da C2.
Enquanto no galego é normal a ocorrência de vogais médias altas em formas como c[o]me ou b[e]be, no português é
normal a ocorrência de vogais baixas em formas como c[ɔ]me e b[ɛ]be. A situação no latim vulgar ou no galego-
português antigo teve de ser como a de (12):12

(12) MŎVĔ → m[ɔ]ve MĬTTĔ → m[e]te


VŎLVĔ → v[ɔ]lve CŬRRĔ → c[o]rre

Segundo Porto Dapena (1973, p. 542 e 1977, p. 63), um factor que pode ter ajudado na extensão do padrão γ de (7)
foi que as 3.SG.IND.PTE eram “homónimas” com as da 2. SG.IMP. Esta explicação vale parcialmente para o galego, mas não
é válida para o português. Como se vê em (12), uma vez estendido o padrão γ nas formas correspondentes do IND.PTE, só
haveria sincretismo entre a 3.SG.IND.PTE dos verbos tipo mover e volver (< Ĕ e Ŏ), mas não nos verbos tipo meter e correr
(< Ē, Ĭ e Ō, Ŭ). Duvido de que a prevenção do sincretismo tivesse muito a ver com o resultado final: em galego estendeu-
se um padrão ε que ligava aos verbos da C2 uma vogal média alta com 2. SG.IMP e em português um padrão ε’ que ligava
uma vogal média baixa às mesmas propriedades. Em galego fugiu-se do sincretismo; em português entrou-se nele:

(13) padrão ε (galego): {V[2.SG.IMP], vr[-abert1]} ↔ vr[+abert2]


Glosa: A VR média de um Verbo flexionado na 2. SG.IMP é média alta.
padrão ε’ (português): {V[2.SG.IMP], vr[-abert1]} ↔ vr[+abert3]
Glosa: A VR média de um Verbo flexionado na 2. SG.IMP é média baixa.

Precisamente, a confluência na C2 portuguesa dos padrões γ de (7), δ de (11) e ε’ de (13) produziu uma
configuração morfológica que permite generalizações fundamentalmente fonológicas como as de Parkinson (1982),
Andrade & Mira Mateus (2000), Wetzels (1995) ou Carvalho (2003), uma vez que, desde esse momento, aparece, em
superfície, uma VR média baixa quando tónica seguida de VT átona; bebes tu, bebe ele, bebem eles, bebe tu; os padrões
γ de (7), δ de (11) e ε’ de (13) explicam a mudança, mas já não agem de modo isolado na morfologia dos verbos
portugueses da C2.
Porém, na actual gramática do galego não operam os padrões δ de (11) e ε de (13) na C2 e quiçá se deva pensar que
estes verbos têm uma vogal média alta por defeito que nuns contextos alterna com outra média baixa conforme o padrão
γ de (7), que, como vemos, continua a ser operativo em galego e está plenamente morfologizado. Por esta razão é difícil
(se não impossível) descrever a morfologia do verbo galego com as mesmas ferramentas teóricas empregues para o
português.
Existe, ainda, outra diferença fundamental entre o galego e o português. O galego passou à C3 os verbos
descendentes de VĪVĔRE e DĪCĔRE (existe uma forma decer nos dialectos galegos, altamente marcada: apresenta, apesar de
ser da C2, uma VR alta em digo ~ dis ~ diga ~ decemos), em função de outra manifestação da polarização do vocalismo
radical que evitava a presença de vogais altas no radical dos verbos da C2. Estes verbos, em português, ficaram na C2
com as formas viver e dizer; como se sabe, evitaram tanto os padrões γ de (7) e ε’ de (13), que provocam vogais médias
baixas nas 2.SG, 3.SG e 3.PL.IND.PTE e na 2.SG.IMP, respectivamente, como o padrão δ de (11), que provoca a presença de
vogais médias altas na 1.SG.IND.PTE (e, consequentemente, em todo o CONJ.PTE). Por esta razão, também são verbos
marcados em português. Na verdade, a permanência destes verbos na C2 portuguesa implica que a polarização do
vocalismo radical não seja tão forte em português como é em galego. Em baixo tentarei demonstrar alguns argumentos
a favor desta hipótese.
4.4 A origem das alternâncias na C3
Enquanto todos os estudiosos concordam que na C3 foi possível operar, com diversos resultados e a diversas
velocidades, o padrão γ de (7), a questão torna-se mais complicada quando nos confrontamos com as VRs altas da
1.SG.IND.PTE e com todo o CONJ.PTE em sigo, sinto, sirvo, firo, cubro, objecto último deste trabalho. Outro tema, quiçá
mais conflituoso na Galiza por simples razões ideológicas que merecem um estudo à parte, consiste na presença, no
galego contemporâneo, de VRs altas nas 2. SG, 3.SG, 3.PL.IND.PTE e na 2.SG.IMP dos verbos como seguir, pedir ou subir.

4.4.1 Os dados actuais do galego


A distribuição galega na C3 não coincide com a portuguesa. Como a galega é mais desconhecida do que a portuguesa,
vale a pena recordá-la (para o galego, Álvarez & Xove (2002); para o português, Cunha & Cintra (1984)), em (12):

(14) C3[i] C3[e]a C3[e]b C3[u]a C3[u]b


a. v[ˈi]vo p[ˈi]do s[ˈi]go red[ˈu]zo d[ˈu]rmo
b. v[ˈi]ves p[ˈi]des s[ˈɛ]gues red[ˈu]ces d[ˈɔ]rmes
c. v[i]vimos p[e]dimos s[e]guimos red[u]cimos d[u]rmimos

d. v[ˈi]ve p[ˈi]de s[ˈi]gue red[ˈu]ce d[ˈu]rme

f. p[i]deu (dialectal) s[i]gueu (dialectal)

g. v[ˈi]va p[ˈi]da s[ˈi]ga red[ˈu]za d[ˈu]rma


h. v[ˈi]vas p[ˈi]das s[ˈi]gas red[ˈu]zas d[ˈu]rmas
i. v[i]vamos p[i]damos s[i]gamos red[u]zamos d[u]rmamos

Como se vê, em galego existem três classes de verbos com VR frontal e duas com VR dorsal. O grupo C3[e] b, com
vogais médias baixas em (12b), que representam 2. SG, 3.SG e 3.PL.IND.PTE, conta só com seis verbos (e os seus derivados)
na variedade normativa, de modo que C3[e]a é o grupo mais numeroso. Este último modelo apresenta uma VR alta
sempre que o radical não seja seguido de VT alta; no resto dos casos aparece uma VR média alta: pedir, pedindo,
pedido, pediu, pedimos. O modelo C3[e]b, pelo contrário, apresenta uma distribuição similar, salvo se estiver também
governado pelo padrão γ de (7), que introduz vogais médias baixas em 2.SG, 3.SG e 3.PL.IND.PTE, ainda que sejam seguidas
de VT média baixa.
Quero destacar (12f): em C3[e] a e C3[e]b aparece uma vogal átona /i/ nos dialectos que neutralizam a oposição na
VT na 3.SG.IND.PTO, pideu, sigueu, face aos normativos pediu e seguiu; nestes dialectos, porém, aparece uma VR /e/ nos
verbos da C2, bebeu, meteu. Deste modo, nenhum elemento estritamente fonológico exclui a VR /e/ desta posição na
C3.
O modelo C3[u]b apresenta uma alternância seguindo também o padrão γ de (7), com vogais médias baixas nas
2.SG, 3.SG e 3.PL.IND.PTE (12b) e vogais altas nas restantes. Pela sua simplicidade, C3[u]b subir está mais próximo dos
verbos da C2 coller do que o estão os seis verbos do modelo C3[e] b seguir e todos os verbos C3[e]a pedir. De facto, nem
C3[e]a nem C3[e]b têm paralelismo na C2. Por outro lado, C3[i] e C3[u]a são modelos completamente regulares.
Finalmente, a distribuição dos verbos em classes não está motivada sincronicamente: nuns dialectos galegos subir
conjuga-se pelo modelo C3[u]a (subo, subes, sube) e noutros pelo modelo C3[u] b (subo, sobes, sobe).13 Regueira
Fernández (1989, pp. 338-332) localiza na Terra Chá dormes ~ durmes, moxes ~ muxes, sobes ~ subes, sofres ~ sufres,
toses ~ tuses, oles ~ ules, xongues ~ xungues.
Do mesmo modo, nalguns dialectos galegos podem existir verbos com VR /e/ conjugados pelo modelo C3[e] b
seguir, ainda que o mais comum seja que estes verbos sejam tratados na maioria dos casos segundo C3[e] a: sigo, sigues,
sigue; mido, mides, mide, etc. Taboada Cid (1979, p. 154) obtém, por exemplo, sintes ~ sentes e vistes ~ vestes em
Verín; Regueira (1989, pp. 326-327) localiza na Terra Chá pedir, ferir, seguir, sentir e servir conjugados todos como
C3[e]a e mentir conjugado pelos dois modelos (1989, p. 333); Pousa Ortega (1987, pp. 138-139) encontra no dialecto de
Goián sentir e seguir no modelo C3[e]a e servir e mentir alternando entre C3[e] a (mais normal) e C3[e]b (“practicamente
en desuso”).14

4.4.2 Dados históricos


Um aspecto interessante tirado dos dados históricos do português é que esta língua apresentava, nos finais da Idade
Média e inícios da Moderna, formas em variação que depois deixou de fora e que, porém, foram aceites e promovidas
no galego. Said Ali (1921) documenta as seguintes formas em textos portugueses:
• descubre IMP (< Ŏ) em Santo Graal
• encubres (< Ŏ) em Gil Vicente
• sube IMP (< Ŭ) em Livro de Esopo
• fuges, fugem (< Ŭ) em Santa Maria Egipcíaca
• acudem (< Ŭ) em Virtuosa Benfeitora
De facto, este autor conclui que:
“A adoção de o em vez de u, mais pronunciada a partir do século XVI, fêz-se contudo de modo desigual para os
diversos verbos. Assim, ao passo que foges, foge, fogem, acodes, acode, acodem são formas do indicativo
perfeitamente estabelecidas na linguagem de Camões e Antônio Ferreira, o imperativo na mesma linguagem
continua a ser invariàvelmente fuge, acude” (1921, p. 132).
Este facto é fundamental: demonstra que a distribuição galega actual de vogais médias baixas e vogais altas
coincide com a do português antigo e que o padrão ε’ de (13) se estabelece em português numa época mais tardia do que
o padrão γ de (7). Sobre os verbos da C3 com VR frontal /e/, o nosso autor dá também informações importantes (Said
Ali 1921, p. 133):
“Mudança de e para i dá-se na 1.ª do singular do presente do indicativo (e todo o presente do conjuntivo) de
alguns verbos pertencentes à conjugação em ir: firo (português antigo *fero<feiro); sigo, sinto (e compostos
dêstes três verbos); dispo, visto, minto e advirto. A alternância estendeu-se a princípio às demais rizotônicas do
indicativo e a outros verbos da mesma conjugação. Vestígios disto são, no português antigo, os imperativos pidi
(por pide) (S. Josafate 16), e viste-te (ib. 13); e no português moderno, os imperativos minte-lhe (Gil Vicente 1,
303), prosigue tu (ib. 1, 45), viste-te da sua lam (Heitor Pinto 1, 176), dá e fire quanto quiseres (ib. 1, 45), sigue-
me firme e forte (Camões, Lus. 10, 76), e o singularíssimo indicativo prosigue em português moderno (Castro,
Ulis. 10, 49)”.
Deste modo, num momento da história do português prosegue e prosigue competiram como 3.SG.IND.PTE: no
português antigo Said Ali localiza formas como sintem (< Ĕ) no Leal Conselheiro ou sintem e sinte em Fernão
d’Oliveira. Estas formas, que hoje dominam no território linguístico galego, desapareceram do português normativo. E,
novamente, as 2.SG.IMP apresentam e mantêm formas com /i/, solução hoje única nos dialectos galegos e que parece mais
antiga do que a extensão portuguesa das vogais médias baixas nesse contexto.
Finalmente, Said Ali mostra que o seiscentista Vieira emprega despido (< Ĕ) e que Bernardes emprega impida (< Ĕ),
só mais tarde substituídas por despeço e impeça. Numa interessante nota de rodapé (1921, p. 134) afirma que:
“Do verbo petere ocorrem na Ibero-Romania duas formas para a 1.ª pessoa do presente do indicativo: peço (de
*petio), usado em Portugal e fixado na linguagem literária dêste país desde os mais antigos tempos; e pido (de
peto), próprio do espanhol e de alguns falares regionais de Portugal. Observo a êste propósito que laboraram em
equívoco os que afirmam se usasse antigamente em português literário pido, pida, pidas, etc., em vez de ou a par
de peço, peça, peças, etc. Tal maneira de dizer era tida por plebeísmo. Peço é a forma sempre usada nos textos
antigos: peço te que tu a çerçeasses (Santo Amaro 514)”.
Assim, estas formas tipo pido ainda existem em dialectos portugueses actuais e existiram antigamente no
português, ainda que não na língua literária, mas somente noutras variedades linguísticas. De facto, o DVPM15 recolhe
três ocorrências de pido (vs. oito de peço), como esta de 1488: pido ser feito diuorçio; uma de pide (vs. dez de pede)
3.SG.IND.PTE, uma de minte (vs. vinte e uma de mente) 3.SG.IND.PTE, cinco de consinte (vs. vinte e oito de consente)
3.SG.IND.PTE, duas de consintem (vs. onze de consentem), duas de fire 2.SG.IMP, uma de rime (e outra de reme) 2.SG.IMP,
duas de sigue (vs. nove de segue) 3.SG.IND.PTE, uma de siguem (vs. dezasseis de seguem), quatro de sigue (vs. uma só de
segue) 2.SG.IMP e uma de sintem (vs. nove de sentem).
A situação na Galiza foi parcialmente estudada por Álvarez & Xove (2005), pois só se centram em C3[e] b sirvo e
não em C3[e]a pido. Estes autores dão indícios, apesar das dificuldades causadas pela exiguidade dos dados, de que
existiu uma difusão lexical: uns verbos foram mais afectados do que outros e em épocas parcialmente distintas. Por
exemplo, seguir pôde liderar a mudança que eliminou as vogais médias baixas do radical nas 2. SG, 3.SG e 3.PL.IND.PTE:
sigu- é o radical mais comum desde o princípio da documentação analisada, ainda que conviva sempre com um
minoritário segu- (entre 1351e 1500 recolhem 81 segu- e 315 sigu-). É interessante assinalar que as formas segu- são
fundamentalmente sulistas e preferidas na língua literária. Pelo contrário, no segundo verbo mais bem documentado,
ferir, geralmente dominam os radicais fer-.
Quanto aos verbos com vogal dorsal, Goldbach (2010) documenta no corpus do DVPM uma ocorrência de fuges
(vs. duas de foges), quatro de fuge (vs. uma de foge) 3.SG.IND.PTE, duas de fugem (e duas de fogem), uma de durmes (e
outra de dormes), uma de durme (vs. cinco de dorme) 3.SG.IND.PTE, três de cumpre (vs. sete de compre) 3.SG.IND.PTE, uma
de descubres (e uma de descobres). Não é má ideia recordar que durmes e descubres têm étimos com Ŏ, DŎRMIS e
CŎŎPĔRIS, mas fuges tem étimo com Ŭ, FŬGIS. Em conclusão:
16

“The diachronic analysis confirms, therefore, that the modern division into verbs with or without stem variation
is completely arbitrary. Most of the verbs with an <o> or an <u> in their last root syllable have o/u variation in
some inflectional forms in the medieval variant, but this is a totally free variation” (Goldbach 2010).

4.4.3 A VR /i/ em sinto, sigo, firo, etc. Primeira aproximação


A insistência em que existem formas com VR /i/ e /u/ nas 2. SG, 3.SG e 3.PL.IND.PTE e na 2.SG.IMP vincula-se ao tratamento
da história da altura da VR na 1. SG.IND.PTE. Hoje existem duas formas de explicar estas vogais:
a) As VRs de sigues, sigue, siguen provêm de um nivelamento com a vogal de sigo; se quisermos explicar
sigues, devemos primeiro explicar sigo. Note-se que sigo ~ firo ~ minto perpetuaram-se em português, onde continua a
ser plenamente operativo o padrão γ de (7), de modo que sigo requere uma explicação diferenciada da que temos para
segues. Em todo o caso, considera-se que as vogais do CONJ.PTE são também resultado de um nivelamento com a
1.SG.IND.PTE.
b) As VRs de sigo, sigues, sigue, siga, sigamos têm todas a mesma origem, não se geraram em momentos
distintos nem umas são consequência das outras.
À parte estão as 2. SG.IMP, em que as VR altas eram mais comuns do que as médias baixas. Neste caso, o galego
segue mais fielmente o modelo medieval do que o português. Santamarina (1974) afirma que são analógicas do CONJ.PTE,

uma vez que, segundo ele crê, o IMP é uma forma de CONJ. A meu ver, esta análise confunde propriedades sintácticas e
valores semânticos. Além do mais, nos verbos tipo ferir, por exemplo, os dados parecem indicar que a elevação no IMP

precedeu a elevação no CONJ e não ao contrário. No DVPM é possível observar os seguintes dados para este verbo:
feiro (1.SG.IND.PTE)1 documentação
feiras (CONJ.PTE) 1 documentação
feira (CONJ.PTE) 5 documentações, vs. fira 1 documentação
feiramos (CONJ.PTE) 1 documentação
feirades (CONJ .PTE) 4 documentações
feiran (CONJ .PTE) 2 documentações vs. firem (sic) 1 documentação
fire (2.SG.IMP) 2 documentações
Nem os defensores da primeira explicação nem os defensores da segunda concordam entre si. Assim, no primeiro
grupo, Williams (1967) propõe primeiro inflexão da iode seguida de metafonia por influência do -/u/ final, enquanto
Cavacas (apud Williams (1967) e Martins (1988)) propõe uma dupla inflexão da iode. No segundo grupo, Santamarina
(1974) propõe um nivelamento a partir de formas com VR átona harmonizada com a vogal tónica alta (servir > sirvir >
sirvo); Martins (1988) e Goldbach (2010) defendem a existência de distintos paradigmas simultâneos, de variação e de
uma selecção de formas. Atkinson (1954, pp. 57-58) tenta combinar a visão de Nunes (similar à de Santamarina (1974))
com a de Williams.
A fraqueza das teses de Williams ou Cavacas está sobejamente demonstrada. Por outro lado, Martins critica as
propostas de Santamarina, mas, finalmente, acaba por propor umas muito similares,17 pelo que o intento de refutação
pode ser conjunto. Santamarina defende que no paradigma de cada um destes verbos existem 41 formas com o radical
átono sirv- e durm-, fruto da neutralização das vogais átonas /i, e, ɛ/ ou /u, o, ɔ/ ante /i/ tónico e da selecção de [i] e [u]
como representantes dos arquifonemas correspondentes. Em virtude do seu peso quantitativo, estas formas produziram
o nivelamento nas oito formas que conservavam vogais médias altas. As três formas com vogais médias baixas:
“Pudieron resistir por más tiempo al efecto nivelador de la analogía la cual en este caso no se vio favorecida por
la fonética. En efecto, ę, ǫ hubieran permanecido inalteradas ante /í/: Pępe > pępín, hǫme > hǫmín (frente a nẹno
> ninín, lọbo > lubín). De todos modos, la fuerza arrasadora de la analogía acabó por afectar también a las P2, P3
P6 del Pr. las cuales admiten en la presente generación la alternativa etimológica /sęrb/, /dǫrm/ o la analógica
/sirv/, /durm/, con predominio claro de esta última, especialmente en los verbos que tienen /ę/ originaria”
(Santamarina 1974, p. 38).
Segundo Martins (1988, p. 361), “o argumento de que /ɛ/ e /ɔ/ apresentam maior resistência [...] não tem em conta
que os processos de «assimilação» analógica não se regem necessariamente pelas mesmas leis que a assimilação
fonológica” porque as condições são distintas. Além do mais, esta analogia age de uma forma estranha: servo ~ serva
passam a sirvo ~ sirva por influência de sirvir, porque /e/ é uma vogal média alta, enquanto serves, com vogal média
baixa, fica como tal porque o contexto fonético não proporciona a mudança. Santamarina apresenta os exemplos de
homín; mas estes, verdadeiramente, mostram que as vogais médias baixas não se neutralizam com as médias altas nesse
contexto... Mas, será o contexto fonético um factor adjuvante nos casos de servo ~ serva? Nem servo nem serves estão
no contexto fonológico de homín, uma vez que não estão seguidos de /i/ tónico. Assim, a vogal tónica de servo não se
vê ajudada por nenhum /i/ tónico à direita, como no caso de lobín ~ lubín ou servín ~ sirvín: servo e serves estão fora de
um contexto assimilatório. Santamarina propõe que um traço alofónico, num segmento átono (sujeito a neutralização),
não distintivo, cujo aparecimento está fonologicamente condicionado num processo pós-léxical, muda um traço
distintivo, num segmento tónico de uma representação lexical em que os condicionamentos fonológicos que explicam a
presença do traço não distintivo não existem. Por outro lado, como mostra Goldbach (2010), podem mesmo existir
vogais átonas altas, ainda que não exista uma vogal alta tónica que produza a elevação. Isto deve-se ao facto de que o
vocalismo átono se tende a reduzir, em diferentes graus, em galego e português.
Outro argumento contra que Martins enuncia vai no sentido de que, no português, “não podemos encontrar
qualquer outro caso de influência analógica do timbre das vogais átonas sobre o timbre das tónicas”, além de que a
evolução do vocalismo átono português “virá a criar justamente novas alternâncias vocálicas nos paradigmas” verbais.
Por outro lado, a elevação das vogais médias baixas átonas no contexto que Santamarina enuncia não é nem um
fenómeno geral nem obrigatório em galego, como ele mesmo reconhece em vários pontos (1974, pp. 13-14):
geralmente, servimos alterna com sirvimos. Como realça Atkinson (1954, p. 55), é curioso que, quando se regularizou o
sistema, de entre todas estas variantes, acabaram por se impor formas com /i/ em sirvo, sirva, sirvas, etc., enquanto se
restaurou /e/ em servir, servimos, serviu, etc., i.e., as formas sirvir, que aparentemente promoveram a mudança /e/ > /i/
de sirvo, sirva, voltaram a ser servir quando já existia sirvo, o que não foi suficiente para consolidar sirvir.
Porto Dapena (1973), Martins (1988) e Goldbach (2010) estão nas melhores condições para explicar o fenómeno.
As explicações de todos estes autores partem do facto de que existiam vários modelos de conjugação dentro da C3,
como acontecia na C2. Para chegar aos resultados actuais, Porto Dapena e Martins falam de agrupamentos analógicos e
Goldbach de normatização ou selecção das formas, sem deixar claro se é um movimento que vem de cima, promovido
pelas classes altas, ou de baixo, criado nas classes populares e estendido depois a todas as variedades.18 Cumpre realçar
que na Galiza não houve nenhum processo de normatização nem de selecção planificada até finais do século XX e que,
ainda assim, se criaram modelos bastante estáveis no galego popular, como o de sigo, sigues, sigue, pido, pides, pide,
etc.19 O mesmo aconteceu com durmo, subo, cubro, etc. A variação existe só no número de verbos que devem passar
pelo padrão γ de (7). Acontece o mesmo com os verbos da C2, que apresentam um modelo de conjugação mais estável
em galego, sem que haja variáveis *(c[o]mo ~ c[ɔ]mo) ou *(c[o]mes ~ c[ɔ]mes). Em (15) repito os possíveis modelos,
sem variação interna, que defende Martins (1988):

(15) 1. fujo 2. d[o]rmo s[e]rvo 3. fujo durmo sirvo


f[o]ges d[ɔ]rmes s[ɛ]rves fuges durmes sirves [...]

Martins considera, tal como Santamarina e Nunes, que as vogais de sirvo, sirves são analógicas com infinitivos
harmonizados sirvir (deste modo, seriam o resultado de um nivelamento). Esta argumentação de Martins tropeça nas
mesmas dificuldades que a de Santamarina: por que é que uma forma sirvir pode gerar sirvo? De facto, esta é uma
explicação que a própria autora critica em Santamarina. E se esquecemos a influência do infinitivo servir, uma forma
mais do paradigma e não uma chave para a solução, por que é que o sistema não se regularizou de outras maneiras? Por
que não fojo, dormo, servo? Por que é que o infinitivo sirvir só afectou, em português, sirvo e não serves, serve,
servem? Por que, uma vez estabelecido sirvo conforme sirvir, este último passou a servir outra vez, se tinha o apoio de
sirvo?
Porto Dapena (1973) considera que durmo < DŎRMĬO é analógico de fujo < FŬGĬO e que f[ɔ]ges < FŬGIS é analógico
de d[ɔ]rmes < DŎRMIS. Este autor explica fujo por inflexão da iode sobre o /o/ proveniente de Ŭ. Também Martins (1988)
e Santamarina (1974) consideram como facto esta influência nos verbos da C3: t[u]sso < TŬSSĬO. Mas, a estes verbos
com vogal alta, resultado de inflexão cumpre somar os que já possuíam vogal alta herdada directamente do latim, de
modo que se torna necessário enriquecer os dados de (15) com os de (16):

(16) río sumo subo acudo cingo20


ría suma suba acuda cinga

Em galego, esta lista aumentou com digo ~ diga, vivo ~ viva, recibo ~ reciba, concibo ~ conciba, escribo ~ escriba
que passaram à C3. Assim, existia uma boa base para reacomodar verbos com VR médias altas na 1. SG.IND.PTE e no
CONJ.PTE da C3 (cobro, dormo, sento, servo) nos grupos de verbos com VR alta nesse contexto por meio de um padrão
similar ao δ de (11) da C2. É curioso que os únicos argumentos que Williams (1967, p. 210) não desautoriza quando
revê as propostas dos seus predecessores sejam os de D’Ovidio (com os quais coincide Porto Dapena), que também vão
por este caminho:
“Inoltre, c u b r i r, c u s p i r, d u r m i r risalgono ad -o- breve latino; in essi dunque l’o breve, cioè aperto, che
per effetto dell -i- dovea diventere ô stretto (come in c o m m ô v o = *commovio) ha fatto anche un secondo
passo, poichè é divento u. Or, se il primo passo fu mosso da ragione puramente fonetica, il secondo dovè essere
mosso dalla spinta analagica degli altri 10 verbi della stessa IIIª conj.; vale a dire che dormio che avrebbe dovuto
arrastarsi a *dôrmo é giunto a d u r m o attirato da s u b o, f u j o ecc. [...] Dei 16 verbi del tipo di s e r v i r, ben
15 risalgono a verbi latini con e breve, cioè con quell’e che è essenzialmente aperto, i quali quindi per effetto
dell’-i- doveano semplicemente chiudere l’è e fermarsi a *fêro *sêrvo, e invece han fatto un altro passo e son
venuti a f i r o, s i r v o; ed anche questi avran fatto il secondo passo per influsso analogico esercitato dalla
categoria dei verbi con -u- (s u b o ecc.)” (D’Ovidio 1881: 44).
Como mais adiante se verá, esta boa base de verbos da C3 com VR alta, que em galego inclui verbos tão comuns
como digo ou río, é um factor fundamental no processo de mudança induzida por contacto. De facto, na base de dados
do DVPM, só se registam formas com /i/ no CONJ.PTE no verbo seguir, enquanto com sentir as formas com /e/ encontram-
se em maioria (infelizmente, não há registos de servir), o que indica que seguir, tanto em galego como em português,
deve ter começado cedo a passar para este modelo. Poderá existir mais algum factor que ajude à passagem de sento,
feiro, servo, cobro, dormo a sinto, firo, sirvo, cubro, durmo?

4.4.4 A história de sigo, sirvo, cubro nos dialectos românicos centrais


O castelhano, o galego e o português partilham as formas sigo ~ siga (< Ĕ) e cubro ~ cubra (< Ŏ). O galego e o
castelhano partilham as formas sigues, pido, mido, sigue (IMP), cubre (IMP); nestes casos, o português contemporâneo
apresenta segues, peço, meço, segue, cobre (com vogais médias baixas), mas o português antigo apresentava também
formas com vogal alta similares às do castelhano e do galego. Neste trabalho, tento argumentar que sigo ~ siga e cubro
~ cubra em galego, português e castelhano têm uma mesma explicação; pretendo também demonstrar que a origem
destas formas reside no centro da Península e que daí passou ao que hoje chamamos galego e português.
Os estudiosos do castelhano também consideram difícil esta questão. Das explicações consultadas, as que, em
conjunto, oferecem Montgomery (1976) e Penny (1972, 2002a e 2002b) são, a meu ver, as mais adequadas. Em
primeiro lugar, alguns verbos com vogal alta da C2 passaram à C3, o que foi desalojando da C2 as VRs altas: LŪCĒRE >
lucir, RĪDĒRE > reír, SCRĪBĔRE > escribir. Depois, os verbos da C3 com iode na 1. SG.IND.PTE receberam inflexão na VR
proveniente de Ē ~ Ĭ ou de Ō ~ Ŭ; verbos com iode como medir (< MĒTĬOR) foram inflectidos. Isto produziu alternâncias do
tipo subo ~ suba ~ sobes ou mido ~ midas ~ medes (Lathrop 1984 oferece paradigmas). A par destes verbos existiam na
C3 formas como río ~ ría ~ ríes, digo ~ diga ~ dices, vivo ~ viva ~ vives, luzco ~ luzca ~ luces. Deste modo, verbos
como seguir, servir, cubrir entraram em proporções analógicas como as que desenha Rini (1999):21

medir, lucir, reír, decir : seguir, servir, cubrir


mido, luzco, río, digo x, onde x= sigo, sirvo, cubro

Formas como siento ~ sienta ou duermo ~ duerma são nivelamentos das 2.SG, 3.SG e 3.PL (Lapesa 2000; Penny
2002a: 187). O castelhano dialectal chegou a criar mais formas com VR alta do que as que hoje se usam no castelhano
normativo. Penny (1978, p. 88) mostra dados interessantes dos verbos da classe C3 em Tudanca, Santander, que vale a
pena reproduzir:
“A parte de los muy pocos que presentan diptongo [...], todos los verbos de esta clase muestran una uniformidad
total en su vocal radical. Esta suele ser /i/ (o /I/), /a/ o /u/ (incluso /U/) y faltan por completo las alternaciones
/e/~/i/, /o/~/u/ y /e/~/ie/~/i/, /o/~/uo/~/u/ tan típicas del cast”.
Penny recolhe neste dialecto as seguintes formas (respeito a sua transcrição):

/pIdíR/ /pído/ /pIdímos/ /pidámos/ /pIdía/ pedir


/mINtíR/ /míNto/ /mINtímos/ /miNtámos/ /mINtía/ mentir
/dURmíR/ /dúRmo/ /dURmímos/ /duRmamos/ /dURmía/ durmir
Do mesmo modo se comportam /hIRbír/, /híRbo/ ‘ferver’; /IríR/, /íro/ (às vezes /iéro/), /íres/ ‘ferir’; /sINtír/,
/síNto/, /síNtes/ ‘sentir’. Só /beníR/ ‘vir’ e /mUríR/ ‘morrer’ apresentam ditongos em /biénes/ e /muéro/.
As novas formas sirvo, sigo, pido, subo, cubro da 1.SG.IND.PTE produziram um nivelamento contrário ao que
originou siento e duermo, de modo que levaram a VR alta a todas as formas rizotónicas do IND.PTE, do CONJ.PTE e do IMP:
sirves ~ sirva ~ sirve, sigues ~ siga ~ sigue, pides ~ pida ~ pide, subes ~ suba ~ sube, cubres ~ cubra ~ cubre. Nas
formas arrizotónicas do CONJ.PTE já havia formas com vogal alta, fruto da inflexão da iode sobre a VR átona: pidamos,
durmamos, sigamos, subamos, midamos < PĔTĬĀMUS, DŎRMĬĀMUS, SĔQUĬĀMOS, SŬBĔĀMUS, MĒTĬĀMUS.
Estamos, pois, perante o que Rini denominava extensões analógicas, como o aparecimento de sirvo, pido, sigo
sobre mido, río, digo; e os nivelamentos: pides, pide, pide sobre pido. Estas mudanças, bem como outras, conduziram,
em castelhano, a um tipo de modelo de conjugação em que as marcas de classe não estão só na VT, mas também na VR.
Nos verbos da C2 e da C3·verificam-se dois princípios:
“The stem-vowel, as has been demonstrated, is the decisive factor in determining the eventual classification of
-ēre and -ĕre verbs — still leaving aside the a-stems. It is possible to reconsider the evolution of the two
conjugations accordingly, modifying Principles A an B as follows:
A2: Verbs excluding stem-vowel closure > -er
B2: Verbs allowing stem-vowel closure > -ir
So phrased, the two statements complement the earlier versions rather than contradict them. On the whole it is
more practical to work with the first pair, but the priority given to the stem by Principles A2 and B2 shows the
reorganization of paradigms, from Latin to Spanish, in a new light. Instead of a preservation of the second and
fourth conjugations at the expense of the third, the emergence of two new paradigms, each marked by
interdependence of stem and ending, is witnessed” Montgomery (1974, pp. 287-288).
Esta polarização do vocalismo radical tem como consequência o facto de as propriedades gramaticais deixarem de
se exprimir só por meio de terminações, numa morfologia concatenativa, como na C1: em pedimos a informação de
IND.PTE não está só na presença da VT e na falta de afixo ATM face a pidamos, mas também na altura da VR, /e/ no
IND.PTE e /i/ no CONJ.PTE. O radical ajuda a transmitir conteúdos morfossintácticos.

4.4.5 A vogal /i/ de sinto, sigo, firo, etc. nos dialectos românicos ocidentais: mudança induzida por contacto?
Antes de tentar fornecer uma nova explicação sobre as origens das vogais altas em sinto e cumpro, lembremos os
paradigmas de (1) e de (14) e resumamos o que de comum encontramos na C3 galega, castelhana e portuguesa:
Galego, português, castelhano.: sirvo ~ sirva < SĔRVĬ-, cubro ~ cubra < CŎŎPĔRĬ-
Galego (dialectal), castelhano, português (medieval): sirves, sirve < SĔRV-, subes < SŬB-
Galego (dialectal), castelhano: pid- em pideu ~ pidió < PĔT-
Galego, castelhano, português (medieval e dialectal): sirve e sube 2.SG.IMP
É evidente que estamos perante semelhanças areais entre variedades linguísticas contíguas e geneticamente
relacionadas; estas similitudes reclamam, em primeiro lugar, uma explicação única e, em segundo lugar (e em virtude
do princípio heurístico de Heine & Kuteva infra.), o intento de uma explicação por difusão areal dentro de fenómenos
de contacto linguístico.
Porém, as referências na bibliografia ao castelhano são escassas. A tímida proposta de Nunes, segundo a qual as
formas sigo, sirvo, pides, sigues pudessem ser castelhanismos, não contou com muito apoio. Eu não vou afirmar que
sejam castelhanismos, mas sim formas criadas e exportadas desde os dialectos românicos do centro da Península por
meio de contactos interdialectais. Já Cintra (1961) demonstrou que mesmo no léxico mais tradicional existe toda uma
penetração de formas provenientes do centro da Península (o mesmo defendem Dubert & Sousa 2002). 22
As razões desta minha proposta baseiam-se na distribuição geográfica e histórica das formas. As formas com /u/ e
/i/, tanto na 1.SG.IND.PTE e no CONJ.PTE como no resto das formas rizotónicas do IND.PTE e do IMP, apresentaram-se
primeiramente nos dialectos românicos centrais (pitent já aparece nas Glosas Silenses) e estenderam-se e consolidaram-
se ali muito cedo, antes mesmo do aparecimento da escrita românica, pois neles não se documentam formas com vogais
médias nos contextos indicados em complir ~ cumplo ~ cumpla ~ cumples, cobrir ~ cubro ~ cubra ~ cubres, servir ~
sirvo ~ sirva ~sirves, vestir~ visto ~ vista ~ vistes (Davies 2002, consultado 20-04-2010). Mais ainda, nos dialectos
românicos centrais existiram formas tipo cumplo, apesar de se conservar fortemente um infinitivo complir e formas tipo
digo ou escribo persistiram apesar da tendência para criar, por dissimilação, radicais arrizotónicos com /e/: dezir,
escrevir, bevir, que produziam alternâncias digo ~ dezimos, escrivo ~ escrevimos, bivo ~ bevimos.
Pelo contrário, as formas servo ~ servio, sento ~ senço, cobro permaneceram nos dialectos românicos ocidentais
não só o suficiente para entrar na escrita românica, como foram mesmo substituídas pelas formas com vogal alta numa
altura relativamente tardia. Deste modo, é possível que estas formas tipo sigo tenham nascido no centro da Península e
começado a penetrar aos poucos no território dos dialectos românicos ocidentais. Esta penetração não foi rápida nem
automática. Enquanto parecem não existir atestações de sego ~ sega nos dialectos românicos ocidentais medievais,23 as
formas tipo servo ~ serva ou sento ~ senta são muito comuns.
Já sabemos que às vezes é difícil decifrar se a ocorrência de uma forma similar em duas variedades em contacto se
deve a uma evolução individual em cada uma delas (seguindo os mesmos passos evolutivos ou outros) ou à influência
que uma variedade exerce sobre a outra. Como defendem Heine & Kuteva (2005, 2008), a mudança induzida por
contacto é facilitada se a variedade receptora possuir já estruturas prévias semelhantes às que integra. Tais estruturas
existem:
a) A existência do padrão δ de (11) que seleccionava VR médias altas para a 1. SG.IND.PTE na C2.
b) A existência do padrão γ de (7) na C2 e na C3 que estendia as VRs médias baixas nas 2. SG, 3.SG e 3.PL.IND.PTE
da C2 e da C3.
c) A existência de VRs altas na 1.SG.IND.PTE da C3, descendentes de VRs altas longas latinas: río < RĪDŌ, digo <
DĪCŌ (note-se que em digo, no galego C2 e C3, a vogal vai seguida de consoante velar, como em sigo); e
descendentes de VRs médias altas afectadas por iode (subo < SŬBĔO).
Se a estas estruturas somarmos uma situação de variação e de reacomodação de formas em competência e uma
situação de contacto, produzir-se-ão condições favoráveis à aceitação e promoção de uma forma vinda de outra
variedade á que se atribuía prestígio.24 Mais ainda, Maria Goldbach sinalou (em comentário pessoal) que os verbos que
mudam nos dialectos românicos ocidentais já existiam, eram de uso comum e, sobretudo, tinham o mesmo significado
em todos os dialectos.
Deste modo, o aparecimento e consolidação nas variedades ocidentais de formas como sigo ~ siga e cubro ~ cubra
podem ser explicados através da ajuda de factores internos e de factores de contacto. Uma vez instaladas em galego e
português, criaram um padrão que poderíamos denominar δ’, similar ao da C2:

(17) padrão δ’ (para a C3): {V[<1. SG.IND.PTE, CONJ.PRES>], VR[-abert1]} ↔ VR[-abert2]


Glosa: A VR média de um Verbo flexionado para 1. SG.IND.PTE ou CONJ.PRES para é alta.

Este padrão afecta, claro está, a 1. SG.IND.PTE e todo o CONJ.PTE. Age vacuamente em verbos galegos, como dicir, vivir,
escribir, e galegos e portugueses, como rir, que já têm vogal alta. Uma vez estabelecido este padrão δ’ de (17), todos os
verbo da C3 com VR média passaram a ser conjugados de acordo com ele (sentir, vestir, subir, etc.), independentemente
da a sua forma anterior nos dialectos românicos ocidentais. As únicas excepções foram medir e pedir em português, que
geraram um padrão diferente com VR [ɛ], do mesmo modo que, no castelhano, herir, morir ou dormir geraram padrões
com ditongo.
Este padrão δ’ de (17) pode ser explicado nos dialectos românicos ocidentais por evolução interna, sem ter de se
recorrer aos dialectos românicos centrais. O facto de sigo, sirvo, cubro terem aparecido e consolidado primeiro no
centro e só depois no ocidente –e não com a mesma intensidade em todos os dialectos românicos ocidentais– demonstra
que o factor contacto teve de participar na difusão do /i/ de sigo e na do /u/ em cubro e cumpro.
Uma diferença fundamental entre o galego e o português, possivelmente fruto do maior contacto que o galego
manteve com o castelhano ao longo das Idades Moderna e Contemporânea, reside no facto de o galego ter levado
adiante um processo de nivelamento das formas rizotónicas, estendendo a vogal alta da 1. SG.IND.PTE: sigo > sigues, pido
> pides, sirvo > sirves, sinto > sintes, minto > mintes, firo > fires. Deste modo, o galego chegou a uma situação quase
semelhante à do castelhano, de modo que os dois princípios de Montgomery podem ser também aplicados hoje ao
galego popular. Só a aplicação destes princípios, que defendem que uma forma verbal da C3 deve ter sempre uma vogal
alta no tema (seja a VR em pido, pides, ou a VT em pedimos), explicam a presença de VR átona /i/ em pideu ou mideu
nos dialectos galegos ocidentais.
Pelo contrário, em português (onde o grau de contacto com o castelhano foi menor nas mesmas épocas) o padrão γ
de (7) foi mais forte e estendeu-se, inclusivamente, a verbos como frigir na língua normativa e nos dialectos a luzir
(luzo ~ lozes), afligir (aflijo ~ afleges) ou resistir (resisto ~ resestes) —veja-se Vasconcellos (1970, p. 118). Este padrão
γ de (7) age contra o princípio de polarização do vocalismo radical na C3 do português e debilita a sua acção, uma vez
que introduz vogais médias nos temas da C3 e não permite a presença de vogais altas .25 Goldbach (2010) defende que
quanto mais usado é um verbo da C3 com VR dorsal em português, mais possibilidades existem de que seja alternante,
o que demonstra a força com que o português assumiu este padrão.
Pelo contrário, em galego, o padrão γ de (7) está na C3 numa situação menos forte do que em português
(recordemos que na C2 verbos incoativos e deber não são alternantes) e a polarização do vocalismo radical actua com
mais força. Deste modo, o padrão γ de (7) e a polarização do vocalismo radical são princípios disjuntivos que operam
competindo pelo mesmo material linguístico. Do ponto de vista fonológico, podemos dizer que, no galego, a
polarização do vocalismo radical na C3 representou uma tendência situada mais acima no ranking de restrições,
enquanto no português o padrão γ foi avaliado como mais alto. A extensão da vogal média baixa às 2. SG.IMP da C3
debilita ainda mais a polarização no português, uma vez que estas formas da C3 ficam sem vogais altas no tema. Outro
argumento contra a polarização provém da posterior redução das vogais médias átonas portuguesas, que introduziu
vogais altas nos temas da C2, como em c[u]memos ~ c[u]mamos (Penny 2002b, p. 1068)
Deve notar-se, contudo, que a polarização não é um elemento obrigatório, uma restrição inviolável da gramática do
galego. É simplesmente uma tendência que outras restrições / padrões mais fortes podem derrubar. É um dado adquirido
que o galego e o português apresentam formas como comín (galego) e comi (português) ou comiches (galego) ou comiu
(galego dialectal) ou comia, comias, comia. Deste modo, a presença de /i/ nas 2. SG.IND.PTO dos verbos da C2 pressupõe
uma violação da polarização. Assim, padrões como os de α e β de (3) são mais fortes do que a polarização.
A distribuição social em galego das formas com vogal alta subes, cuspes, sigues, sirves (nos locais onde se
preservam ainda formas com vogais médias baixas) é outro indício de contacto na Galiza: as formas com vogal alta são
sempre urbanas e próprias da juventude (Alonso 1962, p. 19, n. 50; Porto Dapena 1977, p. 29; Dubert 1999, pp. 184-
185), enquanto as formas com padrão γ de (7) pertencem às áreas rurais ou aos falantes mais conservadores.
Um caso à parte é a questão da 2. SG.IMP, que em português baixou mais tardiamente. De facto, ainda hoje existem
dialectos portugueses com alternância no IND.PTE, mas que apresentam IMP com vogal alta (Martins Sequeira 1957, p.
105). No português medieval, mesmo as 2. SG.IMP da C2 apresentaram VR alta; este é um traço que caracteriza ainda uma
faixa do território galego (Fernández Rei 1990, p. 81). Se o aparecimento de vogais médias baixas na 2. SG.IMP da C3 é
um fenómeno inovador do português, posterior à generalização do padrão γ de (7), importa considerar que também seja
inovadora o seu aparecimento nos verbos da C2 conforme o padrão ε’ de (13), que estabeleci anteriormente. Pelo
contrário, o galego pôde estabelecer um padrão com vogais altas, paralelo ao padrão ε de (13), seleccionadas de entre
todas as vogais que apareciam na 2. SG.IMP dos verbos da C3, graças à acção da polarização do vocalismo radical e à
ajuda das VRs altas do PTE (IND e CONJ).
A generalização de vogais médias baixas também na 2.SG.IMP da C3 portuguesa fonologizou, com restrição lexical, a
alternância durmo ~ sigo, dormes ~ segues, dorme ~ segue (ele), dormem~ seguem, dorme ~ segue (tu) , que, como
vimos, pode ser descrita em termos fonológicos por Parkinson (1982), Wetzels (1995), Andrade & Mira Mateus (2000)
ou Brandão de Carvalho (2003): no fundo, aparecem vogais médias baixas nas formas rizotónicas seguidas de VT /e/. A
presença de vogais altas na 2.SG.IMP no galego produziu a morfologização, também lexicalmente restringida, da
alternância subo ~ sigo, sobes ~ segues, sobe ~ segue (el), soben ~ seguen, sube ~sigue (ti), nos verbos C3[u]b e C3[e]b,
uma vez que as vogais médias baixas só aparecem nas 2.SG, 3.SG e 3.PL e não na 2.SG.IMP, apesar de o seu contexto
fonológico (forma rizotónica seguida de VT /e/) ser idêntico.
Por outro lado, a generalização do nivelamento da VR alta a todas as formas rizotónicas do IND.PTE e da 2.SG.IMP
produziu em galego o modelo C3[e] , pido, pides, pide el, piden, pide ti, mais abundante e fonologicamente estruturado:
a

ocorre a VR /i/ sempre que não ocorre a VT /i/ (pido, pides, pideu, pida); ocorre a VR /e/ sempre que ocorre a VT /i/
(pedín, pediches, pediu). Note-se que é a VR /e/ a que impõe restrições combinatórias, uma vez que só pode ocorrer se
for seguida de uma VT /i/. Pelo contrário, a VR /i/ pode ocorrer sempre: vivo, viva, vivimos, viven. Este esquema está
plenamente integrado na polarização do vocalismo radical.

5. Conclusões
Uma dificuldade reconhecida por todos os investigadores que se debruçam sobre a história do galego e do português
consiste em explicar a origem das VRs altas em verbos como sigo, sinto, cubro. Estas formas verbais provêm de um
étimo com uma vogal latina breve tónica seguida de iode na seguinte sílaba, SĔNTĬŌ ou CŎŎPĔRĬO, pelo que, neste
contexto, esperar-se-ia /e/ e /o/ tónicos, respectivamente. Até hoje, o tratamento histórico dado a estes verbos era
independente em galego-português e em castelhano. Dado que os dialectos românicos centrais e ocidentais estão numa
situação de continuum geolectal, que são variedades tipológica e geneticamente muito aparentadas e que sabemos que
houve, ao longo da história, processos de evolução convergente, proponho, neste trabalho, uma explicação unitária do
fenómeno em galego, português e castelhano, que prescinde de fronteiras linguísticas artificiais.
Após ter apresentado o contexto linguístico em que se produziu a mudança sento ~ senço > sinto e cobro > cubro
em galego e em português, proponho que a elevação da VR em português e galego possa ser explicada por um processo
de mudança induzida ou, quando muito, favorecida por contacto com os dialectos românicos centrais. O contacto entre
os dialectos românicos centrais e ocidentais permitiu produzir directamente a mudança ou facilitar o seu avanço. Os
argumentos desta proposta consistem na similitude das formas e contextos, na similitude formal e semântica dos verbos,
na contiguidade geográfica e no facto de as formas com vogais altas terem triunfado em primeiro lugar nos dialectos
românicos centrais e só depois nos ocidentais. Estas mudanças estão favorecidas pelo facto de existirem previamente
esquemas que vinculavam uma vogal alta com a 1.SG.IND.PRES e com o CONJ.PRES, em formas como rio ~ ria ou subo ~
suba. As mudanças descrevem-se, em consequência, como a propagação de padrões morfológicos de umas formas
verbais a outras, quer por meio de extensões (quando estão implicados diferentes lexemas verbais) ou nivelamentos
analógicos (quando as mudanças se produzem dentro das formas de palavra de um lexema).
Justifico, igualmente, as diferenças entre o galego (com a extensão das vogais altas a todas as formas rizotónicas do
IND.PTE) e o português (com a extensão das alternâncias vocálicas nas 2.SG, 3.SG e 3.PL.IND.PTE e na 2.SG.IMP) em função da
diferente intensidade de contacto que estes dois idiomas tiveram com o castelhano. Deste modo, funde-se uma
explicação linguística interna com o marco social de uso das línguas e com a sua realidade geográfica.

Agradecementos
Agradeço os comentários com que Joaquim Brandão de Carvalho, Maria Goldbach, Martin Maiden, Paul O’Neill e três
revisores anónimos me ajudaram a melhorar rascunhos prévios. Quero dedicarlle este traballo a Xulio Sousa, sempre bo
amigo.

Notas
1. Este trabalho realizou-se durante uma estadia no Research Centre for Romance Linguistics da Universidade de
Oxford, financiada pelo Ministerio de Educación del Gobierno de España no seio do programa “Programa Nacional
de Movilidad de Recursos Humanos de Investigación, en el marco del Plan Nacional de Investigación Científica,
Desarrollo e Innovación Tecnológica 2008-2011”.
2. Em galego, esta nasal só elevou a vogal tónica nalguns substantivos e adjectivos (não nos advérbios, e.g.), só nos
dialectos ocidentais e de jeito desigual nas vogais frontais (afectadas sobretudo no ocidente) e nas dorsais
(afectadas em case todo o território): vejam-se os mapas 32 “Fonte”, 33 “Ponte”, 62 “Ben”, 63 “Dente·”, 64
“Sempre”, 65 “Tempo” de ALGa III.
3. Para o asturiano, veja-se Academia de la Llingua Asturiana (2001).
4. Na formulação dos padrões seguem-se as seguintes convenções: os signos {} encerram informação do item lexical,
como a classe de palavra, as propriedades morfossintácticas ou algum elemento da fonologia da palavra; os signos
< > encerram uma disjunção (<2. SG, 3> quer dizer ‘bem 2.SG, bem 3 pessoa, SG ou PL’); as frechas ↔ significam
uma correlação entre os níveis que relacionam (uma vogal [-abert1] é, numas condições dadas, [-abert1, +abert3];
os traços fonológicos de abertura das vogais são os empregues por Leo Wetzels (1995).
5. Note-se que MĒTIOR é depoente, pelo que dou, assim, a sua forma não-depoente, do mesmo modo que regularizei
todas as formas em -UNT e -IUNT para -ENT nas 3.PL.
6. Respeito o sistema de transcrição de cada autor: [ę] em Williams equivale a [ɛ] no sistema IPA; [ẹ] equivale a [e].
7. Penny (2009) oferece uma completa visão de conjunto sobre a metafonia na Península Ibérica.
8. Martin Maiden (em comentário pessoal) sugere que quiçá a consoante palatal de toller ~ tolher se deva a analogia
com COLLĬGĔRE e que talvez não seja precisa a presença de iode.
9. “Na segunda são elas fechadas por influência da semivogal, na 1.ª pessoa do singular do indicativo presente e em
tôdas as do subjuntivo, sem consideração ao timbre que tinham no latim vulgar: FĔRVEO > fervo, FĔRVEAM > ferva,
MŎVEO > movo, MŎVEAM > mova, SŎRBEO > sorvo, SŎRBEAM > sorva. Nos outros verbos desta conjugação, que vieram
da terceira latina, justifica-se o fechamento daquelas vogais, nos mesmos casos, por analogia: TĔXO > teço, TĔXAM >
teça, VĔRTO > verto, VĔRTAM > verta, RĔGO > rejo (analogia com o infinitivo), RĔGAM > reja”, Lima Coutinho (1958, p.
327).
10. Esta distribuição 1.SG.IND.PRES e CONJ.PRES na C2 e na C3 vincula-se com a existência dum morfoma sujeito ao que
Maiden (2005) denomina “L-pattern”.
11. Santamarina (1974, p. 33) chega a considerá-lo: “Para los verbos del grupo c) con -ẹ-, -ọ- originarios, esperaríamos
con iguales efectos del yod, un paradigma del tipo *mizo / *mẹces (lat. MĬSCĔŌ, MĬSCĒS), *munzo / mọnces (lat.
MŬLGĔO, MŬLGĒS), o, sin influjo de yod, que es lo más probable *mẹzo, *mẹces; *mọnzo, *mọnces”. A razão da sua
dúvida provém de que “Por la fonética histórica se comprueba que ẹ, ọ son menos susceptibles al influjo del yod
que ę, ǫ” (ibidem n. 2). Mais ainda, uma iode que se estendesse indiscriminadamente pela C2 e que inflectisse
sempre as vogais tónicas poderia tornar altas as vogais de verbos como BĬBŌ, BĬBAM.
12. No centro-sul da Galiza são comuns as formas c[u]me e b[i]be, que se tornam interessantes por vários aspectos: do
ponto de vista histórico, mantêm a forma que já se verificava no português medieval; do ponto de vista sincrónico,
são uma excepção notória à polarização do vocalismo radical.
13. Quanto aos verbos com VR dorsal, Goldbach (2010) analisa pormenorizadamente as diferenças e semelhanças
entre o galego e o português modernos e conclui que, apesar das superficiais diferenças ortográficas, possuem
sistemas de conjugação muito similares: os dois contam com uma conjugação não-alternante C3[u] a e outra
alternante C3[u]b.
14. Recorde-se que em Goián existe um tipo especial de ditongação de /ɛ/, de modo que as formas de mentir são minto,
mientes, miente, mienten e as de servir são sirvo, sierves, sierve, sierven.
15. http://cipm.fcsh.unl.pt/verbos/verbo.jsp?id=278 (consultado o 19-03-2010).
16. Note-se que CŎŎPĔRIS tem dois Ŏ seguidos. A vogal resultante da crase destas vogais é [ɔ] e não [o], pois as vogais
que entram em contacto são breves e, pelo tanto, médias baixas; a possível vogal longa fruto da crase não foi nunca
média alta. É um caso parecido ao da crase do ditongo AE, que originou uma vogal longa média baixa (Väänänen
1988, pp. 83-84).
17. “Assim, para cada um dos verbos da 3.ª conjugação, existiriam formas variantes de infinitivo, com e ou o radicais,
por um lado, com i ou u, por outro. É natural supor, então que se tenha criado ao lado do paradigma flexional com
vogal radical etimológica, um outro paradigma flexional construído a partir dos infinitivos com vogal radical [+alt].
Ficariam, deste modo, explicadas as formas sigues, sigue, siguem; sirves, sirve, sirvem; durmes, durme, durmem,
moldadas sobre um infinitivo com harmonização vocálica. As formas synto (F.M.), sirvo (C.A.), sirvamos (C.S.M.),
sigamos (T.G.), referidas em 3., poderiam integrar paradigmas deste tipo” Martins (1988, p. 363). Estas explicações
também coincidem com as de Nunes (1933, p. 298).
18. Mudança desde acima é aquela “which is introduced, deliberately and self-consciously, by the members of a high-
ranking social class and which then spreads into the speech of lower-ranking classes”; mudança desde abaixo é
aquela que “appears first in speech-varieties of low prestige and then spreads up the social scale, perhaps eventually
becoming general” (Trask 2000, s.v. change from above e change from below; veja-se também Labov 1994, p. 78).
Geralmente, as mudanças desde acima estão ligadas a processos de normatização; mas também podem ser
independentes destes processos cuando as classes altas produzem formas não coincidentes com as normativas.
19. A bibliografia sobre o processo de normatização do galego é ampla e resulta impossível profundar aqui nesta
questão; chega aqui com dizer que até 1982 não se criou um modelo de língua normativa. Mariño (1998) e
Monteagudo (1999) oferecem visões de conjunto sobre a conquista da escrita na Idade Contemporânea; Alonso
Pintos (2006) descreve a elaboração da língua normativa entre 1950 e 1980.
20. As formas cingo ~ cinxo, tingo ~ tinxo procedem de CĬNGO e TĬNGO; é possível explicar o /i/ pela mesma razão que
aparece em xeringa < SYRĬNGA ou lingua < LĬNGUA, minguo < MĬNŬŌ, vingo < VĬNDĬCŌ (Atkinson 1954, pp. 52-53).
21. Para explicar mides, mide, não há razão para optar entre analogia com dices, dice e o nivelamento de mido > mides,
como faz Atkinson (1954, pp. 51-52). Não se excluem ambas as possibilidades, que podem mesmo reforçar-se
mutuamente. A própria autora remata o seu artigo reclamando explicações que abarquem diferentes factores e não
obrigatoriamente um só. De facto, é possível que a estas explicações se somem as fonológicas que ela defende nas
pp. 56-57: que sequências fonológicas como -iento ou -ido, em castelhano, sejam mais comuns do que -into ou
-iedo, por exemplo.
22. Um revisor deste artigo propõe-me distinguir entre um contacto horizontal português/castelhano e um contacto
vertical galego/castelhano. Penso que esta distinção não tem fronteiras claras. A mudança induzida por contacto
requer certo grau de bilinguismo, pelo menos nalguns falantes. A finais da Idade Média e inícios da Moderna
existia em Portugal uma forma de contacto vertical, pois muitos membros das classes dominantes conheciam,
falavam e escreviam o castelhano (Vásquez Cuesta 1988). Seria interessante comprovar se as formas portuguesas
semelhantes às castelhanas desapareceram quando acabou esta situação de contacto. Na Galiza o contacto
continuou e aumentou até à actualidade.
23. O DVMP (consultado o 18-04-2010) só regista formas siga. No TMILG (consultado o 18-04-2010) existe uma só
ocorrência de sego, do século XIV, num contexto em que a forma parece denotar um apelido; também aparecem
formas tipo sega, mas são CONJ.PTE de ser. Davies & Ferreira (2006-; consultado feita o 24-08-2010) oferece sego,
sega, mas não são formas de palavra do lexema seguir.
24. Como mostra Vásquez Cuesta (1988), o castelhano foi uma variedade linguística á que se atribuiu abundante
prestígio no mundo português desde finais do século XV até ao fim da era dos Filipes.
25. “En portugués existe un principio de polarización entre las vocales radicales de los verbos en -er y en -ir, aunque
bastante más débil que en castellano. Este impulso menor hacia la polarización se deberá a dos elementos: por una
parte, se retuvieron en la 2ª conjugación portuguesa numerosos verbos activos (dizer, escrever, receber, etc.) que en
castellano pasaron a la clase en -ir; por otra parte, las conjugaciones portuguesas en -er e -ir estaban bastante más
diferenciadas entre sí, en su morfología, que las correspondientes castellanas —por ejemplo, había una clara
distinción de desinencias en el indefinido y en los tiempos afines: meteu, metera, metesse, metermos, etc. vs.
serviu, servira, servesse [sic], servirmos, etc” Penny (2002b, p. 1068).

Apêndice
1 = primeira pessoa
2 = segunda pessoa
3 = terceira pessoa
C2 = segunda conjugação
C3 = terceira conjugação
ALGa = Atlas Lingüístico Galego
CONJ = Conjuntivo
CR = consoante radical
IMP = imperativo
IND = Indicativo
PL = Plural
PTE = Presente
PTO = Pretértito
SG = Singular
VR = vogal radical
VT = vogal temática

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